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    A IDIA DE MATRIA

    Em vez de ir por outras linhas, eu vou iniciar a aula integralmente na [prpria] filosofia.(Certo?) E vou me servir de trs tipos de pensamento gregosPlato, Aristteles e osesticos: esses trs! E a questo com que ns vamos comear a trabalhare que

    prossegue com outras questes nas prximas aulas a idia de MATRIA. na idiade Matria que ns vamos trabalhar!

    Agora, realmente alto nvel de filosofia; [um tema]puramente filosficoque eu voutornar fcil, pra vocs entenderem!e fundamento das prximas aulas. Ele fundamentaas prximas aulas! Isso [que eu disse,] no para assustar ningum no; pelo contrrio

    pra vocs ficarem mais calmos. Eu volto sempre a esses temasno h porqueficarem preocupados!

    E as trs filosofias que eu vou trabalhar sero o Platodois livros dele. Quem quiserler esses livrosler Plato sempre muito bonito!os dois existem em portugus. Os

    livros so o Timeu e oFilebo.No caso do Aristteles,A metafsicasobretudo o livroV e o livro X. (Vocs vem que eu estou falando como filsofo, no ? Eu estou

    falando como filsofo!) E os esticos, ao longo de seus comentadoresfundamentalmente dois comentadores: o Victor Goldschmidt e o mile Brhier.

    Ento, isso que eu vou fazer,(viu?) Ento, vamos comear:

    Nosso objetivo um s: a Matria. Depois vocs vo ver a importncia disso: ela vaisurgindo pra vocs Eu fao desvios, fao deslocamentos e vocs vo entendendo aimportncia da questo.

    Bom. A obra do Plato, chamada Timeu, alguma coisa como a construo douniverso . O que vai ser constitudo, nessa obra, o universo a origem, o comeode tudo! Pode-se dizer mais ou menosno exatamenteque antes desseacontecimento do Timeu, o que ns teramos seria o Caos.

    (Vai comear o inferno, t?)

    Ento, nessa obra, Plato coloca a existncia de uma figura mtica, que ele chama dedemiurgo. Demiurgo em grego chama-se arteso. Mas Plato chama essa figura de arteso divino um deus! E esse deus vai construir o mundo. Na verdade, o demiurgo

    uma mistura de deus e artesoele simultaneamente um deus e um arteso. Ento, o demiurgo que vai ser o responsvel pela criao da naturezae isso que eu estoucontando pra vocs, de ele ser simultaneamente um deus e um arteso, no umacontecimento das decises platnicasno foi Plato que decidiu de repente dizer Oh, quem construiu essa natureza foi um demiurgo, que simultaneamente deus earteso, (no ?) No, no nada disso! Isso tudo umprolongamento da histria domundo, que vai desembocar em Plato. a histria dos movimentos poltico-sociais dooriente, da prpria Grcia, que levam Platoao pensar na construo da naturezaa

    pensar em um deus arteso. Ento, o demiurgo vai passar a ser chamado de O PaiArteso .

    - O que esse demiurgo vai fazer?

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    Esse demiurgo se encontra, se depara com o que, em Plato, se chama MEIOESPACIAL.

    O meio espacial a matria. uma matria louca; uma matria catica; real: existe.Difcilde ser compreendida! uma idia bastarda do Plato, uma idia difcilidia

    que no parou de atravessar todo o ocidente. Ele coloca o demiurgo deparando-se com oque ele chama de Meio Espacial, estranhamente, melhor dito: o RECEPTCULO. Elevai chamar de alguma coisa que o receptculo .

    Quando se comea a falar sobre esse meio espacial, a linguagem falta. A gente no temcomo dizer mais nada! Ento o demiurgo encontra [esse receptculo] e, acima disso,encontra o que se chama FORMAS INTELIGVEIS.

    O demiurgo umPai Arteso, que vai construir o nosso mundo; e os elementoscomponentes que ele tem para construir o nosso mundo so as Formas Inteligveis e oMeio Espacial. Ento, ele comea a trabalhar. No existe ainda o nosso mundo: existe o

    Meio Espacial e existem as Formas Inteligveis. E esse demiurgo vai comear atrabalhar.

    - E o que ele faz?

    Ele obrigaforafora o Meio Espacial a IMITAR as FORMAS INTELIGVEIS.

    Ento, no momento em que esse Meio Espacial comea a imitar as Formas Inteligveis,nasce o MUNDO SENSVEL: o nosso mundo. O nosso mundo chamado de MISTO o misto de FORMAS INTELIGVEIS e MEIO ESPACIAL. Ento, o nosso mundotem origem naformas inteligveis e no meio espacial. E o nosso mundo o resultado daao causal do demiurgo, forando o meio espaciala imitar asformas inteligveis.

    - E o que aconteceu?

    Esse meio espacial perverso, catico, louco, sem lei, sem ordem. Masdevido a aodo demiurgoo meio espacial passa a imitarasformas inteligveis que so ORDEM,LEI e COSMOS. E, nesse processo de imitao, emerge o NOSSO MUNDO.

    O nosso mundo tem como matria esse meio espacial. Mas esse meio espacialque amatria do nosso mundo obrigado a imitar as formas inteligveis. Por isso, o nosso

    mundo um CONE. O nosso mundo o lugar da IMITAO. (Entenderam?) No omeio espacialque imitao. o nosso mundo que imitao.

    Por isso,para o Plato, a natureza [j] comea todapronta. Porque na hora que odemiurgo obriga o meio espaciala imitar asformas inteligveisa natureza est todapronta. Aprimeira manh da NATUREZA a imitaoperfeita! De l pra c, shouve DEGRADAO. (Entenderam?) De ldo ato criativoem seguida, a nicacoisa que aconteceu foi degradao. O primeiro momento o MOMENTO PERFEITOda criao. Daquele primeiro momento em dianteque o momento do tempo, dahistriao que aconteceu foi de-gra-da-o. E o Plato est vivendo na sociedadegrega do sculo IV A.C. E nesse sculo IV, ele convivecom a degradao do campo

    social e com a incoerncia dos fenmenos csmicos.

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    (Vocs entenderam? No, no ? No foi claro, no?)

    Plato, no sculo IV, com a degradao do campo social Porque o que ele acaboude dizer que noprimeiro momento da criao tudo eraperfeito. Mas a partir do

    primeiro momento comeou a haver degradao. Tudo comeou a se degradar, a se

    perverter! Ento, evidente que, se ele est num momento histrico que no omomento da criao, ele est num momento degradado! Est num momento degradado!Ento, para Plato, aparece de imediato uma questo: fazer a terapia da cidadecuraracidade.

    - O que seria essa terapia da cidade, o que seria curara cidade? Produzir um processoevolutivo? Seguir com a cidade para uma evoluo?

    De forma nenhuma! Seria recuperar,para a cidade, oMODELO ORIGINAL.

    Por isso, para o platonismo, toda a verdade est nas origens. Processo exatamente

    oposto ao do Hegel, para quem tudo est no fim. Para Plato, tudo est no comeo. Paraele, no existiria lugar para a CRIAO no nosso mundoapenaspara aRECUPERAO. No h nada a criare sim, tudo a recuperar. Por isso, pode-se dizer

    com a maiorfacilidadeque oprincipalinstrumento do trabalho platnico aREMINISCNCIAem grego, ANAMNESIS. a reminiscncia.

    - Reminiscncia de qu?

    Lembrar-se dos tempos originais.

    (Entenderam?)

    Porque necessrio que a degradao se dporque elase d!porque do momentoda criao, para o momento seguinte, a degradao absolutamente necessria.

    Concluso a que ns chegamos daconcluso difcil e assustadora: que a matria donosso mundoa matria do meu corpo, a matria desta mesa, a matria da naturezauma matriaperversa, uma matria louca, catica, quese dobra ao Caosporque odemiurgo forou a matria a imitaras formas inteligveis. Se a imitao pararnscamos no Caos. (Entenderam?) O modelo fundamental a MMESIS ou IMITAO,a prtica mimticaimitar.

    Ento, para o Plato, todo o modelo do mundo se d [com] o Meio Espacial tendo queimitaras formas inteligveis. Se no imitar, o meio espacial volta ao lugar do Caos.Quando essa meio espacial volta ao lugar do Caos, ou seja: quando o meio espacial noimita as formas inteligveischama-se FANTASMA. Na hora em que ele imita asformas inteligveischama-se CONE.

    Ns teramos dois processos: ofantasmaque em latim traduzido por SIMULACRO;ou o cone. Porque a natureza do meio espacial Caos Total. E o Caos nopra derugirno interior da semelhana dos cones.

    (Eu acho que foi bem! Foi? Vocs entenderam? O que voc achou Bento? Todo mundoentendeu o que se processou?)

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    Ento, vejam bem:

    Plato vive num campo social onde est havendo de-gra-da-o. uma degradaoabsolutamente necessriaporque o tempo degradao. Ento, a preocupao dePlato que essa degradao possa chegar a tal pontoque o Caos retorne

    inteiramente, desaparecendo a imitao. Toda a questo dele operigo de que o Caosvenha a tomar conta da ordem colocada pela imitao. E, por isso, a funo do filsofoser governar a cidade, pra fazer dela uma prtica mimticauma prtica da imitaoimitaras formas inteligveis. Se isso no ocorrer, vai ser a vitria dosimulacro, avitria dofantasma, a vitria do meio espacialsobre os cones.

    - Querem fazer perguntas? Est perfeitamente claro pra todo mundo? Est S-? Chico? Oque voc achou E-? Porque? vejam bem? eu escolhi dar filosofia pra vocs. Eu poderiadar de outra forma [Mas,] no; eu vou dar filosofia. Ento, a gente tem que passar poresses buracos negros por essas coisas duras!

    (T tudo bem, no ? Estou de acordo. Eu aceito um caf e vou continuar.)

    Al.: Quando voc falou de-??-.

    Cl.: Porque o seguinte, o Plato est dizendo que na hora em que nasce o mundosensvel, junto com ele aparece o tempo. E o temponecessariamente degradador.Ento, o que vai acontecer, que, a partir do primeiro momento as imitaes voenfraquecer. Quanto mais enfraquece a imitao, mais perigo h de ofantasma subir. Ofantasma ameaa o tempo inteiro: uma ameaa constante! (Viu?)

    Ento, ponto a

    Al.:?antagnica

    Cl.: Seria! Mas o demiurgo como todo o criador: faz a obra e vai embora. Ele deixa aobra a. Os homens que tomem conta dela E aque est o grande perigo!

    Al.: O tempo degradador por si prprio ou ele degrada?

    Cl.: O tempo vai degradando a matria.. Vai degradando a imitao Vai quebrando aimitao e libertando o simulacro. O simulacro vai aparecendo isso que vai ocorrer.

    Porque, o primeiro momento da criao do demiurgo perfeito! A partir do primeiromomento, tudo degradao. So momentosperigosssimos na obra dele.

    (Vamos seguir pra vocs entenderem, viu? Agora eu vou comear a facilitar um pouco,essa parte foi mais difcilvocs vo comear a compreender. Eu agora vou maiscalmo, vocs vo compreender!)

    Na Grciana mesma Grcia de Platoaparece um grupo de pensadoreseu vouchamar inicialmente de pensadores, depois eu melhoro os nomes, viu?chamadosofistaschamam-se sofistas. E vamos colocar que na Grcia existiriam, de um lado, os

    platnicos; e, de outro lado, os sofistas. De um lado, os sofistas fazem discursos. De

    outro lado, os platnicos fazem discursos. O discurso em Grego chamado logos.Noplural logoi. Ento, h os logoiplatnicos e os logoi dos sofistas.

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    Os sofistas acham( Ateno, se ficar difcil, coloquem imediatamente pra mim.) Ossofistas acham que na natureza s existem FENMENOS.

    - O que fenmeno?

    Fenmeno tudo aquilo que aparece.

    Ento, para os sofistas, no cu, por exemplo, existem eclipses, planetas, cometas,estrelas e os acontecimentos do cuso os fenmenos. Para o platnicos, alm dosfenmenos existem asformas inteligveis. Para os platnicos, todos os fenmenossensveis so governados pelas formas inteligveis. Para os sofistas, alm dosfenmenos, no existe nada.

    Para os sofistas, existem os fenmenos e para os platnicos, alm dos fenmenosexistem asformas inteligveis. Ento, a questo platnica o discurso atingir as formasinteligveis. A questo sofista o discurso falar dos fenmenos.

    Haveria dois processos: enquanto o platnico espera que com o discurso ele atinja asformas inteligveis, o sofista no acredita nas formas inteligveisele acha que s hfenmenos. Ento, para o sofista, s h um discursoo que fala dos fenmenos. Para o

    platnico, h dois discursoso que fala dosfenmenos e o que fala dasformasinteligveis. (Entenderam?)

    Para o platnicoo que fala dosfenmenos e o que fala dasformas inteligveis. Para ossofistasapenas aquele que fala dos fenmenos. Ento, para Plato, havendo doisdiscursoso que fala dos fenmenos e o que fala das formas inteligveisemerge adistino platnica, que vai ser muito nossa, entreDOXA e EPISTEME: que entreopinio e cincia.

    Ento, para o Plato, s possvel cincia se o discurso falar dasformas inteligveis. Porcausa dissopara eleo discurso do sofista no um discurso cientfico. Eu acho queficou claro, no ? O discurso do sofista, que s fala dos fenmenos, no um discursocientfico, porque o nico discurso cientfico aquele que atinge as formas?Inteligveis. Ento, para o Plato, o discurso do sofista, em vez de ser um logos umantilogos.

    Ns, agora, teramos dois tipos de discursos: o logosque atinge as formas inteligveis

    e imediatamente episteme; e o logos ou antilogosque s fala dos fenmenos.

    (Vamos ver isso! Foi bem? Eu fui bem? O que vocs acharam? Deu pra entender bem?)Ento vamos l:

    Al.:

    Cl.: E no precisa ser grego para entender isso, no (viu?)

    Quando ns nos deparamos com os fenmenose agora eu vou modularessa palavra:vamos chamarfenmenos csmicos! Quando ns nos deparamos com osfenmenos

    csmicos, que so: o movimento dos astros, as estrelas, os eclipses, etc. e ventanias,tempestades, raios, troves ns reparamos que os fenmenos so imprecisos, so

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    fugidios, escapadios esobretudono param de mudareles mudam o tempointeiro! Na hora que voc for falar sobre um raio, sobre um relmpago, voc estfalando sobre aquilo e aquiloj passou! Logo, sempre que o discurso fala sobre umfenmeno que est acontecendoentre o tempo do discurso e o tempo do fenmenoh um desajuste.

    - Por qu?

    Porque o que acontece no mundo fenomnico aquilo que passaaquilo que passa otempo inteiro. No mundo fenomnico, no mundo do tempo, nadaparalisa: tudopassa.Ento, o antilogos sofista s fala sobre a mutao.

    Aquele discurso, que fala sobre a mutao, no cientficoporque s pode sercientfico o discurso que fala sobre o estvelepermanente. Estvel e permanentesoasformas inteligveis.Nasce a episteme do ocidente!

    A episteme ou a teoria das cincias do ocidente traz como pressuposto a permannciae a estabilidade do objeto. O sofista rejeitado como praticante da cinciaporque elefaz discursos sobre os fenmenos.

    (Foi bem, no foi? Entenderam?)

    Ento, Plato condena o antilogoscomo aquilo que fala sobrefantasmas. O fantasma aquilo que nunca porque no pra de passar. (Vejam se entenderam!) O fantasmanem isso nem no aquiloele o quepassa, o queflui, o devenir.

    Devenir aquilo sobre o qual a cincia no pode dizer nada.

    Por isso, para Plato, fazer cincia atingircom o discursoasformas inteligveisque so estveis epermanentes.

    (Dois pontos para uma pergunta, At.? E voc, filha, voc conseguiu entender?)

    Olha, eu quero retomar pra vocs que a primeira aulaest todo mundo igual,estamos todos iguais! [Se] essas questes no passaram com clareza, sempre bomretomar!

    Alm dos fenmenos csmicos, existem as prticas da cidade. E as prticas da cidadegeram o que se chamamundo tico: qual o comportamento do homem dentro dacidade. O comportamento pode servicioso ou pode servirtuoso. O Plato e o sofista vofalar as mesmas coisas.

    Para conhecer exatamente o que a virtude, o que a sabedoria, o que a belezaPlato diz que necessrio atingir asformas inteligveis. E quando o sofista fala sobre

    beleza, sobre virtudeele fala sobre beleza e virtude nos devenires.

    a mesma questo dos fenmenos csmicos! Quando vai falar sobre a cidade, oantilogos dos sofistas s fala sobre aquilo que est acontecendo. E Plato diz: Isso no

    um discurso cientfico! Pra se produzir um discurso cientfico, tem-se que encontrar aestabilidade e a permanncia. Por isso, para Plato, existem, l nas formas inteligveis,

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    O BEM, O BELO e O VERDADEIROque so os objetos exatos com que o logosplatnico vai entrar em contato. Para o sofista nada disso existepara ele s existem osfenmenos. Essa a oposio dos dois.

    Por causa dessa oposio, o Plato chama o sofista daquele que no capaz de imitar as

    formas inteligveis, daquele que no capaz de chegar s formas inteligveis. Por isso,para o Plato, o sofista ofantasma. (Certo?) E os platnicos so os cones.

    - E o que fazer com os fantasmas?

    Expuls-los da cidade. preciso expuls-los da cidadeporque osfantasmas so aconstante ameaa do Caos. O conselho de Plato: coloque-os ferro debaixo dosoceanos.

    Al .:?

    Cl.: Eles pensam Plato como um idiotaidiotia pura! Eles no acreditam naquelasformas inteligveis, no acreditam em nada. Mas acontece que vai haver a vitria do

    platonismo. O platonismo vai vencer. Os sofistas vo ser expulsos da cidade. Osfantasmas vo ser expulsos.

    (Ponto. No precisa mais disso!)

    Al.:?esto na frente, no ? Cl.: Exato! Al.: Mas realmente parece que os sofistasdescrevem o fato prvio, num determinado tempo. Eles esto atingindo o fato porqueele tem

    Cl.: Mas a questo que no h aquele tempo. O tempo puro fluir. No tempo, no h apossibilidade de voc ter um instante paralisado. Quem est no tempo flui. Noentendeu no, Bento?

    Al.: Eu digo: esta lmpada est acesa. Eu acabo de falar isso a lmpada apaga! Ento,essa minha afirmaoprende a Lmpada acesa num determinado momento. Ela est

    presa naquele momento ao qual eu me referi.

    Cl.: Sim, mas no tem valor o seu discurso, porque voc est querendo prender aquiloque flui. isso que o Plato est dizendo! mais ou menos isso, Bento: na hora em que

    voc entrou nesta sala, voc era quinze minutos mais novo. Neste instante em que euestou falando com voc, voc j dez segundos mais velho. Dentro do tempo, no hpossibilidade de voc paralisar. Tudoflui, tudo devm! E Plato diz: Quem estpensando o tempo, est pensando aquilo que muda. Est pensando o fluxo. E o fluxono pode ser objeto da cincia. S o estvel e o permanente podem ser objeto dacincia. A questo essa. Ficou difcil, Bento?

    Al.:?

    Cl.: Definir? No, [a questo] mais alta A-. Ele no est definindo o que a cincia.Ele estproduzindo a cincia! Est acabando de inventar a cincia que voc usa hoje!

    Ele est dizendo que o objeto da cincia impossvel ser um objeto do fluxo, ele temque ser um objeto da permanncia, da estabilidade. por isso que nasce a cincia com a

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    busca dos invariantes. .. dospermanentes. Porque o devir, aquilo que muda, para eleliteralmenteno pode ser objeto cientfico.

    - Por que no pode ser objeto cientfico?

    a coisa mais simples do mundo, clarssimo: no pode ser, porque no momento emque voc fala sobre ele, ele j no o que era.No que o objeto no devir seja assim: ,, , .No! O objeto no devirno o tempo inteiro! muito fcil entender isso!Aquilo que aquilo que permanentesempre! Aquilo que devmaquilo quemudanunca ! Tudo o que est no devenir, nunca a coisa mais fcil! O Platoest dizendo que no se pode pensar aquilo que no . No se pode pensar o no-ser.Tem-se que pensar o ser! A cincia (ou o pensamento) do devir est inteiramentedesqualificada. S pode haver pensamento do estvel e do permanente. E aqui estnascendo o RACIONALISMO. A razo est nascendo, tendo como objeto de

    pensamento o estvel e o permanente. E o devir no objeto de pensamento objetodos delrios e das imaginaes. isso que Plato est dizendo!

    Al.: E o sofista?

    Cl.: O sofista no concorda! Porque o sofista

    Al.: Eles no pretendiam fazer cincia!

    Cl.: Pretendiam fazer cincia, sim, At-! E fizeram cinciado devir! Do devir! (V seentendeu!) Aquilo que Plato desqualificapara o sofista a nica coisa que podeacontecer! Porque para o sofista NO EXISTE nenhuma forma inteligvel! Para osofista no existe nada estvel e permanente. S EXISTE o devir!

    Al.:?-

    Cl.: Claro! Essa a grande questo, At-, a grande questo essa! que a razo nascenteconstitui como objeto dela o estvel e o permanente. E desqualifica como impossvelodevir como [elemento] a ser pensado. O ocidente vai conviver sculos com isso. O devirno pode ser pensado! (Entendeu?)

    Ao longo da histria do pensamento, vocs vo encontrar, por exemplo, Bergsonagrande questo do Bergson pensar o devenir. (Entenderam?) Por isso, se ele vai

    pensar o devenir ele no pode ser um ra-cio-na-lista,porque a questo do racionalistatem como ponto de partida a estabilidade e a permanncia. essa a grande questo queest aparecendo. E o Plato desqualifica o sofista, desqualifica o antilogos, como aqueleque est querendo a bastardia, est querendo o delrio, a perversopensar o devenir.Ento a histria do pensamento ocidental, a um historiador de filosofia quem nos diz

    que o Deleuzediz que a histria do pensamento ocidental o recalcamento dopensamento do devenir. O tempo inteiro o pensamento dos devenires recalcados,impedidos de subir. (Eu acho que foi bem, no foi?)

    (Podem fazer mais perguntas! O que voc achou, F-?)

    Al.:?

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    Cl.:Exato! Exato! Qual a pergunta? Deixem eu colocar uma questo pra vocsentenderem:

    Houve, na Grcia, umas figuras chamadas os sbios gregos. Esses sbios gregos no so exatamente os filsofos. Os filsofos tm origem nos sbiosmas filsofo quer

    dizer amigo da sabedoria ; e sbio, aquele que tem a sabedoria . So diferentes!Plato no um sbio um filsofo. Ele o amigo da sabedoria. E a sabedoria, praele, so asformas inteligveis. (Entenderam?) O filsofo aquele que atinge asabedoria, atinge as formas inteligveis. O sbio, no! O sbio carrega com ele a

    sabedoria. Voc pode dizer que o sofista est muito mais prximo do sbio que oPlato. (No sei se ficou claro)

    (Vocs entenderam?)

    Essa uma questo muito difcil, mas que eu vou melhorar pra vocs da seguintemaneira:

    - O que pretende a cincia que est nascendo com o platonismo?

    Eu vou fazer uma pequena apresentao pra vocs compreenderem com clareza issodaqui. Vou fazer uma histria assim meio sofista, meio pervertida, pra vocsentenderem:

    Quando ns falamos, quando ns produzimos um discurso, existem duas coisaso atode falar e aquilo que falado. Sempre que algum fala, h o ato da fala e aquilo que dito. O ato da fala chama-se enunciao. E aquilo que dito chama-se enunciado.Ento, sempre que eu disser alguma coisa, aquele que fala: sou eu. E aquilo que eudisse: aquilo que eu disse.

    H um momento, na Grcia, que a verdade depende de quem falou. Por exemplo, eudigo assim: 2+2 so 5. A, o Bento pergunta: quem disse isso? A o L- responde: Foi oClaudio. Foi o Claudio? Ento, verdade!

    Porque a verdade, nesse determinado momento da Grcia, pertence quele que fala. dependente de quem falou. Quem falou que tem a verdade. Se [esse algum] falou, verdadeiro. Esse acontecimento chama-se a verdade na enunciao .

    Quando nasce a cidade grega, a verdade sai da enunciao e vai para o enunciado. Averdade j no mais daquele que falou. Mas aquilo que dito. (Entenderam?)

    Ento, num outro momento eu sou um dspota e digo: Os cachorros tm cinco pernas. A o Chico diz: Sem dvida, voc falou!

    Agora eu chego na cidade grega e digo: Os cachorros tm cinco pernas e o Chico meresponde: Prove! Porque a verdade se deslocou da enunciao e foi para o enunciado.

    No momento em que a verdade vai para o enunciado quando os homens falam, falamafirmativa ou negativamenteex.: eu falo: Antnio tem barba , Antnio no tem

    barba . A o Bento me diz: Prove! Os enunciados so afirmativos ou negativos, e

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    aquele que ouve o enunciado quer demonstraes e provas. (Entenderam?) Isso que sechama ENUNCIADO CIENTFICO.

    O enunciado cientfico aquele que, quando produzido, tem que serdemonstrado etem que serprovado. (Eu no sei se vocs entenderam bem) exatamente esse o

    processo que se d no campo platnico.

    Para o sofista no essa a questo. Para o sofista o enunciado no tem que ser nemafirmativo nem negativotem que ser PROBLEMTICO.

    - Por qu?

    Porque a palavra problema vem da palavra enigma, em grego. Enigma d a palavraproblema. E os sbios no eram aqueles que procuravam afirmaes ou negaes. Eles

    procuravam os ENIGMAS. O mundo do sofista o mundo dosproblemase no omundo das afirmaes e negaes. Por exemplo, vou voltar a contar uma histria:

    Dizem que Homero era um sbio. Homero era um sbio! O sbio no aquele queafirma ou nega; quem afirma ou nega a conscincia cientfica. O sbioproblematiza.Ento, o que Homero queria conhecer eram os enigmas. Como um sbio, na hora queum enigma aparecia pra eleele dava a soluo. O mundo do sbio um mundo

    problemticoe no um mundo das afirmaes e negaes. Tanto, que um dia fizeramum enigma para o Homero mais ou menos assim: Aquilo que eu mato, eu deixo.Aquilo que eu no mato, eu trago. mais ou menos isso. Eu sei que o Homero nosoube responder o enigma e se suicidou. Sabe o que era o enigma? Eram pulgas. As

    pulgas que eu mato, eu deixo. As que eu no mato, eu trago.

    Os enigmas so triviais, so tolos. Como tudo o que acontece nas nossas vidas! Mas sointeiramente srios. Porque?significam a nossa prpria vida. O mundo simultaneamenteftilesrio. Era isso que o sofista vivia e que o sbio vivia! Ento, aquesto do sbio no a questo do Plato: afirmar / negar e provar. A questo dele

    problematizar.

    Exemplo: voc pega a sexualidade hoje. O que a cincia faz com a sexualidade? Afirmaou nega determinadas proposies. O que faria um sbio com a sexualidade? Ele

    problematizaria.

    (Foi difcil! Est aberto para o caf. Tomem um caf, que eu vou melhorar isso daqui.Problemas e afirmaes e negaes: ficou difcil! Ficou, no ? Eu retorno isso aqui.Tomem um caf para eu melhorar isso.)

    (Intervalo para o caf)

    Eu vou utilizar uma espcie de estratgia pra voc porque h uma diferena muitogrande em se dar uma aula de filosofia para o estudante de filosofia e uma aula defilosofia pra quem no estudante de filosofia. A gente desvia um pouco: no se pode

    perseguir determinados temas; no se pode fazer determinados trabalhos detalhados;tem-se que fazer determinadas aberturas Isso no diminui a qualidade da aula.

    Apenas, voc faz determinadas derivas. como se fosse o nascimento de uma nova

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    composio discursiva: no a mesma composio entre o professor e o estudante defilosofia e entre o professor e o estudante que no de filosofia.

    (um pequeno trecho da fita com defeito!!!)

    [...] e as formas inteligveis. Vamos dizer que para o Nietzsche a mesma coisa. Existeo mundo fenomnico e existe outro mundo. S que enquanto o segundo mundo doPlato um mundo de Formas Inteligveis, o segundo mundo do Nietzsche o CAOS

    puro. o CAOS puro. Ento, para o Plato, o mundo fenomnico se apia nas FormasInteligveis. Para o Nietzsche, o mundo fenomnico se apia no Caos. (Entenderam?)Um se apia no Caos, outro se apia nas Formas Inteligveis. Mas tanto o Caos quantoas Forma Inteligveis so aquilo que estfora do mundo sensvel; est para l do mundosensvel. Existiria o mundo sensvel, o mundo fenomnico apoiado no platonismo pelasFormas Inteligveis, e apoiado no Nietzsche pelo Caos. (Certo?)

    Pegando-se o modelo platnico e pegando-se o modelo religioso, o homem religioso e o

    homem platnico:

    Na hora em que o homem platnico quer fazer cincia, ele tem que se deslocar (nointeressa como!) na narrativa mtica (no importa agora!). Pra fazer cincia, ele tem que

    de alguma maneirase deslocar at as Formas Inteligveis; ele tem que irat asFormas Inteligveis. E o homem religiosonas suas prticas medievais, por exemplo

    pra fazer teologia tem que atingir Deusque tambm est acima das formas sensveis,acima do mundo fenomnico.

    De certa maneira, portanto, h uma semelhana entre as Formas Inteligveis platnicas eas Forma Religiosas do cristianismoque alguma coisa alm do mundo fenomnico.

    A questo nietzcheana no destruir essefora. Ele no destri oforamas o despovoade essncias, formas inteligveis e deuses: transforma esse fora num Caos. H umfora,h um acima, h umpara l. Mas opara l dele no so as Formas Inteligveis oCaos.

    Ento, a partir disso daqui, ns podemos dizer que o homem platnico, quando vai fazera sua episteme, a sua cincia, ele precisa se transportarpara as Formas Inteligveis. Ohomem religioso, nos seus momentos de angstia, nos seus momentos

    (virada de fita)

    S que as Formas Superiores religiosas so meros fantasmas, so fices, so iluses. Oque o Nietzsche faz no destruir isso. apenas despovoarde Formas Inteligveis e deFantasmas. (Entenderam?) Ele despovoa.

    Ento, para o Nietzsche existe o fenmeno e ofora. O fora o Caos.

    Al.: O que que ele chama de Caos?

    Cl.: O que ele chama de Caos? Eu vou tentar explicar, ao longo das aulas, (ouviu?) o

    que seria esse Caos do Nietzsche! No incio muito difcil! Porque, neste incio, euestou deslocando as Formas Inteligveis platnicas ou o Cu religioso e transformando

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    isso em Caos. Ainda no d pra dizer bemespera mais um pouco, que depois eu digomelhor. o mundo das foras caticas[mas assim] fica vago, fica tolo, fica idiota!Deixa eu montar melhor, pra haver compreenso integral.

    Neste instante, o que ns vamos fazer apenas despovoar as Formas Inteligveis do cu

    platnico e tornar estefora o mundo do Caos.

    - O que vai acontecer a?

    O mundo dos fenmenose a j Aristteles, no precisa mais ser Plato! omundo onde ns constitumos o nosso saber. Eu concordo, o nosso saber se constitui nomundo fenomnico. (Certo?) Ento, ns, os seres humanos seramos seres histricos,includos dentro da histria, que vamos fazendo mutaes no campo do saber em funodos saberes fenomnicos. Assim, ns viveramos!

    Mas, para o Nietzsche, existiriam duas experincias do fora. A experincia dofora do

    Plato a experincia epistmicachegar s Formas Inteligveis. Para o Nietzsche,haveria duas experincias dofora; logo, duas experincias do Caos. No Plato, aexperincia da episteme, a experincia da cincia, a experincia da filosofia, das FormasInteligveis! Para o Nietzsche haveria duas experincias doforauma seria a loucura;a outra seria a subjetivao. Que exatamente o modelo da aula que eu vou dar pravocs.

    Nessa tese que eu estou passando pra vocs, o homem enlouqueceria quando entra noCaos e governadopor esse Caos. Enquanto que ele constitui uma subjetividadeeaqui fantstico e difcil!uma subjetividade livre; e atinge o pensamento quando eleentra nesse Caos, mas nopra ser governado por esse Caosmas parapens -lo.(Vocs entenderam?) As duas experimentaes dofora. A experimentao da loucuraquando voc dominado pelas foras do Caos; ou quando voc faz a experincia do

    foraproduzindo pensamento. Isso, na linguagem do Deleuze e na linguagem doHeidegger, chama-se DOBRA.

    A dobra quando voc experimenta o Caos, mas constitui um pensamento; e a loucura,quando voc cai dentro desse Caos. (Ficou claro, no ?) O melhor modelo pra seentender isso manter o platonismo. mantendo o platonismo, que ns entendemos.

    O que fica muito claro que o Nietzsche foi um homem que viveu a vida nos limites:

    ele viveu a vida dele nos limites do saber e dofora. Ele viveu nesses limites! Ou seja:ele no parou de fazer a experincia do pensamento, da liberdade e da loucura.

    Existe hoje, sobretudo no Rio de Janeiro, uma voga nietzscheana, umacompletamente idiota, onde se tenta fazer um combate ao racionalismo com o maisestpido dos irracionalismos. O Nietzsche no um irracionalista. O Nietzsche nocombate a razo utilizando paixes, sentimentos e caprichosno nada disso! Elecombate a razo, tentando produzir um instrumento que v alm da razoque elechama de PENSAMENTO. E o que ele chama de pensamento a experincia de umasubjetividade livre e-. isso que vai ser o nosso curso:

    O que so essas experimentaes dofora, o que a constituio da dobra. Eu voumostrar pra vocs a razo grega, o pensamento barroco, o pensamento moderno, como

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    que ele vai constituir uma dobra; entender essefora e produzir o pensamento; eultrapassara sujeio aos saberes.

    (Fui feliz? Fui, no ? Acho que fui!)

    O modelo que eu vou seguir com vocs, olha, eu diria, um modelo estratgicomas esse o modelo possvel! Pensando o platonismo, eu comeo, inclusive, acolocar o Aristtelese eu vou ficar muito triste, porque o Aristteles vaipesarum

    pouco pra vocs. Mas vocs vo ter que entender a teoria da atribuio, a teoria dapredicao, todas as questes que eu coloquei, seno vocs no vopercebero que adistino de uma proposio para um problema, o que a experimentao do falso, oque a produo da liberdade, o que a produo do pensamento novo, o que aconstituio de novos modos de vidatudo isso vai-se perder, se eu no passar umAristteles pra vocs. Ento, ele vai ser obrigado a passar, viu? E quando a gentetrabalha em Aristteles, no h meios de a gente no ser inteiramente filsofo aquelenegcio durolgica, metafsicapesada, (no ?)

    Muito bem!

    A grande questo que, para Plato, pensar atingiras Formas Inteligveis. ParaNietzsche, inteiramente semelhante: pensar pensar o Caos. Muito semelhante, muitosemelhante! Nesse movimento de Caos e Formas Inteligveis que ns vamos ter alinha do nosso curso, que, agora, se eu consegui realmente passar isso pra vocs, eu voucomear a explicarviu? Vamos pensar que processos vo se dar aqui, a partir desteinstante.

    Neste instante isso no vai importar, mas na Grcia, em funo de um poema de um pr-socrtico chamado Parmnides, vo aparecer duas escolasuma chamada megrica e aoutra chamada cnica.Literalmente vo aparecer essas duas escolas: [ou seja,] duasmaneiras de pensar. Essas duas escolas trazem a preocupao de nos explicarexatamente o que PENSAR. Toda a questo da escola megrica e toda a questo daescola cnica nos ensinar apensar. Ento, essas escolas colocam que, quando ns

    pensamos, quando ns utilizamos o nosso pensamento, ns no podemos, deformanenhuma, explicar ou definir alguma coisa com outra coisa.

    Para essas escolas, por exemplo, se eu quiser dizer o que a mesa, eu no posso dizer,com a cadeira, o que a mesaeu s posso dizer o que a mesa com ela mesma! O que

    eles esto dizendo que os enunciados do pensamento s podem ser enunciados daidentidade pura. Eu nunca poderei dizer alguma coisa sobre algo que no seja aqueleprprio algo. Eu nunca poderei dizer, por exemplo, que a mesa branca. Porque se eudisser que a mesa branca eu estou dizendo que a mesa outra coisa que ela mesma.Ento, o nico enunciado que eu posso produzir a mesa mesa . (Vocsentenderam? Ou no entenderam?)

    Al.:?

    Cl.: Eu precisava dar essa explicao porque eu tenho que comear a fazer vocspenetrarem, fazer com que vocs entendam o que pensara diferena; ou melhor

    pensar pensar diferente! Ento, ns temos que dar conta do enunciado cnico e doenunciado megrico. Temos de entender o que eles esto dizendo!

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    muito simples, por exemplo: eu pego a Eliane. E Ana me diz: Claudio, me diga, porfavor, o que a Eliane? A eu digo assim: Eliane Chico. A a Eliane diz assim:

    No, Claudio, no concordo! Voc no pode dizer que eu sou uma coisa que eu no sou.Eu sou eu mesma!

    O que eu estou dizendo que a condio megrica e cnica que a nica coisa que vocpode afirmar sobre alguma coisa aquilo que aquela coisa . Ou seja: voc colocar noconceito predicado aquilo que est no conceito sujeitoa mesa mesa , a cadeira cadeira , a rosa rosa , e assim por diante

    (Fracassei novamente!)

    Al.:?

    Cl.: O que eles esto dizendo da maiorfacilidade: que a nica coisa que voc podedizer de alguma coisa aquilo que aquela coisa . Voc no pode dizer que uma

    coisa aquilo que ela no . Ora, a mesa mesa; branco branco. Se eu disser que amesa branca, eu estou dizendo que a mesa o que ela no !Ento, para o megrico eo cnico, eu s posso produzirum tipo de enunciado a mesa mesa , o branco

    branco , a rosa rosa , e assim por diante.

    exatamente por causa disso que Plato escreveu sua obra chamada O Sofista. Eleescreve essa obra inteirapara destruir os enunciados megricos e cnicosO Sofista; eo Aristteles escreve uma Fsica e uma Metafsica para destru-los. O Aristtelesescreve uma fsica e uma metafsica, escreve toda uma obra pra destruir essas

    proposies cnicas e megricas da IMPOSSIBILIDADE DA PREDICAO. (Certo?)

    Ento, esse tema que ns vamos entrare na prxima aula eu comeo a dar maisdevagarpra vocs entenderem o que exatamente o processo megrico e o cnico. Eeu trago um pequeno texto pra vocs lerem, (certo?) E a partir da ns comearemos aentrare eu vou tentar facilitarno que vem a ser a metafsica platnica em Osofista e no que aproposio aristotlica, pra romper com essas duas questeslevantadas pelo megrico e pelo cnico. Nas solues platnicas e nas soluesaristotlicas! Em seguida, mais pra frente, ns trabalharemos nas solues hegelianas evamos pensar de que maneira Nietzsche, Lucrcio, e outros pensadores vo pensar amesma coisa. (Certo?)

    (Est bom por hoje, no est?)O NOVO OBJETO DA METAFISICA

    Parte 1

    Cl.: [...] e chegar ao final de uma forma altamente devagar.

    Al.:?

    Cl.: a questo dos megricos, exatamente essa questo que vai ser levantada. [...] a

    filosofia no-platnica. isso que eu estou passando pra vocs. Mas eu tenho que sermuito lento, porqueprimeiro eu quero que vocs dominem o tema Dominado o tema,

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    a eu trabalho. Eu no trabalho antes que vocs tenham a maisintegraldominaoinclusive disso, que voc acabou de levantar agora. A partir da dominao integral, eu

    passo, ento, exposiocom a maiordas lentides at que vocs apreendam; edepois eu imprimo uma certa velocidade, porque a eu entro pensando a questo.

    Ento, vamos.

    *

    H, na obra do Aristteles, uma pequena confuso, uma pequena complicao. Nosentido de que Aristteles, em primeiro lugar, vai falar do real - do que ele entendecomo sendo real; e em seguida, vai falar sobreo que ele entende como sendo oinstrumento da razo . Ou seja: ele coloca aquilo que ele pensa do realaquilo queeleacha que vem a ser o real; e em seguida, vai colocar o que eleacha que seja a razo

    pensando esse real. Bom. Segundo Aristteles(Quando eu for obscuro na minha explicao, vocs me ajudem, fazendo perguntas

    s isso! Se eu for obscuro, vocs perguntam e eu procuro clarear.)

    O real para Aristteles constitudo de indivduos. Ento, para alguma coisa serreal,essa coisa tem quenecessariamenteserindividual. No pode haver algo que sejarealque no seja da ordem da individualidade. Ento, por exemplo: isto aqui [Claudiomostra um objeto] um indivduo logo isto real; esta mesa um indivduo logo real; estecopo um indivduo logo real.

    Aristteles nousa a palavra indivduo. Ele usa a palavra SUBSTNCIA. O real, praele, constitudo de substncias! Agora: esse real ( muito simples, no temnenhuma complicao terica!) Ns, os sujeitos humanosmas, eu posso dizer: todosos seres vivossomos capazes de apreender esse real pela SENSIBILIDADE. Ento,nsos humanosseriamos dotados de sensibilidade e a sensibilidade seria o meio quens teramos pra fazer a apreenso do real. Se ns fssemos roubados da nossasensibilidade, ns no entraramos em contato com esse real. Ento, o que abre para nsas portas do real a nossa sensibilidade. O que eu estou chamando desensibilidade o queclassicamentechamam a de cincosentidos ! o meio que ns temosdeapreendera realidade:pela sensibilidade! E esse real, que ns apreendemos, um realindividual . isso, o real.

    Agora: a partir do instante em que a nossa sensibilidade apreende o real, esse real vai

    para a nossa imaginao ou a nossa memria - como IMAGEM. Ento, ns somoscapazes de apreender o real pela sensibilidade e reteresse real na nossa imaginao-memria. Ento, o real retido, por ns, atravs da nossa imaginao-memria.Exemplo: eu olho para a Oe apreendo a Opela sensibilidade. Daqui a pouco eu saio,vou embora pra rua, a Oretorna em mim por imagem. Ento, ns aprendemos o real

    pela sensibilidade e conservamos esse real em ns pela imaginao. Ficou claro!

    Ento muito simples!

    - O que se diz a? O que Aristteles vai dizer?

    Ns os sujeitos humanos somos capazes de apreender a realidade e ret-la dentro de nsmas de uma maneira muito original. Porque, quando eu apreendo o real, o real

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    individual. E os indivduos reais so constitudos de MATRIA e de FORMA. Masaquilo que eu retenho do real aforma do real. Ento, eu retenho asformassensveis doreal. (Entenderam?) Aqui, pode-se fazer uma distino, digamos, entre a prtica daalimentao e a prtica da percepo. Quando eu como uma cenoura, eu como amatria e a forma da cenoura. Mas quando eu apreendo uma cenouraeu apreendo

    apenas a forma dela. Essa forma, que eu apreendo pela sensibilidade, chama-seFANTASMA SENSVEL.

    Ento, todos nshumanos - podemos apreender o real e torn-lo um fantasmasensvel. O fantasma sensvelperdura dentro da gente porque a memria conserva esseobjeto na ausncia do prprio objeto. (Eu acho que foi claro! Certo?)

    Em seguida, a razo entra em contato com esse fantasma sensvel. Ento, a razo noentra em contato direto com o real. Ela entra em contato com aquilo que asensibilidadelhe oferece. Ento, a matria da razo dada pela sensibilidade. A razo vai, lida comesse fantasma sensvelque a matria desse real que a memria detevee extrai do

    fantasma sensvel o objetoracional- que o CONCEITO. Ento, a sensibilidadeapreende estas mesas . A razo vai, e extrai - destas mesas que a sensibilidadeapreendeua SEMELHANA e a IDENTIDADE:funda o CONCEITO DE MESA. Arazo no apreende estas mesas. A razo apreende A MESA. (No sei se foi bemclaro!?)

    O que mostra que o objeto com o qual a razo lida no real. Porque os objetosconceituais no existem no real - existem apenas na razo . Pois os objetos da razono so individuaisso GERAIS ou UNIVERSAIS. A razo lida com objetosgeraisou universais - e no com objetos individuais. Mas esses objetosgerais ou universais- com os quais a razo lida, ela os extrai da sensibilidade.

    (Vejam se foi bem!? O que vocs acharam, deu pra entender?)

    O que vocs tm que guardar disso daqui:

    A sensibilidade apreende o real. O real o REAL CONCRETO. O nosso real concreto.Mas a razo no teria dentro dela o CONCRETO. A razo teria o ABSTRATO. Ento,

    por essa tese: o abstrato um ser de razo - mas o real concreto.

    (Entenderam?)

    O abstrato o instrumento pelo qual a razo categoriza e entende a realidade. Mas noexistiria nenhum abstrato, nenhum geral, nenhum universal fora da razo. O abstrato

    pertence razo. Diz-se: um SER DE RAZO.

    (Como que vocs foram entenderam bem? Todo mundo compreendeu o que eudisse?)

    - Qual a tese que eu vou retirar daqui? A tese que eu retiro que o real individual,concretoe apreensvel pela sensibilidade. E o abstrato um objeto de razo quesimultaneamente o instrumento que a razo tem para apreender o real. Ento,

    Aristteles vai dizercom toda a clarezaque fazer cincia fazer cincia do abstrato.Porque o abstrato o instrumento que a razo tem para pensar o real concreto. Esse

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    abstrato o que ns chamamos na modernidademas, tambm, j na Idade MdiadeCONCEITO.

    Conceito o abstrato, o geral, o universalaquilo que a razo tem para apreender oconcreto real.

    (O que vocs achameu posso dar por entendido? Posso, no ? Ento, vocs guardemisso, que eu agora vou passar uma tese diferente! Vou passar uma tese diferente.)

    Determinados pensadores gregos vo fazer uma nova tese em cima das mesmasquestes levantadas pelo Aristteles. Vocs viram que as questes que eu levanteiforam o real e o pensamento. O real individual e apreensvel pela sensibilidade. E o

    pensamento seria aquilo que lidaria com o abstrato , o geral , o universal .

    Agora LUCRCIO, que um pensador do sculo I A.C., herdeiro de um pensadorchamado EPICURO. Para o Lucrcio, o real constitudo de corpos. Vejam bem: o real

    constitudo de corpos. E aqui , ele no tem diferena nenhumapara o Aristtelesporque o Aristteles diz que o real constitudo de corpos.

    Os corpos, para o Lucrcio, so apreensveis pela sensibilidadenenhuma diferenapara o Aristteles. (T?) Porque para o Aristteles o real concreto constitudo decorpos; e para Lucrcio o real concreto constitudo de corpos. Para ambos , nsapreendemos esse real concreto pelasensibilidade .

    O real concreto do Aristteles o corpo. O corpo constitudo de matria e deforma. Eaqui aparece aprimeira diferena. Para o Lucrcio, o corpo no constitudo de matriae de forma; o corpo constitudo por um CONJUNTO DE TOMOS.

    Ento, para Aristteles, o real o indivduo; para Lucrcio, o real o indivduo. ParaAristteles, o real o corpo; para Lucrcio, o real o corpo. Agoraos componentes docorpo aristotlico so a matria e a forma. Os componentes do corpo para o Lucrcioso OS TOMOS. Ento, o Lucrcio est trazendo alguma coisa muito original

    porque ele est dizendo que aquilo que compe os corpos so os elementos atmicos. Oque j traz para ns uma nova fora de investigao. Porque, j que os corpos soconstitudos de tomos, a nossa questo :

    - O que so esses tomos?

    Esses tomos so pontos eternos: soseres eternos . E os corpos, que os conjuntos detomos constituemsoseres temporais . Ento, isso daqui [Claudio aponta um objeto] um corpo - logo, um sertemporal. Mas os elementos que compem esse corpoouseja: os tomos - so eternos .

    - Por que os tomos so eternos?

    Porque para o Lucrcio os tomos nopodem ser quebrados: eles so as unidadesmnimasque se mantm absolutamente iguais pela eternidade afora. O que varia - soos corpos. Porque os corpos so conjuntos de tomos. Mas os elementos que compem

    os corpos so eternosporque no podem ser destrudos ou divididos. possvel quealgum diga:Bom, o Lucrcio dizia isso, porque no conhecia essas grandes usinas

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    atmicas existentes, que fazem o corte dos tomos. Ou seja: ns poderamos pensar quea tese do Lucrcio poderia ser destruda por uma tecnologiapoderosssima - umatecnologia que viesse dividir os tomos. Mas ele diz: no, no uma questo detecnologia: esses tomos so in-di -vi -s-veis. Ento, todos os corpos so temporais

    porque o corpo um conjunto de tomos. Um corponecessariamentevai-se desfazer

    num momento do tempo: so os tomos se separando. Mas esses tomos, que compemos corpos, so eternos e no podem ser destrudos ou divididos pornenhuma fora: noh fora que possa dividi-los.

    Essa tese crtica! Porque no momento em que ele colocaque os elementos quecompem os corposque so os tomosno podem ser divididos, ns podemosaplicar uma crtica em cima dele e dizer:E se no sculo XXXV inventarem umamquina altamentepoderosa, que venha dividir esses tomos? Ou seja, ns faramosuma crtica tese deleuma crtica eternidade dos tomos. Mas ele ento vai e nosresponde:Nada disso! Esses tomos no podem ser divididos porque eles no socorpos: so os elementos que constituem os corposso apenaspensveis! Eles no

    podem ser apreendidos pela sensibilidade. Eles so da ORDEM DO PENSAMENTO.

    (No sei se est indo bem!? Vocs esto conseguindo compreender?)

    O que o Lucrcio est dizendo, que o real no constitudosomentepor corpos. Parao Lucrcioexiste um real concreto e um real abstrato . O realabstrato so ostomos. Ento, ele est fazendo uma crtica tese do Aristtelesporque o Aristtelesdiz que o abstrato - o serde razo ; e o Lucrcio est dizendo que o abstrato - real .

    (Eu quero ver se vocs entenderam Eu acho que eu no tenho mais nem o quedizer! Eu s posso falar em cima de perguntas que vocs fizerem Como que vocfoi V?)

    - Quantos reais h para o Lucrcio?Dois!

    Doisum concreto ; e um abstrato . Um que apreendido pelasensibilidade ; e umque s pode ser apreendido pelopensamento . A grande questo aqui o deslocamentodo abstrato. Porque a idia de abstratona linhaaristotlica - o conceito. A idia deabstratona linha lucreciana - o real. Ns estamos acostumados a utilizar a noo deabstrato comoaquilo que um instrumento para pensar o real. O Lucrcio no estdizendo que o abstrato instrumentopara pensar o realele est dizendo que o abstrato

    REAL. Ele est fazendo um deslocamento completo na tradio aristotlico-platnica do Ocidente!

    Al.:?

    Cl.: S pode ser apreensvel pelo pensamento. Porque se esse real abstrato pudesse serapreendido pela sensibilidade, interpunha-se tese de Lucrcio a possibilidade de umatecnologia que quebrasse esses tomos! Esses tomos no so quebrveis - porque elesno so entidadessensveiseles sopontos dopensamento . Quase que se poderiadizerpontos matemticos .

    (Eu queria uma notcia de vocs se foi apreendido)

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    O que Lucrcio est dizendo, quepensar- no pensar os corpos constitudos ;pensar- pensar os tomos . Ele est deslocando a tradio da razoporque atradio da razo a constituio de conceitos para pensar o mundo sensvel. Ele estdizendo que afuno do pensamento no constituir conceitos para dar conta domundo sensvel; afuno do pensamento lidarcom esse real abstrato .

    (Eu ainda no tenho certeza que eu passei com clareza, viu? S vocs podem me dizer!Vocs que tm que me dizerse foi entendido, se no foi entendido, se ficou claro ouno porque o que est acontecendo aqui e a partir disso eu vou seguir esse plano deaula que ns vamos tentar pensar o real em termos de realconcreto e realabstrato -ou seja: eu vou comear a introduzir uma prtica de pensamento no- conceitual. Ento,como ns vamos entrar numa fase muito difcil, o melhor mtodo que ns temos nessemomento vocs me fazerem perguntas porque eu posso terfalhado naexplicao!)

    Al: A matria para o Aristteles?

    Cl.: A matria infinitamas os tomos so eternos . E indivisveis . Que at umatolice deles falar isso, mas isso no importa pra nsmas eles so indivisveis. O

    grandeproblema que voc tem aqui um corpo. Isso daqui um corpocerto? Essecorpo um concreto sensvel . Mas os elementos que constituem esse corpo so ostomos - e os tomos so abstratos reais . A grande questo essa!

    (Eu vou tomar como entendido! Bento, no quer falar?)

    Al.: Mas esse abstrato-?-

    Cl.: Necessariamente. Porque todos os corpos so constitudos por tomos. Ento, pravoc dar conta dos corpos, voc tem que fazer uma prtica de duas dimensespensaros corpos e pensar os abstratos. Duas dimenses. Certo?

    Aqui est aparecendo uma coisa muitobonita! Esses tomosantes de eles seorganizarem para fazer um corpo; antes que o corpo apareaeles so o PURO CAOS.

    Entopor trs da ordem dos corposest o CAOS. Oumais grave do que issooobjeto e a matria do pensamento o CAOS. Comea a ficardificlimo! Porque, peloque eles esto dizendo, o pensamento no aquilo que tem que dar conta dos corpos. O

    pensamento aquilo que tem que dar conta dos tomos. E os tomosneles mesmos

    so Caos puro. A matria do pensamento o Caos .Deixem-me dar uma explicao pra vocs Vocs no sabem que no nossotempo -h uma aproximao entre o louco e o artista ? Que em toda a poca da histria h umaaproximao entre o louco e o filsofo ? Por uma razo muito simples: porque tanto olouco como o filsofo; tanto o louco como o artistaa matria deles o Caos. Os doistm a mesma matria! S que o louco aquele que seperde no caos; e o artista e ofilsofo so aqueles que vo PENSAR O CAOS. Eles esto no mesmo limite! Ou seja:serlouco e serpensador- o MAIOR RISCO DA VIDA porque sairda ordem doscorpos .

    (Olha uma notciapra mim!!! Como que voc foi, P? Entenderam bem?)

    O problema que eu levantei simples! Eu fiz um deslocamento no PENSAMENTO.

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    Porque qual o instrumento do pensamento em Aristteles? O abstrato! Oinstrumento do pensamento o abstrato o CONCEITO.

    No Lucrcio, o abstrato no INSTRUMENTO DO PENSAMENTO a MATRIADO PENSAMENTO. Isso em primeiro lugar. E em segundo lugar? Eu tornei o abstrato

    real. H uma realidade abstrata, por trs da realidade concreta. Essa realidade abstratapor trs da realidade concreta CAOS PURO.

    (Eu no sei se eu fui bem, ouviram? Os que esto pensando a, podem lanar umapergunta pra mim. O que voc achou F?)

    Al.:?

    Cl.: No s para o filsofo, mas tambmpra vida. Porque exatamente isso! Opensador do Caos aquele que capaz de fazertransformaes no mundo. Se nohouver o pensamento do Caoso mundo se tona sempre a mesma coisa. Porque o

    enfrentamento do Caos que vai fazer as invenes e a criao nascerem! Olhem quecoisa mais simples! Na hora que Mozart vai fazer uma msica, a matria que ele temno est organizada um Caosque ele transforma numa melodia Se ele j tivesseuma matria organizada, ele no seria o Mozart. Ele seria o Zequinha de Abreu! Porqueele iria apenas reproduzir alguma coisa j pronta. Um corpo pronto. A artea produoda arteimplica que o artista lide com o Caos. uma experincia trgica, umaexperincia limite. Porque seno, ele reproduz tudo o que existe.Eu vou dar um exemplo pra vocs:

    Se vocs me pedirem para eu desenhar alguma coisa neste quadro negro aqui,provavelmente eu vou desenhar duas montanhastipo Po de Acar e Morro da Urcacom uma lua atrs e um riozinho por baixo. Porque so as imagens em que o mundoem que eu vivo no pra de me dar.A funo do artista desfazeras imagens do seu mundopra produzir o NOVO. E pra

    produzir o novo ele tem que sairexatamente dos limites do seu prprio mundoquebraros limites do seu mundoe entrarno CAOS. Porqueseno ele estsubordinado s determinaes de um grupo de imagens. (Entenderam?) A criao uma prtica do PENSAMENTO: a filosofia, a arte, a cincia. Mas um enfrentamentocom o Caos. Seno, voc vai reproduzir todo o seu mundo. Todo o seu mundo retorna.

    Se um artista fosse apenas reproduzir o seu mundono precisaria de artistabastava

    o jornal. O artista exatamente aquele que faz a experincialimite - alm do territrioque lhe oferecidopra pensar as foras enquanto tais.

    Al.: Esse artista tem que ser abstrato ou poderia ser figurativo?

    Cl.: Poderia ser figurativo Sem dvida nenhuma, poderia ser figurativo. Ainda que(Vocs ouviram a questo que ele fez? Ele colocou uma questo sobre artes plsticas.Se esse artista poderia ser um figurativo. Eu respondi que sim) Mas h uma questona arte moderna. Agrande questo da arte moderna est diretamente ligada artefigurativa - no sentido que a arte figurativa a representao do que existe. E o que aarte moderna quer produzir exatamente o que NO EXISTE. A arte moderna no

    quer fazer uma prtica representativaela quer criar NOVOS OBJETOS. A ns temosKandinsky ; temosFrancis Bacon ; temos oPollock; de alguma maneira, a

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    artesurrealista ; um pouco menos, no Salvador Dali ; muito noMir - que so fugas,exatamente, do figurativoque seria uma arte representativa. Comear aproduziro

    NOVOem vez de apenas representar o mundo como se apresenta para ns: criarOUTROS Mundos! O que mostra que aquele que pensapode inventar novosmundos. (fim de fita)

    Lado 2

    Se ele pode inventar novos mundos nas ARTES PLSTICAS, ele pode inventar novosmundos na MSICA, mas pode inventar novos mundos na TICA e na POLTICA. Ele

    pode inventaruma nova CIDADE! Ou seja: todas as cidades que existemforaminventadas! No sei se vocs entenderam TODAS FORAM INVENTADAS!

    Exatamentepor uma prtica de arte. isso - que o homem ! isso - que a prticado pensamento ! A prtica do pensamento um enfrentamento com esse Caos!(Como que est A? Eu acho que est bem claro, no ?)Eu vou parar aqui. Eu vou dar um pontoe verse ficou bem claro:

    O que eu quero marcar como franca distino o ABSTRATO NO PENSAMENTO e oABSTRATO REAL Essa a grande distino que eu quero fazer; levando deimediatoao surgimento de um tipo de pensamento no- conceitualporque oabstrato conceitual o abstrato no pensamento . Eu no sei se vocs deram contadisso que eu disse agora: um pouco difcil! Voc l atrscomo que voc foi?

    Al.: Eu tenho uma pergunta da questo anterior

    Cl.: Qual a questo?

    Al.: Quando voc fala do louco estar em confronto com o Caos, aventando a hiptesede que tanto o louco quanto o artista?do cdigo?

    Cl.: No, eles no tm cdigo! Eles vo entrar no Caos. O louco exatamenteaquele que vai se perder no Caos o mundo dele se torna um Caos! No h umasexpresses que ns usamos muito Saiu de rbita! Foi pro espao! que olouco? exatamente a entrada dele no Caos. E o artista a mesma coisa! S que oartista vaipensaraquilopraproduziruma obra. Se ns pudssemos tornar os nossosloucos ARTISTAS, as coisas iriam bem mas o que ns fazemos tornaros nossosartistas LOUCOS: ns invertemos o processo.

    H uma m-f ntida na psiquiatria. A psiquiatria vai transformar a loucura numadoenamentale la no uma doena mental; ela a aventura das mais violentas davidaa aventura do Caos . Ns vamos encontrar determinados artistasum exemplo o ARTAUD, que exatamente a mistura desses limitesda LOUCURA e doPENSAMENTO. ARTAUD ora LOUCO, ora PENSADOR. Ele no pra de seconfrontar com o Caos. Por isso, a obra de um homem como o Artaud uma obra dealta angstia. Porque ele no o homem comum! Porque o homemcomum aquele quesesubordina ao campo desaberdo seu mundoreproduz o saber do seu mundo!O artista e o loucose confrontam com o Caos. Elessaem do territrio que foi erguido

    pra eles viverem. De outro modo: elessaem da cidadeliteralmente SAEM!porquehouve pocas na histria em que se tirava o louco da cidade, se colocava num navio, e

    soltava em alto-mar. Ou seja: joga-se o louco no aberto absoluto! Nofora absoluto

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    um navio deriva! E esse navio deriva que o pensadortem que dirigir. Porque asnossas vidastodas as nossas vidasso circundadas por esse Caos.

    Ns temos as nossas vidas apaziguadas exatamente porque ns vivemos numCAMPODE SABER.Ns vivemos num campo de RECONHECIMENTO .Ns

    reconhecemos tudo e isso apazigua a nossa vida. Ns nos contentamos com isso. Aarte a CORAGEM DA VIDA em ultrapassar o apaziguamento e enfrentar essasdoCaospara a produzir alguma coisa de novo ou no produzir NADA!

    Um exemplo pra vocs:

    H um autor do sculo XXde m fama, hein? Muito m fama!chamado KAFKA,que tinha uma questo na vida delemuitosimples! Ou eu saio pra conquistar afelicidadee conquistar a felicidade ser casar-se, reproduzir-se, viver em famlia,viver na cidadeou voufazer uma experincia do FORA. Experincia doforafora domundo em que ele vivia! Mas ele dizia: Eu sou incurvel! Eu s posso viver, fazendo a

    experincia do FORA. como se fosse uma praga ele no tinha outro modo deviverseno fazendo a experincia absoluta da solido e da angstiapra produziruma OBRA. Prasairdo modelo do HOMEM APAZIGUADO. Eu citei, aqui, o MauriceBlanchot, viu? Num texto sobre Kafka.

    (Eu vou colocar dois pontos e abrir umas aspas e esperar uma pergunta, pra ver seest indo tudo bem. Como , Chico? Eu estou achando que est indo bem, no ? Euvejo algumas pessoas inquietas . E esses inquietos, eu gostaria que perguntassem svezes eu no expliquei bem!)

    (Ento, eu vou seguir)

    Al.: S uma pergunta?

    Cl.: Ele no pra o Caosele procura APAZIGUAR, vivendo num mundo de crenas,num mundo de ilusesque exatamente como ns vivemos! H, inclusive, no nossomundoisso muito ntido!temas como a morte , por exemplo, que so bloqueados

    por nsporque a morte uma dessas experincias do FORA. Experimentar a morteno pensamentoso essas coisas que so bloqueadas pra ns! So feitas prticas deapaziguamento. Ns somos de talforma apaziguados que ns podemos pensar:Bom, melhor se apaziguar, do que enfrentar isso! Mas, no! No! A morte faz parte da

    vida ! Ela tem que ser pensada!Diz o Lucrcio, que a morte se tornou um terrorpra nsporque ns no a

    pensvamos; e ela se tornou matria de trabalho do sacerdote religioso. Na hora que osacerdote religioso comeou a pensar a morte, o que ele fez conosco? Disse pra ns quedepois de mortos ns estaramos vivos: ele nos prometeu umsegundo mundoe esse o ponto de maior atemorizao que ns temos. A idia de estarmos vivos depois damorte o que mais nos aterroriza! E Lucrcio diz ter sido essa agrande vitria dosacerdoteimaginar seu corpo em decomposio e ainda estar vivo! E isso seexplica: porque, ao longo da histria, s o sacerdote se dedicou a esse pensamento.

    Al.:?a histria da morte?

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    Cl.: Lindssimo, lindssimo! Voc v que determinados povos, dos sculos passados,levavam a morte a uma valorizao muito bonita: m uitobonita! Porque aquele que iamorrer, se cercava de todos os seus familiares e de todos os seus amigos pra expressar

    pensamentosera de uma beleza muito grande! Somos ns que vamos tornando todosesses fenmenos da vidatem que verificar o motivo disso!verdadeiros horrores

    para as nossas vidas!

    (Intervalo para o caf!)

    H uma prtica em filosofiachamada METAFSICA. (Certo?) A metafsica umpressuposto de que a razo (Olha o que eu falei da razo no Aristteles! Se vocs noentenderam a razo do Aristteles, vocs no vo entender [o que eu vou dizer]! Porisso, eu falei: Olhem, perguntem, perguntem! A razo do Aristtelespra funcionarela pressupe a sensibilidade?Pressupe! Logo, a razo s lidaria com objetos fsicosque so os objetos dados pela sensibilidade. Mas a metafsica o encontro da razocom as idiassem a mediao da sensibilidade. (Vejam se entenderam!)

    A razo entraria em contacto com as idias, sem ser mediada pela sensibilidade. Porisso, um filsofo chamado Plato construiuna sua teoriaDOIS MUNDOS: omundo da sensibilidade - onde se faz fsica; e o mundo das idias - onde se fazmetafsica. (Entenderam?) a razo no encontro com as idias.

    Al.: No acho que seja vivel voc conseguir trabalhar s com as idias sem?-

    Cl.: O Plato admite que sim!

    Al.: Ele admite, mas

    Cl.: Olha, melhor a gente deixar para verificar as crticas que a gente pode fazer emcima disso, porque vo aparecer! Para o Nietzsche, esse mundo das idias platnicas fico a maiortolice! Mas h quem pense isso! (Certo?)

    (Agora,prestem ateno:)

    Essa metafsica a razo entrando em contacto com as idiasque seria o segundomundo do Plato. Teria o mundo da sensibilidade e o mundo das idias Quando arazo entra em contacto direto com as idias a razo est fazendo? (Als.: Metafsica!)

    Metafsica! Quando o encontro direto com os objetos da sensibilidade, ela estfazendo uma fsica.

    (Entenderam? Compreenderam o que seria a metafsica? Muito bem!)

    - Quantos reais existem para o pensamento do Lucrcio?

    Dois: o concreto e o abstrato .

    O abstrato quando o pensamento entra em contacto com o realsem passar pelasensibilidade. Logo, esse contacto do pensamento com o real abstrato uma

    METAFSICA! (Vocs entenderam? Se no , eu repito! Foi bem, Bento?)

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    - Por que eu chamei de metafsica? Porque no o contacto com a matria dasensibilidade - o contacto com o realabstrato . Ento, na hora em que o pensamentoentra em contacto com o real abstrato, ele est fazendo uma Metafsica !

    O que vocs acharam? Eu tenho que saber se vocs entenderam porque eu tenho que

    dar continuidadee se vocs no entenderam, eu no posso!

    H uma diferena da metafsica do Plato para a metafsica do Lucrciomas muitosemelhante! Porque para o Lucrcio h um real concretopara o Plato, h o realconcreto. Para o Lucrcio, h um real abstratopara o Plato, tambm h um realabstrato. O real abstrato de Platoso IDIAS. E o real abstrato do LucrciosoFORAS. (Ficou difcil, no ?)

    O real abstrato constitudo de TOMOS; e esses tomos so FORAS. O queaparece aquitalvez vocs possam entender! que quando a gente estuda cosmologiae a gente estudafsica - so duas cinciase todas as cincias so experimentais. A

    fsica nos fala na existncia de quatro forasda gravidade , eletromagntica ,forte efraca. Forte e fraca so as microforas . Inclusive, eu agora estou identificando a forte eletromagntica. E h alguns fsicosincludo o meu amigo Salimque procuram umaquinta fora no universo mas so forasfsicas! O realabstrato - opensamentolidando com foras metafsicas .

    (Ficou muito difcil, no ?)

    ForasMetafsicas ! (Ficou difcil?) Ns ainda no sabemos o que so essas forasmetafsicasmas estamos admitindo a hiptese de quese existir um real abstratoexiste uma matriapara o pensamento metafsico. E essa matria para o pensamentometafsicoso FORAS.Eu vou dar um exemplo pra vocs:

    - Eu tenho algumas rugas no rosto? Tenho! - q uase todos ns temos rugas no rosto!

    - Quemproduz as rugas?O Tempo! O tempo! Ento, o tempo tem fora! Se nohouvesse o tempotodos os acontecimentos se dariam de uma s vezpois o tempoque separa os acontecimentos. O tempo umafora que verga a matria. O TEMPO uma fora METAFSICA. (No sei se vocs entenderam bem.)

    Por issopra vocs entenderemaparece no mundo moderno um pensadorchamadoBergsonque se ope teoria da relatividade do Einstein. Por qu? Porque a teoria darelatividade do Einstein uma fsica. E o Bergsonquandopensa o Tempopensa emtermos metafsicos. O tempo uma fora metafsica , que a razo clssica no podecompreenderporque a razo clssica aquela quepra trabalharsupe aSENSIBILIDADE. O pensamento seria um poderda vida - de pensardiretamenteessasforasmetafsicas .

    Al.: No teria espao?

    Cl.: A seria um fsicoespacializador!

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    - Ento, o Bergsonque nesse nvel seria um lucrecianoem vez de pensar o realconcreto , est pensando o real abstrato - o CAMPO DAS FORAS. Pensando asforas, enquanto tais.Vou daroutro exemplo pra vocs:

    Existe um pintorchama-se Francis Bacon. Cada vez ele fica mais famoso: suas telasj passaram no cinemana apresentao de um filme, se no me engano, do BertolucciltimoTangoem Paris . Ele comeou a ficar famoso!

    Mas se vocs verificarem a obra do Francis Baconela surpreende! Porque o Baconuma tentativa de pintarno as formasmas as foras ; no a fora da gravidade ou aeletromagnticamas pintar as foras metafsicas. Por isso que os objetos queaparecem na obra dele sotorcidos , retorcidos , cortados - porque so objetos

    fustigadospela fora metafsica.

    (Eu no sei se eu fui bem eu acho que eu fuiprofundamente infeliz, hein?)

    Na prxima aula, eu vou trazer umBaconpra vocs verem, viu? Um lbum delepravocs olharem e eu comeara apresentar [esse trabalho] pra vocs. O que eu estouchamando de pensamento torna-se uma coisa muito complexa porque ns nuncaadmitimos que um pintorpensassepra fazer a sua obra Pintor, pensar?No !Pintorcopia !? Assim que ns pensvamos!Eu estou dizendo pra vocs ntido que verdadeiroque na prtica das artes hprticas de pensamento. O Bacon um artista

    plsticomas a arte dele uma obra do pensamento . No o pensamento enquantorazo clssica , enquanto uma razo que tem que dar conta do mundo sensvel. Masenquanto um pensamento que lidacom asforas metafsicas.

    Questo:

    - O que so essas foras metafsicas?

    (Eu no sei se eu fui muito longe nessa fase, ouviu? Eu estou olhando os rostos umpouco perplexos, ento, eu estou em dvida)

    (Como que voc foi, T? Tudo bem?)

    Al.:- foras metafsicas

    Cl.: As idias? Em Plato, mas no Lucrcio no. No Lucrcio, o encontro dopensamento com o REAL ABSTRATO.

    Eu estou dando esse exemplo, para depois comear a explicar pra vocs o que oREAL ABSTRATO. A diferena aqui que a VELHA METAFSICA trabalha comidias. A NOVA METAFSICA trabalha com foras. No uma fsicano a foragravitacional! No nada disso! So as foras metafsicasque ns vamos tentarentender aqui. (FALA!)

    Al.: Pois

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    Cl.: Eu ainda no expliquei eu ainda estou comeando a burilarpra vocs o que viriaa ser isso Por exemplo: h um autor no mundo moderno, que muito criticado ecombatido e inclusive desqualificado e que muitos contra-sensos so ditos sobreele o Michel Foucault. Por que o Michel Foucault to combatido? Porquepensamo Michel Foucault sob o modelo da razo clssica. Ele no est com a razo clssica. O

    mundo do Michel Foucault constitudo de duas regieso real concreto e o realabstrato. No se entende a obra do Michel Foucault se no se entender isso! No sepode dar conta do Michel Foucault reproduzindo a histria e a filosofia clssicas. S seentende esse autor se ns entendermos essa questo que eu estou levantando pra vocs:real concreto e real abstrato. Ento, um movimento de aula que eu tenho que fazercom vocs, pra vocs entenderem! Entenderem mesmo , compreenderem, utilizaremcomo vocs quiseremFAZEREM COM ISSO O QUE QUISEREMmaspassarem aentender.

    (Bom. Eu no vou apertarmuito aqui hoje porque seno vocs acabam caindo nofora- a gente pira! Muito violento isso. Aos poucos, pra vocs tomarem contato, viu?)

    Eu vou daroutra explicao pra vocs:

    H uma palavra em filosofia que se chama ONTOLOGIA. palavra BSICA emfilosofiabsica! Fundamento de filosofia! Entoem primeiro lugareu vou lev-los a entender o que ontologia; eem segundo lugara entender uma ontologiaclssica e uma ontologia moderna, pra vocs distinguirem.

    Vejam isso:

    Os povos antigose isso so exerccios de historiadores que eu estou narrando pravocscomo qualquer povo, pressupunham o domnio de um certo territrio pra viver.Eles organizavam um territrio como qualquerpovo organiza um territrio: construamuma aldeia, construam uma cidade, etc. Mas esses povos achavam que a geografiaterrestre do lugar em que eles viviam era uma cpia de uma geografia celeste. Os povosantigos viviam como se o mundo deles fosse uma rplicauma reduplicao de ummundo celeste. Ou seja: para eles, o mundo em que eles viviam era um mundo rplicaum duplo ; mas o realera a geografia celeste. Esse real o que se chama ontologia .Ontologia o REAL ENQUANTO TAL. (Entenderam?) Entopra esses povosomundo em que eles viviam era uma cpia de um real superior.( muito fcil entender isso!)

    Voc encontra um determinadopovo que vive num mundo cercado de rochas Derepente, esse povo pega uma determinada pedra e a torna sagrada porque supe queaquela pedra caiu da geografia celeste. (Entenderam?) Aquela pedra vem da geografiaceleste para se instalar na geografia terrestremotivo pelo qual ela sacralizada! Ouseja: os povos antigossacralizam o ontolgico .

    De outro modo, os povos antigos acham que os homens tm dois tipos decomportamento: os comportamentos fsico-musculares - sem nenhuma importncia; eos comportamentos rituais - originrios nos heris e nos deuses que vivem na geografiaceleste. Ento, at as prticas comportamentais pressupem o ontolgico. O mundo em

    que eles vivem uma cpia da geografia celeste; e as prticas que eles fazem uma

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    cpia das prticas dos deuses e dos heris.(Entenderam? Est bem claro, no ?)

    Isso da uma ontologia ; e com esse modelo que vai ser feita a ontologia platnica .A ontologia moderna no o pensamento dessa regio celeste. E isso o que se chama

    esvaziar o mundo de deuses. Esvazia-se o mundo dos deuses esupe-se que nsestamos cercadospelo Caos.Essa ontologia uma ontologia do Caos.

    ( a coisa mais fcil de entender!)

    Os povos antigos, ao sarem de sua cidade para fazer, por exemplo, um safri, umasavana, uma viagem, ao chegarem a uma determinada regio, achavam que aquelaregio, em que haviam chegado, no era modelada pela geografia celestelogo, erauma regio catica: era o Caos. Porque, pra eles, no nascimento da regio celeste,

    pressups-se que deuses e heris tivessem posto fim ao Caos. Haveria, portanto,determinados lugares ainda caticos, na Terraporque no seriam modelados pelos

    deuses e heris. por isso que os povos antigos chegam nesses territrios queconsideram caticos e fazem os rituais de criao: para tornar aquele lugar uma cpia daregio celeste.

    (Entendeu, Bento?)

    - Qual a concluso que ns chegamos aqui?

    Que quando ns lemos todas as teogoniastodas as teogonias que existem na histriasempre a mesma luta: luta do sagrado contra o Caos. Comona histriah umdomnio da religio, o sagrado se instala e o Caos recalcado . Se ns quebrarmos oreligioso e o Sagrado, o que existe por trsdas ordens das nossas vidas exatamente oCaos. E exatamente esse o PENSAMENTO MODERNO. Fazer ONTOLOGIA e fazerMETAFSICA na modernidade fazer a METAFSICA e a ONTOLOGIA do CAOSisso Nietzsche, isso Bergson, isso so todos eles!(Vocs acham que eu consegui passar? Entenderam o que eu disse?)

    Ento, pelo que eu estou dizendo pra vocs, pensarno pensar o territrio que nsvivemos. No territrio em que ns vivemos, no necessrio pensar. Bastafalare ver-

    porque ele reproduz tudo do nosso mundo.Pensar um confrontamento com esse Caos.Ou ento - na prtica religiosapensar as regies celestes.

    Com a destruio das regies celestes, o pensamento se defronta com as foras livres doCaos, constituidoras dos territrios em que ns vivemos. Ento, vai haver agora umadistin (final de fita)

    Parte 3

    Saber- saber o mundo em que voc vive. Epensar- pensar o Caos. Pensar asforas. No as foras enquantofsicas - mas as foras enquanto metafsicas - porque serexatamente esse pensamento que permitir a histria, as modificaes, o tempo, ou seja

    tudo o que se processa no nosso mundo .

    (Fui muito longo, no ? Eu no consegui fechar bem no, consegui?)

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    - Como que vocs ouviram isso? Ficou muito difcil,a questo do CaospensaroCaos?

    Vocs tm que notar uma questo. Esses levantamentos que eu estou fazendo pra vocs,mostram que a minha aula no tem nenhum objetivo de apaziguamento: ela tem o

    objetivo de estimularo pensamento. O meu objetivo esse! Eu no quero levar vocs ase apaziguarem, a se acomodarem ou a terem crenas tolas. Mas a usar o instrumentomaisprecioso da vidaque o pensamento. Fazer dopensamento o artista superior danossa vida. Porquesenoa vida se torna insuportvel. Ela se torna umainsuportabilidade. Por um motivo simplesporque a todo o momento em que ns

    pensamos, as categorias do saber, que esto sobre ns, nos destroem. Porque ascategorias do saber s nos convidam para uma racionalidade cotidiana que ns nosabemos confrontar com asgrandes questes da vida.

    Al.:?

    Cl.: uma aventura, uma aventura! Pensem s uma questoque quantidade detempo ns podemos pensar que se passou deste minuto agora, pra trs? Que quantidadede tempo j passou? Eu posso dizerum infinito de tempo? Posso: Ns temos atrs dens um infinito de tempo. Ns temos, pra frente de ns, outro infinito de tempo. Nssomos umpequeninoflego entre dois infinitos. Isso a vida: a vida isso. Mas exatamente essepequeninoflego - entre dois infinitosque capaz de pensar. Pensar,inclusive, esses dois infinitos!

    Al.:?

    Cl.: T tudo ali, no ? Tanto o passado, quanto o futuro.

    Al.: Eu ainda no consegui entender exatamente o que significapensaralgo

    Cl.: Porque eu ainda no expliquei eu vou dando [ao longo das aulas], entendeu? Anica coisa que eu [j] dei, com muita clareza, que isso que eu estou chamando deCaosque o novo objeto da metafsicano um campo das idias; um campo de

    forasque eu chamei de foras metafsicas. (Que nas prximas aulas eu comeo aexplicarporque difcil, realmente, tentar dar conta do que vem a ser isso. Eu acreditoque eu vou fazer vocs entenderem: no to difcil assim! Mais ou menos, salveequvoco foi uma pergunta que o Bento fez no incio da aula. Todos os corposque so

    os concretospressupem neles os abstratos: so os pontos de fora. So os pontos defora que constituem a nossa vida! Eu vou dar um exemplo pra vocs. O Nietzsche diziauma coisa muito difcil de entender(Cl. Tem um engasgo e comenta: falar emNietzsche sempre um problema, no ? Produz engasgo, coqueluche, tosse)

    O Nietzsche dizia que o homem seria um ser depoucapotncia. Por que ele diz isso?Porque quando ns praticamos os hbitos da nossa vida, muitas vezes fazemos edizemos: Eu vou fazer isso agora, mas nunca mais vou fazer! Nunca mais eu faoisso!

    O Nietzsche diz:Haja, na sua vida, de uma maneira tal, que tudo o que voc fizer,

    voc queira que se repita pela eternidade. uma tica terrvel! uma tica quase queimpossvel pra ns. Ns, os homens, somos seres muito fracos! Por isso que o

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    Nietzsche quer que o homem desaparea e aparea o super-homem. S agir na sua vidade uma maneira que tudo aquilo que voc faz, voc queiraliteralmenteque se repita

    pela eternidade. Por isso, ele diz que se sua questo for ser preguioso, leve isso sltimas conseqncias:faa issosempre! Ele no est moralizando nenhuma prtica:qualquerprticano importa qual. Mas fazer sempre aquilo que voc queira que

    sempre se repita. Porque a, voc constitui uma tica superior.

    A partir do instante em que voc agir dessa maneiravoc constri uma pedagogia darepetio: uma pedagogia em que todos os homens s agiro pensando que aquilo vai serepetirprasempre! Em termos ticos isso a doutrina do eterno retorno do

    Nietzsche. A partir da, umapreguia umafora . No sei se vocs entenderam? fora - fora da vida! a fora de fazer asua vida, de cometer osseus atos. So essasas foras metafsicas aquilo que constri asua existncia no mundo: asua maneirade se compor com isso, de seseparardaquilo Porque, vocs no tenham dvida: ohomem se explica por isso! O homem se explica pelas composies que ele faz:qualquer homem! Pode-se compor com qualquercoisa mas, de que maneira?

    Por exemplo: h um filme do Sergio Leonee os filmes do Sergio Leone, vocs jsabem que so barra pesada, no ? Em que h um determinado gngster que se vira

    para um amigo e diz assim: Olha, eu tenho que fazer isso que eu fao, porque s duascoisas me afetam: mulher e grana. Nada mais me afeta! Eu no consigo ver mais nada!Eu olho para o mundo e s vejo duas coisasmulher e grana

    - O que est sendo dito aqui?

    que asforas que constituem a nossa vida so os nossos afetos! O queexatamente -me afeta, e o que no me afeta? Aquilo que te afeta, fazer uma composiopra elevar

    . O Nietzsche no diria que o gngster um mau sujeito, no!!!! esse o afeto dele?Leve-o s ltimas conseqncias e agente as conseqncias! Mas levar seus afetoss ltimas conseqncias,sabendo que os afetos e as foras que nos constituem

    podem ser inventados ns podemos invent-los . Se voc no tem um afeto produza -o! invente -o!

    Se eu pegar hojepor exemploum menino de favela, e coloc-lo para ouvir umapera, ele vai cuspir e, daqui a cinco anos, ele poder estar composto com a pera!?

    Produziro afeto; estimularo afeto; g erarcomposies. So exatamente essas as forasmetafsicas. So essas foras metafsicas que explicam o que ns somos. Com o qu,

    ns vamos comporas nossas vidas!Ento est bom por hojet? J deu pra vocs levarem pensamento vontade pra casa,no ? E eu continuo a insistir nessas teses lindssimaspra vocs a dominaremamplamente. Eu vou trazer textos pra ajudar!