biocombustíveis: energia do século xxi

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RIO DE JANEIRO JANEIRO DE 2009 BRASIL É REFERÊNCIA MUNDIAL NO SETOR DE ENERGIA BRASIL É REFERÊNCIA MUNDIAL NO SETOR DE ENERGIA É PRECISO DIVERSIFICAR AS FONTES ENERGÉTICAS E DE SUPRIMENTO É PRECISO DIVERSIFICAR AS FONTES ENERGÉTICAS E DE SUPRIMENTO

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Encarte do jornal O Globo (RJ) mostrando os resultados do seminário de biocombustíveis realizado em dezembro de 2008. Material produzido pela Newsday Consultoria para a Petrobras e parceiros.

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Page 1: Biocombustíveis: energia do século XXI

RIO DE JANEIROJANEIRO DE 2009

Brasil é referência mundial no setor de energia

Brasil é referência mundial no setor de energia

é preciso diversificar as fontes energéticas e de suprimento

é preciso diversificar as fontes energéticas e de suprimento

Page 2: Biocombustíveis: energia do século XXI

2 Sexta-feira, 26 de janeiro de 2009 3Sexta-feira, 26 de janeiro de 2009

Brasil é referência mundial no setor de energiaSUMÁRIO

3 Brasil é referência mundial no setor de

energia

4 Etanol: o pioneirismo brasileiro em

agroenergia

5 Biodiesel: os caminhos para a expansão

6 Até 2012, Petrobras investirá US$ 1,5 bi em

biocombustíveis

7Plano de Investimentos 2009-2013

A produção de biocombustíveis vem conso-lidando a liderança do Brasil no mercado mundial de energias renováveis. Este foi o ponto comum aos debates do Seminário Biocombustíveis – Energia do Século XXI, re-

alizado pelo jornal O Globo, que reuniu em dezembro de 2008, no Rio de Janeiro, representantes das prin-cipais entidades e empresas do setor agroenergético. Durante o encontro, foram discutidas as tendências do mercado de biocombustíveis, os impactos causados pela crise econômica mundial e as questões sociais e ambientais ligadas à agroenergia.

Apesar do atual momento econômico, os exposito-res compartilharam um tom otimista em suas apre-sentações. O presidente da Petrobras Biocombustível, Alan Kardec Pinto, assegurou que a crise não reduziu o interesse dos investidores internacionais. De fato, segundo o diretor de Abastecimento da Petrobras, Paulo Roberto Costa, as exportações brasileiras de biocombustíveis em 2008 cresceram mais de 400% em relação ao ano anterior.

O Brasil é o segundo maior produtor de etanol no mundo, ficando atrás somente dos EUA. As fontes renováveis de energia representam 46% da matriz energética brasileira, enquanto a média mundial é de apenas 13%. Há muito o que crescer neste mer-cado, segundo a Petrobras, que planeja investir US$

1,5 bilhão no setor até 2012.O Brasil passou a ser reconhecido como uma das

principais referências mundiais, não apenas em bio-combustíveis, mas no setor de energia, afirmou o se-cretário de Petróleo, Gás Natural e Combustíveis Reno-váveis do Ministério de Minas e Energia, José Lima. Já o secretário de Produção e Agroenergia do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, Manoel Vi-cente Bertone, avalia que o País é atualmente o único a apresentar clara viabilidade econômica na produção sustentável de biocombustíveis, sem afetar a oferta de alimentos ou ameaçar áreas de preservação ambien-tal. Esta posição é endossada pelo secretário do Grupo Intergovernamental sobre Grãos da Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO), Abdolreza Abbassian.

As vantagens sócio-econômicas dos biocombustíveis também foram discutidas, principalmente o fortaleci-mento da agricultura familiar no cultivo das matérias-primas. Isso se deve, em parte, à inclusão de exigências sócio-ambientais na agenda de desenvolvimento econô-mico brasileiro, conforme lembrou a secretária executi-va do Ministério do Meio Ambiente, Izabella Teixeira. “A concessão de licenças estará condicionada à compensa-ção ambiental pelos empreendimentos”, garantiu.

O secretário de Desenvolvimento Econômico, Ener-gia, Indústria e Serviços do estado do Rio de Janeiro,

Júlio Bueno, representou o governador Sérgio Cabral no encontro. Dois grandes desafios do setor agroener-gético brasileiro mostram-se especialmente impor-tantes para Bueno. O primeiro é transformar o etanol numa commodity internacional. O segundo é aumen-tar a participação do Rio de Janeiro no setor – o esta-do é líder na produção de petróleo, mas responde por apenas 0,5% da produção nacional de etanol.

Depois que a crise financeira mundial passar, os investimentos em biocombustíveis levarão o Brasil a um outro patamar, assegurou o diretor da Infoglobo, Agostinho Veira, na abertura do seminário. Também participaram das palestras e debates o diretor da Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocom-bustíveis (ANP), Victor Martins; o diretor de Relações Internacionais e Comércio Exterior da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (FIESP), Roberto Giannetti da Fonseca; o diretor Comercial da Cosan, Carlos Murillo Mello; a secretária de Ambiente do es-tado do Rio de Janeiro, Marilene Ramos; o chefe adjun-to de Pesquisa e Desenvolvimento da Embrapa Agro-energia, Esdras Sundfeld; o diretor de Comunicação Corporativa da União da Indústria da Cana-de-açúcar (Unica), Adhemar Altieri; e o presidente da Tecnobio e inventor do processo de fabricação do biodiesel, Ex-pedito Parente. O encontro foi mediado pelo jornalista George Vidor, do Globo.

Da esq. para a dir.: George Vidor (mediador), Agostinho Vieira (O Globo), Alan Kardec (Petrobras), José Lima (MME), Júlio Bueno (Governo do Estado), Manoel Bertone (MAPA), Paulo Roberto Costa (Petrobras) e Victor Martins (ANP)

eXpedienteCoordenação geral: NEWSDAY Consultoria de Comunicação e Marketing – (21) 2294-7470/[email protected]/Edição: VIA TEXTO / NEWSDAYFotografia: Agência GLOBO, Banco de Imagens Petrobras e Arquivo empresasProjeto Gráfico: MARACA DESIGN

12 Etanol não ameaça áreas verdes nem

produção de alimentos

14 FAO: produção brasileira não

provoca alta no preço dos alimentos

15 Brasil é exemplo positivo de

desenvolvimento sustentável

16 Amazônia: peça central no debate

sobre o clima

17 Área ambiental deve seguir agenda de

desenvolvimento

17 MMA: Brasil quer aumentar uso do

etanol na matriz energética

20 Embrapa põe o Brasil na ponta do negócio

de agroenergia

22 O futuro da energia está nos

biocombustíveis de segunda geração

23 Bioetanol com bagaço de cana e

resíduo de mamona

24 Setor sucroalcoleiro é movido pela força

empresarial

25 Do plantio na terra ao posto de

distribuição

26 Flex fuel: indústria vai divulgar a

experiência brasileira no exterior

27 GM quer levar carros flex para a China

28 De olho no futuro, Brasil investe na

diversificação de fontes

29 Paraná: o celeiro do biodiesel

30 BNDES investirá 15% a mais em 2009

no setor sucroalcooleiro

31Cinco novas usinas são financiadas pelo

banco

32Biocombustíveis: de mãos dadas com a

inclusão social

33 Trabalho formal em alta no etanol

34 Biocombustíveis: a promessa energética

mundial

35 Barreiras ainda a superar

36 A matriz energética do futuro no Brasil

e no mundo

8 Não há crescimento sem consumo de

energia

10 É preciso diversificar as

fontes energéticas e de suprimento

11 Meta é produzir 938 milhões de litros de

biodiesel em 2012

As matérias se baseiam nas declarações feitas durante o Seminário “Biocombustíveis – Energia do Século XXI”, realizado pelo jornal O Globo, no Rio de Janeiro, em dezembro de 2008.

Page 3: Biocombustíveis: energia do século XXI

4 Sexta-feira, 26 de janeiro de 2009 5Sexta-feira, 26 de janeiro de 2009

Três décadas depois de ter inserido o álcool de cana-de-açúcar em sua matriz energética, o Brasil é exemplo mun-

dial na produção e uso de biocom-bustíveis, uma das bases do desen-volvimento sustentável no século XXI. Além da larga experiência tec-nológica e logística na utilização da energia de origem vegetal, outras vantagens competitivas fortalecem ainda mais a liderança brasileira, como a fartura de terras, a abun-dância de água e o clima tropical, propício ao cultivo das principais matérias-primas.

O pioneirismo do país em agro-energia remonta aos anos 1920, quando o etanol passou a ser mis-turado à gasolina importada. Mas o grande marco desta escalada foi a criação do Programa Nacional do Álcool (Proálcool), em 1975, como resposta à primeira crise mundial do petróleo. Ao lançar o maior e mais amplo programa de utiliza-ção de biomassa para a geração de energia no mundo, o Brasil buscou se proteger da alta vertiginosa dos preços da gasolina, decorrente da decisão da Organização dos Países Produtores de Petróleo (Opep) de re-duzir, em 1973, a oferta mundial do energético fóssil.

A produção de etanol em gran-de escala minimizou o impacto do aumento dos preços do petróleo sobre as contas externas nacio-nais. Para estimular a oferta e a demanda de álcool combustível, o governo brasileiro concedeu in-centivos à lavoura canavieira e à construção de usinas; fixou cotas de produção e comercialização do produto; e estimulou a indústria automobilística a fabricar veículos movidos a etanol. Em 1979, para eliminar o problema da corrosão de motores, o programa foi apri-morado, resultando nas primeiras especificações do álcool hidrata-do, vendido nos postos, e do ani-

brasileiras produziram mais de 6,2 milhões desses automóveis, entre janeiro de 2005 e outubro de 2008. Dos 3,1 milhões de veículos fabri-cados no país nos primeiros onze meses de 2008, cerca de 70% deti-nham a nova tecnologia – um re-corde, de acordo com a Associação Nacional de Fabricantes de Veícu-los Automotores (Anfavea).

O aumento da frota flex fuel vem garantindo a expansão contínua do mercado nacional de etanol. Atual-mente o biocombustível é oferecido em 33 mil postos de serviço espa-lhados por todo o país. De acordo com a União da Indústria de Cana-de-açúcar (Unica), representante das empresas sucroalcooleiras das regiões Sul, Sudeste e Centro-Oes-te, o etanol respondeu por 40% dos combustíveis utilizados por veícu-los leves no Brasil em 2007.

PRODuçãO REcORDECom 417 usinas, consumo as-

cendente e investimentos empre-sariais em curso, o Brasil fechou 2007 com a produção recorde de 22 milhões de m3 de etanol, nú-mero quarenta vezes maior que a primeira safra do Proálcool. Pas-sados 33 anos, a produção de eta-nol significou uma poupança de US$ 85,8 bilhões em divisas para a economia nacional. O programa brasileiro de etanol também trou-xe benefícios sócio-ambientais, ao oferecer milhares de postos de trabalho e reduzir as emissões de gases poluentes e material parti-culado na atmosfera.

Reconquistado o mercado do-méstico, o etanol tem ampliado sua participação na balança comercial brasileira. De abril a novembro de 2008, foram exportados 3,68 mi-lhões de m3 de álcool combustível. Pelas expectativas da Unica, até março de 2009, as exportações da safra devem totalizar 4,2 milhões de m3. A difusão do etanol em outros países alça o produto à condição de commodity, fortalecendo a vocação do Brasil para tornar-se grande pro-dutor de biocombustíveis no merca-do internacional.

Etanol: o pioneirismo brasileiro em agroenergia

Biodiesel: os caminhos para a expansão

➔ Para a economia nacional,

a produção de etanol significou

uma poupança de US$ 85,8 bilhões em divisas entre

1975 e 2007

A cana-de-açúcar é a matéria-prima mais rentável para a produção de etanol. Para cada unidade de energia fóssil usada no processo, são geradas até 9,3 unidades de energia renovável. Além disso, emite menos gases poluentes que as outras fontes de energia.

BALANÇO ENERGÉTICO DAS PRINCIPAIS MATÉRIAS-PRIMAS PARA A PRODUÇÃO DE ETANOL

Trigo

Milho

Mandioca

Beterraba

Cana-de-açúcar

Matéria-prima Energia renovávelproduzida energiafóssil consumida

Emissões de CO2evitadas em relaçãoao ciclo da gasolina

0,97 a 1,11

0,6 a 2,0

1,6 a 1,7

1,2 a 1,8

8,3 a 9,3

19% a 47%

-30% a 38%

63%

35% a 56%

89%

T

M

B

C

M

Fontes: IEA , MAPA (2008)

produção brasileira de etanol (volume em m3)

Safra Álcool hidratado

Álcool anidro Total Variação em relação

ao ano anterior1997-1998 9.722.534 5.699.719 15.422.253 6,87%1998-1999 8.246.821 5.679.998 13.926.819 -9,70%1999-2000 6.936.996 6.140.769 13.077.765 -6,10%2000-2001 4.932.805 5.584.730 10.517.535 -19,58%2001-2002 4.988.608 6.479.187 11.467.795 9,04%2002-2003 5.476.363 7.009.063 12.485.426 8,87%2003-2004 5.872.025 8.767.898 14.639.923 17,26%2004-2005 7.035.421 8.172.488 15.207.909 3,88%2005-2006 8.144.308 7.662.622 15.806.930 3,94%2006-2007 9.853.835 8.077.816 17.931.651 13,44%2007-2008 13.857.858 8.380.811 22.238.669 24,02%2008-2009* 5.474.782 2.797.321 8.272.103 -62,80%(*) Posição em 9/2008Fonte: MAPA (2008)

produção nacional de biodiesel

Ano Volume (em m3)2005 7362006 69.0022007 402.1542008* 918.340* Posição em 10/2008Fonte: ANP (2008)

dro, misturado à gasolina.A queda na cotação do petróleo,

no fim dos anos 1980, e a eleva-ção dos preços internacionais do açúcar, na década seguinte, deses-tabilizaram o Proálcool. A oferta irregular do álcool hidratado nos postos de serviço derrubou a con-fiança dos motoristas em relação à continuidade do programa, o que por sua vez se refletiu nas vendas de carros movidos a etanol. Entre 1991 e 1999, a desregulamentação do setor extinguiu os subsídios às

usinas e aos consumidores, mas, em contrapartida, em 1993, o go-verno tornou obrigatória a mistura de 22% de álcool anidro à gasolina, garantindo mercado ao produto.

O lançamento dos carros flex fuel (movidos a gasolina ou a ál-cool, em quaisquer proporções), em 2003, deu novo fôlego ao se-tor. O sucesso de venda dos veícu-los bicombustíveis demonstrou a viabilidade do etanol para a frota automobilística. Estimuladas pela aceitação popular, as montadoras

Seguindo a trajetória bem-sucedida do etanol de cana-de-açúcar, o biodiesel vem sendo incorporado gradativamente à matriz energética brasileira. Desde janeiro de 2008, o diesel de origem vegetal é adicio-nado de forma compulsória ao diesel de petróleo, oferecido nos postos de serviço – a princípio, na proporção de 2% (diesel B2); e, desde 1° de julho do ano passado, 3% (diesel B3). Esta nova mistura elevou a produção do biocombustível para 1,4 milhão de m3 anuais (podendo crescer até 3 milhões de m3), considerando-se a capacidade instalada das 62 usinas de biodiesel autorizadas pela ANP em todo o país.

Assim como acontecera décadas antes com o etanol, o uso mais am-plo do biodiesel faz parte de um esforço integrado do Governo Federal. Em dezembro de 2004, foi lançado o Programa Nacional de Produção e Uso de Biodiesel (PNPB) e, em janeiro do ano seguinte, a Lei 11.097 estabeleceu o marco regulatório do biocombustível e as regras para a sua introdução na matriz energética brasileira. Em três anos – desde a sanção da lei até o início da mistura compulsória ao diesel mineral – o Brasil lançou as bases da cadeia produtiva; abriu linhas de finan-ciamento para a construção de usinas e infra-estrutura logística; e consolidou a tecnologia de fabricação do produto.

O uso da mistura B3 corresponde para os brasileiros a uma econo-mia de US$ 410 milhões em importações de diesel mineral, de acordo com a Agência Nacional de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP). Para ajudar o novo mercado a se estruturar, a ANP realiza pe-riodicamente leilões de compra de biodiesel. Desde novembro de 2005 foram organizadas 12 sessões, responsáveis por ajustar a demanda à oferta do produto.

O Brasil foi um dos primeiros países a registrar uma patente sobre o processo de produção de biodiesel, requerida em 1980 pelo engenheiro químico Expedito Parente. Desde os anos 1970, Parente vinha realizan-do pesquisas com o diesel de origem vegetal, na Universidade Federal do Ceará, utilizando sementes de algodão. O novo biocombustível foi testado com sucesso em veículos, mas não teve acolhida acadêmica nem empresarial na época, devido à queda dos preços do petróleo e à concentração de esforços nacionais no programa de etanol.

O biodiesel provoca menos impacto ambiental que o diesel de ori-gem mineral, ao emitir menos gases causadores do efeito estufa. O biocombustível também gera milhares de empregos no campo, prin-cipalmente no cultivo de soja, algodão, girassol, mamona, babaçu, dendê, pinhão-manso e outras oleaginosas utilizadas como matéria-prima. A atividade não concorre com a produção de alimentos, já que o Brasil possui vastas áreas agricultáveis. Para estimular a inserção dos agricultores familiares na cadeia produtiva, o PNPB instituiu o Selo Combustível Social, que garante vantagens fiscais e linhas de finan-ciamento às indústrias que adquirirem matérias-primas de pequenos lavradores.

Após consolidar-se no mercado nacional, os produtores brasileiros de biodiesel enfrentarão dois grandes desafios. Um deles será atender o mercado interno, que, em 2012, adotará a mistura compulsória de 5% de biodiesel no diesel de petróleo, elevando para 2,4 milhões de m3 anuais o consumo doméstico do combustível verde. O outro desafio, externo, vem dos EUA e da União Européia, que deverão ter excesso de demanda na próxima década. Desde já, o governo brasileiro e empre-sários do setor estão atentos às oportunidades de difundir o biodiesel brasileiro pelo mundo.

Page 4: Biocombustíveis: energia do século XXI

6 Sexta-feira, 26 de janeiro de 2009 7Sexta-feira, 26 de janeiro de 2009

Até 2012, Petrobras investirá US$ 1,5 bi em biocombustíveis

Os biocombustíveis brasi-leiros despontam como uma importante alter-nativa energética mun-dial e têm sido tratados

com grande destaque em fóruns reali-zados no Brasil e no exterior. A estra-tégia da Petrobras nesse contexto, se-gundo o diretor de Abastecimento da empresa, Paulo Roberto Costa, é “atuar globalmente na comercialização e lo-gística de biocombustíveis, tendo uma participação expressiva na produção nacional de biodiesel e ampliando sua participação no negócio de etanol”.

Para fazer frente aos novos desa-fios e tornar-se referência mundial em biocombustíveis, a Petrobras está investindo cerca de US$ 1,5 bilhão no setor, recursos previstos no Plano de Negócios 2008-2012. “O Brasil apre-senta muitas vantagens comparati-vas neste promissor mercado. Além disso, os biocombustíveis são uma excelente oportunidade de cresci-mento sócio-econômico em regiões agrícolas pouco exploradas e possibi-litam, ao mesmo tempo, o fortaleci-mento da agricultura familiar numa estrutura de desenvolvimento sus-tentável”, disse o diretor da estatal na abertura do seminário.

Costa garantiu ainda que a Petro-bras vai continuar investindo no de-senvolvimento dos biocombustíveis, independentemente das oscilações no preço do petróleo. “A alternativa para a matriz energética mundial são os com-bustíveis mais limpos, com prioridade para o etanol e o biodiesel”, apontou.

MuDANçAs NO MERcADOA mistura de 25% de etanol na

gasolina e a crescente utilização de veículos flex fuel vêm causando mudanças no mercado brasileiro de combustíveis. “Para termos uma idéia mais concreta, no estado de São Pau-lo, maior mercado de combustíveis no Brasil, vendemos hoje mais etanol do

que gasolina”, destacou.De olho nesse potencial, está em

estudos a criação de cerca de 20 no-vos complexos bioenergéticos (CBios), frutos de parcerias entre empresas do setor sucroalcooleiro com a Petro-bras e a japonesa Mitsui. Estas unida-des produzirão etanol para exporta-ção, além de gerar energia elétrica a partir do bagaço da cana-de-açúcar. Cada CBio poderá contar ainda com uma unidade de produção de biodie-sel para abastecer tratores, cami-nhões e colheitadeiras.

Para comercializar a produção bra-sileira do CBio Itarumã, no mercado japonês, foi criada a empresa PB Bio Trading, sediada em Cingapura e com controle acionário dividido igualita-riamente entre Petrobras e Mitsui.

Nesse modelo de negócios, em parceria com empresas internacio-nais e produtores brasileiros, a meta é atingir, em 2015, a produção e ex-portação anual de 4,75 milhões de

m3 anuais de etanol.A largada já foi dada. De 2007 a

2008, cresceu 404% a exportação de etanol pela Petrobras, que começa o ano de 2009 abrindo novos mercados: a partir de janeiro, a companhia faz seu primeiro fornecimento à Costa Rica. Segundo consultorias especializadas, a estimativa de exportação de etanol brasileiro em 2008 foi de aproximada-mente 4,2 milhões de m3. Desse total, o sistema Petrobras comercializou 605 mil m3 para os EUA, Europa e Ásia.

sINAl vERDEAlém de aprimorar as tecnologias

já utilizadas, a Petrobras está inves-tindo no desenvolvimento dos com-bustíveis de segunda geração. “Outra rota promissora é a do bioetanol ou etanol de lignocelulose, álcool com-bustível produzido com a ação de en-zimas”, anuncia Costa.

No caso do biodiesel, o diretor de Abastecimento da Petrobras revela que

houve incerteza no primeiro semestre de 2008 devido ao aumento dos preços das matérias-primas, mas “a atuação da empresa, disponibilizando seus es-toques estratégicos quando necessário, permitiu avançar com o programa”.

Em janeiro de 2008, teve início a adição obrigatória de 2% de biodie-sel ao diesel mineral (mistura B2), que corresponde a um mercado de 440 mil m3 no semestre. Em julho, o percentual passou para 3% (mistura B3), aumentando para 660 mil m3 o volume semestral.

“Ao final de 2008 o mercado esteve plenamente atendido e funcionando normalmente, demonstrando o amadu-recimento do programa”, avalia Costa.

A Petrobras ainda planeja imple-mentar duas novas plantas-piloto de biodiesel no Rio Grande do Norte, que terão tecnologia para o aproveita-mento de vários tipos de oleaginosas, de forma a adaptar a produção às cul-turas típicas de cada região.

Paulo Roberto Costa

➔ “Os biocombustíveis

são uma excelente oportunidade de

crescimento sócio-econômico em regiões

agrícolas pouco exploradas, o que

fortalece a agricultura familiar numa estrutura

de desenvolvimento sustentável”

DISTRIBUIÇÃO POR SEGMENTO DE NEGÓCIOSPeríodo 2008-12 US$ 112,4 bilhões

O setor de biocombustíveis receberá US$ 1,5 bi, cerca de 1% dos investimentos totais da Petrobras previstos para os próximos quatro anos.

G&E6% (6,7)

Petroquímica4% (4,3)

Distribuição2% (2,6)

Caorporativo2% (2,6)

Biocombustível1% (1,5)

Dowstream (RTC)26% (29,6)

E&P58% (65,1)US$ 65,1 bilhões destinados ao E&P:•Exploração: US$ 11,6 bilhões•Produção: US$ 53,5 bilhões

DISTRIBUIÇÃO DOS INVESTIMENTOS EM BIOCOMBUSTÍVEIS – US$ 1,5 BI

HBio4%

Outros21%

Biodiesel29%

Outros e alcooldutos29%

Cerca da metade dos investimentos em biocombustíveis será destinada para a melhoria do escoamento da produção.

InVESTImEnToS dA PETrobrAS – PlAno dE nEGóCIoS 2008-2012

Fonte: Petrobras (2008)

Page 5: Biocombustíveis: energia do século XXI

8 Sexta-feira, 26 de janeiro de 2009 9Sexta-feira, 26 de janeiro de 2009

Não há crescimento sem consumo de energia

Não há forma de crescimento co-nhecida que não passe pelo aumen-to do consumo de

energia. Esta é a questão cen-tral do debate sobre a inclu-são de fontes alternativas na matriz energética mundial, na avaliação do secretário de Pe-tróleo, Gás Natural e Combus-tíveis Renováveis do Ministério de Minas e Energia (MME), José Lima, que participou do semi-nário representando o ministro Edison Lobão. “Continuar cres-cendo cada vez mais, melho-rando a matriz energética, é o maior desafio que enfrentamos hoje”, afirmou.

De acordo com o secretário, embora o petróleo continue

sendo a principal fonte de ener-gia no mundo nos próximos 30 anos, os biocombustíveis vão ga-nhar importância progressiva. E é neste contexto que o Brasil se destaca: 46% da energia con-sumida no País vêm de fontes renováveis, contra apenas 13% observada na média mundial e 7% nos países da OCDE (Orga-nização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico), que reúne as economias mais ricas do planeta.

Atualmente, os biocombustí-veis estão no topo das discus-sões da agenda brasileira de energia. Segundo o secretário do MME, a segurança energé-tica é fonte de preocupação até mesmo para os países produto-res e exportadores de petróleo –

seja com o preço do produto em alta, como no passado recente, ou em queda acentuada, como ocorreu no final de 2008. “O mundo estava preocupado com a alta do preço do petróleo, que chegou a US$ 140 o barril, re-presentando um risco de ruptu-ra para o crescimento mundial. Assustava até os produtores. Agora, se discute na OPEP o que fazer para que não continue a cair tanto”, comparou.

lIDERANçA EM AgROENERgIANa avaliação de Lima, 2008

foi um ano muito importante para a trajetória dos biocom-bustíveis no Brasil, principal-mente devido a dois fatores: o aumento expressivo do con-sumo de etanol, que superou

o consumo de gasolina neste período (impulsionado pelo au-mento de vendas de veículos flex fuel), e a adição obrigató-ria de 2% de biodiesel ao die-sel mineral, ampliada para 3% em julho passado. Este desem-penho por si só, acrescentou o secretário, levou o Brasil à lide-rança mundial no setor.

Lima também chamou a aten-ção para a maturidade do eta-nol brasileiro e disse que seria injusta uma eventual compa-ração com o programa de bio-

diesel, que ainda está na infân-cia. “O programa do álcool, na vertente da agricultura, contou com o desenvolvimento de pes-quisas, e hoje a produtividade é muito maior, com ganhos tam-bém no processamento. Isso trouxe competitividade para o álcool, como deve acontecer também com o biodiesel. Ainda não tivemos tempo para fazer todos os testes das possíveis ro-tas tecnológicas que levarão ao aumento da produtividade das oleaginosas”.

DEsAfIOs PARA O futuROO governo brasileiro, res-

saltou o secretário, defende a queda das barreiras tarifárias impostas pelos Estados Unidos e alguns países da Europa e re-afirmou essa posição durante um recente fórum realizado em São Paulo, do qual parti-ciparam mais de 90 países e cerca de 30 instituições. “Se o mundo precisa de energia, por que os países ricos conti-nuam impondo barreiras? Eles deveriam promover a inclusão daqueles que estão à margem, e o Brasil tem provocado essa discussão”, afirmou.

Além de ser imprescindível derrubar as barreiras tarifárias, há uma série de medidas que de-veria nortear o mercado de fon-tes alternativas de energia, se-gundo Lima. A primeira delas é transformar os biocombustíveis em commodities internacionais – tese igualmente defendida no seminário pelo secretário de Es-tado de Desenvolvimento Eco-nômico do Rio de Janeiro, Júlio Bueno. É preciso também au-mentar a base de consumidores e incentivar a entrada de outros países no processo de produção. “Os biocombustíveis já integram a realidade brasileira, mas é pre-ciso rever estas questões mun-diais para formar um mercado mais amplo, pois todos ganham com as mudanças na matriz energética”, garantiu.

Lima ainda destacou que é necessário investir mais em desenvolvimento tecnológico, especialmente no etanol de se-gunda geração. Segundo ele, as pesquisas são fundamentais para reduzir os custos de produ-ção, garantindo competitividade aos biocombustíveis brasileiros. “Não se deve medir competiti-vidade pelo preço, mas sim pelo custo de produção”, concluiu.

José Lima

➔ “Se o mundo precisa de energia, por

que os países ricos continuam impondo

barreiras? Eles deveriam promover a inclusão daqueles que

estão à margem e o Brasil tem provocado

essa discussão”

➔ “Os biocombustíveis já integram a realidade brasileira, mas é preciso rever estas questões mundiais para formar um mercado mais amplo, pois todos ganham com as mudanças na matriz energética”

MATRIZ ENERGÉTICA BRASILEIRA 2007

Lenha12%

Petróleo e derivados37,4%

Gás natural9,3%

Carvão mineral6%

Nuclear1,4%

Cana-de-açúcar15,9%

Outras biomassas3,2%

Hidroeletricidade14,9%

E

NER

GIA

RENOVÁ

VELNa matriz energética brasileira, 46% correspondem a recursos renováveis (hidroeletricidade, cana-de-açúcar, lenha e outras biomassas)

Fonte: MME (2007)

MATRIZ ENERGÉTICA MUNDIAL 2007

Petróleo ederivados35%

Gás natural20,7%

Carvão mineral25,3%

Nuclear6,3%

Biomassa10%

Outras renováveis0,5%

Hidroeletricidade2,2%

EN

ERGIA

RENOVÁVEL

Apenas 12,7% das fontes de energia na matriz energética mundial são renováveis (hidroeletricidade, biomassa e outros)

Fonte: MME (2007)

Page 6: Biocombustíveis: energia do século XXI

10 Sexta-feira, 26 de janeiro de 2009 11Sexta-feira, 26 de janeiro de 2009

É preciso diversificar as fontes energéticas e de suprimento

A segurança no suprimen-to de energia, ao lado das questões ambien-tais, deve ser o vetor da introdução dos biocom-

bustíveis na matriz energética mun-dial. A opinião do presidente da mais nova subsidiária da Petrobras – a Pe-trobras Biocombustível (PBio) – tem o peso da preocupação que hoje se abate sobre os países que ainda de-pendem da importação de combustí-veis para garantir o consumo interno. Alan Kardec Pinto começou sua pa-lestra ressaltando a vulnerabilidade dos Estados Unidos, que dependem da importação de 2/3 do petróleo que consomem – a maior parte prove-niente dos países do Oriente Médio. “É uma dependência complicada. Se houver uma ruptura no fornecimen-to, dá para imaginar o tamanho do problema”, alertou.

Para ele, a solução está na diversi-ficação das fontes energéticas, con-dição que coloca o Brasil em situa-ção privilegiada por ser o país que tem mais capacidade de produzir biocombustíveis sem competir com a produção de alimentos. “O Brasil produz petróleo e biocombustíveis de maneira sustentável. É um privi-légio ter grandes reservas de petró-leo e terra produtiva para o cultivo da cana-de-açúcar e de oleaginosas”, ressaltou.

Kardec também alertou para a importância dos investimentos cres-centes que têm sido feitos para que o Brasil não perca a corrida tecnológi-ca disputada hoje com outros países, especialmente os Estados Unidos e o Canadá, para a produção de eta-nol de segunda geração. “Os esforços do Brasil e da Petrobras, através de seu centro de pesquisa e desenvol-

vimento, Cenpes, têm sido no sen-tido de promover um investimento crescente em tecnologia, para pelo menos chegar junto com estes dois países na corrida pela produção de etanol”, afirmou. Segundo Kardec, a PBio espera que o presidente eleito dos Estados Unidos, Barack Obama, promova a sustentabilidade da ma-triz energética local e retire os sub-sídios à produção de milho, principal matéria-prima do etanol americano.

Na sua avaliação, o programa bra-sileiro de biodiesel deve ser consi-derado altamente vitorioso, pois em apenas três anos já tem produção superior à demanda (decorrente da adição compulsória de 3% de biodie-sel ao diesel mineral) e ainda gera emprego e renda no campo. A Petro-bras tem um programa de fortaleci-mento de cooperativas de agriculto-res familiares, e trabalha com uma meta de 80 mil agricultores para o fornecimento de parte da matéria-prima para as três usinas de biodie-sel já instaladas. “Produzimos muito mais do que uma energia limpa e renovável. Produzimos qualidade de vida e cidadania”, declarou.

Segundo o presidente da PBio, as energias renováveis responderão por 75% do consumo mundial em 2100. “Está para nascer o dia em que vai faltar mercado para quem produz energia”, previu.

“A cada mês, somos procurados em média por quatro delegações in-ternacionais para conhecer as con-dições tecnológicas e a nossa visão de produção e comercialização dos biocombustíveis”, informou ele, ob-servando que essa procura demons-tra o grande interesse pelo programa brasileiro. “O mundo está fervilhan-do na busca por fontes alternativas de energia e países que forneçam os combustíveis de maneira sustentá-vel”, comentou.

Alan Kardec

➔ “Em 2100, as energias renováveis

responderão por 70% do consumo mundial. Está

para nascer o dia em que vai faltar mercado

para quem produz fontes de energia”

➔ “Somos uma empresa de energia e é nossa obrigação

aproveitar a oportunidade que temos

aqui. Poucos países no mundo reúnem tantas

condições favoráveis como o Brasil”

Meta é produzir 938 mil m3 cúbicos de biodiesel em 2012

A Petrobras Biocombustí-vel (PBio) foi criada em julho de 2008 para integrar os es-forços do sistema Petrobras no setor de agroenergia. A nova subsidiária, respon-sável pelo desenvolvimento de projetos de produção e gestão de etanol e biodiesel, prevê investimentos de US$ 1,5 bilhão até 2012. A meta é liderar a produção nacio-nal de biodiesel e ampliar a participação no negócio de etanol, com foco no merca-do internacional.

A PBio tem dois objetivos fundamentais, segundo o diretor Alan Kardec Pinto. O primeiro é a produção de energia respeitando o equilíbrio ambiental, uma contribuição direta da Pe-trobras para a redução do aquecimento global. A se-gunda, de cunho estraté-gico, é atender a crescente demanda mundial por bio-diesel. “Somos uma em-presa de energia e é nossa obrigação aproveitar as oportunidades que temos aqui. Poucos países reúnem

Atualmente o sistema Petrobras possui três unidades produtoras de biodiesel, das quais duas já estão em pleno funcionamento

biocombustível. A entrega fez parte do acor-dado nos leilões promovidos pela Agência Na-cional de Petróleo, Gás Natural e Biocombus-tíveis (ANP), em que foram comercializados mais de oito mil m3 de biodiesel.

A PBio conta ainda com uma usina em Qui-xadá, no Ceará, que entregou sua primeira produção, de 73 m3 de biodiesel, também em outubro do ano passado. Uma terceira usina, localizada em Montes Claros, em Minas Ge-rais, está em fase final de montagem.

A capacidade total de produção das três usinas será de 170 mil m3 por ano. A meta é chegar em 2012 à liderança na produção nacional de biodiesel, com 938 mil m3 pro-duzidos anualmente. A matéria-prima para as usinas virá prioritariamente da agricul-tura familiar, gerando emprego e renda no campo para mais de 55 mil pessoas. O in-vestimento por parte da Petrobras é de R$ 295 milhões.

tantas condições favoráveis como o Brasil. Terra, água, sol, mão-de-obra, tecnologia, tudo o que é essencial para se ter sucesso no segmento. Sem falar na função social que va-mos desenvolver a partir da agricultura fa-miliar”, explica Kardec.

Atualmente o sistema Petrobras possui três unidades produtoras de biodiesel, das quais duas já estão em pleno funcionamento. A primeira fica em Candeias, na Bahia, e tem capacidade instalada de produção de até 57 mil m3 de biodiesel por ano. Além da enorme flexibilidade no uso de matérias-primas, a unidade apresenta diferenciais importantes, com destaque para os sistemas de instru-mentação e controle totalmente automatiza-dos, e o inovador sistema de processamento de óleos vegetais brutos.

Em outubro de 2008, a Usina de Candeias entregou o primeiro carregamento comercial de biodiesel da PBio, com cerca de 45 m3 do

No segmento de etanol, a companhia criou um modelo de negócio baseado na busca de parcerias com empresas sucroalcooleiras nacionais e investidores internacionais que possuam mercado para exportação. Recen-temente a Petrobras fechou um acordo com a japonesa Mitsui para a construção de 20 novos complexos bioenergéticos (CBios), voltados principalmente para produção de etanol para o mercado externo. Com este modelo, espera-se atingir em 2012 a produ-ção e exportação anual de 4,75 milhões de m3 de etanol.

A nova subsidiária da Petrobras assume o desafio de crescer observando sempre a sus-tentabilidade empresarial, social e ambiental. A empresa está igualmente comprometida com a obtenção do Selo Combustível Social e com as premissas do Programa Nacional de Produção e Uso de Biodiesel (PNPB), lançado pelo Governo Federal em 2005.

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Biocombustíveis não ameaçam áreas verdes nem produção de alimentos

O Brasil é o único país a apresentar clara via-bilidade econômica na produção de biocom-bustíveis sem amea-

çar áreas de proteção ambiental ou a segurança alimentar. As lavouras de cana-de-açúcar, principal maté-ria-prima do etanol, estão situadas entre 2 mil e 2,5 mil quilômetros de distância da floresta amazônica e compreendem apenas 1% do territó-rio nacional, enquanto a Amazônia, o Pantanal e outras áreas protegidas somam mais de 50% do território brasileiro. Outros tipos de lavoura utilizam apenas 7,6% das terras do País. Já as pastagens ocupam 20%.

ra em ambiente sustentável, nego-ciando, ao mesmo tempo, as quedas de barreiras de exportação”.

Em relação ao programa brasilei-ro de biodiesel, Bertone o considera o mais completo e abrangente do planeta. Além de melhorar as condi-ções de vida do trabalhador rural e respeitar o meio ambiente, aumenta o grau de independência energética do país ao buscar diversificar as ma-térias-primas. “O objetivo do minis-tério é a produção com sustentabi-lidade, no âmbito social, ambiental e econômico. Se não atender a estes requisitos e o custo de produção não for reduzido, o programa não vai pra frente”, avisou.

Oportunidade em meio à criseBertone defendeu a política bra-

sileira de agroenergia e criticou os países que impõem barreiras ta-rifárias ao etanol. “O mundo pre-cisa fazer negócios de forma mais limpa. As barreiras sempre foram combatidas pelo governo brasileiro, que defende a liberdade para oferta e demanda”.

O representante do MAPA previu

que os “fatos andam divergindo das versões”. Citando o exemplo dos norte-americanos, ponderou: “Os Estados Unidos estão com cla-ro problema de produção, e não falam mais em fome do mundo. O empresariado passou a ter mais importância que a sociedade.”

Bertone salientou também que a cana-de-açúcar continua sendo um produto extremamente rentável, embora o setor se encontre atual-mente em franca dificuldade para manter seus investimentos devi-do à crise. Segundo o secretário, a produção de biocombustíveis não só representa uma excelente opor-tunidade para obter ganhos finan-ceiros, como pode ajudar o país a garantir sua independência energé-tica, promovendo ainda a redução da emissão de CO2 na atmosfera.

O representante do MAPA obser-vou também que não cabe ao gover-no certificar as commodities agrí-colas, sendo esta tarefa exclusiva ao setor privado. Isso, no entanto, não significa que o Estado deva ab-dicar de mecanismos de controle.

a redução da área plantada e a que-da no volume de produção de eta-nol, por causa da crise econômica mundial, mas reafirmou sua crença de que a cana-de-açúcar continua-rá sendo a segunda mais importan-te fonte de energia no Brasil, atrás apenas do petróleo e à frente das hidrelétricas. “Vai ser difícil alijar o Brasil desse processo. Temos tecno-logia, marco regulatório, terra fértil e sol e água em abundância. Não podemos errar no uso de nossos re-cursos naturais”.

O secretário ressaltou que as commodities agrícolas perderam preço depois de deflagrada a crise, em setembro passado, e levaram os críticos do programa brasileiro a esquecer o problema da fome mun-dial. “O Brasil tem um claro recado a dar ao mundo: vamos produzir etanol e alimento de forma sus-tentável e com excedente”, avisou, informando que há 20 milhões de pessoas comendo melhor no país.

Na sua avaliação, a polêmica em torno dos biocombustíveis e da produção de alimentos se dá por-

Segundo o Secretário de Produção e Agroenergia do Ministério da Agri-cultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA), Manoel Vicente Bertone, não há projetos agrícolas que pos-sam ser instalados em regiões de preservação ambiental, nem o go-verno federal permitirá a constru-ção de usinas de álcool em regiões destinadas à produção de alimen-tos. “Temos uma das legislações de proteção ambiental mais rigorosas do mundo. Não existe qualquer ris-co de se levar a produção de cana para a Amazônia ou para o Panta-nal, tampouco de se utilizarem re-giões onde se cultivam alimentos. Se a cana tiver que ocupar alguma

área, poderia chegar até as regiões de pecuária, substituindo pastagens subutilizadas”, afirmou Bertone.

O etanol produzido a partir da cana-de-açúcar é, atualmente, o único biocombustível verdadeira-mente sustentável no mundo, mas a liderança neste mercado só virá com um planejamento político adequado, advertiu o Secretário de Produção e Agroenergia. Para isso, o governo re-aliza um zoneamento agro-ecológi-co responsável, investe em pesquisa e tecnologia, apóia o pequeno pro-dutor, gera emprego e desenvolve a infra-estrutura e logística no País, reduzindo o Custo Brasil. “Nosso de-safio é produzir energia e agricultu-

Manoel Vicente Bertone

➔ “Nosso desafio é produzir energia

e agricultura em ambiente sustentável,

negociando, ao mesmo tempo, as quedas

de barreiras de exportação”

➔ “O Brasil tem um claro recado a dar

ao mundo: vamos produzir etanol e

alimento de forma sustentável e com

excedente”

DISTRIBUIÇÃO DAS TERRAS NO BRASIL

Áreas verdes e/ou protegidas

Floresta AmazônicaÁreas protegidasFlorestas plantadasPastagensLavouras anuaisLavouras perenes (exceto cana)Cultivo de cana-de-açúcarOutros usosÁreas urbanasÁreas não exploradasTOTAL

Áreas produtivas

Outras

Uso Área ocupada

42,0%8,3%0,7%

20,0%6,5%1,1%0,9%4,5%2,5%

13,5%100,0%

O

Fonte: MAPA (2008)

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As áreas verdes e protegidas somam 51% do território nacional, enquanto as áreas produtivas ocupam apenas 33%.

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14 Sexta-feira, 26 de janeiro de 2009 15Sexta-feira, 26 de janeiro de 2009

FAO: produção brasileira não provoca alta no preço dos alimentos

A produção de etanol deri-vado da cana-de-açúcar no Brasil não teve qual-quer influência sobre o brusco aumento que se

registrou nos preços dos alimentos a partir de 2007. Quem assegura é o secretário do Grupo Intergoverna-mental sobre Grãos da Organização das Nações Unidas para Agricultu-ra e Alimentação (FAO), Abdolreza Abbassian, um dos palestrantes do evento. “Acabou a era da comida barata, à qual estávamos tão acos-tumados. Trabalho neste setor há 18 anos e nunca vi tantos problemas em países exportadores”, comentou o secretário.

Segundo Abbassian, o uso pro-gressivo do milho para a produção de etanol nos Estados Unidos é ape-nas um dos vários fatores respon-sáveis pelo impacto no preço dos alimentos. “Se a produção norte-americana de etanol fosse inter-rompida, certamente haveria uma queda no preço do milho. Mas, no caso do Brasil, o etanol da cana-de-açúcar não compete com a produ-ção de alimentos”, explicou.

Estudos elaborados pela FAO demonstram que, nos últimos 30 anos, o valor da cesta básica global caiu pela metade, registrando uma queda anual média de 2 a 3%. A co-mida jamais havia sido tão barata, até começarem os problemas nos países produtores de grãos. Entre 2006 e 2007, os preços dos alimen-tos subiram drasticamente. Mu-danças climáticas prejudicaram as colheitas em muitas regiões do mundo. O medo da falta de comida disponível para o consumo interno reduziu as exportações. Enquanto a oferta de cereais diminuía, a de-manda não parava de crescer. “Mas não foi só isso. Houve uma conjun-ção de fatores e nenhum deles está

relacionado diretamente ao uso mais amplo dos biocombustíveis”, afirmou Abbassian.

O representante da FAO explicou que a súbita elevação dos preços dos alimentos foi seguida de uma queda igualmente vertiginosa em 2008. As condições climáticas favoreceram a produção de cereais dos principais exportadores. Em algumas regiões desenvolvidas, como União Euro-péia, Austrália e Canadá, houve au-mentos superiores a 11% no ano. A eliminação de restrições às expor-tações em alguns países também aumentou a oferta. A recente crise econômica mundial só agravou este quadro, com a queda do preço do

petróleo, o fortalecimento do dólar e a contração da demanda por gê-neros agrícolas.

Abbassian explicou também que a volatilidade nos preços dos ali-mentos é extremamente perigosa para a economia mundial, pois to-dos os setores produtivos estão in-terligados, transformando a crise num fenômeno cíclico, em cadeia. “Se os preços continuarem baixos e as colheitas nas safras seguintes forem afetadas, verificaremos um aumento ainda mais forte nos pre-ços dos alimentos em 2009 e 2010, desencadeando crises ainda mais severas do que a atual“, frisou o especialista, observando ainda que

Abdolreza Abbassian

➔ “Se a produção norte-americana de

biocombustível de milho fosse interrompida, certamente haveria

uma queda no preço do milho. Mas, no caso do

Brasil, o etanol da cana-de-açúcar não compete

com a produção de alimentos”

Brasil é exemplo positivo de desenvolvimento sustentável

O Brasil tem sido poupado das críticas da Organização das Nações Uni-das para a Agricultura e a Alimentação (FAO) quanto aos riscos que a pro-dução de biocombustíveis pode representar para a segurança alimentar. Ao contrário, o País é apontado por diversos dirigentes da entidade como exemplo positivo de desenvolvimento sustentável, já que o etanol de cana-de-açúcar, além de reduzir as emissões de CO2 na atmosfera, não afeta o preço da matéria-prima nem de outros gêneros agrícolas.

Ao longo de 2008, a FAO expressou diversas vezes sua preocupação em relação à escassez de alimentos nos países pobres pela destinação de cul-tivos agrícolas para a produção de biocombustíveis. Os relatórios da insti-tuição enfatizaram a necessidade de todos os países produtores de agro-energia cuidarem também da segurança alimentar, a fim de não agravar problemas sociais já conhecidos.

Entre os riscos que podem surgir com o aumento dos biocombustíveis es-tão os conflitos pelo uso de terras, mais agudos em países com menos áreas agricultáveis destinadas à produção de alimentos, como a China ou a Índia.

De acordo com o relatório anual A situação da agricultura e da alimenta-ção, divulgado pela FAO em outubro de 2008, a competição entre cultivos agrícolas para alimentação ou para energia deve se acirrar, uma vez que a produção de biocombustíveis triplicou entre 2000 e 2007 e já responde por quase 2% do consumo mundial de combustíveis para o transporte. En-quanto o etanol americano, de milho, contribui para a carência alimentar, o etanol de cana brasileiro é apontado como um correspondente competi-tivo de combustíveis fósseis, daí sua crescente aceitação.

Segundo o documento, os biocombustíveis apresentam riscos e oportu-nidades, mas as políticas têm que ser bem gerenciadas para que os benefí-cios sejam mais relevantes. Até agora, no parecer da FAO, a agroenergia já provocou pressões sobre o preço dos alimentos e não necessariamente con-tribuiu para a redução da emissão de gases causadores do efeito estufa.

A instituição indaga se o desmatamento para expansão de lavouras de matérias-primas para biocombustíveis teria efeito negativo sobre a qua-lidade do ar. O principal temor, no entanto, está em que os incentivos ao plantio de milho e de sementes oleaginosas para a indústria de biocom-bustíveis venham a incidir ainda mais sobre os preços de alimentos e reduzam progressivamente as plantações voltadas para a alimentação.

A previsão da FAO é que a demanda por suprimentos agrícolas para biocombustíveis continue crescendo na próxima década. Os altos preços das commodities agrícolas já causaram impacto negativo em países em de-senvolvimento que são muito dependentes das importações para suprir suas necessidades alimentares.

Na ocasião, o diretor-geral da entidade, Jacques Diouf, afirmou que os biocombustíveis gerados a partir de sementes de cereais têm contribuí-do para o aumento da fome no mundo. Nos últimos anos, o número dos que passam fome no planeta aumentou de 848 milhões para 923 milhões de pessoas. Para impedir o agravamento da situação, Diouf pediu que as políticas para biocombustíveis sejam revistas, exceto no caso do Brasil, considerado um modelo no setor.

O diretor da FAO disse ainda que o investimento em pesquisa e de-senvolvimento da próxima geração de biocombustíveis – com madeira, gramíneas ou resíduos de lavouras – “tem mais potencial em termos de redução de emissões de gases de efeito estufa, com menos pressão na base de recursos naturais”.

➔ Nos últimos 30 anos, o valor da cesta básica global caiu pela metade. A comida jamais havia sido tão barata, até começarem os problemas nos países produtores de grãos

apesar das altas e baixas, em ter-mos nominais, os preços das com-modities agrícolas atingiram um recorde histórico e continuarão re-lativamente elevados no futuro.

Em raciocínio oposto ao dos crí-ticos que alertam para riscos de aumento no preço de produtos ali-mentícios por causa dos biocom-bustíveis, o representante da FAO argumentou: “O aumento do preço de energia pressiona para cima os custos de insumos agrícolas, mas uma oferta maior de energia, inclu-sive por meio de fontes alternativas, poderia reduzir o preço desses insu-mos e, consequentemente, provoca-ria queda no valor dos grãos.”

A VOLATILIDADE DOS PREÇOS DOS CEREAIS

POR QUE SUBIRAM(2006-2007):EXCESSO DE DEMANDA

POR QUE DESCERAM(2008-2009):EXCESSO DE OFERTA

Fonte: FAO/ONU (2008)

Queda significativa na produção dos maiores exportadores, a maioria devido ao clima.

Esgotamento dos estoques internos e redução das exportações nos países produtores.

Aumento progressivo da produção de etanol de milho nos EUA, o maior exportador do cereal.

Mudanças no comércio externo, tais como medidas restritivas à exportação.

Aumento das importações de milho e sorgo pela União Européia

Outros fatores: desvalorização do dólar e aumento do preço do petróleo, dos insumos e dos custos de transporte.

Recuperação da produção dos maiores exportadores, devido ao clima favorável e ao aumento da área de cultivo.

Crescimento dos estoques internos e volumes disponíveis para exportação nos países produtores.

Comercialização de grandes volumes em função de uma perspectiva de preços menores.

Abolição de medidas restitivas à exportação em vários países.

Crise financeira mundial: retração da demanda, valorização do dólar e queda do preço do petróleo, dos insumos e dos custos de transporte.

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Page 9: Biocombustíveis: energia do século XXI

16 Sexta-feira, 26 de janeiro de 2009 17Sexta-feira, 26 de janeiro de 2009

Amazônia é peça central no debate sobre o clima

O Brasil é um dos países que mais contribuem para o aquecimento glo-bal, lançando por ano na atmosfera o equiva-

lente a 1 bilhão de toneladas de dió-xido de carbono (CO2), 13 milhões de toneladas de metano (CH4) e 550 mil toneladas de óxido nitroso (N2O). Os números foram divulgados pelo pri-meiro inventário nacional de emissão de gases de efeito estufa, publicado em 2004 pelo Ministério da Ciência e Tecnologia (MCT).

Embora seja responsável por 6% dos gases do efeito estufa, o Brasil está isento de cumprir metas com-pulsórias de redução estipuladas pelo Protocolo de Kyoto, por ser uma região em desenvolvimento. A partir de 2012, no entanto, o País, ao lado de outros emergentes como a Índia e a China, terá de intensificar seu com-promisso de reduzir as emissões.

A Amazônia é peça central nesse debate, já que aproximadamente 75% das emissões de CO2 do Brasil são ori-ginadas pelo desmatamento, trans-formando áreas de floresta e cerrado em pastos e plantações. Qualquer re-dução das emissões brasileiras passa obrigatoriamente, portanto, por uma redução dessa atividade.

O petróleo queimado nos Esta-dos Unidos e o carvão incinerado na China ainda são os maiores respon-sáveis pelo agravamento do efeito estufa, mas a devastação das flores-tas não fica muito atrás, responden-do por quase um quinto de todas as emissões de dióxido de carbono do mundo.

Em dezembro de 2007, teve início uma nova rodada de negociações in-ternacionais para conter a emissão de gases causadores do efeito estufa. No encontro, realizado em Bali, na In-donésia, o governo brasileiro propôs a criação de um fundo mundial para ajudar a proteger a floresta amazôni-ca. Desta forma, o Brasil busca arre-cadar R$ 1 bilhão em contribuições voluntárias, mas até agora somente a

Noruega deu sinais de que está dis-posta a participar.

Um dos pontos defendidos forte-mente pelo governo brasileiro nas novas rodadas de negociação é que os países emergentes não podem simplesmente abrir mão do progres-so. “A equação é como estabelecer um processo capaz de fazer o país reduzir suas emissões sem que isso signifique impedi-lo de ter acesso ao atendimento de infra-estrutura e energia para seu desenvolvimento econômico e social”, disse à revista Exame a ex-ministra do Meio Am-biente, Marina Silva.

Os demais países acreditam que a solução mais razoável é criar um sis-tema de créditos que remunere quem ajudar a evitar o desmatamento no Brasil. Apesar de ainda não haver uma sinalização clara de quem vai pagar a conta, os avanços são notá-veis: o índice anual de devastação das áreas de floresta caiu mais de 50% e

o governo brasileiro passou a estabe-lecer limites precisos e rígidos para o desmatamento.

Do ponto de vista financeiro, as oportunidades do mercado de crédi-tos de carbono, que tem no Brasil um dos países mais ativos, devem ficar muito mais atraentes a partir de 2009. No primeiro trimestre, entra em ope-ração a Green Exchange, uma nova bolsa mundial para a negociação da moeda verde. Pertencente à New York Mercantile Exchange, maior mercado mundial de opções e futuros, a em-preitada conta também com o apoio de grandes nomes do setor financeiro mundial, como Morgan Stanley, Cre-dit Suisse, JPMorgan e Merrill Lynch. De acordo com especialistas, a Green Exchange tem o potencial de movi-mentação imediata de mais de US$ 60 bilhões no mercado de créditos de carbono. Como se vê, o verde – das florestas e do dinheiro – continuará a ser cor da moda por algum tempo.

A agenda brasileira de desenvolvi-mento econômico deve andar junto com a área ambiental. O recado foi dado pela secretária Executiva do Ministério de Meio Ambiente (MMA), Izabella Teixeira, que representou o ministro Carlos Minc no seminário. Izabella explicou que as licenças se-rão concedidas, mas condicionadas a exigências para que as empresas pa-guem a compensação ambiental pe-los seus empreendimentos.

Na área de biocombustíveis, espe-cialmente no mercado de etanol, a atuação do MMA não será diferente. “A ordem é incentivar a instalação de usinas de álcool ao longo do alcool-duto que a Petrobras está construin-do no estado de São Paulo”, disse ela, acrescentando que o licenciamento para esses projetos não pode ignorar o sistema de escoamento do produto.

A secretária informou que o MMA também está empenhado em elimi-nar as queimadas nas plantações de cana-de-açúcar, que geram poluição ambiental e desperdício de energia.

MMA: Brasil quer aumentar uso do etanol na matriz energética

Clima seco provoca varios focos de incêndio no Rio - Reserva de Guaratiba na av das Americas sendo consumida pelo fogo

Durante a Sessão Intergoverna-mental I – Biocombustíveis e Mu-danças Climáticas, realizada em São Paulo, em novembro de 2008, o ministro do Meio Ambiente, Car-los Minc, anunciou o compromis-so do Brasil em aumentar o uso do etanol na matriz energética na-cional em 11% ao ano. A medida evitará a emissão de 508 milhões de toneladas de CO2 na atmosfera, em dez anos.

Os planos do governo brasileiro, segundo Minc, incluem a transfe-rência de tecnologia de produção de biocombustíveis para nações pobres da América Latina, Caribe, África e Ásia. No plano domésti-

Área ambiental deve seguir agenda de desenvolvimento

A redução deve ser gradual e passa pela mecanização das lavouras de cana. Izabella destacou ainda que no Rio de Janeiro e em São Paulo, prin-cipalmente, há legislações estaduais que tratam da eliminação das quei-madas e que devem servir de mode-los a serem seguidos pelos demais estados brasileiros. No caso do Rio, a erradicação da atividade ainda deve demorar 12 anos, segundo o Termo de Ajustamento de Conduta (TAC) as-sinado em dezembro do ano passado entre o governo estadual e os usinei-ros do Norte Fluminense.

De acordo com a secretária estadu-al do Ambiente, Marilene Ramos, que também participou do seminário, as usinas precisam de tempo para que as queimadas possam ser total-mente eliminadas, pois é necessário adequar as plantações e investir na mecanização da lavoura. No painel – em que também foram discutidas barreiras não-tarifárias aos biocom-bustíveis, impostas por alguns países – Marilene disse que os compradores

que fazem exigências ambientais e trabalhistas dos produtores têm de estar dispostos a pagar mais pelos produtos. “Está certo não querer com-prar biocombustível de quem devasta a natureza e não respeita os direitos trabalhistas. Mas esses compradores têm de concordar em pagar mais por isto”, concluiu.

➔ O petróleo queimado nos Estados

Unidos e o carvão incinerado na China

ainda são os maiores responsáveis pelo agravamento do

efeito estufa, mas a devastação das florestas

não fica muito atrás

Marilene Ramos

➔ “Está certo não querer comprar biocombustível de quem devasta a natureza e não respeita os direitos trabalhistas. Mas estes compradores têm de concordar em pagar mais por isso”

Carlos Minc

➔ “O Brasil se compromete a aumentar em 11% ao ano o uso do etanol na matriz energética brasileira, o que representará a não-emissão de 508 milhões de toneladas de CO² em dez anos”

co, se buscará reduzir os custos da cadeia produtiva, utilizando subprodutos, como a palha da cana-de-açúcar, para geração de combustível, e o vinhoto, na com-posição de biogás e biofertilizan-tes.

O ministro também ressaltou a relevância do papel do consumidor nesta luta. De acordo com Minc, é preciso ter consciência ambiental até mesmo em atos considerados de menor valor, como a regula-gem do motor do veículo. Estudos comprovam que um motor des-regulado consome 50% a mais de combustível, acelerando o aqueci-mento global.

sendo providenciada

foto de desmatamento na amazônia

Page 10: Biocombustíveis: energia do século XXI

18 Sexta-feira, 26 de janeiro de 2009 19Sexta-feira, 26 de janeiro de 2009

100%

Fonte: MAPA (2008)

PRODUÇÃO NACIONAL DAS PRINCIPAIS MATÉRIAS-PRIMAS DO ETANOL E DO BIODIESEL

ZONEAMENTO AGRO-ECOLÓGICO E ENERGÉTICONORTECana-de-açúcarSojaGirassolCaroço de algodãoAmendoimMamona

Volume (Ton.)1.101.4001.256.100

02.200

00

Part. na Prod. Nac.0,3%2,2%

0%0,1%

0%0%

NORDESTECana-de-açúcarSojaGirassolCaroço de algodãoAmendoimMamona

Volume (Ton.)52.149.300

3.826.2000

659.40013.100

144.400

Part. na Prod. Nac.12,3%

6,8%0%

30,3%5,4%

94,8%

CENTRO-OESTECana-de-açúcarSojaGirassolCaroço de algodãoAmendoimMamona

Volume (Ton.)40.954.64926.457.900

86.1001.385.700

32.8000

Part. na Prod. Nac.9,6%

47,0%71,8%63,7%13,5%

0%

SUDESTECana-de-açúcarSojaGirassolCaroço de algodãoAmendoimMamona

Volume (Ton.)299.243.912

3.908.6003.300

108.400178.900

6.900

Part. na Prod. Nac.70,3%

6,9%2,8%5,0%

73,8%4,5%

SULCana-de-açúcarSojaGirassolCaroço de algodãoAmendoimMamona

Volume (Ton.)32.086.50020.867.500

30.60019.80017.600

1.000

Part. na Prod. Nac.7,5%

37,1%25,5%

0,9%7,3%0,7%

BRASILCana-de-açúcarSojaGirassolCaroço de algodãoAmendoimMamona

Volume (Ton.)425.535.761

56.316.300120.000

2.175.500242.400152.300

RELAÇÃO DAS UNIDADES SUCROALCOOLEIRAS CADASTRADAS NO DEPARTAMENTO DE CANA-DE-AÇÚCAR E AGROENERGIA DO MAPA - 2008Região

NorteNordesteCentro-OesteSudesteSulBRASIL

AçúcarUnds.

08160

15

%0

53,36,7

40,00

100,0Fonte: MAPA (2008)

ÁlcoolUnds.

224288713

154

%1,3

15,618,256,5

8,4100,0

MistaUnds.

34325

15621

248

%1,2

17,310,162,9

8,5100,0

TotalUnds.

57554

24934

417

%1,2

18,012,959,7

8,2100,0

2.500 km

F l o r e s t a A m a z ô n i c a

2.000 km

BALANÇO DE EMISSÕES DO CICLO DO ETANOL

–1. Cultivo e colheitaEmissão de 2.961 kg de CO2 pelos tratores, colheitadeiras, insumos agrícolas e colheita manual (queima da palha da cana).

3. ProcessamentoEmissão de 3.604 kg de CO2 na fermentação e queima do bagaço.

4. Co-geração225 kg de CO2 deixam de ser emitidos com a geração de energia a partir do bagaço da cana.

6. CombustãoEmissão de 1.520 kg de CO2 pelos veículos com motores flex fuel ou a álcool.

SALDO FINALApenas 260 kg de CO2 lançados na atmosfera (contra 2.280 kg emitidos pelo ciclo completo da gasolina).

Fonte: Unica (2007)

RS

SC

PRSP

MG

RJ

ES

BA

GO

DF

MS

MT

ROAC

AM PA

TO

PI

MACE RN

PB

PEAL

SE

PLANTAS AUTORIZADAS PELA ANP PARA A PRODUÇÃO DE BIODIESEL

Fonte: MAPA (2008)

Região

Norte

Nordeste

Centro-Oeste

Sudeste

Sul

Biodiesel

Unidades

6

8

27

14

7

BRASIL: 62 unidades9,7%

12,9%

22,6%

11,3%

43,5%

BRASIL: 22.557 volume

70%

Fonte: MME (2008)

Região

Norte

Nordeste

Centro-Oeste

Sudeste

Sul

Brasil

Biodiesel

Volume

27

143

125

36

43

374

BRASIL: 374 volume7,2%

(em mil m3)

38,2%

9,6%

11,5%

33,4%

2. CrescimentoAbsorção de 7.650 kg de CO2 no processo de fotossíntese.

5. TransporteEmissão de 50 kg de CO2 pelos caminhões- tanque movidos a diesel mineral.

Fonte: Mapa/Unica (2007)

A produção brasileira de etanol não ameaça áreas protegidas como o Pantanal e a Amazônia. As principais regiões produtoras de cana-de-açúcar, nas regiões Norte-Nordeste e Centro-Sul, estão situadas a 2 mil e 2,5 mil km da floresta amazônica, respectivamente.

PRODUÇÃO NACIONAL DE ETANOL E BIODIESEL EM 2007

Região

Norte

Nordeste

Centro-Oeste

Sudeste

Sul

Brasil

Etanol

Volume

48

1.902

2.902

15.782

1.923

22.257

0,2%

(em mil m3)

8,4%

8,5%

12,9%

100%Fonte: MME (2008)

O ciclo completo do etanol de cana-de-açúcar emite 89% menos CO2 que o da gasolina. A seguir, as quantidades de gás carbônico emitidas, reabsorvidas e evitadas para cada m3 de etanol produzidos e consumidos.

+ – + + =

precisamos de mais

esclarecimentos para fazer

as alterações sugeridas para esta parte do

info

Page 11: Biocombustíveis: energia do século XXI

20 Sexta-feira, 26 de janeiro de 2009 21Sexta-feira, 26 de janeiro de 2009

Embrapa põe o Brasil na ponta do negócio de agroenergia

Primeiro relato escrito sobre as terras brasileiras, a car-ta que o escrivão Pero Vaz de Caminha enviou ao Rei de Portugal mencionava as

áreas aparentemente férteis e clima propício ao plantio, no território que os descobridores portugueses ima-ginavam ser uma ilha, pronta para ocupação. Cinco séculos mais tarde, apesar das mudanças climáticas no planeta e das agressões à natureza, o agronegócio brasileiro comprova o que Caminha previa. A produção agrícola é responsável por 30% do PIB nacional, 40% das exportações e 37% dos empregos gerados no País.

Há mais de 30 anos, o setor desco-briu sua importância na geração de energias renováveis com o Proálco-ol, e atualmente experimenta – sem comprometer a produção de alimen-tos – um novo momento de expansão com a produção dos biocombustíveis.

Menos conhecido que o Proálcool, porém de importância similar, o uso energético de óleos vegetais no Brasil foi proposto em 1980, no Programa Nacional de Produção de Óleos Vege-tais para Fins Energéticos (Pró-Óleo). Na época, previa-se uma mistura de 30% de óleo vegetal ao óleo diesel, com perspectivas de sua substituição integral a longo prazo.

Três décadas mais tarde, embora ainda não tenha surgido um substitu-to comercialmente viável para o die-sel mineral, os resultados obtidos com uma variedade de cultivos alternati-vos têm chamado a atenção de diver-sas instituições de incentivo à pesqui-sa, como a Embrapa Agroenergia.

A entidade, criada em 2006, coor-dena pesquisas de abrangência na-cional, voltadas principalmente para a descoberta de novas fontes ener-géticas e aperfeiçoamento dos pro-cessos de produção e escoamento de

biocombustíveis. Embora o setor seja dominado pela cana-de-açúcar e pela soja, um dos objetivos da Embrapa é incentivar pesquisas que aproveitem cultivos alternativos, como o dendê, o coco, o girassol, a mamona e o pinhão, beneficiando os pequenos produtores.

“O Brasil é ponta no negócio de agroenergia e líder em tecnologia agrícola nos trópicos. Estamos à frente do mundo inteiro na produção de etanol de cana-de-açúcar, assim como nas pesquisas de bioetanol, e não corremos risco de desabasteci-mento alimentar algum, pois o Brasil é um dos poucos países do mundo a ter produção excedente de alimentos”, afirma o chefe-adjunto da Embrapa Agroenergia, Esdras Sundfeld.

tERRItóRIO cONtINENtAlMaior país tropical do mundo, o

Brasil apresenta importantes vanta-gens competitivas em relação a ou-tros produtores de biocombustíveis. O território continental oferece a pos-sibilidade de incorporação de novas áreas destinadas à agroenergia, que não competem com o plantio de ali-mentos. Segundo dados do Plano Na-cional de Agroenergia 2006-2011, do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA), a fronteira agrícola soma cerca de 200 milhões de hectares. O Plano também aponta que um dos benefícios gerados pela cultu-ra voltada para os biocombustíveis é a geração de dez a vinte vezes mais em-pregos do que na alternativa fóssil.

Outra vantagem competitiva bra-sileira, segundo o MAPA, viria da possibilidade de múltiplos cultivos ao longo do ano, com grandes e pe-quenas safras de diferentes produtos concomitantemente, algo que já vem sendo adotado na produção nacional de grãos. A diversidade climática é outro fator que favorece o plantio de diferentes espécies para a produção

de biocombustíveis, reduzindo o ris-co de desabastecimento por perdas de colheita. O clima europeu, por ou-tro lado, só é propício para o cultivo de colza e de beterraba, enquanto os Estados Unidos focam em culturas de soja e de milho.

Estima-se que até 2020, serão in-

vestidos US$ 15 bilhões na pesquisa e produção de biocombustíveis em todo o mundo. Além da expectativa do aumento do consumo de etanol pelo mercado externo, as projeções são de que, até 2013, o Brasil tenha uma de-manda de, pelo menos, 2 milhões de m3 de biodiesel por ano.

OtIMIzAçãO DE PROcEssOsOs projetos coordenados pela Embra-

pa abordam todos os aspectos do negócio. Além de minimizar o impacto ambien-tal, há preocupação com a otimização de todos os processos, recomendando-se, inclusive, que o óleo produzido seja apro-veitado regionalmente, o que elimina os custos de logística e de distribuição, por exemplo. “Uma característica da empre-sa é que sempre se procurou fechar todos os ciclos de produção. Vamos do plantio ao processamento industrial. O desafio é aproveitar ao máximo as potencialida-des regionais e obter o maior benefício social na produção do biocombustível”, diz Sundfeld.

Na corrida mundial pelo aprimora-mento dos biocombustíveis, a Embra-pa tem procurado aplicar tecnologia tanto às culturas tradicionais quanto às novas, como pinhão-manso, nabo-forrageiro, pequi e buriti, entre outras. Pesquisar o aproveitamento de resídu-os também é considerado prioritário. “Já se pode produzir etanol das sobras de madeira utilizada para móveis, que no Brasil vêm de florestas cultivadas. Além disso, tudo o que gera resíduo pode ser aproveitado, como o bagaço da cana, o algodão, o pinhão e a tor-ta da soja. A idéia é aproveitar como energético todo o subproduto, incluin-do até materiais poluentes, entre eles dejetos animais”, informa.

A Embrapa, assim como instituições congêneres nos EUA e no Canadá, tam-bém tem priorizado pesquisas em ál-cool combustível de segunda geração, incluindo o etanol de lignocelulose, feito a partir de lascas de madeira, fo-lhas e resíduos de cana-de-açúcar, en-tre outros subprodutos orgânicos. Em agosto de 2008, associações de produ-tores de álcool no Brasil anunciaram seu interesse em financiar estudos co-ordenados pela Embrapa sobre etanol celulósico, apontado como o principal biocombustível do futuro.

“Contudo a terra em si é de muito bons ares

frescos e temperados (...).Águas são muitas;

infinitas. Em tal maneira é graciosa que,

querendo-a aproveitar, dar-se-á nela tudo; por

causa das águas que tem!”

Carta de Pero Vaz de

Caminha ao Rei D. Manoel,de

Portugal, maio de 1500.

➔ O território continental oferece a possibilidade de incorporação de novas áreas à agricultura de energia que não competem com o plantio de alimentos e que somariam cerca de 200 milhões de hectares

➔ A diversidade climática, que também reduz o risco de desabastecimento por perdas de colheita, é outro fator favorável ao plantio de diferentes espécies para a produção de biocombustíveis

Esdras Sundfeld

➔ “O desafio é aproveitar ao máximo

as potencialidades regionais e obter o maior benefício

social na produção do biocombustível”

PRODUÇÃO DE CANA-DE-AÇÚCAR(Em milhões de toneladas)

200820072006200520042003200220012000199919981997

ÁREA DE CULTIVO DA CANA-DE-AÇÚCAR

Fonte: MAPA (2008)

(Em milhões de hectares)

200820072006200520042003200220012000199919981997

331,6

4,9 4,8 4,8 4,8 4,95,1

5,45,6

5,86,1

6,7

7,6

345,2333,8 326,1

344,3364,4

396415,2 422

457,2

515,3

589,5

ÁREA DE CULTIVO DA CANA-DE-AÇÚCAREm milhões de hectares)

4,9 4,8 4,8 4,8 4,95,1

5,45,6

5,86,1

6,7

alterações sendo feitas

GRÁFICO DE USO DE DEFENSIVOS AGRÍCOLASDefensivos agrícolas nas principais culturas brasileiras(em kg de ingrediente ativo por hectare)

Fungicida

Inseticida

Acaricida

Outros

Produto Café

0,66

0,26

0,07

0,14

Cana

0,00

0,12

0,00

0,04

Laranja

3,56

0,72

10,78

1,97

Milho

0,01

0,18

0,00

0,09

Soja

0,16

0,46

0,01

0,51

SojaMilhoLaranjaCanaCafé

Fonte: IEA (2008)

Page 12: Biocombustíveis: energia do século XXI

22 Sexta-feira, 26 de janeiro de 2009 23Sexta-feira, 26 de janeiro de 2009

Biocombustíveis de segunda geração: o futuro da energia

Resíduos agroindustriais, lixo doméstico, serragem e gordura animal podem ser algumas das muitas fontes de energia do fu-

turo. Cientistas do mundo inteiro se empenham na busca de novas maté-rias-primas para a produção de bio-combustíveis em escala industrial, que minimizem o impacto ambien-tal, reduzindo as emissões de dióxido de carbono na atmosfera. No Brasil, a Petrobras tem liderados esses estu-dos, com apoio de diversas universi-dades e centros de pesquisa.

O País, referência internacional em etanol, tem sido alvo do interes-se de diversas empresas estrangeiras que pretendem investir em biocom-bustíveis. Uma delas é a dinamar-

quesa Novozymes, maior produtora mundial de enzimas industriais. A companhia assinou recentemente convênio com o Centro de Tecnologia Canavieira (CTC), em São Paulo, para selecionar a enzima mais adequada para a hidrólise do bagaço da cana-de-açúcar, processo que permite pro-duzir mais etanol sem necessidade de ocupar novas áreas agrícolas.

Em 2010, a Votorantim e a Usi-na Santa Elisa, em Sertãozinho (SP), passarão a utilizar tecnologia de-senvolvida pela empresa americana Amyris, que aproveita o mesmo caldo da cana, utilizado como matéria-pri-ma de açúcar e álcool, para produzir diesel. A meta é atingir 400 mil m3 no primeiro ano de parceria e 1 milhão de m3 em 2012.

PROgREssO MOvIDO A álcOOlOs estudos sobre biodiesel remon-

tam à década de 1930, mas ainda há muito caminho a percorrer. Embora os custos de produção de biodiesel de soja no Brasil continuem relativamente ele-vados, estudos e testes com diferentes oleaginosas, igualmente abundantes na flora brasileira, têm se mostrado promissores. De acordo a Petrobras Biocombustível, subsidiária da estatal voltada para agroenergia, os biocom-bustíveis de segunda geração devem entrar em produção comercial até 2015. A estratégia é continuar investindo em tecnologia, buscando reduzir a depen-dência da soja como principal matéria-prima de biodiesel e construindo par-cerias empresariais para o escoamento da produção de etanol.

Embora o álcool tenha sido o centro das atenções do programa brasileiro de biocombustíveis, o biodiesel é a verda-deira chave para o desenvolvimento nacional, acredita o cientista Expedito Parente, inventor do processo de fabri-cação do diesel vegetal. “Enquanto o etanol é um combustível elitista, volta-do apenas para os carros de passeio e veículos leves, o biodiesel é democrático, destinado ao transporte de massas. Daí a importância de haver diversidade nas fontes, barateando custos e, em algum momento, transformar o biocombustí-vel em indutor da produção de alimen-tos”, diz o pesquisador, que atualmente preside a Tecbio, empresa especializada em tecnologia do setor. “Vai chegar o dia em que o biocombustível será sub-produto do cultivo de alimentos”, prevê.

Parente também realiza pesqui-sas pioneiras com bioquerosene para aviação, criado por sua equipe ainda na década de 1970. O primeiro teste foi em 1984, numa aeronave da Em-braer, que voou de São José dos Cam-pos (SP) até Brasília.

De acordo com o especialista, o bioquerosene será liberado para o uso comercial em cinco anos, aproxi-madamente. Antes disso precisa ser testado exaustivamente, homologado e passar por normatizações técnicas de forma a atender as exigências das montadoras de aeronaves, fabricantes de turbinas e agências reguladoras. Alternativas energéticas são mais do que bem-vindas no setor, já que os combustíveis representam atualmen-te os maiores custos operacionais das companhias aéreas comerciais.

“Chegamos à segunda onda da era dos biocombustíveis. A primeira foi o etanol, que, em seu lançamento, há mais de 20 anos, em 1973, teve como meta estabelecida uma produção de 2 milhões de m3 de álcool por ano. Hoje, passamos de 22 milhões, ou seja, onze vezes a meta inicial. O álcool é a loco-motiva que está orientando as ondas seguintes”, afirma Parente.

Além de testes com bioquerose-ne, Parente acompanha o processo de instalação de pequenas unidades produtoras de biodiesel na Amazônia. “É uma experiência voltada para pe-quenas comunidades, que deixarão de desmatar para obter energia renová-vel. Daqui a cinco anos, este projeto atrairá a mesma atenção que o bio-querosene atrai hoje. Tecnologia nova precisa de um tempo hábil para ser testada e aprovada”, diz o cientista.

Cenpes lidera pesquisas em bioetanol e biodiesel

Há um ano, o Centro de Pesquisas e Desenvolvi-mento Leopoldo Américo Miguez de Mello (Cenpes), da Petrobras, produz experimentalmente o etanol de lignocelulose. Conhecido também como bioetanol, o combustível é gerado a partir de resíduos agroindus-triais, como o bagaço de cana-de-açúcar ou de ma-mona, através da ação de enzimas. Os testes, realiza-dos em conjunto com a Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), foram promissores, demonstrando rendimento atual equivalente a 220 litros de etanol por tonelada de matéria-prima.

Os resultados servirão de base para a implantação de uma unidade de demonstração em maior escala, a partir de 2010, com capacidade de processamento de dez toneladas de bagaço e produção de 2,8 m3 de etanol por dia. O projeto será implantado com o apoio da UFRJ, além de contar com a parceria da Universi-dade de Brasília (UnB) e da Universidade Federal do Amazonas (Ufam).

O Cenpes também realiza pesquisas envolvendo processos de gaseificação de biomassa e produção de biodiesel a partir de algas. Originalmente, a tec-nologia de gaseificação consistia em converter o gás natural em gás de síntese, um produto orgânico in-

termediário do qual se obtinha o combustível sinté-tico. Hoje se sabe que o gás de síntese também pode ser gerado usando a biomassa, levando à produção de diesel e outros combustíveis e lubrificantes de exce-lente qualidade e de origem renovável.

As pesquisas sobre o desenvolvimento de biodiesel a partir de microalgas foram iniciadas em feverei-ro de 2006, no Rio Grande do Norte. Os estudos são conduzidos pelo Cenpes em parceria com a Fundação Universidade do Rio Grande (Furg) e a Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). Durante o proje-to, os pesquisadores identificaram 40 espécies nati-vas de microalgas que poderiam ser utilizadas como matéria-prima de biocombustível.

O Rio Grande do Norte também conta com usinas-piloto em Guamaré, onde a Petrobras conduz testes com outros tipos de oleaginosas para a produção de biodiesel. A meta é encontrar um substituto compe-titivo para a soja. As duas unidades já produziram mais de 50 m3 de biodiesel provenientes de óleo de mamona ou de misturas de mamona com soja. O bio-combustível tem sido testado em seis veículos, dentro de um convênio do Cenpes com empresas do setor au-tomotivo como Ford, Siemens e Michelin.

Expedito Parente

➔ “Enquanto o etanol é um combustível

elitista, voltado apenas para os carros de passeio e veículos leves, o biodiesel é

democrático, destinado ao transporte de

massas. Daí a importância de haver

diversidade nas fontes, barateando custos”

O Cenpes, da Petrobras, também realiza pesquisas envolvendo processos de gaseificação de biomassa e produção de biodiesel a partir de algas

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24 Sexta-feira, 26 de janeiro de 2009 25Sexta-feira, 26 de janeiro de 2009

Setor sucroalcoleiro é movido pela força empresarial

O modelo de produção do etanol no Brasil al-çou a iniciativa privada ao primeiro plano no mercado de energia do

país. Em contraste com a indústria do petróleo, o setor sucroalcooleiro é movido pela força empresarial desde os primórdios do Programa Nacional do Álcool (Proálcool), criado em 1975. “São dois ambientes muito diferentes. Enquanto a Petrobras é praticamente a única a oferecer gasolina pura no Brasil, há 380 produtores concorren-do no mercado do etanol”, destaca o diretor-técnico da União da Indústria da Cana-de-açúcar (Unica), Antônio de Pádua Rodrigues.

Com produção recorde de 24 mi-lhões de m3 em 2008, o setor pre-vê investimentos de US$ 33 bilhões para o período 2005-2012. Segundo a Única, que congrega empresas sucroalcooleiras do Sudeste, Sul e Centro-Oeste, além das 29 usinas que entraram em operação no ano passado, mais de 40 estão em obras. Ao contrário de outros setores, a produção de açúcar e álcool aparen-ta sofrer menos com a crise global. Um exemplo é a Cosan, maior pro-dutora de etanol do país, que está construindo três usinas em Goiás. “Continuamos investindo. Só esta-mos adequando a velocidade dos in-vestimentos à liberação de recursos do BNDES”, diz o vice-presidente do grupo, Pedro Mizutani.

De acordo com o executivo da Cosan, o grande obstáculo à ex-pansão do setor está fora do Brasil. “Nosso principal desafio é tornar o etanol uma commodity, de forma que possa ser misturada à gasolina no mundo todo”, assinala. Mais do que demonstrar a eficácia energé-tica e as vantagens ambientais do álcool combustível, as empresas e o

22% a 25%. Com a extinção do IAA, a fiscalização das especificações técnicas e das regras de concorrên-cia é exercida pela Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocom-bustíveis (ANP). “O compromisso do setor é produzir etanol e vender aos distribuidores dentro dos padrões estabelecidos pela agência”, resume o diretor da Unica.

A lei define papéis claros para cada agente do setor. O fornecimen-to do álcool só pode ser feito por pro-dutor credenciado pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abasteci-mento (MAPA) e pela ANP. A venda no atacado é restrita aos distribui-dores, sendo proibido ao produtor negociar diretamente com os postos de serviço. É nesse contexto de divi-

são de funções que ganha relevância a recente aquisição da Esso no Brasil pela Cosan. O grupo é o primeiro do setor sucroalcooleiro a controlar em-presas que vão do plantio da cana à venda de etanol ao consumidor, pas-sando pela distribuição.

O setor também acumula inicia-tivas bem-sucedidas em pesquisa. Mantido por 177 empresas sucroal-cooleiras e orçamento anual de R$ 40 milhões, o Centro de Tecnologia Canavieira (CTC) desenvolve, há três décadas, variedades de cana e inovações tecnológicas que resul-tam em ganhos de produtividade nos canaviais e usinas.

Graças ao avanço tecnológico, o negócio está no limiar de uma nova era em que o etanol passará a ser

produzido também com resíduos agrícolas, como a palha e o bagaço da cana. Este combustível de se-gunda geração, também chamado de bioetanol ou etanol de lignocelu-lose, vai elevar a produção sem au-mentar a área plantada com cana. Com a inovação, o setor sucroalco-oleiro será capaz de atender o cres-cimento do mercado nacional e das vendas externas.

O futuro parece promissor. De acordo com a Empresa de Pesqui-sa Energética (EPE), entidade ligada ao Ministério das Minas e Energia (MME), a demanda pelo etanol bra-sileiro chegará a 64 milhões de m3 anuais em 2017, estimulada pela ex-pansão da frota dos carros flex fuel e pelo aumento das exportações.

Cosan: do plantio ao posto de distribuição

Uma das mais contunden-tes demonstrações de força do setor privado no mercado de agroenergia foi a compra da Esso pela Cosan, em abril de 2008. Por US$ 826 milhões, a gigante brasileira de etanol arrematou uma rede com 1,5 mil postos de serviço espa-lhados por 20 estados, infra-estrutura para a distribuição de combustíveis, uma plan-ta industrial e um terminal de lubrificantes no Rio de Janeiro. A aquisição incluiu também o fornecimento de querosene de aviação para os sete principais aeroportos brasileiros.

O negócio pôs sob o co-

Pedro Mizutani

➔ “Hoje estamos numa situação ímpar em relação a outras empresas do setor. Os ativos da Esso nos trouxeram ganhos de sinergia e logística”

a outras empresas do setor. Os ativos da Esso nos trouxeram ganhos de sinergia e logística”, desta-ca o vice-presidente da Cosan, Pedro Mizutani.

A fim de alcançar a liderança nacional na pro-dução de etanol, a empresa lançou-se a várias aquisições de usinas nos últimos anos. Com 18 unidades em São Paulo, além de dois terminais portuários, a Cosan emprega atualmente 43 mil trabalhadores, tendo produzido 1,6 milhão de m3 de etanol na safra 2007-2008. O grupo, que já tinha lançado ações na Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa), iniciou suas atividades na Bolsa de Nova York (NYSE) em meados de 2007.

governo brasileiro têm pela frente a missão de desmistificar os estigmas de que os canaviais tomam espaço dos alimentos e de que as lavouras são mantidas à base de condições de trabalho precárias.

Na safra 2007-2008, as empresas sucroalcooleiras nacionais faturaram R$ 42 bilhões. Deste total, R$ 6 bi-lhões correspondem somente a ven-das externas, transformando o setor no quinto maior exportador brasilei-ro. A produção e a comercialização de açúcar e álcool no país geram ainda cerca de um milhão de empregos di-retos, movimentando uma cadeia de 70 mil fornecedores de cana e mais de mil indústrias de suporte.

DEMANDA INtERNADesafios internos ao crescimen-

to do mercado do etanol também não faltam. Uma das expectativas da Unica é a definição governamen-tal do papel reservado ao álcool na matriz energética brasileira. Apesar do apoio declarado do governo fede-

ral aos biocombustíveis, encabeçado pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva, os empresários temem que re-viravoltas de preços possam conter o avanço da demanda interna, estimu-lada nos últimos anos pelo sucesso dos carros bicombustíveis (flex fuel).

“Existe insegurança devido às muitas mudanças na participação dos combustíveis líquidos na ma-triz energética nos últimos 40 anos”, observa o diretor-técnico da Unica. Uma dessas alterações, enumera Rodrigues, foi o estímulo ao diesel no transporte rodoviário, em lugar da gasolina. Na década de 1970, o País descobriu o etanol, que per-deu prestígio no fim dos anos 1980. Em seguida, o gás natural veicular (GNV) tomou espaço dos combus-tíveis líquidos, até que o álcool foi reabilitado graças aos flex fuel. Em tempos de petróleo em baixa, o se-tor tem receio de que o consumo de etanol seja afetado por uma eventu-al queda do preço da gasolina.

As empresas sucroalcooleiras na-cionais produzem em regime de li-vre mercado desde 1998, quando foi concluída a desregulamentação do setor. O marco desse processo foi a extinção do Instituto do Açúcar e do Álcool (IAA), em 1990. A entidade, criada em 1933, procurava estimu-lar a produção e o consumo regular dos dois produtos, ditando cotas de produção, regras para as relações entre usinas e fornecedores de cana e limites às exportações de açúcar. O instituto também foi responsável por avalizar o financiamento para o crescimento do mercado por mais de seis décadas.

REsERvA DE MERcADOA liberalização da atividade, po-

rém, não eliminou a reserva de mer-cado para o etanol, que ainda é mis-turado à gasolina nas proporções de

Antônio de Pádua Rodrigues

➔ “Enquanto a Petrobras é

praticamente a única a oferecer gasolina

pura no Brasil, há 380 produtores concorrendo no mercado do etanol”

➔ Com produção recorde de 24 bilhões de litros neste ano, o setor está à frente de investimentos de US$ 33 bilhões no período 2005-2012. Além das 29 usinas que entraram em operação em 2008, mais de 40 estão em obras

mando da Cosan o quinto maior varejista de com-bustíveis do Brasil, com participação de 7,2% no mercado de distribuição. Na comercialização de álcool e gasolina, os postos Esso detêm, respecti-vamente, 9% e 9,7% do total no País. Para fechar a operação, que contou com a Petrobras entre os concorrentes, a Cosan utilizou US$ 310 milhões resultantes de aumento de capital efetuado três meses antes e assumiu dívidas de US$ 163 mi-lhões. No saldo final, tornou-se a primeira empre-sa de energia renovável a atuar em toda a cadeia econômica, do canavial à venda no varejo.

“Hoje estamos numa situação ímpar em relação

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26 Sexta-feira, 26 de janeiro de 2009 27Sexta-feira, 26 de janeiro de 2009

A China, possuidora da segunda maior frota de automóveis no mundo, poderá receber seus primeiros modelos de veículos flex fuel em 2009. Em outubro do ano passado, a General Motors (GM) anunciou que, devido à preocupação com a qualidade do ar, além da alta dos preços do petróleo, introduziria a tecnologia dos moto-res bicombustível no mercado chinês.

A GM, maior montadora de automóveis do mundo, já fabricou 5 mi-lhões de veículos flex fuel, entre os quais 3 milhões para o mercado norte-americano. Até 2012, metade da produção da empresa contará com este tipo de tecnologia. Os custos da gasolina e as medidas ado-tadas em diversos países para reduzir as emissões de gases poluentes foram determinantes para a GM expandir sua produção de carros flex. A empresa ainda estima que o crescimento da população mundial esti-mule um aumento de 22% na frota de automóveis em todo o planeta.

Na China, os automóveis respondem por cerca de 50% do consu-mo de petróleo. Segundo o vice-presidente da GM chinesa, David S. Chen, o início da fabricação de carros flex no país depende de um abastecimento adequado de etanol. A meta de misturar 10% de eta-nol à gasolina em seis regiões chinesas dificilmente será cumprida. Previa-se que 2 milhões de toneladas de etanol fossem misturadas à gasolina até 2010 e que, em 2020, a mistura fosse cinco vezes maior. Entretanto, a capacidade de produção de etanol no país é ex-tremamente limitada, não ultrapassando as 1,5 toneladas anuais.

Experiência brasileira em flex fuel será divulgada no exterior

Para que o etanol seja uti-lizado em escala global, a indústria brasileira pre-tende criar um ambiente favorável à exportação da

tecnologia de produção do biocom-bustível e de carros flex fuel (mo-vidos a álcool ou a gasolina, em quaisquer proporções). Segundo o diretor de Relações Internacionais e Comércio Exterior da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), Roberto Giannetti da Fonseca, no início de 2009 será iniciada uma campanha interna-cional desta tecnologia. “Em dois ou quatro anos, quando outros países tomarem a decisão de pro-duzir etanol, já haverá centenas de

milhares de veículos flex fuel no mundo”, acredita Giannetti.

Em dezembro do ano passado, a frota brasileira chegou à mar-ca de 6,5 milhões de automóveis flex. Atualmente, os carros com este tipo de tecnologia represen-tam 87% das vendas por atacado de veículos leves no mercado bra-sileiro, que, até setembro registra-va um crescimento acumulado de 27%. Apesar da queda registrada a partir de outubro, a indústria fechou 2008 com 2,82 milhões de unidades vendidas – 2,33 milhões de flex fuel. A produção geral foi de 3,2 milhões de veículos.

“São recordes históricos”, afir-ma o presidente da Associação

Nacional de Fabricantes de Veícu-los Automotores (Anfavea), Jack-son Schneider. O executivo vê um grande potencial nas exportações de carros flex fuel a partir de um crescente interesse internacional a respeito da experiência brasilei-ra com a tecnologia.

Segundo Schneider, muitos paí-ses têm anunciado sua disposição de incluir o álcool combustível em sua matriz energética, como mistu-ra à gasolina, para melhorar a qua-lidade do ar. “Nesse quadro, o Brasil tem boas oportunidades de expor-tar sua competência na produção de etanol, pela venda de pacotes tecnológicos, ou por associações com empresários locais”, diz. O presidente da Anfavea acredita no crescimento da motorização flex da frota brasileira de automóveis e veí-culos comerciais leves, enquanto os veículos pesados, como caminhões e caminhonetes abastecidos a die-sel, aguardam o aprimoramento tecnológico do biodiesel.

“Produzimos automóveis a die-sel e a gasolina para exportação, e também importamos automóveis movidos a gasolina. Dessa forma, pode-se concluir que ainda convi-verão veículos a gasolina, veículos flex fuel, e veículos a diesel. Além disso, temos também o gás natu-ral veicular (GNV). Mas, no cam-po dos automóveis brasileiros, os passos dos flex mostram firme-mente essa crescente tendência dos motores bicombustível”, afir-ma Schneider.

AcEItAçãO INtERNAcIONAlEm 2003, quando foram lança-

dos, os veículos flex fuel corres-pondiam a apenas 4% das vendas por atacado no país. A excelente aceitação do mercado deve-se à qualidade do produto aliada ain-

da a dois outros fatores: o cuida-do ambiental e o baixo custo do combustível, diz o presidente da Anfavea. “O brasileiro aderiu ao veículo flex porque tem um olho no ambiente e outro no bolso. Ou seja, alia-se a vantagem ambiental de se utilizar um combustível re-novável à economia de abastecer com álcool, cujo preço, em relação à gasolina, é atrativo para o con-sumidor e assim deve continuar”.

Segundo Giannetti da Fonseca, a campanha de popularização dos veículos flex será definida a par-tir de um acordo entre a Fiesp, a Anfavea, a União da Indústria de Cana-de-açúcar (Unica) e a Agên-cia Brasileira de Promoção de Ex-portação e Investimentos (Apex). Para o representante da Fiesp, esta iniciativa tem que ser do setor pri-vado, com as montadoras levando a experiência brasileira para suas filiais em outros países. “Quando a demanda precede a oferta, es-tamos criando uma base de con-sumo. Se os carros flex entrassem no mercado internacional hoje, os países que os importassem esta-riam preparando suas frotas para a mudança de combustível, o que é previsível não apenas pela alta

Jackson Schneider

➔ “O Brasil tem boas oportunidades de exportar sua competência na produção de etanol, pela venda de pacotes tecnológicos, ou por associações com empresários locais”

do preço do petróleo, mas também pelo agravamento dos problemas climáticos. A experiência brasilei-ra foi tão bem-sucedida que não tenho a menor dúvida sobre sua aceitação no mundo inteiro”, diz Giannetti.

futuRO PROMIssORUm estudo do World Business

Council for Sustainable Deve-lopment (Conselho Mundial de Empresas pelo Desenvolvimen-to Sustentável) prevê que a frota mundial de veículos saltará dos atuais 800 milhões de unidades para 2 bilhões em 2050. Até lá, a presença de fontes alternativas nas matrizes energéticas deverá crescer 160 vezes, com 6% do total de combustíveis consumidos no mundo sendo produzidos a par-tir de biomassa. Outras possíveis mudanças são a introdução de ve-ículos de alta eficiência energética (híbridos e alta tecnologia diesel) e até mesmo veículos movidos a células de hidrogênio, que apre-sentam emissão zero. A entidade também espera um aumento do transporte de massa via ferrovia e o desenvolvimento de aeronaves mais eficientes.

GM quer levar carros flex para a China

Veículos flex fuel: a indústria comemora 2008 como um bom ano: as vendas internas alcançaram 2,85 milhões de unidades, com uma produção de 3,2 milhões

VENDAS DE VEÍCULOS NO BRASIL (2005-2008)

Fonte: Anfavea (2008)

2005 2006 2007 2008

Milh

ões d

e un

idad

es

0

1

2

3

4

5

6

Flex fuel

0,85

1,711,42

1,93 2,032,49 2,23

2,71

Total

Roberto Gianetti

➔ “Em dois ou quatro anos, quando

outros países tomarem a decisão

de produzir etanol, já haverá centenas de

milhares de veículos flex fuel no mundo”

foto em baixa

resoluçãosomente para aprovaçãodo

cliente

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28 Sexta-feira, 26 de janeiro de 2009 29Sexta-feira, 26 de janeiro de 2009

De olho no futuro, Brasil investe na diversificação de fontes

Enquanto a produção bra-sileira de biodiesel ainda não atende todo o mer-cado interno, o País in-veste em pesquisas de

diversificação de fontes de óleo, aguardando um eminente aumen-to da demanda européia. “Quase todos os países estão estipulando mandatos legais para a mistura de biocombustíveis dentro de seus combustíveis fósseis”, lembra o presidente da Petrobras Biocom-bustível, Alan Kardec Pinto, apon-tando a oportunidade de expansão para o produto brasileiro. Entre-tanto, para entrar na Europa, um dos destinos preferenciais de ex-portação do óleo, a competitivida-de do biodiesel nacional precisa ser aprimorada. Cientistas já realizam testes misturando à soja diferentes oleaginosas, como a mamona.

Projeções da Food and Agricul-tural Policy Research Institute (Fa-pri, sigla em inglês) mostram que em 2010 o consumo de biodiesel na União Européia deve chegar a 2,2 milhões de m3 anuais. A produção no continente, no entanto, não ul-trapassaria a ordem de 1,8 milhão de m3, abrindo um mercado poten-cial de cerca de 400 mil m3.

No mercado interno brasileiro, o biodiesel também tem um cam-po promissor. Dos 45 milhões de m3 de diesel mineral consumidos atualmente, 5 milhões são impor-tados. A Petrobras espera alcançar em 2012 uma participação de 40% no mercado nacional, estimado em 938 mil m3 por ano.

O biodiesel entrou na matriz energética brasileira em 2005, mas sua mistura ao diesel de origem mineral – primeiro na proporção de 2% (mistura B2) e posteriormente na proporção de 3% (mistura B3) – tornou-se obrigatória somente três

anos depois. Em 2013, quando o percentual de biodiesel adicionado ao diesel chegar a 5% (mistura B5), estima-se que haja uma demanda de 2 milhões de m3 por ano.

O Brasil conta atualmente com mais de 60 unidades produtoras de biodiesel registradas na Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP), principal órgão regulador do setor. A agên-cia está analisando ainda mais de 30 solicitações de licenciamento. Associações de produtores já têm sinalizado que são capazes de for-

necer o biodiesel necessário para a fabricação do B5 bem antes do início do prazo legal. “As usinas hoje poderiam colocar no merca-do até 3 milhões de m3 por ano, enquanto a demanda pelo B3 é de 1,4 milhão de m3”, compara o presidente da União Brasileira do Biodiesel (Ubrabio), Odacir Klein. Outras entidades do setor defen-dem abertamente a adição de 5% a partir de janeiro deste ano.

A disposição dos produtores em crescer no próprio país estimula a economia nacional e melhora os

indicadores sociais. De olho neste potencial, o Governo Federal lan-çou, em 2005, o Programa Nacio-nal de Produção e Uso de Biodiesel (PNPB). “O Programa tem o objeti-vo de utilizar o potencial de produ-ção para fazer a inclusão social por meio da geração de emprego e ren-da no campo”, lembra o presidente da Petrobras Biocombustível.

EsPEcIfIcAçõEs DO MERcADOUm dos principais emissores de

poluentes na atmosfera, o diesel está na mira dos países signatários do Protocolo de Kyoto. No Brasil, além de tornar obrigatória a mistura de biodiesel ao combustível de origem mineral, o Conselho Nacional do Meio Ambiente (Conama) estabe-leceu novos limites de emissões de enxofre no diesel a partir de janeiro deste ano. A Petrobras já se compro-meteu em fornecer um diesel me-nos poluente, com concentração de 50 partículas por milhão de enxofre (S-50), que deverá ser utilizado pe-las frotas de ônibus urbanos do Rio de Janeiro e São Paulo. Ao longo de 2009, o S-50 estará disponível nas regiões metropolitanas das outras grandes capitais brasileiras.

Para crescer no mercado interno de biodiesel, a Petrobras investe pesado em infra-estrutura. A es-tatal possui atualmente três uni-dades produtoras: duas em pleno funcionamento, localizadas em Quixadá (CE) e Candeias (BA), e outra em Montes Claros (MG), pre-vista para entrar em atividade este ano. Em setembro de 2008, a Petro-bras anunciou ainda que estava analisando a construção de sua quarta usina de biodiesel, a pri-meira de grande porte. A capaci-dade de produção ficará em torno de 295 mil m3 por ano, valor cinco vezes superior aos 57 mil m3 anu-ais produzidos pelas três unidades já instaladas. A nova usina proces-sará biodiesel com 30% de óleo de mamona misturado ao de soja.

A utilização da mamona como fonte de biodiesel permitiria que a Petrobras atingisse os padrões eu-ropeus de especificação, o que não é obtido quando o combustível é feito apenas com soja. A mescla de mamona e soja melhora o de-sempenho do biodiesel a frio, algo essencial aos veículos durante o inverno nos países da Europa.

O município de Irati, na região Centro-Sul do Pa-raná, foi escolhido pela Companhia Brasileira de Energias Alternativas e Renováveis (CBEAR) para receber o empreendimento que está sendo anun-ciado como a maior usina de biodiesel do mundo. Com um investimento da ordem de 300 milhões, a usina pretende produzir 600 mil toneladas de bio-diesel anuais, destinados à exportação. O volume só se compara ao produzido pela usina espanhola Infinita Renovables e equivale à soma de todos os projetos já anunciados no Paraná.

Segundo a vice-presidente da CBEAR, Christian-ne Fullin, três empresas nacionais e um fundo in-ternacional de investimento financiam o empreen-dimento. A construção da usina será iniciada em janeiro de 2009, em um terreno de 3 km2. As ope-rações de produção e exportação começariam em fevereiro de 2010, para um comprador já definido – um país estrangeiro, “não-europeu”, que também não é revelado em razão de uma cláusula de sigilo no contrato.

Durante os dois primeiros anos de funcionamen-to, a usina produziria biodiesel a partir de soja, que seria complementada eventualmente por outras matérias-primas. A CBEAR pretende estimular e financiar os agricultores locais a cultivarem cano-

municípios da região do Centro-Sul paranaense onde a empresa está instalada. A usina precisa somente de metade dessa área para alcançar sua meta anual, o que já permite sonhar em duplicar ou até triplicar a produção para 2011. De acordo com Christianne, o Paraná tem espaço e condi-ções para abrigar oito usinas do mesmo porte da que será construída em Irati.

➔ Com um investimento da ordem de 300 milhões de euros, a usina tem a meta de produzir 600 mil toneladas de biodiesel anuais, destinados à exportação

la, girassol e tungue, uma oleaginosa asiática pouco conhecida no país. O plantio dessas espécies seria limi-tado à época em que as la-vouras ficam ociosas. “Será uma alternativa às cultu-ras de verão, como o fumo. Não estamos entrando para competir com as coopera-tivas e nem para mudar as culturas do agricultor local”, garantiu Christianne.

A CBEAR estima que haja 10 mil km2 ociosos, que podem ser utilizados na cultura das oleagino-sas para o biodiesel, nos 68

Paraná: o celeiro do biodiesel Odacir Klein

➔ “As usinas hoje poderiam colocar no

mercado até 3 milhões de m3 por ano, enquanto a demanda pelo B3 é de

1,4 milhão de m3”

novográfico

cronologia do biodiesel está sendo

feito

foto de descarga de soja em

porto sendo providenciada

A usina de Irati (PR) será a maior unidade produtora de biodiesel de soja no mundo

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30 Sexta-feira, 26 de janeiro de 2009 Sexta-feira, 26 de janeiro de 2009 31

BNDES investirá 16% a mais em 2009 no setor sucroalcooleiro

O Banco Nacional de D e s e nv o lv i me nt o Econômico e Social (BNDES) prevê um aumento no volume

de financiamentos ao setor sucro-alcooleiro em 2009, apesar dos si-nais de retração na economia glo-bal. A liberação de empréstimos para a fabricação de etanol e açú-car, bem como para a co-geração de energia, deverá chegar a R$ 7 bilhões, um aumento de R$ 1 bi-lhão em relação a 2008.

Segundo o gerente do Departa-mento de Biocombustíveis do BN-DES (Debio), Artur Yabe Milanez, os efeitos da desaceleração econô-mica só deverão atingir os finan-ciamentos concedidos a partir de 2010. Parte do aumento esperado nas liberações do Banco para o se-tor em 2009 decorre do andamento de projetos que não permitem vol-ta aos empreendedores. “O possí-vel desaquecimento da demanda por crédito só será sentido mais à

frente. Não conhecemos a exten-são da crise, mas alguns projetos podem ser revistos”, reconhece Milanez, responsável pela cartei-ra de álcool do Debio.

A previsão das aprovações em 2009 é baseada no conjunto de operações já devidamente enqua-dradas pelo BNDES e nas que es-tão em fase final de análise. Dos R$ 4,8 bilhões ainda não contra-tados pelo Banco, R$ 3,4 bilhões referem-se a projetos próximos à

aceitação final, enquanto o valor restante, R$ 1,4 bilhão, correspon-de a operações em consulta ou em perspectiva de aprovação.

O aumento dos financiamen-tos para o setor sucroalcooleiro expressa a confiança do BNDES nas bases do crescimento do mer-cado a médio e longo prazos. Ao mesmo tempo em que acredita na continuidade do sucesso dos automóveis bicombustíveis (flex fuel), o Banco aposta nas vanta-

gens competitivas do etanol de cana no mercado externo, frente ao concorrente feito de outras ma-térias-primas. Outro fator levado em conta, diante da necessidade global de redução das emissões de CO2, é o movimento de vários paí-ses para tornar obrigatória a mis-tura do álcool anidro à gasolina, como já ocorre no Brasil.

“Quando os veículos flex foram lançados, houve um boom de in-vestimentos no setor para acompa-nhar a demanda de álcool”, lembra Milanez. Em 2004, apenas 1,2% dos desembolsos do Banco eram desti-nados a projetos envolvendo pro-dução de álcool e açúcar, saltando para 4,7% quatro anos depois. O alto volume de verbas concedidas foi um dos fatores que levou à cria-ção do Debio, em agosto de 2007.

MAIs fINANcIAMENtOsEm seu primeiro ano de funcio-

namento, o Debio aumentou em 67% os recursos disponíveis para

o setor sucroalcooleiro. Dos R$ 6 bilhões liberados em 2008, R$ 4,5 bilhões foram destinados à cons-trução de novas usinas. O BNDES fechou o ano com participação de até 60% em 80 projetos em anda-mento desde 2004, dos quais 43 correspondem a novas unidades industriais.

Uma das marcas do atual ciclo de investimentos é o aumento da capacidade de moagem e destila-ção. “Em 2007, a capacidade média dos projetos era de 1,7 milhão de toneladas de cana por safra. Em 2008, a média foi de 2,5 milhões”, compara Milanez. O tamanho das novas unidades também vai ele-var os ganhos de escala dos em-preendedores.

A maioria dos financiamentos é voltada para as regiões Sudeste e Centro-Oeste, líderes na produção brasileira de álcool e açúcar. Os projetos de expansão geralmente concentram-se em São Paulo, en-quanto as novas unidades serão

instaladas em Mato Grosso do Sul, Goiás e Minas Gerais. Uma usina demora, em média, entre três e quatro anos para entrar em fun-cionamento, e seu custo depende da capacidade produtiva instala-da. Uma unidade com capacidade para 2 milhões de toneladas de ál-cool por safra, por exemplo, custa em torno de R$ 300 milhões.

As 43 novas usinas aprova-das vão gerar 59 mil empre-gos, incluindo 11 mil postos de trabalho na etapa industrial. No enquadramento socioam-biental de projetos maiores, o BNDES também tem exigi-do a garantia de investimento na melhoria das condições de vida dos moradores do entor-no das usinas. O Banco ainda condiciona a aprovação dos fi-nanciamentos e a liberação dos recursos ao cumprimento de todas as exigências dos órgãos ambientais dos respectivos go-vernos estaduais.

Cinco novas usinas são financiadas pelo banco

Entre os primeiros projetos a terem recursos liberados pelo BNDES em 2009 estão três novas usinas no Mato Grosso do Sul, uma em São Paulo e outra em Goiás. Os financiamentos, fechados no início de dezembro do ano passado, somam R$ 1,8 bilhão e correspondem a 60% do investimento total. De 2010 a 2013, as cinco usinas vão moer 49,2 mil toneladas de cana, acrescentando 3,3 milhões de m3 de etanol por safra ao mer-cado brasileiro e gerando 7,5 mil empregos no Centro-Oeste e no interior paulista.

As três maiores usinas, uma em cada estado, pertencem à ETH Bioenergia, empresa controlada pelo grupo Odebrecht. A ETH in-vestirá R$ 1,9 bilhão, do qual R$ 1,15 bilhão será financiado pelo BNDES na primeira fase dos empreendimentos, prevista até 2010. Elas terão capacidade para moer o total de 45 milhões de tonela-das de cana por safra, a partir de 2013. A ETH prevê a produção de 2,9 milhões de m3 de etanol e 1,8 milhão de toneladas de açú-car, além da co-geração de 700 MW de energia.

As outras duas usinas serão erguidas no Mato Grosso do Sul. Uma delas, empreendimento da Iaco Agrícola, do Grupo Gren-dene, é projetada para moer 1,9 milhão de toneladas de cana-de-açúcar, a partir de 2012, e produzir 161 mil m3 de álcool. A outra pertence à Usina São Fernando, controlada pelos Grupos Bertin e Bumlai, e terá capacidade de moagem de 2,3 milhões de toneladas de cana e produção de 200 mil m3 de etanol por safra, a partir de 2010.

Com o apoio do BNDES, os empreendimentos vão gerar 7,5 mil empregos para a região Centro-Oeste e o interior paulista

Artur Yabe Milanez

➔ “O possível desaquecimento da

demanda por crédito só será sentido mais à

frente. Não conhecemos a extensão da crise, mas alguns projetos podem ser revistos”

desembolsos do Bndes (em r$ bilhões)

Ano Setor sucroalcooleiro Todos os setores Participação do sucroalcooleiro

2004 0,60 48,72 1,24%2005 1,09 51,08 2,15%2006 1,97 55,47 3,56%2007 3,59 75,49 4,76%2008 6,00 79,90* 7,51%2009 7,00** - -Fonte: BNDES (2008)* Posição em 11/ 2008** Previsão

➔ Quando estiverem em operação, entre 2010 e 2013, as usinas vão moer 49,2 mil toneladas de cana e acrescentar 3,3 bilhões de litros de etanol por safra ao mercado produtor brasileiro

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32 Sexta-feira, 26 de janeiro de 2009 33Sexta-feira, 26 de janeiro de 2009

De mãos dadas com a inclusão social

A participação dos peque-nos agricultores no for-necimento de matérias-primas para o biodiesel é exemplo de como pro-

dução de biocombustíveis e a inclusão social vêm andando juntas no Brasil. Desde 2004, quando o Governo Fede-ral criou o Selo Combustível Social, a inserção da agricultura familiar na cadeia produtiva do diesel verde tem tido o estímulo de abatimentos e até isenções fiscais, assim como outras formas de apoio às empresas. O Selo, concedido pelo Ministério do Desen-volvimento Agrário (MDA), já atesta a compromisso de 29 indústrias com a inclusão social dos lavradores.

Os incentivos às empresas do setor foram instituídos pelo Decreto 5.297, assinado pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva em dezembro de 2004, no contexto do Programa Nacional de Produção e Uso de Biodiesel (PNPB). Por meio do Selo Combustível Social, as indústrias que compram oleagino-sas de agricultores familiares e pres-tam assistência técnica têm direito a alíquotas menores de PIS/Pasep e Co-fins, além de melhores condições de financiamentos do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) e outras instituições finan-ceiras.

O MDA estima que mais de 80 mil famílias de pequenos agricultores participam do PNPB – número que deve dobrar em 2013, quando a mis-tura do diesel verde ao de petróleo su-birá dos atuais 3% (mistura B3) para 5% (mistura B5). A previsão inicial do governo era de que 100 mil famílias fossem beneficiadas pelo programa em 2008. A meta, no entanto, não foi cumprida, pois as usinas deram prioridade aos pequenos agriculto-res com maior produtividade e maio-res volumes disponíveis para venda. Nem por isso o balanço deixa de ser positivo, salienta o diretor da Secre-taria de Agricultura Familiar (SAF) do MDA, Arnoldo de Campos. “A expec-tativa do governo era maior do que a

trobras, em 215 municípios, somam-se mais de três mil em Sergipe, espalhados por 49 municípios. Or-ganizados em cooperativas e asso-ciações, os trabalhadores cultivam mamona, na Bahia, e girassol nos dois estados. A Petrobras Biocom-bustível espera fechar 2008 com a aquisição de 48,8 mil toneladas de grãos, dos quais 30,6 mil de semen-tes de mamona e outras 18,2 mil de girassol, assim como mil toneladas de óleo de dendê. Na parceria, que inclui assistência técnica, a empre-sa forneceu mais de 205 toneladas de sementes certificadas para os produtores rurais.

A usina de Quixadá, em operação desde agosto de 2008, apresenta a mesma capacidade de produção da unidade baiana e põe em prática parcerias semelhantes. Para ampliar a ajuda dada aos agricultores cea-renses, fornecedores de matérias-primas para a usina, a Petrobras Bio-combustível firmou convênio com a Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural do Estado do Ceará (Ematerce) e a Cooperação Técnica Alemã (GTZ), entidade vinculada ao governo da Alemanha. Com a inicia-tiva, 47 técnicos e consultores vão ajudar a integrar os pequenos lavra-dores à cadeia produtiva do biodie-sel, beneficiando oito mil famílias no Sertão Central do estado.

O apoio dados aos agricultores in-clui capacitação técnico-gerencial e incentivo à organização e ao plane-jamento participativo, estimulando ao mesmo tempo a diversificação de usos das propriedades. “A produ-ção de oleaginosas para o biodiesel pode perfeitamente ser introduzida no sistema familiar sem comprome-ter a segurança alimentar do produ-tor”, afirma o diretor da GTZ Ingo Melchers. “O PNPB é considerado exemplar e inovador no mundo. Des-conhecemos outro programa seme-lhante que junte de forma efetiva as questões ambientais, sociais, ener-géticas e econômicas”, conclui.

Responsável por um milhão de empregos em todo o País, as usinas de álcool e açúcar vêm ampliando o regi-me de carteira assinada entre os trabalhadores rurais e reduzindo cada vez mais a terceirização da mão-de-obra no cultivo da cana. De acordo com a União da Indústria de Cana-de-açúcar (Unica), que congrega empresas su-croalcooleiras das regiões Sudeste, Centro-Oeste e Sul, atualmente 95% dos trabalhadores rurais do setor con-tam com carteira assinada. A entidade garante que os salários são os melhores da agricultura, com exceção apenas dos vencimentos pagos na produção de soja.

Exemplo dessa responsabilidade social que vem cres-cendo no setor é a Cosan, maior produtora nacional de etanol. Com 43 mil trabalhadores na safra, a empresa adota contratos regidos pela Consolidação das Leis do Trabalho (CLT) e fornece equipamentos de proteção in-dividual (EPIs), desenvolvendo também programas de capacitação entre os empregados. Por meio da Fundação Cosan, oferece ainda reforço escolar, aulas de cidadania e artesanato, cursos semi-profissionalizantes e oficinas culturais a filhos de funcionários e de famílias das co-munidades vizinhas às usinas.

Trabalho formal em alta no etanol

A Cosan gera 43 mil empregos formais, com contratos regidos pelas leis trabalhistas

realidade permitiu, mas o programa está dando certo e crescendo. Quase todo o biodiesel tem a participação da agricultura familiar”, avalia.

As indústrias vêm integrando os produtores rurais à cadeia produtiva em vários estados. No Rio Grande do Sul, que possui quatro indústrias de biodiesel (Oleoplan, BSBios, BrasilEco-diesel e Granol) e responde por mais de 20% da produção nacional, o cul-tivo de oleaginosas para a fabricação do combustível verde mobiliza mais de 32 mil agricultores familiares.

Nos leilões de biodiesel da Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP) realizados em novembro do ano passado, as empre-sas detentoras do Selo venderam 317 mil m3, correspondentes a 96% dos 330 mil m3 negociados. O volume movimentou cerca de R$ 800 milhões e garantiu a oferta para a produção da mistura B3 no primeiro trimestre de 2009.

A maioria das empresas detento-ras do Selo fica sediada nas regiões Centro-Oeste e Sul do Brasil, onde a certificação exige a compra de, res-pectivamente, 10% e 30% de maté-rias-primas da agricultura familiar, com abatimentos de até 89% do PIS/Pasep e Cofins. Nas regiões Norte e Nordeste, a isenção é total na compra de palma (dendê) e mamona.

PEquENAs lAvOuRAsAo adquirir matérias-primas pro-

duzidas no regime de agricultura familiar, as indústrias de biodiesel contribuem para a diversificação de usos das pequenas propriedades e a agregação de valor à produção, com geração de mais empregos e renda na zona rural. Mamona, girassol, dendê e algodão, além da soja, são oleagino-sas típicas dessas pequenas lavouras, que contam com linha de financia-mento do Programa Nacional de For-talecimento da Agricultura Familiar (Pronaf), do Ministério de Desenvol-vimento Agrário.

Entre os mais recentes credencia-mentos de usinas com o Selo Com-bustível Social estão as unidades da Petrobras Biocombustível, localiza-das em Quixadá, no Ceará, e Can-deias, na Bahia. Primeira unidade empresa, a usina baiana foi inau-gurada em julho de 2008 e obteve o Selo em agosto, em reconhecimento às parcerias regionais para a inclu-são social de pequenos lavradores. Com capacidade para produzir 57 mil m3 de biodiesel por ano, a usi-na inseriu 29 mil famílias de agri-cultores na base da cadeia produti-va, graças à compra de oleaginosas como mamona e girassol.

Aos quase 26 mil lavradores baia-nos que estão produzindo para a Pe-

➔ Com o Selo Combustível Social,

as indústrias que compram dos

agricultores familiares e prestam assistência técnica têm direito a redução de impostos

➔ Nos leilões de biodiesel da ANP, em agosto, as empresas detentoras do selo venderam 321,7 milhões de litros: 97,3% dos 330 milhões negociados

precisamos do arquivo deste logo em formato vetorial ou

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PRINCIPAIS NÚMEROS DO MERCADO NO SETOR SUCROALCOOLEIRO NO BRASIL

Fontes: Esalq/USP e Unica (2007)

EMPREGOS FORMAIS: 1 milhão (aprox.)• Diretos: 765 mil (260,4 mil só em SP, o maior produtor)• Indiretos: 235 mil

ÍNDICE DE MECANIZAÇÃO DA COLHEITA: 40% (previsão de 100%em 2015-2016)

FAIXA ETÁRIA: 90,8% dos empregados têm entre 18 e 49 anos

TRABALHO INFANTIL: 0%

ESCOLARIDADE: 65% têm somente quatro (ou menos) anos de estudo

REMUNERAÇÃO MÉDIA:2 salários mínimos (o segundo maior no setor agrícola)

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Page 18: Biocombustíveis: energia do século XXI

34 Sexta-feira, 26 de janeiro de 2009 35Sexta-feira, 26 de janeiro de 2009

O desenvolvimento do mercado internacio-nal de biocombustí-veis, tendo o etanol como carro-chefe, é a

promessa energética da próxima década. As iniciativas para au-mentar o uso de energias renová-veis, em curso em vários países, apontam para o consumo global de 150 milhões de m3 de álcool combustível em 2015. O volume é quase três vezes maior que a produção mundial registrada em 2007, de 55,7 milhões de m3, lide-rada pelos Estados Unidos e Bra-sil, seguidos de longe pela China e Índia. Em 2010, a produção deve saltar para 88 milhões de m3, para uma demanda esperada de 101 milhões. Nesse contexto de ex-pansão de mercado, vislumbram-se grandes oportunidades para o etanol brasileiro, feito de cana-de-

do deficitário na produção e, por mais que proteja seus produtores com cota de importações, vai ter que importar. A Ásia é deficitária em matérias-primas, enquanto o Japão está procurando introduzir o álcool como combustível”, avaliou.

O Brasil, por outro lado, tem o mais bem-sucedido programa de etanol, capaz de atender não apenas a demanda interna, mas exportar grandes quantidades do biocom-bustível. De acordo com a União da Indústria de Cana-de-açúcar (Uni-ca), de abril a novembro de 2008 as vendas externas de etanol brasilei-ro somaram 3,7 milhões de m3, de-vendo fechar a safra 2007-2008 com um total de 4,2 milhões de m3.

vANtAgENs cOMPEtItIvAs E DEsAfIOs

Na comparação com o etanol de milho, o álcool de cana-de-açúcar usa menos combustível fóssil na fabricação, rende mais por hecta-re e gera menos emissões de gases de efeito estufa. Também consome menos insumos fósseis em relação ao etanol de beterraba e de trigo, produzido na Europa. Em seu ciclo de vida, o álcool de cana, se compa-rado aos derivados de petróleo, leva à redução de 89% das emissões res-ponsáveis pelo aquecimento global. O etanol de beterraba reduz essas emissões em até 56%, o de trigo em 47% e o de milho em 38%.

A utilização do etanol no mun-do vem aumentando a cada ano, tendo crescido cerca de 10% entre 2006 e 2007, quando a produção su-biu de 51,3 milhões de m3 para 55,7 milhões. Das usinas norte-ameri-canas saíram 26 milhões de m3 e das brasileiras, 20 milhões. China e Índia totalizaram 6 milhões de m3, a União Européia produziu 2,3 milhões e outros países asiáticos, 1,4 milhão. Mesmo assim, segun-do o estudo do BNDES, o etanol e os outros biocombustíveis líquidos somaram pouco mais de 1% da energia renovável usada do mundo em 2006, com uma participação na matriz energética que não chegou a 1% do consumo de petróleo.

A adoção definitiva do etanol de cana como alternativa energética global tem um longo caminho pela frente. Os canaviais são culturas desenvolvidas em mais de 100 pa-íses das Américas, Ásia e África, e

A promessa energética mundial

Barreiras a superarDe acordo com estudiosos do setor, para que o

etanol brasileiro ganhe o mundo, obstáculos fiscais de natureza protecionista precisam ser superados. Nos Estados Unidos, por exemplo, o álcool importa-do é taxado em US$ 0,54 por galão (3,8 litros), exceto o remetido por países da América Central e Caribe, signatários do acordo de livre comércio Iniciativa da Bacia do Caribe (CBI). Para driblar os excessos tari-fários, o etanol brasileiro vem chegando ao mercado norte-americano de forma indireta: o biocombustí-vel é exportado para os países membros do CBI, de-sidratado e em seguida despachado aos EUA. Dos 4,6 milhões de m3 importados pelo país em 2006 e 2007, cerca de 75% tiveram a isenção da CBI, envolvendo etanol originário do Brasil e outras regiões.

Outro requisito para o crescimento do mercado mundial de etanol é o alinhamento de especificações técnicas a serem respeitadas por todos os produtores. A padronização internacional vem sendo buscada pelo Brasil, União Européia e EUA, que divulgaram, em fevereiro de 2008, o Livro branco sobre especificações de biocombustíveis internacionalmente compatíveis. Na pu-blicação, foram analisadas as determinações atuais e as medidas necessárias para a compatibilização de procedimentos, processos e materiais para testes de qualidade de etanol e biodiesel.

Enquanto um acordo definitivo não é elaborado, diversos paises vêm estimulando o uso crescente de biocombustíveis como forma de se precaver contra a dependência excessiva de petróleo. Nos EUA, a edi-ção do Ato de Segurança e Independência Energética (EISA, na sigla em inglês), no fim de 2007, impôs a pro-gressiva participação dos combustíveis renováveis na

matriz energética, criando uma demanda anual que chegará a 136 milhões de m3 de bioetanol e outros biocombustíveis em 2022. Na União Européia, em de-zembro de 2008, os parlamentos dos 27 países-mem-bro ratificaram a Diretiva para Biocombustíveis, que prevê o uso de 10% de energias renováveis nos trans-portes. A medida pretende gerar um consumo anual de 10 milhões a 14 milhões de m3 até 2020.

O Japão é outro mercado com grande potencial de consumo de etanol, em face da preocupação do governo em reduzir a emissão de gases de efeito es-tufa. De 2006 para 2007, as vendas de álcool brasi-leiro no mercado japonês subiram 778%, passando de 227,7 mil para 2 milhões de m3. O crescimen-to vertiginoso foi estimulado principalmente pelo uso do etanol como aditivo à gasolina. Seguindo o exemplo brasileiro, a montadora Nissan lançou em abril de 2008, como teste, o primeiro carro no Japão movido com a mistura, na proporção de 10%.

O capital japonês vem firmando parcerias comer-ciais e operacionais no Brasil para assegurar o supri-mento do etanol. Em julho, a Japan Biofuels Supply selou acordo com a Coopersucar para o fornecimento de 200 mil m3 de álcool anidro, usado na produção de bio-ETBE, um aditivo para a gasolina obtido a partir de fontes renováveis. Em outra iniciativa nipo-brasi-leira, a Petrobras e a Mitsui buscam parceiros para produzir álcool no País destinado ao Japão. No primei-ro dos 20 Complexos Bioenergéticos (CBios) previstos, em construção no município goiano de Itarumã, a estatal brasileira e a empresa japonesa se uniram à experiência da Energética do Cerrado Açúcar e Álcool para erguer e operar a unidade.

PRODUÇÃO DE ETANOL EM 2007

Fontes: REN21 (2008) e F. O. Licht (2007)

EstadosUnidos46,7%

China6,6%

Alemanha1,3%

França2,2%

Outros países da União Européia0,6%

índia4,1%Outros países asiáticos

2,5%

Brasil35,9%

açúcar, muito mais competitivo que o equivalente americano, à base de milho.

O cenário global para os próxi-mos anos é traçado pelo estudo Bioetanol de cana-de-açúcar – energia para o desenvolvimento sustentável, publicado pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) em parceria com o Centro de Gestão e Estudos Es-tratégicos (CGEE). Segundo o do-cumento, o aumento das expor-tações do combustível depende, antes de tudo, de fatores como a redução de barreiras alfandegá-rias e a transformação do produ-to numa commodity, produzida e consumida por vários países.

O estudo do BNDES, avalizado pela Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe (Cepal) e pelo escritório regional da Orga-nização das Nações Unidas para

Alimentação e Agricultura (FAO), faz parte do empenho do gover-no brasileiro em busca de novos mercados para o etanol nacional. Organizado pelo pesquisador Luiz Augusto Horta Nogueira, da Uni-versidade Federal de Itajubá (Uni-fei), em Minas Gerais, o relatório estimula o diálogo no setor, forne-cendo subsídios científicos para a formação de um mercado mun-dial para o álcool combustível.

“Embora os EUA sejam o maior produtor mundial de etanol, o mo-delo americano está em xeque”, assinalou o diretor comercial da Cosan, Carlos Murillo Mello, no se-minário. O executivo da maior pro-dutora nacional de etanol observa que dois fatores contam ponto a favor do álcool de cana-de-açúcar no mercado mundial: o custo e o impacto menor sobre o meio am-biente. “A Europa tem um merca-

➔ Na comparação com o etanol de milho, o álcool de cana-de-açúcar usa menos combustível

fóssil na fabricação, rende mais litros por hectare e gera menos emissões de gases de

efeito estufa

PRODUTIVIDADE ENERGÉTICA MÉDIA DAS PRINCIPAIS MATÉRIAS-PIMAS USADAS NA PRODUÇÃO DE ETANOL

Fonte: MAPA (2008)

Cana-de-açúcar

Beterraba Cana-de-açúcar

Milho Mandioca Trigo

BRASIL UE ÍNDIA EUA TAILÂNDIA UE

7

m3 /h

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6

5

4

3

2

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0Cana-de- Beterr bbbaba Cana-de- MiMiMiM lhlhlho Ma ddndiiioca TrTTT iiigo

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BRASIL

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ÍNDIA EUA TAILÂNDIA UE

apesar de muitos deles já produzi-rem álcool combustível, o número dos que o fazem em larga escala ainda é muito pequeno. Aos olhos dos grandes importadores em po-tencial, como os EUA, países eu-ropeus e asiáticos, a produção de etanol deve ser diversificada para garantir a segurança do forneci-mento, num modelo de mercado aberto a exemplo do petróleo, aço, soja, trigo e outras commodities con-solidadas.

DEMANDA POTENCIAL DE ETANOL EM 2007

REGIÃO

EUABrasilU. EuropéiaChinaAustráliaJapãoVenezuelaÍndiaTailândia

48,2%22,8%18,6%

4,1%1,8%1,5%1,3%0,9%0,8%

–20-25%

10%10%

3%10%10%10%10%

PARTICIPAÇÃOMISTURA DE

ETANOL À GASOLINA

Fonte: IEA (2008)

estouro de texto

da matéria principal

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36 Sexta-feira, 26 de janeiro de 2009

O futuro da matriz energética no mundo

O crescimento da parti-cipação brasileira no mercado de biocom-bustíveis já começou. Em 2008, a Petrobras

comercializou 605 mil m3 de eta-nol para os Estados Unidos, Europa e Ásia, um aumento de 404% em relação às exportações do ano an-terior. Deste volume, 117,7 mil m3 foram destinados somente ao con-tinente asiático.

O agravamento do efeito estufa vem obrigando os países a substi-tuir combustíveis fósseis por ener-gia obtida de fontes renováveis, fortalecendo ainda mais o Brasil neste crescente mercado. A União Européia espera que, até 2020, toda a energia consumida no continente venha de fontes renováveis. A Ale-manha, que é hoje o maior produ-tor de biodiesel do mundo, importa toda a matéria-prima processada em suas usinas, configurando-se como um grande mercado poten-cial para os biocombustíveis brasi-leiros. Os Estados Unidos, por sua vez, os maiores produtores de eta-nol do planeta, buscam substituir 20% do consumo de gasolina por álcool em dez anos.

O mercado asiático mostra-se também muito promissor. A par-tir de 2010, o Japão pretende mis-turar 5% de etanol à sua gasoli-na, enquanto que a Índia procura adicionar 20% de biocombustíveis à gasolina e ao diesel até 2017. A China já adotou a mistura de 10% de etanol à gasolina.

A América Latina é outra pos-sível frente de negócios, embora bem mais modesta. O Paraguai, por exemplo, quer estimular a uti-lização de carros flex fuel. O país, no entanto, não dispõe de reservas de petróleo e, apesar de seu gran-de potencial agrícola, não produz etanol. A solução adotada pelo go-verno paraguaio seria importar o combustível, preferencialmente de países vizinhos. O Chile também demonstrou interesse recentemen-te pela tecnologia flex. Os graves problemas ambientais da capital chilena, aliados à dependência ex-terna de petróleo, fazem daquele país outro grande mercado para o etanol brasileiro.

uMA NOvA ERADesde 2005, o biodiesel faz parte

da matriz energética brasileira. O

percentual de mistura do biodiesel ao diesel mineral, que hoje é de 3% (mistura B3), chegará a 5% (mistura B5) até 2013. Expedito Parente, cien-tista que desenvolveu a tecnologia de extração de óleo vegetal para a produção de biodiesel, considera a adoção das energias renováveis ‘imperativa e inevitável’, apesar dos altos custos que ainda envolvem os processos de produção. Para ele, os cálculos sobre a rentabilidade dos biocombustíveis devem incluir os benefícios sociais que eles propor-cionam e não apenas as vantagens econômicas e ambientais.

“A era do petróleo está sendo substituída pela era solar. E nesta nova era não podemos pensar em competição ou subtração. A matriz energética deverá ser cada vez mais diversificada, empregando não só os biocombustíveis, mas uma gama variada de fontes de energia. Atu-almente existe tecnologia até para produzir biodiesel a partir dos resí-duos de frituras que vão parar nos esgotos urbanos. No futuro, esses óleos residuais certamente serão aproveitados e passarão por trans-formação ainda nas estações de tratamento”, acredita o cientista.

evolução da matriz energética mundial

Em 2030, as matrizes energéticas, mundial e brasileira, terão maior participação de fontes renováveis (hidroeletricidade e biomassa) e serão menos dependentes do petróleo

recurso/ano mundo brasil

1973 2006 2030 2030

Petróleo 46,1% 34,4% 31,5% 28,0%

Carvão mineral 24,5% 26,0% 28,2% 6,9%

Gás natural 16,0% 20,5% 22,3% 15,5%

Nuclear 0,9% 6,2% 4,8% 3,0%

Hidroeletricidade 1,8% 2,2% 2,4% 13,5%

Biomassa e outras 10,7% 10,7% 10,8% 33,1%

Fonte: MME (2007)

➔ Nos EUA, espera-se a substituição de 20%

do consumo de gasolina por álcool em dez

anos, enquanto o Japão pretende misturar 5%

do produto nos tanques, a partir de 2010