apresentaçao janete machado
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EMEF Vila Monte Cristo/CCEARTJanete da Rocha Machado
Mestre pelo Programa de Pós-Graduação em História da [email protected]
A ZONA SUL DE PORTO ALEGRE E O
VERANEIO NA PRIMEIRA METADE DO
SÉCULO VINTE
Porto Alegre, situada às margens do Lago Guaíba, na desembocadura
de cinco rios, constituiu-se cedo em importante meio de comunicação
com o interior. A função portuária era a mais importante, porém a
população logo descobriu os usos para o lazer com os banhos de rio.
Assim, nas primeiras décadas do século passado, a Zona Sul de
Porto Alegre acolhia visitantes atraídos pelos belos cenários da
região. A estação balneária, a qual compreendia, entre outras,
as praias da Tristeza, passou a significar o lugar onde se
passava uma temporada de veraneio.
Os banhistas vinham sempre. Alguns sozinhos, outros, acompanhados
das famílias, porém todos se juntavam no lugar comum: à beira da
praia. E era grande a expectativa daqueles que chegavam para as
temporadas de banhos, de descanso e de diversão.
Assim, a proposta da presente pesquisa foi analisar o veraneio na
Tristeza, bairro localizado na Zona Sul de Porto Alegre e os usos do Lago
Guaíba para o lazer e o descanso na primeira metade do século vinte.
Considerando as águas do Guaíba como espaços de recreação, o
aproveitamento do local, desencadeou relações sociais, as quais
culminaram com o progresso da região. A orla foi, durante muito tempo, o
local preferido pelos porto-alegrenses que não podiam se deslocar até o
litoral, e isso ocasionou um desenvolvimento econômico, motivado pela
vinda de grupos que visavam ao lazer.
Histórico do Bairro Tristeza
Século XVIII : Sesmaria de Dionísio Rodrigues Mendes.
Primeira metade do século XIX : Surgem as primeiras grandes fazendas –
André Bernardes Rangel e José da Silva Guimarães Tristeza.
Segunda metade do século XIX : Surge o Arrabalde da Tristeza e o
Trenzinho Municipal. Nota-se a presença de dois grupos de imigrantes:
colonos italianos e empreendedores alemães. Demarcação: a linha do
trem.
Início do século XX : Aquisição de chácaras e vivendas de verão por
grupos de alemães que visavam ao lazer. Desenvolvimento do comércio e
de serviços relacionados ao veraneio. Melhoria na infraestrutura da
região com o processo de urbanização. Concepção de Cidade Jardim.
O TRENZINHO MUNICIPAL E O COMEÇO DE TUDO
“Foi com o trenzinho que a Tristeza progrediu e logo tomou aqueles ares de excepcional zona balneária da capital”
(SANHUDO, 1961, p.273).
O surgimento dos balneários em Porto Alegre inicia-se com o desenvolvimento da Tristeza, conforme indicação de Sérgio da Costa Franco: “A construção da Estrada de Ferro do Riacho, que em 1900 estendeu para a Tristeza o final de sua linha, teve decisivo papel no desenvolvimento do arrabalde, que se transformou em zona balneária e de veraneio dos moradores de Porto Alegre” (FRANCO, 1998, p. 416).
A estação férrea da Pracinha da Tristeza por volta de 1920.
Fonte: A Ferrovia do Riacho, do Sanitarismo à Modernização de Porto Alegre, de André Huyer
“O trem saía do mercado e vinha até aqui. Muitos faziam a viagem nele. As pessoas não iam muito para as praias de mar. Era muito longe e não havia estradas. Acontece que muitas famílias de Porto Alegre vinham fazer o seu
veraneio aqui, na Tristeza, na Pedra Redonda e em Ipanema. Eles faziam isso: a mulher e os filhos ficavam toda a semana e o marido trabalhava na cidade e vinha para cá nos finais de semana num trenzinho que tinha aqui” (LUCE, Helga Bins.
Porto Alegre, 03 mar. 2013.
O TRENZINHO NA LEMBRANÇA DOS MAIS VELHOS
Momentos do balneário da Tristeza/1920: a chegada do trem e a praça/1910
Fonte: PELLIN, Roberto. Revelando a Tristeza. Porto Alegre: Metrópole, 1979.
ASSUNÇÃO, CONCEIÇÃO E PEDRA REDONDA: AS VILAS BALNEÁRIAS DA TRISTEZA
As denominadas Vilas Balneárias, Assunção, Conceição e Pedra Redonda que integravam o bairro Tristeza, foram muito procuradas neste período, pois entre as praias do Guaíba, eram as mais próximas do centro da cidade. Águas limpas, disponibilidade de terras, e, principalmente, a possibilidade de disporem de um meio de transporte seguro e eficiente (o trem) foram fatores decisivos para as famílias escolherem o arrabalde como refúgio.
Anúncio divulgando o novo balneários da Tristeza/ Vila Assunção/1938
Fonte: SOCIEDADE DE ENGENHARIA. Boletim, Porto Alegre, n. 31, jan. 1940
OS HOTÉIS E OS CLUBES DE VERÃO DA TRISTEZA
Com o movimento intensificado nos meses de verão e marcado por uma vida social intensa, fez-se necessária a ampliação e melhorias na forma de bem receber o turista nos balneários da Tristeza. Surgem os primeiros hotéis e os clubes de verão proporcionando momentos de lazer e diversão para os veranistas.
Carnaval no Clube Jocotó da Tristeza/ 1929
Fonte: PELLIN, R. Revelando a Tristeza. Porto Alegre: Metrópole, 1979, p. 102.
Referencial teórico (1)
A pesquisa sobre o veraneio nas águas do Guaíba visou discorrer sobre as questões
relacionadas ao lazer e ao descanso e para isso foram analisados alguns textos de Joffer
Dumazedier. Esse autor vai chamar essa prática de “a dinâmica produtiva do lazer”, ou seja, o
progresso científico e técnico leva ao aumento do tempo livre. Assim, torna-se necessário
compreender as formas pelas quais os homens viveram seus múltiplos tempos, em especial o
tempo do trabalho e do não-trabalho. O tempo do não-trabalho seria o tempo livre dentro do
qual o lazer estaria inserido. Muitas vezes esse lazer vai estar associado à estadas em lugares
aprazíveis e em contato com a natureza como a Zona Sul da cidade.
DUMAZEDIER, Joffer. Sociologia Empírica do Lazer, São Paulo, Perspectiva, 1979
Referencial teórico (2)
Os estudos sobre o lazer e o verão de algumas famílias porto-alegrenses na Zona Sul
avançaram a partir de dados obtidos com fontes orais. Foram feitas uma série de entrevistas
com moradores antigos, outrora veranistas e moradores dos balneários analisados. A pesquisa
com depoentes iniciou no ano de 2008, bem anterior aos estudos do mestrado e resultou em
um acervo bastante significativo. Assim, esse trabalho se utilizou dos estudos de Ecléa Bosi,
especialista em memória e lembranças dos mais velhos. Conforme esta autora, “a velhice
social é o tempo de lembrar e aconselhar, pois para esses grupos, a lembrança é a
sobrevivência do passado”.
BOSI, Ecléa. Memória e sociedade. Lembranças dos velhos. São Paulo: Companhia das Letras, 1994.
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REFERÊNCIAS
ALVES, Hélio Ricardo. Porto Alegre foi assim... Porto Alegre: Sagra Luzzatto, 2001.
AQUILES, P. Alegre. História popular de Porto Alegre. Porto Alegre: Prefeitura Municipal, 1940.
BOSI, Ecléa. Memória e sociedade. Lembranças dos velhos. SP: Companhia das Letras, 1994.
DUMAZEDIER, Joffer. Sociologia empírica do lazer. São Paulo: Perspectiva, 1979.
FRANCO, Sérgio da Costa. Porto Alegre: guia histórico. Porto Alegre: Editora da
Universidade/UFRGS, 1998.
JANETE & PORTO ALEGRE. Blog. Disponível em: <http://janeterm.wordpress.com/>.
MACEDO, F. Riopardense de. Porto Alegre: origem e crescimento. Porto Alegre: Sulina, 1968.
MACHADO, Janete da Rocha. O veraneio de antigamente: Ipanema, Tristeza e os contornos de um
tempo passado na Zona Sul de Porto Alegre. Dissertação defendida na PUCRS em 2014.
SANHUDO A. Veiga. Porto Alegre crônicas da minha cidade. Porto Alegre: Livraria Sulina 1961.
SCHIDROWITZ, Léo Jeronimo. RS : imagem da terra gaúcha. Porto Alegre: Cosmos, 1942.