bioengenharia utilizando bambus em faixas para o … · 2019. 9. 30. · clayton-barbosa, a.:...

21
223 Núm. 33, pp. 223-243, ISSN 1405-2768; México, 2012 BIOENGENHARIA UTILIZANDO BAMBUS EM FAIXAS PARA O CONTROLE DE PROCESSOS EROSIVOS: UMA ANALISE QUALITATIVA Admilson Clayton-Barbosa Universidade Federal do ABC–UFABC–Brasil. Rua Santa Adélia, 166. Bairro Bangu. Santo André - SP - Brasil Correo electrónico: [email protected] ABSTRACT This work shows the potential use of bamboo with an alternative to recover the moderate erosion. The technical was applied in southern scarpment of the Serra da Mantiqueira, city of Pindamonhangaba, and claimed as a result to reverse environ- mental damage caused by the rupture of a water adductor located at 1 700 m altitude, that resulted in the formation of a scar in the hillside forest, with soil and vegetation removal. To reverse the erosion processes created at the site, a new technique was developed using four barriers formed by seedlings of Bambusa multiplex (Lour.) in order to divert the waters and promote the regeneration of vegetation. The planting site was delimited by limiting lawn, with function to keep the bamboo seedlings in a con¿ned space, limiting its growth, ensuring that rainwater did not carry the seedlings before the interlacing of rhizomes, their formation and ¿xation in the soil. The seedlings of B. mutiplex were planted next to each other, at distances of 10 cm, trying to ¿ll the enclosed area. The interventions, barriers that will promote the stability of the erosive processes. The choice of bamboo as a type natural ecological barrier, favored the drainage of super¿cial waters and provided the stability of the erosions caused by envi- ronmental accidents, and can be considered as an ef¿cient method to contain the erosive processes. Key words: bioengineering; bamboo; control of erosion, environment restoration RESUMO Este estudo apresenta o uso potencial do bambu como uma alternativa para recupe- ração de processos erosivos moderados. A técnica foi aplicada na escarpa Sul da Serra da Mantiqueira, cidade de Pindamonhan- gaba, com o objetivo de reverter os danos ambientais causados pelo rompimento de uma adutora de água localizada a 1 700 m de altitude. No local formou uma cicatriz na Àoresta de encosta, com supressão do solo e da vegetação. Para reverter os processos erosivos formados no local foi aplicada uma nova técnica utilizando quatro ba- rreiras formadas com mudas de Bambusa multiplex (Lour.), com intuito de desviar as águas e favorecer a regeneração da ve- getação. O local do plantio foi delimitado com limitador de gramado com função de manter as mudas de bambu em um espaço con¿nado, limitando seu crescimento, asse- gurando que as águas das chuvas não carre- gassem as mudas antes do entrelaçamento dos rizomas, da sua formação e ¿xação no

Upload: others

Post on 30-Jan-2021

1 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

  • 223

    Núm. 33, pp. 223-243, ISSN 1405-2768; México, 2012

    BIOENGENHARIA UTILIZANDO BAMBUS EM FAIXAS PARA O CONTROLEDE PROCESSOS EROSIVOS: UMA ANALISE QUALITATIVA

    Admilson Clayton-BarbosaUniversidade Federal do ABC–UFABC–Brasil.

    Rua Santa Adélia, 166. Bairro Bangu. Santo André - SP - Brasil Correo electrónico: [email protected]

    ABSTRACT

    This work shows the potential use ofbamboo with an alternative to recoverthe moderate erosion. The technical wasapplied in southern scarpment of the Serrada Mantiqueira, city of Pindamonhangaba,and claimed as a result to reverse environ-mental damage caused by the rupture of awater adductor located at 1 700 m altitude,that resulted in the formation of a scar inthe hillside forest, with soil and vegetationremoval. To reverse the erosion processescreated at the site, a new technique wasdeveloped using four barriers formed byseedlings of Bambusa multiplex (Lour.) inorder to divert the waters and promote theregeneration of vegetation. The plantingsite was delimited by limiting lawn, withfunction to keep the bamboo seedlingsin a con ned space, limiting its growth,ensuring that rainwater did not carry theseedlings before the interlacing of rhizomes,their formation and xation in the soil. Theseedlings of B. mutiplex were planted nextto each other, at distances of 10 cm, tryingto ll the enclosed area. The interventions,barriers that will promote the stability of theerosive processes. The choice of bamboo asa type natural ecological barrier, favored thedrainage of super cial waters and providedthe stability of the erosions caused by envi-

    ronmental accidents, and can be consideredas an ef cient method to contain the erosiveprocesses.

    Key words: bioengineering; bamboo;control of erosion, environment restoration

    RESUMO

    Este estudo apresenta o uso potencial dobambu como uma alternativa para recupe-ração de processos erosivos moderados. Atécnica foi aplicada na escarpa Sul da Serrada Mantiqueira, cidade de Pindamonhan-gaba, com o objetivo de reverter os danosambientais causados pelo rompimento deuma adutora de água localizada a 1 700 mde altitude. No local formou uma cicatriz na oresta de encosta, com supressão do solo

    e da vegetação. Para reverter os processoserosivos formados no local foi aplicadauma nova técnica utilizando quatro ba-rreiras formadas com mudas de Bambusamultiplex (Lour.), com intuito de desviaras águas e favorecer a regeneração da ve-getação. O local do plantio foi delimitadocom limitador de gramado com função demanter as mudas de bambu em um espaçocon nado, limitando seu crescimento, asse-gurando que as águas das chuvas não carre-gassem as mudas antes do entrelaçamentodos rizomas, da sua formação e xação no

    mailto:[email protected]

  • 224

    Enero 2012Núm. 33: 223-243

    solo. As mudas de B. mutiplex foram planta-das, uma ao lado da outra, em espaçamentode 10 cm, procurando preencher toda aárea delimitada. As intervenções, barreiraspromoveram a estabilização dos processoserosivos. A escolha do bambu como formade barreira ecológica natural, favoreceu oescoamento adequado das águas super ciaise proporcionou a estabilização das erosõesprovocadas pelo acidente ambiental e, podeser considerado um método e ciente paracontenção de processos erosivos.

    INTRODUÇÃO

    No Brasil o uso de espécies vegetais vivas nabioengenharia é muito incipiente, quando seconsidera a diversidade de espécies vegetaisnativas e as exóticas adaptadas ao clima esolo brasileiro. A diversidade e versatilidadeecológica das espécies botânicas do Brasil,apontam para uma demanda de estudos coma nalidade de conhecer e indicar o potencialde dessas espécies na bioengenharia,principalmente para o controle de processoserosivos, recuperação de taludes e em obrasde engenharia civil e arquitetura.

    A bioengenharia de solos faz uso devegetação para recuperação de ambientesdegradados, que consiste no uso deelementos biologicamente ativos em obrasde estabilização do solo e sedimentos. Taiselementos podem ser a vegetação, conjugadoa elementos inertes, como materiaissintéticos, rochas, concretos, ligas metálicas,entre outros (Sutili, 2007). No controle deprocessos erosivos, a bioengenharia utiliza-se de diversas plantas, em especial, asgramíneas, pela característica de seu sistemaradicular e presença de estolhos e rizomas,além do seu desempenho fotossintético sermais e ciente em condições adversas.

    No Brasil e mundo há exemplos do uso deespécies vegetais na bioengenharia, como naÁustria, Itália, Panamá, China, Nepal entreoutros. Estudos mostram que a utilização doscolmos de bambu, com plantio consorciadocom outras espécies pode ser uma alternativamais barata de controle de deslizamentos eecologicamente melhor (Barbosa, 2009),na região sul do Brasil, a bioengenhariafoi aplicada para estabilização de taludes uviais (Sutili, 2007).

    Devido à escassez de estudos sobre biologiae ecologia das espécies de bambus, elessão muito criticados quando usados para arecuperação de áreas degradadas, devido asua fácil adaptação e competição com outrasespécies.

    Este trabalho tem objetivo demonstrarqualitativamente o potencial emprego deBambusa multiplex (Lour) na bioengenhariade solos para o controle de processoserosivos. Para avaliar esse potencial foiaplicado um modelo experimental comquatro barreiras de bambu aplicado em umaárea degradada para frear processos erosivosdecorrente de um acidente ambiental eproporcionar a regeneração da vegetaçãonatural induzida pelo rompimento deuma adutora de água que serve a UsinaHidrelétrica de Izabel, localizada nomunicípio paulista de Pindamonhangaba,Brasil.

    REVISÃO BIBLIOGRAFICA

    Bioengenharia e o Uso de Espécies Vegetais

    A vegetação tem função primordial paraa conservação dos solos e na restauraçãoambiental (Gonçalves et al., 2003; Reis,2003). De acordo com Ross (1994; 1996)

  • 225

    Clayton-Barbosa, A.: Bioengenharia utilizando bambus em faixas para o controle de processos erosivos

    e Gonçalves et al. (2003), quanto maispreservada a cobertura da vegetação, maioro grau de proteção do solo. Desta forma,em uma oresta, as árvores amortecem aágua das chuvas antes delas tocarem o solo,as gotas escorrem pelos troncos e chegamao solo de forma mais serena, facilitando ain ltração de água no solo.

    Os resíduos naturais produzidos pelafloresta, depositados no solo na formade serapilheira, além de participarem naciclagem de nutrientes, também amortecemo impacto das gotas de chuva e reduz avelocidade de escoamento das águas, fatorimportante para não desencadear processoserosivos (Gonçalves et al., 2003).

    A utilização de espécies vegetais, vivas emortas, na recuperação ambiental comoforma de agregado ou matéria-prima éuma realidade cada vez mais presente.A bioengenharia de solos é um exemplode uso de vegetação para recuperação deambientes degradados. Ela consiste no usode elementos biologicamente ativos emobras de estabilização do solo e sedimentos.Tais elementos podem ser a vegetação,conjugado a elementos inertes, comomateriais sintéticos, rochas, concretos, ligasmetálicas, entre outros (Durlo & Sutili,2005; Antonis e Molinari, 2007; Sutili,2004; 2007).

    No controle de processos erosivos, a bio-engenharia faz uso de diversas plantas, emespecial, as gramíneas, pela característicade seu sistema radicular e presença de es-tolhos e rizomas, além do seu desempenhofotossintético ser mais e ciente em diversascondições (Reis, 2003; Pereira, 2006).

    Um exemplo da utilização de gramíneaspela bioengenharia acontece no Nepal, ondeo uso desta técnica é frequente (Acharya &Florinet, 2006). Lá, uma das espécies usadaspara essa nalidade é o capim-elefante,plantado nas montanhas com altitudesuperiores a 800 m e precipitação superiora 3 000 mm/ano, visando a estabilizaçãode locais onde há desprendimento de terra.Nos pontos onde há manejo adequado,ele favorece o processo de recuperaçãoe estabilização dos processos erosivos(Sthapit & Tennyson, 2007).

    O bambu é outra espécie que foi largamenteexperimentada em todo o mundo. Seu colmofoi utilizado de diversas formas, desdeelementos de base estrutural no lugar degabiões, como para drenagem, no controlede deslizamentos (Acharya & Florinet,2006) e controle de erosão em praias (Drakeet al., 2002).

    Na província chinesa de Sichuan, aespécie de bambu Phyllostachys nidulariaMunro é muito empregada no controle dedeslizamentos (Stokes et al., 2007).

    Nas montanhas do Nepal o bambu tambémé utilizado para o controle de deslizamentoem condições de precipitação elevada etopogra a acidentada (Higaki et al., 2005;Acharya & Florinet, 2006).

    Estudos mostram que a utilização dos col-mos de bambu, com plantio consorciadocom outras espécies pode ser uma alternativamais barata de controle de deslizamentos eecologicamente melhor (Acharya & Flori-net, 2006; Sutili, 2007).

    No Brasil temos exemplos bem sucedidos douso da bioengenharia, como a aplicação de

  • 226

    Enero 2012Núm. 33: 223-243

    tela vegetal e tela biotêxtil para o tratamentode taludes (Silva e Diniz, 2004). Na regiãosul do país, a bioengenharia é aplicada paraestabilização de taludes fluviais (Durlo& Sutili, 2005; Sutili, 2004; 2007). Destaforma, os bambus se mostram um grupobotânico com potencial para aplicação embioengenharia, uma ciência que com grandepotencial ser aplicada no Brasil.

    Bambu: Os rizomas como estruturasmorfológicas importantes para recuperaçãode processos erosivos

    Os bambus são angiospermas, mono-cotiledôneas, lenhosas, caracterizados peloseu ciclo de vida, no qual há longos períodosexclusivamente vegetativos e eficientesincronia na oração (Guilherme & Ressel,2001; Ramanayake, 2006). Os bambuspertencem à família botânica Poaceae,do grupo das gramíneas, e subfamíliaBambusoideae, dividida em duas grandestribos: 1) Olyrodea, bambu herbáceos, 2)Bambusoidae, bambus lenhosos (Londoño,2002; Santos-Gonçalves, 2006; Oliveira etal., 2006).

    A dis tr ibuição dos bambus ocorrenaturalmente entre as latitudes 46° N e47° S, desde os trópicos até as regiõestemperadas (Nunes, 2005; Zang & Clark,2000 apud Santos-Gonçalves, 2006), excetona Europa. No mundo há mais de 1 100espécies de bambu; nas Américas há cercade 40 gêneros e 547 espécies (Freitas etal., 2003). No Brasil há bambus exóticose nativos, sendo que já foram identi cadoscerca de 34 gêneros, 232 espécies e, destetotal, 204 são consideradas endêmicas(Pereira, 2001; Santos-Gonçalves, et al.,2006).

    Cada gênero das espécies de bambu possuipeculiaridades quanto a sua biologia eecologia. O gênero Bambusa, por exemplo,possui fácil adaptação a solos degradadose com baixa fertilidade, além do rápidocrescimento e fácil adaptação (Graça, 1988;Pereira, 2001).

    Estruturalmente os bambus são compostosde rizomas subterrâneos, colmos, galhose folhas. Os rizomas são tipos de caules,geralmente subterrâneos, horizontais, ricosem reservas, se distinguem das raízes pelapresença de nós, gemas e escamas (Ferri,et al., 1981; Nunes, 2005). Essas estruturassão consideradas bem desenvolvidas porOliveira et al. (2006) e Guilherme & Ressel(2001), ambos as consideram plantascomplexas devido suas característicaspeculiares, e se diferenciam de acordocom sua forma, sendo classificados emrizomas do tipo leptomorfos, paquimorfosou an morfos (McClure, 1966; 1973; apudLondoño, 2002; Bambu Brasileiro, 2007).

    Os rizomas são estruturas determinantespara o uso adequado do bambu em pro-cessos de restauração de solo, isso porquesua anatomia e função podem interagir demaneira diferenciada nos solo. Os bambusde rizomas leptomorfos (Fig. 1) estão dis-tribuídos nas zonas temperadas do Planeta,e sua forma alastrante caracteriza o grupo(Londoño, 2002; Nunes, 2005).

    As raízes adventícias podem estar ou nãopresentes (Londoño, 2002), seus colmos sãomais espessos e, algumas vezes, dão origema novos colmos (Pereira, 2001; Londoño,2002), crescem entre 1.0 e 6.0 m por ano,formando uma rede que chega a atingir entre50 a 100 000 m lineares por hectare.

  • 227

    Clayton-Barbosa, A.: Bioengenharia utilizando bambus em faixas para o controle de processos erosivos

    Fig. 1. Rizomas leptomorfos. Adaptado de Lopez, apud Nunes (2005).

    Bambus com rizomas leptomorfos apre-sentam ramos e folhas nas partes altas docolmo, mesmo antes que este atinja sua al-tura nal. O período de brotação dos colmosocorre no início da estação chuvosa (Nunes,2005; Bambu Brasileiro, 2007).

    Exemplos de bambus com rizoma leptomor-fo são as espécies do gênero Phyllostachys,conhecidos popularmente como vara-de-pesca ou bambu-chinês, que formam no solouma rede tão densa e forte que nem a água dachuva consegue penetrar. Essa característicafoi considerada por Londoño (2002) comoideal para conservação de solos declivosose íngremes.

    As espécies de bambu com rizomas pa-quimorfos (Fig. 2) formam touceiras e sãochamados também de entouceirantes outorcentes (Nunes, 2005).

    Segundo Pereira (2001), os colmos dosbambus entoucerantes, denominados desitema simpodial, desenvolvem muitopróximo uns dos outros, formando astouceiras, popularmente chamadas demoitas. O rizoma paquimorfo é encontradonas espécies do gênero Bambusa, Guaduae Dendrocalamus, comuns nas zonastropicais, formam no solo uma rede menosdensa do que as espécies com rizomasleptomorfos. Permitem maior percolaçãode água no solo, e ajudar a controlar erosão, xando se no solo em ravinas, margens de

    rios e beira de estradas (Londoño, 2002).

    As espécies com rizomas anfimorfoscombinam os dois tipos de rizomasanteriores, paquimorfos e leptomorfos, emuma mesma planta, no mesmo sistema. Umaespécie que apresenta este tipo de rizomaé a Chusquea fendleri Munro (BambuBrasileiro, 2007).

  • 228

    Enero 2012Núm. 33: 223-243

    Os bambus do gênero Chusquea sãocomuns de regiões montanhosas, podendoser visto na Colômbia (Londoño, 2002),entre outras regiões na América Latina. NoBrasil também é comumente encontradonas regiões de serras e montanhas, comoa Serra do Mar e a Serra da Mantiqueira,em área de Floresta Ombró la Densa enos Escrubes.

    Segundo Londoño (2002), devido àmorfologia dos rizomas, os bambus sãorecursos ideais para conservação do solo,estabilização de encostas, proteção dosolo contra ventos fortes e estabilizaçãode escorregamentos, atuando bem nosprimeiros 50-100 cm do solo.

    Área de estudo

    O local onde foi implantada as quatro ba-rreiras de bambu localiza-se no município

    de Pindamonhangaba, estado de São Paulo,Brasil (Fig. 3), constituída pela bacia hidro-grá ca do rio Paraíba do Sul. Pertence àencosta sul da Serra da Mantiqueira, loca-lizada no município de Pindamonhangaba,SP, nas coordenadas 22º 44’29. 49” S e 45º26’50. 37” E. A vegetação predominante éde Floresta Ombró la Densa de Encosta,em estádio secundário avançado de rege-neração, entre as altitudes de 1600-1700 me está na face sul da Serra da Mantiqueira,voltada para o Vale do Paraíba.

    A supressão da vegetação do local se deupelo rompimento de uma adutora de água,a carga hidráulica exerceu uma forçatão intensa, que arrastou todo o solo e avegetação, incluindo árvores com DAP(diâmetro altura do peito) de 160 cm,estendendo-se por mais de 150 m a jusanteda encosta causando um profundo impactono meio ambiente.

    Fig. 2. Rizoma paquimorfo. Adaptado de Lopez, apud Nunes (2005).

  • 229

    Clayton-Barbosa, A.: Bioengenharia utilizando bambus em faixas para o controle de processos erosivos

    Fig. 3. Localização da área de estudo, Serra da Mantiqueira, São Paulo, Brasil.

    A sionomia do terreno, após o acidente,ficou semelhante às áreas que sofreramdeslizamentos com chuvas. O solopredominante no local afetado pertenceà classe dos Cambissolos, CambissoloHúmico Distró co latossólico, isto é, sãosolos constituídos por material que apresentahorizonte A ou hístico, com espessura <40 cm, seguido de horizonte B incipiente,são solos bastante pobres em nutrientes eácidos, com elevados teores de alumíniotrocável (Al3+). É comum horizonte Cr

    (saprolítico). Apresentam significativosteores de minerais primários facilmenteintemperizáveis, os quais podem constituirapreciável reserva de nutrientes para plantas(Oliveira et al., 1999).

    A carga hidráulica e o fluxo das águasformaram, no local, processos erosivos dediferentes ordens, com presença de sulcose ravinas. As ravinas mais profundas foramdenominadas ravina maior e ravina menor.Ambas apresentam taludes lateral, sendo

  • 230

    Enero 2012Núm. 33: 223-243

    que a maior tem aproximadamente 3.0 mde altura e, a menor, 1.5 m de altura. Váriasevidências de formação de novos processoserosivos caram aparentes, como letes esulcos de erosão.

    MATERIAL e MÉTODOS

    Segundo relatório da Empresa Metropo-litana de Águas e Energia-EMAE (2007),para efeito estratégico na execução dostrabalhos da Etapa II, a área foi divida emtrês trechos, denominados A, B e C (Fig.4), sendo eles:

    Trecho A - localizado na altitude de 1.758m, onde foi executada a Etapa I (obrasemergências de reafeiçoamento das bordasda ravina para estabilizar o talude, etapaconcluída em março de 2005), parte da 2ºetapa dos trabalhos, concluída em meadosde 2006, quando ocorreu a remodelação dacrista do talude e instalação e reforço danova tubulação rompida.

    Trecho B - é o local onde foram implantadasas barreiras de bambu, e corresponde à EtapaII dos trabalhos, realizados no períodode dezembro de 2006 a março de 2007;compreende o setor entre as altitudes de1.620 e 1.705 m,

    Trecho C - também atendido pela Etapa II.Neste trecho foi realizado o plantio de 100espécimes nativas da região (não descritoneste trabalho).

    Etapa II, trecho B – Recuperação da Áreada Cicatriz com instalação de barreiras demudas de bambu.

    Nesta etapa de trabalho foram instaladas asquatro barreiras de bambu, como forma

    de contenção dos processos erosivos peloprincípio de desvio da carga hidráulica daárea degradada e retenção de propágulos.A seguir serão apresentados a descriçãodo método e os materiais utilizados quecompõem esta técnica aplicada. Foraminstaladas quatro barreiras, descritas enomeadas em ordem decrescente, dosentido montante para jusante, estando aprimeira barreira localizada a 1.668 m dealtitude, segunda a 1.651 m, terceira a 1.640m e a quarta instalada a 1.626 m (Barbosa2009).

    Cada barreira recebeu o plantio de 130 mudasde Bambusa multiplex, em uma delimitadacom uma estrutura de PVC reciclado comaltura de 21 cm, comercialmente conhecidacomo limitador de grado e jardim. Cadabarreira estava con nada em uma área deaproximadamente 50 cm de largura e 7.0 a8.5 m de comprimento.

    Materiais empregados

    Os materiais utilizados para realização dosserviços foram:

    520 mudas de B. multiplex; 60 metros de limitador de gramado/jardim

    em PVC reciclado, com altura de 21 cm; 20 metros de arame de aço galvanizado

    de 2.70 mm; 48 grampos de aço de 5.00 mm, para

    fixação dos limitadores de bambu e dobambu estrutural;

    A escolha do bambu

    O bambu é uma planta que apresentacaracterísticas ideais para recuperação deambientes degradados, pelo seu rápidocrescimento, rusticidade e fácil adaptação

  • 231

    Clayton-Barbosa, A.: Bioengenharia utilizando bambus em faixas para o controle de processos erosivos

    Fig. 4. Delimitação dos trechos A, B e C. Fonte: EMAE (2007).

    Tabela 1. Modelo da planilha de campo contendo as variáveis avaliadas.

    ASPECTOSMONITORADOS NOTA

    Água Erosão

    VegetaçãoRegeneração natural da vegetação

    Sucesso do plantio de mudas deB. multiplex

    Estadodas barreiras

    Conservação das estruturas

    Funcionalidade

  • 232

    Enero 2012Núm. 33: 223-243

    a solos degradados (Londoño, 2002) e, poresta razão, foi o grupo botânico selecionadopara o trabalho de recuperação ambiental.A avaliação da eficiência das barreirascomo um incremento para restauraçãoda vegetação foi feita com base naaplicação de planilhas de campo (tabela1), desenvolvidas para coleta de dados. Osaspectos foram divididos em dois grupos:fatores ambientais e estruturais, comsubdivisões que possuem relações diretascom a intervenção feita para contribuir como a restauração do local. Esses aspectosforam pontuados com uma nota, que variou1 para os menos e cientes e, 10 para osmais e cientes. O trabalho foi avaliadomensalmente no período de 18 meses.

    Quanto aos aspectos da sua morfologiado bambu destacam-se o tipo de rizoma,paquimorfo, portanto, entouceirante, oque evitaria a colonização da planta sobreas áreas de oresta, e o seu porte, que nãoalcançaria altura superior a das árvoresnativas encontradas em áreas do entorno doacidente (Stapleton, 1994; Cusack, 1999;Meredith, 2001; Bamboo Garden, 2008).Com relação aos seus aspectos ecológicos,a forma entouceirante e a multiplicaçãoprincipalmente por divisão dos rizomas, e otempo de oração, que é superior a 20 anos(Meredith, 2001; Bamboo Graden, 2008),são pontos positivos para sua utilização.

    Outras características gerais do bambu queestimularam sua escolha para utilização notrabalho foram:

    Espécie de fácil adaptação em solosdegradados com baixa fertilidade natural(Londoño, 2002);

    Permite a recuperação do solo e propiciaa contenção de processos erosivos (Drakeet al., 2002; Londoño, 2002; Gonçalves etal., 2003);

    Aumenta a umidade relativa do ar naregião, dando suporte ao crescimento deespécies arbóreas nativas (Bamboo Garden,2008);

    Contribui ainda para a preservação dosrecursos hídricos, tanto na prevenção deassoreamento dos cursos de água quantodos aquíferos, por permitir um elevadocoeficiente de infiltração das águas daschuvas (Bambu Brasileiro, 2007);

    Os bambus são espécies muito e cientespara ações de recomposição florestal,permitindo o seu cultivo de formaconsorciada a estas ações, uma vez queo manejo e colheita seletiva das hastespermitem a manutenção e desenvolvimentodas touceiras (Meredith, 2001; Lõndono,2002; Filgueiras & Santos-Gonçalves,2006);

    As touceiras podem servir de barreira paradesviar a água para leitos de drenagem.

    A avaliação do trabalho foi escolhida emfunção de sua praticidade e agilidade,portanto optou-se por uma seleção de cincoparâmetros avaliados por 18 meses. Todasas informações eram registradas em cadernode campo e chas de acompanhamento,para que ela pudesse demonstrar dadosqualitativos e qualitativos da eficiênciadas contenções de ravinas e das barreirasde bambu. Os parâmetros ambientaisselecionados formam:

  • 233

    Clayton-Barbosa, A.: Bioengenharia utilizando bambus em faixas para o controle de processos erosivos

    Erosão: observou-se o controle dos processoserosivos após a instalação das intervenções.Quanto maior o valor atribuído, na escalanumérica, mais e ciente é a intervenção nocontrole desses processos;

    Regeneração natural da vegetação: foiavaliada a ocorrência de espécies vegetaisapós as intervenções, como resposta doambiente ao processo de regeneração.Sua valoração se deu em função dessaocorrência;

    Sucesso do plantio de bambu: esse aspectofoi avaliado considerando-se o índice desobrevivência de mudas, sendo que, quantomaior o número de mudas vivas, maior é suagraduação numérica e, por consequência,aumento da sua graduação qualitativa;

    Conservação estrutural: aspecto muitoimportante, porque está intrinsecamenteligado ao sucesso do trabalho. Todas asetapas do processo de recuperação da áreadevem ser executadas e acompanhadas comcritério (seguindo normas estipuladas) atéque a vegetação consiga se estabelecer, ouseja, as mudas de bambu xadas, pegas eseus rizomas entrelaçando uns nos outros,a regeneração das espécies acontecendoe seu sucesso em resistir às intempériesdo ambiente. O valor atribuído a esseparâmetro foi considerado a partir do seuaspecto desde a instalação, isto é, quantomais conservado for seu estado, maior ésua graduação;

    Funcionalidade: este aspecto foi avaliado deacordo com o desempenho das intervençõesem proporcionar a recuperação ambientaldo local, como desvio das águas pluviais,contenção de material, regeneração natural,entre outros. Quanto mais funcional é a

    intervenção, conforme era esperado, maioré o valor que ela receberá.

    Uma escala qualitativa, com atribuiçãode cores, foi elaborada de maneira aproporcionar maior visibilidade aos valoresquantitativos obtidos com aplicação da chade avaliação (tabela 2).

    Os impactos avaliados para cada barreirasão descritos abaixo. A valoração de cadaum desses impactos foi feita em função doscritérios pré-estabelecidos para cada impactodentro de um aspecto, descrito na tabela 1.

    RESULTADOS E DISCUSSÕES

    A escolha do bambu como forma de ba-rreira natural, capaz de desviar as águassuper ciais e diminuir sua força e veloci-dade, funcionou como um fator mecânicoe vegetativo, disciplinando o escoamentodas águas por meio da redução da energiacinética do de úvio e proporcionando aestabilização dos processos erosivos. Essatécnica foi utilizada por Vianna (2008) etambém se mostrou eficiente. O desviodas águas é um fator importante para con-tenção de processos erosivos (Cristo, 2002;Gonçalves et al., 2003; Almeida Filho et al.,2004). De acordo com Cristo (2002), essatécnica pode ser aplicada com sucesso tantoem regiões de planície como as de vertentes.

    A morfologia do bambu, principalmente suaestrutura de rizomas, favoreceu sua xaçãono solo, na área em estudo, que é degradadoe com baixa fertilidade natural, como foiobservado nas contenções das duas ravinase nos locais onde foram implantadas asquatro barreiras de bambu. Diversos autoressalientam a e ciência do bambu na con-tenção de processos erosivos (Drake et al.,

  • 234

    Enero 2012Núm. 33: 223-243

    Tabela 2. Graduação da magnitude para e ciência das intervenções.

    2002; Londoño, 2002; Higaki et al., 2005;Nunes, 2005; Acharya & Florinet, 2006;Sutili, 2007; Stokes et al., 2007; Sthapit &Tennyson, 2007).

    Os rizomas paquimorfos, como é orizoma da espécie Bambusa multiplex(Lour.), possuem menor eficiência nacontenção de processos erosivos do queas espécies de rizoma leptomorfo (Drakeet al., 2002; Londoño, 2002; Stokes et al.,2007). Todavia, essa espécie foi escolhidajustamente porque o rizoma paquimorfoé entouceirante, característica relevantepara o presente trabalho (Pereira, 2001;Londoño, 2002; Nunes, 2005). Duranteos meses de acompanhamento, após ainstalação das intervenções, observou-se que em nenhuma das áreas ocorreucolonização fora da área de plantio, quefoi separada pelo limitador de PVC, assimcomo nas contenções de ravinas.

    Outro fator considerado na escolha daespécie Bambusa multiplex (Lour.) foi ofato de o experimento ter sido realizadodentro de uma APA Federal, com restriçõesquanto à introdução de uma espécie comrisco de contaminação biológica e exótica,ainda mais com característica alastrante,como aquelas espécies de bambu comrizomas leptomorfos (Pereira, 2001. Drakeet al., 2002; Londoño, 2002; Nunes, 2005;

    Stokes et al., 2007), razão pela qual suautilização foi descartada na elaboração doprojeto, considerada muito agressiva paraaquele ambiente.

    O fator mais preocupante em relaçãoà utilização do bambu é sua forma depropagação reprodutiva, pois são espéciesde oração cíclica, gregária e simultânea(Filgueiras, 1988; Pereira, 2001; Guilhermee Ressel, 2001; Meredith, 2001; Londoño,2002; Nunes, 2005; Ramanayake, 2006;Ortiz e Picornell, 2008). Essa característicapode ser problemática, causando impactonegativo ao meio ambiente, considerandoa matriz da vegetação do local, FlorestaOmbró la Densa de Encosta, um ambientecom estádio avançado de regeneração ea fácil adaptação das gramíneas (Pereira,2006; Sthapit & Tennyson, 2007).

    Ainda faltam estudos para se determinarà verdadeira influência dos bambus depequeno e médio porte na estrutura dasflorestas tropicais (Guilherme, 2000).Porém, algumas alternativas podemminimizar esse impacto, como a própriaestrutura da espécie B. multiplex. Por seruma espécie de porte baixo a médio (12 m),com o passar dos anos, a própria vegetaçãonativa que regenerar e crescer no locallimitará o desenvolvimento dessa espéciede bambu por competição por luz.

    Escala Graduação

    Numérica 0 a 2 >2 até 4 >4 até 6 >6 até 8 >8 até 10

    Qualitativa Muito baixa Baixa Média Alta Muito alta

  • 235

    Clayton-Barbosa, A.: Bioengenharia utilizando bambus em faixas para o controle de processos erosivos

    A execução dessa fase do projeto estáa cargo da empresa gestora do local emotivadora do estudo (EMAE, 2007), quedeve providenciar o manejo necessário parao controle do bambu.

    O embasamento da bioengenharia paraconcepção do método de contenção deprocessos erosivos, aqui apresentados,pode ser considerado peça importante noâmbito geral da implantação, execução efuncionalidade do projeto, a exemplo deoutros experimentos realizados fora doBrasil, onde as técnicas são aplicadas hámais tempo (Durlo & Sutili, 2005; Sutili,2007).

    A integração de elementos vivos, elementosinertes e sintéticos, pode diminuir custos efomentar os processos ecológicos dentrode um projeto de recuperação de áreasdegradadas (Durlo & Sutili, 2005; Antonis eMolinari, 2007; Sutili, 2007; Barbosa, 2009).O experimento conseguiu conciliar essesconceitos, mostrando-se economicamenteviável, e, também, menos impactantequando comparado a outras técnicas deconstrução civil.

    A natureza dos processos erosivos podeser a mais variada, dentre elas, se destaca aperda da cobertura vegetal (Almeida Filhoet al., 2004), que aumenta a fragilidadeambiental do terreno à medida que as áreasde orestas vão perdendo sua coberturaoriginal (Ross, 1994; 1996; Tominaga,2000). No caso da cicatriz onde foi realizadoo estudo, a fragilidade ambiental foiaumentada consideravelmente se comparadaà classificação de fragilidade propostapor Ross (1994; 1996). O relevo dessavertente foi classificado como muitoacentuado (IPT, 1995; 2004) e a falta da

    cobertura da vegetação, arrastada pelaágua após o acidente, condições quepoderiam desencadear vários processoserosivos (Ross, 1994; 1996; Tominaga,2000; Fernandes et al., 2001; Coelho Netto,2006). Entretanto, tais processos não foramobservados no local durante os 18 meses demonitoramento do experimento.

    As intervenções na cicatriz resultante doacidente na encosta em estudo, caracterizadaspela instalação de quatro barreiras de bambu,monitoradas por 18 meses, promoveram aestabilização de processos erosivos ao longoda cicatriz. Em termos gerais, a avaliaçãoempírica dos parâmetros ambientais nacicatriz indica que as ações de intervençãoforam altamente e cientes, de acordo coma aplicação de notas durante as avaliaçõesde campo.

    A contenção de materiais orgânicos e soloforam satisfatórios nas barreiras. As quatrobarreiras instaladas tiveram desempenhosimilar nas ações de intervenção, comvalores equivalendo à alta e/ou muito alta

    ciência. Nas barreiras, 87% das mudas deB. multiplex plantadas tiveram pegamentoe desenvolvimento satisfatórios. Exceto aBarreira III, com apenas 57% das mudaspegas, o que pode ser con rmados pelasnotas atribuídas durante as avaliaçõesmensais (tabela 3).

    O sistema de escoamento da água de chuvatambém funcionou satisfatoriamente, assimcomo a contenção de materiais.

    Em alguns pontos das barreiras, o materialretido apresentava espessura de 48 cm.Nas barreiras I, II e IV foi possível medir aprofundidade e o comprimento do sedimentonelas contido. Cabe salientar que os valores

  • 236

    Enero 2012Núm. 33: 223-243

    Tabela 3. Resultado médio das avaliações de campo para as barreiras de bambu,período de 18 meses.

    Tabela 4. Contenção de material nas barreiras de bambu.Medição em 21 de dezembro de 2008.

    AspectosNotas Atribuídas às Intervenções

    BarreiraI

    BarreiraII

    BarreiraIII

    BarreiraIV

    MédiaGeral

    Água Erosão 8 8 7 7 7.5

    Vegetação

    Regeneraçãonatural davegetação

    9 9 6 8 8

    Sucesso do plantiode mudas de B.

    multiplex9 9 8 8 8.5

    Estado

    Conservação dasestruturas 9 9 8 9 8.75

    Funcionalidade 8 8 8 8 8

    Parâmetros avaliadosIntervenções

    BarreiraI

    BarreiraII

    BarreiraIII

    BarreiraIV

    Altura do sedimento retido(cm)

    24 18 Sem medição 48

    Distância do sedimento, cominício no limitador de PVC(cm)

    73 34 Sem medição 120

  • 237

    Clayton-Barbosa, A.: Bioengenharia utilizando bambus em faixas para o controle de processos erosivos

    apresentados são bem específicos, umavez que dependem de algumas variáveiscomo inclinação do terreno, tipo de solo,cobertura vegetal, densidade e velocidadeda água. Essas variáveis determinam comoe quais materiais deslizam até as barreiras.Na barreira IV, a altura do sedimento retidofoi de 120 cm; nas barreiras I e II, 24 e 18cm, respectivamente (tabela 4).

    Ao longo de toda a cicatriz, ocorreuregeneração com espécies nativas, atémesmo dentro das estruturas de contenção.A proximidade da mata nativa certamentefavoreceu a colonização de espécies nolocal, daí a regeneração da vegetação terocorrido dentro do esperado.

    Na área entre a quarta barreira e a contençãoda ravina pequena observou-se expressivapopulação de Croton urucurana (sangra-d’água). Alguns exemplares estavam comaproximadamente 3,0 m de altura e 16 cmde DAP (Diâmetro na Altura do Peito).

    A incidência de Crocosmia crocosmi ora(W.A. Nicholson) N.E.Br., conhecidapopularmente como palma ou tritônia, foiobservada por toda a extensão da cicatriz.

    Segundo Lorenzi e Souza (1999), atritônia é uma espécie herbácea, bulbíferae desenvolve bem quando cultivada empleno sol ou a meia-sombra. No Brasil éconsiderada subespontânea comumenteencontrada nas regiões de altitude. Seuaparecimento próximo à Usina de Izabelacorreu na década de 1970, quandofuncionários da empresa Light iniciaram oplantio desta espécie ao longo da câmara decompensação e ao longo da tubulação queeleva a água da câmara de compensação atéa casa das máquinas. O plantio foi efetuado

    como medida preventiva, procurandoevitar processos erosivos.

    A seguir serão apresentadas nas guras 5A,B e C, 6A, B e C, 7A, B e C e 8A, B e C,imagens das quatro barreiras instaladas naárea degradada, onde pode ser visualizadoo processo de recuperação e o inicio dasucessão ecológica com espécies nativasda região.

    CONCLUSÃO

    1. Dentro da analise proposta, as intervençõesfeitas com barreiras de bambu de rizomastipo paquimorfos, se mostraram e cientespara promover a estabilização dos efeitos dedegradação do solo, causados pelo processoerosivo que se formou após o acidenteambiental, o que favoreceu a regeneraçãodas espécies vegetais nativas da regiãoestudada.

    2. O escoamento das águas superficiaisfoi disciplinado de modo que a escolhado bambu, Bambusa multiplex (Lour.), eseu uso em processos erosivos se mostrouuma método viável de barreira natural,mantendo-se confinado junto à área dabarreira, sem que ocorresse invasão debambu ao longo da cicatriz.

    3. As barreiras se mostram eficientestambém para a retenção de propágulos,proporcionando o desenvolvimento demudas das espécies nativas entre e dentrodas estruturas de contenção dos processoserosivos.

    4. Considerando o desempenho observadopelo bambu durante o período de 18meses, como elemento vivo contribuindopara estabilização de processos erosivos e

  • 238

    Enero 2012Núm. 33: 223-243

    recuperação de uma área degradada, pode-seinferir que ele se mostra aplicável como umaalternativa à ser utilizada na bioengenharia.

    AGRADECIMENTOS

    Agradeço primeiramente a EmpresaMetropolitana de Águas e Energia – EMAE,por ter acreditado nesta pesquisa e por todoapoio nanceiro, técnico e logístico pararealização deste trabalho. A Universidade deTaubaté, Departamento de Ciências Agráriasonde pude defender esse trabalho no cursode mestrado. A Revista Polibotánica pelabolsa para publicação do trabalho.

    LITERATURA CITADA

    Acharya, M.S. y Florineth, F., 2006. “Ve-getated bamboo crib wall – A suitablealternative to stabilize road side inNepal”. Geoph. Res. Abst., Gemany,8: 08239 pp.

    Almeida Filho, G.S., Santoro, J. y Gomes,L.A., 2004. “Estudo da dinâmicaevolutiva da Boçoroca São Dimasno Município de São Pedro, SP”. In:Simpósio Brasileiro de Desastres Na-turais, Florianópolis: GEDN/UFSC.1. 73-86 pp.

    Almeida , J .G. , 2004. “P roje tandocom bambus: consideração aoparadigmático e ao típico”. Rev. Br.Florestal, Brasília, 23(80): 37-45 pp.

    , 2004. “Caracterização geométricade bambus para construção e manufa-tura de objetos: análise comparativa daGuadua weberbaueri e do Phyllosta-chys bambusoides”. Ver. Br. Florestal,Brasília, 23(80): 51-65 pp.

    Antonis, L. y Molinari, V.M., 2007.Ingegneria naturalistica: nozioni etecniche di Base. Manuale. Torino,I t á l ia : Edi tora C SEA- SocietàConsortile per Azioni. 108 pp.

    Bamboo Garden, 2008. “Plante for future”Portal Bamboo Garden, http://www.bamboogarden.com/Bambusa%20multiplex%20’Alphonse%20Karr’.html

    Bambu Brasileiro, 2007. “InfoBambu:plantio e morfologia”. Portal BambuBrasileiros, http://www.bambubrasi-leiro.com/info/plantio/

    Barbosa, A.C., 2009. “Contenção deprocessos erosivos resultantes deacidente ambiental na Serra daMantiqueira, SP”. Dissertação demestrado. Taubaté, Universidade deTaubaté. 112 pp.

    Coelho Net to , A.L. et a l . , 2006 .“Reabilitação funcional de clareirasgeradas por deslizamentos em encostasíngremes sob a Floresta Atlântica:uma abordagem geohidroecológica”.In: Congresso Nacional de Botânica,57, Gramado. Sociedade Botânica doBrasil. 57: 409-413 pp.

    Cristo, S.S.V., 2002 . “Análise desusceptibilidade a riscos naturaisre l ac i onados às e nch en te s edeslizamentos do setor leste dabacia hidrográ ca do Rio Itacorubi,Florianópolis – SC”. Dissertação demestrado. Santa Catarina, UniversidadeFederal de Santa Catarina. 165 pp.

    http://www.bambubrasi-

  • 239

    Clayton-Barbosa, A.: Bioengenharia utilizando bambus em faixas para o controle de processos erosivos

    Cusack, V., 1999. Bamboo world-Thegrowing and use of clumping bamboos.Austrália: Kangoroo Press. 46 pp.

    Delgado, I.C.M.S., 2007. ”Zonas deconvergência do Atlântico Sul (ZCAS)e os casos de escorregamento emCampos do Jordão: estudo de casodo verão de 2000”. Dissertação demestrado. Taubaté. Universidade deTaubaté, 44 pp.

    Departamento Estadual de Proteção dosRecursos Naturais – DEPRN. 2008.“Laudo de vistoria – ETTA n.018/08”.Averiguada – EMAE, Usina Izabel.Referência procedimento probatórion. 39/04 de 01 de abr. 8 pp.

    Drake, J., Jayanetti y D.L., Follet, P.R.,2002. “Control of beach erosion usingbamboo”. In: International BambooCongress, International Bamboo Wor-kshop. 6., São José, Costa Rica. SãoJosé, Costa Rica.

    Durlo, M.A. y Sutili, F.J., 2005. Bioengen-haria: manejo biotécnico de cursosde água. Porto Alegre: EST Edições.189 pp.

    Empresa Metropolitana de Águas e Energia-EMAE. 2007. “Recuperação ambientalda Usina de Izabel: Referência:Processo DEPRN n°. 88.149/04– TCRA n. 082/05”. São Paulo:Departamento de Gestão Ambiente,Relatório. 32 pp.

    Fernandes, N.F., Guimarães, R.F., Gomes,R.A.T., Vieira, B.C., Montgomery, D.R.,Greemberg, H., 2001. “Condicionantesgeomorfológicos dos deslizamentos

    nas encostas: avaliação metodológicae aplicação de modelo de previsão deáreas”. Rev. Bras. de Geomorf. SãoPaulo, 1(2): 51 pp.

    Ferri, M.G., Menezes, N.L. y Monteiro, W.R.,1981.Glossário ilustrado de botânica.São Paulo: Nobel/Departamento deBotânica da Universidade de SãoPaulo.160 pp.

    Filgueiras, T.S.A., 1988. “A oração debambus e seu impacto ecológico”. Bol.Bot. Herb. Friburg. Eugêniana, NovaFriburgo. 15: 8 pp.

    Filgueiras, T.S. y Santos-Gonçalves, A.P., 2006. “Bambus nativos do Brasil:oportunidades e desa os para seu con-hecimento”. In: Seminário Brasileirodo Bambu, 2006, Brasília, DF. Brasília,DF: UNB. 33-42. pp.

    Freitas, F. De O., Zarur, S.B.C., Silva, D.B.Da y Fonseca, J.N.L., 2003. “O bambudo Uruá. Comunicado Técnico”, EM-BRAPA. Brasília, DF. 97: 9 pp.

    Gonçalves, J.L. M., Nogueira Junior, L. R. yDucatti, F., 2003. “Efeito da mata na-tiva ou re orestamento sobre o solo”.In: Kageyama, Paulo et al. (Orgs.).Restauração ecológica de sistemasnaturais. Botucatu: FEPAF. 340 pp.

    Guilherme, F.A.G., 2000. “Efeitos da cober-tura de dossel na densidade e estaturade gramíneas e da regeneração naturalde plantas lenhosas”. Rev. Cerne, La-vras, 1(6): 60-66.

    Guilherme, F. A. y Ressel, K., 2001. “Biolo-gia oral de reprodução de Meostachys

  • 240

    Enero 2012Núm. 33: 223-243

    roedeliana”. Rev. Bras. de Botânica.São Paulo, (2) 24: 2005-2011 pp.

    Higaki, D., Karki, K.K. y Gautam, C.S.,2005. “Soil erosion control measureon degraded sloing lands in Midlandsof Nepal”. Aquatic Ecosystem Health& Management. Ontario, Canadá. (3)8: 243-249 pp.

    Instituto de Pesquisas Tecnológicas doEstado de São Paulo – IPT. 1995.“Inspeções visuais no maciço deterra da Barragem Izabel, 2a Fase”.São Paulo: IPT, (Relatório Técnico,33 475/95).

    Instituto de Pesquisas Tecnológicas doEstado de São Paulo – IPT. 2004.“Análise dos possíveis mecanismosde ruptura do talude situado próximoao tanque de compensação da UHEde Izabel”. São Paulo: IPT (RelatórioPreliminar). 15 pp.

    Londoño, X.P., 2002. “Curso de cátedramaestría en construcción: MóduloGuadua”. Santafé de Bogotá: Univer-sidad Nacional de Colômbia. 60 pp.

    Lorenzi, H. y Moreira Souza, H.M., 1999.Plantas ornamentais no Brasil:arbustivas, herbáceas e trepadeiras.2. ed. Nova Odessa: Plantarum. 1918pp.

    Meredith, T.J., 2001. Bamboo for gardens.Portland, Cambridge: Timber Press.247-251 pp.

    Nunes, A.R.S., 2005. “Construindo com anatureza, bambu: uma alternativa para oeco desenvolvimento”. Dissertação de

    mestrado. São Cristóvão, UniversidadeFederal do Sergipe. 122 pp.

    Oliveira, J.B., Camargo, M.N., Rossi, M.y Calderano Filho, B., 1999. “Mapapedológico do Estado de São Paulo”.Bol. Cientí co, Instituto Agronômicode Capinas (IAC). Campinas, 45:20 pp.

    Oliveira, R.P., Longhi-Wagner, H.M. yJardim, J.G., 2006. “Diversidade econservação dos bambus herbáceos(Poaceae: Bambusoideae: Olyrae) daMata Atlântica, Brasil”. In: SeminárioBrasileiro Do Bambu. Brasília, DF.Brasília: UNB. 62-64 pp.

    Ortiz, D.G. y Picornell, J.A.R., 1988. “Cla-ves para las bambusáceas cultivadascomo ornamentales y comercializadasen la Comunidad Valenciana”. Rev.Baout.. Publ. Fund. Oroibérica. Va-lencia, España. 3(4): 39-46 pp.

    Pereira, A.R., 2006. Como selecionarplantas para áreas degradadas econtrole de erosão. Belo Horizonte:FAPI. 151 pp.

    Pereira, M.A., 2001. Bambu: espécies,características e aplicação. Bauru:UNESP. 58 pp.

    Ramanayake, S.M.S.D., 2008. “Floweringin bamboo: an enigma” Ceylon ScienceJour. / Biol Science, Sri Lanka. (2)35:95-105 pp.

    Reis , A. y Kageyama, P.Y., 2003.“Restauração de áreas degradadasutilizando interações interespecí cas”.In: Kageyama, Paulo et al. (Orgs.)

  • 241

    Clayton-Barbosa, A.: Bioengenharia utilizando bambus em faixas para o controle de processos erosivos

    Restauração ecológica de sistemasnaturais. Botucatu: FEPAF. 340 pp.

    Ross, J.L.S., 1994. “Análise empírica dafragilidade dos ambientes naturais eantropizados”. Rev. Depto. de Geog.USP, São Paulo. 8: 63-75 pp.

    Ross, J.L.S., 1996. “Geomorfologia aplicadaaos EIAs/RIMAs”. In: Guerra, A. J. T.;Cunha, S. B. de (Orgs). Geomorfologiae meio ambiente. Rio de Janeiro:Bertrand Brasil. 291-336 pp.

    Santos-Gonçalves, A.P., Okano, R.M.C. yVieira, M.F., 2006. “Bambu (Bambu-soideae: Poaceae) do Parque Estadualdo Rio Doce, Minas Gerais: orísticae morfologia”. In: Sem. Brasileiro doBambu. Brasília. UNB. 43-48 pp.

    Silva, A.G. y Diniz, H.N., 2004. “Desli-zamentos e obras de contenção deencostas em Campos do Jordão-SP”.Téchne-Tecn. da Constr. São Paulo,1(83): 56-60 pp.

    Stapleton, C. M. A., 1994. “The bamboos ofNepal and Bhutan, Part 1: Bambusa,D endroca l a mu s , Mel o cann a ,Cephalostachyum, Teinostachyum,and Pseudostachyum (Gramieneae:Poaceae, Bambusoideae)”. EdinburgJour. of Bot., Cambridge, England,51: 1-32 pp.

    Sthapit, K.M. y Tennyson, L.C., 1991. “Elcontrol la erosion en Nepal mediante labioingeniería”. Unasylva, Roma Italy.Ordenación de cuencas hidrográ cas.FAO. (164) 1-8 pp.

    Stokes, A., Lucas, A. y Jouneau, L., 2007.“Plant biomechanical strategies inresponse to frequent disturbance:uprooting of Phyllostachys nidularia(Poaceae) growing on landslide-proneslopes in Sichuan”, China. Amer. Jour.of Bot. St. Louis, USA. 7 (94): 1129-1136 pp.

    Sutili, F.J., 2004. “Manejo biotécnicodo Arroio Guarda-mor: principaisprocessos e práticas”. Dissertação demestrado. Santa Maria, UniversidadeFederal de Santa Maria. 114 pp.

    , 2007. “Bioengenharia de solosno âmbito uvial do sul do Brasil:espécies aptas e suas propriedadesvegetativo- mecânica e emprego naprática”. Tese de doutorado. Viena,Áustria - Universidade Rural de Viena.94 pp.

    Tomina ga, L .K . , 2000 . “Aná l i semorfodinâmica das vertentes da Serrado Juqueriquerê em São Sebastião –SP”. Dissertação de mestrado. SãoPaulo, Universidade de São Paulo.162 pp.

    Vianna, P.C.G. et al., 2008. Estabilização deVoçorocas – Subproduto ambiental dodiagnóstico dos recursos hídricos: ocaso do assentamento Dona Antonia,Conde – PB. Paraíba. UniversidadeFederal da Paraíba. 30 pp.

    Recibido: 12 enero 2011. Aceptado: 21 octubre 2011.

  • 242

    Enero 2012Núm. 33: 223-243

  • 243

    Clayton-Barbosa, A.: Bioengenharia utilizando bambus em faixas para o controle de processos erosivos