apostila de filosofia - josias 2014 v2
TRANSCRIPT
-
INTRODUO A FILOSOFIA
Prof: JOSIAS ALVES DA COSTA e-mail: [email protected]
BRASLIA 2013
Instituto Educacional Evanglico do Centro-Oeste
-
2
Cadeia temtica das aulas
Aula do dia 23 de Abril de 2014
Tema:
Introduo a Filosofia e a Filosofia da Religio
1. O que filosofia? Definio e conceitos
2. O que filosofia da religio? E
3. Os principais filsofos antiguidade e da ps-modernidade
4. A filosofia da religio e os pressupostos cristos
Aula do dia 30 de Abril de 2014
Tema:
Epistemologia
1. Teorias da Verdade e Ps-modernismo
2. Racionalidade e Ceticismo
3. A Estrutura da Justificao
4. Filosofia e Mitologia
Aula do dia 07 de Maio de 2014
Tema:
Teologia filosfica e Filosofia da Religio
1. A Existncia de Deus
2. O Problema do Mal e a Coerncia do Tesmo
3. A Criao, A Providencia e Os Milagres.
4. Trindade, Encarnao e Particularismo Cristo.
Aula do dia 14 de Maio de 2014
Tema:
tica: pressupostos filosficos e teolgicos.
1. tica, Moralidade e Responsabilidades.
2. O carter Social da Formao Moral
-
3
3. Dilemas ticos do Fim do Sculo XIX
4. Teorias tico-normativos: Egosmo e Utilitarismo
5. REGISTRO DE ATIVIDADES PARA COMPLEMENTO DA DISICIPLINA
Atividades a serem desenvolvidas em cumprimento da disciplina de Introduo a Filosofia: Declarao de leitura da apostila tcnica da disciplina Resenha informativa do livro Teoria do Conhecimento e Teoria da Cincia Autor: Urbano Zilles, paginas 162 a 196.
Prazo de entrega: 06/06/2014
-
4
SUMRIO DEFINIO DE FILOSOFIA ......................................................................................................... 6 A IMPORTNCIA DA FILOSOFIA ................................................................................................ 7 REAS DE ATUAO: ................................................................................................................. 7 FILOSOFIA E MITO ...................................................................................................................... 9 COSMOGONIA E COSMOLOGIA ................................................................................................ 9 MITO (GR. MYTHOS: NARRATIVA, LENDA) ............................................................................ 10 OS PR-SOCRTICOS .............................................................................................................. 12 FILOSOFIA DA RELIGIO .......................................................................................................... 12 FILOSOFIA COMO MOVIMENTO AGREGADOR E CONSTITUIDOR DA EXPERINCIA HUMANA. .................................................................................................................................... 15
FILOSOFIA COMO FORMA DE VIDA .................................................................................... 15 FILOSOFIA COMO DOUTRINA SOBRE A VIDA ................................................................... 15 FILOSOFIA COMO SABER ACERCA DAS COISAS ............................................................. 16 O VERBO FILOSOFAR PODE SER USADO COM TRS SIGNIFICADOS DISTINTOS: .... 16
A METAFISICA............................................................................................................................ 16 O QUE METAFSICA: ......................................................................................................... 17 CONCEITOS ........................................................................................................................... 17 A METAFSICA DE ARISTTELES ....................................................................................... 19
O CONTEDO A SEGUIR PAUTADO POR VRIOS CONCEITOS FORMANDO UM PERCURSO NO CONTEDO. ................................................................................................... 20 O FILSOFO HEGEL (SC. XIX), UM RACIONALISTA, DISSE QUE A REALIDADE RACIONALIDADE. ...................................................................................................................... 27 HABILIDADES DE RACIOCNIO ................................................................................................ 32 HABILIDADES DE FORMAO DE CONCEITOS .................................................................... 34 EPISTEMOLOGIA ....................................................................................................................... 35
TEORIAS DA VERDADE E PS-MODERNISMO ................................................................. 35 RACIONALIDADE E CETICISMO .......................................................................................... 37 A ESTRUTURA DA JUSTIFICAO ...................................................................................... 39
Aquele que est morto........................................................................................................ 40 Est Justificado do Pecado ................................................................................................ 41 Para que sejas justificado ................................................................................................... 42 O que o contexto nos apresenta? ...................................................................................... 42
TEOLOGIA FILOSFICA E FILOSOFIA DA RELIGIO ............................................................ 44 CINCO VIAS QUE PROVAM A EXISTNCIA DE DEUS EM SANTO TOMS DE AQUINOA.. 47
Argumentao sobre a existncia de Deus ............................................................................ 50 O PROBLEMA DO MAL E A COERNCIA DO TESMO ........................................................... 53
O Mal Prova que Deus no Existe? ........................................................................................ 54 Considere Todas as Evidncias ............................................................................................. 56
1. O argumento cosmolgico. ............................................................................................. 56 2. O argumento teleolgico. ............................................................................................... 56 3. O argumento ontolgico. ................................................................................................ 57 4. O argumento moral. ........................................................................................................ 57 5. O argumento antropolgico. ........................................................................................... 57
O que o mal? ........................................................................................................................ 58 A CRIAO, A PROVIDNCIA E OS MILAGRES. .................................................................... 67
A CRIAO ............................................................................................................................ 67 A verso de quem l ........................................................................................................... 69
TEORIAS DE CRIAO DO UNIVERSO............................................................................... 70 Teoria Cientfica .................................................................................................................. 70 Teoria Crist de Criao do Mundo .................................................................................... 72 Teoria Egpcia ..................................................................................................................... 72 Teoria Grega da Criao .................................................................................................... 73
A PROVIDENCIA .................................................................................................................... 73 Deus preserva todas as coisas .......................................................................................... 74
-
5
Deus age em todas as coisas ............................................................................................ 76 O Concursus e os Atos Bons 3 ........................................................................................ 77 O Concursus e os Atos Maus .......................................................................................... 78 Deus governa todas as coisas ........................................................................................... 81
OS MILAGRES ....................................................................................................................... 83 TRINDADE, ENCARNAO E PARTICULARISMO CRISTO. ................................................ 84
A TRINDADE .......................................................................................................................... 84 Analisando algumas objees ............................................................................................ 85 A Trindade no Antigo Testamento ...................................................................................... 86 A Trindade no Novo Testamento ........................................................................................ 88 Jesus Cristo ........................................................................................................................ 89 Avaliao bblica ................................................................................................................. 89 Jesus no o Arcanjo Miguel ............................................................................................ 91 Jesus no "um deus" ....................................................................................................... 91 Esclarecendo termos mal interpretados ............................................................................. 91 Esclarecendo textos mal interpretados .............................................................................. 94 Textos e termos mal aplicados ao Esprito Santo .............................................................. 99 Refutao: .......................................................................................................................... 99 Refutao: ........................................................................................................................ 100 Argumentos mal aplicados para se batizar somente em nome de Jesus ........................ 101
A ENCARNAO ................................................................................................................. 102 PARTICULARISMO CRISTO ............................................................................................. 109
DEFINICIN ..................................................................................................................... 109 CONCEPTOS E IDEAS CLAVE ....................................................................................... 110
TICA: PRESSUPOSTOS FILOSFICOS E TEOLGICOS. ................................................. 113 DEFINIO ........................................................................................................................... 113 CDIGOS DE TICA............................................................................................................ 113 A TICA EM AMBIENTES ESPECFICOS........................................................................... 113 ANTITICA ........................................................................................................................... 114 O QUE TICA NA FILOSOFIA: ......................................................................................... 114 RESPONSABILIDADES. ...................................................................................................... 115
Responsabilidade social ................................................................................................... 116 Responsabilidade civil ...................................................................................................... 116
O CARTER SOCIAL DA FORMAO MORAL ................................................................. 116 Carcter pessoal da moral................................................................................................ 117
Dilemas ticos do Fim do Sculo XIX ....................................................................................... 118 Teorias tico-normativos: Egosmo e Utilitarismo .................................................................... 125
O que Egosmo: ................................................................................................................. 125 O que Egocentrismo: ..................................................................................................... 126 Piaget e o egocentrismo ................................................................................................... 127
Conceito de utilitarismo ......................................................................................................... 127 REFERENCIAS ......................................................................................................................... 129
-
6
INTRODUO A FILOSOFIA E A FILOSOFIA DA RELIGIO
DEFINIO DE FILOSOFIA
difcil dar-se uma definio genrica de filosofia, j que esta varia no
s quanto a cada filsofo ou corrente filosfica, mas tambm em relao
histrica. Atribui-se a Pitgoras a distino entre o saber e a filosofia, que
seria a "amizade ao saber", a busca do saber. Com isso se estabeleceu, j
desde sua origem, uma diferena de natureza entre a cincia, enquanto saber
especfico, conhecimento sobre um domnio do real, e a filosofia que teria um
carter mais geral, mais abstrato, mais reflexivo, no sentido da busca dos
princpios que tornam possvel o prprio saber. No entanto, no
desenvolvimento da tradio filosfica "filosofia" foi frequentemente usado para
designar a totalidade do saber, a cincia em geral, sendo a metafsica a cincia
dos primeiros princpios, estabelecendo os fundamentos dos demais saberes.
O perodo medieval foi marcado pelas sucessivas tentativas de
conciliao entre razo e f, entre a filosofia e os dogmas da religio revelada,
passando a filosofia a ser considerada theologiae, a serva da teologia, na
medida em que fornecia as bases racionais e argumentativas para a
construo um sistema teolgico, sem, contudo, poder questionar a prpria f.
O pensamento moderno recupera o sentido da filosofia como
investigao dos primeiros princpios, tendo, portanto, um papel de fundamento
da cincia e de justificao da ao humana. A mente a partir do Iluminismo,
vai atribuir filosofia exatamente esse papel de investigao de pressupostos,
de conscincia de limites, de crtica da cincia e da cultura. Pode-se supor que
essa concepo, mais contempornea tem razes no ceticismo, que, ao duvidar
da possibilidade da cincia e do conhecimento, atribuiu filosofia um papel
quase que exclusivamente questionados.
-
7
Na filosofia contempornea, encontramos assim, ainda que em
diferentes correntes e perspectivas, como investigao crtica, situando nvel
essencialmente distinto do da cincia, embora intimamente relacionado a esta,
j que descobertas cientficas muitas vezes suscitam questes e reflexes
filosficas e frequentemente problematizam teorias cientficas. Essa relao
reflexiva entre a filosofia e os outros campos do saber fica clara, sobretudo, nas
chamadas "filosofia de": filosofia da cincia, filosofia da arte, filosofia da
histria, filosofia da educao, matemtica, filosofia do direito etc.
A IMPORTNCIA DA FILOSOFIA
A Filosofia surge com a necessidade humana de compreender o
mundo e buscar um sentido para sua existncia. um conjunto de concepes
a respeito do homem e do seu papel no universo; as atitudes reflexivas, crticas
e especulativas em busca da verdade ou de certezas que possam orientar a
ao humana. O filsofo tem como objeto de estudo a essncia do ser. Ele
estuda as possibilidades e os limites do conhecimento, a origem e a finalidade
das coisas, a natureza de Deus, o sentido da vida. um profissional que tem
no ato de pensar sua principal ferramenta.
Seu pensamento transmitido pela linguagem escrita e oral. Por este
motivo dever apaixonado pela leitura, desenvolver raciocnio abstrato e
prezando a oratria e a habilidade e clareza vocabular. A caracterstica
principal do filsofo e a curiosidade, a inquietao e a paixo pela sabedoria.
Isto projeta-o na busca de uma explicao para os fatos e fenmenos que
ocorrem a sua volta e faz avizinhar-se das pesquisas e produes cientficas
dos diversos campos de saber. O campo de atuao vasto, mas pouco
reconhecido.
REAS DE ATUAO:
Pesquisa (investiga todos os campos do conhecimento, refletindo sobre
os valores que definem o comportamento humano); magistrio (em escolas e
universidades): crtica (faz comentrios a obras artsticas, literrias ou
-
8
cientficas; escreve livros e artigos); gerenciamento editorial (seleciona ttulos e
participa da edio de obras); consultoria (presta assessoria a empresas no
que se refere tica, poltica, linguagem, educao, religio; participa de
palestras, seminrios e conferncias).
-
9
FILOSOFIA E MITO
A filosofia ocidental teve seu incio na Grcia antiga. A palavra
"filosofia" filosofia palavra de origem grega. Philo vem de philia a ver com
companheirismo, amor fraterno, amizade. Sophia vem de sophos, que quer
dizer sbio. Assim, em geral, quando se parte da etimologia da palavra, temos
que "filosofia" o amor ao saber, a amizade profunda sabedoria; e o filsofo,
ento, aquele que tem um apreo especial pela sabedoria.
A filosofia, nesta perspectiva grega, uma atividade que visa levar ao
saber. E sua histria, para a maioria dos manuais, tem como primeiro
adversrio o mito, que, aos olhos do filsofo, no estaria preocupado em levar
ao saber, ao conhecimento, tomando aqui a palavra conhecimento como saber
verdadeiro, no contraditrio, que no busca causas em relaes
sobrenaturais, mas em relaes naturais.
A palavra mito tambm tem uma origem grega, ela vem de mythos. H
dois verbos que confluem para mytheo, que tem a ver com a conversa
designao, e mytheyo, que tem a ver com a narrao, com o contar algo para
outro. O mito narra algo que inquestionvel para quem est inserido fielmente
na atividade de ouvi-lo. Ele tem a funo de dizer algo que tal pessoa acredita
sem pensar muito de modo a coloc-lo em dvida. Seu papel de informar e
dar sentido existncia de quem cr nele, mas, principalmente, o de socializar
as pessoas e criar uma comunidade que forma o "ns", os que se organizam
socialmente da mesma forma exatamente porque, entre o que possui de
comum, o mito no s alguma coisa forte, mas exatamente a narrativa
(nica) que diz o que comum para este "ns".
COSMOGONIA E COSMOLOGIA
As cosmogonias so de certa forma, narrativas sobre as origens do
mundo. Em geral elas esto presentes nos mitos, isto quando no so a sua
essncia. Falam de unio sexual entre deuses, que geram o mundo, ou unio
-
10
sexual entre deuses e humanos, que em geral criam situaes complexas e
do o enredo a uma histria que explica divises, guerras, cimes, paixes e
disputas sobre a justia, etc.
As cosmologias j esto mais para o campo do pensamento filosfico
do que para o pensamento mitolgico. Para vrios autores da histria da
filosofia, elas so a origem do pensamento filosfico, e outros, mais propensos
a verem continuidade do que rupturas na histria do pensamento tendem a ver
as cosmologias como o incio do pensamento cientfico. As cosmologias so
teorias a respeito da natureza do mundo.
As cosmogonias so genealogias. Diferentemente, as cosmologias so
conhecimento a respeito de elementos primordiais, mas naturais. O
pensamento cosmolgico remete phsis, a palavra grega que tem a ver com
o que eterno e de onde tudo surge, nasce, brota. Trata-se de um elemento
gera todos os outros elementos naturais, que so perecveis.
MITO (GR. MYTHOS: NARRATIVA, LENDA)
1. Narrativa lendria, pertencente tradio cultural de um povo, que explica
atravs do apelo ao sobrenatural, ao divino e ao misterioso, a origem do
universo, o funcionamento da natureza e a origem e os valores bsicos do
prprio povo. Ex.: o mito de sis e Osris, o mito de Prometeu etc. O surgimento
do pensamento filosfico cientfico na Grcia antiga (sc.Vl a.C.) visto como
uma ruptura com o pensamento mtico, j que a realidade passa a ser
explicada a partir da considerao da natureza pela prpria, a qual pode ser
conhecida racionalmente pelo homem, podendo essa explicao ser objeto de
crtica e reformulao; da a oposio tradicional entre mito e logos
2. Por extenso, crena no-justificada, comumente aceita e que, no entanto,
pode e deve ser questionada do ponto de vista filosfico. Ex.: o mito da
neutralidade cientfica, o mito do bom selvagem, o mito da superioridade da
raa branca etc. A critica ao mito, nesse sentido_ produziria uma
desmistificao dessas crenas.
-
11
3. Discurso alegrico que visa transmitir uma doutrina atravs de uma
representao simblica. Ex.: o mito ou alegoria da caverna e o mito do Sol, na
Repblica de Plato.
-
12
OS PR-SOCRTICOS
Os pensadores pr-socrticos viveram no "mundo grego", mas nem
todos antes de Scrates. Alguns sim, outros no. Eles viveram entre o sculo
sete e o meio do sculo quarto A.C. Scrates nasceu em 470 e morreu em 399
A.C. (todas as datas, antes de Cristo, so, na sua maioria, estimativas). Uma
boa parte desses pensadores foram, antes de tudo, cosmlogos. E vrios deles
trabalharam em um sentido reducionista, isto , tentaram encontrar uma
substncia nica, ou fora exclusiva, ou princpio bsico capaz de ser
apresentado como o elemento efetivamente real e primordial do cosmos.
A filosofia dos Pr-socrticos (Filsofos da Natureza) voltava o seu
pensamento para a origem (racional) do mundo, do cosmos. Ou seja, estes
filsofos dedicavam-se s investigaes cosmolgicas, buscando a arch (o
princpio fundamental de todas as coisas). De seus escritos quase tudo se
perdeu, restando apenas poucos fragmentos a respeito da Cosmologia: estudo,
teoria ou descrio dos cosmos, do universo.
FILOSOFIA DA RELIGIO
Dentro das divises que existem na filosofia, existe a Filosofia da
Religio, que tem por objetivo estudar a dimenso espiritual que o homem
possui desde uma perspectiva filosfica, que adquirida atravs dos estudos,
indagando e pesquisando sobre toda a essncia que o fenmeno religioso
exerce sobre o homem, colocando sempre em pauta a pergunta que todos
fundamentalmente apreciam O que , afinal, a religio?.
Quem estuda a filosofia da religio, geralmente usa o mtodo histrico-
crtico, que compara as vrias religies no tempo e no espao, buscando seus
aspectos comuns e suas diferenas, verificando sempre como constituda a
essncia do fenmeno religioso; o comparativo faz estudo comparando as
lnguas, querendo encontrar palavras que so utilizadas para que descreva e
-
13
expresse o sagrado e suas razes comuns; o filosfico e o antropolgico
procuram reconstrurem o passado religioso tirando como base a etnologia.
Para que consiga obter uma soma de elementos favorveis para
alcanar uma concluso correta do que a essncia da religio e de suas
caractersticas universais, sendo assim a Filosofia da Religio dever realizar
uma adequada conjugao desses mtodos. Entre as pessoas a Filosofia da
Religio no bem uma prioridade, podendo citar que nos tempos atuais o que
predomina com grande vultuosidade a conscincia ditada pelo saber
cientfico, pela tcnica e pela crtica iluminista, ignorando uma postura
consideravelmente de pensamentos religiosos, no entanto, nas ltimas
dcadas a teologia minou em quase todas as teologias, que para o cristo a
nica coisa que restou foi o recurso que podem possuir atravs da bblia.
Os que contestam os pensamentos religiosos, bem como o prprio
atesmo, somente compreendem-se dentro do paradigma monotesta, apesar
de no poder ignorar uma ruptura evidente com a tradio metafsica e
teolgica. A filosofia moderna com a devida conscincia foi distanciada da
teologia, na qual ficou para trs assuntos que transcenderiam a arte e a
literatura, assim sendo, no havendo referncia positiva ou at mesmo as
crticas para a tradio religiosa, no seria somente o problema que envolveria
a Deus se tornaria impensvel e incompreensvel, mas a prpria racionalidade
ocidental.
Todos possuem dentro de si muitas indagaes referentes religio
num todo, e quando se inicia um estudo em relao entre religio e razo,
sempre se coloca frente a f religiosa que busca as explicaes, mas quando
adentramos em suas anlises, pode verificar que a mesma no objeto de
explicao.
certo que dentro de uma racionalidade, ela situa-se totalmente capaz
em esclarecer, ela procura dar sentido para a vida, sempre na medida em que
a interpretamos, no entanto, a racionalidade torna-se uma condio necessria,
mas jamais suficiente ao vigor de uma f religiosa. Essa f religiosa que todos
buscam no depende nica e exclusivamente de uma prova ou de uma
-
14
justificativa filosfica, a linguagem religiosa sempre foi e ser atravs de
smbolos e estes no se desfazem atravs de um sistema filosfico.
-
15
FILOSOFIA COMO MOVIMENTO AGREGADOR E
CONSTITUIDOR DA EXPERINCIA HUMANA.
FILOSOFIA COMO FORMA DE VIDA
O termo filosofia pode designar, antes de tudo, uma forma de vida:
a filosofia entendida como vida filosfica, como viver filosoficamente; assim
entendiam a filosofia, por exemplo, os filsofos cnicos e cirenaicos e, em
muitos aspectos, os prprios filsofos esticos.
Esta acepo do termo filosofia ainda ressoa na nossa linguagem
quando dizemos que algum conduz a sua vida com muita filosofia; esta
mesma acepo do termo filosofia recolhida nas acepes 3 e 4 do termo
filsofo no Dicionrio AURLIO:
Filsofo aquele que procede sempre com sabedoria e reflexo, que
segue uma filosofia de vida.
Filsofo aquele que vive tranqilo e indiferente aos preconceitos e
convenes sociais.
FILOSOFIA COMO DOUTRINA SOBRE A VIDA
O termo filosofia pode designar tambm uma doutrina sobre a vida:
a filosofia entendida, sobretudo, como resposta ao problema do sentido da vida
e da existncia humana.
aquilo que no fim do sculo XIX e comeo do sculo XX chamou-se
de filosofia da vida (Lebensphilosophie); o mesmo DILTHEY no alheio a
esta ideia da filosofia.
-
16
FILOSOFIA COMO SABER ACERCA DAS COISAS
O termo filosofia poder designar, finalmente, um saber acerca das
coisas: a filosofia entendida como conhecimento intelectivo (no sentido mais
amplo desses termos) acerca das coisas (abrangendo entre as coisas o
homem e a sua vida).
Esta terceira acepo do termo filosofia a que nos interessa
especialmente, ainda que no unicamente; a ela aponta sobretudo, como
temos dito, o termo filosofia na sua origem: a filosofia entendida como saber
que busca a dimenso ltima e radical da vida e das coisas.
Pois bem, para poder dar uma definio mais estrita do que a filosofia
enquanto saber que busca a dimenso ltima e radical da vida e das coisas,
necessrio, antes de tudo, que digamos em que consiste essa dimenso
ltima e radical das coisas (incluindo nelas a vida mesma) que busca esse
saber, essa sabedoria, que chamamos de filosofia.
O VERBO FILOSOFAR PODE SER USADO COM TRS SIGNIFICADOS
DISTINTOS:
Como simples sinnimo de pensar. s vezes, os acontecimentos da
vida nos fazem filosofar.
Como sinnimo de saber viver virtuosamente. Aqui filosofar viver com
sabedoria.
Como o filosofar propriamente dito, que teve incio da Grcia, em torno
dos sculos VI e V a.C. Por essa poca comeou-se a pensar a natureza, o ser
humano , o conhecimento, os mitos, as verdades, a cultura e toda a forma de
viver passa a ser questionada.
A METAFISICA
-
17
O QUE METAFSICA:
Metafsica um ramo da filosofia que estuda a essncia do mundo. Se
ocupa em procurar responder perguntas tais como: O que real? O que
natural? O que sobrenatural? O ramo central da metafsica a ontologia, que
investiga em quais categorias as coisas esto no mundo e quais as relaes
dessas coisas entre si. A metafsica tambm tenta esclarecer as noes de
como as pessoas entendem o mundo, incluindo a existncia e a natureza do
relacionamento entre objetos e suas propriedades, espao, tempo,
causalidade, e possibilidade. (http://dicionarioinformal.com.br/metaf)
CONCEITOS
Metafsica uma palavra com origem no grego e que significa "o que
est para alm da fsica". uma doutrina que busca o conhecimento da
essncia das coisas. Estudos que vo alm da natureza, alm do fsico, alm
daquilo que se possa ver ou tocar.
O termo metafsica foi consagrado por Andrnico de Rodes a partir da
ordenao dos livros aristotlicos referidos cincia dos primeiros princpios e
primeiras causas do ser.
Para Aristteles a metafsica , simultaneamente, ontologia, filosofia e
teologia, na medida em que se ocupa do ser supremo dentro da hierarquia dos
seres. Neste sentido, foi recolhida pela filosofia tradicional at Kant, que se
interrogou sobre a possibilidade da metafsica como cincia.
A interpretao da metafsica como estudo do "sobrenatural" de
origem neoplatnica. A tradio escolstica identificou o objeto de estudo da
metafsica com o da teologia, ainda que tenha distinguido as duas pelos
mtodos usados: para explicar Deus, a metafsica recorre razo e a teologia
revelao.
Na Idade Moderna, ocorre uma clara separao entre a concepo
aristotlica e a neoplatnica: a metafsica como ontologia se converte em teoria
das categorias, teoria do conhecimento e teoria da cincia (epistemologia);
-
18
como cincia do transcendental, se converte em teoria da religio e das
concepes do mundo.
No sculo XVIII a metafsica era considerada equivalente a uma
explicao racional da realidade e no sculo XIX pura especulao perante o
carter positivo das cincias. A partir de Heidegger e Jaspers, os pensadores
interessados na problemtica do ser se esforaram por elaborar uma noo de
metafsica factvel e atual.
A obra A Fundamentao da Metafsica dos Costumes, da autoria de
Kant (um importante nome no estudo da metafsica) aborda a problemtica da
moralidade humana.
A palavra metafsica possui origem grega e significa: meta: depois de,
alm de e fsica/physis: natureza ou fsico, e trata-se de um ramo da filosofia
que se ocupa em estudar a essncia do mundo. Pode ser definida como o
estudo do ser ou da realidade, e se destina a buscar respostas para perguntas
complexas como: O que realidade? O que a vida? O que natural? O que
sobre-natural? O que nos faz essencialmente humanos?
William James conceituou metafsica como sendo "apenas um esforo
extraordinariamente obstinado para pensar com clareza". Trata-se de uma
viso simplista e equivocada de pessoas que s conseguem perceber a vida
por meio de dimenses prticas. Os homens em geral sentem-se mais
vontade quando pensam sobre como fazer uma coisa ou outra, do que pensar
no motivo pelo qual esto fazendo. por isso que a poltica, a engenharia e a
indstria so consideradas mais naturais pelos homens do que a filosofia, por
exemplos. A metafsica no est interessada, de maneira nenhuma, por esse
"comos" da vida humanas, mas sim pelos "porqus", por aquelas questes que
uma pessoa pode passar a vida inteira para formular, sem muitas vezes
encontrar uma resposta satisfatria.
Para se formular um pensamento metafsico preciso pensar, sem
estar baseado em dogmas ou de forma superficial, nos bsicos e intrigantes
problemas da existncia dos homens. So problemas bsicos por serem
fundamentais para a vida humana e porque muitos aspectos da vida dependem
deles. Tomemos como exemplo a religio, ,ela no metafsica, porm quando
-
19
nos questionamos sobre o motivo das crenas e das prticas religiosas e sua
influencia no viver dirio, passamos a pensar metafisicamente.
Sob o ttulo de a Metafsica Aristteles escreveu uma de suas
principais obras e o primeiro grande trabalho com relao ao que vem a ser
metafsica. O objeto de estudo dessa obra no ser algum, mas o estudo do
ser enquanto ser. (Gabriela E. Possolli Vesce)
A METAFSICA DE ARISTTELES
No conjunto de obras denominado Metafsico, Aristteles buscou
investigar o ser enquanto ser. Significa que buscou compreender o que
tornava as coisas o que elas so. Nesse sentido, as caractersticas das coisas
apenas nos mostram como as coisas esto, mas no definem ou determinam o
que elas so. preciso investigar as condies que fazem as coisas existirem,
aquilo que determina o que elas so e aquilo que determina como so.
Em sua metafsica, Aristteles fala acerca dos primeiros princpios. Os
primeiros princpios dizem respeito aos princpios lgicos, a saber: o princpio
de identidade, da no contradio e do terceiro excludo. O princpio de
identidade auto evidente e determina que uma proposio sempre igual a
ela. Disto pode-se afirmar que A=A. O princpio da no contradio afirma que
uma proposio no pode, ao mesmo tempo, ser falsa e verdadeira. No se
pode propor que um tringulo possui e no possui trs lados, por exemplo. O
princpio do terceiro excludo afirma que ou uma proposio verdadeira ou
falsa, e no h uma terceira opo vivel. Tais princpios, deste modo,
garantem as condies que asseguram a realidade das coisas.
Alm dos princpios, de acordo com Aristteles, existem quatro causas
fundamentais que tambm so condies necessrias para que as coisas
existam. As causas so: material, formal, eficiente e final. A causa material a
matria da qual feita a essncia das coisas. A causa formal diz respeito
forma da essncia. A causa eficiente aquela que explica como a matria
-
20
recebeu determinada forma. A causa final aquela que determina a finalidade
das coisas existirem e serem como so.
Para compreender a conceituao das causas, pode-se pensar numa
pedra que rola a montanha. A causa material o minrio da pedra, a causa
formal a inclinao da montanha, a causa eficiente o empurro feito na
pedra e a causa final a vontade da pedra de atingir o nvel mais baixo. Assim,
os primeiros princpios e as quatro causas so as condies bsicas para que
as coisas existam e possam ser conhecidas.
Disto, Aristteles investiga sobre o que as coisas so. Nesse ponto,
visa superar a ideia de seus antecessores, principalmente Plato, que afirmava
que a essncia das coisas est num mundo inteligvel. Para Aristteles, a
essncia das coisas est nas prprias coisas e no separada num mundo das
formas e ideias perfeitas, isto , a essncia est na substncia. A substncia,
para ele, a fuso da matria com a forma. Uma escultura de madeira, por
exemplo, a fuso da madeira (matria) com o projeto do arteso (forma).
A partir dessa concepo, era ainda necessrio que Aristteles desse
conta do problema do movimento, pois a substncia possui a matria que
est em constante movimento (transformao) e a forma (que imvel). Para
superar tal problema, ele usa a ideia de potncia e ato. As substncias
possuem potencial para aquilo que ocorre com elas. Pode-se dizer que a
gasolina, por exemplo, inflamvel. Significa afirmar que ela possui potencial
para pegar fogo, porm preciso pelo menos uma fasca para que a potncia
se torne realidade, ato.
Com isto, a metafsica de Aristteles visa mostrar que o Estar em
movimento possui mais importncia do que o Ser imvel de Plato.
(Filipe Rangel Celeti)
O CONTEDO A SEGUIR PAUTADO POR VRIOS CONCEITOS FORMANDO UM PERCURSO NO CONTEDO.
-
21
Origem existencial da Filosofia - importante saber o que so os
conceitos 'mitologia' e 'filosofia' assim como mostrar o que os diferenciam.
Neste item aparece o conceito 'logos'. O conceito 'existencial' refere-se
natureza, a existncia das coisas do mundo e no ao existencialismo
contemporneo relacionado ao sofrimento e emoes humanas. Aparecem
tambm os conceitos 'narrativa' e 'causa', 'transcendente' e 'imanente'.
Origem histrica da Filosofia - Deste item, os conceito mais importantes
so 'democracia', 'poltica', 'linguagem alfabtica'.
Noes de Lgica - Os conceitos so bem demarcados: 'inferncia',
'verdade', 'validade', 'raciocnio dedutivo' e 'raciocnio indutivo'.
Concepo de ser humano na Antigidade - Qual a relao entre os
conceitos 'alma' e 'razo'; e a relao entre 'corpo' e 'desejo'. Lembrar que, de
acordo com Aristteles, o homem um ser racional e no um ser de desejo. E
que por ser racional, o homem um ser poltico, pois capaz de decidir sobre
as coisas da plis com racionalidade.
O homem como ser poltico na Antigidade - O que significa 'poltico'
para Plato e Aristteles? Lembrar que, para Plato, o conceito 'poltica' est
vinculado ao conceito 'idia' e a tica 'virtude cincia' e para Aristteles, est
vinculado ao que possibilita chegar no 'justo meio'.
tica e poltica na Antigidade - Qual o significado dos conceitos
'prazer ' e 'virtude' e o que eles tm a ver com Scrates e os sofistas. Ainda
neste item: o que significa 'verdade' e 'opinio'; e tambm 'universal' e 'relativo',
e 'subjetivo' e 'objetivo'.
Conhecimento sensvel e conhecimento inteligvel - Lembrar que estes
conceitos, 'sensvel' e 'inteligvel', esto relacionados ao Tema do
Conhecimento na Antigidade. Eles no esto relacionados nem com a
concepo de ser humano nem com a tica ou a poltica. Lembrar que apesar
de sensvel lembrar o termo empirismo e inteligvel lembrar o termo
racionalismo, estes tipos de conhecimento no so considerados concepes
filosficas.
Na Antiguidade ainda no Tema do Conhecimento - O que 'ceticismo'
e o que 'dogmatismo'. Lembrar que os cticos advogavam a impossibilidade
-
22
do conhecimento e os dogmticos a possibilidade do conhecimento absoluto na
forma de dogmas ou axiomas.
Renascimento - O que homem para os humanistas renascentistas? A
questo 02 do vestibular UFMG/2006 foi sobre este tpico. A probabilidade de
cair novamente muito pequena, mas no impossvel. Para ver a questo
clique aqui.
Maquiavel e problema do poder - Neste item, voc ter que saber o
que 'repblica', por que para Maquiavel a 'poltica' est desvinculada da 'tica
crist'. Qual a relao entre o 'poder' e aristocracia e a 'liberdade' e o povo
(sditos). Por que no se devem desprezar os conflitos quando se trata de
formar uma repblica.
O homem senhor da natureza - Conceitos: 'razo', 'leis da natureza',
'penso, logo existo', 'dvida hiperblica', 'princpio fundamental'.
Dever e liberdade em Kant - Conceitos importantes: 'dever' e
'imperativo categrico', 'tica racional', 'liberdade' e 'autonomia'.
Revoluo cientfica sec. XVII - O que ' revoluo'? 'Fenmeno' e
'causa' do fenmeno.
Racionalismo e empirismo - O conceito 'racionalismo' relacionado a
Descartes e o conceito 'empirismo' relacionado a Hume.
A questo da subjetividade - Relacionada ao Tema do Conhecimento,
a 'subjetividade' tem a ver com 'solipsismo epistemolgico' de Descartes, ao
'Penso, logo existo.'
A existncia na contemporaneidade - A 'existncia' um conceito que
est relacionado ao 'existencialismo' de Kierkeggard a Sartre.
O homem como objeto da Cincia - O homem como objeto de
experincias; o sagrado invadido internamente e externamente, o homem
como fora de trabalho agregado ao capital; o homem como objeto de
experincias.
A crtica conscincia: Marx, Nietzsche e Freud - Eles so chamados
de 'mestres da suspeita' pois eles foram os primeiros filsofos a suspeitarem da
'razo iluminista'. Perceberam os limites e os defeitos da racionalidade
humana.
-
23
Totalitarismo e democracia - 'Totalitarismo' no 'ditadura' e nem
'tirania'; 'democracia' est relacionada s diferentes opinies e a liberdade em
express-las. Democracia emana do povo, totalitarismo o reino do 'terror' e
'banalizao da violncia'.
Positivismo - 'Cincia como religio' em Comte.
Crtica ao positivismo - Conceitos: 'falsificacionismo' de Popper,
'paradigmas' de Kuhn.
A crise da razo - O primeiro sinal visvel a todos desta crise foi o
afundamento do Titanic, posteriormente a Primeira e Segunda Guerra Mundial,
o Holocausto e finalmente as bombas atmicas no Japo. E para completar
esta crise, vimos os atentados terroristas aos EUA e a Guerra do Iraque. Estas
foram demonstraes da incapacidade da razo humana para resolver
problemas humanos. Mas, ateno: a crise da razo um tema que no
Contedo Programtico que esta em o tema do conhecimento na
contemporaneidade e no na tica ou na poltica.
Razo "A razo pode lutar corpo a corpo com os terrores, e derrub-
los." Eurpedes Os conflitos que mais chamam a ateno nas notcias tendem
ou a ser de natureza poltica e militar, ou a envolver a luta entre as pessoas e o
ambiente natural quando, nas inundaes, nas secas e nas pragas, este se
torna hostil.
Mas subjacente a estes, e deles distinta uma vez que se trata de uma
luta cujas propores so as da prpria histria, encontra-se outra luta, uma
luta profunda e muito importante porque d forma aos destinos humanos de
longo prazo. Trata-se da luta das ideias, exprimindo-se em termos de
ideologias, poltica e enquadramentos conceituais que determinam convices
e morais.
A nossa compreenso da situao humana e as escolhas que fazemos
na gesto das indisciplinadas e difceis complexidades da existncia social
assentam em ideias geralmente, ideias sistematizadas em teorias. So as
idias que, em ltima instncia, arrastam as pessoas para a paz ou a guerra,
que do forma aos sistemas em que vivem e que determinam o modo como os
escassos recursos mundiais so partilhados. As ideias tm importncia e, por
-
24
conseguinte, tambm a tem a questo da razo, atravs da qual as idias
vivem ou morrem.
Vista a certa luz, a razo o armamento das ideias, a arma empregue
nos conflitos travados entre pontos de vista. Isto indica que, num certo sentido,
a razo um absoluto que, corretamente utilizado, pode pr termo a disputas e
guiar-nos at verdade. Mas a razo, entendida desta forma, tem sempre
inimigos. Um deles a religio, que afirma que a revelao, vinda de alm-
mundo, veicula verdades que no podem ser descobertas pela investigao
humana, situada no seu seio.
Outro desses inimigos o relativismo, a opinio de que as diferentes
verdades, as diferentes opinies, as diferentes formas de pensar so todas
igualmente vlidas, no existindo um ponto de vista com autoridade, do qual
elas possam ser avaliadas. Os grandes debates ocorridos entre cincia e
religio constituem expresses clssicas deste conflito subjacente que existe
entre concepes concorrentes acerca do lugar e natureza da razo. A maior
parte da cincia e da filosofia encontra-se do lado que afirma que a razo,
apesar das suas imperfeies e falibilidades, fornece uma norma qual os
pontos de vista concorrentes tm de se submeter para apreciao.
Os defensores da razo so, assim, hostis s opinies "ps-
modernistas" agora em voga, que afirmam a existncia de autoridades mais
poderosas do que a razo, como a raa, a tradio, a natureza ou as entidades
sobrenaturais. Pensava-se, outrora, que as caractersticas e valores humanos
permaneciam inalterados, mas a engenharia social e as outras formas de
engenharia tornaram-nos variveis manipulveis e, em resultado disso,
perdemos as premissas com base nas quais raciocinvamos acerca dos fins e
dos meios.
O poder da tecnologia oferece-nos mltiplas escolhas e, desta forma,
usurpa os pontos de partida fixos do passado; assim, andamos deriva,
indecisos quanto a valores e objetivos. Nestas circunstncias, as vozes das
sereias fazem-se ouvir mais alto: acreditemos em deuses, dizem elas, ou
poes, ou configuraes planetrias, como forma de nos orientarmos. Ou, na
linguagem ps-modernista: reconheamos que s h "discursos", cada um to
-
25
vlido como o anterior. Poder ser verdade que a experincia humana agora
mais fragmentada e assediada por ironias do que outrora foi, e que isso debilita
a confiana. Mas, ainda assim, dizem os defensores da razo, a razo continua
a ser, de longe, o melhor guia na procura do conhecimento, e portanto, apesar
dos seus defeitos e limitaes, no nos devemos distanciar dela.
H muitas pessoas que rejeitam completamente esta opinio. A
civilizao ocidental est em crise, dizem, precisamente porque acreditamos na
razo. Vivemos na escravido de um ideal utpico de sociedade racional,
sugerido em primeiro lugar pelos pensadores iluministas, no sculo XVIII; mas
o resultado, contrrio s esperanas de pessoas como Voltaire, no libertou a
humanidade; antes a escravizou num corporativismo burocrtico que cambaleia
incontido por um desgnio moral, de desastre em desastre.
O argumento anti-racionalista diz mais ou menos o seguinte: Os
filsofos iluministas procuraram resgatar as pessoas da arbitrariedade do poder
real ou clerical, substituindo-o pelo governo da razo. Mas o seu sonho ruiu
devido s limitaes da prpria razo. O que aconteceu foi apenas um
aumento da influncia das elites tcnicas. O mundo, em suma, tornou-se um
feudo dos gestores. Os detentores do capital no controlam o capital, os
eleitores no controlam a poltica tudo governado por gestores que, e s
eles, sabem como manipular as complexidades estruturais da sociedade. E os
objetivos dos gestores lucro, vitrias eleitorais no obedecem moral.
Este corporativismo tecnocrata aplicava-se tanto ao antigo Bloco de
Leste como se aplica ao Ocidente. Na verdade, dizem tais crticos, a distino
Leste-Oeste, como a distino entre Esquerda e Direita, no sequer uma
distino verdadeira, mas uma fico da estratgia gestora atravs da qual a
Era da Razo se sustenta a si mesma. Basta elaborar uma lista dos problemas
da civilizao contempornea para que qualquer pessoa consiga apresentar
argumentos reveladores.
Os crticos da razo fazem-no bastante eloquentemente. Os polticos,
lembram-nos eles, conseguem safar-se dizendo disparates literais porque o
que conta a forma, e no o contedo, do que dizem. Os governos
prosseguem com despudor no poder, apesar dos seus insucessos, porque
-
26
deixou de vigorar o conceito de responsabilidade. A televiso, a publicidade e o
culto de heris artificiais, como o caso das estrelas de telenovelas, cegam as
pessoas para a situao difcil que o mundo vive. Estes fenmenos, assim
como muitos outros, constituem sintomas de grande mal-estar. Piores ainda
so exemplos como o comrcio de armas, incentivado por governos que
proferem declaraes pias sobre paz e liberdade, mas que subvertem ambas
ao participarem naquilo que no seno contrabando legal de armas.
E isto apenas uma parte da histria, na qual prospera a autoridade
militar estabelecida bria de obsesses com a gesto e a tecnologia e
muitos locais do mundo se encontram perpetuamente envolvidos em guerras.
Embora este compndio de problemas no contenha novidades, falar deles
serve para nos manter alerta. Contudo, a culpa dos problemas mundiais no
pode ser atribuda a um conceito e muito menos ao conceito de razo,
preferido do Iluminismo , mas a pessoas.
A razo meramente um instrumento que, corretamente utilizado,
ajuda as pessoas a fazer inferncias a partir de determinadas premissas, sem
inconsistncias. O importante escolher premissas slidas e essa uma
responsabilidade exclusivamente humana. Atribuir culpa "razo" to
desprovido de sentido como atribuir culpa "memria" ou "percepo". Foi o
racismo dos nazis, e no a lgica que eles aplicaram na expresso real do seu
dio, que causou o Holocausto.
Pretendem os crticos afirmar que o uso da razo mau, sem
quaisquer reservas? Imagino-os a utilizar os seus processadores de texto, a
atender o telefone, a tomar antibiticos para a garganta inflamada, a acionar
interruptores para conseguir calor e luz, ao cair da noite fria. Estes produtos da
razo so todos desprezveis? A confuso que grassa no pensamento dos
crticos da razo revela-se quando analisamos a alternativa que propem.
Oferecem-nos uma lista de virtudes, que deveramos colocar no lugar
da razo; uma destas listas inclui o seguinte: "esprito, desejo, f, emoo,
intuio, vontade, experincia." Reparamos imediatamente que todas elas, com
exceo da ltima, a no serem governadas pela razo, so exatamente aquilo
que alimenta o fanatismo e as guerras santas.
-
27
O FILSOFO HEGEL (SC. XIX), UM RACIONALISTA, DISSE
QUE A REALIDADE RACIONALIDADE.
1. A razo cumulativa: na batalha interna entre teses e antteses, a razo vai
sendo enriquecida, vai acumulando conhecimentos cada vez maiores sobre si
mesma, tanto conhecimento da racionalidade do real (razo objetiva) quanto
como conhecimento da capacidade racional para o conhecimento (razo
subjetiva).
2. A razo traz esperana: a razo possui fora para no se destruir a si
mesma em suas contradies internas; ao contrrio, supera cada uma delas e
chega a uma sntese harmoniosa de todos os momentos que constituram a
sua histria.
Vrios filsofos franceses, como Michel Foucault, Jacques Derrida e
Giles Delleuze, ao estudarem a histria da filosofia, das cincias da sociedade,
das artes e das tcnicas, disseram que, sem dvida, a razo histrica - isto ,
muda temporalmente -, mas essa histria no cumulativa, evolutiva,
progressiva e contnua. Pelo contrrio, descontnua, se realiza por saltos e
cada estrutura nova da razo possui um sentido prprio, vlido apenas para
ela.
Dizem eles que uma teoria (filosfica ou cientfica) ou uma prtica
(tica, poltica, artstica) so novas justamente quando rompem as concepes
anteriores e as substituem por outras completamente diferentes, no sendo
possvel falar numa continuidade progressiva entre elas, pois so to diferentes
que no como nem por que compar-las e julgar uma delas mais atrasada e a
outra mais adiantada.
Assim, por exemplo, a teoria da relatividade, elaborada por Einstein,
no continuao evoluda e melhorada da fsica clssica, formulada por
Galileu e Newton, mas uma outra fsica, com conceitos, princpios e
procedimentos completamente novos e diferentes. Temos duas fsicas
diferentes, cada qual com seu sentido e valor prprios.
-
28
No se pode falar num processo, numa evoluo ou num avano da
razo a cada nova teoria, pois a novidade significa justamente que se trata de
algo novo, to diferente e to outro que ser absurdo falar em continuidade e
avano. No h como dizer que as ideias e as teorias passadas so falsas,
erradas ou atrasadas: elas simplesmente so diferentes das atuais porque se
baseiam em princpios, interpretaes e conceitos novos.
Uma concepo semelhante foi desenvolvida pelo norte-americano
Thomas Kuhn, filsofo da cincia que estuda a histria do pensamento
cientfico para mostrar que as cincias no se desenvolvem num processo
contnuo e cumulativo e sim por 'saltos' ou revolues. Essas revolues
acontecem quando uma teoria cientfica entra em crise e acaba sendo
eliminada por outra, organizada de maneira diferente.
Em cada poca de sua histria, a razo cria modelos ou paradigmas
explicativos para os fenmenos ou para os objetos do conhecimento, no
havendo continuidade nem pontos comuns entre eles que permitam compar-
los. Agora, em lugar de um processo linear e contnuo da razo, fala-se na
inveno de formas diferentes de racionalidade, de acordo com critrios que a
prpria razo cria para si mesma. A razo grega diferente da medieval que,
por sua vez, diferente da renascentista e da moderna. A razo moderna e a
iluminista tambm so diferentes, assim com a razo hegeliana diferente da
contempornea.
Enfim, os filsofos ditos ps-modernos (como, por exemplo, o francs
Lyotard e o norte-americano Rorty) consideram a filosofia e a cincia prticas
culturais tpicas do Ocidente cuja pretenso de realizar a razo ou o
conhecimento racional infundada e irrealizvel. Por qu? Porque a razo tem
a pretenso de ser o conhecimento verdadeiro da realidade, mas esta no
existe, pois no h fatos, dados ou coisas e sim maneiras de falar ou 'jogos de
linguagem' com que inventamos meios para exprimir o que pensamos e
sentimos.
Chamamos tais jogos de racionais ou de verdadeiros simplesmente
enquanto funcionam ou so teis para nossos fins e os abandonamos por
outros quando deixam de funcionar ou de ser teis para nossos fins. A prova
-
29
de que no h a razo est na multiplicidade de filosofias contrrias umas s
outras e nas mudanas das teorias cientficas. Razo, racionalidade,
objetividade, verdade so mitos ocidentais, 'crenas tribais' como as de
quaisquer outros povos. (Convite Filosofia, Marilena Chau).
O mito uma forma de narrativa que no explica racionalmente a
origem das coisas e a realidade, pois utiliza lendas e histrias sagradas para
interpret-las. tido como verdade por causa da pessoa que a relata, um poeta
escolhido pelos deuses, que lhe dirige a partir de vises sobre o passado que
permite que a origem das coisas seja desvendada.
Aps algum tempo, as pessoas passaram a questionar a veracidade
dos mitos contados pelos poetas, pois conseguiram perceber que as
explicaes dadas sobre a origem de todas as coisas eram contraditrias e
limitadas. Para a percepo das contradies e limites, contaram com algumas
condies:
Os gregos realizaram algumas viagens martimas e perceberam que os
locais habitados por deuses, heris, tits e outros seres mitolgicos, como dizia
o mito, eram povoados na verdade por outros seres humanos.
Os gregos conseguiram calcular o tempo inventando o calendrio como
forma de prever frio, calor, sol, chuva, seca e outros fatores climticos que
antes acreditavam ser alterados pelos deuses.
Tambm inventaram a moeda para realizarem trocas abstratas sem a
necessidade de trocar uma mercadoria por outra; inventaram a escrita
alfabtica para firmar com mais clareza assuntos que antes eram firmados
verbalmente; inventaram a poltica para que cada pessoa pudesse expor seus
pensamentos.
Por ltimo, o surgimento da vida urbana que favoreceu o artesanato, o
comrcio e o nascimento de classes de comerciantes.
A filosofia dessa forma surge para explicar racionalmente a origem e as
transformaes que ocorrem. Inicialmente, os filsofos acreditavam que tudo o
que havia era originado a partir da natureza physis.Mas o que seria o "pensar
bem"? Antes: o que constitui o ato de pensar?
-
30
Lipman coloca esta segunda pergunta pgina 13 do livro, mas no
a que ele a responde. H uma resposta que chama a ateno pgina 140:
"pensar fazer associaes e pensar criativamente fazer associaes novas
e diferentes".
Em passagem anterior a esta, Lipman afirma a mesma coisa sobre o
que o pensar, explicitando-a um pouco mais:
"Pensar o processo de descobrir ou fazer associaes e disjunes. O
universo feito de complexos (no h, evidentemente, realidades simples)
como as molculas, as cadeiras, as pessoas e as idias, e estes complexos
tm ligaes com algumas coisas e no com outras. O termo genrico para
associaes e disjunes relacionamentos. Considerando que o significado
de um complexo encontra-se nos relacionamentos que este tem com outros
complexos, cada relacionamento, quando descoberto ou inventado, um
significado, e grandes ordens ou sistemas de relacionamentos constituem
grandes corpos de significados". (LIPMAN, 1995. p. 33).
Nas duas passagens Lipman est afirmando que pensar o processo
de descobrir relaes existentes na realidade e represent-las em nossas
conscincias e que isso nos permite atinar para os significados ou os sentidos
que, de alguma forma, esto dados na mesma.
Esta no uma tarefa fcil, pois a realidade complexa nas suas
relaes e inter-relaes. Mas a nica forma de apreender o seu sentido
estar apreendendo as relaes que a constituem. E, se estas relaes so
dinmicas, isto , est sempre se refazendo e se modificando, o nosso
pensamento precisa estar atento e precisa ser competente para apreend-las
neste seu dinamismo.
Lipman indica, ainda, uma possibilidade especial do pensar: a de produzir ou
criar novas relaes e, portanto, a de os seres humanos estarem produzindo
novas significaes ou novos sentidos para a realidade e, por conseguinte,
para suas prprias vidas, visto que fazem parte do processar-se da realidade.
A forma atravs da qual os seres humanos concretizam sentidos ou
direes na realidade sempre a sua prtica, a sua ao. Ao mesmo tempo
em que vo agindo e pensando reflexivamente o seu agir, os seres humanos
-
31
podem estar representando as relaes implicadas na realidade e podem estar
representando intelectualmente novas relaes. Tanto as relaes percebidas
quanto as relaes criadas ou construdas so trabalhadas na conscincia
como indicadoras das direes (sentidos) da prtica humana.
A ao tem, como componente importante e necessrio, o processo do
pensar. No s o pensar que determina a ao, mas o pensar, nos seres
humanos, um dos determinantes da ao. O pensar produz sentidos,
direes, significaes na e para a ao. Da a importncia de que o pensar
seja bem "produzido", isto , seja construdo com rigor, sistematizao,
profundidade, com examinao constante e sria e com disposio constante a
revises (auto-correo), levando em conta as vrias situaes na sua
globalidade e, dentro de cada realidade situacional, as relaes dadas e as
possveis.
Um pensar assim, para Lipman, um pensar bem, um pensar de
ordem superior que crtico e criativo.
A expresso mais utilizada por Lipman, neste livro, para se referir ao
pensar bem pensamento de ordem superior que ele ope expresso
pensamento de ordem inferior. Algumas afirmaes suas podem nos ajudar a ir
entendo o que ele quer dizer com esta expresso que, assim como outras, diz
ele, so contagiadas pela inexatido ( p. 37) :
Diferentes observadores atribuem diferentes propriedades ao
pensamento de ordem superior, mas, em geral, o que parecem querer dizer
que este pensamento conceitualmente rico, coerentemente organizado e
persistentemente investigativo. (LIPMAN, 1995, p. 37)
Podemos acrescentar que o pensamento de ordem superior no
equivale somente ao pensamento crtico, mas fuso dos pensamentos crtico
e criativo. ( idem, p. 38)
Em um esclarecedor quadro, pgina 43, Lipman indica algumas
caractersticas do pensar de ordem superior que, a, tambm chamado de
pensar complexo. Ele envolve caractersticas do pensar crtico, como utilizao
de critrios, produo de juzos ou julgamentos, auto-correo, sensibilidade ao
contexto e outras. Envolve, tambm, caractersticas do pensar criativo, como
-
32
sensibilidade aos critrios sem se deixar aprisionar por eles, capacidade de
auto-transcendncia, isto , capacidade de "ir alm ou transcender a si mesmo"
(nota da p. 44), ou seja, capacidade de produzir novas relaes e no apenas
constatar as relaes j dadas.
claro que aquilo que denominamos aqui de pensamento complexo
inclui o pensamento recursivo, o pensamento metacognitivo, o pensar auto-
corretivo e todas aquelas formas de pensamento que envolvem a reflexo
sobre sua prpria metodologia, enquanto examinam, ao mesmo tempo, seu
tema principal. (idem, p.43).
Essas so caractersticas do pensamento crtico; mas o pensamento
de ordem superior inclui, tambm, o pensamento criativo, como j foi
assinalado acima.
Como caractersticas do pensamento criativo, Lipman aponta
habilidade, talento, julgamento criativo, inventividade, produo de alternativas
ou hipteses plausveis, etc. Tais caractersticas so indicadas em vrios
momentos desta obra.
Apesar da afirmao de que o pensamento criativo faz parte
indissocivel do pensamento de ordem superior e que ele fundamental para o
prprio pensamento crtico, Lipman se detm mais amplamente no estudo das
caractersticas deste ltimo.
Vejamos o que ele diz a respeito das habilidades que compem o grupo das
habilidades de raciocnio.
HABILIDADES DE RACIOCNIO
Comecemos com as seguintes palavras de Lipman:
"Raciocnio o processo de ordenar e coordenar aquilo que foi descoberto
atravs da investigao. Implica em descobrir maneiras vlidas de ampliar e
organizar o que foi descoberto ou inventado enquanto era mantido como
verdade." (LIPMAN, 1995, p. 72).
Mas o que foi descoberto atravs da investigao?
-
33
Informaes, por certo, que so organizadas nos nossos juzos ou nos nossos
"julgamentos", conforme citao anterior.
Ora, os nossos juzos so afirmaes (ou negaes) que produzimos a respeito
de uma situao, de um fato, de algo, aps termos feito uma anlise
investigativa: descobrimos alguma "verdade" a respeito e a afirmamos com
base na investigao feita.
Ns expressamos os juzos atravs de proposies ou oraes.
Pois bem, diz Lipman, quando ordenamos e coordenamos os nossos juzos de
tal forma que, a partir deles, ns ampliamos aquilo que havamos descoberto
na investigao, ns estamos fazendo um raciocnio.
O conhecimento origina-se da experincia. Uma maneira de ampli-lo sem, no
entanto, recorrer a experincias adicionais, atravs do raciocnio.
Considerando aquilo que conhecemos, o raciocnio nos permite descobrir
coisas adicionais afins.
A partir de um argumento solidamente formulado, onde iniciamos com
premissas verdadeiras, descobrimos uma concluso igualmente verdadeira que
"inferida" em consequncia destas premissas.
Nosso conhecimento baseia-se na experincia do mundo; por meio do
raciocnio que ampliamos este conhecimento, preservando-o. (idem, p. 66).
O raciocnio , pois, o processo do pensamento atravs do qual ns
produzimos nossas concluses a partir de algo j sabido. Isso, todas as
pessoas fazem inclusive crianas pequenas.
Mas h raciocnios mais simples e raciocnios mais complexos, isto , aqueles
que fazem parte do pensamento de "ordem superior". Um dos objetivos de uma
educao para pens-lo deve ser o de ajudar crianas e jovens a serem
capazes de realizar raciocnios mais complexos. Para tanto importante
promover o fortalecimento das habilidades de raciocnio que envolve, por
exemplo, a utilizao de inferncias bem fundamentadas, a apresentao de
razes convincentes, a revelao de suposies latentes, a determinao de
classificaes e definies defensveis e a organizao de explicaes,
descries e argumentos coerentes. ( LIPMAN, 1995, P. 46).
-
34
HABILIDADES DE FORMAO DE CONCEITOS
A formao de conceitos implica na organizao de informaes para
grupos relacionais e, ento, analisar e esclarec-los para facilitar sua utilizao
na compreenso e no julgamento.
O pensamento conceitual envolve relacionar conceitos entre si a fim de
formar princpios, critrios, argumentos, explicaes, etc. (LIPMAN, 1995, p.
72).
Esta organizao de informaes que construmos em nossa
conscincia pode ser expressa por palavras, por sentenas e por esquemas,
diz Lipman, p. 67. Trata-se de conjuntos de informaes relacionadas entre si
e que formam um sentido, um significado.
Pense-se, por exemplo, na palavra mesa. Se "dominamos", ou
compreendemos o significado que esta palavra expressa, sinal de que somos
capazes de "ver" um conjunto de aspectos que, reunidos e interligados, nos
do a idia, o conceito, do que constitui uma mesa. No s. Na verdade, ns
ficamos de posse de um conjunto significativo de informaes inter-
relacionadas (de um conceito) que nos ajuda a nos entendermos mutuamente
quando falamos de mesas e nos ajuda a identificarmos como mesa os objetos
que se nos apresentam com um conjunto de dados interligados desta mesma
forma.
Ns podemos ir formando conceitos a partir de nossas relaes diretas
com as coisas, objetos, situaes, etc., dentro de contextos situacionais
culturais de uso e de significao ou, tambm, podemos formar conceitos sem
estarmos em relao direta, fsica, com os objetos.
Em ambas as situaes, para sermos capazes de formar conceitos em ns
mesmos, precisamos ser capazes de relacionar ideias entre si; "esmiuar"
ideias que estejam juntas, isto , analisar; junt-las de novo, isto , sintetizar;
esclarecer significados; explicar; etc..
Esta uma listagem de habilidades que auxiliam na habilidade maior de
formao de conceitos que se pode encontrar nos textos de Lipman.
-
35
EPISTEMOLOGIA
TEORIAS DA VERDADE E PS-MODERNISMO
Quando no havia distino clara entre filosofia e cincia, era natural
que os filsofos se afirmassem como as pessoas mais aptas a oferecer algo
mais prximo da verdade. A concentrao na epistemologia, principalmente no
momento em que a epistemologia parecia ter sido convocada a fornecer as
bases ltimas da justificao do conhecimento, encorajou a ideia confusa de
que o lugar em que se procurariam as verdades finais e mais bsicas, nas quis
todas as outras verdades seja da cincia, da moralidade ou do senso comum
se baseariam, seria a Filosofia. A juno que Plato fez, dos universais
abstratos com entidades de valor superior, reforou a confuso da noo de
verdade com as verdades mais elevadas; a confuso evidente no ponto de
vista (que Plato enfim questionou) de que s um exemplar perfeito de
universal ou de forma a forma em si. Assim, s a circularidade (o universal ou
conceito) perfeitamente circular, s o conceito de mo a mo perfeita, s a
verdade totalmente verdadeira.
Temos, aqui, uma confuso profunda, um erro de classificao que,
aparentemente, foi condenado a prosperar. A verdade no um objeto, e por
isso no pode ser verdadeira; a verdade um conceito, e atribuvel de modo
compreensvel a coisas tais como sentenas, pronunciamentos, crenas e
proposies, entidades essas que tm um contedo proposicional. um erro
pensar que, se algum procura entender o conceito de verdade, esse algum
est necessariamente tentando descobrir verdades gerais importantes sobre
justia ou sobre os fundamentos da fsica. O erro permeia at a ideia de que
uma teoria da verdade deva nos dizer, de algum modo, o que verdadeiro, em
geral, ou ao menos como descobrir as verdades.
No de estranhar que tenha havido reao! A filosofia prometia muito
mais do que ela, ou qualquer outra disciplina, podia dar. A reao de Nietzsche
ficou famosa; os pragmticos americanos tambm reagiram, s que de outro
-
36
modo. Dewey, por exemplo, rejeitou de modo bastante adequado a ideia de
que os filsofos tinham intimidade com algum tipo especial ou fundamental de
verdade, sem a qual a cincia no pudesse progredir. Mas combinou essa
modstia virtuosa com uma teoria absurda sobre o conceito de verdade;
visando ridicularizar as pretenses de acesso superior s verdades, ele sentiu
necessidade de atacar o prprio conceito clssico. O ataque, moda da poca,
assumiu a forma de uma redefinio convincente. Uma vez que a palavra
Verdade tem uma aura de algo valioso, o truque das definies convincentes
redefini-la de modo que ela seja algo daquilo que se aprovam algo pelo que
possamos nos guiar, frase de Rorty apoiado em Dewey. Desse modo, Dewey
afirmou que uma crena ou teoria verdadeira apenas e to somente se
promover questes humanas. (Donald Davidson, Verdade. In: Livro anual de
psicanlise XX, 2006: 275-280)
No latim, verdade veritas, ou, a conformidade de um relato com o
fato. Ou seja, veritas quando o que se diz de algo a expresso de um fato,
do ocorrido. Veritas a verdade na tradio do Direito.
No grego, o termo utilizado para verdade a-letheia, algo desvelado,
no coberto, no oculto, ou no esquecido. Verdade, portanto, na perspectiva
do grego aquilo que est exposto, luz. a verdade segundo a tradio
filosfica. Algo que est exposto sempre encobre algo de si mesmo, aonde na
aparncia h sempre a dissimulao. Portanto, para a filosofia, verdade no
encerra a busca e a pesquisa, porque esta verdade que se apresenta, ou que
se descreve, nunca est completa ou esgotada.
No hebraico, verdade emunah, o cumprimento do que foi pactuado,
prometido, vaticinado. a verdade segundo a Teologia, que se fundamenta na
revelao. Neste contexto, no se discute a verdade, posto que foi objeto de
revelao, partindo de ser superior. E a, esta verdade no se objeta, no se
discute, apenas aceita-se.
Ocorre, entretanto, que se afirmar que algo verdade, tal afirmao
discurso, e todo discurso pode ser posto em suspenso. As palavras, bem
articuladas, logicamente bem colocadas, e enfaticamente bem pronunciadas,
-
37
podem dar a colorao que se desejar, construindo-se nesta articulao
enunciados com status de verdade.
No mbito da justia instrumental, por exemplo, o esforo do jurista
conquistar por meio de seu discurso e suas descries, relativas a um
processo, a confiana dos que ouvem e julgam, a ponto de admitirem tratar-se
de uma verdade o que est sendo apresentado. A outra parte no processo, por
outro lado, tambm envidar todos os esforos no mesmo sentido, e, assim
sendo, o embate se d pelas vias do discurso, na perspectiva do
convencimento em direo a uma verdade. Contudo, o fato de obter sucesso
neste processo de convencimento no significa que se alcanou a verdade.
Vemos assim que aquilo que se aponta como verdade ser sempre objeto de
desconfiana.
A mdia, por meio de seus diversos instrumentos, quer ganhar a
confiana de seus ouvintes, leitores e telespectadores, isto , convenc-los que
o que est sendo dito e apresentado verdade, e deve ser assim admitido, de
tal forma que se desdobre em aes positivas em relao ao que foi veiculado
pela mdia. A mdia, inclusive, pode elevar um homem simples condio de
dolo, como tambm, destruir moralmente um homem ilibado. Ou seja, elevar
uma mentira condio de verdade, por simples recurso discursivo.
Nas correntes filosficas contemporneas (que tem sido a esteira moral
contempornea), aonde se abandonou qualquer tipo de fundamento verdade,
o que tem prevalecido uma teoria de verdade segundo o pragmatismo: no
h referncias, nem essncias que precisam ser atingidas, posto que verdade
interpretao, ponto-de-vista. Para o pragmtico, verdade consenso, o
til, o que produzir o melhor resultado.
RACIONALIDADE E CETICISMO
A Racionalidade como Soluo de Todos os Males do Mundo. A
racionalidade pode ser definida como o hbito de considerar todos os nossos
desejos relevantes, e no apenas aquele que sucede ser o mais forte no
-
38
momento. (...) A racionalidade completa , sem dvida, ideal inatingvel; porm,
enquanto continuarmos a classificar alguns homens como lunticos, claro
que achamos uns mais racionais que outros. Acredito que todo o progresso
slido no mundo consiste de um aumento de racionalidade, tanto prtica como
terica. Pregar uma moralidade altrustica parece-me um tanto intil, porque s
falar aos que j tm desejos altrusticos. Mas pregar racionalidade um tanto
diferente, porque ela nos ajuda, de modo geral, a satisfazer os nossos prprios
desejos, quaisquer que sejam. O homem racional na proporo em que a sua
inteligncia orienta e controla os seus desejos.
Acredito que o controle dos nossos atos pela inteligncia , afinal, o
que mais importa e a nica coisa capaz de preservar a possibilidade de vida
social, enquanto a cincia expande os meios de que dispomos para nos ferir e
destruir. O ensino, a imprensa, a poltica, a religio - numa palavra, todas as
grandes foras do mundo - esto atualmente do lado da irracionalidade; esto
nas mos dos homens que lisonjeiam Populus Rex com o fito de
desencaminh-lo. O remdio no est em nada heroico nem cataclsmico, mas
nos esforos dos indivduos no sentido de uma opinio mais sadia e equilibrada
das nossas relaes com o prximo e a sociedade. inteligncia, cada vez
mais divulgada, que devemos recorrer para a soluo dos males de que sofre o
nosso mundo.
Ceticismo um estado de quem duvida de tudo, de quem descrente.
Um indivduo ctico caracteriza-se por ter predisposio constante para a
dvida, para a incredulidade.
O ceticismo um sistema filosfico fundado pelo filsofo grego Pirro
(318 a.C.-272 a.C.), que tem por base a afirmao de que o homem no tem
capacidade de atingir a certeza absoluta sobre uma verdade ou conhecimento
especfico. No extremo oposto ao ceticismo como corrente filosfica encontra-
se o dogmatismo.
O ctico questiona tudo o que lhe apresentado como verdade e no
admite a existncia de dogmas, fenmenos religiosos ou metafsicos.
O ctico pode usar o pensamento crtico e o mtodo cientfico
(ceticismo cientfico) como tentativa de comprovar a veracidade de alguma
-
39
tese. No entanto, o recurso ao mtodo cientfico no uma necessidade
imperiosa para o ctico, podendo muitas vezes preferir a evidncia emprica
para atestar a validade das suas ideias.
Bertrand Russell, in 'Ensaios Cpticos: Os Homens Podem Ser Racionais?'
A ESTRUTURA DA JUSTIFICAO
O termo Justificao tambm conhecido como "absolvio divina".
Justificao um termo jurdico que descreve aquele aspecto particular da
salvao que consiste em libertao da culpa e penalidade de pecado. o
aspecto legal da salvao ante Deus como Legislador. aquele aspecto no
qual o crente se torna to perfeito quanto se ele nunca tivesse pecado (cf. Rm
8:33,34). Podemos entender de forma mais ampla o que Justificao,
analisando Dt 25:1: "Quando houver contenda entre alguns, e vierem a juzo
para que os juzes os julguem, ao justo justificaro e ao injusto condenaro."
Aqui est claro que nenhuma melhoria moral includa. Os juzes no faziam
melhor qualquer pessoa, mas declaravam o que era certo aos olhos da lei. Um
tribunal humano ou juiz podem fazer justia, justificando o inocente; no entanto,
Deus mantm justia e aumenta a graa, justificando o descrente: "Mas, quele
que no pratica, porm cr naquele que justifica o mpio, a sua f lhe
imputada como justia." (Rm 4:5). Portanto, Justificao aquele aspecto da
Salvao atravs da qual somos declarados justos.
Em Romanos 3, verso 7, o apstolo Paulo estabelece uma relao
entre as palavras 'morto' e 'justificado': "aquele que est morto" tambm "est
justificado" do pecado! Ou seja, a primeira condio (morto) implica na segunda
(justificado). Satisfeita a primeira condio a segunda estabelecida.
A palavra justificao de origem latina composta de justus e facere
e significa fazer justo em portugus.
As palavras justificado e justia so tradues de palavras gregas
semelhantes. Temos o verbo dikaiun que 'declarar justo', 'justificar'. O
-
40
substantivo dikaosis que 'justificao', 'justia', e o adjetivo dikaios, que
qualifica que 'justo'.
Uma traduo precisa dos termos que fazem referncia justificao
auxilia em muito a interpretao dos escritos de Paulo, porm, s os termos
tomados de maneira isolada no revelam a grandeza das idias centrais que
compe a doutrina da justificao.
Para entendermos a extenso das expresses supracitadas devemos
atentar mais para o contexto nas quais elas foram citadas, do que para o
significado denotativo da palavra.
Este estudo no se limita a apresentar um trabalho de concluses.
Antes, procuramos apresentar ao leitor o raciocnio que se deve percorrer para
chegar s concluses que apontaremos no decorrer deste estudo.
Aquele que est morto
Em Romanos 3, verso 7, o apstolo Paulo estabelece uma relao
entre as palavras 'morto' e 'justificado': "aquele que est morto" tambm "est
justificado" do pecado! Ou seja, a primeira condio (morto) implica na segunda
(justificado). Satisfeita primeira condio a segunda estabelecida.
Antes de ser feita a declarao ... porque aquele que est morto est
justificado do pecado, Paulo enfatiza de maneira contundente a 'morte'
daqueles que creem em Cristo (esto) conforme diz a escritura ( Rm 6:1 -6).
Para entendermos precisamente a declarao paulina devemos ter a
resposta da seguinte pergunta: Quem est morto?
A resposta est no versculo dois do captulo seis da carta aos
Romanos: Ns, ou seja, Paulo e os cristos!
"Ns, que estamos mortos para o pecado, como viveremos ainda
nele?" (Rm 6:2 )
No versculo acima o apstolo esclarece aos leitores da carta aos
Romanos que todos eles esto mortos para o pecado, ou seja, eles no mais
vivem para o pecado.
Efetivamente os cristos esto mortos: mortos para o pecado.
-
41
Caso algum argumentasse contra esta realidade (mortos para o
pecado), Paulo contra argumenta de quatro maneiras diferentes para se fazer
compreensvel.
a) Os que foram batizados foram batizados na morte de Cristo (Rm 6:3 );
b) Pelo batismo na morte todos foram sepultados com Cristo (Rm 6:4 );
c) Todos foram plantados juntamente com Cristo, e ( Rm 6:5 );
d) Uma vez que, todos sabiam que haviam sido crucificados com Cristo.
Pois sabemos isto, que o nosso velho homem foi com ele
crucificado... (Rm 6:6 )
Diante dos elementos que foram apresentados restam as seguintes
concluses: vocs esto mortos! "Pois morrestes, e a vossa vida est oculta
com Cristo em Deus" ( Cl 3:3 ).
Ora, se j morremos com Cristo...( Rm 6:8 ). Assim tambm vs
considerai-vos como mortos para o pecado... ( Rm 6:11 ).
Quando o apstolo Paulo diz: considerai-vos, no significa
simplesmente imaginar como se estivessem mortos para o pecado, antes os
cristos deviam estar cnscios, vivendo esta nova realidade. Paulo no
apregoou um 'faz de conta', antes ele anunciou verdades eternas.
Aquele que cr em Cristo vive esta nova realidade em verdade: aps
encontrar a cruz de Cristo, morreu para o pecado e est efetivamente
justificado do pecado.
Observe que a palavra considerai do versculo onze significa contar
com, descansar em. Aliado ao significado da palavra, est o contexto, que
demonstra que os cristos efetivamente esto mortos para o pecado.
Est Justificado do Pecado
J que os cristos efetivamente morreram para o pecado como foi
observado em ( Rm 6:2 ), conclui-se que quem est justificado perante Deus
necessariamente j morreu para o pecado.
De outro modo: aquele que est vivo para o pecado no est justificado
do pecado. Portanto, s possvel ser justificado do pecado quando se est
morto para ele.
-
42
A condio 'justificado do pecado' real e efetiva, pois decorre da
primeira, que estar morto para o pecado ... porque aquele que est morto
est justificado do pecado.
Dentro deste contexto de 'morte para o pecado' e 'justificado do
pecado' torna-se possvel determinarmos qual o real significado das palavras
justificao e justificar.
Qual a melhor traduo para as palavras dikaun e dikaosis? Seria
fazer justo? criar justo? Ou declarar justo?
O pargrafo seguinte nos auxiliar na escolha da traduo que melhor
se adequa ideia apresentada pelo contexto.
Para que sejas justificado
Quando Paulo faz a citao de um versculo do salmista Davi, nos
auxilia em muito na compreenso da extenso do significado da palavra
justificado.
Neste salmo Davi demonstrou que reconhecer os prprios erros a
melhor maneira de declarar sem palavras que Deus justo Contra ti, contra ti
somente pequei, e fiz o que mal tua vista, para que sejas justificado quando
falares, e puro quando julgares ( Sl 51:4 ). Ele assume os seus erros para que
Deus seja justificado ao falar.
O que o contexto nos apresenta?
Davi assumiu os seus erros para fazer Deus justo?
Davi assumiu os seus erros para criar Deus justo?
Ou Davi assumiu os seus erros para declarar que Deus justo?
O contexto nos aponta a terceira opo. O homem declara a justia de
Deus quando reconhece os seus prprios erros.
O salmista reconhece sua condio em decorrncia do seu pecado:
...contra ti, contra ti somente pequei..., com um objetivo bem definido: declarar
a justia de Deus ... para que sejas justificado quando falares....
-
43
O apstolo cita este salmo para declarar que Deus verdadeiro, ou
seja, ao citar este salmo, Paulo tem a inteno ntida de fazer uma declarao
sobre um dos atributos de Deus: Deus verdadeiro, ou: sempre seja Deus
verdadeiro!
De maneira nenhuma. Sempre seja Deus verdadeiro, e todo o homem
mentiroso como est escrito: Para que sejas justificado em tuas palavras, e
venas quando fores julgado (Rm 3:4 )
O apstolo Paulo ao declarar que Deus verdadeiro cita o salmista
para dar sustentabilidade sua declarao. Paulo demonstra que a sua
declarao conforme as Escrituras.
Temos dois elementos no texto, que se somados, evidenciam a idia
que a palavra justificado procura transmitir:
Davi reconhece os seus erros para declarar que Deus justo;
Paulo utiliza o salmo para dar peso a sua declarao: Deus
verdadeiro e todo homem mentiroso.
Desta forma temos que, a palavra justificado se traduz por declarar
justo.
Declarar: Dar a conhecer; expor; proclamar publicamente, anunciar
solenemente; revelar, julgar, considerar, nomear, etc.
O apstolo Paulo fez a citao de um salmo onde a palavra justificado
engloba a mesma idia que ele procura transmitir com os termos dikaun e
dikaosis.
FONTE: Dicionrio Teolgico Brasileiro Lzaro Soares de Assis
-
44
TEOLOGIA FILOSFICA E FILOSOFIA DA RELIGIO
Se nos debruarmos na longa discusso tillichiana quanto relao
entre teologia e filosofia, parece ficar claro que no faz sentido fazer a pergunta
quem est certa, a teologia ou a filosofia?. O que devemos fazer, como em
todo fenmeno relacional, verificar o momento ou a importncia do tipo de
relao que as duas cincias esto submetidas de poca para poca e com
quais critrios podemos fazer tal verificao. Talvez a maior importncia de
todo do pensamento de Tillich a este respeito no seja meramente a grande
relevncia de seu carter normativo, mas muito mais, a impossibilidade de
tratarmos esta questo sem antes declararmos as bases ou os pressupostos
de que previamente lanamos mo ao trat-la, e que determinaro em ltima
anlise nossa viso.
Consideradas no universo das disciplinas metodolgicas (inseridas no
universo das cincias do pensamento, do ser e da cultura), a filosofia do
sentido (Sinnphilosophie) o fundamento de todo sistema das cincias; a
metafsica o esforo de expressar o Incondicional em termos de smbolos
racionais; e a teologia a metafsica tenoma. [1] A teologia reivindica que o
carter teonmico do pensamento ou seja, o pensamento como tal est
enraizado no absoluto como o fundamento e abismo do sentido. A teologia
toma como seu explcito objeto aquilo que pressuposto implcito de todo
conhecimento. Dessa forma, teologia e filosofia, religio e conhecimento esto
mutuamente abraados. Enfatizando a relevncia existencial da relao entre
filosofia e teologia, Tillich chega a dizer que a filosofia existencial faz de um
modo novo e radical a pergunta cuja resposta dada (e no pela) f na
teologia. [2]
A questo do relacionamento entre filosofia e teologia tem sido muito
desdenhada ultimamente em nosso contexto contemporneo, porque ela, em
ltima anlise, se relaciona com a questo da filosofia primeira, envolvendo o
-
45
retorno metafsica uma questo considerada hoje como ultrapassada e fora
de moda. O prefixo mgico meta na palavra metafsica empregado para
designar algo fora ou alm da experincia humana, aberto imaginao
arbitrria, apesar de todo o mundo saber que significa apenas o livro que vem
depois da fsica na coleo de Aristteles. Quanto a isso, devemos dizer o
seguinte: a questo do ser, que a questo da filosofia primeira ou
fundamental, refere-se ao que est mais prximo de ns do que qualquer outra
coisa. T