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Copyrigth © Dalton Miranda, 2012
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EditorAntonio Carlos Navarro
Projeto gráfico e capaSamuel Tabosa
Impressão e acabamentoLER Editora Ltda
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Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)
Miranda, DaltonBreves estórias sobre o tudo e o nada e o quase fim do mundo.
Dalton Miranda . – Brasília: LER Editora, 2012.52 p. 12,5 x 17,5 cm.
ISBN
1. Literatura, Brasileira. 2. Contos. I. Título.CDU 82-34
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BREVE I
Qual a semelhança entre a nadadora grande e o grande nadador?Um potinho de xixi.E a diferença entre os grandes?Uma medalha olímpica
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BREVE II
Um tirinho de espingarda: – um passarinhoUma bala perdida: – um inocenteUm carro-bomba: – um prédio e várias vidasMatemática final: + + + + + + + + + +
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BREVE V
O começo (do namoro) é difícilDurante (o casamento) é difícilO rompimento (a separação) é difícilViver sem Você, sim, é impossível.
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BREVE VI
Foram criados para estudarNa Universidade vão passarLá, descobriram que o bom era ‘apertar’Sem a polícia a lhos vigiar.
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BREVE VII
100 frescuras, Você diz70, mas não resolveEntão, 60, mas não descansa10 mentir a certeza numérica é tema que nos envolve
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BREVE VIII
Helicópteros, casas e carros oficiaisAmigos, lobistas, empresáriosPolíticos profissionaisÉ a democracia, estúpido!
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BREVE IX
Marcha, pode! Fumar, não?Marcha, pode! Publicitar, não?Ué? Marcha, fumar, marcha, publicitar, ... .Não entendi!
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BREVE XII
– Filha da puta? Chamou um– Filha da puta? Gritaram outros tantos– Filha da puta? Esbravejaram muitos, tentando chamar a atençãoMas, a garotinha na soleira do puteiro nem deu bola para a molecada
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BREVE XIV
Ao fim do show a popstar agradece a massa: – Vocês são do caralho ... uhuA pequenina em frente à TV vira-se para a mãe e solta: – Mãe, o que é caralho?– É pinto, secamente responde a mãe– Hum, vocês são do pinto?! Coisa estranha pensou a menina
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BREVE XVI
Sangue nos olhosPunhos cerrados na altura dos joelhosSuor frioÉ tudo ou nada, hei de cagar
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BREVE XVIII
O ‘pedreiro’ corta a pedraAssenta-a e a queimaA fuga é rápidaDaí e voltar a construção do fim
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BREVE XIX
Tem de pastar muita gramaPra levantar uma granaVendendo alguns gramasPro um monte de sacanas
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BREVE XX
A curiosidade que te incendeiaA mim chateiaPouco faço da vida alheiaOu assim finjo para não me enredar na tua teia
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BREVE XXIII
O velho faz a mão-boba percorrer a cintura da moçaEla resigna-se a lançar um sorriso marotoVira daqui, vira acolá, ajeita-se com carinho Pronto, finda a troca da fralda geriátrica
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BREVE XXV
Roer as unhas (é ansiedade)Esfregar os olhos (é conjuntivite)Coçar o nariz (é droga ou meleca)Que nada, isto é ... TRUCO!
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BREVE XXVI
0800, já fizestes um?Digite “X”, tecle “Y”, ressoa a voz mecânicaFale com Ciclano, mas quem resolverá é BeltranoQuanta aporrinhação para – ao fim e a cabo – ouvir um sonoro não
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BREVE XXVII
Só ganha quem jogaSomente perde quem um dia conquistouPerde e ganha. Vitória e derrotaEis o jogo jogado da vida
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BREVE XXVIII
Beijo na boca é bãoMão naquilo, aquilo na mão, opa oba!Furnicação com finalização, melhor aindaSem pudor e com (muito) amor
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BREVE XXXII
Uma boa alimentação horas antesAlongamento minutos antesMeditação com foco segundos antesE: – Pronto pra dormir?
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BREVE XXXIII
Eita escuridãoEscuro? Escuro?Pensa, pensa, será sonho ou passou desta para melhorPorra, esqueceu mais uma vez da mascara de dormir
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BREVE XXXV
Uai vai, e Por que sim vem.Uai foi, e Por que sim volta.O matuto não entendia o gringo com aquela prosa danada.N’um preguntava e o alienígena só lhe respondia Por que sim
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BREVE XXXVII
Está faltando tinta na canetaE ideia na cabeçaFlutua a pena no papel com ligeirezaAté que a cousa boa lhe pareça
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BREVE XL
Este de fato foi breveMais breve do que esperavaTão breve que nem se sentavaFica aqui um até breve
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O QUASE FIM DO MUNDO
Nossa estória se passa em NovaTerra árida de lábios secos e almas úmidasD’um povo triste e sabedoria angularDe homens doces e mulheres brutasQue cabisbaixos seguiam devagar
Mas um dia o profeta gritou que novos tempos arrudiavam trás dos montesDe fartura e alegria, após o sacrifício que o povo vivenciariaApós ferrenha disputa a luz do dia
E assim seguiu a massa de Nova sua sinaOrando junto das beatasSacando água do fundo sujo da mina
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O sol pretejou, as nuvens acinzentaramOs homens choravamEnquanto as mulheres os facões amolavamFio a fio
Gritos se silenciaram ao redorSussurros se ouviram ao longeO profeta ajoelhado levava as mãos da poeira ao rosto Do rosto ao chãoEstava tomado
O padre – e havia um – corria ao redor da igreja com a mitra queimando no incensórioRogava a Deus e a todos os santosPelo povo e pela própria pele a redenção com salvaçãoEstava domado
Um alvoroço ainda maior se deuUm corre-corre sem fimQuando do rabo do redemoinhoApareceu o coisa ruim
Todos arderam com o bafejado quenteOs próximos e os distantesAs mulheres de cócoras se meteramOs homens nem se mexeram
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Parado, com um sorriso cortanteO cramunhão no meio da praça a tudo assistiaOs crentes excomungouDos outros ninguém mais falou
Quando estava para decretar o juízo final daqueles despreparadosE a tampa do caldeirão do inferno abrirEis que uma voz miúda ao fundo se fez ouvir
Era Zé que ao belzebu se dirigiaTroçando-o com uma rimaCocho foi ao encontro do chifrudoDisposto a acabar com aquilo tudo
As reses ficaram cantarolando salmos ao bater de péAtônitas ao teatro da vida que se desenrolavaO capeta estaca fincou e prometeu a todos arrastarPrincipalmente o manco Zé
Como n’um filme de bandido e mocinho os duelistas agora se fitavamCada qual com suas armasO vermelho a rabiscar os pecados de Zé na caatinga com suas unhasZé com sua língua fria cheia de mumunhas
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Cada qual desfiou seu rol de odiosas e escandalosasMas o duelo foi Zé quem venceuCuspindo salivas venenosas
Quando o povo já dava por certo o fim e celebravaEis que o chão se abre aos pés de Zé Que é tragado aos confins do mundoPois que era pecador moribundo
Nova renasceuE o diabo naquelas paragens nunca mais apareceuDo Zé, anti-herói dos fins dos tempos, pouco se falaOu se deu
Mas uma lenda ainda se assovia entre os anciõesA de que o Zé, em tarde de ventaniaÉ visto em Má companhiaCantarolando rimas cheio de alegria
É (quase) o fim!