cadernovb02_p

Upload: linalopes

Post on 10-Apr-2018

229 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

  • 8/8/2019 CadernoVB02_P

    1/73

    CADERNO ViDEObRAsil02

    ARTE MObiliDADE sUsTENTAbiliDADE ART MObiliTY sUsTAiNAbiliTY

    2006

    3

  • 8/8/2019 CadernoVB02_P

    2/73

    SESC SERVIO SOCIAL DO COMRCIOTHE SOCIAL SERVICE OF COMMERCEADMINISTRAO REGIONAL NO

    ESTADO DE SO PAULOSO PAULO STATE REGIONAL ADMINISTRATION

    PRESIDENTE DO CONSELHO REGIONALREGIONAL COUNCIL PRESIDENT

    A ram s ajman

    DIRETOR DO DEPARTAMENTO REGIONALREGIONAL DEPARTMENT DIRECTOR

    Dan o santo de M randa

    SUPERINTENDENTE TCNICOSOCIALTECHNICAL SOCIAL OPERATIONS MANAGER

    Joe Na meyer Padu a

    SUPERINTENDENTE DE COMUNICAO SOCIALMANAGING DIRECTOR OF SOCIAL COMMUNICATIONSivan G ann n

    GERENTE DE AO CULTURALCULTURAL ACTION MANAGERRo ana Pau o da Cunha

    GERENTE ADJUNTOASSISTANT MANAGER

    Pau o Ca a e

    ASSISTENTEASSISTANT

    Marce o bre an n

    GERENTE DE ARTES GRFICASGRAPHIC DESIGN MANAGER

    Eron s va

    GERENTE DE AUDIOVISUALAUDIOVISUAL MANAGER

    s vana Mora e

    CADERNO VIDEOBRASIL

    COORDENAO EDITORIALEDITORIAL COORDINATIONso ange O ve ra Farka

    EDIOEDITORHe o Hara

    PROJETO GRFICOGRAPHIC DESIGNluxDev/G e e Macedo

    ASSISTNCIA DE EDIOEDITING ASSISTANT

    A ta Mar ah

    COLABORADORESCONTRIBUTORS

    Dan e Hora Grant H. Ke ter Han D e emanH degard Kurt Mar a Ara joMar a Mokar eR cardo Ro a

    PRODUO GRFICAGRAPHIC PRODUCTIONs dne ba no

    PRIMPRESSOPREPRESS de Ca a

    GRFICAPRINTINGGama Gr co

    TRADUOTRANSLATION

    Anthony Doy eGa r e Pomeranc umGav n Adamsu anne Gatta

    REVISOPROOFREADINGReg na stock en

    ASSOCIAO CULTURAL VIDEOBRASIL

    PRESIDENTE E CURADORAPRESIDENT AND CURATORso ange O ve ra Farka

    DIRETORA E COORDENADORADE PROJETOSDIRECTOR AND PROJECTS COORDINATOR

    Ana Pato

    COMUNICAOCOMMUNICATIONTet Mart nho

    PESQUISA E ASISTENTE DE CURADORIARESEARCH AND CURATORIAL ASSISTANTRodr go Novae

    PRODUO

    PRODUCTION A ta Mar ahloren Novoa

    PRODUO DE WEBWEB PRODUCTIONs v a O ve ra

    BANCO DE DADOSDATABASEFe pe CohenTat ana b a

    ACERVOCOLLECTIONCar en b cha n

    ESTAGIRIAINTERN

    Ju ana Co ta

    SUPORTE TCNICOTECHNICAL SUPPORTCa uma N Cava cant

    ADMINISTRAOADMINISTRATIONG auc a santana

    ASSESSORIA JURDICA

    LEGAL ADVISORCe n k, Qu nt no & sa na

    AGRADECIMENTOSTHANKS TO

    A a P a t ca, A ejandro Me t n, A e o Anton o , A ne Xav er M ne ro, AmadouKane sy, Ame a H nojo a, Ange a Detan co,

    Ange a K e n, Antje schunke, b jaR ,Caetano de A me da, Cao Gu mar e , Car o

    Amora e , Chantaw pa & Chumpon Ap uk,Che pa Ferro, Dan e Roe er, E a ne baymaE ena s mon , E ana barro , E a bueno

    Va conce o , Emmanue Na ar, Eu tqu o Neve , Fe pe Fon eca, Fernanda F gue redoFunda o Joaqu m Na uco, Ga r e a Gu mGa er a Kur man utto, Ga er a Mar a RaGa er a M an Anton o, Ga er a Nara RoeGa er a Verme ho, Ga er a V rg o, Ga wGeorge ste nmann, Hercu e Mart n , iara Fre erg, i a e P nhe ro, Jar a lope ,

    Jochen Ger , Jo Patr c o, Ha an Khan,lara A marcegu , l a Cha a, lu Chun heng,luca bam o , luca Cuervo Moura, luc a Gome , lu braga, Marce o Re ende, Marc oHarum, Marcone More ra, Marco Morae ,MetaRec c agem, M a Jancow c , Moac r lago, Pau o Nenf d o, Pau a A ugaray,Park F ct on, Ra ae la n, Renato im ro ,Rodr go Ara jo, Ru tom bharucha, Ro ert loder, sangeeta sathe, sara Med a la ,shah du A am, s v a Ca t ho, soph a

    Whate y, su an Turcot, Tat ana Gr n erg, Wagner Tavare .

    CADERNO VIDEOBRASIL UMA PUBLICAASSOCIAO CULTURAL VIDEOBRASIL.

    AS OPINIES EXPRESSAS NOS ARTIGOS ASO DE INTEIRA RESPONSABILIDADE DEAUTORES. O MATERIAL INCLUDO NESTAA AUTORIZAO EXPRESSA DOS AUTORREPRESENTANTES LEGAIS.

    ASSOCIAO CULTURAL VIDEOBRASIL.TODOS OS DIREITOS RESERVADOS.Nenhum texto ou foto desta publicao pode serreproduzido em qualquer meio sem autorizao pda Associao Cultural Videobrasil. Ttulo e crddevem ser mencionados.

    ASSOCIAO CULTURAL VIDEOBRASIL.ALL RIGHTS RESERVED.None of the texts or photos in this publication mareproduced in any form without the prior consentAssociao Cultural Videobrasil. Any reproductimust cite the title and give all necessary credits.

    SO PAULO 2006ISSN 18086675

    ASSOCIAO CULTURAL VIDEOBRASIL

  • 8/8/2019 CadernoVB02_P

    3/73

    A intensifcao de enmenos como a urbanizao, o acessocrescente a novas tecnologias e a ormao de novos mapas

    polticoeconmicoculturais lanam desafos originais paraa arte e azem surgir paradigmas baseados num cotidiano emque a mobilidade tornouse comum e a sustentabilidade, umimportante conceito. Conhecer o outro e o espao alheio,valorizar e preservar o regionalismo sem isollo do mundo,entender as trocas com subculturas sociais e polticas so ques-tes pertinentes num mundo ao mesmo tempo homogneo (naconcentrao econmica e nas marcas transnacionais) e plural

    (na infnidade de canais eletrnicos de comunicao, nas rela-es pessoais acilitadas pela tecnologia e no convvio intensi-fcado pela acilidade de deslocamento). Entender esse ritmodinmico e a interdependncia entre cada deciso traz tonao conceito de sustentabilidade como desafo tambm cultural envolvendo o local em que produzimos, nossa produo, as

    pessoas com quem convivemos, os mercados e o mundo.Neste segundo nmero, Caderno Videobrasil prope

    a discusso desses novos desafos e, acima de tudo, apresentaalgumas das solues propostas pela arte em di erentes partesdo mundo. Elas sero tema do eixo pensamento do 16 o Festi-val Internacional de Arte Eletrnica Videobrasil, que aconteceem setembro de 2007. Residncias como trocas, trocas com oentorno, a percepo do outro, improvisos e gambiarra estoentre as aes e as estratgias aqui abordadas. Numa iniciativa

    pioneira, e em sintonia com a preocupao j mani estada peloSESC em debates e seminrios, Caderno Videobrasil tambmdiscute a relao entre arte e sustentabilidade. Um conceitochave que comea a permear o discurso scioeconmicodo circuito sul, cujo impacto e a relao com a arte so natu-rais e necessrios, e cujas conexes s agora comeam ase ortalecer.

    tEDITORIAL

    The intensi cation o such phenomena as urbanization, grow-ing access to new technologies, and the ormation o new politi-caleconomiccultural maps are posing original challenges to artand causing a surge in paradigms based on a quotidian in whichmobility has become pervasive and sustainability, an importantconcept. Getting to know the other and other places, valoriz-ing and preserving regionalism without cutting onesel o romthe world, and understanding exchanges with social and politi-cal subcultures are just some pertinent questions in a world atonce homogeneous (in terms o economic concentration and

    transnational brands) and plural (given the in nity o electroniccommunication channels, the acilitation o personal contact by technology, and the intensi ed cohabitation that has resulted

    rom ease o travel). Understanding this dynamic rhythm and theinterdependence between each decision made brings the concepto sustainability to light as a challenge that is also culturalin-volving the locale in which we produce, our production itsel , the

    people we live with, the markets, and the world.In this second issue, Caderno Videobrasil proposes a discus-

    sion on these new challenges and, above all, presents some o thesolutions proposed by art in di erent parts o the world. Theserepresent the thematic line o thought running through the 16th

    Videobrasil International Electronic Art Festival, scheduled orSeptember 2007. Residencies as exchange, exchange with thesurroundings, perception o the other, improvisations, and the

    ambiarra are among the actions and strategies broached here.In a pioneering initiative and in syntony with a concern already mani ested by SESC in debates and seminars, Caderno Video-brasil raises or discussion the relationship between art andsustainability, a key concept that has begun to permeate the so-cioeconomic discourse o the southern circuit. Its impact on andrelationship with art are both natural and necessary, even i theconnections are only now beginning to strengthen.

    tEDITORIAL

  • 8/8/2019 CadernoVB02_P

    4/73

    Captulo ICOLABORAES E TROCAS

    Chapter ICOLLABORATIONS AND EXCHANGES

    10Co a ora o, arte e u cu tura

    Co a orat on, art, and u cu tureGRANT H. KEsTER

    36Gam arra a gun ponto para e pen ar uma tecno og a recom nante

    The Gambiarra con derat on on a recom natory techno ogy RiCARDO ROsAs

    54Re dnc a art t ca a m t p a d re e do tr n to contempor neo

    Art re denc e the mu t p e d rect on o contemporary tran tDANiEl HORA

    78Entre gar a e uru u a ( n) u tentve arte produ da na Ama n a

    between heron and vu ture the (un) u ta na e art produced n the Ama onMARisA MOKARzEl

    110Rede de ordado

    Need ework network MARiA ARAJO

    Captulo II A RTE E SUSTENTABILIDADE

    Chapter II ART AND SUSTAINABILITy

    118su tenta dade como n p ra o para a arte um pouco de teor a e uma ga er a de exemp o

    su ta na ty a n p rat on or art ome theory and a ga ery o examp eHANs DiElEMAN

    134 Arte e u tenta dade uma re a o de a adora, ma prom ora

    Art and u ta na ty a cha eng ng, ut prom ng re at onHilDEGARD KURT

    sUMRiOTAblE OF CONTENTs

    3

  • 8/8/2019 CadernoVB02_P

    5/73

    Cap tu o iCOLABORAESE TROCASChapter i

    COLLABORATIONS AND EXCHANGES

    b

  • 8/8/2019 CadernoVB02_P

    6/73

    10 11

    tiNTRODUO

    As prticas artsticas colaborativas e coletivas tm experi-mentado uma espcie de renascena nos ltimos dez anos.

    Apesar de muitas dessas prticas inclurem colaboraesentre artistas, minha preocupao principal aqui envolve-r projetos onde artistas colaboram com indivduos e gru-pos de outras subculturas sociais e polticas. Tratase deum enmeno eminentemente global, que vai desde o tra-balho do Sarai Media Lab com comunidades da cidade deDelhi, at a Casa de Concreto de Chumpon e Chantawipa

    Apisuk, na cidade de Bangcoc, incluindo as colaboraesde Huit FacettesInteraction em aldeias em Dacar. 1 Traba-lhando na bacia do Rio da Prata, na Argentina, o coletivo

    Ala Plastica desenvolveu uma srie de projetos interconec-tados, baseados no princpio da montagem social [ social assemblage], em oposio ao grande nmero de obras deengenharia que tm dani cado a in raestrutura ecolgicae social da regio. Trabalhando em conjunto com ativis-tas locais e ONGs, iniciaram uma srie de plata ormasdesenhadas para acilitar a resistncia local. Trabalhandonuma escala menor, Navjot Alta produziu desenhos inova-dores para bombas de gua e templos in antis na regio doBastar, ndia central, ao longo dos ltimos sete anos, emcolaborao com as associaes de artistas do povo nativo

    Adivasi. Ela usou o desenho e o processo de construopara abrir uma srie de novos espaos de troca e de inte-rao social entre as mulheres e as crianas nas aldeias do

    COlAbORAO, ARTE E

    sUbCUlTURAsPor GRANT H. KESTER

    GRANT H. KEsTER pro e or a oc ado de h tr a da arte na Un ver dade da Ca r-

    n a, em san D ego. sua pu ca e nc uem Art, Activism and Oppositionality: Essays

    from Afterimage [Arte, at v mo e opo c ona dade: En a o de uma p magem] (Duke

    Un ver ty Pre , 1998) eConversation Pieces: Community and Communication in Mod-

    ern Art [A unto de conver a: Comun dade e comun ca o na arte moderna] (Un ver ty

    o Ca orn a Pre , 2004). seu prx mo vro er The One and the Many: Agency and

    Identity in Contemporary Collaborative Art [O um e o mu to : Agnc a e dent dade na

    arte co a orat va contempor nea].

    Bastar. O Park Fiction, de Hamburgo, na Alemanhadesenvolveu uma orma divertida mas e caz de pl

    jamento participativo com os moradores de um bairbeira do cais, prestes a so rer um processo de gentro, que nalmente conseguiu exercer presso su csobre as autoridades locais para trans ormar o locaum parque pblico, incluindo palmeiras alsas e grna orma de tapetes voadores.

    Esses projetos possuem uma dimenso pedaggicita, evidente no uso reqente da o cina como umdor de interao que se desdobra atravs de gestos cessos de trabalho compartilhado. Alm do mais, cdeles oi produzido em conjunto, ou em negociagrupos ativistas, ONGs e associaes de bairro e guartistas, em um ormato que Wallace Heim corretambatizou de ativismo lento. Esses projetos colaborcoletivos so consideravelmente diversos da prtictica convencional baseada em objetos. O engajameparticipante realizado pela imerso e participaoprocesso, mais do que na contemplao visual (leitdecodi cao de um objeto ou imagem). A teoria dexistente orientada primordialmente para a anlisobjetos e imagens individuais entendidas como prouma nica inteligncia criativa. Essa abordagem pro que descrevi como um paradigma textual, em qtrabalho de arte concebido como um objeto ou evproduzido pelo artista de antemo e subseqentemeapresentado ao observador. 2 O artista nunca abre muma posio de comando semntico, e a participaobservador basicamente hermenutica. Ao passo existe uma signi cativa latitude na resposta potenciobservador obra (distanciamento clnico, autorechoque etc.), este no pode exercitar e eito substanou real sobre a orma e estrutura do trabalho, que pnece a expresso singular do consciente autoral do

    tiNTRODUCTiON

    laborative and collective art practices haveerienced something o a renaissance over the past

    years. Although many o these practices involveaborations among artists, my primary concern herebe with projects in which artists collaborate withviduals and groups rom other social and politicalcultures. This is a thoroughly global phenomenon,nding rom Sarai Media Labs work with Delhi

    mmunities, to Chumpon and Chantawipa Apisukscrete House in Bangkok, to Huit FacettesInteractions

    agebased collaborations in Dakar.1 Working in the Roa Plata basin in Argentina, the Ala Plastica collectivedeveloped a set o interconnected projects based oninciple o social assemblage, in opposition to a numbermassive engineering schemes that have damagedecological and social in rastructure o the region.king in conjunction with local activists and NGOs,

    y initiated a series o plat orms designed to acilitateal resistance. Working at a smaller scale, Navjot

    has produced innovative designs or water pumpschildrens temples in the Bastar region o centrala over the past seven years, in collaboration withgenous Adivasi artist guilds. She has used the designconstruction process to open up new spaces or social

    hange and interaction among the women and childrenBastars villages. Park Fiction, located in Hamburg,many, developed a whimsical but e ective orm o icipatory planning with the residents o a water ront

    ghborhood slated or gentri cation, eventually creating

    COllAbORATiON, ART, AND

    sUbCUlTUREsB GRANT H. KESTER

    enough pressure on local authorities to have the siteturned into a public park, replete with ake palm trees

    and lawns shaped like fying carpets.These projects possess an explicit pedagogical

    dimension, evident in the requent use o the workshop asa medium or interactions that un old through the gesturesand processes o shared labor. Further, each o them wasproduced in conjunction and negotiation with activistgroups, NGOs, neighborhood associations, and artistsguilds in a orm o what Wallace Heim has aptly termed

    slow activism. These collaborative and collective projectsdi er considerably rom conventional, objectbased artpractice. The participants engagement is actualized byimmersion and participation in a process, rather thanthrough visual contemplation (reading or decoding animage or object). Existing art theory is oriented primarilytowards the analysis o individual objects and imagesunderstood as the product o a single creative intelligence.This approach privileges what Ive described as a textualparadigm in which the work o art is conceived as anobject or event produced by the artist be orehand andsubsequently presented to the viewer. 2 The artist neverrelinquishes a position o semantic mastery, and theviewers involvement is primarily hermeneutic. Whilethere is signi cant latitude in the viewers potentialresponse to the work (clinical detachment, sel refection,shock, etc.), they can exercise no real or substantive e ecton the orm and structure o the work, which remainsthe singular expression o the artists authoring conscious.This paradigm is entirely appropriate or most imageand objectbased work, but is less use ul when it comesto collaborative practices which emphasize the processand experience o collective interaction itsel . Like mostparadigms, it can be both empowering and disabling. Inthe case o the collaborative practices Ill be discussing

    NT H. KEsTER an a oc ate pro e or o art h tory at the Un ver ty o Ca orn a,

    ego. H pu cat on nc ude Art, Activism and Oppositionality: Essays from After-

    (Duke Un ver ty Pre , 1998) andConversation Pieces: Community and Commu-

    n in Modern Art (Un ver ty o Ca orn a Pre , 2004). H orthcom ng ook The

    d the Many: Agency and Identity in Contemporary Collaborative Art .

  • 8/8/2019 CadernoVB02_P

    7/73

    12 13

    Park FictionDoc menta11, 2002

    Reprod o/Reprod ctio

    Em sentido horrio/ clockwise

    Park Fictiondo Park Fiction, Filiz, com s a prima Polly

    na Ilha das Palmeiras, 2003/ k Fiction g ide Filiz with her co sin Polly

    at the Palm Tree Island, 2003Foto/Photo by Margit Czenki,

    r ivo Park Fiction/Park Fiction Archive

    ster para Park Fiction Os desejosnaro as casas e iro para as r as, 1999/ er for Park Fiction Wishes will leave

    home and go to the streets, 1999Foto/Photo by Margit Czenki

    Park FictionContiner de planejamento, 1998/

    Planning container, 1998Foto/Photo by Hinrich Sch ltze,

    r ivo Park Fiction/Park Fiction Archive

    Arquivo dos desejos , 199Wishes Archive , 1996

    Foto/Photo by Christoph Sch

    CADERNO ViDEObRAsil 02 Colaborao, arte e subculturasCADERNO ViDEObRAsil 02 Collaboration, art, and subcultures

  • 8/8/2019 CadernoVB02_P

    8/73

    14 15

    Esse paradigma vlido para a maior parte das obras ba-seadas na imagem ou no objeto, mas tornase menos tilquando alamos de prticas colaborativas que en atizamo processo e a experincia da prpria interao coletiva.Como acontece com a maioria dos paradigmas, isso podetanto dar poder quanto desinstrumentalizar. No caso dasprticas colaborativas, discutirei que eles nos impedem deapreender o que genuinamente di erente, e potencial-mente produtivo nesse trabalho.

    t A PARCElA MAlDiTA

    Como podemos dar conta da proli erao de prticas ar-tsticas preocupadas com a criao ou acilitao de novasredes sociais e novas modalidades de interao social?Nicolas Bourriaud, diretor do Palais de Tokyo, em Paris,props o conceito de uma esttica relacional para des-

    crever e conter as vrias prticas colaborativas que emer-giram durante a ltima dcada. Hoje, os contornos geraisdo argumento de Bourriaud (aventados pela primeira vezno seu livro de 1998) encontramse bem estabelecidos.

    Vivemos na sociedade do espetculo, em que at mesmoas relaes sociais encontramse rei cadas (O vnculosocial tornouse um arte ato padronizado).3 Em resposta,um grupo de artistas, no incio da dcada de 1990, desen-volveu uma nova e de muitas maneiras indita abor-dagem da arte, envolvendo a encenao de microutopiasou microcomunidades de interao humana. Esses pro- jetos artsticos conviviais de cil uso [ user riendly], in-cluindo reunies, encontros, eventos, [e] vrios tipos decolaborao entre as pessoas, abriram um rico lo deinterao social.4 Os modelos tangveis de sociabilidadeencenados nesses projetos relacionais prometem ultrapas-sar a rei cao das relaes sociais. Nesses processos, osartistas tambm buscaram reorientar a prtica artsticapara longe da expertise tcnica ou da produo de objetos,em direo a um processo de troca intersubjetiva.

    Bourriaud o erece uma rearticulao mais ou menosdireta da arte de vanguarda convencional, em que aatitude instrumentalizadora, antes entendida como ume eito potencial de exposio cultura de massa, agoracolonizava os modos e caminhos mais ntimos da inte-rao humana. No mais capazes de desestabilizar essese eitos atravs de uma espcie de engenharia reversa

    ormalrepresentacional (isto , pela criao de objetose imagens que desa am, de ormam ou complicam os c-digos visuais redutivos da cultura de massa), os artistasdevem agora con rontlos no prprio terreno da intera-o social. Os escritos de Bourriaud, se so por um ladoatraentes, tambm so esquemticos. Ele o erece pouca

    ou nenhuma leitura substantiva de projetos espec(sua escrita caracterizada por breves descries eo signi cado particular de um trabalho presumidodo que demonstrado). Como resultado, pode ser dideterminar o que precisamente constitui o contedottico de um dado projeto relacional. Ao mesmo teBourriaud captou algo que inegavelmente centrauma gerao recente de artistas: uma preocupao interao social e coletiva. Como o autor escreve, depois de dois sculos de luta por singularidade e cimpulsos grupais precisamos [reintroduzir] a idpluralidade [e inventar] novas maneiras de estarmotos, ormas de interao que vo alm da inevitabidas amlias, guetos de acilidade de uso tecnolginstituies coletivas. 5

    Emprestando do trabalho de Flix Guattari e GillDeleuze, Bourriaud de ende que as prticas artstic

    relacionais desa am a territorializao da identidconvencional com uma compreenso plural, polido sujeito. A subjetividade s pode ser de nida, eBourriaud, pela presena de uma segunda subjetivEla no orma um territrio exceto baseado em oritrio que encontra ela modelada no princpio ridade.6 Essa pro sso de nas verdades do plusujeito descentralizado na crtica da arte agora rotno de rigueur . Existe alguma tenso, no obstantees oros algo extenuantes de Bourriaud para estabe

    ronteiras claras entre as novas maneiras de viverque ele privilegia em seu prprio trabalho curatoriaartistas tais como Pierre Huyghe, Liam Gillick, RirTiravanija e Christine Hill) e um Outro abjeto, incodo na tradio socialmente engajada de prtica artscolaborativa que se estende at a dcada de 1960. Ado trabalho de Conrad Atkinson, Grupo de Artistastinos de Vanguardia, David Harding e Helen e NewHarrison, passando por Suzanne Lacy, Peter Dunn eLoraine Leeson, Carole Conde e Karl Beveridge, G Material e Wel are State, e chegando a grupos comPlastica, Plat orm, Littoral, Park Fiction, Ultra Redtos outros, encontramos uma gama diversi cada detas e coletivos trabalhando em colaborao com atiambientais, sindicatos, grupos de protestos antiglobzao e muitos outros. Essa tradio no apenas essente do relato de Bourriaud, mas tambm abertamdesconsiderada como ingnua e reacionria. Qualqposio que seja diretamente crtica da sociedadecreve Bourriaud, til. Bourriaud o erece umadora descrio de prtica artstica engajada socialmque marcha passo a passo com um programa poltigamente stalinista (Est claro que a era do Novo H

    CADERNO ViDEObRAsil 02 Colaborao, arte e subculturas

    e it prevents us rom grasping what is genuinelyerent, and potentially productive in this work.

    t THE ACCURsED sHARE

    w do we account or the proli eration o art practicescerned with the creation or acilitation o new socialworks and new modalities o social interaction? Nico-Bourriaud, director o the Palais de Tokyo in Paris,proposed the concept o a relational aesthetic to

    cribe and contain the various collaborative practiceshave emerged over the last decade. By now the gen-contours o Bourriauds argument ( rst foated in his

    nymous 1998 book) are well established. We live in aiety o the spectacle in which even social relations areed (The social bond has turned into a standardizedact).3 In response a cadre o artists, beginning in the

    0s, developed a new and in many ways unprecedentedroach to art, involving the staging o microutopias orrocommunities o human interaction. These conviv-user riendly artistic projects, including meetings,ounters, events, [and] various types o collaborationween people, provided a rich loam or social inter-on.4 The tangible models o sociability enacted ine relational projects promise to overcome the rei ca-o social relationships. In the process these artistssought to reorient artistic practice away rom techni-

    expertise or objectproduction and towards processesntersubjective exchange.ourriaud o ers a airly straight orward rearticulation

    conventional avantgarde art, in which the instrumen-zing attitude ormerly understood as a potential e ectexposure to mass culture has now colonized the mostmate modes and pathways o human interaction. Noger able to destabilize these e ects through a kind o mal/representational reverse engineering (i.e., byating objects and images that challenge, de orm, or

    mplicate the reductive visual codes o mass culture)sts must now engage them on the terrain o social in-ction itsel . Bourriauds writing, while compelling, isschematic. He provides ew i any substantive read-

    s o speci c projects (his writing is characterized byrt descriptions in which the works particular signi -ce is assumed rather than demonstrated). As a resultan be di cult to determine what, precisely, consti-s the aesthetic content o a given relational project. Atsame time, Bourriaud has captured something that iseniably central to a recent generation o artists: a con-

    n with social and collective interaction. As he writes,ay, a ter two centuries o struggle or singularity and

    against group impulseswe must [reintroduce] the ideao plurality [and invent] new ways o being together,

    orms o interaction that go beyond the inevitability o the amilies, ghettos o technological user riendlinessand collective institutions. 5

    Drawing on the work o Flix Guattari and GillesDeleuze, Bourriaud contends that relational art practiceschallenge the territorialization o conventional identitywith a plural, polyphonic understanding o the subject.

    Subjectivity can only be de ned, Bourriaud writes, bythe presence o a second subjectivity. It does not orma territory except on the basis o the other territoriesit comes acrossit is modeled on the principle o other-ness.6 This pro ession o aith in the verities o the plu-ral and decentered subject is by n ow routine, i not derigueur, in art criticism. It exists in some tension, however,with Bourriauds rather strenuous e orts to establish clear

    boundaries between the new ways o being together thathe has privileged in his own curatorial work (by artistssuch as Pierre Huyghe, Liam Gillick, Rirkrit Tiravanija,and Christine Hill) and an abject Other, embodied in thetradition o sociallyengaged collaborative art practicethat extends back to the 1960s. From the work o Conrad

    Atkinson, Grupo de Artistas Argentinos de Vanguardia,David Harding, and Helen and Newton Harrison, throughSuzanne Lacy, Peter Dunn, and Loraine Leeson, CaroleConde and Karl Beveridge, Group Material, and Wel areState, and up to groups such as Ala Plastica, Plat orm, Lit-toral, Park Fiction, Ultra Red, and many others, we nd adiverse range o artists and collectives working in collabo-ration with environmental activists, trade unions, antiglo-balization protestors and many others. This tradition isnot only absent rom Bourriauds account, it is openly dis-paraged as nave and even reactionary. Any stance that isdirectly critical o society, as Bourriaud writes, is utile.Bourriaud o ers an ominous description o sociallyen-gaged art practice marching in lockstep con ormity witha vaguely Stalinist political program (It is clear that theage o the New Man, utureoriented mani estos, and calls

    or a better world all ready to be walked into and lived inis well and truly over7).

    Bourriauds caricature, which collapses all activist artinto the condition o 1930s socialist realism, ails to con-vey the complexity and diversity o sociallyengaged artpractice over the last several decades. Even Bourriaudscritics share this almost visceral distaste or sociallyen-gaged art. Claire Bishop, writing on Bourriaud in October,reassures her readers: Im not suggesting that relationalartworks need to develop a greater social consciousbymaking pinboard works about international terrorism, or

    CADERNO ViDEObRAsil 02 Collaboration, art, and subcultures

  • 8/8/2019 CadernoVB02_P

    9/73

    16 17

    mple, or giving ree curries to re ugees.8 For Bishop,can become legitimately political only indirectly,exposing the limits and contradictions o politicalourse itsel (the violent exclusions implicit in demo-ic consensus, or example) rom the quasidetachedspective o the artist (this is also the basis or Thomasschorns anxious assertion that he is not a politicalst, but rather, an artist who makes art politically).his view, artists who choose to work in alliance withci c collectives, social movements, or political strug-, will, inevitably, be consigned to decorating foats orannual May Day parade. Without the detachment and

    onomy o conventional art to insulate them, they aremed to represent, in the most nave and acile man-possible, a given political issue or constituency. Thise is all the more tragic as the real power o art lies pre-ly in its ability to destabilize and critique conventionalms o representation and identity. Art, in act, has noitive content, but is more properly understood as ade o sel refexive analysis and critique that can belied to virtually any system o signi cation (individualollective identity, institutional discourse, visual repre-ation, etc.) which ails to adequately acknowledge itsessary contingency.his detachment is necessary because art is constantly

    in danger o being subsumed to the condition o consumerculture, propaganda, or entertainment (cultural ormspredicated on immersion rather than a recondite criticaldistance). Instead o seducing the viewer the artists taskis to hold them at arms length, inculcating a skepticaldistance (de ned in terms o opacity, alienation, estrange-ment, etc.) that parallels the insight provided by criticaltheory into the contingency o social and political mean-ing. The maintenance o this distance (literally embodiedin projects such as Santiago Sierras Wall Enclosing a Space or the 2003 Venice Biennale) requires that theartist retain complete control over the orm and structureo the work. Relational practice is thus characterized by atension between two movements. One runs along a con-tinuum rom the visual to the haptic (the desire to literal-ize social interaction in nonvirtual space), and the otherruns along a continuum rom the work as a preconceivedentity to the work as improvisational and situationally re-sponsive. In order to preserve the legitimacy o relationalpractice as a hereditary expression o avantgarde art itsnecessary or critics like Bourriaud and Bishop to privilegethe rst movement over the second. It is or this reason,I would suggest, that a number o Bourriauds relationalprojects retain an essentially textual status, in which so-cial exchange is choreographed as an a priori event or

    Ala Plastica Proyecto AA, Tanques Azules

    Foto/Photo by Rafael Santo

    de mani estos orientados em direo ao uturo e clamorespara novos mundos prontos a ser adentrados e vividos estterminantemente acabada 7).

    A caricatura de Bourriaud, que reduz toda a arte ativis-ta condio do realismo socialista da dcada de 1930,

    racassa em transmitir a complexidade e diversidade daprtica artstica socialmente engajada das ltimas dcadas.

    Mesmo os crticos de Bourriaud compartilham esse des-gosto quase visceral da arte socialmente engajada. ClarieBishop, escrevendo sobre Bourriaud na revista October,assegura seus leitores: Eu no estou sugerindo que obrasde arte relacional precisam desenvolver um conscientesocial maior azendo trabalhos escolares sobre o terro-rismo internacional, por exemplo, ou dando re eies gra-tuitas a re ugiados [ ree curries to re ugees].8 Para Bishop,a arte pode se tornar legitimamente poltica apenasindiretamente, atravs da exposio dos limites e contra-dies do prprio discurso poltico (as excluses violentasimplcitas no consenso democrtico, por exemplo) a partirda perspectiva semidistanciada do artista (essa tambm a base da ansiosa a rmao de Thomas Hirschorn, quan-do ele diz que no um artista poltico, mas sim, umartista que az arte politicamente). Dentro dessa viso,artistas que escolhem trabalhar em aliana com coletivosespec cos, movimentos sociais ou lutas polticas, inevita-

    velmente esto destinados a decorar carros alegricdes le de Primeiro de Maio. Sem o distanciamentonomia da arte convencional para isollos, eles estdenados a representar, da maneira mais ingnua possvel, uma questo poltica dada ou um pblico c co. Esse destino ainda mais trgico se consideque o poder real da arte reside precisamente na sua lidade de desestabilizar e criticar as ormas convende representao e identidade. A arte, de ato, no qualquer contedo positivo, mas mais apropriadaentendida como um modo autorefexivo de anliseca que pode ser aplicado a praticamente qualquer sde signi cao (identidade individual e coletiva, diinstitucional, representao visual etc.) que no conreconhecer adequadamente sua contingncia neces

    Esse distanciamento necessrio porque a arte econstante perigo de ser reduzida condio de cultde consumo, propaganda ou entretenimento ( orculturais predicadas na imerso em vez de uma distcrtica recndita). Ao invs de seduzir o observadortare a do artista mantlo a certa distncia, inculcum distanciamento ctico (de nido em termos de ocidade, alienao, estranhamento etc.) que az paracom o insight o erecido pela teoria crtica acerca dtingncia do signi cado social e poltico. A manute

    sentido horrio a partir da foto abai o/ clockwise from photo below

    Derrame , TidoniAle , 1999Foto/Photo by Thomas Minnich

    Ala Plastica Derrame , Casashell , 1999Foto/Photo by Rafael Santos

    Derrame , Juncopetrol , 1999Foto/Photo by Rafael Santos

    CADERNO ViDEObRAsil 02 Colaborao, arte e subculturasCADERNO ViDEObRAsil 02 Collaboration, art, and subcultures

  • 8/8/2019 CadernoVB02_P

    10/73

    18 19

    consumption o an audience.9 In addition to natural-g deconstructive interpretation as the only appropriateric or aesthetic experience this approach places thest in a position o ethical/adjudicatory oversight; un-ing or revealing the contingency o systems o meaningthe viewer would otherwise submit to without think-The viewer, in short, cant be trusted. 10 Hence the

    p suspicion o both Bourriaud and Bishop o art prac-s which surrender some autonomy to collaboratorswhich involve the artist directly in the (always/already

    mpromised) machinations o political struggles.n one level this persistent discom ort with activists typical o postCold War intellectuals embarrassed

    work that evokes le tist ideals. Precisely what makestional artists such as Rirkrit Tiravanija, Thomasschorn, Pierre Huyghe, and Jens Hanning new, inview, is their attempt to rede ne collectivity and in-

    subjective exchange outside o existing, and implicitlyograde, political re erents (the extent to which theirects actually accomplish a signi cant remodeling o ectivity is open to question). The modest gestures

    ployed by Bourriauds artists (o ering to do someoneshing up, paying a ortune teller, etc.) run no risk o

    ng appropriated to dangerous grand rcits that will,vitably, be revealed as reactionary and compromised. 11 ould seem to be relatively uncontroversial to locaterelational projects embraced by Bourriaud (or Bishop)a continuum with sociallyengaged projects that em-y processes o collaborative interaction. However, orh o these writers activist work triggers a kind o sac-ial response; as i to even acknowledge this work assomehow threatens the legitimacy o the practicesthey do support. 12 A reductive version o engaged or

    vist art (e.g., Bishops ree curries or re ugees) thusctions as a necessary oil, representing the abject, un-histicated Other to critical, relational art, and therebyng some coherence to a body o work that might oth-ise be dismissed as insubstantial.

    t THE iNVisiblE HAND

    s blithe, i not scorn ul, dismissal o political art ised with a deep skepticism about organized political ac-in general. It nds its intellectual justi cation in theings o gures such as Flix Guattari, Gilles Deleuze,JeanLuc Nancy; French thinkers who came o age inpostWWII era, and who enjoy nearcanonical statushe contemporary art scene. Despite signi cant di er-es in infection and emphasis they share a decidedpathy to organized, collective political action and

    have instead identi ed the individual body or singular-ity (Deleuzes replacement or the discredited languageo the individual) as the primary locus o resistance (e.g.,Guattaris molecular revolution, Foucaults turn to bio-politics, etc.). Their capacity to imagine alternative po-litical orms was decisively xed by the events o May 68,which unction as a kind o template, dictating both thelimits and the possibilities o all uture orms o politicalresistance. Traumatized by the ailure o the student andworker uprising at the time to catalyze a ullscale societaltrans ormation (due in part to the paralysis o the FrenchCommunist Party), they retained an enduring cynicismabout organized political groups; which can only ever becorrupt, mired in bureaucracy, and unresponsive to thereal desires o the people they claim to represent. Alongwith it came an equally power ul identi cation with thespontaneous, unplanned energies o the Parisian street

    protests, which seemed to represent a literal mani estationo the upwelling energies o the body and desire againstthe rei ed institutions o collective, public li e, both le tand right. It was necessary that these protests be seen asuncoordinated, almost intuitive, events (in AntiOedipus Deleuze and Guattari compare them to steam escaping

    rom a radiator). The result is a somewhat simplisticopposition between reason and the body. In its most pro-nounced cases it leads to a disabling tendency to equatereason (in all its totalizing evil) with conscious agency,and the containment and deradicalization o a preexisting(and implicitly pure) desire. Correct political action must,then, not be based on the exercise o a conscious volitionor an organizing impulse (agency, to paraphrase MichaelHardt and Toni Negri, is merely the poisoned gi t o

    Western ontology).Deleuze, Nancy, and others ace a signi cant challenge

    when trying to describe precisely how all these disparatebodies, singularities, and monads would interact orwork collectively. The ramework necessary to build asense o solidarity or communicate and exchange in orma-tion is o ten collapsed into some metaphysical je ne sais

    quoi (desire, nitude, lan vital , etc.). In the more poeticaccounts o May 68, a (nontotalizing and temporary) uni-ty is established among the participants almost magically;without planning, dialogue, or the ormation o a consen-sus to coordinate action tactically. Hardt and Negri haveprojected this particular image onto a global scale in Em- pire. They argue that the only appropriate mode o resis-tance to the newly subtle and dispersed mode o contem-porary capitalism is sporadic, uncoordinated, and singular.There is no need to challenge the institutions o politicaland economic power with collective orms o resistance

    dessa distncia (incorporada literalmente em projetoscomo Muro Cerrando un Espacio , de Santiago Sierra paraa Bienal de Veneza de 2003) requer que o artista retenhao completo controle sobre a orma e a estrutura do traba-lho. A prtica relacional assim caracterizada por umatenso entre dois movimentos. Um deles ocorre ao longode um contnuo que vai do visual ao hptico (o desejo deliteralizar a interao social em um espao novirtual), eo outro percorre um contnuo que vai da obra como umaentidade prconcebida obra improvisatria e situacio-nalmente responsiva. Para preservar a legitimidade daprtica relacional como uma expresso hereditria da artede vanguarda, crticos como Bourriaud e Bishop precisamprivilegiar o primeiro movimento sobre o segundo. poressa razo, eu sugiro, que alguns dos projetos relacionaisde Bourriaud retm um status essencialmente textual, emque a troca social coreogra ada como um evento a priori

    para o consumo do pblico.9 Alm da interpretao des-construtiva naturalizante apresentada como a nica mtri-ca apropriada para a experincia esttica, essa abordagemcoloca o artista em uma posio de descuido [ oversight]ticoadjutrio, desvelando ou revelando a contingnciade sistemas de signi cado aos quais o observador de outra

    orma se submeteria sem pensar. Resumindo, no se podecon ar no observador.10 Da a pro unda descon ana tan-to de Bourriaud quanto de Bishop em relao s prticasartsticas que do alguma autonomia aos colaboradores eque envolvem o artista diretamente nas (sempre e de ante-mo comprometidas) maquinaes das lutas polticas.

    Em um nvel, esse persistente descon orto com a arteativista tpico de intelectuais psGuerra Fria, cons-trangidos com trabalhos que evocam ideais esquerdis-tas. Precisamente o que azem artistas relacionais comoRirkrit Tiravanija, Thomas Hirschorn, Pierre Huyghe eJens Hanning ser novos, dentro dessa viso, so suastentativas de rede nir coletividade e troca intersubjetiva

    ora dos re erentes polticos existentes, implicitamenteretrgrados (at que ponto seus projetos realmente alcan-am um signi cativo remodelamento de coletividade estaberto discusso). Os modestos gestos empregados pelosartistas de Bourriaud (o erecerse para lavar a roupa sujade algum, pagar uma cartomante etc.) no correm o riscode ser apropriados a perigosos grand rcits que sero, ine-vitavelmente, revelados como reacionrios e comprometi-dos.11 Pareceria relativamente incontroverso localizar osprojetos relacionais abraados por Bourriaud (ou Bishop)em um contnuo junto com os processos de projetos so-cialmente engajados que empregam a interao colabora-tiva. Porm, para ambos os escritores, o trabalho ativistadispara um tipo de resposta sacri cial, como se at mesmo

    reconhecer esse trabalho como arte de alguma oameaasse a legitimidade de prticas que eles apiaUma verso reduzida da arte engajada ou ativista (ias re eies gratuitas para re ugiados de Bishop

    unciona como uma repulsa necessria, representaOutro abjeto e pouco so sticado da arte crtica, reladesta orma imprimindo certa coerncia a um corptrabalho que poderia de outra orma ser descartadocomo nosubstancial.

    t A MO iNVisVEl

    Essa dispensa displicente, at de desprezo, da arte tica, est ligada a um pro undo ceticismo em relaao poltica organizada de um modo geral. Ela en justi cao intelectual nos escritos de guras comoGuattari, Gilles Deleuze e JeanLuc Nancy; pensad

    ranceses que amadureceram na era psSegunda G

    Mundial, e que tm status quase cannico no cenrarte contempornea. A despeito de signi cativas dias de infexo e n ase, eles compartilham de umapatia decidida pela ao poltica organizada, coletivinvs disso, identi caram o corpo individual ou sidade (o substituto de Deleuze para a linguagem deditada do indivduo) como o principal oco de resis(por exemplo, a revoluo molecular de Guattari

    biopoltica de Foucault etc.). A capacidade que tmimaginar ormas polticas alternativas oi xada ddecisiva pelos eventos de Maio de 1968, que uncicomo uma espcie de estncil, ditando tanto os limquanto s possibilidades de todas as ormas uturasistncia poltica. Traumatizados pelo racasso do dos estudantes e dos trabalhadores de 68 em catalistrans ormao de grande escala na sociedade (em devido paralisia do Partido Comunista Francs), eretiveram um cinismo duradouro em relao aos grpolticos organizados: eles podem apenas ser corruatolados em burocracia e insensveis aos desejos repessoas que eles alegam representar. Junto com iveio uma identi cao igualmente poderosa com a espontnea e noplanejada dos protestos de rua pases, que pareciam representar uma mani estao litdas energias acumuladas do corpo e do desejo coinstituies rei cadas do coletivo, da vida pblica, esquerda quanto direita. Era necessrio que essetestos ossem vistos como eventos descoordenadointuitivos (no Antidipo, Deleuze e Guattari compnos ao vapor escapando de um aquecedor). O res uma oposio um tanto simplista entre a razo e oEm seus casos mais pronunciados, leva a uma tendparalisante de igualar a razo (em sua maldade tota

    CADERNO ViDEObRAsil 02 Colaborao, arte e subculturasCADERNO ViDEObRAsil 02 Collaboration, art, and subcultures

  • 8/8/2019 CadernoVB02_P

    11/73

    20 21

    o build political alliances across national boundariesause power has thought ully recon gured itsel to beentralized. Thus, we must meet the rhizomatic orcescapital with the Deleuzean fows o migration andlanned and local gestures. For Hardt and Negri the actrepresenting a collective political will, ar rom being aessary step in organizing resistance to dominant politi-and economic interests, simply constitutes anotherm o oppression. Pointing to the negative consequencespostcolonial nation building in Cuba, Vietnam, and Al-a they reject any political strategy that implies thatnation state can provide any legitimate resistance tobal capital.13 In their analysis the states only unctionegative: to contain desire and objecti y di erence onbasis o a monolithic collective identity (the nation,people, etc.).urther, the workingclass, understood as an agent o

    ective political struggle and trans ormation, is irrel-nt. It has been replaced by an inchoate army o labor-scattered across the globe, whose most radical politicalon is nomadic migration to the metropolitan centershe developed world to serve as lowwaged labor. Thesetitudes are to be allowed a political role, but only so

    g as their resistance remains resolutely ragmenteddispersed, or ear that they might otherwise ormngerously ascistic sense o solidarity.14 Note, thatnot simply a question o working on multiple rontsHardt and Negri (both local and individual as well ase collective modes o resistance). Rather, it is the

    hibition o any political action that depends on theerience o collective struggle; these actions can onlyr lead down the slippery slope towards the gulag o litarian nationalism. Hardt and Negri would leave noc or institutional insulation whatsoever between thebile and predatory orces o global corporate capitalthe poor and working class, to whom even the solace

    a communicable solidarity is denied. Their analysisrates through a kind o negative teleology in whichpossible outcomes o the cultural and political logicmodernity are anticipated in the speci c experiencehe EuroAmerican Nation State. There is no point inng to organize trade unions in China or work towardsore egalitarian government in Nicaragua because weite Europeans) have already been down that road.dt and Negris allergy to collective political entities, o ch the state is the ur orm, extends even to those non-ernmental organizations (NGOs) and activist groupsch merely operate in proximity to state power. Thus,

    manitarian agencies such as Mdecins sans FrontiresOx am are, they contend, completely immersed in the

    biopolitical context o Empire and the most power ulpaci c weapon o the new world order.15

    We encounter, in the emerging canon o relational aes-thetics, an emphatic desire to establish clear divisions be-tween activist cultural practices and art. I would contend,however, that some o the most challenging new collabora-tive art projects are located on a continuum with orms o cultural activism, rather than being de ned in hard and

    ast opposition to them. Far rom viewing this sort o cat-egorical slippage as something to be eared I believe it isboth productive and inevitable, given the period o transi-tion through which we are living. It is, in act, a persistentcharacteristic o modern art created during moments o historical crisis and change (Dadaism and Constructivismin the wake o WWI and the Russion Revolution, the pro-

    usion o movements and new practices that emerged outo the political turmoil o the 1960s and 70s, etc.). In the

    contemporary Weltanschauung Ive described above weare presented with two options: withdrawal into aestheticautonomy and ironic detachment or de erral, as we wait

    or the messianic moment in which a radical insurrec-tional demand will magically arise rom the ragmentedlegions o the multitude.16 For my part, I believe the deci-sive locus or political and cultural trans ormation will beprecisely at the level o collectives, unions, activist groups,and progressive NGOs working in conjunction with socialstruggles and political movements ranging rom the localto the transnational.

    We are living in a moment o grave danger and greatpossibility, as capital recon gures itsel in ever more e ec-tive ways globally. In this endeavor it has been necessaryto undermine the legitimacy o the state, or any other

    orm o collective, public authority that might challengethe imperatives o the market. The goal is not to dismantlethe apparatus o the state, but rather, to make it entirelycompliant with the needs o the capital, and o that small

    action o the public that bene ts most directly rom themarkets operations. This pressure is both external, em-bodied in the neoliberal policies o the International Mon-etary Fund and World Bank, and internal, as evidencedby the increasing corporate control o government in theUnited States. In the U.S. the result has been the gradualerosion o an entire in rastructure o public policy and in-stitutional oversight designed to restrict or challenge cor-porate power (e.g., the dismantling o regulatory agenciessuch as the Federal Communications Commission andthe Food and Drug Administration, and the privatizationor elimination o programs such as Aid to Families withDependent Children, Social Security, Medicaid, and evenpublic education).

    ra) agncia consciente e conteno e desradicalizaode um desejo prexistente (e implicitamente puro).

    A ao poltica correta precisa, ento, no ser baseadano exerccio da volio consciente ou no impulso organi-zador (a agncia, para para rasear Michael Hardt e ToniNegri, tratase meramente do presente envenenado daontologia ocidental).

    Deleuze, Nancy e outros tm pela rente um desa osigni cativo quando tentam descrever precisamente comotodos estes corpos, singularidades e mnadas dspa-res interagiriam ou trabalhariam coletivamente. O quadronecessrio para construir um senso de solidariedade oupara comunicar e trocar in ormao reqentementereduzido a algum no sei qu meta sico (desejo, nitude, lan vital etc.). Nos relatos mais poticos de Maio de 1968,uma unidade (nototalizante e temporria) estabele-cida entre os participantes quase que magicamente, sem

    planejamento, dilogo ou a ormao de consenso paracoordenar as aes taticamente. Hardt e Negri projetaramessa imagem particular numa escala global em seu livro Imprio. Eles argumentam que o nico modo apropriadode resistncia aos novos modos dispersos e sutis do ca-pitalismo contemporneo espordico, descoordenado esingular. No h necessidade de desa ar as instituies dopoder econmico e poltico com ormas coletivas de resis-tncia ou construir alianas polticas atravs de ronteirasnacionais, pois o poder se recon gurou cuidadosamentepara ser descentralizado. Assim, precisamos encarar as

    oras rizomticas do capital com fuxos deleuzianosde migrao e gestos locais, noplanejados. Para Hardt eNegri, o ato de representar uma vontade poltica dominan-te, longe de ser um passo necessrio para a organizao daresistncia aos interesses polticos e econmicos dominan-tes, simplesmente constitui uma outra orma de opresso.

    Apontando para as conseqncias negativas da construodas naes cubana, vietnamita e argelina pscoloniais,eles rejeitam qualquer estratgia poltica que impliqueque a NaoEstado possa prover alguma resistncia le-gtima ao capital global.13 Em sua anlise, a nica unopossvel do Estado negativa: conter o desejo e objetivara di erena com base na identidade coletiva monoltica(a nao, o povo etc.).

    Alm do mais, a classe trabalhadora, entendida comoagente de luta poltica e trans ormao coletiva, irrele-vante. Foi substituda por um exrcito incipiente de tra-balhadores espalhados pelo globo, cuja opo mais radical a migrao nomdica aos centros metropolitanos domundo desenvolvido para servir de modeobra barata.

    A essas multides se permitir um papel poltico, masapenas na medida em que sua resistncia permanea re-

    solutamente ragmentada e dispersa, por medoelas, de outra orma, ormem um senso perigosamcista de solidariedade.14 Note que para Hardt e Negno simplesmente uma questo de trabalhar em mltiplas (tanto os modos de resistncia locais e induais quanto os mais coletivos). Tratase da proibi qualquer ao poltica que dependa da experincialuta poltica; essas aes poderiam apenas levar eescorregadia em direo ao Gulag do totalitarismo nalista. Hardt e Negri no permitiriam nenhum isolcvico ou institucional que separasse, de um lado, aas mveis predatrias do capital corporativo globaoutro, os pobres e a classe trabalhadora, para quemmesmo o consolo de uma solidariedade comunicnegada. Sua anlise opera atravs de uma espcie dlogia negativa onde todos os resultados possveis dpoltica e cultural da modernidade so antecipados

    experincia espec ca da NaoEstado EuroAmeNo az sentido tentar organizar sindicatos na Chitrabalhar rumo a um governo mais igualitrio na Nigua, porque ns (europeus brancos) j percorremestrada. A alergia de Hardt e Negri s entidades polcoletivas, das quais o Estado a ur orma, se estemesmo quelas organizaes nogovernamentais e a grupos ativistas que operam em proximidade coder estatal. Assim, agncias humanitrias como Msans Frontires ou Ox am esto, sustentam eles, ctamente imersas no contexto biopoltico do Imp

    a mais poderosa arma pac ca da nova ordem munNo cnon emergente da esttica relacional, encon

    mos um desejo en tico de estabelecer divises clatre as prticas culturais ativistas e a arte. Eu sustententanto, que alguns dos mais desa adores projetos colaborativa esto situados dentro de um contnuo

    ormas de ativismo cultural, mais do que sendo deem oposio pura e simples a elas. Longe de ver esde deslize categrico como algo a ser temido, acredque tanto produtivo como inevitvel, dado o perotransio que vivemos. Essa , de ato, uma caractepersistente da arte moderna criada durante momentcrise e mudana histrica (o Dadasmo e o Construno rastro da Primeira Guerra Mundial e da Revolusa, a pro uso de movimentos e novas prticas quegiram do redemoinho poltico das dcadas de 1960etc.). No Weltanschauung contemporneo, que desacima, duas opes nos so apresentadas: retiro parautonomia esttica e distanciamento ou adiamento cos, enquanto esperamos por um momento messinque uma demanda inssurrecional radical emergirgicamente das legies ragmentadas da multido.16

    CADERNO ViDEObRAsil 02 Colaborao, arte e subculturasCADERNO ViDEObRAsil 02 Collaboration, art, and subcultures

  • 8/8/2019 CadernoVB02_P

    12/73

    22

    23

    hese changes bring us ull circle, to the political cul-o the late 19th century; a period o untrammelled

    porate infuence and political corruption in the Unitedes. President Bushs reliance on aithbased initia-s as a replacement or various orms o public assis-

    ce returns us, quite literally, to the Victorianera belie poverty was a sign o moral ailure. The destructive

    rgies o the market and monopoly capital unleashedng the Gilded Age led to a crucial struggle over thestitution o civil society and the de nition o the pub-good. This period witnessed the ormation o a nationalwork o political parties (anarchist, socialist, populist,arian, etc.), unions, activist organizations (devotedssues ranging rom paci cism and worker rights tod labor and reespeech), social workers, su rage

    mpaigners, progressive oundations, publications, edu-onal programs, and more. Despite signi cant tensionsong and between these social actors, they constitutedwer ul oppositional political culture. Operating like a

    dow government, they stood outside o , but adjacentexisting state institutions, holding them accountabledemocratic political ideals that were all too o ten sacri-d to the speci c interests o the wealthly and power ul.y developed a civic presence through elaborate publicibitions (on issues such as tenement house re orm,

    immigration, public health, and child labor), the dra tingo model legislation, the creation o surveys designed toreveal the underlying social orces that structured theindustrial city, and a range o other activities that e ec-tively put pressure on government o cials to be account-able to the public as a whole.

    The rhetorical mode o Progressiveera America ndsa parallel in Jacques Rancires description o the publicdiscourse o the French working class during the July Rev-olution. The revolutionary declaration o the equality inlaw o man and the citizen, as Rancire writes, presenteda radical challenge. This assertion implies a most pecu-liar plat orm o argument. The worker subject that getsincluded on it as speaker has to behave as though sucha stage existed, as though there were a common world o argumentwhich is eminently reasonable and eminentlyunreasonble, eminently wise and resolutely subversive,since such a world [a world in which workers can claimthe right to public speech] does not exist17 This pre-

    gurative dimension o political culture, the as i o Rancires workers, is o particular importance, and canreveal something to us o the potential or a sociallyen-gaged art practice in our own day. A century later, weagain nd ourselves at a moment in which corporationsexercise overwhelming power in our daily lives; a period

    em sentido horrio a partir da foto eclockwise from left

    Ala Plastica Proyecto Wandse/Actitud By Pass

    Foto/Photo Alejandro Meiti

    Proyecto Wandse/Actitud By PassFoto/Photo Alejandro Meiti

    Proyecto Wandse/Actitud By Pass.

    Descubrimiento , 2004Foto/Photo Alejandro Meiti

    nha parte, eu acredito que o locus decisivo para a trans or-mao poltica e cultural ser precisamente no nvel doscoletivos, sindicatos, grupos ativistas e ONGs progressistasem conjunto com as lutas sociais e movimentos polticosque vo desde o local at o transnacional.

    Vivemos um momento de grave perigo e grande pos-sibilidade, enquanto o capital se recon gura de maneiraglobal cada vez mais e etivamente. Neste es oro, temsido necessrio solapar a legitimidade do Estado, ou dequalquer outra orma de autoridade coletiva ou pblicaque possa desa ar os imperativos do mercado. O objetivono desmantelar o aparato do Estado, mas sim azlointeiramente convergente com as necessidades do capi-tal e daquela pequena aco do pblico que se bene ciamais diretamente das operaes do mercado. A presso tanto externa, encarnada nas polticas neoliberais doFundo Monetrio Internacional e do Banco Mundial, quan-to interna, tal como evidenciado pelo crescente controlecorporativo sobre o governo dos Estados Unidos. Nos EUA,o resultado tem sido uma gradual eroso de toda uma in-

    raestrutura de poltica pblica e de deslize institucionalque tinham sido planejados para restringir ou desa ar opoder corporativo (por exemplo, o desmonte das agnciasreguladoras como a Federal Communications Commis-sion e a Food and Drug Administration, e a privatizao

    ou eliminao de programas como a Aid to FamilieDependent Children, Social Security, Medicaid e meducao pblica).

    Isso nos leva a uma volta completa, um retorno ra poltica do nal do sculo XIX, um perodo de incorporativa sem reios e de corrupo poltica nos Unidos. A poltica do Presidente Bush de apoiarseciativas crentes [ aithbased] como substituto pavrias ormas de assistncia pblica nos leva de voliteralmente, crena tpica da Era Vitoriana de quebreza um sinal de racasso moral. As energias dedo mercado e do capital monopolista deslanchadoste a Era de Ouro levaram crucial luta pela consto da sociedade civil e a de nio do bem pblicoperodo testemunhou a ormao de uma rede nacide partidos polticos (anarquistas, socialistas, populagrrios etc.), sindicatos, organizaes ativistas (dea temas que iam desde o paci smo e direitos trabalat o trabalho in antil e liberdade de expresso), astes sociais, partidrios do su rgio, undaes progpublicaes, programas educacionais e muito maispeito de tenses signi cativas entre esses agentes seles constituram uma poderosa cultura de oposiotica. Agindo como um governo paralelo, eles perm

    ora das, mas adjacentes s, instituies estatais ex

    Ala Plasticao de desplazamiento: Rio Santiago , 2002

    Foto/Photo by Alejandro Meitin

    CADERNO ViDEObRAsil 02 Colaborao, arte e subculturasCADERNO ViDEObRAsil 02 Collaboration, art, and subcultures

  • 8/8/2019 CadernoVB02_P

    13/73

    24 25

    racterized by massive di erentials in income and privi-e, in which obedience to the natural law o capital isbraced at the highest levels o our political system (andwhich the regulatory power o the state over the market,n at such cost over the preceeding century, has beenost entirely surrendered). It is a moment, as Ive statedve, o both peril and opportunity. As dominant politicalatives lose, their legitimacy space is opened or new ies, new models o political organization, and new vi-

    ns or the uture. It is this sense o possibility, I believe,animates the remarkable pro usion o contemporary

    practices concerned with collective action and civicagement, not just within the U.S., but globally.

    tCOllAbORATiVE iDENTiTiEs

    s experimental engagement with new orms o collec-

    y and agency is evident in Park Fictions work in Ger-ny, where they reinvented the process o participatoryan planning as an imaginative game. The speculativelity o this work is literally embodied in their name ction o a park), and in the audacity to imagine

    ublic park in place o expensive, highrise apartmentdings. Rather than simply protest and critique the pro- o gentri cation that was beginning to un old around

    mburgs water ront (an area with a diverse, workings population), Park Fiction organized a parallel plan-

    g process that began with the creation o alternativeorms or exchange among the areas existing residents

    usicians, priests, a headmistress, a cook, ca owners,men, a psychologist, squatters, artists, and interven-ist residents). The element o antasy is apparent inplans already developed or the park, including thegarden Island, which eatures arti cial palm trees andurrounded by an elegant ortymeter long bench romcelona, an Open Air Solarium, and a Flying Carpet (a

    veshaped lawn area surrounded by a mosaic inspiredhe Alhambra). Park Fiction combines this whimsicalit with a welldeveloped tactical sensibility, and a so-sticated grasp o the realpolitik involved in challenging

    wer ul economic interests. They were able to build onadition o organized political resistance in the areaund Hamburgs harbor that extends back to the occu-on o the Ha enstrasse (Harbor Street) neighborhoodng the 1980s, when local residents took control o

    eral city blocks and e ectively halted the citys e ortsviction. The residents o the Ha enstrasse employedet theater, pirate radio, mural painting, and otherural practices during the occupation, to challenge thece, gain media attention, and encourage a sense o

    solidarity and cohesion within the embattled neighbor-hood. Park Fiction member Christoph Sch er describesthe leverage this history provided in the process o bring-ing the park into existence:

    The location or the park is directly at the river. Its a very expen- sive, highly symbolic place, where power likes to represent itsel

    To claim this space as a public park designed by the residents really meant to challenge powe rits not an alternative corner or a social sandbox the parents can a ord to give away. The resistance could only be overcome by a very broad and clever network in the community, by a new set o tactics, trickery, seduction, and stub-bornness and an unspoken threat lingering in the background o

    all this: that a militant situation might again de velop that wouldbe costly, and bad or the citys image, and deter investment in the

    whole neighborhood. 18

    It was necessary or Park Fiction to develop a closerapport with activist groups and organizations inthe neighborhood. As Sch er describes it, they onlycollaborated with institutions that had local credibility.These included a Community Center, which was known

    or providing ree and anonymous legal services, as wellas a school that had supported the Ha enstrasse squattersduring the 1980s.

    While operating in a very di erent cultural context, thework o the Argentinian collective Ala Plastica parallelsthat o Park Fiction in many ways. Their Proyecto AA,located in the Ro de la Plata basin near Buenos Aires,mobilized new modes o collective action and creativityin order to challenge the political and economic inter-ests behind largescale development in the region. Theconstruction o a massive rail/highway line over the lasttwo decades has exacerbated fooding and destroyed the

    shing and tourist economies in the delta, leading to highlevels o unemployment and deteriorating social services.

    Ala Plastica initiated the Proyecto AAwith a process o spatial and cognitive mapping, developed in collaborationwith the areas residents, along with a bioregional studyo the Ro de la Plata and Paran delta. This mappingprocedure was combined with various exercises designedto recover and collect local knowledge about the region.

    Ala Plastica sought to actualize the insights o the areasresidents into the social and environmental costs o theZrateBrazo Largo rail complex and the proposed PuntaLara Colonia bridge, which have damaged the ecosystemas well the social abric o local communities. In order tochallenge the institutional authority and technopoliti-cal mindset o the corporate and governmental agenciesresponsible or these projects, Ala Plastica worked with

    tes, azendoas prestar contas dos ideais polticos demo-crticos que tantas vezes eram sacri cados em nome dosinteresses dos ricos e poderosos. Eles desenvolveram umapresena cvica atravs de elaboradas exposies pblicas(sobre temas como a re orma da habitao pblica, imi-grao, sade pblica e trabalho in antil), o esboo de le-gislaomodelo, a criao de levantamentos destinados arevelar as oras sociais subterrneas que estruturavama cidade industrial e uma gama de outras atividades quee etivamente pressionavam os agentes governamentais aprestarem contas ao pblico como um todo.

    O modo retrico da Era Progressista americana encon-tra paralelo na descrio de Jacques Rancire do discursopblico da classe trabalhadora rancesa durante a Revo-luo de Julho. A declarao revolucionria de igualdadedo homem e do cidado perante a lei, como escreveRancire, apresentava um desa o radical. Essa a rmao

    implica numa plata orma de argumento muito peculiar. Osujeito trabalhador que se inclui nela como discursantetem que se comportar como se tal palco existisse, como sehouvesse de ato um mundo comum de discusso que eminentemente razovel e eminentemente no razovel,eminentemente sbio e resolutamente subversivo, j quetal mundo [um mundo onde trabalhadores podem recla-mar o direito ao discurso pblico] no existe Essa di-menso pr gurativa da cultura poltica, o como se17 dos trabalhadores de Rancire, de suma importncia, epode revelar para ns algo do potencial para uma prticaartstica socialmente engajada em nossos dias. Um sculodepois, novamente encontramonos num momento emque as corporaes exercitam poder acachapante sobrenossas vidas dirias; um perodo caracterizado por di e-renas massivas de renda e de privilgios, em que a obedi-ncia lei natural do capital abraada pelos escalesmais altos de nosso sistema poltico (e no qual o poderregulador do Estado sobre o mercado, ganho com tantocusto no sculo anterior, oi quase totalmente entregue eperdido). um momento, como j a rmei acima, tanto deperigo quanto de oportunidade. Enquanto as narrativaspolticas dominantes perdem, seu espao de legitimidadese abre a novas histrias, novos modelos de organizaopoltica e novas vises para o uturo. esse senso de pos-sibilidade, acredito, que anima a notvel pro uso de pr-ticas artsticas contemporneas preocupadas com a aocoletiva e o engajamento cvico, no apenas dentro dosEstados Unidos, mas tambm globalmente.

    tiDENTiDADEs COlAbORATiVAs

    Esse engajamento experimental com novas ormas de

    coletividade e agncia evidente no trabalho do Pation na Alemanha, onde eles reinventaram o procesplanejamento urbano participativo como um jogo itivo. A qualidade especulativa desse trabalho literaltoma corpo em seu nome (a co de um parqueaudcia de imaginar um parque pblico em lugar dee caros prdios de apartamentos. Mais do que simpmente protestar e criticar o processo de gentri cacomeou a desdobrarse ao redor do cais de Hamb(uma rea que abriga uma populao trabalhadora eversa), o Park Fiction organizou um processo paraplanejamento que comeou com a criao de plataalternativas de troca entre os residentes que l mora(msicos, sacerdotes, uma diretora de escola, um nheiro, donos de ca s,barmen , um psiclogo, ocu[ squatters ], artistas e intervencionistas residentes)elemento de antasia aparente nos planos j dese

    dos para o parque, incluindo a Teagarden Island [Ilh jardim de tomar ch], que apresenta palmeiras artie rodeada por um elegante banco de quarenta mecomprimento vindo de Barcelona, um Solrio AberTapete Voador (uma rea gramada na orma de ondvolta por um mosaico inspirado no palcio de AlhaO Park Fiction combina esse esprito divertido comsensibilidade ttica bem desenvolvida, e um entendso sticado da realpolitik envolvida no desa o a pointeresses econmicos. Foram capazes de construircima de uma tradio de resistncia poltica organizna rea ao redor do cais de Hamburgo, que vem deocupao do bairro do Ha enstrasse (rua do Caisrante a dcada de 1980, quando residentes locais too controle de vrios quarteires na cidade e e etivaimpediram os es oros da pre eitura em despejlresidentes da Ha enstrasse mobilizaram teatro de rrdio pirata, pintura mural e outras prticas culturaidurante a ocupao, para desa ar a polcia, ganhar ateno da mdia e estimular um senso de solidaridcoeso dentro do bairro sitiado. O integrante do Partion Christoph Sch er descreve o poder de ao qhistria exerceu no processo de trazer o parque v

    O parque est situado diretamente beira dgua. um lu muito caro, altamente simblico, onde o poder gosta de se

    representar Reclamar este espao como um parque pblic nhado pelos residentes realmente signifca desafar o poder

    se trata de uma esquina alternativa ou um parquinho social qu pais possam se dar ao luxo de ceder. A resistncia s poderi

    vencida atravs de uma rede na comunidade, muito ampla e i gente, por um novo conjunto de tticas, truques, seduo e tei alm de uma ameaa tcita que pairava sobre tudo isso: que

    CADERNO ViDEObRAsil 02 Colaborao, arte e subculturasCADERNO ViDEObRAsil 02 Collaboration, art, and subcultures

  • 8/8/2019 CadernoVB02_P

    14/73

    26 27

    areas residents to articulate their own visions or theon through the creation o communications plat ormsnetworks or mutual cooperation. They helped de-

    n emergency housing modules or use during periodsfooding, and provided communications training andrastructure, with a particular ocus on women. Buildinga tradition o willow cultivation that dates back to the19th century, the Proyecto AAidenti ed new uses orows and encouraged the emergence o local economiesed on willow production. Throughout the ProyectoAla Plastica worked closely with local activist groups,Os and others, including the Producers Cooperative o Coast o Berisso and the Health and Plants Network o entina. School #25, located in close proximity to theateBrazo Largo complex, provided an important baseoperations. As they note, School #25 is recognized asctive community centerin addition to its role as

    ducational institution it acts as a relie center or theal and economic problems o around 100 students andr amilies.19 he Proyecto AAwas inspired by an earlier work,ergent Species (1995), which involved research intocapacity o reeds and other aquatic plants to absorbution. In the process, Ala Plasticas members came to

    nti y a signi cant correspondence between the struc-o reedbed propagation and a creative practice thats diverse particularities via a nonhierarchical network:

    e planned a project represented by the metaphor o rhizomaticansion and emergence, alluding to the behavior o these plantsto the emergent character o ideas and creative practices. The

    nection o remnants within one another generated a practicallyescribable warp o intercommunication deriving into innume-ble actions that developed and increased through reciprocity:aling with social and environmental problems; exploring bothinstitutional and intercultural models while working with the

    mmunity and on the social sphere; interacting, exchanging expe-ces and knowledge with producers o culture and crops, o art

    and cra twork, o ideas and objects. 20

    nd a similar commitment to collaborative modes o ativity in the hand pump sites and childrens templesduced by Navjot Alta in conjunction with Adivasi com-nities in central India over the past seven years (thevasi are Indias indigenous population and have long

    ered rom economic and social discrimination). Accesslean water is a complex, and politically contentious,e in rural India. As corporations penetrate urther intocountryside in pursuit o cheap labor they put increas-pressure on natural resources to support their pro-

    duction acilities; in many cases either contaminating orprivatizing local water supplies.21 As a result, the Adivasicommunities in the Bastar region, where Alta has beenworking, are engaged in struggles over land and water ac-cess, while also grappling with the impact o economic andcultural modernization. What interested me most was thehybridism o the cultures, Alta writes, contradictionsand identity crises which are multiple and interrelated. 22 This macropolitical dimension is paralleled by a set o cultural traditions around water collection that place thegreatest burden on women and young girls. Alta began herwork in Bastar with the simple goal o creating more e -cient pump sites, using ergonomic designs that would easethe physical burden o collecting and transporting water.She developed the sites through a series o collaborativeworkshops that brought together Adivasi cra tspeople, vil-lage residents, teachers, college students, hawkers, and

    other volunteers in the creation o the quasisculpturalconstructions that surround the pumps. The constructionsare practical (they include niches that allow water carriersto rest their vessels as they li t them to their shoulders),while also incorporating symbols and orms associatedwith local cultural and spiritual traditions. In the processo developing the pump sites Alta came to realize theirimportance as gathering points or women and children;one o the ew spaces in which they could meet and in-teract socially. This led her in turn to the developmento Childrens Temples ( Pilla Gudi) that could unction ascenters or activity and exchange among young people inthe village.

    Alta views the collaborative interactions amongartists and village residents, and between Adivasi andnonAdivasi, that occur in these projects as decisive. Asshe writes, For us, organizing the workshops requiredto design and construct the pumps and Pilla Gudi is asimportant as creating the sites themselves. It encouragesa communication network among artists rom di erentcultures and disciplines, both within the area and outside,and with and among the young. These crossculturalexchanges, Alta notes, lead the young to think aboutdi erent ways o knowing and modes o working, enablingthem to draw nourishment and sustenance rom di er-ence and similarities. The process o designing and con-structing the pump sites and temples, the interactions o artisans, young people, and visitors, are at the same mo-ment designed to encourage a critical renegotiation o Ad-ivasi identity. This renegotiation is particularly crucial inIndias multicultural society due to the rise o rightwing

    undamentalism over the past decade, which has activelyrepressed nonHindu cultures (like that o the Adivasi).

    situao militante poderia se desenvolver de novo, o que seria dis- pendioso e ruim para a imagem da cidade, barrando investimentos

    em todo o bairro. 18

    Foi necessrio que o Park Fiction desenvolvesse uma rela-o estreita com grupos ativistas e organizaes de bairro.Como descreve Sch er, eles somente colaboravam cominstituies que tinham credibilidade local. Isso incluaum Centro Comunitrio, que era conhecido por o erecerservios legais annimos e gratuitos, assim como umaescola que apoiara a ocupao da Ha enstrasse durantea dcada de 1980.

    Embora operando num contexto cultural bastantedi erente, o trabalho do coletivo argentino Ala Plasticaencontra paralelo de vrias maneiras no trabalho do ParkFiction. Seu Proyecto AA, situado na bacia do Rio daPrata perto de Buenos Aires, mobilizou novas ormas de

    ao coletiva e criatividade a m de desa ar os interessespolticos e econmicos por trs do desenvolvimento degrande escala da regio. A construo de uma enormelinha de trem e rodovia ao longo das ltimas duas dcadas

    ez piorar as enchentes e destruiu as economias de pescae turismo no delta do rio, levando a altos nveis de desem-prego e deteriorao de servios sociais. O Ala Plasticainiciou o Proyecto AAcom um processo de mapeamentoespacial e cognitivo, desenvolvido em colaborao comos residentes da rea, junto com um estudo biorregionaldo delta dos rios da Prata e Paran. Esse procedimento demapeamento oi combinado com vrios exerccios organi-zados de modo a recuperar e coletar conhecimento localsobre a regio. O Ala Plastica buscou incorporar as idiasdos moradores do entorno no clculo dos impactos sociale ambiental resultantes da construo do complexo erro-virio ZrateBrazo Largo e da planejada ponte Punta LaraCorona, que tm dani cado o ecossistema e o tecido socialdas comunidades locais. Para desa ar a autoridade insti-tucional e o modo de pensar tecnopoltico das agnciasgovernamentais e corporativas responsveis por essesprojetos, o Ala Plastica trabalhou com os residentes darea para que articulassem suas vises da regio atravsda criao de plata ormas de comunicao e redes paracooperao mtua. Eles ajudaram a desenhar mdulos dehabitao de emergncia para uso nas pocas de enchente,e o ereceram in raestrutura e treinamento de comunica-es, com oco especial nas mulheres. Construindo sobreuma tradio do cultivo do choro, que data de meadosdo sculo XIX, o Proyecto AAidenti cou novos usos paraessa rvore e estimulou o surgimento de economias locaisbaseadas na produo do choro. Ao longo do Proyecto AA,o Ala Plastica trabalhou em estreita relao com os grupos

    ativistas locais, ONGs e outros, incluindo a CooperProdutores da Costa de Berisso e a Rede de Sade etas da Argentina. A Escola #25, situada perto do coZrateBrazo Largo, constituiu uma importante basoperaes. Como observam, a Escola #25 reconcomo um centro comunitrio ativo alm de seu pcomo instituio tradicional de ensino, unciona cocentro de ajuda social e econmica para aproximadte cem estudantes e suas amlias.19

    O Proyecto AA oi inspirado em um trabalho ant Espcies emergentes (1995), que envolveu a pesqusobre a capacidade do junco e outras plantas aqutiabsorver a poluio. No processo, os integrantes doPlastica identi caram uma signi cativa correspondentre a estrutura da propagao do leito de junco e atica criativa que liga particularidades diversas atravuma rede nohierrquica.

    Planejamos um projeto representado pela met ora da expa emergncia rizomticas, aludindo ao comportamento dessastas e ao carter emergente de idias e prticas criativas. A con de remanescentes, um dentro do outro, gerava uma toro pr mente indescritvel de intercomunicao, derivando em inm aes que desenvolveram e aumentaram atravs da reciprlidar com problemas sociais e ambientais; explorar tanto os los noinstitucionais quanto os interculturais, ao mesmo te

    em que trabalhavam com a comunidade e na es era social; introcando experincias e conhecimento com produtores de cu

    de cultivos, de arte e artesanato, de idias e objetos.

    Encontramos um comprometimento semelhante comodelos colaborativos nas bombas de gua manuatemplos in antis produzidos por Navjot Alta em ccom as comunidades Adivasi na ndia central ao lodos ltimos sete anos (os Adivasi so a populao indiana e h tempos vm so rendo discriminao se econmica). O acesso gua limpa um tema coxo e politicamente confituoso na ndia rural. medque as corporaes penetram o meio rural em buscmodeobra barata, elas pressionam cada vez mairecursos naturais para a alimentao de suas instalaprodutivas; em muitos casos contaminam ou privatas ontes de gua.21 Como conseqncia, as comun

    Adivasi na regio do Bastar, onde Alta tem trabalhesto engajadas em lutas pela terra e pelo acesso enquanto tentam lidar com o impacto da modernizaeconmica e cultural. O que mais me interessou bridismo de culturas, escreve Alta , contradiesde identidade so mltiplas e interrelacionadas. 2dimenso macropoltica encontra paralelo numa s

    CADERNO ViDEObRAsil 02 Colaborao, arte e subculturasCADERNO ViDEObRAsil 02 Collaboration, art, and subcultures

  • 8/8/2019 CadernoVB02_P

    15/73

    28 29

    Sarai Media LabsCybermohalla Ensemble , 20

    Reprod o/Reprod ctio

    Chantawipa Apis kLabo r sans Frontires

    KumjingConcrete Ho se, 2006

    cortesia/Photo co rtesy Concrete Ho se

    CADERNO ViDEObRAsil 02 Colaborao, arte e subculturasCADERNO ViDEObRAsil 02 Collaboration, art, and subcultures

  • 8/8/2019 CadernoVB02_P

    16/73

    30 31

    tradies culturais ao redor da coleta de gua, que colocao ardo maior sobre as mulheres e jovens meninas. Alta iniciou seu trabalho em Bastar com o simples objetivo decriar bombas de gua mais e cientes, usando desenhosergonmicos que aliviassem o es oro sico de coletar etransportar a gua. Ela desenvolveu os lugares onde asbombas eram instaladas atravs de uma srie de o cinascolaborativas que reuniram artesos Adivasi, residentesdas aldeias, pro essores, estudantes universitrios, vende-dores e outros voluntrios na criao de construes semiesculturais estruturadas ao redor das bombas. As constru-es so prticas (elas incluem nichos que permitem aoscarregadores de gua repousar seus baldes e bacias quan-do os levantam para cima de seus ombros), enquanto aomesmo tempo incorporam smbolos e ormas associadasa tradies culturais e espirituais locais. No processo dedesenvolvimento dos locais para as bombas de gua, Alta

    percebeu a importncia desses lugares de coleta de guacomo ponto de encontro para mulheres e crianas; um dospoucos lugares onde podiam encontrarse e interagir so-cialmente. Isso levou a artista a desenvolver o Templo dasCrianas ( Pilla Gudi), que podia uncionar como centrode atividade ou troca entre os jovens da aldeia.

    Alta considera que as interaes colaborativas entreos artistas e os moradores das aldeias, e entre Adivasise noAdivasis, que ocorrem nesses projetos, so deci-sivas. Como escreve a artista, Para ns, a organizaodas o cinas necessrias para o desenho e construo dasbombas e do Pilla Gudi to importante quanto a criaodos lugares onde as bombas so instaladas em si. Issoestimula uma rede de comunicao entre artistas de di e-rentes culturas e disciplinas, tanto dentro quanto ora darea, e com e entre os jovens. Essas trocas interculturais,observa Alta , levam os jovens a pensar sobre di erentes

    ormas de saber e modos de trabalhar, capacitandoos aalimentarse e encontrar sustento nessas di erenas e se-melhanas. O processo de desenhar e construir os luga-res das bombas de gua e os templos, a interao dos ar-tesos, jovens e visitantes so ao mesmo tempo pensadaspara estimular uma renegociao crtica da identidade

    Adivasi. Essa renegociao particularmente crucial nasociedade multicultural da ndia devido emergncia, naltima dcada, do undamentalismo de direita, que temreprimido ativamente as culturas nohindus (como a dos

    Adivasi). Ao mesmo tempo, o sistema educacional da n-dia tenta neutralizar a di erena cultural, segundo Alta ,atravs de uma poltica de Unidade na Diversidade, queminimiza as histrias espec cas dos Adivasi e dos Dalit(os intocveis).23

    Os projetos do Park Fiction, do Ala Plastica e de Navjot

    Alta assumem uma relao estratgica com os colpolticos hoje em ormao. Comeam com uma aa seus colaboradores sobre a qual escrevi em outra em termos de esttica dialgica. 24 Amadou Kane SHuit FacettesInteraction, escreve: No Senegal, cooutros lugares da rica, cumprimentar uma pessoconsciente da presena do outro, como interlocutortestemunhar sua existncia como ser humano no semais verdadeiro da palavra. Aquele que sente queexiste (ao respeitar voc) legitima at certo ponto sumanidade.25 As trocas iniciadas por esses projetostituem uma orma de trabalho que distinta do trado individualismo possessivo. Seu objetivo no aextrao de valor ou a supresso da di erena, mascoproduo (literalmente, colabor) de identidadeinterstcios de tradies culturais, oras polticas e jetividades individuais existentes. Esses projetos no

    sa am a reconhecer novos modos de experincia ee novas grades para pensar a identidade atravs de densamente texturizadas, hpticas e verbais que oconos processos de interao colaborativa. Eles nos cdam, a seu tempo, a reconsiderar a ormao da subdade moderna. Nesse es oro necessrio desempo processo pelo qual a identidade constituda dentmodernidade a partir do impulso conativo do indivilismo possessivo. Eu sugeriria que o desa o propoidentidade moderna reside no em nossa independilusria per se , mas em nossa relao com nossa prnatureza intrinsecamente dependente. O ponto decino simplesmente reconhecer a verdade de nosdescentralizados em algum momento singular, epiengendrado pelo artista, mas sim desenvolver as hades necessrias para mitigar a violncia e objeti canossos encontros permanentes com a di erena.

    Essa orma de insight tico e esttico no pode srada atravs do substituto de um objeto de arte ou ade um deslocamento ontolgico que simplesmente a experincia de instrumentalizao de volta no obvador. Ela requer, ao invs disso, um processo recpestendido na durao da troca. o produto de uma ma intensamente somtica de conhecimento: a trocgesto e de expresso, a complexa relao com habihbito, e a maneira pela qual o confito, a reconciliae a solidariedade so registrados no corpo. O e eitprtica de arte colaborativa enquadrar essa troca (cialmente, institucionalmente, processualmente), adoa su cientemente da interao social cotidiana pestimular um grau de autorefexo; chamar a atenpara a prpria troca como prxis criativa. H um tipabertura que estimulada enquanto os participantes

    H it FacettesInteractionGlocal Challenge , 19952005

    Foto/Photo by Jessica Gersh ltz

    he same time the mainstream educational system in

    a attempts to neutralize cultural di erence, accord-to Alta through a policy o Unity in Diversity thatimizes the speci c histories o the Adivasi and theit (or untouchables). 23 he projects o Park Fiction, Ala Plastica, and Navjot

    take on a strategic relationship to political collectivi-currently in ormation. They begin with an openingto their collaborators which I have written aboutwhere in terms o a dialogical aesthetic.24 As Amadou

    ne Sy o Huit FacettesInteraction writes: In Senegal,lsewhere in A rica, greeting someone, being conscioushe presence o the other, as interlocutor, is to bear

    ness to their existence as a human being in the truestse o the word. The one who eels that you exist (byecting you) legitimates to some extent your human-

    25 The exchanges initiated in these projects constituteorm o labor that is distinct rom the work o posses-

    individualism. Their goal is not the violent extractionvalue or the suppression o di erence, but a coproduc-(literally, a colabor) o identity at the interstices o ting cultural traditions, political orces, and individualectivities. These projects challenge us to recognize

    w modes o aesthetic experience and new rameworksthinking identity through the thickly textured hapticverbal exchanges that occur in the process o col-

    orative interaction. They call upon us, in turn, toonsider the ormation o modern subjectivity. In thiseavor its necessary to uncouple the process by whichntity i