as cores de ser eu livro

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AS CORES DE SER: EU-LIVRO

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Prólogo da obra "As cores de ser: Eu-livro", a ser publicada na Bienal Internacional do Livro 2014, em São Paulo.

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AS CORES DE SER:EU-LIVRO

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Emannuel Baldavir

AS CORES DE SER:EU-LIVRO

1ª edição

São Bernardo do CampoGARCIA edizioni

2014

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AS CORES DE SER: EU-LIVRO – Emannuel Baldavir© 2014 Emannuel BaldavirTodos os direitos reservados

ISBN 978-88-65490-40-5

Dados Internacionais de Catalogação (CIP)

Baldavir, Emannuel

As cores de ser: Eu-livro / Emannuel Baldavir – São Bernardo do Campo, SP: Garcia edizioni, 2014.

ISBN 978-88-65490-40-5

1. Literatura brasileira I. Título. CDD – B869

Revisado por:Josué Sousa

Design Gráfico:GARCIA edizioni – SBC/SP

Impressão:Gráfica GARCIA

Editado por:GARCIA edizioni

Rua Doutor Vital Brasil 727 – 09664–000Vila Santa Luzia – São Bernardo do Campo – SP

Site: www.garciaedizioni.com.brE–mail:[email protected]

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DEDICATÓRIA

Dedico esta obra a todas as pessoas que desejam a publicação do seu primeiro livro. Como foi escrito em um sábio site da internet: “todo bom escritor merece ser publicado e não pagar nada por isso, pois ele merece ter alguém que invista em seu projeto”. O escritor deve ter preocupação com a escrita e, em seu compromisso com ela, a missão de conduzir uma mensagem verdadeira ao leitor.

A realidade pode não ser muito agradável e se há condições financeiras de o autor investir na edição da sua primeira obra, não há erro nenhum em fazer isso. Mas se o novo autor não tem esses recursos, contudo, tem a dignidade de fazer com dedicação e zelo a sua profissão de representar por símbolos gráficos a linguagem falada, ele merece ser valorizado e ter a mesma oportunidade de ser publicado.

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Eu disse uma vez que escrever é uma maldição. Não me lembro por que exatamente eu o disse, e com sinceridade. Hoje repito: é uma maldição, mas uma maldição que salva. (Clarice Lispector em “A descoberta do mundo”)

Escrever é fácil. Você começa com maiúscula e termina com um ponto final. No meio, coloca ideias.(Pablo Neruda)

Escreve somente mais uma linhaPode ser de noite, de tarde, ou de manhãzinhaApenas conte mais uma historinhaA letra não te pune, a letra não te castigaEla só te pede na composição que você escrevaApenas uma linha. (Bridgit Baldavir)

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NOTA

Este livro é um fechamento de um ciclo, pois ele exigiu muito de mim, muito de minhas palavras e muito de lágrimas. Eu não sei por que ainda me atordoa pensar nele. Talvez seja porque, depois de terminá-lo, eu saiba que ele não termina de fato. Não espero mais por respostas conclusivas...

E. B.

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AGRADECIMENTOS

— Vai, agradece aí, garoto bom de cabeça! — eu falei.— Quero agradecer primeiramente a Deus, depois à minha mãe, depois aos

meus amigos verdadeiros, que sempre acreditaram em mim, e à minha melhor amiga, amiga a sempre crer nos meus escritos.

Ele estava jogando com esforço de lazer, o futebol com os amigos, enquanto eu lhe falava.

— Não tem mais ninguém para agradecer? — perguntei.— Claro, tem sim. Eu quero agradecer a todos os professores que sempre

estiveram presentes em minha vida, no passado, no presente e no futuro... Quero agradecer a Bridgit, que corrigiu e formatou o meu arquivo final a ser entregue, e acho que é só...

— Ué, e eu? Como fico?— Ah, não, você é muito chato, não vou agradecer não! — ele riu e

minha irmã também.— Quer dizer que você não vai me agradecer?!— Tá bom, eu agradeço ao Emannuel Baldavir, que entregou meu livro

junto aos seus materiais. Agradeço à amiga Marisa, à gerente Elaine, ao Paulo jornalista e ao Paulo professor do passado. A todas as pessoas que passaram o bem à minha vida. Quero agradecer a todos os amigos, leitores e leitoras, que um dia tomarão contato a meu livro, se for publicado.

— Ah, é, e se você for reprovado?— Sei lá, a diferença será quando eu for aprovado de verdade — ele

chutou a bola.— Então me diz o que é escrever para você?— Escrever para mim é um parênteses à vida. Um sinal gráfico se abre

para eu reforçar um sentido e outro que se fecha para completar o significado, ou colocar o ponto final. Dar uma nova sequência, um novo assunto, outra frase,

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oração ou parágrafo, minhas reticências... Escrever é aliviar as dores do passado, cicatrizando-as. Escrever um livro é brincar de ser feliz, por um momento, enquanto as páginas são redigidas. Escrever é não achar nas pessoas, o que elas poderiam ser, mas fazer delas, o que elas são, apenas deixando-as livres, apenas deixando-as cuidarem de suas próprias vidas, em vez de tentar achar nelas, o que outras pessoas gostariam que elas fossem, ou o mundo idealizado por elas. Escrever é ensinar as pessoas a cuidarem de si mesmas, em vez de ficar criando problemas e ofendendo-se por tudo que há de diferente no mundo. Não ter opinião sobre algo, é muito saudável. Não ter todas as respostas e não colocar o mundo à sua própria concepção de vida, não é errado. É o certo. Uma das vantagens de escrever é poder dizer: “eu não sei”. E eu não sei e ainda preciso aprender e muito. Escrever é não saber. E não há problema nenhum não saber, não ter opinião sobre um assunto e não tentar ser especialista do mundo e sobre as pessoas. Quando as pessoas começarem a se ver, pela própria escrita de suas vidas, talvez haja menos tempo de buscar defeito nas outras. Quando cada um fizer de sua vida, a escrita de algo em favor do bem de verdade, da família — e não somente um discurso preconceituoso —, travestido de “bom mundo”, a humanidade consiga caminhar sem tanta punição, sem tentar expurgar “o mal” com alguma punição, sem tentar justificar o tudo que ainda não é compressível. Quando as pessoas puderem se ver de verdade, pela escrita de suas vidas, sem tantos estereótipos, talvez elas tenham algo de que falar em prol da sociedade.

Somente quem sentiu a dor da falta de inclusão, sabe o que é ter um sonho realizado.

Quer escrever e publicar um livro, novo autor, menino ou de mais idade? A primeira página foi aberta.

Até breve!(Texto do novo autor, Emannuel Baldavir)

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SUMÁRIO

Parte IO menino que deseja publicar um livro.......................................15Parte IIUma fábula para algum conto......................................................158

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Parte IO MENINO QUE DESEJA

PUBLICAR UM LIVRO

Carta de Apresentação e Sinopse do Livro

São Paulo, 09 de algum mês e ano

“Prezada Editora,Venho por meio desta carta, apresenta-me a vocês,

profissionais de avaliação, como novo autor. Depois de muito pesquisar, encontrei em vocês a oportunidade de ser avaliado com mais justiça. Como vocês editam muitos livros, de vários gêneros, penso que vocês vão entender com mais profundidade o meu gênero e estilo literários. Eu sou de São Paulo, escrevo ficção e, para mim, vocês talvez sejam os mais adequados à minha composição...

Escolher uma editora é como encontrar, no livro lido por mim, a nordestina que põe para fora uma estrela de mil pontas, quando chega ao clímax de sua vida. Um dia eu li o livro e espero poder encontrar a estrela escondida no meu íntimo. Se eu souber perdoar a Deus — meu perdão dado e recebido por Ele — será no entendimento de que o amor é o cálculo matemático errado, capaz de somar as incompreensões para entender de verdade a profundidade das coisas...

Um dia eu li livros na escola e fiquei admirado com a produção deles, com as páginas editadas de uma vida, contada em cada linha. Depois de aprender mais sobre literatura e pesquisar com cuidado quem poderia me olhar como novo autor — que tenta respirar o próprio fôlego —, apresento-me a vocês para contar o

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conteúdo do meu livro.O meu livro é construído em memórias desde o meu tempo de

criança e, em páginas amarelas, conta a pintura de uma cidade e suas considerações, no viver entre as pessoas. Foi difícil escrever o tempo, às vezes, cronologicamente insensato na realidade, mas perfeitamente adequado ao que se conta na história de verdade. Depois de ter a minha história pensada, no dia de meu aniversário, eu recebi de presente os meus motivos de ser escritor. Hoje, faz sete anos que aprendi a não desistir de cada detalhe contido nele e, com mais visita aos meios na realidade, cheguei à minha escolha de vida: eu quero ser escritor! — carreira contada desde o dia em que me decidi por ser um novo autor.

A realidade pode não ser muito feliz, porém, eu me fiz uma pergunta: por que eu escrevo? Eu escrevo, pois precisava responder esta pergunta dia a dia. Não somente respondê-la, precisava vencer as muitas mentiras ditas por aí e, na tentativa de respostas, ter mais perguntas na realidade...

A minha preocupação é a escrita, a apresentação, o tema e o ensaio construído a partir da pesquisa, da leitura e do pensamento. Desculpem-me, mas eu não entendo nada de marketing, divulgação e milhares de coisas que preciso fazer antes de escrever. Eu só quero escrever. Sinceramente, se eu der minha opinião sobre algo diferente do conteúdo e do dizer, vou me perder inteiro e não direi nada do conteúdo. Eu só quero ser avaliado e o meu livro conta o que trago de meu, comigo.

A realidade pode não ser muito feliz e, por alguns contratempos, não pude entregar antes e somente o conteúdo apresentado na obra inteira — a história é longa e de muitas páginas. Por muitos inconvenientes, pedi ao meu amigo, Emannuel Baldavir, entregar o meu material de tanto tempo, junto aos seus trabalhos, de também para avaliação. Ele é de confiança e tudo de meu ele entrega com o meu consentimento. A forma que eu pensei, ele também a preservou, para avaliação.

Não sei se serei literatura em algumas críticas, mas antes de saber, eu preciso ser avaliado. Tentar pelo menos. Desta maneira,

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desejo a vocês avaliadores, a boa leitura — que também trago referências em minha postura — e contemplem na verdadeira medida a oportunidade, caso eu mereça uma...

Meu livro foi corrigido e lido por algumas pessoas amigas. Ele foi corrigido e formatado na apresentação pela minha amiga, Bridgit Baldavir. Sendo assim, só me resta aguardar a análise. Se não der certo, pelo menos eu tentei com justiça, a leitura crítica de meu livro em muitos estilos e por outros referenciados livros... Não quero um lugar que não seja meu de direito.

Se a aprovação não der certo, eu continuarei a escrever na minha sinceridade de motivos. Tentar mais uma vez. Escrever mais uma linha como me disse a minha amiga Bridgit Baldavir.

O meu primeiro livro conta páginas amarelas, na tentativa de ser publicado. Os demais de entendimentos ficam à leitura de cada pessoa. Tentei explicar o máximo que pude, agora não depende mais de mim.

Prezada Editora, espero tê-la eleita como possível ao meu estilo. Se vocês não souberem me avaliar, pode ser que ninguém mais saiba. Qualquer dúvida pode me perguntar. A obra está aberta a sugestões. Não enxergo nada como definitivo, sempre é possível recomeçar e reconstruir depois de uma notícia insatisfatória. Meu conto de ficção é a minha primeira história, história de uma história de vida.

No mais, seja bem-vinda a me ver como o mais novo escritor, pelo menos, mais um novo a tentar ser editado... São apenas novas páginas amarelas, no meu aniversário...

(Texto do jovem escritor)”.

Somente quem sentiu a dor da falta de inclusão, sabe a diferença de ter um sonho realizado.

A primeira página foi aberta. No dia do seu aniversário, o jovem escritor recebeu de presente, um livro com páginas amareladas, sem nenhuma palavra impressa. A madrinha Marlene, escolhida desde o seu nascimento, o aconselhou a escrever suas memórias, suas

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aventuras, suas ideias iniciais e seus pensamentos sobre sua jornada de vida; ela o aconselhou a contar seus sonhos.

Parece estranho em meio a sapatos e roupas, alguém dar de presente um livro. E parece mais estranho não ser um livro publicado, como outrora ele desejara. Sempre apreciou a leitura e fez dela passaporte para o mundo de possibilidades; os outros convidados lamentaram mais ainda e, em meio à alegria da comemoração, falavam pelos cantos sobre o insensato pensamento da convidada e quase parenta em dar ao aniversariante algo sem o menor valor comercial. Melhor teria sido dar-lhe mesmo roupas e sapatos, assim ele teria como utilizar os presentes por um bom tempo.

O menino abraçou a madrinha e, por um instante, pensou antes de abrir os outros presentes:

— Nossa, esse foi o melhor presente que eu já ganhei. — disse ele para o espanto dos convidados. Todos aqui sabem da minha necessidade em ter o que me vestir... Minha mãe, coitada, não tem muito dinheiro para me comprar sapatos novos, nem a camiseta mais bonita do shopping. Mas se eu pudesse ter a escolha de pedir algo nesse aniversário, eu queria mesmo ganhar livros. Porque os livros são caros, têm aqueles que são mais raros — eu nunca terei contato a eles —, e a biblioteca é longe da minha casa, e eles lá não me deixam ficar com o livro pelo tempo necessário de que preciso para terminar de lê-lo e, de semana em semana, eu preciso renová-lo se quiser ter mais uma chance. Mas eu já fico cansado só de pensar em gastar quase uma hora e meia até chegar à biblioteca. Ninguém merece! Então, às vezes, eu não renovo, pra não ter que ir lá de novo...

O que o jovem escritor dizia aos convidados é que ele tinha menos tempo de ler que os demais usuários da biblioteca mais próxima à sua casa. Se considerarmos o tempo de percurso contado por ele, o passeio leva três horas a pé: uma hora e meia de ida e mais uma hora e meia na volta. Feito a pé porque a passagem de ônibus é cara. E pode ser verdade, na cidade mais rica do Brasil, precisarmos entender a complexidade do sistema e seus reajustes para manter os salários e qualidade do transporte; apenas o jovem escritor desejaria a recíproca do entendimento se lhe fosse concedido uma oportunidade de ter um local mais próximo para emprestar-lhe

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livros, ou lhe fosse concedido o benefício da gratuidade do transporte para ele ter a mesma chance que outros de obter conhecimento.

Mas como não há, porque o sistema não deseja ter fraudes — ao conceber uma ideia dessas em benefício dos mais carentes —, ele tem um dia a menos para ler o livro. O jovem escritor chega tão cansado em casa por causa da verdadeira jornada, que prefere o próximo dia para começar a leitura.

O que há é dignidade de não pedir e não passar por baixo da catraca. O que não há dignidade é impedi-lo de sonhar e, assim, limitar suas possibilidades de ascender socialmente pelo seu trabalho.

Na sua escola pública também havia uma pequena biblioteca. Não eram muitos títulos no acervo, contudo, enquanto estudava na formação básica, podia contar com o local para lhe conceder por uma semana o contato a maravilhosas publicações e sem o cansaço anterior — ele estava sempre na escola. No entanto, no período de férias ela não era aberta, pois sempre entrava em recesso ou parava para reformar o espaço que nunca melhorava.

No tempo de sua escola pública ninguém o informou se ela poderia ser utilizada por ex-alunos. Nem as próprias bibliotecárias sabiam responder a sua dúvida. Elas pediriam informação, mesmo assim, a resposta nunca veio. Então, no seu aniversário, no ano de formatura do ensino médio, se pudesse ter a chance de escolher presentes, preferia livros à possibilidade de ter uma vestimenta mais decente para se apresentar ao público. Ele era tão privado em muitos aspectos... E um material impresso respondia tantas questões iniciais... Para ele, era melhor o livro.

Privado dos próprios meios de produção; ou roubado ao tê-los em forma bruta — talento —, melhor se tornou a intenção de conduzi-lo ao estágio de sonhos, semelhante aos filmes da Sessão da Tarde — único lazer democrático —, e quem sabe fazer como foi interpretado nas histórias mostradas neles: de um dia um diário ser colocado por engano na internet e a escola ter acesso e publicá-lo em seu jornal circular (porque as escolas desses filmes têm sua

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própria mídia impressa) e, pelo sucesso da obra, o escritor ser convidado a publicar.

Na prática, isso raramente acontece, porque as próprias escolas reais nas grandes cidades brasileiras não têm um espaço amplamente divulgado para novos talentos da língua escrita, ou de inserção social comum, pelo acesso à informação. E, para evitar fraudes, pode ser melhor não colocar obras inéditas na internet, alguém pode roubá-las se não tiver os registros de cumprimento à burocracia nada prática. Se não roubarem as obras, podem roubar as ideias. Além do mais, imprimir e pagar o valor de recolhimento de registro — atualmente R$ 20,00 — pode não ser condição real de todo mundo. E, se tiver na rede, pode ser que nenhuma editora convencional se interesse em publicar por meio impresso a obra. O medo é não vendê-la, porque dá para baixá-la de graça (download).

Sem imaginar tantos inconvenientes, a madrinha — escolhida desde o seu nascimento — optou por entregar-lhe em vez de uma tradicional publicação impressa, para contar-lhe um mundo de fantasias e coisas longínquas ao seu mundo, a possibilidade de contar por suas próprias mãos um sonho mais próximo à sua verdadeira condição.

Se não é possível o presente de um livro publicado, porque ele também é caro e raro às pessoas mais carentes, ser-lhe-ia melhor dar a chance de contar a sua própria história, editada por suas próprias mãos. Marlene reuniu algumas folhas em branco, amareladas pelo mofo, achou uma capa velha, caída de um caderno antigo, e grudou com cola bastão as folhas. Pediu à filha para ilustrar com recortes de revistas a capa, encapando-a com papel “contact”, para não estragar. Depois, sugeriu ao menino um título para a nova obra: “um Eu-livro para quem puder lê-lo.”

O melhor presente para o jovem autor, sem dúvida. Porque na escrita, ele criaria as chances omitidas em sua vida, desmentira sua fragilidade no compromisso frente a ela, não teria sonhos limitados nem roubados, seria apenas ele e seu presente recebido com muito carinho.

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Mais um presente escondido: no canto, enquanto todos reclamavam, ela levou o aniversariante para outro canto, para conversarem a sós, e lhe deu três canetas pretas e mais dez reais para comprar outras, caso aquelas acabassem ou falhassem por não serem de boa qualidade.

A primeira página foi aberta e como aconselha a burocracia: um prefácio para mostrar os objetivos, o conteúdo do livro, ou um texto inicial falando sobre o autor.

Todavia, o iniciante não sabia muito bem como montar o seu livro. Não teve os recursos de pagar um revisor, não tinha mais os professores disponíveis no tempo de escola para auxiliá-lo neste projeto e tinha medo de cometer rasuras, pois no texto manuscrito não existe o botão “delete”. Então, qualquer risco traria prejuízo ao seu livro e tiraria o espaço para colocar outros caracteres permitidos naquelas folhas e em seus pensamentos muito criativos.

Uma saída: arrumar outros papéis para lhe servir de rascunho, antes de passar a limpo o texto definitivo. Pode ser aquele papel de embrulhar pão na padaria. Mesmo frágil, era útil para servir a esse objetivo.

Pensamentos criativos, porque o livro do novo autor é ainda o seu início, após alguns reinícios... Em ideia central: sua vida são as partes que compõem o seu “livro-eu” — livro carta de e para um escritor, mesmo jovem.

(Texto de Emannuel Baldavir)

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Breve carta a Deus

São Paulo, 09 de setembro de 2004“Prezado Deus,O Senhor me conhece melhor que qualquer pessoa. Não sou

muito bom em concretizar sonhos, por isso eu peço tanto ao Senhor...

Peço, porque tenho um sonho: sou novo autor e não sei a quem devo recorrer para conseguir publicar o meu primeiro trabalho.

No primeiro ano pós-escola, eu quero saber se terei a chance de um dia ser lido como escritor. Não sei dizer se é uma profissão de fato, mas é um sonho meu, me ajuda Deus, ajuda-me a ter condições de ler os maravilhosos livros já escritos, ajuda-me a publicar meu primeiro livro, ajuda-me a colocar no papel, de forma correta, aquilo que acredito para ser lido. Se possível, pois sei que o Senhor é bem ocupado, coloca as pessoas certas no meu caminho.

Deus, nada para o Senhor é impossível, muito menos demasiadamente difícil para o Senhor realizar, está escrito na Sua Palavra, então eu acredito!

Desde já, agradeço-O por conceder um tempinho à minha carta, em forma de oração, pois eu posso Lhe dizer tudo pela fala, mas eu sou escritor e o Senhor entende o meu trabalho. Obrigado Senhor!

(Texto do jovem escritor)”.

Depois de convencer a Deus em oração a tomar partido em seu auxílio, as coisas começaram a tomar forma. No recém-criado Telecentro Itaquera, a possibilidade de achar o caminho. Ele não sabia mexer em computador, o “software” utilizado não era o popular conhecido da propaganda, havia outro — “software” livre no seu destino.

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Era uma possibilidade. Nunca teve outros meios de aprender informática, então, o local para incluí-lo ao mundo digital foi sua primeira oportunidade agarrada com afinco. Aprender, ainda que fosse utilizando sistema livre, proporcionou a ele ter algumas ferramentas para conhecer o desejado mundo da escrita.

No curso de introdução, aprendeu a formatar um texto, a mexer em planilhas de cálculos, a fazer uma apresentação em slides e, principalmente, navegar na internet.

Cada dia mexendo no computador, cada hora de curso gratuito e, depois, mais uma hora de tempo de uso livre — ele era totalmente dedicado a descobrir meios de construir com o que tinha o seu futuro. Não somente progredir do nada para o rumo, ele compartilhava os conhecimentos adquiridos e, mostrava aos familiares e amigos, uma nova forma de ser incluído no mundo das letras.

O Telecentro, por ser mais perto, permitia-lhe utilizar o tempo para ler textos na internet. Aprendeu rapidamente a navegar nos sites de busca, conheceu dicas online — muitas inúteis —, mas o auxiliara pelo menos na leitura. Contudo, ele ainda não tinha o bom crivo da seleção e da dúvida. Discordava no que podia. Estava suscetível a ler muitas coisas erradas na rede e, infelizmente, acreditou em texto difícil de ser reconstruído pela prática e crítica. Pelo menos, Deus não o abandonara e não deixara morrer seus sonhos. Quase desistiu da escrita, porque para alguns da rede: “nenhum bom escritor é bom o suficiente para ser lido” e as condições expiravam cada vez que um protocolo de determinações era instituído antes mesmo de produzir o original escrito.

Ele ousou digitar no navegador: “como escrever um grande texto”. E de imediato, nas primeiras páginas, um tanto de pragmatismo envolto de irrealidade que emerge da internet o pegou desprevenido e a muitos de seus jovens amigos. Dicas ingratas lhe serviram de alicerce por quase sete anos até poder se reinventar novamente como autor.

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“Quer publicar um livro? Faça o seguinte: envie o seu original pronto e sem erros de digitação nem concordância, garanta ter um grande texto em mãos, que logo nós avaliaremos sua obra e lhe enviaremos a proposta de edição.”

O escritor passou longos meses utilizando uma hora ao dia no Telecentro, digitando seu muito trabalho de meses num manuscrito. Se não bastasse o trabalho de digitar, precisou descobrir no novo “software”, como formatar o arquivo do jeito que lhe foi pedido. Havia uma série de normas: padrão de letras e fontes, tamanho da página, forma de cabeçalho, forma de rodapé, forma da folha de rosto (primeiro: descobrir o que é uma folha de rosto), depois de tudo isso, digitar o texto e enviar o arquivo.

O problema não era formatar o texto, sim o material de educação não ser adequado para auxiliá-lo na edição, utilizando o novo “software” disponível. Então, mais uma dificuldade, porque o aprendido no curso básico de introdução não era útil para resolver o problema do arquivo.

A primeira pessoa santa no caminho:— Então, Marisa, eu estou tentando formatar um arquivo e não faço a

menor ideia de como deixá-lo no formato adequado, senão ninguém vai ler o meu trabalho... — o escritor pediu ajuda à funcionária do Telecentro.

— Vou ver como posso ajudá-lo. — disse-lhe Marisa.Ela o ajudou com todo carinho, no entanto, a ajuda não era

suficiente no tempo permitido de uso. Não dava, pelo permitido do horário, resolver todos os problemas do menino. Marisa fez o que pôde para não desanimá-lo. E, quando viu o tamanho do caderno passado para arquivo digital, em mais de meses sentado em frente ao computador, dia após o outro, perguntou-lhe por que não enviou o manuscrito que já havia escrito. Ele a respondeu com muita honra:

— É que se eu mandar assim ninguém aceita. Eu li na internet que é prático ter o trabalho pronto em arquivo digitado; não é legal avaliar texto manuscrito. O trabalho precisa ser profissional e eu preciso ser profissional! É justo. A editora diz que faz tudo e, para realizar o meu sonho, ela só não escreve o meu livro. Então, eu vou fazer esse esforço de enviar o meu texto no

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formato digital. Ainda bem que eu aprendi a salvar no e-mail, assim eu não perco o meu trabalho de tanto tempo.

— Mas aqui diz que você precisa ter um grande texto em mãos. — relembrou-lhe Marisa.

— Eu já vi isso, espero saber o que é ter um grande texto em mãos. Você sabe o que significa ter um grande texto?

— Eu acredito que significa ter um texto sem erros. Sei lá, um texto limpo, claro, acho que é isso...

— É, eu estou certo, se for isso... Porque uma vez o meu professor lá no Paulo Lauro (Escola Estadual Dr. Paulo Lauro), me explicou como escrever uma boa história, e me emprestou um livro chamado “Do Texto ao Texto” e, depois, me emprestou o “Manual de Redação do Estadão”, que dava dicas de como produzir um texto sem erros de gramática; e falavam do texto em si, do prazer em escrever e os erros mais comuns cometidos durante a comunicação. Depois, lá na escola mesmo, o professor me fez uma pergunta: “Por que você escreve?”, e me disse que quando eu conseguisse responder a pergunta, com sinceridade e utilizando a língua de forma correta, eu teria o necessário para produzir um bom texto. Ah, eu fiz tudo que ele falou, e corrigi bem o meu texto, então eu acredito que tenho um bom texto. O meu livro escrito à caneta está com as folhas todas amareladas, foi de presente, mas as folhas estão todas manchadas, acho que ninguém ia acreditar que nas páginas tem um texto limpo.

A licença para produzir a obra se mostrava em todas as linhas reeditadas na própria vida. Marisa lhe concedeu muito mais que uma hora de uso. Concedeu-lhe muito além do permitido pela norma, porque antes dela vinha o ser humano. Não havia máquinas totalmente ocupadas, naquela época. O Telecentro era pouco conhecido. Por isso, pôde ajudar o garoto a quase finalizar seu primeiro trabalho.

Descobriu, depois de horas de tentativas, como deixar o arquivo formatado, segundo o exigido para avaliação, a partir da ferramenta disponível, e lhe disse:

— Eu li as primeiras folhas do seu livro e me parece ser uma história bem bonita a sua. Quando você publicar, me convida para o lançamento. Já pensou, estou aqui falando com um futuro grande escritor!

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— Espero que dê tudo certo, eu acredito nos professores e acredito nos livros lidos por mim, também acredito na editora. Mesmo sendo eu de Itaquera, posso um dia ser visto.

No entanto, havia uma ponte longa e de difícil percurso entre escrever uma obra e publicá-la. Depois da primeira avaliação, a notícia:

“Parabéns, achamos a sua obra digna de publicação. Segue o contrato de edição e um arquivo comunicando como você deve proceder para ter o seu livro publicado. Mais uma vez, parabéns!”

Infelizmente, no contrato havia cláusulas difíceis de ser entendidas, pelo menos, não foram comentadas na internet, muito menos nos livros emprestados pelo professor do sistema de ensino. No contrato, o autor precisava arcar com os depósitos legais da obra publicada e, em letras pequenas, diferentes da exigida para enviar o arquivo à avaliação, eram responsabilidades do novo escritor: entregar o manuscrito sem erros, contratar um profissional de revisão, elaborar a capa, o texto das orelhas, da contracapa, elaborar os materiais de divulgação, conseguir um local para lançamento — de preferência uma livraria — e pagar uma taxa à editora para disponibilização da obra.

Caso o autor não soubesse cumprir nenhuma dessas etapas de constituição e promoção do livro, ele poderia pagar num contrato à parte os custos desses serviços. Se o autor não pagasse a taxa da editora, era indeferido antes mesmo de assinar o contrato. Cada um tire as suas próprias conclusões. De qualquer forma, o jovem escritor fora parabenizado pelo texto apresentado. Quase dois mil reais custariam, a tiragem mínima de sessenta livros, que ele poderia vender aos seus conhecidos e assim recuperar parte do que foi investido.

O autor adiou o seu sonho por quase sete anos e, na sua primeira tentativa, uma coisa ficou evidente em seu trabalho: ter um bom texto em mãos pode não ser o suficiente para publicar um livro, talvez sejam necessárias outras coisas...

Uma coisa era certa: não existia uma única editora a se interessar pelo seu trabalho, pode haver outras, com outras formas de contrato

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e, sem perder a fé em Deus, nem nas pessoas, nem em livros e professores do passado, descobrir com os recursos que ele tem como editar seu primeiro livro, de forma profissional com ajuda de outros profissionais; e dar ao leitor, a chance de conhecer um novo autor, ainda que fosse de Itaquera, com todas as dificuldades enfrentadas para ascender socialmente.

Uma coisa também é certa em sua vida: contar as privações iniciais não pode ser mentido nos fatos para atenuá-los e simular uma realidade de fantasias.

Não é o seu único conteúdo de vida, mas fica um valor exato: o novo escritor precisa mesmo se preocupar somente com o texto. As dificuldades encontradas até ser aprovado na avaliação devem ser as mesmas para todos.

A edição deixe para a editora, ela tem melhores condições de dizer como deve ser a melhor apresentação do livro para o público; apenas dê a ela condições de no seu texto encontrar o conteúdo válido.

O remanescente é trabalhar muito com a escrita e aperfeiçoá-la para dizer a Deus, pela fé em seu trabalho, o valor de dignidade contido nele. Como se escreve um grande texto? O jovem autor começou com uma pergunta: “Por que eu escrevo?” — assim como lhe ensinaram e fazem os professores da Língua.

(Texto de Emannuel Baldavir)

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