as redes sociais e a evolução em tempo real

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO SUL FACULDADE DE BIBLIOTECONOMIA E COMUNICAÇÃO PUBLICIDADE E PROPAGANDA Raquel Matos Silva AS REDES SOCIAIS E A REVOLUÇÃO EM TEMPO REAL O caso do Egito Orientadora: Profª Sandra de Deus PORTO ALEGRE 2011

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    UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO SUL FACULDADE DE BIBLIOTECONOMIA E COMUNICAO

    PUBLICIDADE E PROPAGANDA

    Raquel Matos Silva

    AS REDES SOCIAIS E A REVOLUO EM TEMPO REAL O caso do Egito

    Orientadora: Prof Sandra de Deus

    PORTO ALEGRE 2011

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    UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO SUL FACULDADE DE BIBLIOTECONOMIA E COMUNICAO

    PUBLICIDADE E PROPAGANDA

    Raquel Matos Silva

    AS REDES SOCIAIS E A REVOLUO EM TEMPO REAL O caso do Egito

    Trabalho de concluso de curso apresentado Universidade Federal do Rio Grande do Sul, na Faculdade de Biblioteconomia e Comunicao, como requisito parcial para obteno do ttulo de graduao em Comunicao Social - Publicidade e Propaganda.

    Orientadora: Prof Sandra de Deus

    PORTO ALEGRE 2011

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  • 4

    Raquel Matos Silva

    AS REDES SOCIAIS E A REVOLUO EM TEMPO REAL O caso do Egito

    Trabalho de concluso de curso apresentado Universidade Federal do Rio Grande do Sul, na Faculdade de Biblioteconomia e Comunicao, como requisito parcial para obteno do ttulo de graduao em Comunicao Social - Publicidade e Propaganda.

    Conceito final: A Aprovada em 09 de dezembro de 2011.

    BANCA EXAMINADORA ________________________________________________________ Prof Sandra de Deus - Orientador ________________________________________________________ Prof Sabrina Franzoni - Avaliador ________________________________________________________ Prof Helenice Carvalho Avaliador

  • 5

    AGRADECIMENTOS

    Aos corajosos revolucionrios egpcios que ousaram transformar a realidade e que tanto inspiraram o ano de 2011.

    A meus pais e irmos pelo apoio incondicional. Aos queridos amigos, aos camaradas e ao

    movimento estudantil que fizeram de minha graduao mais do que uma experincia acadmica, mas uma experincia para toda a vida. Por fim, a querida Professora Sandra de

    Deus por nunca ter desistido de mim.

  • 6

    Resumo

    Este estudo apresenta um olhar sobre as revolues e levantes

    populares que ocorrem no mundo em 2011, particularmente no Egito, que

    derrubou um governo ditatorial de quase 30 anos. Objetiva analisar o uso das

    Redes Sociais na Internet e seu auxlio na comunicao e organizao das

    mobilizaes. Resgata o surgimento da Web, seu desenvolvimento em Web

    2.0 e Redes Sociais e a origem do Facebook. Contextualiza a histria egpcia e

    a crise que a afetou. Expe os motivos que levaram a populao a protestar.

    Verifica a utilizao das Internet na revoluo do Egito. Demonstra o uso do

    Facebook na revoluo.

    Palavras-chave: Revoluo; Egito; Internet; Web 2.0; Redes Sociais.

  • 7

    SUMRIO

    1 INTRODUO 8

    2 O QUE SO REDES SOCIAIS 12

    2.1 Web e Web 2.0 12

    2.2 Redes Sociais Virtuais 18

    2.3 Facebook 22

    3 A REVOLUO NO EGITO 27

    3.1 Contexto Histrico 27

    3.2 Como a crise mundial afetou o Egito 31

    3.3 O reflexo da crise nas mobilizaes egpcias 34

    4 A REVOLUO NO EGITO VISTA ATRAVS DO FACEBOOK 40

    4.1 Procedimentos Metodolgicos 27

    5 CONSIDERAES FINAIS 48

    REFERNCIAS 50

  • 8

    1 INTRODUO

    O mundo que nos despedimos em 2010 no o mesmo de 2011, que

    certamente ficar conhecido como o ano em que ocorreu A volta das

    revolues, como colocou a Le Monde Diplomatique Brasil em sua capa no

    segundo semestre deste ano. Muitas foram as transformaes polticas. Do

    norte da frica ao sul da Amrica Latina, tivemos muita convulso social,

    com milhares de pessoas nas ruas clamando por mudanas polticas e

    econmicas.

    J no despertar do ano, no norte da frica, ocorreram as primeiras lutas.

    As revolues democrticas da Tunsia e do Egito, que foram capazes de

    derrubar ditaduras de dcadas, em janeiro e fevereiro, respectivamente,

    abriram uma situao revolucionria na regio e contaminaram grande

    parte do mundo. Foi a Primavera rabe que floresceu nas ruas e praas de

    diversos pases.

    Casando a enorme crise econmica mundial, iniciada h algum tempo,

    com o clima de mudanas trazido pela Primavera rabe, o vero europeu

    foi sacudido por diversos protestos e reivindicaes populares, com o povo

    na rua em gigantes manifestaes. Em Madri, na Espanha, a Praa Puerta

    Del Sol foi tomada por milhares de Indignados do mundo, contagiando todo

    o pas e o resto do continente, com a bandeira da Democracia Real J! Em

    Portugal, tivemos a volta da Gerao Rasca aluso ao movimento da

    Revoluo dos Cravos, em 1974 onde os jovens reivindicaram, entre

    outras pautas, melhores condies de vida para a juventude. Na Grcia, os

    trabalhadores foram s ruas contra demisses em massa de funcionrios

    pblicos e contra os Planos de Austeridade propostos pelo governo, que

    visam retirada de direitos.

    Na Itlia, os protestos se voltaram contra a corrupo no governo. Nos

    subrbios de Londres, jovens pobres e imigrantes incendiaram bairros de

    periferia por igualdade e trabalho. Enfim, Blgica, Alemanha e tantos outros

  • 9

    pases do velho continente, at mesmo Israel, foram muito atingidos pela

    crise, porm, tambm tiveram grandes mobilizaes.

    Na Amrica do Norte, no corao do sistema financeiro mundial, em

    setembro, Wall Street virou uma espcie de Praa Tahrir (praa pblica do

    centro do Cairo onde ocorreram as maiores mobilizaes na revoluo

    egpcia) dos Estados Unidos. Algumas centenas de pessoas estabeleceram

    residncia e acamparam durante dias em protesto a crise financeira e ao

    sistema capitalista, at serem removidas pela polcia. J na Amrica do Sul,

    o Chile h mais de seis meses resiste na luta em defesa de uma educao

    totalmente pblica e gratuita com ocupao de colgios, universidades e

    passeatas que chegaram a um milho de pessoas nas ruas. No Brasil,

    algumas mobilizaes sacudiram diversas cidades do pas, sendo as

    principais a Marcha da Liberdade, a Marcha Contra a Corrupo e o dia 15

    de Outubro (ato global convocado pelos indignados espanhis e que

    aconteceu, ao mesmo tempo, em cerca de mil cidades em 82 pases. No

    Brasil foram aproximadamente 20 cidades, sendo o de Porto Alegre o maior

    de todos os atos).

    Este breve resgate muito importante para ns, pois todas estas

    mobilizaes tiveram algo em comum. Todas, em certa medida, foram

    influenciadas pela Primavera rabe e pela revoluo no Egito, visto os atos

    simblicos de ocupao de praas. Todas essas mobilizaes passaram

    pela Internet e tiveram as Redes Sociais como importantes aliadas.

    Certamente, a nova gerao, nascida ps 1989, acompanha sua primeira

    revoluo atravs das novas tecnologias, em tempo real e compartilhando

    atravs do Facebook.

    Frente ao exposto, entendemos que o mundo passa por profundas

    transformaes sociais e polticas, pois alteram no s as relaes

    humanas e culturais, mas modificam o sistema vigente de pases.

    Acreditamos que estas transformaes atuais passam necessariamente

    pela Internet e, portanto, para compreendermos este novo tempo, vamos

    nos ater a mais significativa de todas as transformaes, que foi a revoluo

    no Egito, e a mais utilizada ferramenta Web, o Facebook.

  • 10

    Diante deste cenrio, o presente trabalho pretende verificar se a

    revoluo do Egito tambm passou pelas Redes Sociais na Internet. Para

    tanto, pretendemos tambm identificar quais foram os atores e em qual

    contexto estavam inseridos.

    Os objetivos especficos deste estudo so expor teoricamente a

    evoluo da Internet, o que se convencionou chamar de Web e Web 2.0,

    desenvolvendo o conceito de Redes Sociais e Redes Sociais na Internet,

    especificando o Facebook. Alm disso, resgatar o histrico poltico do Egito

    e contextualizar a origem dos conflitos que levaram revoluo. Mas,

    principalmente, verificar a passagem desta revoluo pelo Facebook.

    Optou-se pelo caso do Egito e pela utilizao das Redes Sociais,

    primeiramente pela importncia de um pas que passou quase 30 anos sob

    um regime ditatorial e com a fora de seu povo mobilizado derrubou seu

    ditador Hosni Mubarak. Alm disso, pela grande repercusso que a

    revoluo neste pas teve pelo mundo, contagiando inmeros pases e

    incentivando, de certa maneira, muitos povos a irem para as ruas e

    protestarem por seus direitos. Mas, principalmente, pelo novo elemento que

    foi a utilizao das Redes Sociais como ferramenta de informao,

    organizao e convocao das mobilizaes que levaram revoluo e,

    consequentemente, queda de Mubarak.

    Dessa forma, para responder aos objetivos propostos, o trabalho

    subdivide-se, a partir desta introduo, em quatro captulos bsicos.

    Primeiramente, no captulo 2, intitulado O que so Redes Sociais, busca-

    se dar ao leitor um panorama histrico desde a origem da Internet e a

    diferenciao que se convencionou chamar de Web e Web 2.0. Alm disso,

    elucidaremos o conceito relativo a Redes Sociais e Redes Sociais na

    Internet. Por fim, desenvolveremos a respeito do Facebook, desde sua

    criao, dados importantes para compreenso de sua abrangncia, at sua

    funcionalidade como ferramenta de comunicao, informao e

    organizao. Exemplificando os recorrentes usos como forma de

    organizao de manifestaes no Brasil, apontando que este no foi um

    uso exclusivo do Egito, mas uma tendncia mundial.

  • 11

    No captulo posterior, denominado A Revoluo no Egito, pretende-se

    apresentar um breve contexto histrico do pas, desde a sua independncia

    at a origem dos conflitos que levaram a queda de Mubarak. Para alm,

    resgataremos a situao de crise social e poltica que se encontrava o povo

    egpcio e de que forma essa crise culminou nas mobilizaes e na

    revoluo.

    O quarto captulo trata de abordar o mtodo de pesquisa adotado no

    presente trabalho, sendo considerado o mais eficaz o Estudo de Caso.

    Dessa maneira, utilizaremos como terico principal deste estudo Robert K.

    Yin. Pois, para o autor, o Estudo de Caso deve ser utilizado quando a

    essncia esclarecer uma deciso ou um conjunto de decises. Para isso,

    necessria a investigao de um fenmeno contemporneo. Ou seja,

    explicar ligaes causais em situaes complexas, descrevendo o contexto

    real em que ocorreram tais situaes e explorando-as.

    Por fim, o captulo 5 A revoluo no Egito vista atravs do Facebook,

    ser onde nos debruaremos sobre nossa hiptese para alcanar nosso

    objetivo proposto, que verificar se a revoluo no Egito passou pelas

    Redes Sociais.

  • 12

    2 O QUE SO REDES SOCIAIS

    Neste captulo, vamos abordar o conceito de Redes Sociais e Redes

    Sociais na Internet. Dessa forma, posteriormente, dentro destes marcos,

    desenvolveremos a respeito do Facebook, passando por sua origem,

    levantaremos os dados mais relevantes para compreenso de sua abrangncia

    at sua utilizao como ferramenta de comunicao e organizao, pois

    compreendemos que isto de extrema importncia para entender seu papel na

    revoluo do Egito. Entretanto, antes deste apanhado, iniciaremos com um

    panorama histrico sobre a criao da Internet e seu desenvolvimento.

    Apontaremos o que se conceituou chamar de a evoluo da Web e o

    surgimento da Web 2.0.

    2.1 Web e Web 2.0

    Primeiramente, para compreendermos as redes sociais e o papel que

    desempenharam na revoluo do Egito, vamos resgatar historicamente o

    surgimento da Internet e seu desenvolvimento na Web 2.0. Porm, para tanto,

    buscaremos compreender os passos iniciais da Web que propiciaram a criao

    deste novo paradigma tecnolgico e social. Dessa forma, construiremos a

    pesquisa emprica das Redes Sociais e seu papel na revoluo egpcia.

    Segundo Castells (2003) a Internet passou a ser a base tecnolgica

    organizacional da Era da Informao e sua importncia para nossas vidas est

    relacionada assim como a eletricidade foi para a Era Industrial. Permitiu que

    um meio de comunicao tomasse escalas globais, possibilitando que milhes

    de pessoas, de qualquer parte do mundo, se comuniquem quase que

    simultaneamente.

  • 13

    Para Blattmann e Silva (2007), este novo momento coloca a Internet

    como um ambiente capaz de entender, compartilhar, produzir e disseminar

    conhecimentos atravs do acesso e organizao de dados. Segundo eles,

    um canal onde flui grande quantidade de prticas sociais, culturais, polticas e

    econmicas. Alm do armazenamento de informaes, possibilita interao,

    trocas e gerao de conhecimento.

    A origem da Internet se deu na dcada de 60, ou seja, no auge da

    Guerra Fria. Segundo Siotane (2007), foi desenvolvida pesquisa de uma rede

    de computadores que conseguisse ligar pontos considerados estratgicos nos

    Estados Unidos, pelo Departamento de Defesa. Bases militares e centros de

    pesquisa montariam uma rede sem um comando central, ou seja, todos os

    pontos teriam a mesma importncia e todos os dados seriam transmitidos em

    qualquer sentido.

    Castells (2003) nos traz um panorama sobre Arpanet, uma rede de

    computadores montada pela Advanced Research Projects Agency (ARPA)1.

    Sua misso era mobilizar recursos de pesquisa para alcanar superioridade

    tecnolgica militar, especialmente em relao Unio Sovitica, que j havia

    lanado o primeiro Sputnik em 1957. A Arpanet era um pequeno departamento

    cujo objetivo era estimular a pesquisa relativa computao interativa,

    permitindo aos vrios centros de computadores e grupos que realizavam

    pesquisa para a agncia compartilhar on-line tempo de computao e dados

    destas pesquisas realizadas. Para montar uma rede interativa, este

    departamento utilizou uma tecnologia revolucionria de transmisso de

    telecomunicao, a comutao por pacote. Essa tecnologia foi desenvolvida

    independentemente por Paul Baran na Rand Corporation, um centro de

    pesquisas que trabalhava frequentemente para o Pentgono, e por Donald

    Davies no British National Physical Laboratory. A Rand Corporation apresentou

    este projeto ao Departamento de Defesa americano, com o objetivo de

    construir um sistema militar de comunicao.

    1 Agncia formada em 1958 pelo Departamento de Defesa dos Estados Unidos.

  • 14

    Para Castells (2003) o projeto de Baran inspirou uma estrutura de

    comunicao baseada em trs princpios, os quais a Internet opera at hoje. O

    primeiro deles uma estrutura de rede descentralizada, o segundo o poder

    computacional distribudo atravs dos ns das redes e, por fim, o terceiro a

    redundncia de funes na rede para diminuir o risco de desconexo. Os dois

    primeiros aprofundaremos ao longo deste trabalho.

    Em 1990, muitos provedores de servios da Internet estabeleceram suas

    prprias portas de comunicao em bases comerciais, montando suas prprias

    redes. Porm em 1995, abriu-se, de fato, o caminho para a operao privada

    da Internet.

    Entretanto, o desenvolvimento do world wide web, ou apenas Web, foi o

    que permitiu Internet ganhar o mundo todo. Com o software Windows 95, a

    Microsoft introduziu seu prprio navegador, o Internet Explorer, expandindo

    assim o uso da Rede.

    Assim, em meados da dcada de 1990, a Internet estava privatizada e dotada de uma arquitetura tcnica aberta, que permitia a interconexo de todas as redes de computadores em qualquer lugar do mundo; a www podia ento funcionar com software adequado, e vrios navegadores de uso fcil estavam disposio do pblico. Embora a Internet tivesse comeado na mente dos cientistas da computao no incio da dcada de 1960, uma rede de comunicaes por computador tivesse sido formada em 1969, e comunidades dispersas de computao reunindo cientistas e hackers tivessem brotado desde o final da dcada de 1970, para a maioria das pessoas, para os empresrios e para a sociedade em geral, foi em 1995 que ela nasceu. (CASTELLS, 2003, p. 19)

    Ou seja, o que conclumos a partir do exposto que, mesmo que a

    Internet tenha comeado a ser concebida na dcada de 1960, foi aps 35 anos

    de desenvolvimento que ela passou a ser uma realidade de fato na vida das

    pessoas comuns.

    Entretanto, a partir de ento, a Internet evolui rapidamente, tornando-se

    um dos principais meios de comunicao em todo o mundo, atravs de seu

    alcance e versatilidade. Neste sentido, Siotane (2007, VII) afirma que no se

    refere apenas combinao de tcnicas informticas, mas sim a um conjunto

    de novas estratgias mercadolgicas, atitudes e conceitos, ou seja, o que

    avanou com a evoluo da Internet no foi apenas a tecnologia, mas tambm

    relaes de consumo, sociais e culturais.

  • 15

    Dessa maneira, com tantas modificaes, a comunicao entre as

    pessoas sofreu inmeras mudanas, especialmente em decorrncia do avano

    tecnolgico. Conforme nos indica o artigo Redes Sociais: Surgimento e

    Desenvolvimento dos Micro-Bloggins2, As tecnologias tm alterado

    consideravelmente as formas de aprendizado, de ensino, de comrcio

    compra e venda, da comunicao, enfim, no se consegue mais imaginar a

    realizao de nenhuma ao na vida que no esteja atrelada tecnologia.

    Para Castells (2003), a influncia da Internet tem propores para alm

    do nmero de usurios, mas tambm diz respeito qualidade de seu uso.

    Atividades econmicas, sociais, polticas, e culturais essenciais por todo o planeta esto sendo estruturadas pela Internet e em torno dela, como por outras redes de computadores. De fato, ser excludo dessas redes sofrer uma das formas mais danosas de excluso em nossa economia e em nossa cultura. (CASTELLS, 2003, p. 8)

    Dessa maneira, o que afirma o autor que, atualmente, praticamente

    tudo passa pela Internet. Assim, aqueles que esto excludos digitalmente,

    pode-se dizer que tambm esto excludos socialmente.

    Com o avano das novas tecnologias, iniciou-se tambm uma nova

    Web. Mais participativa, com maiores possibilidades de interao, onde o

    usurio comum no apenas um mero consumidor de informaes, mas

    tambm produtor e disseminador de contedo.

    A parir destes avanos tecnolgicos, a essa nova Web, convencionou-se

    chamar de Web 2.0. Seu grande diferencial a ativa participao do usurio. A

    possibilidade de algum comum passar a gerir contedo. Ou seja, o usurio

    deixa de ser um receptor passivo, e torna-se um agente de disseminao de

    informaes atravs de ferramentas como Blogs, Chats, Fruns, Micro-

    bloggings, Sites de relacionamento, etc, Uma nova comunicao interativa

    entre os usurios ou entre usurios e sistemas ou entre usurios e as prprias

    informaes que circulam na Web. Para Blattmann e Silva (2007, p. 192) A

    evoluo da Web possibilita a criao de espaos cada vez mais interativos,

    nos quais os usurios possam modificar contedos e criar novos ambientes

    2 RUFINO, A.; TABOSA, H. R.; NUNES, J. V. Redes Sociais: Surgimento e Desenvolvimento dos Micro-Bloggins. 2010. Disponvel em: . Acesso: 01 nov 2011.

    http://www.infobrasil.inf.br/userfiles/26-05-S1-3-68061-Redes%20Sociais(1).pdfhttp://www.infobrasil.inf.br/userfiles/26-05-S1-3-68061-Redes%20Sociais(1).pdf

  • 16

    hipertextuais, ou seja, com colaborao, interao e participao comunitria

    de contedos disponveis ou produzindo contedos, classificando ou

    reformulando estes contedos.

    A Web 2.0 pode ser considerada uma nova concepo, pois passa agora a ser descentralizada e na qual o sujeito torna-se um ser ativo e participante sobre a criao, seleo e troca de contedo postando em um determinado site por meio de plataformas abertas. Nesses ambientes, os arquivos ficam disponveis on-line, e podem ser acessados em qualquer lugar e momento, ou seja, no existe a necessidade de gravar em um determinado computador os registros de uma produo ou alterao na estrutura de um texto. As alteraes so realizadas automaticamente na prpria web. (BLATTMANN e SILVA, 2007, p. 198)

    Ou seja, se anteriormente a Web era estruturada por sites que

    disponibilizavam todo o contedo on-line e de forma esttica, sem possibilidade

    de interao, com a mudana desta nova Web passou a ser possvel uma

    conexo descentralizada, de comunidades de usurios com interesses em

    comum e com participao ativa dos usurios, consequncia de uma

    plataforma aberta e mais dinmica.

    Bressan (2007/2008) defende, em linhas gerais, que a Web 2.0 est

    relacionada a uma segunda gerao de servios. Atravs de aplicativos da

    rede e de recursos, tecnologias e conceitos permitem maior interatividade e

    colaborao na utilizao da Internet. Nas palavras do autor:

    [...] usos espontneos; contribuies dos usurios; escalabilidade facilitada; descentralizao radical; servio rpido personalizado; servio massivo de micromercados; programa como um servio; direito modificao; participao tudo isso atravs de interaes que ocorrem em via dupla nas relaes usurio-usurio, usurio-dados ou usurio-servios/linguagens. (BRESSAN, 2007/2008, p. 5)

    Neste sentido, Antoun (2008) nos resgata o que convencionou chamar

    de movimento Web 2.0, em 2000. Segundo ele, o blog Cluetrain Manifest era

    onde publicitrios, marketeiros, empreendedores pensavam a Internet como

    algo capaz de revolucionar a publicidade, o marketing, os negcios em geral,

    todos desgastados pela mdia de massas. De acordo com estes profissionais, a

    Internet deveria ser como um Blog, ou seja, uma plataforma capaz de

    transformar o usurio em um produtor e cooperador das empresas, tornando o

    conhecimento de programao desnecessrio. Para eles, nesta nova Web, a

  • 17

    publicidade se transformaria e passaria a ser uma honesta recomendao

    crtica de usurios, que se transformariam em scios, na medida em que as

    empresas reconhecessem seu valor e cooperao, garantindo sua livre

    expresso e participao. Ou seja, A cooperao, a colaborao, e a livre

    expresso seriam os instrumentos desta nova web que uniria empresrios e

    usurios atravs da livre comunicao (ANTOUN, 2008, p. 4).

    Outro dado relevante que Antoun (2008) nos apresenta, e que para este

    trabalho de total interesse, que em 2003 essa nova Web tambm mostrou

    poderes polticos. Por exemplo, auxiliando os movimentos contra a guerra no

    Iraque. O blog Move On promoveu a primeira manifestao internacional

    descentralizada de massas e, pouco depois, o blog Dean for Amrica

    arrecadou 40 milhes de dlares em contribuies para o candidato Howard

    Dean indicao ao partido democrata. Para o autor, naquele momento, os

    blogs detinham o poder de organizar e noticiar as ideias oriundas dos grupos

    de discusso da Web. Grande fato relevante que tambm remete o artigo e que

    muito bem exemplifica este novo momento que, em 2006, a tradicional revista

    Times elege o annimo Voc como o homem do ano, pela cooperao

    promovida atravs da nova Web entre usurios e empresas, sendo o You Tube

    o principal exemplo.

    Antoun (2008) afirma que os blogs se tornaram a principal ferramenta

    para se comunicar na Internet aps o cerceamento de stios e grupos de

    discusso em rede no processo de radicalizao da guerra em Rede e do

    recrudescimento do Zapatismo (movimento revolucionrio mexicano) e dos

    movimentos antiglobalizao iniciados em Seattle, no incio da primeira dcada

    dos anos 2000. A entrada em cena da Internet na comunicao globalizada fez

    com que a guerra de informao dos estados e corporaes esbarrasse na

    organizao e dinmica dos grupos de discusso dos movimentos sociais.

    Dessa forma, sobre os movimentos sociais afirma:

    Pois desde o incio a Internet permitira aos movimentos e s atividades sociais uma crescente emancipao em face das instituies e das comunidades tradicionais, permitindo que a informal fluidez do movimento social ganhasse fora e durao atravs dos processos interativos da comunicao distribuda em rede. Mas os limites desta expresso ser apropriado pelas empresas e estados e voltado violentamente contra esses movimentos a partir do final de 2001. (ANTOUN, 2008, p. 2)

  • 18

    Assim, Antoun (2008) conclui que conforme previsto no projeto inicial da

    Internet foi possvel coordenar a reunio e a disperso de participantes

    annimos de uma ao virtual. Passou a ser possvel manter a segurana, o

    anonimato, a integridade da comunicao e dos atores de um processo de luta.

    O autor utiliza como maior exemplo o rosto encoberto de Marcos, o lder

    Zapatista que fazia seus pronunciamentos anonimamente e que afirmava que a

    voz poderia ser de qualquer um que pertencesse rede.

    Enfim, nesta nova Web, nesta nova rede e neste novo cenrio digital

    que surgem as Redes Sociais na Internet, objeto de estudo deste trabalho. Um

    novo momento de interao, participao, mas a cima de tudo, de organizao

    dos usurios. Muito mais colaborativa e interativa, possibilitando que os

    usurios sejam ativos no processo de comunicao.

    2.2 Redes Sociais virtuais

    Com as novas tecnologias e, consequentemente, com o

    desenvolvimento da Web 2.0, a interatividade passou a estar muito mais

    presente nessas tecnologias. Dessa forma, as Redes Sociais tambm. Neste

    tpico, estudaremos o conceito de Redes Sociais e, especificamente as Redes

    Sociais na Internet. Para isso, utilizaremos como autor principal Raquel

    Recuero. Acreditamos ser necessrio teorizar sobre Redes Sociais para,

    posteriormente, compreender seu papel nas manifestaes no Egito, que

    culminaram na revoluo.

    Segundo Recuero (2009), uma Rede Social composta por atores e

    suas conexes. Os atores so as pessoas, instituies ou grupos, os ns da

    rede, ou seja, que fazem parte da Rede. As conexes so os laos sociais (a

    efetiva conexo entre os atores que esto envolvidos nas interaes) formados

    atravs da interao social entre os atores e podem ser percebidas de diversas

    maneiras, atravs da ao que tem um reflexo comunicativo entre o indivduo e

    seus pares, como reflexo social. A autora complementa afirmando que De

    certo modo, so as conexes o principal foco do estudo das redes sociais, pois

    sua variao que altera as estruturas desses grupos. (RECUERO, 2009, p.

  • 19

    30). Ou seja, para a compreenso das Redes Sociais, o foco principal so os

    laos desenvolvidos entre os atores desta Rede.

    Para melhor compreendermos a interao social necessrio estudar a

    comunicao entre os atores. Compreender as relaes entre as trocas de

    mensagens. Ou seja, perceber como as trocas sociais dependem,

    essencialmente, das trocas comunicativas.

    A Comunicao mediada pelo computador modificou profundamente as

    formas de organizao, identidade, converso e mobilizao social. Para alm

    da comunicao entre os indivduos, foi ampliada a capacidade de conexo, ou

    seja, redes sociais, entretanto, agora mediadas pelo computador. A tendncia

    que essas novas relaes sociais gerem laos sociais. Essa nova ferramenta

    de comunicao possibilita que os atores possam interagir com outros atores

    de maneira que, conforme aponta Recuero (2009, p. 24), deixando, na rede de

    computadores, rastros que permitem o reconhecimento dos padres de suas

    conexes e a visualizao de suas redes sociais atravs desses rastros.

    Dessa forma, compreender estes rastros identificar valores nas

    conexes sociais e no papel da Internet na transformao da percepo destes

    valores. As Redes Sociais na Internet passaram a ser a expresso das Redes

    Sociais como um todo.

    Para isso, fundamental compreender tambm as Redes Sociais em si.

    As relaes (caracterizadas por contedo, direo e fora), os laos sociais

    (que conectam pares de atores atravs de uma ou mais relaes), a

    multiplexidade (quanto mais relaes um lao social possui, maior a sua

    multiplexidade) e composio do lao social (derivada dos atributos individuais

    dos atores envolvidos). O estudo de Redes Sociais procura tambm levar para

    a sociedade os elementos principais estudados em uma rede.

    Na realidade, a fora da abordagem de redes sociais est em sua necessidade de construo emprica tanto qualitativa quanto quantitativa que busca, a partir da observao sistemtica dos fenmenos, verificar padres e teorizar sobre os mesmos. Estudar redes sociais, portanto, estudar os padres de conexes expressos no ciberespao. explorar uma metfora estrutural para compreender elementos dinmicos e de composio dos grupos sociais. (RECUERO, 2009, p. 21)

  • 20

    O processo de interao entre os atores resulta nos processos

    dinmicos das Redes, tais como ordem, caos, agregao, desagregao,

    ruptura. Recuero (2009) coloca que a capacidade de agregar novas pessoas

    ou que outras rompam com o grupo uma das dinmicas mais esperadas em

    grupos sociais e, para isso, muitos estudiosos chamam de clausterizao.

    Novos padres de interao e sociabilidade so consequncia da

    adaptao das pessoas aos novos tempos. Mas, principalmente para nosso

    objeto de estudo, consideraremos as novas organizaes sociais destes novos

    tempos.

    Para tanto, segundo nos aponta Recuero (2009), necessrio

    circularidade das informaes, de maneira que os processos sociais coletivos

    mantenham a estruturao social e a interao. Atualmente, com a mediao

    do computador, toda essa interao social transportada a um novo espao, o

    ciberespao. Dessa forma, tendem a surgir novas estruturas sociais e grupos,

    que anteriormente no poderiam interagir livremente. Melhor exemplo disso o

    caso do Egito, que primeiramente, devido a Lei de Emergncia e a represso

    estatal vigente, era muito difcil organizao e interao entre os descontentes

    com o governo. Entretanto, o uso de Redes Sociais passou a ser a grande

    ferramenta de socializao de informao e de organizao. Isso mostra a

    capacidade de adaptao do uso das Redes Sociais na Internet.

    Para a autora, o aparecimento de Redes Sociais na Internet pode ser

    considerado como uma forma de comportamento emergente e de auto-

    organizao, uma vez que dentro de sistemas caticos possvel o

    aparecimento de ordem atravs de auto-organizao e a adaptao dos

    sistemas. Por isso, para o estudo dos elementos destas redes, necessrio

    compreender que no so estticas, no esto paradas, mas, principalmente,

    dependem do contexto que esto inseridas, dessa forma, tendem a apresentar

    comportamentos inesperados.

    Entretanto, conforme nos explica Recuero (2009), as Redes Sociais

    virtuais por si s no significam, necessariamente, uma Rede Social real, mas

    podem auxiliar a existncia de tal.

  • 21

    Embora os sites de redes sociais atuem como suporte para as interaes que constituiro as redes sociais, eles no so, por si, redes sociais. Eles podem apresent-las, auxiliar a perceb-las, mas importante salientar que so, em si, apenas sistemas. So os atores sociais, que utilizam essas redes, que constituem essas redes. (RECUERO, 2009, p. 103).

    Ou seja, Sites de Redes Sociais representam um sistema focado em

    expor e publicar as Redes Sociais dos atores, no sendo estes Sites Redes

    Sociais em si. O foco principal a exposio pblica das Redes conectadas

    aos atores, dessa maneira a finalidade em si est em publicizar essas Redes

    reais. Isso se aplica ao Orkut, Facebook e tantos outros. Nestes sistemas

    existem perfis e espaos especficos para expor as conexes entre os

    indivduos. Tambm caracterstico destas Redes a capacidade de difundir

    informaes, atravs de conexes existentes entre seus usurios. Isso alterou

    de forma significativa os fluxos de informao na prpria Rede. Recuero (2009,

    p. 116) aponta que O surgimento da Internet proporcionou que as pessoas

    pudessem difundir as informaes de forma mais rpida e mais interativa. Tal

    mudana criou novos canais e, ao mesmo tempo, uma pluralidade de novas

    informaes circulando nos grupos sociais.

    Dessa maneira, o resultado das interaes e processos de conflitos,

    cooperao e competio resultaram da difuso das informaes.

    fundamental o estudo destas novas Redes para compreender como um grupo

    estrutura-se e essa estrutura alterada. A dinmica das Redes contribui para a

    compreenso da percepo dos contextos e interaes dos atores que delas

    fazem parte. Muitas so as informaes difundidas off-line, mas atingem

    grandes propores quando tambm difundidas de forma on-line, atingindo um

    apelo informacional maior, utilizando-se, por exemplo, de notcias e vdeos.

    Porm, preciso entender que, informaes que passam na Internet, so

    oriundas da vida real.

    Entretanto, preciso compreender que estudar redes sociais na Internet estudar uma possvel rede social que exista na vida concreta de um indivduo, que apenas utiliza a comunicao mediada por computador para manter ou criar novos laos. No se pode reduzir a interao unicamente ao ciberespao, ou ao meio de interao. A comunicao mediada por computador corresponde a uma forma prtica e muito utilizada para estabelecer laos sociais,

  • 22

    mas isso no quer dizer necessariamente que tais laos sejam unicamente mantidos no ciberespao. (RECUERO, 2009, p.144)

    A partir disso, podemos compreender que a comunicao mediada pelo

    computador est modificando as relaes sociais contemporneas. preciso

    entender a Internet como ferramenta de organizao social e informao.

    Dessa forma, visualizar os novos valores construdos, novas formas complexas

    em larga escala de fluxo de informao e de mobilizao, emergindo do

    ciberespao.

    2.3 Facebook

    Vimos anteriormente a origem da Internet e seu desenvolvimento, a Web

    e a Web 2.0. Estudamos as Redes Sociais e sua organizao virtual. Neste

    momento, vamos refletir especificamente sobre a principal ferramenta das

    Redes Sociais utilizada na revoluo do Egito: o Facebook. Para isso, faremos

    um breve apanhado sobre a sua criao. Alm disso, traremos dados

    relevantes sobre sua utilizao e abrangncia. Por fim, elucidaremos a respeito

    de sua funcionalidade e utilizao, especificamente no Brasil, como forma de

    demonstrar que seu uso uma tendncia global.

    Criado pelo americano Mark Zuckerberg, naquele momento aluno de

    Harvard, foi um projeto iniciado em 2003. Foi originalmente chamado de

    thefacebook e lanado em 2004. Entretanto, apenas em 2006 o Facebook

    tornou-se aberto a qualquer pessoa que desejasse se inscrever. Conforme

    relata Recuero (2009), no princpio, o foco estava nos alunos recm sados do

    secundrio (High Scool, nos Estados Unidos) e que estavam entrando na

    universidade. Entretanto, atualmente, um dos sistemas com maior base de

    usurios do mundo e com maior trfego.

    O foco inicial do Facebook era criar uma rede de contatos em um momento crucial da vida de um jovem universitrio: o momento em que este sai da escola e vai para a universidade, o que, nos Estados Unidos, quase sempre representa uma mudana de cidade e um espectro novo de relaes sociais. O sistema, no entanto, era focado em escolas e colgios e, para entrar neles, era preciso ser membro de alguma das instituies reconhecidas. (RECUERO, 2009, p. 172)

  • 23

    O Facebook uma empresa privada que tem seu funcionamento atravs

    de perfis e comunidades. Muitas vezes, percebido, dentre os sites de Redes

    Sociais, como o mais privado. Isso acontece por que apenas os usurios que

    fazem parte da mesma rede podem acessar uns os perfis dos outros. Ou seja,

    necessrio estar na Rede para acessar a Rede. Uma inovao bastante

    significativa do Facebook a possibilidade de usurios criarem aplicativos para

    o sistema. Suas buscas so muito detalhadas, possibilitando procurar algum

    pela religio, local de estudo ou trabalho, por exemplo.

    Conforme dados disponveis no Site3 da empresa, o objetivo do

    Facebook ajudar, com mais eficincia, as pessoas a se comunicarem com

    amigos, familiares, colegas de trabalho. Foram desenvolvidas tecnologias para

    facilitar o compartilhamento de informaes atravs de grfico social, o

    mapeamento digital das conexes sociais entre as pessoas. O Facebook

    composto por funes bsicas do Site e aplicaes. Duas caractersticas

    fundamentais so a pgina inicial, que inclui a atualizao dos amigos, e o

    perfil, que exibe informaes sobre o indivduo, suas reas de interesse e

    contato. Tambm inclui aplicativos bsicos como fotos, eventos, vdeos,

    grupos, pginas, que possibilitam as pessoas acessarem a compartilharem

    informaes. Alm disso, tambm permite que as pessoas se comuniquem

    atravs de bate-papo, mensagens pessoais, atualizaes de status.

    Segundo dados disponveis da prpria empresa4, atualmente, o

    Facebook possui mais de 800 milhes de usurios ativos, ou seja,

    considerando aqueles que acessaram nos ltimos 30 dias. interessante

    refletir que cada usurio tem em mdia 130 amigos. Alm disso, mais de 70

    idiomas esto disponveis no Site e mais de 75% dos usurios esto fora dos

    Estados Unidos, pas onde foi criado.

    3 FACEBOOK. Factsheet. 2011. Disponvel em: http://www.facebook.com/press/info.php?factsheet. Acesso em: 15 nov 2011. 4 FACEBOOK. Statistics. 2011. Disponvel em: http://www.facebook.com/press/info.php?statistics. Acesso em: 15 nov 2011.

    http://www.facebook.com/press/info.php?factsheethttp://www.facebook.com/press/info.php?statistics

  • 24

    No Brasil, seu uso est sendo extremamente difundido. Segundo

    pesquisa5 realizada em setembro deste ano, a Rede Social atingiu a marca de

    30,9 milhes de usurios brasileiros, representando 64% dos internautas. De

    acordo com a mesma pesquisa, 77,8 milhes de cidados brasileiros acessam

    a Internet, seja no domiclio, ou no trabalho, em lan houses, na escola. Na

    frica, continente onde est localizado o Egito, objeto de nosso estudo, so

    cerca de 30 milhes de usurios neste perodo, segundo o Site de estatsticas

    Internet world Status6, com dados divulgados em junho deste ano. Ou seja, a

    utilizao do Facebook uma tendncia em larga escala.

    No Brasil, em particular no ano de 2011, as Redes Sociais,

    especialmente o Facebook, inauguram uma nova forma de fazer

    manifestaes. Vamos utilizar os exemplos concretos do Brasil no ltimo

    perodo como forma de demonstrar que o uso das Redes na organizao de

    mobilizaes e difuso de informaes no uma particularidade do Egito,

    mas uma tendncia mundial.

    Figura 1 Marcha da Liberdade no Brasil ocorreu em mais de 41 cidades do pas e foi

    totalmente organizada atravs do Facebook. O protesto uniu ativistas de vrias causas. Disponvel em: http://www.substantivoplural.com.br/wp-content/uploads/2011/06/MARCHA-DA-

    LIBERDADE.jpg Acessado em: 18 de novembro de 2011.

    5 UOL. Facebook passa Orkut. 2011.Disponvel em: http://tecnologia.uol.com.br/ultimas-noticias/redacao/2011/09/10/facebook-passa-orkut-em-numero-de-usuarios-no-brasil-em-agosto-confirma-ibope.jhtm. Acesso em: 15 nov 2011. 6 IOS. Internet World Satus. 2011. Disponvel em: http://www.internetworldstats.com/facebook.htm. Acesso em: 15 nov 2011.

    http://www.substantivoplural.com.br/wp-content/uploads/2011/06/MARCHA-DA-LIBERDADE.jpghttp://www.substantivoplural.com.br/wp-content/uploads/2011/06/MARCHA-DA-LIBERDADE.jpghttp://tecnologia.uol.com.br/ultimas-noticias/redacao/2011/09/10/facebook-passa-orkut-em-numero-de-usuarios-no-brasil-em-agosto-confirma-ibope.jhtmhttp://tecnologia.uol.com.br/ultimas-noticias/redacao/2011/09/10/facebook-passa-orkut-em-numero-de-usuarios-no-brasil-em-agosto-confirma-ibope.jhtmhttp://tecnologia.uol.com.br/ultimas-noticias/redacao/2011/09/10/facebook-passa-orkut-em-numero-de-usuarios-no-brasil-em-agosto-confirma-ibope.jhtmhttp://www.internetworldstats.com/facebook.htm

  • 25

    Sem influncia direta de partidos polticos e sindicatos e sem a

    possibilidade de identificao de grandes lideranas, a juventude brasileira

    volta s ruas em 20011. Dessa maneira, manifestaes voltaram a fazer parte

    do cenrio brasileiro este ano. Grande dado relevante a respeito destas

    mobilizaes que em sua maioria iniciaram, foram construdas e foram

    convocadas pela Internet. Parte dos jovens passou a encarar a poltica e a

    organizao social de maneira diferente.

    Figura 2 Marcha das Vadias no Brasil. Movimento que busca a igualdade de gnero.

    Ocorreu em algumas cidades e foi totalmente organizado pela Internet. Disponvel em: http://www.substantivoplural.com.br/wp-content/uploads/2011/06/MARCHA-DA-

    LIBERDADE.jpg Acessado em: 18 de novembro de 2011.

    Segundo pesquisa divulgada na Revista Carta Capital, a maioria dos

    entrevistados acredita ser possvel fazer poltica apenas por Internet.

    Em uma recente pesquisa Datafolha, feita em parceria com a agncia de publicidade Box, 71% dos entrevistados afirmaram ser possvel fazer poltica sem intermedirios, apenas por meio da internet. A tendncia no exclusividade brasileira, como se pde observar nas manifestaes convocadas por redes sociais que derrubaram ditadores do mundo rabe e paralisaram cidades na Espanha e em outras naes europeias. (CARTA CAPITAL, 2011, p. 24)

    Para a revista, o que justifica essa nova realidade o fato de que os

    movimentos sociais atuais so formados por jovens com um novo perfil, ou

    seja, muitos que esto submetidos a condies precrias de estudo e trabalho,

    cada vez mais sem garantias e direitos consolidados, sem casa prpria e

    cansados de uma realidade de violncia. Entretanto, o que todos esses jovens

    tm em comum estarem conectados Internet. Logo, menos dependentes de

    lideranas e da mdia tradicional para se manterem informados. Para a Carta

    http://www.substantivoplural.com.br/wp-content/uploads/2011/06/MARCHA-DA-LIBERDADE.jpghttp://www.substantivoplural.com.br/wp-content/uploads/2011/06/MARCHA-DA-LIBERDADE.jpg

  • 26

    Capital, a juventude passou a reagir a essa realidade a cima descrita e por

    conta prpria. Se anteriormente vivamos num sistema de representaes e

    com pouco espao para manifestao de opinies, hoje, com as Redes

    Sociais, foi eliminada a necessidade de intermediadores e aumentou a

    participao social.

    O estudante de filosofia Fabrcio Muriana, 26 anos, no filiado a partidos polticos ou movimentos sociais. Nem por isso deixa de ser um ativista. Participa de coletivos que reivindicam mais segurana para os ciclistas, de grupos que discutem a democratizao das novas tecnologias, e integrou, recentemente, trs grandes protestos na capital paulista. Marcou presena no churrasquinho da gente diferenciada, em Higienpolis, numa reao a uma associao de moradores que rejeitava uma estao de metr no bairro, juntou-se s feministas na Marcha das Vadias e engrossou as fileiras da chamada Marcha da Liberdade, convocada para protestar contra a represso policial Marcha da Maconha. Todos podem participar e debater em fruns da internet. Voc pode at ver a participao de sindicatos e movimentos sociais organizados nessas manifestaes, mas nenhum deles se apropria do movimento, diz Muriana. (CARTA CAPITAL, 2011, p. 25)

    O trecho a cima um claro exemplo das novas formas de organizao da juventude e de participao poltica. O jovem entrevistado, embora no se

    organize em partidos ou movimento sociais tpicos, um ativista poltico,

    conectado com os novos tempos. Nestes novos tempos, as Redes Sociais, em

    especial o Facebook, tm um papel extremamente importante.

  • 27

    3 A REVOLUO NO EGITO

    A Primavera rabe marca um novo cenrio poltico no mundo. 2011

    iniciou com importantes revolues e transformaes polticas e sociais, do

    norte da frica ao sul da Amrica Latina, alterando as relaes humanas e

    culturais de inmeros pases. Neste contexto, o Egito teve um papel muito

    importante. A massiva participao popular em protestos que inundaram as

    ruas do pas e a larga utilizao das Redes Sociais, em particular do Facebook,

    demonstram uma nova forma de organizao social.

    Para melhor compreendermos os fatos e o papel do Facebook,

    iniciaremos este captulo retomando o contexto histrico do pas, desde sua

    independncia at a queda do ditador Mubarak. Atravs do resgate da situao

    de crise social e poltica, pretendemos identificar quais foram os atores desta

    revoluo. Alm, claro, de compreender de que forma se organizavam e

    utilizavam as Redes Sociais para isso.

    3.1 Contexto Histrico

    Para entender a revoluo no Egito preciso primeiramente

    compreender seu processo histrico. Neste captulo, faremos um breve

    apanhado, desde a independncia, passando pela luta nacionalista, chegando

    at a entrada de Hosni Mubarak no poder e a levada da mobilizao social que

    o derrubou. Acreditamos que este resgate importante para compreendermos

    a trajetria de lutas daquele povo e as origens histricas dos conflitos. Dessa

    forma, levantaremos apenas datas relevantes e significativas que dizem

    respeito dominao poltica e mobilizao social.

    A Revista Dossi Le Monde Diplomatique Brasil nos apresenta um breve

    e excelente resgate da histria do Egito. Iniciaremos com o dia 21 de fevereiro

    de 1922, quando concedida a independncia do Egito pela Gr-Bretanha,

    que ocupava o pas desde 1882.

  • 28

    Grandes manifestaes contra os britnicos iniciaram em 1946,

    organizadas pela Comisso Nacional dos Trabalhadores e Estudantes.

    Em 23 de julho de 1952, sob a liderana do general Nasser,

    encabeando a resistncia anti-colonialista regional e impulsionando as

    revolues democrticas de um Estado nacional independente, a monarquia do

    Rei Faruk foi derrubada e A revoluo de 1952 deu luz a um Estado nacional

    independente que constitui o alvo fundamental da ofensiva imperialista e

    sionista (REVISTA DOSSI LE MONDE DIPLOMATIQUE BRASIL, 2011, p.

    77). Nasser levou a cabo um programa que alm de liquidar a Monarquia,

    concluiu o processo de independncia em relao Inglaterra, acelerou a

    industrializao nacional e realizou uma reforma agrria.

    Para lidar com as tarefas eminentemente complexas de uma verdadeira independncia nacional que implica reconquista do poder de deciso sobre as esferas da vida social (econmica, militar, poltica, cultural) -, as massas populares se orientam em direo a um aprofundamento do componente democrtico do movimento nacional, o que coloca o problema da democracia econmica e social. A ineficincia da grande burguesia egpcia tradicional tinha levado Nasser a criar um setor pblico avanado, lanar ondas de egipcionalizao e nacionalizao, optar pela planificao econmica e priorizar a industrializao principalmente indstria pesada e eletrificao -, em conjuno com a reforma agrria. Em 1962, o Congresso Nacional das foras populares optava mesmo pelo socialismo cientfico, inscrito na Carta de Ao Nacional, da qual resultava a formao da Unio Socialista rabe (USA). (REVISTA DOSSI LE MONDE DIPLOMATIQUE BRASIL, 2011, p. 78)

    Em 1956, Nasser nacionalizou o Canal de Suez, assegurando a retirada

    dos ingleses que at ento o exploravam, e o tornando uma importante fonte

    de renda para o pas. Logo aps, em 1958, Egito, Sria, Sudo, Lbano e Iraque

    fundam a Repblica rabe Unida, expresso do pan-arabismo (movimento

    poltico de unio dos pases de lngua e civilizao rabe, numa grande

    comunidade de interesses). Entretanto, os EUA invadiram o Lbano para conter

    a expanso pan-arbica. Assim, em 1967, se completa a derrota contra

    Nasser, quando Israel ataca os territrios egpcios e quadruplica seus

    territrios, a conhecida Guerra dos Seis Dias. Segundo Samir Amin7 (2011),

    nesta guerra, Washington expem seus objetivos para a regio.

    7 AMIN, Samir. Geopoltica do imperialismo contemporneo. 2004. Disponvel em: bibliotecavirtual.clacso.org.ar/ar/libros/hegemo/pt/Amin.rtf. Acesso em: 12 nov 2011.

  • 29

    A guerra de 1967, planejada com Washington desde 1965, perseguia diversos objetivos: amortecer a derrocada dos regimes nacional-populistas, romper sua aliana com a Unio Sovitica, obrig-los a reposicionar-se sob as ordens estadunidenses e abrir terras novas para a colonizao sionista. Nos territrios conquistados em 1967 Israel ps em prtica um sistema de apartheid inspirado no da frica do Sul. (AMIN, 2011).

    Ou seja, para AMIN (2011), neste momento que se consolidam os

    interesses do capital dominante mundial com os interesses sionistas, formando

    uma grande aliana entre as potncias ocidentais e Israel. Para o autor, no

    seria interessante para esta aliana um mundo rabe modernizado, rico e

    potente, pois questionaria o saqueio dos pases ocidentais aos recursos

    petroleiros.

    Em 1970 morre Nasser e assume Anuar Sadat. Em 1973 ocorre a

    Guerra de Outubro entre Egito, aliado com a Sria, e Israel. Em janeiro de 1977,

    eclodem grandes tumultos por todo o pas por causa da fome que passava a

    populao. Neste episdio, quase setenta pessoas foram mortas e milhares

    foram detidas.

    No dia 26 de maro de 1979, um tratado de paz assinado entre Israel e

    Egito, em Washington. Em 1981 o presidente Sadat assassinado e, dessa

    forma, Hosni Mubarak o sucessor.

    Este breve resgate importante para a compreenso da trajetria

    poltica e militar do Egito. Alm de facilitar o entendimento das origens

    histricas que, ao fim, resultaram na revoluo de fevereiro de 2011.

    Alm disso, tambm importante compreendermos que a localizao do

    Egito estratgica no mundo rabe. O pas um corredor entre as grandes

    potncias petroleiras como Arbia Saudita, Emirados rabes, Kuwait. Tambm

    o maior influente do Magreb, o noroeste da frica. Dessa forma, o controle

    poltico e econmico da regio significa o controle da estabilidade egpcia,

    alm, claro, da grande importncia financeira. Dessa forma, compreenderemos

    por que a fronteira do Monte Sinai no Egito um territrio sob custdia militar

    de Israel.

  • 30

    Diante de tamanha importncia geopoltica e financeira, os Estados Unidos

    sempre tiveram interesse na regio. Segundo Dutra e Fuentes (SOCIALISMO

    & LIBERDADE, 2011, p. 7), os EUA, desde 1981, financiaram e equiparam o

    exrcito do regime Mubarak e a Europa tem sido a principal exploradora

    econmica dos povos da regio. Para Amin (2011) Apesar dos signos de

    irritao evidentes depois da guerra do Iraque, os europeus continuam, em seu

    conjunto e no que se refere ao Oriente Mdio, danando conforme a msica de

    Washington. Essa uma das explicaes de que quando iniciaram as

    mobilizaes no Egito em 2011, pases europeus apoiaram Mubarak. Dessa

    maneira, a queda do ditador pode significar o fim da poltica seguida pelos EUA

    no norte da frica e no Oriente Mdio.

    Conforme declarao do jornalista egpcio Hossam el-Hamalawy Revista

    Carta Maior8, podemos tornar mais compreensveis as relaes entre Mubarak

    e os Estados Unidos.

    Mubarak o segundo maior beneficirio da ajuda externa dos EUA, depois de Israel. Ele conhecido como o capanga dos EUA na regio; um dos instrumentos da poltica externa dos EUA, que implementa seu programa de segurana para Israel e assegura o fluxo sem problemas do petrleo enquanto mantem os palestinos confinados. De modo que no nenhum segredo que esta ditadura goza do respaldo de governos dos EUA desde o primeiro dia, inclusive durante a enganosa retrica em favor da democracia protagonizada por Bush. Por isso, no h surpresa diante das risveis declaraes de Clinton, que mais ou menos defendiam o regime de Mubarak, j que um dos pilares da poltica externa dos EUA manter regimes estveis a custa da liberdade e dos direitos civis. (CARTA MAIOR, 2011).

    Embora no sejam ditaduras clssicas, as autocracias do norte da frica

    se mantiveram no poder por meio da violncia de Estado. So regimes

    totalitrios que organizam eleies totalmente manipuladas. Ao redor de seu

    poder formou-se uma grande burguesia corrupta e servente ao imperialismo

    que passou a controlar grandes setores econmicos. Estas autocracias

    brotaram do processo reacionrio aps a era de independncias nacionais da

    regio. O Egito, desde 1981, o principal aliado dos EUA para sustentar o

    Estado de Israel. Tambm por isso, os EUA equiparam e financiaram

    8 LEVINE, Mark. Jornalista e blogueiro egpcio fala sobre rebelio. Disponvel em: http://www.cartamaior.com.br/templates/materiaMostrar.cfm?materia_id=17345. Acesso em: 12 nov 2011.

    http://www.cartamaior.com.br/templates/materiaMostrar.cfm?materia_id=17345

  • 31

    diretamente o exrcito de Mubarak. Alm disso, a regio economicamente

    dependente do imperialismo europeu.

    Todo este resgate, iniciado desde o processo de independncia do

    Egito, que passou pelos principais conflitos e momentos de convulso social e

    que, por fim, chegou na era Mubarak, foi importante para compreendermos

    historicamente o processo poltico da regio. Alm disso, entender os

    interesses dos Estados Unidos e dos pases europeus tambm auxilia na

    compreenso das relaes de dominao e explorao econmica do pas.

    Na sequncia, iremos aprofundar o entendimento do perodo que

    antecedeu a revoluo no Egito. Compreenderemos em que contexto poltico e

    social vivia o povo egpcio naquele momento e quais foram os momentos mais

    relevantes que contriburam para o levante popular que culminou na revoluo

    egpcia.

    3.2 Como a crise mundial afetou o Egito

    Anteriormente resgatamos brevemente a cronologia histrica do Egito,

    comeando pela sua independncia em 1922 at a entrada de Mubarak no

    poder, em 1981. Neste momento, iremos elucidar a situao econmica e

    social em que se encontrava o pas nas vsperas da revoluo. Dessa

    maneira, isto nos auxiliar a compreender o contexto histrico e os motivos

    sociais que mobilizaram o povo egpcio.

    Para entendermos o processo histrico e as conseqncias que levaram

    a revoluo no Egito, precisamos comear com a crise econmica mundial

    iniciada em 2007, pois foi na sua esteira que poderosas revolues

    democrticas e populares varreram o norte da frica posteriormente. Dessa

    maneira, consequentemente, demandas de trabalho e salrios se combinaram

    com a luta social e extrapolaram exigncias pontuais. Passou-se a exigir

    democracia no mundo rabe.

  • 32

    Para Dutra e Fuentes (2001), o mundo rabe talvez tenha sido o que

    mais sofreu com a crise econmica mundial. Segundo os autores, a crise

    aumentou o empobrecimento das massas, atingindo a juventude. Na Tunsia,

    60% da populao possui menos de 30 anos e destes jovens, 50% esto

    desempregados. Neste contexto, o preo do po chegou ao absurdo aumento

    de 200%. O desemprego, agravado pela crise, foi um trampolim das revoltas,

    gerando, o que se chamou de Primavera rabe.

    Neste contexto de crise e de regimes ditatoriais, surge a Primavera

    rabe. Segundo o Wikipdia9, a enciclopdia virtual livre, foi uma onda

    revolucionria que varreu o Oriente Mdio e o Norte da frica.

    Os protestos no mundo rabe em 2010-2011, tambm conhecidos como a Primavera rabe, uma onda revolucionria de manifestaes e protestos que vm ocorrendo no Oriente Mdio e no Norte da frica desde 18 de dezembro de 2010. At a data, tem havido revolues na Tunsia e no Egito, uma guerra civil na Lbia; grandes protestos na Arglia, Bahrein, Djibuti, Iraque, Jordnia, Mauritnia, Marrocos, Arbia Saudita, Sudo e Saara Ocidental. Os protestos tm compartilhado tcnicas de resistncia civil em campanhas sustentadas envolvendo greves, manifestaes, passeatas e comcios, bem como o uso das mdias sociais, como Facebook, Twitter e Youtube, para organizar, comunicar e sensibilizar a populao e a comunidade internacional em face de tentativas de represso e censura na Internet por parte dos Estados. (WIKIPDIA, 2011).

    Na Tunsia, primeiro pas com grandes mobilizaes, ocorreu a

    Revoluo dos Jasmins. Manifestaes iniciaram logo aps um jovem

    verdureiro desesperado e cansado de pagar propina para a polcia, no

    conseguindo mais sustentar sua famlia, atear fogo em seu prprio corpo

    cometendo suicdio. Este ato desencadeou uma onda de protestos no pas. O

    povo comeou a sair s ruas em dezembro de 2010 e derrubou o regime de

    Ben Ali em 14 de janeiro de 2011. A Revoluo dos Jasmins se espalhou pelo

    mundo rabe. O povo do Egito, inspirado neste exemplo, tambm saiu s ruas

    para protestar. Depois de 18 dias de mobilizaes revolucionrias, acabou com

    o fara do Egito Mubarak.

    9 WIKIPEDIA. Primavera rabe. Disponvel em: http://pt.wikipedia.org/wiki/Primavera_%C3%81rabe. Acesso em: 16 nov 2011.

    http://pt.wikipedia.org/wiki/Primavera_%C3%81rabe

  • 33

    Figura 3 Manifestantes protestam na Tunsia. Disponvel em:

    http://blogem.salesianoregoceanica.com.br/wp-content/uploads/2011/04/Manifesta%C3%A7%C3%B5es-na-Tun%C3%ADsia.jpg e

    http://26.media.tumblr.com/tumblr_lg4q60vJBT1qz80pso1_500.jpg Acessado em: 18 de novembro de 2011.

    Para compreendermos melhor a precria situao que o povo do Egito

    se encontrava, podemos observar o trecho que segue de uma entrevista

    realizada com Amr Abdulah, uma das principais lideranas na Praa Tahir, para

    Fred Henriques (2011) Revista Socialismo & Liberdade:

    Nesses ltimos anos, as pessoas passaram a sofrer mais. Fred, voc pode imaginar uma pessoa vivendo com 150 libras egpcias por ms? Isso d menos de 30 centavos de dlares por dia. Em nosso pas, temos mais de metade da populao abaixo da linha da pobreza. Voc imagina todos os dias ouvindo seu filho: pai, eu estou com fome. (REVISTA SOCIALISMO & LIBERDADE, 2011, p. 17)

    Era neste contexto, de pauperizao social e falta de liberdades

    democrticas, que se encontrava o Egito. Um conjunto de situaes e motivos

    fez com que o povo fosse s ruas para protestar. Havia muita violncia policial

    e a existncia de leis que colocavam o pas em estado de exceo, ou seja,

    restringindo os direitos civis. Havia muito desemprego e os salrios eram muito

    baixos. As condies de vida estavam ruins e as pessoas no tinham moradia.

    Alm disso tudo, grande falta de liberdade de expresso e um presidente h

    30 anos e um governo acusado de muita corrupo. Todos estes fatores eram

    o reflexo social de como a crise havia afetado o Egito.

    Neste ponto, verificamos o contexto social em que se encontrava o Egito

    nas vsperas da revoluo. Na sequncia, iremos analisar como a crise social

    no pas se converteu em mobilizao social. Quais foram as aes e os atores

    que fizeram a revoluo.

    http://blogem.salesianoregoceanica.com.br/wp-content/uploads/2011/04/Manifesta%C3%A7%C3%B5es-na-Tun%C3%ADsia.jpghttp://blogem.salesianoregoceanica.com.br/wp-content/uploads/2011/04/Manifesta%C3%A7%C3%B5es-na-Tun%C3%ADsia.jpghttp://26.media.tumblr.com/tumblr_lg4q60vJBT1qz80pso1_500.jpg

  • 34

    3.3 O reflexo da crise nas mobilizaes egpcias

    Anteriormente levantamos o contexto social gerado pela crise mundial

    no Egito. Resgatamos as mobilizaes que ocorreram no Oriente Mdio e norte

    da frica. Explicitamos a Revoluo dos Jasmins na Tunsia, que foi a

    propulsora da Primavera rabe e que influenciou diretamente a revoluo

    egpcia.

    Neste momento, nosso objetivo resgatar a revoluo no Egito.

    Entendermos como comeou e quais foram os protagonistas e as ferramentas.

    Sobre o conceito de revoluo compreendemos como um processo

    histrico de subverso da ordem, para o estabelecimento de um novo

    panorama poltico, econmico e social. No compreendemos simplesmente

    como a tomada de poder do Estado por setores revolucionrios. Ou, como bem

    descreve Florestan Fernandes:

    (...) a palavra revoluo encontra empregos correntes para designar alteraes contnuas ou sbitas que ocorrem na natureza ou na cultura (coisas que devemos deixar de lado e que os dicionrios registram satisfatoriamente). No essencial, porm, h pouca confuso quanto ao seu significado central: mesmo na linguagem de senso comum sabe-se que a palavra se aplica para designar mudanas drsticas e violentas na estrutura da sociedade. Da o contraste freqente de mudana gradual e mudana revolucionria, que sublinha o teor da revoluo como uma mudana que mexe nas estruturas, que subverte a ordem social imperante na sociedade. (FERNANDES,1984, p.8)

    Utilizando-nos de Florestan Fernandes justificamos que o processo que

    ocorreu no Egito foi uma revoluo. Uma vez que causou drsticas mudanas

    estruturais de poder no pas. Entretanto, est sendo uma revoluo

    democrtica, pois ainda est ocorrendo o processo de transio dos militares

    para a democracia.

    Dutra e Fuentes (SOCIALISMO & LIBERDADE, 2011) resumem bem as

    motivaes democrticas para tal.

    As principais bandeira Abaixo Bem Ali e Abaixo Mubarak por uma Assembleia Constituinte expressam que a revoluo , em sua primeira fase, essencialmente democrtica. Combina tambm a luta anticapitalista contra a corrupo e contra o poder das grandes famlias burguesas que controlam uma importante parte da economia

  • 35

    dos pases, e tambm consignas antiimperalistas de independncia dos pases. (REVISTA SOCIALISMO & LIBERDADE, 2011, p. 7)

    Em entrevistas e matrias na revista Socialismo & Liberdade, muitas so

    as questes colocadas que impulsionaram as mobilizaes. Algumas delas so

    as pssimas condies de trabalho, a ditadura, que inclusive havia coibido a

    entrada de outros partidos no parlamento, a grande influncia da revoluo

    tunisiana. Alm disso, o grande peso da participao da juventude, muitos dos

    quais, jovens diplomados, mas sem trabalho.

    Desde 2008 j ocorriam importantes greves operrias no Egito, mesmo

    com os sindicatos sendo perseguidos e no havendo uma central sindical que

    unificasse todas as demandas e lutas. A isso se somou um grande movimento

    popular que uniu a classe mdia, os jovens empobrecidos, os trabalhadores, os

    intelectuais.

    Os sujeitos da revoluo so apontados pelo El Pas: Quem faz a revoluo? So pessoas de todos os estamentos sociais, desde as classes mais altas s mais baixas. Mulheres, crianas, adolescentes, estudantes de medicina ou ativistas de direitos humanos, camareiros ou farmacuticos, tambm h uma grande maioria de desempregados. Fecharam as ruas para pedir que devolvam seu pas. No tm um perfil determinado e o governo no capaz de encarcer-los. Saram s ruas em todos os pontos do pas e no pensam em voltar s suas casas at que alcancem o que almejam: liberdade, segurana, bem-estar, po e democracia (REVISTA SOCIALISMO & LIBERDADE, 2011, p 7)

    Com base na revista citada, apresentaremos agora uma sequncia

    cronolgica dos principais fatos polticos que ocorrerem no Egito no ltimo

    perodo. Avaliar estes fatos importante para entender o perodo e as

    consequncias que levaram revoluo egpcia.

    No dia 6 de abril de 2008, greves massivas estouram no Egito. O

    principal motivo era a situao precria de trabalho. Milhares de jovens saem

    s ruas em apoio s greves. Alm disso, pediam tambm o fim da Lei de

    Emergncia vigente no pas, mas, principalmente, exigiam a sada do ditador

    Mubarak. A partir disso, nos meses que se seguem, greves passam a ser

    constantes no pas.

    Dois anos depois, um importante caso ocorre. Em 6 de junho de 2010,

    Khaled Said assassinado pela polcia em Sidi Gaber, na Alexandria. Este fato

    de extrema relevncia para este trabalho, pois quando a Internet comea a

  • 36

    tomar um papel importante na divulgao dos fatos e na comoo social.

    Khaled gravou um vdeo em que apareciam policiais repartindo dinheiro da

    venda de hashishe, uma droga ilegal, nos becos de Alexandria e compartilhou

    entre seus amigos na Internet. Por consequencia deste vdeo ele foi preso.

    Depois disto, foi morto. A polcia e o Ministro do Interior declararam que a

    causa da morte do jovem teria sido por sufocamento, em virtude de ter engolido

    droga. Entretanto, o corpo do rapaz quando encontrado era completamente

    desfigurado. A partir deste episodio, o povo saiu s ruas em luto, mas

    principalmente, contra a tortura e a represso policial. Embora a imagem seja

    extremamente chocante, nos permitiremos aqui reproduzir a foto do corpo de

    Khaled Said, prova irrefutvel de que a verso oficial dada pela polcia era

    incredvel.

    Figura 4 Imagem de Khaled Said vivo e morto. Disponvel em: http://cdn2.likethedew.netdna-cdn.com/wp-

    content/uploads/2011/02/Khalid_Said_before_after.jpg Acessado em: 18 de novembro de 2011.

    A data 25 de janeiro de 2011 quando iniciam os grandes protestos.

    Com a queda de Bem Ali, na Tunsia, muitos grupos acreditam ser a grande

    oportunidade de iniciar manifestaes. Atravs do Facebook, passam a

    convocar protestos. Dia 28 de janeiro o Dia da Fria. O governo preocupado

    com as mobilizaes suspende a Internet e a telefonia mvel do pas. Mesmo

    assim, durante a madrugada, centenas de milhares de pessoas ocupam as

    ruas do Egito. Ocorreu um grande enfrentamento com a polcia, diversas vezes

    http://cdn2.likethedew.netdna-cdn.com/wp-content/uploads/2011/02/Khalid_Said_before_after.jpghttp://cdn2.likethedew.netdna-cdn.com/wp-content/uploads/2011/02/Khalid_Said_before_after.jpg

  • 37

    citada como sinnimo de violncia, corrupo e autoritarismo, que saiu

    derrotada no fim do dia. Assim, muitas delegacias so incendiadas, e tambm

    o prdio do Partido Nacional Democrtico PND, partido governista. A partir

    desta data, os primeiros tanques de guerra do Exrcito tomam as ruas.

    Figura 5 Imagens dos confrontos entre populares egpcios e a polcia. Disponvel em:

    http://oglobo.globo.com/blogs/arquivos_upload/2011/09/129_1024-alt-09-MHG-Egito1.jpg e http://f.i.uol.com.br/folha/mundo/images/11025330.jpeg

    Acessado em: 18 de novembro de 2011.

    No dia 31 de janeiro de 2011milhares de ativistas se unem novamente e

    se estabelecem na praa Tahir. Mas, dia 2 de fevereiro a represso muito

    grande. Mubarak liberou presos comuns e pagou policiais paisana, fato

    denunciado em diversos canais de televiso na poca, para atacarem os

    manifestantes. Aqueles utilizavam cavalos, coquetis molotov e armas

    automticas. Aps longas e intensas horas de combate, a populao derrotou

    os ento manifestantes pr-Mubarak.

    Figura 6 Confronto entre manifestantes anti-Mubarak e defensores do ditador.

    Disponvel em: http://1.bp.blogspot.com/_Yvq6gsdlbjI/TUmeJv99WUI/AAAAAAAACnk/tcgGlA5ydXQ/s640/Egito

    .jpg Acessado em: 18 de novembro de 2011.

    http://oglobo.globo.com/blogs/arquivos_upload/2011/09/129_1024-alt-09-MHG-Egito1.jpghttp://oglobo.globo.com/blogs/arquivos_upload/2011/09/129_1024-alt-09-MHG-Egito1.jpghttp://f.i.uol.com.br/folha/mundo/images/11025330.jpeghttp://1.bp.blogspot.com/_Yvq6gsdlbjI/TUmeJv99WUI/AAAAAAAACnk/tcgGlA5ydXQ/s640/Egito.jpghttp://1.bp.blogspot.com/_Yvq6gsdlbjI/TUmeJv99WUI/AAAAAAAACnk/tcgGlA5ydXQ/s640/Egito.jpg

  • 38

    Dia 11 de fevereiro o grande dia. Aps dezoito dias consecutivos de

    protesto, milhes de egpcios continuam exigindo a queda de Mubarak. Nesta

    data, os trabalhadores do transporte pblico paralisam e uma greve geral foi

    chamada para o dia seguinte. Por consequncia de tamanhas mobilizaes e

    presso popular, o ento presidente Mubarak deixa a capital Cairo e vai de

    avio at o balnerio de Sharm El-Sheikh, no Mar Vermelho. De l, faz um

    pronunciamento anunciando sua renncia ao cargo de Presidente do Egito.

    Milhes de Egpcios saem s ruas para comemorar.

    Milhes de egpcios resistiram na Praa Tahrir at que Mubarak caiu. As massas perderam o medo e derrotaram o aparato repressivo do velho regime nas ruas tanto no Egito como na Tunsia. Em ambos os pases o exrcito evitou o confronto aberto com a mobilizao para, dessa maneira, poder salvar a instituio fundamental do estado burgus. Nos dois pases, a populao mobilizada defendeu, com sua auto-organizao, a segurana das ruas e bairros. Foi ocupada uma grande parte das sedes da polcia, dos partidos do poder e instituies. O mais gritante foi o assalto que se fez no Egito s sedes da polcia segregada que teve que ser dissolvida pelo governo. (REVISTA SOCIALISMO & LIBERDADE, 2011, p. 8)

    A fora da mobilizao popular espontnea abriu na Tunsia e no Egito

    uma crise revolucionria e uma situao de dualidade de poder. Em ambos

    pases como falvamos a cima, depois da queda de braos entre os novos

    governos e o povo mobilizado conquistou-se as Assembleias Constituintes. No

    Egito, a resistncia de Mubarak foi desesperada. Mubarak organizou uma ao

    contra revolucionria com polcias de civil, e at camelos e cavalos, que foram

    comprados por cerca de 30 dlares. Foi a tentativa de fazer uma ao contra-

    revolucionria, mas foi derrotada. O povo enfrentou e uma posterior greve dos

    transportes pblicos foi convertida no dia seguinte em greve geral. O ditador

    no resistiu e caiu.

    So exemplos de vitrias, incompletas, insuficientes, mas arrancadas pelo povo, mais concretamente pelo proletariado, no concedidas pela burguesia branca nem pelos pases imperialistas. A queda das ditaduras no norte da frica so tambm vitrias democrticas revolucionrias. No ver isso uma miopia poltica total. (SOCIALISMO & LIBERDADE, 2011, p. 4)

  • 39

    Figura 7 Milhares de egpcios tomam a Praa Tahir e comemoram aqueda do ditador Mubarak. Disponvel em:

    https://lh3.googleusercontent.com/_HZm55lfyLqs/TVWRe1vaHyI/AAAAAAAAzDs/bOVO70HOeXQ/110211EgitoGetty.jpg Acessado em: 18 de novembro de 2011.

    Neste captulo vimos um breve resgate histrico sobre a histria recente

    do Egito. Buscamos contextualizar o perodo de crise que passava o pas e de

    que forma refletiu na organizao social.

    Por fim, levantamos os principais fatos que contriburam para o levante

    popular e que acabaram culminando na revoluo. Na sequencia, iremos

    apresentar a metodologia utilizada para a construo deste trabalho.

    https://lh3.googleusercontent.com/_HZm55lfyLqs/TVWRe1vaHyI/AAAAAAAAzDs/bOVO70HOeXQ/110211EgitoGetty.jpghttps://lh3.googleusercontent.com/_HZm55lfyLqs/TVWRe1vaHyI/AAAAAAAAzDs/bOVO70HOeXQ/110211EgitoGetty.jpg

  • 40

    4. A REVOLUO NO EGITO VISTA ATRAVS DO FACEBOOK

    Neste captulo, buscaremos alcanar nosso objetivo atravs da hiptese

    que a revoluo do Egito passou pelas Redes Sociais na Internet.

    O ativismo atravs dos meios eletrnicos, ou ciberativismo, no foi um

    fato isolado no Egito e no mundo temos vrios exemplos marcantes. Conforme

    nos aponta matria do Jornal do Comrcio10. Em pases como Arglia, Tunsia,

    Egito e Lbia, durante protestos contra desemprego e corrupo, muitas vezes

    as Redes Sociais foram a nica forma de expresso dos manifestantes.

    Segundo o jornal, em meio aos tumultos, fotos e depoimentos eram postados

    em Sites como Facebook e o microblogging Twitter.

    Apesar de parecer muito simples, e de depender apenas de um clique, o ciberativismo - que nasce com a entrada de ativistas na rede -, vem com uma proposta de conscientizao atravs da internet. Na maioria dos casos uma movimentao que comea na internet e acaba nas ruas. E para isso no basta apenas o ciberativista, mas o ativista real tambm. 11 (SANTOS, 2011, p. 3).

    As Redes Sociais e a Internet cumpriram um importante papel na

    organizao de grandes mobilizaes e movimentos democrticos no mundo

    neste ano. No Egito no foi diferente. O Facebook foi uma ferramenta de

    extrema importncia para os revolucionrios egpcios.

    10 KNEBEL, P. Internet d novo significado participao popular. Disponvel em: http://jcrs.uol.com.br/site/noticia.php?codn=74556. Acessado em 03 de outubro de 2011. 11 SANTOS, F.J.A. O ciberativismo como ferramenta de grandes mobilizaes Humanas. Disponvel em: http://www.usp.br/anagrama/AnheSantos_ciberativismo.pdf Acessado em 03 de outubro de 2011.

    http://jcrs.uol.com.br/site/noticia.php?codn=74556http://www.usp.br/anagrama/AnheSantos_ciberativismo.pdf

  • 41

    Figura 8 Homem segurando cartaz durante as mobilizaes no Egito. O nome do pas escrito com os smbolos das Redes Sociais extremamente simblico, pois compartilha

    do sentimento de importncia que estas ferramentas tiveram para a revoluo. Disponvel em: http://www.aviagemdeodiseo.com/blogbrasil/wp-content/uploads/2011/02/cartaz_egito_redes-

    sociais1.jpg Acessado dia 18 de novembro de 2011.

    Segundo Santos (2011), a imprensa mundial atribuiu o incio das

    manifestaes egpcias mobilizao dos jovens pela Internet, que foram ao

    longo do processo transportando suas reivindicaes e organizaes do virtual

    para as ruas.

    A pregao dessa juventude do Facebook foi ganhando aceitao em grupos que representam setores pobres da populao, como o movimento Kafaya (Basta!), que organizou as primeiras manifestaes em dezembro de 2004. Tambm ganhou o apoio de membros de partidos de oposio. Incluindo a poderosa confraria dos Irmos Muulmanos. O grupo [Movimento 6 de abril] teve novo impulso com a revolta popular que ps fim ao regime do presidente tunisiano Zine El Abidini Bem Ali e convocou seus 86 mil membros registrados na internet a se mobilizarem. (SANTOS, 2011, p. 2).

    Portanto, a partir do chamado feito atravs da Internet, as manifestaes

    de rua iniciaram. O resultado conhecido foram as grandes mobilizaes que

    reuniram milhares de pessoas. Entretanto, ao dar-se conta que os chamados

    pela Internet estavam dando resultado, e estes eram quase que avassaladores,

    e, alm de tudo, tambm estavam repercutindo nas cidades do interior, o

    http://www.aviagemdeodiseo.com/blogbrasil/wp-content/uploads/2011/02/cartaz_egito_redes-sociais1.jpghttp://www.aviagemdeodiseo.com/blogbrasil/wp-content/uploads/2011/02/cartaz_egito_redes-sociais1.jpg

  • 42

    governo egpcio optou por uma soluo extremamente ditatorial e bloqueou

    quase que totalmente a Internet e a comunicao de telefonia mvel, tambm

    muito utilizada para divulgar as mobilizaes, numa tentativa desesperada de

    tentar conter a revolta. Entretanto, as notcias de prises e represso policial

    continuaram circulando e os ativistas deram seu jeito, conforme matria

    publicada aps iniciados os conflitos12.

    Enquanto isso, as medidas restritivas levaram os egpcios a recorrer a tecnologias "retr". Modems discados restabeleceram, ainda que precariamente, o uso da Internet; aparelhos de fax e rdios amadores foram usados na comunicao e disseminao de informaes, especialmente com novos locais e horrios para protestos.(RBS, 2011)

    Entretanto, o bloqueio no impediu a comunicao. Alm disso, tambm

    levou a Google a criar uma forma de acesso ao Twitter pelo telefone, em

    parceria com a empresa, inclusive permitindo que as mensagens fossem

    ouvidas em qualquer lugar do mundo, mesmo sem acesso Internet. Tambm

    o Google investiu em um link dedicado a reunir informaes sobre o Egito,

    dentro do Google Crisis Response, um projeto com o objetivo de tornar

    acessveis informaes a respeito de desastres naturais e crises

    humanitrias13.

    Conforme relata Loay Kahwagi, jovem egpcio e um dos dirigentes do

    Movimento 6 de Abril, em entrevista revista Socialismo e Liberdade (2011),

    devido a Lei de Emergncia existente no Egito (lei que permite o presidente

    governar com poder quase absoluto e a polcia amplos poderes, como por

    exemplo manter uma pessoas presa por meses sem a formalizao de uma

    acusao) e tambm por causa da dura represso do Estado Policial, as

    convocaes e, muitas vezes, as prprias reunies foram pela Internet e pelo

    Facebook.

    Ns usamos os grupos do Facebook, acho que esta a primeira revoluo a utilizar este tipo de ferramenta para mudar totalmente um regime. Na verdade, esta era a nica maneira de entrarmos em contato uns com os outros, por meio do Facebook, twitter... Apesar de algumas reunies terem acontecido, estou certo que esse no foi o

    12 CLICRBS. Protestos no Egito. Disponvel em: http://wp.clicrbs.com.br/admiravelmundovirtual/2011/02/12/protestos-no-egito-renuncia-de-mubarak-e-o-papel-da-internet-e-das-redes-sociais/ Acessado em 16 de novembro de 2011. 13 GOOGLE. Crisis. Disponvel em: http://www.google.com/crisisresponse/egypt.html Acessado em 16 de novembro de 2011.

    http://tecnologia.terra.com.br/noticias/0,,OI4922052-EI12884,00-Egipcios+driblam+bloqueio+da+internet+com+tecnologia+retro.htmlhttp://tecnologia.terra.com.br/noticias/0,,OI4922052-EI12884,00-Egipcios+driblam+bloqueio+da+internet+com+tecnologia+retro.htmlhttp://wp.clicrbs.com.br/admiravelmundovirtual/2011/02/12/protestos-no-egito-renuncia-de-mubarak-e-o-papel-da-internet-e-das-redes-sociais/http://wp.clicrbs.com.br/admiravelmundovirtual/2011/02/12/protestos-no-egito-renuncia-de-mubarak-e-o-papel-da-internet-e-das-redes-sociais/http://www.google.com/crisisresponse/egypt.html

  • 43

    elemento majoritrio que levou s mobilizaes, especialmente porque os seguranas do regime estavam nos espionando, prendendo e vigiando. De fato, eles tambm estavam no Facebook, como vimos posteriormente, porm a agilidade e a facilidade de encontrar muitos amigos diferente. (REVISTA SOCIALISMO & LIBERDADE, 2011, p. 23)

    Dessa maneira, atravs do relato do jovem ativista comprovamos que as

    Redes Sociais e a Internet tiveram importante papel na organizao e

    convocao das mobilizaes. Entretanto, conclui-se tambm que a utilizao

    destes meios era extremamente arriscada, uma vez que tambm era vigiada.

    Conforme matria no jornal ingls The Guardian14, folhetos annimos foram

    distribudos nas ruas do Cairo com orientaes sobre mobilizaes, mas

    tambm recomendando que Sites como Facebook e Twitter no fossem

    usados, pois estavam sendo monitorados por foras de segurana.

    Para Tariq Ali15, em processos revolucionrios as pessoas sempre iro

    buscar um meio para se comunicarem umas com as outras. Como por

    exemplo, na rebelio dos escravos no Haiti, no sculo 18, a comunicao era

    por tambor, de aldeia em aldeia. Outro exemplo que o autor utiliza o de Fidel

    Castro e Che Guevara em Sierra Maestro, onde se comunicavam com as

    pessoas de diferentes cidades atravs de mensageiros.

    Por fim, Ali (2011) conclui que em muitos casos as pessoas utilizam

    telefone, mas raramente, pois os telefones podem ser facilmente rastreados. E

    levanta um exemplo. Recentemente nas mobilizaes no Reino Unido,

    prenderam pessoas que no haviam feito nada, apenas enviado mensagens

    marcando local de encontro umas com as outras. Mas, o caso mais grave,

    refere-se ao de uma pessoa que foi sentenciada a quatro anos de priso,

    apenas por trocar mensagem.

    Embora estes levantamentos apreensivos, no descartamos que as

    Redes Sociais, em especial o Facebook, tiveram grande relevncia parta a

    revoluo egpcia.

    14 BLACK, Ian. Egypt protest leaflets distributed in Cairo give blueprint for mass action. Disponvel em: http://www.guardian.co.uk/world/2011/jan/27/egypt-protest-leaflets-mass-action Acessado em 15 de novembro de 2011. 15 Escritor e ativista paquistans. Escreve para o jornal britnico The Guardian e para a revista New Left Review. Entrevista exclusiva para este estudo no dia 16 de novembro de 2011 em visita a Porto Alegre para palestra na Cmara de Vereadores de Porto Alegre.

    http://www.guardian.co.uk/world/2011/jan/27/egypt-protest-leaflets-mass-action

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    Neste sentido, durante todo o processo revolucionrio, dois momentos

    so muito importantes serem resgatados, devido o importante papel que

    Facebook cumpriu. O primeiro deles o caso do assassinado Khaled Said em

    7 de Junho de 2010. O jovem foi morto pela polcia justamente por ter

    divulgado um vdeo que aparecia policiais corruptos. O segundo, e o mais

    importante, o evento datado no dia 25 de janeiro de 2011. Conforme

    dissemos, muitos grupos viram na queda de Bem Ali, na Tunsia, uma grande

    oportunidade para convocar uma grande manifestao. Dessa forma, diversos

    grupos de juventude usurios do Facebook, em especial o Somos todos

    Khaled Said, passaram a convocar atos contra a represso exercida pelo

    regime para o dia 25 de Janeiro. Nesta data, comemorado o dia da Polcia,

    no Egito. O que ocorreu foi que no protesto eram esperadas duas mil pessoas.

    Entretanto, havia quinze mil participantes, apenas na Praa Tahir. Muito se

    atribui a este extraordinrio comparecimento popular s Redes Socias, em

    especial a divulgao feita via Facebook.

    Figura 9 Imagem da pgina do Facebook Somos todos Khaled Said. possvel verificar que so quase 160 mil pessoas que curtem, ou seja, que

    acompanham a pgina. Disponvel em: http://www.facebook.com/elshaheeed.co.uk Acessado dia 18 de novembro de 2011.

    http://www.facebook.com/elshaheeed.co.uk

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    A partir das leituras que fazemos de todas as entrevistas, a impresso

    que o Facebook cumpriu um papel para alm de fomentar atos, mas tornou-se

    um instrumento de organizao tambm, especialmente da juventude.

    Me lembro do pessoal da Tunsia mandando por facebook e twitter: Pessoal do Egito, utiliza spray preto no vidro dos blindados da polcia, assim eles no vem e vocs tm mais controle. Caso atingidos por gs lacrimogneo, no fechem os olhos e utilize Pepsi para diminuir os efeitos. (REVISTA SOCIALISMO E LIBERDADE, 2011, p. 24)

    Para Ali (2011) o Facebook teve grande importncia, mais ainda as

    mensagens de texto tambm cumpriram um importante papel. Dessa forma, as

    pessoas conseguiam se comunicar e marcar onde elas poderiam se encontrar.

    Entretanto, uma ressalva importante que Ali faz o mais importante no foi

    isso, foi o fato de as pessoas estarem dispostas a sacrificarem sua prpria

    vida.

    Sobre a influncia dos Estados Unidos na regio, Ali afirma:

    Bom, eu acredito que a influencia dos Estados Unidos diminuiu. Diminuiu porque os egpcios ocuparam a embaixada israelense. Isso nunca poderia ter acontecido com o Mumbarak. Mas eles controlam o Egito atravs do exrcito; e esse exrcito ainda est no poder e no foi trocado. Portanto a influencia americana no mundo rabe ainda forte, no tenha dvidas. (2011)

    Aps a queda do regime, os egpcios continuam se esforando para

    construir uma nova democracia. Pela primeira vez na histria moderna do pas,

    milhes de cidados participaram de um referendo para mudar a constituio

    vigente na era Mubarak. Mesmo depois de deposto o ditador, inmeros

    protestos continuaram para garantir que as exigncias remanescentes da

    revoluo fossem cumpridas, entre elas o julgamento de Mubarak e dos

    pilares que faziam parte do seu regime.

    4.1 Procedimentos Metodolgicos

    Para melhor compreenso do tema abordado, consideramos que o

    mtodo mais eficaz de pesquisa o Estudo de Caso. Gil (1989) afirma que o

    que o caracteriza o estudo aprofundado de um ou de poucos objetos, sendo

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    possvel conhecer de forma ampla e detalhada cada um deles. Para Yin (2011),

    esta deve ser a escolha utilizada quando o foco temporal est em fenmenos

    contemporneos dentro do contexto de vida real. Ou seja, a partir do desejo

    de se entender um fenmeno social atual e complexo, como o caso da

    utilizao das redes sociais durante a revoluo no Egito.

    Yin (2011) coloca que muitos so os crticos metodologia do Estudo de

    Caso. Os principais argumentos so a falta de rigor, a influncia do

    investigador seja por utilizao de falsas evidncias, seja por vises viesadas

    -, o fato de fornecer poucas bases para generalizaes, que as pesquisas so

    muito extensas e demandam um grande tempo para serem concludas.

    Entretanto, o prprio responde tais crticas com argumentos que tornam

    possvel evidenciar a validade e a confiabilidade do estudo de caso. Para ele, o

    objetivo das generalizaes so as proposies tericas, ou seja, modelos, no

    proposies sobre populaes, por exemplo. Nesse sentido, Gil (1989) explicita

    muito bem a respeito da generalidade:

    Este delineamento se fundamenta na ideia de que a anlise de uma unidade de determinado universo possibilita a compreenso da generalidade do mesmo ou, pelo menos, o estabelecimento de bases para uma investigao posterior, mais sistemtica e precisa. A experincia acumulada com delineamentos desta natureza confere validade a essa suposio, muito embora no seja possvel sua sustentao do ponto de vista lgico. Isto porque pode ocorrer que a unidade escolhida para o estudo de caso seja bastante anormal dentre as muitas de sua espcie, o que conduziria a concluses totalmente errneas (GIL, 1989, p. 79).

    Yin (2011) ainda afirma que a essncia de um estudo de caso, ou a

    tendncia central, esclarecer uma deciso ou um conjunto de decises, tais

    como por que foram tomadas, como foram implementadas e quais os

    resultados alcanados. Para isso, no necessariamente preciso recorrer

    tcnica de coleta de dados que consomem grande tempo. Prova que o autor

    est correto, este trabalho. Nosso objetivo no provar a influncia ou no

    das redes sociais na revoluo egpcia. Mas, demonstrar que a revoluo

    passou pelas redes sociais.

    Segundo Yin (2011), o estudo de caso pode ser de trs formas:

    exploratrio, descritivo ou explanatrio (causal). Ele ainda defende que uma

    pesquisa emprica, uma vez que investiga um fenmeno contemporneo em

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    seu contexto real, onde as fronteiras entre este contexto e o fenmeno no so

    claramente evidentes e que mltiplas fontes de evidncias podem ser

    utilizadas.

    O autor nos indica as aplicaes do Estudo de Caso. Ou seja, explicar

    ligaes causais em situaes complexas, descrevendo o contexto em que

    ocorreram tais situaes e explorando-as.

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    5 CONSIDERAES FINAIS Revisitando o processo de pesquisa e as metas propostas no presente

    trabalho, observa-se que o objetivo geral foi de fato atendido ao