cadernos didáticos de língua portuguesa · debate, o projeto final do grupo passou a se chamar...
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TEMA: “DIVERSIDADE NA PONTA DA LÍNGUA”:
CONSTRUINDO ARTIGOS E SEMINÁRIOS NA
TEMÁTICA DO NEGRO NA SOCIEDADE
Cadernos Didáticos de Língua
Portuguesa
Material Elaborado pelo Subprojeto PIBID 2018/2019 do curso de
Letras/Língua Portuguesa da UFJF
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Cadernos Didáticos de Língua Portuguesa
Material Elaborado pelo Subprojeto PIBID 2018/2019 do curso de
Letras/Língua Portuguesa da UFJF
“Diversidade Na ponta da língua”: construindo artigos e seminários na temática do
negro na sociedade
Alice Pereira Carlos1
Clara Aparecida de Almeida Silveira1
Karina Fagundes Menezes1
1 Introdução
Este trabalho tem como objetivo apresentar uma sequência de atividades pedagógicas
desenvolvidas no Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência (PIBID) da UFJF
de Língua Portuguesa, através do subprojeto “(Multi)Letramentos e Direitos Humanos:
práticas de linguagem no ensino de Língua Portuguesa para a formação cidadã”.
O trabalho aqui descrito foi desenvolvido durante o segundo semestre do ano de 2018
e durante todo o ano de 2019 na Escola Municipal Murilo Mendes, localizada no bairro Alto
Grajaú, em Juiz de Fora – MG. Foi realizado sob a orientação da Profa. Tânia Magalhães e da
supervisão da Profa Caroline Souza Ferreira. Nosso grupo contava com o total de oito
pibidianos e uma bolsista de extensão. Fomos divididos em três trios para melhor
acompanharmos as aulas e realizarmos as atividades propostas.
Neste caderno, apresentamos as atividades realizadas no mês de conscientização negra
que culminou numa semana cultural; para tanto, pudemos trabalhar com textos provocadores
que deram origem a um diálogo multidisciplinar sobre as questões étnicas e raciais e que
terminou com “Semana da Consciência Negra”, repleta de atividades para todos os alunos da
escola. Também foi nosso objetivo trabalhar questões relativas à pesquisa, de modo a
construir uma visão mais crítica sobre a linguagem e o conhecimento. Fruto desse mês de
debate, o projeto final do grupo passou a se chamar “Diversidade na Ponta da Língua” e deu
origem a uma revista produzida pelos próprios alunos, em que constam as produções finais,
1 Alunas do curso de Letras – Português da UFJF, bolsistas do PIBID.
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como resenhas, entrevistas e artigos, em que estão o resultado das pesquisas e discussões
realizadas pelos estudantes.
2 Breve referencial teórico
A pretensão desse projeto foi a de promover a interação dos alunos com a escola, bem
como com a comunidade local, visando ao acesso, à permanência e à aprendizagem da língua
como elemento transformador. Buscamos levar os alunos à conscientização e à valorização do
espaço escolar, através dos estudos de (multi)letramentos no ensino de Língua Portuguesa
(ROJO, 2012) e ao domínio de diferentes gêneros textuais, como entidades sócio-discursivas
(MARCUSCHI, 2002) e ferramentas para auxiliá-los na compreensão da realidade, visando
transformá-la. O espaço escolar transparecia uma realidade distanciada dos alunos, não os
permitindo construir uma identidade com a comunidade escolar. Portanto, o trabalho sugerido
pelo projeto manteve o objetivo de reorganização e interação dos alunos com a escola, com o
intuito de integrar espaço escolar e alunos.
3 Descrição das Atividades
3.1 Trabalhos realizados no 9º ano
ETAPA 1 – Compreensão do texto argumentativo
Para dar início às atividades, e inserir os alunos no campo da metodologia científica,
aprimorando as estratégias de pesquisa (como formular pesquisa, consultar fontes, comparar
dados, produzir relatórios e comunicar resultados), primeiramente ler com os alunos a redação
do Enem de João Maia de Moraes, 15 anos, sobre a violência contra a mulher. O intuito de
apresentar essa redação em específico, além da escolha temática, é fornecer aos alunos uma
produção de uma pessoa da mesma faixa etária que eles para que interajam melhor com a
linguagem e estrutura do texto.
O texto a seguir foi retirado da internet e está disponível em:
https://brasil.elpais.com/brasil/2015/11/25/opinion/1448462318_455988.html
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EXERCÍCIO
Após a leitura do texto, fazer oralmente os exercícios com as seguintes propostas:
1- Qual é a tese (principal ideia) do texto?
2- O jovem, autor da redação, conseguiu expressar o seu ponto de vista? Qual é ele?
3- O autor usou de argumentos plausíveis para defender seu ponto de vista? Quais foram
eles?
Após a leitura, o exercício oral deverá sistematizar as principais características do
texto dissertativo-argumentativo. O aluno deverá ser capaz de entender o ponto de vista do
autor e localizar no texto seus argumentos.
ETAPA 2 – Primeira escrita
Após a compreensão do texto argumentativo, dividir em grupos a turma, destinando
responsabilidade por uma temática específica acerca da desigualdade de gênero.
Compartilhar matérias jornalísticas e artigos contendo dados estatísticos relevantes
para a contribuição e enriquecimento dos textos a serem feitos pelos alunos. Os dados
consultados podem ser acessados nos seguintes links abaixo:
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- Mulheres e o mercado de trabalho: os desafios da igualdade
https://www.thinkwithgoogle.com/intl/pt-br/tendencias-de-consumo/mulheres-e-o-mercado-de-
trabalho-os-desafios-da-igualdade/;
- No esporte, o machismo é campeão
https://emais.estadao.com.br/blogs/nana-soares/no-esporte-o-machismo-e-campeao/;
- Os números da violência de gênero na internet no Brasil
https://dossies.agenciapatriciagalvao.org.br/violencia-em-dados/os-numeros-da-violencia-de-genero-
na-internet-no-brasil/;
Com o acesso a esses dados, os alunos darão início às suas produções. Na primeira
escrita, a introdução e a conclusão podem ser feitas em conjunto com a participação integral
da turma e auxílio da professora. Cada grupo ficará responsável pela produção de um
parágrafo do desenvolvimento e, ao final, poderão ser corrigidas e incluídas a introdução e a
conclusão, formando um só texto da turma. Essa estratégia visa a minimizar dificuldades que
os alunos possam ter na escrita de textos argumentativos, dependendo da série e das
experiências anteriores.
ETAPA 3 – Produção final
Tendo em vista a prática de escrita e reescrita da atividade anterior, a etapa seguinte
será proposta com o objetivo de produzir artigos e apresentar seminários para uma Semana
Cultura na escola (no caso da nossa realidade, foi a Semana da Consciência Negra, em
novembro de 2019). Sendo assim, a temática das produções foi a diversidade cultural voltada
para as manifestações culturais de matrizes africanas, mas o professor pode escolher uma
temática que for de interesse da comunidade.
ARTIGO
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Em um primeiro momento, realizar uma pesquisa com os alunos no laboratório de
informática da escola, de forma livre, buscando notícias, informações e matérias que
envolviam questões étnicas, como as cotas raciais, racismo, personalidades negras, e outras.
Pedir que os alunos pesquisa também em casa.
Realizar a leitura de algumas matérias que despertam o interesse dos alunos para que
então, seja dado início ao processo de produção. As matérias sugeridas são as seguintes:
- A biografia de 21 personalidades negras muito importantes da história:
https://www.ebiografia.com/biografia_personalidades_negras_importantes_historia/;
- Negros e negras brasileiros que deveriam ser mais estudados nas escolas:
https://www.bbc.com/portuguese/amp/brasil-42033622;
- Negros que mudaram a história no Brasil e no mundo:
https://manualdohomemmoderno.com.br/desenvolvimento/negros-que-mudaram-a-historia-no-brasil-
e-no-mundo
- Negros são menos de 18% dos médicos e não chegam a 30% dos professores universitários:
https://www.redebrasilatual.com.br/trabalho/2014/05/negros-no-servico-publico-2996/;
- Um balanço da política de cotas: http://cienciahoje.org.br/artigo/um-balanco-da-politica-de-cotas/.
Realizar uma discussão sobre as temáticas, buscando tese e argumentos; auxiliar os
alunos se posicionarem sobre as polêmicas e dar início à escrita. As temáticas para a escrita
foram:
- Personalidades negras que se destacaram no Brasil e no mundo;
- Preconceito racial na Língua Portuguesa;
- Ações afirmativas;
- A importância do negro na sociedade.
Tendo em vista a finalização das discussões, iniciar o processo de escrita dos artigos
com os alunos. A partir de uma aula expositiva e dialogada, com a mediação da professora,
realizar perguntas norteadoras para a inserção dos alunos no gênero textual de cunho
científico.
O que é pesquisa?
Como realizar uma pesquisa com bases científicas?
O tema: por que escolhemos a temática do negro?
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A cartilha2 orientadora utilizada para a produção escrita de um texto de cunho científico
foi a seguinte:
Com esse material, a professora deve explicar o que são essas etapas de criação e suas
importâncias no texto. Além disso, devem ser ressaltados para os alunos outros elementos que
são importantes em um artigo, como
- norma culta
- formatação
- informações estruturais (título, subtítulo)
- citações e referências
- impessoalidade do texto
Cada grupo de alunos deve ser orientado pelo professor. Como primeiro passo, a
produção inicial será manuscrita e feita dentro de sala de aula, porque neste ambiente é
possível acompanhar o desenvolvimento da escrita. Na sequência, cada texto deve ser
revisado e, finalmente, reescrito e digitado pelos alunos no laboratório de informática, a fim
de ser encaminhado para a revista em que os artigos serão publicados. Durante as digitações,
alertar sobre as questões técnicas de um trabalho digitado, como fonte, formatação,
espaçamento, entre outras.
Veja um dos artigos produzidos pelos alunos:
2 Fonte: Material pedagógico do Colégio de Aplicação João XXIII/UFJF.
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Preconceito racial na Língua Portuguesa
Amanda Cristina D. Ambrósio
João Victor Adão
Kauan N. Vianna 9o ANO
A língua portuguesa é neutra ou apresenta racismo? Por que as pessoas usam nomes de
animais para se referir aos negros da escravidão? Que exemplos de palavras expressões racistas
existem na língua portuguesa? Nós não percebemos isso, mas a nossa língua tem palavras e expressões cheias de preconceito raciais. Para nós não ofendermos as pessoas negras com a nosso
vocabulário estamos pesquisando palavras e expressões de origem racistas. Neste texto apresentaremos um glossário, com as palavras que não devemos usar.
Quem nunca ouviu por exemplo, lista negra, ovelha negra, a coisa tá preta e mercado
negro? Nestas expressões o preconceito fica claro e visível, porque se refere aos negros como uma coisa ruim. Mas existem mais palavras racistas, que se não pesquisarmos não saberíamos o quanto
são ruins podemos citar como exemplo: Denegrir, Criado-Mudo, Fazer nas Coxas e Mulata, que descobrimos no texto de Natália Eiras publicado no blog universal, em 21/04/2019. Explicaremos os
significados dessas e outras expressões no glossário.
• Denegrir: Denegrindo vem do verbo denegrir. O mesmo que: aguarentando, enegrecendo,
enlodando, escurecendo, infamando, maculando, manchando, obscurecendo. https://www.dicio.com.br/denegrindo/
• Criado-Mudo: O nome da mesa de cabeceira vem de um dos papéis desempenhados
pela criadagem dentro de uma casa: o de segurar as coisas para seus senhores. Como o empregado
não poderia fazer barulho para atrapalhar os moradores, ele era considerado mudo. Veja mais em https://www.uol.com.br/universa/noticias/redacao/2019/04/21/10-expressoesracistas-que-
deveriamos-tirar-do-nosso-vocabulario.htm?cmpid=copiaecola
• Fazer nas Coxas: Não se sabe exatamente quando a expressão entrou para o nosso vocabulário, mas a versão da origem mais popular é a de que o termo viria do possível hábito dos escravos
moldarem telhas em suas coxas. Como eles tinham corpos de diferentes formatos, as telhas
acabavam não se encaixando corretamente e, por isso, estariam mal feitas. Veja mais em https://www.uol.com.br/universa/noticias/redacao/2019/04/21/10-expressoesracistas-que-
deveriamos-tirar-do-nosso-vocabulario.htm?cmpid=copiaecola
• Mulata: O termo é usado para se referir a pessoas negras de pele clara. A palavra faz referência à
“mula”, filhote do cruzamento de égua com jumento. Ou seja, compara uma pessoa negra a um animal. A expressão se tona ainda mais pejorativa quando usada como “mulata tipo exportação”,
reforçando a visão do corpo da mulher negra como mercadoria. Veja mais em https://www.uol.com.br/universa/noticias/redacao/2019/04/21/10-expressoesracistas-que-
deveriamos-tirar-do-nosso-vocabulario.htm?cmpid=copiaecola
• Lista negra: Assim como em “denegrir”, o uso do adjetivo “negro” em palavras como “mercado
negro”, “lista negra” e “ovelha negra” tem peso muito negativo, tornando-o pejorativo. Esse juízo de
valor acaba afetando também as pessoas negras, reforçando o preconceito estrutural. Veja mais em
www.uol.com.br/universa/noticias/redacao/2019/04/21/10-expressoesracistas-que-deveriamos-tirar-do-nosso-vocabulario.htm?cmpid=copiaecola
• A coisa tá preta: Dito popular, que significa que algo não vai bem.
https://www.dicionarioinformal.com.br/a%20coisa%20t%C3%A1%20preta/
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Essas palavras e expressões, que muitas vezes usamos no nosso dia a dia com naturalidade mostram que nossa língua não é neutra e apresenta racismo. O nosso papel é evitar usá-las e tomar
cuidado com outras que podem significar algum tipo de preconceito.
SEMINÁRIO
Durante a Semana da Consciência Negra, os alunos do 9º Ano foram convidados a
apresentarem seus artigos em forma de seminário para a escola. A atividade contribuiu para a
complementação do trabalho dos alunos, visto que foi possível realizar a divulgação das
pesquisas deles para a comunidade escolar.
As atividades iniciais se desenvolvem de forma bastante expositiva. Primeiramente, a
professora deve conduzir a aula questionando os alunos acerca de apresentações de trabalho:
- vocês já apresentaram algum trabalho?
- o que vocês reparam quando assistem ao apresentador e ao repórter de um jornal?
- para apresentar um trabalho, vocês acham que deve haver um planejamento em sua
fala?
Explicar, em seguida, o que é e como funciona uma apresentação oral, mais
especificamente, um seminário. A professora deve explicar que o seminário é um gênero
textual que reúne informações a serem apresentadas a u público, principalmente, através da
linguagem oral. A exposição das informações pode ser feita por uma ou mais pessoas, como
uma espécie de aula sobre um tema previamente estudado pelos comunicadores para tal
apresentação. Ele serve para transmitir a outras pessoas um assunto específico, previamente
estudado por quem o apresenta. O seminário tem uma apresentação inicial das pessoas e da
temática, um aprofundamento do tema e uma conclusão. Pode-se, também, abrir um espaço
para perguntas ou debate ao final da apresentação. O tempo de exposição deve ser
previamente acordado.
Com essa conversa inicial, o próximo passo será a confecção dos slides de
apresentação. Para isso, chamar atenção para as seguintes orientações textuais de um slide. Os
slides não podem conter textos extensos, afinal, o seu objetivo é de dar informações chaves e
rápidas para quem está assistindo a apresentação, visto que o conteúdo será transmitido
oralmente por quem está apresentando. Assim, podem ser feitos tópicos e inseridas figuras
que se relacionam à temática abordada.
Tendo concluído a customização dos slides, as próximas aulas devem ser dedicadas
para o ensaio das apresentações dos grupos de alunos. Estipular o tempo de fala para cada
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aluno e para os grupos, de modo que os estudantes possam monitorar sua apresentação. Para
finalizar, realizar as apresentações no dia reservado, observando, anteriormente, sala com
datashow, som, etc. Testar antes os equipamentos. É preciso, também, fazer uma avaliação
das apresentações, observando se os objetivos foram cumpridos. Uma dica é filmar os alunos,
caso eles queiram, e assistir às apresentações depois, de modo a aprimorar questões como
gestos, expressões faciais, velocidade da voz, uso dos slides acompanhando a fala, dentre
outros aspectos da oralidade.
3.2 Trabalhos realizados nos 8º anos
ETAPA 1 – Estudando o gênero resenha
Iniciar as atividades assistindo ao filme “Vista Minha Pele”, que aborda o preconceito
racial, em uma história invertida. Após assistirem ao filme, ler uma resenha sobre o curta
“Vista Minha Pele”.
Resenha: VISTA MINHA PELE
Filme dirigido pelo cineasta Joel Zito Araújo e produzido por Casa de Criação/Ceert, 2004, São Paulo.
O autor faz uma releitura da história do Brasil, onde, os brancos seriam os negros e
os negros seriam brancos. Em sua versão, o mundo fora explorado e colonizado pelos negros da rica África, e a Europa seria um continente pobre, ele inverte os papéis.
O Brasil, particularmente, teria sido colonizado pelos negros, senhores ricos que escravizavam os brancos capturados na Europa. Então, a história é contada mostrando as
injustiças sofridas pelos negros, mas, na pele de pessoas brancas. Maria, uma menina branca e pobre, que morava na favela como a maioria dos
brancos, estudava em um colégio particular por conta de uma bolsa de estudos que
ganhara por sua mãe ser faxineira da escola. Os trabalhos subalternos sempre ficavam para os brancos e pobres.
Na escola Maria era sempre hostilizada pelos seus colegas por causa de sua cor e por sua condição social. Até os professores duvidavam de sua capacidade de
aprendizagem.
Maria, mesmo sendo uma das únicas brancas do colégio, teve a pretensão de ser a miss festa junina da escola, embora todo ano quem sempre vencia era a Sueli, uma linda
menina negra. Sueli era a favorita da escola, todos os meninos negros e de boa família queriam
ser amigo dela ou seu namorado. Até Maria a admirava, gostava de seus cabelos crespos e a imitava fazendo permanente, e admirava mais ainda a cor da sua pele. Em seu íntimo
Maria se maldizia por não ter nascido preta.
A ideia de ser miss não era aceita por seus familiares, seu pai sempre dizia que ela tinha que andar com os pés no chão. Ser miss não era para menina de sua cor. Já sua mãe
a apoiava e a incentivava dizendo que deveria lutar pela afirmação de sua raça. Um colega da menina que também morava na favela e era branco como ela, lhe
falava que era besteira estudar, que precisava trabalhar para ajudar a sua família e que
ela deveria fazer a mesma coisa, estudar era para rico e negro.
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Então, Maria resolveu enfrentar tudo e a todos, não se importando se ia vencer ou não o concurso. Em sua candidatura, apesar de muito preconceito, Maria também recebeu
muito apoio, principalmente de sua amiga Luana que era negra e rica, filha de um
diplomata, e tinha morado em outros países, conhecendo outras realidades e entendia todas as aflições que Maria passava.
Apesar da resistência e dificuldade na venda dos bilhetes, elas não se intimidaram foram à luta e conseguiram vender todos os carnês. O esforço de Maria para ser “Miss
Festa Junina” da escola era muito grande tinha que superar o padrão de beleza imposto
pela mídia, em que só o negro era valorizado. Já Sueli sua oponente, não teve dificuldades nenhuma para vender seus votos,
tinha todos os requisitos para ser miss, além de ter um rosto bonito, era negra, alta, magra e muito simpática, todos na escola a admiravam. Ela era perfeita.
Então, chegou o grande dia da contagem de votos para saber quem seria a vencedora e que ficaria com o título tão desejado.
Maria estava apreensiva com o resultado, mas descobriu que no meio dessa luta
ela se fortaleceu, mesmo que não ganhasse como “Miss Festa Junina”, mesmo assim sairia vencedora.
A pobre menina branca tomou consciência de sua condição e descobriu que poderia lutar pelos seus objetivos e enfrentar qualquer situação adversa. Que a cor de sua
pele não era um obstáculo para conquistar ideais em sua vida.
O filme mostra a discriminação racial e o sofrimento de um povo, branco ou negro, que convive diariamente com o preconceito e descobre que só travando batalhas e
buscando seus objetivos, sem medo, poderá mudar essa situação.
LÚCIA HELENA DA ENCARNAÇÃO - Acadêmica de Pedagogia - Faculdade UNAERP- Guarujá/SP
Resenha retirada de: http://luciahelenapedagoga.blogspot.com/2013/04/vista-minha-pele-resenha.html
Em seguida, identificar as características que compõem o gênero textual resenha.
Realizar as seguintes perguntas que norteará a discussão sobre a estrutura da resenha:
1. Qual é o assunto desse texto?
2. Com que objetivo ele foi escrito?
3. Para que público ele foi escrito?
4. Na sua opinião, o texto chama a atenção do leitor? Estimula-o a assistir ao filme?
Por quê?
Na sequência, analisar com a turma o resumo do enredo e a crítica feita pela autora.
Chamar a atenção para o fato de a crítica ser elaborada não apenas como uma opinião pessoal
como "gostei" ou "não gostei do filme". Para isso, estudar com os alunos o texto "7 passos
para uma resenha perfeita" e realizar uma leitura conjunta e orientada sobre os passos para
a elaboração de uma boa resenha.
Texto: https://comunidade.rockcontent.com/como-fazer-uma-resenha/
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No próximo passo, confrontar a resenha trabalhada nas aulas anteriores com as regras
apresentadas e identificar, coletivamente, quais dos passos não foram contemplados nela.
Para dar continuidade às atividades, separar a turma em grupos e dividir os seis curta-
documentários sobre a temática racial entre eles. Propor o uso do laboratório de informática
para a realização desta atividade.
- “Negros no mercado de trabalho”
- “Cultura negra: Resistência e Identidade”
- “O xadrez das cores”
- “Afrodescendentes - Muito além do significado”
- “Negro na universidade”
- “Os africanos: Raízes do Brasil”.
Com o auxílio da professora, assistir e anotar as partes mais importantes de cada
história contada, para após darem início às produções iniciais.
NEGROS NO MERCADO DE TRABALHO: Avanços e Barreiras. Disponível em:
https://www.youtube.com/watch?v=ZFQR39L_414
CULTURA NEGRA: Resistência e Identidade. Disponível em:
https://www.youtube.com/watch?v=-X6XE2oJ5bs
O XADREZ DAS CORES. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=NavkKM7w-cc
AFRODESCENDENTES – Muito além do significado. Disponível em:
https://www.youtube.com/watch?v=fboHJpPcRdE
NEGRO NA UNIVERSIDADE – Curta-documentário. Disponível em:
https://www.youtube.com/watch?v=HkCRpdiImpg
OS AFRICANOS: Raízes do Brasil. Disponível em:
https://www.youtube.com/watch?v=fGUFwFYx46s
ETAPA 2 – Produção escrita das resenhas
Após estarem familiarizados com o gênero e de assistir os curta-documentários, iniciar
com os alunos as produções escritas, realizando um rascunho das partes mais importantes
anotadas por eles, presentes em cada filme, como:
O título do curta;
Quem produziu;
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O assunto do filme;
Ano de produção;
Onde ou por quem foi publicado.
Em seguida, pedir para que construam a crítica do texto. Finalizar a produção inicial, para
que a correção seja feita.
Ao realizar a correção dos textos, dar atenção à estrutura do gênero resenha, como as
informações acerca da produção do curta-documentário, as descrições dos acontecimentos
dando enfoque para os entrevistados da história e a opinião dos alunos sobre o filme assistido.
Utilizar o texto já estudado "7 passos para uma resenha perfeita".
Caso seja necessário, reservar um tempo para a reescrita das resenhas aperfeiçoando a
escrita. Nesse momento, se possível, abordar questões várias de análise linguística, caso os
alunos apresentem dúvidas de ortografia, concordância, elementos coesivos, dentre outros
aspectos.
ETAPA 3 – Produção final
Nesta etapa, com as produções escritas finalizadas, direcionar os alunos para um
laboratório de informática para que as resenhas sejam digitadas. Nesse momento, podem
ainda ser tiradas dúvidas e modificadas algumas partes dos textos, caso seja necessário.
Tanto as resenhas quanto os artigos vão compor uma revista de adolescentes com
circulação real, ao final do projeto, ou podem circular em alguma página online da escola.
Exemplo de resenha escrita por um de nossos alunos:
Os Africanos - Raízes do Brasil Washington Victor
O filme “Os Africanos - Raízes do Brasil #3” produzido por Marcelo da Silva e outros foi realizado pela Rizona e publicado no ano de 2016.
O assunto relata a escravidão e a passagem dos negros até os dias de hoje. Eu
achei interessante porque ele relata a situação dessas pessoas nos navios, nas fazendas e depois da liberdade. Antes deles serem escravizados eles tinham uma cultura na África e
na vinda deles tinham que praticar o Catolicismo e a Língua Portuguesa. Escondidos na senzala praticavam suas culturas como, capoeira e religiões. O filme conta que a maioria
da população Africana vinha para o Brasil, cerca de 40%, a maioria era homens por serem mais fortes. As mulheres eram colocadas como empregadas domésticas (MUCAMAS) e
eram abusadas pelos seus patrões.
Ele ainda mostra que depois do fim da escravidão os negros não tinham direito a nada e por isso levavam uma vida de dificuldades e preconceitos. O curta- metragem
questiona as escolas, que não mostram tudo sobre as histórias do negros, apenas samba e
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escravidão. Mas eles, por exemplo, tinham conhecimento de agricultura e de lavoura que ajudaram os Portugueses a cultivar os alimentos e a mineração no Brasil.
Eu gostei do filme porque conta o outro lado da cultura negra que é muito
importante para as escolas e para o Brasil.
4 Resultados obtidos
As produções escritas, tanto dos 8ºs anos quanto do 9º ano, foram publicadas na
revista “Diversidade Na ponta da língua”, juntamente com outros gêneros com os quais os
alunos interagiram (entrevistas realizadas na escola).
Link da Revista:
http://www.ufjf.br/nucleofale/files/2020/01/REFACCAO-REVISTA-PONTA-DA-LINGUA5.pdf
Algumas imagens:
O seminário do 9o ano foi apresentado na “Semana da Consciência Negra” organizada
na própria escola, em que toda a equipe escolar teve o prazer de assistir. A apresentação
buscou viabilizar a divulgação dos resultados das pesquisas realizadas pelos alunos,
enfatizando a proposta de produção oral, de modo a aprimorar habilidades com gêneros orais.
O evento contribuiu não só para o aprimoramento das práticas de oralidade dos
alunos, mas também para a criação de identidades, visto que, para muitos, foi uma experiência
inédita estar apresentando um trabalho decorrente de muitas pesquisas e discussões realizadas
por eles mesmos, permitindo a formação de cidadãos conscientes através dos estudos de
(multi)letramentos no ensino de Língua Portuguesa.
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Além disso, vale ressaltar que a comunidade escolar é composta, majoritariamente, por
alunos afrodescendentes, moradores de favelas e periferias e de origem popular; portanto, a
proposta do PIBID vem como uma forma de educá-los, bem como emancipá-los no que tange
ao exercício das suas cidadanias.
Vale destacar que a proposta aqui realizada envolve todos os eixos do ensino de
Língua Portuguesa: leitura, escrita, oralidade e análise linguística, recomendados em
diferentes documentos oficiais para um trabalho profícuo na sala de aula, formando alunos
participativos, ativos e que dominem a linguagem.
Referências
MARCUSCHI, L.A. Gêneros textuais: definição e funcionalidade. In: Gêneros textuais e
ensino. Rio de Janeiro: Lucerna, 2002.
ROJO, R. Pedagogia dos multiletramentos: diversidade cultural e de linguagens na escola. In:
ROJO, R; MOURA, E. (Org). Multiletramentos na escola. São Paulo: Parábola, 2012.