beleza americana - as paixões humanas
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Cinema e Filoso!a: Os !lmes vistos com outros olhos
Beleza Americanae as Paixões Humanas
Profa. Dra. Luciana ZaterkaDiretora da Escola Carlitos
Professora de Filoso!a da Universidade São Judas Tadeu
Primeira chave de interpretação: A questão do Simulacro
O que é simulacro?Platão e a Alegoria da Caverna
É esta a nítida distinção do plano meta-físico e do plano físico, feita de modo mais claro, pela primeira vez na história do pensamento ocidental. A distinção dos dois planos (ou das duas
‘regiões’ ou esferas) da realidade, o plano do inteligível e o plano do sensível, constitui verdadeiramente o caminho principal de todo o pensamento platônico.
suprasensível
sensível
BEM
bem
BELO
belo
VERDADE
verdade
ALMA
corpo
A alma humana possui, para Platão, uma origem supraterrestre e sua vocação ou destinação é o conhecimento da verdade ou do Bem, estando orientada para o divino, como seu fim (télos) ou finalidade. A alma deseja o divino e tende para ele; é nossa melhor parte e o corpo é para ela prisão, túmulo, risco de perdição nas coisas corporais que a afastam das coisas espirituais. Lemos no Górgias:
Enquanto temos um corpo, estamos mortos porque somos, fundamentalmente, a nossa alma, e a alma, enquanto está no corpo, está como num túmulo, como morta; nosso morrer (com o corpo) é viver porque, com a morte do corpo, a alma liberta-se do cárcere. O corpo é raiz de todo mal, fonte de amores insanos, de paixões, inimizades, discórdia, ignorância e loucura: e é tudo isto que traz a alma como morta.
“Eu não ficaria admirado se Eurípedes afirmasse a verdade quando disse: Quem pode saber se viver não é morrer e morrer não é viver? E que nós, na realidade, talvez estejamos mortos. De fato, já ouvi também homens sábios dizerem que nós, agora, estamos mortos e que o corpo é um túmulo para nós (...)”.
Lester, causa adequada?
Lester em Beleza americana oferece a vantagem de nos mostrar que uma evolução é possível, uma vez que o personagem passa, no tempo de um filme, de um estado de passividade total à atividade mais plena e alegre. Sua passividade no início, a de um pai de família apagado pela rotina, sofre um primeiro abalo quando percebe a bela cheerleader que o transtorna até a paixão fulminante. Na paixão fulminante, como o nome indica, mostramo-nos essencialmente passivos, uma vez que sofremos alguma coisa do exterior que nos golpeia. Mas como a paixão fulminante proporciona alegria, a potênciade agir do nosso corpo, paradoxalmente, vê-se aumentada, ajudada. Lester vai subitamente ter um objetivo na vida, um objetivo cuja causa adequada não é ele, já que esse objetivo lhe é exterior e não depende apenas dele: se ele quiser seduzir aquela garota, terá que mudar, mas nada garante que ela se interessará por ele. Ele está correndo o risco de soçobrar numa dependência e numa passividade bem piores que sua letargia de origem, pois a esta se acrescentará o patético de sua situação de pai de família apaixonado por uma Lolita. Mas é o contrário que se produzirá. Após ter retomado as rédeas de sua vida e parado de sofrer vexações de sua mulher dominadora e castradora, ou as humilhações surdas da vida no escritório, ele redescobre, pela prática esportiva, a música e o uso recreativo de uma maconha de qualidade, uma tal alegria de viver que, quando a guria se oferece a ele, ele não a quer mais. Repele-a não com medo das consequências, mas num gesto protetor, preocupado com o desabrochar da outra. Ele se tornou ativo, é finalmente a causa adequada do que lhe acontece. Em vez de sofrer uma paixão, afirma uma ação. Spinoza assim resume e generaliza a coisa:
III. Por sentimentos, entendo as afecções do corpo pelas quais a potência de agir desse corpo é aumentada ou diminuída, ajudada ou contida, e ao mesmo tempo as ideias dessas afecções (Ética, III, Definições)“
“
Causa inadequadaSomos causa parcial do que acontece em nós
Causa AdequadaSomos causa total do que se passa em nós