as lixeiras verdes de gilles deleuze

9
7/23/2019 As Lixeiras Verdes de Gilles Deleuze http://slidepdf.com/reader/full/as-lixeiras-verdes-de-gilles-deleuze 1/9 As lixeiras verdes de Gilles Deleuze, Por Luc Moullet Com frequência, nas provas de meus alunos na Universidade de Paris III, encontrei referências a um certo Gilles Deleuze Intri!ado, fui " #i#lioteca municipal mais pr$xima, onde tomei emprestadas as duas o#ras deste autor consa!radas ao cinema A ima!em%movimento e a ima!em%tempo&u pensava que leria no primeiro volume estudos so#re 'enoir ( o #al) dos persona!ens na 'e!ra do *o!o ou em Carrua!em de ouro+, so#re p-uls, Mizo!uc-i, .uller ou /)c-in), e no se!undo uma an0lise da arte de 1tro-eim, .ord, Duras, Pa!nol, 'ozier, Leone, os !randes mestres do tempo 2em, nada disso correu at) mesmo o contr0rio do que eu esperava p-uls s$ ) citado na Ima!em%tempo, e 1tro-eim apenas na Ima!em%movimento Pa!nol, 'ozier, Leone s3o totalmente esquecidos 4 que, para Deleuze, o movimento n3o ) o movimento, e o tempo% de forma menos a!ressiva, no entanto% n3o ) exatamente o tempo A ima!em%movimento seria 5um con*unto acentrado de elementos vari0veis que a!em e rea!em uns so#re os outros ( p678+, o *o!o que conduz uns aos outros 1o# esta perspectiva, poder9amos sustentar que Apot-eosis, de :o;o no, feito de um <nico plano seq=ência, um perp)tuo travellin! vertical, n3o ) ima!em%movimento, mas ima!em%tempo ( voltarei mais tarde nisso a9+ ; &sta de>ni?3o talvez >casse mais clara se Deleuze tivesse falado de movimento dial)tico @a p0!ina 678, Deleuze enumera v0rias cate!orias de ima!em%movimento, , notadamente a ima!em%percep?3o ( 5con*unto de elementos que a!em so#re um centro+ e a ima!em%a?3o ( 5rea?3o do centro ao con*unto+ 4 no m9nimo curioso que estas variedades da ima!em%movimento se re>ram a um centro, *0 que Deleuze de>ne a ima!em%movimento como um con*unto descentrado /en-o di>culdade em entender isso Deleuze nos propBe um exemplo preciso de ima!em%percep?3o no 2ro;en lulla#, Lu#itsc- mostra um !rupo de -omens, de p), vistos " altura do c-3o, a cEmera colocada 5so# a perna que falta de um inv0lido, i!ualmente de p) &is um enquadramento que parece totalmente !ratuito Mas o plano se!uinte revela que se trata do ponto de vista de um cul%de%*atte 8 que tom0ramos por um simples maneirismo era na verdade a vis3o su#*etiva de um indiv9duo F0 a9 um movimento na narra?3o e na consciência do espectador que nos permite c-e!ar a esta conclus3o A ima!em%afec?3o, se!unda variedade da ima!em%movimento, 5) o que ocupa o intervalo entre uma a?3o e uma rea?3o, o que a#sorve uma a?3o exterior e rea!e internamente Primeiro exemplo o close de um rosto, reexivo ( em que você est0 pensandoH+ ou intensivo ( o que você est0 sentindoH+ 4 verdade que, com frequência, o close mostra uma rea?3o do rosto ao que se passara no plano precedente, !eralmente mais amplo, mas esta constitui uma t)cnica vul!ar, prim0ria mesmo ( que pode dar resultados ma!n9>cos, mas que foi super explorada por todos os cineastas tarefeiros+ Portanto, n3o se pode escrever que o close constitui um intervalo entre uma a?3o e uma rea?3o, *0 que ele pr$prio ) a rea?3o, cont)m em si mesmo a rea?3o, que se situa ali0s quase sempre no in9cio do plano & limitar o close a este valor de resposta para uma a?3o ( o que ) estudado por Deleuze ao lon!o e ao lar!o de vinte e cinco p0!inas+ leva a mascarar de forma muito redutora os outros usos, mais inovadores e criativos, do close, aqui omitidos se um >lme come?a pelo close, ou constitui%se em uma s)rie de closes, como no -<n!aro Princesa ou na onana DJarc do Dreer, n3o se trata for?osamente de uma 5seq=ência " a?3o, ou da a#sor?3o de uma a?3o exterior Mais de cem foto!ramas de G)rard Courant ( <nicos closes%sequências de rostos+ s3o sem referência a uma a?3o pr)via ou exterior /ampouco quando uma persona!em em close come, escova os dentes, morde seu vizin-o ou faz um !esto zom#eteiro pra plat)ia @este <ltimo caso, ) inclusive a

Upload: armandoandradez

Post on 17-Feb-2018

214 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

Page 1: As Lixeiras Verdes de Gilles Deleuze

7/23/2019 As Lixeiras Verdes de Gilles Deleuze

http://slidepdf.com/reader/full/as-lixeiras-verdes-de-gilles-deleuze 1/9

As lixeiras verdes de Gilles Deleuze, Por Luc Moullet Com frequência, nas provas de meus alunos na Universidade de Paris III, encontreireferências a um certo Gilles Deleuze Intri!ado, fui " #i#lioteca municipal maispr$xima, onde tomei emprestadas as duas o#ras deste autor consa!radas ao cinema

A ima!em%movimento e a ima!em%tempo&u pensava que leria no primeiro volume

estudos so#re 'enoir ( o #al) dos persona!ens na 'e!ra do *o!o ou em Carrua!em deouro+, so#re p-uls, Mizo!uc-i, .uller ou /)c-in), e no se!undo uma an0lise da arte de1tro-eim, .ord, Duras, Pa!nol, 'ozier, Leone, os !randes mestres do tempo 2em, nadadisso correu at) mesmo o contr0rio do que eu esperava p-uls s$ ) citado naIma!em%tempo, e 1tro-eim apenas na Ima!em%movimento Pa!nol, 'ozier, Leone s3ototalmente esquecidos

4 que, para Deleuze, o movimento n3o ) o movimento, e o tempo% de forma menosa!ressiva, no entanto% n3o ) exatamente o tempo A ima!em%movimento seria 5umcon*unto acentrado de elementos vari0veis que a!em e rea!em uns so#re os outros( p678+, o *o!o que conduz uns aos outros 1o# esta perspectiva, poder9amos sustentarque Apot-eosis, de :o;o no, feito de um <nico plano seq=ência, um perp)tuotravellin! vertical, n3o ) ima!em%movimento, mas ima!em%tempo ( voltarei mais tarde

nisso a9+ ; &sta de>ni?3o talvez >casse mais clara se Deleuze tivesse falado demovimento dial)tico@a p0!ina 678, Deleuze enumera v0rias cate!orias de ima!em%movimento, ,notadamente a ima!em%percep?3o ( 5con*unto de elementos que a!em so#re umcentro+ e a ima!em%a?3o ( 5rea?3o do centro ao con*unto+ 4 no m9nimo curioso queestas variedades da ima!em%movimento se re>ram a um centro, *0 que Deleuze de>nea ima!em%movimento como um con*unto descentrado /en-o di>culdade em entenderisso

Deleuze nos propBe um exemplo preciso de ima!em%percep?3o no 2ro;en lulla#,Lu#itsc- mostra um !rupo de -omens, de p), vistos " altura do c-3o, a cEmeracolocada 5so# a perna que falta de um inv0lido, i!ualmente de p) &is umenquadramento que parece totalmente !ratuito Mas o plano se!uinte revela que se

trata do ponto de vista de um cul%de%*atte 8 que tom0ramos por um simplesmaneirismo era na verdade a vis3o su#*etiva de um indiv9duo F0 a9 um movimento nanarra?3o e na consciência do espectador que nos permite c-e!ar a esta conclus3o

A ima!em%afec?3o, se!unda variedade da ima!em%movimento, 5) o que ocupa ointervalo entre uma a?3o e uma rea?3o, o que a#sorve uma a?3o exterior e rea!einternamente Primeiro exemplo o close de um rosto, reexivo ( em que você est0pensandoH+ ou intensivo ( o que você est0 sentindoH+ 4 verdade que, com frequência,o close mostra uma rea?3o do rosto ao que se passara no plano precedente,!eralmente mais amplo, mas esta constitui uma t)cnica vul!ar, prim0ria mesmo ( quepode dar resultados ma!n9>cos, mas que foi super explorada por todos os cineastastarefeiros+ Portanto, n3o se pode escrever que o close constitui um intervalo entreuma a?3o e uma rea?3o, *0 que ele pr$prio ) a rea?3o, cont)m em si mesmo a rea?3o,

que se situa ali0s quase sempre no in9cio do plano& limitar o close a este valor de resposta para uma a?3o ( o que ) estudado porDeleuze ao lon!o e ao lar!o de vinte e cinco p0!inas+ leva a mascarar de forma muitoredutora os outros usos, mais inovadores e criativos, do close, aqui omitidos se um>lme come?a pelo close, ou constitui%se em uma s)rie de closes, como no -<n!aroPrincesa ou na onana DJarc do Dreer, n3o se trata for?osamente de uma 5seq=ência" a?3o, ou da a#sor?3o de uma a?3o exterior Mais de cem foto!ramas de G)rardCourant ( <nicos closes%sequências de rostos+ s3o sem referência a uma a?3o pr)via ouexterior /ampouco quando uma persona!em em close come, escova os dentes, mordeseu vizin-o ou faz um !esto zom#eteiro pra plat)ia @este <ltimo caso, ) inclusive a

Page 2: As Lixeiras Verdes de Gilles Deleuze

7/23/2019 As Lixeiras Verdes de Gilles Deleuze

http://slidepdf.com/reader/full/as-lixeiras-verdes-de-gilles-deleuze 2/9

a?3o que provoca a rea?3o, o exato inverso do que a>rma Deleuze, contradito tam#)mpelo close pilloK%s-ot ou plano de corte, ou a sequência l9rica de closes #reves, mais oumenos idênticos, ou mesmo o plano de um -omem que rece#e uma #ofetada nocampo neste caso, o intervalo entre a a?3o e a rea?3o ) impercept9vel, da ordem devi!)simos de se!undos & aqui a a?3o n3o ) de forma al!uma exterior

&stes dois modos de dial)tica presumida, que Deleuze completa pelo estudo do parsom#ra%luz, se fundam so#re uma certa especi>cidade do cinema, li!ada " sua!ram0tica, " sua t)cnica ( d)coupa!e, close, ou, ilumina?3o+ ra, ) #em evidenteque as lin-as dial)ticas, no cinema, ultrapassam estas especi>cidades 4 *ustamentepor isso que Deleuze inclui uma terceira forma de ima!em%movimento, dita ima!em%a?3o que, ao que me parece, n3o tem nada a ver com a de>ni?3o popular de a?3o nocinema /rata%se de uma dial)tica entre o indiv9duo e a sociedade, o detal-e e atotalidade, a a?3o particular e a situa?3o !eral uando o cineasta parte do indiv9duopara atin!ir a sociedade, c-ama%se 5pequena forma ( Lu#itsc- seria o mestre nisso+, equando d0%se o contr0rio, a 5!rande forma assim, as superprodu?Bes de Cecil 2DeMille A distin?3o ) "s vezes meio ociosa se Male and female ( DeMille, 8787+come?a por planos #em !erais ( o c)u, o mar, o canon do Colorado, uma cita?3o daGênese+, c-e!amos em trinta se!undos " vassoura, ao #alaio e ao #alde dJ0!ua,epermanecemos mais ou menos nesse n9vel durante o resto do >lme, salvo% no meio%quando do epis$dio #a#ilnico /eoricamente, trata%se da !rande forma, mas estecome?o fanfarr3o ) t3o #reve) o mesmo pro#lema no caso de v0rios >lmesamericanos, que come?am por apresentar de forma #reve uma cidade ( 2eond t-eforest, Pride of t-e marines, /-e seven ear itc-+ antes de se li!arem de>nitivamente aum itiner0rio individual As idas e vindas do particular ao !eral se emaran-am, seinvertem freq=entemente, e desemaran-ar a pequena da !rande forma muitas vezesequivale a recair na vel-a quest3o da prioridade do ovo so#re a !alin-a@este cat0lo!o de movimentos dial)ticos, vamos constatar um n<mero de not0veisesquecimentos, quer se*am as dial)ticas fundadas so#re t)cnicas do tra#al-o, overplae underpla ( Nazan+, vis9vel%invis9vel ( /ourneur+, !ênero e n3o%!ênero ( MonteFellman+, so#re no?Bes mais vastas, como natureza e cultura ( 2oudu+, cidade e campo( Oidor+, lentid3o e velocidade ( 'isin! of t-e moon, .ord+, risos e l0!rimas ( C-aplin+,trivialidade e su#lime ( Godard+, l$!ica e a#surdo( FaK;s, 2uuel+, amor e a?3o ( o

cinema -ollKoodiano+, ou so#re valores ideol$!icos, nacionalidades e classes sociais( A !rande ilus3o+, racismo e tolerEncia ( La derni)re c-asse+, e>c0cia e *usti?a ( Marcada maldade+, isso sem falar das dial)ticas med9ocres ( os #ons e os maus, a fu!a proM)xico ou a pris3o+ que atravancam a maior parte das telas Al!umas destascate!orias ao menos poderiam ter sido o#*eto de men?3o neste d9ptico de vastid3oenciclop)dia

Ao inv)s disso, espremida entre a ima!em%afec?3o e a ima!em%a?3o, Deleuze introduzuma nova cate!oria, a ima!em%puls3o, que cai a9 como um ca#elo na sopa A puls3o,se!undo Deleuze, seria li!ada ao naturalismo, onde o movimento se criaria napassa!em do -omem ao animal ( o que nos prova #em que Deleuze n3o dispensasistematicamente as dial)ticas com fundamento extra%f9lmico, e que se livra delasquando #em quer, ali0s+

A -ist$ria toda ) um pouco dura de en!olir, so#retudo pelo fato de que o 5animal ( nonaturalismo+ ) com frequência colocado desde o come?o do >lme ( .oolis- Kives,ManQ!es de All)!ret+, e n3o ) portanto o resultado de um movimento vis9vel De fato,puls3o e naturalismo seriam antes dois p$los anta!nicos, pois a puls3o,frequentemente puls3o de um persona!em que reete a do realizador, est0 muitodistante do princ9pio do naturalismo ( a realidade deve ser descrita sem al!umainterpreta?3o, devida ao esp9rito do autor+ Calor da puls3o, frieza do naturalismos exemplos dados por Deleuze deixam o leitor estupefato Poder9amos crer queDeleuze, a prop$sito do naturalismo, citaria os >lmes do Nammerspiel, o 'ail, a @oite

Page 3: As Lixeiras Verdes de Gilles Deleuze

7/23/2019 As Lixeiras Verdes de Gilles Deleuze

http://slidepdf.com/reader/full/as-lixeiras-verdes-de-gilles-deleuze 3/9

de 13o 1ilvestre, a Rltima !ar!al-ada, a 'ua sem ale!ria, Um -omem anda pela cidadede Pa!liero ou Man)!es, ou os 'enoir como n pur!e #)#), A cadela ou 2oudu,Um#erto D, Fonemoon ;illers de Nastle 2em, nada disso naturalismo seriamOidor, 'a, Lose, .uller /odos, ) verdade, muito dependentes de suas pulsBes Masque autor se distancia mais do naturalismo que OidorH Apenas /-e croKd e, em certamedida, Cenas da rua poderiam ser classi>cados como >lmes, di!amos, realistasPodemos dizer de Oidor que ele ) romEntico, l9rico, delirante, expressivo, idealista,assim como Gance e Dov*en;o, a quem o comparam sempre Mas o mundo de 'u#Gentr, de .ountain-ead, de Fallelu*a-, da Grande parada ) totalmente irrealista,surrealista mesmo c<mulo ) que Deleuze quali>ca seu Duelo ao sol de 5Kesternnaturalista, quando se trata do sumo do artif9cio -ollKoodiano , da loucura romEnticaKa!ner%nietzsc-eana @o ornada t)trica de 'a, que Deleuze descreve como uma5o#ra%prima do naturalismo, a paisa!em tem uma !rande importEncia ( assim comono Duelo ao sol+, ent3o nos damos ao direito de ac-ar que Deleuze cometeu um errocrasso, di!no de um cole!ial, al!o que *ul!0vamos inadmiss9vel de sua parte &leconfundiu o naturalismo " la Sola, onde a arte deve reproduzir a natureza em todos osseus aspectos, mesmo os mais feios e repulsivos, com o tra#al-o do naturalista, queestuda plantas, minerais e animais Devido " po#reza da l9n!ua francesa, um convite aisso, ele ps no mesmo saco &mile Sola e 2ernardin de 1aint%Pierre, Fusmans e2uTon era de se esperar@3o -0 outra explica?3o o #arroco do #ordel no ornadat)trica, a truculência de Gueule%de%Cotton que, a!onizante, c-ama os uru#us 5Oinde amim, sou !ordo e roli?o, se *unta ao -)naurme 6 de arr, Fu!o, 'a#elais ou C)line, en3o tem nada a ver com o escalpelo de Sola 'a testemun-a um lirismo que exprimeconivência at) mesmo com seus persona!ens mais ne!ativos utros supostos nomesdo naturalismo, .uller ( que n3o recua diante de nen-uma inverossimil-an?a, e realizouo >lme mais louco de todos, 1-oc; corridor, com um ne!ro que milita pela Nu Nlux Nan+e osep- LosePoder9amos, em um certo limite, aceitar o ep9teto realista no caso de >lmes como /-e#i! ni!-t, t-e laKless ou Im#arco a mezzanotte( realistas no mesmo sentido quecentena de >lmes americanos ou italianos um pouco 5med9ocres+, >lmes que Deleuzen3o cita &m revanc-e, os exemplos que evoca, /ime Kit-out pit, 1ecret ceremon,&va, /-e damned, Mr Nlein, /-e servant, n3o tem nada de realmente realistas, aindamenos naturalistas s dois <ltimos s3o f0#ulas, e os outros se li!am ( assim como

seus persona!ens+ a um frenesi neur$tico totalmente irrealista5@3o -0 poucas diferen?as entre o naturalismo de 1tro-eim e de 2uuel, avan?aDeleuze ( p0!ina 8V+,que precisa que a diferen?a entre 1tro-eim e 2uuel seriaconce#ida n3o tanto como entropia acelerada, mas sim como repeti?3o precipitante,eterno retorno pro#lema ) que, em 2uuel, -0 naturalismo e repeti?3o, o;, mas osdois *amais est3o li!ados o naturalismo pertence " primeira parte da o#ra ( LasFurdes, Los olvidados, &l #ruto, mesmo 1uzana e o Di0rio de uma camareira+, em uma)poca em que 2uuel n3o possu9a muitos meios, e poderia di>cilmente >lmar al!o quen3o fosse a realidade &ste naturalismo recusa frontalmente a repeti?3o, que vaidominar em sua o#ra nos anos >nais, mel-or dotados >nanceiramente ( an*oexterminador, 2elle de *our, discreto c-arme da #ur!uesia, &ste o#scuro o#*eto dedese*o+, e que expulsar0 de sua $r#ita todo naturalismo F0, claro, aqui e ali,evoca?Bes #reves de perversBes sexuais, a presen?a dos W%C, vest9!ios do

naturalismo, mas que ora s3o tratados como elementos on9ricos ou irnicos, orapossuem um status incerto e inde>n9vel, uma terra de nin!u)m que permanecetam#)m totalmente al-eia ao naturalismoPortanto, n3o vou me demorar mais tempo nesta ima!em%puls3o, de lon!e o piorcap9tulo do d9ptico deleuzianoX partirei para a ima!em%tempo

At) aqui Deleuze tin-a se esfor?ado para dar de>ni?Bes de seus neolo!ismos, mas elen3o conse!ue precisar em que consiste a ima!em%tempo &le de>ne o tempo ( p0!inas

Page 4: As Lixeiras Verdes de Gilles Deleuze

7/23/2019 As Lixeiras Verdes de Gilles Deleuze

http://slidepdf.com/reader/full/as-lixeiras-verdes-de-gilles-deleuze 4/9

Y7 e Z[ do tomo 8+ em ocasiBes 5como intervalo % mas Deleuze n3o se demora nesseintervalo no cadre da ima!em%tempo Antes assim\, pois este intervalo parece%se muitocom o intervalo da ima!em%movimento, e so#retudo da ima!em%afec?3o u ent3ode>ne o tempo 5como tudo, ou se*a, os dois extremos, o dia e a noite A ima!emtempo me lem#ra essas lixeiras verdes onde, no meio dos compartimentos azuis paraos *ornais vel-os, compartimentos amarelos para as em#ala!ens e #rancos para!arrafas, en>amos todo o entul-o que nos vem " ca#e?a na -ora Podemos dar daima!em%tempo uma de>ni?3o ne!ativa ) tudo o que n3o ) ima!em movimento, oumais exatamente tudo o que n3o est0 su#ordinado a ela ( como est0 indicado nap0!ina de a#ertura da Ima!em%tempo+, o que constitui um centro, enquanto a ima!em%movimento ) um princ9pio sem centro Da no?3o de centro ( intervalo+, que pressupBea existência de extremos, passa%se " no?3o de con*unto, de todo, que pressupBe ainexistência de elementos exteriores & o todo seria o resultado da monta!em, econstituiria tam#)m o tempo, pois ) tam#)m a monta!em que cria o tempo do >lme &o todo estaria em rela?3o direta com o tempo todo e o tempo, ali0s, com#inammuito #em entre si, pois tanto um quanto o outro% ao contr0rio do movimento% tendema nos escapar, e permanecem indecompon9veis e misteriosos 1a#emos quase tudo domovimento% se li!armos este termo ( se!uindo a de>ni?3o cl0ssica, e n3o a deleuziana+" no?3o de espa?o%, so#retudo desde Ma!ellanV e @eil Armstron!Y, enquanto que otempo passado ) c-eio de o#scuridades, e sempre permaneceremos i!norantes emrela?3o ao tempo futuro, o tempo ] ) certo\% que nos matar0Curioso am0l!ama esta alian?a centro%todo%monta!em%tempo Deleuze se vira pormeio de ast<cias 5&isenstein n3o cessa de nos lem#rar que a monta!em ) o /odo do>lme, sua Id)ia Mas ) &isenstein quem o diz ;, ) um cara !enial, mas em que istoimplica que ele tem necessariamente raz3oH Podemos sustentar que a monta!emtalvez fosse 5tudo para ele ( como tam#)m para Godard, 'esnais e talvez Welles+Xmas n3o seria for?osamente 5tudo para os outros, para seus detratores, nem mesmopara ele, &isenstein seu <ltimo >lme, Iv3, o /err9vel, ) uma o#ra%prima onde -0 umm9nimo tra#al-o de monta!em /alvez esta id)ia da Monta!em identi>cada ao /odofosse uma id)ia de *uventude de &isenstein, que ele teria a#andonado ao >m da vida, eque teria nascido do fato fortuito de que, no come?o de sua carreira, com osracionamentos na '<ssia da )poca, ele s$ dispusesse de pequenos peda?os depel9cula

uanto aos outros Aos nossos amores de Pialat permanece um imenso >lme, em#orase*a mal estruturado, mal decupado e, portanto ( quase for?osamente+ mal montado( nesse sentido, como separar ] a n3o ser em rela?3o ao document0rio e ao >lmeimprovisado% o que pertence " monta!em e ao d)coupa!eH s scars e C)sars demonta!em sempre me deram vontade de rir+ &m certos cineastas minuciosos ( tipo'en) Clair+, o todo ) mais o d)coupa!e que a monta!em, e este ) terminado antesmesmo da >lma!em Para uma s)rie de !randes cineastas, o todo est0 antes nosatores do que na monta!em ( assim, o caso de certos >lmes de Doillon, Cu;or, 'a ou'enoir, que era provavelmente o maior de todos, mas que n3o era um montador muito#om+ GanEncia, 1o#er#a, A mul-er na praia ( e tam#)m ue viva o M)xico\+ atin!emos mais altos n9veis de cinema, mesmo que seus autores n3o ten-am podido controlara monta!em e ten-am rene!ado a vers3o montada & que dizer da monta!em no >lme

com plano <nico ou em plano seq=ência, tipo ancsoH

;, quase sempre ) a monta!em que cria o tempo do >lme ( quando n3o se trata doplano seq=ência ou do uxo do plano curto+, mas este tempo criado ) o tempo nosentido de tempo, de ritmo, de dura?3o, de respira?3o, mas quase nunca ] ao contr0riodo que pretende Deleuze% o tempo no sentido de uma oposi?3o presente%passado,as-#ac; ou as-%forKard o!ando Z com as palavras, como ) seu -0#ito, Deleuzecoloca esta tempo so# as su#%cate!orias da ima!em%tempoA rela?3o presente%passado, quase sempre prevista no roteiro ( DeMille, Godard, IntolerEncia, As três luzes

Page 5: As Lixeiras Verdes de Gilles Deleuze

7/23/2019 As Lixeiras Verdes de Gilles Deleuze

http://slidepdf.com/reader/full/as-lixeiras-verdes-de-gilles-deleuze 5/9

de Lan!, .ran?ois Ier+ participa quase sempre de uma dial)tica trata%se da ima!em%movimento( com exce?3o de certos >lmes de 'esnais+

Aperce#emo%nos que a ima!em%tempo, tal como conce#ida por Deleuze, s$ existemuito raramente, e com freq=ência n3o onde ele a situa Fe!el nos dizia que tudo eradial)tica, e portanto movimento ^s vezes, quando n3o perce#emos o movimentodial)tico, ) que ele se mostra de forma muito sutil, muito su#%repticiamentedissimulada 4 o caso quando o diretor ) !enial .ilmes como La c-oette aveu!le ( 'uiz,87_+ Puissance de la parole ( Godard, 87+ parecem " primeira vista ma!mas( termo mais conveniente que o de ima!em%tempo+, mas um esfor?o de an0lise aca#apor precisamente esclarecer as lin-as desta dial)tica &xa!erando um pouco, eu diriaque a existência da ima!em%tempo n3o passa de um atestado das insu>ciências doespectador, da min-a portanto @3o -0 ima!em%tempo na equa?3o espa?o%tempo( com a exce?3o de 'esnais+ ou no neo%realismo, que Deleuze descreve erradamentecomo o preEm#ulo da ima!em%tempo 1e!undo ele, o neo%realismo seria a 5irrup?3o deima!ens puramente $ticas e sonoras ( tomo 6, p! 7+, como para um document0rio#ruto ra, na verdade, se o neo%realismo, evocando o ma!ma #ruto da realidade,oferece certas caracter9sticas do document0rio, ele as perverte pela existência de umroteiro, pela m<sica, pela intrus3o de persona!ens principais, pelo sentido social, pelopat-os primeiro tema do neo%realismo ) a rela?3o do indiv9duo com o mundo, do-omem com a sociedade, ) portanto a ima!em%a?3o no sentido deleuziano, assimcomo o >lme americano cl0ssico Com exce?3o do raro caso em que n3o -a*a umpersona!em principal, a identi>ca?3o ) so#erana ( nos identi>camos com o ladr3o de#icicleta e com a crian?a+ & o mesmo Ladr3o, pela composi?3o de uma luminosaatmosfera, que reete o mood dos persona!ens, n3o est0 t3o lon!e assim doexpressionismo estudado na ima!em%afec?3o indiv9duo ( ou o casal+ que se senteestran!eiro ao mundo mostrado, que luta contra ele, esquema t9pico do cinema%a?3o,n$s o reencontramos em Oia!em a It0lia,&uropa Z8, 1trom#oli ( Deleuze tin-a previstoesta o#*e?3o, mas se sai dessa enrascada por meio de uma pirueta com os 2er!man%'ossellinis, trata%se de um 5cinema de clarividente, e n3o mais de a?3o @ovacate!oria a inserir na ima!em%tempo, o cinema do clarividente Mas Mr 1mit- e MrDeeds s3o tam#)m clarividentes, e eles est3o no meio do cinema da ima!em%a?3o+,Aleman-a ano zero, 'oma, cidade a#erta, Ladr3o de #icicletas neo%realismo descrito

por Deleuze ) um neo%realismo idealizado, tal como deveria ser, tal como *amaisexistiu /alvez -a*a exce?Bes, o Um#erto D em min-a opini3o, a <nica verdadeiraexce?3o se situa em 87`, no per9odo posterior ao neo%realismo, com .uoco de 2aldi,ma!ma fundado so#re a puls3o e aparentemente desprovido de dial)tica

Deleuze% o delusivo ` Deleuze% d0 "s palavras si!ni>ca?Bes que n3o tem nada a vercom as si!ni>ca?Bes correntes ; Mas o -ic ) que, no calor do discurso, ele re%introduz estas palavras com seu sentido corrente e assim conforta suas teses,asse!urado da aprova?3o do leitor, que vai coincidir plenamente com as reapari?Bes5aliviantes da palavra em seu sentido #anal 1e se!uirmos a l$!ica deleuziana,ser9amos levados a recon-ecer que Ladr3o de #icicleta e Oia!em a It0lia permanecemperfeitos exemplos de ima!em%a?3o Mas como -0 pouca a?3o nestes fIlmes, podemosaceitar mais facilmente a exclus3o dos mesmos desta cate!oria Da mesma forma,

ser9amos tentados a incluir os Dez mandamentos de 87Z` na !rande forma do cinema%a?3o, por ser um >lme car9ssimo e espetacular Mas a !rande forma, isto ), a passa!emdo !eral ao individual, inexiste neste >lme, pois Mois)s n3o possui um comportamentoque o individualize e permanece o perfeito autmato a servi?o do Deus crist3o Como o>lme se lam#uza no !eral, sem *amais dele sair, poder9amos sustentar que n3o se tratade ima!em%a?3o, mas de ima!em%tempo, com este ma!ma t9pico das altas esferas dodo!ma reli!ioso convencional e da estil9stica sulpiciana _ @3o vou ali0s t3o lon!e, poiseste querido >lme se funda so#re uma lin-a dial)tica muito po#re o Deus crist3ocontra o Deus e!9pcio Mas eu sustento vi!orosamente que um >lme rec-eado de a?3o

Page 6: As Lixeiras Verdes de Gilles Deleuze

7/23/2019 As Lixeiras Verdes de Gilles Deleuze

http://slidepdf.com/reader/full/as-lixeiras-verdes-de-gilles-deleuze 6/9

como A !uerra do fo!o, precisamente por n3o ser nada al)m de a?3o, n3o pertence "ima!em%a?3o ( pela falta de uma dial)tica entre a a?3o particular e a situa?3o !eral+,eainda menos trata%se de um >lme da !rande formaX trata%se de um >lme da ima!em%tempo, pois eu o sinto como um ma!ma puro& >nalmente, um dos mel-ores exemplosdo cinema%a?3o da !rande forma ), n3o uma superprodu?3o, mas um >lmerelativamente po#re, eux interdits, com quinze minutos de !uerra violent9ssima emseu come?o, e em se!uida o itiner0rio 9ntimo de duas crian?as

utra vez Deleuze troca as #olas com suas de>ni?Bes contradit$rias Oimos isto com adial)tica passado%presente, classi>cada de forma a#usiva na ima!em%tempo ( quandoesta dial)tica ) frequentemente da ordem do movimento+X e o duo naturalismo%naturalista, Paul, &mile ( Sola+ e Oir!inie u ainda, quando ele fala da crise daima!em%a?3o, refere%se unicamente ao cinema americano, por ser um cinema fundadoso#re a a?3o Ao inv)s de falar em ima!em%movimento e ima!em%tempo, seria mel-orfalarmos, por exemplo, de nel#u!oz e de da!maloua;, isto teria l-e poupado muitascontradi?Bes&le dedica um cap9tulo " ima!em%cristal cristal, para Deleuze, ) o aspectomultifaces, estilo p-uls, Dama de 1-an!ai, a polivalência #arroca Mas pouco depois( tomo 6 p0! 8_`+, fala de 5descri?Bes $ticas e sonoras, puras, cristalinas termocristal desi!na aqui portanto a pureza, a limpidez Multifaces e limpidez dois sentidosmuito diferentes

&le retoma a9 os *o!os de palavras !odardianos ( sem o -umor+, a#usivamentetransferidos da esfera art9stica para a >los$>ca, que deveria ser a de Deleuze Damesma forma, ele coloca a puls3o na ima!em%movimento, antes de se contradizer,feliz e inconscientemente, a>rmando no cadre do estudo da ima!em%tempo ( tomo 6,p0! 6[_+ 5 /odo n3o ) mais o Lo!os que uni>ca as partes, mas a em#ria!uês,opat-os que as #an-a e se espal-a por elas Me sinto no direito de aproximar a no?3ode puls3o daquela de em#ria!uês e pat-os, e portanto de deduzir que a puls3o seria,n3o da ima!em%movimento, mas uma forma do todo, e ima!em%tempoAo >m das contas, se >z)ssemos um invent0rio das situa?Bes da ima!em%tempo,poder9amos de>nir cinco su#%!rupos

% todo de>nido pela monta!em, que repousa ( o pr$prio Deleuze o recon-ece+ so#removimentos dial)ticos pr)vios, e que, em !eral, apenas os 5re%copia de forma servilX

% o todo de>nido pela monta!em, que se exprime pela cria?3o de um tempo resultantede lin-as dial)ticas temporais ( ad0!io%alle!ro+, que Deleuze estuda de forma muitoapressada, tam#)m elas avalizadas pela monta!emX

% o todo de>nido pela monta!em, que se exprime pela cria?3o de um tempo semdial)ticaX trata%se talvez do caso de Pa!nol, 'ozier, Leone, esquecidos por Deleuze, deDuras ( que ele evoca na Ima!em%tempo, mas so#retudo para assinalar seusmovimentos dial)ticos entre som e ima!em, entre voz oT e voz on, sem estudar seutra#al-o so#re a respira?3o do >lme+, e en>m de 1tro-eim ( que ele limita, por umcontra%senso a!rante, ao naturalismo, sem analisar o status da dura?3o em sua o#ra+X

% a monta!em totalizante que destr$i% caso rar9ssimo% as veleidades dial)ticas doroteiro ( Wild river+X

% o todo de>nido pela monta!em, e que exclui a dial)ticaX entraria aqui o cinemaexperimental, Mic-ael 1noK, 1er!e 2ard, Carmelo 2ene, a Cicatriz interior de Garrel, a.emme du Gan!es ( Duras+, a Oin!an?a de Nriem-ilde ( Lan!+, Fonemoon ;illers( Nastle+, a Idade da terra ( 'oc-a+, eanne au #c-er ( 'ossellini+ e tam#)m al!unsna#os espetaculares do tipo Guerra do fo!o ou superprodu?Bes americanas ( o

Page 7: As Lixeiras Verdes de Gilles Deleuze

7/23/2019 As Lixeiras Verdes de Gilles Deleuze

http://slidepdf.com/reader/full/as-lixeiras-verdes-de-gilles-deleuze 7/9

espantoso &vil dead+ que s3o apenas seq=ências de atos violentos

De fato, estes três <ltimos setores s3o os <nicos que correspondem " ima!em%tempodeleuziana, e s3o apenas parcialmente analisados por Deleuze, que se contenta como#serva?Bes muito pertinentes so#re 1noK e 2ene 4 preciso dizer, em sua defesa, que) dif9cil escrever so#re esses >lmes, que oferecem uma superf9cie muito escorre!adia,pouco prop9cia " !losaA ima!em%tempo compreende, portanto, >lmes am#iciosos e de qualidade% quemerecem amplamente que nos de#rucemos so#re eles%, mas que constituem apenasuma parte 9n>ma da produ?3o de >lmes interessante e uma parte ainda mais 9n>ma docon*unto da produ?3o 1eparar a ima!em%tempo da ima!em%movimento, o ma!ma dadial)tica, ) portanto um exerc9cio um pouco v3o ( at) porque "s vezes os dois seencontram no mesmo >lme+ Ainda mais v3o me parece op%los ) David e Golias, opote de #arro e o de ferro, o 6D e o VD uer se trate do tempo ou do movimento, comcentro ou sem centro, isso n3o vai nos levar muito lon!ePodemos nos espantar ent3o que a Ima!em%tempo conten-a cem p0!inas a mais que aIma!em%movimento Deleuze deve ter tido medo que seu Ima!em%tempo fosse muitocurto, rec-eou o quanto pde o seu livro de coisas aqui e ali, em ordem aleat$ria, aoque parece s três <ltimos cap9tulos da Ima!em%tempo ( pensamento, corpo ec)re#ro, componentes+, que ultrapassam constantemente suas #arreiras entre si, s3oos mel-ores ( ainda que o >o de Ariadne se*a #em arti>cial, com classi>ca?Besar#itr0rias Doillon unicamente colocado so# a ru#rica corpos+ aqui, Deleuze n3odesperdi?a tinta, tentando inserir suas mat)rias em uma das duas !randes mal-asconceituais@a verdade, me parece que os dois t9tulos est3o l0 porque 5soam #em, para a*udarDeleuze a vender seu peixe% um intrusivo ( e inconsciente+ MacGubn, um pouco comoo t9tulo Pierrot le fou atraiu din-eiro e multid3o para o >lme de Godard, sem que o >lmemostre uma <nica vez o c)le#re #andido -omnimo tr0!ico em Deleuze ) que eleentul-a seus cap9tulos in*etando >lmes e teses sem li!a?3o com o assunto, mas temuma -ora que l-e d0 a vontade de foder com tudo ( a repeti?3o #uueliana no interiordo naturalismo, o naturalismo no interior da puls3o+ &nc-er lin!=i?a,% vc tem deenc-er, se quiser co#rir a totalidade do cinema em _[[ p0!inas%, ent3o se cola uma<nica etiqueta, for?osamente equivocada, em cada um Mizo!uc-i pequena forma, .ord

!rande forma, Oidor naturalista ( assim como -0 o mestre do suspense, o plano non9vel tatami de zu, as vacas !orduc-as fellinianas+ Ainda a mania patol$!ica daclassi>ca?3o\ A raz3o disso tam#)m ) que Deleuze quer conferir ao cinema umprest9!io de que este n3o tem a m9nima necessidade, referindo%o a seus conceitos#er!sonianos 1eria antes 2er!son, >l$sofo sem p<#lico ( e cin$fo#o+ quem !an-ariacom o cinema\ Mas os pensadores extra%f9lmicos adoram este !ênero de equa?3o queos valoriza -0 pouco tempo, um cara #izarro consa!rou todo um livro para provar queOir!9lio era pr)%cinema, porque a escritura da &neida evocava a de um d)coupa!eOocês podem me ac-ar muito severo em rela?3o a Deleuze, mas ) que seu verniz>los$>co mascara suas qualidades Deleuze pode ser apaixonante, vivi>cante, seevacuarmos suas -ist$rias de movimento e de tempo Deleuze ) um 1;orec;i que setoma por 1pinozauanto mais o sistema ) nulo, mais as percep?Bes pontuais s3oexcitantes, toni>cantes ( n3o sempre, mas frequentemente+

&m primeiro lu!ar, ) talvez o primeiro -istoriador do cinema que se ap$iaexclusivamente so#re #ons >lmes ou >lmes am#iciosos, no presente imediato( 1#er#er!, 1trau#, acquot, &ustac-e, Garrel+ e no passado &nquanto que Metz,Co-en%1)at, Marcel Martin e 'i*on se comprazem com as nulidades Com Deleuze,estamos sempre em #oa compan-ia, em fam9lia Deleuze ) cin)>lo, e ama o #omcinemaPor outro lado, ele sa#e de!ustar, so#retudo em revistas um pouco esquecidas como aCin)mato!rap-e e 4tudes Cinemato!rap-iques, as mais interessantes f$rmulasconcernentes a um >lme, fazer uma s9ntese das mel-ores cita?Bes, vindas de fontes

Page 8: As Lixeiras Verdes de Gilles Deleuze

7/23/2019 As Lixeiras Verdes de Gilles Deleuze

http://slidepdf.com/reader/full/as-lixeiras-verdes-de-gilles-deleuze 8/9

#em variadas, so#re um autor & so#retudo, o pr$prio Deleuze exprime seus pontos devista ori!inais so#re o#ras, em !eral #em o#l9quas uase sempre s3o opiniBes *o!adas"s ce!as, em impromptus , mal colocadas, mal expressas e mal desenvolvidas empoucos par0!rafos ( o sum0rio >nal ) mais <til para se!uir o pensamento de Deleuzeque o pr$prio texto+X mas que importa

Por exemplo, -0 o#serva?Bes que oferecem um primeiro esfor?o de s9ntese, que a#rem-orizontes, so#re a crise da ima!em%a?3o na Am)rica, li!ada a cinco fatores a5situa?3o dispersiva (multiplica?3o dos persona!ens+, 5 as li!a?Bes deli#eradamentefr0!eis, a 5forma%#alada, 5 a tomada de consciência dos clic-ês e 5a denuncia?3o docomplot( p6V+u ainda so#re 1tern#er! 5A luz n3o tem mais nada a ver com as trevas, mas com atransparência, ou transl<cido ou o #ranco Portanto, os cortinados e os v)us de1tern#er! se distin!uem profundamente dos cortinados e dos v)us do expressionismo,e seus ous do c-iaroescuro deste @3o mais a luta das luzes contra as trevas, mas aaventura da luz com o #ranco ) o anti%expressionismo de 1tern#er! ( p 8VV+

u ainda so#re Duras versus 1trau# 5A primeira diferen?a seria que, para Duras, o atoda palavra a atin!ir ) o amor total ou o dese*o a#soluto (+ A se!unda diferen?aconsiste em uma liquidez que marca cada vez mais a ima!em visual em Duras (+ Aima!em visual, " diferen?a dos 1trau#, tende a ultrapassar seus valores estrati!r0>cosou arqueol$!icos em dire?3o a uma calma potência uvial e mar9tima que representa o&terno( tomo 6, pVV_+

Deleuze ) -omem da o#serva?3o pontual, da compara?3o ( #em !odardiana+ , n3o dateoria totalizante A #em dizer, esta nunca deu !rande coisa no dom9nio do cinema,com exce?3o da fa#ricada pelos cineastas em sua o#ra pessoal Dif9cil ima!inar umateoria !lo#al da literatura Acreditaram que poderia -aver uma para o cinema por este,quando de seu nascimento, existir em um espa?o muito restrito, ainda mais limitadopelas contin!ências econmicas s anos, o desenvolvimento internacional e apopulariza?3o do exerc9cio f9lmico destru9ram esta ilus3o totalizadora !eral ) umen!odo Apenas existe o local, o pontual As !rande teorias do cinema se limitam a serum 5A#re%te 1)samo, uma f$rmula para tudo e para nada, uma c-ave a monta!em

interdita #aziniana, a cEmera%caneta de Astruc, o travellin! como quest3o de moral( Godard+, a dial)tica A!eliana do cinema como oferta( o#latif+ 7 ou como captura( capitatif+, o cinema de prosa e o cinema de poesia pasoliniano, o ol-ar " altura dool-o -aK;siano, o cinema%emo?3o fulleriano% ou como dizia Auriol, 5o cinema ) a artede fazer #elas coisas a #elas mul-eres

Luc Moullet, La Lettre du cin)ma n<mero 8Z, automne 6[[[+

 /radu?3o Luiz 1oares <nior

@otas do tradutor

8 cu de #acia Fomem que teve am#as as pernas amputadas

6 Deforma?3o irnica da orto!ra>a com sentido -iper#$licoX enormeV Ma!ellan 1onda espacial francesa, lan?ada em 87Z, cu*o nome ) uma -omena!emao nave!ador portu!uês .ern3o de Ma!al-3esY Astronauta, piloto de testes e aviador americano, foi o primeiro -omem a pousar naLuaZ en jouant avec les mots o!ando, #rincando com as palavras, no sentido de *o!ossemEnticos, am#i!=idades, met0foras, etc` De delus3o iludido, lo!rado o!o de palavras entre Deleuze e delusive, ou iludido,en!anado

Page 9: As Lixeiras Verdes de Gilles Deleuze

7/23/2019 As Lixeiras Verdes de Gilles Deleuze

http://slidepdf.com/reader/full/as-lixeiras-verdes-de-gilles-deleuze 9/9

_ Icono!ra>a cat$lica t9pica de i!re*as francesas constru9das no s)culo 87, s)culo quecon-eceu uma renova?3o da f) cat$lica no pa9s Improvisos

7 o#latif palavra derivada do latim o#lativus ( que se oferece por si mesmo, que sedoa, volunt0rio+ Altru9sta, devotado