arquivos - arquivistas são paulo – associação de...

572
ARQUIVOS entre tradição e modernidade ANA CÉLIA NAVARRO DE ANDRADE (ORGANIZADORA) TRABALHOS APRESENTADOS NAS SESSÕES DE COMINICAÇÕES LIVRES E NOS EVENTOS PARALELOS DO XI CONGRESSO DE ARQUIVOLOGIA DO MERCOSUL Eventus, 2

Upload: dangdiep

Post on 09-Nov-2018

236 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

  • ARQUIVOS

    entre tradio e modernidade

    ANA CLIA NAVARRO DE ANDRADE (ORGANIZADORA)

    TRABALHOS APRESENTADOS NAS SESSES DE COMINICAES LIVRES E NOS EVENTOS PARALELOS DO

    XI CONGRESSO DE ARQUIVOLOGIA DO MERCOSUL

    Eve

    ntus

    , 2

  • ARQUIVOS, ENTRE TRADIO E MODERNIDADE

    VOLUME 2

  • Eventus, 2

    Associao de Arquivistas de So Paulo

    Av. Prof. Lineu Prestes, 338 - Sala N Butant

    05508-000 - So Paulo - SP

    Telefax: (11) 3091-3795 Website: http://www.arqsp.org.br

    E-mail: [email protected] / [email protected]

    http://www.arqsp.org.br/mailto:[email protected]:[email protected]

  • Ana Clia Navarro de Andrade organizadora

    ARQUIVOS, ENTRE TRADIO E MODERNIDADE

    Volume 2

    TRABALHOS APRESENTADOS NAS SESSES DE COMUNICAES LIVRES E

    NOS EVENTOS PARALELOS DO

    XI CONGRESSO DE ARQUIVOLOGIA DO MERCOSUL

    2a edio revista e ampliada

    Associao de Arquivistas de So Paulo (ARQ-SP) So Paulo

    2017

  • 2017 dos autores Todos os direitos desta edio reservados Associao de Arquivistas de So Paulo Reproduo autorizada, desde que citada a fonte A reviso ortogrfica e a normalizao das referncias so de responsabilidade dos autores ASSOCIAO DE ARQUIVISTAS DE SO PAULO (ARQ-SP) Diretoria Ana Clia Navarro de Andrade (Presidente) Clarissa Moreira dos Santos Schmidt (Vice-Presidente) Ftima Aparecida Colombo Paletta (Secretria) Alessandra Andrade Frana Barbosa (Tesoureira) Comisso Editorial Ana Maria de Almeida Camargo (Coordenap) Helosa Liberalli Bellotto Johanna Wilhelmina Smit Diagramao: Associao de Arquivistas de So Paulo

    Ficha elaborada por Andre Vieira de Freitas Araujo (CRB-8: 6831)

    Arquivos, entre tradio e modernidade, volume 2 : trabalhos apresentados nas sesses de comunicaes livres e os eventos paralelos do XI Congresso de Arquivologia do Mercosul [recurso eletrnico] / organizao Ana Clia Navarro de Andrade ; Associao de Arquivistas de So Paulo. -- 2. ed. rev. ampl. -- So Paulo: ARQ-SP, 2017. 570 p. -- (Eventus, 2). O XI Congresso de Arquivologia do Mercosul foi realizado em So Paulo, de 19 a 22 de outubro de 2015 Inclui bibliografia E-book ISBN 978-85-65797-12-2 (v. 2)

    1. Arquivos 2. Arquivologia I. Andrade, Ana Clia Navarro de II. Associao de Arquivistas de So Paulo II. Ttulo III. Srie.

    CDD 025.1

  • Esta publicao dedicada a Viviane Tessitore (in memorian)

  • AGRADECIMENTOS

    A diretoria da Associao de Arquivistas de So Paulo no poderia deixar de agradecer a participao do pblico presente e de todos os professores e profissionais convidados, brasileiros e estrangeiros, bem como a colaborao de todas as pessoas e instituies que, direta ou indiretamente, ajudaram a tornar realidade o XI Congresso de Arquivologia do MERCOSUL, evento de grande relevncia para a Arquivologia nacional e da Amrica Latina, tanto pelos temas amplamente debatidos em suas sesses plenrias, mesas redondas, sesses de comunicaes livres e eventos paralelos, quanto pela oportunidade de novos encontros, reencontros e troca de experincias entre docentes, estudantes, profissionais e especialistas da rea.

    Em primeiro lugar, cabe um agradecimento especial aos membros da Comisso Organizadora do XI CAM, constituda pela Diretoria da ARQ-SP (Clarissa Moreira dos Santos Schmidt, Andr Vieira de Freitas Arajo e Gabriel Moore Forell Bevilacqua), pelas professoras doutoras Ana Maria de Almeida Camargo e Helosa Liberalli Belloto (membros honorrios da Diretoria da ARQ-SP) e pelos colegas e amigos Elisabete Marin Ribas (Secretria Geral do XI CAM), Jos Francisco Guelfi Campos (Primeiro Secretrio do XI CAM), Lilian Miranda Bezerra, que deram tudo de si para que o congresso acontecesse.

    Agradecemos, tambm, aos professores e profissionais especialistas, que participaram da Comisso Cientfica cedendo parte de seu precioso tempo para ler e avaliar as dezenas de trabalhos recebidos, e, em especial, queles que participaram ativamente das reunies de preparao do congresso: Ana Clia Rodrigues, Johanna Wilhelmina Smit, Sonia Maria Troitio Rodriguez e Viviane Tessitore.

    Nosso muito obrigado s agncias de fomento FAPESP (Fundao de Amparo Pesquisa do Estado de So Paulo) e CAPES (Coordenao de Aperfeioamento de Pessoal de Nvel Superior), que viabilizaram a vinda dos convidados estrangeiros a So Paulo/SP. Agradecemos, ainda, o apoio institucional e o aporte financeiro recebidos dos seguintes rgos e instituies, fundamentais para a realizao do XI Congresso de Arquivologia do MERCOSUL:

    Conselho Nacional de Arquivos (Conarq) e Arquivo Nacional;

    Governo do Estado de So Paulo e Arquivo Pblico do Estado de So Paulo;

    CEDEM - Centro de Documentao e Memria da UNESP (Universidade

    Estadual Paulista Jlio de Mesquita Filho);

    Servio Social do Comrcio (SESC-SP);

    Centro de Integrao Empresa- Escola (CIEE);

    ARKTEC Guarda de Documentos;

    Preservation Technologies;

    PROCIMAR Cine-Vdeo;

    SCAN SYSTEM Gerenciamento da Informao / ZEUTSCHEL;

    TECNOLACH Arquivos Deslizantes.

    No poderamos deixar de agradecer Hilda Vieira de Souza (secretria da ARQ-SP) e Silmara Nunes, funcionria da Associao Paulista de Cirurgies Dentistas (APCD), pela colaborao e dedicao prestadas antes, durante e depois do evento.

    Finalmente, gostaramos no apenas de agradecer, mas de homenagear duas pessoas que infelizmente no esto mais entre ns, tendo partido no ano de 2016: Eduardo

  • Rodrigues, maestro do Coral Madrigal, cuja apresentao abrilhantou a cerimnia de abertura do XI CAM, e nossa querida amiga e colega Viviane Tessitore. Historiadora de formao e arquivista de profisso, Viviane atuou como mestre de cerimnia na abertura do congresso e encantou a todos na apresentao do Coral Madrigal. Nosso muito obrigado a todos!

    Ana Clia Navarro de Andrade Coordenadora Geral do XI CAM

    Presidente da ARQ-SP

  • XI CONGRESSO DE ARQUIVOLOGIA DO MERCOSUL

    COMISSO ORGANIZADORA Ana Clia Navarro de Andrade (Coordenadora Geral) Ana Maria de Almeida Camargo (Vice-Presidente de Honra) Andr Vieira de Freitas Araujo Clarissa Moreira dos Santos Schmidt Elisabete Marin Ribas (Secretria Geral) Gabriel Moore Forell Bevilacqua Helosa Liberalli Bellotto (Presidente de Honra) Jos Francisco Guelfi Campos (Primeiro Secretrio) Llian Miranda Bezerra COMISSO CIENTFICA Aline Lopes de Lacerda (FIOCRUZ) Ana Clia Navarro de Andrade (ARQ-SP/PUC-SP) Ana Clia Rodrigues (UFF) Ana Maria de Almeida Camargo (USP) Andr Malverdes (UFES) Andr Porto Ancona Lopez (UnB) Andr Vieira de Freitas Araujo (ARQ-SP/UFRJ) Anglica Alves da Cunha Marques (UnB) Clarissa Moreira dos Santos Schmidt (ARQ-SP/UFF) Daniel Flores (UFSM) Gabriel Moore Forell Bevilacqua (ARQ-SP/UFF) Helosa Liberalli Bellotto (USP) Johanna Wilhelmina Smit (USP) Lucia Maria Velloso de Oliveira (FCRB) Marcelo Nogueira Siqueira (Arquivo Nacional / UNIRIO) Marcia Cristina de Carvalho Pazin Vitoriano (UNESP) Maria Teresa Navarro de Britto Matos (UFBA) Mariangela Spotti Lopes Fujita (UNESP) Paulo Roberto Elian dos Santos (FIOCRUZ) Renato Pinto Venncio (UFMG) Renato Tarciso Barbosa de Sousa (UNB) Sonia Maria Troitio Rodriguez (UNESP) Telma Campanha de Carvalho Madio (UNESP) Viviane Tessitore (PUC-SP) APOIO ADMINISTRATIVO Hilda Vieira de Souza (ARQ-SP)

  • APOIO

  • SUMRIO

    14 Apresentao Ana Clia Navarro de Andrade

    COMUNICAES

    Arquivos pessoais 18 Arquivos pessoais de valor histrico: o acervo de Amrico Loureno

    Jacobina Lacombe Fernanda da Costa Monteiro Arajo, Lcia Maria Velloso de Oliveira

    31 Arquivos pessoais, tipos documentais e os registros das formas de viver em sociedade Camila Campoi de Sobral

    39 Arquivos pessoais: facetas de um dilema Jos Francisco Guelfi Campos

    50 Arquivos pessoais: novas pesquisas em Arquivologia Thayane Vicente Vam de Berg

    64 Arquivos pessoais: uma experincia institucional Lia Cazumi Yokoyama Emi, Tania Lima Ribeiro

    74 Camargo Guarnieri escreve cartas: msica, memria e arquivo Giovana Faviano

    82 O arquivo de Epifnio Dria: por uma abordagem funcional dos arquivos pessoais Lorena de Oliveira Souza Campello

    96 Radiografia de uma experincia: o arquivo de Julieta Telles de Menezes Mariana de Carvalho Dolci, Ricardo Godi de Oliveira

    103 As prticas arquivsticas na implementao, organizao e preservao da memria do acervo documental no fundo Aldema M. Mckinney Caroline Lopes Knackfuss

    115 Tipologia documental nos arquivos da Fundao Casa de Rui Barbosa Bianca Therezinha Carvalho Panisset, Lucia Maria Velloso de Oliveira

    Difuso e ao educativa

    128 Algunas notas sobre las polticas de acceso a la informacin implementadas en el Archivo General e Histrico de la Universidad Nacional de Crdoba, Argentina Jacqueline Vassallo, Nria Corts

    138 Exposio: um instrumento para difuso cultural de acervos arquivsticos Leila Estephanio de Moura, Priscilla Soares Vaisman

    151 Da educao formal informal: o uso de jogos online na educao patrimonial Renata Regina Gouva Barbatho, Leandro de Abreu Souza Jaccoud

    161 Dilogos contemporneos sobre memria, ensino de Histria e arquivos Adriana Carvalho Koyama

    Ensino e formao profissional

    171 Terminologia arquivstica internacional: obstculos de sistematizao Nadine Passos Conceio dOliveira

    189 O arquivista como modern profissional da informao (MIP): anlise de competncias luz da literatura e da formao curricular Jorge Santa Anna

  • Funes arquivsticas e procedimentos metodolgicos

    205 A identificao como etapa preliminar da metodologia arquivstica na organizao e difuso de acervos cientficos Elisa Maria Lopes Chaves, Suzana Cesar Gouveia Fernandes

    216 Atividades arquivsticas em projetos de extenso na Justia Federal Subseo Rio Grande Evelin Melo Mintegui, Rejane Sacco dos Anjos

    225 Descripcin analtica de documentos pblicos: resoluciones universitarias perodo 1976-1983

    Sofia Y. Brunero, Graciela del Valle Costilla 237 Projeto para elaborao de planos de classificao e tabelas de

    temporalidade de documentos das Atividades-fim da administrao pblica estadual segundo a metodologia funcional: experincia do Arquivo Pblico do Estado na implementao da gesto documental em cinco rgos estaduais Camila Giovana Ribeiro, Bruna Attina

    248 Identificao e organizao arquivstica das fotografias produzidas pela assessoria de comunicao e imprensa da Unesp Telma Campanha de Carvalho Madio, Bruno Henrique Machado

    260 Descrio arquivstica do fundo do Departamento Estadual de Imprensa e Propaganda DEIP/APEES Margarete Farias de Moraes, Andr Malverdes

    270 El mtodo en la identificacin archivstica: los sermones annimos de la coleccin documental Mons. Dr. Pablo Cabrera (Crdoba - Argentina) Silvano Gabriel Antonio Benito Moya

    282 Organizao e descrio do fundo Clamor: estudo de Caso Adriane Natacci, Helosa Faria Cruz

    Histria institucional e pesquisa

    297 A constituio da rea de pesquisa: a experincia do Arquivo Geral da Universidade de So Paulo Denise de Almeida Silva

    306 A importncia do levantamento dos instrumentos de pesquisa, da histria oral e da micro-histria no resgate da histria institucional do Arquivo Pblico do Estado de So Paulo Cesira Papera

    Memria, patrimnio, identidade

    321 Fatores determinantes das mudanas de fase no ciclo vital de fontes musicais Paulo Castagna, Adriano de Castro Meyer

    335 Organizao e difuso do acervo iconogrfico do Arquivo Central e Histrico da Universidade Federal de Viosa Eduardo Luiz dos Santos

    347 A preservao fotogrfica no Brasil e a experincia do Centro de Memria-Unicamp Cssia Denise Gonalves

    357 Inventrio da documentao manuscrita dos sculos XIX e XX: Parquia Evanglica de Confisso Luterana de Domingos Martins ES. Marcos Prado Rabelo

    Poltica arquivstica e legislao

    368 A conduta tica dos arquivistas frente Lei de Acesso Informao

  • Priscila Lopes Menezes 381 Projeto de recolhimento de documentos de guarda permanente ao Arquivo

    Pblico do Estado, produzidos e acumulados pelos rgos e entidades integrantes do SAESP Benedito Vanelli do Carmo Neto, Marcelo Banevicius

    389 Uma poltica de arquivos para a Baixada Santista: a parceria entre a FAMS e a AGEM para criao de Arquivos Municipais Roberto de Assis Tavares de Almeida, Ana Clia Rodrigues

    Polticas e tcnicas de preservao

    401 Polticas de preservao digital: elementos para anlise Ernesto Carlos Bod

    414 Preservao de corpora de fala do portugus brasileiro: digitalizao, acesso e segurana Bruno Silvrio de Freitas, Flvia Carneiro Leo

    Gesto de documentos, sistemas e novas tecnologias

    429 Auditoria de gesto de documentos: um exerccio conceitual baseado na auditoria de informao Danielle Alves Batista

    438 Gesto dos registros de novas tcnicas: estudo de caso do CETENE como organizao de pesquisa tecnolgica OPT Amanda Tlyta Barbosa de Albuquerque

    EVENTOS PARALELOS

    VII Encontro de Associaes de Arquivistas do MERCOSUL

    452 Ata do VII Encontro de Associaes de Arquivistas do MERCOSUL

    VII Reunio de Arquivos Universitrios 455 Os desafios colocados pela compatibilizao dos instrumentos de gesto

    de documentos das universidades estaduais paulistas Johanna W. Smit

    457 Compatibilizao dos instrumentos de gesto documental das IFES Silvia Lhamas de Mello

    VII Reunio da Rede Ibero-americana de Ensino Arquivstico Universitrio

    482 Proteccin del patrimonio documental argentino: la incidencia de la legislacin sobre documentos digitales Anna Szlejcher

    490 O preparo didtico dos professores de Arquivologia Helosa Liberalli Bellotto

    496 A funo arquivstica da avaliao: modelos, legislao e bibliografia Cintia Arreguy, Renato Venancio

    512 Cooperao regional e internacional Ana Clia Navarro de Andrade

    VII Jornada de Arquivos Municipais

    517 Polticas pblicas para los archivos municipales en Argentina Norma Catalina Fenoglio

    524 Programa paulista de institucionalizao de arquivos pblicos municipais: estratgias e resultados Camila Brandi De Souza Bentes, Mrcio Amndola de Oliveira

    539 A experincia do Arquivo Municipal de Campinas (Balano do perodo

  • 1999-2015) Antonio Carlos Galdino

    540 Traos luso-cariocas de um acervo pblico: 450 anos da cidade no AGCRJ Beatriz Kushnir

    542 O Conselho Nacional de Arquivos (CONARQ) e a Cmara Setorial de Arquivos Municipais (CSAM) Domcia Gomes Borges

    APRESENTAES ESPECIAIS

    544 Polticas de preservacin estructural en archivos: la desacidificacin en masa Consuelo Martnez Rendo

    554 Normatizao da Gesto de Documentos no Brasil Associao Brasileira de Normas Tcnicas

    563 PROGRAMAO DO XI CONGRESSO DE ARQUIVOLOGIA DO

    MERCOSUL

  • ARQUIVOS, ENTRE TRADIO E MODERNIDADE VOLUME 2

    14

    APRESENTAO

    ANA CLIA NAVARRO DE ANDRADE

    O XI Congresso de Arquivologia do Mercosul promovido pela Associao de Arquivistas de So Paulo (ARQ-SP), ocorreu no perodo de 19 a 22 de outubro de 2015, na cidade de So Paulo. O evento contou com o Teatro da Associao Paulista de Cirurgies Dentistas (APCD) para sede do congresso, onde foram realizadas as sesses de abertura e de encerramento, as sesses plenrias, as mesas redondas e a VIII Jornada de Arquivos Municipais. As demais atividades do XI CAM foram realizadas no Auditrio e em cinco salas de aula e de reunio do Arquivo Pblico do Estado de So Paulo, bem como em dois auditrios da Universidade Estadual Paulista Jlio de Mesquita, localizados no prdio onde se encontram o Centro de Documentao e Memria (CEDEM) e a Editora universitria.

    O congresso contou ainda com uma Feira de Livros, Produtos e Servios que, juntamente com a Secretaria do XI CAM, foi montada no Ginsio da APCD.

    Nos dias 20 e 21 de outubro, os participantes interessados puderam realizar visitas tcnicas, previamente agendadas, a instituies de gesto e/ou de preservao de documentos, e no dia 23, participaram de oficina ps-congresso sobre arquivos pessoais, promovida pela Fundao Instituto Fernando Henrique Cardoso.

    Devido grave crise econmica instaurada no pas desde o primeiro trimestre de 2015, a realizao desse congresso s foi possvel graas determinao da diretoria da ARQ-SP que, apesar das adversidades financeiras, no desistiu dessa enorme empreitada e contou com os valiosos aportes financeiros concedidos pela Coordenao de Aperfeioamento de Pessoal de Nvel Superior (CAPES) e pela Fundao de Amparo Pesquisa no Estado de So Paulo (FAPESP), fundamentais para a participao dos conferencistas e palestrantes estrangeiros convidados para o congresso. Alm desse suporte, a ARQ-SP contou tambm com a ajuda das empresas parceiras TECNOLACH, SCANSYSTEM/ZEUTSCHEL, PROCIMAR, ARKTEC, Centro de Integrao Empresa-Escola (CIEE) e do Servio Social do Comrcio (SESC-SP), que apoiaram a realizao do XI CAM seja com produtos ou passagens, seja com ajuda financeira.

    O congresso contou, ainda, com o apoio institucional do Arquivo Nacional, do Conselho Nacional de Arquivos (Conarq), do Arquivo Pblico do Estado de So Paulo, do Arquivo Histrico de So Paulo e do Centro de Documentao e Memria (CEDEM/UNESP), tanto para a organizao de eventos paralelos, quanto para a divulgao do XI CAM.

    Tendo como objetivo geral reunir os profissionais da rea, arquivistas, docentes, estudantes, diretores de arquivos municipais, estaduais/provinciais e nacionais, pesquisadores e todos aqueles que, de uma forma ou de outra, esto relacionados com a teoria e a prtica arquivsticas, com as finalidades de transmitir conhecimento, compartilhar experincias, discutir problemas e apresentar novos desafios que possibilitem o crescimento tanto do profissional quanto da Arquivologia, pode-se afirmar que o XI Congresso de Arquivologia do Mercosul conseguiu atingir suas metas.

    Mas faltava cumprir um ltimo compromisso com os palestrantes e o pblico que participou do congresso: a publicao das conferncias e trabalhos apresentados durante o evento, compromisso esse que a ARQ-SP tem a satisfao de ver cumprido por meio de dois e-books que inauguram a srie Eventus.

  • ARQUIVOS, ENTRE TRADIO E MODERNIDADE VOLUME 2

    15

    Com a publicao desses livros, a ARQ-SP encerra oficialmente sua participao na coordenao do XI Congresso de Arquivologia do Mercosul, desejando que sua leitura suscite novos desafios.

    So Paulo, dezembro de 2016.

  • COMUNICAES

  • Arquivos pessoais

  • ARQUIVOS, ENTRE TRADIO E MODERNIDADE VOLUME 2

    18

    ARQUIVOS PESSOAIS DE VALOR HISTRICO: O ACERVO DE AMRICO

    LOURENO JACOBINA LACOMBE

    FERNANDA DA COSTA MONTEIRO ARAJO LUCIA MARIA VELLOSO DE OLIVEIRA

    INTRODUO O presente artigo o resultado do projeto de pesquisa desenvolvido no Arquivo Histrico e Institucional da Fundao Casa de Rui Barbosa e voltado para o desenvolvimento de metodologias de organizao e descrio de arquivos e colees pessoais e familiares. O Servio de Arquivo Histrico e Institucional da Fundao Casa de Rui Barbosa destina- se guarda, organizao, preservao e divulgao de documentos relativos Histria do Brasil e historiografia, bem como gesto e preservao dos documentos produzidos e acumulados pela prpria Fundao.

    No segmento dos arquivos pessoais considerados relevantes para a Histria do pas, o principal fundo arquivstico o de Rui Barbosa, o qual se encontra plenamente organizado, processado, indexado e parcialmente digitalizado. Dentre os outros arquivos do perodo histrico em que Rui viveu, temos sob a custdia do Servio os arquivos e colees de Eduardo Prado, Ubaldino do Amaral, Joo Pandi Calgeras, Famlia Barbosa de Oliveira e Catramby, que igualmente j se encontram disponveis para pesquisa.

    Ao longo dos anos, o Servio de Arquivo ampliou sua linha de acervo, incluindo a preservao de acervos de historiadores, na medida em que a pesquisa em Histria reconhecidamente uma das funes de grande destaque da prpria instituio. Dentro desta linha, o Servio de Arquivo recolheu arquivos como o de Amrico Jacobina Lacombe, de Francisco Assis Barbosa e de Mauricio de Abreu. Esses arquivos renem documentos de grande importncia para a historiografia brasileira.

    Objeto de grande procura pelos pesquisadores brasileiros e estrangeiros, os arquivos pessoais e familiares traduzem o modo de vida da sociedade e subsidiam a construo de uma compreenso da realidade do pas. Cada vez mais de interesse para os usurios dos arquivos, os documentos produzidos no mbito da vida privada permitem uma anlise multifacetria do produtor do arquivo e uma compreenso diversificada da prpria sociedade. interessante ressaltar que, nos casos de produtores de arquivos que desempenharam papis pblicos na sociedade, a organizao e divulgao de seus documentos possibilitam inclusive uma anlise comparativa entre as possveis narrativas paralelas sobre eventos histricos e sobre a vida em sociedade.

    A pesquisa que vem sendo desenvolvida desde 2005 busca encontrar solues metodolgicas que utilizem como campo emprico o material arquivstico custodiado no Servio de Arquivo e que proponham alternativas distintas das abordagens tradicionalmente empregadas na rea. A base do trabalho est na reconstruo dos contextos arquivsticos, na representao dos acervos (de forma a assegurar a expresso dos papis sociais dos titulares), no reconhecimento da importncia da observncia da fundamentao terica da Arquivologia e na ampliao do acesso, considerando o atendimento ao usurio. Nessa abordagem, a especificidade de cada acervo e de seu processo de produo se sobrepe s prticas at ento adotadas na rea.

  • ARQUIVOS, ENTRE TRADIO E MODERNIDADE VOLUME 2

    19

    A perspectiva do trabalho reconhece os arquivos como lugares e fontes possveis para usos diversificados, o seu reconhecimento como patrimnio cultural e histrico e, assim sendo, como um lugar de memria, de identificao e de pertencimento.

    A pesquisa foi subdividida em projetos e, em nosso trabalho, apresentaremos as concluses daquele que utilizou como campo emprico o acervo arquivstico textual produzido e acumulado por Amrico Loureno Jacobina Lacombe. Seu arquivo foi doado por sua famlia Fundao Casa de Rui Barbosa em 10 de outubro de 1995 e est sob a custdia do Servio de Arquivo Histrico e Institucional. O titular do arquivo foi presidente da Fundao Casa de Rui Barbosa - FCRB de 1939 a 1993.

    O arquivo possui cerca de 17 metros lineares de documentos textuais, e cobre o perodo de 1905 a 1993. A documentao reflete sua atuao frente da FCRB, sua vida familiar, sua trajetria como historiador e professor de Histria, e os diferentes papis que ocupou em distintas instituies.

    Amrico Loureno Jacobina Lacombe nasceu no Rio de Janeiro a 7 de julho de 1909. Formou-se bacharel em Direito em 1931 pela Faculdade de Direito, na mesma cidade. Iniciou sua carreira no ensino da Histria no ano de 1928, lecionando Histria da Civilizao e do Brasil em tradicionais escolas cariocas. Doze anos mais tarde, Lacombe ingressou no ensino superior, passando a lecionar Histria da Civilizao e do Brasil nas Universidades Santa rsula, na Pontifcia Universidade Catlica e no Instituto Rio Branco. Enquanto esteve frente da FCRB, promoveu o resgate, a preservao e divulgao dos acervos e da produo intelectual de Rui Barbosa.

    O seu arquivo traduz uma carreira dedicada administrao pblica, ao patrimnio documental do pas, ao ensino e Histria. Destacamos, no conjunto de seus documentos, as suas notas de aula, de pesquisa, de reunio do Conselho Federal de Cultura (1974) sobre a evaso de documentos relevantes para a cultura nacional, de elaborao do plano da coleo de Histria Geral do Brasil, da Editora Brasiliana e da pesquisa bibliogrfica de publicaes do Instituto Histrico e Geogrfico Brasileiro, alm de originais das tradues realizadas de trabalhos de brasilianistas e verbetes para enciclopdias, entre outros.

    No vasto conjunto de missivas, possvel perceber que fazia parte de redes de relacionamentos pessoais e institucionais diversificadas, e que circulava pelos meios acadmico e cultural de relevncia, no Brasil e no exterior. Lacombe se correspondia com Jorge Amado, Carlos Drummond de Andrade, Gustavo Capanema, San Tiago Dantas e Plnio Doyle, e com os brasilianistas John Fortes Dulles, Leslie Bethell, Richard Graham e Thomas Skidmore.

    O arquivo foi recebido no Servio de Arquivo em pastas suspensas e ordenado em ordem alfabtica nominal. Quando a guarda do acervo passou para a Fundao Casa de Rui Barbosa, os documentos foram higienizados e acondicionados individualmente em um folder de papel neutro. A ordem original foi mantida, uma vez que foi criada pelo prprio Lacombe, ao longo do processo de produo e acmulo da documentao. Junto com os documentos de arquivo, foi entregue uma listagem alfabtica elaborada pelo produtor de controle das pastas.

    O arquivo uma importante fonte para a compreenso da Historiografia Brasileira Contempornea e da consolidao de instituies pblicas brasileiras, alm de contribuir para estudos sobre o desenvolvimento poltico, social, cultural e educacional do pas.

    Sua funo pblica e sua atuao em instituies - como Instituto Histrico e Geogrfico Brasileiro, Academia Brasileira de Letras, universidades e outras - deram origem a um conjunto documental complexo e que possibilita um estudo interessante para a Arquivologia.

  • ARQUIVOS, ENTRE TRADIO E MODERNIDADE VOLUME 2

    20

    OBJETIVOS O objetivo central do projeto era o de estudar at que medida possvel obedecer ao Princpio da Ordem Original, partindo-se da tese de que o mesmo pode ser mantido at um nvel da estrutura do arranjo e que, nos nveis mais altos da representao, a interferncia do arquivista se faz imprescindvel. Entre os demais objetivos, tnhamos: desenvolver e aplicar metodologia de arranjo voltada para os arquivos pessoais, segundo a fundamentao terica da Arquivologia, com vistas uma plena divulgao dos acervos que representasse o produtor de forma acurada, e que, portanto, no obedecesse ao modelo clssico (Srie Correspondncia; Produo Intelectual; Nome das instituies onde atuou; Documentao Complementar etc.); produzir conhecimento sobre organizao e representao de arquivos pessoais; capacitar recursos humanos em Arquivologia e, em especial, no tratamento tcnico-cientfico dos arquivos pessoais; subsidiar estudos para a construo da histria institucional da Fundao Casa de Rui Barbosa; organizar o acervo arquivstico acumulado por Amrico Loureno Jacobina Lacombe ao longo de sua trajetria de historiador, professor, educador e administrador; descrever as sries e subsries do arquivo segundo o padro metodolgico definido pela coordenao da pesquisa; e subsidiar estudos para a construo da histria cultural do pas. METODOLOGIA O estudo embasado na fundamentao terica da Arquivologia e em suas diversas vertentes, em especial a europeia (Reino Unido, Frana, Holanda e Espanha), a americana e a canadense.

    A proposta metodolgica se fundamenta no conceito de contexto arquivstico defendido por Thomassen (2006) que considera que o mesmo se constitui por todos os fatores ambientais que definem a produo, estruturao, gerenciamento e interpretao dos arquivos.

    O estudo de metodologia para abordagem de organizao e descrio em arquivos pessoais se apresenta como um desafio para a rea. Os arquivos pessoais comearam a ser considerados como objeto da Arquivologia de forma mais sistemtica no final do sculo XIX, quando as sociedades histricas em pases como Frana, Inglaterra, Canad e Estados Unidos passaram a identificar estes documentos produzidos no cenrio da vida privada como fontes de pesquisa histrica. O mapeamento desses arquivos permitiu a criao de uma srie de iniciativas que os reconhecem como patrimnio cultural e que, portanto, devem ser protegidos pelo Estado, seja por sua institucionalizao em arquivos pblicos, sua reproduo ou mesmo controle para que no saiam do territrio nacional.

    Na medida em que comearam a ingressar nos arquivos pblicos, esses conjuntos documentais passam a ser disponibilizados para pesquisa. Dessa forma, gradativamente, suas especificidades passam a fazer parte da agenda terica da Arquivologia. Livre de normas rgidas e de procedimentos para a determinao de sua produo, a elaborao dos documentos na vida privada regida pelos regulamentos sociais, e apenas os documentos que tratam da relao do indivduo com as instituies seguem alguma norma em sua forma, estrutura ou contedo.

    Nesse sentido, a compreenso que o produtor do arquivo faz de seus lugares em sociedade e em suas relaes, e de suas necessidades para existir em sociedade, estar representada na forma em que organiza ou no os seus documentos.

  • ARQUIVOS, ENTRE TRADIO E MODERNIDADE VOLUME 2

    21

    A metodologia adotada no projeto priorizou a anlise dessa compreenso que Lacombe fez de si e da forma em que organizou fisicamente seus documentos em pastas, assim como do registro que elaborou dessa sua organizao. Em seguida, a pesquisa sobre o contexto social da poca de produo dos documentos e os papis sociais do titular do arquivo assumiu um lugar de relevncia na discusso de uma obedincia ordem original e a necessidade de interveno na estruturao da representao do produtor. Essas etapas foram fundamentais, pois o que se almejava era um arranjo que refletisse quem foi o titular do arquivo, na forma direta em que o documento de arquivo reflete a atividade ou funo que lhe d origem.

    Como mencionamos anteriormente, a questo que motivou a criao do projeto a discusso sobre o princpio arquivstico da ordem original, considerando que a ordem criada pelo produtor tende a produzir pouco sentido para os pesquisadores, pois, em si, pode ocultar a organicidade entre os nomes e instituies com as quais o produtor se relacionou. Muitos documentos esto relacionados entre si e s atividades desenvolvidas pelo produtor ao longo de sua trajetria, mas, por exemplo, no caso especfico do arquivo de Lacombe, em que a organizao que imps aos documentos a da ordem alfabtica, ficou evidente que a mesma dificultava o restabelecimento das ligaes e respectivas atuaes nas suas redes de sociabilidade.

    No total, somam-se aproximadamente 1.500 nomes de pessoas e instituies. A maior parte deles est registrada na lista criada pelo produtor, e que acompanha o arquivo desde sua entrada na Casa de Rui Barbosa, sendo assim considerada a lista de recolhimento. Alm desse instrumento, tambm utilizamos o inventrio parcial do arquivo Amrico Jacobina Lacombe, que se constitui de uma listagem mais precisa dos nomes e instituies contidos no acervo e a numerao de suas respectivas pastas. Esse instrumento foi elaborado aps o recolhimento, procurando reconhecer alguns conjuntos que no constituram pastas individuais e que no estavam inseridos na listagem.

    Apesar de ter uma postura crtica em relao organizao da documentao feita pelo produtor, a metodologia adotada observa alguns dos principais fundamentos da teoria arquivstica contempornea, mais especificamente o princpio da provenincia e o princpio do respeito ordem original (DUCHEIN, 1986). Diante disso, entende-se que o ordenamento original do arquivo deve ser mantido, pois parte indissocivel do acervo e constitui elemento fundamental para a sua compreenso e entendimento da relao que o produtor desenvolveu com sua prpria documentao durante sua produo, acmulo e organizao. Essa perspectiva de trabalho tambm est em consonncia recente emergncia dos arquivos pessoais como instrumentos de pesquisa potencialmente teis, por serem capazes de fornecer indicaes sobre como indivduos se inserem na sociedade, como trabalham e constroem sua viso de mundo a partir de sua individualidade (COOK, 1997; HOBBS, 2001; NOUGARET, 2006).

    Assim, por meio da articulao entre a teoria arquivstica e a prtica de organizao de arquivos pessoais, foi possvel elaborar um modelo de arranjo para o arquivo Amrico Loureno Jacobina Lacombe considerando a ordenao original conferida pelo produtor e a criao de sries que conjugassem a documentao em torno da atividade que os gerou. Desta forma, possvel ao pesquisador ter acesso no apenas aos nomes dos interlocutores e instituies listadas no acervo separadamente, mas tambm compreender a articulao entre as atividades e eventos aos quais estiveram relacionados. RESULTADOS PARCIAIS

  • ARQUIVOS, ENTRE TRADIO E MODERNIDADE VOLUME 2

    22

    O trabalho desenvolvido no acervo arquivstico textual de Amrico Loureno Jacobina Lacombe passou pelas principais etapas: Treinamento e leituras Foram as primeiras atividades do projeto. A participao em seminrios internos, promovidos pela Fundao Casa de Rui Barbosa ou em parceria com outras instituies, fizeram parte das tarefas de treinamento. Leituras sobre temas correlatos Arquivologia e organizao de arquivos pessoais comearam a ser realizadas com o objetivo de acrescentar discusso proposta. Dentre elas, podemos perceber referncias importantes para a compreenso do perodo histrico no qual Lacombe viveu, assim como suas relaes familiares e de trabalho, com destaque para os livros de Isabel Lustosa (1996) e Arno Wehling e Homero Senna (1996). Tambm foram de fundamental importncia a cronologia de Amrico Jacobina Lacombe e a lista de recolhimento, uma listagem do contedo do acervo criada pelo produtor.

    Nessa etapa, tambm foi importante o contato com a produo dos bolsistas que j haviam trabalhado no projeto anteriormente. A leitura dos relatrios e os instrumentos de pesquisa produzidos ajudaram no reconhecimento geral do acervo, fornecendo uma noo preliminar de sua tipologia e contedo.

    Levantamento e anlise de fontes Esta etapa consistiu no estudo e na anlise de fontes bibliogrficas e arquivsticas, com o objetivo de recomposio do contexto em que viveu Amrico Jacobina Lacombe, a fim de reconhecer seus papis na sociedade e assim subsidiar a definio do arranjo multinvel do acervo.

    Foi realizada uma anlise de cada pasta que compe o arquivo e o registro das respectivas informaes no instrumento de pesquisa. Como mencionado anteriormente, o acervo foi ordenado por Lacombe em ordem alfabtica, dessa forma o trabalho foi feito seguindo essa ordenao a partir da letra R (o bolsista anterior havia identificado at a letra Q). Foram cobertos, aproximadamente, 86 pastas, com cerca de 5600 documentos (letras R a Z).

    O instrumento de pesquisa foi elaborado com o objetivo de auxiliar na posterior definio de uma proposta de arranjo para o arquivo. Nessa etapa, foi fundamental o domnio de princpios arquivsticos, sobretudo o da ordem original, uma vez que era necessrio manter a organizao original do acervo, produzida pelo prprio Lacombe. Alm disso, boa parte do reconhecimento dos documentos analisados dependeu diretamente de conhecimentos previamente adquiridos sobre o contexto histrico, a vida, e a trajetria acadmica e administrativa do produtor, por meio da literatura trabalhada na etapa anterior.

    A numerao atribuda a cada pasta seguiu a partir da ordem estabelecida pelo bolsista anterior. O registro das pastas foi anotado no instrumento de pesquisa e no canto superior direito de cada pasta suspensa (a lpis) , a fim de facilitar a localizao. Essa prtica iniciou-se na letra R e foi mantida at o final da identificao do acervo.

    Aps a finalizao da identificao das pastas registradas na lista de recolhimento, iniciou-se o mesmo trabalho nas pastas avulsas, intituladas Gilda e cadernos. Essas pastas no esto registradas na lista de recolhimento, mas fazem parte do acervo. Totalizam 167 pastas com documentos produzidos, primeira vista, pela esposa de Amrico Jacobina Lacombe, Gilda Masset Lacombe.

  • ARQUIVOS, ENTRE TRADIO E MODERNIDADE VOLUME 2

    23

    O acervo apresenta tambm alguns documentos separados como fotos, lbuns, cadernos de anotaes e condecoraes (medalhas) que foram contabilizados e tambm includos no quadro de arranjo elaborado.

    Arranjo intelectual e fsico Fase em que se definiu a estrutura intelectual dos documentos, recuperando ou reconhecendo os vnculos arquivsticos. Aqui, os documentos receberam a notao para fins de controle e acesso.

    Foi realizada a anlise dos documentos fazendo-se distino dos aspectos nicos de cada um e definindo as relaes entre eles. Nesta fase, foi possvel a identificao dos contedos individuais da documentao e o questionamento das possibilidades de recuperao da informao, para que se pudesse, numa etapa posterior, definir uma representao para seus contedos.

    Com o objetivo de iniciar a elaborao do quadro de arranjo do acervo em questo, foi desenvolvido um levantamento dos termos mais recorrentes no arquivo de Lacombe. A partir da anlise da identificao realizada at ento, foram reconhecidas algumas palavras-chave que pudessem auxiliar na organizao dos documentos fsicos e, assim, ajudar a desenvolver o quadro de arranjo.

    As pastas foram analisadas individualmente, com o objetivo de identificar instituies/cargos ocupados, funes, atividades e assuntos que caracterizassem os documentos ali contidos. Posteriormente, foi desenvolvido um quantitativo de pastas que contivessem determinado termo de acordo com a tabela a seguir:

    Termos Nmero de pastas em que o

    termo aparece

    1-Academia Brasileira de Letras - ABL 34 pastas

    2-Academia Paulista de Letras 3 pastas

    3-Academia Brasileira de Educao ABE 4 pastas

    4-Ao Integralista Brasileira 1 pasta

    5-Ao Universitria Catlica

    2 pastas

    6-Aliana Francesa / Alliance Franaise 10 pastas

    7-Arca dos Jacarands 1 pasta

    8-Associao de Pesquisa Histrica e Arquivstica 1 pasta

    9-Brasiliana 38 pastas

    10-Colgio Pedro II 3 pastas

  • ARQUIVOS, ENTRE TRADIO E MODERNIDADE VOLUME 2

    24

    11-Casa de Rui Barbosa 111 pastas

    12-Casa do Brasil na Universidade de Paris 28 pastas

    13-Centro de Pesquisas e Estudos da Histria da Igreja no Brasil 1 pasta

    14-Centro de Cultura Humanstica 1 pasta

    15-Comisso Internacional de Jurisconsultos Americanos

    1 pasta

    16-Comisso Nacional de Histria 1 pasta

    17-Comisso Nacional do Livro Didtico 1 pasta

    18-Comisso Nacional de Moral e Civismo 1 pasta

    19-Companhia Editora Nacional 31 pastas

    20-Comendador da Ordem do Congresso 1 pasta

    21-Comisso Brasileira de Centenrios de Portugal 1 pasta

    22-COMEC Comisso do Ministrio da Educao e Cultura (acordo de cooperao com Portugal).

    1 pasta

    23-Conselho Nacional de Educao 13 pastas

    24-Congregao Nossa Senhora das Vitrias 1 pasta

    25-Conselho Cultural Interamericano 1 pasta

    26- Embaixadas 3 pastas

    27-Editor / publicaes 59 pastas

    28-Historiador 56 pastas

    29-IHGB 63 pastas

    30-Instituto Nacional do Livro 1 pasta

    31-Instituto Luso-Brasileiro na Sorbonne 1 pasta

  • ARQUIVOS, ENTRE TRADIO E MODERNIDADE VOLUME 2

    25

    32-Sorbonne 4 pastas

    33-Colquio Internacional de Estudos Luso-Brasileiros 1 pasta

    34-Instituto de Estudos Portugueses 2 pastas

    35-Liceu Literrio Portugus 1 pasta

    36-Clube Ginsio Portugus 1 pasta

    37-Legio de Honra 1979 4 pastas

    38- Light 4 pastas

    39-Lions 1 pasta

    40- Ministrios 5 pastas

    41-Ordem dos Advogados do Brasil OAB 1 pasta

    42-PUC 16 pastas

    43- Professor 18 pastas

    44-Pr-memria (Fundaes) 4 pastas

    45- Pessoal 140 pastas

    46- Religio 9 pastas

    47-Secretaria de Educao do Distrito Federal 63 pastas

    48-Santa rsula 2 pastas

    49-Sociedade Brasileira de Cultura 1 pasta

    50-Centro Acadmico Universitrio - CAJU 10 pastas

    51- Diretrio Acadmico da Faculdade e Federao Acadmica do Rio de Janeiro

    1 pasta

    52- Faculdade de Direito 2 pastas

    53-Universidade do Brasil 1 pasta

  • ARQUIVOS, ENTRE TRADIO E MODERNIDADE VOLUME 2

    26

    O objetivo foi mapear as atividades e funes desenvolvidas por Amrico Jacobina Lacombe durante sua trajetria de vida, identificando a relevncia social da sua atuao em diversas esferas nas quais atuou. A partir desse trabalho, sries, subsries e dossis foram pensados de forma a espelhar as funes e atividades do titular.

    Foi elaborada ento a proposta do quadro de arranjo, a fim de atender aos preceitos arquivsticos de uma organizao funcional do acervo a partir da vida de Lacombe. Aps algumas propostas (foram elaboradas quatro propostas de quadro de arranjo) e reunies para discutir e definir o quadro de arranjo final, a estrutura intelectual do acervo pessoal de Amrico Loureno Jacobina Lacombe foi estabelecida da seguinte forma:

    Srie: Gesto de Instituies Pblicas Subsries:

    Casa de Rui Barbosa Secretaria de Educao do Distrito Federal

    Srie: Ensino e Pesquisa Subsries: Ensino secundrio Ensino universitrio Participao em instituies nacionais e internacionais

    Pesquisa / Histria Participao em bancas

    Srie: Vida Pessoal e Social Subsries: Vida religiosa Formao escolar e acadmica

    Relaes familiares Relaes sociais

    Srie: Ttulos e Condecoraes Srie: Edies / publicaes Srie: Comisses, Comits e Associaes Srie: Instituies Culturais e de Pesquisa

    Anlise e pesquisa A partir do quadro de arranjo pensado, iniciou-se a etapa de insero da documentao. Cada pasta foi inserida nas sries e subsries correspondentes. Foi elaborada ento uma relao com a indicao das pastas que poderiam ser inseridas em cada nvel do quadro de arranjo.

    Algumas pastas possuam diversas funes e atividades juntas. O produtor no conseguiu imprimir uma identidade para cada uma delas e reuniu os documentos de forma aleatria, seguindo uma ordem alfabtica da primeira letra do sobrenome, como pode ser percebido, por exemplo, na pasta 487- Pasta 008 Ttulo: Renault, Abgar; Resende, Otto Lara, que possui a seguinte identificao:

    Data Limite: 00.00.0000 a 06.11.1984

  • ARQUIVOS, ENTRE TRADIO E MODERNIDADE VOLUME 2

    27

    Atividade: Ministrio de Educao de Cultura, Pessoal, Casa Rui Barbosa, Editor/publicaes; Brasiliana; ABL Nmero de documentos: 60. Descrio: Relatrio dos trabalhos da Comisso de Inqurito instaurada no mbito do Departamento Nacional de Educao (2); Cartas (2) de Geraldo Resende sobre assuntos pessoais; Carta de Plnio Kielh agradecendo a ajuda de Lacombe na transferncia de seu irmo para a Faculdade de Medicina do Rio; Cartas de Egon Felix (2) sobre as dificuldades de revalidar o seu diploma de bacharel em direito no Brasil; Telegrama de Delso Renault parabenizando Lacombe por reassumir a direo da Casa Rui Barbosa; Cartas de Jorge Resende sobre assuntos pessoais e solicitando ajuda no caso de Egon Felix; Carta de Flamnio Resende agradecendo o envio das obras completas de Rui Barbosa; Cartas de Gonalo Reparaz sobre a traduo portuguesa do seu livro pela Brasiliana; Carta de Lacombe a Abgar Renault sobre a Comisso de Inqurito instaurada no mbito do Departamento Nacional de Educao (2); Carta de Ceclia Meireles a Abgar Renault sobre publicao; Recorte de jornal sobre a publicao Obras Completas de Rui Barbosa; Carta de Abgar Renault sobre aula de Lacombe na Universidade de Nova Yorque e assuntos pessoais; Carta de Expedido Resende enviando texto de histria; Cartas de Otto Lara Resende sobre publicaes e assuntos pessoais; Cartas de Altamiro Requio sobre sua obra intitulada O Grande Fracasso e sobre sua candidatura ABL. Informaes adicionais: O nome Renault, Delso no consta na lista original de recolhimento, est anotado a lpis, mas existe fisicamente.

    Pela descrio, percebemos que a documentao foi dividida por Lacombe de acordo

    com os correspondentes que, nessa pasta, somam 13 (treze). importante lembrar que o ttulo da pasta tambm foi atribudo por Lacombe, seguindo o critrio de ordem alfabtica. Para cada uma das pessoas que Lacombe se correspondia, identificamos uma funo diferente. Por exemplo, as cartas de Geraldo Resende abordam assuntos pessoais e o telegrama de Delso Renault se refere ao retorno do titular ao cargo de diretor da Casa de Rui Barbosa.

    Dessa forma, a organizao fsica dada por Lacombe foi mantida, ou seja, a documentao trocada com um determinado correspondente foi agrupada de acordo com a ordem original, porm a unidade de acondicionamento (pasta) foi desmembrada. Inserimos a documentao no quadro de arranjo de acordo com a sua funo. No exemplo anterior, as cartas de Geraldo Resende foram inseridas na srie Vida Pessoal e Social, subsrie Relaes sociais e o telegrama de Delso Renault faz parte da srie Gesto de Instituies Pblicas, subsrie Casa de Rui Barbosa. Descrio Aps a insero de toda a documentao no quadro de arranjo, iniciou-se a descrio das sries e subsries. Foi elaborada uma ficha de descrio de acordo com o exemplo abaixo:

    1 - Ttulo/Srie: Gesto de Instituies Pblicas GIP Notao/Cdigo: BR FCRB AL GIP. Unidade de descrio Srie Datas Limite: 25.10.1915 a 17.08.1993 Espcies: Correspondncias; Cartas; Telegramas; Cartes; Panfletos; Convites; Decretos; Currculos. Descrio: A srie possui documentos referentes s funes do titular enquanto gestor na esfera pblica, contendo suas atividades como presidente e diretor da Fundao Casa de Rui Barbosa e como secretrio de Educao do Distrito Federal. A maioria da documentao que compe a srie referente a cartas com diversos correspondentes sobre assuntos relacionados a esses cargos. Nmero de pastas: 221.

  • ARQUIVOS, ENTRE TRADIO E MODERNIDADE VOLUME 2

    28

    Descritores: Casa de Rui Barbosa; Fundao Casa de Rui Barbosa; Rui Barbosa; Obras Completas de Rui Barbosa; Administrao; Pesquisa; Agradecimentos; Felicitaes; Eventos; Publicaes; Poltica, Instituio Pblica, Gesto, Secretaria de Educao, Distrito Federal, Favores, Escolas, Professores, Alunos. Personalidades: Fernando de Alencar; Alfredo Rui Barbosa; Jean Gerard Fleury; Instituto dos Advogados do Brasil; Carlos Lacerda; Clemente Marani; Ministrio da Educao e Sade; Prudente de Moraes Filho; Museu Histrico Nacional; Tancredo Neves; Ordem dos Advogados do Brasil; Consuelo Ponde de Sena; Luiz Viana; Helio Viana; Amrico Loureno Jacobina Lacombe; Rui Barbosa; Jos Bonifcio de Andrada; Carlos Drummond de Andrade; Gustavo Capanema; Gilberto Freire; Lus Galloti; Juscelino Kubitschek; Vitor Nunes Leal; Henrique Lott; Joo Lyra Filho; Conselho Nacional de Educao; Olmpio Mouro Filho; entre outros. Notas/Observaes: 1.1 - Ttulo da Subsrie: Fundao Casa de Rui Barbosa - FCRB Notao/Cdigo: BR FCRB AL GIP FCRB. Unidade de descrio Subsrie Datas Limite: 25.10.1915 a 17.08.1993 Espcies: Correspondncias; Cartas; Telegramas; Cartes; Panfletos; Convites; Decretos. Descrio: A subsrie composta por documentos referentes s atividades de Amrico Loureno Jacobina Lacombe enquanto diretor e presidente da Casa de Rui Barbosa, destacando-se assuntos administrativos da instituio; pedidos e trocas de referncias de pesquisa sobre Rui Barbosa, entre elas, o 1 volume da coleo Obras Completas de Rui Barbosa; organizao do acervo pessoal de Rui Barbosa, convites para eventos e solenidades; pedidos de apoio em articulaes polticas; agradecimentos; apresentaes e indicaes de profissionais a Lacombe. Nmero de pastas: 101. Descritores: Casa de Rui Barbosa; Fundao Casa de Rui Barbosa; Rui Barbosa; Obras Completas de Rui Barbosa; Administrao; Pesquisa; Agradecimentos; Felicitaes; Eventos; Publicaes; Poltica. Personalidades: Fernando de Alencar; Alfredo Rui Barbosa; Jean Gerard Fleury; Instituto dos Advogados do Brasil; Carlos Lacerda; Clemente Marani; Ministrio da Educao e Sade; Prudente de Moraes Filho; Museu Histrico Nacional; Tancredo Neves; Ordem dos Advogados do Brasil; Consuelo Ponde de Sena; Luiz Viana; Helio Viana; Amrico Loureno Jacobina Lacombe; Rui Barbosa; entre outros. Notas/Observaes:

    Esse processo de descrio replicado para todas as sries e subsries do quadro de

    arranjo. As informaes correspondentes a cada srie e subsrie sero inseridas separadamente, com a indicao da unidade de descrio, conforme o exemplo anterior. CONCLUSO Tendo como discusso principal o projeto de pesquisa Arquivos pessoais de valor histrico, o presente artigo apresentou o processo de desenvolvimento das atividades arquivsticas no acervo textual de Amrico Loureno Jacobina Lacombe, pretendendo discutir o conceito de ordem original na elaborao e aplicao do quadro de arranjo.

    A pesquisa passou pelo levantamento de elementos pessoais e histricos da vida de Lacombe, assim como sobre o contexto histrico, poltico e social em que viveu. Conseguimos identificar todo o acervo de acordo com as funes e atividades exercidas pelo titular, objetivando a elaborao de uma metodologia de arranjo e descrio que

  • ARQUIVOS, ENTRE TRADIO E MODERNIDADE VOLUME 2

    29

    propiciasse um melhor entendimento sobre o titular do arquivo e seus lugares na sociedade.

    O conceito de ordem original, que norteou todo o projeto, foi obedecido em nveis mais baixos do quadro de arranjo - nos dossis, pastas e itens, como foi a tese que d origem investigao. Em relao aos nveis de sries e subsries, a concluso do projeto foi a de que a ordem alfabtica estabelecida por Lacombe no atende aos princpios norteadores da Arquivologia, que preconizam, entre outros elementos, um quadro de arranjo funcional, que espelhe as funes e atividades do titular do arquivo. As mais de mil pastas que o titular organizou foram funcionais para o prprio, mas foi necessria, no processo de representao do titular e de seu arquivo, uma classificao em nveis macro que reproduzissem intelectualmente suas funes sociais e as atividades que desenvolveu. REFERNCIAS ARAJO, Rosa Maria Barbosa. A vocao do prazer: a cidade e a famlia no Rio de Janeiro republicano. Rio de Janeiro: Rocco, 1993. COOK, Terry. Arquivos pessoais e arquivos institucionais: para um entendimento arquivstico comum da formao da memria em um mundo ps-moderno. Estudos Histricos, Rio de Janeiro, v. 11, n. 21, 1998, p. 129-149. COSTA, Clia Leite. Intimidade versus interesse pblico: a problemtica dos arquivos. Estudo Histricos, Rio de Janeiro, v. 11, n. 21, 1998, p. 189-199. BURKE, Peter. Uma Histria Social do Conhecimento: de Gutemberg a Diderot. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed. 2003. 241p. CAMPOS, M. L.A. Linguagem documentria: teorias que fundamentam sua elaborao. Niteri: EDUFF, 2001. 133 p. CDIGO de catalogao anglo-americano. 2.ed. Reviso 2002. Preparado por The American Library Association et alii. Traduo para a lngua portuguesa sob a responsabilidade da FEBAB. So Paulo: FEBAB, Imprensa Oficial do Estado de So Paulo, 2004. COOK, Terry . What is past is prologue: a History of Archival ideas since 1898, and the future paradigm shift. Archivaria, v. 43, Spring, p. 17-68, 1997. COUTURE, Carol; DUCHARME, Daniel. La recherche en archivistique: un tat de la question. Archives, v. 30, n. 3 e 4, p. 11-38. 1998-1999. DAHLBERG, I. (1978). A referent-oriented analytical concept theory of interconcept. International Classification, v. 5, n. 3, p. 142-150, 1978. DUCHEIN, M. O respeito aos fundos em arquivstica: Princpios tericos e problemas prticos. Arquivo & Administrao, Rio de Janeiro, v. 10-14, n. 1, abr.1982/ago. 1986, p. 14-33. DUCROT, Ariane. Archives personnelles et familiales: statut legal et problmes juridiques. La Gazette des Archives, Paris, n. 157, 2 trim. 1992. p. 134-171. HOBBS, Catherine. The character of personal archives: reflections on the value of records of individuals. Archivaria, Ottawa, n. 52, 2001. p. 126-135. LUSTOSA, Isabel. Lacombe, narrador. Rio de Janeiro: Fundao Casa de Rui Barbos, 1996. MARC Standards. Washington: Library of Congress, 2005. Disponvel em: www.loc.gov/marc/. Acesso em: 10 jun. 2009. NOUGARET, Christine. Archives familiales et archives nationales: une relation de deux sicles. p. 17-32. Disponvel em: . Acesso em: 3 dez. 2008. ______. Les archives prives, lments du patrimoine national?: des sequesters rvolutionnaires aux entres par voies extraordinaires un sicle dhsitations. p. 737- 750. Disponvel em: . Acesso em: 15 out. 2008. OLVEIRA, Lucia Maria Velloso de. O usurio como agente no processo de transferncia dos contedos informacionais arquivsticos. Orientador: Jos Maria Jardim. Niteri, 10 ago. 2006. 146f. Dissertao (Mest. Cincia da Informao)- IBICT/UFF. Disponvel em: http://biblioteca.ibict.br/phl8/anexos/LuciaVelloso2006.pdf>. RANGANATHAN, S. R. Prolegomena to library classification. Bombay: Asia Publishing House, 1967. 640 p. ROUSSEAU, Jean-Yves; COUTURE, Carol. Os fundamentos da disciplina arquivstica. Lisboa: Publicaes Dom Quixote, 1998. 356p. SENNA, Homero; WELHLING, Arno. Amrico Jacobina Lacombe. O servidor pblico, o historiador. Rio de Janeiro: Fundao Casa de Rui Barbosa, 1996.

  • ARQUIVOS, ENTRE TRADIO E MODERNIDADE VOLUME 2

    30

    SOWA, John F. Knowledge representation: logical, philosophical and computacional foundations. Pacific Grove: Brooks/Cole, 2000. 594 p. THOMASSEN, Theo. A New Language to be Spoken: a paradigm shift in Archival Science. In: Congresso Brasileiro de Arquivologia, 14., 2006, Rio de Janeiro. Anais: Rio de Janeiro: Associao dos Arquivistas Brasileiros, 2006. UNESCO. Guidelines for the establishment and development of monolingual thesauri. Paris: The Organization, [1973]. 37 p. WUESTER, E. Ltude scientifique gnrale de la terminologie, zone frontalire entre la Linguistique, la Logique, lOntologie, lInformatique et les Sciences des Choses. In: RONDEAU, G.; FELBER, F. (Org.). Textes choisis de terminologie: fondments thoriques de la terminologie. Qubec: GIRSTERM, 1981. p. 57-114.

    RESUMO: O presente artigo configura-se em um relato de pesquisa proveniente do projeto em desenvolvimento na Fundao Casa de Rui Barbosa, vinculado ao Arquivo Histrico e Institucional da instituio, intitulado Arquivos Pessoais de Valor Histrico. O foco est exclusivamente no acervo textual de Amrico Loureno Jacobina Lacombe e tem como principal objetivo relacionar o conceito de ordem original, fundamental na teoria arquivstica, com as prticas intelectuais de elaborao do quadro de arranjo e da descrio. Pretendemos discutir at que ponto a ordem original estabelecida por Amrico Loureno Jacobina Lacombe, produtor do acervo, deve ser mantida, sob pena de interferir nos preceitos tericos e metodolgicos da Arquivologia. Entendemos que o quadro de arranjo deve espelhar as funes e atividades do titular do arquivo. Nesse sentido, procuramos perceber se a ordem original atribuda por Lacombe exemplifica tais funes e atividades exercidas por ele ao longo de sua trajetria pessoal e profissional ou se somente uma ordenao com sentido apenas para Lacombe e sua famlia. O desafio preservar a ordem original em um arranjo documental funcional. PALAVRAS-CHAVE: Acervo pessoal, Ordem Original, Arranjo. RESUMEN: En este artculo se establece en un informe de investigacin del proyecto en curso en la Fundacin Casa de Rui Barbosa, ligada a la historia y Archivo Institucional de la institucin, titulado "Personal Archives de Valor Histrico". La atencin se centra exclusivamente en el cuerpo textual de Loureno Amrico Jacobina Lacombe, y su principal objetivo de relacionar el concepto de orden original, fundamental en la teora archivstica con las prcticas intelectuales de preparar el acuerdo marco y la descripcin. Tenemos la intencin de discutir en qu medida el orden original establecida por Amrico Jacobina Lacombe, coleccin del productor debe mantenerse, si no interfiere con los principios tericos y metodolgicos de Archivo. Entendemos que la junta acuerdo debe reflejar las funciones y actividades del titular archivo en este sentido tratar de entender si la orden original dada por Lacombe, ejemplifica este tipo de funciones y actividades realizadas por l durante toda su trayectoria personal y profesional o si es slo una coordinacin con respecto nicamente a Lacombe y su familia. El desafo es preservar el orden original en un documental disposicin funcional. PALABRAS CLAVE: Coleccin personal , orden original , Arreglo

  • ARQUIVOS, ENTRE TRADIO E MODERNIDADE VOLUME 2

    31

    ARQUIVOS PESSOAIS, TIPOS DOCUMENTAIS E OS REGISTROS DAS FORMAS DE VIVER EM SOCIEDADE

    CAMILLA CAMPOI DE SOBRAL

    INTRODUO Apesar de no ocuparem um lugar privilegiado na elaborao de polticas arquivsticas, os arquivos pessoais tm sido mais recentemente objeto de estudo, em particular, na formulao de abordagens que contemplem a potencializao que esses conjuntos documentais representam e a sua especial relevncia como registros de uma vida privada e da construo de uma memria coletiva.

    Produzidos no cotidiano da vida de um indivduo, inserido em um contexto de uma poca especfica, os arquivos pessoais evidenciam a necessidade da instrumentalizao para remontar os contextos de um tempo e assim alcanar uma poca e seus costumes cotidianos. Para isso necessrio analis-los de forma mais atenta. Essa compreenso especialmente eficaz, medida que reconhece o contexto arquivstico como inserido em uma conjuntura social.

    A partir da elaborao de uma teoria que contemple os arquivos pessoais, iremos concentrar-nos na importncia dos contextos que envolvem o momento da produo documental, e em como o estudo apurado destes contextos instrumentaliza a pesquisa em arquivos pessoais de maneira mpar, ao garantir um olhar mais especfico sobre o documento e suas relaes na produo do arquivo.

    Apresentaremos algumas reflexes decorrentes do desenvolvimento do projeto de pesquisa Tipologia documental na famlia Barbosa de Oliveira, situado no escopo do Grupo de Pesquisa Patrimnio Documental, Informao e Acesso1, que inclui a tipologia documental como dispositivo de acesso e difuso. A pesquisa considera a tipologia documental como mtodo de abordagem dos arquivos, visando contribuir para a descrio arquivstica e, consequentemente, ampliar o uso dos arquivos.

    Assim, o projeto em andamento promove o estudo tipolgico em arquivos pessoais com o intuito de aprofundar o conhecimento das aes e atividades que do origem ao documento em si, utilizando esse mtodo no mbito dos arquivos produzidos na intimidade da vida pessoal.

    Como campo emprico, utilizaremos a Coleo Famlia Barbosa de Oliveira (CFBO) que foi doada para a Fundao Casa de Rui Barbosa (FCRB), em 1993, pela famlia de Amrico Loureno Jacobina Lacombe. Lacombe foi o responsvel pela reunio de documentos valiosssimos. A coleo retrata em seus documentos um modo de viver e de se relacionar por mais de dois sculos, cobrindo o perodo de 1778 a 1965. O recorte utilizado neste projeto restringe-se documentao dos sculos XVIII e XIX.2

    Nesse artigo adotaremos o entendimento proposto por Oliveira sobre os arquivos pessoais: um conjunto de documentos produzidos ou recebidos, e mantidos por uma

    1 Grupo de Pesquisa coordenado pela pesquisadora Dra. Lucia Maria Velloso de Oliveira na Fundao Casa de Rui Barbosa, no qual participo como bolsista de iniciao cientfica desde outubro de 2014. 2 Escopo do projeto de pesquisa Tipologia documental na famlia Barbosa de Oliveira.

  • ARQUIVOS, ENTRE TRADIO E MODERNIDADE VOLUME 2

    32

    pessoa fsica ao longo de sua vida e em decorrncia de suas atividades e funo social (Oliveira, 2012, p.33).

    A perspectiva desse artigo reconhece a importncia dos contextos de produo documental e chama a ateno para a instrumentalizao que os manuais de civilidade e o referencial histrico e social indicam para o desenvolvimento de anlises sobre padres de comportamento e normas de conduta no perodo estudado. Essas anlises so fundamentais para o processo de identificao das tipologias documentais.

    A IMPORTNCIA DOS CONTEXTOS O processo de produo de arquivos pessoais no se insere em um contexto de normas ou padres, seus documentos traduzem cdigos ou referncias do momento histrico e do meio social em que esto inseridos. Esses cdigos e sinais so relevantes para a compreenso do arquivo e dos personagens que redigem, recebem ou so mencionados nos documentos. As caractersticas dos documentos em seu suporte e sua estrutura reproduzem o cotidiano de uma poca, sua etiqueta e as regras de convivncia social.3

    Produzidos no ambiente da intimidade, os arquivos pessoais tm como elementos reguladores, que estabelecem parmetros para as produes documentais, as convenes sociais vigentes em um determinado perodo histrico e os grupos no qual o produtor est inserido. A insero em determinados grupos de convvio e a adoo de determinados protocolos de conduta indicam o pertencimento ou no a um segmento social ou a uma determinada camada da pirmide social.

    Thomassen afirma que a informao contextual possibilita a correta interpretao da informao arquivstica:

    O contexto scio-poltico, cultural e econmico, finalmente, tudo aquilo que influncia os fatores ambientais, determinando diretamente o contedo, forma e estrutura dos documentos arquivsticos. Arquivos no podem ser interpretados corretamente sem informao relacionada aos seus contextos. Informao contextual deve, portanto, ser includa no sistema de informao do qual os arquivos formam parte. (Thomassen, 2006, p. 11)

    Para Oliveira (2012, p. 33), os arquivos pessoais expressam a vida de seu titular,

    suas redes de relacionamentos pessoais ou profissionais. So tambm representaes do seu ntimo e suas emoes. Em um sentido amplo esses registros representam seu papel na sociedade.

    A partir de uma reflexo sobre a constituio dos arquivos pessoais, Catherine Hobbs explicita as mltiplas facetas e o carter ntimo da produo documental no mbito privado:

    Os arquivos pessoais refletem no somente o que as pessoas fazem ou pensam, mas quem so, como vem e experimentam suas vidas. Um indivduo cria seu arquivo para atender suas necessidades ou predilees ou personalidade, e no porque alguma lei, estatuto, regulamento ou poltica corporativa disse que deveria cri-lo. claro que existem excees como formulrios de imposto de renda e assim por diante, mas esses documentos refletem a persona pblica do indivduo e suas aes oficiais, no sua alma ou personalidade. (Hobbs apud Oliveira, 2012, p. 35)

    3 Idem.

  • ARQUIVOS, ENTRE TRADIO E MODERNIDADE VOLUME 2

    33

    Por estar intimamente atrelada ao cotidiano da vida de um indivduo, a produo

    documental privada expressa em sua estrutura e protocolos o modo de viver de uma poca, evidenciando a necessidade de compreenso para alm das lacunas de um tempo que j passou.

    Considerando o recorte temporal do nosso universo emprico, os sculos XVII e XIX, e algumas caractersticas direcionais da Coleo Famlia Barbosa de Oliveira, como inseres de grupos e classes, foi pensada uma orientao terica que nos fornecesse instrumentos possveis para capturar informaes e relaes de um contexto que envolve uma estrangeiridade do tempo e das sensibilidades de uma poca.

    Dentro da histria cultural, a histria das sensibilidades tem se empenhado em resgatar essas prticas culturais do sensvel, atravs de marcas deixadas nos materiais de arquivo, nas artes e na literatura. O objeto que se coloca nessa abordagem so as sensibilidades de um outro tempo, o modo de agir e sentir, o que exige do pesquisador a traduo de emoes, sentimentos e valores que no so mais os nossos.

    Segundo Pesavento, pensar nas sensibilidades significa um esforo em prol das percepes de um outro tempo que se configura atravs do signo da alteridade:

    Recuperar sensibilidades no sentir da mesma forma, tentar explicar como poderia ter sido a experincia sensvel de um outro tempo pelos rastros que deixou. O passado encerra uma experincia singular de percepo e representao do mundo, mas os registros que ficaram, e que preciso saber ler, nos permitem ir alm da lacuna, do vazio, do silncio. (Pesavento, 2003, p. 21)

    Recuperar sensibilidades no apenas voltar-se para o estudo do indivduo e das

    trajetrias de vida, mas tambm lidar com a vida privada e com todas as suas nuances e formas de exteriorizar ou esconder relaes e sentimentos.

    A histria das sensibilidades oferece um fecundo aporte terico ao nosso estudo sobre o contexto que envolve a gnese da produo documental. O momento da produo documental engloba no apenas o indivduo, a forma e a estrutura em que explcita a atividade geradora do documento, mas tambm est permeado por um contexto arquivstico imbricado com um contexto social que age diretamente sobre o indivduo. A abordagem proposta no supe o estudo do homem no tempo, mas o estudo das formas de registro produzidos por um indivduo para instrumentalizar a sua existncia na sociedade.

    Assim, os registros pessoais entrelaam contextos que se encaixam como peas de um cenrio que compem a intimidade, exigindo do arquivista uma reeducao do olhar, ao identificar conexes contextuais que so fortemente marcadas pelos cdigos e signos de uma poca.

    Nosso entendimento de reeducao do olhar indica a necessidade de identificao nos arquivos pessoais de uma interlocuo entre contextos e produtor para alm das subjetividades e por meio da alteridade.

    A instrumentalizao encontrada para contemplar o nosso universo emprico foi o uso dos cdigos sociais e dos manuais de civilidade que, durante o sculo XIX, vigoraram como reguladores dos protocolos da sociedade.

    Os manuais de civilidade representaram uma literatura que estabelecia padres e normas de comportamento considerados modelo de civilidade de um determinado grupo

  • ARQUIVOS, ENTRE TRADIO E MODERNIDADE VOLUME 2

    34

    social. Esses manuais adentraram a capital do Rio de Janeiro com a vinda da Corte em 1808, transformando os modos de viver em sociedade e estabelecendo o imperativo da boa sociedade e da aristocratizao dos costumes e valores.

    Esse conjunto de regras de sociabilidade e conduta permeou o cotidiano das relaes interpessoais nesse perodo e aparece refletido nos documentos produzidos no mbito pessoal e familiar. Da a importncia desses manuais de civilidade.

    A civilizao dos modos 4 e os protocolos de tratamento norteiam a forma de apresentao que o produtor encontra nesse perodo para transmitir a informao. Cartas, convites, santinhos e outras espcies documentais so permeadas por um conjunto de normas especficas que, sem o conhecimento destes cdigos sociais, passaro desapercebidas ao olhar do arquivista, impossibilitando o estudo mais atento dos documentos de arquivo.

    Constatamos a importncia desses protocolos nos documentos privados no sculo XIX, a partir de um estudo atento dos contextos que envolveram a produo documental do nosso universo emprico. E o conhecimento dos contextos que tornou possvel a instrumentalizao do projeto por meio do uso dos cdigos sociais, permitindo assim a compreenso de protocolos e estruturas presentes na produo documental do perodo.

    OS CDIGOS SOCIAIS NA VIDA PRIVADA

    Seja nos primeiros passos da vida de um indivduo, quando a famlia recebia as cartas de felicitaes de nascimento5. Seja nos envolvimentos amorosos que, aps os perodos de cortejo e noivado, chegavam celebrao do casamento que possua uma srie de protocolos que iam desde o convite6, que deveria ser emitido com quatro semanas de antecedncia, em papel branco puro e de boa qualidade, devendo utilizar a formulao tem a honra de convida-lo para casamentos na igreja e a formulao tem o prazer para celebraes realizadas em casa, at a carta de justificativa de ausncia7 em que se enviam as felicitaes e se justifica o no comparecimento.

    A presena dos protocolos sociais integra mltiplos aspectos da vida privada, desde a comunicao cotidiana nas cartas trocadas entre amigos e familiares, at os santinhos de boas festas 8 . Recorrente smbolo de afetuosidade das relaes da intimidade, esse tipo documental presente nos arquivos pessoais faz parte de um rotineiro protocolo de sociabilidade, em que so recordados sentimentos de agradecimento e de amizade. Alm disso, considerado como momento oportuno para comunicar-se com aqueles que no fazem parte da cotidiana correspondncia. (Roquette, 1997, p. 298)

    4 Expresso utilizada por Nobert Elias em O processo civilizador. 5 Tipologia documental identificada no campo emprico do projeto Anlise tipolgica dos documentos em arquivos pessoais: uma representao do cdigo social finalizado em 2012. 6 Idem. 7 Idem. 8 Tipologia documental identificada no campo emprico do projeto em desenvolvimento Tipologia documental na famlia Barbosa de Oliveira.

  • ARQUIVOS, ENTRE TRADIO E MODERNIDADE VOLUME 2

    35

    Santinho de boas festas (CFBO DDA 1 anexo)

    (Fundao Casa de Rui Barbosa)

    Nesse perodo do sculo XIX, a vida religiosa se entrelaa sociabilidade, pois caracteriza um espao de convvio dos indivduos, de relaes de amizade, familiares e de compadrio. Os ritos religiosos marcam as fases do desenvolvimento dos indivduos na sociedade, a primeira comunho um destes ritos que assinala o desenvolvimento da criana e tambm estabelece um protocolo social. Um tipo documental, os santinhos de primeira comunho 9 entregues a aqueles que participaram deste momento representam a lembrana deste evento.

    9 Idem.

  • ARQUIVOS, ENTRE TRADIO E MODERNIDADE VOLUME 2

    36

    Santinho de primeira comunho (CFBO SFIB 11) ( CFBO SFIB 11-1) (Fundao Casa de Rui Barbosa)

    Seja no nascimento, no amor ou at mesmo nos perodos de dor causados pelo

    luto, em que a famlia enlutada adotava uma tarja preta nas cartas de agradecimento de psames 10 , os manuais de civilidade determinavam os protocolos de conduta da vida privada, deixando marcas e padres que so encontrados nos arquivos pessoais e familiares.

    Segundo Oliveira, estes cdigos sociais so seguidos por essas personalidades e famlias que tem seus arquivos recolhidos nas instituies. A documentao presente nestes conjuntos est repleta de sinais sutis que causam um estranhamento ao arquivista, ao deparar-se com padres que hoje no pertencem s nossas prticas sociais.

    As tarjas pretas do luto que ornam as correspondncias podem ser um primeiro sinal de estranhamento questionado pelo arquivista, e o conhecimento dos cdigos sociais da poca revelaro que esses tipos documentais seguem um protocolo e devem ser enviados aps a missa de stimo dia e antes de um ms da data de falecimento, e a palavra morte no pode ser mencionada na carta.

    Jacques Leenhardt, em um estudo sobre a sensibilidade humana como fundadora da sociabilidade, analisa:

    Concebida, primeiramente, como qualidade pura da pessoa, a de um carter feliz, a sociabilidade vai tornar-se a condio de existncia da prpria sociedade de corte. ela quem garante este comrcio encantador e fcil das pessoas que chamamos conversao. Ela organiza as relaes entre as pessoas sob a lei da cortesia. A sensibilidade de cada um posta a servio da socialidade coloquial, isto , oferecida como qualidade socivel e no como singularidade individual. (Leenhardt, 2010, p. 28)

    Assim, a sociabilidade e a civilidade fundem-se na noo de socialidade, e a

    normatizao das regras de comportamento, na qual a singularidade individual se submete a protocolos de civilidade como forma de padronizar o modo de ser em sociedade, apresentada por meio dos cdigos sociais e manuais de civilidade.

    O conhecimento dos cdigos sociais permite-nos preencher lacunas no remontar do contexto da gnese documental e tambm nos oferecem a compreenso de que, por mais que os arquivos pessoais no sigam uma padronizao na sua produo da mesma forma que os arquivos institucionais, ainda assim, possvel, por meio de uma instrumentalizao do estudo dos contextos arquivsticos, encontrar evidencias de padres nesses conjuntos documentais.

    O estudo do comportamento social, das convenes e dos protocolos subsidia a identificao do tipo documental no tocante sua forma, estrutura e contedo, assim como indica os elementos que constituiro sua conceituao. CONSIDERAES FINAIS

    Apesar da conhecida dificuldade dos estudos direcionados aos arquivos pessoais, possvel encontrar, atravs do estudo do contexto da gnese documental, subsdios que ofeream ao

    10 Tipologia documental identificada no campo emprico do projeto Anlise tipolgica dos documentos em arquivos pessoais: uma representao do cdigo social finalizado em 2012 .

  • ARQUIVOS, ENTRE TRADIO E MODERNIDADE VOLUME 2

    37

    arquivista a instrumentalizao necessria para a identificao do tipo documental, assim como a compreenso dos elementos que constituiro sua conceituao.

    Esse estudo dos contextos documentais permite por meio da alteridade a compreenso dos arquivos pessoais para alm das lacunas do tempo, possibilitando ao arquivista atravs de um olhar mais aguado identificar caractersticas especficas, como, por exemplo, as condutas, cdigos e sinais que permeiam a gnese documental e deixam marcas nos conjuntos documentais que s podem ser conhecidas mediante a instrumentalizao oferecida pelos cdigos sociais. REFERNCIAS BELLOTO, Helosa Liberalli. Como fazer anlise diplomtica e anlise tipolgica de documento de arquivo. So Paulo: Arquivo do Estado de So Paulo, 2002. ____. Diplomtica e tipologia documental em arquivos. Braslia: Briquet de Lemos/Livros, 2008. DAVILLA, Carmen. Boas Maneiras. Rio de Janeiro: Civilizao Brasileira S.A., 1942. ELIAS, Norbert. O processo civilizador: formao do Estado e Civilizao. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1993. GRUZINSKI, Serge. Por uma histria das sensibilidades. In: PESAVENTO, Sandra; LANGUE, Frdrique (Org.). Sensibilidades na histria: memrias singulares e identidades sociais. Editora da UFRGS. Porto Alegre, 2007. HOLT, Emily. Encyclopaedia of etiquettte a book of manners for everyday use: illustrated revised and englarged edition. New York: Doubleday, Page & Company, 1920. LEENHARDT, Jacques. Sensibilidade e Sociabilidade. In: RAMOS, Alcides Freire; MATOS, Maria Izilda Santos de; PATRIOTA, Rosangela (Org.). Olhares sobre a histria. So Paulo: Hiucitec, 2010. OLIVEIRA, Lucia Maria Velloso de. Anlise tipolgica dos documentos em arquivos pessoais: uma representao do cdigo social. Disponvel em: . Acesso em: 18 maio 2015. ____. Tipologia documental na famlia Barbosa de Oliveira. Disponvel em: . Acesso em: 10 maio 2015. ____. Descrio e Pesquisa: Reflexes em torno dos Arquivos Pessoais. Rio de Janeiro: Mbile, 2012. PESAVENTO, Sandra J. Pensar com o sentimento, sentir com a mente bienal de Veneza, 2007: 52 Exposio de Arte. In: RAMOS, Alcides Freire; MATOS, Maria Izilda Santos de; PATRIOTA, Rosangela (Org.). Olhares sobre a histria. So Paulo: Hiucitec, 2010. ____. Sensibilidades: escrita e leitura da alma. In: PESAVENTO, Sandra; LANGUE, Frdrique (Org.). Sensibilidades na histria: memrias singulares e identidades sociais. Editora da UFRGS. Porto Alegre, 2007. ROQUETTE, J. I. Cdigo do Bom-Tom ou regras da civilidade e de bem viver no sculo XIX. SCHWARCZ, Lilian Moritz (Org.). So Paulo: Companhia das Letras, 1997. THOMASSEM, Theo. Uma primeira introduo Arquivologia. Arquivo & Administrao, Rio de Janeiro, v. 5, n. 1, p. 5-16, jan.-jun. 2006.

    RESUMO: O presente artigo prope algumas reflexes do projeto A tipologia documental na famlia Barbosa de Oliveira, evidenciando a necessidade de uma instrumentalizao para remontar os contextos de outro tempo. Para atingir este objetivo, destacamos a importncia dos contextos em que ocorre a produo documental. A anlise atenta desse momento permite e auxilia a produo de uma instrumentalizao eficaz para o estudo tipolgico em arquivos pessoais, pois possibilita um olhar mais especfico sobre o documento e suas relaes na produo do arquivo. Seguimos a orientao que considera a tipologia documental como mtodo de abordagem dos arquivos, objetivando contribuir para a descrio arquivstica e, por consequncia, ampliar a utilizao dos arquivos no desenvolvimento de pesquisas. PALAVRAS-CHAVE: Arquivos pessoais. Cdigos sociais. Contexto. RESUMEN: Este artculo propone algunas reflexiones el proyecto A tipologia documental na famlia Barbosa de Oliveira destacando la necesidad de instrumentacin para volver a montar el contexto de otro tiempo. Para lograr este objetivo, se destaca la importancia de los contextos en que ocurre la produccin documental. Un anlisis cuidadoso de este tiempo lo permite y ayuda a la produccin de una instrumentacin

    http://www.casaruibarbosa.gov.br/dados/DOC/bolsistas/2010/FCRB_Selecao_de_Bolsistas_2010_Analise_tipologica_dos_documentos.pdfhttp://www.casaruibarbosa.gov.br/dados/DOC/bolsistas/2010/FCRB_Selecao_de_Bolsistas_2010_Analise_tipologica_dos_documentos.pdfhttp://www.casaruibarbosa.gov.br/arquivos/file/Bolsistas13/aa%20_%20Tipologia%20na%20Familia%20Barbosa%20de%20Oliveira.pdfhttp://www.casaruibarbosa.gov.br/arquivos/file/Bolsistas13/aa%20_%20Tipologia%20na%20Familia%20Barbosa%20de%20Oliveira.pdf

  • ARQUIVOS, ENTRE TRADIO E MODERNIDADE VOLUME 2

    38

    efectiva para el estudio de los tipos documentales de archivos personales, ya que permite una mirada ms especfica en el documento y sus relaciones en la produccin de archivos. Nosotros seguimos la gua que considera el tipo de documento como el mtodo de archivos de enfoque, con el objetivo de contribuir a la descripcin archivstica y, en consecuencia, aumentar el uso de los archivos en el desarrollo de la investigacin. PALABRAS-CLAVE: Archivos personales. Cdigos sociales. Contexto.

  • ARQUIVOS, ENTRE TRADIO E MODERNIDADE VOLUME 2

    39

    ARQUIVOS PESSOAIS: FACETAS DE UM DILEMA

    JOS FRANCISCO GUELFI CAMPOS* Os arquivos, conjuntos de documentos acumulados de maneira natural e sedimentar, so frutos inalienveis da existncia de qualquer instituio. Refletem, com maior ou menor grau de preciso, em funo dos casos e acasos que permeiam suas trajetrias do momento da criao at o seu destino final, os sucessivos estgios que levam consecuo das atividades finalsticas da entidade que os produziu, recebeu e acumulou.

    No apenas os rgos pblicos e as instituies privadas constituem arquivos. Os documentos esto por toda parte, no cotidiano de toda e qualquer pessoa. Na esfera da vida privada, so eles os instrumentos que tambm nos permitem viabilizar as atividades rotineiras e, dado o estatuto probatrio congnito que os caracteriza, testemunham os papis sociais que assumimos ao longo da vida, nossas reas de atuao, as malhas de relacionamentos profissionais, familiares e amorosos, e, no fosse o bastante, materializam os hobbies, as idiossincrasias e conferem espessura aos posicionamentos polticos e s preferncias intelectuais. No toa certos estudiosos se fascinam com os contornos fluidos e indefinidos dos arquivos pessoais, cujos documentos, como notou Catherine Hobbs (2001), guardam a capacidade de representar certos traos da personalidade de quem os acumulou, razo pela qual Joana Escobedo (2006) os definiu, de maneira sugestiva, como albergues de uma memria dotada de singularidade.

    Para alm das consideraes a respeito do potencial desses conjuntos documentais to peculiares, convm explorar, em perspectiva crtica, as caractersticas que lhes conferem tamanha especificidade e que se desdobram em questes de cunho terico e prtico sobre as quais a comunidade arquivstica ainda se encontra muito longe de consenso. A discusso acerca da natureza dos arquivos pessoais, de sua relao com os princpios consagrados da Arquivologia e dos dilemas que perpassam a prtica de organizao e representao desses arquivos abre terreno frtil para a reflexo que, longe de se esgotar, mostra-se sempre muito atual. O ESTATUTO DOS ARQUIVOS PESSOAIS Muller, Feith e Fruin, trs arquivistas holandeses que se notabilizaram por redigirem o primeiro manual de arranjo e descrio de arquivos, no final sculo XIX, nos legaram uma definio que permeou o pensamento de importantes autores de geraes posteriores, cujos escritos se encontram na base da teoria arquivstica tradicional:

    Arquivo o conjunto de documentos escritos, desenhos e material impresso, recebidos ou produzidos por determinado rgo administrativo ou por um de seus funcionrios, na medida em que tais documentos se destinavam a permanecer na custdia desse rgo ou funcionrio (Muller; Feith; Fruin, [1898] 1973, p. 13)

    * Professor do curso de Arquivologia da Universidade Federal de Minas Gerais e coordenador da comisso de cursos da Associao de Arquivistas de So Paulo. E-mail: [email protected].

  • ARQUIVOS, ENTRE TRADIO E MODERNIDADE VOLUME 2

    40

    No surpreende, portanto, a ausncia de meno ao conjunto de documentos produzidos ou recebidos por um indivduo, sem qualquer relao com um rgo administrativo, nos trabalhos de Hilary Jenkinson ([1922] 1937) ou de Theodore Roosevelt Schellenberg ([1956] 2006). Enquanto o britnico, funcionrio do Public Record Office, concebeu uma viso de arquivo calcada na Diplomtica e nos atributos de autenticidade e imparcialidade, fruto de sua experincia com documentos de tradio medieval, o norte-americano Schellenberg, muitos anos depois, afinado ao contexto do ps-guerra e do incremento da burocracia estatal, enfatizou os problemas acerca da avaliao, popularizando entre os profissionais da rea a teoria do ciclo vital dos documentos, inaugurando, por assim dizer, uma dinmica nova para o tratamento dos arquivos, tomando por base a diferena entre o valor primrio (probatrio) e o valor informativo (testemunhal) dos documentos. Chama a ateno, contudo, o curioso fato de que entre Jenkinson e Schellenberg, as ideias do italiano Eugenio Casanova (1928), o primeiro a contemplar os conjuntos de documentos acumulados por indivduos em sua definio do conceito de arquivo, no tenham ecoado com a devida fora nos estudos de seus contemporneos.

    Rob Fisher (2009), entretanto, prope uma leitura atenta dos principais estudos de Jenkinson e de Schellenberg, partindo do pressuposto de que os dois autores, ao definirem de maneira to enftica os arquivos (aqueles originados no seio da administrao pblica), diferenciando-os das chamadas colees de manuscritos, tenham talvez, mesmo que involuntariamente, colaborado para definir as caractersticas que conformam os arquivos privados, categoria em que se inserem tambm aqueles de natureza pessoal. A nosso ver, trata-se de tentar obter foradamente, nas entrelinhas, uma definio desses arquivos a partir de sua negao.

    No de hoje, contudo, que os chamados arquivos pessoais despertam o interesse de historiadores e tambm dos prprios arquivistas. Se, como notou Helosa Bellotto (1998), em debate com Terry Cook, a discusso em torno dos arquivos pessoais nas ltimas dcadas sofreu sensvel aquecimento, no se pode dizer que hoje, quase vinte anos aps a constatao da eminente arquivista brasileira, esses arquivos disfrutem de posio consolidada nos planos da teoria e da prtica. Com efeito, convm notar que o reconhecimento de seu estatuto pode ser considerado uma reivindicao bastante recente.

    As controvrsias comeam pela denominao dos conjuntos de documentos acumulados por pessoas. O vocabulrio em diversos idiomas reservou palavras especficas para design-los e, com isso, marcar sua singularidade. Na tradio anglfona, utilizam-se os termos papers ou manuscripts, que fazem supor no apenas a primazia de certo suporte e de determinada tcnica de registro, como tambm a desagregao ou artificialidade do processo de acumulao, haja vista que tais expresses geralmente se fazem acompanhar do termo collections. H outras expresses, captadas por Camargo (2009), destinadas a semelhante funo: crits personnels, carte personali, esplios...

    No Brasil, o uso do termo arquivo pessoal se popularizou, a ponto de ser empregado sem maiores restries e, no raro, de maneira indiscriminada. Ana Maria Camargo (2009) submete a expresso a rigoroso exame, alertando para o fato de que seu uso pode induzir ao conflito com trs situaes distintas:

    1. Pode ser aplicada para designar documentos sobre pessoas, presentes em arquivos institucionais (como fichas cadastrais e pronturios);

    2. Pode incidir sobre os documentos que, efetivamente acumulados por um indivduo, no decorrem de suas atividades pblicas;

    3. Pode recair sobre aqueles documentos cuja funo primordial a identificao civil (como as cdulas de identidade, ttulo de eleitor, passaporte, entre tantos outros).

  • ARQUIVOS, ENTRE TRADIO E MODERNIDADE VOLUME 2

    41

    Entre tantas outras consequncias desses mal entendidos decorre a dificuldade,

    manifestada com mais frequncia do que se imagina, de se discernir o limite preciso entre o carter pblico, oficial ou pessoal dos documentos. Da mesma forma que dossis, pronturios e fichas cadastrais presentes em arquivos formados por instituies no devem ser confundidos com arquivos pessoais, documentos que ostentam timbres ou marcas das instituies que os remeteram a um indivduo (que os recebeu e guardou) tambm no devem ser entendidos como parcelas de fundos institucionais deslocados de seu lugar de origem. Que dizer, ento, da apario recorrente da rubrica documentos pessoais em instrumentos de pesquisa para classificar os chamados documentos identitrios? Ora, a categoria especialmente problemtica, do ponto de vista conceitual, haja vista que em sentido estrito todos os documentos acumulados por um indivduo so pessoais.

    Mas as reservas de certos autores com relao aos arquivos pessoais tambm derivam de outros elementos, entre eles, os contornos fluidos, no raro indefinidos, do conjunto documental, caracterstica que encontra sua origem na prpria lgica de acumulao dos documentos, sujeita a certo jogo de foras e a motivaes que no se reproduzem nos arquivos das instituies.

    Catherine Hobbs (2010, p. 213) atribui a acumulao de documentos, no mbito da vida privada, aos desejos e predilees individuais, espao em que outros aspectos, como a utilidade administrativa ou as exigncias legais, no teriam lugar. Tal ponto de vista merece ser observado luz da experincia cotidiana e da relao que ns, indivduos, estabelecemos com nossos documentos. Faamos o exerccio de abrir as gavetas, os armrios de nossas casas e l encontraremos contratos, recibos, escrituras, laudos mdicos, extratos bancrios, cdula de identidade, carteira de habilitao, passaporte, certificado de vacinao, diplomas, histricos escolares, ttulo de eleitor, entre tantos outros documentos que, derivados de aes juridicamente relevantes, so indispensveis porque viabilizam a consecuo de atividades rotineiras, provam o cumprimento de deveres, garantem o exerccio de direitos civis e nos identificam, regulando nossa existncia formal na esfera do Direito e mediando nossa relao com o Estado, condies essenciais para o pleno exerccio da cidadania. So, portanto, instrumentos necessrios, obrigatrios, para a viabilizao de atividades-fim e para a mediao entre as pessoas e as instituies sociais, produzidos segundo padres e frmulas bem definidas que lhes conferem autenticidade.

    Contudo, h que se reconhecer outra parcela dos arquivos pessoais, composta por materiais de natureza variada, acumulados por razes diversas: prticas religiosas, relacionamentos sociais, familiares e amorosos, manuteno dos laos de afeto, hobbies, idiossincrasias, obsesses, opes polticas, posicionamentos intelectuais. Nesses casos, no h, de fato, dispositivo legal que regule a produo e a acumulao dos documentos, que, por seu turno, tampouco gozam de forma fixa ou contedo estvel, atributos geralmente associados aos documentos ditos de arquivo. Ainda assim, no deixam de oferecer, no dizer de McKemmish (1996), um tipo de testemunho a respeito de determinadas atividades desempenhadas com maior ou menor regularidade ao longo do tempo.

    Se bem verdade que os documentos ligados s facetas mais ntimas da vida dos indivduos no ostentam estrutura formular rgida e bem definida, que permitiria evidenciar de maneira inequvoca a espcie e, por conseguinte, o tipo documental, tampouco possvel, apenas por essa razo, consider-los meios privilegiados para a livre expresso do pensamento e registro das emoes sem observar que at mesmo esses egodocumentos (cartas, dirios ntimos, relatos autobiogrficos...), supostamente propcios ao exerccio

  • ARQUIVOS, ENTRE TRADIO E MODERNIDADE VOLUME 2

    42

    irrestrito da subjetividade, tambm obedecem a padres e convenes sociais que lhes conferem caractersticas comuns.1

    Cumpre ressaltar, entretanto, que a despeito de suas caractersticas formais e das particularidades que conferem a