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UNIVERSIDADE CÂNDICO MENDES CURSO DE PÓS-GRADUAÇÃO ADMINISTRAÇÃO E SUPERVISÃO ESCOLAR MICHELE PESSOA As Ações do Supervisor na Escola Inclusiva RIO DE JANEIRO 2011

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Page 1: As Ações do Supervisor na Escola Inclusiva · 2011-04-03 · O presente trabalho de pesquisa focaliza o tema inclusão de alunos com necessidades ... é fundamental que se tenha

UNIVERSIDADE CÂNDICO MENDES

CURSO DE PÓS-GRADUAÇÃO

ADMINISTRAÇÃO E SUPERVISÃO ESCOLAR

MICHELE PESSOA

As Ações do Supervisor na Escola Inclusiva

RIO DE JANEIRO 2011

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MICHELE PESSOA

As Ações do Supervisor na Escola Inclusiva

Trabalho de conclusão de curso apresentado a Universidade Cândido Mendes como requisito para a obtenção da Pós Graduação em Administração e Supervisão Escolar.

Orientadora: Flávia Cavalcanti.

RIO DE JANEIRO

2011

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A meu Marido que dedicou seu apoio e amor, a favor desta minha jornada, me incentivando a lutar pelos meus ideais e me orientando para á vida, fazendo enfim crer em dias melhores.

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AGRADECIMENTOS

Primeiramente a Deus que me deu força para chegar até aqui, ao meu pai e minha mãe

que estão ao meu lado sempre, a amiga Bruna Regina, e principalmente ao meu esposo pó me

apoiar em todos os momentos.

Aos professores Lindomar, Pablo, e as professoras Flávia Cavalcanti e Geni Lima,

profissionais exemplares, na qual me apoiaram me incentivaram para que eu conseguisse

concluir o meu curso de Pós-Graduação.

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Amar não significa tornar o outro adaptado, submisso ou semelhante a nós. Amar significa liberta-lo, deixá-lo livre, deixá-lo viver. (Penny Mc Lean)

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SUMÁRIO INTRODUÇÃO............................................................................................................. 1. HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO ESPECIAL.............................................................

1.1 O QUE É UMA ESCOLA INCLUSIVA..................................................................

1.2 INCLUSÃO OU INTEGRAÇÃO.............................................................................

2.O PROFESSOR ESTÁ PREPARADO PARA A INCLUSÃO?................................

2.1 APRENDENDO A LIDAR COM AS DIFERENÇAS............................................

3. ESTUDO DE CAMPO.............................................................................................

3.1 O SUPERVISOR NA ESCOLA INCLUSIVA......................................................

CONCLUSÃO..............................................................................................................

REFERÊNCIASBIBLIOGRÁFICAS.........................................................................

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RESUMO

O presente trabalho de pesquisa focaliza o tema inclusão de alunos com necessidades especiais. Na escolha desse assunto percebi que a inclusão deve ser o início para que a sociedade receba estes seres especiais, oferecendo a oportunidade para que eles possam relacionar-se com seus amigos, com ou sem necessidades especiais, no contato com ambientes dos quais eles foram privados pela sua própria condição, oportunizando-lhes interagirem e vivenciarem situações como qualquer outro ser. Verifica-se, ainda, que o processo de educação inclusiva é um desafio a ser enfrentado, visto que, propõe mudanças no comportamento de todos. Pais, alunos, professores e funcionários devem se unificar para a construção de uma metodologia em que cada indivíduo seja considerado como um ser singular, com suas vontades, necessidades e potencialidades próprias, onde se respeite o seu ritmo de aprendizagem. Diante disso, é fundamental que se tenha coragem para se desafiar a fazer o que é melhor, apesar das barreiras que podem surgir. Trata-se de discutir a educação inclusiva como conceito e como prática, a partir dos princípios legais que a suportam e dos dilemas que produz. Palavras Chave: As Ações do Supervisor na Escola Inclusiva.

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INTRODUÇÃO

A "educação especial" é o ramo da educação que se ocupa do atendimento e da

educação de pessoas com deficiência em instituições especializadas, tais como escola para

surdos, escola para cegos ou escolas para atender pessoas com deficiência mental.

Historicamente a educação especial vem lidando com a educação e aperfeiçoamento de

indivíduos que não se beneficiaram dos métodos e procedimentos usados pela educação regular.

Crianças com necessidades especiais são aquelas que, por alguma espécie de limitação,

requerem certas modificações ou adaptações no programa educacional, para que possam atingir

todo seu potencial.

A Educação Especial desenvolve-se em torno da igualdade de oportunidades, em que

todos os indivíduos, independentemente das suas diferenças, deverão ter acesso a uma educação

com qualidade, capaz de responder a todas as suas necessidades. Desta forma, a educação deve

se desenvolver de forma especial, numa tentativa de atender às diferenças individuais de cada

criança, através de uma adaptação do sistema educativo. A inclusão é importante porque o ser

humano cresce num ambiente social, e a interação com outras pessoas é essencial para o seu

desenvolvimento. Percebe-se que a escola inclusiva deverá partir do princípio fundamental de

que todas as crianças devem aprender juntas, sempre que possível, independentemente de

quaisquer dificuldades ou diferenças que elas possam ter. Escolas inclusivas devem reconhecer

e responder às necessidades diversas de seus alunos, acomodando ambos os estilos e ritmos de

aprendizagem e assegurando uma educação de qualidade a todos através de um currículo

apropriado, arranjos organizacionais, estratégias de ensino, usam de recursos e parceria com as

comunidades.

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Como problemas de pesquisa apresentam essa questão: De que forma a inclusão

contribui no desenvolvimento da criança?

Os principais autores que embasaram essa pesquisa foram: LDB9394/96, (Leis de

Diretrizes e Bases), Freire, Vygotsky, Carvalho e Mantoan.

No primeiro capítulo discute-se a história da educação especial, o que é uma escola

inclusiva, inclusão ou integração, se o professor está preparado para a inclusão e a dificuldade

de lidar com as diferenças.

No segundo capítulo apresenta-se o estudo de campo.

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1. HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO ESPECIAL No Brasil, o atendimento às pessoas com deficiência teve início na época do Império

com a criação de duas instituições: o Imperial Instituto dos Meninos Cegos, em 1854, atual

Instituto Benjamin Constant – IBC, e o Instituto dos Surdos Mudos, em 1857, atual Instituto

Nacional da Educação dos Surdos – INES, ambos no Rio de Janeiro. No início do século XX é

fundado o Instituto Pestalozzi - 1926, instituição especializada no atendimento às pessoas com

deficiência mental; em 1954 é fundada a primeira Associação de Pais e Amigos dos

Excepcionais – APAE e; em 1945, é criado o primeiro atendimento educacional especializado

às pessoas com superdotação na Sociedade Pestalozzi, por Helena Antipoff. Em 1961, o

atendimento educacional às pessoas com deficiência passa ser Fundamentada pelas disposições

da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, Lei nº. 4.024/61, que aponta o direito dos

“excepcionais” à educação, preferencialmente dentro do sistema geral de ensino.

A expressão NECESSIDADES ESPECIAIS não deve ser tomada como sinônimo de deficiências (mentais, sensórias, físicas ou múltiplas), pois abrange uma série de situações e/ou condições pela qual qualquer pessoa pode estar submetida em decorrência de uma limitação, temporária ou permanente, oferecendo obstáculos em nossa vida em sociedade, considerando-se a idade, o sexo os fatores culturais, as condições de saúde, os quadro efetivo-emocionais, entre outro fatores. (FERREIRA E GUIMARÃES , 2003, p. 32).

A necessidade especial não deve ser tomada como sinônimo de deficiência, hoje todos

estão aptos a ter uma doença qualquer e ficarmos com algum tipo de deficiência que possa fazer

com que não se viva da mesma forma. Então as necessidades especiais não se referem às

limitações apresentadas pelas pessoas, mas as exigências da ampla acessibilidade que

oportunize as condições necessárias à independência e autonomia do sujeito. A partir da década

de 90, com a Declaração de Salamanca (1994) a qual teve como objetivo específico de

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discussão a atenção aos alunos com necessidades especiais reafirma-se o compromisso com a

educação para todos. No decorrer da história da humanidade, foram diversas as atitudes

assumidas pela sociedade em certos grupos sociais com pessoas com necessidades especiais,

tais atitudes foram mudando de acordo com os fatores econômicos, culturais, filosóficos e

científicos. À luz do século XXI não cabe mais discriminar ou excluir. Atitudes como estas se

tornam desajustadas. Porém, é preciso lembrar que foi a partir da reflexão sobre fatos

historicamente condenáveis que se percebeu a evolução de conceitos e condutas acerca das

pessoas com necessidades especiais. As pessoas portadoras de deficiência têm os mesmos

direitos humanos e liberdades fundamentais que outras pessoas e estes direitos, inclusive o de

não ser submetido à discriminação com base na deficiência, emanam da dignidade inerente.

Muitas crianças experimentam dificuldades de aprendizagem e têm, portanto, necessidades educativas especiais em algum momento de sua escolarização. As escolas têm que encontrar a maneira de educar com êxito todas as crianças, inclusive as que têm deficiências graves. (DECLARAÇÃO DE SALAMANCA, 1994, p. 17 e 18).

A inclusão é uma possibilidade que está sendo aberta para o aperfeiçoamento da

educação escolar para as crianças com ou sem necessidades especiais. A inclusão envolve a

mudança de atitude em relação ao outro, o outro é alguém que é essencial para a constituição

como pessoa.Incluir todas as crianças na escola supõe justiça, ética o direito de todas as crianças

terem acesso ao saber e a formação. Os professores costumam afirmar que não estão preparados

para a inclusão, o fato é que quando se deparam com uma situação diferente, o medo de

enfrentar o novo, gera certo receio ante a situação.

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1.1 O QUE É UMA ESCOLA INCLUSIVA

A escola dever estar preparada para receber essas "crianças", mas não uma preparação

apenas pedagógica. A estimulação deve ser feita em todos os aspectos, de forma global. Nossas

crianças especiais podem e serão muito mais do que são hoje, se acreditarmos no seu potencial e

desenvolvermos esse potencial. A educação inclusiva impõe uma reestruturação do sistema

educacional que objetive a transformação da escola em um espaço democrático e competente

para trabalhar com todos os educando sem distinção de classe social, gênero ou condições

pessoais. O conceito de escola inclusiva implica em uma nova visão da escola, que propõe no

seu projeto pedagógico (currículo, metodologia, avaliação, atendimento educacional

especializado) ações que favoreçam a interação social através de práticas.

O desafio com que se confronta a escola inclusiva é o de ser capaz de desenvolver uma pedagogia centrada na criança, susceptível de educar com sucesso todas as crianças, incluindo as que apresentam graves incapacidades. O mérito destas escolas não consiste somente no fato de serem capazes de proporcionar uma educação de qualidade a todas as crianças; a sua existência constitui um passo crucial na ajuda da modificação das atitudes discriminatórias e na criação de sociedades acolhedoras e inclusivas.(DECLARAÇÃO DE SALAMANCA, 1994, p.14).

O desafio da educação inclusiva é desenvolver uma pedagogia centrada na criança,

porque a escola inclusiva deve tentar auxiliar na medida do possível a construir um cidadão de

uma sociedade para todos. Incluir é preciso, no entanto, não é tarefa fácil. Para que haja inclusão

de fato, é fundamental que tenhamos uma formação humana, pautada no respeito às diferenças e

ao diferente, na afetividade, na responsabilidade social e no amor ao próximo. Quem não ama

não inclui.

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A educação inclusiva é discutida em nosso país a mais de uma década. A inclusão

escolar tem um longo caminho a percorrer, porque há muito o aluno especial vem sendo

segregado do convívio social. A presente pesquisa analisou a educação inclusiva norteada pelo

princípio da Preservação da Dignidade Humana, em busca da Identidade e do efetivo exercício

da Cidadania em consonância com a legislação brasileira em vigor, demonstrando que a

educação escolar que antes visava atender de forma individualizada o aluno especial em salas

especializadas, agora visa desenvolver as suas habilidades de forma a possibilitar a integração

destes na sociedade. “Repousa em princípios até então considerados incomuns, tais como: a

aceitação das diferenças individuais, a valorização de cada pessoa, a convivência dentro da

diversidade humana, a aprendizagem através da cooperação”. (SASSAKI, 1999, p. 42).

Em resumo: para os defensores da inclusão escolar, é indispensável que os estabelecimentos de ensino eliminem barreiras arquitetônicas e adotem práticas de ensino adequadas ás diferenças dos alunos em geral, oferecendo alternativas que contemplem a diversidade, além de recursos de ensino e equipamentos especializados que atendam a todas as necessidades educacionais dos educandos, com ou sem deficiência, mas sem discriminações. (FOREST,1985 apud MANTOAN, 2001).

Reconhecer as diferenças é essencial no caminho da integração e, principalmente, da

inclusão, onde se espera que o professor não faça da turma uma homogeneidade, trabalhando

como se todos tivessem a mesma capacidade na sua construção do conhecimento. A escola traz

consigo uma bagagem de cultura e de saberes que atendiam às necessidades de uma

determinada época e clientela. Se antes o excepcional era eliminado da sociedade, hoje ele tem

seu direito adquirido por uma lei, a qual o coloca como um ser igual às outras crianças, vivendo

como as outras e recebendo dentro de um estabelecimento de ensino sua formação educacional.

Para isso, há de (re) pensar com muita cautela sobre a estrutura escolar, nossa avaliação, nossa

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interação com as famílias e os conhecimentos adquiridos pelos professores para atender a este

aluno.

A escola brasileira é marcada pelo fracasso e pela evasão de uma parte significativa de seus alunos, marginalizados pelo insucesso, por privações constantes e pela baixa auto-estima resultante das exclusões escolar e social – alunos que são vítimas de seus pais, seus professores e, sobretudo, das condições de pobreza em que vivem, em todos os seus sentidos. Esses alunos são sobejamente conhecidos das escolas, pois repetem as mesmas séries várias vezes, são expulsos, evadem e ainda são rotulados como malnascidos e como hábitos que fogem ao protótipo da educação formal. (MANTOAN, 2006, p. 21).

A inclusão no ambiente escolar consiste em possibilitar à criança um desenvolvimento

dentro dos seus limites pessoais, e não de padrões impostos pela sociedade. Também consiste

em acreditar que a criança portadora de necessidades especiais é capaz de uma aprendizagem

rica e construtiva. Esta inclusão vem mostrar a questão do convívio e da educação da criança

portadora de necessidades especiais e, para isto, é da máxima importância o papel dos

profissionais e especialistas que atuam nesta área, afim de torná-la mais capaz para atender a

diversidade de pessoas, comuns e especiais respeitando as suas (necessidades) individualidades.

A educação da pessoa compreendida em uma dimensão bem ampla, ou seja, não só

educativa, mas também sócio-cultural, com o objetivo de desenvolver suas potencialidades, sem

destacar suas dificuldades, porém respeitando-as, aprimorando sua participação na sociedade.

Como a educação inclusiva é o processo de inserção de pessoas com necessidades especiais, ou

distúrbio de aprendizagem na rede regular de ensino, em todos os seus níveis, a escola é que

deve adequar-se aos seus alunos, visando, sempre, a inserção destes na sociedade. (A escola

inclusiva é uma realidade e para que ela funcione se faz necessário que a escola regular e

especial trabalhe em conjunto, atendendo não somente as crianças com necessidades especiais,

mas também aquelas que estejam experimentando as dificuldades temporárias ou os

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permanentes da escola, as que estejam repetindo continuamente os anos escolares, as que

estejam forçadas a trabalhar, as que vivem nas ruas, que moram distante de qualquer escola, que

vivem em extrema pobreza, desnutridas, vítimas de guerras, abusos contínuos (físicos,

emocionais e sexuais) ou as que estão fora da escola por qualquer outro motivo que seja.

(DECLARAÇÃO DE SALAMANCA – 1994).

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1.2 INCLUSÃO OU INTEGRAÇÃO

O conceito de integração se referia à necessidade de modificar a pessoa com

necessidades educacionais especiais, de maneira que esta pudesse vir a se identificar, com os

demais cidadãos, para então poder ser inserida, associada à convivência igualitária em

sociedade. Com o conceito de integração, o integrar constituía localizar no sujeito o foco da

mudança, e as reais dificuldades encontradas no processo de busca de “normalização” da pessoa

com deficiência. Isso era um conceito que não considerava que as diferenças, na realidade, não

se aniquilam, mas devem ser administradas no convívio social. Como se ao ser diferente fosse

razão para determinar sua inferioridade enquanto ser humano e ser social. Tanto a integração

como a inclusão possui o mesmo objetivo, o de inserir uma criança portadora de necessidades

especiais em uma classe comum de ensino, no entanto ambas o fazem de modos diferentes. Na

prática da integração, é a criança que deve se ajustar às condições da instituição, enquanto que

na inclusão, é a escola em conjunto com seu corpo docente, que se adéquam às necessidades

destas crianças para que sejam inseridas na instituição sem maiores problemas.

Tendemos pela distorção/redução de uma idéia, a nos desviar dos desafios de uma mudança efetiva de nossos propósitos e de nossas práticas. A indiferenciação entre o processo de integração e o de inclusão escolar é prova dessa tendência na educação e está reforçando a vigência do paradigma tradicional de serviços educacionais. Muitos, no entanto, continuam mantendo-o ao defender a inclusão! (MANTOAN, 2006, p.17).

Em sentido amplo, o novo paradigma da inclusão se faz pela consciência de que não se

pode mais aceitar a exclusão, por séculos construídos lenta e gradativamente pela humanidade.

A construção da inclusão que, em termos de educação, se dá na família, na comunidade, nas

agências sociais de educação e, em especial, na escola, significa a construção de uma

educação formadora dos valores de justiça, igualdade e fraternidade. A idéia da integração

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implica como recurso principal à promoção de mudanças no indivíduo, no sentido de normalizá-

lo. Enquanto que a idéia da inclusão antevê influências decisivas, em ambos os lados da

situação: no processo de desenvolvimento do sujeito e no processo de reajuste da realidade

social. Com isso atua no sentido de nelas causar as adequações e legitimações (físicas,

materiais, humanas, sociais) indispensáveis para que a pessoa com necessidades educacionais

especiais possa prontamente contrair condições de ingresso e acesso no cotidiano regular e na

convivência na sociedade, com inserção legitima nos direitos humanos. Com a convivência na

diversidade, há a possibilidade de proporcionar a administração das diferenças no aprendizado

das relações interpessoais, aspecto básico da democracia e da cidadania.

O processo de integração escolar tem sido entendido de diversas maneiras. O uso da palavra “integração” refere-se mais especificamente a inserção de alunos com deficiência nas escolas comuns, mas seu emprego dá-se também para designar alunos agrupados em escolas especais para pessoas com deficiência, ou mesmo em classes especiais, ou grupos de lazer ou residências para deficientes. (MANTOAN, 2006, p. 18).

O ato de integração é o princípio de normalização, que não sendo específico da vida

escolar, atinge o conjunto de manifestações e atividades humanas e todas as etapas da vida das

pessoas, sejam elas afetadas ou não por uma incapacidade, dificuldade ou inadaptação.

Para viabilizar a integração de pessoas com incapacidades no ensino regular, foi decidido que devem ser criados, em todas as escolas, serviço de apoio apropriado, dando-se ênfase ás crianças muito pequenas e a adultos deficiente, principalmente mulheres. Quando o sistema não tiver condições de atender a todos, integrados nas salas de aulas da educação comum, o ensino especial deve guiar-se pelas mesmas finalidades e objetivos do ensino regular, como todo o esforço dirigido para a melhoria de sua qualidade e promoção da integração possível. (CARVALHO, 1997, p. 53).

A educação especial tem que ser desenvolvida da melhor maneira possível. As

dificuldades são muitas, contudo devemos sempre ter esperança, ter sensibilidade, não colocar

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barreiras e não fechar os caminhos para que possamos estar capacitados como educadores para o

trabalho com a diferença, com a diversidade em sala de aula. Priorizar a qualidade do ensino

regular é um desafio que precisa ser assumido por todos os educadores. É um compromisso

inadiável das escolas, pois a educação básica é um dos fatores do desenvolvimento econômico e

social.

Todas as escolas deveriam acomodar todas as crianças independentemente de suas condições físicas, intelectuais, sociais, emocionais, lingüísticas ou outras. Deveriam incluir crianças deficientes e superdotadas, crianças de rua e que trabalham, crianças de origem remota ou de população nômade, crianças pertencentes a minorias lingüísticas, étnicas ou culturais e crianças de outros grupos em desvantagem ou marginalizados... No contexto destas linhas de Ação o termo ‘necessidades educacionais especiais’ refere-se a todas aquelas crianças ou jovens cujas necessidades se originam em função de deficiências ou dificuldades de aprendizagem. (CARVALHO, 1997, p. 56).

A escola, para a maioria das crianças brasileiras, é o único espaço de acesso aos

conhecimentos universais e sistematizados, ou seja, é o lugar que vai lhes proporcionar

condições de se desenvolver e de se tornar um cidadão, alguém com identidade social e cultural

e que possa ser estimulada cada vez mais nesse mundo difícil que a gente vive. O movimento

inclusivo, nas escolas, por mais que seja ainda muito contestado, pelo caráter ameaçador de toda

e qualquer mudança, especialmente no meio educacional, é irreversível e convence a todos pela

sua lógica, pela ética de seu posicionamento social. A escola é do povo, de todas as crianças, de

suas famílias, das comunidades em que se inserem. A escola prepara para o futuro. E é certo

que, se as crianças conviverem e aprenderem a valorizar a diversidade nas suas salas de aula

serão adultos bem diferentes de nós. O sucesso da inclusão de alunos com necessidades

especiais na escola regular decorre, portanto, das possibilidades de se conseguir progressos

significativos desses alunos na escolaridade, por meio da adequação das práticas pedagógicas à

diversidade dos aprendizes. E só se consegue atingir esse sucesso, quando a escola regular

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assume que as dificuldades de alguns alunos não são apenas deles, mas resultam em grande

parte do modo como o ensino é ministrado, a aprendizagem é concebida e avaliada.

O processo de revisão de o nosso fazer escolar inclui, necessariamente, a politização de todos os educadores, sejam professores ou gestores da educação. Dentre as inúmeras e complexas preocupações, destaquem-se as que dizem respeito aos baixos salários, as condições das escolas e ao tamanho das turmas. É muito difícil atender as diferenças individuais em turmas de 38 ou 40 alunos! (CARVALHO, 1997, p. 56).

A escola insere esses alunos nas classes, quando dispõe, principalmente, das salas de

recursos ou encaminhando os alunos a centros especializados, como forma de apoio pedagógico

à aprendizagem, o que se identifica mais como uma integração escolar, antes que inclusão,

propriamente, porque é uma condição apenas parcial de adaptação. A inclusão é uma expressão

nova, surgida a partir dos anos 80, calcada, sobretudo nos movimentos políticos e sociais a favor

de uma educação de qualidade para todos. Envolve o direito ao exercício de cidadania e requer a

transformação da escola e da sociedade para incluir todos os educando na corrente educacional.

Neste caso, ainda é uma utopia, a qual, com o recrudescimento desses movimentos em favor das

pessoas com necessidades especiais, vêm tomando mais força a cada dia. A integração é um

conceito mais restrito, que implica certas condições adaptativas da escola voltadas para a pessoa

com deficiência. Mesmo assim, nem todas as escolas possuem essas condições ou elas são

insuficientes.

A integração traz consigo a idéia de que a pessoa com deficiência deve modificar-se segundo os padrões vigentes na sociedade, para que possa fazer parte dela de maneira produtiva e, conseqüentemente, ser aceito. Já a inclusão traz o conceito de que é preciso haver modificações na sociedade para que esta seja capaz de receber todos os segmentos que dela foram excluídos. Entrando assim em um processo de constante dinamismo, política social.(MANTOAN, 1997, p.235).

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A inclusão é uma opção que não é incompatível com a integração, mas é um movimento

que vem questionar a política de organização da estrutura escolar regular e especial, sendo a

meta principal combater a exclusão na escola. A inclusão é antes de tudo uma questão de

direitos humanos. A inclusão é um processo cheio de imprevistos, sem fórmulas prontas e que

exige aperfeiçoamento constante.

Segundo Vygotsky (1989), “uma criança portadora de defeito não é simplesmente uma

criança menor desenvolvida que as demais, apenas se desenvolveram de forma diferente”.

O termo “integração e inclusão” são utilizados para expressar situações de inserção

diferentes, porem complementares. É bem provável que numa escola regular uma criança com

necessidades educativas especiais não atinja os objetivos propostos pela escola regular, contudo

há de ser observado o crescimento pessoal dessa criança, sua disponibilidade para a

aprendizagem, o seu desenvolvimento social. O espaço escolar é um espaço privilegiado pela

interação entre seres humanos, proporcionar a essa criança a oportunidade de estar interagindo,

convivendo nesse espaço social, diverso, rico e estimulante será o mínimo que se pode alcançar,

sem contar com a realização profissional que será saber que enquanto educadores, enquanto

seres humanos tiveram a oportunidade de contribuir para o desenvolvimento de uma pedagogia

que visa à interação do indivíduo com necessidades educativas especiais com o meio social.

Faz-se necessário acreditar que a inclusão é possível, acreditar na capacidade desta criança,

acreditar que ela tem um potencial a ser desenvolvido, desde que seja respeitadas a diversidade

e individualidade de cada uma, estabelecendo um vínculo afetivo entre os integrantes do

processo. E, a integração só acontece quando cuidamos de pensar cada projeto educacional, a

partir da avaliação das competências de cada um e a partir de uma reestrutura do projeto de cada

escola, pensando na adequação psicopedagógica as necessidades do seu público alvo.

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A “Educação Inclusiva” pode vir a se tornar uma excelente forma de ensino, desde que

se façam ajustes, visando à inclusão de alunos com bloqueios e dificuldades na aprendizagem.

Contudo, é necessário garantir, primeiramente, o resgate deste aluno na sua auto-estima como

aprendente.

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2. O PROFESSOR ESTÁ PREPARADO PARA A INCLUSÃO?

Mas a escola inclusiva não é feita de boas intenções, é feita de ações concretas, que

possibilitem a todas as crianças o aprendizado. A construção da escola inclusiva é um projeto

coletivo, que passa por uma reformulação do espaço escolar como um todo, desde espaço físico,

dinâmica de sala de aula, passando por currículo, formas e critérios de avaliação. É o que

chamamos de Inclusão com Responsabilidade, que implica compromisso com o processo

educacional por parte de todos que nele estão envolvidos: professores, pais, diretores, dirigentes,

secretários de educação, comunidade. É preciso que se pense a formação dos educadores, que

não é uma formação para a inclusão, pois não há como preparar alguém para a diversidade, mas

de formação na inclusão. A formação na inclusão não fornece respostas prontas, não é uma

multi-habilitação para atendimento a todas as dificuldades possíveis em sala de aula, mas é uma

formação que trabalha o olhar do educador sobre seu aluno, que lhe garante o acesso ao

conhecimento sobre as peculiaridades de seus alunos e que o ajuda a compreender as

necessidades que esse possa ter. Não é de hoje, no Brasil, que a questão da formação de

professores tem sido objeto de estudos e debates.

Ao professor da sala de aula comum é imprescindível, além da capacitação e de apoio,

que ele esteja preparado para receber o “novo aluno”, para que a inclusão não seja somente

física, mas que haja uma aprendizagem significativa para todos os alunos. Para que se dê essa

significativa aprendizagem é necessário saber o que o professor pensa, suas expectativas, suas

ansiedades em relação ao diferente. É preciso saber, também, o que esse professor necessita e o

que ele almeja. Nesse sentido, é que a representação que o professor faz de seu aluno é

importante, ela definirá a forma das relações entre eles e dará sentido às experiências a serem

vivenciadas. O professor deve trabalhar as diferenças como diversidade, pois são nelas que

construímos conhecimento. Devem ficar de lado os preconceitos e mostrar a todos os

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envolvidos no processo (pais, amigos, família e escola) que todos são capazes de desenvolver e

aprender e para que isto se realize é necessário modificar a sociedade e fazer com que todos

sejam inseridos na nela de forma autônoma e atuando como cidadão.

A educação não deve orientar-se por modelos, que induzem o professor a trabalhar

segundo princípios pré-estabecidos, utilizando instrumentos e recursos pré-determinados e em

condições de aprendizagem que ignoram a realidade concreta do aluno, da turma, da escola e da

própria sociedade. Não há modelos rígidos e imutáveis se a meta fundamental é a formação de

um ser humano autônoma, consciente da realidade que o cerca e apta a nela intervir.

Para Freire (1995), é importante que os professores saibam que a educação não é a

responsável pela transformação da sociedade, mas precisam ter clareza do papel que ela

representa neste processo de transformação, desenvolvendo com seus alunos uma proposta

pedagógica que o leve a apropriarem-se dos conteúdos historicamente construídos de forma

crítica e reflexiva.

O MEC por sua vez, deveria fornecer aos professores capacitação através de cursos específicos. Antes mesmo de o profissional tentar se especializar em alguma outra atividade ele deve se capacitar ou mesmo se preocupar em se capacitar para lidar com um ser especial. Esse tratamento irá facilitar o conhecimento e habilidade na prática de ensino é uma melhor confiança do profissional quando tiver que lidar com este aspecto. (ALVES, 2007, p.46)

O que ensinar como ensinar, como avaliar e quais objetivos a serem atingidos está

previamente estabelecidos e assegurados pelo sistema. Com esta organização, não há grandes

conflitos decorrentes das possíveis incoerências entre o que se pensa e o que se faz. Haja vista

que a função de um orientador/coordenador, nesta estrutura, é trabalhar estes conflitos e resolvê-

los de alguma forma para que o sistema possa continuar se sustentando. Quem não trabalha

nesta direção pode ser excluído ou precisa readaptar-se. Podemos dizer que educar é um ato

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político, na medida em que o professor como educador contribui na formação dos alunos,

tornando-se muitas vezes um modelo, um exemplo de alguém que prima por comportamentos

éticos e morais. O professor tem a oportunidade de crescer juntamente com os alunos e

instrumentalizá-los a fim de que possam participar ativamente como sujeitos da sua história e

não como objetos manipuláveis.

Visualiza-se que as concepções e práticas, em relação à formação de professores, vêm se

alterando ao longo dos tempos, ao largo de mudanças sociais mais amplas. Assim sendo, no

incurso do processo de abertura e democratização, sobretudo da escola pública, na emergência

de ser inclusiva, reside a necessidade de revisão dos processos de formação do professor que,

dentre outras tarefas, precisa incluir aqueles alunos que em razão das suas diferenças, eram

mantidos entre o rol dos “não escolarizáveis”.

A ansiedade e a rejeição que muitos professores manifestam diante da integração, em aulas de alunos com necessidades educacionais educativas especiais, estão estreitamente relacionadas, na maioria das vezes, com a falta de preparo e informação e com a inexistência de experiência. (GONZÁLEZ, 2002, p. 245).

Tentar responsabilizar o professor e os demais profissionais que atuam na escola pelas

dificuldades de implantação e implementação de um projeto de inclusão e integração às pessoas

portadoras de necessidades especiais é, no mínimo, ter uma visão míope da realidade da escola

brasileira. E, implantá-lo sem considerá-la é tornar inviáveis sua implantação e implementação

e, uma demonstração clara de absoluta falta de sensibilidade e ética com todos os envolvidos,

em especial, com as pessoas portadoras de necessidades especiais.

O grande desafio do profissional que atua na educação inclusiva é justamente articular o

que ele tem que ensinar com o que a criança já construiu, e com a maneira do estudante

aprender.

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2.1 APRENDENDO A LIDAR COM AS DIFERENÇAS

O próprio termo “diferença” vem sendo relacionado às temáticas vinculadas à Educação

Especial, como sinônimo de deficiência. Não é essa conotação que se busca aqui. Para auxiliar a

elucidar a concepção de diferença que aqui se propõe uma reflexão de Candau (2005 p.13),

pode contribuir. Para a autora, diferença não se contrapõe a igualdade, mas a uniformidade e

padronização, enquanto igualdade contrapõe-se a desigualdade. No entanto, não se pode

desconsiderar que, muitas vezes, o fato de ser diferente condiciona uma espécie de desigualdade

provocada pela discriminação.

A Inclusão Escolar só pode ser viável enquanto fruto e não como terra ou arado. Ela só

poderá acontecer realmente quando aquele que tem a função de plantar, ou seja, o professor e

toda a equipe que faz parte do funcionamento da escola, desde a direção até o servente,

mudarem sua atitude em relação ao lidar com a diferença, aceitando-a, estabelecendo novas

formas de relação, de afetividade, de escuta e de compreensão, suspendendo juízos de valores

que abarcam pena, repulsa e descrença.

Nesses espaços, a diferença “é o que o outro é” – ele é branco, ele é religioso, ele é deficiente, “é o que está sempre no outro”, que está separado de nos para ser protegido ou para nos protegermos dele. Em ambos os casos, somos impedidos de realizar e de conhecer a riqueza da experiência da diversidade e da inclusão. A identidade “é o que se”: sou brasileiro, sou negro, sou estudante... (MANTOAN, 2006, p.23).

A Inclusão Escolar depende, antes de tudo, de um reconhecimento humilde por parte da

Escola e da Sociedade, da qual aquela faz parte, da necessidade de se educarem a si mesmas

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para lidar com a diferença, antes de criarem técnicas, estratégias ou métodos. O equilíbrio para

mim reside, antes de tudo, em permitir que o aluno portador de necessidades especiais possa

interagir com os demais e vice-versa, e que ambos aprendam a lidar com as diferenças, não para

anulá-las, mas para poder usá-las como fonte de contato verdadeiro e de amadurecimento

mútuo. Desde então, o referencial da diferença vem nos ocupando e preocupando; desde então

sabemos que não se trata apenas de celebrá-lo. Estamos tentando, especialmente nas últimas

três décadas, lidar com as diferenças, conhecê-las, valorizá-las, enfrentar as relações de poder

que as hierarquizam.

Talvez tenhamos que começar essa transformação por reconhecer as diferentes culturas, a pluralidade das manifestações intelectuais, sociais e afetivas, para que seja possível construirmos nova ética escolar, que advém de uma consciência ao mesmo tempo individual, social e – por que não? – planetária! (MANTOAN, 2006, p.23).

"Não há dúvidas de que o grande desafio hoje é saber como lidar com as diferenças e

chegar ao aprendizado. A escola deve fazer da heterogeneidade um projeto coletivo, nunca

deixar que o professores tentem resolver as questões sozinhas. As principais dificuldades para se

trabalhar corretamente as diferenças, sejam físicas, culturais ou de aprendizagem, ainda é a falta

de informação do professor”.Infelizmente, não são todos que sabem que cada aluno tem um

ritmo próprio". Um bom trabalho, é claro, requer adequar os projetos de forma a atender a

todos. Ela defende que ninguém pode priorizar uma só cultura, uma só linguagem. Na prática,

isso significa conhecer e valorizar os conhecimentos e experiências que os alunos trazem de

suas famílias e amigos, e estar atento às necessidades e interesses de cada um. "Assim, é

possível abrir o leque de atividades e atrair todos os estudantes, sem exceção”.

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A solução é uma só: aceitar as diferenças e valorizá-las. Pense. A vida não seria um

imenso tédio se todos fossem iguais? Ao aceitar as pessoas (alunos, professores, vizinhos,

amigos) como elas são, aprendemos, nós também, a ser melhor. Afinal, é graças à maneira de

ser, pensar e agir de cada um que o mundo fica mais interessante.

A identificação da diferença, muitas vezes, pode ser usada como instrumento ideológico

com o propósito de justificar e fomentar a superioridade de uma cultura ou de um grupo sobre

os demais, mostrando as questões de poder e submissão: normalidade/anormalidade,

igualdade/desigualdade, eficiência/ineficiência/deficiência, capacidade/incapacidade,

riqueza/pobreza. Paulo Freire traz uma contribuição para esse trabalho, tendo em vista que a sua

pedagogia baseia-se no reconhecimento da diferença e na tese de que os seres humanos se

constroem e se desumanizam nas relações com o mundo. Ele não exaltou a diferença como um

valor em si, mas tomou-a como ponto de referência para sua prática pedagógica.

A realidade é essa, a sociedade que formamos é contraditória. Isso implica em que

devemos aprender a conviver com diferentes pontos de vista, respeitando os projetos de vida de

cada um. Por outro lado, a visão de que a constituição da sociedade é um processo histórico e

dinâmico, permitem compreender que esse limite é potencialmente transformável pela nossa

ação como seres sociais. Uma escola que pretende ser inclusiva precisa seguir o princípio

fundamental de que todas as crianças devem ser atendidas, levando em conta suas

particularidades, sejam elas quais forem. Declaração de Salamanca (1994, p. 23), as escolas

inclusivas devem reconhecer as diferentes necessidades de seus alunos e a elas atender; adaptar-

se aos diferentes estilos e ritmos de aprendizagem e assegurar um ensino de qualidade.

Talvez tenhamos de começar essa transformação por reconhecer as diferentes culturas, a pluralidade das manifestações intelectuais, sociais e efetivas, para que seja possível construirmos uma nova ética escolar, que advém de uma consciência ao mesmo tempo individual, social e – porque não? – planetária! (MANTOAN, 2006, p.24).

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Pensar a diferença nos remete à questão da constituição do sujeito, do processo de como

cada ser humano torna-se singular. É praticamente impossível negar as diferenças individuais

existentes entre os seres de uma mesma cultura, assim como de culturas diferentes. Para se

trabalhar com as diferenças é importante que o professor saiba o perfil da turma que terá de lidar

durante aquele período de tempo e aí sim delinear o seu planejamento no intuito de atender a

todos da melhor forma possível. Muitos são os obstáculos para se trabalhar com as diferenças,

dentre eles: o tipo de avaliação, grande número de alunos por sala de aula, sobrecarga da

jornada de trabalho dos docentes, crianças de mesma idade e com vivências tão diferentes, com

interesses opostos, etc.

Assim sendo percebemos que o docente deve preparar-se para enfrentar o público de sua

sala de aula, pois vai lhe exigir muito esforço, compreensão, estudos sobre as teorias existentes

e experiências vividas por outros, para poder ter um embasamento e conhecimentos de como

lidar com as diferenças em sala de aula. Muita leitura e paciência para atender a este apelo dos

discentes.

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3. ESTUDO DE CAMPO O meu estudo de campo foi realizado na escola E.E Edmundo Silva situada em

Araruama - RJ, no período de Fevereiro a Março, numa turma de 5º ano do ensino fundamental.

A escola tem 21 anos de fundação. Cada turma tem sua sala que, em geral, não é muito

grande. Os professores do Ensino Fundamental conseguem arrumá-las de diversas formas, mas

com restrições. De acordo com a coordenação pedagógica, todas as turmas, tanto as de Ensino

Fundamental quanto as do Ensino Médio, têm livre acesso a qualquer parte da escola no

horário que desejarem. Mas percebi que a escola não tem nenhuma estrutura para receber

crianças especiais.

O desejo da coordenação pedagógica não é seguir um único teórico, mas sim dar a

liberdade ao professor, após uma discussão e avaliação dos mesmos, de trabalhar com os teóricos

e instrumentos que mais se adequarem à turma. O desejo maior é construir o conhecimento e

fazê-los abstrair de forma plena, através do contato da criança com o meio em que vive e da

interação das crianças diariamente. A interação e as relações sociais são discutidas por Piaget

(2001, p. 30), “(...) a inteligência vai se aprimorando na medida em que a criança estabelece

contato com o mundo, experimentando-o ativamente".

A minha observação foi feita na turma 501. Na turma tinha duas crianças especiais, uma

com Síndrome de Down e a outra era deficiente auditiva. Durante o período de observação

percebi que a professora dava uma atenção maior para essas duas crianças. As crianças “ditas

normais” são pacientes e já estão acostumadas com as duas crianças, estão sempre ajudando,

mas têm sido prejudicadas frente à enorme sobrecarga que a professora tem para lidar sozinha

com uma turma inclusiva e dar atenção a uma criança especial, que apesar de ser doce, às vezes,

por pura curiosidade, comete atos hostis e até perigosos para com os coleginhas. Percebi que as

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crianças aprendem a todo o momento e em qualquer oportunidade, através de músicas e

brincadeiras. Perguntei para a professora se ela já tinha tido alunos com necessidades especiais e

ela disse que não, vi que ela é muito esforçada e consegue levar a turma a interagir sempre. O

professor como mediador, contribui para a construção de uma identidade do grupo, o

aprendizado de um funcionamento compete ao nível de equipe, com a conscientização das

diferenças e das desigualdades dos membros do grupo.

Até que ponto o professor está consciente da responsabilidade que tem nas mãos, quando recebe uma turma de alunos? Essa responsabilidade é abrangente, pois implica não somente transmitir conteúdos, ser responsável por uma disciplina, avaliar conhecimentos, dar notas ou conceitos, mas “toda a interação social, que vai desde a formação das primeiras impressões de cada aluno, ao jogo de alterações de todos os dias, às pequenas percepções (escamoteadas), ao controle das punições e das recompensas, aos sinais não verbais, enfim, a um complexo processo de interação interpessoal”. (EIZIRIK,1984, p. 14).

Não podemos negar as diferenças existentes entre os seres humanos, tanto dentro de uma

mesma cultura como de culturas diferentes. Essas diferenças se salientam mais ainda em sala de

aula, onde vivem em grupo de forma mais expressiva, por algumas ou muitas horas de seu dia.

Cabe ao professor trabalhar com as diferenças de forma a propiciar uma melhor aprendizagem

para todos. Isso não quer dizer individualizar o ensino, mas promover a cooperação no processo

ensino/aprendizagem.

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3.1 O SUPERVISOR NA ESCOLA INCLUSIVA

Supervisionar sobre todo o processo educativo, para que a escola possa alcançar

os objetivos da educação e os objetivos da escola, atuando numa organização para instruir os

professores na função certa com os alunos especiais ou não, desenvolvendo o currículo,

selecionando e treinando, providenciando junto a escola condições de trabalho, promovendo

material e recursos didáticos.

Nesse caso cabe ao supervisor auxiliar as situações da aprendizagem como “ensino de

qualidade”. Monitorando a ética profissional para atingir um ensino de qualidade principalmente

numa escola inclusiva.

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Temos uma escola igual para todos, sendo que todos são diferentes. A dignidade individual e a

dignidade coletiva são conseguidas pela participação de todos no desenvolvimento econômico,

social e cultural. Todos são iguais em direitos e devem ser respeitados por suas diferenças. O

professor precisa buscar respostas educativas que favoreçam o sucesso escolar de seus alunos.

Professores, amantes de sua profissão, comprometidos com a produção do conhecimento em

sala de aula, que desenvolvem com seus alunos um vínculo muito estreito de amizade e respeito

mútuo pelo saber, são fundamentais. Professores que não medem esforços para levar os seus

alunos à ação, à reflexão crítica, à curiosidade, ao questionamento e à descoberta são essenciais.

Educadores que, ao respeitar o aluno adquiri através de suas experiências de vida

(conhecimentos já assimilados), idade e desenvolvimento mental, são imprescindíveis. A

relação estabelecida entre professores e alunos constitui o cerne do processo pedagógico. É

impossível desvincular a realidade escolar da realidade de mundo vivenciada pelos discentes,

uma vez que essa relação é uma “rua de mão dupla”, pois ambos (professores e alunos) podem

ensinar e aprender através de suas experiências. É fundamental, investir na formação do

professor no sentido de ajudá-lo a desmistificar conceitos e preconceitos, tornando-o mais

consciente, crítico, participativo e comprometido com a construção de uma sociedade mais

democrática.

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CONCLUSÃO

As escolas ainda resistem muito à inclusão, no sentido pleno e total, que engloba todos

os alunos, sem exceção, entre os quais os que são ou estão mais severamente prejudicados. Mas

há muitas que já estão aderindo à idéia e modificando seus procedimentos, incrementando seus

projetos de ação, aprimorando o trabalho de suas equipes pedagógicas para incluir,

incondicionalmente, todos os aprendizes porque é justo e desejável agir assim. Estas propostas

rompem com as práticas escolares dominantes e apontam para a necessidade de o processo

ensino/aprendizagem ser banhado na riqueza, na subjetividade, nas diferenças e no dinamismo

das transformações que ocorrem na vida, dentro e fora das escolas, quando entendemos que o

conhecimento é produzido no caldo do cotidiano e inventado no encontro dos saberes e dos

fazeres dos que o constroem, com suas mãos e com suas mentes. Esperamos que com a escola

inclusiva, amadureçamos socialmente e não possamos mais esconder tantos problemas que

ameaçam o futuro de nossos jovens debaixo do tapete.

A questão da diferença está relacionada à singularidade de cada ser humano, que deve ser

pensada a partir da constituição do sujeito. Há que se ressaltar que a maior parte dos professores

considera as diferenças em seu aspecto positivo. Não se deve considerar o professor descolado

da forma de organização do trabalho que realiza e, principalmente, da sociedade que produz

essa forma de organização. As concepções sobre a diferença trazida pelos professores refletem o

momento histórico e a sociedade em que esses docentes vivem sociedade esta que traz em si a

necessidade de padronização dos indivíduos.

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O caminho para a inclusão tem sido demorado e, nem sempre, totalmente conseguido.

Apesar de debates, resoluções, congressos, declarações e, até mesmo, as letras da lei, pouco se

tem desenvolvido em nossa sociedade. Pois as práticas confundem o paradigma da inclusão com

o paradigma da integração, na medida em que os governos, federal, estadual e municipal

admitem tal inserção, na maioria das vezes, sem condições mínimas necessárias para que a

inclusão ocorra. É necessário que a comunidade escolar tenha um diagnóstico da realidade

social, econômica e política em que viveu e vive a fim de que reconheça as diferenças étnicas,

sociais, religiosas, políticas, sexuais, e, portanto, individuais na qual está interagindo. Tal

atitude é fundamental para que ao confrontarmos conhecimentos reorganizássemos nossa

estrutura intelectual e psíquica estejamos aptos para trabalhar com as inúmeras redes de

subjetividades, os sujeitos presentes na escola.

A inclusão só será um sucesso se o desafio garantir uma educação de qualidade para

todos. A finalidade é que os alunos aprendam a conviver com a diferença e se tornem cidadãos

solidários. E para isso acontecer, a participação do professor é fundamental.

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