cada dia é uma história

Upload: lenco-de-seda-cecab

Post on 07-Apr-2018

240 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

  • 8/3/2019 Cada dia uma histria

    1/44

  • 8/3/2019 Cada dia uma histria

    2/44

    Presidente da Repblica:

    Fernando Henrique Cardoso

    Ministro da Educao

    Paulo Renato Souza

    Secretrio Executivo:

    Luciano Oliva Patrcio

  • 8/3/2019 Cada dia uma histria

    3/44

    CADA DIA UMA HISTRIA

    KANTYO, PONIOHOM E JASSAN PATAX

    ILUSTRAESCRIANAS PATAX, PROFESSOR DE CULTURA MONGANG,

    LUCIDALVA, LUCIENE E RONALDO PATAX

    SEF/MECSEE-MC

    2001

  • 8/3/2019 Cada dia uma histria

    4/44

    Secretria de Educao Fundamental:

    Iara Glria Areias Prado

    Diretor de Poltica da Educao Fundamental:

    Walter Kiyoshi Takemoto

    Coordenador-Geral de Apoio s Escolas Indgenas:

    Jean Parazo Alves

    MEC/SEF/DPE

    Coordenao-Geral de Apoio s Escolas Indgenas

    Esplanada dos Ministrios, Bloco L, Sala 721

    70047-900 - Braslia - DF

    Tel. (61) 410-8630 e (61) 410-8997Fax: (61)410-9274

    e-mail: [email protected]

    KANTYO.Cada dia uma histria. / Kantyo, Poniohom e

    Jassan Patax ; ilustraes crianas Patax. - Braslia :MEC ;SEF, 2001.

    39 p. : il.

    1. Cultura indgena. 2. Educao indgena.I. Ttulo. II. Poniohom. III. Jassan Patax

    CDU37(=081:81)

    mailto:[email protected]:[email protected]
  • 8/3/2019 Cada dia uma histria

    5/44

    KANTYO, PONIOHOM E JASSAN PATAX

    CADA DIA UMA HISTRIA

    ILUSTRAESCRIANAS PATAX, PROFESSOR DE CULTURA MONCANC,

    LUCIDALVA, LUCIENE E RONALDO PATAX

    SEF/MECSEE-MC

    2 0 0 1

  • 8/3/2019 Cada dia uma histria

    6/44

    Secretaria de Estado da Educao de Minas Gerais

    Secretrio: Murlio de Avellar Hingel

    Diretora da DDEC Maria de Lourdes de Pdua Madureira

    Programa de Implantao das Escolas Indgenas de Minas Gerais

    Convnio SEE-MG, UFMG, FUNAI, IEF.

    Projeto UHITUP

    Coordenadores: Kleber Gesteira Matos e Zlia Maria Resende

    Coordenao Editorial: Maria Ins de Almeida

    Organizao e projeto grfico: Anna Gbel

    Editorao Eletrnica: Vitor Ribeiro e Mrio Suarez

    Fotografia: Dudu Azevedo

    Reviso: Charles Bicalho

  • 8/3/2019 Cada dia uma histria

    7/44

    Apresentao 5Cada dia um a histria 7A nossa aldeia Guarani 8A vida do Patax antigamente 10Nosso jeito de viver 12Como se faz farinha de puba 14Como se faz o munqu em 14

    Textos das crianas Patax 15Nosso jeito de morar e vestir 16Nosso jeito de comunicar 17A floresta era nossa farmcia 18Lngua Patax 19, 20 e21O canto a nossa mensagem 22Todos trabalham para todos 24

    Os seres da mata 26 e 27Hamy 28Vivendo e caminhando no universo 29Fazendo arco 30As pinturas 32A festa das guas 34Angoho Hukab Antxuab 35

    Nosso jeito de governar 36A lenda da mandioca 37O ndio e a rvore que falava 38A menina que virou pssaro cavala 39

    NDICE

  • 8/3/2019 Cada dia uma histria

    8/44

    O projeto arquitetnico da escola foi baseado no desenho do nosso cacique Mongangcom a colaborao de Sijanete.

  • 8/3/2019 Cada dia uma histria

    9/44

    APRESENTAO

    H muitos e muitos anos nosso povo ficou com a voz adorme

    cida, esquecido no passado, sem ter um espao para falar desua vida.Hoje estamos em outro tempo, lutamos e garantimos o nossodireito de expressar os nossos saberes que esto guardadosem nossa memria.Este livro um fruto do nosso trabalho que estamos realizando em nossa escola Indgena Patax Bacumux.

    Queremos agradecer a nossa amiga Mrcia Spyer pela longacaminhada que fizemos juntos para conquistarmos a nossaEscola Indgena Diferenciada.Agradecemos tambm nossas crianas, nossos velhos, nossacomunidade e todos aqueles que nos ajudaram a organizareste livro.Atravs da nossa escola estamos enxergando novos hori

    zontes. Ao conhecer bem o nosso passado, podemos organizar e preparar melhor a vida dos nossos descendentes prsdias que esto por vir.

    Os autores

  • 8/3/2019 Cada dia uma histria

    10/44

  • 8/3/2019 Cada dia uma histria

    11/44

    Cada povo tem a sua prpria histria.Cada ser que habita na terra tem a sua histria e seu prprio

    jeito de fazer histria.Cada povo tem um conhecimento sobre seu prprio mundo.Cada povo tem seus valores, suas sabedorias que soguardadas num livro grande que se chama memria.

    Na memria do nosso povo tem histrias tristes, de medo, dealegria, de sofrimento, de fracasso, de xito e coragem.Cada dia que se vai uma histria.Cada dia que se vem uma outra histria.Cada dia devemos ficar mais atentos para registrarmos nossahistria.Conhecendo bem o nosso passado, poderemos construir bem

    o nosso futuro.

    CADA DIA UMAHISTRIA

  • 8/3/2019 Cada dia uma histria

    12/44

    A NOSSA ALDEIAGUARAN

    Nossa aldeia Guarani muito bonita. Aqui tem muitas montanhas, gua, bichos e passarinhos.No tempo antigo ns tnhamos uma expanso de terra quevinha do sul da Bahia, Esprito Santo e entrava at no Vale doJequitinhonha, MG.Antigamente no tinha limite, o ndio ia onde pensava de ir.Depois de muito tempo de invaso de nossa terra fomos obrigados a fugir para outros lugares.Hoje temos a nossa terra garantida, aqui estamos fazendo onosso prprio mundo para viver com nossos filhos que estonascendo.Nossa terra localizada em Carmsia, no Estado de MinasGerais. Aqui em nossa aldeia estamos construindo um novosistema de viver com todos os seres que habitam aqui.

  • 8/3/2019 Cada dia uma histria

    13/44

  • 8/3/2019 Cada dia uma histria

    14/44

    A VIDA DO PATAXANTIGAMENTE

    Nos tempos mais antigos, ns, Patax, vivamos na aldeiaBarra Velha. L a nossa casa velha que criou todos os seusfilhos.O nosso sustento, sempre tirvamos do mangue: guaiamum,caranguejo, aratu, ostras, ourio, lagosta, camaro, buzo,moria e outros. Da mata caamos paca, anta, teiu, mutum eoutros bichos e passarinhos. Do rio a gente pescava cumbaca,trara, corro, jundia e outros peixes.Naquele tempo o ndio vivia no meio da fartura, no precisava ir muito longe para achar comida

    Os patax faziam as seguintes armadilhas para pegar peixes:Suru feito de ripa e cip. Jequi e caju so feitos de cip. Ochiqueiro feito com madeira: finca na beira do rio, tampapor cima para os peixes no sair. Colocavam na mata para

    pegar caa: o mundu, arataca, quizo e fojo. A imbira serviapara fazer lao e arapuca. Existe lao para pegar caza pelomeio, pescoo e p.

    ARMADILHAS

  • 8/3/2019 Cada dia uma histria

    15/44

  • 8/3/2019 Cada dia uma histria

    16/44

    Os ndios antigamente no sabiam o que era dinheiro, entofaziam sambur, feito de cip, que usavam para tudo. Otamanho do sambur dependia do tamanho da pessoa. Osvelhos colocavam os meninos para buscar mucuj, piqui,goti, amora. Quando chegavam em casa estavam com o sambur cheio de frutas.

    Os patax comiam no cho no meio da casa. As famlias faziam uma grande roda e a me dividia a comida para todos.Os ossos da caa e os espinhos dos peixes eram colocadosnuma grande cuia. Depois jogavam para os cachorros. Os velhos diziam que era para no espantar as caas e os peixes daarmadilha.

    Suas comidas preferidas eram farinha de puba, carne de caa,

    peixes e mariscos. O ndio patax fazia o cozido com folhas depatioba; o buraco era feito na terra. S comiam carne do matocozida, assada e munquinhada.

    NOSSO JEITO DEVIVER

  • 8/3/2019 Cada dia uma histria

    17/44

  • 8/3/2019 Cada dia uma histria

    18/44

    COMO SE FAZ FARINHADE PUBA?

    Como se faz farinha de puba: coloca a mandioca dentrod'agua, deixa uns dias at ela ficar bem mole. Depois rala amandioca e mistura com o que est dentro da gua. Em seguida prensa e amassa e deixa algumas horas, peneira e torra eest pronta para comer. O ndio comia a farinha com coco denai, mangaba e outros.

    COMO SE FAZ OM U N Q U E M ?

    Como se faz o munquem: o munquem feito para munqui-nhar carne. A carne fica muito gostosa. Depois que a carne munquinhada ela fica at uma semana ou mais sem precisarsalgar. Antigamente o ndio no tinha sal, por isso a carne dascaas e peixes era munquinhada para ficar muitos dias semperder. A carne ficava sempre na beira do fogo; quando o

    ndio queria comer, tirava uns pedacinhos e comia com farinha de puba.

  • 8/3/2019 Cada dia uma histria

    19/44

    TEXTOS DAS CRIANASPATAX

    EU ESTOU COM VONTADE DE COMER.

    UM DIA, EU MAIS MEU PAI FOMOS NO MATO

    CONSERTAR AGUA.

    DA EU MAIS MEU PAPAI VIMOSMACACO. DA EU QUERIA PEGAR UM PARA A COMIDAFICAR FORTE.

    EU GOSTO DE PEGAR COCO PARA QUEBRAR COM APEDRA. O COCO MUITO GOSTOSOl

    EU ESTAVA BRINCANDO NO P DE JACA-PINHA.L

    TINHA UMA JACA MADURA, EU COLHI E LEVEI PARA

    c a s a

    EU GOSTO DE COMER GALINHA. O MEU PEDAOPREFERIDO A MOELA.

    EU ESTAVA NA ROA COLHENDO MANDIOCA. DEPOIS EUESTAVA COZINHANDO.

    EU ESTOU PEGANDO JABUTICABA.

  • 8/3/2019 Cada dia uma histria

    20/44

    NOSSO JEITO DEMORAR E VESTIR

    Antigamente os ndios Patax viviam andandopelas matas colhendo frutas e caando. Suascasas eram construdas com varas e cobertas com

    palha de ourikana, nai, marimb e folha de patioba. O fogopara cozinhar era feito do lado de fora da casa. Naquele tempoos ndios de nossa aldeia no tinham roupas. Caavam animais etiravam a pele para fazer sua roupa. Usavam a pele por muitotempo; s no podiam sair na chuva, se no a pele estragava.

  • 8/3/2019 Cada dia uma histria

    21/44

    NOSSO JEITO DEC O M U N I C A R

    Os Patax mais velhos se comunicavam atravs de sinais,

    cortes em madeiras, folhas de Patioba, rastros, imitao depssaros e assovio com as mos (tocar bor).Quando estavam na mata e ficavam perdidos dos companheiros, deixavam cortes nos troncos das rvores.Tambm tocavam bor com as mos que um tipo de assovio ebatiam num pau que tinha oco, imitando a batida do pica-pau.Tambm pegavam na folha da patioba e batiam, fazendo eladar um estalo. E conheciam mensagens deixadas pelos rastrosdas pessoas.E imitavam a capoeira, o cabur e outros pssaros para transmitir mensagens e para fazer a caada.

  • 8/3/2019 Cada dia uma histria

    22/44

    A FLORESTA ERANOSSA FARMCIA

    Antigamente nossos velhos co

    nheciam vrias plantinhas queserviam para remdio. O pagera uma pessoa que conhecia asplantas e por isso ele sempre fazia remdio para curaros doentes. O tempo vai passando e as plantas vo acabando e hoje est difcil encontrar as plantas que tinhamantigamente.

  • 8/3/2019 Cada dia uma histria

    23/44

    LNGUA PATAX

  • 8/3/2019 Cada dia uma histria

    24/44

  • 8/3/2019 Cada dia uma histria

    25/44

  • 8/3/2019 Cada dia uma histria

    26/44

    O CANTO A NOSSAMENSAGEM

    O canto um instrumento de comunicao entre os Patax.O canto faz viajar por mundos todistantes que conhecemos ou no.A voz um esprito que sempre viajalevando mensagens entre as pessoas.

    A voz e a palavra caminham juntospor toda parte da terra.A voz do ndio a voz dos pssaros,das guas, das nuvens, das pedras, dovento, do sol, da lua...Atravs do nosso canto podemos contar a histria do nosso passado.

  • 8/3/2019 Cada dia uma histria

    27/44

    Livrinho "O poniohom epoxei",

    feito pelas crianas Patax

  • 8/3/2019 Cada dia uma histria

    28/44

    TODOS TRABALHAMPARA TODOS

    A chuva cai, as plantas crescem e do frutos.O sol vem, aquece a terra, dando luz duranteo dia.A noite cai, vem a escurido e os vagalumessaem iluminando os trabalhadores noturnos.A lua vem e nos ensina como devemos plantar, pescar, caar e nos passa outros ensina

    mentos.O vento vem, balana as sementinhas secasdas rvores, que caem no cho dando novasrvores.A terra nossa me acolhedora que nosacompanha cada passo que damos em nossavida.

    Enfim, eu trabalho para a terra e a terra trabalha para me esperar.

  • 8/3/2019 Cada dia uma histria

    29/44

  • 8/3/2019 Cada dia uma histria

    30/44

    SERES DA MATA

    P DE MACHADO: O p de machado o esprito de um serque vive na mata. Ele gosta muito de mel. Quando ele ouvealgum cortando pau para tirar mel, faz a pessoa correrassombrada. Ele tem a cabea cabeluda, um queixo grande eos ps como um machado.

    BICHO CIPOERO: O bicho cipoero o dono do cip e a sua

    moradia no meio deles. Ele tem um cabeo e corpo fino,como um cip. Ele assusta as pessoas que vo cortar cip.

    PAI DA MATA: O pai da mata o protetor da mata. Ele cabeludo, tem o umbigo grande e pode ser confundido com um pde palmeira piaaba.

    VELHA DO PIRULITO: A velha do pirulito mora na mata etem os peitos em forma de pirulitos. Atrai as crianas comseus pirulitos. Eles cheiram de muito longe deixando as crianas abobadas e carregando-as para o meio da mata.

  • 8/3/2019 Cada dia uma histria

    31/44

    LOMBETA: O lombta um ser que mora nas roas de man

    dioca. Ele gosta de beber cauim. O cauim uma bebida quens, Patax, fazemos da mandioca. O lombta barrigudocom a boca bicuda e a lngua comprida. A sua lngua vai seesticando at beber o cauim. Quando a ndia faz cauim, petrs pedaos de carvo e duas varinhas em cruz em cima docajo (vasilha feita de pau onde coloca o cauim). Quando olombta bebe o cauim, ele fica espumado.

    TIGUM-LIM-GUMB: O tigum-lim-gumb um esprito deum ser que mora na mata. Ele gosta de pegar crianateimosa e pessoas que gostam de andar noite. Ele cabeludo, tem unhas grandes, olho grande com abeirada avermelhada e com a bocona achatada.

    CAFUM-CAFUM: O cafum-cafum um esprito,rei da dana da mata. Ele tem a cabea grandeesquadrada, boco, olho pelancudo; narigudo,barrigudo e bundudo com as canelas finas.

    CAVEIRA: A caveira um ser que mora no p degoti (um p de rvore que d um fruto com omesmo nome). Se algum vai pegar goti, se elaestiver, corre atrs da pessoa. A caveira temcabea sem cabelo, olhos fundos, dente de fora eanda arrastando suas tripas pelo cho.

  • 8/3/2019 Cada dia uma histria

    32/44

    Desde os antepassados, a Hamy vemprotegendo os nossos animais. Os nossos velhos levavam fumo para ela,porque ela gostava de fumar.Colocavam o fumo numa taboca,socavam e deixavam curtir. Se no le

    vassem o fumo poderiam levar um pedao de pano vermelho(ou qualquer coisa vermelha). Mas, como no existia pano,tintava imbira com tinta (arariba) da rvore do mato que servecomo tinta. Quando levava o presente certo, facilitava a caada; mas quando no levava, ela dava uma surra.A surra que dava no era para deixar machucado e, sim, pedido no meio da mata. Mas logo desconfiavam que era a Hamyque os deixava perdidos por no terem levado o presente.Quando ficavam perdidos, pegavam a folha da patioba e davam um n. A faziam o desembarao. Ento encontravam ocaminho de volta para casa.Ela fazia isso porque protetora dos animais. Tambm surrava as pessoas que no tinham devoo, e caavam sem ter preciso. O grito da Hamy diferente do da coruja, mas muitaspessoas acham que Hamy grita igual a coruja.Todas as noites ela junta a caarada, mas quando no esto

    todas, vai procura e encontra. Muitas esto feridas, noagentam voltar para casa. Hamy leva com carinho paracuidar. Contam os nossos antepassados que um dia ela decidiu levar um ndio que caava sem preciso, atirava nos animais.Ento decidiu lev-lo para cuidar dos animais feridos.Chegando no lugar onde todos os bichos estavam, viu muitos

    animais feridos. Hamy fez ele cuidar de todos.A Hamy um esprito (protetora dos nossos animais) e dacultura patax.

    HAMY

  • 8/3/2019 Cada dia uma histria

    33/44

    A terra, o sol e a lua caminhampelo universo.Eu tambm caminho todos os

    dias de minha vida.Quando olho o cu durante anoite, estou caminhando pelouniverso.Quando fao um artesanato, umdesenho ou uma msica, estouviajando no mundo da arte.

    Todos fazemos parte do universo e caminhamos sempre juntos.

    VIVENDO EC A M I N H A N D O

    NO UNIVERSO

  • 8/3/2019 Cada dia uma histria

    34/44

    FAZENDO ARCO

    Quando o dia vem amanhecendo,eu acordo, ascendo o fogo, lavo orosto, tomo caf e s 7:00 horaspego o machado, o faco, e voupara a mata tirar madeira.Quando eu saio de casa voudando passos at chegar ondetem as madeiras que so prpriaspara fazer arcos.L na mata eu vejo a maritaca, o

    jacu, o bem-te-vi, o po e outrosbichos. A eu procuro um p dervore bem linheiro, derrubo,racho e tiro vrios pedaos. Corto

    um cip, amarro e volto para casa s 11:00 horas.Quando chego em minha casa, minha mulher est meesperando com galinha munquinhada.Coloco os pedaos de madeira no terreiro e depois como,bebo gua, converso com meus filhos e descanso meia hora.

    O arco tem um bajau para carregar as flexas.O arco e o bajau so tecidos com talisca de bambu e embira.Geralmente a embira tingida com murtinha e araba.As taliscas so do mesmo tamanho, nenhuma pode sermaior do que a outra.Depois que o arco e o bajau esto tecidos, enfeitamos compenas para ficarem ainda mais bonitos. Com as cores da

    natureza.Os tecimentos tm vrios desenhos que representam cascode tatu, malha de cobra e outros significados.

  • 8/3/2019 Cada dia uma histria

    35/44

  • 8/3/2019 Cada dia uma histria

    36/44

    Cada pintura tem o seu significado. Tem apintura que significa espinho de peixeencantado. Esse ndio casou com uma ndiamuito bonita e ela virou a dona da gua.Quando os ndios iam atravessar para ooutro lado do rio, o peixe virava ponte e os

    ndios passavam por cima dele. Tem pinturaque significa cip escada. Hamy sobe nelepara descansar e gritar a seus animais.

    A$ PINTURAS

  • 8/3/2019 Cada dia uma histria

    37/44

  • 8/3/2019 Cada dia uma histria

    38/44

    FESTA DAS AGUAS

    No dia 5 de outubro, ns festejamos a festa das guas.Nesse dia, renem-se os homens, mulheres, jovens e crianas.As famlias levam mandioca, farinha de puba e carnepara cozinhar e assar.Durante a festa, ns cantamos para as famlias, as crianas, os protetores da mata, a lua, o sol, a terra e asguas.Ns fazemos essa festa para nos fortalecer e dar sadepara a nossa comunidade.Depois que terminamos de fazer os nossos rituais, nsvamos tomar banho no crrego para purificar o nossocorpo. Essa festa para ns muito importante porque agua o principio da nossa vida.

  • 8/3/2019 Cada dia uma histria

    39/44

    ANGOHO HUKABANTXUAB

    Angoho Hukab Antxuab nosso aw. Ns

    fazemos-essa dana e esse canto para recebera lua cheia.

    ANGOHO : luaANTXUAB: bonitaHUKAB: est

  • 8/3/2019 Cada dia uma histria

    40/44

    NOSSO JEITO DEGOVERNAR

    O cacique uma pessoa muito importante em nossaaldeia. Ele organiza e representa a nossa comunidade lfora. Todos ns devemos respeitar o cacique e ele tambm dever respeitar a sua comunidade. O cacique no

    trabalha sozinho, sempre tem apoio da comunidadepara fazer o seu trabalho. Para um ndio ser cacique,tem que ser muito forte e aprender desde criana alutar e defender seu povo. O cocar, marac, colar e outrosenfeites do cacique so diferentes de todos os outrosndios da aldeia.

  • 8/3/2019 Cada dia uma histria

    41/44

    A LENDA DAM A N D I O C AContam os nossos antepassados que um ndio tinha umalinda filha. Todos da aldeia gostavam dela; algumasndias ficavam com inveja. Mas normal. Ela chamavaMandi. Tinha cabelos longos e pretos, olhos esticados,pele morena.Ento, um dia, Mandi ficou doente, seus pais ficarampreocupados sem saber o que fazer. No conheciam o queela tinha, mas mandaram chamar o paj para vir v-la.Quando chegou j era tarde. Mandi no resistiu. Todosda aldeia vieram ver e choraram por sua partida. Mas athoje acreditam que Mandi no morreu, e est aqui, fazendo parte da nossa cultura. Por Mandi ser uma pessoa boa,que respeitava todos da aldeia, o cacique e o paj decidiram enterrar seu corpo dentro de uma oca de religio.No enterraram fundo, apenas num buraco raso. Apsuns dias notaram que havia no lugar do seu corpo,nascendo, uma linda planta. Deixaram a planta crescercom tempo, tiraram-na e tinha raiz (longa, casca morena,e por dentro era branca) Ento o paj e o cacique reuniram a aldeia e apresentaram a planta. E falaram:- Aqui est a Mandi. Ela no morreu; nem quis que seupov o pas sas se fome, pois tod os po de m pro var dessa

    raiz, que um delicioso alimento. Foi a que deram onome de Mandioca, porque enterraram Mandi dentro daoca. Por isso deram o nome de Mandioca. Como eu disse,at hoje a mandioca da nossa cultura e representa muitacoisa boa para ns ndios; porque dela que fazemoscauim, farinha, beiju, tapioca, carim, e comemos suaraiz.

    Queremos que no acreditem que seja apenas uma lenda,mas que uma realidade, porque realmente a mandiocaexiste.

  • 8/3/2019 Cada dia uma histria

    42/44

    O NDIO E A RVOREQUE FALAVA

    Um dia um ndio foi para a mata caar. Chegando bem distante da aldeia, encontrou com uma rvore que falava.Naquele momento, a rvore perguntou pro ndio: Amigondio, voc vai pra onde? O ndio respondeu: Estou caandouma caa para alimentar meus filhos.A rvore respondeu novamente: Segue por este lado quevoc vai encontrar muitas e muitas caas.Animado, o ndio seguiu o caminho que a rvore lhe ensinou.De repente, o ndio saiu numa velha casinha de palha.Quando olhou para sua frente, percebeu uma fumacinhabem longe.O ndio olhou e pensou:Deve ser a Hamy.Naquele instante um p de rvore falou: Cuidado! Tem umaona atrs de voc. Depois do aviso da rvore o silnciotomou conta da floresta.O ndio, sem dar um passo para a frente, pediu silenciosamente ajuda a Hamy. Naquele mesmo instante o ndioouviu uma voz:Vai embora! A ona no far mal a voc. Quando o ndioolhou para trs estava a Hamy junto com a ona.Com muito respeito o ndio agradeceu a Hamy, deu umpedacinho de fumo e seguiu em busca de caas.Chegando bem adiante saiu em um pequeno crrego.Quando estava bebendo gua, um p de rvore falou:Est na hora de ir embora! Feche os olhos e pense em casa.O ndio fechou os olhos, quando abriu estava em casa, junto

    com sua famlia e muitas caas. Toda vez que o ndio ia pramata caar a rvore o ajudava a conseguir muita fartura decaa.

  • 8/3/2019 Cada dia uma histria

    43/44

    A MENINA QUE VIROUO PSSARO CAVALA

    Nos tempos antigos tinha uma menina muito teimosa parasua me. Ela no gostava de fazer madado nenhum que suame mandava.Mas um dia sua me foi para a mata pegar lenha e levou amenina com ela.Quando chegaram em casa a me estava com muita sede, e

    pediu menina para buscar gua na bica. Mas a menina foicom muita m vontade.Quando chegou deu gua para sua me. Mas em seguida suame pediu para ela guardar a lenha que elas tinham trazidoda mata.Mas a menina comeou a discutir com sua me, que estavagrvida. E nessa discuo ela chamou sua me de cavala.Sua me, no mesmo momento, disse para ela: voc que umacavala. E nesta hora deu um trovo no cu. E a menina saiugritando cavala, cavala...Enquanto ela gritava, ia se transformando em um pssaro.Com pouco j estava voando e falando cavala, cavala...Por causa do cantado desse pssaro ele ganhou o nome de cavala.E esse pssaro, durante o dia, ele fica com o bico enfiado na

    lama; mas quando de noite elesai pelo mundo gritano cavala,cavala...Por isso bom as crianasrespeitarem os pais, principalmente as mes, quando elas estogrvidas.

  • 8/3/2019 Cada dia uma histria

    44/44