artigo fumaça preta
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Diagnóstico dos níveis de emissão de partículas sólidas expelidas
por veículos movidos a óleo Diesel no município de Passo Fundo
Sidnei Souto Castanheira (e-mail: [email protected])*
Michele Melo Caon de Lima (e-mail: [email protected])**
M. Eng. Alcindo Neckel (e-mail: [email protected])***
RESUMO: Este trabalho buscou realizar um levantamento por amostragem do grau de
densidade de partículas sólidas (fumaça preta) expelida por cem veículos movidos a óleo Diesel que
circulam no município de Passo Fundo e que foram abordados de forma aleatória. Este levantamento
foi realizado com a utilização da Escala de Ringelmann reduzida, adquirida da CETESB/SP, com 3
medições efetuadas em cada veículo avaliado. Na amostra de veículos avaliados, verificou-se que um
percentual considerável destes apresentaram emissões de fumaça preta acima dos níveis permitidos
e aceitáveis (38%). Os veículos foram classificados em seis categorias e destas a que
proporcionalmente apresentou pior resultado foi a dos caminhões de médio porte com 52,63% de
veículos em inconformidade, ficando os micro-ônibus com o melhor resultado, com apenas 10%. O
trabalho aborda ainda, dados técnicos sobre a formação do material particulado que resulta na
fumaça preta emitida por veículos movidos a óleo Diesel, bem como dos impactos negativos que
estes poluentes provocam no meio ambiente a na saúde humana, como doenças cardíacas,
respiratórias e cancerígenas. O trabalho conclui que devem ser desenvolvidas de imediato, ações de
controle de emissão destes poluentes, mesmo que para isto seja necessária a aplicação de sanções
legais, sob pena de comprometer cada vez mais a qualidade das condições atmosféricas do
município de Passo Fundo.
PALAVRAS-CHAVE: Fumaça preta. Motores Diesel. Partículas sólidas. Escala de Ringelmann.
INTRODUÇÃO: A poluição atmosférica nas grandes cidades é produzida por
uma infinidade de fontes, sejam elas naturais (trópicas), como a emissão de cinzas
por um vulcão em erupção, ou aquelas provocadas pela interferência do homem no
* Acadêmico do Curso de Tecnólogo em Gestão Ambiental da Faculdade Portal – Passo Fundo/RS* * Acadêmica do Curso de Tecnólogo em Gestão Ambiental da Faculdade Portal – Passo Fundo/RS* ** Coordenador do Curso de Tecnólogo em Gestão Ambiental da Faculdade Portal – Passo Fundo/RS
ambiente (antrópicas). Dentre as fontes antrópicas, uma das mais agressivas ao
meio ambiente e principalmente à saúde humana, é a emissão de fumaça preta
expelida pelos escapamentos dos veículos propulsionados por motores a combustão
de óleo Diesel, que são lançadas na atmosfera (PALACIO, 2004). A fumaça negra
lançada no ar pelos veículos movidos a óleo Diesel é com frequência a forma mais
evidente de poluição do ar que encontramos rotineiramente (BAIRD, 2007, Química
Ambiental, p. 134). Os motores movidos a óleo Diesel são amplamente utilizados há
mais de um século praticamente em todos os continentes, principalmente nos países
industrializados, e também são em geral mais potentes e mais duráveis que os
motores de ciclo Otto movidos à gasolina ou a álcool (CONPET, 2006). No Brasil, a
relação custo/benefício torna os veículos movidos a óleo Diesel muito atraentes em
função do preço deste combustível, que é bem menor do que a gasolina e do álcool,
constituindo assim, uma excelente opção para os veículos de transporte de
passageiros e de cargas em geral, bem como para alguns modelos de utilitários de
luxo. A fumaça preta produzida pelos veículos movidos a óleo Diesel é composta de
matéria particulada, que são partículas finas de resíduos sólidos ou líquidos que se
encontram suspensas no ar, em geral invisíveis, individualmente, a olho nu.
Coletivamente, contudo, pequenas partículas muitas vezes formam uma neblina que
restringe a visibilidade. Existem muitos nomes comuns ou populares para as
partículas atmosféricas: “poeira” e “fuligem” referem-se a sólidos e “neblina” as
partículas líquidas, sendo que o último termo se refere a alta concentração de gotas
de água. Intuitivamente, podemos achar que as partículas sólidas deveriam
sedimentar e depositar-se na superfície da Terra rapidamente sob a ação da força
gravitacional, mas isto não é verdadeiro para as partículas menores. Assim,
particulados finos usualmente permanecem suspensos e são transportados pelo ar
por dias ou semanas (BAIRD, 2007, Química Ambiental, p. 135 a 137). A fuligem é
composta de partículas muito pequenas que giram em torno de 2,5 um (unidade de
massa - PM2,51). Partículas com dimensões menores que 10 um (PM10) são
consideradas inaláveis (CONPET, 2006). Saldiva (1998, p. 61) relatou em estudo
realizado em seis cidades americanas com perfil socioeconômico semelhantes, onde
foram estabelecidos os anos de vida subtraídos em consequência das exposições
crônicas à poluição, no caso de material particulado. Conforme salienta o autor,
1 É usual na literatura especializada representar o tamanho do material particulado por esta notação, onde o número representa o diâmetro aerodinâmico das partículas em questão.
neste estudo a relação entre a menor sobrevivência de pessoas e os níveis médios
de material particulado é praticamente linear. O mesmo autor traz ainda os
resultados de uma pesquisa realizada na cidade de São Paulo onde ficou
caracterizado que cerca de 10 % das mortes de idosos na cidade decorrem da
poluição do ar. Sobral (1988, p. 8) e Derisio (1992, p. 111) afirmam que de uma
forma abrangente, as propriedades nocivas dos principais contaminantes
particulados, incidem sobre doenças oftálmicas, dermatológicas, cardiovasculares e
principalmente as respiratórias, tais como câncer de pulmão, bronquite, enfisema e
asma. Dentre a legislação que faz referência a emissão de poluentes atmosféricos
esta a lei 6.938/81 – Lei da Política Nacional do Meio Ambiente, a lei 9.605/98 – Lei
dos Crimes Ambientais e a lei 9.503/97 – Código Brasileiro de Trânsito, no artigo
231, inciso III. Este trabalho buscou diagnosticar por amostragem, com coleta de
dados de forma aleatória e com o uso da Escala de Ringelmann os níveis de
emissão de fumaça preta (partículas sólidas) produzidas por veículos movidos a óleo
Diesel no município de Passo Fundo/RS.
METODOLOGIA: Para realizar o diagnóstico dos níveis de emissão de
fumaça preta expelida por veículos movidos a óleo Diesel no município de Passo
Fundo, foi realizada, no dia onze de junho de dois mil e dez, uma blitz educativa na
Avenida Sete de Setembro (Parque da Gare), pela Secretaria Municipal do Meio
Ambiente desta cidade, no período da tarde (entre quatorze e dezessete horas),
onde foram interceptados mais de cem veículos de forma aleatória com a
abordagem dos condutores pelos agentes da SMAM. As condições climáticas eram
de tempo ensolarado com temperatura de treze graus centígrados e com umidade
relativa do ar de cinquenta e oito por cento. Para a mensuração dos níveis de
emissão de fumaça preta, foi utilizada a Escala de Ringelmann tipo reduzido (figura
1), adquirida da CETESB - Companhia Ambiental do Estado de São Paulo.
Escala de Ringelmann – reduzida
Figura 1
A Escala de Ringelmann é uma escala gráfica para avaliação visual
colorimétrica de densidade de fumaça, constituída de cinco padrões com variações
uniformes de tonalidade entre o branco e o preto. No total foi realizado o diagnóstico
em cem veículos movidos a óleo Diesel, com a realização de três leituras de
opacidade através da Escala de Ringelmann, em cada veículo diagnosticado,
sempre utilizando um fundo branco, de acordo com o que rege a norma da ABNT
(NBR-6016), conforme pode ser verificado nas fotos constantes no anexo deste
trabalho. Foram anotados os resultados das três leituras feitas em cada veículo. Nos
casos de divergência entre os três resultados foi atribuído a este veículo o resultado
de maior ocorrência. Os veículos diagnosticados foram classificados em seis grupos
conforme mostra a tabela 1. Após a compilação de todos os dados obtidos foram
confeccionados os gráfico e tabelas que serão apresentados no decorrer deste
trabalho.
Tabela dos Grupos de Classificação dos Veículos
Tipo Descrição do Veículo
1 Caminhões de Pequeno Porte
2 Caminhões de Médio Porte
3 Caminhões de Grande Porte
4 Ônibus
5 Micro-Ônibus
6 Camionete
Tabela 1
RESULTADOS E DISCUSSÕES: Os resultados demonstrados a seguir,
revelam uma panorâmica da situação em que estão as emissões de partículas
sólidas (fumaça preta) no município de Passo Fundo, considerando que a coleta de
dados se deu de forma aleatória, examinando a emissão de todos os veículos
movidos a óleo Diesel que transitavam naquela via e naquele momento, sem
qualquer tipo de critério de escolha dos veículos abordados. O limite aceitável para a
emissão de fumaça preta neste município é o de número 3 (três) da Escala de
Ringelmann, que indica uma densidade de 60% (sessenta por cento) de partículas
sólidas no gás expelido pelos veículos, pois a altitude desta cidade, é de 687 metros
(PMPF, 2010) acima do nível do mar, (até 500 m = limite 2 – acima de 500 m = limite
3) conforme determina a resolução do CONTRAN nº 510 de 1977. Os resultados
mostraram que 62% (9% - faixa 1, 23% - faixa 2 e 30% - faixa 3) da frota avaliada
está dentro dos limites estabelecidos pelo CONTRAN (até 60% de densidade /
faixas 1,2 e 3 da Escala de Ringelmann) e 38% (20% - faixa 4 e 18% - faixa 5) não
está em conformidade, como demostra o gráfico 1.
Gráfico 1
Verificou-se ainda, que o tipo de veículo que teve, proporcionalmente, o maior
percentual de inconformidade foi o de tipo 2, caminhões de médio porte, com 52,63
% (faixas 4 e 5) e o de maior conformidade foi o de tipo 5, micro-ônibus, que
alcançou 90 % (faixas 1, 2 e 3), conforme demonstra a tabela 2, onde constam todos
os valores aferidos por tipo de veículo.
1 2 3 4 5
0%
5%
10%
15%
20%
25%
30%
Emissões de Fumaça Preta em Passo Fundo
Escala de Ringelmann
Pe
rce
ntu
al d
e v
eic
ulo
s
Resultado das Aferições por Tipo de Veículo
Tipo de VeículoEscala de
Ringelmann Total1 2 3 4 5
Caminhões de Pequeno Porte 2 4 10 6 3 25
Caminhões de Médio Porte 3 3 3 4 6 19
Caminhões de Grande Porte 2 2 1 1 6
Ônibus 1 1 2
Micro-Ônibus 2 5 2 1 10
Camionete 2 9 12 8 7 38
TOTAIS 9 23 30 20 18 100
Tabela 2
Considerando que a frota de veículos movidos a óleo Diesel registrados no
município de Passo Fundo é de 7.2632 unidades e que, segundo este estudo, 38%
não estão em conformidade com o que rege as normas do CONTRAN, pode-se
afirmar que 2.760 veículos circulam por esta cidade emitindo fumaça preta com
densidade exacerbada, provocando grande impacto ambiental atmosférico.
CONCLUSÃO: Este artigo teve a pretensão de suscitar o debate e a partir
deste, ações para o efetivo controle das emissões de poluentes e consequentes
reduções das mesmas, principalmente os materiais particulados (MP), oriundos dos
veículos movidos a óleo Diesel no município de Passo Fundo. A pesquisa feita de
forma aleatória, utilizando-se de técnicas e ferramentas homologadas pelos órgãos
competentes, revelou dados preocupantes, quando consideramos que 38% dos
veículos averiguados não estão em conformidade com a legislação (faixas 4 e 5,
80% e 100% de densidade, respectivamente) e que outros 30% ficaram no limite, ou
seja, na faixa 3 (densidade de 60%) da Escala de Ringelmann. Ao acumularmos as
2 Fonte: Divisão de Atendimento do Departamento de Trânsito do Estado do Rio Grande do Sul.
três faixas mais altas, onde a densidade excede os 60%, teremos um total de quase
sete veículos a cada dez (68%), emitindo fumaça preta, com alta densidade de
material particulado (MP). Fica evidenciada a necessidade da realização de
pesquisas mais aprofundadas sobre o assunto abordado neste artigo, para a
obtenção de dados científicos mais abrangentes, que retratem a realidade dos níveis
de poluição atmosférica em Passo Fundo. Iniciativas como a implantação de
inspeções veiculares obrigatórias, campanhas educativas aos condutores e
proprietários e também ações repressivas, como a aplicação de multas e
recolhimento de veículos, além do constante monitoramento da qualidade do ar,
certamente seriam caminhos para uma mudança na realidade constatada neste
trabalho. Como a qualidade de vida da população desta cidade, entre outros fatores,
está ligada diretamente a qualidade do ar que ela própria respira, entendemos que
se fazem necessárias a adoção imediata de medidas eficazes que possam controlar,
regular e reduzir efetivamente a emissão de fumaça preta, contendo material
particulado inalável (< PM10), expelidos pelos escapamentos dos veículos
propulsionados por motores de combustão de óleo Diesel.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. Determinação do grau
de enegrecimento da fumaça emitida por veículos rodoviários automotores com
motor diesel, utilizando a Escala de Ringelmann. NBR-6016.
BAIRD. Química Ambiental. 2007.
CONPET - Programa Nacional do Uso Racional de Derivados do Petróleo e
do Gás Natural. A Saúde da População e a Poluição Atmosférica. Programa
EconomizAR 2006. Disponível em www.conpet.gov.br. Acessado em 17/06/2010.
DERISIO, José Carlos. Introdução ao Controle de Poluição Ambiental. São
Paulo. CETESB. 1992.
PALÁCIO, J. Motores Diesel X Poluição. Disponível em
www.automotivebusiness.com.br. Acesso em 17/06/2010.
SALDIVA, Paulo. Poluição-Problema Médico in Médicos/HC-FMUSP. São
Paulo. Maio/junho/98. Ano I. Nº 2. p. 58-63.
ANEXOS:
Relação das leituras efetivamente realizadas com a Escala de Ringelmann, no
dia 11 de junho de 2010, na Avenida Sete de Setembro defronte ao Parque da Gare.
Fotos capturadas na Blitz onde foi realizada a pesquisa sobre as emissões de
fumaça preta, expelida por veículos movidos a óleo Diesel, no município de Passo
Fundo, em junho de 2010.
Foto 1
Foto 2
Foto 3