atendimento ao queimado

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Diretrizes Clínicas Protocolos Clínicos 039 Atendimento ao Queimado UNIDADE DE TRATAMENTO DE QUEIMADOS – UTQ - PROFESSOR IVO PITANGUY Hospital João XXIII/FHEMIG Estabelecido em: 19/08/2013 Responsável / Unidade Carlos Eduardo Guimarães Leão - Médico | Chefe da UTQ Prof. Ivo Pitanguy/HJXXIII Cirurgia Plástica Edgar Tom Back Júnior Ilmeu Cosme Dias Márcio Soares Guzella Marzo Bersan Paulo Jorge Xavier Rakel Gontijo Rose Mary Ferreira Souto Clínica Médica do 8º andar Carlos Henrique Soarez Maria Perpétua Campos Sílvio de Cesar Diniz Mandacaru Colaboradores Clínica Médica do 9º andar Augusto Silva Gonçalves Elisandro Vital Rodrigues José Alberto Vieira Filho Juliana Cabrera Garrido Marco Aurélio Rocha Thaíssa Oliveira de Almeida Coelho Clínica Anestesiológica Carlos César Nunes Lucas Rodrigues Motta Sandra Maria Lima Pires Pediatria Antônio Tarcísio de Oliveira Perpétuo Marta Lúcia Werneck Loche Rosa Lima Nascimento Bertolin

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    039 Atendimento ao Queimado

    UNIDADE DE TRATAMENTO DE QUEIMADOS UTQ -

    PROFESSOR IVO PITANGUY

    Hospital Joo XXIII/FHEMIG

    Estabelecido em: 19/08/2013

    Responsvel / Unidade

    Carlos Eduardo Guimares Leo - Mdico | Chefe da UTQ Prof. Ivo Pitanguy/HJXXIII

    Cirurgia Plstica

    Edgar Tom Back Jnior

    Ilmeu Cosme Dias

    Mrcio Soares Guzella

    Marzo Bersan

    Paulo Jorge Xavier

    Rakel Gontijo

    Rose Mary Ferreira Souto

    Clnica Mdica do 8 andar

    Carlos Henrique Soarez

    Maria Perptua Campos

    Slvio de Cesar Diniz Mandacaru

    Colaboradores

    Clnica Mdica do 9 andar

    Augusto Silva Gonalves

    Elisandro Vital Rodrigues

    Jos Alberto Vieira Filho

    Juliana Cabrera Garrido

    Marco Aurlio Rocha

    Thassa Oliveira de Almeida Coelho

    Clnica Anestesiolgica

    Carlos Csar Nunes

    Lucas Rodrigues Motta

    Sandra Maria Lima Pires

    Pediatria

    Antnio Tarcsio de Oliveira Perptuo

    Marta Lcia Werneck Loche

    Rosa Lima Nascimento Bertolin

  • Pg. 292 039 - Atendimento ao Queimado

    Fisioterapia

    Andra Afonso Mendes

    Bruno Castelo Branco Pina

    Daniela Cristina Fonseca Ferreira

    Isabella de Souza Pereira

    Marilene de Paula Massoli

    Priscila Pierazoli de Arajo Batista

    Renata Rosseti

    Assistncia Social

    Maria do Esprito Santo de Oliveira

    Enfermagem

    Abgail Assuno Madeira Pereira

    Carolina Di Pietro Carvalho

    Daniela Carreiro de Mello

    Eva Cezario Mateus

    Izabela Figueiredo de Souza Honorato

    Juliana Aparecida Correa Nunes

    Juliana Horta Cunha

    Luciana Galdina de Matos

    Roberta Souto Ramos

    Rogria da Silva Viana

    Selma de Paula Faria

    Psicologia

    Liza Maria de Oliveira Perptuo

    Raquel Mieco Minini

    Nutricionista

    Rossi Maire de Freitas Ribeiro

    Editores do Protocolo - 2013

    Ana Elisa Dupin

    Carlos Eduardo Guimares Leo

    Patrcia Veloso Silva Ramos

    Reviso e Formatao

    Comisso Central de Protocolos Clnicos FHEMIG

    Disponvel em www.fhemig.mg.gov.br

    e intranet

  • 039 - Atendimento ao Queimado 293

    INTRODUO / RACIONAL

    DADOS EPIDEMIOLGICOS

    No Brasil, 50% das queimaduras ocorrem em ambiente domstico, sendo que 80% destas na

    cozinha.

    Dados do servio de queimados do HJXXIII, de 2009 a 2010, indicam que a maioria dos pacientes

    com queimaduras era do sexo masculino (62,5%), com mdia de idade de 29 anos, sendo 33%

    crianas de zero a 15 anos (1). O lcool foi o agente etiolgico mais freqente (34,4%), seguido por

    lquidos superaquecidos (28%), chama direta e eletricidade (7%). O lcool foi o causador das

    queimaduras mais extensas e o maior responsvel pelos bitos. Quanto intencionalidade, 79%

    foram queimaduras acidentais, seguidas pelas tentativas de auto-extermnio (12%) e agresso (9%),

    com taxa de mortalidade de 16,3%. Conclui-se pela necessidade de campanhas pblicas

    abrangentes e peridicas, para a preveno de queimaduras. Mais definitivo seria a incluso de

    matria Preveno de acidentes na grade curricular das escolas brasileiras (2).

    DEFINIES

    1. Queimadura: leso resultante da ao do calor direto ou indireto (radiante) sobre o corpo.

    Pode ser provocada por um agente aquecido, agentes qumicos (leses custicas

    semelhantes leso trmica) ou descarga eltrica.

    2. Tabela1: Classificao da queimadura quanto profundidade das leses

    Grau da leso Definio Aspecto clnico

    Primeiro grau Destruio apenas da epiderme. Eritema, branqueia sob presso e

    dolorosa.

    Segundo grau Destruio total da epiderme e

    parcial da derme.

    Leso exudativa, eritematosa,

    dolorosa, presena de bolhas

    (flictenas).

    Terceiro grau Destruio total da epiderme e da

    derme.

    Leso seca, dura, inelstica,

    translcida, com vasos trombosados

    visveis, indolor punctura local.

    3. Tabela 2: Classificao da extenso corporal do queimado (utilizar as tabelas 1 ou 2 do ANEXO I

    para o clculo do percentual corporal queimado)

    Classificao Adultos Crianas

    Pequeno queimado

    Queimaduras de segundo grau

    abaixo de 10% ou terceiro grau

    abaixo de 5 %.

    Queimaduras de segundo

    grau abaixo de 5%.

    Mdio queimado

    Queimaduras de segundo grau de

    10 a 25% ou terceiro grau em torno

    de 10%.

    Queimaduras de segundo

    grau entre 5 e 15%.

    Grande queimado

    Queimaduras de segundo grau

    acima de 25% ou terceiro grau acima

    de 10%.

    Queimaduras de segundo

    grau acima de 15%.

    Obs.: Queimadura de terceiro grau acima de 3% so relevantes na criana.

  • Pg. 294 039 - Atendimento ao Queimado

    4. Tabela 3: Hierarquizao do atendimento

    Atendimento ambulatorial Atendimento hospitalar

    Pequenos queimados;

    Mdios queimados com condio de

    realizar cuidados e curativos no

    domiclio.

    Grandes queimados;

    Mdios queimados sem condies de

    cuidados domiciliares;

    Idosos ou crianas em idade tenra;

    Queimaduras da face e pescoo;

    Queimaduras incapacitantes;

    Queimaduras graves de perneo;

    Leso por inalao.

    5. Tabela 4: Alteraes sistmicas das queimaduras

    Aparelho cardiovascular

    Extravasamento vascular;

    Hipovolemia;

    Choque hipovolmico.

    Aparelho respiratrio

    Hiperventilao em grandes queimados;

    Edema de mucosa traqueobrnquica em inalao de

    produtos de combusto irritantes;

    Restrio respiratria por queimaduras da parede torcica

    com reteno de secrees e tosse ineficiente.

    Aparelho digestivo lcera de estresse (de Curling).

    Alteraes renais Necrose tubular aguda aps choque hipovolmico;

    Proteinria.

    Alteraes

    hematolgicas

    Hemlise em grandes queimados;

    Hipoproteinemia.

    OBJETIVOS

    Este protocolo se prope a padronizar as atividades multiprofissionais no tratamento do paciente

    queimado, organizado nos itens seguintes:

    A. Abordagem Inicial;

    B. Assistncia Clnica;

    C. Assistncia Peditrica;

    D. Assistncia Cirrgica;

    E. Assistncia Anestesiolgica;

    F. Assistncia e Cuidados de Enfermagem (9 andar);

    G. Assistncia e Cuidados de Enfermagem (8 andar);

    H. Assistncia Fisioterpica (9 andar);

    I. Assistncia Fisioterpica (8 andar);

    J. Assistncia Nutricional;

    K. Assistncia Psicolgica;

    L. Assistncia do Servio Social.

  • 039 - Atendimento ao Queimado 295

    SIGLAS

    ABCDE: Airway, Breathing,

    Circulation, Disability, Enviromment and

    Exposure

    ABD: gua Bidestilada

    ADM: Amplitude de Movimento

    AGE: cidos Graxos Essenciais

    ATLS: Advanced Trauma Life Suport

    AVD: Atividade de Vida Diria

    BIPAP: Presso Positiva Intermitente

    Bifsica

    CAB: Circulation, Airway, Breathing

    CK: Creatina Quinase

    DPOC: Doena Pulmonar Obstrutiva

    Crnica

    ECG: Eletrocardiograma

    EPAP: Presso Positiva Expiratria

    EVA: Etil Vinil Acetato

    FiO2: Frao inspirada de Oxignio

    Hgb: Hemoglobina

    Htc: Hematcrito;

    ICC: Insuficincia Cardaca Congestiva

    IRC: Insuficincia Renal Crnica

    MMII: Membros Inferiores

    MMSS: Membros Superiores

    PAS: Presso Arterial Sistmica

    PaCO2: Presso Arterial de Gs Carbnico

    PaO2: Presso Arterial de Oxignio

    PEER: Positive end expiratory pressure

    PIA: Presso Intra Arterial

    PCR: Parada Cardiorrespiratria

    PO: Ps-Operatrio

    PPI: Presso Positiva Inspiratria

    PSV: Ventilao por Presso de Suporte

    PTTa: Tempo de Tromboplastina Parcial Ativada

    PVC: Presso Venosa Central

    RNI: Tempo de Protombina ou Razo Normatizada

    Internacional

    SARA: Sndrome da Angustia Respiratria Aguda

    Sat: Saturao

    SCQ: Superfcie Corporal Queimada

    SNE: Sondagem Nasoentrica

    SVD: Sondagem Vesical de Demora

    TMB:Taxa de Metabolismo Basal

    TFD: Tratamento Fora de Domiclio

    UPF: Unidade Pequenos Ferimentos

    UTQ: Unidade de Tratamento de Queimados

    VC: Volume Corrente

    VM: Ventilao Mecnica

    ATIVIDADES ESSENCIAIS & MATERIAL / PESSOAL NECESSRIO

    A. ABORDAGEM INICIAL

    Os pacientes vtimas de queimaduras admitidos no Hospital Joo XXIII so triados no andar

    trreo (Ambulatrio de Pronto Atendimento/ Politrauma) conforme o protocolo de

    Manchester e encaminhados para o tratamento conforme a gravidade do trauma, seguindo o

    fluxograma abaixo:

  • Pg. 296 039 - Atendimento ao Queimado

    Fluxograma 1: Atendimento do paciente vtima de queimadura

    Sim

    Sim

    No

    Sim

    Compromisso

    da via area?

    Respirao ineficaz?

    Criana no reativa?

    Choque?

    Dor severa?

    Dispneia aguda?

    Leso por inalao?

    Alterao do estado de

    conscincia?

    Histria significativa de

    incidente?

    Dor moderada?

    Inalao de fumos?

    Leso elctrica?

    Queimadura qumica?

    Histria

    inapropriada?

    Dor?

    Inflamao local?

    Infeco local?

    Problema recente?

    Sim

    No

    No

    No

    Sim

    VERMELHO

    Sala 1 Emergncia/Trauma

    LARANJA

    Sala 1 Emergncia/Trauma

    AMARELO

    Sala 6 Clnicas Cirrgicas

    Cirurgia Plstica

    VERDE

    Unidade de Pequenos

    Ferimentos

    No AZUL

    Centro de Sade

  • 039 - Atendimento ao Queimado 297

    1. Queimaduras pequenas, pacientes estveis(encaminhados Unidade de Pequenos

    Ferimentos):

    Analgesia venosa;

    Limpeza das reas acometidas com clorexidine degermante 2% e soro fisiolgico;

    Desbridamento de tecidos desvitalizados, ruptura e desbridamento de flictenas;

    Curativo com sulfadiazina de prata a 1%, ocluindo com gaze aberta e atadura de crepom;

    Encaminhamento conforme impresso especfico para curativos e acompanhamento com a

    cirurgia plstica no Ambulatrio de Queimados.

    Obs.: em casos de queimaduras de primeiro grau no esto indicados curativos oclusivos ou

    uso de pomadas especiais. Orientar hidratao da pele.

    2. Mdios e Grandes queimados e/ou suspeita de leso por inalao e/ou queimadura

    eltrica: (encaminhados sala de atendimento aos politraumatizados):

    Abordagem inicial sistematizada pela equipe de Cirurgia do Trauma como qualquer vtima

    de politrauma, definindo e tratando as prioridades conforme o ABCDE do ATLS (Advanced

    Trauma Life Suport).

    Solicitar avaliao da Clnica Mdica em caso de queimadura eltrica para abordagem

    propedutica e teraputica inicial de possveis comprometimentos sistmicos.

    2.1 Avaliar evidncias sugestivas de leso por inalao em pacientes expostos a fumaa ou

    vapor:

    - Queimaduras cervicais ou faciais;

    - Queimadura dos clios e vibrissas nasais;

    - Escarro carbonceo;

    - Rouquido;

    - Histria de queimadura em ambientes fechados;

    - Confuso mental;

    - Nveis sanguneos de carboxihemoglobina maiores que 10%.

    2.2 A intubao dever ser realizada diante de qualquer um dos fatores a seguir:

    - Estridor respiratrio;

    - Rouquido progressiva;

    - Uso de musculatura acessria;

    - Queimaduras com edema acentuado em face ou pescoo;

    - Diminuio do nvel de conscincia;

    - Hipoxemia;

    - Hipercabia.

    2.3 Estabelecer acesso venoso com catter calibroso em veia perifrica, de preferncia em

    membros superiores:

    - Na presena de grande superfcie acometida, a puno venosa em rea queimada

    permitida;

    - Acesso venoso em membros inferiores em adultos tem maior associao com flebites e

    deve ser evitado;

    - Considerar acesso venoso central em pacientes com superfcie corporal queimada >

    20%;

    - Em grandes queimados, estabelecer monitorizao contnua (cardioscopia, oximetria de

    pulso, presso arterial no-invasiva, diurese por sondagem vesical de demora - SVD).

  • Pg. 298 039 - Atendimento ao Queimado

    2.4 Estimar a superfcie corporal queimada (SCQ) pela regra de Lund e Browder (ANEXO I ), o

    grau de profundidade das leses (ANEXO I) e registrar o agente causador da queimadura, bem

    como o tempo transcorrido desde o acidente e as medicaes/lquidos administrados no pr-

    hospitalar.

    2.5 Reposio volmica em pacientes grandes queimados (> 20%) conforme a frmula de

    Parkland:

    - 4 ml/kg/SCQ (para o clculo, considerar apenas leses de II e III graus e no mximo 50 %

    de SCQ);

    - Administrar a metade do volume nas primeiras 8 horas do trauma (considerar o que foi

    administrado no pr-hospitalar) e o restante nas prximas 16 horas;

    - Utilizar preferencialmente o Ringer Lactato, podendo ser substitudo pela soluo

    fisiolgica. No indicada a infuso de colides nas primeiras 24 horas da

    queimadura;

    - Avaliar dbito urinrio atravs da SVD espera-se que a diurese seja > 1 ml/kg/hora em

    crianas e entre 0,5 e 1 ml/kg/hora em adultos.

    2.6 Analgesia venosa para todos os pacientes.

    2.7 Realizar desbridamento da rea queimada sob analgesia ou anestesia no bloco cirrgico

    (momento ideal para recalcular SCQ e profundidade das leses).

    - A escarotomia deve ser realizada se houver queimaduras com escaras rgidas (3 grau)

    circunferenciais em membros ou placas em trax com restrio dos movimentos

    respiratrios;

    - Realizar tricotomia nas reas queimadas;

    - No indicado o uso de antibiticos sistmicos na fase inicial, incluindo o momento da

    induo anestsica no primeiro desbridamento. Utilizar medicamento tpico (pomada de

    sulfadiazina de prata 1%), seguido de curativo oclusivo;

    - Evitar o uso de succinilcolina durante o ato anestsico devido ao risco de

    hiperpotassemia.

    2.8 Critrios para indicao de internao hospitalar:

    - Queimadura de II grau > 15% em adultos ou > 10% em crianas;

    - Queimadura de III grau > 5%;

    - Queimaduras eltricas;

    - Queimadura em reas especiais: vias areas, face, mos, ps e perneo;

    - Pacientes com risco adicional: desnutrio, diabetes, drepanocitose, cardiopatias;

    - Suspeita de maus-tratos;

    Obs.: individualizar a conduta conforme o contexto de cada paciente.

    2.9 Se indicada a internao, transferir o paciente para a Unidade de Tratamento de Queimados

    (UTQ):

    - 9 andar: unidade de tratamento intensivo (indicado para os grandes queimados ou

    queimaduras eltricas);

    - 8 andar: enfermaria (mdios queimados e queimaduras especiais: face, perneo,

    incapacitantes, qumicas, idosos, crianas).

  • 039 - Atendimento ao Queimado 299

    B. ASSISTNCIA CLNICA

    1. Histria clnica do paciente, salientando-se:

    Agente causador e circunstncias do trauma;

    Tempo entre a leso inicial e o primeiro tratamento institudo ao paciente, inclusive com a

    quantificao do volume de lquido infundido at o momento da admisso na UTQ;

    Idade e comorbidades associadas;

    Vacinao antitetnica.

    2. Exame fsico e monitorizao:

    Observar as medidas de isolamento e de lavagem de mos no contato com cada paciente;

    Determinar a extenso e a profundidade das leses e observar sinais de infeco da ferida

    logo no primeiro curativo e todos os dias durante o banho do paciente;

    Verificar a hemodinmica com presso no-invasiva ou presso intra-arterial em caso de

    instabilidade hemodinmica;

    Observar a funo pulmonar e cardaca: oximetria de pulso e cardioscopia contnuos;

    Verificar a presena, volume e caracterstica de diurese;

    Verificar a funo do trato gastrointestinal e estado nutricional;

    Avaliar o estado mental e emocional do paciente;

    Observar a presena de queimaduras circunferenciais e a profundidade da leso,

    reavaliando constantemente a necessidade de escarotomia.

    3. Propedutica:

    Hemograma completo e plaquetas;

    Coagulograma;

    Ionograma;

    Uria, creatinina;

    Glicemia;

    Gasometria arterial;

    Protenas (albumina);

    Lactato;

    Eletrocardiograma (ECG);

    Urina rotina;

    Radiografia de trax;

    Gram e cultura de secreo de pele;

    Creatina quinase (CK), em caso de queimadura eltrica.

    Observaes:

    - O ECG solicitado nas queimaduras eltricas, no paciente idoso e naqueles com histria

    de patologias cardiovasculares;

    - A avaliao laboratorial solicitada diariamente. Os resultados dos exames so anotados

    em um impresso prprio, anexo ao pronturio de cada paciente;

    - As culturas de pele identificam as floras colonizadoras do paciente e da UTQ;

    - As hemoculturas so pedidas na suspeita de infeco e antes de iniciar tratamento

    antimicrobiano.

  • Pg. 300 039 - Atendimento ao Queimado

    4. Tratamento sistmico:

    4.1 Ressuscitao volmica Terapia de infuso venosa:

    O choque causado pela queimadura tem componentes hipovolmicos e celulares. A

    permeabilidade capilar um dos principais componentes do choque da fase aguda

    (hipovolemia), observando-se tambm queda da presso arterial, da presso capilar

    pulmonar e do dbito cardaco em decorrncia da liberao de fatores depressores do

    miocrdio e elevao da resistncia vascular sistmica (vasoconstrio).

    - Calcular a reposio volmica atravs da frmula de Parkland: 4ml/kg/SCQ (considerar

    SCQ at 50 %);

    - Administrar metade do volume calculado nas primeiras 8 horas aps o trauma e o

    restante nas prximas 16 horas;

    - O Ringer lactado preferencialmente utilizado, podendo ser substitudo pela soluo

    fisiolgica a 0,9%.

    Observaes:

    - Toda frmula de reposio volmica fornece apenas uma estimativa da necessidade de

    lquidos, mas nenhuma frmula to importante quanto a observao clnica com

    reavaliaes seriadas, devendo-se evitar os extremos (hiper e hipovolemia). Portanto, a

    reposio deve ser individualizada para cada paciente;

    - A infuso de colides no indicada nas primeiras 24 horas da queimadura, mas pode

    ser usada aps esse perodo em pacientes que no responderem ressuscitao

    volmica apenas com cristalides.

    5. Preveno de complicaes:

    5.1 Trombose venosa profunda e tromboembolismo pulmonar:

    Pacientes vtimas de queimaduras so considerados de alto risco para o desenvolvimento

    de fenmenos tromboemblicos. Portanto, fazer profilaxia para tais eventos com a

    utilizao de heparina no fracionada ou heparina de baixo peso molecular. (ver PC 039-

    Preveno de Tromboembolia Venosa).

    5.2 Hemorragia digestiva:

    - Realizar profilaxia com inibidor da bomba de prtons em pacientes vtimas de grandes

    queimaduras (> 20% SCQ) ou queimaduras de 3 grau;

    - A manuteno do suporte nutricional (dieta oral e/ou enteral, quando indicado) tambm

    fator de proteo contra o desenvolvimento de tais complicaes (exemplo: lcera de

    Curling).

    5.3 Queimadura eltrica:

    - realizada hiperhidratao para conferir nefroproteo objetivando dbito urinrio entre

    1 a 2 ml/Kg/hora (em torno de 100 a 150 ml/hora para pacientes de 70 Kg);

    - Nos casos refratrios hiperhidratao (presena de mioglobinria, oligria e elevao

    de escrias renais), realizada a alcalinizao urinria com infuso de bicarbonato de

    sdio, medidas frequentes do pH urinrio (aumentar a solubilidade da mioglobina) e

    administrao de manitol.

  • 039 - Atendimento ao Queimado 301

    6. Hemotransfuso:

    6.1 Concentrado de hemcias:

    6.1.1 Indicaes clnicas:

    - Hemorragias agudas com perda volmica superior a 30% (>1500 ml em um adulto de 70

    Kg) requer transfuso de concentrado de hemcias juntamente com a reposio de

    cristalides;

    - Nos pacientes com instabilidade hemodinmica, anemia pr-existente e comorbidades

    (doena cardiorrespiratria ou cerebrovascular), a transfuso est indicada com perdas

    volmicas superiores a 15% (> 750 ml em adulto de 70 Kg).

    6.1.2 Indicaes cirrgicas (pr, per e ps-operatrio):

    - Pacientes que sero submetidos a desbridamentos extensos (> 15% SCQ) e no preparo

    para enxertia de pele se:

    - Hgb < 8 g/dL ou Htc < 24% com perda sangunea prevista > 250 ml/h ou > 1 litro (para

    pacientes sem comorbidades, estveis);

    - Hbg < 10 g/dL ou Htc 250 ml/h ou > 1 litro em

    pacientes com comorbidades (doena cardiorrespiratria ou cerebrovascular) ou

    pacientes crticos (instabilidade hemodinmica, ventilao mecnica);

    - Em todos os outros casos indicar a transfuso apenas se Hg < 7 g/dL ou Ht 12 segundos);

    - Transfuso profiltica: ausncia de sangramento ativo + procedimento cirrgico

    programado com plaquetopenia < 50.000;

    - A dose recomendada de 1 unidade a cada 10 Kg de peso.

    6.3 Plasma fresco congelado:

    Indicaes para transfuso de plasma:

    - Sangramento por coagulopatia;

    - Proposta de procedimento cirrgico e coagulograma com as seguintes alteraes:

    o RNI > 1,5;

    o Atividade de protrombina < 50%;

    o Ptta > 55 segundos.

    - A dose recomendada de 15 a 20 ml/Kg.

    7. Tratamento da dor:

    Utilizar preferencialmente os opiides, sendo a morfina a droga mais utilizada na UTQ,

    podendo ser administrada mais frequentemente de maneira intermitente e em algumas

    situaes de forma contnua em bomba de infuso;

    Sedao e analgesia para banho e troca de curativos: utilizar midazolam 1 a 3 mg cerca de 5

    minutos antes da administrao de cetamina (0,5 a 1 mg/Kg) sendo a dose titulada de

    acordo com a tolerncia do paciente, podendo ser a mesma repetida durante o

    procedimento at a obteno de um nvel de analgesia confortvel:

    - Em pacientes refratrios a esse esquema associar fentanil, sendo o procedimento

    assistido pelo mdico responsvel.

  • Pg. 302 039 - Atendimento ao Queimado

    8. Antimocrobianos:

    8.1 Antibioticoprofilaxia:

    - O uso de antimicrobiano sistmico no indicado na fase inicial da queimadura;

    - Considerar a antibioticoprofilaxia para os procedimentos cirrgicos nas seguintes

    situaes:

    - Grandes desbridamentos;

    - Enxertia cutnea.

    - A escolha do antimicrobiano baseada na flora colonizadora do paciente e no perfil

    epidemiolgico da UTQ;

    - Bipsia tecidual com anlise microbiolgica em pacientes especficos e swabs de pele

    nos demais pacientes;

    - Os antimicrobianos devem ser administrados no momento da induo anestsica,

    repetido caso necessrio durante o procedimento cirrgico (conforme a durao da

    cirurgia e o tempo de meia-vida da medicao) e podem ser mantidos por mais 24 horas

    aps o procedimento;

    - Nos pacientes que j esto em uso de antimicrobianos teraputicos, consideramos

    tambm a flora de colonizao e se eventualmente no estiverem cobertos (ex: paciente

    em tratamento de pneumonia com aspirado traqueal e hemocultura evidenciando

    Pseudomonas sp, mas com swab de pele evidenciando Staphylococcus aureus MRSA,

    administrar Vancomicina como profilaxia), sendo o seu uso posteriormente suspenso;

    - Antimicrobiano tpico: so aplicados para reduzir a flora de colonizao bacteriana nas

    feridas. Utilizamos a sulfadiazina de prata 1% para a realizao de curativos duas vezes

    ao dia.

    8.2 Antibioticoterapia:

    - Iniciar antibitico sistmico na presena e/ou suspeita de infeco sugerida pelos achados

    clnicos, caractersticas das feridas e exames complementares realizados;

    - Achados clnicos e exames complementares:

    - Taquipneia > 20 irpm ou PaCO2< 32;

    - leo paraltico (estase gstrica, vmitos, distenso abdominal);

    - Hipertermia > 38oC e hipotermia < 36oC;

    - Hipotenso arterial PAS < 90 mmHg, taquicardia > 100 bpm;

    - Alterao do estado mental;

    - Oligria;

    - Desenvolvimento de insuficincia renal sem outra causa provvel;

    - Leucopenia 12000/mm ou mais de 10% de formas

    imaturas (bastes);

    - Hiperlactatemia > 2;

    - Trombocitopenia < 100 000;

    - Acidose metablica;

    - Hipoxemia;

    - Hiperglicemia;

    - Alteraes sugestivas de consolidao pulmonar radiografia de trax;

    - Hemoculturas positivas.

    - Quando disponvel, a bipsia tecidual dever ser feita, pois mostra a invaso de

    microorganismos em tecidos viveis adjacentes leso e a contagem de bactrias que

    excedem 10 por grama de tecido;

  • 039 - Atendimento ao Queimado 303

    - Os critrios clnicos de infeco so extremamente frequentes na fase aguda da

    queimadura como parte da resposta inflamatria sistmica, o que torna o diagnstico de

    infeco e/ou sepse no queimado ainda mais difcil;

    - Manifestaes locais de infeco da ferida: escurecimento da leso, abscesso, drenagem

    de secreo purulenta, necrose, petquias, aprofundamento do grau da leso;

    - Na presena de infeco, escolher o antibitico empiricamente aps a coleta dos exames,

    enquanto os resultados no estiverem disponveis:

    o Dentro das primeiras 72 horas da admisso, cobrir microorganismos gram positivos;

    o Aps o 3 dia de internao, iniciar cobertura para gram negativos.

    - Considerar na escolha do antibitico o perfil de sensibilidade da flora colonizadora da

    UTQ e outros resultados de culturas do paciente;

    - Aps o uso de antibiticos de largo espectro e em casos de internao prolongada, avaliar

    cobertura para microorganismos multirresistentes e fungos.

    C. ASSISTNCIA PEDITRICA

    1. Sedao e analgesia:

    Uso de midazolam (0,1mg/kg) + cetamina (1mg/kg) e 5 minutos aps midazolan para a

    troca de curativo e banho;

    Monitorizao dos pacientes durante o banho (risco de depresso respiratria);

    Uso de analgsicos: dipirona, tramadol e, em casos de dor intensa, morfina.

    2. Terapia hdrica:

    Pesar o paciente antes de iniciar a hidratao e, a seguir, uma vez por semana;

    Hidratao oral para os pacientes com SCQ < 15%;

    Nos demais, usar soro endovenoso por puno venosa perifrica, evitando a dissecao;

    O cateter venoso central deve ser restrito aos pacientes com maior risco hemodinmico;

    Medir volume urinrio por diurese espontnea ou com coletor externo (espera-se

    diurese em torno de 1 ml/kg/hora);

    Evitar sempre que possvel o uso de sondagem vesical devido ao risco de infeco;

    Primeiro dia: soro de manuteno + frmula de reposio (3ml/Kg/SCQ). Considerar 50%

    como valor mximo de SCQ. Usar soluo de ringer lactado ou soluo cloreto de sdio

    0,9% nas primeiras 24 horas a contar do momento do acidente. Correr 50% do volume

    da frmula + 1/3 manuteno nas primeiras 8 horas. O restante, nas 16 horas seguintes;

    Segundo dia: 2ml/Kg/SCQ + manuteno, distribudos igualmente nas 24 horas: utilizar

    soluo cloreto de sdio 0,9% com 5% de glicose.

    - Iniciar cloreto de potssio (KCL) 3mEq/cada 100ml da necessidade bsica;

    - Gluconato de clcio 10%: 1ml/cada 100ml de soluo fisiolgica da necessidade bsica;

    - Se a criana estiver em uso de dieta, este volume deve ser descontado da manuteno.

    Terceiro dia: somar manuteno + % SCQ x Peso. O esquema proposto no deve ser

    rgido. O parmetro mais importante o controle clnico. Utilizar soluo fisiolgica a

    0,9% com 5% de glicose, com cloreto de potssio e gluconato de clcio. O volume da

    dieta oral ou por sonda nasogstrica deve ser levado em conta, no clculo do aporte

    lquido.

    Observao: Soroterapia de manuteno:

    - At 10kg : 100ml/kg;

    - De 10 a 20kg: 50ml/kg acima de 10kg + 1000ml;

    - Acima de 20kg: 20ml/kg acima de 20kg + 1500ml.

  • Pg. 304 039 - Atendimento ao Queimado

    Albumina deve ser mantida pelo suporte nutricional, salvo em casos de edema excessivo,

    comprometendo extremidades, ou m resposta terapia hdrica na fase de

    ressuscitao, evitando-a antes das primeiras 18 horas. Dose 1g/kg/dia.

    3. Hemoderivados:

    A hemotransfuso est indicada nos pacientes com distrbios hemodinmicos e no

    preparo para enxertia. Se necessrio, utilizar concentrado de hemcias 10ml/kg;

    Nos pacientes portadores de queimaduras superficiais, ou que necessitam de enxerto em

    pequenas reas, evitar a hemotransfuso, sempre que possvel.

    4. Nutrio:

    A dieta deve ser iniciada precocemente. Suprir as necessidades bsicas e os gastos

    adicionais devido queimadura e ao hipercatabolismo (1300 cal/m2 SCQ);

    Para os pacientes com SCQ superior a 20%, usar dieta padro por sonda nasogstrica em

    bomba de infuso contnua. Manter ingesto oral livre;

    Necessidades bsicas:

    - At 10kg: 100 Cal/kg;

    - De 10 a 20kg: 1000 Cal + 50 Cal/kg acima de 10;

    - >20kg: 1500 Cal + 20 Cal/kg acima de 20Kg.

    5. Polivitamnicos:

    Uso dirio. Sulfato ferroso a partir do segundo dia, 3mg/kg/dia, dose que deve ser

    aumentada se houver anemia, at 5mg/kg/dia;

    Avaliar necessidade de vitamina K (fitomenadiona) nos pacientes com antibioticoterapia

    prolongada.

    6. Antibioticoterapias:

    Fazer profilaxia de rotina em procedimentos cirrgicos, para pacientes com internao >

    72h, baseando-se na cultura de secreo de pele, a qual deve ser solicitada

    semanalmente;

    Banho dirio com aplicao tpica de pomada de sulfadiazina de prata para prevenir a

    colonizao/infeco da ferida e a septicemia;

    Observar diariamente as leses para diagnstico precoce de infeco. Havendo sinais

    clnicos de infeco, requisitar avaliao laboratorial e instituir prontamente a

    antibioticoterapia;

    importante o estudo epidemiolgico rotineiro da flora predominante. Na UTQ

    atualmente predominam: Pseudomonas aeruginosa, Acinetobcter balmanni, Staphylococcus

    aureus.

    7. Exames complementares:

    Hemograma, plaquetas, ionograma e protenas. CK para queimaduras eltricas;

    Gram, cultura e antibiograma da secreo de pele devem ser feitos uma vez por semana,

    para conhecimento da flora nosocomial prevalente;

    Nos pacientes com sinais clnicos evidentes de infeco, fazer hemocultura, hemograma e

    plaquetas;

    O exame de urina rotina e a urocultura so indicados, sobretudo, nos pacientes

    submetidos a sondagem vesical ou quando se impe o diagnstico diferencial do

    processo infeccioso;

    Radiografia de trax nos pacientes com septicemia ou suspeita de comprometimento

    pulmonar;

    Ureia e creatinina: importantes na avaliao de complicaes renais com queimaduras

    extensas e nos que fizeram uso de antibiticos ou outras drogas nefrotxicas;

    Protombina: acompanhada antes e durante a antibioticoterapia.

  • 039 - Atendimento ao Queimado 305

    D. ASSISTNCIA CIRRGICA

    1. Banho dirio e curativo duas vezes ao dia com pomada de sulfadiazina de prata 1% na

    enfermaria.

    2. Desbridamentos cirrgicos sequenciais em bloco cirrgico sob anestesia geral ou sedao

    com inteno de remover a escara necrtica, com ou sem enxertia de pele imediata autloga ou

    homloga.

    3. Enxertia de pele autloga em pacientes com escara necrtica removida e leito receptor

    eficaz.

    Os enxertos obtidos so de pele parcial (dermo-epidrmicos) ou de espessura total (enxerto

    de pele total);

    Os enxertos dermo-epidrmicos so em estampilha (pequenos enxertos), em lminas

    (obtidos com dermtomo eltrico) e em malha expandido (meshgraft) aumentando sua

    extenso em at 3 vezes;

    Salienta-se a obrigatoriedade da enxertia de pele precoce aps remoo tambm precoce

    da escara necrtica, em queimaduras de face, regio cervical, articulaes, dorso das mos

    e ps, para evitar-se graves retraes cicatriciais;

    Nas queimaduras profundas (2 e 3 graus) das plpebras impe-se a enxertia de pele total;

    Curativo oclusivo das reas enxertadas com gaze impregnada com emulso de petrolato,

    gaze aberta e atadura de crepom;

    Imobilizao imediata com calhas gessadas ou talas moldveis (barras, colar) das reas

    enxertadas em regio cervical, MMSS, axilas e MMII.

    4. Trocas de curativos:

    Realiza-se no 3 dia ps-enxertia (1 curativo) e no 5 dia (2 curativo), sob sedao em

    bloco cirrgico ou na sala de balneoterapia;

    Em seguida, liberao para curativo dirio na enfermaria, 48 horas aps a 2a troca, at a

    integrao dos enxertos.

    5. rea doadora:

    Aps a retirada dos enxertos, cobrem-se as reas doadoras com gazes impregnadas com

    emulso de petrolato, gazes abertas e ataduras de crepom.

    6. Curativos biolgicos:

    Utilizar em pacientes grandes queimados (2 e 3 graus), com escara necrtica removida,

    rea doadora escassa para enxertia de pele autloga, com intuito de promover a Virada

    Metablica, combater a infeco, promover a cicatrizao e a consequente enxertia de pele

    definitiva (autloga);

    Atualmente est instalado no 9 andar da UTQ um Banco de Pele, em desenvolvimento,

    para enxertos de pele humana (enxertos homlogos).

    O mais importante na avaliao da criana queimada a observao diria das leses,

    alm do acompanhamento clnico e laboratorial.

  • Pg. 306 039 - Atendimento ao Queimado

    7. Cuidados com as orelhas queimadas:

    Limpeza rigorosa com soro fisiolgico 0,9% e clorexidine degermante 2% e aplicao

    de sulfadiazina de prata a 1% (pomada) duas vezes ao dia, como medida preventiva da

    condrite.

    8. Retalhos:

    Os retalhos so utilizados em casos de queimaduras com exposio de estruturas profundas,

    inclusive tecido sseo, quando a enxertia cutnea no possvel devido ausncia de leito

    adequado para sua integrao ou quando a cobertura oferecida pelo enxerto no suficiente

    para preservar a funo da rea acometida.

    As leses que mais frequentemente requerem cobertura de retalhos so aquelas localizadas em

    extremidades, ou seja, couro cabeludo, membros superiores e membros inferiores.

    Para as leses em couro cabeludo, d-se preferncia ao retalho local (de rotao), devido as suas

    vantagens:

    - Execuo mais simples quando comparado aos retalhos distncia;

    - Possibilidade de crescimento de plos com resultado esttico final bem prximo do

    normal;

    - Reduz sequelas na rea doadora (que pode ser tratada com sutura primria);

    - Nos casos em que houver superfcie cruenta residual na rea doadora, a mesma pode

    ser coberta por enxerto cutneo cujas lminas podem ser retiradas do prprio couro

    cabeludo;

    - Caso a cobertura com retalho local no seja possvel, recorrer aos retalhos distncia,

    sendo os retalhos miocutneos do msculo trapzio os de primeira indicao na UTQ.

    Em caso de leso em regio temporal, cervical ou face, utilizar tambm o retalho

    deltopeitoral ou do peitoral maior;

    Para a cobertura das leses localizadas na regio distal do membro superior optar ou pelo

    retalho antebraquial (retalho chins) ou retalho inguinal;

    Para leses do membro inferior, o retalho sural reverso o indicado, podendo em alguns

    casos utilizar-se o retalho do extensor longo do hlux;

    Em casos de retalho pediculado, como o inguinal, opta-se pela autonomizao aps 21

    dias;

    Nos casos de retalhos para os membros, optar sempre por imobilizao com tala gessada

    para evitar trao ou posicionamento inadequado do retalho;

    O curativo do retalho feito com gaze aberta seca, salvo nos casos de retalho coberto

    com enxertia cutnea em que a gaze aberta umedecida em petrolato. O curativo deve

    ser bem acolchoado e envolto com atadura de crepom. fundamental que o curativo

    oclusivo seja frouxo para manter a nutrio sangunea do retalho;

    Nos retalhos musculares e miocutneos, o curativo dever ser trocado diariamente, onde

    a limpeza realizada com gua corrente e procede-se o curativo seco;

    A pele deve ser examinada diariamente, descrevendo as leses e as mudanas observadas.

    Monitorar possveis complicaes como infeco e necrose do retalho. Orientar sobre o

    posicionamento no leito e promover a deambulao assim que possvel;

    Manter a rea receptora imobilizada tanto quanto possvel. Manter a extremidade elevada

    j que as novas comunicaes capilares so frgeis e a presso venosa excessiva pode

    romp-las.

  • 039 - Atendimento ao Queimado 307

    E. ASSISTNCIA ANESTESIOLGICA

    1. Medicaes pr-anestsicas:

    - Benzodiazepnicos (midazolan, diazepan, lorazepan) associados a analgsicos potentes

    (morfina e seus derivados).

    2. Monitorizao:

    2.1 Monitorizao bsica:

    - Presso arterial no-invasiva;

    - Oximetria de pulso;

    - ECG contnuo;

    - Capnografia;

    - Estetoscpio esofgico.

    2.2 Monitorizao para os casos de maior complexidade:

    - Kit para presso arterial invasiva (PIA) e presso venosa central (PVC);

    - Capnografia com aspirao lateral;

    - Termmetro esofagiano;

    - Cateter de Swan-Gans;

    - Oximetria com sensor de conjuntiva;

    - Intubao orotraqueal;

    - Mscara larngea para os casos de intubao difcil;

    - Kit para cricotireotomia.

    2.3 Dificuldades encontradas na monitorizao em pacientes queimados:

    - Escassez de stio de pele ntegra para puno venosa e arterial;

    - Dificuldade de rea disponvel para posicionamento de eletrodos, sensores de oxmetro

    e de esfingnomanmetro;

    - Dificuldade para colocao de sonda vesical devido a edema ou leses;

    - Vias areas de difcil acesso principalmente por edema;

    - Posicionamento do paciente em decbitos menos favorveis ao ato anestsico e

    necessidade de manipulaes mltiplas durante a cirurgia e curativos.

    2.4 Monitorizao invasiva:

    - Deve ser evitada sempre que possvel devido ao risco de contaminao;

    - A medida da PVC indicada em alguns casos:

    o Pacientes que necessitem de maior reposio volmica;

    o Pacientes que apresentem outras patologias concomitantes (IRC, ICC, doena

    heptica, leso inalatria severa, queimaduras eltricas extensas).

    - A medida da PIA indicada principalmente nos pacientes hemodinamicamente instveis,

    em uso de aminas vasoativas.

    2.5 Acesso venoso:

    - Acesso venoso perifrico com jelco de grosso calibre, variando de 14 a 20 para pacientes

    adultos e menores em crianas;

    - O acesso central usado em casos de difcil acesso venoso perifrico.

    2.6 Sondagem vesical:

    - Indicada nos pacientes instveis hemodinamicamente com necessidade de reposio de

    grandes volumes de lquidos endovenosos.

    2.7 Lquidos de reposio:

  • Pg. 308 039 - Atendimento ao Queimado

    - Solues cristalides isotnicas;

    - Expansores plasmticos tipo amidas ou dextrans;

    - Concentrados de hemcias e plasma fresco;

    - Solues glicmicas iso ou hipertnicas.

    3. Anestesia geral balanceada Drogas:

    3.1 Agentes de induo:

    - Propofol;

    - Cetamina;

    - Etomidato;

    - Tiopental.

    3.2 Relaxantes musculares:

    - Rocurnio;

    - Atracrio;

    - Pancurnio.

    Observao: a succinilcolina no est indicada devido ao risco de hiperpotassemia.

    3.3 Agentes venosos (analgsicos potentes):

    - Fentanil (droga de 1a escolha);

    - Alfentanil;

    - Remifentanil.

    4. Outros agentes venosos utilizados:

    Anti-inflamatrios no-esterides (AINEs) cetoprofeno;

    Opiides meperidina, morfina, metadona (ps-operatrio);

    Atropina;

    Prostigmina;

    Naloxona;

    Antiemticos metoclopramida.

    5. Agentes halogenados (lquidos volteis):

    Sevofluorane ou isofluorane;

    Observao: devem ser usados nos sistemas e aparelhos de ventilao fechados que

    permitam a reabsoro de CO2 exalado para diminuio da poluio ambiental, e com um

    analisador de gases que permita menor consumo de anestsicos trazendo economia e

    segurana durante o ato anestsico.

    6. Tcnicas anestsicas:

    6.1 Anestesia loco-regional, bloqueios:

    - Bloqueio de plexo braquial;

    - Bloqueios perifricos dos membros inferiores (epidural ou raqueanestesia).

    So utilizados:

    - Bupivacana a 0,5%;

    - Bupivacana iso e hiperbrica;

    - Neotutocana a 0,5%;

  • 039 - Atendimento ao Queimado 309

    - Ropivacana a 1% e 0,75%;

    - Lidocana a 1% e 2%;

    - Lidocana hiperbrica;

    - Clonidina a 150 mcg.

    6.2 Anestesia venosa total:

    - Podem ser realizadas associaes para procedimentos cirrgicos frequentes de pequena

    e mdia durao, como na troca de curativos, nos desbridamentos e enxertos;

    - So utilizadas drogas de metabolismo rpido e de baixa toxicidade;

    - Geralmente os pacientes mantm a respirao espontnea e todos os reflexos larngeos;

    - A recuperao rpida;

    - Existem vrias associaes que proporcionam boa qualidade anestsica e analgsica.

    Estas associaes entre benzodiazepnicos com um analgsico potente tipo fentanil ou o

    remifentanil e o hipnoanestsico cetamina tambm so utilizadas na sedao no ps-

    operatrio, CTI (tratamento da dor crnica) e nos banhos (balnoterapia) e nas trocas de

    curativos fora do bloco cirrgico (apartamentos e enfermarias) em doses sub-clnicas em

    relao quelas usadas nos procedimentos cirrgicos.

    7. Clnica da dor:

    Utilizar para controle da dor drogas hipnoanalgsicas no ps-operatrio e durante

    procedimentos no leito ou nos banhos.

    Morfina e derivados;

    As associaes de hipnoanalgsicos (cetamina) com analgsicos potentes (fentanil) e

    benzodiazepnicos.

    8. Parada cardiorespiratria (PCR) no peroperatrio:

    8.1 Causas primrias: relacionadas com doenas cardacas (congnitas, valvulopatias,

    miocoronariopatias, arritmias, etc).

    8.2 Secundrias: fatores extrnsecos:

    - Hipovolemia/hipotenso arterial;

    - Anemia;

    - Hipoxemia (sepse, pneumopatias, obstruo de vias areas, anafilia);

    - Depresso miocrdica (drogas, hipovolemia);

    - Estmulo vagal.

    8.3 Tratamento:

    Suporte Bsico de Vida= CAB (Circulation Airway Breathin).

    Uso de equipamentos, drogas e artefatos adequados:

    - Usar oxignio a 100%;

    - Massagem cardaca externa;

    - Suspender as drogas anestsicas;

    - Intubar o paciente;

    - Utilizar drogas como a atropina, epinefrina, lidocana;

    - Fazer a desfibrilao, se indicada.

  • Pg. 310 039 - Atendimento ao Queimado

    F. ASSISTNCIA E CUIDADOS DE ENFERMAGEM - UTI

    1. Atribuies da equipe de enfermagem:

    Avaliao continuada e manuteno dos estados respiratrios e circulatrios, equilbrio

    hidroeletroltico, funo gastrointestinal, preveno de infeco e o cuidado com a

    queimadura;

    Preveno de lcera por estresse;

    Preveno do tromboembolismo;

    Preveno de infeco:

    - Realizao de culturas de pele regulares para monitorar a colonizao da ferida (a coleta

    de swab acontece s segundas feiras);

    - Caso o paciente tenha procedimento agendado no bloco cirrgico, realizada bipsia

    de pele ao invs de swab de pele;

    - Para visitantes e acompanhantes obrigatrio higienizao rigorosa das mos, uso de

    avental, toca e mscara;

    - obrigatrio o uso de paramentao para todos os profissionais envolvidos diretamente

    no cuidado (mdicos, equipes de enfermagem, laboratrio, fisioterapia, psicologia,

    assistncia social, radiologia).

    Sinais de Infeco da rea queimada:

    - Mudana da colorao da leso;

    - Edema de bordas das feridas;

    - Aprofundamento das leses;

    - Mudana do odor;

    - Separao rpida da escara, escara mida;

    - Colorao hemorrgica sob a escara;

    - Celulite ao redor da leso e/ou vasculite no interior da leso (pontos vermelhos);

    - Aumento ou modificao da queixa dolorosa.

    2. Limpeza da leso:

    Materiais:

    - gua corrente morna;

    - Clorexidine degermante 2%;

    - Gaze estril.

    Explicar ao paciente sobre o procedimento realizado;

    Administrar a analgesia;

    Lavar as feridas exaustivamente com gua corrente para a remoo do excesso de secreo

    e tecidos desvitalizados no aderidos;

    Aplicar soluo de clorexedine degermante 2% sobre a ferida;

    Com a gaze, espalhar a soluo sobre toda a superfcie lesada com movimentos rotatrios;

    Aguardar o tempo mnimo de ao da clorexedine: 15 a 30 segundos.

    Enxaguar com gua corrente morna.

    3. Balneoterapia:

    Consiste em banhos dirios com duchas de gua corrente, realizados em mesas apropriadas

    de ao inox ou fibra de vidro (tipo Morgani) com sistema de drenagem descendente;

    Objetivos:

    Promover a limpeza da leso atravs da aplicao de gua corrente e/ou desbridamento

    mecnico do tecido desvitalizado;

  • 039 - Atendimento ao Queimado 311

    Desinfeco da rea queimada (atravs da aplicao de antispticos), contribuindo para a

    preveno da infeco no doente queimado, por reduo ou eliminao de agentes

    patognicos na ferida;

    Utilizar a soluo de clorexidine a 2% como antissptica na desinfeco da rea queimada,

    com a finalidade de evitar a resistncia microbiana.

    Balneoterapia sob analgesia:

    Caracterizada pelo banho dirio do paciente seguido de procedimentos de limpeza,

    desbridamento dos tecidos desvitalizados, higienizao e curativos sob analgesia;

    Utiliza como analgsico para adultos a morfina, endovenosa, dose de 10 mg diludos em 9

    ml de ABD, 20 a 30 minutos antes do banho. Pode tambm ser associado o uso de

    cetoprofeno, endovenoso, dose de 100 mg diludos em 100 ml de soluo fisiolgica a

    0,9%, aps o procedimento;

    A lavagem em jatos de gua corrente e uso de sabo neutro permite uma limpeza

    mecnica dos detritos e secrees assim como uma diminuio da populao bacteriana.

    Pode ser utilizada uma soluo antissptica;

    Terminado o banho, realizado o curativo oclusivo aplicando pomada de sulfadiazina de

    prata 1% nas reas no enxertadas, e leo a base de cidos graxos essenciais (AGE) em

    reas ps-enxertos ou j cicatrizadas.

    Balneoterapia sob anestesia:

    So utilizadas drogas anestsicas, sendo imprescindvel o acompanhamento mdico;

    O objetivo promover hipnose, amnsia e analgesia para que a balneoterapia tenha um

    resultado eficaz;

    As drogas utilizadas so: midazolan e cetamina;

    - As vantagens do procedimento de balneoterapia sob anestesia so:

    - Alvio da dor;

    - Melhor realizao do curativo;

    - Permite uma melhor avaliao da superfcie corporal queimada (SCQ);

    - Interveno cirrgica como escaratomia ou fasciotomia;

    - Procedimentos invasivos ou desconfortveis;

    - Manobras fisioterpicas;

    - Primeiro curativo aps a queimadura e o primeiro aps enxerto de pele;

    A cada banho, realizada a limpeza da banheira da sala de balneoterapia com gua e

    sabo e a desinfeco com lcool a 70% sob frico. Aps a limpeza e desinfeco e antes

    do uso, a banheira revestida com uma pelcula de filme plstico protetor.

    G. ASSISTNCIA E CUIDADOS DE ENFERMAGEM - ENFERMARIA

    1. Atribuies do enfermeiro:

    Gerenciar o setor, organizar, planejar as atividades de enfermagem, coordenar a equipe de

    enfermagem;

    Prestar os cuidados de enfermagem aos usurios admitidos.

    1.1 No ato da admisso:

    - Observar a permeabilidade de vias areas;

    - Avaliar o nvel de conscincia;

  • Pg. 312 039 - Atendimento ao Queimado

    - Presena de leses associadas (coleta de dados e histria pregressa);

    - Identificar/investigar o agente causal;

    - Avaliar as condies de puno venosa;

    - Comunicar a admisso ao mdico plantonista;

    - Encaminhar o paciente ao banho;

    - Administrar os analgsicos prescritos;

    - Verificar o grau de queimadura e sua evoluo diria;

    - Avaliar a extenso da superfcie corporal queimada;

    - Curativos;

    - Prestar os cuidados de enfermagem ao paciente queimado, atentando inicialmente

    para reposio volmica e as demais complicaes ou intercorrncias que podero

    surgir principalmente nas primeiras 72 horas aps a queimadura;

    - Evoluo em pronturio.

    2. Atribuies do Tcnico de Enfermagem:

    Prestar cuidados de enfermagem, sob superviso do enfermeiro, visando promoo,

    proteo, recuperao e reabilitao da sade;

    Auxiliar o enfermeiro nas unidades de internao, em suas funes.

    2.1 Curativos:

    Tcnica de curativo dirio:

    - Lavar as mos com gua e sabo;

    - Prever e prover materiais necessrios;

    - Explicar o procedimento a ser realizado ao paciente;

    - Colocar luvas e encaminhar o paciente ao banho (chuveiro ou sala de balneoterapia), de

    acordo com a escala de enfermagem;

    - O paciente auto- higieniza as reas no acometidas, sob superviso, antes da sedao;

    - Realizar tonsura se necessrio (nas queimaduras de face, orelhas e regio cervical);

    - Realizar tricotomia;

    - Administrar medicao conforme prescrito;

    - Retirar as ataduras de crepom;

    - Lavar com gua abundante em jatos retirando as gazes aderidas com cuidado;

    - Lavar com clorexidine 2% ou sabo neutro, com movimentos leves, firmes e circulares, as

    reas queimadas com gazinha, retirando toda a pomada, secreo e crostas;

    - Rompimento de bolhas;

    - Trocar as luvas, obedecendo a rotina de realizao de curativo;

    - Secar somente as bordas da leso;

    - Realizar o curativo com tcnica assptica;

    - Observar sinais de infeco, hiperemia, sangramento e comunicar ao enfermeiro ou ao

    mdico;

    - Cobrir o primeiro curativo com gaze aberta;

    - Realizar enfaixamento tranado (da regio distal para a proximal quando se tratar de

    MMSS e MMII, evitando garroteamento);

    - Fixar com esparadrapo, mas ATENO: proibido o uso de esparadrapo comum em

    contato direto com a pele;

    - Deixar dedos livres, proteger espaos interdigitais com gazes;

    - Aps a concluso do curativo, organizar a Unidade:

    - Solicitar a limpeza do banheiro para a equipe de limpeza;

  • 039 - Atendimento ao Queimado 313

    - Fazer a desinfeco da banheira da sala de balneoterapia ao final do procedimento;

    - Fazer anotaes quanto ao aspecto e localizao das leses em pronturio e no mapa de

    atendimento de balneoterapia.

    2.2 Rotina de troca de curativos:

    - O curativo trocado a cada 12 horas;

    - O primeiro curativo ps-enxerto trocado 72 horas aps o ato cirrgico, pelo cirurgio.

    At a troca, realizada apenas higiene ntima do paciente e troca de roupa de cama;

    - O curativo realizado aps o ato cirrgico deve ser mantido fechado at a primeira troca;

    - O segundo curativo ps-enxerto trocado 48 horas aps o primeiro, sob superviso do

    enfermeiro ou do cirurgio plstico. O paciente encaminhado ao banho.

    3. Queimaduras em reas especiais:

    3.1 Orelhas:

    - Utilizar curativos por exposio e evitar a presso excessiva para prevenir a condrite;

    - Curativos realizados at 3 vezes ao dia, dependendo da gravidade.

    3.2 Olhos:

    - As queimaduras corneanas superficiais devem ser tratadas com irrigao vigorosa,

    pomada oftlmica antibitica e vedao ocular;

    - Em todas as leses diagnosticadas e naquelas quando o teste diagnstico no pode ser

    feito ou dbio, solicitar avaliao do oftalmologista;

    - No ocluir se o agente lesivo for lcali.

    3.3 Mos:

    - As mos devem ficar elevadas por 24h a 48h aps a queimadura, para minimizar o

    edema;

    - Os exerccios para amplitude de movimento tero que comear logo que possvel aps

    o acidente.

    3.4 Ps:

    - As queimaduras dos ps so dolorosas, porm a marcha e os exerccios para amplitude

    de movimento tero que ser encorajados;

    - Os ps queimados tero que ficar elevados quando o paciente no estiver andando ou

    exercitando-se.

    3.5 Perneo:

    - As queimaduras perineais costumam exigir hospitalizao, pelo alto risco de

    complicaes, como infeco ou obstruo urinria;

    - Utilizar, preferencialmente, curativos por exposio.

    H. ASSISTNCIA FISIOTERPICA - UTI

    A queimadura traz complicaes respiratrias e motoras significativas. Faz-se necessria a

    atuao da fisioterapia desde a fase aguda (atuando na terapia intensiva e na preveno,

    tratamento e reabilitao de sequelas), no paciente crnico e aps a alta, no controle da

    cicatriz.

  • Pg. 314 039 - Atendimento ao Queimado

    1. Material respiratrio:

    Kit EPAP adulto e infantil;

    Inspirmetro de incentivo a volume;

    Shaker;

    BIPAP Sistema de ventilao no invasiva com dois nveis de presso positiva;

    Ventilmetro de Wright;

    Cufmetro.

    2. Material funcional:

    Termoplstico;

    Gesso;

    Colares espuma;

    Talas em EVA;

    Malha compressiva;

    Placa de silicone;

    Hidratante cicatricial;

    AGE;

    Protetor calcneo.

    3. Atividades essenciais:

    3.1 Assistncia respiratria em terapia intensiva e leitos;

    3.2 Assistncia motora funcional:

    - Prescrever e instituir o uso de rtese/imobilizao e posicionamentos;

    - Confeccionar imobilizaes termo moldveis/gessadas, inclusive no peroperatrio;

    - Orientar sobre o tipo de curativo mais funcional e o posicionamento ps-operatrio;

    - Buscar tcnicas e condutas que possam minimizar as sequelas.

    3.3 Controle de cicatrizes:

    - Avaliao cicatricial;

    - Orientao de cuidados ps-hospitalares, alm de preveno junto a familiares e

    populao;

    - Prescrio de malha compressiva.

    4. Itens de controle:

    Ventilao mecnica;

    Ausculta;

    Padro respiratrio;

    Expansibilidade/simetria torcica;

    Amplitudes de movimento funcionais;

    Presena de AVD;

    Deambulao;

    Uso da malha compressiva;

    Maturao cicatricial.

  • 039 - Atendimento ao Queimado 315

    Fluxograma 2: Fisioterapia Respiratria

    Admisso

    Ventilao Espontnea Mecnica

    O2 suplementar Ar ambiente

    DPOC Trauma Pneumonia Sara Derrame pleural Pneumotrax Atelectasia Leso inalatria

    Padro

    Respiratrio Frequncia

    Respiratria

    Sem esforo Esforo

    Amplitude

    normal ou

    diminuda

    Hipxia

    Broncoespasmo

    Falncia muscular

    Febre

    Hipxia

    Reteno CO2

    Dor/ansiedade

    Emergncia

    clnica

    Dispneia Traquipneia Bradipneia

    Secreo Tosse

    produtiva Eficaz

    Ineficaz

    Observar aspecto

    da secreo

    Aspirao

  • Pg. 316 039 - Atendimento ao Queimado

    Fluxograma 3: Ventilao No Invasiva

    Indicaes Contra-indicaes

    Esforo + Fr > 35

    Pa O2 60

    Pa CO2 55

    Sat < 90 %

    Avalio clnica

    PO enxertia de face

    Instabilidade hemodinmica

    Arritmias

    Pneumotrax no tratado

    Distenso abdominal importante

    Risco de vmito/aspirao

    Paciente no colaborativo

    Respirador PSV 10 a 20 cm H2O

    PEEP 5 a 10 cm H2O

    FiO2 < 60%

    Sat > 92 %

    Monitorizao contnua

    Paciente no adaptado

    Paciente adaptado

    Avaliao intubao traqueal

    (Critrio mdico)

    Reavaliao constante

    Uso intermitente at resoluo do quadro (20 30 min)

    Reavaliar gasometria

    PaCO2 interromper

    Alteraes pressricas interromper

  • 039 - Atendimento ao Queimado 317

    Fluxograma 4: Ventilao Mecnica - Critrios de Indicao (a cargo do mdico)

    Modo Ventilatrio

    Avaliar patologia

    pulmonar prvia

    PaO2 60

    PaCO2 55

    PaO2 > 35

    + esforo

    Saturao

    90

    Drive

    respiratrio

    Falncia

    Ventilao Protetora

    VC: 6 mL / kg

    Sara: 4 a 6 mL / kg

    PPI < 35

    Presso plat < 30

  • Pg. 318 039 - Atendimento ao Queimado

    Desmame difcil

    Fluxograma 5: Desmame da Ventilao Mecnica (Avaliao clnica)

    Indicaes

    Estabilidade clnica / hemodinmica

    Gasometria sem alterao respiratria

    PaO2 > 60 e FiO2 40 % e PEEP = 5

    Boa tolerncia

    ao desmame

    Reduzir ou

    retirar sedao

    PSV = 20 e PEEP = 5

    FiO2 40 %

    Reduzir PS de 2 a 4 cm H2O

    At PS 10

    Sim No

    Avaliar padro respiratrio

    Dados vitais

    Realizar higiene brnquica

    PS

    Observar

    Reavaliar VM

    Iniciar Y de 30 a 60 min

    com O2 a 10 litros

    Monitorizao contnua Boa

    tolerncia No

    Sim

    Fr. 35 Sat < 90

    Oscilao PA

    Agitao / sodorese

    Queda nvel de conscincia Posicionamento em Fowler

    Orientao sobre procedimento

    Extubao

    Macronebulizao a 10 L / min

    Retornar VM

    Nova tentativa aps 24 horas

    Desnutrio?

    Fraqueza muscular?

    Programar alternncia Y e VM

    Na ventilao prolongada e

    indicaes clnicas

  • 039 - Atendimento ao Queimado 319

    Fluxograma 6:Tratamento Motor Funcional

    Posicionamento Cervical

    Edema Facial

    No Sim

    Cabeceira elevada

    Edema drenado

    Leso ntero-lateral

    2 ou 3 graus

    No

    Sim

    Leso inalatria

    Taquipneia

    Dispneia

    Posicionamento

    Cervical livre

    No Sim

    Colar espuma

    Cabeceira elevada

    Sem travesseiro

    Colar espuma

    Cama reta

    Sem travesseiro

    Enxertia

    Cicatrizao

    2 inteno

    Colar, tala mvel ou

    gessada

    Cama reta

    Repouso

    Colar espuma

    ADM normal

    Cicatriz clara sem hipertrofia

    Sem colar

    Hiperemia/Hipertrofia

    ADM normal ou restrita

    Colar compressivo

    Observao

    clnica

  • Pg. 320 039 - Atendimento ao Queimado

    Fluxograma 7:Posicionamento / Imobilizao MMSS

    Edema

    Elevao at a drenagem

    Leso axilar: abduo

    Fossa cubital: extenso

    cotovelos

    Punhos/mos:

    neutro

    Posio antlgica

    Perda funcional e/ou cordo fibroso

    Enxertia

    Ombro:

    tala abdutora

    Cotovelo:

    Perda extenso: tala extensora

    Perda flexo: cinesioterapia

    Punho/dedos: Tala funcional

    Extenso punho a 30

    Flexo MCF a 60

    Extenso IF

    Polegar em oponncia ao

    indicador

    Recuperao da amplitude

    de movimento Amplitude restrita

    Presena de cordo fibroso

    Postura de conforto

    Tala noturna

    Tala contnua

    ADM normal

    Sem cordo fibroso

    Correo postura

    Suspenso de rtese

  • 039 - Atendimento ao Queimado 321

    Fluxograma 8:Posicionamento / Imobilizao MMII

    Edema

    Elevao at a drenagem

    Leso inguinal/face adutora

    Quadril neutro/abduo

    Joelho:

    Face anterior: livre

    Face posterior: extenso

    Tornozelo:

    90

    Posio antlgica/conforto

    Perda funcional e/ou cordo fibroso

    Enxertia

    Flexo quadril:

    Tala extensora joelho +

    decbito dorsal/ventral

    Flexo joelho:

    Tala extensora

    Artelhos:

    Extenso/luxao:

    Tracionamento flexor

    (esparadrapo/borracha)

    Tornozelo: Tala 90

    Recuperao da amplitude

    de movimento Amplitude restrita

    Presena de cordo fibroso

    Postura de conforto

    Tala noturna

    6 meses

    Tala contnua

    3 meses

    ADM normal

    Sem cordo fibroso

    Correo postura

    Suspenso de rtese

  • Pg. 322 039 - Atendimento ao Queimado

    I. ASSISTNCIA FISIOTERPICA - ENFERMARIA

    O atendimento inicia-se no dia da internao. certo que o sucesso do processo reabilitador

    do grande queimado assenta-se sobre condies timas de trabalho, que incluem:

    Equipe multiprofissional alerta e integrada;

    Existncia de infraestrutura material e fsica;

    Adeso do paciente.

    1. Compete fisioterapia na UTQ:

    Avaliar, orientar e manter atividades que propiciem preveno, manuteno e

    recuperao da funo pulmonar e msculo-esqueltico-cutnea;

    Prescrever e instituir o uso de rteses, imobilizaes e posicionamentos;

    Confeccionar imobilizaes termomoldveis/gessadas, inclusive em ps-operatrio;

    Discutir/opinar sobre o tipo de curativo ou ocluso mais funcional;

    Acompanhar as condies clnicas, sociais e psicolgicas do paciente, avaliando,

    discutindo e opinando;

    Buscar, junto com a equipe, tcnicas e condutas que possam minimizar as sequelas.

    Orientar cuidados ps-hospitalares, bem como a Campanha de Preveno junto famlia

    e populao em geral;

    Encaminhar para o tratamento ambulatorial ps-alta;

    Avaliar e acompanhar o processo cicatricial, bem como indicar e prescrever malhas

    compressivas quando necessrio.

    2. Fatores que influenciam no atendimento do queimado:

    Extenso da leso;

    Profundidade;

    Localizao;

    Edema;

    Comprometimento pulmonar;

    Alteraes metablicas;

    Mutilaes;

    Curativo.

    3. Objetivos:

    Prevenir sequelas funcionais e estticas atravs de:

    - Melhora da cicatrizao;

    - Manuteno da amplitude de movimento e fora muscular;

    - Evitar longa permanncia no leito e suas consequncias.

    Preservar funo;

    Reduzir edema;

    Evitar atitudes viciosas.

    4. Rotina:

    Avaliao diria;

    Assistncia respiratria;

    Posicionamentos;

    Cinesioterapia:

    - Alongamento/relaxamento;

    - AVD precoce e deambulao;

    - Exerccios.

    Massoterapia em cicatrizes.

  • 039 - Atendimento ao Queimado 323

    5. Critrios para imobilizaes:

    TODA leso cervical de 2 e 3 graus em regio anterior e/ou lateral;

    Limitao de origem antlgica, que acometa acima de 30% do arco do movimento;

    Posturas prolongadas de conforto;

    Toda leso articular em face flexora nos pacientes menores de 01 ano;

    Enxertia de pele em rea articular;

    Perda de ADM (amplitude de movimento);

    Presena de cordo fibroso, mesmo quando a ADM normal;

    Queimadura de extremidades superior e inferior com leso de 2 e/ou 3 grau circulares.

    6. Indicao de interrupo da rtese:

    Enxertos de frgil integrao;

    Perda/macerao de enxertos;

    Cicatriz madura, elstica, macia, com ADM normal.

    7. Indicao de interrupo/restrio da cinesioterapia:

    Deambulao:

    - Leses plantares agudas;

    - De 5 a 7 dias ps-enxertia;

    - Instabilidade hemodinmica.

    Exerccios:

    - PO imediato de desbridamento cirrgico;

    - 5 a 7 dias ps-enxertia, nos segmentos corporais proximais a rea enxertada.

    8. Assistncia e cuidados da Fisioterapia no ambulatrio de retorno:

    Objetivos:

    Dar continuidade ao tratamento na fase de amadurecimento das cicatrizes;

    Avaliar as incapacidades fsicas e orientar exerccios corretivos ou posicionamento de

    articulaes com talas:

    - Posicionamento com talas gessadas ou ortopdicas das articulaes que esto

    perdendo amplitude de movimento.

    Solicitar a malha compressiva quando indicada (encaminhar o pedido ao Servio Social);

    Orientar o paciente e familiares quanto ao uso de malha compressiva, bem como sobre

    sua conservao:

    - Moldagem de elastmero (resina) nas regies onde a compresso insuficiente,

    como exemplo os espaos interdigitais e intermamrios.

    Reavaliar mensalmente as cicatrizes e a compresso da malha;

    Preencher o formulrio para tratamento fora de domiclio (T.F.D.) para pacientes de

    outros municpios.

    J. ASSISTNCIA NUTRICIONAL

    1. Indicao do tipo de alimentao:

    Todos os pacientes admitidos so submetidos triagem nutricional para deteco de

    risco nutricional e indicao do tipo de terapia adequada;

    Paciente sem risco nutricional: ser oferecida dieta hiperprotica/ hipercalrica,

    padronizada pelo hospital;

  • Pg. 324 039 - Atendimento ao Queimado

    Paciente em risco nutricional com condies de se alimentar por via oral: ser oferecida

    dieta hiperprotica/hipercalrica mais suplemento oral, conforme necessidade detectada

    na quantificao de ingesta;

    Paciente em risco nutricional sem condies de se alimentar por via oral ser ofertada a

    dieta por SNE.

    2. Indicao de dieta enteral:

    Queimadura de vias areas, com impossibilidade de alimentao por via oral;

    Ventilao mecnica;

    Distrbios psiquitricos, dficit cognitivo e outros quadros que impossibilitem a ingesto

    oral adequada;

    Incapacidade de assumir dieta via oral plena, diante da necessidade de maior aporte

    calrico e protico.

    3. Avaliao nutricional:

    A avaliao nutricional dever ser realizada preferencialmente no momento em que o

    paciente estiver sem os curativos, para melhor inferir seus parmetros antropomtricos;

    Utilizamos os seguintes dados:

    - Altura recumbente X IMC estimado.

    Observao: lembrar de descontar edema, conforme indicado na tabela abaixo:

    Edema Localizao Excesso de peso hdrico

    + Tornozelo 1,0 KG

    ++ Joelho 3 a 4 KG

    +++ Base da coxa 5 a 6 kg

    ++++ Anasarca 10 a 12 kg

    4. Tabela 5: Necessidades nutricionais

    CURRERI

    Idade % SQC Calorias/dias

    0 1 ano < 50% TMB + 15 Kcal x SCQ

    1 3 anos < 50% TMB + 25 Kcal x SCQ

    4 15 anos < 50% TMB + 40 Kcal x SCQ

    > 16 anos Qualquer 25 Kcal x peso (Kg) + 40 Kcal x SCQ

  • 039 - Atendimento ao Queimado 325

    Proticas:

    Curreri 3g/Kg/dia

    Alexander 22-25% das calorias dirias

    Adulto: 1g/Kg + 3g x SCQ

    Davies and Lilijedahi

    Criana: 3g/Kg + 1g x SCQ

    Molnar 2,5g/Kg

    5. Infuso:

    Iniciar a infuso (aps confirmao do posicionamento da sonda no jejuno) a 50ml/h e

    progredir 25ml/ a cada 3 horas at o volume que atinja as necessidades nutricionais

    calculadas, conforme a tolerncia do paciente.

    6. Complicaes:

    6.1 Estase:

    - Interromper dieta;

    - Reiniciar dieta imediatamente aps verificao da estase;

    - No verificar estase por mtodo de gravidade (perde-se muito tempo para infuso da

    dieta);

    - A cada seis horas:

    o < que 300 ml, manter a nutrio enteral;

    o > que 300 ml, interromper a dieta por 3 horas.

    - Se a estase < 300 ml, reiniciar a dieta;

    - Se a estase persistir, rever situaes clnicas (sedao,analgesia, piora clnica). Avaliar o

    uso de procinticos.

    6.2 Diarreia:

    - Diminuir o volume de infuso;

    - Avaliar causas de diarreia;

    - Reavaliao do tipo de dieta enteral;

    - Avaliar uso de fibras e loperamida, quando o diagnstico de diarreia infecciosa for pouco

    provvel.

    K. ASSISTNCIA PSICOLGICA

    1. Rotina de atividades:

    O atendimento inicia-se a partir do momento em que o paciente chega UTQ;

    O Servio de Psicologia apresentado a cada paciente atravs de busca ativa;

    Em seguida, feita uma anamnese, com o intuito de conhec-lo e avaliar suas

    demandas;

    Os atendimentos so realizados individualmente, no leito ou fora dele, conforme o

    estado fsico de cada um;

  • Pg. 326 039 - Atendimento ao Queimado

    A periodicidade dos atendimentos varivel, dependendo da necessidade de cada caso.

    2. Modalidades de atendimento:

    Atendimento criana atravs da ludoterapia;

    Orientao e atendimento aos pais das crianas queimadas;

    Atendimento ao paciente adulto e a seus familiares com enfoque teraputico e tambm

    de orientao;

    Preparao para cirurgias.

    3. Objetivo do acompanhamento psicolgico:

    Viabilizar ao paciente sair da condio de assujeitamento, passando a ser o responsvel

    pelas suas escolhas e atos, e com possibilidade de estender essa condio para o seu

    tratamento, podendo se mostrar mais ativo e participativo, responsabilizando-se pelo

    seu processo de cura fsica/psicolgica;

    Propiciar suporte emocional s famlias que, na maioria das vezes, sofrem juntamente

    com o paciente, apresentando tambm quadros importantes de ansiedade e angstia;

    Dar orientaes a essas famlias e ajud-las a compreender e assimilar as informaes

    que recebem da equipe mdica acerca da evoluo clnica e do tratamento dos

    pacientes.

    4. Abordagem interdisciplinar:

    Discusso de casos com os demais profissionais envolvidos no tratamento do paciente;

    Acontece formal ou informalmente com o objetivo de maior conhecimento sobre o

    estado geral do paciente e de trocas de informaes.

    5. Conduta na alta hospitalar:

    Concluso do acompanhamento psicolgico e avaliao da necessidade de

    encaminhamento para continuidade de tratamento no servio de sade mental pblico

    prximo residncia do paciente;

    Continuamos como referncia ao paciente mesmo aps a alta, podendo o mesmo nos

    procurar para posteriores atendimentos, caso sinta necessidade.

    6. Retorno:

    realizado em casos previamente avaliados;

    Objetivo: dar continuidade ao atendimento psicolgico iniciado, em casos de

    necessidade, e avaliar a socializao do paciente em seu retorno ao convvio social;

    Possui carter temporrio, posteriormente sendo encaminhados para outros servios de

    sade mental pblicos.

    7. Encaminhamento:

    Muitos pacientes, no momento da alta, so encaminhados para centros de sade de seu

    bairro ou cidade de origem e/ou ambulatrios de universidades. Nestes casos, a famlia

    orientada a respeito da importncia da continuidade do tratamento psicolgico;

    Sempre que possvel, feito um contato telefnico com o profissional desses servios

    para garantir a segurana da continuidade dos atendimentos e para a discusso do caso.

    L. ASSISTNCIA DO SERVIO SOCIAL

    A prtica do Servio Social na rea da sade baseia-se na relao homem-sade-instituio,

    numa ao interventiva de abordagem preventiva.

    O fenmeno sade exige a busca contnua de bem estar fsico, emocional e social e nesse

    sentido perseguida a viso da totalizao.

  • 039 - Atendimento ao Queimado 327

    Os cuidados ao homem hospitalizado no podem estar restritos aos aspectos do corpo, mas

    relacionados com os aspectos sociolgicos, econmicos, culturais, educacionais, legais, morais

    e outros presentes na relao com a doena.

    1. Objetivo geral do Servio Social:

    Compreender as estruturas do vivido, a partir da descrio das situaes do cotidiano, ou

    seja, da histria de vida, em que seus mltiplos aspectos descrevem uma realidade nica,

    onde se descobre o fundamental da existncia humana: o sentido que dado a vida;

    Intervir obedecendo ao conceito de humanizao como viso do homem, como criador de

    seus valores, que se definem a partir das exigncias psicolgicas, histricas e sociais;

    Ampliar o potencial humano atravs do processo de integrao, trabalhando os

    interesses, desejos e necessidades do indivduo.

    2. Funes do Assistente Social:

    Triar os pacientes que se encontram internados na Unidade, com objetivo de detectar os

    que necessitam da interveno do profissional e/ou encaminhando-os a outros

    profissionais;

    Fazer acompanhamento de casos, atravs de entrevistas, diagnsticos e focalizao de

    fatores que interferem no processo de tratamento;

    Conhecer a dinmica dos grupos sociais aos quais pertencem os pacientes;

    Apresentar aos demais membros da equipe teraputica possveis fatores que influenciam

    no processo de bem-estar e recuperao do paciente;

    Orientar e atender os aspectos legais decorrentes da situao de doena, tais como:

    - Direitos Previdencirios;

    - Como obter guias-licenas;

    - Como receber pagamento;

    - Caracterizar Acidentes de Trabalho;

    - Ajuda Supletiva;

    - Encaminhar solues para pacientes sem referncia familiar;

    Trabalhar o paciente para que o mesmo no perca sua referncia com a vida social, familiar

    e profissional;

    Contribuir com a agilizao do leito hospitalar, considerando a necessidade de dinamizao

    e rotatividade do mesmo;

    Pesquisar e atualizar os recursos da instituio e da comunidade, assim como estabelecer

    entrosamento com as entidades de bem-estar social, de servios de sade e obras sociais.

    ITENS DE CONTROLE

    1. Nmero absoluto e percentual de agentes etiolgicos em queimaduras de pacientes

    internados.

    2. Nmero de pacientes com antibioticoterapia para queimadura infectada/nmero total de

    pacientes internados com queimadura.

    3. Permanncia hospitalar mdia.

  • Pg. 328 039 - Atendimento ao Queimado

    REFERNCIAS

    Gerais

    1. Leo CEG et al. Epidemiologia das queimaduras no estado de Minas Gerais .Rev.

    Bras. Cir. Plst. 2011; 26 (4): 573-7.

    2. Leo CEG. Queimaduras. In: Savassi-Rocha PR, et al. Cirurgia de Ambuatrio. Rio de

    Janeiro: Medbook Editora Cientfica LTDA, , 2013, p. 137-48.

    3. Wasiak J et al.Dressings for superficial and partial thickness burns. Cochrane

    Database Syst Rev. 2013; 3.

    Enfermagem

    1. Gomes DR; Serra MC; Pellon, MA. Tratado de Queimaduras: um guia prtico. So

    Jos, SC: Revinter, 1997.

    2. Sociedade Brasileira de Queimaduras. Disponvel em:

    http://www.sbqueimaduras.com.br/sbq/. Acesso em 01/11/2012

    3. Lima, EM; Serra MCVF. Tratado de Queimaduras no Paciente Agudo 2 edio.

    Atheneu, 2008.

    4. Cartilha para Tratamento de Emergncias das Queimaduras. Ministrio da Sade

    2012, Disponvel em: http://portal.saude.gov.br/portal/arquivos/pdf/cartilha_

    queimaduras.pdf.

    5. Townsend e Evers. Atlas de Tcnicas Cirrgicas. Editora Elsevier. Disponvel em

    http://books.google.com.br/books?id=zhYtzd81g3oC&pg=PP24&dq=townsend+e

    +evers+atlas+de+tecnicas+cirurgicas&hl=ptBR&sa=X&ei=EuaVUOueL42s8ATo2IFo

    &ved=0CDMQ6AEwAA.

    6. Sociedade Brasileira de Cirurgia Plstica. Projeto diretrizes Queimaduras. Parte II.

    Tratamento da leso. 2008

    Anestesiologia

    1. Castro RP; Godinho AL. Anestesia em pacientes queimados. Cadernos de

    Protocolos Bsicos da Clnica Anestesiolgica do Hospital Joo XXIII. 1999.

    2. Gilman AG, Rall TW, Nies AS, Taylor P. As bases farmacolgicas da teraputica Ed.

    Guanabara Koogan. 1991.

    3. Mathias L; Mathias RS. Avaliao Pr-operatria: um fator de qualidade. Revista

    Brasileira de Anestesiologia 1997; 47: 335-49.

    4. Nociti JR. Qualidade da anestesia, fatores e mtodos de aferio. Revista Brasileira

    de Anestesiologia. 1993; 42: 349-52.

    5. Organizao Nacional De Sade. Manual Brasileiro de Acreditao Hospitalar.

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    6. Rodrigues MVC. Qualidade de vida no trabalho. Editora Vozes. 1994.

    7. Sousa A; Piegas L; Sousa JE. Qualidade em anestesia. Srie Monografias Dante

    Pazzanese Vol. 3; 2002.

  • 039 - Atendimento ao Queimado 329

    Fisioterapia

    1. Artz; Pruiytt .Queimaduras, Ed. Interamericana, Rio de Janeiro, 1980.

    2. Sucena, RC; Fisiopatologia e Tratamento das Queimaduras. Ed. Roca 1982.

    3. Simom L & Dossa J; Reabilitao no Tratamento das Queimaduras. Ed. Roca 1986.

    4. O'sullivan, SB. Fisioterapia: avaliao e Tratamento. Ed. So Paulo: Manole, 2004.

    5. Russo, AC. In: Tratamento das Queimaduras. Savier, So Paulo, 1976.

    6. Maciel E; Serra MCVF. Tratado de Queimaduras. Ed. Atheneu, 2004.

    7. Gomes D; Maria Cristina VF; Pellon MA. Queimaduras. Revinter, 1995.

    8. Porter SB. Fisioterapia de Tidy. Elsevier Editora 2005.

    9. Marcus, CID Ventilao mecnica da fisiologia ao Consenso Brasileiro, Ed Revinter

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    10. Azeredo CAC. Ventilao Mecnica Invasiva e no Invasiva. Ed. Revinter, 1994.

    11. Azeredo CAC. Bom Senso em Ventilao Mecnica. Ed Revinter,1997.

    12. Scalan; Wilkins;Stoller. Fundamentos da Terapia Respiratria de Egan. Ed. Manole 7

    edio.

    13. Delisa JA. Tratado de Medicina de Reabilitao-Princpios e Prtica, Ed. Manole,

    2002.

    14. Descamps H; Baze Delecroix C ET Jauffret E. Rducation de lenfant brl. Encycl

    Md Chir Kinsithrapie - Mdecine physique-Radaptation, 26-275-D-10,

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    15. Jaudoin D. Kinsithrapie Cicatricielle Aprs Une Brulure Grave. Centre DeTraitement

    Des Brls Du Centre Hospitalier St Joseph-St Luc France. Disponvel em:

    www.Kinebrul-Pro.Com. Acesso Em 05 Jun. 2008.

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    17. Rodrigues M; Maria Da Glria. Bases da Fisioterapia Respiratria - Terapia Intensiva

    E Reabilitao. Rio De Janeiro: Guanabara Koogan, 2007. 592 P.

    18. Sarmento, GJV. Fisioterapia Respiratria No Paciente Crtico: Rotinas Crticas. So

    Paulo : Manole, 2005. P. 582.

    19. Sociedade Brasileira de Pneumologia e Tisiologia. III Consenso Brasileiro de

    Ventilao Mecnica 2006. J Bras Pneumol 2007; 33 (supl.2). Disponvel em:

    http://www.jornalde pneumologia.com.br/portugues/suplement

    Nutrio

    1. Lima JEM; Serra MCVF. Tratado de queimaduras. So Paulo: Atheneu, 2004. 656 p.

    2. Prelack, K; Dylewski M; Sheridan RL. Practical guidelines for nutritional management

    of burn injury and recovery. Burns, v. 33, p. 14-24, 2007

    3. Shils ME. Nutrio moderna na sade e na doena. 10.ed. Barueri, SP: Manole, 2009.

    2222 p.

    http://www.jornalde/

  • Pg. 330 039 - Atendimento ao Queimado

    ANEXO I

    Tabela 1. Determinao da superfcie corporal queimada (SCQ) conforme Lund e Browder.

    Idade (anos) / rea 0 - 1 4 5 - 9 10 - 14 15 Adulto

    Cabea 19 17 13 11 9 7

    Pescoo 2 2 2 2 2 2

    Tronco anterior 13 13 13 13 13 13

    Tronco posterior 13 13 13 13 13 13

    Ndega direita 2,5 2,5 2,5 2,5 2,5 2,5

    Ndega esquerda 2,5 2,5 2,5 2,5 2,5 2,5

    Genitlia 1 1 1 1 1 1

    Brao 4 4 4 4 4 4

    Antebrao 3 3 3 3 3 3

    Mo 2,5 2,5 2,5 2,5 2,5 2,5

    Coxa 5,5 6,5 8 8,5 9 9,5

    Perna 5 5 5,5 6 6,5 7

    P 3,5 3,5 3,5 3,5 3,5 3,5

    Tabela 2. Regra dos nove (Pulanski e Tennison).

    rea Adultos Crianas at 1 ano

    Cabea e pescoo 9,0% 18,0%

    Membro superior direito 9,0% 9,0%

    Membro superior esquerdo 9,0% 9,0%

    Regio anterior do tronco 18,0% 18,0%

    Regio posterior do tronco 18,0% 18,0%

    Genitlia 1,0% 1,0%

    Coxa direita 9,0% 4,5%

    Coxa esquerda 9,0% 4,5%

    Perna direita 9,0% 4,5%

    Perna esquerda 9,0% 4,5%

    Para recm nascido: cabea e pescoo= 18%, todo um membro inferior= 13,5%

    Obs.: Esta regra uma simplificao, porm de fcil memorizao, para utilizao em

    emergncia e por mdicos no especialistas.

  • 039 - Atendimento ao Queimado 331

    Tabela 3. Avaliao da profundidade das leses.

    Classificao Camadas da pele

    atingidas Apresentao Evoluo

    Primeiro Grau Epiderme Eritema

    Dor

    - Reepiteliza em 5 a 7

    dias

    Segundo Grau

    Superficial

    Epiderme

    Derme superior

    Flictenas

    Dor

    Edema

    Umidade

    Vermelha

    - Conserva grande parte

    dos anexos cutneos

    - Reepiteliza em 10 a 14

    dias

    Segundo Grau

    Profundo

    Epiderme

    Derme superior

    Derme profunda

    Flictenas

    Dor

    Edema

    Menor umidade

    Maior palidez

    - Menor quantidade de

    anexos preservados

    - Demanda maior tempo

    para reepitelizao (at

    21 dias) ou enxertia

    cutnea

    Terceito Grau

    Epiderme

    Derme

    Hipoderme

    Indolor

    Seca

    Rgida

    Placa esbranquiada ou

    enegrecida

    - No reepiteliza

    espontaneamente