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Acta Scientiae Veterinariae, 2015. 43: 1297.

RESEARCH ARTICLE Pub. 1297

ISSN 1679-9216

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Received: 7 March 2015 Accepted: 20 June 2015 Published: 15 July 2015

1Departamento de Ciências Animais, Universidade Federal Rural do Semi-Árido (UFERSA), Mossoró, RN, Brazil. 2Departamento de Cirurgia, Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia (FMVZ), Universidade de São Paulo (USP), São Paulo, SP, Brazil. CORRESPONDENCE: G.B. Oliveira [[email protected] - Tel.: +55 (84) 8725-6510]. Av. Francisco Mota n.572, Bairro Costa e Silva. CEP 59625-900 Mossoró, RN, Brazil.

Artérias mesentéricas cranial e caudal do preá (Galea spixii)

Cranial and Caudal Mesenteric Arteries in the Yellow-Toothed Cavy (Galea spixii)

Gleidson Benevides de Oliveira1, Amilton Cesar dos Santos2, Radan Elvis Matias de Oliveira1, Felipe Venceslau Câmara1, Ferdinando Vinicius Fernandes Bezerra1, Hélio Noberto de Araújo Júnior1,

André Vinicius Nunes Silva1 & Moacir Franco de Oliveira1

ABSTRACT

Background: The yellow-toothed cavy is a wild rodent in the Caviidae family. It adapts well to captivity and may, in the near future, be bred on a large scale as an alternative source of low cost protein of high nutritional value. Considering the lack of information available on the vascularization of this species’ digestive system, and with the aim of contributing to the body of knowledge of this species’ biology, this study describes the origin and distribution of the cranial and caudal mesenteric arteries of the yellow-toothed cavy.Materials, Methods & Results: Twenty male yellow-toothed cavies, previously used in other experiments (CEUA N. 15/2014 and Process N° 23.091.000653/2014-26), were kept in a freezer at the Center for the Multiplication of Wild Animals (CEMAS / UFERSA). The animals were thawed, after which the thoracic aorta of each specimen was caudally cannulated and injected with red- or yellow-colored latex solution. The animals were then fixed in 10% formaldehyde solution, and dissected after 48 h, during which the branches of the cranial and caudal mesenteric arteries were described. In all cases, the cranial mesenteric artery arised from the section of abdominal aorta, at the section between the first and second lumbar vertebra, near the celiac artery, and it includes the following arterial branches: the caudal pancreatic duo-denal, middle colic, duodenojejunal and right colic arteries, as well as eight to eleven jejune arteries, and the ileocecocolic trunk, from which extend one or two colic branches, five to seven cecum branches, and the ileal artery. In all animals, the cranial mesenteric artery originates from the abdominal aorta, posterior to the testicular arteries. In all cases, the caudal mesenteric artery first emitted the left colic, then the cranial rectal artery. The left colic artery irrigated the intermediate portion of the descending colon, and forms an anastomosis with the middle colic artery, while the cranial rectal artery runs caudally, irrigating part of the final portion of the descending colon and rectum.Discussion: In the yellow-toothed cavy, as in other mammals, the cranial mesenteric artery originates directly from the aorta, immediately caudal to the celiac artery. The cranial mesenteric artery in degus, nutria, opossums, dogs, cats, and humans can originate from the celiacomesenteric trunk via a common trunk with the celiac artery. This configuration dif-fers from that observed in Galea spixii. The cranial mesenteric artery of the yellow-toothed cavy frequently gave rise to the caudal pancreaticoduodenal, middle colic, duodenojejunal, and right colic arteries, as well as eight jejune arteries, and the ileocecocolic trunk, in a pattern similar to that observed in rats, nutria, rock cavies, and rabbits. However, in rats and rock cavies, researchers report that the middle colic artery is the first branch of the cranial mesenteric artery. This configuration is rarely observed in the yellow-toothed cavy. The duodenojejunal artery is absent in rabbits, but present in the yellow-toothed cavy, in which the caudal mesenteric artery also originates independently from the abdominal aorta, as in other mammal species, or via a common trunk with the testicular arteries. This arterial configuration has never been reported in the literature. After its formation, the artery split into two branches: the left colic artery anastomosed with the middle colic branch, and the cranial rectal artery from which the sigmoid arteries departed, as has been reported in nutria, rock cavies, and agouti. The small and large intestines of the yellow-toothed cavy were irrigated mainly by collateral branches of the cranial mesenteric and caudal mesenteric arteries. Some branches may anastomose among themselves, and thereby supply blood during stenosis or obstruction of local blood vessels.

Keywords: mesenteric arteries, vascularization, intestine, Galea spixii, rodent.Descritores: artérias mesentéricas, vascularização, intestino, Galea spixii, roedor.

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G.B. Oliveira, A.C. Santos, R.E.M. Oliveira, et al. 2015. Artérias mesentéricas cranial e caudal do preá (Galea spixii). Acta Scientiae Veterinariae. 43: 1297.

INTRODUÇÃO

O preá (Galea spixii Wagler, 1831) é um roedor cavídeo de corpo alongado, com a superfície dorsal cinza-escura e ventre branco, que se adapta facilmente ao cativeiro e poderá, em um futuro pró-ximo, ser criado por produtores rurais, como fonte alternativa de carne de baixo custo e de elevado valor nutritivo [30,33-36].

A literatura registra escassos estudos sobre artérias mesentéricas cranial e caudal em animais silvestres, destacando-se os trabalhos realizados no Octodon degu [42], no roedor Hystrix cristata [2], no gambá [41], no mão-pelada [25], no tamanduá- bandeira [46], no mocó [41], no nutria [19,26], na paca [29], na preguiça [15], no veado-catingueiro [1] e na jaguatirica [40]. Em relação aos animais do-mésticos, são descritos estudos em coelhos [28,31], caprinos [14], ovinos [19], búfalos [27], no suíno [5], no gato [13,16] e no cão [24] e, ainda, os Tratados de Anatomia que fazem um breve relato [11,17,18,23].

É relatado em lagomorfos [3,47] e roedores [7,21,37,42] que a artéria mesentérica cranial surge a partir da aorta, caudalmente à artéria celíaca, enquanto a artéria mesentérica caudal surge como ramo da aorta abdominal.

Considerando a inexistência de dados sobre a irrigação dos intestinos de preá e informações de cunho morfológico que possam auxiliar na compreensão da fisiologia do mesmo, este trabalho teve como objetivo descrever a origem, ramificação e distribuição das artérias mesentéricas cranial e caudal no aparelho di-gestório da espécie silvestre, contribuindo assim para clínica médica e cirúrgica destes animais, bem como para anatomia comparada.

MATERIAIS E MÉTODOS

Foram utilizados 20 animais (machos), prove-nientes de pesquisas executadas com base nos princí-pios de bioética e bem-estar animal e aprovadas pelo comitê de ética os quais encontravam-se em freezer no Centro de Multiplicação de Animais Silvestres (CE-MAS) da Universidade Federal Rural do Semi-Árido, registrado junto ao IBAMA como criadouro científico (Registro n° 1478912).

Os animais foram descongelados e incisados medianamente para abertura da cavidade abdominal, sendo a artéria aorta canulada no sentido caudal para injeção de solução de látex Neoprene 6501 corado

com pigmento vermelho específico2. Posteriormente os animais foram fixados com solução aquosa de formaldeído a 10%, permanecendo na mesma por um período mínimo de 48 h. Decorrido este tempo, os animais foram dissecados e a origem e a distri-buição das artérias mesentéricas cranial e caudal analisadas e documentadas. Simultaneamente foram obtidas imagens fotográficas para dar suporte e ilus-trar a exposição dos resultados, sendo as estruturas denominadas com base na nomenclatura adotada pelo International Committee on Veterinary Gross Anatomical Nomenclature [22].

RESULTADOS

A artéria mesentérica cranial do preá originou-se a partir da aorta abdominal, surgindo caudal a artéria celíaca (Figura 1), entre a primeira e segunda vértebra lombar em dezoito animais e em dois casos, na altura da segunda vértebra lombar.

Figura 1. Origem da artéria mesentérica cranial (3) de preá. Artérias aorta (1), celíaca (2), mesentérica caudal (3) e artérias testiculares direita (5) e esquerda (5’). [Barra= 1cm].

A artéria mesentérica cranial dirigiu-se ventro-caudalmente e originou como padrão as artérias pan-creaticoduodenal caudal (PDCa), cólica média (CM), duodenojejunal (DJ), cólica direita (CD), jejunais (J), tronco ileocecocólico (ICC), que emitia um ramo cólico, quatro a sete ramos cecais, a artéria ileal (I) e a artéria cecocólica (CC). Emitiu como seu primeiro ramo colateral a artéria pancreaticoduodenal caudal e a cólica média em dezesseis animais (80%) e em quatro animais (20%), respectivamente (Figuras 2 e 3).

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Figura 2. Distribuição da artéria mesentérica cranial (1) de preá. Artérias pancreaticoduodenal caudal (2), duodenojejunal (3), cólica média (4) e jejunais (5), tronco ileocecocólico (6), artéria ileal (7), ramos cecais (8), primeiro ramo cólico (9), distribuídos pelo pâncreas (*) e duodeno (d), prega duodenojejunal (dj), cólon descendente (ct), jejuno (j), ceco (c), íleo (i) e cólon ascendente (ca). [Barra= 1cm].

Figura 3. Distribuição da artéria mesentérica cranial (2) de preá. Artérias Aorta (1), cólica média (3), pancreaticoduodenal caudal (4), cólica direita (5), jejunais (6) e os ramos cecais (8) e cólico (9). Verifi ca-se ainda a por-ção fi nal do duodeno (d), jejuno (J), ceco (c), cólon ascendente (ca), cólon transverso (ct), cólon descendente (cd) e reto (r). [Barra= 1cm].

A artéria pancreaticoduodenal caudal apre-sentou-se como primeiro ramo da artéria mesentérica cranial em dezeseis animais (80%) ou como segundo ramo nos demais casos. Após ser emitida bifurcou-se, emitindo um ramo direcionado a porção média do duodeno e pâncreas e o outro a parte fi nal do duodeno e também a porção caudal do pâncreas.

A artéria cólica média em todos os casos originou-se à esquerda da artéria mesentérica cranial, apresentando-se como segundo ramo da mesma e em somente em quatro animais (20%) surgiu como primei-ro ramo. Após um curto trajeto, bifurcou-se em ramos direito e esquerdo junto ao cólon transverso, sendo que o ramo esquerdo, descendente, segue o cólon descen-dente e faz anastomose com a artéria cólica esquerda, ramo da artéria mesentérica caudal, enquanto o direito irriga a porção fi nal do cólon transverso.

Quanto à artéria duodenojejunal, esta origi-nou-se em seis animais (30%) como segundo ramo da mesentérica cranial, surgindo imediatamente após a artéria pancreaticoduodenal caudal (Figura 2). Em 11 casos (55%) a mesma apresentou-se como o terceiro ramo surgindo antes da cólica direita e, em três (15%) surgiu como quinto ramo colateral da me-sentérica cranial. A artéria duodenojejunal inseriu-se na transição entre o duodeno e o jejuno, região onde encontra-se a prega duodenojejunal, enviando a esta, pequenos ramos, podendo o ramo jejunal desta arté-ria ocasionalmente (20%) fazer anastomose com a primeira artéria jejunal.

A artéria cólica direita apresentou-se em todos os casos como quinto ramo colateral da me-sentérica cranial e após curto trajeto dividiu-se em dois ramos, ambos muito longos, sendo um para a longa alça formada pelo cólon ascendente, à qual acompanha emitindo delgados ramos aos seus seg-mentos, até terminar junto à sua fl exura próximo ao cólon transverso; o outro ramo dessa artéria segue o cólon em direção inversa, direcionando-se para a porção inicial do cólon ascendente indo fazer anastomose com o primeiro ramo cólico da artéria ileocecocólica.

Quanto às artérias jejunais, estas variaram em número de oito a doze, sendo oito (45%), nove (20%), dez (20%), onze (10%) ou doze (5%), sendo que a última artéria jejunal direcionava-se até o íleo e fazia anastomose com a artéria ileal (Figura 4).

Já o tronco ileocecocólico apresentou-se em todos os casos observados como continuação da artéria mesentérica cranial. Este tronco, logo emite um ramo cólico que segue cranialmente no cólon ascendente até fazer anastomose com ramos da artéria cólica direita. Após emitir o ramo cólico, emitia quatro (25%), cinco (55%), seis (10%) ou sete ramos (10%) cecais e em seguida emitia a artéria ileal e continuava como artéria cecocólica, que logo bifurcava-se, emitindo um ramo ao ceco e outro ramo cólico, destinado a porção inicial do cólon ascendente, o qual seguia cranialmente e anastomosava-se com o primeiro ramo cólico (Figura 4).

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Quanto à artéria mesentérica caudal, em dezeseis animais (80%), esta após emergir da face ventral da aorta abdominal na altura da quarta vér-tebra lombar, imediatamente cranial à emissão das artérias ilíacas externas, divide-se em dois ramos, a artéria cólica esquerda, que segue trajetória em sentido cranial pela parede do cólon descendente, a ponto de fazer anastomose com o ramo descenden-te da artéria cólica média e a artéria retal cranial, que segue enviando ramos para a porção terminal do cólon descendente, e porção cranial do reto. Ressalta-se que em quatro casos (20%) a artéria mesentérica caudal originou-se por tronco comum com as artérias testiculares.

A artéria mesentérica caudal no preá é emi-tida na altura da quarta vértebra lombar, surgindo diretamente da aorta abdominal em dezeseis animais (80%) [Figura 5A], ou em via comum com a artéria testicular direita em dois animais (10%) [Figura 5B] ou em via comum com as artérias testiculares direita e esquerda, também em dois casos (10%) [Figura 5C]. Após ser emitida, logo bifurcava-se nas artérias cólica esquerda e retal cranial (Figura 5D). A artéria cólica esquerda seguia sentido cranial no cólon descendente, irrigando esta região e fazia anastomose em todos os casos com ramos provenien-tes da artéria cólica média. Já a artéria retal cranial dividia-se em dois ramos que suprem a porção fi nal do cólon descendente (artérias sigmoideas) e a por-ção cranial do reto.

DISCUSSÃO

A artéria mensentérica cranial no preá ori-ginou-se como segundo ramo colateral da aorta abdominal, surgindo caudalmente a artéria celíaca, sendo responsável por irrigar quase por completo os intestinos delgado e grosso, semelhante ao citado em animais domésticos [11,16-18,24,32], em roedores como o mocó [42], o nutria [19,26], a paca [29], o rato [20], e em outros animais como coelho [28,31], gambá [41], mão-pelada [25], veado-catingueiro [1] e na jaguatirica [40]. Já no degu, os autores [12,48] verifi caram que a artéria mesentérica cranial origina-se por tronco comum com a artéria celíaca, através do

Figura 5. Origem da artéria mesentérica caudal de preá. Em A, artérias aorta (1), celíaca (cabeça de seta), mesentérica cranial (estrela), mesentérica caudal (2) e renais (*). Tronco comum (seta) formado pelas artérias mesen-téricas caudal e testiculares direita (3) e esquerda (3’). Em B, verifi ca-se a artéria mesentérica caudal (2) surgindo da aorta (1) por via comum com a artéria testicular direita (3’). Evidencia-se ainda a artéria testicular esquerda e os testículos direito (TD) e esquerdo (TE). Em C, a artéria mesentérica caudal surgindo diretamente da aorta e posterior a origem das testiculares direita (3) e esquerda (3’). Em D, distribuição da artéria mesentérica caudal (1) e seus ramos, as artérias cólica esquerda (2) responsável por irrigar a porção fi nal do cólon descendente (cd) e a artéria retal cranial (3) que destina-se a porção cranial do reto. [Barra= 1cm].

Figura 4. Distribuição dos ramos colaterais da artéria mesentérica cranial (1) do preá. Verifi ca-se as artérias cólica direita (2) e jejunais (3) irrigando a porção fi nal do cólon ascendente e jejuno (j), respectivamente. Observa-se ainda o tronco ileocecocólico (4) emitindo as artérias cecais (5), o primeiro ramo cólico (6) que segue sentido cranial na parede do cólon ascendente (ca) e o segundo ramo cólico (6”) que irriga a parte inicial do cólon ascendente e a artéria ileal (7) que anastomosa-se com a última artéria jejunal (3’) e irrigam o íleo. [Barra= 1cm].

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tronco celíacomesentérico, diferente do observado no preá. Da mesma forma, é relatado no cão [44], no gato [49], em ruminantes [14,38,39], no ratão-do-banhado [26], no macaco-prego [4], no gambá [8] e em hu-manos [10,43], que este vaso pode surgir a partir do tronco celíaco-mesentérico, variação anatômica não encontrada no preá.

No preá, foram ramos colaterais da mesentérica cranial, as artérias pancreaticoduodenal caudal, a cólica média, a duodenojejunal, a cólica direita, a jejunais e o tronco ileocecocólico, que emitiu a artéria ileal, ramos cecais e a artéria cecocólica como ramo terminal, se-melhante ao descrito no rato [21] e no nutria [26]. No entanto, nestas espécies, os autores mencionam como primeiro ramo da mesentérica cranial, a cólica média, que no preá foi observado com menor frequência.

No mocó [42] é relatado que a mesentérica cranial origina as artérias cólica média, pancreatico-duodenal caudal, duodenojejunal, jejunal e ileocecocó-lica, sendo a cólica direita quando presente ramo deste último vaso, diferente do observado no preá, em que a cólica direita é o quinto ramo colateral da mesentérica cranial e foi emitida em todos os animais. Já no porco-espinho [2] é citado que esta emite como ramos, as ar-térias cólica média, cólica direita, pancreaticoduodenal caudal e os troncos jejunal e ileocecocólico, diferindo do preá, em que a artéria cólica direita apresentou-se como quinto ramo em todos os casos. Para o nutria, os autores [19] mencionam como ramos colaterais da mesentérica cranial, as artérias: pancreaticoduodenal caudal, cólica média, cólica direita, ileocólica, jejunais e ileal final. Estes resultados diferem dos observados no preá quando os autores descrevem como terceiro ramo da artéria mesentérica cranial a cólica direita, provavelmente devido à ausência da artéria duodeno-jejunal, não mencionada pelos autores.

Na paca [29] é descrito que a mesentérica cra-nial emite a artéria pancreaticoduodenal caudal, ramos pancreáticos e as artérias jejunais, íleocólica e cecais, podendo emitir ainda a artéria hepática [26,29], como citado também no bicho-preguiça [15], diferindo do encontrado no preá, cuja artéria é emitida na espécie unicamente pela artéria celíaca como descrito em trabalhos anteriores [34] e foge do padrão encontrado em roedores [2,7,19,21,42,48], lagomorfos [28,31,47] e outros mamíferos [13,14,24,25,27,40,41].

No coelho [3], os autores citam que a artéria mesentérica cranial emite as artérias cólica média,

pancreaticoduodenal caudal, cólica direita, um ramo ileocólico e um troco comum, as artérias jejunais. No preá, as artérias jejunais variaram de oito a doze ramos e surgem diretamente da mesentérica cranial antes da emissão do tronco ileocecocólico e não por tronco comum. Já outros autores [28] também no coelho, relatam que este vaso emite ramos pancreáticos e as artérias pancreaticoduodenal caudal, jejunais e ileo-cólica e ainda ramos cólicos, enquanto outros [31,47] mencionam a pancreaticoduodenal caudal, cólica média, jejunais, ileocecocólica e ileal, responsáveis por irrigar o íleo, ceco, cólons ascendente, transverso e a porção cranial do cólon descendente. Os achados para o preá divergem do relatado para coelho, já que no preá ocorre a emissão da artéria duodenojejunal, não mencionada por estes autores e ainda ao fato de que no preá a artéria ileocecocólica não irriga o cólon descendente.

Quanto a distribuição da artéria pancreatico-duodenal caudal, no preá esta se apresentou como primeiro ramo da mesentérica cranial semelhante ao descrito em ratos [20], coelhos [31,47], hamster dourado [37], nutria [19,26], veado-catingueiro [1] e gato [13,16]. É relatado no porco-espinho [2] e no porquinho-da-índia [45] que a pancreaticoduodenal caudal vasculariza o segmento caudal do duodeno e o lobo direito do pâncreas. Já no nutria [26], este vaso emite ramos pancreáticos e logo se divide em ramos ascendente e descendente, sendo que o ramo ascen-dente se apresenta curto e faz anastomose com o ramo duodenal da artéria duodenojejunal, diferindo do preá, cuja anastomose não foi observada.

A artéria cólica média se apresentou como segundo ramo da mesentérica cranial a exemplo do descrito no nutria [19,26], no coelho [31], no veado-catingueiro [1], no gato [13, 16] e, no preá, bifurcou-se em todos os casos, emitindo um ramo direito, destinado a região do cólon transverso e porção final do cólon ascendente, a ponto de fazer anastomose com ramos da cólica direita e um ramo esquerdo destinado a porção inicial do cólon descendente, que fazia anastomose com a cólica esquerda, situação relatada no porco- espinho [2]. Já no rato de laboratório [21], é relatado que a mesentérica cranial origina uma artéria cólica média dupla, responsável por suprir o cólon transver-so e a porção inicial do cólon descendente, podendo fazer anastomose com cólica esquerda, diferindo do observado no preá, cuja artéria é simples.

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A artéria duodenojejunal se apresentou como terceiro ramo da mesentérica cranial e logo se bifurcava para irrigar a região do duodeno e pâncreas, na região da prega duodenojejunal, semelhante ao observado no nutria [26] e o descrito para o mocó [42].

Quanto à cólica direita, é relatado que no rato [21], esta artéria se dirige ao cólon ascendente e se divide, anastomosando-se com as artérias jejunais, di-ferindo do observado no preá e de outros roedores como no porco-espinho [2], no porquinho-da-índia [9] e no nutria [19], onde os ramos da mesma se anastomosam com o ramo cólico proveniente do tronco ileocecocólico.

As artérias jejunais no preá variaram quan-to ao número de ramos entre oito e onze, embora a maior frequência observada tenha sido de oito ramos originados diretamente da veia mesentérica cranial. No nutria [19,26] é citado de sete a quatorze ramos jejunais, sendo mais frequente de oito a nove ramos, enquanto em cutias [6] foram observados de 11 a 29 ramos, sendo mais comum 16. Já em coelhos [26], verificou-se de 12 a 22 ramos jejunais, inclusive o último ramo jejunal fazendo anastomose com a artéria ileal, conformação também constada no nutria [19,26]. No porco-espinho [2], a irrigação do íleo dá-se através da artéria ileal que surge do ramo cólico e da última artéria jejunal, diferente do observado no preá, onde a artéria ileal surge direto do tronco ileocecocólico.

A artéria ileocecocólica no preá surgiu da mesentérica cranial, a exemplo do relatado no mocó [42], no coelho [31,47], no gambá [41], em caprinos [14], no gato [16] e no suíno [5].

No que diz respeito a origem da artéria mesen-térica caudal, na maioria dos animais esta originou-se da aorta abdominal, cranial à emissão das artérias ilíacas externas, como também observado em outros roedores [19,21,26,29,37,42] e em outros mamíferos [1,3,5,11,16-18, 23,40,41]. Ressalta-se, no entanto, que este vaso algu-mas vezes originou-se em tronco comum com as artérias testiculares, direita e esquerda ou em tronco unicamente com a testicular direita, constatação não relatada na litera-tura. Em caprinos [14], no entanto, é relatado a emissão da artéria testicular esquerda a partir da mesentérica caudal, vaso que no preá ou surgia da aorta abdominal ou por tronco comum com a testicular direita e mesentérica caudal.

Nos animais analisados, a artéria mesentéri-ca caudal após ser emitida, dividia-se em um ramo correspondente a artéria cólica esquerda, que se anastomosava com um ramo da cólica média e outro

representado pela artéria retal cranial, de onde partiam as artérias sigmoideas, semelhante ao evidenciado em outros roedores como no rato [21], nutria [26] e mocó [42] e diferindo do relatado no bicho-preguiça [15], cuja artéria mesentérica caudal, está ausente na espécie.

A exemplo do observado no preá, [3,47] é rela-tado no coelho que a mesentérica caudal é originada da aorta abdominal e logo emite as artérias cólica esquerda e retal cranial, responsáveis por irrigar a porção média e final do cólon descendente e o segmento cranial do reto, respectivamente. Estes resultados diferem do preá, já que os autores não verificaram a ocorrência de anastomose en-tre ramos da cólica média e cólica esquerda. Por sua vez, outros autores [28] citam em coelhos que a mesentérica caudal emite a cólica esquerda, de onde se origina a retal cranial, que logo emite as artérias sigmoideas, diferente do observado no preá, onde, a artéria retal cranial é ramo da mesentérica caudal e não da cólica esquerda.

CONCLUSÃO

As artérias mesentéricas cranial e caudal no preá originaram-se mais frequentemente da aorta abdo-minal, semelhante ao que ocorre em roedores silvestres como mocó, paca e nutria. Contudo a mesentérica caudal pode originar-se também por tronco comum juntamente com as artérias testiculares.

Na espécie estudada a artéria mesentérica cranial, frequentemente, emite as artérias pancreaticoduodenal caudal, cólica média, duodenojejunal, cólica direita, cinco jejunais e tronco ileocecocólico, sendo responsável por irrigar praticamente todo o intestino delgado e intestino grosso. Já a artéria mesentérica caudal é responsável pela formação das artérias cólica esquerda e retal cranial, irrigan-do a porção final do cólon descendente e reto. Ressalta-se ainda a ocorrência de anastomoses entre ramos colaterais das artérias mesentéricas cranial e caudal, fato que permite o suprimento sanguíneo nessas regiões em casos de este-nose ou obstrução dos vasos sanguíneos locais.

MANUFACTURERS1Du Pont do Brasil S.A. São Paulo, SP, Brazil.2Globo S.A. Tintas e Pigmentos. São Paulo, SP, Brazil.

Ethical approval. Os protocolos experimentais e os cuidados no manejo dos animais foram aprovados pelo comitê de ética da Universidade Federal Rural do Semi-Árido (CEUA/UFERSA), Mossoró, Rio Grande do Norte, Brazil [Parecer n. 15/2014 (Processo n. 23.091.000653/2014-26 e SISBIO n. 41547-1].

Declaration of interest. The authors report no conflicts of interest. The authors alone are responsible for the content and writing of the paper.

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