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TEMA: “DIVERSIDADE NA PONTA DA LÍNGUA”: CONSTRUINDO ARTIGOS E SEMINÁRIOS NA TEMÁTICA DO NEGRO NA SOCIEDADE Cadernos Didáticos de Língua Portuguesa Material Elaborado pelo Subprojeto PIBID 2018/2019 do curso de Letras/Língua Portuguesa da UFJF

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TEMA: “DIVERSIDADE NA PONTA DA LÍNGUA”:

CONSTRUINDO ARTIGOS E SEMINÁRIOS NA

TEMÁTICA DO NEGRO NA SOCIEDADE

Cadernos Didáticos de Língua

Portuguesa

Material Elaborado pelo Subprojeto PIBID 2018/2019 do curso de

Letras/Língua Portuguesa da UFJF

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Cadernos Didáticos de Língua Portuguesa

Material Elaborado pelo Subprojeto PIBID 2018/2019 do curso de

Letras/Língua Portuguesa da UFJF

“Diversidade Na ponta da língua”: construindo artigos e seminários na temática do

negro na sociedade

Alice Pereira Carlos1

Clara Aparecida de Almeida Silveira1

Karina Fagundes Menezes1

1 Introdução

Este trabalho tem como objetivo apresentar uma sequência de atividades pedagógicas

desenvolvidas no Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência (PIBID) da UFJF

de Língua Portuguesa, através do subprojeto “(Multi)Letramentos e Direitos Humanos:

práticas de linguagem no ensino de Língua Portuguesa para a formação cidadã”.

O trabalho aqui descrito foi desenvolvido durante o segundo semestre do ano de 2018

e durante todo o ano de 2019 na Escola Municipal Murilo Mendes, localizada no bairro Alto

Grajaú, em Juiz de Fora – MG. Foi realizado sob a orientação da Profa. Tânia Magalhães e da

supervisão da Profa Caroline Souza Ferreira. Nosso grupo contava com o total de oito

pibidianos e uma bolsista de extensão. Fomos divididos em três trios para melhor

acompanharmos as aulas e realizarmos as atividades propostas.

Neste caderno, apresentamos as atividades realizadas no mês de conscientização negra

que culminou numa semana cultural; para tanto, pudemos trabalhar com textos provocadores

que deram origem a um diálogo multidisciplinar sobre as questões étnicas e raciais e que

terminou com “Semana da Consciência Negra”, repleta de atividades para todos os alunos da

escola. Também foi nosso objetivo trabalhar questões relativas à pesquisa, de modo a

construir uma visão mais crítica sobre a linguagem e o conhecimento. Fruto desse mês de

debate, o projeto final do grupo passou a se chamar “Diversidade na Ponta da Língua” e deu

origem a uma revista produzida pelos próprios alunos, em que constam as produções finais,

1 Alunas do curso de Letras – Português da UFJF, bolsistas do PIBID.

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como resenhas, entrevistas e artigos, em que estão o resultado das pesquisas e discussões

realizadas pelos estudantes.

2 Breve referencial teórico

A pretensão desse projeto foi a de promover a interação dos alunos com a escola, bem

como com a comunidade local, visando ao acesso, à permanência e à aprendizagem da língua

como elemento transformador. Buscamos levar os alunos à conscientização e à valorização do

espaço escolar, através dos estudos de (multi)letramentos no ensino de Língua Portuguesa

(ROJO, 2012) e ao domínio de diferentes gêneros textuais, como entidades sócio-discursivas

(MARCUSCHI, 2002) e ferramentas para auxiliá-los na compreensão da realidade, visando

transformá-la. O espaço escolar transparecia uma realidade distanciada dos alunos, não os

permitindo construir uma identidade com a comunidade escolar. Portanto, o trabalho sugerido

pelo projeto manteve o objetivo de reorganização e interação dos alunos com a escola, com o

intuito de integrar espaço escolar e alunos.

3 Descrição das Atividades

3.1 Trabalhos realizados no 9º ano

ETAPA 1 – Compreensão do texto argumentativo

Para dar início às atividades, e inserir os alunos no campo da metodologia científica,

aprimorando as estratégias de pesquisa (como formular pesquisa, consultar fontes, comparar

dados, produzir relatórios e comunicar resultados), primeiramente ler com os alunos a redação

do Enem de João Maia de Moraes, 15 anos, sobre a violência contra a mulher. O intuito de

apresentar essa redação em específico, além da escolha temática, é fornecer aos alunos uma

produção de uma pessoa da mesma faixa etária que eles para que interajam melhor com a

linguagem e estrutura do texto.

O texto a seguir foi retirado da internet e está disponível em:

https://brasil.elpais.com/brasil/2015/11/25/opinion/1448462318_455988.html

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EXERCÍCIO

Após a leitura do texto, fazer oralmente os exercícios com as seguintes propostas:

1- Qual é a tese (principal ideia) do texto?

2- O jovem, autor da redação, conseguiu expressar o seu ponto de vista? Qual é ele?

3- O autor usou de argumentos plausíveis para defender seu ponto de vista? Quais foram

eles?

Após a leitura, o exercício oral deverá sistematizar as principais características do

texto dissertativo-argumentativo. O aluno deverá ser capaz de entender o ponto de vista do

autor e localizar no texto seus argumentos.

ETAPA 2 – Primeira escrita

Após a compreensão do texto argumentativo, dividir em grupos a turma, destinando

responsabilidade por uma temática específica acerca da desigualdade de gênero.

Compartilhar matérias jornalísticas e artigos contendo dados estatísticos relevantes

para a contribuição e enriquecimento dos textos a serem feitos pelos alunos. Os dados

consultados podem ser acessados nos seguintes links abaixo:

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- Mulheres e o mercado de trabalho: os desafios da igualdade

https://www.thinkwithgoogle.com/intl/pt-br/tendencias-de-consumo/mulheres-e-o-mercado-de-

trabalho-os-desafios-da-igualdade/;

- No esporte, o machismo é campeão

https://emais.estadao.com.br/blogs/nana-soares/no-esporte-o-machismo-e-campeao/;

- Os números da violência de gênero na internet no Brasil

https://dossies.agenciapatriciagalvao.org.br/violencia-em-dados/os-numeros-da-violencia-de-genero-

na-internet-no-brasil/;

Com o acesso a esses dados, os alunos darão início às suas produções. Na primeira

escrita, a introdução e a conclusão podem ser feitas em conjunto com a participação integral

da turma e auxílio da professora. Cada grupo ficará responsável pela produção de um

parágrafo do desenvolvimento e, ao final, poderão ser corrigidas e incluídas a introdução e a

conclusão, formando um só texto da turma. Essa estratégia visa a minimizar dificuldades que

os alunos possam ter na escrita de textos argumentativos, dependendo da série e das

experiências anteriores.

ETAPA 3 – Produção final

Tendo em vista a prática de escrita e reescrita da atividade anterior, a etapa seguinte

será proposta com o objetivo de produzir artigos e apresentar seminários para uma Semana

Cultura na escola (no caso da nossa realidade, foi a Semana da Consciência Negra, em

novembro de 2019). Sendo assim, a temática das produções foi a diversidade cultural voltada

para as manifestações culturais de matrizes africanas, mas o professor pode escolher uma

temática que for de interesse da comunidade.

ARTIGO

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Em um primeiro momento, realizar uma pesquisa com os alunos no laboratório de

informática da escola, de forma livre, buscando notícias, informações e matérias que

envolviam questões étnicas, como as cotas raciais, racismo, personalidades negras, e outras.

Pedir que os alunos pesquisa também em casa.

Realizar a leitura de algumas matérias que despertam o interesse dos alunos para que

então, seja dado início ao processo de produção. As matérias sugeridas são as seguintes:

- A biografia de 21 personalidades negras muito importantes da história:

https://www.ebiografia.com/biografia_personalidades_negras_importantes_historia/;

- Negros e negras brasileiros que deveriam ser mais estudados nas escolas:

https://www.bbc.com/portuguese/amp/brasil-42033622;

- Negros que mudaram a história no Brasil e no mundo:

https://manualdohomemmoderno.com.br/desenvolvimento/negros-que-mudaram-a-historia-no-brasil-

e-no-mundo

- Negros são menos de 18% dos médicos e não chegam a 30% dos professores universitários:

https://www.redebrasilatual.com.br/trabalho/2014/05/negros-no-servico-publico-2996/;

- Um balanço da política de cotas: http://cienciahoje.org.br/artigo/um-balanco-da-politica-de-cotas/.

Realizar uma discussão sobre as temáticas, buscando tese e argumentos; auxiliar os

alunos se posicionarem sobre as polêmicas e dar início à escrita. As temáticas para a escrita

foram:

- Personalidades negras que se destacaram no Brasil e no mundo;

- Preconceito racial na Língua Portuguesa;

- Ações afirmativas;

- A importância do negro na sociedade.

Tendo em vista a finalização das discussões, iniciar o processo de escrita dos artigos

com os alunos. A partir de uma aula expositiva e dialogada, com a mediação da professora,

realizar perguntas norteadoras para a inserção dos alunos no gênero textual de cunho

científico.

O que é pesquisa?

Como realizar uma pesquisa com bases científicas?

O tema: por que escolhemos a temática do negro?

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A cartilha2 orientadora utilizada para a produção escrita de um texto de cunho científico

foi a seguinte:

Com esse material, a professora deve explicar o que são essas etapas de criação e suas

importâncias no texto. Além disso, devem ser ressaltados para os alunos outros elementos que

são importantes em um artigo, como

- norma culta

- formatação

- informações estruturais (título, subtítulo)

- citações e referências

- impessoalidade do texto

Cada grupo de alunos deve ser orientado pelo professor. Como primeiro passo, a

produção inicial será manuscrita e feita dentro de sala de aula, porque neste ambiente é

possível acompanhar o desenvolvimento da escrita. Na sequência, cada texto deve ser

revisado e, finalmente, reescrito e digitado pelos alunos no laboratório de informática, a fim

de ser encaminhado para a revista em que os artigos serão publicados. Durante as digitações,

alertar sobre as questões técnicas de um trabalho digitado, como fonte, formatação,

espaçamento, entre outras.

Veja um dos artigos produzidos pelos alunos:

2 Fonte: Material pedagógico do Colégio de Aplicação João XXIII/UFJF.

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Preconceito racial na Língua Portuguesa

Amanda Cristina D. Ambrósio

João Victor Adão

Kauan N. Vianna 9o ANO

A língua portuguesa é neutra ou apresenta racismo? Por que as pessoas usam nomes de

animais para se referir aos negros da escravidão? Que exemplos de palavras expressões racistas

existem na língua portuguesa? Nós não percebemos isso, mas a nossa língua tem palavras e expressões cheias de preconceito raciais. Para nós não ofendermos as pessoas negras com a nosso

vocabulário estamos pesquisando palavras e expressões de origem racistas. Neste texto apresentaremos um glossário, com as palavras que não devemos usar.

Quem nunca ouviu por exemplo, lista negra, ovelha negra, a coisa tá preta e mercado

negro? Nestas expressões o preconceito fica claro e visível, porque se refere aos negros como uma coisa ruim. Mas existem mais palavras racistas, que se não pesquisarmos não saberíamos o quanto

são ruins podemos citar como exemplo: Denegrir, Criado-Mudo, Fazer nas Coxas e Mulata, que descobrimos no texto de Natália Eiras publicado no blog universal, em 21/04/2019. Explicaremos os

significados dessas e outras expressões no glossário.

• Denegrir: Denegrindo vem do verbo denegrir. O mesmo que: aguarentando, enegrecendo,

enlodando, escurecendo, infamando, maculando, manchando, obscurecendo. https://www.dicio.com.br/denegrindo/

• Criado-Mudo: O nome da mesa de cabeceira vem de um dos papéis desempenhados

pela criadagem dentro de uma casa: o de segurar as coisas para seus senhores. Como o empregado

não poderia fazer barulho para atrapalhar os moradores, ele era considerado mudo. Veja mais em https://www.uol.com.br/universa/noticias/redacao/2019/04/21/10-expressoesracistas-que-

deveriamos-tirar-do-nosso-vocabulario.htm?cmpid=copiaecola

• Fazer nas Coxas: Não se sabe exatamente quando a expressão entrou para o nosso vocabulário, mas a versão da origem mais popular é a de que o termo viria do possível hábito dos escravos

moldarem telhas em suas coxas. Como eles tinham corpos de diferentes formatos, as telhas

acabavam não se encaixando corretamente e, por isso, estariam mal feitas. Veja mais em https://www.uol.com.br/universa/noticias/redacao/2019/04/21/10-expressoesracistas-que-

deveriamos-tirar-do-nosso-vocabulario.htm?cmpid=copiaecola

• Mulata: O termo é usado para se referir a pessoas negras de pele clara. A palavra faz referência à

“mula”, filhote do cruzamento de égua com jumento. Ou seja, compara uma pessoa negra a um animal. A expressão se tona ainda mais pejorativa quando usada como “mulata tipo exportação”,

reforçando a visão do corpo da mulher negra como mercadoria. Veja mais em https://www.uol.com.br/universa/noticias/redacao/2019/04/21/10-expressoesracistas-que-

deveriamos-tirar-do-nosso-vocabulario.htm?cmpid=copiaecola

• Lista negra: Assim como em “denegrir”, o uso do adjetivo “negro” em palavras como “mercado

negro”, “lista negra” e “ovelha negra” tem peso muito negativo, tornando-o pejorativo. Esse juízo de

valor acaba afetando também as pessoas negras, reforçando o preconceito estrutural. Veja mais em

www.uol.com.br/universa/noticias/redacao/2019/04/21/10-expressoesracistas-que-deveriamos-tirar-do-nosso-vocabulario.htm?cmpid=copiaecola

• A coisa tá preta: Dito popular, que significa que algo não vai bem.

https://www.dicionarioinformal.com.br/a%20coisa%20t%C3%A1%20preta/

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Essas palavras e expressões, que muitas vezes usamos no nosso dia a dia com naturalidade mostram que nossa língua não é neutra e apresenta racismo. O nosso papel é evitar usá-las e tomar

cuidado com outras que podem significar algum tipo de preconceito.

SEMINÁRIO

Durante a Semana da Consciência Negra, os alunos do 9º Ano foram convidados a

apresentarem seus artigos em forma de seminário para a escola. A atividade contribuiu para a

complementação do trabalho dos alunos, visto que foi possível realizar a divulgação das

pesquisas deles para a comunidade escolar.

As atividades iniciais se desenvolvem de forma bastante expositiva. Primeiramente, a

professora deve conduzir a aula questionando os alunos acerca de apresentações de trabalho:

- vocês já apresentaram algum trabalho?

- o que vocês reparam quando assistem ao apresentador e ao repórter de um jornal?

- para apresentar um trabalho, vocês acham que deve haver um planejamento em sua

fala?

Explicar, em seguida, o que é e como funciona uma apresentação oral, mais

especificamente, um seminário. A professora deve explicar que o seminário é um gênero

textual que reúne informações a serem apresentadas a u público, principalmente, através da

linguagem oral. A exposição das informações pode ser feita por uma ou mais pessoas, como

uma espécie de aula sobre um tema previamente estudado pelos comunicadores para tal

apresentação. Ele serve para transmitir a outras pessoas um assunto específico, previamente

estudado por quem o apresenta. O seminário tem uma apresentação inicial das pessoas e da

temática, um aprofundamento do tema e uma conclusão. Pode-se, também, abrir um espaço

para perguntas ou debate ao final da apresentação. O tempo de exposição deve ser

previamente acordado.

Com essa conversa inicial, o próximo passo será a confecção dos slides de

apresentação. Para isso, chamar atenção para as seguintes orientações textuais de um slide. Os

slides não podem conter textos extensos, afinal, o seu objetivo é de dar informações chaves e

rápidas para quem está assistindo a apresentação, visto que o conteúdo será transmitido

oralmente por quem está apresentando. Assim, podem ser feitos tópicos e inseridas figuras

que se relacionam à temática abordada.

Tendo concluído a customização dos slides, as próximas aulas devem ser dedicadas

para o ensaio das apresentações dos grupos de alunos. Estipular o tempo de fala para cada

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aluno e para os grupos, de modo que os estudantes possam monitorar sua apresentação. Para

finalizar, realizar as apresentações no dia reservado, observando, anteriormente, sala com

datashow, som, etc. Testar antes os equipamentos. É preciso, também, fazer uma avaliação

das apresentações, observando se os objetivos foram cumpridos. Uma dica é filmar os alunos,

caso eles queiram, e assistir às apresentações depois, de modo a aprimorar questões como

gestos, expressões faciais, velocidade da voz, uso dos slides acompanhando a fala, dentre

outros aspectos da oralidade.

3.2 Trabalhos realizados nos 8º anos

ETAPA 1 – Estudando o gênero resenha

Iniciar as atividades assistindo ao filme “Vista Minha Pele”, que aborda o preconceito

racial, em uma história invertida. Após assistirem ao filme, ler uma resenha sobre o curta

“Vista Minha Pele”.

Resenha: VISTA MINHA PELE

Filme dirigido pelo cineasta Joel Zito Araújo e produzido por Casa de Criação/Ceert, 2004, São Paulo.

O autor faz uma releitura da história do Brasil, onde, os brancos seriam os negros e

os negros seriam brancos. Em sua versão, o mundo fora explorado e colonizado pelos negros da rica África, e a Europa seria um continente pobre, ele inverte os papéis.

O Brasil, particularmente, teria sido colonizado pelos negros, senhores ricos que escravizavam os brancos capturados na Europa. Então, a história é contada mostrando as

injustiças sofridas pelos negros, mas, na pele de pessoas brancas. Maria, uma menina branca e pobre, que morava na favela como a maioria dos

brancos, estudava em um colégio particular por conta de uma bolsa de estudos que

ganhara por sua mãe ser faxineira da escola. Os trabalhos subalternos sempre ficavam para os brancos e pobres.

Na escola Maria era sempre hostilizada pelos seus colegas por causa de sua cor e por sua condição social. Até os professores duvidavam de sua capacidade de

aprendizagem.

Maria, mesmo sendo uma das únicas brancas do colégio, teve a pretensão de ser a miss festa junina da escola, embora todo ano quem sempre vencia era a Sueli, uma linda

menina negra. Sueli era a favorita da escola, todos os meninos negros e de boa família queriam

ser amigo dela ou seu namorado. Até Maria a admirava, gostava de seus cabelos crespos e a imitava fazendo permanente, e admirava mais ainda a cor da sua pele. Em seu íntimo

Maria se maldizia por não ter nascido preta.

A ideia de ser miss não era aceita por seus familiares, seu pai sempre dizia que ela tinha que andar com os pés no chão. Ser miss não era para menina de sua cor. Já sua mãe

a apoiava e a incentivava dizendo que deveria lutar pela afirmação de sua raça. Um colega da menina que também morava na favela e era branco como ela, lhe

falava que era besteira estudar, que precisava trabalhar para ajudar a sua família e que

ela deveria fazer a mesma coisa, estudar era para rico e negro.

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Então, Maria resolveu enfrentar tudo e a todos, não se importando se ia vencer ou não o concurso. Em sua candidatura, apesar de muito preconceito, Maria também recebeu

muito apoio, principalmente de sua amiga Luana que era negra e rica, filha de um

diplomata, e tinha morado em outros países, conhecendo outras realidades e entendia todas as aflições que Maria passava.

Apesar da resistência e dificuldade na venda dos bilhetes, elas não se intimidaram foram à luta e conseguiram vender todos os carnês. O esforço de Maria para ser “Miss

Festa Junina” da escola era muito grande tinha que superar o padrão de beleza imposto

pela mídia, em que só o negro era valorizado. Já Sueli sua oponente, não teve dificuldades nenhuma para vender seus votos,

tinha todos os requisitos para ser miss, além de ter um rosto bonito, era negra, alta, magra e muito simpática, todos na escola a admiravam. Ela era perfeita.

Então, chegou o grande dia da contagem de votos para saber quem seria a vencedora e que ficaria com o título tão desejado.

Maria estava apreensiva com o resultado, mas descobriu que no meio dessa luta

ela se fortaleceu, mesmo que não ganhasse como “Miss Festa Junina”, mesmo assim sairia vencedora.

A pobre menina branca tomou consciência de sua condição e descobriu que poderia lutar pelos seus objetivos e enfrentar qualquer situação adversa. Que a cor de sua

pele não era um obstáculo para conquistar ideais em sua vida.

O filme mostra a discriminação racial e o sofrimento de um povo, branco ou negro, que convive diariamente com o preconceito e descobre que só travando batalhas e

buscando seus objetivos, sem medo, poderá mudar essa situação.

LÚCIA HELENA DA ENCARNAÇÃO - Acadêmica de Pedagogia - Faculdade UNAERP- Guarujá/SP

Resenha retirada de: http://luciahelenapedagoga.blogspot.com/2013/04/vista-minha-pele-resenha.html

Em seguida, identificar as características que compõem o gênero textual resenha.

Realizar as seguintes perguntas que norteará a discussão sobre a estrutura da resenha:

1. Qual é o assunto desse texto?

2. Com que objetivo ele foi escrito?

3. Para que público ele foi escrito?

4. Na sua opinião, o texto chama a atenção do leitor? Estimula-o a assistir ao filme?

Por quê?

Na sequência, analisar com a turma o resumo do enredo e a crítica feita pela autora.

Chamar a atenção para o fato de a crítica ser elaborada não apenas como uma opinião pessoal

como "gostei" ou "não gostei do filme". Para isso, estudar com os alunos o texto "7 passos

para uma resenha perfeita" e realizar uma leitura conjunta e orientada sobre os passos para

a elaboração de uma boa resenha.

Texto: https://comunidade.rockcontent.com/como-fazer-uma-resenha/

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No próximo passo, confrontar a resenha trabalhada nas aulas anteriores com as regras

apresentadas e identificar, coletivamente, quais dos passos não foram contemplados nela.

Para dar continuidade às atividades, separar a turma em grupos e dividir os seis curta-

documentários sobre a temática racial entre eles. Propor o uso do laboratório de informática

para a realização desta atividade.

- “Negros no mercado de trabalho”

- “Cultura negra: Resistência e Identidade”

- “O xadrez das cores”

- “Afrodescendentes - Muito além do significado”

- “Negro na universidade”

- “Os africanos: Raízes do Brasil”.

Com o auxílio da professora, assistir e anotar as partes mais importantes de cada

história contada, para após darem início às produções iniciais.

NEGROS NO MERCADO DE TRABALHO: Avanços e Barreiras. Disponível em:

https://www.youtube.com/watch?v=ZFQR39L_414

CULTURA NEGRA: Resistência e Identidade. Disponível em:

https://www.youtube.com/watch?v=-X6XE2oJ5bs

O XADREZ DAS CORES. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=NavkKM7w-cc

AFRODESCENDENTES – Muito além do significado. Disponível em:

https://www.youtube.com/watch?v=fboHJpPcRdE

NEGRO NA UNIVERSIDADE – Curta-documentário. Disponível em:

https://www.youtube.com/watch?v=HkCRpdiImpg

OS AFRICANOS: Raízes do Brasil. Disponível em:

https://www.youtube.com/watch?v=fGUFwFYx46s

ETAPA 2 – Produção escrita das resenhas

Após estarem familiarizados com o gênero e de assistir os curta-documentários, iniciar

com os alunos as produções escritas, realizando um rascunho das partes mais importantes

anotadas por eles, presentes em cada filme, como:

O título do curta;

Quem produziu;

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O assunto do filme;

Ano de produção;

Onde ou por quem foi publicado.

Em seguida, pedir para que construam a crítica do texto. Finalizar a produção inicial, para

que a correção seja feita.

Ao realizar a correção dos textos, dar atenção à estrutura do gênero resenha, como as

informações acerca da produção do curta-documentário, as descrições dos acontecimentos

dando enfoque para os entrevistados da história e a opinião dos alunos sobre o filme assistido.

Utilizar o texto já estudado "7 passos para uma resenha perfeita".

Caso seja necessário, reservar um tempo para a reescrita das resenhas aperfeiçoando a

escrita. Nesse momento, se possível, abordar questões várias de análise linguística, caso os

alunos apresentem dúvidas de ortografia, concordância, elementos coesivos, dentre outros

aspectos.

ETAPA 3 – Produção final

Nesta etapa, com as produções escritas finalizadas, direcionar os alunos para um

laboratório de informática para que as resenhas sejam digitadas. Nesse momento, podem

ainda ser tiradas dúvidas e modificadas algumas partes dos textos, caso seja necessário.

Tanto as resenhas quanto os artigos vão compor uma revista de adolescentes com

circulação real, ao final do projeto, ou podem circular em alguma página online da escola.

Exemplo de resenha escrita por um de nossos alunos:

Os Africanos - Raízes do Brasil Washington Victor

O filme “Os Africanos - Raízes do Brasil #3” produzido por Marcelo da Silva e outros foi realizado pela Rizona e publicado no ano de 2016.

O assunto relata a escravidão e a passagem dos negros até os dias de hoje. Eu

achei interessante porque ele relata a situação dessas pessoas nos navios, nas fazendas e depois da liberdade. Antes deles serem escravizados eles tinham uma cultura na África e

na vinda deles tinham que praticar o Catolicismo e a Língua Portuguesa. Escondidos na senzala praticavam suas culturas como, capoeira e religiões. O filme conta que a maioria

da população Africana vinha para o Brasil, cerca de 40%, a maioria era homens por serem mais fortes. As mulheres eram colocadas como empregadas domésticas (MUCAMAS) e

eram abusadas pelos seus patrões.

Ele ainda mostra que depois do fim da escravidão os negros não tinham direito a nada e por isso levavam uma vida de dificuldades e preconceitos. O curta- metragem

questiona as escolas, que não mostram tudo sobre as histórias do negros, apenas samba e

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escravidão. Mas eles, por exemplo, tinham conhecimento de agricultura e de lavoura que ajudaram os Portugueses a cultivar os alimentos e a mineração no Brasil.

Eu gostei do filme porque conta o outro lado da cultura negra que é muito

importante para as escolas e para o Brasil.

4 Resultados obtidos

As produções escritas, tanto dos 8ºs anos quanto do 9º ano, foram publicadas na

revista “Diversidade Na ponta da língua”, juntamente com outros gêneros com os quais os

alunos interagiram (entrevistas realizadas na escola).

Link da Revista:

http://www.ufjf.br/nucleofale/files/2020/01/REFACCAO-REVISTA-PONTA-DA-LINGUA5.pdf

Algumas imagens:

O seminário do 9o ano foi apresentado na “Semana da Consciência Negra” organizada

na própria escola, em que toda a equipe escolar teve o prazer de assistir. A apresentação

buscou viabilizar a divulgação dos resultados das pesquisas realizadas pelos alunos,

enfatizando a proposta de produção oral, de modo a aprimorar habilidades com gêneros orais.

O evento contribuiu não só para o aprimoramento das práticas de oralidade dos

alunos, mas também para a criação de identidades, visto que, para muitos, foi uma experiência

inédita estar apresentando um trabalho decorrente de muitas pesquisas e discussões realizadas

por eles mesmos, permitindo a formação de cidadãos conscientes através dos estudos de

(multi)letramentos no ensino de Língua Portuguesa.

Page 15: Cadernos Didáticos de Língua Portuguesa · debate, o projeto final do grupo passou a se chamar “Diversidade na Ponta da Língua” e deu origem a uma revista produzida pelos próprios

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Além disso, vale ressaltar que a comunidade escolar é composta, majoritariamente, por

alunos afrodescendentes, moradores de favelas e periferias e de origem popular; portanto, a

proposta do PIBID vem como uma forma de educá-los, bem como emancipá-los no que tange

ao exercício das suas cidadanias.

Vale destacar que a proposta aqui realizada envolve todos os eixos do ensino de

Língua Portuguesa: leitura, escrita, oralidade e análise linguística, recomendados em

diferentes documentos oficiais para um trabalho profícuo na sala de aula, formando alunos

participativos, ativos e que dominem a linguagem.

Referências

MARCUSCHI, L.A. Gêneros textuais: definição e funcionalidade. In: Gêneros textuais e

ensino. Rio de Janeiro: Lucerna, 2002.

ROJO, R. Pedagogia dos multiletramentos: diversidade cultural e de linguagens na escola. In:

ROJO, R; MOURA, E. (Org). Multiletramentos na escola. São Paulo: Parábola, 2012.