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SOCIOLOGIA, ESTUDOS ANTROPOLÓGICOS E RELAÇÕES ÉTNICO-RACIAIS
AUTOR: JEAN CARLOS BITTENCOURT
C A D E R N O
ESTUDO
FICHA TÉCNICA
XXXXXXX
EQUIPE PEDAGÓGICA E ADMINISTRATIVA
PRESIDENTE – Sr. Mohamad Hussein Abou WadiVICE- PRESIDENTE – Sr. Artenir Werner
Diretora Geral – Me. Isabel Regina DepinéE-mail: [email protected]
Gerente de Ensino, Pesquisa e Extensão – Me. Gabriella Depiné PoffoE-mail: [email protected]
Diretor Administrativo: Bernardo Werner da RochaE-mail: [email protected]
Secretária Acadêmica – Joseana Voss de MeloE-mail: [email protected]
Bibliotecária - Aline Medeiros D’OliveiraE-mail: [email protected]
Coordenação do Curso de Administração – Me. Gabriella Depiné PoffoE-mail: [email protected]
Coordenação do Curso de Arquitetura e Urbanismo – Esp. Tatiani Pires PassosE-mail: [email protected]
Coordenação do Curso de Ciências Contábeis – Me. Aloisio GrunowE-mail: [email protected]
Coordenação do Curso de Direito – Me. João Jorge Fernandes JúniorE-mail: [email protected]
Coordenação do Curso de Educação Física – Bacharelado - Me. Eduardo Eugênio AranhaE-mail: [email protected]
Coordenação do Curso de Educação Física – Licenciatura - Me. Eduardo Eugênio AranhaE-mail: [email protected]
EQUIPE PEDAGÓGICA E ADMINISTRATIVA
Coordenação do Curso de Engenharia Civil - Dr. Ricardo André HornburgE-mail: [email protected]
Coordenação do Curso de Engenharia Elétrica – Me. Júlio César BerndsenE-mail: [email protected]
Coordenação do Curso de Engenharia Mecânica – Me. Júlio César BerndsenE-mail: [email protected]
Coordenação do Curso de Enfermagem – Dra. Maria Regina Orofino KreugerE-mail: [email protected]
Coordenação do Curso de Fisioterapia – Dra. Sabrina Weiss StiesE-mail: [email protected]
Coordenação do Curso de Formação de Docentes para Graduados Não Licenciados – Me. Cristina KuroskiE-mail: [email protected]
Coordenação do Curso de Nutrição – Me. Jocilene Demétrio JurcevicE-mail: [email protected]
Coordenação do Curso de Odontologia – Dr. Túlio Del Conte ValcanaiaCoordenador-adjunto: Me. Giovani MelloE-mail: [email protected]
Coordenação do Curso de Pedagogia - Dra. Mara Regina ZluhanE-mail: [email protected]
Coordenação do Curso de Psicologia - Dra. Fernanda Germani de Oliveira ChiarattiE-mail: [email protected]
Coordenação do Curso de Sistemas de Informação – Esp. Fabrícia TeodoroE-mail: [email protected]
Coordenação do Curso de Tecnólogo em Gastronomia – Me. Jocilene Demétrio JurcevicE-mail: [email protected]
SUMÁRIO
AUTOR ........................................................................................ 8
INTRODUÇÃO .............................................................................. 9
UNIDADE I ..................................................................................11SOCIOLOGIA UMA CIÊNCIA DA MODERNIDADE1 SURGE A SOCIOLOGIA, E COM ELA AFLORAM AS MAIS DIVERSAS TEORIAS ....................11
1.1 ANTES DE A SOCIOLOGIA ENTRAR EM CENA. ................................................................................ 13
1.2 A RAZÃO COMO INSTRUMENTO PARA COMPREENSÃO DO MUNDO... ............................................. 14
1.3 COM A REVOLUÇÃO INDUSTRIAL CONSOLIDA-SE O CAPITALISMO. ................................................ 19
1.4 O TEMA EM ARTIGO .....................................................................................................................20
1.5 SOCIOLOGIA E SUA HISTÓRIA SOCIAL ...........................................................................................25
1.6 ÉMILE DURKHEIM ........................................................................................................................29
1.7 DURKHEIM E A MODERNIDADE EMINENTE. .................................................................................. 31
1.8 SOLIDARIEDADE MECÂNICA E SOLIDARIEDADE ORGÂNICA – EMILE DURKHEIM .............................33
1.9 HEBERT SPENSER .......................................................................................................................35
1.10 KARL MARX ..............................................................................................................................37
1.10.1 Marx e o seu discurso sobre o modo de produção. ..............................................................38
1.11 O AUTOR EM ARTIGO... ...............................................................................................................40
1.12 MAX WEBER ...............................................................................................................................44
SUMÁRIO
UNIDADE II .................................................................................53A SOCIOLOGIA CONQUISTA A MATURIDADE2 PIERRE BOURDIE ...................................................................................................53
2.1 O SOCIÓLOGO EM ARTIGO ............................................................................................................55
2.2 ANTÔNIO GRAMSCI ......................................................................................................................59
2.3 KARL MANNHEIN .........................................................................................................................66
UNIDADE III ................................................................................76SOCIOLOGIA NO BRASIL3 APRESENTAÇÃO ....................................................................................................76
3.1 GILBERTO DE MELO FREYRE ........................................................................................................76
3.2 FLORESTAN FERNANDES .............................................................................................................84
3.2.2 O autor em Revista ..............................................................................................................87
3.3 HERBERT JOSÉ DE SOUZA ............................................................................................................89
3.4 FERNANDO HENRIQUE CARDOSO ................................................................................................. 91
UNIDADE IV ................................................................................96RELAÇÕES ÉTNICO-RACIAIS4 DIFERENÇAS PELA DIVERSIDADE .............................................................................96
4.1 O TEMA EM ARTIGO .....................................................................................................................99
4.2 RACISMO E AS QUESTÕES DE GÊNERO ...................................................................................... 105
4.3 O JOVEM E NEGRO BRASILEIRO ................................................................................................. 106
REFERÊNCIAS ........................................................................... 108
8SOCIOLOGIA, ESTUDOS ANTROPOLÓGICOS
E RELAÇÕES ÉTNICO-RACIAIS
JEAN CARLOS BITTENCOURT
Graduado em História (Bacharel) e Estudos Sociais (Licenciatura) pela Universidade do Vale
do Itajaí, possui Cursos de Especialização em Metodologia do Ensino de História, Docência na
Educação Básica e Docência no Ensino Superior. É Mestre em Educação com pesquisa na área do
currículo e avaliação com enfoque em História, Sociedade, Políticas Educacionais e educação de
Jovens e Adultos. Atualmente é professor da disciplina de Socio logia, na Faculdade Avantis. Atua
também como docente da Escola Municipal Professora Felicidade Pinto Figueredo – Balneário
Piçar ras/SC, onde é efetivo como professor de História.
AUTOR
9SOCIOLOGIA, ESTUDOS ANTROPOLÓGICOS
E RELAÇÕES ÉTNICO-RACIAIS
Cada ser humano é único, e pelo simples fato de sua existência é dotado de ação. Essas ações
não surgem do nada, são impelidas pelos diversos contextos a que somos submetidos desde o
dia em que nascemos até nossa morte, e também, apesar de sermos únicos necessitamos de algo
maior para que possamos imprimir nossa marca e expor nossas vontades e ações. A esse “algo
maior”, podemos chamar de sociedade.
O mundo em que vivemos, passa por transformações constantes. Por milhões de anos os
seres que o habitam ou já não existem mais, presenciaram essas transformações, num processo
de eterna evolução. Neste cenário, eis que surge a mais complexa das criaturas: O ser humano,
que, dotado de uma maravilhosa possibilidade de raciocínio e habilidades manuais, jamais
encontradas em outros animais, transformou drasticamente as relações entre a natureza e os
seres que a habitam.
A condição humana também cria formas de viver em grupos, grupos estes que chamamos
de sociedade, historicamente modificadas a medida que aumentam e tornam-se cada vez mais
complexas, com problemas e relações pertinentes a cada momento da evolução humana na terra.
Neste cenário, o homem ainda figura no topo das relações de uso e transformação da natureza,
é ele que, dotado da razão, explora e comanda este complexo planeta, criando situações que
muitas vezes o coloca como algoz de seu próprio povo.
“A pluralidade é a condição da ação humana pelo fato de sermos todos os mesmos, isto é, humanos, sem que ninguém seja exatamente igual a qualquer pessoa que tenha
existido, exista ou venha a existir”.
Hannah Arendt (2004)
INTRODUÇÃO
10SOCIOLOGIA, ESTUDOS ANTROPOLÓGICOS
E RELAÇÕES ÉTNICO-RACIAIS
Saudações iniciais...
Olá queridos alunos e alunas. É com grande satisfação que convido a todos a iniciarem nossos
estudos na disciplina de Sociologia.
À você, neste momento, está sendo apresentado um novo conceito de aprendizagem, visto
que a partir de agora, você juntamente ao professor passa a ser o agente de sua aprendizagem,
podendo extrapolar os limites de uma aula normal, visto que um mundo de oportunidades e
novos saberes poderão ser acessados a qualquer momento por ambos e discutidos em nossa
plataforma de ensino.
Queremos muito mais que ensinar a você alguns conceitos dessa disciplina. Na verdade,
gostaríamos de lhe oferecer a oportunidade de poder escrever textos marcantes, que contemplem
conhecimentos científicos, culturais e que propiciem uma verdadeira reflexão a respeito de sua
formação acadêmica, sua profissão e a sociedade dinâmica em que está inserido.
Neste caderno, veremos como e em que momento histórico surgiu a Sociologia enquanto
ciência; conheceremos seus principais pensadores, tanto na Europa quanto na América, e neste
último continente, estudaremos alguns sociólogos importantes para a sociologia brasileira. Junto
às histórias de vida desses pensadores, vocês terão também algumas observações sobre suas
correntes teóricas, bem como suas obras.
Teremos também a oportunidade de discutir algumas questões relacionadas às produções
humanas em sociedade, vendo como elas modificam nossas relações e interferem drasticamente
em nossas vidas.
Para finalizarmos nossos estudos, discutiremos várias temáticas relacionadas à questões
étnico raciais, questões essas, tão pertinentes quanto importantes no cenário brasileiro de todos
os tempos.
Com uma leitura crítica, pesquisa em outras fontes e a análise interessada dos conteúdos aqui
apresentados, seus estudos certamente poderão ajudar você a entender a sociedade que vive e
suas relações.
Então? Vamos começar nossos estudos?
11SOCIOLOGIA, ESTUDOS ANTROPOLÓGICOS
E RELAÇÕES ÉTNICO-RACIAIS
SOCIOLOGIA UMA CIÊNCIA DA MODERNIDADE
1 SURGE A SOCIOLOGIA, E COM ELA AFLORAM AS MAIS DIVERSAS TEORIAS
Nascida nos primórdios da modernidade1, a sociologia pode ser considerada uma ciência
nova que tem por objetivo estudar a sociedade, foco de análise de seus estudos, além do homem
como sujeito social e suas relações neste espaço.
Os processos de produção humana na coletividade, os grupos sociais, as instituições e as
formas de relacionamentos, tanto num contexto micro onde pequenos grupos interagem criando
formas de se relacionar muito particular, como no macro onde forma diferentes de relacionamento
são observados em grandes metrópoles, são objetos de estudos desta ciência que junto a tantas
outras, nos ajuda a compreender nosso mundo e as relações existentes nele.
A história da humanidade fornece o palco ideal para que sociólogos possam teorizar a partir
de movimentos como a evolução do pensamento científico construído pelo próprio homem e
suas ações políticas que resultaram em acontecimentos sociais importantes, criação de uma
estrutura econômica bastante teorizada e questões polêmicas como raça ou etnia, a divisão social
em classes e a criação de instituições sociais como a família, religião e o objeto maior de nosso
interesse nessa disciplina.
1 A modernidade costuma ser entendida como um ideário ou visão de mundo que está relacionada ao projeto de mundo moderno, empreendido em diversos momentos ao longo da Idade Moderna e consolidado com a Revolução Industrial. Está normalmente relacionada com o desenvolvimento do Capitalismo.Fonte: Babylon (2017)
UNIDADE I
12SOCIOLOGIA, ESTUDOS ANTROPOLÓGICOS
E RELAÇÕES ÉTNICO-RACIAIS
Entender as sociedades com os olhos da sociologia e compreender que se as práticas sociais
estão fundamentadas nas instituições sociais, também as crenças, os valores as produções e suas
relações são os fundamentos de suas produções enquanto entidade eminentemente humana.
A sociologia, como ciência que visa entender a sociedade, tem nas instituições sociais ótimos
objetos de estudo, pois nelas, as ações e criações do homem enquanto indivíduo social são
perpetuadas através do repasse e afirmação da criação cultural humana afirmando seus valores
e atitudes.
Embora a sociologia pense as sociedades indistintamente, é na sociedade capitalista mais
especificamente que ela encontra as características mais relevantes para sua atuação como
ciência. O final do século XIX, com o capitalismo se configurando como a maior forma de
organização social e apresentando ao mundo novas relações de trabalho jamais experimentadas,
leva algumas pessoas a pensarem sobre essas relações e os problemas decorrentes delas. Junto a
esses pensamentos algumas teorias começam a ser elaboradas tentando explicar a nova dinâmica
social em construção, repleta de novos olhares e algumas concepções e posicionamentos
políticos, assim desde seu surgimento, a sociologia se ocupa em entender, explicar e questionar
os mecanismo de organização, produção humana, controle e poder exercidos por instituições
públicas ou privadas, controle esse que resulta, invariavelmente, em mudanças nas relações
sociais, na distribuição e aquisição de renda, na exploração dos indivíduos e nas gritantes
desigualdades sociais.
Tamanha é a complexidade que a sociedade globalizada assumiu, que fica impossível
pensarmos suas relações apenas através da sociologia, desta forma, outras ciências se fazem
necessárias e nos apropriando de seus estudos, melhor conseguimos entender a complexidade
social e da humanidade.
SAIBA MAIS!
Livro
Para que você possa ter uma visão mais ampla da construção da sociedade e na formação
dela, como é hoje, sugiro a você a leitura do livro de Eric Hobsbawm, “A Era dos Extremos”. O livro é considerado um testemunho sobre o século XX, contato pelo autor que protagonizou uma grande parte deste século. Boa leitura!
13SOCIOLOGIA, ESTUDOS ANTROPOLÓGICOS
E RELAÇÕES ÉTNICO-RACIAIS
1.1 ANTES DE A SOCIOLOGIA ENTRAR EM CENA.
Mesmo sendo considerada uma ciência nova (criada na modernidade) que se consolida no
início do século XIX, sua finalidade e objetivos já podem ser observados muito antes de sua
criação enquanto ciência. Se estudarmos a Grécia na antiguidade clássica, certamente podemos
nos deparar com pessoas interessadas em entender os problemas sociais e políticos daquela
sociedade.
Neste espaço (Grécia) e tempo (século V a.C.) existiu uma corrente filosófica denominada
Sofista que já se preocupava com questões sociais e políticas de seu tempo. Mesmo não sendo
eles (os gregos) os criadores da sociologia, foram eles, sem sombras de dúvidas, que esboçaram
um primeiro pensamento crítico social.
Com Platão (427 – 347 a.C.) e Aristóteles (384 – 322 a.C.) surgem os primeiros escritos sobre
questões sociais da antiguidade. Defensor de uma concepção idealista, Platão acreditava que o
aspecto material do mundo apontava para uma espécie de fruto imperfeito das ideias universais
e que elas existiam por si mesmas. Para Aristóteles, no entanto, o homem era um ser que nascia
para viver em conjunto, ou seja, em sociedade.
Tempos depois, numa ordem cronológica da história da humanidade, ainda no ocidente, a
chamada Idade Média (séculos V ao XV) constrói outras relações sociais, onde a fé e a religião,
dominavam o pensamento e as ações sociais deste período. Denominado por muitos de “idade
das trevas” devido à forma bitolada que se percebia o mundo, buscavam apenas nas concepções
míticas e religiosas as explicações e soluções para seus problemas. Esse pensamento dominou
toda Europa e mais tarde boa parte do novo mundo, onde o predomínio da Igreja Católica ditava
o pensamento e regras para as relações sociais.
Este predomínio da fé sobre a razão, para muitos teóricos, asfixiava as tentativas mais racionais
de entender e resolver parte dos problemas deste período. Experimentar, testar e criar novas
formas de pensamento era considerado pecado, muitas vezes punido de forma brutal e cruel.
Se olharmos para a Idade Média sob a ótica do Renascimento podemos visualizar um período
sombrio e até mesmo de trevas, na verdade sob outros aspectos, este período foi também muito
rico para a humanidade e serviu de base para a formação de nossa sociedade capitalista moderna.
14SOCIOLOGIA, ESTUDOS ANTROPOLÓGICOS
E RELAÇÕES ÉTNICO-RACIAIS
1.2 A RAZÃO COMO INSTRUMENTO PARA COMPREENSÃO DO MUNDO...
Embora a fé nunca tenha deixado de existir nos grandes centros urbanos e nem nas mais
remotas vilas em todo o planeta da antiguidade, por volta do século XIV começando pela
Europa e espalhando-se pelo mundo ocidental, ela começa a deixar de ser predominante
nas relações sociais e culturais. Eis que acontece uma grande revolução que renova,
principalmente, as culturas desses povos. Estava iniciado o período denominado
Renascimento2.
Representantes legais desta mudança de pensamentos e atitudes, os renascentistas
retomam a forma antiga de ver as coisas, voltam ao passado, mais especificamente
à sociedade grega e seus questionamentos para pensar e questionar a sociedade em
2 Nota do Autor: O termo Renascimento nasce por causa da volta a cultura do passado (principalmente a grega) e revalorização de suas produções culturais sociais que passaram a nortear as mudanças em direção aos ideais humanistas em plena ascensão neste período. Registros apontam como sendo o livro de Jacob Burckhardt A cultura do renascimento na Itália – 1867 que lança o conceito como hoje o conhecemos.
SAIBA MAIS!
VÍDEO
Para entender melhor esta questão e de forma mais agradável, sugerimos que você
assista ao filme Sombras de Goya.
Nos primeiros anos do século XIX, em meio ao radicalismo da Inquisição e à iminente invasão da Espanha pelas tropas de Napoleão Bonaparte (Craig Stevenson), o gênio artístico do pintor espanhol Francisco Goya (Stellan Skarsgard) é reconhecido na corte do Rei Carlos IV (Randy Quaid). Inés (Natalie Portman), a jovem modelo e musa do pintor, é presa sob a falsa acusação de heresia. Nem as intervenções do influente Frei Lorenzo (Javier Bardem), também retratado por Goya, conseguem evitar que ela seja brutalmente torturada nos porões da Igreja. Estes personagens e os horrores da guerra, com os seus fantasmas, alimentam a pintura de Goya, testemunha atormentada de uma época turbulenta.
Título original: Goya’s Ghosts
15SOCIOLOGIA, ESTUDOS ANTROPOLÓGICOS
E RELAÇÕES ÉTNICO-RACIAIS
que viviam e munidos de uma curiosidade há muito sufocada, renegam tudo que dizia
respeito à cultura medieval, promovem um verdadeiro rompimento com o pensamento
cultural da igreja católica medieval.
Muito rapidamente, o Renascimento espalha-se pela Europa, influenciando os
diversos setores dessa sociedade, nas artes, nas ciências, literatura, na indústria que dava
seus primeiros passos, tudo agora era visto através do espírito crítico do Renascimento,
personagens que se tornariam importantes para a história da humanidade começam a
aparecer e contribuir com a construção de uma nova ordem social. Nicolau Maquiavel
(1469 – 1527) cria a obra chamada de ‘O Príncipe’ onde faz um verdadeiro manual de
guerra lido e apreciado até hoje. Nele o autor mostra como os governantes podem
manipular e manter o poder em suas mãos.
Produções deste tipo, junto às novas descobertas científicas levaram essa sociedade
a olhar de forma diferente para seu futuro, levou os homens também a perceberem que
através da razão e da ciência poderiam dominar os problemas sociais de seu tempo e
tudo isso seria possível longe da influência da igreja e que isso os colocaria como donos
de sua história. Surge a teoria do Antropocentrismo, agora o homem passa a ser visto
como o centro de suas relações, com o poder antes apenas divino de transformar tudo
a sua volta, inventar, conquistar novas barreiras, mudar seu mundo através da força
de seu pensamento e de suas mãos. Além de Maquiavel, muitos outros pensadores
dominaram o conhecimento neste período, dente eles Francis Bacon 1561 – 1626),
personagem importante na consolidação dessas mudanças, personagem este que vale a
pena conhecermos melhor.
Com seus estudos, Francis Bacon, apresenta a possibilidade de entender os fenômenos
através de métodos científicos, contrapondo-se as práticas anteriores onde o que ocorria
na sociedade era explicado através da teologia. Bacon inaugura uma nova fase da sociedade
ocidental, onde a razão científica passa a dominar as decisões acerca do conhecimento do
mundo natural. Ele não nega a fé, mas afirma que a ciência tinha a possibilidade, através
de seus novos métodos de dar luz a escuridão em que a humanidade ainda se encontrava.
Boneti (2008, p. 21) teoriza em relação a essa posição de Bacon que:
Para Bacon, a autoridade que constituía o alicerce principal da teologia, deveria
ceder lugar à dúvida metódica, a fim de possibilitar um conhecimento objetivo. Para
ele, o novo método de conhecimento, baseado na observação e na experimentação,
inicialmente elaborado para o estudo da natureza, deveria ser estendido para o
estudo da sociedade.
16SOCIOLOGIA, ESTUDOS ANTROPOLÓGICOS
E RELAÇÕES ÉTNICO-RACIAIS
O pensamento deste fabuloso sujeito da história ecoou pelo fim do século XVII e chegou
ao século XVIII presenciando uma verdadeira transformação de pensamentos e um avanço
espetacular das ciências no domínio da natureza.
Estava germinando a semente do iluminismo, onde os intelectuais desta época fundamentavam-
se, mas, também criticavam pensadores antecessores a eles como Bacon, Hobbes e Descartes,
reelaborando suas obras e imprimindo em seu tempo, novas ideias e procedimentos para o
domínio da natureza através da ciência e, também, do entendimento da sociedade.
VOCÊ PRECISA SABER...
O Iluminismo.
Diante das transformações ocasionadas pelo Renascimento, principalmente no que diz
respeito às ideias de separação do pensamento baseado na fé e no pensamento baseado na
razão, surge um movimento muito bem articulado, constituído de pessoas importantes
e intelectuais deste período denominado Iluminismo. Este movimento vai transformar
drasticamente o modo de pensar e agir do homem europeu, abalando significativamente
as estruturas de poder vigente, tanto no que diz respeito à política (monarquias) quanto à
religiosa (Cristã). Embora iniciado na Europa, esse movimento e seu pensamento, muito
rapidamente se espalham pelo ocidente, proporcionando a ascensão da classe burguesa
(burguesia) e seus ideais de lucro, riqueza e poder.
Movimentos que antecedem o Iluminismo.
Basicamente dois foram os movimentos que antecederam o iluminismo. O racionalismo
(pensamento com base na razão) e o liberalismo, ambos contribuíram consideravelmente
para a formação do pensamento iluminista e tinham como principais contribuintes, três
notáveis pensadores deste período:
17SOCIOLOGIA, ESTUDOS ANTROPOLÓGICOS
E RELAÇÕES ÉTNICO-RACIAIS
Pensadores que contribuíram com o surgimento do iluminismo
René Descartes (1596-1650) – partia do princípio de que tudo deveria ser
questionado e que somente aquilo que a razão poderia explicar era verdadeiro.
Descartes acreditava que o conhecimento deveria partir de ideias que estavam no
interior do próprio homem. A frase “Penso, logo existo” sintetiza seu pensamento.
John Locke (1632-1740) – foi um ferrenho opositor do Absolutismo (poder
centralizado pelo rei). Para ele o homem tinha alguns direitos naturais (direito
à vida, à liberdade, à propriedade) que deveriam ser assegurados por uma
Constituição. Ao contrário de Descartes, Locke acreditava que o conhecimento
era adquirido somente pela experiência, ao nascer o homem era como uma
“tabula rasa”.
Isaac Newton (1642-1727) – procurou dar uma explicação científica a toda
natureza. Para ele todos os fenômenos da natureza eram regidos por leis próprias
(Leis da Física) e o papel da ciência era o de descobrir essas leis.
Fonte: História Livre (2017a)
A partir das ideias destes pensadores, as formas de pensar, agir e ver o mundo que os
cercavam, foram postas em xeque, contribuindo para uma transformação política e
religiosa, tanto da monarquia absolutista da época, quanto dos dogmas da igreja, pois tão
fortes eram suas ideias, que ambas as instituições passaram a ser criticadas, principalmente
por uma nova classe social rica e ávida pelo poder que era a burguesia, classe essa cada
vez mais forte e poderosa pelo dinheiro do comércio e seus mais diversos empreendimentos.
A gastança dos reis absolutistas e da igreja católica na
Europa será o estopim para esta mudança e é na França que
elas primeiramente se manifestam, observadas por uma
burguesia rica mas ainda sem poder político. Essas ideias
vinham a calhar para resolver os principais problemas
dessa nova classe social, ou seja, a possibilidade de acabar
com a intervenção do Estado na economia, já que eram
apenas os reis quem ditavam as regras comerciais e legais
e pôr fim a possibilidade de uma participação efetiva da
18SOCIOLOGIA, ESTUDOS ANTROPOLÓGICOS
E RELAÇÕES ÉTNICO-RACIAIS
classe burguesa nas questões políticas de seus Estados.
Através de publicações feitas pela literatura impressa, suas ideias conquistam os
salões de Paris e espalharam se pelo mundo civilizado. Enciclopédias como a editada por
Denis Diderot e Jean D’Alembert, passam a contar com as contribuições de importantes
criticos e intelectuais da época questionando principalmente as ações da igreja católica.
Os principais filósofos Iluministas
Montesquieu (1689-1755) Em sua principal obra “O Espírito das Leis”,
Montesquieu analisa as principais formas de governo (despotismo, monarquia e
república), sua ênfase recai na monarquia parlamentarista. É nesta obra que
Montesquieu afirma que é necessária a separação dos poderes (Legislativo,
Executivo e Judiciário). Após a Revolução Francesa, suas teorias influenciaram na
formação dos Estados europeus e na constituição dos Estados Unidos da América.
Voltaire (1694-1778) Foi o mais importante dos iluministas franceses. Era
um ferrenho crítico da Igreja e do Absolutismo. Por suas críticas foi exilado na
Inglaterra, de onde escreveu uma de suas principais obras: “Cartas Inglesas”.
Apesar de monarquista, Voltaire pregava a necessidade de participação política
por parte da burguesia. Pois somente desta forma seria garantida a liberdade
política e religiosa. Após a Revolução Francesa, sua obra influenciou boa parte
dos Déspotas Esclarecidos.
Jean Jacques Rousseau (1712-
1778) foi o mais radical dos iluministas.
Criticava tanto a monarquia quanto
a sociedade burguesa, sua posição
era de defesa às classes populares.
Pregava uma sociedade justa onde
todos seriam iguais. Essa sociedade
seria governada pela soberania
do povo. Ao contrário dos outros
iluministas, Rousseau acreditava que
a propriedade privada corrompia o
homem. Para ele, os homens deveriam assinar um Contrato Social onde estariam
se sujeitando à vontade da maioria.
19SOCIOLOGIA, ESTUDOS ANTROPOLÓGICOS
E RELAÇÕES ÉTNICO-RACIAIS
Fonte: História Livre (2017b)
1.3 COM A REVOLUÇÃO INDUSTRIAL CONSOLIDA-SE O CAPITALISMO.
Como podemos perceber, a sociedade europeia vinha mudando drasticamente, no campo do
pensamento, nas ciências, artes, entre outros, mas havia também um campo onde as relações
haviam sido mudadas drasticamente: era o campo da economia. Neste campo, o capitalismo
consolidou-se rapidamente o que levou à Revolução Industrial. Em meados do século XVIII, na
Inglaterra, esse movimento de industrialização acarretará já no seu início em grandes alterações
no modo e estilo de vida das pessoas, principalmente naquelas que viviam no campo e às custa
do artesanato, que agora passa a ser substituído pela produção industrial em série.
Estas mudanças despertam o interesse de pensadores da época, fato esse que desperta o
interesse também da criação de uma ciência que estudasse os problemas sociais ocasionados
pela implantação e desenvolvimento dessa nova ordem social.
Sabemos que na história as mudanças não ocorrem de um dia para o outro, assim, o início
desse sistema capitalista agora em vigor na Europa, havia começado muito antes na baixa idade
média. A partir do século XI com as Cruzadas, movimento patrocinado pela igreja católica,
possibilitou-se o contato cultural e principalmente o comércio com o oriente. Com a circulação
de pessoas as cidades foram surgindo e nelas uma nova organização levava a necessidade de
produção em escala cada vez maior de bens de consumo, e as corporações de ofício responsáveis
pela produção artesanal desses bens já não dava mais conta desta ação. O lucro já havia se
estabelecido e com ele a punibilidade de acumulação de riquezas que hoje é a base do capitalismo
atual já se estabelecera.
AUTO ATIVIDADE
A partir da leitura dos temas anteriores e do artigo a seguir, redija uma Resenha Crítica a respeito do nascimento das fábricas. Lembre-se: neste tipo de trabalho suas críticas a
respeito do tema são de suma importância.
Bom trabalho!
20SOCIOLOGIA, ESTUDOS ANTROPOLÓGICOS
E RELAÇÕES ÉTNICO-RACIAIS
1.4 O TEMA EM ARTIGO
O NASCIMENTO DAS FÁBRICAS
Dhiogo Jose Caetano
RESUMO
O objetivo do artigo é mostrar a “verdade” histórica do nascimento das fábricas,
as influências provocadas no meio social, político e econômico visando ressaltar
os conflitos e barreiras os quais a burguesia teve que enfrentar para implantar o
seu objetivo pessoal no meio de produção; utilizando os saberes e as técnicas para
desenvolver o processo de transformação do trabalho que passa de um sistema
primitivo, para um modelo de produção capitalista. Para explicar estas relações
antagônicas em decorrer do processo do trabalho, que visava o capital, como
fonte principal, foram utilizados ideais de Marx, Weber e Durkheim que trazem a
complexidade da vida social em suas várias modalidades, descrevendo a realidade
social em um processo concreto, um conjunto de características fundamentais de
uma sociedade. Podemos perceber que a Revolução Industrial acelerou o conceito
de alienação do trabalho dos meios social e produtivo; promovendo uma relação
entre os homens de oposição, antagonismo e exploração; o capital transformou
o trabalho em uma mercadoria. As classes sociais, não apresentam apenas uma
diferença por status, mas também posições, interesse e consciências diversas.
Mas, a partir da construção do artigo, foi possível perceber que as fábricas nascem,
mas junto com elas surge a tecnologia e a modernidade de imediato, ficando claro
que a burguesia queria acabar com o trabalho individual, para ter o controle total
não só no capital, mas até mesmo o controle dos saberes e técnicas. Portanto, as
fábricas foram introduzidas com grande interesse de fundamentar e organizar a
sociedade, uma relação marcada por conflitos e revoltas de classes, que ao mesmo
tempo rejeitavam e aceitavam o ideal, empregado pelas classes superior, ou seja, a
classe proletariada cujo objetivo é manter a sua subsistência.
Palavras-chave: Trabalho. Fábrica. Capital. Marx e conflitos.
INTRODUÇÃO
A partir do século XVI, podemos perceber que dos vários acontecimentos e
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E RELAÇÕES ÉTNICO-RACIAIS
ideias, nenhum se realizou tão desgraçadamente com a sociedade do trabalho;
fábricas-prisões, fábrica-conventos, fábricas-sem salário, sonhos realizados
pelos patrões, que tornou possível a glorificação do trabalho; palavra que tinha
como significado penalidade, cansaço, dor, esforço extremo, um estado de pura
miséria e pobreza; mas uma nova concepção da palavra trabalho surgiu no século
XVI, uma visão que traz positividade.
Adam Smith afirma que o trabalho é fonte de toda a riqueza, alcançando o
topo do “sistema de trabalho de Marx”, pois o trabalho passa ser a fonte de toda a
produtividade e expressão da própria humanidade do homem. A glorificação do
trabalho se fortalece com o surgimento das fábricas mecanizadas, a qual alimenta
a ilusão, que a partir dela há limites para produtividade humana. Percebemos que
as fábricas, ao mesmo tempo em que confirmavam a potencialidade criadora do
trabalho, anunciavam a dimensão ilimitada da produção.
A presença da máquina traz consigo a superação de barreiras da própria condição
humana, uma reflexão que propõe, uma imagem cristalizada do pensamento do
século XIX, que se reduz a um acontecimento tecnológico, que apresenta uma
intervenção de organizar e disciplinar o trabalho. Durkheim divide o trabalho em
dois momentos identificado como uma espécie social, que estabelece a passagem
da solidariedade orgânica; tipicamente relacionado às fábricas, ao conceito de
solidariedade orgânica, afirmamos a aceleração da divisão do trabalho social, os
indivíduos se tornam interdependentes. Essa interdependência garante a união
social ao mesmo tempo em que os indivíduos são mutuamente dependentes,
cada qual se especializa numa atividade e tende a desenvolver maior autonomia
pessoal.
VIDA OU SUBSISTÊNCIA
O trabalho nas fábricas, não permitia, ao homem, pensar além do que já foi
dado, o mercado estabelecia ao homem o que pensar e agir, empregando regras,
portanto, o comércio não só impõe aos homens determinadas tecnologias, como
também impede que seja possível pensar em outras tecnologias.
Portanto, deve-se pensar segundo regras já definidas, e a sua oposição, em
relação à sociedade é juntamente a impossibilidade de pensar além das regras.
Falar de mercado ou divisão social do trabalho é apropriar-se da ideia que o
homem está vetado e impossibilitado de saber; um saber que restitui e serve hoje
22SOCIOLOGIA, ESTUDOS ANTROPOLÓGICOS
E RELAÇÕES ÉTNICO-RACIAIS
para manter a ordem de domínio político, técnico, cultural e etc.
Os mecanismos permitem o reconhecimento de uma imposição de normas
de valores próprios de determinadas sociedades em que aparece dotada de
universalidade; podemos utilizar como exemplo, o pensar do desenvolvimento
de uma sociedade burguesa no seio da sociedade feudal, que logo imaginamos a
instituição do mercado como esfera universalizadora de uma nova ordem que se
impõe.
A autodisciplina, proposta pela classe dominante, torna-se ideia dominante
de toda a sociedade uma aplicação de novas normas, ideias e valores, que
enfrenta conflitos gerados pelos trabalhadores que não, estavam dispostos a
seguirem normas, a cumprirem horário e aceitarem ordem de um superior; mas
com o processo de organização das fábricas que constituía em primeiro momento
de um trabalho manufatureiro, portanto, fica claro que a tecnologia não surgiu
juntamente com as fábricas. Em primeiro momento foi utilizada a força de trabalho
como mercadoria, não se tratando de uma mercadoria qualquer, pois o trabalho
significa a criação de valor, sendo reconhecido como verdadeira fonte de riqueza
da sociedade. Afirmam os marxistas que “o capitalismo transformou o trabalho
em mercadoria”; portanto, o valor da mercadoria dependia do tempo de trabalho
que era estabelecido, da habilidade individual média e as condições técnicas
vigentes na sociedade. Por isso o valor de uma mercadoria era incorporado ao
tempo de trabalho socialmente necessário para a produção.
Sabemos que o capitalista produz com intuito de obter lucro, isto é, quer
ganhar com sua mercadoria, mais do que investiu. Podemos citar o exemplo da
mais-valia de Marx, onde o trabalhador trabalha mais tempo e ganha o mesmo
valor, ou seja, gera um valor maior do que é pago na forma de salário.
Porém, nota-se que a insuficiência do valor correspondente, do salário pago
para o trabalhador, não sendo suficiente para a sua subsistência, provoca uma
luta entre as classes, de um lado encontra-se a burguesia, do outro os menos
favorecidos, que agora fazem parte de uma dimensão na qual o homem pensa e
age, tornando o seu lugar imaginário e real, onde se opera efetivamente a divisão
do social. As desigualdades sociais eram provocadas pelas relações de produção
do sistema capitalista que divide os homens em proprietários e não proprietários
dos meios de produção, afirma Marx que “As desigualdades são à base da formação
de classes sociais”. Podemos perceber uma relação entre os homens, de oposição,
23SOCIOLOGIA, ESTUDOS ANTROPOLÓGICOS
E RELAÇÕES ÉTNICO-RACIAIS
antagonismo e exploração da classe proprietária, ou seja, a burguesia, sobre os
trabalhadores, classe proletariada.
DESIGUALDADE SOCIAL E CONFLITOS
Em meio ao confronto nasce o sujeito social a imagem de que existe a
imperiosidade da figura do capitalismo como elemento indispensável para o
próprio processo de trabalho A discussão está diante de uma situação história
na qual o domínio da sociedade, embora esteja delimitada pelo dispositivo do
mercado, não se transformou ainda em domínio técnico; no caso a razão técnica,
por mais que esteja sob o domínio de quem participa do processo de trabalho,
ainda não representa um instrumento através do qual se possa exercer o controle
social.
Marx mostra que nenhuma tecnologia avançada determinou a união dos
trabalhadores no sistema de fábricas, seguindo em direção de como esse sistema
possibilitou a disciplina e a hierarquia na produção, baseado na dispersão dos
trabalhadores domésticos, que gerava problema ao capitalista, isto é desvio
de parte de produção a falsificar dos produtos, utilizando a matéria-prima de
qualidade inferior àquelas fornecidas pelo capitalista.
O sistema fabril representou a perda desse controle dos trabalhadores
domésticos; pois nas fábricas a hierarquia, a disciplina, a vigilância e outras
formas de controle, tangíveis que tornaram pontos que os trabalhadores
acabaram se submetendo ao regime de trabalho, ou seja, o domínio do capitalista
sobre o processo de trabalhadores. Em primeiro lugar os comerciantes precisavam
controlar e comercializar toda a produção dos artesãos com desejo de reduzir ao
mínimo as práticas de desvio dessa produção; assim, as fábricas transformam-se
no marco organizador do desejo empresarial, um sistema ditado com necessidade
de organização que teve como resultado uma ordem disciplinar durante todo o
transcorrer da modernidade.
Na realidade as máquinas só foram desenvolvidas e introduzidas depois que os
tecelões já haviam sido concentrados nas fábricas; os tecelões, os ceramistas não
estavam acostumados com esse novo tipo de disciplina; segundo um historiador
inglês, os ceramistas haviam gozado de uma independência durante muito
tempo para aceitar amavelmente as regras, procurava implantar, a pontualidade,
a presença constante, as horas prefixadas, as escrupulosas regras de cuidado e
24SOCIOLOGIA, ESTUDOS ANTROPOLÓGICOS
E RELAÇÕES ÉTNICO-RACIAIS
de limpeza, a diminuição dos desperdícios, a proibição de bebidas alcoólicas;
promovendo uma formação de um conjunto magnífico de mão.
O desenvolvimento foi crucial no que se refere ao estabelecimento do sistema
fabril contribuído na efetivação de uma disciplinarização geral na força de
trabalho; ocorrendo um impacto de poderosas forças, atrativas ou repulsivas,
que o trabalhador ou artesão inglês se transformou em mão-de-obra fabril,
afirmando uma nova relação de poder hierarquizado e autoritarista. Alguns
historiadores ingleses afirmam mesmo que o êxito alcançado por alguns
empresários capitalistas, em meio a tantos fracassos que rodearam as primeiras
tentativas de instalação das fábricas, deve-se muito mais à qualidade de direção
dessas empresas do que à uma substância de mudanças de qualidade do trabalho
ou das máquinas.
O processo descrito esclarece a dependência do capitalismo em relação ao
desenvolvimento das técnicas de produção; mostrando, ainda, como o trabalho,
sob o capital, perde todo o atrativo e faz do operário mero apêndice da técnica,
o homem, torna-se o principal elemento da força produtiva, e é o principal
responsável pela ligação ente natureza e a técnica e os instrumentos. Porém, os
revoltosos e os destruidores de máquinas, se manifestavam em várias regiões,
como maneira criteriosa de como lutar, desencadeada não contra a mecanização
em geral, mas em direção a determinadas máquinas em particular. Mas apesar de
toda a resistência e das vitórias alcançadas pelos quebradores de máquinas, já por
volta de 1820 “os avanços tecnológicos” adicionais mudaram de nova geração de
operários, acostumada à disciplina e à precisão da fábrica.
CONCLUSÃO
A utilização da maquinaria não só visava conseguir a docilização e a submissão
do trabalho fabril e, neste sentido, assegurar a regularidade e a continuidade
apresentou um forte obstáculo do trabalhador fabril. As máquinas vão sendo
introduzidas ajudando a criar um marco dentro do qual se podia impor uma
disciplina, mas sua introdução se deu uma ação de contrapartida dos patrões para
controlar as greves e as outras formas de militância industrial.
Marx em ‘O Capital’, embora saudasse o advento do universo fabril como o
limitar de uma nova era, deixa de ficar profundamente apreensivo com relação à
introdução das máquinas automáticas no processo de trabalho o qual dizimaria
25SOCIOLOGIA, ESTUDOS ANTROPOLÓGICOS
E RELAÇÕES ÉTNICO-RACIAIS
a sociedade trabalhadora; nesse sentido, enfatiza o determinismo pelo saber
a técnica, cujo fundamento estava ligado ao inerente bojo de implicações
relacionada à hierarquia, disciplina e controle do meio de trabalho, ao mesmo
tempo em que separa crucialmente a produção do saber técnico.
Enfim, as relações sociais, produzidas a partir da expansão do mercado
capitalista, com a união das fábricas, geraram uma relação antagônica na
sociedade tornando possível o desenvolvimento de uma determinada tecnologia
que impõe, não apenas aos instrumentos que incrementa a produtividade, mas
como principal instrumento de controle disciplinar que enfrenta conflitos da
relação entre consciências e realidade e, principalmente, a dinâmica histórica.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
DECCA, E. S. O Nascimento das Fábricas. 9 ed. São Paulo: Brasiliense. 1980
MARX, K. O Capital. Ed. São Paulo: Ouro
QUINTANEIRO, T.; OLIVEIRA, M. L.; OLIVEIRA, M. G. Um Toque de Classe:
Durkhein, Marx e Weber. Tânia Quintaneiro, - Belo Horizonte: Ed; UFMG,1995.
Fonte: Caetano (2010)
1.5 SOCIOLOGIA E SUA HISTÓRIA SOCIAL
Embora o percussor de uma vontade de estudar ou pensar a nova sociedade que estava
surgindo de forma sistemática seja apontado pela história como sendo Claude-Henri de Revroy,
o conde de Saint-Simon (1760-1825), é com Auguste Conte que a sociologia surge como ciência,
dotada de um método na busca de explicações para as questões de seu tempo.
Mas, Saint-Simon percebe que as transformações ocorridas a partir da Revolução Industrial
mudaram drasticamente a configuração social das cidades envolvidas neste processo. O homem
que vivenciou o fim dos regimes monárquicos totalitários e o forte e rápido surgimento de uma
nova classe de comerciantes e industriais burgueses no poder, passa a ser importante para o
pensamento moderno, pois implanta as bases desta nova ciência. Para ele a racionalidade como
propulsora desta sociedade em surgimento, acabaria com a dominação imposta a muito pelas
26SOCIOLOGIA, ESTUDOS ANTROPOLÓGICOS
E RELAÇÕES ÉTNICO-RACIAIS
monarquias medievais e que, com o desenvolvimento racional das ciências em surgimento, o
homem dominaria a natureza de forma ordeira, pacífica e, principalmente, mais justa.
A história ainda nos aponta que o pensamento de Saint-Simon não se efetivou, ao contrário
do que ele pensava onde as elites, os intelectuais e empresários da época providenciariam formas
justas de divisão da renda obtida pelo trabalho de todos. O que pôde ser observado por ele, foi
o crescimento da miséria, assolando essa nova classe de trabalhadores, e neste embate entre
exploradores e explorados, o surgimento de uma proposta de sistema econômico pautado na
socialização dos meios de produção e dos resultados obtidos por ele. Nasce assim, neste período
conturbado de transformações, o socialismo.
Como dito anteriormente, ainda no século XIX Auguste Comte (1798-1857) procurando
entender as transformações sociais de seu tempo, suas causas e consequências para a sociedade,
cria mais especificamente a partir de 1826, o curso de filosofia positiva, composto por seis
volumes que após o quarto, passa a esboçar a ideia da fundação de uma ciência dedicada e dotada
de métodos próprios para estudar de forma científica a sociedade.
A ideia toma corpo e Comte, a princípio, batiza sua disciplina de física social, que mais tarde
passa a ser chamada por ele de sociologia que etimologicamente provem do latim socius + logus
designando o “estudo do social”.
Mas a disciplina não surge tão facilmente, é preciso que Comte consiga seu reconhecimento e,
para isso, através da filosofia positiva, base de seu curso, Comte aponta que para o desenvolvimento
pleno do homem, era preciso que o mesmo passasse por três estados, nos quais com aprendizagem
adquirida neles, proporcionaria ao homem a plena capacidade de sua inteligência e inspiração de
suas atitudes.
A Física Social de “Comte” cria a primeira lei natural da humanidade, definido por ele como a
lei dos “Três Estados”.
Como fundamento de seus trabalhos, Comte apresenta suas observações, feitas através
do estudo do desenvolvimento total da inteligência humana e como ela se daria nas diversas
atividades cotidianas ou não, realizadas por ele.
27SOCIOLOGIA, ESTUDOS ANTROPOLÓGICOS
E RELAÇÕES ÉTNICO-RACIAIS
PARA REFLETIR
Para Auguste Comte, existe uma grande lei que rege nosso desenvolvimento e que a
partir dela, cada uma de nossas concepções e ramos do conhecimento humano passa de
forma sucessiva por três estados, diferentes historicamente, sendo eles: o teológico, o
metafísico e, por último, o positivo.
Lei dos Três Estados.
No estado teológico, o espírito humano, dirigindo essencialmente suas
investigações para a natureza intima dos seres, as causas primeiras e finais de
todos os efeitos que o tocam, numa palavra, para os conhecimentos absolutos,
apresenta os fenômenos como produzidos pela ação direta e contínua de agentes
sobrenaturais mais ou menos numerosos, cuja intervenção arbitrária explica
todas as anomalias aparentes do Universo.
No estado metafísico, que no fundo nada mais é do que simples modificação
geral do primeiro, os agentes sobrenaturais são substituídos por forças abstratas,
verdadeiras entidades (abstrações personificadas) inerentes aos diversos seres
do mundo, e concebidas como capazes de engendrar por elas próprias todos os
fenômenos observados, cuja explicação consiste, então, em determinar para cada
um, uma entidade correspondente.
No estado positivo, o espírito humano, reconhecendo a impossibilidade de
obter noções absolutas, renuncia a procurar a origem e o destino do Universo,
a conhecer as causas íntimas dos fenômenos, para preocupar-se unicamente
em descobrir, graças ao uso bem combinado do raciocínio e da observação, suas
leis efetivas, a saber, suas relações invariáveis de sucessão e de similitude. A
explicação dos fatos, reduzida então a seus termos reais, se resume de agora em
diante na ligação estabelecida entre os diversos fenômenos particulares e alguns
fatos gerais, cujo número o progresso da ciência tende cada vez mais a diminuir.
28SOCIOLOGIA, ESTUDOS ANTROPOLÓGICOS
E RELAÇÕES ÉTNICO-RACIAIS
Temos que pensar que Comte conseguiu vislumbrar um novo mundo surgindo com a
modernidade, um mundo totalmente influenciado pela ciência e pela racionalidade humana,
mas um mundo cheio de novos conflitos gerados pela transição do sistema feudal (com sua
base agrária e no patriarcalismo) para o capitalismo (industrializado, com um comércio forte
e internacional, forte urbanização e, principalmente, com uma nova forma de exploração da
mão de obra do trabalhador). Para este novo cenário, Comte vislumbrava algo Positivo, com sua
filosofia positiva se transformando numa nova ciência denominada Sociologia.
Comte colocava toda sua esperança em poder estudar e compreender os novos problemas
sociais que surgiam, com sua ciência e através dela por ordem social e disciplina no caos que
se estabelecia no início da civilização moderna. Para este pensador, através do estudo de forma
sistematizada e profunda dos movimentos de sociedades do passado, poderíamos entender o
presente e imaginar o futuro com suas novas gerações e conquistas.
Para Comte a consolidação desse novo sistema capitalista era algo certo e necessário para o
desenvolvimento das sociedades, com ele e a mudança do pensamento teológico como forma
única de explicação do mundo, daríamos um grande passo para o progresso das civilizações,
mesmo com os problemas sociais que surgiam, pois estes eram apenas obstáculos que, se
resolvidos pela sociedade, permitiriam o sucesso do curso do progresso humano.
Comte apostava na sociologia como ciência que poderia solucionar a crise em que seu tempo
enfrentava, mas a história nos mostra que ele não conseguiu ver a aplicação de seu trabalho, que
precisou ainda de muita discussão e da contribuição de outros teóricos para que a Sociologia
como a sonhara, conquistasse seu espaço junto às novas ciências sociais da modernidade.
AUTO ATIVIDADE
Você certamente percebeu que a nova ciência de Comte estabelece uma ligação da melhoria da
sociedade às condições de “Ordem e Progresso”. Onde você já viu essa expressão? É claro! Em nossa bandeira nacional. Portanto, faça uma pesquisa e descubra qual a ligação de nossa bandeira com os ideais positivistas da época.
29SOCIOLOGIA, ESTUDOS ANTROPOLÓGICOS
E RELAÇÕES ÉTNICO-RACIAIS
Figura 1 - Conheça um pouco da história de nossas bandeiras.Fonte: Tourin Brazil (2017)
Para dar à sociologia o status de ciência, numa visão positiva, surge no cenário das
discussões deste período, o pensador francês Émile Durkheim (1858-1917), é com o
trabalho desse pensador que a sociologia ganha um caráter mais técnico e um método de
investigação próprio. Com Durkheim e a sociologia a sociedade moderna pode estudar
seus problemas de ordem social com procedimentos investigativos que não deixava nada
a desejar em relação às outras ciências.
1.6 ÉMILE DURKHEIM
Nascido na França do século XIX, Émile Durkheim é um dos principais pensadores a relacionar
a presença e a importância da educação na sociedade.
Para a sociologia, ele é considerado o primeiro teórico desta ciência, e por ter vivido no mesmo
ambiente teórico que Auguste Comte defende a aplicação na prática das ideias positivistas.
Baseado no positivismo esse pensador cria uma teoria sociológica da sociedade, conhecida
nos meios acadêmicos como teoria funcional.
30SOCIOLOGIA, ESTUDOS ANTROPOLÓGICOS
E RELAÇÕES ÉTNICO-RACIAIS
Segundo Boneti (2008, p. 23):
A teoria funcionalista vê a sociedade como um sistema composto de partes, cada
uma cumprindo com sua função, indivíduos, instituições etc. se todos cumprem com
suas respectivas funções, a sociedade funciona. Mesmo que um corpo constituído
de membros cujas funções interligam o corpo inteiro. É desta ideia que nasce a
expressão funcionalista.
Durkheim aponta que nesta teoria existem duas expressões importantes: o sistema e a função
social.
O sistema, que sinaliza para a ideia de um conjunto de unidades Inter dependentes, como
engrenagens, cada qual cumprindo sua função e sendo todas importantes, independentemente
do seu tamanho ou função. Para ele, se uma dessas partes pararem de funcionar, toda a sociedade
para.
Já função social é apontada pelo autor como sendo a atividade individual de cada engrenagem
neste sistema. É preciso, segundo Durkheim, que todas tenham consciência da importância de
suas funções na sociedade e, independente da classe que ocupa, percebam que se uma dessas
engrenagens pararem todo o resto para.
À educação, Émile Durkheim destina o papel de formação e conscientização para o exercício
de suas funções sociais. Dedicado a estudar a relação entre os indivíduos e a sociedade, Émile
Durkheim permeia esta relação pelo que ele denomina de FATOS SOCIAIS.
SAIBA MAIS
Fatos sociais
A sociologia do francês Émile Durkheim (1858-1917) adota
uma posição que rejeita as interpretações biológicas ou
psicológicas do comportamento dos indivíduos, este focaliza os determinantes
sócio-estruturais na explicação da vida e dos problemas sociais. Para ele, existem
“fatos sociais” que são o assunto da sociologia e que influenciam e condicionam as
atitudes e os comportamentos dos indivíduos na sociedade. Esses fatos sociais são
reais, objetivos, sólidos, sui generis, isto é, não reduzíveis à realidades biológicas,
31SOCIOLOGIA, ESTUDOS ANTROPOLÓGICOS
E RELAÇÕES ÉTNICO-RACIAIS
psicológicas, climáticas, etc. Esses fatos sociais são relações sociais exteriores aos
indivíduos que perduram no tempo, enquanto indivíduos particulares morrem
e são substituídos por outros. Os fatos sociais não são somente exteriores ao
indivíduo, mas possuem “um poder coercitivo... pelo qual se impõem a ele,
independentemente de sua vontade individual”. Os constrangimentos, seja na
forma de leis ou costumes, se manifestam cada vez que as demandas sociais são
violadas pelo indivíduo. Assim, para Durkheim, o indivíduo sente, pensa e age
condicionado e até determinado por uma realidade social maior, a sociedade ou
a classe. Durkheim define o fato social como “cada maneira de agir, fixa ou não,
capaz de exercer um constrangimento (uma coerção) externo sobre o indivíduo”.
Alguém pode, por exemplo, pensar que age por vontade e decisão pessoal; na
realidade, age-se deste ou daquele modo por força da estrutura da sociedade, isto
é, das normas e padrões estabelecidos.
Fonte: Jornalista Tripod (2017)
As características dos fatos sociais são:
Coletivo ou geral – Significa que o fenômeno é comum a todos os membros
de um grupo;
Exterior ao indivíduo – Acontece independente da vontade individual;
Coercitivo – Os indivíduos são “obrigados” a seguir o comportamento
estabelecido pelo grupo.
1.7 DURKHEIM E A MODERNIDADE EMINENTE.
Em seus estudos teóricos, Durkheim registra suas convicções a respeito da humanidade, para
ele, a sociedade estaria em constante evolução e aos homens e mulheres, atores nesta sociedade,
restava dessa evolução um aumento nos papeis sociais por eles representados ou novos papeis a
serem representados.
32SOCIOLOGIA, ESTUDOS ANTROPOLÓGICOS
E RELAÇÕES ÉTNICO-RACIAIS
Para esse pensador, existem sociedades diferentes que se organizam sob a forma de uma
solidariedade a que ele denomina de Mecânica e outras a que este autor chama de solidariedade
Orgânica.
A humanidade, para esse autor, está em constante evolução, o que seria caracterizado pelo
aumento dos papéis sociais ou funções.
As sociedades organizadas sob a forma de solidariedade mecânica seriam aquelas nas
quais existiriam poucos papéis sociais. Segundo ainda esse autor, nesse tipo de sociedade,
seus membros viveriam de maneira iguais e eram ligados por crenças e sentimentos comuns,
o que para ele caracteriza uma consciência coletiva, nessa sociedade não existiria espaço para
atitudes ou ações individuais, e se elas existirem, rapidamente seriam percebidas e corrigidas
pelos membros dessa sociedade.
Como forma de exemplificar a solidariedade mecânica, podemos usar a sociedade indígena,
que apresenta pessoas vivendo e produzindo de forma semelhante, com crenças comuns e
valores iguais.
Em relação às sociedades organizadas em solidariedade orgânica, comuns no mundo moderno,
caracterizam-se por apresentarem muitos papeis sociais realizados por seus indivíduos, como
exemplo, podemos tomar as cidades modernas onde várias funções são desempenhadas por
seus habitantes. Este pensador, acreditava que mesmo complexa e com uma grande variedade
de funções, todos deveriam cooperar entre si de forma a fluir como um organismo, por isso usou
o termo Orgânico. Ele observa ainda que devido à grande quantidade de papeis sociais a serem
interpretados, o grau de controle da sociedade sobre cada pessoa diminuiria consideravelmente e
com uma individualidade menos controlada as pessoas teriam melhores condições de agir dentro
desta sociedade e até mesmo mudar de posição ou status social.
Como problematização a essa situação, Durkheim aponta o egoísmo das pessoas no mundo
moderno, que sem controle sobre suas individualidades não contribuiriam para o funcionamento
eficaz da sociedade. Como Durkheim comparava a sociedade como um corpo, se em alguma parte
tivesse um problema (fatos sociais), esse deveria ser diagnosticado e tratado, para essa função
existia a sociologia.
33SOCIOLOGIA, ESTUDOS ANTROPOLÓGICOS
E RELAÇÕES ÉTNICO-RACIAIS
1.8 SOLIDARIEDADE MECÂNICA E SOLIDARIEDADE ORGÂNICA – EMILE DURKHEIM
A maioria dos conflitos sociais advindos da modernidade estavam certamente atrelados
às questões econômicas, principalmente, questões ligadas à divisão do trabalho, porém essa
questão ultrapassava os limites financeiros ou mais especificamente ligados à riqueza ou não
do ser humano. O que chamava a atenção e permeava os trabalhos dos pensadores sociais da
época era a forma como e riqueza, advinda dos mais variados tipos de trabalhos estabelecia por
si só, uma hierarquia social e uma ordem moral, tirando dos trabalhadores comuns a condição de
transformação de suas vidas pelo trabalho e de qualquer possibilidade de ascensão social.
A solidariedade é uma forma de organização social que liga os indivíduos uns aos outros,
pois suas funções muito parecidas e limitadas nos conhecimentos necessários às suas ações, os
tornam muito parecidos, num tipo de solidariedade que vai além de suas trocas de serviço, por
um pagamento ou salário, mais vai muito mais longe, pois está atrelada às suas vidas e posições
na sociedade.
A solidariedade a que Émile Durkheim aponta é um elo entre o indivíduo e a sociedade a
que está inserido, mas não é somente uma ligação geral, simples e que acaba por si. Ela torna
harmônicos os grupos, principalmente através de sua consciência coletiva e através dela manter
indefinidamente a coesão social tão necessária para este tipo de organização.
Outro tipo de solidariedade, apontada por Durkheim, seria a solidariedade mecânica, neste
tipo de solidariedade, a consciência coletiva torna-se superior à consciência individual O
autor nos mostra que nesta solidariedade o elemento mais importante numa sociedade seria a
consciência coletiva, pois ela anula a personalidade do indivíduo o que não o permite questionar,
ou seja, o indivíduo passa a ser mais um elo da corrente social, parecido aos demais e dependente
dos mesmos, regidos por um conjunto de crenças, valores e sentimentos comuns, sendo a
consciência individual uma dependente do tipo coletivo, onde todos os indivíduos são iguais.
Então, quando as sociedades começam a produzir excedentes, isto os leva a escolher a divisão
do trabalho que, por sua vez, transforma a solidariedade mecânica, numa solidariedade orgânica,
causando uma emitente diminuição do poder de coerção existente através da consciência
coletiva, assim atendendo aos interesses do capitalismo. Este tipo de organização e solidariedade
aproxima-se da solidariedade proposta por Durkheim.
Numa solidariedade orgânica a sociedade possui uma divisão do trabalho muito mais
desenvolvida e elaborada, os indivíduos têm a possibilidade de se construírem diferentes, cada
34SOCIOLOGIA, ESTUDOS ANTROPOLÓGICOS
E RELAÇÕES ÉTNICO-RACIAIS
qual com sua personalidade e coesos com a sociedade que os engloba.
Diferenças entre as solidariedades orgânica e mecânica:
Solidariedade
Mecânica Orgânica
Sociedades simples Sociedades industriais
Indivíduos semelhantes Indivíduos diferentes
Funções iguais Função especializada e interdependente
Sem divisão social do trabalho Com divisão de trabalho
Consciência social menor Consciência social maior
Mecanismos de coerção exercidos de forma imediata, violenta e punitiva
Mecanismos de coerção mais formalizados e exercidos de forma mediata
Direito repressivo (prevenções) Predomínio do direito restituitivo (reparação)
Pouco desenvolvidas Bem desenvolvidas
Fonte: Wordpress (2017)
Para Durkheim, a divisão do trabalho social livraria a sociedade da anomia, tornando-a
mais próxima de um tipo de sociedade em que as funções sociais poderiam ser comparadas as
funções de um corpo humano, o dos órgãos de organismos vivos que funcionam perfeitamente,
existindo entre eles uma solidariedade orgânica sem a existência de uma consciência coletiva
com condições de o indivíduo ser desenvolver livremente em prol da sociedade. Para Durkheim:
É a esse estado de anomia que devem ser atribuídos, como mostraremos, os conflitos incessantemente renascentes e as desordens de todo tipo de que o mundo econômico nos dá o triste espetáculo. Porque, como nada contém as forças em presença e não lhes atribui limites que sejam obrigados a respeitar elas tendem a se desenvolver sem termos e acabem se entrechocando, para se reprimirem e se reduzirem mutuamente. […] As paixões humanas só se detêm diante de uma força moral que elas respeitam. Se qualquer autoridade desse gênero inexiste, é a lei do mais forte que reina e latente
35SOCIOLOGIA, ESTUDOS ANTROPOLÓGICOS
E RELAÇÕES ÉTNICO-RACIAIS
ou agudo, o estado de guerra é necessariamente crônico (DURKHEIM, 2004. P 78).
Fugindo dessa anomia e com uma sociedade orgânica, Durkheim aponta o seu ideal de
organização social.
1.9 HEBERT SPENSER
Nascido em 1882, o sociólogo inglês Hebert Spenser influenciou muito as teorias da educação.
Contemporâneo de Durkheim, este pensador foi considerado um grande seguidor das ideias
de Charles Darwin, Spenser torna-se um defensor das teorias do evolucionismo e das ciências
humanas.
Com forte influência dos estudos científicos, onde a natureza passa a ser compreendida e
dominada pela ciência, Spenser compara em seus estudos a sociedade a organismos vivos,
defendendo a ideia de que como os seres vivos, a sociedade também passa por uma evolução,
que se daria por etapas e tinha na educação uma importante aliada.
Antes mesmo de Charles Darwin formular sua teoria da evolução das espécies, Spenser
publica a expressão “sobrevivência do mais apto” expressão essa que posteriormente vai ser
muito utilizada por Darwin, aplicando à sociologia muitas ideias que teve a partir dos estudos
das ciências naturais. Deste modo, Spenser influencia consideravelmente o pensamento de seu
tempo.
Seus estudos ainda apresentam uma forte mudança em relação ao poder do Estado sobre o
indivíduo, para ele o correto é que haja uma primazia do indivíduo sobre o estados pois é para o
indivíduo que o Estado existe e não vice versa.
Este autor contribui bastante no campo da educação, pois combate ferrenhamente a
interferência do Estado na mesma e defende o ensino de ciências nas escolas afirmando que a
função social da mesma era a formação do caráter do indivíduo. Spenser descreve a lei
fundamental da matéria que posteriormente chama de lei da persistência da força, pois segundo
essa lei, existe uma tendência natural das coisas, que mediante a interação com forças extremas,
existe uma tendência dos indivíduos saírem da homogeneidade em direção à heterogeneidade e
36SOCIOLOGIA, ESTUDOS ANTROPOLÓGICOS
E RELAÇÕES ÉTNICO-RACIAIS
a medida em que forças externas continuam a agir sobre o que era homogêneo, mais variado se
torna o resultado das mudanças decorrentes dessa ação.
Darwinismo social
O darwinismo social, decorrente das teorias evolucionistas de Darwin e de
Spencer, considera que o conflito e a seleção natural dos mais aptos são condições
da progressão social. Trata-se de aplicar ao mundo social os princípios de luta pela
vida e pela sobrevivência dos melhores das sociedades animais, defendidos pela
corrente evolucionista. A competição relativa à luta das espécies prolonga-se,
assim, na vida social, explicando a mudança e a evolução das próprias sociedades.
O evolucionismo de Spencer é cauteloso, na medida em que o autor adverte
que a evolução depende de “condições diversas” que a favorecem ou inibem
(relações do sistema social com o seu meio ambiente, dimensão da sociedade,
diversidade, etc.). Spencer considera, igualmente, que os determinismos sociais
são demasiado complexos; os indivíduos têm tendência a adaptar-se ao sistema
social a que pertencem, do mesmo modo que as atitudes dos indivíduos facilitam
ou inibem o aparecimento de determinado tipo social (o tipo “militar” ou o tipo
“industrial”, por exemplo).
O darwinismo social tornou-se um argumento a favor do individualismo
SAIBA MAIS!
Conhecimento, Evolução e Complexidade na Filosofia Sintética de Herbert Spenser
Fonte: Baiard (2008)
Prezado aluno(a).... O material sugerido a você neste momento de seus estudos, ajudará numa maior compreensão da importância do sociólogo HEBERT SPENSER no cenário mundial e permitirá fazer uma breve imersão nas temáticas defendidas por ele.
É importante que você faça anotações na medida que desenvolva a leitura e poste as mesmas no fórum de discussões em nosso ambiente virtual.
Boa Leitura...
37SOCIOLOGIA, ESTUDOS ANTROPOLÓGICOS
E RELAÇÕES ÉTNICO-RACIAIS
econômico e político, contra o intervencionismo do Estado. Segundo Spencer, o
Estado só deve, através do Direito, estabelecer as regras do mercado. Por sua vez,
Durkheim, que segue o modelo evolutivo do darwinismo social, dando conta de
tendências evolutivas na sociedade, considera (na sua obra A divisão do trabalho
social) que o desenvolvimento do individualismo - que é uma consequência da
complexidade crescente da divisão do trabalho - é um aspeto fundamental na
passagem das sociedades tradicionais às sociedades modernas.
Fonte: Infopédia (2017)
1.10 KARL MARX
Na data de 05 de maio de 1818, na cidade de Trier, Província alemã do Reno, nascia Karl
Marx, importante pensador da modernidade. Filósofo historiador, economista e sociólogo, Marx
vivencia enquanto estudante de direito em Berlim, um acirrado debate em torno das observações
filosóficas de Friedrich Hegel.
Inovador, Marx apresenta uma nova forma de interpretação da dialética, ele utiliza-se deste
método, mas em outro viés, afirmando que é a vida material que condiciona o pensamento e a
ação humana, isto é, todas as estruturas políticas, ideológicas, culturais, entre outras, nascem e
são influenciadas a partir da produção econômica de cada sociedade em cada momento histórico
vivido.
Este pensamento leva Marx à criação da teoria da sociedade capitalista, que por sua ligação
ao momento social histórico vivido, passa a ser conhecida como MATERIALISMO HISTÓRICO.
A história sempre foi a fonte de pesquisa para as teorias de Marx, que se tornam pontos
de partida para uma melhor compreensão do materialismo histórico e suas críticas ao modo
de produção capitalista. Teorias como a mais valia, modo de produção, teoria de classe social,
estrutura e super. estrutura, permeiam a produção de Marx e nos permitem entender melhor este
pensador.
38SOCIOLOGIA, ESTUDOS ANTROPOLÓGICOS
E RELAÇÕES ÉTNICO-RACIAIS
1.10.1 Marx e o seu discurso sobre o modo de produção.
Modo de produção é a forma como a sociedade se organiza para realização de qualquer
atividade produtiva.
Para Marx, essa organização se dá num contexto histórico, onde existem relações entre
pessoas e essas relações é que permitem a produção de toda a riqueza da sociedade onde ela se
configura. É importante também para Marx perceber a forma como essas relações definem quem
comanda e quem é comandado, quem ganha mais, ou quem não ganha nada. Marx aponta ainda
o fato de que em diferentes períodos, a sociedade foi marcada por diferentes modos de produção
e que a diferenciação na hierarquia nesta social, dependia da relação em torno do gerenciamento
da atividade e do próprio trabalho, como exemplos, o senhor e o escravo, o senhor feudal e o
vassalo, o dono da fábrica e o operário.
Para Marx existem semelhanças nos vários modos de produção já vivenciados pela humanidade.
Em todas as formas, sempre existiu alguém no comando (gerenciando) e consequentemente,
essa condição dá a este sujeito, o direito de se apropriar da sobra, deste modo, começa a existir
a possibilidade da acumulação de um certo capital, pois esta sobra pode ser comercializada
gerando lucros e posteriormente sendo reaplicada aumentando o capital e o poder de seu dono.
Marx defende a ideia de que a apropriação através da história dessas sobras, vai constituir a
propriedade privada, que passa a ser nos dias atuais a base do sistema capitalista em que estamos
imersos.
A sobra de produção, apropriada por um único sujeito neste processo caracteriza-se lucro,
permitindo assim que cada sociedade vá criando uma estrutura de diferenciação social que
tem nas condições econômicas de cada indivíduo, o mérito de sua classificação nesta mesma
sociedade. No sistema capitalista, chamamos esta diferenciação de classe social.
Para este pensador esse sistema capitalista é caracterizado por uma estrutura que tem na
propriedade privada (terras- fábricas- posses em geral) e na exploração do trabalho a base de
sua existência, e esta condição, perpetua a divisão social em classes o que dificulta o acesso aos
menos afortunados aos meios de produção e à riqueza produzida através deles, impossibilitando
o acesso a outras classes, perpetuando assim a condição desses sujeitos nas posições em que se
encontram.
Para demonstrar a organização da sociedade capitalista como a percebe, Marx a divide em
estrutura (ou infraestrutura) e superestrutura. Para ele, a estrutura (ou infraestrutura) se dá pela
organização das formas de produção, ou seja, neste sistema, existe uma organização onde uma
39SOCIOLOGIA, ESTUDOS ANTROPOLÓGICOS
E RELAÇÕES ÉTNICO-RACIAIS
classe dominante, detém como posses suas os meios de produção, e outras que não a possuem
dependem da venda de sua força de trabalho para sobreviver.
Como forma de explicar esta apropriação do lucro resultante do trabalho dos operários pelos
proprietários dos meios de produção, Marx desenvolve a teoria da mais valia.
Mas o que é a mais valia?
Muitos autores lançam mão de exemplos simples, mas eficazes para explicar esta teoria.
Boneti (2008 p. 17), afirma que:
Segundo Marx, mais valia se entende como lucro líquido que o proprietário dos
meios de produção tem sobre a aquisição da força de trabalho. Isto é, com algumas
horas de trabalho o trabalhador rende o suficiente para pagar o seu próprio trabalho,
o restante a mais que ele trabalhar seria agora, o que foi chamado por Marx.
Como falamos anteriormente, Marx divide esta organização capitalista em infra e super
estrutura, e o que caracteriza para ele então a super estrutura é justamente esta organização
da sociedade configurada pelas figuras de proprietários e não, dos meios de produção, pela
exploração da força de trabalho pelo capitalismo que ainda, segundo Marx, é perpetuada pela
produção de ideias e ideologias pelo próprio Estado, através de seus aparelhos. A esta organização
ele chama de super. estrutura.
Nesta configuração sinalizada por Marx, o Estado, fonte das aspirações do povo nos regimes
democráticos, ainda assim estaria a serviço das classes dominantes (detentoras dos meios de
produção) e as instituições existentes nela, como é o caso da escola serviria como meio para
perpetuar esta configuração.
É importante pensarmos aqui, que se a escola serve aos interesses das classes dominantes é
também nela que se possibilita a aquisição de conhecimentos suficientes para o questionamento
da própria sociedade. A crítica leva a luta de classes, apontada por Marx em suas obras. Para ele,
na sociedade capitalista, os avanços são possíveis através dos conflitos existentes pelas diferenças
de interesses.
40SOCIOLOGIA, ESTUDOS ANTROPOLÓGICOS
E RELAÇÕES ÉTNICO-RACIAIS
1.11 O AUTOR EM ARTIGO...
Karl Marx
O trabalho de Karl Marx, um dos maiores teóricos da história moderna,
tornou-se um dos pilares para os estudos sociológicos.
Karl Marx (1818-1883) talvez seja um dos teóricos mais citados e discutidos
em nossa história moderna. Suas obras teóricas mais famosas são esforços
monumentais de análise histórica, social e econômica. De tão abrangentes, suas
ideias trouxeram contribuições tanto para a área da Sociologia quanto para a
Economia, Filosofia, História, Ciências Políticas e entre tantas outras.
Karl Marx, Émile Durkheim e Max Weber foram considerados os três pensadores
clássicos, pois seus trabalhos tornaram-se pilares para a construção dos estudos
sociológicos. Assim como Durkheim, o interesse de Marx era entender as
mudanças sociais que testemunhara no decorrer da Revolução Industrial. Ele viu,
em primeira mão, o rápido processo de crescimento das fábricas e da produção
industrial, bem como o consequente crescimento das desigualdades sociais.
Sua relação íntima com os movimentos trabalhistas europeus da época
influenciou seus escritos e a sua abordagem teórica. Embora se dedicasse mais
a temas da área da economia, sua visão abrangente também considerava os
acontecimentos que estavam ligados ao mundo social. Justamente por esse
motivo, seus trabalhos são grandemente utilizados nos estudos sociológicos.
Embora tenha se dedicado ao estudo de diferentes momentos históricos, era
a transição da modernidade que mais lhe interessava. Os fenômenos sociais
que observara eram profundos e complexos, de tal forma que mudaram toda a
estrutura social do mundo europeu e, posteriormente, de todo o resto do mundo.
No entanto, Marx concentrou-se nas mudanças que envolviam o desenvolvimento
do capitalismo dentro do novo contexto que se apresentava. Seu interesse devia-
se às grandes diferenças que o sistema capitalista possuía em relação aos sistemas
de produção que surgiram anteriormente na história humana, pois o foco desse
sistema era a produção em larga escala de bens de consumo.
41SOCIOLOGIA, ESTUDOS ANTROPOLÓGICOS
E RELAÇÕES ÉTNICO-RACIAIS
A relação entre o capitalista e o proletário
Para Marx, um dos pontos principais da questão estava no capital, isto é,
qualquer bem, como dinheiro, máquinas e fábricas, que pudesse ser investido
no intuito de gerar uma maior quantidade de capital. O segundo ponto principal
era o estabelecimento da mão de obra assalariada como regra das relações de
trabalho que se estabeleciam naquele momento. Esse ponto era crucial para Marx
em razão dos impactos causados na vida do trabalhador, que, afastado da terra
em virtude dos processos de cercamento não possuía mais meios de produção
para sua subsistência, sendo, portanto, obrigado a vender a sua força de trabalho
em troca de um salário. Esse seria o início de uma nova relação de exploração, na
qual o capitalista, ou o dono dos meios de produção, estabeleceria uma relação de
dominação sobre o trabalhador, também chamado de proletário.
Nessa perspectiva, Marx enxergava o estabelecimento de uma relação de conflito entre classes: o capitalista era detentor dos meios de produção e obtinha
lucros sobre a produção do proletário, que, por sua vez, possuía pouco poder ou
controle sobre seu trabalho. Marx enxergava nessa relação o surgimento iminente
do conflito entre as classes envolvidas.
Perspectiva materialista da história
Vale salientar outra importante contribuição de Marx para o mundo teórico: a
perspectiva materialista da história. No materialismo histórico, as respostas
para os fenômenos sociais estão inseridas nos meios materiais dos sujeitos. Isso
quer dizer que diferentes situações materiais, o que, em uma sociedade capitalista,
traduz-se em situação econômica, moldam diferentes sujeitos. Essa diferença
seria, para Marx, vetor de conflitos entre grupos de indivíduos submetidos a
realidades materiais diferentes.
Com essa ideia, Marx fez referência ao conflito incessante entre classes, o que julgou
ser “o motor da história”. A preocupação de Marx estava além do estudo dos problemas
das sociedades modernas, pois seu trabalho direcionava-se para a busca de uma lógica
do desenvolvimento humano ao longo da história. Sob essa perspectiva, os modos de
produção de uma sociedade eram determinantes tanto na constituição de sua realidade
social quanto na determinação dos rumos que seu desenvolvimento tomaria.
Fonte: RODRIGUES (2017)
42SOCIOLOGIA, ESTUDOS ANTROPOLÓGICOS
E RELAÇÕES ÉTNICO-RACIAIS
Trocando em miúdos...
Para Marx, são as coisas materiais que movem a sociedade, para ele tudo o que acontece nela
tem a ver com a economia e a produção de bens capitais. Segundo este pensador, quando as
formas de produção são modificadas a sociedade também muda. Com o advento do capitalismo
e a Revolução Industrial, as relações de poder na sociedade transformaram-se muito, novos
embates surgiram nesta forma de organização econômica.
Karl Marx, defendia a ideia que só o homem poderia mudar a sociedade para melhor e que
isso se daria a partir do momento em que ele tomasse sua história nas mãos. Para este pensador,
o homem comum nem sempre mudava o rumo de sua vida, pois herdava dos seus antepassados
estruturas sociais que não o permitia tal ação, deste modo, não só o homem faz a sociedade em
que vive, mas também a sociedade o constrói através das heranças herdadas historicamente
(Materialismo Histórico) essa condição que o indivíduo se encontra na sociedade, segundo Marx,
se dá reciprocamente.
A classe dominante a que Marx denomina de Burguesia, segundo sua lógica, tem maiores
oportunidades de fazer sua história em condições infinitamente melhores, pois tem em seu poder
a economia e a política, ao contrário do proletariado que herda nesta estrutura social quase nada,
apenas a condição de venda de sua força de trabalho, que geralmente é explorada pela burguesia.
Marx aponta que para que haja uma mudança nesta
estrutura, é necessária a uma Revolução, deste modo, a
classe trabalhadora poderia assumir o poder e mudar
o rumo de sua história, através do controle dos meios
de produção e de uma melhor organização política.
Este importante sociólogo defende ainda que através
da conscientização de sua condição de explorado,
o trabalhador deveria mudar a sociedade e suas
estruturas de um regime capitalista vigente para um
socialismo mais justo e próspero. Com o controle total dos meios de produção o proletário dono
da fábrica e sem a instituição da propriedade privada, que neste sistema pertenceriam a todo,
mudariam sua sorte e o destino da humanidade.
43SOCIOLOGIA, ESTUDOS ANTROPOLÓGICOS
E RELAÇÕES ÉTNICO-RACIAIS
Trabalhadores de mundo uni-vos! (Karl Marx)
“Trabalhadores de mundo uni-vos’’ (Karl Marx), é assim que Marx conclama
o proletariado europeu, a luta e a modificação dinâmica e social imposta a partir
da tutela do Estado e de interesses particulares de uma minoria. O manifesto do
partido comunista escrito em 1848 tem em seu cerne o objetivo de mobilização
do operariado. Desta forma foi escrito de maneira militante que se possibilitava
seu pleno entendimento e a idealização completa do ideal ali contido.
O contexto de crise na economia europeia e a constante efervescência social
fizeram do manifesto um folheto político social e ideológico com as bases da
revolução socialista e a tomada de consciência por parte da classe trabalhadora,
segundo Marx elemento principal de mudança da realidade social.
A luta do proletariado deve ser constantemente, a análise materialista histórica
engloba-se em um processo muito maior que nossas vontades... Somos então
englobados em processo de lutas concretas entre dominadores e dominados,
transformações pelas quais irradiam seus reflexos a ideia da dinâmica dos
trabalhadores.
Na teoria marxista o trabalho ocupa posição basilar na relação entre homem
e a natureza intermediada pela técnica diferenciando-os dos demais animais.
Intensificada pelo aumento da distância entre o trabalhador e aquilo que ele
produziu pela alienação, pela qual o trabalhador apenas serve para o meio de
produção estritamente relacionado com a divisão do trabalho social.
Marx encara o trabalho como uma mercadoria com valor de uso e troca
configurando a unidade mais simples o capitalismo. No manifesto os trabalhadores
são levados a mercantilização das relações sociais sejam familiares, afetivas ou
como outros fenômenos de forma especial a exploração e a possibilidade de
mudança.
Fonte: Sociologias (2017)
44SOCIOLOGIA, ESTUDOS ANTROPOLÓGICOS
E RELAÇÕES ÉTNICO-RACIAIS
1.12 MAX WEBER
No ano de 1864, na cidade de Erfurt na Turíngia, nasce Max Weber. Este sociólogo,
como Karl Marx, renegava a ideia de que a sociologia tinha ligação com as ciências
naturais como pensavam os primeiros sociólogos. Weber defendia a ideia de que a análise
da sociedade deveria ser isenta de certos de valores, para ele, o verdadeiro objetivo na
sociologia, deveria ser o entendimento e a identificação das formas de criação das
regras sociais e como elas funcionam na organização das mesmas.
Weber tem como ponto central de sua obra a busca da compreensão das coisas,
principalmente o que ele determina como ação social.
O autor afirma que o que move a sociedade é a ação social, o que vai dar a sua
teoria o nome de “compreensiva”. Para este autor, a ação social é uma sequência de
acontecimentos que têm como início um conjunto de motivações.
Weber afirma ainda que cada ação humana é motivada por um sentido e este é o
responsável pelo processo de uma determinada ação. Para ele, toda ação começa no
individual, para depois ganhar força na coletividade.
Para este pensador, a cultura é fundamental nesse processo e ela deve ser vista como
uma estrutura de símbolos, símbolos estes que, por sua vez, passam a ser mais ou menos
valorados, dependendo da importância dada a eles nesta mesma sociedade. Um exemplo
de símbolo de uma cultura segundo Weber é o ESTADO que, na ótica deste autor, é um
AUTO ATIVIDADE
Responda as questões abaixo e, a partir de suas respostas, elabore um texto posicionando-se a respeito das problemáticas apontadas nas questões.
1- De que forma a teoria de Marx nos ajuda a entender a sociedade contemporânea?
2- A miséria no Brasil e no mundo pode ser pensada como sendo uma das consequências do sistema capitalista? Por quê?
3- Qual a diferença entre Marx e os demais sociólogos vistos até aqui?
45SOCIOLOGIA, ESTUDOS ANTROPOLÓGICOS
E RELAÇÕES ÉTNICO-RACIAIS
símbolo cultural de poder.
Weber em seus estudos desenvolve a TEORIA DA RACIONALIDADE CAPITALISTA por
meio da qual defende a ideia de que os indivíduos podem desenvolver um conjunto de
pensamentos e habilidades para se darem bem nas relações capitalistas da sociedade em
que estão inseridos. Essa condição permite também a eles, segundo Weber, a condição
de desenvolverem uma consciência das possibilidades de ganhos e perdas nas relações
sociais.
Com base na sociedade capitalista americana, Max Weber, escreve sua principal obra
intitulada ÉTICA PROTESTANTE E ESPÍRITO DO CAPITALISMO onde analisa a formação
de uma racionalidade capitalista, criada e incorporada pelos protestantes ingleses depois
das ideias revolucionárias de Martinho Lutero e também na imigração inglesa para a
América do Norte.
Para Weber, uma ação que normalmente surge no âmbito individual, e passa a ter um
sentido cultural para este indivíduo, pode ser absorvida na coletividade e fazer parte de
um pensamento de grupo.
Ao contrário de seus antecessores (Durkheim e Comte) este teórico interpreta a
sociedade não pelos fatos sociais, mas sim pelos indivíduos que nele vivem e pelas ações
que os orientam como suas intenções, motivações, expectativas e valores. Desta forma,
é através da análise dos homens que se pode compreender as instituições que estes
mesmos indivíduos criam na sociedade, como a família, a justiça, a igreja entre outras.
Criador da sociologia compreensiva, Weber propõe entender a sociedade a partir da
análise dos motivos pensados subjetivamente pelos indivíduos em suas ações.
SAIBA MAIS...
Max Weber e o destino do “despotismo oriental”
Sérgio da Mata
Max WEBER. Estudos políticos. Rússia 1905 e 1917. Rio de Janeiro,
Azougue, 2005. 215 páginas.
Por volta de 1905 a atenção de Max Weber gravitava em torno dos colossos
norte-americano e russo. A publicação da segunda parte da Ética protestante
estava concluída, e no ano anterior ele viajara, na companhia de sua esposa
46SOCIOLOGIA, ESTUDOS ANTROPOLÓGICOS
E RELAÇÕES ÉTNICO-RACIAIS
Marianne e de Ernst Troeltsch, para a Exposição Universal em Saint Louis. Foi
forte a impressão que teve dos Estados Unidos, como se pode ver nas longas
cartas reproduzidas na biografia escrita por Marianne. Em 1906, ele publica no
jornal protestante-liberal Christliche Welt um ensaio sobre “Igrejas e seitas na
América do Norte” (WEBER 1973), no qual atribui à ética do puritanismo e das
seitas o ethos liberal daquele país. Esta apreciação remete de forma explícita
aos trabalhos de Georg Jellinek. Em 1895, Jellinek (2003) havia postulado que o
fundamento do liberalismo político norte-americano fora o ideal de liberdade
religiosa trazido pelos colonos protestantes.
Os estudos de Weber sobre a Rússia, publicados na mesma época, trabalham
com uma problemática similar. Para ele, a Alemanha poderia e deveria aprender
com as experiências que se desenrolavam a oeste e a leste. Pois nelas se encerrava,
se assim podemos nos expressar, um dos grandes dilemas da modernidade.
Tratava-se, quanto aos Estados Unidos, da seguinte questão: como não perder a
liberdade a duras penas conquistadas? quanto à Rússia: como inventá-la?
O interesse de Weber pela Rússia vinha de longe. Ele estava bastante
familiarizado com a literatura de Dostoiévski e Tolstói, bem como com os escritos
do filósofo Vladimir Soloviev. Em 1912, chegaria a anunciar, em carta, o desejo de
escrever um livro (o que nunca chegou a ocorrer) sobre a ética em Tolstói.
Foi provavelmente por meio de Theodor Kistiakovski, professor de filosofia do
direito em Heidelberg, que Weber estreitou seus laços com inúmeros estudantes
russos. Ele simpatizava com a plataforma dos kadets (constitucional-democratas)
e abriu-lhes espaço no Archiv für Sozialwissenschaft. Quando o “domingo
sangrento” precipita os acontecimentos na Rússia, Weber passa a acompanhar
atentamente a imprensa daquele país, pois considerava demasiado hostil a
cobertura dos jornais alemães (MOMMSEN 1997).
Antes, porém, de abordarmos os textos propriamente ditos, algumas palavras
sobre esta edição brasileira. O volume é precedido de um extenso ensaio
introdutório do tradutor, Maurício Tragtenberg. Na sua apresentação, situa com
maestria os ensaios no quadro mais amplo dos textos políticos e dos estudos
sociológicos de Weber. Trata-se de um esforço que, por si só, merece um lugar à
parte na história da recepção do pensamento weberiano no Brasil.
A tradução realizada por Tragtenberg, em meio à década de 1980, certamente
não foi fruto de uma curiosidade informada por razões puramente teóricas. Num
47SOCIOLOGIA, ESTUDOS ANTROPOLÓGICOS
E RELAÇÕES ÉTNICO-RACIAIS
momento em que a sociedade civil brasileira pôde dar início a uma gradativa
recomposição de seus espaços de participação política (mas que à época nenhum
analista sensato se arriscava a considerar irreversível), não deixava de ser
particularmente oportuno conhecer mais de perto a experiência russa de início
de século XX – também ela marcada por aquilo que Jessé Souza chamou de
“modernização seletiva”. Uma modernização confrontada com a persistência de
um sistema político não apenas autocrático, mas (no entendimento de Weber)
anacrônico.
Contudo, parte significativa do empreendimento de Weber permanece
ainda inédita em português, uma vez que se tomou por base a versão editada
por Johannes Winckelmann. As diferenças em relação aos textos originais são
enormes. Basta dizer que o primeiro dos estudos do volume (“A situação da
democracia burguesa na Rússia”) teve sua extensão praticamente reduzida à
metade por Winckelmann. Das mais de noventa notas inseridas por Weber
chegaram-nos apenas cinco, sendo apenas três delas da pena do próprio autor.
Desnecessário dizer que, com isso, se perde muita coisa importante. Na primeira
nota do original, o autor adverte que sequer reclama para si um conhecimento
aprofundado da situação da Rússia. Ele pretende apenas oferecer um substituto
temporário para um “relato político-social sério” da Revolução de 1905. Weber
caracteriza seu artigo como “notas ao estilo de crônicas” (chronikartige Notizen).
Uma verdadeira história dos acontecimentos só poderia ser escrita, afirma, depois
de reunida grande quantidade de documentos escritos, aos quais o pesquisador
ocidental ainda não tinha acesso. Limitemo-nos, em todo caso, ao texto tal como
foi posto à disposição do leitor brasileiro. Em “A situação da democracia burguesa
na Rússia”, Weber discute o projeto de constituição elaborado por Piotr Struve,
um ex-marxista convertido ao liberalismo e discípulo de Jellinek (Struve havia
inclusive publicado no Archiv). Toda a discussão se dá em torno de uma tríade:
a situação das forças políticas liberais, a crise do regime político czarista e as
reivindicações do campesinato.
Eis uma consideração surpreendente para um autor que ainda se definia, em
grande medida, como historiador: “com exceção da Igreja e das comunidades
camponesas [...], não existe [na Rússia] mais nada de ‘histórico’” (WEBER p.51).
O regime czarista fazia lembrar a monarquia de Diocleciano. Essa propensão a
julgar a-históricas as estruturas social e política da Rússia não era exatamente
incomum na Alemanha. Engels havia manifestado opinião semelhante. Aquilo
48SOCIOLOGIA, ESTUDOS ANTROPOLÓGICOS
E RELAÇÕES ÉTNICO-RACIAIS
que os fundadores do materialismo histórico denominaram “despotismo oriental”
era também objeto de preocupação para Weber – que, curiosamente, manteria
sua opinião a respeito do suposto imobilismo russo. Em uma participação oral
no primeiro congresso alemão de sociologia, Weber (1988, p. 468) afirma que o
cristianismo russo mantivera basicamente as mesmas feições do cristianismo
antigo. Portanto, era em “ambiente ainda arcaico” (WEBER p. 144) que se tentavam
implantar reformas de cunho liberalizante.
Weber avalia as possibilidades dos reformistas a partir da confluência de
distintas forças sociais e econômicas favoráveis: os zemstvos (conselhos comunais
criados por Alexandre II), o desenvolvimento do capitalismo e a organização
crescente dos partidos liberais. Ele se detém sobre a legislação eleitoral antes
da convocação da Duma, em maio de 1906. E antevê a radicalização do processo
político: diante da perspectiva de forte presença da representação camponesa e
dos diversos segmentos da esquerda russa, Weber mantém-se pessimista, pois
considera que a massa popular “ainda não possui formação política” (WEBER p.
62). Da visão mística de Soloviev sobre a “missão” do povo russo à ética heroica de
Tolstói, do radicalismo da esquerda revolucionária à intransigência da burocracia
czarista, tudo isso lhe parecia configurar um quadro em que o exercício de uma
Realpolitik era virtualmente impossível.
Dada a fragilidade da incipiente burguesia russa, o campesinato tornara-
se o fiel da balança. O “radicalismo furioso das massas” rurais (WEBER p. 77)
alimentava-se do avanço do capitalismo no campo e mesmo da redistribuição de
terras: “a execução do programa de reforma agrária dos democratas burgueses
viria a dar [...] um enorme impulso ao ‘espírito’ do comunismo agrário e do
socialismo agrário entre os camponeses” (WEBER p. 79). Ademais, o forte
sentimento antiburocrático do campesinato conduzia a Rússia a outro dilema. As
massas rurais aparentemente dispunham-se a aceitar a parlamentarização, mas
não o aumento do peso do aparato burocrático por ela acarretada. Mais ainda:
nada poderia garantir que, de um momento para o outro, seu radicalismo político-
social não se transformasse em reacionarismo.
Weber não acreditava que os marxistas pudessem encontrar uma solução para
a questão agrária e nada lhe sugeria que na Rússia de então houvesse “estadistas”
à altura da crise (WEBER. P 99). A missão dos liberais consistiria em lutar contra
o centralismo e difundir entre as massas o individualismo e a noção de direitos da
pessoa. Por outro lado, tais valores tinham a ingrata tarefa de se impor a despeito
49SOCIOLOGIA, ESTUDOS ANTROPOLÓGICOS
E RELAÇÕES ÉTNICO-RACIAIS
do desenvolvimento econômico capitalista. Weber é cético com relação ao futuro
da democracia. “Todos os barômetros da economia”, afirma ele, “preveem o
aumento das restrições à liberdade” (WEBER. P 103). A grande questão que se
colocava era, pois, a seguinte: “como é ‘possível’ a persistência da democracia e
da liberdade sob o domínio do alto capitalismo?” (WEBER. P 104).
O complexo de causas que explicariam a gênese histórica da nossa noção de
liberdade teria se dado apenas uma vez na história. Tais condições, consideradas
irrepetíveis por Weber, seriam as seguintes: a facilidade de difusão de (e a abertura
para) novas ideias no contexto da expansão ultramarina dos séculos XV a XVII,
as características próprias da estrutura econômico-social europeia na época da
aurora do capitalismo, o domínio da ciência sobre a vida e, enfim, determinadas
concepções de valor originadas no mundo das representações religiosas. Ainda
assim, Weber acreditava que valia a pena acompanhar de perto as experiências
norte-americana e russa. Elas seriam as “‘últimas’ oportunidades para construir
culturas ‘livres’, começando pelos ‘alicerces’” (WEBER. P 108).
Weber acertou em sua previsão de que a situação política russa tendia à
radicalização. As pressões da Duma pela libertação dos presos políticos, pelo direito
à sindicalização e pela reforma agrária levaram o Czar a dissolver o parlamento
em julho de 1906. Em agosto, Weber publica “A transição da Rússia a um regime
pseudoconstitucional”, em que dá continuidade à “crônica” iniciada no artigo
anterior. Uma nova variável passa a ser considerada: a interferência do capital
financeiro no processo revolucionário. Três décadas antes, Engels (1962, p. 567) já
havia observado que “as finanças [do Estado russo] estão arruinadas”. Weber faz
um diagnóstico idêntico, mostrando como tal situação levou a uma dependência
crescente do Czar em face dos bancos estrangeiros, o que, em contrapartida,
lhe permitia manter-se insensível às demandas da burguesia russa e dos que a
representavam na Duma. Assim, a abertura política prometida pelo manifesto de
17 de outubro foi simplesmente jogada no lixo por Nicolau II. A “racionalização
burocrática definitiva de todo o campo da política interna” (WEBER. P 130) serviria
ainda menos à causa da liberdade. Diante de um “absolutismo burocraticamente
racionalizado”, mesmo a estratégia do terrorismo de setores da esquerda estava
fadada ao fracasso (WEBER. p.136).
A questão-chave era, para Weber, o problema agrário. A reforma agrária, tal
como vinha sendo reclamada pelos camponeses, seria simplesmente irrealizável.
As “estatísticas” demonstravam que “não havia tantas terras assim” (WEBER.
50SOCIOLOGIA, ESTUDOS ANTROPOLÓGICOS
E RELAÇÕES ÉTNICO-RACIAIS
P 152). Somente um regime despótico, e que gozasse de finanças saudáveis,
estaria em condições de eliminar as oposições à reforma agrária. Weber descarta
a possibilidade de desapropriação forçada. O bom senso faltaria a todos, dos
kadets à esquerda revolucionária. Julgar que os camponeses poderiam realizar
esta reforma por si sós não passava de “auto-ilusão” (WEBER. pp 156-157). Em
inúmeras passagens Weber revela sua crença de que somente uma liderança
carismática – um “parvenu genial” (WEBER. p. 157) – estaria em condições de
restaurar a ordem, pacificar o ambiente político e constituir as bases a partir das
quais poderia surgir uma “nova Rússia”.
Em março de 1906, ficava claro que o governo estava encurralado. A “democracia
ideológica” estava eliminada e Nicolau II, a quem Weber não poupa em momento
algum, se rendera ao poder dos bancos. Somente dessa forma se explica, acredita
Weber, que as forças da reação tenham evitado a invenção da liberdade na Rússia.
A Duma teve, aos seus olhos, um desempenho surpreendentemente positivo:
“não existe nenhum parlamento do mundo que tenha realizado tanto em tão
pouco tempo” (WEBER.p.175). Sua dissolução significava apenas o adiamento de
uma verdadeira solução do dilema russo. Embora não dispusessem do “charme”
das primeiras revoluções burguesas, ainda assim os acontecimentos de 1905
eram dignos de admiração. Afinal, “jamais se viu tamanha prontidão para o
martírio” (WEBER.p.184). A comparação com outras revoluções revelava uma
outra diferença que Weber acreditava ser fundamental (e o fato de ele insistir
repetidas vezes nesse ponto é bastante revelador em si mesmo): a ausência de
uma liderança carismática à altura das exigências históricas do momento. Na
Rússia faltariam “líderes realmente grandes”, “grandes personalidades” (WEBER
.pp.181-182). É evidente que ele não os reconhece entre os líderes da esquerda,
e muito menos entre os bolcheviques, o que pode ser atribuído tanto às suas
posições políticas pessoais quanto – é a tese de Mommsen – à sua convicção de
que a Alemanha vivia uma situação análoga neste particular.
O último ensaio do volume (“A transição da Rússia à pseudodemocracia”) é,
de longe, o menos inspirado. Aparentemente, a revolução de fevereiro de 1917
pegou nosso autor de surpresa. Como a maioria dos observadores, à exceção
dos marxistas, uma solução de tipo não-burguês lhe parecia improvável. Ele
chegou a admitir que haveria, entre os novos governantes, “chefes hábeis e pelo
menos parcialmente desprendidos” (WEBER, p.190), mas o problema era que o
governo provisório não dispunha de crédito no exterior – fragilidade que Weber
considerava fatal.
51SOCIOLOGIA, ESTUDOS ANTROPOLÓGICOS
E RELAÇÕES ÉTNICO-RACIAIS
O leitor se surpreende por não encontrar uma apreciação, por ligeira que seja,
da situação do proletariado russo. Nem mesmo os soviets são mencionados. É
ainda o campesinato o ator social em que Weber concentra sua atenção. Para ele,
não havia paz à vista entre Rússia e Alemanha (àquela altura, não lhe escapava
que seu país caminhava a passos largos para a derrota na guerra). Pois o interesse
principal dos novos governantes russos consistia em manter os camponeses
longe de casa. O campesinato também não deveria esperar muito dos operários.
Na avaliação de Weber, a vitória dos primeiros poderia significar um atraso no
desenvolvimento industrial russo. Ao fim e ao cabo, fevereiro de 1917 não seria
uma revolução, mas o mero desligamento de um monarca incapaz (WEBER,
p.207).
Em que pesem as fragilidades de sua crônica política, nos artigos de Weber não
falta, como sempre, o lampejo da intuição genial. Para um homem que se inteirava
do que ocorria na Rússia unicamente através da imprensa e de seus contatos
pessoais, o resultado inegavelmente impressiona. Somos tentados a imaginar
como Weber pensaria hoje o dilema russo, de vez que, exatos cem anos depois,
este não parece completamente solucionado. Talvez seja oportuno acrescentar
que, em várias outras partes do mundo, a necessidade de invenção da liberdade
e de superação do “despotismo oriental” continua a reclamar observadores do
mesmo quilate.
Referências
BELKIN, D. Die Rezeption V. S. Solov’evs in Deutschland. Tese de doutorado. Eberhard-
Karls-Universität zu Tübingen, datilo, 2000.
DOSTOIEVSKI, F. Journal d’un écrivain. Paris, E. Fasquelle, 1904.
ENGELS, F. Soziales aus Russland, in Marx-Engels Werke, Berlin, Dietz, v. 18, 1962.
JELLINEK, G. La declaración de los derechos del hombre y del ciudadano. México,
Universidad Autónoma de México, 2003.
MATA, S. da. Max Weber e a ciência histórica. Teoria & Sociedade, (número especial):
150-171, maio, 2005.
MOMMSEN, W. Max Weber and the regeneration of Russia. Journal of Modern History,
v. 69, n.1, p. 1-17, 1997.
52SOCIOLOGIA, ESTUDOS ANTROPOLÓGICOS
E RELAÇÕES ÉTNICO-RACIAIS
WEBER, M. Soziologie. Universalgeschichtliche Analysen. Politik. Stuttgart, Kröner, 1973.
_________. Gesammelte Aufsätze zur Soziologie und Sozialpolitik. Tübingen, J. C. B.
Mohr, 1988.
Fonte: Mata (2006)
SAIBA MAIS!
VÍDEO
Assista ao filme Germinal e através do conteúdo apresentado no mesmo, relacione o seu contexto à
situação apresentada por Karl Marx e Max Weber quanto à exploração da mão de obra no sistema capitalista em vigência até hoje. Faça uma lista de observações das situações apresentadas no filme e relacione as conhecidas por você em seu cotidiano. Após seu trabalho realizado, poste o mesmo no fórum aberto pelo professor em nosso ambiente virtual. Boa atividade!
53SOCIOLOGIA, ESTUDOS ANTROPOLÓGICOS
E RELAÇÕES ÉTNICO-RACIAIS
A SOCIOLOGIA CONQUISTA A MATURIDADE
2 PIERRE BOURDIE
Dentre os sociólogos contemporâneos e suas preocupações sociais, destaca-se Pierre Bourdie
e seus estudos teóricos. Nascido na localidade de Deguin, no sul da França na década de 30,
Bourdie forma-se em filosofia, disciplina esta que mais tarde leciona na conceituada Sorbonne,
o que antecede sua direção dos estudos na École Dês Hautes Études en Sciences Sociales de
Paris. Bourdie fica conhecido nos círculos acadêmicos e científicos por seus estudos sobre os
mecanismos de construção das desigualdades sociais.
Pierre Bourdie é identificado na Academia como sendo “neomarxista”, pois suas teorias têm
origem no materialismo histórico de Marx, mas Bourdie vai além e tem em Max Weber outra
fonte de inspiração, dando ênfase às funções sociais dos símbolos (cultura – escola – patriotismo,
etc.) os quais ficam evidentes em sua sociologia.
Segundo Rodrigues (2001, p. 84):
Para levar a cabo a ambição de Durkheim de unificar as ciências humanas em torno
da sociologia, Bourdie introduziu uma síntese teórica entre o modelo durkheimiano
e o estruturalismo. O estruturalismo se conecta à sociologia de Durkheim na medida
em que pretende desvendar justamente o peso das estruturas sociais por trás das
ações do sujeito. Na verdade, trata-se aqui de uma versão mais radical do modelo de
UNIDADE II
54SOCIOLOGIA, ESTUDOS ANTROPOLÓGICOS
E RELAÇÕES ÉTNICO-RACIAIS
Durkheim, que leva às últimas consequências o ponto de partida, segundo o qual, os
indivíduos estão submetidos ao controle das estruturas da sociedade.
Na obra “A Reprodução” Bourdie junto a Passeron3 fazem análises de como se
reproduzem as condições sociais através da escola, da cultura e dos saberes das classes
dominantes, proporcionando a dominação e legitimando a desigualdade própria do
capitalismo.
Nas décadas de 70 e 80, Bourdie configurou-se como um dos principais teóricos da
sociologia, com forte influência por seus estudos na educação.
A parceria com Jean-Claude Passeron rende um livro que tenta desmistificar a ideia de
que os estudantes e todo o meio estudantil configuravam uma classe a parte na sociedade
da época, e por sua juventude, cultura e capacidade de ação e liderança.
Poderiam promover a transformação social.
No livro chamado Os Herdeiros, Bourdie junto a Passeron refutam o discurso de que
a implantação de uma escola para todos, igualitária, possibilitaria o pleno democrático
desenvolvimento das potencialidades humanas, como bons críticos sociais. Esses autores
evidenciam o que as escolas realizam por trás de sua suposta neutralidade, segundo
eles: A Reprodução” das relações sociais e do poder vigente. Para eles é impossível com
essa estrutura escolar de reprodução romper com a triagem e seleção dos sujeitos para
ocuparem suas posições em classes sociais distintas.
Para saber mais...
Campo e Habitus
Campo
O social objetivado – indivíduos, grupos, classes
Habitus
Conjunto de disposições duradouras que determinam o pensar, sentir, atuar.
Como se constitui o campo?
Campos são espaços estruturados de posições, espaços de jogo historicamente constituídos com suas instituições específicas e leis de
funcionamento.
3 Jean Claude Passeron também professor da École des hautes études en sciences sociales. Faz várias parcerias com Pierre Bourdieu dentre elas, escreve a obra La Reproduction, que é publicada em 1970. No Brasil a obra recebe o título de A reprodução: elementos para um teoria geral do sistema de ensino, publicada pela editora Francisco Alves em 1975.
55SOCIOLOGIA, ESTUDOS ANTROPOLÓGICOS
E RELAÇÕES ÉTNICO-RACIAIS
Como se constitui o Habitus?
Surge como produto da coação das estruturas sociais, importa a posição que cada agente ocupa no espaço social e em cada campo.
Pense nisso!!!!
• No campo da cultura, que lugar ocupam os meios de comunicação?
• No campo econômico que lugar ocupam os organismos internacionais?
• No campo da educação, que lugar ocupam os alunos?
Em cada campo, como espaço de luta, há relações de força, posições e interesses em jogo.
2.1 O SOCIÓLOGO EM ARTIGO
Pierre Bourdieu, o investigador da desigualdade
O sociólogo francês detectou mecanismos de conservação e reprodução em
todas as áreas da atividade humana, entre elas, o sistema educacional.
Embora a maioria dos grandes pensadores da educação tenha desenvolvido
suas teorias com base numa visão crítica da escola, somente na segunda metade do
século XX surgiram questionamentos bem fundamentados sobre a neutralidade
da instituição. Até ali a instrução era vista como um meio de elevação cultural
mais ou menos à parte das tensões sociais. O francês Pierre Bourdieu (1930-2002)
empreendeu uma investigação sociológica do conhecimento que detectou um
jogo de dominação e reprodução de valores.
Suas pesquisas exerceram forte influência nos ambientes pedagógicos nas
décadas de 1970 e 1980. “Desde então, as teorias de reprodução foram criticadas
por exagerar a visão pessimista sobre a escola”, diz Cláudio Martins Nogueira,
professor da Universidade Federal de Minas Gerais. “Vários autores passaram a
mostrar que nem sempre as desigualdades sociais se reproduzem completamente
na sala de aula.” Na essência, contudo, as conclusões de Bourdieu não foram
contestadas.
Na mesma época em que as restrições a sua obra acadêmica se tornaram
mais frequentes, a figura pública do sociólogo ganhou notoriedade pelas críticas
à mídia, aos governos de esquerda da Europa e à globalização. Ele costuma ser
incluído na tradição francesa do intelectual público e combativo, a exemplo do
56SOCIOLOGIA, ESTUDOS ANTROPOLÓGICOS
E RELAÇÕES ÉTNICO-RACIAIS
escritor Émile Zola (1840-1902) e do filósofo Jean Paul Sartre (1905-1980).
VALORES INCORPORADOS
O livro A Reprodução (1970), escrito em parceria com Jean-Claude Passeron,
analisou o funcionamento do sistema escolar francês e concluiu que, em vez
de ter uma função transformadora, ele reproduz e reforça as desigualdades
sociais. Quando a criança começa sua aprendizagem formal, segundo os autores,
é recebida num ambiente marcado pelo caráter de classe, desde a organização
pedagógica até o modo como prepara o futuro dos alunos.
Para construir sua teoria, Bourdieu criou uma série de conceitos, como habitus
e capital cultural. Todos partem de uma tentativa de superação da dicotomia entre
subjetivismo e objetivismo. “Ele acreditava que qualquer uma dessas tendências,
tomada isoladamente, conduz a uma interpretação restrita ou mesmo equivocada
da realidade social”, explica Nogueira. A noção de habitus procura evitar esse
risco. Ela se refere à incorporação de uma determinada estrutura social pelos
indivíduos, influindo em seu modo de sentir, pensar e agir, de tal forma que
se inclinam a confirmá-la e reproduzi-la, mesmo que nem sempre de modo
consciente.
Um exemplo disso: a dominação masculina, segundo o sociólogo, se mantém
não só pela preservação de mecanismos sociais, mas pela absorção involuntária,
por parte das mulheres, de um discurso conciliador. Na formação do habitus,
a produção simbólica - resultado das elaborações em áreas como arte, ciência,
religião e moral - constitui o vetor principal, porque recria as desigualdades de
modo indireto, escamoteando hierarquias e constrangimentos.
Assim, estruturas sociais e agentes individuais se alimentam continuamente
numa engrenagem de caráter conservador. É o caso da maneira como cada
um lida com a linguagem. Tudo que a envolve - correção gramatical, sotaque,
habilidade no uso de palavras e construções etc. - está fortemente relacionado
à posição social de quem fala e à função de ratificar a ordem estabelecida. Para
Bourdieu, todas essas ferramentas de poder são essencialmente arbitrárias, mas
isso não costuma ser percebido. “É necessário que os dominados as percebam
como legítimas, justas e dignas de serem utilizadas”, afirma Nogueira.
57SOCIOLOGIA, ESTUDOS ANTROPOLÓGICOS
E RELAÇÕES ÉTNICO-RACIAIS
CAPITAL CULTURAL
Outro conceito utilizado por
Bourdieu é o de campo para designar
nichos da atividade humana nos quais
se desenrolam lutas pela detenção do
poder simbólico, que produz e confirma
significados. Esses conflitos consagram
valores que se tornam aceitáveis pelo
senso comum. No campo da arte, a
luta simbólica decide o que é erudito
ou popular, de bom ou de mau gosto.
Dos elementos vitoriosos, formam-se o
habitus e o código de aceitação social.
Os indivíduos, por sua vez, se
posicionam nos campos de acordo com o
capital acumulado - que pode ser social,
cultural, econômico e simbólico. O capital social, por exemplo, corresponde à rede
de relações interpessoais que cada um constrói, com os benefícios ou malefícios
que ela pode gerar na competição entre os grupos humanos. Já na educação se
acumula, sobretudo, capital cultural, na forma de conhecimentos apreendidos,
livros, diplomas etc.
Protesto em Seattle em 1999: nova ordem vista como excludente.
Com os instrumentos teóricos que criou, Bourdieu afastou de suas análises a
ênfase central nos fatores econômicos - que caracteriza o marxismo - e introduziu,
para se referir ao controle de um estrato social sobre outro, o conceito de violência
simbólica, legitimadora da dominação e posta em prática por meio de estilos de
vida. Isso explicaria por que é tão difícil alterar certos padrões sociais: o poder
exercido em campos como a linguagem é mais eficiente e sutil do que o uso da
força propriamente dita.
Escola de filhos de imigrantes ilegais na França: desigualdade tende a se
reproduzir.
58SOCIOLOGIA, ESTUDOS ANTROPOLÓGICOS
E RELAÇÕES ÉTNICO-RACIAIS
OS SUTIS ARTIFÍCIOS DE PERPETUAÇÃO.
Para Bourdieu, a escola
é um espaço de reprodução
de estruturas sociais e de
transferência de capitais de
uma geração para outra. É
nela que o legado econômico
da família transforma-se
em capital cultural. E este,
segundo o sociólogo, está
diretamente relacionado ao desempenho dos alunos na sala de aula. Eles tendem
a ser julgados pela quantidade e pela qualidade do conhecimento que já trazem de
casa, além de várias “heranças”, como a postura corporal e a habilidade de falar em
público. Os próprios estudantes mais pobres acabam encarando a trajetória dos
bem-sucedidos como resultante de um esforço recompensado. Uma mostra dos
mecanismos de perpetuação da desigualdade está no fato, facilmente verificável,
de que a frustração com o fracasso escolar leva muitos alunos e suas famílias a
investir menos esforços no aprendizado formal, desenhando um círculo que se
auto-alimenta. Nos primeiros livros que escreveu, Bourdieu previa a possibilidade
de superar essa situação se as escolas deixassem de supor a bagagem cultural que
os alunos trazem de casa e partissem do zero. Mas, com o passar do tempo, o
pessimismo foi crescendo na obra do sociólogo: a competição escolar passou a
ser vista como incontornável.
BIOGRAFIA
Pierre Bourdieu nasceu em 1930 no vilarejo de Denguin, no sudoeste da
França. Fez os estudos básicos num internato em Pau, experiência que deixou
nele profundas marcas negativas. Em 1951 ingressou na Faculdade de Letras, em
Paris, e na Escola Normal Superior. Três anos depois, graduou-se em filosofia.
Prestou serviço militar na Argélia (então colônia francesa), onde retomou a
carreira acadêmica e escreveu o primeiro livro, sobre a sociedade cabila. De volta
à França, assumiu a função de assistente do filósofo Raymond Aron (1905-1983)
na Faculdade de Letras de Paris e, simultaneamente, filiou-se ao Centro Europeu
de Sociologia, do qual veio a ser secretário-geral. Bourdieu publicou mais de
300 títulos, entre livros e artigos. Fundou as publicações Actes de la Recherche
59SOCIOLOGIA, ESTUDOS ANTROPOLÓGICOS
E RELAÇÕES ÉTNICO-RACIAIS
en Sciences Sociales e Liber. Em 1982, propôs a criação de uma “sociologia da
sociologia” em sua aula inaugural no Collège de France, levando esse objetivo
em frente nos anos seguintes. Quando morreu de câncer, em 2002, foi tema de
longos perfis na imprensa europeia. Um ano antes, um documentário sobre ele,
‘Sociologia é um Esporte de Combate’, havia sido um sucesso inesperado nos
cinemas da França. Entre seus livros mais conhecidos estão A Distinção (1979),
que trata dos julgamentos estéticos como distinção de classe, Sobre a Televisão
(1996) e Contrafogos (1998), a respeito do discurso do chamado neoliberalismo.
A GLOBALIZAÇÃO E OS DESCONTENTES
Bourdieu tornou-se ideólogo e símbolo dos protestos contra a globalização
econômica e cultural, sobretudo, depois do lançamento, em 1993, do livro ‘A Miséria
do Mundo’. Ele assumiu um papel ativo de apoio à greve do servidores franceses,
em 1995 e 1996, por julgar que ela representava um sinal de resistência do espírito
público contra as privatizações. Desde então, posicionou-se fortemente contra
a tendência política neoliberal e todas as outras que considerava aparentadas
a ela, incluindo a linha de moderação adotada pelos partidos de esquerda que
chegaram ao poder na Europa. Grupos movidos por insatisfação semelhante à de
Bourdieu amplificaram seus protestos durante a reunião da Organização Mundial
do Comércio em Seattle, nos Estados Unidos, em 1999, dando origem ao Fórum
Social Mundial de Porto Alegre. Com suas críticas a uma ordem que considerava
excludente, Bourdieu centrou fogo contra os meios de comunicação, que acusava
de renderem-se à lógica do comércio e produzirem lixo cultural em larga escala.
Fonte: Revista Escola (2017a)
2.2 ANTÔNIO GRAMSCI
A Europa ainda observa o surgimento de vários pensadores da sociedade contemporânea
quando, na Itália, mesmo sem ter publicado um único livro, Antônio Gramsci (1891-1937) deixa
como fruto de seu longo período na prisão do regime fascista italiano de Mussolini, uma obra
importantíssima que representa uma possibilidade fantástica de reflexão sociológica da sociedade
60SOCIOLOGIA, ESTUDOS ANTROPOLÓGICOS
E RELAÇÕES ÉTNICO-RACIAIS
contemporânea. Os cadernos de cárcere demonstram toda a capacidade deste pensador em
adequar às inspirações marxistas as características e problemas da sociedade europeia capitalista
do início do século XX.
Gramsci defende a ideia de que a obra de seu antecessor Marx pensava as concepções da
sociedade capitalista do século XIX, e que novos enfoques deveriam ser dados, ao analisar as
sociedades de forte capitalismo já existentes na primeira metade do século XX. Este pensador
diferencia politicamente o Oriente do Ocidente, para ele o ORIENTE é formado por países onde
o “Estado” concentra em suas políticas geralmente autorizadas todo o poder e de decisão sobre a
sociedade, nesta perspectiva, ele aponta que a sociedade civil é fraca e pouco organizada, assim,
nesta configuração é pouco provável qualquer relação contra esse poder, o que se possível só
aconteceria através de uma revolução armada.
Já o ocidente, para este pensador, é uma sociedade civil organizada que apresenta a configuração
deste sistema, dividindo com o Estado e as estruturas políticas a administração e organização da
vida em sociedade. Esta forma de organização social permite, segundo Gramsci, uma divisão do
poder que além do governo também pode ser notado nas empresas, clubes, partidos políticos, na
cultura e demais instituições sociais.
Através desta divisão, Gramsci não descarta a dominação entre as classes, mas aponta que não
é possível hoje mudar a situação apenas através da insurreição contra o Estado, é preciso muito
mais, é preciso fazer uma revolução no cotidiano das pessoas. É na sociedade que se deve fazer
política e nela, deve perceber todos os espaços de poder disponíveis.
Não é só através da força que se muda, mas também através da conquista da consciência das
pessoas.
Esta convicção de Gramsci nos mostra que não é suficiente como defendia Marx eliminar
apenas a apropriação desigual dos meios de produção econômica, é preciso lutar também contra
a apropriação privada do saber, da cultura ou de todo e qualquer modo de conhecimento.
Acabar com a possibilidade de diferenciação do capital intelectual, da aquisição do
conhecimento científico, para Gramsci acabaria com a dominação de uma classe sobre outra, pois
para ele neste tipo de sociedade é para os intelectuais que são destinados os melhores empregos e
cargos nas organizações políticas no Estado.
61SOCIOLOGIA, ESTUDOS ANTROPOLÓGICOS
E RELAÇÕES ÉTNICO-RACIAIS
Diferente de outros pensadores anteriores há seu tempo Gramsci mostra que existe uma
luta constante pela hegemonia, pelo poder entre as diversas classes sociais, e nessa luta muitas
vezes passa a existir uma convergência de ideais interesses, proporcionando alianças internas,
Gramsci dá a essas alianças o nome de blocos ou blocos históricos, pois para ele esses interesses
são construídos historicamente.
Nessa luta de classes constante, cada bloco conta com seus argumentos e lança mão de seus
intelectuais para justificarem suas ações, a esses intelectuais cabe a função de organizar sua
cultura conforme seus interesses.
VOCÊ PRECISA SABER...
Para este pensador existem, na verdade, alguns tipos de intelectuais, mas
ele classifica como sendo tipos principais nessa classificação, os dois tipos
apresentados abaixo.
SAIBA MAIS!
A este processo lento e complexo de luta pelo poder político nas sociedades complexas, Gramsci chama de disputa pela hegemonia. Para chegar ao poder não basta ganhar a eleição ou dar um golpe de Estado, diz ele. É preciso, repito, ganhar a batalha do convencimento, obter um consenso social em torno de suas concepções. O pensador
florentino Nicolo Maquiavelli, no século XVI, já havia ensinado, em sua célebre obra chamada ‘O Príncipe’, que quando o soberano obtém seu poder mas pelo amor que o povo tem a ele do que pelo medo que tem de sua força, a conquista é mais duradoura. É melhor ser amado que temido, ensinou Maquiavelli. É preciso mais convencimento do que força, é preciso ser hegemônico, confirma Gramsci.
Ora, se para conquistar a hegemonia política e ideológica é necessário “ganhar a batalha das ideias”, evidentemente os intelectuais desempenham um papel-chave nesse processo. Pois os intelectuais organizam a cultura. Eles definem os parâmetros pelos quais os homens concebem o mundo em que vivem, veem a divisão de poder e de riqueza de sua sociedade, e também definem se os homens percebem como justa ou injusta essa situação. É por esta razão que o processo de eliminação de toda desigualdade e de toda injustiça, segundo Gramsci, passa por uma “reforma intelectual e moral”. Ao próprio partido político moderno, que é um dos atores principais dessa luta, ele chama de “intelectual coletivo” aquele que atua no sentido de reformar as mentalidades, as concepções de mundo e, portanto, no sentido da conquista da hegemonia.
Fonte: Cunha (2010)
62SOCIOLOGIA, ESTUDOS ANTROPOLÓGICOS
E RELAÇÕES ÉTNICO-RACIAIS
*Intelectual orgânico.
Esse tipo de intelectual, está ligado aos interesses de classes que estão chegando
ao poder, elas surgem para dar hegemonia e criar uma concepção de mundo que
interessa a esta classe, a esse intelectual cabe a função de criar uma consciência a
esse grupo.
Na burguesia e nas classes dominantes em geral existem esse tipo de intelectual
e seu trabalho permite que todos pensem com a cabeça da classe dominante,
principalmente os dominados que sem perceberem cumprem suas funções sem
questionar ou causarem maiores problemas.
Mas não pensem que essa relação se dá assim tão facilmente e sem conflitos,
os dominados também possuem seus intelectuais que constantemente buscam
apontar a dominação imposta à classe trabalhadora e caminhos a inversão dessa
condição de dominado.
*Intelectual tradicional.
Esse tipo de intelectual em tempos passados já foram intelectuais orgânicos, já
serviram em algum momento à classes que já estiveram no poder.
Na idade média o que legitimava o poder real era o clero, exercendo a ação de
intelectualidade orgânica, com a decência e total fim deste tipo de classe, esse
tipo “tradicional” de intelectualidade não acabou, apenas encontrou outro meio
para sua ação, é na política ainda, mas de forma independente, conservando a
tradição que ela de forma conservadora, traça alianças com as classes dominantes
do presente.
Muito bem, essas duas tipologias não existem segundo Gramsci por acaso, elas servem a uma
função, uma luta pela hegemonia e poder, elas são instrumentos para consolidar um pensamento
coletivo, um consenso em torno das ideias dessas classes que buscam se perpetuarem no poder.
No passado distante, eram os que tinham algum tipo de conhecimento mais elaborado, os que
comandavam, na idade média o clero conseguiu impor suas ideias e comandar junto à monarquia
pelo seu total domínio da produção cultural existente.
E hoje, onde são formados os intelectuais? Parece óbvio a resposta, é na escola que essa ação
63SOCIOLOGIA, ESTUDOS ANTROPOLÓGICOS
E RELAÇÕES ÉTNICO-RACIAIS
acontece, tanto os intelectuais orgânicos quanto os tradicionais têm na escola o seu local de
formação e condução de suas ações futuras.
Observando a escola, Gramsci aponta que nas sociedades modernas, o conhecimento
científico passa a fazer parte da vida cotidiana das pessoas e que as atividades práticas, agora
mais especializadas, requerem uma escola especifica que tendem a criar grupos de intelectuais
especiais e num estágio mais elevado, enquanto que fora deste grupo existem escolas que se
preocupam apenas em repassar conhecimento geral.
Gramsci aponta ainda que em nossas formações há uma distinção com objetivos específicos,
dentre eles a perpetuação da dominação por uma determinada classe. A formação de um
indivíduo completo, ciente do conhecimento acumulado através da história e capaz do uso de
parte significativa deste conhecimento, é destinada às classes dominantes, proporcionando
através da cultura, sua hegemonia e dominação sobre as outras. E no Brasil? Você consegue notar
essa dominação?
AntônioS Gramsci, um apóstolo da emancipação das massas
O filósofo italiano atribuía à escola a função de dar
acesso à cultura das classes dominantes, para que todos
pudessem ser cidadãos plenos.
Co-fundador do Partido Comunista italiano, Antônio
Gramsci (1891-1937) foi uma das referências essenciais
do pensamento de esquerda no século XX. Embora
comprometido com um projeto político que deveria culminar com uma revolução
proletária, Gramsci se distinguia de seus pares por desacreditar de uma tomada do
AUTO ATIVIDADE
A partir da leitura dos temas anteriores a respeito deste autor e do artigo a seguir, redija uma Resenha Crítica a respeito de suas ações enquanto filósofo e pensador da
sociedade moderna. Lembre-se, neste tipo de trabalho, suas críticas a respeito do tema são de suma importância.
Bom trabalho!
64SOCIOLOGIA, ESTUDOS ANTROPOLÓGICOS
E RELAÇÕES ÉTNICO-RACIAIS
poder que não fosse precedida por mudanças de mentalidade. Para ele, os agentes
principais dessas mudanças seriam os intelectuais e um dos seus instrumentos
mais importantes, a escola.
Alguns conceitos criados ou valorizados por Gramsci hoje são de uso corrente
em várias partes do mundo. Um deles é o de cidadania. Foi ele quem trouxe à
discussão pedagógica a conquista da cidadania como um objetivo da escola.
Ela deveria ser orientada para o que o pensador chamou de elevação cultural
das massas, ou seja, livrá-las de uma visão de mundo que, por se assentar em
preconceitos e tabus, predispõe à interiorização acrítica da ideologia das classes
dominantes.
Ao contrário da maioria dos teóricos que se dedicaram à interpretação e à
continuidade do trabalho intelectual do filósofo alemão Karl Marx (1818-1883),
que concentraram suas análises nas relações entre política e economia, Gramsci
deteve-se particularmente no papel da cultura e dos intelectuais nos processos
de transformação histórica. Suas ideias sobre educação surgem desse contexto.
Para entendê-las, é preciso conhecer o conceito de hegemonia, um dos pilares
do pensamento gramsciano. Antes, deve-se lembrar que a maior parte da obra de
Gramsci foi escrita na prisão e só veio a público depois de sua morte. Para despistar
a censura fascista, Gramsci adotou uma linguagem cifrada, que se desenvolve em
torno de conceitos originais (como bloco histórico, intelectual orgânico, sociedade
civil e a citada hegemonia, para mencionar os mais célebres) ou de expressões
novas em lugar de termos tradicionais (como filosofia da práxis para designar o
marxismo). Seus escritos têm forma fragmentária, com muitos trechos que
apenas indicam reflexões a serem desenvolvidas.
Saudação fascista diante da residência de Mussolini em 1938: escola como privilégio de classe
65SOCIOLOGIA, ESTUDOS ANTROPOLÓGICOS
E RELAÇÕES ÉTNICO-RACIAIS
Elogio do “ensino desinteressado”
Uma parte importante das reflexões de Gramsci sobre educação foi motivada
pela reforma empreendida por Giovanni Gentile, ministro da Educação de Benito
Mussolini, que reservava aos alunos das classes altas o ensino tradicional,
“completo”, e aos das classes pobres uma escola voltada principalmente para
a formação profissional. Em reação, Gramsci defendeu a manutenção de “uma
escola única inicial de cultura geral, humanista, formativa”. Para ele, a Reforma
Gentile visava predestinar o aluno a um determinado ofício, sem dar-lhe acesso
ao “ensino desinteressado” que “cria os primeiros elementos de uma intuição do
mundo, liberta de toda magia ou bruxaria”. Ao contrário dos pedagogos da escola
ativa, que defendiam a construção do aprendizado pelos estudantes, Gramsci
acreditava que, pelo menos nos primeiros anos de estudo, o professor deveria
transmitir conteúdos aos alunos. “A escola unitária de Gramsci é a escola do
trabalho, mas não no sentido estreito do ensino profissionalizante, com o qual se
aprende a operar”, diz o pedagogo Paolo Nosella. “Em termos metafóricos, não se
trata de colocar um torno em sala de aula, mas de ler um livro sobre o significado,
a história e as implicações econômicas do torno.”
Biografia
Nascido em Ales, na ilha da Sardenha, em 1891, numa família pobre e
numerosa, Antonio Gramsci foi vítima, antes dos 2 anos, de uma doença que
o deixou corcunda e prejudicou seu crescimento. Na idade adulta, não media
mais do que 1,50 metro e sua saúde sempre foi frágil. Aos 21 anos, foi estudar
letras em Turim, onde trabalhou como jornalista de publicações de esquerda.
Militou em comissões de fábrica e ajudou a fundar o Partido Comunista Italiano,
em 1921. Conheceu a mulher, Julia Schucht, em Moscou, para onde foi enviado
como representante da Internacional Comunista. Em 1926, foi preso pelo regime
fascista de Benito Mussolini. Ficou célebre a frase dita pelo juiz que o condenou:
“Temos que impedir esse cérebro de funcionar durante 20 anos”. Gramsci
cumpriu dez anos, morrendo numa clínica de Roma em 1937. Na prisão, escreveu
os textos reunidos em Cadernos do Cárcere e Cartas do Cárcere. A obra de
Gramsci inspirou o eurocomunismo - a linha democrática seguida pelos partidos
comunistas europeus na segunda metade do século XX e teve grande influência
no Brasil nos anos 1970 e 1980.
66SOCIOLOGIA, ESTUDOS ANTROPOLÓGICOS
E RELAÇÕES ÉTNICO-RACIAIS
A experiência prática das contradições
Durante sua curta vida, Gramsci testemunhou de perto os dois extremos
totalitários do século XX Conheceu em Moscou a Revolução Russa no calor de seus
primeiros anos e, pouco tempo depois, foi uma das vozes pioneiras a denunciar
a degeneração da política soviética para a tirania, sob Josef Stalin. No outro
extremo, a ditadura fascista em seu país natal fez de Gramsci um alvo precoce de
perseguição, que resultou em seu aprisionamento. A trajetória do pensador pela
Itália durante a infância e a juventude - do sul atrasado, camponês e tradicionalista
ao norte industrial onde se engajou na política - também não podia ter sido mais
emblemática das contradições de seu tempo. A lucidez com que Gramsci refletiu
sobre essas experiências fez seu pensamento sobreviver não só a ele mesmo
como ao próprio socialismo real, como era chamado o regime característico do
conjunto de países comunistas do Leste Europeu, que desmoronou em bloco na
virada dos anos 1980 para os anos 1990. Seu pensamento, que havia sido uma
alternativa ao marxismo predominante nos meios acadêmicos de todo o mundo
até então, continua atual, já que não conflita com o sistema democrático.
Fonte: Revista Escola (2017)
2.3 KARL MANNHEIN
O filósofo e sociólogo Karl Mannhein (1893-1947) destina uma nova função à sociologia. Esse
pensador aposta na ideia de que a sociologia pode servir de aporte teórico a educadores para que
possam entender a formação da educação moderna e como ela se encontra atualmente.
Para este sociólogo, o pensamento social não poderia explicar as ações humanas, apenas
expressar suas ações.
Defende a tese de que a sociedade deveria ser essencialmente democrática, dirigida
racionalmente através de planejamentos feitos essencialmente por cientistas. Na educação este
pensador defende a ideia de que se a racionalização da vida através da ciência impediu a formação
do ser humano de forma integral, a democracia possibilita uma nova condição a todas as classes
exigentes, se o capitalismo gerou grandes desigualdades e uma distância enorme entre elas,
67SOCIOLOGIA, ESTUDOS ANTROPOLÓGICOS
E RELAÇÕES ÉTNICO-RACIAIS
Mannhein aponta ainda, que existe através da democratização do conhecimento, um interesse
dos jovens em acender socialmente e é na educação que se possibilita a percepção das diferentes
culturas e uma intercomunicação entre elas.
Pensador de seu tempo, Mannhein percebe a importância da sociologia na modernidade,
principalmente no entendimento dos fenômenos educacionais. Para ele, a vida baseada na
tradição, estava se esgotando e a educação nesta perspectiva tradicional tinha como objetivo
apenas conectar as crianças à ordem social vigente. Rodrigues (2001, p. 26) nos mostra o que
Mannhein percebeu sobre a sociologia.
Nas épocas históricas dominadas pela tradição (pré-capitalista) a educação resumia-
se a ajudar. A criança a ajustar-se a ordem social tradicionalmente estabelecida.
Valendo-se da infância da psicanálise, ele observa que tal processo era apenas de
assimilação (inconsciente) pela criança, do modelo de ordem vigente. Mas quanto
mais a tradição vai sendo substituída pela racionalização da vida, provocada pela
consolidação da sociedade industrial, mas os mesmos conteúdos educacionais
devem ser transmitidos num processo “consciente”, em que o educando se aperceba
do meio social em que vive e da mudança pelas quais passa.
Mannhein destaca também a importância do contexto social na educação, para ele, tanto os
objetivos da educação quanto suas metas não podem ser considerados fora do contexto social a
que a criança está inserida
Karl Mannhein rejeita a possibilidade das teorias existirem apenas como tentativas de
explicação de algo ou algum processo, para ele a sociologia enquanto ciência poderia servir de
instrumento para o melhoramento da educação, embora reconhecendo que os modos de vida
de cada classe social possam ser incutidos pela educação até então apresentada, e que a cultura
embutida privilegia certas classes no poder, mesmo assim, ele questiona se os valores transmitidos
por essa educação são exclusivos das classes mais abastadas ou se eles podem ser apropriados
de alguma forma pelas classes menos privilegiadas ou trabalhadores, desta forma, para este
pensador, o elemento histórico possibilitador de transformações sociais e ascensão de classes
seria a política e estaria presente na democracia moderna. E sua principal contribuição a oferecer
seria a possibilidade de que todas as classes possam contribuir com o processo educacional.
Mannhein tinha plena convicção de que a sociologia poderia contribuir com a pedagogia,
assim, busca em seu trabalho a criação de projetos com bases em seus estudos de sociologia
68SOCIOLOGIA, ESTUDOS ANTROPOLÓGICOS
E RELAÇÕES ÉTNICO-RACIAIS
da educação possibilidades para a superação das divisões de pensamentos humanos em blocos
ideológicos que nada o agradava.
PARA SABER MAIS...
O marxismo exerceu inicialmente uma forte influência sobre
o pensamento de Mannheim, mas acabou abandonando-o,
em parte por não acreditar que fossem necessários meios
revolucionários para atingir uma sociedade melhor. Seu
pensamento assemelha-se em certos aspectos aos de Hegel e Comte: acreditava
que, no futuro, o homem iria superar o domínio que os processos históricos
exercem sobre ele. Foi também muito influenciado pelo historicismo alemão e
pelo pragmatismo inglês.
Seu primeiro livro, Ideologie und Utopia (Ideologia e utopia), de 1929, é também
considerado seu mais importante escrito. Nesta obra, Mannheim afirma que todo
ato de conhecimento não resulta apenas da consciência puramente teórica mas
também de inúmeros elementos de natureza não teórica, provenientes da vida
social e das influências e vontades a que o indivíduo está sujeito.
Segundo Mannheim, a influência desses fatores é da maior importância
e sua investigação deveria ser o objeto de uma nova disciplina: a sociologia
do conhecimento. Cada fase da humanidade seria dominada por certo tipo de
pensamento e a comparação entre vários estilos diferentes seria impossível. Em
cada fase aparecem tendências conflitantes, apontando seja para a conservação,
seja para a mudança. A adesão à primeira tende a produzir ideologias e a adesão à
segunda tende a produzir utopias.
O pensamento de Mannheim foi criticado sob a alegação de, através do
historicismo, conduzir ao relativismo. Mannheim negou essa crítica afirmando
que o relativismo só existe dentro de uma concepção absolutista das ideologias
ou de qualquer forma de pensamento.
Outras investigações importantes de Mannheim compreendem estudos
sobre as relações entre pensamento e ação. Sua contribuição para a teoria do
planejamento e para a caracterização das sociedades de massa tem especial
destaque.
Fonte: Wikipedia (2017)
69SOCIOLOGIA, ESTUDOS ANTROPOLÓGICOS
E RELAÇÕES ÉTNICO-RACIAIS
SAIBA MAIS...
A percepção(*) sócio-política em Karl Mannheim
Por Suzana J. de Oliveira Carmo
Nossa decisão de pautar este trabalho pelas diretrizes do
pensamento sócio-filosófico e pedagógico de Karl Mannheim funda-se em
uma de suas preposições mais consideráveis, aquela de que não basta ser mero
observador, ainda que das observações empreendidas o resultado seja uma visão
do mundo, consideravelmente ampla, se, contudo, não há um respaldo fundado
em experiência prática.
Embora sociólogo, Mannheim contribuiu imensamente para aquilo que hoje,
torna-se cada vez mais “moderno” e imprescindível, que é a análise profunda da
Ciência Política, através ou por via dos sintomas sócio-culturais.
Analisando o cenário político em suas patologias, ao mesmo passo,
diagnosticando o contexto histórico da humanidade, Mannheim sugere um
estudo inovador destas questões humanas, erigindo a existência de um observador
empírico que se assemelha a um “revolucionário” (paciencioso por estratégia,
mas, não inerte pela dominação), em verdade, um “reformador”, retratado
como um sujeito capaz de aplicar mecanismos e métodos e, de empreender na
melhor oportunidade não só teoria epistemológica, mas, primordialmente, novas
técnicas de remodelagem da sociedade.
Assim, ainda que mantendo uma postura médica ao exarar um diagnóstico
científico dos evidentes males sociais, Mannheim não se limitou ao diagnóstico
do tempo ou da sociedade, sua tese vai além, e, se inspira fundamentalmente
em algo, por ele denominado como: Conhecimento Ateórico. Noutras palavras,
enfatiza uma cognição que emerge da abordagem prática da experiência humana;
advinda da imediata concreção histórica dos fatos. Porque para ele, seriam
estes os dois fatores determinantes e que assinalam o rumo na marcha dos
acontecimentos.
Partindo da constatação de que a sociedade humana, de fato e verdadeiramente,
só pode revestir-se ou fundar-se sob duas formas: edificação piramidal, onde na
base estão sedimentadas as massas e no ápice a minoria dominante (estrutura
ditatorial); ou em plano horizontal, organizada pelo planejamento de instituições
e controlada pela divisão do poder político (estrutura democrática). Mannheim,
70SOCIOLOGIA, ESTUDOS ANTROPOLÓGICOS
E RELAÇÕES ÉTNICO-RACIAIS
não vê nas técnicas de controle social, que tão costumeiramente são utilizadas
pelos governos, uma essência boa ou ruim, vislumbra sim, uma vulnerabilidade
em função da vontade humana daquele que as utiliza sob o falso argumento de
serem tão-somente um mecanismo de contenção econômica, política ou social.
Daí porque, na maioria das vezes, esta utilização onde os verdadeiros objetivos
estão camuflados, resulta em uma eficiência antagônica, impondo à sociedade uma
escravidão intelectual, por institucionalizar crenças, credos e comportamentos
que não correspondem à própria natureza do cidadão, tampouco, ao exercício da
cidadania.
Neste ponto, insurge a primeira afirmativa fulcrada no conhecimento ateórico:
“Só vale a pena estudar a natureza da sociedade tal como é, se somos capazes de
insinuar as medidas que, tomadas a tempo, poderão tornar a sociedade àquilo
que deve ser”.1
Notadamente, convencido de que só o conhecimento concreto da sociedade
é capaz de definir quais são ou serão suas tendências políticas. Mannheim
ressalta que, a sociedade não consegue sobreviver se fomenta conformismo e
conformidade, porque estas são características evidentes de algo monótono ou
fadado à inércia, e como tal, passível de se tornar obsoleto.
Conferindo verdade à doutrina precursora de Émile Durkheim, assinala
que só as sociedades simples como as dos povos primitivos podem funcionar
satisfatoriamente quando fundadas na homogeneidade e na conformidade.
Porque a integração social em toda a sua magnitude, jamais foi ou será alcançada
por via de um comportamento comum e uniforme, ou contrário, exige uma
coordenação geral e complexa, de ideias e comportamentos variados. Desta
forma, nos aclara que, não basta para que haja vigor na sociedade, tampouco,
para a manutenção Estado, a existência fictícia ou abstrata do Princípio
Democrático, quando sua materialização ou percepção sinestésica, está em
uma dependência ávida, de que antecedentemente ocorra a satisfação de
uma necessidade orgânica básica, que é a de Justiça Social. Lembrando que,
“a reivindicação de maior justiça não implica, forçosamente, uma concepção
mecânica de igualdade. Diferenças razoáveis de renda e de acumulação de
riqueza, para gerar o estímulo necessário aos empreendimentos, podem ser
mantidas desde que não interfiram nas linhas mestras do planejamento nem
aumentem de molde a impedir a cooperação entre as diferentes classes”.2
Abrangendo outros saberes e, também centrado na obra de Freud, utilizou-se de
sua orientação em uma análise psicanalítica, análise de que o homem entregue a
71SOCIOLOGIA, ESTUDOS ANTROPOLÓGICOS
E RELAÇÕES ÉTNICO-RACIAIS
si mesmo não pode oferecer qualquer resistência, e quando sujeito a dissolução
de seu elo de segurança e reconhecimento com a sociedade, acaba por extrair-lhe
qualquer atitude, o fazendo quedar-se silente diante dos fatos. Sigmund Freud
traçou o primeiro segmento em que descreve a rota dos males sociais atribuindo-
os à cultura, tais males representam um processo de sofrimento ao homem.
Em sua obra: “O Mal Estar na Civilização”, Freud argumenta a tríade: homem,
sociedade e cultura, e através dela conclui que: os seres humanos necessitam
organizar-se em sociedades a fim de se defender da própria natureza agressiva e,
permanentemente adversária. Donde, surge um grande dilema: o próprio esforço
realizado pelo homem para que se torne possível a vida em sociedade fará com
que estas sociedades venham a evoluir para civilizações, o que representa um
enorme entrave para a felicidade humana. Talvez, tal pensamento venha ser
melhor explicitado através da célebre frase do existencialista Jean Paul Sartre: “O
inferno são os outros”.
Com igual finalidade, Jacques Lacan posteriormente retoma o tema do mal
cultural, e analise a obra de Freud, embora, evidenciando a questão da ética
social e humana nela encontrada. E, no “Seminário VII - A ética da psicanálise”.
Afirmou Lacan, o “Mal-estar na civilização” é obra definitiva no que diz respeito
à questão ética, uma vez que evidencia que a felicidade é mesmo o que deve ser
proposto como termo a toda busca, por mais ética que seja.
Fica, então, evidente que o funcionamento adequado do organismo social está
sob a égide das atitudes e decisões políticas, embora, o respaldo autorizante destas
tomadas de decisão seja conferido pela sociedade. De tal modo, o funcionamento
da democracia está sujeito ironicamente ao consentimento democrático e à
existência da justiça social. E, este sistema de intercâmbio, este circuito fluxo,
retrata não só a viabilidade e manutenção do sistema como um todo, a priori,
demarca que os insumos axiológicos que o alimentam, são de ordem ética.
E, uma vez mais, de acordo com Mannheim, nem a tolerância democrática
nem a objetividade científica estão autorizadas a nos determinar abstinência às
lutas que necessariamente devam ser travadas em prol daquilo que julgamos ser
verdadeiro. Apontando que, só uma democracia militante pode sobreviver em
tempos de desordem moral ou ética. A ideias de militância quando atrelada à
democracia, significa a existência de uma atitude de defesa dos procedimentos
corretos, dos valores sócio-culturais, da decência, do respeito à cidadania etc.
“[...] que a liberdade e a democracia são necessariamente incompletas enquanto
72SOCIOLOGIA, ESTUDOS ANTROPOLÓGICOS
E RELAÇÕES ÉTNICO-RACIAIS
as oportunidades sociais estiverem tolhidas pela desigualdade econômica, é
irresponsável não compreender quão grande realização elas representam e que
através delas podemos ampliar o âmbito do progresso social”.3
E sempre que refletimos sobre a militância democrática ou debatemos a crise
advinda de uma dolorosa experiência política, captamos ou capturamos a imagem
distorcida do homem de Estado. Esta figura política, antes de tudo, humana, nos
esboça a imagética do elemento humano mitigado, nos reflete os signos de uma
crise de valoração social ou moral, o que nos descortina ou desnuda um cinismo
agressor. Surge assim, um agente substitutivo e espontâneo, em circunstâncias
em que há um escancarado abandono da ética. Neste cenário desesperador, o
Homem de Estado deixa de ser um dirigente apto a conduzir sua sociedade, e,
passa a ser um mero guia a nos demarcar as trilhas do caos social e da desordem
política.
E, este desajustamento sócio-político, esta inversão de papeis e valores, nos
coloca em xeque; ao passo que nos cria um impasse, posto que, já nem somos
capazes de discernir se vivenciamos um delito ou uma patologia, se conhecemos
suas causas, ou, se só sofremos seus sintomas. Já nem conseguimos isolar o
instituto da culpa, ponto em que se torna impossível justificar a própria existência
ou sentido dentro do organismo civilizado. Pois, o político é uma unidade social
em uma função específica e de relevante representação. Se sua índole é ruim ou
podre, ou vulnerável seu caráter, e, talvez esta sua representatividade simbólica
esteja tão-somente a nos retratar com fidelidade os contornos exatos de sua
sociedade.
Para Mannheim, o grande problema que ocorre em momentos de crise, e
tanto faz se de valores em modo genérico, ou se ética ou moral ao falarmos em
espécies; é a alienação, pois, poucos se apercebem do caos que qualquer uma
delas representa. Em verdade, resta muito claro que, nos mostramos muito vagos
aos assuntos sociais, tanto quanto aos políticos, embora, soframos todas as suas
consequências e pesares. Notadamente, a melhor maneira de captar as primeiras
manifestações e, restabelecer-se o equilíbrio ante uma crise ética, seria uma pré-
compreensão de que uma crise destas não é só efeito, é também causa de uma
crise antecedente, que é sem sombra de dúvida a da espécie humana.
Contemplando com receio a ideias de que todos os atos e fatos, ainda que os
mais comuns e rotineiros são de ordem cultural, posto que, em nossa vida nem
mesmo em nível de hábitos como a alimentação, boas maneiras e comportamento
73SOCIOLOGIA, ESTUDOS ANTROPOLÓGICOS
E RELAÇÕES ÉTNICO-RACIAIS
nos são inseridos pela cultura. Daí porque, nada tem origem ou se justifica, senão
através das regras e valores que governam a sociedade e a civilização humana.
De tal maneira, quando deparamos com uma crise política, ética ou moral,
estamos em verdade, constatando que há em nós enquanto unidades sociais
partícipes do todo, uma crise antecedente ou antecessora, se considerarmos que
é a sociedade quem fornece a matéria prima a todos sistemas por nós inventados,
experimentados ou idealizados, porque são, sem exceção, artificialidades criadas
por nossa cultura.
Cumpre salientar, onde não há sediado um sistema austero de valores sócio-
culturais, e ainda, perpetua-se uma ausência diretiva, tal crise vê-se agravada pela
existência de uma autoridade “soberana” dispersa, seus métodos de justificação
tornam-se arbitrários, e daí emerge todo o contexto de um desolamento geral.
Esta abolição das precondições existenciais nasce de um processo lento e
degenerativo, embora, nos pareça ser súbita e açodada. É sofrível a exposição
desta “nova” realidade em que as regras de conduta e convivência comum, bem
como, as normas de organização política foram impunemente descumpridas,
esquecidas ou extirpadas; onde “de repente”, já não existem responsáveis,
tampouco, responsabilidades a serem cumpridas ou exigidas. Neste momento
crucial, reconhecemos os sintomas, diagnosticamos a doença, porém, ignoramos
a cura. E, por falta de coesão e homogeneidade das classes e grupos, torna-se
impossível uma aderência incondicionada a esta vida social assim estabelecida.
Tendo ainda em foco a desordem político-social, Mannheim retoma algo de
bom advindo do comunismo, ou seja, algo proveitoso ou aproveitável que pode
ser extraído da doutrina de Marx, que é o seu reconhecimento de que a vida
cultural e a esfera básica de valores a ela inerentes dependem da existência e
favorabilidade de determinadas condições sociais. E ainda, aponta como um
ledo engano acreditar-se que são exclusivamente os fatores econômicos e as
lutas de classes que compõem ou desencadeiam uma crise na cultura ou em
nosso sistema de valores. Ao contrário, nós como seres falíveis e corruptíveis
nos alternamos em um duplo papel, por vezes, quando isentos ou isolados de
qualquer emanação de poder - somos a vítima, noutras, quando investidos dos
privilégios e favorecimentos que ele nos traz – somos algozes.
Neste ponto, a título de exemplificação, lançamos mão da Teoria de Jacques
Lacan, em que trata do Estádio de Espelho, através dela descobrimos amargamente
que somos aquilo que vemos na sociedade. Através desta Teoria, tem-se que a
74SOCIOLOGIA, ESTUDOS ANTROPOLÓGICOS
E RELAÇÕES ÉTNICO-RACIAIS
imagem refletida por este espelho social vai gerar uma identificação imediata,
podendo mesmo causar um sofrimento ou uma comoção desesperada, em casos
em que a imagética (eu ‘humano’ sou aquilo que vejo no outro) não se apresenta
favorável ou digna; dando ao ser um referencial de si mesmo. Ou seja, o sujeito vai
se conhecer como ser humano deplorável, quando falamos em falta de moral ou
ética. Assim vai se conceber como um outro que não ele mesmo, contudo, com ele
identificado e através podendo ser reconhecido, e, esta concepção que se torna
fundadora da exterioridade em nossa relação com nós mesmos.
Sim, Mannheim pontua e assinala a existência de uma questão dúplice em
que nosso caráter se modela em virtude ou nos limites do poder que possuímos.
Talvez, por serem raros os ‘cidadãos’ que de posse do poder não criam para si
privilégios.
Pensando e repensando a ordem dos valores humanos, independentemente
de serem eles de natureza individual ou coletiva, todavia, sempre dentro de
uma visão que a eles atribui suma importância. A propósito, sempre deixando
evidente a impossibilidade de se viver em sociedade sem que haja um norte de
valoração das coisas. Porém, Mannheim reconhece que as normas, os conselhos e
os tabus impostos pela cultura são mais que uma técnica prática de viabilidade da
convivência comum, é em primeiro plano, um elemento restritivo, uma limitação
ao ser, e, uma contenção da “natureza” humana literalmente “in natura”. Razão
pela qual, a maior dificuldade de nosso tempo tem sido a de se fazer uma avaliação
racional dos valores, porque o que poderia ser entendido como uma mudança
formidável, se perfaz de modo inusitado, posto que, não consiste em criar um
cidadão tão-somente obediente à lei, às regras, normas ou costumes, em virtude
de uma aceitação cega e habitual, de origem unicamente condicionada. Mas
sim, de uma reivindicadora reeducação do homem em sua integralidade. E isto
significa fazê-lo conhecer e reconhecer em qualquer circunstância seus próprios
valores, não cegamente, mas por uma deliberada forma de escolha, sendo que
estes tendem a ser coincidentes com os dos demais membros da sociedade. Neste
diapasão, a convivência civilizada permanece por vontade e “animus, há uma
aderência necessária, todavia, querida e buscada pelo homem. Nunca coincidente
com uma habitualidade irracional, porque esta pode, e na maioria das vezes é:
sinônimo de repressão, imitação ou adestramento.
Por fim, através de Karl Mannheim percebemos a vida social como uma
necessidade passível de ser satisfeita, e este é o “dever ser” da organização
democrática apontada por ele definida, porque justifica o caos advindo do choque
75SOCIOLOGIA, ESTUDOS ANTROPOLÓGICOS
E RELAÇÕES ÉTNICO-RACIAIS
entre a natureza dos valores predominantes e o método de adestramento sócio-
político.
Notas
(*) Processo pelo qual o indivíduo se torna consciente dos objetos e relações no
mundo circundante, na medida em que essa consciência depende de processos
sensoriais – CABRAL, Álvaro. Dicionário de Psicologia e Psicanálise, 2ª ed., Rio de
Janeiro: Expressão e Cultura, 1979.
1. MANNHEIM, Karl. Diagnóstico de nosso tempo. Tradução: Octávio Alves
Velho, 2ª ed., Rio de Janeiro: Zahar, 1967. p. 16.
2. Mannheim, op. Cit., p.19.
3. Mannheim, op. Cit., p.23.
4. O conceito do estádio do espelho foi desenvolvido por Lacan a partir da
experiência de Henry Wallon que, em 1931, descreveu como a criança vai aos
poucos diferenciando seu corpo da imagem que observa no espelho. Segundo
Wallon, isto se daria face a uma compreensão simbólica, por parte do sujeito, do
espaço imaginário em que constitui sua unidade corporal. A “Prova do espelho”,
como Wallon chamou sua experiência, demonstraria, assim, a passagem do
especular para o imaginário e do imaginário para o simbólico. O texto final do
estádio do espelho é apresentado em sua versão definitiva em 17 de julho de 1949,
no XVI Congresso Internacional de Psicanálise, em Zurique, com o nome de: “O
estádio do espelho como formador da função do eu – tal como nos é revelada
na experiência psicanalítica”. Em seu seminário sobre os escritos técnicos de
Freud, 1953/1954, Lacan aborda novamente o tema do estádio do espelho para,
na parte intitulada “A Tópica do imaginário”, repensar os conceitos freudianos do
Narcisismo, Eu ideal e Ideal de eu.
Fonte: Carmo (2005)
76SOCIOLOGIA, ESTUDOS ANTROPOLÓGICOS
E RELAÇÕES ÉTNICO-RACIAIS
SOCIOLOGIA NO BRASIL
3 APRESENTAÇÃO
Prezado aluno(a).
Nesta unidade estaremos abordando questões sociológicas através de pensadores (sociólogos)
e temáticas voltadas a nosso pais. Neste momento chamo a todos a uma abordagem critica a
respeito primeiramente da formação étnica e cultural de nosso povo e posteriormente as causas e
consequências dessa formação, visto que nosso país aos olhos da história ainda é bastante jovem
e tem em sua formação como “Estado” questões muito particulares relacionadas a sua mistura
étnica e cultural.
Entendendo essa formação, compreenderemos melhor as questões atuais que permeiam o
cotidiano de nosso pais.
3.1 GILBERTO DE MELO FREYRE
Pernambucano da cidade de Recife, Gilberto Freyre nasceu no dia 15 de março de 1900. Escritor
e sociólogo, Freire apresenta em sua obra um importante retrato da formação da sociedade
brasileira.
Sua história de vida é marcante pela trajetória e condição social de nascimento, pois filho
de representantes da sociedade colonial brasileira, cedo viaja para fazer seus estudos primários
no Colégio Americano Glireath e posteriormente cursa as Universidades de Baylon (Texas) e
UNIDADE III
77SOCIOLOGIA, ESTUDOS ANTROPOLÓGICOS
E RELAÇÕES ÉTNICO-RACIAIS
Columbia (Nova York).
No período em que frequentava a universidade nos Estados Unidos, Gilberto Freyre, conheceu
o antropólogo Franz Boas, que por intermédio do contato e conhecimento da obra, viria a ser
uma forte influência na sua perspectiva de pensamento a respeito da diferenciação dada por este
autor às questões relacionadas à raça e a cultura.
Para Freyre, havia uma separação entre herança cultural e herança étnica, considerava ainda
que num conceito antropológico, cultura era o conjunto de costumes, hábitos e crenças do povo.
No ano de 1933, publica sua dissertação de mestrado intitulada “CASA GRANDE E SENZALA”
alcançando grande repercussão no mundo acadêmico, esta obra até hoje serve de referência para
o pensamento e estudos da sociologia no Brasil.
A importância desta publicação é apontada por muitos pelo novo olhar para o cotidiano que
o autor visualiza o papel de cada sujeito nessa sociedade, isto, possibilitado pelos relatos orais
e também por documentos manuscritos, Gilberto Freyre abandona a prática comum até então
de analisar, pensar e escrever a história através dos “Grandes Feitos”. Na obra Casa Grande e
Senzala, o autor demonstra toda a importância deste ESPAÇO importante da sociedade colonial
brasileira denominado “Casa Grande”, demonstra, como ele influencia na formação cultural do
Brasil e também a senzala, espaço que, para ele, complementaria a primeira nesta ação.
É importante perceber que para Gilberto Freyre a estrutura arquitetônica da fazenda colonial
com sua representante maior, a casa grande, representa o modo como esta sociedade se
organizava social e politicamente e demonstra claramente uma sociedade patriarcal, pois através
dela observa-se a incorporação dos vários elementos da propriedade fundiária no Brasil deste
período e também do poder do senhor de engenho ou cafeicultor que era reconhecido como
dono de tudo neste pequeno mundo de sua propriedade.
Pertencia a ele nesse imaginário coletivo a posse das terras, dos escravos, filhos, esposas e
tudo o mais que estivesse em seus domínios.
As relações observadas por Freyre na casa grande demonstraram que neste espaço não eram
abrigados apenas os donos da casa, mas nele além do abrigo, havia relações muito importantes
entre a família e seus escravos, os filhos e suas amas de leite, entre outras relações de cunho
afetivo.
A importância deste sociólogo é também apontada pelo trabalho de desmistificação da
determinação racial dada a formação do povo brasileiro, para ele o que se deve realmente
considerar são as questões culturais e também ambientais. Freyre aponta para as questões
positivas advindas da miscigenação do povo brasileiro que podem ser observadas na cultura de
78SOCIOLOGIA, ESTUDOS ANTROPOLÓGICOS
E RELAÇÕES ÉTNICO-RACIAIS
um modo em geral, nega veementemente a ideia de que esta miscigenação resultaria na criação
de uma raça inferior.
Apesar da importância do conjunto de sua obra, principalmente pela trilogia (Casa Grande
e Senzala – Sobrados e Mocambos – Ordem e Progresso) Freyre tinha também críticos que
o acusavam de manter uma postura elitista, principalmente o acusando de benevolência a
escravidão, para muitos ao contrário de Freyre, principalmente do ponto de vista cultural na
miscigenação entre brancos e negros da forma como ocorreu no Brasil.
A violência e as injustiças deste regime escravista também são apontadas por seus críticos que
argumentavam não trazer qualquer ponto positivo para esta relação.
Florestan Fernandes, nosso próximo sociólogo brasileiro a ser analisado neste caderno, critica
Freyre, pois em sua perspectiva, não existe igualdade racial no Brasil e o contato entre brancos e
negros nunca promoveu a ascensão dos negros ou mulatos, mas sim promoveu a hegemonia da
raça branca dominante.
Como falamos antes, pela influência sofrida no contato com Franz Boas, Freyre sofre influência
de uma escola culturalista, enquanto Florestan utilizando-se do método dialético de Karl Marx
assume uma postura eminentemente contraditória nesta relação.
Gilberto Freyre é um dos mais importantes intelectuais latino-americanos
da primeira metade do século XX. Várias gerações de pensadores brasileiros
encararam seus livros de modos muito diversos. Reconhecido desde o início
como um autor de talento, as reações a seus principais textos oscilaram entre o
escândalo provocado pelo tratamento audaz dos temas sexual e racial e a suspeita
SAIBA MAIS!
LIVRO
GILBERTO FREYRE: UMA BIOGRAFIA CULTURAL Larreta e Giucci (2007)
A seguir entrevista com os autores da obra...
79SOCIOLOGIA, ESTUDOS ANTROPOLÓGICOS
E RELAÇÕES ÉTNICO-RACIAIS
de apologia senhorial da escravidão. Em Gilberto Freyre: Uma biografia cultural,
Enrique Rodríguez Larreta e Guillermo Gucci analisam a maioria dos textos
escritos por Freyre no período de 1900 a 1936 e traçam a genealogia intelectual de
suas principais ideias, mantendo constante diálogo com os diferentes contextos
culturais e as obras produzidas. Gilberto Freyre: Uma biografia cultural prova
porque ele é considerado por muitos um precursor da moderna antropologia
histórica. Leitura obrigatória por todos que pretendem entender a produção
cultural brasileira contemporânea.
Como o cosmopolitismo de Freyre, que viveu nos EUA e na Europa durante
sua formação e depois morou como exilado em Portugal, ajudaram-no a
entender a cultura brasileira sob um enfoque regionalista?
A precoce experiência de estudar em um colégio batista, sendo escolarizado
em inglês, os estudos feitos durante a juventude, no Texas e Nova York, assim
como o conhecimento pessoal das culturas francesa, alemã, inglesa e portuguesa,
lhe permitiram distinguir desde cedo as particularidades da cultura brasileira.
Além disso, Freyre teve acesso ao pensamento nacional norte-americano, ao
pluralismo cultural de Randolph Bourne, ao regionalismo francês, através de
Maurras e Barrès, assim como diversos ensaístas ingleses e portugueses. Essa
perspectiva comparativa das diferentes tradições lhe proporcionou um senso
agudo da diversidade cultural tanto regional como nacional.
Freyre cresceu no subúrbio de Recife e teve uma infância e uma adolescência
de leituras, marcadas pelo estranhamento em relação ao mundo. Este livro
afirma que “seus modelos transcendentais não surgem apenas dos exemplos
de seu entorno imediato, mas também de narrativas literárias”. Esta biografia
cultural confirmaria a antropologia de Freyre, embora materialista e factual,
como “imaginação histórica” mais do que reveladora de um Brasil real?
O real é sempre uma construção social impregnada de imaginação. As leituras
de Eça de Queiroz, Tolstoi, José de Alencar e outros, assim como sua primeira
incursões como desenhista, lhe permitiram organizar sua percepção de mundo.
A representação do Nordeste, tal como a conhecemos hoje, não existia antes da
obra de Gilberto Freyre e do movimento regionalista impulsionado por ele.
Na medida em que fala da infância e da vida pessoal de Freyre, e mostra a
influência de sua mãe, Dona Francisquinha, este livro reforça a interpretação
de sua obra, voltada para o detalhe e a vida doméstica, como um “olhar
80SOCIOLOGIA, ESTUDOS ANTROPOLÓGICOS
E RELAÇÕES ÉTNICO-RACIAIS
feminino”?
Sem dúvida, os modelos femininos, como o caso de sua mãe, tiveram influência
em sua interpretação do mundo patriarcal. Mas a valorização da vida doméstica
e do espaço da casa é um tema presente em autores como Walter Pater, Spengler
e outros. O sentido do singular, característico de Freyre, está mais associado às
correntes de ideias com as quais dialogou — o decadentismo e a antropologia
cultural – do que com um olhar feminino.
Freyre teve a iniciação sexual, típica para um jovem de sua classe, com a
empregada doméstica. Como esse livro se situa diante da opinião de que ele
fez sua antropologia da defesa do Brasil como um país de mestiços do ponto
de vista da Casa-Grande?
Gilberto Freyre era filho de um professor de classe média, com algumas
raízes familiares nos antigos senhores de engenho. Não acreditamos que essa
experiência sexual de Freyre, bastante comum em um adolescente de classe
média, não apenas no Brasil, senão no mundo, naquela época, seja uma chave
de acesso à sua obra. Quando Freyre publicou Casa-grande & senzala, o livro
foi criticado por denegrir a tradição portuguesa e por estimular as rebeliões dos
negros.
A obra de Freyre reflete um desejo de ver no Brasil como uma civilização
triunfante nos trópicos, baseada na interação de culturas. A biografia
cultural, ao mergulhar em seu universo afetivo, confirma ou contraria a
ideia de que Freyre distorceu o Brasil com seu “nacionalismo cultural”? Esta
biografia cultural ajuda a mostrar que Freyre via o passado com nostalgia em
contraposição a um olhar crítico para modernidade?
A nostalgia é o sentimento da perda produzido por certos aspectos da
modernidade europeia, o que Freyre chamou de “civilização carbonífera e gris”
estão presentes em sua obra. Por outro lado, é um sentimento que acompanha o
nascimento das ciências sociais. Tanto a Sociologia como a Antropologia contêm
fortes componentes de nostalgia, oposição comunidade versus sociedade,
tradição versus fragmentação individual. A obra de Gilberto Freyre é mais do que
uma interpretação ensaística e subjetiva do Brasil. É um trabalho de antropologia
histórica em diálogo com as ciências sociais mais avançadas de sua época.
Hoje poucos cientistas sociais celebram a modernização irrestrita. Fala-se de
“modernidade reflexiva”, “retromodernidade”, “modernidades plurais”, “pós-
81SOCIOLOGIA, ESTUDOS ANTROPOLÓGICOS
E RELAÇÕES ÉTNICO-RACIAIS
modernidade”, o que Freyre denominou de “além do apenas moderno”.
Freyre disse no livro de memórias Tempo morto e outros tempos que a
escritora e amiga Amy Lowell, em sua conferência na universidade de Baylor,
elogiou o artigo que ele escrevera sobre ela, o que é desmentido pelo livro de
vocês. O elogio fora feito por carta, enviada a Freyre depois da conferência.
Isso mostra que ele era tão vaidoso que queria reconstruir seu passado de
modo favorável?
A vaidade é uma marca de sua personalidade. Darcy Ribeiro em seu
conhecido ensaio sobre Casa-grande & senzala confessou que se tratava de uma
característica que compartilhava com Gilberto. Sem dúvida, o que surpreende na
análise dos documentos, mais do que a distorção dos dados, é o grau em que as
fontes primárias confirmam os dados biográficos apresentados por Freyre. Por
exemplo, a importância de Franz Boas na obra de Freyre, que foi negada ou posta
em dúvida por vários pesquisadores, é confirmada em nossa biografia, assim
como a precocidade de algumas de suas ideias, já presentes em sua fase escolar,
no Colégio Americano Batista.
Qual ou quais as documentações históricas e de fonte primária
você destacaria como mais importantes e que contribuição elas
trouxeram para revelar as ideias e a personalidade de Freyre?
O manuscrito Em busca do menino perdido que revela informações preciosas sobre
sua infância, a documentação referente a sua passagem pelo Colégio Batista, os
cursos de Ciências Sociais que ministrou no Rio de Janeiro e na Califórnia, analisados
pela primeira vez, a reconstrução de certas fontes intelectuais portuguesas, o
congresso Afro-brasileiro examinado em detalhe e no contexto de sua época.
Depois de Casa-grande & senzala, a organização do I Congresso Afro-
Brasileiro e a valorização das manifestações religiosas trazidas pelos escravos
não aponta para um caminho diferente da atual política de cotas raciais nas
universidades? O que aconteceu com o país de mestiços de Gilberto Freyre?
A maioria dos temas presentes no Primeiro Congresso Afro-brasileiro de 1934
está presente no debate contemporâneo no Brasil. É verdade que a mestiçagem
era, então, uma ideia que lutava para impor-se assim como a significação da
cultura negra para o Brasil. Hoje essas ideias são aceitas como evidentes e são
amplamente reconhecidas. Naquele tempo havia autores renomados que
sustentavam a inferioridade biológica do negro e o barbarismo das culturas de
origem africana.
82SOCIOLOGIA, ESTUDOS ANTROPOLÓGICOS
E RELAÇÕES ÉTNICO-RACIAIS
Quando Casa-grande e senzala é formulado, no Brasil se falava em
“branqueamento” da raça. Foi um livro progressista, que tornou-se afinado
com a cultura nacional popular “oficial” difundida pelo rádio, promovendo
componentes do imaginário nacional baseados na mistura racial e cultura.
Freyre teria aberto caminho para a mentalidade que ajudou a erguer o
Brasil moderno. Ironicamente, o Brasil moderno que foi erguido não parece
misturado racial e culturalmente. O Brasil de Freyre, enquanto projeto, não
vingou?
O Brasil é muito misturado racial e culturalmente se o compararmos com
outros países que possuem uma história colonial similar. É mais misturado e de
modo menos conflitivo que outros países da América Latina, como por exemplo,
os países andinos. Sem dúvida, a integração cultural e social é diferente dos EUA
que apesar de sua riqueza, apresenta altos índices de discriminação de negros e
latinos. No caso norte-americano não se pode deixar de levar em conta o fato de
que sua posição imperial se expressa muitas vezes em termos de superioridade
cultural e racial da “tradição anglo-saxã”. Na Europa, uma simples viagem
de trem pelos subúrbios de Paris e pelas cidades do sul da Espanha, com seus
imigrantes africanos ilegais e árabes dormindo nas ruas, é suficiente para notar
que a situação está longe de ser ideal.
Você acha que diante do mundo globalizado, as ideais de integração de
raças e multiculturalismo defendidas por Freyre são atuais ou ultrapassadas?
As questões são atuais. O desenvolvimento de uma teoria dinâmica sobre a
diversidade cultural e a identidade que se opõem a um imaginário de pureza e
segregação cultural e sociológica nos parecem aspectos importantes do legado de
Gilberto Freyre, juntamente com outros aspectos de sua obra que são examinados
em nossa biografia.
Fonte: Larreta e Giucci (2007)
Um pouco mais de Gilberto Freyre...
Suas Obras
G Casa-Grande & Senzala (1933)
83SOCIOLOGIA, ESTUDOS ANTROPOLÓGICOS
E RELAÇÕES ÉTNICO-RACIAIS
G Sobrados e Mucambos (1935)
G O Mundo que o Português Criou (1940)
G Perfil de Euclides e Outros Perfis (1944)
G Interpretação do Brasil (1947)
G Ingleses no Brasil (1948)
G Quase Política (1950)
G Ordem e Progresso (1959)
G Manifesto Regionalista de 1926 (1952)
G Vida, Forma e Cor (1962)
G Arte, Ciência e Trópico (1962)
G Heróis e Vilões no Romance Brasileiro (1979)
PESQUISA
LIVRO
A obra de Gilberto Freyre, possibilita uma ótima oportunidade de você conhecer o cenário agrário
implantado no Brasil colonial, mas além dessa possibilidade, o autos permite-nos visualizar as relações entre os sujeitos desta sociedade, principalmente no âmbito da casa grande e da senzala, espaços de convívio e de resistências onde a convivência forçada por um modo de produção implantado aqui enquanto colônia de Portugal, deixa raízes profundas na história de nosso povo. Vale realmente a pena você ler.
84SOCIOLOGIA, ESTUDOS ANTROPOLÓGICOS
E RELAÇÕES ÉTNICO-RACIAIS
3.2 FLORESTAN FERNANDES
Muito diferente da condição social de seu contemporâneo Gilberto Freire foi o início de vida
deste importante sociólogo brasileiro. É na convivência com uma família abastada da sociedade
paulista que Florestan Fernandes adquire o gosto pelos estudos e pelos livros.
Desde muito cedo, (6 anos) começa a trabalhar numa barbearia e estuda apenas até o terceiro
ano do primeiro grau. Mas tarde estimulado por amigos termina o ensino secundário e ingressa
na Faculdade de Filosofia Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo, Florestan
forma-se em ciências sociais, torna-se docente em 1945 na Cadeira de Sociologia na mesma
instituição.
Em 1955 Florestan Fernandes defende sua tese de doutorado na USP com o tema A Função
Social da Guerra na Sociedade Tupinambá, tese esta que se torna um clássico da etnologia
brasileira, explorando o método funcionalista. (3)
Percebe-se uma nova perspectiva na análise da sociologia brasileira, a partir do trabalho
deste pensador. Suas críticas permitem um novo olhar sobre a sociologia no Brasil, Florestan,
estimula a releitura de obras de seus antecessores através de um outro aspecto mais crítico,
assim, Fernandes abre caminho para uma nova forma de olhar e pensar o Brasil, tanto no passado
com sua colonização através de uma mistura cultural muito intensa, como no presente, onde as
tramas dessa miscigenação dão forma a um povo rico culturalmente mais ávido por um lugar
melhor nas distintas classes desta sociedade.
Suas obras, revelam, além da formação deste povo, formado inicialmente pela tríade cultural
indígena – portuguesa – africana e mais tarde por toda sorte de imigrantes europeus, uma história
de lutas e resistências que no seu desenvolver, a princípio permite a criação de uma sociedade de
castas e posteriormente a formação de classes sociais tão distintas econômica e culturalmente.
Tanto no campo a partir da criação de uma sociedade agrária colonialista, quanto na cidade
após o advento do início da industrialização brasileira, Florestan analisa as lutas desses grupos
de trabalhadores livres ou não, na conquista de seus direitos sociais e na transformação das
estruturas formadas pelas classes mais abastadas.
No campo da sociologia enquanto ciência social, é possível perceber o diálogo desse sociólogo
com as teorias de pensadores como Conte, Spenser, Durkheim, Weber entre outros, mas também
é clara sua fascinação pela obra de
Marx que lhe dá constantemente uma concepção critica em suas análises da sociedade
85SOCIOLOGIA, ESTUDOS ANTROPOLÓGICOS
E RELAÇÕES ÉTNICO-RACIAIS
brasileira, observada facilmente em obras como: Fundamentos empíricos da explicação
sociológica, a natureza sociológica e também em ensaios da sociologia geral e aplicada,
Florestan Fernandes, é fundador da sociologia crítica no Brasil, além de questionar de forma
crítica a formação social, ele analisa também a formação do pensamento nesta sociedade, daí sua
importância para sociologia da educação, Florestan, enquanto sociólogo, oferece a partir de suas
críticas, novas condições para a pesquisas no Brasil, temas como abolição, escravatura, folclore,
educação, revoluções entre outros, a partir deste sociólogo, ganham uma outra perspectiva de
análise.
Ao questionar os fatos ocorridos e as formas como foram registradas oficialmente e até
no imaginário social, Florestan critica os membros desse grupos no sentido de se observar os
embates decorrentes dessas relações e aponta que nelas, sempre há vencedores e vencidos, nesse
contexto, para Florestan é preciso olhar sobre qual dessas perspectivas a história é registrada.
SAIBA MAIS...
A reflexão de Florestan Fernandes sobre os fundamentos
lógicos e históricos da explicação sociológica inspira-se nessa
perspectiva crítica; constrói-se com ela. Aí se localiza a cuidadosa
análise das três matrizes clássicas do pensamento sociológico: o
método funcionalista, ou objetivo, sistematizado por Durkheim; o compreensivo,
formulado por Weber; e o dialético, criado por Marx. Elas sintetizam muito do
que se havia pesquisado e pensado até então e estabelecem os paradigmas ou
estilos de pensar a realidade social, que exercem influência marcante em todo
pensamento sociológico no século XX. “O método de compreensão, cuidando
dos problemas pertinentes à socialização e às bases sociogenéticas da interação
social, permite abstrair as variáveis operativas de um campo a-histórico; o método
objetivo (ou genético-comparativo), focalizando os problemas ontogenéticos e
filogenéticos colocados pela classificação das estruturas sociais, permite abstrair
as variáveis operativas, combinadas em constelações nucleares mutáveis, de um
campo supra histórico; e o método dialético, tratando das relações existentes
entre as atividades socialmente organizadas e a alteração dos padrões da ordem
social, que caem na esfera de consciência social, permite abstrair as variáveis
86SOCIOLOGIA, ESTUDOS ANTROPOLÓGICOS
E RELAÇÕES ÉTNICO-RACIAIS
operativas de um campo histórico”. Cada método lida com a realidade social de
forma peculiar quanto à relação do real com o pensado e vice-versa.
Essas peculiaridades estão simbolizadas no tipo ideal weberiano, no tipo médio
durkheimiano e no tipo extremo marxista. Cada um “representa uma construção
lógica ou mental, produzida em função dos intuitos ou propósitos cognitivos do
investigador”. Sob vários aspectos, a minuciosa e fundamental análise desses
paradigmas propicia o resgate do conteúdo crítico do pensamento clássico.
Resgate esse cada vez mais estimulado pela reflexão dialética.
É claro que as contribuições teóricas dos clássicos tiveram desenvolvimentos
diversos, às vezes notáveis. Além disso, têm surgido outras e novas propostas
teóricas: fenomenologia, existencialismo, estruturalismo, estrutural-
funcionalismo, hiperempirismo dialético, teorias de alcance médio, teorias
sistêmicas e assim por diante. Mas talvez seja possível afirmar que todas as
mais notáveis contribuições teóricas posteriores aos clássicos guardam algum,
ou muito, compromisso com eles. A sociologia é uma forma de apropriação e
constituição do mundo social gerada por dissolução da comunidade, emergência
da sociedade burguesa, dinâmica de uma sociedade fundada nas desigualdades
social, econômica, política e cultural.
Esse, em forma breve, o nível, o estatuto, em que se lança a sociologia crítica.
Sintetiza e desenvolve um diálogo de amplas proporções. Nesse sentido é que se
pode dizer que a sociologia de Florestan Fernandes sintetiza as contribuições de
cinco fontes. Algumas das principais características da sua produção intelectual
expressam um diálogo com essas fontes. Naturalmente elas se revelam de modo
diferenciado, menos aqui, mais ali. Não são igual e homogeneamente visíveis em
cada monografia, ensaio, livro, artigo, aula, conferência, debate. Mas mostram-
se plenas no todo, quando examinamos o conjunto da produção intelectual de
Florestan Fernandes.
Fonte: Ianni (1996)
87SOCIOLOGIA, ESTUDOS ANTROPOLÓGICOS
E RELAÇÕES ÉTNICO-RACIAIS
3.2.2 O autor em Revista
Florestan Fernandes, um militante do ensino democrático.
O sociólogo não só refletiu sobre a escola brasileira, apontando seu caráter
elitista, como atuou pessoalmente em defesa da educação para todos.
Florestan Fernandes (1920-1995) foi um dos mais influentes sociólogos
brasileiros, mas muitos o chamavam de educador sem saber que isso o
incomodava em sua modéstia. O equívoco tinha razão de ser. Vários escritos
de Florestan tiveram a educação como tema e sua atuação na Câmara dos
Deputados, já no fim da vida, se concentrou na área do ensino. Além disso,
a preocupação com a instrução era um desdobramento natural de sua obra
de sociólogo. “Em nossa época, o cientista precisa tomar consciência da
utilidade social e do destino prático reservado a suas descobertas”, escreveu.
Como o italiano Antônio Gramsci (1891-1937), Florestan militava em favor do
socialismo e não separava o trabalho teórico de suas convicções ideológicas. Ainda
que com abordagens diferentes, ambos acreditavam que a educação e a ciência
têm, potencialmente, uma grande capacidade transformadora. Por isso, deveriam
ser instrumentos de elevação cultural e desenvolvimento social das camadas mais
pobres da população. “Um povo educado não aceitaria as condições de miséria e
desemprego como as que temos”, disse ele em entrevista a NOVA ESCOLA em
1991. “A escola de qualidade, para Florestan, não era redentora da humanidade,
mas um instrumento fundamental para a emancipação dos trabalhadores”,
diz Ana Heckert, docente da Universidade Federal do Espírito Santo.
Florestan tomou para si a tarefa de romper com a tradição de
pseudoneutralidade das ciências humanas e reconstruir uma análise do Brasil
abertamente comprometida com a mudança social. Segundo sua análise, uma
classe burguesa controlava os mecanismos sociais no Brasil, como acontecia em
quase todos os países do Ocidente. No entanto - por causa de fatores históricos
como a escravidão tardia, a herança colonial e a dependência em relação ao
capital externo -, a burguesia brasileira era mais resistente às mudanças sociais
do que as classes dominantes dos países desenvolvidos.
88SOCIOLOGIA, ESTUDOS ANTROPOLÓGICOS
E RELAÇÕES ÉTNICO-RACIAIS
Revolução incompleta
Segundo Florestan, a revolução burguesa, cujo exemplo emblemático
é a de 1789 na França, não teria se completado no Brasil. Enquanto os
revolucionários franceses do século 18 exigiam ensino público e universal,
as elites brasileiras do século 20 ainda queriam controlar a educação para
manter a maioria da população culturalmente alienada e afastada das decisões
políticas. Por isso, uma das principais lutas de Florestan foi pela manutenção e
pela ampliação do ensino público (leia quadro na página 109). “Ele acreditava
que o sucateamento da escola, com péssimas condições de trabalho e estudo,
fazia parte das tentativas de sufocar a democratização da sociedade por meio
da restrição do acesso à cultura e à pesquisa”, diz a pesquisadora Ana Heckert.
O Brasil, dizia o sociólogo, era atrasado também em relação ao que ele
chamava de cultura cívica, ou seja, um compromisso em torno do mínimo
interesse comum. Para Florestan, não havia tal cultura no Brasil por dois motivos:
ela estimularia as massas populares a participar politicamente e ao mesmo tempo
tiraria das classes dominantes a prerrogativa de fazer tudo o que quisessem sem
precisar dar satisfações ao conjunto da população.
Revolução incompleta
Segundo Florestan, a revolução burguesa, cujo exemplo emblemático é a de
1789 na França, não teria se completado no Brasil. Enquanto os revolucionários
franceses do século 18 exigiam ensino público e universal, as elites brasileiras
do século 20 ainda queriam controlar a educação para manter a maioria
da população culturalmente alienada e afastada das decisões políticas. Por
isso, uma das principais lutas de Florestan foi pela manutenção e pela
ampliação do ensino público (leia quadro na página 109). “Ele acreditava que
o sucateamento da escola, com péssimas condições de trabalho e estudo, fazia
parte das tentativas de sufocar a democratização da sociedade por meio da
restrição do acesso à cultura e à pesquisa”, diz a pesquisadora Ana Heckert.
O Brasil, dizia o sociólogo, era atrasado também em relação ao que ele
chamava de cultura cívica, ou seja, um compromisso em torno do mínimo
interesse comum. Para Florestan, não havia tal cultura no Brasil por dois motivos:
ela estimularia as massas populares a participar politicamente e ao mesmo tempo
tiraria das classes dominantes a prerrogativa de fazer tudo o que quisessem sem
precisar dar satisfações ao conjunto da população.
89SOCIOLOGIA, ESTUDOS ANTROPOLÓGICOS
E RELAÇÕES ÉTNICO-RACIAIS
Mestre de uma geração desbravadora
Florestan Fernandes integrou a primeira geração de sociólogos formados
pela Universidade de São Paulo, da qual também fez parte o crítico literário
Antônio Candido. Foi mestre da terceira geração, que incluía Octavio Ianni e
o futuro presidente Fernando Henrique Cardoso. De um modo ou de outro,
tanto veteranos quanto seus discípulos viveram grande parte de sua existência
sob longas ditaduras - primeiro a de Getúlio Vargas (1937-1945), que havia sido
precedida de governos apenas parcialmente democráticos, e depois o regime
militar, iniciado em 1964 e encerrado com eleições indiretas em 1984. Não é de
espantar que o período de liberdade civil anterior a 1964, em especial o governo
Juscelino Kubitschek (1956-1960), tenha sido tão produtivo para todos esses
intelectuais. Algumas das mais importantes reflexões sobre o Brasil datam dessa
época, tanto nas ciências humanas como nas artes (com exemplos como a Bossa
Nova e o Cinema Novo).
Fonte: Revista Escola (2017)
3.3 HERBERT JOSÉ DE SOUZA
Começamos este caderno de sociologia, falando sobre a importância desta ciência e de sua
preocupação com a sociologia e suas relações.
O sociólogo que vamos conhecer agora, além de se ocupar do entendimento das causas que
criam a pobreza e a desigualdade social, Betinho como passa a ser carinhosamente chamado pela
população brasileira, apesar dos inúmeros problemas enfrentados em sua vida pessoal, arregaça
as mangas e com todos os meios possíveis ao seu alcance vai tentar transformar essa realidade.
Para este sociólogo por questões éticas todos deveriam ter os mesmos direitos na sociedade,
apesar da diversidade cultural do brasileiro e essa igualdade passaria muito mais pelas questões
éticas do que políticas. A política era para Betinho o instrumento da ação democrática que
organizaria formas de garantir a todos, os direitos básicos de educação, alimentação, cultura
entre outros.
Fortemente marcado pela doutrina marxista, este sociólogo combateu incessantemente a
exclusão, apontando o desenvolvimento do país marcado desde sua colonização por uma forte
90SOCIOLOGIA, ESTUDOS ANTROPOLÓGICOS
E RELAÇÕES ÉTNICO-RACIAIS
e cruel exclusão social, tanto no passado quanto no presente, Betinho aponta que a péssima
distribuição da renda e das riquezas a que exploradas produziu essa enorme massa de excluídos
o que chamava de imenso “outro”.
Ao referir-se a democracia, Betinho não se referia apenas as questões relacionadas as
instituições, ao voto e também a liberdade de expressão, para ele, esse termo era composto
por muitos mais significados e atingia níveis muitos maiores na consolidação de direitos, nos
princípios de igualdade, liberdade em todos os níveis, diversidade, participação e principalmente
solidariedade,
Como pode um país ser apontado por organismos internacionais como grande concentrador
de renda ser repleto de desigualdades sociais?
Como pode um país ser considerado democrático se grande parte da população passa fome?
Essas indagações eram constantes nos trabalhos deste sociólogo, que leva a palavra democracia
uma amplitude jamais vista no Brasil.
Herbert José de Souza, “Betinho”
Sociólogo e ativista social brasileiro
O sociólogo Herbert José de Souza foi um exemplo de vontade e persistência.
Amante da justiça e inconformado com a miséria humana, mesmo convivendo
com a hemofilia e o vírus da aids, contraído por transfusão de sangue, liderou
uma das mais expressivas campanhas de solidariedade que o Brasil já conheceu
e um dos mais belos exemplos de cidadania: a Ação da Cidadania contra a Fome
e a Miséria. Criada em 1993 com o lema “Cada um pode fazer alguma coisa pelo
outro”, sem recorrer ao governo nem às lideranças econômicas ou partidárias, a
Campanha da Fome, como ficou conhecida, chegou a mobilizar cerca de 3 milhões
de voluntários, arrecadando e distribuindo toneladas de alimentos para famílias
carentes de todo o Brasil. Além da alimentação, estendeu o tema ao emprego, à
renda e à terra, defendendo um plano de reforma agrária para o país.
Apoiou ainda programas em favor da educação e da saúde, contra a violência
de que são vítimas crianças e de adolescentes abandonados e foi um vivaz
batalhador nas campanhas pelo controle do sangue e do sexo seguro. Mineiro
de Bocaiúva, quando jovem, participou ativamente do movimento político
91SOCIOLOGIA, ESTUDOS ANTROPOLÓGICOS
E RELAÇÕES ÉTNICO-RACIAIS
estudantil, integrando a Juventude Universitária Católica (JUC). Aderiu mais tarde
à Ação Popular (AP), organização de esquerda nascida da atividade dos católicos
progressistas e que se tornaria marxista. Com o golpe militar de 1964, sofrendo
perseguições, exilou-se no Uruguai. De volta ao Brasil, em 1965, depois de preso,
permaneceu na clandestinidade até 1971, quando se exilou novamente, dessa
vez no Chile. Com o golpe militar chileno em 1973, seguiu para o Panamá e, em
seguida, para o Canadá. Viveu quatro anos em Toronto, onde conquistou o título
de doutor em Ciências Políticas, pela Universidade de York, e organizou um centro
de estudos sobre o Brasil, que, ampliado para a América Latina, com parcerias de
chilenos, argentinos e uruguaios, se transformou na Latin American Research
Unity (Laru). Depois de morar um ano no México, a convite da Universidade
Nacional Autônoma do México (Unam), com a anistia de 1979, retornou ao Brasil,
fundando o Instituto Brasileiro de Análises Sociais e Econômicas (Ibase), no Rio
de Janeiro, em 1981. Indicado por Lula, ingressou no Conselho de Seguridade
Alimentar (Consea), em 1993, iniciando sua campanha contra a fome, a miséria e
a desigualdade.
Fonte: Click educação (2017)
3.4 FERNANDO HENRIQUE CARDOSO
Ex-presidente do Brasil, o sociólogo Fernando Henrique Cardoso surge no cenário brasileiro
como um notável intelectual que entra para a vida política como estadista com grande capacidade
AUTO ATIVIDADE
Como você pode perceber a sociologia no Brasil está bem representada, Além dos sociólogos aqui apresentados, muitos outros contribuíram para o pensamento sociológico
em nosso país-, dentre eles nosso ex-presidente Fernando Henrique Cardoso que desenvolve a teoria da dependência. Pesquise sobre essa teoria e produza um pequeno texto, analisando suas colocações sobre os países em desenvolvimento, após sua atividade realizada, poste a mesma em nosso ambiente virtual.
92SOCIOLOGIA, ESTUDOS ANTROPOLÓGICOS
E RELAÇÕES ÉTNICO-RACIAIS
de articulação entre os partidos políticos.
No ano de 1961, conclui seu doutorado em Ciências Políticas e, convidado pelo francês Alain
de Touraine, vai para a França fazer seus estudos de pós-graduação em Paris.
Por forças políticas, exilou-se no Chile logo após o golpe militar de 1964 e atua no Instituto latino-
americano de Planejamento Econômico – ILPES. Publica nesta época sua tese “Desenvolvimento
e dependência na América Latina”, junto com Enzo Faletto. Fernando Henrique Cardoso, atua
também na França e só em 1968 retorna ao Brasil.
Com grande importância no cenário científico, principalmente para as ciências sociais, a obra
deste estudioso não pode ser ignorada, pois várias são suas publicações, tanto nacionais quanto
internacionais e se dão por quase dezoito anos seguidos.
Sua obra procura teorizar sobre a formação específica de países subdesenvolvidos com
passado colonial, com ênfase no Brasil. Como destaque de suas produções este sociólogo fica
mundialmente conhecido por sua teoria da dependência.
A teoria e seu destino...
Fernando Henrique Cardoso e a teoria da dependência
Na obra escrita com Enzo Falleto, no Chile, em 1967, (intitulada “Dependência
e Desenvolvimento na América Latina”) e, em textos posteriores (como o livro
“As ideas e seu lugar”), Cardoso colocou em relevo o papel dos fatores internos
na compreensão dos processos estruturais de dependência. Nesta direção, ele
procurava mostrar como as diferentes formas de articulação entre economias
nacionais e sistema internacional e, ao mesmo tempo, os diferentes arranjos de
poder, indicavam modalidades distintas de integração com os pólos hegemônicos
do capitalismo. Assim, em seu ponto de partida (período primário-exportador),
podiam ser identificadas duas formas distintas de organização econômica: as
economias de enclave e aquelas na qual existia o controle nacional do sistema
produtivo. A evolução destas diferentes formas de articulação econômica com
o capitalismo mundial também se diferenciou de acordo com as composições
e lutas de classes dos diferentes países da América Latina. Nas década de 1960
e 70, as sociedades latino-americanas já tinham consolidado seu mercado
interno e a internacionalização do capitalismo (fase do capitalismo monopolista,
com expansão das indústrias multinacionais) indicava um novo padrão de
dependência.
93SOCIOLOGIA, ESTUDOS ANTROPOLÓGICOS
E RELAÇÕES ÉTNICO-RACIAIS
A obra de Fernando Henrique Cardoso notabilizou-se também pelo fato
de negar que a dependência implicava – necessariamente – em estagnação
econômica e subdesenvolvimento e de que a ruptura socialista seria a única via
possível para a industrialização do continente. Ao mesmo tempo, Cardoso criticou
o “consumo” da ideia de dependência como arcabouço teórico sistemático e
a-histórico, lembrando que as “análises da dependência” constituam estudos
que estavam situados no campo teórico do marxismo, em particular da teoria do
imperialismo, sendo seu objetivo precípuo a análise da realidade concreta das
diferentes sociedades situadas na América Latina.
O DESPRESTÍGIO DA TEORIA DA DEPENDÊNCIA
A Teoria da Dependência no decorrer da década de 1970 entrou em uma
crise, a produção autoral ligada a ela diminuiu, principalmente a partir do fim
dessa década. Sofreu um primeiro baque com o golpe do Chile (1973). Foi muito
criticada porque teria influenciado o governo chileno de Salvador Allende. Seus
críticos dizem que assim como a experiência fracassou, a teoria da dependência
teria tido o mesmo destino
Segundo os críticos, ela também não teria captado as mudanças que ocorreram
na década de 1980, a partir dos dois mandatos do presidente dos Estados Unidos,
Ronald Reagan (1980-1988) - a consolidação do neoliberalismo na América
Latina, e nos anos 1990 a globalização. Outros, por sua vez, dizem que a teoria da
dependência não processou essa fase porque já estava em baixa.
No fim da década de 1970 encerra-se o ciclo de densenvolvimento a partir das
experiências de industrialização planejadas pelos governos locais. A economia
desses países ficaram mergulhada na hiper-inflação e na crise das dívidas
externas. Nesse contexto, o espaço do debate em torno ao desenvolvimento ficou
limitado. Também, houve um “vendaval neoliberal” que afastou o interesse da
intelectualidade e dos formuladores das políticas públicas por essa perspectiva,
inclusive entre as novas gerações. O debate acadêmico e político na região durante
a década de 1980 e 1990 ficou impregnado e dominado pelos temas e perspectivas
derivadas da Macroeconomia.
Apesar do retorno do exílio com a re-democratização nos países sulamericanos
os autores da teoria da dependência tiveram grande dificuldade de ocupar o
espaço para no debate nas ciências sociais. No caso brasileiro ajudou a limitar
94SOCIOLOGIA, ESTUDOS ANTROPOLÓGICOS
E RELAÇÕES ÉTNICO-RACIAIS
o espaço acadêmico, o advento da Escola de Campinas no decorrer da década
de 1970, inclusive ganhando popularidade na intelectualidade acadêmica e
nas autoridades das políticas públicas, inclusive por sua ligação com os temas
macroeconômicos. Houve, particularmente no Brasil, apesar da anistia,
dificuldade dos intelectuais da dependência em re-inserir-se em universidades
e centros de pesquisa importantes. Também houve uma campanha de críticas
contra a Teoria, em que colaborou antigos membros como o próprio Fernando
Henrique Cardoso.
No decorrer da década de 1970 com a fuga do Chile e ascensão em quase
todos os países de governos autoritários, houve uma dispersão do grupo e uma
baixa articulação entre os mesmos, além de uma perseguição às suas ideias,
dificultando a divulgação de seu pensamento. No Brasil, acrescem-se dois fatos: a
expulsão precoce dos fundadores pela ditadura militar entre 1964 a 1967 e a pouca
edição em língua portuguesa das obras da corrente.
Os próprios autores ligados à teoria da dependência também em parte
contribuíram para situação de baixa. Houve dificuldades desses intelectuais após
a redemocratização em seus países em se reinserirem nos movimentos sociais
mais dinâmicos e em organizações política de maior influência de massas, o que
poderia ter ajudado na sua popularidade.
NOVOS RUMOS DOS AUTORES TEORIA DA DEPENDÊNCIA
Também, parte da dificuldades pode ser atribuidas aos próprios autores da
teoria da dependência, em medida dos seus próprios novos rumos intelectuais e
na direção da produção autoral tomada a partir do fim da década de 1970 e início
da década de 1980.
Ruy Mauro Marini faz reflexões atualizando e aperfeiçoando suas análises
sobre o capitalismo latino-americano em vários artigos, mas não há uma análise
profunda e sistemática do neoliberalismo e da globalização, embora estabelecera
no México um importante centro de investigação sobre a América Latina.
Theotonio dos Santos faz um trânsito sem rupturas à Teoria do Sistema mundo. O
mesmo fará André Gunder Frank, que em Reflections on the World Economic Crisis
(1981) explica isso com as seguintes palavras “embora a teoria da dependência
esteja morta, na realidade está viva, porque não há como substituí-la por uma
teoria ou ideologia que negue a dependência; seria necessário substituí-la por
95SOCIOLOGIA, ESTUDOS ANTROPOLÓGICOS
E RELAÇÕES ÉTNICO-RACIAIS
uma teoria que fosse além dos limites da teoria da dependência, incorporando
esta, juntamente com a dependência em si, numa análise global da acumulação.”
Nessa nova fase acadêmica, a partir das bases estabelecidas pela teoria da
dependência, dedicam-se à elaboração de uma teoria dos ciclos sistêmicos de
acumulação que vislumbra como uma fase superior da teoria da dependência para
o qual retoma o trabalho já iniciado no CESO e que havia sido, em grande parte,
destruído pela repressão chilena. Theotonio dos Santos e André Gunder Frank
passam tratar a ideia de desenvolvimento de longo termo do sistema mundial
capitalista combinando com os ciclos de longo prazo de Nikolai Kondratiev (as
ondas longas ou ciclos de Kondratiev) e os ciclos históricos de Fernand Braudel,
aproximando assim da teoria do sistema mundial, também trabalhada por
Giovanni Arrighi, Samir Amin e Immanuel Wallerstein.
Fonte: Wikipedia ,(2017b)
96SOCIOLOGIA, ESTUDOS ANTROPOLÓGICOS
E RELAÇÕES ÉTNICO-RACIAIS
RELAÇÕES ÉTNICO-RACIAIS
4 DIFERENÇAS PELA DIVERSIDADE
Ao longo das últimas décadas e com as novas tecnologias, parece que o mundo em que
vivemos tornou-se menor. Coisas, informações, conhecimentos que antes levavam dias e até
mesmo meses para chegar até nós, hoje apenas num toque de controle remoto ou click do mouse
em seu computador, apresentam-se quase que instantaneamente, mostrando-nos o que está
acontecendo no mundo nas mais diversas áreas.
Apesar dessas facilidades, é fato ainda, que vivemos num mundo de grandes desigualdades e
diferenças. Lidar com elas, nem sempre é fácil, visto que as mais simples são facilmente notadas
e trabalhadas em nossas relações sociais de forma relativamente tranquilas, exemplo delas são as
questões políticas, as religiosas, embora estas já tenham sido motivos de guerras e intolerâncias
e ainda hoje apresentam alguns problemas, agremiações desportivas, entre outras.
Por outro lado, existem temas mais complexos que exigem do ser humano racional uma
abordagem mais crítica e uma postura ética em relação a tudo que norteiam estas questões. Entre
elas, queremos destacar aqui, a diversidade em suas mais variadas formas, mas com um enfoque
mais específico às questões étnico-raciais.
Viver nesta nova sociedade global e tecnológica implica cada vez mais na necessidade de
adotarmos uma postura ética em relação à diferenças, além disso, para que possamos mudar
nossas ações e modo de pensar, também é necessário que possamos percebe-las e traze-las à
discussão, conhecendo novos pontos de vista a este respeito através do pensamento de outros
interlocutores. Se não formos capazes de discutir estes assuntos a partir da divergência de
opiniões, corremos o risco de supor que nossa forma de pensar é única e a correta, sendo assim
UNIDADE IV
97SOCIOLOGIA, ESTUDOS ANTROPOLÓGICOS
E RELAÇÕES ÉTNICO-RACIAIS
imutável, dando a ela um juízo de valor impossível de ser transformado, não nos permitindo
viver de forma plena neste novo mundo ávido por mudanças e cada vez mais diversos.
Iniciando esse capítulo, nossa proposta de abertura a estas discussões acerca de
questões étnico-raciais, trago a vocês uma importante questão, relacionada à formação
étnica do povo brasileiro, ou seja, dos homens e mulheres que fazem parte da jovem
história deste país. Embora muitas faces dessa “formação” possam serem aqui discutidas,
é nas desigualdades que vamos nos debruçar, mais precisamente no entendimento de
como um grupo se torna “minoria” e passa a ser desvalorizado em relação ao outro.
A história de um país, geralmente é contada sob o ponto de vista dos vencedores, essa
história normalmente é ida como “oficial”. No Brasil, esta história, infelizmente relega
aos negros e negras um papel secundário em nossa formação enquanto Povo, Estado ou
Nação.
Entender o papel do negro através de um outro olhar mais crítico e justo permite-nos
perceber o processo de exclusão social destinados aos negros deste país e, a partir desta
percepção, construirmos uma sociedade menos desigual e um pouco mais justa.
Para início de discussão acredito serem necessárias algumas indagações
a. No cenário político brasileiro, quantos negros e negras você conhece ocupando altos
cargos na administração pública?
b. Quantos grandes administradores de empresas (CEO’s) são negros ou negras?
c. Nas novelas e filmes de nosso país, quanto protagonistas principais são negros?
Se de fato queremos discutir esse assunto de forma crítica e isenta de juízo de valores, é
preciso que aceitemos que há sim em nossa sociedade uma brutal discriminação racial e que ela
está presente em toda a sociedade, tanto de forma mais branda, nas diversas piadinhas contadas
de forma “inocente”, quanto pela ausência desconcertante da ocupação por negras e negras dos
espaços privilegiados em nossa sociedade.
Você não acha estranho que em uma sociedade que tem sua maioria formada por negros
ou pardos tem nos bancos das universidades ou faculdades particulares, incluindo a sua, uma
maioria absoluta de acadêmicos brancos? Por que isso acontece?
Vale aqui ressaltar que essa desigualdade de oportunidades não é exclusividade da população
98SOCIOLOGIA, ESTUDOS ANTROPOLÓGICOS
E RELAÇÕES ÉTNICO-RACIAIS
negra ou afrodescendente, outros grupos também a sofrem, tanto no Brasil, quanto nos demais
pontos do mundo.
Sabedores disso, o que devemos fazer para mudar essa situação? Certamente a mudança
começa pelo conhecimento.
VAMOS REFLETIR:
• A raça é um conceito que obedece diversos parâmetros para classificar diferentes populações de uma mesma espécie biológica de acordo com suas características genéticas ou fenotípicas; é comum falar-se das raças de cães ou de outros animais.
• Um grupo étnico é um grupo de pessoas que se identificam umas com as outras, ou são identificadas como tal por terceiros, com base em semelhanças culturais ou biológicas, ou ambas, reais ou presumida.
AUTO ESTUDO
Para que vocêpossa aprofundar mais suas discussões sobre este tema, procure em nossa
plataforma digital (blackboard) o artigo intitulado “A inexistência biológica versus a existência social de raças humanas: pode a ciência instruir o etos social?”, de Sérgio Pena e Telma Birchal. Faça a leitura do artigo, elencando 10 argumentos dos autores que, a seu ver, refletem mais proximamente suas opiniões a respeito deste tema. Após elencar os mesmos, elabore um pequeno texto que deverá ser publicado num fórum criado pelo professor em nossa plataforma de estudos.
99SOCIOLOGIA, ESTUDOS ANTROPOLÓGICOS
E RELAÇÕES ÉTNICO-RACIAIS
4.1 O TEMA EM ARTIGO
ORIGENS E SIGNIFICADOS DO TERMO RAÇA
Maria Clareth Gonçalves Reis
Doutora em Educação pela UFF
Pesquisadora Associada do NEAB/UFJF
Capacitadora do projeto A Cor da Cultura
1 INTRODUÇÃO
Este artigo baseia-se nas necessidades observadas durante os cursos de
formação de professores para trabalhar com a Lei 10.639/03. Lei que torna
obrigatório o ensino de História e Cultura Afro-brasileiras, História da África e
dos africanos nos estabelecimentos de ensino públicos e privados.
Tive a oportunidade de conhecer um pouco o perfil de professores/as de
alguns Estados brasileiros, dentre eles: Mato Grosso do Sul, São Paulo, Minas
Gerais, Rio de Janeiro, Pernambuco, Rio Grande do Sul, Paraná, etc. Nessas
ocasiões, percebi que parte significativa dos participantes desconhece a base do
pensamento racista que, consequentemente, originou o racismo. A ideologia de
superioridade e inferioridade entre os grupos humanos ainda permanece ativa
em muitos pensamentos. Diante disso, surgiram algumas indagações: por que
essa ideologia ainda está presente no pensamento de muitas pessoas? Como
ela foi historicamente construída? E, conforme foi anunciado no Caderno 2, de
Metodologia, da Cor da Cultura, “desvendar alguns conceitos, pode nos ajudar
a rever nossos “pré-conceitos” (BRANDÃO 2006, p. 20). Daí, a necessidade de se
conhecer a origem dos termos raça e racismo.
Inicialmente, é necessário entendermos a gênese da ideia de raça, base
do pensamento racista, e de onde se originou a ideologia de superioridade e
inferioridade racial. Na concepção de Quijano (2000), a origem está no nascimento
da América e no surgimento do capitalismo colonial/moderno e euro centralizado,
como um novo padrão de poder mundial. Uma das marcas fundamentais desse
padrão de poder é a “classificação social da população mundial a partir da ideia
100SOCIOLOGIA, ESTUDOS ANTROPOLÓGICOS
E RELAÇÕES ÉTNICO-RACIAIS
de raça, uma construção mental que expressa a experiência básica da dominação
colonial” (SQUIJANO.2000.p.1). A partir daí, essa ideia teve grande repercussão e
influência nas formas de poder e domínio mundial.
A partir de estudos de evolução biológica do século XIX aplicou-se o conceito
de raça à humanidade, marcando a relação de superioridade e inferioridade entre
colonizadores e conquistados. Tal concepção justificou as respectivas relações de
dominação. Essa classificação racial (que atribuía aos colonizadores o poder de
separar a população entre “superior” e “inferior”) não ficou restrita à América.
Expandiu-se por todo o mundo, criando novas identidades sociais (índios, negros,
mestiços) e redefinindo outras.
Assim, o advento da ideia de raça na América legitimou as relações de
dominação europeia. Ideia falsificadora da realidade, mas que justificava a visão
eurocêntrica do conhecimento; supremacia cultural a partir de um modelo
que se julgava hegemônico não só na Europa, mas fora dela, desrespeitando a
diversidade cultural existente em outras sociedades.
Paralelamente ao surgimento dessa perspectiva, teorias sobre raça são
elaboradas para justificar e naturalizar as relações coloniais. Isto é, pré-conceitos
com status de ciência para explicar as relações entre dominadores e dominados
sob a falsa ótica de superioridade e inferioridade entre seres humanos. É o que
veremos a seguir.
2 O DEBATE EM TORNO DAS TEORIAS RACIAIS NO SÉCULO XIX
Neste texto, a prioridade de análise é dada ao século XIX, pois é o período
marcante da discussão sobre o significado e o uso do conceito de raça. Ao fazer
este debate, tenho ciência da sua complexidade e da impossibilidade de esgotá-lo.
Mas, ao mesmo tempo, para entendermos o racismo presente em nossa sociedade
precisamos compreender a ideia de raça, seu significado, por quem foi usado e
ainda o é, e qual o seu papel nas políticas sociais e educacionais.
A utilização de teorias raciais, em cada momento histórico, não ocorreu de
forma aleatória, já que cada uma delas apresentava intenções e objetivos bastante
definidos. Nesse contexto, o antropólogo Kabengele Munanga discute raça,
partindo do pressuposto de que os conceitos têm uma historicidade através da
qual podemos melhor compreender o seu significado. Alerta ainda que conceitos
101SOCIOLOGIA, ESTUDOS ANTROPOLÓGICOS
E RELAÇÕES ÉTNICO-RACIAIS
são objetos de manipulação política e ideológica, sendo necessário o máximo
de atenção em sua análise para perceber sua eficácia em retratar a realidade
contemporânea.
Ainda, segundo esse autor, raça já teve vários significados ao longo da história.
Foi utilizada para classificar espécies (animais e vegetais); como referência
de “pureza” de sangue por meio da expressão “raça nobre”; para classificar a
diversidade humana, apoiando-se na tese do determinismo biológico. Através da
antropometria, teve o objetivo de analisar os aspectos externos da raça e do seu
potencial criminal para descobrir os criminosos, antes mesmo da prática do crime;
tentando provar que a mestiçagem produz raças degeneradas e a superioridade
da raça branca sobre as demais, etc.
O debate sobre a origem da humanidade prosseguiu no século XIX, através
das versões: monogenista e poligenista. A primeira perdurou até a metade desse
século e acreditava que a humanidade era una, isto é, surgira de um só núcleo
de criação e dele se expandiu. Em contraposição, a segunda versão, poligenista,
defendia a existência de vários núcleos de criação e que estes estariam
relacionados às diferenças raciais observadas. Independentemente de uma
análise mais aprofundada sobre essas teses, a verdade é que a segunda versão
propiciou o avanço de uma interpretação biológica sobre os comportamentos
humanos, sendo estes compreendidos a partir de leis biológicas e naturais.
Segundo Skidmore (1976), a partir de 1860 as teorias raciais obtiveram plena
aceitação nos Estados Unidos e na Europa. Diz ainda o autor que durante o
século XIX surgiram três grandes escolas de teorias raciais: a primeira foi a
etnológico-biológica. Nesta escola, a poligenia (criação das raças humanas
através de mutações diferentes das espécies) teve grande influência. “A base de
seu argumento era que a pretendida inferioridade das raças – indígena e negra
– podia ser correlacionada com suas diferenças físicas em relação aos brancos; e
que tais diferenças eram resultado direto da sua criação como espécies distintas”
(SKDMORE.1976.p. 66).
Por sua vez, o suíço Louis Agassiz foi um dos teóricos que mais se apossaram
dessa versão, utilizando-a na defesa da superioridade da raça branca sobre
as demais. Para ele, as diferentes espécies (ou raças) estariam relacionadas às
diferenças climáticas. Assim, essas suposições apontavam a raça branca como
superior, tanto em qualidades mentais quanto sociais, demonstrando, inclusive,
a capacidade de “criar civilizações”. Para os demais estudiosos dessa versão, esses
102SOCIOLOGIA, ESTUDOS ANTROPOLÓGICOS
E RELAÇÕES ÉTNICO-RACIAIS
argumentos tinham base científica; portanto, deveriam ser aceitos como um fato
inquestionável.
Entretanto, essa teoria foi substituída pela teoria de Charles Darwin. Numa
viagem de cinco anos ao redor do mundo, o arguto senso de observação de Darwin
permitiu-lhe colher dados sobre a adaptação das diferentes espécies animais
e vegetais ao seu meio ambiente. A partir daí, construiu a Teoria da Evolução.
A sua reflexão foi apropriada pela classe dominante burguesa, aplicando-a
mecanicamente à história social humana, vindo justificar o imperialismo, a
guerra, o domínio do europeu sobre o resto do mundo, “do mais forte sobre o
mais fraco, do mais adaptado ao menos adaptado” (SCHWARCZ, 1993, p. 80). É o
chamado “darwinismo social”.
A segunda escola do pensamento racista, a escola histórica, surgiu nos
Estados Unidos e na Europa, porém, demonstrou-se influente também no
Brasil. Os pensadores dessa corrente partiam do pressuposto de que as diversas
raças humanas poderiam ser diferenciadas umas das outras, e que, no entanto,
a raça branca seria, indiscutivelmente, superior às demais. Gobineau, um
dos representantes dessa ideia, contribuiu com a divulgação do pensamento
determinista, afirmando que o fator determinante da história humana era a raça.
Defensor ardoroso da pureza das raças, Gobineau argumentava sobre a “raça
suprema ariana”, “produtora exclusiva de civilização e sobre a associação entre
a mestiçagem e a decadência (supondo que a mistura de raças ‘desiguais’ conduz
à degeneração de um povo)” (SEYFERTH, 2002, p. 19). Para ele, o surgimento
das grandes civilizações decorreria da conquista das raças inferiores. Assim, a
abordagem histórica teve como marca principal o culto ao arianismo.
A terceira escola do pensamento racista intitula-se determinismo biológico.
Para DaMatta (1987), no determinismo biológico “as diferenciações biológicas
são vistas como tipos acabados e que cada tipo está determinado em seu
comportamento e mentalidade pelos fatores intrínsecos ao seu componente
biológico” (DAMATTA.1987.p. 71). Ou seja, ele é imutável pela ação social, tirando
a responsabilidade da sociedade, já que são os elementos herdados por cada
indivíduo que determinam, desde o seu nascimento, o que ele será futuramente:
um agricultor, um desempregado, um burguês ou um mendigo, sem que ninguém
possa intervir nesses resultados. Assim, esse determinismo é usado para justificar
a superioridade e o domínio de uma raça sobre outra.
Todas essas teorias racistas foram muito bem aceitas e utilizadas pelos teóricos
103SOCIOLOGIA, ESTUDOS ANTROPOLÓGICOS
E RELAÇÕES ÉTNICO-RACIAIS
brasileiros do século XIX, dentre eles, Silvio Romero, Nina Rodrigues, Oliveira
Viana e João Batista Lacerda. O antropólogo Nina Rodrigues, por exemplo, um
dos nomes mais destacados entre os doutrinadores racistas da época, não via
a mistura das raças como algo positivo para o Brasil. Através de seus estudos
sobre a influência do africano no Brasil, realizado na Bahia na década de 90 do
século XIX, ele detectou a inferioridade do africano a partir de seus parâmetros
científicos. Sua teoria foi aplicada em seu trabalho de medicina legal, afirmando
que “as características raciais inatas afetavam o comportamento social e deveriam
ser levadas em conta por legisladores e autoridades policiais” (DAMATTA 1987, p.
76).
Assim, na concepção de Nina Rodrigues, a raça negra não poderia ter tratamento
equivalente à raça branca. Ele se opunha veementemente à crença de que o Brasil
se tornaria branco através do processo de miscigenação, tese defendida por João
Batista Lacerda a partir da teoria do branqueamento. Na opinião de Lacerda, a
mestiçagem seria um fenômeno inevitável. Assim, “a melhoria da raça brasileira,
através da miscigenação das raças inferiores com o branco, iria produzir no Brasil,
ao cabo de 100 anos, o total embranquecimento da população” (LOBO, 2000, p.
72). Para isto, o incentivo à imigração europeia para o Brasil seria fundamental.
Essa também era uma proposta da eugenia (eu: boa, genus: geração), criada
em 1883 pelo britânico Francis Galton, com o objetivo de difundir a eliminação
das raças inferiores, intervindo, sobretudo, na reprodução das pessoas e nos
casamentos inter-raciais. Segundo esse pensamento, era necessário, através
dessas práticas, encontrar um maior equilíbrio genético para aprimorar as
populações, identificando os traços físicos que apresentassem grupos sociais
indesejáveis. Os eugenistas diziam que o problema não se resumia à questão
do negro e do mestiço, o que os preocupava era a obtenção de pessoas sadias,
evitando-se a reprodução daqueles que pudessem degenerar a raça. No entanto,
negros, mestiços e pobres eram os principais responsáveis tanto pela sua miséria
material e moral quanto pela degeneração da espécie.
3 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Embora o conceito biológico de raça tenha sido desconstruído cientificamente,
nos dias atuais, muitas pessoas ainda acreditam que os negros são inferiores aos
brancos, e devem ocupar um lugar específico, sem possibilidade de mobilidade
104SOCIOLOGIA, ESTUDOS ANTROPOLÓGICOS
E RELAÇÕES ÉTNICO-RACIAIS
na sociedade. Assim, as marcas deixadas pela antropometria, pela ideologia
do “sangue puro”, pela classificação da espécie humana através da cor da pele
e pelas características morfológicas (ou seja, a raça no sentido biológico) ainda
persistem nas atitudes de grande parte da população mundial. E, nessas atitudes,
percebemos a manifestação do racismo, fruto da construção histórica de raça.
Para Seyferth (2002), “como conceito, racismo diz respeito às práticas que
usam a ideia de raça com o propósito de desqualificar socialmente e subordinar
indivíduos ou grupos, influenciando as relações sociais” (SEYFERTH.2002.p. 28).
Nessa perspectiva, o racismo é uma ideologia que atinge não somente a população
negra, mas todas as populações (judeus e árabes, por exemplo) que em diferentes
épocas e contextos são tratadas de forma diferenciada e desigual.
Enfim, o racismo atua também na crença do poder, da autoridade, do controle
de um grupo que se vê como superior aos demais. Nesse sentido, é necessário
estudar e compreender a origem tanto de raça quanto de racismo para evitar que
elementos da sua versão biológica permaneçam criando desigualdades e, a partir
daí, possamos estabelecer novas relações sociais equânimes.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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Janeiro: Fundação Roberto Marinho, v. 2, 2006. (Projeto A Cor da Cultura).
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Educação do Negro na Sociedade Brasileira. Niterói: EdUFF, 2000. (Cadernos
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QUIJANO, Aníbal. La colonialidad del saber: eurocentrismo y ciencias
sociales. Publicado em Lander, Edgardo (comp.). Bs.As. CLACSO, 2000.
105SOCIOLOGIA, ESTUDOS ANTROPOLÓGICOS
E RELAÇÕES ÉTNICO-RACIAIS
SCHWARCZ, Lilia Moritz. O espetáculo das raças: cientistas, instituições e
questão racial no Brasil – 1870-1930. São Paulo: Companhia das Letras, 1993.
SEYFERTH, Giralda. Racismo e o ideário da formação do povo no pensamento
brasileiro. In. OLIVEIRA, Iolanda (org.). Relações raciais e educação: temas
contemporâneos. Niterói: EdUFF, 2002. (Cadernos PENESB; 4).
SKIDMORE, Thomas E. Preto no branco: raça e nacionalidade no pensamento
brasileiro; tradução de Raul de Sá Barbosa. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1976.
Fonte: Reis (2011)
4.2 RACISMO E AS QUESTÕES DE GÊNERO
Certamente as dificuldades vivenciadas pela população de afrodescendentes no Brasil
englobam todos os gêneros de forma brutal e desumana, mas não podemos deixar de observar
aqui, que recai sobre a mulher negra uma dupla carga de preconceitos relacionadas a sua
condição de negra e mulher ao mesmo tempo. Infelizmente, a violência praticada sobre a mulher
SAIBA MAIS!
VÍDEO
Refletir sobre as diversas discriminações existentes nesta
temática, parece-nos a forma mais eficaz de nos posicionarmos e conseguirmos elencar propostas significativas para a solução deste problemas. Portanto, como mais uma forma de conhecermos o universo de exclusão e preconceitos construídos em nosso país e relegados as populações de afrodescendentes sugiro a você, assistir ao filme O xadrez das cores, que está disponível em nossa plataforma digital bem como no YouTube. https://www.youtube.com/watch?v=NavkKM7w-cc. Bom filme e ótimas reflexões.
106SOCIOLOGIA, ESTUDOS ANTROPOLÓGICOS
E RELAÇÕES ÉTNICO-RACIAIS
negra neste país ultrapassa os limites já absurdos da condição do homem negro no Brasil. Duplas
jornadas de trabalho, salários menores e postos de trabalhos em setores de menor importância,
violência doméstica entre outras questões agravam ainda mais sua situação.
Muitos estudiosos consideram que a condição da mulher negra na sociedade brasileira atual
não mudou muita coisa em relação à sua condição na sociedade escravista dos séculos passados,
pois dados apontam que poucas mudanças aconteceram em suas vidas. No cenário atual,
mulheres negras trabalham mais que as demais, ganham consideravelmente menor e têm grau
de escolaridade baixo, o que reforça e perpetua sua condição de operário ou braçal, raras são as
mulheres negras que conseguem lugar de destaque em nossa sociedade, rompendo o preconceito
e a discriminação.
A condição de pobreza invariável das populações negras as coloca muito cedo no mercado de
trabalho, a falta de estudo aliada à necessidade de trabalhar, reforçam o preconceito e perpetuam
sua condição de inferioridade, mas, felizmente, essa condição não é absoluta. Observamos
também que através de mobilizações e da conscientização de sua condição, mulheres negras vem
mudando, embora muito que lentamente, sua condição através do estudo com ingresso nas
universidades e outros níveis de ensino, melhorando e qualificando sua mão-de-obra.
4.3 O JOVEM E NEGRO BRASILEIRO
Outro ponto fundamental em nosso exercício de tomada de conhecimento das condições
étnico-raciais em nosso país deve passar pela situação do jovem negro brasileiro. Assistimos
horrorizados todos os dias nos noticiário de Televisão, jornal ou internet, uma verdadeira
SAIBA MAIS!
Para saber mais sobre este tema, sugiro a você uma visita nos endereços eletrônicos abaixo:
http://www.revistaforum.com.br/questaodegenero/2013/11/11/mulher-negra-nem-escrava-nem-objeto/
http://www.geledes.org.br/o-movimento-da-mulher-negra-brasileira-historia-tendencia-e-dilemas-contemporaneos/#gs.null
107SOCIOLOGIA, ESTUDOS ANTROPOLÓGICOS
E RELAÇÕES ÉTNICO-RACIAIS
matança da população jovem de nosso País. Dados oficiais nos apontam que 71,1% das mortes
de jovens por causas externas nos últimos anos foram de jovens entre 15 a 19 anos de idade e a
grande maioria delas foram decorrentes de homicídios.
Neste verdadeiro cenário de guerra a juventude negra vem despontando como a mais atingida,
os homicídios registrados apontam um aumento de 63% para 76,9% entre os anos de 2002 e 2011
com a participação de brancos esses dados apontam um decréscimo neste mesmo período de
36,7% para 22,8%. Por que será que isto acontece?
Ainda que a discriminação social, o preconceito e as condições históricas nos mostrem um
caminho construído a esta situação, não podemos deixar de enxergar a disparidade econômica
entre jovens brancos e negros, é notável que até mesmo entre as populações mais pobres os
negros invariavelmente encontram-se em situação pior. Indicadores sociais revelam muito bem
essa situação, sendo que 73% da população mais pobre é negra; 79,4% de pessoas analfabetas são
negras; 62% das crianças que estão fora da escola são negras; em média a renda de negros é 40%
menor que a de brancos. Diante desses fatos fica irrefutável a dívida social que este país tem com
sua enorme população de afrodescendentes e a necessidade urgente de políticas públicas, sociais
e até mesmo da iniciativa privada no resgate dos direitos e da dignidade desta população tão
importante na formação de nosso país, como um Estado democrático no sentido amplo a que o
termo remete.
SAIBA MAIS!
FILME
Para finalizarmos nosso caderno de estudos, mas não suas discussões a respeito de temas sociais, tão
relevantes à profissão escolhida por você, deixo aqui uma ótima sugestão de filme para que você possa começar a entender os mecanismos sociais que tão descaradamente perpetuam as condições sociais vigentes.
Espero sinceramente que ao longo de nossos encontros e através de suas leituras e atividades você tenha mudado seu pensamento e, consequentemente, suas ações em prol de uma sociedade mais justa e igualitária Um grande abraço e “sucesso”
108SOCIOLOGIA, ESTUDOS ANTROPOLÓGICOS
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