arteterapia
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ARTETERAPIATRANSCRIPT
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Faculdade Integrao Zona Oeste FIZO
Alquimy Art
Curso de Especializao em Arteterapia
Ps-Graduao lato sensu
A RELAO ENTRE AFETIVIDADE E O PROCESSO DE APRENDIZAGEM
Maria Aparecida Tazinaffo Bernardes
Goinia, GO 2007
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MARIA APARECIDA TAZINAFFO BERNARDES
A RELAO ENTRE AFETIVIDADE E O PROCESSO DA APRENDIZAGEM
Orientadora: Prof. Esp. Flora Elisa de Carvalho Fussi
Monografia apresentada FIZO - Faculdade Integrao Zona Oeste, SP e ao Alquimy Art, SP, como parte dos requisitos para a obteno do ttulo de Especialista em Arteterapia.
Goinia, GO 2007
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BERNARDES, Maria Aparecida Tazinaffo. A relao entre afetividade e o processo de
aprendizagem.
Maria Aparecida Tazzinafo Bernardes Goinia; [s.n.], 2007. 55 p. Monografia (Especializao em Arteterapia) FIZO, Faculdade
Integrao Zona Oeste. Alquimy Art, SP. 1 Processo de aprendizagem 2 Afetividade 3 Arteterapia .
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Faculdade Integrao Zona Oeste FIZO
Alquimy Art
A RELAO ENTRE AFETIVIDADE E O PROCESSO DE APRENDIZAGEM
Monografia apresentada pela aluna Maria Aparecida Tazinaffo Bernardes ao
curso de Especializao em Arteterapia em 21-10-2007 e recebendo a
avaliao da Banca Examinadora constituda pelos professores:
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Prof. Esp. Flora Elisa de Carvalho Fussi, Orientadora
__________________________________________________________
Prof. Dra. Cristina Dias Allessandrini, Coordenadora da Especializao
__________________________________________________________
Prof. Anete Maria de Oliveira, professora convidada.
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AGRADECIMENTOS
Deus por ter me dado a ddiva da vida, e estar podendo vivenciar
todas as oportunidades de crescimento.
minha famlia, por estar sempre ao meu lado, torcendo por mim e
sempre que possvel, apoiando e suprindo a minha falta quando no era
possvel estar presente.
s minhas colegas de curso, companheiras de viagens foram
momentos que compartilhamos alegrias, choros, tivemos divergncias, mas
acima de tudo nos descobrimos e nos aceitamos como somos, houve
compartilhamento, aceitao e muito crescimento.
Prof. Flora foram tantos encontros e situaes vivenciadas, as quais
proporcionaram-me crescimento e dedicao da sua.
Prof. Din que foi importantssima para mim, pois se dedicou ao
mximo em me assistir e ajudar em todas as circunstncias.
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Nada do que foi ser de novo do jeito que j foi um dia.
Tudo passa tudo sempre passar. A vida vem em ondas como o mar. No indo e vindo infinito.
Lulu Santos
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RESUMO
Este trabalho se voltou para uma reflexo entre a relao, a afetividade e a aprendizagem. Esta relao foi abordada por meio do estudo de caso nas oficinas de arteterapia, onde o adolescente escolhido desenvolveu atividades, e por meio delas, iniciou o seu processo de ensino-aprendizagem, adquirindo conhecimentos no ambiente arteteraputico que lhe proporcionou interao social. Assim, a arteterapia tornou-se importante para o adolescente. Arte e, sobretudo a relao afetiva contriburam para que expressasse livremente seus sentimentos e pensamentos, buscando conhecer a si, e sua identidade. Palavras-chave: afetividade, aprendizagem, arteterapia.
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ABSTRACT
This work turned to a discussion between the relationship, the affection and learning. This relationship has been addressed by the case study in the workshops of art therapy, where the teenager has chosen activities, and through them, began the process of teaching-learning, acquiring knowledge on the environment art therapeutic it provided social interaction. Thus, the art therapy has become important for the adolescent. Art and especially the relationship affective contributed to that expressed freely their feelings and thoughts, seeking to know themselves, and their identity.
Key-words: affection, learning, art therapy.
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SUMRIO
1 INTRODUO
.................................................................................................
9
2 TRAJETRIA
..................................................................................................
11
3 PROCESSO DE APRENDIZAGEM
.................................................................
13
3.1 Desenvolvimento e Aprendizagem
..........................................................
16
3.2 As Dificuldades que Surgem na Aprendizagem e a Participao da
Famlia
.......................................................................................................
18
4 AFETIVIDADE E A COGNIO
......................................................................
23
4.1 Desenvolvimento Afetivo
...........................................................................
27
4.2 O Ambiente Afetivo
....................................................................................
30
4.3 Educao e Sentimento
.............................................................................
32
5 ARTETERAPIA
...............................................................................................
36
5.1 As Oficinas de Arteterapia 39
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.........................................................................
6 CONSIDERAES FINAIS
.............................................................................
46
7 REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS
................................................................
50
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1. INTRODUO
Este trabalho aborda uma reflexo sobre a relao entre a
aprendizagem e a afetividade, a partir de um ponto de vista terico e
epistemolgico, considerando as produes realizadas nas oficinas
arteteraputicas.
Viver a oficina construir, pintar, modelar aquilo que mais prximo do
si mesmo. o espao onde o imaginrio cria forma, adquire cor,
aproximando-se de um real personalizado, sentido e vivido com alegria. O
entrar na oficina deve ser vivido com uma entrada em um mundo mgico, onde
o limite a prpria criao ALLESSANDRINI (1999).
Allessandrini (1999, p. 46) frisa ainda que
o agir por meio de uma experincia de oficina permanece enquanto memria durante a atuao da criana dentro do mundo, no mbito social. Dessa maneira, a ao do educador e do ensinar concretizam-se em uma aquisio de conhecimento significativa e prxima da realidade de vida da criana, habilitando-a nas capacidades necessrias para a aprendizagem.
A oficina um lugar que favorece a criao, em que a criana ou
adolescente consegue expressar espontaneamente as suas emoes e idias,
proporcionando a ela, uma maneira de se relacionar naturalmente, integrando-
se socialmente.
Vygotsky (1994), ao destacar a importncia das interaes sociais, traz
a idia da mediao e da internalizao como aspectos fundamentais para a
aprendizagem, defendendo que a construo do conhecimento ocorre a partir
de um intenso processo de interao entre indivduos. Portanto, a partir de
sua insero na cultura que a criana, atravs da interao social com as
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pessoas que a rodeiam, se desenvolve. Apropriando-se das prticas
culturalmente estabelecidas, ela evolui das formas elementares de pensamento
para formas mais abstratas, que a ajudaro a conhecer e controlar a realidade.
Nesse sentido, Vygotsky (1994) destaca a importncia do outro, no s no
processo de construo do conhecimento, mas tambm de constituio do
prprio sujeito e de suas formas de agir.
E neste trabalho tambm destaca o processo de ensino-aprendizagem
e as dificuldades encontradas com a sua implantao no ambiente de ensino,
sendo uma temtica de preocupao constante por educadores e profissionais
que atuam nas reas humanas.
Entretanto, muitos abordam sobre esta problemtica, mas questes
continuam sendo levantadas, analisadas e discutidas. Dentre essas, estaro
frisadas, detalhadamente, algumas por estarem presentes neste trabalho, tais
como: por que os adolescentes no aprendem? Por que quando atendidos,
satisfatoriamente, num relacionamento direcionado onde h afetividade, a
aprendizagem acontece? O ambiente arteteraputico melhora a relao afeto-
cognitivo em adolescentes em dificuldades de aprendizagem?
Atravs de uma abordagem construtivista encontrada nas
investigaes de Piaget, Vygotsky, Wallon, Winnicott, Allessandrini e outros,
buscaremos respostas nestas questes, a fim de compreendermos a
importncia destas oficinas arteteraputicas no aspecto afetivo e cognitivo.
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2. TRAJETRIA
Minha trajetria para a ps-graduao em arteterapia, veio da
necessidade de estar sempre querendo aprender um pouco mais, aumentado
assim o meu saber.
Sou pedagoga, porm, no exero a profisso. Mas, estou sempre
envolvida com a rea educacional e social como voluntria.
No entanto, fui convidada por minha colega para fazer a ps-graduao
em arteterapia, mostrando-me o folder do Alquimy Art, gostei muito da proposta
da instituio, conseqentemente, interessei por esta especializao. Sempre
gostei da rea da psicologia e pedagogia, acredito que esta necessidade que
tenho em estar sempre estudando vem das dificuldades escolares que
enfrentei quando criana. A falta do acompanhamento familiar na escola, as
tarefa sem fazer, sempre com muita dificuldade em concluir o ano letivo.
A minha identificao com arteterapia veio de encontro com as minhas
necessidades do aprendizado na rea escolar e psicolgica.
Tufano (1995, p. 216) cita Padre Antonio Vieira sobre a importncia de
aprendermos a aproveitar o mximo do nosso tempo:
Todos vo embarcados na nau (navio), que a vida. E todos navegam com o mesmo vento, que o tempo. E assim como na nau uns governam o leme, outros mareiam as velas, outros dormem; uns passeiam, outros esto assentados; uns cantam, outros jogam, outros comem, outros nenhuma coisa fazem e todos igualmente caminham ao mesmo porto, assim ns, ainda que no parea, incessantemente vamos passando sempre a avizinhando-se cada um a seu fim. Disse pouco em dizer que o tempo anda, porque corre, voa; mas advertiu bem em notar que ns dormimos, porque tendo os olhos
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abertos para ver que tudo passa, s para considerar que ns tambm passamos parece que os temos fechado.
Mencionei este poema de Vieira, porque retrata tudo que acredito na
vida, a valorizao do tempo, o auto-descobrimento e o trabalho.
Entretanto, acredito que atravs da dedicao e o trabalho alcanamos
nossos objetivos. Neste texto ressaltarei o quanto importante o processo
arteteraputico, a fim de melhorar a relao afetiva e cognitiva em
adolescentes. Para mim, estimula-me o tema escolhido, pois percebi que o
problema de atividade exerce uma parcela significativamente no
desenvolvimento cognitivo do adolescente. O estudo da relao entre
afetividade e cognio poder me guiar no caminho de uma pesquisa
esclarecedora de aprendizagem, produzindo um conhecimento em que se
possa rever o processo de aprendizagem.
Ademais, considero primordial a relao vincular estabelecida por
adolescentes, desenvolvida e articulada nas primeiras relaes no contexto
familiar. Minha experincia me leva a confirmar a relao que existe entre a
afetividade e o desenvolvimento cognitivo do individuo.
Portanto, abordo algumas questes tericas sobre a relao da
afetividade e o desenvolvimento cognitivo desde a gestao e o
desenvolvimento afetivo.
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3. O PROCESSO DA APRENDIZAGEM
Com uma maior divulgao das idias de Vygotsky, vem se
configurando uma viso essencialmente social para o processo de
aprendizagem. Numa perspectiva histrico-cultural, o enfoque est nas
relaes sociais. atravs da interao com outros que a criana incorpora os
instrumentos culturais.
De acordo com Vygotsky (1994, p. 75):
O processo de internalizao envolve uma srie de transformaes que colocam em relao o social e o individual. Afirma que todas as funes no desenvolvimento da criana aparecem duas vezes: primeiro, no nvel social, e, depois no nvel individual; primeiro entre pessoas (interpsicolgica), e, depois, no interior da criana (intrapsicolgica).
Partindo desse pressuposto, o papel do outro no processo de
aprendizagem torna-se fundamental. Conseqentemente, a mediao e a
qualidade das interaes sociais ganham destaque.
Smolka e Ges (1995, p 9):
Ao se referirem idia de mediao, representam-na como uma relao sujeito-sujeito-objeto. Isto significa dizer que atravs de outros que o sujeito estabelece relaes com objetos de conhecimento, ou seja, que a elaborao cognitiva se funda na relao com o outro.
Ademais, ao discorrer sobre os processos cognitivos, defende que o
conhecer humano uma atividade que pressupe uma relao que envolve
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trs elementos, no apenas dois: o sujeito que conhece a coisa a conhecer e o
elemento mediador que torna possvel o conhecimento (PINO, 1997a, p 6).
Pino (1997b, p. 2) salienta ainda que:
Embora a atividade de conhecer pressuponha a existncia no sujeito de determinadas propriedades que o habilitam a captar as caractersticas dos objetos, h fortes razes para pensar que o ato de conhecer no obra exclusiva nem do sujeito, nem do objeto, nem mesmo da sua interao [direta], mas da ao do elemento mediador, sem o qual no existe nem sujeito nem objeto de conhecimento.
De maneira semelhante, Klein (1996, p. 94) defende que o objeto de
conhecimento no existe fora das relaes humanas. De fato, para chegar ao
objeto, necessrio que o sujeito entre em relao com outros sujeitos que
esto, pela funo social que lhe atribuem, constituindo esse objeto enquanto
tal.
Nesse sentido, so as relaes humanas que formam a essncia do
objeto de conhecimento, pois este s existe a partir de seu uso social. Portanto,
a partir de um intenso processo de interao com o meio social, atravs da
mediao feita pelo outro, que se d a apropriao dos objetos culturais.
atravs dessa mediao que o objeto de conhecimento ganha significado e
sentido.
Na verdade, so as experincias vivenciadas com outras pessoas
que iro marcar e conferir aos objetos um sentido afetivo, determinando, dessa
forma, a qualidade do objeto internalizado. Nesse sentido, pode-se supor que,
no processo de internalizao, esto envolvidos no s os aspectos cognitivos,
mas tambm os afetivos.
Assim, abre-se um espao para investigaes cientficas abordando a
influncia dos aspectos afetivos no processo de aprendizagem.
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A relao que caracteriza o ensinar e o aprender transcorre, a partir de
vnculos entre indivduos e inicia-se no mbito familiar. A base desta relao
vincular afetiva, pois atravs de uma forma de comunicao emocional que
o beb mobiliza o adulto, garantindo assim os cuidados que necessita.
Portanto, o vnculo afetivo estabelecido entre o adulto e a criana que
sustenta a etapa inicial do processo de aprendizagem. Seu status
fundamental nos primeiros meses de vida, determinando a sobrevivncia.
Da mesma forma, a partir da relao com o outro, atravs do vnculo
afetivo que, nos anos iniciais, a criana vai tendo acesso ao mundo simblico
e, assim, conquistando avanos significativos no mbito cognitivo. Nesse
sentido, para a criana, torna-se importante e fundamental o papel do vnculo
afetivo, que inicialmente apresenta-se na relao pai-me-filho e, muitas vezes,
irmo (s). No decorrer do desenvolvimento, os vnculos afetivos vo ampliando-
se e a figura do professor surge com grande importncia na relao de ensino
e aprendizagem, na poca escolar.
Fernandz (1991, p. 47) afirma que, para aprender, necessitam-se
dois personagens (ensinante e aprendente) e um vnculo que se estabelece
entre ambos. (...) No aprendemos de qualquer um, aprendemos daquele a
quem outorgamos confiana e direito de ensinar.
Toda aprendizagem est impregnada de afetividade, j que ocorre a
partir das interaes sociais, num processo vincular. Pensando,
especificamente, na aprendizagem escolar, a trama que se tece entre alunos,
professores, contedo escolar, livros, escrita, e outros, no acontece
puramente no campo cognitivo. Existe uma base afetiva permeando essas
relaes.
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Tambm as experincias vividas em sala de aula ocorrem,
inicialmente, entre os indivduos envolvidos, no plano externo (interpessoal).
Atravs da mediao, elas vo se internalizando (intrapessoal), ganham
autonomia e passam a fazer parte da histria individual. Essas experincias
tambm so afetivas. Os indivduos internalizam as experincias afetivas com
relao a um objeto especfico.
3.1 Desenvolvimento e Aprendizagem
Atravs da ao sobre o meio fsico e da interao com o ambiente
social, na qual a linguagem exerce papel central, processa-se o
desenvolvimento e a aprendizagem do ser humano. Pelo desenvolvimento, a
criana logo ao nascer vai se constituindo como um indivduo diferenciado,
dono de si mesmo e de suas vontades. um processo complexo, em que a
combinao de fatores biolgicos, psicolgicos e sociais produz nele
transformaes qualitativas. O desenvolvimento envolve aprendizagem de
vrios tipos, expandindo e aprofundando a experincia individual. Muitos
autores vm discutindo a relao de desenvolvimento e aprendizagem,
principalmente a partir das idias de estudiosos europeus que realizaram suas
pesquisas na primeira metade do sculo XX.
Para Piaget (1989), a aprendizagem depende do nvel de
desenvolvimento j alcanado pelas crianas. Segundo ele, o
desenvolvimento que cria condies para a aprendizagem, ou seja, anterior
aprendizagem. O ensino deve seguir o desenvolvimento, pois s possvel
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aprender quando h amadurecimento das funes cognitivas compatveis com
o nvel de aprendizagem.
J para Vygotsky (1989), o desenvolvimento cognitivo mantm uma
relao mais estreita com a aprendizagem. Para este autor, o desenvolvimento
das funes psquicas da criana produzido pela humanidade e pelas
relaes que estabelece com o meio social. Essa apropriao do saber ocorre
pela interao social com adultos e companheiros. Nessa viso,
desenvolvimento e aprendizagem quando significativa estimula e desencadeia
o avano do desenvolvimento para um nvel mais complexo que, por sua vez,
serve de base para novas aprendizagens.
Wallon (1986), outro estudioso da criana, trouxe importantes
contribuies para pensar sobre o desenvolvimento, ancorando-o numa tripla
interao: fatores sociais, biolgicos e psquicos, destacando nestes as
funes afetivas. Ao estudar as relaes do ser humano com o ambiente,
Wallon (1986) concebe a emoo como a primeira manifestao social que
possibilita a comunicao da criana com seu meio. Para ele, as emoes
esto na origem da linguagem, precedem toda a formao sensrio-motora e
mental, contribuem para o desenvolvimento intelectual. As formas do
pensamento, assim, so fortemente influenciadas pelas experincias afetivas
do indivduo.
Segundo a Allessandrini (1999, p. 48)
A aprendizagem mobiliza todo um processo psquico global que gera uma energia utilizada a partir das experincias armazenadas. Considerando enfim, importante favorecimento da fluncia dessa capacidade, de acordo com os limites e condicionamentos pessoais, permitindo que a liberdade interna para criar, direcionando o fazer construindo passo a passo, o qual pressupe um novo velho porque tem relao com o que est sendo inaugurado enquanto esquema de ao, a partir do que j est internalizado emergindo
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dentro de limites que podem se apresentar flexveis e procedurais. Essa qualidade reversvel permite que o ato criador acontea.
Dessa maneira, a criana ou adolescente podem ser criativos, colocar-
se disponveis ao criar, deixando emergir essa ao duradoura de um potencial
criador na qualidade do ser-sentir-fazer e aprender. Podendo tornar-se original,
dando uma resposta nova a uma situao antiga.
Essa discusso sobre tais relaes que se estabeleam entre
desenvolvimento e aprendizagem fundamental para que se entenda,
proponha e organize um trabalho educacional, essencialmente fundado no
ensino e na aprendizagem.
3.2 As Dificuldades que Surgem na Aprendizagem e a Participao da
Famlia
Vygotsky (1981) defende a idia de que os outros tm fundamental
papel no desenvolvimento de qualquer indivduo, uma vez que s nos
desenvolvemos por meio das interaes estabelecidas com os outros, sendo
que estas interaes esto carregadas de significados socialmente
construdos.
Andrada e Zanella (2002, p. 128) afirmam que:
O processo de significao destacado por Vygotski em sua teoria da gnese e desenvolvimento do psiquismo humano, posto que, via atividade em contextos sociais especficos, o que apropriado pelo sujeito vem a ser no a realidade em si, mas o que esta significa tanto para os sujeitos em relao quanto para cada um em particular.
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Pode-se inferir, portanto, que aquilo que professora percebe como
problema de aprendizagem ou de comportamento fruto das suas
experincias prvias e apropriaes geradas na suas interaes nos sistemas
em que vive e viveu ao longo de sua histria. Dessa forma, sendo sempre uma
significao construda, pode ser reestruturada ou reenquadrada.
Assim como os significados construdos podem ser transformados. Isso
acontece no em uma perspectiva linear, cronolgica, mas em uma perspectiva
de ciclos. Sendo assim, o conceito de ciclos est associado ao conceito de
desenvolvimento, movimento, crescimento, ordenao, etapas. Exemplificando
esse movimento no sistema familiar, Duque (1996, p. 78) afirma que desde
que se constituem, por meio da unio de um casal, as famlias passam por um
certo nmero de fases evolutivas naturais que se sucedem ao longo de um
contnuo, o qual denominamos ciclo vital.
Carter e McGoldrick (1995) classificam 6 fases evolutivas na vida da
famlia: o jovem solteiro; o casamento; famlias com filhos pequenos; famlias
com adolescentes; famlias no meio da vida e famlias no estgio tardio da vida.
Em cada estgio existem processos emocionais implcitos que exigem
mudanas no status da famlia para que esta prossiga se desenvolvendo.
A formao de um conflito acontece normalmente nas passagens de
estgios, pois o nvel de estresse familiar, segundo Carte e McGoldrick (1995,
p. 8) geralmente maior nos pontos de transio de um estgio para o outro
no processo de desenvolvimento familiar. O estresse, porm, pode tambm
ser externo (uma mudana social e poltica).
Percebe-se que atualmente a transformao do ncleo familiar
tradicional, passa por transformaes scio-culturais como: ausncia de um
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dos pais; pais adotivos; vivncia de um segundo ncleo familiar e aglomerados
familiares dentre outros.
Algumas dessas situaes familiares podem ser responsveis pela
maior vulnerabilidade do adolescente ocorrncia de problemas, discusses
entre pais, modelos inadequados, extrema permissividade, extrema rigidez,
contraste de valores, inadequao educacional e sexual dentre outras,
contribuindo para o surgimento de conflitos.
No processo de maturao fsico-emocional no adolescente,
geralmente um grande valor atribudo assim chamada separao dos pais
e a sua ligao ao determinado grupo. Sabe-se que a identificao grupal e a
ligao com os pais so aspectos importantes para o adolescente na
construo de seus valores, atitudes e comportamentos. Nesta trajetria para a
vida adulta a famlia permanece como marco referencial de modelos e papis.
Para Papp (1992) o aparecimento de um conflito pode se
ocasionado de diversas formas, na concepo de Papp (1992, p. 24) Por uma
mudana em um dos sistemas mais amplos nos quais a famlia existe, tais
como o sistema social, poltico, cultural e educacional (...) ou o evento
precipitador pode vir de dentro da famlia como uma reao a alguma
ocorrncia do ciclo de vida (morte, nascimento, etc).
De qualquer forma, conflito e sistema esto conectados, servindo um
ao outro. Se a origem est fora da famlia, sua permanncia indica que est
exercendo alguma funo dentro da famlia, para que alguma transao
permanea ou para que a famlia evolua no seu ciclo vital. Ao considerarmos o
ciclo da famlia podemos perceber que processos de transio so geralmente
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acompanhados de muita ansiedade, podendo aparecer sintomas como forma
de dominar a crise.
Duque (1996, p. 84) salienta que:
A crise resultado do sofrimento acarretado pela necessidade de mudar e se define (...) por seu carter transitrio. Na maioria das vezes, os sintomas desaparecem com o tempo sem que seja necessria interveno teraputica. Outras vezes, a interveno teraputica se faz necessria para que a famlia adquira uma nova compreenso e significao do problema apresentado por seus componentes.
De acordo Winnicott (1973, p. 37), a criana que no consegue se
adaptar ao mundo de forma satisfatria, ela vive, a partir das experincias
vividas, uma experincia de no integrao ou desintegrao.
Assim, muito importante a participao dos pais, atravs do dilogo,
procurando entender as dificuldades que seu filho enfrenta, pois os problemas
podem ser sanados atravs da exposio deles, e buscar ajuda de uma
maneira que pode contribuir para que ele possa resolv-los.
Winnicott (1973, p. 38) explica ainda que a interao com meio uma
contnua necessidade do ser humano, para isso, usa a capacidade de criar
solues, formas, de se adaptar ao meio. E viver de forma criativa, ajuda na
compreenso das situaes, adaptando-se s novas experincias.
Pensando tambm no sistema escolar, se a crise resultado da
necessidade de mudar, possvel entender um problema na escola como uma
necessidade de mudana nas interaes do sistema. Assim, a criao de
novos significados para o problema apresentado o que objetiva um trabalho
na escola cujo ponto de partida o pensamento sistmico.
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Tal pensamento requer uma reflexo contextual, pois apresenta os
seguintes princpios: totalidade (o todo maior que a soma das partes, ou seja,
o funcionamento do sistema no pode ser entendido a partir do funcionamento
de um s indivduo); integridade de subsistemas (os sistemas possuem
subsistemas que so integrados, relacionados uns aos outros); circularidade
(todos os componentes influenciam-se mutuamente) (SCHAFFER, 1996).
Nesse sentido, Tilmans-Ostyns (1999, p. 3) observa que:
O pensamento sistmico funciona segundo um modelo circular. Isto significa que o lugar, o momento no qual situamos o inicio de um processo interacional, para da deduzir uma compreenso, totalmente arbitrrio. Para iniciar a compreenso de tal processo, podemos ver outras coisas. A questo de saber quem comeou quem a causa, no tem, portanto sentido neste modo de pensamento.
Dessa forma, para compreendermos o processo interacional preciso
considerar diversas causas, assim como as possveis funes que determinado
problema pode estar exercendo neste processo. O aluno, portanto, no pode
mais ser visto como o indivduo dotado de problemas, separado do sistema
sala de aula, mas como um indivduo relacional cujo problema exerce uma
funo no sistema.
Conforme Curonici e McCulloch (1999) preciso levar em conta que o
problema manifestado por uma criana (por um grupo de crianas) um
conjunto importante da manuteno do equilbrio (homeostasia) do sistema
inteiro. o que explica a persistncia no tempo de algumas dificuldades e a
pouca eficcia das medidas que tendem a fazer desaparecer o problema ao
focar-se no indivduo que o manifesta.
A teoria sistmica, em sua riqueza epistemolgica, considera o sintoma
de diversos ngulos. Para Satir (1980, p. 75) o conflito um problema na
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comunicao, ou seja, uma comunicao disfuncional (generalista, incompleta,
desconexa) poder gerar sintomas no indivduo. Assim, o arteterapeuta
poder trabalhar, focalizando a comunicao do sistema.
As famlias acrescentam uma importante contribuio quando
participam ativamente das discusses sobre o problema na escola e o
desenvolvimento dos filhos assim, se beneficiam quando conseguem tambm
criar novos significados aos problemas apresentados.
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4. AFETIVIDADE E A COGNIO
Na teoria piagetiana o desenvolvimento se d pela contribuio e
complementaridade dos aspectos funcionais, entre eles a afetividade, com os
estruturais. A afetividade impulsiona o desenvolvimento cognitivo e se fortalece
com as estruturas construdas e a direo da atividade intelectual. O
desenvolvimento mental evolui at atingir um equilbrio final obtido pelo
processo de equilibrao. O desenvolvimento afetivo tende a uma maior
equilibrao com o aumento da idade (Piaget, 1976).
Segundo Wadsworth (1996), a teoria da equilibrao, de uma maneira
geral, trata de um ponto de equilbrio entre a assimilao e a acomodao, e
assim, considerada como um mecanismo auto-regulador, necessria para
assegurar criana uma interao eficiente dela com o meio-ambiente.
A importncia da teoria da equilibrao notada principalmente frente
a dois postulados organizados por Piaget (1975, p.14):
Primeiro Postulado: Todo esquema de assimilao tende a alimentar-se, isto , a incorporar elementos que lhe so exteriores e compatveis com a sua natureza. Segundo Postulado: Todo esquema de assimilao obrigado a se acomodar aos elementos que assimila, isto , a se modificar em funo de suas particularidades, mas, sem com isso, perder sua continuidade (portanto, seu fechamento enquanto ciclo de processos interdependentes), nem seus poderes anteriores de assimilao.
O primeiro postulado limita-se a consignar um motor pesquisa, e no
implica na construo de novidades, uma vez que um esquema amplo pode
abranger uma gama enorme de objetos sem modific-los ou compreend-los.
O segundo postulado afirma a necessidade de um equilbrio entre a
assimilao e a acomodao na medida em que a acomodao bem
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sucedida e permanece compatvel com o ciclo, modificado ou no. Em outras
palavras, Piaget (1975) define que o equilbrio cognitivo implica em afirmar que:
a) a presena necessria de acomodaes nas estruturas e b) a conservao
de tais estruturas em caso de acomodaes bem sucedidas.
Esta equilibrao necessria porque se um indivduo s assimilasse
estmulos acabaria com alguns poucos esquemas cognitivos, muito amplos, e
por isso, incapaz de detectar diferenas nas coisas, como o caso do
esquema "seres", j descrito nesta seo. O contrrio tambm nocivo, pois
se um indivduo s acomodasse estmulos, acabaria com uma grande
quantidade de esquemas cognitivos, porm muito pequenos, acarretando uma
taxa de generalizao to baixa que a maioria das coisas seriam vistas sempre
como diferentes, mesmo pertencendo mesma classe.
Wadsworth (1996) afirma que:
Uma criana, ao experienciar um novo estmulo (ou um estmulo velho outra vez), tenta assimilar o estmulo a um esquema existente. Se ela for bem sucedida, o equilbrio, em relao quela situao estimuladora particular, alcanado no momento. Se a criana no consegue assimilar o estmulo, ela tenta, ento, fazer uma acomodao, modificando um esquema ou criando um esquema novo. Quando isso feito, ocorre assimilao do estmulo e, nesse momento, o equilbrio alcanado.
A equilibrao tem suas razes no biolgico, nasce no biolgico, mas
no somente biolgico; depende das experincias do meio fsico e social
para expressar-se, constituir-se, assimilar e manter uma independncia
crescente do meio e do biolgico (ROSSO, 1998, p. 79). A inteligncia e a
afetividade tendem a um equilbrio mvel, (...) quanto mais estveis, mais
haver mobilidade, pois, nas almas sadias, o fim do crescimento (...) autoriza
um progresso espiritual que nada possui de contraditrio com o equilbrio
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interior (PIAGET, 1989, p. 12). Na equilibrao o indivduo age quando
experimenta necessidade ou desequilbrio, mesmo que momentneos, entre o
meio e o organismo (PIAGET, 1961). A ao a tentativa de levar o organismo
a reestabelecer o equilbrio, ativando simultaneamente o funcionamento os
aspectos afetivos e cognitivos. Os aspectos afetivos objetivam a satisfao da
necessidade, os fins e os aspectos cognitivos, o caminho para se chegar
satisfao da necessidade, os meios.
Como o desenvolvimento humano resulta das interaes do individuo
com os objetos onde, todas as formas de conhecimentos, como tambm a
construo das estruturas mentais, dependem direta ou indiretamente da
experincia do indivduo com o meio fsico ou social (ROSSO, 1998, p. 89).
Assim, o conhecer e a afetividade dependem das experincias atuais e
anteriores do indivduo. Neste processo, Piaget (1988) diferencia e apresenta
trs funes da inteligncia: o conhecimento refere-se capacidade de
adaptao do ser humano ao seu mundo, relaciona-se ao desenvolvimento do
pensamento lgico e a todo desenvolvimento intelectual; representao refere-
se aos smbolos ou signos que a criana pode expressa ou representa o que
ela experienciou, no singular, enquanto individuo; afetividade se expressa pela
imitao ou pelos smbolos.
Pela equilibrao a criana organiza progressivamente as experincias
que sustentam o seu desenvolvimento mental e afetivo. Todas as aes partem
de um interesse que as desencadeia. Este pode estar relacionado a uma
necessidade fisiolgica, afetiva ou intelectual.
Enquanto as funes mentais so constantes em todas as fases de
desenvolvimento, as estruturas so variveis em cada estgio (Piaget, 1989).
-
No estgio das operaes formais, a etapa vivida pelos informantes da
investigao, ente os 11 aos 15 anos, tem como principal caracterstica a
distino entre o real e o possvel atravs da experimentao e anlise. As
operaes formais so marcadas pela reconstruo dos desequilbrios
verticais. O adolescente capaz de raciocinar de modo hipottico-dedutivo.
As operaes formais libertam o pensamento do adolescente, dando-
lhe um novo poder que o leva ao egocentrismo, pois supervaloriza os seus
sentimentos e aes e se sente controlado por uma platia imaginria (Faria,
1989), utilizando o imaginrio para coloc-lo no centro das atenes. Sua
imaginao faz com que seus planos de vida extrapolem as dimenses do real
- so os salvadores do mundo. Pelo contato social e agregao surgem
cooperao que o ajudar a construir valores como os de justia, igualdade e
solidariedade.
O adolescente capaz de analisar o que recebe atravs dos sentidos e
imaginar o que poderia estar ali, o possvel numa ao e, a partir dele caminhar
para a realidade da ao.
Alm do surgimento das hipteses diante do real e do possvel, outras
caractersticas como: pensamento proposicional, isolamento das variveis
individuais e anlise combinatria. O equilbrio atingido pelo adolescente nas
operaes formais como forma final em estruturas elaboradas, explica todas as
conquistas, inclusive as da vida adulta, como tambm os raciocnios mais
abstratos conhecidos pelo homem. (BRENELLI, 2000, p. 116).
Portanto, as operaes formais produzem mudanas na atitude do
adolescente em relao ao ambiente. Em alguns momentos pode usar a
abordagem de hiptese, em outros a experincia e deduo. Pode tratar a
-
situao particular como uma realidade entre uma variedade de possibilidades
que o sistema combinacional levanta. Pode raciocinar do particular para o geral
e voltar de novo. Pode fazer declaraes que tenham forma proposicional.
(RICHMOND, 1981, p. 87).
Assim, liberta-se do seu ambiente, pois realiza aes a partir de
declaraes a respeito do mesmo. Esta libertao em relao ao mundo
atravs da ao mental lhe permite executar operaes sobre os resultados de
outras operaes. Estabelece uma relao entre o real e o possvel,
conseguindo fazer uma inverso, imaginando o possvel e depois verificar o
real.
4.1 Desenvolvimento Afetivo
Apesar de Piaget ter centrado suas pesquisas no desenvolvimento
cognitivo, sempre destacou a importncia do afeto e da cognio para que o
indivduo possa se adaptar com xito ao meio. O desenvolvimento da
inteligncia acontece unida indissocivel e complementar ao da afetividade.
Como tal o afeto, permeia toda ao do indivduo (PIAGET, 1974). So seis
estgios ou perodos de desenvolvimento da afetividade indicados por Piaget.
Em todos os estgios aparecem novas estruturas que so edificadas sobre as
estruturas anteriores e que lhe do caracterizao prpria. Nesse mecanismo,
toda ao (...) corresponde a uma necessidade (PIAGET, 1989, p. 14). A
necessidade fator de constante desequilibrao que leva a criana a buscar
um novo equilbrio sobre as construes anteriores e de suas disposies
afetivas atuais.
-
Os trs primeiros estgios referem-se ao recm-nascido e ao lactante.
Esses estgios so anteriores ao aparecimento da linguagem. Eles expressam
as primeiras: emoes; sensaes de agradvel, desagradvel, prazer e dor,
sucesso e fracasso, egocentrismo sem conscincia de si; regulaes afetivas
elementares e fixaes exteriores da afetividade aparecem escolha afetiva do
objeto que corresponde objetivao dos sentimentos.
No quarto estgio da afetividade, com o aparecimento da linguagem, a
criana reconstri as aes passadas e antecipa as aes futuras. Tem incio a
socializao da ao, o pensamento e a interiorizao da ao. Aparecem os
sentimentos interindividuais de simpatia, antipatia, respeito, afeio etc., em
que toda e qualquer conduta que resulte numa ao, suas motivaes e
dinamismo vm da afetividade. Nesse estgio, alm do j citado, aparecem os
sentimentos morais intuitivos e as regularizaes de interesse e valores
(PIAGET, 1989).
O quinto estgio da afetividade marcado pelo incio da vida escolar,
por uma maior equilibrao, desenvolvimento mental, progressos significativos
de conduta e de socializao.
A criana torna-se capaz de cooperar com compreenso dos pontos de
vista dos outros, pode pensar antes de agir, dando incio ao processo de
reflexo, da construo lgica, da moral e da autonomia pessoal. Aparecem
progressos do pensamento com relaes racionais de causa e efeito e de
conservao. As intuies se transformam em operaes levando a criana a
seriar, classificar e entender a reversibilidade operatria e simtrica. A
afetividade passa por profundas transformaes, apresentando novos
sentimentos morais e a organizao da vontade regulando a vida afetiva a
-
partir da integrao do eu. O respeito mtuo o novo sentimento que dar
origem ao de justia. medida que os sentimentos morais se organizam e
constituem regulaes, caminham para a forma final de equilbrio que
vontade.
O sexto estgio da afetividade marcado por desequilbrios
momentneos, que do um colorido afetivo (PIAGET, 1989, p.61), causado
pela maturao do instinto sexual, multiplicando os poderes do adolescente
que perturbam a afetividade, mas, ao mesmo tempo, levando-o a um maior
equilbrio e fortalecimento. Pelo desenvolvimento do pensamento formal, o
adolescente tem maior habilidade para elaborar teorias abstratas e afirma sua
vida afetiva atravs da conquista da personalidade e insero no mundo dos
adultos.
Conforme Piaget (1989, p. 69-70):
A afetividade que constitui a mola das aes das quais resulta, a cada nova etapa, esta ascenso progressiva, pois a afetividade que atribui valor s atividades e lhes regula a energia. Mas, a afetividade no nada sem a inteligncia, que lhes fornece os meios e esclarece os fins.
A afetividade consiste no ajuste das energias internas e na
acomodao das trocas da energia com o mundo externo.
Ele destaca que: sem afeto no haveria interesse, nem necessidade,
nem motivao; e conseqentemente, perguntas ou problemas nunca seriam
colocados e no haveria inteligncia. A afetividade uma condio necessria
na constituio da inteligncia (PIAGET, 1962, p. 32). Sendo que a
afetividade caracterizada por suas composies energticas, os processos
afetivos so considerados processos energticos que podem ter uma
-
representao maior ou menor, positiva ou negativa, dependendo da qualidade
da interao do sujeito com o objeto (PIAGET, 1988, p. 226). A afetividade
uma fonte de energia que permanece potencial at encontrar uma forma para
se expressar ou encontrar algo que lhe d um poder de se transformar. Esta
possibilidade se d pela ao das estruturas mentais.
Assim, a afetividade indissociada, irredutvel e complementar
inteligncia. Ela regula a energia e lhe atribui valor. Ela no nada sem a
inteligncia, pois esta lhe oferece os meios e indica os fins a serem
perseguidos. Compreender estas relaes entre a afetividade e a inteligncia
faz-nos compreender que Piaget concebe a afetividade como resultado de uma
construo ativa resultado da construo diria e durante todo o processo da
existncia humana. Trata-se, ento, de um processo que pode receber a
contribuio da educao.
Durante as operaes formais, a afetividade marcada pelo
desenvolvimento dos sentimentos idealistas e a formao da personalidade. O
adolescente idealista pelo desenvolvimento da capacidade de raciocinar
sobre o hipottico, trabalha com as idias e se liga afetivamente a elas. Assim,
as idias valorizadas tornam-se ideais (...) integrados numa escala de valores
e conservados no decorrer das assimilaes (FARIA, 1989, p. 90). Os afetos
intra-individuais supervalorizam o eu desprezando a autoridade ou o adulto e
se valoriza no contato com o seu grupo de adolescentes que caminha para a
construo dos sentimentos interindividuais. Com o amadurecimento, deixa de
existir o imaginrio para assumir o real e a vontade concebida como um
regulador afetivo. As normas que dirigem os comportamentos do adolescente
-
deixam de vir dos outros, passando, ele prprio, a elabor-las a partir do seu
relacionamento com os outros adolescentes.
4.2 O Ambiente Afetivo
De acordo com Winnicott (1989-1994, p. 62), o desenvolvimento de um
indivduo se parte de uma dependncia absoluta para uma independncia
relativa. O meio ambiente facilitador pode ser descrito como sustentao
[holding], evoluindo para o manejo [handling], ao qual acrescenta a
apresentao do objeto [objetc-presenting]. Em um meio ambiente facilitador, o
indivduo passa por um desenvolvimento que pode ser reconhecido como
integrador. Assim, vivencia os processos de integrao, de personalizao, o
desenvolvimento do sentimento de que se est dentro do corpo e de
realizao: a apreciao do tempo e do espao e de outras propriedades da
realidade (WINNICOTT, 1993, p. 274).
Winnicott (1973) afirma que:
O estado de preocupao materna primria faz com que a me regrida parcialmente com a finalidade de se identificar com as necessidades do beb, para assim saber do que ele necessita, mas, ao mesmo tempo mantm sua maturidade (adulta), servindo como espelho para seu beb no processo de amadurecimento chamando de: dependncia absoluta e dependncia relativa.
Um lugar onde o beb consegue um desenvolvimento satisfatrio, esse
ambiente ajudar o seu desenvolvimento pessoal conforme suas tendncias
herdadas, resultando assim, numa continuidade da existncia, que se
transforma num senso de existir, resultando em autonomia.
-
Para evoluir de acordo com nossas possibilidades e caractersticas,
precisa-se de um espao que seja apresentado e vivido dentro de uma relao
com uma me que seja suficientemente boa, ou seja, que atende s
necessidades que o seu beb tem (...) [dentro] de uma relao viva em que a
me temporiamente se identifica com o seu beb (WINNICOTT, 1993, p. 37).
Ademais, Winnicott (1983-1990, p. 96), considera como valores morais
aqueles desenvolvidos pela criana na interao com o ambiente e relembra a
importncia da relao com a me-ambiente e ao mesmo tempo com uma
me-objeto, o objeto de intenso amor. Assim, aponta que gradativamente a
criana integra os dois aspectos da me, o que a torna capaz amar e de ser
afetuosa, mesmo sentindo certa ansiedade que se manifesta de forma
construtiva. A partir dessas relaes ocorre, a formao gradual de um senso
de responsabilidade, que atua nas condutas que realiza.
Piaget (1965-1973, p. 12-28) tem uma posio que se assemelha de
Winnicott, ao afirmar que a construo operatria s se efetua em funo de
interaes entre indivduos e, por conseguinte, sob a influncia aceleradora ou
inibidora dos diferentes modos reais destas interaes sociais. Para Piaget, as
regras, os valores e os smbolos so elementos essenciais dos fatos mentais e
funcionam como reguladores de sua conduta.
Conforme Piaget (1965-1973, p. 06), os valores seriam a energtica de
qualquer conduta, constituintes de seu aspecto afetivo, indissociado do aspecto
cognitivo que se expressa na estrutura dessas condutas.
4.3 Educao e Sentimento
-
Desde o surgimento da Escola Nova aprendemos que na constituio
de conhecimento esto envolvidos, alm das operaes mentais, as emoes
e os sentimentos. O movimento de renovao pedaggica, do inicio do sculo
XX, via a educao como um processo espontneo que acompanha a evoluo
da criana.
Recentemente, o princpio ganhou fora com o postulado de que existe
at mesmo uma inteligncia emocional. Em suma: no d para ensinar
pensando s na cabea do aluno.
O corao tambm importante.
Essa viso do desenvolvimento e da aprendizagem influenciou a
pedagogia e a didtica do sculo XX. Da vem que o professor deve acolher os
sentimentos dos alunos e criar uma atmosfera de aceitao para obter sucesso
na aprendizagem. Isso mudou o modelo da relao hierrquica fria e distante
que dominou a pedagogia at fins do sculo XIX.
O professor, no entanto, um profissional. Cabe a ele, criar um clima
afetuoso para promover a aprendizagem, que produto do seu ofcio. Ter afeto
pelos alunos no pode ser um libi para deixar de cobrar que eles
desempenhem seu papel de aprender, para baratear o contedo do ensino e
omitir-se de estabelecer limites. O afeto precisa ter leveza e sutileza para no
adquirir o peso do envolvimento possessivo que s vezes ocorre na relao
entre pais e filhos.
Mesmo os melhores professores podem ter dificuldade em ensinar os
prprios filhos, porque a paixo mobiliza, mas no organiza. Aprender acima
de tudo um processo organizado.
-
No final da Idade Mdia, a escola saiu da sala de visitas do castelo
senhorial e fez o caminho de volta ao espao que ocupava na Antiguidade
clssica: a cidade, a plis. Na cidade, o Liceu de Aristteles, lugar de reunio
dos que aprendem e dos que ensinam, tem um espao fsico e identidade
institucional prprios.
A nfase nos fatores emocionais tambm influenciou o modo como
pensamos os fins da educao, ampliando muito a funo da escola. Desta,
espera-se cada vez mais que promova tambm o desenvolvimento afetivo e
moral de crianas e jovens. A esse respeito preciso ter bom senso. Ela pode
colaborar para formar indivduos do bem, mas no o far sozinha. Sua maior
contribuio ser criar oportunidades de aprendizagens que ajudem na
constituio de uma auto-imagem positiva. Crianas que so bem sucedidas na
escola gostam mais de si mesmas, so confiantes e abertas para interagir
afetivamente com os demais. difcil gostar dos outros quando no se ama a
si mesmo.
Ensinar uma arte e como toda arte merece nossa admirao. O
cuidado com o aluno vai muito alm de dar beijinho, elogiar e acarinhar. Muitas
vezes o afeto demonstrado de forma contrria: quando o professor severo.
Se ele justo e chama a ateno de forma respeitosa, o aluno passa a admir-
lo e busca no decepcion-lo.
Outro ponto a observar a idade da turma: Quanto menor a criana,
maior a necessidade do contato fsico. Ela no diz quando gosta de algum,
mas se sente bem ao ser beijada, abraada e levada pela mo (VINHA, 2005).
J um adolescente percebe o cuidado do professor pelas suas atitudes, isso
-
inclui valorizar suas opinies, ouvir suas sugestes, observar o seu
desenvolvimento e demonstrar disponibilidade para conversar.
O aluno que recebe elogios tem a auto-estima l em cima, mas
preciso perceber que a imagem que ele faz de si est diretamente relacionada
tambm com os valores que ele carrega. Por exemplo: um aluno pode ter uma
boa auto-estima porque chama a ateno dos colegas com a sua indisciplina.
Cabe ao adulto mostrar que ele pode se destacar realizando algo produtivo, por
isso importante questionar e argumentar com as crianas sobre aquilo que
acreditam.
Vinha (2005) sugere que todos opinem sobre o que querem pesquisar
e como buscaro informaes um exerccio de posicionamento e autonomia.
"Alunos que se relacionam e se desenvolvem bem so aqueles que se sentem
acolhidos, valorizados por seus talentos e que lidam bem com seus
sentimentos. (VINHA, 2005).
Acreditar no aluno, no indivduo uma forma de ajud-lo a crescer.
O modo como os professores enxergam os alunos essencial para o
sucesso da aprendizagem. Quando no julgam e procuram se aproximar,
acreditam nele, observam seu comportamento e incentivam suas capacidades,
ele tem tudo para crescer.
Com a ajuda dos professores isso pode e vai muito alm.
Existem casos de crianas e adolescentes, filhos de pais separados,
que moram com as mes, com os pais ou mesmo com os avs que, por sua
vez, trabalham muito e no tem tempo para cuidar adequadamente deles.
Estas crianas e adolescentes sem vigilncia, limites, passam a maior parte do
tempo na rua e pouco vo escola. O comportamento das mesmas, muitas
-
vezes, se mostra agressivo. preciso muito empenho e dedicao para ajud-
las a ter perspectivas e sonhos.
A construo de valores e atitudes cabe escola, tambm. O papel do
professor identificar entre tantas opes o que pode construir com a sua
turma, e que valorizar o melhor de cada um essencial para o crescimento.
Os indivduos tm direito ao conhecimento, e tambm ao sentimento,
emoo e amizade, aos valores e ao convvio com seus pares de vivncias
humanas.
Para que estas crianas e adolescentes que apresentam dificuldades
de aprendizagem e agressividade no convvio escolar, podemos utilizar a arte
como forma de expresso, buscando desenvolver sua auto-estima.
5. ARTETERAPIA
A arteterapia integra os conhecimentos advindos da psicologia s
atividades artsticas, trabalhando com o potencial teraputico, pedaggico e de
crescimento pessoal contido em todas as formas de arte, utilizando-se de
-
tcnicas expressivas e vivenciais (desenho e pintura, colagem, modelagem e
escultura, dramatizao, contar histrias, msica, dana e expresso corporal,
relaxamento e visualizao criativa, entre outros) para facilitar o
reconhecimento e desenvolvimento de potenciais, o tratamento do sofrimento
psquico, o autoconhecimento, treinamentos, dinmicas de grupo, etc...
(Bernardo, 2003).
Segundo Bernardo (2003) a arte relaciona harmoniosamente a
realidade e a fantasia, o mundo interno e o externo, dando voz e visibilidade
aos contedos simblicos, com os quais podemos dialogar e nos quais
podemos nos espelhar, propiciando o autoconhecimento e o desenvolvimento
da personalidade.
Ao trabalhar com elementos que correspondem tanto natureza
humana quanto planetria, os recursos artsticos utilizados de forma
teraputica promovem uma ampliao da conscincia de si, do outro e do
mundo, desenvolvendo a capacidade de atuar de maneira responsvel e
criativa com relao ao momento existencial e ao meio em que cada um est
inserido.
Bernardo (2003) salienta ainda que os recursos artsticos podem ser
utilizados em diversos contextos (psicoterapia, oficinas de criatividade,
reabilitao, educao, trabalho comunitrio e institucional, empresas) e com
todas faixa etrias (crianas, adolescentes, adultos e idosos). Alm disso, o
caminho da arte a servio do crescimento e da vida pode diminuir e/ou
neutralizar o impacto da violncia que presenciamos atualmente,
proporcionando um contato respeitoso e amoroso entre o homem, seu
-
semelhante e seu meio ambiente, proporcionando uma abordagem pacfica e
tico-esttica da existncia.
A arteterapia proporciona instrumentos diversos para compreender os
nveis mais profundos do funcionamento psquico. As diversas modalidades
expressivas facilitam a comunicao com o inconsciente, propiciando o
aparecimento dos smbolos. Trabalhando com o material expressivo, a pessoa
libera o seu universo interno, a sua energia vital, o que facilita a compreenso
da psique. A maneira como os smbolos se organizam e representam favorece
o processo de organizao, de reorganizao e de enriquecimento das
estruturas da personalidade (VALLADARES).
Andrade (2000, p. 119) afirma que:
Na expresso artstica, o indivduo transforma materiais da natureza em expresses simblicas de seus conceitos referenciais e do seu entendimento da vida. Nessa luta, no est defendendo a manuteno de sua existncia fsica, como em outras atividades, porm procedendo ao reconhecimento e a fixao de coisas significativas: de vivncias subjetivas, da realidade exterior objetiva, bem como da sua apreenso pessoal dessa mesma circunstncia.
Assim, esse processo apresenta-se atravs da expresso criativa de
cada indivduo, o qual exterioriza a nvel inconsciente, para depois entender a
descoberta a nvel consciente.
De acordo com Silveira (1986), as atividades expressivas so aquelas
que melhor permitem a espontnea expresso das emoes que do mais
larga oportunidade para os afetos tomarem forma e se manifestarem, seja na
linguagem dos movimentos, dos sons, das formas e das cores, etc.
Contudo, a arteterapia tornar-se um ambiente facilitador e acolhedor,
recebendo o individuo necessitado, muitas vezes apagado de suas
-
potencialidades criadoras, e oportuniza a vivenciar, a criar, e a simbolizar suas
necessidades, suas dores e alegria. Pela explorao do universo da arte e do
conhecimento intrnseco presente no fazer artstico, pode desenvolver nveis
superiores de linguagem e cognio, explicitando habilidades e o potencial
cognitivo de cada um.
Na arteterapia podemos acompanhar as etapas do desenvolvimento
humano, analisando as semelhanas com os estudos de Piaget.
A criana pequena desenha pelo prazer do gesto, pelo prazer de
produzir uma marca. O registro do movimento um rabisco incompreensvel
para o adulto: a garatuja. Que se inicia longitudinal e desordenada at adquirir
certo ritmo.
Aos poucos vo se tornando circulares, se envolvendo em espiral. At
a conquista do circulo que uma etapa bastante importante, o esboo de
uma representao. Esboo, porque ainda so espontneas muitas vezes,
marcam geralmente o incio de uma necessidade de nomear os desenhos.
Depois comea assumir um carter mais simblico, a criana desenha ento
para dizer algo inicio da representao.
O desenho a expresso por meio do qual os sentimentos tomam-se
concretos, tomando formas e permitindo ao indivduo a possibilidade de
atenu-las ou intensific-las dependendo de sua vontade. Muitas vezes sem se
dar conta disto.
Portanto, o ato de criar est prximo do ser, na qualidade do
envolvimento em que vivem, pois um estado de desenvolvimento onde, a dor e
o prazer esto juntos.
-
5.1 As Oficinas de Arteterapia
A arte preenche uma funo cognitiva: apresenta o conhecimento de
uma forma completa, integral e sistmica, onde cada movimento depende
reciprocamente um do outro, o que faz convergir vrios movimentos em direo
a um objetivo comum. A imagem expressa um contedo raramente explicitado
em sua totalidade pela palavra no-potica. A imagem representa o que cada
um tem de mais ntimo, e est ligada efetivamente ao ser. Ela expressa de uma
forma sincrtica as relaes entre contedo e forma, vivenciados no plano
afetivo e cognitivo (ALLESSANDRINI,1999)
A arte possibilita o aprender fazendo e pode ser direcionada para
aprendizagem, pois carregada de afetividade e possibilita o potencial
cognitivo.
Para tanto as diretrizes da Oficina Criativa de Allessandrini (1999)
trazem uma sugesto. Primeiramente existe o contato com a proposta, e o
mundo interno, a sensibilizao. Para depois ser desenvolvida a produo
plstica, e posteriormente, feito um fechamento.
As oficinas criativas trabalham com a linguagem verbal, assim como a
no-verbal, na perspectiva de re-dimensionar a aprendizagem daqueles que
no obtm sucesso na escola. O trabalho artstico permite o desbloqueio da
expresso verbal, pois no momento em que so estimuladas as relaes
-
analgicas, agilizam-se as relaes de ordem lgica, to importantes para o
bom desempenho em aprendizagem (ALLESSANDRINI, 1999).
As oficinas criativas foram desenvolvidas numa instituio de
assistncia ao menor de Rio Verde GO, que tem como objetivo amparar e
educar, gratuitamente, crianas e adolescentes ambos sexos.
Para essa pesquisa foram realizados 24 encontros, desenvolvidos no
perodo de novembro/2006 a agosto/2007. As oficinas aconteceram
semanalmente, ministradas por mais de uma facilitadora, com durao de 1
hora e 30 minutos cada. O nmero de participantes por oficina variou entre 3 e
8 adolescentes.
Os adolescentes selecionados pertencem o PETI (Programa de
Erradicao do Trabalho Infantil, que aps o perodo escolar participam deste
programa na instituio.
No planejamento prvio de cada oficina selecionou-se tcnicas e
instrumentos de acordo com as necessidades que o grupo apresentou a cada
encontro. No entanto, durante a realizao das oficinas para atender as
necessidades do momento, o planejamento foi flexibilizado.
Vrias tcnicas foram eleitas como: explorao de movimentos;
relaxamento; alongamento; narrao de histria; explorao de ritmos entre
outras. Assim, foram utilizados instrumentos que variavam, tais como: colagem;
mandala; desenho; pintura; histrias; dramatizao; instrumentos musicais e
modelagem.
Os materiais utilizados foram: lpis de cor; giz de cera; caneta hidrocor;
tinta guache; papel sulfite; cartolina; cola branca e colorida; folhas de revistas;
figuras; sucatas; sementes; barbante; gazes; gessos e outros.
-
Os dados observados foram realizados atravs dos relatrios feitos em
cada oficina. Realizou-se uma descrio e anlise dos dados, destacando-se
as verbalizaes, produo plstica, assim como observaes de
comportamentos dos adolescentes registrados pela pesquisadora, de modo a
possibilitar a discusso do seu processo.
A metodologia utilizada no desenvolvimento deste estudo foi a
pesquisa retrodutiva de Garcia (2002) na perspectiva construtivista, baseada
na anlise de dados coletados no decorrer do ateli arteteraputico realizado
com um grupo de adolescente 12 a 15 anos ambos sexos, que possibilitou um
estudo de caso.
O adolescente escolhido para este estudo de caso tem 14 anos, do
sexo masculino, que demonstrou caractersticas como: dificuldades de
aprendizagem (seriao, organizao, tamanho, formas) e tambm dificuldade
de adaptao.
No entanto, este adolescente nos chamou ateno, quando a
coordenadora da instituio nos informou sobre a sua histria de vida: que sua
me deixava-o em casa amarrado, e saia para beber. Ele era muito agressivo,
inquieto e no tinha respeito por seus colegas e professores. Acredito que a
rejeio da prpria me proporcionou-lhe uma carncia afetiva.
Para Winnicott (1973) experincias familiares que no foram
satisfatrias, trazem dificuldade para criar solues e formas de se adaptar ao
meio.
No primeiro encontro em nosso ambiente arteteraputico esse
adolescente estava inquieto, andava de um lado para o outro, danava dana
de rua, fazia gracinha, dava tapinha na cabea dos colegas. Quando
-
solicitamos que participasse do grupo ele relutou um pouco, mas, ao perceber
que o ambiente era acolhedor, acessvel, atraente e artstico, demonstrou
interesse se ajustando ao meio.
A arteterapia oferece ao indivduo a liberdade de expresso. Porm,
quando sugeramos os trabalhos artsticos o adolescente em questo,
demonstrava insegurana, pedindo ajuda constantemente.
Inicialmente, a oficina desenvolvida, para a confeco de envelopes
teve como objetivo trabalhar o resgate da individualidade. Que proporcionaria a
esse adolescente, ao longo do processo juntar partes fragmentadas do seu eu.
A confeco dos envelopes proposta com a finalidade de guardar os
materiais artsticos desenvolvidos ao longo do processo das oficinas criativas.
Para sua confeco propusemos que fizessem os envelopes grandes,
aproximadamente de 1x70cm, os quais, eles deveriam perfur-los nas laterais
e costur-los com barbantes coloridos.
Contudo, o adolescente em questo no conseguiu entender o que
deveria fazer, ficou nervoso, e em seguida, pediu ajuda. Assim, precisei
explicar novamente a atividade. Ele comeou a costurar, e observei que
demorava muito para colocar o barbante apesar dos furos serem grandes. No
apresentava uma ordem no seu costurar, ora passava o barbante por cima, ora
por baixo, e deixava intervalos entre os furos, mostrando muitas dificuldades de
assimilao, ordenao, seriao e extrema carncia, pois a solicitao da
minha presena era constante.
O adolescente observado demonstrava durante a oficina extrema
dependncia quando ia costurar os envelopes, a sua dificuldade era visvel,
no sentava na posio adequada, ficando inquieto, porm, notei que apesar
-
de todos os sues problemas, ele queria concluir o trabalho proposto sem
pressa.
Porm, a forma afetuosa e interativa com que o tratamos, o fez se
sentir importante. Assim, fazia e refazia as propostas quando fosse necessrio.
Nesse processo fomos percebendo que poderamos faz-lo aprender as
noes bsicas do desenvolvimento da aprendizagem. Ele correspondeu
positivamente, demonstrando interesse e prazer em realizar as atividades.
Ademais, esbarramos em um problema: a arteterapia que aplicvamos era
mais livre, sem interferncia, usvamos mais a observao que o grupo trazia.
A interferncia s ocorria quando ramos solicitadas ou de extrema urgncia.
Ao final da oficina demonstrou alegria, serenidade, e tranqilidade, no
chamando mais tanto a ateno quanto no incio e perguntando quando seria o
prximo encontro.
Essa oficina trouxe a necessidade de desenvolver um trabalho de auto-
imagem com o grupo. Ento, propusemos a oficina do corpo humano, onde o
objetivo era despertar o respeito s diferenas, promovendo autovalorizao e
a valorizao do outro. Dessa forma, os adolescentes se deitaram sobre o
papel, e traaram o formato dos seus corpos, um auxiliando ao outro. E depois
contornaram o risco colando barbante.
Essa atividade incomodou o adolescente de minha pesquisa, percebi
que ficou muito nervoso, comeou a se alterar, pois no tinha coordenao
motora fina exigida para fazer colagem do barbante no papel, falou palavres.
Me aproximei dele, auxiliando em sua colagem, assim, se acalmou, se voltando
para a atividade, de forma mais harmnica. Apesar da atividade de colagem
ser demorada, no final, ele se mostrava mais sereno e alegre.
-
Na semana seguinte, demos continuidade atividade com a oficina a
de pintura da auto-imagem. Com a finalidade de identificar as diferenas entre
as pessoas e traando parmetros dessas circunstncias com sua forma de
vida. Na atividade o adolescente colore toda sua persona de cor azul, com
exceo da cabea, pois coloca nela, um tipo de capacete. Assim, percebi que
ele tinha feito uma mscara. Perguntei a ele: O que voc est fazendo?, o
mesmo me disse: Eu (sua pintura como uma mscara de ferro, trazia o rosto
todo desfigurado, cheio de forma geomtricas de cor preta e cinza).
A atividade de pintura nos ensina Pain e Jarreau (1996) carregada de
sentimentos, ligado aos gestos de cada um, expressando emoes. Por estar
ligada a mensagem que se deseja expressar, traz momento e tendncia de
projeo do prprio corpo sobre a imagem produzida. E
o procedimento arte-teraputico consiste em despertar o desejo vital do gesto, faz-lo sentir fortemente o prprio corpo e encorajar a busca dos meios plsticos para produzir essas vivncias sensrio-motoras em imagens. (PAIN & JARREAU, 1996, p. 85).
No decorrer da atividade, notei que a sua postura era de prazer,
relaxamento, serenidade, a tinta proporcionava esse sentimento. Sobretudo,
continuava dependente, solicitando ajuda na mistura das cores e na
organizao do ambiente. Neste momento fui abordada pela outra facilitadora,
esta pediu que deixasse ele se expressar livremente. No me senti bem em
no interferir naquele momento, pois pensei em auxili-lo, mediando o seu
aprendizado. Conseqentemente, essa questo me levou a refletir se a
arteterapia poderia oferecer algo mais por intermdio do outro. E com esta
questo, despertou-me o desejo de pesquisar o aprendizado relacionado
afetividade de uma forma mais abrangente.
-
E neste questionamento se deveria ou no de interferir, pesquisei nas
obras de Vygostsky onde que a criana ou adolescente com dificuldades de
aprendizagem, poder ir um pouco mais alm, ou seja, desempenhar tarefas
em nveis mais avanado com a ajuda de algum ou de companheiros mais
capazes.
Desde ento nas demais oficinas me propus a ser mediadora nos
momentos que ele no sabia proceder, me preocupei em sentar ao seu lado,
para conversar, orient-lo quando necessrio.
Percebi aps minha pesquisa, que no ateli arteteraputico,
poderamos sim, dar esse suporte cognitivo-artstico. Notei o quanto a
arteterapia e a relao afetiva no contato com o adolescente, proporcionou-lhe
bem-estar.
As figuras abaixo ilustram a pintura da auto-imagem realizada no ateli
arteteraputico:
Figura 1 Figura 2
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6. CONSIDERAES FINAIS
fato que a estrutura familiar sofre mudanas ao longo dos tempos,
uma vez que esta acompanha as mudanas sociais, culturais e geogrficas.
A jornada do crescimento do indivduo comea desde o incio de sua
vida, quando ainda o beb dependente absoluto at gradativo crescimento
para conquistar sua independncia.
Quando a histria de vida do indivduo marcada por carncia afetiva
nas experincias vividas, este pode adotar comportamento agressivo ou
desintegrao como forma de exteriorizar conflitos.
-
O adolescente observado em minha pesquisa nos primeiros encontros
demonstrou inquietao e indisciplina, porm foi sensvel, percebendo um
ambiente diferente, acolhedor e afetuoso. Consequentemente, ele exteriorizou
vivncias do inconsciente de forma sutil, no surgindo claramente o conflito, se
adaptando ao meio.
Contudo, no decorrer das oficinas o adolescente apresentou
transformaes nas formas de expresso e sinais de mudanas significativas
nos nveis da afetividade no ateli arteteraputico, demonstrado atravs de sua
assiduidade e expresso corporal, entrava com alegria, participava sempre das
atividades tanto individuais quanto coletivas no final de nossos encontros se
jogava no cho sobre o tapete em relaxamento, sabia esperar e colaborava na
arrumao do ambiente. De comportamento agressivo socializao. E
atravs da arteterapia conseguiu noes de habilidades cognitivas, demonstrou
mais organizao no ambiente, as suas aes tornaram-se mais
independentes, exigindo assim, menos a nossa presena, proporcionando a ele
adaptao ao meio, sendo percebida atravs de sua satisfao de continuar os
encontros e sem pressa de termin-los.
De acordo com Dantas (1993, p. 75) afirma que:
Atravs da funo simblica que garante formas de preservao dos objetos ausentes, a afetividade se enriquece com novos canais de expresso. No mais restrita s trocas dos corpos, ela agora pode ser nutrida atravs de todas as possibilidades de expresso que servem tambm atividade cognitiva.
Neste sentido, a afetividade no se limita apenas s manifestaes de
carinho fsico e de elogios superficiais, mas sim, no processo de aprendizagem.
E principalmente, na interao social, pois o sentimento e aprendizagem
-
tornam-se gradativos e efetivos dentro do ser, porque o ambiente acolhedor
revestido de respeito e valorizao propiciou o bom relacionamento entre ns,
mediadores, e o adolescente nas oficinas.
Ademais, as questes afetivas surgidas nas oficinas interferiram no
resultado de ensino e aprendizagem, impulsionando seu desenvolvimento,
levando-o a adquirir o conhecimento atravs das mediaes realizadas,
fazendo novos significados para suas questes de relacionamento.
Entretanto, os contextos afetivos influenciam na vida dos adolescentes
dependendo do momento, da situao ou mesmo do conceito de si mesmo
perante o fato. Assim, diante da arteterapia, o adolescente se sentiu acolhido
afetivamente, devido interao recproca, pois o recebemos com afeto sem o
rtulo de agressor, com isso a relao fluiu sem entraves, sendo aceito.
Como salienta Dantas (1993, p. 75), conforme a criana vai se
desenvolvendo, as trocas afetivas vo ganhando complexidade. As
manifestaes epidrmicas da afetividade da lambida se fazem substituir por
outras, de natureza cognitiva, tais como respeito e reciprocidade. Adequar a
tarefa s possibilidades da criana ou adolescente, fornecer meios para que
realize a atividade confiando em sua capacidade, demonstrar ateno s suas
dificuldades e problemas, so maneiras bastante refinadas de comunicao
afetiva. Dantas (1993) refere-se a essas formas de interao como
cognitivizao da afetividade.
E nas oficinas de arteterapia, percebemos o quanto importante
aquisio da aprendizagem atravs da cognio e afetividade, o adolescente
se sentiu bem por ter sido acolhido de uma forma mais individualizada,
conseguindo desenvolver as atividades efetivamente, buscando a sua
-
liberdade de expresso, embora os problemas enfrentados fora do ambiente da
arteterapia.
certo que as relaes entre as pessoas no so sempre permeadas
pela tranqilidade e suavidade. Os fenmenos afetivos referem-se igualmente
aos estados de raiva, medo, ansiedade, tristeza, estas caractersticas
encontradas no adolescente do decorrer de algumas atividades, porque tinha
muitas dificuldades para faz-las, porm, essas emoes e sentimentos esto
presentes nas interaes sociais.
Wallon (1986, p.91) defende, em sua teoria, o carter contagioso das
emoes. A emoo necessita suscitar reaes similares ou recprocas em
outrem e, (...) possui sobre o outro um grande poder de contgio. Assim, o
professor contagia e contagiado pelos alunos, pois esta interao entre eles
constri a auto-estima e autoconfiana, influindo diretamente no processo de
aprendizagem. Freqentemente, destacaram-se, nas interaes, sentimentos
de acolhimento, simpatia, respeito e apreciao. Da mesma forma,
evidenciaram-se sentimentos de compreenso, aceitao e valorizao do
outro.
No entanto, deve-se ressaltar a importncia dos trabalhos nas oficinas
de arteterapia, pois estas proporcionam uma ajuda aos adolescentes que se
sentem presos aos seus problemas, pessoais ou familiares que impedem a
aquisio da aprendizagem e a prpria interao social.
A arteterapia redimensiona a aprendizagem, possibilita a reelaborao
de vivncias, proporcionando o amadurecimento emocional, pois a cada
estgio existem processos emocionais implcitos.
-
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