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AS NOVAS TECNOLOGIAS NO ENSINO E O CONTEXTO DA EDUCAÇÃO
Jayme Rodrigo Blanco dos Santos1
RESUMO
Neste estudo pretendeu-se abordar o contexto da educação brasileira, apresentando algumas questões relacionadas à crise e propostas de reformas educacionais. Apresenta também a visão de Paulo Freire a respeito da educação, ou seja, como ele vê a democratização do ensino e a atuação do professor crítico e reflexivo. Destaca-se ainda o uso das novas tecnologias no ensino na sala de aula como importante ferramenta de apoio para a aprendizagem e importância da formação docente na era da informatização. As novas tecnologias são ferramentas úteis que podem ser incluídas no meio acadêmico, auxiliando a aprendizado de docentes e alunos, uma vez que passaram a permitir ao homem imperar sobre a informação como parte integrante de qualquer atividade humana, seja ela individual ou coletiva. Neste contexto, a formação e a atuação de professores para o uso das tecnologias na educação é um processo que une o domínio dos recursos tecnológicos com a ação pedagógica e com os conhecimentos teóricos necessários para refletir, compreender e transformar esta ação. O objetivo do estudo é abordar o contexto da situação educacional e a importância do uso das novas tecnologias como ferramenta de apoio à aprendizagem em sala de aula. Palavras-chave: História da Educação. Novas Tecnologias. Aprendizagem. Ensino.
1Mestrado em Educação, Centro Universitário Moura Lacerda – CUML, Ribeirão Preto, SP. - Brasil. Master of Science in Emergent Technologies in Education – Must University, Flórida - USA. E-mail: [email protected]
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i. Introdução
Este estudo aborda o contexto da educação, as crises, a reforma educacional,
a educação sob o olhar acurado de Paulo Freire e o uso das novas tecnologias no
ensino como uma novidade no desenvolvimento tecnológico que vem se
apresentando na sociedade contemporânea. Para tanto, tornou-se necessário discutir
os benefícios do uso das ferramentas tecnológicas na construção do conhecimento,
bem como apresentar a importância da formação docente com qualificação para
adentrar a essa nova realidade digital.
A formação do Brasil implica necessariamente na estruturação de nosso
modelo de ensino porque desde os primeiros anos da descoberta, há a falta de
estrutura e investimento nessa área.
As posturas mais adotadas no país são justamente a pedagogia tradicional e a
escola nova. No entender de Saviani (2008) a escola tradicional procurava ensinar e
transmitia conhecimento, a escola nova estava preocupada em apenas considerar o
aprender a aprender. E posteriormente, a escola técnica detinha-se em simplesmente
considerar necessário o ensino da técnica. Até o início do século XX a educação no
Brasil esteve praticamente abandonada.
Assim, a educação sempre possui uma dimensão política tenhamos ou não
consciência disso, portanto assume-se um caráter educativo e político para a
educação e este só cumpre seu papel quando permite a formação integral do
indivíduo. Mas o desafio permanece, dessa forma, como é possível falar em educação
global se as pessoas em uma sociedade fragmentada, imbuída de diferentes
conceitos de razão, educação, ética, política, marginalidade, sociedade e cultura?
Destarte, surge a tecnologia como forma de contribuir para vida do ser humano.
Esses tipos de recursos tecnológicos estão intimamente ligados ao progresso da
sociedade. Porém, considerando-se que alguns professores encontram dificuldades
para lidar com as questões tecnológicas, gerando uma defasagem para a
aprendizagem dos alunos, ressalta-se que essas dificuldades podem ser sanadas, a
partir de formação específica e competente, bem como incentivos cabíveis.
O papel da tecnologia deverá ser o de apoiar os alunos no processo de
ensinarem a si mesmos (obviamente com a orientação de seus professores). Portanto,
os avanços tecnológicos exigem uma nova realidade de conhecimento e, espera-se
que isso seja exposto no presente estudo.
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A motivação para a escolha deste tema foi perceber que é possível trabalhar
melhor com a utilização de novas tecnologias para auxiliar os alunos no processo de
aprendizagem, uma vez que há mais interesse por parte deles em manusear essas
ferramentas.
O estudo será realizado por meio de pesquisa bibliográfica, com coleta de
dados em livros, sites eletrônicos, revistas, artigos científicos, dissertações e demais
meios disponíveis que abordam e contemplem a temática.
O objetivo é abordar o contexto da situação educacional e a importância do uso
das novas tecnologias como ferramenta de apoio à aprendizagem em sala de aula.
ii. O CONTEXTO DA EDUCAÇÃO BRASILEIRA
A educação ajuda a pensar tipos de homens, mais do que isso, ela ajuda a criá-
los, através de passar uns para os outros o saber que o constitui e legitima. “Produz
o conjunto de crenças e ideias, de qualificações e especialidades que envolvem as
trocas de símbolos, bens e poderes que, em conjunto constroem tipos de sociedades”
(BRANDÃO, 2001, p. 11).
Arcary (2005) comenta que a partir do século XXI a taxa de mobilidade social
passou a ser considerada baixa em detrimento do capitalismo brasileiro, implicando
em uma educação que não serve de parâmetro para se conseguir emprego e
estabilidade social, desviando, sobre maneira, conforto, possibilidades de melhoria de
vida e, consequentemente, um ensino em crise.
O autor considera o país brasileiro com uma cultura com índice cultural baixo,
ou seja, há grande número de alunos matriculados, mas não há melhora nos
conhecimentos. Cresceu o número de formandos em diferentes áreas, mas a
qualidade do ensino não forma um bom profissional. Houve uma transferência de
responsabilidade da escola para a família.
A escola pública abriga 90% das crianças brasileiras com idade até quatorze
anos, porém, a expectativa não é das melhores e as necessidades aumentam. Surge,
então, o fracasso escolar sob diferentes nuanças, isto é, repetição, evasão, péssimos
resultados em avaliações por provas. Ressalta-se que no estado de São Paulo o
fracasso escolar se manifesta de forma oculta por meio da promoção automática,
ideologicamente camuflada sob o pseudônimo de “Progressão Continuada”.
A atual educação no país é deprimente por se deixar mercantilizar. Em outras
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palavras, o capitalismo destruiu a escola pública, primária, secundária; todas estão
em crise, haja vista a larga escala de privatização no ensino superior.
A educação brasileira necessita urgentemente resgatar o lugar da educação e
dos educadores. Os principais agentes de transformação da educação serão os
estudantes e os trabalhadores da educação, pois são eles que a defendem contra os
ataques do Estado (ARCARY, 2005).
Nesse sentido, importante destacar a Lei nº. 13.005 de 25 de junho de 2014
que aprova o Plano Nacional de Educação (PNE) com validade para dez anos, ou
seja, até 2024, publicada no Diário Oficial da União, Seção 1 (ed. extra), de 26 de
junho de 2014, p. 1-7 (BRASIL, 2014).
A referida lei em seu art. 5º, prevê de que a execução do PNE e o cumprimento
de suas metas serão objeto de monitoramento contínuo e de avaliações periódicas,
realizados por quatro instâncias:
I − Ministério da Educação (MEC); II − Comissões de Educação da Câmara dos Deputados e Comissão de Educação, Cultura e Esporte do Senado Federal; III − Conselho Nacional de Educação (CNE); IV − Fórum Nacional de Educação (BRASIL, 2014, p. 11).
Metas e estratégias deverão ser cumpridas com o objetivo de melhorar a
qualidade da educação no país. A meta 10 preconiza oferecer, no mínimo, 25% das
matrículas de educação de jovens e adultos, nos ensinos fundamental e médio, na
forma integrada à educação profissional. A meta 11 visa triplicar as matriculas da
educação profissional técnica de nível médio, assegurando a qualidade da oferta e
pelo menos 50% da expansão no segmento público. A meta 13 pretende elevar a
qualidade da educação superior e ampliar a proporção de mestres em 75% e doutores
do corpo docente em 35% em efetivo exercício (BRASIL, 2014).
Apropriando-se da expressão de Paulo Freire2, Brandão (2001) sugere que se
trata de “reinventar a educação”, ou seja, “a ideia de que a educação é uma invenção
humana e, se em algum lugar foi feita de algum modo, pode ser mais adiante refeita
2 Pedagogo brasileiro, educador e filósofo da educação. Paulo Freire procurou uma forma de fazer com que o analfabeto se engajasse no processo de alfabetização, através da conscientização. Foi nomeado, em 1960, professor efetivo de Filosofia e História da Educação da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras, da Universidade do Recife (atual Universidade Federal de Pernambuco) e, em 1961, professor livre-docente da disciplina História e Filosofia da Educação da Escola de Belas Artes do Recife (GASPAR, Lúcia. Paulo Freire. Pesquisa Escolar Online. Fundação Joaquim Nabuco, Recife, 2002. Disponível em: <http://basilio.fundaj.gov.br/pesquisaescolar/>. Acesso em: 14 mar. 2017.
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de outro, diferente, diverso, até oposto” (BRANDÃO, 2001, p. 99).
O autor explica que ao fazer a crítica da educação capitalista, denominando-a
“educação bancária” ou “educação do opressor”, Freire desejava desarmá-la da ideia
de que ela é maior do que o homem, portanto sagrada e imutável. Sugeria assim que
“é preciso acreditar que, antes, determinados tipos de homens criam determinados
tipos de educação, para que, depois, ela recrie determinados tipos de homens”
(BRANDÃO, 2001, p. 100).
Ao considerar o pensamento de Paulo Freire, no parágrafo acima, pode-se
inferir que a reforma educacional seria a solução correta em detrimento a tantas
propostas que não avançaram.
Mas, na concepção de Silva (2007), tratar de políticas e ou de reformas
educacionais implica considerar uma variedade de iniciativas que visam alterações no
alcance e na natureza da educação, passando por mudanças nos currículos,
conteúdos, desenvolvimento do processo educativo e formas de avaliação. As
reformas são projetos mais circunscritos que têm como objetivo renovar, melhorar ou
redirecionar as instituições de ensino sem preocupação de promover mudanças de
caráter mais estrutural, ou seja, mudanças que afetam conteúdos e processos
didáticos do sistema, sem atacarem de frente a estrutura do mesmo.
O termo “Reforma” refere-se a uma mudança em larga escala com caráter
imperativo para o conjunto do território nacional, implicando opções políticas,
redefinições de finalidades e objetivos educacionais e alterações estruturais no
sistema (SILVA, 2007).
Enguita (1999) acentua que o termo reforma refere-se às mudanças em
aspectos gerais da estrutura e organização escolar, enquanto o termo inovação
relaciona-se às mudanças relativas aos conteúdo da aprendizagem e aos métodos de
ensino. Para este autor, a reforma engloba mudanças em nível macro e a inovação,
mudanças em nível micro, podendo verificar-se reformas sem inovação e, sobretudo,
inovações sem reforma.
Popkewitz (1997) assinala que os discursos contemporâneos raramente
distinguem os significados de reforma e mudança. Porém, no âmbito geral, a reforma
educacional não transmite meramente informações em novas práticas; definida como
parte das relações sociais da escolarização, ela pode ser considerada como ponto
estratégico no qual ocorre a modernização das instituições.
Com a reforma da educação brasileira, nos anos 1990, assiste-se a uma
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preocupação com a formação de professores e com a valorização do magistério.
Portanto, a reforma no que se refere à formação docente precisa ser analisada com
rigor para não se chegar a conclusões precipitadas, quanto ao problema da formação
de professores. Nesse sentido, Silva (2007), chama atenção para os dispositivos da
Lei 9.394/96 que privilegiam a formação em serviço e a formação continuada para não
se cair no erro de confundir a formação com certificação, ou com o exagero da
titulação, como foi o caso das professoras dos anos iniciais do ensino fundamental
que foram obrigadas a obter diploma de nível superior.
Para Silva (2007) as políticas públicas para a educação no Brasil, não levam
em consideração as pesquisas e reflexões realizadas e produzidas por pesquisadores
e educadores brasileiros. Tome-se como exemplo algumas medidas tomadas no bojo
da reforma educacional, tais como: a supervalorização da oferta de cursos de
formação para professores em serviço em detrimento da ampliação dos investimentos
em salários e carreira e melhoria das condições do trabalho docente.
Silva (2007, p. 183) critica a política de formação de professores que adota,
segundo ela, a armadilha do professor prático reflexivo em detrimento da formação
intelectual do professor, faz a seguinte pergunta: “Os professores capacitados e
certificados sob o conceito de práticos reflexivos estão devidamente formados?
Dispõem eles de conhecimentos e habilidades” para enfrentarem os desafios
impostos pela escola, por seus alunos e pela sociedade?
A autora ao criticar a formação baseada na prática reflexiva alerta para o perigo
das pessoas se apegarem excessivamente ao conceito de ensino reflexivo em
detrimento de relações importantes entre a escola e a comunidade. Adverte, ainda
para que não haja uma formação empobrecida e sem reflexão, sem experiência
formativa que é diferente de prática reflexiva (SILVA, 2007).
A reflexão acima pode servir de alerta para o caso do Brasil, pelo fato de que a
reforma educacional brasileira, inclusive a política de formação docente, foi elaborada
na década de 1990 e continua no século XXI indefinida quanto aos seus resultados.
No entanto, a Lei n.º 13005/14, já mencionada nesse estudo, em sua meta 13
e na estratégia 13.9, preconiza “promover a formação inicial e continuada dos(as)
profissionais técnico-administrativos da educação superior” (BRASIL, 2014, p. 77).
Portanto, é necessário que reformas assim, sejam analisadas com rigor, para
que não se caia na armadilha de defender um projeto de reforma economicista e
conservador, como um projeto educativo democrático, avançado, e de qualidade.
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Os termos “crise na educação” e “reforma educacional”, trataram do processo
como um todo, demonstrando suas falhas e tentativas de melhorar a qualidade do
ensino. No tópico abaixo, sob a visão de Paulo Freire, há o esboço de uma educação
diferenciada.
iii. A EDUCAÇÃO NA VISÃO DE PAULO FREIRE
A espécie humana é sem dúvida divinamente especial. A natureza nos
concebeu iguais em nossa forma, porém diferentes na essência, somos únicos,
dividindo num único ser diferenças e igualdades, com deveres e direitos que nos
assegura o direito a igualdade, e a liberdade para exercer nossa individualidade.
Com a presença constante do diálogo, convivemos e nos relacionamos com o
diferente, porém o respeito mútuo acontece na relação dialógica quando, não há a
intenção de convencer o outro das minhas convicções, de fazê-lo acreditar nas
mesmas coisas, pensar ou agir da mesma maneira.
A segurança em uma fala vem da disponibilidade em reconhecer a realidade, e
não em achar que tudo se sabe e que se é o melhor. A segurança vem justamente da
condição de “inacabado”, reconhecendo que ainda há muito a prender não me
envergonho em ainda não saber algo, ou que tenho de conhecer melhor. Num diálogo
não há vencedor ou perdedor, quando há reconhecimento de que somos seres em
construção.
Educar para a vida é “testemunhar a abertura aos outros, a disponibilidade
curiosa à vida, a seus desafios [...]” (FREIRE, 2000, p. 153). É não ter vergonha de
não saber algo, ou ser ignorante em determinado assunto, mesmo porque cada um
carrega o seu conhecimento de mundo e na prática do diálogo, ao abrir-se ao outro,
com respeito ao saber que cada um possui, sendo que na beleza do diálogo um ser
completa a estrutura inacabada do outro.
“O sujeito que se abre ao mundo e aos outros inaugura com seu gesto a relação
dialógica em que se confirma como inquietação e curiosidade, como inconclusão em
permanente movimento na História” (FREIRE, 2000, p. 154). É assim a relação
dialógica para aquele que se aventura ao abrir-se ao outro, aceitando a legitimidade
da sua curiosidade e inquietação, reconhecendo que a sua existência faz parte da
história do mundo.
Não há formação completa quando não se conhece o aluno, sua realidade e a
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sua vida, seu contorno ecológico, sua vida econômica e social. Todo educador
reconhece a teoria, acreditando que as condições sociais do aluno interferem na sua
compreensão de mundo e na sua capacidade de aprender e no seu jeito de encarar a
vida. Porem basta achar que conhecemos o aluno é preciso abrir-se a ele, numa
relação dialógica verdadeira, para “falar com ele”, no mundo dele, chegar até a sua
realidade, mostrar a ele o valor da sua existência. Assim deve-se diminuir as
distâncias entre educando e educador, aproximando saber e educando, teoria e
mudança.
Conhecer não implica tomar o lugar do outro passando a viver como ele, pois
isto seria hipocrisia, estar próximo é sentir o drama do outro, envolver no sonho de
justiça e de mudança do mundo, através do diálogo. O que rompe barreiras é ensinar
a compreender a sabedoria, voltada para a mudança, verificar criticamente as
estruturas injustas que teimam em oprimir.
O diálogo, a comunicação, deve mostrar que o mundo não é imutável, e que se
pode e deve mudá-lo, a educação liberta o homem de ser oprimido pelos fatos
pensando que nada pode fazer para mudar o mundo, o educando é a esperança de
mudança é a concretização da esperança sobre a opressão.
O educador deve posicionar-se eticamente contra a exploração do homem pelo
próprio homem, é preciso apaixona-se por esta causa, somando a outros saberes da
realidade concreta, a ideologia, e outros saberes mais técnicos, até mesmo à
comunicação, a fim de desmascarar o poder ideológico manipulado pela mídia.
O diálogo é, portanto uma exigência existencial, que possibilita a comunicação
e permite ultrapassar o imediatamente vivido. Ultrapassando suas “situações limites”,
o educador-educando chega a uma visão totalizante do programa dos temas
geradores, da apreensão das condições até a última etapa do desenvolvimento de
cada estudo.
Segundo Gadotti, pode-se perceber o resultado do tipo de diálogo referido por
Paulo Freire:
Nesse suposto diálogo, ao educando cabe apenas escutar e obedecer. Para passar da consciência ingênua à consciência crítica, é necessário um longo percurso, no qual o educando rejeita a hospedagem do opressor dentro de si, que faz com que este se considere ignorante e incapaz. É o caminho de sua autoafirmação enquanto sujeito (GADOTTI, 1996, p. 84).
Para Paulo Freire, o diálogo é uma relação horizontal. Onde existe amor,
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humildade, esperança, fé e confiança. Retomando essas características do diálogo
com novas formulações ao longo de muitos trabalhos, contextualizando-as. Assim,
como exemplo refere-se à experiência do diálogo, ao insistir na prática democrática
na escola pública: “é preciso ter coragem de nos experimentarmos democraticamente”
(GADOTTI, 1996, p. 84).
No trecho abaixo, o autor demonstra sua indignação:
Daí a crítica permanentemente presente em mim à malvadez neoliberal, ao cinismo de sua ideologia fatalista e a sua recusa inflexível ao sonho e à utopia. Daí o tom de raiva, legítima raiva, que envolve o meu discurso quando me refiro às injustiças a que são submetidos os esfarrapados do mundo (FREIRE, 2000, p. 15).
Aos educadores, ele ensina que não se pode ser observadores imparciais dos
fatos, ele atribui aos professores a responsabilidade ética dessa tarefa; a ética
universal que se refere a ética comprometida com a defesa do oprimido, do sonho e
da utopia. Essa ética é inseparável da prática educativa, já que é ela que dá vida à
luta diária, tornando-se concreta na relação cotidiana com os educando.
A reflexão crítica deve ser uma constante na prática educativa e na formação
docente, para que a relação teoria/prática não se torne vazia e sem sentido. É
essencial que se parta da experiência formadora para uma posição convencida de
que o saber é construído, uma vez que Paulo Freire deixa claro que “[...] ensinar não
é transmitir conhecimento, mas criar possibilidades para a sua produção ou a sua
construção” (FREIRE, 2000, p. 25).
Num processo educativo democrático formador e formando, tem suas
particularidades, e em comum a verdadeira construção do conhecimento, pois ao
formarmos, temos possibilidade de nos formar e nos reformular também aquele que
está sendo formado tem a possibilidade de formar ao mesmo tempo em que recebe
formação, assim “[...] Quem ensina aprende ao ensinar e quem aprende ensina ao
aprender” (FREIRE, 2000, p. 25).
Ensinar é um processo histórico onde a convivência social nos leva a
percebermos nossa condição de inacabados, sentindo a necessidade da troca onde
quem ensina aprende e quem aprende também ensina.
Na educação democrática deve-se “[...] reforçar a capacidade crítica do
educando, sua criatividade, sua insubmissão” (FREIRE, 2000, p. 28). Então,
educandos se transformam em sujeitos que ao lado do educador constroem e
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reconstroem o saber.
Na opinião do autor, cabe ao educador interagir com os saberes socialmente
construídos do educando e muito mais ainda, mostrar a relação desses saberes com
o conteúdo ensinado pela escola, discutindo a realidade dos alunos e associada a ela
ensinar o conteúdo programático.
Nesta dinâmica, é tarefa do educador como ser humano, exercer a
comunicação, de modo que ela não se torne transferência, oferecida, doada ou
depositada no outro, para que ela desafie o educando com quem se comunica e a
quem se comunica a compreender o que é comunicado de forma que não seja passivo
desta ação.
É preciso que a prática educativa humana, resgate sempre a sua origem
utópica, não permitindo que a história venha morrer, que a aceitação da realidade, a
imobilidade, a negação do ser humano, que a impossibilidade de sonhar; venha
desproblematizar o tempo, fazendo da existência humana uma simples passagem. É
assim a educação que reduz ao puro treino o que deveria ser formação integral,
fortalecendo a fala autoritária de cima para baixo (FREIRE, 2000).
iv. AS NOVAS TECNOLOGIAS NO AMBIENTE ESCOLAR
Conforme destaca Souza (2008), a expansão da tecnologia atingiu o mundo,
de maneira espantosa, e a informática é o grande destaque. Essa nova modalidade
tornou-se importante instrumento pedagógico nas redes de ensino e, em todas as
sociedades contemporâneas. O mundo absorve toda a influência cibernética, as
pessoas respiram as novas tecnologias e seus comportamentos ganham novas
influências, principalmente, jovens e crianças em idade escolar.
Segundo Fava (2012), a tecnologia é a grande responsável pelas
transformações no contexto educacional como, por exemplo, no sentido de
organização, escolha de novos conteúdos, distribuição de tarefas e ampliação de
currículo. Esse processo convoca os estabelecimentos de ensino a uma nova
adaptação para acompanharem o ritmo digital acelerado ou, do contrário, estarão
condenados ao fracasso na era da comunicação.
Na interpretação de Ribeiro, Castro e Regattieri (2007), a integração das novas
tecnologias da informação e comunicação é de fundamentação importância no
ambiente escolar, principalmente porque elas fazem parte do dia a dia dos jovens
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alunos, levando-se em consideração que a sua utilização na educação e demais
contextos escolares, torna-se uma ferramenta básica e que deverá ser ofertada pelos
docentes em parceria com o Projeto Político Pedagógico (PPP) e disciplinas afins.
Essas autoras confirmam que a TV e o rádio invadiram os lares das famílias
brasileiras e que a informática, em sua grande expansão, está ocupando espaços
importantes na sociedade como bancos, supermercados, cinemas, lojas, metrô,
ônibus etc. Porém, infelizmente, isso ainda não se tornou uma realidade na escola
pública, haja vista a pequena parcela de preparação dos jovens em relação ao uso e
produção “consciente, crítico e ativo” de tecnologias (RIBEIRO; CASTRO;
REGATTIERI, 2007).
Ao pensar na inserção do uso das novas tecnologias no ambiente escolar e,
considerando-se que a maioria das escolas públicas não capacita os jovens para a
utilização dessa ferramenta, algumas questões devem ser resolvidas: Por que isso
não é possível? Professores e gestores tiveram a formação inicial e continuada
voltada para a capacitação digital? Como esses recursos tecnológicos poderão ser
utilizados pelos professores e quais são seus limites e potencialidades?
Tedesco (2004), faz interessante argumentação a esse respeito:
A incorporação das novas tecnologias à educação deveria ser considerada como parte de uma estratégia global de política educativa e, nesse sentido, as estratégias devem considerar, de forma prioritária, os professores, considerando que as novas tecnologias modificam significativamente o papel do professor no processo de aprendizagem e as pesquisas disponíveis não indicam caminhos claros para enfrentar o desafio da formação e do desempenho docente nesse novo contexto (TEDESCO, 2004, p. 11).
O autor complementa seu raciocínio ao afirmar que, existe sim, recursos
tecnológicos na maioria das escolas do país, porém, são pouco explorados
pedagogicamente. Isso se deve à falta de capacitação, resistência à inovação por
parte de muitos professores que ainda preferem os métodos tradicionais do quadro
“negro e giz”. De forma geral, professores e gestores desconhecem essa nova
metodologia tecnológica e sua grande importância como ferramenta de apoio à
aprendizagem e atividades pedagógicas (TEDESCO, 2004).
Silva e Correa (2014) também concordam com os autores supra citados, a
respeito de que as escolas desconhecem o real valor e a importância das novas
tecnologias como apoio para a aprendizagem. Eles afirmam que é inconcebível
pensar a educação do século XXI, desprovida da utilização dos mais variados tipos
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de instrumentos tecnológicos, pois tal procedimento implica em abandonar a evolução
que, cada vez mais, está impregnada na essência da humanidade.
Assim como Tedesco (2004) teceu comentários sobre professores que ainda
optam por métodos tradicionais, Silva e Correa (2014) também abordam esse
procedimento arcaico, ou seja, mesmo existindo laboratório de informática com
computadores sofisticados, muitos professores se afastam, tornam-se resistentes à
ideia de trabalhar com o novo processo e evitam esse contato.
A geração atual de alunos adentram os muros escolares com aparelhos
celulares de última geração, utilizam as mídias sociais, facebook, twitter durante as
aulas, enquanto os professores ainda atuam no modelo citado acima por Tedesco
(2004) e Silva e Correa (2014), ou seja, preferem ministrar as aulas de maneira
desgastante e ultrapassada, não acrescentando assim, nenhum resultado positivo.
De acordo com esses autores citados, a reclamação a respeito de não se usar
corretamente as novas tecnologias em sala de aula é normal, ou seja, quando são
usadas, não são bem direcionadas e, no entanto, mais prejudicam do que ajudam a
aprendizagem.
Ao contrário do exposto, Almeida e Silva (2011) destacam a importância do uso
da tecnologia:
A disseminação e uso de tecnologias digitais, marcadamente dos computadores e da internet, favoreceu o desenvolvimento de uma cultura de uso das mídias e, por conseguinte, de uma configuração social pautada num modelo digital de pensar, criar, produzir, comunicar, aprender – viver. E as tecnologias móveis e a web 2.0, principalmente, são responsáveis por grande parte dessa nova configuração social do mundo que se entrelaça com o espaço digital (ALMEIDA; SILVA, 2011, p. 4).
Reforça-se à citação acima, de que as novas tecnologias possibilitam
comunicações com mais rapidez, porém adverte-se que dominar essas tecnologias
será sempre uma barreira a ser vencida, dada a frequência da evolução dos meios
tecnológicos. Por sua vez, Peters (2011, p. 68) comprova essa afirmação da seguinte
maneira: “muitos anos passarão até que alcancemos o domínio das possibilidades
tecnológicas na educação, e muitos empecilhos deverão ser vencidos”.
Conforme argumentam Silva e Correa (2014), o uso das novas tecnologias
como recurso pedagógico já se encontrava previsto nas Diretrizes Curriculares
Nacionais para a Educação Básica (DCNEB) de 13 de julho de 2010, bem como havia
a intenção de manter a presença das TICs no currículo escolar.
Para Moreira e Candau (2007, p. 18), “a palavra currículo tem sido também
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utilizada para indicar efeitos alcançados na escola, que não estão explicitados nos
planos e nas propostas, não sendo sempre, por isso, claramente percebidos pela
comunidade escolar”.
Currículo, associa-se assim, ao conjunto de esforços pedagógicos
desenvolvidos com intenções educativas em amplos sentidos, diversos espaços
organizados para educar pessoas. Porém, cabe ressaltar que o sentido neste estudo
é, estritamente, voltado para instituições escolares.
A partir dessa expectativa, houve um impacto no sistema educacional que
sempre primou pela educação tradicional. Outro fator preocupante para o sistema era
conceder espaços para a absorção de um currículo numa perspectiva digital, com
novos conceitos nas práticas pedagógicas, principalmente em relação aos
educadores em sala de aula. A concepção do trabalho com as ferramentas das TICs
em sala de aula tornou-se prioridade e assunto discutido com mais frequência.
Para Pestana e Pacheco (2013), as tecnologias de mediação curricular mais
utilizadas pedagogicamente por educadores em espaços de aprendizagem,
desempenham diversas funções, respondendo a várias finalidades e orientando o
processo de aprendizagem tanto para as práticas tradicionais quanto para as práticas
construtivas e reconstrucionistas. Dessa forma, as tecnologias de informação e
comunicação estão em constante inovação, desempenhando a função de controle do
conhecimento, contribuindo para a eficácia dos processos de aprendizagem.
Ressalte-se que as enormes vantagens apresentadas pelas ferramentas de
interação virtual como fóruns, chats, e-mails, não devem suprimir a total presença do
docente em sala de aula, pois a interação, a estimulação e a cooperação entre os
integrantes também faz parte do processo de aprendizagem. É neste sentido que
Hack (2011, p. 63) assinala: “a tecnologia deve ser um meio e não um fim de um
processo de construção do conhecimento à distância”.
O educador deve explorar novos campos de conhecimento dos alunos,
estimulá-los na busca de informações, habilidades e, as tecnologias reforçam as
possibilidades de alternativas no trabalho pedagógico. Quanto aos alunos, eles podem
construir esse conhecimento apoiados pelo uso dessas ferramentas em sala de aula.
Neste contexto, professores e alunos se sentirão mais realizados com o uso das novas
tecnologias (TEIXEIRA, 2011).
Quanto à questão de proporcionar novos espaços de aprendizagem e novas
formas de representação da realidade Pestana e Pacheco (2013) argumentam que a
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inovação pedagógica reside na autonomia de ser, fazer e pensar e o desafio
proporciona aos alunos meios de aprendizagem que valorizem a construção mental e
(re)construam o seu próprio conhecimento, num ambiente rico em nutrientes
cognitivos, onde o aluno tem grande autonomia e o professor inovador desempenha
a função de agente de apoio ao processo de aprendizagem.
Sob essa visão apresentada pelos autores, os computadores, adaptados a
diversos estilos de aprendizagem e aos diferentes níveis de capacidade e interesse,
podem “ser ferramentas fundamentais para criar ambientes desafiantes, novas formas
de promover o diálogo intersocial, impulsionando o desenvolvimento cognitivo e
permitindo maior liberdade de ação para as decisões individuais e a resolução de
problemas significativos” (PESTANA; PACHECO, 2013, p. 55).
Nóvoa (2002) é também favorável à ideia de que o computador traz importante
contribuição ao acesso de informação, permite o estabelecimento de novas relações
com saberes diversos, favorece a comunicação, além da articulação escolar com
demais sociedades em tempo real. De forma geral, essa ferramenta proporciona
flexibilidade para a prática pedagógica e gera abertura de atitudes.
Porém, as TICs não são receitas prontas, robôs, ou máquinas programadas
para ensinar ou aprender, mas sim, importante ferramenta pedagógica capaz de
propiciar a interação que leva o aluno a construir seu próprio raciocínio diante de uma
situação-problema, além ajudá-lo a investigar, criar hipóteses, fazer experiências e se
apropriar de um conhecimento organizado (TEIXEIRA, 2011).
Percebe-se, a partir dessas considerações dos autores consultados, que as
tecnologias estão voltadas para ajudar os alunos, os professores e, o sistema
educacional como um todo.
Kenski (2008, p. 45), reforça essa ideia ao afirmar que:
A maioria das tecnologias é utilizada como auxiliar no processo educativo. Não só o computador e a internet como outros recursos que foram introduzidos na prática do docente em sala de aula, movimentaram a educação e provocaram novas mediações entre a abordagem do professor, o entendimento do docente e o conhecimento veiculado.
Para Moran, Masetto e Behrens (2008, p. 32), com a inserção das novas
tecnologias “o professor tem um grande leque de opções metodológicas, de
possibilidades de organizar sua comunicação com os alunos, de introduzir um tema,
de trabalhar com os alunos presencial e virtualmente e também de avaliá-los”.
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v. A IMPORTÂNCIA DA FORMAÇÃO DOCENTE NA ERA TECNOLÓGICA
Importante reforçar o pensamento oportuno de Paulo Freire, quando o autor
afirma que “ensinar não é transferir conhecimento, mas criar possibilidades para a sua
produção ou sua construção” (FREIRE, 2002, p. 25).
O referido autor ainda complementa seu raciocínio quando atesta que “[...] na
formação permanente dos professores, o momento fundamental é o da reflexão crítica
sobre a prática. É pensando criticamente a prática de hoje ou de ontem que se pode
melhorar a próxima prática” (FREIRE, 2002, p. 38).
A abordagem do autor sobre a formação docente mostra a importância de
conscientização e reflexão em sua prática diária, para com a utilização dos novos
recursos tecnológicos, fator esse que propicia a melhoria da qualidade de ensino.
A respeito da formação de docentes, proposta e inserida no contexto de
educação nacional, amparada pela Lei de Diretrizes Básicas do Ensino Nacional
(LDBEN 9394/96) e por resoluções do Conselho Nacional de Educação (CNE),
estabelece a realização de estudos específicos para a formação profissional com
qualidade e condições de se exercer a prática docente (CURI, 2005).
O saber dos professores é de várias fontes e de diferentes momentos. Assim,
Tardiff (2010, p. 21) afirma que “ensinar é mobilizar uma ampla variedade de saberes,
reutilizando-os no trabalho para adaptá-los e transformá-los pelo e para o trabalho”.
Carvalho e Perez (2001) aconselham a buscar novas alternativas, novos
projetos para ampliar a educação e, então trabalhar para a reconstrução da realidade
escolar, com o uso das novas tecnologias como recursos indispensáveis no
aprimoramento e motivação da busca do conhecimento.
Nóvoa (2002, p. 63) defende que:
A formação contínua deve estimular uma perspectiva crítico-reflexiva, possibilitando aos professores os meios para desenvolverem um pensamento autônomo e participante. Participar ou estar em formação continuada implica investimento pessoal, trabalho criativo e livre sobre os percursos, com projetos próprios e com vistas à construção de uma identidade profissional e pessoal.
Para Nóvoa (2002), esse tipo de formação se torna de fundamental importância
para estimular o desenvolvimento da profissão desses professores, além de poderem
se tornar elementos chave no desenvolvimento das políticas educativas.
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Para Andrade (2003), as novas tecnologias são importantes para a
aprendizagem dos alunos quando bem manuseadas pelos professores. Há então, a
necessidade de melhor familiarização com essas ferramentas, dominar sua eficiência
e sua utilidade, criar novos conceitos de manipulação sobre essas tecnologias para,
após esse procedimento, desempenhar o verdadeiro papel do professor digital.
A habilitação técnica com os recursos tecnológicos possibilita ao professor
desenvolver atividades e projetos com alunos que ainda não têm esses
conhecimentos básicos. O professor deve agir como mediador, dando suporte técnico
e pedagógico, prever as ações e sanar as dificuldades. A internet será a sua
ferramenta de apoio, uma aliada de alto valor.
Os professores devem entender que é impossível abandonar as velhas
tecnologias, mas se adaptarem às novas, pois elas são únicas. Devem sim, resgatar
o uso das tecnologias consideradas velhas em organização com as novas, ou seja,
fazer uso de cada uma na situação correta e extrair o que de melhor ela possa
oferecer. Mas para isso ocorrer, o trabalho em conjunto com os alunos é primordial,
métodos, táticas para coletar e selecionar elementos, mas, com a intenção de auxiliá-
los a desenvolverem conceitos (KENSKI, 2001).
Segundo Prado e Valente (2003), os cursos de formação voltados para a
capacitação do professor disponibilizam diversas metodologias eficientes para se
trabalhar com as novas tecnologias na educação. Esses autores são enfáticos ao
afirmarem que só haverá transformação na prática docente se houver domínio técnico
e educacional de maneira contínua, sem nenhuma interrupção e, também que o
professor consiga reconsiderar todos os conteúdos angariados na práxis.
Conforme cita Andrade (2003) as TICs ainda se apresentam como novidade
para alguns professores que, também desconhecem a forma de incorporar o uso
dessa ferramenta em suas atividades profissionais e práticas pedagógicas.
Sob esses aspectos, a formação e a preparação para se utilizar o computador
dentro da escola não deve estar voltado apenas para o uso operacional das referidas
ferramentas, tampouco ficar refém das teorias educacionais, mas considerar todas as
expectativas que poderão surgir no dia a dia do professor. Dessa maneira, a formação
se torna um aprender pedagógico balizado na prática reflexiva em consonância como
o indivíduo aprende e constrói o seu próprio conhecimento.
Os cursos responsáveis pela formação de professores que pretendem trabalhar
com as TICs ainda estão tentando encontrar uma atuação inovadora que melhor se
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adapte às escolas, em decorrência da falta de assimilação dessa tecnologia como
parte do processo do conhecimento. Para esse autor, “a formação oferecida são
superficiais e não apresenta a articulação com a prática pedagógica que o professor
necessita, isto é, é vazia de fundamentos teóricos e metodológicos” (ANDRADE,
2003, p. 59).
Leite (2011) propõe que o domínio técnico, pedagógico e crítico da tecnologia
é fundamental para o trabalho pedagógico ser desempenhado com competência e
sintonia na realidade escolar atual, pois há uma exigência e integração das
tecnologias eletrônicas que deve ser acompanhado de perto pelo professor. Porém,
grande maioria desses professores não foram formados para desempenhar essa
função com qualidade e eficiência e, seria importante uma reciclagem. No entanto,
estão se esforçando para aperfeiçoar essa deficiência técnica.
A formação especializada é o alicerce para o professor conseguir trabalhar a
informática com as atividades pedagógicas, de maneira criativa e reflexiva. Sob esse
aspecto, Leite (2011) propõe quatro pontos a serem atingidos, são eles:
- Propiciar ao professor condições para entender o computador como uma nova maneira de representar o conhecimento, provocando um redimensionamento dos conceitos já conhecidos e possibilitando a busca e compreensão de novas ideias e valores; - Propiciar ao professor a vivência de uma experiência que contextualize o conhecimento que ele constrói; - Prover condições para o professor construir conhecimento sobre as técnicas computacionais, entender por que e como integrar o computador em sua prática pedagógica e ser capaz de superar barreiras de ordem administrativa e pedagógica; - Criar condições para que o professor saiba recontextualizar o que foi aprendido e a experiência vivida durante a formação para a sua realidade de sala de aula, compatibilizando as necessidades de seus alunos e os objetivos pedagógicos que se dispõe a atingir (LEITE, 2011, p. 43).
Mercado (2002), aprova a proposta de Leite (2011) e reforça que o curso de
formação que ajuda o professor a manusear bem as novas tecnologias necessita de
espaço para criar atividades que interagem tecnologia e educação, além de trabalhos
em grupo que dê consistência às práticas adquiridas.
Infelizmente, ainda existem muitos professores, gestores e familiares que não
enxergam as tecnologias como uma abordagem significativa de proporcionar
conhecimento e ensino. Não há a devida compreensão sobre a utilização dessa
ferramenta e, não valorizam um instrumento como a internet como forma viável e
possível de “buscar, processar e armazenar um grande volume de informações e
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arquivos” (BALADELI; BARROS; ALTOÉ, 2012, p. 160).
Esses autores apontam que os educadores ainda são muito resistentes a essa
nova modalidade, acham o formato complicado e se fecham a ele. Quando forem mais
solícitos e aprenderem a aceitá-lo, compreenderão a mudança da escola e, saberão
que sua nova postura será fundamental para o aperfeiçoamento da profissão docente.
O que os autores pretendem deixar claro é que a falta de confiança atrapalha
essa nova caminhada, os professores precisam se valorizar mais, serem mais
convictos das próprias ideias e, isso depende, exclusivamente deles e de uma
formação com qualidade. A era tecnológica bate às portas e pede passagem para um
novo saber, um conhecimento por meio das novas ferramentas disponíveis, mas que
ainda são vistas como uma barreira a ser vencida.
As novas tecnologias mexeram com alguns professores, em especial, aos mais
tradicionais, aos que sempre primaram pelo ensino que se usava apenas o livro
didático, giz e lousa. As novas ferramentas de ensinar e aprender exigem deles
práticas pedagógicas diversificadas (BALADELI; BARROS; ALTOÉ, 2012).
Kenski (2001) enaltece a contribuição das novas tecnologias e sua enorme
influência na sociedade contemporânea, pois ela gera novas tendências, dado a sua
complexidade, velocidade e poder de transformação. Em favor da educação,
necessita de aprimoramento por parte dos professores e seu principal objetivo é
facilitar e mediar a comunicação, a cooperação e a dinâmica entre os indivíduos,
estimulando a pesquisa questionadora e reflexiva através da interação digital. Em
suma, gera a relação dialógica, tão defendida por Paulo Freire, aquela educação em
que possibilita o homem aprender consigo mesmo.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A pesquisa propiciou compreender que o sistema educacional ainda não se
desvencilhou da crise, que precisa urgentemente se reformular, aderir às máquinas,
inovar em estruturas, modificar o discurso pedagógico e aceitar as inovações. O
sistema educacional precisa funcionar atualizado e diferenciado, com criatividade e
com a presença de elementos tecnológicos, pedagógicos e midiáticos. Para tanto
existe as TICs (Tecnologia da Informação e da Comunicação) como uma nova
alternativa para auxiliar no aprendizado e ampliar os conhecimentos em tempo real e
globalizado.
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A pesquisa permitiu compreender que a tecnologia surgiu como forma de
contribuir para vida do ser humano, mas apesar dessa contribuição, alguns
professores ainda encontram dificuldades para lidar com as questões tecnológicas,
acarretando em uma defasagem para a aprendizagem dos alunos.
No entanto, percebendo esse problema as escolas estão em processo de
renovação e introduzindo as novas tecnologias nas salas de aulas. Mas isso não é o
bastante, ou seja, há a necessidade da preparação dos seus professores e que está
diretamente ligado aos cursos e formação de curta duração para conhecimento prévio
dos softwares.
A pesquisa evidenciou que o uso das novas tecnologias no ambiente escolar é
importante e que, existe sim, recursos tecnológicos na maioria das escolas do país,
porém, são pouco explorados pedagogicamente. Isso se deve à falta de capacitação,
resistência à inovação por parte de muitos professores que ainda preferem os
métodos tradicionais adotados pela escola. A formação docente mostra a importância
de conscientização e reflexão em sua prática diária, para com a utilização dos novos
recursos tecnológicos, fator esse que propicia a melhoria da qualidade de ensino.
Os autores consultados foram unânimes em confirmar que as tecnologias estão
voltadas para ajudar os alunos, os professores e, o sistema educacional como um
todo. Reforçaram que é de extrema importância a aplicação desses recursos na sala
de aula, pois eles irão contribuir para que os alunos se interessem pelos conteúdos
que todas as matérias oferecem, facilitando o entendimento sobre os assuntos das
disciplinas contribuindo para o processo de ensino aprendizagem, que irá garantir uma
sala de aula dinâmica, contribuindo para mudanças positivas na prática pedagógica.
Ao discorrer sobre essa temática foi possível perceber os desafios para a
atuação do professor com as novas tecnologias, haja vista o aumento que o acesso à
informação gera questionamentos sobre as abordagens educacionais tradicionais.
Assim, ao utilizar essa ferramenta como recurso de aprendizagem, o professor
possibilita o diálogo mais aberto de diversas linguagens e maior aproximação entre os
grupos e conhecimentos diferenciados através da comunicação.
Ressalta-se que a escola, enquanto espaço físico, precisa reunir as condições
materiais para a implantação de equipamentos e programas, bem como o professor
tem como desafio familiarizar-se com as tecnologias inovadoras e tornar-se um
facilitador do processo educacional.
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