boletim assistência à saúde em perigo, nº 1

8/11/2019 Boletim Assistncia Sade em Perigo, n 1

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No existe uma

soluo nica, uma

formula mgica que,de repente, far com

que a prestao de

assistncia sade

seja mais segura.

Conseguir a mudana

exigir a colaborao de muitos e uma srie de

medidas diferentes. A boa notcia que, dois

anos depois do lanamento do projeto Assistncia

Sade em Perigo, agora vemos um alto nvel de

envolvimento com a questo, no somente dentro

do Movimento da Cruz Vermelha e do Crescente

Vermelho, mas tambm de outras organizaeshumanitrias, grupos militares, autoridades esta-

tais e outras partes interessadas diretas.

Eles demonstraram o seu compromisso de dife-

rentes formas. Tanto o Conselho Internacional

de Enfermeiros e a Associao Mdica Mundial

se tornaram parceiros do projeto Assistncia

Sade em Perigo. Outras organizaes, como

Mdicos Sem Fronteiras, lanaram as suas pr-

prias iniciativas. Diversos Estados, incluindo a

Noruega e a frica do Sul, apoiam ativamente oprojeto em nvel global; alguns se uniram ao CICV

e/ou Sociedade Nacional da Cruz Vermelha e

do Crescente Vermelho do pas para abordar a

questo no mbito nacional. Deve-se enfatizar que,

ao mesmo tempo em que o projeto tem ajudado a

conscientizar sobre a questo em muitos lugares

no mundo, muitos Estados j vinham trabalhandopara reduzir a violncia contra os profissionais

de assistncia sade muito antes do incio do

projeto (leia mais sobre a histria da Colmbia na

pgina 4). Esta experincia realmente ajuda a criar

recomendaes prticas para as prximas etapas.

Finalmente, acreditamos que o efeito cumulativo

de todos esses esforos far a diferena para os

pacientes e os profissionais de sade em situaes

de conflito e outras emergncias no mundo todo.

Se voc estiver lendo este boletim, provavelmente

j seja parte da comunidade de interesse doprojeto Assistncia Sade em Perigo. Se este

for o caso, voc poder encontrar mais infor-

maes sobre o projeto na plataforma on-line

(www.healthcareindanger.ning.com).

No que se refere nossa parte, estamos agora

concluindo a fase de consulta com os especialistas

do projeto e foi com prazer que encontramos no

somente um amplo consenso sobre a importncia

da questo, mas tambm um forte compromisso

por parte dos especialistas para abordar os temas.Isso ajudou a produzir uma longa lista de reco-

mendaes e medidas prticas. Recentemente, foi

realizada uma oficina para discutir quais leis nacio-

nais deveriam ser introduzidas para aumentar a

proteo da assistncia sade. Muitas outras con-

sultas nos ajudaram a reunir as contribuies e as

experincias do terreno, o que por sua vez serviude base para inmeros recursos prticos. Estes

incluem uma publicao recente sobre ambu-

lncias em risco, preparada pela Cruz Vermelha

Norueguesa, e recomendaes de uma oficina

realizada em conjunto pelo CICV e pela Cruz

Vermelha Mexicana em 2013 (para conhecer mais

detalhes, ver pgina 3).

Com o incio de um novo ano, inicia-se tambm

uma nova fase para o projeto Assistncia Sade

em Perigo. Ainda temos grandes desafios pela

frente, particularmente medida que todas aspartes interessadas comecem a traduzir as reco-

mendaes em aes concretas e especficas

conforme o contexto. Os atores locais e regionais

desempenharo um papel crucial neste processo.

Todas as contribuies realmente ajudaro j que

nos esforamos para ter como resultado uma

mudana duradoura no terreno.

Pierre Gentile, Chefe do Projeto Assistncia

Sade em Perigo.

A MUDANA EXIGE A COLABORAO DE MUITOS

B O L E T I M

Editorial 1

Notcias 2

Nova ferramenta para socorristas 3

Por que importante coletar dados? 3

Terreno em foco: Colmbia 4

Seo dos especialistas 6

Comunidade de interesse 8

CICV

JUNHO DE 2014

CICV

BOLETIM


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Em setembro, especialistas com diferentes expe-

rincias se reuniram em Ottawa, Canad, para

discutir as medidas para a proteo dos estabe-

lecimentos de assistncia sade em tempo de

conflitos armadose outras emergncias. A oficina

foi organizada pelo CICV em conjunto com a Cruz

Vermelha Canadense, como parte de um pro-

cesso de consulta do projeto Assistncia Sade

em Perigo. Uma oficina semelhante foi realizada

em abril de 2014, em Pretria, frica do Sul

***

Entre as medidas identificadas na oficina sobre

Assistncia Sade em Perigo, em Sydney,

Austrlia, em dezembro do ano passado, estavam

as ambulncias de rpida liberao (nos postosde controle), a garantia de precaues espe-

cficas durante as buscas em hospitais e que a

assistncia sade seja prestada com segurana.

Durante os quatro dias da sesso, especialistas

das foras armadas e mdicos militares trabalha-

ram sobre uma lista de recomendaes prticas,

que aparecero posteriormente em um relatrio

que ser publicado ainda este ano.

***

Especialistas jurdicos, funcionrios pblicos,membros do parlamento e organizaes no

governamentais do mundo todo recomen-

daram o desenvolvimento de uma legislao

nacional que proteja a assistncia sade, aps

as discusses em uma oficina sobre Assistncia

Sade em Perigo, em Bruxelas, Blgica. O

documento de referncia est agora disponvel

para ser descarregado na plataforma on-line

do projeto Assistncia Sade em Perigo

(www.healthcareindanger.ning.com).

***

Em dezembro, a equipe do CICV baseada no

Reino Unido, a Cruz Vermelha Britnica e o Frum

de Conflitos e Catstrofes da Sociedade Real de

Medicina realizaram, em conjunto, umevento

para os profissionais de sade e profissionaishumanitrios.Os participantes compartilharam

as suas experincias e deram conselhos sobre

como implementar as recomendaes que sur-

giram a partir de vrias oficinas sobre o projeto

Assistncia Sade em Perigo.

***

O Conselho Internacional de Enfermeirose o

CICV assinaram um memorando de entendi-

mentopara, em conjunto, conscientizar sobre

a importncia do acesso seguro assistn-cia sade. Leia mais sobre esta iniciativa na

entrevista com David Benton, presidente do

Conselho Internacional de Enfermeiros, na

pgina 7.

***

O CICV lanou uma nova srie de imagens fortes,baseadas em histrias reais, que ilustram a ideia

de que possvel fornecer aos feridos e aos

doentes acesso assistncia sade em tempo

hbil, mesmo em meio violncia. As imagens

foram usadas pela primeira vez em dezembro

de 2013 em uma campanha de conscientizao

na Europa, desenvolvida em conjunto com as

Sociedades Nacionais da Cruz Vermelha e do

Crescente Vermelho e apoiada pela Comisso

Europeia. As imagens eram mostradas em

banners nas ruas e nas estaes de metr deBruxelas, Amsterd, Madri, Londres, Berlim,

Varsvia e Paris, para um pblico de quase 12

milhes de cidados.

***

Em novembro de 2013, o Centro de Sade

Pblica e de Direitos Humanos da Johns Hopkins

Bloomberg School of Public Health (Escola de

Sade Pblica Johns Hopkins Bloomberg) reuniu

19 representantes das principais organizaes

humanitrias em Bellagio, Itlia. No final da

conferncia, os participantes fizeram um apelopara uma ao urgente para abordar a violncia

contra a assistncia sade.

***

A organizao Mdicos sem Fronteiras(MSF)

lanou um projeto chamado Assistncia

sade na linha de tiropara tratar as ameaas

prestao de assistncia sade. Uma inicia-

tiva paralela, mas complementar ao projeto

Assistncia Sade em Perigo, liderado pelo

CICV, que confirma a disposio da comuni-dade internacional de enfrentar essa questo.

A prxima edio deste boletim trar mais infor-

maes sobre esta iniciativa.

Rplica de uma ambulncia queimada.

IsaacGrib

erg/CICV

TomS

toddart/GettyImagesparaCICV

NOTCIAS

O projeto Assistncia Sade em Perigo foi discutido no ltimo Conselho de Delegados

em Sydney. Esta uma conferncia realizada a cada dois anos para os colaboradores de

nvel gerencial do Movimento da Cruz Vermelha e do Crescente Vermelho para discutir

os desafios humanitrios importantes e atuais. Mais de 150 membros das Sociedades

Nacionais da Cruz Vermelha e do Crescente Vermelho compartilharam melhores prticas

e dilemas enfrentados na hora de prestar assistncia sade. Recomendaram medidas

para melhorar a segurana dos prprios voluntrios e se comprometeram a advogar por

um melhor acesso assistncia sade para todos. Um evento pblico paralelo tambm

foi realizado para destacar essas questes. Uma ambulncia queimada foi colocada no

pacfico porto de Darling, em Sydney, marcada por tiros e com as portas arrancadas por

uma exploso, causando uma viso chocante aos transeuntes. Uma nova publicao

sobre ambulncias em risco tambm foi lanada durante a conferncia (ver pgina 3).


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3

O CICV quase sempre testemunha ou recebe

relatos em primeira mo de ataques contra os

profissionais, saques de hospitais e pacientes

que so privados do acesso assistncia sade.

Nos ltimos dois anos, as nossas equipes no

terreno coletaram dados sobre esses incidentes

de uma forma mais sistemtica do que antes.

Um relatrio anual inicial foi publicado em 2013,

apresentando as principais tendncias sem iden-tificar contextos ou perpetradores especficos

(disponvel em www.healthcareindanger.org).

Outro relatrio, publicado em abril deste ano,

uma compilao de todas as informaes reuni-

das desde o incio do exerccio, com um enfoque

nos incidentes que afetam a infraestrutura. No

final do projeto Assistncia Sade em Perigo,

os dados sero usados em um relatrio final

que ser apresentado na prxima Conferncia

Internacional da Cruz Vermelha e do Crescente

Vermelho, em 2015.

At outubro de 2013, mais de 1.650 incidentes

violentos foram registrados em 23 pases. Esses

nmeros so provavelmente apenas a ponta

do iceberg deste problema muito complexo.

O exerccio de coleta de dados j ajudou a dar

formato s discusses sobre a questo e mostrar

novos ngulos para abord-la. Por exemplo, os

fatos e nmeros foram usados para ilustrar a

atual situao nos documentos de referncia

para a maioria das consultas dos especialistas.

Novas e surpreendentes tendncias surgiram.

Por exemplo, os nmeros mostram que quase

90% dos prestadores de assistncia sade

afetados pela violncia, at o momento, so

colaboradores locais, enquanto que os meios

de comunicao globais tendem a dar mais

ateno aos ataques contra os colaboradores

internacionais.

Os dados globais quase sempre demonstram

ser um recurso para a sensibilizao: ajudam

a influenciar as pessoas responsveis portomar decises, enfatizam a urgncia para agir,

facilitam o dilogo com possveis perpetradores

e mitigam os riscos.

O CICV no o nico a desenvolver a sua prpria

metodologia de monitoramento: mais e mais

organizaes internacionais esto fazendo o

mesmo, o que mostra que o exerccio ganha fora.

medida que a questo assume maior peso na

agenda internacional, a coleta de dados passar aser uma tarefa cada vez mais indispensvel.

Um novo relatrio foi publicado estabele-

cendo as formas de aumentar a segurana na

assistncia pr-hospitalar e nos servios de

ambulncias em circunstncias difceis.

Intitulado Amb ul nci as e ser vi os pr -

hospitalares em situaes de risco, o relatrio

resume as experincias no terreno em

mais de 20 pases, reunidas em uma oficina

para especialistas no Mxico, em maio do

ano passado. As recomendaes feitas

no relatrio incluem o fortalecimento da

legislao nacional para proteger os servios

de ambulncia e melhorar a coordenao entre

as autoridades, os militares e outras partes

interessadas. O relatrio tambm aconselha

a adoo de melhores prticas para assegurar

o apoio psicolgico adequado, assim como

treinamento e equipamento para a proteo

pessoal dos colaboradores e voluntrios.

Outra recomendao importante no relatrio

conquistar a confiana dentro da comunidade.

Foi necessrio que 12 voluntrios da Cruz

Vermelha morressem, at 1987, para perceber-

mos que no suficiente ser somente neutro

tambm precisamos ser vistos como neutros,

explicou o secretrio-geral da Cruz Vermelha

Libanesa, Georges

Kettaneh. Construir

essa percepo um

trabalho difcil e exige

um esforo deliberado

e coerente em todos os

nveis.

Escrito pela Cruz Vermelha Norueguesa,

com o apoio do CICV e da Cruz

Vermelha Mexicana, o relatrio um

excelente recurso para profissionais e volun-

trios de assistncia sade em contextos

afetados pela violncia armada. O relatrio

- em ingls - pode ser solicitado on-line em:

https://shop.icrc.org/health-care-in-danger.html.

POR QUE IMPORTANTE COLETAR DADOS?

NOVA FERRAMENTA

PARA SOCORRISTAS

Prestadores de assistncia sade

Prestadores de assistncia sade locais e nacionais 1289

Sociedades Nacionais da Cruz Vermelha e do Crescente Vermelho 213

CICV/Federao Internacional 20

ONGs internacionais e agncias da ONU 92

Outros 47

Total 1661

41

3/

2

11.2

13

1

AMBULANCE AND

PRE-HOSPITAL SERVICES

IN RISK SITUATIONS

417 _ _M xi R rt_ _EN.i 4-6 .11.1 1 :14


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TERRENO EM FOCO

SERVIOS DE SADE:UMA PRIORIDADE PARA O GOVERNO COLOMBIANONa Colmbia, os prestadores de assistncia

sade tm o seu prprio emblema

distintivo e protetor chamado La misin

mdica (A misso mdica), um termo

que engloba servios mdicos como um

todo. Em agosto de 2002, a promoo e

o uso deste emblema para identificar os

profissionais, estabelecimentos e veculos de

sade tornaram-se uma prioridade nacional

quando o Ministrio da Sade e da Proteo

Social emitiu um decreto estipulando que

os servios de sade devem ser protegidos.O decreto tambm deu origem minuta,

em 2008, do primeiro manual do pas que

abrange a proteo dos servios.

Em 2012, o decreto sofreu uma emenda

que amplia a proteo aos servios de

sade que incluem todas as situaes de

violncia, no somente conflitos armados, e

o manual foi, por conseguinte, revisado. Na

atualidade, o manual circula amplamente

entre os profissionais de assistncia sade,oferecendo conselhos prticos sobre

inmeras questes, incluindo os ataques

contra os profissionais e pacientes, atos

de perfdia, o uso do emblema a ttulo

de proteo e o monitoramento do seu

abuso. As diretrizes que ele contm para

garantir a segurana dos profissionais,

estabelecimentos e veculos de sade

tornam o manual uma ferramenta nica.

Consideramos o manual muito til

porque responde s preocupaes dirias

dos profissionais de assistncia sade,

disse Ivonne Muoz, representante do

governo encarregada da proteo para os

servios mdicos em Cauca, sudoeste da

Colmbia. Graas ao manual, os hospitais

e os profissionais esto mais conscientes do

marco legal aplicvel e mais interessados

em fazer as coisas do modo correto

tambm, todas as vezes em que se comete

uma violao aos servios mdicos, somos

informados como deve ser.

A iniciativa de fazer uma minuta e divulgar

a legislao e os materiais de treinamento

relacionados foi encampada pelo Ministrio

da Sade e da Proteo Social e o gabinete

do Vice-Presidente do pas, com o apoio

e a cooperao da delegao do CICV em

Bogot e da Cruz Vermelha Colombiana.

Outras ferramentas foram desenvolvidas

para promover a compreenso e o respeito

pelo emblema protetor, incluindo um pster,

chamadas de rdio e folhetos.


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TERRENO EM FOCORoberto Payn, Colmbia. Um colaborador do CICV explica as regras bsicas de proteo dos

estabelecimentos de sade em conflitos armados e a importncia de se respeitarem os emblemas.

Nas ltimas dcadas, os ataques contra

os profissionais, os estabelecimentos

e os veculos de sade aconteceram

regularmente na Colmbia. De acordo com

o Ministrio da Sade e Proteo Social,

houve 1.107 ataques diretos contra os

profissionais e estabelecimentos em toda

a Colmbia entre 1996 e 2013, custando

a vida de 910 vtimas. Incidentes desta

natureza tm um impacto grave sobre as

condies de trabalho dos profissionais e

causam um estrago incalculvel para as

comunidades ao pr em risco o seu acesso

aos servios de sade. Cerca de um tero detodos os incidentes registrados envolveu

ameaas contra os profissionais. O nmero

de ataques mortais foi muito alto e as

restries ao acesso aos estabelecimentos

ou a falta do mesmo tambm foi muito

comum. Depois do aumento constante

at 2002, o nmero de ataques parecia cair

gradualmente. Desde 2012, no entanto, as

autoridades colombianas registraram um

aumento no nmero de incidentes que

tinham como alvo os servios mdicos.

Montecristo, Colmbia. Uma auxiliar mdica emembros do Exrcito Nacional da Colmbia emfrente a um centro de sade.

AdrinEstrada/CICV

BorisHeger/CICV


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Professora ThrseAya Ndri-Yoman,ex-ministra da Sadee de Preveno aoHIV/Aids da Cte dIvoire

VITAL DEFENDER O CDIGO DE CONDUTADOS PROFISSIONAIS DE SADE

Na esteira dos disputados resultados das eleies

na Cte dIvoire em 2011, o pas passou por uma

onda de manifestaes e detenes violentas e

muitas pessoas foram obrigadas a fugir das suas

casas. A deteriorao das condies de violncia

tem um grave impacto sobre o acesso assis-

tncia sade para as pessoas feridas e doentes.

Thrse Aya NDri- Yoman, ex-ministra da Sade

e da Preveno contra o HIV/Aids da Cte dIvoire,

conta como, na sua opinio, possvel lidar

melhor com os obstculos assistncia sade.

Por que to importante que todos respeitem os

profissionais e os estabelecimentos de assistncia sade?

Todos precisam de assistncia sade em algum

momento e todos tm direito a ela. Os estabeleci-

mentos mdicos precisam ser protegidos: quando

as pessoas no conseguem obter o tratamento

durante uma emergncia, as consequncias podem

ser graves ou at mesmo fatais. uma forma de

sobrevivncia. As emergncias so, por natureza,

imprevisveis. As pessoas que precisam de assistncia

sade durante uma emergncia devem poder usar

o estabelecimento mais prximo. Por esse motivo

to importante difundir a mensagem entre as

pessoas de que os estabelecimentos e os profissio-nais de assistncia sade precisam ser protegidos.

Que desafios surgiram ao tentar proteger a pres-

tao de assistncia sade durante a violncia?

Em primeiro lugar, precisvamos garantir que tanto

os estabelecimentos como os profissionais de sade

estivessem seguros. Manter os hospitais seguros e

protegidos era um problema real, j que com frequn-

cia eles eram saqueados ou sofriam vandalismos.

Roubar os materiais para o uso prprio compreen-

svel, de certa maneira. Mas mais difcil de aceitara destruio dos equipamentos de pesquisa e de

raios-X, que todos sabem que so essenciais. Em

particular, os ataques contra os profissionais de assis-

tncia sade eram preocupantes. Os profissionais

quase sempre lidam com pessoas altamente abaladas,

sejam elas combatentes ou civis, e todos aguardam o

tratamento com impacincia. Em alguns casos, eles

simplesmente no tinham condies de atender de

imediato e eram, ento, ameaados verbalmente ou

mesmo atacados fisicamente.

Houve algum incidente especfico com o qual

tiveram de lidar durante esse perodo?Houve uma

vez em que os combatentes trouxeram um homemferido ao Hospital Universitrio de Treichville. O

profissional de sade que eles abordaram para

atender o caso no estava em condies de faz-lo

imediatamente, ento eles o atacaram. Isso dispa-

rou um protesto entre os profissionais. Tivemos de

tranquilizar a todos e, com a ajuda do Ministrio da

Defesa, tomar as medidas adequadas para melhorar

a segurana do estabelecimento.

O que as autoridades podem fazer em relao

a esse problema? importante explicar aos pro-fissionais de sade o vital que defender o cdigo

de conduta. De acordo com este cdigo, eles esto

obrigados a atender todas as pessoas segundo as

suas necessidades, de forma imparcial e sem discri-

minao. Deve-se lembrar aos portadores de armas

e populao em geral que os estabelecimentos de

sade so como um santurio, ou seja, so lugares

onde as equipes atendem os doentes e os feridos

independente da sua afiliao poltica. preciso

transmitir a ideia de que atacar os profissionais

significa atacar as pessoas que podem um dia salvar

um membro da sua famlia ou at mesmo voc!

Sede da Sociedade Nacional, Abidjan, CtedIvoire. Socorristas da Cruz Vermelha da Cte

dIvoire suturam a cabea de uma pessoa feridadurante um enfrentamento.

NOVO RELATRIO AJUDAA PREPARAR MDICOS PARATRABALHAR EM MEIO VIOLNCIANA CTE DIVOIREDurante uma dcada, os profissionais de sade da Cte dIvoire trabalharam em um clima geral de

violncia j que o pas era assolado por repetidas crises e surtos de conflitos armados. Em alguns casos,

os profissionais foram vtimas da violncia; em outros, eles mesmos cometeram atos de violncia.

Levando essas experincias em considerao, o Conselho Nacional da Ordem dos Mdicos da Cte

dIvoire decidiu redigir um relatrio sobre a questo, com a contribuio do CICV. Isso marca um

excelente primeiro passo no sentido de garantir que os profissionais de sade estejam preparados

e treinados da melhor maneira para agir em situaes perigosas no futuro. O relatrio tem como

objetivo estabelecer um conjunto de recomendaes prticas bsicas para mdicos, mas tambm

para as autoridades e os portadores de armas. Ele contm diretrizes, juntamente com o cdigo de

conduta da Associao Mdica Mundial, especificando os deveres de cada mdico. Em particular

os profissionais de assistncia sade so lembrados de que eles devem defender o cdigo detica mundial, que determina que a assistncia sade deve ser prestada a todos os pacientes sem

discriminao. Esta colaborao entre uma associao mdica nacional e o CICV demonstrou ser

altamente bem-sucedida e algo que certamente deveria ser replicado em outras partes do mundo.

CICV

CICV

SEO DOS ESPECIALISTAS


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PARA ENFRENTAR ESTA QUESTO,DEVEMOS ESTAR JUNTOS

Recentemente, o Conselho Internacional de

Enfermeiros (CIE) e o CICV assinaram um memo-

rando de entendimento para fortalecer os

esforos para a prestao da assistncia sade

de forma mais segura. Perguntamos a David

Benton, presidente do CIE, o que ele pensa sobre

esta iniciativa.

Qual a relevncia da questo da violncia

contra os servios de assistncia sade para o

Conselho Internacional de Enfermeiros? muito

relevante. Como enfermeiros, temos o dever de

prestar assistncia para faz-lo, precisamos ter

um ambiente seguro que nos permita trabalhar de

forma imparcial, sem discriminao por orientaopoltica, gnero ou de qualquer outro tipo. Quando

os enfermeiros no esto disponveis para prestar

assistncia sade, as consequncias so sentidas

em toda a comunidade.

O CIE est ciente das reas nas quais os

enfermeiros so especialmente afetados pela vio-

lncia durante a prestao de assistncia sade?

Lamentavelmente, o nmero de pases nos quais os

enfermeiros esto sujeitos violncia fsica e verbal

ao prestar assistncia sade aumenta cada dia.

Vemos que isso acontece no s nos pases onde

ocorrem conflitos armados, mas tambm em pases

pacficos e desenvolvidos, nos quais a sociedade

est mudando, as exigncias esto aumentando e

os recursos quase sempre so limitados.

O que pode ser feito para frear esta tendncia?

H inmeras medidas que podem ser tomadas,

como dar aos enfermeiros e aos profissionais de

assistncia sade as ferramentas adequadas para

mitigar as situaes. Outro enfoque trabalhar comos governos para estabelecer regras estritas para

lidar com a violncia contra os estabelecimentos de

assistncia sade e garantir que os perpetradores

da violncia contra os enfermeiros enfrentem um

processo criminal. No nvel poltico, no entanto, a

comunidade internacional precisa se reunir para

assegurar que, em pases afetados por conflito

armado, nenhum partido poltico seja favorecido

em detrimento de outro e que as prticas, como

negar acesso assistncia sade ou a falta de

respeito da tica mdica, no sejam toleradas.

Por que o Conselho Internacional de Enfermeiros

decidiu se envolver no projeto Assistncia

Sade em Perigo?Vrios membros do CIE foram

recentemente afetados por distrbios em muitos

pases, em particular no Oriente Mdio. Enfermeiros

e mdicos foram detidos e encarcerados no Barein

e na Sria, entre outros lugares. Para enfrentar essa

questo, devemos estar juntos a nica forma de

causar um impacto significativo.

Conselho Internacional de Enfermeiros (CIE)

Como uma federao de 135 associaes

nacionais de enfermagem, o CIE representa

mais de 16 milhes de enfermeiros no mundo

todo e lidera este mbito. Desde 1899, o

CIE trabalha para assegurar a qualidade

dos cuidados de enfermagem para todos,

polticas de sade slidas no nvel global, o

avano do conhecimento em enfermagem,

a presena mundial de uma profisso

respeitada e uma fora de trabalho deenfermagem competente e satisfeita.

Qual ser o prximo passo depois da assinatura

do memorando de entendimento? Enfatizaremos

a importncia dessa questo com os nossos

membros e incentivaremos a transmisso da men-

sagem aos seus governos na esperana de que os

Estados trabalhem para enfrentar essa questo no

nvel internacional. Tambm nos certificaremos

de que haja recursos suficientes para incorporar aquesto nos programas de educao dos nossos

membros. Com a Assembleia Mundial da Sade e

os relatrios de auditoria que esto por acontecer,

tambm importante estabelecermos se a situao

da violncia contra os enfermeiros est piorando

ou melhorando. Se estiver piorando, precisaremos

identificar e compartilhar as melhores prticas com

os demais.

David Benton,presidente do CIE

MarkoKokic/CICV

Hospital Mirwais, Kandahar, Afeganisto.Professora de enfermagem examina uma

criana na ala peditrica.

CICV

SEO DOS ESPECIALISTAS


8/8

BEM-VINDOS REDE DEASSISTNCIA SADE EM PERIGOSe voc j trabalhou na questo da violncia

contra a assistncia sade durante alguns anos,

sabe como frustrante no encontrar recursos

relevantes, sejam eles no nvel da formao, das

melhores prticas ou simplesmente estatsticas.

Certamente, tambm dever ter se pergun-

tado se outras organizaes ou pessoas esto

abordando a questo, que avanos fizeram e se

tiveram de superar alguns dos desafios que voc

enfrenta. Dentro do projeto Assistncia Sade

em Perigo, temos as mesmas frustraes. Cientes

da importncia de se coordenar e complementaro nosso trabalho com o dos demais, decidimos

organizar uma plataforma on-line compartilhada.

Esta plataforma se chama Rede de Assistncia

Sade em Perigo. Uma plataforma interativa na

web, acessada somente por meio de um convite,

que conta com uma ampla variedade de recursos

de diversas organizaes e um calendrio com-

partilhado de diferentes iniciativas previstas no

mundo todo. Os membros formam o que chama-

mos uma comunidade de interesse que inclui

organizaes e indivduos ativamente envolvidos

em um acesso cada vez mais seguro assis-

tncia sade. A plataforma permite interagir

com outros, intercambiar experincias prticas

e acompanhar recomendaes formuladas

durante a fase de consulta com os especialistas

do projeto de Assistncia Sade em Perigo.

A plataforma agora tem mais de 350 membros do

CICV, das Sociedades Nacionais da Cruz Vermelha

e do Crescente Vermelho e outras organizaes,

como a Associao Mdica Mundial e MdicosSem Fronteiras.

Se voc ainda no membro, ser um prazer

receb-lo se voc j membro, conte-nos

como podemos tornar esta rede ainda mais til.

Nos vemos on-line!

Para criar um perfil de scio e entrar para a

Rede de Assistncia Sade em Perigo visite

www.healthcareindanger.ning.com, por favor, en-

tre em contato com Chiara Zanette ([email protected]).

COMUNIDADE DE INTERESSE

Comit Internacional da Cruz Vermelha19, avenue de la Paix1202 Genebra, SuaT + 41 22 734 60 01 F + 41 22 733 20 [email protected] www.cicr.org CICV, junho de 2014 41

91/00706.2

014

AGENDADe 4 a 6 de julho de 2014, Congresso

Pan-europeu de Medicina Militar, Srvia.

O congresso enfocar a cirurgia de guerra,

pesquisas bsicas sobre trauma e septicemia,

atualizao em medicina veterinria e preventiva,

assim como a sade mental.

De 29 a 31 de julho de 2014, Seminrio

Consequncias Humanitrias da Falta

de Respeito e Proteo aos Servios

de Sade, em Bogot, Colmbia.

No evento, sero discutidos a resposta mdica

baseada nas consequncias e necessidadeshumanitrias, a tica mdica e o marco jurdico,

alm de oportunidades para melhorar o respeito

e as condies de proteo dos servios de sade.

De 09 de setembro a 12 de outubro de

2014, exposio fotogrfica Assistncia

Sade em Perigo Lbia e Somlia no

olhar de Andr Liohn, em Braslia, Brasil.

Com imagens do fotojornalista brasileiro,

vencedor do prmio Robert Capa, um dos maisimportantes de fotografia no mundo, a exposio

mostra a dura realidade de equipes mdicas

em pases afetados pela violncia. Entre outras

atividades paralelas, ser realizada uma mesa-

redonda sobre os desafios da cobertura de guerra.

Assistncia Sade em Perigo um projeto do

Movimento da Cruz Vermelha e do Crescente

Vermelho liderado pelo CICV para o perodo

de 2012 a 2015, visando melhorar a eficincia

e a prestao de assistncia sade efetiva

e imparcial em conflitos armados e outras

emergncias. Isso feito por especialistas

mobilizados para desenvolver medidas

prticas que podem ser implementadas

no terreno pelas pessoas encarregadas detomar decises, organizaes humanitrias

e profissionais de sade.

www.healthcareindanger.org

boletim assistência à saúde em perigo, nº 1

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