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AVALIAÇÃO MULTICRITÉRIO DE TREINAMENTO EM SUPPLY CHAIN MANAGEMENT Claudemir Leif Tramarico (UNESP ) [email protected] Ligia Maria Soto Urbina (ITA ) [email protected] Newton Correa de Castilho Jr. (UFPR ) [email protected] Valerio Antonio Pamplona Salomon (UNESP ) [email protected] Marcus Arthur Perez Demenis (ITA ) [email protected] Todos os anos organizações despendem relevantes investimentos financeiros em treinamento e desenvolvimento de pessoas. Embora de maneira macro a organização sinta efeitos positivos destes investimentos, ainda há grande dificuldade na avaliaação do retorno e eficácia destes investimentos. Este artigo descreve uma pesquisa que teve como objetivo a avaliação multicritério de treinamento em supply chain management através da definição do processo e apresentação do modelo baseado no Supply Chain Operations Reference Model (SCOR). Aplicou-se Analytic Hierarchy Process (AHP) na solução. Consideraram-se como alternativas, os benefícios individuais e organizacionais em uma indústria química. O resultado principal da análise revelou que o treinamento contribui de forma fundamental para a organização, o vetor prioridade apresentou 52% para benefícios organizacionais, seguido de 48% para benefícios individuais. Foi apresentado ao Especialista da empresa objeto de estudo que o validou como consistente e aplicável na prática. Palavras-chaves: Supply chain management, Avaliação de treinamento, Analytic hierarchy process XXXIII ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO A Gestão dos Processos de Produção e as Parcerias Globais para o Desenvolvimento Sustentável dos Sistemas Produtivos Salvador, BA, Brasil, 08 a 11 de outubro de 2013.

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AVALIAÇÃO MULTICRITÉRIO DE

TREINAMENTO EM SUPPLY CHAIN

MANAGEMENT

Claudemir Leif Tramarico (UNESP )

[email protected]

Ligia Maria Soto Urbina (ITA )

[email protected]

Newton Correa de Castilho Jr. (UFPR )

[email protected]

Valerio Antonio Pamplona Salomon (UNESP )

[email protected]

Marcus Arthur Perez Demenis (ITA )

[email protected]

Todos os anos organizações despendem relevantes investimentos

financeiros em treinamento e desenvolvimento de pessoas. Embora de

maneira macro a organização sinta efeitos positivos destes

investimentos, ainda há grande dificuldade na avaliaação do retorno e

eficácia destes investimentos. Este artigo descreve uma pesquisa que

teve como objetivo a avaliação multicritério de treinamento em supply

chain management através da definição do processo e apresentação do

modelo baseado no Supply Chain Operations Reference Model

(SCOR). Aplicou-se Analytic Hierarchy Process (AHP) na solução.

Consideraram-se como alternativas, os benefícios individuais e

organizacionais em uma indústria química. O resultado principal da

análise revelou que o treinamento contribui de forma fundamental

para a organização, o vetor prioridade apresentou 52% para

benefícios organizacionais, seguido de 48% para benefícios

individuais. Foi apresentado ao Especialista da empresa objeto de

estudo que o validou como consistente e aplicável na prática.

Palavras-chaves: Supply chain management, Avaliação de

treinamento, Analytic hierarchy process

XXXIII ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO A Gestão dos Processos de Produção e as Parcerias Globais para o Desenvolvimento Sustentável dos Sistemas Produtivos

Salvador, BA, Brasil, 08 a 11 de outubro de 2013.

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1. Introdução

Supply chain management (SCM) ou gerenciamento da cadeia de suprimentos é considerado

uma questão fundamental no atual cenário pautado por intensos relacionamentos econômicos

e comerciais no âmbito global. Em virtude da sua importância, muitos estudos foram

realizados por pesquisadores sobre SCM em diferentes disciplinas como: Lambert e Cooper

(2000), Mahmood et al.(2000), que mostraram os principais aspectos e os seus fundamentos.

Outras abordagens figuram na literatura, tais como a estratégia de integração de fornecedores

e clientes, apresentada por Frohlich e Westbrook (2001); a sustentabilidade apresentada por

Svensson (2007) em artigo conceitual no qual descreveu e ilustrou o tema; a maturidade,

destacada por (ESTAMPE et al., 2013), entre outras.

Nesse contexto, este artigo descreve uma pesquisa que teve como objetivo geral a avaliação

multicritério de treinamento em SCM, que foi desdobrado em objetivos específicos que

incluem a definição do processo, a criação do modelo de avaliação baseado no Supply Chain

Operations Reference Model (SCOR), e a sua aplicação apoiada pelo método Analytic

Hierarchy Process (AHP).

O AHP foi desenvolvido na década de 1970 por Thomas Saaty para resolver problemas

complexos que envolvem tomadas de decisão por múltiplos critérios. Ele tem sido empregado

em situações de definições de prioridade, avaliação de recurso, avaliação de custos e

benefícios entre outras. Subramanian e Ramanathan (2012) identificaram 291 artigos em

gestão de operações utilizando o método de uma maneira única ou combinada com aplicações

gerais.

Aqui, propõe-se adotar o AHP na modelagem, apontando que esta escolha se justifica pelo

fato permitir uma análise flexível, embora muitos dos aspectos que definem os fatores e suas

relações possam ser difíceis de especificar e quantificar (SAATY; OZDEMIR, 2005).

Quanto aos procedimentos metodológicos, utilizou-se um método de pesquisa de natureza

aplicada, com abordagem quantitativa, objetivos descritivo-explicativos e procedimentos

técnicos da modelagem matemática (BERTRAND; FRANSOO, 2002).

O artigo está estruturado como se segue. Na seção 2 está o referencial teórico, na seção

seguinte descreve-se o processo, a criação do modelo de avaliação e a aplicação do AHP em

uma indústria química. Na seção 4, são apresentadas as conclusões do trabalho, seguidas das

principais referências.

2 Referencial teórico

2.1 Conceitos sobre SCM

O termo SCM foi criado por consultores na década de 1980 e se expandiu na década seguinte

entre os pesquisadores (MAHMOOD et al., 2000). Muitas perguntas surgiram tais como: um

novo nome para a função logística? Um novo conceito de atendimento ao cliente? Um slogan

de uma nova literatura? É um novo conceito de compra? As respostas para essas questões

podem ser encontradas nas diversas definições de SCM, consideradas mais amplas do que o

termo logística ou transporte, e podem ser entendidas como a coordenação de atividades e

processos dentro e entre as organizações da cadeia de suprimentos que se estendem além da

logística (COOPER; LAMBERT; PAGH, 1997). Referem-se também ao fluxo de produtos e

informações além do âmbito da atividade que ocorre desde o fornecedor do fornecedor até o

consumidor final, como se pode observar na Figura 1, que ilustra o escopo. A cadeia de

suprimentos engloba as atividades associadas com a transformação e o fluxo de bens e

serviços, incluindo os fluxos de informação, a partir das fontes de matérias-primas para os

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usuários finais. Gestão refere-se à integração de todas essas atividades, internas e externas à

empresa (BALLOU; GILBERT; MUKHERJEE, 2000). Figura 1: Escopo do SCM

Empresa

Fornecedor Cliente

Fornecedor

do

Fornecedor

Cliente/

consumidor

final

Aquisição Transformação Distribuição

Fluxo de produto e informação

Fonte: Ballou, Gilbert e Mukherjee (2000).

Uma definição do SCM amplamente foi desenvolvida pelo Global Supply Chain Forum

(GSCF), que tem como participantes um grupo de empresas e uma equipe de pesquisadores

acadêmicos de notório saber em SCM. Tal definição declara que SCM, é a integração dos

principais processos de negócios a partir do usuário final, através de fornecedores originais

que entregam produtos, serviços e informações que agregam valor para os clientes e outras

partes interessadas (LAMBERT; COOPER, 2000).

2.2 Modelo de SCM

Um importante modelo de gerenciamento dos processos na cadeia de suprimentos é o modelo

SCOR foi desenvolvido pelo Supply Chain Council (SCC), uma organização independente,

sem fins lucrativos, aberta à participação de todas as empresas e organizações interessadas em

aplicação, no avanço do SCM e no seu desempenho. O SCOR foi desenvolvido para

descrever as atividades empresariais a fim de satisfazer a demanda de um cliente, melhorar o

desempenho da cadeia de suprimentos e foi concebido para ajudar a refinar a estratégia da

SCM. Os principais processos considerados no modelo são os processos centrais da empresa:

plan - planejar, source - comprar, make - fabricar, deliver – entregar e return - retornar. Os

limites do modelo foram claramente definidos "Desde o fornecedor do fornecedor até o

cliente do seu cliente" que pode ser interno ou externo, conforme observado na Figura 2

(MEDINI; BOUREY, 2012). Figura 2 - Modelo SCOR

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Fonte: SCOR 9.0 overview booklet (2013)

O detalhamento dos cinco processos distintos do modelo SCOR (SCOR 9.0 OVERVIEW

BOOKLET, 2013) é:

Plan: planejamento das necessidades de compra, produção e entrega de acordo com a

demanda;

Source: aquisição de produtos e serviços para atender à demanda prevista;

Make: processo que transforma a matéria-prima/produto em produto acabado para

atender a demanda planejada;

Deliver: processo que fornece produtos acabados e serviços para atender a demanda

planejada, geralmente inclui gestão de pedidos, gerenciamento de transporte e gestão

de distribuição;

Return: processo associado com o retorno ou recebimento de produtos devolvidos por

qualquer motivo.

2.3 Treinamento em SCM

Devido à importância da SCM para as empresas que estão integradas em cadeias globais de

valor tem crescido em importância o treinamento em SCM. Um dos mais relevantes baseia-se

na preparação para se tornar Certified in Production and Inventory Management (CPIM) -

certificado em gestão de produção e estoques da The Association for Operations Management

(APICS). Vale notar que a missão da APICS é construir e validar o conhecimento de

gerenciamento de cadeia de suprimentos e gestão de operações, oferecendo à comunidade, aos

membros associados e clientes, programas de certificação. A certificação é considerada como

vantagem estratégica necessária no mundo globalizado, no qual a taxa de mudança

tecnológica e organizacional acelera exponencialmente (LUMMUS, 2007).

O principal objetivo do programa CPIM é contribuir no campo da terminologia, conceitos e

estratégias relacionadas à gestão da demanda, compras, planejamento com o fornecedor,

planejamento de materiais, planejamento de capacidade, planejamento de vendas e operações,

planejamento mestre de produção, medidas de desempenho, relacionamento com

fornecedores, controle de qualidade e melhoria contínua (CPIM BROCHURE, 2011).

O primeiro passo do processo de certificação é o curso de preparatório, os principais

benefícios individuais esperados após treinamentos são (CPIM BROCHURE, 2011):

Aumento do conhecimento funcional de produção e gestão de estoques;

Melhoria da eficiência da cadeia de suprimentos da sua organização;

Simplificação as operações através de uma previsão acurada;

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Prevenção de resultados com mais precisão;

Maximização do retorno sobre o investimento em sistemas e tecnologias;

Aumento a lucratividade por meio da otimização de investimentos e da organização de

estoque;

Aumento a credibilidade entre os colegas, empregadores e clientes;

Compreensão das várias funções dentro de uma empresa (tais como compras,

planejamento, engenharia, finanças) que estão ligados pelo sistema ERP.

Os principais benefícios organizacionais esperados após o treinamento são (CPIM

BROCHURE, 2011):

Conhecimento comprovado e habilidades organizacionais estrategicamente para

agilizar operações;

Ferramentas para administrar eficazmente as atividades da cadeia de suprimentos,

onde fornecedores, fábricas, distribuidores e clientes estão em sintonia;

Capacidade de interagir com os recursos existentes e de seu sistema de ERP para

aumentar a eficiência do local de trabalho;

Habilidades para criar consistência e incentivar a colaboração através de melhores

práticas, terminologia comum, e comunicação em toda a empresa;

Conhecimento para aplicar os princípios de software ERP que cobrem várias funções

dentro de uma empresa, por exemplo: compras, planejamento, finanças e engenharia.

2.4 Método de avaliação multicritério

O treinamento em SCM pode ser avaliado utilizando-se de critérios qualitativos que permitam

avaliar quantitativamente a mudança atribuída ao treinamento nos vários processos da SCM,

que foram alvo do curso.

AHP é o método mais aplicado na solução de problemas multicritério (WALLENIUS, et al.,

2008). Também é um método bastante utilizado no ambiente corporativo, em parte, devido à

disponibilidade de empresas de consultoria (INCORPORATED EXPERT CHOICE, 2009) e

de software (CREATIVE DECISIONS FOUNDATION, 2009) que tem disseminado e

facilitado a sua aplicação. Contudo, este método tem sido alvo de críticas no meio acadêmico

(BANA E COSTA; VANSNICK, 2008). Boa parte dessas críticas é totalmente indevida e já

foi refutada (GARUTI; SALOMON; SPENCER, 2008).

Basicamente, uma aplicação do método AHP deve desenvolver uma hierarquia, construir a

matriz de julgamento par a par, calcular a prioridade de cada critério, verificar a consistência

dos julgamentos, e desenvolver o ranking de prioridades. A Figura 3 apresenta o fluxo de

aplicação do Método AHP (HO, 2008).

Figura 3 - Fluxo de aplicação do AHP

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Fonte: adaptado de Ho (2008)

A Figura 4 apresenta uma estrutura hierárquica genérica. Observa-se no primeiro nível

hierárquico, o objetivo da tomada de decisão. No segundo nível estão os critérios e no último

estão as alternativas (SALGADO; SALOMON; MELLO, 2012). Figura 4 - Estrutura hierárquica genérica

Fonte: Salgado, Salomon e Mello (2012)

Após o estabelecimento da estrutura hierárquica, o próximo passo é executado por

comparações entre os critérios, dois a dois, inseridas em uma matriz de comparações, A. O

vetor de pesos dos critérios é obtido pela normalização do autovetor direito, w, da matriz de

comparações. Nas aplicações do AHP, as comparações são baseadas na Escala Fundamental

de Números Absolutos (SAATY, 2010), uma escala linear de 1 a 9, apresentada na Tabela 1.

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Tabela 1 - Escala Fundamental de Números Absolutos

Intensidade de importância Definição

1 Igual

2 Fraca

3 Moderada

4 Um pouco mais do que moderada

5 Forte

6 Um pouco mais do que forte

7 Muito forte

8 Fortíssima

9 Extrema

1,1 a 1,9 Quando os elementos comparados forem próximos,

pode-se adicionar uma casa decimal

Fonte: Adaptado de Saaty (2010)

Além do uso da Escala Fundamental, nas aplicações do AHP, considera-se a reciprocidade

nas comparações, ou seja, aij = 1/aji. Mas como, geralmente, as matrizes de comparações são

preenchidas por completo, ainda assim há comparações redundantes, quando se tem mais de

dois critérios. Por exemplo, a comparação entre os Critérios 1 e 3 (a13) pode ser obtida com a

multiplicação da comparação entre os Critérios 1 e 2 (a12) pela comparação entre os Critérios

2 e 3 (a23). Essa multiplicação também é conhecida como Relação de Transitividade

(GOMES; GOMES; ALMEIDA, 2012).

Uma matriz de comparações que satisfaça todas as possíveis relações de transitividade é uma

matriz 100% consistente. O autovalor de uma matriz de comparações consistente será

λ max = n. . O índice de consistência, µ = (λ max – n )/(n – 1) , é uma “medida da consistência

ou da confiabilidade da informação fornecida para o preenchimento de uma matriz de

comparações” (SAATY, 1977). É desejável que o índice de consistência esteja próximo de

zero. Se não, os julgamentos podem ser revistos para melhorar a consistência. Após o

estabelecimento do vetor de pesos dos critérios, devem ser estabelecidos valores de

desempenho ou preferência para cada alternativa de acordo com cada critério. Caso existam

valores numéricos como, por exemplo, o preço, estes vetores podem ser utilizados. Entretanto,

os valores devem ser normalizados, sua soma deve ser igual a 1. Caso não se disponha de

valores numéricos, então o mesmo procedimento para a obtenção dos pesos dos critérios pode

ser adotado. Assim, novas matrizes de comparações podem ser necessárias.

O conjunto de vetores de desempenho das alternativas forma a Matriz de Decisão, D. Da

multiplicação da matriz de decisão pelo vetor de pesos dos critérios, obtém-se o vetor de

decisão, x. A alternativa que possuir o maior componente no vetor de decisão é a alternativa

que deve ser selecionada.

3. Avaliação de treinamento em supply chain management

3.1 Apresentação da empresa

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A empresa é uma multinacional presente em 170 países com produção em 40, cuja unidade

localizada em São Paulo conta com cerca de 4.000 colaboradores. Ela participa entre as 10

principais empresas do setor químico e petroquímico. Com um portfólio de 8.000 produtos, a

empresa tem oferecido importantes contribuições para os segmentos de produtos para

agricultura, químicos, produtos de performance, plásticos, petróleo e gás. A empresa está

presente em quatro continentes. Possui dez áreas de supply chain distintas, a área pesquisada

foi a supply chain corporativo que implantou há um ano o programa de treinamentos para a

certificação CPIM da APICS composto de 5 módulos com 32 horas cada, totalizando 160

horas. Mais de 100 colaboradores já participaram do programa. A empresa utiliza avaliação

de reação de treinamento composto pela escala likert na qual obtém a opinião dos

colaboradores sobre: o local e organização do treinamento; a carga horária adequada;

conteúdo programático; a condição de aplicar os conhecimentos adquiridos no dia-a-dia; o

estímulo à aprendizagem pelo instrutor; a clareza do instrutor ao expor o conteúdo. A empresa

não dispõe de modelo estruturado que avalie os benefícios individuais e organizacionais

advindos do treinamento no dia-a-dia.

3.2 Modelo de avaliação do treinamento em SCM para a empresa

As perguntas mais frequentes relativas aos ganhos decorrentes do treinamento feitas pelos

gestores são: O treinamento em SCM traz benefícios individuais? Traz benefícios

organizacionais?

Pra responder essas questões elaborou-se o processo de avaliação de treinamento em SCM,

cuja idéia central é avaliar o treinamento em termos do seu impacto em termos de benefícios

individuais e organizacionais. Ou seja, o modelo pretende revelar quão importante é o curso

para a obtenção de benefícios individuais em relação aos benefícios coletivos ou

organizacionais. As principais etapas do processo passam pela identificação do modelo,

formulação dos critérios, identificação das alternativas, aplicação do método para a solução e

a avaliação das alternativas, apresentadas na Figura 5. Figura 5 - Etapas do processo de avaliação de treinamento em SCM

Fonte: Autoria própria

Aqui, propõe-se adotar como critérios (plan, source, make e deliver) os benefícios individuais

e organizacionais do treinamento, conforme descritos na seção 2, mensurados nos processos

do SCOR, considerando-se como subcritérios os respectivos subprocessos. As alternativas

são os benefícios organizacionais e individuais esperados em função do treinamento. Assim, o

modelo proposto para avaliar o treinamento em SCM é apresentado na Figura 6. Vale notar

que esta proposta visa identificar se houve benefícios e se esses tiveram um impacto relevante

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na organização, ou seja, se houve uma incorporação dos conhecimentos e habilidades

adquiridos pelos funcionários no âmbito dos processos e subprocessos da empresa. Figura 6 - Modelo de avaliação de treinamento em SCM

Fonte: adaptado de Urbina e Lima (2009).

A formulação dos critérios, subcritérios e identificação das alternativas, foram efetuadas

seguindo os passos do processo de avaliação de treinamento em SCM, e o seu detalhamento

pode ser observado na Figura 7. Figura 7 - Detalhamento do objetivo, critérios, subcritérios e alternativas

Objetivo Critério Subcritério Alternativas

PD - Planejamento de demanda

PM - Planejamento de materiais

PP - Planejamento de produção

AM - Aquisição de matéria-prima Benefícios

AP - Aquisição de produto para revenda individuais

AS- Aquisição de serviços

PF - Programação fina da produção

EP - Execução da produção Benefícios

Enp -Envase/embalagem de produtos organizacionais

Pdi - Planejamento de distribuição

GP -Gerenciamento de pedidos

GT -Gerenciamento de transporte

Avaliação de

treinamento em

Supply chain

management

Plan

Source

Make

Deliver

Fonte: Autoria própria

Nesta etapa da pesquisa visou-se à aplicação do método AHP de acordo com o processo da

Figura 5. Para a validação do modelo de avaliação proposto utilizou-se a opinião de um

Especialista em SCM que participou dos treinamentos aplicados. A primeira atividade

desenvolvida na aplicação do AHP foi à criação da hierarquia, contendo o objetivo, critérios,

subcritérios e alternativas especificadas como benefícios individuais e organizacionais que

podem ser observadas na Figura 8. Figura 8 - Hierarquia avaliação de treinamento em supply chain management

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Fonte: Autoria própria

Posteriormente, a partir da experiência do Especialista, efetuaram-se os julgamentos par a par

para os subcritérios plan, source, make e deliver, e verificou-se a consistência na medida do

desenvolvimento. Na Tabela 2 pode ser observado que os julgamentos para os subcritérios de

plan, foram efetuados e considerados válidos com consistência de 0,033 < 0,1. Tabela 2 - Julgamentos para os subcritérios de plan

Matriz de julgamento PD PM PP

PD 1 1/5 1/3

PM 5 1 3

PP 3 1/3 1

Fonte: Autoria própria

Na Tabela 3 podem ser observados os julgamentos para os subcritérios de source, que foram

efetuados e considerados válidos com consistência de 0,056 < 0,1. Tabela 3 - Julgamentos para os subcritérios de source

Matriz de julgamento AM AP AS

AM 1 1/7 1/3

AP 7 1 5

AS 3 1/5 1

Fonte: Autoria própria

Na Tabela 4 podem ser observados os julgamentos para os subcritérios de make, que foram

efetuados e considerados válidos com consistência de 0,033 < 0,1. Tabela 4 - Julgamentos para os subcritérios de make

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Matriz de julgamento PF EP Enp

PF 1 1/3 1/5

EP 3 1 1/3

Enp 5 3 1

Fonte: Autoria própria

Na Tabela 5 podem ser observados os julgamentos para os subcritérios de deliver, que foram

efetuados e considerados válidos com consistência de 0,056 < 0,1. Tabela 5 - Julgamentos para os subcritérios de deliver

Matriz de julgamento Pdi GP GT

Pdi 1 1/5 1/7

GP 5 1 1/3

GT 7 3 1

Fonte: Autoria própria

A matriz de decisão Tabela 6, apresenta a avaliação dos critérios mostrando resultados

tangíveis para os benefícios organizacionais e representado pelo critério de make com 70%. Tabela 6 - Matriz de decisão

Benefícios Plan Source Make Deliver

Individuais 58% 65% 30% 41%

Organizacionais 42% 35% 70% 59%

Fonte: Autoria própria

Efetuando-se o cálculo da matriz de decisão da Tabela 6 obtêm-se o vetor prioridade.

Apresentou o resultado de 52% para benefícios organizacionais, seguido de 48% para

benefícios individuais. Assim, com base nesta, o treinamento em SCM apresentou 4 pontos

percentuais de vantagem nos benefícios organizacionais em comparação aos benefícios

individuais. O resultado foi apresentado ao Especialista da empresa objeto de estudo que

validou como consistente e aplicável na prática. Não foi utilizado nenhum método formal de

validação.

4. Considerações finais

A proposta deste artigo foi apresentar um procedimento utilizando método de tomada de

decisão multicritério na avaliação de treinamento em SCM numa indústria química. Em

respostas as perguntas; o treinamento em SCM traz benefícios individuais? Traz benefícios

organizacionais? Definiram-se as etapas do processo de avaliação de treinamento.

Posteriormente foi definido também o modelo de avaliação de treinamentos em SCM com o

uso dos processos e subprocessos do Modelo SCOR, plan, source, make e deliver, utilizando-

se o impacto do treinamento nestas estruturas organizacionais como critérios e subcritérios de

avaliação do curso. As alternativas foram modeladas em termos de benefícios individuais e

organizacionais esperados em decorrência do treinamento.

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Na etapa seguinte optou-se pelo Método AHP, amplamente utilizado em aplicações da cadeia

de suprimentos. Foi efetuada a modelagem da estrutura contendo os critérios, subcritérios e

alternativas. Nessa etapa utilizou-se a opinião de um especialista da empresa objeto de estudo

para efetuar os julgamentos par a par dos critérios, subcritérios e alternativas.

O resultado principal da análise revela que o treinamento contribui de forma fundamental para

a organização, uma vez que o vetor prioridade apresentou 52% para benefícios

organizacionais, seguido de 48% para benefícios individuais. Portanto, as lideranças da

empresa podem ficar tranqüilas, pois além dos ganhos de natureza individual, existe um

retorno comprovado dos investimentos realizados em treinamento em SCM, medido em

termos de benefícios organizacionais, que ficam incorporados nos principais processos e

subprocessos da organização.

Desta forma, em uma aplicação real evidenciou-se a importância de se adotar um

procedimento consistente, independente das características do ambiente. Como proposta para

novas pesquisas, pode-se ampliar o estudo considerando todos os colaboradores da empresa

objeto de estudo que participaram do treinamento em SCM.

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