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APÓS POSTONE – Roswitha Scholz Publicado em 19 de junho de 2015 por Critica Radical (http://criticaradical.org/author/criticaradical/) . Sobre a necessidade de transformação da ‘crítica do valor fundamental’. Moishe Postone e Robert Kurz em comparação – e a crítica da dissociação- valor Roswitha Scholz No texto são postas em destaque as diferenças entre Kurz e Postone do ponto de vista do “individualismo metodológico” (incriminado por Kurz). Expressas em termos esquemáticos, essas diferenças funcionam assim: enquanto Kurz insiste em ler “O Capital” como um todo e só depois observar a forma da mercadoria, situação em que o terceiro volume de “O Capital” assume importância, justamente para o processo das categorias reais de um colapso/decadência do capitalismo hoje observável também empiricamente, Postone agarra-se às primeiras 150 páginas de “O Capital” e desenvolve a partir daí o curso do capitalismo, sem consequências em termos de teoria da crise. Postone recorre basicamente à forma da mercadoria, Kurz à forma do capital. Ao mesmo tempo, Postone defende implicitamente um ponto de vista que tende a ser ideologicamente complacente com a classe média, não em último lugar porque coloca em primeiro plano sobretudo a ecologia, enquanto Kurz, bem consciente da questão ecológica, desmascara simultaneamente os interesses de classe média como ideologia; em Postone, no fundo, existe um “limite interno” apenas no plano da ecologia, mas não no da economia. Posto isto, Postone e Kurz (pelo menos no seu último livro “Dinheiro sem Valor”) movem-se ambos no plano do capital como processo total. O plano da “dissociação do feminino” em relação ao valor (mais-valia), entendido em termos de dialéctica negativa, não surge em nenhum deles ou surge apenas secundariamente. Da perspectiva da crítica da dissociação-valor, no entanto, os diferentes planos, o plano material, o cultural-simbólico e – last, but not least – o psicanalítico terão de ser relacionados entre si, em seu entrelaçamento dialéctico e simultânea separação, no seu desenvolvimento processual. Só assim poderá ser suplantada a totalidade negativa, para além do individualismo metodológico androcêntrico, bem como do universalismo androcêntrico, que na realidade caracteriza essencialmente a decadência de crise do patriarcado capitalista. (Resumo na Revista EXIT! nº 12)

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25/07/2015 APÓS POSTONE – Roswitha Scholz | Critica Radical

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APÓS POSTONE – Roswitha ScholzPublicado em 19 de junho de 2015 por Critica Radical (http://criticaradical.org/author/criticaradical/).

Sobre a necessidade de transformação da ‘críticado valor fundamental’. Moishe Postone e RobertKurz em comparação – e a crítica da dissociação-

valorRoswitha Scholz

 

No texto são postas em destaque as diferenças entre Kurz e Postone do ponto de vista do “individualismometodológico” (incriminado por Kurz). Expressas em termos esquemáticos, essas diferenças funcionamassim: enquanto Kurz insiste em ler “O Capital” como um todo e só depois observar a forma da mercadoria,situação em que o terceiro volume de “O Capital” assume importância, justamente para o processo dascategorias reais de um colapso/decadência do capitalismo hoje observável também empiricamente, Postoneagarra-se às primeiras 150 páginas de “O Capital” e desenvolve a partir daí o curso do capitalismo, semconsequências em termos de teoria da crise. Postone recorre basicamente à forma da mercadoria, Kurz àforma do capital. Ao mesmo tempo, Postone defende implicitamente um ponto de vista que tende a serideologicamente complacente com a classe média, não em último lugar porque coloca em primeiro planosobretudo a ecologia, enquanto Kurz, bem consciente da questão ecológica, desmascara simultaneamenteos interesses de classe média como ideologia; em Postone, no fundo, existe um “limite interno” apenas noplano da ecologia, mas não no da economia. Posto isto, Postone e Kurz (pelo menos no seu último livro“Dinheiro sem Valor”) movem-se ambos no plano do capital como processo total. O plano da “dissociação dofeminino” em relação ao valor (mais-valia), entendido em termos de dialéctica negativa, não surge emnenhum deles ou surge apenas secundariamente. Da perspectiva da crítica da dissociação-valor, no entanto,os diferentes planos, o plano material, o cultural-simbólico e – last, but not least – o psicanalítico terão de serrelacionados entre si, em seu entrelaçamento dialéctico e simultânea separação, no seu desenvolvimentoprocessual. Só assim poderá ser suplantada a totalidade negativa, para além do individualismometodológico androcêntrico, bem como do universalismo androcêntrico, que na realidade caracterizaessencialmente a decadência de crise do patriarcado capitalista. (Resumo na Revista EXIT! nº 12)

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Introdução * A argumentação de base de Postone * Individualismo metodológico, estrutura-acção e afins *Forma da mercadoria e forma do capital * Dinheiro – circulação – forma do capital – mais-valia * Relaçãoentre trabalho abstracto e trabalho concreto * Tempo abstracto, tempo histórico concreto, tempobiográfico, tempo do mundo do dia-a-dia e tempo concreto do colapso do capitalismo * Sujeitorevolucionário e socialização de classe média * Dissociação-valor, totalidade fragmentada e disparidadessociais: algumas observações necessariamente incompletas sobre o contexto da dissociação-valor comocontexto social basilar

 

Introdução

Postone é considerado um clássico da  crítica do valor fundamental  (ainda que nunca tenha usado estaexpressão). Ele formulou as suas conclusões fundamentais sob diversos aspectos, ao que parece apenas comum pequeno defeito estético: a falta de uma teoria da crise. No contexto da conclusão de que a elaboraçãoteórica também tem um “núcleo temporal” (Adorno) gostaria de mostrar que isto também se aplica à críticado valor fundamental e a Postone. Pois houve entretanto uma série de modificações nos últimos trinta anos,das quais a mais importante é a correcção pela crítica da dissociação-valor. Robert Kurz efectuou tambémcorrecções decisivas no livro Dinheiro sem valor, tendo consumado de certo modo umacapitalturn: já não é aforma da mercadoria que está no centro da crítica, mas a forma do capital, o fetiche do capital. Em ligaçãocom isto Kurz zurze o “individualismo metodológico” de diversas abordagens marxistas que fazem da formada mercadoria o cerne do capitalismo (Kurz, 2012). Aqui ele deixa de lado em grande parte Moishe Postone,cuja interpretação de Marx é ou era aparentada com a sua própria concepção. Gostaria agora de retomar isto,pelo menos em alguns aspectos. Aqui deve estar em primeiro plano a questão do “individualismometodológico” e, neste contexto, a da relação entre estrutura e acção/sentido, entre subjectividade eobjectividade, entre concretude e abstractude, entre dimensão micro e macro e afins. Isto deve ocorrer nãoem último lugar também porque Kurz acusa mais ou menos implicitamente Postone, entre outras coisas, deuma elaboração teórica funcionalista, que negligencia a acção, o sentido, a consciência e afins comodimensões essenciais da teoria crítica.

Trata-se, portanto – se se quiser – de uma problemática de teoria do conhecimento (no entanto sem nuncadeixar de reconhecer que a teoria do conhecimento já tem de ser sempre teoria social). Provar-se-á umprocedimento diferente em Postone e em Kurz, sobretudo contrapondo citações palavra por palavra de Kurze Postone; assim é preciso combater uma leitura meramente superficial de Kurz e Postone que se perde nasemelhança e na comparabilidade de ambas as abordagens, sendo a transição de Kurz da forma damercadoria para a forma do capital entendida como mero “deslocamento da tónica”.

 

A concluir entro depois ainda brevemente no metaplano da forma da dissociação-valor, uma forma com aqual, a meu ver, se trata de facto da consequência para o entendimento da totalidade do patriarcadocapitalista juntamente com as correspondentes novas disparidades sociais na pós-modernidade tardia quenão são de modo nenhum tidas em conta de modosistemático no contexto da crítica do valor “clássica”.

 

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A argumentação de base de Postone

Segundo Postone, mercadoria e valor são o fundamento da mais-valia e do capital em Marx. Assim, valor etrabalho são importantes apenas para a socialização capitalista. Segundo Postone, o trabalho não pode serconsiderado trans-histórico, como no marxismo tradicional, segundo o qual os capitalistas se apropriam damais-valia e os trabalhadores são explorados. As categorias marxianas são aqui afinal condições de vida e deexistência no capitalismo, tanto na dimensão subjectiva como na objectiva. O que também se aplica àcategoria dinheiro. Tais categorias, na sua generalidade abstracta, são válidas apenas para o capitalismo. Ovalor é o fundamento da produção capitalista, “uma forma de riqueza historicamente específica docapitalismo, que o afasta da riqueza ‘real’. Enquanto a primeira se baseia no dispêndio directo de força detrabalho humana, a segunda mede-se na produção de bens e depende de uma multiplicidade de factoresnaturais e sociais, incluindo também o saber da sociedade. O valor está na base de um sistema de produçãodinâmico… que leva a um enorme crescimento da produtividade.” (Postone, 2013, p. 372) A mercadoria épara Postone o ponto de partida da análise do capital de Marx e isto como forma social, não apenas comomercadoria concreta. Ela é a forma da objectividade e da subjectividade sociais, também em relação às“categorias culturais” (Postone, 2013, p. 389) A importância das categorias valor, mercadoria, trabalhoconcreto e abstracto apenas no desenvolvimento destas se torna depois clara. O trabalho tem um carácterduplo; trabalho concreto é em primeiro lugar o que é em todas as sociedades: mediação entre o ser humanoe a natureza. Trabalho abstracto aqui não é o somar de trabalho concreto, mas transmite no capitalismo umanova forma de dominação social que já não está baseada em dominação pessoal, relações de parentesco,normas tradicionais etc. “De acordo com Marx, portanto, o trabalho no capitalismo tem de ser entendidotanto trans-historicamente e correspondendo ao uso normal da palavra como também no sentido de umaforma de dominação social historicamente específica. Ele objectiva-se assim tanto em produtos concretos dotrabalho como também em formas objectivadas de mediação social. Com isto estamos perante o cerne daconcepção marxiana de mercadoria e capital.” (Postone, 2013, p. 375) Na consciência normal, nem adimensão concreta nem a abstracta são aqui percebidas como socialmente construídas, mas sim imaginadascomo naturais.

 

A riqueza material é aqui por assim dizer a dimensão de valor de uso do trabalho. O valor, pelo contrário, éexpressão do trabalho abstracto e baseia-se no dispêndio de tempo de trabalho humano. O valor é aqui umaforma de riqueza e simultaneamente uma forma de “mediação social”. Para a forma social é assim decisivoque “enquanto o trabalho individual como trabalho concreto é particular e  parte  deum conjunto qualitativamente heterogéneo, como trabalho abstracto ele é um momento individualizado deuma forma qualitativamente homogénea de mediação social, que constitui uma totalidade social” (Postone,2013, p. 377, destaque no original). Trata-se aqui de um contexto de práxis que se autonomizou perante osseres humanos. Estes são agora “cada vez mais (submetidos) a imperativos e coerções impessoais eracionalizadores” (Postone, 2013, p. 377). Daí resulta uma dominação anónima que pouco tem a ver comdominação de classe.

 

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Esta dominação é segundo Postone fundamentalmente do tempo. Neste contexto, o tempo abstractonewtoniano comanda as pessoas. “Logo que o capitalismo se desenvolveu plenamente, aumentos deprodutividade contínuos determinam em novos moldes a unidade de tempo (abstracto) – e na verdade nelase impelem de certo modo para a frente. Trata-se aqui de um movimento do próprio tempo. Movimento quepor isso não pode ser apreendido no quadro do tempo newtoniano, mas exige um quadro de referênciasuperior, no interior do qual o quadro do tempo newtoniano é movido para a frente. O que primeiro surgecomo variável independente no interior de um quadro é dependente no outro. Este movimento do tempopode ser designado como tempo histórico. (Postone, 2013, p. 379, destaque no original) O tempo históricoestá assim entrelaçado com o tempo abstracto. O resultado disto é o valor que se valoriza a si mesmo e o seumovimento processual que caracteriza o capitalismo na sua essência: “O capital, portanto, é uma correnteabstracta por trás do domínio das aparências, um imparável processo de auto-expansão do valor, ummovimento orientado sem telos exterior, que gera ciclos de grande dimensão de produção e consumo, decriação e destruição” (Postone, 2013, p. 380, destaque no original)

 

O contexto do cerne da argumentação de Postone é assim o seguinte: “Em O Capital Marx radica a dinâmicahistórica do capitalismo no duplo carácter da mercadoria e, portanto, no capital. Como forma de riquezahistoricamente específica e determinada pelo tempo, o valor está na base de uma pressão contínua para oaumento da produção que caracteriza a produção capitalista. Uma vez que o valor é apenas uma função dotempo de trabalho socialmente necessário, o aumento da produtividade geral da sociedade tem porconequência grandes quantidades de riqueza material, mas não o aumento da produção de mercadorias porunidade de tempo. Esta circunstância gera por sua vez um novo crescimento da produtividade. Esta dinâmicadialéctica entre valor e valor de uso está logicamente implícita na descrição feita por Marx do tempo detrabalho socialmente necessário, na sua análise preliminar da forma da mercadoria, e torna-se depoisexplícita com o desenvolvimento do conceito de mais-valia e de capital. Se a categoria da mais-valia éentendida apenas como categoria da exploração, como  mais-valia mas não como mais-valia  – por outraspalavras, não como mais de uma forma de riqueza temporal – a dialéctica por ela desenvolvida não pode seradequadamente percebida.” (Postone, 2013, p. 381, destaque no original)

 

Aqui a introdução da mais-valia relativa desempenha para Postone um papel importante: “Com a introduçãoda categoria da mais-valia relativa, a lógica da abordagem esboçada por Marx nos primeiros capítulos de OCapital torna-se uma lógica histórica, marcada pela aceleração do tempo. Uma vez que a mais-valia relativa,segundo Marx, é consequência do aumento da produtividade, a fim de reduzir o tempo necessário àreprodução do trabalhador, para gerar um determinado aumento de mais-valia a produtividade tem de sertanto mais aumentada quanto mais alta já é a produtividade geral da sociedade.” (Postone, 2013, p. 382 sg)No entanto ele não chega assim a uma teoria da crise que tenha em conta a crise fundamental dasocialização da dissociação-valor, mas parte da hipótese de um capitalismo perpétuo. “A dinâmica históricado capitalismo gera portanto incessantemente o  novo,  restabelecendo simultaneamente  o mesmo.”(Postone, 2013, p. 383, destaque no original) Postone vê aqui o perigo do colapso ecológico e da produção desupérfluos, se não se perceber a possibilidade de uma transformação social que actualmente resulta dacontradição entre matéria e forma na sua dimensão temporal.

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Individualismo metodológico, estrutura-acção e afins

 

Por “individualismo metodológico” entende Kurz o seguinte: “O conceito de individualismo metodológico éaqui entendido num sentido mais lato do que o é muitas vezes nas ciências sociais, com destaque para aeconomia, isto é, não apenas referido lógica e imediatamente às acções dos indivíduos (na economia política:do homo oeconomicus), mas, de um modo geral, a algo idealmente individual; ou seja, também no sentidoinstitucional ou categorial. Nesta medida, o individualismo metodológico consiste, no essencial, empretender expor e explicar uma lógica abrangente e determinante para um todo com base no caso individuale isolado, que então figura como ‘modelo’, entendendo-se como tal não apenas acções individuais definidascomo ‘fundamentais’, mas também formas estruturais, designadas por ‘embrionárias’, ou partes elementarestratadas como algo idealmente individual. É possível estender este procedimento a ‘metamodelos’, em quese supõe que o todo volte a apresentar-se de um modo ideal-típico; mas é justamente com base numa lógicade actos, estruturas ou partes elementares individuais (aqui de índole económica) que são insuflados ou‘agregados’ a grandezas e relações respeitantes à sociedade no seu todo.” (Kurz, 2012, p. 59 sg / 53 sg) (1)

 

Perante este pano de fundo, Kurz não só critica o facto de em muitos marxismos estar por detrás da análisedo capitalismo a forma simples da forma da mercadoria, considerada como forma de nicho da lógica docapital, coisa que historicamente não pode de facto ser verificada, mas também relaciona a noção de“individualismo metodológico” com o conceito de capital. Para ele “aqui o que está em causa não é apenas arelação entre a forma da mercadoria e a forma do capital enquanto tal, ou entre a forma da mercadoria e aforma do dinheiro como meras manifestações da forma do capital… mas igualmente a relação entre amercadoria individual ou o capital individual e o capital global ou a totalidade do contexto social que Marx,no terceiro volume, designa por ‘processo global’”. (Kurz, 2012, p. 167/148) Também a relação sujeito-objectocorrente é afectada por isso: “Neste quadro, a própria oposição entre sujeito e objecto provém apenas domodo de percepção do fetiche do capital moderno… Marx falou… como é sabido e a justo título, do ‘limiteinterno’ do capital, o que, por muitas voltas que demos, não pode ser interpretado como mera resultante deintenções subjectivas.” (Kurz, 2012, p. 236/211) “Não altera nada neste quadro que o objecto ou circunstânciapressupostos não sejam um processo natural ou uma máquina, mas a sociedade humana sob a dominaçãodo fim-em-si capitalista… é um facto que a acção subjacente também é consciente mas, nas condições docapitalismo… daí resulta a situação paradoxal de a consciência se limitar ao pormenor (à acção individual,empresarial ou estatal), ao passo que a generalidade ou o contexto global se torna um processoinconsciente… no plano macro, (reina) a total inconsciência… É precisamente nisto que consiste oescândalo da socialização fetichista.” (Kurz, 2012, p. 237 sg / 212) Com isto ele também se demarca doentendimento da relação de valor como relação de validade, que – de certo modo como de acordo com aideia de fundo – é sobretudo um produto da acção: “Mas se a crise não residir no mero conflito em torno de‘relações de validade’ [Geltung] subjectivas, mas na ‘validade’ [Gültigkeit] da ‘riqueza abstracta’ reificada edo seu movimento de valorização autonomizado, também o seu motivo último terá de ser procurado numacontradição interna objectiva desse processo.” (Kurz, 2012, p. 237/211).

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Postone também parte do capital como sujeito-objecto da história – mas tendo sempre como pano de fundoa mercadoria individual, a forma da mercadoria como verdadeira raiz. A teoria de Marx é “uma teoria daconstituição histórica de formas sociais específicas que são simultaneamente formas de objectividade e desubjectividade sociais”. Também para Postone não há qualquer vulgar sujeito individual ou colectivo,também para ele central é a “constituição de formas sociais”: “No âmbito dessa teoria, as categorias… e asnormas de acção podem ser vistas como ligadas na medida em que ambas, em última análise, são baseadasna estrutura das relações sociais” (Postone, 2003, p. 333/253) situação em que as categorias sociaispercebidas são constituídas pelo trabalho, não pelo trabalho concreto, mas pelo trabalho como mediadorconstitutivo do fetichismo. “A teoria… da práxis social no capitalismo é, assim, uma teoria da constituiçãopelo trabalho das formas sociais que medeiam as relações entre as pessoas umas com as outras e com anatureza, e são simultaneamente formas de ser e de consciência.” Estas “não podem ser apreendidas noplano imediato apenas da interacção” (Postone, 2003, p. 335/255). Daí segue-se para ele que: “Umaformulação adequada da teoria de Marx da constituição das formas de subjectividade e objectividade nocapitalismo deve analisar a interacção entre estrutura e práxis em termos da dinâmica contraditória datotalidade; sobre essa base poder-se-ia desenvolver uma teoria da transformação histórica da subjectividadeque elucidaria a constituição social e histórica do desenvolvimento das necessidades e percepções”(Postone, 2003, p. 341/259) Assim se imagina Postone para além do “funcionalismo”: “É uma teoria nãofuncionalista da subjectividade social que é baseada, afinal, na análise das formas de relações sociais… Ateoria de Marx… busca, de facto, apreender a vida social em categorias que lhe permitam tratar a estruturado significado como um momento intrínseco de uma estrutura de relações sociais constituídas econstituidoras.” (Postone, 2003, p. 342 sg / 260) Em oposição a isto até parece que Kurz argumentaria demodo puramente funcionalista.

 

No entanto, o insistir de Kurz no plano macro, no processo objectivo de modo nenhum é tão pobre de acção,ignorante da consciência e afastado da práxis (no sentido amplo de práxis social) como uma leiturasuperficial poderia sugerir: “A intencionalidade ‘livre’ no plano micro converte-se num exercício mecânico daobjectividade no plano macro, por um lado, e num modo irracional de reagir (ideologia) a este processo e aosseus resultados, por outro. Nesta inversão estão necessariamente lançadas as bases da crise, uma vez que o‘sujeito automático’ nem pensa nem age enquanto tal, não sendo outra coisa senão a forma cega que seencontra  a priori  na base da acção humana; mais concretamente, é a forma de um movimento, de umprocesso dinâmico a que a concorrência universal intrínseca a essa forma obriga.” (Kurz, 2012, p. 263/235)

 

É justamente em Kurz que o capital como sujeito-objecto da história tem a mais elevada prioridade que, noentanto, não é possível derivar da mercadoria. Isso corresponderia a um procedimento ele próprio orientadopelo individualismo metodológico. Pelo contrário, será preciso colocar a questão crítica da ideologia de“como o valor é constituído pelas pessoas e pode ser operacional, embora elas ignorem sua existência”,como também Postone constata no fim do seu livro (Postone, 2003, p. 595/459). Aqui se encontram de factoKurz e Postone, mas não pode haver dúvida de que Kurz vê aqui o lado objectivo como decisivo,considerando assim como subordinada a dimensão da acção, que para ele no entanto existe absolutamente.

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Esta última surge nele com mais força que em Postone como crítica da ideologia. Nesta perspectiva, apretensão de não perder de vista a dominação anónima é na verdade muito mais conseguida em Kurz do queem Postone.

 

 

Forma da mercadoria e forma do capital

 

O conflito nuclear entre Kurz e Postone é aqui a diferente relação entre forma da mercadoria e forma docapital. É verdade que ambos partem da mesma contradição de base: esta é “o ponto fulcral tanto da teoriaradical da crise que vai até ao fundo das coisas, como igualmente da crítica e ultrapassagem do fetiche docapital que vai até ao fundo das coisas, a saber, a distinção e oposição estrita entre matéria e forma, entreprodutos concretos e objectualidade do valor abstracta” (Kurz, 2012, p. 249/222). Mas Kurz toma aqui comoverdadeiro ponto de partida o capital e não o fetiche da mercadoria. Escreve ele: “Do verdadeiro contexto demediação complexo do ‘processo global’ apenas se fala no terceiro volume, embora aí já se encontre numarelação de tensão não resolvida face à análise da forma do valor ou da mercadoria que consta do primeirovolume, ainda fixada na mercadoria individual ideal-típica. Se o capital for o verdadeiro pressuposto daforma da mercadoria, continua ainda assim a aplicar-se que o capital global ou o ‘processo global’ do capitaltem de ser o verdadeiro pressuposto do capital individual e, com ele, também da mercadoria individual.Desta perspectiva, que faz seu um entendimento dialéctico da totalidade e já não segue o individualismometodológico…, a exposição de Marx só pode referir-se, no fundo, ao todo mediado em si mesmo da relaçãofetichista do capital. As categorias reais do capital que são objecto da exposição teórica de Marx devem, porisso, ser entendidas desde o início e em todos os planos da exposição como meras categorias do todo social,do capital global e do seu movimento global, enquanto massa global que não pode ser abarcada de umaforma empírica imediata porque, tanto em termos qualitativos como quantitativos, é diferente domovimento empírico dos capitais individuais. No entanto, este último é o único que se apresenta aos actoresna prática, ao passo que o verdadeiro movimento do capital global real só pode ser registado de formaempírica com base nos seus efeitos sociais (sobretudo em tempos de crise). (Kurz, 2012, p. 176 sg / 156 sg) Aíele critica mesmo Marx: “O problema da exposição de Marx acaba por dever-se ao facto de o ‘começo’ nafigura da análise da forma do valor conduzir, mesmo sem querer, à armadilha do individualismometodológico – o que não só se aplica à lógica trans-histórica suposta ou integrada da forma da mercadoria‘simples’, mas igualmente à própria análise do capital. As determinações elementares da forma do valor damercadoria enquanto momento do capital nem sequer podem ser desenvolvidas com base na mercadoriaindividual… As determinações analíticas da forma da mercadoria e do capital só podem ser derivadas daanálise conceptual da relação global.” (Kurz, 2012, p. 169/150)

 

Também Postone parte do princípio de que só no capitalismo se pode falar da categoria mercadoria, ela nãoé uma categoria da história real que sempre tenha existido. Ao contrário de Kurz, no entanto, Postone parteda mercadoria como forma elementar do capitalismo – ainda que ele também não parta da mercadoriaconcreta, mas da forma da mercadoria: “Partindo da categoria da mercadoria como forma dualística (valorde uso e valor de troca, trabalho concreto e trabalho abstracto, R. S.), unidade não idêntica, Marx desenvolve

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a sociedade capitalista como estrutura abrangente da totalidade, bem como a lógica intrínseca do seudesenvolvimento histórico e os elementos da experiência social imediata que esconde a estruturafundamental desta sociedade. Para a crítica marxiana da economia política, a mercadoria é a categoriaessencial no coração do capital; ele a revela para iluminar a natureza do capital e a sua dinâmica intrínseca.”(Postone, 2003, p. 217/164 sg) É aqui perfeitamente claro que Postone cairia sob o veredito kurzeano doindividualismo metodológico. Também Postone parte do princípio de que os três volumes de O Capital têmde ser lidos como tal: “O modo de exposição de Marx nos primeiros capítulos de  O capital  tem sido vistofrequentemente como histórico, pois começa com a categoria da mercadoria, em seguida considera odinheiro e depois o capital. Mas esta progressão não deve ser interpretada como uma análise de umdesenvolvimento histórico imanentemente lógico que leva do aparecimento inicial das mercadorias até umsistema capitalista completamente desenvolvido… Uma vez que se apresenta um desenvolvimento históricológico destinado a levar ao capitalismo – como na análise da forma de valor no primeiro capítulode O capital – essa lógica deve ser entendida comoretrospectivamente aparente e não como imanentementenecessária.” (Postone, 2003, p. 203/153 sg, destaque no original) “O desenvolvimento da exposição de Marxentre o primeiro e o terceiro volumes de O capital deveria, portanto, ser entendido não como um movimentode abordagem da “realidade” do capitalismo, mas como abordagem das suas múltiplas formas na aparênciasuperficial.” (Postone, 2003, p. 209 sg / 159) Kurz diz, por outro lado: “O dualismo dos planos categorial eempírico deve-se unicamente ao ‘problema da exposição’ analítico-teórico, que se vê na obrigação de isolarmentalmente as categorias abstractas para sequer tornar possível o conhecimento. Na realidade, porém, osdois momentos, diversos na reprodução mental, estão tudo menos separados; a ‘empiria’ é a das categorias,e as categorias são as da empiria.” (Kurz, 2012, p. 239/214)

 

Para Postone, os conceitos desenvolvidos de “mercadoria, valor, capital e mais-valia representam a estruturaprofunda da sociedade capitalista” (Postone, 2003, p. 211/160). No entanto, o facto já referido de ele,seguindo Marx, colocar a mercadoria como o primeiro, a partir do qual depois se desenvolvem os outrosconceitos, mostra-se particularmente claro no seguinte ponto: “Marx tenta reconstruir a totalidade social dacivilização capitalista começando com um único princípio estruturante – a mercadoria – e desenvolvendo apartir dele as categorias do dinheiro e do capital. Este modo de apresentação, visto em termos do seu novoauto-entendimento, expressa as singularidades das formas sociais que são investigadas. Esse métodoexpressa, por exemplo, que uma característica particular do capitalismo é ele existir como uma totalidadehomogénea que pode se revelar a partir de um único princípio estruturante.” (Postone, 2003, p. 219/166)

 

Quanto a isto, para Kurz as primeiras 150 páginas de  O Capital  de modo nenhum estão encerradas, porexemplo, encontra-se já nelas o conceito de trabalho abstracto que Marx volta a utilizar no terceiro volume(vide supra). Para Kurz, no entanto, o plano do capital global / da relação de fetiche de conjunto é decisivo.Em termos esquemáticos poder-se-ia dizer: para Kurz, primeiro vem o capital global, situação em que acontradição em processo representa  neste  contexto o cerne da forma do capital; só depois,retrospectivamente e apenas retrospectivamente, Marx “constrói” a forma da mercadoria e o “valor” nasprimeiras 150 páginas de O Capital, onde, segundo Kurz, como se disse, o trabalho abstracto é mencionadomas ainda não é realmente tido em conta. Perante este pano de fundo de um “movimento em si mesmo”histórico, Kurz fala depois também da forma do valor, tendo em conta o individual e as dimensões micro.

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Assim ele objecta a Michael Heinrich: “Mas se a forma do valor é uma determinação apriorística,constitutivamente anterior à produção e ao mercado, ao produto individual assiste, sim, ‘objectualidade dovalor’ enquanto carácter de mercadoria, precisamente porque já a priori é um componente de um todo socialcomum.” (Kurz, 2012, p. 190/168) Ou, formulado ao contrário: “Seria de reter aqui que as categorias obtidasno início da exposição de Marx não desaparecem a seguir, mas são mantidas no posterior desenvolvimento esão evidenciadas no seu verdadeiro contexto de mediação, como categorias não da forma da mercadoriasimples, mas sim da relação de capital.” (Kurz, 2007) Para Kurz, no entanto, não se trata aqui de umaperfeiçoamento da teoria de Marx com o correspondente recurso, pelo contrário, as categorias marxianasdevem ser vistas como categorias reais, ainda que teoria e empiria não possam corresponder de um modosimples.

 

 

Dinheiro – circulação – forma do capital – mais-valia

 

A diferente abordagem de  O Capital  de Marx mostra-se também no diferente tratamento da relação entredinheiro, circulação e capital. Enquanto Postone segue o percurso do pensamento de Marx em  O Capital,Kurz por sua vez coloca aqui a forma do capital como um  prius. Escreve Postone: “Marx estrutura a suainvestigação do dinheiro como um desdobramento dialéctico, derivando logicamente tanto a forma social dodinheiro, que leva à sua análise do capital, como as formas da aparência que encobrem aquela forma social.Partindo da análise da mercadoria como dualidade valor e valor de uso, Marx determina o dinheiro como aexpressão manifesta exteriorizada da dimensão valor da mercadoria… Ele argumenta que numa sociedadeonde a mercadoria é a forma universal do produto o dinheiro não torna as mercadorias mensuráveis; em vezdisso, é uma expressão, uma forma necessária da aparência da sua mensurabilidade, do facto de que otrabalho funciona como uma actividade socialmente mediadora. Entretanto, esse não  parece  ser o caso,como Marx mostra depois no decurso da elaboração das várias funções do dinheiro (como medida do valor,meio de circulação e dinheiro).” …“A natureza do dinheiro (permanece) no capitalismo velada – o dinheironão pode aparecer como expressão exteriorizada da forma de mediação social que constitui a sociedadecapitalista (o trabalho abstracto objectivado como valor)” (Postone, 2003, p. 399/303, destaque no original). Econtinua: “Com a expansão da circulação, tudo passa a ser convertível em dinheiro… Este encarna umaforma nova e objectivada de poder social… Nesse ponto, Marx inicia a transição para a categoria do capital.”(Postone, 2003, p. 402/305). Para Postone a forma D-M-D’ é aqui central. “A fórmula D-M-D’ não se refere a umprocesso pelo qual a riqueza em geral é aumentada, mas a um processo em que o valor é aumentado. Marxchama a diferença quantitativa entre D e D’ de mais-valia. …O valor torna-se capital como resultado de umprocesso de valorização do valor.” (Postone, 2003, p. 403/306 sg, destaque no original) A fonte da mais-valia éaqui a força de trabalho. “Marx com a sua exposição não pretende apresentar um desenvolvimento histórico,mas um desenvolvimento lógico que procede do núcleo essencial do sistema.” (Postone, 2003, p. 408/310)Aqui “note-se que, assim como a análise de M-D-M, também a análise de D-M-D, bem como necessariamentea de D-M-D’, pressupõe a mercadoria como forma geral dos produtos.” (Postone, 2003, p. 403/306)

 

Ora que consequências tem para a relação entre a forma da mercadoria, do dinheiro e do capital, o facto de

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Kurz, ao contrário de Postone, partir não da forma da mercadoria, mas sim da forma do capital? Dinheiro ecirculação já são para ele resultado da forma do capital. Segundo Kurz – como ele mostra recorrendo a LeGoff e contra a nova ortodoxia  à la  Haug – nos tempos pré-capitalistas “ainda não existia circulação, e nocapitalismo plenamente formado ela já não existe, pois o conceito já é novamente obsoleto também para o‘movimento em si mesmo’ do capital já formado e que continua a desenvolver-se com base nos seus própriosfundamentos… Esta fórmula (M-D-M, R.S.) não pode aplicar-se às sociedades pré-capitalistas, uma vez quenem sequer conheciam qualquer produção universal; e não pode aplicar-se ao capitalismo, visto que, neste,a forma do dinheiro já não tem uma função de mediação, mas constitui o princípio e o fim do movimento dofim-em-si, enquanto a própria mercadoria, inversamente, já só se encontra no ‘meio’, ou seja, constitui ummero meio para um fim que lhe é exterior.” (Kurz, 2012, p. 157/139)

 

Portanto só na história da constituição do capital se formou temporariamente, na época do mercantilismo,uma esfera da circulação. “Pois a universalização e a autonomização do dinheiro em objectualidade do valorou na sua expressão universal só é possível pela transformação deste em capital, ou seja, um meio de fim-em-si tautologicamente reacoplado a si próprio… A fórmula M-D-M como mera abstracção mental analítica… tem de ser substituída pela fórmula capitalista real D-M-D’… O que agora ‘circula’ é unicamente o capital.”(Kurz, 2012, p. 161/142 sg) E mais: “As metamorfoses do capital consistem no facto de ele assumirsucessivamente as formas manifestas de capital monetário, capital produtivo (capital material e força detrabalho), capital-mercadoria e, por fim, novamente capital monetário. O carácter quase tautológico destasmetamorfoses, ou seja, o facto de o capital monetário voltar a converter-se em capital monetário (D-M-D)explica-se, segundo Marx, unicamente com base na sua alteração quantitativa. No processo produtivo, ovalor sob a forma de uma quantia de capital monetário converte-se em mais-valia sob a forma de umaquantia maior de capital monetário (D-M-D’) que, no entanto, só é ‘realizada’ pela venda do capital-mercadoria, o que quer dizer que tem de ser reconvertida na sua forma original (acrescentada). Sãoprecisamente este fim-em-si fetichista da mais-valia e a repetição interminável deste processo de valorizaçãoque fazem do capital o ‘sujeito automático’ da sociedade.” (Kurz, 2012, p. 162/143 sg) Assim também paraKurz a essência do dinheiro se mantém escondida. Para ele “agora o dinheiro já não é dinheiro, ou dinheiro‘simples’, mas capital.” (Kurz, 2012, p. 161/142)

 

Que para Postone, pelo contrário, a forma da mercadoria constitui o cerne, ainda que ele insista em que ostrês volumes de O Capital devem ser lidos como um todo, estando para ele valor e trabalho no ponto centrale tendo os primeiros capítulos de  O Capital  de ser interpretados a partir daí, é o que se exprime muitoclaramente mais uma vez na introdução feita no seu livro Tempo, Trabalho e Dominação Social ao complexode temas “O Capital”: “Com base nessa análise da forma da mercadoria, agora delinearei uma abordagem dacategoria capital de Marx. O capital, para ele, é uma mediação social automovente, que torna a sociedademoderna intrinsecamente dinâmica e molda a forma do processo de produção. Ele desenvolve essa categoriaem O capital desdobrando-a dialecticamente da mercadoria, argumentando que suas determinações básicasestão implícitas nesta última forma social. Ao indicar a relação intrínseca entre forma da mercadoria ecapital, Marx procura elucidar a natureza básica do capital e tornar plausível o seu ponto de partida – suaanálise do carácter dual da mercadoria como a estrutura nuclear do capitalismo. Segundo Marx, o que

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caracteriza o capitalismo – devido à natureza peculiar de suas relações estruturais – é seu núcleofundamental que incorpora suas características básicas.” (Postone, 2003, p. 397/301) Neste contexto Postonecomeça as suas discussões pelo “Dinheiro” (Postone, 2003, p. 398/302)

 

Tanto em Kurz como em Postone o valor é “o pressuposto lógico (e da lógica da exposição) do dinheiro”, massegundo Kurz “este, enquanto capital, é o pressuposto real.”  (Kurz, 2012, p. 51/45, destaque de R. S.) Kurz,como se vê, quando evidencia o carácter do dinheiro no capitalismo, já não parte da forma da mercadoria,mas sim da forma do capital. Do ponto de vista de Kurz, Postone no fundo também na definição do dinheiropermaneceria em última instância pensando a forma da mercadoria como base. Assim escreve Postone: “Amaneira como Marx desdobra a categoria capital ilumina retrospectivamente sua determinação inicial dovalor como uma relação social objectivada, constituída pelo trabalho, que é portada pelas mercadorias comoobjectos, mas que existe ‘por detrás’ delas. Isso esclarece o objectivo da sua análise do duplo carácter damercadoria e sua exteriorização como dinheiro e mercadorias.” (Postone, 2003, p. 406/308) O dinheiro e acirculação não desempenham em geral qualquer papel de relevo em Postone, o que de resto tem depoisconsequências tais que o crédito, o capital fictício e afins, portanto categorias que seriam relevantes para asreflexões sobre a teoria da crise no contexto da “desvalorização do valor”, da dessubstanciação do capital edo tornar-se obsoleto do trabalho abstracto, não merecem qualquer atenção da parte de Postone. Aocontrário, para Kurz, “… a crise só pode ser explicada e analisada se for entendida como forma específica dedesenvolvimento da ‘economia’ do fetiche do capital que se manifesta reificada na forma do dinheiro e,assim, como desenvolvimento e movimento deficitários do ‘sujeito automático’.” (Kurz, 2012, p. 236/211) SeHeinrich, por exemplo, hipostasia o plano do dinheiro, da troca e da circulação, deixando assim desaparecero contexto global do fetiche do capital, em Postone no fundo ficam de fora esses planos que no entanto sãorelevantes para a teoria da crise, planos que são justamente o resultado que aparece à superfície dacontradição entre substância material e substância do valor, e que deveriam ser analisados também comotais em conexão com esta razão mais profunda (ver Kurz, 2012, p. 321 sg / 288 sg).

 

A passagem do “paradigma da circulação para o paradigma do ‘trabalho’” feita ao longo da história daconstituição do capital pelos economistas contemporâneos mostra, segundo Kurz, como o pensamento semodifica na história da constituição, perante o pano de fundo do desenvolvimento histórico concreto, atéque o capital processe nas suas próprias bases  (Kurz, 2012, p. 152/134) Kurz recorre aqui, diga-se depassagem, aos estudos de Foucault em As Palavras e as Coisas, e não às suposições do antigo marxismo, porexemplo de Engels, que é responsável por uma teoria do valor pré-monetária.

 

Kurz e Postone partilham aqui no fundamental a referência temporal à contradição em processo e aimportância da passagem da mais-valia absoluta para a mais-valia relativa, em ligação com a dimensão dotempo concreto, do tempo processual, como Postone o evidenciou (mais abaixo voltarei ainda a falarbrevemente sobre a dimensão temporal e a falta de uma teoria da crise em Postone). Mas, uma vez que Kurzderiva a forma da mercadoria da forma do capital, resulta nele uma perspectiva diferente da de Postone noque se refere à importância da mais-valia: “O valor” com a forma da mercadoria já não pode agora sertomado com ponto de partida para a análise do capital, pelo contrário, a  mais-valia volta a ser posta em

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destaque por Kurz, não porém no sentido do marxismo tradicional, para o qual no fundo se tratava apenas dadistribuição, mas agora no contexto do “movimento em si mesmo” do capital, tendo por fundo uma forma docapital agora posta no centro. Só tendo em consideração um mais (D’) se pode esclarecer a dinâmica de crisedo “movimento em si mesmo” do capital. Assim, a questão não pode ser uma mais-valia, como Postone exigetendo em conta o pensamento da mais-valia do marxismo tradicional, mas sim pura e simplesmente a mais-valia (sem destacar qualquer das duas palavras) no contexto do fetiche do capital, da conexão do conjuntodo capital com o cerne da contradição em processo, para lá de um “individualismo metodológico” que tomaa mercadoria como primeiro plano da análise. No entanto, quase me parece como se não só Postone mastambém a crítica do valor fundamental há muito tivessem procurado, se não evitar, pelo menos de algummodo contornar a mais-valia, porque ela seria responsável pela crítica moralista da parte o marxismotradicional. Perante este pano de fundo da hipótese central de um fetiche do capital no sentido de Kurz,pode-se ir mais além, retomando de certo modo a mais-valia como categoria de análise “inocente”, que jánão pode ser ancorada numa forma da mercadoria reducionista, no sentido de uma forma do valor simples.Em suma: “A questão é que o valor, ou a relação de valor, como resultado da mais-valia ou da ‘relação demais-valia’ (isto é o capital), enquanto expressão da valorização do valor, constitui o verdadeiro pressuposto”(Kurz, 2007). Assim estaríamos perante o problema da “substância material e abstracta’ do capital, dotrabalho como dispêndio de “cérebro, músculo e nervo”.

 

 

Relação entre trabalho abstracto e trabalho concreto

 

O diferente procedimento no que respeita a estrutura e acção, dimensão micro e dimensão macro, forma damercadoria e forma do capital e afins mostra-se também no que respeita ao par de contrários trabalhoabstracto e trabalho concreto. Tanto Postone como Kurz se viram contra a ontologia do trabalho do antigomovimento operário. Mas, se Kurz parte da constituição do trabalho concreto tendo por fundo o trabalhoabstracto, em Postone essa relação é determinada como segue: Ele escreve, sendo que para ele isto édecisivo para a forma social: “Enquanto o trabalho individual, como trabalho concreto, é particular e parte deum conjunto qualitativamente heterogéneo, como trabalho abstracto ele é um momentoindividualizado deuma forma qualitativamente homogénea de mediação social, que constitui uma totalidade social.” (Postone,2013, p. 377, destaque no original) Isto parece antes de mais plenamente óbvio ao/à dialéctico/a de sucesso.No entanto, no que diz respeito ao posicionamento assim assumido do trabalho concreto em Postone, épreciso ter presente que o trabalho para ele bem que tem um momento ontológico, já que terá sidoefectuado em todas as sociedades, como processo de metabolismo com a natureza. Neste contexto eleevidencia o carácter dialéctico do trabalho concreto e abstracto, situação em que o último, ao contrário doprimeiro, tem o papel de mediador social (vide supra). Kurz também parte duma relação dialéctica entretrabalho concreto e abstracto, no entanto tendo por fundo o fetiche do capital como “todo apriorístico” e ocorrespondente movimento de valorização, enquanto Postone determina esta conexão de valorização nocontexto da forma do valor que para ele constitui o verdadeiro fundamento: “Sob a condição deste todoapriorístico, a produção já equivale à unidade de trabalho ‘concreto’ e ‘abstracto’, sendo, em última análise,a unidade entre o produto material e a objectualidade do valor. O que, nesse âmbito, é socialmente válido no

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trabalho ‘concreto’ é tão-só o seu aspecto de trabalho ‘abstracto’ enquanto dispêndio de energia humana, detrabalho ou de vida (nervo, músculo e cérebro). Assim sendo, o trabalho ‘concreto’ e o trabalho ‘abstracto’não se repartem por duas esferas separadas, antes são dois aspectos de uma mesma lógica transversal atodas as esferas, deixando, no entanto, o lado concreto ‘valer’ apenas como forma de manifestação do lado(realmente) abstracto. Já o produto é ‘válido’ apenas socialmente, como objecto de representação destasubstância abstracta e ao mesmo tempo real, como objectualidade do valor.” (Kurz, 2012, p. 204/181)Portanto, quanto menos Kurz ontologiza o trabalho concreto, tanto mais ele insiste numa substânciamaterial e abstracta do trabalho social que Postone – e aqui este é contraditório – vê de facto como“formador do valor”, de seguida no entanto definindo este valor apenas como relação social e apenas nessamedida partindo de uma dialéctica de trabalho ‘concreto’ e ‘abstracto’. Todavia Kurz, ao contrário dePostone, inclui aqui na sua análise as actividades femininas permanentes de cuidar e procura de algum modopô-las em contacto com as categorias marxianas. Esta omissão em Postone surpreende tanto mais quantopara ele o trabalho concreto teria existido em todas as sociedades. Consequentemente deveria então –supondo que se partilha a opinião de Postone – a relação de trabalho doméstico ser realmente explicadacomo trabalho também concreto no capitalismo e posta em relação com o trabalho formador de valor – jáque o trabalho feminino de cuidar é normalmente considerado como “trabalho” “concreto” sensívelimediato par excellence.

 

 

Tempo abstracto, tempo histórico concreto, tempo biográfico, tempo do mundo da vida e tempo concretodo colapso do capitalismo

 

Relativamente à dimensão temporal, também se abre um abismo entre Kurz e Postone (apesar de todos ospontos comuns) no que diz respeito ao tempo concreto e abstracto, ao tempo biográfico, ao tempo domundo do dia-a-dia e ao tempo concreto do capitalismo em colapso. O tempo desempenha um papelimportante para ambos, mas para Kurz desempenha-o em relação à “substância abstracta e real”: “Adeterminação quantitativa desta substância ‘abstracta e real’, do dispêndio de energia humana dissociadodo seu conteúdo, a saber, de ‘nervo, músculo e cérebro’ em termos gerais, é o tempo – ou seja, o ‘tempo detrabalho’ em si, embora a sua validade social não possa ser representada de forma imediata, mas apenas naforma objectivada do dinheiro através do movimento de mediação da concorrência e da ‘realização’ nomercado… O facto de a quantidade da substância só poder ser apreendida na sua unidade temporal levou aque se confundisse esse ‘tempo despendido’ com a substância enquanto tal, ou a que o conceito desta fossereduzido àquele (assim também acontece, por exemplo, em Postone 2003, R. K.). No entanto, isso faz quasetão pouco sentido como se tomássemos por si o peso em quilogramas, independentemente da matériadeterminada que apresenta esse peso, ou quiséssemos equipará-lo à objectualidade pesada. A diferençaconsiste, contudo, em que o peso é uma propriedade que assiste a materiais naturais em tudo distintos, aopasso que o ‘tempo de trabalho’ apenas se aplica ao dispêndio de energia humana dissociado do seuconteúdo material concreto. Num caso, trata-se de um objecto real e material; no outro, de um objectoabstracto e real que dispõe, ainda assim, de um pano de fundo material (energético). Todavia, em ambos os

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casos, a objectualidade a medir não é idêntica à unidade em que é medida. Tal como o peso pode ser sempreapenas o peso de ‘algo’, também o tempo pode ser sempre apenas o tempo de ‘algo’, não podendo o própriotempo apresentar-se como objectualidade.” (Kurz, 2012, p. 147/130)

 

Postone distingue diversas formas de tempo. Nas sociedades pré-capitalistas a ideia de tempo orientava-sepelos ciclos da natureza, um tempo que dependia de acontecimentos e se orientava por tarefas etc. Emcontraste com ele temos no capitalismo o tempo newtoniano abstracto e o tempo histórico concreto, decerto modo o tempo do processo. Tendo por fundo a veemente objecção no que respeita à relação entretempo e energia do trabalho, Kurz, em contrapartida, louva os méritos de Postone no que respeita àdimensão do tempo e pega nas suas reflexões no ensaio A Substância do Capital, ainda que aí, do ponto devista actual, ele próprio ainda opere em vários aspectos no plano do capital individual (questão em que nãoposso entrar aqui). Na “tensão entre a indiferença quanto aos conteúdos e a abstracção do ‘trabalho’ e dovalor, por um lado, e o ‘desenvolvimento’ de conteúdos materiais promovido pelo próprio processo devalorização, por outro, é que se funda a dialéctica das duas formas de tempo. O espaço-tempo abstracto daeconomia empresarial não conhece qualquer ‘desenvolvimento’. Aqui uma hora é sempre uma hora detempo independente, sem conteúdo, sem qualidades, homogéneo. Este tempo corresponde à dimensão devalor da reprodução, ao tempo abstracto e com ele à objectualidade de valor da matéria, portanto ao valorde uso do fetiche social de produção e realização de mais-valia. Mas o conteúdo materialmente indiferentecom ele transportado transforma-se, é determinado sempre de novo, e na realidade não em simplesmudança aleatória, mas com cientificização e produtividade crescentes, num processo histórico concreto.Nesta referência ao conteúdo, indiferente ao fim-em-si da valorização do valor, mas que se valida na prática,uma hora não é sempre a mesma hora, mas é sim progressivamente preenchida de novo, transforma-se emtempo de algo diferente, em tempo de ‘desenvolvimento’”. (Kurz, 2004, p. 124 / último capítulo, § 5). ParaPostone, no entanto, este processo pode prosseguir indefinidamente. Apesar da sua análise do tempo, emPostone, tal como noutros intérpretes de Marx, resulta – segundo Kurz – que “a história interna apenasaparenta ser uma sequência de acontecimentos fortuitos ou, na melhor das hipóteses, uma eterna oscilaçãode conjunturas e rupturas estruturais assentes em algo que é sempre igual a si próprio, mas que não teriampor base nenhuma lógica ascendente, de certo modo teleológica, de desenvolvimento e contradição… A‘teleologia’ deve ser entendida aqui única e exclusivamente no sentido da história interna do capitalismo –mais concretamente, como a imposição de um desenvolvimento permanente (sempre a subir no vector dotempo) com repercussões igualmente progressivas sobre o fim-em-si do processo de valorização… O queestá em causa é, portanto, que o desenvolvimento empírico, juntamente com as crises empíricas que delefazem parte, constitua, ao mesmo tempo, um desenvolvimento e um movimento das categorias reais atravésdo tempo.” (Kurz, 2012, p. 239/213 sg) E acrescenta ainda: “Mais concretamente estamos, por um lado,perante uma lógica que é transversal ao processo histórico global do capital, uma autocontradição internaentre o desenvolvimento das forças produtivas e o fim-em-si da ‘riqueza abstracta’, que desde o inícioconstitui a base, mas apenas ao longo da história se põe em destaque, se revela num grau cada vez maiselevado de pureza e caminha para um ponto culminante. Esta autocontradição interna que determina adinâmica constitui, de certo modo, o mecanismo secreto da crise em si que, no entanto, apenas ao fim de umlongo período de incubação também se manifesta enquanto tal directamente na superfície dos fenómenos.”(Kurz, 2012, p. 242/216) Decisivo aqui, mais uma vez, é o “movimento em si mesmo” e isso quer dizer o fetichedo capital. Em Kurz também não se considera que o terceiro volume de  O Capital  apresente apenas a

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superfície da forma da mercadoria desenvolvida, como em Postone, pelo contrário, a essência da“contradição em processo” revela-se neste terceiro volume na própria realidade. Isto também quer dizer queo tempo histórico concreto, o tempo do processo, é decisivo para o culminar da crise no meio da forma docapital, sendo que em Postone, pelo contrário, o capitalismo estagna e reconstrói-se ele própriorepetidamente através das crises, num processo perpétuo. Para Postone não há limite interno se abstrairmosda problemática ecológica.

 

Relativamente às diferentes formas de tempo, Kurz introduz depois ainda uma forma de tempo na dimensãomicro, de que Postone não consegue sequer lembrar-se, porque para ele não há qualquer perspectiva dedecadência e colapso: o tempo biográfico, do mundo-da-vida e do quotidiano, que pode provocar cegueiras.De facto, como se viu, Postone esforça-se bastante por incluir o quotidiano, o sentido etc. nos seus quadrosmarxianos, mas apenas no contexto de uma totalidade em processo que não conhece qualquer crisefundamental. Kurz, pelo contrário, escreve: “O entendimento vulgar sugere que o ‘colapso’ tem de ocorrer deum modo tão instantâneo como um indivíduo cai morto imediatamente ao sofrer um enfarte grave domiocárdio. Se, neste sentido, o capitalismo não se desfez em pó nem após a bolha da Internet do início daprimeira década do século XXI, nem, no final dessa mesma década, após o grande  crash  financeiro de2008/09, tal é tomado apressadamente pela ‘invalidação empírica’ da teoria radical da crise, visto que asuposta ‘profecia’, afinal, não se teria confirmado mais uma vez. Ou seja, de uma forma quixotesca, ametáfora é entendida literalmente, na medida em que o horizonte temporal da explicação teórica é reduzidoa uma espécie de actualidade quotidiana. A diferença entre o tempo actual, ou o tempo do mundo-da-vida, eo tempo histórico é apagada.” Contudo: “Um sistema social global que se formou e desenvolveu ao longo devárias centenas de anos certamente terá um colapso diferente do de um indivíduo; é outro o lapso de tempoaté que o sujeito global da valorização, por assim dizer, caia no chão. Tal como o capitalismo percorreu, nosprimórdios da Modernidade, uma época de constituição rica em rupturas e convulsões, está agora a percorreruma época de dissolução interna que, no entanto, devido à sua dinâmica progressiva no plano endo-histórico, tem um horizonte temporal muito mais reduzido… À ascensão lenta e dolorosa corresponde, porisso, uma derrocada relativamente rápida. Mas esta rapidez não se apresenta necessariamente enquanto talà percepção própria do mundo-da-vida… Da perspectiva da realidade da vida contemporânea, porém, podeparecer tratar-se de um processo temporalmente indefinido, ou mesmo ilimitado, que também poderia serinterpretado de modo completamente diferente… Neste sentido, o tempo histórico do capitalismo esgotou-se. A esquerda comum reivindica para a sua equivocada veneração da suposta capacidade derejuvenescimento da valorização a perspectiva do tempo histórico; para a rejeição da teoria de um limiteinterno, porém, retira-se para a sensibilidade temporal do senso comum para poder fazer-se desentendida.”Aqui “a condução da argumentação também é determinada por ‘sentimentos entranhados’ pré-teóricos.”(Kurz, 2012, p. 362 sg / 325 sg) Em síntese: visto assim, o conceito de colapso tem de ser fundamentalmenteredefinido e desligado da mera referência ao mundo do quotidiano e da vida.

 

Mas completamente negligenciada por Postone, e aqui ao contrário de Kurz, é a “lógica de gastar tempo”(Frigga Haug) das actividades de cuidar dissociadas, de certo modo o tempo da dissociação (ainda que Kurznão use tais termos), que no seu entrosamento com o tempo abstracto representa um momento central daactual crise na decadência do patriarcado capitalista (palavra-chave: crise do care), situação em que também

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será preciso evidenciar o papel que desempenha o tempo da dissociação, em combinação com o tempo doprocesso do capitalismo, relativamente aos limites da reprodução da sociedade hoje em colapso (porexemplo, Kurz, 2004, p. 110 sg / penúltimo capítulo, § 29 sg). Aqui é preciso saber em primeiro lugar se o“tempo da dissociação” em geral ainda pode ser designado e concebido como “tempo” com as recentesideias marxistas de tempo à la Postone.

 

 

Sujeito revolucionário e socialização de classe média

 

Ao incluir a subjectividade, o sentido/acção e o quotidiano, Postone exige não em último lugar “uma teoriacrítica do capitalismo e da possibilidade da sua superação” que também “(terá de) ser uma teoria daconstituição social de tais necessidades e formas de consciência – uma teoria capaz de enfrentar astransformações históricas qualitativas da subjectividade e de entender nesses termos os movimentos sociaisdo presente. Isto poderia lançar nova luz sobre a noção de Marx da auto-abolição do proletariado e ser útilpara a análise dos novos movimentos sociais das últimas décadas.” (Postone, 2003, p. 73/54) Discretamente,ocorre aqui assim um deslocamento do proletariado (seja lá o que for que por ele se entende) como sujeitorevolucionário para as classes médias ou novas classes médias e um apreciar das necessidades e formas deconsciência destas. Pois estes “novos movimentos sociais” consistem, em suma, numa clientela de classemédia. Assim, por exemplo, Bündnis 90 / Die Grünen [Aliança 90 / Os Verdes], como ponta de lança político-partidária destes movimentos, constituem O partido dos que ganham melhor. O foco de Postone coloca-sefundamentalmente no escândalo da alienação e do fetichismo da mercadoria. Também é por essa razão quea questão ecológica assume para ele uma importância central, questão que desempenha hoje um papelcentral em geral nesse contexto (o receio de um colapso ecológico  real  desempenha aqui um papel maissecundário, a meu ver). Assim, a interpretação de Marx feita por Postone também deverá saber bem hoje aestas classes médias bem colocadas. A esse respeito, nele a “acção política” é central, no sentido de umchato entendimento político burguês bastante vulgar; a esfera política não é considerada como induzida pelovalor, e que importaria consequentemente abolir, mas sim como plataforma de uma mudançatransformadora. Aqui emerge uma forma da “acção” que para Kurz, na sua crítica ao “individualismometodológico”, é particularmente insuportável: a ideia comum na esquerda de que a modificaçãotransformadora do capitalismo até à sua abolição dependeria da intenção e da acção (política). De factoassim se entende por via de regra o “individualismo metodológico” de modo completa e puramentepoliticista, o que provavelmente também está na base de outras ideias de acção pelo “sentido”, que fazemestragos entre a esquerda pós-moderna das últimas décadas e não só.

 

Se Lukàcs ainda falava da “consciência de pertencer a uma classe” em relação à “classe operária”, Postonedesloca agora implicitamente estas ideias para as classes médias, ainda que ele apesar disso parta do capitalcomo sujeito-objecto da história. Sim, parece que é isto que o desenvolvimento social quase sugereactualmente com base nesta teoria: seria agora a vez “dos novos movimentos sociais”, aliás, das novasclasses médias, em conformidade com as suas necessidades (quotidianas), concretas e conscientes – tal o

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subtexto de Postone emTempo, Trabalho e Dominação Social. É notório que a crítica da “aceleração” deHartmund Rosa, que argumenta de certo modo à semelhança de Postone, recebe hoje muitos aplausos.Também Rosa trata simplesmente de se aproveitar da questão das disparidades sociais (ver Rosa, 2013).

 

Estas classes médias constituiram-se com a expansão do Estado social após o fim da II Guerra Mundial, nocontexto do “mecanismo endo-histórico de compensação” da “expansão do capital” com o predomínio da“mais-valia relativa”, contexto esse que agora chega ao seu “fim lógico”, para usar as palavras de Kurz (Kurz,2012, p. 274 sg / 245 sg). Em vista desta ameaça de queda e da sua crescente precarização, agora estasclasses médias também se tornam mais raivosas; defesa dos direitos adquiridos e discriminação põem assima velha acomodação dos de 1968 em rota de colisão com os supostos “outros”, o que, entretanto, tambémPostone sabe; também ele já não está tão optimista como antes (ver Postone, 2013, p. 391). Kurz, pelocontrário, há muito que está consciente da queda das (novas) classes médias e do seu potencial reaccionário,como resulta de muitos dos seus textos. Além disso, também parece que a crítica da forma da mercadoria,como evidente princípio de socialização, ela própria está hoje degradada numa abreviatura reduzida aoprático, aparentemente fácil de entender. A forma da mercadoria é hoje assumida positivistamente comofacto, como factualidade positiva, sem se ver o complexo processo da contradição em processo na dimensãosocial, como “movimento em si mesmo”. Este não pode ser assim tão facilmente reduzido à fórmula “Omundo não é uma mercadoria”, que o superficial movimento  Occupy  (ou  Blockupy) tem realmente porcentro, ainda que ele por outro lado não queira saber das tendências (estruturalmente) anti-semitas.

 

Postone move-se no interior das possibilidades de acção e dos questionamentos das (novas) classes médias,vistas como novo sujeito revolucionário/transformador da suplantação sistémica que efectua a suatransformação reformadora ainda no interior do sistema capitalista, uma impertinência que recorre à ilusãoburguesa da vontade e da política; mesmo em trabalhos recentes não abandona este ponto de vista, aindaque ele entretanto se distancie dos “novos movimentos sociais” que antes prezava (ver acima).

 

 

Dissociação-valor, totalidade fragmentada e disparidades sociais: algumas observações necessariamenteincompletas sobre o contexto da dissociação-valor como contexto social basilar

 

O deslocamento de Kurz da forma da mercadoria para a forma do capital representa, por assim dizer, umamudança de paradigma ainda no interior da crítica do valor fundamental. Tanto Kurz em  Dinheiro semvalor  (aqui referi-me sobretudo a este livro) como Postone estão interessados numa interpretação“alternativa” da obra de Marx, ou seja, numa interpretação no interior do sistema de categorias de Marx, queeles gostariam certamente de trazer para a situação actual. Só isto já colocaria em questão a anterior críticado valor fundamental. Pois não é possível compreender a totalidade social só com Marx. O que falta é o planosuperior da dissociação-valor, como contexto basilar (Scholz, 2011). Também para esta o decisivo é a formado capital e não a forma da mercadoria, o que no entanto ainda não foi suficientemente evidenciado nosmeus artigos dos últimos anos (como também em Kurz, até Dinheiro sem valor). Este entendimento resulta

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não só de uma crítica imanente a Postone e à antiga crítica do valor fundamental, que a meu ver Kurzdesenvolve implicitamente sem a caracterizar emDinheiro sem valor, mas também da própria realidade decrise modificada, modificação ocorrida após a publicação do livro de Postone e após o surgimento da críticado valor fundamental(designadamente através da dinâmica de crise por esta mesma prognosticada). Aqui ovalor, ou a forma do valor, tem de acabar por ser questionado como verdadeiro ponto de partida, no decursoda argumentação assente nos seus próprios fundamentos. Isto verifica-se, entre outros, no facto de a críticado fetichismo como fetichismo da mercadoria, recorrendo às primeiras 150 páginas de  O capital,  se tertornado actualmente inflaccionária e mesmo uma moda, sendo que a própria  aparência  da forma damercadoria é percebida como essência, perdendo-se de vista o todo do capitalismo como “movimento em simesmo”. Aqui a lógica do capital, que Kurz em  Dinheiro sem valor  considera de certo modo a lógicafundamental, tem de continuar a ser desenvolvida no contexto da dissociação-valor (mais-valia), enquantometalógica. É preciso absolutamente partir de uma dialéctica de trabalho (abstractamente material!) etempo, mas incluindo o gasto de tempo do “tempo da dissociação” e das correspondentes actividades nãocriadoras de mais-valia, que também determinam o tempo do processo. Neste sentido seria preciso ter emconta um “movimento em si mesmo” da socialização patriarcal-capitalista que  O capital  de Marx nemconhece como tal. A chamada crise do care pode ser aqui mencionada como a mais evidente expressão docontexto de dissociação-valor actualmente. Com o prosseguimento da dinâmica da contradição em processoe da desvalorização do valor, estamos hoje perante uma crise não só económica e ecológica, mas tambémdas actividades de cuidar, no meio da forma da dissociação-valor como processo histórico (Scholz, 2013).Como se disse, esta dimensão em Postone nem sequer é incluída, pelo contrário em Kurz é tida em conta,mas juntando-a ele à dimensão da forma do valor / do capital (mais ou menos “em pé de igualdade”), na suacontraditoriedade, em vez de a compreender em todo o seu alcance, num metaplano. Neste metaplano acrítica da dissociação-valor modifica a teoria androcêntrica do fetiche do valor / do capital e desloca-a comuma qualidade diferente para o contexto de dissociação-valor em si fragmentado e contraditório, que noentanto é outra vez diferentemente e muito mais fragmentado que a forma do capital tendo por cerne dacontradição em processo.

 

Posto isto, a dissociação-valor, enquanto verdadeira metalógica, não pode voltar a colocar-se a si mesmacomo absoluto, como faz a forma do valor / do capital (em Kurz e em Postone). Justamente enquanto talmetalógica, em contrapartida ela é por sua vez obrigada a dar seguimento ao particular, ao não-idêntico, aoque não condescende com a “grande” forma. Pois justamente o não-idêntico, o contingente, do mundo davida, o que não condescende com o conceito de classificação é que não é absorvido no conceito / na forma.Isto resulta da dissociação do feminino, que é responsável não só pelo entendimento burguês da ciência, mastambém por uma crítica do valor que se coloca em oposição a este entendimento, incluindo Postone e aNova Leitura de Marx.

 

Aqui não são as alternativas aparentemente ignoradas, o  não-idêntico, que ficam como verdadeiras, nemdeve ser tomada como critério a afirmação abstracta do Diferente contingente do mundo da vida pairandolivremente, pelo contrário, aquelas devem ser colocadas em relação com a verdadeira crítica da dissociação-valor como contexto basilar, que só consegue afirmar-se porque é capaz de se desmentir como tal. É precisofazer valer, por um lado, a relação dialéctica fundamental da relação de dissociação-valor, mas, por outro

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lado, também a complexidade do desenvolvimento da totalidade concreta, como escalonamento nãohierárquico dos planos da abstracção e da concreção, o que exige a elaboração teórica (ver Scholz, 2009).Neste sentido terá depois de ser muito bem tida em consideração a constituição da objectividade e dasubjectividade sociais, na sua mediatidade. Isto também significa co-incluir, entre outros, o plano cultural-simbólico – que não está de certo modo já sempre automaticamente incluído em Marx, como se consideraem Postone – assim como o plano psicanalítico. Estes planos devem ser sempre entendidos como mediatos,mas na sua lógica própria, tendo por fundo o contexto de dissociação-valor. Nisso trata-se aqui de “sintetizarsem sistematizar unidimensionalmente” (Regina Becker-Schmidt), sem equiparar as premissas das diferentesabordagens teóricas.

 

Aqui o  não-idêntico  não é o que está de fora, como em Adorno e em Postone, ele corresponde maispropriamente ao nível das forças produtivas no fordismo, numa figuração histórica determinada, o que setorna a ideologia central na pós-modernidade tardia. Obviamente que os limites da teoria em geral ficam àvista quando se trata de suplantar as relações patriarcais-capitalistas.

 

Uma teoria da dissociação-valor assim determinada, que está obrigada ao auto-desmentido para poderafirmar-se, nessa medida também tem aqui de pensar contra si mesma, quando analisa não apenas osexismo, mas também o racismo, o anti-semitismo, o anticiganismo, a homofobia e afins como dimensõespróprias da discriminação social “com iguais direitos”. O decisivo é a coisa, o conteúdo, o objecto concretoperante o qual a decisão concreta é tomada, no entanto sempre tendo por fundo a crítica da dissociação-valor na sua absolutidade, num sentido fragmentado (ver Scholz, 2005). Postone formula tais disparidadesapenas sob a epígrafe “Universalidade e Particularidade”, onde ele assume em última instância o duplocarácter da mercadoria – valor e valor de uso – como pano de fundo desta relação de tensão (é também nestecontexto que ele analisa o anti-semitismo no seu destacado ensaio Anti-semitismo e nacional-socialismo –Postone, 1988).

 

Neste sentido, perante a afirmação absoluta da dissociação-valor com a sua simultânea revisão, também temde ser aqui (re)formulada e denunciada justamente a dimensão material da sociedade (mundial) pós-moderna, que um ponto de vista de classe média, lamentando-se por toda a parte, faz valer quando muitotendo em vista um interesse particular, auto-ignorante – e arvorado em interesse geral. É preciso ir para alémdisso com a crítica da dissociação-valor (ver Scholz, 2008).

 

As últimas considerações estão formuladas com referência à teoria crítica do  não-idêntico  de Adorno, noentanto é preciso também passar por cima desta mesma – como se viu – à maneira da dialéctica (negativa)(ver Scholz, 2012). Deste modo fragmentado e contraditório – como é preciso dizer em resumo – a crítica dadissociação-valor/mais-valia tem de colocar-se como absoluta para conseguir chegar à análise teórica dosistema global patriarcal-capitalista tornado independente que cada vez mais se desmorona realmente.

 

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Uma crítica da dissociação-valor assim entendida está muito longe da crítica do valor fundamental nos seusprimórdios e de Postone.

 

No entanto a interpretação de Marx feita por Postone permanece uma origem essencial da crítica dadissociação-valor, um clássico, para não falar dos trabalhos de Kurz, que por maioria de razão representamum estádio de passagem para ela e em primeiro lugar a possibilitaram teoricamente. Todavia mesmo estestêm de voltar a ser  radicalmente  transformados e levados mais longe nesta dicção, para além de umadicotomia/dialéctica de estrutura e acção patriarcal convencional.

 

 

 

(1) As citações de  A substância do capital  e  Dinheiro sem valor  de Robert Kurz e de  Tempo, Trabalho eDominação Social  de Moishe Postone seguem de perto as traduções em língua portuguesa abaixomencionadas de OBECO, ANTÍGONA e BOITEMPO, respectivamente. Na indicação das páginas do texto citadorefere-se primeiro a página da edição em língua alemã citada pela autora e depois, separada por /, a páginada edição em língua portuguesa (Nota do tradutor)

 

 

 

BIBLIOGRAFIA

 

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Scholz, Roswitha:  Die Bedeutung Adornos für den Feminismus heute.  Rückblick und Ausblick auf einewidersprüchliche Rezeption [A importância de Adorno para o feminismo hoje.Retrospectiva e perspectiva deuma recepção contraditória]. In: Exit! 10 (2012), p. 190–207.

 

Scholz, Roswitha:  Feminismus – Kapitalismus – Ökonomie – Krise. Wert-Abspaltungstheoretische Einwändegegenüber einigen Ansätzen feministischer Ökonomiekritik heute.  In: Exit! Nr. 11 (2013), S. 15-63. Trad.port.:  Feminismo – capitalismo – economia – crise. Objecções da crítica da dissociação-valor a algumasabordagens da actual crítica feminista da economiahttp://o-beco.planetaclix.pt/roswitha-scholz17.htm(http://o-beco.planetaclix.pt/roswitha-scholz17.htm)

 

 

 

Original  NACH POSTONE. Zur Notwendigkeit einer Transformation der fundamentalen Wertkritik. MoishePostone und Robert Kurz im Vergleich – und die Wert-Abspaltungskritik Publicado na revista EXIT! Krise undKritik der Warengesellschaft,  (http://www.exit-online.org/link.php?tabelle=theoriezeitschrift&posnr=40)nº 12(11/2014), pag. 142/165, [EXIT! Crise e Crítica da Sociedade da Mercadoria, nº 12 (11/2014)], ISBN 978-3-89502-374-3, 192 p., 13 Euro, Editora: Horlemann Verlag, Heynstr.  28, 13187 Berlin, Deutschland, Tel +49-(0)3049307639, E-mail: [email protected], http://www.horlemann.info/ (http://www.horlemann.info/).

Tradução de Boaventura Antunes (02/2015)

 

 

http://obeco.planetaclix.pt/ (http://obeco.planetaclix.pt/)

 

http://www.exit-online.org/ (http://www.exit-online.org/)

 

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