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    JUDAS NDICE

    JUDEWILLIAM BARCLAY

    Ttulo original em ingls:The Letter of Jude

    Traduo: Carlos Biagini

    O NOVO TESTAMENTO Comentado por William Barclay

    Introduz e interpreta a totalidade dos livros do NOVO

    TESTAMENTO. Desde Mateus at o Apocalipse William Barclayexplica, relaciona, d exemplos, ilustra e aplica cada passagem, sendosempre fiel e claro, singelo e profundo. Temos nesta srie, por fim, uminstrumento ideal para todos aqueles que desejem conhecer melhor asEscrituras. O respeito do autor para a Revelao Bblica, sua slidafundamentao, na doutrina tradicional e sempre nova da igreja, suaincrvel capacidade para aplicar ao dia de hoje a mensagem, fazem que

    esta coleo oferea a todos como uma magnfica promessa.PARA QUE CONHEAMOS MELHOR A CRISTOO AMEMOS COM AMOR MAIS VERDADEIROE O SIGAMOS COM MAIOR EMPENHO

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    Judas (William Barclay) 2NDICE

    Prefcio

    Introduo Geral Introduo Epstola de JudasCaptulo 1

    PREFCIO S CARTAS DE JOO E JUDAS

    As Cartas de Joo so da maior importncia pela luz que lanamsobre o pensamento e a teologia do Novo Testamento, e pela informaoque proporcionam sobre a organizao da Igreja em seus primeirostempos. E h poucos livros que mostram com maior clareza os perigosdas heresias e das correntes de pensamento errneas que brotavamdentro da Igreja mesma.

    Embora no h muitos Comentrios excepcionais sobre estasCartas, os que existem so de primeira categoria. H comentrios sobre otexto grego. O de A. E. Brooke no International Critical Commentary

    um tesouro de informao. O de B. F. Westcott nos ComentriosMacmillan caracterizado por sua original combinao de precisoerudita e clida devoo. H comentrios sobre o texto ingls. O de A.Plummer no Cambridge Bible for Schools and Colleges, embora deantiga data, j que foi publicado em 1883, segue sendo um contribuacom excelente e de soma utilidade.

    Contudo, a contribuio sobressalente sobre estas Cartas aquela

    que escreveu C. H. Dodd noMoffat Commentary. , sem lugar a dvida,um dos melhores Comentrios na lngua inglesa, mesmo quando sebaseia no texto ingls e no sobre o texto grego. Teria resultadofastidioso detalhar cada uma de minhas dvidas a C. H. Dodd; s possodizer aqui e agora que dificilmente haja uma pgina deste livro que nolembre uma dvida para com ele.

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    Judas (William Barclay) 3Pode ser que as Cartas de Joo no figurem entre os livros mais

    lidos do Novo Testamento. minha esperana e minha splica que esteComentrio consiga fazer ver freqentemente o valor que encerra e sua

    relevncia.A breve Carta deJudas um livro muito pouco conhecido. Est em

    estreita ligao com 2 Pedro, visto que esta em grande medida se apianela e a contm. uma Carta muito difcil de entender, inclusive para oseruditos da Bblia, j que transcorre num mbito de pensamento erepresentaes totalmente diferente. Toma muito de seu pensamento,imagens e ilustraes, no do Antigo Testamento mas sim dos livros queforam escritos entre o Antigo e o Novo Testamento, livros virtualmentedesconhecidos para ns mas imensamente populares em seus prpriosdias. Por essa razo em vrias oportunidades foi necessrio dedicar-lhemuito espao, e deve ser lido em estreita relao com 2 Pedro. Mas estouseguro de que o esforo mental de l-lo luz do anterior valer a pena.

    Judas usualmente estudado no em forma isolada mas simconjuntamente com 1 e 2 Pedro. No International Critical Commentary

    os trs livros so estudados em conjunto por C. Bigg. No MoffattCommentary includo no volume The General Epistles, preparado peloprprio James Moffatt. Mais uma vez as trs Cartas so tratadas emconjunto por E. H. Plumptre no The Cambridge Bible for Schools andColleges. O mais extenso Comentrio sobre ela aparece no volume de J.B. Mayor sobre 2 Pedro e Judas nos Comentrios Macmillan. No TheCambridge Greek Testament for Schools and Colleges h um breve e

    excelente trabalho de M. R. James.Se Judas tiver sido esquecido, foi injustamente, porque h poucoslivros no Novo Testamento que, adequadamente compreendidos,mostram mais vividamente os riscos das falsas doutrinas e do ensinotica errado que ameaavam a Igreja primitiva.

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    Judas (William Barclay) 4Espero que este livrinho capacite a seus leitores para compreender

    melhor a Judas, e assim valoriz-lo como devido.

    William Barclay.Trinity College,Glasgow,maro de 1960.

    INTRODUO GERAL

    Pode dizer-se sem faltar verdade literal, que esta srie deComentrios bblicos comeou quase acidentalmente. Uma srie deestudos bblicos que estava usando a Igreja de Esccia (Presbiteriana)esgotou-se, e se necessitava outra para substitu-la, de maneira imediata.Fui solicitado a escrever um volume sobre Atos e, naquele momento,minha inteno no era comentar o resto do Novo Testamento. Mas osvolumes foram surgindo, at que o encargo original se converteu na idiade completar o Comentrio de todo o Novo Testamento.

    Resulta-me impossvel deixar passar outra edio destes livros semexpressar minha mais profunda e sincera gratido Comisso dePublicaes da Igreja de Esccia por me haver outorgado o privilgio decomear esta srie e depois continuar at complet-la. E em particulardesejo expressar minha enorme dvida de gratido ao presidente dacomisso, o Rev. R. G. Macdonald, O.B.E., M.A., D.D., e ao secretrio eadministrador desse organismo editar, o Rev. Andrew McCosh, M.A.,

    S.T.M., por seu constante estmulo e sua sempre presente simpatia eajuda.Quando j se publicaram vrios destes volumes, nos ocorreu a idia

    de completar a srie. O propsito fazer que os resultados do estudoerudito das Escrituras possam estar ao alcance do leitor noespecializado, em uma forma tal que no se requeiram estudos teolgicospara compreend-los; e tambm se deseja fazer que os ensinos dos livros

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    Judas (William Barclay) 5do Novo Testamento sejam pertinentes vida e ao trabalho do homemcontemporneo. O propsito de toda esta srie poderia resumir-se naspalavras da famosa orao de Richard Chichester: procuram fazer que

    Jesus Cristo seja conhecido de maneira mais clara por todos os homens emulheres, que Ele seja amado mais entranhadamente e que seja seguidomais de perto. Minha prpria orao que de alguma maneira meutrabalho possa contribuir para que tudo isto seja possvel.

    INTRODUO EPSTOLA DE JUDAS

    A Carta descuidadaPoderamos dizer sem medo de equvoco que para a maioria dos

    leitores modernos, ler a pequena carta de Judas uma tarefa incmodado que uma empresa proveitosa. H dois versculos de Judas que todosconhecemos a conhecida e magnfica doxologia com que finaliza aCarta:

    Ora, quele que poderoso para vos guardar de tropeos e para vos

    apresentar com exultao, imaculados diante da sua glria, ao nico Deus,nosso Salvador, mediante Jesus Cristo, Senhor nosso, glria, majestade,imprio e soberania, antes de todas as eras, e agora, e por todos os sculos.Amm!

    Mas, alm destes dois grandes versculos, Judas bastante ignoradae muito pouco lida, precisamente porque foi escrita de acordo com opensamento e linguagem de seu tempo. Surge sobre um pano de fundo

    de pensamento, em resposta a uma situao que descrevem com imagense citaes que so para ns totalmente estranhas. Fora de toda dvida,ter batido naqueles que a leram ou a ouviram pela primeira vez, comouma martelada e como uma clarinada chamando a defender a f. Moffattrefere-se a Judas como "uma formidvel cutilada para despertar sIgrejas". Mas como disse J. B. Mayor, um dos mais conhecidos editoresde Judas: "Para um leitor moderno mais curiosa que edificante, com

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    Judas (William Barclay) 6exceo do princpio e do final". Tudo isto , em si, uma das grandesrazes para nos levar ao estudo de Judas; porque quando entendemos opensamento de Judas e discernimos a situao em que est escrevendo,

    sua Carta adquire o maior interesse para a histria e a compreenso daIgreja primitiva, e de no menor pertinncia para o dia de hoje. Emrealidade houve pocas na histria da Igreja, e especialmenteavivamentos, em que Judas no distou muito de ser o mais importantedos livros do Novo Testamento. Comecemos, pois, simplesmenteapresentando a substncia da Carta, sem esperar no momento asconcluses e achados que deixaremos para mais tarde.

    Um grande perigo

    A inteno de Judas tinha sido escrever um tratado sobre a f quetodos os cristos compartilham; mas a tarefa teve que ser posta de ladoem vista da apario de muitos homens cuja conduta e pensamentosignificavam uma ameaa e um srio perigo para a Igreja crist(versculo 3). Em vista dessa situao era necessrio nem tanto expor a

    f como convocar a todos os cristos para sua defesa. Certas pessoas seintroduziram na Igreja e estavam muito empenhadas em fazer da graade Deus uma desculpa para a imoralidade mais descarada, e negavam onico e verdadeiro Deus e a Jesus Cristo, o Senhor (versculo 4). Eramhomens imorais em seu comportamento e hereges em sua f.

    As advertncias

    Judas lana suas advertncias contra esses homens. Que lembrem odestino dos israelitas. Tinham chegado sos e salvos at a fronteira deIsrael, mas no puderam entrar na Terra Prometida por causa de suaincredulidade (versculo 5). A gerao de israelitas que tinha sado doEgito no pde entrar na Terra Prometida por causa de seu temor e faltade f quando chegaram a suas fronteiras (Nmeros 13:26; 14:29). Um

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    Judas (William Barclay) 7homem podia ter recebido a graa de Deus, mas se ento incorria emdesobedincia e incredulidade podia perd-la. Os anjos tinham sido anjoscheios da glria dos cus, mas quando chegaram Terra corromperam s

    mulheres mortais com sua luxria (Gnesis 6:2) e agora estoaprisionados nos abismos das trevas, aguardando o momento do juzo(versculo 6). Aquele que se rebela contra Deus, necessariamente deveficar sujeito a juzo. As cidades da Sodoma e Gomorra se entregaram aosvcios imorais e luxria, e sua destruio em fogo uma tremendaameaa para todos aqueles que procedem da mesma maneira (verso 7).

    Uma vida equivocada

    Esses homens eram sonhadores com sonhos maus; mancham suacarne e falam mal dos anjos (versculo 8). Ningum, nem sequer oarcanjo Miguel, atreveu-se a proferir juzo contra os anjos, nem mesmocontra os anjos maus. Ficou a cargo do arcanjo Miguel sepultar o corpode Moiss. O demnio tentou impedi-lo, reclamando para si o corpo deMoiss. Miguel at em tais circunstncias no disse nada mau contra o

    demnio, mas sim lhe disse simplesmente: "O Senhor te repreenda"(versculo 9). Os anjos devem ser respeitados, at os anjos maus e hostis.Mas estes maus homens condenam tudo o que no entendem, e comocoisas espirituais esto mais alm de seu entendimento. Entendem osinstintos carnais e se deixam governar por eles como bestas selvagensque so (versculo 10).

    So como Caim, o assassino cnico e mesquinho; so como Balao,

    cujo nico propsito foi lucrar, e que deixou as pessoas inundadas empecado; so como Cor, quem se rebelou contra um legtima autoridadede Moiss, mas foi tragado pela terra por sua arrogante desobedincia(versculo 11). So como as rochas traioeiras nas quais pode encalharum barco; tm seus prprios seguidores, com aqueles que se associam,destruindo assim um comunho crist; enganam a outros com suaspromessas, como nuvens que anunciam chuvas longamente esperadas,

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    Judas (William Barclay) 8mas passam de longe pelo cu; so como rvores sem razes nem frutos,que no do nenhum bom fruto; como um espuma das ondas joga sobreas praias algas e ressaca, eles arrojam a espuma de suas desavergonhadas

    aes. So como estrelas errantes que se negam um conservar sua rbita,e que se inundam nos abismos (versculo 13). Muito tempo atrs faloudeles o profeta Enoque, que profetizou sua destruio (versculo 15).Murmuram contra toda genuna autoridade e disciplina, comomurmuraram os filhos de Israel contra Moiss, no deserto; estodescontentes com a parte que Deus lhes outorgou; a luxria os governatiranicamente; seu falar arrogante, jactancioso e altivo. So lisonjeirosaduladores dos grandes para tirar proveito (versculo 16).

    Palavras para os que permanecem na f

    Depois de castigar os homens perversos com esta corrente deinvectivas, Judas detm-se naqueles que so fiis. Estes podiam teresperado que tudo isto acontecesse, porque j os apstolos tinhamantecipado que se levantariam homens perversos (versculos 18-19). Mas

    o dever de todo cristo edificar sua vida sobre o fundamento dasantssima f; aprender a pedir no poder do Esprito Santo; lembrar ascondies do pacto ao qual Deus os chamou; esperar na misericrdia deJesus Cristo (versculos 20-21).

    Quanto aos enganadores e os licenciosos alguns deles podemsalvar-se por misericrdia enquanto vacilam ainda quanto a seuproceder; outros tm que ser arrebatados do fogo, e em todo seu trabalho

    de redeno, o cristo deve dispor desse piedoso temor que ama opecador mas no o seu pecado, e evitar a contaminao daqueles aosquais quer salvar (versculos 22-23).

    E em todo momento o acompanhar o poder de Deus, que podeguardar o de toda a queda, e lev-lo sem mancha e com alegria perantesua presena (versculos 24-25).

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    Judas (William Barclay) 9Os hereges

    Quais so os hereges aos que Judas anatematiza, e quais so suas

    crenas, e qual seu estilo de vida? Isso Judas nunca nos diz. Ele no eraum telogo, mas sim, como diz Moffatt, "um simples dirigente honestoda Igreja". "Mais que descrever, denuncia" as heresias que ataca. Nopretende argumentar nem refutar, porque escreve como quem "sabequando a indignao mais eficaz que um argumento". Assim, pois,devemos fazer nossas prprias dedues a partir da prpria Carta.Podemos deduzir trs coisas com relao a esses hereges.

    (1) Eram antinomianos. Estes sempre existiram na Igreja. Sopessoas que pervertem a graa. A posio do antinomiano sustenta que aLei morreu, e que agora vive sob a graa. As prescries da Lei j notm nenhuma validez; podero ser aplicadas a outras pessoas, mas j noa ele. Ele pode fazer precisa e absolutamente o que bem quiser. A graa suprema; a graa pode perdoar qualquer pecado. Quanto maior opecado, maior a oportunidade para que superabunde a graa (Rom. 6). Ocorpo carece de importncia; importa s aquilo que jaz no profundo do

    esprito. Todas as coisas pertencem a Cristo, e em conseqncia todasso dEle. E portanto para ele no h nada proibido.

    Desta maneira os hereges em Judas fazem da graa uma desculpapara a mais flagrante imoralidade (versculo 4); at praticam vciosinominveis e vergonhosos contra natura, igual ao povo de Sodoma(versculo 7). Mancham a carne e imaginam que isso no pecar(versculo 8). Permitem que seus baixos instintos governem suas vidas

    (versculo 16). Aqueles eram homens cujo argumento fundamentalconsistia em que desde que estavam sob a graa, a Lei j no erapertinente e suas demanda ticas j no eram obrigatrias. Pretendiamser to espirituais, que para eles o pecado tinha deixado de existir.Sustentavam que, se amavam a Deus com seus coraes podiam fazercom seus corpos o que quisessem.

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    Judas (William Barclay) 10Exemplos atuais daquelas velhas heresias

    Um fato curioso e tambm trgico que a Igreja nunca tenha estado

    totalmente livre deste antinomianismo, e natural que florescesse commaior vigor naquelas pocas em que se redescobriu a maravilha dagraa.

    Ressurge com os "ranters" do sculo XVII. Estes eram pantestas eantinomianos. Um pantesta cr que Deus , literalmente, todas as coisas.Literalmente, todas as coisas so de Cristo, e Cristo o fim da Lei.Falavam de "Cristo neles", e no prestavam ateno Igreja nem a seusministros, e menosprezavam a Escritura.

    Um deles, chamado Bottomley escreveu: "No seguro ir Bbliapara ver o que outros disseram e escreveram a respeito da mente deDeus, mas sim ver o que Deus fala em mim, e seguir a doutrina e suadireo em mim".

    Quando George Fox os rechaou por suas prticas lascivas, eles lheresponderam: "Ns somos Deus". Isto pode parecer muito bonito, masmuito freqentemente resultava, como disse Joo Wesley, "um

    evangelho da carne". Seu argumento era que "a blasfmia, o adultrio,as bebedeiras e o roubo no eram pecaminosos a menos que a pessoaacusada o pensasse assim".

    Quando Fox esteve prisioneiro na Charing Cross foram v-lo, e oofenderam muitssimo pedindo tabaco e bebida. Juravam terrivelmente, equando Fox os repreendeu, justificaram-se dizendo que a Escritura dizque Abrao, Jac, Jos, Moiss, os sacerdotes e at o anjo, todos tinham

    jurado. Ao que Fox replicou que Aquele que era antes de Abraoordenou "No jurem de maneira nenhuma". Richard Baxter disse que"combinaram uma maldita doutrina de libertinagem que os conduziu atodas as abominveis sujeiras da vida; ensinavam... que Deus olhava noas aes do homem exterior, mas sim as do corao, e que para o puro,todas as coisas so puras (at as coisas proibidas) e, desse modo,conforme o permitido por Deus, usavam as mais horrendas blasfmias, e

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    Judas (William Barclay) 11muitos deles cometiam usualmente toda classe de pecados sexuais. Osdesmedidos excessos desta seita fizeram que se extinguisserapidamente". Sem dvida, muitos dos "ranters" eram decididamente

    insanos: sem dvida, muitos deles foram prejudiciais e deliberadamentesensuais; mas sem dvida alguma, tambm, muitos deles eram pessoassinceras, ainda que equivocadas, que interpretaram mal o significado dagraa e o que significa estar livre da lei.

    Tempo depois, Joo Wesley teve problemas com os antinomianos.Diz que eles pregavam um evangelho de carne e sangue. No Jenninghall,Wesley disse que "os antinomianos tinham trabalhado com muitoempenho a servio do Demnio". E em Birmingham disse que "osferozes, impuros, brutos e blasfemos antinomianos tinham destrudototalmente a vida espiritual da congregao. Fala-nos de um tal RogerBali que se tinha intrometido na congregao de Dublin. No comeo,tinha-lhes parecido um homem to espiritualmente ntegro que acongregao pensou que seria uma pessoa adaptada para o servio e oministrio da Igreja. Mas logo se deixou ver tal como era, "umenganador e da mais abominvel mentalidade, ao ponto que uma de suas

    idias era que um crente tem direito sobre todas as mulheres". Nocomungava porque sob a graa um homem "no devia manusear, gostarnem tocar". No pregava e abandonou os servios da Igreja, porque,dizia: "O amado Cordeiro o nico pregador".

    Wesley, a propsito de ilustrar suas posies relata em seu Jornaluma conversa que teve com um deles em Birmingham. Ocorreu destamaneira: "Cr voc que no tem nada que ver com a lei de Deus?".

    "Assim . Eu no estou sob a lei; vivo pela f". "Cr voc que desde quevive pela f tem direito a tudo no mundo?" "Claro que sim. Tudo mepertence, visto que Cristo me pertence". "Ento voc pode apropriar-sede qualquer coisa em qualquer momento? Suponhamos que se lhe ocorretirar algo de uma loja, sem que seu proprietrio fique sabendo". "Claroque posso, se quiser, porque meu. S que no quero ofend-lo". "E crque tem direito a todas as mulheres do mundo?". "Sim, se elas

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    Judas (William Barclay) 12aceitarem". "E no isso um pecado?" "Sim, para aquele que pensa que pecado; mas no para os que so livres em seu corao".

    Em muitas ocasies Wesley se encontrou com essas pessoas, e o

    mesmo com George Fox. Joo Bunyan, tambm, teve que lutar contraesses "ranters" que proclamavam absoluta liberdade da lei moral, e queprocuravam atentar contra a tica dos cristos mais escrupulosos."Quiseram me acusar de ignorante e legalista, porque pensavam que seles tinham alcanado a perfeio que lhes permitia fazer o que lhes davavontade, sem pecar". Um deles, a quem Bunyan conheceu, "entregou-sea todo tipo de imundcies, especialmente obscenidades... e semprezombava de todos os apelos sobriedade. Quando me esforava emreprovar suas atitudes, ria ainda mais".

    Os hereges de Judas existiram em todas as pocas da Igreja crist e,mesmo quando no chegam aos extremos, ainda h muitos que noprofundo de seus coraes brincam com a graa de Deus, e a fazem umadesculpa para pecar.

    Negar a Deus e a Jesus Cristo

    (2) No h nenhuma dvida do antinomianismo e da flagranteimoralidade dos hereges aos quais Judas condena em sua Carta. Asoutras duas faltas que lhes atribui no so to claras em seu significado.Acusa-os de que negam a Deus, nico dominador e Senhor nosso, JesusCristo (versculo 4, RC). Nos melhores manuscritos gregos, a palavraDeus no aparece nesta frase; e a traduo mais provvel deveria ser:

    "que negam a nosso nico Dono e Senhor Jesus Cristo". A doxologiafinal traz "ao nico Deus". (A palavra sbio no aparece nos melhoresmanuscritos). Esta expresso, nico Deus, ocorre tambm em Romanos16:27; 1 Timteo 1:17; i Timteo 6:15. A reiterao da palavra nico significativa. Se Judas falar de nosso nico Dono e Senhor e, se fala donico Deus, provvel pensar que deve ter havido aqueles quequestionavam a unicidade de Jesus Cristo e de Deus, e criam em outros

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    Judas (William Barclay) 13Donos e Senhores e em outros deuses. Podemos ento traar tal linha depensamento na Igreja primitiva, e harmoniz-la com qualquer outraevidncia que a Carta insinue?

    Muito freqentemente no Novo Testamento entramos novamenteem contato com esse estilo de pensamento conhecido como gnosticismo.A idia bsica do gnosticismo a existncia de um universo dualista,com dois princpios eternos. Os gnsticos sustentavam que desde oprincpio existiram o esprito e a matria. O esprito essencial eabsolutamente bom; a matria essencialmente defeituosa, m eimperfeita. Dessa matria imperfeita foi criado o mundo. Mas Deus esprito puro, e precisamente por isso mesmo no lhe seria possvel tocarnem manipular a matria nem trabalhar com ela. Da que resultasseimpossvel, conforme criam, nenhum contato entre Deus e a matria.

    De que maneira ocorreu ento a criao? Do mesmo Deusemanaram ons ou emanaes; cada um desses ons, numa longa srie ecadeia e escala, afastou-se mais de Deus. No final dessa longa cadeia,extremamente longe de Deus, houve um en capaz de entrar em contatocom a matria; e este en, divindade distante e secundria criou o

    mundo. Aqui no termina o pensamento gnstico. medida queaumentava a distncia entre Deus e os ons, estes eram mais ignorantesde Deus; e no s mais ignorantes, mas tambm mais hostis. E o encriador, no extremo final da cadeia, foi totalmente ignorante e ao mesmotempo totalmente hostil ao Deus verdadeiro. O mundo, conforme criamos gnsticos, foi criado por uma divindade secundria, ao mesmo tempoignorante e hostil ao verdadeiro Deus. Mas os gnsticos iam ainda mais

    longe: identificavam o verdadeiro Deus com o Deus do NovoTestamento, o Deus a quem Jesus Cristo revelou aos homens; eidentificavam a divindade secundria, ignorante e hostil com o Deusdo Antigo Testamento. Consideravam o Deus do Antigo Testamentototalmente ignorante de e hostil ao Deus do Novo Testamento. Segundoeles o viam, o Deus da criao era diferente do Deus da revelao e daredeno. Por outro lado, o cristianismo cr num nico Deus. Para os

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    Judas (William Barclay) 14cristos, s h um Deus na criao, na providncia e na redeno. Osgnsticos negavam ao Deus nico, e introduziam duas divindadeshostis entre si.

    Esta era a explicao gnstica do pecado. O pecado e o sofrimento ea tristeza e toda imperfeio existem, em primeiro lugar, porque acriao se realizou com matria essencialmente imperfeita e m e, emsegundo lugar, por um Deus ignorante.

    Esta maneira gnstica de pensar conduz a um resultado curioso:curioso mas perfeitamente lgico: se o Deus do Antigo Testamento forignorante e hostil ao verdadeiro Deus, deduz-se que as pessoas s quaisesse Deus ignorante prejudicou, castigou e afligiu so, de fato, boaspessoas. Evidentemente o Deus hostil e ignorante seria hostil para comas pessoas que serviam ao Deus real e verdadeiro. Os gnsticosinvertiam, por assim dizer, o Antigo Testamento, e consideravam seusheris como vilos e a seus vilos como heris. Havia uma seita dessesgnsticos chamada os "ofitas", porque adoravam serpente do den;havia entre eles aqueles que viam a Caim, a Cor e a Balao como osgrandes heris do Antigo Testamento. Agora, esses mesmos so os que

    Judas usa como exemplos trgicos e terrveis do pecado. Podemos poisdar por sentado que os hereges que Judas ataca eram gnsticos quenegavam a unicidade de Deus, que consideravam o Deus da criaocomo totalmente diferente do Deus da redeno, que viam no AntigoTestamento um Deus ignorante e inimigo do autntico Deus e que, emconseqncia, invertiam o Antigo Testamento e viam os pecadoresveterotestamentrios como servos do verdadeiro Deus, e a seus santos

    como servos do Deus hostil e ignorante.Mas no s negavam a unicidade de Deus, como tambm negavam"nosso nico Dono e Senhor Jesus Cristo". Quer dizer, tambm negavama unicidade de Jesus Cristo. De que maneira harmoniza isto ltimo comas idias gnsticas, at onde as conhecemos? J vimos que, segundo elespensavam, Deus tinha estabelecido uma srie de ons entre Ele prprioe o mundo.

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    Judas (William Barclay) 15Os gnsticos consideravam Jesus Cristo como um desses ons. Ele

    era somente um entre muitos na cadeia de seres entre o homem e Deus.Pde ter ocupado um lugar muito elevado nessa escala, pde ter estado

    muito perto de Deus; entretanto, ele foi s um entre muitos outros; e bempde ter ocorrido que, conforme passava o tempo, pudesse ser superadoe viesse aos homens uma revelao maior de Deus. Os gnsticos nopensavam em Jesus como nosso nico Dono e Senhor; s era um entre osmuitos elos entre Deus e o homem, mesmo que fosse o mais alto e omais prximo de todos.

    H ainda algo mais a respeito desses hereges na Carta de Judas,algo que concorda com o que sabemos sobre os gnsticos. No versculo19 Judas refere-se aos hereges como "os que causam divises". Apalavra empregada por Judas um termo grego muito incomum,apodiorizein. Esta tem a raiz horos, que significa termo ou limite. Oshereges so os que estabelecem algum tipo de diferenciaes classistasdentro da comunho dos cristos. De que distines, divises eclassificaes se trata? J vimos que entre Deus e os homens se estendeuma srie interminvel de ons ou seres espirituais. Agora, o propsito

    do homem deve ser entrar em comunho, em contato com Deus. Paraobt-lo, a alma humana deve escalar esta longa escala e atravessar ainfinita srie de elos que o separam de Deus. Os gnsticos sustentavamque para levar a bom termo semelhante empresa, era necessrio umconhecimento e estudo muito especial, elaborado, profundo e esotrico.To profundo esse conhecimento que s muito poucos podem alcan-lo. Os gnsticos, portanto, dividiam os homens em duas classes, os

    pneumatikoi e os psyquikoi. O pneuma o esprito do homem, o que oassemelha a Deus; e ospneumatikoi eram as pessoas espirituais, pessoascujos espritos eram to nobres e refinados, e sbios e altamentedesenvolvidos e intelectuais, que estavam em condies de subir a longaescada para chegar at Deus.

    Esses pneumatikoi, diziam os gnsticos, estavam espiritual eintelectualmente to equipados que podiam chegar a ser como Jesus

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    Judas (William Barclay) 16Irineu diz que alguns deles pensavam que os verdadeiramente

    pneumatikoi podiam chegar a ser melhores que Jesus e alcanar a uniodireta com Deus. Por outro lado, apsyque simplesmente o princpio

    da vida fsica. Todas as coisas viventes tmpsyque; apsyque algo quepode estar presente tanto na criao animada como nas plantas queflorescem. Os psyquikoi eram gente comum, que tinha vida fsica, mascujo pneuma, esprito, no estava em condies de tentar sequer oesforo intelectual para alcanar a sabedoria que lhes permitissepercorrer o longo caminho que os separava de Deus. Assim, pois, osgnsticos dividiam aos homens em duas categorias: a dospneumatikoi, aelite espiritual, os poucos escolhidos capazes de embarcar na busca deDeus, e ospsyquikoi, os que tinham vida fsica, mas cuja vida espiritualera completamente inadequada at para tentar essa longa caminhadaintelectual. Ospneumatikoi conformavam uma minoria muito pequena eextremamente seleta; os psyquikoi, pelo contrrio, integravam a vastamaioria, a gente comum.

    Salta vista que este tipo de classificao estabelecia umaaristocracia espiritual dentro da prpria Igreja; produzia inevitavelmente

    esnobismo e diviso, introduzia na comunidade a pior distino declasses e a pior arrogncia.

    Assim, pois, os hereges que Judas atacava eram homens quenegavam a unicidade de Deus, dividindo-o num ignorante Deus criador enum Deus verdadeiramente espiritual; eram homens que negavam aunicidade de Jesus Cristo, a quem viam s como um entre muitos outroselos na cadeia que separa a Deus dos homens; homens que erigiam

    distines de classe dentro da Igreja, e que limitavam a comunho comDeus aos poucos intelectuais.

    A negao dos anjos

    (3) Infere-se, alm disso, que esses hereges negavam e insultavamos anjos. O versculo 8 nos diz que rejeitam a dominao, e vituperam

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    Judas (William Barclay) 17as autoridades. Autoridade e dignidade so duas palavras que entre os

    judeus descrevem a hierarquia dos anjos. O versculo 9 uma referncia histria da Assuno de Moiss. Ali diz-se que o arcanjo Miguel foi

    encarregado de sepultar o corpo de Moiss, mas o diabo se fez presentee, opondo-se reclamou o corpo para si. Miguel no formulou nenhumaacusao contra o demnio e no disse outra coisa seno "O Senhor terepreenda". Se o arcanjo Miguel, em semelhante ocasio no disse nadacontra outro anjo, o prncipe dos anjos maus, evidentemente ningumdeve falar mal dos anjos.

    A crena judia a respeito dos anjos era muito complicada. Cadanao dispunha de seu anjo protetor. Cada pessoa mais velha e cadamenino tinham seu anjo guardio. Todas as foras da natureza, o vento eos mares, o fogo e todo o resto, estavam sob o controle dos anjos. Bempde dizer-se: "At a mais pequena das flores tem seu anjo". Masaqueles hereges atacavam os anjos. muito provvel que dissessem queos anjos eram servos do Deus criador, o Deus hostil e ignorante, e queum cristo no tinha nada a ver com eles. No estamos muito seguroscom relao ao que h por trs desta questo, mas bem sabemos que a

    todos seus outros enganos os hereges adicionavam um absoluto desprezopelos anjos; e isto o que a Judas parece mau.

    Judas e o Novo Testamento

    Devemos examinar agora as questes referentes data e o autor deJudas. Judas teve alguma dificuldade para entrar no cnon do Novo

    Testamento; um desses livros cuja posio sempre foi insegura, peloque demorou bastante em ganhar total e definitiva aceitao como partedo Novo Testamento. Exporemos brevemente a opinio dos pais eeruditos mais conhecidos da Igreja primitiva.

    Judas est includo no Cnon Muratrio, que data de cerca do ano170 d.C, e que bem pode ser considerado como a primeira lista semi-oficial aceita pela Igreja de Roma naquela poca. Isto to mais estranho

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    Judas (William Barclay) 18quando lembramos que dito Cnon no inclui em sua lista nem aHebreus nem a 1 Pedro. Mas a partir de ali, Judas por muito tempoconsiderada duvidosa. Em meados do sculo III, Origens conheceu e

    utilizou Judas, mas falava perfeitamente que havia muitos quequestionavam seu direito como Escritura. Eusbio, o famoso erudito demediados do sculo IV, levou a cabo um deliberado exame dosdiferentes livros que se usavam e catalogou a Judas como uma obracontrovertida, rechaada por muitos e possivelmente espria. Jernimo,que produziu a Vulgata, tinha suas dvidas com relao a Judas. Eprecisamente em Jernimo achamos uma das grandes razes que haviapara duvidar da Carta: trata-se da maneira em que Judas cita algunslivros que no estavam no Antigo Testamento nem jamais foramconsiderados geralmente como Escritura, os apcrifos que foram escritosno tempo que separa o Antigo do Novo Testamento.

    Para dar dois exemplos, no versculo 9, a referncia ao arcanjoMiguel disputando com o demnio o corpo de Moiss, est tomada deum livro apcrifo judeu chamadoA Assuno de Moiss. Nos versculos14 e 15 Judas confirma e cimenta seu argumento com uma citao da

    profecia, como usava fazer-se em todos os escritores do NovoTestamento; mas a citao de Judas, de fato, est tomada do Livro deEnoque, a quem Judas parece considerar como Escritura e profecia. Diz-nos Jernimo que foi esse hbito de Judas de citar livros noescriturrios o que causou tanta suspiccia em muitas pessoas; e pelo fimdo sculo III, em Alexandria, Ddimo defendeu a Judas das mesmasacusaes que j lhe tinham formulado. Talvez o mais estranho em

    Judas, seja que usa autores no escriturrios; como outros autores doNovo Testamento usam os profetas; e nos versculos 17 e 18 empregapalavras atribudas aos apstolos que impossvel identificar.

    Judas , pois, um dos livros que demorou longo tempo em ganharseu lugar no Novo Testamento; mas pelo sculo IV pode dizer-se quetinha j seu lugar assegurado.

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    Judas (William Barclay) 19A data

    H provas bem aceitveis de que Judas no um livro dos

    primeiros tempos. Judas fala da f que alguma vez foi dada aos santos(versculo 3). Esta maneira de falar nos induz a pensar atrs, distncia,como querendo infiltrar naquela poca longnqua em que havia um corpode f, a ortodoxia. Nos versculos 17 e 18 insiste a que se lembrem daspalavras que haviam dito os apstolos do Senhor Jesus Cristo. Tudo istoparece surgir num momento histrico em que os apstolos j tinhamdesaparecido, e quando a Igreja buscava retornar a suas fontes. Aatmosfera de Judas a atmosfera de um livro que aponta para trs.

    Mas junto com isto, devemos assinalar que, conforme nos parece, 2Pedro utiliza a Judas em muitas passagens. Pode notar-se que o segundocaptulo de 2 Pedro e Judas apresentam a mais estreita conexo possvel.No h dvida de que um dos dois escritores se apropriou do trabalho dooutro e o incorporou no seu prprio. Em termos gerais, muito maisprovvel que o autor de 2 Pedro incorporasse a Judas em sua Carta comoum todo, que Judas passasse, sem razo aparente, s uma seo de 2

    Pedro. Agora, se crerem que 2 Pedro recorre a Judas, esta no pode sermuito tardia, ainda que no seja tampouco muito anterior.

    verdade que Judas pe seu olhar nos apstolos; mas tambm verdade que, com exceo de Joo, l por 70 d.C. todos os apstolostinham morrido. Relacionando o fato de que Judas volta sobre osapstolos, com o fato de que 2 Pedro emprega a Judas, uma data mais oumenos adaptada para Judas poderia ser entre os anos 80 e 90 de nossa

    era.

    A autoria de Judas

    Faamos a seguinte pergunta: Quem foi este Judas, que escreveu aEpstola? chama-se a si mesmo servo de Jesus Cristo, e irmo de Tiago.H no Novo Testamento cinco pessoas chamadas Judas.

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    Judas (William Barclay) 20(1) H o Judas de Damasco, em cuja casa Paulo esteve orando

    depois de sua converso no caminho a Damasco (Atos 9:11).(2) H o Judas Barsabs, uma figura predominante nos conclios da

    Igreja, quem junto com Silas levou a Igreja de Antioquia deciso doConclio de Jerusalm quando as portas da Igreja se abriram aos gentios(Atos 15:22. 27, 32). Este Judas tambm era profeta.

    (3) H Judas Iscariotes.Nenhum destes trs jamais foi considerado seriamente como autor

    da Carta.(4) Havia no grupo apostlico um segundo Judas. Joo o chama

    Judas, no o Iscariotes (Joo 14:22). Na lista dos apstolos que trazLucas h um apstolo a quem se chama Judas, irmo de Tiago (Lucas6:16; Atos 1:13). Se nos atemos somente a esta verso, bem podemospensar que j temos um muito firme candidato para a paternidade daCarta e, verdadeiramente Tertuliano cr que o autor da Carta o apstoloJudas. Mas no grego este homem chamado simplesmente Judas deTiago. Mas ocorre que este um modismo muito comum no idiomagrego, e quase sempre significa no irmo de, mas simfilho de; eJudas

    de Tiago na lista dos Doze no Judas o irmo de Tiago, mas sim Judaso filho de Tiago, como todas as mais recentes tradues anotamcorretamente.

    (5) Mas ainda fica outro Judas no Novo Testamento, o Judas queera irmo de Jesus (Mateus 13:55; Marcos 6:3). E se algum dos Judas doNovo Testamento escreveu esta Carta, este Judas deve ser o provvelautor, porque s ele pde chamar-se realmente irmo de Tiago, que foi

    tambm um dos irmos de Jesus.A pergunta , pois: Pode tomar-se esta pequena Carta como deJudas, o irmo do Senhor? De ser assim, esta Carta poderia resultar demuito particular interesse por si mesmo. Quais so as objees ao fato deque Judas, o irmo do Senhor, fosse o autor da Carta?

    (1) Pergunta-se: Se Judas era o irmo de Jesus, por que no omenciona? Por que se identifica como irmo de Tiago, e no como irmo

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    Judas (William Barclay) 21de Jesus? Certamente poderia ser uma aceitvel explicao dizer queJudas evita humildemente tomar para si um ttulo de tanta importncia.Mesmo quando tenha sido irmo de Jesus Cristo, Judas pde preferir

    chamar-se com humildade servo de Jesus Cristo, pois Jesus no s eraseu irmo; era tambm seu Senhor. Ainda mais: Judas o irmo de Tiagocom toda segurana nunca saiu da Palestina; a Igreja que conhecia seriaa de Jerusalm, da qual Tiago era indubitavelmente o chefe. Se Judasescrever s Igrejas radicadas na Palestina, ento era natural sublinharessa relao com Tiago. Seria mais surpreendente, quando pensamosnisso, que Judas se chamasse a si mesmo irmo de Jesus que servo deJesus Cristo.

    (2) Objetou-se que Judas se chame a si mesmo servo de Deus eapstolo. Servo de Deus era no Antigo Testamento um ttulo para osprofetas. Deus no faria nada sem antes revelar-lhe a seus servos, osprofetas (Ams 3:7). O que era um ttulo proftico no AntigoTestamento, mais tarde foi um ttulo apostlico no Novo Testamento.Paulo fala de si mesmo como servo de Jesus Cristo (Romanos 1:1;Filipenses 1:1). mencionado como servo de Deus nas Epstolas

    pastorais (Tito 1:1), e esse foi tambm o ttulo que se d a si mesmoTiago (Tiago 1:1). H duas respostas. Primeiro, o ttulo servo de Deusno est restringido aos Doze, j que Paulo mesmo o d a Timteo(Filipenses 1:1); e, mesmo quando se considera como restringido aouso apostlico no mais amplo sentido da palavra, achamos os irmos doSenhor associados com os onze, depois da Ascenso (Atos 1:14) eJudas, assim como Tiago, bem pde ter estado entre eles; e lemos que os

    irmos de Jesus tiveram sua importncia na tarefa missionria da Igreja(1 Corntios 9:5). Semelhantes evidncias contribuiriam para provar queJudas, o irmo do Senhor, pertenceu ao crculo dos apstolos, e que ottulo servo de Deus pode aplicar-se a ele perfeitamente.

    (3) Aduz-se que o Judas da Palestina, irmo de Jesus, no pde terescrito o grego desta Carta, j que sua lngua era o aramaico e no ogrego. No um argumento convincente. Judas pde conhecer e falar o

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    Judas (William Barclay) 22grego, j que se tratava da lingua franca do mundo antigo, falada portodos junto com seus respectivos idiomas originais. O grego de Judas rstico e enrgico, e bem pde estar ao alcance de Judas escrev-lo por

    sua prpria conta e, de no poder faz-lo, apelar ajuda de um tradutor,como fez Pedro com Silvano, quando escreveu sua primeira Carta.(4) Poderia aduzir-se que a heresia contra a qual escreve Judas o

    gnosticismo; e o gnosticismo um modo de pensar caracteristicamentegrego antes que judia... e o que faria o Judas da Palestina escrevendo aosgregos? Mas ocorre algo estranho com a heresia que Judas ataca: trataprecisamente do oposto ortodoxia judia. A dinmica e o controle detoda a atividade judia era a sagrada e santa Lei; o ponto de partida da f

    judia era a existncia de um Deus nico; a crena judia nos anjos estavaaltamente desenvolvida e elaboradamente trabalhada. Agora, no difcil aceitar que quando alguns judeus ingressaram-se na f cristfossem completamente ao outro extremo. No estranho que umhomem, quando , por assim dizer, libertado de algo, v ao extremocompletamente oposto. fcil imaginar a um judeu que, tendo vividodurante toda sua vida sob a lei, ao descobrir a graa salte repentinamente

    ao antinomianismo em reao contra o legalismo formal. No custamuito imaginar a um judeu que toda sua vida creu na existncia de umDeus solitrio reagir e passar subitamente ao extremo oposto. No custamuito imaginar a um judeu que, tendo vivido num universo povoado poranjos que todo o controlam, reagir violentamente contra todos os anjos

    juntos. fcil ver, pelo visto, nas heresias que Judas ataca, a muitosjudeus que chegaram f crist mais como renegados do judasmo que

    como cristos sinceramente convencidos. Bem pde tratar-se de judeusque viram no cristianismo nem tanto uma nova maneira de viver comouma violenta e extrema reao contra sua prpria f.

    (5) Finalmente, argumenta-se que se se tivesse sabido que tinhasido escrito por Judas, o irmo de Jesus, no teria demorado tanto paraganhar um lugar junto s obras aceitas no cnon. Por tratar-se de umirmo de Jesus teria sido aceita em seguida como Escritura. Mas a

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    Judas (William Barclay) 23verdade que nos ltimos anos do sculo I, a Igreja estava compostatotalmente por gentios. Os judeus eram olhados como inimigos edifamadores da Igreja. De fato, na vida de Jesus seus prprios irmos

    tinham sido seus inimigos; e bem pde acontecer que uma Carta tojudia como Judas, teria tido que lutar com os preconceitos para poderentrar no Novo Testamento.

    Judas, o irmo de Jesus

    Se esta Carta no for de Judas, o irmo de Jesus, que outrasalternativas ficam? Em total so dois.

    (1) A Carta indubitavelmente obra de um homem chamado Judas,mas de quem nada mais se pode saber. Esta hiptese encontra duasdificuldades. Primeiro, a coincidncia de que este Judas fosse tambmirmo de Tiago. Segundo, seria difcil explicar como uma Carta topequena chegou a ter autoridade alguma, se for obra de algum que completamente desconhecido.

    (2) Sugere-se que a Carta pseudnima, quer dizer, que foi escrita

    por algum outro e atribuda a Judas. Esse proceder era comum no mundoantigo. No perodo entre o Antigo e o Novo Testamento se escreveramdezenas de livros, muitos dos quais foram atribudos a Moiss, a Enoque,a Baruque, a Isaas, a Salomo e a muitos outros mais. Ningum via nadamal nisso. Mas devemos formular duas observaes a respeito de Judas.

    (a) Em cada uma dessas publicaes o nome ao qual se atribui olivro era sempre famoso. Tratava-se do nome de algum a quem todo

    mundo conhecia como um de seus grandes profetas ou reis ou heris.Tratava-se de um nome que ningum podia confundir, que todos podiamreconhecer facilmente. Mas este Judas, o irmo do Senhor, era umapessoa totalmente obscura. Ningum soube nada a respeito dele. No includo entre os nomes mais ilustres da Igreja primitiva. Seu nome nosignifica absolutamente nada. H um relato que diz que no tempo doDomiciano se procurou evitar o crescimento do cristianismo. Chegaram

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    Judas (William Barclay) 24notcias autoridade romana de que certos descendentes de Jesus aindaviviam, entre eles os netos de Judas. Os romanos pensaram que erapossvel que a rebelio pudesse organizar-se em torno desses homens,

    que com o tempo poderiam chegar a converter-se em cabeas edirigentes de uma revoluo crist. Foi-lhes ordenado comparecerperante os tribunais romanos. Quando o fizeram, viu-se que eramcalejados filhos do trabalho e foram despachados por serem inofensivose carecer de importncia. evidente que Judas foi Judas o obscuro. Nopde haver nenhuma razo para atribuir o livro a um homem a quemningum conhecia.

    (b) Quando se escrevia um livro atribuindo-o a uma pessoa muitoconhecida, no se deixava em duvida ao leitor quanto ao nome ao qualse atribua. esclarecia-se perfeitamente, sublinhando-o, o nome da pessoaa quem se atribua. Se esta Carta tivesse sido publicado como obra deJudas o irmo do Senhor, certamente lhe teria dado este ttulo de maneiraque ningum pudesse confundir-se; e o certo que a identidade do autorresulta muito confusa, que o reverso do que pde ter ocorrido se o livrotivesse sido deliberadamente pseudnimo.

    Quando lemos Judas, salta vista a mentalidade do judeu; suasreferncias so tais que s um judeu poderia entend-las, e s um judeupoderia captar suas aluses. singelo e rstico, mas vvido e pitoresco.No h dvida que se trata da obra de um singelo pensador antes que deum telogo. Encaixa com Judas, o irmo do Senhor. atribuda a seunome, e no teria havido razo alguma para tal atribuio a menos quede fato o escrevesse.

    Nossa opinio que no nos equivocamos se pensamos que estapequena Carta pertence realmente a Judas, o irmo do Senhor.

    Judas 1O que significa ser cristo? - 1-2O chamado de Deus - 1-2 (cont.)A defesa da f - 3

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    Judas (William Barclay) 25Perigos internos - 4Os terrveis exemplos - (1) O destino de Israel - 5-7Os terrveis exemplos - (2) O destino dos anjos - 5-7 (cont.)

    Os terrveis exemplos (3) Sodoma e Gomorra - 5-7 (cont.)O desprezo pelos anjos - 8-9O Evangelho da carne - 10As lies da histria - 11Descrio dos homens mpios - 12-16O egosmo dos homens mpios - 12-16 (cont.)O destino da desobedincia - 12-16 (cont.)Caractersticas dos homens mpios - 12-16 (cont.)As caractersticas do erro - 17-19As caractersticas do erro - 17-19 (cont.)As caractersticas da bondade - 20-21Resgatando os perdidos - 22-23Doxologia final - 24-25

    O QUE SIGNIFICA SER CRISTO?

    Judas 1-2Poucas coisas falam mais eloqentemente de um homem que a

    maneira em que fala de si mesmo. Poucas coisas so mais ilustrativasque os ttulos pelos quais um homem quer ser conhecido. Judas chama-se a si mesmo servo de Jesus Cristo e irmo de Tiago. Imediatamente,isto diz duas coisas a respeito de Judas.

    (1) Judas era um homem muito feliz com seu segundo lugar. Nofoi nem de longe to conhecido como Tiago; e est contente de que oconheam como o irmo de Tiago. Comportava-se da mesma maneiraque Andr, o irmo de Simo Pedro (Joo 6:8). Andr tambm foiapresentado e conhecido com relao a seu irmo muito mais famoso.Tanto Judas como Andr puderam zangar-se e ressentir-se contra seusdois irmos mais velhos, a cuja sombra viveram, mas tanto um como

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    Judas (William Barclay) 26outro devem ter desfrutado do grande dom de ocupar dispostos e alegreso segundo lugar.

    (2) A nica expresso honrosa que Judas pde consentir-se foi a de

    chamar-se a si mesmo servo de Jesus Cristo. O termo grego doulos, esignifica mais que servo; significa escravo. Jesus era o Amo e Judas oescravo. Quer dizer, Judas v um nico propsito em sua vida: estarsempre disposio de Jesus, no servio de sua causa. A glria maiorque um cristo pode conceber a de ser til a Jesus Cristo.

    Nesta introduo, Judas emprega trs palavras para descrever ocristo.

    (1) Cristos so aqueles chamados por Deus. O grego para chamar kalein e se emprega em trs contextos diferentes.

    (a) a palavra para convocar ao trabalho, ao dever e responsabilidade. a palavra que se usa para convocar um homem aparticipar do servio a sua cidade, a sua comunidade, a seu pas. O cristo chamado a trabalhar, a cumprir, a ser responsvel no servio a Cristo.

    (b) a palavra usada para convidar a algum a uma festa ou um

    festival. Emprega-se para convidar algum a celebrar e festejar umaocasio feliz. O cristo chamado a desfrutar da alegria de serconvidado de Deus.

    (c) a palavra com que se chama um homem a juzo. citadoperante o tribunal para que responda por si mesmo. O cristo serchamado a comparecer perante o trono de Cristo. O cristo o homemchamado a responsabilizar-se por Cristo, a desfrutar em Cristo e a

    comparecer no juzo de Cristo.(2) Os cristos so os amados em Deus. Este grande acontecimentodetermina a natureza do chamado, chamar um homem implica cham-lopara am-lo e para ser amado por Ele. Deus chama os homens ao dever eao trabalho, mas nem esse dever nem esse trabalho so um fardo, massim um privilgio. Deus chama os homens ao servio, mas no oservio de uma tirania, mas da comunidade. Finalmente, Deus chama os

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    Judas (William Barclay) 27homens a juzo, mas no se trata somente de um juzo de justia, mastambm de um juzo de amor.

    (3) Os cristos so aqueles guardados em Jesus Cristo. O cristo

    jamais fica s; Jesus Cristo sempre sentinela de sua vida ecompanheiro de seu caminho. O cristo no apenas chamado, mastambm guardado.

    O cristo o homem chamado por Deus, amado em Deus, eguardado em Cristo.

    O CHAMADO DE DEUS

    Judas 1-2 (continuao)Antes de passar a outra passagem, pensemos um pouco mais a

    respeito do chamado de Deus, e procuremos ver o que significa talchamado.

    (1) Paulo fala de ser chamado a ser apstolo (Romanos 1:1; 1Corntios 1:1). Em grego, a palavra apstolo apostolos, e provm doverbo apostellein, que significa enviar; um apstolo uma pessoa

    enviada. O apstolo a pessoa enviada ao mundo por Cristo e paraCristo. Quer dizer, o cristo embaixador de Cristo. enviado aomundo para falar de Cristo, para agir por Cristo, para viver por Cristo.Em suas mos reside a dignidade de Cristo. Segundo viva sua vida,conseguir interessar a outros em Cristo. O cristo est no mundo, entreos homens, como representante e enviado de Jesus Cristo.

    (2) Paulo fala de ser chamados a ser santos (Romanos 1:7; 1

    Corntios 1:2). A palavra para santo hagios. A idia pressuposta naraiz desta palavra diferente. O sbado santo porque diferente dosoutros dias; e Deus soberanamente santo porque diferente doshomens. Ser chamado a ser santo ser chamado a ser diferente. Viverem santidade viver uma vida em que toda palavra, pensamento e aoso conscientemente julgados e decididos pelo exemplo e a presena deJesus Cristo. O mundo tem seus prprios critrios e sua prpria escala

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    Judas (William Barclay) 28de valores. A diferena na vida crist que para o cristo Cristo onico exemplo, e a lealdade a Cristo o nico valor no mundo.

    (3) O cristo chamado segundo o propsito de Deus (Rom. 8:28).

    O chamado de Deus chega a todos os homens, ainda que nem todos oaceitem. Isto significa que Deus tem um propsito para cada homem.Algum disse que o azar o que estamos obrigados a fazer, e o destinoaquilo que nos propomos fazer. Cada homem um homem do destino,porque cada homem tem um lugar nos propsitos de Deus. E o cristo o homem que se submete aos propsitos de Deus para ele e sua vida.

    Paulo tem muito a dizer desta chamada de Deus, e s podemosexpress-lo sumariamente. O chamado de Deus pe os homens diante deuma formidvel esperana (Efsios 1:18; 4:4). O chamado de Deus deveriaser uma experincia integradora, visto que todos os homens deveriam ficarunidos pela convico de que todos eles tm parte no propsito e nochamado de Deus (Efs. 4:4). A chamada de Deus uma chamada suprema(Filip. 3:14), uma chamada que pe os ps do homem no caminho sestrelas; trata-se de uma chamada celestial (Heb. 3:1), uma chamada quefaz o homem pensar a respeito das coisas invisveis e eternas, que chega a

    ele de um mais alm e vai para alm de seu penetrante olhar; umachamada santa, um chamado, como vimos, a ser diferente, um chamado consagrao a Deus. um chamado que pode cobrir at as tarefascotidianas de um homem comum. Seu trabalho de cada dia parte dissopara o qual chamado (1 Cor. 7:20). uma chamada que provm de Deus,e Deus no altera nem modifica seu propsito (Romanos 11:29). umachamada que no faz nenhuma classe de diferencia, que passa por em cimade todas as categorias e classificaes do mundo (1 Corntios 1:26). Ainda

    que seja um chamado para com Deus, no deixa o homem sem nada quefazer. O cristo deve ser merecedor de sua chamada (Efsios 4:1; 2Tessalonicenses 1:11), e toda a vida deve converter-se num longo esforopara fazer seguro esta chamada (2 Pedro 1:10). A chamada de Deus oprivilgio, o desafio e a inspirao da vida crist.

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    Judas (William Barclay) 29A DEFESA DA F

    Judas 3

    Aqui temos a ocasio desta Carta. Judas se tinha comprometido aescrever um tratado sobre a f crist, a f que todos os cristoscompartilham, mas lhe chegaram notcias de que uns homens maus eembusteiros tinham estado disseminando ensinos funestos por toda partee ento abandonou seu projeto original para escrever esta Carta. Judascompreendia cabalmente o dever de ser o guardio do rebanho de Deus.Estava ameaada a pureza de sua f, e ele foi em defesa deles e da f.Isto significou deixar de lado seu tratado, mas h momentos em que muito mais oportuno escrever brevemente para o presente que um longotratado para o futuro. Pode ser que Judas jamais perdesse as esperanasde escrever o tratado que planejava, mas o fato que fez muito mais pelaIgreja ao escrever esta urgente pequena Carta que se tivesse preparadoum longo e detalhado tratado sobre a f. Nesta passagem se anotamcertas afirmaes sobre a f, que ns compartilhamos.

    (1) A f algo que nos dado. Os fatos da f crist no so algo

    que fabricamos ou descobrimos por nossa prpria conta. No verdadeirosentido da palavra, eles conformam uma tradio, quer dizer, algo quefoi irradiado de gerao em gerao at chegar a ns. Remontam-senuma ininterrupta cadeia de tradio at Jesus Cristo mesmo. Podemosagregar algo mais. Os atos da f crist so coisas que no descobrimospor nossa prpria conta. Portanto, verdade que a tradio crist noconforma algo irradiado simplesmente atravs de frios textos escritos;

    uma realidade que se transmite de pessoa a pessoa atravs das geraes.A cadeia da tradio crist uma cadeia viva, cujos elos so homens emulheres que experimentaram em suas prprias vidas a dinmica e amaravilha dos fatos.

    (2) A f crist uma realidade que nos d de uma vez e parasempre. Quer dizer, h na f crist uma qualidade invarivel. Isso nosignifica que cada poca no deva ser redescoberta, repensada e

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    Judas (William Barclay) 30experimentada novamente; mas quer dizer que h uma substnciainaltervel nela, e o centro permanente e inaltervel da f que JesusCristo veio ao mundo, viveu e morreu para trazer salvao aos homens.

    (3) A f crist algo que confiado aos que vivem consagrados aDeus. Quer dizer, a f crist no possesso de ningum em particular: propriedade da comunidade da Igreja. No questo de interpretaespessoais. A f crist se manifesta dentro da Igreja, preservada pelaIgreja e compreendida dentro da Igreja.

    (4) A f crist deve ser defendida. Cada cristo deve ser umdefensor da f. Se a tradio crist nos chega de gerao em gerao,quer dizer que cada uma dessas geraes deve preserv-la incorruptvel,pura, como em suas origens. Mas h tempos quando fica difcil. Apalavra que Judas emprega para defender epagonizesthai, que contm araiz do termo agonia. A defesa da f pode resultar uma empresa muitocustosa; mas a defesa e a preservao da f um dever que recai sobrecada uma das geraes de cristos. E nosso dever consiste em defenderaquilo que recebemos.

    PERIGOS INTERNOS

    Judas 4Aqui enfrentamos o perigo que faz com que Judas deixe de lado o

    tratado que havia planejado escrever em princpio; Judas toma a pena eescreve esta Carta abrasadora. O perigo vinha de dentro da Igreja. Noconsistia precisamente na ameaa de perseguies. Havia um cncer no

    prprio corao da Igreja.Certos homens se introduziram furtivamente (v. 4, TB) A palavragrega (pareisduein) extremamente expressiva. Emprega-se para aspalavras lisonjeadoras e sedutoras do advogado ardiloso que se infiltramnas mentes dos juzes e jurados; usa-se para um proscrito que retorna eentra secretamente no pas que o expulsou; emprega-se para referir-se aum processo sutil e paulatino de penetrao de inovaes na vida de um

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    Judas (William Barclay) 31pas, que finalmente mina e acaba com as leis ancestrais. Indica sempreuma secreta, furtiva insinuao de algo prejudicial numa sociedade ounuma situao concreta.

    Algumas pessoas se infiltraram na Igreja. Eram as pessoas aos quaiso juzo aguarda. Eram criaturas mpias, desprovidas de caridade em seupensamento e em seu comportamento. Judas assinala dois de seus rasgosmais salientes.

    (1) Pervertiam a graa de Deus, fazendo-a uma simples desculpapara uma flagrante libertinagem. A palavra grega traduzida libertinagem aselgeia. Trata-se de uma palavra dura e terrvel. O adjetivocorrespondente aselges. A maioria das pessoas, quando cometem umafalta, procuram ocult-la. Essas pessoas tm suficiente conscincia paraconservar pelo menos algum sentimento de vergonha; sentem bastanterespeito pela decncia comum para no querer ser descobertos. Mas oaselges o homem que perdeu a tal ponto seu honra, sua decncia e suavergonha, que no se importa com o fato de outrem ver sua imoralidade.No se trata dele querer ostentar arrogante e orgulhosamente suas faltas;simplesmente sucede que ele pode fazer publicamente as coisas mais

    vergonhosas, porque para ele j no tem importncia absolutamente nemsua vergonha nem sua decncia.

    Esses homens estavam indubitavelmente tingidos de gnosticismo. Ognosticismo era a corrente de pensamento que sustentava que s oesprito era bom, e a matria essencialmente m e, em conseqncia, ocorpo tambm. E sendo assim, j no importa o que um homem faa comseu corpo. Uma vez que seu corpo mau, pode satisfazer seus desejos

    luxuriosos porque no tem nenhuma importncia o que faa com seucorpo. E ainda mais, esses homens criam que, uma vez que a graa deDeus era suficiente para cobrir qualquer tipo de pecado, podiam pecarcomo quisessem. De toda maneira seriam perdoados; quando mais sepecar, maior a graa; portanto, por que nos preocupar com o pecado? Agraa se encarregar dele. Assim transformavam a graa em justificaopara o pecado.

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    Judas (William Barclay) 32(2) Negavam a nosso Senhor e Dono, Jesus Cristo. H mais de uma

    maneira de negar a Jesus Cristo.(a) Pode-se neg-lo no momento das perseguies e abandon-lo a

    bem da segurana pessoal.(b) Pode-se abandon-lo por convenincias pessoais. H ocasiesem que muito mais conveniente ocultar que manifestar o fato de que se cristo. H ocasies em que algum se v tentado a esquecerconvenientemente seu cristianismo.

    (c) Pode-se negar a Jesus Cristo com a vida e a conduta. Os lbiospodem dizer que se cr em Jesus Cristo, mesmo quando as palavras, asatitudes e a vida inteira o neguem, e faam mentirosa a profisso de f.

    (d) Pode-se negar a Jesus Cristo dizendo coisas errneas sobre Ele.Se aqueles homens eram gnsticos, teriam duas idias errneas a respeitode Jesus. Primeiro, visto que a matria m e o corpo mau,sustentariam que Jesus no teve realmente um corpo, que s aparentouter um corpo, que no foi outra coisa seno um tipo de esprito fantasmalsob a forma aparente de um corpo.

    O termo grego paraparecer dokein; e esses homens se chamaram

    Docetistas. (No h letra c em grego; e na palavra docetista a letra kdogrego se translitera por c e, em conseqncia, este c deveria pronunciar-se forte como um k). Esses homens negavam a humanidade e a realencarnao de Jesus Cristo. Em segundo lugar, negavam a unicidade deJesus. Criam que havia muitssimos estgios entre a matria imperfeitadeste mundo e o esprito perfeito de Deus, e que Jesus era s um dessestantos estgios.

    No estranho que Judas se alarmasse. Via-se diante de umasituao em que alguns homens se infiltraram na Igreja para perverter agraa de Deus, fazendo dela uma justificao e at um motivo para pecarcom a maior falta de vergonha e libertinagem possveis, e que negavam ahumanidade e a soberania de Jesus Cristo.

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    Judas (William Barclay) 33OS TERRVEIS EXEMPLOS (1) O DESTINO DE ISRAEL

    Judas 5-7Judas formula uma advertncia para aqueles que tinham pervertido

    a f e a conduta da Igreja. Diz-lhes que lhes est lembrando coisas queeles conhecem perfeitamente. Em certo sentido correto dizer que todaa pregao dentro da Igreja crist no consiste em apresentar novasverdades, mas em confrontar os crentes com as verdades que jconhecem, mas que esqueceram ou esto menosprezando com todainteno. A pregao da Igreja freqentemente nada mais que lembrarao homem quem ele e as coisas que j conhece.

    Para compreender os primeiros dois exemplos da histria que Judascita devemos compreender o seguinte: os homens que estavamcorrompendo a Igreja no se consideravam a si mesmos como inimigosda Igreja nem do cristianismo, mas sim como pensadores de vanguarda,acima do povo comum, como uma elite, uma aristocracia espiritual.Viam-se si mesmos como lderes e no como corruptores da Igreja.Judas escolhe este exemplo para adverti-los que, mesmo quando algum

    receba o mais valioso dos privilgios, assim mesmo pode fracassardesastrosamente; lembra-lhes que at aqueles que receberam os maioresdons e privilgios de Deus no podem considerar-se salvos, mas simdevem permanecer ainda em permanente vigilncia contra os erros.

    Judas escolhe o primeiro exemplo da prpria histria de Israel.Resgata seu relato do livro de Nmeros, captulos 13 e 14. A histria assim: a mo poderosa de Deus tinha libertado a seu povo da escravido

    no Egito. Que ato de libertao mais antigo que esse podia haver jamais?A direo de Deus tinha levado a salvo o seu povo atravs do deserto, atas fronteiras da Terra Prometida. Acaso poderia haver-se manifestadomaior providncia de Deus que essa?

    Nos prprios limites da Terra Prometida, em Cades-Barnia, osisraelitas enviaram doze espies para informar-se antes de levar adiante ainvaso definitiva. Os espies retornaram com ms notcias, exceto Josu

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    Judas (William Barclay) 34e Calebe; Os dez espies disseram que os perigos a enfrentar eramterrveis, e que o povo era muito numeroso e estava muito armado, queno haveria possibilidades de salvao caso os enfrentassem, e que

    jamais poderiam estabelecer-se na Terra Prometida. Os israelitasrejeitaram o relatrio de Josu e Calebe, aqueles que estavam a favor deavanar, e aceitaram os relatrios dos espies restantes, aqueles queinsistiam em que no havia nenhuma esperana. Tudo isto configurouum evidente ato de desobedincia a Deus, uma evidncia dadesconfiana em Deus; e a conseqncia foi a sentena de Deus contratodos eles, menos para Josu e Calebe; quer dizer, todos os que tivessemmais de vinte anos no entrariam na Terra Prometida, mas andariamvagando pelo deserto durante quarenta anos, at morrer (Nmeros 14:32-33; 32:10-13). Este era o terrvel exemplo daqueles que tinham sidotirados do Egito, levados atravs do deserto e at perto dos prprioslimites da Terra Prometida, mas que, apesar de tantas misericrdias,foram culpados de desobedecer e perder a f, e que por conseguinte,receberam a morte vagando pelo deserto em lugar do descanso na TerraPrometida.

    Esta figura empregada por Judas rondava pela mente de Paulo e doautor da Carta aos Hebreus (1 Corntios 10: 5-11; Hebreus 3:184:2).Aqui estamos em face da evidncia de que at o homem com grandesprivilgios pode tropear em qualquer momento, desobedecendo ouperdendo sua f.

    O doutor Johnston Jeffrey nos conta que um homem muito famosorecusou categoricamente que se escrevesse sua biografia antes de morrer.

    "Vi", disse, "muitos homens tropearem na ltima volta."Joo Wesley advertiu: "Portanto ningum presuma de misericrdiaspassadas, como se elas estivessem isentas de risco."

    Em seus sonhos John Bunyan viu que, at das portas do cu saa umcaminho para o inferno.

    A advertncia de Judas a estes homens que, grandes como fossemos seus privilgios, devem ter ainda muito cuidado de que no lhes

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    Judas (William Barclay) 35sobrevenha algum desastre; e esta uma advertncia a que cada um dens faramos bem em prestar ateno.

    OS TERRVEIS EXEMPLOS (2) O DESTINO DOS ANJOS

    Judas 5-7 (continuao)O segundo exemplo terrvel que toma Judas o da queda dos anjos.Os judeus tinham uma bem desenvolvida doutrina e hierarquia dos

    anjos. Os anjos eram servos de Deus. Em realidade, os judeus criam quecada nao tinha seu anjo presidente. Na Septuaginta, a verso grega dasEscrituras hebraicas, Deuteronmio 32:8 diz: "Quando o Altssimo

    repartia as naes, quando espalhava os filhos de Ado, ele fixoufronteiras para os povos, conforme o nmero dos filhos (anjos) de Deus"(B.J.). Quer dizer, cada nao tinha seu anjo presidente.

    Os judeus criam numa queda dos anjos, e disto se fala bastante noLivro de Enoque, to freqentemente prximo ao pensamento de Judas.Quanto a esta queda dos anjos, podemos assinalar duas linhas detradio.

    (1) A primeira via a queda dos anjos como resultado da arrogncia eda rebeldia; os anjos desobedeceram a Deus e se rebelaram contra Ele.Esta lenda girava especialmente ao redor do nome de Lcifer, o portadorda luz, o filho da manh. Isaas escreve: Como caste do cu, estrelada manh, filho da alva! (Isaas 14:12). Quando os setenta retornaramde sua misso e informaram a Jesus a respeito de seus xitos, Jesus ospreveniu contra a arrogncia. Disse: Eu via Satans caindo do cu

    como um relmpago (Lucas 10:18). A idia era que tinha havido umaguerra civil no cu, e que os anjos se levantaram contra Deus e foramexpulsos do cu, e que Lcifer tinha sido o chefe dessa rebelio.

    (2) A segunda corrente da tradio encontra seu antecedenteescriturrio em Gnesis 6:1-4. Segundo esta linha de pensamento, osanjos foram seduzidos pela beleza das mulheres mortais; abandonaram ocu, seduziram a essas mulheres mortais, e assim pecaram.

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    Judas (William Barclay) 36No primeiro caso, a queda dos anjos era resultado da arrogncia;

    no segundo caso, a queda dos anjos era resultado da cobia das coisasproibidas.

    Com efeito, Judas toma as duas idias e as rene. Diz que os anjosabandonaram seu estado original, quer dizer, ambicionaram uma posioe uma funo que no eram para eles. Tambm diz que abandonaram oseu prprio domiclio, quer dizer, que deixaram os lugares celestiais evieram Terra para viver com as filhas dos homens.

    Tudo isto nos estranhamente remoto e desconhecido; move-senum mundo de pensamentos e em meio de histrias e tradies das quenos afastamos.

    Mas a advertncia de Judas clara. Duas coisas arruinaram os anjos o orgulho e a cobia; e ainda que eram anjos, e ainda que o cu erasua habitao, e ainda que tinham estado na presena de Deus, noobstante pecaram, e por seu pecado esto reservados para o juzo. Paraaqueles que leram e ouviram as palavras de Judas pela primeira vez, todaa linha de pensamento estava bem clara, porque Enoque teve muito quedizer a respeito dessa queda dos anjos, e de seu destino, e do juzo que

    deveriam aguardar.Assim Judas falou com seu povo em termos que se podia entender

    perfeitamente; e lhes disse que se a luxria e o orgulho tinham arruinadoos anjos apesar de seus privilgios, tambm poderiam arruinar a eles. Osmaus homens da Igreja eram to orgulhosos a ponto de rebelar-se contraos ensinos desta, e pensar que eles sabiam muito mais. Seu estilo de vidaera luxurioso; pervertiam a graa de Deus transformando-a em

    justificao de sua flagrante libertinagem; a luxria tinha degradado osanjos, e tambm poderia degrad-los. Seja qual for o antigo pano defundo das palavras de Judas, sua advertncia ainda conserva seu valor. Oorgulho que sabe mais que Deus, e o desejo das coisas proibidas, so ocaminho runa no tempo e na eternidade.

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    Judas (William Barclay) 37OS TERRVEIS EXEMPLOS - (3) SODOMA E GOMORRA

    Judas 5-7 (continuao)O terceiro dos exemplos escolhidos por Judas o da destruio de

    Sodoma e Gomorra. Famosas por seus pecados, estas cidades foramarrasadas pelo fogo de Deus. Sir George Adam Smith, no The HistoricalGeography of the Holy Landassinala que:

    "Nenhum outro incidente na histria causou tanta impresso sobre opovo judeu, e que Sodoma e Gomorra so vrias vezes usadas nasEscrituras como exemplos por excelnciado pecado do homem e do juzo

    de Deus; at Jesus mesmo as emprega (Deuteronmio 29:23; 32:32; Ams4: 11; Isaas 1:9; 3:9; 13:19; Jeremias 23:14; 49:18; 50:40; Sofonias 2:9;Lamentaes 4:6; Ezequiel 16:46, 49, 53, 55; Mateus 10:15; 11:24; Lucas10:12; 17:29; Romanos 9:29; 2 Pedro 2:6; Apocalipse 11:8). "O resplendorde Sodoma e Gomorra se esparrama ao longo de toda a histria bblica."

    A histria do fim da maldade de Sodoma e Gomorra contada emGnesis 19:1-11, e o trgico relato de sua destruio na passagem

    imediatamente seguinte (Gnesis 19:12-28). O pecado de Sodoma umadas mais horrveis histrias. Ryle o chamou "um incidente repulsivo". Overdadeiro horror do incidente est um tanto dissimulado por umaelegncia da linguagem hebraica que em certo modo via o evento. Doisanjos visitantes chegaram a L, e por insistncia deste, entraram em suacasa para descansar. Estando eles no interior da casa, os habitantes deSodoma rodearam a casa, exigindo de L que levasse os visitantes para

    fora, porque queriam conhec-los. Em hebraico o verbo conhecerrefere-se s relaes sexuais. Diz-se, por exemplo, que Ado conheceu suamulher, e ela concebeu e deu luz a Caim (Gnesis 4:1). O que queriamfazer os homens de Sodoma era ter relaes sexuais antinaturais,homossexuais, com os dois visitantes de L. Estavam entregues sodomia, palavra com que se lembra horrendamente esse pecado.

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    Judas (William Barclay) 38Depois disto, Sodoma e Gomorra foram consumidas da face da

    Terra. As cidades vizinhas eram Zoar, Adm e Zeboim (Deuteronmio29:23; Osias 11:8). Este desastre teve lugar no espantoso deserto da

    regio do Mar Morto, uma regio da qual Sir George Adam Smith diz:"Este tremendo vazio, esta parte das regies infernais sado superfcie,este inferno com o Sol brilhante nele." Diz-se que essas cidades estavamali, e que debaixo dessa terra calcinada, estril e retorcida ainda arde ofogo eterno da destruio.

    O terreno betuminoso com petrleo por baixo, e Sir George AdamSmith conjetura que isso aconteceu desta maneira:

    "Neste solo betuminoso ocorreu uma dessas terrveis exploses econflagraes que ocorreram em terrenos parecidos da Amrica do Norte.Em tais solos encontram-se reserva de petrleo e gs, e so repentinamentedescarregadas por sua prpria presso ou pelos estremecimentos da Terra.O gs explode, projetando rumo atmosfera enormes massas de petrleoque se precipitam como chuva com muita ferocidade, so to inextinguveisque flutuam ardendo sobre as guas."

    Uma dessas erupes de fogo e chuva de granizo de chamas foi oque destruiu Sodoma e Gomorra. O tremendo deserto estava a apenas umdia de caminho de Jerusalm. Os homens nunca esqueceram o fogo deSodoma e Gomorra, e o juzo de Deus sobre o pecado.

    Assim, pois, Judas lembra a esses maus homens de seu tempo, asorte que tiveram aqueles que muitos sculos antes tinham desafiado alei moral de Deus. razovel supor que aqueles homens contra os quais

    escreve Judas tinham cado tambm na homossexualidade e a sodomia eque estivessem pervertendo a graa de Deus para cobrir at essespecados vergonhosos.

    Judas insiste em que esses homens deveriam lembrar que o pecadoe o juzo andam juntos, deveriam aprender da histria, e arrepender-se atempo.

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    Judas (William Barclay) 39O DESPREZO PELOS ANJOS

    Judas 8-9

    Judas inicia esta passagem comparando os homens maus com osfalsos profetas aos quais a Escritura condena. Deuteronmio 13:1-5 diz oque se deve fazer com "os profetas ou sonhadores de sonhos" quecorrompem as naes e seduzem as pessoas de sua lealdade a Deus. Taisprofetas merecem ser mortos sem misericrdia e exterminados. Um dosttulos para estes profetas foi o de "sonhador de sonhos", e os homensaos quais Judas ataca so falsos profetas, sonhadores de falsos sonhos,sedutores do povo, e como tais devem ser tratados. Seus falsos sonhos eseus falsos ensinos originavam duas coisas.

    (1) Eles fazia corromper a carne. J vimos as duas direes de seusensinos a respeito da carne. Primeiro, a carne totalmente m; apenas oesprito tem importncia; portanto, a carne no interessa absolutamente,e os instintos do corpo podem ter expresso sem impedimento, obstculonem controle. Segundo, a graa de Deus totalmente perdoadora etotalmente suficiente; portanto, o pecado no tem importncia, porque a

    graa pode e deve perdoar todos os pecados. O pecado no mais que omeio pelo qual se d graa oportunidade de operar. Esses erros dosfalsos pensadores so evidentes; o que no est to claro no queconsistia seu segundo erro.

    (2) Desprezavam os anjos. As potestades superiores e o senhorioanglico so nomes para as diferentes posies de anjos dentro dahierarquia anglica. Isto segue imediatamente depois da citao de

    Sodoma e Gomorra como terrveis exemplos; e parte do pecado deSodoma foi o desejo de seus habitantes de abusar dos anjos quevisitaram a L (Gnesis 19:1-11). Os homens aos quais Judas atacablasfemavam dos anjos. Para demonstrar terrvel e agravante era o quefaziam, Judas cita um exemplo, no da Escritura, mas sim de um livroapcrifo, intituladoA Assuno de Moiss. Uma das coisas chamativasde Judas que freqentemente fazia este tipo de citaes, no da

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    Judas (William Barclay) 40Escritura, mas sim de livros apcrifos. Estas citaes nos parecem muitoestranhas; mas esses livros eram muito populares e vastamenteutilizados na poca em que Judas escrevia, e para os leitores de Judas

    essas citaes seriam muito eficazes.O relato da Assuno de Moiss conta o seguinte: A estranhahistria da morte de Moiss relatada em Deuteronmio 34:1-6. A

    Assuno de Moiss agrega a esse relato a histria posterior de comoo corpo de Moiss foi entregue ao arcanjo Miguel para lhe dar sepultura.Ento o diabo disputa com Miguel pelo corpo de Moiss. Base suapretenso fundamentalmente em dois motivos. Primeiro, o corpo deMoiss era matria; a matria m e, portanto, o corpo de Moiss lhepertence, visto que a matria seu domnio. Segundo, Moiss era umassassino, pois acaso no tinha dado morte ao egpcio a quem viucastigar os hebreus? (xodo 2:11-12). E se Moiss tinha sido assassino,o diabo tinha direito a reclamar seu corpo.

    Agora, o ponto que Judas assinala este: Miguel era um arcanjo; odiabo era o diabo; Miguel estava empenhado numa tarefa que Deus lhetinha encarregado; o demnio procurou impedir-lo dizendo que no tinha

    direito algum. Mas at em tais circunstncias Miguel no falou nada maudo diabo, nem proferiu nenhuma acusao contra ele, mas sim lhe disse,simplesmente: "O Senhor te repreenda!" O que Judas quer destacar que, se o maior dos anjos bons no quis dizer nada mau contra o maiordos anjos maus, at em circunstncias como essas, ento certamentenenhum homem pode falar mal de nenhum anjo.

    No sabemos o que teriam dito sobre os anjos aqueles homens aos

    quais atacava Judas. Talvez dissessem que os anjos no existiam, ou queeram maus e estavam a servio do deus mau. Esta uma passagem que,sem dvida, significa muito pouco para ns, mas que, da mesmamaneira, para no duvidar disso, configuraria um poderoso argumentocontra aqueles aos quais Judas se dirigiu.

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    Judas (William Barclay) 41O EVANGELHO DA CARNE

    Judas 10

    Judas diz duas coisas dos homens pervertidos aos quais ataca.(1) Que criticam tudo o que no entendem. Qualquer coisa queescapa sua rbita e sua experincia, vem-na como desprezvel ecarente de valor. Em suas vidas no h lugar para as coisas e valoresespirituais; e, portanto, consideram todas as coisas espirituais comdesdm e menosprezo. As coisas do Esprito so discernidasespiritualmente (1 Corntios 2:14, NVI). Eles carecem de discernimentoespiritual e, em conseqncia, so cegos a todas as realidades espirituaise as menosprezam.

    (2) Deixam-se corromper pelas coisas que entendem. O queentendem so as demandas dos baixos instintos, que compartilham comos animais. Sua lei a lei dos instintos desenfreados; seu modo de vida deixar que os instintos que compartilham com os animais sigam seucurso; seus valores so os valores carnais; seu evangelho um evangelhoda carne. Os homens que Judas descreve perderam o sentido e

    conscincia das coisas espirituais. As exigncias de instintos animais sosuas nicas realidades e normas de vida.

    O terrvel disto que a primeira condio o resultado direto dasegunda. O trgico da vida que ningum nasce sem um sentido dascoisas espirituais, mas que pode perder tal sentido, at o ponto de quepara ele todas as coisas espirituais deixem de existir. Um homem podeperder qualquer de suas faculdades, se deixar de us-la. Isto ns

    podemos ver em coisas to simples como um jogo ou uma habilidade. Sedeixamos de praticar um esporte, perdemos a habilidade para jog-lo. Sedeixarmos a prtica de uma habilidade como tocar piano ns aperdemos. Alguma vez podemos aprender os rudimentos de outroidioma, mas se no o lemos ou falamos, ns o esquecemos.

    Todos os homens podem ouvir a voz de Deus; todos os homens tmalguma conscincia das coisas psquicas, e todos os homens tm os

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    Judas (William Barclay) 42instintos animais dos quais, em realidade, depende a futura existncia daespcie. Mas se um homem insiste no curso de sua vida em ignorar aDeus, se fechar seus ouvidos e seus olhos a todos os valores e normas e

    vozes espirituais, se fizer de seus instintos o nico critrio de seusdesejos, e o nico motor de seu comportamento, ento pode chegar omomento em que j no possa ouvir a voz de Deus, quando se tiveremesquecido os valores espirituais e quando j no dispuser de outra coisapara orientar sua vida que de seus urgentes desejos. No final o homempode chegar a um ponto em que no veja nem sequer a necessidade deexercitar o domnio prprio, quando no puder ver nem sequer a belezada castidade, quando j no o atrair a pureza, e quando a nica coisarealmente importante em seu mundo seja a satisfao dos impulsos,instintos e desejos que surgem de sua natureza animal. E terrvelchegar a ser surdo para com Deus. Mas assim eram os que Judas ataca.

    AS LIES DA HISTRIA

    Judas 11

    Judas acode agora histria dos hebreus para encontrar paralelos frieza dos homens de seu prprio tempo; e dali tira os exemplos de trsconhecidos pecadores.

    (1) Primeiro apresenta a Caim, o homicida de seu irmo Abel(Gnesis 4:1-15). Na tradio hebria Caim representava duas coisas.

    (a) Era o primeiro homicida na histria da humanidade; e, como dizA Sabedoria de Salomo, "... pereceu por dar morte em seu furor a seu

    irmo" (Sabedoria 10:3). muito provvel que Judas queira nos dizerque aqueles que enganam e seduzem a outros, no so mais quehomicidas das almas dos homens e que, em conseqncia, so osdescendentes espirituais de Caim.

    (b) Mas na tradio e na doutrina hebria Caim representa algomais que isso. Em Filo representa o egosmo e o amor prprio. Noensino rabnico, Caim o tipo do homem cnico e ctico.

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    Judas (William Barclay) 43O Targum de Jerusalm o representa dizendo: "No h nem juzo

    nem juiz; no h outro mundo, nem nenhuma boa recompensa para obom nem castigo sobre o mal; nem h compaixo alguma na criao do

    mundo nem em seu governo."Para os pensadores hebreus Caim era o prottipo do incrdulocnico, ctico, ateu e materialista, que no cria nem em Deus nem naordem moral do mundo e que, portanto, fazia quanto quisesse. Assim,Judas acusa a seus oponentes de desafiar a Deus e de negar a ordemmoral do mundo. Ainda verdade que o homem que escolhe pecar aindatem que contar com Deus, e tem ainda que aprender, sempre com dor emuitas vezes tragicamente, que ningum pode desafiar impunemente aordem moral do mundo.

    (2) O segundo Balao. No pensamento do Antigo Testamento, nosensinos judeus e at no Novo Testamento (Apocalipse 2:14), Balao ogrande exemplo daqueles que ensinaram Israel a pecar. No AntigoTestamento h duas histrias a respeito de Balao. Uma clara, e muitovvida e dramtica. A outra mais obscura, mas muito mais terrvel; e precisamente a segunda a que deixa seus rastros no pensamento e na

    doutrina hebraica.A primeira se desenvolve em Nmeros captulos 22 a 24. Nesses

    trs captulos -nos contada toda a histria de como Balaque tentoupersuadir a Balao para que amaldioasse ao povo de Israel, porquetemia seu poder; de como lhe ofereceu em cinco ocasies grandesrecompensas se o fizesse. Nesta histria, Balao se nega a ser persuadidopor Balaque, mas ao longo da histria aparece a cobia do homem; s o

    temor ao que Deus pudesse fazer-lhe o protege de estabelecer umconvnio terrvel com Balaque. Nesta histria, Balao no fez o queBalaque queria que fizesse, mas atravs do relato se evidencia seuimpuro desejo de faz-lo. Balao j aparece como um dos maisdetestveis personagens.

    Em Nmeros 25 aparece a segunda das histrias. Israel enganado,entrega-se ao culto de Baal, com tremendas e repulsivas e desgraadas

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    Judas (William Barclay) 44conseqncias morais. Conforme lemos umas passagens depois(Nmeros 31:8,16), Balao foi o responsvel por essa seduo, e pereceumiseravelmente porque induziu outros a pecar. margem desta histria

    composta, Balao representa duas coisas.(a) Representa o homem ambicioso que estava disposto a pecar paraganhar recompensas.

    (b) Representa o homem perverso, culpado do maior de todos ospecados o pecado de ensinar outros a pecar. Assim, pois, Judas estfalando dos homens mpios de seu prprio tempo, sempre dispostos aapartar-se dos caminhos da justia para fazer fortuna, e a ensinar outros apecar. Pecar para fazer fortuna mau; mas tirar algum de sua inocnciapara ensina-lo a pecar, o mais pecaminoso dos pecados.

    (3) Em terceiro lugar, o caso de Cor. A histria de Cor e seusquito est relatada em Nmeros 16:1-35. O pecado de Cor consisteem ter-se rebelado contra a autoridade de Moiss, quando os filhos deAro e a tribo de Levi tinham sido ordenados sacerdotes da nao. Foiuma deciso que Cor no esteve disposto a aceitar, queria exercitar umafuno a qual no tinha direito; e quando procedeu dessa maneira

    pereceu espantosamente, junto com todos os seus companheiros demaldade. Assim, pois, Cor representa o homem que resiste aceitar aautoridade e que procura alcanar aquilo para o qual no tem direito nemlhe corresponde. Judas, pois, est acusando a seus oponentes de desafiara legtima autoridade da Igreja e, em conseqncia, de preferir seusprprios caminhos aos caminhos de Deus. Devemos lembrar sempre queh coisas que o orgulho nos incita a tomar, mas que no so para ns, e

    se tomamos, as conseqncias podem ser desastrosas.

    DESCRIO DOS HOMENS MPIOS

    Judas 12-16Esta uma das grandes passagens de invectivas do Novo

    Testamento. Aqui arde a indignao moral com sua chama mais ardente

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    Judas (William Barclay) 45e feroz. Como diz Moffatt: "Cu, terra e mar so explorados em busca deilustraes do carter desses homens." Aqui h uma srie de imagenspitorescas, cada uma delas com seu significado e sua aluso. Vamos v-

    las uma por uma.(1) So como rochas ocultas que ameaam fazer naufragar as festasde amor da Igreja. Este o nico caso em que no h dvida alguma arespeito do que Judas diz. De uma coisa no h nenhuma dvida: oshomens perversos so um perigo nas festas de amor. A festa de amor, ogape, foi uma das mais primitivas manifestaes da Igreja. Ogape erauma refeio de comunho, celebrada no Dia do Senhor. Era umarefeio para a qual todos levavam o que podiam, e em que todosparticipavam e compartilhavam do mesmo modo. Era uma bela idia doscristos que no Dia do Senhor se sentassem em cada pequena Igreja numlar, para comer todos juntos em comunho. Sem dvida, haveria algunsque podiam levar muito, e outros que poderiam contribuir menos.Certamente, para a maioria dos escravos esta seria a nica refeiodecente em toda a semana. Mas muito em breve ogape comeou a serprejudicial. Podemos apreciar de que maneira degenerou na Igreja de

    Corinto, quando Paulo denuncia que as celebraes dos corntios noeram outra coisa seno diviso; dividiram-se em camarilhas e partidos;alguns tinham muito, e outros quase morriam de fome; e a refeiotornou-se, para alguns, uma farra de bbados (1 Corntios 11:17-22). Amenos que o gape seja uma autntica comunho, torna-se umacaricatura, e muito em breve comea a desvirtuar o seu nome.

    Os opositores de Judas faziam uma caricatura das celebraes

    fraternais. Mas de que maneira os chama? Diz que so "escolhos nosvossos gapes" (versculo 12, BJ); e isso concorda com a passagemparalela de 2 Pedro: Eles so ndoas e manchas (2 Pedro 2:13, NVI).A RA e a NVI traduzem a expresso de Judas por rochas submersas. Adificuldade estriba em que Pedro e Judas no empregam a mesmapalavra, ainda que se valem de termos sinnimos. A palavra em 2 Pedro spilos, que inquestionavelmente significa uma mancha; mas em Judas a

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    Judas (William Barclay) 46palavra spilas, uma palavra muito rara. muito provvel que possasignificar mancha, porque no grego posterior pode empregar-se para asmanchas e marcas de uma pedra de opala. Mas no grego popular, seu

    significado mais corrente indica escolho submerso, ou submerso pelametade, contra o qual um barco pode encalhar facilmente. Pensamosque o segundo significado muito mais provvel. As festas dafraternidade eram celebraes fraternais; as pessoas estavamestreitamente unidas em seus coraes e davam entre si o beijo da paz;e os homens perversos, maus e imorais se valiam dessas celebraes parapromover a imoralidade e gratificar suas paixes. Estavam levando essascelebraes fraternais a um nvel totalmente desprezvel. algo terrvelse os homens entram na Igreja, e se valem das oportunidades que acomunho da Igreja lhes d para seus prprios e perversos propsitos.Aqueles homens injustos comportavam-se como escolhos inundadoscontra os quais a comunho das celebraes fraternais corria o perigo denaufragar.

    O EGOSMO DOS HOMENS MPIOS

    Judas 12-16 (continuacin)(2) Esses homens maus se divertiam com suas prprias turmas e

    no manifestavam nenhum sentimento de responsabilidade para comningum, salvo para com eles prprios. Estas duas coisas andam juntas,visto que ambas sublinham o essencial egosmo dos homens perversos.

    (a) Divertiam-se com seus prprios cupinchas sem a menor

    vergonha. Esta , precisamente, a situao que Paulo em 1 Corntioscondena. Supunha-se que as celebraes fraternais deveriam ser um atode comunho; e a comunho estava demonstrada e garantida pelaparticipao de todos. Em lugar de participar, os homens perversos semantinham em suas prprias turmas, e se reservavam para eles mesmostudo o que tivessem. Em 1 Corntios Paulo continua dizendo que ascelebraes fraternais se convertiam em reunies de amigos em que cada

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    Judas (William Barclay) 47um arrebatava quanto podia (1 Corntios 11:21). Ningum poder dizernunca que sabe o que significa a comunho crist, se dentro da Igrejapermanecer em seu prprio grupinho, e nunca nem sequer procura entrar

    em comunho com um crculo mais amplo.(6) Judas continua: a si mesmos se apascentam. No sentemnenhuma responsabilidade por ningum, salvo por eles mesmos. O deverdo dirigente da Igreja ser um pastor do rebanho de Deus (Atos 20:28).O falso pastor cuida muito mais de si mesmo que da ovelha que foientregue a seu cuidado. Ezequiel descreve os falsos dirigentes e aosfalsos pastores, que perdero os seus privilgios:

    To certo como eu vivo, diz o SENHOR Deus, visto que as minhasovelhas foram entregues rapina e se tornaram pasto para todas as ferasdo campo, por no haver pastor, e que os meus pastores no procuram asminhas ovelhas, pois se apascentam a si mesmos e no apascentam asminhas ovelhas, portanto, pastores, ouvi a palavra do SENHOR: Assimdiz o SENHOR Deus: Eis que eu estou contra os pastores e delesdemandarei as minhas ovelhas; porei termo no seu pastoreio, e no seapascentaro mais a si mesmos; livrarei as minhas ovelhas da sua boca,

    para que j no lhes sirvam de pasto. (Ezequiel 34:8-10).

    Assim, pois, Judas condena os egostas que destroem a comunho, eataca a falta de sentido de responsabilidade, de todo sentimento deobrigao e dever para com os outros.

    (3) Os homens mpios so como nuvens sem gua, levadas pelovento, que no despejam nenhuma chuva, e como rvores que em tempos

    de colheita no tm frutos. Aqu