apostila 9 - tipo de animal e ganho compensatório

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1 AGROCURSO CONFINAMENTO DE GADO DE CORTE AULA 9 – TIPO DE ANIMAL E GANHO COMPENSATÓRIO Juliano Ricardo Resende – Zootecnista, professor de nutrição de ruminantes nas Faculdades Associadas de Uberaba

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AGROCURSO CONFINAMENTO DE GADO

DE CORTE

AULA 9 – TIPO DE ANIMAL E GANHO

COMPENSATÓRIO

Juliano Ricardo Resende – Zootecnista, professor de nutrição de

ruminantes nas Faculdades Associadas de Uberaba

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1 – Tipo de animal

É importante nesse tópico passar alguns conceitos de nutrição e curva

de crescimento de bovinos para o entendimento do melhor animal a se

confinar. Vale ressaltar que na atual escassez de reposição escolher qual

animal vai para o sistema é luxo de poucos pecuaristas.

1.1 – Curva de crescimento do bovino

Durante o crescimento o indivíduo experimenta aumento de massa e

alteração da forma corporal, em intensidade dependente de um sistema de

prioridades de desenvolvimento dos tecidos, na seguinte ordem: nervoso,

ósseo, muscular e adiposo. A curva de crescimento tem forma sigmóide e sua

construção termina quando não mais ocorre ganho de peso, condição esta

bastante distante daquela ideal para o abate (figura 1).

Figura 1 - Curva típica de crescimento para bovinos de corte, mostrando os

quatro estágios do crescimento.

O primeiro segmento corresponde ao período onde o esqueleto e órgãos

têm o crescimento mais rápido. Nesta fase o tecido muscular cresce mais

3

vagarosamente no início, aumentando rapidamente ao final. O tecido adiposo

tem crescimento limitado durante toda a primeira fase.

No segundo segmento diminui a taxa de crescimento do esqueleto e

órgãos; os músculos continuam com taxa alta. O crescimento do tecido adiposo

começa a acelerar na metade desta fase.

A partir do terceiro segmento os órgãos e os ossos atingem o tamanho

maduro e a taxa de crescimento muscular começa a declinar. A maior parte do

ganho de peso, nesta fase, corresponde ao crescimento do tecido adiposo.

No quarto segmento o crescimento muscular é bem pequeno,

interrompendo-se na metade do mesmo e a gordura é a responsável por 90 a

95% do ganho de peso. É compreensível, portanto, que a composição da

carcaça apresente contínua alteração à medida que o crescimento ocorre

(figura 2). A porcentagem de tecido muscular permanece relativamente

constante até o bovino atingir cerca da metade de seu peso de abate. Neste

período a porcentagem de ossos é declinante e a de gordura apresenta-se em

elevação. A seguir, a porcentagem de gordura aumenta rapidamente e a de

músculo inicia firme declínio. No final, se a densidade energética da ração for

alta, não é raro que a porcentagem de gordura exceda a de músculos.

Figura 2 - Composição da carcaça de bovinos de corte durante o crescimento.

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O abate deve ocorrer quando existe depósito de gordura apenas

suficiente para atingir a graduação de mercado. Esta graduação está em torno

de 4 a 4,5 milímetros de gordura superficial na carcaça, conforme querem os

frigoríficos brasileiros. Assim, quando diferentes tipos morfofisiológicos são

misturados nos currais de confinamento e o peso vivo é a base para o abate, é

comum ocorrer um excesso de acabamento nos de tipo pequeno, ótima

condição nos de tipo médio e falta de acabamento nos de tipo grande.

Infelizmente é difícil conhecer, no animal vivo, quando a composição corporal

ideal foi atingida. A utilização da avaliação da condição corporal através de

pontuação, ou ainda, da ultra-sonografia, auxilia sobremaneira na

determinação do grau de acabamento.

Quanto ao sexo, as diferenças atualmente encontram-se muito bem

documentadas e os resultados de literatura, sumariados por Robelin (1986),

indicam que as novilhas apresentam 26-60% mais gordura que os machos

inteiros do mesmo genótipo, enquanto que os machos castrados são 10-45%

superiores em relação aos inteiros. A partição da gordura nos diferentes

“reservatórios” da carcaça é similar entre novilhos (machos castrados) e

novilhas do mesmo genótipo, mesmo em raças com taxas de maturação

precoce, como o Angus (Beranger & Robelin, 1977).

Entretanto, os machos inteiros, ao abate, apresentam taxa bem baixa de

gordura na carcaça em relação aos novilhos e novilhas, diferindo também nos

depósitos adiposos. Eles apresentam baixa porcentagem de gordura

subcutânea e correspondentemente, alta porcentagem de gordura

intermuscular. As diferenças de repartição da gordura podem ser sumariadas

como segue: os animais com alta taxa de deposição de gordura tendem a

apresentar alta proporção de gordura subcutânea e renal em relação àqueles

com menor acúmulo de tecido adiposo, comparados em estágios similares de

desenvolvimento. Entretanto, alguma parte desta variação na repartição da

gordura pode ser diferença puramente racial e, portanto não associada à taxa

de deposição deste tecido.

O tamanho à maturidade carrega uma forte relação positiva com a taxa

de crescimento, podendo ser negativamente correlacionado com a taxa de

maturação por dia de vida - quanto maior o tamanho à maturidade, menor

5

poderá ser a taxa de maturação. O tamanho à maturidade é positivamente

associado com o peso no qual a fase de acúmulo de gordura é iniciada.

Como resultado, o bovino com potencial maior de tamanho à

maturidade, passa mais tempo no período de crescimento e começa a

acumular gordura com peso mais elevado, em relação a seus contemporâneos

de tamanho menor. Assim, quando bovinos de diversos tamanhos à

maturidade são comparados com o mesmo peso de abate, os de genótipo para

tamanho grande tendem a ser mais jovens (devido sua maior taxa de

crescimento) e menos maduros (devido sua menor idade). Contrariamente,

quando comparações similares são feitas para uma mesma taxa de

acabamento (gordura na carcaça), as diferenças na composição da carcaça

são reduzidas, mas os bovinos de tamanho grande tendem a ser mais pesados

(devido sua maior taxa de crescimento e tendência de acumular gordura em

pesos mais elevados).

A figura 3 representa, arbitrariamente, o moderno e o tradicional novilho

de corte, tendo por base as curvas de crescimento dos diferentes tecidos.

Verifica-se que ao atingir 450 kg de peso vivo, o bovino moderno ainda está

depositando músculos em maior velocidade em relação à deposição de

gordura, enquanto que no tradicional o tecido muscular já parou de crescer e

seu ganho de peso é representado apenas pelo aumento da gordura. Deve-se

recordar que a deposição de gordura é onerosa à eficiência econômica, já que

ela envolve um gasto energético 2,5 vezes superior ao necessário para

depositar a mesma quantidade em músculo. Isso porque os músculos são

constituídos de 75% de água e 25% de massa, enquanto o tecido adiposo é

composto de apenas 10% de água e 90% de massa. Essa é a principal razão

da piora da conversão alimentar e conseqüentemente do ganho de peso

reduzido em bovinos na fase de terminação.

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Figura 3 - Comparação arbitrária entre o moderno (parte de cima) e o

tradicional (parte de baixo) novilho de corte em relação à taxa de maturidade

dos tecidos.

Assim, no tocante ao tipo morfológico dos bovinos, o conceito vem

evoluindo de uma conformação compacta para um tipo alto e comprido. Estes

tipos de novilhos diferem profundamente em relação à maturidade corporal

mais precoce no tradicional, e velocidade de crescimento maior no moderno.

O resultado é a produção de carcaças distintas em termos de

quantidade de tecido adiposo, uma vez que no peso de abate a carcaça do

tradicional já se encontra em fase mais adiantada de maturação dos tecidos e,

portanto, depositando mais gordura para cada quilo de ganho no peso.

Neste mesmo período o moderno novilho ainda apresenta alta taxa de

crescimento do tecido muscular, com alta taxa de ganho de peso e reduzido

depósito de gordura (ainda não atingiu a maturidade química). A figura 3 indica

que quando o novilho tradicional atinge 450 kg o tecido adiposo é acrescentado

em detrimento do muscular e nesta fase a curva de crescimento atinge seu

ponto de inflexão ou de auto-inibição. Ao atingir este mesmo peso, o novilho

moderno encontra-se em fase de deposição de tecido muscular e ainda na fase

de auto-aceleração da curva de crescimento, determinando uma composição

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de ganho extremamente mais econômica e carcaça com reduzida quantidade

de gordura. Em termos econômicos o novilho moderno seria o mais

interessante, entretanto as carcaças oriundas deste tipo de animal podem

apresentar escassez de gordura e serem assim penalizadas pelo frigorífico.

Portanto, é preciso buscar um “meio-termo” entre o novilho tradicional e o

moderno para se buscar o lucro máximo.

Mesmo que a baixas taxas de ganho e em estágios iniciais do

crescimento, alguma gordura é depositada. O excesso de energia é depositado

como gordura, permitindo, portanto, monitorar a taxa desejada de gordura na

carcaça. Verifica-se na tabela que um novilho alimentado durante 500 dias e

ganhando 0,6 kg/dia, atingiu-se 500 kg de peso vivo com 14,5% de gordura

corporal; outro novilho, ganhando 1,3 kg/dia, cresceu os mesmos 300 kg de

peso, mas com uma composição bem diferente de carcaça, ou seja, em 230

dias alcançou 500 kg, com mais do que o dobro de gordura corporal.

A figura 4 representa quatro tipos morfológicos de animais que foram

estudados quanto às diferenças de performances em confinamento, acrescidas

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de mensurações de comprimento e altura, que somadas à apreciação visual,

estabeleceram os quatro tipos morfológicos.

Figura 4 - Representação dos quatro tipos morfológicos de animais que foram

estudados com relação à diferença de desempenho em confinamento.

A tabela 2 mostra a relação de mensurações corporais de bovinos de

diferentes tamanhos à maturidade com a deposição de gordura na carcaça.

Nota-se que bovinos que apresentam tamanhos pequeno, médio e grande,

apresentaram maiores, intermediários e menores depósitos de gordura

subcutânea, respectivamente.

Tabela 2 - Mensurações corporais em bovinos com um ano de idade e

pertencentes a diferentes tamanhos à maturidade.

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Na tabela 3 é possível constatar que quanto maior o grau de maturidade de

bovinos de corte, maior é o ganho de peso diário médio observado. A

explicação para este fato é baseada no conceito de que é menos oneroso

depositar músculo do que depositar gordura, refletindo em um maior ganho de

peso.

Tabela 3 - Peso e ganho de peso de novilhos de diferentes tamanhos e graus

de musculosidade.

Com relação aos tipos morfológicos apresentados, o grau de maturidade

aumenta do tipo 1 até o tipo 7 e conseqüentemente a deposição de gordura é

mais tardia. Assim, animais do tipo 7 seriam mais indicados para sistemas em

que os animais permanecem por mais tempo em confinamento, no caso do

modelo superprecoce, pois estes ainda depositarão músculos por um longo

tempo e somente depois (mais tardiamente) iniciarão o depósito de gordura,

sem afetar o mínimo de gordura na carcaça requerida pelo mercado brasileiro

atualmente (4 a 4,5 mm).

Alguns exemplos de raças que podemos citar para o tipo morfológico 7

incluem o Charolês, o Simental e o Limousin. A tabela 4 mostra a diferença no

grau de maturação corporal entre algumas raças bovinas.

Animais dos tipos 3 e 5 seriam indicados para operações comerciais em

que o tempo de alimentação dos animais fica em torno de 60 a 80 dias, pois

estes depositarão menor quantidade de músculos que os animais do tipo 7,

iniciando a deposição de gordura na carcaça mais precocemente. Vale

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ressaltar que o ideal seria iniciar a alimentação dos animais dos tipos 3 e 5 não

antes de estes apresentarem pesos em torno de 380 – 400 kg, para que a

curva de crescimento não seja “achatada” e a deposição de gordura comece

antes do esperado, tornando o sistema economicamente menos eficiente.

Alguns exemplos de raças que podemos citar para os tipos morfológicos 3 e 5

incluem Nelore, Brangus e Pardo Suíço. Por fim o tipo morfológico 1, animais

da raça Angus por exemplo, tendem a depositar gordura mais precocemente,

principalmente quando alimentados por muito tempo em dietas altamente

energéticas. Atualmente, esses animais são indicados para cruzamentos com

animais dos tipos 5 e 7 para produzir bovinos diferenciados, ou seja, eficientes

para ganho de peso e com carcaças de bom grau acabamento.

Tabela 4 - Diferenças na taxa de maturação corporal de algumas raças

bovinas.

Isto demonstra a grande diferença de maturidade entre as raças. Este

conhecimento é importante para que se evite um período prolongado de

alimentação em confinamento, principalmente com as raças de maturação

precoce, como a Angus. O problema é o excessivo custo, pois à medida que a

carcaça vai atingindo um dado grau de maturação, vai ocorrendo um declínio

do ganho diário e da eficiência de utilização dos alimentos. Thonney et. al

(1981) demonstraram que em bovinos de diferentes tamanhos à maturidade, o

ganho de peso médio diário declina em 0,180kg/dia e a matéria seca

consumida/unidade de ganho aumenta em 2,2kg para cada 100 quilos de

aumento no peso corporal.

Quando a taxa de gordura na carcaça é mantida constante, os tipos

morfofisiológicos apresentam grande diferença no peso vivo (figura 5. A

variação apresentada no peso vivo indica a diferença de maturidade destes

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tipos, bem como a diferença de peso vivo a partir do qual se inicia o processo

de rápida deposição de gordura. Este conhecimento é importante para evitar

um período prolongado de terminação. Deve-se observar que o tamanho foi

positivamente relacionado com a taxa de crescimento. O mesmo conceito pode

ser aplicado não apenas para os tipos morfológicos apresentados, mas

também para diferenciar machos de fêmeas, animais de dupla musculatura dos

outros e etc (como ilustrado na figura 5).

Devido às diferenças nas taxas de maturação corporal, o grau de

acabamento maior afeta diretamente o consumo de matéria seca de bovinos de

corte. O consumo diminui 2,7% para cada 1% de aumento da gordura corporal,

desde que esta última varie no corpo dentro da amplitude de 21,3 a 31,5%.

Assim, o consumo de alimento é uma importante ferramenta, quando

minuciosamente monitorado, para determinar quando o lote atingiu a condição

apropriada de abate.

Figura 5 - Representação esquemática dos fatores que influenciam o

crescimento dos tecidos em relação ao peso vivo (adaptado de Woodward,

1993).

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A exigência de manutenção também é afetada á medida que há maior

depósito de gordura na carcaça. Animais que apresentam maior porcentagem

de gordura corporal, irão apresentar maior exigência líquida de manutenção, o

que significa que haverá menor disponibilidade de energia para ganho de peso.

Bovinos de genótipo Bos indicus em crescimento requerem 10% menos

energia em relação às raças taurinas de corte; e os cruzamentos ficam em

situação intermediária (Bos indicus x Bos taurus de corte). O NRC (1996) traz

equações que ajustam de acordo com o grupo genético e escore de condição

corporal, os requerimentos de manutenção de determinada categoria animal. A

tabela 5 mostra os ajustes feitos pelo NRC para grupos genéticos.

Tabela 5 - Fator multiplicativo para ajustamento dos requerimentos de

manutenção em diferentes grupamentos genéticos.

Já para a condição corporal o NRC (1996) faz os ajustes da seguinte

forma: o animal com condição corporal 1 (Muito magro) teria uma diminuição

de 20% no requerimento de mantença, enquanto o animal 9 (Muito gordo) teria

um aumento de 20%. A fórmula usada para fazer esse ajuste no NRC (1996)

pode ser visualizada abaixo:

13

Fator de correção condição corporal = 0,8 + ((condição corporal-1) X 0,05)

O valor deste fator fica igual a 1 quando o animal tem condição corporal média,

cujo valor é 5, pois seria a situação para qual a equação foi desenvolvida. Para

cada grau de condição corporal acima deste valor, há um aumento de 5% no

requerimento de mantença. De forma semelhante, para cada grau de condição

corporal abaixo deste valor, há um desconto de 5% neste requerimento. Esse

último ajuste, para valores de condição corporal abaixo de 5 seriam

responsáveis por incorporar a restrição alimentar prévia pelo escore corporal

do animal no momento da formulação (ganho compensatório).

2 - GANHO COMPENSATÓRIO

Segundo Medeiros e Lanna (2001) o crescimento compensatório é um

fenômeno que ocorre com animais que, após uma fase de restrição alimentar,

com a retomada de níveis adequados, apresentam um ritmo de crescimento de

forma mais intensa que ocorreria caso eles tivessem tido crescimento contínuo.

Dessa forma, uma parte ou todo o crescimento que deixou de se efetuar no

momento de restrição é compensado durante a duração do crescimento

compensatório.

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Figura 6 - Representação esquemática do ganho compensatório completo e

parcial e sem compensação.

O fenômeno do crescimento compensatório já está incorporado no

mercado americano de confinamentos, onde animais com condição corporal

melhor têm desconto em relação a animais mais magros, pois os confinadores

sabem que o segundo terá um desempenho superior (Sainz, 1998). Apesar

disso, ainda falta informação suficiente para incorporar o efeito do crescimento

compensatório de maneira eficaz nos modelos de previsão de exigências ou

desempenho. O grande problema está na correta identificação de cada fator

que o afeta e o entendimento dos processos biológicos que o desencadeia.

Segundo Ryan (1990), o animal pode apresentar compensação completa,

parcial ou não apresentar compensação, após um período de subnutrição ou

restrição alimentar. No caso de compensação completa, o ângulo de inclinação

da curva de crescimento dos animais que passaram por restrição é maior do

que o dos animais que não passaram por restrição. Essa compensação na taxa

de crescimento pós-restrição, permite que o mesmo peso de abate seja

atingido à mesma idade. Na compensação parcial, o ângulo de inclinação da

curva de crescimento dos animais que passaram por restrição é maior do que o

dos animais que não passaram por restrição, mas não o suficiente para que o

mesmo peso de abate seja atingido a uma mesma idade. Por fim, quando o

ângulo de inclinação da curva de crescimento dos animais que passaram por

restrição, é menor ou igual ao dos animais que não passaram por restrição, diz-

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se que não houve compensação, e o mesmo peso de abate será atingido a

idades mais avançadas ou até mesmo não será atingido, dependendo da

severidade e extensão da restrição.

As principais alterações durante o crescimento compensatório estão

relacionadas como segue:

Maior taxa de ganho;

Eficiência de conversão alimentar superior;

Mudanças na composição do ganho.

Eles podem ser explicados por:

Aumento no consumo voluntário;

Reduzida taxa de mantença;

Melhor eficiência metabólica;

Mudanças na composição do ganho;

Redução no tamanho dos órgãos;

Mudanças endócrinas.

O NRC (1996) apesar de discutir o efeito da restrição alimentar no

consumo de alimentos, não inclui no modelo de ingestão nenhum fator para

incorporar o efeito do crescimento compensatório. O ganho compensatório é

apenas computado pelo NRC (1996) com base no escore de condição corporal

menor que 5, o que ajusta apenas a exigência de manutenção e não consumo

de matéria seca. Assim sendo, o nutricionista seria o responsável pelo ajuste

do consumo em animais que sabidamente apresentarão ganho compensatório

nos primeiras semanas de alimentação.

O conhecimento da curva de crescimento de bovinos de corte e dos

efeitos do grau de maturidade sobre este curva é de extrema importância

quando pensamos em formular dietas para animais em crescimento ou

terminação. Animais jovens com potencial para depositar músculos por um

prolongado período de tempo, podem não expressar todo este potencial se

alimentados com dieta altamente energética desde o início do confinamento.

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O modelo superprecoce neste caso serve como exemplo, aonde dietas

distintas para os períodos de crescimento e terminação são usadas com intuito

de respeitar e até de manipular a curva de crescimento dos animais.

Em experimentos conduzidos na Unesp-Botucatu, baseados no modelo

superprecoce, bovinos são alimentados no período de crescimento com dietas

contendo 70-73% de concentrado e 15-15,5% de proteína bruta; já na fase de

terminação as dietas ficam em torno de 85% de concentrado contendo de 13,5

a 14% de proteína bruta.

A conversão alimentar é a principal afetada pelo grau de maturidade dos

bovinos alimentados com as dietas altamente energéticas. Dietas com alto teor

de concentrado devem ser usadas de maneira estratégica ao final do período

de alimentação (ou por todo período no caso de confinamentos de giro curto

entre 60-70 dias de cocho) para gordura não ser depositada em excesso, o que

acarreta em maiores custos para ganho de um quilo de peso vivo. Ao menos

que o produtor, em casos muito especiais no Brasil, seja remunerado pela

quantidade gordura nas carcaças que vende ao frigorífico, o excesso de

gordura não traz lucro máximo aos produtores.

O conhecimento dos tipos morfológicos e conseqüentemente do

conceito de grau de maturidade também são úteis para o entendimento do

ganho compensatório. Animais que sofreram restrição na fase de deposição de

músculos, por exemplo, têm maior possibilidade de apresentarem

compensação completa quando comparados a animais que passaram por

restrição já no período de acréscimo de gordura, pois como dito anteriormente

o acúmulo de músculos é mais eficiente que o depósito de gordura. Animais

dos tipos morfológicos 5 e 7 são de maneira geral, os maiores candidatos a

apresentarem compensação completa. Com essas informações em mãos, o

nutricionista poderá prever com maior acurácia a resposta que os animais terão

com a dieta formulada. Entretanto, é preciso ter cuidado ao oferecer dietas

correspondentes a períodos de terminação para bovinos em ganho

compensatório de músculos, pois esta fase pode ser encurtada e o crescimento

compensatório não explorado totalmente, devido ao início do acúmulo de

gordura.

Dentro das possibilidades, deve-se procurar conhecer a idade dos

ndivíduos a serem confinados, para determinar em que ponto da curva de

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rescimento encontra-se o lote. O peso pode ser facilmente obtido e se a idade

é conhecida o produtor imediatamente saberá quais os indivíduos que ganham

peso rápido ou vagarosamente e assim será possível efetuar separação dos

lotes e até mesmo, se possível, a formulação de diferentes dietas para lotes

distintos.

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Avaliação do ganho compensatório em novilhos mestiços Holandês-Gir:

consumo e desempenho

Carlos Augusto de Alencar Fontes1 , Rodrigo Furtado Machado Guimarães2 ,

Maria Izabel Vieira de Almeida3 , Oriel Fajardo de Campos4 , Fernando

Queiroz de Almeida5 , Nivaldo de Faria Sant’Ana6

Material e Métodos

O experimento foi realizado no Campo Experimental Fazenda Santa Mônica,

da Embrapa Gado de Leite, sendo constituído de duas fases: na primeira, com

início no fim da estação seca (começo de outubro) e duração de 104 dias, os

animais foram mantidos em pastejo; e, na segunda, com duração de 112 dias,

os animais foram mantidos em confinamento. Foram utilizados 39 novilhos

mestiços Holandês-Gir, castrados, no mínimo 7/8 Holandês, com peso vivo

inicial de 202,1±49,1 kg e 19,3±5,1 meses de idade, medidos no término da

época seca (inicio da fase 1), distribuídos em três blocos, de acordo com o

peso vivo inicial. Na fase 1 (período de pastejo), nove animais escolhidos ao

acaso, três de cada bloco, foram mantidos em pastagens de capim-braquiária

(Brachiaria decumbens), de acordo com o manejo usual da fazenda,

procurando-se não impor restrição ao consumo de forragem (grupo controle).

Os trinta animais restantes, dez de cada bloco, foram mantidos em pastagem

semelhante, elevando-se a taxa de lotação de forma a reduzir a seletividade de

pastejo e obter ganhos de peso próximos a 100 g/dia (grupo de pastejo

restrito). No final da fase 1, antes de serem confinados, os animais foram

tratados contra endo e ectoparasitos e receberam 1.500.000 UI de vitamina A

injetável. Na fase 2 (período de confinamento), os animais foram distribuídos

em três grupos, segundo o regime alimentar a que foram submetidos na fase 1

(período de pastejo): controle – pastejo ad libitum na fase 1 e ração ad libitum

na fase 2 (nove animais, três de cada bloco); ganho compensatório – pastejo

restrito na fase 1 e ração ad libitum na fase 2 (15 animais, cinco de cada bloco,

escolhidos ao acaso); mantença – pastejo restrito na fase 1 e ração em

quantidade limitada na fase 2, para suprir níveis de proteína e energia 15%

acima das exigências de mantença (15 animais, cinco de cada bloco,

19

escolhidos ao acaso). A análise dos dados foi feita utilizando-se a metodologia

de mínimos quadrados, aplicável a números desiguais nas subclasses (Stell &

Torrie, 1980). No confinamento (fase 2), os animais foram contidos

individualmente em área revestida de cimento e coberta, provida de cochos e

bebedouros individuais. Na primeira semana, de adaptação às dietas

experimentais, os animais passaram a receber silagem de milho e quantidades

crescentes de concentrado. Todos os animais receberam a mesma mistura

completa, constituída de 44% de silagem de milho e 56% de concentrado na

MS. O concentrado foi constituído de farelo de soja (19,4%), fubá de milho

(74,3%), uréia (3,0%) e 3,2% de mistura mineral contendo fosfato bicálcico,

calcário, sal e microelementos minerais. A ração completa, contendo 17,6% de

PB e 2,57 Mcal de EM/kg, foi calculada de acordo com as normas do AFRC

(1993), de modo a permitir ganho de peso vivo diário de 1,2 kg para os animais

alimentados ad libitum. A dieta era fornecida uma vez ao dia, individualmente.

As quantidades de alimento fornecidas aos animais do grupo de mantença

foram ajustadas a cada 28 dias, de acordo com os pesos individuais, e, para os

animais alimentados ad libitum (tratamentos controle e ganho compensatório),

a quantidade foi aumentada quando necessário, mantendo-se as sobras entre

5 e 10% do total fornecido. Para determinação do consumo alimentar

individual, foram registradas diariamente a quantidade de ração fornecida e as

sobras. Amostras do alimento oferecido e das sobras foram coletadas

diariamente, constituindo amostras compostas por animal por período de 28

dias. No primeiro dia de confinamento, três animais de cada tratamento, um de

cada bloco, escolhidos ao acaso, foram abatidos constituindo os grupos de

referência, para estimativa da composição corporal e do peso corporal vazio

(PCVZ) inicial dos 30 animais remanescentes. Nos dias 28, 56, 84, e 112 de

confinamento, foram abatidos três animais do regime de ganho compensatório

e três do regime de mantença. Nos dias 28 e 112, foram igualmente abatidos

três animais do grupo controle, sempre um animal de cada bloco por

tratamento. Por ocasião dos abates, os animais foram submetidos a um

período de jejum de 14 horas, com acesso a água, sendo pesados

imediatamente antes do abate. O abate foi feito por meio de concussão

cerebral e posterior secção da veia jugular. As carcaças foram serradas ao

meio e as duas meias-carcaças foram pesadas individualmente e mantidas em

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câmara fria, a -5oC, durante aproximadamente 18 horas. Após o abate, foram

pesados e amostrados os seguintes componentes: sangue, cabeça, pés, couro,

cauda, rúmenretículo, omaso, abomaso, intestinos delgado e grosso,

mesentério, gordura interna, baço, coração, fígado, pulmões, rins, língua, carne

industrial, esôfago, traquéia e aparelho reprodutor. O peso corporal vazio

(PCVZ) dos animais foi determinado somando-se os pesos de todos os

componentes corporais. As relações entre o PCVZ e o peso vivo (PV) dos

animais-referência de cada regime de alimentação foram determinados e os

valores utilizados para estimativa do PCVZ inicial dos animais remanescentes.

O PCVZ final de todos os animais foi determinado após o abate, de modo

semelhante ao adotado para os animais referência. Os teores de MS e PB

foram determinados nas amostras dos alimentos e das sobras, segundo

metodologia descrita por Silva (1990). O conteúdo de EM foi obtido a partir do

conteúdo de energia digestível da ração, determinado em ensaio de

digestibilidade utilizando-se o fator de conversão 0,82 (NRC, 1996). Os

resultados do consumo de matéria seca, do ganho de peso vivo, do ganho de

peso corporal vazio, do ganho de carcaça e de componentes não-carcaça

durante a fase de confinamento foram analisados

Resultados e Discussão

O ganho de peso médio diário dos animais em pastejo ad libitum no período de

pastejo foi de 0,453 kg, superior ao daqueles em pastejo restrito (alocados na

fase 2 nos tratamentos ganho compensatório e mantença), que ganharam, em

média, 0,124 kg/dia. Varia- ções no peso do conteúdo do trato gastrintestinal

dos animais submetidos às duas ofertas de forragem na fase 1 não puderam

ser determinadas, pois não houve abate de animais no início desse período.

Não foi determinado também o consumo de forragem. O ganho de peso médio

diário dos animais em pastejo ad libitum foi apenas moderado, embora a fase 1

tenha coincidido com o início do período chuvoso. Os animais submetidos ao

pastejo restrito com pressão de pastejo elevada apresentaram baixas taxas de

ganho, tendo em vista o objetivo de submetê-los ao período de confinamento

com peso corporal próximo ao observado no início do período de pastejo. Ryan

(1990) e Laurence & Fowler (1997) comprovaram haver correlações negativas

21

entre os níveis de ganho durante o inverno e no período subseqüente, a pasto

ou em confinamento, quando o nível nutricional é adequado. Entretanto,

resultados obtidos por esses autores indicam que ganho de peso semelhante

aos observado nos animais controle (pastejo ad libitum) pode não ter efeito

negativo sobre o ganho na fase posterior caso os animais recebam

alimentação adequada. Os valores médios de consumo de MS durante o

período de confinamento (fase 2) dos animais dos tratamentos controle, ganho

compensatório e mantença podem ser observados na Tabela 1. A análise de

variância comprovou haver efeito da interação tratamento ´ período para o

consumo total diário de MS (CMSD), o consumo de MS por 100 kg de PV

(CPV), o consumo por 100 kg de peso de corpo vazio (CPVZ) e o consumo por

unidade de tamanho metabólico (CUTM). O consumo médio total diário de MS

dos animais nos tratamentos em que a dieta foi fornecida ad libitum (controle e

ganho compensatório) foi maior no período de 29 a 112 dias em comparação

ao período de 1 a 28 dias, refletindo o aumento do peso corporal dos animais.

Entretanto, quando expresso como proporção do peso do animal em CPV,

CPVZ ou CUTM, houve redução do consumo desses animais no segundo

período O maior consumo alimentar relativo ao peso nos primeiros 28 dias de

confinamento nos animais alimentados ad libitum pode ser, em parte, uma

resposta ao período de ganho compensatório e está de acordo com os relatos

de Ryan (1990), Hogg (1991) e Sainz (1998). Os animais que tiveram livre

acesso à pastagem no início da estação chuvosa tiveram naquele período

ganhos de peso apenas moderados (0,453 kg/dia) e, portanto, apresentavam

condi- ções para o ganho compensatório, que normalmente está associado a

aumento do consumo alimentar. Além disso, conforme salientado por Sainz

(1998), quando a restrição alimentar ocorre por ingestão de dieta de baixa

qualidade e não por baixo nível de oferta de dieta de alta qualidade, não ocorre

redução do tamanho do trato gastrintestinal, especialmente do rúmen-retículo.

Desse modo, a eleva- ção do consumo alimentar quando o animal tem acesso

ad libitum a alimento de boa qualidade tende a ser mais rápida. Com o

prolongamento do período de confinamento, a tendência normal é de redução

do consumo alimentar em relação ao peso do animal, como resultado do

acúmulo de gordura corporal, associado à limitação, a longo prazo, do

consumo em bovinos de corte (NRC, 1996). Nos dois períodos, os animais dos

22

grupos controle e ganho compensatório (animais alimentados ad libitum) não

diferiram ) quanto ao consumo total diário ou em porcentagem do peso vivo, do

peso de corpo vazio ou por unidade de tamanho metabólico. Nos animais do

regime de mantença, o consumo total diário expresso em relação ao peso vivo,

ao peso do corpo vazio ou ao tamanho metabó- lico permaneceu inalterado nos

dois períodos (1 a 28 e 29 a 112 dias), de acordo com o estabelecido,

mantendo-se menor que nos animais em ganho contínuo e em ganho

compensatório. A regressão do consumo total diário de matéria seca (CMSD)

em função do tempo de confinamento comprovou aumento linear ) do

consumo, descrito pelas equa- ção: CMSD = 7,1452 + 0,01959X (r2 = 0,93),

para os animais dos grupos controle e ganho compensatório, e redução linear:

CMSD = 2,6243 – 0,00114X (r2 = 0,93) para animais em mantença. Para o

consumo expresso em CPV, CPVZ e CUTM, houve reduções lineares do

consumo ao longo do período de confinamento, descritas pelas equa- ções:

CPV = 3,1689 – 0,00698X (r2 = 0,96), para animais controle e de ganho

compensatório; CPV = 1,2861 – 0,00145X (r2 = 0,96), para animais em

mantença; CPVZ = 3,8887 – 0,01181X (r2 = 0,96), para os animais controle;

CPVZ = 4,0309 – 0,01358X (r2 = 0,96) para os animais de ganho

compensatório; CPVZ = 1,6156 – 0,00332X (r2 = 0,96), para os animais em

mantença; CUTM = 122,2261 – 0,13389X (r2 = 0,98), para os animais controle

e de ganho compensatório; e CUTM = 48,5415 – 0,04659X (r2 = 0,98), para os

animais em mantença, sendo X igual ao número de dias em confinamento. Nos

grupos ganho compensatório e mantença, nos quais se fez abate a cada 28

dias, permitindo estimar as variações do peso de corpo vazio nesses intervalos,

foram avaliadas as mudanças no consumo nos períodos sucessivos de 28 dias.

A análise estatística revelou interação tratamento ´ período para CMSD, CPV,

CPVZ e CUTM (Tabela 2). No grupo ganho compensatório, o consumo médio

diário de MS tendeu a aumentar do primeiro para o quarto período de

confinamento, como conseqüência do aumento do peso corporal dos animais,

que foi menor no primeiro período em comparação ao segundo e ao terceiro

período Nesses períodos, o consumo foi menor que no quarto período Quando

expresso em porcentagem do peso corporal (CPV e CPVZ), o consumo no

regime de ganho compensatório no primeiro período foi maior que no segundo

período quando foi mais elevado que nos dois últimos períodos nos quais não

23

diferiu significamente. animais em ganho compensatório (Ryan, 1990; Hogg,

1991; Sainz, 1998) foi mais nítido nos primeiros 28 dias de confinamento,

permanecendo elevado no período seguinte e decrescendo para um nível mais

baixo após 56 dias de realimentação. O aumento do consumo nos animais

após período de restrição nutricional tem sido apontado como fator para o

maior ganho de peso nesses animais (Ryan, 1990; Hogg, 1991). A manutenção

do consumo em nível mais elevado nos animais do grupo ganho compensatório

(Tabela 2) durante os primeiros 56 dias pode ser constatada de forma mais

nítida quando observado o consumo por unidade tamanho metabólico (CUTM),

sendo observados consumos semelhantes nos dois primeiros períodos

superiores aos do terceiro e quarto períodos nos quais não diferiu

significativamente. Os ganhos médios diários de peso vivo (GPV), de peso de

corpo vazio (GPVZ), do peso da carcaça (GCAR) e do peso dos componentes

não-carcaça (GNCAR) nos períodos de 1 a 28 dias e de 29 a 112 dias de

confinamento são apresentados na Tabela 3. Verificou-se efeito de interação

tratamento ´ período para GPV e GNCAR. Quando considerado o GPV,

verificou-se nos primeiros 28 dias maior ganho diário nos animais do grupo

ganho compensatório (submetidos na fase 1 ao pastejo restrito) em

comparação aos do grupo controle. No período de 29 a 112 dias, não houve

diferença entre os grupos. Nos três grupos, os valores de ganho de PCVZ

(peso de tecidos corporais livres da digesta), nos primeiros 28 dias, foram mais

elevados que os de ganho de peso vivo. Este resultado indica que, nos

primeiros 28 dias, depois que os animais deixaram de se alimentar em

pastagem (mais rico em fibra) e passaram a ingerir dieta com 56% de

concentrado, houve redução do conteúdo de digesta do trato gastrintestinal

(TGI). Essa redução da digesta entre as pesagens realizadas nos dias 1 e 28

de confinamento não permitiu que o ganho de peso vivo aferisse corretamente

o aumento ocorrido nos tecidos corporais no período. Evidencia que o ganho

de PCVZ, por não ser influenciado as flutuações do conteúdo de digesta do

TGI, indica de forma mais adequada as mudanças no peso dos tecidos

corporais. Os valores mais elevados de ganho de peso corporal obtidos nos

animais em ganho compensatório, em comparação aos do grupo controle, no

período de 1 a 28 dias refletem principalmente o maior ganho de peso dos

componentes não-carcaça (GNCAR) nos animais em ganho compensatório,

24

visto que os ganhos de carcaça nesses dois grupos foram semelhantes.

Corroborando os resultados deste trabalho, Carstens et al. (1991) não

observaram diferenças na taxa de crescimento alométrica dos componentes

químicos da carcaça entre animais em ganho compensatório e em ganho

contínuo. Entretanto, as taxas de deposição de proteína e água nos

componentes não-carcaça foram maiores nos animais em ganho

compensatório. Hogg (1991) enfatizou que, durante o crescimento

compensatório, grande parte das alterações no peso do animal resulta da

recuperação da atividade metabólica do fígado e do intestino delgado e do

aumento de peso desses órgãos. Neste trabalho, o maior ganho dos

componentes não-carcaça nos primeiros 28 dias de confinamento nos animais

em ganho compensatório indicou recupera- ção do peso dos órgãos internos

na fase inicial de confinamento. Apesar de a maior parte da diferença no ganho

de peso corporal entre os grupos ganho compensatório e controle ser explicada

pelo ganho dos componentes não-carcaça, o ganho de peso da carcaça

representou a maior parte do ganho de peso dos animais desses dois grupos

durante a fase de confinamento. Quando analisados os ganhos médios diários

em todo o período de confinamento (1 a 112 dias), os grupos controle e ganho

compensatório não diferiram quanto aos ganhos de peso: GPV (1,08 e 1,20

kg/dia); GPVZ (1,25 e 1,32 kg/dia); GCAR (0,77 e 0,76 kg/dia); e GNCAR (0,48

e 0,56 kg/dia). Os animais desses grupos superaram os do grupo mantença em

todos os ganhos de peso avaliados. Nos grupos ganho compensatório e

mantença, foi possível avaliar os ganhos de PCVZ, de peso de carcaça e de

peso dos componentes não-carcaça, pois os abates foram realizados nos

intervalos estabelecidos (28 dias). Essa análise, especialmente para os animais

em ganho compensatório, é importante por permitir verificar a ocorrência de

possível variação na velocidade dos ganhos nos subperíodos intermediários. A

análise de variância indicou efeito do regime de alimentação e da interação

tratamento x subperíodo para todos os ganhos de peso considerados O ganho

de peso de corpo vazio dos animais do tratamento ganho compensatório nos

quatro períodos sucessivos de 28 dias foi maior no primeiro período e não

diferiu nos três últimos subperíodos. Ryan (1990) e Hogg (1991) relataram que,

após um período de restrição alimentar, ao proporcionar um nível nutricional

adequado, ocorre normalmente ganho de peso corporal mais acelerado, em

25

decorrência do rápido aumento inicial do tamanho dos órgãos internos

metabolicamente ativos e da maior retenção de água nas fibras musculares

que antecede a deposição mais intensa de proteína nos músculos. Como

salientaram esses autores, o tempo em que a taxa de peso se mantém mais

acelerada depende de diversos fatores, entre eles, a severidade e a duração

do período de restrição alimentar. O ganho de peso corporal mais acelerado

ocorreu durante os primeiros 28 dias, apesar de ter sido numericamente mais

elevado no segundo, em comparação ao terceiro período, sem que a diferença

fosse significativa. O ganho de peso diário dos componentes não-carcaça nos

animais do grupo ganho compensatório foi de 0,65 kg no primeiro período,

equivalente a 42,5% do ganho total de PCVZ. Essa porcentagem diminuiu para

37,3 e 36,4% no segundo e terceiro períodos, respectivamente, e aumentou

para 51,7% do PCVZ no quarto período. A maior participa- ção dos

componentes não-carcaça no primeiro em relação ao terceiro e quarto períodos

pode ser atribuída ao crescimento intenso dos órgãos na fase 1nicial, como

verificado por Ryan (1990), Hogg (1991) e Nicol & Kitessa (1995). Por outro

lado, o aumento do peso e da participação dos componentes não-carcaça no

GPVZ no quarto período pode ser atribuído, pelo menos em parte, ao maior

acúmulo de gordura visceral em detrimento da gordura subcutânea, o que

ocorre em maior proporção em animais em ganho compensatório (Sainz,

1998). O ganho de peso da carcaça nos animais em ganho compensatório

tendeu a decrescer em cada período sucessivo de confinamento e foi mais

elevado no primeiro em comparação ao quarto período. Nos animais em

mantença, os ganhos de peso expressos em GPV, GPVZ, GCAR e GNCC

foram baixos em todos os períodos, menores que os obtidos nos animais em

ganho compensatório como conseqüência da oferta limitada de alimentos no

grupo mantença. A análise de variância para os conteúdos de digesta no trato

gastrintestinal referentes aos animais dos três tratamentos abatidos no início e

nos dias 28 e 112 de confinamento, expressos como porcentagem do peso vivo

(DIGPV) e como porcentagem do peso de corpo vazio (DIGPZ), comprovou

não haver interação tratamentos ´ idade de abate e, portanto, seus efeitos

foram avaliados independentemente, como demonstrado na Tabela 5. Houve

redução da participação percentual média de digesta no peso vivo e no peso

de corpo vazio ao longo do período de confinamento (efeito médio de dia de

26

abate). Entretanto, não houve diferença entre os três regimes de alimentação

quanto ao valor percentual médio de digesta nos três períodos (efeito médio de

tratamento). Embora a digesta representasse percentual semelhante nos

animais dos grupos controle e ganho compensatório no início do período de

confinamento (em torno de 21%), os animais controle, com maior peso vivo

(média de 249,0 kg) em comparação aos do ganho compensatório (média de

214,8kg), apresentaram maior peso de digesta (52,4 vs 46,5 kg). Aos 28 dias

de confinamento, os pesos médios aproximados da digesta dos animais dos

dois grupos foram, respectivamente, 40,0 e 39,6 kg, ou seja, houve redução de

12,4 e 6,9 kg de digesta em 28 dias de confinamento, ou de 0,44 e 0,25 kg/dia,

nos animais dos grupos controle e ganho compensatório, respectivamente.

Esta redução no peso da digesta explica as diferenças entre o ganho de PCVZ

e o ganho de PV nesses dois grupos no período de 1 a 28 dias de

confinamento. Comprova ainda a importância de se conhecer o PCVZ quando

se pretende medir as diferenças de peso corporal de bovinos, especialmente

quando ocorre mudança no regime alimentar, uma vez que o PCVZ, ao

contrário do peso vivo, não é influenciado pelas variações do conteúdo de

digesta do TGI. Os animais do regime de mantença, apesar da menor ingestão

diária de alimento, em comparação aos dos outros grupos, tiveram

porcentagens semelhantes de digesta em relação ao peso corporal. . Esta

constatação reforça a afirmativa da ARC (1980) de que o nível de ingestão de

alimento tem pouca influência sobre o conteúdo do TGI de ruminantes.

Entretanto, Sainz (1998) observou que os conteúdos no trato digestivo de

animais confinados alimentados com dietas ad libitum foram menores que os

daqueles com consumo limitado a 70% do consumo ad libitum. O autor atribuiu

esses resultados ao menor fluxo da digesta nos animais com consumo limitado.

A redução no conteúdo de digesta do TGI, mesmo nos animais do grupo ganho

compensatório, a partir de quando entraram em confinamento, pode ser

atribuída à mudança brusca na natureza da dieta, visto que, ao saírem da

pastagem, mudaram de um regime alimentar em que o controle de ingestão do

alimento ocorria basicamente pelo mecanismo de distensão ruminal para outro

com dieta contendo 56% de concentrado, no qual o consumo passou a ser

regulado basicamente por mecanismos quimiostáticos. Revisão do ARC (1980)

indica que a adição de concentrados à forragem reduz, quase sempre, o

27

volume do TGI, com reduções maiores para volumosos que proporcionam

grande enchimento. Quando a restrição alimentar ocorre por limitação da

quantidade de uma dieta de alta qualidade (restrição quantitativa), resultados

opostos aos deste estudo têm sido relatados. Neste caso, há relatos de

elevação do conteúdo de digesta após a restrição, de modo que esse aumento

pode explicar porção significativa do ganho de peso inicial (Ryan, 1990; Hogg,

1991; NRC, 1996). Por outro lado, Yambayamba et al. (1996), avaliando

novilhas de corte, não observaram influência do enchimento do TGI no ganho

de peso e concluíram que o crescimento compensatório resultou da

recuperação de tecidos corporais e de órgãos, como o fígado e o trato

gastrintestinal. A avaliação conjunta dos resultados deste trabalho e dos

obtidos por esses autores comprova que o aumento do peso do conteúdo do

TGI durante o período de realimentação após período de restrição alimentar

depende da natureza das dietas utilizadas nos dois períodos. Não se pode

generalizar o conceito de que o aumento do conteúdo do TGI é responsável

por porção considerável do ganho compensatório. Na avaliação da conversão

alimentar na fase de confinamento, foram considerados apenas os animais dos

tratamentos controle e ganho compensatório, que receberam alimento ad

libitum. A conversão alimentar foi expressa em kg de MS da dieta para 1 kg de

PCVZ ganho, o que elimina a influência de variações do conteúdo do TGI.

Foram considerados os períodos de confinamento de 1 a 28 dias e de 29 a 112

dias utilizando-se as informações referentes aos animais abatidos nos dois

períodos. Apesar da tendência de interação tratamento ´ período , não foi

atingido o nível de significância adotado no trabalho e, por isso, os efeitos de

tratamento e período foram considerados independentes na comparação das

médias (Tabela 6). Considerando os animais dos dois tratamentos em cada

período (efeito médio do período), constata-se que a conversão alimentar foi

melhor no primeiro período (5,67 ± 0,28) em comparação ao segundo (6,89 ±

0,32), não havendo diferença entre os regimes de alimentação se considerados

em conjunto os dois períodos de confinamento (efeito médio de tratamento).

Como não houve efeito da interação tratamento x período , não é

estatisticamente apropriado buscar diferenças entre os regimes de alimentação

nos períodos, entretanto, fica evidente que a alta eficiência de utilização da

energia da dieta pelos animais do grupo ganho compensatório nos primeiros 28

28

dias de confinamento, comprovada pela conversão alimentar de 4,81±0,33 kg

de MS/kg de ganho de peso de corpo vazio. Aparentemente, esse resultado foi

a causa da tendência observada de interação tratamento x período. Maior

eficiência inicial de utilização da energia dietética e, conseqüentemente, melhor

conversão alimentar, como verificado neste trabalho, têm sido freqüentemente

relatadas na literatura (Ryan, 1990; Hogg, 1991; Nicol & Kitessa, 1995; Sainz,

1998) como resultado do menor conteúdo energético do peso ganho durante a

fase inicial de realimentação e da menor exigência de energia de mantença dos

animais, em decorrência da redução da massa de órgãos internos,

metabolicamente ativos.

Conclusões

Os animais submetidos a um período de restrição alimentar em pastagem

ganharam mais peso na fase inicial do período de realimentação em

confinamento, como conseqüência do maior ganho de peso dos componentes

nãocarcaça. O maior ganho de peso corporal dos animais em crescimento

compensatório não refletiu em maior ganho de peso de carcaça e, portanto,

não contribuiu para elevação do valor comercial dos animais abatidos. A partir

do início do confinamento, com o fornecimento de concentrado, houve redução

contínua do conteúdo de digesta do trato gastrintestinal, expresso como

porcentagem do peso corporal. Nos animais dos grupos controle e ganho

compensatório, o início do confinamento foi o período de melhor conversão

alimentar e coincidiu com o período de maior consumo alimentar por unidade

de tamanho metabólico e em porcentagem de peso vivo.

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BIBLIOGRAFIA

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junto com o software no início do curso.

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