cad erno 7 janeiro 2013

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Notas sobre a política internacional do PT Notas sobre a política internacional do PT Valter Pomar

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  • Notas sobrea polticainternacional do PT

    Notas sobrea polticainternacional do PT

    Valter Pomar

  • Publicado pela Secretaria de Relaes Internacionaisdo Partido dos Trabalhadores Brasil www.pt.org.br

    Iriny Lopes Secretria de Relaes Internacionais do PTEditor: Valter PomarDiagramao: Sandra Luiz Alves

    Equipe da Secretaria de Relaes Internacionais:Edma Valquer ([email protected]); Fbio El-Khouri ([email protected]); Rosana Ramos([email protected]) Wilma dos Reis ([email protected]); Valter Pomar Miembrode la Direccin Nacional y Secretario Ejecutivo del Foro de So Paulo ([email protected]).

    Partido dos Trabalhadores Integrantes da CEN para o binio 2010/2014Comisso Executiva Nacional (CEN) (Direito a voto e voz)Rui Falco Presidente; Jos Guimares Vice-presidente; Ftima Bezerra Vice-presidente; Eli Piet Secretrio Geral; Joo Vaccari Neto Secretrio de Finan-as; Paulo Frateschi Secretria de Organizao; Andr Vargas Secretrio deComunicao; Renato Simes Secretrio de Movimentos Populares; Jorge Coe-lho Secretrio de Mobilizao; Carlos Henrique rabe Secretrio de FormaoPoltica; Vilson Augusto de Oliveira Secretrio de Assuntos Institucionais; IrinyLopes Secretria de Relaes Internacionais; Humberto Costa Lder do PT noSenado; Jos Guimares Lder do PT na Cmara; Maria do Carmo Lara Vogal;Benedita da Silva Vogal; Mariene Pantoja Vogal; Arlete Sampaio Vogal; MariaAparecida de Jesus Vogal; Ftima Cleide Vogal

    Membros observadores da CEN (Direito a voz sem direito a voto)Angelo DAgostini Junior Secretrio Sindical Nacional; Jefferson Lima SecretrioNacional da Juventude; Edmilson Souza Secretrio Nacional de Cultura; Jlio Bar-bosa Secretrio Nacional de Meio Ambiente e Desenvolvimento; Laisy Morire Secretria Nacional de Mulheres; Cida Abreu Secretria Nacional de Combate aoRacismo; Elvino Bohn Gass Secretrio Nacional Agrrio

    So Paulo Rua Silveira Martins, no 132, Centro, CEP 01019-000So Paulo-SP, Brasil. E-mail: [email protected] Tel. (+5511) 3243-1377

    Fax (+5511) 3243-1359

    Braslia SCS Quadra 2 Bloco C no 256 Edifcio Toufic, CEP 70302-000Braslia-DF, Brasil. Tel. (+5561) 3213-1373/1423

    Fax (+5561) 3213-1397

  • ndice

    Apresentao ............................................................................... 5

    A batalha do Chile ...................................................................... 8

    Notas sobre a poltica internacional do PT................................ 11

    Informe sobre a reunio de Caracas .......................................... 18

    Las diferentes estrategias de las izquierdas latinoamericanas ...... 24

    Palestra para jovenes en Chile ................................................... 48

    China e Brasil, num mundo de crise & transio ...................... 64

    Un nuevo ciclo en la historia del Brasil ..................................... 74

    La poltica externa de Brasil ...................................................... 98

    Um PAC latinoamericano ....................................................... 130

    Nem devagar, nem pressa ........................................................ 137

    Aspectos histricos e organizativos do PT ............................... 149

    Mentira ou ignorncia? ........................................................... 158

    Filmes parecidos, desfecho a definir ........................................ 160

    Assunto para o Procon ............................................................ 164

    S os gringos podem? .............................................................. 167

    Bons modos e hipocrisia ......................................................... 170

    Sobre cordeiros e lobos ............................................................ 173

    As armas da poltica ................................................................ 177

  • 4Notas sobre a poltica internacional do PT

    Os infiltrados .......................................................................... 180

    A festa da marmota ................................................................. 182

    O muro da hora ...................................................................... 185

    Debatendo a crise ................................................................... 189

    A linha do Equador ................................................................ 194

    A ilimitada estupidez de Brickman.......................................... 202

    A nota certa ............................................................................ 205

    A tumba est em festa ............................................................. 210

    Os equvocos do PSDB ........................................................... 213

    Compreender e enfrentar ........................................................ 217

    Ensayo sobre una ventana abierta ........................................... 226

    Entrevista Welttrends ........................................................... 247

    Atilio A. Boron: um balano equivocado ................................ 255

    Polmica epistolar A los integrantes del Grupo de Trabajo .......... 262

    O PT e o Foro de So Paulo ................................................... 267

    La Internacional latinoamericana e caribea ........................... 273

    A Ptria Grande e a outra economia ....................................... 283

  • 5Valter Pomar

    Apresentao

    Estamos no meio de uma crise do capitalismo neoliberal, que semanifesta direta ou indiretamente em todos os terrenos: financeiro,comercial, cambial, energtico, alimentar, ambiental, ideolgico, so-cial, poltico, militar.

    Como outras crises, esta tentar provocar, para sua superao, umaimensa destruio de foras produtivas, destruio da natureza, devidas humanas e de capital acumulado. Sacrifcio que tende a se des-dobrar em mais conflitos militares, crises polticas e revoltas sociais.

    No se trata apenas de uma crise econmica, no sentido estrito.Est em curso uma reacomodao geopoltica, resultante do deslo-camento para o Oriente do eixo dinmico da economia mundial.

    O centro da crise est nos Estados Unidos. No apenas por ser aprincipal economia capitalista, mas tambm por ser a potncia he-gemnica do mundo capitalista desde 1945 e do mundo desde 1991.

    A crise amplia o questionamento da hegemonia dos Estados Uni-dos, que j vinha enfrentando: a) o aguamento das contradiesintercapitalistas, crescente aps a derrota do bloco sovitico; b) ofortalecimento de potncias concorrentes, especialmente a China,de quem os EUA haviam se aproximado nos anos 1970; c) as custo-sas obrigaes derivadas de uma hegemonia mundial.

    Vivemos, portanto, um momento de profunda crise e instabilida-de internacional, que pode resultar em variados desdobramentos,num leque que vai da barbrie ao socialismo, passando por diferen-tes modos de organizar o capitalismo.

  • 6Notas sobre a poltica internacional do PT

    No possvel saber quanto tempo durar este perodo de insta-bilidade internacional. Isto, bem como o mundo que emergir de-pois, depender de como se articule a luta poltica, dentro de cadapas, com a luta entre Estados e blocos regionais.

    Diferente do que ocorria antes de 1945, hoje temos uma disputaentre Estados da (quase) antiga periferia e Estados do (quase) antigocentro. E, diferente do que ocorria antes de 1990, a disputa EUA/BRICS se d nos marcos do capitalismo. Mas na Amrica Latina eCaribenha h uma novidade a ser levada em conta: como resultadode um processo iniciado em 1998, constituiu-se na regio uma forteinfluncia da esquerda.

    Esta influncia da esquerda torna factvel que a Amrica Latina eCaribenha constitua-se num dos plos do combate de naturezageopoltica que est em curso no mundo. Assim como torna factvelfazer, da regio, um dos espaos de reconstruo de uma alternativasocial-democrata de capitalismo ou, se tivermos xito, uma alterna-tiva socialista ao capitalismo.

    Construir uma Amrica Latina democrtica, popular e socialistadepender de muitas variveis, entre as quais a criao de uma cul-tura de massas, latinoamericana e caribenha, comprometida comideais de esquerda.

    A criao desta cultura socialista de massas supe, para alm dosaparatos materiais (casas editoriais, jornais, revistas, rdios, televises,provedores de internet, indstria cinematogrfica e fonogrfica, com-panhias de teatro e dana, orquestas, museus, escolas e universidadesetc.), que tenhamos dezenas de milhes de homens e mulheres envol-vidas na produo e reproduo desta nova viso de mundo.

    O que, por sua vez, supe a construo de novas idias, forjadas apartir da crtica s idias e prtica do neoliberalismo, do desenvol-vimentismo conservador e do colonialismo; que faa a crtica e au-

  • 7Valter Pomar

    tocrtica do nacionalismo, do desenvolvimentismo progressista e dasexperincias socialistas do sculo XX; e que compreenda a naturezado capitalismo no sculo XXI, enfrentando o debate clssico sobreos caminhos estratgicos para sua reforma ou para sua revoluo.

    Os artigos reunidos nesta coletnea, escritos entre 2005 e 2012,so uma contribuio no sentido indicado acima.

    Agosto de 2012

    Nota terceira edioO primeiro artigo desta coletnea, intitulado A batalha do Chile,

    foi escrito logo depois da vitria de Piera. Pois bem: a guerra con-tinua. Este ano de 2013, quarenta anos depois do golpe que derru-bou o presidente Salvador Allende, ocorrem novas eleies presiden-ciais no Chile. Que a direita seja derrotada e que o novo governo seafaste do Arco do Pacfico e se aproxime mais da integrao sul elatino-americana e caribenha.

    Por falar em Arco do Pacfico, este e outros assuntos so tratadosem textos mais recentes, que por razes de economia preferimos noincluir nesta coletnea, mas esto dsponveis no http://www.valterpomar.blogspot.com.br/

    Boa leitura.

    O autor

  • 8Notas sobre a poltica internacional do PT

    A batalha do Chile*

    A oposio de direita, no Brasil, est exultante: a recente eleiopresidencial chilena seria a demonstrao de que possvel derrotaruma candidatura apoiada por um governo bem avaliado por mais de80% da populao.

    A direita europia tambm est contente: a eleio de Piera (e,antes dele, do presidente do Panam) demonstraria que o modelosarkozy-berlusconiano est fazendo escola. Filhote do pinochetismoe enriquecido pela privataria, Piera uma demonstrao do que oscapitalistas entendem por igualdade de oportunidades.

    A direita latina e norte-americana est igualmente feliz: derrota-dos desde 1998 na maioria das eleies do subcontinente e recm-derrotados nas disputas presidenciais ocorridas no Uruguay e Bol-via, os conservadores podem apresentar o caso chileno como de-monstrao de que possvel reverter, nas urnas, civilizadamente,sem golpes, a hegemonia da centro-esquerda sulamericana.

    Mas felizes mesmo esto os gorilas chilenos, que comemoraramruidosamente, inclusive agitando nas ruas fotografias do falecidoditador, a derrota da Concertacin. a primeira vez, desde a dcadados 1950, que a direita chilena consegue maioria eleitoral.

    Eles tm motivos para felicidade. E a esquerda deve botar as bar-bas de molho.

    Em primeiro lugar, porque a vitria de Piera fortalece o bloco degovernos alinhados com os Estados Unidos e opositores da integraocontinental. Colmbia e Peru ganham, assim, um aliado importante.

  • 9Valter Pomar

    Em segundo lugar, porque est vitria no um fato isolado. Elafaz parte de uma contra-ofensiva desencadeada pela direita latino-ame-ricana, apoiada pelo governo dos Estados Unidos e pela direita daUnio Europia. Esta contra-ofensiva inclui os ataques contra os elosfracos da rede de governos progressistas, como o caso de Honduras;inclui o fortalecimento e a extenso da presena militar estado-unidensena regio, a exemplo das bases na Colmbia e da IV Frota; e incluiuma provocao permanente contra Cuba e Venezuela.

    Em terceiro lugar, mas principalmente, porque a derrota chilena foiproduto combinado dos acertos da direita, com os erros da esquerda.

    J se falou muito no mais bvio destes erros: a esquerda chilenaparticipou do primeiro turno das eleies dividida entre trs candi-daturas presidenciais. E, no segundo turno, uma destas candidatu-ras titubeou no apoio a Eduardo Frei.

    Tambm j se falou de outro erro bvio: ao contrrio da eleioanterior, quando percebeu a necessidade de mudana e lanou Bache-let, desta vez a Concertacin foi hiper-conservadora. Escolheu comocandidato um democrata-cristo, ex-presidente chileno, com idiasradicalmente moderadas, abrindo uma imensa brecha para que a cam-panha de Piera pudesse ter como slogan a palavra: mudana.

    Os erros acima tm relao, bvio, com a estratgia geral segui-da pelos setores majoritrios da esquerda chilena. Esta estratgia foieficaz no quesito governabilidade, mas ineficaz nas mudanas es-truturais. Isso se expressou, por um lado, na incapacidade de alte-rar os parmetros constitucionais herdados do perodo Pinochet. E,por outro lado, numa poltica econmica que no foi capaz de supe-rar a desigualdade social.

    A influncia desta estratgia moderada explica muito, mas noexplica tudo. Afinal, foram 5 eleies e 4 vitrias. Neste sentido, hque considerar os acertos da direita (sempre forte e desta vez unifica-

  • 10

    Notas sobre a poltica internacional do PT

    da), a fadiga de material (quatro governos seguidos) e algumas mu-danas poltico-sociolgicas ocorridas na sociedade chilena.

    H um quarto elemento, contudo, que deve ser estudado comateno. Em 1973, o golpe no surpreendeu ningum. Em 2009-2010, a derrota estava visvel no horizonte. As situaes so profun-damente distintas, mas vale questionar por qual motivo nos doiscasos- a esquerda chilena, mais exatamente seu setor majoritrio, foiincapaz de fazer uma correo de rumo.

    Entre os vrios motivos, cito um que pode ser encontrado nosmais diferentes pases e matizes da esquerda: certa tendncia amaximizar os feitos e minimizar os defeitos. Cuja acumulao, comosabemos, transforma quantidade em qualidade.

    Para alm do balano acerca da derrota, preciso preparar a resis-tncia contra os vitoriosos. H alguns dias, uma deciso judicialcassou a atuao legal do Partido Comunista do Chile, colocandoem questo inclusive a posse de trs parlamentares recm-eleitos.Isso um sinal do que vem por a.

    A batalha do Chile continua, l e em toda a Amrica Latina.Outubro, no Brasil, ser um momento absolutamente decisivo.Aprendamos com as derrotas, para saber como evit-las.

    *A verso original deste artigo foi publicada napgina eletrnica da revista Caros Amigos

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    Valter Pomar

    Notas sobre a polticainternacional do PT*

    Felizmente, o debate internacional deixou de ser patrimnio deuma minoria e virou tema popular, como vimos na disputa presi-dencial de 2006 e j estamos vendo nas prvias de 2010. Quem nolembra de Alckmin atacando a Bolvia? Ou, recentemente, Serradando apoio implcito ao golpismo em Honduras?

    A poltica externa do governo Lula ajudou nesta internacionaliza-o do debate poltico, medida que recusamos a postura intimida-da dos tucanos e percebemos que o Brasil pode e deve jogar umpapel destacado nos grandes temas internacionais, inclusive quandose trata de enfrentar os Estados Unidos. A recente visita do Presiden-te do Ir ao Brasil e a postura de nosso governo na conferncia deCopenhague constituem uma confirmao disto.

    Nossa poltica externa potencializada por dois fatores objeti-vos e dois fatores subjetivos. Os primeiros so: o peso geopolticodo Brasil e a crise internacional. Os demais so: a tradio naciona-lista existente no Itamaraty e a tradio internacionalista do Partidodos Trabalhadores. A isto se agrega a desenvoltura com que lana-mos mo da diplomacia presidencial.

    Desde sua fundao, o PT vem acompanhando, opinando e atu-ando na esfera internacional, diretamente ou atravs dos petistaspresentes em governos, parlamentos, movimentos sociais e variadasinstituies. Ao longo dos 30 anos de vida do Partido, houve mudan-as de linha, de nfase, de mtodos e de estilo, cuja anlise demandariamais tempo de pesquisa e um artigo maior do que este. Entretanto,h dois traos de nossa atuao que devem ser destacados.

  • 12

    Notas sobre a poltica internacional do PT

    Um deles a pluralidade que mantemos na interlocuo interna-cional. Isto deriva, em parte, da pluralidade poltica e ideolgica doPartido, que reuniu desde sua fundao e at hoje, militantes iden-tificados com as mais variadas famlias da esquerda internacional.

    A pluralidade de nossa atuao internacional foi acentuada a par-tir de 2003, quando o PT passou ter influncia na poltica externado governo brasileiro. Desde ento e crescentemente, o leque denossas relaes enquanto Partido inclui, tambm, partidos e lide-ranas com as quais nosso governo possui algum grau de identidade.

    Portanto, no mantemos relaes apenas com os que pensam comons; mas tambm com os que, apesar de maiores ou menores dife-renas ideolgicas, enfrentam na arena internacional problemas pol-ticos similares aos que enfrentamos, enquanto partido e/ou governo.

    Esta pluralidade no implica em silncio acerca de questes espi-nhosas; nem tampouco subordinao das posies partidrias aosinteresses de Estado. Pelo contrrio, h coisas que nosso governopode fazer (como receber o presidente dos EUA ou o chanceler deIsrael), sem que isto impea nosso partido de manifestar sua opiniopoltica sobre tais convidados e suas respectivas administraes. Ouquestes em que o Partido tem posio h tempos e faz presso sobrenosso governo, como o caso do Sahara Ocidental e da luta daFrente Polisrio. Assim como h temas em que o governo tomou ainiciativa e o Partido no tem conseguido acompanhar adequada-mente, como o caso do Haiti.

    Outra trao de nossa poltica internacional a nfase latino-ame-ricana. Embora tal tradio j estivesse presente antes, o latinoame-ricanismo ganhou mais fora e organicidade a partir da fundao,em 1990, do Foro de So Paulo.

    Claro que o PT assiste as mais variadas reunies partidrias, emtodo o mundo, como as convocadas pela Conferncia Permanente

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    Valter Pomar

    de Partidos Polticos Progressistas da Amrica Latina (Copppal) epela Internacional Socialista (sendo que no somos membros, nemmesmo observadores oficiais na IS). Mas nossa prioridade regional a Amrica Latina; e nosso espao privilegiado de debate e articula-o o leque de partidos que integra o Foro de So Paulo, no qualsomos encarregados da Secretaria Executiva.

    Alm das relaes mantidas pelo prprio Partido, o PT tem esti-mulado relaes bilaterais e multilaterais atravs do Foro de So Paulo,como o caso do intercmbio com o Partido da Esquerda Europia,o Grupo Parlamentar da Esquerda Europia e os integrantes da Au-toridade Nacional Palestina. Achamos que este mtodo potencializaa regio (e no apenas nosso Partido e governo); e acreditamos que oaprofundamento de relaes inter-regionais mais realista e produ-tivo, do que a tentativa de criar novas organizaes que sejam ou sepretendam mundiais.

    A experincia recente tem demonstrado o potencial da esquerda naAmrica Latina, que de conjunto conseguiu preservar parte impor-tante de suas foras, num momento em que o socialismo declinavanoutras regies do planeta. A resistncia que Cuba oferece, depois dodesmanche do chamado bloco sovitico, um exemplo disto.

    O potencial da esquerda latino-americana confirmado, ao longodos anos 1990 e adiante, com o surgimento do Foro de So Paulo; agestao do Frum Social Mundial; e a eleio de uma onda de presi-dentes progressistas e de esquerda, desde 1998 (Hugo Chvez) at2009 (Maurcio Funes).

    Olhando para trs, podemos ver que em nossa regio a luta so-cial, a luta eleitoral, a ao de governo e a atuao partidria intera-giram na luta contra o neoliberalismo, de maneira muito mais in-tensa e eficaz do que em outras regies do mundo. O PT deu impor-tante contribuio para isto, tanto prtica quanto teoricamente.

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    Notas sobre a poltica internacional do PT

    Evidentemente, nada disto ocorreu de maneira linear, uniforme,sem contradies e limitaes. Isto fica ainda mais claro agora, em quese trata de coordenar estrategicamente, no apenas partidos e movi-mentos sociais, mas tambm a ao de governos nacionais e institui-es regionais. Para dar conta destas novas tarefas, num cenrio mar-cado pela crise internacional e por uma contra-ofensiva da direita, oPT est chamado a ampliar sua incidncia em pelo menos dois pro-cessos interligados: o debate estratgico e a integrao continental.

    A onda de governos de esquerda na Amrica Latina e a crise inter-nacional no foram capazes de modificar a natureza do perodo aberto,ainda nos anos 1980, pela ofensiva neoliberal e pela crise do socialis-mo. O movimento socialista continua, em termos planetrios, numperodo de relativa "defensiva estratgica".

    Um sinal disto o contraste entre a profundidade da crise inter-nacional e capacidade que os grandes Estados capitalistas tiverampara evitar, at agora pelo menos, seu transbordamento poltico-social. Outro sinal a existncia de uma contra-ofensiva da direitalatino-americana, de que fazem parte as bases militares na Colm-bia, o golpe de Estado em Honduras, a eleio de Piera no Chile ea atitude dos militares estadounidenses frente catstrofe no Haiti.

    Neste contexto, a esquerda latino-americana busca no perdernenhum governo para a direita, acelerar o processo de integraoregional e ao mesmo tempo persistir no caminho das mudanas es-truturais. A questo est em como fazer isto, evitando dois erros: a)ir alm da nossa capacidade de sustentar politicamente os processos;b) ficar aqum do necessrio para que sigamos acumulando foras.Ao revs da famosa imagem: no to devagar que parea medo, noto rpido que parea provocao.

    Evitar estes erros exige debater a estratgia de luta pelo socialismona Amrica Latina, ou seja, discutir como passar: a) da condio de

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    Valter Pomar

    governo, para a condio de poder; b) da situao atual, em queestamos melhorando a vida do povo nos marcos do capitalismo,para uma nova situao, em que possamos melhorar a vida do povonos marcos de uma transio socialista. Um debate que deve levarem conta a experincia do governo da Unidade Popular no Chile de1970-1973; assim como exige compreender o carter estratgico daintegrao continental.

    Este debate j est em curso e nele aparecem todas as diferenasprogramticas, estratgicas, tticas, organizativas, histricas e socio-lgicas existentes na esquerda latino-americana, que algumas vezesse traduzem em tticas ou estratgias distintas por parte dos gover-nos progressistas da regio. O PT precisa ampliar sua participao,enquanto partido, neste debate, sempre recusando qualquer tipo deinterpretao reducionista, dicotmica e divisionista.

    O reducionismo (dizer que h duas esquerdas na Amrica Lati-na) ajuda politicamente a direita, porque traz implcita a seguinteconcluso: o crescimento de uma esquerda depende do enfraque-cimento da outra esquerda, numa equao perversa que conveni-entemente tira de cena os inimigos comuns.

    Fosse homognea e uniforme, ou expressa somente em duas cor-rentes, a esquerda latino-americana no apresentaria a fortaleza atu-al. A continuidade desta fortaleza depender, em boa medida, daarticulao entre as diferentes esquerdas. Tal cooperao no exclui aluta ideolgica e poltica; mas esta luta precisa ocorrer nos marcos deuma mxima cooperao estratgica.

    A superao do neoliberalismo e tambm do capitalismo exigirdiferentes estratgias de resistncia, de conquista do poder e de cons-truo do socialismo. No significa dizer que todas as estratgias sovlidas, mas significa que o movimento socialista deve recusar a idiade que exista uma nica estratgia vlida para todos os locais e tem-

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    Notas sobre a poltica internacional do PT

    pos. Mas, ao mesmo tempo, os processos nacionais tero flego cur-to, se no estiverem articulados numa estratgia continental.

    Tanto o PT quanto o governo Lula consideram que a integraoregional um objetivo central de nossa poltica externa. Neste senti-do, o governo tem buscado acelerar a institucionalizao da integra-o regional, reduzindo a ingerncia externa, as desigualdades &assimetrias, seja para atuar internacionalmente como bloco, seja paraaproveitar melhor as potencialidades da Amrica do Sul. Esta com-preenso de uma integrao de amplo escopo constitui o pano defundo da criao da Comunidade Sul-Americana de Naes (2004),cujo nome foi posteriormente alterado para Unasul (2007).

    O sucesso na luta contra a ingerncia externa e a constituio deum bloco fortemente ativo no cenrio internacional dependem, nolimite, de uma poltica sustentvel e continuada de reduo das de-sigualdades & assimetrias regionais. O que supe forte investimentobrasileiro, nos marcos de uma poltica mais ampla de desenvolvi-mentismo regional de tipo democrtico-popular.

    Para que esta poltica seja bem sucedida, necessrio afastar o te-mor de que esteja em marcha algum tipo de sub-imperialismo brasi-leiro (temor muitas vezes reforado pela atitude arrogante e predat-ria de grandes empresas brasileiras). Alm disso, o crescente protago-nismo global do Brasil deve ser combinado com a reafirmao e am-pliao de seu compromisso com a integrao regional.

    Devemos assumir, portanto, parte importante dos investimentosnecessrios para a integrao, especialmente no mbito da infra-es-trutura. Para isto, preciso que exista no Brasil uma maioria polticaque perceba as vantagens que o desenvolvimento da Amrica do Sultraz para o desenvolvimento brasileiro. Sem esta maioria, teremosum prejuzo enorme para os processos de integrao e uma provvelinterrupo do reformismo democrtico-popular que desde 1998ganhou espao na regio.

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    Valter Pomar

    Trata-se de demonstrar, entre outras coisas, que nosso protago-nismo global est fortemente vinculado aos sucessos latino e sul-americano; que a integrao regional importante para o sucesso doprojeto democrtico-popular em mbito nacional; que especialmen-te no presente cenrio de instabilidade mundial, os blocos regionaisso essenciais.

    Alm de incidir no debate estratgico e na prtica da integraocontinental, o Partido dos Trabalhadores est chamado a ampliarsua presena em outras regies do mundo, notadamente a sia, africa e os Estados Unidos. Diversas iniciativas j foram adotadasneste sentido e devem ser objeto de debate e aprovao no IV Con-gresso do Partido, chamado a atualizar o documento aprovado porunanimidade no III Congresso e que atualmente orienta a atuaoda secretaria de relaes internacionais do PT.

    *A verso inicial deste texto foi publicada na ediode fevereiro de 2010 da revista Teoria e Debate

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    Notas sobre a poltica internacional do PT

    Noutra oportunidade, apresentei meu informe ao Diretrio Na-cional do PT sobre a reunio de Caracas. A seguir, apresento minhaopinio sobre o mrito do Compromisso de Caracas. Farei isto demaneira propositadamente sinttica, com o objetivo de esclarecer osprincipais motivos pelos quais o Partido dos Trabalhadores no assi-na o citado documento.

    Incio sugerindo que se compare o Compromisso de Caracascom o texto-base e com a Declarao aprovada recentemente peloXV Encontro do Foro de So Paulo.

    No texto-base e na declarao do XV Encontro do Foro, h umaanlise da crise internacional do capitalismo, mostrando seus efeitospolticos contraditrios. H, tambm, uma anlise da contra-ofen-siva poltica da direita latino-americana e de seus aliados nos EUA.Ambos documentos apontam medidas prticas e factveis para am-pliar a operacionalidade do Foro de SP e suas relaes com a esquer-da e setores progressistas em todo o mundo. As reflexes do Foro deSo Paulo ressaltam o papel das organizaes e lideranas coletivas(partidos, movimentos sociais, governos) e abordam a situao doconjunto dos governos de esquerda e progressistas, compreendendoque todos so vtimas de ataques.

    Realizado em agosto de 2009, o XV Encontro do Foro tratou dotema de Honduras e das bases na Colmbia. Meses depois, oCompromisso de Caracas no aprofundou a reflexo poltica so-bre ambos os temas, algo essencial, uma vez que as bases e a IV

    Informe sobre areunio de Caracas

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    Valter Pomar

    Frota so aspectos militares de uma estratgia poltica; e sua derrotapassa pela luta poltica, cabendo-nos fazer de tudo (inclusive no ter-reno da retrica e da diplomacia) para derrotar a direita provocadoraque pretende desfechos blicos.

    Quanto aos acordos firmados, achamos nobre o propsito de bus-car uma plataforma de ao conjunta entre os partidos de esquerdado mundo. Mas consideramos que a melhor maneira de fazer isto fortalecer e estimular o dilogo entre os espaos j existentes querenem partidos e organizaes de esquerda e progressistas.

    A experincia histrica das Internacionais, a situao atual daesquerda mundial e a experincia exitosa que construmos na Am-rica Latina e Caribenha, demonstram que o melhor caminho paraarticular os movimentos sociais e as diferentes correntes de esquerdaexistentes no mundo, no a criao de uma Internacional, muitomenos atravs de um calendrio de curto prazo. Alis, a inclusoimprevista da proposta de criar uma V Internacional, ao invs degerar uma concentrao de energia contra os adversrios comuns,tende a produzir muita polmica dispersiva e estril.

    Obviamente, temos acordo com diversas das anlises e medidaspropostas no Compromisso de Caracas. Entretanto, os desacordosacima nos levaram a no assinar o documento. Seguiremos concen-trando nossas energias no Foro de So Paulo, que em agosto prxi-mo realizar seu XVI Encontro em Buenos Aires, onde comemora-remos os 20 anos de existncia desta iniciativa exitosa, que tem con-seguido reunir num mesmo espao famlias polticas e ideolgicasdistintas, mas que sabem que s atravs da unidade na diversidadese conseguir vencer.

    A seguir, segue uma sntese da exposio que fiz durante a reu-nio de Caracas:

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    Notas sobre a poltica internacional do PT

    Bom dia, companheiros e companheiras.

    Agradeo, em nome do PT e da ssecretaria executiva do Foro de So Pauloo convite feito pelo PSUV.

    Vou comear minha exposio debatendo como enfrentar a contra-ofensi-va da direita.

    Esta contra-ofensiva no uma surpresa.J no XIV Encontro do FSP percebemos que, em 2009-2010, viveramos

    um ciclo eleitoral principalmente em pases governados por ns. Ou seja, adireita poderia derrotar nossos governos; enquanto o contrrio seria maisdifcil.

    Dois outros fatores contribuem para a contra-ofensiva: a crise econmica,que oferece possibilidades estratgicas, mas que um risco ttico, especial-mente onde somos governo; e a eleio de Obama, que permitiu aos EUArecuperar certa margem de manobra.

    A contra-ofensiva da direita poltica. A dimenso militar um aspecto,mas no o principal. E temos que fazer de tudo para que este aspecto no seconverta no principal, pois neste terreno os EUA levam vantagem.

    A contra-ofensiva da direita tem pelo menos cinco componentes:1) fortalecer os trs governos de centro-direita (Peru, Colmbia, Mxico);2) atacar os elos mais fracos da cadeia de governos progressistas (e sobre isto

    devemos falar menos de quo m e desleal e anti-democrtica a direita;e falar mais acerca dos erros que podemos estar cometendo nestes pases,que abrem espao para o ataque da direita);

    3) a reciclagem de alguns de seus mtodos e candidatos nas campanhas eleito-rais (aqui se destaca o oferecimento de candidaturas de novo tipo, empre-sariais, mistura de Sarkozy com Berlusconi);4) reforar a presena militar (bases, IV Frota etc.);

    5) isolar, dividir, estimular a disputa no interior da esquerda.Temos que dar uma resposta poltica para esta contra-ofensiva poltica.

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    Valter Pomar

    Colaborar para que as esquerdas do Mxico, Colmbia e Peru se fortaleame ganhem as prximas eleies; apoiar os setores populares em Honduras, Gua-temala, Paraguai etc.; no perder nenhum governo para a direita (indepen-dente das opinies que possamos ter sobre os limites de cada um destes governos,qualquer derrota ser uma vitria de nossos inimigos; aprofundar o processo demudanas, mas considerando atentamente a correlao de foras; e acelerar aintegrao continental (o que, no limite, nosso principal trunfo).

    preciso, tambm, dar uma resposta poltica ao aspecto militar. Em sntese, trata-se de isolar Uribe. Para isto, precisamos defender a paz

    e evitar qualquer retrica ou gesto que permita aos nossos inimigos nos acusardo contrrio (neste sentido, no simpatizo com o slogan bases pela paz);precisamos deixar claro que as bases militares e a IV Frota no so contra aVenezuela, no so contra Alba, so contra a Amrica do Sul; e precisamoscompreender que, no limite, o que pode interromper a instalao das bases uma vitria da esquerda nas prximas eleies presidenciais em Colmbia.

    A contra-ofensiva da direita uma decorrncia lgica da crise internaci-onal e do declinio da hegemonia estado-unidense; eles precisam recuperar ocontrole de seu pateo trasero; e para isso precisam deter e reverter as mudan-as que esto em curso no continente.

    O debate sobre as tentativas de construo do socialismo no sculo XXIser pura retrica, se no detivermos a contra-ofensiva da direita.

    O PT tem reflexes acumuladas sobre isto, as mais recentes esto na reso-luo do III Congresso. Para ns, socialismo envolve democracia, internacio-nalismo, propriedade pblica, planejamento e desenvolvimento ambiental-mente sustentvel.

    Ns no utilizamos o termo socialismo do sculo XXI.Ainda estamos num perodo de defensiva estratgica da luta pelo socia-

    lismo, no qual se combinam a derrota do chamado "campo socialista", adifcil situao de Cuba, o socialismo de mercado na China e a fora docapitalismo. Nunca o capitalismo foi to forte, historicamente. Sua crise atu-al profunda, exatamente porque sua hegemonia profunda.

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    Notas sobre a poltica internacional do PT

    Nossa luta se d em condies novas: um dficit terico, uma situaointernacional distinta e uma estratgia cujos marcos foram anunciados pelaexperincia da Unidad Popular chilena (1970-1973). Importante perceberque muitos de ns, embora estejamos operando uma estratgia deste tipo,ainda pensamos com paradigmas tericos de outro tipo de estratgia.

    Por tudo isto, acreditamos que necessrio levar a srio a idia da unida-de na diversidade. H uma diversidade de estratgias nacionais e uma diver-sidade de concepes. Precisamos articular isto numa estratgia continentalcomum. Porm o mnimo denominador comum desta estratgia continental a integrao, no o socialismo.

    Gostaramos que fosse o socialismo, porm ainda no ; e no , no porfalta de vontade, mas principalmente porque vivemos num momento de tran-sio, em que o velho j est morrendo e o novo ainda no se firmou.

    Por tudo isto, o PT valoriza extremamente o Foro de SP, que tem comouma de suas caractersticas mais importantes reunir num mesmo espao fa-mlias polticas e ideolgicas que na Europa no conseguem conversar. Osque aqui destacaram o quanto a situao poltica na Amrica Latina estmelhor do que a Europa, devem compreender que isto se liga a nossa capaci-dade de articular unidade com diversidade.

    Devemos, portanto, combinar a necessria luta ideolgica em favor dosocialismo, com uma estratgia e uma poltica organizativa mais amplas.

    Consideramos importante, neste sentido: fortalecer os laos bilaterais; for-talecer os organismos que temos (como o Foro de SP); para ns do PT, o Forode So Paulo prioritrio; repudiamos a idia de que existam duas esquer-das, h muitas esquerdas em Amrica Latina; recusamos qualquer tipo dedisputas de protagonismos e liderana entre ns; e estamos convencidos de queno h futuro para nosso projeto no Brasil, apartado do futuro da Amricado Sul e da Amrica Latina.

    Claro que h contradies em nossa poltica interna e externa. Mas nossapoltica internacional demonstra de que lado estamos: lembro aqui a postura

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    Valter Pomar

    do Brasil frente a Cuba, Honduras, Ir, Palestina e nossa oposio guerrados EUA contra o Iraque.

    Em 2010 teremos eleies no Brasil. Haver um confronto entre direita eesquerda, entre neoliberalismo e desenvolvimentismo.

    Decidimos que no buscaramos um terceiro mandato para Lula; decidi-mos lanar a companheira Dilma Roussef presidncia da Repblica; acre-ditamos que nossa vitria ser ainda mais importante, porque ficar claroque no se trata da vitria de uma pessoa, mas sim a vitria de um projeto, deuma aliana, de um Partido.

    No governo Dilma Roussef, o Brasil assistir disputa entre o desenvolvi-mentismo conservador e o desenvolvimentismo democrtico-popular. Acredi-tamos que este desenvolvimentismo com reformas, com mudanas profundas,nos aproxima do socialismo.

    Dois comentrios finais: 1) no vou polemizar sobre o tema do Haiti, maso PT no concorda que se trate de uma ocupao e estamos dispostos a reunircom os partidos haitianos para debater o tema, de preferncia na presena detodos os partidos de todos os governos de esquerda e progressistas que partici-pam da Minustah, pois no s o Brasil que est l; 2) sem a volta de Zelaya,no reconheceremos as eleies em Honduras, mas o fundamental que opovo hondurenho no as reconhea.

    Concluo convidando todos os partidos aqui presentes para o IV Congressodo PT e para o XVI Encontro do Foro de SP; e desejando sucesso para ocongresso do PSUV.

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    Notas sobre a poltica internacional do PT

    Se ha vuelto lugar comn decir que hay dos izquierdas en Amri-ca Latina: una sera vegetariana, la otra carnvora; una sera radi-cal, la otra moderada; una sera revolucionaria, la otra reformista;una sera socialista, la otra capitalista.

    Definiciones dicotmicas de este tipo son hechas por los portavoces(oficiales u oficiosos) del Departamento de Estado de los EUA, conel propsito explcito de provocar discordias en la izquierda latinoa-mericana, hacindola luchar entre s y no contra los enemigos co-munes.

    Evidentemente, no hay manera ni motivo para negar la existenciade diferencias programticas, estratgicas, tcticas, organizativas, his-tricas y sociolgicas en la izquierda latinoamericana. Hablaremosde estas diferencias ms adelante. Pero una interpretacin dicotmicade las diferencias realmente existentes, adems de servir a los prop-sitos polticos de la derecha, expresa una interpretacin tericaincorrecta.

    El reduccionismo (decir que hay dos izquierdas en Amrica Latina)ayuda polticamente a la derecha, porque trae implcita la siguienteconclusin: el crecimiento de una depende del debilitamiento de laotra, en una ecuacin que convenientemente quita de escena a losenemigos comunes. El reduccionismo es, por otra parte, una interpre-tacin terica incorrecta, incluso por no lograr explicar el fenme-no histrico de los ltimos once aos (1998-2009). A saber: elcrecimiento simultneo de las varias izquierdas latinoamericanas.

    Las diferentes estrategias delas izquierdas latinoamericanas

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    Valter Pomar

    Al contrario de los partidarios de la visin reduccionista, bajocualquiera de sus formas, nosotros defendemos que el fortalecimientoexperimentado, desde 1998 hasta hoy, por parte de las distintascorrientes de la izquierda latinoamericana, se debe en parte a su diver-sidad, que ha permitido expresar la diversidad sociolgica, cultural,histrica y poltica de las clases dominadas de nuestro continente. Sifuera homognea y uniforme, si fuera tan slo "una o dos, las izquier-das latinoamericanas no presentarin la fortaleza actual"una o dos, lasizquierdas latinoamericanas no presentarin la fortaleza actual.

    Defendemos, tambin, que la continuidad del fortalecimiento delas izquierdas latinoamericanas depender en buena medida de lacooperacin entre las distintas corrientes existentes. Tal cooperacinno excluye la lucha ideolgica y poltica entre las mltiples izquier-das; pero esta lucha necesita darse en los marcos de una mximacooperacin estratgica.

    Tal cooperacin ser ms difcil mientras ms imperfecta seanuestra comprensin acerca del proceso que estamos viviendo.

    La base poltico-material que hace posible la cooperacin entre lamayora de las distintas corrientes de la izquierda latinoamericana esla existencia de una situacin estratgica comn. Si esta situacin vaa continuar existiendo o no, depender de la lucha poltico-socialque est en curso en este exacto momento.

    Las corrientes ultra-radicales o hper-moderadas que se niegan apercibir la existencia de una situacin estratgica comn sonexactamente aquellas que, consciente o inconscientemente, prestanservicio a las clases dominantes locales o al imperialismo.

    Trazos de la formacin histricaLo que conocemos hoy como Amrica Latina contribuy a la

    llamada acumulacin primitiva y, desde entonces, est totalmente

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    Notas sobre a poltica internacional do PT

    integrada al capitalismo mundial. Del debate sobre el carcter de estaintegracin derivan las diferentes posiciones existentes acerca de lanaturaleza del desarrollo realmente existente en cada pas y en el con-junto de la regin, acerca de las posibilidades de la lucha reformista yrevolucionaria, del capitalismo democrtico y del socialismo.

    La resistencia nacional a la invasin y explotacin por parte de laspotencias europeas, as como la resistencia de los productores directosa la explotacin practicada por las clases dominantes locales y ex-tranjeras, ha asumido variadas formas desde 1492.

    El siglo XX en un ambiente marcado por la creciente industria-lizacin, por el imperialismo, por las guerras mundiales, por la Re-volucin Rusa, por las revoluciones y guerras anti coloniales lasluchas populares latinoamericanas pasaron a combinar, de distintasformas, las demandas por democracia poltica, soberana nacional yreforma agraria, con los objetivos anticapitalistas y socialistas.

    Hasta la dcada de 1950, la combinacin predominante enfatizabalas demandas nacional-democrticas: derrotar al imperialismo y alos latifundios, que para algunos constituan restos feudales, in-dustrializar la economa, democratizar el Estado y afirmar la soberananacional. Esta orientacin nacional-democrtica era compartida porla mayor parte de los socialistas, incluso por los partidos comunistassurgidos a partir de los aos 1920.

    Denominada en la variante marxista como etapismo (primero larevolucin burguesa, despus la revolucin socialista), la orientacinnacional-democrtica fue criticada, dentro de la propia izquierda, portres motivos principales: a) por subestimar los vnculos orgnicos en-tre latifundio, imperialismo y capitalismo; b) por creer en la viabilidadde una alianza estratgica del proletariado con la burguesa nacio-nal; c) por concebir cmo etapas relativamente estancadas, lo quesera ms adecuado concebir como flujo, como transcrecimiento.

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    Valter Pomar

    La formulacin ms consistente del etapismo, as como su defensafrente a las crticas, fue hecha por los partidos comunistas. Aqu no sehace necesario rememorar los detalles del debate, pero es precisoenfatizar dos cosas. Primero, tenan razn los que decan que era nece-sario relativizar los obstculos al desarrollo capitalista en AmricaLatina. El imperialismo y el latifundio, la dependencia y el merca-do interno limitado, fueron metabolizados e incorporados al desarro-llo capitalista realmente existente. Por lo tanto, deducir de estos obs-tculos la posibilidad de una alianza revolucionaria (anti-imperialis-ta, anti-latifundista) entre la burguesa nacional y el proletariado,era transformar lo secundario (las contradicciones realmente existen-tes, que llevaron a fracciones de la burguesa a adoptar actitudes msradicales) en una contradiccin principal. Llevando al error de extraerde esta contradiccin, supuestamente principal, consecuencias (concebiral proletariado como ala izquierda de la revolucin democrtico-bur-guesa) sin una base material adecuada.

    Segundo, tenan razn los que decan que la lucha por el socialis-mo en Amrica Latina no poda minimizar las llamadas tareaspendientes de la revolucin democrtico-burguesa.Temas comosoberana nacional, industrializacin, democratizacin poltica, re-forma agraria y polticas pblicas de bienestar social constituyen anhoy la materia prima de toda y cualquier lucha poltica implementa-da por los socialistas en Amrica Latina. El hecho de que la burguesano est en condiciones de dirigir la lucha por estas reivindicacionesno las retira del horizonte poltico; el hecho de que el proletariadosea llamado a asumir la vanguardia de estas reivindicaciones no eli-mina su carcter democrtico-burgus.

    El debate terico esbozado arriba slo puede encontrar completasolucin en el terreno de la prctica, a saber: la lucha por demandashistricamente democrtico-burguesas puede cumplir uno u otro

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    Notas sobre a poltica internacional do PT

    papel estratgico, a depender de la correlacin de fuerzas en mbitonacional, continental y mundial. Si el proletariado tiene fuerza yradicalidad suficientes, la lucha por demandas democrtico-naciona-les puede sufrir un transcrecimiento hacia las transformaciones detipo socialista. En cambio, si el proletariado est dbil y subalterno, lalucha por la revolucin democrtica no ser ni democrtica, ni revo-lucionaria, mucho menos acumular fuerzas hacia el socialismo.

    La discusin sobre el carcter de la revolucin (socialista, democrti-ca etc.) latinoamericana fue siempre simultnea al debate sobre la va dela revolucin: violenta o pacfica, guerrilla o insurreccin, etc.Nuevamente, diferentes combinaciones fueron establecidas: desde eta-pistas adeptos de las formas ms radicales de la violencia, hasta socialis-tas imbuidos del ms firme compromiso con la transicin pacfica.

    Las distintas variantes del etapismo y del reformismo fueron du-ramente cuestionadas por la victoria de la revolucin cubana en 1959.Para algunos sectores de la izquierda, la discusin estratgica (sobre elcarcter y sobre la va de la revolucin) pareca resuelta en favor de undeterminado modelo. Siendo que la revolucin cubana realmente exis-tente era una cosa, y los modelos que se formularon a partir de ellaeran otra. Divergencia similar se dio en el caso ruso de 1917 y en elcaso chino de 1949: los modelos simplificaban y muchas vecescontradecan enormemente la estrategia realmente implementada.

    Observaciones sobre la transicin socialista y estrategiaHay tanta confusin acerca de los trminos capitalismo, tran-

    sicin, socialismo y comunismo, que se hace necesario explicarlo que se quiere decir, en este texto, con estas palabras.

    Por capitalismo entendemos un modo de produccin basado enla propiedad privada de los medios de produccin, modo de produc-cin donde los productores directos son obligados a vender su fuerza

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    Valter Pomar

    de trabajo a los capitalistas, que se apropian de la plusvala de losasalariados; si contraponemos al capitalismo otro modo de produc-cin, fundado en la propiedad social de los medios de produccin,entonces se hace imprescindible trabajar con las categoras de co-munismo (aquel otro modo de produccin) y de socialismo (elperiodo de transicin entre uno y otro modo de produccin).

    Por razones histricas conocidas, el trmino comunismo esrechazado o simplemente dejado de lado por amplios sectores de laizquierda, incluso por algunos que se proclaman revolucionarios.Pero, desde el punto de vista terico, el uso del trmino es esencial,una vez que permite distinguir entre lo que es la transicin y loque es el objetivo final (o sea, la forma madura de la sociedad quese pretende construir).

    Cuando hablamos de socialismo, hablamos de transicin entrecapitalismo y comunismo. Por lo tanto, la transicin socialista (o elsocialismo) es, por definicin, una formacin social que combinacapitalismo con anti-capitalismo. Lo que define si estamos frente auna formacin socialista es la existencia de un movimiento orgni-co, estructural, hacia la producin y la propriedad social (con todaslas complejas consecuencias polticas y sociales de esto). En otraspalabras, lo que define si estamos frente a una transicin socialista esla existencia de un movimiento en direccin a la socializacin de laproduccin, de la propiedad y del poder poltico.

    Esta definicin del socialismo como movimiento en direcin acontiene al menos dos motivos potenciales de confusin. El primerode ellos es el que considera la transicin como un proceso lineal, deacumulacin progresiva, tomando cualquiera reculo como seal deregreso al capitalismo, como motivo para creer que la transicinhacia el socialismo fue interrumpida. El segundo de ellos es laconfusin entre:

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    Notas sobre a poltica internacional do PT

    a) la lucha que trabamos dentro del capitalismo, en favor del socia-lismo;

    b) la construccin o transicin socialista.En nuestra opinin, una variable fundamental para eliminar la

    confusin, en los dos casos, es saber con quin est el poder poltico.O sea: en esto est la diferencia entre reculo y desbandada; entreconcesin y capitulacin; entre mejorismo y lucha por reformas.

    Por ejemplo: la diferencia entre la lucha por el socialismo y latransicin socialista puede no estar en las medidas en s, pero nece-sariamente tiene que estar presente en la poltica, en la correlacinde fuerzas, en el poder del Estado. Esto se debe a que las limitacionesde la base material pueden obligar a un gobierno revolucionario aadoptar medidas pro-capitalistas. Pero estas medidas adquieren dis-tintos sentidos estratgicos, cuando son adoptadas por un gobiernoburgus o por un gobierno socialista.

    Para transformar la lucha por el socialismo en efectiva transicinsocialista, para comenzar la construccin del socialismo, es precisocontrolar el poder del Estado, o sea, tener los medios para incidir enla estructura de la sociedad, en el control de la economa, en losmedios de produccin. Claro est que estos medios son determina-dos, en ltima instancia, por la base material preexistente: toda lavoluntad poltica del mundo, el ms absoluto poder del Estado, noes capaz de transformar una base material pre-capitalista en materiaprima suficiente para la construccin del socialismo. En este caso, loque el poder poltico puede garantizar, dentro de ciertos lmites, esque las polticas de desarrollo capitalista estn al servicio del proyec-to estratgico de construir el socialismo.

    Mientras la clase trabajadora no tenga el poder de Estado, ellapuede incidir muy poco en las macro determinantes econmicas,que producen y reproducen cotidianamente el capitalismo. Slo con

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    Valter Pomar

    el poder del Estado, la clase trabajadora puede cambiar el patrn deacumulacin existente en la sociedad, haciendo que el polo hegem-nico deje de ser la propiedad privada y la acumulacin de capital,pasando a ser la propiedad colectiva y la acumulacin social.

    La conquista del poder de Estado es un proceso complejo, cuyopunto de cristalizacin es el establecimiento del monopolio de laviolencia. No es que no pueda estar presente una contestacin a estemonopolio, pero ella no puede ser relevante a punto de poner encuestin el propio poder del Estado. Adems del monopolio de laviolencia, la conquista del poder del Estado envuelve otros elemen-tos, tales como la creacin de una nueva institucionalidad poltica yjurdica; la capacidad de gestin de la economa y de la comunicaci-n social; el reconocimiento de hecho y de derecho por parte deotros Estados etc. Adems de eso, como ya sabemos, el poder es unarelacin social, que se puede ganar y perder. Lo que ocurre en escalamicro con los gobiernos electos, tambin puede ocurrir en escalamacro con los Estados originarios de grandes revoluciones sociales.Las revoluciones slo son irreversibles en algunos discursos, no enla historia real.

    Ninguna clase social o bloque de clases lleg al poder de Estadoutilizando slo una va de acumulacin de fuerzas o una nica va detoma del poder. La victoria de la insurreccin sovitica, de las guer-ras populares china y vietnamita, de la guerra de guerrillas cubana,se haran incomprensibles, si desvinculramos las formas de luchaque fueron principales en cada caso, de las otras formas de lucha quese hicieron presentes al lado de la forma de lucha principal: luchasde masa o de vanguardia, legales o clandestinas, electorales o deaccin directa.

    Sin embargo, las condiciones histricas de un pas o de una pocaconfieren a una determinada forma de lucha, el papel de catalizador

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    Notas sobre a poltica internacional do PT

    y de ariete principal en el enfrentamiento con las clases enemigas ysu poder de Estado. Pero esta condicin de catalizador, de forma delucha principal, es un producto orgnico de una situacin concreta,que no puede ser trasplantada a otra situacin histrica.

    Hablamos varias veces de la conquista del poder de Estado, siendonecesario recordar lo obvio: si el poder es una relacin social, con-quistar el poder de Estado exige construir una correlacin de fuerzassocial distinta, un bloque poltico-social que apunte a concretar undeterminado programa.

    Qu programa? La respuesta a esta cuestin nos lleva de vuelta aldebate sobre el carcter de la revolucin.

    En una sociedad capitalista, la construccin de una alternativahistrica para las contradicciones existentes en esta sociedad exigedar inicio a la transicin socialista. Pero esta conclusin terica ehistrica, segn la cual est en el orden del da superar el capitalis-mo, cuando es traducida al terreno de la estrategia poltica, puedeser entendida al menos de dos maneras diferentes:a) la manera izquierdista defiende construir un bloque poltico-so-

    cial en torno a un programa directamente socialista;b) la manera democrtico-popular & socialista defiende construir

    un bloque poltico-social en torno a un programa que articule me-didas democrticas con medidas socialistas. En las condicionesactuales de desarrollo del capitalismo, las medidas democrticas noson socialistas, pero pueden asumir un sentido anti-capitalista.Para quien cree que socialismo y anti-capitalismo son sinnimos,

    esto no pasa de un juego de palabras. Entendiemos que el socialismoes el anti-capitalismo consecuente, aquel anti-capitalismo que implicala superacin del modo de produccin capitalista. Pero, en la vidacotidiana, el capitalismo es confrontado de diversas formas: la luchapor mayores salarios, la reforma agraria, la lucha contra los monopo-

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    Valter Pomar

    lios privados, la defensa de las empresas pblicas, las polticas pblicasde carcter universal, la lucha contra el imperialismo etc.

    Esas luchas se traban contra aspectos del capitalismo o, a lo sumo,contra la forma hegemnica del capitalismo en una dada situacinhistrica, no apuntando en s a la derrota del capitalismo en general,en tanto modo de produccin basado en la propiedad privada y en laextraccin de la plusvala.

    O sea: son luchas capitalistas contra el capitalismo. Luchas queen general apuntan a construir sociedades capitalistas ms democr-ticas, poltica, econmica y socialmente. Sin embargo, bajo otrascondiciones, estas luchas capitalistas contra el capitalismo puedenintegrar un movimiento que conduzca a la superacin del modo deproduccin capitalista.

    En estos casos, es como si al lado del anti-capitalismo o socialis-mo proletario, existiera un anti-capitalismo pequeo-propietario, unsocialismo pequeo-burgus.

    El bloque poltico-social capaz de disputar y conquistar el poderde Estado debe organizarse en torno a un programa que combinemedidas (o tareas, o reivindicaciones) socialistas, con medidas anti-capitalistas que no son en s socialistas. Para usar palabras ms pre-cisas, son medidas democrticas, democrtico-burguesas, defenso-ras de la pequea propiedad contra la gran propiedad, defensoras delo pblico (que es diferente de lo social & colectivo) contra lo priva-do, defensoras de lo nacional contra el imperialismo.

    La forma en que los izquierdistas veen la construccin del bloquepoltico-social no es capaz de tener xito por dos razones. La primerade ellas tiene relacin con el debate sobre la revolucin en AmricaLatina, revolucin que, como ya dijimos antes, necesariamente tendrque hacerse cargo de las tareas democrticas. La segunda razn esestrictamente poltica: la correlacin de fuerzas que precede a la con-

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    Notas sobre a poltica internacional do PT

    quista del poder de Estado y el nivel de conciencia dominante en la clasetrabajadora y sus aliados hacen imposibles, por definicin, constituir unbloque de poder slo o principalmente en torno a la lucha directa porel socialismo. O sea: si existe dominacin capitalista, entonces el nivelde conciencia mayoritario en el pueblo no es socialista. Este nivel deconciencia slo puede hacerse consecuentemente socialista en el cursodel proceso, motivo por el cual el punto de partida programtico delnuevo bloque poltico-social no tiene cmo ser explcita o consecuen-temente socialista. Claro est que el processo de lucha de clases nonecesariamente va a alcanzar la temperatura necesaria para producirun nivel de conciencia socialista en sectores mayoritarios del pueblo; yque se espera que los sectores socialistas acten tanto en el sentido deaumentar la temperatura (estimulando el proceso de luchas en s),como en el sentido de elevar el nivel de conciencia.

    Por las razones explicadas antes, el bloque poltico-social capaz dedisputar y conquistar el poder de Estado necesita organizarse en tornoa las cuestiones de futuro (la construccin del socialismo); y princi-palmente en torno a las cuestiones del pasado & presente (enfrentarlos problemas derivados del capitalismo realmente existente).

    Lo que significa decir que las fuerzas socialistas slo conquistan ymantienen el poder del Estado siempre y cuando logran construirmayoras polticas en torno a programas de accin para las cuestionesinmediatas (en circunstancias histricas en que las cuestionesinmediatas dicen respecto a temas estructurales). El ejemplo clsicode esto sigue siendo la consigna pan, paz y tierra.

    La revolucin cubana de 1959, la revolucin rusa de 1917 y larevolucin china de 1949, resultaron exactamente de la continuaradicalizacin democrtica, popular y nacional. Fueron revolucio-nes socialistas no a priori sino debido al curso que tomaron, alproceso global en el que estaban insertas.

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    Valter Pomar

    En este sentido, slo tiene sentido hablar de lucha directa por elsocialismo si la comprendemos de la siguiente forma: la conquistadel poder de Estado apuntando a ejecutar medidas programticasdemocrtico-populares puede venir a ser parte integrante de la tran-sicin socialista, sin que haya necesariamente fases intermedias es-tancadas. La palabra necesariamente es fundamental en este anlisis:el etapismo es un error porque supone la necesidad de fases intermediasestancadas; pero esto no quiere decir que estas fases intermedias novengan a existir, ni que no puedan parecer estancadas, como ocurrien la Nueva Poltica Economica (NEP) y ocurre ahora en el socia-lismo de mercado chino, que a los ojos de muchos parece ser unperiodo prolongado de abandono de la construccin del socialismo.

    La expresin puede venir a ser tambin es fundamental, puesindica que estamos frente a un problema poltico, que depende de lacorrelacin de fuerzas, del nivel de conciencia de las masas, de ladireccin general del proceso. Problema poltico, que puede producirsoluciones que dependern, en ltimo anlisis, del nivel de desarro-llo material y del potencial productivo alcanzado previamente por lasociedad.

    Por estos motivos, es necesario combatir dos tipos de izquierdismo:a) por un lado, aquel izquierdismo que se manifiesta en la defensa

    de un socialismo abstracto, desvinculado de las luchas anticapita-listas parciales;

    b) por otro lado, aquel izquierdismo que confunde medidas anti-capitalistas de sentido estricto, con medidas socialistas en el sen-tido amplio.Este segundo tipo de izquierdismo, muy presente en la actual

    coyuntura latinoamericana, confunde la radicalizacin retrica y po-ltica de los procesos, causada en gran medida por la intransigenciade las clases dominantes, con su radicalizacin econmico-social,

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    Notas sobre a poltica internacional do PT

    olvidando que la superacin del capitalismo exige que haya desarro-llo capitalista a ser superado.

    A lo que dijimos hasta ahora, debe aadirse otra variable: la lneaneo-etapista de la izquierda moderada latinoamericana, que rompilos vnculos entre las tareas democrticas y la lucha por el socialis-mo. En algunos casos, por ser una izquierda que abandon el socia-lismo. En otros casos, por ser una izquierda que, en vez de enfrentary superar, prefiere capitular a la correlacin de fuerzas. O an por seruna izquierda que, incluso cuando mantiene un compromiso genu-inamente socialista, lo hace a partir de una estrategia proceso (cuyatraduccin musical est en el verso de una cancin muy popular enBrasil, que dice as: Deixa a vida me levar...).

    As, podemos decir que hay por lo menos tres grandes diseos pro-gramticos: el izquierdista, el neo-etapista y el democrtico-popular.Los izquierdistas no perciben adecuadamente las diferencias; los neo-etapistas ven una muralla de China; y los democrtico-populares buscanvincular orgnicamente la lucha contra el neoliberalismo y la luchapor el socialismo. Estas diferencias se cruzan, de distintas formas, cu-ando pasamos de la discusin programtica a la discusin sobre la vade acumulacin de fuerzas y sobre la va de toma del poder.

    Guerra de guerrillas y va electoralLa dcada de 1960 asisti a una radicalizacin de la lucha de

    clases en toda Amrica Latina, reflejando la madurez de las contra-dicciones propias del modelo de desarrollo capitalista predominanteen la regin: dependiente y conservador. Esto, en los marcos delrecrudecimiento de la injerencia de los EE.UU. en la regin y delconflicto entre campos.

    En aquel momento, parte de la izquierda latinoamericana, esti-mulada por la experiencia cubana y convocada por la consigna de

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    Valter Pomar

    crear muchos Vietnam, adopt la estrategia de la guerra de guer-rillas, la mayora de las veces bajo la versin foquista.

    En algunos pases, la guerra de guerrillas tena races orgnicas enla situacin nacional. En la mayora de los casos, sin embargo, no latena o esta organicidad no fue suficiente para que prosperara. Conla excepcin de Nicaragua y de la propia Cuba, en ningn otro lugarde Amrica Latina la guerra de guerrillas desemboc en una victoriarevolucionaria. En algunos casos, como El Salvador y Guatemala, laguerrilla adquiri fuerza suficiente para conseguir acuerdos de pazque delimitaran el fin del conflicto armado; pero en la mayora delos casos, la guerrilla fue completamente destruida. Hoy, en AmricaLatina, Colombia es el nico pas donde hay grupos expresivos quedefienden la actualidad tctica de la estrategia guerrillera.

    Con el fin del ciclo guerrillero, a finales de los aos 1970 e iniciode los aos 1980, comenz a tomar cuerpo otra estrategia, basada enla combinacin entre lucha social, disputa de elecciones y ejerciciosde gobiernos en mbito nacional, sub nacional y local. Esta estrate-gia fue coronada, desde 1998 (Chvez) hasta 2009 (Funes), por unaola de victorias de partidos de izquierda y progresistas, en las elecci-ones para los gobiernos nacionales de varios pases de Amrica Lati-na. Esta ola de victorias electorales es producto de diversas circuns-tancias, destacando las siguientes:a) la desatencin relativa de Estados Unidos para con su patio trasero;b) los efectos dainos del neoliberalismo, inclusive sobre los parti-

    dos derechistas;c) la acumulacin de fuerzas por parte de la izquierda, especialmente

    en la combinacin entre lucha social y lucha electoral.Actualmente existe una nueva correlacin de fuerzas en la regin,

    que adems de impulsar cambios dentro de cada pas, limita la inje-rencia imperialista. Esta situacin regional convive con otras dos

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    Notas sobre a poltica internacional do PT

    variables, stas de carcter mundial: la defensiva estratgica de lalucha por el socialismo y la larga y profunda crisis del capitalismo.

    Esta es la base material que hace posible la cooperacin entre lasdistintas corrientes de la izquierda latinoamericana: la existencia deuna situacin histrica en la cual se cruzan la presencia de la izquierdaen mltiples gobiernos de la regin, la defensiva estratgica de la luchapor el socialismo y una larga y profunda crisis del capitalismo.

    Estas son las variables fundamentales de la situacin estratgicacomn a toda Amrica Latina, que hacen posibles y a la vez exigenun alto nivel de cooperacin entre los diferentes sectores de la izqui-erda latino-americana. Sin lo cual no se conseguir superar la defen-siva estratgica, ni se conseguir evitar los riesgos derivados de lacrisis del capitalismo.

    Desde el punto de vista de una izquierda socialista, las cuestionescentrales a tener en cuenta son: Cmo utilizar la existencia de gobi-ernos de izquierda y progresistas como punto de apoyo en la luchapor el socialismo? Cmo coordinar los diferentes procesos en curso,en cada pas, de modo que ellos refuercen los unos a los otros?

    Integracin y estrategiaAl largo del siglo XX, la izquierda latinoamericana y caribea

    enfrent dos grandes obstculos: la fuerza de los adversarios en elplan nacional y la injerencia externa. Esta ltima siempre estuvopresente, especialmente en aquellos momentos en que la izquierdaintentaba o llegaba efectivamente, ya sea al gobierno central, ya seaal poder. Cuando las clases dominantes locales no podian contenerla izquierda, apelaban a los marines.

    Actualmente, el ambiente progresista y de izquierda colabora enlas elecciones y reelecciones, ayuda a evitar golpes (contra Chvez yEvo Morales, por ejemplo) y fue fundamental en la condena de la

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    Valter Pomar

    invasin a Ecuador por tropas de Colombia. Adems de inviabilizaro por lo menos minimizar polticas de bloqueo econmico, quejugaron un papel importante en la estrategia de la derecha contra elgobierno Allende y continan afectando a Cuba.

    La existencia de una correlacin de fuerzas favorable en la regincrea mejores condiciones para que cada proceso nacional siga supropio curso. Aunque no resuelva de per se la situacin (como sepude ver en el caso de Honduras), la actual correlacin de fuerzasregional crea posibilidades inmensas y en cierto sentido inditas,para todos los programas y estrategias de izquierda. En este sentido,la primera tarea de la izquierda latinoamericana es preservar estacorrelacin de fuerzas continental.

    Ocurre que, cuando fuerzas de izquierda consiguen llegar al gobi-erno central de un determinado pas, lo hacen con un programabasado en un trpode: igualdad social, democratizacin poltica ysoberana nacional.

    Y la defensa de la soberana nacional no se hace slo contra lasmetrpolis imperialistas, envuelve tambin administrar los con-flictos entre pases de la regin.

    Estos conflictos no fueron inventados por los actuales gobiernos,siendo generalmente herencia de periodos anteriores, incluso del de-sarrollo dependiente y desigual ocurrido en la regin. En la mayorade los casos, no podrn ser superados en el corto plazo: por poseercausas estructurales, slo podrn tener solucin en el largo plazo, enlos marcos de un adecuado proceso de integracin regional.

    La exacerbacin de estos conflictos regionales tendra, como sub-producto, disimular las contradicciones mucho ms relevantes conlas metrpolis imperialistas.

    Por lo tanto, desde el punto de vista estratgico, debemos impedirque estos conflictos se conviertan en contradiccin principal pues, si

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    Notas sobre a poltica internacional do PT

    esto sucede, la correlacin de fuerzas latinoamericana se alterar enfavor de la injerencia externa.

    Es sabido que los gobiernos progresistas y de izquierda de la re-gin siguen el camino del desarrollo y de la integracin, adoptandodiferentes estrategias y con diferentes velocidades. Y ya se ha dichoque la posibilidad mayor o menor de xito, en el mbito nacional,est vinculada a la existencia de una correlacin latinoamericanafavorable a la posiciones de la izquierda y progresistas.

    Por lo tanto, nuestro obstculo estratgico puede ser resumidoas: cmo compatibilizar las mltiples estrategias nacionales, con laconstruccin de una estrategia continental comn, que preserve launidad con diversidad?

    La solucin estructural de los conflictos regionales supone unareduccin de la desigualdad, no slo dentro de cada pas, sino tam-bin entre las economas de nuestro subcontinente. La instituciona-lidad de la integracin, tanto multilateral como las relaciones bilate-rales, tiene que estar sintonizada con este propsito.

    La reduccin de la desigualdad en cada pas supone enfrentar laherencia maldita y realizar reformas sociales profundas. Pero estono es suficiente para eliminar las disparidades existentes entre laseconomas, objetivo que exige combinar, en el largo plazo, medidasde solidaridad, intercambio directo y tambin medidas de mercado.

    Hoy coexisten cuatro modelos de convivencia:a) el de la subordinacin a los EE.UU., expresado en el finado Acu-

    erdo de Libre Comercio de las Amricas y en los tratados bilatera-les de Libre Comercio;

    b) los acuerdos subregionales, como el Mercosur (Brasil, Argentina,Uruguay y Paraguay) y el Pacto Andino (Bolivia, Colombia, Ecu-ador y Per);

    c) el Alba, Alternativa Bolivariana para las Amricas (integrada porVenezuela, Cuba, Bolivia, Nicaragua, entre otros);

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    Valter Pomar

    d) la Unasur, Unin de Naciones Sudamericanas (integrada por Brasil,Argentina, Uruguay, Paraguay, Bolivia, Colombia, Ecuador, Per,Chile, Guyana, Suriname y Venezuela).Los gobiernos de izquierda y progresistas obstaculizaran la cons-

    titucin de un rea de Libre Comercio de las Amricas. La experienciadel NAFTA (North America Free Trade Area, entre Canad, EEUUy Mxico) y sus efectos sobre Mxico, entre los cuales la catastrficaexpansin del crimen organizado, confirman la correccin de la po-ltica da izquierda.

    Los acuerdos subregionales, entre los cuales el Mercosur, tienenya una larga historia. Durante la dcada neoliberal, todos estos acu-erdos y sus instituciones fueron adaptados a los paradigmas vigen-tes, o sea, fueron vistos como pasos intermedios para la futura adhe-sin al rea de Libre Comercio de las Amricas.

    El fin de la ALCA y la predominancia de un espritu de conver-gencia de polticas de desarrollo, y de amplia integracin cultural ypoltica, puso en la orden del dia la necesidad de crear un espacioms amplio de integracin que fuera distinto:a) a la Organizacin de los Estados Americanos, o a las cumbres

    americanas, euro e iberoamericanas, que cuentan con la presenciade las potencias;

    b) al Grupo de Rio, que posee una dimensin latinoamericana ycaribea.Independientemente de lo que podamos pensar acerca de su soste-

    nibilidad interna, de la naturaleza de los acuerdos firmados, de la ma-terializacin efectiva y de los efectos en los pases receptores, el espritude solidaridad presente en el Alba es extremadamente meritorio.

    Sin embargo, no existe correlacin de fuerzas, ni mecanismos ins-titucionales o situacin econmica que permitan al conjunto de lospases de la regin adoptar los principios solidarios del Alba y/u

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    Notas sobre a poltica internacional do PT

    operar de manera similar al gobierno venezolano. En esencia, por-que no es sostenible que pases capitalistas mantengan una polticaexterna socialista.

    Por ello, aunque toda poltica progresista y de izquierda deba ne-cesariamente contener un componente de solidaridad e identidadideolgica, la dimensin principal de la integracin, en la actualetapa de la historia latinoamericana, es la de los acuerdos institucio-nales entre los Estados, acuerdos que no deben limitarse a los aspec-tos comerciales (fenicios, para usar una expresin del senadoruruguayo Pepe Mujica).

    Esta comprensin de una integracin de amplio alcance consti-tuye el pao de fondo de la creacin de la Comunidad Sudamericanade Naciones (2004), cuyo nombre se cambi posteriormente a Unasur(2007). El xito de la Unasur (ah comprendiendo el Banco del Sury el Consejo de Defensa) supone:a) la cooperacin entre gobiernos que son adversarios polticos e

    ideolgicos, lo que en el presente momento significa evitar rom-pimientos con Colombia y Per;

    b) el compromiso efectivo de las principales economas de la regin,uno de los motivos por los cuales es fundamental que el Senadobrasileo apruebe la entrada de Venezuela en el Mercosur;

    c) hacer prevalecer el inters de Estado, por sobre la dinmica de lasgrandes empresas privadas brasileas, que desarrollan una polti-ca internacional propia, que puede poner en riesgo los objetivosestratgicos del desarrollo con integracin;

    d) la institucionalizacin cada vez mayor del proceso, incluso con laconstitucin de organismos electos directamente por el voto po-pular.Conclusin: en los marcos de una ecuacin estratgica comn (la de

    ser gobierno como parte de la lucha para ser poder), debemos operar

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    Valter Pomar

    polticas nacionales distintas, pero combinadas en una estratgica conti-nental comn, cuyo ritmo ser dado por el sentido y por la velocidad delas transformaciones en los mayores pases, a comenzar por Brasil. Aunqueeso haga ms lenta la marcha, es mejor mantener la vanguardia bienprxima del cuerpo principal de la tropa. Lo que nos lleva a discutircmo utilizar la existencia de gobiernos de izquierda y progresistascomo punto de apoyo en la lucha por el socialismo.

    Gobiernos electos y lucha por el socialismoSi excluimos los hper-moderados y los ultra-izquierdistas, pode-

    mos decir que hay dos posiciones bsicas entre los socialistas latino-americanos, frente a los gobiernos progresistas y de izquierda exis-tentes en la regin:a) estn lo que ven tales gobiernos slo como parte del proceso de

    acumulacin de fuerzas;b) estn los que consideran que estos gobiernos constituyen parte

    fundamental de la acumulacin de fuerzas y tambin de la va detoma del poder.Ambas posiciones se basan, en primer lugar, en la observancia de

    los vnculos existentes entre reforma y revolucin. En la historia dela humanidad, hay periodos de evolucin reformista y periodos deevolucin revolucionaria. La diferencia entre unos y otros resideen tres aspectos combinados: la naturaleza de los cambios, la formacon que son impuestos los cambios y la velocidad con que ocurren.Pero la diferencia fundamental es la naturaleza de los cambios. Loscercamientos, la difusin de las mquinas y la ofensiva imperialis-ta sobre China, para citar ejemplos de los siglos 18 y 19 y 20, respec-tivamente, fueron revolucionarios en la medida en que alteraron lasrelaciones sociales de produccin. Fue esto, y no la velocidad ni laforma violenta, lo que defini el carcter revolucionario de los pro-cesos citados.

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    Notas sobre a poltica internacional do PT

    Los procesos revolucionarios no surgen de la nada, de un mo-mento a otro, por generacin espontnea. Las revoluciones consti-tuyen un momento de la evolucin de las contradicciones de unasociedad, el momento en que estas contradicciones alcanzan un puntode ruptura, de transformacin hacia algo distinto. Dicho de otraforma, las revoluciones ocurren cuando una sociedad no puede msevolucionar solamente de manera reformista. Hay, por lo tanto,continuidad, pero tambin ruptura, entre los momentos reformis-tas y los momentos revolucionarios de evolucin de una socie-dad. La revolucin no existira sin las reformas; pero la revolucinexiste exactamente porque las reformas no son ya suficientes.

    A todo esto se debe aadir que un componente decisivo en latransformacin de las reformas en revolucin reside en la combina-cin entre la disposicin de lucha de las clases dominadas y deresistencia de las clases dominantes. Cuando los de abajo luchanintensamente por cambios y los de arriba ofrecen brutal resistencia,estn siendo creadas las condiciones para transformar la lucha porreformas en revolucin.

    Pasando del ngulo histrico al estratgico, es obvio que los pro-cesos electorales no son suficientes para iniciar la construccin delsocialismo, una vez que ellos nos permiten llegar al gobierno, no alpoder. Por este motivo, en las sociedades donde la izquierda consiguillegar al gobierno por la va electoral, es preciso construir un caminohacia el poder que considere el hecho de estar en el gobierno comovariable muy relevante de una poltica revolucionaria, como partede las circunstancias histricas, no como un problema imprevistoo un desvo indeseable.

    Curiosamente, la mayor parte de la izquierda no ve dificultad enarticular tericamente el momento reformista y el momento revolu-cionario de la estrategia, cuando lo que est en cuestin es la lucha

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    Valter Pomar

    sindical o la eleccin de parlamentarios. Pero enfrenta una enormedificultad, cuando lo que est en cuestin es la relacin entre elejercicio de un gobierno nacional y la lucha por el poder.

    Uno de los motivos para esta dificultad es que, en la mayor partede los casos en que asumi electoralmente gobiernos nacionales, laizquierda no logr acumular fuerzas en direccin al socialismo: oabandon su programa, o fue derrotada electoralmente, o fue derri-bada por golpes y/o intervenciones extranjeras. Si las revolucionessocialistas son eventos raros, mucho ms raras parecen ser las transi-ciones socialistas a partir de gobiernos electos.

    No obstante, la derrota de experiencias como la de la UnidadPopular, as como la derrota de incontables tentativas revolucionari-as clsicas, no permite concluir la inviabilidad de un determinadocamino estratgico; permite apenas concluir que, actuando bajo de-terminadas condiciones histricas y actuando en ellas con determi-nadas opciones, la izquierda fue derrotada. Para los que piensan quevictorias electorales de la izquierda constituyen siempre la antesalade la derrota, se hace necesario responder a dos cuestiones:a) cmo acumular fuerzas, en una coyuntura histrica en la que

    predomina la democracia electoral?b) cmo conferir legitimidad a las vas clsicas de toma del poder,

    en un momento en que la izquierda est consiguiendo victoriaselectorales?Ya para los que piensan que, en determinadas condiciones hist-

    ricas, adoptando determinadas polticas, es posible transformarvictorias electorales en gobiernos que acumulen fuerzas en direccinal socialismo, es preciso responder s:a) tales gobiernos constituyen una especie de parada en una ruta

    que llevar a un enfrentamiento revolucionario?b) tales gobiernos constituyen parte integrante de una va de toma

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    Notas sobre a poltica internacional do PT

    del poder diferente de la insurreccin y de la guerra popular?Los que defienden esta segunda posicin estn llamados a estudiar

    otra de las experiencias paradigmticas de la izquierda latinoameri-cana: el gobierno de la Unidad Popular chilena (1970-1973).

    La izquierda hper-moderada considera tener poco que aprendercon la experiencia de la Unidad Popular (UP), una vez que sta sepropona explcitamente como una va para el socialismo.

    Como mucho, usan la experiencia de la UP para instilar un te-mor reverencial en relacin a la derecha, al imperialismo y a las fuer-zas armadas, as como para comprobar que no se debe forzar lacorrelacin de fuerzas.

    La izquierda ultra-radical tampoco le da mucha importancia a laUP, que no se encaja en sus paradigmas preferidos: la insurreccin,la guerra de guerrillas o, ms recientemente, el movimientismo.

    Como mucho, usan la experiencia de la UP para confirmar sustemores en relacin a la derecha, al imperialismo y a las fuerzas ar-madas, as como para comprobar que es infructfero intentar unava electoral al socialismo.

    A rigor, hper-moderados y ultra-izquierdistas dudan de la posi-bilidad de utilizar los procesos electorales (y los mandatos de allresultantes) como punto de apoyo para la lucha por el socialismo.

    Cuando discutimos hoy el papel de los gobiernos nacionales electosen la lucha por el socialismo, lo hacemos en una situacin histricadistinta de aquella existente en 1970-1973. Pero las cuestiones fun-damentales a estudiar y debatir no se han alterado:a) la composicin y el programa de un bloque histrico popular;b) la combinacin entre la presencia en el aparato del Estado y la

    construccin de un contrapoder, especialmente en el caso de lasfuerzas armadas;

    c) como lidiar con la actitud de las clases dominantes, que frente a

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    Valter Pomar

    amenazas a su propiedad y a su poder, quiebran la legalidad yempujan el proceso hacia situaciones de ruptura;

    d) la mayor o menor madurez del capitalismo existente en cada for-macin social concreta y la resultante posibilidad de tomar medi-das socialistas.La gran novedad, que incide sobre los trminos de la ecuacin

    arriba resumidos, es la constitucin, entre 1998 y 2008, de unacorrelacin de fuerzas en Amrica Latina que permite limitar la inje-rencia externa. Mientras exista esta situacin, ser posible especularterica y prcticamente acerca de una va de toma del poder que,aunque tambin revolucionaria, sea diferente de la insurreccin y dela guerra popular.

    Este texto es una versin revisada de un artculo publicado en laantologa Amrica Latina: Reforma o Revolucin,

    publicado por Ocean Sul

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    Notas sobre a poltica internacional do PT

    Yo tengo 43 aos, nac el ao 1966 y soy militante poltico por lomenos del ao 1978, comenc a hacer poltica en la secundaria. Militen el partido comunista, despus me ligue al Partido dos Trabalha-dores. Desde 1997 hago parte de la directiva nacional del PT. Desdenoviembre 2005 hasta febrero de 2010 fue secretario de RelacionesInternacionales del Partido de los Trabajadores de Brasil, hoy soy dela directiva nacional y encargado pela secretaria ejecutiva del foro deSan Pablo, que congrega distintos partidos de izquierda latinoameri-canos. Profesionalmente yo soy grfico y doctor en historia, aunqueno tenga experiencia profesional como maestro.

    Soy dirigente del PT, pero todo lo que voy a hablar es mi opininpersonal que puede coincidir y en general coincide con la opininmediana del partido.

    *Nosotros tenemos una historia en el siglo XX de luchas sociales,

    polticas y militares, asi como de construccin de grandes partidos yexperimentos socialistas.

    Hay una serie de acciones del movimiento socialista y sus distin-tos matices del siglo XX que conforman nuestro patrimonio colectivo,un patrimonio colectivo de la izquierda mundial, aunque nadie sereconozca en todo el patrimonio, el patrimonio existe y es unpatrimonio colectivo, con sus aciertos y tambin con sus errores. Lomismo no pasa an en el siglo XXI.

    *No existe el socialismo del siglo XX as como no existe el socialis-

    Palestra para jovenes en Chile

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    Valter Pomar

    mo del siglo XXI, as como no existe la izquierda en singular. Nuestromovimiento es plural por definicin, desde el principio hasta hoy yseguir sindolo, la pluralidad histrica, geogrfica, sociolgica, po-ltica, ideolgica es un componente gentico de la izquierda y delmovimiento socialista en particular, por tanto, lo cierto es hablar desocialismos del siglo XX, socialismos del siglo XXI y no se tratasolamente de un juego de palabras, porque lo que est en gestin esque aunque no se puede decir que todas las lneas sean correctas, sepuede decir que ninguna estrategia, ninguna concepcin puedepresentarse como un modelo universal la cual sirva para las dems.

    *Mi punto de partida, por lo tanto, es que nosotros tenemos que

    reconocer primero el carcter inicial, el carcter aun muy sencillo dela izquierda en este principio del siglo XXI, su pluralidad y uninmenso dficit terico.

    Lo que predomina en estos das, ms que la pluralidad, es unaconfusin tremenda y un dficit terico tremendo.

    Hay tres grandes temas el anlisis del capitalismo contemporneo,el anlisis de las experiencias socialistas en sus distintas variantes delsiglo XX y el debate sobre la estrategia de la izquierda sobre las cualesestamos muy lejanos de tener paradigmas comunes, no respuestascomunes pero paradigmas comunes.

    *El presidente Rafael Correa dice en su discurso de toma de posesin

    que nosotros no vivimos una poca de cambios, sino que vivimos uncambio de pocas y muchos de la izquierda hallaron la frese buensimay pasaron a repetirla, pero yo pienso que hay mucho de optimismo enesta idea y en esta imagen, porque de verdad nosotros estamos inmersosen una crisis tremenda que constituye si una oportunidad para nosotroscambiarmos de poca, pero tambin consiste en una oportunidad paralas fuerzas de derecha aprofundizaren su dominacin.

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    Notas sobre a poltica internacional do PT

    Nosotros tenemos la mirada en America Latina, pero en Europaestamos viendo la derecha aprovechando la crisis para avanzar.

    Entonces tenemos que tener claro que ms que hablar que yaestamos en una situacin de cambio de poca, sera ms precisohablar que estamos si en una poca mundial de crisis y transiciones.En cuatro terrenos:1) Hay una crisis del patrn de acumulacin capitalista, pero no esta

    claro que patrn de acumulacin lo sustituir.2) Estamos en un momento de crisis de la hegemona estadouniden-

    se, pero tampoco esta claro que tipo de hegemona ser colocadaen su lugar.

    3) Estamos en un momento de crisis del patrn de desarrollo con-servador y neoliberal en America Latina, pero no esta claro toda-va que tipo, que modelo ser construido en lugar de este modeloconservador y neoliberal.

    4) Estamos en un momento de crisis del pensamiento neoliberal perono est claro que tipo de paradigma ser colocada en su lugar.Entonces vivimos una situacin de crisis de los patrones que son

    hegemnicos, pero sin tener claro sobre qu tipos de patrones seempecer a hegemonizar el mundo.

    La crisis del patrn de acumulacin capitalista es clave y envuelvepor lo menos tambin cuatro dimensiones:1) una crisis clsica de acumulacin. Por eso los empresarios y teri-

    cos del capitalismo estn haciendo recomendaciones firmes y con-victas de que se deba leer a Marx;

    2) una crisis del carcter financiero que el sistema capitalista asumien este ltimo perodo.

    3) una crisis de un patrn especfico vinculado al consumo estadou-nidense.

    4) una crisis de la institucionalidad creada despus de la segundaguerra mundial.

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    Valter Pomar

    Son cuatro cosas combinadas que conforman esta crisis del patrnde acumulacin capitalista, lo que genera la principal caractersticade este perodo que estamos viviendo, que es la inestabilidad, unaprofunda inestabilidad en todos los terrenos.

    La inestabilidad tiene una dimensin ms visible y otra menosvisible, la dimensin ms visible de la inestabilidad tiene que vercon esta crisis que yo mencion, la crisis del patrn de acumulacincapitalista y la crisis de la hegemona estadounidense.

    Tenemos una situacin en que el modelo estadounidense est encrisis y nadie tiene fuerza suficiente para conservar el modelo o paradefinir el modelo sustituto y esto crea inestabilidad.

    Pero hay otro elemento de inestabilidad que se vincula a la contra-diccin cada vez ms profunda entre lo que se denomin como globa-lizacin los problemas son cada vez ms globales y de otra parte elcarcter limitado de la institucionalidad poltica internacional.

    O sea, tenemos problemas cada vez ms mundiales, pero la insti-tucionalidad no est a la altura de esos problemas y esto crea inesta-bilidad tambin.

    Vivimos una situacin en que el viejo esta muriendo y el nuevoan no nace y es por esto que nosotros tenemos una dificultadtremenda para construir alternativas y es por esto tambin que hoyabundan las soluciones parciales, las soluciones transitorias y las so-luciones imperfectas para todos los problemas.

    Cito una, la moneda internacional: todos saben que no se saldrde esta situacin en que estamos si la moneda internacional siguesiendo el dlar, pero nadie tiene fuerza para hacer este cambio, loque hace que se genere una inestabilidad tremenda. En otros pero-dos de la historia eso se resolvi de la manera ms cruel, la guerra.

    Cules son los desenlaces para esta situacin?, de manera muysencilla, didctica y esquemtica nosotros podemos decir tenemosante nosotros tres desenlaces en hiptesis:

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    Notas sobre a poltica internacional do PT

    1) Un desenlace conservador. Si los que dominaron ayer logran tomarcontrol de la situacin y siguen dominando maana, o de manerams simplificada, si los Estados Unidos salen de este proceso decrisis internacional manteniendo su hegemona sobre el mundo.

    2) Otro es el desenlace progresista. Significa que los pases capita-listas que no hacen parte hoy del comando central del mundologran poner un nuevo modelo internacional que an siendo ca-pitalista no ser hegemonizado por el eje