botânica para ciências agrárias e do ambiente

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Carlos Aguiar B B o o t t â â n n i i c c a a para Ciências Agrárias e do Ambiente V V o o l l u u m m e e I I I I I I " Sistemática Instituto Politécnico de Bragança 2013

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Page 1: Botânica para ciências agrárias e do ambiente

Carlos Aguiar

BBoottâânniiccaa para Ciências Agrárias e do Ambiente

VVoolluummee IIIIII Sistemática

Instituto Politécnico de Bragança 2013

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Publicado  pelo  Instituto  Politécnico  de  Bragança  

Imagem  da  capa.  Butomus  umbellatus  (Butomaceae)  

Versão  de  13-­‐V-­‐2013  

©  Carlos  Aguiar    

ISBN  978-­‐972-­‐745-­‐125-­‐8  

Page 3: Botânica para ciências agrárias e do ambiente

1   Escola  Superior  Agrária  de  Bragança  -­‐  Botânica  para  Ciências  Agrárias  e  do  Ambiente  

Índice  

1.   Introdução  à  sistemática  de  plantas-­‐vasculares  ...............................................................  7  

1.1.   O  porquê  de  classificar  ..............................................................................................  7  

1.2.   Conceitos  e  objetivos  da  taxonomia  ..........................................................................  8  

1.3.   Evolução  dos  sistemas  de  classificação  botânica  ......................................................  9  

Sistemas  artificiais  ...............................................................................................  10  

Sistemas  naturais  e  sistemas  fenéticos  ...............................................................  11  

Sistemas  evolutivos  .............................................................................................  12  

Sistemas  cladísticos  .............................................................................................  15  

Sistemática  molecular  .........................................................................................  17  

1.4.   Nomenclatura  ..........................................................................................................  18  

Nomenclatura  biológica  clássica  .........................................................................  18  

Nomenclatura  de  plantas  cultivadas  ...................................................................  22  

Nomenclatura  filogenética  ..................................................................................  23  

2.   Sistemática  de  plantas-­‐com-­‐semente  .............................................................................  24  

2.1.   Introdução  ...............................................................................................................  24  

Taxa  supra-­‐ordinais  das  plantas-­‐terrestres  .........................................................  24  

‘Pteridófitas’  e  gimnospérmicas  ..........................................................................  25  

Angiospérmicas  ...................................................................................................  25  

2.2.   Famílias  de  plantas-­‐com-­‐semente  de  maior  interesse  ecológico  ou  económico  ....  27  

2.2.1.   Gimnospérmicas  ..............................................................................................  27  

2.2.1.1.   Cycadidae  .................................................................................................  28  

I.   Cycadaceae  s.str.  ...................................................................................  29  

2.2.1.2.   Ginkgoidae  ................................................................................................  30  

II.   Ginkgoaceae  ........................................................................................  30  

2.2.1.3.   Pinidae  ......................................................................................................  30  

III.   Pinaceae  .............................................................................................  31  

IV.   Cupressaceae  (inc.  Taxodiaceae)  ........................................................  31  

V.   Araucariaceae  ......................................................................................  32  

VI.   Taxaceae  .............................................................................................  32  

2.2.1.4.   Gnetidae  ...................................................................................................  33  

VII.   Ephedraceae  ......................................................................................  33  

Page 4: Botânica para ciências agrárias e do ambiente

2   Escola  Superior  Agrária  de  Bragança  -­‐  Botânica  para  Ciências  Agrárias  e  do  Ambiente  

2.2.2.   Magnoliidae  (angiospérmicas)  .........................................................................  33  

2.2.2.1.   ‘Angiospérmicas  basais’  ............................................................................  34  

Nymphaeales  ...................................................................................................  34  

VIII.   Nymphaeaceae  ................................................................................  34  

Austrobaileyales  ..............................................................................................  34  

IX.   Illiciaceae  ............................................................................................  34  

2.2.2.2.   Magnoliidas  ..............................................................................................  35  

Magnoliales  .....................................................................................................  35  

X.   Magnoliaceae  .......................................................................................  35  

XI.   Annonaceae  ........................................................................................  36  

Laurales  ...........................................................................................................  36  

XII.   Lauraceae  ..........................................................................................  36  

Piperales  ..........................................................................................................  37  

XIII.   Aristolochiaceae  ...............................................................................  37  

XIV.   Piperaceae  ........................................................................................  37  

2.2.2.3.   Monocotiledóneas  (Lilianae)  ....................................................................  37  

2.2.2.3.1.   ‘Monocotiledóneas  basais’  ..................................................................  38  

Alismatales  ......................................................................................................  38  

XV.   Cymodoceaceae  ................................................................................  38  

XVI.   Araceae  ............................................................................................  38  

2.2.2.3.2.   ‘Monocotiledóneas  petaloideas’  .........................................................  39  

Dioscoreales  ....................................................................................................  40  

XVII.   Dioscoreaceae  .................................................................................  40  

Liliales  ..............................................................................................................  40  

XVIII.   Smilacaceae  ...................................................................................  40  

XIX.   Liliaceae  ............................................................................................  40  

Asparagales  .....................................................................................................  41  

XX.   Orchidaceae  .......................................................................................  41  

XXI.   Xanthorrhoeaceae  ............................................................................  42  

XXII.   Amaryllidaceae  ................................................................................  43  

XXIII.   Agavaceae  ......................................................................................  44  

XXIV.   Asparagaceae  .................................................................................  44  

XXV.   Ruscaceae  ........................................................................................  45  

2.2.2.3.3.   Monocotiledóneas  commelinídeas  ......................................................  45  

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3   Escola  Superior  Agrária  de  Bragança  -­‐  Botânica  para  Ciências  Agrárias  e  do  Ambiente  

Arecales  ...........................................................................................................  46  

XXVI.   Arecaceae  (=  Palmae)  ....................................................................  46  

Poales  ..............................................................................................................  47  

XXVII.   Bromeliaceae  ................................................................................  47  

XXVIII.   Juncaceae  ....................................................................................  47  

XXIX.   Cyperaceae  .....................................................................................  49  

XXX.   Poaceae  (=  Gramineae)  ...................................................................  49  

Zingiberales  .....................................................................................................  53  

XXXI.   Musaceae  .......................................................................................  53  

XXXII.   Cannaceae  .....................................................................................  53  

XXXIII.   Zingiberaceae  ..............................................................................  53  

2.2.2.4.   Eudicotiledóneas  ......................................................................................  53  

2.2.2.4.1.   ‘Eudicotiledóneas  basais’  .....................................................................  53  

Ranunculales  ...................................................................................................  53  

XXXIV.   Papaveraceae  ...............................................................................  53  

XXXV.   Ranunculaceae  ..............................................................................  54  

Proteales  .........................................................................................................  54  

XXXVI.   Proteaceae  ...................................................................................  54  

XXXVII.   Platanaceae  ................................................................................  55  

Buxales  ............................................................................................................  55  

XXXVIII.   Buxaceae  ...................................................................................  55  

2.2.2.4.2.   Eudicotiledóneas  superiores  (core  eudicots)  .......................................  55  

Famílias  basais  de  eudicotiledóneas  superiores  .................................................  55  

Saxifragales  ......................................................................................................  55  

XXXIX.   Altingiaceae  .................................................................................  55  

Vitales  ..............................................................................................................  56  

XL.   Vitaceae  .............................................................................................  56  

Clado  das  rosidas  .................................................................................................  56  

Malpighiales  ....................................................................................................  57  

XLI.   Linaceae  ............................................................................................  57  

XLII.   Euphorbiaceae  ................................................................................  57  

XLIII.   Violaceae  ........................................................................................  57  

XLIV.   Salicaceae  .......................................................................................  58  

XLV.   Passifloraceae  ..................................................................................  58  

Page 6: Botânica para ciências agrárias e do ambiente

4   Escola  Superior  Agrária  de  Bragança  -­‐  Botânica  para  Ciências  Agrárias  e  do  Ambiente  

XLVI.   Hypericaceae  ..................................................................................  58  

Cucurbitales  .....................................................................................................  59  

XLVII.   Cucurbitaceae  ...............................................................................  59  

Fabales  ............................................................................................................  59  

XLVIII.   Fabaceae  ......................................................................................  59  

Fagales  .............................................................................................................  61  

XLIX.   Fagaceae  .........................................................................................  61  

L.   Myricaceae  ...........................................................................................  62  

LI.   Juglandaceae  ......................................................................................  62  

LII.   Betulaceae  .........................................................................................  62  

LIII.   Casuarinaceae  ..................................................................................  63  

Myrtales  ..........................................................................................................  63  

LIV.   Lythraceae  ........................................................................................  63  

LV.   Myrtaceae  ..........................................................................................  64  

Celastrales  .......................................................................................................  64  

LVI.   Celastraceae  .....................................................................................  64  

Rosales  ............................................................................................................  64  

LVII.   Rosaceae  .........................................................................................  64  

LVIII.   Rhamnaceae  ..................................................................................  66  

LIX.   Ulmaceae  ..........................................................................................  66  

LX.   Cannabaceae  .....................................................................................  66  

LXI.   Moraceae  ..........................................................................................  67  

Sapindales  .......................................................................................................  67  

LXII.   Anacardiaceae  .................................................................................  67  

LXIII.   Sapindaceae  (inc.  Aceraceae  e  Hippocastanaceae)  .......................  68  

LXIV.   Simaroubaceae  ...............................................................................  68  

LXV.   Meliaceae  ........................................................................................  68  

LXVI.   Rutaceae  ........................................................................................  69  

Brassicales  .......................................................................................................  69  

LXVII.   Brassicaceae  ..................................................................................  69  

LXVIII.   Capparaceae  ................................................................................  70  

Malvales  ..........................................................................................................  70  

LXIX.   Thymelaeaceae  ..............................................................................  70  

LXX.   Cistaceae  .........................................................................................  71  

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5   Escola  Superior  Agrária  de  Bragança  -­‐  Botânica  para  Ciências  Agrárias  e  do  Ambiente  

LXXI.   Malvaceae  (inc.  Tiliaceae,  Bombacaceae  e  Sterculiaceae)  .............  71  

Santalales  ........................................................................................................  72  

LXXII.   Santalaceae  ...................................................................................  72  

Caryophyllanae  ....................................................................................................  73  

Caryophyllales  .................................................................................................  73  

LXXIII.   Tamaricaceae  ...............................................................................  73  

LXXIV.   Plumbaginaceae  ...........................................................................  73  

LXXV.   Polygonaceae  ................................................................................  74  

LXXVI.   Caryophyllaceae  ...........................................................................  74  

LXXVII.   Amaranthaceae  (inc.  Chenopodiaceae)  ......................................  75  

LXXVIII.   Cactaceae  ..................................................................................  75  

Clado  das  asteridas  (Asteranae)  ..........................................................................  76  

Cornales  ...........................................................................................................  76  

LXXIX.   Cornaceae  ....................................................................................  76  

LXXX.   Hydrangeaceae  ..............................................................................  76  

Ericales  ............................................................................................................  76  

LXXXI.   Sapotaceae  ...................................................................................  76  

LXXXII.   Ebenaceae  ..................................................................................  77  

LXXXIII.   Theaceae  ...................................................................................  77  

LXXXIV.   Actinidiaceae  .............................................................................  77  

LXXXV.   Ericaceae  (inc.  Empetraceae)  ......................................................  77  

Incertae  sedis  ..................................................................................................  78  

LXXXVI.   Boraginaceae  .............................................................................  78  

Gentianales  .....................................................................................................  78  

LXXXVII.   Rubiaceae  .................................................................................  78  

LXXXVIII.   Apocynaceae  (inc.  Asclepiadaceae)  ........................................  79  

Lamiales  ...........................................................................................................  79  

LXXXIX.   Oleaceae  ....................................................................................  79  

XC.   Bignoniaceae  .....................................................................................  80  

XCI.   Lamiaceae  .........................................................................................  81  

XCII.   Orobanchaceae  ...............................................................................  81  

XCIII.   Scrophulariaceae  (inc.  Buddlejaceae  e  Myoporaceae)  ..................  81  

XCIV.   Verbenaceae  ..................................................................................  82  

Solanales  .........................................................................................................  82  

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6   Escola  Superior  Agrária  de  Bragança  -­‐  Botânica  para  Ciências  Agrárias  e  do  Ambiente  

XCV.   Convolvulaceae  ...............................................................................  82  

XCVI.   Solanaceae  .....................................................................................  83  

Apiales  .............................................................................................................  83  

XCVII.   Araliaceae  .....................................................................................  83  

XCVIII.   Pittosporaceae  .............................................................................  84  

XCIX.   Apiaceae  .........................................................................................  84  

Aquifoliales  ......................................................................................................  85  

C.   Aquifoliaceae  .......................................................................................  85  

Asterales  ..........................................................................................................  85  

CI.   Asteraceae  ..........................................................................................  85  

Dipsacales  ........................................................................................................  87  

CII.   Adoxaceae  .........................................................................................  87  

CIII.   Caprifoliaceae  s.str.  (excluídas  Dipsacaceae  e  Valerianaceae)  ........  87  

3.   Referências  ......................................................................................................................  88  

 

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7   Escola  Superior  Agrária  de  Bragança  -­‐  Botânica  para  Ciências  Agrárias  e  do  Ambiente  

1. Introdução  à  sistemática  de  plantas-­‐vasculares  

1.1. O  porquê  de  classificar    “Classificar   objetos   é   uma   prerrogativa   humana   baseada   na   capacidade   da   mente   de   conceptualizar   e  

reconhecer  a  presença  de  propriedades  similares  em  objetos  individuais.  Propriedades  e  classes  são  abstrações1  relacionadas  entre  si:  quando  uma  propriedade  é  atribuída  a  um  objeto,  então  o  objeto  torna-­‐se  membro  de  uma  classe   particular   definida   por   aquela   propriedade”,   explica  W.   V.   Quine   (Quine, 1987).   Classificar   organismos,  ecossistemas,  sinais,  formas,  estruturas,  comportamentos  é,  então,  uma  capacidade  inata2  que  a  mente  humana  realiza,  geralmente,  de   forma   involuntária  e   sem  esforço.  As  classes  caracterizam-­‐se  por  um  dado  conjunto  de  propriedades;   a   presença   dessas   propriedades   agrega   objetos   a   classes.   Cada   classe   tem   a   si   associado   um  conceito3  formalizado  pelas  suas  propriedades.  

Atribuir  um  nome  científico,  de  qualquer  categoria   (e.g.  espécie  e   família),  a  uma  planta,   i.e.  outorgar  uma  planta   a   uma   dada   classe   –   a   um   dado   taxon   (vd.   Conceitos   e   objetivos   da   taxonomia)   –   envolve   o  reconhecimento  da  presença  de  um   conjunto  de  propriedades.  O  mesmo  acontece  quando   se   aplicam  nomes  vulgares.   Identificar  uma  planta  com  o  nome  Prunus  avium,  ou  «cerejeira»,  pressupõe  que  se   trata  de  uma  de  árvore   de   tronco   acinzentado   que   se   destaca   por   tiras   horizontais,   com   folhas   serradas,   flores   completas   de  pétalas  brancas  e  estames  indefinidos,  polinizada  por   insectos,  que  produz  frutos  comestíveis,  e  por  aí  adiante.  Uma  planta   cabe  no   conceito  de  P.   avium   –   uma   classe  de  organismos   vegetais   com  a   categoria   de  espécie  –  quando   nela   se   reconhecem   as   propriedades   de   ser   Prunus   avium.   Os   nomes   científicos   ou   vulgares   são   uma  expressão  sintética  de  um  conjunto  de  propriedades  que  se  consubstanciam  num  conceito;  um  nome  por  si  só  de  pouco  vale.  

A   mente   humana   organiza   com   mais   facilidade   objetos   complexos   em   grupos   homogéneos,   sejam   eles  plantas,   paisagens   ou   instrumentos   de   trabalho,   do   que   soluciona,   por   exemplo,   equações   matemáticas  elementares.  Pelo  contrário,  os  programas   informáticos  de  resolução  de  equações  matemáticas  complexas  são  substancialmente   mais   simples,   e   eficientes,   do   que   os   programas   de   “reconhecimento   visual”   de   objetos.   A  classificação   visual   assistida   por   computador   envolve   algoritmos   intrincados   de   inteligência   artificial,   que  permitem  que  as  máquinas  aprendam  com  a  experiência.  O  hardware  da  mente  humana  foi  “desenhado”  pela  evolução   para   desempenhar   tarefas   tão   complexas   como   a   envolvidas   a   identificação   e   a   classificação   de  entidades4  biológicas,  porque  estas  tarefas  têm  um  enorme  valor  adaptativo:  aumentam  a  fitness  (vd.  volume  II)  dos   seus   portadores.   Classificar   é   uma   atividade   indispensável   para   percepcionar   e   agir   sobre   de   realidade  complexas,  como  é  a  diversidade  biológica.  Por  outras  palavras,  a  diversidade  seres  vivos  que  connosco  convivem  é   incognoscível   sem   uma   taxonomia.  O   sucesso   reprodutivo   dos   indivíduos   da   nossa   espécies,   num   passado  recente,  dependeu,  certamente,  mais  de  uma  correta  identificação  dos  hábitos  e  das  formas  dos  seres  vivos  do  que  da  abstração  matemática.  A  componente  inata  do  ato  de  identificar  ou  classificar  plantas  também  explica  a  precocidade  da  taxonomia  na  história  da  biologia.  

1   Resultam   de   um   processo   de   abstração,   i.e.   de   redução   de   uma   realidade   complexa   a   um   conjunto   de   propriedades  consideradas  mais  importantes  do  que  as  propriedades  rejeitadas.  2  Inata  porque  nasce  connosco,  não  é  aprendida.  3  A  definição  de  “conceito”  é  muito  disputada  no  meio  filosófico.  Para  abreviar  o  tema  talvez  seja  melhor  definir  o  que  é  “ter  um  conceito  de”.  Ter  um  conceito  de  um  objeto,  por  exemplo,  é  ser  capaz  de  reconhecer  e  de  pensar  sobre  esse  objeto,  de  perceber   as   consequências   de   identificar   esse   objeto,   e   de   o   poder   agrupar   (classificar)   com   outros   objetos   similares  (Blackburn, 1997).  4  Uma  entidade  é  algo  de  real,  que  existe  por  si  próprio  (Blackburn, 1997).  

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8   Escola  Superior  Agrária  de  Bragança  -­‐  Botânica  para  Ciências  Agrárias  e  do  Ambiente  

1.2. Conceitos  e  objetivos  da  taxonomia  Num   sentido   lato,   a   taxonomia   biológica5   é   o   ramo   da   biologia   que   se   dedica   ao   estudo   e   descrição   da  

variação  [e.g.  variação  da  forma]  dos  organismos6;  à   investigação  das  causas  e  consequências  dessa  variação;  e  ao  uso  da   informação  obtida   sobre  a  variação  dos  organismos  no  desenho  de  sistemas  de  classificação   (Stace, 1992).  Num  sentido  estrito,  a  taxonomia  envolve  a  descoberta,  a  descrição,  a  designação  e  a  classificação  de  taxa  (vd.   definição   mais   adiante).   A   taxonomia   inclui   três   importantes   atividades   subsidiárias:   a   classificação,   a  atribuição  de  nomes  e  a  identificação,  definíveis  do  seguinte  modo  (Stace, 1992):  

Classificação  –  estruturação  de  sistemas  lógicos  de  categorias  (sistemas  de  classificação)  que  agrupem  e  categorizem,  geralmente  de  forma  hierárquica,  os  organismos  (vd.  Evolução  dos  sistemas  de  classificação  de  plantas-­‐vasculares;  

Nomenclatura  –  abrange  o  estudo  dos  sistemas  e  métodos  de  designação  dos  grupos  de  organismos,  e  a  construção,   interpretação   e   aplicação   dos   regulamentos   que   governam   estes   sistemas   (vd.  Nomenclatura);  

Identificação   (=   determinação)   –   denominação   de   um   organismo   tendo   como   referência   uma  classificação  já  existente.    

Um   sistemata   (o   especialista   em   sistemática)  classifica  quando  descreve  uma  espécie  nova  para  a  ciência.   Nesse   ato   atribui   um   nome   científico   de  acordo  com  as  regras  de  nomenclatura  em  vigor.  Um  praticante   de   botânica   ao   reconhecer   essa   mesma  espécie  no  campo  ou  no  herbário,  identifica.  

Um  taxon   (táxone;  no  plural  taxa  ou  táxones)  ou  grupo  taxonómico  é  um  grupo  concreto  –  uma  classe  –   de   organismos   ao   qual   é   atribuído   um   nome,   em  botânica   de   acordo   com   o   Código   Internacional   de  Nomenclatura   para   Algas,   Fungos   e   Plantas  (International  Code  of  Nomenclature  for  Algae,  Fungi  and   Plants,   ICN;   (McNeill, et al., 2012)   (vd.  Nomenclatura).   O   conceito   de   taxon   refere-­‐se   a  grupos   de   indivíduos,   não   devendo   ser   confundido  com   o   conceito   de   categoria   taxonómica.   Os   taxa  naturais7  ou  monofiléticos,   reúnem  os   indivíduos  de  uma   espécie   ancestral,   atual   ou   extinta,   e   todos   os  indivíduos  de  todas  as  espécies  dela  descendentes.  A  sua  existência  é   independente  dos   sistemas  de   classificação   criados  pelo  homem:   são  entidades  objetivas8.  Os  taxa   não   monofiléticos   dizem-­‐se   artificiais.   Não   sendo   monofiléticos   os   grupos   taxonómicos   podem   ser   (i)  parafiléticos  quando  excluem  alguns  descendentes  de  um  ancestral  comum,  ou  (ii)  polifiléticos  se  reúnem  taxa  de  dois  ou  mais  grupos  monofiléticos  sem  uma  ancestralidade  comum  (figura  1).  

5  Propõe-­‐se  uma  definição  lata  de  taxonomia  e  a  sua  sinonimização  com  a  sistemática.  Muitos  autores,  sobretudo  zoólogos,  preferem   distinguir   sistemática   e   taxonomia.   A   primeira   teria   um   significado   alargado,   restringindo-­‐se   a   segunda   à  descoberta,  descrição,  designação  e  classificação  de  taxa.  6  Um  organismo  é  um   ser   vivo   individual,   cujas  partes   (organelos,   órgãos)   são  mutuamente  dependentes  e  desempenham  funções   indispensáveis   para   a   sobrevivência   e/ou   reprodução   do   indivíduo.   Uma   bactéria,   uma   planta   ou   um   animal   são  organismos.  7  Muitos  autores,  atuais  e  pretéritos,  criticam  esta  definição  e  preferem  designar  por   taxon  natural  um  grupo  de  indivíduos  mais  similares  entre  si  do  que  com  os  indivíduos  de  outros  grupos.  Outros  exigem  uma  ancestralidade  comum  mas  aceitam  como  naturais  os  grupos  parafiléticos.  8  Objetivas  porque  a  sua  existência  é  independente  da  mente  que  afirma  a  sua  existência.  Embora  de  uso  corrente,  o  conceito  de  “entidade  objetiva”  é  redundante  porque  uma  entidade  é  necessariamente  objetiva.  

Figura  1. Monofilia,  parafilia  e  polifilia.  Neste  exemplo  os  vertebrados  e  os  répteis  s.l.  (=  saurópsidos,  inc.  aves,  assinalado  a  amarelo)   são   monofiléticos,   os   répteis   s.str.   (excl.   Aves)   são  parafiléticos   e   os   animais   de   sangue-­‐quente   (a   vermelho,  mamíferos  +  aves)  são  polifiléticos  (Wikipedia)  

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9   Escola  Superior  Agrária  de  Bragança  -­‐  Botânica  para  Ciências  Agrárias  e  do  Ambiente  

Os   taxonomistas   servem-­‐se  de  características  morfológicas,   fisiológicas  ou  moleculares  para  classificar  e/ou  identificar   taxa.   Estas   características   são   genericamente   designadas   por   caracteres   taxonómicos.   Um   carácter  pode  ter  vários  estados.  Por  exemplo,  o  carácter  posição  do  ovário  tem  três  estados-­‐de-­‐carácter:  ovário   ínfero,  semi-­‐ínfero  e  súpero.  Frequentemente,  o  termo  “carácter  taxonómico”  é  utilizado  com  o  significado  de  “estado-­‐de-­‐carácter”.  Os  caracteres  diagnóstico  são  utilizados  para  distinguir  os  taxa  de  outros  que  se  lhes  assemelhem.  Os   caracteres   diagnóstico   determinam   a   circunscrição   dos   taxa,   i.e.   quais   os   indivíduos   que   a   eles   podem   ser  atribuídos  (Singh, 2010),  e,  implicitamente,  objetivam  o  seu  conceito.  

Os   termos   “primitivo”   e   “evoluído   ou   avançado”,   embora   de   uso   corrente,   exprimem   juízos   de   valor  injustificáveis   à   luz   da   moderna   interpretação   dos   processos   evolutivos.   Os   carateres   ditos   primitivos   –   e.g.  estames  semelhantes  às  pétalas  –  não  são,  necessariamente,  menos  vantajosos  para  os  seus  portadores  do  que  os   caracteres   evoluídos   (=   avançados)   –   e.g.   estames   e   pétalas   bem  distintos.   Pela  mesma   razão   o  mesmo   se  pode  dizer  de  um  taxon  primitivo  frente  a  um  taxon  evoluído.  Por  outro  lado,  um  carácter  considerado  primitivo  num   determinado   grupo   pode   ser   evoluído   num   outro   porque,   sendo   as   plantas   evolutivamente   flexíveis,   as  inversões   de   caracteres   e   os   fenómenos   de   convergência   evolutiva   são   sistemáticos   (vd.   Sistemas   evolutivos).  Como  se  referiu  no  Volume  I,  muitas  das  Theaceae  atuais  têm  flores  acíclicas,  um  estado-­‐de-­‐carácter  associado  a  plantas  primitivas.  Hoje  é   claro  que  num  antepassado  das  Theaceae   de  perianto  verticilado   terá  ocorrido  uma  inversão  do  carácter  filotaxia  da  flor:  as  Theaceae  são  secundariamente  acíclicas  (Ronse De Craene, 2010).  Para  evitar   equívocos,   pode-­‐se   substituir   o   adjetivo   “primitivo”   por   “ancestral”   ou   “basal”.   “Derivado”   é   uma  alternativa  a  “evoluído”  ou  “avançado”  9.    

Um  dado  estado-­‐de-­‐carácter  diz-­‐se  primitivo,  ancestral  ou  basal  quando  corresponde  à  condição  original  do  carácter,   i.e.   ao   estado-­‐de-­‐carácter   presente   nas   formas   ancestrais   de   um   determinado   grupo.   Os   caracteres  ancestrais   são   mais   antigos   e   os   caracteres   derivados   de   génese   mais   recente.   Geralmente,   os   taxa   basais  distinguem-­‐se  dos  taxa  derivados  por  reterem  um  maior  número  de  caracteres  basais  e,  em  consequência  disso  mesmo,   serem   mais   semelhantes   às   formas   originais   a   partir   das   quais   evoluíram.   A   retenção   de   caracteres  basais   aproxima   os   organismos,   e   os   seus   grupos,   da   base   das   árvores   filogenéticas.   Aos   taxa   derivados  correspondem  a  ramificações  chegadas  à  extremidade  das  árvores  filogenéticas  (vd.  Sistemas  cladísticos).    

A   botânica   sistemática,   ou   taxonomia   botânica,   é   uma   ciência   antiga.   O   seu   desenvolvimento   precedeu   a  genética,  a  fisiologia  ou  a  ecologia  vegetal.  Nos  seus  primórdios,  os  objetivos  da  botânica  sistemática  acabavam  no   reconhecimento   de   taxa   e   na   sua   designação.   Na   sequência   da   definição   de   taxonomia   biológica  anteriormente   formulada,  os  objetivos  da  botânica   sistemática   são  hoje   francamente  mais   vastos   (Jones Jr. & Luchsinger, 1987):  (i)  inventariar  a  flora  mundial;  (ii)  produzir  métodos  de  identificação  das  plantas;  (iii)  facilitar  a  comunicação  nos  domínios  do  conhecimento  relacionados  com  as  plantas;   (iv)  produzir  um  sistema  coerente  e  universal   de   classificação;   (v)   explorar   as   implicações   evolucionárias   da   diversidade   vegetal;   (vi)   explorar   as  relações  filogenéticas  entre  taxa;  (vii)  fornecer  um  único  nome  latino  para  cada  taxa  de  plantas  atual  ou  extinto.  

1.3. Evolução  dos  sistemas  de  classificação  botânica  Os   sistemas   de   classificação   biológica   são   sistemas   hierárquicos   de   categorias,   geralmente   construídos   de  

modo  a  permitirem  uma  fácil   referenciação  dos  seus  membros.  Dizem-­‐se  hierárquicos  porque  os   indivíduos  de  qualquer  categoria  são  organizados  em  grupos  cada  vez  mais   inclusivos,  até  restar  apenas  um.  Reconhecem-­‐se  cinco  grandes  tipos  de  sistemas  de  classificação  biológica:  artificiais,  naturais,  fenéticos,  evolutivos  e  cladísticos.  As   ideias   dominantes   (=   paradigmas)   na   biologia   condicionaram   a   natureza   e   o   sucesso   dos   sistemas   de  classificação  biológica.  Os  sistemas  de  classificação  artificiais  (e.g.  sistema  sexual  de  Carl  Linnaeus)  e  naturais  (e.g.  sistema   de   de   Candolle)   são   essencialistas   porque   pressupõem   um  mundo   biológico   constituído   por   espécies  

9  Na  bibliografia  encontram-­‐se,  recorrentemente,  as  combinações  “estado-­‐de-­‐carácter  ancestral,  “estado-­‐de-­‐carácter  basal”,  “estado-­‐de-­‐carácter  derivado”,  “taxon  basal”,  “taxon  ancestral”  e  “taxon  derivado”.  

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imutáveis   (volume   II).   Os   sistemas   fenéticos   são   uma   versão   tecnicamente   refinada   dos   sistemas   naturais.  Os  sistemas  de  classificação  evolutivos  e  cladísticos  integram  a  ideia  de  evolução.  

 

Sistemas  artificiais  Carl   Linnaeus   [1707-­‐1778],   Carlos   Lineu   em   português,   foi   um   médico,   botânico,   zoólogo   e   mineralogista  

sueco10.  É  considerado  uma  das  personagens  mais  determinantes  da  história  da  biologia  pelos  historiadores  de  ciência   (Mayr, 1989).   A   sistemática   botânica   e   zoológica   moderna   nasceu   em   duas   das   suas   publicações.   A  primeira   edição   do   Species   Plantarum,   de   1773,   e   a   décima   edição   do   Systema   Naturae,   uma   obra   em   dois  volumes  publicada  entre  1758  e  1759,  são  consideradas,  respectivamente,  o  ponto  de  partida  da  nomenclatura  sistemática   botânica   (vd.   Nomenclatura   biológica   clássica)   e   zoológica.   O   uso   da   nomenclatura   binomial   na  taxonomia  biológica  generalizou-­‐se  após  a  publicação  da  primeira  edição  do  Species  Plantarum,  embora  Lineu,  numa  fase  inicial  do  seu  trabalho  científico,  não  a  tenha  valorizado  e  aplicado  de  forma  sistemática  (Blunt, 2001).  A   invenção  da  nomenclatura  binomial  é  anterior  a  Lineu,  deve-­‐se  a  Caspard  Bauhin   [1560-­‐1624),  um  médico  e  botânico   suíço   de   origem   francesa.   Os   binomes   específicos   substituíram   a   nomenclatura   polinomial   que   se  caracterizava   pelo   uso   de   um   nome   genérico,   sucedido   por   um   número   variável   de   palavras   a   descrever   a  morfologia,  corologia  e/ou  a  autoria  da  descrição  original  das  espécies.  A  nomenclatura  binomial  tem  a  vantagem  de  ser  mais  fácil  de  memorizar,  de  acelerar  as  trocas  de  informação,  e  de  ser  mais  estável  e  menos  sujeita  a  erros  do   que   a   nomenclatura   polinomial.   Através   do   nome   genérico   expressa   e   resume   relações   evolutivas   e   de  similaridade  morfológica  de  enorme  utilidade  prática.  

Lineu  estabeleceu  três  reinos  –  Regnum  Animale  (reino  animal),  Regnum  Vegetabile  (reino  vegetal)  e  Regnum  Lapideum   (reino  mineral)  –  que  até  há  bem  pouco  tempo  eram  ensinados  nos  curricula  escolares  portugueses.  Considerou   cinco   categorias   taxonómicas   fundamentais   que   permanecem   em   uso   na   nomenclatura   biológica  moderna:   o   reino,   a   classe,   a   ordem,   a   família   e   o   género.   Lineu   defendeu   que   a   categoria   taxonómica  fundamental   dos   sistemas   de   classificação   é   a   espécie   e,   muito   antes   emergência   da   moderna   biologia   da  evolução,   que   a   coesão  morfológica   dos   indivíduos   coespecíficos   se   devia   ao   sexo.   A   importância   de   Lineu   na  história   da   biologia   deve-­‐se   quer   às   suas   contribuições   científicas,   quer   à   doutrinação  de  um  núcleo   coeso  de  discípulos  que  disseminaram  as  suas  ideias,  métodos  e  publicações.  Não  deixa  de  ser  significativo  que  o  Systema  Naturae  esteja  exposto  numa  das  estantes  da  casa  que  Charles  Darwin  habitou  durante  grande  parte  da  sua  vida.  

O   sistema   de   classificação   sexual   lineano   está   descrito   logo   na   primeira   edição   do   Species   Plantarum   (vd.  Figura   1A).   Lineu   reconheceu   24   classes   no   reino   das   plantas   com   base   na   presença   ou   ausência,   número,  comprimento  e  concrescência  dos  estames,  e  ainda  na  sua  adnação  ao  pistilo.  O  sistema  lineano,  embora  tenha  uma   inegável  utilidade  prática,  produz  grupos  de  plantas  dissimilares  de  baixo  valor  extrapolativo:  a  partir  das  

10  A  vida  e  obra  de  Carl  Linnaeus  pode  ser  explorada  em  http://www.linnaeus.uu.se/online/index-­‐en.html.    

A   B   C  

Figura  2. Três   personagens   chave   da   história   da   sistemática:  A)   Carl   Linnaeus   [1707-­‐1778];   B)   Charles  Darwin  [1809–1882];  C)  Willi  Hennig  [1913-­‐1976]  

A   B   C  

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características  de  um  elemento  do  grupo,  não  é  possível,  a  priori,  antever  as  características  mais  marcantes  na  forma  de  cada  um  dos  restantes  elementos  que  o  compõem.  Diz-­‐se  que  é  um  sistema  de  classificação  artificial  porque  se  baseia  num  número  reduzido  e  arbitrário  de  características  de  fácil  observação  (vd.  Quadro  1).  

Sistemas  naturais  e  sistemas  fenéticos  Os  sistemas  naturais  de  classificação   foram  uma  reação  à   incapacidade  do  sistema  sexual   lineano   revelar  a  

scala  naturae  aristotélica  (vd.  Volume  II).  Fundam-­‐se  no  princípio,  confirmado,  de  que  a  utilização  de  um  grande  número  de  caracteres  origina  classificações  mais   intuitivas,  e  de  maior  valor  extrapolativo,  do  que  os   sistemas  artificiais   (vd.   justificação  em  Sistemas  evolutivos).  Muitos  dos  defensores  destes  sistemas  consideravam  ainda  que  os  caracteres  taxonómicos  não  devem  ser  pesados  (a  todos  deve  ser  dada  a  mesma  importância)  e  que  as  plantas   devem   ser   organizadas   nas   Floras11   de   forma   natural,   conceito   que   na   altura   expressava   a   sua  semelhança.  

Os   fundamentos   teóricos   dos   sistemas   naturais   de   classificação   foram   originalmente   estabelecidos   pelo  botânico   francês   Michel   Adanson   [1727-­‐1806].   No   Genera   Plantarum,   A.-­‐L.   de   Jussieu   [1748-­‐1836]   fez   uma  síntese   das   ideias   de   Adanson   com   o   sistema   de   nomenclatura   binomial   lineano.   Os   sistemas   naturais   de  Augustin   de   Candolle   [1778-­‐1841]   e   de   G.   Bentham   [1800-­‐1884]   e   J.   D.   Hooker   [1817-­‐1911]   são   os   mais  relevantes   para   a   história   da   botânica.   As   principais   características   dos   sistemas   artificiais   e   naturais   estão  explicitados  no  quadro  1.  

Os  sistemas  de  classificação  fenéticos,  em  voga  nos  anos  60  e  70  do  séc.  XX,  são  um  refinamento  dos  sistemas  de  classificação  naturais.  Caracterizam-­‐se  por  reunir  um  grande  número  de  caracteres,  geralmente  tratados  com  o  mesmo  peso,  em  matrizes  de  grande  dimensão  que  posteriormente  são  corridas  em  programas  informáticos  de  classificação.  Os  programas  de  classificação  fenética  geram  classificações  de  elevado  valor  extrapolativo,  muitas  vezes   próximas   das   produzidas   pelos   programas  de   classificação   cladística   (vd.   Sistemas   cladísticos).   A   escolha  dos  algoritmos  de  classificação  determina  os  resultados  das  classificações  fenéticas.  Por  conseguinte,  os  sistemas  fenéticos  não  envolvem  ganhos  significativos  de  objetividade  frente  aos  sistemas  naturais  e  evolutivos.  Por  outro  lado   correm   o   risco   de   produzir   classificações   artificiais,   agregando   indivíduos   semelhantes   por   convergência  evolutiva.  Os  métodos   automáticos   de   classificação   fenética   continuam  em  uso   nos   trabalhos   de   taxonomia   à   11  O  termo  “Flora”,  em  maiúsculas,  refere-­‐se  aos   livros  de  botânica  que  descrevem  em  pormenor,  com  recurso  frequente  a  chaves  dicotómicas,   as  plantas  de  um  dado   território;   e.g.   foram  publicadas  quatro   Floras  de  Portugal,   sendo  a  primeira   a  Flora   Lusitanica,   datada   de   1804,   da   autoria   de   Félix   de   Avelar   Brotero   [1744-­‐1828].   Em  minúsculas   –   flora   –   designa   um  conjunto  de  espécies,  e  de  categorias  subespecíficas,  de  um  território;  e.g.  a  flora  das  ilhas  Berlengas  compreende  com  4  taxa  endémicos:   Armeria   berlengensis   (Plumbaginaceae),   Echium   rosulatum   subsp.   davaei   (Boraginaceae),   Herniaria   lusitanica  subsp.  berlengiana  (Caryophyllaceae)  e  Pulicaria  microcephala  (Asteraceae).  

Figura  3. Capas  da  primeira  edição  do  Species  Plantarum  e  da  décima  edição  do  Sistema  Naturae   de  Carl  Linnaeus  [1707-­‐1778].  Resumo  do  método  sexual  de  lineano  (desenho  de  G.D.  Ehret,  1736)  

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escala  da  espécie  ou  de  categorias  infra-­‐específicas.  A  classificação  fenética  de  grupos  de  categoria  superior  caiu  em  desuso.  

Sistemas  evolutivos  A   incorporação   da   teoria   Darwiniana   da   evolução   alterou   radicalmente   o   propósito   dos   sistemas   de  

classificação.   Os   autores   dos   sistemas   naturais   procuravam   obter   grupos   morfologicamente   consistentes;   nos  sistemas  de  classificação  evolutivos   (=  sistemas   filogenéticos12)  passou  a  ser  prioritário  que  os   taxa   refletissem  relações  de  parentesco  (=  relações  filogenéticas),  i.e.  proximidade  evolutiva.  

O   fenótipo   dos   indivíduos   é   um   resíduo   histórico   de   um   processo   evolutivo.   Os   taxa   (e.g.   espécies)  evolutivamente  próximos,  i.e.  de  divergência  recente,  têm  tendência  a  partilhar  mais  caracteres,  e  a  serem  mais  semelhantes  entre  si,  do  que  os  taxa  pouco  aparentados.  “On  my  theory,  the  unity  of  type  is  explained  by  unity  of  descent”,  escreveu  Darwin  na  Origem  das  Espécies  (Darwin, 1859).  A  similaridade  morfológica  reflete  ainda,  com  frequência,   proximidade   genética.   Os   exemplos   de   correlação   positiva   da   similaridade   morfológica   com   o  parentesco  e  a  proximidade  genética  abundam  na  natureza  porque  a  forma  tem  uma  elevada  inércia  evolutiva:  as  mudanças  morfológicas  radicais,  ocorridas  em  espaços  de  tempo  muito  curtos,  são,  por  regra,  negativamente  selecionadas.   Não   surpreende,   por   isso,   que   as   classificações   evolutivas,   sobretudo   a   nível   familiar   ou  infrafamiliar,   não   difiram   significativamente   das   classificações   naturais.   Pela   mesma   razão,   convém   desde   já  referir   que   os   taxonomistas   naturais   do   século   XIX,   secundados   pelos   taxonomistas   evolucionários   do   séc.   XX,  sem   ou   com   conhecimentos   elementares   de   embriologia,   de   fitoquímica   e   de   taxonomia   molecular   foram  capazes   de   antecipar   uma  parte  muito   significativa   dos   taxa   propostos   pela   sistemática   botânica   cladística   do  final   do   séc.   XX,   início   do   séc.   XXI.   Com   Darwin   o   conceito   de   grupo   natural   sofre   uma   profunda   mudança,  acabando  por  ser  sinonimizado  com  grupo  monofilético  pelos  cladistas.    

Os   sistemas   naturais   e   evolutivos   são   herdeiros   diretos   de   uma   tradição   botânica   europeia,   por   razões  geográficas  de   início  pouco   consolidada  nos   territórios   tropicais  de  maior  diversidade   taxonómica.   Enquanto  a  flora  holártica13  foi  segmentada  num  elevado  número  de  géneros  e  famílias,  a  flora  tropical  foi  tratada  de  uma  

12  Esta  designação  é  dúbia  porque  alguns  autores  aplicam-­‐na  aos  sistemas  cladísticos.  13  Regiões  de  clima  polar,  boreal,  temperado  e  mediterrânico  do  hemisfério  norte.  

Quadro  1.  Principais  características  dos  grandes  tipos  de  sistemas  de  artificiais  e  naturais  

Sistemas  de  classificação   Principais  características  

Sistemas  de  classificação  artificiais  

Reduzido  número  de  caracteres  de  fácil  observação;  

Geralmente  agrupam  plantas  filogeneticamente  não  relacionadas,  morfologicamente  dissemelhantes;  

Baixo  valor  extrapolativo;  

Grande  estabilidade;  

Fácil  identificação  dos  grupos.  

Sistemas  de  classificação  natural  (inc.  sistemas  fenéticos)  

Elevado  número  de  caracteres,  consequentemente  exigem  grandes  quantidades  de  informação  morosa  de  obter;  

Organização  das  plantas  em  grupos  morfologicamente  consistentes;  

Frequentemente  agrupam  plantas  filogeneticamente  próximas;  

Pelo  facto  de  valorizarem  de  igual  modo  homologias  e  analogias  podem  produzir  grupos  artificiais  (de  taxa  não  aparentados);  

Elevado  valor  preditivo;  

O  aumento  do  conhecimento  botânico  repercute-­‐se  na  organização  dos  grupos  –  maior  instabilidade;  

A  identificação  dos  grupos  pode  ser  difícil  na  prática  taxonómica.  

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forma   francamente   mais   conservadora   por   estes   sistemas   de   classificação.   O   grande   número   de   géneros  descritos,  e  ainda  aceites,  nas  Apiaceae  está  relacionado  com  a  sua  elevada  diversidade  no  hemisfério  norte.  Por  outro   lado,   muitas   das   famílias   morfologicamente   bem   caracterizadas   e   fáceis   de   reconhecer   nos   territórios  holárticos,   admitidas   pelos   sistemas   naturais   e   evolutivos,   entravam   em   conflito   nos   espaços   tropicais.   Assim  aconteceu,   por   exemplo,   com  os   conceitos   tradicionais   de  Verbenaceae   e   de   Lamiaceae   ou   de  Apiaceae   e   de  Araliaceae.  

Para   que  os   sistemas   de   classificação   evolutivos   e   cladísticos   (vd.   Sistemas   cladísticos)   resumam,   de   forma  fidedigna,   relações   de   parentesco   entre   taxa   é   necessário   usar   caracteres   submetidos   a   um   estrito   controlo  genético  e  avaliar  corretamente  a  sua  polaridade.  Ao  invés  dos  sistemas  naturais,  nestes  sistemas  classificação  a  importância   dos   caracteres   taxonómicos   é   diferenciada:   valorizam-­‐se   os   caracteres   que   a   priori   se   supõe  veicularem  informação  útil  para  estabelecer  relações  de  parentesco.  A  estimativa  da  polaridade  dos  caracteres,  um  termo  introduzido  pela  cladística  moderna,  consiste  na  discriminação  dos  estados-­‐de-­‐carácter  ancestrais  dos  estados-­‐de-­‐carácter  derivados.  Esta  etapa  é  essencial  para  identificar  eventuais  inversões  de  caracteres  (retornos  a  estados-­‐de-­‐carácter  ancestrais)  e  fenómenos  de  convergência  evolutiva,  tão  frequentes  nas  plantas  terrestres.  Neste   processo   ganhou   uma   particular   importância   a   investigação   do   registo   fóssil   e   o   estudo   morfológico  comparado  das  plantas  atuais,  sobretudo  nas  regiões  de  clima  tropicais,  onde,  corretamente,  se  supunha  estar  refugiada  uma  parte  significativa  das  plantas  atuais  mais  primitivas.  

Os   sistemas  de   classificação  evolutivos  baseiam-­‐se   em   caracteres  morfológicos   sopesados   e  polarizados  de  forma  intuitiva.  Os  caracteres  moleculares  não  eram  conhecidos  ou  foram  desvalorizados.  Como  mais  adiante  se  refere,   a   informação   molecular   transporta,   em   si,   imensa   informação   essencial   para   estabelecer   relações   de  parentesco,   complementar   da   informação   morfológica.   Consequentemente,   a   distinção   entre   similaridades  morfológicas  devidas  à  partilha  de  ancestrais  comuns  (homologias)  ou  à  convergência  evolutiva  (analogias)  nem  sempre   foi   resolvida   de   forma   adequada.   Sendo   a   convergência   evolutiva   recorrente   nas   plantas   terrestre,   os  sistemas  evolutivos  não  evitaram  a  definição  de  um  significativo  número  de   taxa  artificiais.  Embora  rejeitem  os  grupos   polifiléticos,   a   monofilia   não   é   obrigatória   nos   sistemas   de   classificação   evolutivos,   sendo   tolerados  grupos  parafiléticos  (vd.  Figura  1).  

Os  botânicos,  desde  Jussieu  até  à  emergência  dos  sistemas  cladísticos,  no  final  do  século  XX,  foram  incapazes  de   alcançar  uma   classificação  natural   nas   categorias   suprafamiliares.  As   categorias   superiores  então  propostas  não  eram  homogéneas  do  ponto  de  vista  morfológico  e/ou  envolviam  hipóteses  especulativas.  Por  exemplo,  no  sistema   de   Adolf   Engler   [1844-­‐1930]   e   Karl   Prantl   [1849-­‐1893],   o   mais   completo   dos   primeiros   sistemas   de  classificação  evolutiva  das  plantas,   foi   assumido,  no  âmbito  das  dicotiledóneas   (classe  Dicotyledoneae),   que  as  plantas  de   flores  apétalas  eram  as  mais  antigas,  e  que  os  grupos  de  plantas  de   corola   livre   (dialipétalas)  eram  anteriores  aos  de  pétalas  concrescentes.  Esta  interpretação  das  tendências  evolutivas  do  perianto  foi  formalizada  ao  nível  da  subclasse  e  da  ordem.  Como  a  evolução  do  perianto  está  permeada  de  inversões  de  caracteres  e  de  convergências   evolutivas,   muitos   dos   taxa   suprafamiliares   reconhecidos   por   Engler   &   Prantl   eram   artificiais.  Como  se  veio  a  verificar  a  partir  dos  anos  1990,  a  morfologia  externa  é  insuficiente  para  resolver  a  filogenia  das  plantas-­‐terrestres  e  a  similaridade  morfológica  falha  clamorosamente  este  objetivo  a  níveis  suprafamiliares.  

Os   sistemas   evolutivos   continuam   a   ser   usados   quando   se   pretende,  mais   do   expor   relações   filogenéticas,  organizar   e   expressar   a   diversidade   biológica   de   uma   forma   estável,   fácil   de   memorizar.   Recorde-­‐se   que   a  consistência  morfológica   dos   grupos   propostos   pelos   sistemas   evolutivos   é,   geralmente,   elevada.   A  maior   das  Floras   manuseadas   pelos   botânicos   e   floristas   da   atualidade   arranjam   as   espécies   de   acordo   com   algum   dos  seguintes   sistemas   de   classificação   evolutivos:   diferentes   versões   do   Sistema   de   Engler   e   Prantl,   e.g.   Flora  Europaea   (Tutin, 1964-1980)   e  Nova  Flora  de  Portugal   (Franco, Nova Flora de Portugal (Continente e Açores), 1971 e 1984) (Franco & Rocha Afonso, Nova Flora de Portugal (Continente e Açores), 1994 e 1998);  sistema  de  G.L.   Stebbins,   e.g.   Flora   Iberica   (Castroviejo, 1986+);   ou   Sistema   de   A.   Cronquist,   e.g.   Flora   of   North   America  (Flora of North America Editorial Committee, 1993+).  A  opção  pelos  sistemas  evolutivos  dependeu  sempre  mais  

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do   reconhecimento   científico   dos   seus   autores,   i.e.   de   um   argumento   de   autoridade14,   do   que   de   razões  objetivas.  

Subclasse   Características   Nº  de  famílias  

Nº  aprox.  de  espécies  

Magnoliidae     Plantas  arcaicas;  flores  frequentemente  acíclicas  ou  hemicíclicas.   39   >  12.000  

Hamameliidae15   Plantas  arcaicas;  flores  muito  reduzidas  de  geralmente  polinização  anemófila.   25   >  3.400  

Caryophyllidae  Herbáceas  com  betalaínas  (classe  de  pigmentos  vermelhos  ou  amarelos  derivados  do  indol);  placentação  central  livre  ou  tipos  derivados.  

14   >  11.000  

Dilleniidae   Alguma  simpetalia;  apocarpia  rara;  placentação  normalmente  parietal.   77   >  25.000  

Rosidae   Folhas  frequentemente  compostas  com  estípulas;  polipetalia  frequente;  estames  numerosos.   117   >  60.000  

Asteridae   Geralmente  simpétalas,  com  estames  em  número  igual  ou  inferior  ao  número  de  lóbulos  da  corola.   49   >  60.000  

 

O  sistema  proposto  pelo  botânico  norte-­‐americano  Arthur  Cronquist  [1919-­‐1992]  foi,  talvez,  o  mais  influente  sistema  de  classificação  evolutivo  das  plantas-­‐com-­‐flor  na  segunda  metade  do  século  XX.  O  não  menos  conhecido  sistema   de   Armen   Takhtajan   [1910-­‐2009],   um   botânico   soviético/arménio,   é   muito   próximo   do   sistema   de  Cronquist.   Cronquist   dividiu   a   plantas-­‐com-­‐flor   –   Divisão  Magnoliophyta   –   em   duas   classes:  Magnoliopsida   e  Liliopsida16.   As  Magnoliopsida   foram   repartidas   por   seis   classes   (vd.   quadro   2)   e   as   Liliopsida   por   cinco   (vd.  quadro  3).    

A  subclasse  Hamameliidae,  um  grande  grupo  sistemático  de  plantas  com  flores  muito  modificadas,  adaptadas  à   anemofilia,   é   uma  das  debilidades  mais   evidentes  do   sistema.   Para   a  polinização  pelo   vento   ser   eficiente  os  grãos  de  pólen  têm  que  flutuar  no  ar,  e  o  movimento  dos  estigmas  e  dos  filetes  de  ar  em  torno  do  gineceu  deve  facilitar  a  captura  do  pólen.  Por  exemplo,  a  produção  de  folhas  antes  da  polinização,  a  rigidez  dos  pedicelos  das  flores   ou   dos   pedúnculos   das   inflorescências,   e   um   perianto   que   se   sobreponha   aos   estigmas   estorvam   este  modo   de   polinização.   O   cardápio   de   soluções   adaptativas   à   anemofilia   é   escasso,   consequentemente   a  convergência   evolutiva   dos   caracteres   das   inflorescências   e   flores   polinizadas   pelo   vento   é   muito   frequente.  Cronquist   defendeu   a   proximidade   filogenética   de   grande   parte   das   espécies   anemófilas.   Só   recentemente   as  técnicas  moleculares  demonstraram  a  extensão  dos  equívocos  taxonómicos  gerados  pela  convergência  evolutiva  entre   as   diferentes   linhagens   que   compõem   as   Hamameliidae.   De   facto   estudos   de   filogenia   molecular  demonstraram  que  2/3  das  ordens  e  1/3  das  famílias  definidas  por  A.  Cronquist  não  são  monofiléticas  (Stevens, 2001+).  

  14  Ou  argumento  de  apelo  à  autoridade  (lat.  argumentum  ad  verecundiam).  Sustentação  da  verdade  de  um  argumento  através  do  apelo  a  uma  autoridade.  15   As   grafias   Hamamelidae   ou   Hamamedidae,   tão   frequentes   na   bibliografia,   são   incorretas.   O   mesmo   acontece   com  Dillenidae.  16   Os   sistemas   mais   antigos   de   classificação   (e.g.   sistema   de   Engler   e   Prantl)   designam   as   monocotiledóneas   por  Monocotyledones   ou   Monocotyledoneae   e   as   dicotiledóneas   por   Dicotyledones   ou   Dicotyledoneae.   Estes   termos   são  correntemente  utilizados  sem  uma  referência  concreta  da  categoria  taxonómica.  

Quadro  2.  Resumo  das  características  das  subclasses  de  dicotiledóneas  (Magnoliopsida)    do  Sistema  de  Cronquist  (Cronquist, 1981)  

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Subclasse   Características   Nº  de  famílias  

Nº  aprox.  de  espécies  

Alismatidae   Plantas  herbáceas  aquáticas;  gineceu  apocárpico   16   >  500  

Arecidae  Inflorescências  frequentemente  do  tipo  espádice  e  envolvidas  por  uma  espata;  flores  geralmente  pequenas  

5   >  5.600  

Commelinidae  

Flores  geralmente  sem  néctar;  flores  pequenas;  famílias  basais  diploclamídeas  e  trímeras,  as  mais  evoluídas  de  flores  nuas  e  adaptadas  à  polinização  anemófila  

16   >  16.200  

Zingiberidae  Flores  geralmente  com  néctar  e  polinizadas  por  insectos  ou  outros  animais;  flores  por  regra  epigínicas  e  diploclamídeas  

9   >  3.800  

Liliidae  Flores  geralmente  com  néctar,  vistosas  e  polinizadas  por  insectos  ou  outros  animais;  flores  por  regra  monoclamídeas  

19   >  25.000  

Sistemas  cladísticos  A   cladística   foi   originalmente   proposta   pelo   entomólogo   alemão   Willi   Hennig,   em   1950.   Trata-­‐se   de   um  

método   de   inferência   filogenética,   i.e.,   é   um  método   desenvolvido   para   gerar   hipóteses   sobre   as   relações   de  parentesco  entre  organismos  ou  grupos  de  organismos.  Baseia-­‐se  num  pressuposto  fundamental:  os  grupos  de  organismos  têm  de  reunir  todos,  e  apenas,  os  descendentes  de  um  ancestral  comum  (monofilia  obrigatória).  Em  cladística   os   grupos   monofiléticos   e   parafiléticos   são,   respectivamente,   designados   por   clados   (ing.   clade)   e  grados  (ing.  grade).  Os  clados  podem  ter,  ou  não,  uma  categorização  formal  (e.g.  ordem,  família  e  espécie),   i.e.  serem   convertidos   em   taxa.   Embora   os   grupos   polifiléticos   sejam   rejeitados   dos   sistemas   de   classificação  cladísticos,   os   grupos   parafiléticos   são   por   vezes   tolerados   por   razões   práticas,   ou   enquanto   as   relações   de  parentesco   não   são   totalmente   esclarecidas).   Os   grados   geralmente   representam-­‐se   com   aspas   simples;   e.g.  ‘angiospérmicas  basais’.  

As  análises  cladísticas  produzem  cladogramas17,  diagramas  que  expressam  graficamente  uma  hipótese  sobre  as   relações  de  parentesco  de  um  dado  conjunto  de  organismos  ou  grupos  de  organismos.  Os   cladograma  são,  portanto,  um  resumo  da  sua  história  evolutiva  (vd.  Quadro  4).  Nos  cladogramas  cada  ramo  apenas  se  pode  cindir  noutros  dois  ramos  (ramificação  dicotómicas);  os  nós  (pontos  onde  ocorrem  ramificações)  e  as  extremidades  dos  ramos  representam,  respectivamente,  eventos  de  divergência  evolutiva  e  um  grupo  monofilético  de  organismos.  Dois   clados   situados   lado   a   lado   num   cladograma   dizem-­‐se   irmãos   (grupos   irmãos,   ing.   sister   groups).   Um  cladograma  pode  ser  cortado  em  qualquer  ponto,  o  ramo  resultante  –  o  clado  –  inclui  necessariamente  todos  os  descendentes  de  um  dado  ancestral.    

   

 

17  Os  cladogramas  e  as  árvores  fitogenéticas  não  devem  ser  confundidos.  As  árvores  filogenéticas  incluem  mais  informação  do  que  a  contida  numa  simples  matriz  de  caracteres,  como  acontece  nos  cadogramas.  Os  nós  representam  ancestrais  comuns  (nos  cladogramas  divergências  evolutivas)  e  as  extremidades  dos  ramos  taxa.  

Quadro  3.  Resumo  das  características  das  subclasses  de  monocotiledóneas  (Liliopsida)  do  Sistema  de  Cronquist  (Cronquist, 1981)  

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Conceito   Descrição  

Apomorfia   Estado-­‐de-­‐carácter  derivado  (vd.  Conceitos  e  objetivos  da  taxonomia);  e.g.  a  dupla  fecundação  é  uma  apomorfia  das  angiospérmicas.    

Autapomorfia   Apomorfia  exclusiva  de  um  grupo  de  organismos.  

Clado     Grupo  monofilético  de  organismos:  inclui  o  ancestral  comum  e  todos  (e  apenas)  os  seus  descendentes    

Cladograma   Representação  diagramática  de  uma  hipótese  sobre  as  relações  evolutivas  (=  filogenéticas)  de  um  dado  conjunto  de  organismos  vivos,  com  base  na  partilha  de  caracteres  de  evolução  recente  (apomorfias)  

Espécie  ancestral   Espécie  que  deu  origem  a  pelo  menos  uma  espécie  filha  (ing.  daughter  species).  

Grado   Grupo  parafilético  

Grupo  irmão   Grupo  evolutivamente  próximo;  e.g.  uma  mesma  população  ancestral  especiou  e  deu  origem  à  espécie  ancestral  de  todas  as  Ceratophyllaceae  e  à  espécie  ancestral  de  todas  as  eudicotiledóneas  atuais,  por  conseguinte,  as  Ceratophyllaceae  são  o  grupo  irmão  de  todas  as  eudicotiledóneas  atuais  (e  vice-­‐versa).  

Plesiomorfia   Estado-­‐de-­‐carácter  ancestral  (primitivo);  e.g.  a  semente  é  uma  autapomorfia  nas  espermatófitas  mas  uma  plesiomorfia  ao  nível  das  angiospérmicas.  

Simplesiomorfia   Plesiomorfia  partilhada  por  mais  de  um  grupo  de  organismos.  

Sinapomorfia   Apomorfia  partilhada  por  dois  ou  mais  grupos  que  indica  uma  ascendência  comum.  

 

À   semelhança   da   fenética,   a   cladística   serve-­‐se   de   programas   computacionais   e   de  matrizes   de   caracteres  morfológicos,   anatómicos   (e.g.   presença   ou   ausência   de   vasos   xilémicos),   fisiológicos   (e.g.   fotossíntese   C4),  citogenéticos   (e.g.   inversões   cromossómicas)   e/ou   moleculares   (e.g.   presença   de   um   determinado   gene   ou  rearranjo  genético).  No  entanto,  admite-­‐se  que  os  algoritmos  cladísticos  modelam  mais   corretamente  a   forma  como   a   evolução   realmente   funciona.   Os   cladogramas   são   obtidos   a   partir   da   distribuição   de   caracteres  derivados   partilhados,   i.e.   de   sinapomorfias   (vd.   Quadro   4).   Os   caracteres   ancestrais   (plesiomorfias)   são  descartados  porque  não  contêm  informação  útil  para  estabelecer  relações  de  parentesco:  o  seu  uso  poderia  dar  origem  a   grupos  parafiléticos  ou  polifiléticos.   Por   exemplo,   a  presença  de   gametófitos   femininos  ou  monoicos  livres  é  uma  plesiomorfia  das  pteridófitas  e  briófitas;  um  grupo  assim  definido,  irmão  das  plantas-­‐com-­‐semente,  seria   parafilético.   A   determinação   dos   estados-­‐de-­‐carácter   ancestrais   (plesiomorfias)   e   derivados   (apomorfias)  envolve,   frequentemente,   decisões   subjetivas   sobre   a   polaridade   dos   caracteres.   Ainda   assim,   os   cladistas  servem-­‐se  de  técnicas,  cujo  estudo  pormenorizado  excede  os  objetivos  deste  livro,  que  tornam  esta  etapa  mais  objetiva  do  que  nos  sistemas  evolutivos.  

Como  se  referiu  anteriormente,  os  cladogramas  são  o  produto  final  de  uma  análise  cladística.  Quanto  maior  o  número  de  caracteres  e  de  estados-­‐de-­‐carácter  envolvidos  numa  análise,  maior  o  número  de  soluções  possíveis.  Por   outro   lado,   diferentes   algoritmos   produzem   diferentes   resultados,   o   mesmo   acontecendo   quando   se  eliminam   ou   adicionam   caracteres   na   matriz   original.   Determinar   qual   o   melhor   cladograma,   i.e.   qual   o  cladograma   que  melhor   retrata   a   história   evolutiva   de   um   dado   grupo   de   plantas,   é   uma   questão   chave   em  cladística.  Dois  princípios  são  usados  para  a  resolver:  o  princípio  da  congruência  e  o  princípio  da  parcimónia.  O  princípio  da  congruência  baseia-­‐se  numa  ideia  simples:  se  o  mesmo  resultado  –  o  mesmo  cladograma  –  é  obtido  com  dois   ou  mais   conjuntos   de   caracteres,   então   a   probabilidade  da   filogenia   obtida   ser   verdadeira  cresce.  O  cladograma  que  minimiza  o  número  de  transições  entre  estados-­‐de-­‐carácter  é  o  mais  parcimonioso.  O  princípio  da  parcimónia  é   crítico  porque   sendo  um  princípio   filosófico   (epistemológico),   produzido  pela  mente  humana,  nada   obriga   que   seja   seguido   nos   processos   evolucionários.   Por   outras   palavras,   a   natureza   não   é  

Quadro  4.  Conceitos  fundamentais  de  cladística    

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necessariamente  parcimoniosa,  embora  tendencialmente  o  seja.  As  homologias  e,   implicitamente,  as  analogias,  são  determinadas  a  posteriori  pela  análise  da  partilha  de  caracteres  ao  longo  do  “melhor”  cladograma.  

Os  princípios  da  congruência  e  da  parcimónia  conjugam-­‐se  na  chamada  reamostragem  por  bootstrap  (ou  em  métodos  similares,  e.g.   jackknife).  Este  processo   inicia-­‐se  com  a  construção  de  pseudoreplicações  (cladogramas  parciais)  a  partir  de  uma  amostra  (parcial)  aleatória  de  caracteres  da  matriz  original  de  caracteres  (mantendo  a  dimensão  da  matriz  original).  Em  cada  pseudoreplicação  é  selecionado  o  cladograma  mais  parcimonioso.  Depois  de   repetir   o   processo   um   determinado   número   de   vezes   (e.g.   mil   repetições)   o   resultado   é   sumarizado   num  cladograma   de   consenso   (árvore   de   consenso)   sendo   possível   aferir   a   incerteza   associada   a   cada   clado.   Uma  percentagem   de   bootstrap   de   95%   significa   que   o   clado   em   causa   surgiu   em   95   de   100   pseudoreplicações  (Kitching  et  al.,  1998).  

Embora   a   importância   dos   dados   moleculares   em   cladística   seja   inquestionável,   a   morfologia   externa,  sobretudo   ao   nível   da   flor,   permanece   essencial,   talvez   ainda   mais   importante   do   que   no   passado,   no  esclarecimento  das  afinidades  evolutivas  das  plantas (Ronse De Craene, 2010).  Por  duas   razões.  A  escassez  de  caracteres   morfológicos   e   a   abundância   de   convergências   evolutivas   que   os   caracteriza   é   mais   do   que  compensada   pela   informação   filogenética   útil   que   transportam.   Ao   contrário   do   que   ocorre   com   muitos  caracteres  moleculares,   os   caracteres  morfológicos   são   funcionalmente   relevantes   tendo,   por   essa   razão,   sido  moldados   pela   seleção   natural.   Como   se   referiu   no   volume   II   a   seleção   foi,   e   é,   o   principal   mecanismo   da  evolução.  A  conjunção  da  informação  molecular  com  a  informação  morfológica  no  estabelecimento  de  filogenias  choca,   porém,   com   a   falta   de   uma   terminologia   estandardizada   de   uso   comum,   de   um   método   comum  estandardizado  de  descrição  morfológica,  e  de  um  conjunto  de  princípios  a  aplicar  na  delimitação  de  caracteres  morfológicos  (Voght, Bartolomaeus, & Giribet, 2009).  

Os   sistemas   de   classificação   cladísticos   apresentam   três   grandes   vantagens   frente   aos   sistemas   de  classificação   evolutivos   tradicionais:   (i)   robustez   –   à   medida   que   as   relações   filogenéticas   são   clarificadas   a  circunscrição   e   a   nomenclatura   dos   taxa   tende   a   estabilizar;   (ii)   reprodutibilidade   –   diferentes   investigadores  obtêm   os   mesmos   resultados   se   utilizarem   os   mesmos   dados   iniciais;   (iii)   objetividade   –   envolvem   menos  assunções   intuitivas.   Os   sistemas   cladísticos   oferecem   ainda   hipóteses   explícitas   e   testáveis,   por   exemplo,   de  relações  evolutivas,  biogeografia  e  ecologia.  A  escolha  dos  algoritmos  tem  menos  impacto  nos  resultados  finais  em  cladística  do  que  nos  sistemas  fenéticos.  

A   cladística   é   o   método   standard   de   inferência   filogenética   em   biologia   evolutiva.   Consequentemente,   a  substituição  dos  sistemas  classificação  evolutivos  pelos  sistemas  de  classificação  que  emergem  destas  a  análises  é  inevitável.  As  classificações  cladísticas  têm,  porém,  uma  enorme  desvantagem  prática.  Ao  produzirem  a  melhor  estimativa   das   relações   evolutivas   podem   dar   origem   a   grupos   morfologicamente   inconsistentes,   pouco  intuitivos,  que  dificultam  a  sua  apreensão  pelos  não  especialistas.  

Um   cladograma   pode,   ou   não,   ser   vertido   numa   classificação   hierárquica   formal   (vd.   Nomenclatura  filogenética).   Desde   que   se   obedeça   ao   princípio   da   monofilia,   é   indiferente   arrumar   as   angiospérmicas   ou  qualquer  outro  taxa  superior  numa  divisão,  numa  classe  ou  numa  subclasse.  O  mesmo  se  pode  dizer  a  respeito,  por   exemplo,   da   subfamília,   família   e   superfamília.   A   cladística   trouxe   objetividade   à   taxonomia,   porém   a  categorização  dos  taxa  supra-­‐específicos  continua  a  residir  num  argumento  de  autoridade.  

Sistemática  molecular  A   sistemática  molecular   é   uma   extensão   da   cladística   porque   pressupõe  uma  monofilia   absoluta   dos   taxa.  

Envolve,   porém,   técnicas,   algoritmos   e   estatísticas   que   vão  muito  mais   além   das   descritas   no   ponto   anterior.  Toma  como  informação  base  sequências  homólogas  (com  uma  ancestralidade  comum)  de  DNA.  Estas  sequências  são  alinhadas  e  a  sucessão  de  nucleótidos  comparada  com  algoritmos  apropriados.  A  sistemática  molecular  é  um  corolário   da   filogenia   molecular,   i.e.   do   estudo   das   relações   de   parentesco   com   base   em   informação   a   nível  molecular.  

A  sistemática  molecular  sofre  dos  mesmos  constrangimentos  da  cladística  clássica.  Por  exemplo,  a  polarização  dos  caracteres,  particularmente  difícil  com  dados  moleculares,  determina  a  estrutura  dos  cladogramas.  A  estes  

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constrangimentos   somam-­‐se   problemas   específicos   como   sejam   a   necessidade   de   selecionar   caracteres  moleculares   com  significado  evolutivo,  ou  a   “atração  de   ramos   longos”   (ing.   long  branch  attraction,   tendência  dos   taxa   que  evoluem   rapidamente  a   serem   relegados  para  a  base  dos   cladogramas).  A   sistemática  molecular  não  é,  salvo  raríssimas  exceções,  aplicável  ao  registo  fóssil,  uma  importante  fonte  de  informação  para  construir  as  divergências  filogenéticas  mais  antigas.  

1.4. Nomenclatura  

Nomenclatura  biológica  clássica  Os   taxa   são  designados  com  nomes  vernáculos   (=  nomes  vulgares)  ou  científicos,  dois   tipos  de  nomes  com  

distintas  propriedades.  Os  nomes  científicos  apresentam  vantagens  significativas   frente  aos  nomes  vulgares:   (i)  universalidade   –   os   nomes   científicos   são   universalmente   aceites   porque   as   regras   definidas   pelo   ICN   são  partilhadas  pela  comunidade  científica  botânica  internacional;  (ii)  mononimia  –  cada  taxon  tem  apenas  um  nome  científico  correto  em  acordo  com  o  ICN;  (iii)  monossemia  –  a  cada  nome  científico  corresponde  um  único  taxon.  

A  combinação  de  caracteres  diagnóstico  de  um  taxon,  i.e.  o  conceito  associado  a  um  nome,  pode,  no  entanto,  variar  de  autor  para  autor.  Por  exemplo,  o  nome  Rosa  canina  está  indelevelmente  ligado  a  um  grupo  concreto,  mas   variável   consoante   os   autores,   de   organismos.   Num   sentido   estrito,   as   plantas   de   R.   canina   têm   folhas  glabras   de   recorte   marginal   simples,   pedúnculos   sem   glândulas   pediculadas;   num   sentido   lato,   o   conceito   é  alargado  a  plantas   com   folhas   com   indumento,  dentição  dupla  e  pedúnculos   glandulosos.   Importa   reter  que  a  instabilidade  conceptual  dos  taxa,  tão  frequente  em  taxonomia,  não  põe  em  causa  a  monossemia  característica  dos  nomes  científicos.  

O   uso   corrente   de   nomes   vulgares   levanta   sérios   problemas   práticos   (i)   Não   há   nomes   vulgares,   quer  publicados  quer  na   tradição  oral,   suficientes  para  designar   todas  as  espécies;  este  problema  é  particularmente  delicado  na   flora  de  Portugal  porque,  ao  contrário  do  que  acontece,  por  exemplo,  com  as  aves,  não  existe  um  documento  de  referência  para  os  nomes  vulgares  das  plantas.  (ii)  Os  nomes  vulgares  têm,  frequentemente,  um  uso   regional   muito   restrito   e   mais   de   um   significado   (o   mesmo   nome   é   aplicado   a   mais   de   uma   entidade  taxonómica).  (iii)  Os  nomes  vulgares  não  revelam  eventuais  relações  taxonómicas,  como  acontece  com  o  nome  genérico  que  compõe  os  nomes  específicos.  

A  nomenclatura  biológica  clássica  (=  nomenclatura  lineana)  arruma,  de  forma  hierárquica,  os  seres  vivos  em  categorias  formais  designadas  por  categorias  taxonómicas.  O  ICN  reconhece  7  categorias  taxonómicas  principais  (a  negrito  no  quadro  5),  com  sufixos  obrigatórios  entre  as  categorias  de  subtribo  e  de  ordem.  A   liberdade  com  que  são  denominadas  as  categorias  supra-­‐ordinais  e  é  usado  o  sufixo  phyta  resulta  desta  não  obrigatoriedade.  

Os   nomes   específicos   são   constituídos   por   duas   palavras.   A   primeira,   um   substantivo   ou   um   adjetivo  substantivado  (feito  substantivo),  corresponde  ao  género;  a  segunda,  um  adjetivo  ou  um  substantivo  declinado  no  genitivo,  designa-­‐se  por  restritivo  ou  epíteto  específico18.  Os  nomes  genéricos  e  específicos  escrevem-­‐se  em  itálico   ou   em   negrito   nas   publicações   impressas,   sendo   sublinhados   em   escrita   cursiva.   Os   nomes   genéricos  principiam  com  uma  letra  maiúscula  podendo  ser  abreviados  caso  sejam  citados  mais  de  uma  vez  num  mesmo  texto;   e.g.   “em  Portugal   ocorrem  duas   espécies   de   bordos,   o  Acer  monspessulanum  e  A.   pseudoplatanus”.  Os  géneros19   são   masculinos   ou   femininos   e   não   se   declinam   no   plural;   e.g.   uma   Festuca,   duas   Festuca,   ou   um  Quercus,  os  Quercus.  Nas  publicações  eruditas  existe  a  tendência  de  tratar  os  géneros  de  espécies  arbóreas  no  feminino  porque  assim  acontecia  no   latim  clássico;  e.g.  uma  Acer  e  uma  Quercus.  As   categorias   subespecíficas  mais   utilizadas   na   bibliografia   são   a   subespécie,   a   variedade   e   a   forma.   A   cada   subespécie   corresponde   um  trinome   composto   pelo   restritivo   da   subespécie   ligado   ao   binome  da   espécie   pela   partícula   “subsp.”;   e.g.   Ilex  

18  Ou,  ainda,  nome  trivial,  a  nomina  trivialia  de  Lineu  (Blunt, 2001).  “Nome  específico”  no  Código  de  Nomenclatura  Zoológica.  19  A  título  de  curiosidade  refira-­‐se  que  X  Brassosophrolaeliocattleya,  um  género  híbrido  de  Orchidaceae,  é  o  nome  genérico  mais  comprido  de  plantas-­‐vasculares,  e  que  Io  (Asteraceae)  e  Aa  (Orchidaceae)  são  os  mais  curtos.  

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19   Escola  Superior  Agrária  de  Bragança  -­‐  Botânica  para  Ciências  Agrárias  e  do  Ambiente  

perado  subsp.  azorica.  As  variedades  podem  ser  trinomes  ou  tetranomes  consoante  sejam  aplicadas  a  espécies  ou  subespécies.  

Categoria   Sufixo   Aportuguesamento  

do  sufixo  latino  

Exemplo  

Reino       Plantae  

Subreino   -­‐bionta     Chlorobionta  

Divisão  (=  Phyllum20)   -­‐phyta   -­‐fitas   Streptophyta  

Subdivisão   -­‐phytina   -­‐fitinas    

Classe   -­‐opsida   -­‐ópsidas   Equisetopsida  

Subclasse   -­‐idae   -­‐idas   Magnoliidae  

Ordem   -­‐ales   -­‐ales   Rosales  

Subordem   -­‐ineae   -­‐íneas    

Família   -­‐aceae   -­‐áceas   Rosaceae  

Subfamília   -­‐oideae   -­‐oideas   Rosoideae  

Tribo   -­‐eae   -­‐eas   Roseae  

Subtribo   -­‐inae   -­‐inas    

Género       Rosa  

Secção       Caninae  

Série        

Espécie       Rosa  canina  

 

Todas  as  categorias  superiores  à  espécie  são  designadas  por  uma  única  palavra:  um  adjetivo  substantivado  no  plural.  O  aportuguesamento  destes  termos  faz-­‐se,  necessariamente,  no  plural;  e.g.  Equisetopsida,  equisetópsidas,  ou,   Asteraceae,   asteráceas.   Os   nomes   familiares   constroem-­‐se   a   partir   de   um   nome   genérico   substituindo   a  declinação   original   pela   terminação   -­‐aceae.   O   ICN   autoriza   o   uso   de   nomes   tradicionais   familiares   em   oito  famílias  de  plantas-­‐com-­‐flor,  a  saber:  Compositae  (Asteraceae),  Cruciferae  (Brassicaceae),  Gramineae  (Poaceae),  Guttiferae   (Clusiaceae),   Labiatae   (Lamiaceae),   Leguminosae   (Fabaceae),   Palmae   (Arecaceae)   e   Umbelliferae  (Apiaceae).  Estes  taxa  têm,  portanto,  nomenclatura  dupla.  O  nome  Leguminosae  refere-­‐se,  obrigatoriamente,  a  um  conceito  alargado  de  Fabaceae  que  inclui  as  subfamílias  Caesalpinioideae,  Mimosoideae  e  Faboideae.  

Os   híbridos   entre   taxa   –   os   nototaxa   –   podem   ser   designados   fazendo   uma   referência   expressa   aos   seus  progenitores.   Em   alternativa   o   ICN   permite   a   atribuição   de   nomes   aos   híbridos.   Os   híbridos   pertencentes   ao  mesmo  género   levam  a  partícula  “x”  entre  o  nome  genérico  e  o  restritivo  específico;  e.g.  o  híbrido  de  Quercus  robur   x   Q.   pyrenaica   também   é   conhecido   por   Q.   x   henriquesii.   Nos   híbridos   intergenéricos   a   partícula   “x”  precede  um  nome  genérico  composto.  Por  exemplo,  o  x  Cupressocyparis  leylandii  é  um  híbrido,  muito  cultivado  para   fazer   sebes   densas   e   impenetráveis,   de   Cupressus   macrocarpa   e   Chamaecyparis   nootkatensis;   alguns  autores   reintegram  o  Chamaecyparis   nootkatensis   no   género  Cupressus,   passando   o   seu   famoso   híbrido   a   ser  apelidado  de  Cupressus  x  leylandii.    

20  Phylla  no  plural.  

Quadro  5.  Categorias  taxonómicas  

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20   Escola  Superior  Agrária  de  Bragança  -­‐  Botânica  para  Ciências  Agrárias  e  do  Ambiente  

Principio   Descrição  

Princípio  I   Cada  código  de  nomenclatura  é  independente  

Princípio  II   A  aplicação  dos  códigos  faz-­‐se  a  partir  de  tipos  nomenclaturais  

Princípio  III   A  nomenclatura  de  um  grupo  taxonómico  baseia-­‐se  na  prioridade  da  publicação  

Princípio  IV   Cada  grupo  taxonómico  só  tem  um  nome  correto:  o  mais  antigo  de  acordo  com  as  regras  do  código  

Princípio  V   O  latim  é  a  língua  da  nomenclatura  biológica:  os  nomes  científicos  são  considerados  latinos  

Princípio  VI   As  regras  de  nomenclatura  são  retroativas  

 

A   construção   dos   nomes   científicos   e   a   seleção   do   nome   científico   correto   obedecem   a   um   conjunto   de  princípios,   recomendações   e   regras   inscritos   no   ICN21.   Os   princípios   de   nomenclatura   regem   o   conteúdo   dos  artigos  do  ICN  (quadro  7).  Os  nomes  que  não  cumprem  as  regras  são  rejeitados;  as  recomendações  não  têm  este  carácter  vinculativo.  

 

Conceito   Descrição  

Basiónimo   Nome  original  de  um  taxon;  e.g.  Cistus  guttatus  L.  é  o  basiónimo  de  Tuberaria  guttata,  uma  planta  anual  comum  em  clareira  de  matos  da  família  Cistaceae.  

Diagnose   Descrição  da  forma  como  uma  dado  táxone  se  distingue  dos  demais.  A  diagnose  expressa  a  opinião  do  autor  do  táxone.  

Homónimo   Nome  de  um  dado  taxon  que  se  pronuncia  da  mesma  maneira  do  que  outro  taxon  da  mesma  categoria  baseado  num  tipo  diferente  (com  um  conceito  distinto).

Nome  correcto  

Nome  de  um  taxon,  de  uma  dada  categoria  taxonómica,  que  se  sobrepõe  a  qualquer  outro  por  cumprir  as  regras  definidas  pelo  ICN.

Nototaxa   Taxon  de  origem  híbrida.  

Protólogo   Conjunto  de  elementos  expostos  na  publicação  original  de  um  nome  de  um  taxon;  estes  elementos  podem,  por  exemplo,  incluir  ícones  (imagens),  diagnose,  localidade  onde  foi  colhido  (=  indicação  locotípica  ou  locus  classicus)  e  distribuição.  O  protólogo  do  Cistus  guttatus  está  publicado  na  página  526  na  primeira  edição  do  Species  Plantarum  de  C.  Linnaeus  (1753).  

Tautónimo   Nomes  específicos  com  nome  genérico  e  restritivo  específico  iguais  ou  muito  similares.  Os  tautónimos  são  ilegítimos.  

Tipo  nomenclatural  

Objetos,  exemplares  de  herbário  ou  ícones,  aos  quais  o  nome  de  um  taxon  está  permanentemente  ligado.  Os  tipos  servem  de  referência  ao  conceito  de  um  taxon.  

 

Os   códigos   de   nomenclatura   zoológica   (International   Code   of   Zoological   Nomenclature,   ICZN),   de   bactérias  (Bacteriological   Code,   BC),   de   vírus   (International   Code   of   Virus   Classification   and   Nomenclature,   ICVCN)   e  botânica  (ICN)  são  independentes  (Princípio  I,  quadro  6).  Duas  plantas  não  podem  ter  o  mesmo  nome  científico  

21  O  Código  Internacional  de  Nomenclatura  para  Algas,  Fungos  e  Plantas  era,  até  2011,  conhecido  por  Código  Internacional  de  Nomenclatura  Botânica   (ICBN).  É  editado  pela  Associação   Internacional  de  Taxonomia  de  Plantas   (International  Association  for  Plant  Taxonomy,  IAPT.  

Quadro  6.  Princípios  de  nomenclatura  inscritos  no  ICN  (McNeill, et al., 2012)  

Quadro  7.  Alguns  conceitos  fundamentais  de  nomenclatura  

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21   Escola  Superior  Agrária  de  Bragança  -­‐  Botânica  para  Ciências  Agrárias  e  do  Ambiente  

(monossemia  dos  nomes  científicos).  Uma  planta  e  um  animal,  pelo  contrário,  podem  partilhar  o  mesmo  nome.  O  nome  Prunella  designa  um  género  de  pequenas  aves  insectívoras,  com  duas  espécies  em  Portugal,  e  um  género  de  lamiáceas  frequente  em  prados  e  taludes  terrosos.  O  nome  Pieris  refere-­‐se  ao  género  da  conhecida  borboleta-­‐da-­‐couve  (Pieris  brassicae)  e  a  um  grupo  de  arbustos  da  família  das  ericáceas  de  grande  interesse  ornamental,  as  «andrómedas».  

O   conceito   associado   a   um   determinado   taxon,   e.g.   o   conceito   da   espécie   Quercus   robur   ou   da   família  Plantaginaceae,   embora   possa   variar   de   autor   para   autor,   está   sempre   ancorado   num   tipo   nomenclatural  (Princípio  II,  quadro  6).  O  tipo  nomenclatural  de  uma  espécie,  e  das  categorias  infra-­‐específicas,  é  um  exemplar  de   herbário   –   uma   ou   mais   plantas   secas,   geralmente   coladas   numa   prancha   de   cartolina   –   ou   um   ícone  (desenho).  Por  exemplo,  a  maioria  dos  tipos  nomenclaturais  das  espécies  e  subespécies  descritas  pelo  Prof.  João  do  Amaral  Franco  estão  depositados  no  herbário  do  Instituto  Superior  de  Agronomia  (de  acrónimo  LISA).  O  tipo  de   um   género   é   uma   espécie   e   o   tipo   de   uma   família   um   género.   Só   se   definem   tipos   nomenclaturais   até   à  categoria   de   família.   Um   tipo   uma   vez   definido   não   pode   ser   rejeitado.   Sempre   que   ocorram   alterações  nomenclaturais   os   nomes   perseguem   os   tipos   nomenclaturais.   Por   exemplo,   a   aceitação   da   pulverização   das  Fabaceae  s.l.  em  três  famílias  –  Caesalpiniaceae,  Mimosaceae  e  Fabaceae  s.str.  –  implica  que  o  nome  Fabaceae  s.str.  seja  guardado  para  o  grupo  de  plantas  que  contenha  o  género  Faba,  o  tipo  nomenclatural  das  Fabaceae  s.l.;  a  divisão  das  Fabaceae  em  três  famílias  implicou  a  criação  de  novos  nomes,  com  novos  tipos  nomenclaturais.  A  tipificação  é  o  ato  de  designar  um  tipo.  

A  prioridade  da  publicação  é  essencial  para  estabilizar  os  nomes  científicos   (Princípio   III).  O  nome  científico  correto  é  sempre  o  mais  antigo  que  cumpre  as  regras  impostas  pelo  código  (Princípio  IV).  Ainda  assim,  conforme  se  refere  mais  adiante,  o  código  prevê  mecanismos  (nomina  conservanda)  para  que  nomes  de  uso  generalizado  que  não  obedeçam  ao  Princípio  III  possam  ser  mantidos.  

Os   nomes   latinos   (vd.   Princípio   V),   sobretudo   os   nomes   específicos   e   subespecíficos,   podem   ser  complementados  com  autorias.  Esta  prática  tem  por  objetivo  facilitar  a  localização  dos  protólogos  (vd.  quadro  7)  e   resumir   o   percurso   nomenclatural   dos   nomes   e   respetivos   táxones.   Do   nome   Tuberaria   guttata   (L.)   Fourr.  subentende-­‐se  que  foi  originalmente  descrito  por  Lineu  (vd.  quadro  7);  o  botânico  francês  Jules-­‐Pierre  Fourreau  [1844-­‐  1871]  (de  abreviatura  Fourr.)  transferiu  o  táxone  causa  para  o  género  Tuberaria.  A  ortografia  dos  nomes  e  a  forma  como  se  citam  as  autorias  são  cuidadosamente  reguladas  pela  ICN.  Nas  publicações  científicas  a  primeira  citação   de   uma   dada   espécie   ou   táxone   infra-­‐específico   deve   ser   acompanhado   pelas   autorias.   Nas   citações  seguintes   omitem-­‐se   os   autores.   Não   faz   muito   sentido   sobrecarregar   com   autorias   os   nomes   científicos   nas  publicações  técnicas.  

Na  bibliografia,  geralmente,  está  disponível  mais  de  um  nome  para  cada  taxon.  Para  os  taxa  de  categoria  igual  ou  inferior  à  família  apenas  um  nome  é  o  nome  correto.  Os  conceitos  e  os  artigos  do  ICN  mais  importantes  para  filtrar  os  nomes  disponíveis  de  categoria  igual  ou  inferior  à  família  e  selecionar  o  nome  correto  estão  resumidos  no   quadro   8.   Numa   primeira   etapa   avalia-­‐se   se   a   publicação   dos   nomes   é   efetiva.   Depois,   sequencialmente,  verifica-­‐se  a  sua  validez  e  legitimidade.  O  nome  correto  é  o  nome  legítimo  mais  antigo  para  a  categoria  em  causa;  os  restantes  nomes  são  sinónimos.  Por  exemplo,  o  nome  Q.  rotundifolia  Lam.  data  de  1785,  sendo  a  mais  antiga  designação   científica  da   vulgar   azinheira;  o  nome  Q.  ballota  Desf.   tem  que   ser   rejeitado  porque   foi  publicado,  mais   tarde,  em  1791.  A  regra  da  prioridade   (Princípio   III)   só  se  aplica  ao  nível  da  categoria  em  que  o  nome  foi  originalmente   publicado.   Ao   nível   de   subespécie,   o   nome   mais   antigo   disponível   para   a   azinheira   é   uma  recombinação  de  Q.  ballota,  Q.  ilex  L.  subsp.  ballota  (Desf.)  Samp.;  a  combinação  Q.  ilex  subsp.  rotundifolia  (Lam.)  Ta.  Morais   é   incorreta   embora   o   epíteto   rotundifolia   seja  mais   antigo.   As   recombinações   nomenclaturais   são  automaticamente   rejeitadas   se  gerarem   tautónimos   (nome  genérico  e   restritivos   iguais  ou  muito   similares)  ou  homónimos  posteriores  (nomes  já  usados  com  um  sentido  distinto).  

Embora  o  ICN  tenha  sido  criado  com  o  objetivo  de  estabilizar  a  nomenclatura  botânica  a  realidade  mostra  que  essa  estabilidade  não  foi  ainda,  ou  talvez  nunca  seja,  conseguida,  sobretudo  nas  categorias  espécie  e  subespécie.  São  várias  as  causas  para  a  instabilidade  dos  nomes  científicos.  Ao  nível  da  espécie  e  categorias  infra-­‐específicas  a  instabilidade   dos   nomes   resulta,   em   grande   parte,   de   reinterpretações   taxonómicas   que   conduzem   a  

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transferências   horizontais   (e.g.   transferências   de   género)   ou   verticais   (e.g.   promoção   de   uma   subespécie   a  espécie,   e   vice-­‐versa),  ou  à  aglutinação  ou   fragmentação  de  espécies   já  descritas.  Um   importante   conjunto  de  regras  do  ICN  regula  estas  alterações  nomenclaturais  que  não  cabe  aqui  desenvolver.  Para  conter  a  instabilidade  nos  nomes  o  ICN  inclui  seis  anexos  de  nomes  conservados  e  rejeitados  (nomina  conservanda  et  rejicienda)  onde  se   retêm   nomes   que   não   obedecem   às   regras   do   código.   É   o   caso   do   género  Tuberaria,   conservado   frente   a  Xolantha  (o  nome  legítimo  mais  antigo),  um  grupo  de  Cistaceae  muito  frequente  em  Portugal.  

 

Conceitos   Artigos  do  ICN  

Descrição  

Publicação  efetiva  

29-­‐31   Pressupostos  mais  relevantes  para  a  publicação  efetiva:  distribuição  por  meios  apropriados  de  documentação  impressa;  as  publicações  em  pdf  por  via  eletrónica  são  autorizadas  desde  1-­‐1-­‐2012;  um  grupo  de  regras  mais  tolerantes  regula  a  publicação  efetiva  anterior  a  1-­‐1-­‐1953  que  autoriza,  por  exemplo,  documentos  autógrafos  (escritos  à  mão).  

Nome  válido  (e  inválido)  

32  a  45   Pressupostos  mais  relevantes  para  a  validez  de  um  nome:  nome  publicado  em  datas  posteriores  à  1ª  ed.  do  Species  Plantarum;  nome  acompanhado  uma  descrição  apropriada,  não  provisória,  do  táxone  em  latim  (desde  1-­‐I-­‐1935)  ou  em  inglês  (desde  1-­‐I-­‐2012);  definição  de  um  tipo  nomenclatural  (desde  1-­‐V-­‐1958);  desde  1-­‐I-­‐2007  o  tipo  nomenclatural  tem,  obrigatoriamente,  que  ser  um  exemplar  de  herbário  referenciado  sem  equívocos;  o  nome  genérico  e  o  restritivo  específico  distintos  (se  iguais  diz-­‐se  que  ocorre  um  tautónimo,  vd.  quadro  7)  

Nome  legítimo  (e  ilegítimo)    

52  e  53   Condições  para  a  ilegitimidade  de  um  nome:  nome  proposto  em  substituição  de  um  nome  correto  anterior  (nome  supérfluo);  nome  já  anteriormente  publicado  para  designar  um  táxone  distinto  (homonímia  posterior);  recombinação  nomenclatural  sem  uma  referência  ao  basiónimo  (vd.  quadro  7);  tautónimos  (vd.  quadro  7)  

Nomenclatura  de  plantas  cultivadas  O  nome  das  plantas  cultivadas  é  regulado  pelo  Código  Internacional  de  Nomenclatura  das  Plantas  Cultivadas  

(ICNCP)  (Brickell, et al., 2009).  O  ICNCP  é  uma  extensão  do  ICN.  A  cultivar  é  a  categoria  básica  da  classificação  das  plantas  cultivadas.  O  ICNCP  define-­‐a  do  seguinte  modo  (art.  2.2):  “A  cultivar  é  um  conjunto  de  plantas:  a)  com  um  carácter   ou   uma   combinação   de   caracteres   selecionados   [pelo   homem],   b)   que   se   revela   distinto,   uniforme   e  estável  nesses  caracteres,  c)  e  quando  propagado  por  métodos  adequados  retém  esses  caracteres.”    

Entre  as  regras  mais  relevantes  da  nomenclatura  das  cultivares  descritas  no  ICNCP  contam-­‐se:  (i)  as  cultivares  são  designadas  com  o  auxílio  da  abreviatura  “cv.”  ou  de  aspas  simples  ‘  ’,  e.g.  alface  cv.  Orelha  de  Mula  ou  alface  ‘Orelha  de  Mula’;   (ii)  os  nomes  que  precedem  as  cultivares  podem  ser  científicos  ou  vernáculos;  e.g.  alface  cv.  Orelha  de  Mula  ou  Lactuca  sativa  cv.  Orelha  de  Mula;  (iii)  os  nomes  das  cultivares  podem  ser  constituídos  por  1  a  3   palavras   (incluindo   números);   (iv)   os   epítetos   das   cultivares   são   escritos   em  maiúsculas   sem   itálico;   (v)   está  proibido  o  uso  de  epítetos  latinos;  (vi)  as  autorias  não  são  consideradas  na  designação  das  cultivares.  

Os  nomes  científicos  das  plantas  cultivadas  são,  necessariamente,  regulados  pelo  ICN  e  podem  descer  ao  nível  da   espécie,   subespécie,   variedade  ou   forma;   cada   uma  destas   categorias   taxonómicas   tem  os   seus   autores.  O  conceito   de   variedade   (variedade   botânica)   regulado   pelo   ICN   não   pode   ser   confundido   com   o   termo   legal  “variedade”,  de  significado  variável  de  país  para  país.  Em  Portugal  existe  a  tendência  para  usar  variedade  com  o  significado  de  cultivar.  

Os   cultigenes   (ing.   cultigen)   são   táxones   exclusivamente   cultivados,   sem   representantes   selvagens22;   e.g.  Triticum  aestivum  «trigo-­‐mole»,  Vicia  faba  «faveira»  e  Linum  usitatissimum  «linho».  Os  taxa  não  cultivados  são  

22  Preferiu-­‐se,  sem  nenhuma  razão  objetiva,  o  adjetivo  selvagem  a  bravio  para  qualificar  as  plantas  não  cultivadas.    

Quadro  8.  Conceitos  fundamentais  que  norteiam  a  aplicação  do  ICN  aos  nomes  de  categoria  igual  ou  inferior  à  família  (McNeill, et al., 2012)  

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indigenes.  O  Grupo   (Grupo  de  cultivares  nas  versões  anteriores  a  2004  do   ICNCP)  é  uma  categoria  que  agrupa  cultivares,  plantas   individuais  ou  conjuntos  de  plantas  que  partilham  similaridades.  Sobretudo  em  documentos  oficiais,   ao   arrepio   do   ICNCP,   permanece   em   uso   o   conceito   de   convariedade   (convar.)   com   um   significado  análogo  a  Grupo.  Por  exemplo,  a  designação  Brassica  oleracea  convar.  capitata,  que  inclui  as  couves-­‐lombarda,  repolho   e   roxa,   é   incorreta:   deve   ser   substituída   por  Brassica   oleracea   Grupo   Capitata   (em   letras  maiúsculas,  normais).  Os  Grupos,  ao  contrário  das  cultivares,  podem  ter  mais  de  um  nome  e  designações  em  latim.  

Nomenclatura  filogenética  Um  grupo  alargado  de  botânicos  e   zoólogos  está  a  desenvolver  um  código  de  nomenclatura  alternativo  ao  

ICN:   o   Código   de   Nomenclatura   Filogenético   ou   PhyloCode23.   O   PhyloCode   tem   por   objetivo  maior   facilitar   a  construção   de   uma   nomenclatura   estável   e   que   expresse   as   relações   filogenéticas   (=   de   parentesco)   entre   os  organismos.   De   facto   as   regras   impostas   pelo   ICN   e   o   seu   carácter   intrinsecamente   hierárquico   dificultam   o  desenvolvimento   de   uma   nomenclatura   cladística   (=   nomenclatura   filogenética)   (Cantino, et al., 2007).   Em  primeiro   lugar   os   grandes   grupos   de   plantas   estão   aninhados   (ing.   nested)   num   cladograma   com   um   grande  número   de   ramos   longos   sucessivos,   difícil   de   plasmar   numa   nomenclatura   hierarquizada   com   um   escasso  número   de   categorias   (o   número   de   categoria   taxonómicas   aceites   pelo   ICN   é   insuficiente   para   expressar   a  complexidade  das  suas  relações  filogenéticas).  A  pulverização  das  categorias  secundárias  (e.g.  em  supersubtribos  ou  subcategorias  análogas)  não  é  uma  solução  para  resolver  esta  dificuldade  porque  rapidamente  se  tornariam  impossíveis  de  percepcionar  e  memorizar.  Depois,  sob  a  égide  do  ICN  a  revisão  das  relações  filogenéticas  implica  rearranjos  nomenclaturais  por  vezes  tão  extensos  e  reiterados  que  se  tornam  impossíveis  de  perseguir.  Por  fim,  como  reiterada  se  referiu  neste  texto  (vd  Sistemas  evolutivos),  as  categorias  taxonómicas  supra-­‐específicas  são  arbitrárias,  apenas  as  suas  relações  filogenéticas  são  objetiváveis.  As   famílias  de  plantas,  por  exemplo,  não  são  entidades  comparáveis  entre  si,  a  sua  definição  baseia-­‐se,  em  grande  parte,  na  autoridade  dos  taxonomistas.  No  entanto,  é  factual  que  as  Asteraceae  têm  um  ancestral  comum  e  que  este  grupo  natural  é  evolutivamente  mais  próximo   das  Oleaceae   do   que   das  Magnoliaceae.   Dois   taxa   supra-­‐específicos   com   a   mesma   categoria   –   e.g.  famílias  Rosaceae  e  Fabaceae  –  têm  em  comum  apenas  a  sua  monofilia!  

A  aderência  aos  princípios  de  sistemática  cladística  tem  implicações  na  forma  e  no  uso  dos  nomes  científicos.  Por   exemplo,   o   conceito   clássico   de   Charophyta   é   parafilético   porque   não   inclui   as   plantas-­‐terrestres.   Algo  semelhante   sucede   com   o   conceito   clássico   de   briófito,   por   excluir   as   plantas-­‐com-­‐semente.   Esta   abordagem  nomenclatural   é   uma   fonte   permanente   de   equívocos.   Formalmente,   a   melhor   solução   terminológico-­‐nomenclatural  será,  como  propõe  o  PhyloCode,  reservar  nomes  latinos  formais  para  os  clados  mais  relevantes,  e  escrever   os   grados   em  minúsculas   cursivas   e   entre   aspas   simples   (e.g.   ‘carófitas’,   ‘briófitas’   e   ‘angiospérmicas  basais’).  

Os   cladistas   aceitam   as   regras   do   ICN   ao   nível   da   espécie   e   categorias   inferiores.   Como   se   referiu  anteriormente,  o  número  de  clados  gerados  pelos  estudos  de  cladística  de  plantas-­‐com-­‐semente  é  tão  elevado  que   maioria   não   tem,   nem   poderá   ter,   uma   designação   formal.   Ainda   assim,   os   cladistas   usam,   com   grande  vantagem,   os   nomes   lineanos   supra-­‐específicos,   geralmente   até   à   ordem.   Estes   nomes   são   usados   como  mnemónicas   e   pelo   seu   interesse   didático,   nada   mais   do   que   isso.   Para   não   romper   com   as   tradições  nomenclaturais   sedimentadas   por   mais   de   100   anos   de   regras   de   nomenclatura   internacionais   o   PhyloCode  serve-­‐se  do   ICN,   e   de   códigos   congéneres,   para   selecionar  nomes   supra-­‐específico  pré-­‐existentes.   Esta   atitude  evita  que  nomes  bem  estabelecidos  de  taxa  monofiléticos  como  Asteraceae  ou  Apiaceae  sejam  substituídos.  Os  cladistas,  porém,  rejeitam  nomes  tradicionalmente  aplicados  a  taxa  não  monofiléticos.  Os  répteis  são  o  exemplo  mais   frequente   porque   não   incluem   a   classe   das   Aves;   as   aves   descendem   diretamente   de   um   grupo   de  dinossauros  ornitisquianos.  

Não  cabe  neste  texto  desenvolver  mais  alongadamente  nomenclatura  cladística  tema  porque  esta  está  longe  de  ser  aceite  pela  comunidade  botânica  internacional.  Alguns  autores  defendem  que  o  atual  ICN  não  necessita  de  modificações  profundas  para  se  acomodar  os  princípios  da  moderna  cladística  (Barkley, DePriest, Funk, Kiger,

23  Versão  draft  em  www.phylocode.org  

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Kress, & Moore, 2004).  A  formalização  sistemática  do  APG  III  publicada  por  Chase  &  Reveal  (Chase & Reveal, A phylogenetic classification of the land plants to accompany APG III, 2009)  é  uma  prova  disso  mesmo.  

2. Sistemática  de  plantas-­‐com-­‐semente  

2.1. Introdução  

Taxa  supra-­‐ordinais  das  plantas-­‐terrestres  A  nomenclatura  e  a  taxonomia25  dos  taxa  de  plantas-­‐terrestres  de  categoria  superior  à  ordem  não  estão,  por  

enquanto,  estabilizadas.  Por  três  razões.  Muitas  relações  filogenéticas  demoram  a  encerrar.  No  segundo  volume  alertou-­‐se,   para   o   facto,   de   continuarem   por   clarificar   as   relações   de   parentesco   entre   os   grandes   clados   das  plantas-­‐com-­‐semente.   Por   outro   lado,   a   aceitação   da   sistemática   cladística   não   é   universal:   os   sistemas  evolutivos  de  classificação  continuam  em  uso  na  bibliografia  botânica,  assim  como  vários  grupos  polifiléticos  e  parafiléticos.   Por   fim,   como   se   referiu   a   respeito   da   sistemática   cladística,   a   categorização   dos   taxa   supra-­‐específicos   em   grande   medida   reside,   e   provavelmente   sempre   residirá,   num   argumento   de   autoridade   (vd.  Sistemas  cladísticos):  é  pouco  provável  que  algum  dia  se  venha  a  alcançar  um  sistema  de  classificação  universal  das  plantas-­‐terrestres.  

24   Como   se   referiu   na   1ª   parte,   o   uso   do   sufixo   “fita”,   ou   do   seu   correspondente   de   língua   inglesa   “phytes”,   não   está  obrigatoriamente  ligado  à  categoria  taxonómica  divisão.  25  Estabilidade  nomenclatural  e  taxonómica  não  são  conceitos  sinónimos,  referem-­‐se,  respectivamente,  à  fixação  dos  nomes  e  dos  conceitos  eles  associados.  

Classe  Equisetopsida  [plantas-­‐terrestres,  embriófitas24]  

  Subclasse  Marchantiidae  [hepáticas]  

  Subclasse  Bryidae  [musgos]  

  Subclasse  Anthocerotidae  [antóceras]  

  Subclasse  Lycopodiidae  [licopodiidas,  licófitas,  licopódios]  

    [monilófitas,  fetos]  

  Subclasse  Ophioglossidae  [ophioglossidas,  fetos-­‐ophioglossidos]  

  Subclasse  Equisetidae  [equisetidas,  fetos-­‐equisetidos,  equisetófitas,  equisetas]  

  Subclasse  Marattiidae  [marattiidas,  marattiófitas,  fetos-­‐marattiidos]  

  Subclasse  Polypodiidae  [polipodiidas,  polipodiófitas,  fetos-­‐verdadeiros,  fetos-­‐leptoesporangiados]  

    [gimnospérmicas,  pinófitas]  

  Subclasse  Cycadidae  [cicadidas,  cicadófitas,  cicas]  

  Subclasse  Ginkgoidae  [ginkgoídas,  ginkgófitas,  ginkgos]  

  Subclasse  Pinidae  [pinidas,  coníferas]  

  Subclasse  Gnetidae  [gnetidas,  gnetófitas]  

    [angiospérmicas,  plantas-­‐com-­‐flor,  magnoliófitas]  

  Subclasse  Magnoliidae  

Quadro  9.  Os  grandes  grupos  de  plantas-­‐terrestres  

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Neste   livro   optou-­‐se   por   seguir   a   sistematização   taxonómica   e   nomenclatural   das   categorias   superiores   à  ordem  proposta  Chase  &  Reveal  (Chase & Reveal, A phylogenetic classification of the land plants to accompany APG III, 2009),  completada  por  Christenhusz  et  al.  (Christenhusz, Reveal, Martin, Robert, & Chase, 2011).  Este  sistema   tem   a   grande   vantagem   de   considerar   as   angiospérmicas,   e   os   outros   grandes   grupos   de   plantas-­‐terrestres,  com  a  categoria  de  subclasse  evitando,  assim,  que  os  clados  mais  antigos,  sobretudo  de  algas,  tenham  de  ascender  à  categoria  do  Reino,  ou  a  categorias  imediatamente  inferiores  (vd.  volume  I)  (quadro  9).  

Desde   a   publicação   do  Genera   Plantarum   de   Antoine   de   Jussieu,   no   final   do   séc.   XVIII,   que   a   família   é   a  categoria   taxonómica   superior   ao   género  mais  utilizada  na  organização  do  mundo  vegetal.  A   generalização  do  uso  de  designações  ao  nível  da  família  deveu-­‐se,  por  um  lado,  à  necessidade  de  reunir  a  enorme  diversidade  das  plantas  num  número  mais  pequeno  de  entidades  taxonómicas  (taxa)  de  fácil  memorização  e,  por  outro,  ao  facto  de  muitas   famílias   serem  de   fácil   reconhecimento  com  conhecimentos   rudimentares  de  morfologia  externa  de  plantas.   Apesar   da   atribuição   da   categoria   familiar   a   um   determinado   grupo   taxonómico   ser   eminentemente  arbitrária   (Nomenclatura   filogenética),   o   conhecimento   da   diversidade   das   plantas   organiza-­‐se   em   torno   da  categoria   da   família   (Stevens, 2001+).   A   importância   da   categoria   ordem   é   recente,   deve-­‐se   implantação   dos  sistemas  de  classificação  cladísticos.  

‘Pteridófitas’  e  gimnospérmicas  A  sistemática  das   ‘pteridófitas’  e  das  gimnospérmicas  à  escala  da  ordem  e  da   família  parece  estar  a  evoluir  

para   um   consenso.   Os   grupos   extintos   inscritos   no   vasto   registo   fóssil   de   ‘pteridófitas’   e   gimnospérmicas   –  francamente  maior  do  que  o  das  angiospérmicas  –  permanecem,  no  entanto,  críticos.  As   ‘pteridófitas’  não  são  aprofundadas  neste  documento   (no   segundo  volume  estão  descritas,  numa  perspetiva  evolutiva,  as   subclasses  das   ‘pteridófitas’).   Na   conceptualização   das   famílias   de   gimnospérmicas   mais   adiante   apresentada  (Gimnospérmicas)   seguiram-­‐se   os   critérios   de   (Anderson, Anderson, & Cleal, 2007)   complementados   com   as  atualizações  de  (Christenhusz, Reveal, Martin, Robert, & Chase, 2011).  

Angiospérmicas  A   circunscrição   dos   taxa   de   plantas-­‐com-­‐flor   entre   a  

subfamília   e   a   ordem   mudou   radicalmente,   nos   últimos  anos,   com   a   vulgarização   dos   métodos   de   biologia  molecular  e  a  aceitação  da  cladística.  Sem  surpresa  foram,  por   exemplo,   reinterpretadas   várias   famílias  morfologicamente  heterogéneas  e  mal  caracterizadas  nos  sistemas  evolutivos.  As  Scrophulariaceae  e  as  Primulaceae  são   dois   exemplos   dramáticos.   Mudaram   recentemente  de   família   24   dos   26   géneros   de   Scrophulariaceae  reconhecidos   em   Portugal   continental   pela   “Nova   Flora  de  Portugal”  (Franco, Nova Flora de Portugal (Continente e Açores), 1971 e 1984)  (Oxelman, Kornhall, Olmstead, & Bremer, 2005).   Quatro   géneros   da   flora   Portuguesa   tradicionalmente   colocados   nas   Primulaceae   foram  transferidos  para  duas  obscuras  famílias  de  óptimo  tropical:  Anagallis,  Glaux  e  Asterolinon  para  as  Myrsinaceae,  e  Samolus  para  as  Theophrastaceae  (Stevens, 2001+).  

A   circunscrição   das   famílias   de   angiospérmicas   adotada   neste   documento   segue   o   sistema   APG,  concretamente   na   sua   última   versão   –   o   APG   III   (Angiosperm Phylogeny Group, 2009)   –   vertido   numa  nomenclatura   lineana  por  Chase  &  Reveal   (Chase & Reveal, A phylogenetic classification of the land plants to accompany APG III, 2009)  26  (quadro  10).  

O   sistema   APG   resulta   da   colaboração   de   um   alargado   grupo   multinacional   de   autores   e   instituições   de  referência.   Desde   a   publicação   da   sua   primeira   versão   –   o   APG   I   –   em  1998,   tem   vindo   a   ser   elegido   por   um  

26  As  relações  das  Boraginaceae  com  as  demais  euasteridas   I  continua  por  clarificar,  incertae  sedis   (de  posição   incerta)   tem  esse  significado.  

 

Figura  1.  Sistema  APG  III.  Cabeçalho  do  paper  original.  

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número  crescente  de  autores  e  publicações.  Oferece-­‐se  como  exemplo  duas  importantes  obras  de  taxonomia,  o  Seed   Plants   of   Southern  Africa:   Families   and  Genera   (Leistner, 2005)   e   o  Mabberley's   Plant-­‐book   (Mabberlley, 2008).  O  sistema  APG  converteu-­‐se  no  standard  da  moderna  taxonomia  de  plantas-­‐com-­‐flor  sendo  o  seu  ensino  a  nível  universitário  e  não  universitário  urgente  em  Portugal.  

 

Subclas.  Magnoliidae  [angiospérmicas]  

Superord.  Amborellanae  

Superord.  Nymphaeanae  

Ord.  Nymphaeales  

Superord.  Magnolianae  

Ord.  Canellales  

Ord.  Laurales  

Ord.  Magnoliales  

Ord.  Piperales  

Superord.  Lilianae  [monocotiledóneas]  

Ord.  Acorales  

Ord.  Alismatales  

Ord.  Asparagales  

Ord.  Dioscoreales  

Ord.  Liliales  

[commelinidas]  

Ord.  Arecales  

Ord.  Commelinales  

Ord.  Poales  

Ord.  Zingiberales  

Superord.  Ceratophyllanae  

Ord.  Ceratophyllales  

[eudicotiledóneas]  

Superord.  Buxanae  

Ord.  Buxales  

Superord.  Proteanae  

Ord.  Proteales  

Superord.  Ranunculanae  

Ord.  Ranunculales  

[eudicot.  superiores]  

Superord.  Rosanae    

Ord.  Vitales  

[fabidas:  eurosidas  I]  

Ord.  Celastrales  

Ord.  Cucurbitales  

Ord.  Fabales  

Ord.  Fagales  

Ord.  Oxalidales  

Ord.  Rosales  

Ord.  Zygophyllales  

[malvidas:  eurosidas  II]  

Ord.  Brassicales  

Ord.  Geraniales  

Ord.  Malvales  

Ord.  Myrtales  

Ord.  Sapindales  

Superord.  Caryophyllanae  

Ord.  Caryophyllales  

Superord.  Asteranae  

Ord.  Ericales  

[lamiidas:  euasteridas  I]  

incertae  sedis  (Boraginaceae)  

Ord.  Gentianales  

Ord.  Lamiales  

Ord.  Solanales    

[campanulidas:  euasteridas  II]  

Ord.  Apiales  

Ord.  Aquifoliales  

Ord.  Asterales  

 

 

O  APG  é  um  sistema  cladístico  de  base  molecular,  por  conseguinte,  apresenta  sérias  discrepâncias  formais  e  taxonómicas   frente   aos   sistemas   de   classificação   evolutivos   (e.g.   Sistema   de   Cronquist).   Estas   diferenças   não  serão  exploradas  em  pormenor,  na  descrição  Famílias  de  plantas-­‐com-­‐semente  de  maior  interesse  ecológico  ou  económico   que   se   segue.   Ainda   assim,   para   evitar   uma   ruptura   demasiado   brusca   com   o   passado   foram,  pontualmente,  adicionados  alguns  comentários  sobre  a  interpretação  tradicional  dos  taxa  em  estudo.  Recorde-­‐se  que   o   sistema   de   Engler   perdurou   durante   quase   um   século,   com   pequenas   modificações,   nas   Floras   de  referência  Sistemas  evolutivos).  

A   fim   de   evitar   uma   proliferação   excessiva   de   pontos   e   subpontos,   as   famílias   de   angiospérmicas   foram  repartidas   no   texto   que   se   segue   por   quatro   grandes   grupos:   angiospérmicas   basais,   magnoliidas,  monocotiledóneas  e  eudicotiledóneas;  as  superordens  foram  omitidas.  As  magnoliidas,  as  monocotiledóneas  e  as  

Quadro  10.  Transcrição  do  sistema  APG  III  numa  nomenclatura  lineana    

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eudicotiledóneas   são   monofiléticas;   as   angiospérmicas   basais   são   parafiléticas.   Para   facilitar   a   exposição  admitiram-­‐se  vários  grados   (grupos  parafiléticos)  –  devidamente  assinalados  com  aspas  simples   (‘   ‘)  –  em  cada  um  destes  grandes  grupos  (e.g.  ‘angiospérmicas  basais’).    

A  descrição  das  famílias  botânicas  que  se  segue  foi,  em  grande  parte,  adaptada  do  Guia  de  Árvores  e  Arbustos  de  Portugal  Continental  de  (Bingre, Aguiar, Espírito-Santo, Arsénio, & Monteiro-Henriques, 2007),  que  por  sua  vez   foi   beber   da   informação   veiculada   por   (Judd, Campbell, Kellog, Stevens, & Donoghue, 2007),   (Heywood, 1993),  (Spichiger, Savoilainen, Figeat, & Jeanmonod, 2004),  (Stevens, 2001+)  e  (Watson & Dallwitz, 1992+).  Para  facilitar   a  percepção  da  morfologia  das   famílias,   de  uma   forma  muito   concisa,   é  oferecida   informação   sobre  o  número  de  espécies  à  escala  global  ou  presentes  em  Portugal  continental  e  um  apontamento  sobre  as  plantas  de  maior   interesse   económico.   Os   exemplos   incluídos   nos   dois   primeiros   volumes   e   nas   descrições   das   famílias,  salvo  indicação  em  contrário,  referem-­‐se  à  flora  de  Portugal  (inc.  arquipélagos  atlânticos)  ou  a  plantas  cultivadas.  A   descrição   das   famílias   foi,   em   grande   parte,   reduzida   aos   caracteres   necessários   para   uma   identificação  positiva.   A   sublinhado   indicaram-­‐se   os   caracteres   morfológicos   exclusivos   ou   com  maior   valor   diagnóstico   na  diferenciação  das  famílias.    

Nas  descrições,  por  omissão,  admitem-­‐se:  

Folhas  constituídas  por  pecíolo  e  limbo,  sem  estípulas;  

Flores  de  média  dimensão,  cíclicas  (peças  florais  do  mesmo  tipo  inseridas  no  mesmo  nó),  hermafroditas  (flores  com  estames  e  carpelos),  heteroclamídeas  (flores  com  sépalas  e  pétalas),  sem  hipanto  (estrutura  em  forma  de  disco,  taça  ou  copo  que  envolve  o  ovário  e  onde  se  inserem  sépalas,  pétalas  e  estames);  

Estames  livres  (filetes  ou  anteras  não  soldados  entre  si)  inseridos  pelo  filete  no  recetáculo  (não  soldados  à  corola);  

No  caso  de  existir  mais  que  1  carpelo,  carpelos  soldados  num  único  ovário  (gineceu  sincárpico);  

Ovário   com  mais   de   um   primórdio   seminal,   placentação   axilar   (primórdios   seminais   inseridos   no   eixo  central  de  um  ovário  com  mais  de  2  carpelos)  ou  irrelevante  para  a  identificação  da  família.  

As   peças   (semelhantes   entre   si)   que   envolvem   os   estames   e   os   carpelos   nas   flores   haploclamídeas   ou  homoclamídeas  foram  designadas  por  tépalas.  No  entanto,  mantiveram-­‐se  os  conceitos  de  pétala  e  de  sépala  nos  casos   de   perda   evolutiva,   inequívoca,   de   um   dos   verticilos   do   perianto.   A   descrição   da   nervação   e   outras  características   foliares   nas   folhas   compostas   refere-­‐se   aos   folíolos.  Os   desenhos   foram   retirados   de  Watson  &  Dallwitz  (Watson & Dallwitz, 1992+).  

2.2. Famílias   de   plantas-­‐com-­‐semente   de   maior   interesse   ecológico   ou  económico    

2.2.1. Gimnospérmicas    

Fisionomia.   Árvores,   com   menos   frequência   arbustos,   com   um   eixo   (tronco)   bem   definido,   regra   geral  monoicas.    

Anatomia.  Xilema  com  traqueídos  –  sem  vasos  lenhosos  (excepto  em  Gnetopsida)  nem  fibras  xilémicas  –  com  uma  dupla  função  de  suporte  e  transporte  de  solutos.    

Folha.  Inteiras,  muito  estreitas  ou  em  forma  de  escama  (excepto  Ginkgo  biloba  e  Cycadidae).    

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Chave  dicotómica  1. Famílias  de  gimnospérmicas  indígenas  ou  de  maior  interesse  económico  em  Portugal    

1.   Folhas   em   forma   de   leque   (flabeliformes),   verde-­‐claras,   com   pecíolos   longos   e   caducas;   frutificação   drupácea;   plantas   dioicas    ......................................................................................................................................................................................  Ginkgoaceae    

-­‐  Plantas  sem  esta  combinação  de  caracteres  .................................................................................................................................  2  

2.  Ramos  articulados;  folhas  escamiformes,  geralmente  acastanhadas  e  não  assimiladoras;  frutificações  carnudas;  plantas  arbustivas  dioicas  ................................................................................................................................................................................................        .....................................................................................................................................................................................  Ephedraceae    

-­‐  Ramos  não  articulados;   folhas  verdes,  escamiformes  ou  aciculares;   frutificações  secas  ou  carnudas;  árvores  monoicas  ou  dioicas,  raramente  arbustos  .........................................................................................................................................................................  3  

3.   Pequenas   árvores   similares   a   palmeiras   de   tronco   raramente   ramificado;   folhas   grandes   penaticompostas   agrupadas   na  extremidade  do  tronco  .............................................................................................................................................  Cycadaceae  s.l.  

-­‐  Árvores  ou  arbustos  profusamente  ramificados;  folhas  mais  pequenas  ......................................................................................  4  

4.   Folhas   opostas   ou   verticiladas,   geralmente   aplicadas,   escamiformes,   raramente   aciculares;   estróbilos   de   escamas   opostas   ou  verticiladas    .......................................................................................................................................................  Cupressaceae  s.str.    

-­‐  Folhas  não  aplicadas,  alternas  espiraladas,  às  vezes  subdísticas  (dispostas  em  2  fiadas  ao  longo  dos  raminhos)  por  torção,  raramente  opostas  e  então  grandes  e  largas;  estróbilos  com  as  escamas  em  espiral  ou  então  sementes  solitárias  .......................................  5  

5.  Sementes  solitárias,  rodeadas  de  um  invólucro  carnudo  (arilo);  plantas  dioicas  não  resinosas    ...................................  Taxaceae    

-­‐  Sementes  nunca  solitárias  e  rodeadas  de  um  invólucro  carnudo;  monoicas  ou  dioicas;  resinosas  ou  não    ................................  6  

6.  Folhas  geralmente   largas,  às  vezes  estreitas  e  aciculares;  escama  fértil  e  escama  tectriz  concrescentes;  1  primórdio  seminal  por  escama  seminífera  .....................................................................................................................................................  Araucariaceae  

-­‐  Folhas  estreitas,  lineares,  aciculares  ou  escamiformes;  escama  tectriz  livre  ou  concrescente;  2  a  15  primórdios  seminais  por  escama  seminífera  ........................................................................................................................................................................................  7  

7.  2  primórdios  seminais  por  escama  fértil;  escamas  tectriz  e  seminífera  livres;  sementes  com  asa  terminal,  raramente  ápteras;  folhas  dispostas  espiraladamente  ao  longo  dos  ramos  ou  fasciculadas  .......................................................................................  Pinaceae    

-­‐  2  a  15  primórdios   seminais  por  escama   fértil;   escamas   tectriz  e   seminífera   intimamente  unidas;   folhas  normalmente   subdísticas  (excepto  Sequoiadendron  e  Cryptomeria  )  .....................................  Taxodiaceae  (família  atualmente  incluída  em  Cupressaceae)    

 

Estruturas   reprodutivas.   Sem   flores.   Esporângios   ♂ –   sacos   polínicos   –   inseridos   em   escamas   polínicas  (microsporofilos)   por   sua   vez   organizadas   em   estróbilos  ♂. Esporângios  ♀ –   primórdios   seminais   –   solitários  (Taxus),  aos  pares  (Ginkgo),  na  margem  de  megasporofilos  solitários  (Cycas),  ou  produzidos  em  escamas  férteis  (megasporofilos)   agrupadas   em   estróbilos   ♀   (condição   mais   frequente).   Estróbilos   ♀   constituídos   por   uma  escama  fértil  (ou  seminífera),  sobre  a  qual  se  dispõem  os  primórdios  seminais,  inserida  na  axila  de  uma  escama  

Figura  2.  Estróbilos  ♂  e  ♀. A)  Estróbilos  ♂  de  Cedrus  atlantica  (Pinaceae).  B)  Estróbilo  ♀  de  Pseudotsuga  menziesii  (Pinaceae)  com  escamas  estéreis  tricuspidadas  a  axilar  escamas  férteis.  

A)  B)  

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estéril   (ou   tectriz).   Primórdios   seminais   com   um   tegumento,   providos   de   uma   câmara   polínica,   em   contacto  direto  com  o  exterior  (não  protegidos  no  interior  de  um  carpelo  como  nas  angiospérmicas).  Gametófito  menos  reduzido  do  que  nas  angiospérmicas.  As  Cycadidae,  Ginkgoidae  e  as  Gnetidae  são  dioicas;  as  Pinidae  só  são,  salvo  raras  excepções,  monoicas.  

Biologia  da  reprodução.  Pólen  geralmente  transportado  pelo  vento  (Gnetum,  Ephedra,  Welwitschia  e  Zamia  são  maioritariamente  entomófilas)   e  diretamente   capturado  pelos  primórdios   seminais   (germinação  micropilar  do  pólen).  Período  que  decorre  entre  a  polinização  e  a  fecundação  normalmente  superior  a  1  ano.  Inexistência  de  dupla  fecundação  (exceto  em  Gnetopsida)  e  endosperma  sempre  haploide.    

Frutificações   e   sementes.   Sem   frutos:   estruturas   reprodutivas   ♀   maduras   designadas   por   frutificações.  Sementes  com  endosperma  primário  haploide,  formado  antes  da  fecundação.  Regra  geral  as  sementes  são  secas  de  dispersão  barocórica  ou  anemocórica  nas  espécies  monoicas,  e  carnudas  de  dispersão  zoocórica  nas  espécies  dioicas.  

Observações   taxonómicas.   As   relações   evolutivas   entre   as   linhagens   atuais   das   plantas-­‐com-­‐semente  continuam   por   resolver   (Mathews, 2009).   Também   permanece   em   aberto   qual   dos   grandes   grupos   de  gimnospérmicas  atuais  é  filogeneticamente  mais  próximo  das  plantas-­‐com-­‐flor  (vd.  Volume  II).  

2.2.1.1. Cycadidae  Fisionomia.   Pequenas   árvores   ou   arbustos   dioicos,   semelhantes   a   pequenas   palmeiras   ou   fetos  

arborescentes,   com   escasso   crescimento   secundário.   Estabelecem   simbioses   nas   raízes   com   bactérias   azuis-­‐esverdeadas  fixadoras  de  azoto  dos  gén.  Nostoc  e  Anabaena.  

Folha.  Folhas  compostas,  por  vezes  circinadas.  Produção  anual  de  um  verticilo  de  folhas,  de  fácil  identificação.  

Estruturas   reprodutivas.   Megasporofilos   grandes   e   livres   com   primórdios   seminais   marginais   na   família  Cycadaceae,   mais   reduzidos   e   organizados   em   estróbilos   ♀ nas   famílias   mais   evoluídas   (e.g.   Zamiaceae).  Gametas   ♂   flagelados   (anterozoides)   libertados   por   um   tubo   polínico   na   proximidade   dos   gâmetas   ♀  (sifonogamia  imperfeita).  Com  frequência  mais  de  6  meses  medeiam  a  polinização  e  fecundação.  

Observações   taxonómicas.   Atualmente,   existe   a   tendência   de   reconhecer   no   âmbito   das   Cycadidae   duas  (Cycadaceae  s.str.  e  Zamiaceae)  ou  quatro  famílias  (Boweniaceae,  Cycadaceae  s.str.,  Stangeriaceae  e  Zamiaceae)  porém,  na  bibliografia,  é  ainda  frequente  surgirem  reunidas  numa  fam.  Cycadaceae  s.l.  É  consensual  que  as  cicas  se  situam  na  base  da  árvore  filogenética  das  gimnospérmicas.  Ca.  de  300  espécies.  

I. Cycadaceae  s.str.  

Estruturas  reprodutivas.  Megasporofilos  livres,  foliáceos,  penatipartidos  ou  inteiros,  organizados  numa  coroa  no   extremo   do   caule,   com   os   primórdios   seminais   inseridos   nas   margens.   Primórdios   seminais   de   grandes  dimensões  (até  7  cm).    

Distribuição   e   diversidade.   Territórios   temperados   quentes   ou   tropicais;   maior   parte   das   espécies  concentradas  no  Hemisfério  Sul.    

Botânica   económica.   Interesse   maioritariamente   ornamental.   As   folhas   e   a   medula   dos   troncos   das  Cycadaceae  são  geralmente  muito  tóxicas.  

 

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2.2.1.2. Ginkgoidae  Distribuição  e  diversidade.  Subclasse  com  um  único  representante  na  flora  atual:  Ginkgo  biloba  [ginkgo].  As  

ginkgoídas   eram   frequentes   nas   florestas   do   hemisfério   norte   durante   o  Terciário,   há  mais   de   1,8  milhões   de  anos.  

II. Ginkgoaceae  

Fisionomia.   Árvores   dioicas.   Ramos   de   dois   tipos:   ramos   compridos   (macroblastos),   nos   quais   se   inserem  ramos  curtos  (braquiblastos)  com  uma  pequena  roseta  de  folhas  terminal.    

Folha.  Folhas  caducas,  em  forma  de  leque  (flabeladas),  nervação  aberta  dicotómica,  com  ou  sem  um  pequeno  entalhe  a  meio.    

Estruturas   reprodutivas  e   sementes.  Estróbilos  ♂ amentiformes.  Primórdios   seminais   aos  pares   (por   vezes  em  grupos  de  3)  na  extremidade  de  um  pedúnculo.  Gametas  ♂  flagelados  (anterozoides)  libertados  por  um  tubo  polínico   na   proximidade   dos   gâmetas   ♀   (sifonogamia   imperfeita).   Sementes   carnudas   de   dispersão  endozoocórica,  de  odor  desagradável,  razão  pela  qual  apenas  se  plantam  como  ornamentais  indivíduos  ♂.    

Distribuição  e  diversidade.  Uma  espécie  –  Ginkgo  biloba  –  originária  da  China.    

Botânica   económica.   Com   importância   medicinal   (insuficiência   circulatória   e   melhoria   da   memória)   e  ornamental.  

2.2.1.3. Pinidae  Fisionomia.  Maioritariamente  árvores  monoicas  (dioicas  em  Juniperus),  de  alongamento  monopodial  e  caules  

pseudoverticilados   (a   idade   dos   indivíduos   jovens   pode   ser   indiretamente   avaliada   pelo   número   de   verticilos  [andares]).    

A)                B)  

Figura  3.  Cycadaceae.  A)  Megasporofilos  laciniados  com  primórdios  seminais  inseridos  nas  margens  de  Cycas  revoluta.  B)  Aspeto  de  uma  C.  revoluta  cultivada.  

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Folha.   Normalmente   persistentes,   aciculares,  escamiformes  ou  linear-­‐lanceoladas.    

Estruturas   reprodutivas.   Grãos   de   pólen  frequentemente   com   sacos   aéreos.   Primórdios   seminais  normalmente  em  estróbilos   (excepto  Taxus).  Estróbilos  ♀ constituídos  por  escamas;  as  escamas  ditas  seminíferas  (=  escamas  férteis)  situam-­‐se  na  axila  de  uma  escama  tectriz  (=  escama  estéril)  e  acomodam  na  sua  superfície  1  ou  mais  primórdios   seminais   em   contacto   direto   com   o   exterior.  Nas  Pinaceae  a  escama  tectriz  é   livre;  nas  Cupressaceae  e  nas  Araucariaceae   está  ±   soldada   com  a  escama   seminal.  Embrião  com  8  a  12  cotilédones.    

Distribuição   e   diversidade.   Entre   700   e   900   espécies,  distribuídas   por   ca.   de   70   géneros.   Representada   em   Lu  por   3   famílias:   Pinaceae,   Taxaceae   e   Cupressaceae.  Máximos  de  diversidade  na  América  do  N  e  no  E  da  Ásia.    

Observações   taxonómicas.   Os   estudos   filogenéticos  mais   recentes   indiciam   que   as   Pinaceae   são   basais   na  subclasse.    

III. Pinaceae    

Fisionomia.  Árvores  resinosas,  raramente  arbustos.  

Folha.  Folhas  persistentes,  raramente  caducas  (em  Larix  e  Pseudolarix).  Alguns   géneros   (e.g.   Pinus,   Larix   e   Cedrus)   com   ramos   longos  (macroblastos)  e  ramos  curtos  (braquiblastos)  onde  se  inserem  todas  ou  a  maioria  das  folhas.  Outros  somente  com  macroblastos  (e.g.  Abies  e  Picea).  Folhas  lineares  ou  aciculares,  no  género  Pinus  agrupadas  em  braquiblastos  muitos  curtos  por  sua  vez   inseridos  na  axila  de  folhas  escamiformes,  sem  clorofila,  que  revestem  os  macroblastos.  

Estruturas   reprodutivas.   Estróbilos   ♀   (pinhas)   caducos   quando  maduros   (persistentes   em   Pinus   halepensis),   com   escamas   seminíferas   e  tectrizes   normalmente   bem   diferenciadas.   Duas   sementes   por   escama  seminífera  com  uma  asa  geralmente  longa.  

Distribuição   e   diversidade.   Família   mais   diversa   das   gimnospérmicas  (210   sp.).   Restringida   ao   hemisfério   norte.   Duas   espécies   de   Pinus  indígenas   de   Lu:   Pinus   pinaster   «pinheiro-­‐bravo»   e   P.   pinea   «pinheiro-­‐manso».  O  P.  sylvestris  «pinheiro-­‐silvestre»  está  provavelmente  extinto  no  país.  

Botânica   económica.   Família   de   excecional   importância   ecológica   e  económica:   domina   grande  parte  das   florestas  boreais   e  de  montanha  do  hemisfério  norte;   inclui   um  elevado  número   de   espécies   com   interesse   florestal   (e.g.   Pinus   sp.pl.,   Picea   abies),   ornamental   (e.g.   Cedrus   sp.pl),  alimentar   (P.   pinea,   pinheiro-­‐manso),   farmacêutico   e   químico   (e.g.   Pinus   pinaster).   A   árvore   mais   velha   do  mundo,   com   mais   de   4770   anos,   é   um   exemplar   californiano   de   Pinus   longaeva.   Muito   recentemente,   foi  descoberto  um  exemplar  de  Picea  abies  no  norte  da  Suécia  em  cujo  sistema  radicular  foram  destetados  tecidos  com  mais  de  9550  anos  (o  tronco  da  árvore  é  muito  mais  recente).  

IV. Cupressaceae  (inc.  Taxodiaceae)    

Fisionomia.  Árvores  ou  arbustos  resinosos.    

 Figura  4.  Relações  evolutivas  entre  as  pinidas  www.mobot.org/MOBOT/research/APweb/  

 

Figura  5.  Pinaceae.  Macroblastos  com  braquiblastos  de  Cedrus  deodara  

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Folha.   Folhas   persistentes   (caducas   em   Taxodium   e   Metasequoia),   em   forma   de   escama   (folhas  escamiformes)  ou  estreitas  e  alongadas   (folhas   lineares  ou  aciculares).   Folhas  geralmente  escamiformes  muito  pequenas   e   oposto-­‐cruzadas   (2   por   nó   em   cruz   com   as   do   nó   seguinte).   Nas   espécies   com   folhas   lineares   ou  aciculares   estas   podem   apresentar-­‐se   verticiladas   (em   Juniperus),   opostas   (em   Metasequoia)   ou   alternas,  arranjadas  em  espiral  ou  em  duas  fiadas,  num  único  plano,  por  torção  na  base.  

Estruturas   reprodutivas.   Estróbilos   ♀ globosos   ou   ovoides,   persistentes,   lenhosos   ou   carnudos   (em  Juniperus);  escamas  tectrizes  impercetíveis;  escamas  seminíferas  frequentemente  em  forma  de  cabeça  de  prego,  sempre  inseridas  num  eixo  muito  curto,  com  1  a  20  primórdios  seminais.  

Observações  taxonómicas.  Os  gén.  Sequoia  e  Cryptomeria,  entre  outros,  tradicionalmente  eram  incluídos  na  fam.  Taxodiaceae.  

Distribuição   e   diversidade.   Segunda   família   mais   diversa   de   gimnospérmicas   (133   sp.).   Distribuição  cosmopolita.   4   sp.   em   Lu   (J.   communis   subsp.   pl.,   J.  oxycedrus,   J.   navicularis,   J.   turbinata   subsp.   turbinata),   2  espécies  na  Ma  (Juniperus  cedrus  e  J.  turbinata  subsp.  canariensis)  e  uma  outra  nos  Az  (J.  brevifolia).  

Botânica   económica.   Elevado   número   de   plantas   com   interesse   ornamental   (e.g.   Juniperus   sp.pl.,  Chamaecyparis   sp.pl.,  Cupressus   sp.pl.   e   x   Cupressocyparis   leylandii)   ou   na   produção   de   lenho   (e.g.  Cupressus  sp.pl.,  Cryptomeria  japonica).  A  Cryptomeria  japonica  é  a  mais  importante  essência  florestal  cultivada  em  Az.  São  cupressáceas   as   árvores   mais   alta   (Sequoia   sempervirens,   111,2   m)   e   com   o   tronco   de   maior   diâmetro  (Sequoiadendron  giganteum,  12,4  m).  

V. Araucariaceae  

Fisionomia.  Árvores  de  grande  dimensão,  com  ramos  dispostos  em  andares  (verticilados).  

Folha.  Folhas  persistentes,  alternas  ou  opostas,  aciculares  ou  largas  e  espalmadas.  

Estruturas  reprodutivas.  Escama  seminífera  dos  estróbilos  ♀ fundida  com  a  escama  tectriz  e  com  1  primórdio  seminal.   Pinhas   eretas,   grandes,   desfazendo-­‐se   na   maturação   (característica   compartilhada   com   algumas  Pinaceae,  e.g.  Cedrus  e  Abies).  

Distribuição  e  diversidade.  Fam.  pequena  (33  sp.)  com  apenas  3  géneros.  Restringida  ao  hemisfério  sul,  um  terço  das  espécies  concentradas  na  Ilha  da  Nova  Caledónia.  

Botânica   económica.   Interesse  maioritariamente   ornamental,   sobretudo  A.   heterophylla   e  A.   araucana.   As  sementes   de   A.   angustifolia   «pinheiro-­‐do-­‐pará»   são   comestíveis   e   semelhantes   às   da   Pinus   pinea   «pinheiro-­‐manso».  

VI. Taxaceae  

Fisionomia.  Árvores  ou  arbustos  dioicos  (com  indivíduos  ♂  e  ♀)  não  resinosos.  

A) B) C)  

Figura  6.  Cupressaceae  e  Taxaceae.  A)  Frutificações  e  ramos  tridimensionais  revestidos  de  folhas  escamiformes  em  Cupressus  lusitanica  «cipreste-­‐do-­‐buçaco».  B)  Gálbulos  carnudas  e  folhas  aciculares  (verticiladas  com  3  folhas  por  nó)  de  Juniperus  

oxycedrus  .  C)  Taxus  baccata  «teixo»;  n.b.  sementes  nuas  e  solitárias,  com  um  arilo  vermelho,  inseridas  na  axila  das  folhas;  folhas  lineares  de  inserção  espiralada,  disticadas  por  torção  do  pecíolo.  

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Folha.  Folhas  persistentes,  alternas  (ainda  que  dispostas  em  duas  filas,  num  único  plano,  por  torção  na  base),  planas,  lineares  e  com  uma  nervura  média  evidente.  

Estruturas  reprodutivas.  Primórdios  seminais  solitários  na  axila  das  folhas,  na  maturação  envolvidos  por  uma  estrutura  carnosa  colorida  (arilo).  

Distribuição  e  diversidade.  Fam.  pequena  (30  sp.).  Concentrada  no  hemisfério  norte.  1  espécie   indígena  de  Portugal  (Lu,  Az  e  Ma):  Taxus  baccata.  

Botânica  económica.  A  T.  baccata  «teixo»  é  muito  cultivada  como  ornamental  embora  as   suas  sementes  e  folhas   sejam  muito   tóxicas;   o   arilo   é   doce   e   comestível;   da   madeira   localizada   no   encontro   do   cerne   com   o  alburno   faziam-­‐se  os  melhores  arcos  medievais.  Algumas  espécies  com   interesse  medicinal   (Taxus)  ou   florestal  (Torreya).  

2.2.1.4. Gnetidae  Distribuição   e   diversidade.   Ca.   de   65   sp.   de   distribuição,   maioritariamente,   temperada   ou   mediterrânica.  

Quatro  géneros  de  morfologia  díspar:  Gnetum,  Ephedra,  Vinkiella  e  Welwitschia.  

VII. Ephedraceae  

Fisionomia.  Arbustos,   raramente   árvores,   dioicos,   não   resinosos.   Ao   contrário   das   demais   gimnospérmicas  atuais  têm  vasos  lenhosos.  Caules  verticilados  com  entrenós  muito  longos,  verdes,  estriados  e  articulados.    

Folha.  Folhas  pequenas,  opostas  ou  verticiladas,  escamiformes,  soldadas  entre  si.  

Estruturas   reprodutivas.   Primórdios   seminais   envolvidos   por   uma   estrutura   semelhante   a   um   tegumento.  Estróbilos  ♀ com  escamas  opostas  ou  verticiladas  e  1-­‐2  sementes.  Polinização  realizada  por  moscas.  

Distribuição  e  diversidade.  Uma  espécie  indígena  em  Portugal  com  duas  subespécies:  Ephedra  fragilis  subsp.  fragilis,  em  Lu,  e  E.  fragilis  subsp.  dissoluta,  em  Ma.  

Botânica   económica.   Das   Ephedra   «éfedras»   extrai-­‐se   a   efedrina,   um   estimulante,   supressor   do   apetite.  Atualmente  é  sintetizado  quimicamente.  

2.2.2. Magnoliidae  (angiospérmicas)    

Fisionomia.   Árvores,   arbustos,   trepadeiras   ou   plantas   herbáceas,   com   caules   e   folhas   de  morfologia  muito  variável.  

Fisionomia.   Sistema   vascular   mais   evoluído   do   que   o   das   gimnospérmicas:   elementos   de   tubo   crivoso   e  células  companheiras  mais  eficientes;  presença,  simultânea,  de  traqueídos  e  de  vasos  lenhosos  (com  exceções).    

Flor.  Diâmetro  das  flores  de  menos  de  1  mm  (fam.  Lemnaceae)  a  ca.  de  1  m  [Rafflesia  (Rafflesiaceae)].  Flores  de   estrutura   muito   diversa,   as   mais   complexas   constituídas,   da   base   para   o   ápice,   pelo   cálice   (conjunto   das  sépalas),  corola  (conjunto  das  pétalas),  androceu  (conjunto  dos  estames)  e  gineceu  (conjunto  dos  pistilos).  Pólen  com   tectum   (vd.   volume   II).   Primórdios   seminais   encerrados   num   pistilo   formado   por   uma   ou   mais   folhas  modificadas   (carpelos)  soldadas  entre  si.  Gametófito  muito  reduzido.  Pistilos  constituídos  por  um  ovário   (parte  basal   alargada   onde   se   encontram   os   primórdios   seminais),   um   estilete   (porção  mais   estreita   do   pistilo,   nem  sempre  presente)  e  um  estigma  (órgão  especializado  na  captura  de  grãos  de  pólen).    

Biologia   da   reprodução.   Sistemas   de   polinização   muito   variados   (pelo   vento,   água,   insectos,   etc.).  Germinação  estigmática  do  pólen.  Polinização  e  fecundação  quase  simultâneas.  Presença  de  dupla  fecundação.  Sementes  com  endosperma  triploide  (com  exceções).  Após  a  fecundação  dos  primórdios  seminais  e  um  período  de   maturação   relativamente   curto,   os   ovários   dão   origem   aos   frutos   que   contêm   no   seu   interior   1   ou   mais  sementes.    

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Fruto  e  semente.  Muito  variados:  secos  ou  carnudos  (com  uma  polpa  rica  em  água),  simples  (derivados  de  um  gineceu  com  1  pistilo)  ou  múltiplos  (oriundos  de  um  gineceu  com  carpelos  livres),  por  vezes  incorporando  tecidos  do  receptáculo  (pseudofrutos),  etc.  Mecanismos  de  dispersão  muito  diversos.    

2.2.2.1. ‘Angiospérmicas  basais’  Morfologia.  Flores  acíclicas  (peças  dispostas  em  espiral)  e  homoclamídeas.  Margem  dos  carpelos  fechada  por  

secreções;   nas   demais   angiospérmicas   os   carpelos   são   suturados   por   células   epidérmicas.   As   famílias  Amborellaceae   e   Nymphaeaceae   não   possuem   vasos   lenhosos.   Algumas   Nymphaeaceae   têm   apenas   um  cotilédone  e  feixes  vasculares  dispersos  no  caule.  Neste  grupo  de  plantas  prevalece  a  polinização  por  moscas  ou  por   coleópteros   que   recebem   uma   recompensa   alimentar   sob   a   forma   de   pólen;   a   polinização   por   engano   é  também  frequente.  

Observações  taxonómicas.  Grupo  parafilético.  

Nymphaeales

VIII. Nymphaeaceae  

Fisionomia.  Herbáceas  aquáticas  rizomatosas.  

Folha.  Folhas  frequentemente  grandes,  cordadas  ou   peltadas,   com   um   pecíolo   longo   e   limbo  submerso,  flutuante  e/ou  emergente.  

Inflorescência.  Flores  solitárias.  

Flor.   Flores   grandes,   homo   ou   heteroclamídeas,  actinomórficas,  hermafroditas,  providas  de  um  longo  pedicelo.   4-­‐12   tépalas,   espiraladas   (flores   acíclicas),  livres  ou  concrescentes,  frequentemente  petaloideas  e  gradualmente  transformadas  em  estames.  Estames  3  a  ∞,  lamelares,  por  vezes  reduzidos  a  estaminódios  petaloideos.  Gineceu  ínfero  ou  súpero  de  carpelos  3  a  ∞,   livres  ou  soldados,  e  estigmas   frequentemente  alongados.    

Fruto.  Múltiplo,  seco  ou  carnudo.  

Distribuição   e   diversidade.   Fam.   de   pequena  dimensão   (ca.   70   espécies).   Cosmopolita.   Dois  géneros  em  Lu:  Nymphaea  e  Nuphar.  

Botânica   económica.   Interesse   ornamental:   gén.   Nymphaea   «nenúfares-­‐brancos»   e   Nuphar   «nenúfares-­‐amarelos».  As  folhas,  os  botões  florais  e  as  sementes  das  Nymphaea  são  comestíveis.  Nos  remansos  dos  rios  da  bacia  do  Amazonas  vive  a  Victoria  regia,  a  planta  com  a  maior  folha  do  mundo.    

Austrobaileyales

IX. Illiciaceae  

Botânica  económica.  O  Illicium  verum  «anis-­‐estrelado»  é  utilizado  em  tisanas  e  dele  se  extraem  precursores  de  moléculas  antivíricas.  

 Figura  7.  Nymphaeaceae.  N.b.  em  Nuphar  luteum  «golfão-­‐amarelo»:  inserção  helicoidal  de  5  tépalas  (flor  acíclica),  um  grande  número  de  estaminódios  petaloideos  e  ∞  estames  

(vd.  diagrama  floral);  estames  pouco  diferenciados,  laminares.  

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2.2.2.2. Magnoliidas    Morfologia.  Árvores,  arbustos,  trepadeiras  ou  plantas  herbáceas.  Presença  de  glândulas  de  óleos  essenciais  e  

de  grande  diversidade  de  alcaloides.  Folhas  com  ou  sem  estípulas,  peninérveas.  Muitas  famílias  possuem  apenas  um  prófilo   (e.g.  Aristolochiaceae   e  Magnoliaceae).   Flores   acíclicas   (peças  dispostas  em  espiral)   ou   cíclicas   com  verticilos  de  3  peças   (trímeros);  normalmente  homoclamídeas   (perianto  não  diferenciado  em  cálice  e  corola)  e  hermafroditas.   Elevado  número  de  estames   frequentemente   imperfeitos   (filete  pouco  diferenciado  da  antera),  com  sistemas   invulgares  de  abertura  das  anteras,  um  conectivo  muito  desenvolvido,  acessíveis  a  polinizadores  pouco   especializados.   Pólen   normalmente   pouco   evoluído   (monocolpado   e   tipos   derivados).   Gineceu  monocarpelar  ou  pluricarpelar  apocárpico,  súpero.  Primórdios  seminais  crassinucelados  (de  nucela  espessa)  com  dois  tegumentos.  Sementes  de  cotilédones  frequentemente  impercetíveis.  

Observações   taxonómicas.   Grupo  monofilético.   Alguns   autores   designam   este   grupo   como   dicotiledóneas  arcaicas  ou  complexo  magnolioide.  

Magnoliales

X. Magnoliaceae  

Fisionomia.  Árvores  ou  arbustos.  

Folha.  Grandes,  alternas,  simples,  inteiras  (lobadas  em  Liriodendron),  caducas  ou  persistentes,  com  estípulas  grandes  e  caducas.  

Flor.   Flores   solitárias,   grandes,   homoclamídeas   (sépalas   e   pétalas   não   ou   pouco   diferenciadas),  actinomórficas.  6   tépalas,  grandes,  arranjadas  em  espiral  ao   longo  de  um  eixo  alargado   (receptáculo).  Estames  numerosos   (indefinidos),   em   espiral,   com   filete   pouco   diferenciado   da   antera.   Carpelos   numerosos,   livres  (gineceu  apocárpico),  espiralados;  ovários  súperos  normalmente  com  2  óvulos.  

Fruto.  Fruto  seco  semelhante  a  uma  pinha  (múltiplo  de  folículos)  ou  carnudo  (múltiplo  de  bagas).  Sementes  grandes,  normalmente  carnudas  e  avermelhadas.  

Distribuição  e  diversidade.  Fam.  de  pequena  dimensão  (ca.  227  sp.).  2  centros  de  diversidade  localizados  no  SW  asiático  e  nas  Américas;  extinta  na  Europa  desde  o  final  do  Terciário  (há  mais  1,8  milhões  de  anos).  

Botânica  económica.  Com  interesse  maioritariamente  ornamental,  e.g.  Magnolia  «magnólias».  

A) B) C)  

Figura  8.  Magnoliaceae  e  Annonaceae.  A)  Folhas  e  flor  de  Magnolia  grandiflora  (Magnoliaceae).  B)  Eixo  (receptáculo)  de  uma  flor  de  M.  grandiflora;  n.b.  (debaixo  para  cima)  cicatrizes  das  tépalas  e  dos  estames  e  um  fruto  múltiplo  de  folículos  ainda  imaturos.  C)  Annona  cherimola  x  A.  squamosa  (Annonaceae)  (Terceira,  Açores);  n.b.  flor  com  1  único  verticilo  de  3  tépalas  e  

um  pequeno  fruto  em  diferenciação  

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XI. Annonaceae  

Botânica  económica.  Várias  espécies  de  Annona  «anoneiras»  são  cultivadas  pelos  seus  frutos.  Nos  mercados  portugueses,   por   vezes   provenientes   das   Ilhas   ou   do   Algarve,   são   frequentes   a   A.   cherimola   e   o   híbrido   A.  cherimola   x   A.   squamosa.   Da   Cananga   odorata   extrai-­‐se   um   óleo   essencial,   o   ylang-­‐ylang,   usado   em  aromaterapia  e  perfumaria.  

Laurales

XII. Lauraceae  

Fisionomia.  Árvores.  

Folha.   Folhas   aromáticas,   simples,   inteiras  (raramente   lobadas),  alternas,  peninérveas   (par  de   nervuras   inferior   frequentemente   mais  proeminente  e   arqueado  em  direção  ao  ápice),  persistentes,   frequentemente   com   pontuações  claras   no   limbo   (glândulas   de   óleos   essenciais).  Folhas   senescentes   frequentemente   com   uma  cor  avermelhada  característica.  

Flor.   Flores   pequenas   e   pouco   vistosas  (descoloridas),   homoclamídeas   (sépalas   e  pétalas   não   ou   pouco   diferenciadas),  actinomórficas,   receptáculo   côncavo,  hermafroditas   ou   unissexuais.   6   tépalas  organizadas  em  2  nós  de  3  peças  (de  2  peças  em  Laurus).   Estames   até   12,   com   2   nectários   na  base   do   filete,   deiscentes   por   valvas.   Ovário  súpero  de  1  carpelo  com  1  primórdio  seminal  de  placentação  apical.  Polinização  entomófila.  

Fruto   e   semente.   Fruto   uma   drupa.   Sementes   sem   endosperma,   com   um   embrião   grande   e   cotilédones  volumosos,  normalmente  dispersas  por  aves.  

Distribuição   e   diversidade.   Fam.   grande   (2500   sp.).   De   máxima   expressão   nos   territórios   tropicais   e  subtropicais.  1  espécie   indígena  de  Lu   (Laurus  nobilis),  4  da  Ma   (Apollonias  barbujana,  Laurus  novocanariensis,  Ocotea  foetens  e  Persea  indica)  e  1  dos  Az  (Laurus  azorica).  

Botânica  económica.  Grande   importância  ecológica  na  vegetação  arbórea  madeirense  e  açoriana.  A  Persea  americana   tem   interesse  alimentar   (abacateiro).  Muitas   lauráceas   têm  um  uso   condimentar  ou  medicinal,   e.g.  Cinnamomum  verum  «árvore-­‐da-­‐canela»,  Cinnamomum  camphora  «cânfora»,  Laurus  nobilis  «loureiro»,  etc.  

 

Figura  9.  Lauraceae.  N.b.  em  Laurus  nobilis  4  tépalas,  estames  com  dois  nectários  na  base  deiscentes  por  valvas,  ovário  com  um  

primórdio  seminal  pêndulo.  

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Piperales

XIII. Aristolochiaceae  

Fisionomia.  Herbáceas  ou  trepadeiras.  

Folha.  Folhas  alternas,  simples,  inteiras  e  de  nervação  palmada.  

Flor.  Flores  grandes,  hermafroditas,  zigomórficas,  solitárias  na  axila  das  folhas.   3   sépalas   soldadas   num   tubo   comprido   em   forma  de   “S”.   Pétalas  vestigiais.  

Fruto.  Seco  (cápsula  septicida),  com  frequência  pendente  e  de  grande  dimensão.  

Distribuição   e   diversidade.   Fam.   de   média   dimensão   (ca.   480   sp.).  Dispersa   por   áreas   temperadas   e   tropicais.   Espécies   europeias   todas  pertencentes  ao  género  Aristolochia.  3  espécies  indígenas  em  Lu.  

Botânica  económica.  Algumas  Aristolochia  têm  interesse  ornamental.  

XIV. Piperaceae    

Botânica  económica.  Dos  frutos  da  Piper  nigrum  «pimenteira»  obtêm-­‐se  o  mais  importante  condimento  do  mundo:  a  pimenta.  

2.2.2.3. Monocotiledóneas  (Lilianae)  Fisionomia.   Plantas   geralmente   herbáceas.   Nas   plantas   adultas   todas   as   raízes   adventícias,   ±   da   mesma  

espessura  e  inseridas  na  base  do  caule  (raízes  fasciculadas).  Caules  simpodiais,  constituídos  pela  justaposição  de  curtas   unidade   simpodiais,   mais   frequentes   do   que   os   caules   monopodiais   (carácter   de   fácil   observação   em  rizomas  e  estolhos).  Crescimento  secundário  raro.  

Anatomia.   Feixes   vasculares   fechados   (sem   câmbio)   distribuídos   irregularmente   ou   formando   2   ou   mais  círculos  concêntricos.    

Folha.   Folhas   simples   (pseudocompostas   na   fam.   Arecaceae),   sésseis   (sem   pecíolo)   ou   completas   (com  bainha,   pecíolo   e   limbo),   sem   estípulas   (presentes   nas   Smilacaceae),   paralelinérveas   ou   curvilíneo-­‐

A)  B)  

Figura  10.  Lauraceae.  A)  Persea  indica  «vinhático»  (Madeira).  B)  Laurus  nobilis;  N.b.  flor  ♂,  4  tépalas,  estames  providos  com  2  nectários  na  base.  

 Figura  11.  Piper  nigrum  «pimenteira»  

http://www.biologie.uni-­‐hamburg.de/b-­‐online/e49/piper.htm  

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paralelinérveas;  várias  exceções,  e.g.  folhas  palminérveas  nas  Arecaceae,  peninérveas  nas  Arecaceae  e  na  maioria  das  espécies  de  Dioscoreales  e  Zingiberales  (e.g.  famílias  Zingiberaceae,  Musaceae  e  Cannaceae).  

Flor.   Flores   cíclicas   com   verticilos   de   3   peças;   nuas,   homoclamídeas   ou   heteroclamídeas.   Pólen   com   uma  abertura.  Sementes  com  1  cotilédone  ou  de  cotilédone  não  diferenciado.    

Observações   taxonómicas.   Grupo   monofilético.   Três   grandes   grupos   de   ordens   (vd.   figura   15):  monocotiledóneas   basais   (alismatidas),   monocotiledóneas   petaloideas   e   monocotiledóneas   commelinidas.  Somente  as  monocotiledóneas  commelinidas  são  monofiléticas,  os  outros  dois  grupos  são  parafiléticos.  

2.2.2.3.1. ‘Monocotiledóneas  basais’  Morfologia.   Frequentemente   adaptadas   a   habitats   aquáticos.   Nestas   espécies   ocorre   uma   acentuada  

simplificação  do  cormo  e  da  flor.  

Observações  taxonómicas.  Grupo  parafilético.  

Alismatales

XV. Cymodoceaceae  

Botânica   económica.   Pertencem   a   esta   família   as   3   angiospérmicas  marinhas  da  flora  portuguesa:  Cymodocea  nodosa,  Zostera  marina  e  Z.  noltii.  Estas  espécies  têm  grande  importância  ecológica  porque  servem  de  alimento  a  muitas  aves  aquáticas  ou  limícolas  e  as  suas  comunidades  são  fundamentais  no  ciclo  de  vida  de  várias  espécies  de  peixes.  

XVI. Araceae  

Fisionomia.   Herbáceas   terrestres,   epífitas,   lianas   ou   pequenas   plantas  aquáticas   flutuantes   (e.g.  Lemna   e  Pistia),   também  epífitas,   frequentemente  rizomatosas  ou  bolbosas.    

Folha.  Folhas   frequentemente   completas   com   limbo  e  bainha  de   grande  dimensão,   sagitadas   ou   largamente   elípticas,   alternas   espiraladas   ou  disticadas,  frequentemente  basais,  de  recorte  e  nervação  variável.  Reduzidas  nas  plantas  aquáticas.  

Inflorescência.   Indeterminadas,   terminais,   ebracteadas   (sem  brácteas),   do  

A)    B)  

Figura  12.  A)  Contextualização  filogenética  das  monocotiledóneas.  B)  Filogenia  das  ordens  de  monocotiledóneas  (Judd, Campbell, Kellog, Stevens, & Donoghue, 2007)  

 Figura  13.  Cymodocea  nodosa  (Cymodoceaceae)  (Albufeira,  Algarve).  N.b.  rizoma  e  folhas  

lineares.  

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tipo  espádice,  envolvidas  por  uma  espata.    

Flor.   Sésseis,   pequenas,   haploclamídeas   ou   nuas   (aclamídeas),   hermafroditas   ou   unissexuais.   Estames  frequentemente  sinantéricos.  Ovário  sincárpico.  Primórdios  seminais  1  a  ∞.  Polinização  por  coleópteros,  moscas  e  himenópteros.  

Fruto.  Normalmente  uma  baga;  utrículo  em  Lemna  e  géneros  afins.  Dispersão  por  aves,  mamíferos  ou  pela  água.  

Observações   taxonómicas.  As  plantas  aquáticas  não  enraizadas  de  pequena  dimensão  dos  géneros  Lemna,  Wolffia  e  outros,  são  colocados  por  muitos  autores  na  família  Lemnaceae.  

Distribuição  e  diversidade.  A  Wolffia  arrhiza   (fam.   Lemnaceae)   é  a  planta  mais  pequena  do  mundo,   sendo  frequente  em  águas  paradas  do  centro  e  sul  do  país.  

Botânica   económica.   Numerosas   espécies   ornamentais:   Anthurium   sp.pl.   «antúrios»,   Monstera   deliciosa  «costela-­‐de-­‐adão»,   Philodendron   sp.pl.,   Zantedeschia   aethiopica   «jarro».   Os   inhames   são   importantes   plantas  alimentares  tropicais  e  subtropicais:  Colocasia  esculenta  «inhame»  (cultivada  nos  Az  e  Ma),  Alocasia  macrorhiza  «inhame-­‐gigante»   e   Xanthosoma   sp.pl.   A   Pistia   stratiotes   é   uma   planta   aquática   pontualmente   cultivada   e,  potencialmente,  uma  perigosa  invasora  em  Portugal  continental.  

2.2.2.3.2. ‘Monocotiledóneas  petaloideas’  Morfologia.  Tépalas  conspícuas.  Endosperma  sem  amido.  

Observações  taxonómicas.  Grupo  parafilético.  Representado  em  Portugal  por  3  ordens:  

Ord.   Dioscoreales   –   numerosas   espécies   lianoides;   folhas   de   nervação   geralmente   reticulada   ou  curvilíneo-­‐paralelinérveas;   presença   frequente   de   tubérculos.   Grupo   maioritariamente   tropical;   uma  única  família  (Dioscoriaceae)  em  Portugal,  com  uma  única  espécie  (Tamus  communis);  

Figura  14.  Araceae.  A)  Arum  italicum.  N.b.  espata  de  grandes  dimensões;  espádice  (da  extremidade  proximal  para  a  distal)  com  flores  ♀  férteis,  flores  ♀  estéreis  e  flores  ♂.  B)  Inflorescência  de  A.  italicum;  o  espádice  desta  espécie  exala  um  forte  e  

desagradável  odor  a  estrume  de  porco.  

A)    B)  

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Ord.  Liliales  –  plantas  herbáceas  com  órgãos  de  reserva  subterrâneos  (geófitos);  inflorescência  terminal;  tépalas   maculadas   (com   manchas);   nectários   localizados   nas   tépalas   (ausência   de   nectários   septais);  anteras   extrorsas   (viradas   para   o   exterior);   epiderme   externa   da   testa   das   sementes   com   estrutura  celular  (com  células  evidentes);  sementes  normalmente  sem  endosperma  e  sem  fitomelano;  

Ord.  Asparagales  –  plantas  herbáceas  (com  ou  sem  órgãos  subterrâneos  de  reserva)  ou  plantas  lenhosas  com   crescimento   secundário;   folhas   por   norma   densamente   agrupadas   na   base   das   plantas,   ou   na  extremidade   de   um   caule   curto   e   volumoso,   na   axila   das   quais   eventualmente   se   insere   uma  inflorescência  longamente  pedunculada;  tépalas  não  maculadas;  nectários  septais  (localizados  na  parede  externa   do   pistilo   ao   longo   da   sutura   carpelar);   epiderme   externa   da   testa   das   sementes   obliterada  (células   colapsadas)   ou   se   com   estrutura   celular   com   fitomelano   (cobertura   negra   com   a   textura   do  papel);  endosperma  abundante.  

Dioscoreales

XVII. Dioscoreaceae  

Fisionomia.  Trepadeiras  rizomatosas,  normalmente  dioicas.  

Folha.   Folhas   alternas,   sem   bainha,   simples,   palminérveas.   Nervuras   primárias   curvas   e   convergentes   em  direção  ao  ápice.  

Flor.  Flores  normalmente  unissexuais  e  homoclamídeas.  6  tépalas.  Gineceu  ínfero  de  3  carpelos;  2  primórdios  seminais  por  carpelo.  

Fruto.  Fruto  normalmente  triangular  e  com  três  asas.  

Distribuição   e   diversidade.   Fam.   de   média   dimensão   (ca.   870   sp.).   Pantropical   com   algumas   espécies  temperadas.  2  sp.  indígenas  de  Portugal:  Tamus  communis  (Lu)  e  T.  edulis  (Ma).  

Botânica   económica.   6   espécies   de   Dioscorea,   um   género   com   mais   de   600   espécies   genericamente  designadas  por  inhames,  são  cultivadas  nos  trópicos  pelos  seus  tubérculos,  aéreos  e  subterrâneos,  amiláceos.  As  espécies   mais   cultivadas   no   Brasil   e   em   Angola   são   a  D.   alata   «cará   ou   inhame-­‐da-­‐costa»,   a   D.   cayennensis  «inhame-­‐de-­‐são-­‐tomé»  e  a  D.  bulbifera  «inhame-­‐de-­‐angola».  

Liliales

XVIII. Smilacaceae  

Fisionomia.  Trepadeiras  dioicas  de  caules  volúveis.  

Folha.  Folhas  alternas  disticadas,  sem  bainha,  simples,  com  um  par  de  estípulas  na  base  de  um  longo  pecíolo,  transformadas  em  gavinhas  em  Smilax.  Nervação  palmada;  nervuras  primárias  curvas  e  convergentes  em  direção  ao  ápice.  

Flor.  Flores  pequenas,  pouco  vistosas,  unissexuais  (em  plantas  distintas),  homoclamídeas  e  actinomórficas.  6  tépalas.  6  estames.  Ovário  súpero  de  3  carpelos.  

Fruto.  Fruto  carnudo  e  colorido  do  tipo  baga.  

Distribuição   e   diversidade.   Fam.   de   média   dimensão   (um   género   com   ca.   300   sp.).   Cosmopolita.   3   sp.  indígenas  de  Portugal:  Smilax  aspera   (Lu  e  Ma),  S.  canariensis   (endemismo  canarino  e  madeirense)  e  S.  azorica  (Az).  

XIX. Liliaceae  

Fisionomia.  Herbáceas  frequentemente  bulbosas.  

Folha.  Folhas  simples,  alternas,  verticiladas  ou  todas  basais,  paralelinérveas.  

Inflorescência.  Terminal,  frequentemente  determinada  (=  cimosa),  por  vezes  solitária.  

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Flor.   Flores   conspícuas,   homoclamídeas,   trímeras,  actinomórficas   e   hermafroditas.   6   tépalas   petaloideas,  geralmente   adornada   com   manchas   e   linhas.   Ovário   súpero   de  placentação   axilar.   Primórdios   seminais   numerosos.   Néctar  produzido   na   base   dos   filetes.   Polinização   entomófila;  recompensa  de  pólen  ou  néctar.  

Fruto.  Cápsula  loculicida  ou  baga.  

Observações  taxonómicas.  Nas  Floras  de  referência  o  conceito  de  Liliaceae  inclui  taxa  hoje  dispersos,  entre  outras,  pelas  famílias  Colchicaceae   e   Smilacaceae   da   ordem   dos   Liliales,   e   Ruscaceae,  Asparagaceae,   Alliaceae,   Hyacinthaceae   e   Asphodelaceae   da  ordem  dos  Asparagales.  

Distribuição   e   diversidade.   Ca.   15   gén.   e   500   esp.  Cosmopolita,   mais   abundante   nas   regiões   subtropicais   e  temperadas.  

Botânica   económica.   Algumas   espécies   de   interesse  ornamental  nos  géneros  Fritillaria,  Tulipa  e  Lilium.  

Asparagales

XX. Orchidaceae  

Fisionomia.   Plantas   herbáceas   hemicriptofíticas   ou   epífitas  (trepadeiras   em  Vanilla),   micorrízicas,   raramente   saprófitas   sem  clorofila   (e.g.   Neottia   nidus-­‐avis).   As   espécies   de   climas  temperados   e   mediterrânicos   são   terrestres:   todos   os   anos,   na  Primavera,  renovam  a  parte  área  a  partir  de  raízes  tuberosas;  no  final   da   estação   de   crescimento   entram   em   dormência.   As  espécies  tropicais  são,  maioritariamente,  epífitas  e  possuem  uma  parte  aérea  perene;  os   caules   surgem  engrossados  nos  entrenós  (pseudobolbos)   e   as   raízes   aéreas  desenvolvem  um  velame  para  maximizar  a  captura  de  água  e  de  nutrientes.  

Relações   simbióticas.  As  espécies   sem  clorofila,   e,  de  acordo  com   alguns   autores,   em   maior   ou   menor   grau   as   restantes  orquídeas   terrestres   clorofiladas,   são  mico-­‐heterotróficas.   Neste  tipo   de   relação   planta-­‐fungo,   a   orquídea   recebe   nutrientes  provenientes  da  decomposição  da  matéria  orgânica  efetuada  pelo  fungo   e   nutrientes   retirados   por   este   de   outras   plantas   com   as  quais   estabelece   simbioses   radiculares.   Não   está   clara   qual   a  contribuição   da   planta   para   o   fungo,   se   é   que   existe   alguma.  Aparentemente,   as   orquídeas   ditas   saprófitas   parasitam   os   fungos   que   as   alimentam.   A   germinação   das  sementes   das   orquídeas   depende,   em   absoluto,   da   presença   de   fungos   micorrízicos   porque   não   dispõem   de  tecidos  de  reserva.  

Folha.   Inteiras,   espessas,   simples,   alternas,   espiraladas   ou   disticadas,   de   base   embainhante   e   nervação  paralelinérvea;  por  vezes  muito  reduzidas.  

Inflorescência.  Inflorescências  indefinidas  tipo  espiga,  cacho  ou  panícula;  por  vezes  flores  solitárias.  

Flor.  Flores  muito  complexas  e  conspícuas.  Trímeras,  zigomórficas  ou  assimétricas,  e  hermafroditas.  Perigónio  petaloideo  com  2  verticilos  de  3  tépalas.  A  maior  parte  dos  autores,  porém,  designa  as  peças  do  verticilo  inferior  

A)  

B)  

Figura  15.  Liliaceae.  A)  N.b.  flores  homoclamídeas;  dois  verticilos  de  3  estames;  ovário  súpero  tricarpelar;  fruto  uma  cápsula.  

B)  Tulipa  australis,  uma  belíssima  flor  indígena  de  Lu  (Bragança)  .  

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por   sépalas  e   as  do   superior  por  pétalas.  3   sépalas   semelhantes  entre   si:   1   sépala  dorsal   (=sépala   central)   e  2  laterais.  Pétala  superior   (por   rotação  do  ovário  aparentemente   inferior)  do  verticilo   interno   transformada  num  labelo,  frequentemente  prolongado  na  base  num  esporão;  as  2  pétalas  restantes  (pétalas   laterais)  semelhantes  ou  não  às  sépalas.  1  estame  (raramente  2  ou  3  em  espécies  não   ibéricas);  pólen  normalmente  agrupado  em  2  polinídias,   cada   uma   com   uma  massa   de   pólen,   geralmente,   suportada   por   um   pequeno   pé,   com   uma  massa  viscosa  na  base   (o   retináculo  ou   viscídio)  oculto  numa  pequena  bolsa   (bursícula).   Filete  das   anteras,   estilete  e  estigmas  soldados  numa  coluna  (ginostemo)  localizada  no  centro  da  flor,  onde  se  distingue  uma  antera  reduzida  a  2  polinídias,  o  rostelo  (nem  sempre  evidente)  e  uma  superfície  estigmática.  O  rostelo  corresponde  a  um  dos  3  estigmas,   tem   geralmente   a   forma   de   bico   e   separa   o   estame   da   superfície   estigmática,   prevenindo   a  autopolinização.  Ovário   tricarpelar,   sincárpico,   resupinado   (torcido   com  uma   rotação  de  180°),   de  placentação  parietal  e  primórdios  seminais  numerosos.  Néctar,  se  presente,  produzido  num  esporão  ou  em  nectários  septais.  Polinização  entomófila  especializada  efetuada  por  um  elevado  número  de  espécies  generalistas  ou  especializadas  (dípteros  ou  himenópteros)  tendo  como  recompensa  pólen  ou  néctar.  Cerca  de  1/3  das  espécies  apresentam  um  mecanismo  evoluído  de  polinização  por  engano  sexual  com  pseudocópula.  No  género  Ophrys,  entre  outros,  estão  descritos  mecanismos  de  autopolinização  caso  a  polinização  entomófila  não  se  verifique.  

 

Fruto  e  semente.  Uma  cápsula.  Sementes  numerosas,  muito  pequenas  e  reduzidas  a  um  embrião  minúsculo  e  um   tegumento   (sem   tecidos   de   reserva).   Germinação   das   sementes   dependente   da   presença   de   fungos  micorrízicos.  Dispersão  anemocórica.  

Distribuição  e  diversidade.  Possivelmente  a  maior   família  de  plantas  com  flor   (ca.  18.500  sp.).  Cosmopolita  particularmente  diversa  nos  trópicos.  As  espécies  portuguesas  são  todas  terrestres  e  particularmente  frequentes  em  afloramentos  calcários  com  um  coberto  vegetal  herbáceo.  

A)  B)  

Figura  16.  Orchidaceae.  A)  Morfologia  da  flor  de  Ophrys  apifera  .  N.b.  3  tépalas  externas  (na  figura  designadas  por  sépalas)  e  outras  3  internas,  uma  delas  transformada  num  labelo;  ginostemo  onde  se  reconhece  duas  polinídias.  B)  

Flor  e  outras  estruturas.  N.b.  duas  raízes  tuberosas;  polinídias  com  um  retináculo  na  base;  cápsula  já  aberta,  deiscente  por  3  valvas.  

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Botânica  económica.  Inúmeras  plantas  ornamentais  (e.g.  Cymbidium,  Cattleya,  Dendrobium,  Paphiopedilum,  Phalaenopsis  e  Oncidium),  entre  as  quais  se  contam  vários  híbridos  interespecíficos  e  intergenéricos.  Da  Vanilla  planifolia  «baunilha»  extrai-­‐se  uma  importante  essência  de  uso  alimentar.  

XXI. Xanthorrhoeaceae  

Descrição  referente  à  subfamília  Asphodeloideae,  das  três  subfamílias  de  Xanthorrhoeaceae  a  única  presente  em  Portugal.  

Fisionomia.  Herbáceas,  arbustos  ou  árvores  rizomatosas,  frequentemente  com  raízes  engrossadas  (tuberosas)  e  com  rosetas  de  folhas  basais  ou  na  extremidade  dos  ramos.  

Folha.  Folhas  alternas,  espiraladas  ou  num  único  plano  (dísticas),  com  bainha,  sésseis,  por  vezes  carnudas  e  com  uma  zona  central  gelatinosa  (em  espécies  não  europeias,  e.g.  Aloe),  não  fibrosas,  paralelinérveas.    

Inflorescência.  Inflorescências  terminais.  

Flor.  Flores  homoclamídeas  e  actinomórficas.  6  tépalas  de  cor  uniforme.  Ovário  súpero  de  3  carpelos.    

Fruto.  Fruto  seco  (cápsula  loculicida).  Sementes  com  uma  cobertura  parcial,  seca,  ±  colorida  (arilo).  

Observações  taxonómicas.  Inclui  Asphodelaceae,  família  que  o  APG  II  aceitava  como  autónoma.  

Distribuição   e   diversidade.   Fam.   de   média   dimensão   (ca.   785   sp.).   Dispersa   pelas   áreas   temperadas   e  tropicais  do  Velho  Mundo.  1  gén.  indígena  de  Portugal:  Asphodelus.  O  género  Aloe  tem  um  centro  de  diversidade  nos  planaltos  angolanos.  

Botânica   económica.   Várias   espécies   com   interesse   ornamental   (e.g.   Aloe   arborescens),   cosmético   ou  medicinal  (e.g.  Aloe  vera).  

XXII. Amaryllidaceae  

Fisionomia.  Plantas  herbáceas,  rizomatosas  (Agapanthoideae)  ou  bulbosas   (Amaryllidoideae  ou  Allioideae),  as  Lillioideae   com  o  forte   odor   a   alho.   Raízes   contrácteis   nas   Amaryllidoideae   e   nas  Allioideae.  

Folha.   Folhas   carnudas,   basais,   alternas,   lineares   (alargadas  por   exemplo   em   Allium   ursinum   e   A.   victoriale),   por   vezes  tubulosas  (em  alguns  Allium),  paralelinérveas.  

Inflorescência.   Escaposas,   cimosas   embora   contraídas   numa  inflorescência   umbeliforme,   geralmente   com   duas   espatas  escariosas.  

Flor.   Flores   homoclamídeas,   actinomórficas   a   ligeiramente  zigomórficas,   e   hermafroditas.   6   tépalas  petaloideas  organizadas  em  2  verticilos,  livres  ou  concrescentes  na  base,  sem  manchas.  Em  Narcissus   e  outras  Amaryllidoideae  o   tubo  da  corola  prolonga-­‐se  numa  coroa.  Estames  geralmente  6,  livres  ou  soldados  na  base,  por  vezes   epipétalos;   presença   frequente   de   apêndices   nos   filetes   em   Allium.   Ovário   súpero   (Agapanthoideae   e  Allioideae)  ou  ínfero  (Amaryllidoideae),  tricarpelar  e  trilocular.  Nectários  septais.  Polinização  entomófila.  

Fruto.  Geralmente  uma  cápsula.  Dispersão  anemocórica.  

Observações   taxonómicas.   O   APG   III   alargou   substancialmente   o   conceito   original   Amaryllidaceae,  agregando-­‐lhe  Alliaceae  e  Agapanthaceae.  Estes  taxa  são  tratados  nível  infrafamiliar:  Amaryllidoideae,  Allioideae  e  Agapanthoideae.  Muitos  autores  ainda  incluem  todos  estes  grupos  na  fam.  Liliaceae.  

Distribuição  e  diversidade.  Fam.  de  média  dimensão  (ca.  1600  sp.,  mais  de  500  no  gén.  Allium).    

 

Figura  17.  Amaryllidaceae  Allioideae.  N.b.  apêndices  na  base  dos  estames  e  ovário  súpero.  

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Botânica  económica.  Várias  espécies  de  interesse  alimentar;  e.g.  Allium  sativum  «alho»,  A.  cepa  «cebola»,  A.  porrum  «alho-­‐francês,  allho-­‐porro»  e  A.  schoenoprasum  «cebolinho».  Muitas  espécies  de  interesse  ornamental;  e.g.  Agapanthus  umbellatus  «agapanto»,  Narcissus  sp.pl.  «junquilhos»  e  Amaryllis  belladonna  «amarílis».  

XXIII. Agavaceae  

Fisionomia.   Plantas   perenes,   lenhosas   com   grandes   rosetas   de   folhas   basais   (rentes   ao   solo)   ou   na  extremidade   dos   ramos.   Muitas   espécies   produzem   uma   única   vez   flores   e   frutos   morrendo   em   seguida  (monocarpia).  

Folha.  Folhas  grandes,  alternas  e  dispostas  em  espiral,  inteiras,  com  bainha,  sésseis,  carnudas,  fibrosas,  com  um  espinho  lenhoso  na  ponta  (espinescentes)  e  paralelinérveas  de  nervuras  nem  sempre  evidentes.    

Inflorescência.  Inflorescências  grandes  que  nascem  do  centro  das  rosetas  de  folhas.  

Flor.  Flores  homoclamídeas  e  actinomórficas.  6  tépalas  grandes  e  de  cor  uniforme.  Ovário  súpero  ou  ínfero  de  3  carpelos.    

Fruto.  Fruto  seco  (cápsula).  Sementes  negras  e  brilhantes.  

Observações  taxonómicas.  Fam.  de  circunscrição  conflituosa.  O  APG  III  (Angiosperm Phylogeny Group, 2009)  inclui   nesta   família   de   vários   géneros   paleotropicais   e   holárticos   aglomerados   nas   Liliaceae   pelas   Floras  tradicionais   (e.g.   gén.  Anthericum,   representado   em   Lu   pelo  A.   liliago).   Chase  et   al.   (Chase, Reveal, & Fay, A subfamilial classification for the expanded asparagalean families Amaryllidaceae, Asparagaceae and Xanthorrhoeaceae, 2009)  propõem  a  sua  integração  nas  Asparagaceae  (vd.  Asparagaceae).  

Distribuição   e   diversidade.   Fam.   de   média   dimensão   (ca.   600   sp.).   Particularmente   abundante   no   Novo  Mundo.  Várias  espécies  naturalizadas  nas  áreas  mais  secas  e  quentes  de  Lu,  Ma  e  Ilha  de  Stª  Maria  (Az).  

Botânica  económica.  Diversas  Yucca  e  Agave   têm  interesse  ornamental;  da  Agave  sisalana  extrai-­‐se  o  sisal;  de  outras  espécies  do  mesmo  género   fazem-­‐se  o  pulque,  o  mescal   e   a   tequila  mexicanos.  A  Agave  americana  além  de  ornamental  é  uma  importante  invasora  nas  áreas  mais  secas  e  quentes  do  país.  

XXIV. Asparagaceae  

Fisionomia.  Arbustos  ou  trepadeiras  rizomatosas  e  espinhosas.  

Folha.  Folhas  reduzidas  a  pequenas  escamas,  por  vezes  com  um  espinho  rígido  na  base  (em  Asparagus  albus).  Da   axila   das   folhas   escamiformes   emergem   ramos   curtos   (filocládios),   solitários   ou   agrupados   em   feixes,  espinhosos  em  muitas  das  espécies.  

Flor.  Flores   pequenas,   homoclamídeas,   actinomórficas,   esbranquiçadas,   solitárias   ou   agrupadas   na   axila   de  folhas.  2  verticilos  de  3  tépalas.  

Fruto.  Fruto  carnudo  (baga),  negro  ou  vermelho.  Sementes  negras.  

Observações   taxonómicas.   A   descrição   apresentada   refere-­‐se   às   Asparagaceae   s.str.   Chase   et   al.   (Chase, Reveal, & Fay, A subfamilial classification for the expanded asparagalean families Amaryllidaceae, Asparagaceae and Xanthorrhoeaceae, 2009)  propõem  um  alargamento  significativo  do  conceito  de  Asparagaceae,  ao  admitirem  nesta   família   7   subfamílias   tradicionalmente   tratadas   a   nível   familiar.   Entre   estas   estão   presentes   em   Lu,   na  condição  de  cultivadas,  indígenas  ou  naturalizadas:  Agavoideae  (=Agavaceae;,  vd.  Agavaceae),  Aphyllanthoideae  (=Aphyllanthaceae;  uma  espécie  indígena,  a  Aphyllanthes  monspeliensis),  Asparagoideae  (=Asparagaceae  s.str.),  Lomandroideae   (=Laxmanniaceae;   são  cultivadas  com  frequência  duas  Cordyline),  Nolinoideae   (=Ruscaceae;  vd.  Ruscaceae)  e  Scilloideae  (=Hyacinthaceae;  várias  espécies  indígenas  de  Hyacinthoides  e  Scilla).  Assim  entendida  a  família  Asparagaceae  é  impossível  de  caracterizar  morfologicamente  (Stevens, 2001+).  

Distribuição   e   diversidade.   Fam.   de   pequena   dimensão   (ca.   200   sp.).   Diversidade   máxima   nas   áreas  mediterrânicas  ou  tropicais,  pouco  chuvosas,  da  Europa,  África  e  Austrália.  3  sp.  indígenas  de  Lu  e  outras  3  da  Ma  e  das  Selvagens,  todas  pertencentes  ao  género  Asparagus.  

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Botânica   económica.   Vários   Asparagus   têm   interesse   ornamental.   Os   turiões   (rebentos   tenros   do   ano  emitidos  a  partir  de  um  rizoma  horizontal)  das  espécies  indígenas  de  Asparagus  «espargos-­‐bravos»  são  colhidos  e  consumidos  da  mesma  forma  que  os  espargos  cultivados  (A.  officinalis).  

XXV. Ruscaceae  

Fisionomia.   Herbáceas,   arbustos,  trepadeiras  ou  árvores.  

Folha.   Folhas   com   bainha,   normalmente  sésseis,   paralelinérveas.   Nos   géneros   Ruscus   e  Semele   folhas   reduzidas   a   pequenas   escamas  inseridas   no   centro   de   caules   espalmados   em  forma  de  folha  (filocládios),  na  axila  das  quais  de  se  desenvolvem  as  flores.  

Flor.   Flores   pequenas,   diploclamídeas   ou  homoclamídeas.   6   tépalas   petaloideas.   6  estames.   Ovário   súpero,   de   3   carpelos,   com  nectários  na  base.  

Fruto.   Fruto   carnudo   (baga)   geralmente  vermelho.  Sementes  não  negras.  

Observações  taxonómicas.  A  segregação  das  Ruscaceae   das   Liliaceae   é   relativamente  recente.   A   taxonomia   deste   grupo   de  monocotiledóneas   não   é   ainda   consensual;   e.g.   as   Dracaena   são   colocadas   por   alguns   autores   numa   família  autónoma   (Dracaenaceae).   Chase   et   al.   (Chase, Reveal, & Fay, A subfamilial classification for the expanded asparagalean families Amaryllidaceae, Asparagaceae and Xanthorrhoeaceae, 2009)  propõem  a  sua  integração  nas  Asparagaceae  (vd.  Asparagaceae).    

Distribuição  e  diversidade.  Fam.  de  média  dimensão  (ca.  475  sp.).  Dispersa  pelo  hemisfério  norte  e  norte  da  Austrália.  4  géneros  indígenas  de  Portugal,  3  dos  quais  lenhosos,  com  um  total  de  4  sp.:  Ruscus  aculeatus  (Lu),  R.  streptophyllus  (Ma),  Semele  androgyna  (Ma)  e  Dracaena  draco  (o  dragoeiro  dos  Az  e  Ma).  

Botânica  económica.  Algumas  espécies  de  interesse  ornamental,  e.g.  Ruscus  hypophyllus.  

2.2.2.3.3. Monocotiledóneas  commelinídeas  Morfologia.  Morfologia  muito  variável.  Endosperma  amiláceo.  

Observações  taxonómicas.  Grupo  monofilético.  Ordens  mais  relevantes,  todas  elas  monofiléticas:  

Ord.   Arecales   –   árvores   ou   arbustos,   folhas   completas,   normalmente   organizadas   numa   coroa   na  extremidade  de  um  espique;  uma  família  (Arecaceae);  

Ord.  Poales  –  plantas  geralmente  graminoides;  flores  nuas  ou  inconspícuas,  com  brácteas  desenvolvidas  e  polinização  anemófila;  ausência  de  nectários  septais;  presença  de  corpos  silícios  na  epiderme.  A  família  Bromeliaceae   situa-­‐se  na  base  da  árvore   filogenética  dos  Poales  e,  por   isso,  não  partilha  muitos  destes  caracteres;  

Ord.  Commelinales  –  cimeiras  helicoides  com  numerosas  flores  vistosas  de  pequena  a  média  dimensão;  não  representada  com  espécies  indígenas  em  Portugal;  

Ord.   Zingiberales   –   plantas   herbáceas   rizomatosas   de   grandes   dimensões;   folhas   diferenciadas   em  pecíolo   e   limbo,   de   nervação   peninérvea;   limbo   enrolado   num   tubo   no   interior   dos   gomos;   flores  

A)  B)  

Figura  18.  Ruscaceae.  A)  Um  dos  3  indivíduos  indígenas  de  Dracaena  draco  da  Ilha  da  Madeira.  B)  Ruscus  aculeatus.  N.b.  

filocládios  e  fruto  carnudo  tipo  baga  .  

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zigomórficas   ou   assimétricas,   bracteadas;   gineceu   ínfero;   sementes   com   arilo   e   perisperma;   não  representada  com  espécies  indígenas  em  Portugal.  

Arecales

XXVI. Arecaceae  (=  Palmae)  

Fisionomia.   Árvores   ou   arbustos,   genericamente   designados   por   palmeiras.   Caules   (espique)   raramente  ramificados,  revestidos  com  a  base  embainhante  das  folhas  (por  vezes  reduzida  a  fibras)  ou  lisos  com  cicatrizes  evidentes  (superfícies  onde  se  inseriam  as  folhas).  

Folha.  Folhas  perenes,  grandes,   completas   (com  bainha,  pecíolo  e   limbo),  alternas  em  espiral,   reunidas  em  roseta   na   extremidade   do   espique,   peninérveas   ou   palminérveas,   simples,   inteiras   que   rápido   se   rompem  em  folhas  sectas,  com  segmentos  plicados  e  algo  articulados  na  base  (folhas  pseudocompostas).  

Inflorescência.   Inflorescências  de  grande  dimensão,  axilares  ou  terminais,  envolvidas,  pelo  menos  de   início,  por  uma  grande  bráctea  (espata).  

Flor.   Flores   muito   pequenas,   trímeras,   heteroclamídeas,   actinomórficas,   concrescentes   ou   livres,   sésseis,  unissexuais  ou  hermafroditas.  Estames  3-­‐6-­‐∞.  Ovário  súpero  de  3  carpelos.  Polinização  por  insectos;  néctar  como  recompensa.  

Fruto.  Fruto  carnudo   tipo  drupa,   raramente  uma  baga,  por  vezes  de  grande   tamanho   (e.g.  Cocus  nucifera).  Tecidos  do  mesocarpo  fibrosos  (e.g.  Cocus  nucifera)  ou  carnudos  e  ricos  em  óleos  (Elaeis  guineensis  «palmeira-­‐dendém»)   ou   açúcares   (e.g.  Phoenix  dactylifera).   Endosperma   sólido,   carnudo   ou   líquido   e   oleoso   (e.g.   Cocus  nucifera).  Dispersos  por  mamíferos,  aves  ou  pela  água  do  mar  (e.g.  Cocos  nucifera).  

Observações  taxonómicas.  As  palmeiras  são  difíceis  de  identificar  e  têm  uma  taxonomia  complexa  ao  nível  da  espécie.  A  identificação  das  palmeiras  inicia-­‐se  com  a  observação  da  forma  do  tronco,  da  nervação  das  folhas  e  da  presença  ou  não  de  capitel.  Cinco   tipos  de   tronco:   troncos   solitários   (e.g.  Trachycarpus   fortunei);  palmeiras  cespitosas,   de   troncos   agrupados   com   origem   em   poulas   de   toiça   ou   radiculares   (e.g.   Phoenix   dactylifera);  troncos   ramificados,   de   forma   dicotómica   na   parte   aérea   (e.g.   género   Hyphaene);   palmeiras   de   troncos   de  ramificação   subterrânea   (e.g.  Nypa   fruticans);   palmeiras   trepadeiras,   a  mais   conhecidas   pertencentes   ao   gén.  Calamus   «palmeiras-­‐rattan».   As   folhas   podem   ser:   inteiras   (várias   Chamaedorea),   penaticompostas   (e.g.  Phoenix),   palmaticompostas   (e.g.   Chamaerops   humilis)   ou   2-­‐penaticompostas   (e.g.   Caryota).   O   capitel   é   um  pseudocaule  constituído  por  bainhas   justapostas  de   folhas,   com  a   função  de  proteger  meristema  caulinar   (e.g.  Roystonea  regia).  

A)    B)  

Figura  19.  Arecaceae.  A)  Semente  de  Lodoicea  maldivica  (Kew  Gardens,  Reino  Unido).  B)  plantas  de  Chamaerops  humilis  (Algarve)  .  

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Distribuição   e   diversidade.  Fam.   grande   (ca.   2.500  sp.)  de  taxonomia  complexa  ao  nível  da  espécie.  Muito  diversa  nas  zonas  tropicais,  sobretudo  no  Novo  Mundo.  2   sp.   indígenas   da   Europa,   uma   das   quais   em   Lu  (Chamaerops  humilis)  e  outra  da  Ilha  de  Creta  (Phoenix  theophrasti).  

Botânica   económica.   Inúmeras   espécies,  geralmente   tropicais,   com   interesse   económico:  ornamental,  e.g.  Chamaerops  humilis,  Roystonea  regia,  Washingtonia   filifera,   W.   robusta,   Trachycarpus  fortunei,  Phoenix  canariensis;  medicinal;  alimentar,  e.g.  Phoenix   dactylifera   «tamareira»,   Cocus   nucifera  «coqueiro»,   Euterpe   oleracea   «açaizeiro»,   Elaeis  guineensis   «palmeira-­‐dendém»,   Orbignya   phalerata  «babaçu»;   na   produção   de   ceras,   e.g.   Copernicia  prunifera  «carnaúba»;  e  fibras  Raphia  farinifera  «ráfia».  A   Lodoicea   maldivica   «coco-­‐do-­‐mar»   produz   a   maior  semente  do  mundo.  

Poales

XXVII. Bromeliaceae  

Folha.  Folhas  com  acúleos  na  margem  organizadas  em  rosetas  basais.  

Flor.  Flores  com  cálice  e  corola,  polinizadas  por  insectos  ou  aves.  Nectários  septais  presentes.  

Botânica  económica.  Ananas  commosum  «ananás».  

XXVIII. Juncaceae  

Fisionomia.  Herbáceas  frequentemente  rizomatosas  de  caules  arredondados  e  sólidos.  

Folha.   Folhas   basais,   com   bainhas   e   limbo   ou   reduzidas   a   uma   bainha;   sem   lígula,   bainhas   abertas;   limbo  linear,  plano  ou  cilíndrico.  

Inflorescência.  Compostas  ramificadas.  

Flor.   Inconspícuas,  homoclamídeas,   trímeras,  normalmente  actinomórficas  e  hermafroditas.  6   tépalas   livres  de  cores  mortiças.  Ovário  súpero  de  3  carpelos.  Primórdios  seminais  numerosos  de  placentação  axilar  ou  parietal.  Polinização  anemófila.  

Fruto.  Cápsula  loculicida.  

Fruto.  Aquénio,  constituindo  um  utrículo  se  envolvido  por  uma  bractéola  (Carex).  

Distribuição  e  diversidade.  Fam.  de  grande  dimensão  (104  gén.  e  4500  sp.).  Cosmopolita,  frequente  em  áreas  húmidas.  

Botânica  económica.  Dos  caules  do  Cyperus  papyrus  «papiro»  faz-­‐se  o  papiro.  O  C.  esculentus  «junça»  é  uma  das  infestantes  que  mais  estragos  causa  à  escala  mundial.  

Distribuição  e  diversidade.  Família  média  (6  gén.  e  ca.  de  400  sp.).  Cosmopolita,  frequente  em  áreas  húmidas.  Representada  em  Lu  pelos  gén.  Juncus  «juncos»  e  Luzula.  

 

Figura  20.  Arecaceae.  Chamaerops  humilis.  N.b.  espata  a  envolver  a  inflorescência;  flores  unissexuais  de  estrutura  muito  simples;  a  Ch.  humilis  é  a  única  

palmeira  indígena  de  Portugal.  

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Botânica  económica.  Infestantes  em  pastagens  húmidas.  As  folhas  de  Juncus  são  popularmente  usadas  como  atilhos  para  sacos  ou  na  empa  da  videira.  

 

A)  B)  

Figura  21.  Juncaceae.  A)  N.b.  flores  de  estrutura  muito  simples  com  2  verticilos  de  3  tépalas  livres,  6  estames  e  ovário  súpero  tricarpelar  sincárpico  de  placentação  axilar  (comparar  gravuras  de  flores  com  diagramas  florais).  B)  Juncus  effusus  

(Trás-­‐os-­‐Montes)  

A) B)  

Figura  22.  Cyperaceae.  A)  N.b.  inflorescências  ♀  (as  3  inflorescências  da  base)  e  ♂  (as  3  inflorescências  do  topo)  (canto  superior  esquerdo);  rizomas  (canto  inferior  esquerdo);  flor  hermafrodita  com  3  estames  e  ovário  com  3  estigmas  na  axila  de  uma  bráctea  (canto  inferior  direito);  flores  unissexuais  (canto  superior  direito).  B)  Carex  elata  na  margem  de  um  rio  de  

águas  bravas  (Bragança)  

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XXIX. Cyperaceae  

Fisionomia.  Herbáceas,   geralmente   rizomatosas   e/ou   estolhosas,   adaptadas   a   habitats   húmidos.   Caules   de  secção  transversal  triangular  (cilíndricos  em  Eleocharis  e  Scirpoides),  sólidos  e  sem  nós  evidente.  

Folha.  Folhas  basais,  alternas,  inteiras,  em  3  fiadas  quando  observadas  de  topo  (3  ortósticos),  bainha  fechada,  limbo   linear   (folhas   reduzidas   às   bainhas   em   Eleocharis),   paralelinérveas,   de   secção   plana   ou   em   “M”   e   sem  lígula.  

Inflorescência.  Compostas   de   espiguetas.   Espiguetas  muito   variáveis   quanto   ao   número   e   sexualidade   das  flores,  axiladas  por  uma  bráctea.  

Flor.   Inconspícuas,   nuas   ou   com   tépalas   reduzidas   a   escamas   ou   pelos   (flores   aclamídeas),   unissexuais   ou  hermafroditas,  axiladas  por  uma  bráctea  (gluma);  em  Carex  as  flores  ♀  são  envolvidas  numa  bractéola  fechadas  com  um  pequeno  orifício  por  onde  emergem  os  estigmas.  Flores  ♀  com  3  estames.  Flores  ♂  de  ovário  súpero,  com  2-­‐3  estigmas,  2-­‐3  carpelos  e  1  lóculo  com  1  primórdio  basal.  Polinização  anemófila.  

XXX. Poaceae  (=  Gramineae)  

Fisionomia.  Plantas  herbáceas,  anuais  ou  perenes  rizomatosas,  por  norma  cespitosas,  raramente  ±  lenhosas  ou   arborescentes   (bambus).   Sem   crescimento   secundário.   Frequentemente   com   meristemas   intercalares   nos  entrenós  basais  que  conferem,  em  muitas  espécies,  tolerância  à  herbivoria  e  ao   fogo.  Caules  de  secção  circular  (elíptica  em  Dactylis),  ocos  (e.g.  Pooideae)  ou  maciços  (e.g.  Panicoideae  e  Chloridoideae).  

Folha.  Folhas  alternas,   lineares  e  paralelinérveas.   Inserção  das  folhas  dística,  raramente  em  espiral  e   jamais  em   3   fiadas   (como   na   fam.   Cyperaceae).   Geralmente   sésseis   (com   um   pseudopecíolo   nos   bambus),   de   limbo  linear  e  bainha  conspícua,  aderente  ao  caule  e  raramente  fechada.  Na  união  entre  o  limbo  e  a  bainha  geralmente  presente  uma  lígula  membranosa  ou  reduzida  a  um  conjunto  de  pelos.  

Inflorescência.  Inflorescência  elementar  uma  espigueta  com  1-­‐muitas  flores  alternando,  no  mesmo  plano,  em  2   fiadas,   ao   longo   de   um   eixo   em   zig-­‐zag   (ráquila).   As   espiguetas   podem   ser   sésseis   ou   posicionarem-­‐se   na  extremidade   de   um   caule   filiforme,   incorrectamente   apelidado   por   pedicelo.   Em   geral,   cada   espigueta   é  delimitada  inferiormente  por  duas  glumas  –  gluma  inferior  e  gluma  superior.  Secundariamente,  pode  existir  uma  única   gluma,   e.g.  Lolium   «azevéns».  As   glumas   têm  uma  origem  bracteolar   e  uma  disposição  alterna  disticada  (uma   por   nó   e   dispostas   no   mesmo   plano).   Geralmente   são   escariosas,   i.e.   secas,   membranáceas,   um   tanto  firmes,   de   cores  mortiças   e   algo   translúcidas.   As   glumas,   e   as   restantes   peças   da   espigueta,   inserem-­‐se   num  pequeno  eixo  caulinar:  a   ráquila.  O  número  de   flores  por  espigueta  é  muito  variável,  e.g.  1  em  Agrostis,   2  em  Holcus   e   muitas   em   Bromus.   As   flores   apresentam,   também,   uma   disposição   alterna   disticada   na   espigueta.  Consequentemente,  nas  espiguetas  multifloras  a  primeira  flor  localiza-­‐se  acima  da  gluma  inferior,  a  segunda  flor  da  gluma  superior,  a  terceira  flor,  por  sua  vez,  situa-­‐se  imediatamente  acima  da  primeira  flor,  e  assim  por  diante.  Muitos  géneros  de  gramíneas   têm  1   (e.g.  Panicum)  ou  mais   (e.g.  2  em  Anthoxanthum)   flores  estéreis.  Noutros  géneros   coexistem  espiguetas   estéreis   e   férteis   (e.g.   Cynosurus),   as   primeiras   geralmente   com  uma   função   de  protecção.   Em   Setaria   e   Pennisetum   as   espiguetas   estão   rodeadas   por   pedicelos   estéreis   (sem   espiguetas)  também  com  uma  função  de  protecção.  

Nas  gramíneas  não  domesticadas  as  espiguetas  desarticulam-­‐se  acima  ou  abaixo  das  glumas  na  maturação.  Caso  as  espiguetas   se  desarticulem  acima  das  glumas,  estas  permanecem  na  planta  suspensas  na  extremidade  dos  pedicelos.  Nas  espécies  com  espiguetas  multifloras  desarticuladas  acima  das  glumas,  as  sementes  tombam  no  solo  protegidas  pelas  glumelas,  individualizadas  ou  agrupadas.  

As  espiguetas  agrupam-­‐se  em   inflorescências  de  ordem  superior  de  estrutura  muito  variada,  por  norma  de  posição  terminal,  i.e.  situadas  no  ápice  dos  colmos  (as  espigas  femininas  do  milho-­‐graúdo  são  uma  excepção).  A  panícula   de   espiguetas   (e.g.  Avena   «aveias»),   a   espiga   de   espiguetas   (e.g.  Hordeum   vulgare   «cevada»,   Secale  cereale  «centeio»,  Triticum  «trigos»  e  Zea  mays  «milho-­‐graúdo»)  e  o  cacho  de  espigas  de  espiguetas  (e.g.  várias  espécies   dos   géneros   pratenses   tropicais   Panicum   e   Brachiaria)   contam-­‐se   entre   as   sinflorescências   mais  frequentes  na  família  das  gramíneas.  As  ramificações  das  inflorescências  das  gramíneas  são  sempre  alternas.  Nas  

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panículas   de  Avena,   e   de  muitos   outros   géneros,   entrenós   longos   alternam   com  entrenós   curtos   formando-­‐se  pseudoverticilos  de  ramificações,  por  torção  dos  entrenós  por  vezes  orientadas  para  o  mesmo  lado.  Os  eixos  das  panículas,   i.e.   o   ráquis   (eixo   principal)   e   os   ramos   (eixos   secundários)   da   sinflorescência,   são,   geralmente,  filiformes.  Em  Z.  mays  as  cariopses  surgem  embebidas  num  eixo  engrossado:  o  carolo.  

Flor.  As   flores   inconspícuas,  anemófilas,  hermafroditas  ou  por  vezes  unissexuais.  Cada   flor  de  Poaceae  está  envolvida   por   duas   glumelas.   As   glumelas   são   peças   bracteolares27,   escariosas,   de   inserção   alterna   disticada,  dispostas   no   mesmo   plano   das   glumas.   Na   maior   parte   das   gramíneas   (excepto   bambus   e   Ehrhartoideae)   a  glumela  inferior  –  a  lema  –  é  maior  e  envolve  a  glumela  superior  –  a  pálea,  formando-­‐se  uma  cavidade  fechada  que  encerra  a  flor.  Na  extremidade  ou  no  dorso,  quer  das  glumas  quer  das  glumelas,  observa-­‐se  frequentemente  uma  estrutura  delgada  ou  setiforme,  mais  ou  menos  longa  e  rígida,  conhecida  por  arista  (=  pragana  ou  saruga).  A  vibração   induzida  nas  aristas  das  glumelas  pelo  vento  auxilia  o  enterramento  das   sementes.  Nas  espécies   com  aristas   geniculadas   (com   um   pequeno   “cotovelo”)   –   e.g.  Avena   «aveias»   –   as   espiguetas   ou   as   flores,   com   as  sementes   inclusas,   retidas  em  pequenas   irregularidades  dos   solos,   são  empurradas  para  o   interior  do   solo  por  movimentos  higroscópicos28  da  arista.  O  calo  da  semente  –  um  tufo  de  pelos  localizado  na  base  das  glumelas  –  funciona   de   forma   análoga   a   um   anzol   dificultando   o   arranque   da   semente   do   solo.   A   arista   poderá   ainda  precaver   a   herbivoria   (e.g.   as   aristas   dificultam   o   corte,   o   arranque   e   a   deglutição   das   plantas),   auxiliar   a  dispersão   (e.g.   sementes   suspensas  no  pelo  dos  mamíferos  –  dispersão  ectozoocórica)   e,   já  no   solo,   facilitar   a  queda  das  glumelas  e  a  germinação  da  semente.  

As  Poaceae  têm  flores  nuas:  o  perianto  está  reduzido  a  2  (com  frequência  3  nas  Bambusoideae  e  em  alguns  grupos   de   Ehrhartoideae)   escamas   muito   pequenas   (lodículas),   situadas   entre   as   glumelas   e   o   verticilo   dos  estames,  que  incham  e  forçam  a  abertura  das  espiguetas  na  ântese.  As  lodículas  correspondem,  possivelmente,  às  peças  do  verticilo  superior  de  um  perigónio  primitivo.  Acima  das  lodículas  encontram-­‐se  3  estames,  raramente  6  (e.g.  bambus  e  Oryza),  2  (e.g.  Anthoxanthum)  ou  1  (e.g.  Festuca),  com  anteras  basifixas  sagitadas.  O  ovário  de  3  carpelos  (frequentemente  parecendo  2),  sincárpico,  com  1  primórdio  seminal  e  2  estigmas  sésseis  e  plumosos.  

As   gramíneas   são   autogâmicas   (e.g.   Secale   cereale   «centeio»)   ou,   mais   frequentemente,   alogâmicas   de  polinização  estritamente  anemófila.  Nestas  espécies  o  vento  faz  vibrar  as  anteras  e  transporta  o  pólen.  Os  colmos  e  as  inflorescências  impulsionados  pelas  mesmas  forças  vibram  e  oscilam  facilitando  a  suspensão  do  pólen  no  ar  ou  a  sua  captura.  Os  indivíduos  coespecíficos  (da  mesma  espécie),  com  frequência,  florescem  subitamente  e  em  simultâneo.  Admite-­‐se  que  desta  forma  a  polinização  seja  facilitada  e  os  riscos  de  herbivoria  diminuídos.  

Fruto  e  semente.  Indeiscente,  seco  (rara  vez  carnudo),  com  um  pericarpo  intimamente  soldado  às  paredes  do  ovário,   geralmente   encerrado   por   uma   lema   e   uma   pálea   persistentes,   designado   por   cariopse.   Semente  endospérmicas  com  um  cotilédone  muito  modificado  (escutelo).  Endosperma  constituído  por  um  grande  número  de   células.   Embrião   numa   posição   lateral   com   meristemas   caulinar   e   radicular,   radícula   e   folhas   bem  diferenciadas.  

Observações   taxonómicas.   As   gramíneas   são   atualmente   divididas   em   12   subfamílias   (GPWG (Grass Phylogeny Working Group), 2001) (GPWG II (Grass Phylogeny Working Group II), 2012)  estando  representadas  em  Portugal  12  subfamílias,  indígenas  ou  naturalizadas:    

Subfam.  Bambusoideae  –  plantas  geralmente  lenhosas,  de  folhas  pseudopecioladas,  com  3  lodículas  e  mais   de   3   estames,   de   distribuição   maioritariamente   tropical   ou   subtropical   (bambus);   e.g.  Phyllostachys  aurea  «bambu-­‐do-­‐japão»  aparece  escapada  de  cultura  nas  Ilhas  e  no  NW  de  Portugal;  

Subfam.   Ehrhartoideae   –   plantas   anuais   ou   perenes,   herbáceas   a   lenhosas   na   base;   espiguetas  assimétricas  com  glumas  vestigiais  a  muito  pequenas;  estames  geralmente  mais  de  3;  grande  número  

27  A  glumela  inferior  (=  lema)  é  uma  bráctea  porque  axila  o  pequeno  eixo  onde  se  insere  a  flor.  A  glumela  superior  (=  pálea)  corresponde  à  primeira  folha  (=  profilo)  muito  modificada  desse  eixo  sendo,  por  isso,  interpretada  como  uma  bractéola  (Bell, 2008).  28  Movimentos  higroscópicos  –  movimentos  originados  por  ciclos  de  embebição  e  secagem.  

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de  espécies  aquáticas,  mais   frequente  no  hemisfério  sul;  e.g.  Oryza  sativa  «arroz-­‐asiático»  e  Zizania  aquatica  «arroz-­‐selvagem»;  

Subfam.   Arundinoideae   –   subfamília   imperfeitamente   circunscrita   muito   próxima   das   Pooideae;  plantas   C3,   perenes,   herbáceas   a   algo   lenhosas;   caules   geralmente   fistulosos;   e.g.   Arundo   donax  «cana»  e  Phragmites  communis  «caniço»;  

Subfam.   Pooideae   –   plantas   C3,   anuais   ou   perenes,   herbáceas;   caules   fistulosos;   identificáveis   no  campo   pelos   seus   nós   engrossados   e   salientes;   florescem   geralmente   antes   das   plantas   C4;  distribuição   maioritariamente   temperada   e   mediterrânica;   maioria   dos   cereais   e   das   gramíneas  indígenas  de  Portugal;  

Subfam.  Chloridoideae  –  plantas  C4,  anuais  ou  perenes,  herbáceas;  caules  sólidos  ou  fistulosos;  mais  frequentes  em  solos  secos  nas  regiões  tropicais;  e.g.  gén.  Cynodon,  Eleusine,  Eragrostis  e  Spartina;  

Subfam.   Panicoideae   –   plantas   C4,   anuais   ou   perenes,   geralmente   herbáceas   de   caules   sólidos;  espiguetas  dorsalmente  comprimidas;  mais  abundantes  nos  trópicos;  inclui  muitas  plantas  cultivadas  –   e.g.   dos   géneros  Sorghum,  Panicum   e  Zea  mays  –  e   infestantes  –   e.g.   nos   géneros  Echinochloa  e  Paspalum;  

Subfam.  Danthonioideae  –  subfamília  pouco  representada  em  Portugal;  e.g.  Danthonia  decumbens  e  Cortaderia  selloana  «cortaderia».  

Chave  dicotómica  2. Subfamílias  mais  importantes  de  Poaceae  presentes  em  Portugal  

1.  Folhas,  geralmente,  com  um  pseudopecíolo;  presença  de  células  fusiformes  (células  de  grande  dimensão  no  centro  do  mesofilo)  e  de  células  armadas  (células  lobuladas,  ing.  arm  cells)  no  mesofilo  foliar;  floração  normalmente  em  ciclos  supra-­‐anuais  (até  120  anos);  (2)3  estigmas  ............................................................................................................................................................  Bambusoideae  

-­‐  Folhas  não  pecioladas  com  ou  sem  células  fusiformes;  floração  geralmente  anual;  2  estigmas  ..................................................  2  

2.  Presença  de  células  armadas;  espiguetas  comprimidas  lateralmente  e  notoriamente  assimétricas;  glumas  vestigiais  ou  pequenas;  1  flor   fértil  acompanhada  por   (0)1-­‐2   flores  estéreis   representadas  por  uma  glumela   (fácil  de  confundir  com  uma  gluma);  pálea  bem  desenvolvida;  geralmente  mais  de  3  estames  ..........................................................................................................  Ehrhartoideae  

-­‐  Sem  células  armadas;  glumas  geralmente  evidentes;  1-­‐muitas  flores  férteis;  (1,  2)  3  estames  ...................................................  3  

3.  Caules  geralmente  sólidos;  espiguetas  panicoides,  i.e.  dorsalmente  comprimidas,  com  1  flor  fértil,  geralmente  acompanhada  por  1  flor  ♂  proximal  (na  base),  tombando  inteiras  (com  flores  e  glumas)  na  maturação;  espiguetas  frequentemente  agrupadas  aos  pares  .......................................................................................................................................................................................  Panicoideae    

-­‐  Caules   sólidos   ou   fistulosos;   espiguetas   não   ou   lateralmente   comprimidas,   frequentemente   >   1   flor   fértil,   desarticulando-­‐se   na  maturação  acima  das  glumas  (glumas  persistentes  na  inflorescência);  flores  estéreis,  se  presentes,  em  posição  distal  (acima  das  flores  férteis)    ............................................................................................................................................................................................  4  

4.  Nervuras  foliares  separadas  por  2-­‐4  células;  bainhas  células  em  torno  dos  feixes  vasculares  com  numerosos  cloroplastos  (anatomia  C4);  presença  invariável  de  pêlos  foliares  curtos  e  bicelulares;  lígulas  geralmente  reduzidas  a  pêlos  ..............................................        .........................................................................................................................................................................  Chloridoideae    

-­‐   Nervuras   foliares   separadas   por   mais   de   4   células;   bainhas   células   em   torno   dos   feixes   vasculares   com   poucos   cloroplastos  (anatomia  C3);  com  ou  sem  pêlos  foliares  curtos  e  bicelulares;  lígulas  membranosas  ou  reduzidas  a  pêlos  .................................  5  

5.   Pêlos   curtos   bicelulares   ausentes;   células   subsidiárias   (células   que   envolvem   as   células   estomáticas)   paralelas;   plantas  normalmente  com  <  1m;  lígulas  sempre  membranosas  ....................................................................................................  Pooideae    

-­‐  Pêlos  curtos  bicelulares  presentes;  células  subsidiárias  de  margem  +  arredondada;  plantas  perenes,  cespitosas,  normalmente  com  >  1m;  lígulas  membranosas  ou  reduzidas  a  pêlos    .......................................................................................................  Arundinoideae    

 

Distribuição  e  diversidade.  Fam.  enorme  (ca.  10.000  sp.  e  700  gén.),  cosmopolita.  Ca.  1/5  do  coberto  vegetal  mundial  é  dominado  por  gramíneas.  

Botânica   económica.   Família   de   enorme   importância   económica.   70%   da   superfície   agrícola   mundial   é  cultivada   com   gramíneas   e   50%   das   calorias   consumidas   pela   humanidade   provêm   de   espécies   cultivadas   de  gramíneas.  Entre  as  Poaceae  cultivadas  para  fins  alimentares  contam-­‐se:  os  trigos  –  e.g.  Triticum  aestivum  «trigo-­‐mole»,   T.   durum   «trigo-­‐duro»   e   T.   spelta   «trigo-­‐spelta»;   as   cevadas   –   Hordeum   vulgare   «cevada-­‐exástica   ou  cevada-­‐dística,  consoante  o  número  de  espiguetas  férteis  por  nó»;  as  aveias  –  e.g.  A.  sativa  «aveia»,  A.  byzantina  

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«aveião»   e   A.   strigosa   «aveira-­‐preta»;   os   sorgos   –   Sorghum   bicolor   subsp.   bicolor   (=   S.   vulgare)   «sorgo,  massambala,  milho-­‐zaburro»,  S.  bicolor  subsp.  drummondii   (=  S.   sudanense)  «erva-­‐do  sudão»  e  S.  halepense;  e  ainda   Secale   cereale   «centeio»,   Zea   mays   «milho-­‐graúdo»,   Oryza   sativa   «arroz-­‐asiático»,   Oryza   glaberrima  «arroz-­‐africano»,   Zizania  aquatica   «arroz-­‐selvagem»,   Phalaris   canariensis   «alpista»,   Eleusine   coracana   «pé-­‐de-­‐galo»,  Panicum  miliaceum  «milho-­‐miúdo»,  Setaria  italica  «milho-­‐paínço»  e  Pennisetum  glaucum  «massango-­‐liso,  quicuio».  A  Saccharum  officinarum  «cana-­‐do-­‐açúcar»  é  a  mais   importante  planta  açucareira  e  uma   importante  planta  energética.  Bebem-­‐se   infusões  de  Cymbopogon  nardus  «erva-­‐príncipe»  e   fazem-­‐se  móveis  com  diversas  espécies   de   bambus   «Bambusoideae».   O   Arundo   donax   «cana»   tem   o   mesmo   uso   e   é   importante   na  compartimentação   de   terras   agrícolas.   Inúmeras   gramíneas   têm   interesse   na   alimentação   animal   tanto   nas  regiões   temperadas   ou  mediterrânicas   (e.g.   gén.   Festuca,   Bromus,   Cynodon,   Dactylis,   etc.)   como   nas   tropicais  (e.g.  gén.  Brachiaria  e  Paspalum).  Algumas  das  infestantes  mais  graves  em  Portugal  são  gramíneas,  e.g.  Cynodon  dactylon  «grama»  e  várias  espécies  dos  gén.  Digitaria,  Echinochloa  e  Panicum.  A  Cortaderia  selloana  «erva-­‐das-­‐pampas»  é,  na  atualidade,  a  mais  perigosa  invasora  das  áreas  de  clima  oceânico  de  Portugal.  

 

Figura  23.  Estruturas  reprodutivas  das  gramíneas.  A)  Panícula,  espigueta  e  flor  de  Avena  sp.;  n.b.  na  espigueta  de  Avena  não  são  visíveis  as  páleas  porque  estão  ocultas  por  dentro  das  lemas;  n.b.  na  flor  de  Avena  foi  retirada  a  lema  

para  facilitar  a  observação  das  lodículas,  estames  e  ovário;  (adaptado  de  http://appliedweeds.coafes.umn.edu/app/herbarium/images/Hrb-­‐AVEFA-­‐014.jpg).  B)  Espigueta  (em  baixo)  e  flor  (em  

cima)  de  Avena  barbata  subsp.  lusitanica;  n.b.  pelos  abundantes  e  arista  inseridos  no  dorso  da  lema.  

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Zingiberales

XXXI. Musaceae    

Botânica  económica.  Musa  x  paradisiaca  «bananeira»  

XXXII. Cannaceae    

 Botânica  económica.  Canna  indica  «cana».  

XXXIII. Zingiberaceae  

Botânica  económica.  Zingiber  officinale  «gengibre»;  Hedychium  gardnerianum  «roca-­‐de-­‐velha».  

2.2.2.4. Eudicotiledóneas  Morfologia.  Plantas  herbáceas  a  arbóreas.  Presença  de  uma  raiz  primária  de  maior  dimensão  e  espessura  que  

as  restantes  (raiz  aprumada).  Folhas  com  ou  sem  estípulas,  raramente  com  bainha,  peninérveas  ou  palminérveas  (pontualmente  paralelinérveas,  e.g.  Plantago).  Flores  geralmente  cíclicas,  heteroclamídeas  com  verticilos  de  4  ou  5  peças.   Estames   com   filete  e  antera  bem  diferenciados.  Ovário   súpero  ou   ínfero.   Sementes  de  2   cotilédones,  frequentemente  conspícuos.  

2.2.2.4.1. ‘Eudicotiledóneas  basais’  Morfologia.  Numerosos  caracteres  primitivos,  e.g.  são  frequentes  flores  acíclicas  homoclamídeas,  trímeras  e  

de  gineceu  apocárpico.  

Observações  taxonómicas.  Grupo  parafilético.    

Ranunculales

XXXIV. Papaveraceae  

Fisionomia.  Herbáceas  anuais  ou  perenes,  mais  raramente   arbustos.   Presença   frequente   de   látex  amarelo   (e.g.  em  Chelidonium  majus),  branco  (e.g.  em  Papaver)  ou   translúcido.  Muitas  Papaveraceae  são  venenosas.  

Folha.  Alternas,  pelo  menos  na  base  dos  caules,  sem   estípulas,   de   recorte   variável,   geralmente  abraçando  o  caule  na  base  (folhas  amplexicaules).    

Flor.   Por   vezes   de   grande   tamanho,   cíclicas,  heteroclamídeas,   dialipétalas,   actinomórficas   (por  vezes   zigomórficas,   e.g.  Fumaria)   e  hermafroditas.  2   sépalas   caducas   envolvendo   a   flor   em   botão.  Geralmente   4   pétalas   enrodilhadas   nos   botões  florais.   Estames   geralmente   indefinidos   e   de  filamentos   por   vezes   petaloideos.   Carpelos   2   a  indefinidos.   Ovário   sincárpico,   súpero   e   de  placentação  parietal.  Polinização  entomófila.  

Fruto.  Uma  cápsula  (e.g.  Papaver),  um  aquénio  (e.g.   Fumaria)   ou   uma   silíqua   (e.g.   Chelidonium).  

 

Figura  24.  Papaveraceae.  N.b.  2  sépalas,  4  pétalas,  estames  indefinidos,  ovário  pluricarpelar  com  estigma  séssil.  

A   B  

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Sementes  frequentemente  dispersas  por  formigas.  

Distribuição  e  diversidade.  Fam.  de  média  dimensão  (ca.  800  sp.).  Mais  frequente  em  territórios  temperados.  

Botânica   económica.   Várias   espécies   com   interesse   ornamental   e   medicinal.   A   Eschscholzia   californica  «papoila-­‐da-­‐califórnia»  é  muito  cultivada  em   jardim  e  para  guarnecer   taludes;  está  naturalizada  um  pouco  por  todo  o  país.  A  morfina  (analgésico),  a  codeína  (medicamentos  para  a  tosse  e  dores  de  garganta)  e  a  heroína  são  produzidas  a  partir  do  látex  (depois  de  seco  designado  por  ópio)  da  Papaver  somniferum  «papoila-­‐do-­‐ópio»;  esta  espécie   é   ainda   usada   como   ornamental   e   as   suas   sementes   são   muito   apreciadas   em   pastelaria;   fácil   de  encontrar  escapa  de  cultura,  sobretudo  em  entulhos  em  zonas  urbanas  das  regiões  calcárias  do  centro  e  sul  do  país.  A  Papaver  somniferum  subsp.  setigerum  é  indígena  dos  sistemas  dunares  do  centro  e  sul.  

XXXV. Ranunculaceae  

Fisionomia.  Herbáceas,  com  menos  frequência  trepadeiras  ou  arbustos.  

Folha.  Alternas,  simples,  por  vezes  profundamente  recortadas,  peninérveas  ou  palminérveas.  

Flor.   Flores   homoclamídeas   ou   heteroclamídeas,   normalmente   actinomórficas,   com   peças   inseridas   num  receptáculo  bem  desenvolvido.  4-­‐5  ou  muitas   tépalas  ou  4-­‐5   sépalas  e  4-­‐5  pétalas.  1  nectário  na  base  da   face  interna  das  pétalas  ou  das   tépalas   internas.  Estames  numerosos.  Gineceu  súpero  com  5  a  numerosos  carpelos  livres.  Polinização  anemófila  ou  entomófila.  

Fruto.  Fruto  múltiplo  de  folículos  (eg.  Aquilegia)  ou  aquénios  (e.g.  Ranunculus).  

Distribuição  e  diversidade.  Fam.  de  média  dimensão  (mais  de  2500  sp.).  Cosmopolita,  de  grande  expressão  no  hemisfério  norte.  Ca.  45  espécies  em  Lu.  

Botânica  económica.  Várias  espécies   com   interesse  ornamental,  e.g.  gén.  Aquilegia,  Delphinium,  Consolida,  etc.  

Proteales

XXXVI. Proteaceae  

Fisionomia.  Árvores  ou  arbustos.  

Folha.   Folhas   alternas,   coriáceas,   simples   ou   penaticompostas,   inteiras   ou   profundamente   recortadas   (e.g.  Grevillea),  de  forma  muito  variável  (e.g.  aciculares  em  Hakea).  

A) B)  

Figura  25.  Ranunculaceae.  A)  N.b.  estames  indefinidos,  gineceu  apocárpico,  fruto  múltiplo  de  aquénios,  nectários  na  base  das  pétalas.  B)  Ranunculus  olyssiponensis,  n.b.  fruto  múltiplo  de  aquénios  (Bragança)  

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Flor.  Flores   grandes,   actinomórficas  ou   zigomórficas.   4   tépalas   petaloideas,   livres  ou   soldadas  num   tubo.  4  estames  opostos  às  tépalas,  soldados  a  estas  pelos  filetes,  por  vezes  apenas  a  antera  visível.  Ovário  súpero  de  1  carpelo  e  estilete,  frequentemente,  longo  e  anguloso.  

Fruto.  Fruto  seco  do  tipo  folículo,  com  menos  frequência  um  aquénio,  uma  noz  ou  um  fruto  carnudo  (drupa).  

Distribuição  e  diversidade.  Fam.  de  média  dimensão  (ca.  1.000  sp.).  Pantropical,  dois  centros  de  diversidade  na  Austrália  e  África  do  Sul.  Ausente  de  Portugal.  

Botânica  económica.  Interesse  maioritariamente  ornamental  (e.g.  Grevillea  robusta).  A  Hakea  sericea  é  uma  perigosa  invasora  em  Lu.  

XXXVII. Platanaceae  

Fisionomia.  Árvores  com  casca  destacando-­‐se  em  placas.  

Folha.  Folhas  alternas,  palminérveas,  palmatilobadas,  estípulas  encapsulando  1  gomo  axilar.  

Inflorescência.  Inflorescências  globosas  e  compactas  (capitadas).    

Flor.  Flores  unissexuais,  pequenas.  Ovário  súpero  com  1  primórdio  seminal.  

Fruto.  Frutos  secos  (aquénios)  agrupados  em  infrutescências  globosas.  

Distribuição   e   diversidade.  Fam.  muito   pequena   (10   sp.).   América   do   Norte   e   Central,   SE   da   Europa,   Ásia  Menor  e  SW  Asiático.  

Botânica   económica.   A   Platanus   orientalis   var.   acerifolia   (=   Platanus   hibrida)   é   uma   importante   árvore  ornamental,  com  madeira  de  boa  qualidade,  localizadamente  escapada  de  cultura  em  Lu  na  margem  de  rios  de  caudal  permanente.  

Buxales

XXXVIII. Buxaceae  

Fisionomia.  Pequenas  árvores  ou  arbustos  monoicos.  

Folha.  Folhas  persistentes,  simples,  normalmente  opostas.  

Flor.  Flores  pequenas,  discretas,  unissexuais,  homoclamídeas,  actinomórficas.  4-­‐6  tépalas  de  cores  mortas.  4-­‐6  ou  muitos  estames,  opostos  às  tépalas.  Ovário  súpero,  de  3  carpelos  e  3  estiletes  livres  e  salientes.  

Fruto.  Fruto  seco,  uma  cápsula  com  poucas  sementes.  

Distribuição  e  diversidade.  Fam.  pequena  (ca.  30  sp.).  Grande  área  de  distribuição,  ausente  da  Austrália  e  das  áreas  mais   frias  do  hemisfério  norte.   1   espécie   indígena  de   Lu  –  Buxus   sempervirens   «buxo»  –   restringida   aos  vales  dos  grandes  rios  de  Trás-­‐os-­‐Montes,  muito  cultivada  em  jardins  e  sebes.  

2.2.2.4.2. Eudicotiledóneas  superiores  (core  eudicots)  

Famílias  basais  de  eudicotiledóneas  superiores  Grupo  parafilético  morfologicamente  heterogéneo.  

Saxifragales

XXXIX. Altingiaceae  

Fisionomia.  Árvores  ou  arbustos  monoicos,  frequentemente  resinosos  e  aromáticos.  

Folha.   Folhas   caducas,   alternas,   simples,   com   frequência   profundamente   recortadas,   palminérveas  (Liquidambar)  ou  peninérveas;  estípulas  inseridas  na  base  do  pecíolo.  

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Inflorescência.  Flores  ♀ em  inflorescências  globosas,  as  ♂  em  cachos.  

Flor.  Flores  unissexuais  e  muito  pequenas.  Tépalas  (só  nas  flores  ♀)  e  estames  numerosos  (flores  ♂).  Ovário  semi-­‐ínfero.  

Fruto.  Fruto  seco  tipo  cápsula.  Cápsulas  agregadas  em  grande  número  numa  infrutescência  globosa.  

Distribuição  e  diversidade.  Fam.  pequena   (13  sp.).  Ásia  menor,  SW  da  Ásia  e  Américas  Central  e  do  Norte.  Ausente  de  Portugal.  

Botânica  económica.  Interesse  maioritariamente  ornamental  (Liquidambar).  

Vitales

XL. Vitaceae  

Fisionomia.   Trepadeiras.   Caules  simpodiais,   flexíveis   e   de   entre-­‐nós   longos,  geralmente,   com  uma   folha  e  uma  gavinha  ou  uma  folha  e  uma  inflorescência  por  nó.  

Folha.   Folhas   caducas,   simples   ou  compostas,   palminérveas   (raramente  peninérveas)  e  estípulas  caducas.  

Flor.   Flores   pequenas   e   actinomórficas.  4-­‐5   sépalas   muito   pequenas.   4-­‐5   pétalas,  caducas   na   floração,   aparentemente  soldadas   na   extremidade   numa   estrutura  em   forma  de   capuz  –  a   caliptra  –  em  Vitis.  4-­‐5   estames  opostos   às   pétalas.   2   carpelos  num   ovário   súpero   com   4   primórdios  seminais  (2  por  lóculo).  

Fruto.   Fruto   carnudo   (baga)   até   4  sementes.  

Distribuição  e  diversidade.  Fam.  de  média  dimensão  (ca.  850  sp.).  Cosmopolita,  escassa  na  Eurásia.  1  espécie  indígena,  ou  assilvestrada  de  longa  data,  em  Lu:  Vitis  vinifera  «videira».  

Botânica   económica.  A  Vitis   vinifera   «videira»,   que   tem   grande   importância   económica.   O   Parthenocissus  quinquefolia  e  P.  tricuspidata  são  duas  trepadeiras  ornamentais  muito  frequentes.  

Clado  das  rosidas  Morfologia.  Flores  cíclicas,  heteroclamídeas,  4-­‐5  meras,  normalmente  dialipétalas.  Androceu  frequentemente  

com  2  ou  mais  verticilos.  Gineceu  muito  variável,  geralmente  de  placentação  axilar  e  com  um  grande  número  de  primórdios  seminais.  Primórdios  seminais  bitegumentados  (2  tegumentos)  e  crassinucelados  (de  nucela  espessa).  A  capacidade  de  fixar  azoto  com  actinomicetas  do  género  Frankia  e  alfa-­‐proteobactérias  (e.g.  géneros  Rhizobium  e  Bradyrhizobium)  é  quase  exclusiva  (excepto  Gunneraceae)  das  famílias  deste  clado.  

Observações  taxonómicas.  Grupo  possivelmente  monofilético.  As  famílias  mais  adiantes  descritas  distribuem-­‐se  por  10  ordens  (Angiosperm Phylogeny Group, 2009):  Malpighiales  (fam.  Euphorbiaceae,  Linaceae,  Salicaceae,  Hypericaceae,  Passifloraceae   e  Violaceae),  Cucurbitales   (fam.  Cucurbitaceae),  Fabales   (fam.  Fabaceae),  Fagales  (fam.   Fagaceae,   Myricaceae,   Juglandaceae,   Betulaceae   e   Casuarinaceae),   Myrtales   (fam.   Lythraceae   e  Myrtaceae),   Celastrales   (fam.   Celastraceae),   Rosales   (fam.   Rosaceae,   Rhamnaceae,  Ulmaceae,   Cannabaceae   e  Moraceae),   Sapindales   (fam.  Anacardiaceae,   Sapindaceae,   Simaroubaceae,  Meliaceae   e  Rutaceae),  Brassicales  (fam.  Brassicaceae)  e  Malvales  (fam.  Thymelaeaceae,  Cistaceae  e  Malvaceae  s.l.).  

 

Figura  26.  Vitaceae.  N.b.  Pétalas  soldadas  numa  calíptra  cada  na  floração;  ovário  com  2  lóculos  e  4  primórdios  seminais.  

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Malpighiales

XLI. Linaceae  

Botânica  económica.  Das  fibras  liberianas  do  Linum   usitatissimum   obtém-­‐se   o   linho,   das  sementes   o   óleo   de   linhaça.   O   ancestral   deste  cultigen,  o  L.  bienne,  é  indígena  em  Lu.  

XLII. Euphorbiaceae  

Fisionomia.   Herbáceas,   trepadeiras,  arbustos   ou   árvores   tropicais,   ou,  monoicos   ou  dioicos,   frequentemente   produtoras   de   látex  (látex   branco   e   abundante,   por   exemplo,   em  Euphorbia).  

Folha.   Folhas   alternas   (opostas   em  Chamaesyce  e  Mercurialis  e  oposto-­‐cruzadas  em  algumas   Euphorbia),   simples,   geralmente  inteiras  (profundamente  recortadas  em  Ricinus),  peninérveas   (palminérveas  em  Ricinus),  com  ou  sem   estípulas,   com   frequência   variando   de  forma  e  tamanho  ao  longo  dos  ramos.  

Inflorescência.   Inflorescência   muito  característica   em   Chamaesyce   e   Euphorbia   –   um   ciato   –   constituída   por   1   invólucro   em   forma   de   taça,  normalmente  culminado  por  4-­‐5  glândulas  nectaríferas,  no   interior  do  qual  se  encontra  na  extremidade  de  um  pedicelo  uma  flor  ♀  nua  de  ovário  tricarpelar,  rodeada  por  5  grupos  de  flores  ♂  também  nuas  e  com  1  estame  articulado.  

Flor.   Flores   pequenas,   actinomórficas,   unissexuais,   normalmente   nuas.   Ovário   súpero,   3   carpelos   (2   em  Mercurialis),   estigma   proeminente   e   1-­‐   primórdio   seminal   por   carpelo.   Polinização   normalmente   entomófila  (anemófila  em  Ricinus)  

Fruto   e   semente.   Fruto   seco,   com   uma   forma   muito   características,   normalmente   com   3   lóbulos   e   3  sementes,   esquizocárpico   e   explosivo.   Sementes   ornamentadas   ou   não,   geralmente,   com   uma   carúncula  consumida  pelos  animais  vetores  de  dispersão  (recompensa  alimentar).  

Distribuição  e  diversidade.  Fam.  muito  grande  (ca.  7.500  sp.,  metade  das  quais  do  género  Euphorbia),  muito  diversa  nas  áreas  tropicais.  

Botânica   económica.   Do   látex   da   Hevea   brasiliense   «seringueira»   faz-­‐se   a   borracha   natural;   a   Manihot  esculenta   «mandioca»   é   a   mais   importante   fonte   de   hidratos   de   carbono   nos   trópicos;   do   Ricinus   communis  «rícino»  e  da   Jatropha  curcas  «purgueira»  extraem-­‐se  óleos  de  múltiplos  usos;  algumas  espécies  têm  interesse  ornamental  (e.g.  Euphorbia  pulcherrima,  Phyllanthus  sp.pl.).  O  látex  de  algumas  Euphorbia  indígenas  de  Portugal  é  muito  tóxico  (e.g.  E.  oxyphylla).  

XLIII. Violaceae  

Fisionomia.  Árvores  tropicais,  arbustos  ou  plantas  herbáceas.  

Folha.  Folhas  alternas,  por  vezes  numa  roseta  basal,  com  estípulas.  

Flor.   Flores   zigomórficas.   5   sépalas   livres.   5   pétalas   livres,   uma   das   quais   geralmente   com   um   esporão   na  base.  5  estames  de  filetes  curtos  e  aparentemente  soldados  pelas  anteras  em  torno  do  ovário,  com  um  conectivo  muito  alongado.  Ovário  súpero  de  3  carpelos  e  numerosos  primórdios  seminais  inseridos  nas  paredes  do  ovário  (placentação  parietal).  

 

Figura  27.  Euphorbiaceae.  N.b.  ciato  com  uma  flor  ♀  rodeada  por  flores  ♂;  ovário  com  3  lóculos  e  1  primórdio  por  lóculo;  carúncula,  i.e.  pequena  excrescência  na  extremidade  da  semente  (vd.  figura  

da  semente  de  Euphorbia  lathyris).  

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Fruto.  Fruto  seco  (cápsula  loculicida).  

Distribuição  e  diversidade.  Fam.  de  média  dimensão  (ca.  800  sp.).  Um  género  comum  a  Lu,  Az  e  Ma:  Viola.  Cosmopolita  de  óptimo  temperado.  

Botânica  económica.  Da  Viola  odorata  extrai-­‐se  a  essência  de  violeta;  a  V.  x  wittrockiana  «amor-­‐perfeito»  é  muito  frequente  em  jardins  de  mão-­‐de-­‐obra  intensiva.  

XLIV. Salicaceae  

Fisionomia.   Árvores   ou   arbustos,  geralmente  dioicos,  de  ramos  flexíveis.  

Folha.   Folhas   caducas,   alternas  (raramente   opostas,   e.g.   Salix   purpurea),  simples,   peninérveas,   dentadas,   com  estípulas  caducas  e  muito  visíveis.  

Flor.   Flores   em   amentos   ♂   ou   ♀,  pendentes   e   flexuosos   (em   Populus)   ou   ±  rígidos   e   erguidos   (em   Salix),   que   emergem  na  Primavera  antes  ou  ao  mesmo  tempo  que  as   folhas.   Todas   as   espécies   europeias   com  flores   unissexuais,   nuas,   na   axila   1   pequena  bráctea   (folha   muito   modificada)   repleta   de  pêlos.  2  a  muitos  estames  nas  flores  ♂.  Flores  ♀ de ovário  súpero  e  2  carpelos.  

Fruto.   Fruto   seco   (cápsula).   Sementes  numerosas,   revestidas   de   pêlos   compridos,  anemocóricas.  

Distribuição   e   diversidade.   Fam.   de  média  dimensão  (ca.  1.000  sp.).  Cosmopolita.  10  sp.  indígenas  ou  naturalizadas  em  Lu,  distribuídas  por  2  géneros:  Salix  «salgueiros»  e  Populus  «choupos».  

Botânica  económica.  Várias  espécies  utilizadas  como  ornamentais   (e.g.  Salix  x  spulcralis),  em  cestaria   (Salix  sp.pl.),  na  produção  de  madeira  (Populus  sp.pl.)  e  na  restauração  de  cursos  de  água  (Salix  sp.pl.).  

XLV. Passifloraceae  

Botânica  económica.  A  Passiflora  edulis  «maracujazeiro»  é  uma  trepadeira  tropical  cultivada  pelos  seus  frutos  aromáticos.  

XLVI. Hypericaceae  

Fisionomia.  Arbustos  ou  herbáceas.  

Folha.   Folhas   opostas   ou   verticiladas,   simples,   inteiras,   peninérveas,   frequentemente   com   glândulas  translúcidas  ou  negras,  sem  estípulas.  

Flor.   Flores   médias   a   grandes,   actinomórficas.   5   sépalas   e   5   pétalas,   livres.   Estames   numerosos,  frequentemente   agrupados   em   vários   feixes   soldados   pela   base   do   filete.   Ovário   súpero   de   3-­‐5   carpelos   e  numerosos  primórdios  seminais,  raramente  1.  

Fruto.  Fruto  seco  (cápsula)  ou  carnudo  (drupa  ou  baga).  Sementes  pequenas.  

Observações  taxonómicas.  Tradicionalmente  incluída  na  fam.  Guttiferae.  

Distribuição  e  diversidade.  Fam.  de  média  dimensão  (ca.  550  sp.).  Cosmopolita.  1  género  em  Lu  –  Hypericum  –  com  13  sp.  indígenas  ou  naturalizadas.  

 

Figura  28.  Salicaceae.  N.b.  amentos  com  flores  unissexuais,  flores  unissexuais  e  apétalas,  fruto  capsular  com  dois  carpelos.  

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Botânica   económica.   Vários   Hypericum   têm   uso   medicinal   (e.g.   H.   androsaemum,   H.   perforatum)   ou  ornamental  (e.g.  H.  calycinum).  

Cucurbitales

XLVII. Cucurbitaceae  

Fisionomia.  Plantas  herbáceas,  geralmente  dioicas   ou   monoicas,   anuais   ou   perenes,  prostradas  ou  trepadoras,  de  caules  angulosos,  com  gavinhas  caulinares  (por  vezes  reduzidas  a  espinhos)   inseridas   perpendicularmente   ao  plano  do  pecíolo  da  folha.  

Folha.   Folhas   alternas,   palminérveas,  profundamente   recortadas,   simples   ou  compostas,  sem  estípulas.    

Inflorescência.   Inflorescências   com  poucas  flores  e  de  difícil  interpretação.  

Flor.   Flores   grandes,   pentâmeras,  heteroclamídeas,   corola   simpétala   branca   ou  amarela,   actinomórficas,   com   hipanto  evidente,   geralmente   unissexuais.   Androceu  geralmente   de   5   estames,   unidos   ao   hipanto,  com   um   grau   variável   de   fusão   ou   redução.  Gineceu   ínfero,   paracárpico,   com   (2)3(-­‐5)  carpelos  e  placentação  parietal.  

Fruto.  Um  pepónio.  

Distribuição   e   diversidade.  Fam.   de  média   dimensão   (ca.   800   ap.)   eminentemente   tropical.   Duas   espécies  indígenas  de  Lu:  Bryonia  dioica  «norça-­‐branca»  e  Ecballium  elaterium  «pepino-­‐de-­‐são-­‐gregório».  

Botânica   económica.   Numerosas   espécies   com   interesse   económico,   e.g.   Citrullus   lanatus   «melancia»,  Cucumis   melo   «melão»,   C.   sativus   «pepino»,   Cucurbita   ficiifolia   «abóbora-­‐chila»,   C.   maxima   «abóbora-­‐porqueira»,  C.  moschata  «abóbora-­‐almiscarada»,  C.  pepo  «abóbora-­‐menina»,  Lagenaria  ciceraria  «cabaça»,  Luffa  aegyptica  «esponja-­‐vegetal»  e  Sechium  edule  «chu-­‐chu».  

Fabales

XLVIII. Fabaceae  

Fisionomia.   Árvores,   arbustos,   trepadeiras   ou   herbáceas,   espinhosos   ou   inermes.   Presença   frequente   de  pequenos  nódulos  nas  raízes  onde  se  alojam  bactérias  fixadoras  de  azoto.  

Folha.  Folhas  alternas  e  estipuladas,  geralmente  compostas;  folhas  ou  folíolos  normalmente  inteiros.    

Inflorescência.  Flores   solitárias  ou  em   inflorescência   tipo  cacho   (condição  mais   frequente)  ou  capítulo   (e.g.  Trifolium  e  Acacia  sp.pl.).  Flores  com  abertura  simultânea  nas  inflorescências  da  subfam.  Mimosoideae.  

Flor.  Flores  apétalas  ou  diploclamídeas,  pentâmeras,  frequentemente  com  um  hipanto  curto.  Ovário  súpero  de  1  carpelo  com  1  a  numerosos  primórdios  seminais.  Polinização  entomófila.  As   três  subfamílias  de  Fabaceae  apresentam  combinações  particulares  de  caracteres  ao  nível  da  flor.  

 Figura  29.  Cucurbitaceae.  N.b.  flores  unissexuais  de  ovário  

ínfero.  

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Fruto.  Fruto  seco  geralmente  tipo  vagem  (um  aquénio  nas  espécies  monospérmicas,  e.g.  Trifolium),  deiscente  ou  indeiscente  (e.g.  Trifolium  e  muitas  Caesalpinioideae),  por  vezes  um  lomento  (fruto  seco  esquizocárpico,  e.g.  Ornithopus).  

Observações  taxonómicas.  Três  subfamílias,  por  muitos  autores  elevadas  à  categoria  de  família:  

Subfam.  Caesalpinioideae  –  simples,  compostas  unifolioladas  (gén.  Bauhinia  e  Cercis  siliquastrum  «olaia»)  ou   compostas   multifolioladas   (e.g.   Ceratonia   siliqua   «alfarrobeira»).   Pétala   superior   envolvida   pelas  laterais  no  botão  (prefloração  carenal);  sépalas  geralmente  livres;  corola  (ausente  e.g.  em  Brachystegia  e  Ceratonia)  zigomórfica,  vistosa,  com  as  5  pétalas  livres;  10  ou  menos  estames  geralmente  livres;  

Subfam.   Mimosoideae   –   normalmente   recompostas   (e.g.   Acacia29   sp.pl.);   em   algumas   Acacia   folhas  reduzidas   a   um   filódio   (e.g.   A.   retinoides).   Prefloração   valvar;   sépalas   livres;   corola   pequena,  actinomórfica  com  as  5  pétalas   soldadas  num  tubo   (corola   simpétala);  estames  mais  de  10  geralmente  com  filetes  muito  vistosos;  

Subfam.   Faboideae   –   compostas   unifolioladas,   bifolioladas   (e.g.   Lathyrus   sp.pl.),   trifolioladas   (e.g.  Trifolium   «trevos»)   ou   multifolioladas   (e.g.   Cicer   arietinum   «grão-­‐de-­‐bico»),   por   vezes   com   folíolos  totalmente  transformados  em  gavinhas  (e.g.  Lathyrus  sp.pl.);  em  algumas  espécies  (e.g.  Lotus)  os  folíolos  da  base  inserem-­‐se  muito  próximo  dos  nós  e  confundem-­‐se  com  as  estípulas.  Pétala  superior  envolvendo  as   laterais   no   botão   (pré-­‐floração   vexilar);   sépalas   concrescentes;   corola   papilionácea,   grande,  zigomórfica  com  3  pétalas   livres   (1  estandarte  e  2  asas)  e  2  pétalas   soldadas  numa  quilha;  10  estames  concrescentes  num  tubo  pelo  filete  (estames  monadelfos,  condição  mais  frequente)  ou  1  estame  livre  e  os  restantes  9  concrescentes  entre  si  (estames  diadelfos),  raramente  todos  livres.  

Distribuição  e  diversidade.  Fam.  muito  grande  (ca.  14.000  sp.).  Cosmopolita.  Com  numerosos  representantes  herbáceos   e   arbustivos   na   flora   de   Lu   e   Ma.   Menos   diversa   em   Az.   Na   flora   indígena   Portugal   não   ocorrem  mimosoideas  e  apenas  uma  caesalpinioidea,  a  Ceratonia  siliqua  «alfarrobeira»,  a  única  árvore  da  família  presente  no  país.  

Botânica  económica.  Família  de  transcendente  importância  ecológica  e  económica.  As  leguminosas  dominam  muitos  ecossistemas  florestais  tropicais,  sobretudo  em  África:  e.g.  floresta-­‐de-­‐miombo  angolanas  dominadas  por  Brachystegia  «miombo»  e  Julbernardia.  Várias  Acacia  são  invasoras  perigosas,  e.g.  A.  dealbata  «acácia-­‐mimosa»  e  A.  melanoxylon  «acácia-­‐austrália».  Os  usos  económicos  das  leguminosas  são  muito  diversos:  

Leguminosas   para   consumo   em   grão   –   e.g.   Arachis   hypogaea   [amendoim],   Cicer   arietinum   «grão-­‐de-­‐bico»,   Glycine   max   «soja»,   Lathyrus   sativus   «chícharo»,   Lens   esculenta   «lentilhas»,   Lupinus   albus  «tremoceiro»,   Phaseolus   vulgaris   «feijoeiro»,   Phaseolus   coccineus   «feijoca,   feijoeiro-­‐escarlate»,   Pisum  sativum  «ervilheira»,  Vicia  faba  «faveira»  e  Vigna  unguiculata  «feijão-­‐frade,  chícharo»;  

Outros  usos  alimentares  humanos  –  e.g.  Ceratonia  siliqua  «alfarrobeira»;  a  vagem  desta  espécie  pode  ser  consumida  diretamente  ou  usada  para  produzir  chocolate,  na  alimentação  animal,  em  pastelaria,  como  espessante  ou  na  indústria  cosmética;  

Alimentação  animal  –  e.g.  nas  latitudes  temperadas  Hedysarum  coronarium  «sula»,  Lotus  sp.pl.,  Lupinus  albus   «tremoceiro»,   Medicago   sp.pl.   «luzerna»,   Onobrichis   vicioides   «sanfeno»,   Ornithopus   sp.pl.  «serradelas»,   Trifolium   sp.pl.   «trevos»,   Vicia   sp.pl.   «ervilhacas»;   a   Prosopis   juliana   «algaroba»   é   um  arbusto  forrageiro  muito  cultivado  em  regiões  áridas  e  semiáridas  (e.g.  no  bioma  Caatinga,  no  Brasil);  a  Leucaena   leucocephala  e  a  Gliricidia   sepium   são  duas  árvores   forrageiras   fundamentais  na  alimentação  animal  nos  trópicos  sub-­‐húmidos  a  húmidos;  

29  O  conceito  tradicional  de  Acacia  é  polifilético  (não  natural)  e  tem  de  ser  rejeitado.  No  Congresso  Internacional  de  Botânica  de  Viena  de  2005,  numa  decisão  polémica  contestada  pelos  especialistas  em   flora  africana,   foi  aprovada  a   retipificação  do  género  Acacia,  i.e.,  foi  definido  um  novo  tipo  nomenclatural  (a  Acacia  penninervis,  de  origem  australiana),  em  detrimento  de  um   tipo   anterior   (a   A.   scorpioides,   proveniente   de   África).   Consequentemente,   as   espécies   africanas   e   sul-­‐americanas   de  Acacia   foram   redistribuídas   por   quatro   novos   géneros   –   Acaciella,  Mariosousa,   Senegalia   e   Vachellia   –   mantendo-­‐se   as  espécies  australianas  em  Acacia.  

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Produção  de  óleo  –  e.g.  Arachis  hypogea  «amendoim»  e  Glycine  max  «soja»;  

Sideração   (enterramento   no   solo   para   melhorar   a   produtividade   do   solo)   –   e.g.   Lupinus   albus  «tremoceiro»  e  L.  luteus  «tremocilha»;  

Madeiras  nobres  –  e.g.  Caesalpinia  echinata  «pau-­‐brasil»  e  Pterocarpus  erinaceus  «pau-­‐de-­‐sangue»;  

Produção  de  gomas  e  corantes  –  e.g.  goma  arábica  de  Acacia  sp.pl.;  

Plantas  ornamentais  –  e.g.  Cercis  siliquastrum  «olaia»  e  Delonix  regia  «acácia-­‐rubra»;  

Medicinal  –  e.g.  Senna  alexandrina  «sena».  

Fagales

XLIX. Fagaceae  

Fisionomia.  Arbustos  (e.g.  em  Lu  Quercus  lusitanica  e  Q.  coccifera)  ou  árvores  (restantes  Quercus  indígenas  da  flora  de  Lu)  monoicos,  perenifólios  (e.g.  Quercus  rotundifolia,  Q.  suber,  Q.  coccifera  e  Q.  rivas-­‐martinezii),  semi-­‐caducifólios  (e.g.  Q.  lusitanica,  Q.  faginea  subsp.  faginea  e  Q.  faginea  subsp.  broteroi)  ou  caducifólios  (Q.  robur,  Q.  pyrenaica,  Fagus  e  Castanea).  

Folha.  Folhas  alternas  e  simples;  inteiras  (e.g.  Fagus),  dentadas  (e.g.  Q.  coccifera),   lobadas  (e.g.  Q.  robur)  ou  fendidas  (e.g.  Q.  pyrenaica);  peninérveas;  estipuladas.  

Inflorescência.   Flores  ♂   em   amentos.   Flores  ♀   na   base   de   amentos   com   um   grande   número   de   flores  ♂  (amentos  androgínicos)   (Castanea)   ou  em   inflorescências  exclusivamente  ♀   (pequenas  espigas  em  Quercus   ou  pequenos  capítulos  em  Fagus).  Flores  ♀ solitárias  (Quercus),  aos  pares  (Fagus)  ou  em  grupos  3  flores  (Castanea),  sempre  rodeadas  por  um  invólucro  revestido  por  pequenas  escamas  ou  espinhos.    

Flor.  Flores  muito  pequenas,  por  vezes  vestigiais,  haploclamídeas,  unissexuais,  com  6  tépalas  diminutas,  livres  ou  concrescentes.  Gineceu   ínfero  de  3  carpelos.  2  primórdios  seminais  em  cada   lóculo  mas  apenas  1   funcional  

A) B)  

Figura  30.  Fabaceae,  subfam.  Faboideae  (figuras  do  lado  esquerdo)  e  subfam.  Mimosoideae  (figuras  do  lado  direito,  géneros  Mimosa,  Acacia  e  Albizia).  N.b.  em  A)  flores  papilionáceas,  cálice  sinsépalo  e  corola  dialipétala;  

em  B)  flores  actinomórficas  de  estames  indefinidos.  

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(cada   flor   dá   origem   a   um   fruto   com   ma   semente).   Polinização   anemófila,   secundariamente   entomófila  (Castanea).  

Fruto.  Fruto  seco  encerrado  ou  envolvido  na  base  por  uma  cúpula  resultante  da  maturação  de  um  invólucro  de   origem   caulinar   (vd.   inflorescência):   em   Castanea   e   Fagus   um   ouriço   com   4   valvas   (formando-­‐se   uma  infrutescência  tipo  ouriço);  em  Quercus  com  a  forma  de  taça,  rija  e  coberta  por  numerosas  brácteas  imbricadas  e  inferiormente   concrescentes.   Semente   protegida   por   uma   camada   densa   de   pêlos.   Dispersão   autocórica   (por  gravidade)  ou  ectozoocórica  (por  aves  ou  mamíferos).  

Distribuição  e  diversidade.  Fam.  de  média  dimensão  (ca.  670  sp.).  Disseminada  por  todo  o  hemisfério  norte.  1  género   (Quercus)   com  9  espécies   indígenas  em  Lu;   a  Fagus   sylvatica   «faia»  e   a  Castanea   sativa  «castanheiro»  estão  naturalizados  em  Lu.  

Botânica  económica.  Os  Quercus   arbóreos  dominaram  a  paisagem  vegetal  pristina  de  Lu  pelo  menos  até  à  Idade  do  Ferro.  Muitas  fagáceas  têm  interesse  ornamental  e  são  fontes  importantes  de  lenhas  e  madeiras.  Do  Q.  suber  «sobreiro»  extrai-­‐se  a  cortiça.  As  bolotas  desta  espécie  e  de  Q.  rotundifolia  «azinheira»  são  importantes  em  silvopastorícia.  Os  frutos  de  Castanea  sativa,  as  castanhas,  têm  grande  valor  comercial.  

L. Myricaceae  

Fisionomia.  Árvores   ou   arbustos   com   pequenas   glândulas   aromáticas.   Raízes   com   nódulos   onde   se   alojam  bactérias  fixadoras  de  azoto  do  género  Frankia  (Actinobacteria).  

Folha.  Folhas  alternas,  frequentemente  serradas  no  terço  ou  metade  posterior,  peninérveas.  

Flor.  Flores  agregadas  em  espigas  ou  amentos  densos,  unissexuais.  Flores  muito  pequenas,  unissexuais,  nuas,  na  axila  de  folhas  modificadas  (brácteas).  

Fruto.  Fruto  carnudo  (drupa).  

Distribuição  e  diversidade.  Fam.  pequena  (57  sp.).  Grande  área  de  distribuição,  ausente  de  grande  parte  da  Eurásia.   2  espécies   indígenas  de   Lu:  Myrica   faya   e  M.  gale.  A  M.   faya   é  uma  espécie   importante   indígena  das  laurissilvas  açoreana  e  madeirense  e  dos  sistemas  dunares  do  Centro-­‐Oeste  de  Portugal  Continental.  

LI. Juglandaceae  

Fisionomia.  Árvores  monoicas,  aromáticas,  com  glândulas  nas  folhas  e  nos  caules  novos.  

Folha.  Folhas  caducas,  alternas,  penaticompostas,  sem  estípulas,  de  folíolos  inteiros  ou  serrados.  

Flor.  Flores  pequenas,   unissexuais,   nuas  ou  haploclamídeas,   as  ♂   em  amentos,   as  ♀ em  pequenas   espigas  eretas.  Gineceu  ínfero,  de  2  carpelos  e  apenas  1  primórdio  seminal.  

Fruto  e  semente.  Fruto  carnudo  (pseudodrupa).  Sementes  com  formas  intrincadas  (e.g.  miolo  de  noz).  

Distribuição   e   diversidade.   Fam.   pequena   (50   sp.).   Grande   área   de   distribuição,   ausente   de   África   e   da  Austrália.  

Botânica  económica.  A   Juglans   regia  «nogueira»  é  cultivada  como  planta  alimentar  ou  para  a  produção  de  lenho,  Está  assilvestrada  em  solos  profundos  na  vizinhança  de  cursos  de  água  em  Lu.  

LII. Betulaceae  

Fisionomia.  Árvores  ou  arbustos  monoicos.  Simbioses  radiculares  com  bactérias  fixadoras  de  azoto  do  género  Frankia  (Actinobacteria)  em  Alnus.  

Folha.  Folhas  caducas,  alternas  espiraladas  ou  disticadas,  simples,  peninérveas,  duplamente  serradas  (dentes  de  dois  tipos),  peninérveas  e  com  estípulas  prontamente  caducas.  

Inflorescência.   Flores   unissexuais   geralmente   em   pequenos   grupos   de   2   ou   3   flores,   axiladas   por   várias  brácteas,   de   concrescência   variável,   por   vezes   lenhosas   (em   Alnus).   As   flores   ♂   organizadas   em   amentos  pêndulos   e   flexíveis;   as  ♀   em   glomérulos   (em   Corylus   e   Alnus)   ou   em   amentos   com   eixos   mais   rígidos   (em  Betula).  

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Flor.   Flores   unissexuais,   muito  pequenas,  actinomórficas,  nuas  ou  com  1-­‐4   tépalas   muito   reduzidas.   Estames  geralmente   4.   Gineceu   ínfero,   de   2  carpelos   e   1   primórdio   seminal   funcional.  Polinização  anemófila.  

Fruto.   Frutos   secos,   espalmados   e  alados   (sâmara)   (e.g.  Betula)   ou   uma   noz  envolvida   por   brácteas   foliáceas   (e.g.  Corylus).   Dispersão   pelo   vento   ou   água  (e.g.  Betula  e  Alnus)  ou  por  roedores  (e.g.  Corylus).  

Distribuição   e   diversidade.   Fam.  pequena   (ca.   110   sp.).   Dispersa   pelo  hemisfério   norte   (gén.   Alnus   desce   pelos  Andes   ao   hemisfério   Sul).   3   espécies  indígenas   de   Lu:   Alnus   glutinosa  «amieiro»,   Corylus   avellana   «aveleira»   e  Betula  celtiberica  «bidoeiro».  

Botânica   económica.   A   C.   avellana  «aveleira»  é  cultivada  para  a  produção  de  fruto;  algumas  espécies  de  Alnus  e  Betula  têm   interesse   ornamental   ou   em  restauração  ecológica.  

LIII. Casuarinaceae  

Fisionomia.  Árvores  ou  arbustos.  Simbioses  radiculares  com  bactérias   fixadoras  de  azoto  do  género  Frankia  (Actinobacteria).  Raminhos  verdes,  sulcados  e  articulados  (destacáveis  pelos  nós).  

Folha.  Folhas  diminutas,  escamiformes,  mais  de  4  por  nó.  

Inflorescência.  Flores  ♀ em  inflorescências  quando  maduras  semelhantes  a  pequenas  pinhas.  

Flor.  Unissexuais  e  muito  pequenas.  

Fruto.  Frutos  secos  alados  (sâmaras).  

Distribuição   e   diversidade.   Fam.   de   pequena   dimensão   (95   sp.).   Indígena   de   Madagáscar,   SW   asiático   e  Austrália.  

Botânica   económica.   Diversas   Casuarina   «casuarinas»   são   cultivadas   como   ornamentais   (frequentes   em  jardins  à  beira-­‐mar)  ou  utilizadas  na  restauração  ecológica  de  zonas  áridas.  

Myrtales

LIV. Lythraceae  

Fisionomia.  Árvores,  arbustos  ou  herbáceas  (todas  as  espécies  portuguesas).  

Folha.  Folhas  alternas,  opostas  ou  verticiladas,  simples,  inteiras  e  peninérveas.  

Flor.  Flores  actinomórficas,  de  hipanto  bem  desenvolvido,  frequentemente  com  epicálice.  4-­‐8  sépalas  livres.  4-­‐8   pétalas   livres   e   encarquilhadas   no   botão.   10   ou   mais   estames   normalmente   de   diferentes   tamanhos,  inseridos  na  parede  do  hipanto.  Ovário   súpero   (ínfero  em  Punica)   com  vários   carpelos  e  2  ou  mais  primórdios  seminais.  

 

Figura  31.  Betulaceae.  N.b.  flores  unissexuais  apétalas  na  axila  de  brácteas  e  frutos  alados.  

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Fruto.  Fruto  seco  (cápsula).  

Distribuição   e   diversidade.  Fam.   de  média   dimensão   (620   sp.).   Cosmopolita.   3   gén.   e   9   esp.   indígenas   ou  naturalizados  em  Lu.  Espécies  portuguesas  adaptadas  a  solos  temporariamente  ou  permanentemente  húmidos.  

Botânica   económica.   Algumas   plantas   apreciadas   em   aquariofilia   (Ammannia   sp.pl.   e   Rotala   sp.pl.);   a  Lagerstroemia   indica  está  em  expansão  como  planta  ornamental;  a  Punica  granatum  «romã»  é  apreciada  pela  sarcotesta  doce  e  vermelha  das  sementes.  

LV. Myrtaceae  

Fisionomia.  Árvores  ou  arbustos,  aromáticos,  frequentemente  com  a  casca  destacando-­‐se  em  tiras.  

Folha.   Folhas  opostas  ou  alternas,   inteiras,  peninérveas,   com  pontuações   translúcidas.  Estípulas  minúsculas  ou  ausentes.  

Flor.  Flores   actinomórficas,  muitas   vezes   de   hipanto   bem  desenvolvido.   4-­‐5   sépalas   livres   ou   soldadas.   4-­‐5  pétalas   livres   e   prontamente   caducas.   Em   muitos   géneros   (e.g.   Eucalyptus   e   Melaleuca)   pétalas   e   sépalas  soldadas   numa   estrutura   ±   lenhosa   (caliptra)   que   ao   desprender-­‐se   expõe   os   estames.   Estames   muito  numerosos,   livres   ou   soldados   em   4   ou   5   grupos.   Gineceu   ínfero   ou   semi-­‐ínfero,   por   vezes   anguloso,   de   2-­‐5-­‐  carpelos.  

Fruto.  Fruto  carnudo  tipo  baga  (e.g.  Myrtus)  ou  seco  tipo  cápsula  (e.g.  Eucalyptus).  

Distribuição  e  diversidade.  Fam.  muito  grande  (mais  de  5.000  sp.).  Ótimo  tropical,  particularmente  diversa  na  Austrália   e   no   Cerrado   brasileiro.   Uma   espécie   indígena   de   Lu   e   da   Ilha   de   Stª  Maria   (Az):  Myrtus   communis  «murta».  

Botânica   económica.   Várias   mirtáceas   são   cultivadas:   como   ornamentais,   e.g.   Callistemon   sp.pl.   «escova-­‐garrafas»,  Eucalyptus   sp.pl.,  Leptospermum  scoparium  «urze-­‐de-­‐jardim»  e  Metrosideros  excelsa  «metrosidero»;  plantas  alimentares,  e.g.  Psidium  guajava  «goiabeira»;  para  a  produção  de  pasta  de  papel  e  madeiras,  Eucalyptus  sp.pl.;   como   plantas   medicinais,   e.g.   Eucalyptus   sp.pl.   O   Eucalyptus   globulus   está   naturalizado   em   Lu;   o  Metrosideros  excelsa  é  uma  perigosa  invasora  em  Az.  

Celastrales

LVI. Celastraceae  

Fisionomia.  Árvores,  arbustos  ou  trepadeiras.  

Folha.  Folhas  simples,  com  ou  sem  estípulas,  normalmente  serradas,  opostas  e  caducas.  

Flor.   Flores   discretas,   esverdeadas   ou   esbranquiçadas,   actinomórficas.   4-­‐5   sépalas   pequenas.   4-­‐5   pétalas  livres.  Estames  em  igual  número  e  alternando  com  as  pétalas.  Ovário  súpero  ou  semi-­‐ínfero,  de  vários  carpelos,  emerso  num  disco  nectarífero  carnudo  e  com  1  estilete  curto.  

Fruto.  Fruto  uma  cápsula  ou  uma  baga,  usualmente  angulosa.  Sementes  frequentemente  com  uma  cobertura  colorida  e  carnuda  (arilo).  

Distribuição   e   diversidade.   Fam.   grande   (ca.   1300   sp.).   Cosmopolita,   eminentemente   tropical.   1   espécie  indígena  de  Lu  (Euonymus  europaeus)  e  outra  de  Ma  (Maytenus  umbellata).  

Rosales

LVII. Rosaceae  

Fisionomia.  Árvores,  arbustos,  trepadeiras  ou  herbáceas.  Espécies  lenhosas  frequentemente  espinhosas.  

Folha.   Folhas   alternas,   simples   ou   compostas,   estipuladas   (sem   estípulas   em   Spiraea),   peninérveas   ou  palminérveas.  

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Flor.   Flores   normalmente   vistosas   e   actinomórficas.   Presença   frequentemente   de   hipanto,   soldado   (flores  epigínicas)  ou  não  ao  ovário  (flores  perigínicas),  onde  se   inserem  pétalas,  sépalas  e  estames.  5  sépalas   livres.  5  pétalas   livres.  Estames  muito  numerosos   (indefinidos).  Estrutura  do  gineceu  correlacionada  com  a  classificação  subfamiliar.  

Fruto.   Estrutura   do   gineceu   correlacionada   com   a   classificação   subfamiliar.   Polinização   entomófila.  Mecanismos  de  dispersão  variáveis.  

Observações  taxonómicas.  A  estrutura  das  flores  e  dos  frutos  permite  segregar  4  subfamílias:  

Subfam.  Prunoideae  (=  Amygdaloideae,  e.g.  gén.  Prunus)  –  ovário  súpero  de  1  carpelo;  1  primórdio  por  carpelo;  fruto  carnudo  com  1  semente  (drupa,  e.g.  pêssego);  

Subfam.  Maloideae   (=   Pyroideae,   e.g.   gén.  Malus,   Pyrus   e   Sorbus)   –   ovário   ínfero   de   2-­‐5   carpelos;  normalmente  1-­‐2  primórdios  por  carpelo;  pseudofruto  até  10  sementes  (pomo,  e.g.  maçã);  

Subfam.   Rosoideae   (e.g.   gén.   Rosa   e   Rubus)   –   ovário   súpero   com   numerosos   carpelos   livres   (gineceu  apocárpico);  1  primórdio  seminal  por  carpelo;  fruto  múltiplo  de  drupas  (e.g.  amoras)  ou  de  aquénios  (e.g.  fruto  das  roseiras  e  morangueiros);  

Subfam.  Spiraeoideae   (e.g.   gén.  Spiraea)   –  ovário   súpero  de  1-­‐5   carpelos   livres;   numerosos  primórdios  por  carpelo;  fruto  múltiplo  de  folículos.  

Distribuição  e  diversidade.  Fam.  grande  (2800  sp.).  Cosmopolita,  diversidade  máxima  nas  áreas  temperadas  do  hemisfério  norte.  

Botânica   económica.   Inúmeras   espécies   com   interesse:   alimentar,   e.g.   Cydonia   oblonga   «marmeleiro»,  Eryobotria  japonica  «nespereira»,  Malus  domestica  «macieira»,  Prunus  armeniaca  «damasqueiro»,  P.  domestica  «ameixeira-­‐europeia»,  P.  persica  «pessegueiro»,  P.  salicina  «ameixeira-­‐japonesa»,  P.  cerasus  «gingeira»,  P.  dulcis  «amendoeira»   e   Fragaria   x   ananassa   «morangueiro»;   ornamental,   e.g.   dos   géneros   Cotoneaster  

A) B)  

Figura  32.  Rosaceae,  subfam.  Maloideae  (figuras  do  lado  esquerdo)  e  subfam.  Prunoideae  (figura  do  lado  direito).  N.b.  em  A)  ovário  ínfero  e  fruto  tipo  pomo;  em  B)  fruto  tipo  drupa  e  flor  com  hipanto,  estames  indefinidos  e  ovário  súpero.  

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«cotoneasteres»,   Pyrancantha   «piracantas»,   Rosa   «roseiras»,   Spiraea   «grinaldas-­‐de-­‐noiva»;   e   na   produção   de  madeira,  e.g.  Prunus  avium  «cerejeira-­‐brava».  

LVIII. Rhamnaceae  

Fisionomia.  Árvores  ou  arbustos,  por  vezes  espinhosos.  

Folha.   Folhas   alternas,   simples,   inteiras   ou   serradas,   peninérveas   (por   vezes   palminérveas   na   base)   com  nervuras  secundárias  (paralelas  e  por  vezes  em  alto  ou  baixo  relevo)  e  terciárias  muito  nítidas,  estipuladas.  

Flor.  Flores  pequenas,  actinomórficas,  com  hipanto.  4-­‐5  sépalas  com  nervura  média  saliente  por  dentro.  4-­‐5  pétalas  livres,  com  frequência  mais  pequenas  que  as  sépalas  e/ou  recurvadas  sobre  (e  alojando)  os  estames.  4-­‐5  estames,  opostos  às  pétalas.  Ovário  súpero.  

Fruto.  Fruto   carnudo   (e.g.   drupa   em  Rhamnus   ou   nuculânio   em  Frangula)   frequentemente   com  1   ou  mais  depressões  na  extremidade.  

Distribuição  e  diversidade.  Fam.  de  média  dimensão  (ca.  925  sp.).  Cosmopolita.  2  géneros   indígenas  de  Lu:  Rhamnus  e  Frangula.  

Botânica  económica.  Interesse  ornamental.  Diz-­‐se  que  a  coroa  de  espinhos  de  Cristo  foi  feita  com  ramos  de  Paliurus  spina-­‐christi.  

LIX. Ulmaceae  

Fisionomia.  Árvores  com  ramos  frequentemente  em  zig-­‐zag.  

Folha.   Folhas   alternas   disticadas   (dispostas   num  plano),   simples,   serradas,   estipuladas,   assimétricas  na  base  (i.e.  uma  das  duas  abas  do  limbo  mais  longa  na   base   do   que   a   outra)   e   peninérveas.   Nervuras  secundárias  terminando  num  dente.  

Flor.   Flores   muito   pequenas,   haploclamídeas,  unissexuais   ou   hermafroditas.   4-­‐9   tépalas.   4-­‐9  estames   opostos   às   tépalas.   Ovário   súpero   de   2  carpelos  e  1  primórdio  seminal.  

Fruto.   Fruto   normalmente   seco   com   um   asa  envolvendo  uma  semente  espalmada.  

Distribuição  e  diversidade.  Fam.  muito  pequena  (ca.   30   sp.).   Diversidade   máxima   no   hemisfério  norte,   ausente   da   América   do   Sul,   Austrália   e   de  grande   parte   de  África.   2   espécies   indígenas   de   Lu:  Ulmus  minor  e  U.  glabra.  

Botânica   económica.   Interesse   ornamental  (Ulmus   e   Zelkova)   e   na   produção   de   madeira  (Ulmus).  

LX. Cannabaceae  

Fisionomia.  Árvores,  trepadeiras  de  caules  volúveis  ou  plantas  herbáceas,  monoicas  ou  dioicas.  

Folha.   Folhas   alternas   (e.g.   Celtis)   ou   opostas   (e.g.   Humulus),   disticadas   (dispostas   num   plano),   simples  (palmaticompostas   em   Cannabis),   inteiras   ou   profundamente   recortadas,   estipuladas,   peninérveas   ou  palminérveas   na   base   e   peninérveas   no   resto   do   limbo;   nervuras   secundárias   não   terminando   num   dente  (excepto  Humulus  e  Cannabis),  frequentemente  curvas  em  direção  ao  ápice  (excepto  Cannabis).  

 Figura  33.  Ulmaceae.  N.b.  flores  de  perianto  pouco  evidente  e  fruto  tipo  sâmara  em  Umus  campestris  

«ulmeiro-­‐campestre»  «ing.  elm».  Cannabaceae.  N.b.  flores  pequenas  e  haploclamídeas  em  Celtis  e  Solenostigma  

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Flor.  Flores  muito  pequenas,  haploclamídeas,  unissexuais   (geralmente  hermafroditas  em  Celtis).  4-­‐5   tépalas  livres   ou   soldadas.   4-­‐5   estames   opostos   às   tépalas.   Ovário   súpero,   de   2   carpelos,   estigmas   divergentes   e   1  primórdio  seminal.  

Fruto.  Fruto  carnudo  (drupa,  e.g.  em  Celtis)  ou  fruto  seco  (aquénio,  em  Humulus  e  Cannabis).  

Distribuição  e  diversidade.  Fam.  pequena  (170  sp.).  Cosmopolita.  2  espécies  indígenas  de  Lu:  Celtis  australis  e  Humulus  lupulus.  

Botânica   económica.   A   C.   australis   «lódão-­‐bastardo»   é   uma   importante   árvore   ornamental;   as   resinas  extraídas   das   inflorescências   ♀ de   Humulus   lupulus   «lúpulo»   são   indispensáveis   no   fabrico   da   cerveja;   da  Cannabis  sativa  subsp.  sativa  produz-­‐se  o  cânhamo  (fibra  do  fio-­‐do-­‐norte)  enquanto  o  haxixe  e  a  liamba  provêm  de  variedades  selecionadas  das  subsp.  indica  e  subsp.  sativa.  

LXI. Moraceae  

Fisionomia.  Árvores,  arbustos  ou  trepadeiras,  produtoras  de  látex.  

Folha.  Folhas  alternas,  simples,  inteiras  a  profundamente  recortadas,  peninérveas  ou  palminérveas.  Cicatrizes  foliares  circulares,  muito  nítidas,  nos  caules  após  a  queda  das  folhas.  

Inflorescência.   Flores   encerradas   no   interior   de   um   recetáculo   carnudo   (em   Ficus)   ou   agregadas   em  inflorescências  tipo  cacho,  muito  densas  e  de  eixo  carnudo  (e.g.  Artocarpus,  Maclura  e  Morus).  

Flor.   Flores   muito   pequenas,   unissexuais,   actinomórficas,   nuas   ou   haploclamídeas.   Ovário   súpero   de   2  carpelos  e  1  primórdio  seminal.  Sistemas  de  polinização  por  vezes  de  grande  complexidade,  e.g.  Ficus.  

Fruto.   Fruto   uma   drupa   ou   um   aquénio.   Em   Ficus   frutos   agregados   numa   infrutescência   com   frequência  comestível   (sícono).   Em   Morus   pequenas   drupas   agregadas   numa   infrutescência   densa   e   de   eixo   carnudo  (sorose).  

Distribuição  e  diversidade.  Fam.  de  média  dimensão  (ca.  1100  sp.).  Cosmopolita.  2  espécies  naturalizadas  de  longa  data  em  Lu:  Ficus  carica  «figueira»  e  Morus  alba  «amoreira-­‐branca».  

Botânica  económica.  Os   frutos  de  F.  carica  –  os   figos  –  são  muito  apreciados;  vários  Ficus   são   importantes  ornamentais  (e.g.  F.  pumila  e  F.  elastica);  o  bicho-­‐da-­‐seda  alimenta-­‐se  das  folhas  de  M.  alba;  os  frutos  de  M.  alba  e   M.   nigra   «amoreira-­‐negra»   são   localmente   consumidos;   o   Artocarpus   altilis   «fruta-­‐pão»   tem   bastante  importância  alimentar  nos  trópicos.  

Sapindales

LXII. Anacardiaceae  

Fisionomia.  Árvores  ou  arbustos,  dioicos,  que  exsudam   (por   corte   do   caule   ou   arranque   das  folhas)   um   líquido   negro   (espécies   não  europeias),   branco   (e.g.   Rhus   coriaria)   ou  translúcido   (e.g.   Pistacia),   por   vezes   de   odor  resinoso.  

Folha.  Folhas  alternas,  pecíolo  engrossado  na  base,   penaticompostas,   sem   estípulas,   nervuras  normalmente   amarelo-­‐claras   sobressaindo   num  limbo  verde.  

Flor.   Flores   pequenas,   unissexuais   e  actinomórficas.  5  sépalas  e  5  pétalas  ligeiramente  soldadas   na   base.   Ovário   súpero   de   3   carpelos,  normalmente   com   apenas   1   carpelo   fértil,   e   1  

 

Figura  34.  Anacardiaceae.  N.b.  flores  pentâmeras  de  pequena  dimensão.  

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primórdio  seminal.  

Fruto.  Fruto  carnudo  (drupa)  assimétrico.  

Distribuição   e   diversidade.   Fam.   de   média   dimensão   (985   sp.).   Pantropical   com   algumas   espécies  temperadas.  2  sp.  indígenas  de  Lu:  Pistacia  lentiscus  «aroeira»  e  P.  therebinthus  «cornalheira».  

Botânica   económica.   São   anacardiáceas   a   Mangifera   indica   «mangueira»,   o   Anacardium   occidentale  «cajueiro»  e  a  Pistacia   vera   «pistacheiro».  O  Rhus   coriaria   «sumagre»   foi,  no  passado,   cultivado  para  produzir  taninos  sendo  fácil  de  encontrar  assilvestrado  nas  regiões  onde  tradicionalmente  se  produziam  curtumes.  

LXIII. Sapindaceae  (inc.  Aceraceae  e  Hippocastanaceae)  

Fisionomia.  Árvores  ou  arbustos.  

Folha.   Folhas   alternas   (opostas   em   Acer),   organizadas   em   grupos   evidentes   na   extremidade   dos   ramos;  pecíolos   alargados   na   base;   penaticompostas   (de   folíolos   imperfeitamente   opostos,   e.g.   Acer   negundum),  palmaticompostas  (e.g.  Aesculus)  ou  simples  e  palminérveas  (em  muitos  Acer).  

Flor.  Flores  pequenas  (grandes  em  Aesculus),  normalmente  unissexuais,  actinomórficas  ou  zigomórficas.  4-­‐5  sépalas,   livres  ou   ligeiramente  soldadas.   4-­‐5  pétalas   livres,  por  vezes  ausentes,   frequentemente  com  pequenos  apêndices  internos.  Disco  nectarífero  presente  entre  as  pétalas  e  os  estames  (alargado  e  envolvendo  a  inserção  dos   estames   em   alguns   Acer).   8   estames,   comummente   pubescentes.   Ovário   súpero   de   2   (em   Acer)   ou   3  carpelos.  

Fruto.  Fruto  usualmente  seco  com  duas  asas  e  duas  sementes  (e.g.  dissâmara  de  Acer)  ou  uma  cápsula  (e.g.  Aesculus).  

Distribuição   e   diversidade.  Fam.   de  média   dimensão   (ca.   1600   sp.).   Cosmopolita.  Duas   espécies,   arbóreas,  indígenas  de  Lu:  Acer  monspessulanum  e  A.  pseudoplatanus.  

Botânica   económica.   Numerosas   madeiras   tropicais   (e.g.   gén.   Cupania);   alguns   frutos   edíveis,   e.g.   Litchi  sinensis   «líchia»   e   plantas   medicinais,   e.g.   Paullinia   cupana   «guaraná»;   também   importantes   árvores  ornamentais,  e.g.  géneros  Acer  «áceres  ou  bordos»,  Aesculus  «castanheiros-­‐da-­‐índia»  e  Koelreuteria.  

LXIV. Simaroubaceae  

Fisionomia.  Árvores  ou  arbustos  de  ramos  sulcados.  

Folha.  Folhas  alternas,  normalmente  imparifolioladas,  inserção  do  pecíolo  no  caule  marcada  por  uma  sutura  e  um  sulco  ±  profundo.  

Flor.   Flores   pequenas,   hermafroditas   ou   unissexuais   (e.g.   Ailanthus),   actinomórficas.   5   sépalas   livres   ou  ligeiramente  concrescentes.  5  pétalas  livres  (por  vezes  ausentes).  Estames  10,  estéreis  (estaminódios)  nas  flores  ♀.   Disco   nectarífero   entre   os   estames   (ou   estaminódios)   e   os   carpelos.   Gineceu   súpero   de   5   carpelos   unidos  apenas  pelos  estiletes,  cada  um  com  1  primórdio  seminal.  

Fruto.  Fruto  múltiplo   seco,   cada   frutículo   com  uma   asa   alargada   envolvendo   a   semente   (fruto  múltiplo   de  sâmaras  ou  plurissâmara).  

Distribuição  e  diversidade.  Fam.  muito  pequena  (95  sp.).  Pantropical,  com  penetrações  temperadas  no  W  da  Ásia.  Ausente  de  Portugal.  

Botânica  económica.  O  Ailanthus  altissima  «ailanto»  é  uma  perigosa  invasora  pontualmente  cultivada  como  ornamental.  

LXV. Meliaceae  

Fisionomia.  Árvores  ou  arbustos.  

Folha.  Folhas  alternas,  penaticompostas,  em  grupos  na  extremidade  dos  ramos.  

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Flor.  Flores  normalmente  unissexuais,  as  ♀ por  regra  com  estames  estéreis  (estaminódios).  4-­‐5  sépalas,  livres  ou  soldadas.  4-­‐5  pétalas,  livres  ou  ligeiramente  soldadas  na  base.  4-­‐10  estames  total,  ou  parcialmente,  soldados  pelo   filete   num   tubo,   com   ou   sem   apêndices   no   ápice.   Disco   nectarífero   presente,   entre   os   estames   (ou  estaminódios)  e  o  ovário  (se  presente).  Ovário  súpero  de  2-­‐5  carpelos.  

Fruto  e  semente.  Fruto  seco  (cápsula).  Sementes  aladas  (com  uma  asa).  

Distribuição   e   diversidade.   Fam.   de   média  dimensão   (ca.   620   sp.).   Pantropical.   Ausente   de  Portugal.  

Botânica   económica.   Numerosas   espécies   de  madeiras  nobres,  entre  as  quais  o  mogno  (3  espécies  sul-­‐americanas   de   Swietenia);   a  Melia   azedarach   é  muito  cultivada  como  ornamental.  

LXVI. Rutaceae  

Fisionomia.   Árvores   ou   pequenos   arbustos  aromáticos.  

Folha.   Folhas   alternas,   penaticompostas,  trifolioladas   ou   unifolioladas,   com   pontuações  translúcidas.  

Flor.   Flores   hermafroditas   ou   unissexuais,  actinomórficas.   4   ou  5   sépalas   e   pétalas.   8   ou  mais  estames,   com   filetes   de   base   alargada,   por   vezes  soldados   pela   base   num   anel.   Disco   nectarífero  evidente   entre   os   estames   e   o   ovário.   Gineceu  súpero   de   4   ou   5   carpelos,   com   frequência  incompletamente   concrescentes,   e   estigma  alargado.  

Fruto.  Fruto  normalmente  seco  tipo  cápsula  ou  um  hesperídio  (e.g.  laranja).  

Distribuição   e   diversidade.   Fam.   de   média   dimensão   (1800   sp.).   Cosmopolita,   diversidade   máxima   nos  trópicos.  Representada  em  Lu  por  3  espécies  de  Ruta,  por  vezes  transplantadas  em  jardins  como  plantas  mágicas.  

Botânica  económica.  Os  citrinos  (gén.  Citrus,  e.g.  limoeiro  e  laranjeira-­‐doce)  são  cultivados  como  árvores  de  fruto   ou   ornamentais;   e.g.   C.   aurantium   «laranjeira-­‐amarga,   laranjeira-­‐azeda»,   C.   sinensis   «laranjeira-­‐da-­‐baía,  laranjeira-­‐doce»,  C.  limon  «limoeiro»,  C.  x  paradisi  «toranjeira»,  C.  reticulata  «tangerineira»,  C.  limetta  «limeira-­‐de-­‐umbigo»,  C.  aurantiifolia  «limeira,  limeira-­‐ácida»,  C.  maxima  (=C.  grandis)  «pomelo».  

Brassicales

LXVII. Brassicaceae  

Fisionomia.   Plantas   herbáceas   anuais   a   perenes,   raramente   arbustos   (Alyssum   serpyllifolium   subsp.  lusitanicum  em  Lu  e  vários  Sinapidendron  em  Ma).  

Folha.   Folhas   alternas,   simples,   com   frequência   profunda   e   irregularmente   recortadas,   peninérveas  (pontualmente  palminérveas),  sem  estípulas.  

Inflorescência.  Geralmente  tipo  cacho,  sempre  sem  brácteas.  

Flor.   Flores   bissimétricas   (zigomórficas   em   Iberis).   4   sépalas   livres.   4   pétalas   livres,   dispostas   em   cruz.   6  estames,  por  norma  os  4  internos  longos  e  os  2  externos  mais  curtos  (estames  tetradinâmicos).  Gineceu  súpero  

 

Figura  35.  Rutaceae.  N.b.  folhas  unifolioladas  de  Citrus  aurantium  «laranjeira-­‐amarga»;  estames  livres  ou  

concrescentes  pelo  filete;  disco  nectarífero  e  hesperídio.  

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de  2  carpelos  separados  por  um  falso  septo  (diferenciando-­‐se  2  lóculos),  com  1  a  numerosos  primórdios  seminais  geralmente   dispostos   em   4   fiadas   (2   por   lóculo   na   margem   das   suturas   carpelares,   sementes   bisseriadas).  Polinização  entomófila.  

Fruto.   Fruto   seco   capsular   (silíqua   ou   silícula)  geralmente  deiscente  (indeiscente  e.g.  em  Cakile).  

Distribuição  e  diversidade.  Fam.  muito  grande  (ca.  3700   sp.),   cosmopolita;   muito   diversa   na   Bacia  Mediterrânica.  

Botânica   económica.   Grande   número   de   plantas  de   interesse   económico:   plantas   alimentares,   e.g.  Brassica  juncea  var.  pl.  «mostarda-­‐castanha»,  Brassica  nigra   «mostarda-­‐negra»,   B.   oleracea   «couves»,   B.  rapa  var.  rapa  «nabo  e  nabiça»,  B.  rapa  var.  chinensis  «pakchoi»,   B.   napus   var.   napobrassica   «rutabaga,  nabo-­‐amarelo  ou  raba»,  B.  napus  var.  napus  «colza  e  nabiça»,   Lepidium   sativum   «mastruço»,   Raphanus  sativus   var.   sativus   «rabanete»,   Rorippa   nasturtium-­‐aquaticum  «agrião»,  Sinapis  alba  «mostarda-­‐branca»;  ornamental,  e.g.  Erysimum  cheiri  «goiveiro»  e  Lunaria  annua  «moedas-­‐do-­‐papa».  

LXVIII. Capparaceae  

Fisionomia.   Árvores   (tropicais),   arbustos,  trepadeiras  ou  plantas  herbáceas.  

Folha.   Folhas   alternas,   simples   (raramente  compostas,   subfam.   Cleomoideae),   com   frequência  profunda   e   irregularmente   recortadas,   peninérveas  (pontualmente   palminérveas),   estípulas   por   vezes  presentes  (subfam.  Capparoideae).  

Flor.  As  plantas  da  subfam.  Capparoideae  (e.g.  Capparis  spinosa)  distinguem-­‐se  pelas  flores  normalmente  algo  zigomórficas,   4   a   muitos   estames   longos   e   do   mesmo   comprimento   e   por   um   receptáculo   alongado   entre   o  verticilo  dos  estames  e  o  pistilo   (ginóforo).  As  plantas  da  subfam.  Cleomoideae   têm  folhas  palmaticompostas  e  flores  fortemente  zigomórficas.  

Fruto.  Fruto  com  frequência  carnudo  na  subfam.  Capparoideae.  

Distribuição  e  diversidade.  Cosmopolita  de  ótimo  tropical.  

Botânica  económica.  Consomem-­‐se  os  gomos  da  Capparis  spinosa  «alcaparras».  

Malvales

LXIX. Thymelaeaceae  

Fisionomia.  Pequenos  a  grandes  arbustos.  Cicatrizes  foliares  salientes  após  a  queda  das  folhas.  

Folha.  Folhas  alternas,  inteiras,  de  nervação  por  vezes  quase  paralelinérvea.  

Flor.  Flores  actinomórficas,  de  amplo  hipanto,   frequentemente  colorido.  4-­‐5   sépalas   semelhantes  a  pétalas  que   surgem   como  uma   extensão   do   hipanto.   Pétalas   ausentes   ou   impercetíveis.   2   a   10   estames,   inseridos   no  bordo  do  hipanto.  Gineceu  súpero  de  1-­‐2  carpelos.  

Fruto.  Fruto  variável.  

 

Figura  36.  Brassicaceae.  N.b.  floras  tetrâmeras,  6  estames  (4  maiores  e  2  mais  pequenos),  fruto  uma  silícula.  

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Distribuição  e  diversidade.  Fam.  de  média  dimensão  (ca.  500  sp.).  Cosmopolita.  Dois  géneros  indígenas  de  Lu:  Daphne  e  Thymelaea.  Um  pequeno  número  de  espécies  ornamentais;  a  Daphne  gnidium  é  ilegalmente  utilizada  para  atordoar  e  capturar  peixes  de  água  doce.  

LXX. Cistaceae  

Fisionomia.   Arbustos   ou   plantas   herbáceas,  frequentemente  aromáticos.  

Folha.  Folhas  opostas  ou  decussadas  (alternas  em  Fumana,   com   uma   roseta   basal   em   Tuberaria),  simples,   inteiras,   muitas   vezes   com   as   margens  parcialmente   enroladas   para   baixo   (revolutas),   de  pecíolos   alargados   na   base,   com   ou   sem   estípulas,  peninérveas.  

Inflorescência.   Flores   em   inflorescências  racemosas.  

Flor.  Flores  grandes  e  actinomórficas.  3  (Halimium  e   Cistus   laurifolius)   ou   5   sépalas,   neste   último   caso  dispostas  em  2  verticilos  sendo  as  2  sépalas  externas  mais   pequenas   que   as   3   internas.   5   pétalas   livres,  caducas   poucas   horas   após   a   abertura   das   flores.  Estames   indefinidos   geralmente   inseridos   sobre   um  disco  nectarífero,  por  vezes  sensíveis  ao  toque  (e.g.  C.  ladanifer).   Gineceu   súpero   de   3-­‐5   (até   12   em   alguns  Cistus)  carpelos  com  numerosos  primórdios  seminais.  Polinização  entomófila.  

Fruto.   Fruto   seco   tipo   cápsula   com   sementes  pequenas  anemocóricas.  

Distribuição  e  diversidade.  Fam.  pequena  (ca.  175  sp.).  Eurásia  ocidental,  Ásia  Menor,  Norte  de  África  e  América  do  Norte  e  Central.  

Botânica   económica.   Grande   importância  ecológica  na  Bacia  Mediterrânica  Ocidental,   e.g.   gén.  Cistus   «estevas»   e   Halimium   «sargaços»;   interesse  ornamental   moderado,   e.g.   Cistus   albidus   «esteva-­‐álbida».  

LXXI. Malvaceae   (inc.   Tiliaceae,  

Bombacaceae  e  Sterculiaceae)  

Fisionomia.   Árvores,   arbustos,   trepadeiras   ou  herbáceas.  Nas  Bombacoideae   com   trocos  adaptados  ao  armazenamento  de  grandes  quantidades  de  água.  

Folha.   Folhas   alternas,   simples   (compostas  digitadas  na  subfam.  Bombacoideae,  e.g.  Adansonia  e  Chorisia),   serradas,   por   vezes   lobadas   ou   fendidas,  estipuladas   (estípulas   pouco   visíveis   e   caducas   em  Bombacoideae),   total   ou   parcialmente   (na   base,   e.g.  Tilia)   palminérveas   (peninérveas   em   alguns  

 

Figura  37.  Cistaceae.  N.b.  corola  dialipétala  e  estigma  séssil;  estames  indefinidos.  

 

Figura  38.  Malvaceae  subfam.  Malvoideae.  N.b.  folhas  palmadas,  corola  dialipétala,  estames  monadelfos  fruto  

esquizocárpico.  

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Brachychiton).  Pecíolos  com  frequência  alargados  nas  duas  extremidades.  

Flor.  Flores  actinomórficas,  geralmente  pentâmeras,  corola  (quando  presente)  de  estivação  contorta,  estames  indefinidos   frequentemente  concrescentes  pelo   filete,  gineceu  súpero  pluricarpelar.  Nas  espécies  com  estames  epipétalos  a  corola  e  o  androceu  desprendem-­‐se  solidários.  Estrutura  variável  consoante  as  subfamílias.  

Sterculioideae  –  flores  unissexuais;  flores  haploclamídeas  (por  perda  da  corola);  sem  epicálice;  cálice  petaloideo   dialissépalo   ou   sinsépalo;   estames   agrupados   em   feixes   (poliadelfos)   ligeiramente  soldados  pela  base  do  filete,  epipétalos  ou  não;  carpelos  livres  ou  soldados  pelos  estiletes;  

Tilioideae  –  flores  heteroclamídeas;  com  ou  sem  epicálice;  sépalas  livres;  pétalas  livres  a  levemente  concrescentes  na  base,  geralmente  glandulosas  na  página  adaxial;  estames  livres;  gineceu  sincárpico;  

Malvoideae  –  flores  heteroclamídeas;  com  epicálice;  sépalas  livres  ou  concrescentes;  pétalas  livres  a  levemente   concrescentes   na   base   em   consequência   da   epipetalia;   com   epicálice;   estames  concrescescentes  pelo   filete  num   tubo   (monadelfos)  que  envolve  o  ovário  e  o  estilete,   epipétalos;  gineceu  sincárpico;  

Bombacoideae   –   flores   geralmente   heteroclamídeas;   com   ou   sem   epicálice;   sépalas   livres   ou  concrescentes,  com  pêlos  glandulosos  na  base;  pétalas  livres  a  levemente  concrescentes  na  base  em  consequência   da   epipetalia;   estames   geralmente   monadelfos   ou   poliadelfos,   epipétalos;   gineceu  sincárpico.  

Fruto.   Fruto   variável:   esquizocarpo   (e.g.  Malva),   cápsula   (e.g.  Hibiscus,   Tilia   e   Bombacoideae),  múltiplo   de  folículos  (Sterculioideae,  e.g.  Brachychiton).  

Observações   taxonómicas.   Família   dividida   em   9   subfamílias.   A   maior   parte   das   Floras   trata   a   família  Malvaceae  num  sentido  estrito  ao  admitir  como  autónomas  as  famílias  Tiliaceae,  Sterculiaceae  e  Bombacaceae.  

Distribuição  e  diversidade.  Fam.  muito  grande  (ca.  4200  sp.).  Cosmopolita.  As  espécies   indígenas  de  Lu  são  todas  herbáceas  e  ruderais  e  pertencentes  à  subfam.  Malvoideae.  Três  subfamílias  cultivadas  como  ornamentais  em   Portugal:   Tilioideae,   Sterculioideae   e   Bombacoideae.   As   Bombacoideae   têm   uma   grande   importância   nas  formações  arbóreas  das  florestas  tropicais  com  estação  seca.  

Botânica   económica.   Algumas   plantas   alimentares,   e.g.   Hibiscus   esculentus   «quiabo»   e   Theobroma   cacao  «cacaueiro»;   dos   pêlos   que   revestem  as   sementes   de  Gossypium   sp.pl.   faz-­‐se   a   fibra   de   algodão;  muitas  Tilia,  Chorisia  e  Hibiscus  são  ornamentais;  várias  espécies  medicinais  nos  géneros  Tilia,  Malva  e  Althaea;  a  madeira  de  Ochroma   pyramidale   «balsa»   é   uma   das  menos   densas   que   se   conhece   (ca.   160kg/m2);   a  Adansonia   digitata  «embondeiro»  tem  inúmeras  utilidades  e  é  uma  das  mais  emblemáticas  árvores  africanas.  

Santalales

LXXII. Santalaceae  

Fisionomia.   Árvores,   arbustos   ou   herbáceas,   hemiparasitas   (extraem   parte   da   água   e   dos   nutrientes   que  necessitam  de  plantas  hospedeiras).  

Folha.  Folhas  alternas,  simples  e  inteiras.  

Flor.   Flores   pequenas,   pouco   vistosas,   haploclamídeas.   3-­‐6   tépalas   num   único   verticilo   (flores  haploclamídeas),  soldadas  num  pequeno  tubo.  3-­‐6  estames  opostos,  epipétalos.  Gineceu  ínfero  ou  semi-­‐ínfero  de  3  carpelos.  

Fruto.  Fruto  seco  (tipo  noz)  ou  carnudo  (tipo  drupa).  

Distribuição  e  diversidade.  Fam.  de  média  dimensão  (ca.  1.000  sp.).  Cosmopolita.  2  gén.  e  5  esp.  em  Lu.  

Botânica  económica.  A  madeira  de  Santalum  album  «sândalo»  –  espécie  com  origem  em  Timor  –  é  usada  no  fabrico   de   mobiliário,   como   incenso   ou   na   extração   de   óleos   aromáticos.   Outras   espécies   do   género,   de  proveniências  paleotropicais  diversas,  têm  menor  qualidade.  

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Caryophyllanae  Morfologia.  Grupo  heterogéneo  sem  características  morfológicas  comuns.  Muitas  cariofilanas  são  herbáceas,  

e   apresentam   perfurações   simples   nos   elementos   dos   vasos,   placentação   basal   ou   central   livre   e   sementes  perispérmicas.   Neste   grupo   são   frequentes   grupos   de   plantas   carnudas   (e.g.   Cactaceae   e   algumas  Amaranthaceae)  e  carnívoras  (e.g.  Droseraceae,  Drosophyllaceae  e  Nepenthaceae).  

Caryophyllales

LXXIII. Tamaricaceae  

Fisionomia.  Pequenas  árvores  ou  grandes  arbustos.  

Folha.  Folhas  pequenas,  escamiformes  e  alternas.  

Flor.   Flores   pequenas,   vistosas,   actinomórficas,  solitárias   ou   em   espigas   densas   (e.g.   Tamarix).   4-­‐5  sépalas  e  4-­‐5  pétalas,  livres.  5-­‐10  estames  inseridos  num  disco  nectarífero  carnudo.  Ovário  súpero  de  2-­‐5  carpelos.  

Fruto   e   semente.   Fruto   seco   (cápsula).   Sementes  revestidas  de  pêlos.  

Distribuição  e  diversidade.  Fam.  pequena  (ca.  90  sp.).  Dispersa   pela   África   e   Eurásia.   Interesse  maioritariamente   ornamental,   e.g.   Tamarix   parviflora.  Grande   número   de   espécies   halófilas   e   de   espécies  adaptadas  a  zonas  áridas  e  desérticas.  

Botânica  económica.  As  excreções  açucaradas  de  uma  cochonilha  parasita  da  Tamarix  mannifera  são  o  maná  do   deserto   do  Antigo   Testamento.   A  T.   africana   é   usada   como   árvore   ornamental   e   na   revegetação   de   zonas  costeiras.  A  T.  gallica  abunda  nos  jardins  portugueses.    

LXXIV. Plumbaginaceae  

Fisionomia.  Arbustos  ou  plantas  herbáceas.  

Folha.  Folhas  simples,  inteiras,  alternas,  de  pecíolo  curto  e  alargado  na  base  (na  inserção  do  caule).  

Inflorescência.  Flores  agrupadas  em  inflorescências  alargadas  (em  Limonium  e  Limoniastrum)  ou  densas  (em  Armeria).  

Flor.  Flores  actinomórficas.  5  sépalas,  por  vezes  coloridas,  soldadas  num  tubo  longo,  lóbulos  frequentemente  de  extremidades  membranosas.  5  pétalas,  soldadas  na  base  ou  num  tubo  longo.  5  estames  livres  ou  soldados,  na  base,   às   pétalas.  Ovário   súpero,   de   5   carpelos   e   1   primórdio   seminal   inserido   na   base   do   ovário   (placentação  basal).  

Fruto.  Fruto  seco  (aquénio).  

Distribuição  e  diversidade.  Fam.  de  média  dimensão  (ca.  850  sp.).  Cosmopolita.  Uma  parte  significativa  das  plantas  com  flor  endémicas  (exclusivas)  de  Lu  pertencem  aos  géneros  Armeria  e  Limonium.  

Botânica  económica.  Várias  Armeria,  Limonium  e  Plumbago  são  cultivados  como  ornamentais.  

 

Figura  39.  Tamarix  africana.  N.b.  ramos  revestidos  de  folhas  escamiformes;  flores  pequenas  organizadas  em  

cachos  (Porto)  

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LXXV. Polygonaceae  

Fisionomia.   Herbáceas   ou   trepadeiras,  raramente  arbustos,  de  nós  intumescidos.  

Folha.   Folhas   alternas,   simples,   inteiras   e  peninérveas.   Estípulas   soldadas   num   tubo   que  evolve  e  adere  aos  caules  por  cima  da  inserção  da  folha  (ócrea).  

Flor.   Flores   hermafroditas   ou   unissexuais,  normalmente   pequenas,   haploclamídeas   (e.g.  Fagopyrum,   Polygonum),   homoclamídeas   (e.g.  Rheum   sp.pl.)   ou   heteroclamídeas   (e.g.   Rumex).  (2)   5   ou   6   tépalas   sepaloides   ou   petaloideas,  muitas  vezes  persistentes  e  acrescentes  aquando  da   maturação   do   fruto.   Ovário   súpero   com   1  primórdio  seminal.  

Fruto.  Fruto  seco,  anguloso,  do  tipo  aquénio,  por   vezes   alado,   frequentemente   associado   a  tépalas  membranosas  ou  carnudas.  

Distribuição   e   diversidade.   Fam.   de   média  dimensão   (ca.   1100   sp.).   Cosmopolita   com   um  máximo   de   diversidade   no   hemisfério   norte.   Ca.  de  30  espécies  indígenas  ou  naturalizadas  em  Lu,  maioritariamente  herbáceas.  

Botânica   económica.   Muitas   Polygonaceae  (e.g.   Rumex   e   Polygonum)   são   infestantes   ou  plantas   ruderais.  Faz-­‐se   farinha  das  sementes  de  Fagopyrum   esculentum   «trigo-­‐sarraceno»;  consomem-­‐se   os   pecíolos   do   Rheum   x   hybridum  «ruibarbo».  

LXXVI. Caryophyllaceae  

Fisionomia.   Plantas   herbáceas   anuais   ou  perenes,   raramente   lenhosas   na   base,   de   caules  intumescidos  nos  nós.  

Folha.   Folhas   oposto-­‐cruzadas,   simples   e  inteiras.   Estípulas   presentes   (subfam.  Paronychioideae)   ou   ausentes   (subfam.  Silenoideae  e  Alsinoideae).  

Inflorescência.   Inflorescências   cimosas   tipo  monocásio   ou   dicásio   de   complexidade   variável,  com  ou  sem  brácteas,  raramente  flores  solitárias.  

Flor.   Flores   geralmente   pequenas,  pentâmeras   ou   tetrâmeras,   heteroclamídeas  (apétalas   em   Scleranthus),   dialipétalas,  actinomórficas  e  hermafroditas.  Sépalas   livres  ou  quase   (subfam.   Alsinoideae   e   Paronychioideae)   ou   soldadas   num   tubo   (subfam.   Silenoideae).   Por   regra   8-­‐10  estames  em  dois  verticilos.  Ovário  súpero  de  placentação  axilar  ou  central-­‐livre.  

 

Figura  40.  Polygonaceae.  N.b.  perianto  de  estrutura  muito  simples  com  um  número  variável  de  peças  e  frutos  alados  de  Rumex.  

 

Figura  41.  Caryophyllaceae.  N.b.  4  pétalas  fendidas  e  fruto  tipo  cápsula.  

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Fruto.  Tipo  cápsula  (um  aquénio  em  Paronychia  e  uma  baga  em  Cucubalus).  Semente  sem  endosperma  e  com  perisperma.  

Distribuição   e   diversidade.   Fam.   grande   (ca.   2500   sp.).   Cosmopolita,   particularmente   diversa   na   região  mediterrânica.  

Botânica  económica.  Escassas  plantas  de  interesse  económico;  e.g.  Dianthus  caryophyllus  «craveiro».  

LXXVII. Amaranthaceae  (inc.  Chenopodiaceae)  

Fisionomia.   Plantas   herbáceas   ou   arbustos  lenhosos   ou   suculentos,   raramente   de   grande  dimensão   (e.g.   Atriplex).   Nós   dos   caules   com  frequência   intumescidos.   Presença   frequente   de  adaptações  fisiológicas  a  solos  com  elevados  teores  de  sais.  

Folha.   Folhas   alternas   ou   opostas,   espiraladas,  simples,   normalmente   inteiras,   por   vezes   suculentas,  peninérveas  (nervuras  pouco  visíveis)  e  sem  estípulas.    

Inflorescência.   Inflorescências   muito   densas,  terminais  ou  axilares.  

Flor.   Flores   muito   pequenas,   haploclamídeas,  actinomórficas,   envolvidas   por   pequenas   folhas  modificadas  (brácteas).  3  a  5  tépalas  de  cores  mortas,  frequentemente   secas   e   quebradiças.   Ovário   súpero.  Primórdios   seminais   inseridos   na   base   do   ovário  (placentação  basal).  

Fruto.  Fruto  seco,  envolvido  por  tépalas  e  brácteas  ±  suculentas,  de  abertura  transversal   (pixídio)  ou  não  deiscente  (aquénio  ou  utrículo).    

Observações   taxonómicas.   Os   géneros   Atriplex,  Chenopodium,  Salicornia,  Sarcocornia  e  Salsola,  entre  outros,   eram   tradicionalmente   incluídos   na   família  Chenopodiaceae.  

Distribuição  e  diversidade.  Fam.  grande  (2050-­‐2500  sp.).  Cosmopolita.  Ca.  70  sp.  indígenas  ou  naturalizadas  em   Lu,  muitas   delas   frequentes   como   infestantes   de   Primavera-­‐Verão   (e.g.  Chenopodium   sp.pl.   e  Amaranthus  sp.pl.)   ou   na   vegetação   de   áreas   litorais   com   solos   enriquecidos   em   cloreto   de   sódio   (e.g.   gén.   Salicornia,  Sarcocornia  e  Salsola).  

Botânica   económica.   A   Beta   vulgaris   «beterraba»   e   a   Spinacea   oleracea   «espinafre»   têm   um   enorme  interesse  alimentar  e  o  Amaranthus  caudatus  «crista-­‐de-­‐galo»  ornamental.  

LXXVIII. Cactaceae  

Fisionomia.  Arbustos  ou  herbáceas,  espinhosos.  Caules  suculentos,  verdes  (regra  geral),  de  forma  cilíndrica,  cónica,  globosa  ou  espalmada  (cladódios).  Folhas  geralmente  reduzidas  a  espinhos  (bem  desenvolvidas  na  tribo  Pereskieae).  Grupos  de  espinhos  e/ou  pêlos  inseridos  em  pequenas  estruturas  em  forma  de  almofada  –  aréolas  –  dispersas  pelos  caules.  

Flor.  Flores  geralmente  grandes.  Tépalas  muito  numerosas,  dispostas  em  espiral.  Estames  muito  numerosos.  Gineceu  ínfero  com  um  número  variável  de  carpelos.  

Fruto.  Fruto  carnudo  e  espinhoso  do  tipo  baga.  

 

Figura  42.  Amaranthaceae.  N.b.  inflorescência  densa  terminal  e  primórdios  seminais  inseridos  na  base  do  ovário;  

cápsula  circuncisa  (=pixídio)  (canto  inferior  direito)  

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Distribuição  e  diversidade.  Fam.  de  média  dimensão  (ca.  1500  sp.).  Todas  as  Américas;  1  gén.  em  África  e  no  Ceilão.  

Botânica  económica.  Várias  Opuntia  estão  naturalizadas  nas  áreas  mais  quentes  e  secas  de  Lu  e  Ma.  Família  de  grande  interesse  ornamental.  Os  frutos  de  algumas  Opuntia  são  comestíveis.  

Clado  das  asteridas  (Asteranae)  Morfologia.   Flores   cíclicas,   heteroclamídeas   e   simpétalas.   Primórdios   seminais   unitegumentados   e  

tenuinucelados.    

Observações  taxonómicas.  Grupo  monofilético.  As  famílias  tratadas  neste  texto  repartem-­‐se  pelas  seguintes  ordens   (Angiosperm Phylogeny Group, 2009):   Cornales   (fam.   Cornaceae,   Hydrangeaceae);   Ericales   (fam.  Actinidiaceae,  Ericaceae,  Theaceae);   incertae  sedis30  Boraginaceae;  Gentianales   (fam.  Apocynaceae,  Rubiaceae);  Lamiales   (fam.  Bignoniaceae,  Lamiaceae,  Oleaceae,  Orobanchaceae,  Scrophulariaceae,  Verbenaceae);  Solanales  (fam.   Convolvulaceae,   Solanaceae);   Apiales   (fam.   Apiaceae,   Araliaceae,   Pittosporaceae);   Aquifoliales   (fam.  Aquifoliaceae);  Asterales  (fam.  Asteraceae);  Dipsacales  (fam.  Adoxaceae,  Caprifoliaceae).  

Cornales

LXXIX. Cornaceae  

Fisionomia.  Árvores  ou  arbustos.  

Folha.  Folhas  opostas,  simples,  inteiras  e  com  nervuras  curvadas  em  direção  à  extremidade  da  folha.  

Inflorescência.   Inflorescências   frequentemente   envolvidas   por   brácteas   semelhantes   a   pétalas   (brácteas  petaloideas).  

Flor.  Flores  pequenas  com  4  (5)  pétalas  livres,  alternadas  com  as  sépalas  e  estames.  Gineceu  ínfero  coroado  por  um  nectário  em  forma  de  disco.  

Fruto.  Frutos  carnudos  (pseudodrupa)  por  vezes  compactados  em  grandes  infrutescências.  

Distribuição  e  diversidade.  Fam.  pequena   (ca.  85  sp.).  Grande  área  de  distribuição,  ausente  da  América  do  Sul.  Representada  na  flora  de  Lu  por  Cornus  sanguinea.  

Botânica  económica.  Várias  espécies  de  Cornus  são  cultivadas  como  arbustos  ornamentais.  

LXXX. Hydrangeaceae  

Botânica  económica.  São  muito  cultivadas  como  ornamentais  o  Phyladelphus  coronarius  e  várias  Hydrangia  «hidrângeas   ou   hortênsias».   Neste   último   género   é   muito   popular   a   H.   macrophylla,   uma   planta   perene  caducifólia,   de   origem   asiática   (Península   da   Coreia   e   Sul   do   Japão),   facilmente   propagada   por   estaca   que   se  revelou  uma  invasora  agressiva  em  Az  (sobretudo  na  Ilha  das  Flores).  

Ericales

LXXXI. Sapotaceae  

Botânica  económica.  Alguns   frutos  de   interesse   local;  e.g.  Manilkara  zapota  «sapota».  Antes  de  se  usarem  borrachas   sintéticas   nas   pastilhas-­‐elásticas   mascava-­‐se   látex   de  Manilkara   chicle   «chicle».   A   Argania   spinosa  «argânia»   têm   inúmeros   usos   nas   zonas   semidesérticas   a   norte   do   Sahara;   e.g.   extração   de   óleo   dos   frutos,  consumo  das  folhas  pelos  animais  domésticos  e  lenhas.  O  Syderoxylon  marmulano,  uma  árvore  indígena  de  Ma  e  Canárias,  é  a  única  espécie  indígena  da  família  na  Europa.    

30   Incertae   sedis   termo   latino  que   significa   “de   localização   incerta”,  utilizado  para  designar   taxa   com   relações   filogenéticas  demasiado  obscuras  para  permitir  uma  colocação  precisa  no  sistema  taxonómico.  No  caso  das  Boraginaceae  é  claro  que  se  trata  de  uma  asterida  mas  as  suas  relações  com  outras  famílias  do  clado  não  estão  clarificadas.    

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LXXXII. Ebenaceae  

Botânica  económica.  Diospyrus  kaki  «diospireiro».  O  ébano  é  uma  madeira  nobre,  pesada  e  negra,  de  grande  procura,  extraída  de  várias  espécies  africanas,  indianas  e  indonésias  de  Diospyrus.  

LXXXIII. Theaceae  

Fisionomia.  Árvores  ou  arbustos  de  folhas  persistentes.  

Folha.  Folhas  alternas,  muitas  vezes  dispostas  no  mesmo  plano,  simples,  dentadas,  peninérveas  e  coriáceas.  

Flor.   Flores   médias   a   grandes   e   actinomórficas.   Presença   frequente   de   pequenas   folhas   modificadas  (bractéolas)   imediatamente  abaixo  do  cálice.  Com  frequência,  bractéolas,  sépalas  e  pétalas  de   inserção  alterna  em  espiral,  sem  descontinuidades  morfológicas  claras.  5  sépalas  e  5  pétalas,   livres  ou   ligeiramente  soldadas  na  base.   Estames   numerosos,   livres   ou   monadelfos,   por   vezes   epipétalos.   Ovário   súpero   de   3-­‐5   carpelos   e   1   a  poucos  primórdios  seminais  por  lóculo.  

Distribuição   e   diversidade.  Fam.   de   pequena   dimensão   (ca.   200   sp.).   Américas   e   SW  Asiático.   Ausente   de  Portugal.  A  Visnea  mocanera  é  uma  espécie  (e  género)  endémica  de  Ma  e  Canárias,  pertencente  a  uma  pequena  família  muito  próxima  das  Theaceae,  as  Ternstroemiaceae.  

Botânica   económica.   Pertencem   ao   género   Camellia   as   cameleiras   (C.   japonica)   e   a   planta-­‐do-­‐chá   (C.  chinensis).  

LXXXIV. Actinidiaceae  

Botânica  económica.  A  Actinidia  sinensis  «kiwi»  é  uma  trepadeira  perene  dioica  originária  da  China,  muito  cultivada  pelos  seus  frutos  (pseudobaga).  

LXXXV. Ericaceae  (inc.  Empetraceae)  

Fisionomia.   Pequenos   a   grandes   arbustos,  árvores   ou   plantas   herbáceas,   raramente  caducifólios  (Vaccinium  myrtillus).  

Folha.   Folhas   alternas,   opostas   (Calluna)   ou  verticiladas  (3-­‐6  por  nó,  e.g.  Erica),  simples,  inteiras  ou   serradas,   por   vezes   de   margens   ciliadas   (e.g.  Erica  tetralix  e  E.  ciliaris),  largas  (e.g.  Rhododendron  e  Arbutus)  ou  muito  estreitas  de  margens  enroladas  para   a   página   inferior   (folhas   ericoides   em   Erica,  Calluna  e  Corema).  

Inflorescências.   Flores   solitárias,   em   pequenos  fascículos,  cachos,  panículas,  ou  umbelas.  

Flor.   Flores   hermafroditas,   actinomórficas   a  ligeiramente   zigomórficas,   heteroclamídeas   (com  cálice   e   corola)   e   frequentemente   pêndulas.   4-­‐5  sépalas  livres  (muito  reduzidas  em  Rhododendron)  a  ligeiramente   concrescentes   na   base.   4-­‐5   pétalas  (e.g.   4   em   Erica   e   5   em   Rhododendron),   soldadas  num   tubo   muito   maior   do   que   os   segmentos   da  corola   (excepto   Rhododendron   e   Calluna),  campanulado,   cilíndrico   ou   contraído   no   ápice  (corola   gomilosa).   Estames   em   número   duplo   das  pétalas,   livres  ou  ocasionalmente  soldados  à  corola  

 Figura  43.  Ericaceae.  N.b.  flores  pêndulas  de  Erica  cinerea,  apêndices  na  base  das  anteras  e  corola  simpétala  gomilosa  

de  Vaccinium  myrtillus.  

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(epipétalos),  com  presença  habitual  de  dois  apêndices  na  base  das  anteras.  Em  Corema  as  flores  são  unissexuais  com  3  sépalas,  3  pétalas   (muito  reduzidas  nas  flores  masculinas)  e  3  estames.  Por  norma  ovário  súpero  (ínfero  em  Vaccinium)  de  4-­‐5  carpelos.  Polinização  entomófila  (anemófila  em  Corema).  

Fruto.   Fruto   seco   tipo   cápsula,   ou   carnudo   tipo   drupa   (e.g.   Corema   album),   baga   (e.g.  Arbutus   unedo)   ou  pseudobaga  (Vaccinium).  

Distribuição   e   diversidade.   Fam.   muito   grande   (ca.   2700   sp.).   Cosmopolita   com   picos   de   diversidade   nos  Himalaias,  Nova-­‐Guiné,  Andes  e  África  do  Sul.  Grande  importância  ecológica  nas  áreas  mais  chuvosas  de  Lu.  Dois  endemismos  nos  Az,  a  Corema  azorica  e  a  Erica  azorica;  outros  dois  na  Ma,  E.  maderensis  e  E.  platycodon  subsp.  maderincola.  

Botânica  económica.  Os  frutos  do  Vaccinium  myrtillus  «mirtilo»,  da  Corema  album  «camarinha»  e  do  Arbutus  unedo  «medronheiro»  são  edíveis;  muitas  plantas  de  valia  ornamental,  e.g.  espécies  e  híbridos  de  Rhododendron  «azálias   e   rododendros»   himalaianos   e   Erica   «urzes»   sul-­‐africanas.   Várias   Erica   e   a   Calluna   vulgaris   são  dominantes  na  vegetação  arbustiva  baixa  nas  áreas  mais  húmidas  e/ou  de  maior  altitude  de  Lu.  Também  em  Lu,  o  A.  unedo  enxameia  os  bosques  secundarizados  de  sobreiro  e  os  matagais  que  os  substituem.  

Incertae sedis

LXXXVI. Boraginaceae  

Fisionomia.  Plantas  herbáceas,  lianas,  arbustos  a  arbóreas,  frequentemente  revestidas  por  um  indumento  de  pelos  rígidos;  caules  de  secção  circular.  

Inflorescência.  Inflorescências  definidas,  geralmente  bracteadas  e  escorpioides.  

Folha.  Folhas  alternas,  sem  estípulas.  

Flor.   Flores   simpétalas,   actinomórficas   ou   zigomórficas,   tubulosas   ou   rodadas,   frequentemente   azuis,  lilacíneas   ou   purpúreas,   com  a   fauce   (entrada   do   tubo)   frequentemente   preenchida   com  5   escamas   ou   pêlos.  Estames   5,   epipétalos,   alternos   com   as   pétalas   (alternipétalos).   Ovário   súpero,   de   2   carpelos,   profundamente  dividido  em  4  lóbulos  cada  um  com  1  primórdio  seminal,  estilete  ginobásico.  Polinização  entomófila.  

Fruto.  Fruto  seco,  esquizocárpico  com  4  frutículos.  

Distribuição  e  diversidade.  Fam.  de  grande  dimensão  (ca.  2800  sp.).  Cosmopolita.  

Botânica  económica.  Escasso  interesse  económico.  O  género  Echium  inclui  algumas  infestantes  importantes  –  e.g.  E.  plantagineum  «soagem»  –  e  um  número  assinalável  de  espécies  endémicas  nos  arquipélagos  oceânicos  de  Cabo  Verde,  Canárias  e  Ma.  O  endemismo  madeirense  Echium  candicans   é  usado  como  ornamental  nas   zonas  mais   oceânicas   de   Portugal   continental.   O   Borago   officinalis   «borragem»   é   uma   planta   medicinal   muito  apreciada.  

Gentianales

LXXXVII. Rubiaceae  

Fisionomia.  Árvores  e  arbustos  tropicais,  trepadeiras  e  herbáceas.  

Folha.   Folhas   opostas   ou   verticiladas,   inteiras,   peninérveas;   estípulas   presentes,   grandes   (semelhantes   às  folhas  em  Rubia  e  Galium).  

Flor.  Flores  actinomórficas.  Cálice  pequeno  ou  nulo.  4  ou  5  pétalas  concrescentes  num  tubo;  corola  em  forma  de   salva   ou   afunilada.   4-­‐5   estames   epipétalos,   alternos   com   as   pétalas.   Gineceu   ínfero   de   2   carpelos   e   2  primórdios  seminais  (1  por  lóculo).  

Fruto.  Fruto  muito  variável.  

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Distribuição   e   diversidade.   Fam.   muito   grande  (mais  de  11100  sp.).  Cosmopolita,  muito  diversa  e  de  grande  dificuldade  taxonómica  nos  trópicos.  

Botânica   económica.   São   rubiáceas   a   Coffea  arabica   «cafezeiro-­‐arábica»,   a   C.   canephora  «cafezeiro-­‐robusta»  e  as  Gardenia  «gardénias».  

LXXXVIII. Apocynaceae   (inc.  

Asclepiadaceae)  

Fisionomia.   Árvores,   arbustos,   lianas   e  herbáceas,  frequentemente  produtoras  de  látex.  

Folha.   Folhas   opostas   raramente   alternas   ou  verticiladas   (e.g.   em   Nerium),   inteiras,   peninérveas  (nervação  pouco   evidente),   estípulas  minúsculas   ou  ausentes.  

Flor.   Flores   actinomórficas,   por   vezes   de  estrutura   muito   sofisticada.   5   sépalas   soldadas.   5  pétalas   soldadas   num   tubo;   corola   em   forma   de  salva,   sino,   funil   ou   tubulosa;   presença   habitual   de  apêndices   inseridos  no   interior  do  tubo  da  corola.  5  estames   epipétalos,   alternos   com   as   pétalas;  muito  modificados,  muitas  vezes  soldados  pelas  anteras  ou  anteras   soldadas   ao   estilete   (formando   uma   coroa  estaminal).   Gineceu   súpero   ou   semi-­‐ínfero   de   2   carpelos   apenas   unidos   pelo   estilete   e   estigma,   com  menos  frequência  vários  carpelos  concrescentes.  

Fruto.  Fruto  seco  constituído  por  1  (e.g.  Araujia  sericifera)  ou  2  folículos  longos  (e.g.  Nerium  oleander),  menos  comum  um  fruto  carnudo  (baga).  

Observações  taxonómicas.  As  Floras  clássicas  segregam  Asclepiadaceae  de  Apocynaceae.  

Distribuição  e  diversidade.  Fam.  muito  grande  (ca.  3700  sp.).  Pantropical  com  representantes  temperados  e  mediterrânicos.  12  sp.  naturalizadas  ou  indígenas  em  Lu.  

Botânica  económica.  Numerosas  espécies   cultivadas   como  ornamentais,  e.g.  Trachelospermum   jasminoides  «falso-­‐jasmim»  e  Nerium  oleander  «loendro»;  ou  com  interesse  medicinal,  e.g.  Catharanthus  roseus  «pervinca-­‐de-­‐madagáscar».  

Lamiales

LXXXIX. Oleaceae  

Fisionomia.  Árvores,  arbustos  ou  trepadeiras.  Caules  com  2  ou  mais  gomos  sobrepostos.  

Folha.   Folhas   opostas,   simples,   penaticompostas   (e.g.   Fraxinus)   ou   trifolioladas   (em   alguns   Jasminum);  inteiras  ou  serradas;  peninérveas.  

Flor.  Flores  actinomórficas.  4  sépalas  pequenas  e  concrescentes.  4  pétalas  (5  em  alguns  Jasminum)  soldadas  num   tubo   (livres  ou  ausentes  em  Fraxinus).   2  estames  epipétalos.  Ovário   súpero  de  2   carpelos  e  4  primórdios  seminais  (2  por  lóculo).  

Fruto.  Fruto  seco  tipo  cápsula  (e.g.  Syringa)  ou  sâmara  (e.g.  Fraxinus),  ou  carnudo  tipo  baga  (e.g.  Ligustrum)  ou  drupa  (e.g.  Olea).  

 

Figura  44.  Rubiaceae.  N.b.  folhas  verticiladas  de  Galium;  ovário  ínfero  em  Galium  e  Rubia.  

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Distribuição   e   diversidade.   Fam.   de   média   dimensão   (ca.   600   sp.).   Cosmopolita.   6   sp.   indígenas   de   Lu;   1  espécie  endémica  nos  Az  (Picconia  azorica)  e  2  na  Ma  (Olea  maderensis  e  Jasminum  azoricum);  a  Picconia  excelsa  e  o  J.  odoratissimum  são  exclusivos  da  Ma  e  Canárias.  

Botânica  económica.  Várias  espécies  de  interesse:  alimentar  e.g.  Olea  europaea  var.  europaea  «oliveira»;  na  produção   de   madeira   e.g.   Fraxinus   angustifolia   «freixo»;   produção   de   perfumes   e.g.   Jasminum   sp.pl.;  ornamentais  e.g.  Syringa  vulgaris  «lilazeiro»,  Ligustrum  sp.pl.  «ligustros»  e  Forsteria  sp.pl.  

XC. Bignoniaceae  

Fisionomia.  Árvores,  arbusto  ou  plantas  herbáceas.  

Folha.   Folhas   persistentes   ou   caducas   (e.g.   Jacaranda   e   Catalpa),   opostas   ou   verticiladas,   compostas  (penaticompostas  ou  palmaticompostas)  ou  recompostas,  folíolos  frequentemente  dentados,  sem  estípulas.  

Flor.   Flores   grandes,   vistosas,   zigomórficas.   5   sépalas   soldadas.   5   pétalas   soldadas;   corola   com   5   lóbulos  grandes  repartidos  por  2  lábios,  lábio  inferior  de  3  lóbulos  e  o  superior  de  2.  4  estames  epipétalos,  2  curtos  e  2  mais  longos.  Ovário  súpero  de  2  carpelos  e  numerosos  primórdios  seminais.  

Fruto.  Fruto  seco  (cápsula)  alongado.  Sementes  espalmadas  e  aladas.  

Distribuição  e  diversidade.  Fam.  de  média  dimensão  (ca.  800  sp.).  Pantropical,  com  algumas  sp.  temperadas.  Ausente  de  Portugal.  

A) B)  

Figura  45.  A)  Oleaceae.  N.b.flores  tetrâmeras  de  Syringa  vulgaris  «lilazeiro»  e  flores  nuas  e  sâmara  de  Fraxinus  «freixos».  B)  Lamiaceae.  N.b.flor  bilabiada  de  Lamium  e  flor  unilabiada  (por  redução  do  lábio  superior)  de  Ajuga;  

cálice  sinsépalo  de  Lamium;  ovário  profundamente  2-­‐partido  com  estilete  ginobásico  de  Ajuga.  

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Botânica   económica.   Grande   interesse   ornamental,   e.g.   Catalpa   bignonioides   «catalpa»,   Jacaranda  mimosifolia   «jacarandá»  e   Campsis   sp.pl.   Algumas   árvores   tropicais   de   excelente  madeira,   e.g.  Tabebuia   «e.g.  ipê-­‐roxo  e  ipê-­‐amarelo».  

XCI. Lamiaceae  

Fisionomia.   Árvores   tropicais,   arbustos   ou   plantas   herbáceas,   aromáticos,   de   caules   jovens   com   secção  quadrangular.  

Folha.   Folhas   oposto-­‐cruzadas,   simples,   raramente   compostas,   inteiras,   dentadas   ou,   por   vezes,  profundamente  recortadas.  

Inflorescência.   Inflorescências  terminais,  constituídas  por  nós  com  1  a  várias   flores,  dispostos  regularmente  ao  longo  de  um  eixo  (verticilastros).  

Flor.  Flores  zigomórficas,  raramente  actinomórficas  (e.g.  Mentha).  5  sépalas  soldadas  num  tubo,  persistentes,  mais  tarde  encerrando  o  fruto.  5  pétalas  soldadas  num  tubo;  corola  geralmente  com  2  lábios  (1  lábio,  o  inferior,  em   Teucrium   e   Ajuga),   lábio   inferior   de   3   lóbulos   e   o   superior   de   2   (normalmente   pequenos).   4   estames  epipétalos,  2  curtos  e  2  longos  (2  estames  em  Salvia).  Ovário  súpero,  de  2  carpelos,  profundamente  dividido  em  4  lóbulos,  cada  lóbulo  com  1  primórdio  seminal;  estilete  ginobásico.  

Fruto.   Fruto   seco   geralmente   fragmentando-­‐se   na  maturidade   (esquizocarpo)   em   4   frutículos   (mericarpos)  com  uma  semente  inclusa.  

Distribuição  e  diversidade.  Fam.  muito  grande  (ca.  7.000  sp.).  Cosmopolita.  

Botânica   económica.  Numerosas   plantas   utilizadas   como:   aromáticas   ou   medicinais,   e.g.   Salvia   officinalis  «sálvia»,   Rosmarinus   officinalis   «alecrim»,   Ocimum   basilicum   «mangericão»;   ornamentais,   e.g.   Lavandula  angustifolia  «alfazema».  

XCII. Orobanchaceae  

Fisionomia.   Plantas   herbáceas   hemiparasíticas   ou   parasíticas   (sem   clorofila,   e.g.  Orobanche),   neste   último  caso  sem  clorofila.  Frequentemente  escurecidas  quando  secas  (e.g.  plantas  de  herbário).  

Folha.  Folhas  alternas  ou  opostas,    

Inflorescência.  Tipo  cacho.  

Flor.  Cálice   sinsépalo.   Corola   zigomórfica,   simpétala   r   persistente;   lóbulo   superior   da   corola   por   dentro   do  lóbulo  inferior  nas  flores  por  abrir  (em  botão).  Gineceu  súpero,  estigma  geralmente  capitado  ou  clavado.  

Fruto.  Capsular.  

Observações  taxonómicas.  O  conceito  de  Orobanchaceae  foi  substancialmente  alargado  nos  últimos  anos  de  modo   a   incluir   géneros   no   passado   integrados   na   fam.  Scrophulariaceae   (e.g.  Pedicularis,  Euphrasia,  Bartsia   e  Rhinanthus).  

Distribuição  e  diversidade.  Família  cosmopolita.

Botânica   económica.  Várias   espécies   parasitas   de   grande   impacte   económico,   e.g.  Orobanche   crenata   em  faveira  e  ervilheira  na  bacia  do  Mediterrânico,  ou  Striga  sp.pl,  sobretudo,  S.  hermonthica,  em  numerosas  culturas  nas  regiões  tropicais  com  estação  seca  (e.g.  Sorghum  sp.pl.,  Panicum  miliaceum  e  Vigna  unguiculata).  

XCIII. Scrophulariaceae  (inc.  Buddlejaceae  e  Myoporaceae)  

Fisionomia.  Arbustos  ou  plantas  herbáceas.  

Folha.   Folhas   alternas   ou   opostas   (em   Buddleja),   simples,   inteiras   a   profundamente   recortadas,   com  (Myoporum)  ou  sem  pontuações  translúcidas.  

Flor.  Flores  zigomórficas  ou  quase  actinomórficas  (e.g.  Verbascum  e  alguns  Myoporum).  4-­‐5  sépalas  soldadas.  4   (Buddleja)   ou   5   pétalas   soldadas;   corola   de   tubo   longo   com   2   lábios   ou   de   tubo   curto   e   lóbulos   da   corola  

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parcialmente  sobrepostos.  4  (Buddleja)  ou  5  estames  epipétalos,  por  vezes  o  5º  estame  estéril  (estaminódio,  e.g.  Scrophularia  e  alguns  Myoporum).  Ovário  súpero  de  2  carpelos.  

Fruto.  Fruto  seco  (cápsula  ou  esquizocarpo  fragmentando-­‐se  na  maturação)  ou  carnudo  (Myoporum).  

Distribuição  e  diversidade.  Fam.  de  média  dimensão   (ca.  1700  sp.).  Cosmopolita.   Família  de  caracterização  morfológica   nos   últimos   anos   sujeita   a   sucessivas   reinterpretações   taxonómicas.   2   géneros   indígenas   de   Lu:  Verbascum  e  Scrophularia.  

Botânica  económica.  Escasso  interesse  económico;  algumas  espécies  ornamentais,  e.g.  Myoporum   laetum  e  Buddleja  davidii,  ambas  escapadas  de  cultura  em  Lu.  

XCIV. Verbenaceae  

Fisionomia.   Árvores   tropicais,   arbustos,  trepadeiras  ou  plantas  herbáceas  aromáticos  e  com  caules  jovens  de  secção  quadrangular.  

Folha.   Folhas   oposto-­‐cruzadas   por   vezes  verticiladas   (e.g.   em   Aloysia),   simples,  inteiras  a  profundamente  recortadas.  

Inflorescência.   Inflorescências   do   tipo  cacho  composto,  espiga  ou  capítulo.  

Flor.   Flores   zigomórficas.   5   sépalas  concrescentes   num   tubo   e   persistentes.   5  pétalas  concrescentes  num  tubo,  2  das  quais  por   vezes   soldadas   em   todo   o   seu  comprimento.  4  estames  epipétalos,  2  curtos  e   2   longos.   Ovário   súpero,   de   2   carpelos,   não   lobado   a   ligeiramente   dividido   em   4   lóbulos,   cada   um   com   1  primórdio  seminal;  estilete  terminal.  

Fruto.   Fruto   carnudo   (drupa)   ou   um   esquizocarpo   que   se   fragmenta   na   maturidade   em   4   frutículos  (mericarpos),  cada  um  com  uma  semente.  

Distribuição  e  diversidade.  Fam.  de  média  dimensão  (ca.  1.000  sp.).  Cosmopolita.  Uma  espécie   indígena  de  Lu:  Verbena  officinalis.  

Botânica  económica.  A  Lantana  camara  é  uma  ornamental  muito  frequente  apesar  de  ser  uma  das  invasoras  mais   agressivas  do  mundo  e  de  estar   naturalizada  em  Lu  e  nas   ilhas  de  Ma  e  Az.  Várias  espécies  Verbena   são  frequentes  nos   jardins  portugueses.  A  Aloysia   triphylla   «limonete»  é  muito   cultivada   como  planta  aromática  e  medicinal.  A  Tectona  grandis  «teca»  é  uma  conhecida  madeira  nobre  do  sudeste  asiático.  

Solanales

XCV. Convolvulaceae  

Fisionomia.  Trepadeiras  de  caules  volúveis  produtoras  de  látex,  por  vezes  plantas  parasitas  (e.g.  Cuscuta)  ou  herbáceas  perenes  (e.g.  Cressa).  

Folha.  Folhas  alternas,  simples,  inteiras  ou  profundamente  recortadas  e,  por  regra,  palminérveas.  

Flor.   Flores   geralmente   grandes   e   actinomórficas.   5   sépalas   livres   e   persistentes.   5   pétalas   concrescentes  numa  corola  afunilada  praticamente  não  dividida  (excepto  em  Cressa  e  Cuscuta).  Estames  5,  epipétalos.  Ovário  súpero  de  2  carpelos,  2  lóculos  e  4  primórdios  seminais  (2  por  lóculo).  

Fruto.  Fruto  seco  (cápsula).  

Distribuição  e  diversidade.  Fam.  de  média  dimensão  (ca.  1600  sp.).  Cosmopolita.  

A) B)  

Figura  46.  Verbenaceae.  A)  Lantana  camara  «lantana».  B)  Aloysia  triphylla  «limonete»  

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Botânica   económica.   Uma   planta   alimentar   de  grande  importância,  a   Ipomoea  batatas  «batata-­‐doce».  Várias   espécies   ornamentais   algumas   das   quais  escapadas   de   cultura,   e.g.   Ipomoea   acuminata.   O  Convolvulus   arvensis   «corriola»   é   uma   infestante   de  Primavera-­‐Verão  muito  frequente  e  de  difícil  controlo.  

XCVI. Solanaceae  

Fisionomia.   Arbustos,   trepadeiras,   herbáceas,  raramente   árvores,   geralmente   de   odor   desagradável  (plantas   fétidas).   Nesta   família   a   inserção   das   folhas,  ramos   e   flores,   geralmente,   não   parece   seguir   uma  sequência  regular.  

Folha.  Folhas  alternas;  simples;  inteiras,  serradas  ou  profundamente  recortadas;  peninérveas.  

Flor.   Flores   actinomórficas   (raramente  zigomórficas).   5   sépalas   soldadas,   persistentes   e  frequentemente   acrescentes   no   fruto.   5   pétalas  soldadas   num   tubo;   corola   rodada,   assalveada,  campanulada   ou   tubulosa.   5   estames   epipétalos,  alternos   com   as   pétalas,   muitas   vezes   coniventes   no  ápice.   Ovário   súpero   de   2   carpelos   e   numerosos  primórdios  seminais.  

Fruto   e   semente.   Fruto   seco   (cápsula)   ou   carnudo  (baga).  Sementes  espalmadas.    

Distribuição   e   diversidade.   Fam.   grande   (ca.   2500  sp.).  Cosmopolita.  

Botânica   económica.   Numerosas   espécies:  alimentares,   e.g.   Solanum   nigrum   «batateira»,   S.  lycopersicum   «tomateiro»,   Capsicum   annuum  «pimenteiros»;   ornamentais,   e.g.   Petunia   x   hybrida  «petúnias»;   medicinais,   e.g.   Atropa   belladona  «beladona»;   infestantes,   e.g.   S.   nigrum   «erva-­‐moira».  Muitas   espécies   venenosas,   e.g.   Datura   stramonium  «figueira-­‐do-­‐inferno».  

Apiales

XCVII. Araliaceae  

Fisionomia.   Árvores   tropicais   ou   trepadeiras,  raramente   plantas   herbáceas   (e.g.   Hydrocotyle),  aromáticas.   Cicatrizes   foliares  muito  nítidas  nos   caules  após  a  queda  das  folhas.  

Folha.   Folhas   largas,   pecíolo   longo   e   alargado   na  base,   alternas,   simples   ou   compostas   (espécies   não  europeias),   inteiras   a   profundamente   recortadas,  estipuladas,  peninérveas  ou  palminérveas.  

 

Figura  47.  Convolvulaceae.  N.b.  folhas  palminérveas,  corola  simpétala  afunilada;  ovário  súpero  dicarpelar  

com  4  primórdios,  2  por  carpelo;  a  Calystegia  sepium  é  indígena  de  Portugal.  

 

Figura  48.  Solanaceae.  N.b.  folhas  de  recorte  profundo  (sectas)  e  corola  rodada  com  anteras  coniventes  em  

Solanum  tuberosum  «batateira»;  estames  epipétalos  em  Mandragora  officinalis;  flor  campanualada  e  fruto  

carnudo  (baga)  em  Atropa  belladona.  

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Inflorescência.  Inflorescências  grandes  tipo  umbela.  

Flor.   Flores   actinomórficas.   5   sépalas   normalmente   muito   reduzidas.   5   pétalas   normalmente   livres.   5   (ou  mais)   estames   alternos   com   as   pétalas.   Gineceu   ínfero   de   2   (em  Hydrocotyle)   a   5   (ou  mais)   carpelos,   1   ou   2  estiletes  alargados  na  base  num  disco  nectarífero  (estilopódio)  e  2  primórdios  seminais  (1  primórdio  por  carpelo).  

Fruto.  Fruto  carnudo  tipo  drupa  ou  baga.  

Distribuição  e  diversidade.  Fam.  de  média  dimensão  (ca.  1500  sp.).  Cosmopolita  de  ótimo  tropical.  3  espécies  indígenas  de  Lu  pertencentes  ao  género  Hedera.  O  Panax  ginseng  «ginseng»  é  uma  conhecida  planta  medicinal;  várias  Hedera  «heras»  são  cultivadas  como  trepadeiras  ornamentais.  

XCVIII. Pittosporaceae  

Fisionomia.  Árvores  ou  arbustos  aromáticos.  

Folha.  Folhas  persistentes,  coriáceas,  inteiras  e  sem  estípulas.  

Flor.   Flores   vistosas   e   actinomórficas.   5   sépalas   caducas,   livres   ou   ligeiramente   concrescentes   na   base.   5  sépalas  livres  ou  ligeiramente  concrescentes  na  base,  com  uma  unha.  5  estames  livres,  alternos  com  as  pétalas.  Ovário   súpero   de   2   carpelos   e   numerosos   primórdios   seminais   inseridos   nas   paredes   do   ovário   (placentação  parietal).  

Fruto   e   semente.   Fruto   seco   (cápsula)   ou   carnudo   (baga).   Sementes   frequentemente   resinosas   e/ou  mucilaginosas.  

Distribuição   e   diversidade.   Fam.   de   média  dimensão   (ca.   400   sp.)   distribuída   pela   África,   SW  Asiático   e   Austrália.   O   Pittosporum   coriaceum   é  endémico   de   Ma   e   o   único   representante   da  família  na  Europa.  

Botânica   económica.   O   P.   tobira   e   o   P.  undulatum   são   ornamentais   frequentes,   sendo   a  última  espécie  uma  invasora  destrutiva  em  Az.  

XCIX. Apiaceae  

Fisionomia.   Plantas   herbáceas,   raramente  arbustos,  aromáticas.  

Folha.  Folhas  completas  (com  bainha,  pecíolo  e  limbo),   profundamente   recortadas,   por   vezes  inteiras   (e.g.   Bupleurum   e   Sanicula),   geralmente  alternas   e   sem   estípulas.   Nervação   por   norma  peninérvea  (palminérveas  em  Sanicula).  

Inflorescência.   Inflorescência   comummente  uma  umbela  composta  (contraída  num  capítulo  em  Eryngium).  

Flor.   Flores   pequenas   e   actinomórficas.   5  sépalas   muito   reduzidas   ou   ausentes,   livres   ou  concrescentes.  5  pétalas   livres.  5  estames  alternos  com   as   pétalas.   Gineceu   ínfero   de   2   carpelos   (1  carpelo  em  Lagoecia),  2  estiletes  alargados  na  base  num  disco  nectarífero   (estilopódio)  e  2  primórdios  seminais  (1  primórdio  por  carpelo).  Polinizadas  por  pequenos   dípteros   (e.g.   Syrphidae),   himenópteros  

 

Figura  49.  Apiaceae.  N.b.flores  organizadas  em  umbelas  compostas,  5  pétalas  livres,  5  estames  alternos  com  as  pétalas,  de  ovário  ínfero  com  dois  carpelos;  fruto  os  esquizocarpo  com  

dois  mericarpos,  cada  um  com  uma  semente.  

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ou  coleópteros.  

Fruto.   Fruto   seco   (cremocarpo)   fragmentando-­‐se   na   maturação   (fruto   esquizocárpico)   em   2   frutículos  (mericarpos),  frequentemente  ornados  com  espinhos,  pêlos,  asas,  etc.  

Distribuição  e  diversidade.  Fam.   grande   (ca.   3800   sp.).   Cosmopolita.  Muito  diversa  em  Lu   (107   sp.)   porém  apenas  com  uma  espécie  arbustiva.  

Botânica  económica.  Numerosas   espécies   com   interesse   alimentar,   condimentar  ou  medicinal,   e.g.  Daucus  carota  «cenoura»,  Petroselinum  crispum  «salsa»  e  Foeniculum  vulgare  «funcho».  O  Conium  maculatum  «cicuta»  (de  acordo  com  a  lenda  o  veneno  utilizado  no  suicídio  de  Sócrates)  e  o  Oenanthe  crocata  «embude»  são  duas  das  plantas  mais  venenosas  da  flora  portuguesa.  

Aquifoliales

C. Aquifoliaceae  

Fisionomia.  Árvores  ou  arbustos  dioicos.  

Folha.  Folhas  alternas,  simples,  inteiras  ou  serradas,  por  vezes  espinhosas  na  margem,  peninérveas,  estípulas  pequenas  e  negras.  

Flor.  Flores  unissexuais,  actinomórficas.  4-­‐6  sépalas  e  4-­‐6  pétalas  ligeiramente  soldadas  na  base.  Flores  ♂  com  4-­‐6   estames,   alternos   com   as   pétalas   e   soldados   à   base   da   corola;   presença   de   um   ovário   estéril   (pistilódio).  Flores  ♀ de  ovário  súpero,  com  4-­‐6  carpelos,  estilete  quase   inexistente,  estigma  capitado  persistente  no  fruto;  presença  de  estames  estéreis  (estaminódios);  sem  nectários.  

Fruto.  Fruto  carnudo  (drupa)  colorido.  

Distribuição  e  diversidade.  Fam.  de  média  dimensão   (ca.  400  sp.,   todas  do  género   Ilex).  Distribuição  quase  cosmopolita.  O  I.  aquifolium  é  indígena  de  Lu,  o  I.  perado  endémico  de  Az  e  Ma  (subsp.  perado  na  Ma  e  subsp.  azorica  em  Az)  e  o  I.  canariensis  endémico  de  Ma  e  Canárias.  

Botânica  económica.  Das  folhas  de  I.  paraguariensis  faz-­‐se  o  chá-­‐mate;  o  I.  aquifolium  «azevinho»  e  os  seus  híbridos  são  árvores  ornamentais  habituais.  

Asterales

CI. Asteraceae  

Fisionomia.   Plantas   herbáceas   ou   arbustos,   raramente   árvores   (espécies   não   europeias).   A   maioria   das  espécies   portuguesas   é   herbácea   ou   apenas   lenhosa   na   base   (plantas   sufruticosas);   a   Staehelina   dubia   é  arbustiva,  assim  como  algumas  Santolina,  Artemisia  ou  Argyranthemum  (em  Ma).  

Folha.   Folhas   alternas,   menos   vezes   opostas   (e.g.   Phalacrocarpum)   ou   verticiladas,   simples,   inteiras   a  profundamente  recortadas.  

Inflorescência.  Flores   compactadas  em  capítulos,   côncavos,  planos  ou   convexos,   revestidos  no  exterior  por  brácteas  involucrais.  Capítulos  com  1  a  ∞  flores  sésseis  ou  quase  sésseis,  por  vezes  na  axila  de  pequenas  brácteas  (brácteas  florais).  Capítulos  solitários  (e.g.  Bellis  «margaridas»);  também  reunidos  em  inflorescências  racemosas  (cachos  ou  corimbos  mais  ou  menos  complexos  de  capítulos,  e.g.  Crepis  e  Lactuca)  ou  em  capítulos  de  capítulos  (e.g.   Evax,   Logfia   ou   o   orófito   centro-­‐europeu   Leontopodium   alpinum   «edelweiss»).   Capítulos   de   abertura  centrípta:   a   ântese   inicia-­‐se   nas   flores  marginais   e   progride   em  direcção   às   flores   do   centro.  Os   capítulos   das  asteráceas  com  flores  liguladas  nas  margens  e  tubulosas  no  centro  dizem-­‐se  radiados,  designando-­‐se  por  disco  a  parte  central  do  capítulo  constituída  pelas  flores  de  corola  tubulosa;  e.g.  a  maioria  das  Asteroideae.  

Flor.  Flores  unissexuais   ou  hermafroditas,   actinomórficas  ou   zigomórficas.   Sépalas   ausentes  ou   reduzidas   a  um  papilho,  i.e.  a  uma  coroa  de  escamas,  membranosa,  ou  de  pêlos  (rígidos  ou  flexuosos).  Corola  simpétala  de  5  pétalas,  concrescentes  num  tubo  +/-­‐  comprido,  de  três  tipos:  

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Corola  bilabiada  –  zigomórfica,  com  2  lábios  (espécies  não  europeias);  

Corola  ligulada  –  zigomórfica,  com  1  lábio  de  3  ou  5  dentes;  

Corola  tubulosa  –  actinomórfica,  com  5  segmentos  livres  e  iguais.  

5   estames   epipétalos   e   sinantéricos,   sendo   o   tubo   das   anteras   atravessado   pelo   estilete.   Gineceu   ínfero  paracárpico   (unilocular),  de  2  carpelos  e  1  primórdio  seminal.  Polinização  entomófila  por   insectos  generalistas,  pontualmente  anemófila  (e.g.  Ambrosia).  

Fruto.   Fruto   uma   cipsela,   frequentemente   rematado   por   uma   coroa   de   pêlos   (papilho).   A   dispersão  anemocórica   é   a   mais   frequente;   algumas   espécies   desenvolveram   espinhos   ou   ganchos   nas   cipselas   ou   nos  capítulos  como  adaptação  à  dispersão  zoocórica  (e.g.  Calendula).  

Observações  taxonómicas.  Atualmente  reconhece-­‐se  mais  de  uma  dezena  de  subfamílias  de  Asteraceae.  Em  função  das  características  das   flores  que  compõem  o  capítulo   reconhecem-­‐se   três   subfamílias  na  Europa  e  em  Portugal:  

Subfam.  Carduoideae   –   sem   látex;   folhas   geralmente   recortadas   e   espinhosas;   capítulos   só   com   flores  tubulosas,  de  segmentos  compridos;  e.g.  Centaurea  e  Carduus;  

Subfam.   Cichorioideae   –   com   látex,   capítulos   só   com   flores   liguladas   de   5   dentes;   e.g.   Lactuca   e  Leontodon;  

Subfam.  Asteroideae   –   sem   látex;   com   uma   fiada   exterior   de   flores   liguladas   envolvendo   um   número  variável  de   flores   tubulosas  no  centro,  secundariamente  só  com  flores   tubulosas   (e.g.  Santolina);   flores  liguladas  com  3  dentes;  e.g.  Aster,  Anthemis  e  Helianthus.  

As   três   subfamílias   representadas   em   Portugal,   e   na   Europa,   eram   tradicionalmente   repartidas   por   2  subfamílias,  subfam.  Cichorioideae  e  subfam.  Asteroideae;  na  subfam.  Cichorioideae  reconheciam-­‐se  duas  tribos,  tribo  das  Cardueae  e  tribo  das  Lactuceae.  

 Figura  50.  Asteraceae.  1)  Capítulo  e  2)  flor  tubulosa  (representada  sem  papilho)  de  Cynara  cardunculus  subsp.  scolymus  «alcachofra»  (tribo  das  Cardueae,  subfam.  Cichorioideae),  n.b.  capítulo  apenas  com  flores  tubulosas,  brácteas  involucrais  de  

grande  tamanho.  3)  Capítulos,  4)  flor  ligulada  e  5)  flor  tubulosa  de  Anthemis  arvensis  (subfamília  Asteroideae),  n.b.  as  flores  de  A.  arvensis  não  têm  papilho  e  que  as  flores  liguladas  dispõem  de  três  dentes.  6)  Planta  completa  e  7)  flor  de  Taraxacum  «dente-­‐de-­‐leão»  (tribo  das  Lactuceae,  subfamília  Cichorioideae),  n.b.  capítulo  só  com  flores  liguladas  com  cinco  dentes  

(Coutinho, 1898)  

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Distribuição  e  diversidade.  Maior  ou  segunda  maior  (depois  das  orquidáceas)  família  de  angiospérmicas  (mais  de  23.000  sp.).  Cosmopolita.  Maior  família  de  plantas  com  flor  de  Portugal  (ca.  112  géneros),  maioritariamente  representada  por  plantas  herbáceas.  

Botânica   económica.   Número   reduzido   (não   proporcional)   de   plantas   com   interesse   alimentar,   e.g.  Helianthus  annuus  «girassol»,  Cynara  scolymus  «alcachofra»,  Cichorium  endivia  «chicória»,  C.  intybus  «endívia  e  chicória-­‐para-­‐café»   e   Lactuca   sativa   «alface».   Os   estiletes   das   flores   Cynara   cardunculus   «cardo-­‐coalheiro»  servem   para   coalhar   o   leite   no   fabrico   do   queijo   da   Serra   (entre   outros   queijos   tradicionais).   Do   Tanacetum  cinerariifolium  extrai-­‐se  um  insecticida  (piretro).  Grande  número  de  espécies  medicinais,  e.g.  Matricaria  recutita  «camomila».   Grande   número   de   plantas   ornamentais,   e.g.   muitas   espécies   ou   híbridos   dos   géneros   Tagetes,  Dahlia  e  Leucanthemum,  etc.    

Dipsacales

CII. Adoxaceae  

Fisionomia.  Árvores,  arbustos  altos  ou  herbáceas.  

Inflorescência.  Inflorescências  grandes  com  as  flores  no  mesmo  plano.  

Folha.   Folhas   caducas   ou   persistentes,   opostas,   simples   (Viburnum)   ou   penaticompostas   (Sambucus),  dentadas  e  peninérveas.    

Flor.  Flores  pequenas  e  actinomórficas.  5  pétalas  soldadas  num  tubo  muito  curto.  5  estames  soldados  à  base  da  corola.  Ovário  ínfero  ou  semi-­‐ínfero  de  3-­‐5  carpelos,  estilete  curto  e  estigma  capitado.  

Fruto.  Fruto  carnudo,  brilhante,  do  tipo  drupa.  

Observações   taxonómicas.   Tradicionalmente   (e.g.   Flora   Europaea   e   Flora   Iberica)   os   géneros   Viburnum   e  Sambucus  eram  colocados  na  fam.  Caprifoliaceae.  

Distribuição  e  diversidade.  Fam.  de  pequena  dimensão   (ca.  200  sp.).  Cosmopolita,  pontual  em  África.  5  sp.  indígenas  de  Portugal,  das  quais  1  endémica  da  Ma  (Sambucus  lanceolata)  e  outra  dos  Az  (Viburnum  trealeasi).  

Botânica  económica.  O  V.  tinus  «folhado»  tem  grande  interesse  ornamental.  

CIII. Caprifoliaceae  s.str.  (excluídas  Dipsacaceae  e  Valerianaceae)  

Fisionomia.  Arbustos  ou  trepadeiras  de  caules  volúveis.  

Folha.   Folhas   caducas   ou   persistentes,   opostas,   simples,   inteiras   ou   dentadas,   por   vezes   profundamente  recortadas  (algumas  Leycesteria),  sem  estípulas  e  peninérveas.  

Inflorescência.  Flores  solitárias  ou  organizadas  em  inflorescências  diversas.  

Flor.   Flores   vistosas   (pequenas   em   Symphoricarpos),   por   norma   assimétricas   e   fragrantes.   4-­‐5   sépalas  soldadas.  4-­‐5  pétalas  soldadas  num  tubo,  por  vezes  com  um  esporão  na  base;  corola  em  forma  de  campânula,  funil  ou   tubulosa,  com  2   lábios  evidentes   (e.g.  maioria  das  Lonicera)  ou  não.  4-­‐5  estames   inseridos  na  base  da  corola,  alternos  com  as  pétalas.  Gineceu  ínfero  de  2-­‐5  carpelos  e  estilete  longo.  

Fruto.  Fruto  seco  tipo  cápsula  ou  aquénio  (e.g.  Abelia),  ou  um  fruto  carnudo  tipo  drupa  (e.g.  Symphoricarpos)  ou  baga  (e.g.  Lonicera).  

Distribuição   e   diversidade.   Fam.   de   pequena   dimensão   (ca.   220   sp.).   Grande   área   de   distribuição,   ótimo  temperado,   ausente   da   maior   parte   de   África   e   América   do   Sul.   4   sp.,   todas   do   gén.   Lonicera,   indígenas   ou  naturalizadas  em  Lu.  

Botânica   económica.   Algumas   plantas   ornamentais,   e.g.   espécies   dos   géneros   Abelia,   Lonicera  «madressilvas»  e  Symphoricarpos.  A  Leycesteria  formosa  além  de  ornamental  é  uma  invasora  perigosa  em  Az.  

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