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07. Designação:Bandeira do Terno Prata
08. Localização Especifica: quando não está em campanha fica guardada juntocom os instrumentos num cômodo destinado aos apetrechos do Congado.
09. Espécie: Bandeira /Distintivo/Insígnia Religiosa
10. Época: 2004
11. Autoria: Marco Aurélio
12. Origem: Uberlândia
13. Procedência: Uberlândia
14. Material / Técnica: cabo de ferro de construção, esmalte sintético, tecidocamurça prata, marabô branco, flores de tecido bordadas, miçangas, imagem deNossa Senhora do Rosário impressa em papel plastificado
15. Marcas / Inscrições / Legendas: Imagem de Nossa Senhora do Rosário écircundada por marabô branco.
16. Descrição:
Bandeira elaborada com cabo de ferro de construção, coberto com esmalte sintéticobranco, tecido camurça prata, flores de tecido branco bordadas, detalhes emmiçangas prata e azul. A imagem de Nossa Senhora do Rosário impressa em papelplastificado é circundada por marabô branco que também recobre as extremidades.
17- Condições de segurança:( x ) Boa( ) Razoável( ) RuimObs:
BENS MÓVEIS E INTEGRADOS
04. Propriedade: Particular
05. Endereço: Rua Bueno Brandão, 949 - Martins
06. Responsável: Vanderson da Silva
01. Município: Uberlândia
02. Distrito: Sede
03. Acervo:Terno Congo
Prata
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INVENTÁRIO DE PROTEÇÃODO ACERVO CULTURAL
Minas Gerais-MG
SECRETARIA MUNICIPALDE CULTURA
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18- Proteção Legal:
( ) Federal
( ) Estadual
( ) Municipal
( x ) Nenhuma
( ) Tombamento Isolado
( ) Tombamento em Conjunto
19- Documentação fotográfica
Fotos do Terno Congo Prata
Uberlândia/MG
Ano 2007
20- Estado de Conservação:
( ) Excelente ( x ) Bom
( ) Regular ( ) Péssimo
21- Dimensões:
Altura 45cm
Largura: 53cm
22. Análise do Estado de Conservação:
Bandeira em bom estado de conservação.
Não apresenta perdas, não apresenta sinais de infestação por insetos ou de mofo.
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23. Intervenções – Responsável / Data: NT
24. Características Técnicas:
Bandeira elaborada com cabo de ferro de construção, coberto com esmalte sintético,tecido camurça, flores de tecido bordadas, detalhes em miçangas. Imagem religiosaimpressa em papel plastificado, circundada por marabô que também recobre asextremidades.
25. Características Estilísticas:
Estilo popular (sem característica estilística específica).
26. Características Iconográficas:
Nas bandeiras do Congado figuram as imagens e/ou os nomes de Nossa Senhorado Rosário, de São Benedito e em alguns casos outras imagens como a de SantaIfigênia, Nossa Senhora Aparecida, São Domingos, etc.
Cada santo é associado a elementos distintos. Santa Efigênia ou Ifigênia, pelo queos congadeiros dizem é a dona da festa do Congado. Santa Ifigênia, segundoCâmara Cascudo é uma virgem mártir da Etiópia, devoção de negros e pessoasmenos favorecidas. A festa do Congado acontecia em louvor à Santa Ifigênia, asanta negra, mas os brancos não aceitaram e para que a festa se legitimasse elescriam a imagem de Nossa Senhora do Rosário. Segundo o Cláudio, filósofo,pesquisador do Congado e dançador do Terno de Camisa Verde, os negros pegamo rosário que é de Santa Ifigênia e colocam na imagem de Nossa Senhora doPerpétuo Socorro, criando assim a imagem de Nossa Senhora do Rosário.
Segundo Seu Zezão, capitão do terno Congo de Santa Ifigênia, ele colocou em seuterno o nome de Santa Ifigênia porque as pessoas precisavam reconhecer que afesta é dela. Seu Zezão conta que deu muito trabalho para aceitarem o terno porquesomente os padres sabiam da “verdadeira história” de Santa Ifigênia, de NossaSenhora do Rosário e de São Benedito. Segundo ele, para haver união entre ospretos e os brancos Chico Rei comprou a coroa de Santa Ifigênia para coroar NossaSenhora do Rosário, comprando assim a sua benção. Como garantia da fidelidadede Nossa Senhora do Rosário colocaram um menino nos braços de São Beneditoque não é Jesus, mas um menino branco do povo. Se Nossa Senhora do Rosárioalgum dia trair os negros, São Benedito deve cortar o pescoço do menino. Deacordo com seu Zezão, São Benedito está sempre ao lado de Nossa Senhora doRosário como um soldado, um general. Esta surpreendente narrativa de Seu Zezãointroduz a história de Chico Rei e trata de uma negociação entre os santos.
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Mas, o que mais chama atenção é a mudança do papel de São Benedito. Este, tido
como mártir sempre foi referido como uma figura bondosa e que multiplicava os
alimentos, uma espécie de Cristo negro. Agora São Benedito é tomado como um
militar frio, capaz de decapitar um bebê branco em nome da proteção dos negros.
Não ouvi de mais ninguém a confirmação desta versão mitológica. Quando se
conversa com seu Zezão percebe-se claramente a existência de uma disputa pelo
capital simbólico. Em meio às críticas aos pesquisadores e aos trabalhos existentes
sobre o congado ele questiona a “ciência” dos “verdadeiros” “fundamentos” de sua
prática ritual tanto pelos pesquisadores como pelos capitães dos outros ternos.
Insinuando ser ele um dos poucos detentores dos conhecimentos tidos como
“fundamentos” do Congado. Diversas outras pessoas tomam este comportamento
como prática. Fazer o Congado sem “fundamento” seria um ultraje. O convívio nos
quartéis envolve aprendizado constante e um “verdadeiro” capitão precisa passar
por esta escola e aprender todas as lições antes de ousar montar o seu próprio
terno.
O lendário Chico Rei, que é o criador da Irmandade do Rosário em Minas Gerais,
era rei em Moçambique, mas na perda de uma batalha fora apreendido e vendido
como escravo, trazido para o Brasil. Os escravos trazidos de Moçambique eram os
conhecedores das técnicas de mineração, “farejavam as minas”, como diziam os
invasores europeus. Chico Rei, após enriquecer seu senhor e demonstrar ser um
grande conhecedor do processo de mineração conseguiu comprar com ouro a
alforria de familiares e amigos, e construir uma capela em homenagem à Santa
Ifigênia em Vila Rica (Ouro Preto). Após descobrir algumas minas Chico Rei disse
que não trabalharia mais se o seu senhor não trouxesse para junto de si seu filho e
parentes que estavam distantes, vendidos para outros senhores de escravos. Mais
tarde conseguiu comprar a alforria de diversos outros escravos. Segundo Câmara
Cascudo “No dia de Reis, em Vila Rica, as negras do cortejo de Chico Rei vinham
com as carapinhas polvilhadas de ouro lavá-las e deixar o ouro numa pia de pedra
existente no Alto da Cruz, onde havia uma imagem de Santa Ifigênia. O ouro servia
para a libertação de outros escravos.” (1972, p.449). O Rei “Moçambiqueiro” que
no Brasil passa a ser chamado de Chico Rei recria aqui o seu reino, supera a
condição de escravo e constrói uma das bases do movimento negro. Muitos negros
se mantinham escravos e cooperavam no movimento liderado por Chico Rei para
a libertação de seu povo.
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Os negros então alforriados passam a viver nos centros urbanos nascentes e/ou se
deslocam com as expedições desempenhando funções de carpinteiro, pedreiro,
ferreiro (serralheiro), barbeiro, quituteiras, vendedores e outras profissões tidas hoje
como “liberais”. Observem que nesta narrativa, o negro se retira do sistema de
escravidão utilizando a linguagem que está nas bases do sistema capitalista. Ocorre
um rompimento com a escravidão, mas não com sua lógica, pois há uma busca
pela inserção do negro no sistema capitalista decorrente desta. Nos movimentos
quilombolas, onde este sujeito excluído busca uma nova forma de associação e de
socialização fora da sociedade opressora, ocorre uma quebra com os padrões
antes impostos. Mas os negros quilombolas precisavam permanecer em estado
de vigília por causa das constantes investidas das expedições contra suas
comunidades. Mas esta é uma outra história.
Voltando aos mitos do Congado, a principal referencia ao São Benedito é em
relação à alimentação, ele provém o sustento das famílias, dá força. São Benedito
está mais ligado à saúde, à manutenção da vida material, é um mártir negro e santo
mesmo em vida, uma espécie de Cristo Negro. Um dos mitos de São Benedito me
foi contado por seu Charqueada, um dos congadeiros vivo mais antigo de
Uberlândia, ancião do terno Moçambique Pena Branca. Conta seu Charqueada,
que certa feita, o senhor dono da fazenda onde o Benedito era cozinheiro mandou
que ele preparasse uma refeição para seus muitos escravos, mas não lhe deu a
provisão suficiente para tanto. Na despensa não havia banha e o arroz e o feijão
eram pouco. O Benedito então pede o auxílio divino e logo obtém resposta do Todo
Poderoso que lhe diz para ir até o chiqueiro e retirar um naco com toucinho e carne
de um dos porcos, que fosse desde a cabeça até o rabo do porco e então preparar
a comida. E assim o Benedito fez. Milagrosamente, a carne do porco que fora
retirada se reconstituiu na mesma hora, permanecendo o porco vivo. Todos os
escravos se alimentaram até saciar a fome e depois de banquetear tocaram e
dançaram em agradecimento ao São Benedito. O patrão, vendo tamanha festança,
foi ter com o Benedito e inquiriu dele como foi que conseguira arranjar tanto alimento.
O Benedito então lhe relatou como conseguira a banha e o toucinho. O patrão não
acreditando no milagre ameaçou castigar o Benedito, mas quando foi golpeá-lo o
São Benedito levita e fica suspenso no ar... Este mito traz o Benedito enquanto
“multiplicador dos alimentos”, realizador de “milagres” extraordinários, figura louvada
pelos seus. Esta narrativa é compartilhada pela maioria dos congadeiros, sendo
que São Benedito é considerado o santo da cozinha, da alimentação, do sustento,
da fartura, por isso sua imagem geralmente é colocada na cozinha, para que na
casa não falte o alimento.
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É prática em várias partes do território nacional, colocar café para o São Benedito,
é comum ver sua imagem próxima a uma xícara de café. Outro ritual realizado
popularmente é tomar o café do Benedito, que é um café amargo destituído de
qualquer forma de adoçantes, bebido em pequenos goles pelos congadeiros e
participantes de celebrações, festas, etc. O café do Benedito é tomado como uma
bebida capaz de proteger a quem a ingere.
Nossa Senhora do Rosário está sempre relacionada à chuva, às riquezas, à
proteção, à geração da vida e também à morte. Recorrem a Nossa Senhora para
pedir um bom parto e também uma “boa morte”, a ela intercedem a favor dos entes
queridos que já partiram. Em todas as festas que presenciei houve homenagens a
congadeiros falecidos no período entre festas. Nossa Senhora está vinculada à
vida e à morte, ao rezar a última estrofe da “Ave Maria”, isto fica explicito: “Santa
Maria, mãe de Deus, rogai por nós pecadores agora e na hora de nossa morte.
Amém.” Durante o Congado intercedem à Nossa Senhora do Rosário pela vida e
pela proteção na inevitável hora da morte. Pedem saúde para os seus, proteção
em todos os momentos, recorrem a ela como à Grande Mãe. O culto às deusas
mães foi muito combatido pelo judaísmo, islamismo e demais religiões patriarcais,
mas encontra solo fértil nas tradições afro-descendentes e católicas. Uma música
muito difundida tanto no Congado como na Capoeira e na religiosidade ressalta o
aspecto protetor de Nossa Senhora:
“No tempo do cativeiro, quando o senhor me batia,
eu gritava por Nossa Senhora, ai meu Deus, quando a pancada doía.”
O mito fundante do Congado em Uberlândia é um relato da aparição e resgate de
Nossa Senhora do Rosário e possui pelo menos duas versões aqui sintetizadas:
a) Nossa Senhora do Rosário estava dentro do mar, um garoto a vê submergir,
chama os pais para verem, eles não acreditam. Então ele chama os Marinheiros,
que também presenciam a santa submergir, eles tentam tirá-la com suas cordas,
mas ela não sai do local. Chegam brancos e padres que conseguem retira-la da
água e levá-la para uma capela, mas a santa “foge” do altar e volta para o mar. Vem
então o terno de Congo, todo colorido e canta para ela sair da água, ela submerge,
mas ao ser levada para a capela dos brancos, volta a “fugir” para o mar. Então um
terno de Moçambique, todo vestido de branco e descalço, canta para ela, que então
submerge e lhes acompanha, eles a levam devagar até o local onde constroem
uma capela e ali Nossa Senhora do Rosário permanece, o terno de Moçambique
então se retira sem lhe dar as costas, lhe fazendo reverência;
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b) a segunda versão, contada por Maria Conceição Cardoso, do MoçambiqueRosário de Fátima, de Ibiá - MG, afirma que ao tentar capturar escravos fugidos naserra da Montanhesa, um grupo de capitães do mato encontra um grupo de negros,vestidos de branco, fazendo rosários, com contas de lágrima em frente a uma árvorede umbaúba onde Nossa Senhora do Rosário estava encravada num galho. Oscapitães do mato tentam surrar os negros e capturá-los, mas eles permanecemimóveis, como se nada os pudesse atingir. Apavorados com a visão voltam para acidade e chamam um padre para ir até o local verificar o fato. E como na primeiraversão, brancos e Congos não conseguem levá-la, Nossa Senhora do Rosárioacompanha apenas o Moçambique que canta vestido de branco, de pés descalços,que anda devagar e lhe constrói uma igreja e não lhe dá as costas ao se retirar desua presença.27. Dados Históricos:As bandeiras têm suas origens nas insígnias, sinais distintivos de poder ou decomando, usadas desde a antiguidade e que poderiam ser figuras recortadas emmadeira ou metal, ou pintadas nos escudos. As primeiras bandeiras da história dohomem costumavam representar um grupo sócio-cultural através de imagens e decores dotadas de significados, a que a comunidade respectiva confere alto valor.As bandeiras fixadas a um mastro surgiram na China e foram introduzidas noOcidente Medieval pelos Islâmicos. As bandeiras de tecido, no mundo ocidental,foram criadas pelos romanos e eram denominadas vexillium (insígnia, bandeira,estandarte). Desde a antiguidade os povos usaram mastros com imagens,carregados na mão ou fixados nos carros de combate. A grande difusão do seu usofoi feita pelos romanos e cada divisão da legião tinha o seu estandarte. Foi naIdade Média que bandeiras e estandartes começaram a representar reinos eregiões. As bandeiras foram usadas tanto em períodos de paz como de guerra.Sendo um símbolo identificador eram usados pelos exércitos aliados. Para não seconfundirem uns com os outros e evitarem o temido fogo amigo, usavam um pedaçode pano hasteado num estandarte, com as cores e sinais de identificação dobatalhão ou companhia envolvida.De acordo com seu tamanho ou uso, a bandeira tem uma palavra sinônima.Estandarte é utilizado para insígnias militares, mais especificamente para identificaros corpos de cavalaria. O Pendão é uma bandeira grande, armada em vara,atravessada horizontalmente sobre o mastro e levada em procissões. O Gonfalãoé uma bandeira de guerra com partes que prendem perpendicularmente a umahaste com três ou quatro pontas pendentes.Os Estandartes do Congado mesclam elementos das bandeiras militares ereligiosas e são utilizados para identificar o terno que os conduz e para louvar ossantos de sua devoção.
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28. Referências Documentais:Fotografias e entrevistas realizadas no quartel do Congo Prata.29. Informações Complementares:Falar em Bandeira no congado é um pouco complexo, pois possui pelo menos trêssignificados. Bandeira pode se referir à jornada, ao trajeto, à caminhada realizadanas campanhas e festas. Também pode ser utilizado para se referir à bandeira emtecido no formato retangular de aproximadamente 60 x 40 cm que trás estampadoimagens dos santos, com um cabo de madeira na extremidade superior por onde abandeireira (virgem, menor de 10 anos) segura. Esta pequena bandeira sempreacompanha o terno, abrindo-lhe os caminhos, tanto em dias de campanha quantono dia da festa.Bandeira também pode referir-se ao estandarte em formato retangular deaproximadamente 1,5 m de altura por 1m de comprimento, sustentado por um mastroque o eleva à aproximadamente 2,5m de altura donde pendem fitas cujas pontasas Bandeireiras seguram enquanto dançam e que traz identificações do terno ehomenagens aos santos. Geralmente o estandarte e as Bandeireiras só saem emdia de festa. . O tecido das bandeiras e estandartes são trocados periodicamente,geralmente de dois em dois anos.As Bandeireiras ou Andorinhas são meninas que conduzem as fitas do estandartefazendo coreografias. “Antigamente” esta função só era desempenhada pelasgarotas virgens. Muitas mulheres relatam que se a menina não fosse virgem elevasse a fita ou o mastro da bandeira, muitos acidentes poderiam acontecer. NossaSenhora do Rosário seria a responsável por denunciar a farsa. Adereços de cabelopoderiam cair ou a roupa se rasgar, a própria bandeira poderia sofrer danificações,como quebrar, rasgar. Desmaios e doenças também dificultariam a execução dafunção. Caberia a menina se afastar quando não fosse mais “digna” de carregar abandeira do Congado. A execução desta função indevidamente poderia acarretarproblemas ainda maiores para os ternos, como esquecer música ou errar a “batida”.Hoje, no entanto, esta tradição não é mantida pela maioria dos ternos.30. Atualização das informações:NT31. Ficha TécnicaLevantamento Data: Abril de 2007Fabíola Benfica Marra (Historiadora)Larry Guimarães de O. Filho (Formatação, estagiário de arquitetura)Larissa Gontijo T. Cunha (Formatação, estagiário de arquitetura)Elaboração Data: Abril de 2007Fabíola Benfica Marra (Historiadora)Revisão Data: Abril de 2007Anderson Henrique Ferreira (Historiador)Gisele Pinto de Vasconcelos Costa (Arquiteta)
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07. Designação:Bastão do Terno Prata
08. Localização Especifica: quando não está em campanha fica guardada juntocom os instrumentos num cômodo destinado aos apetrechos do Congado.
09. Espécie: Objeto Ritualístico
10. Época: 2004
11. Autoria: Coletiva
12. Origem: Uberlândia
13. Procedência: Uberlândia
14. Material / Técnica: madeira, esmalte sintético, fita adesiva, fitas de cetim
15. Marcas / Inscrições / Legendas:Mirongas na extremidade superior
16. Descrição: Bastões elaborados em madeira, coberto com esmalte sintéticobranco e ou prateado, fita adesiva, fitas de cetim. Os bastões do terno Congo Prataforam benzidos e possuem, na sua base superior, mirongas (segredos, orações eelementos carregados de energias míticas) feitas pela Tenda Coração de Jesus.No bastão de Vanderson foi colocado sal e alho para tirar mal olhado. No bastão doCiro, guiné, arruda e alho representa o elemento fogo e usado para fechar o trânsitopara os soldados passarem. Os capitães me disseram que se algum soldado nãose sentir bem durante as campanhas, o capitão de posse de seu capitão, coloca obastão sobre a cabeça da pessoa e começa a rezar e a cantar e a pessoa melhora
17- Condições de segurança:
( x ) Boa
( ) Razoável
( ) Ruim
Obs:
BENS MÓVEIS E INTEGRADOS
04. Propriedade: Particular
05. Endereço: Rua Bueno Brandão, 949 - Martins
06. Responsável: Vanderson da Silva
01. Município: Uberlândia
02. Distrito: Sede
03. Acervo:Terno Congo
Prata
INNNNNDEE
INVENTÁRIO DE PROTEÇÃODO ACERVO CULTURAL
Minas Gerais-MG
SECRETARIA MUNICIPALDE CULTURA
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18- Proteção Legal:
( ) Federal
( ) Estadual
( ) Municipal
( x ) Nenhuma
( ) Tombamento Isolado
( ) Tombamento em Conjunto
19- Documentação fotográfica
Fotos do Terno Congo PrataUberlândia/MG
Ano 2007
20- Estado de Conservação:
( ) Excelente ( x ) Bom
( ) Regular ( ) Péssimo
21- Dimensões:
Comprimento:1,02m
22. Análise do Estado de Conservação:
Bastão em bom estado de conservação, sem sinais de desgaste por insetos ou
rachaduras.
23. Intervenções – Responsável / Data: NT
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24. Características Técnicas:
Bastões elaborados em madeira, coberto com esmalte sintético, fita adesiva, fitas
de cetim. “Mirongas” na base superior.
25. Características Estilísticas:
Estilo popular (sem característica estilística específica).
26. Características Iconográficas:
Nas bastões do Congado figuram as imagens e/ou os nomes de Nossa Senhora
do Rosário, de São Benedito e de São Pedro e em alguns casos outras imagens
como a de Santa Ifigênia, Nossa Senhora Aparecida, São Domingos, etc.Mesmo
quando não apresentam imagem, guardam a mesma função ritualística.
Cada santo é associado a elementos distintos. Santa Efigênia ou Ifigênia, pelo que
os congadeiros dizem é a dona da festa do Congado. Santa Ifigênia, segundo
Câmara Cascudo é uma virgem mártir da Etiópia, devoção de negros e pessoas
menos favorecidas. A festa do Congado acontecia em louvor à Santa Ifigênia, a
santa negra, mas os brancos não aceitaram e para que a festa se legitimasse eles
criam a imagem de Nossa Senhora do Rosário. Segundo o Cláudio, filósofo,
pesquisador do Congado e dançador do Terno de Camisa Verde, os negros pegam
o rosário que é de Santa Ifigênia e colocam na imagem de Nossa Senhora do
Perpétuo Socorro, criando assim a imagem de Nossa Senhora do Rosário.
Segundo Seu Zezão, capitão do terno Congo de Santa Ifigênia, ele colocou em seu
terno o nome de Santa Ifigênia porque as pessoas precisavam reconhecer que a
festa é dela. Seu Zezão conta que deu muito trabalho para aceitarem o terno porque
somente os padres sabiam da “verdadeira história” de Santa Ifigênia, de Nossa
Senhora do Rosário e de São Benedito. Segundo ele, para haver união entre os
pretos e os brancos Chico Rei comprou a coroa de Santa Ifigênia para coroar Nossa
Senhora do Rosário, comprando assim a sua benção. Como garantia da fidelidade
de Nossa Senhora do Rosário colocaram um menino nos braços de São Benedito
que não é Jesus, mas um menino branco do povo. Se Nossa Senhora do Rosário
algum dia trair os negros, São Benedito deve cortar o pescoço do menino. De
acordo com seu Zezão, São Benedito está sempre ao lado de Nossa Senhora do
Rosário como um soldado, um general. Esta surpreendente narrativa de Seu Zezão
introduz a história de Chico Rei e trata de uma negociação entre os santos. Mas, o
que mais chama atenção é a mudança do papel de São Benedito. Este, tido como
mártir sempre foi referido como uma figura bondosa e que multiplicava os alimentos,
uma espécie de Cristo negro.
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Agora São Benedito é tomado como um militar frio, capaz de decapitar um bebê
branco em nome da proteção dos negros. Não ouvi de mais ninguém a confirmação
desta versão mitológica. Quando se conversa com seu Zezão percebe-se
claramente a existência de uma disputa pelo capital simbólico. Em meio às críticas
aos pesquisadores e aos trabalhos existentes sobre o congado ele questiona a
“ciência” dos “verdadeiros” “fundamentos” de sua prática ritual tanto pelos
pesquisadores como pelos capitães dos outros ternos. Insinuando ser ele um dos
poucos detentores dos conhecimentos tidos como “fundamentos” do Congado.
Diversas outras pessoas tomam este comportamento como prática. Fazer o
Congado sem “fundamento” seria um ultraje. O convívio nos quartéis envolve
aprendizado constante e um “verdadeiro” capitão precisa passar por esta escola e
aprender todas as lições antes de ousar montar o seu próprio terno.
O lendário Chico Rei, que é o criador da Irmandade do Rosário em Minas Gerais,
era rei em Moçambique, mas na perda de uma batalha fora apreendido e vendido
como escravo, trazido para o Brasil. Os escravos trazidos de Moçambique eram os
conhecedores das técnicas de mineração, “farejavam as minas”, como diziam os
invasores europeus. Chico Rei, após enriquecer seu senhor e demonstrar ser um
grande conhecedor do processo de mineração conseguiu comprar com ouro a
alforria de familiares e amigos, e construir uma capela em homenagem à Santa
Ifigênia em Vila Rica (Ouro Preto). Após descobrir algumas minas Chico Rei disse
que não trabalharia mais se o seu senhor não trouxesse para junto de si seu filho e
parentes que estavam distantes, vendidos para outros senhores de escravos. Mais
tarde conseguiu comprar a alforria de diversos outros escravos. Segundo Câmara
Cascudo “No dia de Reis, em Vila Rica, as negras do cortejo de Chico Rei vinham
com as carapinhas polvilhadas de ouro lavá-las e deixar o ouro numa pia de pedra
existente no Alto da Cruz, onde havia uma imagem de Santa Ifigênia. O ouro servia
para a libertação de outros escravos.” (1972, p.449). O Rei “Moçambiqueiro” que
no Brasil passa a ser chamado de Chico Rei recria aqui o seu reino, supera a
condição de escravo e constrói uma das bases do movimento negro. Muitos negros
se mantinham escravos e cooperavam no movimento liderado por Chico Rei para
a libertação de seu povo. Os negros então alforriados passam a viver nos centros
urbanos nascentes e/ou se deslocam com as expedições desempenhando funções
de carpinteiro, pedreiro, ferreiro (serralheiro), barbeiro, quituteiras, vendedores e
outras profissões tidas hoje como “liberais”. Observem que nesta narrativa, o negro
se retira do sistema de escravidão utilizando a linguagem que está nas bases do
sistema capitalista.
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Ocorre um rompimento com a escravidão, mas não com sua lógica, pois há uma
busca pela inserção do negro no sistema capitalista decorrente desta. Nos
movimentos quilombolas, onde este sujeito excluído busca uma nova forma de
associação e de socialização fora da sociedade opressora, ocorre uma quebra
com os padrões antes impostos. Mas os negros quilombolas precisavam
permanecer em estado de vigília por causa das constantes investidas das
expedições contra suas comunidades. Mas esta é uma outra história.
Voltando aos mitos do Congado, a principal referencia ao São Benedito é em
relação à alimentação, ele provém o sustento das famílias, dá força. São Benedito
está mais ligado à saúde, à manutenção da vida material, é um mártir negro e santo
mesmo em vida, uma espécie de Cristo Negro. Um dos mitos de São Benedito me
foi contado por seu Charqueada, um dos congadeiros vivo mais antigo de
Uberlândia, ancião do terno Moçambique Pena Branca. Conta seu Charqueada,
que certa feita, o senhor dono da fazenda onde o Benedito era cozinheiro mandou
que ele preparasse uma refeição para seus muitos escravos, mas não lhe deu a
provisão suficiente para tanto. Na despensa não havia banha e o arroz e o feijão
eram pouco. O Benedito então pede o auxílio divino e logo obtém resposta do Todo
Poderoso que lhe diz para ir até o chiqueiro e retirar um naco com toucinho e carne
de um dos porcos, que fosse desde a cabeça até o rabo do porco e então preparar
a comida. E assim o Benedito fez. Milagrosamente, a carne do porco que fora
retirada se reconstituiu na mesma hora, permanecendo o porco vivo. Todos os
escravos se alimentaram até saciar a fome e depois de banquetear tocaram e
dançaram em agradecimento ao São Benedito. O patrão, vendo tamanha festança,
foi ter com o Benedito e inquiriu dele como foi que conseguira arranjar tanto alimento.
O Benedito então lhe relatou como conseguira a banha e o toucinho. O patrão não
acreditando no milagre ameaçou castigar o Benedito, mas quando foi golpeá-lo o
São Benedito levita e fica suspenso no ar... Este mito traz o Benedito enquanto
“multiplicador dos alimentos”, realizador de “milagres” extraordinários, figura louvada
pelos seus. Esta narrativa é compartilhada pela maioria dos congadeiros, sendo
que São Benedito é considerado o santo da cozinha, da alimentação, do sustento,
da fartura, por isso sua imagem geralmente é colocada na cozinha, para que na
casa não falte o alimento. É prática em várias partes do território nacional, colocar
café para o São Benedito, é comum ver sua imagem próxima a uma xícara de café.
Outro ritual realizado popularmente é tomar o café do Benedito, que é um café
amargo destituído de qualquer forma de adoçantes, bebido em pequenos goles
pelos congadeiros e participantes de celebrações, festas, etc. O café do Benedito
é tomado como uma bebida capaz de proteger a quem a ingere.
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Nossa Senhora do Rosário está sempre relacionada à chuva, às riquezas, àproteção, à geração da vida e também à morte. Recorrem a Nossa Senhora parapedir um bom parto e também uma “boa morte”, a ela intercedem a favor dos entesqueridos que já partiram. Em todas as festas que presenciei houve homenagens acongadeiros falecidos no período entre festas. Nossa Senhora está vinculada àvida e à morte, ao rezar a última estrofe da “Ave Maria”, isto fica explicito: “SantaMaria, mãe de Deus, rogai por nós pecadores agora e na hora de nossa morte.Amém.” Durante o Congado intercedem à Nossa Senhora do Rosário pela vida epela proteção na inevitável hora da morte. Pedem saúde para os seus, proteçãoem todos os momentos, recorrem a ela como à Grande Mãe. O culto às deusasmães foi muito combatido pelo judaísmo, islamismo e demais religiões patriarcais,mas encontra solo fértil nas tradições afro-descendentes e católicas. Uma músicamuito difundida tanto no Congado como na Capoeira e na religiosidade ressalta oaspecto protetor de Nossa Senhora:“No tempo do cativeiro, quando o senhor me batia,eu gritava por Nossa Senhora, ai meu Deus, quando a pancada doía.”O mito fundante do Congado em Uberlândia é um relato da aparição e resgate deNossa Senhora do Rosário e possui pelo menos duas versões aqui sintetizadas: a) Nossa Senhora do Rosário estava dentro do mar, um garoto a vê submergir,chama os pais para verem, eles não acreditam. Então ele chama os Marinheiros,que também presenciam a santa submergir, eles tentam tirá-la com suas cordas,mas ela não sai do local. Chegam brancos e padres que conseguem retira-la daágua e levá-la para uma capela, mas a santa “foge” do altar e volta para o mar. Vementão o terno de Congo, todo colorido e canta para ela sair da água, ela submerge,mas ao ser levada para a capela dos brancos, volta a “fugir” para o mar. Então umterno de Moçambique, todo vestido de branco e descalço, canta para ela, que entãosubmerge e lhes acompanha, eles a levam devagar até o local onde constroemuma capela e ali Nossa Senhora do Rosário permanece, o terno de Moçambiqueentão se retira sem lhe dar as costas, lhe fazendo reverência;b) a segunda versão, contada por Maria Conceição Cardoso, do MoçambiqueRosário de Fátima, de Ibiá - MG, afirma que ao tentar capturar escravos fugidos naserra da Montanhesa, um grupo de capitães do mato encontra um grupo de negros,vestidos de branco, fazendo rosários, com contas de lágrima em frente a uma árvorede umbaúba onde Nossa Senhora do Rosário estava encravada num galho. Oscapitães do mato tentam surrar os negros e capturá-los, mas eles permanecemimóveis, como se nada os pudesse atingir. Apavorados com a visão voltam para acidade e chamam um padre para ir até o local verificar o fato. E como na primeiraversão, brancos e Congos não conseguem levá-la, Nossa Senhora do Rosárioacompanha apenas o Moçambique que canta vestido de branco, de pés descalços,que anda devagar e lhe constrói uma igreja e não lhe dá as costas ao se retirar desua presença.
515
27. Dados Históricos:
As bandeiras têm suas origens nas insígnias, sinais distintivos de poder ou de
comando, usadas desde a antiguidade e que poderiam ser figuras recortadas em
madeira ou metal, ou pintadas nos escudos. As primeiras bandeiras da história do
homem costumavam representar um grupo sócio-cultural através de imagens e de
cores dotadas de significados, a que a comunidade respectiva confere alto valor.
As bandeiras fixadas a um mastro surgiram na China e foram introduzidas no
Ocidente Medieval pelos Islâmicos. As bandeiras de tecido, no mundo ocidental,
foram criadas pelos romanos e eram denominadas vexillium (insígnia, bandeira,
estandarte). Desde a antiguidade os povos usaram mastros com imagens,
carregados na mão ou fixados nos carros de combate. A grande difusão do seu uso
foi feita pelos romanos e cada divisão da legião tinha o seu estandarte. Foi na
Idade Média que bandeiras e estandartes começaram a representar reinos e
regiões. As bandeiras foram usadas tanto em períodos de paz como de guerra.
Sendo um símbolo identificador eram usados pelos exércitos aliados. Para não se
confundirem uns com os outros e evitarem o temido fogo amigo, usavam um pedaço
de pano hasteado num estandarte, com as cores e sinais de identificação do
batalhão ou companhia envolvida.
De acordo com seu tamanho ou uso, a bandeira tem uma palavra sinônima.
Estandarte é utilizado para insígnias militares, mais especificamente para identificar
os corpos de cavalaria. O Pendão é uma bandeira grande, armada em vara,
atravessada horizontalmente sobre o mastro e levada em procissões. O Gonfalão
é uma bandeira de guerra com partes que prendem perpendicularmente a uma
haste com três ou quatro pontas pendentes.
Os Estandartes do Congado mesclam elementos das bandeiras militares e
religiosas e são utilizados para identificar o terno que os conduz e para louvar os
santos de sua devoção.
28. Referências Documentais:
Sharman-burke, Juliet e Greene, Liz. O Tarô Mitológico – São Paulo: Siciliano,
1988
29. Informações Complementares:
Os bastões e os apitos são os instrumentos utilizados pelos capitães de Congado
para conduzir seus soldados e reger as músicas executadas pelos tambores. Nos
ternos de Moçambique os bastões são utilizados não apenas por capitães como
acontece na maioria dos ternos, mas por muitos dançantes, que formam uma ala
fazendo coreografias.
516
Em muitas guardas, fiscais e madrinhas utilizam os bastões alinhados ao final do
desfile, fechando a apresentação do terno. Alguns bastões são em formato de
cobra, outros com carrancas de Pretos Velhos, outros com imagens de Nossa
Senhora Aparecida, Santa Efigênia e São Benedito, crucifixos e inscrições diversas,
fitas de cetim, alguns enfeitados com contas de lágrima, com ervas (alecrim, arruda,
espada de são Jorge), etc. Nas festas de Pretos Velhos nos centros de Umbanda
pratica-se uma dança-ritual muito parecida com a realizada pelos moçambiqueiros:
tocam as pontas dos bastões no alto, revezando com batidas no chão, dançando
em círculo. Quando hasteiam os mastros dando início à festa do Congado, os
moçambiqueiros tocam os mastros com seus bastões. Alguns ternos realizam
coreografias colocando suas coroas nos bastões e erguendo acima da cabeça. A
condução de reis e rainhas, bem como dos santos numa procissão pode em alguns
casos vir dentro de um espaço delimitado por condutores de bastões. Quando se
quer delimitar um espaço com bastões, os dançantes os colocam na horizontal e
com as mãos o moçambiqueiro liga o seu bastão ao bastão do outro, formando
uma corrente.
30. Atualização das informações:NT
31. Ficha Técnica
Levantamento Data: Abril de 2007
Fabíola Benfica Marra (Historiadora)
Larry Guimarães de O. Filho (Formatação, estagiário de arquitetura)
Larissa Gontijo T. Cunha (Formatação, estagiário de arquitetura)
Elaboração Data: Abril de 2007
Fabíola Benfica Marra (Historiadora)
Revisão Data: Abril de 2007
Anderson Henrique Ferreira (Historiador)
Gisele Pinto de Vasconcelos Costa (Arquiteta)
517
07. Designação:Estandarte do Terno Prata
08. Localização Especifica: quando não está em campanha fica guardada junto
com os instrumentos num cômodo destinado aos apetrechos do Congado.
09. Espécie: Bandeira /Distintivo/Insígnia Religiosa.
10. Época: 2004
11. Autoria: estrutura de madeira Enildon, bordado Marco Aurélio.
12. Origem: Uberlândia
13. Procedência: Uberlândia
14. Material / Técnica: estrutura de madeira, tecido camurça prata, marabô branco,
flores de tecido bordadas, miçangas, lantejoulas, imagem de Nossa Senhora do
Rosário impressa em papel plastificado, letras e terço bordados à máquina com
linha branca, franja de cetim branco, cordões amarelos.
15. Marcas / Inscrições / Legendas:Na face, ‘NOSSA SENHORA DO ROSÁRIO’,
atrás: “CONGO PRATA” “UBERLÂNDIA”
16. Descrição: Estandarte com estrutura de madeira feita pelo Enildon, o Tii Fii do
Catupé Azul e Rosa. A estrutura é um retângulo pequeno, com haste longa, os cordões
amarelos são presos num círculo furado acima do retângulo. A bandeira foi elaborada
em tecido camurça prata, flores de tecido bordadas com detalhes em miçangas e
lantejoulas. A imagem de Nossa Senhora do Rosário impressa em papel plastificado
rodeada por marabô branco. Letras e terço bordados à máquina com linha branca.
Na face as letras saúdam “NOSSA SENHORA DO ROSÁRIO”, atrás identifica o
terno: “CONGO PRATA” “UBERLÂNDIA” . Nas extremidades superior e inferior,
franja de cetim branco. O bordado do estandarte e da bandeira foi realizado por
Marco Aurélio, soldado do Marujo Azul de Maio, responsável por diversos adereços
do Congo e do Carnaval.
BENS MÓVEIS E INTEGRADOS
04. Propriedade: Particular
05. Endereço: Rua Bueno Brandão, 949 - Martins
06. Responsável: Vanderson da Silva
01. Município: Uberlândia
02. Distrito: Sede
03. Acervo:Terno Congo
Prata
INVENTÁRIO DE PROTEÇÃODO ACERVO CULTURAL
Minas Gerais-MG
SECRETARIA MUNICIPALDE CULTURA
518
18- Proteção Legal:
( ) Federal
( ) Estadual
( ) Municipal
( x ) Nenhuma
( ) Tombamento Isolado
( ) Tombamento em Conjunto
Fotos do Terno Congo Prata
Uberlândia/MG
Ano 2007
20- Estado de Conservação:
( ) Excelente ( x ) Bom
( ) Regular ( ) Péssimo
21- Dimensões:
Altura:1,25m (tecido)
Largura:0,88m
Altura total:2,04m
Comprimento da haste:1,02m
22. Análise do Estado de Conservação:
Estandarte em bom estado de conservação, sem sinais de desgaste por insetos
ou rachaduras.
23. Intervenções – Responsável / Data: NT
17- Condições de segurança:
( x ) Boa
( ) Razoável
( ) Ruim
Obs:
19- Documentação fotográfica:
519
24. Características Técnicas:Estandarte com estrutura de madeira. A estrutura é um retângulo pequeno, comhaste longa, com cordões presos num círculo furado acima do retângulo. A bandeirafoi elaborada em tecido camurça, com flores de tecido bordadas com detalhes emmiçangas e lantejoulas. Imagem religiosa impressa em papel plastificado rodeadapor marabô. Letras e terço bordados à máquina com linha, na frente e na parte detrás. Nas extremidades superior e inferior, franja de cetim.25. Características Estilísticas:Estilo popular (sem característica estilística específica).26. Características Iconográficas:Nas oratórios do Congado figuram as imagens e/ou os nomes de Nossa Senhorado Rosário, de São Benedito e alguns casos outras imagens como a de SantaIfigênia, Nossa Senhora Aparecida, São Domingos, etc.Mesmo quando nãoapresentam imagem, guardam a mesma função ritualística.Cada santo é associado a elementos distintos. Santa Efigênia ou Ifigênia, pelo queos congadeiros dizem é a dona da festa do Congado. Santa Ifigênia, segundoCâmara Cascudo é uma virgem mártir da Etiópia, devoção de negros e pessoasmenos favorecidas. A festa do Congado acontecia em louvor à Santa Ifigênia, asanta negra, mas os brancos não aceitaram e para que a festa se legitimasse elescriam a imagem de Nossa Senhora do Rosário. Segundo o Cláudio, filósofo,pesquisador do Congado e dançador do Terno de Camisa Verde, os negros pegamo rosário que é de Santa Ifigênia e colocam na imagem de Nossa Senhora doPerpétuo Socorro, criando assim a imagem de Nossa Senhora do Rosário.Segundo Seu Zezão, capitão do terno Congo de Santa Ifigênia, ele colocou em seuterno o nome de Santa Ifigênia porque as pessoas precisavam reconhecer que afesta é dela. Seu Zezão conta que deu muito trabalho para aceitarem o terno porquesomente os padres sabiam da “verdadeira história” de Santa Ifigênia, de NossaSenhora do Rosário e de São Benedito. Segundo ele, para haver união entre ospretos e os brancos Chico Rei comprou a coroa de Santa Ifigênia para coroar NossaSenhora do Rosário, comprando assim a sua benção. Como garantia da fidelidadede Nossa Senhora do Rosário colocaram um menino nos braços de São Beneditoque não é Jesus, mas um menino branco do povo. Se Nossa Senhora do Rosárioalgum dia trair os negros, São Benedito deve cortar o pescoço do menino. Deacordo com seu Zezão, São Benedito está sempre ao lado de Nossa Senhora doRosário como um soldado, um general. Esta surpreendente narrativa de Seu Zezãointroduz a história de Chico Rei e trata de uma negociação entre os santos. Mas, oque mais chama atenção é a mudança do papel de São Benedito. Este, tido comomártir sempre foi referido como uma figura bondosa e que multiplicava os alimentos,uma espécie de Cristo negro.
520
Agora São Benedito é tomado como um militar frio, capaz de decapitar um bebê
branco em nome da proteção dos negros. Não ouvi de mais ninguém a confirmação
desta versão mitológica. Quando se conversa com seu Zezão percebe-se
claramente a existência de uma disputa pelo capital simbólico. Em meio às críticas
aos pesquisadores e aos trabalhos existentes sobre o congado ele questiona a
“ciência” dos “verdadeiros” “fundamentos” de sua prática ritual tanto pelos
pesquisadores como pelos capitães dos outros ternos. Insinuando ser ele um dos
poucos detentores dos conhecimentos tidos como “fundamentos” do Congado.
Diversas outras pessoas tomam este comportamento como prática. Fazer o
Congado sem “fundamento” seria um ultraje. O convívio nos quartéis envolve
aprendizado constante e um “verdadeiro” capitão precisa passar por esta escola e
aprender todas as lições antes de ousar montar o seu próprio terno.
O lendário Chico Rei, que é o criador da Irmandade do Rosário em Minas Gerais,
era rei em Moçambique, mas na perda de uma batalha fora apreendido e vendido
como escravo, trazido para o Brasil. Os escravos trazidos de Moçambique eram os
conhecedores das técnicas de mineração, “farejavam as minas”, como diziam os
invasores europeus. Chico Rei, após enriquecer seu senhor e demonstrar ser um
grande conhecedor do processo de mineração conseguiu comprar com ouro a
alforria de familiares e amigos, e construir uma capela em homenagem à Santa
Ifigênia em Vila Rica (Ouro Preto). Após descobrir algumas minas Chico Rei disse
que não trabalharia mais se o seu senhor não trouxesse para junto de si seu filho e
parentes que estavam distantes, vendidos para outros senhores de escravos. Mais
tarde conseguiu comprar a alforria de diversos outros escravos. Segundo Câmara
Cascudo “No dia de Reis, em Vila Rica, as negras do cortejo de Chico Rei vinham
com as carapinhas polvilhadas de ouro lavá-las e deixar o ouro numa pia de pedra
existente no Alto da Cruz, onde havia uma imagem de Santa Ifigênia. O ouro servia
para a libertação de outros escravos.” (1972, p.449). O Rei “Moçambiqueiro” que
no Brasil passa a ser chamado de Chico Rei recria aqui o seu reino, supera a
condição de escravo e constrói uma das bases do movimento negro. Muitos negros
se mantinham escravos e cooperavam no movimento liderado por Chico Rei para
a libertação de seu povo. Os negros então alforriados passam a viver nos centros
urbanos nascentes e/ou se deslocam com as expedições desempenhando funções
de carpinteiro, pedreiro, ferreiro (serralheiro), barbeiro, quituteiras, vendedores e
outras profissões tidas hoje como “liberais”. Observem que nesta narrativa, o negro
se retira do sistema de escravidão utilizando a linguagem que está nas bases do
sistema capitalista.
521
Ocorre um rompimento com a escravidão, mas não com sua lógica, pois há uma
busca pela inserção do negro no sistema capitalista decorrente desta. Nos
movimentos quilombolas, onde este sujeito excluído busca uma nova forma de
associação e de socialização fora da sociedade opressora, ocorre uma quebra
com os padrões antes impostos. Mas os negros quilombolas precisavam
permanecer em estado de vigília por causa das constantes investidas das
expedições contra suas comunidades. Mas esta é uma outra história.
Voltando aos mitos do Congado, a principal referencia ao São Benedito é em relação
à alimentação, ele provém o sustento das famílias, dá força. São Benedito está
mais ligado à saúde, à manutenção da vida material, é um mártir negro e santo
mesmo em vida, uma espécie de Cristo Negro. Um dos mitos de São Benedito me
foi contado por seu Charqueada, um dos congadeiros vivo mais antigo de
Uberlândia, ancião do terno Moçambique Pena Branca. Conta seu Charqueada,
que certa feita, o senhor dono da fazenda onde o Benedito era cozinheiro mandou
que ele preparasse uma refeição para seus muitos escravos, mas não lhe deu a
provisão suficiente para tanto. Na despensa não havia banha e o arroz e o feijão
eram pouco. O Benedito então pede o auxílio divino e logo obtém resposta do Todo
Poderoso que lhe diz para ir até o chiqueiro e retirar um naco com toucinho e carne
de um dos porcos, que fosse desde a cabeça até o rabo do porco e então preparar
a comida. E assim o Benedito fez. Milagrosamente, a carne do porco que fora
retirada se reconstituiu na mesma hora, permanecendo o porco vivo. Todos os
escravos se alimentaram até saciar a fome e depois de banquetear tocaram e
dançaram em agradecimento ao São Benedito. O patrão, vendo tamanha festança,
foi ter com o Benedito e inquiriu dele como foi que conseguira arranjar tanto alimento.
O Benedito então lhe relatou como conseguira a banha e o toucinho. O patrão não
acreditando no milagre ameaçou castigar o Benedito, mas quando foi golpeá-lo o
São Benedito levita e fica suspenso no ar... Este mito traz o Benedito enquanto
“multiplicador dos alimentos”, realizador de “milagres” extraordinários, figura louvada
pelos seus. Esta narrativa é compartilhada pela maioria dos congadeiros, sendo
que São Benedito é considerado o santo da cozinha, da alimentação, do sustento,
da fartura, por isso sua imagem geralmente é colocada na cozinha, para que na
casa não falte o alimento. É prática em várias partes do território nacional, colocar
café para o São Benedito, é comum ver sua imagem próxima a uma xícara de café.
Outro ritual realizado popularmente é tomar o café do Benedito, que é um café
amargo destituído de qualquer forma de adoçantes, bebido em pequenos goles
pelos congadeiros e participantes de celebrações, festas, etc. O café do Benedito
é tomado como uma bebida capaz de proteger a quem a ingere.
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Nossa Senhora do Rosário está sempre relacionada à chuva, às riquezas, àproteção, à geração da vida e também à morte. Recorrem a Nossa Senhora parapedir um bom parto e também uma “boa morte”, a ela intercedem a favor dos entesqueridos que já partiram. Em todas as festas que presenciei houve homenagens acongadeiros falecidos no período entre festas. Nossa Senhora está vinculada àvida e à morte, ao rezar a última estrofe da “Ave Maria”, isto fica explicito: “SantaMaria, mãe de Deus, rogai por nós pecadores agora e na hora de nossa morte.Amém.” Durante o Congado intercedem à Nossa Senhora do Rosário pela vida epela proteção na inevitável hora da morte. Pedem saúde para os seus, proteçãoem todos os momentos, recorrem a ela como à Grande Mãe. O culto às deusasmães foi muito combatido pelo judaísmo, islamismo e demais religiões patriarcais,mas encontra solo fértil nas tradições afro-descendentes e católicas. Uma músicamuito difundida tanto no Congado como na Capoeira e na religiosidade ressalta oaspecto protetor de Nossa Senhora:“No tempo do cativeiro, quando o senhor me batia,eu gritava por Nossa Senhora, ai meu Deus, quando a pancada doía.”O mito fundante do Congado em Uberlândia é um relato da aparição e resgate deNossa Senhora do Rosário e possui pelo menos duas versões aqui sintetizadas: a) Nossa Senhora do Rosário estava dentro do mar, um garoto a vê submergir,chama os pais para verem, eles não acreditam. Então ele chama os Marinheiros,que também presenciam a santa submergir, eles tentam tirá-la com suas cordas,mas ela não sai do local. Chegam brancos e padres que conseguem retira-la daágua e levá-la para uma capela, mas a santa “foge” do altar e volta para o mar. Vementão o terno de Congo, todo colorido e canta para ela sair da água, ela submerge,mas ao ser levada para a capela dos brancos, volta a “fugir” para o mar. Então umterno de Moçambique, todo vestido de branco e descalço, canta para ela, que entãosubmerge e lhes acompanha, eles a levam devagar até o local onde constroemuma capela e ali Nossa Senhora do Rosário permanece, o terno de Moçambiqueentão se retira sem lhe dar as costas, lhe fazendo reverência;b) a segunda versão, contada por Maria Conceição Cardoso, do MoçambiqueRosário de Fátima, de Ibiá - MG, afirma que ao tentar capturar escravos fugidos naserra da Montanhesa, um grupo de capitães do mato encontra um grupo de negros,vestidos de branco, fazendo rosários, com contas de lágrima em frente a uma árvorede umbaúba onde Nossa Senhora do Rosário estava encravada num galho. Oscapitães do mato tentam surrar os negros e capturá-los, mas eles permanecemimóveis, como se nada os pudesse atingir. Apavorados com a visão voltam para acidade e chamam um padre para ir até o local verificar o fato. E como na primeiraversão, brancos e Congos não conseguem levá-la, Nossa Senhora do Rosárioacompanha apenas o Moçambique que canta vestido de branco, de pés descalços,que anda devagar e lhe constrói uma igreja e não lhe dá as costas ao se retirar desua presença.
523
27. Dados Históricos:
As bandeiras têm suas origens nas insígnias, sinais distintivos de poder ou de
comando, usadas desde a antiguidade e que poderiam ser figuras recortadas em
madeira ou metal, ou pintadas nos escudos. As primeiras bandeiras da história do
homem costumavam representar um grupo sócio-cultural através de imagens e de
cores dotadas de significados, a que a comunidade respectiva confere alto valor.
As bandeiras fixadas a um mastro surgiram na China e foram introduzidas no
Ocidente Medieval pelos Islâmicos. As bandeiras de tecido, no mundo ocidental,
foram criadas pelos romanos e eram denominadas vexillium (insígnia, bandeira,
estandarte). Desde a antiguidade os povos usaram mastros com imagens,
carregados na mão ou fixados nos carros de combate. A grande difusão do seu uso
foi feita pelos romanos e cada divisão da legião tinha o seu estandarte. Foi na
Idade Média que bandeiras e estandartes começaram a representar reinos e
regiões. As bandeiras foram usadas tanto em períodos de paz como de guerra.
Sendo um símbolo identificador eram usados pelos exércitos aliados. Para não se
confundirem uns com os outros e evitarem o temido fogo amigo, usavam um pedaço
de pano hasteado num estandarte, com as cores e sinais de identificação do
batalhão ou companhia envolvida.
De acordo com seu tamanho ou uso, a bandeira tem uma palavra sinônima.
Estandarte é utilizado para insígnias militares, mais especificamente para identificar
os corpos de cavalaria. O Pendão é uma bandeira grande, armada em vara,
atravessada horizontalmente sobre o mastro e levada em procissões. O Gonfalão
é uma bandeira de guerra com partes que prendem perpendicularmente a uma
haste com três ou quatro pontas pendentes.
Os Estandartes do Congado mesclam elementos das bandeiras militares e
religiosas e são utilizados para identificar o terno que os conduz e para louvar os
santos de sua devoção.
28. Referências Documentais:
Fotografias e entrevistas realizadas no quartel do Congo Prata
29. Informações Complementares:
O Estandarte é uma espécie de Bandeira e falar em Bandeira no congado é um
pouco complexo, pois possui pelo menos três significados. Bandeira pode se referir
à jornada, ao trajeto, à caminhada realizada nas campanhas e festas.
524
Também pode ser utilizado para se referir à bandeira em tecido no formato retangularde aproximadamente 60 x 40 cm que trás estampado imagens dos santos, com umcabo de madeira na extremidade superior por onde a bandeireira (virgem, menorde 10 anos) segura. Esta pequena bandeira sempre acompanha o terno, abrindo-lhe os caminhos, tanto em dias de campanha quanto no dia da festa. Bandeiratambém pode referir-se ao estandarte em formato retangular de aproximadamente1,5 m de altura por 1m de comprimento, sustentado por um mastro que o eleva àaproximadamente 2,5m de altura donde pendem fitas cujas pontas as Bandeireirasseguram enquanto dançam e que traz identificações do terno e homenagens aossantos. Geralmente o estandarte e as Bandeireiras só saem em dia de festa. AsBandeireiras ou Andorinhas são meninas que conduzem as fitas do estandartefazendo coreografias. “Antigamente” esta função só era desempenhada pelasgarotas virgens. Muitas mulheres relatam que se a menina não fosse virgem elevasse a fita ou o mastro da bandeira, muitos acidentes poderiam acontecer. NossaSenhora do Rosário seria a responsável por denunciar a farsa. Adereços de cabelopoderiam cair ou a roupa se rasgar, a própria bandeira poderia sofrer danificações,como quebrar, rasgar. Desmaios e doenças também dificultariam a execução dafunção. Caberia a menina se afastar quando não fosse mais “digna” de carregar abandeira do Congado. A execução desta função indevidamente poderia acarretarproblemas ainda maiores para os ternos, como esquecer música ou errar a “batida”.Hoje, no entanto, esta tradição não é mantida pela maioria dos ternos.
30. Atualização das informações:NT
31. Ficha Técnica
Levantamento Data: Abril de 2007
Fabíola Benfica Marra (Historiadora)
Larry Guimarães de O. Filho (Formatação, estagiário de arquitetura)
Larissa Gontijo T. Cunha (Formatação, estagiário de arquitetura)
Elaboração Data: Abril de 2007
Fabíola Benfica Marra (Historiadora)
Revisão Data: Abril de 2007
Anderson Henrique Ferreira (Historiador)
Gisele Pinto de Vasconcelos Costa (Arquiteta)
525
07. Designação:Oratório do Terno Prata
08. Localização Especifica: quando não está em campanha fica guardada juntocom os instrumentos num cômodo destinado aos apetrechos do Congado.09. Espécie: Móvel Religioso10. Época: 200411. Autoria: Ignorada12. Origem: Uberlândia13. Procedência: Uberlândia14. Material / Técnica: madeira ipê entalhada, envernizada, prego, cola de madeira,dupla porta com detalhes vazados, quatro dobradiças metálicas pequenas,puxadores, imagem em gesso de São Benedito, impresso em papel São Jorge eNossa Senhora Aparecida, diversos terços de contas de plástico azul, branco, corde rosa, flores de tecido, fitas de cetim azul.15. Marcas / Inscrições / Legendas:Crucifixo gamado no telhado.16. Descrição: Oratório tipo capelinha, adquirido pelo Vanderson por R$35,00,numa casa de produtos religiosos em Uberlândia, em 2004, quando o terno realizasuas primeiras campanhas. O oratório é elaborado em madeira ipê recortada eentalhada, presa por pregos e cola de madeira, com a base 13 cm maior do que aprofundidade e um crucifixo de 10 cm. O oratório foi adquirido apenas lixado e foienvernizada pelo próprio Vanderson. Possui dupla porta com detalhes vazados,presas por duas dobradiças metálicas pequenas em cada lado e puxadores demadeira. Crucifixo gamado no telhado. As imagens são colocadas do lado de forado pequeno oratório durante as campanhas, uma imagem em gesso de SãoBenedito e imagens impressas em papel de São Jorge e Nossa Senhora Aparecida.Diversos terços de contas de plástico azul, branco e cor de rosa são mantidosdependurados na frente do oratório. No interior, flores de tecido e fitas de cetimazul.
BENS MÓVEIS E INTEGRADOS
04. Propriedade: Particular
05. Endereço: Rua Bueno Brandão, 949 - Martins
06. Responsável: Vanderson da Silva
01. Município: Uberlândia
02. Distrito: Sede
03. Acervo:Terno Congo
Prata
INNNNNDEE
INVENTÁRIO DE PROTEÇÃODO ACERVO CULTURAL
Minas Gerais-MG
SECRETARIA MUNICIPALDE CULTURA
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18- Proteção Legal:
( ) Federal
( ) Estadual
( ) Municipal
( x ) Nenhuma
( ) Tombamento Isolado
( ) Tombamento em Conjunto
Fotos do Terno Congo PrataUberlândia/MG
Ano 2007
17- Condições de segurança:
( x ) Boa
( ) Razoável
( ) Ruim
Obs:
19- Documentação fotográfica
20- Estado de Conservação:
( ) Excelente ( X) Bom
( ) Regular ( ) Péssimo
Obs:
21- Dimensões:
Altura: 58cm Profundidade: 10cm
Largura 23cm Comprimento: 33cm
22. Análise do Estado de Conservação:
Oratório em bom estado de conservação, sem sinais de desgaste por insetos ourachaduras.
23. Intervenções – Responsável / Data: NT
527
24. Características Técnicas: Oratório elaborado em madeira ipê recortada eentalhada, presa por pregos e cola de madeira, com a base 13 cm maior do que aprofundidade e um crucifixo de 10 cm; apenas lixado e envernizado. Possui duplaporta com detalhes vazados, presas por duas dobradiças metálicas pequenas emcada lado e puxadores de madeira. Uma imagem religiosa em gesso e outras duasimpressas em papel. Diversos terços de contas de plástico são mantidosdependurados na frente do oratório. No interior, flores de tecido e fitas de cetim.25.Características Estilísticas:Estilo popular (sem característica estilística específica).26. Características Iconográficas:Nas oratórios do Congado figuram as imagens e/ou os nomes de Nossa Senhorado Rosário, de São Benedito e alguns casos outras imagens como a de SantaIfigênia, Nossa Senhora Aparecida, São Domingos, etc.Mesmo quando nãoapresentam imagem, guardam a mesma função ritualística.Cada santo é associado a elementos distintos. Santa Efigênia ou Ifigênia, pelo queos congadeiros dizem é a dona da festa do Congado. Santa Ifigênia, segundoCâmara Cascudo é uma virgem mártir da Etiópia, devoção de negros e pessoasmenos favorecidas. A festa do Congado acontecia em louvor à Santa Ifigênia, asanta negra, mas os brancos não aceitaram e para que a festa se legitimasse elescriam a imagem de Nossa Senhora do Rosário. Segundo o Cláudio, filósofo,pesquisador do Congado e dançador do Terno de Camisa Verde, os negros pegamo rosário que é de Santa Ifigênia e colocam na imagem de Nossa Senhora doPerpétuo Socorro, criando assim a imagem de Nossa Senhora do Rosário.Segundo Seu Zezão, capitão do terno Congo de Santa Ifigênia, ele colocou em seuterno o nome de Santa Ifigênia porque as pessoas precisavam reconhecer que afesta é dela. Seu Zezão conta que deu muito trabalho para aceitarem o terno porquesomente os padres sabiam da “verdadeira história” de Santa Ifigênia, de NossaSenhora do Rosário e de São Benedito. Segundo ele, para haver união entre ospretos e os brancos Chico Rei comprou a coroa de Santa Ifigênia para coroar NossaSenhora do Rosário, comprando assim a sua benção. Como garantia da fidelidadede Nossa Senhora do Rosário colocaram um menino nos braços de São Beneditoque não é Jesus, mas um menino branco do povo. Se Nossa Senhora do Rosárioalgum dia trair os negros, São Benedito deve cortar o pescoço do menino. Deacordo com seu Zezão, São Benedito está sempre ao lado de Nossa Senhora doRosário como um soldado, um general. Esta surpreendente narrativa de Seu Zezãointroduz a história de Chico Rei e trata de uma negociação entre os santos. Mas, oque mais chama atenção é a mudança do papel de São Benedito. Este, tido comomártir sempre foi referido como uma figura bondosa e que multiplicava os alimentos,uma espécie de Cristo negro.
528
Agora São Benedito é tomado como um militar frio, capaz de decapitar um bebê
branco em nome da proteção dos negros. Não ouvi de mais ninguém a confirmação
desta versão mitológica. Quando se conversa com seu Zezão percebe-se
claramente a existência de uma disputa pelo capital simbólico. Em meio às críticas
aos pesquisadores e aos trabalhos existentes sobre o congado ele questiona a
“ciência” dos “verdadeiros” “fundamentos” de sua prática ritual tanto pelos
pesquisadores como pelos capitães dos outros ternos. Insinuando ser ele um dos
poucos detentores dos conhecimentos tidos como “fundamentos” do Congado.
Diversas outras pessoas tomam este comportamento como prática. Fazer o
Congado sem “fundamento” seria um ultraje. O convívio nos quartéis envolve
aprendizado constante e um “verdadeiro” capitão precisa passar por esta escola e
aprender todas as lições antes de ousar montar o seu próprio terno.
O lendário Chico Rei, que é o criador da Irmandade do Rosário em Minas Gerais,
era rei em Moçambique, mas na perda de uma batalha fora apreendido e vendido
como escravo, trazido para o Brasil. Os escravos trazidos de Moçambique eram os
conhecedores das técnicas de mineração, “farejavam as minas”, como diziam os
invasores europeus. Chico Rei, após enriquecer seu senhor e demonstrar ser um
grande conhecedor do processo de mineração conseguiu comprar com ouro a
alforria de familiares e amigos, e construir uma capela em homenagem à Santa
Ifigênia em Vila Rica (Ouro Preto). Após descobrir algumas minas Chico Rei disse
que não trabalharia mais se o seu senhor não trouxesse para junto de si seu filho e
parentes que estavam distantes, vendidos para outros senhores de escravos. Mais
tarde conseguiu comprar a alforria de diversos outros escravos. Segundo Câmara
Cascudo “No dia de Reis, em Vila Rica, as negras do cortejo de Chico Rei vinham
com as carapinhas polvilhadas de ouro lavá-las e deixar o ouro numa pia de pedra
existente no Alto da Cruz, onde havia uma imagem de Santa Ifigênia. O ouro servia
para a libertação de outros escravos.” (1972, p.449). O Rei “Moçambiqueiro” que
no Brasil passa a ser chamado de Chico Rei recria aqui o seu reino, supera a
condição de escravo e constrói uma das bases do movimento negro. Muitos negros
se mantinham escravos e cooperavam no movimento liderado por Chico Rei para
a libertação de seu povo. Os negros então alforriados passam a viver nos centros
urbanos nascentes e/ou se deslocam com as expedições desempenhando funções
de carpinteiro, pedreiro, ferreiro (serralheiro), barbeiro, quituteiras, vendedores e
outras profissões tidas hoje como “liberais”. Observem que nesta narrativa, o negro
se retira do sistema de escravidão utilizando a linguagem que está nas bases do
sistema capitalista.
529
Ocorre um rompimento com a escravidão, mas não com sua lógica, pois há uma
busca pela inserção do negro no sistema capitalista decorrente desta. Nos
movimentos quilombolas, onde este sujeito excluído busca uma nova forma de
associação e de socialização fora da sociedade opressora, ocorre uma quebra
com os padrões antes impostos. Mas os negros quilombolas precisavam
permanecer em estado de vigília por causa das constantes investidas das
expedições contra suas comunidades. Mas esta é uma outra história.
Voltando aos mitos do Congado, a principal referencia ao São Benedito é em
relação à alimentação, ele provém o sustento das famílias, dá força. São Benedito
está mais ligado à saúde, à manutenção da vida material, é um mártir negro e santo
mesmo em vida, uma espécie de Cristo Negro. Um dos mitos de São Benedito me
foi contado por seu Charqueada, um dos congadeiros vivo mais antigo de
Uberlândia, ancião do terno Moçambique Pena Branca. Conta seu Charqueada,
que certa feita, o senhor dono da fazenda onde o Benedito era cozinheiro mandou
que ele preparasse uma refeição para seus muitos escravos, mas não lhe deu a
provisão suficiente para tanto. Na despensa não havia banha e o arroz e o feijão
eram pouco. O Benedito então pede o auxílio divino e logo obtém resposta do Todo
Poderoso que lhe diz para ir até o chiqueiro e retirar um naco com toucinho e carne
de um dos porcos, que fosse desde a cabeça até o rabo do porco e então preparar
a comida. E assim o Benedito fez. Milagrosamente, a carne do porco que fora
retirada se reconstituiu na mesma hora, permanecendo o porco vivo. Todos os
escravos se alimentaram até saciar a fome e depois de banquetear tocaram e
dançaram em agradecimento ao São Benedito. O patrão, vendo tamanha festança,
foi ter com o Benedito e inquiriu dele como foi que conseguira arranjar tanto alimento.
O Benedito então lhe relatou como conseguira a banha e o toucinho. O patrão não
acreditando no milagre ameaçou castigar o Benedito, mas quando foi golpeá-lo o
São Benedito levita e fica suspenso no ar... Este mito traz o Benedito enquanto
“multiplicador dos alimentos”, realizador de “milagres” extraordinários, figura louvada
pelos seus. Esta narrativa é compartilhada pela maioria dos congadeiros, sendo
que São Benedito é considerado o santo da cozinha, da alimentação, do sustento,
da fartura, por isso sua imagem geralmente é colocada na cozinha, para que na
casa não falte o alimento. É prática em várias partes do território nacional, colocar
café para o São Benedito, é comum ver sua imagem próxima a uma xícara de café.
Outro ritual realizado popularmente é tomar o café do Benedito, que é um café
amargo destituído de qualquer forma de adoçantes, bebido em pequenos goles
pelos congadeiros e participantes de celebrações, festas, etc. O café do Benedito
é tomado como uma bebida capaz de proteger a quem a ingere.
530
Nossa Senhora do Rosário está sempre relacionada à chuva, às riquezas, àproteção, à geração da vida e também à morte. Recorrem a Nossa Senhora parapedir um bom parto e também uma “boa morte”, a ela intercedem a favor dos entesqueridos que já partiram. Em todas as festas que presenciei houve homenagens acongadeiros falecidos no período entre festas. Nossa Senhora está vinculada àvida e à morte, ao rezar a última estrofe da “Ave Maria”, isto fica explicito: “SantaMaria, mãe de Deus, rogai por nós pecadores agora e na hora de nossa morte.Amém.” Durante o Congado intercedem à Nossa Senhora do Rosário pela vida epela proteção na inevitável hora da morte. Pedem saúde para os seus, proteçãoem todos os momentos, recorrem a ela como à Grande Mãe. O culto às deusasmães foi muito combatido pelo judaísmo, islamismo e demais religiões patriarcais,mas encontra solo fértil nas tradições afro-descendentes e católicas. Uma músicamuito difundida tanto no Congado como na Capoeira e na religiosidade ressalta oaspecto protetor de Nossa Senhora:“No tempo do cativeiro, quando o senhor me batia,eu gritava por Nossa Senhora, ai meu Deus, quando a pancada doía.”O mito fundante do Congado em Uberlândia é um relato da aparição e resgate deNossa Senhora do Rosário e possui pelo menos duas versões aqui sintetizadas: a) Nossa Senhora do Rosário estava dentro do mar, um garoto a vê submergir,chama os pais para verem, eles não acreditam. Então ele chama os Marinheiros,que também presenciam a santa submergir, eles tentam tirá-la com suas cordas,mas ela não sai do local. Chegam brancos e padres que conseguem retira-la daágua e levá-la para uma capela, mas a santa “foge” do altar e volta para o mar. Vementão o terno de Congo, todo colorido e canta para ela sair da água, ela submerge,mas ao ser levada para a capela dos brancos, volta a “fugir” para o mar. Então umterno de Moçambique, todo vestido de branco e descalço, canta para ela, que entãosubmerge e lhes acompanha, eles a levam devagar até o local onde constroemuma capela e ali Nossa Senhora do Rosário permanece, o terno de Moçambiqueentão se retira sem lhe dar as costas, lhe fazendo reverência;b) a segunda versão, contada por Maria Conceição Cardoso, do MoçambiqueRosário de Fátima, de Ibiá - MG, afirma que ao tentar capturar escravos fugidos naserra da Montanhesa, um grupo de capitães do mato encontra um grupo de negros,vestidos de branco, fazendo rosários, com contas de lágrima em frente a uma árvorede umbaúba onde Nossa Senhora do Rosário estava encravada num galho. Oscapitães do mato tentam surrar os negros e capturá-los, mas eles permanecemimóveis, como se nada os pudesse atingir. Apavorados com a visão voltam para acidade e chamam um padre para ir até o local verificar o fato. E como na primeiraversão, brancos e Congos não conseguem levá-la, Nossa Senhora do Rosárioacompanha apenas o Moçambique que canta vestido de branco, de pés descalços,que anda devagar e lhe constrói uma igreja e não lhe dá as costas ao se retirar desua presença.
531
27. Dados Históricos Os primeiros oratórios datam dos primórdios da Idade Média.
Pequenos armários que podiam guardar não só o santo protetor, mas tudo que se
relaciona à devoção cotidiana. Propiciando um ambiente adequado às reflexões e
orações no interior das residências. Os oratórios geralmente simulam pequenos
templos, trazidos para o interior das casas para conferir aos seus donos segurança
e intimidade com o mundo do sagrado. Utilizados também em momentos festivos e
em celebrações coletivas.
Nos primeiros anos da colonização do Brasil, os oratórios exerceram importante
papel no exercício da fé, pois inexistindo igrejas, era diante desses nichos ou
armários de guardar santos que o povo fazia suas rezas. Deste modo as casas se
constituíam no local mais reservado para a devoção religiosa.
O oratório utilizado no Congado é o que designam por Esmoler ou oratório Itinerante
ou de viagem. Estes oratórios são encontrados principalmente em espaços urbanos
e utilizados para arrecadar dinheiro para a edificação de um templo de uma
irmandade e para angariar recursos para a realização de festas religiosas.
28. Referências Documentais:
Fotografias e entrevistas realizadas em visitas no quartel do Congo Prata
site: http://www.museudoratorio.com.br
Cascudo, Luiz da Câmara. Dicionário do Folclore Brasileiro. Rio de Janeiro: Edições
de Ouro, 1972
CD Rom “Álbum de Família: Famílias Afro-descendentes em Uberlândia no Século
XX” – Produzido por Fabíola Benfica Marra, com recurso da lei Municipal de Incentivo
à Cultura, finalizado em 2005.
29. Informações Complementares:
O oratório cumpre uma importante função no Congado. Durante as campanhas o
oratório fica na casa onde será realizada a novena e/ou o leilão. Quando o terno sai
para as novenas, as mulheres vão à frente para rezar com os moradores da casa. A
bateria chega quando a novena já encerrou. Uma virgem (geralmente criança menor
de 10 anos) leva uma bandeira com a imagem de São Benedito ou de Nossa
Senhora do Rosário, ou ambos, “escoltados” pela mãe e pela madrinha da bandeira
e do terno à frente da guarda. . Eles tocam em saudação aos donos da casa que
sai para recebê-los. A bandeira é saudada com devoção e após passar sobre as
cabeças das pessoas da casa é levada para o interior da residência para que
sejam abençoados todos os cômodos e todos os moradores.
532
Os dançadores também entram tocando e realizando suas performances e logo
se retiram. Após o terço é realizado o leilão das prendas arrecadadas pelo morador
da casa que está recebendo o oratório do terno. O oratório andor permanece no
interior da casa até que todas as prendas sejam compradas. Uma “secretária”,
geralmente uma das Madrinhas, anota em um caderno cada produto e o valor
arrematado e o nome do comprador. Os produtos geralmente são arrematados por
valores acima do valor real de mercado. Encerrado o leilão, o terno toca para sair,
agradece aos donos da casa, que em alguns casos também oferecem um lanche.
Os soldados descansam as caixas do lado de fora enquanto as meninas rezam se
despedindo. Os donos da casa se despedem dos santos e do oratório que irá
partir para abençoar outra casa. Quando a bandeira sai, o capitão e seus soldados
cantam e tocam se despedindo e as meninas levam dançando o oratório andor
com os santos e a bandeira para a casa onde será realizada a próxima novena e/
ou leilão. Ao chegar os soldados chamam o morador que sai até a porta para receber
a Bandeira (terno) e o oratório. Todos rezam e combinam o dia certo para o leilão e/
ou novena, que poderá ser no dia seguinte ou nos próximos. A Bandeira (o terno)
parte de volta para o quartel, onde ficará a bandeira (levada pela virgem) e os
instrumentos até o próximo leilão. O oratório com as imagens dos santos é levado
no dia da festa por alguns ternos.
30. Atualização das informações:NT
31. Ficha Técnica
Levantamento Data: Abril de 2007
Fabíola Benfica Marra (Historiadora)
Larry Guimarães de O. Filho (Formatação, estagiário de arquitetura)
Larissa Gontijo T. Cunha (Formatação, estagiário de arquitetura)
Elaboração Data: Abril de 2007
Fabíola Benfica Marra (Historiadora)
Revisão Data: Abril de 2007
Anderson Henrique Ferreira (Historiador)
Gisele Pinto de Vasconcelos Costa (Arquiteta)
533
01. Município: Uberlândia
02. Distrito: Sede
3. Designação: Quartel do
Terno Congo Prata
04. Endereço: Rua Bueno Brandão, 949 –
Martins.
05. Propriedade: Privada
06. Responsável: Venceslanda da Silva
ESTRUTURA ARQUITETÔNICA E URBANÍSTICA
07. Histórico:
O terreno onde funciona o quartel do Congo Prata foi adquirido pelos pais de
Dona Venceslanda, Luzia de Souza, que era branca e o negro Antônio da Silva
de Oliveira, que era natural de Uberaba e trabalhava como ferreiro. Em 2004,
constroem o telhado na frente das residências para abrigar os congadeiros.
08. Descrição:
O terreno onde funciona o quartel do terno Congo Prata é dividido por uma construção
de uma casa, com entrada e quintal independentes uma grande área sem
construções e onde efetivamente funciona o quartel do terno é o tipo de construção
chamada de colônia: diversas residências construídas nas extremidades, deixando
uma área sem construção, um terreiro, que garante acesso à todas as casas no
centro. Neste local residem 21 pessoas, utilizando três fogões. Alguns moradores
são coletores de materiais recicláveis, sendo boa parte do local destinado à
separação e armazenagem dos produtos recolhidos nas ruas. Uma das casas é
destinada exclusivamente para guardar os instrumentos, estandarte e oratório do
Congado. Uma área foi coberta com telha de amianto, na frente das residências
para abrigar os congadeiros.
INVENTÁRIO DE PROTEÇÃODO ACERVO CULTURAL
Minas Gerais-MG
SECRETARIA MUNICIPALDE CULTURA
535
10. Uso Atual:
( x ) Residencial ( x ) Serviço
( ) Comercial ( ) Institucional
( ) Industrial ( ) Outros
11. Situação de Ocupação:
( x ) Própria ( ) Alugada
( ) Cedida ( ) Comodato
( ) Outros
12. Proteção Legal Existente
( ) Tombamento
( ) Municipal
( ) Federal
( ) Estadual
( x ) Nenhuma
13. Proteção Legal Proposta:
( ) Tombamento Federal
( ) Tombamento Estadual
( ) Tombamento Municipal
( ) Entorno de Bem Tombado
( )Documentação Histórica
( ) Inventário
( ) Tombamento Integral
( ) Tombamento Parcial
( ) Fachadas
( ) Volumetria
( ) Restrições de Uso e Ocupação
14. Análise do Entorno - Situação e Ambiência: Localiza-se em área plana com
com passeios, arborização, redes elétrica, rede de esgoto, rede de água tratada,
As edificações são predominantemente de volumetria simples apresentando
partidos retangulares, com vários “puxadinhos”, altimetria de um pavimento,
materiais de acabamento de alvenaria de tijolo cerâmico, pintura com grande
variação de cores e esquadrias de metalon ou alumínio, coberturas metálicas ou
com telhas cerâmicas.
536
15. Estado de Conservação:
( ) Excelente
( ) Bom
( x ) Regular
( ) Péssimo
16. Análise do Estado de Conservação:
A casa encontra-se em estado de conservação regular, apresentando pintura
bastante danificada.
17. Fatores de Degradação:
Exposição à ação das intempéries e falta de manutenção.
18. Medidas de Conservação:
Manutenção preventiva
19. Intervenções:
Não identificadas
20. Referências Bibliográficas:
*Marra, Fabíola Benfica. Álbum de Família: Famílias Afro-descendentes no
Século XX em Uberlândia – MG – CD-Rom produzido entre os anos de 2004 e
2005, através da lei municipal de Incentivo à Cultura.
*Slenes, Robert W. “Na Senzala uma flor: esperanças e recordações da família
escrava, Brasil Sudeste, Século XIX” Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1999.
21. Informações Complementares:
Os quartéis são os locais onde os soldados de cada guarda se reúnem para fazer
as campanhas ou para sair em viagens. É também onde guardam os instrumentos
e realizam as refeições durante os dias de festa e fazem intervalos de descanso.
Todas as atividades do Congado começam e terminam no quartel. Geralmente o
quartel é o local de moradia da família do capitão ou da madrinha do terno. As
construções são o que se chamam colônias: diversas casas pequenas, construídas
em períodos distintos, dispostas umas ao lado das outras e com um pátio, uma
área comum, um terreiro no meio. A área não construída no meio é utilizada para
reunir o terno, para realizar as refeições coletivas, afinar instrumentos. Em muitos
casos, banheiros, tanques, pias e locais para passar roupas são de uso comum a
todos os moradores da colônia.
537
Nos Quartéis, realizam grandes refeições conjuntas, mesmo não sendo dia de festa
Congado. O milagre multiplicador dos alimentos promovido por São Benedito é
realizado pelas matriarcas todos os dias e se estende aos “praticamente filhos”,
pois muitas crianças, jovens e adultos são atraídas para o convívio das famílias de
congo, estendendo os laços familiares para além dos consangüíneos. O Congado
que acontece na porta da igreja Católica é o ápice, o momento máximo desta festa
que dura praticamente o ano inteiro dentro dos terreiros e quartéis. A família é
festejada diariamente. Grandes matriarcas reúnem ao seu redor seus muitos filhos
todos os dias.
Segundo Robert W. Slenes1, a palavra Senzala origina-se do dialeto Kimbundu e
significa “residência de serviçais em propriedade agrícola” ou ainda “moradia de
gente separada da casa principal”. Senzala também pode significar “Povoado” ou
“grupo de parentesco”. (p. 148). Enquanto a expressão Quilombo é utilizada para
designar “acampamento de guerreiros” (p. 173). Os Quartéis de Congado abriga
Soldados com suas caixas e seus Estandartes durante as Campanhas. No Congado,
os guerreiros conduzem caixas e são designados Soldados, organizados por
Capitães, seguem seus Estandartes e se abrigam no Quilombo chamado Quartel.
Designação: quartel do terno Congo Prata
22. Atualização das informações:NT
23. Ficha Técnica
Levantamento Data: Abril de 2007
Fabíola Benfica Marra (Historiadora)
Larry Guimarães de O. Filho (Formatação, estagiário de arquitetura)
Larissa Gontijo T. Cunha (Formatação, estagiário de arquitetura)
Elaboração Data: Abril de 2007
Fabíola Benfica Marra (Historiadora)
Revisão Data: Abril de 2007
Anderson Henrique Ferreira (Historiador)
Gisele Pinto de Vasconcelos Costa (Arquiteta)
540
01. Município: Uberlândia
02. Distrito: Sede
03. Natureza: Festas Populares/ Celebrações/
Cultos Afro-brasileiros
04. Designação: Quartel do Terno São Domingos
BENS IMATERIAIS
06. Informe Histórico:José Herculano Cândido nasceu em 12/10/1943 na cidade de Monte Santo, no sulde Minas Gerais. Vem para Uberlândia no dia 11/10/1949 junto com o pai CândidoGeraldo Ananias, o Tio Cândido, nascido em 03/10/1911 em Ventania, hoje municípiode Alpinópolis. Tio Cândido pede transferência à Ferroviária Mogiana, ondetrabalhava e se muda para Uberlândia após a morte de sua esposa Isbela VitalinoGomes, em 1948. Isbela possuía uma fábrica de doces. Tio Cândido era sacristãona igreja, mas não havia Congado na cidade de Monte Santo. Em 1952 Tio Cândidoe o filho Zezé começam a dançar no terno Congo Branco do Panamá, o nome donegro Panamá era Sebastião, ele era sargento do exército. Na metade da décadade 1960, José Herculano, o Zezé, fica doente e o pai fez uma promessa para SantaIfigênia que se ele se curasse, eles fundariam um terno com o nome da santa paraa família comandar. José Herculano melhora e em 1968 fundam o terno Congo deSanta Ifigênia, dança durante oito anos neste terno e se muda para São Paulo paratrabalhar como prensista e armador em metalúrgica. Volta para Uberlândia em 1978,dança no Congo de Santa Ifigênia até o ano de 2002. Em 2003 sai com o ternoCongo São Domingos pela primeira vez.07. Documentação Fotográfica:
INVENTÁRIO DE PROTEÇÃODO ACERVO CULTURAL
Minas Gerais-MG
Fotos do Terno Congo São Domingos
Uberlândia/MG
Ano 2007
05. Responsável: José Herculano Cândido (Zezé)
SECRETARIA MUNICIPALDE CULTURA
541
07. Documentação Fotográfica:
Fotos do Terno Congo São Domingos
Uberlândia/MG
Ano 2007
08. Descrição:
O terno Congo São Domingos utiliza calça e sapatos brancos camisa e capa verde
claro. Alguns utilizam chapéu coberto com tecido verde com aplique de renda branca
e longas fitas de cetim coloridas amarradas ao chapéu. Os instrumentos usados
são maracanã 24 e 26, surdão 20 e 22 surdinho 14 e 18, tarol 12, repilique 08 e 10
e chocalho. Três rainhas carregam três oratórios, um para cada santo: Nossa
Senhora do Rosário, São Benedito e São Domingos Sávio.
O terno homenageia São Domingos Sávio, jovem seminarista italiano, discípulo de
Dom Bosco que viveu em meados de 1850. Filho de ferreiros, Domingos Sávio foi
ainda criança para o seminário, submetendo-se a diversas penitências para
combater a tentação dos pecados, autor da máxima “A morte, mas não pecados”.
Faleceu aos 15 anos de tuberculose. Canonizado em 1954 sendo aclamado por
ter conservado “ilibada a angélica pureza” empenhado em “combater a blasfêmia e
a ofensa a Deus”, além de defender a “submissa obediência aos pais e educadores”.
09. Grupos Sociais Envolvidos:
Familiares de José Herculano Cândido e moradores do bairro Jardim Brasília e
adjacências
10. Organizadores:
Vice-presidente: Rogério Aparecido Soares
Secretária: Ana Carolina Silva Cândido
Tesoureira: Maria Agnésia Ferreira Cândida
Conselho Fiscal: Antônio Ananias, Maria Aparecida Ananias Soares
Madrinhas: Gasparina, Nenzinha, Maria Agnésia Ferreira Cândido
542
11. Participantes:
Aproximadametne 90 integrantes
12. Local de Realização:
O quartel do terno se localiza na Rua Saturno, 713 – Jardim Brasília
13. Data/ periodicidade de ocorrência:
A “campanha” do Congado, como os congadeiros dizem, começava por volta do
dia 15 de setembro, atualmente ela começa por volta do dia 10 de agosto. Por
causa da mudança da data da festa de novembro para outubro, a campanha também
começa mais cedo. A festa do Congado realizada na Igreja de Nossa Senhora do
Rosário no centro da cidade de Uberlândia, atualmente ocorre no último domingo e
segunda-feira de outubro, antes era no segundo domingo e na segunda-feira de
novembro. Ocorre também uma festa na igreja de São Benedito, no bairro Planalto
no mês de maio. Várias festas em outras cidades ocorrem em diversas datas ao
longo do ano, sendo visitadas pelos ternos de Uberlândia.
14. Informações Complementares:
O Congado é um ritual afro-brasileiro que nasce dos cortejos de coroação de reis,
do culto aos ancestrais africanos e das celebrações de santos da Igreja Católica.
Uma dança ritual executada por guardas ou ternos de Congo, Moçambique, Marujo,
Marinheiro e Catupé. Os dançantes prestam homenagem à Nossa Senhora do
Rosário e a São Benedito, aos antepassados e aos santos de sua devoção,
principalmente aos santos negros Santa Ifigênia e N. S. Aparecida, mas também
São Domingos, Nossa Senhora da Guia, Nossa Senhora d’Abadia, etc. Cada terno
se diferencia do outro nas cores das roupas e dos acessórios, nos ritmos das
músicas, nos instrumentos e na forma da dança.
Prevalesse o canto antifonal, isto é, um solista, geralmente o Primeiro Capitão,
apresenta o tema e o coro responde. O Segundo Capitão com seu bastão e apito
comanda os soldados na execução instrumental. Cada Capitão “puxa” uma série
de músicas que podem ser elaboradas por ele ou pelo grupo e ainda outras
aprendidas com outros ternos ou com os antepassados. Algumas músicas são
“tradicionais” do terno, passadas de capitão para capitão. Outras são específicas
de cada guarda. Existem também cantorias que são consideradas “segredo” que
não podem ser reveladas para “os de fora” e que são aprendidas e “guardadas no
coração”, só são executadas em cerimônias reservadas.
O trajeto do Congado é uma manifestação pública da fé, do pertencimento ao
movimento cultural afro-brasileiro-mineiro-uberlandese. Os congadeiros rompem
os muros que cercam suas comunidades e ganham a cidade, comemorando a
manutenção de suas famílias e de sua cultura.
543
O ritual composto por elementos da cultura bantu é reelaborado no Brasil sob
influência do contato com outros povos africanos, europeus e nativos. O Congado
em Uberlândia, é fundamentado no mito da aparição e resgate da imagem de Nossa
Senhora do Rosário e possui pelo menos duas versões: a) Nossa Senhora do
Rosário estava dentro do mar, um garoto a vê submergir, chama os pais para verem,
eles não acreditam. Então ele chama os Marinheiros, que também presenciam a
santa submergir, eles tentam tirá-la, mas ela não sai do local. Chegam brancos e
padres e tentam levá-la para uma capela, mas a santa “foge” do altar e volta para o
mar. Vem, então o terno de Congo, todo colorido e canta para ela sair da água, ela
submerge, mas ao ser levada para a capela dos brancos, volta a “fugir” para o mar.
Um terno de Moçambique, todo vestido de branco, descalço, com gungas nos pés,
canta para ela, que então submerge e lhes acompanha, eles então constroem uma
capela para ela e ali Nossa Senhora do Rosário permanece, o terno de Moçambique
então se retira sem lhe dar as costas. b) a segunda versão, contada por Maria
Conceição Cardoso, do Moçambique Rosário de Fátima, afirma que ao tentar
capturar escravos fugidos na serra da Montanhesa, um grupo de capitães do mato
encontra um grupo de negros, vestidos de branco, fazendo rosários, com contas de
lágrima em frente a uma árvore de umbaúba onde Nossa Senhora do Rosário estava
encravada num galho. Os capitães do mato surram os negros e tentam capturá-los,
mas eles permanecem imóveis. Apavorados com a visão voltam para a cidade e
chamam um padre para ir até o local verificar o fato. E como na primeira versão,
brancos e Congos não conseguem levá-la, Nossa Senhora do Rosário acompanha
apenas o Moçambique que canta, vestido de branco e lhe construiu uma igreja e
não lhe dá as costas ao se retirar de sua presença.
O Moçambique é, por isso, a Guarda Real. Isto é, são os ternos de Moçambique os
responsáveis por conduzir as imagens dos santos, bem como os reis durante a
procissão. É responsável por levantar o mastro na porta da Igreja dando início ao
Congado, é quem geralmente conduz os casais reais até a procissão e também no
encerramento da festa. Ouvi de diversos capitães em Uberlândia, que quem conduz
o casal real é o Moçambique ou “Congo de coroa”. A coroa além de representar a
realeza, também é símbolo de Nossa Senhora e confere a quem a utiliza a autoridade
para conduzir os reis e santos. A coroa também está associada aos Pretos Velhos,
na Umbanda, representa o poder e a sabedoria dos anciões. O Catupé faz a guarda
do Moçambique e pode substituí-lo nessas funções.
544
As músicas, as roupas e adereços e o trançar de fitas característico do terno deMarinheiros e Marujos, fazem referência ao mar que traz os negros para o Brasil ede onde Nossa Senhora é retirada, e às atividades do Marinheiro. Os ternos deCongo são de louvação, os tocadores de maracanãs e caixas fazem performancessaltando com os instrumentos, mas esta performance, atualmente, também éreproduzida por outras guardas. Segundo os integrantes do Marinheiro de SãoBenedito a performance dos saltadores ou caixeiros de frente, em que osdançadores pulam com as caixas revezando entre ajoelhar-se e saltar é cheia designificação. Quando estão ajoelhados, estão pedindo axé e quando estão pulando,estão agradecendo as graças recebidas. Axé é energia vital, essencial paraexistência. Uma das características diferenciadoras dos ternos de Congo que vemse extinguindo em Uberlândia é o uso de cuíca e de tamborins (caixinhas quadradasconfeccionados em madeira e couro, percutidas com uma vareta), bem como ouso de pandeiros, adufes e instrumentos harmônicos como violões, cavaquinhos,banjos e sanfonas.A organização das guardas, a hierarquia dos ternos, segue os modelos militaresou políticos. Na maior parte dos ternos, o “regente” é chamado Capitão, mas emoutros recebe o distintivo de General ou Guia. Existem outras funções, tais como,Presidente, Fiscal, Conselheiro, Secretário, Tesoureiro, Madrinha do Terno, Madrinhada Bandeira, Soldados, Bandeireiras, etc. que variam de terno para terno, tanto emnúmero como em funções e significações. “Antigamente” a função de PrimeiroCapitão era designada em alguns ternos de Marechal e as bandeireiras de Juizas,o Presidente era conhecido como o Dono do terno. As designações presidente,vice-presidente geralmente tem seu equivalente como primeiro capitão, segundocapitão, madrinha.O primeiro capitão se desloca o tempo todo se certificando se tudo corre bem comtodo o terno e também puxa as músicas. O segundo capitão geralmente éresponsável por reger a bateria, é o maestro. Dois outros capitães ou fiscaisprotegem as laterais e também se locomovem entre os dançadores. A madrinha doterno geralmente segue a frente, junto à virgem que carrega a bandeira, mas tambémtransita pelo terno auxiliando na medida em que se faz necessário. A madrinha dabandeira auxilia as bandeireiras. Elas também são responsáveis pelas crianças,no Marinheirão existe a função de capitão das crianças, outras pessoas, geralmenteas mães também cuidam das delas, carregando-as no colo quando se cansam.Os Fiscais auxiliam na condução do terno, na execução das músicas, naorganização dos dançadores. São os imediatos do Capitão, geralmente tambémimpunham um bastão e trazem um apito. As funções de Presidente, tesoureiro eSecretários, exigidas para o registro oficial, geralmente são desempenhados pelospróprios Capitães, Madrinhas e Fiscais.
545
Soldados são os tocadores e dançadores.
As Bandeireiras conduzem as Bandeiras ou estandartes e suas fitas fazendo
coreografias, também podem ser chamadas de Andorinhas. “Antigamente” esta
função só era desempenhada pelas garotas virgens. Muitas mulheres relatam que
se a menina não fosse virgem e levasse a fita ou o mastro da bandeira, muitos
acidentes poderiam acontecer. Nossa Senhora do Rosário seria a responsável por
denunciar a farsa. Adereços de cabelo poderiam cair ou a roupa se rasgar, a própria
bandeira poderia sofrer danificações, como quebrar, rasgar. Desmaios e doenças
dificultariam a execução da função. Caberia a menina se afastar quando não fosse
mais “digna” de carregar a bandeira do Congado. Hoje no entanto esta tradição
não é mantida pela maioria dos ternos.
Alguns atribuem sentidos místicos à escolha das cores, dos instrumentos, dos
acessórios e dos ritmos, outros vêm nesses elementos traços distintivos dos ternos.
As roupas e acessórios são usados apenas nos dias de festa, durante a campanha,
cada um se veste a seu modo. As meninas geralmente fazem roupas que podem
ser usadas no cotidiano, já que todo ano elas fazem duas trocas de roupa: uma
para o domingo e outra para a segunda. Alguns ternos modificam os modelos de
suas roupas todo ano, outros mantém a vestimenta dos homens durante algum
período. Constatei a preocupação de anciões quanto à manutenção das roupas
consideradas tradicionais dos ternos. A indumentária que mais inova é a das
bandeireiras, geralmente as roupas dos soldados possuem elementos
identificadores dos ternos e não mudam de um ano para o outro, a mudança quando
ocorre é gradativa. A indumentária é um dos elementos identificadores dos ternos,
por isso a Irmandade do Rosário intervém na escolha das cores e adereços.
Os ternos só recebem a Carta de Comando – ordem para participar dos festejos –
se estiverem filiados à Irmandade de Nossa Senhora do Rosário de Uberlândia.
Aqueles registrados em cartórios participam do Reinado sem o aval da Irmandade.
Um representante da Igreja, geralmente o pároco, participa diretamente das decisões
da Irmandade. A Irmandade é o elo de ligação dos ternos com a Igreja Católica e
as subvenções governamentais. A Irmandade gerencia a festa, decide data de
realização da festa, faz e refaz o estatuto da Irmandade e da Festa, decide horários
de realização de missas, procissões etc. A diretoria da Irmandade do Rosário é na
verdade um reinado, onde os cargos são hereditários. Cada terno é como se fosse
um “reino” ou “estado”, “clã”, “facção”, um batalhão, um pelotão, pertencente à um
tipo de guarda. Com organização e agenda de rituais própria. Cada terno possui o
seu “diplomata”, geralmente um capitão, que fará sua representação nas reuniões
com a Irmandade e os órgãos governamentais ou financiadores.
546
Apesar de muitos congadeiros negar que exista rivalidade entre os ternos, a disputa
torna-se muito clara em muitos momentos. Disputam a ocupação do espaço na
praça da igreja, qual a execução mais perfeita das músicas, qual o maior número
de componentes, qual a melhor organização e disposição dos soldados na
apresentação, qual a melhor e mais bonita indumentária, ocorre disputa na
demarcação do território onde realizaram sua campanha, etc. Em alguns momentos
verdadeiras batalhas orquestrais ocorrem: os ternos se enfrentam com os
instrumentos, o apito e a expressão corporal dos capitães deixam clara a luta
enquanto os soldados rufam seus tambores.
Durante “campanha” do Congado, como os congadeiros dizem, são confeccionados
ou reformados acessórios, roupas e instrumentos. Realizam ensaios, novenas,
leilões, reuniões com a Irmandade e com a Coordenadoria Municipal Afro-Racial
(CoAfro). Fazem benzições, trabalhos espirituais. Visitam outras cidades em festa.
A campanha é o período que precede a festa.
Geralmente é o Presidente do terno ou a Madrinha quem fica responsável por
agendar os leilões e novenas. Os donos da casa onde serão realizados os leilões
arrecadam “prendas”, geralmente alimentos, produtos de higiêne, bebidas, quitutes,
roupas, etc, que serão leiloados a favor do terno. Reúnem-se os dançadores, afinam-
se os instrumentos e cada terno sai do seu quartel sob o comando do bastão e do
apito de seus capitães realizando jornadas noturnas que extrapolam os limites dos
bairros para realizar as novenas e os leilões. Estes deslocamentos pela cidade
enchem a noite com as sonoridades dos instrumentos. Algumas pessoas saem na
porta das casas para ver os ternos passarem, nos seus ensaios para o dia da
festa.
Cada terno possui o seu “território”, demarcado pelas casas dos amigos que
oferecem prendas para o leilão ou solicitam a visita da bandeira para a realização
da novena. Cada terno possui um quartel, que pode ser a casa de um dos capitães
ou de pessoas ligadas ao terno. O “território” dos ternos extrapola, inclusive as
fronteiras das cidades, pois cada terno possui uma agenda de festas e encontros
formando distintas redes de sociabilidade. Os ternos também costumam visitar
suas cidades de origem.
Quando um terno se encontra com outro no trajeto pode acontecer pelo menos três
ações diferentes:
1 – se os ternos forem amigos, se cumprimentam e até mesmo tocam juntos;
547
2 – se os ternos tiverem algum tipo de diferença, rixa, ou questão a ser resolvida,
poderá haver uma espécie de confronto, um duelo de instrumentos, ou um terno
impede o outro de atravessar uma rua ou passar na porta da igreja.
3 – se os ternos ainda não se conhecerem pode acontecer dos Capitães cantarem
um para o outro saldando as bandeiras e se identificando. Pode também haver
neste caso uma espécie de duelo em que os capitães disputam cordialmente para
saber qual dos capitães é mais experiente ou qual a bateria faz mais evoluções.
O trajeto até a casa da novena é utilizado para realizarem o ensaio para o dia da
festa. Durante o trajeto até as casas onde se realizarão as novenas, os capitães
ensinam as músicas aos novatos e ensinam a tocar os instrumentos. É comum a
criação de músicas novas para apresentarem no dia da festa. A composição pode
ser feita por capitães, madrinhas ou dançadores do terno ou ainda ser atribuídas a
mentores espirituais. Muitas músicas tocadas durante a campanha podem não ser
executadas no dia da festa. Existem também músicas específicas para cada
ocasião: para chamar o dono da casa, para agradecer as prendas para o leilão,
para abençoar o interior da casa, músicas de novena, em louvor a São Benedito,
em louvor a Nossa Senhora do Rosário, que relembram os antepassados, que falam
de fenômenos climáticos, para solicitar a saída da bandeira, para saldar Reis e
Rainhas, de despedidas, para quando ocorre um encontro com outro terno seja ele
amigo ou não e uma infinidade de outras possibilidades, variando de terno para
terno.
Existem duas versões para a origem do Congado em Uberlândia. A primeira
considera o Distrito de Miraporanga (antiga Santa Maria) o local de onde se
originaram os ternos de Congado do município, na época, o arraial de São Pedro
de Uberabinha. Segundo Paulino (In Brasileiro, 2001:31), o primeiro terno de
moçambique surgiu em Miraporanga, não sendo inicialmente aceito pelos
moradores de São Pedro do Uberabinha. A Igreja do Rosário de MIrapóranga,
construída em 1850, foi fundada por escravos, que posteriormente se mudariam
para o futuro bairro Patrimônio em Uberlândia, às margens do Rio Uberabinha,
levando consigo as celebrações do Congado.
A segunda versão indica que o movimento do Congado se iniciou no Sertão da
Farinha Podre, por volta de 1874, através do “Mestre André”. Esse senhor reunia
os negros da região do Rio das Velhas e Olhos D’Água, tocando tambor em culto à
Nossa Senhora do Rosário, padroeira dos negros, pedindo para libertá-los da
escravidão. O início do movimento ocorre por volta de 1876, período de expectativa
e temor quanto à abolição da escravatura no Brasil Império.
548
Vale lembrar que em 1881 foi decretada a lei nº 2040, conhecida como a “Lei do
Ventre Livre” e em 1885 a “Lei do Sexagenário” ou “Lei Saraiva Cotegipe”, as quais
participaram de um processo que culminou na própria abolição da escravatura, em
1888.
O município de Uberlândia se localiza na região do Triângulo Mineiro, área conhecida
no século XVIII e XIX como Sertão da Farinha Podre. Esta região era denominada
de Sertão da Farinha Podre por causa dos sacos de palha com farinha, encontrados
pelos colonizadores, enterrados ou pendurados nas árvores. Das histórias contadas
sobre a origem deste nome, existe uma que afirma que quando as bandeiras se
aproximavam os indígenas e quilombolas que aqui habitavam escondiam sua
farinha, base de sua alimentação, com esperança de poderem voltar algum dia
para suas aldeias e ter alimentos até a nova plantação dar seus frutos. Eles se
refugiavam nas matas e esperavam os bandeirantes abandonarem suas moradias
após arrasá-las com saques e incêndios. Muitas aldeias tinham que mudar
constantemente sua localização, abandonando sacos de farinha pelo caminho de
sua fuga. Por causa de sua localização geográfica, o Sertão da Farinha Podre
passou a ser um entreposto para os avanços das bandeiras. Local de de descanso
e comércio de tropas uma parada na rota de tropeiros e mineradores em direção a
Goiás e Mato Grosso. A farinha que fora escondida pelos quilombolas e/ou
indígenas apodrecia com a ação do tempo, e depois era encontrada pelos novos
habitantes do lugar. Por causa da grande quantidade de mantimentos apodrecidos
encontrados, a região da bacia do rio Paranaíba que abrange o atual Triângulo
Mineiro e parte do sul do estado do Goiás, ganhou o nome de Sertão da Farinha
Podre.
O Sertão da Farinha Podre era povoado por vários núcleos quilombolas distribuídos
como pontos de uma rede. Os documentos oficiais referem-se a diversos deles
como pertencentes ao Quilombo do Campo Grande. O Quilombo do Ambrósio,
localizado na zona rural de Ibiá, cujo sítio arqueológico é tombado pelo patrimônio
histórico, foi como uma célula central de onde partiam os integrantes que formavam
os outros núcleos da rede. A historiografia oficial considera que o Quilombo do
Ambrósio tenha sido destruído em 1746, sendo referido como o maior núcleo,
comportando até mais de “mil negros, e grande número de negras e crias”. Os
documentos oficiais que narram a destruição deste núcleo e de “outros menores”
informam o número de três oficiais e duzentos e sessenta “homens capazes, e dos
mais desocupados” reunidos nas freguesias de Brumado (hoje Patrocínio), Sta
Rita, Carijos, Congonhas, Ouro Branco e Prado.
549
E para a destruição do Quilombo do Campo Grande foram enviados quatrocentos
e depois mais trezentos homens da cidade de Mariana, São João de El Rey, São
José, Sabará e Vila Nova da Raynha. Sendo que estas comitivas levavam cartas
solicitando que todas as comarcas lhes fornecessem “munições de guerra e de
boca” Embora, os documentos oficiais relatem expedições bem sucedidas na
destruição destes quilombos, deixam a entender que muitos quilombolas fugiam
recomeçando um novo quilombo em áreas não ocupadas pelo homem branco. A
área onde hoje se localiza Uberlândia só foi ocupada pelo homem branco a partir
de 1821, possuindo ainda reminiscências dos antigos quilombos do Campo Grande.
Mas a construção de hidrelétricas tem destruído paulatinamente os vestígios
arqueológicos destes quilombos que geralmente escolhiam áreas estratégicas
próximas aos rios para se instalar. Os quilombolas escolhiam sua localização de
acordo com os elementos oferecidos pelo ambiente buscando áreas que lhes
possibilitasse a permanência (agricultura e pecuária de subsistência, assaltos às
tropas de comerciantes e viajantes e contrabando) e a defesa da comunidade. A
região ainda preserva na toponímia referências aos antigos quilombos (Pau Furado
e Quilombo).
A ocupação efetiva desta área pelo homem branco ocorreu a partir do século XIX,
sendo a produção pecuária e a agricultura de subsistência primordiais, pois
possibilitaram a instalação das fazendas e dos arraiais que futuramente constituiriam
vários municípios e distritos. O arraial de São Pedro do Uberabinha, núcleo inicial
da cidade de Uberlândia, formou-se no início do século XIX, a partir da aquisição
de sesmarias do governo da Província de Minas Gerais por algumas famílias. O
marco inicial da atual cidade foi a antiga Sesmaria de São Francisco, doada a
João Pereira da Rocha, em 1821. A chegada de outras famílias, com destaque
para a “Alves Carrejo”, intensificou a ocupação da região.
Em 1846, Felisberto Alves Carrejo, após aquisição de área de dez alqueires entre
o Córrego São Pedro e o Córrego Cajubá, obteve, juntamente com Francisco Alves
Pereira, aprovação do Bispado de Goiás para a construção de uma capela curada,
consagrada a Nossa Senhora do Carmo e a São Sebastião da Barra. No ano de
1852 foi criado o Distrito de Paz do São Pedro do Uberabinha, pela lei provincial n.
602, e em 1853 a primeira capela foi concluída. . A criação da paróquia, em 1857,
ocorreu no mesmo ano da formação do patrimônio da capela, composto de terras
doadas por um grupo de moradores locais que haviam adquirido 100 alqueires da
Fazenda do Salto (Vale, 1998: 252).
550
As primeiras edificações do arraial se São Pedro do Uberabinha se concentravam
ao redor do largo da Igreja Matriz, em terrenos aforados do patrimônio de Nossa
Senhora do Carmo. Em 1883 foram doados, ainda, doze alqueires de terra à
margem esquerda do córrego Uberabinha, próximo aos limites do arraial, destinados
ao patrimônio de Nossa Senhora da Abadia (Lourenço, 1986:16). Em 31 de agosto
de 1888, a então freguesia foi transformada em vila, com o nome de São Pedro do
Uberabinha, tendo sido instalada oficialmente em 1891. Em 24 de maio de 1892, a
vila foi elevada à categoria de cidade pela lei nº 23. Em 1895, a Estrada de Ferro
Mogiana atingiu a cidade de Uberlândia e se verifica o desenvolvimento da produção
agropecuária e de indústrias, com destaque para a produção de charque (Brasileiro,
2001: 253). “Nas duas primeiras décadas do século XX foram instaladas em
Uberlândia indústrias ligadas à produção rural. Têm-se registro das seguintes
indústrias, existentes em 1922: beneficiadoras de arroz e algodão, serrarias,
carpintarias, charqueadas, curtumes e outros estabelecimentos de produção de
couro e carne, além de fábricas de banha, sabão, calçados e arreios” (Lourenço,
1986: 20). Vale ressaltar que o fornecimento de energia elétrica teve início em 1909,
aumentando a possibilidade da instalação de várias fábricas.
Em 1929, a cidade recebeu o nome de Uberlândia, através da lei nº 843. Na década
de 1930, a abertura de estradas de rodagem em direção às áreas de exploração
de diamantes do Rio Araguaia intensificou o desenvolvimento da área, que se tornou
ponto de troca e abastecimento de caravanas e compradores de diamantes . Em
1933 , iniciou -se a construção da nova igreja Matriz concluída em 1941. A padroeira
Santa Terezinha foi escolhida para substituir os antigos padroeiros da cidade Nossa
Senhora do Carmo e São Sebastião da Barra. A antiga igreja Matriz foi demolida
em 1943, dando lugar a estação Rodoviária, que hoje sedia a Biblioteca Municipal
. Em 1940, cidade passa por um rápido crescimento e adensamento populacional,
e desde então tem se configurado importante centro regional, localizado em local
estratégico, próximo a seis capitais (Campo Grande, Cuiabá, Goiânia, Belo
Horizonte, São Paulo e Brasília ). De 1985 a 1996, o seu crescimento anual do P I
B de 5, 09%, superior ao crescimento de Minas Gerais (2,17%) e do Brasil (2,28%).
Hoje, a cidade se destaca pelo desenvolvimento dos setores de agro industria,
tecnologia da informação, setor atacadista - distribuidor, e mais recentemente, de
biotecnologia, sendo também considerado pólo na área de ensino superior.
Há referências históricas de que a primeira Capela de Nossa Senhora do Rosário
tenha sido iniciada pelo Padre João Dantas Barbosa, em 1876, a qual não foi
concluída, tendo sido definitivamente levantada na atual praça Cícero Dr. Duarte.
551
Em decorrência do abandono da capela anterior, entre 1891 e 1893, ocorreu a
construção da nova Capela do Rosário “com estrutura de madeira, tijolos de adobe
e telha comum, situada no centro da cidade e com fachada voltada para o bairro
General Osório (atual bairro fundinho).” Já em meados de 1890, o então presidente
da Irmandade do Rosário passou a comandar a nova procissão. O vigário Pio Dantas
estimulou a participação da comunidade negra nas festividades religiosas. (Ibidem,
2001)
Com o crescimento da cidade, a segunda capela precisou ser ampliada. Foi
composta uma comissão responsável por angariar donativos particulares e recolher
uma mensalidade cobrada da Irmandade do Rosário. A capela anterior foi demolida
e, no mesmo local, a partir de 1928, foi construída uma nova capela com projeto de
autoria do arquiteto Thomaz Hovanez. Em 1931, a Capela Nossa Senhora do
Rosário foi re-inaugurada. Em 1985, a Capela de Nossa Senhora do Rosário foi
tombada pelo Patrimônio Histórico Municipal (lei nº 4263, de 9 de setembro) e
entre 1987 e 1988, foi restaurada pela Secretaria de Cultura do Município com
apoio do IEPHA/MG (Vale, 1998:257). A Capela de Nossa Senhora do Rosário
passou por processo de restauração no de 2006.
15. Referências:
* Anais da Biblioteca Nacional – Volume 108 – Rio de Janeiro, 1988 pg. 47-113 –
Carta de Gomes Freire de Andrade para o Capitão-mor da Vila de S. João de El
Rey Manuel da Costa Golvea, 27 de junho de 1746. Mss. APM, Códice SC84,
Registro da providoria da Fazenda de Minas Gerais p.111 (Ver laudo IPHAN 004/
98)
*Brasileiro, Jeremias. Congadas de Minas Gerais – Brasília: Fundação Cultural
Palmares, 2001.
* Laudo IPHAN 004/98 – Dossiê do Tombamento do Remanescente do Antigo
Quilombo do Ambrósio – Ibiá – Mg
*Lucas, Glaura. Os Sons do Rosário – Um Estudo Etnomusicológico do Congado
Mineiro – Arturos e Jatobá. Dissertação de Mestrado, São Paulo: ECA-USP, 1999.
*Marra, Fabíola Benfica. Álbum de Família: Famílias Afro-descendentes no Século
XX em Uberlândia – MG – CD-Rom produzido entre os anos de 2004 e 2005,
552
*Martins, Tarcisio José. Quilombo do Campo Grande: A História de Minas Roubada
do Povo. São Paulo: Gazeta Maçônica, 1995.
*Lima Jr., Walter. Chico Rei. Embrafilmes, 1986.
*LOURENÇO, Luis Augusto Bustamante. Bairro Patrimônio: Salgadores e
Moçambiqueiros. Uberlândia: Secretaria Municipal de Cultura, 1983.
*Martins, Leda M. Cantares – Afrografias da Memória. São Paulo: Perspectiva:
1997.
*Moura, Clovis (org). Os Quilombos na Dinâmica Social do Brasil – Maceió: Edufal,
2001.
*RIBEIRO, Maria de Lourdes Borges. A Música Africana. Rio de Janeiro: Funart,
1981
*VALE, Marília Brasileiro Teixeira. Arquitetura Religiosa do Século XIX no antigo
“Sertão da Farinha Podre”. Tese apresentada à Faculdade de Arquitetura e
Urbanismo da Universidade de São Paulo para obtenção do Grau de Doutor, São
Paulo, 1998.
16. Atualização das informações:NT
17. Ficha Técnica
Levantamento Data: Abril de 2007
Fabíola Benfica Marra (Historiadora)
Larry Guimarães de O. Filho (Formatação, estagiário de arquitetura)
Larissa Gontijo T. Cunha (Formatação, estagiário de arquitetura)
Elaboração Data: Abril de 2007
Fabíola Benfica Marra (Historiadora)
Revisão Data: Abril de 2007
Anderson Henrique Ferreira (Historiador)
Gisele Pinto de Vasconcelos Costa (Arquiteta)
553
07. Designação:Bandeira do Terno São Domingos
08. Localização Especifica: quando não está em época de campanha fica juntocom os instrumentos.
09. Espécie: Bandeira /Distintivo/Insígnia Religiosa
10. Época: 2003
11. Autoria: Coletiva
12. Origem: Uberlândia
13. Procedência: Uberlândia
14. Material / Técnica: cabo de plástico, tecido cetim verde limão, marabô verde,franja de cetim branca, imagens impressas em papel plastificado, cordão delantejoulas verdes, bordados com miçangas, terço de contas de plásticotransparente.
15. Marcas / Inscrições / Legendas: Imagens de São Domingos Sávio e de NossaSenhora do Rosário.
16. Descrição:
O terno Congo de São Benedito desfila com duas bandeiras, mas na visita querealizei ao quartel, me foi apresentada apenas uma, com cabo de plástico, tecidocetim verde limão, nas extremidades marabô verde, franja de cetim branca. Duasimagens uma de São Domingos Sávio e uma um pouco menor de Nossa Senhorado Rosário, impressas em papel plastificado costuradas ao tecido com acabamentode cordão de lantejoulas verdes. Motivos florais bordados com miçangas circundamas imagens e um terço de contas de plástico transparente pendem entre as imagens,preso na parte superior.
BENS MÓVEIS E INTEGRADOS
04. Propriedade: Particular
05. Endereço: Rua Saturno, 713 – Jardim
Brasília
06. Responsável: José Herculano Cândido
01. Município: Uberlândia
02. Distrito: Sede
03. Acervo:Terno Congo
São Domingos
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INVENTÁRIO DE PROTEÇÃODO ACERVO CULTURAL
Minas Gerais-MG
SECRETARIA MUNICIPALDE CULTURA
554
18- Proteção Legal:
( ) Federal
( ) Estadual
( ) Municipal
( x ) Nenhuma
( ) Tombamento Isolado
( ) Tombamento em Conjunto
19- Documentação fotográfica
Fotos do Terno Congo São Domingos
Uberlândia/MG
Ano 2007
20- Estado de Conservação:
( ) Excelente ( x ) Bom
( ) Regular ( ) Péssimo
21- Dimensões:
Altura 58cm
Largura: 52cm
22. Análise do Estado de Conservação:
Bandeira em bom estado de conservação.
Não apresenta perdas, não apresenta sinais de infestação por insetos ou de mofo.
17- Condições de segurança:
( x ) Boa ( ) Razoável ( ) Ruim
Obs:
555
23. Intervenções – Responsável / Data: NT
24. Características Técnicas:
A bandeira que foi apresentada tem com cabo de plástico, tecido cetim, marabô
nas extremidades, franja de cetim. Duas imagens religiosas com tamanhos
diferentes, impressas em papel plastificado costuradas ao tecido com acabamento
de cordão de lantejoulas. Motivos florais bordados com miçangas circundam as
imagens e um terço de contas de plástico transparente pendem entre as imagens,
preso na parte superior.
25. Características Estilísticas:
Estilo popular (sem característica estilística específica).
26. Características Iconográficas:
Nos oratórios do Congado figuram as imagens e/ou os nomes de Nossa Senhora
do Rosário, de São Benedito e em alguns casos outras imagens como a de Santa
Ifigênia, Nossa Senhora Aparecida, São Domingos, etc.
Cada santo é associado a elementos distintos. Santa Efigênia ou Ifigênia, pelo que
os congadeiros dizem é a dona da festa do Congado. Santa Ifigênia, segundo
Câmara Cascudo é uma virgem mártir da Etiópia, devoção de negros e pessoas
menos favorecidas. A festa do Congado acontecia em louvor à Santa Ifigênia, a
santa negra, mas os brancos não aceitaram e para que a festa se legitimasse eles
criam a imagem de Nossa Senhora do Rosário. Segundo o Cláudio, filósofo,
pesquisador do Congado e dançador do Terno de Camisa Verde, os negros pegam
o rosário que é de Santa Ifigênia e colocam na imagem de Nossa Senhora do
Perpétuo Socorro, criando assim a imagem de Nossa Senhora do Rosário.
Segundo Seu Zezão, capitão do terno Congo de Santa Ifigênia, ele colocou em seu
terno o nome de Santa Ifigênia porque as pessoas precisavam reconhecer que a
festa é dela. Seu Zezão conta que deu muito trabalho para aceitarem o terno porque
somente os padres sabiam da “verdadeira história” de Santa Ifigênia, de Nossa
Senhora do Rosário e de São Benedito. Segundo ele, para haver união entre os
pretos e os brancos Chico Rei comprou a coroa de Santa Ifigênia para coroar Nossa
Senhora do Rosário, comprando assim a sua benção. Como garantia da fidelidade
de Nossa Senhora do Rosário colocaram um menino nos braços de São Benedito
que não é Jesus, mas um menino branco do povo. Se Nossa Senhora do Rosário
algum dia trair os negros, São Benedito deve cortar o pescoço do menino. De
acordo com seu Zezão, São Benedito está sempre ao lado de Nossa Senhora do
Rosário como um soldado, um general. Esta surpreendente narrativa de Seu Zezão
introduz a história de Chico Rei e trata de uma negociação entre os santos.
556
Mas, o que mais chama atenção é a mudança do papel de São Benedito. Este, tido
como mártir sempre foi referido como uma figura bondosa e que multiplicava os
alimentos, uma espécie de Cristo negro. Agora São Benedito é tomado como um
militar frio, capaz de decapitar um bebê branco em nome da proteção dos negros.
Não ouvi de mais ninguém a confirmação desta versão mitológica. Quando se
conversa com seu Zezão percebe-se claramente a existência de uma disputa pelo
capital simbólico. Em meio às críticas aos pesquisadores e aos trabalhos existentes
sobre o congado ele questiona a “ciência” dos “verdadeiros” “fundamentos” de sua
prática ritual tanto pelos pesquisadores como pelos capitães dos outros ternos.
Insinuando ser ele um dos poucos detentores dos conhecimentos tidos como
“fundamentos” do Congado. Diversas outras pessoas tomam este comportamento
como prática. Fazer o Congado sem “fundamento” seria um ultraje. O convívio nos
quartéis envolve aprendizado constante e um “verdadeiro” capitão precisa passar
por esta escola e aprender todas as lições antes de ousar montar o seu próprio
terno.
O lendário Chico Rei, que é o criador da Irmandade do Rosário em Minas Gerais,
era rei em Moçambique, mas na perda de uma batalha fora apreendido e vendido
como escravo, trazido para o Brasil. Os escravos trazidos de Moçambique eram os
conhecedores das técnicas de mineração, “farejavam as minas”, como diziam os
invasores europeus. Chico Rei, após enriquecer seu senhor e demonstrar ser um
grande conhecedor do processo de mineração conseguiu comprar com ouro a
alforria de familiares e amigos, e construir uma capela em homenagem à Santa
Ifigênia em Vila Rica (Ouro Preto). Após descobrir algumas minas Chico Rei disse
que não trabalharia mais se o seu senhor não trouxesse para junto de si seu filho e
parentes que estavam distantes, vendidos para outros senhores de escravos. Mais
tarde conseguiu comprar a alforria de diversos outros escravos. Segundo Câmara
Cascudo “No dia de Reis, em Vila Rica, as negras do cortejo de Chico Rei vinham
com as carapinhas polvilhadas de ouro lavá-las e deixar o ouro numa pia de pedra
existente no Alto da Cruz, onde havia uma imagem de Santa Ifigênia. O ouro servia
para a libertação de outros escravos.” (1972, p.449). O Rei “Moçambiqueiro” que
no Brasil passa a ser chamado de Chico Rei recria aqui o seu reino, supera a
condição de escravo e constrói uma das bases do movimento negro. Muitos negros
se mantinham escravos e cooperavam no movimento liderado por Chico Rei para
a libertação de seu povo.
557
Os negros então alforriados passam a viver nos centros urbanos nascentes e/ou se
deslocam com as expedições desempenhando funções de carpinteiro, pedreiro,
ferreiro (serralheiro), barbeiro, quituteiras, vendedores e outras profissões tidas hoje
como “liberais”. Observem que nesta narrativa, o negro se retira do sistema de
escravidão utilizando a linguagem que está nas bases do sistema capitalista. Ocorre
um rompimento com a escravidão, mas não com sua lógica, pois há uma busca
pela inserção do negro no sistema capitalista decorrente desta. Nos movimentos
quilombolas, onde este sujeito excluído busca uma nova forma de associação e de
socialização fora da sociedade opressora, ocorre uma quebra com os padrões
antes impostos. Mas os negros quilombolas precisavam permanecer em estado
de vigília por causa das constantes investidas das expedições contra suas
comunidades. Mas esta é uma outra história.
Voltando aos mitos do Congado, a principal referencia ao São Benedito é em
relação à alimentação, ele provém o sustento das famílias, dá força. São Benedito
está mais ligado à saúde, à manutenção da vida material, é um mártir negro e santo
mesmo em vida, uma espécie de Cristo Negro. Um dos mitos de São Benedito me
foi contado por seu Charqueada, um dos congadeiros vivo mais antigo de
Uberlândia, ancião do terno Moçambique Pena Branca. Conta seu Charqueada,
que certa feita, o senhor dono da fazenda onde o Benedito era cozinheiro mandou
que ele preparasse uma refeição para seus muitos escravos, mas não lhe deu a
provisão suficiente para tanto. Na despensa não havia banha e o arroz e o feijão
eram pouco. O Benedito então pede o auxílio divino e logo obtém resposta do Todo
Poderoso que lhe diz para ir até o chiqueiro e retirar um naco com toucinho e carne
de um dos porcos, que fosse desde a cabeça até o rabo do porco e então preparar
a comida. E assim o Benedito fez. Milagrosamente, a carne do porco que fora
retirada se reconstituiu na mesma hora, permanecendo o porco vivo. Todos os
escravos se alimentaram até saciar a fome e depois de banquetear tocaram e
dançaram em agradecimento ao São Benedito. O patrão, vendo tamanha festança,
foi ter com o Benedito e inquiriu dele como foi que conseguira arranjar tanto alimento.
O Benedito então lhe relatou como conseguira a banha e o toucinho. O patrão não
acreditando no milagre ameaçou castigar o Benedito, mas quando foi golpeá-lo o
São Benedito levita e fica suspenso no ar... Este mito traz o Benedito enquanto
“multiplicador dos alimentos”, realizador de “milagres” extraordinários, figura louvada
pelos seus. Esta narrativa é compartilhada pela maioria dos congadeiros, sendo
que São Benedito é considerado o santo da cozinha, da alimentação, do sustento,
da fartura, por isso sua imagem geralmente é colocada na cozinha, para que na
casa não falte o alimento.
558
É prática em várias partes do território nacional, colocar café para o São Benedito,
é comum ver sua imagem próxima a uma xícara de café. Outro ritual realizado
popularmente é tomar o café do Benedito, que é um café amargo destituído de
qualquer forma de adoçantes, bebido em pequenos goles pelos congadeiros e
participantes de celebrações, festas, etc. O café do Benedito é tomado como uma
bebida capaz de proteger a quem a ingere.
Nossa Senhora do Rosário está sempre relacionada à chuva, às riquezas, à
proteção, à geração da vida e também à morte. Recorrem a Nossa Senhora para
pedir um bom parto e também uma “boa morte”, a ela intercedem a favor dos entes
queridos que já partiram. Em todas as festas que presenciei houve homenagens a
congadeiros falecidos no período entre festas. Nossa Senhora está vinculada à
vida e à morte, ao rezar a última estrofe da “Ave Maria”, isto fica explicito: “Santa
Maria, mãe de Deus, rogai por nós pecadores agora e na hora de nossa morte.
Amém.” Durante o Congado intercedem à Nossa Senhora do Rosário pela vida e
pela proteção na inevitável hora da morte. Pedem saúde para os seus, proteção
em todos os momentos, recorrem a ela como à Grande Mãe. O culto às deusas
mães foi muito combatido pelo judaísmo, islamismo e demais religiões patriarcais,
mas encontra solo fértil nas tradições afro-descendentes e católicas. Uma música
muito difundida tanto no Congado como na Capoeira e na religiosidade ressalta o
aspecto protetor de Nossa Senhora:
“No tempo do cativeiro, quando o senhor me batia,
eu gritava por Nossa Senhora, ai meu Deus, quando a pancada doía.”
O mito fundante do Congado em Uberlândia é um relato da aparição e resgate de
Nossa Senhora do Rosário e possui pelo menos duas versões aqui sintetizadas:
a) Nossa Senhora do Rosário estava dentro do mar, um garoto a vê submergir,
chama os pais para verem, eles não acreditam. Então ele chama os Marinheiros,
que também presenciam a santa submergir, eles tentam tirá-la com suas cordas,
mas ela não sai do local. Chegam brancos e padres que conseguem retira-la da
água e levá-la para uma capela, mas a santa “foge” do altar e volta para o mar. Vem
então o terno de Congo, todo colorido e canta para ela sair da água, ela submerge,
mas ao ser levada para a capela dos brancos, volta a “fugir” para o mar. Então um
terno de Moçambique, todo vestido de branco e descalço, canta para ela, que então
submerge e lhes acompanha, eles a levam devagar até o local onde constroem
uma capela e ali Nossa Senhora do Rosário permanece, o terno de Moçambique
então se retira sem lhe dar as costas, lhe fazendo reverência;
559
b) a segunda versão, contada por Maria Conceição Cardoso, do MoçambiqueRosário de Fátima, de Ibiá - MG, afirma que ao tentar capturar escravos fugidos naserra da Montanhesa, um grupo de capitães do mato encontra um grupo de negros,vestidos de branco, fazendo rosários, com contas de lágrima em frente a uma árvorede umbaúba onde Nossa Senhora do Rosário estava encravada num galho. Oscapitães do mato tentam surrar os negros e capturá-los, mas eles permanecemimóveis, como se nada os pudesse atingir. Apavorados com a visão voltam para acidade e chamam um padre para ir até o local verificar o fato. E como na primeiraversão, brancos e Congos não conseguem levá-la, Nossa Senhora do Rosárioacompanha apenas o Moçambique que canta vestido de branco, de pés descalços,que anda devagar e lhe constrói uma igreja e não lhe dá as costas ao se retirar desua presença.27. Dados Históricos:As bandeiras têm suas origens nas insígnias, sinais distintivos de poder ou decomando, usadas desde a antiguidade e que poderiam ser figuras recortadas emmadeira ou metal, ou pintadas nos escudos. As primeiras bandeiras da história dohomem costumavam representar um grupo sócio-cultural através de imagens e decores dotadas de significados, a que a comunidade respectiva confere alto valor.As bandeiras fixadas a um mastro surgiram na China e foram introduzidas noOcidente Medieval pelos Islâmicos. As bandeiras de tecido, no mundo ocidental,foram criadas pelos romanos e eram denominadas vexillium (insígnia, bandeira,estandarte). Desde a antiguidade os povos usaram mastros com imagens,carregados na mão ou fixados nos carros de combate. A grande difusão do seu usofoi feita pelos romanos e cada divisão da legião tinha o seu estandarte. Foi naIdade Média que bandeiras e estandartes começaram a representar reinos eregiões. As bandeiras foram usadas tanto em períodos de paz como de guerra.Sendo um símbolo identificador eram usados pelos exércitos aliados. Para não seconfundirem uns com os outros e evitarem o temido fogo amigo, usavam um pedaçode pano hasteado num estandarte, com as cores e sinais de identificação dobatalhão ou companhia envolvida.De acordo com seu tamanho ou uso, a bandeira tem uma palavra sinônima.Estandarte é utilizado para insígnias militares, mais especificamente para identificaros corpos de cavalaria. O Pendão é uma bandeira grande, armada em vara,atravessada horizontalmente sobre o mastro e levada em procissões. O Gonfalãoé uma bandeira de guerra com partes que prendem perpendicularmente a umahaste com três ou quatro pontas pendentes.Os Estandartes do Congado mesclam elementos das bandeiras militares ereligiosas e são utilizados para identificar o terno que os conduz e para louvar ossantos de sua devoção.
560
28. Referências Documentais:
* Entrevista e fotografias realizadas no trabalho de campo no quartel do Congo São
Domingos
*Fotografias do Congado dos anos 2004 e 2006
*Marra, Fabíola Benfica. Álbum de Família: Famílias Afro-descendentes no Século
XX em Uberlândia – MG – CD-Rom produzido entre os anos de 2004 e 2005,
através da lei municipal de Incentivo à Cultura.
29. Informações Complementares:
Falar em Bandeira no congado é um pouco complexo, pois possui pelo menos três
significados. Bandeira pode se referir à jornada, ao trajeto, à caminhada realizada
nas campanhas e festas. Também pode ser utilizado para se referir à bandeira em
tecido no formato retangular de aproximadamente 60 x 40 cm que trás estampado
imagens dos santos, com um cabo de madeira na extremidade superior por onde a
bandeireira (virgem, menor de 10 anos) segura. Esta pequena bandeira sempre
acompanha o terno, abrindo-lhe os caminhos, tanto em dias de campanha quanto
no dia da festa.
Bandeira também pode referir-se ao estandarte em formato retangular de
aproximadamente 1,5 m de altura por 1m de comprimento, sustentado por um mastro
que o eleva à aproximadamente 2,5m de altura donde pendem fitas cujas pontas
as Bandeireiras seguram enquanto dançam e que traz identificações do terno e
homenagens aos santos. Geralmente o estandarte e as Bandeireiras só saem em
dia de festa. . O tecido das bandeiras e estandartes são trocados periodicamente,
geralmente de dois em dois anos.
As Bandeireiras ou Andorinhas são meninas que conduzem as fitas do estandarte
fazendo coreografias. “Antigamente” esta função só era desempenhada pelas
garotas virgens. Muitas mulheres relatam que se a menina não fosse virgem e
levasse a fita ou o mastro da bandeira, muitos acidentes poderiam acontecer. Nossa
Senhora do Rosário seria a responsável por denunciar a farsa. Adereços de cabelo
poderiam cair ou a roupa se rasgar, a própria bandeira poderia sofrer danificações,
como quebrar, rasgar. Desmaios e doenças também dificultariam a execução da
função. Caberia a menina se afastar quando não fosse mais “digna” de carregar a
bandeira do Congado. A execução desta função indevidamente poderia acarretar
problemas ainda maiores para os ternos, como esquecer música ou errar a “batida”.
Hoje, no entanto, esta tradição não é mantida pela maioria dos ternos.
561
30. Atualização das informações:NT
31. Ficha Técnica
Levantamento Data: Abril de 2007
Fabíola Benfica Marra (Historiadora)
Larry Guimarães de O. Filho (Formatação, estagiário de arquitetura)
Larissa Gontijo T. Cunha (Formatação, estagiário de arquitetura)
Elaboração Data: Abril de 2007
Fabíola Benfica Marra (Historiadora)
Revisão Data: Abril de 2007
Anderson Henrique Ferreira (Historiador)
Gisele Pinto de Vasconcelos Costa (Arquiteta)
562
07. Designação:Bastão
08. Localização Especifica: quando não está em época de campanha fica junto
com os instrumentos.
09. Espécie: Objeto ritualístico
10. Época: 2003
11. Autoria: José Herculano e Padre Baltazar
12. Origem: Uberlândia
13. Procedência: Uberlândia
14. Material / Técnica: madeira capitão do mato, esmalte sintético prateado, fitas
de cetim amarelo e verde limão, flores e ramos de trigo.
15. Marcas / Inscrições / Legendas:Adereços de flores e ramos de trigo.
16. Descrição:
O bastão de madeira capitão do mato foi preparada por José Herculano, lixada e
coberta com esmalte sintético prateado, fitas de cetim amarelo e verde limão. As
flores e ramos de trigo foram colocados na festa do ano de 2006 pelo padre Baltazar.
17- Condições de segurança:
( x ) Boa
( ) Razoável
( ) Ruim
Obs:
BENS MÓVEIS E INTEGRADOS
04. Propriedade: Particular
05. Endereço: Rua Saturno, 713 – Jardim
Brasília
06. Responsável: José Herculano Cândido
01. Município: Uberlândia
02. Distrito: Sede
03. Acervo:Terno Congo
São Domingos
ytfrhfhfhg
INVENTÁRIO DE PROTEÇÃODO ACERVO CULTURAL
Minas Gerais-MG
SECRETARIA MUNICIPALDE CULTURA
563
18- Proteção Legal:
( ) Federal
( ) Estadual
( ) Municipal
( x ) Nenhuma
( ) Tombamento Isolado
( ) Tombamento em Conjunto
19- Documentação fotográfica
Fotos do Terno Congo São Domingos
Uberlândia/MG
Ano 2007
20- Estado de Conservação:
( ) Excelente ( x ) Bom
( ) Regular ( ) Péssimo
21- Dimensões:
Comprimento:1,08m
22. Análise do Estado de Conservação:
Bastão em bom estado de conservação, sem sinais de desgaste por insetos ou
rachaduras.
564
23. Intervenções – Responsável / Data:
Flores e ramos de trigo colocados na festa do ano de 2006 pelo padre Baltazar.
24. Características Técnicas:
Bastão de madeira lixada e coberta com esmalte sintético, com fitas de cetim.
25. Características Estilísticas:
Estilo popular (sem característica estilística específica).
26. Características Iconográficas:
Nos Bastões do Congado figuram as imagens e/ou os nomes de Nossa Senhora
do Rosário, de São Benedito e de Preto Velho, e em alguns casos outras imagens
como a de Santa Ifigênia, Nossa Senhora Aparecida, São Domingos, etc.Mesmo
quando não apresentam imagem, guardam a mesma função ritualística.
Cada santo é associado a elementos distintos. Santa Efigênia ou Ifigênia, pelo que
os congadeiros dizem é a dona da festa do Congado. Santa Ifigênia, segundo
Câmara Cascudo é uma virgem mártir da Etiópia, devoção de negros e pessoas
menos favorecidas. A festa do Congado acontecia em louvor à Santa Ifigênia, a
santa negra, mas os brancos não aceitaram e para que a festa se legitimasse eles
criam a imagem de Nossa Senhora do Rosário. Segundo o Cláudio, filósofo,
pesquisador do Congado e dançador do Terno de Camisa Verde, os negros pegam
o rosário que é de Santa Ifigênia e colocam na imagem de Nossa Senhora do
Perpétuo Socorro, criando assim a imagem de Nossa Senhora do Rosário.
Segundo Seu Zezão, capitão do terno Congo de Santa Ifigênia, ele colocou em seu
terno o nome de Santa Ifigênia porque as pessoas precisavam reconhecer que a
festa é dela. Seu Zezão conta que deu muito trabalho para aceitarem o terno porque
somente os padres sabiam da “verdadeira história” de Santa Ifigênia, de Nossa
Senhora do Rosário e de São Benedito. Segundo ele, para haver união entre os
pretos e os brancos Chico Rei comprou a coroa de Santa Ifigênia para coroar Nossa
Senhora do Rosário, comprando assim a sua benção. Como garantia da fidelidade
de Nossa Senhora do Rosário colocaram um menino nos braços de São Benedito
que não é Jesus, mas um menino branco do povo. Se Nossa Senhora do Rosário
algum dia trair os negros, São Benedito deve cortar o pescoço do menino. De
acordo com seu Zezão, São Benedito está sempre ao lado de Nossa Senhora do
Rosário como um soldado, um general. Esta surpreendente narrativa de Seu Zezão
introduz a história de Chico Rei e trata de uma negociação entre os santos.
565
Mas, o que mais chama atenção é a mudança do papel de São Benedito. Este, tido
como mártir sempre foi referido como uma figura bondosa e que multiplicava os
alimentos, uma espécie de Cristo negro. Agora São Benedito é tomado como um
militar frio, capaz de decapitar um bebê branco em nome da proteção dos negros.
Não ouvi de mais ninguém a confirmação desta versão mitológica. Quando se
conversa com seu Zezão percebe-se claramente a existência de uma disputa pelo
capital simbólico. Em meio às críticas aos pesquisadores e aos trabalhos existentes
sobre o congado ele questiona a “ciência” dos “verdadeiros” “fundamentos” de sua
prática ritual tanto pelos pesquisadores como pelos capitães dos outros ternos.
Insinuando ser ele um dos poucos detentores dos conhecimentos tidos como
“fundamentos” do Congado. Diversas outras pessoas tomam este comportamento
como prática. Fazer o Congado sem “fundamento” seria um ultraje. O convívio nos
quartéis envolve aprendizado constante e um “verdadeiro” capitão precisa passar
por esta escola e aprender todas as lições antes de ousar montar o seu próprio
terno.
O lendário Chico Rei, que é o criador da Irmandade do Rosário em Minas Gerais,
era rei em Moçambique, mas na perda de uma batalha fora apreendido e vendido
como escravo, trazido para o Brasil. Os escravos trazidos de Moçambique eram os
conhecedores das técnicas de mineração, “farejavam as minas”, como diziam os
invasores europeus. Chico Rei, após enriquecer seu senhor e demonstrar ser um
grande conhecedor do processo de mineração conseguiu comprar com ouro a
alforria de familiares e amigos, e construir uma capela em homenagem à Santa
Ifigênia em Vila Rica (Ouro Preto). Após descobrir algumas minas Chico Rei disse
que não trabalharia mais se o seu senhor não trouxesse para junto de si seu filho e
parentes que estavam distantes, vendidos para outros senhores de escravos. Mais
tarde conseguiu comprar a alforria de diversos outros escravos. Segundo Câmara
Cascudo “No dia de Reis, em Vila Rica, as negras do cortejo de Chico Rei vinham
com as carapinhas polvilhadas de ouro lavá-las e deixar o ouro numa pia de pedra
existente no Alto da Cruz, onde havia uma imagem de Santa Ifigênia. O ouro servia
para a libertação de outros escravos.” (1972, p.449). O Rei “Moçambiqueiro” que
no Brasil passa a ser chamado de Chico Rei recria aqui o seu reino, supera a
condição de escravo e constrói uma das bases do movimento negro. Muitos negros
se mantinham escravos e cooperavam no movimento liderado por Chico Rei para
a libertação de seu povo.
566
Os negros então alforriados passam a viver nos centros urbanos nascentes e/ou se
deslocam com as expedições desempenhando funções de carpinteiro, pedreiro,
ferreiro (serralheiro), barbeiro, quituteiras, vendedores e outras profissões tidas hoje
como “liberais”. Observem que nesta narrativa, o negro se retira do sistema de
escravidão utilizando a linguagem que está nas bases do sistema capitalista. Ocorre
um rompimento com a escravidão, mas não com sua lógica, pois há uma busca
pela inserção do negro no sistema capitalista decorrente desta. Nos movimentos
quilombolas, onde este sujeito excluído busca uma nova forma de associação e de
socialização fora da sociedade opressora, ocorre uma quebra com os padrões
antes impostos. Mas os negros quilombolas precisavam permanecer em estado
de vigília por causa das constantes investidas das expedições contra suas
comunidades. Mas esta é uma outra história.
Voltando aos mitos do Congado, a principal referencia ao São Benedito é em
relação à alimentação, ele provém o sustento das famílias, dá força. São Benedito
está mais ligado à saúde, à manutenção da vida material, é um mártir negro e santo
mesmo em vida, uma espécie de Cristo Negro. Um dos mitos de São Benedito me
foi contado por seu Charqueada, um dos congadeiros vivo mais antigo de
Uberlândia, ancião do terno Moçambique Pena Branca. Conta seu Charqueada,
que certa feita, o senhor dono da fazenda onde o Benedito era cozinheiro mandou
que ele preparasse uma refeição para seus muitos escravos, mas não lhe deu a
provisão suficiente para tanto. Na despensa não havia banha e o arroz e o feijão
eram pouco. O Benedito então pede o auxílio divino e logo obtém resposta do Todo
Poderoso que lhe diz para ir até o chiqueiro e retirar um naco com toucinho e carne
de um dos porcos, que fosse desde a cabeça até o rabo do porco e então preparar
a comida. E assim o Benedito fez. Milagrosamente, a carne do porco que fora
retirada se reconstituiu na mesma hora, permanecendo o porco vivo. Todos os
escravos se alimentaram até saciar a fome e depois de banquetear tocaram e
dançaram em agradecimento ao São Benedito. O patrão, vendo tamanha festança,
foi ter com o Benedito e inquiriu dele como foi que conseguira arranjar tanto alimento.
O Benedito então lhe relatou como conseguira a banha e o toucinho. O patrão não
acreditando no milagre ameaçou castigar o Benedito, mas quando foi golpeá-lo o
São Benedito levita e fica suspenso no ar... Este mito traz o Benedito enquanto
“multiplicador dos alimentos”, realizador de “milagres” extraordinários, figura louvada
pelos seus. Esta narrativa é compartilhada pela maioria dos congadeiros, sendo
que São Benedito é considerado o santo da cozinha, da alimentação, do sustento,
da fartura, por isso sua imagem geralmente é colocada na cozinha, para que na
casa não falte o alimento.
567
É prática em várias partes do território nacional, colocar café para o São Benedito,
é comum ver sua imagem próxima a uma xícara de café. Outro ritual realizado
popularmente é tomar o café do Benedito, que é um café amargo destituído de
qualquer forma de adoçantes, bebido em pequenos goles pelos congadeiros e
participantes de celebrações, festas, etc. O café do Benedito é tomado como uma
bebida capaz de proteger a quem a ingere.
Nossa Senhora do Rosário está sempre relacionada à chuva, às riquezas, à
proteção, à geração da vida e também à morte. Recorrem a Nossa Senhora para
pedir um bom parto e também uma “boa morte”, a ela intercedem a favor dos entes
queridos que já partiram. Em todas as festas que presenciei houve homenagens a
congadeiros falecidos no período entre festas. Nossa Senhora está vinculada à
vida e à morte, ao rezar a última estrofe da “Ave Maria”, isto fica explicito: “Santa
Maria, mãe de Deus, rogai por nós pecadores agora e na hora de nossa morte.
Amém.” Durante o Congado intercedem à Nossa Senhora do Rosário pela vida e
pela proteção na inevitável hora da morte. Pedem saúde para os seus, proteção
em todos os momentos, recorrem a ela como à Grande Mãe. O culto às deusas
mães foi muito combatido pelo judaísmo, islamismo e demais religiões patriarcais,
mas encontra solo fértil nas tradições afro-descendentes e católicas. Uma música
muito difundida tanto no Congado como na Capoeira e na religiosidade ressalta o
aspecto protetor de Nossa Senhora:
“No tempo do cativeiro, quando o senhor me batia,
eu gritava por Nossa Senhora, ai meu Deus, quando a pancada doía.”
O mito fundante do Congado em Uberlândia é um relato da aparição e resgate de
Nossa Senhora do Rosário e possui pelo menos duas versões aqui sintetizadas:
a) Nossa Senhora do Rosário estava dentro do mar, um garoto a vê submergir,
chama os pais para verem, eles não acreditam. Então ele chama os Marinheiros,
que também presenciam a santa submergir, eles tentam tirá-la com suas cordas,
mas ela não sai do local. Chegam brancos e padres que conseguem retira-la da
água e levá-la para uma capela, mas a santa “foge” do altar e volta para o mar. Vem
então o terno de Congo, todo colorido e canta para ela sair da água, ela submerge,
mas ao ser levada para a capela dos brancos, volta a “fugir” para o mar. Então um
terno de Moçambique, todo vestido de branco e descalço, canta para ela, que então
submerge e lhes acompanha, eles a levam devagar até o local onde constroem
uma capela e ali Nossa Senhora do Rosário permanece, o terno de Moçambique
então se retira sem lhe dar as costas, lhe fazendo reverência;
568
b) a segunda versão, contada por Maria Conceição Cardoso, do Moçambique
Rosário de Fátima, de Ibiá - MG, afirma que ao tentar capturar escravos fugidos na
serra da Montanhesa, um grupo de capitães do mato encontra um grupo de negros,
vestidos de branco, fazendo rosários, com contas de lágrima em frente a uma árvore
de umbaúba onde Nossa Senhora do Rosário estava encravada num galho. Os
capitães do mato tentam surrar os negros e capturá-los, mas eles permanecem
imóveis, como se nada os pudesse atingir. Apavorados com a visão voltam para a
cidade e chamam um padre para ir até o local verificar o fato. E como na primeira
versão, brancos e Congos não conseguem levá-la, Nossa Senhora do Rosário
acompanha apenas o Moçambique que canta vestido de branco, de pés descalços,
que anda devagar e lhe constrói uma igreja e não lhe dá as costas ao se retirar de
sua presença.
27. Dados Históricos:
Os bastões, cajados, cedros, caduceus, varas são objetos ritualísticos utilizados
pelas mais diversas religiões com os mais diferentes significados. O cedro é símbolo
de poder utilizado pelos reis. O cajado é utilizado pelos pastores como apoio nas
caminhadas e é símbolo de magia como na história bíblica de Moisés que utiliza
seu cajado para abrir as águas do Mar Vermelho. O bastão é um instrumento de
ataque e de defesa e também simboliza a detenção do comando de uma situação.
Um símbolo fálico, emblema de poder e controle do poder, representa a vontade e
a força dominante. Utilizado como instrumento de invocação e também para dirigir,
controlar e cortar energias. O bastão com estrias no sentido diagonal e com uma
serpente enrolada é símbolo do mito grego Esculápio e representa a sabedoria, a
renovação do conhecimento e o poder de curar, adotado pela medicina e pela
farmácia como seu símbolo. No mito de Hermes, “deus dos viajantes, patrono dos
ladrões e dos trapaceiros, protetor da magia e da adivinhação e responsável pelos
golpes de sorte e pelas súbitas mudanças de vida”, duas serpentes enroladas
simbolizam os opostos: o bem e o mal, masculino e o feminino. O símbolo da
eternidade na mitologia egípcia é um cajado com incisões, fissuras que lembram o
entalhe de um reco-reco.
28. Referências Documentais:
Sharman-burke, Juliet e Greene, Liz. O Tarô Mitológico – São Paulo: Siciliano,
1988
29. Informações Complementares:
Os bastões e os apitos são os instrumentos utilizados pelos capitães de Congado
para conduzir seus soldados e reger as músicas executadas pelos tambores.
569
Nos ternos de Moçambique os bastões são utilizados não apenas por capitães
como acontece na maioria dos ternos, mas por muitos dançantes, que formam uma
ala fazendo coreografias. Em muitas guardas, fiscais e madrinhas utilizam os
bastões alinhados ao final do desfile, fechando a apresentação do terno. Alguns
bastões são em formato de cobra, outros com carrancas de Pretos Velhos, outros
com imagens de Nossa Senhora Aparecida, Santa Efigênia e São Benedito,
crucifixos e inscrições diversas, fitas de cetim, alguns enfeitados com contas de
lágrima, com ervas (alecrim, arruda, espada de são Jorge), etc. Nas festas de Pretos
Velhos nos centros de Umbanda pratica-se uma dança-ritual muito parecida com a
realizada pelos moçambiqueiros: tocam as pontas dos bastões no alto, revezando
com batidas no chão, dançando em círculo. Quando hasteiam os mastros dando
início à festa do Congado, os moçambiqueiros tocam os mastros com seus bastões.
Alguns ternos realizam coreografias colocando suas coroas nos bastões e erguendo
acima da cabeça. A condução de reis e rainhas, bem como dos santos numa
procissão pode em alguns casos vir dentro de um espaço delimitado por condutores
de bastões. Quando se quer delimitar um espaço com bastões, os dançantes os
colocam na horizontal e com as mãos o moçambiqueiro liga o seu bastão ao bastão
do outro, formando uma corrente.
30. Atualização das informações:NT
31. Ficha Técnica
Levantamento Data: Abril de 2007
Fabíola Benfica Marra (Historiadora)
Larry Guimarães de O. Filho (Formatação, estagiário de arquitetura)
Larissa Gontijo T. Cunha (Formatação, estagiário de arquitetura)
Elaboração Data: Abril de 2007
Fabíola Benfica Marra (Historiadora)
Revisão Data: Abril de 2007
Anderson Henrique Ferreira (Historiador)
Gisele Pinto de Vasconcelos Costa (Arquiteta)
570
07. Designação:Estandarte do Terno São Domingos
08. Localização Especifica: quando não está em época de campanha fica junto
com os instrumentos.
09. Espécie: Bandeira /Distintivo/Insígnia Religiosa
10. Época: 2003
11. Autoria: Coletiva
12. Origem: Uberlândia
13. Procedência: Uberlândia
14. Material / Técnica: estrutura de madeira, tecido veludo verde limão, letras com
cordões de lantejoulas verdes, imagens impressas em papel plastificado, bordados
de motivos florais elaborados com miçangas verdes, marabô branco, franja de cetim
branca, cordões brancos.
15. Marcas / Inscrições / Legendas: na frente “LOUVAI SÃO DOMINGOS SÁVIO”
na parte de trás “LOUVAI NOSSA SENHORA DO ROSÁRIO”
16. Descrição:
Estandarte elaborado com estrutura de madeira e tecido veludo verde limão.
Imagens de São Domingos e de Nossa Senhora do Rosário, impressas em papel
plastificado com detalhes bordados de motivos florais elaborados com miçangas
verdes. Letras com cordões de lantejoulas verdes ao redor das imagens, na frente
“LOUVAI SÃO DOMINGOS SÁVIO” na parte de trás “LOUVAI NOSSA SENHORA
DO ROSÁRIO”. Na parte inferior marabô branco, e na superior franja de cetim
branca. As meninas carregam cordões brancos que são afixados em toda extensão
da parte superior do estandarte.
17- Condições de segurança:
( x ) Boa ( ) Razoável ( ) Ruim
Obs:
BENS MÓVEIS E INTEGRADOS
04. Propriedade: Particular
05. Endereço: Rua Saturno, 713 – Jardim
Brasília
06. Responsável: José Herculano Cândido
01. Município: Uberlândia
02. Distrito: Sede
03. Acervo:Terno Congo
São Domingos
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INVENTÁRIO DE PROTEÇÃODO ACERVO CULTURAL
Minas Gerais-MG
SECRETARIA MUNICIPALDE CULTURA
571
18- Proteção Legal:
( ) Federal
( ) Estadual
( ) Municipal
( x ) Nenhuma
( ) Tombamento Isolado
( ) Tombamento em Conjunto
19- Documentação fotográfica
Fotos do Terno Congo São Domingos
Uberlândia/MG
20- Estado de Conservação:
( ) Excelente ( x ) Bom
( ) Regular ( ) Péssimo
21- Dimensões:
Altura: 1,20m
Comprimento da haste: 1m
Largura: 0,80m
22. Análise do Estado de Conservação: Estandarte em bom estado de
conservação, sem sinais de desgaste por insetos ou mofo.
572
23. Intervenções – Responsável / Data: NT
24. Características Técnicas:
Estandarte elaborado com estrutura de madeira e tecido de veludo. Imagens
religiosas impressas em papel plastificado com detalhes bordados de motivos florais
elaborados com miçangas. Letras com cordões de lantejoulas verdes ao redor das
imagens, formando inscrições na frente e na parte de trás. Marabô na parte inferior
e, na superior, franja de cetim. Cordões afixados em toda extensão da parte superior
do estandarte.
25. Características Estilísticas:
Estilo popular (sem característica estilística específica).
26. Características Iconográficas:
Nos oratórios do Congado figuram as imagens e/ou os nomes de Nossa Senhora
do Rosário, de São Benedito e em alguns casos outras imagens como a de Santa
Ifigênia, Nossa Senhora Aparecida, São Domingos, etc.
Cada santo é associado a elementos distintos. Santa Efigênia ou Ifigênia, pelo que
os congadeiros dizem é a dona da festa do Congado. Santa Ifigênia, segundo
Câmara Cascudo é uma virgem mártir da Etiópia, devoção de negros e pessoas
menos favorecidas. A festa do Congado acontecia em louvor à Santa Ifigênia, a
santa negra, mas os brancos não aceitaram e para que a festa se legitimasse eles
criam a imagem de Nossa Senhora do Rosário. Segundo o Cláudio, filósofo,
pesquisador do Congado e dançador do Terno de Camisa Verde, os negros pegam
o rosário que é de Santa Ifigênia e colocam na imagem de Nossa Senhora do
Perpétuo Socorro, criando assim a imagem de Nossa Senhora do Rosário.
Segundo Seu Zezão, capitão do terno Congo de Santa Ifigênia, ele colocou em seu
terno o nome de Santa Ifigênia porque as pessoas precisavam reconhecer que a
festa é dela. Seu Zezão conta que deu muito trabalho para aceitarem o terno porque
somente os padres sabiam da “verdadeira história” de Santa Ifigênia, de Nossa
Senhora do Rosário e de São Benedito. Segundo ele, para haver união entre os
pretos e os brancos Chico Rei comprou a coroa de Santa Ifigênia para coroar Nossa
Senhora do Rosário, comprando assim a sua benção. Como garantia da fidelidade
de Nossa Senhora do Rosário colocaram um menino nos braços de São Benedito
que não é Jesus, mas um menino branco do povo. Se Nossa Senhora do Rosário
algum dia trair os negros, São Benedito deve cortar o pescoço do menino. De
acordo com seu Zezão, São Benedito está sempre ao lado de Nossa Senhora do
Rosário como um soldado, um general. Esta surpreendente narrativa de Seu Zezão
introduz a história de Chico Rei e trata de uma negociação entre os santos.
573
Mas, o que mais chama atenção é a mudança do papel de São Benedito. Este, tido
como mártir sempre foi referido como uma figura bondosa e que multiplicava os
alimentos, uma espécie de Cristo negro. Agora São Benedito é tomado como um
militar frio, capaz de decapitar um bebê branco em nome da proteção dos negros.
Não ouvi de mais ninguém a confirmação desta versão mitológica. Quando se
conversa com seu Zezão percebe-se claramente a existência de uma disputa pelo
capital simbólico. Em meio às críticas aos pesquisadores e aos trabalhos existentes
sobre o congado ele questiona a “ciência” dos “verdadeiros” “fundamentos” de sua
prática ritual tanto pelos pesquisadores como pelos capitães dos outros ternos.
Insinuando ser ele um dos poucos detentores dos conhecimentos tidos como
“fundamentos” do Congado. Diversas outras pessoas tomam este comportamento
como prática. Fazer o Congado sem “fundamento” seria um ultraje. O convívio nos
quartéis envolve aprendizado constante e um “verdadeiro” capitão precisa passar
por esta escola e aprender todas as lições antes de ousar montar o seu próprio
terno.
O lendário Chico Rei, que é o criador da Irmandade do Rosário em Minas Gerais,
era rei em Moçambique, mas na perda de uma batalha fora apreendido e vendido
como escravo, trazido para o Brasil. Os escravos trazidos de Moçambique eram os
conhecedores das técnicas de mineração, “farejavam as minas”, como diziam os
invasores europeus. Chico Rei, após enriquecer seu senhor e demonstrar ser um
grande conhecedor do processo de mineração conseguiu comprar com ouro a
alforria de familiares e amigos, e construir uma capela em homenagem à Santa
Ifigênia em Vila Rica (Ouro Preto). Após descobrir algumas minas Chico Rei disse
que não trabalharia mais se o seu senhor não trouxesse para junto de si seu filho e
parentes que estavam distantes, vendidos para outros senhores de escravos. Mais
tarde conseguiu comprar a alforria de diversos outros escravos. Segundo Câmara
Cascudo “No dia de Reis, em Vila Rica, as negras do cortejo de Chico Rei vinham
com as carapinhas polvilhadas de ouro lavá-las e deixar o ouro numa pia de pedra
existente no Alto da Cruz, onde havia uma imagem de Santa Ifigênia. O ouro servia
para a libertação de outros escravos.” (1972, p.449). O Rei “Moçambiqueiro” que
no Brasil passa a ser chamado de Chico Rei recria aqui o seu reino, supera a
condição de escravo e constrói uma das bases do movimento negro. Muitos negros
se mantinham escravos e cooperavam no movimento liderado por Chico Rei para
a libertação de seu povo.
574
Os negros então alforriados passam a viver nos centros urbanos nascentes e/ou se
deslocam com as expedições desempenhando funções de carpinteiro, pedreiro,
ferreiro (serralheiro), barbeiro, quituteiras, vendedores e outras profissões tidas hoje
como “liberais”. Observem que nesta narrativa, o negro se retira do sistema de
escravidão utilizando a linguagem que está nas bases do sistema capitalista. Ocorre
um rompimento com a escravidão, mas não com sua lógica, pois há uma busca
pela inserção do negro no sistema capitalista decorrente desta. Nos movimentos
quilombolas, onde este sujeito excluído busca uma nova forma de associação e de
socialização fora da sociedade opressora, ocorre uma quebra com os padrões
antes impostos. Mas os negros quilombolas precisavam permanecer em estado
de vigília por causa das constantes investidas das expedições contra suas
comunidades. Mas esta é uma outra história.
Voltando aos mitos do Congado, a principal referencia ao São Benedito é em
relação à alimentação, ele provém o sustento das famílias, dá força. São Benedito
está mais ligado à saúde, à manutenção da vida material, é um mártir negro e santo
mesmo em vida, uma espécie de Cristo Negro. Um dos mitos de São Benedito me
foi contado por seu Charqueada, um dos congadeiros vivo mais antigo de
Uberlândia, ancião do terno Moçambique Pena Branca. Conta seu Charqueada,
que certa feita, o senhor dono da fazenda onde o Benedito era cozinheiro mandou
que ele preparasse uma refeição para seus muitos escravos, mas não lhe deu a
provisão suficiente para tanto. Na despensa não havia banha e o arroz e o feijão
eram pouco. O Benedito então pede o auxílio divino e logo obtém resposta do Todo
Poderoso que lhe diz para ir até o chiqueiro e retirar um naco com toucinho e carne
de um dos porcos, que fosse desde a cabeça até o rabo do porco e então preparar
a comida. E assim o Benedito fez. Milagrosamente, a carne do porco que fora
retirada se reconstituiu na mesma hora, permanecendo o porco vivo. Todos os
escravos se alimentaram até saciar a fome e depois de banquetear tocaram e
dançaram em agradecimento ao São Benedito. O patrão, vendo tamanha festança,
foi ter com o Benedito e inquiriu dele como foi que conseguira arranjar tanto alimento.
O Benedito então lhe relatou como conseguira a banha e o toucinho. O patrão não
acreditando no milagre ameaçou castigar o Benedito, mas quando foi golpeá-lo o
São Benedito levita e fica suspenso no ar... Este mito traz o Benedito enquanto
“multiplicador dos alimentos”, realizador de “milagres” extraordinários, figura louvada
pelos seus. Esta narrativa é compartilhada pela maioria dos congadeiros, sendo
que São Benedito é considerado o santo da cozinha, da alimentação, do sustento,
da fartura, por isso sua imagem geralmente é colocada na cozinha, para que na
casa não falte o alimento.
575
É prática em várias partes do território nacional, colocar café para o São Benedito,
é comum ver sua imagem próxima a uma xícara de café. Outro ritual realizado
popularmente é tomar o café do Benedito, que é um café amargo destituído de
qualquer forma de adoçantes, bebido em pequenos goles pelos congadeiros e
participantes de celebrações, festas, etc. O café do Benedito é tomado como uma
bebida capaz de proteger a quem a ingere.
Nossa Senhora do Rosário está sempre relacionada à chuva, às riquezas, à
proteção, à geração da vida e também à morte. Recorrem a Nossa Senhora para
pedir um bom parto e também uma “boa morte”, a ela intercedem a favor dos entes
queridos que já partiram. Em todas as festas que presenciei houve homenagens a
congadeiros falecidos no período entre festas. Nossa Senhora está vinculada à
vida e à morte, ao rezar a última estrofe da “Ave Maria”, isto fica explicito: “Santa
Maria, mãe de Deus, rogai por nós pecadores agora e na hora de nossa morte.
Amém.” Durante o Congado intercedem à Nossa Senhora do Rosário pela vida e
pela proteção na inevitável hora da morte. Pedem saúde para os seus, proteção
em todos os momentos, recorrem a ela como à Grande Mãe. O culto às deusas
mães foi muito combatido pelo judaísmo, islamismo e demais religiões patriarcais,
mas encontra solo fértil nas tradições afro-descendentes e católicas. Uma música
muito difundida tanto no Congado como na Capoeira e na religiosidade ressalta o
aspecto protetor de Nossa Senhora:
“No tempo do cativeiro, quando o senhor me batia,
eu gritava por Nossa Senhora, ai meu Deus, quando a pancada doía.”
O mito fundante do Congado em Uberlândia é um relato da aparição e resgate de
Nossa Senhora do Rosário e possui pelo menos duas versões aqui sintetizadas:
a) Nossa Senhora do Rosário estava dentro do mar, um garoto a vê submergir,
chama os pais para verem, eles não acreditam. Então ele chama os Marinheiros,
que também presenciam a santa submergir, eles tentam tirá-la com suas cordas,
mas ela não sai do local. Chegam brancos e padres que conseguem retira-la da
água e levá-la para uma capela, mas a santa “foge” do altar e volta para o mar. Vem
então o terno de Congo, todo colorido e canta para ela sair da água, ela submerge,
mas ao ser levada para a capela dos brancos, volta a “fugir” para o mar. Então um
terno de Moçambique, todo vestido de branco e descalço, canta para ela, que então
submerge e lhes acompanha, eles a levam devagar até o local onde constroem
uma capela e ali Nossa Senhora do Rosário permanece, o terno de Moçambique
então se retira sem lhe dar as costas, lhe fazendo reverência;
576
b) a segunda versão, contada por Maria Conceição Cardoso, do MoçambiqueRosário de Fátima, de Ibiá - MG, afirma que ao tentar capturar escravos fugidos naserra da Montanhesa, um grupo de capitães do mato encontra um grupo de negros,vestidos de branco, fazendo rosários, com contas de lágrima em frente a uma árvorede umbaúba onde Nossa Senhora do Rosário estava encravada num galho. Oscapitães do mato tentam surrar os negros e capturá-los, mas eles permanecemimóveis, como se nada os pudesse atingir. Apavorados com a visão voltam para acidade e chamam um padre para ir até o local verificar o fato. E como na primeiraversão, brancos e Congos não conseguem levá-la, Nossa Senhora do Rosárioacompanha apenas o Moçambique que canta vestido de branco, de pés descalços,que anda devagar e lhe constrói uma igreja e não lhe dá as costas ao se retirar desua presença.27. Dados Históricos:As bandeiras têm suas origens nas insígnias, sinais distintivos de poder ou decomando, usadas desde a antiguidade e que poderiam ser figuras recortadas emmadeira ou metal, ou pintadas nos escudos. As primeiras bandeiras da história dohomem costumavam representar um grupo sócio-cultural através de imagens e decores dotadas de significados, a que a comunidade respectiva confere alto valor.As bandeiras fixadas a um mastro surgiram na China e foram introduzidas noOcidente Medieval pelos Islâmicos. As bandeiras de tecido, no mundo ocidental,foram criadas pelos romanos e eram denominadas vexillium (insígnia, bandeira,estandarte). Desde a antiguidade os povos usaram mastros com imagens,carregados na mão ou fixados nos carros de combate. A grande difusão do seu usofoi feita pelos romanos e cada divisão da legião tinha o seu estandarte. Foi naIdade Média que bandeiras e estandartes começaram a representar reinos eregiões. As bandeiras foram usadas tanto em períodos de paz como de guerra.Sendo um símbolo identificador eram usados pelos exércitos aliados. Para não seconfundirem uns com os outros e evitarem o temido fogo amigo, usavam um pedaçode pano hasteado num estandarte, com as cores e sinais de identificação dobatalhão ou companhia envolvida.De acordo com seu tamanho ou uso, a bandeira tem uma palavra sinônima.Estandarte é utilizado para insígnias militares, mais especificamente para identificaros corpos de cavalaria. O Pendão é uma bandeira grande, armada em vara,atravessada horizontalmente sobre o mastro e levada em procissões. O Gonfalãoé uma bandeira de guerra com partes que prendem perpendicularmente a umahaste com três ou quatro pontas pendentes.Os Estandartes do Congado mesclam elementos das bandeiras militares ereligiosas e são utilizados para identificar o terno que os conduz e para louvar ossantos de sua devoção.
577
28. Referências Documentais:
* Entrevista e fotografias realizadas no trabalho de campo no quartel do Congo São
Domingos
*Fotografias do Congado dos anos 2004 e 2006
*Marra, Fabíola Benfica. Álbum de Família: Famílias Afro-descendentes no Século
XX em Uberlândia – MG – CD-Rom produzido entre os anos de 2004 e 2005,
através da lei municipal de Incentivo à Cultura.
29. Informações Complementares:
O Estandarte é uma espécie de Bandeira e falar em Bandeira no congado é um
pouco complexo, pois possui pelo menos três significados. Bandeira pode se referir
à jornada, ao trajeto, à caminhada realizada nas campanhas e festas. Também
pode ser utilizado para se referir à bandeira em tecido no formato retangular de
aproximadamente 60 x 40 cm que trás estampado imagens dos santos, com um
cabo de madeira na extremidade superior por onde a bandeireira (virgem, menor
de 10 anos) segura. Esta pequena bandeira sempre acompanha o terno, abrindo-
lhe os caminhos, tanto em dias de campanha quanto no dia da festa. Bandeira
também pode referir-se ao estandarte em formato retangular de aproximadamente
1,5 m de altura por 1m de comprimento, sustentado por um mastro que o eleva à
aproximadamente 2,5m de altura donde pendem fitas cujas pontas as Bandeireiras
seguram enquanto dançam e que traz identificações do terno e homenagens aos
santos. Geralmente o estandarte e as Bandeireiras só saem em dia de festa. As
Bandeireiras ou Andorinhas são meninas que conduzem as fitas do estandarte
fazendo coreografias. “Antigamente” esta função só era desempenhada pelas
garotas virgens. Muitas mulheres relatam que se a menina não fosse virgem e
levasse a fita ou o mastro da bandeira, muitos acidentes poderiam acontecer. Nossa
Senhora do Rosário seria a responsável por denunciar a farsa. Adereços de cabelo
poderiam cair ou a roupa se rasgar, a própria bandeira poderia sofrer danificações,
como quebrar, rasgar. Desmaios e doenças também dificultariam a execução da
função. Caberia a menina se afastar quando não fosse mais “digna” de carregar a
bandeira do Congado. A execução desta função indevidamente poderia acarretar
problemas ainda maiores para os ternos, como esquecer música ou errar a “batida”.
Hoje, no entanto, esta tradição não é mantida pela maioria dos ternos.
578
30. Atualização das informações:NT
31. Ficha Técnica
Levantamento Data: Abril de 2007
Fabíola Benfica Marra (Historiadora)
Larry Guimarães de O. Filho (Formatação, estagiário de arquitetura)
Larissa Gontijo T. Cunha (Formatação, estagiário de arquitetura)
Elaboração Data: Abril de 2007
Fabíola Benfica Marra (Historiadora)
Revisão Data: Abril de 2007
Anderson Henrique Ferreira (Historiador)
Gisele Pinto de Vasconcelos Costa (Arquiteta)
579
01. Município: Uberlândia
02. Distrito: Sede
3. Designação: Quartel do
Terno São Domingos
04. Endereço: Rua Saturno, 713 – Jardim
Brasília
05. Propriedade: Privada
06. Responsável: José Herculano Cândido
ESTRUTURA ARQUITETÔNICA E URBANÍSTICA
07. Histórico: Desde a fundação do terno em 2003, o quartel se localiza no domicílio
de José Herculano no bairro Jardim Brasília
08. Descrição:Com área construída ocupando aproximadamente 80% do terreno
de 12 x 30m, o quartel do terno Congo São Domingos possui um cômodo reservado
para guardar os instrumentos, bastões e estandarte do terno. Uma varanda usada
como garagem, abriga os congadeiros durante as campanhas, o quintal é bastante
arborizado com plantas utilizadas em rituais afro-descendentes, inclusive com mudas
das a árvores africanas Obi e Orobô plantadas em frente ao cômodo destinado
aos instrumentos do Congado.
09. Documentação Fotográfica:
INVENTÁRIO DE PROTEÇÃODO ACERVO CULTURAL
Minas Gerais-MG
Fotos do Terno Congo São Domingos
Uberlândia/MG
Ano 2007
SECRETARIA MUNICIPALDE CULTURA
581
10. Uso Atual:
( x ) Residencial ( ) Serviço
( ) Comercial ( ) Institucional
( ) Industrial ( ) Outros
11. Situação de Ocupação:
( x ) Própria ( ) Alugada
( ) Cedida ( ) Comodato
( ) Outros
12. Proteção Legal Existente
( ) Tombamento
( ) Municipal
( ) Federal
( ) Estadual
( x ) Nenhuma
13. Proteção Legal Proposta:
( ) Tombamento Federal
( ) Tombamento Estadual
( ) Tombamento Municipal
( ) Entorno de Bem Tombado
( )Documentação Histórica
( ) Inventário
( ) Tombamento Integral
( ) Tombamento Parcial
( ) Fachadas
( ) Volumetria
( ) Restrições de Uso e Ocupação
14. Análise do Entorno - Situação e Ambiência: Localiza-se em área plana com
com passeios, arborização, redes elétrica, rede de esgoto, rede de água tratada,
As edificações são predominantemente de volumetria simples apresentando
partidos retangulares, com vários “puxadinhos”, altimetria de um pavimento,
materiais de acabamento de alvenaria de tijolo cerâmico, pintura com grande
variação de cores e esquadrias de metalon ou alumínio, coberturas metálicas ou
com telhas cerâmicas.
582
15- Estado de Conservação:
( ) Excelente ( ) Bom
( x ) Regular ( ) Péssimo
16. Análise do Estado de Conservação:
A casa está em bom estado de conservação, necessitando de pintura externa.
17. Fatores de Degradação:
Exposição à ação das intempéries
18. Medidas de Conservação:
Manutenção preventiva
19. Intervenções:
Não foram identificadas
20. Referências Bibliográficas:
*Marra, Fabíola Benfica. Álbum de Família: Famílias Afro-descendentes no Século
XX em Uberlândia – MG – CD-Rom produzido entre os anos de 2004 e 2005,
através da lei municipal de Incentivo à Cultura.
*Slenes, Robert W. “Na Senzala uma flor: esperanças e recordações da família
escrava, Brasil Sudeste, Século XIX” Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1999.
21. Informações Complementares:
Os quartéis são os locais onde os soldados de cada guarda se reúnem para fazer
as campanhas ou para sair em viagens. É também onde guardam os instrumentos
e realizam as refeições durante os dias de festa e fazem intervalos de descanso.
Todas as atividades do Congado começam e terminam no quartel. Geralmente o
quartel é o local de moradia da família do capitão ou da madrinha do terno. As
construções são o que se chamam colônias: diversas casas pequenas, construídas
em períodos distintos, dispostas umas ao lado das outras e com um pátio, uma
área comum, um terreiro no meio. A área não construída no meio é utilizada para
reunir o terno, para realizar as refeições coletivas, afinar instrumentos. Em muitos
casos, banheiros, tanques, pias e locais para passar roupas são de uso comum a
todos os moradores da colônia. Nos Quartéis, realizam grandes refeições conjuntas,
mesmo não sendo dia de festa Congado. O milagre multiplicador dos alimentos
promovido por São Benedito é realizado pelas matriarcas todos os dias e se estende
aos “praticamente filhos”, pois muitas crianças, jovens e adultos são atraídas para
o convívio das famílias de congo, estendendo os laços familiares para além dos
consangüíneos. O Congado que acontece na porta da igreja Católica é o ápice, o
momento máximo desta festa que dura praticamente o ano inteiro dentro dos terreiros
e quartéis. A família é festejada diariamente.
583
Grandes matriarcas reúnem ao seu redor seus muitos filhos todos os dias.
Segundo Robert W. Slenes1, a palavra Senzala origina-se do dialeto Kimbundu e
significa “residência de serviçais em propriedade agrícola” ou ainda “moradia de
gente separada da casa principal”. Senzala também pode significar “Povoado” ou
“grupo de parentesco”. (p. 148). Enquanto a expressão Quilombo é utilizada para
designar “acampamento de guerreiros” (p. 173). Os Quartéis de Congado abriga
Soldados com suas caixas e seus Estandartes durante as Campanhas. No Congado,
os guerreiros conduzem caixas e são designados Soldados, organizados por
Capitães, seguem seus Estandartes e se abrigam no Quilombo chamado Quartel.
(Footnotes)
22. Atualização das informações:NT
23. Ficha Técnica
Levantamento Data: Abril de 2007
Fabíola Benfica Marra (Historiadora)
Larry Guimarães de O. Filho (Formatação, estagiário de arquitetura)
Larissa Gontijo T. Cunha (Formatação, estagiário de arquitetura)
Elaboração Data: Abril de 2007
Fabíola Benfica Marra (Historiadora)
Revisão Data: Abril de 2007
Anderson Henrique Ferreira (Historiador)
Gisele Pinto de Vasconcelos Costa (Arquiteta)
586
01. Município: Uberlândia
02. Distrito: Sede
03. Denominação: Terno Congo Verde e Branco
04. Natureza: Festas Populares/ Celebrações/
Cultos Afro-brasileiros.
BENS MATERIAIS
06. Informe Histórico:
Silvio Donizete fundou o terno Congo Verde e Branco em 2000. Quando criança
dançou no Congo Sainha no tempo do Seu José Rafael, tocando chocalho,
acompanhava seu pai e seus irmãos. Quando Seu Custódio dirigia o Congo Camisa
Verde, no episódio da existência de dois Camisas Verdes, Silvio era segundo capitão
e Osmarão o terceiro capitão. Quando acaba o Camisa Verde do seu Custódio,
Silvio e Osmarão resolvem montar o terno Congo Branco. Silvio Donizete conduz o
terno Congo Branco durante dez anos, saindo quando o terno completa uma década.
No ano 2000, funda o terno Congo Verde e Branco.
07. Documentação Fotográfica:
INVENTÁRIO DE PROTEÇÃODO ACERVO CULTURAL
Minas Gerais-MG
Fotos do Terno Congo Verde e Branco
Uberlândia/MG
Ano 2007
05. Responsável: Silvio Donizete Rodrigues
SECRETARIA MUNICIPALDE CULTURA
587
07. Documentação Fotográfica:
Fotos do Terno Congo Verde e Branco
Uberlândia/MG
Ano 2007
08. Descrição:
O terno Verde Branco é o único terno de Uberlândia comandado por família não
afro-descendente, possui o maior número de integrantes “brancos”. Os soldados
utilizam calça, camisa e sapatos brancos, a capa também é branca com franja
verde, alguma receberam apliques de bordado à maquina com linha amarelo ouro,
além de faixa verde na cintura. Os instrumentos utilizados são maracanã, surdo e
chocalho.
09. Grupos Sociais Envolvidos:
Familiares de Silvio Donizete Rodrigues e moradores do bairro Pampulha e
adjacências
10. Organizadores:
Presidente e Primeiro Capitão: Silvio Donizete Rodrigues
Segundo Capitão: Denílson (primo do Silvio)
Vice-presidente, tesoureira e Madrinha: Maria de Fátima de Jesus
Madrinha da Bandeira: Andréia
11. Participantes:
Aproximadamente 100 integrantes
12. Local de Realização:
O quartel do terno Congo Verde e Branco se localiza na Rua Carvalho de Mendonça,
1550 - Pampulha
588
13. Data/ periodicidade de ocorrência:
A “campanha” do Congado, como os congadeiros dizem, começava por volta do
dia 15 de setembro, atualmente ela começa por volta do dia 10 de agosto. Por
causa da mudança da data da festa de novembro para outubro, a campanha também
começa mais cedo. A festa do Congado realizada na Igreja de Nossa Senhora do
Rosário no centro da cidade de Uberlândia, atualmente ocorre no último domingo e
segunda-feira de outubro, antes era no segundo domingo e na segunda-feira de
novembro. Ocorre também uma festa na igreja de São Benedito, no bairro Planalto
no mês de maio. Várias festas em outras cidades ocorrem em diversas datas ao
longo do ano, sendo visitadas pelos ternos de Uberlândia.
14. Informações Complementares:
O Congado é um ritual afro-brasileiro que nasce dos cortejos de coroação de reis,
do culto aos ancestrais africanos e das celebrações de santos da Igreja Católica.
Uma dança ritual executada por guardas ou ternos de Congo, Moçambique, Marujo,
Marinheiro e Catupé. Os dançantes prestam homenagem à Nossa Senhora do
Rosário e a São Benedito, aos antepassados e aos santos de sua devoção,
principalmente aos santos negros Santa Ifigênia e N. S. Aparecida, mas também
São Domingos, Nossa Senhora da Guia, Nossa Senhora d’Abadia, etc. Cada terno
se diferencia do outro nas cores das roupas e dos acessórios, nos ritmos das
músicas, nos instrumentos e na forma da dança.
Prevalesse o canto antifonal, isto é, um solista, geralmente o Primeiro Capitão,
apresenta o tema e o coro responde. O Segundo Capitão com seu bastão e apito
comanda os soldados na execução instrumental. Cada Capitão “puxa” uma série
de músicas que podem ser elaboradas por ele ou pelo grupo e ainda outras
aprendidas com outros ternos ou com os antepassados. Algumas músicas são
“tradicionais” do terno, passadas de capitão para capitão. Outras são específicas
de cada guarda. Existem também cantorias que são consideradas “segredo” que
não podem ser reveladas para “os de fora” e que são aprendidas e “guardadas no
coração”, só são executadas em cerimônias reservadas.
O trajeto do Congado é uma manifestação pública da fé, do pertencimento ao
movimento cultural afro-brasileiro-mineiro-uberlandese. Os congadeiros rompem
os muros que cercam suas comunidades e ganham a cidade, comemorando a
manutenção de suas famílias e de sua cultura.
589
O ritual composto por elementos da cultura bantu é reelaborado no Brasil sob
influência do contato com outros povos africanos, europeus e nativos. O Congado
em Uberlândia, é fundamentado no mito da aparição e resgate da imagem de Nossa
Senhora do Rosário e possui pelo menos duas versões: a) Nossa Senhora do
Rosário estava dentro do mar, um garoto a vê submergir, chama os pais para verem,
eles não acreditam. Então ele chama os Marinheiros, que também presenciam a
santa submergir, eles tentam tirá-la, mas ela não sai do local. Chegam brancos e
padres e tentam levá-la para uma capela, mas a santa “foge” do altar e volta para o
mar. Vem, então o terno de Congo, todo colorido e canta para ela sair da água, ela
submerge, mas ao ser levada para a capela dos brancos, volta a “fugir” para o mar.
Um terno de Moçambique, todo vestido de branco, descalço, com gungas nos pés,
canta para ela, que então submerge e lhes acompanha, eles então constroem uma
capela para ela e ali Nossa Senhora do Rosário permanece, o terno de Moçambique
então se retira sem lhe dar as costas. b) a segunda versão, contada por Maria
Conceição Cardoso, do Moçambique Rosário de Fátima, afirma que ao tentar
capturar escravos fugidos na serra da Montanhesa, um grupo de capitães do mato
encontra um grupo de negros, vestidos de branco, fazendo rosários, com contas de
lágrima em frente a uma árvore de umbaúba onde Nossa Senhora do Rosário estava
encravada num galho. Os capitães do mato surram os negros e tentam capturá-los,
mas eles permanecem imóveis. Apavorados com a visão voltam para a cidade e
chamam um padre para ir até o local verificar o fato. E como na primeira versão,
brancos e Congos não conseguem levá-la, Nossa Senhora do Rosário acompanha
apenas o Moçambique que canta, vestido de branco e lhe construiu uma igreja e
não lhe dá as costas ao se retirar de sua presença.
O Moçambique é, por isso, a Guarda Real. Isto é, são os ternos de Moçambique os
responsáveis por conduzir as imagens dos santos, bem como os reis durante a
procissão. É responsável por levantar o mastro na porta da Igreja dando início ao
Congado, é quem geralmente conduz os casais reais até a procissão e também no
encerramento da festa. Ouvi de diversos capitães em Uberlândia, que quem conduz
o casal real é o Moçambique ou “Congo de coroa”. A coroa além de representar a
realeza, também é símbolo de Nossa Senhora e confere a quem a utiliza a autoridade
para conduzir os reis e santos. A coroa também está associada aos Pretos Velhos,
na Umbanda, representa o poder e a sabedoria dos anciões. O Catupé faz a guarda
do Moçambique e pode substituí-lo nessas funções.
590
As músicas, as roupas e adereços e o trançar de fitas característico do terno deMarinheiros e Marujos, fazem referência ao mar que traz os negros para o Brasil ede onde Nossa Senhora é retirada, e às atividades do Marinheiro. Os ternos deCongo são de louvação, os tocadores de maracanãs e caixas fazem performancessaltando com os instrumentos, mas esta performance, atualmente, também éreproduzida por outras guardas. Segundo os integrantes do Marinheiro de SãoBenedito a performance dos saltadores ou caixeiros de frente, em que osdançadores pulam com as caixas revezando entre ajoelhar-se e saltar é cheia designificação. Quando estão ajoelhados, estão pedindo axé e quando estão pulando,estão agradecendo as graças recebidas. Axé é energia vital, essencial paraexistência. Uma das características diferenciadoras dos ternos de Congo que vemse extinguindo em Uberlândia é o uso de cuíca e de tamborins (caixinhas quadradasconfeccionados em madeira e couro, percutidas com uma vareta), bem como ouso de pandeiros, adufes e instrumentos harmônicos como violões, cavaquinhos,banjos e sanfonas.A organização das guardas, a hierarquia dos ternos, segue os modelos militaresou políticos. Na maior parte dos ternos, o “regente” é chamado Capitão, mas emoutros recebe o distintivo de General ou Guia. Existem outras funções, tais como,Presidente, Fiscal, Conselheiro, Secretário, Tesoureiro, Madrinha do Terno, Madrinhada Bandeira, Soldados, Bandeireiras, etc. que variam de terno para terno, tanto emnúmero como em funções e significações. “Antigamente” a função de PrimeiroCapitão era designada em alguns ternos de Marechal e as bandeireiras de Juizas,o Presidente era conhecido como o Dono do terno. As designações presidente,vice-presidente geralmente tem seu equivalente como primeiro capitão, segundocapitão, madrinha.O primeiro capitão se desloca o tempo todo se certificando se tudo corre bem comtodo o terno e também puxa as músicas. O segundo capitão geralmente éresponsável por reger a bateria, é o maestro. Dois outros capitães ou fiscaisprotegem as laterais e também se locomovem entre os dançadores. A madrinha doterno geralmente segue a frente, junto à virgem que carrega a bandeira, mas tambémtransita pelo terno auxiliando na medida em que se faz necessário. A madrinha dabandeira auxilia as bandeireiras. Elas também são responsáveis pelas crianças,no Marinheirão existe a função de capitão das crianças, outras pessoas, geralmenteas mães também cuidam das delas, carregando-as no colo quando se cansam.Os Fiscais auxiliam na condução do terno, na execução das músicas, naorganização dos dançadores. São os imediatos do Capitão, geralmente tambémimpunham um bastão e trazem um apito. As funções de Presidente, tesoureiro eSecretários, exigidas para o registro oficial, geralmente são desempenhados pelospróprios Capitães, Madrinhas e Fiscais.
591
Soldados são os tocadores e dançadores.
As Bandeireiras conduzem as Bandeiras ou estandartes e suas fitas fazendo
coreografias, também podem ser chamadas de Andorinhas. “Antigamente” esta
função só era desempenhada pelas garotas virgens. Muitas mulheres relatam que
se a menina não fosse virgem e levasse a fita ou o mastro da bandeira, muitos
acidentes poderiam acontecer. Nossa Senhora do Rosário seria a responsável por
denunciar a farsa. Adereços de cabelo poderiam cair ou a roupa se rasgar, a própria
bandeira poderia sofrer danificações, como quebrar, rasgar. Desmaios e doenças
dificultariam a execução da função. Caberia a menina se afastar quando não fosse
mais “digna” de carregar a bandeira do Congado. Hoje no entanto esta tradição
não é mantida pela maioria dos ternos.
Alguns atribuem sentidos místicos à escolha das cores, dos instrumentos, dos
acessórios e dos ritmos, outros vêm nesses elementos traços distintivos dos ternos.
As roupas e acessórios são usados apenas nos dias de festa, durante a campanha,
cada um se veste a seu modo. As meninas geralmente fazem roupas que podem
ser usadas no cotidiano, já que todo ano elas fazem duas trocas de roupa: uma
para o domingo e outra para a segunda. Alguns ternos modificam os modelos de
suas roupas todo ano, outros mantém a vestimenta dos homens durante algum
período. Constatei a preocupação de anciões quanto à manutenção das roupas
consideradas tradicionais dos ternos. A indumentária que mais inova é a das
bandeireiras, geralmente as roupas dos soldados possuem elementos
identificadores dos ternos e não mudam de um ano para o outro, a mudança quando
ocorre é gradativa. A indumentária é um dos elementos identificadores dos ternos,
por isso a Irmandade do Rosário intervém na escolha das cores e adereços.
Os ternos só recebem a Carta de Comando – ordem para participar dos festejos –
se estiverem filiados à Irmandade de Nossa Senhora do Rosário de Uberlândia.
Aqueles registrados em cartórios participam do Reinado sem o aval da Irmandade.
Um representante da Igreja, geralmente o pároco, participa diretamente das decisões
da Irmandade. A Irmandade é o elo de ligação dos ternos com a Igreja Católica e
as subvenções governamentais. A Irmandade gerencia a festa, decide data de
realização da festa, faz e refaz o estatuto da Irmandade e da Festa, decide horários
de realização de missas, procissões etc. A diretoria da Irmandade do Rosário é na
verdade um reinado, onde os cargos são hereditários. Cada terno é como se fosse
um “reino” ou “estado”, “clã”, “facção”, um batalhão, um pelotão, pertencente à um
tipo de guarda. Com organização e agenda de rituais própria. Cada terno possui o
seu “diplomata”, geralmente um capitão, que fará sua representação nas reuniões
com a Irmandade e os órgãos governamentais ou financiadores.
592
Apesar de muitos congadeiros negar que exista rivalidade entre os ternos, a disputa
torna-se muito clara em muitos momentos. Disputam a ocupação do espaço na
praça da igreja, qual a execução mais perfeita das músicas, qual o maior número
de componentes, qual a melhor organização e disposição dos soldados na
apresentação, qual a melhor e mais bonita indumentária, ocorre disputa na
demarcação do território onde realizaram sua campanha, etc. Em alguns momentos
verdadeiras batalhas orquestrais ocorrem: os ternos se enfrentam com os
instrumentos, o apito e a expressão corporal dos capitães deixam clara a luta
enquanto os soldados rufam seus tambores.
Durante “campanha” do Congado, como os congadeiros dizem, são confeccionados
ou reformados acessórios, roupas e instrumentos. Realizam ensaios, novenas,
leilões, reuniões com a Irmandade e com a Coordenadoria Municipal Afro-Racial
(CoAfro). Fazem benzições, trabalhos espirituais. Visitam outras cidades em festa.
A campanha é o período que precede a festa.
Geralmente é o Presidente do terno ou a Madrinha quem fica responsável por
agendar os leilões e novenas. Os donos da casa onde serão realizados os leilões
arrecadam “prendas”, geralmente alimentos, produtos de higiêne, bebidas, quitutes,
roupas, etc, que serão leiloados a favor do terno. Reúnem-se os dançadores, afinam-
se os instrumentos e cada terno sai do seu quartel sob o comando do bastão e do
apito de seus capitães realizando jornadas noturnas que extrapolam os limites dos
bairros para realizar as novenas e os leilões. Estes deslocamentos pela cidade
enchem a noite com as sonoridades dos instrumentos. Algumas pessoas saem na
porta das casas para ver os ternos passarem, nos seus ensaios para o dia da
festa.
Cada terno possui o seu “território”, demarcado pelas casas dos amigos que
oferecem prendas para o leilão ou solicitam a visita da bandeira para a realização
da novena. Cada terno possui um quartel, que pode ser a casa de um dos capitães
ou de pessoas ligadas ao terno. O “território” dos ternos extrapola, inclusive as
fronteiras das cidades, pois cada terno possui uma agenda de festas e encontros
formando distintas redes de sociabilidade. Os ternos também costumam visitar
suas cidades de origem.
Quando um terno se encontra com outro no trajeto pode acontecer pelo menos três
ações diferentes:
1 – se os ternos forem amigos, se cumprimentam e até mesmo tocam juntos;
593
2 – se os ternos tiverem algum tipo de diferença, rixa, ou questão a ser resolvida,
poderá haver uma espécie de confronto, um duelo de instrumentos, ou um terno
impede o outro de atravessar uma rua ou passar na porta da igreja.
3 – se os ternos ainda não se conhecerem pode acontecer dos Capitães cantarem
um para o outro saldando as bandeiras e se identificando. Pode também haver
neste caso uma espécie de duelo em que os capitães disputam cordialmente para
saber qual dos capitães é mais experiente ou qual a bateria faz mais evoluções.
O trajeto até a casa da novena é utilizado para realizarem o ensaio para o dia da
festa. Durante o trajeto até as casas onde se realizarão as novenas, os capitães
ensinam as músicas aos novatos e ensinam a tocar os instrumentos. É comum a
criação de músicas novas para apresentarem no dia da festa. A composição pode
ser feita por capitães, madrinhas ou dançadores do terno ou ainda ser atribuídas a
mentores espirituais. Muitas músicas tocadas durante a campanha podem não ser
executadas no dia da festa. Existem também músicas específicas para cada
ocasião: para chamar o dono da casa, para agradecer as prendas para o leilão,
para abençoar o interior da casa, músicas de novena, em louvor a São Benedito,
em louvor a Nossa Senhora do Rosário, que relembram os antepassados, que falam
de fenômenos climáticos, para solicitar a saída da bandeira, para saldar Reis e
Rainhas, de despedidas, para quando ocorre um encontro com outro terno seja ele
amigo ou não e uma infinidade de outras possibilidades, variando de terno para
terno.
Existem duas versões para a origem do Congado em Uberlândia. A primeira
considera o Distrito de Miraporanga (antiga Santa Maria) o local de onde se
originaram os ternos de Congado do município, na época, o arraial de São Pedro
de Uberabinha. Segundo Paulino (In Brasileiro, 2001:31), o primeiro terno de
moçambique surgiu em Miraporanga, não sendo inicialmente aceito pelos
moradores de São Pedro do Uberabinha. A Igreja do Rosário de MIrapóranga,
construída em 1850, foi fundada por escravos, que posteriormente se mudariam
para o futuro bairro Patrimônio em Uberlândia, às margens do Rio Uberabinha,
levando consigo as celebrações do Congado.
A segunda versão indica que o movimento do Congado se iniciou no Sertão da
Farinha Podre, por volta de 1874, através do “Mestre André”. Esse senhor reunia
os negros da região do Rio das Velhas e Olhos D’Água, tocando tambor em culto à
Nossa Senhora do Rosário, padroeira dos negros, pedindo para libertá-los da
escravidão. O início do movimento ocorre por volta de 1876, período de expectativa
e temor quanto à abolição da escravatura no Brasil Império.
594
Vale lembrar que em 1881 foi decretada a lei nº 2040, conhecida como a “Lei do
Ventre Livre” e em 1885 a “Lei do Sexagenário” ou “Lei Saraiva Cotegipe”, as quais
participaram de um processo que culminou na própria abolição da escravatura, em
1888.
O município de Uberlândia se localiza na região do Triângulo Mineiro, área conhecida
no século XVIII e XIX como Sertão da Farinha Podre. Esta região era denominada
de Sertão da Farinha Podre por causa dos sacos de palha com farinha, encontrados
pelos colonizadores, enterrados ou pendurados nas árvores. Das histórias contadas
sobre a origem deste nome, existe uma que afirma que quando as bandeiras se
aproximavam os indígenas e quilombolas que aqui habitavam escondiam sua
farinha, base de sua alimentação, com esperança de poderem voltar algum dia
para suas aldeias e ter alimentos até a nova plantação dar seus frutos. Eles se
refugiavam nas matas e esperavam os bandeirantes abandonarem suas moradias
após arrasá-las com saques e incêndios. Muitas aldeias tinham que mudar
constantemente sua localização, abandonando sacos de farinha pelo caminho de
sua fuga. Por causa de sua localização geográfica, o Sertão da Farinha Podre
passou a ser um entreposto para os avanços das bandeiras. Local de de descanso
e comércio de tropas uma parada na rota de tropeiros e mineradores em direção a
Goiás e Mato Grosso. A farinha que fora escondida pelos quilombolas e/ou
indígenas apodrecia com a ação do tempo, e depois era encontrada pelos novos
habitantes do lugar. Por causa da grande quantidade de mantimentos apodrecidos
encontrados, a região da bacia do rio Paranaíba que abrange o atual Triângulo
Mineiro e parte do sul do estado do Goiás, ganhou o nome de Sertão da Farinha
Podre.
O Sertão da Farinha Podre era povoado por vários núcleos quilombolas distribuídos
como pontos de uma rede. Os documentos oficiais referem-se a diversos deles
como pertencentes ao Quilombo do Campo Grande. O Quilombo do Ambrósio,
localizado na zona rural de Ibiá, cujo sítio arqueológico é tombado pelo patrimônio
histórico, foi como uma célula central de onde partiam os integrantes que formavam
os outros núcleos da rede. A historiografia oficial considera que o Quilombo do
Ambrósio tenha sido destruído em 1746, sendo referido como o maior núcleo,
comportando até mais de “mil negros, e grande número de negras e crias”. Os
documentos oficiais que narram a destruição deste núcleo e de “outros menores”
informam o número de três oficiais e duzentos e sessenta “homens capazes, e dos
mais desocupados” reunidos nas freguesias de Brumado (hoje Patrocínio), Sta
Rita, Carijos, Congonhas, Ouro Branco e Prado.
595
E para a destruição do Quilombo do Campo Grande foram enviados quatrocentos
e depois mais trezentos homens da cidade de Mariana, São João de El Rey, São
José, Sabará e Vila Nova da Raynha. Sendo que estas comitivas levavam cartas
solicitando que todas as comarcas lhes fornecessem “munições de guerra e de
boca” Embora, os documentos oficiais relatem expedições bem sucedidas na
destruição destes quilombos, deixam a entender que muitos quilombolas fugiam
recomeçando um novo quilombo em áreas não ocupadas pelo homem branco. A
área onde hoje se localiza Uberlândia só foi ocupada pelo homem branco a partir
de 1821, possuindo ainda reminiscências dos antigos quilombos do Campo Grande.
Mas a construção de hidrelétricas tem destruído paulatinamente os vestígios
arqueológicos destes quilombos que geralmente escolhiam áreas estratégicas
próximas aos rios para se instalar. Os quilombolas escolhiam sua localização de
acordo com os elementos oferecidos pelo ambiente buscando áreas que lhes
possibilitasse a permanência (agricultura e pecuária de subsistência, assaltos às
tropas de comerciantes e viajantes e contrabando) e a defesa da comunidade. A
região ainda preserva na toponímia referências aos antigos quilombos (Pau Furado
e Quilombo).
A ocupação efetiva desta área pelo homem branco ocorreu a partir do século XIX,
sendo a produção pecuária e a agricultura de subsistência primordiais, pois
possibilitaram a instalação das fazendas e dos arraiais que futuramente constituiriam
vários municípios e distritos. O arraial de São Pedro do Uberabinha, núcleo inicial
da cidade de Uberlândia, formou-se no início do século XIX, a partir da aquisição
de sesmarias do governo da Província de Minas Gerais por algumas famílias. O
marco inicial da atual cidade foi a antiga Sesmaria de São Francisco, doada a
João Pereira da Rocha, em 1821. A chegada de outras famílias, com destaque
para a “Alves Carrejo”, intensificou a ocupação da região.
Em 1846, Felisberto Alves Carrejo, após aquisição de área de dez alqueires entre
o Córrego São Pedro e o Córrego Cajubá, obteve, juntamente com Francisco Alves
Pereira, aprovação do Bispado de Goiás para a construção de uma capela curada,
consagrada a Nossa Senhora do Carmo e a São Sebastião da Barra. No ano de
1852 foi criado o Distrito de Paz do São Pedro do Uberabinha, pela lei provincial n.
602, e em 1853 a primeira capela foi concluída. . A criação da paróquia, em 1857,
ocorreu no mesmo ano da formação do patrimônio da capela, composto de terras
doadas por um grupo de moradores locais que haviam adquirido 100 alqueires da
Fazenda do Salto (Vale, 1998: 252).
596
As primeiras edificações do arraial se São Pedro do Uberabinha se concentravam
ao redor do largo da Igreja Matriz, em terrenos aforados do patrimônio de Nossa
Senhora do Carmo. Em 1883 foram doados, ainda, doze alqueires de terra à
margem esquerda do córrego Uberabinha, próximo aos limites do arraial, destinados
ao patrimônio de Nossa Senhora da Abadia (Lourenço, 1986:16). Em 31 de agosto
de 1888, a então freguesia foi transformada em vila, com o nome de São Pedro do
Uberabinha, tendo sido instalada oficialmente em 1891. Em 24 de maio de 1892, a
vila foi elevada à categoria de cidade pela lei nº 23. Em 1895, a Estrada de Ferro
Mogiana atingiu a cidade de Uberlândia e se verifica o desenvolvimento da produção
agropecuária e de indústrias, com destaque para a produção de charque (Brasileiro,
2001: 253). “Nas duas primeiras décadas do século XX foram instaladas em
Uberlândia indústrias ligadas à produção rural. Têm-se registro das seguintes
indústrias, existentes em 1922: beneficiadoras de arroz e algodão, serrarias,
carpintarias, charqueadas, curtumes e outros estabelecimentos de produção de
couro e carne, além de fábricas de banha, sabão, calçados e arreios” (Lourenço,
1986: 20). Vale ressaltar que o fornecimento de energia elétrica teve início em 1909,
aumentando a possibilidade da instalação de várias fábricas.
Em 1929, a cidade recebeu o nome de Uberlândia, através da lei nº 843. Na década
de 1930, a abertura de estradas de rodagem em direção às áreas de exploração
de diamantes do Rio Araguaia intensificou o desenvolvimento da área, que se tornou
ponto de troca e abastecimento de caravanas e compradores de diamantes . Em
1933 , iniciou -se a construção da nova igreja Matriz concluída em 1941. A padroeira
Santa Terezinha foi escolhida para substituir os antigos padroeiros da cidade Nossa
Senhora do Carmo e São Sebastião da Barra. A antiga igreja Matriz foi demolida
em 1943, dando lugar a estação Rodoviária, que hoje sedia a Biblioteca Municipal
. Em 1940, cidade passa por um rápido crescimento e adensamento populacional,
e desde então tem se configurado importante centro regional, localizado em local
estratégico, próximo a seis capitais (Campo Grande, Cuiabá, Goiânia, Belo
Horizonte, São Paulo e Brasília ). De 1985 a 1996, o seu crescimento anual do P I
B de 5, 09%, superior ao crescimento de Minas Gerais (2,17%) e do Brasil (2,28%).
Hoje, a cidade se destaca pelo desenvolvimento dos setores de agro industria,
tecnologia da informação, setor atacadista - distribuidor, e mais recentemente, de
biotecnologia, sendo também considerado pólo na área de ensino superior.
Há referências históricas de que a primeira Capela de Nossa Senhora do Rosário
tenha sido iniciada pelo Padre João Dantas Barbosa, em 1876, a qual não foi
concluída, tendo sido definitivamente levantada na atual praça Cícero Dr. Duarte.
597
Em decorrência do abandono da capela anterior, entre 1891 e 1893, ocorreu a
construção da nova Capela do Rosário “com estrutura de madeira, tijolos de adobe
e telha comum, situada no centro da cidade e com fachada voltada para o bairro
General Osório (atual bairro fundinho).” Já em meados de 1890, o então presidente
da Irmandade do Rosário passou a comandar a nova procissão. O vigário Pio Dantas
estimulou a participação da comunidade negra nas festividades religiosas. (Ibidem,
2001)
Com o crescimento da cidade, a segunda capela precisou ser ampliada. Foi
composta uma comissão responsável por angariar donativos particulares e recolher
uma mensalidade cobrada da Irmandade do Rosário. A capela anterior foi demolida
e, no mesmo local, a partir de 1928, foi construída uma nova capela com projeto de
autoria do arquiteto Thomaz Hovanez. Em 1931, a Capela Nossa Senhora do
Rosário foi re-inaugurada. Em 1985, a Capela de Nossa Senhora do Rosário foi
tombada pelo Patrimônio Histórico Municipal (lei nº 4263, de 9 de setembro) e
entre 1987 e 1988, foi restaurada pela Secretaria de Cultura do Município com
apoio do IEPHA/MG (Vale, 1998:257). A Capela de Nossa Senhora do Rosário
passou por processo de restauração no de 2006.
15. Referências:
* Anais da Biblioteca Nacional – Volume 108 – Rio de Janeiro, 1988 pg. 47-113 –
Carta de Gomes Freire de Andrade para o Capitão-mor da Vila de S. João de El
Rey Manuel da Costa Golvea, 27 de junho de 1746. Mss. APM, Códice SC84,
Registro da providoria da Fazenda de Minas Gerais p.111 (Ver laudo IPHAN 004/
98)
*Brasileiro, Jeremias. Congadas de Minas Gerais – Brasília: Fundação Cultural
Palmares, 2001.
* Laudo IPHAN 004/98 – Dossiê do Tombamento do Remanescente do Antigo
Quilombo do Ambrósio – Ibiá – Mg
*Lucas, Glaura. Os Sons do Rosário – Um Estudo Etnomusicológico do Congado
Mineiro – Arturos e Jatobá. Dissertação de Mestrado, São Paulo: ECA-USP, 1999.
*Marra, Fabíola Benfica. Álbum de Família: Famílias Afro-descendentes no Século
XX em Uberlândia – MG – CD-Rom produzido entre os anos de 2004 e 2005,
através da lei municipal de Incentivo à Cultura.
*Martins, Tarcisio José. Quilombo do Campo Grande: A História de Minas Roubada
do Povo. São Paulo: Gazeta Maçônica, 1995
598
*Lima Jr., Walter. Chico Rei. Embrafilmes, 1986.
*LOURENÇO, Luis Augusto Bustamante. Bairro Patrimônio: Salgadores e
Moçambiqueiros. Uberlândia: Secretaria Municipal de Cultura, 1983.
*Martins, Leda M. Cantares – Afrografias da Memória. São Paulo: Perspectiva:
1997.
*Moura, Clovis (org). Os Quilombos na Dinâmica Social do Brasil – Maceió: Edufal,
2001.
*RIBEIRO, Maria de Lourdes Borges. A Música Africana. Rio de Janeiro: Funart,
1981
*VALE, Marília Brasileiro Teixeira. Arquitetura Religiosa do Século XIX no antigo
“Sertão da Farinha Podre”. Tese apresentada à Faculdade de Arquitetura e
Urbanismo da Universidade de São Paulo para obtenção do Grau de Doutor, São
Paulo, 1998.
16. Atualização das informações:NT
17. Ficha Técnica
Levantamento Data: Abril de 2007
Fabíola Benfica Marra (Historiadora)
Larry Guimarães de O. Filho (Formatação, estagiário de arquitetura)
Larissa Gontijo T. Cunha (Formatação, estagiário de arquitetura)
Elaboração Data: Abril de 2007
Fabíola Benfica Marra (Historiadora)
Revisão Data: Abril de 2007
Anderson Henrique Ferreira (Historiador)
Gisele Pinto de Vasconcelos Costa (Arquiteta)
599
07. Designação:Bandeira do terno Congo Verde e Branco
08. Localização Especifica: quando não está em época de campanha, fica em
um cômodo destinado à indumentária do e aos instrumentos do Congado
09. Espécie: Bandeira /Distintivo/Insígnia Religiosa
10. Época: 2000
11. Autoria: Dagmar Rodrigues (irmã do Silvio)
12. Origem: Uberlândia
13. Procedência: Uberlândia
14. Material / Técnica: cabo de madeira, tecido veludo verde, com imagem de
Nossa Senhora do Rosário impressa em papel plastificado, presa ao veludo com
bordado de motivos florais elaborados com lantejoulas e miçangas prateadas,
detalhes da coroa e terço bordados com miçangas.
15. Marcas / Inscrições / Legendas: imagem de Nossa Senhora do Rosário
bastante ornamentada
16. Descrição:
Bandeira com cabo de madeira, elaborada em tecido veludo verde, com imagem
de Nossa Senhora do Rosário impressa em papel plastificado, presa ao veludo
com bordado de motivos florais elaborados com lantejoulas e miçangas prateadas,
detalhes da coroa e terço bordados com miçangas.
17- Condições de segurança:
( x ) Boa ( ) Razoável ( ) Ruim
Obs:
BENS MÓVEIS E INTEGRADOS
04. Propriedade: Particular
05. Endereço: Rua Carvalho de Mendonça, 1550 -
Pampulha
06. Responsável: Silvio Donizete Rodrigues
01. Município: Uberlândia
02. Distrito: Sede
03. Acervo:Terno Congo
Verde e Branco
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INVENTÁRIO DE PROTEÇÃODO ACERVO CULTURAL
Minas Gerais-MG
SECRETARIA MUNICIPALDE CULTURA
600
18- Proteção Legal:
( ) Federal
( ) Estadual
( ) Municipal
( x ) Nenhuma
( ) Tombamento Isolado
( ) Tombamento em Conjunto
Fotos do Terno Congo Verde e Branco
Uberlândia/MG
Ano 2007
20- Estado de Conservação:
( x ) Excelente ( ) Bom
( ) Regular ( ) Péssimo
21- Dimensões:
Altura: 44cm
Comprimento da haste: 52cm
Largura: 35cm
22. Análise do Estado de Conservação:
Bandeira em bom estado de conservação.
Não apresenta perdas, não apresenta sinais de infestação por insetos ou de mofo.