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caderno de resumos SÃO PAULO 2013

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caderno de resumos

SÃO PAULO2013

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Rosana de Lima Soares

Mayra Rodrigues Gomes

(organizadoras)

PROFISSÃO REPÓRTER EM DIÁLOGOCADERNO DE RESUMOS

1ª edição

ISBN: 978-85-7205-110-1

São Paulo – SP

ECA - USP

2013

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Profissão Repórter em diálogo

caderno de resumos

PROFISSÃO REPÓRTER EM DIÁLOGO

Rosana de Lima Soares e Mayra Rodrigues Gomes (orgs.)

Autores

Andrea Limberto, Cíntia Liesenberg, Cláudio Rodrigues Coração,

Daniele Gross, Eliza Bachega Casadei, Esther Hamburger, Fernando

Resende, Henri Gervaiseau, Ivan Paganotti, Juliana Doretto, Márcio

Serelle, Mariana Tavernari, Mariana Duccini, Mariane Murakami, Mayra

Rodrigues Gomes, Neide Arruda, Paula Paschoalick, Rafael Duarte

Oliveira Venancio, Renata Carvalho da Costa, Rosana de Lima Soares,

Vera Lúcia Follain de Figueiredo.

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Profissão Repórter em diálogo

caderno de resumos

Profissãorepórteremdiálogo:cadernoderesumos/ Rosana de Lima Soares, Mayra Rodrigues Gomes (organizadoras)–SãoPaulo:ECA/USP,2013. 54p.

ISBN978-85-7205-110-1

1.Telejornalismo–Brasil2.Programasdetelevisão–Brasil3.Emissoras de televisão–Brasil4.Profissãorepórter(programa)I.Soares, Rosana de Lima II. Gomes, Mayra Rodrigues

CDD21.ed.–070.190981

P964

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Profissão Repórter em diálogo

caderno de resumos

Livro:

EditoraAlameda(SãoPaulo,2012)

Publishers:JoanaMonteleone/HaroldoCeravoloSereza/RobertoCosso

Edição:JoanaMonteleone

Editorassistente:VitorRodrigoDonofrioArruda

Projetográficoediagramação:VitorRodrigoDonofrioArruda

Revisão:JoãoPauloPutini

Assistentedeprodução:AllanRodrigo/JoãoPauloPutini

Imagemdacapa:Disponívelem <http://sxc.hu>

Preparaçãoerevisão(MidiAto):MarianaDuccini

Padronizaçãoeedição(MidiAto):AndreaLimbertoeDanieleGross

Caderno de Resumos:

Concepçãográficaediagramação:PaulaPaschoalick

Padronizaçãoeedição:AndreaLimberto

Capa:EditoraAlameda

Apoio:

“O presente caderno de resumos apresenta sumariamente os trabalhos publicados na obra

Profissão Repórter em Diálogo (São Paulo: Alameda, 2012)”

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Profissão Repórter em diálogo

caderno de resumos

Sumário

Apresentação

ProfissãoRepórter:umpanorama

Daniele Gross e Paula Paschoalick

Entrevistaeseuspersonagens:aconstruçãopormeiodo

protagonismodorepórter

Juliana Doretto e Renata Carvalho da Costa

Osdesafiosdareportagemearetóricadaspaixões

Neide Maria de Arruda

DeLinhaDiretaaProfissãoRepórter:margenscambiantesdo

telejornalismo

Rosana de Lima Soares

OAprendizdaProfissãoRepórter:oethosdacompetição/colaboração

no lugar dos bastidores

Ivan Paganotti

Ofascíniopelarealidadeabruptaeademandapelocomodismofamiliar

Cláudio Coração

p. 8

p. 13

p. 15

p. 18

p. 21

p. 25

p. 29

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Profissão Repórter em diálogo

caderno de resumos

Um lugar para o repórter: representação social, protagonismo do

testemunhoesubjetividadeempresença

Mariana Duccini

Jornalismoe imaginaçãomelodramática: representaçõesnegociadas

emProfissãoRepórter

Mariane Harumi Murakami

Otestemunhodofato:estratégiasretóricasemprogramasjornalísticos

Eliza Bachega Casadei e Rafael Duarte Oliveira Venancio

Íntimoepessoal:rostosdepersonagensemclose

Andrea Limberto Leite

Osdesafiosdaconvergência,osbastidoresdosbastidores:

deslizamentos narrativos em mídias digitais

Mariana Tavernari

Quandoanotíciavaialém:desdobramentoseancoragensno

jornalismocontemporâneo

Cíntia Liesenberg

p. 31

p. 35

p. 39

p. 43

p. 47

p. 51

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Profissão Repórter em diálogo

caderno de resumos

Apresentação

MidiAto

Grupo de Estudos de Linguagem: Práticas Midiáticas

agostode2013

Este Caderno de Resumostemoobjetivodeapresentardemaneirasumária

os conteúdos do livro Profissão Repórter em Diálogo (SãoPaulo:Alameda,2012),

organizadoporRosanadeLimaSoareseMayraRodriguesGomes.Neleépossível

conhecerumasíntesedosartigosdesenvolvidosarespeitodoprogramatelevisivo

emquestão,analisadosobperspectivasdosestudosdemídia,delinguagemedo

audiovisual.Aapresentaçãoquesesegue,publicadanolivro,descrevecomoestão

organizadososcapítulosdaobraeseusconteúdos,apontandoparaosresultados

daspesquisasrealizadas.

Apropostadolivronoâmbitodosestudosdelinguagemepráticasmidiáticasvisa

àconsolidaçãodeespaçosparaadiscussãodostemasepráticasdentrodocampo

mais amplo da comunicação,mas que tenham como vetor as produções recentes

da área desenvolvidas sob o enfoque dos estudos de discurso e narrativa. De forma

mais específica, apresentamos como tema central artigos em torno do programa

jornalísticoProfissãoRepórter.ProgramajornalísticoproduzidopelaRedeGlobode

televisão,ProfissãoRepórter teveaexibiçãodeseuepisódiopilotonanoitede28

deabrilde2006.Mesesdepois,em07demaio,passouafazerpartedoFantástico,

revistaeletrônicadominical,exibidopelamesmaemissora,comduraçãomédiadedez

minutos.Em03dejunhode2008,osucessodoquadrogaranteumlugarfixonagrade

daemissora,passandoaserexibidonasnoitesde terça-feira,comduraçãode25

minutos.Em2007,tambémforamapresentadosalgunsespeciais– todos nas noites

de quinta – ecomduraçãoemtornode35minutos.

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Profissão Repórter em diálogo

caderno de resumos

Como programa com horário próprio e que ainda segue em exibição até o

presentemomento,ProfissãoRepórtertemcomopropostaexporasaçõesportrás

das câmeras, tentando, assim, revelar osmodos de fazer do jornalismo.Dirigido

e comandado pelo jornalista Caco Barcellos, apresenta uma equipe de jovens

repórteresquetêmcomodesafiomostrardiferentesângulosdeumfato.Noespaço

consolidadodosprogramasjornalísticostelevisivos–hojemaisnumerososdoque

quandoProfissãoRepórtercomeçouasertelevisionado–,estesurgecomomarco

deinovaçõestécnicas,estéticasenarrativas.Retomamosumaespéciedebordão,

insistentemente repetido tanto nas exibições de televisão, como em seu site na

internet, eque reforçaa importânciadededicar-lheestaobra: “Encontrar nossas

históriasnosconflitos,nasalegrias,nosdramasqueaspessoasvivem.Eénarua,

nahoradegravar,quevamosdescobrirasdificuldadesdefazeramatéria”.Desse

modo, o programa toma para si o seguinte objetivo específico: apreender seus

própriosprocessosdeprodução, remetendoaum jornalismoquepensaaprópria

consciênciaecolocaemquestãoosproblemasdoconhecimentojornalístico.

Seuprincípionorteador,assumindoapossibilidadederevelarelementosdesua

própria feitura, temsido identificadocomoum fenômeno relativamente recentee faz

parte,também,dacriaçãodeumnúmerodeproduçõestelevisivas(jornalísticasounão)

comasquaisopodemosrelacioná-lo.Paracomplementarodebate,podemosafirmar

que muito embora existissem estratégias autorreferenciais do jornalismo televisivo

desde,aomenos,adécadade1950,umautilizaçãomaisabrangentedestesrecursos

éumfenômenorecenteequeseexpandeparaalémdoprogramaProfissãoRepórter,

a partir de uma rede que envolve tanto os próprios programas jornalísticos quanto

atraçõescômicaseagentespublicitários.Assim,Profissão Repórter em Diálogo analisa,

sobdiversosaspectoseperspectivas,esteprogramajornalístico,buscando,emuma

abordagemcrítica,oselementosqueremetemaumjornalismoquedemonstrapensar

asipróprioevoltaaooutropresenteemsuasnarrativas.Procura,ainda,esmiuçaras

formaçõesdiscursivas,oselementosderecepção,asestratégiasretóricas,osjogosde

linguagemeasconstruçõesnarrativasneleenvolvidas,bemcomoasuainterconexão

comoutrosprogramastelevisivosecomoutrasplataformasmidiáticas.

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Profissão Repórter em diálogo

caderno de resumos

Os artigos publicados são derivados do I Simpósio Linguagem e Práticas

Midiáticas – Profissão Repórter em Diálogo, realizado em março de 2011 por

MidiAto – GrupodeEstudosdeLinguagem:PráticasMidiáticas,sediadonaEscola

deComunicaçõeseArtesdaUniversidadedeSãoPaulo.Amiríadedeperspectivas

revelaProfissãoRepórterapartirdeseurelacionamentocomocânonejornalístico,

comautilizaçãodalinguagemaudiovisual,comaestruturaespecíficadesuanarrativa

eoqueaextrapola,envolvendoarelaçãocomoutrasmídias.Énainiciativadedebate

edereportagemqueseaproximamJovens pesquisadores, jovens repórteres, como

indicaoprefáciodeEstherHamburger.

A primeira parte do livro, Linguagem e Práticas Midiáticas, é dedicada a

explicitarasbasesdesteencontroprofuso,Sob a ótica das ciências da linguagem,

como observa Mayra Rodrigues Gomes. Iniciando as análises, Henri Gervaiseau

nos oferece suas Impressões de passagem, as primeiras sobre o conjunto dos

episódiosdeProfissãoRepórter.Completandoumavisãogeralsobreoprograma,

Daniele Gross e Paula Paschoalick apresentam em Profissão Repórter: um

panorama resultados de um banco de dados de preenchimento coletivo, dados

essesutilizadosparaumaabordagemquantitativa,queserviudeembasamentoa

outraspesquisasqualitativas.

Apartirdessepontopodemosseccionarasperspectivasapresentadasempartes

significativas, referindo-seaaspectosque foramprivilegiadosnosdiversosartigos.

Sua indicação como programa jornalístico, remetendo ao cânone dessa prática

profissional,formaasegundaparte,ProfissãoRepórtereaProduçãoJornalística.Ela

éabertaporFernandoResende,pensandoanarrativajornalísticaaudiovisualcomo

espaçodefricção,emPara um jornalismo de fricção: a delicadeza de não ter o que

dizer.Afiguradojornalistaganhadestaquecomopersonagemnanarrativajornalística

e é problematizadanométododaentrevista emEntrevista e seus personagens: a

construção por meio do protagonismo do repórter, de Juliana Doretto e Renata

CarvalhodaCosta.Concentradaaindanafiguradojornalista,NeideArrudapreocupa-

secomosmovimentospersuasivosdosrepórteresparaalémdacenaemOs desafios

da reportagem e a retórica das paixões.

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Profissão Repórter em diálogo

caderno de resumos

Na terceira parte, ProfissãoRepórter e aCenaAudiovisual, a perspectiva dos

estudos de audiovisual ganham destaque, reforçando também as articulações do

programaa tal linguagem.VeraLúciaFollaindeFigueiredoabrecaminhonodebate

sobre a narração e a questão das mediações em Cena desdobrada: o palco dos

bastidores. No caminho pavimentado pelas teorias da enunciação,Rosana de Lima

Soares realiza uma análise contrastiva em De Linha Direta a Profissão Repórter:

margens cambiantes do telejornalismo,ambosidentificadoscompropostasinovadoras

emtermosjornalísticoseabordagensquevalorizamocaráternarrativodeseusrelatos.

Damesmaforma,IvanPaganottirealizaumaaproximaçãoemO Aprendiz da Profissão

Repórter: o ethos da competição/colaboração no lugar dos bastidores entreprogramas

quemostramosdesafiosdocotidianoprofissionaldeagentesmidiáticos–jornalistasou

publicitários.CláudioRodriguesCoraçãoproblematizaaideiaderealidade,oude“real”,

eafantasmagoriadaimagemcomoinvólucroemO fascínio pela realidade abrupta e a

demanda pelo comodismo familiar.

Na quarta parte, EstratégiasNarrativas emProfissãoRepórter, adensamos as

argumentaçõessobreas formasnarrativasdoprogramaemquestão.MárcioSerelle

pensaosafetoseaempatia,bemcomoosjogosdelinguagemedepoderquepermeiam

narrativas em Profissão repórter revisitado: as dimensões do afeto. O contato entre

jornalismoedocumentárioenquantogêneronasformasdeinstalaçãodeumpontode

vistasubjetivo,recobertoporumefeitodeautoridade/autorização,éabordadoporMariana

Duccini em Um lugar para o repórter: representação social, protagonismo do testemunho

e subjetividade em presença.MarianeMurakamidiscute,porsuavez,apossibilidadede

umaleituradocumentarizanteoudeumaleiturafictivizante–aproximandooprograma

aogênerodomelodramaemJornalismo e imaginação melodramática: representações

negociadas em Profissão Repórter. Os recursos narrativos ganham forma na sua

identificação retóricasemO testemunho do fato: estratégias retóricas em programas

jornalísticos, de Eliza Bachega Casadei e Rafael Duarte Oliveira Venancio.

A quinta parte, Convergências Midiáticas em Profissão Repórter, expande a

relaçãodoprogramacomoutrasmídias,incluindoumaidentificaçãocomorecortedo

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Profissão Repórter em diálogo

caderno de resumos

rostohumanoemclosenocinemaena televisão,porAndreaLimberto,em Íntimo e

pessoal: rostos de personagens em close. No caso de Os desafios da convergência,

os bastidores dos bastidores: deslizamentos narrativos em mídias digitais, de Mariana

Tavernari, a aproximaçãoé feita comasmídiasdigitais buscando transmediaçõese

convergências.A seção é encerrada com o artigo de Cíntia Liesenberg, tratando a

observação de estratégias de ancoragem social a partir das notícias emQuando a

notícia vai além: desdobramentos e ancoragens no jornalismo contemporâneo.

Por meio de diferentes vieses e visadas, esperamos que o livro possa

contribuirparaodebatedacenaaudiovisual,daspráticasmidiáticasedosestudos

de linguagempormeiodasanálisesdeumdiscursoaomesmotempocoerentee

difuso,nasimbricaçõesdatelevisãoedojornalismo,tessituraqueseentrelaça,de

modoexemplar,emProfissãoRepórter.

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Profissão Repórter em diálogo

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Profissão Repórter: um panorama

Daniele Gross e Paula Paschoalick

OpontodepartidaparaarealizaçãodaspesquisassobreoprogramaProfissão

Repórter foi o desenvolvimento de um banco de dados online, de arquitetura e

preenchimento coletivo, que permitiu ao grupode pesquisadores umaexpressiva

coleta de elementos sobre nosso objeto de análise.O cadastro das informações

serviutantoparaumaabordagemquantitativadeProfissãoRepórter,quantocomo

baseparaasdiferentespesquisasde caráter qualitativoque formaapresentadas

no ISimpósio LinguagemePráticasMidiáticas – ProfissãoRepórter emDiálogo,

realizadoemmarçode2011.

Essepercursodeconstruçãodonossocorpusdepesquisadeu-seemetapas.

A partir do recorte de cada uma das propostas de análise apresentadas pelos

pesquisadoresdefiniram-seosquestionamentosquedeveriamaparecernaarquitetura

do banco de dados. Sua estrutura final ofereceu subsídios para a formatação de

um formulário com interface publicada na internet, facilitando sua alimentação por

pesquisadoresqueestavamàdistância.

Essa estratégia de trabalho permitiu que a enquete digital fosse aplicada ao

universototaldeprogramasapresentados,desdeosurgimentodeProfissãoRepórter,

emmarçode2006, comoumquadro da revista eletrônica dominical Fantástico, até

omomentodoencerramentodanossacoletapara iníciodasanálises,comoúltima

apresentaçãoem2010–4anospesquisados,149ediçõesdoprogramamapeadas.

Consolidado nosso corpus de investigação, as pesquisas em andamento

solicitaramcruzamentosentreelementosdesseacervo, cujos resultadosdelineavam

característicasqueemergiamdessemapeamentodoobjetodepesquisa.

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Profissão Repórter: um panorama

Daniele Gross e Paula Paschoalick

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Dentreas informações levantadasdestacamosoperfildaequipedoprograma;

oescalonamentodasgrandestemáticasabordadasesuapreponderâncianouniverso

analisado,assimcomodossubtemasquemaisaparecemnoperíodo;ousodeelementos

douniversodeproduçãojornalísticaeolevantamentodasreportagensconformesua

distribuiçãodeinteressepelascincoregiõesgeográficasdopaís.

Os resultados desses cruzamentos foram disponibilizados também pela

internetaoconjuntodepesquisadoresdogrupocomosubsídioparasuasanálises.

Foitambémapartirdesseuniversodedadosqueformatamosgráficosetabelasque

ilustramesseartigoeserãotambémdisponibilizadosparaopúblicoatravésdarede

internacionaldecomputadores.

Nestetrabalhoapresentamosemdetalhesopercursodemontagemdobancode

dadoseosresultadosquantitativosqueessacoleçãodeinformaçõesconsolidadasnos

apresentou,traçandoumpanoramadesteprogramatelevisivojornalístico.

Referências bibliográficas

FONSECAJÚNIOR,WilsonCorrêada.“Análisedeconteúdo”.In:DUARTE,JorgeeBARROS,

Antonio (orgs.). Métodos e técnicas de pesquisa em comunicação.SãoPaulo:Atlas,2006.

GODOY,ArildaSchmidt.“Pesquisaqualitativa:tiposfundamentais”.Revista de Administração de

Empresas.Vol.35,n.3,mai.-jun.1995,pp.20-29.

MINAYO, Maria Cecília de S. e SANCHES, Odécio. “Quantitativo-qualitativo: oposição ou

complementaridade?”.Caderno de Saúde Pública.Vol.9,n.3,1993,pp.239-262.Disponível

em:http://www.scielosp.org/pdf/csp/v9n3/02.pdf.Acesso:10/02/2011.

RUIZ,FernandoMartinson. “Pesquisaqualitativaequantitativa:complementaridadecadavez

maisenriquecedora”.Administração de Empresas em Revista.Curitiba:FaculdadesIntegradas

Curitiba.Ano3,n.3,2004,pp.37-47.

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Profissão Repórter em diálogo

caderno de resumos

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Entrevista e seus Personagens: a construção por meio do protagonismo do repórter

Juliana Doretto e Renata Carvalho da Costa

OprogramaProfissãoRepórter tem a proposta de desmistificar a figura do

jornalista,mostrandoasdificuldadesdoseutrabalho.Suaspautastêmcomocarro-

chefehistóriasdevida–e,porconsequência,aentrevistaéseuprincipalmétodo.

Jovens repórteres, capitaneados por um jornalista experiente, conversam com

suaspersonagensnolocalenoinstanteondeocorreaação.Utilizandoasteorias

disponíveissobreaentrevistacomométododepesquisaejornalístico,oartigofaz

uma análise de 12 episódios, em distintas fases do programa: quando ainda era

umquadrodentrodoFantásticoequandosetornouproduçãoindependente,cujos

episódiosabrangemoperíodode2008a2010.

Entre as teorias abordadas está a de Cremilda Medina, que, retomando Martin

Buber e edgarMorin, diz que a entrevista é ummomento de interação social entre

repórtereentrevistado,umencontroque,paraacontecerplenamente,devemodificar

osdois agentesda conversa.Ela afirmaque, nessediálogoaprofundado, intensoe

respeitoso,ojornalismocaminhaparaodesvelamentodarealidade,dentro,éclaro,das

possibilidadesdainvestigaçãojornalística(quesemprepoderáentender/apreender,no

máximo,umpequenorecortedarealidadeeaindaassimcomfalhas,jáquenãoépossível

esgotartodasasfontesenvolvidasnoprocesso).Émergulhandonaspersonalidades,

nos conhecimentos de cada pessoa a ser entrevistada, que o jornalista consegue

avançarnarevelaçãopossíveldofatoaoseuleitor(jáqueesseacontecimentoésempre

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Entrevista e seus Personagens: a construção por meio do protagonismo do repórter

Juliana Doretto e Renata Carvalho da Costa

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formadoporaçõesecompreensõeshumanas).Issonãosignificaqueorepórterdeva

seringênuoefugirdasperguntasconstrangedorasoudoenfrentamento,mas,sim,que

issodevaserfeitocomquestõesinteligentes,elaboradaspormeiodepesquisaintensa

eusoadequadodalinguagem(ouseja,pormeiodetécnicasjornalísticas).Assim,não

háprotagonismoúnico,mascompartilhado,entreentrevistadoreentrevistado.Porém,

paraaautora,essaentrevistatransformadoraaindaestálongedojornalismobrasileiro:

“Estapráticajornalísticaatrasadaseconfiguracomomonológica,aindaquesemascare

de‘pluralidade’nasentrevistaseditadas.Pararomperestaestrutura—adaditadura

daoferta—,sódetonadoresdemodernizaçãotantonasociedadebrasileiraquantona

comunicaçãocoletiva”(MEDINA,2002:26).

Acreditamos,portanto,quenãoépossívelhaveraentrevistaprofunda,quebusca

conhecerecompreenderoentrevistado,fazendodelefim,enãomeio,seoentrevistador

nãoestiver,aomenos,dividindooprotagonismodaaçãocomoseuentrevistado (a

“entrevista-diálogo”),masnuncatenhao“papelprincipal”.Aanálisedasentrevistasdo

programapermitiuquestionamentosa respeitodesseprotagonismodo repórtereda

construçãodareportagemedoentrevistadocomopersonagemdanarrativa.

Podemos dizer que o lema de Profissão Repórter, “os bastidores da notícia,

os desafios da reportagem”, às vezes se torna mais importante que o objetivo da

reportagem: o de contar boas histórias e dar ferramentas ao espectador para que

compreenda melhor sua realidade, e possa atuar nela de maneira mais consciente

(KOVACH e ROSENSTIEL, 2003). Se esse de fato é o objetivo do programa, ainda

que isso vá contra o que Medina propõe como o exercício do jornalismo por excelência,

o protagonismo do repórter deveria ser a linha condutora de todos os episódios, o

que não se mostra. O que foi possível analisar a partir do estudo das entrevistas de

12 episódios, desde o início da veiculação do programa até o ano de 2010, é que,

dependendo do tema, o protagonismo do repórter é deixado de lado e o entrevistado

ganha mais destaque e importância.

Pode-seconsiderar,noentanto,quequandoorepórterparecedarmaiordestaque

aoentrevistado,eletambémreafirmaseupapelcomomediador,aqueleresponsávelpor

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Profissão Repórter em diálogo

caderno de resumos

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trazerparceladarealidadeaseupúblico,e,assim,reforçaseuprotagonismo,masde

maneiracompartilhada.Ou,naspalavrasdeMorin(1966):“Vemosquequantomaioré

aimportânciadoentrevistadonaentrevista–eelaésempremaisimportantequando

sedesejairmaisafundo–,maioréaimportânciadapessoadoentrevistador”.Porém,

praticamenteemtodososepisódios,notou-sequeasentrevistassãomuitoeditadas,

cortadas,emespecialasperguntas.Porvezesaediçãotentadaraimpressãodeque

oentrevistadofaloualgoespontaneamente,masissopodesimplesmentetersidocorte

daperguntaparadarmaisagilidadeaoprogramaeganhartempo,elementoprecioso

na televisão.E isso,novamente, indicaopredomínionãodaentrevistaquebuscao

diálogo,masdaqueparteparaaespetacularização.

Referências bibliográficas

BUBER,Martin.Do diálogo e do dialógico.SãoPaulo:Perspectiva,2009.

KOVACH, Bill e ROSENSTIEL, Tom. Os elementos do jornalismo: o que os jornalistas devem

saber e o público exigir.SãoPaulo:GeraçãoEditorial,2003.

MEDINA, Cremilda. Entrevista: o diálogo possível. SãoPaulo:Ática,2002.

MORIN,Edgar.“Aentrevistanasciênciassociais,norádioetelevisão”.In:Communications. n.

7.Paris:CentreNationaldelaRechercheScientifique,1966.

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Profissão Repórter em diálogo

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Os desafios da reportagem e a retórica das paixões

Neide Maria de Arruda

Diferentementedosdemais telejornais,oprogramaProfissãoRepórter passaa

ideiadeumnovopadrãoestéticodesefazerjornalismo,permitindoqueosrepórteres

se envolvam emocionalmente com os fatos exibidos. Nesse sentido, será possível

afirmarque ProfissãoRepórter utiliza-sedeartifíciosparapersuadir/seduziroreceptor

areceberanarrativadeumfatoimbuídodeparcialidadeeterconsciênciadisso?Écom

essepensar reflexivoqueeste trabalhopropõe-seestudaranarrativa jornalísticado

programa,partindo-sedopressupostodequeelaépermeadaderetóricadaspaixões.

Pressupondo que um dos principais objetivos iniciais deProfissãoRepórter

fosse o de mostrar como as notícias são produzidas até chegar ao receptor/

telespectador,ouseja,odemostrar“osbastidoresdanotícia”(slogan doprograma),

oqueobservamosinicialmentefoiareduçãodoespaçodedicadoparadiscussãoda

pauta/produção/edição,dentrodaredação,eoaumentodoespaço/tempo,voltado

para o objeto/notícia, com forte intervenção emocional dos jornalistas recém-

formados em todo o percurso do fato empauta.Sãomuitas as definições dadas

pelosteóricosdojornalismoaotipodenarrativapresentenoconteúdodeProfissão

Repórter. O alvo deste artigo não é o de identificar ou nomear um novo tipo de

jornalismopraticadonoprograma,masodemostraremquemedidaomodelode

produçãodanarrativajornalística,propostapelosseusautoresparadarcontadeum

fatoreal,estáinseridonosconceitosacimacitadosesuasretóricas.

Poressecaminhovamosdiscorrer sobrea centralidadedeProfissãoRepórter

no cotidiano da sociedade brasileira, que leva ao conhecimento do telespectador

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Os desafios da reportagem e a retórica das paixões

Neide Maria de Arruda

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a existência de fatos que atingem direta ou indiretamente uma parte do coletivo

social – comacontecimentos e/ou temas normalmenteminimizados no repertório

do telejornalismodiário–,penetrandonelescomseus instrumentosdeexpressão

(diferentesângulosdomesmofato),procurandoestabeleceralegitimidadedeuma

dialética.Umadasprincipaiscaracterísticasdoprogramaéadeelegerapenasum

fatoaserexplorado,produzidoeexibidoemcadaprograma.Fatosquepoucasvezes

sãoexibidoscomonotícias/reportagens,notelejornalismodiário—comodeficiência

nostransportescoletivos,caosnosserviçosdesaúdepública,desigualdadessociais,

negligênciasdospoderespúblicos,direitodecidadania,corrupçãonopoderpúblico,

invisibilidadesocial,entreoutros—servemdepautasquedãovozàscomunidades

e/oupessoasquevivemàsmargensdasociedadee/ousãovistassobopontode

vista dos estigmas sociais.

Embuscadeumaconfirmaçãodoquefoidescritoacima,remetemosareflexão

inicialparaumadasteoriasdeJesúsMartín-Barbero,quediz:“alutacontraainjustiça

é, aomesmo tempo, luta contra a discriminação social e a exclusão cultural, o que

equivaleàconstruçãodeumnovomododesercidadãoquepossibiliteacadahomem

eacadagruposereconhecernosdemais,condição indispensáveldacomunicação”

(2004:155-156).SeráessaumadasbandeirasdeProfissãoRepórtercomoégidede

umanovanarrativajornalísticatelevisiva?

Nossaprimeirareflexãosobreodiscursopraticadoestávoltadaparaaatividade

exercidapelosjovensjornalistasmedianterecursosdecâmeras/recursosdemontagem,

pensados como jogo entre verdade e realidade/ideologia para persuadir o receptor.

Entendercomoumdiscursojornalísticoévistocomoverdade,porumagrandeparcela

dasociedade,faznecessárioqueessaverdadesejainvestigadacomoum“efeito”do

discurso (HERNANDES, 2006). Isto significa dizer que um discurso é aceito como

verdadequandoopontodevistadequemfalainteragecomopontodevistadequem

ouve, ou seja, quandoexiste cumplicidadeentreoemissor/enunciador eo receptor/

enunciatário. Um dos recursos de qualquer jornal – entendido como enunciador/

destinador–parapersuadiropúblico–oenunciatário/destinatário–acrernaverdade

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Profissão Repórter em diálogo

caderno de resumos

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queanunciaéelaborarumaencenação,umarepresentaçãodarealidadequedeveser

aceitapelopúblico. “(...)ambosdevempartilhardeumamesmavisãodemundo,de

umaideologiaqueostornadecertomodo‘cúmplices’namaneiraderecortarededar

sentidoaosacontecimentos,àrealidade”(HERNANDES,2006:20-21).

Paradarvisibilidadeanossaproposta,visandodetectarautilizaçãodeartifícios

para persuadir/seduzir o receptor a receber a informação sobre um fato imbuído de

parcialidade, estando conscientes disso, lançamosmão deRetórica das paixões do

filosofo gregoAristóteles, observando as paixões como “todos aqueles sentimentos

que,causandomudançasnaspessoas,fazemdiferirseusjulgamentos...”.Aspaixões

quepretendemosevidenciarnodiscursodeProfissãoRepórterestãorelacionadasao

comportamentodosjovensjornalistasquandoencaramalentedacâmeraeexercitamo

“olhonoolho”comquemosassiste.Importaobservarqueaideianãoéadeconceituar

que tipo de jornalismo o programa exibe,mas sim como o discurso está permeado

de aproximação com o Outro, reforçado pela emoção exteriorizada, explicitado no

comportamentoenaentonaçãodavozdecadarepórter;editadoeexibidocomoquem

busca construir uma marca (seu ethos)comoconfiávelereal.

Referências bibliográficas

ARISTÓTELES. Retórica das paixões. São Paulo:Martins Fontes, 2000.

HERNANDES, Nilton. A mídia e seus truques : o que jornal, revista, TV, rádio e internet fazem

para captar e manter a atenção do público.SãoPaulo:Contexto,2006.

MARTÍN-BARBERO, Jesús. Ofício de cartógrafo.SãoPaulo:Loyola.2004.

WOLF, Mauro. Teorias das comunicações de massa.3ª.ed.SãoPaulo:MartinsFontes,2008.

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Profissão Repórter em diálogo

caderno de resumos

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De Linha Direta a Profissão Repórter: margens cambiantes do

telejornalismo

Rosana de Lima Soares

Os relatos jornalísticos têm ocupado lugar de destaque entre os programas

televisivos contemporâneos. Nos últimos anos acompanhamos a progressiva

substituição,emhorárionobredaRedeGlobo,doprogramaLinhaDiretaporProfissão

Repórter.Ambostêmemcomumaapresentaçãodepropostastidascomoinovadoras

emtermosjornalísticoseabordagensquevalorizamocaráternarrativodeseusrelatos.

Aindaquecompossíveisdivergênciasnasconcepçõesentrejornalismoenarrativa,

osdoisprogramasestabelecemdiálogocomformasnarrativasediscursivasvariadas

comumentepresentesemdocumentários televisivosoucinematográficos.Pormeio

de uma abordagem contrastiva de Linha Direta e Profissão Repórter a partir das

teoriasdaenunciação,procuraremosdemonstrarquetaisprogramas,aparentemente

tãodiversos,estãofundadossobreestratégiasdiscursivassemelhantes,reafirmando

o lugar de autoridade do jornalismo e produzindo, dessemodo, efeitos de sentido

equivalentesjuntoaseusespectadores.

O programa Linha Direta – no ar por vários anos e apresentando temas

ligadossobretudoàviolência,pormeiode reconstituiçõese investigaçõespoliciais

concebidas em contraposição ao chamado “jornalismo tradicional” – apresenta

inúmerasdiferençasemtermosexpressivosedeconteúdosecomparadoaProfissão

Repórter, inicialmente um quadro dentro do programa dominical Fantástico e com

formatobastantedistintodoatual,maispróximodegrandesreportagens.Oartigotem

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De Linha Direta a Profissão Repórter: margens cambiantes do telejornalismo

Rosana de Lima Soares

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comoobjetivodemonstrarque tal deslizamento,paraalémdepossíveismudanças

nosmodosdeproduçãoecirculaçãodosdiscursos jornalísticoscontemporâneos–

incidindotambémemseususoseapropriações–,opera,aocontrário,comoreforço

deumcertomododepensartaisdiscursos.

Écomose,nessemomento,os jornaisnarrativizados (e,nadefiniçãoclássica

do jornalismo, mais ficcionalizados) tivessem deixado de ser a presentificação do

“real” justamente por perder, da ficcionalidade, sua aparência de realidade e efeitos

de naturalização. Ao se tornarem “pura ficção”, esses jornais – e programas nos

moldesdeLinhaDireta–perderamespaçotelevisivoeprecisaramdeslizarparaoutras

possibilidades, também não contempladas no jornalismo tradicional, justamente por

estenegaràsuanarrativaqualquerpossibilidadeficcionalizante.

ProfissãoRepórterentraemcena,portanto,objetivandonãoapenasmostrar(e

vencer) os desafios da reportagem,mas também aqueles do próprio jornalismo em

buscadeformatosoutros.Suaestreiaoficialocorreraemcaráterexperimental,coma

exibiçãodeumepisódioespecial,noGloboRepórter,sobreotrânsitodeSãoPaulo.

Énessepontoqueumaquestãosecoloca:comopensar,paraalémdosenunciados

propostos – incluindo formato e temática do programa –, suas possíveis inovações

enunciativas?Seapropostavisaestabelecerumcontratocomunicacionaldiferenciado

comotelespectador,possibilitandoqueestetroquedeposiçãocomorepórterou,ao

menos,identifiquequalseriaesse“outrolugar”,explicitandoalgoantesvelado,podemos

indagarsobreosmodosdeenunciaçãoconstruídosemProfissãoRepórter.

Seojornalismonãopodesertãofantástico quantoaficção–comopretendiam

os programas ditos sensacionalistas –, um limite se impõe, limite este rompido por

LinhaDiretae restituídoporProfissãoRepórter, restaurandoo lugardaverdade dos

fatos nojornalismoe,dessemodo,expandindosuasfronteiras.Énesseínterimqueum

formatonovoparecereuniressesdoiselementos:ocaráterreferencialdo jornalismo

tradicionaleocaráternarrativodojornalismopopularesco,combinadosdemodooriginal

em Profissão Repórter. Nesse sentido, o programa parece realizar um movimento

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Profissão Repórter em diálogo

caderno de resumos

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diverso,explicitandotantodopontodevistadosenunciadoscomodaenunciaçãosuas

estratégiasdiscursivas.Entretanto,osdoismodelosparecemconcorrer,nosdiscursos

jornalísticostelevisivos,paraosmesmosobjetivos,qualseja,aafirmaçãodosprincípios

fundantesdojornalismo.Aofazê-lo,asseguramapossibilidadedemostrararealidade

de modo verdadeiro, ainda que diferenciado das formas enunciativas convencionais do

jornalismo,devidoàfragmentaçãodasimagenseàrelativizaçãodosrelatos.

Ao tomarmosasnarrativas jornalísticaspresentesemProfissãoRepórter,

observamos os modos pelos quais elementos diversos articulam, entre seus

enunciadores, processos semelhantes de escritura, demarcando a troca de

papéis – mas, ao mesmo tempo, sua retomada às posições originais – entre

repórtereseentrevistados,todosalçadosàcondiçãodepersonagensdosrelatos

apresentados ao telespectador, também ele um “eu” e um “tu” instaurado no

espaço-tempododiscursojornalístico.

Referências bibliográficas

BARTHES, Roland. O rumor da língua. SãoPaulo:Brasiliense,1988.

BENVENISTE,Émile.Problemas de linguística geral II. Campinas:Pontes,1989.

ECO,Umberto.Seis passeios pelos bosques da ficção. SãoPaulo:CompanhiadasLetras,1994.

FOUCAULT,Michel.A ordem do discurso. SãoPaulo:Loyola,1996.

GAY, Peter. Represálias selvagens. SãoPaulo:CompanhiadasLetras,2010.

KRISTEVA, Julia. História da linguagem. Lisboa:Edições70,1980.

MACHADO, Arlindo. A televisão levada a sério.SãoPaulo:Senac,2000.

ODIN,Roger.“Filmdocumentaire,lecturedocumentarisante”.In:ODIN,Roger&QUÉRÉ,Louis.

Des miroirs équivoques. Paris:A.-M.,1982.

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De Linha Direta a Profissão Repórter: margens cambiantes do telejornalismo

Rosana de Lima Soares

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SOARES, Rosana de Lima. Margens da comunicação: discurso e mídias. SãoPaulo:Annablume/

Fapesp,2009.

WHITE, Hayden. Trópicos do discurso. SãoPaulo:Edusp,1994.

XAVIER, Ismail. O discurso cinematográfico: a opacidade e a transparência. RiodeJaneiro:Paz

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ZIZEK,Slavoj.Bem vindo ao deserto do real! SãoPaulo:Boitempo,2003.

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Profissão Repórter em diálogo

caderno de resumos

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O Aprendiz da Profissão Repórter: o ethos da competição/colaboração no

lugar dos bastidores

Ivan Paganotti

Momentos da apuração da reportagem são pontos marcantes – mas não os

principais–naconstruçãonarrativadosepisódiosdeProfissãoRepórter.Entretanto,a

apuraçãonãoéoúnicoespaçodos“bastidoresdanotícia”apresentadosnos“desafios

dareportagem”,comooprogramasempreinsisteemfrisaremsuaapresentaçãoinicial.

Emuma pequena porém significativa parcela dos episódios, tambémas discussões

duranteasreuniõesdepautaeoespaçodasilhasdeediçãosãoreveladosparaque

opúblicoconheçamaispeçasdasengrenagensquemovemomecanismodotrabalho

jornalísticotelevisivo.Adiscussãodaescolhadostemas,seusenfoqueseaalocação

derepórteresparasuacobertura–ouseja,apautadoprograma–apareceem15%dos

149programasanalisadosentre2006e2010.Jáosdiálogosnailhadeedição–espaço

daseleçãodeimagensesonsparaconstruiranarrativadoprogramaerefletirsobreos

sentidosdessasescolhas–sãomostradosem21%dosprogramas.

Oespaçodadoaessesbastidoresdaseleçãodetemas(pauta)enarrativas(edição)

épequenoquandocomparadocomaonipresençadarevelaçãodaspráticasdotrabalho

deapuraçãoereportagememsi–ouseja,asdificuldadesparaencontrarasfontese

chegaraelas,asentrevistas,arelaçãodorepórtercomospersonagenseastécnicasde

filmagem.Aanálisedos31episódiosquetêmailhadeediçãocomocenáriodediálogos

entre repórteres eCacoBarcellos revela uma situação insólita: a ilha nãomostra a

ediçãoemsi,poisemnenhumdosepisódiosanalisadososdebatesentreosjornalistas

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O Aprendiz da Profissão Repórter: o ethos da competição/colaboração no lugar dos bastidores

Ivan Paganotti

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tratamdaescolhadeimagensousons,nemdaconstruçãonarrativadoprograma.Oque

sediscutesãoosdilemas,constrangimentos,insegurançasedificuldadesnaescolha

dasestratégiasadotadaspelorepórterduranteaapuração,alémdecomentáriossobre

sentimentoseexpectativasnutridaspelos jornalistasdurantea reportagem.No lugar

daconstruçãonarrativadosprópriosepisódios,prefere-seelaborarumanovahistória

comolharescomplementaressobreaspráticasdareportagem–emoutraspalavras,

prefere-seconstruirummaking of,feitodeformasimultâneaecomplementaraosfatos

tratadosnoprograma,emvezdemostrarcomo se faz a costura de diferentes linhas

narrativasnorelatodoepisódio.

Para analisar os motivos dessa escolha e os sentidos que resultam da seleção de

quaisbastidoresdevemounãoserrevelados,uminteressantepontodecomparação

pode ser traçado a partir do programa O Aprendiz, produzido pela Rede Record

desde 2004.Além de ambos os programas serem ancorados na forte figura de um

apresentadorreconhecidoporserumbem-sucedidoprofissionaldesuaárea(orepórter

CacoBarcelloseopublicitárioRobertoJustus),quefuncionacomoolastrodaqualidade

do programa, também é evidente que ambos os programas tratam do cotidiano

de trabalhadoresdamídia, sejanomundodo jornalismo (ProfissãoRepórter) ouda

publicidade(OAprendiz).Alémdisso,aimagemdosprofissionaisfamososetalentosos

écontrapostaàinexperiênciaeaopotencialdejovensquetrabalhamparaarealização

dastarefaspropostaspelosâncorasdecadaprograma.

MasumfocodecomparaçãomaisfrutíferoevidenciaquetantoProfissãoRepórter

quanto OAprendiz não conseguem (ou talvez nem possam) revelar todos os seus

bastidores.Osdoisprogramasdeixamdeforaalgunsmomentosquesãoreveladores

e intrínsecos da prática de jornalistas e publicitários; são eventos demasiadamente

“obscenos”dapráticamidiáticaparaseremtrazidosparaoprimeiroplano,poispodem

colocaremxequetodaavalidadedaconstruçãodessasprópriasmídias.

Entretanto, antes de chegar a essas imagens demasiadamente “obscenas”,

épreciso tratardaprópria “cena”decadaprograma–ouseja,quais “cenários”dos

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Profissão Repórter em diálogo

caderno de resumos

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bastidores da prática midiática são revelados e como os trabalhos de repórteres e

publicitários são “encenados”, para se encaixar na construção narrativa de cada

episódio.Após compreender a dinâmica da composição desses bastidores aptos à

revelação,serápossívelclassificarossentidosresultantesdeseususoseospossíveis

efeitosemotivaçõesdoocultamentodepartedaspráticasquenãoestãoautorizadas

achegaràluzdopúblico.Assim,épossívelmostrarcomoosmomentosdecriseque

sãomostradosnosdoisprogramaspodemseaproximaremumsentidocontraintuitivo

da “profanação” (AGAMBEN, 2007) de práticas sagradas da produção capitalista –

porquesãonormalmenteretiradasdousomundano,ocultasporumvéuquenãodeve

ser revelado.Com isso, servem perfeitamente à reconstruçãomítica dos bastidores

midiáticos,quese fortalecemna revelaçãodasuperfíciedesuaspráticas,enquanto

asentranhasdomaquináriodosmeiosdecomunicaçãodemassaeosprocessosde

construçãodossentidosdeseusdiscursospodempermanecerinalcançáveis.

Referências bibliográficas

AGAMBEN, Giorgio. Profanações.SãoPaulo:Boitempo,2007.

ALTHEIDE, David. Creating reality: how TV news distort events.BeverlyHills:Sage,1976.

ARISTÓTELES. Retórica.SãoPaulo:Rideel,2007.

MAINGUENEAU,Dominique.Análise de textos de comunicação.SãoPaulo:Cortez,2005.

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SERELLE,Márcio.“Metatevê:amediaçãocomorealidadeapreensível”.Revista MATRIZes. São

Paulo,ano2,n.2,primeirosemestre/2009,pp.167-179.

SODRÉ,Muniz.A narração do fato – notas para uma teoria do acontecimento.Petrópolis:

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O Aprendiz da Profissão Repórter: o ethos da competição/colaboração no lugar dos bastidores

Ivan Paganotti

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WOLF, Mauro. Teorias das comunicações de massa.SãoPaulo:MartinsFontes,2008.

XAVIER, Ismail. O discurso cinematográfico: a opacidade e a transparência.SãoPaulo:Paze

Terra,2008.

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Profissão Repórter em diálogo

caderno de resumos

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O fascínio pela realidade abrupta e a demanda pelo comodismo familiar

Cláudio Coração

Aprerrogativadetransparência,muitasvezes,éconquistadapelasrepresentações

próximas da realidade, com a construção de uma formação narrativo-discursiva. A

traduçãodoabrupto(omundocaóticonecessitadodeentendimento),pelojornalismo,

dá-se um pouco pelo prisma de representação “clara” das coisas, em que os

condicionantesdarealidadepossamseajeitarcomoindicadoresdavidacotidiana.É

queojornalismoimpõeumaespéciedeordenamentodocaossimbólicoqueoardos

fatos brutos engendra.Nesse raciocínio, o telejornalismo estaria sedimentado como

umaconstruçãotextualmaisdinamizada,namedidaemquematerializaasujeira dos

fatosàluzdocontroversosistemalógicoregidopeloaudiovisual,emsuaconfiguração

realísticaesedutora.Ouseja,osfundamentosemtornodaimagemcomomeiofazemda

transparênciadomundo(notelejornalismo)oelodapráxistelevisiva,comtransmissão

fugazesólida,vistoqueevidenciaosuportedorealpelalegitimaçãoimagética,fincada

nojogodeediçãotecnológica,eelucidadapelodiscursodaverdadecomoguia.

QuandoProfissãoRepórterproclamaserumquadroexpostodosbastidores da

notícia ou do desafio da reportagem desmonta as fatias da realidademais abrupta

pelofilãoda transparência. Essa transparência, no entanto, deve ser entendida aqui

comoemolduraçãodoacontecimentoquesedesnuda,demodoqueProfissãoRepórter

reivindica, a todo o momento, a insígnia do acontecimento movediço, como se restasse

aele(acontecimento)onarrarexpostodosfatos.Masofatosolidificadosocialmenteé

anterioraessatomada.Então,ProfissãoRepórterordenaadiscussãopelofreneside

vozes (repórteres, personagens, ambientações etc.), emalgunsmomentos com tom

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O fascínio pela realidade abrupta e a demanda pelo comodismo familiar

Cláudio Coração

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ficcionaledramático.Nãoàtoasuaorganizaçãovirsemprepropaladapelaestrutura

temática e episódica, já que a discussão temática adverte o espectador sobre a

comprovação imersiva do acontecimento.A singularidade dos acontecimentos como

tomdeontológico-oulegitimador-corroboraparaorevestimentodoprogramacomo

fiocondutordarealidade,digamos,mais“escondida”.Esseavesso da notícia,próximo

dosatributosliteráriosdacrônica,revesteareportagemtelejornalísticacomoumgênero

próximo, por conseqüência, das balizas do repórter idealizado na função, e intruso

no emaranhamento da cidade (ou do campo) na busca de aventuras.A “aventura”

legitimadoradeProfissãoRepórter eseus jornalistas sedápela claraabsorçãodos

acontecimentos regidos no caos simbólico da verdade factual (e não na elaboração

ficcional).EssadistinçãodeteorgenéricodemonstraafraturadosignificantedeProfissão

Repórter:umprogramaqueatropelaarealidade“adormecida”,ouseja,écomoseo

“real”sevislumbrassepelaperspectivadojornalistaaudaz.Otrabalhopraticadopelos

jovens jornalistas reforçaoespaçode transposiçãodo “real” comoemblema.Nesse

sentido,ofatoadormecido(tantomatérias“frias”quanto“quentes”)secobredamágica

doacontecimentoqueseevidenciaidentificadoculturalmente–aquieagora.

Referências bibliográficas

BUCCI,Eugênio. Em torno da instância da imagem ao vivo. In:Revista Matrizes.SãoPaulo:

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LEAL Bruno Souza. Informação e imagem no telejornal: reflexões sobre um regime de visibilidade.In:

RevistaBrasileiradeCiênciasdaComunicação.SãoPaulo:Intercom,v.32,n.1,janeiro/junho2009.

MACHADO, Arlindo. A televisão levada a sério.4.ed.SãoPaulo:Senac,2000.

SODRÉ,Muniz. A narração do fato.Petrópolis:Vozes,2009.

ZIZEK,Slavoj. Bem-vindo ao deserto do real!.SãoPaulo:Boitempo,2003.

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Profissão Repórter em diálogo

caderno de resumos

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Um lugar para o repórter: representação social, protagonismo do testemunho e

subjetividade em presença

Mariana Duccini

As estratégias que legitimam os discursos circulantes em Profissão Repórter

articulam-sesobretudoemdoisâmbitos:nahibridizaçãoentreosgênerosjornalísticoe

documentárioenasformasdeinstalaçãodeumpontodevistasubjetivo,viabilizandoum

efeito de autoridade/autorização materializado nos enunciados circulantes. Intentamos

depreenderasmaneiraspelasquaisojornalismotomadeempréstimododocumentário

(sobretudopela reflexividadeenunciativa)elementosestruturaisdestegênero,assim

como as modalidades de instalação do referido ponto de vista, nas dimensões da

representaçãosocialdorepórter,daconstruçãoimagináriadotestemunhoedapresença

nacenadeumsujeitoafetadopeladensidadedacircunstânciaemqueenuncia.

Fenômenosocialporexcelência,aenunciaçãonãoseestruturademaneiraalheia

aumgênerodediscurso,ouseja,deumprincípiodeestabilizaçãodeenunciadosque

constituiespaçosdeatividaderegidosporprotocolos–oucoerções–dadosaviabilizar,

pelarecorrência,aconsolidaçãodoprópriogênero,cujoslimitesmostram-seporosose

multiformes,jáquecorporificadospeladinâmicadastrocassociais.

NoqueremeteaProfissãoRepórter,adensidadeexpressivadodiscursoretira

seu substrato daarticulaçãodedois universos genéricos: o jornalismo–em termos

predominantes – e o documentário fílmico – numa espécie de rearticulação de

determinadas coerções genéricas, para endossar construções sêmio-discursivas

presentesnosdiscursosdosepisódios.

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Um lugar para o repórter: representação social, protagonismo do testemunho e subjetividade em presença

Mariana Duccini

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Nessaesteira,aalusão recorrenteaos “bastidoresdanotícia”filia-seauma

tradição de antitransparênciaqueseefetivasegundoumparadigmadedocumentário

preponderante a partir dos anos 1950-1960 – que institui parâmetros, mais ou

menos incorporados, mais ou menos distendidos, sobre aquilo que se entende,

hoje,comoformalegitimadadeenunciaçãodocumentária.Talestéticareflexiva,na

perspectivada“câmeraquefilmaacâmera”oudaexplicitaçãodolugardeondefala

osujeitoenunciador,sublinhaavalidadedanãotransparênciacomoindexaçãodo

discurso.Paraalémdeexpressãosubjetivaoumaneirismoestilístico,arevelação

dodispositivocomoformadeintervençãodeumsujeitonomundoamalgamoutoda

umafiliaçãodeobrasederealizadores.

Emtermosdeconstruçãodesentidos,acorrelaçãodeelementosdeexpressão,

na medida em que constitui o conjunto de rastros de uma instância enunciadora

no enunciado, é o que efetiva o processo da reflexividade formal em Profissão

Repórter. Issoseconverteemumaespéciede lastrodeobjetividade,expressando

valores culturais deque “tudoaí está para ser visto, tudodeve ser dadoa ver”.A

recorrênciadecertasestruturasdodocumentário,assimcomoaexplicitaçãodeum

pontodevistasubjetivo,garantemaoprogramaumposicionamentoquesedescola

doviésconservadorpresentenosjornalísticosdeformatosmaistradicionais,masnão

inviabilizasuafiliaçãoaessemesmogênerodiscursivo.

Tangenciamos, agora, o segundo pólo modalizador em Profissão Repórter:

a dimensão performativa, que, como “desafio da notícia”, prevê a constituição do

sujeito-repórter por meio de recursos de protagonização, ancorando estratégias de

representação sobre o que significa, em termos de experiência e valoração social

contemporâneas,ser um repórter.

Aordemdasrepresentaçõescristalizadas/estabilizadasrespondeporestratégias

de institucionalizaçãodafigurados repórteres,articulando tantoadimensãocoletiva

sobre esse estatuto (conjunto de protocolos determinados por uma expectativa de

naturezasocial)quantoadimensãoparticular,naexplicitaçãoidentitáriadessafigura,

em termos da construção de um ethos.

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Profissão Repórter em diálogo

caderno de resumos

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A dimensão do testemunho alude à performatividade desses sujeitos, que

desempenhamtalpapelconformesuas inclinações/aptidões individuais,massempre

emassunçãoaregraseprotocolosdofazerjornalístico.Éafigurativizaçãodessefazer

comoumofício que instaura omodelo do repórter como cultor da notícia, tendo no

horizonteumarevelaçãoempreendidapelatarefainvestigativa.

Em termosda instalaçãodeefeitosdesubjetividade,articulam-seexperiências

quedenotamessesujeitocomoumcorposensívelnomundo,umapresençabiográfica.

Taldimensãoébemdepreendidanascircunstânciasemqueorepórterestabelecejuízos

devaloracercadassituações/personagensdacoberturaqueempreende,ouquandodá

aversuasemoções.Essadinâmicanãocontrariaascoerçõesgenéricasdojornalismo;

aocontrário,visaaumefeitopatético(naacepçãodopathos) que amalgama uma forma

delegitimaçãoautoralbaseadanaexplicitaçãodeumindivíduomoralmenteimplicado

nadensidadenarrativadacircunstânciaqueajudaaconstruir.

Referências bibliográficas

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Um lugar para o repórter: representação social, protagonismo do testemunho e subjetividade em presença

Mariana Duccini

34

MOSCOVICI, Serge. Representações sociais: investigações em psicologia social. Petrópolis,

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Page 35: caderno de resumos - USP · Oliveira Venancio, Renata Carvalho da Costa, Rosana de Lima Soares, ... A figurado jornalista ganha destaque como personagem na narrativa jornalística

Profissão Repórter em diálogo

caderno de resumos

35

Jornalismo e imaginação melodramática: representações

negociadas em Profissão Repórter

Mariane Harumi Murakami

Aderrocadadadicotomia transparência/opacidadena televisãobrasileira,ouo

surgimentodaneotevê(ECO,1984),foimarcadaespecialmenteporumdiscursocada

vezmaisautorreferencial.Nessepanorama,osurgimentodeProfissãoRepórterpassa

a ocupar uma posição interessante na discussão sobre as estratégias discursivas

televisivas, uma vez que trata-se de um produto híbrido de telejornal, pedagogia

televisivaeentretenimento(SERELLE,2009).

O jogo entre transparência e opacidade no programa abre a possibilidade de

umadupla leitura: a documentarizanteea fictivizante, nosparâmetrosdescritospor

Odin(1984):aexistênciadeumespaçodeleituradosprodutosaudiovisuaisemque

podemos tomá-locomoumdocumento,adotarumaatitudemais “documentarizante”

que “ficcionalizante”,aindaquese tratedeumaobradeficção.Assim,porcontade

sua natureza híbrida, a questão das leituras propostas por Odin não se resolve de

maneiradicotômicanoprograma,masénegociadacomosespectadores,emníveis

documentarizantes e fictivizantes diferentes, em que o jogo entre transparência e

opacidadeseestabeleceafimdecaptaroespectadoremergulhá-lonasnarrativasdos

personagens-repórteres.

Porseproporcomoumaespéciede“realityshowjornalístico”,oprogramapossui

inscritasemsuaestrutura“instruçõesparaumaleituradocumentarizante”(SERELLE,

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Jornalismo e imaginação melodramática: representações negociadas em Profissão Repórter

Mariane Harumi Murakami

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2009), bastante evidenciadas e indicadoras de que o espectador está, assim,

presenciandoaconstruçãodeumareportagem,acompanhandoosjovensrepórteresem

todoesseprocesso.Entretanto,épossíveldizerqueainsistênciaemexibirafeiturada

notícia,baseadanainstrumentalizaçãodeumefeitodeobjetividadeacabaporreforçar

o efeito contrário; o exibicionismodas câmeras, a ênfasena luta dos repórteres, as

discussõesdepautasedeediçãodereportagemtornam-se,assim,nãooproclamado

campodeexpressãonaturaldaverdade,maso“lugardeumatécnicadeproduçãode

realidadesaparentes”(XAVIER,2003:95).

Poroutrolado,oprocessodeorganizaçãodeelementosinstrucionaisfictivizantes

emProfissãoRepórterdá-senão tantoporumaconstruçãoaparentementeficcional,

umavezque,comojámencionado,todaaconstruçãonarrativadoprogramadesdobra-

se como uma “janela para omundo dos repórteres”.A fictivização refere-se aqui a

umaarticulaçãoestabelecidacomatradiçãonarrativaclássica,quefazasestratégias

narrativas tradicionais do melodrama serem engendradas na construção de um raciocínio

totalizador que idealiza apresentar a realidade como uma unidade apreensível e o

sujeito/personagemcomoumacategoriasocial.

Adotamosaquiaperspectiva formuladaporBrooks (1995)sobrea imaginação

melodramática. Ele aponta para uma observação do melodrama para além da

delimitaçãodogênero,entendendo-ocomoummododevereexperimentaromundo,

cabendoàordemdeumasubjetividademaisprópriaàmodernidade.Segundooautor,

essaimaginaçãomelodramáticaestáligadaàconcepçãodasubjetividadeedosmodos

deperceber,oquepossibilitaoestabelecimentodediálogoentresuaestruturaeoutros

regimesdiscursivos–ficcionaisounão–,masquerefletem,emsuaestruturação,um

processodereleituradesuasestratégiasnarrativas.

Em Profissão Repórter, é possível observar o movimento “moralizante” típico

do melodrama (XAVIER, 2003), em especial na apresentação dos personagens

das reportagens, que lá são apenas coadjuvantes dos protagonistas-repórteres. A

demarcaçãodosvíciosevirtudesdaspersonagens(e,consequentemente,olugardos

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Profissão Repórter em diálogo

caderno de resumos

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“vilões”e“vítimas”,do“bem”edo“mal”)umadasprincipaiscaracterísticasdomelodrama,

évisivelmente reforçadaduranteasnarrativas.E justamenteodesenvolvimentodas

históriasdospersonagenspeloprogramaprocura,demaneirabastanteclara,construir

esse mundo melodramático ordenado, em que os elementos caracterizadores são

sempremuitobemdemarcados.

Assim,atradiçãodomelodramacomparecenoprogramacomoumaferramenta

dearticulaçãosentimentalnecessária,masqueaparece,quasesempre,emsegundo

plano, uma vez que a presença da imaginação melodramática não é suficiente

para desestruturar as instruções de leitura documentarizante, ou seja, a fictivização

não chega a questionar o projeto de representação coerente, objetiva e “sóbria” da

realidade.Podemos,comoafirmaXavier (2003), inverterosentidodoargumentode

Brooks,explorandooqueno idealde transparência reforça,no fundo,a teatralidade

eoexibicionismo.Aindasegundooautor, por contada inconstânciados valoresno

contexto midiático, o melodrama sustenta ainda mais sua condição de “lugar ideal

dasrepresentaçõesnegociadas”,inclusivenotelejornalismo,umavezquehá,porum

lado,“oacessoàintimidade”,edeoutro,“aneutralizaçãodoefeitopropriamentecrítico

quandoaexposiçãodocorpooudocaráterévalorizadacomorespostaaumapetitepor

imagens”(XAVIER,2003:98),atendendoàlógicadoespetáculo.

Referências bibliográficas

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melodramática.Tesededoutorado.UniversidadeFederalFluminense,CursodePós-graduação

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Jornalismo e imaginação melodramática: representações negociadas em Profissão Repórter

Mariane Harumi Murakami

38

BUCCI,Eugênio.Brasil em tempo de TV.SãoPaulo:Boitempo,1997.

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SERELLE,Márcio. “Metatevê:amediaçãocomorealidadeapreensível”.Matrizes, São Paulo,

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XAVIER, I. O olhar e a cena: melodrama, Hollywood, cinema novo, Nelson Rodrigues.SãoPaulo:

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Profissão Repórter em diálogo

caderno de resumos

39

O testemunho do fato: estratégias retóricas em programas jornalísticos

Eliza Bachega Casadei e Rafael Duarte Oliveira Venancio

Muitasvezesmalvistopelamaioriadosprofissionaisdaimprensa,ojornalismo

gonzoécaracterizadoporumaimersãototaldorepórternouniversodamatéria.Oque

importaalinãosãoospersonagensemvoltaouaaçãocircundante,massimaprópria

presençado repórterno localdo fato,que,emsuafigura, sustenta todaaestóriaa

sercontada.AndréCzarnobai(2003)chamaessavertentedereportagemde“umfilho

bastardodonewjournalism”.Comoriscodeirmospordemaisadiantenacomparação,

talvezpudéssemospensá-loenquantoumfilhobastardodetodoojornalismo,comoo

exacerbamentodeummecanismoqueestápresenteemqualquerconstruçãonarrativa

jornalísticaequesustentagrandepartedeseusefeitosdeverdade:aimportânciado

estatutodetestemunhadorepórternolocaldofato.

Se, como colocaHarvey, “as ordenações simbólicas do espaço e do tempo

fornecem uma estrutura para a experiência mediante a qual aprendemos quem

ouoquesomosnasociedade” (HARVEY,2007:198)eque, justamentepor isso,

estãosempre implicadasemrelaçõesdedisputas,comesteartigo,procuraremos

investigar como o jornalismo em geral (e, particularmente, o Profissão Repórter)

utiliza determinadas técnicas retóricas relacionadas à ocupação do espaço como

forma de sustentar e legitimar regras que produzem determinados efeitos de

verdade. Estudaremos como Profissão Repórter mobiliza certos tropos espaciais

quearticulamefeitosdesentidoquemobilizamumaautoridadeconstruídaapartir

daedificaçãodeumespaçoimagináriodetestemunhodorepórter.

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O testemunho do fato: estratégias retóricas em programas jornalísticos

Eliza Bachega Casadei e Rafael Duarte Oliveira Venancio

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Emoutraspalavras,apartirdanoçãodequeasprovasdeverdadenojornalismo

são de caráter imaginário, partiremos de um estudo a respeito da forma como a

imprensa constrói o testemunho como umamatriz de verdade presumida, calcando

suaautoridadeemumaconstruçãoimagináriadoespaçoetempo.Maisdoqueisso,

tentaremosmostrarcomoestesrecursosretóricosfuncionamcomoparalogismosque,

aoseinvestiremdeumasupostaesferadeinovação,acabamporremeteràrepetição

conclusivaparaamanutençãodocampojornalístico.

Logo,podemosdizerqueoquemantématelevisão,nonossocasootelejornalismo,

em uma relação de verosimilhança e de legitimidade são estratégias retóricas que

promovemnãosódiscursos,masumidealdecontinuidadeedereconhecimento.

Ora, seria pouco interessante a Profissão Repórter sair do cânone básico do

telejornalismo imposto pelo repertório histórico brasileiro. O que ele pode fazer é

instaurar,pordiversosmecanismos,umasupostaesferade inovaçãoqueacabapor

remeteràrepetiçãoconclusivaparaamanutençãodocampo jornalístico.É issoque

evitaumagrandecrisedelegitimidadetelejornalística.

Assim, estamos diante de paralogismos que atuam, principalmente, no

atenuamento dasmarcas tanto da transposição do tempo da história (do fato) para

o tempo da estória (da telerreportagem) quanto da questão das “duas realidades”

transformadana“realidadenaqualvivemos”.

A impressão que temos ao constatar que o jornalismomais tradicional (Jornal

Nacional), o mais sensacionalista (Aqui Agora e seus filhotes), o mais “inovador”

(ProfissãoRepórter)eogonzoadotamestratégiasretóricascomuns(enargia e martyria)

nãoéalgo injustificável,mesmoparecendo ilógico.É funçãodaparalogiaedeseus

mecanismos,osparalogismos,manterocampojornalístico.

Afinal,comopoderíamoscolocartodasessaspráticasdentrodomesmoguarda-

chuva,chamado“jornalismo”,senãofossepelasestratégiasretóricas,osparalogismos

quemantêmocampo?

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Profissão Repórter em diálogo

caderno de resumos

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Assim, não há verdadeira inovação e não há a forma consolidada de análise

ereflexãodeumaprogressãopositivadocampo.A“paralogiadeveserdistinguida

da inovação: a última está sob o comando do sistema, ou pelo menos usada

paramelhorarsuaeficiência;aprimeiraéummovimento (cuja importâncianãoé

normalmentereconhecidaatémaistarde)jogadonapragmáticadoconhecimento”

(LYOTARD,1984:61).

Umaboaformadeperceberessemovimentoestáemobservarqueostropos(no

caso, enargia e martyria), ao se colocarem enquanto fornecimento de determinados

modelos de explicações causais, constroem uma arquitetônica da história que a

telerreportagemsepropõe.

Assim,issoseassemelhaàanálisedeDavidBordwell(1997)danarraçãofílmica

ficcionalou,selevadaaolimite,danarraçãoaudiovisual.ParaBordwell,anarraçãoé

formadapor três itensemrelação:syuzhet, style e fabula. O mais interessante aqui,

o syuzhet, é “o atual arranjo e apresentação no filme (...). Osmesmos padrões de

syuzhetspodemserutilizadosemumlivro,peçaoufilme”,fazendocomqueeleseja

independentedomeio”(BORDWELL,1997:50).

As estratégias trópicas aqui descritas, que indicam, via matéria jornalística, a

transposiçãodotempo-espaçodoespectadoraotempo-espaçodofatoretratocompõe

o syuzhetjornalístico.Éaarquitetônicaquefazcoisasradicalmentediferentesteremo

mesmonomeeintercambiarreferências,práticase,atémesmos,realizadores.

ProfissãoRepórter nosmostra,mais uma vez, que o jornalismo – demarcado

enquantocampo–nãoestácalcadoemmandamentos,nas“históriasqueosjornalistas

contamdesiparaelesmesmos”oumesmoemumacaptaçãodadita“realidade”.

Ocomumdojornalismoestáemestratégiasdelinguagem,nasformasnasquais

otestemunhodos“fatos”éarticuladoepostovisível.Ojornalismoéumaparalogia, um

jogocerradoemsi,eporissoéqueépassíveldeestudo.

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O testemunho do fato: estratégias retóricas em programas jornalísticos

Eliza Bachega Casadei e Rafael Duarte Oliveira Venancio

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Profissão Repórter em diálogo

caderno de resumos

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Íntimo e pessoal: rostos de personagens em close

Andrea Limberto Leite

Uma tomadaemclose transmiteproximidadeem relaçãoaoobjetoqueexibe,

setalobjeto–enosdamosodireitodenomeá-loassimemseuestatutodeserparaa

câmera–forumapessoa,otermomaisapropriadoseriaintimidade.Esseéotipode

relaçãoqueseestabelececomvontadedeesquecerqueumacâmeraseinterpõeentreo

personagemequemovê,aindaqueaaparênciageraldoprimeiroestejadefinitivamente

moldadapeloaparelhoque fazamediação.Nummovimento complementar aesse,

podemosdesde já assumir queumadinâmicadoolhar insereo sujeito, enquantoo

constitui,numaposiçãocentralrepresentadanaimagem.

Épensando nesse duplomovimento combinado – do aparato que conformaa

cena e do sujeito que responde com sua inserção imaginária nessamesma cena –

quepretendemostrataroclose upderostosemProfissãoRepórtercomoumrecurso

recorrente.Trata-sedeumplanopróximoouemdetalhequeaprendemosalerdentro

da técnicaedo cânonecristalizadoda linguagemaudiovisual.Tal quadroespecífico

tambémdizrespeitoaumaoutratradição,adanarrativajornalística.

Devemos, então, dizer que o uso do closeempersonagensganhaoutroscontornos:

aaproximaçãonodetalheinsere-senanarrativacomoomomentoemqueojornalismo

estáimpregnadodeficção.Énessemomentoqueumpersonagememerge,recortado

e remodelado (deformadamente) na articulação da imagem em closequeorepresenta.

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Íntimo e pessoal: rostos de personagens em close

Andrea Limberto Leite

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Observamosque,emProfissãoRepórter,acenadodetalheépartedacomposição

danarrativa imagética.Vemoscenas tematicamente tãodiversas comooabraçono

momentodoreencontroentrepessoasqueestavamdesaparecidaseseusparentes;

umhomemfumandocrack;orostopequenodeumbebê;umamédicaparamentadae

umameninavítimadeabusofilmadacontraaluz,entreoutros.

Entendemos,assim,hipoteticamente,queascenasderostosemdetalhessãoum

quadroprivilegiadoemtalprogramajornalísticoequetemrelaçãocomamaneiracomo

opacto comoespectador é estabelecidoneste caso.Nossaperspectiva deanálise

pretendeaveriguartalhipótesesobdaformadaelaboraçãodanarrativadasimagens

que se desenrolam em direção à cena do detalhe.

Nossaamostrafoiconstituídalevando-seemcontatodaasequênciatemporalde

ProfissãoRepórter,de2006a2010.Propusemo-nosaanalisarosquadrosderostos

em closequetenhamaparecidonoprograma,nãodeixandodeconsiderar,paraisso,

tambémoencadeamentoimagéticodoqualforamderivados.Tendoemvistaaprofusão

numérica e a recorrência de tais quadros durante todos os episódios de Profissão

Repórter,selecionamosaquelesqueforamregistradosnoblogcomochamada(ícones

ou thumbnails) paraoprograma, ou seja, como imagememblemáticadoque foi ao

ar.Assim,associamo-nosaumcritérioderelevânciaatribuídopelaprópriaprodução

doprograma.Destacamos,apartirdisso,maisumaspectodaapariçãodosrostosde

personagensemcena, umdosefeitosdentroda representaçãodahumanizaçãono

relato:avalorizaçãododramadepersonagenshumanos.

Aediçãodas reportagensdeProfissãoRepórteré feitaem ritmonormalmente

acelerado,ouseja,comgrandenúmerodequadrosporminuto.Existeapreferência

porumacomposiçãocomasucessãodetaisquadros,privilegiandoamontagem,mais

doquepormeiodorecursoaumacâmeramaisestática,emqueosobjetosentrame

saemporseuprópriodeslocamento.Noprograma,osobjetosentramesaemdoquadro

apartirdeângulosdiferentes,mas tambémse repetememquadrosdiferentes. Isso

implicadizerqueemcadaumnoséapresentadaoutracomposiçãoentreobjetoseuma

outraabordagemsobreoobjetorecorrente.

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Profissão Repórter em diálogo

caderno de resumos

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Interessa-nospensarcomoseprocessaessarecorrênciacomrelaçãoaosrostos

em close. Nas cenas antecedentes à do close e ainda nas subseqüentes, em que

medidatrata-sedomesmorostooudeoutrocompletamente?Eleéomesmo,vistoque

noencadeamentonarrativocompomosumtododapersonagem.Eleéoutro,poisno

closeoselementosqueoacompanhamsereconfiguram,reapresentam-sefazendodo

momentodeclímaxdramáticosejareveladordeumaoutranaturezadapersonagempor

meiodatomadadesuaface,desconhecidaatéentão.

SenãoéumareuniãotemáticaqueuneosprotagonistasdeProfissãoRepórter,

qualoelementodeligação?Oprotagonismodecertacondiçãohumana.Observamos,

assim, qual a natureza dessa condição nos elementos que se associam aos closes e

quecompõemhoje,paraoprograma,umcruzamentoentreodiscursoassumidopor

ele e aqueles que o atravessam. São closesqueapresentamessencialmente:ador,o

abuso,operdido,odesconhecido,oenvelhecimento,onascimento,oencontro,amorte.

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Íntimo e pessoal: rostos de personagens em close

Andrea Limberto Leite

46

LEITE, Andrea. O traçado da luz – uma análise da sintaxe em reportagens telejornalísticas.

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MACHADO, Dinara. Vazio iluminado: olhar dos olhares.RiodeJaneiro:Notrya,1993.

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Profissão Repórter em diálogo

caderno de resumos

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Os desafios da convergência, os bastidores dos bastidores:

deslizamentos narrativosem mídias digitais

Mariana Tavernari

DesdeolançamentodeseuquadronoprogramadominicalFantástico,daRede

Globo,em2006,ProfissãoRepórtercontacomaomenosumsiteoficialnainternet–

alocadodentrodosservidoresdaRedeGlobo–cumprindofuncionalidadesdiferenciadas

acadaano,incorporandoasdemandasdoprogramadeacordocomasmudançasde

equipeegradehorária.Essastransformaçõesacompanharamseucrescimentotantoem

tempodeexposiçãoquantoemaudiêncianaemissora,mastambémfazempartedas

estratégiasdemídiasdigitaisdaRedeGloboeintegramumconjuntodemetamorfoses

pelasquaispassamasnarrativasaudiovisuaisedigitaisnacontemporaneidade.

Apartirdopressupostodequetaisferramentasatuamnãoapenascomoplataforma

de publicação de textos, sons e imagens veiculados pelo programa, são verificadas

suas diversas funcionalidades, observando o grau de exploração e apropriação das

potencialidades interativas e multimidiáticas. Assim torna-se possível determinar

se os produtos midiáticos em questão correspondem a uma estratégia de estreita

integraçãoentreummeiodigitaleumprogramaaudiovisualtransmitidopelatelevisão

ousesãoempregadoscomafinalidadedeconstruirumacenografiaeumaidentidade

interdiscursivapróprias,passandodaformaaditivaàexpressivaparalegitimarodizer

dofiador,cujocaráterecorporalidadeapontamparaumethosligadoaumconjuntode

representaçõessociaisdomododeenunciaçãojornalística.

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Os desafios da convergência, os bastidores dos bastidores: deslizamentos narrativos em mídias digitais

Mariana Tavernari

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Novas formas de circulação dos enunciados no contexto da convergência das

mídias ultrapassam a noção de dispositivo, suporte e meio e recolocam as bases

conceituaisdosgênerostextuaisediscursivos.Astramasnarrativasquesustentama

construçãodosprodutosmidiáticossurgidoscomoprograma–ProfissãoRepórtersite

eProfissãoRepórtermicroblog,porexemplo–sãocomplementaresentresi.Oobjeto

deste artigo, no entanto, distancia-se de uma análise transmidiática das narrativas do

ecossistemamidiáticoparaaproximar-sedeumaabordagemdiscursivaeespecífica

daspáginasdositedoprogramanainternet,semdesconsiderararelevânciadonovo

panoramamidiáticoquesurgecomosprocessosconvergentes.

As mudanças na interface, funcionalidades e arquitetura das páginas indicam

odesenvolvimentodenovas formasdeapresentaçãodasnarrativas– tratadasaqui

comodeslizamentos–queseinterpõemaoprocessocomunicativoentreainstituição

jornalística,aindacomomatrizenunciadora,easposiçõesocupadaspeloespectador

doprogramaviatelevisãoepelointeratordarededasredes(ainternet).

Odesafioestáemempreenderasrelaçõesdedeslizamentoentreasmídiase

osmodosdeproduçãoecirculaçãodasnarrativascontemporâneas,articuladasaos

mecanismosderepresentaçãodascenasenunciativasprópriasdojornalismo,bem

comoàproblemáticadarepresentaçãosocialdafiguradorepórternaspáginasdo

programaaportadasnoPortaldaRedeGlobodeComunicação.Essesdeslizamentos

ocorremnamesmadireçãoqueapontamosdiversosmecanismosdeinteratividade

nasmídias digitais, propondo novas concepções de autoria, leitura e escrita em

funçãodahipertextualidade.

Oobjetivodestetrabalhoéproblematizarosmecanismosderepresentaçãodas

cenasenunciativasjornalísticas,empregadasaolongodohistóricodaspáginasonline

doprogramanoPortalGlobo,bemcomoosefeitosdesentidoconstruídosemtornoda

figuradorepórter,comoatorsocialepersonagemcentraldastransformaçõesnarrativas.

Um dos principais instrumentos de análise das formas de transmediação

entreoprograma televisivoeaspáginasonlinedoprogramaaportadasnoPortal

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Profissão Repórter em diálogo

caderno de resumos

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da Rede Globo de Comunicação passa, necessariamente, pelo reconhecimento

das configurações intergenéricas de ambos e pelas transformações de suas

funcionalidades interativas.As diferentes fases do blog do programa evidenciam

diferentesformasderelacionargênerosdiscursivosecenografias.Asegundafase

podeserconsideradaamaisinterativadetodososprodutosmidiáticoscriadosna

internetpeloprogramaeétambémafaseemqueosdeslizamentosnarrativosmais

deixamtransparecerosbastidoresdoprograma.

Buscadas as encenações que promovem a encarnação do ethos jornalístico

nopalcoenosbastidoresdaspáginasdoprograma, é relevante tambémobservar

comosedáatuaçãodafiguradorepórternosbastidoresdosbastidores.Afigurado

repórtercomofiadorquecarregaumasériedeimagensdesirestritasàsconfigurações

discursivasdojornalismoatuacomoeloentreoprocessodedeslizamentonarrativoem

direçãoàfaseexpressiva(aditaconvergênciadeconteúdo)eoprocessodeevolução

docampoprofissionaljornalístico.OethosnosprodutosdigitaisdeProfissãoRepórter

emerge da conjunção semiótica (pluralidade semiótica) entre texto, imagem, e som

doblog. Juntas,essas três instânciasainda remetemaummododeenunciaçãodo

tipodediscursojornalístico,comprovandoqueaRedeGlobodesejaexplorardeforma

cuidadosaopotencialdispersivoe“debaixoparacima”dacolaboraçãointerativa.

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Profissão Repórter em diálogo

caderno de resumos

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Quando a notícia vai além: desdobramentos e ancoragens no

jornalismo contemporâneo

Cíntia Liesenberg

O presente artigo baseia-se na busca por desdobramentos decorrentes do

processodeproduçãoeveiculaçãojornalísticasvisandocompreendercomoseoperam

eseconstroemformasdeancoragemsocialelaçosentreoProgramaProfissãoRepórter

eacomunidadedeseusenunciatários,umavezque,observa-secontemporaneamente

uma ampliação de ações relacionadas ao fazer jornalístico que extrapola o cenário

da narração propriamente dita de um fato. Tal situação outorga ao jornalismo uma

atuaçãoqueopera emumaesfera de articulação, intermediaçãoou sustentaçãode

acontecimentos, numa face exterior ao produto jornalístico específico, mas que, no

entanto,sóocorrecomodesdobramentodolugarocupadopelojornalismonasociedade.

Lugarestequesesustentaporcaracterizar-se,comoselêemMayraRodriguesGomes

(2000,2002),comoespaçoautorizadoàseleção,ordenaçãoecirculaçãodediscursos

–possibilitandoamplavisibilidadeàquiloquedivulgaeimplicandonossasformasdever

e agir no mundo –equeatualmenteintensificaasformasdechamarseusinterlocutores

aseidentificarcomele,reforçandosuainscriçãosocial.

Paraoestudo,buscou-seapoionasciênciasdalinguagem,queseapresentam

comoumlugarprivilegiadoparasepensaracomunicação,porqueestas“possibilitam

modos de conceber e de interrogar as redes midiáticas na sua especificidade de

relaçõessimbólicas”(SOARES,2009:108-110),permitindoentenderacomunicaçãoe

alinguagemcomoumprocessodeinteraçãoentresujeitosequeosconstitui.

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Quando a notícia vai além: desdobramentos e ancoragens no jornalismo contemporâneo

Cíntia Liesenberg

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Nesse âmbito, o artigo toma como base conceitos e enfoques daAnálise de

Discurso de Linha Francesa (AD) que se centram na enunciação e na identificação

de elementos que compõem a cena enunciativa, a qual permite a articulação entre

a organização linguística do texto e sua instauração como evento verbal nomundo

(MAINGUENEAU,2001:229),considerandoassimodiscursocomoinseridonocenário

maiordesuaprodução.Dessaforma,implicaocontextocomoaspectoconstitutivodos

sentidosagregadosaumobjetodiscursivo,bemcomosuasformasdevinculaçãocom

asociedadeoucomgruposcomosquaisinterageoubuscainteração.

Assim,paralevantamentodeaspectosquepudessemapontarumaimplicação

do enunciatário do programa, foram feitos levantamentos de forma aleatória, em

caráterexploratórioeemperíodosesparsos,sendoaprimeirabuscarealizadaem

setembrode2009.Outrasbuscastambémforamrealizadasemmarçoenovembro

de 2010 e em janeiro e fevereiro de 2011. Foram utilizados como bases: o blog

do programa, a Newsletter enviada ao público por e-mail, além de pesquisas na

internetpormeiodebuscador,alémde reportagensemqueseobservoualguma

autoreferencialidadeexterna.

Entreosmateriaisencontrados,destacam-sedoistiposdecenas:a)aprimeira,

apartirdeelementosdeancoragemproduzidospeloenunciador,ouseja,pelaequipe

do programa; b) a segunda relacionada à apresentação de iniciativas oriundas de

ambientesexternosàprodução,sejaemrespostaaosapelosdacenaanterioroucomo

iniciativaespontâneaquedealguma forma implicaoprograma; c) observa-seainda

umaterceiracena,comoinstânciaintermediáriaentreenunciadorecoenunciador,com

açõespromovidaspelaempresadecomunicaçãoquealocaProfissãoRepórter,mas

quenãosãoexploradasnesteestudo.

Dentre as cenas escolhidas, encontra-se uma vasta gama de expressões do

processodepromoção, conquistadeadesãoeancoragemdoprograma,apontando

paraumacapacidadedeproliferaçãodeiniciativasqueconformamacenamaiorqueo

constitui e caracterizam suas formas de vinculação social.

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Profissão Repórter em diálogo

caderno de resumos

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Nesses termos, a partir das diversificadas maneiras de participação de

telespectadoreseinternautasencontradas,aindaquecompesquisaexploratória,pode-

se dizer que a maneira de apresentação de Profissão Repórter atrela-se às ações

queestabelecevisandoenlaçarseudestinatário,queessesaspectosse incorporam

e constroem a figura de um coenunciador imaginário que faz eco em sujeitos, os

quais,apreendidosporessediscursoepráticas,ascendemaumlugarnaenunciação,

respondendoaosapelosdoenunciador.Tornam-semaisumainstânciadepromoção

deseudiscursoeinserem-secomoagentesdenovasações,instaurandoeventosque

demonstram sua adesão.

Umefeito de legitimação recíproca se verifica: ao firmar laços e conquistar

adesão,oprogramatambémlegitimaseuscoenunciadores(eolugarqueocupam)

aoinseri-loscomosujeitosnoespaçoprivilegiadoquedetématualmenteojornalismo

e a mídia de largo alcance.

Referências bibliográficas

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