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Storyboarding Como Ferramenta na Era Digital Aleph Bom de Moura Leite Resumo: Esta pesquisa consiste em analisar a profissão do storyboarder, como esse trabalho começou, quais são os principais benefícios que ele traz para o cinema ou para a publicidade, quem são os principais nomes do ramo e como eles divulgam seus trabalhos, qual a melhor maneira de se montar um storyboard e os programas que podem ser usados. A importância do uso de storyboards na história e como eles deixaram de ser apenas uma peça de pré-visualização e tiveram papel importante em cenários políticos. Por fim, vamos encontrar a melhor maneira para a divulgação de um trabalho nas mídias online e a influência de autores como Will Eisner, Scott Mccloud no ramo e como esses nomes mudaram a chamada arte sequencial. Palavras-Chave: Storyboarding; Arte sequencial; Arte e internet; Will Eisner Introdução: Este trabalho tem por objetivo apresentar todas as etapas necessárias para a criação de um artigo que conta um pouco da história dos Storyboards e serve para expor o trabalho de seus principais criadores explicando como essa ferramenta, criada no começo da década de 1930 nos estúdios Walt Disney, se mantém tão importante no processo de criação de filmes e peças publicitárias. Mas o que são storyboards? São organizadores visuais, artes sequenciais que mostram sem diálogos passo a passo o que deverá ser feito com o propósito de pré visualizar o filme, animação ou gráfico animado. Eles contém todo o conceito visual como enquadramento, cortes, movimentos de câmera, e etc., além de localizar ambientes e inserir personagens em cena e que servem de base para transportar as ideias do abstrato para o real. No caso de desenhos animados ele serve ainda para os responsáveis de efeitos visuais perceberem as sequencias que precisarão de full-animation, um processo mais caro e trabalhoso, e as de animação mais modesta, mantendo um equilíbrio profissional e economizando tempo e energia dos envolvidos.

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Page 1: Artigo aleph

Storyboarding Como Ferramenta na Era Digital

Aleph Bom de Moura Leite

Resumo:

Esta pesquisa consiste em analisar a profissão do storyboarder, como esse trabalho

começou, quais são os principais benefícios que ele traz para o cinema ou para a

publicidade, quem são os principais nomes do ramo e como eles divulgam seus

trabalhos, qual a melhor maneira de se montar um storyboard e os programas que

podem ser usados. A importância do uso de storyboards na história e como eles

deixaram de ser apenas uma peça de pré-visualização e tiveram papel importante em

cenários políticos. Por fim, vamos encontrar a melhor maneira para a divulgação de um

trabalho nas mídias online e a influência de autores como Will Eisner, Scott Mccloud no

ramo e como esses nomes mudaram a chamada arte sequencial.

Palavras-Chave: Storyboarding; Arte sequencial; Arte e internet; Will Eisner

Introdução:

Este trabalho tem por objetivo apresentar todas as etapas necessárias para a criação de

um artigo que conta um pouco da história dos Storyboards e serve para expor o trabalho

de seus principais criadores explicando como essa ferramenta, criada no começo da

década de 1930 nos estúdios Walt Disney, se mantém tão importante no processo de

criação de filmes e peças publicitárias.

Mas o que são storyboards? São organizadores visuais, artes sequenciais que mostram

sem diálogos passo a passo o que deverá ser feito com o propósito de pré visualizar o

filme, animação ou gráfico animado. Eles contém todo o conceito visual como

enquadramento, cortes, movimentos de câmera, e etc., além de localizar ambientes e

inserir personagens em cena e que servem de base para transportar as ideias do abstrato

para o real. No caso de desenhos animados ele serve ainda para os responsáveis de

efeitos visuais perceberem as sequencias que precisarão de full-animation, um processo

mais caro e trabalhoso, e as de animação mais modesta, mantendo um equilíbrio

profissional e economizando tempo e energia dos envolvidos.

Page 2: Artigo aleph

Sabe-se que a internet é hoje o melhor veículo de divulgação que existe, atingindo

milhões de pessoas em um único segundo, e por esse motivo muitos artistas utilizam

sites ou blogs pessoais para divulgar trabalhos ou manter um portfólio digital. Mas

como ganhar destaque quando tantas pessoas utilizam da mesma ferramenta? Esse é um

dos assuntos que essa pesquisa vai abordar.

Para aprofundar-se mais no assunto e tentar achar as respostas para os problemas

existentes vamos trabalhar junto com as ideias de autores que falem não apenas sobre a

arte dos storyboards, mas tambem sobre marketing digital e e-commerce como os livros

Marketing na Era Digital de Martha Gabriel, Quadrinhos e Arte Sequencial de Will

Eisner e The Art of Storyboarding de John Hart, além de artigos que comentem e

introduzam novidades que vão ajudar a contextualizar o tema. Esses livros falam sobre a

criação e as técnicas da arte sequencial que são usadas não só para storyboard, além de

identificarem todo o planejamento para se posicionar no mercado digital.

Para um projeto acadêmico de comunicação social, o storyboard se aplica não só como

uma ferramenta necessária, mas como uma maneira de mostrar uma visão mais pessoal

daquilo que será proposto a seguir, possibilitando um controle maior por parte dos

envolvidos e garantindo uma probabilidade de êxito maior, já que ele informa

visualmente todas as etapas do comercial, filme ou projeto.

Em um ambiente geral storyboards são mais conhecidos como projetos

cinematográficos. Isso se deve, além do fato de ter sido criado por uma empresa

cinematográfica, como dito antes, mas por conter inúmeros documentos que mostrem o

processo anterior à filmagem como na série de livros The Art Of: onde são

demonstradas todas as arte gráficas tais como storyboards, esboços de cenários e

personagens, conceitos de criação entre outras artes, ou no mercado de home vídeo,

onde muitos filmes trazem como extras a criação dos storyboards do filme. Esse tipo de

recurso é pouco explorado na publicidade e pode servir de objeto de pesquisa para o

complemento do projeto.

O benefício de estar conectado a tantas pessoas se torna um problema quando se

trata de destaque, afinal com uma ferramenta tão extensa como a internet como

conseguir que o seu projeto seja visualizado com o objetivo que deseje atingir? Embora

muitos artistas utilizem sites como devianART, Thumblr, Flickr ou Pinterest para expor

seu trabalho e obtém um destaque muito grande, mas que funciona mais para quem já

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está consolidado e possui uma gama de seguidores muito grande, que admiram o

trabalho e ajudam a divulgar. Já no caso de quem está começando, embora o espaço seja

visualizado por todos, ele corre o sério risco de ser mais um numa rede enorme de

artistas e pode acabar ignorado, ou ter seu trabalho divulgado apenas como uma

“imagem da semana”.

O envolvimento com o tema apresentado baseia-se no gosto pela nona arte¹,

tambem chamada de Banda Desenhada, Arte Sequencial ou simplesmente História em

Quadrinhos, e numa maneira de fundir esse gosto ao estudo acadêmico de Publicidade e

Propaganda, tendo realizado trabalhos na área tanto publicitária durante o curso quanto

na cinematográfica.

Arte sequencial

Embora o termo arte sequencial tenha sido cunhado por Will Eisner, há um

trecho no livro Reinventado os Quadrinhos de Scott McCloud que define muito bem o

que isso significa para aqueles que apreciam esta arte e o impacto que ela causa.

O coração dos quadrinhos está no espaço entre um quadro e outro

onde a imaginação do leitor dá vida a imagens inertes! É um processo

que pode ser quantificado, classificado, até mesmo mensurado e

todavia permanecer misterioso pela forma como ilustra imagens

mentais. Em seu uso da sequencia visual, os quadrinhos substituem o

tempo pelo espaço. ( MCCLOUD, 2000, p..02)

Além de ajudarem na hora da criação, storyboards tiveram um papel

fundamental fora das empresas responsáveis, sendo de importância fundamental

inclusive em fatos políticos. Um bom exemplo disso foram os storyboards usados pelo

agente da CIA Tony Mendez na tentativa de tirar os diplomatas americanos do Irã após a

tomada da embaixada norte americana. Os desenhos foram feitos pelo quadrinista da

Marvel Comics Jack Kirby, responsável junto com Stan Lee pela criação da maioria dos

super heróis da editora como Capitão América, Thor, Hulk, Quarteto Fantástico e etc.

Para dar maior veracidade ao filme falso que os colocaria dentro do Irã, Mendez usou os

storyboards de Jack Kirby, e que podem ser encontrados hoje na internet, e que tiveram

um papel definitivo na adaptação dessa história par os cinemas no filme Argo de Ben

Affleck, vendedor dos principais prêmios ano passado incluindo o Globo de Ouro e o

Oscar.

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1 - Dando sequência ao manifesto iniciado pelo intelectual Riccioto Canudo em 1902 das sete artes.

Em um mundo digital o trabalho manual de storyboard perdeu espaço para programas

digitais? Ou o trabalho manual ainda é o mais utilizado pelos profissionais do ramo?

Essa é uma hipótese que deverá ser analisada durante a pesquisa procurando

profissionais da área e suas opiniões e métodos para a criação de storyboards, esses

programas realmente substituem o trabalho manual? Ou servem apenas como

complemento após uma arte já pronta?

Hoje em dia é muito comum usarmos o computador para a maioria de nossas ações, e

vivemos em constante desenvolvimento de novos programas para nos ajudar a

completar tarefas que antes fazíamos manualmente. No caso dos quadrinhos, muitos

desenhistas como Clayton Crain (Motoqueiro Fantasma) fazem suas artes diretamente

no computadores. Com storyboards não seria diferente, existem programas como o

Toom Boom que são próprios para o desenvolvimento dessa técnica, resta saber se o

investimento em um programa como este ajuda a melhorar a qualidade dos storyboards,

ou se o trabalho manual é exatamente o que profissionais desta área esperam ao escolher

trabalhar com storyboards.

Análise do objeto

Os métodos utilizados para a criação desse projeto se baseiam nos conceitos de

storyboarding, que são a etapa intermediária entre um roteiro e o projeto final.

Constituem em folhas com quadrinhos que explicam a situação e ação dos personagens

e seguem com a descrição da cena em cada quadro. Eles podem ser feitos da maneira

com a qual o autor se sinta mais a vontade, seja ela por meio de um programa, como o

já citado Toom Boom, em folhas impressas específicas ou manualmente mesmo.

Durante a pesquisa tive a oportunidade de testas o programa Toom Boom e não me

identifiquei muito com processo de criação dele, fora que para um trabalho sair

realmente bom é preciso uma gama de outros equipamentos que não são baratos e não

são necessariamente obrigatórios. Assim como a maioria dos storyboarders, acredito

que o processo manual continua sendo o melhor e mais rápido, e para quem não souber

como apresentar ou simplesmente quiser deixar seu trabalho mais profissional, o site

Page 5: Artigo aleph

http://www.abcine.org.br/servicos/?id=158&/storyboard disponibiliza gratuitamente

moldes para cada formato de folha de storyboard tanto verticalmente quanto

horizontalmente.

Alguns dos projetos realizados por mim, como as peças publicitárias acadêmicas

Projeto Mãe de Letras e Projeto Folha: Livros que Mudaram o Mundo e o storyboard

do curta cinematográfico O Cara Errado, que podem ser abaixo, foram feitos

exclusivamente com folhas normais e lápis o que torna esse trabalho além de prazeroso,

muito barato.

Projeto Mãe de Letras e Folha: Livros que Mudaram o Mundo.

No anuncio Projeto Folha: Livros que Mudaram o Mundo, as quatro primeiras imagens

mostram a evolução do homem e da maneira de como ele se comunica com a

comunidade ao seu redor. Em seguida, ao apresentar os autores que o projeto iria lançar

na sua coleção há uma visão do mapa mundi e os rostos desses autores apareceriam

vindo de seus países de origem. A peça terminaria com a influencia desses livros na

escola e na coleção pessoal de admiradores, finalmente com a coleção completa na tela.

Page 6: Artigo aleph

Mãe de Letras levava a idéia de cuidar e adotar para dentro de uma escola, por isso era

importante mostrar a vida lá dentro e a influência positiva que esse projeto poderia levar

aos estudantes melhorando sua educação.

Curta metragem O Cara Errado

Page 7: Artigo aleph

Para os storyboard do curta O Cara Errado foram tiradas fotos dos locais onde o diretor

usaria as cameras e os desenhos feitos a partir desses angulos, inserindo os personagens

Page 8: Artigo aleph

e a ação como descritas no roteiro. Isso ajudou a produçãoe os atores na hora das

filmagens.

Conclusão:

O processo de storyboarding é fundamental para a entrega de um trabalho

preciso e é uma arte que se modificou muito pouco ao longo dos anos desde a sua

criação. Embora muitas grandes empresas, principalmente cinematográficas e que

envolvem muitos profissionais em uma mesma função, utilizem de programas de

computadores para produzir seus storyboards, o processo manual ainda é o mais

utilizado pela maioria dos artistas. O já citado Ryan Woodward, que já trabalhou em

filmes como Homem de Ferro 2 (2010) e Vingadores (2012), além de fazer a animação

Thought of You que foi reutilizada na abertura da novela Amor a Vida da rede Globo,

disse em uma palestra do Anima Mundi esse ano que decidiu optar pelo storyboard pois

era a única forma de continuar desenhando já que todas as outras áreas envolviam

computação gráfica. O consagrado cineasta Akira Kurosawa é outro que gostava de

fazer os storyboards de seus filmes e usava de sua grande paixão, a pintura, para criar

obras magníficas que ele usava para atrair investidores aos seus filmes, algumas

inclusive coloridas e com mais carga dramática do que o normal, o que é raro nesse tipo

de trabalho.

Page 9: Artigo aleph

Storyboard do filme Ran (1985) de Akira Kurosawa e a comparação com a cena pronta.

(http://www.taringa.net/posts/imagenes/15085972/Los-dibujos-y-pinturas-de-Akira-

Kurosawa.html)

Mais do que um simples vislumbre do que está por vir, o storyboard serve como arte

sequencial para mostrar uma visão às vezes muito mais além do que é visto em cena,

seja em um comercial, um filme ou uma animação. Ele permite que o autor use a sua

imaginação da maneira que quiser, sem se preocupar com custos financeiros ou outras

medidas que venham a ser tomadas por parte dos envolvidos no projeto.

Bibliografia:

CHENNAI. Technology Makes Storyboarding Simpler.The Hindu, 20 Julho de 2010.

EISNER, Will. Quadrinhos e Arte Sequencial. Martins Fontes. 1989

GABRIEL, Martha. Marketing na Era Digital: Conceitos, Plataformas e Estratégias.

Rio de Janeiro, Novatec. 2010

HART, John. The Art of Storyboard: A Filmakers Introduction. Focal Press

MCCLOUD, Scott. Reinventando os Quadrinhos.M. Books. 2000

Page 10: Artigo aleph

MOENER, Meredith. http://io9.com/lost-jack-kirby-storyboards-show-the-insane-

world-that-5986074. 21 de Fevereiro de 2013.

NASSIF, Luis. Jornalggn.com.br/blog/luisnassif/os-storyboards-de-kurosawa. 19 Abril

de 2013

SIMON, Mark. Storyboards – Motion in Art. Focal Press