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Page 1: Assassin's creed  a cruzada secreta   oliver bowden
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Obras do autor publicadas pela EditoraRecord

Série Assassin’s CreedRenascençaIrmandade

A cruzada secreta

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Tradução deDomingos Demasi

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CIP-BRASIL. CATALOGAÇÃO NA FONTESINDICATO NACIONAL DOS EDITORES DE

LIVROS, RJ

Bowden, Oliver

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B782cA cruzada secreta / Oliver Bowden;

tradução de Domingos Demasi. – Rio deJaneiro: Galera Record, 2012.

(Assassin’s creed; 3) Traduçãode: e Secret Crusade ISBN978-85-01-40131-1

1. Assassinos - Ficção. 2. Ficçãoinglesa 3. Livros eletrônicos. I. Demas,Domingos. II.Título. III. Série.

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12-5966

CDD: 823CDU: 821.111-3

Título original em inglês:Assassin’s Creed: The Secret Crusade Copyright ©

2012 Ubisoft Entertainment. Todos os direitosreservados.

Assassin’s Creed, Ubisoft e logo da Ubisoft sãomarcas registradas de Ubisoft Entertainmentnos Estados Unidos e/ou em outros países.

Publicado mediante acordo com Penguin Books

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LTD.

Todos os direitos reservados.Proibida a reprodução, no todo ou em parte,

através de quaisquer meios. Os direitos moraisdo autor foram assegurados.

Composição de miolo: Abreu’s System Textorevisado segundo o novo Acordo Ortográfico da

Língua Portuguesa.

Direitos exclusivos de publicação em línguaportuguesa somente para o Brasil adquiridos

pelaEDITORA RECORD LTDA.

Rua Argentina 171 – Rio de Janeiro, RJ – 20921-380 – Tel.: 2585-2000

que se reserva a propriedade literária destatradução.

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Produzido no Brasil ISBN 978-85-01-40131-1

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Prólogo

O majestoso navio rangia e gemia; asvelas estavam abauladas, enfunadaspelo vento. Há dias longe da terra,ele repartia o oceano em direção àgrande cidade do oeste, levando umacarga preciosa: um homem — umhomem que a tripulação conheciaapenas como o Mestre.

Estava entre eles agora, sozinhono convés do castelo de proa, onde

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baixara o capuz do manto paradeixar que a água do mar batesse nocorpo, sentindo-a com o rosto contrao vento. Ele fazia isso uma vez pordia. Saía de sua cabine e subia paracaminhar pelo convés, escolhia umlocal para contemplar o mar, entãovoltava para baixo. Às vezes ficavano convés do castelo de proa, àsvezes no convés do tombadilho.Sempre encarava o mar cristado debranco.

Todos os dias a tripulação oobservava. Eles trabalhavam,chamando uns aos outros no convés

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e no cordame, cada qual com umserviço a fazer enquanto a todomomento furtavam olhares à figurasolitária e pensativa. E eles seperguntavam “Que tipo de homemera ele?”, “Que tipo de homem estavaem meio a eles?”.

Agora o estudavamdiscretamente, enquanto o homem seafastava da balaustrada do convés ecolocava o capuz. Ele permaneceu alipor um momento com a cabeçabaixa, os braços soltos próximos aocorpo, enquanto a tripulação oobservava. Alguns talvez até mesmo

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tenham empalidecido quando elecaminhou ao longo do convés,passou por eles e voltou para suacabine. E quando a porta se fechouàs suas costas, cada um dos homensdescobriu que estivera prendendo arespiração.

Lá dentro, o Assassino voltou àsua escrivaninha e sentou-se,enchendo uma taça de vinho antesde pegar um livro e puxá-lo em suadireção. Então o abriu. E começou aler.

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P A R T E U M

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I

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19 de junho de 1257

Maffeo e eu permanecemos emMasyaf e continuaremos aqui porenquanto. Pelo menos até uma ouduas — como posso dizer? —incertezas serem resolvidas.Enquanto isso, estamos sob asordens do Mestre, Altaïr Ibn-La’Ahad. Frustrado por ceder odomínio dos nossos destinos dessemodo, principalmente para o líder daOrdem, o qual em sua idadeavançada maneja a ambiguidadecom a mesma precisão cruel com que

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outrora manejava espadas e adagas,eu pelo menos tenho o benefício decompartilhar de suas histórias.Maffeo, no entanto, não possui talvantagem e tem ficado cada vez maisinquieto. É compreensível. Estácansado de Masyaf. Não gosta depercorrer as encostas íngremes entrea fortaleza do Assassino e a aldeiaabaixo, e o terreno montanhoso épouco atraente para ele. Maffeo dizque é um Polo, e após seis mesesaqui, o desejo de viajar é como ochamado de uma mulher cheia decurvas: persuasivo e tentador demais

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para ser ignorado. Ele anseia porestufar as velas e partir para novasterras, deixando Masyaf para trás.

Falando muito francamente, suaimpaciência é um tormento sem oqual posso viver. Altaïr está à beirade fazer um pronunciamento. Possosentir isso.

Então, hoje declarei: — Maffeo,vou te contar uma história.

Que modos os desse homem.Somos realmente parentes?, perguntoa você. Eu começo a duvidar. Pois,em vez de receber essa notícia comum entusiasmo que claramente se

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justificaria, poderia jurar que o ouvibufar (ou talvez deva acreditar queele podia simplesmente estar sem arpor causa do sol quente), antes deme pedir em um tom bastanteexasperado: — Antes que me conte,Niccolò, você se importaria em medizer do que se trata?

No entanto, continuei: — Essa éuma boa pergunta, irmão —respondi, e pensei um pouco sobre oassunto enquanto seguíamos nossocaminho, subindo pela terrívelencosta.

Acima de nós a cidadela pairava

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sombriamente no promontório,como se tivesse sido talhada nopróprio calcário. Eu tinha decididoque queria o cenário perfeito paracontar minha história, e não havialugar mais apropriado do que afortaleza de Masyaf. Um casteloimponente com muitas torres ecercado por rios reluzentes, queocupava uma posição de destaquediante da movimentada aldeiaabaixo, o assentamento em umponto alto dentro do Vale doOrontes. Um oásis de paz. Umparaíso.

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— Eu diria que é sobreconhecimento — decidi finalmente.— Assasseen, como sabe, representa“guardião” em árabe; os Assassinossão os guardiães dos segredos, e ossegredos que guardam são deconhecimento, portanto, sim... —Sem dúvida pareci muito satisfeitocomigo mesmo — É sobreconhecimento.

— Então receio ter umcompromisso.

— Ah?— Eu com certeza acolheria

muito bem uma distração dos meus

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estudos, Niccolò. Mas não desejo umaumento deles.

Sorri.— Certamente quer ouvir as

histórias que me foram contadas peloMestre.

— Isso depende. O seu discursofaz com que elas soem menos do queinteressantes. Sabe quando você dizque tenho tendência a gostar mais decrueldade nas histórias que você meconta?

— Sim.Maffeo deu um meio sorriso.— Bom, tem razão, tendo

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mesmo.— Então terá isso também.

Afinal, são os relatos do grandeAltaïr Ibn-La’Ahad. Essa é a históriada vida dele, irmão. Acredite emmim, não vão faltar acontecimentos,e muitos deles, você ficará feliz emperceber, têm derramamento desangue.

Agora tínhamos subido oantemuro para a parte externa dafortaleza. Passamos por baixo daarcada e atravessamos o posto deguarda, subindo novamente aoirmos em direção ao castelo no

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interior. Adiante de nós estava atorre na qual ficava os aposentos deAltaïr. Por semanas eu o visitei ali epassei incontáveis horas ao seu lado,extasiado, enquanto ele se sentavacom as mãos entrelaçadas e oscotovelos sobre os braços da cadeiraalta contando suas histórias, com osvelhos olhos mal podendo ser vistossob o capuz. E cada vez mais medava conta de que aquelas históriasestavam sendo contadas para mimcom um propósito. Que, por algummotivo, ainda incompreensível paramim, eu fora escolhido para ouvi-las.

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Quando não contava as histórias,Altaïr refletia entre livros elembranças, às vezes olhandofixamente por longas horas para forada janela da sua torre. Ele agoradevia estar lá, pensei, e enganchei opolegar sob a faixa do meu gorro, opuxando de volta e sombreando osolhos para enxergar a torre acima,não vendo nada além da pedradescorada pelo sol.

— Temos uma audiência comele? — Maffeo interrompeu meuspensamentos.

— Não, hoje não — respondi,

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apontando então para uma torre ànossa direita. — Vamos lá paracima...

Maffeo franziu a testa. A torre dedefesa era uma das mais altas dacidadela, e era alcançada por umasérie de vertiginosas escadas, muitasdas quais parecendo precisar dereparos. Mas eu era insistente e enfieia túnica no cinto, conduzindo emseguida Maffeo acima para oprimeiro nível, depois para o seguintee finalmente ao topo. De láavistamos toda a zona rural.Quilômetros e quilômetros de

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terreno escarpado. Rios como veias.Agrupamentos de povoados.Olhamos para Masyaf: da fortalezapara as edificações e os mercados davasta aldeia lá embaixo, a paliçada demadeira da defesa externa e doestábulo.

— O quão alto estamos? —perguntou Maffeo, parecendo umpouco nauseado, sem dúvidaconsciente de estar sendo esmurradopelo vento e de que agora o chãoparecia muito, muito distante.

— Uns oitenta metros —respondi. — Alto o bastante para

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deixar os Assassinos fora do alcancede arqueiros inimigos... mas obastante também para permitir quefaçam chover flechas e muito maissobre eles.

Mostrei a ele as aberturas que noscercavam por todos os lados.

— Daqui, dos balestreiros, elespoderiam jogar pedras ou óleo sobreo inimigo, usando estas... —Plataformas de madeira seprojetavam para fora e nosmovíamos agora por uma delassegurando em apoios verticais deambos os lados e nos inclinando

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para olhar para baixo. Diretamentesob nós, a torre precipitava-se naborda do despenhadeiro. Ainda maisabaixo, estava o rio reluzente.

Com o sangue sendo drenado dorosto, Maffeo recuou para asegurança do chão da torre. Eu ri,fazendo o mesmo (e no íntimocontente por fazer isso, já que eumesmo me sentia um pouco tonto eenjoado, verdade seja dita).

— E por que você nos trouxe atéaqui? — perguntou Maffeo.

— É onde minha história começa— falei. — De mais de um jeito. Pois

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foi daqui que o vigia viu a forçainvasora pela primeira vez.

— Força invasora?— Sim. O exército de Salah

Al’din, também conhecido comoSaladino. Ele veio fazer o cerco aMasyaf, para derrotar os Assassinos.Oitenta anos atrás, em um dia clarode agosto. Um dia muito parecidocom o de hoje...

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2

Primeiro, o vigia percebeu as aves.Um exército em movimento atrai

comedores de carniça.Principalmente do tipo que tem asas,que mergulha sobre qualquer restodeixado para trás: comida, dejetos ecarcaças, tanto de cavalo quantohumana. Em seguida, ele viu apoeira. E então uma vasta manchaescura surgiu no horizonte,projetando-se à frente aos poucos,tragando tudo que estava à vista.Um exército ocupa, rompe e destrói a

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paisagem; é uma besta-fera gigante efaminta que consome tudo em seucaminho e, na maioria dos casos —como Salah Al’din estava bem ciente—, a mera visão dela era o bastantepara levar o inimigo a se render.

Não dessa vez, porém. Nãoquando seus inimigos eram osAssassinos.

Para a campanha, o lídersarraceno convocara uma modestaforça de dez mil soldados deinfantaria, cavalaria e seguidores.Com eles, planejava esmagar osAssassinos, que já haviam cometido

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dois atentados à sua vida ecertamente não fracassariam umaterceira vez. Pretendendo levar abatalha para a porta deles, osarraceno conduziu seu exército paraas montanhas de An-Nusayriyah eàs nove cidadelas dos Assassinos quehavia lá.

Chegaram mensagens a Masyafde que os homens de Salah Al’dintinham saqueado a zona rural, masque nenhum dos fortes haviasucumbido. E que Salah Al’dinestava a caminho de Masyaf com apretensão de conquistá-la e

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reivindicar a cabeça do líderAssassino, Al Mualim.

Salah Al’din era considerado umlíder brando e imparcial, mas seenfurecia com os Assassinos tantoquanto se intimidava. Segundo osrelatos, seu tio, Shihab Al’din, oaconselhou a oferecer um acordo depaz. Ter os Assassinos a seu lado, enão contra, era o raciocínio deShihab. Mas o vingativo sultão nãose comoveu, e foi assim que seuexército fervilhou em direção aMasyaf em um radiante dia deagosto de 1176, e um vigia na torre

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de defesa da cidadela avistou asrevoadas de pássaros, as grandesnuvens de poeira e a mancha negrano horizonte, e levou uma cornetaaos lábios, soando o alarme.

Depois de estocar suprimentos, apopulação da cidade se mudou paraa segurança da cidadela, apinhando-se nos pátios com os rostos marcadospelo medo, mas muitos delesmontavam barracas para continuar anegociar. Enquanto isso, osAssassinos começaram a fortificar ocastelo, preparando-se para enfrentaro exército, observando a mancha se

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estender pela bela paisagem verde, agrande besta-fera alimentando-se doterreno, colonizando o horizonte.

Eles ouviram as cornetas, ostambores e címbalos. E em poucotempo conseguiram distinguir asfiguras à medida que sematerializavam do mormaço:milhares delas, eles viram. Ainfantaria: lanceiros, arremessadoresde dardos e arqueiros, armênios,núbios e árabes. A cavalaria: árabes,turcos e mamelucos portando sabres,maças, lanças e espadas longas,alguns usando cotas de malha de

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ferro, outros, armaduras de couro.Viram as liteiras das mulheres danobreza, os homens santos e osdesordenados seguidores naretaguarda: as famílias, as crianças eos escravos. Eles viram quando osguerreiros invasores alcançaram adefesa externa e a incendiaram, e osestábulos também, com as cornetasainda ressoando, os címbalosestrepitando. No interior dacidadela, as mulheres da aldeiacomeçaram a chorar. Previam quesuas casas seriam os próximos alvosdas tochas. As edificações, porém,

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foram deixadas intocadas e, em vezdisso, o exército parou na aldeia,dando pouca atenção ao castelo —ou assim parecia.

Não mandaram nenhumenviado, nenhuma mensagem;simplesmente montaramacampamento. A maioria das tendasera negra, mas, no meio doacampamento, havia um punhadode pavilhões maiores, os aposentosdo grande sultão Salah Al’din e deseus generais mais próximos. Ali,bandeiras bordadas esvoaçavam; aspontas das estacas das tendas eram

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romãs douradas, e as coberturas dospavilhões eram de seda colorida.

Na cidadela, os Assassinosmeditavam sobre a tática do inimigo.Salah Al’din atacaria a fortaleza outentaria matá-los de fome? Com ocair da noite, tiveram a resposta.Abaixo deles, o exército começou aagir, reunindo os mecanismos decerco. Fogueiras queimaram durantea noite toda. Os sons de serras emartelos se avolumavam nos ouvidosdaqueles que guarneciam os bastiõesda cidadela e a torre do Mestre, ondeAl Mualim convocou uma reunião

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com seus Mestres Assassinos.— Salah Al’din nos foi entregue

— declarou Faheem al-Sayf, umMestre Assassino. — Esta é umaoportunidade que não pode serdesperdiçada.

Al Mualim pensou. Olhou pelajanela da torre, pensando nocolorido pavilhão no qual SalahAl’din estava então sentadoplanejando sua queda — e a dosAssassinos. Pensou no grandeexército do sultão e em como eletinha devastado a zona rural. Comoo sultão seria mais do que capaz de

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reunir uma tropa ainda maior se suacampanha fracassasse.

Salah Al’din tinha um poderincomparável, meditou ele. Mas osAssassinos... eles tinham astúcia.

— Com Salah Al’din morto, osexércitos sarracenos irão ruir —afirmou Faheem.

Mas Al Mualim balançava acabeça.

— Creio que não. Shihab tomaráseu lugar.

— Ele é metade do líder queSalah Al’din é.

— Então ele seria menos eficaz

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repelindo os cristãos — rebateu AlMualim, bruscamente. Ele às vezes secansava dos modos manhosos deFaheem. — Desejamos ficar à mercêdeles? Desejamos nos tornar acontragosto seus aliados contra osultão? Somos os Assassinos,Faheem. Nosso propósito é nosso.Não pertencemos a ninguém.

O silêncio caiu sobre o aposentode odor adocicado.

— Salah Al’din é tão cautelosocom a gente quanto somos com ele— disse Mualim, após uma reflexão.— Devemos cuidar para que ele se

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torne ainda mais cauteloso.Na manhã seguinte, os

sarracenos empurraram um aríete euma torre de cerco encosta principalacima. E, enquanto os arqueirosmontados dos turcos abriamcaminho, levando uma chuva deflechas à cidadela, os soldadosatacavam as muralhas externas comsuas armas de cerco, sob fogoconstante dos arqueiros Assassinos ecom pedras e óleo sendo despejadosdas torres de defesa. Aldeões sejuntaram à batalha, atirando, dosbastiões, pedras nos inimigos e

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apagando os incêndios. Nos portõesprincipais, corajosos Assassinosfaziam ataques pelas portinholas,combatendo a infantaria que tentavaderrubá-los a fogo. O dia terminoucom muitos mortos em ambos oslados, mas com os sarracenosrecuando colina abaixo, acendendosuas fogueiras para a noite,consertando suas armas de cerco emontando outras mais.

Naquela noite, houve umaintensa agitação no acampamento e,pela manhã, o enorme pavilhão decores brilhantes do grande Salah

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Al’din foi derrubado e ele partiu,levando consigo uma pequena tropade guarda-costas.

Logo depois, seu tio, ShihabAl’din, subiu a encosta para se dirigirao Mestre dos Assassinos.

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— Sua Majestade Salah Al’dinrecebeu sua mensagem e agradece avocê muito gentilmente por ela —bradou o enviado. — Ele tem umassunto para cuidar em outro lugar epartiu, deixando instruções para queSua Excelência Shihab Al’dinconduza as conversas.

O enviado estava parado ao ladodo cavalo de Shihab, com a mão emconcha na boca para gritar para oMestre e seus generais, que estavamreunidos na torre de defesa.

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Uma pequena tropa haviaescalado a colina, mais ou menosduzentos homens e uma liteiracarregada por núbios, não mais doque a guarda de Shihab, quepermanecia montado no cavalo. Emseu rosto havia uma expressãoserena, como se não estivesse muitopreocupado com o resultado dasconversas. Ele vestia calças brancaslargas, colete e faixa vermelhatorcida. Preso em seu enormeturbante de um branco ofuscantehavia uma joia resplandecente. Essajoia devia ter um nome ilustre,

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pensou Al Mualim, olhando parabaixo, do topo da torre, em direção aele. Deveria se chamar a Estrela dealgo ou a Rosa de alguma coisa. Ossarracenos tinham o costume denomear suas bugigangas.

— Comece — gritou Al Mualim,sorrindo enquanto pensava, Negóciosem outro lugar, e sua mente voltavapara apenas poucas horas antes,quando um Assassino fora aos seusaposentos, tirando-o de um sonoleve e chamando-o à sala do trono.

— Umar, seja bem-vindo —dissera Al Mualim, envolvendo o

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corpo com o manto, sentindo nosossos a friagem da manhãzinha.

— Mestre — respondera Umar, avoz baixa e a cabeça curvada.

— Veio me falar da sua missão?— perguntara-lhe Al Mualim.

Ele acendeu uma lâmpada a óleoem uma corrente e então foi para suacadeira, acomodando-se nela.Sombras moveram-se rapidamentepelo chão.

Umar confirmou com a cabeça.Havia sangue em sua manga, notouAl Mualim.

— A informação do nosso agente

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estava correta?— Estava, Mestre. Fui até o

acampamento deles e, exatamentecomo nos foi dito, o pavilhãoespalhafatoso era um disfarce. Atenda de Salah Al’din ficava perto,estava muito menos visível.

Al Mualim sorriu.— Excelente, excelente. E como

foi capaz de identificá-la?— Estava protegida, como o

nosso espião disse que estaria, comgiz e carvão espalhados em volta paraque os meus passos fossem ouvidos.

— E não foram?

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— Não, Mestre, eu conseguientrar na tenda do sultão e deixar apena, como foi instruído a mim.

— E a carta?— Presa por uma adaga em seu

catre.— E depois?— Rastejei para fora da tenda...— E?Houve uma pausa.— O sultão acordou e soou o

alarme. Mal consegui escapar vivo.Al Mualim apontou para a

manga suja de sangue de Umar.— E isso?

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— Fui forçado a cortar umagarganta para fugir, Mestre.

— Um guarda? — perguntou AlMualim, esperançoso.

Umar balançou tristemente acabeça.

— Ele usava um turbante e umaroupa de nobre.

Diante disso, Al Mualim fechouos olhos cansados e pesarosos.

— Não havia outra opção?— Eu agi impulsivamente,

Mestre.— Mas, fora isso, a missão foi

bem-sucedida?

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— Sim, Mestre.— Então veremos o que vai

acontecer — disse ele.O que aconteceu foi a saída de

Salah Al’din e a visita de Shihab. E,do alto de sua torre, Al Mualim sepermitira acreditar que os Assassinostinham levado a melhor. Que seuplano funcionara. A mensagem delealertara o sultão para queabandonasse sua campanha contraos Assassinos, pois a próxima adaganão seria enfiada no seu catre, masna sua genitália. Apenas pelo fato deterem sido capazes de deixá-la ali,

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mostrava ao monarca o quanto eleera realmente vulnerável; como suagrande força nada adiantava quandoum único Assassino conseguiadescobrir suas armadilhas, superarseus guardas e facilmente entrardespercebido em sua tenda enquantodormia.

E talvez Salah Al’din gostassemais de sua genitália do que decontinuar seguindo em umadesgastante guerra, longa e cara,contra um inimigo cujos interessesapenas raramente entraram emconflito com os seus. Portanto

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partira.— Sua Majestade Salah Al’din

aceita sua oferta de paz — disse oenviado.

Na torre, Al Mualimcompartilhou um olhar divertidocom Umar, que se encontrava a seulado. Mais distante, estava Faheem,com a boca inexpressiva.

— Temos sua garantia de quenossa seita pode operar sem futurashostilidades e interferências nasnossas atividades? — indagou AlMualim.

— Desde que os interesses

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permitam, vocês têm essa garantia.— Então aceito a oferta de Sua

Majestade — bradou Al Mualim,contente. — Podem retirar seushomens de Masyaf. Talvez vocêssejam bondosos o bastante paraconsertar a nossa paliçada antes departirem.

Nesse momento, Shihab olhouabruptamente para a torre acima e,apesar da grande distância, AlMualim viu a raiva flamejar nosolhos dele. Shihab curvou-se sobreseu cavalo para falar com o enviado,que ouviu, assentindo com a cabeça,

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então pôs a mão em concha na bocade novo para mais uma vez se dirigiraos que estavam na torre.

— Durante a entrega damensagem, um dos generais deconfiança de Salah Al’din foi morto.Sua Majestade exige reparação. Acabeça do culpado.

O sorriso deixou o rosto de AlMualim. A seu lado, Umar ficoutenso.

Fez-se silêncio. Apenas o bufardos cavalos. O canto dospassarinhos. Todos esperavam paraouvir a resposta de Al Mualim.

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— Pode dizer ao sultão querejeito essa exigência.

Shihab deu de ombros. Curvou-se para falar com o enviado, que porsua vez se dirigiu a Al Mualim.

— Sua Excelência deseja informarque, a não ser que concorde com aexigência, uma tropa permaneceráaqui em Masyaf, e que nossapaciência é maior do que as suasprovisões. Queria um acordo de pazem troca de nada? Permitiria que seupovo e seus soldados morressem defome? Tudo por causa da cabeça deum único Assassino? Sua Excelência

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espera encarecidamente que não.— Eu irei — cochichou Umar

para Al Mualim. — O erro foi meu.É justo que eu pague por ele.

Al Mualim o ignorou.— Não abrirei mão da vida de

um dos meus homens — berrou parao enviado.

— Então Sua Excelência lamentasua decisão e pede que testemunheuma questão que agora necessita deuma solução. Descobrimos aexistência de um espião em nossoacampamento, e ele deve serexecutado.

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Al Mualim prendeu a respiraçãoquando os sarracenos arrastaram daliteira o agente dos Assassinos. Atrásdele veio um cepo de execução quedois núbios colocaram no chãodiante do cavalo de Shihab.

O nome do espião era Ahmad.Tinha sido espancado. A cabeça —golpeada, ferida e suja de sangue —tombava sobre o peito enquanto eleera carregado para o cepo, arrastadosobre os joelhos e colocado em cimadele com a garganta para cima. Ocarrasco deu um passo à frente: umturco carregando uma reluzente

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cimitarra que pousou no chão,apoiando ambas as mãos no caboadornado com joias. Os dois núbiosseguraram os braços de Ahmad; elegemeu um pouco, e o som alcançouaté os perplexos Assassinos no altoda torre de defesa.

— Deixe seu homem tomar olugar dele e esta vida será poupada, eo tratado de paz, honrado — bradouo mensageiro. — Se ele não morrer, ocerco será iniciado e seu povomorrerá de fome.

Subitamente, Shihab ergueu acabeça para gritar.

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— Quer isso em sua consciência,Umar Ibn-La’Ahad?

Ao mesmo tempo, todos osAssassinos prenderam a respiração.Ahmad havia confessado. Sobtortura, é claro. Mas haviaconfessado.

Os ombros de Al Mualimbaixaram.

Umar estava fora de si.— Deixe-me ir — insistiu com Al

Mualim. — Por favor, Mestre.Abaixo deles, o carrasco deixou

os pés afastados. Com as duas mãos,ergueu a espada acima da cabeça.

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Ahmad puxou suas mãos fracamentedas mãos que o imobilizavam. Suagarganta estava esticada, oferecida àlâmina. Exceto pela lamúria dele, opromontório estava silencioso.

— Sua última chance, Assassino— gritou Shihab.

A lâmina brilhou.— Mestre — implorou Umar —,

deixe-me ir.Al Mualim concordou com a

cabeça.— Pare! — gritou Umar, que

avançou para uma plataforma datorre, berrando para Shihab, abaixo.

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— Eu sou Umar Ibn-La’Ahad. É aminha vida que vocês devem tirar.

Houve uma onda de agitaçãoentre as fileiras de sarracenos. Shirabsorriu, assentindo. Acenou para ocarrasco, que se afastou, pousandomais uma vez sua espada no chão.

— Muito bem — falou paraUmar. — Venha, tome seu lugar nocepo.

Umar virou-se para Al Mualim,que ergueu a cabeça para fitá-lo comos olhos avermelhados.

— Mestre — disse Umar —,peço-lhe um último favor. Que cuide

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de Altaïr. Aceite-o como seuaprendiz.

Al Mualim fez que sim com acabeça.

— Claro, Umar — disse ele. —Claro.

Houve silêncio pela cidadelaenquanto Umar descia as escadariasda torre, depois desceu a encostapelo antemuro, passou sob a arcada efoi até o portão principal. Umasentinela se adiantou para abrir aportinhola, e Umar se curvou parapassar por ela.

Um grito surgiu atrás dele.

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— Pai.O som de pés correndo.Ele parou.— Pai.Ele ouviu a tensão na voz do

filho e, ao passar pelo portão,apertou os olhos para evitar aslágrimas. A sentinela fechou o portãoàs suas costas.

Tiraram Ahmad do cepo, e Umartentou dar um olhar tranquilizadorpara ele, mas o espião não fezcontato visual ao ser arrastado paralonge e jogado do lado de fora daportinhola. Esta foi aberta e ele foi

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puxado para dentro. A portinholavoltou a se fechar. Braços agarraramUmar. Ele foi puxado para o cepo,estendido do mesmo modo comohavia sido feito com Ahmad. Umarofereceu a garganta e observouenquanto o carrasco assomava acimadele. Mais além do carrasco, o céu.

“Pai”, ele ouviu da cidadela,quando a lâmina brilhante desceucortando.

Dois dias depois, protegido pelaescuridão, Ahmad deixou afortaleza. Na manhã seguinte,

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quando seu desaparecimento foidescoberto, houve quem seperguntasse como ele foi capaz dedeixar o filho sozinho — a mãe tinhamorrido da febre dois anos antes —,enquanto outros disseram que avergonha foi demais para ele, que foipor isso que fora forçado a partir.

A verdade era algo totalmentediferente.

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4

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20 de junho de 1257

Esta manhã acordei com Maffeosacudindo meu ombro — nãoespecialmente com delicadeza, devoacrescentar. No entanto, suainsistência foi motivada pelointeresse na minha história. Eudeveria pelo menos agradecer porisso.

— E aí? — perguntou ele.— E aí o quê? — Se pareci

sonolento... bem, é porque estavamesmo.

— O que aconteceu com

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Ahmad?— Isso descobri muito depois,

irmão.— Então me conta.Enquanto me sentava na cama,

pensei um pouco sobre a questão.— Acho melhor contar as

histórias exatamente como foramcontadas para mim — faleifinalmente. — Altaïr, apesar de estarmais velho, é um excelente contadorde histórias. Acho que devo repetir anarrativa dele. E o que contei a vocêontem tornou-se a parte principal doprimeiro encontro que tivemos. Um

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episódio que aconteceu quando eletinha apenas 11 anos.

— Traumático para qualquercriança — refletiu Maffeo. — E amãe dele?

— Morreu no parto.— Altaïr ficou órfão aos 11 anos?— Exatamente.— O que aconteceu com ele?— Bem, você sabe o que

aconteceu. Ele se sentou na torre e...— Não, quero dizer, o que

aconteceu com ele depois?— Isso também terá de esperar,

irmão. Na vez seguinte em que me

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encontrei com Altaïr ele haviamudado o foco da narrativa para 15anos à frente, para o dia em que seencontrou se arrastando por escurascatacumbas gotejantes sobJerusalém...

O ano era 1191, mais de três anosdesde que Salah Al’din e seussarracenos haviam conquistadoJerusalém. Em reação, os cristãoshaviam rangido os dentes, batido ospés e taxado seu povo a fim de obterfundos para a Terceira Cruzada — e,mais uma vez, homens em cota de

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malha de ferro haviam marchadosobre a Terra Santa e sitiado suascidades.

O rei Ricardo da Inglaterra, aquem chamavam de Coração deLeão — tão cruel quanto corajoso —tinha reconquistado Acrerecentemente, mas seu maior desejoera retomar Jerusalém, um lugarsagrado. E nenhum local deJerusalém era mais sagrado do que oMonte do Templo e as ruínas doTemplo de Salomão; para ondeAltaïr, Malik e Kadar se arrastavam.

Eles se movimentavam depressa

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mas furtivamente, agarrados àslaterais dos túneis, com suas botasmacias mal remexendo a areia. Altaïria à frente, Malik e Kadar poucospassos atrás. Todos estavam com ossentidos sintonizados com osarredores, com a pulsação acelerandoà medida que se aproximavam doMonte. As catacumbas acusavamcompletamente os milhares de anosque tinham. Altaïr podia ver areia epó escoando dos instáveis suportesde madeira, enquanto debaixo dospés o solo era mole, de uma areiamolhada com a água que gotejava

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constantemente de cima — dealguma espécie de curso de águapróximo. O ar era espesso com ocheiro de enxofre que vinha daslanternas ensopadas de betume quese enfileiravam nas paredes dostúneis.

Altaïr foi o primeiro a ouvir osacerdote. Claro que foi. Ele era olíder, o Mestre Assassino; suashabilidades eram maiores e seussentidos, mais aguçados. Ele parou.Tocou a orelha, depois ergueu amão, e os três ficaram imóveis, comoespectros na passagem. Quando

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Altaïr olhou para trás, estavamesperando sua próxima ordem. Osolhos de Kadar brilhavam deexpectativa; os de Malik estavamatentos e impassíveis.

Todos prenderam a respiração.Em volta deles a água pingava, eAltaïr ouviu atentamente osmurmúrios do sacerdote.

A falsa piedade cristã de umTemplário.

Então Altaïr colocou as mãosatrás das costas e moveu o pulso paraliberar sua lâmina, sentindo a traçãofamiliar no mecanismo do anel que

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usava no dedo mínimo. Elemantinha a lâmina em boa condiçãopara que o ruído que fazia ao serliberada fosse quase inaudível, mas,por via das dúvidas, seguiu o ritmodo gotejar.

Plim... plim... plinc.Colocou os braços para a frente, e

a lâmina na mão esquerda brilhoucom a luz tremeluzente de tochas,sedenta por sangue.

A seguir, Altaïr encostou o corpocontra a parede do túnel e avançousorrateiramente, virando em umapequena curva até poder enxergar o

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sacerdote ajoelhado no túnel. Eleusava os mantos de um Templário, oque só podia significar que haviaoutros mais adiante, provavelmenteem meio às ruínas do Templo. Embusca do tesouro deles, sem dúvida.

Seu coração se acelerou. Eraexatamente como havia imaginado.Que a cidade, sob o controle deSalah Al’din, não ia parar os homensda cruz vermelha. Eles tambémtinham assuntos a cuidar no Monte.Que assuntos? Altaïr pretendiadescobrir, mas, primeiro...

Primeiro precisava cuidar do

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sacerdote.Bem agachado, ele se aproximou

do homem ajoelhado, que rezava,alheio à aproximação da morte.Mudando seu peso para o pé dafrente e curvando ligeiramente ojoelho, Altaïr ergueu a lâmina com amão recuada, pronta para atacar.

— Espere! — sussurrou Malikatrás dele. — Deve haver outromeio... Este aí não precisa morrer.

Altaïr o ignorou. Com ummovimento suave, agarrou o ombrodo sacerdote com a mão direita e,com a esquerda, enfiou a ponta da

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lâmina em sua nuca, fazendo umcorte entre o crânio e a primeiravértebra da coluna, que separou aespinha.

O sacerdote não teve tempo degritar: a morte foi quase instantânea.Quase. O corpo se sacudiu e seretesou, mas Altaïr o agarrou comfirmeza, sentindo a vida dele seesvair enquanto o segurava com umdedo em sua carótida. Lentamente, ocorpo relaxou, e Altaïr deixou que elecaísse silenciosamente no chão, ondepermaneceu, espalhando uma poçade sangue na areia.

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Fora rápido, silencioso. Mas,quando recolheu a lâmina, Altaïr viuo modo como Malik o olhava e aacusação em seus olhos. Tudo o quepôde fazer foi reprimir um riso deescárnio diante da fraqueza deMalik. O irmão de Malik, Kadar, poroutro lado, até o momento olhavapara baixo, para o corpo dosacerdote, com um misto deadmiração e assombro.

— Um excelente golpe —comentou ele, esbaforido. — A sortefavorece sua lâmina.

— Sorte, não — gabou-se Altaïr

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—, habilidade. Observe um poucomais e poderá aprender algumacoisa.

Enquanto falava, observou Malikatentamente, vendo os olhos doAssassino brilharem raivosamente;invejosos, sem dúvida, do respeitoque Kadar dedicava a Altaïr.

E então Malik dirigiu-se aoirmão.

— Realmente. Ele o ensinará adesconsiderar tudo o que o Mestrenos ensinou.

Altaïr riu outra vez.— E como você teria feito?

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— Eu não teria atraído atençãopara nós. Não teria tirado a vida deum inocente.

O Assassino suspirou.— Não importa o modo como

completamos a nossa tarefa, apenasque seja feita.

— Mas esse não é o modo... —começou Malik.

Altaïr dirigiu-lhe um olhar fixo.— Meu modo é melhor.Por um ou dois momentos os

dois homens se encararam. Mesmono túnel escuro, frio e gotejante,Altaïr pôde sentir a insolência e o

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ressentimento nos olhos de Malik.Precisaria ter cuidado com isso, elesabia. Parecia que o jovem Malik eraum inimigo em potencial.

Se, porém, tinha a intenção dederrubar Altaïr, Malikevidentemente decidiu que agora nãoera o momento certo para agir.

— Vou fazer um reconhecimentoda área adiante — disse ele. — Tentenão nos desonrar ainda mais.

Qualquer castigo por essainsubordinação em particular teriade esperar, decidiu Altaïr quandoMalik partiu, subindo pelo túnel em

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direção ao Templo.Kadar observou-o ir, então virou-

se para Altaïr.— Qual é a nossa missão? —

perguntou. — Meu irmão não medisse nada, apenas que eu devia ficarhonrado por ter sido convocado.

Altaïr olhou atentamente para oentusiasmado rapaz.

— O Mestre acredita que osTemplários encontraram algumacoisa sob o Monte do Templo.

— Um tesouro? — encantou-seKadar.

— Não sei. O que importa é que

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o Mestre considera essa coisaimportante, ou não teria me pedidopara recuperá-la.

Kadar assentiu e, diante de umaceno de mão de Altaïr, correu parase juntar ao irmão, deixando-osozinho no túnel. Ele olhou parabaixo, meditando, diante do corpodo sacerdote, agora com umaauréola de sangue sobre a areia emvolta da cabeça. Talvez Malik tivesserazão. Havia outros meios desilenciar o sacerdote — ele nãoprecisava ter morrido. Mas Altaïr omatara porque...

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Porque ele podia.Porque ele era Altaïr Ibn-

La’Ahad, filho de um Assassino. Omais habilidoso de todos da Ordem.Um Mestre Assassino.

Ele partiu, chegando a uma sériede fossas. Uma névoa flutuava nasprofundezas dela, e ele saltou comfacilidade para a primeira vigamestra, pousando agilmente eagachando-se como um gato.Respirava serenamente, desfrutandoo próprio poder e preparo físico.

Saltou para a seguinte e aseguinte, e chegou onde Malik e

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Kadar estavam parados à espera.Mas, em vez de se juntar a eles,passou direto. O som de seus péssoou como um sussurro no chão,mal remexendo a areia. Adiantehavia uma escada alta e ele aalcançou em uma corrida, subindorápida e silenciosamente,diminuindo a velocidade somente aoatingir o topo, onde parou, ouvindoe farejando o ar.

Então, muito lentamente, ergueua cabeça para ver uma câmaraelevada, e ali, como esperava, haviaum guarda com as costas para ele,

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usando o traje de um Templário:túnica acolchoada, perneiras, cota demalha, espada na cintura. Altaïr,silencioso e imóvel, o estudou porum momento, observando suapostura, a inclinação dos ombros.Bom. Ele estava cansado e distraído.Seria fácil silenciá-lo.

Lentamente, Altaïr se abaixou atéo solo, onde ficou agachado por ummomento, controlando a respiração eobservando o Templário comcuidado antes de se adiantar por trásdele, endireitando-se e erguendo asmãos: a esquerda, como uma garra; a

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direita, pronta para alcançar esilenciar o guarda.

Então atacou, destravando omecanismo no pulso para desengatara lâmina, que saltou no mesmoinstante em que ele a cravava naespinha do guarda e estendia a mãodireita para abafar o grito dohomem.

Por um segundo permaneceramem um abraço macabro, Altaïrsentindo sob a mão o escoar doamortecido grito final de sua vítima.Então o guarda ia desabando e Altaïro deitou delicadamente no chão,

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inclinando-se para tocar com levezasuas pálpebras. Ele fora castigadoseveramente por ter falhado comovigia, pensou Altaïr ao se endireitar,livrando-se do corpo e saindo dalipara juntar-se a Malik e Kadar, quese arrastavam por baixo da arcadaque estivera tão miseravelmentevigiada.

Uma vez do outro lado,encontraram-se no andar superior deuma ampla câmara e, por ummomento, Altaïr parou para absorveraquilo, sentindo-se intimidado derepente. Aquela era a ruína do

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lendário Templo de Salomão,supostamente construído em 960a.C. pelo rei Salomão. Se Altaïrestivesse correto, agora estavamcontemplando do alto o maioraposento do Templo, seu Santuário.Textos antigos falam do Santuáriocomo tendo suas paredes revestidasde cedro, querubins esculpidos,palmeiras e flores abertas realçadascom ouro, mas o Templo agora erauma sombra do seu passado.Haviam sumido os enfeites demadeira, os querubins e osacabamentos em ouro — para onde

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foram, Altaïr podia apenas imaginar,embora tivesse algumas dúvidas deque os Templários haviam tido umaparticipação nisso. Porém, mesmodespido de seu dourado, ainda eraum local de reverência e, a despeitode si mesmo, Altaïr descobriu-semaravilhado em vê-lo.

Atrás dele, seus doiscompanheiros estavam ainda maisboquiabertos.

— Ali... deve ser a Arca — disseMalik, apontando para o outro ladoda câmara.

— A Arca da Aliança — arfou

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Kadar, ao vê-la também.Altaïr havia se recuperado e,

olhando para trás, viu os doishomens parados como uma dupla demercadores idiotas deslumbradoscom a visão de bugigangasreluzentes. Arca da Aliança?

— Não sejam bobos —repreendeu-os. — Isso não existe. Ésó uma história.

Olhando adiante, porém, ele tevemenos certeza. De fato a caixa tinhatodas as propriedades da lendáriaArca. Era exatamente como osprofetas sempre a tinham descrito:

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toda blindada em ouro, com umatampa dourada enfeitada com umquerubim e argolas para se enfiar asestacas que seriam usadas paracarregá-la. E havia algo em relação aela, constatou Altaïr. A Arca possuíauma aura...

Afastou os olhos, contra avontade. Assuntos mais importantesprecisavam da atenção dele, isto é, oshomens que tinham acabado deentrar no andar inferior, as botasesmagando o que algum dia tinhasido um assoalho com folhas deabeto, mas que agora era de pedra.

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Templários. E o líder já vociferavaordens.

— Quero isso passando peloportão antes do nascer do sol —disse a eles, sem dúvida referindo-seà Arca. — Quanto mais cedo apossuirmos, mais cedo poderemosvoltar nossa atenção àqueles chacaisde Masyaf.

Ele falou com sotaque francês e,ao ficar na luz, viram sua capacaracterística — a capa de Grão-Mestre Templário.

— Robert de Sablé — disse Altaïr.— Sua vida é minha.

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Malik aproximou-sefuriosamente.

— Não. Fomos mandados pararecuperar o tesouro e lidar comRobert apenas se necessário.

Altaïr, cansado dos constantesdesafios de Malik, virou-se para ele.

— Ele está entre nós e o tesouro— sussurrou raivosamente. — Eudiria que é necessário.

— Discrição, Altaïr — insistiuMalik.

— Quer dizer covardia. Aquelehomem é o nosso maior inimigo... Eaqui temos uma chance de nos livrar

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dele.Ainda assim, Malik argumentou.— Você já infringiu dois

princípios do nosso Credo. Agoraquer infringir o terceiro. Nãocomprometa a Irmandade.

Finalmente, Altaïr explodiu.— Eu sou seu superior. Em título

e habilidade. Você deveria saber quenão é bom me questionar. — E, ditoisso, virou-se, descendo rapidamentea primeira escada até uma sacadamais embaixo, depois para o chão,onde caminhou confiantemente apassos largos em direção ao grupo de

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cavaleiros.Eles o viram chegar e viraram-se

para enfrentá-lo, com as mãos noscabos das espadas e os queixosfirmes. Altaïr sabia que oobservavam, olhavam o Assassinoque atravessava o chão na direçãodeles, com o rosto oculto pelo capuz,o manto e a faixa vermelhatremulando à sua volta, a espada nacintura e os cabos das espadas curtasà mostra sobre o ombro direito. Elereconhecia o medo que sentiam.

E ele, por sua vez, os observava,avaliando mentalmente cada

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homem: qual deles era umespadachim destro, qual lutava coma esquerda; quem era o mais veloz equem seria o mais forte, prestandoatenção especial no líder.

Robert de Sablé era o maior deles,o mais forte. Sua cabeça era raspada,e estampados em seu rosto haviaanos de experiência, cada um delestendo contribuído para a lenda queera, um cavaleiro tão famoso pelahabilidade com a espada quanto pelacrueldade e desumanidade. E issoAltaïr sabia acima de tudo: doshomens presentes ele era de longe o

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mais perigoso. Precisava serneutralizado primeiro.

Ouviu Malik e Kadar desceremas escadas e olhou de relance paratrás a fim de ver se o seguiam. Kadarestava engolindo em seco, nervoso, eos olhos de Malik evidenciavamdesaprovação. Os Templáriosficaram ainda mais tensos ao veremmais dois Assassinos; o númeroagora estava mais equilibrado.Quatro deles cercaram De Sablé.Cada homem alerta. O ar denso demedo e expectativa.

— Esperem, Templários —

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exclamou Altaïr quando estava pertoo bastante dos cinco cavaleiros.Dirigiu-se a De Sablé, que estavacom um leve sorriso nos lábios e asmãos soltas. Não como seuscompanheiros, prontos para ocombate, mas relaxado, como se apresença dos três Assassinossignificasse muito pouco para ele.Altaïr faria com que ele pagasse pelasua arrogância. — Vocês não são osúnicos com negócios aqui —acrescentou.

Os dois homens se avaliaram.Altaïr movimentou a mão direita,

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como se estivesse prestes a segurar ocabo da espada que estava no cinto,querendo manter ali a atenção de DeSablé, quando, de fato, a mortecortaria suavemente vinda daesquerda. Sim, decidiu. Distraia-omovimentando a mão direita, ataquecom a esquerda. Ao atacar Robert deSablé com a lâmina, seus homensfugiriam, deixando que os Assassinosrecuperassem o tesouro. Todos iriamcomentar a grande vitória de Altaïrsobre o Grão-Mestre Templário.Malik — aquele covarde — seriasilenciado, seu irmão ficaria

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novamente estupefato, e, na voltadeles a Masyaf, os membros daOrdem venerariam Altaïr. AlMualim o homenageariapessoalmente, e o caminho dele paraa posição de Mestre estariaassegurado.

Altaïr olhou nos olhos dooponente. De modo imperceptível,flexionou a mão esquerda, testando atensão do mecanismo da lâmina. Eleestava pronto.

— E o que é que você quer? —perguntou De Sablé, com o mesmosorriso despreocupado.

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— Sangue — disse simplesmenteAltaïr, e atacou.

Com uma velocidade inumana,saltou para De Sablé, ao mesmotempo batendo de leve na lâmina,simulando um movimento com amão direita e atacando, tão veloz etão mortal como uma naja, com aesquerda.

O Grão-Mestre Templário,porém, era mais rápido e astuto doque ele havia previsto. Deteve oAssassino durante o ataque,aparentemente com facilidade, tantoque Altaïr teve de parar onde estava,

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incapaz de se mexer, subjugado derepente — e de modo pavoroso — àimpotência.

E, naquele momento, Altaïr sedeu conta de que cometera um errograve. Um erro fatal. Naquelemomento, percebeu que não era DeSablé o arrogante: era ele mesmo. Derepente, não se sentiu mais comoAltaïr, o Mestre Assassino. Sentiu-secomo uma criança frágil e indefesa.Pior, uma criança vaidosa.

Debateu-se e descobriu que malconseguia se mexer, De Sablécontinha-o facilmente. Altaïr sentiu

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uma forte punhalada de vergonha,pensando em Malik e Kadar vendo-oser subjugado. A mão de De Sabléapertou sua garganta e ele se viuofegando em busca de ar enquanto oTemplário empurrava seu rosto.Uma veia em sua testa latejava.

— Você não conhece as coisasnas quais se mete, Assassino. Voupoupar sua vida apenas para quepossa voltar ao seu Mestre etransmitir esta mensagem: a TerraSanta está perdida para ele e paravocê. Agora ele deve fugir, enquantotem a chance. Se ficar, todos vocês

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morrerão.Altaïr sufocou e tossiu, enquanto

os cantos de sua visão começavam adesaparecer. Lutava contra ainconsciência quando De Sablé ovirou tão facilmente quanto seestivesse manuseando um recém-nascido e o jogou na direção daparede dos fundos da câmara. Altaïrbateu com um estrondo por entre asantigas pedras e caiu no vestíbulo dooutro lado, onde permaneceuaturdido por um momento, ouvindovigas caírem e as imensas colunas dacâmara se despedaçarem. Olhou para

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cima — e viu que a entrada para oTemplo fora bloqueada.

Então ouviu gritos que vinhamdo outro lado.

— Homens. Às armas. Matem osAssassinos! — berrou De Sablé.

Ele se levantou com dificuldade edisparou para os escombros,tentando encontrar uma passagem.Com vergonha e impotênciaqueimando-o, ouviu os gritos deMalik e Kadar, gritos de morte, e,finalmente, com a cabeça baixa,virou-se e começou a caminhadapara fora do Templo, a jornada até

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Masyaf, para levar a notícia aoMestre.

A notícia de que haviafracassado. Que ele, o grande Altaïr,tinha desonrado a si mesmo e àOrdem.

Quando finalmente emergiu dointerior do Monte do Templo, o solbrilhava, e Jerusalém fervilhava comvida. Mas Altaïr jamais havia sesentido tão sozinho.

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5

Altaïr chegou a Masyaf após umaexaustiva cavalgada de cinco dias,durante os quais tivera tempo maisdo que suficiente para refletir sobreseu fracasso. Assim, foi com ocoração pesado que chegou aosportões, teve permissão do guardapara entrar e seguiu caminho emdireção aos estábulos.

Ao desmontar e, por fim, sentiros músculos relaxados, entregou oanimal ao cavalariço e depois parouno poço para beber um pouco de

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água, primeiro dando pequenosgoles, em seguida engolindo-a e,então, jogando-a sobre si mesmo,esfregando com gratidão o rosto sujopara limpá-lo. Mas ainda sentia asujeira da viagem no corpo. O mantopendia pesado e imundo e eledesejou tomar um banho nas águasreluzentes de Masyaf, em um recantooculto do penhasco. Tudo o que elequeria nesse momento era solidão.

Quando seguia pelos arredoresda aldeia, seu olhar foi atraído paracima das cabanas dos estábulos e domovimentado mercado e para os

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sinuosos caminhos que levavam aosbastiões da fortaleza dos Assassinos.Ali era onde a Ordem treinava evivia sob o comando de Al Mualim,cujos aposentos ficavam no centrodas torres da cidadela bizantina. Elecostumava ser visto olhando pelajanela de sua torre, perdido empensamentos, e Altaïr o imaginou alino momento, fitando a aldeiaabaixo. A mesma aldeia agitada comvida, brilhando com a luz do sol emovimentada com negócios. Para aqual, dez dias antes, Altaïr, partindopara Jerusalém com Malik e Kadar,

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havia planejado voltar como umherói triunfante.

Ele nunca — nem em suasfantasias mais sombrias — previrafracassar, e no entanto...

Um Assassino lhe acenouquando ele atravessou o mercadosalpicado de sol, e ele se recompôs,jogando os ombros para trás eerguendo a cabeça, tentandotransparecer o grande Assassino quedeixara Masyaf, em vez do tolo demãos vazias que havia retornado.

Era Rauf, e o coração de Altaïr seapertou ainda mais — se é que fosse

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possível, o que ele sinceramenteduvidava. De todas as pessoas parasaudá-lo em sua volta tinha de serRauf, que venerava Altaïr como umdeus. Parecia até que o jovemestivera esperando por ele, perdendotempo junto a uma fonte construídaem um muro. De fato, ele agora orecebia com olhos arregalados eansiosos, totalmente ignorante dofracasso que Altaïr sentia à sua volta.

— Altaïr... você voltou. — Eleestava radiante, tão feliz ao vê-loquanto um cãozinho ficaria.

Altaïr assentiu lentamente.

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Observou, atrás de Rauf, ummercador idoso se refrescar nanascente da fonte e depois saudaruma mulher mais jovem, que chegoucarregando um vaso decorado comgazelas. Ela o colocou sobre o murobaixo que cercava o poço e os doiscomeçaram a conversar; a mulheranimada, gesticulando. Altaïr osinvejou. A ambos.

— É bom ver que você está bem— continuou Rauf. — Imagino quesua missão tenha sido um sucesso,não?

Altaïr ignorou a pergunta, ainda

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observando os dois na fonte. Tinhadificuldade em fazer contato visualcom Rauf.

— O Mestre está em sua torre? —perguntou finalmente, desviando oolhar para longe.

— Sim, está. — Rauf olhava-o decanto de olho, como se adivinhasseque havia algo errado com ele. —Enterrado em seus livros, comosempre. Sem dúvida, está esperandopor você.

— Obrigado, irmão.E, com isso, deixou Rauf e os

aldeões conversando no manancial e

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começou a seguir seu caminho,passando pelas barracas cobertas ecarroças de feno e bancos. Andoupelo calçamento, até o solo quente epoeirento se inclinar abruptamentepara cima, a grama seca e quebradiçapairando sob o sol. Todos oscaminhos levavam ao castelo.

Ele nunca se sentira tão mal à suasombra, e descobriu-se cerrando ospunhos ao atravessar o platô. Foisaudado pelos guardas quando seaproximou da fortaleza. As mãosdeles estavam fixadas no cabo daespada; os olhos, vigilantes.

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Então chegou à grande arcadaque levava ao antemuro, e mais umavez seu coração ficou apertado aoavistar uma figura que reconheceuAbbas.

Abbas estava embaixo de umatocha que afugentava o pouco desombra que havia no interior daarcada. Estava recostado na ásperapedra negra, com a cabeçadescoberta, os braços cruzados e aespada na cintura. Altaïr parou e,por cerca de um momento, os doishomens se entreolharam enquantoaldeões passavam por eles, alheios à

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antiga inimizade que florescianovamente entre os dois Assassinos.Em outros tempos, um se referia aooutro como irmão. Mas essa épocaestava há muito no passado.

Abbas deu um breve e irônicosorriso.

— Ah. Enfim ele voltou. —Olhou intencionalmente por cima doombro de Altaïr. — Onde estão osoutros? Você cavalgou na frente,querendo ser o primeiro a chegar? Seique não gosta de compartilhar aglória.

Altaïr não respondeu.

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— Silêncio é apenas outra formade se concordar com algo —acrescentou Abbas, ainda tentandoincitá-lo... e fazendo isso com toda ahabilidade de um adolescente.

— Você não tem nada melhorpara fazer? — suspirou Altaïr.

— Trago uma mensagem doMestre. Ele espera por você nabiblioteca — disse Abbas. E abriucaminho para Altaïr passar. — Émelhor se apressar. Sem dúvida, vocêdeve estar ansioso para lamber asbotas dele.

— Mais uma palavra — retrucou

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Altaïr —, e enfiarei a minha lâminana sua garganta.

— Haverá muito tempo para issodepois, irmão — rebateu Abbas.

Altaïr empurrou-o com o ombroao passar, então continuou pelopátio e pela praça de treinamento atéa porta para a torre de Al Mualim.Soldados do corpo de guardacurvaram a cabeça diante dele,oferecendo-lhe o respeito quelegitimamente merecia um MestreAssassino, e ele agradeceu sabendoque em breve — assim que a notíciase espalhasse — o respeito deles

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ficaria apenas na lembrança.Antes, porém, tinha de dar a

terrível notícia a Al Mualim, e subiuos degraus da torre em direção aosaposentos do Mestre. Ali o ambienteera quente, e o ar estava denso comseu habitual aroma doce. A poeiradançava nos raios de luz vindos dagrande janela do lado mais distante,onde se encontrava o Mestre, com asmãos entrelaçadas às costas. Seumestre. Seu mentor. Um homem queele venerava acima de todos osoutros.

Com quem havia falhado.

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Em um canto, os pombos-correiodo Mestre arrulhavam baixinho emsua gaiola e, em volta dele, havialivros e manuscritos, milhares deanos de literatura e aprendizado dosAssassinos, tanto em prateleirasquanto amontoados em pilhasvacilantes e empoeiradas. Osuntuoso manto de Al Mualimestendia-se à sua volta, os longoscabelos pousavam sobre os ombros, eele estava, como de hábito,contemplativo.

— Mestre — disse Altaïr,quebrando o pesado silêncio. Ele

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baixou a cabeça.Calado, Al Mualim virou-se e foi

em direção à sua escrivaninha; rolosde pergaminho apinhavam o chãoabaixo dela. Ele encarou Altaïr comum olhar firme e penetrante. Suaboca, escondida pela barba grisalha,não denunciou qualquer emoção até,finalmente, falar, acenando para opupilo.

— Aproxime-se. Conte-me desua missão. Confio que tenharecuperado o tesouro templário...

Altaïr sentiu uma gota de suorseguir caminho de sua testa rosto

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abaixo.— Houve um problema, Mestre.

Robert de Sablé não estava sozinho.Al Mualim afastou a ideia com

um gesto de mão.— Quando alguma vez o nosso

trabalho saiu como o esperado? É ahabilidade de nos adaptar que nostorna o que somos.

— Desta vez, não foi suficiente.Al Mualim levou um momento

para absorver as palavras de Altaïr.Saiu de trás da escrivaninha e,quando falou novamente, sua voz foisevera.

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— O que quer dizer?Altaïr se viu forçando a saída das

palavras.— Eu falhei.— O tesouro?— Perdido para nós.A atmosfera no aposento mudou.

Parecia tensa e crepitante como sefosse quebradiça, e houve uma pausaantes de Al Mualim voltar a falar.

— E Robert?— Escapou.A palavra caiu como uma pedra

no espaço escurecido.Então Al Mualim se aproximou

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de Altaïr. Seu único olho bomreluzia de raiva, a voz apenascontida, a fúria preenchendo todo oambiente.

— Eu mandei você... meu melhorhomem... para realizar uma missãomais importante do que qualqueroutra que já surgiu e você volta comnada além de alegações e desculpas?

— Eu...— Não fale. — A voz dele foi

uma chicotada. — Nem mais umapalavra. Não era isso que euesperava. Precisaremos reunir outraforça para...

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— Eu lhe juro que oencontrarei... Eu vou e... — começouAltaïr, que já estava desesperadopara encontrar novamente De Sablé.Dessa vez o resultado seria muitodiferente.

Agora Al Mualim olhava aoredor de si mesmo, como se acabassede se lembrar que, quando partira deMasyaf, Altaïr o fizera com doiscompanheiros.

— Onde estão Malik e Kadar? —interpelou-o.

Uma segunda gota de suor partiuda têmpora de Altaïr quando

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respondeu.— Mortos.— Não — veio uma voz de trás

deles —, mortos não.Al Mualim e Altaïr viraram-se

para ver um fantasma.

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6

Malik estava parado na entrada dosaposentos do Mestre — parado eoscilando; uma figura ferida, exaustae encharcada de sangue. Seu manto,antes branco, estava raiado desangue coagulado, a maior parte emvolta do braço esquerdo, que pareciaseriamente ferido, pendendoinutilmente ao lado e encrostadocom sangue escuro e seco.

Ao entrar, o ombro feridodeclinou e ele cambaleouligeiramente. Mas, se o corpo estava

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ferido, o espírito, por outro lado,certamente não estava: seus olhosqueimavam em um brilho de raiva eódio — ódio que dirigiu a Altaïr comum olhar tão intenso que tudo queeste pôde fazer foi não fugir.

— Eu pelo menos ainda estouvivo — grunhiu Malik, os olhosinjetados e transbordando fúriaenquanto encarava Altaïr. Elerespirava com movimentos curtos,debilitados. Os dentes à mostraestavam ensanguentados.

— E seu irmão? — perguntou AlMualim.

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Malik sacudiu a cabeça.— Morto.Por um instante, seus olhos

baixaram para o chão de pedra.Então, como uma súbita explosão deraiva, levantou a cabeça, estreitou osolhos e ergueu um dedo trêmulopara apontar para Altaïr.

— Por sua causa — sussurrou.— Robert jogou-me para fora da

câmara. — A desculpa de Altaïrpareceu débil, até mesmo para seuspróprios ouvidos... Principalmentepara seus próprios ouvidos. — Eunão tinha como voltar. Não houve

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nada que eu pudesse fazer...— Porque não deu importância

ao meu alerta — bradou Malik, a vozrouca. — Tudo isso poderia ter sidoevitado. E meu irmão... meu irmãoainda estaria vivo. Sua arrogânciaquase nos custou a vitória hoje.

— Quase? — indagou AlMualim, cautelosamente.

Acalmando-se, Malik concordoucom a cabeça, o espectro de umsorriso nos lábios... um sorrisodirigido a Altaïr, pois, ao mesmotempo, ele fez um gesto para outroAssassino, que se aproximou

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carregando uma caixa em umabandeja dourada.

— Eu consegui o que seu favoritofalhou em encontrar — afirmouMalik. Sua voz era cansada e eleestava fraco, mas nada ia estragar seumomento de triunfo sobre Altaïr.

Ele sentiu seu mundo desabar,quando Malik pousou a bandejasobre a mesa de Al Mualim. A caixaestava coberta por runas antigas ehavia algo nelas — uma aura.Dentro, certamente, estava o tesouro.Tinha de estar. O tesouro que Altaïrfora incapaz de recuperar.

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O olho bom de Al Mualim estavaarregalado e brilhando. Seus lábios,entreabertos, mostravam a línguaque avançava pela boca. Ele estavaextasiado com a visão da caixa e como pensamento do que havia dentro.De repente, houve uma agitação láfora. Gritos. Pés correndo. Oinconfundível barulho de açocolidindo.

— Parece que retornei com maisdo que o tesouro — refletiu Malikenquanto um mensageiro irrompiapelo aposento, esquecendo todo oprotocolo e exclamava, esbaforido: —

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Mestre, estamos sob ataque. Robertde Sablé montou um cerco à aldeiade Masyaf.

Al Mualim foi arrancado de seudevaneio, disposto a enfrentar DeSablé.

— Então ele está à procura deuma batalha, não é mesmo? Muitobem. Não lhe negarei isso. Vá.Informe os outros. A fortalezaprecisa estar preparada.

Então ele se voltou para Altaïr, eseus olhos queimavam enquantofalava: — Quanto a você, Altaïr,nossa discussão terá de esperar. Você

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deve ir para a aldeia. Destrua osinvasores. Expulse-os do nosso lar.

— Isso será feito — prometeuAltaïr, que não pôde evitar se sentiraliviado com aquela súbitareviravolta.

De algum modo, o ataque àaldeia era preferível a ter de aguentarmais daquela humilhação. Ele sedesgraçara em Jerusalém. Agoratinha a chance de recompensar.

Saltou da plataforma atrás dosaposentos do Mestre para o chão lisode pedra e se afastou rapidamente datorre. Ao atravessar correndo o pátio

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de treinamento e passar pelo portãoprincipal, ficou imaginando que sefosse morto agora isso talvezproporcionasse a salvação quedesejava. Seria uma boa morte? Umamorte nobre e digna?

O suficiente para perdoá-lo?Sacou a espada. Os sons da

batalha agora estavam maispróximos. Podia ver Assassinos eTemplários combatendo no planaltoao pé do castelo enquanto, maisembaixo da colina, os aldeões sedispersavam diante da força doataque; corpos já recobriam as

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encostas.Então ele foi atacado. Um

cavaleiro templário correu em suadireção, rosnando, e Altaïr girou,deixando os instintos assumirem ocontrole, erguendo a espada paraenfrentar o cristão, que se abateusobre ele veloz e duramente, com suaespada larga batendo forte na lâminade Altaïr com um ruído de aço. OAssassino, porém, estava firme, comos pés bem afastados e oalinhamento do corpo perfeito, de talmodo que o ataque do Templáriomal fez com que se mexesse. Ele

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varreu para o lado a espada dooutro, usando o peso da enormeespada larga contra o cavaleiro, cujobraço se agitou inutilmente duranteo breve momento que Altaïr usoupara dar um passo à frente e enfiarsua lâmina na barriga do homem.

O Templário tinha avançadocontra ele confiante de uma mortefácil. Fácil, como a dos aldeões queele já havia massacrado. Mas seenganara. Com o aço ainda nasentranhas, tossiu sangue, e seusolhos se arregalaram de dor esurpresa quando Altaïr empurrou a

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lâmina para cima, dividindo ao meioseu tronco. Ele caiu, e os intestinos sederramaram sobre a terra.

Agora Altaïr lutava com puramaldade, descarregando toda a suafrustração nos golpes com a espada,como se pudesse pagar pelos seuscrimes com o sangue dos inimigos. OTemplário seguinte trocou golpes,tentando resistir à medida que Altaïro empurrava para trás. Sua posturainstantaneamente mudava de ataquepara defesa, e depois para a defesadesesperada, de modo que, mesmoenquanto aparava os golpes, ele

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choramingava na expectativa daprópria morte.

Altaïr simulou um golpe, girou, esua lâmina lampejou através dagarganta do cristão, que se abriu,cobrindo de sangue a parte da frentede seu uniforme, tingindo-o de umacor tão vermelha quanto a cruz emseu peito. Ele caiu de joelhos e depoistombou para a frente, no instante emque outro soldado correu paraAltaïr, com a luz do sol reluzindo emsua espada erguida. O Assassino seafastou para o lado e enterrou aespada bem fundo nas costas do

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homem, de modo que, por umsegundo, seu corpo todo se retesouenquanto a lâmina cravava-se nopeitoral, e a boca se abria em umgrito silencioso à medida que Altaïr obaixava para o chão e retirava aespada.

Dois soldados atacaram juntos,imaginando talvez que o númerosuperior subjugaria Altaïr.Imaginaram isso sem levar em contasua ira. Ele lutou, não com ahabitual indiferença e frieza, mascom fogo no estômago. O fogo deum guerreiro que não se importa

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com a própria segurança. O maisperigoso guerreiro de todos.

À sua volta, viu mais corpos dealdeões, derrubados pela espada dosagressores Templários, e sua iraaumentou, tornando os golpes desua espada ainda mais cruéis. Doisoutros soldados caíram diante de sualâmina e ele os deixou se debatendona terra. Agora, porém, cada vezmais cavaleiros surgiam. Aldeões eAssassinos corriam igualmenteencosta acima, e Altaïr viu Abbasordenando-lhes que retornassem aocastelo.

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— Aumentem o ataque àfortaleza pagã — berrou umcavaleiro em resposta. Ele corriacolina acima em direção a Altaïr, aespada brandindo enquantotranspassava uma mulher em fuga.— Vamos levar a luta aosAssassinos...

Altaïr empurrou a espada nagarganta do cristão, cuja últimapalavra foi um gorgolejo.

Mas atrás dos aldeões eAssassinos que fugiam vinham maisTemplários, e Altaïr hesitou naencosta, imaginando se aquele seria o

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momento de seu ato final — morrerdefendendo seu povo e fugindo davergonha a que estava preso.

Mas não. Não havia honra emuma morte desperdiçada, ele sabia, ejuntou-se aos que retornavam àfortaleza, chegando quando o portãoera fechado. Então se virou para vera cena de carnificina lá fora, a belezade Masyaf maculada pelos corposensanguentados dos moradores, dossoldados e dos Assassinos.

Olhou para si mesmo. Seu mantoestava salpicado de sangue templário,mas ele continuava ileso.

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— Altaïr! — O grito interrompeuseus pensamentos. Era Raufnovamente. — Venha.

Ele sentiu-se repentinamentecansado.

— Aonde estamos indo?— Temos uma surpresa para os

nossos convidados. Faça o que eufizer. Logo ficará claro... — Raufapontava acima deles para osbastiões da fortaleza.

Altaïr embainhou a espada e oseguiu para o alto por uma série deescadas até o cume da torre, onde oslíderes Assassinos estavam reunidos,

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Al Mualim entre eles. Atravessandoo pavimento, olhou para o Mestre,que o ignorou, a boca estavainexpressiva. Então Rauf indicouuma das três plataformas de madeiraque pendiam no ar, convidando-o atomar seu lugar nela. Ele fez isso,inspirando fundo antes de caminharcuidadosamente até a extremidade.

Ele agora estava acima deMasyaf, capaz de olhar abaixo para ovale. Sentiu o ar correndo à suavolta; seu manto esvoaçava e ele viubandos de pássaros planando earremetendo em bolsões de ar

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quente. Sentiu vertigem com a altura,e, no entanto, estava sem fôlego como espetáculo: as colinas ondulantesdo campo mescladas com o verdeexuberante; as águas tremeluzentesdo rio; corpos agora como pequenasmanchas nas encostas.

E Templários.O exército invasor havia se

reunido no planalto diante de umatorre de vigia, perto dos portões dafortaleza. À frente estava Robert deSablé, que agora se adiantava umpouco, olhando acima para osbastiões onde se encontravam os

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Assassinos, e se dirigia a Al Mualim.— Herege! — vociferou. —

Devolva o que roubou de mim.O tesouro. A mente de Altaïr

vagueou momentaneamente até acaixa sobre a escrivaninha de AlMualim. Ela parecera brilhar...

— Você não tem direito a ela,Robert — retrucou o Mestre, e suavoz ecoou pelo vale. — Vá emboradaqui antes que eu seja forçado areduzir ainda mais suas fileiras dehomens.

— Você está fazendo um jogoperigoso — rebateu De Sablé.

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— Eu lhe garanto que não é umjogo.

— Que assim seja — foi aresposta.

Havia algo no tom de sua vozque Altaïr realmente não gostou. DeSablé dirigiu-se a um de seushomens.

— Tragam o refém.Do meio da tropa, arrastaram o

Assassino. Estava amarrado eamordaçado e se contorcia para selivrar das amarras enquanto erapuxado violentamente para a frentedo grupo. Seus gritos abafados

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ergueram-se até onde Altaïr estavana plataforma.

Então, sem cerimônia, De Sabléfez um sinal com a cabeça para umsoldado próximo. Este puxou ocabelo do assassino para que suagarganta ficasse exposta e pudessepassar sua lâmina por ela, abrindo-ae deixando que o corpo caísse sobre agrama.

Os Assassinos, observando,prenderam a respiração.

De Sablé foi para perto do corpoe descansou um dos pés nas costasdo moribundo, com os braços

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cruzados como um gladiadortriunfante. Houve um murmúrio deaversão entre os Assassinos enquantoele gritava acima para Al Mualim.

— Sua aldeia está em ruínas esuas provisões não são intermináveis.Quanto tempo se passará até suafortaleza ser destruída por dentro?Como seus homens se manterãodisciplinados quando os poçossecarem e a comida deles acabar? —Ele mal conseguia disfarçar o tomexultante na voz.

Mas, em resposta, Al Mualimmanteve-se calmo.

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— Meus homens não temem amorte, Robert. Eles lhe dão boas-vindas... e às recompensas que elatraz.

— Bom — bradou De Sablé. —Então eles as terão por toda a suavolta.

Ele estava com a razão, é claro.Os Templários podiam manter ocerco de Masyaf e impedir que osAssassinos recebessem provisões.Quanto tempo conseguiriam resistiraté ficarem fracos demais para queDe Sablé pudesse atacar emsegurança? Duas semanas? Um mês?

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Altaïr podia apenas ter a esperançade que, independentemente do planode Al Mualim, este seria o suficientepara pôr um fim ao impasse.

Como se tivesse lido seuspensamentos, Rauf sussurrou paraele de uma plataforma à esquerda: —Siga-me. E sem hesitar.

Um terceiro Assassino estavaparado mais adiante. Estavamescondidos de De Sablé e seushomens. Olhando para baixo, Altaïrviu montes de feno estrategicamentecolocados, o suficiente paraamortecer uma queda. Ele começava

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a entender o que Rauf pretendia.Iam pular, sem serem vistos pelosTemplários. Mas por quê?

O manto de Altaïr se agitava aoredor de seus joelhos. O som eratranquilizador, como ondas ouchuva. Olhou para baixo e firmou arespiração. Concentrou-se. Buscouequilíbrio em seu interior.

Ouviu Al Mualim e De Sablétrocando palavras, mas não estavamais escutando; pensava somente nosalto, preparando-se para ele. Fechouos olhos. Sentiu uma grande calma,uma paz interna.

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— Agora — disse Rauf, quesaltou, seguido pelo outro Assassino.E então foi a vez de Altaïr.

Que saltou.O tempo parou enquanto ele

caía, os braços estendidos. Com ocorpo relaxado e graciosamentecurvado no ar, sabia que alcançarauma espécie de perfeição — era comose tivesse saído do próprio corpo.Então pousou perfeitamente, ummonte de feno interrompendo suaqueda. A de Rauf também. Mas nãoa do terceiro Assassino, cuja pernarompeu-se com o impacto.

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Imediatamente, o homem gritou eRauf se aproximou para silenciá-lo,sem querer que os Templários oouvissem: para a fuga funcionar, oscavaleiros precisavam acreditar queos três homens tinham pulado para amorte.

Rauf virou-se para Altaïr.— Vou ficar para trás e cuidar

dele. Você vai ter de ir sem nós. Ascordas o levarão à armadilha. Solte-as de lá... Uma chuva de morte cairásobre nossos inimigos.

Claro. Agora Altaïr entendeu.Por um momento, se perguntou

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como os Assassinos tinham sidocapazes de montar uma armadilhasem que ele soubesse. Quantas outrasfacetas da Irmandade aindapermaneciam um segredo para ele?Agilmente, seguiu ao longo dascordas pelo abismo, voltando atravésda garganta até a face do penhascoatrás da torre de vigia. Escalou emum impulso natural. Rápido e ágil,sentindo os músculos do braçozumbirem enquanto escalava cadavez mais e mais alto as paredesíngremes até chegar ao topo da torre.Ali, sob as tábuas do último andar,

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encontrou a armadilha montada epronta para ser solta: pesadas torasensebadas, alinhadas e empilhadassobre uma plataforma pendente.

De modo silencioso, foi até abeira, olhando abaixo para ver asfileiras reunidas dos Templários; umgrande número de costas para ele.Ali também havia cordas prendendoa armadilha no lugar. Ele sacou aespada e, pela primeira vez em dias,sorriu.

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7

Mais tarde, os Assassinos estavamreunidos no pátio, ainda saboreandoseu triunfo.

As toras haviam tombado datorre de vigia sobre os cavaleirosembaixo. A maior parte deles foiesmagada pela primeira onda,enquanto outros foram apanhadosna segunda carga estocada atrás daprimeira. Apenas momentos antes,eles estiveram certos da vitória. Entãoseus corpos foram surrados, osmembros fraturados, a força inteira

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desordenada. Robert de Sablé jáordenava a seus homens quevoltassem ao mesmo tempo que osarqueiros dos Assassinosaproveitavam a vantagem e faziamchover flechas sobre eles.

Agora, porém, Al Mualimmandava que os Assassinos fizessemsilêncio e sinalizava para que Altaïrse juntasse a ele no púlpito que haviana entrada de sua torre. Seus olhoseram severos e, quando o Assassinotomou seu lugar, Al Mualimgesticulou com a cabeça para quedois guardas se posicionassem de

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cada lado de Altaïr.O silêncio substituiu as

felicitações. Altaïr, de costas para osAssassinos, sentia todos os olhossobre ele. Já deviam saber o queacontecera em Jerusalém; Malik eAbbas teriam cuidado disso. Osesforços de Altaïr na batalha e oposterior acionamento da armadilha— nada disso contaria agora. Tudoque ele podia esperar era que AlMualim mostrasse piedade.

— Você fez bem em expulsarRobert daqui — observou o Mestre, efoi com bastante orgulho que ele

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disse isso. O bastante para Altaïr tera esperança de que pudesse serperdoado; de que seus atosposteriores a Jerusalém o redimissem.— A força dele está destruída —continuou Al Mualim. — Vaidemorar muito até que ele volte anos perturbar. Diga-me, você sabepor que foi bem-sucedido?

Altaïr não disse nada. Seucoração martelava.

— Você foi bem-sucedido porqueobedeceu — forçou Al Mualim. — Setivesse obedecido no Templo deSalomão, Altaïr, tudo isso teria sido

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evitado.Seu braço descreveu um círculo,

significando que abrangia o pátio etudo que havia mais além, onde atéagora corpos de Assassinos, deTemplários e de aldeões estavamsendo removidos.

— Eu fiz o que me foi pedido —afirmou Altaïr, tentando escolhercuidadosamente as palavras, masfracassando.

— Não! — vociferou o Mestre.Seus olhos pareciam chamas. —Você fez o que lhe agradou. Malikfalou-me da arrogância que você

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demonstrou. Você desconsiderounossos métodos.

Os dois guardas de ambos oslados de Altaïr deram um passoadiante e seguraram seus braços. Osmúsculos dele se tensionaram. Ele sepreparou contra eles, mas não lutou.

— O que está fazendo? —perguntou cautelosamente.

A cor voltou às faces de AlMualim.

— Há regras. Não somos nada senão obedecemos ao Credo dosAssassinos. Há três princípiossimples, que você parece ter

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esquecido. Vou lembrá-los a você. Oprimeiro e principal: detenha sualâmina...

Ia ser uma repreensão. Altaïrrelaxou, incapaz de manter o tom deresignação da voz, ao completar afrase de Al Mualim.

— Do corpo de um inocente. Eusei.

O estalo da palma de Al Mualimno rosto de Altaïr ecoou na pedra dopátio. Altaïr sentiu a face queimar.

— E contenha sua língua, a nãoser que eu lhe dê permissão para usá-la — vociferou Al Mualim. — Se está

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tão familiarizado com este princípio,por que matou o velho no interior doTemplo? Ele era inocente. Nãoprecisava morrer.

Altaïr ficou calado. O que elepoderia dizer? “Eu agi por impulso?”“Matar o velho foi um ato dearrogância?”, talvez?

— Sua insolência não conhecelimites — urrou Al Mualim. —Torne seu coração humilde, criança,ou juro que o arrancarei com minhaspróprias mãos.

Ele fez uma pausa, os ombrossubindo e descendo enquanto

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dominava a raiva.— O segundo princípio é o que

nos dá força — continuou. —Invisibilidade. Deixar que as pessoaso encubram para que você se tornemais um na multidão. Você selembra? Porque, pelo que eu soube,você decidiu se expor, atraindoatenção antes de atacar.

Altaïr continuou sem dizer nada.Sentiu a vergonha se instalar nocorpo.

— O terceiro e último princípio— acrescentou Al Mualim —, a piorde todas as suas traições: jamais

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comprometa a Irmandade. Osignificado deve ser óbvio. Seus atosjamais devem nos causar danos...direta ou indiretamente. Entretanto,seu ato egoísta em Jerusalém colocoutodos nós em perigo. Pior do queisso, você atraiu o inimigo à nossacasa. Cada homem que perdemoshoje foi por sua causa.

Altaïr sentia-se incapaz de olharpara o Mestre. Sua cabeçapermanecera virada para o lado,ainda sentindo o tapa. Mas, ao ouvirAl Mualim sacar a adaga, ele olhou.

— Sinto muito. Eu realmente

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sinto — disse Al Mualim. — Masnão posso tolerar um traidor.

Não. Isso não. A morte de umtraidor não.

Seus olhos arregalaram-se aoencararem a lâmina na mão doMestre; a mão que o guiara desde ainfância.

— Não sou um traidor. — Eleconseguiu dizer.

— Seus atos indicam o contrário.E, portanto, não me deixa escolha. —Al Mualim recuou a adaga. — Que apaz esteja com você, Altaïr — disseele, e a enfiou na barriga de Altaïr.

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E assim foi. Por uns preciososmomentos, enquanto esteve morto,Altaïr esteve em paz.

Então... então estava voltando asi, recuperando gradualmente umsenso de si mesmo e de onde estava.

Ele estava de pé. Como podiaestar de pé? Seria isso a morte, a vidaapós a morte? Estaria ele no paraíso?Se fosse o caso, parecia muito com osaposentos de Al Mualim. Nãoapenas isso, mas Al Mualim estavapresente. Aliás, parado diante dele,

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observando-o com um olharincompreensível.

— Estou vivo?As mãos de Altaïr foram para

onde a faca fora enfiada em suabarriga. Esperava encontrar umburaco dentado e sentir a umidadedo sangue, mas não havia nada.Nada de ferimento, nada de sangue.Embora ele os tivesse visto. Sentido.Tinha sentido a dor...

Não tinha?— Mas vi você me esfaquear —

conseguiu dizer —, senti a morte meabraçar.

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Al Mualim, por sua vez, eraimpassível.

— Você viu o que eu quis quevocê visse. Então dormiu o sono damorte. O útero. Para que pudessedespertar e renascer.

Altaïr afastou pensamentosnebulosos de sua mente.

— Com que finalidade?— Você se lembra, Altaïr, pelo

que os Assassinos lutam?Ainda tentando se recompor,

respondeu: — Paz, em todas ascoisas.

— Sim. Em todas as coisas. Não

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basta acabar com a violência que umhomem pratica contra o outro. Issotambém se refere à paz interior. Nãose pode ter uma sem a outra.

— É o que dizem.Al Mualim balançou a cabeça, e

a cor das maçãs do rosto voltava àmedida que levantava a voz.

— Então é. Mas você, meu filho,não encontrou a paz interior. Ela semanifesta de modos terríveis. Você éarrogante e excessivamente confiante.Carece de autocontrole e prudência.

— E o que vai acontecer comigo?— Eu deveria matá-lo pela dor

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que nos causou. Malik acha que issoé apenas justo... Sua vida em trocada do irmão dele.

Al Mualim fez uma pausa parapermitir que Altaïr entendesse o totalsignificado daquele momento.

— Mas isso seria uma perda domeu tempo e a de seus talentos.

Altaïr permitiu-se relaxar maisum pouco. Seria poupado. Poderia seredimir.

— Você foi destituído de suasposses — continuou Al Mualim. — Etambém de seu posto. Você é umaprendiz, uma criança, outra vez.

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Como no dia em que entrou para aOrdem. Estou lhe oferecendo umachance de redenção. Terá de merecerseu caminho de volta para a Ordem.

Claro.— Suponho que você deva ter

algo planejado.— Primeiro precisa provar para

mim que se lembra de como é ser umAssassino. Um verdadeiro Assassino— disse Al Mualim.

— Então me mandaria tirar umavida? — indagou Altaïr, sabendo quesua penalidade seria muito maisrigorosa.

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— Não. Ainda não, pelo menos.Por enquanto, você vai se tornarnovamente um estudante.

— Não há necessidade disso. Souum Mestre Assassino.

— Você foi um Mestre Assassino.Outros rastreavam alvos para você.Mas não mais. De hoje em diante,você mesmo terá de rastreá-los.

— Se é esse seu desejo.— É.— Então me diga o que devo

fazer.— Tenho aqui uma lista. Nove

nomes fazem parte dela. Nove

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homens que precisam morrer. Sãocausadores de pestes. Fabricantes deguerras. Seu poder e influênciacorrompem a terra... e asseguram acontinuação das Cruzadas. Você osencontrará. E os matará. Ao fazerisso, estará plantando as sementes dapaz, tanto para a região quanto parasi mesmo. Desse modo, talvez possaser redimido.

Altaïr inspirou fundo edemoradamente. Isso ele poderiafazer. Isso ele queria — precisava —fazer.

— Nove vidas em troca da minha

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— falou cautelosamente.Al Mualim sorriu.— Uma oferta muito generosa,

creio. Tem alguma pergunta?— Por onde devo começar?— Vá a Damasco. Procure o

comerciante de mercado negrochamado Tamir. Que seja ele oprimeiro a cair.

Al Mualim foi até a gaiola deseus pombos-correio, pegou um delese o conteve delicadamente com apalma em concha.

— Ao chegar, não deixe de visitaro Bureau dos Assassinos. Vou

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despachar um pombo para informaro rafiq de sua chegada. Fale com ele.Verá que tem muito a oferecer.

Ele abriu a mão e o pássarodesapareceu pela janela.

— Se acha que isso é o melhor —disse Altaïr.

— Acho. Além disso, não podeiniciar sua missão sem oconsentimento dele.

Altaïr reagiu.— Que absurdo é esse? Não

preciso da permissão dele. É umaperda de tempo.

— É o preço que paga pelos erros

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que cometeu — vociferou o Mestre.— Você agora responde não apenas amim, mas a toda a Irmandade.

— Que assim seja — cedeuAltaïr, após uma pausa longa obastante para comunicar seudesgosto.

— Vá, então — ordenou AlMualim. — Prove que ainda não estáperdido para nós.

Ele fez uma pausa, entãoapanhou uma coisa debaixo daescrivaninha e empurrou-a nadireção de Altaïr.

— Pegue — disse.

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Com prazer, Altaïr alcançou sualâmina, afivelando a braçadeira aopulso e enfiando no dedo mindinhoa presilha de soltura. Testou omecanismo, sentindo-se novamenteum Assassino.

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Altaïr seguiu seu caminho por entreas palmeiras e passou pelos estábulose mercadores do lado de fora dosmuros da cidade até chegar aosimensos e imponentes portões deDamasco. Ele conhecia bem acidade. A maior e mais sagrada daSíria, que tinha sido o lar de dois deseus alvos no ano anterior. Eleergueu o olhar para a muralha emvolta e seus bastiões. Podia ouvir avida ali dentro. Era como se a pedravibrasse por causa dela.

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Primeiro, entrar. O sucesso damissão dependia de sua habilidadede se movimentar anonimamentepelas ruas. Uma recusa dos guardasnão seria o melhor começo.Desmontou e amarrou o cavalo,estudando os portões, onde osguardas sarracenos estavam de vigia.Ele teria de tentar outro meio, masisso era mais fácil de dizer do quefazer, pois Damasco eranotoriamente segura, e seus muros— olhou para cima mais uma vez,sentindo-se minúsculo — eram altosdemais e muito íngremes para serem

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escalados pelo lado de fora.Então ele avistou um grupo de

intelectuais e sorriu. Salah Al’dinincentivara os eruditos a visitaremDamasco para estudos — haviamuitos madraçais por toda a cidade— e, desse modo, gozavam deprivilégios especiais e tinhampermissão de andar à vontade porela. Ele se aproximou e se juntou aeles, adotando uma postura dedevoção ao grupo e, na companhiadeles, passou facilmente pelosguardas, deixando o deserto paratrás ao entrar na grande cidade.

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Lá, manteve a cabeça baixa,andando depressa mas com cuidadopelas ruas, até chegar a um minarete.Deu uma rápida olhada em voltaantes de saltar para um peitoril,puxando o corpo para cima,encontrando mais apoios para asmãos na pedra quente e escalandocada vez mais alto. Descobriu suasantigas habilidades voltarem, emboranão estivesse se movimentando tãovelozmente ou com tanta segurançaquanto antes. Sentiu-as retornar.Não — despertar novamente. E comelas a velha sensação de alegria.

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Chegou então na ponta dominarete e ali se agachou. Comouma ave de rapina acima da cidade,olhando em volta de si, vendo asmesquitas abobadadas e os pontudosminaretes que interrompiam um mardesigual de telhados. Avistoumercados, pátios e santuários, assimcomo a torre que marcava a posiçãodo Bureau dos Assassinos.

Novamente, uma sensação deeuforia percorreu seu corpo.Esquecera o quanto as cidadespareciam bonitas vistas de umaaltura como aquela. Esquecera-se de

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como se sentia, olhando para elas deseus pontos mais altos. Naquelesmomentos, ele se sentia livre.

Al Mualim tinha razão. Haviaanos que os alvos de Altaïr vinhamsendo localizados para ele. Diziam-lhe aonde e quando ir; seu serviçoera matar, nada mais, nada menos.Não se dera conta disso, mas perderaa emoção do que realmentesignificava ser um Assassino, quenão era banho de sangue e morte:era um processo de descobertainterior.

Esticou-se um pouco adiante,

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olhando as ruas estreitas abaixo. Aspessoas estavam sendo chamadaspara rezar e as multidões estavamdiminuindo. Vasculhou os toldos etelhados, à procura de umaaterrissagem macia, então viu umacarroça de feno. Fixando os olhosnela e inspirando fundo, pôs-se depé, sentindo a brisa e ouvindo sinos.Em seguida deu um passo à frente,caindo graciosamente e acertandoseu alvo. Não tão macio quantohavia esperado, talvez, porém maisseguro do que se arriscar a pousarem um toldo puído, capaz de se

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romper e derrubá-lo no amontoadoda barraca abaixo. Ele prestouatenção, esperando até a rua ficarmais silenciosa, então pulou dacarroça e começou a seguir seucaminho para o Bureau.

Alcançou-o pelo telhado, caindoem um átrio sombreado no qualtinia uma fonte. As plantasamorteceram os sons do lado defora. Era como se tivesse alcançadooutro mundo. Concentrou-se eentrou.

O líder espreguiçava-se atrás deum balcão. Ele se levantou quando o

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Assassino entrou.— Altaïr. Que bom vê-lo. E

inteiro.— Você também, amigo. —

Altaïr observou o homem, semgostar muito do que viu.Principalmente porque ele tinhamodos insolentes, irônicos. Tambémnão havia dúvida de que forainformado das recentes...dificuldades de Altaïr; e, pelo jeito dohomem, planejava se aproveitar aomáximo do poder temporário que asituação lhe proporcionava.

Certamente, quando falou em

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seguida, foi com um sorrisomalicioso que mal pôde disfarçar.

— Sinto muito pelos seusproblemas.

— Não foi nada.O líder adotou um ar de falsa

preocupação.— Alguns de seus irmãos

estiveram aqui mais cedo...Certo. Era por isso que ele estava

tão bem informado, pensou Altaïr.— Se tivesse escutado as coisas

que disseram — continuou o líderalegremente —, você com certeza osmataria no ato.

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— Tudo bem — disse Altaïr.O líder sorriu.— É, você nunca foi de seguir o

Credo, não é mesmo?— Isso é tudo? — Altaïr sentiu

vontade de apagar com um tapa osorriso do cão insolente. Isso, ouusar sua lâmina para alargá-lo...

— Desculpe — disse o líder,enrubescendo —, às vezes, medescuido. Que assunto o traz aDamasco? — Ele empertigou-se umpouco, lembrando-se finalmente deseu lugar.

— Um homem chamado Tamir

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— respondeu Altaïr. — Al Mualimdiscorda do serviço que ele faz epretendo acabar com isso. Diga ondeeu o encontro.

— Você vai ter de ir atrás dele.Altaïr se irritou.— Mas esse tipo de trabalho é

melhor deixar para... — Deteve-se,lembrando-se das ordens de AlMualim. Ele devia ser novamente umaprendiz. Devia conduzir as própriasinvestigações. Encontrar o alvo.Executar a matança. Ele assentiu,aceitando sua tarefa.

— Investigue pela cidade.

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Verifique o que Tamir planeja e ondeele trabalha. A preparação faz ovitorioso — continuou o líder.

— Tudo bem, mas o que pode mefalar sobre ele? — indagou Altaïr.

— Ele ganha a vida comocomerciante do mercado negro,portanto a região do souk deverá serseu destino.

— Suponho que queira que euvolte aqui depois de ter feito isso.

— Volte. Eu lhe darei omarcador de Al Mualim. E você nosdará a vida de Tamir.

— Como queira.

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Contente por estar longe doinútil Bureau, Altaïr seguiu seucaminho pelos telhados. Mais umavez, inalou o ar da cidade quandoparou para observar uma rua estreitaabaixo. Uma leve brisa fazia ostoldos ondularem. Mulheres semovimentavam perto de umabarraca que vendia lustrosaslâmpadas a óleo, tagarelandofreneticamente, e, não muitodistante, dois homens discutiam.Sobre o quê, Altaïr não conseguiaescutar.

Voltou a atenção para o edifício

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do outro lado, depois para ostelhados mais distantes. Dali podiaver a Grande Mesquita e o local dosJardins Formais no sul, mas o queprecisava encontrar era o...

Ele o avistou, o imenso Souk al-Silaah — onde, de acordo com olíder, poderia começar a investigarsobre Tamir. O líder sabia mais doque tinha revelado, é claro, mastinha ordens expressas de não contara Altaïr. Ele entendia: o “aprendiz”tinha de aprender pelo modo difícil.

Altaïr deu dois passos para trás,balançou os braços para relaxá-los,

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inspirou fundo, e saltou.Em segurança, do outro lado,

agachou-se por um momento,ouvindo a conversa vinda da vielaabaixo. Observou um grupo deguardas que passava, conduzindoum asno com uma carroça quevergava sob o peso de muitos barrisempilhados.

— Abram caminho —ordenavam os guardas, empurrandocidadãos para fora de seu caminho.— Abram caminho, pois temossuprimentos que seguirão para oPalácio do Vizir. Sua Excelência

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Abu’l Nuqoud vai dar outra festa.Os cidadãos que foram

empurrados para o lado escondiamsuas caretas de descontentamento.

Altaïr observou os soldadospassarem abaixo dele. Ouvira onome de Abu’l Nuqoud: o tal aquem chamavam de Rei Mercadorde Damasco. Os barris. Altaïr podiaestar enganado, mas eles pareciamconter vinho.

Não importava. O assunto deAltaïr estava em outra parte.Levantou-se e saiu correndo, malparando para saltar até o edifício

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seguinte e depois para o próximo,sentindo a cada salto uma novaonda de poder e força. Voltando afazer o que sabia.

Visto de cima, o souk era comoum buraco irregular que foraperfurado nos telhados da cidade demodo que fosse fácil de encontrar.Ele, que era o maior centro comercialde Damasco, ficava no centro dodistrito pobre no nordeste da cidadee era cercado por edificações de barroe madeira por todos os lados —Damasco tornava-se um pântanoquando chovia —, e era uma colcha

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de retalhos de carroças, barracas emesas de mercadores. Odoresagradáveis chegavam até Altaïr emsua posição no alto: perfumes eóleos, especiarias e doces. Por toda aparte, fregueses, mercadores enegociantes tagarelavam ou semovimentavam rapidamente porentre as multidões. As pessoas dacidade ou ficavam paradas oucorriam de um lugar ao outro.Aparentemente, não havia meio-termo — não ali, pelo menos. Ele asobservou por algum tempo, entãodesceu do telhado e, misturando-se à

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multidão, prestou atenção.Prestou atenção para ouvir uma

palavra.— Tamir.Os três mercadores estavam

amontoados na sombra,conversando calmamente, masfazendo todos os tipos de gestosagitados com as mãos. Foram elesque disseram o nome, e Altaïrmovimentou-se pela lateral nadireção deles, virando-se de costas eouvindo mentalmente a instrução deAl Mualim ao fazer isso: “Nuncafaça contato visual, pareça sempre

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ocupado e permaneça relaxado.”— Ele convocou outra reunião —

ouviu Altaïr, sem conseguiridentificar qual dos homens estavafalando. Quem era o “ele” de quemfalavam? Tamir, provavelmente.Altaïr prestou atenção, memorizandoo local da reunião.

— O que é dessa vez? Outraadvertência? Outra execução?

— Não. Ele tem trabalho paranós.

— O que significa que nãoseremos pagos.

— Ele abandonou o costume da

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guilda dos mercadores. Agora faz oque lhe agrada...

Começaram a debater um grandenegócio — o maior de todos ostempos, dissera um deles, à meia-voz— quando, de repente, pararam.Não muito distante, um orador coma barba preta aparada bem curtaestava parado em um lugar, e agoraencarava os mercadores com olhossombrios, encapuzados. Olhosameaçadores.

Altaïr lançou um olhar furtivo debaixo de seu capuz. Os três homenstinham empalidecido. Um deles

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arrastou a terra do chão com asandália; os outros dois saíramapressados, como se subitamentetivessem se lembrado de umcompromisso importante. Oencontro tinha chegado ao fim.

O orador. Talvez fosse um doshomens de Tamir. Evidentemente, ocomerciante do mercado negrogovernava o souk com mão firme.Altaïr afastou-se quando o homemcomeçou a falar, angariando umaplateia.

— Ninguém conhece Tamirmelhor do que eu — anunciou ele

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em voz alta. — Aproximem-se.Ouçam a história que tenho paracontar. Sobre um príncipecomerciante sem par...

Justamente a história que Altaïrqueria ouvir. Aproximou-se, dispostoa interpretar o papel de observadorinteressado. O mercado seaglomerou à sua volta.

— Foi pouco antes de Hattin —continuou o orador. — Ossarracenos estavam com poucacomida e precisandodesesperadamente dereabastecimento. Mas não havia

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socorro à vista. Tamir, naqueletempo, conduzia uma caravana entreDamasco e Jerusalém. Os negócios,porém, andavam ruins.Aparentemente, não havia ninguémem Jerusalém que quisesse o que eletinha: frutas e legumes das fazendaspróximas. E, assim, Tamir partiu,cavalgando para o norte e pensandono que fazer com suas mercadorias.Em pouco tempo elas com certezaapodreceriam. Esse seria o fim destahistória e da vida do pobre homem...Mas o destino planejava o contrário.

“Ao levar sua caravana para o

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norte, Tamir encontrou o lídersarraceno e seus homens famintos.Que grande sorte a de ambos; cadaqual tinha o que o outro queria.

“Então Tamir entregou aohomem sua comida. E, quando abatalha terminou, o líder sarracenoprovidenciou para que o mercadorfosse pago mil vezes.

“Dizem que, se não fosse Tamir,os homens de Salah Al’din teriam sevoltado contra ele. Pode ser quetenhamos ganhado a batalha graçasa esse homem...

Ele encerrou sua fala e deixou

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que a plateia se dispersasse. Em seurosto havia um leve sorriso quandodesceu da plataforma de volta para omercado. Indo talvez a outraplataforma para fazer o mesmodiscurso exaltando Tamir. Altaïrseguiu-o, mantendo uma distânciasegura, mais uma vez ouvindo nacabeça as palavras de seu tutor:“Ponha obstáculos entre você e suapresa. Nunca seja descoberto por umolhar de relance para trás.”

Essas habilidades; Altaïr adoravaa sensação que lhe causavam outravez. Ele gostava de ser capaz de se

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abstrair do barulho do dia e seconcentrar em sua presa. Então,abruptamente, ele parou. Adiantedele, o orador havia se chocado comuma mulher carregando um jarro,que se quebrara. Ela começou aprotestar, a mão estendida exigindopagamento, mas ele torceu o lábio deforma cruel e ergueu a mão paraagredi-la. Altaïr sentiu-se tensionar,mas ela se curvou, e ele sorriu comdesdém, baixando a mão e seguindoem frente, chutando pedaços dojarro quebrado no caminho. Altaïravançou e passou pela mulher, que

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agora estava agachada na areia,chorando, praguejando e recolhendoos cacos de seu pote.

Então o orador virou na esquinae Altaïr o seguiu. Estavam em umaviela estreita, quase vazia, ondeparedes escuras de barro seapertavam contra eles. Um atalho,provavelmente, para a próximaplataforma. Altaïr olhou para trás,em seguida deu alguns passosrápidos adiante, segurou o oradorpelo ombro, girou-o e enfiou aspontas dos dedos embaixo de suacaixa torácica.

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Instantaneamente, o orador securvou, cambaleando para trás eofegando, a boca movendo-se comoa de um peixe fora da água. Altaïrdeu uma olhada para ver se nãohavia testemunhas, então deu umpasso à frente, fez um giro e chutouo orador na garganta.

Ele caiu para trásdesordenadamente, seu thawbenroscado nas pernas. Agora suasmãos estavam onde Altaïr o haviachutado, e ele rolou na poeira.Sorrindo, Altaïr foi para adiante.Fácil, pensou ele. Tinha sido tão...

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O orador movimentou-se com arapidez de uma naja. Levantou-se echutou, atingindo em cheio o peitode Altaïr. Surpreso, o Assassinocambaleou para trás, enquanto ooutro avançava, com a bocaendurecida e os punhos agitando-se.Seus olhos brilharam ao perceber quehavia abalado Altaïr, que se desvioude um soco direto. O Assassinoentão notou que o orador tinha feitoisso de propósito, pois o acertou noqueixo com o outro punho.

Altaïr quase caiu, sentindo gostode sangue e praguejando contra si

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mesmo. Subestimara seu oponente.Erro de aprendiz. O orador olhounervosamente à sua volta como seprocurasse a melhor rota de fuga.Altaïr tentou esquecer a dor do rostoe avançou, mantendo os punhosbem altos para encontrar a têmporado orador antes que conseguissedesviar do golpe. Por algunsmomentos, os dois trocaram socosno beco. O orador era menor e maisrápido, e atingiu Altaïr bem emcima, na ponta do nariz. O Assassinovacilou, pestanejando para afastar aslágrimas que dividiam sua visão.

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Sentindo a vitória, o orador avançou,desferindo socos violentos. Altaïrpulou para o lado, baixou-se earrastou os pés do orador para longedele, derrubando-o ruidosamente naareia enquanto a respiração tornava-se uma bufada ao cair de costas.Altaïr girou e caiu, afundando ojoelho diretamente na virilha dooponente. Sentiu-se gratificado aoouvir um urro agonizante emresposta, então levantou-se, e osombros subiram e descerampesadamente enquanto serecuperava. O orador estremecia

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silenciosamente no chão, com a bocaescancarada soltando um grito mudoe as mãos na virilha. Quandoconseguiu ofegar com grandedificuldade, Altaïr se agachou,levando o rosto para perto do dele.

— Você parece conhecer muitacoisa sobre Tamir — sibilou. —Diga-me o que ele está planejando.

— Conheço apenas as históriasque conto — gemeu o orador. —Nada mais.

Altaïr pegou um punhado deterra e deixou que ela escorresse pelosseus dedos.

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— Uma pena. Não há motivopara deixá-lo viver, se não tem nadaa oferecer em troca.

— Espere. Espere. — O oradorergueu a mão trêmula. — Tem umacoisa...

— Continue.— Ele tem estado muito

preocupado. Supervisiona aprodução de muitas, muitas armas...

— E daí? Provavelmente paraSalah Al’din. Isso não me ajuda. Oque significa que não ajuda você... —Altaïr moveu o braço.

— Não. Espere. Ouça. — Os

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olhos do orador reviraram e brotousuor de sua testa. — Não são paraSalah Al’din. São para outra pessoa.Os emblemas que essas armascontêm são diferentes.Desconhecidos. Parece que Tamirapoia outro... Mas não sei quem .

Altaïr assentiu.— Isso é tudo? — perguntou.— Sim. É. Eu lhe contei tudo o

que sei.— Então está na hora de você

descansar.— Não — começou o orador,

mas ouviu-se um clique, que no beco

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soou tão alto quanto uma louça debarro quebrando, quando Altaïrliberou sua lâmina e a enfiou noesterno do orador, segurando omoribundo enquanto ele se debatia,preso ao aço, o sangue espumandodos cantos da boca e os olhosembaçando. Uma morte rápida.Uma morte limpa.

Altaïr largou-o na areia, estendeua mão para fechar seus olhos e entãose levantou. Sua lâmina deslizou devolta para o lugar, e ele empurrou ocorpo para trás de uma pilha debarris fedorentos, depois virou-se e

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deixou o beco.

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10

— Altaïr. Bem-vindo. Bem-vindo.O líder deu um largo sorriso

quando ele entrou, e Altaïrobservou-o por um momento,vendo-o encolher-se um poucodiante de seu olhar. Carregaria ele ocheiro da morte? Talvez o líder doBureau o tivesse sentido nele.

— Fiz o que pediu. Agora me dêo tal marcador.

— Primeiro o mais importante.Conte-me o que sabe.

Tendo recentemente tirado uma

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vida, Altaïr ponderou que seriainsignificante ter mais umaacrescentada à sua contagem diária.Ele estava louco para colocar ohomem em seu devido lugar. Masnão. Tinha de interpretar seu papel,não importava o quão de enigmáticoele achava que aquilo fosse.

— Tamir manda no Souk al-Silaah — informou ele, pensandonos mercadores conversando à meia-voz e no medo em seus rostosquando avistaram o orador deTamir. — Ele faz sua fortunavendendo armas e armaduras, e é

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apoiado por muitos nesseempreendimento: ferreiros,comerciantes, financistas. É oprincipal negociante da morte naterra.

O outro concordou com acabeça, sem ter ouvido nada que jánão soubesse.

— E você imaginou um meio denos livrar dessa praga? — indagoucom arrogância.

— Foi marcada uma reunião noSouk al-Silaah para discutir umavenda importante. Dizem que é amaior negociação já feita por Tamir.

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Ele vai estar distraído com seutrabalho. É quando vou atacar.

— Seu plano parece bastanteconsistente. Permitirei que siga comele.

Ele alcançou a parte de baixo daescrivaninha e apanhou o marcadorde Al Mualim. Uma pena de umadas adoradas aves do Mestre.Colocou-a sobre a escrivaninha entreeles.

— Que seja feito o desejo de AlMualim — disse ele, quando Altaïrapanhou a pena marcadora e aguardou cuidadosamente dentro do

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manto.Logo após o sol nascer ele deixou

o Bureau e seguiu de volta para oSouk al-Silaah. Quando chegou aomercado, todos os olhos pareciamestar em um pátio cerimonialrebaixado em seu centro.

Logo percebeu por quê: ali estavao comerciante Tamir. Com doiscarrancudos guarda-costas em suaretaguarda, comandava o pátio,assomando sobre um homemtrêmulo parado diante dele. Usavaum turbante quadriculado, túnicaelegante e perneiras. Os dentes

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estavam expostos sob um bigodeescuro.

Enquanto caminhava pela parteexterna da multidão, Altaïr ficava deolho no que estava acontecendo.Mercadores tinham saído de trás desuas barracas para também assistir.Os damascenos que se apressavamentre destinos ou se perdiam emconversas haviam feito uma pausatemporária.

— Se ao menos tivesse dado umaolhada... — alegou o homemencolhido diante de Tamir.

— Seus cálculos não me

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interessam — vociferou Tamir. — Osnúmeros não mudam nada. Seushomens falharam em atender àencomenda. O que significa quefalhei com o meu cliente.

Cliente, pensou Altaïr. Quempoderia ser?

O mercador engoliu em seco.Seus olhos seguiram para a multidãoem busca de salvação. Nãoencontrou nenhuma. Os guardas domercado permaneciam com aexpressão vazia e os olhosinexpressivos, enquanto osespectadores apenas observavam,

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ansiosos. Altaïr estava com nojo detodos eles: dos abutres observando,dos guardas que nada faziam. Acimade tudo, porém, de Tamir.

— Precisamos de mais tempo —pleiteou o mercador. Talvez eletivesse se dado conta de que essa eraa única chance de levar Tamir a sermisericordioso.

— Isso é desculpa de quem épreguiçoso ou incompetente —devolveu o atravessador. — Qualdeles você é?

— Nenhum dos dois — retrucouo mercador, torcendo as mãos.

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— O que vejo é o contrário —afirmou Tamir, que ergueu o pé parauma mureta e apoiou-se no joelho.— Agora, diga-me, o que pretendefazer para resolver esse nossoproblema? Essas armas sãonecessárias agora.

— Não vejo solução — gaguejouo mercador. — Os homenstrabalham dia e noite. Mas o seu...cliente exige demais. E o destino... Éuma rota difícil.

— Se você produzisse armas coma mesma habilidade com que produzdesculpas — gargalhou Tamir.

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Atuando para a plateia, ele foirecompensado com risadinhas,provocada mais pelo medo do quepela qualidade do seu humor.

— Tenho feito tudo o que épossível — insistiu o homem maisvelho. O suor descia livremente dafaixa do turbante e sua barbagrisalha tremia.

— Isso não basta.— Então talvez você peça demais

— tentou o mercador.Foi um plano arriscado. O

sorriso que usara para agradar amultidão se apagou do rosto de

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Tamir e ele dirigiu os olhos frios parao velho.

— Demais? — disse ele, umanova frieza na voz. — Eu dei tudo avocê. Sem mim, você ainda estariaencantando serpentes em troca deuma moeda. Tudo que pedi comoretribuição foi que executasse asordens que lhe dei. E diz que peçodemais?

Ele sacou a adaga, a lâminacintilando. Os espectadoresmudaram de posiçãodesconfortavelmente. Altaïr olhoupara os guardas, que permaneciam

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com os braços cruzados, os sabresnos cintos e os rostos inexpressivos.Ninguém no souk ousava se mexer;era como se um encanto tivessebaixado sobre todos eles.

Um som de medo escapou domercador. Ele caiu de joelhos,erguendo as mãos unidas em súplica.O rosto estava marcado compiedade; os olhos brilhavam comlágrimas.

Tamir olhou-o abaixo, umacriatura patética ajoelhada diantedele, e cuspiu. O mercadorpestanejou para livrar os olhos do

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muco.— Você ousa me difamar? —

rugiu Tamir.— Paz, Tamir — choramingou o

velho. — Não tive a intenção deinsultá-lo.

— Então devia ter mantido aboca fechada — rosnou Tamir.

Altaïr podia ver a sede de sangueem seus olhos e sabia exatamente oque ia acontecer. Realmente, Tamirdeu um golpe no mercador com aponta da adaga, abrindo em suatúnica um buraco inclinado nadiagonal que imediatamente se

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manchou de vermelho. O mercadorajoelhado caiu de costas com umgrito agudo que atravessou todo omercado.

— Não! Pare! — guinchou.— Parar? — zombou Tamir. —

Eu apenas comecei. — Deu um passoadiante, enfiou a adaga bem fundona barriga do homem e o empurroupara o chão, onde ele gritou comoum animal enquanto Tamir oesfaqueava novamente. — Você veioao meu souk — gritou.

E esfaqueou.— Ficou diante de meus homens.

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Esfaqueou de novo. Uma quartavez. O barulho soando igual ao decarne sendo amaciada. O velhocontinuava berrando.

— E ousou me insultar?Facadas. Ele pontuou cada

palavra com uma estocada de suaadaga.

— Você deve aprender o seulugar.

Mas agora o mercador haviaparado de berrar. Agora ele não eranada, apenas um cadáver agredido,ensanguentado e esparramado nopátio, com a cabeça jazendo em um

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ângulo esquisito. Um dos guarda-costas de Tamir avançou para retiraro corpo.

— Não — ordenou Tamir,resfolegante. Secou a barba com ascostas da mão. — Deixe aí. — Entãovirou-se para se dirigir à multidão.— Que isso sirva de lição para o restode vocês. Pensem duas vezes antes deme dizerem que uma coisa não podeser feita. Agora voltem ao trabalho.

Deixando o corpo do velho ondeestava — um cachorro interessado jácomeçava a farejar ao redor —, osespectadores retomaram o seu dia a

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dia, e a atividade no souk cresceugradualmente. Poucos momentosdepois, era como se nada tivesseacontecido. Como se o velho tivessesido esquecido.

Mas não por Altaïr. Ele se viuabrindo as mãos cerradas, soltandoum demorado e pesado suspiro,controlando e contendo sua raiva.Baixou um pouco a cabeça, com osolhos escondidos sob o capuz, ecaminhou furtivamente por entre amultidão no encalço de Tamir, queseguia pelo mercado, com seus doisguarda-costas não muito atrás.

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Chegando mais perto, Altaïr ouviu-ofalar com os mercadores, cada qualencarando-o com olhos arregalados,aterrorizados, concordandoimpetuosamente com tudo que lhesera dito.

— Não posso vender isso —vociferou Tamir. — Derreta e tentenovamente. E, se o resultado for domesmo modo insatisfatório, você équem vai derreter depois.

Olhos arregalados. Assentindo,assentindo, assentindo.

— Não entendo o que você fazdurante o dia todo. Sua barraca está

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cheia de mercadorias. Sua bolsadeveria estar cheia de moedas. Porque não consegue vender essascoisas? Não é difícil. Talvez você nãoesteja se empenhando o suficiente.Precisa de motivação?

O mercador estava concordandocom a cabeça antes de perceber o quelhe estava sendo perguntado, erapidamente mudou para umigualmente enfático balançarnegativo da cabeça. Tamir avançou.A multidão fervilhava à sua volta.Seus guarda-costas... Seria agorauma oportunidade? Com o mercado

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inteiro aterrorizado por Tamir, seushomens haviam baixado a guarda.Eles tinham ficado atrás de outrabarraca, onde exigiam mercadoriaspara presentear suas mulheres. Tamirtinha novas vítimas para aterrorizar.

Altaïr deslizou entre ele e os doisguarda-costas. Tenso, sentiu no dedomindinho a resistência domecanismo de sua lâmina. Tamirestava de costas para ele, aindainsultando outro dono de barraca.

— Você me implorou para teresse lugar. Jurou que ninguém seriacapaz de se sair tão bem quanto você.

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Eu devia...Altaïr avançou, e — tique — a

lâmina saltou para fora enquantomovia um braço em volta de Tamir eusava o outro para enfiar a armabem fundo.

Tamir emitiu um somestrangulado, mas não gritou, e, porum segundo, se retorceu antes deamolecer. Sobre o ombro dele, Altaïrfez contato com os olhos arregaladosdo dono de barraca aterrorizado eviu o homem lutar internamentesobre o que fazer: dar o alarme ou...O mercador deu as costas e afastou-

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se.Altaïr baixou Tamir para o chão

entre duas barracas, fora da vista dosdois guarda-costas, quepermaneciam distraídos.

Os olhos de Tamir tremularam.— Fique em paz — desejou Altaïr

gentilmente.— Você pagará por isso,

Assassino — disse Tamir com umsom estridente. Um filete de sangueescorreu de seu nariz. — Você e todaa sua espécie.

— Parece que é você quem estápagando agora, meu amigo. Não vai

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mais lucrar com o sofrimento.Tamir soltou uma gargalhada

áspera, fraca.— Pensa que sou um reles

mercador da morte sugando no seioda guerra? Um alvo estranho talvez?Por que eu, quando tantos outrosfazem a mesma coisa?

— Quer dizer que se achadiferente? — perguntou Altaïr.

— Ah, mas eu sou, pois sirvo auma causa muito mais nobre do quea do simples lucro. Exatamente comomeus irmãos...

— Irmãos?

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Novamente Tamir riu,enfraquecido.

— Ah... ele pensa que ajosozinho. Eu não passo de uma peça.Um homem com um papel adesempenhar. Você conhecerá osoutros muito em breve. Eles nãoaceitarão com delicadeza o que vocêfez.

— Ótimo. Estou ansioso paraacabar com a vida deles também.

— Quanta vaidade. Ela odestruirá, garoto — disse Tamir. Emorreu.

— As pessoas precisam morrer

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para as coisas mudarem — entoouAltaïr, fechando os olhos do homem.

Tirou a pena de Al Mualim dedentro do manto e molhou-a com osangue de Tamir, então deu umaúltima olhada nos guarda-costas efoi embora, desaparecendo namultidão. Ele já era uma sombraquando ouviu atrás de si um grito.

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Tamir, o primeiro dos nove: AlMualim estava silenciosamentesatisfeito, olhando da pena suja desangue sobre sua escrivaninha paraAltaïr e elogiando-o, antes de dar aele a próxima tarefa.

Altaïr baixou a cabeça emconcordância e deixou o Mestre. Nodia seguinte, juntou seussuprimentos e partiu novamente,dessa vez para Acre — uma cidademantida tão fortemente pelosCruzados quanto o era Damasco sob

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os homens de Salah Al’din. Umacidade ferida pela guerra.

Acre fora conquistada comdificuldade. Os cristãos a retomaramapós um prolongado e sangrentocerco que durou quase dois anos.Altaïr desempenhara seu papel,ajudando a impedir que a água dacidade fosse envenenada pelosTemplários.

Ele, porém, nada pudera fazersobre o envenenamento que de fatoocorrera: cadáveres na água tinhamdisseminado doenças igualmentepara muçulmanos e cristãos — tanto

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dentro quanto fora dos muros dacidade. Os suprimentos haviam seesgotado e milhares tinhamsimplesmente morrido de fome.Então mais Cruzados chegaram paraconstruir mais máquinas, e seusataques fizeram buracos nasmuralhas da cidade. Os sarracenostinham reagido por tempo suficientepara poderem tapar as brechas, até oexército de Ricardo Coração de Leãosimplesmente esgotar osmuçulmanos e estes se renderem. OsCruzados haviam avançado parareivindicar a cidade e tomar sua

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guarnição como refém.Negociações entre Salah Al’din e

Ricardo pela libertação dos refénshaviam começado, com seus pontosmais importantes complicados porum desacordo entre Ricardo e ofrancês Conrad de Montferrat, quenão estava disposto a entregar osreféns feitos pelas forças francesas.

Conrad voltara para Tiro;Ricardo estava a caminho de Jaffa,onde suas tropas encontrariam as deSalah Al’din. E deixado comoencarregado estava o irmão deConrad, William.

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William de Montferrat haviaordenado que os reféns muçulmanosfossem mortos. Quase três mil foramdecapitados.

E foi assim que Altaïr se viuconduzindo suas investigações emuma cidade marcada pela suahistória recente: de sítio, doença,fome, crueldade e derramamento desangue. Uma cidade cujos habitantesconheciam muito bem o sofrimento,cujos olhos escondiam dor e cujosombros estavam curvados pelatristeza. Nas áreas pobres eleencontrou o pior do sofrimento.

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Corpos envoltos em musselinarevestiam as ruas, enquantoembriaguez e violênciapredominavam nos portos. A únicaárea da cidade que não fedia adesespero e morte era o distrito dacadeia, no qual os Cruzados estavambaseados — onde Ricardo tinha suacidadela, e William, seus aposentos.Dali os Cruzados haviam declaradoAcre a capital do Reino de Jerusaléme a tinham usado para armazenarsuprimentos antes de Ricardo partirna marcha para Jaffa, deixandoWilliam encarregado. Até então seu

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reinado havia simplesmenteexacerbado os problemas da cidade,os quais eram por demais evidentes— e afligiram Altaïr enquanto seguiapelas ruas. Ele ficou contente emterminar suas investigações e ir parao Bureau dos Assassinos. Ali o líder,Jabal, arrulhava delicadamente paraum pombo que segurava nas mãos.Ele ergueu a vista quando Altaïrentrou no aposento.

— Ah, Altaïr — exclamousuavemente. — Um passarinho mecontou que você faria uma visita...

Ele riu da própria piada, então

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abriu a mão para soltar o pombo.Em vez de voar, o pássarosimplesmente pousou no balcão,onde estufou as penas do peito epassou a caminhar de um lado parao outro como se montasse guarda.Jabal observou-o, divertindo-se,depois se ajeitou no assento para daratenção ao visitante.

— E quem é o pobre infelizescolhido por Al Mualim paraexperimentar sua lâmina, Altaïr? —perguntou.

— Al Mualim ordenou aexecução de Garnier de Naplouse.

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Jabal assustou-se.— Grão-Mestre dos Cavaleiros

Hospitalários?Altaïr concordou lentamente.— Sim. E já decidi quando e

como atacar.— Então compartilhe seu

conhecimento comigo. — Jabalparecia impressionado, e com razão.

— Ele vive e trabalha no hospitalda Ordem, a noroeste daqui. Hárumores de que são cometidasatrocidades dentro de seus muros —começou Altaïr.

Quando Altaïr lhe contou o que

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sabia, Jabal concordou empensamento, refletindo sobre suaspalavras e perguntando finalmente:— Qual é o seu plano?

— Garnier permaneceprincipalmente em seus aposentos,no interior do hospital, embora saiade vez em quando para examinar ospacientes. É quando ele fizer suaronda que atacarei.

— É claro que você já pensoubastante sobre isso. Dou permissãopara você ir. — E, com isso, entregoua Altaïr a pena marcadora de AlMualim. — Remova essa mancha de

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Acre, Altaïr. Talvez isso o ajude a sepurificar.

Altaïr apanhou a penamarcadora, fitou Jabal com um olharmaligno — cada Assassino teriaficado ciente de sua vergonha? — epartiu, seguindo seu caminho pelostelhados até avistar o hospital. Aliparou, recuperando o fôlego eorganizando os pensamentosenquanto olhava para a construçãoabaixo.

Altaïr dera a Jabal uma versãotruncada de suas descobertas;escondera sua verdadeira sensação

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de repugnância do líder do Bureau.Ele ficara sabendo que De Naplouseera Grão-Mestre da Ordem dosCavaleiros Hospitalários. Fundadaoriginalmente em Jerusalém — seuobjetivo era fornecer cuidados aosperegrinos doentes —, os cavaleirostinham sua base em uma das áreasmais espoliadas de Acre.

E ali, de acordo com o que Altaïrdescobrira, De Naplouse fazia tudomenos fornecer cuidados.

No distrito hospitalário, eleouvira dois membros da Ordemcomentarem que o Grão-Mestre

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estava recusando cidadãos comunsno hospital, e que as pessoas estavamprestes a se tornar violentas porcausa disso. Um deles disse quetemia a repetição de um escândaloque havia ocorrido em Tiro.

— Que escândalo? — perguntarao amigo.

O homem inclinou-se para bemperto do companheiro, pararesponder, e Altaïr foi forçado aaguçar a audição.

— Garnier em outro tempochamou essa cidade de lar — disserao homem —, mas foi exilado. Dizem

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que fazia experiências com seuscidadãos.

Seu companheiro fizera uma carade náusea.

— Que tipo de experiência?— Não conheço os detalhes, mas

me preocupo... Será que ele começounovamente? Será por isso que ele setranca na fortaleza dosHospitalários?

Mais tarde, Altaïr leu umpergaminho que havia furtado deum aliado de De Naplouse. OHospitalário, segundo leu, não tinha

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intenções de curar seus pacientes.Com fornecimento de indivíduos deJerusalém, ele realizava experiências— experiências para um amodesconhecido — com o objetivo deinduzir determinados estados emsuas cobaias. E Tamir — o recém-falecido Tamir — tinha sidoencarregado de conseguir armas paraa operação.

Uma frase em particular na cartachamou sua atenção: Temos de nosempenhar para recuperar o que nosfoi tomado. O que significava aquilo?Meditando a respeito, ele continuou

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suas investigações. O Grão-Mestre,segundo soube, permitia que“loucos” perambulassem pelo terrenodo hospital, e ele descobriu osmomentos em que os arqueiros queprotegiam as passagens acima dohospital deixavam seus postos. Ficousabendo que De Naplouse gostava defazer suas rondas sem um guarda-costas e que era permitida passagemapenas a monges.

Então, em posse de todas asinformações de que precisava, Altaïrvisitara Jabal para apanhar omarcador de Al Mualim.

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Agora ele se movimentava ao redorde um prédio vizinho à fortaleza dosHospitalários. Como previra, haviaum guarda e um arqueiro, e Altaïrobservou-o caminhar pela passagem,de vez em quando dirigindo o olharpara o pátio abaixo, mas fitandosobretudo para além da linha dotelhado. Altaïr olhou para o sol.Devia estar perto agora, pensou,sorrindo consigo mesmo, quando, defato, o arqueiro foi até uma escada edesceu.

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Altaïr permaneceu abaixado.Pulou do telhado para a passagem ea percorreu em silêncio, mas a passosrápidos, até conseguir enxergar alémda beirada para o pátio lá embaixo.Era totalmente murado por pedrasombria, cinzenta e ameaçadora,com um poço em seu centro, mas,fora isso, não tinha adorno algum,bem diferente dos prédiosnormalmente enfeitados e decoradosde Acre. Ali estavam reunidos váriosguardas vestidos com casacos pretose acolchoados dos CavaleirosHospitalários, com a cruz branca no

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peito, e havia também um grupo demonges. Movimentando-se entre elesestavam o que pareciam pacientes,descalços e sem camisa. Pobresmiseráveis que vagavam por ali, comas expressões vazias e os olhosvidrados.

Altaïr franziu a testa. Mesmocom a passagem desguarnecida, eraimpossível descer para o pátio semser visto. Ele foi até o muro da frentedo hospital, para poder ver a rua láfora. Sobre pedra descorada pelo sol,habitantes doentes e suas famíliasimploravam que os guardas os

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deixassem entrar. Outros, cujasmentes haviam sido perdidas,perambulavam no meio da multidão,balançando os braços no ar,berrando bobagens e obscenidades.

E ali — Altaïr sorriu ao vê-lo —estava um grupo de eruditos. Eles semovimentavam pela multidão comose ela não existisse, indiferentes aosofrimento e ao tumulto à sua volta.Pareciam ir em direção ao hospital.Tirando vantagem da desordem,Altaïr desceu para a rua sem sernotado, juntou-se ao grupo deeruditos e baixou a cabeça para

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concentrar o olhar no seu arrastar depés. De vez em quando, arriscava umolhar de soslaio para checar aposição deles e, como haviaesperado, seguiam mesmo emdireção ao hospital, onde os guardasse afastaram para deixá-los entrar nopátio.

Altaïr mexeu o nariz. Se, por umlado, a rua havia conservado ocheiro da cidade, de cozimento eperfumes e temperos, ali havia ofedor de sofrimento, de morte erestos humanos. De alguma parte —através de um conjunto de portas

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fechadas — vinha uma série de gritosde dor, seguido de um gemido baixo.Devia ser do hospital principal,pensou ele. O que pôde confirmar,quando, de repente, as portas foramlançadas para fora e um pacientesaiu correndo loucamente para opátio.

— Não! Socorro! Ajudem-me! —gritava ele. O rosto estava contorcidode medo, os olhos, arregalados. —Ajudem-me, por favor! Vocêsprecisam me ajudar!

Atrás dele vinha um guarda.Tinha um olhar indolente, como se

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os músculos de suas pálpebrastivessem sido cortados. Ele correuatrás do louco fugitivo e o agarrou.Então, acompanhado por outroguarda, começou a socá-lo e chutá-loaté que o louco foi dominado e postode joelhos.

Altaïr observava. Sentiu o queixose retesar e os punhos se fecharemenquanto os guardas batiam nohomem. Outros pacientes seaproximaram para ter uma melhorvisão do espetáculo, olhando comexpressões que registravam apenasum leve interesse, balançando-se

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ligeiramente.— Piedade! — urrou o louco,

enquanto choviam socos sobre ele. —Imploro por piedade. Já chega!

Ele parou. De repente sua dor foiesquecida quando as portas dohospital se abriram e dali surgiu umhomem que só poderia ser Garnierde Naplouse.

Ele era mais baixo do que Altaïresperava. Não usava barba e tinhacabelo branco cortado bem curto,olhos fundos e uma boca cruel,virada para baixo, que lhe davamuma aparência cadavérica. A cruz

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branca dos Hospitalários estava emseus braços e ele carregava umcrucifixo pendurado no pescoço —mas, percebeu Altaïr, qualquer quefosse o Deus que ele venerava, este otinha abandonado. Pois ele tambémusava um avental. Um avental sujo,manchado de sangue.

Agora olhava sombriamente parao louco prostrado à sua frente,seguro por Olho Indolente e outroguarda, Olho Indolente erguendo opunho para socá-lo novamente.

— Basta, meu filho — ordenouDe Naplouse. — Pedi que você

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trouxesse o paciente de volta, nãoque o matasse.

Olho Indolente baixou o punhocom relutância e De Naplouse foimais adiante, aproximando-se dolouco, que gemia e tentava se soltar,como um animal apavorado.

De Naplouse sorriu, a severidadedesaparecendo.

— Pronto, pronto — disse ele aolouco, quase ternamente. — Tudovai ficar bem. Dê sua mão.

O louco balançou a cabeça.— Não... não! Não me toque. De

novo não...

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De Naplouse enrugou a testa,como se tivesse sido levemente feridopela reação do homem a ele.

— Expulse esse medo, ou nãoconseguirei ajudá-lo — disse elecalmamente.

— Me ajudar? Como ajudou osoutros? Você tomou as almas deles.Mas não a minha. Não. Não terá aminha. Nunca, nunca, nunca... Aminha não, a minha não, a minhanão, a minha não...

A suavidade sumiu quando DeNaplouse esbofeteou o louco.

— Contenha-se — vociferou ele.

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Os olhos fundos rutilaram, e acabeça do outro baixou. — Vocêacha que isso me dá prazer? Vocêacha que quero machucá-lo? Masvocê não me dá escolha...

De repente, o louco se soltou dosdois guardas e tentou correr para omeio da multidão que observava.

— Cada palavra gentil éacompanhada das costas de suamão... — guinchou ele ao passarperto de Altaïr enquanto os doisguardas corriam atrás. — É tudomentira e fraude. Ele não secontentará até todos se curvarem a

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ele.Olho Indolente agarrou-o e

levou-o de volta para a frente de DeNaplouse, onde ficouchoramingando debaixo do olharfrio do Grão-Mestre.

— Você não devia ter feito isso —frisou De Naplouse, lentamente, e,depois, para Olho Indolente. —Leve-o de volta para seus aposentos.Irei para lá assim que cuidar dosoutros.

— Não podem me manter aqui!— berrou o louco. — Vou fugirnovamente.

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De Naplouse parou.— Não, não vai — falou

calmamente, depois dirigiu-se a OlhoIndolente: — Quebre as pernas dele.As duas.

Olho Indolente sorriu quando olouco tentou se livrar. Em seguidahouve dois repugnantes estalidos,como gravetos sendo quebrados,quando o enorme cavaleiro bateu opé com força em uma perna, depoisna outra. A vítima gritou, e Altaïrdescobriu-se avançando, incapaz dese conter, perturbado com acrueldade gratuita.

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Então o momento havia passado:o homem perdera a consciência — ador, sem dúvida, fora demais parasuportar — e os dois guardas oarrastavam dali. De Naplouse olhoupara ele. A expressão compassivaestava de volta ao seu rosto.

— Sinto muito, meu filho —disse ele, quase para si mesmo, antesde se dirigir à multidão. — Vocêsnão têm nada melhor para fazer? —bradou, e olhou sombriamente paramonges e pacientes, que lentamentecomeçaram a se dispersar. Quandovirou de costas para se juntar a eles,

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Altaïr viu De Naplouse esquadrinharcuidadosamente a multidão, como seprocurasse por alguém que teria sidoenviado para matá-lo.

Ótimo, pensou Altaïr ao ouvir aporta do hospital se fechar, quando oGrão-Mestre deixou o pátio. Que eletenha medo. Que sinta um pouco doque ele inflige aos outros. A imagemo animou, enquanto se juntava aoseruditos, que atravessavam asegunda porta. Esta levava à alaprincipal, onde esteiras de palhapouco conseguiam esconder o fortecheiro desagradável de sofrimento e

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restos humanos. Altaïr tentou nãoficar com náusea, notando quevários eruditos levavam o tecido deseus mantos até o nariz parabloquear o fedor. Dali surgiam osgemidos e Altaïr viu camas dehospital contendo homens quegemiam e ocasionalmente gritavamde dor. Mantendo a cabeça curvada,ele observava por baixo do capuz, eviu De Naplouse aproximar-se deuma cama na qual um homemmuito magro estava deitado, contidopor tiras de couro.

— E como está se sentindo? —

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perguntou-lhe De Naplouse.Cheio de dores, o paciente

resfolegou: — O que você fez...comigo?

— Ah, sim. A dor. Dói no início,não vou mentir. É um pequeno preçopelo qual se tem de pagar. Com otempo, você vai concordar.

O homem tentou levantar acabeça da cama.

— Você é... um monstro...De Naplouse sorriu com

indulgência.— Já fui chamado de coisa pior.Seguiu adiante, passando por

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uma jaula de madeira que cercavaoutra cama e olhou para o... não,não era um paciente, Altaïr se deuconta. Aqueles pobres miseráveiseram cobaias. Eram experimentos.Novamente lutou para conter araiva. Olhou em volta. A maioria dosguardas havia se reunido na outraextremidade da ala. Do mesmomodo como no pátio, váriospacientes desorientadoscambaleavam por ali, e ele viu omesmo bando de monges, quepareciam prestar atenção em cadaafirmação de De Naplouse, ao

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mesmo tempo que mantinham umadistância respeitosa, conversandoentre si, enquanto o Grão-Mestrefazia sua ronda.

Se ele ia fazer aquilo — e ele iamesmo fazer aquilo —, então teria deser logo.

Mas De Naplouse foi para outracama, sorrindo para o homemdeitado ali.

— Dizem que você agoraconsegue andar — disse eleafetuosamente. — Impressionante.

O homem parecia confuso.— Depois... de tanto tempo.

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Quase esqueci... como.De Naplouse parecia contente...

Contente de verdade.— Isso é maravilhoso — afirmou

De Naplouse, radiante.— Eu não... entendo. Por que me

ajudou?— Porque ninguém mais seria

capaz — respondeu De Naplouse,seguindo adiante.

— Eu devo minha vida a você —disse o homem da cama seguinte. —Estou às suas ordens. Obrigado.Obrigado por me libertar.

— Obrigado por me deixar —

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retrucou De Naplouse.Altaïr hesitou por um instante.

Estaria ele enganado? De Naplousenão era um monstro? Entãorapidamente afastou suas dúvidas,pensando, em vez disso, nos gritos deagonia do louco quando quebraramsuas pernas, nos pacientes sem vidaperambulando pelo hospital. Se aquihavia exemplos de cura, estescertamente eram superados por atosde barbarismo.

Agora De Naplouse haviachegado à última cama da ala. Empouco tempo ele iria embora e Altaïr

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perderia a chance. Decidido, oAssassino lançou um olhar para trás:os guardas continuavam no fim dosalão. Ele saiu do meio do grupo deeruditos, indo para trás de DeNaplouse quando o Grão-Mestre securvou diante do paciente.

Sua lâmina saltou adiante eAltaïr enfiou-a no alvo, alcançandoDe Naplouse e abafando seu grito nomomento em que ele arqueava ascostas com a dor. Quasedelicadamente, o Assassino baixou omédico para o chão.

— Livre-se de seu fardo —

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sussurrou.De Naplouse pestanejou e olhou

para ele; bem no rosto de seuAssassino. Mas não havia medonaqueles olhos moribundos: o queAltaïr viu foi preocupação.

— Ah... Eu agora descansarei,não? — disse ele. — O sono eternome chama. Mas, antes de fechar osolhos, preciso saber... O que será dasminhas crianças?

Crianças?— Você se refere às pessoas a

quem fez sofrer com suasexperiências cruéis? — Altaïr não

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conseguia evitar o asco em sua voz.— Elas agora ficarão livres paravoltar para casa.

De Naplouse riu secamente.— Casas? Que casas? Os esgotos?

Os bordéis? As prisões de onde nósas tiramos?

— Você pegou essas pessoascontra a vontade delas — continuouAltaïr.

— Sim. O pouco de vontade queainda lhes restava — arfou DeNaplouse. — Você é mesmo tãoingênuo assim? Você satisfaz umacriança em prantos simplesmente

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porque ela chora? “Mas eu querobrincar com fogo, papai.” O que vocêdiria? “Como queira”? Ah... Masentão você responderia pelasqueimaduras dela.

— Estas pessoas não são crianças— rebateu Altaïr, querendo entendero moribundo —, são homens emulheres adultos.

— No corpo, talvez. Mas não namente. Que é o próprio dano queprocuro consertar. Admito que, semo artefato, que vocês nos roubaram,meu progresso desacelerou. Masexistem as ervas. Misturas e extratos.

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Meus guardas são prova disso. Eramloucos antes de eu descobri-los elibertá-los das prisões de suasmentes. E, com minha morte, elesvoltarão a ser loucos...

— Acredita mesmo que estavaajudando essas pessoas?

De Naplouse sorriu, com a luzcomeçando a se apagar de seusolhos.

— Não é o que acredito. É o quesei.

E morreu. Altaïr baixou a cabeçadele para a pedra, apanhou a penade Al Mualim e passou-a no sangue.

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— Que a morte não sejaindelicada — sussurrou.

No mesmo momento, ouviu-seum grito saído do meio dos mongesque estavam próximos. Altaïrergueu-se ao lado do corpo e viu osguardas dispararem pela ala em suadireção. Quando sacaram as espadas,ele deu um salto para cima e correu,indo em direção a uma portadistante, a qual, Altaïr esperavafervorosamente, levaria ao pátio.

A porta se abriu e ele ficoucontente ao ver o pátio à sua frente.

Ficou, porém, menos contente,

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em ver Olho Indolente, que obstruíaa porta aberta com a espada de folhalarga desembainhada...

Altaïr também desembainhousua espada e, com a lâmina em umbraço e a espada na outra mão,enfrentou Olho Indolente com umsom metálico de aço. Por umsegundo, os dois homens ficaramnariz com nariz, e Altaïr pôde verbem de perto a pele cicatrizada doolho do cavaleiro. Então OlhoIndolente recuou, golpeando à frenteno mesmo instante e encontrando aespada de Altaïr, mas o homem se

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recompôs tão rapidamente que oAssassino quase perdeu a defesa.Altaïr deu um passo oscilante paratrás, querendo deixar um espaçoentre ele e Olho Indolente, que eramelhor espadachim do que haviaprevisto. Também era enorme. Ostendões de seu pescoço sesalientavam, desenvolvidos duranteanos pelo manejo da espada de folhalarga. Altaïr ouviu atrás de si osoutros guardas chegarem, mas elespararam diante de um sinal de OlhoIndolente.

— Deixem ele comigo — rosnou

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o gigantesco cavaleiro.Ele era arrogante, excessivamente

confiante. Altaïr sorriu, saboreandoa ironia. Então avançou, e sualâmina varreu acima. Sorrindo, OlhoIndolente desviou o golpe e grunhiuquando Altaïr saltou para a esquerdadele, aproximando-se pelo outrolado — o lado de seu olho ruim, seuponto fraco — e cortando seupescoço.

A garganta do cavaleiro abriu-see sangue brotou do ferimentoenquanto ele caía de joelhos. De trásde Altaïr, houve um grito de

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surpresa, e ele então começou acorrer, colidindo com uma porção deloucos que haviam se reunido paraobservar. Em seguida disparou pelopátio, passando pelo poço e porbaixo do arco para Acre.

Parou, examinandominuciosamente a linha dostelhados. Logo depois, pulou porcima de uma barraca, e um furiosomercador sacudiu o punho no arenquanto Altaïr escalava uma paredeatrás dele e alcançava os telhados.Correndo e saltando, deixou paratrás o hospital tenebroso e misturou-

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se ao movimento da cidade, aindameditando sobre as últimas palavrasde De Naplouse. O artefato do qualhavia falado. Por um instante Altaïrpensou na caixa sobre a escrivaninhade Al Mualim, mas não. Que ligaçãopossível poderia ter o Hospitaláriocom aquilo?

Mas se não aquilo, então o quê?

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— Garnier de Naplouse está morto— anunciara ele a Al Mualim diasdepois.

— Excelente. — O Mestreassentira em aprovação. — Nãopoderíamos ter esperado umresultado mais agradável.

— Mesmo assim... — começaraAltaïr.

— O quê?— O médico insistiu que o

trabalho que fazia era nobre —dissera Altaïr. — E, olhando para

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trás, muitos daqueles que achei quefossem prisioneiros dele pareciamagradecidos. Nem todos, mas osuficiente para me fazer pensar...Como ele conseguiu se transformarde inimigo em amigo?

Al Mualim dera uma risadinha.— Líderes sempre encontrarão

meios de fazer com que outros osobedeçam. E é isso que torna essaspessoas líderes. Quando as palavrasfracassam, eles usam a moeda.Quando isso também não adianta,lançam mão de coisas mais básicas:suborno, ameaça e outros tipos de

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trapaças. Existem plantas, Altaïr,ervas de terras distantes, que podemlevar um homem a perder ossentidos. O prazer que trazem é tãogrande que alguns homens podematé mesmo se deixar escravizar porelas.

Altaïr assentira, pensando nospacientes de olhos vidrados. Nolouco.

— Você acha então que aqueleshomens estavam drogados?Envenenados?

— Sim, se é exatamente comovocê descreveu — disse Al Mualim.

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— Nossos inimigos me acusaram damesma coisa.

Então ele dera a próxima missãoa Altaïr, que ficou pensando em porque o Mestre sorrira quando tinhadito a ele que completasse suasinvestigações e depois se apresentassea o rafiq do Bureau dos Assassinosem Jerusalém.

Agora, dirigindo-se ao Bureau,descobriu o motivo. Era porque oMestre se divertia ao pensar emAltaïr cruzando mais uma vez seucaminho com o de Malik.

Quando Altaïr entrou, o

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Assassino levantou-se de trás daescrivaninha. Por um momento, osdois se olharam, e nenhum delesescondeu o desdém. Então,lentamente, Malik se virou,mostrando a Altaïr onde um diaficava o seu braço.

Altaïr empalideceu. Claro. Feridona luta com os homens de De Sablé,os melhores cirurgiões de Masyafnão haviam conseguido salvar obraço esquerdo de Malik — e,portanto, foram obrigados a amputá-lo.

Malik deu um sorriso rancoroso

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de vitória, uma que custara um preçotão alto, e Altaïr lembrou-se de simesmo. Lembrou-se de que nãotinha motivos para tratar Malik dequalquer maneira a não ser comhumildade e respeito. Baixou acabeça para reconhecer as perdas dooutro. Seu irmão. Seu braço. Suaposição.

— Segurança e paz, Malik —disse ele finalmente.

— Sua presença aqui me priva deambas — rebateu Malik. Ele, porém,tinha muitos motivos para tratarAltaïr com desdém, e,

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evidentemente, pretendia fazer isso.— O que você quer?

— Al Mualim pediu...— Que você execute alguma

tarefa como um esforço para seredimir? — zombou Malik. — Estábem. Diga logo. O que descobriu?

— O que sei é isso — começouAltaïr. — O alvo é Talal, que traficavidas humanas, sequestrandocidadãos de Jerusalém para vendê-los como escravos. Sua base é umarmazém localizado no interior doantemuro ao norte daqui. Enquantoconversamos, ele prepara a viagem de

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uma caravana. Atacarei quando eleestiver inspecionando suamercadoria. Se eu conseguir evitarseus homens, o próprio Talal seráum desafio insignificante.

Malik entortou o lábio.— Desafio insignificante? Ouça a

si mesmo. Quanta arrogância.Em silêncio, Altaïr repreendeu-se.

Malik tinha razão. Ele pensou noorador de Damasco a quemsubestimara e que quase o superara.

— Já terminamos? — indagouele, sem nada revelar de seuspensamentos a Malik. — Está

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satisfeito com o que descobri?— Não — respondeu Malik,

segurando a pena de Al Mualim —,mas terá de servir.

Altaïr assentiu. Olhou para ondea manga de Malik pendia frouxa eesteve prestes a dizer uma coisa antesde se dar conta de que não haviapalavras que pudessem contornarseus fracassos. Ele custara demais aMalik para algum dia ter esperançasde um perdão de sua parte.

Em vez disso, virou-se e deixou oBureau. Outro alvo iria sentir o beijode sua lâmina.

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Pouco depois, Altaïr entravafurtivamente no armazém onde ocarregamento estava sendopreparado, olhando em volta semgostar de nada do que encontrou.

Não havia guardas. Nemajudantes.

Deu dois passos adiante, entãoparou. Não. No que estavapensando? Tudo em relação aoarmazém estava errado. Estava paradar meia-volta e ir embora quandosubitamente a porta foi fechada e se

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ouviu o inconfundível som de umatranca estrondeando ao se encaixarno lugar.

Ele praguejou e sacou a espada.Então avançou sorrateiramente,

os sentidos gradualmente seadaptando à escuridão, à umidade,ao cheiro de tochas e...

Algo mais. O cheiro de umrebanho que Altaïr achava ser maishumano do que animal.

As escassas chamas das tochasiluminavam as paredes que seguiamescuras e lisas, e, de alguma parte,vinha o pinga-pinga de água. O som

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que ouviu a seguir foi um gemidobaixo.

Com os olhos lentamente seadaptando, margeou à frente, vendocaixotes e barris e então... uma jaula.Aproximou-se dela — e quaserecuou diante do que viu. Umhomem patético e trêmulo estavasentado com as pernas contra o peitoe observava Altaïr com olhoslacrimejantes e melancólicos. Eleergueu a mão trêmula.

— Ajude-me — pediu.Então, por trás, Altaïr ouviu

outro som e, ao girar, viu um

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segundo homem. Ele estava suspensona parede, com os punhos e ostornozelos acorrentados. A cabeçapendia sobre o peito e o cabelo sujocaía sobre o rosto, mas os lábiospareciam se mexer como se em umaprece.

Altaïr foi na direção dele. Então,ouvindo outra voz a seus pés, olhouabaixo e viu uma grade de ferroembutida no pavimento do chão doarmazém. Olhando através delaencontrou o rosto amedrontado deoutro escravo, com os dedos ossudosenfiados entre as barras, implorando

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a Altaïr. Além dele, no buraco, oAssassino avistou mais formasescuras, além de ouvir movimentos emais vozes. Por um instante foi comose o aposento se enchesse com osapelos dos aprisionados.

— Me ajude, me ajude.Um insistente e suplicante som

que o fez querer tapar os ouvidos.Até de repente ouvir uma voz maisalta: — Você não deveria ter vindoaqui, Assassino.

Talal, certamente.Altaïr virou-se na direção do som

e viu as sombras se movimentarem

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em uma sacada acima dele.Arqueiros? Ficou tenso e agachou-se,a espada pronta, oferecendo o menoralvo possível.

Mas, se Talal o queria morto,Altaïr já estaria morto àquela altura.Ele havia caído direto na armadilhado mercador de escravos — o erro deum idiota, de um aprendiz —,porém, ela ainda não tinha sefechado por completo.

— Mas você não é do tipo queescuta — zombou Talal —, para nãoexpor sua Irmandade.

Altaïr avançou sorrateiramente,

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ainda tentando localizar Talal. Eleestava na parte de cima, isso eracerto. Mas onde?

— Acha que eu não sabia quevocê estava aqui? — continuou a vozdesincorporada, com uma risadinha.— Fui informado de sua presença nomomento em que entrou nestacidade, tamanho é o alcance do meupoder.

De baixo, ele ouviu soluços ebaixou a vista de relance para vermais barras, mais rostos sujosmarcados por lágrimas encarando-odo escuro.

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— Me ajude... Me salve...Ali havia mais jaulas, mais

escravos, agora homens e mulheres:mendigos, prostitutas, bêbados eloucos.

— Me ajude. Me ajude.— Então há escravos aqui —

bradou Altaïr —, mas onde estão ostraficantes deles?

Talal o ignorou.— Veja minha obra em toda a

sua glória — anunciou, e mais luzesreluziram, revelando mais rostosamedrontados e suplicantes.

Diante de Altaïr um segundo

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portão se abriu, dando acesso aoutro ambiente. Ele subiu um lancede escada e entrou em um amploespaço com uma sacada quepercorria todos os lados acima dele.Ali avistou figuras indistintas eajustou a força da mão que seguravaa espada.

— E agora, traficante deescravos? — berrou.

Talal tentava amedrontá-lo.Algumas coisas davam medo emAltaïr, é verdade — mas nada do queo traficante de escravos fosse capazde fazer, disso ele sabia.

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— Não me chame disso — gritouTalal. — Eu só quero ajudá-los.Como eu mesmo fui ajudado.

Altaïr ainda conseguia ouvir osbaixos gemidos dos escravos nacâmara atrás dele. Duvidava de queeles considerassem aquilo umaajuda.

— Não é bondade nenhumadeixar as pessoas presas dessamaneira — gritou ele no escuro.

Talal, contudo, permaneciaescondido.

— Presas? Eu os mantenho emsegurança, preparando-os para a

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jornada que terão pela frente.— Que jornada? — zombou

Altaïr. — Isso é uma vida deservidão.

— Você não sabe de nada. Foibobagem trazê-lo aqui. E pensar quese você visse poderia entender.

— Eu entendo muito bem. Vocênão tem coragem de me enfrentar.Prefere se esconder entre as sombras.Chega de conversa. Apareça.

— Ah... Então quer ver o homemque o trouxe aqui?

Altaïr ouviu um movimento nasacada.

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— Você não me trouxe aqui —bradou. — Vim por conta própria.

Uma gargalhada ecoou nassacadas acima dele.

— Foi mesmo? — zombou Talal.— Quem destrancou a porta?Desobstruiu o caminho? Vocêergueu a espada apenas contra umúnico homem meu, não é? Não.Tudo isso eu que fiz para você.

Algo se movimentou no tetoacima da sacada, lançando um jorrode luz sobre o chão de pedra.

— Vá então para a luz — gritouTalal lá de cima —, e concederei um

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último favor a você.Novamente, Altaïr disse a si

mesmo que, se Talal o quisessemorto, seus arqueiros já o teriamenchido de flechas, e foi para a luz.Ao fazer isso, mascarados surgiramdas sombras da sacada, pulandopara baixo e cercando-o de modosilencioso. Eles o observavam comolhares indiferentes, as espadas aolado e os peitos subindo e descendo.

Altaïr engoliu em seco. Havia seisdeles. Não eram nenhum “desafioinsignificante”.

Então surgiram passadas acima e

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ele olhou para a sacada onde Talalhavia se deslocado da área semi-iluminada e agora olhava-o abaixo.Ele usava uma túnica listrada e umgrosso cinturão. Sobre o ombro haviaum arco.

— Agora estou diante de você —disse ele, abrindo os braços esorrindo, como se desse boas-vindascalorosas a um convidado à suaresidência. — É isso que deseja?

— Desça aqui — indicou Altaïrcom a espada. — Vamos decidir issocom honra.

— Por que isso sempre precisa ser

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obtido com violência? — retrucouTalal, soando quase decepcionado,antes de acrescentar: — Parece quenão posso ajudá-lo, Assassino, poisvocê não quer ajudar a si mesmo. Enão posso permitir que meu trabalhoseja ameaçado. Não me deixaescolha: você deve morrer.

Acenou para seus homens.Que ergueram suas espadas.Então atacaram.Altaïr grunhiu e se viu

rechaçando golpes, dois de cada vez,empurrando-os para trás e logo emseguida voltando a atenção para um

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terceiro. Os outros esperavam suavez. A estratégia deles, Altaïr logopercebeu, era atacá-lo em pares.

Com isso ele conseguia lidar.Agarrou um deles, contente em verseus olhos se arregalarem chocadosatravés da máscara, então o jogoupara trás contra um quinto homem eos dois se chocaram contra umandaime que desabou,despedaçando-se em volta deles.Altaïr aproveitou a vantagem e,perfurando com a ponta da espada,ouviu um grito e um chocalhar demorte que vinham do homem

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estatelado no chão.Seus atacantes se reagruparam,

olhando um para o outro enquantoo cercavam lentamente. Voltou-secontra eles, espada em punho,sorrindo, agora quase se deleitando.Cinco deles, treinados, matadoresmascarados, contra um Assassinosolitário. Pensaram que Altaïr seriauma vítima fácil. Ele podia ver issoem seus rostos. Uma briga rápidadepois e não estariam tão certosassim.

Ele escolheu um. Um velhotruque que lhe foi ensinado por Al

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Mualim para quando enfrentassevários oponentes ao mesmo tempo.

Altaïr fixou de propósito o olharno guarda diretamente à sua frente...

Não ignore os outros, mas seconcentre em um deles. Torne-o seualvo. Deixe que ele saiba que é o seualvo.

Ele sorriu. O guarda se lastimou.Então liquide-o.Como uma cobra, Altaïr atacou,

avançando para o guarda, lentodemais para reagir — que olhouabaixo para a lâmina de Altaïrquando ela foi enfiada em seu peito,

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gemendo em seguida enquanto caíade joelhos. Com um rasgar de carne,Altaïr retirou a espada e então voltousua atenção ao homem seguinte.

Escolha um dos oponentes...O guarda parecia aterrorizado;

agora não era mais um matador, poissua espada começou a tremer. Elegritou algo em um dialeto que Altaïrnão entendeu, então avançoudesordenadamente, esperando levara luta para Altaïr, que se afastoupara o lado e talhou a barriga dohomem, satisfeito em ver asentranhas reluzentes saírem,

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derramando-se pelo ferimento. Decima, a voz de Talal convencia seushomens a atacarem, enquanto outrocaía e os dois restantes atacavam aomesmo tempo. Eles agora nãopareciam tão intimidadores, commáscaras ou sem. Pareciamexatamente o que eram: homensamedrontados prestes a morrer.

Altaïr derrubou outro, sangueesguichando do pescoço. O último sevirou e fugiu, esperando encontrarabrigo na sacada. Mas Altaïrembainhou a espada, empalmouduas facas de arremesso, que

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giraram, brilhando — uma, duas —,e atingiram as costas do fugitivo,fazendo com que ele caísse daescada. Não escaparia mais.

Altaïr ouviu passadas apressadasacima. Talal fugia. Curvando-se pararecuperar as facas, ele subiu a escada,chegando ao segundo andar a tempode ver Talal escalar uma segundasérie de degraus para o telhado.

O Assassino foi atrás dele,chegando ao topo do armazém poruma claraboia, bem a tempo derecuar a cabeça quando uma flechaestalou, estremecendo na madeira a

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seu lado. Avistou o arqueiro em umtelhado distante, já armando umasegunda flecha, e saiu depressa daclaraboia, rolando pelo telhado earremessando duas facas, aindamolhadas de sangue da vítimaanterior.

O arqueiro gritou e caiu, comuma faca cravada no pescoço e aoutra no peito. Mais além, Altaïravistou Talal disparando por umaponte entre moradias, depoissaltando para um andaime e sebalançando abaixo até a rua. Ali,esticou o pescoço, viu que Altaïr já o

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perseguia e saiu correndo.O Assassino estava para alcançá-

lo. Ele era rápido e, diferentementede Talal, não estava olhando comfrequência por cima do ombro paraver se estava sendo seguido. O quesignificava que não esbarrava empedestres inesperados, assim comoTalal: mulheres que gritavam e orepreendiam, homens quepraguejavam e o empurravam devolta.

Tudo isso retardava seuprogresso pelas ruas e pelosmercados, de modo que em pouco

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tempo perdera sua dianteira e,quando ele virou a cabeça, Altaïr viuo branco de seus olhos.

— Fuja agora — gritou Talal porcima do ombro —, enquanto aindapode. Meus guardas logo estarãoaqui.

Altaïr deu uma risadinha. Econtinuou correndo.

— Desista desta caçada e eu odeixarei viver — guinchou Talal.

Altaïr não disse uma palavra.Continuou a perseguição. Agilmente,costurou pelo meio da multidão,superando os obstáculos das

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mercadorias que Talal jogava atrásde si para retardar seu perseguidor.Altaïr quase alcançava Talal. Acaçada estava praticamenteterminada.

Adiante dele, Talal virou acabeça mais uma vez, viu que abrecha estava se fechando e tentouapelar de novo para Altaïr.

— Fique longe de mim e me ouça— berrou, com desespero na voz. —Talvez possamos fazer um acordo.

Altaïr não disse nada, apenasficou olhando enquanto Talalvirava-se novamente. O traficante de

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escravos estava agora prestes a colidircom uma mulher cujo rosto estavaoculto por vários frascos. Nenhumdos dois olhava para onde ia.

— Eu não fiz nada para você —gritou Talal, esquecendo-se talvez deque, apenas minutos antes, enviaraseis homens para matar Altaïr. —Por que insiste em me perse...

A respiração deixou seu corpo emum repente, houve um emaranhar debraços e pernas e Talal desabou nochão com a mulher dos frascos, cujosartigos se espatifaram em volta dosdois.

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Ele tentou levantar, mas era lentodemais, e Altaïr já estava em cimadele. Clique. Assim que sua lâminavoraz apareceu, ele a afundou nohomem, que estava ajoelhado à suafrente, o sangue já esguichando donariz e da boca. Ao lado deles, amulher dos frascos conseguiu selevantar, indignada e com o rostovermelho, disposta, a atacar Talal.Ao ver Altaïr e sua lâmina, sem falarno sangue que escorria do homem,ela mudou de ideia e saiu emdisparada, choramingando. Outrosos evitaram, sentindo que havia algo

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errado. Em Jerusalém, uma cidadeacostumada ao conflito, oshabitantes preferiam não parar paraobservar a violência por medo de setornar parte dela.

Altaïr inclinou-se para perto deTalal.

— Você agora não tem para ondefugir — disse ele. — Divida seussegredos comigo.

— Minha parte foidesempenhada, Assassino —retrucou Talal. — A irmandade nãoé tão fraca assim a ponto de minhamorte interromper o trabalho que

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faz.A mente de Altaïr voltou a

Tamir. Este também, ao morrer,mencionara outros.

— Que irmandade? — indagou.Talal conseguiu dar um sorriso.— Al Mualim não é o único com

projetos para a Terra Santa. E isso étudo que conseguirá de mim.

— Então acabamos aqui. Imploreperdão ao seu Deus.

— Não existe nenhum Deus,Assassino — gargalhou debilmenteTalal. — E, se alguma vez tivesseexistido, há muito tempo ele nos

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abandonou. Há muito tempoabandonou os homens e as mulheresque tomei em meus braços.

— O que quer dizer?— Mendigos. Prostitutas.

Viciados. Leprosos. Você os achaapropriados para escravos? Sãoinadequados para as tarefas maisservis. Não... Eu os juntei não paravender, mas para salvar. Mesmoassim, você mataria a todos nós. Pornenhum outro motivo a não serporque foi pedido a você.

— Não — disse Altaïr, agoraconfuso. — Você lucra com a guerra.

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Com vidas perdidas e destruídas.— Isso é o que você pensa,

ignorante como é. Limitou suamente, hein? Dizem que é o que asua laia faz melhor. Vê a ironia nissotudo?

Altaïr o encarou. Era exatamentecomo havia acontecido com DeNaplouse. As palavras domoribundo ameaçavam subvertertudo. Altaïr conhecia seu alvo; ou,pelo menos, pensava que conhecia.

— Não, ainda não, ao queparece. — Talal se permitiu umsorriso final diante da evidente

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confusão de Altaïr. — Mas você verá.E, dito isso, morreu.Altaïr estendeu a mão para

fechar seus olhos, murmurando,“Sinto muito”, antes de molhar apena marcadora com sangue. Depoisse levantou e se perdeu no meio damultidão. O corpo de Talalmanchava a areia atrás dele.

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Em suas viagens, Altaïr acampavapróximo a poços, piscinas naturaisou fontes; qualquer lugar ondehouvesse água e sombra depalmeiras, onde pudesse descansar eseu cavalo, solto, conseguisse pastar.Geralmente era em um trecho deverde até onde a vista alcançava,portanto havia pouca chance doanimal se perder.

Naquela noite, ele encontrouuma fonte que fora murada eabobadada para evitar que o deserto

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engolisse o precioso ponto de água, ebebeu bastante. Depois, deitou noabrigo que arranjou, ouvindo ogotejar do outro lado da pedratoscamente cortada e pensando emTalal no momento que sua vida seesvaiu. Seus pensamentos recuaramainda mais, aos cadáveres de seupassado. Uma vida pontilhada pelamorte.

Quando garoto, Altaïr aencontrara pela primeira vez duranteo cerco. Assassinos e sarracenos e, éclaro, seu próprio pai, embora elehouvesse sido misericordiosamente

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poupado dessa visão. Tinha, porém,ouvido a morte, ouvira a espada cair,seguida por um baque surdo, ecorreu na direção da portinhola daentrada, querendo se juntar ao pai,quando mãos o agarraram.

Ele tinha se contorcido, gritado:— Me larga! Me larga!

— Não, menino.E Altaïr viu que era Ahmad, o

agente cuja vida o pai de Altaïr haviatrocado pela sua. E Altaïr olhou paraele, os olhos ardendo de ódio, semligar se Ahmad fora salvo de suaprovação exaurido e ensanguentado

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e mal conseguindo se pôr de pé, suaalma ferida pela vergonha de tersucumbido ao interrogatóriosarraceno. Altaïr apenas se importavacom o fato de seu pai se entregarpara morrer e...

— A culpa é sua! — gritara ele,contorcendo-se e livrando-se deAhmad, que permanecia com acabeça baixa, absorvendo as palavrasdo menino como se fossem socos. —A culpa é sua — exclamavanovamente Altaïr.

Então se sentou sobre a gramaquebradiça, enterrando a cabeça nas

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mãos, desejando excluir o mundo. Apoucos passos dali, Ahmad, exaustoe ferido, também se dobrara para ochão.

Do lado de fora das muralhas dacidadela, os sarracenos partiram,deixando para trás o corpodecapitado do pai de Altaïr para serrecuperado pelos Assassinos.Deixando feridas que nunca iriamcicatrizar.

Durante um tempo, Altaïrpermanecera nos aposentos quedividira com o pai, que tinha asparedes de pedra cinzenta, esteiras

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no chão e uma escrivaninha simplesentre dois catres; um maior, outromenor. Ele mudara de camas:passara a dormir na maior parapoder sentir o cheiro do pai, e, àsvezes, o imaginava no aposento,sentado à escrivaninha, lendo,rabiscando em um rolo depergaminho, ou voltando, tarde danoite, para repreender o filho porainda estar acordado, para depoisapagar a vela acesa com um soproantes de se deitar. Imaginação eratudo que o órfão Altaïr tinha nomomento. Isso e as lembranças. Al

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Mualim dissera que ele seriachamado no devido tempo, apósterem sido tomadas providênciaspara seu futuro. Enquanto isso, oMestre dissera que, se Altaïrprecisasse de alguma coisa, deveria irprocurá-lo como seu mentor.

Ahmad, enquanto isso, fora pegopela febre. Em algumas noites seusdelírios eram ouvidos por toda acidadela. Ocasionalmente, gritavacomo se de dor, em outras vezes,como se estivesse demente. Certanoite, gritava uma única palavravárias e várias vezes. Altaïr havia

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pulado da cama e ido à janela,achando que o que ouvia era o nomedo pai.

E era.— Umar. — Ouvir aquilo era

como ser esbofeteado. — Umar. — Oberro parecia ecoar no pátio vazioabaixo. — Umar.

Não, não estava vazio.Observando mais atentamente,Altaïr conseguiu distinguir a figurade uma criança com mais ou menossua idade, parada como umasentinela em meio à suave neblina doinício da manhã que ondulava pelo

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pátio de treinamento. Era Abbas.Altaïr mal o conhecia, só sabia queera Abbas Sofian, o filho de AhmadSofian. O menino estivera paradoouvindo os delírios dementes do pai,talvez rezando em silêncio por ele, eAltaïr o observara pelo espaço detempo de algumas batidas docoração, descobrindo algo paraadmirar na sua vigília silenciosa.Então, deixou a cortina cair e voltoupara a cama, colocando as mãossobre os ouvidos para não mais ouvirAhmad chamar o nome do pai. Eletentara respirar o cheiro que seu pai

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deixara e percebeu que ele diminuíaaos poucos.

Disseram que a febre de Ahmadcessara no dia seguinte e que elevoltara aos seus aposentos, mas eraum homem destruído. Altaïr ouviradizer que ele havia ficado de cama,assistido por Abbas, quepermanecera desse modo por doisdias.

Na noite seguinte, Altaïr foiacordado por um som em seu quartoe ficou deitado, pestanejando,ouvindo alguém se movimentandopor ali, pés que foram até a

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escrivaninha. Uma vela foi pousada eprojetou sombras na parede depedra. Era seu pai, pensou, aindameio adormecido. Seu pai haviavoltado por ele, e Altaïr se sentou,sorrindo, pronto para lhe dar asboas-vindas e ser repreendido porestar acordado. Finalmente acordarade um sonho terrível no qual seu paitinha morrido e o deixado sozinho.

Mas o homem em seu quarto nãoera seu pai. Era Ahmad.

Ele estava parado na porta,aparentando uma magreza intensadentro de seu manto branco; o rosto

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tomado por um aspecto pálido.Tinha uma expressão distante, quasepacífica, e sorriu um pouco quandoAltaïr se sentou, como se nãoquisesse assustar o menino. Seusolhos, porém, eram buracos fundos eescuros, como se a dor tivessequeimado a vida do interior deles. E,na mão, segurava uma adaga.

— Sinto muito — disse ele, eestas foram as únicas palavras quepronunciou, suas últimas, porque,no momento seguinte, passou aadaga de lado a lado da garganta,abrindo uma escancarada boca

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vermelha no pescoço.O sangue escorreu pelo manto

abaixo; borbulhas se formaram noferimento do pescoço. A adaga caiucom um tinido no chão e ele sorriuao deslizar de joelhos, com o olharfixo em Altaïr, que permaneciasentado, imóvel de medo, incapaz dedesviar os olhos de Ahmad enquantoo sangue jorrava, esvaindo-se dele.Então o moribundo recuou,interrompendo enfim aquele olharmedonho quando sua cabeça caiupara o lado, impedido de cair pelaporta atrás. E, durante o tempo de

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algumas batidas do coração,permaneceu assim, um penitente,ajoelhado. Então caiu para a frente.

Altaïr não fazia ideia de quantotempo ficou sentado ali, soluçandobaixinho e ouvindo o sangue deAhmad se espalhar espessamentepela pedra. Enfim encontroucoragem para descer da cama, pegoua vela e margeou com cuidado ohorror que jazia no chão, sangrando.Puxou a porta para abri-la,choramingando quando encostou nopé de Ahmad. Do lado de fora doquarto, finalmente, correu. A vela

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apagou, mas ele não se importava.Correu até alcançar Al Mualim.

— Você nunca deve contar isso paraninguém — pedira Al Mualim nodia seguinte.

Altaïr havia recebido uma bebidaquente condimentada, depoispassara o resto da noite nosaposentos do Mestre, onde dormiraprofundamente. O próprio Mestrepermanecera fora, cuidando docorpo de Ahmad. Isso foicomprovado no dia seguinte,quando Al Mualim voltou para ele e

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sentou-se ao lado de sua cama.— Diremos à Ordem que Ahmad

partiu, protegido pela escuridão —disse ele. — Eles que tirem suaspróprias conclusões. Não podemospermitir que Abbas seja maculadocom a vergonha do suicídio do pai.O que Ahmad fez é desonroso. Suadesgraça se espalharia para seusparentes.

— Mas e Abbas, Mestre? —perguntou Altaïr. — A verdade serácontada a ele?

— Não, meu menino.— Mas ele deveria pelo menos

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saber que seu pai está...— Não, meu filho — repetiu Al

Mualim, a voz se erguendo. —Abbas não será informado porninguém, incluindo você. Amanhãanunciarei que vocês serãoaprendizes na Ordem, que serãoirmãos em tudo menos no sangue.Vocês dividirão um alojamento.Treinarão e jantarão juntos. Comoirmãos. Um protegerá o outro.Cuidarão para que nenhum malaconteça ao outro, nem físico nempor outros meios. Fui claro?

— Foi, Mestre.

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Mais tarde naquele dia, Altaïr foiinstalado em um aposento comAbbas. Um quarto escasso: doiscatres, esteira, uma pequenaescrivaninha. Nenhum dos doismeninos gostou, mas Abbas disseque deixaria aquilo em breve,quando seu pai retornasse. À noiteele se agitava e às vezes o chamavano sono, enquanto, no leito ao lado,Altaïr permanecia acordado,temeroso em dormir para o caso deAhmad lhe aparecer em pesadelos.

E aconteceu. Desde então,Ahmad aparecera todas as noites

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para ele. Vinha com uma adaga quereluzia à luz oscilante da vela. Elepassava lentamente a lâmina pelaprópria garganta, sorrindo ao fazerisso.

Altaïr acordou. O deserto estavafresco e ainda à sua volta. Aspalmeiras farfalhavam ligeiramentena brisa e a água pingava atrás dele.Passou a mão pela testa e se deuconta de que estivera suando.Apoiou a cabeça outra vez, naesperança de dormir pelo menos atéamanhecer.

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P A R T E D O I S

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— Você se saiu bem — elogiou AlMualim, no dia seguinte. — Três denove já morreram, e por causa dissotem o meu agradecimento. — Seusorriso se desfez. — Mas nãodescanse sobre os louros. Seutrabalho apenas começou.

— Estou às suas ordens, Mestre— disse Altaïr solenemente.

Estava exausto, mas grato porcomeçar a se redimir aos olhos de AlMualim. Certamente ele vira umamudança nos guardas. Se antes o

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olhavam com desdém, agoradirigiam um respeito relutante a ele.A notícia de seu sucesso haviachegado até eles, sem dúvida. AlMualim o premiara também com oesboço de um sorriso e mandara queele se sentasse.

O Mestre prosseguiu: — O reiRicardo, encorajado pela vitória emAcre, prepara-se para avançar para osul, por Jerusalém. Salah Al’din comcerteza está ciente disso, e portantoreúne seus homens diante dacidadela partida de Arsuf.

Altaïr pensou em Salah Al’din e

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ficou tenso. Sua mente retornouàquele dia, ao dia dos sarracenos nosportões da fortaleza...

— Quer então que eu mateambos? — perguntou, saboreando apossibilidade de passar sua lâminano líder sarraceno. — Terminar aguerra deles antes que comece defato?

— Não — vociferou Al Mualim,examinando-o tão cuidadosamenteque Altaïr sentiu como se seuspensamentos estivessem sendo lidos.— Fazer isso dispersaria suas forças...e sujeitaria o reino à sede de sangue

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de dez mil guerreiros a esmo. Haverámuitos dias até se encontrarem e,enquanto marcharem, não lutarão.Você precisa se preocupar com umaameaça mais imediata: os homensque fingem governar na ausênciadeles.

Altaïr assentiu. Deixou suasfantasias de vingança para seremexaminadas outro dia.

— Dê-me os nomes e eu lhe dareio sangue.

— É o que farei. Abu’l Nuqoud,o homem mais rico de Damasco.Majd Addin, regente de Jerusalém.

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William de Montferrat, senhorfeudal de Acre.

Ele conhecia os nomes, é claro.Cada uma das cidades tinha a marcaperniciosa de seu líder.

— Quais são seus crimes? — quissabe Altaïr. Imaginou se, como osoutros, haveria mais desses crimes doque aparentava.

Al Mualim abriu os braços.— Ganância. Arrogância. O

massacre de inocentes. Ande porentre as pessoas das cidades deles.Você aprenderá os segredos de seuspecados. Sem dúvida, esses homens

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são obstáculos à paz que buscamos.— Então eles morrerão —

afirmou Altaïr obedientemente.— Retorne a mim com a queda

de cada homem para que melhorpossamos entender suas intenções —ordenou Al Mualim. — E Altaïr,tome cuidado. Seu trabalho recentemuito provavelmente tem atraído aatenção dos guardas. Eles ficarãomuito mais desconfiados do queforam no passado.

De fato. Pois, dias depois,quando Altaïr entrou no Bureau emAcre, Jabal o cumprimentou deste

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modo: — A notícia de seus feitos seespalhou, Altaïr.

Ele assentiu.— Parece que é sincero em seu

desejo de se redimir.— Faço o que posso.— E, às vezes, o faz muito bem.

Suponho que é o trabalho que nosreúne aqui.

— Sim. William de Montferrat émeu alvo.

— Então o distrito da Cadeia éseu destino... Mas vá na ponta dospés. Aquela parte da cidade é a sededos aposentos particulares do rei

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Ricardo, e vive sob forte vigilância.— O que propriamente pode me

dizer sobre o homem?— William foi nomeado regente

enquanto o rei lidera sua guerra. Opovo vê isso como uma escolhaestranha, tendo em vista a históriaentre Ricardo e o filho de William,Conrad. Mas creio que Ricardo tirepartido disso.

— Tire partido como?Jabal sorriu.— Ricardo e Conrad não

concordam na maioria dos assuntos.Embora sejam civilizados o suficiente

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em público, há rumores de que cadaum quer a desgraça do outro. Ehouve aquele assunto dos sarracenosde Acre capturados... — Jabalbalançou a cabeça. — Comoconsequência, Conrad teve deretornar a Tiro, e Ricardo forçouWilliam a permanecer aqui como seuhóspede.

— Quer dizer, refém? — indagouAltaïr. Estava inclinado a concordarcom Jabal. De fato parecia ummovimento inteligente da parte deRicardo.

— Chame como quiser, a

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presença de William deverá manterConrad na linha.

— Onde sugere que comeceminha busca?

Jabal pensou.— Na cidadela de Ricardo, a

sudoeste daqui... Ou melhor, omercado em frente a ela.

— Muito bem. Não vouperturbá-lo mais.

— Não é problema nenhum —disse Jabal, que voltou para seuspássaros, arrulhando suavementepara eles.

Jabal era um homem livre de

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muitas preocupações, pensou Altaïr.Pelo menos por isso, ele o invejava.

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Jabal estava certo, pensou Altaïr aoseguir seu caminho pelas ruasquentes, apinhadas de gente e comforte cheiro de maresia até omercado da cidadela. Ali haviamuito mais guardas por todos oslados, talvez o dobro desde a últimavisita. Alguns usavam as cores dosCruzados e armadura completa. Noentanto, se ele sabia algo sobresoldados era que eles gostavam defofocar e, quanto mais deles havia,mais indiscretos provavelmente

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eram. Ele se instalou em um banco eficou sentado como se admirasse aimponente cidadela com seusgalhardetes esvoaçantes, ou como sesimplesmente esperasse o dia passar.Não muito distante, um artistatentava atrair uma plateia, então deude ombros e começou o espetáculoassim mesmo, jogando bolascoloridas no ar. Altaïr fingiuobservá-lo, mas estava ouvindo umaconversa que acontecia mais adiante,uma dupla de Cruzados tagarelandocomo lavadeiras sobre a habilidadede William com a espada.

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Enquanto Altaïr observava, oolhar de um soldado foi atraído porum frade, um homem alto usandoum hábito marrom com capuz, quegesticulava discretamente para ele. Osoldado mexeu a cabeça quase queimperceptivelmente, despediu-se docolega e saiu pelo meio do mercado.Observando por baixo do capuz,Altaïr levantou-se e foi atrás, quandoviu que os dois homens seencontraram e se afastaram dagrande agitação para conversar;Altaïr posicionou-se perto deles,esforçando-se para ouvir o frade

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falar.— Talvez seja insensato seguir

William. Ele é velho e pensa muitoem si mesmo.

O soldado franziu os lábios.— Seu exército é grande.

Precisaremos dele. Vou visitar osoutros irmãos por enquanto. Cuidepara que tenham tudo de queprecisem.

— Sim. Eles não podem cair —concordou o frade.

— Não tema. O Mestre tem umplano. Agora mesmo ele já preparaum meio de tirar vantagem de nossas

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perdas, se acontecerem.Mestre? Admirou-se Altaïr.

Irmãos? Exatamente a quem esseshomens respondem? Acre tinha maiscamadas do que uma cebola.

— O que ele pretende? —indagou o frade.

— Quanto menos você souber,melhor. Faça o que lhe foi instruído.Entregue esta carta ao Mestre.

Passou-a ao frade e Altaïr sorriu,já dobrando as pontas dos dedos.Levantou-se do banco e o seguiu.Um instante depois o pergaminhoera seu, e sentou-se novamente para

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lê-lo.

Mestre:O trabalho continua no

distrito da cadeia de Acre,embora estejamos preocupadoscom a habilidade de William paraconduzi-lo até o fim. Ele leva seusdeveres um pouco a sério demais,e as pessoas talvez o rejeitemquando chegar a ocasião. Sem aajuda do tesouro, malconseguiremos arcar com umlevante, quanto mais chamar orei de volta do campo. Então o seuplano terá sido em vão. Nãopodemos reclamar o que foi

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roubado, a não ser que os doislados estejam unidos. Talvez sejamelhor você se preparar paraoutro tomar o lugar dele —simplesmente como precaução.Estamos preocupados que o nossohomem no porto se torne cada vezmais instável. Ele já andadistanciando-se de si mesmo. Eisso significa que não podemosconfiar nele se William cair.Avise-nos o que pretende queexecutemos. Permanecemossempre fiéis à causa.

Ele dobrou a carta e a enfioudentro do manto. Algo para mostrar

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a Al Mualim, talvez. Pensando bem,talvez não. Até então Altaïr sentiaque Al Mualim fora menos do queaberto com ele em relação a seusalvos. Talvez isso fosse parte de seuteste. Talvez.

Um grupo de criados passouapressado. O malabarista fazia suaarte; ele agora juntara uma grandemultidão. Não muito longe, umorador havia tomado posição àsombra de uma árvore e discursavacontra o rei Ricardo.

Em seguida, um homem jovemcom a barba preta aparada bem curta

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que parecia simpático aos cidadãosque passavam por ele prendeu aatenção de Altaïr, que ao mesmotempo mantinha um olho em umadupla de guardas municipaisposicionados a uma curta distânciadali.

— William de Montferrat nãoliga nada para o povo de Acre —dizia o homem. Altaïr segurou ospassos para poder ouvir, tomandocuidado para não atrair a atençãodele. — Enquanto morremos defome, os homens sob seus cuidadosnão passam necessidades. Eles

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engordam com os frutos do nossotrabalho. Ele disse que nos trouxeaqui para reconstruir. Mas agora,longe de casa e da graça de nosso rei,seu verdadeiro plano se tornaevidente. Ele rouba nossos filhos,mandando-os para lutar contra uminimigo selvagem. Suas mortes sãotodas garantidas. Nossas filhas sãolevadas para servir seus soldados,roubadas de sua virtude. E ele nosrecompensa com mentiras epromessas vazias de um amanhãmelhor... de uma terra abençoadapor Deus. E o agora? E o hoje? Por

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quanto tempo teremos de nos privardeles? Será isso a verdadeira obra deDeus... ou de um homem egoísta queprocura conquistar tudo? Reaja,povo de Acre. Junte-se a nós emnosso protesto.

— Cale-se — berrou umatranseunte, gesticulando na direçãode guardas que patrulhavam aolongo da rua, talvez cientes de queaquele agitador estava em ação.

— Você é um idiota —concordou outro passante,rudemente. Ele deu as costas comum gesto desdenhoso com a mão.

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Ninguém em Acre queriatestemunhar a ira de William, ouassim parecia.

— Suas palavras o levarão à forca— sussurrou outro, que se retiroufurtivamente.

Altaïr observou o rebelde lançarum olhar precavido, então se enfiouna multidão e se juntou a outrohomem ali.

— Quantos você conseguiu paraa nossa causa? — perguntou.

— Receio que todos estejam commuito medo — respondeu seucompanheiro. — Ninguém ligou

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para o chamado.— Temos de continuar tentando.

Encontrar outro mercado. Outrapraça. Não podemos ser silenciados.

Com um último olhar para ossoldados atrás, eles seguiram adiante.Altaïr observou-os ir embora,satisfeito por ter descoberto tudo queprecisava saber sobre William deMontferrat.

Deu uma última olhada para acidadela, assomando sobre a praçado mercado, o pulsante coraçãonegro de Acre. Ali, pensou, emalguma parte, estava seu alvo e, com

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William morto, o povo de Acreconheceria menos tirania, menosmedo. Quanto mais cedoacontecesse, melhor. Estava na horade voltar a visitar Jabal.

O líder do Bureau estava, comosempre, com um ânimo jovem. Seusolhos cintilaram ao cumprimentarAltaïr.

— Fiz o que me foi pedido —anunciou Altaïr. — Armei-me comconhecimento. Sei o que preciso fazerpara alcançar Montferrat.

— Fale, então, e eu julgarei.— O bando de William é grande

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e muitos homens o chamam deMestre. Mas não faltam inimigospara ele. Ele e o rei Ricardo não sedão.

Jabal ergueu uma sobrancelha.— É verdade. Nunca foram

próximos.— Isso está a meu favor. A visita

de Ricardo o deixa perturbado.Assim que o rei for embora, Williamvai se recolher em sua fortaleza pararefletir. Ele se distrairá. E é quandoatacarei.

— Tem certeza disso?— Toda. E, se as coisas

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mudarem, me adaptarei.— Então dou permissão para ir

em frente. Acabe com a vida deMontferrat para que possamoschamar esta cidade de livre. — Jabalentregou-lhe a pena.

— Voltarei quando o ato forexecutado — retrucou Altaïr.

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Altaïr retornou à cidadela, esperandoque estivesse exatamente como adeixara. Mas agora havia algodiferente — algo que descobriuenquanto avançava pelas ruas e doqual se aproximou. Estava no ar.Empolgação. Expectativa. Ouviurumores relativos à visita de Ricardo.Ele agora estava na fortaleza, diziamos cidadãos; conversando comMontferrat. Aparentemente, o reiestava furioso com ele por causa dotratamento dado aos três mil

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mantidos como reféns quando osCruzados retomaram a cidade.

Altaïr sentiu-se emocionado. Afama de Ricardo Coração de Leão oprecedia. Sua bravura. Suacrueldade. Por isso, vê-lo em carne eosso...

Avançou pela praça do mercado.A multidão era mais numerosa agoraque a notícia de que Ricardo haviachegado se espalhara. Os cidadãos deAcre, independentemente dasopiniões que tinham sobre o reiinglês, queriam vê-lo.

— Aí vem ele — sussurrou uma

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mulher ali perto.Altaïr sentiu-se carregado pela

multidão e, praticamente pelaprimeira vez desde que entrou nacidade, pôde levantar a cabeça. Asaglomerações eram seu disfarce e, dequalquer modo, os guardas estavammuito ocupados com a iminentechegada do rei para ter alguminteresse nele.

Agora a multidão lançou-seadiante, levando Altaïr consigo. Elese deixou ser circundado por corpose carregado na direção dos portõesde pedra decorados, onde bandeiras

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dos Cruzados se agitavam na brisa,como se elas também estivessementusiasmadas para ver Ricardo. Nosportões, os soldados alertavam àmultidão para que recuasse, e quemestava na frente gritava para os queestavam atrás parassem de empurrar.No entanto, mais cidadãoschegavam, movendo-se na direçãoda área elevada diante da entradaprincipal. Mais guardas formaramum escudo em torno dela. Algunsseguravam o cabo da espada. Outrosbrandiam piques, rosnandoameaçadoramente “Recuem” para a

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multidão desvairada e queixosa.De repente, houve uma grande

agitação nos portões da fortaleza, osquais, rangendo, se ergueram. Altaïresticou o pescoço para ver, ouvindoprimeiro o ploc-ploc dos cascos doscavalos, depois avistando os elmosdos guarda-costas do rei. A seguir, amultidão estava se ajoelhando, comAltaïr acompanhando-a, emboraseus olhos estivessem fixos nachegada do rei.

Ricardo Coração de Leão vinhamontado em um esplêndidogaranhão adornado com seu

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uniforme, com os ombros para trás eo queixo erguido. Seu rosto estavaabatido, como se carregasse asmarcas de cada batalha, cada desertoatravessado, e seus olhos pareciamcansados, mas brilhavam. Em voltadele, os guarda-costas, tambémmontados em seus cavalos e,caminhando a seu lado, havia outrohomem; este, deduziu Altaïr pelosmurmúrios das pessoas, era Williamde Montferrat. Ele era mais velho doque o rei e não possuía seu tamanhoe poder, mas havia nele uma certaagilidade. Altaïr percebeu que ele

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poderia muito bem ser bastantehabilidoso com a espada. Havia neleum ar de desprazer ao caminhar aolado do rei, diminuto em sua sombrae sem ligar para as pessoas que osrodeavam. Perdido em seus própriospensamentos.

— Três mil almas, William —dizia o rei, alto o bastante para todaa praça do mercado ouvir. —Disseram-me que foram mantidoscomo prisioneiros... E usados comoobjetos de troca para a libertação denossos homens.

— Os sarracenos não teriam

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honrado seu lado do acordo —retrucou Montferrat. — Sabe queisso é verdade. Eu lhe fiz um favor.

Coração de Leão rosnou.— Ah, sim. Realmente um

grande favor. Agora nossos inimigosserão muito mais fortes em suasconvicções. Lutarão com mais afinco.

Pararam.— Eu conheço muito bem nossos

inimigos — afirmou Montferrat. —Eles não serão encorajados, mas seencherão de medo.

Ricardo olhou-o com desdém.— Diga-me, por que conhece tão

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bem as intenções de nossos inimigos?Você, que abandonou o campo debatalha para praticar a política.

De Montferrat engoliu em seco.— Eu fiz o que era certo. O que

era justo.— Você fez um juramento para

apoiar a obra de Deus, William. Masnão é isso que vejo aqui. Não. Euvejo um homem que a pisoteia.

De Montferrat pareceudesconfortável. Então, agitando amão em sua volta, como se paralembrar ao rei que seus súditosestavam ao alcance da voz, falou: —

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Suas palavras são muito indelicadas,meu soberano. Eu esperava jámerecer sua confiança no momento.

— Você é o regente de Acre,William, colocado para governar emmeu lugar. Quanto mais confiança énecessária? Talvez você goste daminha coroa.

— Não está entendendo — disseMontferrat. E, sem querer perder amoral diante da coroa, acrescentou:— Mas, pensando bem, sempre...

Ricardo olhou-o furiosamente.— Por mais que quisesse perder o

meu dia trocando palavras com você,

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tenho uma guerra para lutar.Continuaremos isso em outraocasião.

— Então não serei eu que odeterei — disse educadamenteMontferrat —, Vossa Graça.

Ricardo forneceu a Montferratum último olhar furioso — um olharpara lembrar a um subalternorebelde exatamente quem usava acoroa —, então partiu, com seushomens atrás.

A multidão começou a selevantar e Montferrat virou-se paradizer alguma coisa para um de seus

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guardas. Altaïr se esforçou paraouvir.

— Receio que não haverá lugarpara homens como ele no NovoMundo. Mande um aviso falandoque quero falar com os soldados.Precisamos nos assegurar de quetodos estejam fazendo sua parte.Alerte-os de que qualquernegligência será severamente punida.Não estou disposto a perder meutempo com isso hoje. — Então virou-se para o resto de seus homens. —Sigam-me.

De repente, houve um forte

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movimento em direção à fortaleza,não apenas causado pelos guardas deMontferrat, mas por mercadores, naesperança de conseguirem fregueseslá dentro. Altaïr juntou-se a eles,agredido pelos seus sacos de estopa,mas permanecendo no aperto econseguindo se espremer pelosportões justamente no momento emque os soldados da guardaassumiram o controle e os fecharam.Lá dentro, os mercadores estavamsendo arrebanhados por soldadosirritados próximos ao portão, quequeriam, sem dúvida, expor suas

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mercadorias ali. Altaïr, porém,conseguiu avistar Montferratseguindo seu caminho ao longo damuralha externa mais baixa, emdireção à linha de defesa interna. Elese abaixou e se espremeu por umabrecha entre o muro e um prédiointerno, prendendo a respiração,como se esperando ouvir um grito deum guarda perspicaz que o tivessevisto escapulir por ali. Mas não havianenhum. Olhou para cima e ficoucontente em ver apoios para as mãosna superfície de arenito do prédio.Começou a escalar.

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Arqueiro.Claro. Altaïr ficara tão contente

em se esquivar das sentinelas láembaixo que se esquecera de levarem conta os lá de cima. Deu outroolhar furtivo além da beirada dotelhado, esperando que o homemvirasse de costas. Precisava dele nomeio do telhado. Não queria que elecaísse na fortaleza e chamasseatenção. Quando o guarda chegouao local certo, Altaïr atacou, e a facaarremessada brilhou ao sol e depoisse enterrou nas costas da sentinela.Ele grunhiu e caiu, felizmente não

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por cima da borda. Então Altaïrpulou para o telhado, mantendo-seagachado, e o atravessou, com umolho em um arqueiro mais adiantedo conjunto de prédios, pronto parasumir de vista, se este se virasse.

Abaixo dele, De Montferratatravessava a fortaleza, gritandoordens e insultos a quem ousasse seaproximar.

Altaïr se aproximou do arqueiroseguinte. Uma faca arremessadadepois, e o homem caía estatelado notelhado, morto. Ao passar por ele,Altaïr olhou para baixo, mantendo-

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se agachado e vendo o corpo pararde se contrair.

Um terceiro arqueiro. Altaïrlivrou-se dele. Agora tinha o controledo telhado; tinha uma rota de fugapara quando a ação fosse executada.Tudo o que restava era executá-la.

Abaixo dele, Montferrat passouatravés de uma série de portõesinternos e Altaïr observou-orepreender o guarda por algumainfração leve ao fazer isso. Então foipara o pátio de um calabouço, talvezuma espécie de santuário internopara ele. Altaïr seguiu-o pela

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passarela superior. Mantinha-se forade vista, mas ninguém olhou paracima. Não tinham necessidade disso— ou era o que pensavam.

Agora De Montferrat tomou seulugar atrás de uma mesa de um ladodo pátio.

— Homens — dizia ele —,reúnam-se aqui. Ouçam bem minhaspalavras.

Eles se posicionaram à sua volta,e Altaïr notou que, embora usassemo mesmo uniforme, este era diferentedaquele dos que estavam na linha dedefesa do lado de fora. Esses homens

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eram mais grisalhos e pareciam maisendurecidos por batalhas. Se Altaïrestivesse certo, deviam ser a forçapessoal de De Montferrat. Ele não iacometer novamente o mesmo erro deachá-los um “desafio insignificante”.

No pátio, De Montferratcontinuou: — Eu vim de umaconversa com o rei e a notícia éassombrosa. Somos acusados defracassar em nossos deveres. Ele nãoreconhece o valor de nossascontribuições à causa.

— Que vergonha! — disse umdos homens.

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— Ele não sabe de nada —vociferou outro.

— Paz. Paz. Contenham a língua— advertiu De Montferrat. — Sim,ele fala falsamente, mas não faltamérito em suas palavras. Ao se daruma volta por esta propriedade, éfácil encontrar falhas. Enxergarimperfeições. Receio que tenhamosficado relaxados e preguiçosos.

Acima dele, Altaïr se permitiuum sorriso. O método de suaentrada foi um testemunho de quãorelaxados e preguiçosos os homensde De Montferrat haviam se

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tornado. E quanto aos seussemiadormecidos arqueiros...

— Por que diz isso? — indagouum dos homens de De Montferrat.

Mostraram-se indignados, todoseles. Altaïr usou o ruído que surgiude repente para se arrastar para olado, querendo se posicionar acimade sua presa, movendo-se muito,muito cautelosamente em volta dosmuros do pátio. Agora conseguiaenxergar o que a maioria doshomens abaixo não conseguia. Deuma porta do lado oposto do pátio,haviam surgido mais guardas

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arrastando dois homens. Estavamvestidos como cruzados, mas eramprisioneiros.

— Eu vejo o modo como treinam— berrava De Montferrat láembaixo. — Carecem de convicção efoco. Vocês conversam e jogam.Tarefas que são confiadas a vocêsficam incompletas ou são executadaspessimamente. Isso acaba hoje. Nãosofrerei mais degradação nas mãosde Ricardo. Enxerguem ou não, edeveriam enxergar, vocês sãoculpados. Vocês nos cobriram devergonha. Habilidade e dedicação

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foram o que nos levou a conquistarAcre. E isso também é exigido para amantermos. Eu tenho sido muitotranquilo, ao que parece. Mas nãomais. Vocês treinarão maisarduamente e com mais frequência.Se isso significar perder refeições,perder sono, assim será. E, sefracassarem nessas tarefas,aprenderão o verdadeiro significadode disciplina... Tragam osprisioneiros aqui.

Altaïr chegara à sua posição semser visto. Estava agora perto obastante para olhar abaixo a fim de

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ver a cabeça calva de De Montferrate as gotas de saliva que voavam desua boca enquanto berrava com oshomens. Se alguém que estivesse láembaixo olhasse para cima porqualquer motivo, Altaïr poderia serdescoberto, mas toda a atençãoestava agora na área diante da mesade De Montferrat, para onde ossoldados tinham sido arrastados,temerosos e envergonhados.

— Se precisar usar algum devocês como exemplo para garantirobediência — anunciou DeMontferrat —, que assim seja. —

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Então dirigiu-se aos prisioneiros. —Vocês dois foram acusados defornicação e bebedeira durante oserviço. O que dizem sobre essasacusações?

Das bocas úmidas saírammurmúrios de apelos e desculpas.

De Montferrat olhou-os,zangado. Então, com um gesto damão, ordenou a execução deles.

As gargantas dos dois foramcortadas e eles passaram seus últimosmomentos observando o própriosangue esguichar sobre a pedra dopátio. De Montferrat os fitou

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gorgolejando e tremendo no chão,como peixes agonizantes.

— Negligência com o dever éinfeccioso — declarou ele, quase comtristeza. — Ela deve ser arrancadapela raiz e destruída. Desse modo,talvez possamos evitar que se espalhe.Entendido?

— Sim, milorde. — Veio omurmúrio em resposta.

— Ótimo, ótimo — disse ele. —Então voltem ao serviço, com essenovo propósito na cabeça.Permaneçam fortes, permaneçamconcentrados... e nós triunfaremos.

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Vacilem, e se juntarão àqueleshomens. Estejam certos disso.Dispensados.

De Montferrat fez um sinal parasumirem de sua vista, o que alegrouAltaïr. Fora de vista era onde eletambém queria os homens. Ficouobservando enquanto De Montferratcomeçou a vasculhar a papelada queestava sobre a mesa, sibilando deirritação, com um mau humor queclaramente não tinha se esgotado.Altaïr rastejou para a frente, omáximo que ousava ficar na beira dotelhado. Avistou os dois corpos, com

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o sangue ainda escorrendo. Maisdistante, a maioria dos homensparecia ter se reunido na entrada damasmorra ou estava saindo para alinha de defesa do lado de fora deonde Altaïr se encontrava, semdúvida dispostos a se afastar omáximo possível de De Montferrat.

Abaixo de Altaïr, De Montferratestalava a língua nos dentes emdesagrado, ainda chocalhando ospapéis, incapaz de encontrar o queestava procurando. Gemeu quandoum maço deles escorregou da mesapara o chão. Prestes a chamar um

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ajudante, pensou melhor e resolveuele mesmo apanhá-los. É possível quetenha ouvido o clique da lâmina deAltaïr na fração de segundo em queele saltou da passarela acima e aenterrou em seu pescoço.

Logo a seguir, o Assassino estavamontado sobre o corpo do líder deAcre, com a mão sobre a boca delepara que não alertasse os demais nopátio. Ele tinha poucos momentos,sabia, e sussurrou: — Descanseagora. Seus esquemas chegaram aofim.

— O que você sabe sobre o meu

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trabalho? — grasniu De Montferrat.— Eu sei que iria matar Ricardo e

reivindicar Acre para seu filho,Conrad.

— Para Conrad? Meu filho é umestúpido, incapaz de liderar suatropa, quanto mais um reino. ERicardo? Ele não é melhor, cegocomo é pela fé que tem noinsubstancial. Acre não pertence anenhum dos dois.

— Então a quem?— A cidade pertence a seu povo.Altaïr lutou contra a agora

familiar sensação de seu mundo

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dando uma guinada inesperada.— Como pode alegar que fala

pelos cidadãos? — perguntou. —Você roubou a comida deles.Disciplinou-os sem piedade. E osforçou a servirem a você.

— Tudo que fiz foi para prepará-los para o Novo Mundo — replicouDe Montferrat, como se tais coisasdevessem ser óbvias a Altaïr. —Roubar a comida deles? Não. Tomeiposse dela para que, quando ostempos difíceis viessem, pudesse serracionada de modo apropriado. Olheem volta. Não existe crime em meu

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distrito... Exceto este cometido porvocê e sua laia. E quanto aorecrutamento? Eles não estão sendotreinados para lutar. Estãoaprendendo os méritos da ordem eda disciplina. Essas coisas não sãotão más.

— Não importa quão nobreacredita que sejam suas intenções,seus atos foram cruéis e não podemcontinuar — afirmou Altaïr, apesarde se sentir menos certo do quepareceu.

— Veremos como são doces —disse De Montferrat, desvanecendo

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rápido — os frutos do seu trabalho.Você não liberta cidades, comoacredita, mas as condena. E, no fim,terá apenas a si mesmo para culpar.Você que fala em boas intenções...

Mas nunca terminou a frase.— Na morte, nos tornamos

iguais — disse Altaïr, manchando apena.

Ele escalou a parede atrás de si efoi para a passarela, disparando pelomuro externo. Então saiu. Foi comose nunca tivesse estado ali.

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19

Altaïr sentia o cansaço da missão.Estava exausto e cada vez maisperturbado. Cada longa cavalgada oexauria ainda mais, porém tinhaordem de visitar Al Mualim apóscada assassinato. E, em todas asocasiões, o Mestre era enigmático,exigindo detalhes dele, mas retendomuita coisa.

Isso ficou demonstrado naocasião seguinte em que seencontraram.

— Chegou a mim a notícia de

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seu sucesso — disse Al Mualim. —Tem minha gratidão, e a do reino.Livrar essas cidades de seus líderescorruptos favorecerá sem dúvida acausa da paz.

— Está mesmo certo disso? —perguntou Altaïr. De sua parte, acerteza era cada vez menor.

— O modo pelo qual os homensgovernam se reflete em seu povo.Quando você limpa as cidades dacorrupção, cura os corações e asmentes daqueles que vivem nela.

— Nossos inimigos discordariam— comentou Altaïr, com a mente

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voltada para aqueles cujos olhos elefechara.

— O que quer dizer?— Cada homem que matei me

disse palavras estranhas. Eles nãomostraram arrependimento. Mesmona morte, pareceram confiantes emseu sucesso. Embora não admitissemdiretamente, há um laço que os une.Tenho certeza.

Al Mualim observou-o comatenção.

— Há uma diferença, Altaïr,entre a verdade que nos é dita e averdade que vemos. A maioria dos

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homens não se importa em fazer adistinção. É mais simples dessemodo. Mas, como um Assassino, éde sua natureza notar. Questionar.

— Então o que liga esseshomens? — forçou Altaïr. O Mestretinha as respostas, estava certo disso.Todas elas.

— Ah. Mas, como um Assassino,também é seu dever acalmar essespensamentos e confiar em seuMestre. Pois não pode haver a pazverdadeira sem ordem. E ordemrequer autoridade.

Altaïr não conseguiu conter a

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irritação na voz.— Você fala em círculos, Mestre.

Elogia-me por ser precavido e depoispede para que eu não seja. O quesignifica?

— A pergunta será respondidaquando você não precisar mais fazê-la — respondeu Al Mualim,misteriosamente.

Altaïr pôde ver que não estavachegando a lugar nenhum.

— Suponho que tenha mechamado aqui para algo além de umdiscurso — disse ele.

— Sim — concordou Al Mualim,

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e conduziu-o mais uma vez aDamasco. Aquele a quem chamamde Abu’l Nuqoud. Ele seria opróximo a morrer. Antes, porém,teria de lidar com o impertinentelíder do Bureau...

— Altaïr, meu amigo. Bem-vindo.Bem-vindo. Veio buscar a vida dequem hoje?

Altaïr franziu as sobrancelhas aover o líder do Bureau de Damasco,insolente como sempre, mas não osuficiente para motivar sua fúria. Eraum talento e tanto que o homem

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tinha para avaliar tão bem essascoisas. Talvez, se tivesse sido capazde concentrar suas habilidades paraum uso melhor, ele não estariapassando seus dias atrás de umaescrivaninha no Bureau. Algum dia,talvez, Altaïr o lembrasse desse fato.Enquanto isso, ele tinha trabalho aexecutar. Um novo alvo.

— Seu nome é Abu’l Nuqoud —informou. — O que pode me falarsobre ele?

— Oh, o Rei Mercador deDamasco — exclamou o líder,visivelmente impressionado. — O

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homem mais rico da cidade. Muitoemocionante. Muito perigoso. Invejovocê, Altaïr. Bem... não a parte naqual foi derrotado e despido de suagraduação... Mas invejo tudo o mais.Ah... exceto as coisas terríveis que osoutros Assassinos dizem de você.Mas, sim, fora o fracasso e o ódio,sim, fora essas coisas. Tenho muitainveja de você...

Altaïr imaginou como seupescoço pareceria com uma lâminasaindo dele.

— Não me importa o que osoutros pensam ou dizem — rebateu

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ele. — Estou aqui para realizar umserviço. Portanto, perguntonovamente: o que pode me dizersobre o Rei Mercador?

— Apenas que ele deve ser umhomem muito ruim se Al Mualimmandou que você o visitasse. Ele semantém isolado com sua própriagente, cercado pelo refinamento dodistrito nobre desta cidade. Umhomem ocupado, sempre cuidandode alguma coisa. Tenho certeza deque, se você passar algum tempo emmeio à sua espécie, aprenderá tudoque precisa saber sobre ele.

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E foi exatamente o que Altaïr fez,indo à Mesquita Omayyad e ao SoukSarouja, como também à cidadela deSalah Al’din, onde descobriu queAbu’l Nuqoud era odiado pelapopulação local, que era corrupto eandara se apropriando de dinheiropúblico, muito do qual fora desviadopara Jerusalém em pagamentos paraWilliam de Montferrat. (Altaïr sorriusobre isso.) Passando o Madraçal al-Kallasah, encontrou eruditosdiscursando e esperava poder ouviralguma coisa sobre Abu’l Nuqoud.Não estavam falando sobre ele, mas,

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mesmo assim, Altaïr ficou por ali,perplexo com o que diziam.

— Cidadãos. Tragam seusescritos — dizia o primeiro. —Coloquem na pilha diante de mim.Guardar um é pecado. Conheçam eaceitem a verdade de minhaspalavras. Livrem-se das mentiras e dacorrupção do passado.

Embora estivesse prestes a ir emfrente, Altaïr continuou protelando.Havia algo a respeito daquilo.Livrem-se das mentiras e dacorrupção do passado. Teria issoalguma coisa a ver com a “nova

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ordem” sobre a qual ele continuavaouvindo falar?

Agora era outro erudito quefalava: — Se realmente valorizam apaz, se querem realmente ver o fimda guerra, desistam de seus livros, deseus pergaminhos, de seusmanuscritos, pois eles alimentam aschamas da ignorância e do ódio.

Altaïr tinha ouvido o suficiente— e não gostado. Desistam de seuslivros. Por quê?

Ele, porém, afastou isso damente, continuando a se informarsobre o Rei Mercador. Descobriu que

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Nuqoud raramente deixava seusaposentos. Contudo, ele os deixarianaquela mesma noite para participarde uma festa da qual era o anfitrião— oferecida, diziam muitos, apenaspara esfregar sua riqueza pessoal nosnarizes dos cidadãos. Ordenara atémesmo vinho — em contravenção àsua fé — para o evento. Se este fosseparecido com as anteriores, seria aoportunidade de Altaïr para atacar.Ele ficara sabendo de um andaimedeixado do lado de fora da sacadados aposentos de Abu’l Nuqoud.Era, decidiu, uma ocasião perfeita

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para ir a uma festa.

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20

As festividades já estavamacontecendo quando Altaïrcontornou o pátio do palácio,sentindo que podia ser facilmentenotado em seu manto, que pareciasujo e surrado comparado às vestesdos outros convidados. A maioriausava ornamentos, mantos comintrincados bordados feitos com fiosdispendiosos e, diferentemente damaioria dos residentes de Damasco,pareciam prósperos e bemalimentados, falando mais alto do

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que a música, rindo ainda maisruidosamente. Com certeza, nãohavia falta de comida e bebida.Criados se movimentavam entre osconvidados oferecendo pão,azeitonas e iguarias em travessasdouradas.

Altaïr olhou em volta. Asdançarinas eram as únicas mulherespresentes: seis ou sete delas, girandolentamente aos sons de al’ud e rebectocados por músicos localizadosabaixo da imponente sacada. O olhardo Assassino viajou até onde haviaum guarda com os braços cruzados

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que olhava indiferentemente para asfutilidades. Aquele era o espaçoreservado de Abu’l, decidiu Altaïr.De fato, enquanto observava, o ritmoda música parecia aumentar, o al’udquase abafado pelo pesado rufar quecomeçou a excitar os presentes àfesta, em uma crescente sensação deexpectativa. As dançarinas eramforçadas a apressar seus movimentose seus corpos brilhavam com o suordebaixo de seus transparentes trajesde seda, enquanto, em volta delas, osconvidados erguiam as mãos,encorajando os tambores a um

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crescendo que se desenvolveu mais emais até o próprio ar parecer vibrar— e, de repente, ali estava ele, acimade todos: Abu’l Nuqoud.

Altaïr tinha ouvido terríveisdescrições da aparência do homem.De sua corpulência — diziam que erado tamanho de três homens normais—, dos reluzentes adornos quesempre usava, do mantoextravagante e do turbante enfeitadocom joias, a maioria das quais Altaïrrejeitara como exageros de umapopulação ressentida. Mas estavaprestes a descobrir que os rumores

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haviam abrandado a figura daquelehomem. Sua cintura, joias e roupaseram maiores e mais extravagantesdo que qualquer coisa que Altaïrpudesse ter imaginado. Ficouobservando enquanto Nuqoudestava parado, continuando amastigar qualquer que fosse arefeição que andara desfrutando,com a gordura brilhando em voltada boca. E, ao percorrer a extensãoda sacada, olhando abaixo para seusconvidados, com a pele debaixo deseu queixo ondulando enquanto eleacabava de engolir a comida, o

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manto abriu-se para expor o peitonu, uma enorme extensão de peleque brilhava de suor.

De repente, ele bateu palmas. Amúsica parou, a conversa encerrou-se.

— Bem-vindos. Bem-vindos —anunciou. — Obrigado a todos porse juntarem a mim nesta noite. Porfavor, comam, bebam. Desfrutem osprazeres que tenho a oferecer.

Dito isso, fez um gesto com amão, e a fonte no centro do pátiobrotou para a vida, esguichando oque a princípio Altaïr pensou que

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fosse água colorida. Então seguiu-seuma agitação fora do normal e ele sedeu conta do que era: ocarregamento de vinho de que ouvirafalar. Estava ali. Enquantoobservava, dois homens seaproximaram da fonte, mergulharamseus cálices no líquido espumante ebrindaram um ao outro antes de seafastarem apressados. Chegarammais convidados, mergulhando seuscálices, enquanto criados forneciamrecipientes a quem os quisesse. Eracomo se o Rei Mercador desejasseque cada um de seus convidados

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bebesse da fonte, e ele esperou atéque o avanço diminuísse antes deprosseguir.

— Está tudo de acordo com ogosto de vocês? — perguntou, comuma sobrancelha erguida.

Claro que estava. Cálices foramlevantados e houve um clamor deaprovação, as línguas dosconvidados se soltando rapidamentesob a influência do vinho.

— Ótimo, ótimo. — Nuqoudsorriu, revelando restos de comidagrudados nos dentes. — Alegra-mevê-los tão felizes. Porque estes são

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dias sombrios, meus amigos, e temosde desfrutar essa recompensaenquanto podemos.

Perto de Altaïr, os homens quehaviam brindado retornaram deuma segunda visita à fonte de vinhoe davam goles em seus cálices cheios,contendo risadinhas enquantoNuqoud continuava.

— A guerra ameaça destruirtodos nós. Salah Al’din lutabravamente pelo que ele acredita, evocês sempre estiveram presentespara apoiá-lo sem questionar. É agenerosidade de vocês que permite

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que sua campanha continue.Altaïr percebeu, embora

certamente tivesse sido o único dospresentes no pátio a reparar, que assacadas ao longo de um dos ladoscomeçaram a se encher de guardas.Arqueiros.

Ali perto, os homenscontinuavam bebendo seu vinho,quando Nuqoud começou a falarnovamente.

— Portanto, proponho umbrinde — disse ele. — A vocês, meuscaros amigos, que nos trouxerampara onde estamos hoje. Que lhes

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seja dado tudo o que merecem.— À sua saúde — veio o grito, ao

mesmo tempo que os participantesda festa bebiam livremente de seuscálices.

— Quanta gentileza — diziaNuquod acima deles. — Nãoesperava isso de vocês. Vocês, queforam tão rápidos em me julgar, etão cruelmente.

Sentindo uma mudança nele, amultidão reagiu murmurando,confusa.

— Ora, não finjam ignorância.Vocês consideram que sou idiota?

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Que não ouço as palavras quesussurram pelas minhas costas? Poistenho ouvidos. E receio que nuncaconseguirei esquecer. Mas não foipor isso que os chamei aqui estanoite. Não, desejo falar mais dessaguerra... E a parte de vocês nela.

“Vocês doam suas moedas, omais depressa possível, sabendomuito bem que elas compram asmortes de milhares. Nem mesmos a b e m por que lutamos. Pelasantidade da Terra Santa, diriamvocês. Ou por causa da inclinaçãomaligna de nossos inimigos. Mas

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essas são mentiras que contamospara nós mesmos.

“Não. Todo esse sofrimentonasce do medo e do ódio. Incomodavocês que eles sejam diferentes.Assim como incomoda vocês que euseja diferente.

O olhar de Altaïr seguiu para osarqueiros nas sacadas. Sentindo umapontada de inquietação, ele seafastou mais um pouco paraobservar as sacadas do outro lado dopátio. Ali, também, os arqueiroshaviam se enfileirado. Virou-se. Eraa mesma coisa atrás. Eles não

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estavam armando seus arcos. Pelomenos, não por enquanto. Mas, seAltaïr estivesse certo, esse momentonão demoraria muito para chegar. E,quando chegasse, eles teriam acobertura total de todo o pátio. Elechegou mais para perto de um dosmuros circundantes. Não muitolonge dali, um homem começou aengasgar e tossir, levando seucompanheiro a ter acessos de riso.

— Compaixão. Piedade.Tolerância — continuou Nuqoud,da sacada. — Essas palavras nãosignificam nada para nenhum de

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vocês. Elas não significam nada paraos infiéis invasores que assolamnossa terra em busca de ouro eglória. Por isso eu digo basta. Já mecomprometi com outra causa. Umacausa que nos trará um NovoMundo... no qual todos poderãoviver lado a lado em paz.

Ele fez uma pausa. Altaïrobservou que os arqueiros ficaramtensos. Estavam prestes a disparar.Ele pressionou o corpo contra omuro. O homem continuavatossindo. Agora tinha o corpodobrado, o rosto vermelho. Seu

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companheiro, que estava com umaaparência preocupada, passou entãoa tossir também.

— Uma pena que nenhum devocês viverá para vê-lo — encerrouNuqoud.

Mais convidados começaram aengasgar. Alguns seguravam abarriga. Claro, pensou Altaïr.Veneno. Em volta dele, algunsconvidados tinham caído de joelhos.Ele viu um homem corpulentovestido com um manto douradoespumando, os olhos revirando nasórbitas, desabar no chão e ali ficar,

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morrendo. Os arqueiros agora jáhaviam armado seus arcos. Pelomenos metade dos participantes dafesta estava em espasmos de morte,mas havia muitos que não haviambebido vinho e corriam para assaídas.

— Matem qualquer um quetentar escapar — ordenou o ReiMercador, e seus arqueirosdispararam.

Deixando a carnificina para trás,Altaïr escalou o muro até a sacada efoi sorrateiramente para trás deNuqoud. Havia um guarda a seu

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lado, e Altaïr o despachou com umgolpe de sua lâmina. O homem caiu,retorcendo-se, e a garganta abertacomeçou a borrifar sangue pelosladrilhos da sacada. Nuqoud virou-se, viu Altaïr, e sua expressãomudou. Ao assistir ao massacreabaixo, ele estivera sorrindo,desfrutando o espetáculo. Agora —Altaïr ficou grato ao perceber — eraapenas medo o que ele sentia.

E, em seguida, dor, quandoAltaïr mergulhou a lâmina em seupescoço acima da clavícula.

— Por que fez isso? — ofegou o

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enorme homem, baixando para apedra lisa de sua sacada.

— Você roubou dinheirodaqueles que alega governar — disseAltaïr. — Você o enviou para algumpropósito desconhecido. Quero saberpara onde ele foi e por quê.

Nuqoud escarneceu.— Olhe para mim. Minha

própria natureza é uma afronta àspessoas a quem governava. E estasvestes nobres pouco mais fazem doque abafar seus gritos de ódio.

— Então trata-se de uma questãode vingança? — indagou Altaïr.

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— Não. Vingança não, mas daminha consciência. Como poderiafinanciar uma guerra a serviço domesmo Deus que me chama deabominação?

— Se não serve a Salah Al’din,então a quem?

Nudoud sorriu.— Na ocasião oportuna, você os

conhecerá. Creio, talvez, que jáconheça.

Mais uma vez intrigado, Altaïrperguntou: — Então por que seesconder? E por que esses atossombrios?

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— É tão diferente do seutrabalho? Você tira vidas de homense mulheres, firme na convicção deque suas mortes servirão paramelhorar a sorte daqueles deixadospara trás. Um mal menor para umbem maior? Nós somos iguais.

— Não. — Altaïr negou com acabeça. — Não temos qualquersemelhança.

— Ah... Mas vejo isso em seusolhos. Você duvida.

O fedor da morte estava em seuhálito quando puxou Altaïr paramais perto dele.

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— Você não pode nos deter —conseguiu dizer. — Teremos o nossoNovo Mundo...

E morreu, com um fino rio desangue escorrendo de sua boca.

— Desfrute o silêncio — disseAltaïr, e mergulhou sua pena nosangue do Rei Mercador.

Ele precisava ver Al Mualim,decidiu. O momento da incertezaterminara.

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21

— Venha, Altaïr. Quero ter notíciasdo seu progresso — disse Al Mualim.

— Fiz o que pediu — retrucou oAssassino.

— Ótimo. Ótimo. — Al Mualimolhou-o intensamente. — Sinto quesua mente está em outro lugar. Digao que pensa.

Era verdade. Altaïr poucorefletira sobre outra coisa na viagemde volta. Agora tinha a oportunidadede tirar aquilo da cabeça.

— Cada homem que mandou

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que eu matasse me falou palavrasenigmáticas. Toda vez, vim a você epedi respostas. E em todas, você meofereceu apenas enigmas em troca.Mas já chega.

As sobrancelhas de Al Mualimdispararam para cima em surpresa —surpresa por Altaïr ter se dirigido aele daquele modo.

— Quem é você para dizer que“já chega”?

Altaïr engoliu em seco e firmou oqueixo.

— Sou eu quem executa osassassinatos. Se quiser que isso

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continue, terá de falar francamentecomigo pelo menos uma vez.

— Vá com cuidado, Altaïr. Nãogosto do seu tom de voz.

— E eu não gosto da sua farsa —rebateu Altaïr, mais alto do quepretendera.

Al Mualim pareceu ter ficadochateado.

— Tenho oferecido a você umachance de recuperar a honra perdida.

— Não foi perdida — contrapôsAltaïr. — Foi tirada. Por você. Entãomandou que eu fosse buscá-lanovamente, como um maldito

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cachorro.Agora o Mestre desembainhou a

espada, e seus olhos faiscavam.— Parece que terei de conseguir

outro. Uma pena. Você demonstrougrande potencial.

— Creio que, se você tivesseoutro, já o teria enviado há muitotempo — observou Altaïr, que ficouimaginando se não teria pressionadodemais seu mentor, mas prosseguiuassim mesmo. — Você disse que aresposta à minha pergunta surgiriaquando eu não mais precisasse fazê-la. Portanto não perguntarei. Eu

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exijo que me diga qual é a ligaçãoentre esses homens.

Altaïr permaneceu parado,pronto para sentir a ponta da espadade Al Mualim, torcendo apenas paraque o Mestre o considerasse valiosodemais. Era um jogo, ele sabia.

Al Mualim também pareciaconsiderar a opção, sua espadahesitando, a luz refletindo nalâmina. Então ele a embainhou epareceu descontrair um pouco.

— O que diz é verdade —concedeu finalmente. — Esseshomens estão ligados... por um

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juramento de sangue não diferentedo nosso.

— Quem são eles?— Non nobis, Domine, non nobis

— disse ele. Não a nós, Ó Senhor.— Templários... — concluiu

Altaïr. É claro.— Agora você percebe o

verdadeiro alcance de Robert deSablé.

— Todos esses homens... líderesde cidades... comandantes deexércitos...

— Todos prometeram aliança àcausa dele.

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— Suas obras não são para seremvistas isoladamente, não é mesmo?— refletiu Altaïr. — Mas no todo...O que eles desejam?

— Conquista — respondeu AlMualim, simplesmente. — Buscam aTerra Santa... Não em nome deDeus, mas para eles mesmos.

— E quanto a Ricardo? E SalahAl’din?

— Qualquer um que se oponhaaos Templários será destruído. Saibaque eles têm os meios para fazer isso.

— Então eles têm de ser detidos— exclamou Altaïr com

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determinação. Sentiu como se umgrande peso tivesse sido retiradodele.

— É por isso que fazemos o nossotrabalho, Altaïr. Para garantir umfuturo livre de tais homens.

— Por que escondeu a verdadede mim? — perguntou ele ao Mestre.

— Para que você mesmodescobrisse. Como qualquer missão,o conhecimento precede a ação. Ainformação aprendida é mais valiosado que a informação fornecida.Além disso... Seu comportamentonão havia me inspirado muita

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confiança.— Entendo. — Altaïr baixou a

cabeça.— Altaïr, sua missão não

mudou, mas apenas o contextointerno de como você a compreende.

— E, armado com esseconhecimento, talvez eu entendamelhor os Templários que restam.

— Há mais alguma coisa quequeira saber? — disse Al Mualim,depois de concordar com aafirmação do Assassino.

Altaïr solucionara o mistério dairmandade à qual seus alvos tinham

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se referido. Havia, porém, mais umacoisa...

— E o tesouro que Malikrecuperou do Templo de Salomão?— indagou. — Robert pareciadesesperado para tê-lo de volta.

— No devido tempo, Altaïr, tudose tornará claro — respondeu AlMualim. — Do mesmo modo que opapel dos Templários se revelou avocê, o mesmo acontecerá com anatureza do tesouro deles. Porenquanto, console-se com o fato de otesouro não estar nas mãos deles,mas nas nossas.

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Por um momento, Altaïr pensouem pressioná-lo sobre o assunto, masdecidiu contra. Tivera sorte uma vez.Duvidava que isso fosse acontecernovamente.

— Se esse é o seu desejo... —cedeu ele.

— É.A atmosfera no ambiente ganhou

ares de descontração quando Altaïrvirou-se para ir embora. Seu próximodestino era Jerusalém.

— Altaïr... antes de você ir?— Sim?— Como soube que eu não o

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mataria?— Verdade seja dita, Mestre, eu

não sabia.

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22

Estúpido Altaïr. Arrogante Altaïr.Ele estava enrascado. Majd Addinjazia morto a seus pés, a madeiralentamente sendo manchada comseu sangue. Às suas costas estavamos acusados, amarrados a estacas ependendo delas, amorfos eensanguentados. A praça estavavazia de espectadores, mas não dosguardas de Majd Addin, queavançavam para cima dele.Aproximando-se da plataforma.Começando a subir os degraus de

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ambos os lados, ao mesmo tempoque o impediam de saltar para afrente. Com olhares ferozes,lentamente o cercavam, com asespadas erguidas, e, se sentiammedo, não demonstravam. O fato deseu líder ter sido abatidopublicamente por um Assassino nopatíbulo do Muro das Lamentaçõesde Jerusalém não lhes causara pânicoe desordem como Altaïr haviaesperado. Não tinha feito com queficassem com um medo mortal doAssassino que agora estava diantedeles, com sua lâmina pingando o

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sangue de Addin. Isso lhes deradeterminação e a necessidade decobrar vingança.

O que significava que as coisasnão tinham saído de acordo com oplano.

Exceto que... O primeiro guardadisparou à frente, rosnando. Amissão dele era testar o vigor deAltaïr. O Assassino recuou,aparando os golpes da espadasarracena, e o som de aço ecoou napraça quase vazia. O guardapressionou adiante. Altaïr olhou derelance para trás, viu outros

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avançando e respondeu à investida,forçando o sarraceno a recuar. Um,dois, ataque. Forçado rapidamente ase defender, o guarda tentou umaretirada, quase se chocando contraum dos corpos pendendo dasestacas. Altaïr olhou para baixo e viusua chance, então avançounovamente, desferindo um ataquedesvairado com a intenção de causarpânico ao oponente. Lâminaencontrou lâmina e, como seria de seesperar, o sarraceno foi forçado aostrancos para trás e para a poça desangue na plataforma — no

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momento em que Altaïr pretendera.Ele tropeçou, perdeu o equilíbrio e,por um segundo, abriu sua guarda— dando tempo suficiente paraAltaïr ultrapassar o braço dooponente com a espada e o empalarno peito. Ele gorgolejou. Morreu. Seucorpo escorregou para a madeira, eAltaïr se preparou para enfrentaratacantes, vendo agora dúvida etalvez medo em seus olhos. O vigordo Assassino fora devidamentetestado e descobriram que isso nãolhe faltava.

Ainda assim, porém, os guardas

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tinham a vantagem numérica, ecertamente mais estariam a caminho,alertados pela agitação. A notícia doocorrido já se espalhara por toda aJerusalém: que o regente da cidadefora morto em seu próprio cadafalsode execução; que seus guardascaíram em cima do Assassinoresponsável. Altaïr pensou na alegriade Malik diante da notícia.

Malik, contudo, pareceramudado quando Altaïr visitara oBureau da última vez. Não queacolhesse Altaïr de braços abertos,mas, por outro lado, a hostilidade

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aberta fora substituída por certotédio, e ele observara Altaïr com umfranzido de testa e não um olharfixo.

— Por que me perturba hoje? —Ele dera um suspiro.

Grato por não ter de brigar,Altaïr havia lhe revelado seu alvo:Majd Addin.

Malik assentira.— A ausência de Salah Al’din

deixou a cidade sem um líderadequado, e Majd Addin indicou asi mesmo para o papel. Ele consegueo que quer por meio de intimidação

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e medo. Ele não tem direito de fatoao posto.

— Isso acaba hoje — disseraAltaïr.

— Você conclui depressa demais.Não é de um escravo que estamosfalando. Ele governa Jerusalém e vivebem protegido por causa disso.Sugiro que planeje cuidadosamenteseu ataque. Informe-se sobre suapresa.

— Já fiz isso — garantira-lheAltaïr. — Majd Addin vai realizaruma execução pública não muitolonge daqui. Certamente estará bem

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protegido, mas não será nada comque eu não consiga lidar. Eu sei oque fazer.

Malik escarnecera.— É por isso que para meus

olhos você continua sendo umaprendiz. Não pode saber de tudo.Só suspeitar. Você tem de esperarestar errado. Ter negligenciado algo.Antecipado, Altaïr. Quantas vezespreciso lembrar você disso?

— Como queira. Já terminamos?— Ainda não. Há mais uma

coisa. Um dos homens que seráexecutado é um irmão. Um de nós.

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Al Mualim deseja que ele seja salvo.Não precisa se preocupar com oresgate em si... Meus homenscuidarão disso. Mas precisa garantirque Majd Addin não tire a vida dele.

— Não lhe darei essa chance.Ao partir, Malik o advertira: —

Não vá estragar tudo.E Altaïr havia zombado

mentalmente do alerta ao começar acaminhada ao Muro dasLamentações.

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23

Ao se aproximar do Muro, Altaïrvira multidões começando a seformar: homens, mulheres, crianças,cachorros, até mesmo gado. Todosseguiam pelas ruas em volta da praçaem direção ao local público daexecução.

Altaïr se juntara a eles e, aopassar por uma rua que se enchiacom mais e mais espectadoresansiosos seguindo na mesma direção,ouvira um pregoeiro alimentar oentusiasmo na atração seguinte;

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como se fosse preciso.— Atenção — gritara o orador.

— Majd Addin, o grande amadoregente de Jerusalém, comparecerá àexecução do lado oeste do Templo deSalomão. É exigida a presença detodos os habitantes sãos. Depressa!Venham e presenciem o que seráfeito de nossos inimigos.

Altaïr tivera uma ideia do quepoderia ser. Esperava ser capaz demudar o resultado.

Guardas no acesso à praçatentavam controlar o fluxo damultidão para seu interior,

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empurrando algumas pessoas paratrás, deixando outras entrarem.Altaïr se mantivera recuado,observando as massas moverem-secomo redemoinho perto da entrada.Outros corpos eram pressionadoscontra o dele na rua. Criançasdisparavam pelo meio das pernas dosespectadores, entrandosorrateiramente no local. Emseguida, Altaïr vira os eruditos, amultidão se repartindo para deixá-los passar; até mesmo os cachorrospareciam sentir a reverênciareservada aos homens santos. Altaïr

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ajeitara o manto, ajustara o capuz,esperara os eruditos passarem eescorregara para o meio deles. Aofazer isso, sentira uma mão puxarsua manga, olhara para baixo e viraum menino imundo observando-ocom um olhar esquisito. Ele grunhirae, aterrorizado, o menino saíracorrendo.

Bem a tempo: eles tinhamalcançado o portão, onde os guardasse separaram para permitir o ingressodos eruditos, e Altaïr entrara napraça.

Havia muros de pedra bruta em

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todos os lados. Ao longo do ladomais distante havia uma plataforma,e sobre ela uma série de estacas.Vazias, no momento, mas não pormuito tempo. O regente deJerusalém, Majd Addin, estava sedirigindo ao palco. Com suapresença, houve uma agitação, eergueu-se uma gritaria da entrada,quando os guardas perderam ocontrole e os cidadãos começaram ase precipitar. Altaïr foi carregado àfrente pela onda, agora muito maisperto da plataforma e do temidoMajd Addin, que já estava à espreita

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no palco esperando a praça seencher. Usava um turbante branco euma túnica comprida enfeitada combordados. Movimentava-se como seestivesse zangado. Como se seuequilíbrio tivesse acabado deabandonar seu corpo.

E tinha mesmo.— Silêncio! Eu exijo silêncio —

rosnou ele.Com o espetáculo prestes a

começar, houve uma agitação final eAltaïr foi mais uma vez carregado àfrente. Viu guardas postados nasescadas de ambos os lados da

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plataforma, dois em cadaextremidade. Diante da plataforma,viu mais guardas que evitavam que amultidão subisse no cadafalso.Esticando o pescoço, localizou outrosna periferia da praça. Estes, pelomenos, teriam dificuldade de semovimentar pelo meio da multidão,mas isso só lhe daria algunssegundos para a matança e para sedefender dos guardas mais próximos— dos quatro de cada lado daplataforma, no mínimo. E talveztambém aqueles que estavam deguarda no solo.

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Conseguiria superar todos elesnaquele espaço de tempo? Mais oumenos dez sarracenos leais? O Altaïrque atacara Robert de Sablé noMonte do Templo não teria a menordúvida. Agora, porém, ele era maiscauteloso. E sabia que tentar matarimediatamente seria loucura. Umplano destinado ao fracasso.

Exatamente quando haviadecidido esperar, os quatroprisioneiros foram levados aocadafalso e até as estacas, onde osguardas começaram a colocá-los nolugar. Em uma das pontas havia

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uma mulher, com o rosto sujo echorando. Ao lado dela, doishomens vestidos com farrapos. E,finalmente, o Assassino, com acabeça baixa, obviamente derrotado.A multidão vaiou seu desagrado.

— Povo de Jerusalém, ouça-mebem — bradou Majd Addin parasilenciar a multidão, que se tornaraanimada com a chegada dosprisioneiros. — Estou hoje aqui paradar um alerta. — Fez uma pausa. —Há descontentes entre vocês. Elesplantam as sementes dodescontentamento, esperando

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desencaminhá-los.A multidão murmurou,

agitando-se em volta de Altaïr.Addin continuou:— Digam-me, é isso o que

desejam? Chafurdar na falsidade eno pecado? Viver suas vidas nomedo?

— Não — gritou um espectadoratrás de Altaïr. Mas a atenção deleestava concentrada no Assassino, umcolega membro da Ordem.

Enquanto observava, um fioensanguentado de saliva escorreu daboca do homem para a madeira. Ele

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tentou levantar a cabeça e Altaïr viuseu rosto de relance. Contusões roxase vermelhas. Então sua cabeçabaixou outra vez.

Majd Addin deu um sorrisotorto e sinistro. Seu rosto não estavaacostumado a sorrir.

— Então vocês querem agir? —perguntou amavelmente.

A multidão bramiu suaaprovação. Eles estavam ali para versangue; sabiam que o regente nãodeixaria sua sede insaciada.

— Guie-nos — exclamou umavoz, quando o bramido parou.

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— Sua devoção me agrada —disse Addin, e virou-se para osprisioneiros, indicando-os com ummovimento do braço. — Esse malprecisa ser expurgado. Só entãopoderemos esperar ser redimidos.

De repente, houve um distúrbiodiante da plataforma, uma vozberrando: — Isso não é justiça.

Altaïr avistou um homem emtrapos. Ele gritava para Najd Addin:— Você distorce as palavras doProfeta, que a paz esteja com ele.

O homem tinha umcompanheiro, também vestido com

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trapos, o qual igualmente repreendiaa multidão.

— E todos vocês permanecemindolentes, como cúmplices dessecrime.

Altaïr aproveitou a confusão parase aproximar mais. Precisava subir naplataforma em cuja extremidadeestava o Assassino preso à estaca.Não poderia arriscar que ele fosseusado como escudo ou como refém.

— Que Deus amaldiçoe todosvocês — berrou o primeiro homem,mas não teve quem o apoiasse. Nãoentre a multidão e certamente não

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entre os guardas, que já estavamavançando.

Vendo-os se aproximar, os doisagitadores fugiram, sacando adagas ebrandindo-as enquanto faziam umafútil investida em direção àplataforma. Um deles foi derrubadopor um arqueiro. O segundo viu-seperseguido por dois guardas, masnão viu um terceiro sarraceno queabriu sua barriga com a espada.

Os dois ficaram no chão,moribundos, e Majd Addin apontoupara eles.

— Viram como o mal de um

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homem se espalha para corromperoutro? — esganiçou. A barba negratremia de indignação. — Elesprocuraram provocar medo e dúvidaem vocês. Mas eu os manterei asalvo.

Então voltou-se aos pobresinfelizes; que certamente deveriamestar rezando para que o atentado àsua vida fosse bem-sucedido, mas,em vez disso, observavam com osolhos arregalados e aterrorizadosenquanto ele desembainhava aespada.

— Aqui estão quatro cheios de

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pecado — berrou Addin, apontandoprimeiro para a mulher, depois paracada um dos demais. — A meretriz.O ladrão. O jogador. O herege. Queo julgamento de Deus recaia sobretodos eles.

O herege. Esse era o Assassino.Altaïr endureceu-se e começou a seaproximar dos degraus de um doslados da plataforma, um olho emAddin enquanto este seguia primeiropara a mulher. A prostituta. Incapazde tirar os olhos da espada queAddin segurava — quasedespreocupadamente, pendendo a

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seu lado —, ela começou a chorarincontrolavelmente alto.

— Sedutora! — rugiu Addin,acima dos soluços. — Súcubo. Puta.Ela tem muitos nomes, mas seupecado permanece o mesmo. Ela deuas costas aos ensinamentos de nossoProfeta, que a paz esteja com ele.Corrompeu seu corpo para avançarem sua posição. Cada homem queela tocou está para sempremanchado.

Em reação, a multidão vaiou.Altaïr avançou mais algunscentímetros em direção aos degraus

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da área elevada. Observou osguardas e viu que a atenção delesestava em Addin. Bom.

— Castigue-a — gritou umespectador.

Addin os havia levado a umestado de fúria a fim de justiça.

— Ela deve pagar — concordououtro.

A mulher parou de choramingarpara gritar para a multidão queladrava pelo seu sangue.

— Esse homem diz mentiras.Estou aqui hoje não porque deiteicom outros homens, pois não deitei.

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Ele pretende me matar porque nãome deitei com ele.

Os olhos de Addin seincendiaram.

— Mesmo agora, ao lhe seroferecida redenção, ela continuaenganando. Rejeita a salvação. Só háuma maneira de lidar com isso.

Ela teve tempo de dizer “Não”enquanto a espada lampejou e eleenfiou-a na barriga da mulher. Nomomento de silêncio que se seguiu,ouviu-se o som de seu sangueespirrando nas tábuas da plataforma,antes de um “ooh” coletivo erguer-se

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da multidão, a qual foi mudando delugar enquanto aqueles que estavamnas laterais e atrás tentavamconseguir uma visão melhor damulher destripada.

Altaïr agora estava mais pertodos degraus, mas o súbitomovimento da multidão o deixaraum pouco exposto. Aliviado,observou enquanto Addin seencaminhava para o próximoprisioneiro, que se lastimava, e osespectadores iam novamente paratrás, antecipando a execuçãoseguinte.

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Addin apontou para o homem;um jogador, explicou. Um homemque não conseguiu se abster desubstâncias inebriantes e apostas.

— Vergonha — berrou amultidão. Era ela que estavainebriada, pensou Altaïr, enojadocom sua ânsia por derramamento desangue.

— Um jogo de azar me condenaà morte? — gritou o jogador, para eleum último lance de dados. —Mostre-me onde está escrito isso.Não é o pecado que corrompe anossa cidade, mas você.

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— Então diria às pessoas que éaceitável desafiar o desejo de nossoProfeta, que a paz esteja com ele? —contrapôs Addin. — E, se vamosignorar esse ensinamento, o que seráentão de outros? Onde isso acabará?Eu digo que acabará no caos. E,portanto, isso não pode serpermitido.

Sua espada reluziu ao sol datarde. Ele a enfiou bem fundo nabarriga do apostador, grunhindo aoempurrá-la para cima, abrindo umferimento vertical na barriga dohomem e expondo suas entranhas.

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Encantada, a multidão gritou em umarremedo de repugnância, já seempurrando para o lado a fim deassistir à próxima execução, levandoAltaïr para mais perto da escada.

Addin passeou até o terceiroprisioneiro, sacudindo sangue daespada.

— Este homem — disse ele,apontando para o trêmulo preso —apossou-se do que não é dele. Dedinheiro obtido pelo trabalho deoutro. Poderia ter pertencido aqualquer um de vocês. E, portanto,todos vocês poderiam ter sido

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assaltados. O que dizem disso?— Foi um único dinar — alegou

o acusado, implorando à multidãopor piedade — encontrado no chão.Ele fala como se eu tivesse cometidouma falta, como se o tivessearrancado das mãos de outro.

A multidão, porém, não estavaem um estado de espírito piedoso.Houve gritos pelo sangue dele, osespectadores agora em um furor.

— Hoje um dinar — guinchouAddin —, amanhã um cavalo. Nodia seguinte, a vida de outro homem.O objeto em si não é importante. O

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que importa é que você tomou o quenão lhe pertencia. Se devo permitirtal comportamento, então outrospoderão acreditar que também têm odireito de tomar. Onde isso acabará?

Colocou-se diante do ladrão,cujos apelos finais foraminterrompidos quando Addin enfioua lâmina em sua barriga.

Agora ele voltaria a atenção aoAssassino. Altaïr precisava agirdepressa. Tinha apenas algunsmomentos. Baixando a cabeça,começou a abrir caminho com osombros pela horda de gente,

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tomando o cuidado de não parecercomo se tivesse alguma intenção emparticular. Simplesmente como sequisesse chegar o mais perto possívelda parte da frente da multidão.Agora, Majd Addin tinha alcançadoo Assassino, caminhado até ele,agarrado seu cabelo e levantado suacabeça para mostrar à plateia.

— Este homem espalha mentirase propagandas maliciosas — rugiumalignamente. — Ele só tem oassassinato em mente. Envenenanossos pensamentos do mesmomodo que envenena sua lâmina.

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Joga irmão contra irmão. Pai contrafilho. É mais perigoso do quequalquer inimigo que enfrentamos.Ele é um Assassino.

Addin foi recompensado com oofegar coletivo da multidão. Altaïragora já havia chegado aos degraus.Em volta dele, a aglomeração seagitava, espectadores excitadosgritavam pelo golpe mortal.

— Destrua o descrente!— Mate-o!— Corte sua garganta!O Assassino, com a cabeça ainda

segurada por Addin, falou: —

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Matar-me não vai tornar vocês maisseguros. Vejo o medo em seus olhos,ouço o tremor em suas gargantas.Vocês têm medo. Medo porquesabem que nossa mensagem nãopode ser silenciada. Porque sabemque não podemos ser detidos.

Altaïr estava ao pé da escada.Permanecia ali como se tentasse umavisão melhor. Outros o tinham vistoe faziam a mesma coisa. Os doisguardas que estavam em cimahaviam ficado extasiados com aação, mas agora lentamentetornavam-se cientes do que

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acontecia. Um gritou para o outro eeles desceram e começaram amandar que os cidadãos saíssem,embora mais espectadores estivessemprecipitando-se escada acima. Todosqueriam ficar o mais perto possívelda execução e se acotovelavam eempurravam, alguns sendo forçadospara fora dos degraus, incluindo umdos guardas furiosos. Altaïr usou adesordem para subir ainda mais atéficar a apenas poucos passos deAddin, que soltara a cabeça doAssassino e discursava para amultidão sobre sua “blasfêmia”. Sua

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“traição”.Atrás de Altaïr, o tumulto

continuava. Os dois guardas estavamtotalmente ocupados. Adiante dele,Addin terminara de se dirigir àaglomeração, que foraconvenientemente insuflada e estavadesesperada para ver a última morte.Agora ele se voltou novamente parao prisioneiro, brandindo a espadacom a lâmina já manchada devermelho, e foi em sua direção para ogolpe mortal.

Então, como se alertado poralgum sentido superior, ele parou,

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virou a cabeça e olhou diretamentepara Altaïr.

Por um momento, foi como se apraça se contraísse, como se amultidão desordenada, os guardas,os condenados e os corpos nãoestivessem mais ali. E, ao olharemum para o outro, Altaïr viu surgir emAddin a percepção de que a morteestava próxima. Altaïr então agitou odedo médio e a lâmina saltou para afrente, ao mesmo tempo que ele selançava adiante, puxando-o para tráse enfiando-a em Addin, omovimento todo durando menos do

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que um piscar de olhos.A multidão rugiu e gritou, sem

saber o que fazer diante daquelasúbita reviravolta. Addin pulou e secontorceu, enquanto sangue jorravado ferimento em seu pescoço, masAltaïr o manteve parado com osjoelhos, erguendo a lâmina.

— Seu trabalho aqui terminou —falou para Addin, tenso, prestes adesferir o golpe final. Em volta dele,havia pandemônio. Os guardasapenas começavam a perceber o quehavia de errado e tentavam pelejarseu caminho para a plataforma entre

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as pessoas em pânico. Altaïrprecisava terminar isso, depressa.Mas queria ouvir o que Addin tinhaa dizer.

— Não. Não. Ele apenascomeçou — disse Addin.

— Diga-me, qual é a sua partenisso tudo? Você pretende sedefender, como os outros, e explicarseus atos malignos?

— A irmandade queria a cidade.Eu queria poder. Houve... umaoportunidade.

— Uma oportunidade deassassinar inocentes — disse Altaïr.

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Ele podia ouvir o som de péscorrendo. As pessoas fugiam dapraça.

— Não tão inocentes assim.Vozes dissidentes cortam fundocomo o aço. Rompem a ordem.Nisso, eu concordo com airmandade.

— Você matou pessoassimplesmente por pensarem diferentede você?

— Claro que não... Eu as mateiporque podia. Porque era divertido.Você conhece a sensação de poderdeterminar o destino de outro

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homem? E viu como o povoaplaudia? Como ele me temia? Euera como um deus. Você teria feito omesmo, se pudesse. Quanto... poder.

— Um dia, talvez. Mas descobrio que acontece com aqueles que seerguem acima dos outros.

— E o que acontece?— Aqui. Deixe-me mostrar a

você.Ele liquidou Addin, depois

fechou os olhos do tirano. Molhou apena.

— Toda alma deve provar amorte — disse ele.

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Então levantou-se para enfrentaros guardas; exatamente quando umsino começou a badalar.

Um sarraceno veio voando paracima de Altaïr e ele aparou seu golpe,grunhindo e empurrando o homempara trás. Outros estavam subindona plataforma, e ele viu-seenfrentando três ao mesmo tempo.Um tombou berrando diante de sualâmina, outro deslizou no sangueescorregadio, caiu, e Altaïr acaboucom ele. Vendo uma chance, oAssassino pulou do cadafalso,ativando a lâmina e perfurando um

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guarda ao pousar, a espada dohomem golpeando o estreito espaço.

Ele viu agora na praça sua únicapossibilidade de fuga e rechaçoumais dois atacantes ao se aproximardo caminho da entrada. Levou umcorte e sentiu o sangue quenteescorrer pelo braço; então, agarrandoum espadachim, jogou-o nocaminho do segundo. Ambosrolaram, berrando, na terra. Altaïrdisparou na direção da entrada,chegando lá no momento em queum trio de soldados vinha correndopor ela. Ele, porém, tinha o elemento

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surpresa; empalou um com a espada,talhando o pescoço do segundo coma lâmina e empurrando os doisagonizantes moribundos contra oterceiro.

Na entrada livre, olhou derelance para trás e viu na plataformaos homens de Malik libertando oAssassino e levando-o embora, entãoavançou pela travessa, onde umquarto guarda aguardava, vindoadiante em um pique, gritando.Altaïr desviou-se com um salto,agarrando a beirada de umaarmação de madeira e arremessando-

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se acima para a cobertura, sentindoos músculos trabalharem. Láembaixo houve um brado defrustração e, enquanto subia para otelhado, olhou de relance e avistouum punhado de soldados seguindo-o. Para fazer com que parassem,matou um deles com uma faca dearremesso, depois correu pelostelhados, esperou até o sino parar detocar, então desapareceu namultidão, ouvindo a notícia seespalhar pela cidade: um Assassinotinha matado o regente.

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Mas ainda havia algo que Altaïrprecisava saber.

E, com o último dos regentes dacidade morto, agora era o momentode perguntar. Ele endureceu ao serconduzido, mais uma vez, aosaposentos de Al Mualim.

— Entre, Altaïr. Espero que estejadescansado. Pronto para o restantede seus testes — disse o Mestre.

— Estou. Mas, antes, quero falarcom você. Tenho perguntas...

Al Mualim demonstrou sua

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desaprovação ao erguer o queixo efranzir ligeiramente os lábios. Semdúvida, lembrava-se da últimaocasião na qual Altaïr o pressionarapor respostas. E Altaïr também, quedecidira ser mais cauteloso dessa vez,realmente interessado em não ver oreaparecimento da lâmina do Mestre.

— Pergunte, então — concedeuAl Mualim. — Farei o melhorpossível para responder.

Altaïr inspirou fundo.— O Rei Mercador de Damasco

assassinou os nobres quegovernavam sua cidade. Em

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Jerusalém, Majd Addin usava omedo para forçar seu povo àsubmissão. Desconfio que Williampretendia assassinar Ricardo e tomarAcre com seus soldados. Era paraesses homens ajudarem seus líderes.Em vez disso, decidiram traí-los. Oque eu não entendo é por quê.

— A resposta não é óbvia? OsTemplários desejam o controle. Cadahomem, como você notou, queriareivindicar suas cidades em nomedos Templários para que os própriosTemplários pudessem governar aTerra Santa e, eventualmente, mais

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além. Mas não obtiveram sucesso emsua missão.

— Por quê? — perguntou Altaïr.— Seus planos dependem do

Tesouro Templário... o Pedaço doÉden... Mas nós agora o possuímos.E, sem isso, eles não têm esperançasde realizar seus objetivos.

Claro, pensou Altaïr. Foi esse oitem ao qual muitos de seus alvos sereferiram.

— O que é esse tesouro? — quissaber ele.

Al Mualim sorriu, então foi aofundo de seu aposento, curvou-se e

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abriu um baú. Tirou dele uma caixa,retornou à sua escrivaninha e acolocou sobre ela. Mesmo sem olhar,Altaïr sabia o que era, mas, mesmoassim, seu olhar foi atraído para ela— não, arrastado para ela. Era acaixa que Malik havia recuperado doTemplo e, assim como antes, elaparecia brilhar, irradiar uma espéciede poder. Ele soubera o tempo todo,percebeu, que aquele era o tesourodo qual falavam. Seus olhos foramda caixa para Al Mualim, queestivera observando sua reação. Orosto do Mestre exibia uma expressão

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indulgente, como se tivesse vistomuitos se comportarem daquelamaneira. E soubesse que aquilo eraapenas o começo.

Alcançou a caixa e dela tirou umglobo, mais ou menos do tamanhode dois punhos: um globo douradocom desenho de um mosaico queparecia pulsar com energia, de modoque Altaïr se descobriu imaginandose seus olhos o estavam enganando.Se aquilo talvez estivesse... vivo dealgum modo. Mas se distraiu. Emvez disso, sentiu o globo puxá-lo.

— Isso é... tentação — entoou Al

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Mualim.E subitamente, como uma vela

apagada com um sopro, o globoparou de pulsar. Sua aura sumiu.Sua atração subitamente parou deexistir. Era... apenas um globonovamente: um objeto antigo, belo aseu modo, mas, mesmo assim, umamera bugiganga.

— É apenas um pedaço deprata... — disse Altaïr.

— Olhe para ele — insistiu AlMualim.

— Brilhou por um brevemomento, mas não há realmente

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nada de espetacular em relação a ele— afirmou Altaïr. — O quesupostamente devo ver?

— Este “pedaço de prata” causoua expulsão de Adão e Eva. Isto é aMaçã. Isto transformou cajados emcobras. Abriu e fechou o MarVermelho. Éris usou isso paraprovocar a Guerra de Troia. E, comisso, um pobre carpinteirotransformou água em vinho.

A Maçã, o Pedaço de Éden?Altaïr olhou o objeto comdesconfiança.

— Tem uma aparência bastante

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comum para todos esses poderes quevocê alega — observou. — Comofunciona?

— Quem o possui comandacorações e mentes de quem quer queolhe para ele... Quem quer que o“prove”, como dizem.

— Então os homens de DeNaplouse... — disse Altaïr, pensandonas pobres criaturas no hospital.

— Uma experiência. Ervas sãousadas para simular seus efeitos...Para estarem preparados paraquando os possuírem.

Altaïr então entendeu.

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— Talal os forneceu. Tamir osequipou. Estavam sendo preparadospara alguma coisa... Mas o quê?

— Guerra — falou Al Mualim,inflexível.

— E os outros... Os homens quegovernavam as cidades... Elespretendiam ganhar suas populações.Fazê-las gostar dos homens de DeNaplouse.

— Os cidadãos perfeitos. Ossoldados perfeitos. Um mundoperfeito.

— Robert de Sablé jamais deverecuperar isso — disse Altaïr.

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— Enquanto ele e seus irmãosviverem, eles tentarão — afirmou AlMualim.

— Então eles devem serdestruídos.

— E é isso o que eu tenhomandado você fazer — sorriu AlMualim. — Há mais dois Templáriosque precisam de sua atenção — disseele. — Um em Acre, conhecido comoSibrand. Outro em Damasco,chamado Jubair. Visite os líderes doBureau. Eles lhe darão maisinstruções.

— Como deseja — concordou

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Altaïr, baixando a cabeça.— Seja rápido — sugeriu Al

Mualim. — Sem dúvida Robert deSablé está nervoso com nosso sucessocontínuo. O restante de seusseguidores fará o possível para exporvocê. Sabem que você vai chegar: ohomem do capuz branco. Estarão àsua procura.

— Não me encontrarão. Souapenas uma lâmina na multidão —disse Altaïr.

Al Mualim sorriu, mais uma vezorgulhoso de seu pupilo.

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Foi Al Mualim quem lhes ensinara oCredo, aos jovens Altaïr e Abbas. OMestre enchera suas jovens cabeçascom os princípios da Ordem.

Todos os dias, após um desjejumde pão ázimo e tâmaras, governantasrigorosas verificavam se eles tinhamsido bem lavados e estavam bem-vestidos. Depois, com livros presosao peito, eles se apressavam ao longodos corredores, com as sandáliasestalando nas pedras, conversandoanimadamente até chegarem à porta

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do gabinete do Mestre.Ali seguiam um ritual. Ambos

passavam a mão sobre a própria bocapara irem de um rosto alegre paraum sério, o rosto que o Mestreesperava. Então um deles batia naporta. Por alguma razão, ambosgostavam de bater, por isso faziamum revezamento diário. Entãoesperavam que o Mestre os mandasseentrar. Lá dentro, sentavam-se comas pernas cruzadas sobre almofadasque Al Mualim providenciaraespecialmente para eles — uma paraAltaïr e uma para seu irmão, Abbas.

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Quando a tutela começara, elessentiram medo e insegurança; delesmesmos, um do outro e, emparticular, de Al Mualim, que lhesensinava pela manhã e à tarde, comum treinamento no pátio, e depoisnovamente à noite. Longas horaspassadas aprendendo os modos daOrdem, observando o Mestrecaminhar pelo gabinete com as mãosnas costas, parando de vez emquando para repreendê-los sepensasse que não estavam prestandoatenção. Ambos achavamdesconcertante o único olho de Al

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Mualim e às vezes sentiam queestavam sendo constantementeobservados por ele. Até que certanoite Abbas sussurrara no quartodeles: — Ei, Altaïr?

Altaïr virou-se para ele, surpreso.Nenhum dos dois havia feito issoantes, começar a falar após as luzesterem sido apagadas. Eles ficavamdeitados em silêncio, cada qualperdido em seus pensamentos. Atéaquela noite. A lua estava cheia, e olençol na janela deles tinha umbrilho branco, iluminando o quartocom um suave tom cinzento. Abbas

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estava deitado em seu lado, olhandopara Altaïr no dele, e, quando obtevea atenção do outro menino, colocoua mão sobre um olho e disse, emuma imitação quase perfeita de AlMualim: — Não somos nada, se nãoformos fiéis ao Credo dos Assassinos.

Altaïr caiu na risada e, dali emdiante, os dois se tornaram amigos.Então, quando Al Mualim osrepreendia era por causa do risoabafado que ele ouvia ao virar ascostas. De repente, as governantaspassaram a achar que seus deveresnão eram tão humildes e

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complacentes.E Al Mualim lhes ensinou os

princípios. Os princípios que Altaïrnegligenciaria mais tarde na vida, aum custo quase fatal para ele. AlMualim lhes disse que os Assassinosnão eram matadoresindiscriminados, não como o mundoem geral gostava de pensar, maseram incumbidos apenas doassassinato dos maus e doscorruptos. A missão deles era levarpaz e estabilidade à Terra Santa,fomentar nela um código não deviolência e conflito, mas de

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pensamento e contemplação.Ensinou-lhes a dominar seus

sentimentos e suas emoções, aocultar sua posição e ser absorvidospelo mundo em volta deles, de modoa conseguirem se movimentar entrepessoas normais sem seremdetectados, como se fossem espaçosem branco, fantasmas na multidão.Para as pessoas, o Assassino precisaser uma espécie de magia que elasnão entendem, disse ele, mas aquilo,como toda mágica, era realidadedobrada à vontade do Assassino.

Ele lhes ensinou a proteger a

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Ordem o tempo todo; que aIrmandade era “mais importante doque você, Altaïr. É mais importantedo que você, Abbas. É maisimportante do que Masyaf e eumesmo”. Portanto, a ação de umAssassino nunca deveria causar danoà Ordem. O Assassino nunca deveriacomprometer a Irmandade.

E, embora Altaïr certo diatambém desconsiderasse essadoutrina, não foi por falta dosensinamentos de Al Mualim. Ele lhesensinou que homens criaramfronteiras e declararam que tudo

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dentro desses limites era“verdadeiro” e “real”, mas de fatoeram perímetros falsos, impostos poraqueles que se presumiam líderes. Elelhes mostrou que os limites darealidade eram infinitamente maisamplos do que a restrita imaginaçãoda humanidade era capaz deconceber, e que apenas algunspoucos conseguiam enxergar alémdesses limites — apenas uns poucosousavam até mesmo questionar suaexistência.

E esses eram os Assassinos.E porque os Assassinos eram

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capazes de ver o mundo comorealmente era, tudo para eles erapossível — tudo era permitido.

Todos os dias, à medida queAltaïr e Abbas aprendiam cada vezmais sobre a Ordem, eles setornavam mais próximos. Passavamquase todos os dias juntos. O quequer que Al Mualim lhes ensinasse, arealidade deles do dia a dia era defato insatisfatória. Ela consistia emcada um dos dois, governantas, asaulas de Al Mualim e uma sucessãode treinamentos de combate, cadaqual com uma especialidade

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diferente. E, longe de tudo serpermitido, praticamente nada o era.Qualquer entretenimento eraprovidenciado pelos própriosmeninos, e assim passavam longashoras conversando quando deveriamestar estudando. Um assunto sobre oqual raramente falavam era seus pais.A princípio, Abbas falara apenas deAhmad voltar algum dia a Masyaf,mas, à medida que os meses setransformavam em anos, ele falavacada vez menos disso. Altaïr o viaparado diante da janela, observandoo vale com os olhos brilhando. Então

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seu amigo começou a se retrair e setornar menos comunicativo. Não eramais de sorrir tão depressa. Se antesele passava horas conversando,agora, em vez disso, ficava paradodiante da janela.

Altaïr pensou: se ao menos elesoubesse. A dor de Abbasresplandeceria e se intensificaria,depois se fixaria em uma dor,justamente o que Altaïr vivenciara. Amorte de seu pai lhe doía todos osdias, mas pelo menos ele sabia. Essaera a diferença entre uma dorentorpecida e uma constante

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sensação de desamparo.Então, certa noite, após as velas

terem sido apagadas, ele contou aAbbas. Cabisbaixo, lutando contra aslágrimas, ele contou a Abbas queAhmad foi para seus aposentos e alitirara a própria vida, mas que AlMualim decidira que era melhoresconder esse fato da Irmandade.

— Para proteger você. Mas oMestre não tem presenciado emprimeira mão seus anseios. Eutambém perdi meu pai, e sei o que éisso. Sei que a dor diminui com otempo. Ao lhe contar isso, espero

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estar ajudando você, meu amigo.Abbas simplesmente pestanejou

na escuridão, então virou-se nacama. Altaïr estivera pensando notipo de reação que deveria esperar deAbbas. Lágrimas? Raiva? Descrença?Ele havia se preparado para todaselas. Até mesmo trancar Abbas eimpedi-lo de ir até o Mestre. O quenão havia esperado era esse... vazio.Esse silêncio.

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26

Altaïr estava em um telhado deDamasco olhando para seu próximoalvo abaixo.

O cheiro de combustão o deixavaenjoado. A visão também. De livrossendo queimados. Altaïr observava-os enrugar, enegrecer e queimar,pensando em seu pai, que teriaficado desgostoso; Al Mualimtambém ficaria, quando lhe contasse.Queimar livros era uma afronta aomodo de vida dos Assassinos. Oaprendizado é conhecimento, e

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conhecimento é liberdade e poder.Ele sabia disso. De algum modo,havia esquecido, mas soube dissomais uma vez.

Mantinha-se longe da vista nabeirada do telhado que dava para opátio do Madraçal de Jubair, emDamasco. Fumaça se erguia nadireção de onde ele estava, mas todaa atenção abaixo estava concentradana fogueira, a qual tinha pilhas delivros, documentos e rolos depergaminho no centro. Na fogueira eem Jubair al-Hakim, que seencontrava ali perto, vociferando

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ordens. Todos faziam o que elemandava, exceto um, notou Altaïr.Aquele erudito mantinha-seafastado, fitando o fogo, e suaexpressão fazia os pensamentos deAltaïr ecoar.

Jubair usava botas de couro,turbante preto e tinha uma carrancapermanente. Altaïr observava-ocuidadosamente: tinha aprendidomuito sobre ele. Jubair era oprincipal erudito de Damasco, masapenas no nome, pois era um eruditoincomum que insistia não napropagação do conhecimento, mas

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na sua destruição. Para essaatividade, ele recrutara osacadêmicos da cidade, cuja presençaera incentivada por Salah Al’din.

E por que faziam isso, juntar edepois destruir aqueles documentos?Em nome de algum “novo modo” ou“nova ordem” da qual Altaïr jáouvira falar. Exatamente no queimplicava não estava claro. Ele sabia,porém, quem estava por trás daquilo.Os Templários, e sua presa era umdeles.

— Cada um dos textos destacidade deve ser destruído.

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Abaixo dele, Jubair incitava seushomens com o zelo de um fanático.Seus ajudantes eruditos corriam deum lado ao outro com braçadas depapéis que apanhavam de algumlugar escondido de Altaïr. Jogavam-nos nas chamas, que vicejavam ecresciam com cada nova remessa.Com o canto do olho, ele viu oerudito afastado se tornar cada vezmais agitado, até subitamente, comose não conseguisse mais se conter,saltar adiante para enfrentar Jubair.

— Meu amigo, não deve fazerisso — pediu ele, seu tom jovial

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desmentindo sua óbvia aflição. —Há muito conhecimento nessespergaminhos, colocados neles porum bom motivo pelos nossosancestrais.

Jubair parou e encarou-o comevidente desprezo.

— E que motivo foi esse? —rosnou.

— Eles são faróis destinados anos orientar, nos salvar da escuridãoque é a ignorância — implorou oerudito. As chamas dançavam bemalto às suas costas. Vieram maiseruditos com braçadas de livros que

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depositaram na fogueira, algunslançando nervosos olhares de relancepara onde estavam Jubair e o homemque reclamava.

— Não. — Jubair deu um passo àfrente, forçando o opositor a recuarum passo. — Esses pedaços de papéisestão cobertos de mentiras. Elesenvenenam suas mentes. E,enquanto existirem, vocês nãopodem esperar ver o mundo comoele é realmente.

Tentando desesperadamente serrazoável, o erudito ainda nãoconseguia esconder a frustração.

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— Como pode acusar essespergaminhos de serem armas? Sãoinstrumentos de saber.

— Vocês se voltam a eles porrespostas e salvação. — Jubair deuoutro passo adiante, e omanifestante, outro para trás. —Vocês acreditam mais neles do queem vocês mesmos. Isso os tornafracos e estúpidos. Confiam empalavras. Pingos de tinta. Já pararampara pensar em quem os pôs ali? Oupor quê? Não. Simplesmente aceitamsuas palavras sem questionar. E seessas palavras disserem falsidades,

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como geralmente o fazem? Isso éperigoso.

O erudito pareceu confuso.Como se alguém estivesse lhedizendo que preto era branco, noiteera dia.

— Você está errado — insistiuele. — Esses textos oferecem a dádivado conhecimento. Nós precisamosdeles.

Jubair ficou contrariado.— Você ama seus preciosos

escritos? Faria qualquer coisa poreles?

— Sim, faria. É claro.

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Jubair deu um sorriso. Umsorriso cruel.

— Então junte-se a eles.Plantando ambas as mãos no

peito do erudito, Jubair empurrou-opara trás, com força. Por umsegundo, ele meio que tombou. Seusolhos ficaram então arregalados desurpresa, e seus braços se agitaramloucamente, como se esperasse voarpara se livrar da fogueira voraz.Então foi levado pelo ímpeto doempurrão, caindo nas chamas,debatendo-se em um leito de calorabrasador. Gritou e esperneou. Seu

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manto se incendiou. Por ummomento, ele pareceu tentar apagaras chamas, as mangas da roupa jáardendo. Então os gritos pararam. E,contido na fumaça que se erguia atéAltaïr, estava o nauseante cheiro decarne humana queimando. Ele tapouo nariz. No pátio abaixo, os eruditosfizeram o mesmo.

Jubair dirigiu-se a eles: —Qualquer homem que fale como elefalou é o mesmo que uma ameaça.Algum outro de vocês deseja medesafiar?

Não houve resposta; olhos

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temerosos observavam por cima demãos tapando narizes.

— Ótimo — disse Jubair. — Suasordens são bastante simples. Vãopela cidade. Juntem quaisquerescritos que tenham restado ejuntem-nos às pilhas nas ruas. Apósfazerem isso, enviaremos umacarroça para recolhê-los a fim de quesejam destruídos.

Os eruditos partiram. E agora opátio estava vazio. Uma bela áreacoberta de mármore para sempremanchada pela obscenidade do fogo.Jubair andou em volta dele, olhando

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as chamas. De vez em quando,lançava um olhar nervoso à suavolta, e parecia escutarcuidadosamente. Mas, se ouviaalguma coisa, era o crepitar do fogo eo som de sua própria respiração.Descontraiu um pouco, o que fezAltaïr sorrir. Jubair sabia que osAssassinos estavam vindo atrás dele.Achando-se mais esperto do que seuscarrascos, enviara chamarizes para asruas da cidade — chamarizes comseus guarda-costas mais confiáveis,para que a fraude fosse completa.Altaïr movimentou-se

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silenciosamente pelo telhado até ficardiretamente acima do queimador delivros, que pensava estar a salvo ali,trancado em seu madraçal.

Mas não estava. E ele haviaexecutado seu último subordinado,queimado seu último livro.

Clique.Jubair olhou para cima e viu o

Assassino descer em sua direção,com a lâmina estendida. Tardedemais, ele tentou disparar para forado caminho, mas a lâmina penetrouno seu pescoço. Com um suspiro,desabou sobre o mármore.

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Seus olhos piscavamintensamente.

— Por que... Por que você fezisso?

Altaïr olhou para o cadáverenegrecido do erudito no fogo.Como a carne havia sido consumidado crânio, era como se ele estivessesorrindo.

— Os homens devem ser livrespara fazer aquilo que acreditam —falou para Jubair. E retirou a lâminade seu pescoço. O sangue pingou nomármore. — Você não tem o direitode castigar uma pessoa pelo que ela

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pensa, não importa o quantodiscorde.

— Fazer o quê, então? —pronunciou ofegantemente omoribundo.

— Você, dentre todos, deveriasaber a resposta. Educá-los. Mostrar-lhes o certo e o errado. Oconhecimento é que deve libertá-los,não a força.

Jubair deu uma risadinha.— Eles não aprendem, presos a

seus modos como estão. Você éingênuo em pensar o contrário.Trata-se de uma doença, Assassino,

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para a qual só há uma cura.— Está enganado. E é por isso

que tem que ser colocado paradescansar.

— Eu sou diferente daquelespreciosos livros que você procurasalvar? Uma fonte de conhecimentoda qual discorda? Mesmo assim, foirápido em roubar minha vida.

— Um pequeno sacrifício parasalvar muitos. É necessário.

— Não são antigos pergaminhosque inspiram os Cruzados? Queenchem Salah Al’din e seus homenscom um senso de justificada fúria?

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Seus textos colocam outros emperigo. Trazem morte em seu rastro.Eu também estava fazendo umpequeno sacrifício. — Sorriu. —Pouco importa agora. Sua ação estáterminada. E a minha também.

Ele morreu, seus olhos sefechando. Altaïr levantou-se. Olhouem volta do pátio, vendo nele belezae feiura. Então, ouvindo passadas seaproximarem, desapareceu. Sobre ostelhados e pelas ruas. Misturando-seà cidade. Tornando-se apenas umalâmina na multidão...

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— Tenho uma pergunta para você —disse Al Mualim, quando voltaram ase encontrar. Ele havia devolvidotodos os direitos a Altaïr e,finalmente, o Assassino eranovamente um Mestre Assassino.Mesmo assim, era como se seumentor quisesse se certificar.Quisesse ter certeza de que Altaïrtinha aprendido.

— O que é a verdade?— Nós colocamos fé em nós

mesmos — retorquiu Altaïr, ansiosopara agradá-lo, querendo lhemostrar que havia mudado de fato.

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Que sua decisão de mostrar piedadefora a correta. — Vemos o mundocomo ele realmente é, e esperamosque um dia toda a humanidadetalvez possa ver a mesma coisa.

— O que é o mundo, então?— Uma ilusão — respondeu

Altaïr. — Uma ilusão à qualpodemos nos submeter, como faz amaioria, ou transcendê-la.

— E o que é transcender?— Reconhecer que leis se

originam não da divindade, mas darazão. Entendo agora que nossoCredo não nos manda ser livres. —

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E, de repente, ele realmenteentendeu. — Ele nos manda sersensatos.

Até agora ele acreditara noCredo, mas sem saber seu verdadeirosignificado. Era um apelo parainterrogar, aplicar pensamento,aprendizado e razão a todos osempreendimentos.

Al Mualim assentiu.— Percebe agora por que os

Templários são uma ameaça?— Enquanto nós banimos a

ilusão, eles a usam como regra.— Sim. Para remodelar o mundo

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em uma imagem mais agradável paraeles. Foi por isso que mandei vocêroubar o tesouro deles. É por issoque o mantenho trancado. E é porisso que você os mata. Desde queapenas um sobreviva, ele tambémdesejará criar uma Nova OrdemMundial. Você deve agora procurarSibrand. Com sua morte, Robert deSablé ficará finalmente vulnerável.

— Isso será feito.— Que segurança e paz estejam

com você, Altaïr.

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27

Altaïr fez o que esperava ser umaúltima viagem a Acre — desfiguradapela guerra, sobre a qual pendia apermanente mortalha. Ali, realizousuas investigações e depois visitouJabal no Bureau para apanhar seumarcador. À menção do nome deSibrand, Jabal assentiu sabiamente.

— Conheço o homem.Recentemente nomeado líder dosCavaleiros Teutônicos, ele reside noQuarteirão Veneziano e dirige oporto de Acre.

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— Já tomei conhecimento disso,e de muito mais.

Jabal ergueu impressionadassobrancelhas.

— Continue então.Altaïr contou-lhe como Sibrand

havia recrutado os navios do cais,com a intenção de montar umbloqueio. Mas não para evitar umataque de Salah Al’din. Esse foi oaspecto mostrado. De acordo com oque Altaïr descobrira, Sibrandplanejava evitar que os homens deRicardo recebessem suprimentos.Isso fazia perfeito sentido. Os

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Templários estavam traindo os seus.Aparentemente, tudo começava a setornar claro para ele: a natureza doartefato roubado, a identidade daIrmandade juntando todos os seusalvos, até mesmo seu derradeiroobjetivo. Ainda assim...

Havia uma sensação da qual elenão conseguia se livrar. Umasensação de que, mesmo agora, aincerteza rodopiava à sua volta comoa névoa do início da manhã.

— Dizem que Sibrand éconsumido pelo medo, levado àloucura pelo conhecimento de que

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sua morte se aproxima. Ele cerrou odistrito do cais, e agora se esconde lá,esperando a chegada de seu navio.

Jabal refletiu.— Isso torna as coisas perigosas.

Fico imaginando se ele soube de suamissão.

— Os homens que matei, todoseles estão ligados. Al Mualim mealertou que a notícia de meus feitosse espalhou entre eles.

— Fique atento, Altaïr — disseJabal, entregando-lhe a pena.

— Claro, rafiq. Mas acho queisso agirá a meu favor. O medo o

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enfraquecerá.Ele se virou para ir embora, mas,

ao fazer isso, Jabal o chamou devolta.

— Altaïr...— Sim?— Eu lhe devo desculpas.— Por quê?— Por duvidar de sua dedicação

à nossa causa.Altaïr pensou.— Não. Fui eu que errei.

Acreditei que estava acima do Credo.Você não me deve nada.

— Como quiser, meu amigo. Vá

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em segurança.Altaïr foi até o cais, e deslizou

pelo cordão de isolamento deSibrand tão facilmente quantorespirava. Atrás dele erguiam-se asmuralhas de Acre, em vários estadosde dilapidação; adiante dele, o portoestava repleto de navios eplataformas, cascos e carcaças demadeira. Alguns eram barcos quefuncionavam, outros, do cerco, queforam deixados para trás. Elestinham transformado o mar azulcintilante em um oceano marrom depedaços de naufrágios.

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O cais de pedras cinzentasdesbotadas pelo sol tinha sua própriacidade. Quem trabalhava e vivia aliera gente do cais — eles tinham aaparência de gente do cais. Tinhammodos tranquilos e rostos marcadospela exposição ao tempo,acostumados a sorrir.

Mas não atualmente. Não sob ocomando de Sibrand, o Grão-Mestredos Cavaleiros Teutônicos. Ele nãoapenas ordenara que a área fosselacrada, como a enchera de guardas.O medo de ser assassinado era comoum vírus que se espalhara pelo seu

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exército. Grupos de soldadosandavam pelo cais com olhoserrantes. Viviam tensos, a mãoconstantemente voando para o caboda espada de folha larga. Estavamnervosos, suando debaixo de pesadacota de malha de ferro.

Percebendo um tumulto, Altaïrfoi na direção dele, vendo cidadãos esoldados fazerem o mesmo. Umcavaleiro gritava com um homemsanto. Por perto, seus companheirosobservavam, aflitos, enquantotrabalhadores do cais e mercadoreshaviam se reunido para assistir ao

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espetáculo.— E-Está enganado, Mestre

Sibrand. Eu jamais sugeri violênciacontra qualquer homem, e muitocertamente não contra você.

Então aquele era Sibrand. Altaïrobservou o cabelo negro, a testafunda e os olhos ríspidos quepareciam girar loucamente, como osde um cão enlouquecido pelo sol. Elehavia se equipado com todas asarmas possíveis, e seus cinturõescediam sob o peso de espadas,adagas e facas. Atravessado nascostas estava seu arco longo, aljavas

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com flechas salientando acima doombro direito. Parecia exausto. Umhomem aniquilado.

— É o que você diz — rebateuele, cobrindo o padre de gotas desaliva —, mas ninguém aquigarantiria isso. O que devo fazer arespeito?

— E-Eu levo uma vida simples,meu senhor, como todos os homensdo clero. Não é de nosso feitiochamar a atenção para nós mesmos.

— Talvez. — Ele fechou os olhos.Então estes se abriram de repente. —Ou talvez eles não o conheçam

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porque não é um homem de Deus,mas um Assassino.

E, com isso, empurrou o padrepara trás, fazendo o velho cairdolorosamente e depois se arrastarpara se pôr de joelhos.

— Nunca — insistiu ele.— Você usa o mesmo manto.O homem santo agora estava

desesperado.— Se eles se cobrem do mesmo

modo que nós, isso é apenas paraprovocar incerteza e medo. Não devese deixar levar.

— Está me chamando de

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covarde? — berrou Sibrand, a vozfalhando. — Está desafiando aminha autoridade? Está, talvez,querendo virar os meus próprioscavaleiros contra mim?

— Não. Não. N-Não entendo porque está f-fazendo isso comigo... Nãofiz nada de errado.

— Não me lembro de tê-loacusado de qualquer mauprocedimento, o que torna suaexplosão um tanto estranha. É apresença da culpa que o força àconfissão?

— Mas não estou confessando

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nada — alegou o padre.— Ah. Desafiador até o fim.O padre parecia horrorizado.

Quanto mais falava, pior ficava.— O que quer dizer com isso?Altaïr ficou observando

enquanto uma sucessão de emoçõespercorria o rosto do velho: medo,confusão, desespero, impotência.

— William e Garnier foramconfiantes demais. E por issopagaram com a vida. Eu nãocometerei o mesmo erro. Se você é defato um homem de Deus, entãocertamente o Criador proverá por

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você. Que ele esteja em minha mão.— Você enlouqueceu — bradou

o padre. Virou-se para implorar aosespectadores. — Nenhum de vocês seapresentará para deter isto? Eleclaramente foi envenenado pelopróprio medo, forçado a ver inimigosonde não há nenhum.

Seus companheiros arrastaram ospés desajeitadamente, mas nadadisseram. E também os cidadãos, queolharam para ele impassíveis. Opadre não era um Assassino, podiamver isso, mas não importava o quepensavam. Todos estavam

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simplesmente felizes por não serem oalvo da fúria de Sibrand.

— Parece que as pessoascompartilham minha preocupação —declarou Sibrand. Ele desembainhoua espada. — O que faço, faço porAcre.

O padre soltou um grito agudoquando Sibrand enfiou a espada nassuas tripas e girou-a, depois a retiroue a limpou. O velho debateu-se sobreo cais e então morreu. Os guardas deSibrand pegaram seu corpo e oatiraram na água.

Sibrand viu-o ser levado.

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— Homens, fiquem vigilantes.Avisem à guarda sobre qualqueratividade suspeita. Duvido quetenhamos visto o último dessesAssassinos. Canalhas persistentes...Agora, voltem ao trabalho.

Altaïr observou enquanto ele edois guarda-costas seguiram até umbarco a remo. O corpo do padre sechocou contra o casco quando aembarcação foi baixada, depoispassou a flutuar entre o entulho doporto. Altaïr olhou para o mar eavistou um navio maior mais além.Devia ser o refúgio de Sibrand,

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pensou ele. Seus olhos foram de voltapara o esquife de Sibrand. Pôde ver ocavaleiro esticando-se para vasculhara água à sua volta. À procura deAssassinos. Sempre à procura deles.Como se pudessem surgir da água àsua volta.

Que era exatamente o que ele iriafazer, decidiu Altaïr, indo até o cascode navio mais próximo e pulandopara ele, facilmente atravessandobarcos e plataformas até seaproximar do navio de Sibrand. Ali oviu subir para o convés principal, eseus olhos vasculharam a água em

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volta. Altaïr ouviu-o ordenar aosguardas que protegessem os convesesinferiores, depois seguiu para umaplataforma perto do navio.

Um vigia viu-o se aproximar eestava para erguer seu arco quandoAltaïr o acertou com uma faca dearremesso, amaldiçoando-se por nãoter tido tempo de preparar o abate.Dito e feito, em vez de cairsilenciosamente sobre a madeira daplataforma, a sentinela caiu na águacom um estrondo.

Os olhos de Altaïr seguiramrapidamente para o convés do navio

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principal, onde Sibrand tambémouvira o ruído, e já estavacomeçando a entrar em pânico.

— Eu sei que você está aí,Assassino — guinchou. Ele soltou oarco. — Por quanto tempo acha quevai conseguir se esconder? Tenhouma centena de homens percorrendoo cais. Eles o encontrarão. E, quandoo encontrarem, você sofrerá pelosseus pecados.

Altaïr abraçou a estrutura daplataforma, ficando fora de vista. Aágua lambia seus suportes. Fora isso,silêncio. Uma quietude quase

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fantasmagórica, que devia enervarSibrand tanto quanto agradavaAltaïr.

— Apareça, covarde — insistiuSibrand. O medo estava em sua voz.— Enfrente-me e vamos acabar logocom isso.

Tudo a seu tempo, pensou Altaïr.Sibrand disparou uma flecha para onada, depois encaixou e disparououtra.

— Fiquem atentos, homens —gritou Sibrand para os convesesinferiores. — Ele está em algum lugaraí fora. Encontrem-no. Acabem com

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sua vida. Ganhará uma promoçãoquem me trouxer a cabeça doAssassino.

Altaïr saltou da plataforma parao navio, pousando com um levebaque surdo que pareceu ressoar emvolta da área de águas silenciosas.Esperou, grudado ao casco, ouvindoacima os berros de pânico deSibrand. E começou a escalar.Esperou até Sibrand ficar de costas eentão pulou para o deque, ficandoentão a poucos centímetros do Grão-Mestre dos Cavaleiros Teutônicos,que vagava pelo convés, berrando

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ameaças para o mar vazio,proferindo insultos e dando ordens aseus guardas, que se movimentavamapressadamente lá embaixo.

Sibrand era um homem morto,pensou Altaïr, enquanto seaproximava sorrateiramente pelassuas costas. Já tinha morrido haviamuito tempo por causa de seupróprio medo, embora fosse estúpidodemais para reconhecer isso.

— Por favor... não faça isso —disse ele, ao dobrar para o convéscom a lâmina de Altaïr no pescoço.

— Está com medo? — perguntou

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o Assassino. E recolheu sua lâmina.— Claro que estou — respondeu

Sibrand, como se se dirigisse a umidiota.

Altaïr pensou na insensibilidadede Sibrand diante do padre.

— Mas agora está seguro — disseele—, segure-se nos braços do seuDeus...

Sibrand soltou uma ligeira risada.— Os seus irmãos não lhe

ensinaram nada? Eu sei o que meespera. Para todos nós.

— Se não é o seu Deus, então oquê?

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— Nada. Nada espera. E é issoque eu temo.

— Você não crê? — surpreendeu-se Altaïr. Seria verdade? Sibrand nãotinha fé? Em nenhum Deus?

— Como poderia, sabendo o quesei. O que vi. Nosso tesouro foi aprova.

— Prova de quê?— De que esta vida é tudo que

temos.— Demore-se mais um pouco,

então — exigiu Altaïr —, e me conteque papel você desempenhou.

— Um bloqueio marítimo —

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disse-lhe Sibrand —, para evitar quereis e rainhas idiotas enviassemreforços. Assim que... Assim que... —Ele estava indo depressa.

— ...a Terra Santa fosseconquistada? — completou Altaïr.

Sibrand tossiu. Quando voltou afalar, os dentes expostos estavamcobertos de sangue.

— Libertada, seu idiota. Datirania da fé.

— Liberdade? Vocês agiam parasubjugar cidades. Controlar asmentes dos homens. Mataram todosque se opuseram a vocês.

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— Eu segui minhas ordens,acreditando na minha causa. Omesmo que você.

— Não tenha medo — disseAltaïr, fechando os olhos dele.

— Estamos perto, Altaïr.Al Mualim saiu de trás de sua

escrivaninha, movimentando-seatravés de um duro raio de luz quebrilhava pela janela. Seus pombosarrulhavam contentes no calor datarde, e havia aquele mesmo cheirosuave no ar. Entretanto, apesar dodia — e embora Altaïr tivesse

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recuperado seu posto e, maisimportante, a confiança do Mestre—, ele ainda não conseguia sedescontrair totalmente.

— Robert de Sablé é agora tudoque se encontra entre nós e a vitória— continuou Al Mualim. — Suaboca dá as ordens. Sua mão paga oouro. Com ele morre oconhecimento do Tesouro Templárioe qualquer ameaça que ele possaapresentar.

— Ainda não entendo como umsimples pedaço de tesouro podecausar tanto caos — disse Altaïr.

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Estivera meditando sobre asmisteriosas palavras finais deSibrand. Estivera pensando no globo,o Pedaço de Éden. Vivenciara emprimeira mão sua estranha atração, éclaro, mas certamente aquilo tinhaapenas o poder de ofuscar e distrair.Conseguiria de fato exercer umcontrole além daquele de qualquerornamento desejável? Tinha deadmitir que achava a ideiafantasiosa.

Al Mualim assentiu lentamente,como se lesse seus pensamentos.

— O Pedaço de Éden é tentação

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em uma dada forma. Veja o que feza Robert. Assim que provou seupoder, este o consumiu. Ele não a viacomo uma arma perigosa que deviaser destruída, mas uma ferramenta...Uma que o ajudaria a realizar aambição de sua vida.

— Então ele sonhava com poder?— Sim e não. Ele sonhava, ainda

sonha, como nós, com paz.— Mas é um homem que quer

ver a Terra Santa consumida porguerra...

— Não, Altaïr — exclamou AlMualim. — Como não consegue

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enxergar, se foi você quem abriu osmeus olhos para isso?

— O que quer dizer? — Altaïrestava intrigado.

— O que ele e seus seguidoresquerem? Um mundo no qual todosos homens sejam unidos. Nãomenosprezo seu objetivo. Eu ocompartilho. Mas discordo dosmeios. Paz é algo para ser aprendido.Para ser entendido. Para seradotado, mas...

— Ele força isso. — Altaïr estavaconcordando com a cabeça.Entendendo.

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— E, no processo, nos priva denosso livre-arbítrio — concordou AlMualim.

— Estranho... pensar nele dessemodo — comentou Altaïr.

— Nunca nutra ódio pelas suasvítimas, Altaïr. Tais pensamentos sãoum veneno e anuviam nossojulgamento.

— Então ele poderia não serconvencido? De encerrar essa missãolouca?

Al Mualim balançou a cabeçalenta e tristemente.

— Eu falo com ele, a meu modo,

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através de você. O que foi cadamorte se não uma mensagem? Masele tem preferido nos ignorar.

— Então só resta uma coisa afazer.

Finalmente Altaïr ia caçar DeSablé. A ideia o emocionava, mas eleteve o cuidado de equilibrar isso comcautela. Não cometeria novamente oerro de subestimá-lo. Nem De Sablé,nem ninguém.

— Jerusalém foi onde oenfrentou pela primeira vez. É ondeo encontrará agora — disse AlMualim, e soltou seu pássaro. — Vá,

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Altaïr. Está na hora de acabar comisso.

Altaïr partiu, descendo a escadaaté a porta da torre e saindo nopátio. Abbas estava sentado na cerca,e Altaïr sentiu seus olhosacompanhá-lo ao atravessar o pátio.Então parou e se virou para encará-lo. Fizeram contato visual, e Altaïrestava para dizer algo — não tinhacerteza do quê —, mas achou melhornão fazê-lo. Havia uma missão à suafrente. Velhas feridas eramexatamente isso: velhas feridas.Inconscientemente, porém, sua mão

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foi para a lateral do corpo.

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28

Na manhã seguinte após Altaïr tercontado a Abbas a verdade sobre seupai, ele se mostrara ainda maisretraído, e nada que Altaïr pudessedizer conseguiu tirá-lo daqueleestado. Tomaram o desjejum emsilêncio, sujeitando-se, de mauhumor, às atenções de suasgovernantas, depois foram para ogabinete de Al Mualim e tomaramseus lugares no chão.

Se Al Mualim notara umadiferença em seus dois protegidos, ele

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nada disse. Talvez tivesse ficadoparticularmente contente pelo fato deos meninos se distraírem com menosfacilidade naquele dia. Talvez elesimplesmente tivesse suposto quehaviam discutido, como jovens eraminclinados a fazer.

Altaïr, contudo, permaneciaperturbado, com a mente torturada.Por que Abbas não dissera nada? Porque não reagiu ao que lhe contara?

Ele teria a resposta mais tarde,naquele dia, quando foram, como decostume, para o pátio detreinamento. Ali, praticaram espada

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juntos, lutando como sempre. Mashoje Abbas decidira que não queriausar as pequenas espadas de madeiracom as quais lutavam normalmente,mas as espadas com as lâminasreluzentes com as quais planejavamse formar.

Labib, o instrutor deles, ficouencantado.

— Excelente, excelente — disseele, batendo palmas —, mas,lembrem-se, não se ganha nadatirando sangue. Por favor, nãovamos incomodar os médicos. Seráum teste de controle e de astúcia

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como também de habilidade.— Astúcia — disse Abbas. — Isso

combina com você, Altaïr. É astuto etraiçoeiro.

Foram as primeiras palavras queele dirigiu a Altaïr durante o diatodo. E, ao pronunciá-las, Abbasolhou-o com tal desprezo, com talódio, que Altaïr soube que as coisasnunca seriam as mesmas entre osdois. Ele olhou para Labib, querendolhe pedir, lhe implorar que nãopermitisse a disputa, mas este estavapulando todo contente a cerca quelimitava o quadrilátero de

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treinamento, saboreando aperspectiva de, finalmente, assistir aum combate adequado.

Eles tomaram posição. Altaïrengoliu em seco, Abbas o encaroufirmemente.

— Irmão — começou Altaïr —, oque eu disse ontem à noite, eu...

— Não me chame de irmão! — Oberro de Abbas ressoou em torno dopátio. Então ele saltou na direção deAltaïr com uma ferocidade que omenino nunca vira nele antes. Mas,embora seus dentes estivessemtrincados, ele podia ver as lágrimas

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que haviam se formado nos cantosdos olhos do outro. Ele sabia que eramais do que simples raiva.

— Não, Abbas — gritou ele,defendendo-se desesperadamente.

Olhou à esquerda e viu o olharintrigado do instrutor. Eleclaramente não sabia direito o quefazer em relação à explosão de Abbasou à súbita hostilidade entre os dois.Altaïr viu mais dois Assassinos seaproximarem da área detreinamento, evidentemente tendoouvido o grito de Abbas. Rostossurgiram na janela da torre de defesa

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junto à entrada da cidadela. Eleficou imaginando se Al Mualimestava olhando...

Abbas estocou adiante com aponta da espada, forçando Altaïr adesviar para o lado.

— Ora, Abbas... — repreendeu oLabib.

— Ele queria me matar, Mestre— berrou Altaïr.

— Não seja dramático, menino— disse o instrutor, embora nãoparecesse muito convincente. —Você podia aprender com odesempenho do seu irmão.

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— Eu não sou — atacou Abbas.— Irmão. — As palavras do meninoforam pontuadas com violentasestocadas da espada. — Dele.

— Contei aquilo para te ajudar— gritou Altaïr.

— Não — bradou Abbas. —Você mentiu. — Ele atacounovamente e houve um forte repiquede aço. Altaïr viu-se lançado paratrás pela força, batendo na cerca equase caindo de costas por cimadela. Mais Assassinos haviamchegado. Alguns olhavampreocupados, outros queriam se

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divertir.— Defenda-se, Altaïr, defenda-se

— rugia Labib, batendo alegrementeas mãos. Altaïr ergueu a espada,devolvendo os golpes de Abbas eforçando-o mais uma vez para ocentro do quadrilátero.

— Falei a verdade — sibilou eleao se aproximarem, e as lâminas dasespadas deslizaram uma na outra. —Eu lhe contei a verdade para acabarcom o seu sofrimento, do mesmomodo que eu teria gostado que omeu terminasse.

— Você mentiu para me

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envergonhar — rebateu Abbas,caindo para trás e se posicionando,agachado e com um braço jogadopara trás, como lhes ensinaram,enquanto a lâmina da espada tremia.

— Não! — gritou Altaïr. Eledançou para trás quando Abbasinvestiu adiante. Mas, com um levemovimento do pulso, Abbas atingiuAltaïr com sua lâmina, abrindo umcorte que despejou sangue quentepela lateral daquele que outrorachamara de irmão. Altaïr olhou derelance para Labib com olhossuplicantes, mas sua preocupação foi

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dispensada com um aceno. Elepassou a mão pelo lado do corpo eaproximou-se com os dedos sujos desangue, que estendeu para Abbas.

— Pare com isso, Abbas —pediu. — Falei a verdade, naesperança de lhe dar consolo.

— Consolo — repetiu Abbas. Omenino agora falava para a multidãoque se formara. — Para me consolar,ele me diz que meu pai se matou.

Houve um momento de silêncioperturbador. Altaïr olhou de Abbaspara aqueles que agora observavam,incapaz de entender a reviravolta. O

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segredo que ele jurara manter foratornado público.

Olhou acima para a torre de AlMualim. Avistou o Mestre parado lá,observando, com as mãos nas costase uma expressão ilegível no rosto.

— Abbas — gritou Labib,notando finalmente que havia algoerrado —, Altaïr.

Os dois meninos lutadores,porém, o ignoraram, e suas espadasse encontraram novamente. Altaïr,com as dores do ferimento, eraforçado a se defender.

— Pensei... — começou ele.

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— Você pensou em me causarvergonha — gritou Abbas.

As lágrimas agora escorriam peloseu rosto, enquanto circundavaAltaïr e avançava mais uma vez,agitando loucamente a espada. Altaïrse agachou e encontrou um espaçoentre o braço e o corpo de Abbas.Golpeou, abrindo um ferimento nobraço esquerdo de Abbas, esperandoque isso, pelo menos, o fizesse pararpor tempo suficiente para que eletentasse explicar...

Mas Abbas guinchou. E, com umgrito final de guerra, saltou na

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direção de Altaïr, que desviou daespada descontrolada, usando oombro para interromper o impulso àfrente de Abbas, de modo que agoraos dois rolavam pelo chão em umaconfusão de terra e mantosensanguentados. Por um momento,eles se agarraram, então Altaïr sentiuuma dor terrível do lado do corpoquando Abbas enfiou o polegar noseu ferimento, aproveitando aoportunidade para se torcer,deslocando-se para cima de Altaïr eprendendo-o ao solo. Do cinturão,puxou sua adaga e a colocou no

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pescoço de Altaïr. Seus olhosenlouquecidos estavam concentradosno oponente. Eles ainda vertiamlágrimas. Ele respirava pesadamentepor entre os dentes trincados.

— Abbas! — veio o grito, não deLabib ou de qualquer outro que seaproximara para observar. Veio dajanela de Al Mualim. — Largueimediatamente essa faca — rugiu ele,a voz trovejando no pátio.

Em resposta, Abbas sooupequeno e desesperado.

— Não até ele admitir.— Admitir o quê? — berrou

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Altaïr, contorcendo-se, mas sendomantido firme.

Labib havia pulado a cerca.— Agora, Abbas — disse ele, com

mãos apaziguadoras estendidas. —Faça o que o Mestre diz.

— Se você se aproximar mais, eucorto ele — grunhiu Abbas.

O instrutor parou.— Ele vai colocá-lo nas celas por

causa disso, Abbas. Não é assim quea Ordem se comporta. Olhe, aqui hácidadãos da aldeia. A notícia vai seespalhar.

— Não me importo — lamentou-

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se Abbas. — Ele precisa dizer isso.Precisa dizer que falou uma mentirasobre meu pai.

— Que mentira?— Ele disse que meu pai se

matou. Que ele foi aos aposentos deAltaïr para se desculpar e entãocortou a própria garganta. Mas elementiu. Meu pai não se matou. Eledeixou a Irmandade. Esse foi seupedido de desculpas. Vamos, digaque você mentiu. — Ele pressionou aponta da adaga contra a garganta deAltaïr, tirando mais sangue.

— Abbas, pare com isso — urrou

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Al Mualim de sua torre.— Altaïr, você mentiu? —

perguntou Labib.Um silêncio envolveu o pátio de

treinamento: todos esperavam aresposta de Altaïr. Este olhou paraAbbas.

— Sim — disse ele. — Eu menti.Abbas recuou, agachado, e

fechou os olhos bem apertados.Fosse qual fosse a dor que o atingia,ela parecia atormentar todo o seucorpo, e, ao largar a adaga com umretinir no chão do quadrilátero, elecomeçou a soluçar. Ainda soluçava

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quando Labib foi até ele e o agarrourudemente pelo braço, puxando-opara colocá-lo de pé e o entregando auma dupla de guardas, que seaproximaram correndo. Momentosdepois, Altaïr foi igualmenteagarrado. Ele também foi levadopara as celas.

Posteriormente, Al Mualimdecidiu que, após um mês nocalabouço, eles retomariam seutreinamento. O crime de Abbas foiconsiderado o mais sério dos dois;fora ele quem permitira o descontrolede suas emoções e, ao fazê-lo, levou

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descrédito à Ordem. O castigo foi terseu treinamento aumentado em umano. Ainda estaria no pátio detreinamento com Labib quandoAltaïr se tornasse um Assassino. Ainjustiça aumentou seu ódio porAltaïr, o qual lentamente passou aver Abbas como uma figuraamargurada, patética. Quando acidadela esteve sob ataque, foi Altaïrquem salvou a vida de Al Mualim,sendo elevado a Mestre Assassino.Nesse dia, Abbas cuspiu na terradiante dos pés de Altaïr, mas esteapenas olhou-o com desprezo.

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Abbas, decidiu ele, era fraco eineficaz como o fora seu pai.

Talvez, olhando para trás, tivessesido por isso que ele foracontaminado pela arrogância.

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29

Ao chegar novamente ao Bureau deJerusalém, Altaïr era um homemmudado. Não que tivesse cometido oerro de pensar que sua viagem haviaacabado — esse teria sido um enganocometido pelo antigo Altaïr. Não, elesabia que era apenas o começo. Eracomo se Malik também sentisse isso.Algo mudara no chefe do Bureauquando Altaïr entrou. Havia umanova deferência e uma novaharmonia entre eles.

— Segurança e paz, Altaïr —

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saudou ele.— Igualmente, irmão —

respondeu Altaïr, e houve ummomento encabulado entre eles.

— Parece que o destino tem ummodo estranho em relação àscoisas...

Altaïr assentiu.— Então é verdade? Robert de

Sablé está em Jerusalém?— Vi pessoalmente os cavaleiros.

— A mão de Malik foi para seu coto,onde antes ficava seu braço. Umalembrança à menção dos Templários.

— Só o infortúnio segue esse

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homem. Se ele está aqui, é porquepretende alguma maldade. Não dareichance para que ele aja — disseAltaïr.

— Não deixe que a vingançaencubra os seus pensamentos, irmão.Nós dois sabemos que nada de bompode resultar disso.

Altaïr sorriu.— Não esqueci desse conselho.

Você nada tem a temer. Não procurovingança, mas conhecimento.

Antes, ele teria dito tal coisaapenas papagueando, sabendo o queos crédulos esperavam dele. Agora,

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de fato acreditava nisso.Mais uma vez, Malik entendeu

de algum modo.— Realmente, você não é o

homem que outrora conheci —observou ele.

Altaïr concordou com a cabeça.— Meu trabalho me ensinou

muitas coisas. Revelou-me segredos.Mas ainda há peças desse quebra-cabeça que não possuo.

— O que quer dizer com isso?— Todos os homens que matei

trabalhavam juntos, unidos por essehomem. Robert tem planos para esta

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terra. Disso tenho toda a certeza.Mas como e por quê? Quando eonde? Essas coisas permanecem forado alcance.

— Cruzados e sarracenostrabalhando juntos? — perguntou-seMalik em voz alta.

— Eles não são isso, mas outracoisa. Templários.

— Os Templários são uma partedo exército cruzado — lembrouMalik, embora a pergunta estivesseescrita por todo o seu rosto: comopoderiam ser homens do rei Ricardose permaneciam em Jerusalém?

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Andando pelas ruas da cidade?— Ou é nisso que querem que o

rei Ricardo acredite — supôs Altaïr.— Não. Sua única aliança é comRobert de Sablé e alguma ideiamaluca de que eles acabarão com aguerra.

— Você está tecendo umaestranha trama.

— Você nem faz ideia, Malik...— Então me conte.Altaïr passou a contar a Malik o

que descobrira até então.— Robert e seus Templários estão

pela cidade. Vieram prestar suas

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homenagens a Majd Addin. Elescomparecerão ao funeral dele. O quesignifica que eu tambémcomparecerei.

— Por que os Templárioscompareceriam ao funeral de Majd?

— Ainda preciso adivinhar asverdadeiras intenções deles, mas tereiuma confissão a tempo. Os próprioscidadãos estão divididos. Muitostemem pela própria vida. Mas outrosinsistem que eles estão aqui paranegociar. Para fazer paz.

Ele pensou no orador queinterrogara e que fora inflexível em

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afirmar que seus amos queriam umfim para a guerra. De Sablé, umcristão, iria ao funeral de MajdAddin, um muçulmano. Não seriaessa a prova de que os Templáriosbuscavam uma Terra Santa unida?Os cidadãos eram hostis à ideia de osTemplários estarem presentes emJerusalém. A ocupação cruzadaainda estava fresca em suas mentes.Não era surpreendente que houvesserelatos de brigas entre Cruzados esarracenos, que protestavam contra avisão de cavaleiros nas ruas. Acidade permanecia sem ser

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convencida pelos oradores queinsistiam que eles vieram em nomeda paz.

— Paz? — indagou agora Malik.— Já lhe disse. Os outros que

matei me disseram isso.— Isso os tornaria nossos aliados.

Mesmo assim, nós os matamos.— Não se deixe enganar. Não

somos nada como esses homens.Apesar de seu objetivo parecer nobre,os meios pelos quais eles o obtémnão o são. Pelo menos... foi isso queAl Mualim me disse.

Ele ignorou o minúsculo verme

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de dúvida que escorregou para ofundo de seu estômago.

— Bem, e qual é o seu plano?— Vou comparecer ao funeral e

enfrentar Robert.— Quanto mais cedo, melhor —

concordou Malik, entregando a penaa Altaïr. — Que a sorte favoreça sualâmina, irmão.

Altaïr pegou a pena marcadora.Engolindo em seco, ele falou: —Malik... Antes de eu ir, tem umacoisa que preciso dizer.

— Então diga.— Eu fui um idiota.

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Malik soltou uma gargalhadaseca.

— Normalmente, eu nãodiscutiria, mas o que é isso? Do queestá falando?

— Todo esse tempo... nunca lhedisse que sinto muito. O malditoorgulho. Você perdeu o braço porminha causa. Perdeu Kadar. Tevetodo o direito de ficar furioso.

— Não aceito sua desculpa.— Eu entendo.— Não. Não entende. Não aceito

sua desculpa porque você não é omesmo homem que foi comigo ao

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Templo de Salomão, portanto vocênão tem nada do que se desculpar.

— Malik...— Talvez, se não tivesse sentido

tanta inveja de você, eu não tivessesido tão descuidado. A culpatambém foi minha.

— Não diga isso.— Nós somos um. Do mesmo

modo como compartilhamos a glóriade nossas vitórias, também devemoscompartilhar a dor de nossasderrotas. Desse modo nos tornamosmais próximos. Mais fortes.

— Obrigado, irmão.

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E foi assim que Altaïr se encontrouno cemitério, um pequeno terrenosem adornos, juntando-se a umescasso grupo de Templários e civisque haviam se reunido em volta dotúmulo de Majd Addin, o regenteanterior da cidade.

O corpo foi banhado e envoltoem mortalha e carregado emprocissão, depois enterrado pelo seulado direito e o buraco coberto.Membros da procissãoacrescentavam terra à cova. QuandoAltaïr entrou, um imã se adiantavapara proferir a oração fúnebre, e o

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silêncio descera sobre o campo santo.A maioria permanecia com as mãosjuntas à frente do corpo e a cabeçabaixa em respeito ao morto, portantofoi uma tarefa fácil para Altaïrdeslizar pelo meio da multidão a fimde conseguir uma posição favorável.Para localizar seu alvo final. Aqueleque colocara Altaïr nesse caminho —cuja morte seria apenas a retribuiçãopelo sofrimento que ele causara e doque acontecera em seu nome: Robertde Sablé.

Passando pelas fileiras de pessoasem luto, Altaïr se deu conta de que

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era a primeira vez que se encontravano funeral de um de seus alvos, elançou um olhar em volta para ver sehavia por perto membros chorososda família do morto, imaginandocomo ele, o matador, se sentiria ao sedeparar com a dor deles. Mas, seMajd Addin havia tido parentespróximos, estes ou estavam ausentesou mantinham oculta sua dor nomeio da multidão. Não havianinguém à beira do túmulo a não sero imã e...

Um pequeno grupo deTemplários.

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Eles estavam diante de uma fontedecorada com adornos instalada emum alto muro de arenito, três delesusavam armadura e tinham elmoscobrindo inteiramente o rosto; atémesmo o que se encontrava adiantedos outros dois, e que também usavacapa. A inconfundível capa do Grão-Mestre Templário.

No entanto... Altaïr pestanejouao olhar para De Sablé. O cavaleiro,de algum modo, não era como ele selembrava. Estaria sua memória lhepregando uma peça? Teria Robert deSablé assumido uma dimensão maior

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em sua cabeça por tê-lo derrotado?Certamente ele parecia carecer daestatura de que Altaïr se lembrava.Onde estava também o restante deseus homens?

Agora o imã tinha começado afalar: — Estamos reunidos aqui paralamentar a perda de nosso amadoMajd Addin, levado cedo demaisdeste mundo. Sei que vocês sentempesar e dor pela sua morte. Mas nãodeveriam. Pois, do mesmo modocomo todos nós somos trazidos doventre, também devemos um diapartir deste mundo. É apenas

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natural, como o nascer e o pôr dosol. Aproveitem este momento pararefletir sobre a vida dele e agradeçampor todo o bem que ele fez.Sabedores de que, um dia, vocêsestarão novamente com ele noparaíso.

Altaïr pelejou para ocultar seuasco. “O amado Majd Addin”. Omesmo amado Majd Addin que foraum traidor dos sarracenos, que haviaprocurado corroer a confiança quesentiam ao executarindiscriminadamente os cidadãos deJerusalém? Aquele amado Majd

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Addin? Não era de admirar que opúblico fosse tão escasso e a dor tãopouco evidenciada. Ele era tãoamado quanto a lepra.

O imã começou a conduzir aspessoas para que fizessem uma prece.

— Ó Deus, abençoe Maomé, suafamília, seus companheiros, ómisericordioso e majestoso. Ó Deus,mais majestoso do que o descrevem,paz aos profetas, bênçãos do Deus doUniverso.

O olhar de Altaïr foi dele para DeSablé e seu guarda-costas. Umapiscadela do sol atraiu seu olhar, e

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ele ergueu a vista para o muro atrásdo trio de cavaleiros, para os bastiõesque haviam ao longo do lado de forado pátio. Fora um movimento o queele havia notado? Talvez. Váriossoldados templários poderiamfacilmente se proteger nos bastiões.

Olhou novamente de relancepara os três cavaleiros — Robert deSablé, como se preparado para umainspeção, oferecia-se como alvo. Suacompleição. Certamente, um tantoinsignificante. A capa. Pareciacomprida demais.

Não. Altaïr abandonaria o

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assassinato porque não havia comoignorar o seu instinto. Ele não lhedizia que havia algo errado. Ele diziaque nada estava certo. Começou arecuar, no momento em que o tomdo imã mudou.

— Como sabem, esse homem foimorto por Assassinos. Tentamoslocalizar esse criminoso, mas isso semostrou difícil. Essas criaturasgrudam-se às paredes e fogem dequalquer um que os enfrente demodo justo.

Altaïr gelou, percebendo queagora a armadilha ia ser acionada.

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Tentou forçar caminho maisrapidamente pela multidão.

— Mas hoje não — ouviu o imãexclamar —, pois parece que umdeles se encontra entre nós. Elezomba da gente com sua presença edeve ser forçado a pagar por isso.

De repente, a multidão em voltade Altaïr abriu-se, formando umcírculo à sua volta. Ele virou-se,olhando para a beira do túmulo,onde o imã apontava — para ele. DeSablé e seus dois homens avançavam.A aglomeração em volta de Altaïrparecia enfurecida e se fechava para

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abarcá-lo, sem deixar qualquer rotade fuga.

— Agarrem-no. Tragam-no paraque a justiça de Deus possa ser feita— bradou o imã.

Com um movimento, Altaïrsacou a espada e também ejetou alâmina. Lembrou-se das palavras doMestre: Escolha um.

Mas não foi preciso. As pessoasem luto podiam ter sido corajosas eMajd Addin podia ter sido amado,mas ninguém estava preparado paraderramar sangue para vingá-lo. Empânico, a multidão se rompeu, em

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fuga, tropeçando nos própriosmantos, e Altaïr aproveitou a súbitaconfusão para disparar para umlado, rompendo a linha de frente dosTemplários que avançava. Oprimeiro deles teve apenas o tempode registrar que uma pessoa damultidão não estava fugindo, mas,em vez disso, avançando em suadireção, antes que a espada de Altaïratravessasse sua cota de malha e suasentranhas e ele caísse.

Altaïr avistou uma porta abertano muro e mais cavaleirosprecipitando-se por ela. Pelo menos

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cinco. Ao mesmo tempo, veio umachuva de flechas de cima, e umcavaleiro girou e caiu, a hastesalientando-se de seu pescoço. Oolhar de Altaïr correu para osbaluartes, onde ele viu arqueirostemplários. Naquele momento, apontaria deles o havia favorecido.Dificilmente teria tanta sorte napróxima vez.

O segundo dos guarda-costasavançou e ele o golpeou com alâmina, talhando o pescoço dohomem e derrubando-o em meio aum jorro de sangue. Virou-se para

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De Sablé, que avançava brandindosua espada de folha larga, pesada obastante para mandar Altaïrcambaleando para trás, tendo sidocapaz de apenas desviar o golpe.Subitamente, surgiram reforços, e elepassou a trocar golpes com trêsoutros cavaleiros, todos com elmoscobrindo todo o rosto, e descobriuque agora estava em cima do localfinal de descanso de Majd Addin.Não houve, porém, tempo paradesfrutar o momento: de cima, veiooutra chuva de flechas e, para oprazer de Altaïr, um segundo

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cavaleiro foi flechado, gritando aocair. Isso perturbou os Templáriosrestantes, e eles se dispersaram umpouco, menos por medo de Altaïr doque de seus próprios arqueiros,justamente no momento em que DeSablé começou a dar gritosesganiçados para os arqueirospararem de disparar em seuspróprios homens.

Nesse momento, Altaïr ficou tãosurpreso que quase abriu a guarda.O que ele ouvira não foi oinconfundível timbre francês deRobert de Sablé, mas uma voz que

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certamente pertencia a uma mulher.Uma inglesa.

Por um momento, ele foi tomadode surpresa por uma mistura deaturdimento e admiração. Essa...mulher, a substituta enviada por DeSablé, lutava tão bravamente quantoqualquer homem e manejava aespada de folha larga tão habilmentequanto qualquer cavaleiro com queele havia se defrontado. Quem eraela? Um dos tenentes de De Sablé?Sua amante? Mantendo-se perto daproteção do muro, Altaïr derrubououtro dos cavaleiros. Restava apenas

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um. Mais um e a substituta de DeSablé. Mas o último Templário tiveramenos apetite para a luta do que ela,e morreu, trespassado pela ponta daespada do Assassino.

Agora apenas ele e ela trocavamgolpes, até Altaïr finalmente levar amelhor, enfiando a espada em seuombro, enquanto varria suas pernas,fazendo-a desabar pesadamente nochão. Correndo para uma proteção,ele a arrastou junto para que ambosficassem fora da vista dos arqueiros.Então curvou-se sobre ela. Aindausando o elmo, seu peito arfava.

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Sangue havia se espalhado pelopescoço e pelo ombro, mas elasobreviveria, pensou Altaïr — isto é,se ele permitisse.

— Quero ver seus olhos antes devocê morrer — disse ele.

Tirou o elmo, e ficou ainda maissurpreso ao confrontar a verdade.

— Creio que esperava outrapessoa — comentou ela, sorrindo umpouco.

Seu cabelo estava escondido pelocapuz da cota de malha que usava,mas Altaïr ficou extasiado com seusolhos. Percebeu que havia

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determinação por trás deles, porémtambém algo mais. Suavidade eleveza. E descobriu-se imaginando sesuas óbvias habilidades comoguerreira davam uma falsa ideia desua verdadeira natureza.

Mas — independente doconhecimento de combate que elapossuía — por que De Sablémandaria essa mulher em seu lugar?Que habilidades especiais ela poderiater? Ele colocou sua espada nopescoço dela.

— Que feitiçaria é essa? —indagou cautelosamente.

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— Nós sabíamos que você viria— disse ela, ainda sorrindo. —Robert precisava ter certeza de queele teria tempo para fugir.

— Então ele fugiu?— Não podemos negar o seu

sucesso. Você destruiu os nossosplanos. Primeiro o tesouro... depoisnossos homens. O controle da TerraSanta nos escapuliu... Mas ele viuuma oportunidade de recuperar oque havia sido roubado.Transformar suas vitórias em nossavantagem.

— Al Mualim ainda tem o

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tesouro e já aniquilamos antes o seuexército — rebateu Altaïr. — Sejaqual for o plano de Robert, elefracassará novamente.

— Ah — fez ela. — Mas não éapenas contra os Templários quevocê lutará agora.

Altaïr controlou-se.— Fale algo com sentido —

exigiu.— Robert cavalga até Arsuf para

defender sua causa, que sarracenos eCruzados se unam contra osAssassinos.

— Isso jamais acontecerá. Eles

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não têm nenhum motivo para isso.O sorriso dela se alargou.— Talvez não tivessem. Mas

agora você lhes deu um. Aliás, nove.Os corpos que deixou para trás... Asvítimas de ambos os lados. Vocêtornou os Assassinos um inimigo emcomum e garantiu a aniquilação desua Ordem inteira. Muito bem.

— Nove não. Oito.— O que quer dizer?Ele afastou a espada do pescoço

dela.— Você não era meu alvo. Não

tirarei sua vida. — Levantou-se. —

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Está livre para ir. Mas não me siga.— Não preciso — disse ela,

levantando-se e colocando a mãosobre o ferimento no ombro. — Vocêjá está muito atrasado...

— Veremos.Com um olhar de relance final

para os bastiões, onde arqueiros seapressavam em assumir novasposições, Altaïr saiu em disparada,deixando o cemitério vazio comexceção de seus velhos e novoscadáveres — e a estranha, corajosa earrebatadora mulher.

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— Era uma armadilha — exclamoupara Malik momentos depois, que foio tempo que levara para ir docemitério ao Bureau, em umpercurso durante o qual sua mentetrabalhou furiosamente.

— Soube que o funeral setransformou em um caos... O queaconteceu?

— Robert de Sablé nunca estevelá. Enviou outra pessoa em seu lugar.Estava à minha espera...

— Você precisa ir até Al Mualim— sugeriu Malik com firmeza.

Sim, pensou Altaïr, precisava.

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Havia novamente, porém, aquelasensação insistente. A tal que lhedizia que ainda havia mais mistériopara descobrir. E por que pensavaque isso, de algum modo, envolvia oMestre?

— Não há tempo. Ela me disseaonde ele foi. Quais são seus planos.Se eu voltar a Masyaf, talvez eletenha sucesso... Então... receio quesejamos destruídos.

— Nós já matamos a maioria deseus homens. Ele não pode pensarem conseguir montar um ataqueapropriado. Espere — falou Malik.

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— Você disse “ela”?— Sim. Era uma mulher. Sei que

é estranho. Mas isso fica para outraocasião. Por enquanto devemos nosconcentrar em Robert. Pode ser quetenhamos diminuído suas fileiras,mas o homem é esperto. Ele vaipleitear seu caso junto a Ricardo eSalah Al’din. Para uni-los contra uminimigo comum... Contra nós.

— Você certamente estáequivocado. Isso não faz sentido.Esses dois homens jamais iriam...

— Ah, iriam sim. E a culpa énossa. Os homens que matei...

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homens de ambos os lados doconflito... homens importantes paraambos os líderes... O plano de Robertpode ser ambicioso, mas faz sentido.E pode dar certo.

— Olhe, irmão, as coisasmudaram. Você precisa voltar aMasyaf. Não podemos agir sem apermissão do Mestre. Isso poderiacomprometer a Irmandade. Euachei... Eu achei que você tinhaaprendido isso.

— Pare de se esconder atrás daspalavras, Malik. Você empunha oCredo e seus princípios como um

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escudo. Ele afasta as coisas da gente.Coisas importantes. Foi você quemme disse que nunca podemos saberde nada, apenas suspeitar. Pois bem,suspeito que esse assunto com osTemplários seja mais profundo.Quando acabar com Robert, irei aMasyaf para que possamos obterrespostas. Mas talvez você possa iragora.

— Não posso deixar a cidade.— Então caminhe através de seu

povo. Procure aqueles que serviramaos tais que matei. Talvez enxerguealgo que não consegui.

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— Não sei... Preciso pensar nisso.— Faça o que precisar, meu

amigo. Mas eu irei a Arsuf. Cadamomento de minha demora significamais um passo que nosso inimigo dáà minha frente.

Outra vez, ele infringira o Credo:involuntariamente ou não, elecolocara a Ordem em perigo.

— Tome cuidado, irmão.— Tomarei. Prometo.

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30

Os exércitos de Salah Al’din eRicardo Coração de Leão haviam seencontrado em Arsuf e, enquantoseguia para lá, Altaïr soube — pelorumores ouvidos em oficinas deferreiros e poços de água durante ocaminho — que, após uma série depequenos combates, a batalhacomeçara naquela manhã, quandoos turcos de Salah Al’din haviamlançado um ataque contra as fileirasdos Cruzados.

Cavalgando em direção a ela,

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contra o fluxo de campesinos aflitosquerendo escapar do massacre, Altaïravistou colunas de fumaça nohorizonte. Ao se aproximar mais,conseguiu distinguir soldados emcombate na planície distante.Aglomerações deles; imensos bandosescuros à distância. Enxergou umafaixa de milhares de homensavançando depressa a cavalo emataque ao inimigo, mas Altaïr estavamuito distante para saber se ainvestida era sarracena ou cruzada.Mais próximo, conseguiu ver asarmações de madeira de máquinas

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de guerra e pelo menos uma pegandofogo. Então conseguiu distinguir osaltos crucifixos de madeira doscristãos, as cruzes imensas em cimade plataformas sobre rodas que ainfantaria empurrava à frente e asbandeiras dos sarracenos e as dosCruzados. O céu escurecia com achuva de flechas disparadas pelosarqueiros de cada lado. Viucavaleiros montados portando piquese bandos de sarracenos a cavalorealizando devastadoras incursõesnas fileiras dos cruzados.

Conseguia ouvir o tamborilar de

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cascos na planície e o constanteestrépito dos címbalos, tambores,gongos e trombetas sarracenos. Podiaouvir o ruído da batalha: oincessante e envolvente barulho dagritaria dos vivos, dos brados dosmoribundos, o pronunciadomatraquear de aço contra aço e odeplorável relinchar de cavalosferidos. Agora começava a encontraranimais sem cavaleiros e corpos,sarracenos e Cruzados, com osmembros esticados sobre a terra ousentados mortos apoiados emárvores.

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Altaïr freou sua montaria — bema tempo, pois subitamentecomeçaram a surgir arqueirossarracenos de trás da linha dasárvores a alguma distância de ondeele estava. Saltou do cavalo e roloupara fora da pista principal,protegendo-se atrás de uma carroçavirada. Havia talvez uma centenadeles. Eles atravessaram correndo apista até as árvores do outro lado.Movimentavam-se com rapidez eiam abaixados. Moviam-se damaneira como o fazem os soldadosquando avançam furtivamente por

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território mantido por inimigo.Altaïr levantou-se e também

disparou para o meio das árvores,seguindo os arqueiros a umadistância segura. Perseguiu-os poralguns quilômetros, e os sons dabatalha, suas vibrações, foramficando cada vez mais fortes, atéchegarem a uma elevação. Agora seachavam acima da batalha principal,que seguia com intensidade abaixodeles, e, por um momento, o própriotamanho dela o deixou sem fôlego.Por toda a parte — o quantoalcançava a vista — havia homens,

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corpos, máquinas e cavalos.Do mesmo modo como no Cerco

de Acre, ele viu-se no meio de umferoz e selvagem conflito sem umlado para chamar de seu. O que eletinha era a Ordem. O que ele tinhaera uma missão para protegê-la, dedeter a fera que, involuntariamente,soltara para destruí-la.

Por toda a sua volta na elevaçãotambém havia corpos, como se játivesse havido uma batalha poucotempo antes. E houvera, é claro:quem quer que dominasse a elevaçãotinha a vantagem da altura, portanto

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era provável que ela fossebrutalmente disputada. De fato, aochegarem ao cume, os sarracenosforam recebidos pela infantaria epelos arqueiros cruzados, e ergueu-seuma grande gritaria de ambos oslados. Os homens de Salah Al’dintinham o elemento surpresa e,portanto, a vantagem, e a primeiraonda de ataque deixou os corpos decavaleiros em seu rastro, algunscaindo da elevação para a ebuliçãoda guerra lá embaixo. Mas, enquantoAltaïr se mantinha agachado,observando, os Cruzados

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conseguiram se reagrupar, e ocombate começou seriamente.

Seguir ao longo da elevação era omeio mais seguro de ir para trás daslinhas cruzadas, onde RicardoCoração de Leão estaria posicionado.E alcançá-lo era a única esperançaque Altaïr tinha de deter Robert deSablé. Ele aproximou-se da batalha ecomeçou a se movimentar para aesquerda, deixando um amploespaço entre ele e os combatentes.Chegou até um cruzado que estavaagachado sobre a vegetação rasteira,observando a batalha e

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choramingando, e logo o deixou,correndo adiante.

De repente, houve um grito,então dois Cruzados se aproximaramdo seu caminho. Ele parou, cruzouos braços até os ombros,desembainhando a espada com umadas mãos e sacando uma faca com aoutra. Um dos batedores foi abatidoe ele se dirigiu ao outro. E o haviaderrubado quando percebeu que nãoeram batedores. Eram sentinelas.

Ainda contemplando a batalhado alto, descobriu que estava naponta de uma colina. A alguma

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distância dali conseguia ver oestandarte de Ricardo Coração deLeão e achou ter vislumbrado opróprio rei, montado em seuinconfundível corcel, com suaflamejante barba laranja e seu cabeloreluzente ao sol da tarde. Mas agorachegava mais infantaria deretaguarda e ele se viu cercado porcavaleiros, cota de malha de ferrochocalhando, as espadas erguidas eos olhos com um brilho para batalhasob os elmos.

A missão deles era proteger seusoberano; a de Altaïr, alcançá-lo. Por

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longos momentos, a batalha foiintensa. Altaïr dançava e corria, àsvezes abrindo para si um caminho, aespada ensanguentada brilhando, àsvezes capaz de dar uma longaarremetida, chegando agora maisperto de onde conseguia ver Ricardo.O rei estava em uma clareira. Haviadesmontado, atento à agitação que seaproximava, e seus guarda-costasmais próximos formavam um círculoà sua volta, tornando-o um alvomenor.

Ainda lutando, com a espadaainda se agitando, os homens caindo

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a seus pés, o manto manchado desangue cruzado, Altaïr livrou-se deum ataque e foi capaz de avançar.Viu os tenentes do rei sacarem asespadas, com os olhos ferozesdebaixo dos elmos. Também viuarqueiros se movimentando acimadas grandes pedras ali em volta, naesperança de encontrar uma posiçãomais elevada para acertar o intruso.

— Um momento — exclamouAltaïr. Agora, a apenas poucosmetros, ele olhou o rei Ricardo nosolhos, mesmo com seus homensavançando. — Venho conversar com

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você, e não atacar.O rei vestia seu vermelho régio e,

no peito, um leão dourado bordado.Era o único homem entre eles nãoassolado por medo ou pânico epermanecia totalmente calmo nocentro da batalha. Ele ergueu o braçoe seus homens detiveram o avanço,fazendo a batalha extinguir-se emum instante. Altaïr ficou grato emver os homens que o atacavamrecuarem alguns passos, dando-lheespaço finalmente. Baixou o braçocom a espada. Ao recuperar o fôlego,seus ombros subiram e desceram

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pesadamente e percebeu que todos osolhos estavam sobre ele. Cada pontade espada estava apontada para suasentranhas pelos homens que oatacavam; cada arqueiro o tinha namira. Uma palavra de Ricardo e elecairia.

Em vez disso, Ricardo falou: —Oferece então os termos da rendição?Já não era sem tempo.

— Não. Não está entendendo —rebateu Altaïr. — Foi Al Mualimquem me mandou, e não SalahAl’din.

O rei pareceu sombrio.

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— Assassino? O que significaisso? E seja rápido. — Os homensavançaram um pouco. Os arqueirosficaram tensos.

— Há um traidor em seu meio —disse Altaïr.

— E ele o contratou para mematar? — exclamou o rei. — Veio sevangloriar antes de atacar? Não sereialcançado tão facilmente.

— Não é você quem eu vimmatar. Mas ele.

— Fale, então, para que eu possajulgar a verdade. — O rei Ricardoacenou com a cabeça para Altaïr

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avançar. — Quem é esse traidor?— Robert de Sablé.As sobrancelhas de Ricardo

ergueram-se em surpresa.— Meu tenente?— Sua intenção é trair — falou

Altaïr calmamente. Ele tentavaescolher as palavras com cuidado,em um desespero para não ser malinterpretado. Precisava que o reiacreditasse nele.

— Não é isso que ele diz —retrucou Ricardo. — Ele procuravingança contra seu povo por causada destruição que causaram em

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Acre. E estou inclinado a apoiá-lo.Alguns dos meus melhores homensforam mortos por alguns de vocês.

Bem... Robert de Sablé jáconseguira a atenção do rei. Altaïrinspirou fundo. O que estava paradizer poderia significar sua morteimediata.

— Fui eu quem os matou. E porum bom motivo. — Ricardo ficouvermelho, mas Altaïr insistiu. —Ouça-me. William de Montferrat.Ele pretendia usar seus soldados paratomar Acre à força. Garnier deNaplouse. Usava suas habilidades

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para doutrinar e controlar quemquer que resistisse. Sibrand.Pretendia bloquear os portos,evitando que seu reino fornecesseajuda. Eles o traíram. E recebiamordens de Robert.

— Espera que eu acredite nessahistória grotesca? — disse o Coraçãode Leão.

— Conheceu esses homensmelhor do que eu. Está de fatosurpreso em tomar conhecimentodas intenções maléficas deles?

Ricardo pareceu pensar por ummomento, então dirigiu-se a um dos

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homens parados a seu lado, queusava um elmo que lhe cobriacompletamente o rosto.

— Isso é verdade? — perguntou.O cavaleiro tirou o elmo e, dessa

vez, era realmente Robert de Sablé.Altaïr olhou-o com visívelrepugnância, lembrando-se de seuscrimes. Aquele homem tinhamandado uma mulher como seusubstituto.

Por um instante, os dois seencararam. Era a primeira vez que seencontravam desde a luta embaixodo Monte do Templo. Ainda

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ofegante, Altaïr cerrou os punhos.De Sablé deu um sorriso afetado,com o lábio torto, então virou-separa Ricardo.

— Meu soberano... — disse ele,em um tom exasperado. — É umAssassino que está diante de nós.Essas criaturas são mestres emmanipulação. Claro que não éverdade.

— Não tenho motivos paraenganar — vociferou Altaïr.

— Ah, mas tem sim — retrucouDe Sablé. — Receia o que aconteceráà sua pequena fortaleza. Conseguirá

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ela resistir às forças combinadas dosexércitos sarraceno e cruzado? — Edeu um sorriso largo, como se jáimaginasse a queda de Masyaf.

— Minha preocupação é com opovo da Terra Santa — contrapôsAltaïr. — Se eu tiver que mesacrificar para que haja paz, queassim seja.

Ricardo estivera observando-oscom uma expressão preocupada.

— É um ponto estranho esse aque chegamos. Cada um acusando ooutro...

— Não há realmente tempo para

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isso — disse De Sablé. — Precisopartir para me encontrar com SalahAl’din e recrutar sua ajuda. Quantomais demorarmos, mais difícil será.— Fez menção de ir, esperando, semdúvida, que o assunto estivesseencerrado.

— Espere, Robert — pediuRicardo. — Seus olhos foram de DeSablé para Altaïr e voltaram.

Com um tom de frustração, DeSablé vociferou: — Por quê? O quepretende? Não me diga que acreditanele. — Ele apontou para Altaïr, quepodia ver nos olhos de De Sablé que

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talvez o rei tivesse suas dúvidas.Talvez até mesmo estivesse inclinadoa acreditar na palavra de umAssassino em vez de na doTemplário. Altaïr prendeu arespiração.

— É uma decisão difícil —respondeu o rei. — Uma decisão quenão posso tomar sozinho. Precisodeixar isso nas mãos de alguém maissábio do que eu.

— Obrigado.— Não, Robert, não você.— Quem então?— O Senhor. — Ele sorriu, como

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se estivesse satisfeito por ter tomadoa decisão certa. — Que isso sejadecidido em um combate.Certamente Deus ficará do ladodaquele cuja causa é honrada.

Altaïr observou Robert comcuidado, notou a expressão quepassou pelo rosto do Templário. DeSablé sem dúvida lembrava-se daúltima vez que se encontraram,quando ele havia superadofacilmente Altaïr.

O Assassino se lembrava domesmo encontro. Estava dizendo a simesmo que agora era um guerreiro

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diferente: da última vez, ficara emdesvantagem por causa daarrogância, e, por esse motivo, foraderrotado com tanta facilidade.Tentava não se lembrar da grandeforça do cavaleiro. Do modo comoele havia agarrado e jogado Altaïrpara longe com a mesma facilidadeque faria com um saco de trigo.

De Sablé, porém, se lembravadisso, e virou-se para o rei, baixandoa cabeça em obediência.

— Se esse é o seu desejo — disse.— É.— Que assim seja. Às armas,

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Assassino.O rei e seus ajudantes diretos

ficaram de um lado, enquanto osmembros restantes dos guarda-costasformaram um círculo em volta deAltaïr e do sorridente De Sablé.Diferentemente de Altaïr, ele nãoestava exausto pela batalha. Usavaarmadura, ao passo que Altaïr vestiaapenas um manto. Ele não sofrera oscortes e as pancadas que Altaïrrecebera na luta para chegar àclareira. Ele também sabia disso. Aovestir as manoplas da armadura eum dos homens se aproximar para

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ajudá-lo com o elmo, ele sabia quetinha todo tipo de vantagem.

— Bem — disse ele, em tom dezombaria —, vamos nos enfrentarnovamente. Esperemos dessa vez quevocê ofereça um desafio maior.

— Não sou o homem que vocêenfrentou no interior do Templo —retrucou Altaïr, erguendo a espada.O estrondear da grande batalha deArsuf agora parecia distante; omundo havia encolhido para apenasaquele círculo. Apenas ele e De Sablé.

— Para mim, você parece omesmo — disse De Sablé.

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Então ergueu a espada paramostrá-la a Altaïr. Em resposta, oAssassino fez o mesmo. Os doispermaneceram parados, Robert deSablé com o peso apoiado sobre o pérecuado, evidentemente esperandoque Altaïr avançasse primeiro.

O Assassino, porém, impôs aprimeira surpresa do duelo,permanecendo imóvel, à espera doataque de De Sablé.

— As aparências enganam —disse ele.

— Verdade. Verdade —concordou De Sablé, com um sorriso

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irônico e, exatamente no segundoseguinte, atacou, atingindo forte coma espada.

O Assassino bloqueou o golpe. Aforça do ataque de De Sablé quasearrancou a espada de sua mão, masele o aparou e o desviou para o lado,tentando encontrar um espaço naguarda de De Sablé. A espada defolha larga do Templário tinha trêsvezes o peso de sua espada e, emboraos cavaleiros fossem famosos por suadedicação ao treinamento com aespada e normalmente tivessem aforça para competir, eles, contudo,

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eram mais lentos. De Sablé podia sermais arrasador em seu ataque, porémjamais conseguiria ser tão rápido.

Era desse modo que Altaïrconseguiria derrotá-lo. Seu erroanterior fora permitir que De Sabléusasse suas vantagens. Sua forçaagora era negá-las a ele.

Ainda confiante, De Sablépressionou.

— Assim que isto terminar,Masyaf cairá — murmurou ele, coma poderosa lâmina passando tãoperto que Altaïr ouviu-a zunir emseu ouvido.

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— Meus irmãos são mais fortesdo que imagina — rebateu.

O aço de ambos se chocounovamente.

— Saberemos a verdade dissomuito em breve — sorriu De Sablé.

Mas Altaïr dançava. Defendia-see aparava e desviava, fazendo cortesem De Sablé, abrindo talhos na cotade malha, acertando dois ou trêsgolpes atordoantes no elmo docavaleiro. Então De Sablé recuoupara recuperar a força, imaginandoque então Altaïr talvez não fosse tãofácil de matar quanto ele imaginara.

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— Ah. Então a criança aprendeua usar uma lâmina.

— Pratiquei bastante. Seushomens me ajudaram.

— Eles foram sacrificados aserviço de uma causa maior.

— Como você será.De Sablé deu um salto à frente,

manejando a espada larga e quasearrancando a lâmina da mão deAltaïr. Mas o Assassino curvou-se egirou o corpo em um movimentonatural, golpeando de volta com ocabo de sua arma, de modo que DeSablé cambaleou para trás. Ele bufou

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e só não caiu no chão porque foiimpedido pelos cavaleiros queformavam o círculo, os quais oendireitaram para que pudesse selevantar, cheio de irritação, furioso erespirando pesadamente.

— O tempo para esse jogoterminou! — berrou, como se dizerisso bem alto pudesse de algummodo se tornar verdade, e deu umsalto à frente, mas agora nem umpouco fatal. Só o que possuía de fatalera sua cega esperança.

— Já acabou faz tempo — disseAltaïr. Ele sentiu uma calma

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profunda, sabendo agora que era umautêntico Assassino. Que derrotariaDe Sablé com o cérebro tanto quantocom a força. E, quando De Sablépressionou mais uma vez à frente,em um ataque dessa vez maisimperfeito, mais desesperado, Altaïro aparou com facilidade.

— Não sei de onde vem suaforça... — ofegou De Sablé. —Algum truque? Ou alguma droga?

— Foi o que disse seu rei. Ahonra sempre triunfa sobre aganância.

— Minha causa é honrada! —

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gritou De Sablé, agora grunhindoenquanto erguia a espada, com umalentidão quase dolorosa.

Altaïr olhou os rostos doshomens. Podia vê-los esperando queele desferisse o golpe mortal.

E foi o que fez. Enfiando aespada diretamente através do centroda cruz vermelha que De Sabléusava, rompendo a cota de malha docavaleiro e perfurando seu peito.

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De Sablé arfou. Os olhos searregalaram e a boca se escancarouenquanto suas mãos seguravam alâmina que o havia empalado,mesmo quando Altaïr a retirou.Uma mancha vermelha espalhou-sepela túnica, e ele cambaleou, entãodesabou sobre os joelhos. Sua espadacaiu e os braços penderam.

De imediato, os olhos de Altaïrforam para os homens queformavam um círculo em volta dosdois. Ele meio que esperava que o

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atacassem ao verem o Grão-MestreTemplário morrer. Maspermaneceram parados. Maisadiante deles, Altaïr viu o reiRicardo, com o queixo inclinadocomo se o rumo dos acontecimentostivesse feito muito mais do quedespertar sua curiosidade.

Agora Altaïr estava curvadosobre De Sablé, apoiando-o com umdos braços e deitando-o no chão.

— Acabou-se então. Seus planos,assim como você, foram postos paradescansar.

Em resposta, De Sablé riu

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secamente.— Você nada sabe de planos —

falou. — Você não passa de umfantoche. Ele o traiu, rapaz. Domesmo modo como me traiu.

— Fale algo que faça sentido,Templário — sibilou Altaïr —, ounão fale nada. — E lançou um olharfurtivo para os homens do círculo.Eles permaneciam impassíveis.

— Ele mandou que você matassenove homens, não foi? — frisou DeSablé. — Os nove que guardavam osegredo do Tesouro.

Eram sempre nove que tinham

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essa missão, uma responsabilidadepassada através de gerações deTemplários. Quase uma centena deanos antes, os Cavaleiros Templárioshaviam se formado e tornado oMonte do Templo sua base. Haviamse unido para proteger aqueles quefaziam a peregrinação aos santuáriosmais sagrados e levavam suas vidascomo monges guerreiros — ou era oque eles afirmavam. Mas, comotodos os mais crédulos sabiam, osTemplários tinham muito mais emmente do que peregrinos indefesos.Aliás, procuravam o tesouro e as

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relíquias sagradas no interior doTemplo de Salomão. Nove, sempre,tinham a missão de encontrá-los, enove finalmente haviam conseguido:De Sablé, Tamir, De Naplouse, Talal,De Montferrat, Majd Addin, Jubair,Sibrand, Abu’l Nuqoud. Os noveque sabiam. As nove vítimas.

— E daí? — perguntou Altaïrcom cuidado. Refletidamente.

— Não foram nove queencontraram o tesouro, Assassino —sorriu De Sablé, enquanto sua forçavital rapidamente se perdia. — Nãoforam nove, mas dez.

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— Um décimo? Ninguém queconhece o segredo deve viver. Diga-me seu nome.

— Ah, mas você o conhece muitobem. E duvido muito que tire a vidadele com a mesma disposição quetirou a minha.

— Quem? — perguntou Altaïr,mas ele já sabia. Entendia agora oque o vinha perturbando. O únicomistério que lhe havia escapado.

— É seu mestre — disse De Sablé.— Al Mualim.

— Mas ele não é um Templário— alegou Altaïr, ainda sem querer

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acreditar. Embora soubesse em seucoração que era verdade. Al Mualim,que o havia criado quase como seufilho. Que o havia treinado einstruído. Ele também o haviatraído.

— Você nunca se perguntoucomo ele sabia tanto? — inquiriu DeSablé, enquanto Altaïr sentia serabandonado de seu mundo. —Onde nos achar, quantos éramos, oque esperávamos alcançar?

— Ele é o Mestre dosAssassinos... — protestou Altaïr,ainda sem querer acreditar. Mas...

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parecia que o mistério finalmentefora solucionado. Era verdade. Elequase caiu na risada. Tudo que elesabia era uma ilusão.

— Oui. Mestre das mentiras —conseguiu dizer De Sablé. — Você eeu somos apenas mais dois peões emseu importante jogo. E agora... com aminha morte, só resta você. Achaque ele vai deixá-lo viver... sabendo oque sabe?

— Não tenho interesse noTesouro — retrucou Altaïr.

— Ah... Mas ele tem. A únicadiferença entre seu mestre e mim é

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que ele não quis compartilhar...— Não...— Irônico, não? Que eu... seu

maior inimigo... o tivesse mantidoem segurança. Mas agora você tiraminha vida... e, no processo, terminacom a sua.

Altaïr inspirou fundo, aindatentando entender o que tinhaacontecido. Sentiu uma torrente deemoções: raiva, dor, solidão.

Então estendeu uma das mãos efechou as pálpebras de De Sablé.

— Nem sempre encontramos ascoisas que procuramos — entoou, e

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depois se levantou e se preparou paraenfrentar a morte, se fosse a vontadedos cruzados. Talvez até mesmodesejando que fosse.

— Um bom combate, Assassino— veio a exclamação à sua direita, eele virou-se para ver Ricardocaminhando até o círculo, que serompeu para deixá-lo passar. —Parece que Deus favoreceu sua causaneste dia.

— Deus nada tem a ver com isso.Fui um melhor combatente.

— Ah. Pode não acreditar nele,mas parece que ele acredita em você.

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Antes de ir, tenho uma pergunta afazer.

— Faça-a, então — disse Altaïr.De repente, sentia-se exausto.Ansiava por deitar à sombra de umapalmeira: dormir, desaparecer. Atémesmo morrer.

— Por quê? Por que viajar todaessa distância, arriscar sua vidamilhares de vezes, tudo para matarum único homem?

— Ele ameaçava os meus irmãose o que representamos.

— Ah. Vingança, então?Altaïr olhou para o corpo de

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Robert de Sablé no chão e percebeuque, não, a vingança não estivera emsua mente quando o matara. Fizera oque fizera pela Ordem. Ele deu vozaos seus pensamentos.

— Não. Vingança, não. Justiça.Para que possa haver paz.

— É por isso que luta? —indagou Ricardo, com assobrancelhas erguidas. — Paz? Nãovê a contradição?

Ele abriu o braço em volta daárea, fazendo um gesto paraapresentar a batalha que aindacontinuava intensa abaixo deles:

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corpos espalhados pela clareira e,finalmente, o cadáver de Robert deSablé.

— Com alguns homens, não dápara se argumentar.

— Como aquele maluco do SalahAl’din — suspirou Ricardo.

Altaïr olhou para ele. Viu um reihonesto e justo.

— Creio que ele gostaria de ver ofim desta guerra tanto quanto você.

— Ouvi dizer isso, mas nunca vi.— Mesmo que ele não diga, isso é

o que as pessoas querem — disse-lheAltaïr. — Tanto sarracenos quanto

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Cruzados.— As pessoas não sabem o que

querem. É por isso que recorrem ahomens como nós.

— Então cabe a homens comovocê fazerem o que é certo.

Ricardo bufou.— Disparate. Nós chegamos ao

mundo chutando e berrando.Violentos e instáveis. Nãoconseguimos evitar.

— Não. Nós somos o quedecidimos ser.

Ricardo sorriu pesarosamente.— Sua espécie... sempre jogando

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com as palavras.— Falo a verdade — disse Altaïr.

— Não há qualquer truque no quedigo.

— Saberemos muito em breve.Mas receio que você não consiga oque deseja neste dia. Mesmo agoraaquele bárbaro Salah Al’din avançapara cima dos meus homens epreciso cuidar deles. Mas talvez,tendo visto o quanto é vulnerável, elereconsidere seus atos. Sim. Dentro dealgum tempo, o que procura pode serpossível.

— Você não está mais seguro do

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que ele — observou Altaïr. — Nãoesqueça isso. Os homens que deixoupara trás para governar em seu lugarnão pretendem lhe servir por maistempo do que o necessário.

— Sim, sim. Estou bem cientedisso.

— Então devo me despedir —disse Altaïr. — Meu mestre e eutemos muito o que discutir. Pareceque até mesmo ele é capaz de falhar.

Ricardo assentiu.— Ele é apenas humano. Como

todos nós. E você também.— Que segurança e paz estejam

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com você — desejou Altaïr, e partiu,com os pensamentos direcionadospara Masyaf. Sua beleza pareciamaculada pelo que descobrira sobreAl Mualim. Ele precisava ir paracasa. Precisava ajeitar as coisas.

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Masyaf não estava como quando adeixara: isso se tornou bem claro nomomento em que chegou aosestábulos. Os cavalos pateavam erelinchavam, mas não haviacavalariços para cuidar deles oureceber a montaria de Altaïr. Eleapressou-se pelos portões principaisabertos e entrou no pátio, onde osilêncio o atingiu, na completaausência não apenas de som, mas deatmosfera. Ali o sol pelejava parabrilhar, dando à aldeia um

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obscurecido matiz cinzento. Pássarosnão mais cantavam. A fonte nãomais tinia e nada havia doburburinho da vida diária. Asbarracas estavam montadas, mas nãohavia aldeões apressados de um ladoa outro, falando animadamente oufazendo escambo. Não havia ruídosde animais. Apenas um sinistro...nada.

Ele ergueu a vista para a colinaem direção à cidadela, não vendoninguém. Como sempre, imaginou seAl Mualim não estava em sua torre,olhando para ele. Então seus olhos

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foram atraídos por uma figurasolitária que vinha em sua direção.Um aldeão.

— O que aconteceu aqui? —exigiu Altaïr.

— Foram ver o Mestre — disse oaldeão. Aquilo soou como umcântico. Um mantra. Seus olhosestavam vidrados e um fio de babaescorria da boca. Altaïr já vira aqueleolhar antes. Ele o vira nos rostosdaqueles escravizados por Garnier deNaplouse. Ou loucos; assim pensouna ocasião. Eles tinham aquele olharvazio e desligado.

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— Foram os Templários? —perguntou Altaïr. — Eles atacaramnovamente?

— Eles seguiram o caminho —respondeu o homem.

— Que caminho? Do que estáfalando?

— Em direção à luz — entoou ohomem. Sua voz havia adotado umritmo monótono.

— Fale algo com sentido —pediu Altaïr.

— Só há o que o Mestre nosmostra. Essa é a verdade.

— Você enlouqueceu — clamou

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Altaïr.— Você também percorrerá o

caminho ou morrerá. Assim ordenao Mestre.

Al Mualim, pensou Altaïr. Entãoera verdade. Era tudo verdade. Elefora traído. Nada era verdadeiro.

— O que ele fez a você? —indagou ao aldeão.

— Louvado seja o Mestre, poisele nos conduziu à luz...

Altaïr saiu correndo, deixando ohomem para trás, uma figurasolitária na deserta praça domercado. Correu encosta acima,

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chegou ao planalto e ali encontrouum grupo de Assassinos esperandopor ele, com as espadasdesembainhadas.

Ele desembainhou a sua, sabendoque não conseguiria usá-la. Pelomenos não para matar. AquelesAssassinos, embora pretendessemmatá-lo, tinham sofrido lavagemcerebral para fazê-lo. Matá-losviolentaria um dos princípios. Eleestava cansado de infringir o Credo.Nunca faria isso novamente. Mas...

Com olhares mortais, eles seaproximaram.

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Estariam em transe como osoutros? Isso explicaria a lentidão deseus movimentos? Ele curvou oombro e os atacou, derrubando oprimeiro. Outro o agarrou, mas elesegurou o manto do Assassino,pegou o quanto pôde pelo punho e ogirou, derrubando mais dois de seusagressores para abrir uma brechapela qual conseguiu escapar.

Então, de cima, ouviu seu nomeser chamado. Malik estava paradono promontório perto do acesso àfortaleza. Com ele, estavam Jabal, deAcre, e mais dois Assassinos que ele

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não conhecia. Descobriu-seexaminando-os. Eles também teriamsofrido lavagem cerebral? Teriamsido drogados? O que quer que fosse,era o que Al Mualim estava fazendo?

Mas não. Malik acenava com obraço bom, e, embora Altaïr nuncativesse imaginado que um diapudesse ficar feliz em vê-lo, esse diahavia chegado.

— Altaïr. Aqui em cima.— Você escolheu uma ótima

ocasião para chegar — falou Altaïr,sorrindo.

— Assim parece.

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— Proteja-se bem, amigo —observou Altaïr. — Al Mualim nostraiu. — Ele estava preparado para adescrença, até mesmo para a ira deMalik, que confiava e reverenciavaAl Mualim, condescendendo tudocom relação a ele. Mas Malikmeramente assentiu com tristeza.

— Traiu também seus aliadosTemplários — disse ele.

— Como sabe?— Após termos conversado,

voltei às ruínas sob o Templo deSalomão. Robert mantivera umdiário. Recheou suas páginas com

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revelações. O que li nele despedaçoumeu coração... Mas isso tambémabriu os meus olhos. Você tinharazão, Altaïr. O nosso Mestre nosusou o tempo todo. Nossa intençãonão era salvar a Terra Santa, masentregá-la a ele. Ele deve ser detido.

— Tome cuidado, Malik —advertiu Altaïr. — O que ele fez aosoutros, se tiver chance, fará conosco.Precisa ficar longe dele.

— O que você propõe? O braçocom que uso a espada continua fortee os meus homens permanecem fiéis.Seria um erro não sermos usados.

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— Distraia então essesescravizados. Ataque a fortaleza pelaretaguarda. Se conseguir afastar aatenção deles de mim, talvez euconsiga alcançar Al Mualim.

— Farei o que pede.— Os homens que enfrentamos...

suas mentes não lhes pertencem. Sepuder evitar matá-los...

— Sim. Embora ele tenhainfringido os princípios do Credo,não significa que também tenhamosde infringi-los. Farei o que puder.

— É tudo que peço — retrucouAltaïr.

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Malik virou-se para deixá-lo.— Segurança e paz, meu amigo

— disse Altaïr.Malik sorriu ironicamente.— Sua presença aqui protegerá a

nós dois.Altaïr percorreu rapidamente o

antemuro até o pátio principal edescobriu por que não houveraaldeões na praça do mercado.Estavam todos ali, aglomerados nopátio, enchendo-o. Certamente aaldeia inteira. Perambulavam por alia esmo, embora mal conseguissemlevantar a cabeça. Enquanto

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observava, Altaïr viu um homem euma mulher colidirem, e a mulhercaiu, direto e pesadamente sobre otraseiro. Nenhum dos dois, porém,se deu conta. Sem surpresa, sem dor,sem desculpa ou palavras raivosas. Ohomem cambaleou um pouco eentão foi em frente. A mulherpermaneceu sentada, ignorada pelosdemais aldeões.

Cautelosamente, Altaïr avançoupor entre eles em direção à torre,afetado pelo silêncio, ouvindo apenaso som de pés se arrastando e oestranho murmúrio.

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— O desejo de Mestre tem de serobedecido — ouviu ele.

— Ó Al Mualim. Guie-nos.Ordene-nos.

— O mundo será purificado. Nóscomeçaremos de novo.

A nova ordem, pensou ele,ditada pelos Cavaleiros Templários,sim, mas por um Templário acima detudo. Al Mualim.

Ele chegou ao corredor deentrada da torre, onde não haviaguardas para saudá-lo. Apenas amesma sensação de ar espesso, vazio.Como se uma névoa invisível

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pairasse sobre todo o complexo.Olhando acima, viu que o portão deferro batido estava aberto. O portãoque levava ao pátio e aos jardins nosfundos da torre. Nesgas de luzpareciam pender no ar junto aoportal, como se acenassem para quefosse adiante, mas ele hesitava,sabendo que, atravessando-o, cairianas mãos de Al Mualim. Entretanto,se o Mestre o quisesse morto, ele comcerteza já estaria. Desembainhou aespada e subiu a escada, percebendoque instintivamente pensava em AlMualim como “o Mestre”, quando

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ele não era mais seu mestre. Deixarade ser no momento em que Altaïrdescobrira que Al Mualim eraTemplário. Ele agora era seu inimigo.

Altaïr parou na entrada dojardim. Inspirou fundo. Não faziaideia do que havia do outro lado,mas só havia um meio de descobrir.

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Estava escuro no jardim. Altaïrconseguia ouvir o leve balbuciar deum córrego e o calmante cascatear deuma queda-d’água, mas, fora isso, oar estava parado. Chegou a umterraço de mármore, uma superfícielisa debaixo de suas botas. Entãoolhou em volta, semicerrando osolhos na escuridão de modo quepôde ver formas irregulares deárvores e pavilhões salpicados à suavolta.

De repente, ouviu um ruído atrás

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de si. O portão se fechou com umabatida e houve um retinir como seum ferrolho tivesse sido fechado pormãos invisíveis.

Altaïr girou. Seus olhosergueram-se e ele viu Al Mualimparado na sacada de sua biblioteca,olhando-o de cima. Segurava algo: oTesouro tirado do Monte doTemplo, o Pedaço de Éden. Elebrilhava com um poder que tingia AlMualim de um laranja-escuro, que seintensificava enquanto Altaïrobservava.

De repente, o Assassino foi

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dominado por uma dor incrível.Gritou — e descobriu que estavasendo erguido do chão, preso porum tremeluzente cone de luz intensacontrolado pela mão estendida de AlMualim. A Maçã palpitava como ummúsculo flexionando e enrijecendo.

— O que está acontecendo? —bradou Altaïr, sem defesa diante dodomínio do artefato, paralisado porele.

— Então o aluno voltou — disseAl Mualim, calmamente. Falou coma certeza de um vencedor.

— Eu nunca fui de fugir —

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rebateu Altaïr, desafiador.Al Mualim deu uma gargalhada.

Nada daquilo — nada de nada —parecia perturbá-lo.

— Também nunca foi deobedecer — observou ele.

— É por causa disso quecontinuo vivo. — Altaïr lutavacontra suas amarras invisíveis. Emreação, a Maçã pulsava, e a luzparecia pressioná-lo, imobilizando-oainda mais.

— O que farei com você? — AlMualim sorriu.

— Solte-me — berrou Altaïr. Ele

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não tinha facas de arremesso, mas,livre de seus grilhões, conseguiriaalcançar o velho com alguns saltos.Al Mualim teria alguns momentosfinais para admirar suas habilidadesde escalada antes de Altaïr enfiar alâmina em suas entranhas.

— Oh, Altaïr. Ouço ódio em suavoz — comentou Al Mualim. —Sinto seu calor. Soltá-lo? Isso seriaimprudente.

— Por que está fazendo isso? —perguntou Altaïr.

Al Mualim pareceu refletir.— Houve um tempo em que eu

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acreditei. Sabia disso? Eu achava queexistia um Deus. Um Deus que nosamava e nos protegia, que enviouprofetas para nos guiar e nosconsolar. Que fez milagres para noslembrar de seu poder.

— O que mudou?— Encontrei provas.— Provas de quê?— De que é tudo uma ilusão.E, com um gesto de mão, libertou

Altaïr da prisão de luz. Ele pensouque ia cair, mas logo percebeu quenunca esteve suspenso. Confuso,olhou em volta de si mesmo,

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sentindo uma nova mudança naatmosfera, o crescimento da pressãoque sentia nos tímpanos, como nosmomentos antes de uma tempestade.Acima dele, na sacada da biblioteca,Al Mualim erguia a Maçã acima dacabeça, entoando alguma coisa.

— Venham. Destruam o traidor.Mandem-no embora deste mundo.

De repente surgiram figuras emvolta de Altaïr, rosnando, com osdentes à mostra, prontas para ocombate. Figuras que ele reconhecia,mas que a princípio achou difícil deidentificar. Então conseguiu: eram

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seus nove alvos, suas nove vítimasque retornavam da outra vida paraesta.

Viu Garnier de Naplouse, queestava de pé, usando o avental sujode sangue, com a espada na mão,olhando para Altaïr com olhoscompassivos. Viu Tamir, quesegurava a adaga, e os olhoscintilavam com intenção maldosa, eTalal, com o arco sobre o ombro e aespada na mão. William deMontferrat, que sorriaperversamente, sacou a arma e adepôs, esperando sua vez antes do

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ataque. Abu’l Nuqoud e MajdAddin estavam presentes, assimcomo Jubair, Sibrand e, finalmente,Robert de Sablé.

Todos seus alvos, mandadosembora deste mundo por Altaïr econvocados de volta por Al Mualimpara que tivessem sua vingança.

E eles atacaram.Majd Addin teve o prazer de ser

despachado primeiro, outra vez.Abu’l Nuqoud estava tão gordo ecômico em sua forma ressuscitadacomo tinha sido da primeira vez.Afundou de joelhos diante da ponta

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da espada de Altaïr, mas, em vez depermanecer no chão, desapareceu,deixando atrás de si apenas umaperturbação no ar, uma ondulaçãode espaço interrompido. Talal, DeMontferrat, Sibrand e De Sablé eramos combatentes mais habilidosos e,portanto, recuaram, deixando que osmais fracos entre eles fossemprimeiro, esperando que cansassemAltaïr. O Assassino arremeteu dopátio de mármore e saltou dasaliência, pousando em um segundoquadrado de mármore decorado,que tinha uma queda-d’água perto.

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Os alvos o seguiram. Tamir morreugritando por causa de um, doiscortes da espada de Altaïr. OAssassino nada sentiu. Nenhumremorso. Nem mesmo satisfação dever os homens sendo mortosmerecidamente uma segunda vez. DeNaplouse desapareceu, assim comooutros, quando sua garganta foicortada. Jubair caiu. Agarrou Talal, eos dois se seguraram antes que Altaïrenfiasse a espada bem fundo em suabarriga, e ele também passou a sernada além de uma ausência.Montferrat foi o próximo a ir.

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Sibrand o seguiu, depois De Sablé,até mais uma vez Altaïr ficar sozinhono jardim com Al Mualim.

— Enfrente-me — ordenouAltaïr, prendendo a respiração. Osuor escorria por seu corpo, mas elesabia que a batalha estava longe deacabar. Ela apenas havia começado.— Ou tem medo?

Al Mualim riu.— Já enfrentei mil homens, todos

superiores a você. E todos forammortos... pelas minhas mãos.

Com a agilidade e o vigor físicocamuflando sua idade, ele pulou da

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sacada, pousando, agachado, nãomuito distante de Altaïr. Continuavasegurando a Maçã. Estendeu-a comose a ofertasse a Altaïr, e o rosto delefoi banhado pela sua luz.

— Eu não tenho medo — disseAl Mualim.

— Prove — desafiou Altaïr,sabendo que Al Mualim perceberia amanobra, que tinha o intuito detrazer o traidor para mais perto.

Mas, se percebeu — e certamenteo fez —, ele não estava mais ligandopara nada. Ele estava certo. Nãotinha medo porque possuía a Maçã,

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que ardia, ainda mais brilhante.Ofuscante. A área toda estavailuminada, então, com a mesmarapidez, voltou a escurecer.Enquanto sua vista se ajustava,Altaïr viu cópias de Al Mualimaparecerem, como se geradas dointerior do próprio corpo do Mestre.

Ele ficou tenso. Imaginou seaquelas cópias, como as outrascontra as quais acabara de lutar,seriam inferiores, versões mais fracasdo original.

— Do que eu poderia ter medo?— Al Mualim agora zombava dele.

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(Ótimo. Que ele zombe. Que fiquedescuidado.) — Veja o poder quecontrolo.

As cópias foram para Altaïr e,mais uma vez, ele estava lutando.Mais uma vez, o jardim vibrou como repique de aço se chocando — e, àmedida que caíram diante da espadade Altaïr, as cópias desapareceram.Até ele estar novamente sozinho comAl Mualim.

Ele parou, tentando recuperar ofôlego, agora se sentindo exausto, e,mais uma vez, foi envolvido pelopoder da Maçã, que cintilava e

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pulsava na mão de Al Mualim.— Quer dizer suas últimas

palavras? — perguntou Al Mualim.— Você mentiu para mim —

disse Altaïr. — Chamou de sujo oobjetivo de De Sablé... quando otempo todo o seu também era.

— Eu nunca fui mesmo bom emcompartilhar — observou AlMualim, quase pesaroso.

— Você não terá sucesso. Outrosencontrarão forças para se opor avocê.

Diante disso, Al Mualimsuspirou ruidosamente.

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— É por isso que, enquanto oshomens mantiverem o livre-arbítrio,não pode haver paz.

— Eu matei o último homem quedisse isso.

Al Mualim riu.— Palavras corajosas, garoto.

Mas apenas palavras.— Então deixe-me ir. Colocarei

as palavras em ação.Agora a mente de Altaïr

disparava enquanto procurava algopara dizer que provocasse o descuidode Al Mualim.

— Diga-me, Mestre, por que não

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faz comigo o que fez com os outrosAssassinos? Por que permite queminha mente se mantenha como é?

— O que você é e o que faz estãofortemente entrelaçados. Para tiraruma dessas coisas de você, eu meprivaria da outra. E aquelesTemplários tinham de morrer. —Suspirou. — A verdade é que tentei.No meu gabinete, quando lhemostrei o Tesouro... Mas você não écomo os outros. Você enxergouatravés da ilusão.

A mente de Altaïr retornou àtarde em que Al Mualim lhe

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mostrou o Tesouro. Na ocasião,sentira sua sedução, é verdade, masresistira à tentação. Ficouimaginando se seria capaz de fazerisso tão indefinidamente. Os poderestraiçoeiros do artefato pareciam agirem todos que entravam em contatocom eles. Até mesmo Al Mualim, aquem outrora ele havia idolatrado,que fora um pai para ele e tinha sidoum homem bom, justo e honesto emoderado, preocupado apenas como bem-estar da Ordem e daquelesque a serviam — também foracorrompido. O brilho da Maçã

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lançava em seu rosto uma nuanceespectral. Ela fizera o mesmo comsua alma.

— Ilusão? — disse Altaïr, aindapensando naquela tarde.

Al Mualim riu.— Tudo não foi mais do que

ilusão. Este Tesouro Templário. EstePedaço do Éden. Esta Palavra deDeus. Entende agora? O MarVermelho nunca se abriu. Águanunca virou vinho. Não foram asmaquinações de Éris que geraram aGuerra de Troia, mas isto... —Ergueu a Maçã. — Ilusões... todas

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elas.— O que você planeja não é

menos ilusão — insistiu Altaïr. —Forçar homens a segui-lo contra avontade.

— É menos real do que osfantasmas que os sarracenos e oscruzados seguem agora? Aquelesdeuses covardes que se afastam destemundo em que homens podemmatar uns aos outros em seu nome?Eles já vivem no meio de uma ilusão.Eu estou apenas fornecendo outra aeles. Uma ilusão que exige menossangue.

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— Pelo menos eles escolhem essesfantasmas — argumentou Altaïr.

— Escolhem mesmo? Exceto oherege ou aquele que eventualmentese converteu?

— Isso não é certo — disparouAltaïr.

— Ah. Agora a lógica oabandonou. Em seu lugar, vocêadota a emoção. Estoudecepcionado.

— O que deve ser feito então?— Você não me segue e eu não

posso forçá-lo.— E você se recusa a desistir

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desse plano maligno.— Parece, então, que estamos em

um impasse.— Não. Estamos em um final —

corrigiu Altaïr, e talvez Al Mualimestivesse certo, pois ele se descobriucombatendo uma onda de emoções.De traição e tristeza e algo que deinício não conseguiu identificar, maso fez em seguida. Solidão.

Al Mualim desembainhou aespada.

— Sentirei sua falta, Altaïr. Vocêfoi de longe o meu melhor aluno.

Altaïr observou os anos

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abandonarem Al Mualim enquantoeste se posicionava, preparando suaespada e forçando o Assassino afazer o mesmo. Deslizou para o lado,testando a guarda de Altaïr, e estepercebeu que nunca o vira semovimentar com tanta rapidez. O AlMualim que ele conhecia avançavalentamente, caminhava sem pressapelo pátio, com lentos e amplosgestos. Este se movimentava comoum espadachim — que investe àfrente golpeando com a espada.Então, quando Altaïr se defendeu,ele ajustou o ataque para uma

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estocada. Altaïr foi forçado a ficar naponta dos pés, com o braço curvadoenquanto trazia de volta a espadapara desviar a ofensiva de AlMualim. O movimento o deixoudesequilibrado e, com a guarda àesquerda desprotegida, Al Mualimpercebeu a chance e avançou comum rápido segundo golpe queencontrou seu alvo.

Altaïr retraiu-se, sentindo osangue escorrer do ferimento noquadril, mas não ousou olhar. Nãoconseguia tirar por um segundo osolhos de Al Mualim. Ao contrário

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dele, Al Mualim sorria. Um sorrisoque dizia que ele tinha dado umalição no jovem aluno. Deu um passopara o lado, então simulou umataque, seguindo primeiro umcaminho, depois o outro, esperandopegar Altaïr desprevenido.

Lutando contra a dor e a fadiga,Altaïr avançou, tomando a iniciativado ataque, e ficou contente em verque pegou Al Mualim de surpresa.Mas, apesar de ter feito contato —ele achou que fez —, o Mestrepareceu deslizar para longe, como sefosse transportado.

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— Cego, Altaïr — comentou AlMualim com uma risadinha. — Cegoé tudo o que você sempre foi. É tudoo que sempre será. — Novamente, eleatacou.

Altaïr foi lento demais para reagira tempo, então sentiu a lâmina de AlMualim talhar seu braço e gritou dedor. Não conseguiria aguentar muitomais daquilo. Era como se a energiafosse sendo extraída dele devagar. AMaçã, seus ferimentos, a exaustão:tudo se combinando aos poucos,mas certamente o incapacitando. Senão conseguisse logo reverter a

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batalha, enfrentaria a derrota.O velho, porém, estava deixando

a Maçã torná-lo descuidado. Mesmoenquanto ele tripudiava, Altaïrdançou adiante e atacou novamente,e a ponta da espada atingiu o alvo,tirando sangue. Al Mualim gritou dedor e voltou a se transportar,grunhindo e desferindo sua ofensivaseguinte. Fingindo um ataque àesquerda, ele girou, manejando aespada para um golpe de revés.Desesperadamente, Altaïr o aparou,mas quase foi jogado para tráscambaleando e, por alguns

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momentos, os dois trocaram golpes.O ataque acabou quando Al Mualimse abaixou, atacando acima ecortando o rosto de Altaïr, depois seafastou oscilando antes que oAssassino conseguisse reagir.

Altaïr desferiu um contra-ataquee Al Mualim se transportou. Mas,quando reapareceu, Altaïr notou queele parecia mais fatigado e, quandoatacou, pareceu um pouco maisdescuidado. Menos disciplinado.

Então Altaïr avançou, cortandocom sua lâmina, forçando o Mestre ase transportar e se materializar vários

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centímetros adiante. Altaïr notouuma nova curvatura em seusombros, e sentia a cabeça pesada. AMaçã sugava sua força, mas nãoestaria fazendo o mesmo com seumanipulador? Al Mualim sabiadisso? O quanto o velho entendia aMaçã? Seu poder era tão grande queAltaïr duvidava que fosse possívelconhecê-lo verdadeiramente.

Bem. Ele tinha de forçar AlMualim a usá-lo e, desse modo,exaurir sua própria energia. Com umberro, ele saltou à frente, brandindocontra Al Mualim, cujos olhos se

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arregalaram, surpresos com a súbitaveemência da aproximação de Altaïr.Ele se transportou. Altaïr o alcançouno momento em que reapareceu, e orosto de Al Mualim agoradenunciava raiva — frustração como fato de as regras de confrontoterem mudado, necessitando deespaço para se ajustar.

Dessa vez, ele se materializoumais distante. Estava dando certo:ele pareceu ainda mais cansado. Masestava preparado para o ataqueindisciplinado de Altaïr,recompensando o Assassino com

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outro braço sangrando. Mas emnada suficientemente sério para detê-lo: o homem mais jovem investiucontra ele de novo, forçando AlMualim a se transportar. Pela últimavez.

Quando reapareceu, cambaleouligeiramente, e Altaïr pôde perceberque sentia a espada pesada demaispara segurá-la. Ao erguer a cabeçapara olhar para Altaïr, este viu emseus olhos que ele sabia que a Maçãhavia exaurido sua força e que Altaïrtinha notado.

Então, quando ele iniciou o

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ataque com a espada e saltou,enfiando-a bem fundo em AlMualim, com um rugido que eraparte vitória e parte dor, talvez ospensamentos finais de Al Mualimtivessem sido de orgulho de seu ex-aluno.

— Impossível — arfou, quandoAltaïr montou em cima dele. — Oaluno não derrota o professor.

Altaïr baixou a cabeça, sentindolágrimas queimarem suas maçãs dorosto.

— Pois é, você venceu. Vá ereclame sua recompensa.

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A Maçã havia rolado da mãoestendida de Al Mualim. Estavaparada sobre o mármore. Esperando.

— Você tinha fogo nas mãos,velho — disse Altaïr. — Isso deveriater sido destruído.

— Destruir a única coisa capazde acabar com as Cruzadas e criar apaz verdadeira? — gargalhou AlMualim. — Nunca.

— Então eu o farei — afirmouAltaïr.

— É o que veremos — riu AlMualim.

Altaïr encarava a Maçã, achando

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difícil desviar o olhar.Delicadamente, pousou a cabeça deAl Mualim sobre a pedra, o velhohomem agora se apagando maisdepressa, levantou-se e foi emdireção a ela.

Apanhou-a.Foi como se ganhasse vida em

sua mão. Como se um imenso raiode energia fluísse dela e a iluminassee viajasse pelo seu braço em direçãoao peito. Ele sentiu um grandeinchaço, que foi incômodo aprincípio, depois sentiu umaprovisão de vida, anulando a dor da

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batalha, enchendo-o com poder. AMaçã vibrava e parecia pulsar, eAltaïr passou a ver imagens. Imagensincríveis, incompreensíveis. Viu oque pareciam cidades, vastas cidadesreluzentes, com torres e fortalezas,como se fossem de milhares de anosatrás. Depois viu máquinas eferramentas, mecanismos estranhos.Entendeu que pertenciam a umfuturo ainda não escrito, em quealguns dos aparelhos davam grandealegria às pessoas, ao passo queoutros significavam apenas morte edestruição. A quantidade e a

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intensidade das imagens o deixaramsem fôlego. Então a Maçã foirodeada por um halo de luz que seespalhou externamente até Altaïrperceber que estava olhando para umglobo, um imenso globo, que pendiano ar parado do jardim, girandolentamente e irradiando uma cálidaluz dourada.

Ele ficou extasiado por aquilo.Maravilhado. Era um mapa, notou,com símbolos estranhos — umaescrita que ele não entendia.

Atrás de si, ouviu Al Mualimfalando: — Dediquei meu coração a

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conhecer a sabedoria, e a conhecer aloucura e a insensatez. Percebi queisso também era correr atrás dovento. Pois em muita sabedoria hámuita dor, e aquele que aumenta oconhecimento aumenta a dor.

Nesse momento, Malik e seushomens entraram correndo nojardim. Mal olharam para o corpo deAl Mualim, hipnotizados pela Maçã.À distância, Altaïr conseguia ouvirgritos. Qualquer que fosse o encantoque fora lançado sobre Masyaf,estava quebrado.

Ele se preparou para arremessar a

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Maçã contra a pedra, ainda incapazde afastar os olhos da imagemrodopiante, encontrando dificuldadeem fazer o braço obedecer à ordemdo cérebro.

— Destrua-a! — gritou AlMualim. — Destrua isso como disseque faria!

A mão de Altaïr tremeu. Seusmúsculos se recusavam a obedecer àsordens do cérebro.

— Não... Não posso... — disseele.

— Sim, você pode, Altaïr —ofegou Al Mualim. — Você pode.

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Mas não vai. — E, com isso, morreu.Altaïr ergueu a vista do corpo de

seu mentor e viu Malik e seushomens, na expectativa, olhando-o— esperando por liderança eorientação.

Altaïr agora era o Mestre.

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P A R T E T R Ê S

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23 de junho de 1257

Sentado à sombra, em segurança,longe do debilitante calor da praçado mercado de Masyaf, Maffeo meperguntou: — O jardim de AlMualim. Fica no mesmo terrenoonde está situada a biblioteca dele?

— Sim. Altaïr decidiu que era olocal apropriado a ser usado paracuidar e guardar sua obra... Milharesde diários repletos com oaprendizado Assassino, oconhecimento obtido da Maçã.

— Então ele não a destruiu?

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— Não destruiu o quê?Maffeo suspirou.— A Maçã.— Não.— Não na ocasião nem nunca?— Irmão, por favor, não apresse

a conclusão da história. Não, Altaïrnão destruiu a Maçã logo depois.Porque ele tinha de subjugar arebelião que surgiu instantes após amorte de Al Mualim.

— Houve uma rebelião?— Sim. Houve uma grande

confusão como resultado imediatoda morte de Al Mualim. Houve

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muitos da Ordem quepermaneceram fiéis a Al Mualim. Ounão ficaram a par da traição doMestre ou se recusaram a aceitar averdade, mas, para eles, Altaïr estavaensaiando um golpe e tinha de serdetido. Sem dúvida, foramincentivados a isso por certas vozes àmargem.

— Abbas?Dei uma risada.— Sem dúvida. Embora seja

possível imaginar apenas um poucodo conflito interno de Abbas dianteda reviravolta dos acontecimentos.

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Seu ressentimento com Al Mualimera tão forte, se não mais forte, doque seu ressentimento com Altaïr.

— E Altaïr sufocou a rebelião?— Claro. E fez isso

permanecendo fiel ao Credo, dandoordem a Malik e aos que elecomandava para que nenhum dosrebeldes fosse ferido, que nem um sóhomem fosse morto ou punido.Após ter contido os rebeldes, nãohouve represálias. Em vez disso, eleusou a retórica para mostrar ocaminho a eles, convencendo-osprimeiramente da culpa de Al

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Mualim e depois de sua própriaadequação para liderar a Irmandade.Fazendo isso, assegurou a conquistado amor, da fé e da lealdade deles. Aprimeira missão que teve como novolíder da Ordem foi umademonstração dos própriosprincípios que visava introduzir.Trouxe a Irmandade de volta dabeira do abismo ao lhe mostrar ocaminho.

“Com isso resolvido, ele voltousua atenção ao diário. Nele, escreveuideias sobre a Ordem, suaresponsabilidade com ela, até mesmo

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sobre a estranha mulher queencontrou no cemitério. Que otinha... Mais de uma vez Altaïrescrevera a palavra: “cativado”. Masdepois se deteve e mudou-a para“interessado”. Sem dúvida elapermaneceu em seus pensamentos.

“Acima de tudo, ele escreveusobre a Maçã. Costumava carregá-laconsigo. À noite, quando escrevia emseu diário, ela permanecia em umsuporte a seu lado, e, quando aolhava, sentia uma mistura confusade emoções: raiva por ela tercorrompido aquele que ele tinha tido

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como pai, que fora um grandeAssassino e mesmo um homemmaior ainda; medo dela, pois haviavivenciado seu poder de dar e detirar; e assombro.

“‘Se há alguma coisa boa quepossa ser encontrada nesse artefato,eu a descobrirei’, escreveu ele,rabiscando com a pena. ‘Mas, se forapenas capaz de inspirar maldade edesespero, espero possuir a força paradestruí-lo.’

Sim, ele afirmou no diário quedestruiria o Pedaço do Éden se não

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contivesse nenhum bem para ahumanidade. Foram essas aspalavras que ele escreveu. Entretanto,Altaïr se perguntava de que modoencontraria a força para destruir aMaçã se e quando chegasse aocasião.

O fato era que, quem quer que apossuísse, controlava um enormepoder, e os Templários iriam quererque esse poder lhes pertencesse. Alémdisso, ele se perguntava: osTemplários estariam caçando outrosartefatos? Teriam se apossado deles?Após a morte de Robert de Sablé, ele

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sabia que os Templários haviam seconsolidado no porto de Acre.Deveria atacá-los ali? Estavadeterminado a não deixar queninguém mais possuísse a Maçã, ouqualquer artefato parecido.

Ninguém além dele.Altaïr meditou em seus

aposentos, talvez por um períodolongo demais, até se preocupar como fato de que estava dando tempopara que o inimigo se reagrupasse.Chamou Malik e Jabal, colocando oprimeiro como comandantetemporário da Ordem e informando

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ao segundo que eles iriamimediatamente liderar um pelotãomontado até o porto de Acre, paradesencadear uma ofensiva à fortalezatemplária, arrancar o mal pela raiz.

Partiram logo depois e, assim queo fizeram, Altaïr notou Abbasparado em uma porta de acesso docastelo, olhando-o malignamente. Osacontecimentos recentes nadatinham feito para cegar a lâmina doódio que sentia; ela havia sidoamolada até ganhar um fio maléfico.

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A noite caía sobre o porto de Acre. Oancoradouro de pedra cinzentabanhava-se de laranja, e o restantedo sol pintava o mar de vermelho-sangue enquanto sumia nohorizonte. A água lambia com forçaas amuradas e os paredões, mas, foraisso, o ancoradouro estava deserto,estranhamente deserto.

Ou... pelo menos esse estava.Enquanto o observava e se intrigavacom a ausência de soldadostemplários — em forte contraste com

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a última vez em que estivera ali,quando os homens de Sibrandestavam por toda a parte, comopulgas em um cão —, Altaïr concluiuque deviam estar do outro lado dasdocas, e sua preocupação cresceu. Elehavia demorado demais para tomaruma decisão. Iria pagar por isso?

O cais, porém, não estavatotalmente vazio. Altaïr ouviu o somde passadas se aproximando e deconversa baixa. Ergueu a mão e,atrás dele, seu grupo parou,tornando-se sombras imóveis naescuridão. Ele seguiu sorrateiramente

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ao longo do muro do cais atéconseguir vê-los, contente em notarque haviam se separado. O primeiroestava agora quase diretamenteabaixo dele, segurando uma tocha evasculhando os recantos e as fendasda úmida parede do porto. Altaïrficou imaginando se os pensamentosdele estavam em casa, na Inglaterraou na França e na família que tinhalá, e lastimou o fato de ter de matá-lo. Ao saltar de modo silencioso domuro, pousando sobre o homem eenfiando profundamente a lâminanele, Altaïr desejou que houvesse

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outra maneira.— Mon Dieu — suspirou o

guarda ao morrer, e Altaïr selevantou.

Adiante, o segundo soldadomovimentava-se ao longo das pedrasúmidas das docas, iluminando aoseu redor com a tocha que pingavapiche, tentando afugentar as sombrase encolhendo-se a cada som. Tinhacomeçado a tremer de medo. Acorrida de um rato fez com que eledesse um pulo, e virou-serapidamente, com a tocha erguida,sem enxergar nada.

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Seguiu em frente, examinando aescuridão, olhando para trás para ocompanheiro... Oh, meu Deus, ondeele está? Há pouco estava bem ali. Osdois tinham chegado juntos àsdocas. Agora não havia sinal — nemsom dele. O guarda começou a seagitar de medo. Ouviu um gemido ese deu conta de que vinha delemesmo. Então, de trás, veio umruído e ele se virou rapidamente,bem a tempo de ver a morteconseguir encalçá-lo...

Por um ou dois momentos,Altaïr ficou sobre o guarda,

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prestando atenção em reforços. Masnão veio nenhum, e então, ao selevantar, os outros Assassinos seaproximaram, saltando do muro echegando ao cais, vestidos commantos brancos, assim como ele, eobservando com os olhos escurecidospor baixo dos capuzes. Sempraticamente fazer um ruído, eles seespalharam depois de Altaïr darordens em voz baixa e indicar paraque se movimentassem silenciosa erapidamente ao longo do cais.Alguns guardas dos Templárioschegaram correndo e foram

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devidamente detidos, com Altaïrpassando por eles, deixando a lutapara seu grupo, e alcançando ummuro. A preocupação o corroía: elecalculara muito mal o tempo doataque — os Templários já estavam acaminho. Uma sentinela tentou detê-lo, mas, com um golpe da lâmina deAltaïr, ele caiu, e o sangue espirroude seu pescoço. O Assassino usou ocorpo como trampolim, saltando atéo topo do muro do cais e agachandoali, olhando para a doca vizinha,depois para o mar.

Seus temores se concretizaram.

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Ele havia esperado demais. À suafrente, em um mar Mediterrâneodourado com a luz esmorecida dosol, havia uma pequena esquadra denavios dos Templários. Altaïrpraguejou e seguiu rapidamente aolongo do cais até o coração dasdocas. Ainda podia ouvir, atrás dele,os sons da batalha de seus homenscontra os reforços. A evacuaçãotemplária continuava, mas ele teve aimpressão de que o motivo dapartida deles podia estar no interiorda própria fortaleza. Cuidadosa,rápida e silenciosamente, seguiu

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caminho para lá, um lugar sombriosituado acima das docas, livrando-sesem piedade de alguns guardas queencontrou no caminho, desejandointerromper a fuga do inimigo tantoquanto desejava saber sua intenção.

Dentro, a pedra cinzenta absorviao som das passadas que ele dava.Templários se distinguiam pela suaausência ali. O local já dava aimpressão de vazio e fora de uso.Subiu assim mesmo os degraus depedra até chegar a uma sacada, e aliouviu vozes: três pessoas em meio auma acalorada conversa. Reconheceu

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uma voz em particular ao tomarposição atrás de uma coluna paraespreitar. Estivera imaginando sealgum dia voltaria a ouvi-la. Paroude imaginar.

Era a mulher do cemitério emJerusalém. A corajosa leoa que agiracomo substituta de De Sablé. Ela seencontrava com dois outrostemplários e, pelo seu tom, estavadescontente.

— Onde estão meus navios,soldados? — vociferou. — Disseram-me que haveria outra esquadra deoito.

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Altaïr olhou adiante. Os naviostemplários eram silhuetas nohorizonte.

— Sinto muito, Maria, mas issofoi o melhor que pudemos fazer —respondeu um dos soldados.

Maria. Altaïr saboreou seu nomeenquanto admirava a firmeza de seuqueixo, os olhos que brilhavam comvida e fogo. Pôde notar nela, maisuma vez, aquela qualidade — comose mantivesse guardada a maiorparte de seu verdadeiro caráter.

— Como pretendem levar orestante de nós para Chipre? —

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perguntava ela.Ora, por que os Templários

estariam se transferindo para Chipre?— Peço perdão, mas seria melhor

se você permanecesse em Acre —observou o soldado.

Ela ficou alerta de repente.— O que significa isso? Uma

ameaça? — perguntou.— É um alerta apropriado —

retrucou o cavaleiro. — ArmandBouchart agora é o Grão-Mestre e elenão a tem em alta consideração.

Armand Bouchart, observouAltaïr. Então foi ele que assumiu o

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lugar de De Sablé.No centro da sacada, Maria se

controlou.— Ora, seu insolente... — Ela se

deteve. — Muito bem. Encontrareimeu próprio caminho até Limassol.

— Sim, milady — disse osoldado, fazendo uma reverência.

Eles se foram, deixando Mariasozinha na sacada, onde Altaïr sedivertiu ao ouvi-la falar consigomesma.

— Maldição... Eu estava a umpasso da ordem de cavaleiros. Agorasou pouco mais do que uma

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mercenária.Ele avançou em direção a ela. O

que quer que sentisse pela mulher —e sentia alguma coisa, disso tinhacerteza —, ele precisava falar paraela. Ouvindo-o se aproximar, elagirou o corpo e o reconheceu nomesmo instante.

— Ora — disse ela —, é ohomem que poupou o meu pescoço,mas roubou a minha vida.

Altaïr não teve tempo deimaginar o que ela quis dizer porque,em um lampejo, tão rápido quantoum raio, ela sacou a espada e foi em

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sua direção, atacando-o com umavelocidade, habilidade e coragem quevoltaram a impressioná-lo. Elatrocou as mãos que manejavam aespada e girou para atacá-lo em seulado fraco; Altaïr teve de semovimentar depressa para sedefender. Ela era boa, melhor do quealguns dos homens sob o seucomando e, por alguns momentos,trocaram golpes, a sacada ressoandoo tinir e o estrépito do aço,pontilhados pelos gritos de esforçoque ela dava.

Altaïr olhou de relance para trás

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a fim de se certificar de que nãohavia reforços chegando. Mas,pensando bem, claro que nãochegariam. Seu pessoal a deixarapara trás. Claramente, suaproximidade com De Sablé não lhegarantira qualquer benefício vindoda parte do substituto dele.

E lutaram. Por um piscar deolhos, ela o manteve com as costascontra a balaustrada, com o marescuro acima de seus ombros e, pelomesmo espaço de tempo, eleimaginou que ela seria capaz dederrotá-lo, e que amarga ironia seria.

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Mas o desespero dela para vencerdeixou-a descuidada e Altaïrconseguiu ir para a frente, finalmentegirando os pés e chutando-a porbaixo, em seguida lançando-se sobreela com a lâmina parada em suagarganta.

— Voltou para acabar comigo?— perguntou ela desafiadoramente,mas ele podia ver medo em seusolhos.

— Ainda não — respondeu,embora mantivesse a lâmina ondeestava. — Quero informações. Porque os Templários estão velejando

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para Chipre?Ela sorriu.— Tem sido uma guerra longa e

suja, Assassino. Todos merecem umafolga.

Ele reprimiu um sorriso.— Quanto mais você me contar,

mais viverá. Portanto, te perguntooutra vez, por que a retirada paraChipre?

— Que retirada? O rei Ricardoquebrou uma trégua com SalahAl’din, e a sua Ordem está sem líder,não é mesmo? Assim querecuperarmos o Pedaço do Éden, é

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você quem vai fugir.Altaïr assentiu,

compreensivamente. E também porsaber que havia muita coisa sobre aOrdem que os Templários achavamque sabiam, mas não sabiam. Aprimeira delas era que os Assassinostinham um líder, a segunda era quenão tinham o hábito de fugir deTemplários. Ele se levantou e acolocou de pé. Encarando-o, elasacudiu a poeira do corpo.

— A Maçã está bem escondida —informou a ela, lembrando que, defato, não estava. Continuava em seus

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aposentos.— Altaïr, reflita cuidadosamente

sobre suas opções. Os Templáriospagariam um alto preço por essarelíquia.

— Eles já pagaram, não foimesmo? — comentou Altaïr,levando-a consigo.

Momentos depois, ele se reuniacom seus Assassinos, após a batalhano cais haver terminado e terem seapossado do porto de Acre. Entreeles estava Jabal, que ergueu assobrancelhas ao surgimento deMaria e acenou para dois Assassinos

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que a levassem dali, antes de sejuntar a Altaïr.

— O que está acontecendo emChipre para interessar aosTemplários? — refletiu Altaïr,enquanto caminhavam. Já haviadecidido o próximo destino deles enão havia tempo a perder.

— Guerra civil talvez? — arriscouJabal, com as palmas estendidas. —O imperador deles, Isaac Comneno,resolveu comprar uma briga com orei Ricardo muitos meses atrás, eagora apodrece em uma masmorratemplária.

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Altaïr pensou.— Uma pena. Isaac era tão

facilmente manipulável, muitodisposto a aceitar um suborno.

Pararam nos degraus do cais, eMaria passou por eles ao ser levada,com o queixo erguido.

— Esses dias estão no passado —lembrou Jabal. — Agora a ilhapertence aos Templários, compradado rei por uma soma irrisória.

— Esse não é o tipo de governoque queremos incentivar. Temosalgum contato lá? — perguntouAltaïr.

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— Um em Limassol. Um homemchamado Alexander.

— Mande uma mensagem paraele — ordenou Altaïr. — Diga paraque me espere daqui a cerca de umasemana.

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Ele navegou sozinho para Chipre —embora não propriamente sozinho.Levou Maria. Dissera a Jabal quepoderia usá-la como isca para osTemplários, mas escreveu em seudiário que gostava de tê-la por perto.Era assim, tão simples e tãocomplicado. Houvera muito poucasmulheres na vida de Altaïr. Aquelasque dividiram a cama com elehaviam feito pouco mais do quesatisfazer uma necessidade, e aindateria de encontrar uma mulher capaz

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de agitar aqueles sentimentos que seencontravam acima da cintura. Teriaencontrado agora? Rabiscou apergunta em seu diário.

Chegando a Limassol,descobriram que os Templárioshaviam de fato ocupado a ilha.Como sempre, o porto estavatomado pela luz laranja do sol, e oarenito brilhava com ela. As águasazuis resplandeciam, e as gaivotasplanavam e mergulhavam sobre suascabeças em uma algazarra constante.Por toda a parte, porém, havia ascruzes vermelhas dos Templários, e

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soldados atentos vigiando umapopulação de má vontade. Esta viviaagora sob a mão de ferro dosTemplários, sua ilha vendida diantede seus narizes por um rei cujodireito a ela era, na melhor dashipóteses, frágil. A maior parteseguia com suas vidas; tinham bocasa alimentar. Algumas almascorajosas, porém, haviam formadouma Resistência. Eram estes, os maissolidários à missão de Altaïr, que eleplanejava encontrar.

Desceu do navio e seguiu aolongo do cais. Com ele, ia Maria,

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com as mãos amarradas. Ele cuidarapara que ela removesse quaisquervestígios que a identificassem comouma cruzada templária e, para todosos efeitos, era sua escrava. Essasituação, é claro, a enfurecia, e elanão demorou a revelar isso,resmungando ao passarem pelo cais,que se encontrava mais silencioso doque esperavam. Particularmente,Altaïr se divertia com o desconfortodela.

— E se eu começar a gritar? —perguntou ela por entre os dentestrincados.

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Altaïr deu uma risadinha.— As pessoas taparão os ouvidos

e irão em frente. Elas já viramescravos infelizes.

Mas que pessoas? O cais estavaestranhamente vazio e, ao saírempara as ruas secundárias, tambémencontraram as estradas desertas. Derepente, um homem saiu de um becodiante deles, vestido com um mantosurrado e um turbante. Barris semuso e caixotes vazios estavamespalhados por ali e ouvia-se águapingando em alguma parte. Estavamsozinhos, Altaïr se deu conta,

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quando mais dois homens saíram deoutros becos em volta.

— O porto é zona proibida —anunciou o primeiro homem. —Mostre o rosto.

— Não há nada debaixo dessecapuz, a não ser um velho Assassinofeio — rosnou Altaïr, e levantou acabeça para olhar para o homem.

O assaltante abriu um sorriso,não era mais uma ameaça.

— Altaïr.— Alexander — exclamou Altaïr

—, você recebeu minha mensagem.— Supus que fosse uma

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armadilha templária. Quem é amulher? — Examinou Maria de cimaa baixo, com um faiscar nos olhos.

— Isca templária — explicouAltaïr. — Ela era de De Sablé.Infelizmente, é um fardo.

Maria cravou os olhos nele: seolhar matasse, este o teria torturadocruelmente antes.

— Podemos cuidar dela paravocê, Altaïr — ofereceu Alexander.— Temos um abrigo secreto.

Ela praguejou contra as almaspodres dos dois enquanto seguiampara a casa, usando uma linguagem

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grosseira para uma inglesa.Altaïr perguntou a Alexander por

que havia tão pouca gente nas ruas.— Parece uma cidade-fantasma,

não? As pessoas têm receio de sair decasa por medo de infringir algumanova lei obscura.

Altaïr pensou.— Os Templários nunca

estiveram interessados em governar.Fico imaginando por que estariamagora.

Alexander assentia. Enquantocaminhavam, passaram por doissoldados, que olharam para eles de

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modo suspeito. Altaïr pressionou ocorpo contra o de Maria para darpassagem. Mas ela não cedeu, e eleficou imaginando se isso não teriaalgo a ver com o fato de Maria tersido abandonada por seus própriosaliados em Acre. Ou talvez... Não.Afastou esse pensamento da mente.

Chegaram ao abrigo: umarmazém abandonado queAlexander havia transformado embase. Havia um depósito fechadocom porta gradeada de madeira, masdeixaram que Maria ficasse, porenquanto, do lado de fora. Altaïr

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checou a corda nos punhos dela,correndo o dedo entre o fio e o braçopara se certificar de que ela estivesseconfortável. Ela então lhe deu umolhar que só poderia ser descritocomo de agradecido desdém.

— Não suponho que esteja aquipara fazer caridade — disseAlexander, após se instalarem. —Posso perguntar o motivo?

Altaïr queria agir depressa —queria seguir imediatamente para abase templária —, mas devia umaexplicação ao cipriota.

— É uma história complicada,

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mas pode ser facilmente resumida: osTemplários têm acesso aoconhecimento e a armas muito maismortais do que qualquer um é capazde imaginar. Planejo mudar isso.Uma dessas armas está em nossasmãos. Um dispositivo com ahabilidade de deformar as mentesdos homens. Se os Templáriospossuem mais coisas deste tipo, euquero saber.

Maria falou por trás deles: — Ecertamente podemos confiar que osAssassinos deem um uso melhor àMaçã, o Pedaço do Éden...

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Altaïr conteve um sorriso, masignorou-a, perguntando aAlexander: — Onde os Templáriosestão entocados agora?

— No Castelo de Limassol, masestão expandindo seu alcance.

Isso tinha de ser detido, pensouAltaïr.

— E como posso entrar lá? —indagou.

Alexander lhe falou de Osman,um Templário simpatizante daResistência Cipriota.

— Mate o capitão da guarda —sugeriu. — Com ele morto, é

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provável que Osman seja promovidopara o posto. E, se isso acontecer,bem, você poderá entrar semproblemas.

— É um começo — disse Altaïr.Ao se movimentar pelas ruas da

cidade, ele ficou admirado com oquanto estava silenciosa. Enquantocaminhava, pensava em Maria e naMaçã. Ele a trouxera consigo, é claro— ficara na cabine de seu navio.Teria sido imprudente, talvez, trazero Tesouro e deixá-lo tão perto doinimigo? Somente o tempo diria.

No mercado, ele avistou o

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capitão da guarda templária, quegentilmente facilitara sua localizaçãoao usar uma túnica vermelha sobre acota de malha e ter o aspectoimperioso de um rei. Altaïr olhou emvolta, vendo outros guardas nasproximidades. Baixou a cabeça, semchamar a atenção para si, evitando oolhar de um guarda que o observavacom apertados olhos suspeitos. Aopassar, pareceu ser um erudito paraquem o visse. Então, muitocautelosamente, começou a fazer avolta, manobrando para se colocarpor trás do capitão, que permanecia

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do outro lado da alameda,vociferando ordens para seushomens. Fora o capitão e agora seumatador, a alameda estava vazia.

Altaïr tirou a faca de arremessoda bainha em seu ombro, então, comuma sacudida do punho, soltou-a. Ocapitão deslizou para o chão depedra com um longo gemido e,quando os guardas chegaramcorrendo, Altaïr já tinha seguido porum beco ao lado e se camuflava pelasruas secundárias vazias. Missãocumprida. Foi então em busca deOsman, exatamente como Alexander

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havia instruído.Furtivo e rápido, atravessou os

telhados da cidade descorada pelosol com passos velozes como os deum gato, por entre as vigas demadeira, até se pegar contemplandoum pátio do alto. Lá embaixo estavaOsman. Apesar de Templário,simpatizava com os Assassinos, eAltaïr esperou para que estivessesozinho antes de descer para o pátio.

Quando Altaïr desceu, Osmanolhou dele para o muro acima dosdois, depois, de volta a ele,observando seu visitante com

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diversão. No mínimo, tivera altaconsideração pelo modo furtivo doAssassino.

— Saudações, Osman — disseAltaïr. — Alexander envia seusrespeitos, e deseja à sua avó umjubiloso aniversário.

Osman deu uma gargalhada.— Que a querida senhora

descanse em paz. Bem, em que possoajudá-lo, amigo?

— Pode me dizer por que osTemplários compraram Chipre? Seriapara montar outro esquema de coletade impostos?

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— Não tenho uma graduaçãoalta o suficiente para confirmar essainformação, mas ouvi uma conversasobre alguma espécie de arquivo —explicou Osman, ao olhar à esquerdae depois à direita. Se fosse vistoconversando com Altaïr, certamenteseria condenado a morrer na praçado mercado.

— Um arquivo? Interessante. Equem é o Templário mais graduadoem Limassol?

— Um cavaleiro chamadoFrederick, o Vermelho. Treinasoldados no Castelo de Limassol.

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Um verdadeiro brutamontes.Altaïr assentiu.— Com o capitão da guarda do

castelo morto, o que seria precisopara que eu entrasse?

— Supondo que eu seja nomeadopara o posto dele, poderia inventaruma desculpa para reduzir as turmasde sentinelas do castelo. Isso serviria?

— Farei com que sirva — disseAltaïr.

As coisas progrediamrapidamente.

— Osman está tomando as

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providências — informou ele depoisa Alexander, quando retornou aoabrigo. Enquanto estivera fora,Maria passara a maior parte do diano depósito onde era mantida.Alexander recebera uma série deinsultos e gracejos. A fúria delacrescia cada vez mais quando ele lhepedira que os repetisse, pois era fã desua dicção inglesa. Agora, porém, elativera permissão de sair para comer eestava sentada em uma instávelcadeira de madeira, encarando Altaïre Alexander, que conversavam, edisparando olhares furiosos para

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qualquer outro membro daResistência que por acaso passassepor ali.

— Excelente. E agora? —perguntou Alexander.

— Vamos lhe dar algum tempo— respondeu Altaïr. Virou-se paraMaria. — Ele também me falou sobreo arquivo templário. Você já ouviufalar nisso?

— Claro — afirmou Maria. — Éonde guardamos nossas roupas debaixo.

Altaïr ficou desanimado.Virando-se de volta a Alexander,

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falou: — Chipre seria um bom localpara proteger tanto conhecimentoquanto armas. Com a estratégiacorreta, é uma ilha fácil de defender.

Levantou-se. Osman agora játeria tido tempo de reduzir avigilância nos muros do castelo.Estava na hora de se infiltrar.

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Pouco tempo depois, Altaïr seencontrava no pátio do Castelo deLimassol, pronto para se infiltrar.Escondido sob as sombras, olhavaacima para a impedida muralha depedra, observando os arqueiros que avigiavam e marcando o tempo dosmovimentos dos homens nosbastiões.

Ficou contente ao notar quehavia poucos homens: Osman fizerabem o seu trabalho. A fortaleza nãoestava completamente vulnerável,

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mas Altaïr conseguiria entrar. E issoera tudo de que precisava.

Escalou uma parede para osbastiões, depois entrousorrateiramente no castelo. Umguarda gritou e caiu com uma dasfacas de arremesso de Altaïr nopescoço. Outro ouviu a agitação echegou correndo ao longo daentrada para então encontrar alâmina do Assassino. Altaïr baixou oguarda para a pedra, pousou o pé emsuas costas e puxou a espada, quepingou sangue no chão. Depoiscontinuou o caminho pelo castelo

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pouco habitado, livrando-se dosguardas quando os encontrava.Osman fora realmente eficiente emseu trabalho. Não apenas encontraramenos guardas na muralha comotambém parecia haver uma ausênciade homens na parte de dentro. Altaïrignorou a incerteza que o agitava. Apontada de inquietação.

Continuou subindo e subindo,adentrando cada vez mais nossetores internos do castelo, até chegara uma sacada com vista para umenorme pátio que era usado comocentro de treinamento.

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Ali avistou Frederick, oVermelho; um gigante barbudo queobservava um duelo entre dois deseus homens. Vê-lo fez Altaïr sorrir.O genial espião Osman tinha razão.Frederick, o Vermelho, era de fatoum brutamontes.

— Sem piedade, homens — rugiaele. — Esta é uma ilha de pagãossupersticiosos. Lembrem-se, eles nãoquerem vocês aqui, não gostam devocês, não entendem a verdadeirasabedoria da causa de vocês, e estãotramando o tempo todo paraexpulsá-los. Fiquem alerta e não

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confiem em ninguém.Vestidos com armadura

completa, os dois cavaleiros lutavam,e o som de suas espadas ressoavapelo pátio. Mantendo-se fora de vistana sacada acima, Altaïr ouvia o lídertemplário incentivá-los.

— Procurem as aberturas naarmadura do oponente. Ataquemcom força. Deixem as comemoraçõespara a taberna.

Então Altaïr se levantou e deuum passo acima para a muralha,tendo plena visão dos três homensno pátio de treinamento lá embaixo.

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Estes continuaram com a atençãofocada na batalha. Ele calculou aaltura de onde estava até a pedraembaixo, então inspirou fundo,estendeu os braços e pulou.

Com uma suave batida surda,pousou diretamente atrás deFrederick, o Vermelho, com osjoelhos curvados e os braçosestendidos para se equilibrar. O líderbarbudo se virou no momento emque Altaïr se endireitava. Com osolhos inflamados, ele rugiu: — UmAssassino em Chipre? Ora, ora. Comque facilidade vocês da ralé se

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adaptam. Vou pôr um fim no...Nem terminou a frase. Altaïr,

que quis olhar nos olhos doTemplário antes de desferir o golpemortal, ejetou a lâmina e cortou opescoço dele com um só movimento,a ação toda tendo durado uminstante. Com um som curto eestrangulado, Frederick, o Vermelho,desabou, tendo no pescoço um largoburaco vermelho, e seu sanguepassou a inundar a pedra à sua volta,fazendo jus a seu nome.

Por um segundo, seus homensficaram em silêncio, e seus elmos

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puderam privá-los de qualqueremoção, de modo que Altaïr pôdeapenas imaginar os olhares chocadosatrás do aço. Então eles serecuperaram, e atacaram. Altaïrenfiou a lâmina através da fenda dovisor do primeiro. Atrás do elmohouve um agoniado ruído sufocantee o sangue jorrou do visor enquantoo espadachim caía. Nisso, o segundodos dois duelistas atacou,manejando a espada de folha larga,mais torcendo do que esperandoencontrar seu alvo. O Assassinodesviou-se facilmente para o lado, ao

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mesmo tempo que espalmou umafaca de arremesso, girando o corpo e,em um único movimento para cima,enfiando a faca por baixo do peitoraldo cavaleiro.

Com o fim da batalha e os trêscorpos caídos no chão de pedra,Altaïr olhou em volta do pátio,recuperando o fôlego. O castelo,habitado por tão pouca gente, tinhasuas vantagens, pensou ele. Retornouà sacada, saindo do mesmo modocomo havia entrado. Em seucaminho de volta, a importuna vozda dúvida ficou mais alta. A maior

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parte dos corpos pelos quais passaraera daqueles que ele havia deixadomais cedo, inalterados, e não haviamais nenhuma sentinela por ali.Nenhuma. Onde estava todomundo?

Recebeu a resposta logo após terdeixado a fortaleza e seguido seucaminho pelos telhados em direçãoao abrigo, já ansiando por umdescanso e talvez um combate verbalcom Maria. Talvez até mesmo umaconversa com ela. Tudo queconseguira tirar de Maria era saberda sua origem inglesa, que tinha sido

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camareira de De Sablé (exatamente oque isso significava, Altaïr nãoperguntara) e que se envolvera comas Cruzadas após um incidente emcasa, na Inglaterra. Isso o haviaintrigado. Esperava descobrir embreve o que tinha acontecido a ela.

De repente, ele avistou fumaça,uma grossa coluna escurecendo océu.

E vinha do abrigo.Seu coração martelava à medida

que chegava mais perto. Viusoldados cruzados montando guardae contendo qualquer um que tentasse

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se aproximar do prédio, que estavaem chamas. Línguas de fogo vinhamdas janelas e da porta, densos anéisde fumaça preta coroavam o telhado.Era por isso que o castelo deFrederick estivera tão pouco vigiado.

A primeira preocupação de Altaïrnão foi com a segurança da Ordem,de Alexander ou de qualquer outromembro da Resistência que pudesseestar lá dentro. Sua primeirapreocupação foi com Maria.

A fúria tomou conta dele. Seupulso clicou e ejetou a lâmina. Emum movimento, ele saltou do teto e

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enfrentou os dois guardas templárioslá embaixo. O primeiro morreugritando, o segundo teve tempo devirar, com olhos arregalados,surpresos, enquanto a lâmina deAltaïr abria sua garganta. O gritoelevou-se e mais soldados vieramcorrendo, mas o Assassino osenfrentou, desesperado para alcançaro abrigo, sem saber se Maria estavapresa lá dentro, talvez morrendosufocada. Teria sido deixada nodepósito? Estaria lá agora, socando aporta, ofegando por ar no ambienterepleto de fumaça? Se fosse o caso,

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ele só conseguia começar a imaginaro terror que ela estava sentindo. Maisguardas templários avançaram paraele, as pontas de suas espadasansiando por sangue. E ele lutou.Combateu-os com facas dearremesso e espada até ficar exausto.A rua estava apinhada de corpos deTemplários, sangrando na terra. Eagora ele corria na direção do abrigoincendiado, chamando seu nome.

— Maria!Não houve resposta.Mais Templários se

aproximavam. Com o coração

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pesado, Altaïr fugiu para os telhados,para ali fazer uma avaliação eplanejar a ação seguinte.

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Sua ação seguinte acabou sendo umarealidade imposta. Sentado bem altoem uma torre à sombra de um sino,Altaïr percebeu o movimento nasruas, que antes estavam tão vazias.As pessoas deixavam suas casas. Elenão fazia ideia aonde iam, masdecidiu que queria saber.

Sem dúvida, com a fumaça aindase elevando dos restos queimados doabrigo, os Templários estavam semobilizando. Altaïr usou os telhadospara seguir os habitantes que iam

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para a praça. Viu a expressão emseus rostos e ouviu suas conversas.Eram de vingança e represálias. Maisde uma vez ouviu o nome deArmand Bouchart. Diziam que eleacabara de chegar à ilha. E tinhauma temida reputação. Umareputação cruel.

Altaïr estava prestes a vê-la emação, mas, por um tempo, ficou felizem ver Maria na aglomeração, viva eilesa. Ela ia ladeada por doiscavaleiros templários na multidãoque se formava — pela aparência,tinha sido feita prisioneira, embora

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não estivesse amarrada. Como todosos demais na praça, a atenção delaestava concentrada nos degraus dacatedral.

Ele a manteve em sua linha devisão, ficando fora de vista em umtelhado que dava para a praça,observando enquanto Osmantomava posição nos degraus,parando ligeiramente em um lado,pronto para a entrada do novo lídertemplário, que saiu a passos largos ese juntou a ele.

Bouchart, assim como De Sablé,seu antecessor, parecia ter sido

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escolhido tanto pela formidávelaparência quanto pela habilidade deliderança. Usava armaduracompleta, mas parecia forte e ágilembaixo dela. Não tinha barba epossuía grossas sobrancelhas quepareciam fazer sombras nos olhos.As maçãs do rosto, encovadas,davam a ele uma aparênciarepugnante.

— Um assassinato infame abalouminha ordem — bradou ele, em umavoz que exigia a atenção de toda apraça. — O prezado Frederick, oVermelho... foi morto. Ele, que

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serviu com honra a Deus e ao povode Chipre, pagou tributo à lâmina deum criminoso. Quem entre vocês meentregará o responsável por isso?

Nada veio da multidão, a não sero ruído de constrangidos pés searrastando. Os olhos de Altaïrvoltaram para Bouchart, que estavasombrio.

— Covardes — rugiu. — Não medeixam escolha a não ser eu mesmoeliminar esse criminoso. Por isso,concedo imunidade aos meushomens até essa investigação serconcluída.

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Altaïr viu Osman mudardesconfortavelmente de posição. Emgeral, seu rosto tinha um ar vivaz,mas não agora. Parecia preocupadoao se aproximar para falar com olíder.

— Bouchart, os cidadãos já estãoinquietos. Talvez essa não seja amelhor ideia.

Bouchart estava virado paraoutro lado, por isso talvez Osmannão tenha visto o rosto dele ganharuma expressão furiosa e terrível.Bouchart não estava acostumado ater suas ordens questionadas: isso era

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claro. Se considerava issoinsubordinação ou não...

Em um único movimento, eledesembainhou a espada e a enfiouna barriga de Osman.

Com um grito que ecoou emvolta da praça atônita, o capitão securvou sobre o chão de pedra,levando as mãos à barriga. Debateu-se brevemente nos degraus atémorrer, e a agitação de sua morte foiensurdecedora em meio ao silêncioque envolveu a multidão, abalada.Altaïr se contraiu. Não conheceraOsman, é claro, mas gostara do que

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percebera dele. Outro homem bommorrera desnecessariamente.

Bouchart se abaixou e limpou aespada na manga da túnica deOsman.

— Se mais alguém tiver algumaobjeção, convido a se apresentar.

O corpo de Osman balançouligeiramente e um braço relaxou eficou pendurado sobre o degrau. Osolhos, incapazes de enxergar,encaravam o céu.

Não houve objeções.De repente, ouviu-se um grito de

Maria, que havia se libertado de seus

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captores. Ela correu para os degrause jogou-se de joelhos diante do líder.

— Armand Bouchart —exclamou.

Embora ele sorrisse ao reconhecê-la, não foi o sorriso de amigos seencontrando.

— Ah — ironizou ele —, umaantiga colega. — E recolocou aespada no cinto.

— Bouchart — disse Maria —,um Assassino veio para Chipre.Consegui escapar, mas ele não deveestar muito longe.

De onde estava, no alto, o

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coração de Altaïr se abateu. Ele tinhaesperanças de que... Não. Antes detudo, ela era templária. Sempre seria.Sua lealdade era para com eles.

— Ora, Maria — comentouBouchart, animado —, isso seria asua segunda fuga miraculosa dosAssassinos, não? Uma vez quandoDe Sablé era o alvo; e agora aqui, naminha ilha.

Altaïr notou incompreensãounir-se ao pânico no rosto de Maria.

— Não estou do lado dosAssassinos, Bouchart — rebateu ela.— Por favor, ouça.

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— De Sablé era um coitado efraco de vontade. O versículo setentaestabelecido pelo RegulamentoTemplário proíbe expressamente aassociação com mulheres... Pois é pormeio das mulheres que o diabo tecesua teia mais forte. De Sablé ignorouesse princípio e pagou com a vida.

— Como ousa? — retrucou ela e,a despeito de si mesmo, Altaïr sorriu.

Qualquer medo que Mariavivenciava era sempre de curtaduração.

— Toquei em um nervo, não foi?— rugiu Bouchart, divertindo-se

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consigo mesmo. Em seguida: —Prendam-na.

Com isso, encerrou-se a reunião.Bouchart virou-se e foi embora,deixando para trás o corpo deOsman, com olhos vidrados, sobreos degraus. Maria foi amarrada edepois arrastada dali.

Os olhos de Altaïr foram dafigura de Bouchart, que se afastava,para Maria. Ele estava dividido,tentando decidir o que faria a seguir.Bouchart estava perto. Poderia nãoter uma chance dessas outra vez.Atacá-lo quando menos esperava.

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Mas, por outro lado... Maria.Desceu do telhado e seguiu os

homens que a levavam da Praça daCatedral, provavelmente em direçãoà cadeia. Manteve-se a uma distânciasegura. Então, quando viraram emuma rua mais tranquila, ele atacou.

Momentos depois, os doisguardas estavam mortos, e Altaïr seaproximava de Maria, para onde elafora empurrada, tendo as mãosainda amarradas, lutando para sepôr de pé. Estendeu-lhe a mão e elaafastou-se abruptamente.

— Tire as mãos de mim —

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vociferou. — Eles me consideramtraidora por sua causa.

Altaïr sorriu com indulgência,embora ela tivesse alertado Bouchartsobre sua presença.

— Não passo de uma desculpaconveniente para sua ira, Maria. OsTemplários são seus verdadeirosinimigos.

Ela dirigiu um olhar furioso paraele.

— Eu o matarei quando tiveruma chance.

— Se tiver uma chance... Masentão nunca descobrirá a Maçã, o

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Pedaço do Éden. E qual é atualmentea maior predileção dos Templários?Minha cabeça ou o artefato?

Maria fitou-o com os olhossemicerrados, percebendo que o queele dizia fazia sentido. Ela pareceudescontrair.

Por enquanto.Muito depois, encontraram

Alexander de novo. O rosto delerevelava preocupação ao falar comAltaïr.

— A despeito de sua bravata,Bouchart obviamente levou a sério oalerta de Maria. — Ao dizer isso,

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lançou um olhar tão furioso paraMaria que, por mais incrível quepudesse parecer, a deixou sem fala.— Minhas fontes me dizem que,após destruir o nosso abrigo, elezarpou imediatamente para Kyrenia.

Altaïr franziu a testa.— Que pena. Eu esperava me

encontrar com ele. — Mesmo assim,ainda planejava encontrá-lo. — Qualé rota mais rápida para lá? —perguntou.

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Viajaram como um monge e suaacompanhante, autorizados aencontrar um espaço no porão decarga do navio. Ocasionalmente,membros da tripulação desciam doconvés principal e também seaninhavam para dormir ali,peidando e roncando, pouco ligandopara os dois estranhos. EnquantoMaria dormia, Altaïr encontrou umcaixote, abriu o diário e tirou a Maçãde um embrulho que trazia nomanto.

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Livre do material que a protegia,ela reluziu, e ele a observou por ummomento. Então escreveu: “Estoulutando para tirar algum sentido daMaçã, o Pedaço do Éden; saber suafunção e seu propósito. Mas possoafirmar com certeza que sua origemnão é divina. Não... é umaferramenta... uma máquina deextraordinária precisão. Que espéciede homens eram esses que trouxeramessa maravilha para o mundo?”

Houve um ruído atrás dele. Emum instante, apanhou a Maçã ecobriu-a mais uma vez, escondendo-

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a no manto. Era Maria, mexendo-seao despertar. Ele fechou o diário,passou por cima dos corposadormecidos de dois tripulantes eatravessou o porão até onde elaestava, sentada com as costasapoiadas em uma pilha de caixas demadeira, tremendo de frio ebocejando. Ela apoiou os joelhos nopeito, observando Altaïr enquantoele se sentava no assoalho a seu lado.Os olhos de Maria eram ilegíveis. Porum momento, os dois ouviram oranger do navio, o ir e vir do mar nocasco. Nenhum deles tinha certeza se

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era dia ou noite, ou há quantotempo estavam velejando.

— Como veio parar aqui? —perguntou-lhe Altaïr.

— Não se lembra, homem santo?— respondeu ela maliciosamente. —Você me trouxe para cá. —Sussurrou: — Sou sua companheira.

Altaïr limpou a garganta.— Refiro-me à Cidade Sagrada.

Nas Cruzadas.— Eu deveria estar em casa, com

o colo repleto de crochê e de olho nojardineiro?

— Não é o que as inglesas fazem?

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— Não esta aqui. Sou o que naminha família chamam de incomum.Cresci preferindo as brincadeiras demeninos. Bonecas não eram paramim, para o grande e contínuoaborrecimento dos meus pais —continuou, irritada. — Eu costumavaarrancar suas cabeças.

— Dos seus pais?Ela riu.— Das minhas bonecas. Por isso,

é claro, eles faziam tudo que podiampara me tornar menos rude, e, nomeu aniversário de 18 anos, mederam um presente especial.

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— E qual foi?— Um marido.Ele se assustou.— Você é casada?— Fui. O nome dele era Peter, e

ele era uma companhia muitoagradável, mas apenas...

— O quê?— Bem, era só isso. Apenas...

muito agradável. Nada mais.— Ou seja, não servia muito para

acompanhar você na diversão.— Em nada. Meu marido ideal

teria de aceitar esses aspectos do meucaráter que meus pais queriam

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extirpar. Caçaríamos e iríamos atrásde falcões juntos. Ele me instruiriaem esportes e combate e meimpregnaria de erudição. Mas elenão fez nada disso. Nós nosmudamos para a sede da famíliadele, Hallaton Hall, emLeicestershire, onde, como castelã,esperava-se que eu coordenasse aequipe de empregados,supervisionasse os assuntosdomésticos e, é claro, desse herdeirosa eles. Pelo menos três. Depreferência, dois meninos e umamenina, nessa ordem. Mas fracassei

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em corresponder às expectativasdeles, do mesmo modo que,miseravelmente, ele fracassou emcorresponder às minhas. A únicacoisa com que eu me importavamenos do que a hierarquia e apolítica da equipe de empregados eracuidar de crianças, e especialmentedo parto, que vem antes disso. Apósquatro anos de engano, fui embora.Felizmente, o bispo de Leicester eraum amigo íntimo do velho lordeHallaton, que conseguiu umaanulação, em vez de correr o risco deque esta moça tola e impetuosa

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causasse mais constrangimento àfamília. Passei a ser, é claro, personanon grata em Hallaton Hall; aliás,em todo o Leicestershire. E, ao voltarpara casa, a situação não era melhor.Hallaton exigira de volta o dote pagopela noiva, mas meu pai já o tinhagasto. No fim das contas, decidi queera melhor para todo mundo se eufosse embora, por isso fugi para asCruzadas.

— Como enfermeira?— Não, como soldado.— Mas você é...— Sim, experiente em me

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disfarçar de homem. Eu não oenganei naquele dia, no cemitério?

— Eu sabia que você não era DeSablé, mas...

— Não achou que eu fossemulher. Está vendo? Anos mepassando por rude finalmentevaleram a pena.

— E De Sablé? Ele se enganou?Altaïr percebeu, em vez de ver, a

tristeza em seu sorriso.— De início gostei de Robert —

disse ela suavemente. — Elecertamente viu mais do meupotencial do que Peter. Mas, é claro,

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ele também viu de que modo eupoderia ser explorada. E nãodemorou muito para fazer isso. —Suspirou. — Foi apropriado você termatado Robert — afirmou. — Nãoera um homem bom e foi indigno dequaisquer sentimentos que tive porele.

— Foi ele quem lhe deu isso? —perguntou Altaïr, após ummomento, apontando para a mãodela, para a pedra preciosa quebrilhava ali.

Maria olhou-a e franziu a testa,quase como se tivesse esquecido que

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a usava.— Sim. Foi um presente dele,

quando me deixou sob sua proteção.Isto é tudo que resta dos meus laçoscom os Templários.

Seguiu-se um silêncio deconstrangimento, que finalmente foiquebrado por Altaïr.

— Você estudou filosofia, Maria?— começou ele.

Ela o olhou, indecisa.— Li fragmentos... nada mais.— O filósofo Empédocles

proclamava que toda a vida na Terracomeçou de forma simples, em

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formas rudimentares: mãos sembraços, cabeças sem corpos, olhossem rostos. Acreditava que todasessas formas primitivas secombinaram, muito gradualmente,ao longo do tempo, para criar toda avariedade de vida que vemos diantede nós. Interessante?

Ela só faltou bocejar.— Você sabe o quanto isso parece

ridículo?— Sei... Mas me conforto com o

conselho do filósofo Al Kindi: não sedeve ter medo de ideias, não importasua fonte. E nunca devemos temer a

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verdade, mesmo quando ela nosmagoa.

— Não vejo sentido em suasdivagações. — Ela riu baixinho,parecendo sonolenta e afetuosa.

Talvez ele a tivesse julgado mal.Talvez ela não estivesse pronta paraaprender. Mas então soou um sino, osinal de que haviam aportado emKyrenia. Levantaram-se.

Altaïr tentou novamente.— Apenas uma mente livre de

impedimentos é capaz decompreender a beleza caótica domundo. Esse é o nosso maior trunfo.

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— Mas o caos é algo a serlouvado? A desordem é umavirtude? — perguntou ela, e algo nelefoi estimulado com a indagação.Talvez, afinal de contas, ela fossereceptiva ao conhecimento superior.

— Sim, isso nos apresentadesafios — alegou ele —, mas aliberdade possibilita recompensasmaiores do que a alternativa. Aordem e a paz que os Templáriosprocuram requerem servidão eprisão.

— Hum — fez ela. — Conheçoessa sensação...

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Ele sentiu certa proximidade comela ao chegarem aos degraus quelevavam ao convés superior, e se deuconta de que era exatamente amesma sensação de que andara àprocura desde quando seencontraram. Agora ele a sentiu, egostou. Queria que continuasse.Mesmo assim, teria de tomarcuidado. Ela já não lhe dissera queplanejava matá-lo? Sua lealdade aosTemplários tinha sido partida, masisso não queria dizer que ela tivesse,de uma hora para outra, adotado osmodos dos Assassinos. Pelo que ele

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podia perceber, os modos dela eramos de Maria.

Portanto, faltava ter provas disso.Na escada, ela sorriu e estendeu

as mãos, e ele olhou comdesconfiança. Mas haviapossibilidade de ela subir com asmãos amarradas e, de qualquermodo, eles estavam viajando compiratas: embora piratas fossemnotoriamente carentes de ética, atémesmo eles poderiam se surpreendercom um monge que mantinha suacompanheira amarrada. Os dois quetinham estado dormindo, agora se

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punham de pé, bocejando, coçandoa virilha e lançando olhares para adupla do outro lado do porão.Dissimuladamente, Altaïr acionousua lâmina e cortou a corda dospunhos de Maria. Ela lhe lançou umolhar de agradecimento antes decomeçar a subir os degraus.

Então ele ouviu algo. Ummurmúrio. Foi mais alertado pelotom do que pelo que estava sendodito. Sem parecer óbvio, prestouatenção. Como havia imaginado, osdois piratas conversavam sobre ele.

— Eu sabia que era ele — falou

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um deles em um som estridente. —Eu lhe disse.

Altaïr podia sentir os olhos delesem suas costas.

— Aposto como os Templáriospagariam uma bela recompensa poresses dois.

Silenciosamente, o Assassinopraguejou. Se estivesse certo,precisaria novamente de sua lâminaa qualquer momento...

Ouviu o som de cimitarras sendosacadas.

...agora!Altaïr girou para enfrentar os

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dois, enquanto sua companheiradecidia seguir o “modo Maria” ecorrer para a liberdade, chutando-ocom o pé direito e enviando-ocambaleante contra a lateral doporão, a dor incendiando seu rosto.

Havia dor também dentro dele.Um tipo diferente de dor.

E ela se foi, desaparecendo noquadrado de luz do sol da porta doporão. Altaïr praguejou novamente,mas dessa vez em voz alta, eendireitou-se para enfrentar oataque. O primeiro pirata sorriuquando ele se aproximou, sem

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dúvida pensando no prêmio — ovinho e as mulheres que comprariaapós recebê-lo.

Altaïr enfiou a espada no esternodo homem e ele parou de sorrir,deslizando facilmente para fora dalâmina. Isso deu ao segundo umapausa para pensar e ele parou.Semicerrou os olhos e ficoumudando a arma de mãos. Altaïrsorriu para ele e bateu o pé, contenteem vê-lo se retrair em resposta.

Ótimo, pensou. Gostava que seuspiratas mercenários tivessem umpouco de medo antes de morrer.

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E ele morreu. Os olhos do piratase reviraram quando Altaïr enfiou aespada na lateral do corpo dele, emseguida a puxou rapidamente para afrente, abrindo um enorme talho noflanco enquanto o pirata caía nochão, juntando-se a seu colega.Então o Assassino subiu a escada episcou com a luz do sol ao sair parao convés principal, lançando olharespara todos os lados à procura dafugitiva. Piratas, alertados pela súbitapresença de Maria, vieram correndo.Houve um grito quando viram Altaïre se deram conta de tudo. Ele

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disparou pelo convés, agachou-se porbaixo do cordame, depois desceucom agilidade pela prancha e saiunas docas de Kyrenia, procurandodesesperadamente um lugar para seesconder até deixar a ameaça passar.

Então, pensou, furioso, iriaprocurar Maria. Dessa vez nãodeixaria que ela escapasse.

Olhou em volta. Outra cidadedominada pelos Templários. Elareluzia sob o sol. De qualquermaneira, era bonita demais paraestar nas mãos do inimigo.

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Pelo menos não foi difícil encontrarMaria. Os problemas a perseguiamcomo ratos no porão de um navio.Como era de esperar, quando Altaïrvoltou a cruzar seu caminho,cadáveres de piratas estavamespalhados a seus pés e três homenslocais estavam parados nasproximidades, limpando o sangue desuas espadas e recuperando o fôlegoapós a batalha. Ficaram tensosquando Altaïr apareceu, e ele ergueuas mãos em um gesto de boa-fé

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enquanto assimilava a cena: Maria,os homens, os mortos.

Mais uma vez, ao que parecia, elativera sorte em escapar.

— Pensei que nunca mais a veria— disse ele, com os braços aindalevantados.

Ela tinha o dom de se recusar ase surpreender em qualquereventualidade.

— Se ao menos eu tivesse essasorte...

Ele franziu a testa para ela,depois voltou-se para um doscipriotas, que aparentemente era o

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líder.— Qual é o seu assunto com essa

mulher? Você é um lacaio dosTemplários?

— Não, senhor — gaguejou ohomem. Ele permanecia com aespada desembainhada, e as mãos deAltaïr estavam vazias, mas, mesmoassim, o cipriota reconhecia umguerreiro habilidoso ao ver um. —Os piratas a atacaram e eu tive deajudar. Mas não sou lacaio. Detestoos Templários.

— Entendo. Você não estásozinho — retrucou Altaïr.

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O homem assentiu com gratidão,reconhecendo que estavam domesmo lado.

— Meu nome é Markos, senhor.Ajudarei no que puder, se issosignificar livrar meu país dessesCruzados.

Excelente, pensou Altaïr.— Então preciso que mantenham

essa mulher em segurança até euvoltar. Preciso encontrar alguémantes que os Templários o façam.

— Passaremos o dia todo noporto. Ela ficará segura aqui conosco— disse Markos e, mais uma vez,

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Maria ficou resmungando enquantoos homens a levavam embora.

Ela ficará bem, pensou Altaïr,observando-os se afastar. Mariapassou o dia entre dois robustoscipriotas, olhando o mundo passarno porto de Kyrenia: havia maneirasmelhores de gastar algumas horas,mas também havia muito piores.Pelo menos ele sabia que ela estavaem segurança enquanto seencontrava com o contato daResistência de Alexander, o Barnabéde quem haviam lhe falado.

Encontrou-o no abrigo secreto,

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que fazia as vezes de depósito degrãos. Ao entrar, Altaïr chamoucautelosamente, mas nada ouviu,apenas o corre-corre decamundongos e os sons distantes darua. Então apareceu um homem domeio dos sacos. Tinha uma barbaescura e vigilantes olhos negros, e seapresentou como Barnabé. QuandoAltaïr lhe perguntou se o abrigotinha uma área que podia ser usadacomo cela, ele sorriu gentilmente egarantiu a ele que tinha, mas entãoficou indeciso, indo primeiro atéuma porta, que abriu e fechou,

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depois a uma segunda, através daqual deu uma olhada antes deanunciar que a sala de secagempossuía uma área fechada que podiaser usada como cela.

— Ando seguindo ArmandBouchart — contou Altaïr a Barnabémomentos depois, quando os dois seencontravam sentados sobre sacos degrãos no depósito.

— Ah... Bouchart está emKyrenia? — perguntou o membro daResistência. — Provavelmentevisitando seus prisioneiros emBuffavento.

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— Essa é uma prisão pertodaqui?

— Sim, é um castelo. Um dia foiresidência de uma rica fidalgacipriota, até os Templários tomaremsua propriedade.

Altaïr franziu a testa diante daganância deles.

— Pode me levar até lá?— Bem... posso fazer mais do que

isso. Posso colocá-lo lá dentro, semque os guardas nem pisquem osolhos. Mas, antes, precisa fazer umacoisa para mim. Para a Resistência.

— Um pedido familiar — disse

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Altaïr. — O que é?— Temos um traidor em nosso

meio — explicou tristementeBarnabé.

O traidor era um mercadorchamado Jonas e, após Barnabé lhefornecer os detalhes suficientes,Altaïr localizou-o em um anfiteatrono centro da cidade. De acordo comBarnabé, Jonas fornecia segredos aosTemplários. Altaïr observou-o porum momento, encontrando-se comoutro comerciante, parecendo a todomundo como qualquer outronegociante. Então, quando se virou

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para ir embora, o Assassino o seguiudo anfiteatro até as ruas secundárias,notando que, aos poucos, omercador foi percebendo que estavasendo seguido. Lançava cada vezmais olhares frequentes para trás,para Altaïr, com os olhos cada vezmais arregalados e maisamedrontados. De repente, eledisparou em uma corrida, e Altaïrseguiu perseguindo-o, contente porver Jonas entrar em um beco.

Aumentou a velocidade e correuatrás da presa.

O beco estava vazio.

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Altaïr parou, olhou para trás,checando se não estava sendo visto e— clique — soltou a lâmina. Deudois passos à frente para ficar nomesmo nível de uma grande einstável pilha de caixotes, queoscilava ligeiramente. Curvou-se umpouco e enfiou a lâmina em umcaixote. A madeira lascou e ouviu-seum grito. A pilha desabou sobreAltaïr, que teve de se apoiar para nãoperder o equilíbrio.

Ele, porém, manteve-se parado.E, quando a madeira se acomodou àsua volta, ele relaxou, olhando ao

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longo da linha de seu braçoestendido, para onde Jonas estavaespetado pela sua lâmina, o sanguelentamente se espalhando doferimento em seu pescoço. Aindaagachado para se esconder, ocomerciante era uma figuradesesperada, patética. E, emborasoubesse que se tratava de umtraidor e que as informações quedera aos Templários tinham semdúvida sido usadas para matar,capturar e torturar membros daResistência, Altaïr sentiu pena dele,tanto que removeu a lâmina

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delicadamente, empurrando para oslados os restos dos caixotes para quepudesse deitá-lo e se debruçar sobreele.

Escorria sangue do ferimento dopescoço.

— O que significa isso? — ofegouJonas. — Um Assassino? SalahAl’din também tem seus olhos sobrea pobre Chipre?

— Os Assassinos não têmligações com os sarracenos. Nossonegócio é só nosso.

Jonas tossiu, revelando dentesensanguentados.

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— Seja qual for o caso, a notíciade sua presença se espalhou. OTouro colocou um prêmio pela suacabeça... E pela cabeça da mulherque o acompanha.

Altaïr olhou a vida delesangrando para fora do corpo.

— Eu valho mais e mais a cadadia — comentou, e desferiu o golpemortal.

Quando se levantou, não foi coma satisfação de um serviço bem-feito,mas com a terrível sensação de quehavia algo errado. O Touro queJonas mencionara. Independente de

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quem fosse, era leal a ArmandBouchart e sabia da presença deAltaïr e de Maria em Kyrenia. Eraaquilo a fonte da inquietação deAltaïr?

Pegou o caminho dos telhados,pretendendo encontrar Markos eMaria de imediato.

— Bem, Maria, parece que há umbom preço pelas nossas cabeças —anunciou Altaïr quando aencontrou. Como imaginara, elaestava sentada em um banco depedra entre Markos e outro membro

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da Resistência, exibindo aquele olharfurioso ao qual ele já estava seacostumando.

— Um preço? Maldito Bouchart.Provavelmente, ele acha que sou suaaprendiz.

— Alguém chamado de Touromandou seus homens atrás de nós.

Maria deu um salto como setivesse sido ferroada.

— O Touro? Então deram a essefanático uma paróquia só dele?

— É amigo seu? — perguntouAltaïr, com uma careta.

— Ao contrário. Ele se chama

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Moloch. É um fanfarrão religiosocom cada braço parecendo troncosde árvores.

Altaïr virou-se para Markos.— Você conhece o abrigo da

Resistência no distrito dos comuns?— Sei onde fica, mas nunca

entrei lá — falou Markos, dando deombros. — Sou apenas um soldadoda Resistência.

Altaïr pensou e então disse: —Não posso ser visto com Maria,portanto você terá de levá-la.Mantenha-a fora de vista, e meencontre lá quando estiverem em

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segurança.— Conheço alguns becos e túneis

escuros.— Pode levar mais tempo, mas a

levaremos para lá sã e salva.Voltaram separados para o

abrigo, Altaïr chegando primeiro.Barnabé havia espalhado sacos degrãos pelo chão e estivera relaxando,mas se pôs de pé assim que Altaïrentrou, contendo um bocejo, comose tivesse despertado de uma soneca.

— Acabei de saber que alguémencontrou o corpo do pobre Jonas —disse ele, com um tom de sarcasmo

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na voz. — Que desperdício, não? —E limpou uns grãos de seu manto.

— Você o conhecia melhor doque eu — retrucou Altaïr. — Tenhocerteza de que ele sabia do risco detrabalhar para ambos os lados. —Olhou atentamente para Barnabé,notando o sorriso irônico em seurosto.

Altaïr não sentia prazer com amorte — nenhuma morte — e tinhatendência a olhar desfavoravelmentea quem sentia, fosse Templário,Assassino ou da Resistência. Por umlado, Barnabé era aliado. Por outro...

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Se havia uma coisa que Altaïr sabiaera confiar em seus instintos e seusinstintos agora o importunavam;uma pequena e silenciosaperturbação, mas, ainda assim,insistente.

Barnabé prosseguiu:— Sim... infelizmente, isso

complicou as coisas. Jonas era umcipriota respeitado, e sua mortecausou alvoroço perto da antigaigreja. O público está faminto porvingança, e o Touro dirá a ele quevocê foi o responsável. Você podeperder o apoio da Resistência.

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O quê? Altaïr o encarou, incapazde acreditar no que acabara de ouvir.Aquele tal instinto: mudou deperturbação para completo tormento.

— Mas Jonas era um traidor daResistência. Eles não sabiam?

— Receio que não muitos deles— admitiu Barnabé. — A Resistênciaestá muito espalhada.

— Bem, você terá a chance dedizer a eles pessoalmente —ponderou Altaïr. — Alguns homensestão vindo para cá agora.

— Está trazendo gente para cá?— Barnabé pareceu preocupado. —

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Gente em quem pode confiar?— Agora já não tenho mais

certeza de em quem posso confiar —concluiu Altaïr —, mas vale o risco.Neste momento, preciso verpessoalmente esse alvoroço.

— Quanto ao nosso acordo, vereio que posso fazer para levá-lo paraperto de Bouchart. Um acordo é umacordo, não? — disse Barnabé, esorriu novamente.

Altaïr não ligou para aquelesorriso. A cada vez que o via, gostavamenos dele.

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Altaïr fez uma visita à igreja, e seucoração se apertou diante daagitação. Guardas templários haviamformado um cordão de isolamento eestavam contendo cidadãosrevoltosos, que haviam sidoimpedidos de sair da área em voltada igreja e destruíam tudo à vista.Caixotes e barris tinham sidolascados e havia fogueiras espalhadaspelas ruas. Barracas que ladeavam asruas haviam sido atacadas edestruídas, e o cheiro de produtos

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pisoteados se misturava ao dafumaça. Alguns homens formaramgrupos e entoavam palavras deordem ao ritmo de tambores e doconstante ribombar de címbalos,tentando romper a linha doscavaleiros templários, que osobservavam atentamente de trás debarreiras improvisadas, carroças ebarracas viradas. De vez em quando,pequenos pelotões de soldadosfaziam curtas e cruéis investidascontra a multidão, arrastandohomens que esperneavam e gritavam,agredindo-os com o cabo da espada

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ou jogando-os para trás da barreirapara serem levados para as celas —não que esses ataques fizessemalguma coisa para amedrontar osrevoltosos ou aplacar sua fúria.

Altaïr observava tudo do alto,agachado na beirada de um telhado,sentindo desespero. Algo saíraerrado. Algo saíra terrivelmenteerrado. E se o Touro decidisse fazeruma declaração indicando-o como oassassino, então as coisas ficariamainda piores.

Ele tomou uma decisão. O Tourotinha de morrer.

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Quando chegou de volta aoabrigo, procurou em vão porBarnabé, que não estava em nenhumlugar à vista. Então Altaïr tevecerteza de que errara ao confiar nelee praguejou contra si mesmo. Eleouvira o seu instinto. Só que não osuficiente.

Markos, porém, estava lá, assimcomo Maria, que fora colocada nacela, um local mais resistente do quea prisão improvisada que usavam emLimassol. A porta entre a sala desecagem e o depósito estava abertapara que pudessem ver Maria: ela

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estava sentada atrás de barras com ascostas apoiadas na parede, de vez emquando chutava os juncosespalhados pelo chão e olhava o quese passava com uma expressãopesarosa, sarcástica. Altaïr observou-a, lembrando-se de todo problemaque ela havia causado.

Ele soube que ela, Markos evários outros membros daResistência haviam chegado aoabrigo e o encontraram vazio.Barnabé tinha sumido quandochegaram lá. Muito conveniente,pensou Altaïr.

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— O que está acontecendo láfora? — perguntou Markos. — Acidade está tumultuada. Vi muitaconfusão.

— As pessoas estão protestandocontra a morte de um cidadão, umhomem chamado Jonas. Ouviu falarnele?

— Meu pai o conhecia bem. Eraum homem bom. Como ele morreu?

O coração de Altaïr ficou aindamais apertado e ele percebeu queevitava encarar Markos, entãorespondeu: — Bravamente. Escute,Markos, as coisas se complicaram.

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Antes de encontrar Bouchart, precisoeliminar o Touro e acabar com essaviolência.

— Você adora um caos, Altaïr —gritou a mulher de sua cela.

Ele gostou do modo como seunome soou na boca de Maria.

— O Touro é um homemresponsável pela submissão demilhares. Poucos vão lamentar aperda dele.

Ela se aproximou.— E você propõe entrar em

Kantara, esfaqueá-lo e sair sem sernotado? Ele se cerca de adoradores

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dedicados. — Sua voz ecoou naprisão de pedra.

— Kantara... Isso fica a leste? —indagou Altaïr, aproveitando asugestão imprudente.

— Sim, e é muito bemdefendido... Você verá por si mesmo.

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Altaïr realmente viu por si mesmo. OCastelo de Kantara era protegido porsoldados cruzados e fanáticos deMoloch. Depois de escalar a muralhae atravessar os bastiões, ele parouocasionalmente para ouvi-losconversar, juntando aos poucos ospedaços de informação sobre ohomem a quem chamavam deTouro. Descobriu que era umreligioso radical que atraíaseguidores, fanáticos quetrabalhavam como seus guarda-

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costas, como criados ou queandavam pelas ruas de Kyreniadivulgando a palavra de Deus. Eleera ligado aos Templários. Suadedicação ao líder deles, Bouchart,tinha quase a devoção de sua féreligiosa, e o Castelo de Kantara erasua cidadela pessoal, dado a ele,supostamente, pelos Templários. Eraconhecido por gastar a maior partede seu tempo em adoração, na capelado castelo.

Que era onde Altaïr esperavaencontrá-lo.

Movendo-se pela fortaleza, viu

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tanto fanáticos quanto guardas. Osfanáticos pareciam... Bem,exatamente como esperava quefanáticos parecessem: nervosos, olhosarregalados e ardorosos. Eramdesdenhados abertamente pelosguardas cristãos que patrulhavam emduplas e que claramente os achavaminferiores a eles para permaneceremno castelo. Quando Altaïr se enfiouem um recanto, dois deles passaram,um reclamando para o outro.

— Por que os Templários toleramesse louco? O Touro e seus fanáticossão mais perigosos dos que os

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habitantes de Chipre.— Os Templários têm seus

motivos — respondeu o outro. —Sabe, é muito mais fácil para elesgovernarem por procuração.

— Creio que sim. Mas quantotempo isso vai durar? O Touro e osTemplários não têm exatamente amesma opinião no quesito fé.

— Ah, quanto menos você falarsobre isso, melhor — retrucou ooutro.

Altaïr deixou que passassem eseguiu em frente. Enquanto andava,o corredor ia escurecendo. Maria

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dissera que o castelo era bemprotegido, e certamente era, se vocêpretendesse reunir um exército eatacar sua muralha. Para umAssassino solitário, porém, entrar nafortaleza escondido era uma missãofácil. Principalmente se você fosse oMestre. Se você fosse Altaïr.

Agora ele se encontrava em umvasto salão de banquete. Naextremidade oposta havia doisguardas, e ele apanhou duas facas dearremesso. Jogou-as: um, dois. Emquestão de segundos, os dois homensestavam se contorcendo no chão de

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pedra e Altaïr passou sobre eles,sabendo que agora estava perto, queMoloch não devia estar longe.

Não estava. Altaïr chegou ao queparecia um beco sem saída e virou-se, checando atrás de si — por queaquele estava sendo vigiado? Entãoviu um alçapão. Curvando-se até ele,ouviu, então sorriu. Ele haviaencontrado o Touro.

Muito delicadamente, levantou atampa do alçapão e desceu para asvigas do teto abaixo. Estava nosuporte do local de adoração docastelo, um enorme salão vazio

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iluminado pelo fogo de um grandebraseiro perto do altar.

Ajoelhado diante do fogo,cuidando dele, estava Moloch.

A descrição que Maria fizera delefora exata. Era um brutamontes:calvo, com bigode curvado parabaixo, peito nu exceto por ummedalhão, e com os braçosparecendo troncos, como eladescrevera. O suor brilhava em seucorpo enquanto atiçava o fogo,entoando um encanto que soavamais como um grunhido do que algoreligioso. Absorto em seu trabalho,

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ele não se afastava do fogo, nãodesviava a vista dele, banhando orosto com o calor das chamas, alheioa qualquer outra coisa no ambiente,até mesmo — e especialmente — aseu matador.

Ótimo. Moloch parecia forte,facilmente mais poderoso do queAltaïr, que não tinha qualquer desejode enfrentá-lo em combate. Ele nãoapenas tinha a vantagem muscular,mas dizia-se que manejava umaarma do tipo de um martelometeoro, com um peso mortal presoa uma corrente. Dizia-se que usava a

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arma com uma precisão infalível, eera impiedoso com ela.

Portanto, não. Altaïr não tinhaqualquer desejo de enfrentá-lo emcombate. Essa teria de ser uma mortefurtiva. Rápida, limpa e silenciosa.

Sem qualquer ruído, Altaïrpercorreu as vigas, depois caiusilenciosamente no centro do salãoatrás de Moloch. Estava umpouquinho mais afastado do que eleteria gostado, e prendeu a respiração,tenso. Se Moloch o tivesse ouvido...

Mas não. O brutamontescontinuava ocupado com o braseiro.

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Altaïr deu alguns passos à frente. Emsilêncio, armou a lâmina e alevantou. Uma luz laranja dançouno aço. O Touro estava agora a umpiscar de olhos da morte. Altaïrabaixou-se ligeiramente, os músculosdas pernas se flexionando, entãosaltou, com a lâmina prestes agolpear.

Ele estava em pleno ar quandoMoloch se virou, muito mais rápidodo que seu tamanho teriapossibilitado. Ao mesmo tempo,sorriu, e Altaïr se deu conta de que obrutamontes soubera o tempo todo

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que ele estava ali; que simplesmentedeixara o Assassino se aproximar.Então Altaïr foi pego por aquelesbraços imensos e sentiu uma mão irpara sua garganta e apertar.

Por alguns instantes, foi mantidodaquele modo, Moloch erguendo-ono ar com uma das mãos, como sefosse um troféu a ser exibido naescadaria do castelo, e ele sufocavaenquanto se debatia. Seus péschutavam o ar e as mãosarranhavam a manopla de Moloch,tentando desesperadamente soltar oaperto do monstro. Sua visão

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começou a anuviar, a escuridão seaproximando. Sentiu que começava aperder a consciência. Então Molocho jogou para trás e ele se estatelou nochão da capela. Sua cabeça quicoudolorosamente no pavimento, e eleficou imaginando por que lhe tinhasido permitido viver.

Porque o Touro queria maisdiversão. Ele havia apanhado seumartelo meteoro e, com um únicogiro sobre a cabeça, jogou-o contraAltaïr, que conseguiu apenas rolarpara o lado quando ele desceu,esmagador, abrindo uma cratera no

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pavimento e cobrindo-o com cacosde pedra.

Cambaleante, Altaïr colocou-sede pé, tonto e sacudindo a cabeçapara clareá-la. Sacou a espada.Lâmina em uma mão, espada naoutra. No momento em que searremessou para o lado, o Tourorecuperou o martelo e o lançounovamente.

Ele causou um estrondo em umacoluna ao lado de Altaïr, que maisuma vez foi atingido por uma chuvade fragmentos de pedra. Com omartelo de Moloch parado, Altaïr

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teve uma chance e disparou,investindo com a lâmina e a espada.No entanto, mais rápido do queparecia possível, Moloch tinharecuperado a corrente e a seguravacom ambas as mãos, bloqueando aespada de Altaïr. Então ele girounovamente o martelo e fez com que oAssassino caísse de novo à procurade segurança.

Altaïr pensou em Al Mualim — oAl Mualim que o treinara, e não otraidor no qual se tornara. Pensouem Labib e em seus outros tutoreshabilidosos com a espada. Inspirou

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fundo e recuou, indo para o lado,circundando Moloch.

O Touro o seguiu, sabendo quedeixara o Assassino preocupado.Quando ele sorriu, revelou a bocacheia de dentes irregulares eenegrecidos, a maior parte gasta ereduzida a tocos podres. Do fundode sua garganta veio um ruído,quando Altaïr se aproximou natentativa de fazer com que Molochlançasse o martelo. O Assassinotivera uma ideia. Era uma boa ideia,mas tinha uma falha. Seria fatal, sedesse errado. Ele precisava que o

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Touro jogasse o martelo — mastodas as vezes em que issoacontecera, a arma tinha passadoperigosamente perto de abrir umburaco no crânio de Altaïr.

Ele veio. Girando no ar.Quebrando a pedra. Altaïr conseguiuapenas um salto para o lado, mas, aopousar, em vez de procurar proteção,partiu em direção ao martelo. Elepisou no peso e correu pela correnteesticada na direção do monstro.

Moloch parou de sorrir. Teve umsegundo para captar a visão do ágilAssassino correndo pela corda

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bamba de sua corrente antes de aespada perfurar a frente de suagarganta e sair na nuca. Ele emitiuum som a meio caminho entre umgrito e um sufocamento, a espadaatravessando o pescoço e saindo pelooutro lado, quando Altaïr largou ocabo e girou para montar nosombros do Touro, enfiando a lâminabem fundo na espinha do homem.Mesmo assim, o Touro reagiu eAltaïr viu-se tentando proteger suavida. Com a mão livre, agarrou acorrente e puxou-a para enrolá-la nopescoço de sua vítima, grunhindo

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com o esforço de ter de puxá-la comforça. Moloch girou e forçou o corpopara trás, e Altaïr percebeu que elemanobrava em direção ao fogo.

Sentiu o calor nas costas eredobrou o esforço. O animal nãomorria. Sentiu o cheiro de algumacoisa queimando — a bainha do seumanto! Gritando de dor e por causado esforço, ele puxou com força acorrente com uma das mãos,enfiando ainda mais fundo a espadacom a outra, até que, finalmente,algo cedeu, uma última força de vidaestalou dentro de Moloch. Altaïr

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estava montado em seus ombrossendo pinoteado quando o animalcaiu no chão, onde permaneceu,respirando pesadamente, com osangue espesso escorrendo pelapedra, morrendo lentamente.

Finalmente, sua respiraçãoparou.

Altaïr soltou um demoradosuspiro de alívio. Moloch não seriacapaz de voltar as pessoas contra aResistência. Seu reinado tirânicotinha acabado. No entanto, nãopôde evitar se perguntar o quepoderia substituí-lo.

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Ele teria sua resposta muito embreve.

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Maria se foi. Levada pelos Cruzados.Enquanto Altaïr lutava no Castelo deKantara, soldados haviam atacado oabrigo e, apesar da batalha, tinhamlevado alguns prisioneiros, entre elesMaria.

Markos, um dos poucos quehaviam escapado de ser capturado,estava lá para receber o Assassino,com a preocupação estampada emseu rosto, afligindo-se enquantobalbuciava.

— Altaïr, fomos atacados.

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Tentamos reagir, mas... nãoadiantou. — Então baixou os olhos,envergonhado.

Ou estaria fingindo?Altaïr olhou para a porta da sala

de secagem. Estava aberta. Mais alémdela, a porta da cela com barrastambém estava aberta, e ele aimaginou ali, observando-o com seusolhos amendoados, as costasapoiadas na parede e as botasremexendo os juncos jogados sobre ochão de pedra.

Balançou a cabeça para se livrarda imagem. Havia muito mais em

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jogo do que os sentimentos pelainglesa: não deveria pensar nela antesde se preocupar com a Ordem.Mas... pensou.

— Quis detê-los — dizia Markos—, mas tive de me esconder. Erammuitos.

Altaïr olhou-o bruscamente.Agora que sabia da duplicidade deBarnabé, relutava em confiar emqualquer um.

— A culpa não foi sua — disse.— Os Templários são espertos.

— Ouvi falar que eles controlamo poder de um Oráculo Sombrio em

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Buffavento. Deve ter sido por issoque nos encontraram.

Teria sido assim? Altaïr pensouno assunto. Certamente osTemplários pareciam conhecer todosos movimentos deles. Mas talvez issotivesse menos a ver com um oráculoe mais com o fato de que aResistência estava infestada deespiões Templários.

— É uma teoria curiosa —afirmou ele, alerta para o fato de queMarkos poderia estar tentando iludi-lo de propósito. — Mas desconfio deque foi Barnabé quem lhes deu a

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informação.Markos assustou-se.— Barnabé? Como é possível?

Barnabé, o líder da Resistência, foiexecutado no dia anterior à suachegada.

Claro. Altaïr praguejou contra simesmo. Houvera um Barnabé queera leal à Resistência, mas osTemplários o haviam substituído porum homem seu — um falso Barnabé.Pensou em Jonas, executado por ele,seguindo a ordem do espião, edesejou algum dia poder compensarisso. Jonas não merecia morrer.

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Altaïr deixou o distrito do porto,descobriu onde os prisioneirosestavam sendo mantidos e passoudespercebido pelos guardas paraencontrá-los apinhados em uma celaapertada, imunda.

— Obrigado, senhor, que Deus oabençoe — desejou um deles quandoAltaïr abriu a porta para que saísse.Tinha a mesma expressão degratidão que os demais. Altaïr nemdesejava pensar no que osTemplários haviam planejado paraeles.

Vasculhou a cela em vão atrás de

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Maria...— Havia uma mulher com vocês,

quando foram levados?— Uma mulher? Sim, até Shalim,

o filho do Touro, levá-la emboraacorrentada. Ela não saiu daquitranquilamente.

Não, pensou Altaïr. Irtranquilamente não era o estilo deMaria. Mas quem era esse filho,Shalim? Teria ele assumido o reinadotirânico do Touro?

Foi assim que Altaïr se viu escalandoa muralha da fortaleza de

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Buffavento, seguindo depois para ocastelo, e então descendo para assuas escuras, úmidas e gotejantesprofundezas, onde a pedra tinha umbrilho preto, onde as luzes das tochasbruxuleantes mal penetravam naescuridão proibida e onde cada passoecoava e havia uma goteira d’águaconstante. Seria ali que osTemplários mantinham seu famosooráculo? Ele esperava que sim. Tudoque sabia até agora é que estavamsempre um passo à frente dele. O quequer que tivessem planejando, elesabia que não ia gostar: não gostou

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da ideia do arquivo sobre o qualcontinuava ouvindo falar, ou queestivessem sempre perto demais paraesmagar a Resistência. Qualquercoisa que pudesse fazer para deter oavanço deles tinha de ser feito. E, seisso significasse uma caça às bruxas,então que assim fosse.

Agora, margeando ao longo doscorredores no interior do castelo, elese descobriu aproximando-se do quesupunha ser a masmorra. Atrás delejaziam os corpos de dois guardascom os quais havia se deparado nocaminho, ambos com as gargantas

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cortadas; os cadáveres estavamescondidos da vista. Exatamentecomo no Castelo de Moloch, ele foracapaz de seguir caminho até o núcleousando uma mistura dedissimulação e matança. Então ouviuvozes, uma das quais reconheceu deimediato. Era a de Bouchart.

Estava conversando com umhomem do outro lado de um portãode aço pontilhado de ferrugem.

— Quer dizer que a garota fugiuoutra vez, hein? — vociferou oTemplário.

O outro homem vestia um

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suntuoso manto revestido de pele.— Em um momento, ela estava

acorrentada, no seguinte, tinhasumido...

— Não me insulte, Shalim. Seufraco por mulheres é bem conhecido.Você deixou-a sem ser vigiada e elafoi embora.

— Eu a encontrarei, Grão-Mestre. Prometo.

Então aquele era Shalim. Altaïrprestou uma atenção especial nele,ligeiramente satisfeito. Nada nele —a aparência, compleição e comcerteza as roupas — lembrava o pai,

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Moloch.— Faça isso depressa —

esbravejou Bouchart —, antes queela conduza o Assassino diretamenteao arquivo.

Shalim virou-se para ir embora,mas Bouchart o deteve.

— E, Shalim, providencie paraque isto seja entregue a Alexanderem Limassol.

Entregou a Shalim um saco, queo outro homem seguroudemonstrando concordar. Altaïrsentiu os dentes trincarem. EntãoAlexander também trabalhava para

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os Templários. O inimigo parecia teruma mão em tudo.

Agora, porém, os dois homenstinham ido embora, e Altaïr retomouseu avanço em direção à cela doOráculo. Incapaz de atravessar oportão, escalou uma sacada e seguiucaminho dando a volta por fora dafortaleza, depois desceu novamenteaté chegar à masmorra. Mais guardascaíram diante de sua lâmina. Embreve os corpos seriam descobertos eseria dado um alerta geral. Precisavaagir depressa.

Todavia, parecia que os guardas

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tinham o bastante com o que secontentar. Altaïr conseguiu ouvirgritos e um bate-boca à medida quese aproximava do que achava ser amasmorra. Ao chegar ao fim de umtúnel que dava para o queaparentemente era uma área decadeia, percebeu que era ali aondeBouchart tinha ido, pois era ali queestava de novo, falando com umguarda. Eles estavam do outro ladode uma partição com barras, do ladode fora de uma fileira de portas decelas.

Bem, pensou Altaïr, pelo menos

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tinha encontrado a masmorra.Agachou-se fora de vista em umaalcova no túnel. Com gritos agudosao fundo, ouviu Bouchart perguntar:— O que está havendo?

— É a louca, senhor —respondeu o guarda, aumentando avoz para ser ouvido no meio doruído. — Está agitada. Dois dosguardas estão feridos.

— Deixe que ela se divirta —disse Bouchart sorrindo. — Ela jácumpriu seu propósito.

Mais uma vez, Altaïr descobriuque o caminho entre ele e Bouchart

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estava bloqueado. Ele teria gostadomuito de ter acabado com aquilo ali,mesmo com o guarda presente:achava que podia dominar primeiroo homem, depois cuidar deBouchart. Mas não era para ser. Emvez disso, foi forçado a observar,frustrado, enquanto Bouchart e oguarda se afastavam, deixando a áreadeserta. Saiu do esconderijo e foi atéa partição, achando um portãotrancado. Dedos hábeis agiram nomecanismo. Então atravessou ecaminhou na direção da porta dacela do Oráculo. O grito dela agora

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era mais alto e mais perturbador, eAltaïr engoliu em seco. Não tinhamedo de nenhum homem. Masaquilo não era um homem. Aquiloera algo completamente diferente. Elese viu tendo de acalmar os nervosenquanto agia na segundafechadura. Quando a porta se abriu,com a queixa aguda de dobradiçasenferrujadas, o coração martelava.

A cela dela era ampla, dotamanho de um salão de banquete— um imenso salão de banquetesobre o qual pairava o manto damorte e da decadência, com névoa

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ondulante e o que pareciam serpedaços de folhagem entre ascolunas, como se o exterior estivessese intrometendo para um diareclamá-lo na totalidade.

Quando seus olhos seacostumaram às trevas, ele olhoupara ela, mas nada viu, apenas ouviuseu guinchar infernal. Isso fez comque os pelos dos braços se eriçasseme ele conteve um arrepio enquantoadentrava mais em sua... cela?

Aquilo era mais como um covil.De repente, silêncio. Seus

sentidos formigaram. Ele jogava a

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espada de uma mão para a outra,enquanto os olhos vasculhavam oambiente escuro, mal iluminado.

— Sangue pagão — veio em umavoz... Uma voz em uma entoaçãomonótona saída diretamente de umpesadelo. Altaïr virou-se na direçãodo som, mas ele surgiu novamente epareceu ter se movido. — Eu sei seunome, pecador — cacarejou ela. —Eu sei por que está aqui. Deus guiaminhas garras. Deus me concedeforça para quebrar seus ossos.

Altaïr só teve tempo para pensar,Garras? Teria ela realmente... Ela

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apareceu, rodopiando como umturbilhão, surgindo das trevas,cabelo negro chicoteando à sua volta,gritando ao se mostrar. O que elatinha não eram propriamente garras:eram unhas longas, afiadas — eigualmente mortais. Altaïr as ouviusibilar ao cortarem o ar diante de seurosto. Ele pulou para trás. Então elarastejou como um felino, olhandopara ele e rosnando. Ele estavasurpreso: tinha esperado uma velhadecrépita, mas aquela mulher... tinhaexpressão nobre. Claro. Era a mulherde quem Barnabé lhe falara, que

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vivera antes no castelo. Ela era joveme um dia fora atraente. Mas, o quequer que fosse que os Templáriostivessem feito a ela, oencarceramento aparentemente adeixara louca. Soube disso quandoela riu, não parecendo de repente tãonobre ao revelar fileiras de dentespodres e a língua que ameaçava sairda boca. Dando uma risadinha, elaatacou outra vez.

Eles lutaram, o Oráculo atacandocegamente, agitando as unhas,cortando Altaïr várias vezes earrancando sangue. Ele se mantinha

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à distância, avançando apenas paradesferir contra-ataques, atéfinalmente conseguir dominá-la esegurá-la contra uma coluna.Tentava contê-la desesperadamente— queria conversar, convencê-la —,mas ela se debatia como um animalselvagem, mesmo quando ele aempurrou para o chão e montousobre seu corpo, segurando a lâminaem seu pescoço enquanto ela seagitava com violência, murmurando:— Glória de Deus. Sou seuinstrumento. O carrasco de Deus.Não temo dor nem morte.

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— Um dia você foi uma cipriota— disse-lhe Altaïr, lutando paracontê-la. — Uma fidalga respeitada.Que segredos revelou a essesdemônios?

Saberia ela que, ajudando osTemplários, estaria traindo seupróprio povo? Teria ainda bom-senso suficiente para entender isso?

— Não sem objetivo eu lido namiséria — estridulou ela, ficandoimóvel de repente. — Por ordem deDeus, eu sou seu instrumento.

Não, pensou ele. Não tinha. Suamente se fora.

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— O que quer que os Templáriostenham feito a você, milady, fizeramerrado — observou ele. — Desculpe-me por isto.

Foi um ato de misericórdia. Ele amatou e depois foi embora daquelelugar terrível.

Mais tarde, de volta ao abrigo, abriuseu diário e escreveu: Por que nossosinstintos insistem na violência?Tenho estudado as interações entrediferentes espécies. O desejo inato desobrevivência parece exigir a mortedo outro. Por que eles não

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conseguem se dar as mãos? Muitosacreditam que o mundo foi criadopor meio da obra de um poderdivino — mas vejo apenas osdesígnios de um louco, propenso acelebrar a morte, a destruição e odesespero.

Refletiu também sobre a Maçã:Quem eram Aqueles Que VieramAntes? O que os trouxe aqui? O queos expulsou? O que são essesartefatos? Mensagens em umagarrafa? Ferramentas deixadas paratrás para nos ajudar e nos guiar? Ou

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lutamos pelo controle da sua recusa,dando um propósito e umsignificado divinos a pouco mais doque brinquedos jogados fora?

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Altaïr decidiu seguir Shalim. Agoraambos caçavam Maria, e Altaïrqueria ter certeza de estar por pertose ele a encontrasse primeiro.

Não que, no momento, Shalimestivesse procurando com afinco.Markos dissera a Altaïr que tudo queShalim tinha em comum com o paiera o fato de que servia aosTemplários e tinha umtemperamento violento. Em lugar dofervor religioso, tinha um gosto porvinho e apreciava a companhia de

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prostitutas. Seguindo-o, Altaïr viu-ose dedicar aos dois. Manteve umadistância segura enquanto Shalim edois de seus guarda-costasespreitavam as ruas de Kyrenia comoum trio de pequenos déspotas,repreendendo cidadãos ecomerciantes raivosamente,abusando deles, tomandomercadorias e dinheiro comopreparativo para uma visita quefariam a algum lugar.

A um bordel, aparentemente.Altaïr observou enquanto Shalim eos homens se aproximavam de uma

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porta onde um bêbado acariciavauma das meretrizes locais. O homemera burro demais ou estavaembriagado demais para reconhecerque Shalim estava de péssimohumor, pois ergueu seu cantil decouro em saudação ao tirano,gritando: “Um brinde, Shalim.”

Shalim não interrompeu o passo.Enterrou a mão aberta na cara dobêbado, de modo que sua cabeçaquicou na parede atrás dele com oruído de uma pancada surda. Ocantil de couro caiu e o homemdeslizou parede abaixo até sentar, a

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cabeça balançando, o cabelomisturado a sangue. Com o mesmomovimento, Shalim agarrou aprostituta pelo braço.

Ela resistiu.— Shalim, não. Por favor, não.Ele, porém, já a arrastava,

olhando atrás por cima do ombro echamando os dois acompanhantes.

— Divirtam-se, homens. Etragam algumas mulheres para mim,quando acabarem.

Altaïr já vira o suficiente. Shalimnão estava procurando Maria, issoera certo, e provavelmente não a

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encontraria seguindo-o aonde querque fosse com sua prostituta: camaou taberna, sem dúvida.

Em vez disso, retornou ao distritodo mercado, onde Markoscaminhava sem rumo por entre asbarracas, com as mãos às costas,esperando notícias de Altaïr.

— Preciso chegar perto de Shalim— disse a Markos quando voltarampara a sombra, parecendo a todomundo dois negociantes passandoalgum tempo longe do sol quente.

— Se ele é tão estúpido quanto éinsolente, talvez eu consiga arrancar

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alguns segredos dele.— Fale com um dos monges

perto da catedral. — Markos deuuma risadinha. — O estilo de vidacaprichoso de Shalim exige confissõesfrequentes.

E foi na catedral que Altaïrencontrou um banco embaixo de umtoldo pendente e sentou-se,observando o mundo passar,esperando até um solitário mongebeneditino passar por ele, inclinandoa cabeça em cumprimento. Altaïrretribuiu o gesto, depois disse em vozbaixa para que somente o monge

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conseguisse ouvir.— Não o perturba, irmão, sofrer

os pecados de um homem tãodepravado quanto Shalim?

O monge parou. Olhou para umlado e depois para o outro. Entãopara Altaïr.

— Sim, perturba — sussurrou —,mas opor-se a ele significa morte. OsTemplários têm muita coisa em jogoaqui.

— Refere-se ao arquivo? —perguntou Altaïr. — Sabe me dizeronde ele está?

Altaïr tinha ouvido falar nesse

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arquivo. Talvez ele tivesse a chavepara as atividades dos Templários.Mas o monge estava balançando acabeça e seguindo adiante, quando,de repente, uma pequena agitaçãoirrompeu. Era Shalim, Altaïr viu comum sobressalto. Estava subindo paraum púlpito. Não estava mais com aprostituta e parecia muito menosbêbado do que estivera antes.

— Homens e mulheres de Chipre— anunciou, enquanto a plateia seformava —, Armand Bouchart enviasuas bênçãos, mas alertandoduramente que todos que

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fomentarem a desordem com o apoioda Resistência serão presos ecastigados. Aqueles que buscarem aordem e a harmonia e prestaremobediência ao Senhor, por meio dobom serviço, gozarão da caridade deBouchart. Agora, vamos trabalharjuntos, como irmãos, e reconstruir oque o ódio e a raiva destruíram.

Isso foi muito estranho, pensouAltaïr. Shalim parecia descansado erejuvenescido, e não como Altaïresperaria que ele aparecesse, tendoem vista as recentes atividades.Aquele Shalim tivera todo o jeito de

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um homem que planejava passar oresto de seus dias na bebida e napromiscuidade. Este? Era umhomem diferente — não apenas naaparência, mas nos modos, naconduta e, a julgar pelo conteúdo deseu discurso, em sua filosofia inteira.E, também, este Shalim não tinhaconsigo guarda-costas. Esse Shalim oAssassino conseguiria superarfacilmente, talvez em um dos becosda avenida principal de Kyrenia.

Quando Shalim desceu daplataforma e partiu, deixando acatedral atrás de si e caminhando

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pelas ruas douradas, Altaïr passou apersegui-lo.

Não tinha certeza de quantotempo tinham andado, quando, derepente, o gigantesco Castelo de St.Hilarion apareceu diante deles eAltaïr viu que Shalim se dirigia paraseu interior. Sem dúvida, ao chegaraos imensos portões do castelo, eleentrou por um postigo, sumindo devista. Altaïr praguejou. Perdera seualvo. Contudo, o castelo era umacolmeia em atividade e, naquelemomento, os portões se abriram,ambos os lados recuando para

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permitir a passagem de umpalanquim carregado por quatrohomens. Estava claramente vazio —eles conseguiam se movimentar comrapidez —, e Altaïr os seguiu até oporto salpicado pelo sol, ondepousaram a carga e ficaram à espera,com os braços cruzados.

Altaïr também esperou. Sentou-se em uma mureta do porto e, comos cotovelos sobre os joelhos,observou o palanquim e os criados àespera, os mercadores, os pescadores,os belos navios sacudindodelicadamente no marulho, os cascos

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batendo contra o muro do porto.Um grupo de pescadores lutandocom uma enorme rede parou desúbito, então ele olhou adiante paraum dos navios e sorriu. Altaïr seguiuo olhar deles e viu um grandenúmero de mulheres surgirem, deseda e chiffon de cortesãs, e seguiremcaminho para o porto com passosdelicados. Os pescadores olharammaliciosamente e algumas lavadeirasfizeram um ar de desaprovaçãoquando elas atravessaram as docas,com as cabeças erguidas, sabendoexatamente a atenção que atraíam.

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Altaïr as observou.Entre elas, estava Maria.Estava vestida como cortesã. Seu

coração levitou ao vê-la. Mas o queela estava fazendo? Escapara dasgarras de Shalim só para voltar parao perigo, ou era o que parecia. Ela eas outras mulheres subiram a bordodo palanquim. Os criados esperaramque todas embarcassem, depois oergueram e voltaram com ele,carregando-o muito mais lentamentedo que antes, cada homem curvadosob o peso, saindo do porto e, seAltaïr estava certo, em direção ao

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Castelo de St. Hilarion, onde, semdúvida, Shalim já esfregava as mãosde alegria.

Altaïr virou-se para seguir,escalando a parede de um prédiopróximo, depois seguindo caminhopelos telhados, saltando de um parao outro, pelo rastro do veículo que iaabaixo dele. Ao se aproximar doportão do castelo, ele esperou,agachado. Então, calculando asincronia do salto, caiu em cima dotelhado do palanquim.

Tump.O palanquim balançou quando

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os homens embaixo se adaptaram aonovo peso. Altaïr havia arriscado ofato de eles serem tão tiranizados aponto de sequer olharem para cima— e acertara. Simplesmenteombrearam o peso extra e seguiramem frente. E, se as cortesãs nointerior haviam notado, também nãodisseram nada, e a procissãoatravessou em segurança o limiar docastelo e foi até um pátio. Altaïrolhou em volta, avistando arqueirosnos bastiões. A qualquer momentoele seria notado. Saltou e se escondeuatrás de uma mureta, observando

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quando Maria foi tirada dotransporte e levada por uma escolta,deixando o pátio por umaportinhola.

Ele escalou o telhado acima deuma dependência externa. Teria dedar uma longa volta para poderentrar. Mas de uma coisa ele sabia.Agora que a encontrara não iaperdê-la novamente.

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Maria foi conduzida a uma ampla eescaldante sacada para conhecer oproprietário do Castelo de St.Hilarion. Um deles, pelo menos. Semque Altaïr soubesse, Shalim tinha umirmão gêmeo, Shahar. Havia sidoShahar quem Altaïr tinha vistopronunciando o discurso sobrecaridade, fato que teria respondido àpergunta do Assassino sobre comoum homem que passara a noitebebendo e com prostitutas podiaparecer tão revigorado no dia

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seguinte.Maria, por outro lado, conhecia

ambos e, embora fossem idênticos,sabia como diferenciá-los. Dos dois,Shalim tinha olhos escuros eostentava a aparência de um homemcom seu estilo de vida; Shaharparecia o mais jovem dos dois. Agoraera dele de quem ela se aproximava.Ele virou para vê-la e se iluminou,sorrindo, enquanto ela atravessava asacada em sua direção,resplandecente na roupa de cortesã,suficientemente cativante para atrairo olhar de um homem.

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— Não esperava vê-la de novo.— Olhou-a maliciosamente. — Emque posso ajudá-la, raposinha?

Ele passou por ela de volta à sala.— Não estou aqui para ser

elogiada — disparou Maria, apesardas aparências dizerem o contrário.— Quero respostas.

Ela o seguiu e, quando chegaramà sala, ele a olhou, desnorteado maslascivo. Maria ignorou seu olhar.Precisava ouvir pessoalmente o queAltaïr havia lhe contado.

— Ah? — disse Shahar.— É verdade o que ouvi dizer —

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insistiu ela —, que os Templáriosquerem usar a Maçã, o Pedaço doÉden, para o mal? Não para instruiras pessoas, mas para subjugá-las?

Ele sorriu com indulgência, comose tivesse que explicar as coisas parauma criança adorável, masignorante.

— As pessoas estão confusas,Maria. São cordeiros implorandopara serem guiados. E é isso queoferecemos: uma vida simples, livrede preocupações.

— Mas a nossa Ordem foi criadapara proteger as pessoas — persistiu

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—, e não para roubá-las de sualiberdade.

Shahar torceu o lábio.— Os Templários não se

importam com liberdade, Maria. Nósbuscamos ordem, nada mais.

Ele caminhava em sua direção.Ela deu um passo para trás.

— Ordem? Ou escravidão?A voz de Shahar adotara um tom

mais sombrio quando respondeu: —Pode chamar como quiser, minhacara...

Ele a alcançou, e suas intenções— suas óbvias intenções — foram

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interrompidas por Altaïr, que surgiuna sala. Shahar girou, exclamando,“Assassino!”. Agarrou Maria pelosombros e jogou-a no chão; ela caiudolorosamente. Altaïr decidiu fazer ovalentão pagar por aquilo.

— Minhas desculpas, Shalim,pela intromissão — disse ele.

Shahar sorriu.— Ah, está procurando Shalim?

Tenho certeza de que meu irmãoficaria feliz em se juntar a nós.

De cima, veio um ruído; Altaïrergueu a vista para uma galeria poronde Shalim se aproximava,

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sorrindo. Então dois guardasentraram pela porta aberta, prontospara se lançar sobre Maria, que,estando agora de pé, rodopiou, tiroua espada da bainha de um dosguardas e usou-a contra ele.

O sujeito gritou e caiu noinstante em que ela girou e,apoiando-se em um dos joelhos,golpeou outra vez, livrando-se dooutro. No mesmo instante, Shalimsaltou da galeria, parando no meioda sala, próximo ao irmão. Altaïrteve alguns segundos para vê-loslado a lado, e ficou impressionado

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com como os dois se pareciam. A seulado estava Maria, com a recém-adquirida espada pingando sangue eos ombros se movimentando, os doiscontra os gêmeos. Altaïr sentiu opeito se encher de algo que era parteorgulho e parte uma coisa à qual elepreferia não dar nome.

— Dois deles — disse ele —, enós dois.

Mais uma vez, porém, Mariacausou uma surpresa. Em vez delutar a seu lado, ela simplesmenteproduziu um som de desprezo e searremessou pela porta deixada aberta

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pelos guardas. Altaïr teve um ou doisinstantes para pensar se devia segui-la, mas os gêmeos o atacaram e eleestava lutando pela vida contra doishabilidosos espadachins.

A luta foi demorada e brutal, e osgêmeos começaram com confiança,certos de que logo derrubariam oAssassino. Afinal, havia dois deles eambos eram experientes com umaespada; estavam certos de que ocansariam. Altaïr, porém, lutava comum excesso de raiva e de frustração.Não sabia mais quem era amigo equem era inimigo. Fora traído —

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homens que supostamente eramamigos haviam se revelado inimigos.Aqueles que achava que poderiam setornar amigos — ou mais do queamigos — tinham rejeitado a mão deamizade que lhes oferecera. Ele sabiaapenas que combatia uma guerra naqual havia mais coisas em jogo doque ele imaginava, envolvendopoderes e ideologias que aindaprecisaria compreender. Tinha decontinuar lutando, manter-se emcombate, até chegar ao fim.

E, quando os corpos abatidos dosgêmeos finalmente jaziam a seus pés

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e ele viu os braços e as pernas dosmortos em ângulos errados, torcidos,os olhos arregalados, Altaïr nãosentiu qualquer prazer ougratificação com a vitória.Simplesmente sacudiu fora o sangueda espada, enfiou-a na bainha eseguiu para a sacada. Atrás de si,ouviu mais guardas chegandoquando subiu na balaustrada com osbraços estendidos. Abaixo dele, haviauma carroça, e pulou dentro dela,desaparecendo na cidade.

Mais tarde, quando voltou aoabrigo, Markos estava lá para recebê-

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lo, ansioso para ouvir a história dofalecimento dos irmãos. Em voltadeles, membros da Resistência seabraçavam, felizes com a notícia.Finalmente a Resistência poderiarecuperar o controle de Kyrenia. E, seconseguisse, era certo que haveriaesperança para toda a ilha.

Markos, radiante, lhe disse: —Está acontecendo, Altaïr. Os portosestão se esvaziando de navios dosTemplários. Kyrenia será livre. Talveztoda a região de Chipre.

Altaïr sorriu, incentivado pelaalegria nos olhos de Markos.

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— Sejam cautelosos —aconselhou.

Lembrou-se de que não estavanem perto de descobrir a localizaçãodo arquivo. A partida dosTemplários lhe dizia alguma coisa.

— Eles não deixariam seuarquivo desprotegido — supôs —,portanto não está aqui.

Markos pensou.— A maioria dos navios que

partiram daqui voltou para Limassol.Poderia estar lá?

Altaïr concordou com a cabeça.— Obrigado, Markos. Você tem

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servido muito bem ao país.— Vá com Deus, Altaïr.Mais tarde, o Assassino foi até

um navio que o levaria a Limassol.Ali, esperava desemaranhar omistério das intenções dosTemplários e arrancar a verdadesobre Alexander.

Meditou sobre isso durante atravessia, escrevendo em seu diário:Lembro-me do meu momento defraqueza, da minha confiançaabalada pelas palavras de AlMualim. Ele, que fora como um pai,revelou-se ser meu maior inimigo.

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Apenas a mais breve centelha dedúvida foi tudo o que ele precisoupara entrar de forma sorrateira emminha mente com aquele dispositivo.Mas conquistei seus fantasmas,recuperei minha autoconfiança e omandei embora deste mundo.

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Limassol continuava igual a quandoele a deixara, repleta de cavaleiros esoldados templários, um povoressentido comportando-se comonormal, com um descontentamentoem seus rostos, enquantocontinuavam levando a vida.

Sem perda de tempo, Altaïrlocalizou o novo abrigo daResistência, um armazémabandonado, e entrou, determinadoa confrontar Alexander com o quetinha descoberto na conversa que

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ouvira entre Bouchart e Shalim. Mas,ao entrar no prédio, foi Alexanderquem reagiu a ele.

— Para trás, traidor. Você traiu aResistência e vendeu a nossa causa.Esteve agindo esse tempo todo comBouchart?

Altaïr estava preparado para oconfronto com Alexander, talvez atémesmo para enfrentá-lo em umcombate, mas a visão do membro daResistência em tal estado o acalmou,fez com que pensasse que haviainterpretado mal o que vira. Mesmoassim, permaneceu cauteloso.

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— Eu ia perguntar o mesmo devocê, Alexander. Ouvi Bouchartpronunciar seu nome. Ele lheentregou um pacote, não foi?

Semicerrando os olhos,Alexander assentiu. A mobília noabrigo era escassa, mas havia umamesa próxima e, sobre ela, umpequeno saco que Altaïr viraBouchart entregar a Shalim emKyrenia.

— Sim — confirmou Alexander—, a cabeça do pobre Barnabé emum saco de juta.

Altaïr aproximou-se da coisa.

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Puxou o cordão que fechava o saco,o material do interior caiu e revelouser uma cabeça decapitada, mas...

— Não foi esse o homem que seencontrou comigo em Kyrenia —contestou Altaïr, olhandotristemente para a cabeça cortada.Esta começara a descolorir e exalarum cheiro forte, desagradável. Osolhos estavam semicerrados, a bocapendendo ligeiramente aberta, alíngua visível no interior.

— O quê? — surpreendeu-seAlexander.

— O verdadeiro Barnabé tinha

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sido assassinado antes de eu chegar esubstituído por um agente templárioque causou muito dano antes dedesaparecer — explicou Altaïr.

— Que Deus nos ajude. OsTemplários também foramigualmente brutais aqui, comcapitães percorrendo o mercado, osportos e a praça da Catedral,prendendo todos que consideravamconvenientes.

— Não se desespere — disseAltaïr. — Kyrenia já se livrou dosTemplários. Nós os expulsaremostambém de Limassol.

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— Você precisa tomar cuidado.A propaganda templária viroualguns dos meus homens contravocê, e muitos outros estãodesconfiados.

— Obrigado pelo aviso.Altaïr conduziu uma busca

infrutífera pela cidade atrás deBouchart, mas, quando voltou paracompartilhar com Alexander a mánotícia, encontrou o abrigo vazio,exceto por um bilhete. Estava sobre amesa e ele o apanhou. Alexanderqueria encontrá-lo no castelo. Pelomenos era o que dizia o bilhete.

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Ele pensou. Já tinha visto a letrade Alexander? Acreditava que não.De qualquer modo, o homem doBureau poderia tê-lo coagido aescrever o bilhete.

Ao seguir para o lugar doencontro, todos os seus instintos lhediziam que podia ser umaarmadilha, e foi com o coraçãoapertado que encontrou um corpono pátio onde eles deveriam seencontrar.

Não, pensou.Imediatamente, olhou em volta.

Os bastiões que cercavam o pátio

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estavam desertos. Aliás, a área todaestava mais quieta do que eleesperava. Ajoelhou-se ao lado docorpo, seus temores concretizadosquando o virou e viu os olhos semvida de Alexander olhando-o devolta.

Então, de cima, veio uma voz, eele se levantou, girando para avistaruma figura nos bastiões que davamvista para o pátio. Com a visãoofuscada pelo sol, ele protegeu osolhos com a mão, ainda semconseguir distinguir o rosto dohomem que estava parado lá. Seria

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Bouchart? Independentemente dequem fosse, usava a cruz vermelhados Cruzados e se mantinha de pécom as pernas ligeiramente afastadase as mãos nos quadris; cadacentímetro seu era como o de umherói conquistador.

O cavaleiro apontou para ocadáver de Alexander. Sua voz erairônica.

— Um amigo seu?Altaïr esperava em breve fazê-lo

pagar pelo escárnio. Agora o homemmudava ligeiramente de posição eAltaïr finalmente conseguiu vê-lo

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com clareza. Era o espião. O tal queem Kyrenia dissera se chamarBarnabé — que era responsável porter matado o verdadeiro Barnabé.Outro homem bom morto. Altaïresperava fazer com que ele pagassepor isso também. Seus punhos sefecharam e os músculos dasmandíbulas saltaram. Por enquanto,porém, o espião o mantinha emdesvantagem.

— Você — gritou ele acima. —Não sei o seu nome.

— O que foi que eu lhe disse emKyrenia? — perguntou com uma

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risadinha o cavaleiro... O espião. —Barnabé, não foi?

De repente, uma forte gritariacomeçou; Altaïr se virou e viu umgrupo de cidadãos entrar no pátio.Fora enganado. O espião haviaespalhado mentiras contra ele. AgoraAltaïr estava levando a culpa peloassassinato de Alexander, e amultidão fora conduzida para chegarno momento exato. Era umaarmadilha e ele tinha caídodireitinho, apesar do instinto ter ditoa ele que fosse cauteloso.

Novamente, praguejou contra si

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mesmo. Olhou em volta. As paredesde arenito assomavam sobre ele.Uma série de passos o levaria até osbastiões, mas, lá no topo, havia oespião, rindo de orelha a orelha,desfrutando o espetáculo que estavapara começar de fato à medida queos cidadãos iam depressa em direçãoa Altaïr, enraivecidos, com umanecessidade de vingança e de justiçaardendo nos olhos.

— Eis o traidor!— Amarrem-no!— Você pagará pelos seus crimes!Altaïr manteve-se parado. O

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primeiro impulso foi puxar a espada,mas não: não poderia matar nenhumcidadão. Fazer isso destruiriaqualquer confiança que tivessem naResistência ou nos Assassinos. Tudoque podia fazer era declarar suainocência. Mas não daria paraargumentar com aquelas pessoas.Procurou desesperadamente umaresposta.

E a encontrou.A Maçã.Foi como se ela o chamasse. De

repente, ele ficou ciente da presençadela na mochila às suas costas, então

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tirou-a e a manteve de frente para amultidão.

Não fazia ideia do que tentavafazer com aquilo e não tinha certezado que aconteceria. Sentiu que aMaçã entenderia sua intenção. Masera apenas uma sensação. Umapercepção. Um instinto.

E ela entendeu. Pulsou e brilhouem suas mãos. Emitiu uma estranhaluz transparente que pareceu seinstalar em volta da multidão,imediatamente pacificada, congeladano mesmo lugar. Altaïr viu o espiãotemplário recuar, chocado. Sentiu-se

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todo-poderoso por um instante, e,naquele momento, reconheceu nãoapenas a sedutora fascinação daMaçã e a força divina que conferia,mas o terrível perigo que elacontinha — nas mãos daqueles que ausariam para o mal, é claro, mastambém com ele. Até mesmo Altaïrnão era imune à sua tentação. Usou-a naquele momento, mas prometeu asi mesmo que jamais voltaria a usá-la, pelo menos não por motivoscomo aquele.

Então dirigiu-se à multidão.— Armand Bouchart é o homem

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responsável pela miséria de vocês —exclamou. — Ele contratou essehomem para envenenar a Resistênciacontra si mesma. Vão embora daquie reúnam seus homens. Chipre seránovamente de vocês.

Por mais ou menos ummomento, ele imaginou se aquilotinha ou não funcionado. Quandobaixasse a Maçã, a multidão furiosasimplesmente retomaria olinchamento? Mas ele a baixou, e amultidão não o atacou. As palavrasfizeram com que as pessoasmudassem de opinião. As palavras as

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tinham convencido. Sem maiscerimônia, elas viraram e saíram dopátio, deixando-o tão rapidamentequanto tinham chegado, masdominadas, até mesmo arrependidas.

Mais uma vez, o pátio estavavazio e, durante alguns segundos,Altaïr olhou a Maçã em sua mão,observou-a esmorecer, sentindoadmiração por ela, com medo dela,atraído por ela. Então guardou-a emsegurança, no momento em que oespião comentou: — Um brinquedoe tanto esse que tem aí. Você seimportaria em emprestá-lo?

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Altaïr tinha certeza de uma coisa:o Templário teria de tirar a Maçã deseu cadáver. Sacou a espada, prontopara o combate, enquanto oTemplário sorria, antecipando a lutaadiante, prestes a descer do bastião,quando...

Parou.E o sorriso escorreu de seu rosto

como óleo derramado.Uma lâmina salientava-se de seu

peito. O sangue brotou da túnicabranca, misturando-se com overmelho da cruz que ele usava.Olhou abaixo para si mesmo,

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confuso, como se perguntando deque modo a arma tinha chegado ali.Abaixo dele, no pátio, Altaïr seperguntava a mesma coisa. Então oTemplário oscilou e Altaïr viu umafigura atrás dele. Uma figura quereconheceu: Maria.

Ela sorriu, empurrou o espiãoadiante para o muro do pátio edeixou que caísse pesadamente nochão lá embaixo. Parada ali, com aespada pingando sangue, ela sorriupara Altaïr, sacudiu-a, depoisrecolocou-a na bainha.

— Então — disse ela —, você

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tinha a Maçã o tempo todo.Ele confirmou com a cabeça.— E agora você viu que tipo de

arma poderia se tornar em mãoserradas.

— Não sei se chamaria suas mãosde certas.

— Não. Tem razão. Vou destruí-la... Ou escondê-la. Até poderencontrar o arquivo, não sei dizer.

— Bem, não procure mais —declarou ela. — Você está paradosobre ele.

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Nesse instante, houve um grito altona via de acesso ao pátio e um grupode soldados dos Templários entroucorrendo, com olhos perigososbrilhando atrás dos visores dasarmaduras.

Lá de cima, Maria chamou: —Por aqui... depressa!

Ela se virou e disparou pelosbastiões até uma porta. Altaïr estavapara segui-la quando os três homenso atacaram, e ele praguejou,enfrentando-os com um repicar de

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aço, perdendo Maria de vista outravez.

Eles eram habilidosos e haviamtreinado muito — tinham músculosno pescoço para provar —, masmesmo três cavaleiros não erampáreo para o Assassino, que dançouagilmente em volta deles até os trêscaírem mortos a seus pés.

Olhou para cima. Os bastiõesestavam vazios. Havia apenas ocorpo do espião templário no topodos degraus e nenhum sinal deMaria. Subiu os degraus aos pulos,parando um instante para olhar

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abaixo para o morto. Se o serviço deum agente era causar um racha noinimigo, então esse fizera bem seutrabalho; quase levara as pessoas a sevoltarem contra a Resistência,entregando-as nas mãos dosTemplários — que não planejavaminstruí-las, mas subjugá-las econtrolá-las.

Altaïr correu, chegando à portana extremidade. Aquela, então, era aentrada para o prédio que abrigava oarquivo. Entrou.

A porta se fechou ruidosamenteàs suas costas. Ele se viu em uma

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passagem que corria ao longo daparede de um poço cavernoso quelevava para baixo. Tochaspenduradas forneciam uma escassailuminação, lançando sombrasdançantes nas cruzes templárias quedecoravam as paredes. Haviasilêncio.

Mas, nem tanto.Vindos de algum lugar distante

lá embaixo, ele podia ouvir gritos.Guardas, talvez, alertados dapresença de... Maria? Um espíritolivre como o dela jamais poderiaaderir a ideologias templárias. Ela

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agora era uma traidora. Havia agidoao modo dos Assassinos: matara umTemplário e mostrara a umAssassino a localização do arquivo.Eles a matariam no ato. Embora, éclaro, pelo que ele vira dela em umcombate, isso fosse mais fácil de dizerdo que de fazer.

Ele começou a descer, seguindopelos degraus escuros,ocasionalmente saltando sobrebrechas na obra de pedra talhadacaindo aos pedaços, até atingir umacâmara com chão arenoso.Chegando para encontrá-lo havia

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três guardas, e ele livrou-se doprimeiro com uma faca arremessadade imediato, driblou o segundo eenfiou a espada no pescoço dohomem. Jogou o corpo sobre oterceiro, que caiu, e, quando os doisatingiram o chão, Altaïr acabou comeles. Investigando maisprofundamente, ouviu água correntee se descobriu sobre uma ponte quepassava entre duas quedas-d’água. Osom foi suficiente para abafar oruído de sua chegada dos doisguardas na extremidade oposta daponte. Despachou-os com dois

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golpes de espada.Deixou-os para trás,

continuando a descer até o interiorda... biblioteca. Agora ele viuestantes de livros, salas repletas delas.Era isso. Ele estava lá. Não tinhacerteza do que esperava, mas haviamenos livros e artefatos do queimaginara. Isso comporia o famosoarquivo de que ouvira falar?

Mas não tinha tempo para parare inspecionar a descoberta.Conseguia ouvir vozes, o sompercussivo de espadas se chocando:dois combatentes, um dos quais era

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inconfundivelmente feminino.Adiante, um enorme arco estava

decorado em seu ponto mais altocom a cruz templária. Passou por elee entrou em uma ampla câmara, comuma área cerimonial no centrocircundada por um emaranhado decolunas de pedra. Ali no meioestavam Bouchart e Maria, lutando.Ela estava contendo o Templário,mas apenas por pouco tempo, pois,quando Altaïr entrou na câmara, elea golpeou e ela caiu sobre o chão depedra, berrando de dor.

Bouchart deu-lhe um olhar

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indiferente, já se virando paraencarar Altaïr, que não fizeranenhum som ao entrar na câmara.

— O insensato imperadorComneno — anunciou o Templário,desdenhando do antigo líder cipriota— era um idiota, mas era o nossoidiota. Por quase uma década,atuamos sem interferência nesta ilha.Nosso arquivo era o segredo maisbem guardado de Chipre.Infelizmente, mesmo os planos maisbem-feitos não foram imunes àidiotice de Isaac.

Por quase uma década, pensou

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Altaïr. Mas então... Ele deu umpasso à frente, olhando de Bouchartpara Maria.

— Ele irritou o rei Ricardo etrouxe o inglês perigosamente paraperto demais. É isso?

Como Bouchart não fez qualquermovimento para detê-lo, Altaïratravessou a área e curvou-se sobreMaria. Ergueu seu rosto, procurandosinais de vida.

Bouchart falava, desfrutando osom de sua própria voz.

— Felizmente, convencemosRicardo a nos vender a ilha. Foi a

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única maneira de desviar suaatenção.

Os olhos dela tremularam.Gemeu. Viva. Suspirando aliviado,Altaïr pousou delicadamente acabeça dela sobre a pedra e levantou-se para enfrentar Bouchart, que oestivera observando com um sorrisoindulgente.

— Compraram o que jácontrolavam... — rebateu Altaïr. Eleagora entendia. Os Templárioshaviam comprado Chipre do reiRicardo para evitar que o arquivodeles fosse descoberto. Não admirava

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que tivessem sido tão agressivos empersegui-lo assim que chegou à ilha.

Bouchart confirmou que eleestava certo.

— E olhe aonde isso nos trouxe.Desde quando você chegou e enfiouo nariz em muitos cantos escuros, oarquivo não estava em segurança.

— Gostaria de dizer que sintomuito. Mas sou inclinado a obter oque quero — rebateu Altaïr,parecendo confiante, mas sabendoque algo não estava muito certo.

Sem dúvida, Bouchart estavasorrindo.

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— Ora, não será desta vez,Assassino. Não agora. Nossopequeno desvio para Kyrenia nosdeu tempo suficiente para desmontaro arquivo e transferi-lo.

Claro. Não era o arquivo escassoque ele vira na descida. Eram osrestos indesejáveis de um arquivo.Eles o haviam despistado com osassuntos em Kyrenia e usaram aoportunidade para transferi-lo.

— Vocês não estavamembarcando artefatos para Chipre,mas tirando-os daqui — concluiuAltaïr, quando tudo se tornou claro.

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— Exatamente — concordouBouchart, com um cumprimento decabeça. — Mas nem tudo teve de ir...Creio que deixaremos você aqui.

Bouchart saltou à frente, dandoum golpe com a espada, e Altaïr odesviou. O Templário estava dispostoe aparava golpes, sustentando seuataque, e Altaïr foi forçado a recuaro pé de apoio, defendendo uma sériede investidas e golpes cortantes.Bouchart era habilidoso, isso eracerto. Também era veloz, confiandomais na graça e no trabalho dos pésdo que na força bruta que a maioria

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dos Cruzados usava em uma luta deespadas. Mas esperava vencer, evencer rapidamente. Seu desesperoem conquistar o Assassino levava-o aesquecer as exigências físicas da luta,de modo que Altaïr se defendia,deixando-o se aproximar, e absorviaos ataques e, de vez em quando, faziaseus próprios movimentos ofensivos,abrindo ferimentos. Um corte aqui,um arranhão ali. O sangue começoua escorrer por baixo da cota demalha de Bouchart, que pendiapesadamente em seu corpo.

Enquanto combatia, Altaïr

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pensou em Maria e naqueles quemorreram por ordem dosTemplários, mas deteve essasmemórias, transformando-as emdesejo de vingança. Em vez disso,deixou que elas lhe dessemdeterminação. O sorriso sumira dorosto de Bouchart e, enquanto Altaïrpermanecia em silêncio, o Grão-Mestre Templário grunhia deexaustão — e de frustração. Osmovimentos de sua espada erammenos coordenados e fracassavamem encontrar seu alvo. Suor e sanguebrotavam dele. Seus dentes estavam

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expostos.Altaïr abriu mais ferimentos,

cortando-o na testa, de modo que osangue corria para seus olhos e elepassava a manopla pelo rosto paralimpá-lo. Agora Bouchart malconseguia levantar a espada; o corpoestava curvado, as pernas bêbadas eos ombros pesados enquanto lutavapara tomar fôlego, apertando osolhos através de uma máscara desangue para encontrar o Assassino,enxergando apenas sombras eformas. Ele agora era um homemderrotado. O que significava que era

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um homem morto.Altaïr não brincou com ele.

Esperou até não haver mais perigo.Até ter certeza de que a fraqueza deBouchart não era fingida.

Então avançou para cima dele.Bouchart caiu no chão e Altaïr

ajoelhou-se a seu lado. O Templárioo olhou, e Altaïr viu respeito em seusolhos.

— Ah. Você é uma... uma honrapara o seu Credo — ofegouBouchart.

— E você se desviou do seu.— Não me desviei... Eu o

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expandi. O mundo é maiscomplicado do que a maioria ousaadmitir. E se você, Assassino... Sevocê souber mais do que comomatar, talvez entenda isso.

Altaïr franziu a testa.— Guarde para si mesmo seu

discurso sobre virtude. E morrasabendo que eu nunca deixarei aMaçã, o Pedaço do Éden, cair emoutras mãos além das minhas.

Ao dizer isso, ele sentiu um calornas costas, como se ela tivessedespertado.

Bouchart sorriu ironicamente.

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— Mantenha-a próxima, Altaïr.Chegará à mesma conclusão quenós... no devido tempo...

E morreu. Altaïr estendeu a mãopara fechar os olhos de Bouchart nomomento em que o prédio sacudiu eele foi atingido por uma chuva deescombros. Disparo de canhão. OsTemplários estavam bombardeandoo arquivo. Isso fazia todo o sentido.Não queriam deixar nada para trás.

Ele se arrastou até Maria ecolocou-a de pé. Por um momento,trocaram olhares, e algumsentimento velado passou entre eles.

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Em seguida ela puxou o braço dele eo conduziu para fora da enormecâmara no momento em que foisacudida por mais disparos decanhão. Altaïr virou-se a tempo dever duas das belas colunas seespatifarem e caírem, grandes alas depedra se despedaçando no chão.Então ele passou a seguir Mariaenquanto ela corria, saltando doisdegraus por vez enquanto subiam devolta pelo poço do arquivodestruído. Este foi abalado por outraexplosão, e alvenaria desabou sobre apassagem, mas eles continuaram

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correndo, mantendo a cabeçaabaixada até alcançarem a saída.

Os degraus tinham sidodestruídos e Altaïr os escalou,arrastando Maria atrás de si até umaplataforma. Forçaram o caminhoadiante até saírem para a luz do dia,enquanto o bombardeio prosseguia eo prédio parecia desabar, forçando-os a saltar para a segurança. E alipermaneceram por algum tempo,respirando ar puro, contentes porestarem vivos.

*

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Mais tarde, quando os navios dosTemplários tinham partido, levandocom eles o restante do preciosoarquivo, Altaïr e Maria caminhavamsob a luz esmaecida no porto deLimassol, ambos perdidos empensamentos.

— Tudo pelo que trabalhei naTerra Santa, não quero mais — disseMaria, após uma longa pausa. — Etudo de que abri mão para me juntaraos Templários... Fico imaginandoaonde foi tudo isso, e se devo tentarencontrar novamente.

— Vai voltar para a Inglaterra?

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— perguntou Altaïr.— Não... Já estou muito longe de

casa, continuarei para leste. Para aÍndia, talvez. Ou até cair pela beiramais distante da Terra... E você?

Altaïr pensou, desfrutando aproximidade entre eles.

— Por um longo tempo, sob asordens de Al Mualim, pensei queminha vida tivesse atingido o limite,e que meu único dever era mostraraos outros o mesmo precipício queeu havia descoberto.

— Já senti a mesma coisa—concordou ela.

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Ele tirou a Maçã da mochila eficou segurando-a para examiná-la.

— Por mais terrível que esteartefato seja, ele contém maravilhas...Gostaria de entendê-lo da melhormaneira possível.

— Você caminha sobre umalinha tênue, Altaïr.

Ele assentiu lentamente.— Eu sei. Mas fui estragado pela

curiosidade, Maria. Quero conheceras melhores mentes, explorar asbibliotecas do mundo, e aprendertodos os segredos da natureza e douniverso.

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— Tudo em uma únicaexistência? É um pouco ambicioso...

Ele deu uma risadinha.— Quem pode dizer? Pode ser

que apenas uma vida seja o bastante.— Talvez. E aonde você irá

primeiro?Olhou para ela, sorrindo,

sabendo apenas que a queria peloresto de sua jornada.

— Leste... — disse ele.

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P A R T E Q U A T R O

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15 de julho de 1257

Maffeo tem o hábito de às vezes meolhar de modo estranho. É como seele acreditasse que não estou dandoa ele todas as informaçõesnecessárias. E tem feito isso váriasvezes durante nossas sessões denarração de história. Querobservando o mundo passar nomovimentado mercado de Masyaf,quer desfrutando as correntes de arfresco nas catacumbas embaixo dacidadela ou caminhando ao longodos bastiões, vendo os pássaros rodar

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e mergulhar nos vales, de vez emquando ele me olha como se dissesse:“O que você não está me contando,Niccolò?”

Bem, a resposta, claro, é nada,independente da minha constantesuspeita de que a história finalmentevai nos envolver de alguma maneira,que estou sendo informado sobreessas coisas por algum motivo. Issoenvolveria a Maçã? Ou talvez osdiários dele? Ou o códex, o livro noqual ele concentrou suas descobertasmais significativas?

Mesmo assim, Maffeo me fixa

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com o Olhar.— E?— E o quê, irmão?— Altaïr e Maria foram para

leste?— Maffeo, Maria é a mãe de

Darim, o cavalheiro que nosconvidou para vir aqui.

Observei Maffeo virar a cabeçapara o sol e fechar os olhos,deixando que ele esquentasse seurosto enquanto absorvia essainformação. Tenho certeza de quetentava conciliar a imagem do Darimque conhecíamos, um homem na

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casa dos 60 anos com o rosto gastopela exposição ao tempo para provarisso, com alguém que teve uma mãe— uma mãe como Maria.

Deixei-o refletir, sorrindoindulgentemente. Do mesmo modocomo Maffeo me importunava comperguntas durante a história, é claroque eu importunara o Mestre, se bemque com muito mais deferência.

— Onde está a Maçã agora? —eu perguntara a ele certa vez.

Para ser honesto, eu secretamenteesperara que em algum momento elea exibiria. Afinal, ele falara nela com

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termos muito reverenciosos, mesmoàs vezes parecendo amedrontado.Naturalmente, eu esperara vê-la.Talvez para entender seu fascínio.

O triste foi que isso nãoaconteceu. Ele recebeu minhapergunta com uma série de ruídosimpacientes. Eu não deveria meocupar com pensamentos sobre aMaçã, ele alertara, mexendo o dedo.Em vez disso, deveria me ocupar como códex. Pois naquelas páginasestavam o segredo da Maçã, disse ele,mas livres dos efeitos maléficos doartefato.

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O códex. Sim, eu decidira, era ocódex que se revelaria significativono futuro. Significativo até mesmono meu futuro.

Mas, de qualquer forma: de voltaaqui e agora, observei Maffeomeditar sobre o fato de que Darimera filho de Altaïr e Maria; que, apóso início adverso, primeiro haviasurgido respeito entre a dupla, depoisatração, amizade, amor e...

— Casamento? — completouMaffeo? — Ela e Altaïr se casaram?

— Certamente. Uns dois anosapós os acontecimentos que descrevi,

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eles se casaram em Limassol. Acerimônia foi realizada lá com certograu de respeito aos cipriotas quehaviam oferecido a ilha como basepara os Assassinos, tornando-a umafortaleza-chave para a Ordem.Acredito que Markos foi umconvidado de honra, e um brinde, decerto modo irônico, foi feito aospiratas, os quais, inadvertidamente,tinham sido responsáveis porapresentá-lo a Altaïr e Maria. Logoapós a cerimônia, o Assassino e suaesposa voltaram para Masyaf, ondenasceu Darim, o filho deles.

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— O único filho?— Não. Dois anos após o

nascimento de Darim, Maria deu àluz outro, Sef, irmão de Darim.

— E o que foi feito dele, irmão?— Tudo a seu tempo, irmão.

Tudo a seu tempo. Por enquanto,basta dizer que esse representouprincipalmente um período pacífico efrutífero para o Mestre. Ele falapouco nisso, como se fosse preciosodemais para trazer à luz, mas grandeparte está registrada no códex. Otempo todo, ele estava fazendo novasdescobertas e recebendo novas

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revelações.— Tais como?— Ele as registrou em seus

diários. Ali você pode ver não apenascompostos para novos venenosAssassinos, mas também pararemédios. Descrições de conquistasainda por vir e catástrofes ainda poracontecer; projetos para armaduras epara novas lâminas ocultas, inclusiveuma que dispara projéteis. Elemeditou sobre a natureza da fé esobre os primórdios da humanidade,forjada no caos, a ordem impostanão por um ser supremo, mas pelo

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homem.Maffeo pareceu chocado.— “Forjada no caos, a ordem

imposta não por um ser supremo...”— As questões Assassinas sempre

tratavam da fé — falei, não sem umtraço de pomposidade. — Mesmo adele própria.

— Como assim?— Bem, o Mestre escreveu sobre

as contradições e as ironias dosAssassinos. Como buscam a paz, masusam a violência e a matança comoforma de obtê-la. Como procuramabrir a mente dos homens, mas

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exigem obediência a um mestre. OAssassino ensina os perigos de seacreditar cegamente em féestabelecida, mas exige que osseguidores da Ordem sigaminquestionavelmente o Credo.

“Ele também escreveu sobreAqueles Que Vieram Antes, osmembros da primeira civilização, quedeixaram para trás os artefatoscaçados igualmente por Templários eAssassinos.

— E a Maçã é um deles?— Exatamente. Algo de imenso

poder. Disputado pelos Cavaleiros

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Templários. As experiências dele emChipre haviam lhe mostrado que osTemplários, em vez de tentar obter ocontrole pelos meios normais,optaram pelos subterfúgios comoestratégia. Altaïr concluiu que essetambém deveria ser o modo dosAssassinos.

“A Ordem não deveria maisconstruir grandes fortalezas eexecutar dispendiosos rituais. Estes,decidiu, não eram o que umAssassino fazia. O que faz umAssassino é sua adesão ao Credo. Pormais irônico que seja, isso

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originalmente teve o apoio de AlMualim. Uma ideologia quedesafiasse as doutrinas estabelecidas.Uma ideologia que incentivasse osacólitos a irem além deles mesmos etornarem possível o impossível.Foram esses princípios que Altaïrdesenvolveu e levou consigo nosanos que passou viajando pela TerraSanta, firmando a Ordem einstilando os valores que aprenderacomo um Assassino. Somente emConstantinopla suas tentativas depromover o estilo Assassinofracassaram. Ali, em 1204,

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ocorreram grandes revoltas quando opovo se levantou contra o imperadorbizantino Alexius, e não muito apósos Cruzados terem invadido a cidadee iniciado o saque. Em meio a taltumulto constante, Altaïr foi incapazde pôr em prática seus planos e foiembora. Esse tornou-se um de seuspoucos fracassos durante aquela era.

“Gozado; quando me contouisso, ele me deu um olhar estranho.

— Porque nosso lar éConstantinopla?

— Talvez. Terei de pensar nesseassunto depois. É possível que o

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chamado para virmos deConstantinopla e a tentativa dele deestabelecer lá uma guilda não tenharelação...

— O único fracasso dele, vocêdisse?

— Certamente. De todos osoutros modos, Altaïr fez mais parapromover a Ordem do quepraticamente qualquer líder antesdele. Apenas o predomínio de GengisKhan evitou a continuidade de suaobra.

— Como assim?— Cerca de quarenta anos atrás,

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Altaïr escreveu sobre isso em seucódex. Como uma onda escuraerguia-se no leste. Um exército de taltamanho e poder que o mundo todoficou prontamente preocupado.

— Ele se referia ao ImpérioMongol? — perguntou Maffeo. — Aascensão de Gengis Khan?

— Exatamente — respondi. —Darim estava com 20 e poucos anose era um perfeito arqueiro, e foi porisso que Altaïr pegou Maria e o filhoe partiu de Masyaf.

— Para enfrentar Khan?— Altaïr desconfiava que o

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avanço de Gengis Khan estaria sendoajudado por outro artefato,semelhante à Maçã. Talvez a Espada.Ele precisava determinar se era esse ocaso, além de deter a inexorávelmarcha de Khan.

— Como ficou Masyaf?— Altaïr deixou Malik como

encarregado em seu lugar. Tambémdeixou Sef para trás, para ajudar acuidar dos negócios. Na ocasião, Seftinha mulher e duas filhas jovens;Darim não tinha filhos, e elesficaram fora por muito tempo.

— Quanto tempo?

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— Ele ficou fora por dez anos,irmão, e quando retornou a Masyaf,tudo lá havia mudado. Nada seriacomo antes. Quer ouvir a respeito?

— Por favor, continue.

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49

À distância tudo parecia bem emMasyaf. Nenhum deles — nemAltaïr, Maria ou Darim — faziaqualquer ideia do que estava por vir.

Altaïr e Maria cavalgavam umpouco adiante, lado a lado, como erade sua preferência, felizes porestarem um com o outro e contentespor estarem no campo de visão decasa, cada ondulação com o ritmolento e constante de seus cavalos.Ambos cavalgavam empertigados eorgulhosos na sela a despeito da

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longa e árdua jornada. Podiam estaravançados nos anos — ambosestavam na metade da casa dos 60anos —, mas isso não fazia com quefossem vistos com postura relaxada.Contudo, vinham lentamente: suasmontarias foram escolhidas pelaforça e pela resistência, e não pelavelocidade, e presos a cada umadelas estava um asno carregado comsuprimentos.

Atrás deles vinha Darim, queherdara os olhos brilhantes edançantes de sua mãe, a cor e aestrutura corporal do pai, e a

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impulsividade de ambos. Ele gostariade galopar à frente e subir asencostas da aldeia até a cidade paraanunciar a volta de seus pais, mas,em vez disso, trotava humildementeatrás, respeitando o desejo do pai deuma modesta volta ao lar. De vez emquando, afugentava as moscas dorosto com o cabo do chicote epensava que um galope teria sido ométodo mais eficaz de se livrar delas.Imaginava se eles estavam sendoobservados dos pináculos dafortaleza, de sua torre de defesa.

Passando os estábulos,

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atravessaram o portão de madeira eentraram no mercado, achando-oinalterado. Chegaram à aldeia, ondecrianças correram animadas em voltadeles pedindo guloseimas — criançasnovas demais para conhecerem oMestre. Aldeões mais velhos, porém,o reconheceram, e Altaïr notou queobservavam atentamente o grupo,não com ares de boas-vindas, mascom cautela. Rostos viraram quandoeles tentavam fazer contato visual. Aaflição apertou o corpo deles.

Agora uma figura que eleconhecia se aproximava,

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encontrando-os no pé da encostapara a cidadela. Swami. Umaprendiz, quando ele partiu, umdaqueles que tinham gosto pelocombate, mas não o suficiente para oaprendizado. Ele conseguira umacicatriz naquele intervalo de dezanos, que enrugava quando ele ria,um largo sorriso que ia até quaseperto dos olhos. Talvez já estivessepensando nas aulas que teria deaturar com Altaïr, agora que elevoltara.

Mas ele as aturaria, pensouAltaïr, o olhar passando por Swami e

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indo ao castelo, onde uma enormebandeira ostentando a marca dosAssassinos balançava com a brisa.Ele havia decretado a retirada dabandeira: os Assassinos estavam selivrando de tais emblemas vazios.Mas, evidentemente, Malik decidiraque ela deveria ficar hasteada. Eleseria outro que teria de aturar nofuturo alguns ensinamentos.

— Altaïr — disse Swami com umcurvar da cabeça, e Altaïr decidiuignorar a falha do homem em sedirigir a ele usando seu títulocorreto. Pelo menos por enquanto.

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— Que agradável vê-lo. Espero quesuas viagens tenham sido frutíferas.

— Enviei mensagens — lembrouAltaïr, inclinando-se à frente em suasela. Darim foi para o outro ladodele, de modo que os três formaramuma linha, olhando abaixo paraSwami. — A Ordem não foiinformada do meu progresso?

Swami sorriu subservientemente.— Claro, claro. Perguntei apenas

por cortesia.— Esperava ser recebido por Rauf

— disse Altaïr. — Ele está maisacostumado a atender minhas

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necessidades.— Ah, pobre Rauf. — Swami

olhou para o chão, pensativo.— Há algo errado?— Receio que Rauf tenha

morrido da febre em anos passados.— Por que não fui informado?Diante disso, Swami

simplesmente deu de ombros. Umdar de ombros insolente, como se elenão soubesse e nem ligasse.

Altaïr enrugou os lábios,decidindo que alguém tinha algumaexplicação a dar, desde que não fosseaquele patife.

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— Então vamos. Nossosaposentos estão prontos?

Swami baixou novamente acabeça.

— Receio que não, Altaïr. Atévocê poder ser acomodado, pediram-me que o levasse a uma residência dolado ocidental da fortaleza.

Altaïr olhou primeiro paraDarim, que tinha a testa franzida,depois para Maria, que o fitava comolhos que diziam Cuidado. Algumacoisa não estava certa.

— Está bem — disse Altaïrcautelosamente, e eles desmontaram.

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Swami gesticulou para algunscriados, que se adiantaram parapegar os cavalos, e todos iniciaram asubida até o portão da cidadela. Alios guardas inclinaram a cabeçarapidamente, como se, tal como osaldeões, quisessem evitar o olhar deAltaïr, mas, em vez de seguiremacima para o antemuro, Swamiconduziu-os para dar a volta pelolado de fora da linha de defesainterna. Altaïr olhou os muros dacidadela estendendo-se nas alturasacima deles, querendo ver o coraçãoda Ordem, sentindo a irritação

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aumentar — mas algum instinto lhedisse para aguardar suaoportunidade. Quando chegaram àresidência, esta era um prédio baixoafundado na pedra, com umpequeno arco como entrada edegraus levando abaixo a umvestíbulo. A mobília era escassa e nãohavia empregados para recebê-los.Altaïr estava acostumado aacomodações modestas — aliás, eleas exigia —, mas aqui em Masyaf,como Mestre Assassino, esperava queseus alojamentos fossem na torre doMestre ou equivalente.

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Indignado, virou-se, prestes aprotestar com Swami, quepermanecia no vestíbulo com omesmo sorriso obsequioso no rosto,quando Maria agarrou seu braço e oapertou, impedindo-o.

— Onde está Sef? — perguntouela a Swami. Maria sorriaagradavelmente, mas Altaïr sabia queela detestava Swami. Detestava-ocom todas as fibras de seu ser. — Eugostaria que Sef viesse aquiimediatamente, por favor.

Swami pareceu aflito.— Lamento por Sef não estar

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aqui. Ele teve de viajar para Alamut.— E a família dele?— Está em sua companhia.Maria lançou um olhar

preocupado para Altaïr.— Que assunto meu irmão foi

tratar em Alamut? — indagourispidamente Darim, ainda maisdesconcertado do que seus pais porcausa dos apertados aposentos.

— Infelizmente, não sei —respondeu Swami.

Altaïr inspirou fundo eaproximou-se dele. A cicatriz domensageiro não se enrugava mais,

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pois o sorriso bajulador havia seesvaído de seu rosto. Talvez ele derepente tivesse se lembrado de queaquele era Altaïr, o Mestre, cujahabilidade em batalha só eraigualada pela sua impetuosidade nasala de aula.

— Informe a Malikimediatamente que quero vê-lo —grunhiu Altaïr. — Diga-lhe que temalgumas explicações a dar.

Swami engoliu em seco, torcendoas mãos um tanto teatralmente.

— Malik está na prisão, Mestre.Altaïr sobressaltou-se.

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— Na prisão? Por quê?— Não tenho liberdade para

dizer, Mestre. Foi convocada umareunião do Conselho para amanhãde manhã.

— Conselho?— Com Malik preso, foi formado

um Conselho para supervisionar aOrdem, de acordo com o estatuto daIrmandade.

Isso era verdade, mas, mesmoassim, Altaïr abateu-se.

— E quem é o presidente?— Abbas — respondeu Swami.Altaïr olhou para Maria, cujos

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olhos agora revelavam umapreocupação real. Estendeu a mãopara segurar o braço dele.

— E quando eu encontro esseConselho? — perguntou Altaïr. Suavoz era calma, desmentindo atempestade em seu estômago.

— Amanhã, o Conselho gostariade ouvir o relato de sua viagem enotificá-lo sobre os acontecimentosda Ordem.

— E, depois disso, o Conselhoserá dissolvido — falou Altaïr comfirmeza. — Diga ao Conselho quenós o encontraremos ao nascer do

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sol. Diga-lhe que consultem osestatutos. O Mestre voltou e desejareassumir a liderança.

Swami fez uma reverência e saiu.A família esperou até ele sumir

antes de deixar aflorar os verdadeirossentimentos, quando Altaïr se dirigiua Darim e, com urgência na voz,disse-lhe: — Cavalgue até Alamut.Traga Sef de volta. Sua presença énecessária aqui imediatamente.

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No dia seguinte, Altaïr e Maria sepreparavam para seguir o caminhoda residência até a torre principal,quando foram interceptados porSwami, que insistiu em conduzi-lospessoalmente através do antemuro.Ao contornarem o muro, Altaïr ficouimaginando por que não ouvia oruído habitual de exercícios com aespada e de treinamento que vinhado outro lado. Ao chegarem aopátio, ele teve a resposta.

Era porque não havia exercícios

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com espada ou treinamentos. Agoraestava quase deserto onde antes asáreas internas da cidadela tinhamvibrado com atividade e vida,ecoando o repicar metálico de golpesde espadas, os gritos e osxingamentos dos instrutores. Eleolhou em volta para as torres que oscontemplavam lá de cima, e viujanelas pretas. Guardas nos bastiõesolharam abaixo impassíveis para eles.O local de iluminação e treinamento— o pouco de conhecimentoAssassino que ele deixara — haviadesaparecido. O humor de Altaïr

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piorou ainda mais quando começoua se dirigir à torre principal, mas, emvez disso, Swami o encaminhou aosdegraus que levavam acima, à sala dedefesa, e, depois, ao salão principal.

Ali, o Conselho estava reunido.Dez homens sentavam-se em ladosopostos de uma mesa com Abbas nacabeceira, dois assentos vazios paraAltaïr e Maria: cadeiras de madeiracom espaldar alto. Eles se sentaram e,pela primeira vez desde que entraramno ambiente, Altaïr olhou paraAbbas, seu velho antagonista. Viunele algo além de fraqueza e

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ressentimento. Viu um rival. E, pelaprimeira vez desde a noite em queAhmad fora a seu quarto para tirar aprópria vida, ele não mais secompadeceu de Abbas.

Altaïr olhou em volta para oresto da mesa. Exatamente comohavia imaginado, o novo Conselhoera formado na maioria pormembros indecisos e coniventes daOrdem. Aqueles que Altaïr teriapreferido expulsar. Aparentemente,todos haviam aderido ao Conselhoou foram recrutados por Abbas.Característico deles era Farim, o pai

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de Swami, que o observava por baixode sobrancelhas encapuzadas, com oqueixo enfiado no peito. Seu amplopeito. Eles engordaram, pensouAltaïr, desdenhosamente.

— Bem-vindo, Altaïr —exclamou Abbas. — Tenho certezade que falo por todos quando digoque estou ansioso para ouvir suasfaçanhas no leste.

Maria inclinou-se à frente para sedirigir a ele.

— Antes de contarmos algumacoisa sobre nossas viagens, Abbas,gostaríamos, por favor, de algumas

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respostas. Deixamos Masyaf em boaordem. Aparentemente, aquelespadrões foram relaxados.

— Nós deixamos Masyaf em boaordem? — sorriu Abbas, embora semter olhado para Maria. Não tirara osolhos de Altaïr. Os dois seencaravam através da mesa comevidente hostilidade. — Quandodeixaram a Irmandade, se bem melembro, havia apenas um Mestre.Agora parece que temos dois.

— Cuidado com sua insolência,Abbas, para ela não lhe custar caro.

— Minha insolência? —

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gargalhou Abbas. — Altaïr, porfavor, diga à infiel que, de agora emdiante, ela não poderá falar, a nãoser quando um membro doConselho se dirigir a ela.

Com um grito de raiva, Altaïrlevantou-se da cadeira, que deslizoupara trás e tombou sobre a pedra.Sua mão estava no cabo da espada,mas dois guardas se aproximaramcom as espadas desembainhadas.

— Guardas, tomem a arma dele— ordenou Abbas. — Ficará mais àvontade sem ela, Altaïr. Você estáusando sua lâmina?

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Altaïr estendeu os braços quandoum guarda se aproximou para tomarsua espada. As mangas da roupadesceram e não revelaram qualquerlâmina oculta.

— Agora podemos começar —disse Abbas. — Por favor, nãodesperdice mais o nosso tempo.Atualize-nos sobre sua missão paraneutralizar Khan.

— Só depois que você me disser oque aconteceu com Malik — grunhiuAltaïr.

Abbas deu de ombros e ergueu assobrancelhas, como se dissesse que

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estavam em um impasse, e estavammesmo, pois, aparentemente,nenhum dos dois homens pareciadisposto a ceder. Com um grunhidode irritação, Altaïr iniciou suahistória, em vez de prolongar oimpedimento. Relatou as viagens àPérsia, Índia e Mongólia, onde ele,Maria e Darim haviam se unido aoAssassino Qulan Gal, e contou comohaviam viajado até Xia, a provínciapróxima a Xing-ging, que havia sidositiada pelo exército mongol, naexpansão inexorável do império deKhan. Ali, disse ele, Altaïr e Qulan

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Gal fizeram o planejamento de seinfiltrar no acampamento mongol.Dizia-se que Khan também estava lá.

— Darim encontrou um pontode observação não muito longe doacampamento e, armado com seuarco, vigiaria Qulan Gal e a mimenquanto seguíssemos pelas barracas.O acampamento estava fortementeguardado e contávamos com ele paraabater qualquer guarda quealertássemos ou que parecesse quepudesse dar o alarme. — Altaïrolhou em volta da mesa com um ardesafiador. — E ele executou

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admiravelmente esse dever.— Tal pai, tal filho — comentou

Abbas, com mais do que umainsinuação de escárnio na voz.

— Talvez não — rebateu Altaïrcalmamente. — Pois eu quase metornei o responsável por alertar osmongóis da nossa presença.

— Ah — fez Abbas. — Ele não éinfalível.

— Ninguém é — retrucou Altaïr—, muito menos eu, e permiti queum soldado inimigo caísse sobremim. Ele me feriu antes que QulanGal conseguisse matá-lo.

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— Está ficando velho, Altaïr? —zombou Abbas.

— Todos estão, Abbas —respondeu Altaïr. — E eu estariamorto se Qulan Gal não tivesseconseguido me tirar doacampamento e me levar para umlocal seguro. Sua ação salvou aminha vida. — Olhoucuidadosamente para Abbas. —Qulan Gal voltou ao acampamento.Primeiro, formulou um plano comDarim para tirar Khan de suabarraca. Percebendo o perigo, Khantentou escapar a cavalo, mas foi

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derrubado por Qulan Gal e abatidopor um disparo de Darim.

— Não há dúvida sobre suahabilidade como arqueiro — sorriuAbbas. — Deduzo que o mandoupara longe, talvez para Alamut?

Altaïr surpreendeu-se.Aparentemente, Abbas sabia detudo.

— Ele deixou a cidade por ordemminha. Se para Alamut ou não, nãodirei.

— Para procurar Sef em Alamut,talvez? — insistiu Abbas. Dirigiu-se aSwami. — Você disse a eles que Sef

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estava lá, espero.— Como me foi instruído,

Mestre — respondeu Swami.Altaïr sentia agora nas entranhas

algo pior do que preocupação. Algoque podia ser medo. Sentiu issotambém em Maria: o rosto delaestava descorado e aflito.

— Diga o que tem a dizer, Abbas— falou.

— Ou o quê, Altaïr?— Ou meu primeiro ato, quando

reassumir a liderança, será jogá-loem uma masmorra.

— Para eu me juntar a Malik,

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talvez?— Duvido que Malik pertença à

prisão — vociferou Altaïr. — De quecrime ele é acusado?

— De assassinato — sorriuafetadamente Abbas.

Foi como se o mundo batesse namesa.

— Assassinato de quem? —indagou Maria.

E a resposta, quando veio,pareceu ter sido dada de longe,muito longe.

— De Sef. Malik matou seu filho.A cabeça de Maria tombou sobre

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as mãos.— Não! — Altaïr ouviu alguém

dizer, então se deu conta de que suaprópria voz havia falado.

— Sinto muito, Altaïr — disseAbbas, falando como se recitassealgo decorado. — Sinto muito quetenham retornado para ouvir essanotícia trágica, e posso dizer que falopor todos deste Conselho quandoofereço minha solidariedade a você eà sua família. Mas, até certasquestões serem resolvidas, não serápossível você reassumir a liderançada Ordem.

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Altaïr ainda tentavadesembaraçar a confusão de emoçõesem sua cabeça, ciente da presença deMaria a seu lado, soluçando.

— O quê? — disse ele. Entãomais alto: — O quê?

— Neste momento, você estáexposto a uma situação difícil —afirmou Abbas —, portanto tomei adecisão de que o controle da Ordemcontinua com o Conselho.

Altaïr tremeu de raiva.— Eu sou o Mestre desta Ordem,

Abbas. Exijo que a liderança sejadevolvida a mim, de acordo com os

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estatutos da Irmandade. Elesdeterminam que seja devolvida amim. — Ele agora estava aos berros.

— Não determinam. — Abbassorriu. — Não mais.

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Mais tarde, Altaïr e Maria estavamsentados em sua residência,aconchegados em um banco depedra, calados, quase na escuridão.Haviam passado anos dormindo emdesertos, mas nunca tinham sesentido tão isolados e solitáriosquanto naquele momento.Angustiavam-se por suas indignascondições; angustiavam-se porMasyaf ter sido negligenciada em suaausência; afligiam-se pela família deSef e por Darim.

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Mas, acima de tudo, sofriam porcausa de Sef.

Ele fora morto com uma facadaem sua cama, disseram, apenas duassemanas antes; não houvera tempode enviar uma mensagem paraAltaïr. A faca foi descoberta nosaposentos de Malik. Este fora vistopor um Assassino, mais cedo, nomesmo dia, discutindo com Sef. Onome do Assassino que ouvira adiscussão ainda era desconhecido deAltaïr, mas, independentemente dequem fosse, informara que tinhaouvido Sef e Malik discutirem sobre

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a liderança da Ordem, com Malikafirmando que pretendia se mantercomo líder depois que Altaïrretornasse.

— Aparentemente, foi a notíciade sua volta que desencadeou adesavença — tripudiara Abbas,deleitando-se com o olhar embaçadode Altaïr e o choro silencioso deMaria.

Ouviram Sef ameaçar revelar osplanos de Malik para Altaïr, por issoMalik o matou. Essa era a teoria.

A seu lado, a cabeça metida nopeito e as pernas recuadas, Maria

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ainda soluçava. Altaïr alisou seucabelo e a embalou até ela seaquietar. Então ele observou assombras projetadas pela luz do fogo,tremeluzindo e dançando na paredede pedra amarela, ouvindo os griloslá fora e o ocasional esmagar daspassadas dos guardas.

Pouco depois, Maria acordoucom um salto. Altaïr também sesobressaltou — ele também estiveracochilando, aquietado pelas chamastrepidantes. Ela se sentou, tremendo,puxou o cobertor e apertou-o emvolta do corpo.

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— O que vamos fazer, meuamor? — perguntou.

— Malik — disse elesimplesmente. Estava encarando aparede com olhos inexpressivos efalou como se não tivesse ouvido apergunta.

— O que tem ele?— Quando éramos mais jovens.

A missão no Monte do Templo.Meus atos lhe causaram uma grandedor.

— Mas você aprendeu — disseela. — E Malik soube disso. Naqueledia nasceu um novo Altaïr, que

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levou a Ordem à magnificência.Altaïr fez um som de descrédito.— Magnificência? Mesmo?— Não agora, meu amor — disse

ela. — Talvez não agora, mas vocêpode levá-la de volta ao que foi antesde tudo isso. Você é o único capaz deconseguir isso. Abbas não. — Mariapronunciou o nome dele como setivesse provado algo especialmentedesagradável. — Não algumConselho. Você. Altaïr. O Altaïr quevi servir à Ordem por mais de trintaanos. O Altaïr que nasceu naqueledia.

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— Isso custou a Malik o seuirmão — lembrou Altaïr. — Etambém o seu braço.

— Ele o perdoou e, desde aderrota de Al Mualim, tem servidocomo seu tenente de confiança.

— Teria sido uma fachada? —perguntou Altaïr, a voz baixa. Podiaver a própria sombra na parede,escura e agourenta.

Ela se desvencilhou dele.— O que está dizendo?— Talvez Malik tenha nutrido

ódio de mim todos esses anos —sugeriu ele. — Talvez Malik tenha

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secretamente cobiçado a liderança, eSef tenha descoberto isso.

— Sim, e talvez cresçam asas emmim à noite e eu voe — gracejouMaria. — Quem você acha querealmente nutre ódio por você,Altaïr? Não é Malik. É Abbas.

— A faca foi encontrada na camade Malik — alegou Altaïr.

— Colocada lá, é claro, paraincriminá-lo, por Abbas ou poralguém a seu serviço. Eu não ficarianem um pouco surpresa se Swamifosse o homem responsável por isso.E onde está o Assassino que ouviu

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Malik e Sef discutirem? Quando seráapresentado? Quando nosencontrarmos com ele, será quedescobriremos que é um aliado deAbbas? Talvez filho de outromembro do Conselho? E o pobreRauf? Fico imaginando se ele morreurealmente de febre. Você deveria seenvergonhar, por duvidar de Malik,quando tudo isso é muitoobviamente obra de Abbas.

— Eu, me envergonhar? —virou-se contra Maria, e ela retraiu-se. Lá fora, os grilos pararam suaalgazarra como se para ouvi-los

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discutir. — Eu me envergonhar porduvidar de Malik? Não tenhoexperiências passadas daqueles queeu amava se voltarem contra mim, epor motivos muito mais frágeis doque Malik teve? Eu amava Abbascomo a um irmão e tentei ser direitocom ele. Al Mualim traiu a Ordemtoda, mas fora a mim que ele haviatomado como filho. Eu meenvergonhar por desconfiar? Confiarfoi a minha maior desgraça. Confiarnas pessoas erradas.

Olhou-a com firmeza e elaestreitou os olhos.

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— Você precisa destruir a Maçã,Altaïr — disse. — Ela estáprejudicando a sua mente. Umacoisa é ter a mente aberta. Outracoisa é ter uma mente tão aberta queos pássaros conseguem cagar nela.

Ele a olhou.— Não sei se seria assim que eu

definiria a coisa — observou ele comum sorriso triste se formando.

— Talvez não, mas mesmo assim.— Preciso descobrir, Maria —

disse ele. — Preciso ter certeza.

Altaïr estava ciente de que os dois

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eram vigiados, mas era um Assassinoe conhecia Masyaf melhor do queninguém, por isso não foi difícildeixar a residência, subir a linha dedefesa interna e agachar-se nassombras dos bastiões até os guardaspassarem. Ele controlava arespiração. Ainda era veloz e ágil.Ainda conseguia escalar muros.Mas...

Talvez não com a mesmafacilidade de antes. Era melhorlembrar-se disso. O ferimento quesofrera no acampamento de GengisKhan também o retardara. Seria

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tolice superestimar suas própriashabilidades e se ver metido emencrenca por causa disso, deitado decostas como uma barata moribunda,ouvindo guardas se aproximaremporque calculara mal um salto.Descansou um pouco antes decontinuar ao longo dos bastiões,seguindo do lado oeste da cidadelapara o complexo da torre sul.Permanecendo longe dos guardasdurante o caminho, chegou à torre edesceu para o chão. Foi até osdepósitos de grãos, onde localizouum lance de degraus de pedras que

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levava a uma série de túneisarqueados abaixo.

Ali, parou e escutou, com ascostas coladas à parede. Ouviu águacorrendo ao longo de pequenoscórregos que seguiam pelo túnel. Asmasmorras da Ordem não ficavammuito longe, e eram tão raramenteusadas que seriam mantidas comodespensas se não fosse pela umidade.Altaïr esperava que Malik fosse seuúnico ocupante.

Seguiu sorrateiramente adianteaté conseguir avistar o guarda. Esteestava sentado no túnel com as

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costas apoiadas contra uma paredelateral do bloco de celas, a cabeçabamba de sono. Altaïr estava aalguma distância das celas, e não astinha nem mesmo em seu campovisual, portanto não sabia dizerexatamente o que o guarda estavavigiando. Descobriu-se ao mesmotempo indignado e aliviado pelodesleixo do homem — e logo tornou-se claro por que ele estava sentadotão distante.

Era o fedor. Das três celas,somente a do meio estava trancada, eAltaïr foi até ela. Não tinha certeza

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do que esperava ver do outro ladodas barras, mas estava certo do queconseguia cheirar, e levantou a mãopara o nariz.

Malik estava enroscado sobre osjuncos que haviam sido espalhadossobre a pedra — e nada faziam paraabsorver a urina. Estava vestido comtrapos, parecendo um mendigo.Estava bem magro e, através dacamisa esfarrapada, Altaïr podia veras marcas de suas costelas. As maçãsdo rosto eram afiados afloramentosem seu rosto; o cabelo estavacomprido, e a barba, grande demais.

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Estava naquela cela havia muitomais do que um mês. Isso era certo.

Ao olhar para Malik, os punhosde Altaïr se apertaram. Planejavafalar com ele para descobrir averdade, mas a verdade estava ali nascostelas salientes e nas roupas emfarrapos. Há quanto tempo estavapreso? Tempo suficiente para umamensagem ter sido enviada paraAltaïr e Maria. Há quanto tempo Sefestava morto? Altaïr preferia nãopensar nisso. Tudo que sabia era queMalik não passaria mais nenhummomento ali.

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Quando o guarda abriu os olhosfoi para ver Altaïr parado à suafrente. Então, para ele, as luzes seapagaram. Quando despertoudepois, descobriu-se preso no interiorda cela fedendo a mijo, gritandoinutilmente por socorro, com Malik eAltaïr sumidos havia muito tempo.

— Consegue andar, meu amigo?— perguntara Altaïr.

Malik olhara para ele com olhosembaçados. Toda a dor estavanaqueles olhos. Quando finalmenteconseguira focalizá-los em Altaïr, umar de gratidão e alívio surgira em seu

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rosto, tão sincero que, se aindarestava a menor dúvida na mente deAltaïr, ela foi banida imediatamente.

— Por você, eu consigo andar —respondeu Malik, e tentou umsorriso.

Mas, ao seguirem o caminho devolta ao longo do túnel, logo ficaraclaro que Malik não tinha forçaspara caminhar. Em vez disso, Altaïrhavia pegado seu braço bom, ocolocado em volta dos ombros ecarregado o velho amigo pelosdegraus da torre. Depois atravessaraos bastiões e finalmente descera o

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muro do lado ocidental da cidadela,evitando os guardas ao longo docaminho. Por fim chegaram de voltaà residência. Altaïr olhou para umlado e para o outro antes de levá-lopara dentro.

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Deitaram Malik em um catre e Mariasentou-se a seu lado, dando-lhe golesde uma caneca.

— Obrigado — ofegou. Seusolhos haviam clareado um pouco.Ele se levantou da cama, parecendodesconfortável com a presença deMaria, como se achasse desonrososer cuidado por ela.

— O que aconteceu com Sef? —perguntou Altaïr. Com os três emseu interior, o quarto ficava pequeno.Naquela hora, tornara-se menor

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ainda, parecendo que se fechavasobre eles.

— Foi assassinado — declarouMalik. — Dois anos atrás, Abbasencenou seu golpe. Mandou matarSef, depois colocou a arma do crimeno meu quarto. Outro Assassinojurou ter ouvido Sef e eu discutindo,e Abbas levou a Ordem à conclusãode que eu era responsável peloassassinato de Sef.

Altaïr e Maria se entreolharam.O filho deles estava morto havia doisanos. O Assassino sentiu a raivaferver dentro de si e se esforçou para

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controlá-la — para controlar oimpulso de se virar, sair do quarto, irà fortaleza e furar Abbas, vê-loimplorar por piedade e sangrar até amorte.

Maria pôs a mão em seu braço,sentindo e compartilhando sua dor.

— Sinto muito — desculpou-seMalik. — Não consegui enviar umamensagem, pois estava na prisão.Além disso, Abbas controla toda acomunicação para dentro e para forada fortaleza. Sem dúvida, durante omeu encarceramento, ocupou-se emmudar outras práticas para benefício

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próprio.— Sim, mudou — confirmou

Altaïr. — Aparentemente, tem quemo apoie no Conselho.

— Lamento, Altaïr — disseMalik. — Eu deveria ter antecipadoos planos de Abbas. Durante anosapós sua partida, ele agiu para mearruinar. Eu não fazia ideia de queele conseguira reunir tanto apoio.Isso não teria acontecido a um líderforte. Não teria acontecido com você.

— Não se atormente. Descanse,meu amigo — pediu Altaïr, e fez umsinal para Maria.

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Os dois se sentaram no aposentoao lado: Maria no banco de pedra,Altaïr em uma cadeira de encostoalto.

— Sabe o que você tem de fazer?— perguntou Maria.

— Tenho de destruir Abbas —respondeu Altaïr.

— Mas não por motivo devingança, meu amor — insistiu ela,olhando bem fundo em seus olhos.— Pela Ordem. Pelo bem daIrmandade. Para trazê-la de volta etorná-la novamente grande. Se puderfazer isso, e se conseguir deixar que

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isso assuma a prioridade sobre seuspensamentos de vingança, a Ordemo amará como um pai que mostra ocaminho verdadeiro. Se você sedeixar cegar pela raiva e pela emoção,como vai esperar que eles o escutem,quando lhes ensinar que o caminhoé outro?

— Tem razão — concordou ele,após uma pausa. — Então comovamos proceder?

— Precisamos enfrentar Abbas.Precisamos contestar a acusação feitacontra o matador do seu filho. AOrdem terá de aceitar isso, e Abbas

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será forçado a se responsabilizar.— Será a palavra de Malik contra

a de Abbas e seu agente, quem querque seja.

— Uma raposa como Abbas? Seuagente, imagino, deve ser aindamenos confiável. A Irmandadeacreditará em você, meu amor. Vaiquerer acreditar em você. Você é ogrande Altaïr. Se conseguir resistir aoseu desejo de vingança, se pudertomar a Ordem de volta por meioshonestos, não ilícitos, então asfundações que estabelecer serãoainda mais fortes.

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— Vou procurar Abbas agora —comunicou Altaïr, levantando-se.

Checaram para ver se Malikestava dormindo, depois saíram,levando uma tocha. Com a neblinado início de manhã rodopiando aseus pés, caminharam depressa emvolta do lado de fora da linha dedefesa interna e então até o portãoprincipal. Atrás deles estavam asencostas de Masyaf, a aldeia aindavazia e silenciosa, prestes a despertarde seu sono. Um guarda Assassinosonolento olhou-os, insolente em suaindiferença, e Altaïr descobriu-se

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combatendo sua raiva, mas passarampelo homem, subiram o antemuro eforam para o pátio principal.

Soou um sino.Altaïr não conhecia aquele sinal.

Ergueu sua tocha e olhou em volta, osino continuando a tocar. Entãonotou movimentos no interior dastorres que davam vista para o pátio.Maria apressou-o e eles chegaramaos degraus que levavam àplataforma do lado de fora da torredo Mestre. Agora Altaïr virou-se eviu que Assassinos de túnicasbrancas portando tochas flamejantes

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entravam no pátio atrás deles,convocados pelo sino, que parousubitamente.

— Quero falar com Abbas —disse Altaïr ao guarda à porta datorre, a voz alta e calma no sinistrosilêncio.

Maria olhou para trás e, ao ouvira forte inspiração dela, Altaïr sevirou. Engoliu em seco. OsAssassinos estavam se agrupando.Todos olhavam para ele e Maria. Porum momento, ele pensou queestivessem em alguma espécie detranse, mas não. A Maçã estava com

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ele, enfiada em segurança dentro deseu manto, e adormecida. Aqueleshomens estavam esperando.

O quê? Altaïr teve a sensação deque em breve teria a resposta.

Agora a porta da torre se abriu eAbbas parou diante deles.

Altaïr sentiu a Maçã — era quasecomo se uma pessoa estivessecutucando-o nas costas. Talvez elaestivesse lembrando-o de suapresença.

Abbas caminhou a passos largosaté a plataforma.

— Expliquem, por favor, por que

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invadiram as celas da Ordem.Ele se dirigia mais à multidão do

que a Altaïr e Maria. Altaïr olhou derelance para trás e viu que o pátioestava lotado. As tochas dosAssassinos eram como bolas de fogono escuro.

Então Abbas queria desacreditá-lo diante da Ordem. Mas Mariaestivera com a razão — ele era umincapaz. Tudo que Abbas haviaconseguido era acelerar sua queda.

— Eu pretendo descobrir averdade sobre meu filho — afirmouAltaïr.

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— É mesmo? — sorriu Abbas. —Tem certeza de que não foi umajusta vingança?

Swami tinha chegado. Subiu osdegraus para a plataforma. Traziaalgo em um saco de juta, que passoupara Abbas, o qual assentiu. Altaïrolhou cauteloso para o saco com ocoração martelando. O de Mariatambém martelava.

Abbas examinou dentro do sacoe fez um olhar fingido depreocupação com o que estava emseu interior. Então, com um arteatral, enfiou a mão no saco e parou

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por um momento para desfrutar ofrisson de antecipação que percorriaa plateia como um arrepio.

— Pobre Malik — disse ele, epuxou uma cabeça decepada: a peledo pescoço estava denteada epingava sangue fresco, os olhostinham revirado e a línguasalientava-se ligeiramente.

— Não! — Altaïr avançou, eAbbas sinalizou para os guardas, quecorreram adiante, agarrando Altaïr eMaria, desarmando-o e prendendosuas mãos nas costas.

Abbas largou a cabeça de volta

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no saco e jogou-o para o lado.— Swami ouviu você e a infiel

planejando a morte de Malik. Quepena não termos conseguido chegara Malik a tempo de evitá-la.

— Não! — berrou Altaïr. —Mentiras! Eu jamais mataria Malik.— Empurrando os guardas que oseguravam, ele apontou para Swami.— Ele está mentindo.

— O guarda da prisão tambémestá mentindo? — indagou Abbas.— O tal que viu você arrastar Malikpara fora da cela? Por que não omatou ali mesmo, Altaïr? Queria

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fazê-lo sofrer? Sua esposa inglesaquis fazer seus próprios cortesvingativos?

Altaïr debateu-se.— Porque eu não o matei —

gritou. — Eu soube por ele que foivocê quem ordenou a morte de Sef.

Então, subitamente, ele soube.Olhou para Swami e viu seuescárnio, e soube que ele tinhamatado Sef. Sentiu a Maçã em suascostas. Com ela, poderia dizimar opátio. Matar cada cão traiçoeiro alino meio. Todos sentiriam sua fúria.

Mas não. Ele prometera nunca

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usá-la com raiva. Prometera a Mariaque não deixaria seus pensamentosserem anuviados pela vingança.

— Foi você quem infringiu oCredo, Altaïr — acusou Abbas. — Enão eu. Você é inadequado paraliderar a Ordem. Portanto, eumesmo assumo a liderança.

— Não pode fazer isso —zombou Altaïr.

— Posso sim. — Abbas desceu daplataforma, aproximou-se de Maria epuxou-a para si.

Com o mesmo movimento, sacouuma adaga e a colocou no pescoço

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dela. Maria fechou a cara e secontorceu, xingando-o, até ele furarseu pescoço, tirando sangue eacalmando-a. Ela sustentou o olharde Altaïr acima do braço de Abbas,enviando-lhe mensagens com osolhos, sabendo que a Maçã o estariachamando. Maria também perceberaque Swami tinha matado Sef. Domesmo modo como Altaïr, elaansiava por retaliação. Seus olhossuplicavam para ele manter a calma.

— Onde está a Maçã, Altaïr? —perguntou Abbas. — Mostre-me, ouabrirei uma nova boca nesta infiel.

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— Ouviram isso? — gritou Altaïrpor cima do ombro para osAssassinos. — Ouviram que eleplaneja tomar a liderança? Ele quer aMaçã não para abrir as mentes, maspara controlá-las.

Ela agora queimava as costasdele.

— Diga-me agora, Altaïr —repetiu Abbas.

Enfiou ainda mais a adaga eAltaïr reconheceu a faca. Estapertencera ao pai de Abbas. Foi aadaga que Ahmad tinha usado paracortar a própria garganta no quarto

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de Altaïr uma vida inteira atrás. Eagora estava sendo enfiada emMaria.

Ele lutou para se controlar.Abbas puxou Maria ao longo daplataforma, apelando à multidão: —Devemos confiar em Altaïr com oPedaço do Éden? — perguntou aeles. Em resposta, veio um murmúriosem compromisso. — Altaïr, queexercita o temperamento em vez dobom-senso? Ele não deveria serobrigado a entregá-la sem termos derecorrer a isto?

Altaïr esticou o pescoço para ver

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acima do ombro. Os Assassinosmudavam de posiçãodesconfortavelmente, falando entresi, ainda chocados com a reviravoltados acontecimentos. Os olhos deleforam para o saco de aniagem,depois para Swami. Altaïr notou quehavia sangue nas roupas dele, comose tivesse sido atingido por umesguicho: do sangue de Malik. Altaïrficou imaginando se ele tinha sorridoquando esfaqueara Sef.

— Você pode tê-la — bradouAltaïr. — Você pode ter a Maçã.

— Não, Altaïr — gritou Maria.

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— Onde está ela? — perguntouAbbas. Ele permanecia naextremidade da plataforma.

— Está comigo — informouAltaïr.

Abbas pareceu preocupado.Puxou Maria mais para perto,usando-a como escudo. Corriasangue de onde ele a havia furadocom a faca. A um gesto de cabeça deAbbas, os guardas soltaram Altaïr,que apanhou a Maçã, tirando-a dedentro do manto.

Swami estendeu a mão para ela.Tocou-a.

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Então, bem baixinho, para queapenas Altaïr conseguisse ouvir, elerevelou: — Eu disse para Sef que foivocê quem ordenou sua morte. Elemorreu acreditando que seu própriopai o traiu.

A Maçã estava brilhando, eAltaïr não conseguiu se controlar.Swami, com uma das mãos na Maçã,de repente ficou rígido, com os olhosbem arregalados.

A seguir sua cabeça tombou paraum lado, o corpo se deslocando eestremecendo como se operado poruma força interna. A boca se abriu,

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mas não saiu qualquer palavra. Ointerior de sua boca tinha um brilhodourado. A língua se agitava dentrodela. Então, forçado pela Maçã, elese afastou, e todos observaramenquanto suas mãos foram até orosto e começaram a arrancar a carnede lá, abrindo profundas valas comas unhas. Escorreu sangue da peleagredida, mas ele continuavaflagelando a si mesmo, como seestivesse socando massa, rasgando apele da bochecha, arrancando umlongo pedaço dela, e torcendo umaorelha, até ela ficar pendurada do

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lado do rosto.Altaïr sentiu o poder atravessar

seu corpo, como se saltasse da Maçãe se espalhasse como uma doençapelas suas veias. Como se ela sealimentasse de seu ódio e de suanecessidade de vingança, e depoisfluísse da Maçã para Swami. Sentiutudo isso como uma requintadamistura de prazer e dor queameaçava erguê-lo do solo — quefazia sua cabeça se sentir como sepudesse se dilatar e explodir, umasensação ao mesmo tempomaravilhosa e terrível.

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Tão maravilhosa e terrível quenão ouviu Maria gritar para ele.

Nem percebeu que ela se livrarade Abbas e estava correndo pelaplataforma em direção a ele.

Ao mesmo tempo, Swami haviatirado sua adaga da bainha e a usavaem si mesmo, cortando-sefuriosamente, com golpes extensos,abrindo ferimentos no rosto e nocorpo, retalhando-se, enquantoMaria os alcançava, tentandodesesperadamente fazer com queAltaïr parasse de usar a Maçã. Altaïrteve um segundo para ver o que ia

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acontecer, mas era tarde demais paraevitar. Viu a adaga de Swamilampejar, e Maria, com a gargantaexposta, subitamente rodando paralonge com sangue brotando dopescoço. Curvou-se sobre o chão demadeira, os braços jogados para oslados. Ela respirou uma vez.Enquanto o sangue se espalhavarapidamente à sua volta, seusombros se ergueram com umdemorado, dissonante ofegar, e umadas mãos estremecidas golpeou osuporte de madeira da plataforma.

Ao mesmo tempo, Swami

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desabou, sua espada estrepitando nochão. A Maçã brilhou intensamenteuma vez, depois obscureceu. Altaïrcaiu de joelhos ao lado de Maria,segurando-a pelos ombros e virando-a.

Ela olhou para ele. Suaspálpebras tremeram.

— Seja forte — disse ela. Emorreu.

O pátio estava silencioso. Tudoque se conseguia ouvir era Altaïrsoluçando enquanto puxava Mariaem um abraço, um homem arrasado.

Ele ouviu Abbas ordenar:

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— Homens. Peguem-no.Então levantou-se. Através dos

olhos cobertos de lágrimas, viuAssassinos correrem para aplataforma. Em seus rostos haviamedo. Ele ainda segurava a Maçã. Amultidão estava transtornada. Amaioria havia sacado a espada,embora todos soubessem que aço erainútil contra a Maçã, mas isso eramelhor do que fugir. De repente, oimpulso era forte, quaseincontrolável, de usar a Maçã paradestruir tudo que ele conseguisse ver,inclusive a si mesmo, porque Maria

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estava morta em suas mãos e elahavia sido a sua luz. Em ummomento — em um ofuscantelampejo de ira — ele destruíra o quemais tinha de precioso.

Os Assassinos pararam. Altaïrusaria a Maçã? Ele conseguia ver apergunta em seus olhos.

— Peguem-no! — guinchouAbbas, e eles se aproximaramcautelosamente.

Em volta de Altaïr, os Assassinospareciam incertos se o atacariam ounão, então ele correu.

— Arqueiros! — berrou Abbas, e

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os soldados armaram seus arcosenquanto Altaïr corria para fora dopátio.

Choveram flechas à sua volta,uma delas cortando sua perna. Daesquerda e da direita, vieramcorrendo mais Assassinos, os mantosondeando, espadas erguidas. Talvezagora tivessem deduzido que Altaïrnão usaria a Maçã uma segunda veze saltaram de muros e balaustradaspara se juntar à perseguição.Escapando, Altaïr chegou a um arcoe o encontrou bloqueado. Virou-se,voltou correndo e passou por entre

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dois Assassinos que vinham emperseguição, um deles girando aespada e abrindo um ferimento emseu braço. Ele gritou de dor, mascontinuou correndo, sabendo quepoderiam tê-lo acertado; ele ossurpreendera, mas eles ficaram commedo de atacá-lo — ou relutaramem fazê-lo.

Virou-se novamente, dessa vezseguindo para a torre de defesa.Nela, conseguiu avistar arqueirosfazendo mira, e Altaïr sabia que eleseram os melhores. Treinados pelomelhor. Nunca erravam. Não com o

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tempo que tinham para mirar edisparar.

Só que ele sabia quandodisparariam. Sabia que levavam otempo de um piscar de olhos paraencontrar o alvo e um segundopiscar para se firmar e inspirar,então...

Disparar.Ele deu uma guinada e rolou.

Uma salva de flechas bateuruidosamente no chão de onde eleacabara de sair, quase todas errando-o, menos uma. Um dos arqueiroshavia checado sua mira, e a flecha

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havia arranhado a bochecha deAltaïr. O sangue escorreu por seurosto quando ele alcançou a escada,correndo acima e chegando aoprimeiro nível, onde um surpresoarqueiro estava tremendo em vez desacar sua espada. Altaïr empurrou-opara fora de onde estava, no alto, eele deu uma cambalhota até o chãolá embaixo. Sobreviveu.

Agora Altaïr arrastou-se acimapela segunda escada. Sentia dores.Sangrava muito. Chegou ao topo datorre da qual saltara havia uma vida,desgraçado então como agora.

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Mancou até a plataforma e,enquanto homens subiam para otopo da torre à suas costas, ele abriuos braços.

E saltou.

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53

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10 de agosto de 1257

Altaïr pretende que nós espalhemos apalavra do Assassino, é esse seuplano. E não apenas espalhar apalavra, mas estabelecer uma Ordemno Ocidente.

Envergonho-me de ter demoradotanto tempo para executar isso, masagora que o fiz, tudo parece claro:para nós (especificamente para mim,ao que parece), ele está confiando noespírito da Irmandade. Estápassando a tocha para nós.

Tivemos notícia de que os

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mongóis, sedentos por guerra, estãose aproximando da aldeia, e ele achaque devemos partir antes que seiniciem as hostilidades. Maffeo, éclaro, parece estimulado pela ideia depresenciar a ação e eu tenho asensação de que preferiria queficássemos. E sua antiga sede decorrer o mundo? Tudo é passado.Aparentemente, nossos papéis estãoinvertidos, pois agora sou eu quequero partir. Ou sou mais covardedo que ele, ou tenho uma ideia maisrealista do que é um guerra sombria,pois concordo com Altaïr. Masyaf

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sob sítio não é um lugar para nós.Na verdade, estou pronto para

partir, venha ou não o grupo desaqueadores mongóis. Anseio porcasa, por aquelas noites quentes.Sinto falta da minha família: minhamulher e meu filho, Marco. Ele fará3 anos dentro de poucos meses eestou dolorosamente ciente de que vimuito pouco de seus primeiros anos.Perdi seus primeiros passos, suasprimeiras palavras.

Em suma, sinto que nossoperíodo em Masyaf atingiu seu fimnatural. Além disso, o Mestre disse

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que quer nos ver. Há uma coisa, dizele, que precisa nos dar em umacerimônia que gostaria de realizarcom outros Assassinos presentes.Trata-se de algo, diz ele, que precisaser mantido em segurança, longe dasmãos de inimigos: mongóis ouTemplários. É a isso, creio, que suashistórias têm levado, e tenho minhassuspeitas do que deve ser essa coisapreciosa. Veremos.

Enquanto isso, Maffeo estáimpaciente para ouvir o resto daminha história, agora tão perto desua conclusão. Ele fez cara feia

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quando lhe informei que planejavaavançar a narrativa no tempo, domomento em que Altaïr saltou dosbastiões da cidadela, um homemhumilhado e destruído, até umperíodo cerca de vinte anos depois, enão para Masyaf, mas a um pontodo deserto a dois dias de viagem...

...para uma planície interminável aocrepúsculo, aparentemente vazia, anão ser por um homem sobre umcavalo conduzindo outro cavalo, osegundo, rocinante e carregado comcântaros e cobertores.

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À distância, o cavaleiro pareciaum negociante com seus artigos, e,de perto, exatamente o que era,suando debaixo do turbante: umnegociante muito cansado e dignochamado Mukhlis.

Então, quando avistou o poço aolonge, Mukhlis soube que tinha dedeitar e descansar. Esperava chegarem casa sem parar, mas não tinhaescolha: estava exausto. Muitas vezes,durante a viagem, o ritmo do cavaloo tinha embalado e ele sentira oqueixo comprimir o peito, os olhospiscarem e se fecharem. Ficou cada

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vez mais difícil resistir ao sono. Cadavez que o movimento da viagem oacalentava em direção ao sono, umanova batalha era travada entrecoração e cabeça. Sua garganta estavaressecada. O manto pendia pesadosobre ele. Cada osso e músculo docorpo zuniam de fadiga. A ideia demolhar os lábios e deitar com seuthawb puxado em volta do corpo porapenas algumas horas talvez, osuficiente para recobrar um pouco deenergia antes de retomar a viagem devolta para casa em Masyaf — bem, aideia era quase demais para ele.

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O que o fazia hesitar, porém, oque lhe dava medo de parar era orumor que tinha ouvido — o rumorde bandidos no exterior, ladrões queatacavam negociantes, levavam asmercadorias e cortavam suasgargantas, um bando de salteadoresliderados por um criminosochamado Fahad, cuja legendáriabrutalidade só era rivalizada pela deseu filho, Bayhas.

Bayhas, diziam, pendurava suasvítimas pelos pés antes de cortá-lasda garganta até a barriga e deixarque morressem lentamente, os cães

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selvagens regalando-se com suasentranhas penduradas. Bayhas faziaisso e dava risadas.

Mukhlis gostava de suasentranhas dentro do corpo. Nemtinha qualquer desejo de entregartodas as suas posses mundanas abandidos. Afinal, as coisas emMasyaf estavam difíceis e setornando cada vez mais difíceis. Osaldeões eram forçados a pagar umacoleta cada vez mais alta ao castelono promontório — disseram-lhe queo custo para proteger a comunidadeestava aumentando; o Mestre era

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impiedoso na exigência de taxas daspessoas e, geralmente, enviava gruposde Assassinos encosta abaixo paraforçá-los a pagar. Aquele que serecusava provavelmente eraagredido, depois mandado para forado portão para vagar lá fora, naesperança de ser aceito por outropovoado, ou ficar à mercê dosbandidos que tornaram as planíciesrochosas em volta de Masyaf seu lare pareciam cada vez mais audaciososem seus ataques contra viajantes.Antigamente, os Assassinos — ou,pelo menos, a ameaça deles —

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mantinham as rotas de comércioseguras. Aparentemente, não mais.

Portanto, se voltasse para casasem um centavo, incapaz de pagar osdízimos que Abbas exigia dos aldeõesmercadores e as coletas que impunhaàs pessoas, Mukhlis poderia ver a simesmo e à sua família expulsos daaldeia: ele, a esposa Aalia e a filhaNada.

Mukhlis pensava em tudo isso aose aproximar do poço, ainda indecisose deveria ou não parar.

Havia um cavalo parado debaixoda grande figueira que se espalhava

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acima do poço, uma imensa copaconvidativa de sombra fresca eabrigo. Estava desamarrado, mas ocobertor em suas costas mostravaque pertencia a alguém,provavelmente a um colega viajanteque parara para beber água,preencher seus cantis ou, talvez,como Mukhlis, pousar a cabeça edescansar. Mesmo assim, Mukhlisficou nervoso ao se aproximar dopoço. Sua montaria sentiu aproximidade de água e relinchouagradecidamente, e Mukhlis teve defreá-la para evitar que fosse trotando

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até o poço, onde agora ele viualguém enroscado, dormindo. Eledormia com a cabeça sobre amochila, o manto enrolado sobre ocorpo, o capuz levantado e os braçoscruzados sobre o peito. Pouco de seurosto era visível, mas Mukhlis viuuma pele morena desgastada pelotempo, enrugada e com cicatrizes.Era um homem velho, no fim dacasa dos 70 anos ou no início da dos80. Fascinado, Mukhlis estudou orosto do dorminhoco — então osolhos abriram-se de repente.

Mukhlis recuou um pouco,

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surpreso e amedrontado. Os olhosdo velho eram aguçados e vigilantes.Ele permaneceu totalmente imóvel eMukhlis percebeu que, embora elepróprio fosse muito mais novo, oestranho não se deixou intimidar porsua presença.

— Sinto muito se o perturbei,senhor — disse Mukhlis, inclinandoa cabeça, a voz vacilandoligeiramente. O estranho nada disse,apenas observou Mukhlisdesmontar, depois levar seu cavaloaté o poço e pegar o balde de couropara que ele pudesse beber. Por mais

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um momento, o único som foi asuave batida do balde na parede dopoço enquanto a água era recolhida,e depois o ruído do cavalo bebendo.Mukhlis também bebeu. Deu umpequeno gole, depois engoliu a água,molhando a barba e lavando o rosto.Encheu seus cantis e levou água parao segundo cavalo, amarrando osdois. Quando olhou novamente parao estranho, ele tinha adormecidooutra vez. Tudo que havia mudadonele era que não estava mais com osbraços cruzados. Em vez disso,estavam perto da cabeça, pousados

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sobre a mochila que usava comotravesseiro. Mukhlis tirou umcobertor de sua própria mochila,encontrou um lugar do outro ladodo poço e deitou-se para dormir.

Quanto tempo depois ele ouviumovimento e abriu os olhosembaçados para ver uma pessoa depé a seu lado? Uma pessoailuminada pelos primeiros raios dosol matinal, o cabelo e a barba negrosrebeldes e desgrenhados, brinco deouro em uma orelha, e dando umlargo e maldoso sorriso. Mukhlistentou se colocar de pé, mas o

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homem agachou-se com uma adagareluzente indo direto para o seupescoço, de modo que o negocianteficou paralisado de medo, um soluçoescapando de seus lábios.

— Eu sou Bayhas — apresentou-se o homem, ainda sorrindo. — Souo último rosto que você verá.

— Não — choramingouMukhlis, mas Bayhas já estavapuxando-o para colocá-lo de pé, eentão o comerciante viu que obandido tinha dois companheiros,que tiravam todas as mercadorias deseus cavalos e as transferiam para

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seus próprios animais.Ele procurou pelo velho que

estava dormindo, mas este nãoestava mais lá, embora Mukhlispudesse ver seu cavalo. Já o teriammatado? Estaria caído com agarganta cortada?

— Corda — pediu Bayhas. Aindamantinha a adaga na garganta deMukhlis, quando um de seuscomparsas jogou-lhe um rolo decorda. Assim como Bayhas, ele sevestia de preto e tinha a barbadesgrenhada, o cabelo coberto poru m keffiyeh. Em suas costas, havia

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um arco longo. O terceiro homemusava o cabelo comprido, sem barba,tinha uma larga cimitarra no cinto eestava ocupado em vasculhar osfardos de Mukhlis, jogando na areiaos objetos indesejados.

— Não — gritou Mukhlis, vendouma pedra pintada cair no chão.

O objeto lhe fora dado pela suafilha como presente de boa sorte nodia em que ele partiu, e a visão dapedra ser jogada fora por umassaltante foi demais para ele.Livrou-se das mãos de Bayhas ecorreu para o Cabelo Comprido, que

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se preparou para recebê-lo com umsorriso, derrubando-o depois comum violento soco na traqueia. Os trêsladrões deram estrondosasgargalhadas enquanto Mukhlisdebatia-se e sufocava no chão.

— O que foi? — gracejou CabeloComprido, curvando-se sobre ele.Viu para onde Mukhlis estavaolhando, apanhou a pedra e leu aspalavras que Nada havia pintado.“Boa sorte, papai”. — Foi isto? Foiisto que fez você ficar tão bravo derepente, papai?

Mukhlis estendeu a mão para a

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pedra, desesperado para recuperá-la,mas, com uma pancada, CabeloComprido afastou sua mão comdesdém, em seguida esfregou a pedrano traseiro — rindo mais aindaporque Mukhlis urrava deindignação — e jogou-a no poço.

— Plop — zombou.— Seu... — começou Mukhlis. —

Seu...— Amarre as pernas dele —

ouviu às suas costas. Bayhas jogou acorda para Cabelo Comprido e seaproximou, agachou-se e colocou aponta da faca perto do globo ocular

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de Mukhlis.— Aonde estava indo, papai?— Para Damasco — mentiu

Mukhlis.Bayhas cortou sua bochecha com

a faca e ele berrou de dor.— Aonde estava indo, papai —

interrogou novamente.— A roupa dele é de Masyaf —

disse Cabelo Comprido, queamarrava a corda nas pernas deMukhlis.

— Masyaf, hein? — repetiuBayhas. — Antigamente, vocêspodiam contar com os Assassinos

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como apoio, mas não mais. Que taluma visita à aldeia? Pode ser que agente encontre uma viúva aflitaprecisando de consolo. O que diz,papai? Depois de acabarmos comvocê.

Cabelo Comprido então selevantou e jogou a ponta da cordapor cima de um galho da figueira,pegando-a de volta para queMukhlis pudesse ser içado. Seumundo virou de cabeça para baixo.Ele choramingou quando CabeloComprido amarrou a ponta da cordano arco do poço, mantendo-o lá.

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Agora Bayhas se aproximou e ogirou. Ele virou e viu o arqueiroparado a alguns metros dali, virandoo corpo para trás de tanto rir. Bayhase Cabelo Comprido chegaram maisperto e riram também. Bayhasinclinou-se para ele.

Ainda girando, ele viu o muro dopoço passar; girou novamente e viuos três ladrões, Cabelo Comprido,Bayhas, o terceiro homem e...

Um par de pernas surgiu daárvore atrás do terceiro homem.

Mas Mukhlis continuou rodandoe o muro do poço surgiu novamente.

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Girou, agora mais devagar, para aparte da frente, onde os três ladrõesignoravam que havia outro homementre eles, parado logo atrás. Umhomem cujo rosto estava quase todooculto pelo capuz do manto queusava, a cabeça ligeiramenteabaixada, os braços estendidos,quase como em uma súplica. Ovelho.

— Parem — disse o velho. Assimcomo o rosto, a voz estava gasta pelotempo.

Todos os três assaltantes seviraram para encará-lo, tensos,

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prontos para retalhar o intruso.E os três começaram a dar

risadinhas.— O que é isso? — riu Bayhas. —

Um idoso veio estragar nossadiversão? O que planeja fazer, velho?Nos entediar até a morte com suashistórias dos velhos tempos? Peidarna nossa frente?

Seus dois companheiros riram.— Desçam ele daí — ordenou o

velho, apontando para onde Makhlisainda pendia de cabeça para baixo,balançando na corda. —Imediatamente.

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— E por que eu faria isso? —perguntou Bayhas.

— Porque eu estou mandando —disse o velho com a voz rouca.

— E quem é você para exigir issode mim?

O velho agitou a mão.Clique.

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O arqueiro apanhou seu arco, mascom dois passos Altaïr o alcançou,desferindo sua lâmina em um amploarco que abriu o pescoço do homem,cortou o arco no meio e encurtou seugorro com apenas um corte. Houveum leve estrépito quando o arco dobandido caiu no chão, seguido porum baque surdo quando seu corpose juntou a ele.

Altaïr — que não combatia porduas décadas — ficou parado com osombros arquejando, observando

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Bayhas e Cabelo Comprido, suasexpressões mudando de escárniopara cautela. A seus pés, o arqueirose contorcia e gorgolejava, seusangue empapando a areia. Sem tiraros olhos de Bayhas e CabeloComprido, Altaïr apoiou-se sobreum dos joelhos e enfiou a lâminanele, silenciando-o. Ele sabia queagora o medo era sua grande arma.Aqueles homens tinham juventude evelocidade a seu lado. Eramselvagens e impiedosos, acostumadoscom a morte. Altaïr tinhaexperiência. Esperava que isso fosse o

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bastante.Cabelo Comprido e Bayhas

trocaram um olhar. Eles não estavammais sorrindo. Por um momento, oúnico som em volta do poço era osuave ranger da corda no galho dafigueira, Mukhlis observando tudode cabeça para baixo. Seus braçosnão estavam amarrados e ele ficouimaginando se tentaria se soltar, masachou melhor não atrair atençãopara si mesmo.

Os dois salteadores se afastaramum do outro na tentativa deflanquear Altaïr, que observou o

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espaço que se abriu entre eles,revelando o comerciante penduradode cabeça para baixo. CabeloComprido jogava a cimitarra de umamão para a outra com um leve somde palmada. Bayhas mordia ointerior da bochecha.

Cabelo Comprido deu um passoadiante, golpeando com a cimitarra.O ar pareceu vibrar com o som deaço reverberando quando Altaïr odeteve com sua lâmina, varrendocom o braço para desviar a cimitarra,sentindo os músculos reclamarem. Seos ladrões fizessem ataques curtos,

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ele não tinha certeza de quantotempo conseguiria durar. Era umvelho. Velhos cuidavam de jardinsou passavam as tardes meditando emseus gabinetes, lendo e pensandonaqueles que amaram e perderam:não se envolviam em lutas de espada.Principalmente não faziam issoquando estavam em desvantagemnumérica em relação a oponentesmais jovens. Ele estocou na direçãode Bayhas, querendo evitar que olíder o flanqueasse, e isso deu certo— mas Bayhas arremessou-se perto obastante com a adaga para cortar

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Altaïr no peito, abrindo umferimento, o primeiro a tirar sanguedo oponente. Altaïr atacou por suavez, e eles se chocaram, trocandogolpes, mas dando a CabeloComprido a chance de se aproximarantes que Altaïr o pudesse repelir.Cabelo Comprido golpeoudesenfreadamente com sua lâmina,abrindo um grande corte na pernade Altaïr.

Grande. Profundo. Esguichousangue, e Altaïr quase tropeçou.Mancou para o lado, tentando ficarjunto ao poço para ter de se defender

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apenas pela frente. Quando chegoulá, ficou com o muro do poço a seulado, e, atrás dele, o comerciantependurado.

— Tenha força — ouviu onegociante falar baixinho —, e saibaque, aconteça o que acontecer, vocêterá a minha gratidão e o meu amor,seja nesta vida ou na próxima.

Altaïr assentiu, mas não se virou,em vez disso, observava os doisbandidos à sua frente. A visão deAltaïr sangrando os tinha alegrado e,encorajados, avançaram com maisgolpes, investidas pungentes. Altaïr

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repeliu três ofensivas, conseguindonovos ferimentos, agora sangrandomuito, mancando, sem fôlego. Omedo não era mais a sua arma. Essavantagem tinha sido perdida. Tudoque possuía agora eram habilidades einstintos havia muito tempoadormecidos, e sua mente recuou atéalgumas de suas maiores batalhas:superando os homens de Talal,vencendo Moloch, derrotando oscavaleiros templários no cemitério deJerusalém. O guerreiro que haviatravado essas batalhas teria cortado ematado aqueles em dois segundos.

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Aquele guerreiro, porém, viveuno passado. Envelhecera. A dor e asegregação o tinham enfraquecido.Passara vinte anos pranteandoMaria, obcecado com a Maçã. Suashabilidades de combate, por maioresque fossem, foram deixadas paradefinhar e, aparentemente, morrer.

Sentiu sangue nas botas. Suasmãos estavam pegajosas por causadele. Oscilava loucamente com aespada, nem tanto para se defenderquanto para tentar afastar osatacantes. Pensou em sua mochila,segura na figueira: a Maçã estava

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dentro dela. Pegar a Maçã o faria saircomo vencedor, mas ela estava longedemais e, de qualquer modo, haviajurado nunca mais voltar a usá-la;ele a deixara na árvore exatamentepor isso, para manter a tentação forado alcance. Mas a verdade era que,se conseguisse alcançá-la, ele teria deusá-la agora, em vez de morrerdaquele modo e entregar ocomerciante para eles, certamentecondenando-o a uma morte maisdolorosa e torturante por causa dosseus atos.

Sim, ele teria usado a Maçã,

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porque estava perdido. E ele se deuconta de que havia deixado que eleso virassem novamente. CabeloComprido avançou para ele daperiferia de sua visão, e gritou com oesforço de desviar seu golpe,enfrentando suas aparadas de golpecom investidas — um, dois, três —,encontrando um caminho por baixoda guarda de Altaïr e cortando seuflanco outra vez, um golpe profundoque sangrou muito, de imediato. Eramelhor morrer daquela maneira,pensou, do que se renderhumildemente. Era melhor morrer

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lutando.Cabelo Comprido agora avançou

e houve outra colisão de espadas.Altaïr foi ferido de novo, dessa vezna perna boa. Caiu de joelhos, osbraços pendendo, a espada inútilnada ferindo a não ser areia.

Cabelo Comprido deu um passoadiante, mas Bayhas o deteve.

— Deixe-o para mim — ordenou.Vagamente, Altaïr descobriu-se

pensando em outra época, mil vidasatrás, quando seu oponente dissera amesma coisa, e como, naquelaocasião, fizera o cavaleiro pagar pela

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sua arrogância. Aquela satisfação lheseria negada desta vez, pois Bayhasvinha na direção de Altaïr, queestava ajoelhado, oscilando ederrotado, no chão, a cabeçapendendo. Tentou ordenar às suaspernas que se levantassem, mas elasnão obedeceram. Tentou erguer amão com a espada, mas nãoconseguiu. Viu a adaga vindo emsua direção e conseguiu levantar acabeça alto o bastante para ver osdentes trincados de Bayhas, seubrinco de ouro brilhando ao sol...

Então o comerciante, de cabeça

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para baixo, deu um pinote, balançoue abraçou Bayhas por trás,momentaneamente impedindo seuprogresso. Com um forte grito, umaeclosão final de esforço, energiatirada ele não sabia de onde, Altaïrlevantou-se com um impulso, aespada cortando a barriga de Bayhas,abrindo um corte vertical queterminou quase em sua garganta. Aomesmo tempo, Mukhlis haviaagarrado a adaga pouco antes de elacair pelos dedos afrouxados deBayhas, dando um impulso paracima e cortando a corda que o

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prendia. Caiu, batendodolorosamente o lado do corpo nomuro do poço, mas conseguiu se pôrde pé e ficou lado a lado com seusalvador.

Altaïr estava curvado, o corpoquase todo dobrado, morrendo aseus pés. Mas ergueu a espada e fitoucom os olhos estreitados CabeloComprido, o qual viu-serepentinamente em desvantagemnumérica e desanimado. Em vez deatacar, recuou até alcançar umcavalo. Sem tirar os olhos de Altaïr eMukhlis, montou. O bandido os

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encarou e eles o encararam de volta.Então, significativamente, passou umdedo pela garganta e foi emboracavalgando.

— Obrigado — disse Muklis paraAltaïr, ofegante, mas o Assassino nãorespondeu. Ele tinha desabado,inconsciente, na areia.

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Foi na semana seguinte que chegou oenviado do líder dos salteadores. Aspessoas da aldeia observaram-noatravessar cavalgando o município epelas colinas que levavam à cidadela.Era um dos homens de Fahad,disseram, e os mais sensatos entreeles achavam que sabiam a naturezade seu assunto na fortaleza. Doisdias antes, homens de Fahad tinhamido à aldeia com a notícia da ofertade uma recompensa para quemidentificasse o homem que havia

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matado o filho de Fahad, Bayhas.Ele fora ajudado por um negociantede Masyaf, disseram, e não seriacausado qualquer dano aonegociante que indicasse o cão quecovardemente havia retalhado oamado filho do líder dos salteadores.Os aldeões tinham balançado ascabeças e retornado aos seus afazeres,e os homens tinham voltado de mãosabanando, resmungando sombriasameaças sobre seu planejado retorno.

E assim foi, disseram osfofoqueiros — pelo menos, aquele foium precursor. Nem mesmo Fahad

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ousaria enviar homens à aldeia quedesfrutava a proteção dos Assassinos:ele teria de pedir permissão aoMestre. Nem mesmo Fahad ousariafazer o pedido a Altaïr ou AlMualim, mas Abbas era outraquestão. Abbas era fraco e podia sercomprado.

Então o enviado retornou. Naviagem de ida, ele parecera sério,embora desdenhoso dos aldeões queo observavam passar, mas agoraolhava-os com um sorriso afetado epassava o dedo pela garganta.

— Parece que o Mestre deu sua

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aprovação para Fahad vir à aldeia —comentou Mukhlis, tarde daquelanoite, depois que as velasqueimaram. Ele estava sentado aolado da cama do estranho, falandomais para si mesmo do que para ohomem deitado, que não haviarecobrado a consciência desde abatalha no poço. Posteriormente,Mukhlis conseguira colocá-lo na selade seu segundo cavalo e trazê-lo paraMasyaf para que pudesse ser tratado.Aalia e Nada haviam cuidado dele e,por três dias, se perguntaram se eleviveria ou morreria. A perda de

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sangue o deixara pálido como anévoa e deitado na cama — Aalia eMukhlis haviam cedido a sua paraele —, a aparência quase serena,como um cadáver, como se aqualquer momento pudesse partir domundo. No terceiro dia, sua corcomeçou a melhorar. Aaliacomunicara isso a Mukhlis quandoeste voltara do mercado, e ele tomaraseu lugar habitual em uma cadeiraao lado da cama para falar com seusalvador, na esperança de reanimá-lo. Ele tinha adotado o hábito derelatar como fora seu dia,

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ocasionalmente falando de coisassignificativas na esperança dedespertar o inconsciente do pacientee trazê-lo de volta.

— Abbas deu seu preço, ao queparece — disse ele agora. Olhou delado para o estranho, que estavadeitado de costas, os ferimentossarando normalmente, e ficandomais forte a cada dia. — O MestreAltaïr teria morrido a permitir talcoisa — falou.

Inclinou-se à frente, observandocuidadosamente a figura na cama.

— O Mestre, Altaïr Ibn-La’Ahad.

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Pela primeira vez desde que foratrazido à casa de Mukhlis, os olhosdo estranho tremeluziram e seabriram.

Era a reação que ele esperava,mas, mesmo assim, foi apanhado desurpresa, observando enquanto avista nublada do paciente recuperavasua luz.

— É você, não é? — sussurrouMukhlis quando o estranho piscou,então voltou o olhar para ele. —Você é ele, não é? Você é Altaïr.

Altaïr confirmou com a cabeça.Lágrimas formigaram nos olhos de

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Mukhlis e ele baixou da cadeira parao chão de pedra, segurando uma dasmãos de Altaïr nas suas.

— Você voltou para nós — disseele entre soluços. — Você veio nossalvar. — Houve uma pausa. — Vocêveio nos salvar?

— Vocês precisam ser salvos? —perguntou Altaïr.

— Precisamos. Era sua intençãovir a Masyaf quando nosencontramos?

Altaïr pensou.— Quando deixei Alamut, era

inevitável que eu viesse parar aqui. A

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única pergunta era quando.— Você estava em Alamut?— Nesses últimos vinte anos,

mais ou menos.— Eles disseram que você estava

morto. Que, na manhã em queMaria morreu, você se jogou da torreda cidadela.

— Eu me joguei da torre dacidadela — disse Altaïr sorrindosombriamente —, mas sobrevivi. Caíno rio que passa fora da cidade. Porsorte, Darim estava lá. Ele voltava deuma viagem a Alamut, ondeencontrara a viúva e as duas filhas de

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Sef. Ele me salvou e me levou paraelas.

— Eles disseram que você estavamorto — repetiu Mukhlis.

— Eles?Mukhlis abanou a mão,

querendo indicar a cidadela.— Os Assassinos.— Convinha a eles dizer isso,

mas sabiam que eu não estava.Soltou a mão das de Mukhlis,

ergueu-se para se sentar, girando aspernas para fora da cama. Olhoupara os pés, para a velha peleenrugada. Cada milímetro de seu

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corpo vibrava de dor, mas ele sesentia... melhor. Puxou o capuz paraa cabeça, gostando da sensação esentindo o cheiro da roupa limpa.

Colocou a mão no rosto e sentiuque a barba fora cuidada. Não longedali estavam suas botas e, namesinha ao lado da cama, viu omecanismo de sua lâmina, seu novodesenho atualizado pela Maçã.Parecia impossivelmente avançado, eele pensou nos outros desenhos quehavia descoberto. Precisou da ajudade um ferreiro para fazer os objetos.Mas, antes...

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— Minha mochila? — perguntoua Mukhlis, que tinha se colocado depé. — Onde está minha mochila?

Sem falar, Mukhlis apontou paraonde ela se encontrava, no chão depedra à cabeceira da cama, e Altaïrolhou de relance para sua formafamiliar.

— Você olhou dentro dela? —indagou.

Mukhlis negou de modo firmecom a cabeça, e Altaïr examinou-ocom os olhos. Então, acreditandonele, descontraiu e alcançou as botas,calçando-as, e tremendo ao fazê-lo.

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— Quero lhe agradecer por tercuidado de mim — disse ele. — Senão fosse você, eu teria morrido nopoço.

Fazendo pouco caso, Mukhlisretomou seu assento.

— Minha mulher e minha filhacuidaram de você, e sou eu que devolhe agradecer. Você me salvou deuma morte horrível nas mãosdaqueles bandidos. — Inclinou-se àfrente. — Sua maneira de agir foicomo a de Altaïr Ibn-La’Ahad dalenda. Contei para todo mundo.

— As pessoas sabem que estou

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aqui?Mukhlis abriu os braços.— Claro. A aldeia toda conhece a

história do herói que me livrou dasmãos da morte. Todos acreditam queera você.

— E o que faz com que elespensem isso? — perguntou Altaïr.

Mukhlis nada disse. Em vezdisso, indicou com o queixo amesinha baixa onde reluzia inerte omecanismo da lâmina, afiado elubrificado.

Altaïr refletiu.— Você lhes falou sobre a

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lâmina?Mukhlis pensou.— Bem, falei — disse ele —, é

claro. Por quê?— A notícia chegará à cidadela.

Eles virão atrás de mim.— Eles não serão os únicos —

insinuou Mukhlis, pesaroso.— O que quer dizer?— Hoje mais cedo, um

mensageiro do pai do homem quevocê matou visitou a fortaleza.

— E quem era o homem quematei?

— Um assassino cruel chamado

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Bayhas.— E seu pai?— Fahad, líder de um bando de

assaltantes que perambulam pelodeserto. Dizem que está acampado adois ou três dias a cavalo daqui. Foide lá que veio o mensageiro. Dizemque foi pedir permissão ao Mestrepara vir à aldeia e caçar o matador.

— O Mestre? — indagou Altaïr.— Abbas?

Mukhlis confirmou com acabeça.

— Ofereceram uma recompensapelo matador, mas os aldeões a

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rejeitaram. Abbas talvez não tenhasido tão firme assim.

— Quer dizer que as pessoas têmbom coração — concluiu Altaïr —,mas seu líder não.

— Sábias palavras raramentepronunciadas — concordouMukhlis. — Ele toma nosso dinheiroe não dá nada em troca, e quandoantes a cidadela era o coração dacomunidade e do qual provinhaforça, orientação...

— E proteção — completouAltaïr com um meio sorriso.

— Isso também — aquiesceu

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Mukhlis. — Todas essas coisas seforam com você, Altaïr, e foramsubstituídas por... corrupção eparanoia. Dizem que Abbas foiforçado a subjugar uma rebeliãodepois que você partiu, uma rebeliãode Assassinos leais a você e a Malik;que ele mandou matar os cabeças;que ele teme a repetição dainsurreição. A paranoia dele faz comque permaneça em sua torre dia enoite, imaginando tramas emandando matar aqueles que achaserem os responsáveis. Os princípiosda Ordem estão se desintegrando em

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volta dele, do mesmo modo comocertamente a própria fortaleza seencontra dilapidada. Dizem que eletem um sonho recorrente. Que umdia Altaïr Ibn-La’Ahad volta doexílio em Alamut com... — Fez umapausa, olhou de soslaio para Altaïr edepois para a mochila — ...com umartefato capaz de derrotá-lo... Existetal coisa? Você planeja um ataque?

— Mesmo se houvesse, não seráum artefato que derrotará Abbas. É acrença, a crença em nós mesmos e noCredo que conseguirá isso.

— A fé de quem, Altaïr?

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Altaïr abanou o braço.— De vocês. Do povo e dos

Assassinos.— E como você vai recuperá-la?

— perguntou Mukhlis.— Pelo exemplo — respondeu

Altaïr —, um pouco de cada vez.No dia seguinte, Altaïr foi à

aldeia, onde começou não apenas apregar o modo dos Assassinos, mas ademonstrá-lo.

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Tinha havido lutas nas quais Altaïrprecisara intervir, disputas entrecomerciantes que haviam requisitadosua moderação, discussões sobreterras entre vizinhos, mas nenhumafora tão espinhosa como a de duasmulheres que pareciam brigar porum homem. O homem em questão,Aaron, estava sentado em um bancona sombra, curvado de vergonhaenquanto as duas mulheresdiscutiam. Mukhlis, que tinha ido àaldeia com Altaïr para cuidar de seus

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negócios, tentava interceder,enquanto Altaïr permaneciaafastado, os braços cruzados,esperando pacientemente por umapausa nas hostilidades para poderfalar com eles. Ele já havia decididoo que dizer: Aaron, naquelainstância, teria de exercer, gostasseou não, seu livre-arbítrio. Averdadeira preocupação de Altaïrestava com o garoto, cuja febre jáhavia se manifestado e a quem elehavia administrado a poção; areceita, é claro, obtida por meio daMaçã.

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Ou com o cesteiro que estavacriando novas ferramentas para ele,com especificações fornecidas porAltaïr, que as transcrevera da Maçã.

Ou com o ferreiro, que haviaposto os olhos nos desenhos queAltaïr lhe dera, observando-os decabeça para baixo e olhando-os desoslaio. Depois os colocara sobreuma mesa para que Altaïr pudesseindicar exatamente o que precisavaser forjado. Em breve, o Assassinoteria novo equipamento; novasarmas, de um tipo nunca visto.

Ou com o homem que o andara

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vigiando esses últimos dias, que oacompanhara como uma sombra,permanecendo fora de vista, ouassim ele pensava. Altaïr o descobriraimediatamente, é claro. Notara suapostura, soubera que era umAssassino.

Isso tivera de acontecer, é claro.Abbas teria enviado seus agentes àaldeia para saber sobre o estranhoque lutava com a lâmina oculta doAssassino. Abbas certamentechegaria à conclusão de que Altaïrvoltara para recuperar a Ordem.Talvez esperasse que os bandidos

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matassem Altaïr por ele; talvezenviasse um homem encosta abaixopara matá-lo. Talvez essa sombrafosse o Assassino de Altaïr.

As mulheres continuavamdiscutindo. Mukhlis falou, com ocanto da boca: — Mestre, parece queme enganei. Essas mulheres nãoestão discutindo sobre quem deveriaficar com o infeliz Aaron, mas quemdeveria levá-lo.

Altaïr deu uma risada.— Minha decisão continua a

mesma — disse ele, lançando umolhar divertido para onde Aaron

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estava sentado roendo as unhas. —Cabe ao jovem decidir seu própriodestino. — Olhou furtivamente paraseu espreitador, que estava sentado àsombra das árvores, o manto cor delama envolto no corpo, olhando parao mundo como um aldeãosonolento.

Para Mukhlis, ele disse: —Voltarei logo. A conversa deles estáme dando sede.

Virou-se e deixou o pequenogrupo, alguns dos quais estavam sepreparando para segui-lo, quandoMukhlis, discretamente, acenou para

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que voltassem.Altaïr sentiu, em vez de ver, sua

sombra também se levantar,seguindo-o enquanto caminhavapara uma praça e a fonte em seucentro. Ali, curvou-se, bebeu, e pôs-se de pé, fingindo olhar a aldeia láembaixo. Então...

— Está bem — disse ele aohomem que sabia estar parado atrásdele. — Se vai me matar, é melhorfazer isso agora.

— Vai simplesmente deixar?Altaïr deu uma risadinha — Não

passei minha vida percorrendo o

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caminho de um guerreiro para medeixar apanhar por um jovem filhoteem uma fonte.

— Você me ouviu?— Claro que ouvi. Ouvi você se

aproximar tão dissimuladamentequanto um elefante e notei que vocêprivilegia seu lado esquerdo. Seatacar, eu me movimentarei peladireita para enfrentar seu lado maisfraco.

— Eu não anteciparia isso?— Bem, isso dependeria do alvo.

Você faria isso, é claro, conhecendobem seu alvo e estando a par de suas

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habilidades de combate.— Eu sei que este aqui tem

insuperáveis habilidades de combate,Altaïr Ibn-La’Ahad.

— É mesmo? Você não deviapassar de uma criança quandochamei Masyaf de minha pela últimavez.

Agora Altaïr virou-se paraencarar o estranho, que tirou o capuzpara revelar o rosto de um homemjovem, talvez com 20 anos, a barbanegra. Ele tinha um formato dequeixo e olhos que Altaïrreconheceu.

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— Eu fui — disse o rapaz. — Eufui um renascido.

— Então não foi doutrinadocontra mim? — perguntou Altaïr,projetando o queixo na direção dacidadela no promontório acimadeles. Ela permanecia agachada alicomo se os observasse.

— Alguns são mais facilmentedoutrinados do que outros —comentou o rapaz. — Há muitos quepermaneceram fiéis aos códigosantigos, e esse número é maior àmedida que os efeitos perniciosos dosnovos modos se tornam mais

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evidentes. Eu, porém, tenho maismotivos do que a maioria parapermanecer fiel.

Os dois Assassinos continuaramcara a cara diante da fonte, e Altaïrteve a sensação de seu mundobalançar um pouco. De repente,sentiu como se fosse desfalecer.

— Qual é o seu nome? —perguntou, e sua voz soou estranhaaos próprios ouvidos.

— Tenho dois nomes — explicouo rapaz. — O nome pelo qual souconhecido da maioria da Ordem,que é Tazim. Mas tenho outro nome,

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meu nome de batismo, que me foidado pela minha mãe emhomenagem a meu pai. Ele morreuquando eu era apenas um bebê,morto por ordem de Abbas. O nomedele era...

— Malik. — Altaïr prendeu arespiração e avançou, lágrimasformigando em seus olhos quandosegurou o rapaz pelos ombros. —Meu menino! — exclamou. — Eudevia ter adivinhado. Você tem osolhos do seu pai. — Soltou umarisada. — Não estou tão certoquanto à sua dissimulação, mas...

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você possui o espírito dele. Eu nãosabia... Nunca soube que ele tinhaum filho.

— Minha mãe foi mandada paralonge daqui, logo após ele ser preso.Quando atingi a juventude, volteipara me juntar à Ordem.

— Para buscar vingança?— Ocasionalmente, talvez. O que

melhor estiver de acordo com amemória dela. Agora que vocêchegou, vejo a maneira.

Altaïr colocou as mãos sobre seusombros, conduziu-o para longe dafonte, e eles atravessaram a praça,

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conversando intensamente.— Que tal as suas habilidades de

combate? — perguntou ao jovemMalik.

— Sob o comando de Abbas,essas coisas foram negligenciadas,mas tenho treinado. No entanto, oconhecimento Assassino malavançou nos últimos vinte anos.

Altaïr deu uma risadinha.— Não aqui, talvez. Mas aqui. —

Altaïr bateu do lado da cabeça. —Aqui o aprendizado Assassinoaumentou dez vezes mais. Tenhoessas coisas para mostrar à Ordem.

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Planos. Estratégias. Projetos de novasarmas. Neste momento, o ferreiro daaldeia as está forjando para mim.

Respeitosamente, aldeõesafastaram-se do caminho deles.Todos agora sabiam a respeito deAltaïr, e aqui, pelo menos nocontraforte da fortaleza, ele eranovamente o Mestre.

— E você diz que há outros nocastelo leais a mim? — indagouAltaïr.

— Há tantos que odeiam Abbasquanto os que o servem. Mais até,agora que informei que vi você na

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aldeia. A notícia de que o grandeAltaïr voltou está se espalhando deforma lenta, mas segura.

— Ótimo — disse Altaïr. — Eesses que me apoiam podem serconvencidos a se agrupar para quepossamos marchar contra o castelo?

O jovem Malik parou e olhoupara Altaïr, semicerrando os olhoscomo se para verificar se o velho nãoestava brincando. Então abriu umsorriso.

— Você pretende fazer isso. Vocêpretende mesmo fazer. Quando?

— Em breve o salteador Fahad

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trará seus homens para a aldeia —respondeu. — Precisamos estar nocontrole antes que isso aconteça.

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Na manhã seguinte, ao raiar do dia,Mukhlis, Aalia e Nada foram de casaem casa, informando às pessoas queo Mestre marcharia colina acima.Animados com a expectativa, o povose reuniu no mercado, formandopequenos grupos ou sentados nosmuros baixos. Após algum tempo,Altaïr juntou-se a eles. Usava omanto branco e uma faixa nacintura. Quem olhasse mais de perto,veria em seu dedo o anel domecanismo de pulso. Foi para o

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centro da praça, Mukhlis a seu lado,um confiável tenente, e esperou.

O que Maria teria lhe dito agora?,pensou Altaïr enquanto esperava. Ojovem Malik: Altaïr confiara neleimediatamente. Depositara tanta féno rapaz que, se fosse um traidor,seria melhor que Altaïr estivessemorto, e seus planos de retomar aOrdem pareceriam nada mais do queenganosas fantasias de um velho.Pensou naqueles em quem confiaraantes e que o haviam traído. TeriaMaria aconselhado cautela agora?Teria ela lhe dito que ele era

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imprudente em ser tão incondicionaldiante de provas tão escassas? Ou lheteria dito, como o fez certa vez,“Confie nos seus instintos, Altaïr. Osensinamentos de Al Mualim lhederam sabedoria; a traição dele ocolocou no caminho damaturidade”.

Ah, e agora sou muito maissábio, meu amor, ele disse empensamento para ela — para ofragmento dela que ele mantinha asalvo em sua memória.

Altaïr sabia que ela teriaaprovado o que ele fizera com a

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Maçã, os anos que passaraespremendo seu sumo, aprendendocom ela. Não teria aprovado a culpaque ele carregara por sua morte; avergonha que sentiu ao deixar queseus atos fossem guiados pela raiva.Não, ela não teria aprovado isso. Oque ela teria dito? Aquela expressãoinglesa que usava: “Mantenha-sefirme.”

Ele quase gargalhou ao selembrar disso. Mantenha-se firme.No final, ele se manteve, é claro, mashavia levado anos para conseguir isso— anos odiando a Maçã, odiando a

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própria imagem dela, até mesmopensar nela, o poder maligno quepermanecia adormecido no interiordo eterno mosaico liso de sua casca.Ele a fitava, meditando durantehoras, revivendo a dor que ela lhetrouxera.

Negligenciadas, incapazes desuportar o peso do sofrimento deAltaïr, a esposa de Sef e as duasfilhas tinham partido. Ele recebera anotícia de que elas haviam seinstalado em Alexandria. Um anodepois, Darim também partira,impelido pelo remorso de seu pai e

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sua obsessão com a Maçã. Viajarapara França e Inglaterra a fim dealertar os líderes de lá que osmongóis estavam avançando.Deixado sozinho, o tormento deAltaïr havia piorado. Ele passarialongas noites fitando a Maçã, comose ele e ela fossem dois adversáriosprestes a guerrear — como se, nocaso de que dormisse ou mesmotirasse os olhos da Maçã, ela pudesseatacá-lo.

No final, ele pensara naquelanoite no jardim em Masyaf, em seumentor Al Mualim abatido sobre o

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mármore do terraço, a queda-d’águacorrendo ao fundo. Lembrou-se desegurar a Maçã pela primeira vez esentir que provinha dela algo quenão era maligno, mas benigno. Asimagens que ela havia produzido.Estranhos desenhos futuristas deculturas distantes retiradas de seuspróprios tempo e espaço, além daesfera de seu conhecimento. Naquelanoite no jardim ele compreenderainstintivamente sua capacidade parao bem. Desde então, porém, ela sómostrara seus aspectos malignos,mas aquela importante sabedoria

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estava ali em algum lugar. Foranecessário ser localizada e persuadidapara sair. Fora necessário um agentepara sua liberação — e Altaïrconseguira controlar mais uma vez oseu poder.

Antes ele tinha sido consumidopela dor por causa de Al Mualim.Agora era consumido pela dor porcausa de sua família. Talvez a Maçãtivesse de tirar primeiro para entãodar.

Qualquer que fosse a resposta,seus estudos haviam começado, ediário após diário era preenchido:

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página após página de filosofia,ideologia, projetos, desenhos,esquemas, memórias. Velasincontáveis queimavam enquanto elerabiscava febrilmente, parandoapenas para ir ao banheiro. Por diasa fio ele escrevia, então por dias a fioele deixava sua escrivaninha,cavalgava sozinho para fora deAlamut, em incumbências da Maçã,colhendo ingredientes, juntandosuprimentos. Certa vez, o Pedaço doÉden até mesmo o direcionara a umasérie de artefatos que ele apanhou eescondeu, sem revelar a ninguém sua

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natureza ou seu paradeiro.Não tinha deixado o lamento de

lado, é claro. Ainda se culpava pelamorte de Maria, mas tirara dissouma lição. Sentia agora um tipo maispuro de pesar: um anseio por Mariae por Sef, uma dor que não pareciadeixá-lo, que em um dia era tãoafiada e aguda como uma lâminafazendo milhares de cortes em seucoração, e no outro era umasensação nauseante e vazia, como seuma ave doente tentasse abrir as asasdentro de seu estômago.

Às vezes, porém, sorria, pois

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achava que Maria teria aprovado ofato de ele chorar por ela. Isso teriaagradado aquela parte dela quepermanecera sendo uma mimadafidalga inglesa, que era tãocompetente em fixar um homemcom um olhar arrogante quanto emderrotá-lo em combate, seusdestruidores comentários mordazestão cortantes quanto sua lâmina. E, éclaro, ela teria aprovado que elefinalmente tivesse conseguido semanter firme, porém, mais do quetudo, ela teria aprovado o que eleestava fazendo agora: pegando seu

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conhecimento e aprendizado elevando-os de volta para a Ordem.Será que ele sabia que, tendoterminado seu exílio, seguira de voltapara Masyaf por esse motivo? Aindanão tinha certeza. Tudo que sabiaera que, uma vez aqui, não haviaoutra opção. Visitara o local onde ahaviam enterrado; a lápide dotúmulo de Malik não estava distante,cuidada pelo jovem Malik. Altaïr sedera conta de que Maria, Sef eMalik, sua mãe e seu pai, e atémesmo Al Mualim, estavam todosperdidos para sempre. A Irmandade,

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no entanto, ele poderia tomar devolta.

Mas apenas se o jovem Malikfosse tão bom quanto sua palavra. E,parado ali, sentindo a excitação e aexpectativa da multidão como umpeso que devia suportar nas costas,Mukhlis pairando ali perto, elecomeçou a imaginar. Com os olhosfixos na cidade, esperou o portão seabrir e os homens aparecerem. Malikdissera que seriam pelo menos vinte,todos apoiando Altaïr com o mesmofervor que ele. Vinte guerreiros e,com o apoio do povo, Altaïr achava

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que seria o suficiente para superartrinta ou quarenta Assassinos aindaleais a Abbas.

Imaginou se Abbas estava agoralá em cima, na torre do Mestre,olhando de soslaio para ver o queestava acontecendo lá embaixo.Esperava que sim.

Por toda a sua vida, Altaïr serecusara a encontrar gratificação namorte de outro; mas Abbas? Adespeito da pena que sentia dele,havia as mortes de Sef, Malik eMaria para serem levadas em conta;também havia a destruição da

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Ordem por causa dele. Altaïrprometera a si mesmo que não teriaprazer — nem mesmo satisfação —com a morte de Abbas.

Mas teria prazer e satisfação naausência de Abbas, depois que otivesse matado. Conseguiria sepermitir isso.

Mas apenas se o portão se abrissee todos os seus aliados aparecessem.Em volta dele, as aglomeraçõescomeçavam a ficar inquietas. Sentia aconfiança e a segurança com as quaishavia acordado lentamentediminuírem.

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Então tomou conhecimento deum burburinho entre os aldeões eseus olhos foram do portão docastelo — ainda firmemente fechado— para a praça. Um homem debranco pareceu se materializar namultidão. Um homem quecaminhou para Altaïr de cabeçabaixa, então tirou o capuz e riu paraele. Era o jovem Malik. E, atrás dele,vinham outros. Todos, como ele,surgindo da multidão como setivessem ficado visíveis de repente. Aseu lado, Mukhlis engoliu em seco.A praça estava, de uma hora para

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outra, repleta de homens commantos brancos. Altaïr começou arir. Surpresa, alívio e alegria naquelarisada, enquanto cada homem seaproximava dele, inclinava a cabeçaem respeito, mostrando-lhe lâminaou arco ou faca de arremesso.Mostrando-lhe lealdade.

Altaïr apoiou nos ombros dojovem Malik e seus olhos brilharam.

— Retiro o que disse — retratou-se. — Você e todos os seus homens...Sua dissimulação é incomparável.

Sorrindo, Malik baixou a cabeça.— Mestre, temos de partir

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imediatamente. Abbas logo ficaráciente da nossa ausência.

— Que assim seja — disse Altaïr,e subiu no muro baixo da fonte paraacenar para Mukhlis, que veio emsua ajuda.

Então se dirigiu à multidão: —Por tempo demais o castelo na colinatem sido um local sombrio eamedrontador, e hoje espero torná-lonovamente um farol luminoso... coma ajuda de vocês. — Houve ummurmúrio baixo de aprovação eAltaïr o silenciou. — O que nãofaremos, porém, é saudar a nossa

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nova alvorada por meio de umacortina de sangue Assassino. Aquelesque permaneceram fiéis a Abbas sãonossos inimigos hoje, mas amanhãserão nossos companheiros. Aamizade deles só pode serconquistada se nossa vitória formisericordiosa. Matar apenas se forabsolutamente necessário. Viemostrazer paz a Masyaf, e não morte.

Com isso, desceu da mureta ecaminhou para a praça, osAssassinos e aldeões seguindo atrásdele. Os Assassinos cobriram acabeça com o capuz. Pareciam

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severos e decididos. As pessoasvinham mais atrás: emocionadas,nervosas, receosas. Muita coisadependia desse resultado.

Altaïr subiu a encosta em que,quando criança, ele havia corridopara cima e para baixo; ele e Abbasjuntos. Como Assassino, correra decima a baixo, treinando, ou pordemandas do Mestre, partindo parauma missão ou retornando de uma.Agora sentia a idade nos ossos,pelejando um pouco encosta acima,mas seguindo em frente.

Um pequeno grupo de pessoas

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leais a Abbas os encontrou na colina,uma missão de reconhecimentoenviada para testar o ânimo deles. Aprincípio, os homens que estavamcom Altaïr pareceram relutantes ematacá-los: afinal de contas, eramcolegas com quem tinham vivido etreinado. Amigos lutaram uns contraos outros; sem dúvida, se a lutacontinuasse, membros de umamesma família poderiam ficar cara acara. Por longos momentos, o grupode reconhecimento mais numeroso eos adeptos de Altaïr se enfrentaram.O grupo de batedores tinha a

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vantagem de estar em terreno maisalto, mas, fora isso, eram comoovelhas mandadas para omatadouro.

Os olhos de Altaïr foram paraonde podia ver o cume da torre doMestre. Abbas, com certeza, seriacapaz de vê-lo agora. Devia ter vistoas pessoas subindo a colina nadireção dele. Os olhos de Altaïrforam da cidadela para os batedores,enviados à luta em nome de seumestre corrupto.

— Não deve haver matança —repetiu Altaïr para seus homens, e

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Malik assentiu.Um dos batedores sorriu de um

modo sórdido.— Então você não irá longe,

velho.Ele avançou com a espada

girando na direção de Altaïr, talvezesperando acabar com a rebelião naraiz: matar Altaïr e deter a revolta.

Na duração de um bater de asasde um beija-flor, o Assassinorodopiara para se livrar do ataque,sacara a espada e contivera o impulsodiante do corpo do atacante,agarrando-o por trás.

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O batedor deixou a espada cairao sentir a lâmina de Altaïr em suagarganta, e choramingou.

— Não haverá matança, emn o m e deste velho — murmurouAltaïr no ouvido do batedor, e oempurrou para Malik, que o agarroue deu um golpe para derrubá-lo nochão. Os outros do grupo dereconhecimento se aproximaram,mas com menos entusiasmo, semânimo para a luta. Todos eles sedeixaram capturar; em pouco tempo,estavam presos ou inconscientes.

Altaïr observou a breve luta.

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Olhou para a mão onde a espada dobatedor fizera um corte e,discretamente, limpou o sangue.Você foi lento, pensou. Da próximavez, deixe a luta para os mais jovens.

Ainda assim, esperou que Abbasestivesse olhando. Agora, homens sereuniam nos bastiões. Esperoutambém que eles tivessem visto osacontecimentos na colina: o grupo dereconhecimento tratadopiedosamente.

Continuaram encosta acima,chegando ao planalto no momentoem que finalmente foi aberto o

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portão da fortaleza. Mas Assassinosprecipitaram-se por ele, berrando eprontos para a luta.

Atrás de si, Altaïr ouviu osaldeões gritarem e se espalharem,embora Mukhlis os encorajasse aficar. Altaïr virou-se para vê-lo jogaras mãos para cima, mas ele nãopodia culpar as pessoas por sua faltade determinação. Todas conheciam aterrível selvageria dos Assassinos.Sem dúvida, nunca tinham visto doisbandos opostos de Assassinos lutar,nem queriam ver. O que viram foiAssassinos saqueadores passar

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urrando pelos portões, com os dentestrincados, as espadas lampejantes eas botas martelando a relva. Elasviram os seguidores de Altaïragachados e tensos, preparando-separa a ação. E elas se abrigaram,algumas correndo em busca deproteção atrás da torre de vigia,outras recuando colina abaixo.Houve uma forte gritaria e oestrondo de aço quando os doislados se encontraram. Altaïr tinhaMalik como guarda-costas, emantinha um olho nos bastiõesenquanto a batalha seguia furiosa —

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os bastiões onde estavam osarqueiros, talvez uns dez deles. Sedisparassem, a batalha certamenteestaria perdida.

Então ele viu Abbas.E Abbas o viu.Por um momento, os dois

comandantes se olharam. Abbas nosbastiões, Altaïr lá embaixo — forte esilencioso como uma rocha,enquanto a batalha acontecia à suavolta —, os melhores amigos deinfância que haviam se tornadoamargurados inimigos. Então omomento foi quebrado quando

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Abbas gritou para os arqueirosdispararem. Altaïr viu incerteza emseus rostos quando ergueram osarcos.

— Ninguém deve morrer —berrou Altaïr, pedindo aos seuspróprios homens, sabendo que amaneira de conquistar a simpatia dosarqueiros era pelo exemplo.

Abbas estava preparado parasacrificar Assassinos; Altaïr não, etudo que ele podia fazer era esperarque os corações dos arqueiros fossemsinceros. Rezou para que seusseguidores mostrassem que estavam

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se contendo, que não davam motivopara os arqueiros dispararem. Viuum dos seus homens cair, urrando,com a garganta aberta, e de imediatoo Assassino responsável passou aatacar outro.

— Aquele — ordenou a Malik,apontando na direção da batalha. —Pegue-o, Malik, mas eu lhe peço queseja piedoso.

Malik juntou-se à batalha e oAssassino leal a Abbas foiempurrado para trás ao ser golpeadonas pernas. Quando seu oponentecaiu, Malik montou nele e desferiu

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não um golpe mortal, mas umapancada com o cabo da espada quedeixou o outro sem sentidos.

Altaïr olhou novamente para osbastiões. Viu dois dos arqueirosbaixarem os arcos, balançando acabeça. Viu Abbas pegar uma adaga— a adaga de seu pai — e ameaçar oshomens com ela, mas outra vez elesbalançaram a cabeça, baixaram osarcos e colocaram as mãos nos cabosde suas espadas. Abbas girou,gritando para os arqueiros ao longodos bastiões atrás dele, ordenando-lhes que abatessem os desertores.

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Mas eles também baixaram os arcos,e o coração de Altaïr disparou.Agora incitou seus homens aavançarem para o portão. A batalhaainda continuava, mas os Assassinosleais a Abbas aos poucos tomavamconhecimento do que se passava nosbastiões. Mesmo enquanto lutavam,trocavam olhares de incerteza e, umpor um, recuaram, abandonando ocombate, largando as espadas,erguendo os braços, rendendo-se. Ocaminho estava livre para o grupo deAltaïr avançar para o castelo.

Altaïr conduziu seus homens ao

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portão e bateu com o punho naportinhola. Atrás dele, reuniram-seos Assassinos — e os aldeões tambémestavam voltando, de modo que oplanalto ficou cheio. Do outro ladodo portão do castelo havia umaestranha tranquilidade. O silênciobaixou sobre o pessoal de Altaïr, e oar estalava de expectativa, até que, derepente, trancas foram puxadas e ogrande portão do castelo foiescancarado, aberto pelos guardas,que largaram as espadas e curvaramas cabeças em deferência a Altaïr.

Ele assentiu em resposta,

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atravessou a soleira por baixo doarco e cruzou o pátio até a torre doMestre. Atrás dele vinha seu povo,que se espalhou e se instalou nasmargens do pátio. Arqueirosdesceram as escadas dos bastiõespara se juntar às pessoas, e viam-seos rostos de famílias e criadosvoltados para as vidraças das janelasdas torres que davam vista para oterreno. Todos queriam presenciar oretorno de Altaïr, ver seu confrontocom Abbas.

Ele subiu os degraus para aplataforma, depois foi para o saguão

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de entrada. Mais à frente dele, Abbasse encontrava na escada, com o rostosombrio e esgotado, dominado pelodesespero e pela derrota, como umafebre.

— Acabou-se, Abbas — gritouAltaïr. — Ordene aos que ainda sãoleais a você que se rendam.

Abbas riu.— Nunca.Nesse momento, a torre se abriu

e os últimos dos que ainda eram leaisa Abbas saíram das áreas laterais docastelo para o saguão: mais oumenos uma dúzia de Assassinos e

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criados. Alguns tinham olhosnervosos, espantados. Outros eramferozes e determinados. A batalhaainda não havia terminado.

— Mande seus homenssuspenderem a ofensiva — ordenouAltaïr. Ele girou metade do corpopara indicar o pátio onde a multidãoestava reunida. — Você não tempossibilidade de vencer.

— Estou defendendo a cidadela,Altaïr — disse Abbas —, até o últimohomem. Você não teria feito omesmo?

— Eu teria defendido a Ordem,

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Abbas — vociferou Altaïr. — Em vezdisso, você sacrificou tudo que eraimportante para nós. Sacrificou aminha mulher e o meu filho no altardo seu próprio rancor... da suanegação vazia de aceitar a verdade.

— Está se referindo ao meu pai?Às mentiras que contou sobre ele?

— Não é por isso que estamosaqui? Não foi o manancial de seuódio que escorreu através dos anos eenvenenou a todos?

Abbas tremia. Os nós dos dedosestavam brancos na balaustrada dasacada.

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— Meu pai deixou a Ordem —afirmou ele. — Ele jamais teria sematado.

— Ele se matou, Abbas. Ele sematou com a adaga que você guardaescondida no manto. Seu pai sematou porque tinha mais honra doque você jamais terá, e porque nãoqueria que sentissem pena dele. Nãoqueria que sentissem pena dele comosentirão de você, como todossentirão enquanto você estiverapodrecendo na masmorra docastelo.

— Nunca! — rosnou Abbas, e

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apontou um dedo trêmulo paraAltaïr. — Você alega que é capaz deretomar a Ordem sem a perda davida de um Assassino. Vejamos vocêtentar. Matem-no.

E, de repente, os homens nosaguão avançaram como uma ondaaté que...

O som de uma explosão ecoouno saguão e silenciou todo mundo— a multidão no pátio, osAssassinos, o grupo leal a Abbas.Todos olharam chocados para Altaïr,que permanecia com o braçolevantado como se apontasse para

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Abbas — como se tivesse acionadosua lâmina na direção da escada.Mas, em vez de uma lâmina, em seupunho havia um anel de fumaça.

Da escada, veio um curto gritoestrangulado, e todos viram Abbasolhar abaixo para seu peito, ondeuma pequena mancha de sangue emseu manto se espalhavagradualmente. Seus olhos estavamarregalados por causa do choque. Oqueixo sacudia como se tentasseformar palavras que não saíam.

Os Assassinos favoráveis a Abbastinham parado. Olhavam

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boquiabertos para Altaïr, quemovimentou o braço, apontandopara eles, de modo que agorapodiam ver o mecanismo de pulsoque ele usava.

Era apenas um tiro, e ele o tinhausado, mas não sabiam disso.Ninguém jamais vira tal arma.Apenas uns poucos sabiam de suaexistência. E, ao vê-la virada em suadireção, o grupo de Abbas se curvou.Eles largaram as espadas. Passarampor Altaïr e pela porta da torre e sejuntaram à multidão, com os braçoserguidos em rendição, ao mesmo

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tempo que Abbas se lançava para afrente, rolando pela escada epousando com um desagradávelbaque surdo no saguão abaixo.

Altaïr agachou-se junto a ele.Abbas estava deitado, respirandocom dificuldade, com um dos braçosposicionados em um ânguloestranho, como se tivesse sequebrado na queda, e a frente domanto molhada de sangue.Restavam-lhe alguns momentos.

— Você quer que eu lhe peçaperdão? — perguntou a Altaïr. Esorriu, parecendo subitamente

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esquelético. — Por ter tirado suamulher e seu filho de você?

— Abbas, por favor, não deixeque suas últimas palavras sejammalignas.

Abbas produziu um curto somde escárnio.

— Ainda tenta ser virtuoso. —Ele levantou um pouco a cabeça. —Foi você quem deu o primeiro golpe,Altaïr. Tirei sua mulher e seu filho,mas só depois de suas mentiras teremtirado muito mais de mim.

— Não eram mentiras — disseAltaïr. — Durante todos esses anos,

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você nunca duvidou?Abbas retraiu o corpo e apertou

os olhos de dor. Após uma pausa,disse: — Alguma vez, Altaïr,imaginou se havia outro mundo?Dentro de momentos, saberei comcerteza. E, se há, encontrarei meupai, e nós dois estaremos lá pararecebê-lo quando chegar a sua hora.Então... então não haverá qualquerdúvida.

Ele tossiu e gorgolejou, e umabolha de sangue se formou em suaboca. Altaïr olhou em seus olhos enada viu do menino órfão que um

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dia conhecera, nada viu do melhoramigo que um dia tivera. Tudo queviu foi uma criatura desfigurada quehavia lhe custado tanto.

E, quando Abbas morreu, Altaïrse deu conta de que já não o odiavanem sentia pena dele. Não sentiunada — nada, a não ser alívio porAbbas não estar mais no mundo.

Dois dias depois, o assaltante Fahadapareceu com sete de seus homens acavalo e foi recebido no portão daaldeia por um grupo de Assassinosliderados por Altaïr. Eles foram

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parados nos limites da praça domercado, confrontados por umafileira de homens usando mantosbrancos. Alguns permaneceram comos braços cruzados, outros com asmãos nos arcos ou no cabo daespada.

— Então é verdade. O grandeAltaïr Ibn-La’Ahad retomou ocontrole de Masyaf — observouFahad. Ele parecia preocupado.

Altaïr inclinou a cabeça, sim.Fahad assentiu lentamente, como

se meditasse sobre esse fato.— Eu tinha um acordo com o

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seu antecessor — explicou ele porfim. — Paguei-lhe uma grande somapara poder entrar em Masyaf.

— O que você acaba de fazer —disse Altaïr afavelmente.

— Ah, sim, mas receio que porum motivo específico — retrucouFahad, com um sorriso anuviado, emudou um pouco de posição na sela.— Estou aqui para encontrar oassassino do meu filho.

— O que você acaba de fazer —repetiu Altaïr, não menosafavelmente.

O sorriso anuviado sumiu aos

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poucos do rosto de Fahad.— Entendo — disse ele. Inclinou-

se à frente. — E qual de vocês é ele?— Seus olhos seguiram ao longo dafila de Assassinos.

— Você não tem nenhumatestemunha que possa identificar oassassino de seu filho? — perguntouAltaïr. — Ela não pode apontar oculpado entre nós?

— Eu tinha — suspirou Fahadpesarosamente —, mas a mãe domeu filho mandou arrancar seusolhos.

— Ah — fez Altaïr. — Bem, ele

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era mesmo um covarde. Talvez vocêse console com o fato de que ele fezmuito pouco para proteger seu filhoou, aliás, para vingá-lo depois que elefoi morto. Assim que teve deenfrentar dois velhos em vez de um,ele botou o rabo entre as pernas efugiu.

Fahad abateu-se.— Você?Altaïr confirmou com a cabeça.— Seu filho morreu como viveu,

Fahad. Ele adorava infligir dor.— Uma característica que herdou

da mãe.

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— Ah.— E, consequentemente, ela

insiste que seu nome seja vingado.— Então não resta mais nada a

dizer — concluiu Altaïr. — A não serque pretenda fazer sua tentativaneste exato momento, esperarei vocêcom seu exército.

Fahad pareceu preocupado.— Pretende deixar que eu vá

embora? Sem arqueiros para meimpedir? Sabendo que voltarei comuma força para esmagá-lo?

— Se eu o matar, terei decombater a ira de sua mulher —

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sorriu Altaïr —, e, além disso, tenhoa impressão de que mudará de ideiasobre atacar Masyaf quando voltarao seu acampamento.

— E por que eu faria isso?Altaïr sorriu.— Fahad, se fôssemos guerrear,

nenhum de nós cederia. Nós doiscolocaríamos em jogo muito mais doque mereceria a dor. Minhacomunidade seria arrasada, talvez demodo irreparável... Mas a suatambém seria.

Fahad pareceu meditar.— Cabe a mim, certamente,

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decidir o preço da dor.— Não faz muito tempo eu perdi

meu próprio filho — contou Altaïr—, por causa disso, estive perto deperder o meu povo. Percebi que eraum preço alto demais para pagar,mesmo pelo meu filho. Se pegar emarmas contra nós, você se arrisca atamanha perda. Tenho certeza deque os valores de sua comunidadediferem muito dos da minha, massão realmente tão prezados quantosão tão relutantemente rendidos.

Fahad assentiu.— Você tem uma cabeça mais

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sensata do que seu antecessor, Altaïr.Muito do que diz faz sentido, ecertamente refletirei sobre issodurante a viagem de volta. Tambémme empenharei em explicar isso àminha mulher. — Pegou as rédeas evirou o cavalo para ir embora. —Boa sorte, Assassino — disse ele.

— Pelo jeito, será você queprecisará de sorte.

O assaltante deu outro de seussorrisos tortos e pesarosos, e partiu.Altaïr deu uma risadinha e olhoupara a cidade no promontório.

Havia muito trabalho a fazer.

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12 de agosto de 1257

Pois bem. Ficou tarde demais paraescaparmos de Masyaf antes de osmongóis chegarem. Aliás, elestinham chegado. Como resultado,partimos para Constantinopla emquestão de horas e estou rabiscandoestas palavras enquanto nossasposses são retiradas por ajudantespara serem carregadas nas carroças.E se Maffeo pensa que aquele olharcortante, que insiste em lançar naminha direção, será o bastante paraeu pousar a pena e dar uma mão, ele

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está enganado. Sei agora que estaspalavras serão de vital importânciapara futuros Assassinos. Elasprecisam ser escritas imediatamente.

É apenas um pequeno grupo deguerra, foi o que nos disseram. Mas aforça principal não está muitodistante. Enquanto isso, o grupoquer aparentemente fazer seu nome etem lançado pequenos mas ferozesataques, escalando a muralha daaldeia e lutando nos bastiões antesde recuar. Conheço muito pouco daarte da guerra, graças a Deus, masme ocorre que esses curtos ataques

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podem ser uma maneira de julgarnossa força, ou a falta dela. E mepergunto se o Mestre se arrependeráde sua decisão de enfraquecer acidadela pondo os Assassinos emdebandada. Apenas dois curtos anos,nenhum mero grupo pequeno deguerra teria chegado a dez passos docastelo sem cair vítima dos arqueirosAssassinos, ou diante das lâminasdos defensores.

Quando tomou de Abbas ocontrole da Ordem, a primeiradeterminação de Altaïr foi mandarbuscar seus diários: a obra do Mestre

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seria um dos pilares da reconstruçãoda Ordem, essencial para fornecer osalicerces para cessar a deterioraçãoem Masyaf. Sob o reino corrupto deAbbas, eles nada tinham dashabilidades ou do treinamento dosantigos: a Irmandade era Assassinaapenas no nome. A primeira missãode Altaïr foi restaurar a disciplinaque havia sido perdida. Mais umavez, o pátio de treinamento ecooucom o estrépito do aço e os gritos dosinstrutores. Por essa época, nenhummongol teria ousado atacar.

Mas, assim que a Irmandade fora

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restaurada em nome e reputação,Altaïr decidiu que a base em Masyafnão deveria mais existir e retirou oescudo Assassino do mastro. Elespassariam a agir no meio das pessoase não acima delas. O filho de Altaïr,Darim, chegou a sua casa em Masyafpara encontrar poucos Assassinosrestantes, a maioria ocupada naconstrução da biblioteca do Mestre.Quando ficou pronta, Darim foidespachado para Constantinopla afim de localizar meu irmão e a mim.

O que nos leva à nossa entradana história, cerca de oitenta anos

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após ter começado.— Mas ainda não acabou, eu

sinto isso — comentou Maffeo.Ele estava parado à minha espera.

Iríamos ver o Mestre no pátioprincipal. Pelo que seria certamente aúltima vez, seguimos nosso caminhopela fortaleza até o pátio, conduzidospelo fiel administrador de Altaïr,Mukhlis.

Ao chegarmos, pensei: Que cenasele viu, esse pátio. Foi aqui ondeAltaïr viu Abbas, parado na calda danoite, ansiando pelo pai morto. Foiaqui que os dois haviam brigado e se

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tornado inimigos; onde Altaïr forahumilhado diante da Ordem por AlMualim; onde Maria tinha morrido,Abbas também.

Nada disso teria sido perdidopara Altaïr, que reunira a maioriados Assassinos para ouvir o que eletinha a dizer. Darim estava entreeles, com seu arco, e o jovem Maliktambém, e Mukhlis, que seposicionou ao lado do Mestre naplataforma do lado de fora de suatorre. Nervos se agitavam comomariposas no meu estômago e mepeguei respirando em pequenas

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porções irregulares para tentarcontrolá-las, achando desconcertanteo barulho de fundo da batalha. Osmongóis, aparentemente, tinhamescolhido aquele momento paradesferir outro de seus ataques aocastelo, talvez cientes de que asdefesas estavam enfraquecidasdurante um curto período.

— Irmãos — disse Altaïr, paradodiante de nós —, nosso tempo juntosserá breve, eu sei. Mas tenho fé queesse códex responderá a qualquerpergunta que ainda precisem fazer.

Peguei-o e virei-o em minhas

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mãos, com grande reverência. Elecontinha os pensamentos maisimportantes do Mestre, extraídos dedécadas de estudo da Maçã.

— Altaïr — falei, malconseguindo formar as palavras —,este presente é... inestimável. Grazie.

A um sinal de Altaïr, Mukhlisdeu um passo à frente com umpequeno saco que entregou aoMestre.

— Aonde vocês irão a seguir? —perguntou Altaïr.

— A Constantinopla, por umtempo. Podemos montar uma guilda

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lá, antes de retornarmos a Veneza.Ele deu uma risadinha.— Seu filho Marco deve estar

ansioso para ouvir as históriasmalucas do pai.

— Ele é um pouco novo para taishistórias. Mas, em breve, sì. — Eusorri.

Entregou-me o saco e senti váriosobjetos pesados se movimentaremdentro dele.

— Um último favor, Niccolò.Leve estas com você, e guarde-asbem. Esconda-as, se for preciso.

Ergui as sobrancelhas,

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implicitamente pedindo suapermissão para abrir o saco, e eleconcordou com a cabeça. Olheidentro dele, então enfiei a mão eretirei uma pedra, uma das cinco:assim como as outras, tinha umburaco no meio.

— Artefatos? — perguntei. Fiqueiimaginando se eram os artefatos queele havia encontrado durante seuexílio em Alamut.

— Um tipo — disse o Mestre. —São chaves, cada qual contendo umamensagem.

— Uma mensagem para quem?

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— Eu gostaria de saber —confessou Altaïr.

Um Assassino chegou correndoao pátio e falou com Darim, que seadiantou.

— Papai. Uma vanguarda demongóis conseguiu avançar. A aldeiafoi arrasada.

Altaïr assentiu.— Niccolò, Maffeo. Meu filho os

escoltará para atravessarem a piorparte da batalha. Assim quechegarem ao vale, sigam seucaminho até encontrarem umapequena aldeia. Seus cavalos e suas

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provisões estão lá à espera. Vão emsegurança e permaneçam alerta.

— Igualmente, Mestre. Cuide-se.Ele sorriu.— Vou pensar nisso.E, assim, o Mestre se foi, já

bradando ordens para os Assassinos.Fiquei imaginando se voltaria a vê-lo, ao levar o saco ao ombro com asestranhas pedras e ao segurar oinestimável códex bem apertado. Daocasião, lembro-me de umaimpressão de corpos, de gritaria e dobarulho de aço enquanto éramoslevados às pressas a um outro lugar,

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seguro, e ali me apertei em um cantopara escrever estas palavras,enquanto a batalha se desenrolavafuriosamente lá fora — mas é horade ir embora. Só posso rezar para quepossamos escapar com vida.

De algum modo, creio queescaparemos. Tenho confiança nosAssassinos. Só espero ser merecedorda confiança de Altaïr. Sobre isso,somente o tempo dirá.

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1º de janeiro de 1258

O primeiro dia de um novo ano, e écom um misto de emoções que limpoo pó da capa do meu diário e iniciouma página em branco, sem saber aocerto se este registro marca um novoinício ou age como um pós-escrito àhistória que o precede. Talvez caiba avocê, leitor, decidir.

A primeira notícia que tenhopara comunicar transmito com ocoração pesado. Perdemos o códex.Aquele que nos foi dado por Altaïrno dia de nossa partida, confiado aos

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nossos cuidados, está nas mãos doinimigo. Sempre serei torturado pelomomento em que eu, caído na areia,chorando e sangrando, vi o pó doscascos do grupo de ataque dosmongóis levantar, e um delescarregando a mochila de couro naqual eu mantinha o códex, com aalça então cortada. Dois dias fora deMasyaf, com nossa segurançagarantida — ou assim parecia —, eeles haviam atacado.

Maffeo e eu escapamos comnossas vidas apenas por um triz e nosconsolamos um pouco com o fato de

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que nosso tempo passado com oMestre nos dera, se não oaprendizado que pudemos ter tiradodo códex, a faculdade de procurar einterpretar o conhecimento por nósmesmos. Decidimos que em breveteríamos de ir ao leste e recuperá-lo(e, desse modo, infelizmente,retardando minha oportunidade devoltar mais cedo a Veneza e ver meufilho Marco), mas tínhamos decuidar primeiro dos negócios emConstantinopla, pois havia muitoque fazer por lá. À nossa frente haviapelo menos dois anos de trabalho,

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que seriam muito mais exigentes sema sabedoria do códex para nos guiar.Mesmo assim, decidimos que, sim,havíamos perdido o livro, mas emnossas cabeças e em nossos coraçõeséramos Assassinos, e faríamos bomuso da nossa experiência e do nossoconhecimento recém-adquiridos.Desse modo, já havíamos escolhido olocal do nosso posto comercial, umacurta caminhada para noroeste daBasílica de Santa Sofia, ondepretendíamos fornecer mercadoriasda mais alta qualidade (é claro!).Enquanto isso, começaríamos a

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espalhar e disseminar o credo dosAssassinos, como noscomprometemos a fazer.

E ao mesmo tempo quecomeçamos o processo de estabelecera nova guilda, também nosocupamos em esconder as cincopedras que nos foram dadas porAltaïr. As chaves. Guarde-as bem,dissera ele, ou as esconda. Apósnossas experiências com os mongóis,decidimos que as chaves deveriamser escondidas, por isso nosdedicamos a ocultá-las emConstantinopla e próximo a ela.

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Pretendemos esconder hoje a última,portanto, quando você estiver lendoisto, todas as cinco chaves estarão emsegurança, escondidas dosTemplários, para um Assassino dofuturo encontrar.

Seja quem for.

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Epílogo

Acima dele, no convés, o Assassinoouviu os sons da agitação, o familiartamborilar de pés que acompanha aaproximação de terra, o barulho dosmembros da tripulação correndo deseus postos para a proa, subindo nocordame ou soltando cabos,protegendo os olhos para enxergarlonge e com dificuldade os portostremeluzentes em direção dos quaisestavam velejando, antecipando

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aventuras à frente.O Assassino também tinha

aventuras por vir. Claro, as suasprovavelmente seriam bem diferentesdas escapadas afetuosas imaginadaspela tripulação, as quais, sem dúvida,consistiam, sobretudo, em visitas àstavernas e da companhia deprostitutas. O Assassino quaseinvejava a simplicidade dosempreendimentos deles. Sua missãoseria muito mais complicada.

Ele fechou os diários de Niccolò eempurrou o livro sobre aescrivaninha, e seus dedos

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percorreram a capa envelhecida,meditando sobre o que acabara deaprender. O significado totaldaquilo, sabia, levaria tempo para setornar conhecido. E em seguida,inspirando fundo, levantou-se, vestiuo manto, prendeu o mecanismo dalâmina no pulso e colocou o capuz.

Então, abriu a escotilha de seusalojamentos para subir até o convés,onde também protegeu os olhos paravislumbrar o porto enquanto o naviocortava a água cintilante que seguiapara lá, já avistando as pessoasreunidas para lhes dar as boas-

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vindas.Ezio tinha chegado à cidade

grande. Ele estava emConstantinopla.

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Lista de PersonagensNiccolò Polo: o narrador

Maffeo Polo Os AssassinosAltaïr Ibn-La’Ahad Maria:

sua mulher (nascidaThorpe) Darim e Sef: seus

filhos Al Mualim: oMestre Faheem al-Sayf

Umar Ibn-La’Ahad: pai deAltaïr Abbas Sofian

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Ahmad Sofian: pai deAbbas Malik Al-Sayf

Tazim: filho de Malik,também conhecido como

Malik Kadar: irmão deMalik Rauf Jabal Labib

Swami Farim Aldeões deMasyaf Mukhlis; sua

mulher, Aalia; e a filha,Nada Os Cruzados

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Ricardo I da Inglaterra, o“Coração de Leão”

Salah Al’din: sultão dos sarracenosShihab Al’din: seu filho Os NoveAlvos de Altaïr Tamir:comerciante do mercado negroAbu’l Nuqoud: o Rei Mercadorde Damasco Garnier deNaplouse: Grão-Mestre dosCavaleiros Hospitalários Talal:negociante de escravos Majd

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Addin: regente de JerusalémWilliam de Montferrat: senhorde Acre Sibrand: Grão-Mestredos Cavaleiros Teutônicos Jubairal-Hakim: principal erudito deDamasco Robert de Sablé: Grão-Mestre dos CavaleirosTemplários Em Chipre Osman:capitão da cidadela de LimassolFrederick, o Vermelho:graduado cavaleiro templário deLimassol Armand Bouchart:sucessor de Robert de SabléMarkos: da Resistência Barnabé:da Resistência Barnabé: impostor

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Jonas: um mercador Moloch: “OTouro”

Shalim e Shahar: filhos de MolochOs Bandidos Fahad BayhasCabelo Comprido

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AgradecimentosAgradecimentosespeciais a: YvesGuillemot JeanGuesdon CoreyMay DarbyMcDevitt JeffreyYohalem MattTurner E também a:Alain Corre Laurent

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Detoc SébastienPuel GeoffroySardin XavierGuilbert TommyFrançois CecileRusseil ChristeleJaladyDepartamentoJurídico da UbisoftCharlie PattersonChris Marcus

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Etienne AllonierMaria Loreto AlexClarke AliceShepherd AndrewHolmes ClémenceDeleuze GuillaumeCarmona

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Este e-book foi desenvolvido em formato ePubpela Distribuidora Record de Serviços de

Imprensa S. A.

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A cruzada secreta – Assassin’sCreed vol. 3

Sobre o livro •http://www.record.com.br/livro_sinopse.asp?id_livro=26275

Sobre o autor •http://www.record.com.br/autor_sobre.asp?id_autor=6276

Livros do autor •http://www.record.com.br/autor_livros.asp?id_autor=6276

Página do livro no Skoob •

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http://www.skoob.com.br/livro/198105

Página na Wikipédia sobre o autor •http://en.wikipedia.org/wiki/Anton_Gill

Matéria sobre a adaptação da série emfilme •http://oglobo.globo.com/megazine/game-assassins-creed-vai-virar-filme-com-michael-fassbender-5427311

Portal Wiki sobre a série Assassin’sCreed (jogos e livros) •http://assassinscreed.wikia.com/wiki/Assassin%27s_Creed_Wiki

Resenha do primeiro livro da sérieAssassin’s Creed: Renascença •

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http://www.lendonasentrelinhas.com.br/2011/08/assassinscreed-renascenca-oliver.html

Resenha do segundo livro da sérieAssassin’s Creed: Irmandade •http://www.feedyourhead.com.br/2012/07/resenha-assassins-creed-irmandade.html

Site do jogo Assassin’s Creed •http://assassinscreed.ubi.com/ac3/en-US/index.aspx

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Table of Contents

Obras do autor publicadas pelaEditora RecordRostoCréditosPrólogoPARTE UM

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89101112131415

PARTE DOIS161718192021

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PARTE TRÊS3435

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PARTE QUATRO4849

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EpílogoLista de PersonagensAgradecimentosColofãoSaiba mais