as crÔnicas de Índias e os primeiros relatos da conquista do tawantinsuyu.pdf
TRANSCRIPT
-
7/24/2019 AS CRNICAS DE NDIAS E OS PRIMEIROS RELATOS DA CONQUISTA DO TAWANTINSUYU.pdf
1/25
Revista Crtica Histrica Ano V, n 9, julho/2014 I! 21"" # 99$1
AS CRNICAS DE NDIAS E OS PRIMEIROS RELATOS DA CONQUISTA DOTAWANTINSUYU
THE CHRONICLES OF INDIES AND THE FIRST REPORTS OF THE CONQUEST
OF TAWANTINSUYU
Tamara de Lima1
RESUMO: A histria da conquista do %a&antinsu'u2 termo quchua utilizado parareferenciar o territrio dos incas foi tema de inmeros trabalhos. Apoiados por
fontes quinhentistas, genericamente denominadas de !r"nicas de #ndias$, oshistoriadores ou aqueles que se ocuparam do tema, pelo menos at meados dosculo %%, preocupa&am'se com a tentati&a de reconstitui()o da histria daconquista tal e como ha&ia se passado realmente$. *ssa historiografia, de&edora dopositi&ismo, tambm se ocupara da quest)o da autenticidade do documento, de sualegitimidade, e buscou tra(ar algumas classifica(+es dessas cr"nicas agrupando'assegundo critrios distintos cronolgico, pelo assunto a que se dedicam e pelanacionalidade, profiss)o e etnia do cronista. *ssas classifica(+es apresentam algunsproblemas, pois e-istem cronistas e cr"nicas que n)o se encai-am em nenhumadelas, o que torna difcil a fi-a()o de uma categoria indiscut&el para essas fontes./s relatos que apresentamos neste artigo compartilham da caracterstica comum de
terem sido escritos por homens que &i&enciaram os fatos que narram, ou se0a, aconquista do %a&antinsu'u, mas ob&iamente, n)o optamos por seguir nenhumaclassifica()o. sso porque estamos cientes de que n)o se trata de um corpodocumental homog2neo, 03 que, entre outras coisas, esses relatos foram escritoscom diferentes intuitos, para leitores di&ersos e seus escritos refletem taisdi&erg2ncias. Ao final do te-to incorporamos um Ap2ndice 4ocumental queapresenta cronologicamente informa(+es detalhadas sobre as primeiras fontespublicadas sobre o processo de conquista do mprio nca.
PALAVRAS-CHAVE: !r"nicas de #ndias ' relatos da conquista conquistadores
ABSTRACT The histor5 of the conquest of %a&antinsu'u quechua 6ord used torefer to the territor5 of the ncas has been the sub0ect of numerous studies. 7ac8edb5 si-teenth'centur5 sources, genericall5 8no6n as 9!hronicles of ndia9, historiansor those 6ho cared about the topic, at least until the mid't6entieth centur5, 6ereconcerned 6ith the attempt to recreate the histor5 of the conquest such as it had
1 :estre em ;istria e !ultura aulista ?lio de :esquita@ilho =*B@ranca. *sse artigo fruto dos estudos realizados durante pesquisa de mestrado erecebeu au-lio financeiro da @unda()o de Amparo C >esquisa do *stado de aulo D@A>*E.
2 As quatro partes que forma&am o territrio dos ncasAntesu'u, Colassu'u, Contisu'ue
Chinchasu'u. n F/GAL*G ;/LF=, 4iego. Vocabularo !" la l"#$ua $"#"ral !" %o!o "l P"r&lla'a!a ((uc)ua o !"l I#ca. Lima =:
-
7/24/2019 AS CRNICAS DE NDIAS E OS PRIMEIROS RELATOS DA CONQUISTA DO TAWANTINSUYU.pdf
2/25
Revista Crtica Histrica Ano V, n 9, julho/2014 I! 21"" # 99$1
9reall59 happened. This historiograph5, supported b5 positi&ism, also dealt 6ith theissue of the authenticit5 of the document, its legitimac5, and tried to trace some
classifications of those chronics, grouping them according to different criteriachronological, the sub0ect the5 co&er and the nationalit5, occupation and ethnicit5 ofthe chronicler . These classifications ha&e presented some problems because thereare chroniclers and chronicles that do not fit in an5 of them, ma8ing it difficult toestablish an unquestionable categor5 for those sources. The accounts presented inthis article share the common characteristic of ha&ing been 6ritten b5 men 6hoe-perienced the e&ents the5 narrate, in other 6ords, the conquest of %a&antinsu'u,but ob&iousl5 6e ha&e not chosen to follo6 an5 classification. That happenedbecause 6e are a6are that this is not a homogeneous document bod5, since, amongother things, these reports 6ere 6ritten 6ith different moti&es, for di&erse readers,and the 6ritings reflect such differences. At the end of the te-t 6e ha&e added a
4ocumentation Appendi- that chronologicall5 presents detailed information on thefirst sources published on the process of conquest of the nca *mpire.*E+,ORDS !hronicles of the ndies ' reports of conquest conquerors
-
7/24/2019 AS CRNICAS DE NDIAS E OS PRIMEIROS RELATOS DA CONQUISTA DO TAWANTINSUYU.pdf
3/25
Revista Crtica Histrica Ano V, n 9, julho/2014 I! 21"" # 99$1
tradi()o$ na no&a dinastia de A&is, ou se0a, dei-ar por escrito a memria histrica
oficialP.
a *spanha, na segunda metade do sculo %, as cr"nicas passaram a ser
marcadas pela narrati&a da &ida de um monarca ou de um personagem ilustre. *ntre
elas, destaca'se a )stria *e )s+aaou Crnica -eneralD1JNNE de autoria atribuda
ao !onde de 7arcelos e a -ran*e e -eneral )striapossi&elmente redigida por
Alfonso % D1SS1'1SINE, o s3bio. A primeira trata dos primrdios da *spanha, das
in&as+es que sofreu a >ennsula brica e de uma parte da Reconquista. A -ran*e e
-eneral )striapretende ser uma histria uni&ersal e inicia'se com a cria()o do
mundo. essa obra, se misturam a histria, a lenda e os cUnticos de gesta. 4esde
ent)o, aparecem cr"nicas semelhantes que descre&iam a &ida e os feitos de uma
monarca. 4epois de Alfonso %, podemos destacar a obra do cronista >edro Lpez
de A5ala D1JJS'1NOQE que escre&eu quatro cr"nicas acerca dos reinados de >edro ,
*nrique , ?uan e *nrique . Lopez de A5ala registra uma histria que lhe
contemporUnea, fruto de suas obser&a(+es pessoais. >odemos destacar ainda o
cronista @ern3n >erez de Fuzm3n D1JQK'1NKOE que escre&eu -eneraciones '
e.lanasonde apresentou a biografia de mais de trinta pessoas ilustres que
&i&eram durante os reinados de *nrique e ?uan K. o conte-to poltico da poca,
acredita&a'se que um rei, para ser &irtuoso, de&eria inspirar'se nos bons e-emplos
de seus antecessores, que lhe indicariam o caminho correto a seguir 03 os sditos,
encontrariam na histria uma forma de singularizarem'se ao conhecerem suas
origensQ.
!om o mesmo nome de um g2nero que floresceu, sobretudo ao longo da
dade :dia, as cr"nicas na Amrica possuem caractersticas prprias que a diferemda cr"nica medie&al, uma &ez que a circunstUncia do descobrimento de um no&o
continente tornou poss&el outro tipo de escrita que &isa&a fundamentalmente
informar aos europeus acerca das no&as terras conquistadas, de modo a ampliar o
5 VARAL, Leandro. As cr"nicas ao sul do *quador. I!"a, !ampinas, &. S, n. 1J, p. 11'SJ,SOOK, p. 1J.
6 !ARRL/ **?/, @rancisco. Car%a . cro#%a !"l !"cubr'"#%o . la co#(u%a.Lima *ditorial ;orizonte, 1HIQ.
7 7*R:*?/ !A7R*R/, ?ose Luis. /rgenes del /ficio de !ronista Real. R"/%a H0a#a,:adrid !
-
7/24/2019 AS CRNICAS DE NDIAS E OS PRIMEIROS RELATOS DA CONQUISTA DO TAWANTINSUYU.pdf
4/25
Revista Crtica Histrica Ano V, n 9, julho/2014 I! 21"" # 99$1
mundo conhecido pela *uropa. 4enominadas genericamente de !r"nicas de
#ndias$ ' g2nero inaugurado por !rist&)o !olombo em 1NHS com seu 4i3rio da
primeira &iagem ' encontra'se um con0unto de te-tos &ariados que &ersam sobre a
conquista, e-plora()o e coloniza()o do o&o :undo. 4entre os diferentes tipos de
documenta()o que se agrupam sob esse nome est)o as informa(+es de ser&i(os,
as cartas, di3rios e rela(+es, para citar apenas alguns e-emplos seus autores se
diferenciam por serem espanhis, europeus de outras nacionalidades, mesti(os e
indgenas.
*ssa documenta()o suscet&el de classifica(+es mais concretas ' como
sugere Malc3rcel :artnezI', por distin(+es em seus tra(os formais e de contedo,
como no caso das Rela(+es e !artas que integram o corpo documental de nosso
artigo. /s cronistas, entre outras coisas, escre&eram para di&ersos apreciadores, em
momentos e por moti&os distintos e, seus escritos, ob&iamente, refletem essas
di&erg2ncias, por isso, acreditamos que classific3'los em distintos grupos
comple-o, pois as diferen(as entre um e outro tipo de documenta()o s)o muito
t2nues. ro&incial, 1HHQ, p. 1H.9
-
7/24/2019 AS CRNICAS DE NDIAS E OS PRIMEIROS RELATOS DA CONQUISTA DO TAWANTINSUYU.pdf
5/25
Revista Crtica Histrica Ano V, n 9, julho/2014 I! 21"" # 99$1
de problemas, pois e-istem cronistas e cr"nicas que n)o se encai-am em nenhum
modelo, assim, n)o f3cil fi-ar com e-atid)o uma categoria indiscut&el para a maior
parte delas. Alm do mais, a preocupa()o em classificar as cr"nicas peruanas e
oferecer dados biogr3ficos dos cronistas se fez presente na historiografia acerca do
tema desde meados do sculo %% at meados do sculo %%, historiografia essa,
de&edora do positi&ismo e preocupada com a quest)o da autenticidade do
documento. Alm da busca por tra(ar classifica(+es das cr"nicas, estas foram
utilizadas por pesquisadores com diferentes intuitos, principalmente para a
reconstitui()o da histriada conquista do %a&antinsu'u10
X curioso obser&ar que a pala&ra cr"nica aparece somente no ttulo de tr2s
relatos sobre as #ndias, um deles referente ao >eru, do soldado !iza de Len
intitulada Crnica *el (er, os outros s)o de !er&antes de edro :ario de Lobera DCrnica *el reino *e ChileE11. enhum
dos cronistas e-plica porque intitularam suas obras com esse &oc3bulo, acredita'se
que se0a pela comodidade e amplitude proporcionado pelo termo 1S, amplitude que
permanece nos estudos relati&os C documenta()o hispUnica colonial at os dias
atuais. /s pesquisadores utilizam'se desse termo para designar uma ampla gama
de te-tos. Ao longo dessa an3lise, muitas &ezes, tambm nos utilizaremos desse
termo genrico para designar nosso corpo documental as Rela(+es e as !artas.
As Rela(+es, em sua concep()o original, seriam informes de uma pessoa,
que as endere(a&a a uma autoridade ' geralmente o destinat3rio era o prprio
!arlos M ' na pretens)o de notific3'la sobre os descobrimentos, a conquista e
coloniza()o, a geografia, o clima, etc. A base do que de&eria ser essa Rela()o
encontra&a'se em um question3rio elaborado e distribudo pelo !onselho das #ndias,10 =m dos primeiros estudos sobre a conquista do >eru baseado nos primeiros relatos escritos
sobre o assunto de >R*eru, destacamos :ARV;A, !lements. T)" #ca o3 P"ru. London
-
7/24/2019 AS CRNICAS DE NDIAS E OS PRIMEIROS RELATOS DA CONQUISTA DO TAWANTINSUYU.pdf
6/25
Revista Crtica Histrica Ano V, n 9, julho/2014 I! 21"" # 99$1
de modo que se espera&a que as respostas de&essem ser imediatas e &erdicas.
:as, na pr3tica, as Rela(+es seguiram seus prprios caminhos e fizeram uso delas
qualquer conquistador que aspira&a ocupar uma importante posi()o na no&a
sociedade americana1J. Assim, as Rela(+es abarcam uma grande &ariedade de
te-tos que possuem como requisito maior o fato de terem sido escritas por homens
que participaram dos fatos narrados ou que esti&eram no local a que a narrati&a se
refere, para refor(ar sua &alidez e garantir sua &eracidade 1N. edro edro >izarro.
*sses homens n)o eram cronistas profissionais, mas nem por isso dei-aram
de ocasionalmente trocar a espada e a cruz pela pena, para nos relatar suas
impress+es sobre o o&o :undo e os seus feitos, muitas &ezes alme0ando
conseguir pri&ilgios da !oroa espanhola. a &erdade, os dois capit)es da
e-pedi()o que culminou na tomada de !a0amarca e na captura do nca Atahual+a
eram analfabetos, assim como a maioria dos homens que os acompanha&am, fato
que n)o se constitui em peculiaridade, pois no sculo %M a maior parte da
sociedade europeia era analfabeta e as rela(+es eram essencialmente de ordem
oral1P. Aqueles que alcan(aram as letras, em sua maioria, tambm n)o possuam
uma bagagem cultural muito ele&ada, apenas sabiam ler e escre&er. Alm disso,
seus te-tos refletem as condi(+es pelas quais passa&am, ou se0a, a troca da espada
pela pena se da&a de modo circunstancial e por diferentes moti&a(+es, com e-ce()o
de @rancisco de %erez e >edro
-
7/24/2019 AS CRNICAS DE NDIAS E OS PRIMEIROS RELATOS DA CONQUISTA DO TAWANTINSUYU.pdf
7/25
Revista Crtica Histrica Ano V, n 9, julho/2014 I! 21"" # 99$1
n)o satisfatria que lhe coube do botim repartido em !a0amarca. ?3 ?uan Ruiz de
Arce quis transmitir a seus filhos e descendentes a memria dos ser&i(os prestados
por ele, bem como por seu pai e seu a&" aos reis espanhis. @inalmente, 4iego de
Tru0illo e >edro >izarro escre&em a pedido do &ice'rei @rancisco de Toledo depois de
03 decorridos quarenta anos.
-
7/24/2019 AS CRNICAS DE NDIAS E OS PRIMEIROS RELATOS DA CONQUISTA DO TAWANTINSUYU.pdf
8/25
Revista Crtica Histrica Ano V, n 9, julho/2014 I! 21"" # 99$1
queda do %a&antinsu'u que temos. 4e regresso C *spanha para entregar ao Rei o
quinto de resgate do nca, ;ernando >izarro ao passar por izarro en&iou a >edro de Los Ros, sucessor de >edrarias 43&ila no go&erno do
>anam3, datada de dois de 0unho de 1PSQ. esse momento, >izarro e seus homens
encontra&am'se em apuros na ilha do Falo a espera de socorro. essas cartas
pri&adas predominaram fatores como a familiaridade entre os interlocutores, a
liberdade tem3tica e a espontaneidade.
-
7/24/2019 AS CRNICAS DE NDIAS E OS PRIMEIROS RELATOS DA CONQUISTA DO TAWANTINSUYU.pdf
9/25
Revista Crtica Histrica Ano V, n 9, julho/2014 I! 21"" # 99$1
suficiente para alguns desses cronistas compro&arem a &eracidade dos mesmos.
!ristbal de :ena, por e-emplo, cu0a Rela()o foi a primeira a ser impressa em solo
europeu, em 1PJN, se utiliza desse argumento e assim termina o seu relato * de
tudo isto dou f e declara()o como testemunha ocular porque em todas essas
coisas me encontrei presente$S1. >edro >izarro ao relatar suas memrias, tambm
se utiliza da mesma 0ustificati&a para dar credibilidade C sua histria
:uchos son, catolicsimo 5 clementsimo prncipe, los que han escrito lascosas destos &uestros reinos del >er, ans lo de la conquista dellos comode las cosas acontecidas despus que se poblaron de &uestros &asallosmas como los escritores no escriben lo que &ieron sino lo que o5eron, nopueden dar clara noticia de lo que escriben, 5 ans 5o, el menor de &uestros&asallos, acord sacar a luz lo que hasta agora ha estado oscuro 5 entinieblas, como persona que se ha hallado en estas pro&incias desde elprincipio de laconquista hasta el fin, 5 despus en todos los sucesos &ariosque ha habido SS
Acreditamos que por ter escrito sua Rela()o quase quarenta anos depois
da conquista, quando &3rios relatos 03 ha&iam sido escritos sobre o assunto, >izarro
reclama para si a confiabilidade na narrati&a dos acontecimentos, embasado no fato
de t2'los presenciado, ao contr3rio de outros escritores que s teriam escrito aquilo
que ou&iram. * ao final da cr"nica, o anci)o &olta a insistir na &eracidade de seu
te-to
Todo lo que aqu &a escrito paso ans i es &erdad, sin aadir ni componercosa alguna. ;e osado escribir esta historia porque los que me conocensaben ser 5o amigo de &erdad 5 que la trato siempre, 5 ans &a aqu todo loescripto con toda &erdadSJ.
Tr2s meses depois de publicado o relato da conquista de !ristbal de :ena
na *spanha, foi impressa a Rela()o de @rancisco de %erez, o escri&)o oficial dae-pedi()o conquistadora sob o ttulo Ver*a*era Relacin *e la Con6uista *el (er .
/ termo Ver*a*era com o qual se inicia o ttulo da cr"nica indicati&o da refuta()o
de %erez ao relato de :ena. esse caso, n)o o fato de ser testemunha daquilo
que escre&e que faz com %erez queira desmentir a cr"nica de :ena rei&indicando
21 :*A, !ristbal de. La conquista del >er llamada la ue&a !astilla. n GARR/, >edro. Relacin del descubrimiento 5 conquista de los reinos del >er. n
@*RW4*G, 4iego. Cr1#ca !"l P"r&6:adrid Atlas, 1HKJ'1HKP, p. 1KQ.23 bid, p. SNS.
253
-
7/24/2019 AS CRNICAS DE NDIAS E OS PRIMEIROS RELATOS DA CONQUISTA DO TAWANTINSUYU.pdf
10/25
Revista Crtica Histrica Ano V, n 9, julho/2014 I! 21"" # 99$1
para si a narrati&a da &erdade, 03 que ambos fizeram parte da e-pedi()o
conquistadora. Acreditamos que %erez assim o faz por ser o escri&)o oficial da
e-pedi()o, ou se0a, seu relato autorizado e assinado por @rancisco >izarro. Alm
do mais, :ena &oltou para a *spanha ressentido pela parte que lhe coube do botim
repartido em !a0amarcaSNe, tal&ez, %erez, cu0o relato enobrece a figura do capit)o
>izarro e seus feitos, tenha tratado de cuidar para que a sua &ers)o fosse a mais
aceita. ?3 o irm)o do capit)o >izarro, ao informar C Audi2ncia de i(arro, 3 informar 3 er la manera de la tierra 5 estadoen que queda porque creo que los que 3 essa ciudad &an, dar3n 3&uestras mercedes &ariables nue&as, me ha parecido escribir en suma losub(edido en la tierra, para que sean informados de la &erdad.SP
esse caso, pensamos que o capit)o ;ernando >izarro poderia estar
preocupado com o relato de !ristbal de :ena. :esmo que este somente tenha
sido impresso no ano seguinte ' mas apenas cinco meses depois de escrita essacarta ', acredita'se que :ena chegou C izarro em 1PJ1 e foi um de seus capit)es principais. :as, em
!a0amarca, passou a estar em segundo plano$ em rela()o aos outros capit)es
;ernando >izarro e aos recm'chegados ;ernando de izarro ao escre&er
que creio que os que a essa cidade &)o, dar)o C &ossas merc2s &ari3&eis no&as$SQ
preocupa&a'se 0ustamente com o relato de seu companheiro que lhe rendia
inimizades. Ao fim de sua carta, &olta a insistir no assunto se outra coisa se disser,
24 `... \ a muchos de los que lo ganaron dio menos de lo que merecan, 5 esto dgolo porqueas se hizo comigo `$. :*A, 1HIQ, op., cit., p. 11P.
25 >GARR/, ;ernando. !arta de ;ernando >izarro a la Audiencia de /RRA< 7ARR**!;*A, 1HPH, op., cit., p. QQ.
26 >/RRA< 7ARR**!;*A, 1HIK, op., cit., p. IP.SQ >GARR/, 1HPH, op., cit., p. QQ.
254
-
7/24/2019 AS CRNICAS DE NDIAS E OS PRIMEIROS RELATOS DA CONQUISTA DO TAWANTINSUYU.pdf
11/25
Revista Crtica Histrica Ano V, n 9, julho/2014 I! 21"" # 99$1
esta a &erdade$27
>ercebe'se, que a quest)o da afirma()o da &erdade era preocupa()o
importante desses primeiros cronistas. 4iego de Tru0illo, ao relatar suas memrias,
tambm termina seu relato buscando reiterar a &eracidade daquilo que escre&e ao
afirmar que o que aqui tenho escrito se passou em efeito de &erdade, sem que em
tudo isto ha0a pala&ra &iciosa$SHgualmente o faz >ero lus =ltra, 1HIK, p. 1NN.
31 VALCRCEL MARTNEZ, 1997, op., cit., p. 452-471.32 4e acordo com :ercedes
-
7/24/2019 AS CRNICAS DE NDIAS E OS PRIMEIROS RELATOS DA CONQUISTA DO TAWANTINSUYU.pdf
12/25
Revista Crtica Histrica Ano V, n 9, julho/2014 I! 21"" # 99$1
humanismo renascentista espanholJN, ou se0a, algumas ideias humanistas que
podemos encontrar nas cr"nicas se de&em muito mais Cquilo que esses homens
&i&encia&am do que propriamente ao conhecimento terico que possuam. / que
ocorre, e-emplarmente, na afirma()o da &erdade pelos cronistas nas suas obras,
tendo em &ista que esta foi uma preocupa()o presente na escola humanista.
=m desses cronistas, por e-emplo, toma parte na querela dos modernos
frente aos antigos. >ara os humanistas, os antigos ofereceram modelos liter3rios,
Dde como se de&eria escre&erE e &itais Dde como se de&eria &i&erE que precisa&am
ser imitados. o entanto, a busca pela imita()o dos modelos ad&indos da
Antiguidade reflete o af) desses homens em superar aos antigos e progredir em
rela()o aos imediatamente anteriores, ou se0a, os homens do medie&oJP. Assim, os
cronistas desse perodo propagaram com orgulho os feitos de suas e-plora(+es e
conquistas em que puderam re&elar um o&o :undo, at ent)o desconhecido,
inclusi&e para os antigos. >or isso argumenta&am que eles, os modernos, eram
superiores a estes, 03 que ignoraram a e-ist2ncia desse no&o continente apesar de
toda a sua sabedoriaJK. X interessante notar como @rancisco de %erez logo no incio
de sua cr"nica se e-pressa sobre o assunto
cu3ndo se &ieron en los antiguos ni modernos tan grandes empresas detan poca gente contra tanta, 5 por tantos climas de cielo 5 golfos de mar 5distancia de tierra ir a conquistar lo no &isto ni sabidoZ \ quin se igualar3con los de *spaaZ o por cierto los ?udos, Friegos ni Romanos, de quienm3s que de todos se escribe. >orque, si los romanos tantas pro&inciasso0uzgaron, fue con igual, o poco menor nmero de gente, 5 en tierrassabidas 5 pro&edas de mantenimientos usados, 5 con capitanes 5 e0rcitospagados. :as nuestros *spaoles, siendo pocos en nmero, que nuncafueron 0untos sino doscientos o trescientos, 5 algunas &eces ciento 5 aunmenos ` \ los que en di&ersas &eces han ido, no han sido pagados ni
forzados, sino de su propia &oluntad 5 a su costa han ido. \ as hanconquistado en nuestros tiempos m3s tierra que la que antes se saba que
34 bid., p. I1.35 La disputa entre antiguos 5 modernos, en *spaa desarrollada en los siglos %M 5 %M a
tra&s de literatura romance de todo tipo, lle&a insita un fondo de polmica lingstica e ideolgica.Lingstica porque la eleccin del latn o del castellano para desarrollarla 5a es un toma de posturacontundente a fa&or de los modernos. deolgica porque la preferencia de los modernos sobre losantiguos &a ntimamente unida a la idea de progreso en el desarrollo inicial de una sociedad]. Laidea del a&ance de los tiempos est3 en relacin con la conciencia de las edades del mundodesarrollada por el cristianismo, 5 se manifiesta en el Renacimiento por la defensa 5 e-altacin de lano&edad tema constante en casi todos los cronistas ', la cual implica de una actitud de imitacin
por emulacin a la imitacin por superacin de los modelos greco'latinos$.!i"., p.83-84.36 MAL!WR!*L :ART#*G, 1HHQ, op., cit., p. QI.
256
-
7/24/2019 AS CRNICAS DE NDIAS E OS PRIMEIROS RELATOS DA CONQUISTA DO TAWANTINSUYU.pdf
13/25
Revista Crtica Histrica Ano V, n 9, julho/2014 I! 21"" # 99$1
todos los prncipes fieles e infieles posean mantenindose con losmantenimientos bestiales de aquellos que no tenan noticias de pan ni &inosufrindose con 5erbas 5 races 5 frutas, han conquistado lo que 5a todo el
mundo sabe JQ
!omo percebemos, o cronista compara as fa(anhas militares dos espanhis
com as dos romanos para concluir que foram superiores a estes. /s homens desse
perodo busca&am o reconhecimento de que os feitos realizados por eles
representa&am uma grande ino&a()o, des&inculado de tudo o que os antecedera,
le&ando'os a acreditar, pelo menos no que concerne a seu campo de atua()o
nesse caso, a conquista de terras desconhecidas superiores a todos, inclusi&e aos
antigos, dos quais se argumenta que n)o alcan(aram anteriormente determinado
sucessoJI. X importante ressaltar que %erez n)o polemiza com os antigos acerca de
aspectos culturais e sim sobre fa(anhas martimas e militares, assim como o fizeram
demais cronistas conquistadoresJH que se considera&am superiores aos antigos
nesse ponto. /utro tema a ser obser&ado nessa passagem a ideia de
pertencimento a uma na()oNO' fen"meno renascentista ' e-altada pelo cronista e
e&idente, sobretudo, nos &ersos que dirige ao rei !arlos M, incorporados ao final de
seu relato
>or estas &irtudes tales5 por &uestra religinquiso 4ios no sin razndaros tales naturalesque ponen admiracinTan sabia gente 5 tan buenatan de esfuerzo 5 &irtud llenaque cuando os sucede guerraos defienden &uestra tierra
37 %*R*G, @rancisco de. V"r!a!"ra r"lac1# !" la co#(u%a !"l P"r&. *di()o de :aria!oncepcin 7ra&o Fuerrera. :adrid ;istoria 1K, 1HIP, p. PH'KO.38 :ARAMALL, ?os Antonio. A#%$uo . 'o!"r#o. Misin de la ;istoria e idea de progreso
hasta el Renacimiento. :adrid Alianza *ditorial, 1HHI, p. PS.39 MAL!WR!*L :ART#*G, 1HHQ, op., cit., p. QI'QH.40 La comunidad poltica de cada indi&iduo, que en la *dad :edia se denomina comnmente
tierra], pasa en el Renacimiento a nombrarse patria] 5, en un proceso de maduracin m3sa&anzado, nacin] Dneologismos que aparecen en el castellano en el siglo %ME. *ste cambiosem3ntico implica modificaciones en la percepcin 5 &aloracin de la comunidad poltica a la que sepertenece, en el sentido de que se a&anza ine-orablemente hacia la indi&idualizacin de los *stados5 su configuracin como entes singularizados 5 distintos a los dem3s. >ues bien, los cronistasmanifiestan en sus obras poseer una idea a&anzada de la pertenencia a una nacin 5 desarrollan apropsito de ella sus propias concepciones sobre los tpicos que sobre la patria se haban heredado
de la Antigedad Damor a la patria], morir por la patria], patria como &alor absoluto], etc.E, masdeterminadas esas concepciones por la e-periencia de las ndias `$bid., p. 1OQ.
257
-
7/24/2019 AS CRNICAS DE NDIAS E OS PRIMEIROS RELATOS DA CONQUISTA DO TAWANTINSUYU.pdf
14/25
Revista Crtica Histrica Ano V, n 9, julho/2014 I! 21"" # 99$1
5 os so0uzgan el a0ena.ueris &er qu tales sonsolos &uestros !astellanosZ
digan @ranceses, Romanos,:oros, 5 cualquier nacinqu3les quedan de sus manosingn seor tiene gentetan robusta 5 tan &alientechristiano, gentil, ni moro5 este es el cierto thesoropara ser el Re5 potente.A&enturando sus &idashan hecho lo no pensadohallar lo nunca halladoganar tierras no sabidasenriquescer &uestro estadoN1
esses &ersos percebemos que para %erez o rei pri&ilegiado por ter
&assalos cheios de &irtude e e-alta as qualidades dos espanhis pessoas s3bias,
boas, esfor(adas, guerreiras, robustas e &alentes, em detrimento de po&os de outras
na(+es. *sse cronista, portanto, n)o esta&a alheio Cs quest+es prprias dos
humanistas de seu tempo, mas o mesmo n)o podemos afirmar sobre os demais
conquistadores que estudamos, pois em seus escritos se ausentam desses debates.
o entanto, esses relatos partilham de algumas caractersticas semelhantesno tocante a aspectos formais, de estilo de escrita. Alm da constante preocupa()o
com a afirma()o da &erdade, podemos ainda destacar o temor que possuam esses
cronistas em serem proli-os em seus relatos, o que e-plica a bre&idade dos
mesmos. Assim, o primeiro escri&)o oficial da e-pedi()o, para e&itar proli-idade,
seleciona os fatos da sua narrati&a entre aqueles que a seu &er eram mais dignos de
men()o e no incio de seu te-to faz o seguinte alerta ao leitor dei-o de dizer muitas
coisas que sucederam, para e&itar proli-idade somente direi as coisas not3&eis que
mais &2m ao caso$NS. 4iego de Tru0illo aponta a mesma preocupa()o, porm, n)o no
incio do te-to, mas no seu trmino muitas outras coisas poderia dizer que n)o digo
para n)o ser proli-o$NJ.
Acerca dos po&os que encontraram pelo caminho e de seus costumes, a
preocupa()o com a proli-idade tambm pode ser &erificada. :iguel de *stete, no
41 %*R*G, 1HIP, op., cit., p. 1KS.
42 bid., p.KS.43 TR=?LL/, 1HIP, op., cit., p. SOK.
258
-
7/24/2019 AS CRNICAS DE NDIAS E OS PRIMEIROS RELATOS DA CONQUISTA DO TAWANTINSUYU.pdf
15/25
Revista Crtica Histrica Ano V, n 9, julho/2014 I! 21"" # 99$1
perodo em que a e-pedi()o se dirigia C !a0amarca, opta por assim sintetizar sua
narrati&a passando por muitos po&oados grandes e importantes, de muitas
florestas e ar&oredos, onde se &iram inumer3&eis po&os e templos do sol e outras
coisas que por e&itar proli-idade n)o se dizem$NN. o&amente, o mesmo cronista ao
anotar os detalhes da &iagem que empreendeu na armada de ;ernando de >izarro
para saquear o ouro do templo de (achaca.ac48,includas por @rancisco de %erez
em sua Rela()o nos diz que muitas coisas se poderia dizer das idolatrias que
fazem a este dolo, mas por e&itar proli-idade n)o as digo$ NK*igualmente, nos diz
sobre o perodo que se sucedeu C morte do soberano Atahual+aque as coisas que
passaram nesses dias e os e-tremos e prantos do po&o, s)o muito longos e proli-os
e por isso n)o se dir)o aqui$ NQ
!laro est3 que esses primeiros cronistas do %a&antinsu'u temiam como
grande mal a proli-idade. edro >izarro e >edro
-
7/24/2019 AS CRNICAS DE NDIAS E OS PRIMEIROS RELATOS DA CONQUISTA DO TAWANTINSUYU.pdf
16/25
Revista Crtica Histrica Ano V, n 9, julho/2014 I! 21"" # 99$1
op()o do cronista em dei-ar de relatar coisas que para ele n)o eram importantes e
tornariam o te-to tedioso do que propriamente C e-tens)o do mesmo. !omo e-posto
anteriormente, @rancisco de %erez foi muito e-plcito nesse sentido ao escre&er que
somente direi as coisas not3&eis que mais &2m ao caso$ P1
:as, o problema da proli-idade e a consequente bre&idade desses relatos
nos remetem tambm a outras refle-+es. ;3 de se ter em conta, por e-emplo, que
muitos desses relatos foram escritos quase que concomitantemente aos fatos
narradosPS alguns s)o &erdadeiros di3rios, como fez :iguel de *stete ao anotar dia
a dia os detalhes da e-pedi()o que se dirigiu ao templo de (achaca.ac. *m
algumas cr"nicas, como a de %erez, para citar apenas um e-emplo, poss&el
perceber que algumas frases est)o escritas no tempo &erbal presente, o que pode
ser indicati&o de que %erez tenha escrito sua Rela()o no mesmo momento em que
se passa&am os acontecimentos que narra&a e somente depois pode ter
incorporado outras informa(+es ao public3'la em er, saberes secretos de caballera 5 defensa del ma5orazgo. :adridberoamericana, SOOS, p. JP.
54
-
7/24/2019 AS CRNICAS DE NDIAS E OS PRIMEIROS RELATOS DA CONQUISTA DO TAWANTINSUYU.pdf
17/25
Revista Crtica Histrica Ano V, n 9, julho/2014 I! 21"" # 99$1
Ainda, podemos listar como caractersticas comuns desses relatos a
aus2ncia de nomes prprios, tanto de espanhis, como de indgenas. %erez, cu0a
narrati&a tal&ez se0a a mais impessoal de todas, 0amais usa a primeira pessoa do
singular e quem menos nomeia seus companheiros de conquista, apenas o
capit)o ;ernando >izarro e os tr2s scios que organizaram a e-pedi()o @rancisco
>izarro, 4iego de Almagro e ;ernando de Luque s)o designados pelo nome. ?3 a
aus2ncia de nomes indgenas pode ser e-plicada pela dificuldade lingstica na
pronncia do 6uchua, assim, se limitam a referenci3'los na maioria das &ezes como
sendo um cacique$ ou um mensageiro$. 4ificuldade que est3 e&idente no
entendimento dos nomes dos soberanos ncas, Atahual+a frequentemente
nomeado por Ataali+a$ ou Ataalica$ Hua'na C+ac e Huscars)o chamados
respecti&amente de Cuco Viejo$ e Cuco :oven$. 4estacamos tambm a falta de
descri(+es mais pormenorizadas da natureza, as refer2ncias a ela s)o r3pidas e
sum3rias e a falta de preocupa()o com a cronologia no tocante Cs datas em que
ocorrem os fatos, o que n)o quer dizer que esses relatos n)o sigam uma linearidade
temporal.
nseridos em um corpo documental mais amplo ' !r"nicas de #ndias '
percebemos que os relatos dos primeiros conquistadores compartilham de algumas
caractersticas semelhantes a maioria foi escrita por homens cu0o n&el de instru()o
era restrito, com e-ce()o de @rancisco de %erez, o escri&)o oficial da e-pedi()o
conquistadora que, inclusi&e, apresenta em seu te-to quest+es prprias aos
humanistas de seu tempo. / cuidado em afirmar a &eracidade do te-to se fazia
muito presente ' outro ponto comum aos humanistas ' e, de&ido C preocupa()o com
a proli-idade, a maioria dos relatos bre&e, os cronistas raramente fazemcoment3rios ou refle-+es prprias, alm da aus2ncia de nomes prprios e nomes
geogr3ficos. Acreditamos que essas caractersticas s)o indicati&as da e-ist2ncia de
certo padr)o de escrita entre esses primeiros conquistadores cronistas.
Apndice documental apresentao cronolgica das fontes sobre aconuista do ta!antinsu"u
261
-
7/24/2019 AS CRNICAS DE NDIAS E OS PRIMEIROS RELATOS DA CONQUISTA DO TAWANTINSUYU.pdf
18/25
Revista Crtica Histrica Ano V, n 9, julho/2014 I! 21"" # 99$1
/ primeiro documento que se conser&ouPKrelati&o C e-pedi()o de @rancisco
>izarro e 4iego de Almagro a carta de >edrarias 43&ila, go&ernador do >anam3,
que fora dirigida ao rei em abril de 1PSP PQ. ela, aparece o primeiro indcio da
e-ist2ncia de terras ao sul do >anam3 e de suas pro&3&eis riquezas, mas nessa
carta, o go&ernador se ocupa principalmente da conquista da icar3gua.
*m 1PSQ, na segunda &iagem que empreendeu >izarro na tentati&a de
chegar ao %a&antinsu'u, ele e seus homens ficaram presos na denominada sla del
Fallo onde espera&am por socorro. essa ilha, os homens que se a&enturaram com
o capit)o em busca de terras desconhecidas tambm escre&eram cartas aos
funcion3rios reais e aos parentes num momento em que se encontra&am, ao que
tudo indica, desesperadosPI.
Afora essas cartas, e-iste uma Rela()o que ficou conhecida como Relacin
.ano#;ere depois que >orras 7arrenechea, seguindo ao erudito espanhol
?imnez >lacer, atribuiu a autoria da Rela()o a @rancisco de %erez e a publicou pela
primeira &ez em 1HJQ em /RRA< 7ARR**!;*A, 1HPH, op., cit., fruto do
trabalho de in&estiga()o do pesquisador realizado entre 1HJN e 1HPO em arqui&os e bibliotecas da*spanha, bem como nas cidades de >aris, Londres e Miena.
59 7RAM/ F=*RR*RA, :aria !oncepcin. @ue @rancisco de %erez el autor de la Relacin'er. A#uaro !" E%u!o A'"rca#o,izarro 5 4iego de Almagro. n R*FALA4/ ;=RTA4/,
Liliana
-
7/24/2019 AS CRNICAS DE NDIAS E OS PRIMEIROS RELATOS DA CONQUISTA DO TAWANTINSUYU.pdf
19/25
Revista Crtica Histrica Ano V, n 9, julho/2014 I! 21"" # 99$1
autores, embasados em grande medida pelo contedo Dminuciosa descri()o de uma
balsaE e estilo de escrita Dmuito diferente do te-to de %erezE da Rela()o, acreditam
que seu autor s pode ser um marinheiro ou o prprio piloto da e-pedi()o 7artolom
RuizK1. izarro em busca do >eru entre 1PSP e 1PSQ. ele,
descrito as 0ornadas de >izarro pelas costas de o&a Franada e uito a costa dos
:anguezais, o rio izarro,
!ristobal de :ena, @rancisco de %erez, >edro edro >izarro, os tr2s ltimos escre&eram
entre 1PNO e 1PQ1, relataram suas memrias menos recentes.
*m 1PSH, @rancisco >izarro regressou C *spanha para solicitar Licen(a para
a conquista do >eru e conseguir homens decididos a acompanh3'lo. essa ocasi)o,
em Tru0illo, >izarro conheceu a seus irm)os ;ernando, ?uan e Fonzalo >izarro.
Todos os >izarro, inclusi&e um primo dos irm)os >izarro, chamado >edro, de mesmo
sobrenome partiram para a conquista. ;ernando >izarro era o nico filho legtimo do
capit)o Fonzalo >izarro com sua esposa sabel de Margas. a e-pedi()o
conquistadora, depois de seu irm)o, ocupa&a o primeiro posto de capit)o. *m 0unho
de 1PJJ regressou C *spanha para entregar ao Rei o quinto$ de resgate do nca. Ao
passar por
-
7/24/2019 AS CRNICAS DE NDIAS E OS PRIMEIROS RELATOS DA CONQUISTA DO TAWANTINSUYU.pdf
20/25
Revista Crtica Histrica Ano V, n 9, julho/2014 I! 21"" # 99$1
-eneral ' !atural *e las =n*iase editada pela primeira &ez em 1IPP. 4epois disso,
obte&e sucessi&as edi(+es. o >eru foi publicada na Coleccin >rtea5a#Ro.ero, em
1HS1 e em 1HJI por Ral >orras 7arrenechea em 1HPH e pela ?ilioteca (eruana
em 1HKI. A editora )s+asa Cal+e na Argentina a incluiu em %r@s %esti5os *e la
con6uista *el (er de :iguel :uoz de edro, para citar apenas algumas
edi(+esKJ.
4e regresso C *spanha, 0untamente com SN conquistadores, pouco depois
da morte de Atahualpa esta&a !ristobal de :ena, autor da Rela()o intitulada
-
7/24/2019 AS CRNICAS DE NDIAS E OS PRIMEIROS RELATOS DA CONQUISTA DO TAWANTINSUYU.pdf
21/25
Revista Crtica Histrica Ano V, n 9, julho/2014 I! 21"" # 99$1
opini)o, n)o 0ulga, nem acusa, apenas descre&e. *ntre as Rela(+es da conquista do
%a&antinsu'u, essa foi a mais editada at os dias de ho0e. Alm da &ers)o publicada
em izarro a ?au0a. ?unto com a de %erez, a Rela()o
de izarro. :as, ao contr3rio do primeiro escri&)o, izarro era :iguel de*stete, um fidalgo. *le acompanhou >izarro desde a sua primeira e-plora()o das
terras incaicas, de >iura a !a0amarca. *ste&e na escolta de ;ermando de izarro na e-pedi()o que chegou a (achaca.ac. Anotou as suas
impress+es sobre essa &iagem, includas por %erez na Ver*a*era Relacin *e la
66 7RAM/ F=*RR*RA D*d.E 1HIP, op., cit., p. NQ'PO */RRA< 7ARR**!;*A, 1HIK, op., cit., p. HH'1OS.
KQ AR/!*:A, 1HIK, op., cit.68 >/RRA< 7ARR**!;*A, 1HIK, op., cit., p.11O'111.
265
-
7/24/2019 AS CRNICAS DE NDIAS E OS PRIMEIROS RELATOS DA CONQUISTA DO TAWANTINSUYU.pdf
22/25
Revista Crtica Histrica Ano V, n 9, julho/2014 I! 21"" # 99$1
con6uista *el (er*ssas anota(+es constituem uma espcie de di3rio, *stete
anota dia a dia os detalhes da &iagem le&ada a cabo para recolher as riquezas do
templo de (achaca.ac. Acredita'se que logo &oltou C *spanha, em 1PJP, e em
eru. As edi(+es da sua cr"nica concentram'se todas no sculo
%%Q1.
?uan Ruiz de Arce outro fidalgo en&ol&ido na conquista do %a&antinsu'u
Reuniu'se C e-pedi()o de >izarro, quando esta se encontra&a em !oaque,
participou dos episdios da conquista at a pris)o do nca em !a0amarca. !om os
tesouros do resgate e com a reparti()o da pilhagem de !uzco, ele e outros
conquistadores pediram permiss)o para regressarem a *spanha. !oncedida a
permiss)o a segunda dada por >izarro depois da captura do nca retornou C
metrpole para desfrutar de sua fortuna. 4ecidiu escre&er suas memrias de
conquistador do >eru, sob o ttuloA*vertencia 6ue hio el un*a*or *e el vinculo '
.a'ora5o a los su+sesores en el"2,dedicada a seus filhosTrata'se, portanto, de
um documento pri&ado, n)o fora escrito para o pblico, mas para transmitir a seus
filhos e descendentes informa(+es acerca dos ser&i(os prestados C coroa de
*spanha por seu a&", seu pai e por ele prprio. Ademais, seu relato bre&e, umfragmento de suas memrias, uma Rela()o retrospecti&a de algum que ha&ia
presenciado um dos grandes acontecimentos da poca. Ruiz de Arce ob0eti&o,
quase n)o e-p+e opini+es, e tambm sinttico, como o eram a maioria dos outros
relatos de seus contemporUneos conquistadores. / manuscrito ficou em poder de
seus descendentes e s foi publicado pela primeira &ez em 1HJJ. )o se sabe a
69
-
7/24/2019 AS CRNICAS DE NDIAS E OS PRIMEIROS RELATOS DA CONQUISTA DO TAWANTINSUYU.pdf
23/25
Revista Crtica Histrica Ano V, n 9, julho/2014 I! 21"" # 99$1
data e-ata em que Ruiz de Arce teria escrito suas recorda(+es, somente que foi
depois de 1PNO. izarro. / &ice'rei @rancisco de Toledo, em uma &isita a
!uzco, sabendo dos relatos orais do anci)o, ordenou que os escre&esseQN. A
Rela()o foi escrita por algum amigo seu ou um funcion3rio de Toledo, porque Tru0illo
era iletrado. / relato intituladoRelacin *el *escuri.iento *el Reino *el (er"8,
data de abril de 1PQ1, escrito num estilo simples e bre&e, narra a &iagem de >izarro
desde >anam3 at a entrada em !uzco. 4epois de terminado o te-to, o &ice'rei
Toledo o paga com uma enco.ien*a, o que retira Tru0illo da relati&a pobreza em que
&i&ia no momento. 7arrenechea foi quem primeiro apresentou esse relato
0untamente com um estudo biogr3fico do anci)o, em 1HJP, no %%M !ongresso de
Americanistas de edro >izarro, primo de
@rancisco >izarro. Transmite'nos as suas impress+es sobre a conquista somente
quarenta anos mais tarde, tambm a pedido do &ice'rei Toledo. 4o mesmo modo
que Tru0illo, o primo de >izarro era iletrado e por isso n)o redigiu sua Relacin *el
*escuri.iento ' con6uista *el (er"" terminada em fe&ereiro de 1PQ1. / relato de
>izarro um dos mais interessantes, pois apesar de ser um te-to de escrita rude,simples, o cronista recolheu muitas notcias sobre os costumes incaicos,
intercaladas C sua narrati&a e esbo(a bre&es e sum3rios retratos psicolgicos de
73 >/RRA< 7ARR**!;*A, 1HIK, op., cit., p. 1JO.74 / &ice'rei @rancisco de Toledo promo&eu desde 1PKP, a reda()o de cr"nicas que0ustificassem o colonialismo e combatessem o direito de soberania da nobreza incaica. er. n 7RAM/ F=*RR*RAD*d.E, 1HIP, op., cit.
76 >/RRA< 7ARR**!;*A, 1HIK, op., cit., p. 1NI.77 >GARR/, 1HKJ'1HKP, op., cit.
267
-
7/24/2019 AS CRNICAS DE NDIAS E OS PRIMEIROS RELATOS DA CONQUISTA DO TAWANTINSUYU.pdf
24/25
Revista Crtica Histrica Ano V, n 9, julho/2014 I! 21"" # 99$1
seus companheiros de conquista. *ssa Rela()o foi publicada pela primeira &ez
somente em 1INN e da em diante obte&e sucessi&as edi(+esQI.
#eferncias bibliogr$ficas
%ontes
*er. n lus =ltra, 1HIQ.`1P'':*A, !ristbal de. La conquista del >er llamada la ue&a !astilla. n lus=ltra, 1HIQ. `1PJN>GARR/, ;ernando. !arta de ;ernando >izarro a la Audiencia de /RRA< 7ARR**!;*A, Ral. !artas del >er D1PSN'1PNJE. Lima *dicin dela eruanos, 1HPH. `1PJJ>GARR/, >edro. Relacin del descubrimiento 5 conquista de los reinos del >er. n@*RW4*G, 4iego. !rnicas del >er. :adrid Atlas, 1HKJ'1HKP. `1PQ1>/RRA< 7ARR**!;*A, Ral. !artas del >er D1PSN'1PNJE. Lima *dicin de laeruanos, 1HPH.R*LA!_'er. :adrid ;istoria 1K, 1HIP. `1P''R=G 4* AR!*, ?uan. Ad&ertencia que hizo el fundador de el &inculo 5 ma5orazgo alos supsesores en el. n er, saberes secretos de caballera 5 defensa del ma5orazgo.:adrid beroamericana, SOOS.ero. Relacin para ero lus =ltra, 1HIK. `1PJNTR=?LL/, 4iego de. Relacin del descubrimiento del Reino del >er. n 7RAM/F=*RR*RA, :aria !oncepcin D*d.E. Merdadera Relacin de la conquista del >er.:adrid ;istoria 1K, 1HIP. `1PQ1
%*R*G, @rancisco. Merdadera relacin de la conquista del >er. *di()o de :aria!oncepcin 7ra&o Fuerrera.:adrid ;istoria 1K, 1HIP. `1PJN
&studos
AR/!*:A, Luis. La relacin de >ero lus =ltra,1HIK.7A=4, Louis. *l imperio socialista de los ncas. er.
78 >/RRA< 7ARR**!;*A, 1HIK, op., cit., p. 1JH'1NO.
268
-
7/24/2019 AS CRNICAS DE NDIAS E OS PRIMEIROS RELATOS DA CONQUISTA DO TAWANTINSUYU.pdf
25/25
Revista Crtica Histrica Ano V, n 9, julho/2014 I! 21"" # 99$1
:adrid ;istoria 1K, 1HIP.. @ue @rancisco de %erez el autor de la Relacin'er. Anuario de *studios Americanos, er. Lima *ditorial :illa 7atres, 1HIK, &.1.
:ARAMALL, ?os Antonio. Antiguos 5 modernos. Misin de la ;istoria e idea deprogreso hasta el Renacimiento. :adrid Alianza *ditorial, 1HHI.:ARV;A, !lements. The incas of >eru. London izarro 5 4iego de Almagro.n R*FALA4/ ;=RTA4/, Liliana er, 1HIK.>R*er. Lima >eisa, 1HZZ, &. 1 e &.S.R*