atenÇÃo ao seu elefante como se livrar do seu … · pensamos que ao comprar algo ......
TRANSCRIPT
1 www.mindyourelephant.org
ATENÇÃO AO SEU ELEFANTE
COMO SE LIVRAR DO SEU EGO, RELACIONAR‐SE COM OS OUTROS E SALVAR O MUNDO
Introdução Este é o resumo em português do Livro ”Mind Your Elephant – How to get rid of your ego, connect with others and save the world”. O livro está disponível para download no website (www.mindyourelephant.org). Apesar de testemunharmos actualmente desenvolvimentos tecnológicos a um ritmo sem precedentes e apesar do nível de vida ter melhorado para muitos de nós, é muito difícil quantificar a felicidade em dinheiro. Em resumo três coisas são disfuncionais: as pessoas, as relações e a sociedade.
Pessoas disfuncionais: Actualmente vivemos o dia a dia a tentar sobreviver, competindo uns com os outros, guiados unicamente pelos próprios interesses. Mesmo que o dinheiro não seja o centro das nossas atenções, como é para muitos, ainda assim temos que pagar os nossos empréstimos, cartões de crédito, hipotecas e despesas mensais. Isto força‐nos a entrar numa corrida desenfreada que ganha velocidade constantemente. Corremos de casa para o trabalho, ficamos exaustos com trabalhos rotineiros e aborrecidos e voltamos a casa horas antes de ir dormir para acordar na manha seguinte e fazer tudo de novo. A maior parte das pessoas tem três pensamentos quando está no trabalho: qual o dia em que irá receber o próximo salário, quando irá conseguir o seu próximo aumento e quando serão as próximas férias. Fomos designados como consumidores e agimos de acordo com tal rótulo. Pensamos que ao comprar algo estamos a adquirir um pouco de felicidade. No entanto, frequentemente este sentimento de satisfação tem uma curta duração. Muitas pessoas sentem a falta de algo mais profundo nas suas vidas. Todos são guiados pelo seu próprio ego.
Relações disfuncionais A nossa relação com os outros seres humanos – tanto os que nos são familiares como os estranhos – está cada vez mais a deteriorar‐se. A solidão afecta jovens e idosos; não são somente os jovens a ser marginalizados mas também os idosos. No trabalho, as relações são muitas das vezes impessoais, o fenómeno de marginalização acontece frequentemente entre adultos e estamos insatisfeitos com os nossos empregos. Muitas vezes nem os nossos vizinhos conhecemos e temos dificuldade em lidar com a diferença. Mesmo numa escala global, o entendimento entre os indivíduos parece ser inexistente: abuso, exploração, violência, corrupção e outros comportamentos aberrantes são resultado de um individualismo extremo que prolifera na nossa sociedade. Quando estamos tão focados no nosso próprio ego, não podemos sentir a ligação com os nossos semelhantes.
Sociedade disfuncional Crise financeira, crise de alimentos, degradação ambiental, pandemias, guerras... Parece que todo os sistema está em crise. 2% Da população controla 50% da riqueza a nível mundial. 20% Da população mundial está a consumir 80% dos recursos disponíveis a nível global. A maioria da população pobre vive em países ricos em recursos naturais mas em que o sistema lhes nega o acesso aos mesmos. O aumento do desemprego e pobreza começam a afectar fortemente as sociedades ocidentais. O sistema político, gerido por uma pequena elite, encontra‐se muito distante do cidadão comum cuja única forma de ter impacto é através do seu voto nas eleições que ocorrem de anos em anos. As pessoas falam sobre o capitalismo explorador. Sentem as consequências de um sistema monetário baseado em dívidas, mas não sabem como
Versão PortuguesaSofia Correia
www.mindyourelephant.org
Na introduçao do livro Tomi Astikainen explica: − Como ele compreendeu o seu próprio ego; − Como acabou por escrever o livro enquanto escalava pela Europa. − O que significa o despertar da consciência − Como diferenciar a verdade ouvida da verdade sensata da
d d i id
2 www.mindyourelephant.org
este funciona. Indivíduos egocêntricos sempre foram bons a oprimir os outros sem se importar com as consequências. É sustentável que a situação continue assim?
E então? Veja se algumas destas questões chama a sua atenção:
• Sente‐se frequentemente cansado, frustrado ou ansioso? • A sua cabeça está repleta de preocupações com o futuro; com o que deve fazer? • Tem angústias com o passado; o que deveria ou não ter feito? • Sente‐se por vezes sozinho, vazio ou distante dos outros? • Existem pessoas na sua vida que o tiram do sério; pessoas que simplesmente não o entendem? • Sente‐se tomado pela pressão crescente imposta pela sociedade? • Pensa que deveria existir algo mais na vida do que somente trabalhar com vista à sua reforma? • Gostaria de ajudar a melhorar a sua comunidade (família, local de trabalho, cidade, país…)? • Gostaria de deixar para as futuras gerações um mundo melhor?
Estamos inquestionavelmente a viver tempos tumultuosos na história da humanidade. As pessoas sentem‐se mal. As relações estão em degradação. Todo o planeta parece estar em crise. Novamente, e apesar de só alguns verem a crise, um mundo novo e melhor está em construção. Mais e mais pessoas estão a despertar para o que realmente interessa na vida.
Ubuntu Com vista à criação de uma sociedade melhor temos de começar um processo de mudança interno. É por isso que este texto está organizado segundo a filosofia Africana Ubuntu : “Eu sou porque tu és porque nós somos”. Antes de podermos salvar o mundo precisamos ter uma humanidade que entenda a ligação ente todos os seres e que todos estamos do mesmo lado. Necessitamos de relações fortes. Para permitir este entendimento e estas relações temos que deixar o nosso ego de parte e os interesses meramente individuais. A mudança tem que começar em cada indivíduo. O primeiro capítulo concentra‐se no indivíduo: ”Eu sou”. É sobre o encontrar “o eu real” debaixo da falsa percepção egocêntrica de cada um. Pretende‐se responder a questões como “Como posso entender o meu ego”, “como posso ver se estou a controlar a situação”, e “Quem sou eu senão o meu ego?”. No segundo capítulo, a filosofia Ubuntu é expandida para o campo das relações: ”Eu sou porque tu és ”. Nega a separação artificial entre as pessoas e conduz‐nos à compreensão das ligações existentes. Explica‐se como se relacionar com o outro sem o ego como entrave. Responde a questões como “Porque me devo importar com os outros”, “Como posso melhorar as minhas relações”, e “Como ir da separação à inter‐relação”. O terceiro capítulo olha para a sociedade como um todo: ”Eu sou porque tu és porque nós somos”. Proporciona‐se uma abordagem sobre como construir um mundo melhor através de um sentido maior de comunidade. Proporciona‐nos pistas sobre o porquê do mau funcionamento da nossa sociedade, o que está a acontecer e o que podemos fazer hoje para que o amanha seja melhor para todos. Estas não são ideias de uma única pessoa. A sabedoria foi retirada do budismo, taoismo, hinduísmo, cristianismo, a cabala, Baháí, agnosticismo e livres‐pensadores, assim como a ciência moderna, o design e a tecnologia. É incrível como as mesmas ideias existem no mundo inteiro. Isto é de alguma forma parte da consciência colectiva da humanidade que a ciência não consegue ainda explicar. A história desenvolve‐se em torno do encontro entre Anna Were e um professor místico que nos conduz até ao mundo dos elefantes.
3 www.mindyourelephant.org
“Chegou o momento para acordarmos da nossa inércia e para isto a mensagem certa tem que chegar aos nossos corações e elevar o nosso espírito.” Ervin Laszlo no prefácio do livro
4 www.mindyourelephant.org
Capítulo 1: Atenção ao seu elefante ‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐ Apesar de muito sociável por natureza, Anna Were sempre se sentiu como um lobo solitário – que lá no fundo estava sozinha no mundo. Ela tomou o próprio destino nas mãos, formou‐se com as melhores notas numa universidade de prestígio e no final … acabou desempregada. Estava confusa mas sabia que algo mais a esperava do que somente um emprego numa multinacional. Um dia em que o sol estava radiante, Anna decidiu fazer um passeio de barco para clarificar os seus pensamentos. Aí, deparou‐se como uma figura delicada envolta numa túnica azul brilhante que preferia ser chamado de professor. Logo depois das apresentações o professor fez uma questão a Anna: “Como conseguiu que o seu elefante crescesse tanto?” Esta foi a forma como a conversa entre ambos começou. A: Como? De que é que está a falar?
‐ O seu elefante… Como é que ele se ficou assim? A: Qual elefante?
‐ O que viaja consigo. A: Hmm… Eu não tenho um elefante.
‐ Tem sim. Parece é que não tinha reparado até agora. Não tinha consciência da sua presença. A: Porque é que eu haveria de ter um elefante?
‐ Diga‐me você. Essa é sem dúvida uma boa questão: porque é que continua a andar com ele? Anna não conseguia ainda entender onde queria chegar o professor. Pensou que este era simplesmente um velho idiota. Enquanto permaneceu calada, o professor decidiu esclarecê‐la.
‐ É verdade que a sua vida tem tido bastante drama? A: Penso que sim. Passei por muita coisa.
‐ Eu chamar‐lhe‐ia estrume de elefante. A: O quê?
‐ Voltaremos a isso mais tarde. Você teve muitas preocupações, as pessoas foram injustas consigo e acabou por se deixar mergulhar em todos os tipos de negativismo. Mas agora finalmente conseguiu, não é verdade?
A: Bem, não sei se consegui mas estou sem dúvida muito melhor do que antes. ‐ Está orgulhosa pelo que conseguiu alcançar, não é?
A: Sim… ‐ Ainda assim parece confusa.
A: E estou. Não sei qual a direcção a tomar. ‐ Que tal virar‐se para dentro? Está preparada para conhecer o seu elefante?
Tudo ficava cada vez mais estranho. “Será que existe um elefante dentro de mim? ¨ Anna pensou. Talvez estivesse a pensar em voz alta porque o professor respondeu.
‐ Sim, há. Algumas pessoas chamam‐lhe ego; alguns chamam‐lhe o seu eu, e o resto chama‐lhe consciência reflectiva. Eu chamo‐lhe elefante. É uma expressão muito mais precisa do que os outros termos profissionais ambíguos.
A: Estou a ver. ‐ Mesmo?
A: De facto não. Diga‐me mais. ‐ Desde o momento que nasceu foi influenciada pela cultura predominante. O seu condicionamento
cultural começou. E qual é que pensa que é a cultura predominante? A: A cultura ocidental?
‐ É verdade, mas não é onde quero chegar. Há uma pista na pergunta: o que é que você pensa? A: A cultura do eu? A cultura de ser independente?
5 www.mindyourelephant.org
‐ Também é verdade. Estamos a chegar lá. Mais uma hipótese. Repare na pergunta: o que é que você pensa?
A: O que é que penso? ‐ Sim.
A: Como? ‐ Você nasceu na era do pensamento.
Por uns instantes, Anna pensou que iria chegar a alguma conclusão mas agora estava mais perplexa. O que é que isto tem a ver com elefantes?
‐ Portanto, aí está você, uma criança em crescimento e a aprender novas coisas todos os dias…. A progredir e a afastar‐se cada vez mais da fonte. De repente, os seus pais lançam a questão: o que queres ser quando fores grande?
A: Sim. ‐ E então, o que é que respondeu?
A: Disse que queria ser uma mulher multi‐facetada. Queria tornar‐me numa mulher ¨multi – funções. Não tinha um emprego ideal. Queria fazer muitas coisas diferentes.
‐ Então e qual foi o efeito dessa pergunta? A: O efeito? Acho que me tornei mais consciente das exigências do futuro; deveria transformar‐me em alguém.
‐ Exacto. Eu diria que se tornou menos consciente porque os condicionalismos culturais diziam que deveria começar a preocupar‐se com o futuro.
A: Não estou segura se o consigo acompanhar. ‐ Quão orientada ao futuro é agora?
A: Sou bastante. Tenho grandes ambições. Defino objectivos e dou o meu melhor para atingi‐los. ‐ Ok. Isso é pensamento a longo prazo. Provavelmente alguém lhe disse que ia ser bom para si. E é, se
não se deixar consumir pelo futuro constantemente. A: Mas deixo. Sinto‐me muito desgastada. Até com o futuro a curto – prazo me preocupo bastante. Muitas vezes penso que não basta focar‐me no hoje, já estou a pensar no que devo fazer amanha. Acho que consigo entender o seu ponto. Deveria viver mais o momento presente.
‐ Muito sensato. Mas não diga que deve ser alguma coisa. Limite‐se a sê‐lo. A: Ok. Mas e o que tem isto a ver com o elefante?
‐ Boa pergunta. O elefante adora criar problemas para resolver. E assim que resolve um, cria outro. Você alimenta incessantemente o seu elefante com preocupações.
A: Entendo. Acontece o mesmo com o passado? ‐ Sim. Vejo que é uma pessoa bastante aberta. É fácil conhecê‐la no plano pessoal. Estou correcto?
A: Sem dúvida. ‐ Bom, e como é que se apresenta a pessoas desconhecidas, quando vai trabalhar com elas por
exemplo? A: Abro o meu coração, todos os altos e baixos. Acho que é uma boa forma de dar exemplos aos outros para que os sigam; cria‐se uma atmosfera mais leve e um ambiente propício à abertura e confiança.
‐ Pode ser. Mas ao mesmo tempo identifica‐se com esses altos e baixos. Você pensa que é isso que é. Sem essa história de vida, não seria ninguém, certo?
A: Claro. ‐ Não. Esse é o seu elefante a pôr‐se à frente. Você só está aqui e agora. Não é as histórias do
passado. Nem o futuro que imagina.
Anna perdeu‐se nos seus pensamentos por alguns momentos mas admitiu que era verdade: O professor estava certo. Pensou para ela mesma ¨cheguei lá! Completamente… Todo este tempo pensei que eu era a minha consciência, o meu ego, o meu elefante.¨ E prosseguiu:
6 www.mindyourelephant.org
A: Uma vez passei por uma situação como a que descreveu, em que toda a gente falou sobre as suas histórias de vida. Depois disso alguém me disse ¨É espantoso saber que todos tiveram vidas difíceis, à excepção de si que não teve assim tantos obstáculos.
‐ E? Como é que se sentiu com isso? A: Fiquei muito chateada. Não podia dizê‐lo em voz alta mas tinha vontade que a minha história de vida fosse tão dramática como a dos outros ou ainda pior.
‐ Consegue perceber agora que foi o seu elefante que ficou ofendido? A: Sim, tem razão. Não faz qualquer sentido pensar dessa forma.
‐ Não faz qualquer sentido, de facto. A: Então, o que você quer dizer é que o meu elefante quer que a minha vida não corra bem? ‐ Sim, ele alimenta‐se com os problemas e preocupações que você cria. No seu caso isto é ainda mais alimentado pelo facto de ser tão emocional. Provavelmente, algo aconteceu no seu passado que a faz desejar muito que os outros tenham empatia consigo. A: É verdade. Mas não vamos por aí.
‐ Ok. Pode então responder à minha primeira pergunta: Como é que conseguiu que o seu elefante ficasse tão grande?
A: Claro. O meu elefante cresceu e cresceu porque inconscientemente sempre o alimentei com as minhas preocupações sobre o passado e o futuro. Desliguei‐me da vida real a partir desse momento. Como não tinha consciência disso não tinha consciência de quem era de verdade.
‐ Muito bem. Estou orgulhoso de si. O barco chegou ao cais e o professor ficou em silêncio. Anna esperou que ele dissesse algo. Saíram do barco em completo silêncio. Assim que chegaram ao porto, o professor finalmente falou:
‐ Esta identificação com a sua consciência teve por certo efeitos nas suas relações com os outros. A: Ah sim! Muito drama nesse aspecto.
‐ Muito bem. E quanto a atingir os seus objectivos na vida? Tem tido sucesso nisso? A: Nem por isso. Queria que as coisas mudassem para melhor. Mas não tive sucesso. Culpei os outros, culpei a sociedade. Culpei o mundo inteiro, menos a mim. Acho que foi novamente o elefante.
‐ Estou feliz que agora se aperceba disso. A: Eu também.
‐ Preciso de ir agora. Anna ficou chocada ao ver que o professor se virou e começou lentamente a ir‐se embora sem dizer uma palavra. Anna ainda tinha tantas perguntas por responder sobre o elefante, o elefante dos outros e o mundo inteiro dos elefantes. ¨O que é que devo fazer? ¨, Gritou ela quando o professor se afastava.
‐ Atenção ao seu elefante.
7 www.mindyourelephant.org
Você não é o seu elefante
As pessoas sofrem frequentemente de pensamentos dispersos e nem se apercebem disso. O fluxo constante de pensamentos, preocupações sem fundamento e distracções triviais causam um estado de desgaste que vai piorando diariamente. Geralmente, pensa‐se que estes pensamentos são delas ou que elas são os seus próprios pensamentos. Mas é possível dizer que estes são os meus pensamentos? Se assim é, quem é o eu que tem estes pensamentos? Ego é uma palavra que pode induzir em erro, por isso vamos usar a metáfora do elefante. O elefante é a imagem mental de quem você é. Foi formada com base nos seus condicionalismos culturais e pessoais – que começam desde crianças. Quando perguntamos a alguém “quem é você?” a resposta geralmente é o nome, idade, interesses, profissão, títulos ou uma combinação destes. Nada disto define quem somos realmente: são só etiquetas que se ligam a nós ao longo do tempo. É muito comum que nos identifiquemos com esta imagem de nós mesmos. Se é guiado pelo seu elefante, então não é uma excepção. Se sente neste momento que isso não é verdade, é uma reacção defensiva do seu elefante. Todas as vezes que ele se sente ameaçado, começa a defender‐se. Em qualquer dos casos, você não é o seu elefante. Você é a sua consciência em permanente mudança, a que está por detrás do elefante. Somos capazes de observar o elefante e guiar o seu comportamento. Depois de um esforço grande, é possível livrar‐se dele por completo.
“Eu sou aquilo pelo qual sei quem sou.”
‐Nisargadatta Maharaj‐
No capítulo 1 do livro Tomi Astikainen explica: − O seu conceito de Deus. − A cultura prevalecente − A diferença e importância dos hemisférios esquerdo e direito do cérebro. − Ser sem abrigo como uma experiência de aprendizagem. − Como controlar o comportamento do elefante. − Como lidar com o amor. − O amor.
8 www.mindyourelephant.org
O sofrimento é o alimento do elefante O elefante gosta de preocupações, lamentos e problemas. Quanto mais em baixo estamos, maior está o nosso elefante. E se está bem, o elefante vem na nossa direcção com novos problemas para poder sobreviver.
A geração obsessivo – compulsiva Possessão, prazer, medo, manter‐se ocupado e incerto quanto ao futuro é um caminho abundante na sociedade dos tempos modernos. Sentimos que temos que sobreviver, somos obrigados a ser bem sucedidos e que temos que vencer. Mas todos estes sentimentos são provenientes do elefante. Lembre‐se que o seu elefante não teve a oportunidade de relaxar dentro da sua cabeça mas ao invés disso enfrentou anos de condicionamento. O que o seu elefante pensa pode estar muito longe do que é melhor para si, para quem você é e o que o faz feliz.
A busca pela felicidade causa sofrimento Todos os tipos de luta e desejo conduzem ao sofrimento, incluindo o facto de que estamos a tentar ser felizes no futuro. Isto chama‐se ¨vou fazer algo quando¨. Vou tirar férias quando receber um bónus, vou viajar pelo mundo quando os meus filhos forem independentes, vou fazer o trabalho voluntário que gosto quando...
Aceitação é a chave De acordo com Buddha o único caminho para não sofrer é aceitar que tudo é insatisfatório, não permanente e não tem soluções ideais. Se aceitar que algumas coisas não têm solução, que nada pode trazer a felicidade real, podemos começar a aceitar tudo o que surge pelo caminho tal como é. Quando aceitamos o que acontece como um presente, o impacto do sofrimento diminui ou desaparece.
“ Porque é que é infeliz? Porque 99,9% de tudo o que pensa e do que faz é por si mesmo. E não existe um. ¨
‐Wei wu Wei‐
9 www.mindyourelephant.org
O elefante levantou voo Para a maior parte de nós é normal sermos controlados pelos nossos elefantes. Se queremos voltar a ganhar esse controlo é importante saber como monitorizar e controlar o elefante.
O discurso do elefante Diferentes necessidades e desejos provêem do elefante. Quantas vezes damos por nós a pensar: ¨Eu preciso¨, ¨Eu quero¨, ¨Eu desejo¨ ou ¨Eu devia¨, ¨Eu podia¨, ¨Eu iria¨? Não precisamos, queremos ou desejamos. Se ficarmos atentos à linguagem que utilizamos, estaremos muito mais próximos do elefante assim que ele entra em acção. Geralmente, quase tudo o que pensamos vem do elefante e o que sentimos interiormente é o nosso eu real.
Silenciar a voz interior do cérebro O elefante vive no passado e no futuro. Se nos concentrarmos no agora, o elefante fica sem muito espaço para se mexer. Se tem estado sob o domino do seu elefante desde há muito tempo, apressando‐se a viver e a preocupar‐se com o passado e o futuro, poderá resultar difícil aceitar que a vida é o aqui e o agora. A nossa vida acontece somente agora, não à 15 minutos atrás ou no próximo ano. Alguns truques para nos concentrarmos no presente incluem por exemplo focarmo‐nos na nossa respiração ou na circulação dos pés e mãos. Podemos também observar as estrelas ou os movimentos da natureza sem tentar dar nomes a tudo – e depois, é uma árvore – se não deixarmos o cepticismo tomar conta de nós, poderemos percepcionar uma variedade enorme de cores e de harmonia assim que saímos cá para fora.
Substituir medo por amor Todos os nossos sentimentos são provenientes de dois sentimentos fundamentais: medo e amor. Os tão conhecidos sentimentos negativos são somente variações do medo e consequentemente os positivos são provenientes do amor. Aceite que o seu elefante tem medo. Assim, um caminho fácil para se livrar do seu elefante é concentrar‐se no amor. Este hábito leva o seu tempo e requer prática, mas todos o podemos fazer.
“Para alguns de nós, o diálogo que existe no nosso cérebro é tao
rápido que é difícil acompanharmos os nossos
pensamentos¨ ‐Jill Bolte Taylor‐
10 www.mindyourelephant.org
Capítulo 2: O dentista crocodilo ‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐ Anna estava deitada na relva a olhar para as nuvens à medida que estas passavam pelo sol. Sorriu e respirou profundamente. Alguns meses tinham passado desde que conheceu o professor. Conseguia agora perceber como era o seu elefante: tinha encontrado paz de espírito. Este momento de serenidade foi interrompido de repente. Anna reparou que havia alguém deitado ao lado dela a olhar para o céu. Era o professor. A: Deus, assustou‐me. Como apareceu aqui sem eu dar por nada?
‐ Não estou com o meu elefante e como tal não incomodo os outros. A: Claro. Anna sorriu apesar de pensar que o professor tinha um sentido de humor bastante seco. Estava feliz por ver que ele tinha voltado. O professor fez outra questão profunda: “O crocodilo precisa de ir ao dentista?” A: Como? Pare com os seus enigmas. Esperava que quisesse ouvir como usei o conhecimento que me transmitiu. Pensei na minha história pessoal e nos efeitos que o elefante teve.
‐ Vá em frente. Sou todo ouvidos. A: Ok. À alguns anos atrás pensava que tudo tinha de ser à minha maneira. Era super confiante e arrogante. O sucesso parecia conduzir a mais sucesso e o meu ego – que posteriormente designou de elefante – cresceu mais e mais.
‐ E como é que isso afectou o seu comportamento? A: O meu comportamento social era próximo do inaceitável por causa da auto‐imagem distorcida que tinha. De facto, nem sequer era uma auto – imagem, mas sim o reflexo do meu elefante. Mas estava cega porque me sentia bem como era. Correcto? ‐ Parece que fez o trabalho de casa. Continue. A: Depois enfrentei desilusões. Comecei a falhar – o que era estranho para mim. Como lhe disse antes, eu não aceitava responsabilidades pelos meus falhanços mas optava por culpar os outros. Se não podia culpar indivíduos, culpava instituições ou mesmo o mundo inteiro. Aconteceram muitas desilusões e também conheci um indivíduo muito corajoso que me fez ver que a culpa era minha – era eu quem precisava de mudar. O professor estava entusiasmado com o rumo da história.
‐ E o que aconteceu então? A: Fiquei grata a esta pessoa – ainda estou – e comecei a construir um novo eu com uma atitude mais humilde.
‐ O que é que fez? A: Estabeleci objectivos pessoais, recolhi feedback sobre o meu comportamento, fiz testes de personalidade, li imensos livros de auto – ajuda, clarifiquei o meu propósito nesta vida, os meus valores e todo o tipo de coisas que só um elefante muito mau pode imaginar.
‐ Usa a metáfora do elefante de uma forma muito eloquente. A: Sim, gosto dela. De qualquer forma, tentei pensar em mim de uma forma miserável. Pensei, pensei e pensei. E finalmente, pensei, novamente, que tinha mudado porque assim sentia que estava a ter sucesso novamente.
‐ Mas não estava, pois não? A: Talvez tenha aprendido algo, mas ainda assim o meu elefante continuava à minha frente.
‐ Pode dar‐me um exemplo? A: Por exemplo, estava sempre obcecada por ter razão. Recusava‐me a ouvir o ponto de vista dos outros. Podia ter a mesma opinião que eles mas mesmo assim iria argumentar, porque estava somente a usar palavras diferentes para expressar o mesmo.
‐ Então, tinha que ganhar sempre, estou certo?
11 www.mindyourelephant.org
A: Não. O meu elefante é que tinha de ganhar. Anna virou‐se para tirar algo da sua mochila. Deu ao professor um livro chamado ¨Profecia celestina¨.
‐ Hmm… James Redfield. Soa‐me familiar. O que é que aprendeu com ele? A: Ainda não acabei de o ler mas já aprendi o conceito de ¨controlar os dramas¨. Reparei que repito sempre o drama do ¨pobre de mim¨, algo que aprendi bem cedo na minha infância com os meus pais e familiares. ‐ E o que é que isto tem a ver com o que lhe disse antes? A: Este estilo de drama do pobre de mim foi a razão pela qual eu agia daquela forma – tentar chamar a atenção, contar a minha história triste e culpar o mundo inteiro se as coisas não corressem à minha maneira. Mas apesar de reparar nisso em mim própria, sentia‐me desesperada… não sabia como mudar, até que me apercebi que quem transportava esta carga não era eu mas o meu elefante.
‐ Claro que sim. Então reparar que carrega um elefante consigo foi útil. A: Sim. Criar a distinção entre eu e o ego criado pela minha consciência ajudou‐me imenso. O professor não parecia satisfeito. Anna pensava porque é que o professor não parecia muito feliz que ela tivesse aprendido tanto.
‐ Ainda não respondeu à minha pergunta. A: Qual pergunta?
‐ Um crocodilo precisa de ir ao dentista? Anna estava desnorteada: “O que é que isso tem a ver com este assunto?” Depois percebeu que estava a ser testada num nível avançado e estava feliz por responder à questão. A: Não. Não acho que um crocodilo precise de ir ao dentista.
‐ E porquê? A: Porque os dentes deles não têm problemas.
‐ Porquê? A: Não sei porquê… talvez escovem os dentes as vezes necessárias.
‐ Correcto. Mas quem lhes escova os dentes? Não o podem fazer sozinhos, pois não? Anna sabia que isto tinha algo a ver com o que ela tinha aprendido. Deixou o professor à espera de uma resposta. Sabia que ficar a pensar não a ajudaria em muito, então mirou o horizonte… Deixou o olhar vaguear entre as árvores e o céu… ¨um pássaro¨? Pensou para ela de repente. A: É o pássaro! O pássaro é o dentista!
‐ Excelente. O pássaro chama‐se um plover egípcio. Sabia disso? A: Não….
‐ Porquê? A: Só sabia que era o pássaro crocodilo.
‐ Exacto. Porque é que as pessoas associam o crocodilo ao pássaro? A: Porque eles passam muito tempo juntos.
‐ Sim. E porquê que acha que o crocodilo deixa o pássaro estar na boca dele e não o come? A: Porque o pássaro lhe é útil.
‐ Exacto. E para o pássaro? Há alguma vantagem ou só está a fazer um favor ao crocodilo? A: Não. Acho que gosta de comer o que está entre os dentes do crocodilo.
‐ Precisamente. Então que nome dá a este tipo de relação? A: O pássaro e o crocodilo estão numa relação cooperativa? Não sei… ‐ Vá lá. Pense novamente. Como se chama ao fenómeno da coexistência pacífica entre espécies que por principio não poderiam viver em paz e harmonia e ao invés disso que se ajudam? Que tipo de relação é esta? A: Simbiose?
12 www.mindyourelephant.org
‐ Sim. É uma relação mutualista. No século XIX a simbiose era definida como a vivência em conjunto de organismos improváveis.
Anna congratulou‐se em silêncio por conseguir somar dois mais dois tão facilmente. Mas ainda estava perplexa. A: Mas novamente, o que é que isto tem a ver com os elefantes?
‐ Pode nomear organismos improváveis? A: Como?
‐ Numa coexistência de simbiose e mutualismo, ambos os organismos beneficiam um do outro – na verdade, não sobreviveriam um sem o outro.
A: Sim, e? ‐ Além dos pássaros e crocodilos, as relações de simbiose comuns incluem por exemplo abelhas e
flores do pólen, o camarão e o peixe cabeça, o peixe palhaço e a anémona, os humanos e os cavalos. Pode nomear grupos de pessoas que tenham este tipo de coexistência?
A: Por acaso não. ‐ Bom, vamos então fazer o oposto. Conhece grupos de pessoas que não se dão bem?
A: Claro. Como os policias e ladroes? ‐ Sim. Quem mais?
A: Israelitas e palestinianos… Novos e velhos… Homens e mulheres… Hutus e Tutsis… Esta lista pode ser infindável.
‐ E é. Como é que acha que todos se poderiam tolerar melhor? A: Deixando os nossos elefantes ir embora! Compreendendo o valor da cooperação. Perceber que a nossa vida depende dos outros… acho eu.
‐ Sim, sim e sim. Estou orgulhoso com o seu progresso. O Sorriso de Anna era radiante apesar que tinha começado a chover. O professor tirou o seu chapéu‐de‐chuva e foi‐se embora da maneira habitual, sem sequer avisar. A: Não o volte a fazer! Diga‐me mais coisas! Hey… Qual é o meu trabalho de casa?
‐ Vá ao dentista.
13 www.mindyourelephant.org
A regra de ouro 2.0 Hillel diz ”Não faça ao seu semelhante aquilo que não quer que lhe façam a si; este é o essencial e o resto acessório¨. Esta mensagem de compaixão é o fundamento da maior parte das religiões e filosofias. Talvez desperdicemos muito tempo a discutir o acessório em vez de aproveitar esse tempo para viver a mensagem principal. Talvez o mundo fosse hoje um lugar melhor se o tivéssemos feito. Esta mesma frase é a segunda parte da filosofia de Ubuntu: ¨Eu sou porque tu és¨. Apesar de este não ser um comportamento natural na sociedade contemporânea, podemos começar a pô‐lo em prática quando quisermos. Ainda que o pensamento direccione o nosso comportamento, às vezes este pode levar‐nos a pensar de uma forma diferente. Podemos fingir ter compaixão para passar a senti‐la verdadeiramente. Não podemos continuar a tratar‐nos como seres independentes. A ciência finalmente provou que todos temos origem no continente africano. Ao nível do nosso ADN estamos ligados aos pássaros, répteis, anfíbios, outros mamíferos e até a seres vegetais. É tempo de entender que estamos todos do mesmo lado. É tempo de nos concentrarmos no amor em vez do medo. Todo o sofrimento que temos testemunhado é um apelo à mudança.
A geração Nokia Quando se olha para a terra a partir do espaço não vimos fronteiras. O mesmo acontece no ciber espaço. O slogan da Nokia ¨Connecting People¨ retrata que chegámos uns aos outros com a ajuda da tecnologia. Especialmente as camadas mais jovens vêem‐se como cidadãos do mundo. Começamos a ver a Terra como um sistema e a compreender as relações entre os seus subsistemas.
Dar por dar Temos que começar a por de parte a questão ”em que é que isso é bom para mim?”. Por muito tempo fomos guiados pelos nossos egos e tentámos acumular tanta riqueza quanto possível. Mesmo parecendo altamente altruísta os heróis foram guiados pelos seus egos: ajudando os outros sentimo‐nos satisfeitos. É tempo de sermos generosos e servirmos os outros pelo acto de dar. Numa relação não baseada no ego podemos ver‐nos a nós mesmos noutro ser humano e porque em último caso tudo e todos somos um só, é irracional magoar os outros porque estamos a magoar‐nos a nós mesmos. As relações da nova era atingem o seu melhor quando se baseiam na sinergia; o todo fica mais forte do que a soma das partes.
“Vivemos numa época de caos, com um potencial tão grande de
oportunidades como de catástrofes. Como iremos viver este tempo?
A resposta é, juntos.” ‐Margaret Wheatley‐
No capítulo 2 do livro Tomi Astikainen explica: − Porquê c como aprender que depender é importante. − Como é que a intenção de receber afecta o nosso comportamento. − Qual o nosso estilo de comunicação pessoal? − O que é a investigação apreciativa. − Como ser melhor parceiro, pai, filho e líder sem o ego. − Entender estilos próprios de trabalho. − Transição entre o velho fazer¨e o ¨novo ser¨.
14 www.mindyourelephant.org
O elefante na boca do crocodilo A relação de sinergia é difícil de construir porque são precisos dois para dançar o tango. Não é suficiente que você desperte e que a sua consciência tenha atingido um novo nível.
Controlar o elefante de ambos Precisamos estar aptos a comunicar mesmo com aqueles que não passaram por esta transformação. Lembre‐se de se observar a si mesmo: seja consciente nas suas relações e veja se o que está na boca do crocodilo é mesmo um pássaro plover, ou se é um elefante disfarçado de pássaro. É desnecessário referir que o ultimo é demasiado para aguentar. Os estilos de comunicação agressivos, passivo e passivo – agressivo são típicos do elefante.
Assertividade apreciativa Só os modelos de comunicação assertiva são equilibrados e produzem uma mensagem efectiva. Significa que falamos com a nossa cabeça mas que também tomamos os outros em consideração e fazemo‐los sentirem‐se valorizados e respeitados. Apreciar significa que nos concentramos no que funciona e trabalhamos o lado bom das pessoas e das situações. Utilize perguntas mais do que opiniões rígidas. Este é o estilo do crocodilo e do pássaro.
A lei do caixote do lixo Preste especial atenção aos encontros com pessoas egoístas. Elas têm acumulado uma série de lixo dentro de si mesmas: frustrações, raiva e desilusões. Quando o recipiente começa a ficar muito cheio tem que ser despejado de alguma forma. Se acontece ser despejado em cima de si, saiba como actuar: não o veja como algo pessoal ou contra si. Sorria, acene, deseje‐lhes tudo de bom e siga em frente.
“Só as atitudes que não provocam reacções opostas são destinadas ao bem de todos.”
‐Eckhart Tolle‐
15 www.mindyourelephant.org
Relações Elefantásticas Quando a relação é baseada no respeito mútuo as pessoas podem contar umas com as outras e conseguir uma relação de ganho para ambas as partes sem intencionalmente diminuir ou deitar abaixo a outra pessoa.
Direccionese a uma sinergia sem ego As relações mutuamente benéficas são formadas quando nos baseamos na empatia. É importante entender a diferença entre empatia e simpatia. Simpatia é uma emoção enquanto que empatia é uma competência. Empatia significa a capacidade para se pôr no lugar da outra pessoa. Lembre‐se que antes disto, tem que tirar os seus próprios sapatos e sair do seu lugar.
Compreensão prática A compreensão é compaixão num estado mais avançado. Isto significa que nos podemos sentir felizes pelo sucesso e prazer dos que amamos, mesmo que não sejamos a causa de tal. Isto aplica‐se aos pais que têm dúvidas se os filhos estão preparados para sair de casa assim como às relações amorosas liberais em que ambos permitem ao outro que ame outras pessoas.
Comunique tudo e seja radicalmente honesto Quando o elefante está fora do caminho não é necessário levar as coisas pessoalmente e mesmo as coisas complicadas podem ser resolvidas de forma respeitosa. Há um entendimento comum que quando as frustrações e os sentimentos negativos de raiva, tristeza, medo e dor são exprimidos, não são tratadas como um ataque aos outros. É uma escolha a ser feita por ambas as partes. Falar é importante porque não podemos ler a mente dos outros… ainda. Quando discutimos sem o nosso elefante presente podemos falar de forma aberta e honesta e mesmo assim considerar os sentimentos dos outros.
“Quando alguém fala, ouça com atenção.
A maior parte das pessoas nunca ouvem.”
‐Ernest Hemingway‐
16 www.mindyourelephant.org
A cultura de deixar ir Para que possamos caminhar em direcção a um mundo melhor, a humanidade precisa em primeiro de abandonar certos conceitos, antigos valores e hábitos obsoletos. A realidade é muito mais do que aquilo que percepcionamos com os nossos sentidos limitados e com a nossa consciência fragmentada em pensamentos.
Conhecer os factos Entender significa dominar e compreender os factos. Entender a realidade implica sairmos da nossa zona de conforto. Rapidamente o amor destrona o medo e ser torna‐se mais importante do que fazer.
Faz menos, sê mais Se se quer focar no seu desenvolvimento espiritual, é bom que se dê algum espaço a si mesmo para tal. Na vida apressada que temos há tanto que fazer que a ideia pode parecer algo descabida. Em todo o caso, é necessário ter tempo livre se nos queremos ver livres da ganância, ilusão e ligação a coisas desnecessárias.
Livrarse de coisas inúteis Para que deixemos o nosso elefante para trás – a essência de quem pensávamos ser, podemos praticar deixando para trás coisas menos importantes. Podemos começar por fazer uma lista de todas as coisas que temos e pô‐las numa ordem de prioridade. Depois deixar algumas para trás, desistir delas ou vendê‐las – uma por uma, começando pela que tem menos significado. Rapidamente se irá aperceber que o seu elefante se identifica com essas mesmas coisas. Podemos estar conscientes deste processo e sempre que nos livrarmos de algo classificarmos o mal que nos sentimos numa escala de um a dez. Nesse momento saberemos o quão identificados nos sentimos com essa coisa na nossa vida. Quanto mais coisas eliminarmos da nossa lista, mais espaço livre iremos conquistar – física e mentalmente – para coisas mais significantes na vida.
É possível sentirmonos como que a morrer Deixar objectos para trás pode ser doloroso, um pouco como se estivéssemos a morrer. Isto deve‐se ao facto de que tudo aquilo que nos é familiar e seguro é substituído por algo novo e imprevisível. E de certa forma, este é um tipo de morte. Quando o nosso elefante recua podemos renascer e crescer.
“Quando deixo ir aquilo que sou, atinjo o que talvez seja.”
‐Lao Tzu‐
17 www.mindyourelephant.org
Capítulo 3: A sociedade das formigas ‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐ Anna acordou numa manhã triste e nublada de domingo. Achou que tinha ouvido a campainha tocar mas não queria sair da cama. Ainda sentia uma ligeira dor de cabeça graças à decisão pouco pensada de se embebedar na noite anterior. A campainha voltou a soar. ¨Quem será a esta hora¨? pensou, forçando‐se a sair da cama e abrir a porta. Ficou surpresa ao ver o professor à porta. ‐ Olá Ana. A: Olá. Entre… Desculpe a desarrumação. Anna acendeu a chaleira e foi lavar a cara. Nem se preocupou em perguntar ao professor como é que ele sabia onde ela vivia. Sentaram‐se no sofá cada um com a sua chávena de chá. O momento de silêncio foi quebrado pelo professor: ¨As formigas têm um líder¨? A: Oh Deus, lá vamos nós outra vez. Por favor não me apresente mais animais. A visita ao dentista não correu muito bem.
‐ São insectos. A: Como? Claro, insectos, que seja… Tenho más notícias para si.
‐ Diga‐me. A: Acho que falhei no trabalho de casa. Logo depois de nos termos encontrado da última vez, o meu namorado largou uma bomba. Disse‐me que embora me amasse, gostaria de conhecer outras pessoas também.
‐ E como é que reagiu? A: Claro que fiquei chateada. Saí a correr e desatei a chorar. Sei o que vai dizer em seguida: que deveria ter controlado o meu elefante. Mas era demasiado para aguentar.
‐ Não, isso é óptimo. Teve um desafio real na sua vida para testar as duas primeiras lições. Vejo que neste momento não consegue falar sobre isso. Volto dentro de uma semana. Lembre‐se quem é de verdade e como se pode relacionar com os outros. O que quer que aconteça, aceite‐o como um presente.
***
O professor só voltou uma semana depois, tal como o prometido. Agora Anna estava mais preparada. A: Bem‐vindo. Desculpe mas não conseguia digerir mais lições na semana passada.
‐ Tudo bem. Agora conte‐me o que aconteceu. A: Passei alguns dias sozinha a pensar nos meus sentimentos. Percebi que não era eu mas sim o meu elefante que estava magoado. Aceitei‐o como uma bênção.
‐ Excelente. Voltou a falar com o seu namorado? A: Sim. Percebi que ele nunca me quis deixar. Foi muito honesto. Não me enganou. Queria ficar comigo e amar‐me mas não se sentia completo só comigo. Explicou‐me que eu preenchia 90% das necessidades dele mas 10% estavam em falta.
‐ A sério? E o que é que decidiu? A: Pode existir alguém a entrar na nossa relação… uma amiga comum. Pode parecer estranho mas os três estamos bem com isso. Ela é como uma irmã para mim e parece realmente amar o meu namorado. Se fosse qualquer outra pessoa eu teria dúvidas, mas ela é óptima. Não sei o que irá acontecer mas pelo menos conhecemos os sentimentos um do outro. De facto, sinto que o afecto e o amor que ele tem por mim cresceram desde que lhe permiti ser ele próprio. Ao deixá‐lo ser livre também me libertei a mim… para ser honesta..
‐ Óptimo. Não lhe irei pedir mais detalhes sobre a sua vida pessoal. Podemos avançar? A: Sim.
18 www.mindyourelephant.org
Anna preparou papel e caneta. Estava ansiosa pela sua próxima lição de vida. Na realidade, sentia‐se um pouco aldrabona: tinha devorado informação sobre as formigas desde sábado. A: Então, qual é a nova pergunta sobre as formigas?
‐ As formigas têm um líder? A: Existe a rainha. Mas de acordo com Deborah Gordon a rainha só guarda os ovos.
‐ Muito bem. Parece que fez o trabalho de casa novamente. Quem é Deborah Gordon? A: Ela e os seus assistentes em Stanford investiram mais de duas décadas na investigação sobre as formigas.
‐ Ok. Então provavelmente já sabe mais do que eu sobre elas. A: Sim. Não imaginava como o mundo das formigas pode ser fascinante. Elas não necessitam de um líder.
‐ Qual é a razão para isso? A: As colónias de formigas são referidas como super organismos porque as formigas parecem operar como uma única entidade, trabalhando colectivamente para apoiar a colónia. É um sistema em que as partes utilizam unicamente a informação local e tudo se gere por si só. Não existe a necessidade de uma hierarquia.
‐ Uau. Estou impressionado. É exactamente esse o ponto onde quero chegar. Não é uma ideia formidável: agir colectivamente para um bem comum?
A: Sim. Isso é o que me entusiasmou tanto! Apesar de ser um pouco frustrante que os humanos não tenham ainda reparado no potencial desse exemplo e iniciado uma investigação sobre as implicações para áreas como a gestão e o exército. Anna apercebeu‐se do que disse. Perdeu‐se nos seus pensamentos por um instante. A: Espere um minuto. O ponto onde quer chegar é que somos capazes de aprender com as formigas mas até agora temos usado essa sabedoria no sentido errado?
‐ Bem, é o que disse. Está em direcção a algo magnífico. Pode dizer‐me mais coisas sobre a forma de gestão das formigas?
A: Claro. Como disse, as formigas coordenam o comportamento umas das outras. Apesar de que o comportamento coordenado das colónias surge das formas como os trabalhadores usam a informação local.
‐ O que é que quer dizer? A: Bem, repare na forma como procuram alimentos diariamente: um pequeno número delas fica no ninho para comunicar com as que vão em busca sobre a segurança e direcção da rota. E se os que saiem em busca de alimento regressam com comida isso encoraja outras formigas para deixar o ninho e ir também à procura. Não existe necessidade de avaliações ou de dar coordenadas. É um sistema descentralizado.
‐ Ok. Agora de facto está a ensinar‐me. Anna sentia‐se orgulhosa do bem que se tinha preparado. Avançou porque queria contar mais. A: Aparte dos que patrulham e dos que vão em busca, as formigas podem ter outro tipo de tarefas como a manutenção do ninho. Como as condições ambientais se alteram com frequência as formigas podem rapidamente assumir um novo papel.
‐ Como é que isso acontece? A: Quando as formigas deixam o ninho comunicam com as que estão a regressar e decidem que trabalho necessita ser feito de imediato. Se existe mais comida disponível mais formigas assumem o papel de procurar a comida. Se o ninho precisa de ser limpo podem voltar imediatamente e cuidar dele.
‐ Ok. Dê‐me um exemplo de como isso funciona na prática? A: Claro. À Alguns anos atrás estava de férias em Espanha e deixei um pedaço de bolo em cima da mesa durante a noite; de manha, vi que existia um auto – estrada de formigas e observei por alguns instantes como é que estavam estruturadas. A seguir preguei‐lhes uma partida e perturbei a ordem ao despejar água no ¨auto – estrada¨. ‐ O que é que aconteceu?
19 www.mindyourelephant.org
A: Criou‐se um caos inesperado e a maioria delas começou a correr de forma desorientada. A questão é que num minuto criaram uma volta no sentido inverso o que significa que não entraram em pânico mas alteraram temporariamente o papel de patrulha e comunicaram com as outras o novo caminho.
‐ Impressionante. Pensa que as organizações constituídas por humanos poderiam funcionar como eles?
A: Nem num milhão de anos. ‐ A sério? Está‐me a dizer que as formigas são mais inteligentes que nós?
A: Bem… sim. Anna corou um pouco quando se apercebeu do quanto isto era absurdo. ¨Os seres humanos como o culminar da evolução…pois claro…¨ pensou. Só havia mais uma coisa que Anna queria discutir. A: Há uma coisa que não entendo.
‐ O quê? A: Uma das maiores revelações do estudo de Gordon foi de que metade das formigas estão simplesmente a descansar no ninho, sem fazer nada.
‐ É mesmo? A: Sim. Afinal não são assim tão trabalhadoras!
‐ Qual é que pensa que é o papel delas? A: Não têm um papel. Talvez sejam reservas para o caso de alguma coisa acontecer.
‐ É possível que mesmo as formigas que estão sem fazer nada tenham um objectivo? Caso contrário porque é que metade delas estaria envolvida numa tarefa tão aborrecida como não fazer nada?
A: Essa é exactamente a minha questão. ‐ Bem, e tem uma resposta?
A: Sim, pensei numa coisa mas é meio idiota. ‐ O que é?
A: Pode ser que… numa forma muito própria de ser formiga – meditar seja uma forma de contribuir para o sucesso de todo o super organismo? Pode ser este o segredo para o facto de que elas têm sobrevivido entre 110 e 130 milhões de anos e agora estão em quase todos os cantos da terra?
‐ Pode ser. Já leu o livro de Mark Twain’s “O que é o Homem”? A: Não. Porquê?
‐ Há uma frase que diz: “Como pensador e planeador a formiga é igual a qualquer raça de homens selvagens; como uma auto didacta em diversas áreas, ela é superior a qualquer raça de homem; e em uma ou duas qualidades mentais está acima de qualquer homem, selvagem ou civilizado!¨
20 www.mindyourelephant.org
Não necessitamos de controlo Até agora temos elogiado a hierarquia em nome do controlo e da gestão. Claro que um determinado tipo de liderança é necessário por parte de qualquer membro de uma comunidade, mas, e de acordo com o que aprendemos com as formigas, o controlo deve ser substituído pelo desenvolvimento ágil da comunidade. Deve existir um enfoque no acesso aberto à informação, à mudança de papéis, à constante comunicação com os outros e a existência de um objectivo comum. As pessoas sabem como se auto – organizar. Um bom exemplo é a existência de diversas comunidades com fontes abertas que têm vindo a gerar um novo tipo de economia liberal.
50 % Das formigas não fazem nada. Temos ouvido que as formigas são muito trabalhadoras mas a pesquisa revela que não é bem assim. Também as pessoas podem aprender a simplesmente existir e não estar constantemente a fazer algo. Devido à evolução tecnológica não é viável manter as pessoas em rotinas de trabalho entediantes dado que as máquinas são capazes de realizar as tarefas de forma mais eficiente e melhor. É possível que o potencial humano seja direccionado para tarefas mais holísticas que exijam maior capacidade mental? Deve o sistema mudar? Devemos aceitar que a vida não é só trabalho?
Competir não é suficiente. Se as formigas vivessem numa competição constante umas contra as outras a sociedade delas seria um caos. A competição tem o seu tempo e lugar mas em todos os sistemas naturais de cooperação é muito mais crítica para a saúde e sobrevivência do sistema. Seria o seu corpo capaz de funcionar se os seus intestinos, bactérias e células estivessem em competição?
Já estamos ligados Não necessitamos de aumentar o sentido de comunidade e cooperação mas sim remover obstáculos. Já estamos ligados. Só não nos apercebemos disso pela competição e ganância existentes na sociedade. A verdade é que não podemos continuar assim se desejamos sobreviver enquanto espécie.
No capítulo 3 do livro Tomi Astikainen explica: − 3 visões para a sociedade do futuro. − Os momentos baixos do sistema monetário. − Exemplos de alternativas ao sistema actual ao nível individual e comunitário. − A importância do desenvolvimento tecnológico. − Pontos de aprendizagem do empreendedorismo social e comunidades em regime aberto. − A necessidade de mudança em diferentes áreas da sociedade. − Como encontrar uma nova direcção para a nossa vida.
“O sistema monetário pode ser considerado estruturalmente
obsoleto, servindo somente como um bloqueio.” ‐Peter Joseph‐
21 www.mindyourelephant.org
O sistema monetário está doente O ego conduziu o sistema monetário a uma crise. O elefante está a pisar as formigas trabalhadoras. Indivíduos, empresas e até nações estão a desintegrar‐se devido ao peso das suas dívidas. De forma intencional ou não, a elite com poder económico está melhor que nunca, enquanto que a classe média encolhe constantemente e um maior número de pessoas enfrentam uma situação de pobreza.
Valores criados no sistema Mesmo que se defenda é um facto; ganância, interesses próprios, desonestidade e elitismo não são algo inerente à natureza humana. São valores criados com base no sistema, que não estavam presentes nas comunidades primitivas anteriores ao surgimento do sistema monetário.
Quem cria o dinheiro? Donde vem o dinheiro? Quem distribui o dinheiro? Mais e mais pessoas começam a reparar na natureza disfuncional do sistema monetário mas só algumas estão de facto interessadas nestas questões fundamentais. A verdade é que o sistema bancário de reservas parciais permite aos bancos a criação de moeda sempre que alguém contrai um empréstimo. Na União Europeia o rácio mínimo de reservas é de 2%. Para simplificar o banco necessita de ter 2/100 do empréstimo real em reservas na reserva central do banco. Novo dinheiro é criado – algarismos novos numa conta sem valor real. E o juro? Quem paga os juros? Para fazer a relação entre o montante do empréstimo existe a criação de um princípio na oferta monetária, mas o dono do empréstimo também paga juros. Esta quantidade de dinheiro não é criado por ninguém. Devido a este facto nunca existe dinheiro suficiente para pagar as dívidas e é inevitável que alguém falhe. No caso de falências os bancos recebem os bens de capital como casas, carros, empresas, máquinas e bens colaterais. O pobre fica mais pobre e o rico mais rico.
Natureza e sofrimento Vivemos em liberdade ou somos escravos das dívidas? Aparte dos infortúnios das perdas individuais e da divida externa dos países existe mais uma causa – efeito nefasto dos sistemas baseados no lucro. A procura pelo crescimento contínuo força os produtores a criarem produtos fáceis de se destruírem ou que se tornam obsoletos no final da garantia, para que possam vender um novo no final desse período. Isto leva a um gasto intolerante de recursos e níveis nunca vistos de poluição. Os meios de comunicação social são incentivados a motivar os indivíduos a comprar produtos desnecessários para que o sistema continue a funcionar. Não existe uma solução para a crise financeira do sistema actual. O sistema tem que permitir capital sem juros criado pelas próprias pessoas. Existem bons exemplos de sistemas locais de trocas que não garantem somente uma economia funcional mas que também aumentam a confiança entre as pessoas e incentivam a cooperação. Este sistema pode ser um mero período de transição para uma humanidade com novos valores.
22 www.mindyourelephant.org
Rumo a uma nova sociedade Aparte do socialismo e do comunismo as pessoas acham difícil encontrar alternativas para o sistema capitalista. Mesmo compreendendo os altos e baixos (e por vezes o horror) deste sistema tomam‐no como dado. No entanto, começamos a testemunhar uma nova onda de conceitos livres e abertos (Economia livre, Economia da oferta, Produção individual) que se criaram devido à evolução tecnológica. Além disso não temos que pensar que a única alternativa ao capitalismo seria voltar às origens – para a economia primitiva ou até para um estilo de vida selvagem. Podemos construir uma nova sociedade baseada no avanço da ciência, tecnologia e da própria humanidade.
Oportunidades iguais são a chave para a abundância Igualdade absoluta é um mito pelo qual não vale a pena lutar, mas assegurar uma base de igualdade para todos é fundamental para uma sociedade mais justa e humana. Mesmo com a tecnologia contemporânea e a automatização de funções básicas, podemos assegurar que todos tenham acesso a comida, água, abrigo, saúde e o que for necessário para viver. Já é possível; só necessitamos da vontade para fazer acontecer. Não deveríamos competir por direitos humanos. Tal competição só conduz a uma fricção na sociedade, e stress psicológico conduzindo a sociedade à sua destruição. Alguns poderão defender que a mudança para algo melhor não acontecerá porque a sociedade actual não é igualitária e uma pequena elite controla a classe trabalhadora. No entanto, é também benéfico para esta mesma elite que a humanidade passe a um novo nível. Isso requer uma mudança de valores: elitismo, interesses próprios, ganância e desonestidade têm que dar lugar a uma nova cultura.
É necessária uma nova cultura Quando as necessidades básicas do ser humano são satisfeitas, quando sentimos a ligação e harmonia entre as diferentes componentes da nossa vida e quando o ego não está no caminho, o enfoque muda de preservar o status quo para o desenvolvimento real da sociedade. Dignidade, justiça, generosidade, abundância e criação significativa tornam‐se nos novos valores.
• Criação com significado e desenvolvimento ágil: As pessoas contribuem para projectos com significado que as preencham. Criam soluções em conjunto quando é necessário. Estruturas rígidas e hierarquias abrem o caminho para o desenvolvimento de tudo com uma forma de pensar ágil e funcional.
• Generosidade e abundância: As pessoas ajudam‐se umas às outras e partilham recursos para o benefício mútuo. Não existe cinismo, mas as melhores práticas são divulgadas livremente no mundo inteiro.
• Autenticidade, consciência e diálogo: Pessoas sem o seu ego à frente estão actualizadas sobre os assuntos mais relevantes. O diálogo é baseado em honestidade e verdade. Ninguém precisa de ter receio de ser enganado porque já não existe um motivo para comportamentos desonestos.
Que mundo gostaria de ver?
23 www.mindyourelephant.org
Sê o despertar Não tem necessariamente que concordar com tudo o que leu até agora, mas se chegou até aqui provavelmente algo no seu interior lhe diz que a mudança é inevitável.
À margem dos credos Despertar para a ligação existente entre os indivíduos conduz a uma melhoria nas relações que por sua vez leva ao desenvolvimento de comunidades mais fortes e sociedades mais consolidadas. Não podemos assegurar o que irá acontecer no futuro mas podemos contribuir para um amanha melhor. Para isto temos que abandonar as nossas visões pré – definidas e adoptar um novo tipo de cultura. Temos que fazer o que é certo mas não da forma como sempre foi feito.
À margem da ganância O sistema monetário que temos está obsoleto. É baseado em valores distorcidos e hipocrisia. Aumenta as desigualdades e limita as possibilidades de uma vida confortável. Perpetua o status quo e não incentiva o desenvolvimento. Podemos escolher um futuro diferente e caminhar em direcção a ele. Se a nossa escolha é baseada na filosofia de Ubuntu começamos a criar um futuro onde a liberdade individual, altruísmo e o poder da comunidade são enfatizados: ¨Eu sou porque tu és porque nós somos¨. Ao nível individual, podemos abandonar a nossa ganância e dar espaço para a criação de um novo sistema de valores.
À margem da sociedade O sistema tradicional não está a funcionar bem e actualmente vivemos em sofrimento por causa do mesmo. A boa notícia é que a transição para um nova sociedade já começou. Necessitamos de uma visão de futuro mas mais que isso devemos alinhar o nosso comportamento nesta nova direcção. Independentemente do sector da sociedade em que trabalhamos ou mesmo estando desempregados, todos temos alguma força que podemos desenvolver. Para mais informação: www.mindyourelephant.org
“Tudo o que existe na sua vida é um veículo para a sua
transformação. Use isso!” ‐Ram Dass‐
24 www.mindyourelephant.org
Epilogo: Visão do futuro ‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐
Anna entrou numa empresa que auxilia jovens a encontrar a sua direcção. Adorava o seu trabalho mas concordou em trabalhar somente 20 horas por semana. Queria ter espaço para o seu próprio desenvolvimento e passar tempo com as pessoas mais próximas. Anna não via o professor à bastante tempo. Estava com o seu cartão de apresentação na mão onde o seu nome aparecia como: “A. Were”. Estava prestes a dá‐lo ao professor que concordou em encontrar‐se com ela mais uma vez. Anna queria saber onde o professor tinha ganho toda aquela sabedoria. A resposta foi confusa: ¨do futuro¨. Mas Anna sabia que de alguma forma isso fazia sentido. Havia algo mais do que as palavras na sabedoria do professor. No seu iPod tocavam os Beatles: “Imagina que não existe céu. É fácil se tentares. Não existe inferno. Por cima de nós só o céu. Imagina todas as pessoas, que vivem no presente… Imagina que não existem países. Não é difícil de o fazer. Nada pelo qual morrer ou matar, sem credos ou religiões. Imagina todas as pessoas. Vivendo a vida em paz… Podes dizer que sou um sonhador, mas não sou o único. Espero que um dia te juntes a nós e o mundo será um só. Imagina que não existem possessões. Penso se serás capaz. Sem necessidade de ganância ou fome; uma irmandade de homens. Imagina todas as pessoas, a partilhar todo o mundo… Podes dizer que sou um sonhador, mas não sou o único. Espero que um dia te juntes a nós e o mundo viverá como um só.¨ Anna viu o professor escalar a rocha onde era suposto encontrarem‐se. Anna nunca tinha estado neste local tão grandioso apesar de ser só a meia hora de sua casa. O sol de fim de tarde iluminava as árvores.
‐ Olá Anna. Receio que o meu tempo seja limitado. Vou dar‐lhe 20 minutos para que me faça perguntas mas depois tenho de ir. Esta será a última vez que estaremos juntos.
A: Ok. Estou muito contente por vê‐lo de novo mas claro que triste porque se vai embora. Mas dado que não tem muito tempo não vale a pena estar com rodeios ou discutir se vem do futuro ou não. Acredito em si. Deixe‐me começar por lhe perguntar algo muito pessoal que me tem incomodado um pouco. É um homem ou uma mulher?
‐ Isto pode ser potencialmente confuso para si, dado que existe uma importância dos géneros tão grande na sua sociedade. Desde muito cedo somos levados a assumir o papel de homem ou mulher. Isto limita‐a e você identifica‐se com o papel. Aprendemos a alcançar um equilíbrio entre o feminino e o masculino. Em meros termos físicos, pode ver mais de uma mulher do que de um homem. Esta questão no entanto, já não tem importância.
‐ A: Ok. Tem razão. Foi algo confuso. Mas acho que entendo o seu ponto de vista. Vamos para uma mais fácil: É casado?
‐ O estabelecimento do casamento como tal foi abandonado à muito na sociedade em que vivemos. Era sobretudo um acordo legal e à medida que nos livrámos da maioria das leis deixou de existir a necessidade do mesmo. No geral, o amor já não é restrito a nenhum ser humano. Temos tendência para amar tudo e todos os que nos rodeiam. No entanto, ainda existem relações fortes com um número limitado de companheiros e que tentamos ter sempre por perto. Algumas pessoas preferem ter somente um parceiro. No nosso círculo actual de parceiros, existem sete adultos ao todo em conjunto.
A: Certo, deixe‐me ver se compreendo. Quem existe na sua família? Tem filhos?
‐ Todos são família. Não existem fronteiras, não há separação. Tomamos conta dos filhos uns dos outros e isso dá‐nos muita alegria e felicidade.
25 www.mindyourelephant.org
A: Isso soa‐me bem… estranho, mas bom. Então, e o que faz para viver? ‐ Fico surpreso que só me pergunte isso agora. Não é a pergunta mais comum na sua sociedade?
Sem ofensa, mas achamos engraçado como as pessoas no vosso tempo se identificam através da profissão, educação ou título. Na nossa sociedade, tudo acontece através da participação voluntária. Não temos empregos na concepção tradicional; fazemos aquilo em que somos bons e o que gostamos de fazer. A sua próxima questão seria ¨qual o objectivo¨ ou ¨qual o incentivo¨, certo? Isto pode ser difícil de entender porque ainda vivemos muito separados uns dos outros e não entendemos a ligação com todas as coisas e seres. Na nossa sociedade o incentivo para participar vem do simples facto que somos todos um único: não existe competição, excepto no campo de futebol e em competições de ideias. As boas notícias para si é que começou a substituir competição por cooperação. Começou a despertar para o facto de que a competição está em processo de desaceleração; é como usar o seu pé direito para virar para o lado esquerdo e correr mais rápido.
Neste momento Anna deu ao professor o cartão dela que dizia “A. Were – Parceira”. O professor examinou o cartão, sorriu gentilmente e esperou calmamente pela próxima questão.
A: Gosto dessa analogia. Consigo entender o seu ponto. Tento imaginar se precisa de dinheiro numa sociedade como a sua. Não há necessidade de se ser melhor ou tão bom como seu vizinho, certo? O que tem então? Quais são as suas posses?
‐ Tem razão. O dinheiro era uma ferramenta obsoleta que irá brevemente descobrir. No seu tempo muitas pessoas ainda se apegam a ele sem dar conta que é um conceito imaginário. Os números da sua conta bancária no final não têm valor nenhum. Não temos o conceito de possessão. A nossa primeira prioridade depois da grande mudança foi assegurar as necessidades básicas de todos. Apercebemo‐nos que é um benefício para todos promover a igualdade. Somos uma espécie muito mais forte devido a isso. Tal como para a propriedade, seria estúpido ter, por exemplo, um carro. Na sociedade de participação o desenvolvimento da sociedade ocorre tão rápido que se tivesse um carro rapidamente este seria obsoleto. Ninguém iria fazer melhorias no mesmo e todos os outros iriam partilhar carros muito melhores que o seu. É espantoso o espaço que criámos devido à partilha; não existe mais a necessidade de lugares de estacionamento estipulados.
A: Isso faz sentido. Mas ainda não sei se quero deixar ir o BMW que o meu pai me comprou. De qualquer forma, mencionou que asseguram as necessidades básicas para todos. No caso em que não tenha que trabalhar no sentido tradicional, quem cozinha? Quem limpa o chão? Quem faz todas as coisas aborrecidas?
‐ A maior parte das tarefas repetitivas estão automatizadas. Os edifícios têm sistemas integrais de limpeza. A produção básica de comida é automática e a entrega é executada de forma a que a comida e água limpa estejam disponíveis em todo o lado. No entanto, muitas pessoas gostam de cozinhar por isso existem algumas cozinhas comuns onde nos juntamos para refeições mais especiais.
A: Então, você não trabalha e uma infra‐estrutura automatizada cobre as suas necessidades essenciais. Como passa o seu tempo? Não se aborrece?
‐ Em primeiro lugar, há uma diferença entre ¨não trabalhar¨ e ¨não ter um emprego¨. É como as formigas, recorda‐se? Envolvemo‐nos em projectos comuns de desenvolvimento de acordo com as nossas competências e interesses. Não lhe chamamos trabalho mas sim participação. É verdade que não temos que participar diariamente e a todas as horas. Investimos 5 a 10% do que chama de tempo nesses projectos. Assim existe liberdade para desfrutar. Existe uma grande ênfase em ser mais do que em fazer. É muito comum as pessoas sentarem‐se e observar a natureza ou fazer algo. E isso não é aborrecido. Essa palavra à muito que foi extinta. Não temos tempo nesse sentido. Em breve irá notar que o tempo tem sido um obstáculo. Vai‐se tornar irrelevante muito em breve. Por
26 www.mindyourelephant.org
isso não se preocupe se o seu relógio ficar sem bateria. Ah, sim! Aparte de nos concentrarmos em ser e desfrutar, muitos concentram‐se na educação.
A: E o sistema educativo, como é? O que é que estudavam?
‐ Atenção à linguagem utilizada, Anna. Tente falar mais no presente. Nós não estudávamos, nos ainda estamos a estudar: astrologia, viagens ao espaço, meditação, antropologia histórica, música, oceanos, engenharia, futebol, cibernética, jogos, biologia molecular, design, tecnologia genética, informática, robótica, media e formação são alguns dos meus tópicos preferidos. Isso depende dos interesses de cada um sobre o quê e quanto querem saber. Mas toda a sabedoria tem lugar na nossa sociedade. É mais do que conhecimento, mais do que mera inteligência. Apesar de existir um itinerário pedagógico que as pessoas respeitam dos 5 aos 10 anos, além disso, a educação é voluntária tanto do lado dos alunos como dos professores e esses papéis acabam por se misturar. Existem imensas coisas que se podem aprender com as crianças. Estão sempre mais perto da natureza e ainda carregam consigo alguma sabedoria adquirida em outras vidas.
A: Wow, isso já é demais para mim. Para ser sincera, não estava atenta ao que disse porque estava a ponderar sobre dois pontos… primeiro o futebol, mas não quero desperdiçar uma pergunta com isso. A segunda era sobre a minha linguagem. Apercebi‐me que a linguagem utilizada cria uma realidade. Como é que comunicam? O inglês é comum a todos?
‐ Ok, da próxima vez que estiver imersa nos seus pensamentos iremos assegurar‐nos de que existe silêncio. Nós damos maior ênfase a ouvir do que a falar. Apercebemo‐nos que existem tantos mal ‐entendidos no mundo porque não tínhamos uma linguagem comum. O inglês não era apropriado para ser uma linguagem universal auxiliar devido às suas limitações. Estudámos outros idiomas como Pali, Sanskrit, Arabico e chinês e criámos uma linguagem mundial que não deixa espaço para a interpretação. Na nossa linguagem, os sons – os comprimentos de onda – transportam o significado muito mais do que as palavras. No formato escrito reflectem fórmulas científicas. Depois de eliminarmos toda esta confusão, notámos que as nossas espécies também tinham capacidades telepáticas. Isso ajuda imenso. Uma outra coisa sobre a comunicação é que nós exercitamos a colecção de sabedoria. Centralizamos todo o conhecimento no que designamos de internet. É automaticamente traduzido para todos os idiomas.
A: Ainda têm internet? Para que é que a utilizam?
‐ Tem um propósito duplo. Por um lado repõe o conhecimento, aberto a todos. Por outro lado, recolhe a informação que é necessária para a sociedade funcionar.
A: Um minuto… A internet gere a sociedade? A sério, quem comanda?
‐ Logo depois do despertar colectivo, que designamos de grande mudança, desmantelámos o sistema político obsoleto. Apercebemo‐nos de que com o nosso novo conjunto de valores e um entendimento verdadeiro do mundo, não necessitávamos de gestores de decisões. Leis, restrições e punições deram lugar ao senso comum e a comunidades compassivas. O que permaneceu foram as operações base: construção, produção de alimentos, transportes, remoção da poluição, reciclagem e afins. Isto não necessita de uma estrutura politica mas pode ser transferido para um sistema de tomada de decisão computorizado. Isso removeu muitos erros. Ficámos livres para nos concentrarmos em desenvolvimento em vez de aguentar as cordas.
A: Uau! Isso faz muito sentido. Ao princípio estava com receio de perguntar se não têm medo que as máquinas passem a dominar, mas depois apercebi‐me como a minha pergunta era estúpida. As pessoas têm sido a nossa maior ameaça até agora. Tantas guerras tiveram inicio porque não conseguimos chegar a um acordo. Isso lembra‐me de outra coisa… Qual é a vossa religião?
27 www.mindyourelephant.org
‐ Bom, chegámos a um acordo. Pessoas do mundo inteiro começaram a perceber que os ensinamentos das diferentes religiões vinham de uma só fonte. Quando começaram a ver o que estava por trás das palavras – na sabedoria real – deixaram de pensar que a religião deles era a única verdade. Depois de algum tempo deixou de existir a necessidade de uma religião como tal. O conhecimento tornou‐se mais importante do que as crenças. As pessoas já não têm divindades. Se algo é venerado é a vida no planeta terra. Amamos a natureza.
A: Ok, já chega de política e religião. Conte‐me mais sobre si: por exemplo, onde vive?
‐ Vivemos em todo o lado. Quando nos apercebemos que a detenção de uma propriedade se tinha tornado obsoleta isso libertou as pessoas para se movimentarem, conhecer outras pessoas e ficarem onde queriam. Não temos casas ou terrenos. Algumas pessoas preferem ficar mais tempo num sítio e algumas têm mais mobilidade. Não temos fechaduras nas portas. Só um código em forma de cor que nos diz se o local está disponível agora ou não: vermelho significa reservado e que as pessoas querem estar em privado; amarelo significa que existe alguém mas que nos podemos juntar; verde significa que está disponível.
A: Soa‐me bem. Então e como é que se deslocam?
‐ Sobretudo andamos ou usamos as bicicletas, patins, skates ou cavalos. Na cidade temos transportáveis e monorails. Carros também podem ser pedidos. Para distâncias maiores temos comboios magnéticos ou barcos. Não existe tempo de espera nos aeroportos.
A: Skateboards e cavalos? Não era de facto o que eu esperava. Como são as cidades então?
‐ Algumas das melhores tecnologias já foram inventadas. Apercebemo‐nos de que skates e cavalos não só existem em grande quantidade mas são também uma forma de focarmos a nossa mente no momento presente à medida que nos movimentamos. De outra forma cairíamos e magoávamo‐nos. Perguntou como são as cidades. Apesar das cidades estarem ligadas umas às outras, são muito diversas e diferentes umas das outras. Mas há alguns traços comuns. As cidades estão optimizadas em termos do uso de espaço, energia e infra‐estruturas. São muito verdes, silenciosas e tranquilas. Os animais co‐habitam nas cidades connosco. Geralmente as cidades são circulares e consistem em diferentes anéis com objectivos diferentes. Em todo o lado existe uma boa energia – as cidades estão muito mais integradas na natureza do que no seu tempo.
A: Está sempre a dizer ‘o seu tempo’. Quantos anos tem, já agora?
‐ Esta encarnação no seu tempo seria de 118 anos. Sei que lhe parece imenso. Quando os poluentes foram removidos e a natureza voltou a estar em harmonia isso aumentou a esperança de vida. Exercitar a mente e o corpo também ajudou. Ë incrível como a sua condição física melhora quando tem amor e energia positiva em todo o lado. Conservámos as melhores práticas da medicina ocidental, introduzindo nano‐robôs de cura e novas tecnologias de transplante, mas sobretudo usamos a medicina natural. Os cuidados de saúde finalmente atingiram o seu significado real; não tratamos simplesmente os sintomas mas pró activamente identificamos a sua origem – manter a saúde mais do que tratar a doença.
A: Interessante. É tentador. E como é que chegamos ao futuro?
‐ Vamos deixar passar essa questão. Se tiver sucesso já tem a resposta para essa questão. Anna reparou que estava a ficar sem questões. Tinha usado um pau para desenhar uma linha no chão por cada questão que colocasse. Por um cálculo rápido apercebeu‐se que só lhe restavam 3. Por algum tempo pensou porque é que o professor se tinha recusado a responder à sua questão anterior. Depois apercebeu‐se. Com um sorriso forçado no seu semblante, Anna colocou a Terceira questão: “Como é que está o seu elefante?” O professor regozijou‐se e respondeu:
28 www.mindyourelephant.org
‐ É bom ouvir essa pergunta. Percorreu um longo caminho no seu despertar. Pode não ser uma surpresa para si que as pessoas no futuro já não serão dominadas pelo próprio ego. São menos vulneráveis, mais fáceis de abordar e menos condicionadas em termos da cultura donde vêm.
A: Você é como o crocodilo e o pássaro? Dê‐me um exemplo de sinergia no futuro.
‐ Hmm… essa é difícil, porque a sinergia está em toda a parte. Muito bem… No nosso distrito local todas as 150 pessoas se reuniram para reprogramar os robots construtores da nova cidade sobre o mar. Estávamos muito entusiasmados com isso e toda a gente deu o seu melhor durante meses. Mas todas as vezes que pedíamos ao computador para nos dar uma maqueta da cidade, faltava algo. Não conseguíamos ver o que era. Não batia certo. Os nossos filhos ouviram rumores do dilema e os 28 juntaram‐se para nos ajudar. Organizaram um jogo de imaginação que introduziram no computador em tempo real. Tirámos uma nova maqueta do sistema e ficámos perplexos. Agora existiam slides, cores e estruturas criativas. Todos os tipos de peixes, corais e vida aquática circulavam em harmonia mesmo dentro das estruturas. Parecia um parque de diversões debaixo de água. Adorámos a maqueta e os robots construtores começaram o seu trabalho. Isso é sinergia!
A: Uau! Posso imaginar. A propósito, reparei que hoje não utilizou a palavra ¨eu¨ou ¨meu¨. Em vez disso utilizou ¨nós¨. Acho que me está a dizer que no futuro não existe um ¨Eu¨. Sendo assim, vocês são como formigas. A minha pergunta final é: Se fôssemos como formigas, como planearíamos e construiríamos a sociedade do futuro?
‐ Uma das figures históricas do futuro é Ajahn Brahm – um monge budista que vive na sua era. Ele partilhou uma história em que estava a andar numas montanhas e foi de repente rodeado por uma névoa. Não sabia mais que caminho seguir por isso voltou para trás. Infelizmente nem os braços conseguia ver por isso perdeu‐se e quase caiu de uma falésia. Se não estivesse por completo no momento presente teria morrido. Apesar de não saber para onde ir, sabia que tinha que ir para baixo para ter uma visão clara. Saiu da névoa e finalmente encontrou o caminho para casa. Anna, lembre‐se: o futuro é emergente e surpreendente. É tempo de abandonar o pensamento analítico. Deixar o egoísmo. Não a vai fazer ir longe. Saia da névoa. Não precisa planear uma sociedade espiritualmente perfeita e harmoniosa até ao último detalhe por agora, mas pode começar a dar passos em direcção a isso. Lembre‐se que não é o destino mas sim a caminhada que interessa; não existe uma sociedade ideal.
Anna ouviu muito atentamente, absorvendo o brilho do sol. Apercebeu‐se que o professor se tinha ido. Lágrimas correram pela sua cara abaixo; lágrimas de alegria, paz e amor. A névoa estava a começar. Ela levantou‐se e deu o primeiro passo.