aspectos da responsividade na interaÇÃo verbal1

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ASPECTOS DA RESPONSIVIDADENA INTERAÇÃO VERBAL1

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    1 Agradeo SETI/Fundao Araucria do Paran, pelo apoio por meio do Programa de

    Bolsa de Produtividade em Pesquisa, processo n 12925.2 Docente da Universidade Estadual de Maring.

    ASPECTOS DA RESPONSIVIDADENA INTERAO VERBAL1

    MENEGASSI, Renilson Jos2

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    RESUMORESUMORESUMORESUMORESUMO: Este texto procura desenvolver uma reflexo terica a respeito daresponsividade, considerada elemento constitutivo dos processos de trocasverbais efetivados pelos seres humanos em sociedades organizadas. Paratanto, assume-se a perspectiva terica de linguagem de Bakhtin e seu Crculo,a partir da qual se procura caracterizar a responsividade, conceito que permeiaos seus estudos. Como resultado desse processo reflexivo, a partir de exem-plos de dilogos, com graduandos, na modalidade escrita, via e-mail, elenca-se uma srie de aspectos da responsividade presentes nas proposiesbakhtinianas, as quais se organizam em torno de uma premissa maior: a deque o desejo de resposta o principal elemento motivador da assuno dapalavra pelo locutor e propicia, igualmente, o surgimento dos vrios elos dacadeia ininterrupta da comunicao verbal, estabelecendo-se a interao.PPPPPALAALAALAALAALAVRAS-CHAVRAS-CHAVRAS-CHAVRAS-CHAVRAS-CHAVEVEVEVEVE: Responsividade; Interao verbal; Prticas sociais delinguagem.

    ABSTRAABSTRAABSTRAABSTRAABSTRACTCTCTCTCT: This research aims at developing a theoretical reflection onaddressivity, which is considered a constitutive element of verbal exchangeprocesses accomplished by human beings within organized societies. Forthis purpose, the study was grounded on Bakhtins Circle theoreticalperspective, particularly on the authors conception of language asinteraction. It is from this viewpoint that the several aspects of addressivitypermeating language studies, written by in service teachers in the Artscourse, are characterized. As a result of the reflective process, a number ofcharacteristics of addressivity, present in Bakhtins propositions, are listed.These propositions, in their turn, are found organized under a morecomprehensive premise: that in which the wish of response is the mainmotivating element for the emergence of the interlocutors word andpropitiates, equally, the raise of the innumerous links of the uninterruptednetwork of verbal communication, where interaction is established.KEYWORDSKEYWORDSKEYWORDSKEYWORDSKEYWORDS: Addressivity; Verbal interaction; Language social practices.

    11111 O CARTER INTRODUTRIO DO TEXTOO CARTER INTRODUTRIO DO TEXTOO CARTER INTRODUTRIO DO TEXTOO CARTER INTRODUTRIO DO TEXTOO CARTER INTRODUTRIO DO TEXTO

    Este texto um ensaio terico-reflexivo que pretendeservir como princpio introdutrio aos pensamentos e ideiasde Bakhtin e seu Crculo sobre um conceito especfico: o deresponsividade na interao verbal, com exemplos e anlisescentrados no dialogismo escrito. Dessa maneira, tm-se doisobjetivos determinados: a) apresentar os aspectos sobreresponsividade delineados nas obras de Bakhtin e seu Crcu-lo; b) refletir a respeito do carter dialgico das prticas so-ciais realizadas por meio da linguagem, principalmente noque concerne ao aspecto da responsividade, entendida como

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    propriedade dos enunciados de permitir e exigir que lhe sejadada uma resposta, a partir de exemplos de dilogos escritos.

    Nessa perspectiva, entende-se que tratar do carterresponsivo das prticas de linguagem implica em pensar nopapel fundamental que o outro, isto , o interlocutor social-mente situado, exerce nos processos de interao verbal.Assim, traa-se um percurso reflexivo bsico que marque, apartir dos pressupostos bakhtinianos, a necessidade humanade provocar no seu par uma reao, uma resposta s suasaes, sejam elas de natureza atitudinal ou lingustica. Esseesforo perpassa por vrios conceitos bakhtinianos de modoa situar as marcas da responsividade em cada um deles. Entretais conceitos, destacam-se: a interao verbal, a palavra, ooutro, os enunciados concretos e os gneros do discurso.

    Para tanto, so apresentados exemplos de textos escri-tos por alunos do curso de Letras, professores em formao,participantes de projeto de pesquisa que estuda as manifesta-es de constituio da escrita na formao docente inicial.A partir desses exemplos, as caractersticas de responsividadeso levantadas nas obras de Bakhtin e seu Crculo.

    22222 A RESPONSIVIDA RESPONSIVIDA RESPONSIVIDA RESPONSIVIDA RESPONSIVIDADE COMO EXIGNCIA DADE COMO EXIGNCIA DADE COMO EXIGNCIA DADE COMO EXIGNCIA DADE COMO EXIGNCIA DAS PRTICASAS PRTICASAS PRTICASAS PRTICASAS PRTICASSOCIAIS HUMANASSOCIAIS HUMANASSOCIAIS HUMANASSOCIAIS HUMANASSOCIAIS HUMANAS

    Desde o incio de sua existncia, o ser humano vai sedando conta de que, na vida em sociedade, h sempre umoutro a reagir e responder sua atitude. Nessa perspectiva, apalavra tem como trao comum o endereamento ao outro, doqual se espera uma atitude e uma resposta.

    Essa orientao da palavra em funo do interlocutor tem umaimportncia muito grande. Na realidade toda palavra comportaduas faces. Ela determinada tanto pelo fato de que procede dealgum, como pelo fato de que se dirige para algum. Ela constituijustamente o produto da interao entre o locutor e o ouvinte.(BAKHTIN/VOLOCHINOV, 1992: 113, grifos dos autores).

    Ambos, em sua dupla determinao (procedem de al-gum e se dirigem a algum), so, portanto, essencialmentedialgicos. Assim, o dilogo no principia com o desenvolvi-

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    mento da fala, mas a partir da tomada gradativa de conscin-cia, pelo sujeito, das relaes sociais das quais fazirreversivelmente parte, propiciando-se a interao.

    Bakhtin/Volochinov (1992: 114) reconhecem que mes-mo os gritos de um recm-nascido so orientados para a me,reforando, assim, a necessidade humana, manifestada j pe-los bebs, de enderear as suas aes a um outro socialmentedeterminado. Reconhece-se, nesse processo, no o exercciode uma atividade motivada por elementos biolgicos ou deconsanguinidade apenas; ao contrrio, entende-se esse atocomo resultado da percepo, por parte da criana, de que halgum que responde e reage s suas manifestaes e a quem,em funo desse vnculo social de responsividade anterior-mente manifestado, pode voltar a se dirigir, numa evidentemanifestao de interao humana.

    Nesse contexto comunicativo, deve-se ainda entenderque, na perspectiva de Bakhtin/Volochinov, palavra no si-nnimo de vocbulo descontextualizado. , contudo, pala-vra-signo e, por isso, inteiramente determinada pelas rela-es sociais. A esse respeito destaca-se:

    Enquanto uma forma lingustica for apenas um sinal e for percebi-da pelo receptor apenas como tal, ela no ter para ele nenhumvalor lingustico. A pura sinalidade no existe, mesmo nas pri-meiras fases de aquisio da linguagem. At mesmo ali a forma orientada pelo contexto, j constitui um signo, embora o compo-nente de sinalidade e de identificao que lhe correlata sejareal. (BAKHTIN/VOLOCHINOV, 1992: 94).

    Nessas relaes, incontestavelmente preponderanteo papel do outro. A esse respeito, na mesma obra, h a pro-posio da seguinte metfora: A palavra uma espcie deponte lanada entre mim e os outros. Se ela se apoia sobremim numa extremidade, na outra se apoia sobre o meuinterlocutor (BAKHTIN/VOLOCHINOV, 1992: 113). No h,portanto, unidade lingustica que se concretize socialmentesem que ocorra a adeso desse parceiro das relaes sociais,esse outro, que se disponha a acolher, mesmo no acatando,a palavra que lhe dirigida e que sobre ela exera um traba-lho ativo, capaz de sustentar essa ponte sobre a qual trafe-

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    gam os sentidos socialmente construdos e por meio da qualse efetiva a vida em sociedade. Dessa forma, a responsividade, na verdade, uma exigncia das prticas sociais de interao(BAKHTIN/VOLOCHINOV, 1992; BAKHTIN, 2003).

    33333 A INTERAO VERBAL E A CONSTITUIO DO OUTROA INTERAO VERBAL E A CONSTITUIO DO OUTROA INTERAO VERBAL E A CONSTITUIO DO OUTROA INTERAO VERBAL E A CONSTITUIO DO OUTROA INTERAO VERBAL E A CONSTITUIO DO OUTRO

    Abordar elementos referentes concepo de lingua-gem do Crculo de Bakhtin, entre eles a responsividade, pres-supe compreender os principais aspectos do fenmeno dainterao verbal, aqui compreendida nas modalidades face-a-face e tambm distanciada, como a escrita. Ao definir a con-cepo de lngua que sustenta seus pressupostos tericos,Bakhtin/Volochinov declaram:

    A verdadeira substncia da lngua no constituda pelo sistemaabstrato de formas lingusticas nem pela enunciao monolgicaisolada, nem pelo ato psicofisiolgico de sua produo, mas pelofenmeno social da interao verbal realizada atravs da enunciaoou das enunciaes. A interao verbal constitui assim a realidadefundamental da lngua. (1992: 123, grifos dos autores).

    As consideraes a respeito da interao verbal refor-am, mais uma vez, a natureza social dos fatos lingusticos.Assim, falar dessa concepo de linguagem assumir que ainterao um fenmeno que se realiza em contexto socialespecfico e que, por sua natureza, exige e instaura uma rela-o dialgica e, por conseguinte, de responsividade, entre ossujeitos, caracterizando-se, dessa forma, a enunciao.

    Em funo da natureza eminentemente social das ativida-des realizadas pela lngua, o prprio processo de produo dosenunciados no encarado como um fato individual isolado,pois, conforme anunciam Bakhtin/Volochinov, qualquerenunciao, por mais significativa e completa que seja, constituiapenas uma frao da corrente de comunicao verbal ininterrupta(concernente vida cotidiana, literatura, ao conhecimento, poltica, etc.) (BAKHTIN/VOLOCHINOV, 1992: 282).

    Isso implica a no originalidade plena no processo deutilizao da lngua, visto que o falante est sempre em rela-o com uma realidade mais ampla com a qual est em cons-tante dilogo e na qual se insere para tomar a palavra. Esse ato

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    de tomada da palavra, ao contrrio do que possa parecer, no serefere apenas s prticas de oralidade. A esse respeito Bakhtin/Volochinov (1992: 123) asseveram que o discurso escrito decerta maneira parte integrante de uma discusso ideolgica emgrande escala: ele responde a alguma coisa, refuta, confirma,antecipa as respostas e objees potenciais, procura apoio, etc.

    Percebe-se, assim, que a responsividade no apenasuma simples decorrncia das prticas de linguagem, mas,antes, um fator imprescindvel para que elas aconteam. Nose trata apenas de poder oferecer uma resposta ao que foidito pelo locutor, mas de compreender que a formulao deenunciado endereado ao outro constitui, por si, uma poss-vel resposta a outros enunciados que circulam na sociedade,conforme ensinam Bakhtin/Volochinov (1992).

    Desse modo, o discurso interior, tanto do locutor comodo outro, resultado da internalizao e da reconstruo dasprticas sociais das quais o sujeito toma parte ao longo de suaexistncia. Nesse discurso, torna-se possvel vislumbrar tam-bm um dos princpios geradores da responsividade, visto queela constitui-se como resposta interna aos processosinteriorizados e, ao mesmo tempo, fundamenta as respostasque o sujeito produz aos eventos futuros, sejam eles lingusticosou no. Sobre essa relao, Bakhtin/Volochinov asseveram que

    a enunciao realizada como uma ilha emergindo de um oceanosem limites, o discurso interior. As dimenses e as formas dessa ilhaso determinadas pela situao da enunciao e por seu auditrio.A situao e o auditrio obrigam o discurso interior a realizar-seem uma expresso exterior definida, que se insere diretamente nocontexto no verbalizado da vida corrente, e nele se amplia pelaao, pelo gesto ou pela resposta verbal dos outros participantesna situao de enunciao. (1992: 125, grifo dos autores).

    At aqui, podemos perceber que o locutor no fazemergir sentido interior movido apenas por sua livre vonta-de, como se desse vazo ao complexo emaranhado de suarealidade interior. O discurso interior, que organiza e fazecoar os processos internalizados, tanto em termos vivenciaisquanto lingusticos, no responsvel exclusivo por aquiloque se enuncia. Ao contrrio, a enunciao fortemente condi-

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    cionada pela finalidade do discurso, pelo contexto e pelosinterlocutores. No que tange especificamente aos interlocutores,a eles endereado o enunciado, resposta a outros tantos enun-ciados que foram internalizados nas estruturas psicossociaisdo locutor e tambm deles que se espera uma nova resposta.

    A partir dessa caracterizao sobre o fenmeno dainterao verbal e da sua materializao e particularizaono processo de enunciao, pode-se aproximar as reflexesat aqui realizadas s questes que envolvem o papel do ou-tro nessas prticas sociais que se efetivam por meio da ln-gua. Com relao a esse fato, Bakhtin/Volochinov comentam:

    A enunciao produto da interao de dois indivduos socialmenteorganizados. [...] A palavra dirige-se a um interlocutor: ela funoda pessoa desse interlocutor: variar se se tratar de uma pessoa domesmo grupo social ou no, se esta for inferior ou superior, se estiverligado ao locutor por laos sociais mais ou menos estreitos (pai, me,marido, etc.). (1992: 112, grifos dos autores).

    Assim, no dilogo, o outro, aquele a quem a palavra dirigida, no se comporta apenas como mero ouvinte; ao con-trrio, sua relevncia alcana o momento anterior verbalizaodo enunciado, visto que a ele que a palavra se dirige e emfuno dele que essa mesma palavra se configura, no de formaidealizada, mas sob a coero das relaes sociais mutuamen-te estabelecidas (BAKTHIN/VOLOCHINOV, 1992).

    Desse modo, no importa apenas a individualidadedaquele a quem a palavra endereada, mas tambm a posi-o social que ele ocupa em relao ao sujeito de quem apalavra procede e o entorno no qual se encontram inseridos.

    Nessa perspectiva, verifica-se que, nas trocas verbais,locutor e outro compartilham um espao comum em que ossentidos so partilhados e no somente as unidades lexicaisisoladas. Ambos desempenham, assim, papis ativos nesseespao, que no apenas dividido, como se cada um fosseresponsvel apenas por um dos turnos do dilogo. um es-pao compartilhado, o que significa que no entremeio, isto, na interao, que a lngua se efetiva em enunciados con-cretos constitudos de palavras-signo, sempre a partir da relaopreviamente estabelecida, mesmo que virtualmente, com o outro.

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    Com relao diferenciao entre a palavra, considera-da como unidade lexical, e o seu sentido social (signo), Bakhtin(2003: 294) destaca que os significados lexicogrficos neu-tros das palavras da lngua asseguram a ela a identidade e acompreenso mtua de todos os seus falantes, contudo oemprego das palavras na comunicao discursiva viva sempre de ndole individual-contextual. Desse modo, percebe-seque no h comunicao verbal sem que os falantes envolvi-dos no processo interlocutivo tenham conhecimentos comunssobre o cdigo lingustico empregado.

    Todavia, esse elemento, por si s, no assegura a cons-truo e o compartilhamento dos sentidos, que so, por sua na-tureza, determinados pelas relaes sociais. As trocas verbaisque se efetivam na vida em sociedade servem-se das unidades dalngua como instrumentos para a expresso individual de suasexperincias a partir das coeres do contexto social.

    A partir dessa noo de troca verbais, Bakhtin (2003)define trs aspectos possveis para a palavra: palavra lnguaneutra, palavra alheia (dos outros) e minha palavra. Assim, apalavra da lngua, em seu aspecto de neutralidade3, umailuso somente possvel sob a perspectiva de certas abstra-es cientficas, por no possuir, em si, a propriedade deservir a qualquer modalidade de expresso, a menos que sejaposta em contato com a realidade social. Dessa frico en-tre lngua e contexto surgem as duas outras materializaesda palavra: a palavra do outro e a minha palavra (BAKHTIN,2003), que so de interesse temtica aqui discutida.

    No que se refere palavra do outro, Bakhtin (2003:294) destaca que a experincia discursiva individual de qual-quer pessoa se forma e se desenvolve em uma interao cons-tante e contnua com os enunciados individuais dos outros.Sendo assim, desde o incio do processo de aquisio da lin-guagem, e ao longo de todo o seu desenvolvimento, o ser

    3 Stella (2005) apresenta discusso sobre a designao de neu-

    tralidade/neutra palavra, destacando-se o problema da tra-

    duo existente entre a lngua russa e a lngua portuguesa.

    Alm disso, o autor tambm discute as propriedades da pala-

    vra, a partir de exemplos da lngua portuguesa escrita.

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    humano vai tomando conscincia das prticas sociais que seefetivam por meio da lngua e, por consequncia, assimilan-do a palavra do outro. Essa assimilao no deve ser concebidacomo mera repetio de dizeres, mas pela apropriao ativa,ou seja, pela ressignificao desses enunciados que, afetadospelas experincias individuais do falante, sero externalizadossob configuraes diferentes, cujos sentidos podem constituir-se tanto na mesma orientao ou na orientao contrria que-la que possua no momento da assimilao.

    Portanto, o outro sempre oferece, embora sob vrias for-mas, uma resposta palavra da qual se apropria. Na afirmaode Bakhtin (2003: 295), essas palavras dos outros trazem con-sigo a sua expresso, o seu tom valorativo, que assimilamos,reelaboramos e reacentuamos, possibilitando, nesse sentido, umaresponsividade necessria interao, ao processo de enunciao.

    Por fora desse processo ativo sobre a palavra do ou-tro que se constitui a chamada minha palavra, isto , porser de natureza ativa, a apropriao da palavra do outro gera,necessariamente, um novo dizer, marcado pelas caractersti-cas de seu novo locutor. Se esse processo fosse passivo, nonvel da repetio, ela seria perenemente palavra do outro;porm, como ativo, ao ser interiormente processado, aca-ba-se somando s experincias do sujeito que dela se apro-pria (a que podemos chamar de eu) e se converte em minhapalavra. Dessa forma, esse processo de transformao dapalavra do outro em minha palavra assinala, mais uma vez, ocarter eminentemente responsivo das prticas sociais efeti-vadas pela lngua, visto que a resposta palavra do outroque produz a minha palavra (BAKHTIN, 2003).

    Especificamente sobre o interlocutor, Bakhtin/Volochinov (1992: 112), em consonncia com a orientao fi-losfica e terminolgica de sua obra, destacam que ele no ,em hiptese alguma, uma abstrao: no pode haverinterlocutor abstrato; no teramos linguagem comum comtal interlocutor, nem no sentido prprio nem no figurado.

    Entretanto, alm desse parceiro real/material, fazem-se presentes, no processo interlocutivo, tambm o repre-

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    sentante mdio do grupo social ao qual pertence o interlocutor(1992: 112) (interlocutor ideal) e, numa perspectiva mais am-pla, um certo horizonte social definido e estabelecido quedetermina a criao ideolgica do grupo social e da poca aque pertencemos4 (1992: 112, grifos dos autores).

    Deve-se considerar que esse processo de tripla consti-tuio de interlocutores tende a se intensificar quando falta aolocutor a noo mais delimitada de quem seja o seu parceiro nainterao verbal, seja face-a-face ou mesmo pela escrita. As-sim, sem a definio do destinatrio imediato, o locutor formu-la seus enunciados a partir de certa imagem de um interlocutorideal (BAKHTIN/VOLOCHINOV, 1992) ou virtual, uma espciede representao genrica, constitudo a partir das caractersti-cas mais gerais de um suposto parceiro da enunciao. Almdisso, como trao caracterstico da perspectiva bakhtiniana,o entorno social responsvel pela constituio de uma ima-gem bastante ampla de interlocutor, que vem a catalisar a foradas coeres social, a que o falante est submetido e que igual-mente determinam a sua atividade pela lngua.

    Em funo do reconhecimento de que h sempre que seestabelecer um interlocutor, observa-se que a prepondernciadesse aspecto no fenmeno da interao verbal ganha maior in-tensidade, de modo que no pode haver prticas sociais pelalngua sem que se considere e se instaure a presena de umdestinatrio a quem sejam endereados os enunciados e de quem,de alguma forma, se espere uma resposta. No que concerne aessa realidade, Bakhtin (2003: 301) destaca que [...] o papel dosoutros, para quem se constri o enunciado, excepcionalmentegrande [...]. Desde o incio o falante aguarda a resposta deles,espera uma ativa compreenso responsiva. como se todo enun-ciado se construsse ao encontro dessa resposta.

    Dessa forma, alicerando-se na caracterizao at aquiempreendida, possvel aproximar o foco do principal ponto deinteresse da reflexo exposta ao pensamento e ideias de Bakhtine seu Crculo: a responsividade nos enunciados concretos.

    4 Ao refletir sobre o processo de produo textual escrita em situ-

    ao de ensino de lngua materna, Garcez (1998) os denomina,

    respectivamente, de interlocutor virtual e destinatrio superior.

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    44444 A RESPONSIVIDA RESPONSIVIDA RESPONSIVIDA RESPONSIVIDA RESPONSIVIDADE E OS ENUNCIADOS CONCRETADE E OS ENUNCIADOS CONCRETADE E OS ENUNCIADOS CONCRETADE E OS ENUNCIADOS CONCRETADE E OS ENUNCIADOS CONCRETOSOSOSOSOS

    Nas prticas sociais de interao pela lngua, h um proces-so ativo de troca e compartilhamento de sentidos entre interlocutoressocialmente situados. Nesse processo, o carter de responsividade5

    fundamental. Entre as vrias inovaes depreendidas dos es-tudos bakhtinianos, situa-se o destaque destinado ao papel de-sempenhado pelo outro em relao aos enunciados que lhe sodirigidos. A esse respeito, Bakhtin ensina, sobre o outro, que

    ao perceber e compreender o significado (lingustico) do discur-so, ocupa simultaneamente em relao a ele uma ativa posioresponsiva: concorda ou discorda dele (total ou parcialmente),completa-o, aplica-o, prepara-se para us-lo, etc.; essa posioresponsiva do ouvinte se forma ao longo de todo o processo deaudio e compreenso desde o seu incio, s vezes literalmente apartir da primeira palavra do falante. (2003: 271).

    Com essa afirmao, percebe-se que a atitude responsivaest ligada percepo e compreenso do significado do enun-ciado por parte daquele a quem a palavra dirigida. Na pers-pectiva da palavra-signo (BAKHTIN/VOLOCHINOV, 1992),insiste-se que esse significado no se constitui somente meroreconhecimento de uma sinalidade. A percepo dos elemen-tos sonoros ou grficos do cdigo lingustico em que foi for-mulado aquilo que se diz ou se escreve , sem dvida, oprimeiro momento da interao entre interlocutores propici-ada pela lngua. Porm, esse momento no suficiente:

    Na realidade, no so palavras o que pronunciamos ou escutamos,mas verdades ou mentiras, coisas boas ou ms, importantes outriviais, agradveis ou desagradveis, etc. A palavra est semprecarregada de um sentido ideolgico ou vivencial. assim quecompreendemos as palavras e somente reagimos quelas que des-pertam em ns ressonncias ideolgicas ou concernentes vida.(BAKHTIN/VOLOCHINOV, 1992: 95, grifos dos autores).

    5 Sobral (2005: 20) prope o emprego do termo

    responsibilidade, neologismo criado por ele que une as no-

    es de responder pelos prprios atos, a responsividade, o

    responder a algum ou alguma coisa. Aqui, opta-se pelo em-

    prego da traduo responsividade, aglutinando-se as duas

    noes discutidas por Sobral, sem biparti-las no conceito pro-

    posto pelo Crculo de Bakhtin.

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    Verifica-se, assim, que o processo de compreenso doselementos lingusticos encontra-se profundamente enraizado sexperincias dos interlocutores. Desse modo, para que ocorrarealmente interao, cuja eficcia pode ser manifestada pela pro-duo de uma resposta, preciso que aquilo que foi dito/escritoencontre eco nas vivncias anteriores do outro, que ele seja en-volvido pela relevncia do contedo em questo em relao aocontexto em que ele e o locutor encontram-se imersos. Somenteassim essas palavras merecero, de fato, uma resposta.

    Essa compreenso implica tambm na conscincia deque a suposta neutralidade das unidades lexicais mera ilu-so. No territrio comum de compartilhamento de sentidosinstaurados pelas trocas verbais entre os interlocutores, cir-culam elementos carregados de proposies valorativas. Aresponsividade motivada, ento, pelo encontro e choquedessas palavras-signo com o mundo interior do outro, a par-tir das coeres do contexto social da enunciao.

    Esse choque, alis, deve ser encarado como uma mar-ca de que o carter responsivo da linguagem , essencialmen-te, ativo, ou seja, uma interlocuo que seja reconhecida pelaexclusividade da concordncia entre os interlocutores tendeao idealismo. Nas relaes concretas entre pessoas, espe-ram-se manifestaes diferenciadas em relao s verdadesou mentiras, coisas boas ou ruins, agradveis ou desagrad-veis. Se assim no fosse, poderia parecer que a resposta doouvinte decorrncia da aprovao concedida pelo falante:

    Toda compreenso da fala viva, do enunciado vivo de natureza ativa-mente responsiva (embora o grau de ativismo seja bastante diverso);toda compreenso prenhe de resposta, e nessa ou naquela forma a geraobrigatoriamente: o ouvinte se torna falante. (BAKHTIN, 2003: 271).

    Acredita-se ser vlido reiterar que o carter responsivoderiva das trocas verbais constitudas por enunciados con-cretos. Entre os diversos elementos que caracterizam e defi-nem essa unidade da comunicao discursiva, Bakhtin desta-ca o papel da alternncia entre interlocutores:

    Todo enunciado [...] tem, por assim dizer, um princpio absoluto eum fim absoluto: antes de seu incio os enunciados dos outros;depois do seu trmino os enunciados responsivos dos outros [...] O

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    enunciado no uma unidade convencional, mas uma unidade real,precisamente delimitada pela alternncia de sujeitos do discurso, aqual termina com a transmisso da palavra ao outro. (2003: 275).

    Essa proposio refora, assim, a forte heterogeneidadeque constitui aquilo que o autor denomina de enunciado vivo.Sua origem no exclusivamente a individualidade do locutor,mas o ciclo anterior da cadeia da comunicao verbal. Essamesma unidade concreta tem o seu trmino assinalado peladevoluo da palavra ao outro, que, por um trabalho ativo so-bre esse dizer, produz, muitas vezes, desde a primeira palavraouvida/lida, uma resposta, cuja origem, mais uma vez, no exclusivamente a sua expresso interior, mas a ao de seumundo particular sobre o elemento externo, oferecido por aquelea quem est associada a procedncia da palavra. Assim, elosvo se constituindo, alimentados por essa perene movncia dapalavra continuamente assumida e delegada:

    todo falante por si mesmo um respondente em maior ou menor grau:porque ele no o primeiro falante, o primeiro a ter violado o eternosilncio do universo, e pressupe no s a existncia do sistema dalngua que usa mas tambm de alguns enunciados antecedentes dosseus e alheios com os quais o seu enunciado entra nessas ounaquelas relaes (baseia-se neles, polemiza com eles, simplesmenteos pressupe j conhecidos do ouvinte). Cada enunciado um elo nacorrente organizada de outros enunciados. (BAKHTIN, 2003: 272).

    necessrio que se entenda que a responsividade no assinalada de uma forma nica, por uma resposta direta eimediatamente verbalizada, como numa situao comum face-a-face do cotidiano. H de se considerar que, por parte dolocutor, a resposta nem sempre poder ser sensivelmente no-tada. Sobre isso, Bakhtin assevera:

    claro que nem sempre ocorre imediatamente a seguinte respostaem voz alta ao enunciado logo depois de pronunciado: a compre-enso responsiva do ouvido (por exemplo, de uma ordem militar)pode realizar-se imediatamente na ao (o cumprimento da ordemou comando entendidos e aceitos para execuo), pode permane-cer de quando em quando como compreenso responsiva silenci-osa (alguns gneros discursivos foram concebidos apenas para talcompreenso, como por exemplo os gneros lricos), mas isso, porassim dizer, uma compreenso responsiva de efeito retardado: cedoou tarde o que foi ativamente entendido responde nos discursossubsequentes ou no comportamento do ouvinte. (2003: 271-272).

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    Por meios dos pressupostos formulados por Bakhtin,podem-se distinguir trs modalidades de manifestao daresponsividade que, segundo a sua natureza, so propostascomo imediata6, passiva ou silenciosa, que so discutidas eexemplificadas em texto anterior (MENEGASSI, 2008).

    A atitude responsiva imediata pode ser entendida comouma manifestao ativa, em sentido estrito, daresponsividade. Isto , o outro, ao compreender o enuncia-do, apresenta, imediatamente, ao locutor, a sua devolutiva,ou seja, expressa publicamente a sua posio em relao aocontedo verbal que lhe foi endereado. Essa expressoimediata no significa, necessariamente, uma atitudemarcadamente determinada por tempo, j que, em algunscasos, a responsividade, por sua prpria natureza, requercerto distanciamento temporal, proposto pelo contextoenunciativo desencadeado. Ela requer uma atitude responsivacerta, determinada, imediata provocao do locutor.

    Uma das materializaes mais corriqueiras dessa for-ma de resposta pode ser observada na rplica do dilogo co-tidiano. Nessa prtica social, por fora da interao face-a-face e das relaes sociais, desejvel que o outro acrescen-te cadeia comunicativa o elo que lhe cabe, por meio doexerccio de seu papel ativo de respondente. Poder-se-ia, in-clusive, pensar na existncia de um contrato social implcitoentre os interlocutores, em cujas clusulas o silncio seriaconsiderado como grave ofensa, por ser um suposto indciode desprezo da parte a quem a fala se dirige, considerando-se, claro, a atitude responsiva imediata aqui descrita.

    Alm dessa situao cotidiana e informal, possvelassociar-se essa modalidade imediata de atitude responsiva atodas as situaes em que a resposta do outro temporalmenteimediata, isto , registra-se logo aps a compreenso. Nessaperspectiva, h condies de estender essa propriedade a uma

    6 Bakhtin (2003) denomina essa posio responsiva como ati-

    va. Opta-se por design-la como imediata, para no se correr

    o risco de entrar em contradio com o contexto geral da

    obra de Bakhtin e seu Crculo, que considera as vrias moda-

    lidades da responsividade, de certa forma, como ativas.

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    gama de enunciados escritos, principalmente ao se consideraras recentes formas de comunicao mediada pelo computador,em que a distncia temporal entre o momento da produo e oda recepo/compreenso significativamente minimizada.

    Como exemplificaes dos aspectos estudados sobrea responsividade na interao verbal escrita, recorre-se aosregistros do projeto de pesquisa Manifestaes de consti-tuio da escrita na formao docente, conduzido no Grupode Pesquisa Interao e Escrita (UEM/CNPq www.escrita.uem.br), na Universidade Estadual de Maring-Paran. Esses registros foram coletados entre 2007 e 2008,por meio de entrevistas com acadmicos dos 4 e 5 anos docurso de Letras. Os dados aqui analisados foram coletadosvia e-mail, um dos vrios instrumentos empregados para acoleta de dados na pesquisa. Esses alunos, sujeitos investi-gados pelo projeto desde o 1 ano de graduao, responde-ram a uma srie de perguntas escritas, que constituam cin-co blocos temticos, envolvendo as suas relaes com aescrita no perodo de sua formao como docentes de ln-gua materna e lngua estrangeira. Aqui, so exemplificadose expostos excertos das mensagens trocadas por e-mail edas entrevistas, como amostras dos aspectos discutidos sobreresponsividade. Salienta-se que a mensagem inicial de en-vio do questionrio foi postada no dia 6 de novembro de2007, solicitando-se a devoluo do questionrio respon-dido at o dia 19 de novembro. Eis a mensagem inicial:

    Nome,

    Gostaria de lhe fazer um pedido especial. Preciso terminar decoletar alguns dados de minha pesquisa e gostaria muito de contarcom seu auxlio. Solicito que responda, com muito cuidado emincias, o questionrio anexo, que possibilitar traar um perfildos alunos de graduao em Letras que participaram de pesquisasdurante sua formao. Fico muito grato se puder me devolver essematerial at 19 de novembro, via e-mail.

    Obrigado por sua participao.

    A aluna A, uma das alunas participantes da pesquisa,remeteu mensagem, enviando o questionrio respondido, exa-tamente no prazo final determinado:

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    Mensagem de 19 de novembro de 2007:

    Envio o questionrio que voc solicitou. Desculpe a demora, que essasltimas semanas de aula esto sendo puxadas, alm disso, o questionrioexige a reflexo e a recordao de tudo que passou nesses cinco anos.

    Qualquer coisa s falar.

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    Com essa mensagem, o carter de responsividade imediatase mostra. Nota-se que a resposta no foi imediata temporalmente,j que h uma diferena de treze dias entre a data do envio e a datado retorno; porm, foi imediata como manifestao ativa, expres-sando sua posio sobre o requisitado, respondendo ativamente,manifestando sua compreenso do ato enunciativo.

    Essa mesma atitude responsiva observada nas men-sagens de P. A primeira delas uma resposta imediata tempo-ralmente determinada mensagem que lhe foi enviada, comum dia aps a data do envio inicial, solicitando sua participa-o na pesquisa. A segunda, por sua vez tambm ativa, re-mete ao envio do questionrio solicitado.

    Mensagem de 7 de novembro de 2007:

    Ol Professor, como vai?

    Eu estou bem! Ansiosa com os resultados do mestrado, apenas!

    Em relao ao seu pedido especial, minha resposta positiva.Fiquei lisonjeada por ter se lembrado de mim e, principalmente,por poder dar uma pequena contribuio para seu trabalho!

    Fique certo de que responderei as inmeras questes e as encami-nharei para o senhor antes da data indicada.

    Obrigada pela oportunidade.

    Abraos,

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    Mensagem de 18 de novembro de 2007:

    Professor, finalmente estou encaminhando as respostas do questio-nrio de sua pesquisa.

    Peo desculpas pela demora, mas passei dias de sufoco acadmico.

    Agradeo, mais uma vez, a oportunidade de poder contribuir parasua pesquisa e desejo sucesso em suas anlises!

    Abraos,

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    Nas duas mensagens, observa-se a prontido na res-posta de P, evidenciando sua compreenso e suaresponsividade. Diferentemente de A, que apenas remeteumensagem aps o trmino da tarefa solicitada, P envia men-sagem imediata, manifestando sua compreenso em espaode tempo de um dia de diferena. Nessa mensagem, P de-monstra que compreende a importncia de sua participaona pesquisa, mostrando que se sente lisonjeada com isso.Alm do mais, ela tambm evidencia sua compreenso ativana tarefa solicitada: Fique certo de que responderei as in-meras questes e as encaminharei para o senhor antes dadata indicada, o que realmente o fez, j que a mensagemchegou no dia 18. Nessa ltima mensagem, alm de encami-nhar as respostas do questionrio, P tambm solicita do pes-quisador compreenso responsiva sobre a possvel demorano envio da solicitao: Peo desculpas pela demora, maspassei dias de sufoco acadmico., demonstrando como oselos na cadeia da comunicao so contnuos.

    Por sua vez, a atitude responsiva passiva, segunda moda-lidade enunciada por Bakhtin (2003), no envolve necessaria-mente a verbalizao da resposta. Sua passividade reside justa-mente no fato de que a devolutiva ao enunciado formulado pelolocutor se manifesta, no outro, pelo atendimento e cumprimentode um pedido, uma solicitao ou uma ordem. Esse processoregistra a ocorrncia da compreenso do enunciado por parte doouvinte, mas, ao mesmo tempo, assinala uma relao social alta-mente assimtrica, autoritria na relao entre falante e ouvinte,tanto que Bakhtin singulariza esse fato ao buscar o exemplo daordem militar. Alm dessa situao ilustrada, h condies devislumbrar a materializao dessa forma de responsividade emtodas as situaes, principalmente aquelas vinculadas s esferasinstitucionais, em que o enunciado se articula de forma que noreste ao destinatrio da palavra outra possibilidade que no sejao cumprimento fiel e silencioso do que lhe foi solicitado.

    Exemplos dessa manifestao responsiva passiva en-contram-se nas mensagens de L, as quais evidenciam o car-ter de atendimento e cumprimento de um pedido, numaassimetria bem estabelecida entre professor e aluna.

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    Mensagem de L, em 8 de novembro de 2007:

    Ol, professor! Tudo bem? Espero que sim!

    J respondi o questionrio! Qualquer coisa, entre em contato comigo.

    Abraos,

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    Mensagem do professor, em 8 de novembro de 2007:

    L,

    Fico muito grato por sua pronta resposta. Caso eu fique com algu-ma dvida sobre as respostas, posso tornar a fazer contato?

    Mensagem de L, em 9 de novembro de 2007:

    Oi, professor! Por favor, entre em contato caso tenha alguma dvida...

    Nas duas mensagens de L, observa-se que o cumpri-mento da solicitao feita atendido prontamente, inclusiveo intervalo entre a data do envio do questionrio e a da devo-luo das respostas de apenas dois dias, mostrando o car-ter de atendimento e cumprimento da ordem, em funo daautoridade de um professor sobre N. Essa autoridade se mos-tra justamente no cumprimento rpido tarefa e, tambm,nas manifestaes discursivas curtas e rpidas, como res-posta a ordens de um sujeito com posio hierrquica maiselevada, no caso, o professor-pesquisador. Dessa forma, naprimeira mensagem, L responde que est enviando o questio-nrio respondido prontamente. Ela no enviou mensagem an-terior, como as demais participantes, informando que haviarecebido a mensagem, numa manifestao ativa de continui-dade e possibilidade de manuteno do dilogo entre osinterlocutores. J na segunda, responde tambm indagaofeita pelo professor, em 8 de novembro, Caso eu fique comalguma dvida sobre as repostas, posso tornar a fazer contato?,com uma mensagem direta e sem outras manifestaes a no sera imediata resposta, numa caracterizao passiva: Por favor,entre em contato caso tenha alguma dvida..., encerrando tam-bm qualquer possibilidade de manuteno de dilogo a partirdessa mensagem. Essas so caractersticas tpicas de manifesta-es de atitude responsiva passiva, no dialogismo escrito.

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    J a atitude responsiva silenciosa difere-se da atituderesponsiva imediata e da passiva por ser uma materializaode efeito retardado da resposta inerente a um determinado enun-ciado. Nela, ocorre a compreenso responsiva, mas oposicionamento do outro no verificado no exato momentoda troca verbal. Esse fato ocorre por fora da natureza espec-fica da enunciao, que no autoriza a manifestao imediatada responsividade do outro, mas no evita que, tardiamente, asua resposta se materialize em forma no apenas verbal, ouseja, com outras palavras e em outro contexto, mas tambmpor meio de alteraes perceptveis em suas atitudes de com-preenso do discurso. Contudo, diferentemente do que seriaprevisvel em processo responsivo passivo, a atitude daquele aquem o contedo verbal foi direcionado pode no seguir, ne-cessariamente, a orientao nele contido. Pode, inclusive, de-pendendo do contexto em que ambos estejam inseridos, serorientada para uma direo exatamente inversa. um risco quetoda comunicao humana situada socialmente percorre, emque a atitude responsiva silenciosa se manifesta.

    Para exemplificar a atitude responsiva silenciosa, no foramencontradas amostras nas mensagens enviadas e recebidas por e-mail, como nas caracterizaes anteriores. Assim, foram encon-trados exemplos nas respostas de L ao questionrio, especifica-mente aquelas referentes s teorias discutidas no curso de Letras.

    Bloco II - O trabalho com a escrita e suas teorias

    1- Voc recebeu textos tericos que abordavam o processo de cons-truo da escrita e, at mesmo, o seu ensino?

    L: Sim, muitos textos.

    2- Em quais disciplinas isto se deu?

    L: Lingustica I e Prtica de Ensino.

    3- Como foi o trabalho realizado com esses textos?

    L: Atravs de discusses em sala.

    4- Eles contriburam para o momento da prtica de ensino eregncia de aulas?

    L: Na minha regncia, no trabalhei com escrita. Optei pelotrabalho com a leitura.

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    5- Os textos tericos trabalhados contribuem para sua efetiva for-mao profissional?

    L: Contribuem, principalmente na preparao das aulas.

    Bloco V A formao complementar ao curso de Letras

    4- Nessa formao complementar, as bases tericas sobre escritaforam contempladas? Elas se refletiram durante sua graduao,no processo de formao docente?

    L: No foram contempladas.

    Nas respostas de L, possvel notar que sua atituderesponsiva simples, direta, sem qualquer manifestao deatividade de manuteno do dilogo, como observado nosexemplos das duas caracterizaes de atitudes anteriores. Lresponde a todas as indagaes, contudo, de maneira objeti-va, o que impede uma possvel manifestao visvel do seuinterlocutor, o professor-pesquisador. Na verdade, tem-se aimpresso de que L requisita um tempo maior para elabora-o das respostas, pois as perguntas apresentadas, manifes-taes de palavras alheias, a incomodaram a ponto de res-ponder da maneira como o fez, bem diferentemente das res-postas oferecidas pelas demais participantes da pesquisa.

    Como forma de comparao, apresentam-se as respos-tas de A e P questo 3 do Bloco II, que so consideradasmanifestaes de atitudes responsivas imediatas:

    3- Como foi o trabalho realizado com esses textos?

    L: Atravs de discusses em sala.

    A: Alguns foram lidos na ntegra, como na disciplina de LingusticaI e Aplicada. O restante foi trabalhado a partir de resumos realizadospelos professores da disciplina, que traziam o resumo e, geralmente,um exemplo prtico de como trabalhar com a leitura e com a escrita.

    P: Na maioria dessas disciplinas, o trabalho com os textos tericosera parecido. Era pedido para que o aluno fizesse a leitura dostextos em casa, para que ele refletisse sobre o que havia sido lidopara que, na sala de aula, juntamente com os professores e colegas,fossem feitas discusses pertinentes sobre o texto em questo.

    No entanto, isso nem sempre ocorria, pois a maioria dos alunosno liam os textos em casa, o que tornava a aula pouco produtiva.Porm, uma coisa que sempre foi questionada pelos alunos (inclu-sive por aqueles que no liam em casa) era a funcionalidade da-

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    quelas teorias, porque algumas eram to utpicas que era difcilacreditar que poderiam dar certo. E a resposta que sempre ouva-mos era a de que o sucesso dependeria do professor, principalmen-te se ele acreditava na teoria que estava aplicando.

    As respostas de A e P so evidentemente diferentes das deL. Nelas, notam-se manifestaes discursivas que discutem atemtica da questo apresentada, numa mostra de interao e di-logo com o interlocutor, muito diferente de L, que simplesmenteresponde, deixando marcado que entendeu a temtica, porm noa amplia, preferindo o silncio, mas no a passividade.

    A diferena estabelecida entre as atitudes responsivaspassiva e silenciosa est justamente na falta de assimetria quese observa nas respostas caracterizadas como silenciosas.Nestas, no h evidente uma relao social assimtrica, autori-tria que deve ser considerada, que observada nas respostasde L. H apenas respostas, que apresentam nuances de com-preenso do tema, porm sem expanso, como se estivesse emestado latente, necessitando de um maior tempo para manifes-tao, diferente dos casos das respostas de A e de P.

    Essa manifestao de resposta pode se materializartanto nas situaes mais cotidianas, quanto em contextos maiscomplexos em que, por exemplo, a formalidade impea umamanifestao visvel do outro. Em ambos os casos, pode-seafirmar que o outro imediatamente afetado ou mesmo inco-modado ou abalado pela palavra alheia, mas se permite umtempo maior de aprofundamento da compreenso inicial eimplementao das possveis respostas verbais ou atitudinais.

    Dessa forma, o fato de que todo enunciado sempreprenhe de uma resposta faz com que os parceiros da comuni-cao verbal, a partir do contexto em que se encontram inse-ridos e de suas mtuas representaes individuais, estejamsempre buscando cercar-se de recursos que possibilitem an-tecipar e controlar o enunciado-resposta do outro.

    55555 OS ASPECTOS ASPECTOS ASPECTOS ASPECTOS ASPECTOS DOS DOS DOS DOS DA RESPONSIVIDA RESPONSIVIDA RESPONSIVIDA RESPONSIVIDA RESPONSIVIDADEADEADEADEADE

    A partir das reflexes aqui apontadas, possvel afir-mar que a responsividade uma caracterstica inerente a to-das as prticas sociais que se efetivam por meio da lngua.

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    Alm disso, so as diversas atitudes responsivas que constro-em os elos da corrente contnua da comunicao verbal, que sso realmente contnuas porque cada um dos enunciados con-cretos que a constitui resposta ao elo anterior e, por certo,motivar uma nova atitude responsiva e, assim, sucessiva eininterruptamente, possibilitando a interao verbal.

    Assim, como uma maneira de salientar as questes sobrea responsividade discutidas neste texto, sintetizam-se os seusaspectos mais pertinentes:

    - A responsividade uma exigncia das prticas so-ciais de interao;

    - A responsividade no apenas uma simples decor-rncia das prticas de linguagem, mas, antes, um fatorativo e imprescindvel para que elas aconteam;

    - Os sujeitos organizados em sociedade so recipro-camente falantes e respondentes das palavras e ati-tudes coletivamente produzidos;

    - A formulao de um enunciado endereado ao ou-tro constitui, por si, uma possvel resposta a ou-tros enunciados que circulam na sociedade;

    - A responsividade constitui-se como resposta inter-na aos processos interiorizados e, ao mesmo tem-po, fundamenta as respostas que o sujeito produzaos eventos futuros;

    - O outro sempre oferece, embora sob vrias formas,uma resposta palavra da qual se apropria, quegera, necessariamente, um novo dizer, marcadopelas caractersticas de seu novo locutor;

    - A resposta palavra do outro produz a minha palavra;- O falante aguarda a resposta do interlocutor, espe-

    ra uma ativa compreenso responsiva;- Elos vo se constituindo, alimentados pela perene movncia

    da palavra continuamente assumida e delegada;- Por parte do locutor, a resposta nem sempre pode-

    r ser sensivelmente notada;- Trs modalidades de manifestao da responsividade

    que, segundo a sua natureza, podem ser propostascomo: imediata, passiva ou silenciosa;

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    - Na atitude responsiva passiva, no se envolve ne-cessariamente a verbalizao da resposta. Sua pas-sividade reside justamente no fato de que a devolutivaao enunciado formulado pelo locutor se manifesta,no outro, pelo atendimento e cumprimento de umpedido, uma solicitao ou uma ordem;

    - A atitude responsiva silenciosa difere das anterio-res por ser uma materializao de efeito retardadoda resposta inerente a um determinado enunciado;

    - A percepo da inteno e da possvel totalidadedo contedo que se est sendo dito/escrito so fun-damentais para a construo da atitude responsiva,reorganizando o futuro dizer;

    - O silncio, com sentido de indignao ou despre-zo arbitrariedade daquele que fala, pode ser en-tendido como uma ativa posio responsiva.

    Essa sntese permite perceber que o carter deresponsividade se faz presente desde a formulao dos enuncia-dos concretos, isto , o endereamento da palavra ao interlocutorest diretamente vinculado ao desejo ou necessidade de provo-car nele uma resposta. Para esclarecer o tema, o texto discutiuvrios conceitos bakhtinianos relacionados responsividade,com a finalidade de marcar um elo na cadeia, possibilitando eexigindo uma atitude responsiva do leitor. Espera-se que, in-variavelmente, novos elos se formem nessa cadeia comunica-tiva por fora das respostas concordantes ou discordantesque estas palavras-signo inevitavelmente propiciaro.

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