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Fernando de Freitas AVALIAÇÃO DA ESTRUTURA DA COMUNIDADE DE BACTERIOPLÂNCTON NA REGIÃO DA RESERVA BIOLÓGICA MARINHA DO ARVOREDO E ENTORNO Trabalho de Conclusão do Curso de Graduação em Ciências Biológicas do Centro de Ciências Biológicas da Universidade Federal de Santa Catarina como requisito para a obtenção do Título de Bacharel em Ciências Biológicas. Orientadora: Prof a . Dr a . Maria Luiza Schmitz Fontes Florianópolis 2019

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Fernando de Freitas

AVALIAÇÃO DA ESTRUTURA DA COMUNIDADE DE BACTERIOPLÂNCTON NA

REGIÃO DA RESERVA BIOLÓGICA MARINHA DO ARVOREDO E ENTORNO

Trabalho de Conclusão do Curso de

Graduação em Ciências Biológicas do Centro

de Ciências Biológicas da Universidade

Federal de Santa Catarina como requisito

para a obtenção do Título de Bacharel em

Ciências Biológicas.

Orientadora: Profa. Dra. Maria Luiza Schmitz

Fontes

Florianópolis

2019

2

3

4

Fernando de Freitas

Avaliação da estrutura da comunidade de bacterioplâncton na região da

Reserva Biológica Marinha do Arvoredo e entorno

Este Trabalho Conclusão de Curso foi julgado adequado para obtenção do Título de

Bacharel em Ciências Biológicas e aprovado em sua forma final pelo Curso de

Ciências Biológicas da Universidade Federal de Santa Catarina

Florianópolis, 05 de julho de 2019.

________________________

Prof. Carlos Roberto Zanetti

Coordenador do Curso

Banca Examinadora:

________________________

Prof.ª Dr.ª Maria Luiza Schmitz Fontes

Orientadora

________________________

Prof.ª Dr.ª Andrea Santarosa Freire

Universidade Federal de Santa Catarina

________________________

Prof.ª Dr.ª Melissa Carvalho

Universidade Federal de Santa Catarina

5

For those who wander.

6

AGRADECIMENTOS

Aos meus pais Olindina e João, por tudo nessa vida;

À minha irmã Rosana, por me motivar nessa corrida.

À grande Malu, por ter sido uma mãezona;

Aos meus amigos Rafa, Cadinho e Gui, pelos churras bacanas.

À UFSC, por ser minha segunda casa nesses anos;

À Maynooth University, pelo período insano.

Aos meus amigos do Vadio’s TeAm (Mineiro, Patola, Boca, Luizão,

Paquiderme e Apito) por todos os momentos compartilhados durante a

graduação;

Ao Otávio, Carlos e Parrudo, amigos que me incentivaram perto do final,

juntamente com o Lucão.

Aos veteranos Renan Pacheco e Gabi Alanís, pelas dicas de como seriam as

provas e trabalhos;

Ao grande Chico, que sempre mandava todo mundo pra Casa do Car****.

Aos amigos de longa data Cilhex, Serrano, Pedro e Jão;

Ao inefável professor Zanetti, que sempre me estendeu a mão.

Aos professores Elisandro, Selvino e Paulinho por serem mais zoeiros;

Ao professor Falkenberg, que não era zombeteiro.

Ao professor Renato, sempre tão pertinente;

7

Ao professor Kay pelas piadas indecentes.

Ao professor James McInerney, por me apresentar a Bioinformática;

Ao professor Luciano Alejandro, por me ajudar na matemática.

À professora Carla, Letícia e ao Mateus, pelos momentos que a monitoria de

Biofísica me deu;

Ao Alex, que nos dados estatísticos mexeu (e, obviamente, ao Projeto MAArE,

que os dados para análise forneceu);

À turma lipídio (11.2), que sempre manteve sua personalidade;

A todos os demais colegas, amigos, professores e familiares, pela

cumplicidade.

Também ao Iron Maiden, Mumford & Sons, Of Monsters and Men e Kiko

Loureiro;

Pois suas músicas foram essenciais para completar este TCC ligeiro.

Ao Douglas Adams, pelas histórias fantásticas;

E também, é claro, pelo Guia do Mochileiro das Galáxias.

Ao StoneD YoDa por me fazer rir quando precisava;

À Maghla e à Fleeur, também pelas risadas.

À CAPEs, pelo Ciência Sem Fronteiras. Lá, conheci estas pessoas de grande

coração: Ao Tony, Emily, Rafa, Gaudério, Mary, Renato, Manicaca, Sean e

Tiagão.

8

9

‘Would you tell me, please, which way I ought to go from here?'

'That depends a good deal on where you want to get to,' said the Cat.

'I don't much care where’ - said Alice.

'Then it doesn't matter which way you go,' said the Cat.

'- so long as I get SOMEWHERE,' Alice added as an explanation.

'Oh, you're sure to do that,' said the Cat, 'if you only walk long enough.’

― Lewis Carroll, Alice in Wonderland.

10

LISTA DE FIGURAS

Figura 1………………………………………………………………………………………21

Figura 2………………………………………………………………………………………23

Figura 3………………………………………………………………………………………24

Figura 4………………………………………………………………………………………28

Figura 5………………………………………………………………………………………29

Figura 6………………………………………………………………………………………31

Figura 7..…………………………………………………………………………………….32

Figura 8..…………………………………………………………………………………….33

Figura 9..…………………………………………………………………………………….36

Apêndice 8.1..………………………………...…………………………………………….48

Apêndice 8.2.……….………………………...…………………………………………….49

11

LISTA DE TABELAS

Tabela 1………………………………………………………………….………………..25

Tabela 2…………………………………………………………………….……………..26

Tabela 3…………………………………………………………………….…………..…34

Tabela 4…………………………………………………………………….…………..…34

Tabela 5…………………………………………………………………….…………..…35

Tabela 6…………………………………………………………………….…………..…35

Tabela 7 …………………………………………………………………….………….…36

12

LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

AEA Agência Europeia do Meio Ambiente

ANOVA Análise de variância

APM-MOD Matéria orgânica dissolvida de alto peso molecular

ACAS Água Central do Atlântico Sul ou SACW South Atlantic Central Water

BIOM Biological Observation Matrix

BMP Brazilian Microbiome Project

BPM- MOD Matéria Orgânica dissolvida de baixo peso molecular

CB Corrente do Brasil

FAPEU Fundação de Amparo à Pesquisa e Extensão Universitária

GOM Grupo de Oceanografia Microbiana

ICMBio Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade

MAArE Projeto de Monitoramento Ambiental da Reserva Biológica Marinha do

Arvoredo e Entorno

NASA National Aeronautics and Space Administration

MOD Matéria orgânica dissolvida

OD Oxigênio dissolvido

OTU Operational Taxonomic Unit

PEAR Paired-End reAd mergeR

PPW Plumas de Água da Plata

PRIMER Plymouth Routines In Multivariate Ecological Research

QIIME (pronuncia-se ‘Tchaime’) Quantitative Insights Into Microbial Ecology

REBIO Arvoredo Reserva Biológica Marinha do Arvoredo

Tukey's HSD Honestly significant difference

UC Unidade de Conservação

USEARCH - Ultra-fast sequence analysis

ZC Zona Costeira

13

SUMÁRIO

RESUMO ……………………………………………………..……………….……14

ABSTRACT…………………………………………………..………………….….15

INTRODUÇÃO…………………………………………………..……………….....16

OBJETIVOS…………………………………………………..………………….…20

Principal…………………………………………………..…………….……..20

Específicos…………………………………………………..………………..20

MATERIAL E MÉTODOS………………………………………..………..……...20

Área de estudo, amostragem e extração de DNA………………………..20

Sequenciamento do Gene 16s rRNA e análise de dados……………… 22

RESULTADOS & DISCUSSÃO…………………………………………………..24

Resultado do Workflow de bioinformática…………………………………24

Metadados das amostras…………………………………………….……..25

Distribuição Bacteriana (Diversidade Taxonômica)…………………...…27

Verão…………………………………………………..……………….28

Inverno…………………………………………………..………..……31

Análises estatísticas………….…………..…………………………………33

Análises estatísticas de Filo………………………….…………...…33

Análises estatísticas de Família…………………….…………….…35

Distribuição espacial……………………………………………….…36

CONCLUSÕES………………………………………………...……………......…40

REFERÊNCIAS…………………………………………………..……….….….....42

APÊNDICE…………………………………………………..……….….…........…48

Principais Táxons.......................…………………………………………..48

Análises Estatísticas………………………………………………………..49

14

RESUMO

Nas últimas décadas, o estudo de microrganismos se intensificou devido a sua

importância nos processos ecológicos que afetam direta ou indiretamente a vida no

planeta Terra. O bacterioplâncton, um conjunto de microorganismos abundante na

coluna d’água, possui um papel fundamental na ciclagem de matéria orgânica dos

oceanos, influenciando mudanças climáticas e alterando a distribuição da biomassa

em redes tróficas. Mesmo com este papel imprescindível, o conhecimento e

entendimento destes seres em ambientes marinhos são escassos, especialmente

em território brasileiro. Dado o exposto, o presente estudo teve como objetivo

principal caracterizar a comunidade do bacterioplâcton na região da REBIO Arvoredo

e entorno através do uso de um Workflow com ferramentas de bioinformática. Os

objetivos específicos foram: 1. verificar se há diferença na estrutura da comunidade

do bacterioplâncton entre verão e inverno; 2. verificar se o filo Cyanobacteria

predomina no verão. Os filos Proteobacteria, Cyanobacteria e Bacteroidetes

contribuíram com um total de 84,6% e 87% dos filos encontrados nas amostras de

verão e inverno, respectivamente. A estrutura da comunidade do bacterioplâncton

mostrou-se diferente entre verão e inverno. No geral, Cyanobacteria foi o segundo

filo mais abundante tanto no período de verão quanto no inverno. No entanto, ao

contrário do esperado, Cyanobacterias foram os microrganismos mais abundantes

na superfície das estacões 16 e 14 (estacões mais offshore e dentro da REBIO

Arvoredo, respectivamente), atingindo 66% e 48% do bacterioplâncton total. Por

outro lado, no verão, a sua contribuição chegou no máximo a 36% da comunidade

total. Cyanobacteria, no entanto, predominou no inverno do que no verão e em

profundidades acima de 5 metros, principalmente próximo à costa.

Palavras-chave: Bacterioplâncton; comunidade; zonas costeiras; Proteobacteria;

Cyanobacteria; REBIO Arvoredo; MAArE.

15

ABSTRACT

In the last decades, the study of microorganisms has been intensified due to its

importance in ecological processes that directly or indirectly affect life on planet

Earth. Bacterioplankton, a group of microorganisms abundant in the water column,

plays a fundamental role in the cycling of organic matter in the oceans, influencing

climate changes and altering the distribution of biomass in food webs. Even with this

essential role, the knowledge and understanding of these organisms in marine

environments are scarce, especially in Brazilian coast. Given the above, the main

objective of this study is to characterize the bacterioplankton community in the region

of REBIO Arvoredo and surroundings through the use of a Workflow with

bioinformatics tools. The specific objectives are: 1. to verify if there is difference in the

community structure of bacterioplankton between summer and winter; 2. verifiy if

Cyanobacteria predominates in the summer. Proteobacteria, Cyanobacteria and

Bacteroidetes represented 84.6% and 87% of total filos in summer and winter,

respectively. The bacterioplankton structure differed between summer and winter

compostion. Cyanobacteria was the second most dominant phylum in both summer

and winter. Therefore, Cyanobacteria were the most abundant microorganisms in the

surface waters of stations 16 and 14 (offshore stations and inside the REBIO

Arvoredo, respectively), reaching up to 66 and 48% of total bacterioplankton. On the

other hand, their maixumum contribution in summer got up to 36%. Cyanobacteria

predominanted in the top 5 meters near the coast, in winter and not in summer, as

hypothesised.

Keywords: Bacterioplankton; community; coastal areas; Proteobacteria;

Cyanobacteria; REBIO Arvoredo; MAArE.

16

1. INTRODUÇÃO

Nas últimas décadas, a busca pelo conhecimento sobre as relações

ecológicas entre o meio ambiente e microrganismos de ambientes aquáticos se

intensificou, impulsionada, entre outros motivos, pela necessidade de compreender

o papel destes organismos nos oceanos (AZAM et al., 1994). Abordagens

promissoras que visam compreender estas relações ecológicas são amplamente

estudadas ao redor do mundo, buscando elucidar a composição, estrutura e

estabilidade da comunidade destes seres, assim como sua função, conexão e

participação nos ecossistemas marinhos (KIRCHMAN et al., 2008). Um dos

conjuntos de organismos aquáticos e microscópicos mais abundantes que vivem

dispersos na coluna d’água são chamados de picoplâncton, organismos entre 0.2 e

2 µm de tamanho (SIEBURTH & SMETACEK, 1978). O bacterioplâncton

componente principal do picoplâncton, pertencentes tanto aos domínios Bacteria e

Archea, possui um importante papel nos ciclos biogeoquímicos de elementos

essenciais, como carbono e nitrogênio (AZAM et al., 1994). Sua importância nas

teias alimentares favoreceu a formulação da alça microbiana (POMEROY, 1974;

AZAM et al., 1983) que, basicamente, estabelece a reciclagem da matéria orgânica

dissolvida (MOD). Logo, estes microrganismos são essenciais para o funcionamento

de sistemas ecológicos aquáticos, pois reciclam a MOD no sistema e assim

fornecem a energia necessária para manutenção e estabilidade de níveis tróficos

superiores (AZAM et al., 1983). Com um tamanho médio entre 0,2 e 2,0 µm, sua

distribuição vai desde águas acumuladas em Bromélias até nas profundezas dos

oceanos (ESTEVES, 2011).

A zona de transição entre componentes puramente terrestres e puramente

marinhos na superfície da Terra é chamada de Zona Costeira (ZC). A riqueza e

diversidade de recursos encontrados nestas zonas atraíram assentamentos

populacionais em todo o mundo (CROSSLAND et al., 2005). De acordo com a

National Aeronautics and Space Administration (NASA), há aproximadamente

620.000 quilômetros de costa em todo o planeta Terra e mais de um terço da

população humana (quase 2,4 bilhões de pessoas) vive numa média de 100

quilômetros de uma zona costeira. A linha costeira da União Europeia, por exemplo,

estende-se por 68.000 quilômetros (AEA – Agência Europeia do Meio Ambiente). Já

o litoral brasileiro possui 7367 quilômetros de extensão (VITTE, 2003). Se incluirmos

17

suas linhas de costa adjacentes (como baías e reentrâncias), esse número pode

ultrapassar 8500 quilômetros. Sua divisão clássica e mais bem aceita é a de Silveira

(1964), que subdivide a costa brasileira em cinco grandes compartimentos: Litoral

Norte, Litoral Nordeste (ou de Barreiras), Litoral Oriental, Litoral Sudeste (ou de

Escarpas Cristalinas) e Litoral Sul ou Subtropical (TESSLER, 2005). Cada região

possui suas características e peculiaridades, abrigando um complexo ecossistema

de relevância ambiental. Por se diferenciarem consideravelmente em seus aspectos

físicos e químicos, alterações na quantidade e diversidade das populações de

microrganismos podem ocorrer nestas áreas (AZAM & FALFATTI, 2007).

Consequentemente, informações sobre microrganismos presentes no ecossistema

costeiro são essenciais para preservar o equilíbrio ambiental nestas regiões de

constante atividade humana e ecológica (GREGORACCI et al., 2012; GONÇALVES,

2009).

A diversidade do bacterioplâncton marinho em ambientes costeiros ao redor

do globo terrestre apresenta padrões similares onde predominam os grupos

taxonômicos Alpha-Proteobacteria, Gamma-Proteobacteria (ambos membros do filo

Proteobacteria) e Bacteroidetes. Estes grupos, somados, representam

aproximadamente 60% da comunidade bacterioplanctônica nos litorais leste da

Austrália, leste da Ásia, sul da África, sul do Atlantico, nordeste, sudeste e oeste da ŕ

América do Norte, oeste da América do sul e Hawaii (POMMIER et al., 2007). Estes

organismos, como citado anteriormente, possuem entre suas funções a capacidade

de reciclar a MOD, tornando-a acessível para diferentes níveis tróficos (ELIFANTZ

et al., 2007). As Alpha-Proteobacteria, por exemplo, contribuem mais eficientemente

na absorção da MOD de baixo peso molecular (BPM- MOD) como glicose e N-

acetilglucosamina (ELIFANTZ et al, 2005, 2007; COTTRELL & KIRCHMAN 2000).

A diversidade do bacterioplâncton marinho em ambientes costeiros brasileiros,

em comparação com trabalhos de ambientes costeiros ao redor do globo, é pouco

conhecida e estudada (GONÇALVES, 2009), grande parte devido a conflitos (ou até

mesmo falta) de interesse (muitas vezes político-econômico) relacionado às

pesquisas de microrganismos aquáticos (GONÇALVES, 2009). Os estudos

concentram-se em regiões de água-doce (como rios e lagos), ou regiões de grande

interesse/movimento humano - como a Baía de Guanabara no Rio de Janeiro

(GONÇALVES, 2009). Esta última possivelmente engloba grande parte dos estudos

sobre bacterioplâncton no Brasil porque é a baía costeira mais proeminente do país,

18

resultado de intensa atividade humana - econômica e comercial (GREGORACCI et

al., 2012; GONÇALVES, 2009; KJERFVE et al., 1997). A maioria dos estudos

realizados na última década nas regiões costeiras Sudeste e Sul do Brasil mostram

a influencia da Água Central do Atlântico Sul (ACAS), trazida pela Corrente do Brasil

(DA SILVEIRA et al., 2000) no verão (CURY et al., 2011; FONTES et al., 2018;

GREGORACCI et al., 2012, SILVEIRA et al., 2011; THOMPSON et al., 2010), e no

Sul, intrusão da massa de água oriunda da pluma do Rio da Plata (FONTES et al.

2018). Gregoracci et al. (2012), Thompson et al. (2010, 2011) e Miloslavich et al.

(2011) observaram em seus respectivos trabalhos que os filos Proteobacteria e

Bacteroidetes, no litoral brasileiro, representam mais da metade dos microrganismos

encontrados na ZC. Seus estudos taxonômicos e de revisão, concentrados na região

da Baía de Guanabara (lat. 22o 509 ́ S e long. 43o 109 ́ W) são alguns dos poucos

estudos sobre a estrutura da comunidade do bacterioplâncton marinho (Miloslavich

et al. 2011 apenas menciona brevemente microrganismos) realizados em território

brasileiro. Já para a região Sul do Brasil, Fontes et al. (2018) encontraram uma

possível diferença entre a abundância e biomassa de bacterioplâncton na região

entre as latitudes (aproximadamente) 26 e 29o S. No entanto, a estrutura da

comunidade não foi descrita naquele momento. Com a finalidade de compreender

melhor a distribuição do bacterioplâncton na região Sul brasileira, este estudo foi

realizado na Reserva Biológica Marinha do Arvoredo.

A Reserva Biológica Marinha do Arvoredo (REBIO Arvoredo) é uma Unidade

de Conservação (UC) federal administrada pelo Instituto Chico Mendes de

Conservação da Biodiversidade (ICMBio) e localiza-se a cinco quilômetros da costa

brasileira, mais precisamente entre os municípios de Florianópolis e Bombinhas no

estado de Santa Catarina, abrangendo uma área de 17.600 ha onde 98% está sob

as águas (MAArE, 2017). Com a necessidade de um programa de monitoramento

ambiental marinho na Região da REBIO Arvoredo (ICMBio), surgiu o Projeto de

Monitoramento Ambiental da Reserva Biológica Marinha do Arvoredo e Entorno

(MAArE), uma parceria realizada entre a Universidade Federal de Santa Catarina

(UFSC), a Fundação de Amparo à Pesquisa e Extensão Universitária (FAPEU) e a

Petrobrás, com duração prevista de 5 anos (2013- 2017). O MAArE foi então

composto de duas grandes áreas para monitorar animais, vegetais, processos

oceanográficos e ecossistemas da Reserva: Indicadores Biológicos e Parâmetros

Oceanográficos (MAArE, 2017). Com o objetivo primordial de levantar informações

19

necessárias para subsidiar a construção de um monitoramento básico dos costões e

águas da Reserva, o projeto MAArE, entre outros dados, coletou informações que

podem elucidar fatores que mais estejam influenciando a estrutura da comunidade

do bacterioplâncton na região da REBIO Arvoredo e entorno (MAArE, 2017).

As Cianobactérias, além de capazes de realizar fotossíntese, também são

componentes importantes na transformação da MOD nos oceanos (KIRCHMAN et

al., 2008). Em território brasileiro, há poucos estudos que elucidam a abundância e

importância destes seres em ambientes marinhos (GONÇALVES, 2009). Apesar de

estudos mais recentes (como os de FONTES et al. - 2018 e BRANDINI et al. - 2018)

demonstrarem como fatores externos (como intrusões de correntes marinhas) são

determinantes para a presença destes microrganismos na costa brasileira, ainda há

um longo caminho a ser percorrido em direção ao entendimento do papel destes

seres nos processos ecológicos oceânicos, especialmente em diferentes períodos

sazonais.

A utilização de programas/protocolos de bioinformática por pesquisadores das

Áreas de Ciências Biológicas tornou-se fundamental devido a complexidade e

amplitude dos dados utilizados em estudos ecológicos (JONES et al., 2006).

Cientistas que buscam uma maneira mais robusta de analisar seus dados

frequentemente aprendem a usar programas ou linguagens de programação como

“R Statistical Package” (http://www.r-project.org) ou Python (JONES et al., 2006).

Contudo, muitos pesquisadores procuram utilizar metodologias de bioinformática

prontas, não adaptando o método de acordo com suas necessidades devido a falta

de conhecimento em informática/linguagens de programação (JONES et al., 2006),

perdendo assim a possibilidade de atingir melhores resultados em suas pesquisas.

Dado o exposto, o presente estudo visa como objetivo principal caracterizar a

comunidade do bacterioplâcton na região da REBIO Arvoredo e entorno; utilizando

um Workflow com ferramentas de bioinformática formulado e otimizado para a

análise dos dados coletados; corroborar com estudos já realizados no Brasil e no

mundo e elucidar a estrutura da comunidade do bacterioplâncton na área estudada.

20

2. OBJETIVOS

2.1 Principal

Caracterizar a comunidade do bacterioplâcton na região da REBIO Arvoredo e

entorno.

2.2 Específicos

- Aprimorar/otimizar o Workflow de bioinformática criado e utilizado para obtenção

dos dados analisados no presente estudo;

- Verificar se há diferença na estrutura da comunidade do bacterioplâncton entre

verão e inverno (2015/2016);

- Verificar se Cianobactérias predominam no verão;

- Verificar se existe diferença espacial na estrutura da comunidade do

bacterioplâncton (em profundidade).

3. MATERIAIS E MÉTODOS

3.1 Área de estudo, amostragem e extração de DNA

Um total de 15 amostras foram coletadas pela embarcação oficial do projeto

MAArE nos períodos de verão (9 amostras) e inverno (6 amostras) do ano de 2016

(inverno – dias 3, 4 e 5 de agosto; verão – dias 16, 17 e 18 de fevereiro). No período

de verão foram coletadas amostras em três profundidades: superfície, meio e fundo

nas estações oceanográficas 10, 14 e 16, enquanto no período de inverno, apenas

amostras de superfície e fundo foram coletadas - também nas estações

oceanográficas 10, 14 e 16 (Figura 1). As amostras da estação 10 foram coletadas

21

nas profundidades de 0, 2 e 4 metros (sup, mid e fun, respectivamente); onde a

profundidade máxima do local era de 7m. As amostras da estação 14 foram

coletadas nas profundidades de 0, 10 e 15 metros (sup, mid e fun, respectivamente),

com profundidade máxima do local =17m. As amostras da estação 16 foram

coletadas nas profundidades de 0, 15 e 45 metros (sup, mid e fun, respectivamente),

com profundidade máxima do local = 53m). Os dados abióticos e bióticos coletados

foram disponibilizados pela pesquisadora Dra. Andrea Santarosa Freire e analisados

pelo Grupo de Oceanografia Microbiana da UFSC durante a realização do projeto de

pesquisa BioEnergia Lagoa. As amostras de água foram coletadas em garrafas van

dorn para análise de nutrientes, filtradas em laboratório com filtros de vidro 0.45 µm

e congeladas a -20 °C. As amostras para extração de DNA do bacterioplancton

foram mantidas refrigeradas até laboratório onde 300-500 mL foram filtradas em

filtros de membrana de porosidade de 0.2 µL, em duplicata, através do PowerSoil®

DNA Isolation Kit (MO BIO Laboratories, Inc., USA), com a adição prévia de um

banho maria em 65 °C; O DNA foi então quantificado por fluorometria (Thermo-

Fisher Qubit® 2.0).

Figura 1: Localização de amostragem. Distribuição das estações oceanográficas do Projeto MAArE©.

A região demarcada em amarelo é referente a REBIO Arvoredo. As amostras analisadas no presente

estudo foram coletadas nas estações 10 (próximo a costa catarinense), 14 (propriamente inserida

dentro da REBIO) e 16 (ponto mais afastado do litoral). As profundidades aproximadas, da costa para

o mar aberto, são respectivamente: entre 7 e 10m, entre 10 e 20m, entre 20 e 50m e maior ou igual

50m. Estações Simples = coletados somente dados físicos; Estações Completas = além dos dados

22

físicos, foram coletadas amostras de amostragem de água, plâncton e sedimento. Fonte: MAArE :

Monitoramento ambiental da Reserva Biológica Marinha do Arvoredo e entorno / Organização:

Bárbara Segal...[et al.]. – 1. ed. - Florianópolis : UFSC/MAArE, 2017. 268 p. : il., gráf., tab. Imagem

retirada da página 178.

3.2 Sequenciamento do Gene 16s rRNA e análise de dados

O sequenciamento foi realizado pela empresa Neoprospecta® através do

sequenciador de nova geração Illumina Miseq. A região de DNA amplificada foi um

fragmento multivariável V3-V4 do gene procariótico 16s rRNA, utilizando um

conjunto de primers U341F e 806R, os quais abrangem muito bem os grupos

Archaea e Bacteria com amplicons de aproximadamente 400bp (TAKAHASHI et al.,

2014). Após o recebimento dos dados brutos de sequenciamento, os arquivos de

leitura foward e reverse foram unidos através do software PEAR (Paired-End reAd

mergeR) versão 0.9.10 (ZHANG et al., 2014). O Workflow utilizado foi uma versão

do Brazilian Microbiome Project (BMP) descrita por PYLRO et al., 2016, modificada

pelo Grupo de Oceanografia Microbiana (GOM – UFSC). O principal software

utilizado para análise foi o QIIME (Quantitative Insights Into Microbial Ecology)

versão 1.9.1 (CAPORASO et al., 2010) seguido do USEARCH7 - Ultra-fast

sequence analysis (EDGAR, 2013). Todos os softwares foram instalados

nativamente e executados através da linha de comando (terminal) no Sistema

Operacional macOS El Captain (10.11.1 – 10.11.6). O Workflow completo pode ser

visualizado no repositório GitHub através do link

“https://github.com/vinisalazar/BioEnergia-Lagoa”. O grau de similaridade das OTUs

(Operational Taxonomic Unit) foi de 97%, as quais foram classificadas

taxonomicamente através da base de dados SILVA (High Quality Ribosomal RNA

Databases) 119 (QUAST et al., 2013). Ao final dos processos do Workflow criado,

foram geradas matrizes no formato .BIOM (do inglês Biological Observation Matrix,

um formato reconhecido como padrão pelos projetos Earth Microbiome Project e

Genomics Standard Consortium). As tabelas .BIOM foram então convertidas para

formato padrão de texto (.txt) e novamente convertidas para .xls ou .ods para

visualização em programas de edição de planilhas como Microsoft Excel ou

LibreOffice Calc. As análises estatísticas das tabelas dos quinze Filos e quinze

23

Famílias dominantes entre verão-inverno e superfície-fundo foram realizadas através

do Software TIBCO Statistica™ versão 13.3. Para maior informação, ver Apêndice

8.1 onde os filos e famílias encontram-se organizados em uma tabela. Os testes

aplicados foram: histograma com teste de Shapiro-Wilk (para verificação da

distribuição normal); análise de variância (ANOVA) para Filos e Famílias X

profundidade e estação; Kruskal-Wallis (equivalente ao ANOVA para dados não

paramétricos – fora da distribuição normal de Shapiro-Wilk); Levene´s (para

confirmar a realização de ANOVAs para todas as amostras) e Tukey HSD (para

verificar possíveis diferenças entre as amostras). A classificação multivariada

(espacial) foi realizada através do Software PRIMER (Plymouth Routines In

Multivariate Ecological Research) versão 6. Nas Figuras 2 e 3 podemos observar

esquemas dos processos de análise de dados para o Workflow e para as análises

estatísticas.

Figura 2: esquema do Workflow de Bioinformática. O QIIME (lê-se ‘tchaimê’) é o programa base no

qual todos os outros processos são inseridos. Pode-se fazer uma analogia ao programa R e suas

bibliotecas. Neste caso, o QIIME seria o terminal base e os programas/scripts inseridos seriam suas

bibliotecas. Ao contrário do R, que possui linguagem própria, o QIIME trabalha com a linguagem de

programação Python (no presente trabalho foi utilizado a versão 2.7).

24

Figura 3: Esquema do processo de análise de dados estatísticos. Primeiramente, para verificar se

as amostras apresentavam uma distribuição normal (necessária para a análise de variância –

ANOVA), aplicou-se o teste de Shapiro-Wilk. Nas amostras que apresentaram distribuição normal,

aplicou-se o teste ANOVA. Os dados que não apresentaram distribuição normal foram submetidos

ao teste de Kruskal-Wallis (equivalente ao teste de variância para dados não paramétricos); para

verificar a possibilidade de aplicação do teste ANOVA nas amostras não paramétricas, os testes de

Levene e Tukey HSD (honestly significant difference) foram realizados.

4. RESULTADOS E DISCUSSÃO

4.1 Resultado do Workflow de bioinformática

O Workflow de bioinformática resultou em 10 arquivos .BIOM (5 para cada

período - inverno e verão), os quais foram convertidos para .ods e visualizados no

software LibreOffice Calc. Os arquivos representam, respectivamente, a

porcentagem de Filo, Classe, Ordem, Família e Gênero encontradas em cada

período.

4.2 Metadados das amostras de verão e inverno

Os metadados das amostras de verão e inverno podem ser observados nas

Tabelas 1 e 2, respectivamente.

25

Tabela 1: Metadados das amostras de verão.

Estação Oceanográfica

Ano Mês Dia Hora:minuto Latitude Longitude Profundidade

Local (m) Profundidade de coleta (m)

Zona Temperatura Salinidade

10 2016 2 18 10:45:00 -27.2572 -48.5795 7.0 0.0 0 26.8946 33.7500

10 2016 2 18 10:46:00 -27.2572 -48.5795 7.0 2.0 1 26.7939 33.7661

10 2016 2 18 10:50:00 -27.2572 -48.5795 7.0 4.0 2 26.7201 33.8105

14 2016 2 17 14:35:00 -27.2797 -48.4229 17.0 0.0 0 25.9175 33.4115

14 2016 2 17 14:50:00 -27.2797 -48.4229 17.0 10.0 1 21.4450 35.1799

14 2016 2 17 14:55:00 -27.2797 -48.4229 17.0 15.0 2 19.5359 37.4484

16 2016 2 16 13:00:00 -27.2798 -48.2838 53.0 0.0 0 27.4038 34.6284

16 2016 2 16 13:16:00 -27.2798 -48.2838 53.0 15.0 1 25.4714 35.4441

16 2016 2 16 13:20:00 -27.2798 -48.2838 53.0 45.0 2 17.2946 35.5927

Oxigênio Dissolvido

(ml/L) DO (%)

AUO (%)

Fosfato (µM)

Silicato (µM)

Amônio (µM)

Nitrito+Nitrato (µM)

NP MST (mg/L) MSI

(mg/L) MSO (mg/L)

Cla SCOR/UNESCO

1966

4.4276 69.7420 30.2580 0.32 7.80 5.71 1.25 21.90 17.2857 13.4286 3.8571 1.91040

3.2839 82.1067 17.8933 0.38 1.78 5.02 0.90 15.42 9.5833 7.1667 2.4167 1.79297

3.8495 90.2753 9.7247 0.27 1.14 3.94 1.17 19.15 8.6154 6.3077 2.3077 2.12148

3.3271 54.5410 45.4590 0.27 2.02 2.20 0.83 11.20 6.5500 4.9500 1.6000 2.48746

2.5890 44.4050 55.5950 0.57 5.75 0.83 2.78 6.33 17.4000 14.4000 3.0000 7.06450

3.7255 77.3270 22.6730 0.96 14.72 13.50 0.49 14.58 9.4000 7.4667 1.9333 13.98269

4.8154 95.4950 4.5050 0.30 1.21 1.50 1.11 8.83 4.2333 3.4000 0.8333 1.69603

4.4097 99.4530 0.5470 0.92 0.57 1.62 0.46 2.28 9.4333 7.9667 1.4667 2.11896

2.6637 49.3641 50.6359 0.31 11.58 0.93 5.04 19.57 5.8800 4.6400 1.2400 6.85008

chla satélite (mg/L)

Fluorescência (CTD)

Secchi (m)

ZEU

coeficiente de

atenuação da luz (m^-

1)

coeficiente de

atenuação da luz -

satélite(m^-1)

Biovol Zooplancton

(mL/m³)

Biomassa úmida

Zooplancton (mg/m³)

Biomassa Seca

Zooplancton (mg/m³)

6.42000 1.87350 1.5 4.05 1.133 0.421 10.02 1854.49 249.90

2.42420

3.00190

1.91970 0.35280 7.5 20.25 0.227 0.158 2.83 543.86 62.31

1.72370

26

3.75500

0.53902 0.28650 16.0 43.20 0.106 0.074 0.48 103.29 7.11

0.82225

1.69960

Tabela 2: Metadados das amostras de inverno.

Estação Oceanográfica

Ano Mês Dia Hora:

minuto Latitude Longitude

Profundidade Local (m)

Profundidade de

coleta (m) Zona Temperatura Salinidade

10 2016 8 5 10:57:00 -27.2572 -48.5795 6.4 0.0 0 17.4298 31.8857

10 2016 8 5 10:57:00 -27.2572 -48.5795 6.4 4.0 2 17.4403 31.9842

14 2016 8 4 10:20:00 -27.2797 -48.4229 17.0 0.0 0 17.2771 32.4213

14 2016 8 4 10:20:00 -27.2797 -48.4229 17.0 14.0 2 17.2890 32.5180

16 2016 8 3 11:47:00 -27.2798 -48.2838 52.0 0.0 0 17.2986 32.6788

16 2016 8 3 11:47:00 -27.2798 -48.2838 52.0 48.0 2 17.7765 33.3583

Oxigênio Dissolvido

(ml/L) DO (%)

AUO (%)

Fosfato (µM)

Silicato (µM)

Amônio (µM)

Nitrito+Nitrato (µM)

NP MST

(mg/L) MSI

(mg/L) MSO (mg/L)

Cla SCOR/UNESCO

1966

4.4446 85.8439 14.156

1 0.37 14.56 1.88 1.66 9.51 27.7692 24.1538 3.6154 5.57020

4.5292 82.0543 17.945

7 0.33 10.77 0.90 0.90 5.47 17.3333 14.9333 2.4000 1.97179

4.8779 81.6509 18.349

1 0.37 9.57 1.10 1.32 6.60 28.4000 15.5333 12.8667 8.97955

4.6083 81.9670 18.033

0 0.35 8.93 1.44 1.91 9.54 19.2667 17.8000 1.4667 1.85328

5.0999 92.9339 7.0661 0.31 10.07 1.29 0.73 6.60 24.9000 21.2000 3.7000 8.61587

4.4295 80.2613 19.738

7 0.36 7.76 0.91 1.35 6.31 29.3000 26.6000 2.7000 1.25995

chla satélite (mg/L)

Fluorescência (CTD)

Secchi (m)

ZEU

coeficiente de

atenuação da luz (m^-

1)

coeficiente de

atenuação da luz -

satélite(m^-1)

Biovol Zooplancton

(mL/m³)

Biomassa úmida

Zooplancton (mg/m³)

Biomassa Seca

Zooplancton (mg/m³)

2.19380 1.8 4.73 0.971

0.24 114.54 12.38

1.70580

2.64000 3.3 8.78 0.523

0.14 92.89 5.66

0.83052

2.06960 3.2 8.64 0.531

0.12 105.19 4.76

1.11360

27

4.3 Distribuição Bacteriana (Diversidade Taxonômica)

O número total de OTUs definido pelo método aplicado no Workflow foi 739

(387 para verão e 352 para inverno). Das amostras totais, Archea representou

uma média de 2,95% (3,1%no verão e 2,8% no inverno), enquanto Bacteria

(maioria) representou uma média de 96,8% (96,6% no verão e 97% no inverno).

Apenas 0,25% das amostras totais (média) não foram identificados pelo método

empregado (0,3% no verão e 0,2% no inverno). Dos 96,8% de bactérias

identificadas, os 3 Filos predominantes foram, respectivamente, Proteobacteria

(média de 48% - 49,6 no verão e 46,4 no inverno), Cyanobacteria (média de 26,95%

- 23,2 no verão e 30,7 no inverno) e Bacteroidetes (média de 10,85% - 11,8 no

verão e 9,9 no inverno). Durante o período de verão, os valores máximos e mínimos

para os três Filos foram: Proteobacteria, verão, 62,6% máx (amostra de meio da

estação 14) e 32,2% mín (amostra de fundo da estação 14); inverno, 62% máx

(amostra de fundo da estação 10) e 23,1% mín (amostra de superfície da estação

16); Cyanobacteria, verão, 36,4% máx (amostra de fundo da estação 14) e 11,3%

mín (amostra de meio da estação 14); inverno, 65,7% máx (amostra de superfície da

estação 16) e 10,6% mín (amostra de fundo da estação 14); Bacteroidetes, verão,

18,2% máx (amostra de superfície da estação 10) e 3,1% mín (amostra de superfície

da estação 14); inverno, 13,7 máx (amostra de superfície da estação 10) e 4,8% mín

(amostra de superfície da estação 16).

As 6 maiores Classes encontradas no período de verão pertencem ao Reino

Bacteria. São, em ordem decrescente: Alpha-Proteobacteria (28,2%), Gamma-

Proteobacteria (17,9%), Chloroplast (14,2%), Flavobacteria (9,4%), Cyanobacteria

(9%) e Acidiomicrobia (8%). Dentre estas 6, duas pertencem ao Filo Proteobacteria

(Alpha & Gamma), duas pertencem ao Filo Cyanobacteria (Chloroplast &

Cyanobacteria), uma ao Filo Bacteroidetes (Flavobacteria) e uma ao Filo

Actinobacteria (Acidiomicrobia). Das 27 Classes restantes, nenhuma apresentou

percentagem maior que 3%; Quanto ao período de inverno, as 6 maiores Classes

foram, em ordem decrescente: Chloroplast (29,3%), Alpha-Proteobacteria (24,1%),

Gamma-Proteobacteria (17,7%), Flavobacteria (9,3%), Acidiomicrobia (6,1%) e

Delta-Proteobacteria (3,6%). Dentre estas 6, 3 pertencem ao Filo Proteobacteria

(Alpha, Delta e Gamma), uma ao Filo Cyanobacteria (Chloroplast), uma ao Filo

28

Bacteroidetes (Flavobacteria) e uma ao Filo Actinobacteria (Acidiomicrobia). Das 22

Classes restantes, nenhuma apresentou percentagem maior que 2,1%.

4.3.a Verão

Nas Figuras 4 e 5, podemos observar, respectivamente, a distribuição dos

Filos e das 15 Famílias predominantes (de um total de 117) para cada estação

oceanográfica.

Figura 4: Principais Filos de microrganismos encontrados na região da REBIO Arvoredo durante o

verão (estações oceanográficas 16, 14 e 10). Sup = Superfície, Mid = Meio e Fun = Fundo.

Proteobacteria foi o Filo predominante, com máximo de 62,6% do total do

bacterioplâncton presente na amostra de meio da estação 14. O mínimo de 32,2%

também foi observado na estação 14 (amostra de fundo). Em em média,

Proteobacteria representou 49,6% do total do bacterioplâncton geral no verão.

O segundo Filo mais abundante na região foi Cyanobacteria, apresentando

uma média de 23,2% do total do bacterioplâncton nesta época do ano, com um valor

máximo de 36,4% do total e mínimo de 11,3 % do total, novamente na mesma

estação 14; no entanto, o máximo foi encontrado na amostra de fundo (15 m) e o

mínimo na profundidade de 10 m (meio). Esses dois filos representaram um total de

72,8%, em media, do total de filos descritos. O terceiro Filo predominante foi

Bacteroidetes, apresentando uma média de 11,8% do total de bacterioplâncton,

30

estação 14 e mín de 6% na amostra de fundo da mesma estação), o cluster SAR86

(10%, com máximo de 11,5% na amostra de meio da estação 14 e mín de 3,4 na

superfície da mesma estação), Rhodospirillaceae (cerca de 6%, com pico de 8,6%

na superficie da estação 14 e mín de 2,9% na superfície da estação 10), cluster SAR

116 (cerca de 4%, com máx de 9,6% no fundo da estação 16 e mín de 1,4% nas

superfícies das estações 14 e 10), Alteromonadaceae (cerca de 4%, com máx de

9,3% na amostra de meio da estação 14 e mín de 1% na superfície da mesma

estação) e o cluster SAR 11 de superfície 1 (cerca de 2%, com máx de 3,3% na

amostra de superfície da estação 14 e mín de 1,7% na amostra de superfície da

estação 16). Somada, a Classe Alpha-Proteobacteria representa 30% das Famílias

predominantes (entre as 15 maiores de 117); enquanto Gamma-Proteobacteria soma

14%.

Quanto a Cyanobacteria (cerca de 26% da média total), as famílias com maior

percentagem foram identificadas como uncultured bacterium e Familyl. Uncultured

bacterium representou uma média de 13% (com máx de 33% na amostra de fundo

da estação 14 e mín de 5% na amostra de meio da estação 16) e Familyl cerca de

11% (com máx de 21% na amostra de fundo da estação 16 e mín de cerca de 2% na

amostra de fundo da estação 14). Na Figura 6 podemos observar os gêneros

predominantes identificados dentro de Familyl.

31

Figura 6: Gêneros mais comuns no período de verão de Cyanobacteria identificados pertencentes a

Família classificada como Familyl (segundo o banco de dados).

4.3b Inverno

Nas figuras 7 e 8, podemos observar, respectivamente a porcentagem de Filos

e Famílias (15 predominantes entre 108) para o período de inverno.

32

Figura 7: Principais Filos de microrganismos encontrados na REBIO Arvoredo durante amostragem

de inverno (estações oceanográficas 16, 14 e 10). Sup = Superfície e Fun = Fundo.

Proteobacteria foi novamente o Filo predominante no período de inverno

(46,4% do total), com máximo de 62% no fundo da estação 10 e mínimo de 23,1%

na superfície da estação 16. O segundo Filo mais predominante foi Cyanobacteria,

com média de 30,7% do total (máximo de 65,7% na superfície da estação 16 e

mínimo de 10,6% no fundo da estação 14). Os dois Filos representaram um total de

77,1% da comunidade total de bacterioplâncton, um pouco maior do que o verão. O

terceiro Filo mais abundante foi mais uma vez o Bacteroidetes, com média de 9,9%

do total dos filos presentes, máximo de 13,7% na superfície da estação 10 e mínimo

de 4,8% na superfície da estação 16. Actinobacteria ficou em quarto lugar com uma

média de 6,3% do total (apresentando um valor máximo de 9,6% no fundo da

estação 14 e mínimo de 3,4% no superfície da 16). Em média, Proteobacteria,

Cyanobacteria e Bacteroidetes somaram 87% dos Filos encontrados no período de

inverno; No inverno, os maiores valores de Cyanobacteria foram observados na

superfície da estação 10, enquanto que no verão foi no fundo da estação 14.

No período de inverno, como podemos observar na Figura 6, aquelas famílias

sem classificação segundo a base de dados utilizada dentre Cyanobacteria

mostraram-se predominantes (média de 33% do total, maximo de 71% na superfície

da estação 16 e mínimo de 11% no fundo da estação 14). A classificação máxima

encontrada na base de dados do Workflow foi Filo Cyanobacteria, Classe

Chloroplast.

34

Todos os gráficos de ANOVA e Kruskal-Wallis podem ser observados no

Apêndice.

Os valores do teste de Shapiro-Wilk para Filo (15 predominantes comuns entre

verão e inverno) podem ser observados na Tabela 3.

Tabela 3: Valores de Shapiro-Wilk para os 15 Filos predominantes em comum (verão e inverno). O

valor de p menor que 0,05 representa uma distribuição não normal.

Para os resultados com p abaixo de 0,05, foram aplicados o teste de Levene

(para profundidade e estação - Tabelas 4 e 5 respectivamente).

Tabela 4: Teste de Levene (verão-inverno) realizado nas amostras de Filo (15 predominantes em

comum entre verão e inverno) com valores de p de Shapiro-Wilk menor que 0,05. Os valores de p

abaixo de 0,05 do teste de Levene demonstram que as amostras apresentam variações em suas

populações.

35

Tabela 5: teste de Levene (profundidade) realizado nas amostras de Filo (15 predominantes em

comum entre verão e inverno) com valores de p de Shapiro-Wilk menor que 0,05.

Para Cyanobacteria (populações de verão e inverno), foi aplicado o teste de

Tukey HSD (honestly significant difference).

4.4b Análises estatísticas de Família

Todos os gráficos de ANOVA e Kruskal-Wallis podem ser observados no

Apêndice.

Os valores do teste de Shapiro-Wilk para Família (15 predominantes comuns

entre verão e inverno) podem ser observados na Tabela 6.

Tabela 6: Valores de Shapiro-Wilk para as 15 Famílias predominantes em comum (verão e inverno). O

valor de p menor que 0,05 representa uma distribuição não normal.

36

Para os resultados com p abaixo de 0,05, foram aplicados o teste de Levene

(para profundidade e estação - Tabela 7).

Tabela 7: Teste de Levene (verão-inverno) realizado nas amostras de Família (15 predominantes em

comum entre as amostras de verão e inverno) com valores de p de Shapiro-Wilk menor que 0,05. Os

valores de p abaixo de 0,05 do teste de Levene demonstram que as amostras apresentam variações

em suas populações.

4.4c Distribuição espacial

As distribuições espaciais de Filo e Família (predominantes entre as 15 comuns

entre verão e inverno) podem ser observadas na Figura 9.

Figura 9: Gráfico resultante da análise de MDS para Filos (a) e familias (b). As três primeiras letras

correspondem a profundidade (Sup = Superfície, Mid = Meio e Fun = Fundo); o número que segue

corresponde à estação oceanográfica na qual foram coletadas as amostras; e as letras v e i

correspondem aos períodos de verão e inverno. O grupo Sup16i, tanto para Filo quanto para Família,

encontra-se bastante isolado dos demais (grupo com alto índice de Cyanobacterias não

identificadas). Os grupos Sup10i, Sup10v e Fun10v (alto índice de Proteobacteria) também

encontram-se mais isolados, demonstrando possíveis padrões durante os períodos de verão e

inverno.

37

Ao observarmos os gráficos resultantes do Workflow de bioinformática,

podemos perceber claramente a predominância de três grandes Filos:

Proteobacteria e Cyanobacteria, seguidos de Bacteroidetes nos dois períodos

amostrais. Os dados de Proteobacteria e Bacteroidetes corroboram com pesquisas

realizadas tanto no Brasil (MENEZES et al., 2019; GREGORACCI et al., 2012;

ZINGER et al., 2011; SILVEIRA et al., 2011, THOMPSON et al., 2010) como no

mundo (POMMIER et al., 2007; SUNAGAWANA et al., 2019; FUHRMAN & STEELE,

2008; MILASLAVICH et al., 2011; THOMPSON et al., 2010), demonstrando que a

estrutura da comunidade do bacterioplâncton é similar nas zonas costeiras do

planeta Terra. O Filo Proteobacteria é um dos mais abundantes na superfície do

globo terrestre, apresentando diversos organismos fixadores de nitrogênio

(DELMONT et al., 2018) e especialistas na utilização da MOD de baixo peso

molecular (BPM-MOD). Juntamente com o Filo Bacteroidetes, que é comumente

considerado especializado na degradação da MOD de alto peso molecular – APM-

MOD (FERNÁNDEZ-GÓMEZ et al., 2013), estes grupos são indispensáveis para o

equilíbrio ecossistêmico dos oceanos (AZAM et al., 1983 & 1994).

No entanto, a grande predominância do Filo Cyanobacteria mostrou-se um

pouco incomum (comparado a outras regiões costeiras), pois apenas trabalhos

realizados nas regiões costeiras Sul-Americana demonstraram a altos índices destes

organismos (MILASLAVICH et al., 2011; THOMPSON et al., 2010; CODD et al.,

2005). Conforme observado nas Figuras 4 e 6, o Filo Cyanobacteria foi o segundo

mais dominante tanto para o perído de verão (23,2% do total) quanto para inverno

(30,7% do total). As Cianobactérias, além de capazes de realizar fotossíntese,

também são componentes importantes na transformação da MOD nos oceanos

(KIRCHMAN et al., 2008). Esses microrganismos podem formar densas populações

em períodos específicos do ano, acumulando-se na superfície das águas e

carreadas através de correntes marinhas e de fortes ventos, fato que pode elucidar a

percentual registrado no estudo. Logo, a influência por intrusão das Águas Centrais

do Atlântico Sul (ACAS) – SACW, do inglês, South Atlantic Central Water (DA

SILVEIRA et al., 2000; FONTES et al., 2018) pode ser um dos fatores

influenciadores da dominância deste Filo (FONTES et al., 2018). Por se tratar de

uma região relativamente rasa, a adição de nutrientes pela intrusão da ACAS deve

ter favorecido este grupo taxonômico (principalmente nas águas próximo ao fundo

38

da estação 14). Por outro lado, no período de inverno austral, a intrusão das Plumas

de Água da Plata (PPW – do inglês, Plata Plume Waters) sobre a ACAS pode

explicar a variação de dominância de microrganismos aquáticos (FONTES et al.,

2018), pois ecótipos de procariontes de água quente (como Cyanobacteria) são

dominantes em águas subtropicais (SEYMOUR et al., 2012), corroborando com as

temperaturas registradas nas regiões da REBIO Arvoredo e entorno (temperatura

média de 23 oC - MAArE, 2017) e também com o percentual de organismos

registrados no período de inverno austral.

O alto índice de Cyanobacteria presente nas amostras de superfície tanto no

verão quanto no inverno pode ser justificável pelo fato de que estes organismos

apresentam menor necessidade de nutrientes para manutenção celular se

comparado a outros organismos do fitoplâncton. Todos estes fatos podem explicar

os altos valores de Cyanobacteria encontrados durante o verão nas amostras de

fundo da estação 14, relacionado a intrusão da ACAS e durante o inverno nas

amostras de superfície da estação 16.

Entre as 15 Famílias predominantes para o período de verão, Cyanobacteria e

Proteobacteria juntas representaram, em media, 63% do total. Dentre as Famílias

identificadas, os maiores picos são de Cyanobacteria nas amostras de fundo da

estação 14 (33%) e de meio da estação 16 (26%), onde a Família classificada como

Familyl se destaca. Dentro desta, os gêneros de Synechococcus e Prochlorococcus

são os mais evidentes. Synechococcus é um importante picoplâncton fotossintético

nos oceanos temperado e tropical. Por possuir um mecanismo eficiente para se

adaptar às mudanças na salinidade e na intensidade da luz, estes microrganismos

são abundantes nos oceanos (KIM et al., 2018). Já Prochlorococcus é a

Cyanobacteria autotrófica de menor emissão de oxigênio conhecida (ROCAP et al.,

2003). Ela domina numericamente o fitoplâncton nos oceanos tropicais e

subtropicais e é responsável por uma fração significativa da fotossíntese global nos

oceanos (ROCAP et al., 2003).

Em média, no período de inverno, observou-se que cianobactérias não

cultivadas/desconhecidas representaram 26% das Famílias identificadas, apesar do

percentual individual de cada Família ser menor que Rhodobacteraceae (16%, a

qual foi a família predominante dentre o Filo Proteobacteria, Classe Alfa-

Proteobacteria e Ordem Rhodobacterales). Segundo Madsen (2011), aglomerados

de Cyanobacteria não cultivadas pode ser um indício de dependência nutricional de

39

outros organismos vizinhos e/ou baixos níveis de oxigênio, fato que pode elucidar o

alto percentual de cianobactérias identificadas no período.

Segundo os dados estatísticos (ANOVA, Kruskal-Wallis, Levene ́s e Tukey

HSD), a diferença entre verão e inverno para o filo Cyanobacteria foi significativa.

Mais uma vez, a intrusão da ACAS no período de verão e da PPW no período de

inverno podem explicar a diferença registrada, associadas com presença de frentes

(SEYMOUR et al., 2012; FONTES et al., 2018). Além do mais, seu menor tamanho e

menor demanda de nutrientes favorecem estes grupos tanto em condições

oligotróficas quanto eutróficas (TURA, 2015), fornecendo vantagem sobre outros

microrganismos nas mesmas condições. Estes fatos também corroboram para a

variação espacial (observada na Figuras 8), onde há a possibilidade de inferirmos

pequenos padrões. As amostras de inverno de superfície das estações 16 e 14 são

as mais distantes/isoladas dentre as amostras analisadas. Nelas foram observadas,

conforme visto e comentado anteriormente, grandes percentagens do filo e de

famílias de Cyanobacteria, o que pode evidenciar um distinto grupo tanto para

inverno quanto para verão como também para profundidades próximas à superfície.

No geral, o restante das amostras aparentou uma maior semelhança espacial, onde

as amostras de verão formaram um agrupamento mais junto do que as amostras de

inverno.

Diversos estudos na costa brasileira corroboraram com os dados encontrados

neste trabalho, assim como aqueles realizados em outras zonas costeiras

mundialmente (POMMIER et al., 2007; SUNAGAWANA et al., 2019; FUHRMAN &

STEELE, 2008; MILASLAVICH et al., 2011; THOMPSON et al., 2010), o que reforça

a predominância dos filos Proteobacteria e Bacteroidetes também na costa Sudeste

da América do Sul. Cyanobacteria já tem se mostrado como um filo bastante

relevante, chegando a se equiparar com Proteobacteria, em determinados períodos

do ano (GONÇALVES et al., 2009). Picos de Cyanobacteria encontradas no inverno

reforçam a importância de estudos dos processos oceanográficos físicos sobre o

bacterioplâncton, como observado em Fontes et al. (2018). O mesmo foi descrito por

Seymour et al. (2012) na costa leste da Austrália, onde houve predomínio de

Cyanobacteria na região de frente oceânica.

Rappé & Giavannoni (2003) discutem em seu estudo (The Uncultured

Microbial Majority) sobre a possibilidade de novas descobertas envolvendo bactérias

não cultivadas, tópico relevante para o presente estudo onde grande parte das

40

Cyanobactérias do período de inverno foram identificadas como pertencentes a

outros grupos/uncultured bacteria. Muitos destes microrganismos encontram-se nos

oceanos e são componentes essenciais de ciclos biológicos e geoquímicos (RAPPÉ

& GIAVANNONI, 2003). Contudo, apesar do avanço exponencial das metodologias

de classificação de sequenciamento genômico, a diversidade microbiana destes

clusters identificados como bactérias não cultivadas permanece um grande território

inexplorado, onde a importância majoritária microbiana destes microrganismos “não

cultivados” permanece obscura (RAPPÉ & GIAVANNONI, 2003).

6. CONCLUSÕES

O presente mostrou os grupos Proteobacteria, Cyanobacteria e Bacteroidetes

como predominantes nas regiões amostrais estudadas (tanto no período de verão

como no de inverno). A dominância de Proteobacteria e Bacteroidetes corrobora com

estudos realizados em diferentes ZCs ao redor do globo terrestre, onde estes dois

grupos dominam grande parte da estrutura da comunidade do bacterioplâncton.

Quanto ao grupo Cyanobacteria, sua expressão mostrou-se significativa,

especialmente se levado em consideração a classificação formulada pelo Workflow

do presente estudo, onde estes microrganismos encontram-se entre os três Filos

dominantes nas regiões analisadas. A estrutura da comunidade do bacterioplâncton

varia com o tempo e espaço, sendo que o grupo Cyanobacteria apresentou maior

número e também maior contribuição no período de inverno. Neste período houve

uma grande percentagem de Cyanobacteria não identificada, fato que, com

mencionado anteriormente, é algo relativamente novo e que necessita de estudos

mais detalhados não somente na região da REBIO Arvoredo e entorno, mas também

em outras regiões da ZC brasileira/Leste Sul Americana. Nos períodos de verão e de

inverno, Proteobacteria e Cyanobacteria alternavam-se na disputa pela dominância

nas profundidades superficiais e mais profundas, fato interessante que pode

demonstrar a variação da estrutura da comunidade do bacterioplâncton entre as

diferentes profundidades analisadas no presente estudo. Os resultados do presente

estudo ao redor da REBIO Arvoredo sobre a diversidade taxonômica do

bacterioplâncton apresentaram padrões semelhantes aos descritos para abundância

e biomassa bacteriana, associados também a variação de outros microrganismos

41

(como fitoplâncton) ligados à SACW no verão e influência da PPW no inverno. No

entanto, estudos mais detalhados são necessários para melhor elucidar todos os

fenômenos que ocorrem na região, especialmente os fatores que estão

influenciando a maior presença de Cyanobacterias não cultivadas/desconhecidas no

período de inverno.

42

7. REFERÊNCIAS

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48

8 APÊNDICE

8.1 Principais Táxons

Principais famílias e seus respectivos filos de bacterioplâncton (incluindo Bacteria e

Archaea) identificadas nos períodos de verão e inverno

Domínio Principais Filos

Verão

Principais Filos Inverno

Principais Famílias

Verão

Principais Famílias Inverno

Archaea

Euryarchaeota Euryarchaeota Marine Group II

Marine Group II

Thaumarchaeota Thaumarchaeota

Bacteria

Actinobacteria Actinobacteria OM1 clade OM1 clade

Bacteroidetes Bacteroidetes NS9 marine group Flavobacteriaceae Cryomorphaceae

NS9 marine group Flavobacteriaceae Cryomorphaceae

Chloroflexi Chloroflexi

Cyanobacteria Cyanobacteria

SubsectionI; FamilyI

Chloroplast; Outras ;

uncultured bacterium;

Outras ; uncultured bacterium

Deferribacteres Deferribacteres SAR406 clade

(Marine group A)

SAR406 clade (Marine group A)

Gemmatimonadetes Gemmatimonadete

s

Lentisphaerae Spirochaetae

Proteobacteria Proteobacteria

Alteromonadaceae Rhodobacteraceae Rhodospirillaceae

SAR11 clade; Surface 1

SAR116 clade SAR86 clade

Alteromonadaceae Rhodobacteraceae Rhodospirillaceae

SAR 11 clade; Surface 1

JL-ETNP-Y6 SAR116 clade SAR86 clade

Planctomycetes

Planctomycetes

Tenericutes Tenericutes Verrucomicrobia Verrucomicrobia

Não Classificados;

Outros Não Classificados;

Outros

49

8.2. Análises estatísticas

8.2a Testes Kruskal-Wallis de Filo

50

8.2b ANOVAs de Filo e Família (respectivamente)

8.2c ANOVAs individuais de Filo

51

52