aplicaÇÃo do Índice de qualidade de via (iqt) no sistema

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APLICAÇÃO DO ÍNDICE DE QUALIDADE DE VIA (IQT) NO SISTEMA DE VIA PERMANENTE DO METRÔ RIO Alex Luiz Dutra da Silva (1) Henrique Carou Costa (2) RESUMO Em consonância com as boas práticas de mercado e visando otimização dos recursos aplicados na manutenção e determinando os passos para a implantação do índice de qualidade de via, com gestão compartilhada pelas áreas de engenharia de Via permanente, planejamento (PCM) e manutenção foi escolhido um modelo de análise para direcionar e criterizar as atividades corretivas do sistema de Via Permanente, priorizando assim não apenas a falha pontual, mas sim a conjuntura dos eventos que possam causar o maior impacto negativo para o sistema ferroviário. 1 Concessão Metroviária do Rio de Janeiro Técnico Especialista 2 Concessão Metroviária do Rio de Janeiro Engenheiro Sênior

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APLICAÇÃO DO ÍNDICE DE QUALIDADE DE VIA (IQT) NO SISTEMA DE VIA

PERMANENTE DO METRÔ RIO

Alex Luiz Dutra da Silva (1)

Henrique Carou Costa (2)

RESUMO

Em consonância com as boas práticas de mercado e visando otimização dos

recursos aplicados na manutenção e determinando os passos para a

implantação do índice de qualidade de via, com gestão compartilhada pelas

áreas de engenharia de Via permanente, planejamento (PCM) e manutenção foi

escolhido um modelo de análise para direcionar e criterizar as atividades

corretivas do sistema de Via Permanente, priorizando assim não apenas a falha

pontual, mas sim a conjuntura dos eventos que possam causar o maior impacto

negativo para o sistema ferroviário.

1 Concessão Metroviária do Rio de Janeiro – Técnico Especialista

2 Concessão Metroviária do Rio de Janeiro – Engenheiro Sênior

1. Introdução

A necessidade por eficiência de custos com elevação da segurança

operacional motiva as entidades de pesquisa e a indústria a desenvolver técnicas

que permitam a otimização do processo produtivo. O caminho da manutenção

avaliada por métodos numéricos tem sido trilhado de modo a desenhar melhores

plantas, melhores processos e melhores estratégias de manutenção. Nesse

sentido a aplicação da técnica de análise colabora não apenas com a falha

pontual, mas sim com o produto entregue pela análise dos somatórios de todas

os desvios no trecho, permitindo priorizar manutenções com maior eficiência e

confiabilidade.

2. O sistema metroviário em estudo.

O metrô do Rio de Janeiro possui hoje cerca de 56km de vias duplas,

sendo 31km de vias sobre laje em concreto com dormentes e 25 km de via sobre

pedra britada. Além do sistema regular de metrô, existem as integrações entre

os modais em estações específicas, o que permite elevar o alcance do sistema

metroviário.

Figura 1 - Malha atual das linhas e principais integrações do Metrô.

(Fonte:www.rioigo.com)

3. O sistema de Via Permanente

O sistema metroviário do Rio de Janeiro possui três linhas principais, de

três sistemas básicos de infraestrutura diferentes, embora a bitola larga

(1600mm) seja adotada em toda a malha. A linha 1, em túnel, com trilhos

assentados sobre dormentes bibloco de concreto, os quais, envoltos em

galochas de elastômero são incrustados na laje de concreto que provê o suporte

para a superestrutura. Já a linha 2, é assentada a céu aberto, e possui

características construtivas tradicionais de assentamento sobre lastro de pedra

britada sob dormentes bibloco de concreto.

A linha 4 é similar ao trecho da linha 1 entre Botafogo e General Osório,

composto por laje e dormentes de concreto no sistema de blocos independentes,

dispensando cantoneiras bitoladoras.

Figura 2 - Linha em túnel sobre dormentes de concreto e radier

Figura 3 - Linha férrea a céu aberto, com lastro de pedras britadas.

A via permanente, um dos quatro pilares de importância primária na

estrutura do sistema operacional do Metrô é composta de grandes componentes

e vários equipamentos que são responsáveis pelas condições adequadas ao

tráfego das composições.

Com relação aos componentes, trilhos de rolamento, dormentes com

fixações, lastro, aparelhos de mudança de via e lubrificadores de trilhos e rodas

são os principais e que requerem maiores atenções, mas os aparelhos de

dilatação ou juntas de expansão, talas de junção, juntas isolantes, isoladas e

terceiros trilhos, apesar de mais simples, também são observados nas “rotas” do

programa de manutenção.

Figura 4 - Montagem tradicional da via permanente

Desde o início da operação comercial do Metrô-Rio, em nível de

manutenção da via permanente se trabalhou executando

inspeções/manutenções preventivas nas quais os períodos padrão, foram

estabelecidos em conformidade com os parâmetros preconizados nos

manuais/catálogos dos fabricantes e com base nos padrões estabelecidos por

ferrovias de tráfego similar.

Esta forma de atuação atendia perfeitamente a empresa, visto que o os

esforços aos quais os equipamentos eram submetidos têm poucas ou nenhumas

variações, ou seja; os carregamentos sobre as linhas são decorrentes da

passagem de um único tipo de trens que sofre, diariamente, as mesmas

variações de carregamento ao longo do horário operacional, além de considerar-

se que a marcha tipo (padrão de velocidades) é sempre a mesma.

Além das manutenções preventivas, as equipes executam manutenções

corretivas, sempre que uma falha de equipamentos/peças põe em

indisponibilidade uma via. No caso das linhas do Metrô, nunca coube a

comparação entre os custos de preventiva e corretiva, pois o “desgaste social”

jamais permitiria a parada de um trecho para correção de falhas, mesmo que a

intervenção fosse economicamente barata.

3.1. Dormentes

O dormente é o elemento da superestrutura ferroviária que tem a função

de receber e transmitir ao lastro e ao solo, os esforços produzidos pelas cargas

dos veículos, além de servir de suporte dos trilhos a ele fixado.

Figura 5 - Dormente monobloco

3.2. Lastro

Para disponibilizar uma via em perfeitas condições para o tráfego, o lastro

deve manter-se compacto e permitir uma perfeita drenagem da água proveniente

das chuvas para a camada inferior que é o sub-lastro e desta para os canais de

drenagem. Além disso, um lastro sem sustentabilidade provoca o afundamento

dos trilhos desalinhando-os e desnivelando-os.

Figura 6 - Lastro Laqueado.

3.3. Aparelhos de Mudança de Via

Os aparelhos de Mudança de Via, que são dispositivos formados por uma

região onde peças móveis chamadas de agulhas dão direção às rodas dos trens

e um núcleo central característico, permitem “desviar” os veículos ferroviários de

uma via para outra.

Figura 7 - Aparelho de mudança de via.

3.4. Lubrificadores de trilhos e frisos de rodas

Lubrificadores são equipamentos cuja finalidade é reduzir o coeficiente de

atrito em pontos da banda de rodagem dos trilhos e friso das rodas, com o

objetivo de reduzir o atrito no contato roda x trilho. Essa função irá elevar o nível

de segurança da operação do sistema e reduzir os desgastes dos componentes,

o que é traduzido em redução dos custos operacionais.

Figura 8 - Lubrificador fixo de via.

Nota: Atualmente a matriz de lubrificação utilizada no MetrôRio é a lubrificação

sólida embarcada. A utilização de lubrificadores fixos acontece atualmente

apenas em terminais, com a função única e exclusiva de proteção das agulhas

do AMV.

3.5. Trilhos de rolamento

O trilho é o elemento da superestrutura da via permanente que serve de

superfície de rolamento para as rodas dos veículos ferroviários. Seu perfil

tradicional, desenvolvido pelo engenheiro inglês Vignole que gerou o nome

mundialmente conhecido, em forma de duplo T é dividido em três partes onde a

superior de forma arredondada (boleto ou “bowl”) tem a finalidade de receber e

sustentar as cargas. A parte central, chamada alma é a garantia contra os

esforços de flexão e a base inferior, em forma de pata (patim, “pad” em inglês)

transmite de forma distribuída as cargas para os dormentes.

Para exercer a sua função de superfície de rolamento é necessário que o

trilho tenha dureza, tenacidade, elasticidade resistência à flexão. Para tal o

mesmo é fabricado em aço liga especial, podendo receber tratamento térmico

para melhorar suas qualidades.

Figura 9 - Perfil de trilho TR-57 e 60-E1.

3.6. Fixações

Os acessórios de fixação têm a função de manter o trilho fielmente preso ao

dormente, de forma a manter a bitola da via invariável, e também a estabilidade

do trilho, se dividem basicamente em três tipos de fixação:

• Rígidas - foi o primeiro tipo de fixação utilizado, seus componentes são o

prego de linha, tirefond e o retensor, que também é considerado acessório

de fixação rígida;

• Semielásticas possuem características tanto rígidas quanto elásticas,

chegou-se a este tipo de fixação após tentativas de alcançar uma fixação

totalmente elástica, seus exemplos são as fixações do tipo GEO e o prego

de linha elástico;

• Elásticas sua característica é manter uma pressão constante e equilibrada

sobre o patim do trilho em toda extensão da barra através de um grampo

elástico, restringindo sua movimentação transversal e longitudinal,

mesmo depois da vibração causada pela passagem de um trem, os tipos

mais usuais no Brasil são as fixações RN, deenik, pandrol e fast clip.

Figura 10 - Fixações de Via.

3.7. Geometria

A geometria da via permanente é um fator fundamental para o desempenho

de uma ferrovia, pois está correlacionada diretamente com a VMA (velocidade

máxima autorizada) da via, nela os aspectos altimétricos são analisados em

perfil, sendo o nivelamento longitudinal, e os aspectos planimétricos são

analisados em planta, sendo resumido ao alinhamento, nivelamento transversal,

bitola da via e superelevação (NABAIS, 2014).

Segundo Nabais (2014), cada ferrovia deve estabelecer os critérios e

tolerância para os defeitos de geometria de via seguindo as recomendações da

norma técnica em vigor, que no Brasil é representada pela Associação Brasileira

de Normas Técnicas NBR 16387 Via Férrea Classificação de Vias.

3.7.1. Bitola

Bitola da via permanente é a distância entre as duas faces internas dos

trilhos, medidas na transversal em relação às duas filas de trilhos a 16 mm abaixo

da superfície de rolamento do trilho, conforme demostrada na figura 11, sendo

as mais usuais (STEFFLER, 2013):

• Bitola métrica 1000 mm;

• Bitola standard 1435 mm;

• Bitola larga 1600 mm.

Figura 11 - Bitola.

3.7.2. Planimétrica - Curvas e Tangentes Horizontais

No traçado de uma estrada, as curvas são caracterizadas como elementos

geométricos implantados para concordância entre duas tangentes, compostas

basicamente de curva circular, sendo a parte da curva em que o raio se mantém

constante, e a parte da transição ou espiral, onde o raio varia do valor adotado

na curva circular até o infinito, já na ligação com as tangentes.

As tangentes na via permanente são caracterizadas como elementos de

ligação entre duas curvas, consideradas elemento geométrico com grau de

criticidade e complexidade inferior as das curvas, pois não possuem raio, sendo

assim o seu nivelamento transversal de projeto é considerado zero, pois não

estão sujeitas aos efeitos da força centrífuga.

3.7.3. Altimetria Curvas e Tangentes Verticais

Os elementos básicos da altimetria são as curvas e as tangentes vistas

em um plano vertical, onde as curvas são os elementos de concordância que

interligam duas tangentes, caracterizadas na via permanente como rampas

(FCA, 2009). De acordo com Steffler (2013), nas ferrovias de bitola métrica

encontradas no Brasil possuem rampas muito inclinadas chegando até 3,5% de

inclinação, o que influência diretamente na eficiência das ferrovias, enquanto

as de bitola larga, que são ferrovias mais novas, possuem inclinação máxima

de 4%.

3.7.4. Nivelamento Transversal

O nivelamento transversal é a diferença de altura entre dois trilhos

medidos em um mesmo ponto da via permanente, ocorrendo nas tangentes, e

quando em curvas é denominada superelevação. A superelevação em tangentes

não é necessária em qualquer via férrea que seja, pois em tangentes a força

centrífuga é nula, portanto, o nivelamento em tangentes deve ser parametrizado,

pois causa o efeito de sobre pressão no trilho mais baixo e subpressão no trilho

mais alto, que pode acarretar descarrilamento da roda.

3.7.5. Monitoramento da Geometria da Via Permanente

O monitoramento da geometria da via permanente nas ferrovias é

basicamente de três formas:

• Monitoramento mecanizado - executado com equipamento denominado

carro controle, podendo ser ferroviário ou rodoferroviário.

• Monitoramento semi-mecanizado executado com equipamento

denominado TMG (trolley de medição geométrica), equipamento de

pequeno porte com precisão de medição, coleta e armazenamento de

dados semelhante ao sistema utilizado no carro controle, porém, para seu

deslocamento sobre a via necessita de um colaborador operando-o de

forma manual, limitando sua capacidade produtiva.

• O monitoramento do tipo manual executado com utilização da régua de

superelevação e bitola, geralmente utilizada em verificação de defeitos

mais pontuais na via, ou seja, em pequenas extensões.

3.7.6. Parâmetros Limites de Monitoramento da Geometria

Durante um longo período as ferrovias brasileiras estipulavam seus

próprios parâmetros de monitoramento da geometria da via permanente, se

referenciando principalmente em normas internacionais, como a FRA (Federal

Railroad Admistration), portanto, essas normas são formuladas para os padrões

das ferrovias americanas que são caracterizadas como bitola “standard” (1435

mm), e como as ferrovias brasileiras em sua grande maioria são “métrica” (1000

mm) e a “larga” (1600 mm) as ferrovias adotavam parâmetros proporcionais.

Em 28 de abril de 2016, a ABNT lançou a primeira edição da NBR

16387:2016 Via Férrea Classificação de Vias, que também se referência na FRA

(Federal Railroad Admistration), que estipula os parâmetros limite de

monitoramento da geometria para ferrovias de bitola “métrica” e bitola “larga”,

portanto, estipula somente valores limites para a classe que a ferrovia se

enquadra, conforme (tabela 1) ficando sob responsabilidade das ferrovias

dimensionar seus parâmetros de criticidade da amplitude dos defeitos conforme

a aproximação dos limites estabelecidos.

3.7.6.1. Bitola

O parâmetro referente à bitola medido de três formas, sendo a bitola

máxima e mínima que são medidas transversalmente as duas filas de trilhos à

16 mm abaixo da superfície de rolamento dos trilhos, e também a variação de

bitola em 05 m, onde se faz uma medição em um determinado ponto e

posteriormente 05 m a frente. A diferença do valor medido entre os dois pontos

é o valor da variação da bitola.

Tabela 1 - Tabela de limites por classes.

Velocidade Máxima (Km/h) Bitola (1.600 mm)

Classe Passageiro Carga Mínima Máxima

FRA5 145 129 -13 25

FRA4 129 97 -13 25

FRA3 97 64 -13 32

FRA2 48 40 -13 32

FRA1 24 16 -13 38

3.7.6.2. Superelevação

Denomina-se superelevação a diferença de cota vertical entre os trilhos

de uma linha em curva. Ela acontece com a elevação do trilho externo da curva,

em um valor definido em função do raio da curva e da velocidade máxima dos

trens naquela curva, conforme ilustrado na Figura 12.

Figura 12 – Superelevação

Em tangente, os trilhos devem se apresentar em nível, com

superelevação zero (S=0). Na espiral, a superelevação cresce uniformemente,

desde o valor zero, no ponto que começa a curva de transição (TE), até o valor

final, no início da curva. O trilho externo assume inclinações crescentes e

gradativas (S = S1). Na curva 69 circular a superelevação será constante, igual

a S2 para decrescer na curva de transição seguinte, uniformemente, até o valor

zero, o ponto onde inicia-se nova tangente (ET). Segundo DUVAL (2001), as

principais funções da superelevação na linha são:

• Produzir uma melhor distribuição de cargas em ambos os trilhos;

• Reduzir os defeitos superficiais e desgastes dos trilhos e materiais rodantes;

• Compensar parcial ou totalmente o efeito da força centrífuga com redução de

suas consequências.

3.7.6.3. Empeno e Torção

Os fatores causadores dos defeitos de nivelamentos transversais, são

também responsáveis pelo aparecimento de Empeno e Torção na linha. Muito

mais severos que os demais defeitos de nivelamento, podem acarretar

descarrilamento de trens e 25 ocorrem, com maior freqüência em linhas que

possuem grandes quantidades de juntas consecutivas. O empeno indica a

potencialidade de instabilidade para dois truques de um mesmo vagão, enquanto

a Torção focaliza a questão para os dois rodeiros de um mesmo truque.

Torção (Twist) - A torção é a diferença entre a superelevação (SE1) de

um ponto (P1) de referência e a superelevação (SE0) de um ponto (P0) medido

anteriormente, a uma distância pré-determinada (bT), como mostra a Figura 13:

Figura 13 – Empeno/torção

Uma via com torção causa nos vagões o chamado movimento de Twist,

daí seu nome. A torsão é usada para indicar qual é a diferença de inclinação

entre os dois truques do vagão.

Empeno (Warp) - É a maior diferença entre superelevações dentro de uma

determinada distância “base de warp (bW)”. O trecho considerado para análise

é aquele que vai de bW/2 para trás até bW/2 para frente do ponto medido.

“Referência” Na Figura 14, estamos estudando warp na posição P1. O cálculo é

feito tomando-se a maior superelevação em qualquer ponto entre P0 e P2. Em

seguida, busca-se a menor superelevação no mesmo trecho. Não importa se

esses pontos estão antes ou depois de P1, apenas que eles estejam no trecho

definido por bW. O valor warp é a diferença entre as duas superelevações

extremas encontradas.

Figura 14 - Cálculo do empeno

3.7.7. Tolerâncias dos Parâmetros de Geometria da Via

Como dito em todo este documento, todo desvio medido na geometria da

via se torna defeito ao ultrapassar os limites de tolerância, definidos para a

ferrovia em questão. Segundo RODRIGUES (2001), embora haja várias teorias

de classificação das tolerâncias, devem existir pelo menos os seguintes níveis:

• de construção;

• de segurança;

• de conforto e;

• de manutenção.

A tolerância no nível de construção é aplicada para vias novas para

checar a qualidade do trabalho recebido. Como os componentes da via ainda

estão novos, essas tolerâncias são as mais exigentes de todos os níveis. Esses

valores são também utilizados para o recebimento de obras de renovação e

remodelação da via.

Os valores das tolerâncias no nível de segurança são definidos de modo

a evitar a existência de desvios, que podem gerar descarrilamentos da

composição e esforços acima das resistências de apoio e fixação da via. São os

valores definidos e que a partir dos quais a circulação de veículos se torna

insegura. Apontam à necessidade de serviços urgentes de correção geométrica,

os quais possuem prioridade sobre todos os demais.

O nível de conforto define valores que venham a proporcionar bem-estar

aos passageiros. É utilizado largamente nas ferrovias de transporte de

passageiros, mas não se aplica às ferrovias de carga e por este motivo, não será

detalhado neste trabalho.

Os valores das tolerâncias de manutenção são definidos de modo a

minimizar o custo total da manutenção, estabelecendo-se, assim, o momento

mais conveniente para a intervenção de manutenção.

Tabela 2 - Limite de tolerância ABNT/FRA

Velocidade Máxima (Km/h)

Bitola (1.600 mm)

Alinhamento Horizontal

Nivelamento longitudinal

Superelevação relativa (FRA)

Torção (twist)

base 10m

Empeno (warp)

base 20m

Classe Passageiro Carga Mínima Máxima Mín. / Máx. Mín. / Máx. Mín. / Máx. Mín. / Máx.

Máx.

FRA5 145 129 -13 25 +/- 16 +/- 32 +/-76 +/- 19 38

FRA4 129 97 -13 25 +/- 38 +/- 51 +/-51 +/- 25 44

FRA3 97 64 -13 32 +/- 44 +/- 57 +/-44 +/- 32 51

FRA2 48 40 -13 32 +/- 76 +/- 70 +/-32 +/- 44 57

FRA1 24 16 -13 38 +/- 127 +/- 76 +/-25 +/- 51 76

As classes de via apontadas na Tabela 3.1 são definidas pela norma 213

da FRA, artigo 9, e classifica as ferrovias de acordo com os níveis de qualidade

da via permanente, aspecto que vem a limitar ou definir as velocidades máximas

autorizadas (VMA) de circulação, a saber:

• Classe 1: VMA para circulação de trens de carga - 16 km/h; VMA para

circulação de trens de passageiros - 24km/h;

• Classe 2: VMA para circulação de trens de carga - 40 km/h; VMA para

circulação de trens de passageiros - 48km/h;

• Classe 3: VMA para circulação de trens de carga - 64 km/h; VMA para

circulação de trens de passageiros - 96km/h;

• Classe 4: VMA para circulação de trens de carga - 96 km/h; VMA para

circulação de trens de passageiros - 128km/h;

• Classe 5: VMA para trens de carga - 128 km/h; VMA para a circulação para

trens de passageiros - 144km/h.

A FRA ainda define uma classe extra, chamada Via Excepcional, com

VMA de 16 km/h para trens de carga e circulação de trens de passageiros

proibida.

Na malha do MetroRio, encontramos trechos que se encaixam nas classes 3.

Quanto mais alta a classe, menor o limite de tolerância e consequentemente

maiores custos de manutenção serão exigidos.

4. As rotinas de manutenção

O sistema de via permanente possui alta criticidade para a operação,

sendo suas falhas geralmente sentidas diretamente pelo usuário, na forma de

atrasos e interrupções. De mesmo modo, algumas das falhas são inaceitáveis

por incorrerem em risco à segurança dos usuários e da operação como um todo.

Assim sendo, as rotinas de manutenção são mantidas de forma a detectar

possíveis defeitos antes da ocorrência de falhas no sistema.

Essas rotinas se baseiam em inspeções visuais e demais técnicas

detectivas, como ultrassom, inspeção veicular com aplicação de carga dinâmica

e inspeção de desgaste com sistema de leitura laser.

Os planos de manutenção têm rotina e periodicidade orientados por

instruções de fabricantes e experiência dos mantenedores, muitas vezes sendo

orientadas por eventos isolados, que oneram a manutenção com atividades de

inspeção extra sem, no entanto, possuir tratamento estatístico que as

justifiquem.

5. A aplicação da técnica

Em boa parte das análises nos eventos de maior magnitude da ferrovia é

notório que o somatório de pequenos desvios pode ser mais impactante para o

sistema do que um defeito de maior proporção. Essa lacuna motivou o estudo

mais aprofundado de uma forma de medir a criticidade dos componentes e

permitir maior acurácia para as análises futuras. A planilha de análise IQT,

permite analisar o somatório de desvios por trecho, permitindo adicionar

diferenciais de gravidade em função do tipo e magnitude do defeito garantindo

assim maior efetividade no planejamento corretivos das atividades de via.

5.1. Matriz de criticidade

O primeiro passo foi definir a criticidade de cada componente para orientar

a ordem de elaboração do trabalho. A técnica escolhida ranqueia

qualitativamente cada equipamento em função de seus riscos operacionais. A

base para análise dos componentes foi retirada do FMEA de Via Permanente.

As dimensões observadas são:

• Segurança;

• Meio ambiente;

• Disponibilidade;

• Custo e operação.

Cada dimensão é subdividida em seus possíveis riscos e cada um desses

riscos possui uma matriz decisória para a pontuação. Dessa forma, foi possível

definir, de acordo com critérios objetivos a ordem de elaboração da matriz IQT.

Tabela 3 - Matriz de criticidade

Fator de Avaliação Segurança Meio

Ambiente Disponibilidade Custo Operação

Peso do Subcritério 3 3 1 1 2 2 2 3 3

Subcritério

Pro

bab

ilid

ade

de

Se

gura

nça

Gra

vid

ade

Pro

bab

ilid

ade

Me

io A

mb

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Cla

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icaç

ão d

e C

riti

cid

ade

Sistema Equipamento

AMV AMV 1 5 1 1 3 1 5 5 5 68 B

AMV ATV/Cruzamento 1 5 1 1 3 1 5 5 5 68 B

Acessórios AD 1 5 1 1 3 1 5 3 5 62 B

Trilhos Trilho de rolamento e solda 1 5 1 1 3 1 5 3 1 50 B

Superestrutura Laje 1 1 1 1 5 1 5 1 1 36 C

Superestrutura Lastro 1 3 1 1 3 1 3 1 1 34 C

Acessórios Lubrificador 1 1 3 3 1 1 3 1 1 28 C

Superestrutura Dormentes 1 1 1 1 3 1 1 1 1 24 C

Superestrutura Fixações 1 1 1 1 1 1 1 1 1 20 C

Superestrutura Elastômeros 1 1 1 1 1 1 1 1 1 20 C

5.2. Aplicação do IQT

5.2.1. Implantação do Modelo da matriz IQT

Na primeira fase realizamos o levantamento e identificação da criticidade

para cada equipamento e suas funções de projeto. Para cada função de projeto,

são mapeados os possíveis efeitos das falhas e suas potenciais causas.

Tabela 4 - Exemplo de elaboração da primeira fase

Função de

projeto

Efeito potencial da falha

Modo potencial da falha

Causa potencial da falha

Per

mit

ir a

pas

sage

m d

e tr

ens

em

d

uas

via

s co

nco

rren

tes

Des

carr

ilam

ento

Abertura de bitola

Sistema de fixações danificado

Dormente danificado

Contratrilho desgastado

Parafuso do jacaré contratrilho solto

Núcleo desgastado

Suporte do contratrilho quebrado

Falha na inscrição no jacaré

Desgaste do contratrilho

Quebra do suporte do contratrilho

Parafuso do jacaré contratrilho solto

Falha na regulagem do contratrilho

Defeitos geométricos

Na próxima fase, são analisadas a taxa de falhas e severidade de cada

componente listado na planilha, nessa fase identificamos os componentes mais

críticos para o sistema e as principais causas de falhas e ações.

Outra análise fundamental levantada para a criterização de cada trecho,

foi o levantamento geométrico (rampa; raio de curva; superelevação/trecho em

elevado/ponte), dessa forma garantimos critérios de acordo com as

particularidades de cada geometria.

5.2.1. Aplicação de critério para priorização do resultado do IQT

A definição dos valores aplicados para todos os defeitos listados pesos

foram discutidos e alinhados entre as áreas de engenharia técnica, engenharia

de manutenção e planejamento (PCM).

Para cada componentes listados na planilha, foi realizado o levantamento

da quantidade total por estaca/ponto quilométrico, dessa forma conseguimos

converter em percentual aceitável de degradação por cada item. Os defeitos

geométricos foram inseridos seguindo os parâmetros ABNT e FRA.

A função da planilha IQT, prioriza o somatório de defeitos destintos por

trecho, levando em consideração sempre a geometria de via, com isso temos um

olhar amplo e criterioso para as tomadas de decisões.

Tabela 5 – Mapeamento geométrico (IQT)

Nota: Para elaboração dos critérios, tivemos como base normas e manuais

de boas práticas (ABNT; AREMA; FRA).

5.2.2. Customização

A customização da planilha ocorreu em blocos, cada bloco representa o

subsistema e seus componentes, sendo cada bloco organizado e gerenciado por

seus respectivos supervisores de Via Permanente.

Esse formato direciona a inserção de dados apenas pela supervisão

pertinente, diminuindo assim a possibilidade de duplicidade dos dados,

orientando uma tomada de decisão mais assertiva.

Tabela 6 - Modelo customizado

6. Benefícios

• Otimização de mão de obra – Com a compilação dos dados, é possível

direcionar equipes multidisciplinares para a manutenção corretiva de

desvios diversos.

• Otimização dos recursos (material e equipamento) – Assim como a

otimização da mão de obra, é possível planejar e otimizar a utilização de

material equipamento para atividades diversas.

• Melhor priorização das atividades – Atualmente a priorização das

atividades é realizada apenas com a percepção do mantenedor. Com a

implantação do IQT e a validação dos critérios, o produto vai ser a entrega

do trecho mais crítico de forma automaticamente.

• Redução nos custos de manutenção – Com melhor planejamento das

atividades, ocorrera menor número de intervenções, reduzindo o custo

com material, equipamento e mão de obra.

• Redução dos riscos operacionais - Com maior efetividade no

planejamento das atividades, reduziremos os acessos a via de forma

sistemática, diminuindo assim os impactos nas janelas operacionais.

• Melhor controle dos dados – Com o compilamento dos dados em uma

única planilha, o controle e planejamento das atividades ficam mais

assertivos, melhorando a velocidade e fluidez das tomadas de decisões.

• Maior interface/sinergia com outras áreas – Após a validação do protótipo

de via permanente, existe a possibilidade de integração entre todas as

áreas de manutenção (Tráfego; Energia; Via; Estruturas), otimizando e

priorizando as atividades de forma conjunta e efetiva para o sistema

ferroviário.

7. Considerações Finais

O estudo foi elaborado se referenciando nos parâmetros limites

estabelecidos pela NBR 16387:2016 Classificação de Vias - Vias férreas,

portanto, fica a critério da operadora estabelecer seus critérios de manutenção

conforme a evolução dos defeitos, e executar as intervenções necessárias

antes do atingimento dos valores preconizados em normas e manuais de boas

práticas ferroviários.

Evidentemente a aplicação da planilha (IQT) trará uma redução no custo

das manutenções e velocidade na atuação das corretivas (planejamento), que

justifica um estudo de custo x benefício do investimento para automatização do

processo no que se refere à correção de defeitos de Via Permanente.

8. Conclusão

A planilha de medição do índice de qualidade do trecho (IQT), analisa os

dados inseridos de forma a criterizar de forma técnica e padronizada os pontos

com maior necessidade de intervenção.

Estamos na fase de inserção dos dados gerados pelas atividades

preventivas de inspeção de via, carro controle, inspeção por ultrassom veicular

e prospecção de via, após a inserção dos dados, calibraremos os critérios

utilizados para cada componente, entregando assim um produto confiável e

dentro dos parâmetros de segurança operacional. O produto final desse

trabalho será o desenvolvimento de um programa, que atualize de forma full

time e com interface direto com nosso software de manutenção, tornando o

processo dinâmico e com maior fluidez.

A técnica de FMEA permitiu análises aprofundadas nas falhas sistêmicas,

com abordagem de riscos ao invés de falhas de componentes. Essa análise

permitiu a priorização da criticidade para cada componente.

9. Anexos:

10. REFERÊNCIAS

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ítens slow moving de Via Permanente – Ano 2019. (s.d.).

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