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EFEITOS DA MANIPULAÇÃO SACROILÍACA SOBRE A MOBILIDADE DA COLUNA LOMBOSSACRAL E O EQUILÍBRIO DINÂMICO DE MULHERES: ESTUDO RANDOMIZADO, DUPLO CEGO E PLACEBO CONTROLADO EFFECTS OF SACROILIAC HANDLING ON THE MOBILITY OF THE LOMBOSACRAL COLUMN AND THE DYNAMIC BALANCE OF WOMEN: RANDOMIZED STUDY, BLIND DOUBLE AND CONTROLLED PLACEBO Rafael Ribeiro de Lima – [email protected] - UniSalesiano Vitor Daniel Oliveira dos Santos – [email protected] - UniSalesiano Prof. Orientador – Jonathan Daniel Telles - UniSalesiano – [email protected] RESUMO O complexo sacroilíaco corresponde à necessidade do corpo de utilizar a estabilidade da pelve, que se agrega à quinta vértebra lombar, a qual está associada ao pivô lombossacro. A fisiologia regional faz com que o jogo ligamentar seja o responsável pelo valor mecânico da região. É comprovado que qualquer fixação no nível da articulação sacroilíaca diminui a capacidade de torção da coluna vertebral. A manipulação de alta velocidade e baixa amplitude é uma técnica que aborda as disfunções reversíveis do aparelho locomotor, com uma leve força aplicada em um determinado seguimento e direção, associada a um som audível característico que é atribuído à cavitação da articulação. Por meio de efeitos neurofisiológicos, ela ativa o sistema nervoso autônomo, diminui a dor e a hiperatividade gama, aumenta a mobilidade segmentar e relaxa o sistema muscular. O objetivo deste trabalho do tipo experimental, foi avaliar o efeito imediato da manipulação articular da região sacroilíaca sobre o ganho de mobilidade da região lombossacra e o equilíbrio dinâmico. Participaram do estudo 20 voluntárias com idades entre 18 e 30 anos que apresentaram diminuição da amplitude de movimento, avaliadas com o teste de banco de Wells. Foram randomizadas e divididas em dois grupos cegos: grupo manipulação sacroilíaca 1

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EFEITOS DA MANIPULAÇÃO SACROILÍACA SOBRE A MOBILIDADE DA COLUNA LOMBOSSACRAL E O EQUILÍBRIO DINÂMICO DE MULHERES:

ESTUDO RANDOMIZADO, DUPLO CEGO E PLACEBO CONTROLADO

EFFECTS OF SACROILIAC HANDLING ON THE MOBILITY OF THE LOMBOSACRAL COLUMN AND THE DYNAMIC BALANCE OF WOMEN: RANDOMIZED STUDY, BLIND DOUBLE AND CONTROLLED PLACEBO

Rafael Ribeiro de Lima – [email protected] - UniSalesianoVitor Daniel Oliveira dos Santos – [email protected] - UniSalesiano

Prof. Orientador – Jonathan Daniel Telles - UniSalesiano – [email protected]

RESUMO

O complexo sacroilíaco corresponde à necessidade do corpo de utilizar a estabilidade da pelve, que se agrega à quinta vértebra lombar, a qual está associada ao pivô lombossacro. A fisiologia regional faz com que o jogo ligamentar seja o responsável pelo valor mecânico da região. É comprovado que qualquer fixação no nível da articulação sacroilíaca diminui a capacidade de torção da coluna vertebral. A manipulação de alta velocidade e baixa amplitude é uma técnica que aborda as disfunções reversíveis do aparelho locomotor, com uma leve força aplicada em um determinado seguimento e direção, associada a um som audível característico que é atribuído à cavitação da articulação. Por meio de efeitos neurofisiológicos, ela ativa o sistema nervoso autônomo, diminui a dor e a hiperatividade gama, aumenta a mobilidade segmentar e relaxa o sistema muscular. O objetivo deste trabalho do tipo experimental, foi avaliar o efeito imediato da manipulação articular da região sacroilíaca sobre o ganho de mobilidade da região lombossacra e o equilíbrio dinâmico. Participaram do estudo 20 voluntárias com idades entre 18 e 30 anos que apresentaram diminuição da amplitude de movimento, avaliadas com o teste de banco de Wells. Foram randomizadas e divididas em dois grupos cegos: grupo manipulação sacroilíaca (n=10), em que foram submetidas à manipulação global sacroilíaca, e o grupo manipulação placebo (n=10), em que foram apenas posicionadas em decúbito lateral e leve flexão de quadril e joelho sem finalidades terapêuticas. Todas voluntárias foram avaliadas pelo banco de wells e pelo y balance test antes e após os procedimentos de manipulação ou placebo, por um avaliador cego. O grupo manipulação sacroilíaca demonstrou significância quando analisado estaticamente (p ≤ 0,05) apenas na melhoria da mobilidade avaliada pelo banco de wells comparado ao grupo manipulação placebo. No teste de equilíbrio demonstraram aumento em ambos os grupos, porém, insignificante quando analisado estatisticamente.

Palavras-chave: Sacroilíaca, Manipulação Articular, Equilíbrio, Mobilidade.

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ABSTRACT

The sacroiliac complex corresponds to the body's need to utilize pelvic stability, which is added to the fifth lumbar vertebra which is associated with the lumbosacral pivot. The physiology region makes the ligament play is responsible for the mechanical value of the region. It is proven that any fixation at the level of the sacroiliac joint decreases the spinal torsability. The manipulation of high speed and low amplitude is a technique that addresses the reversible dysfunctions of the locomotor apparatus, with a slight force applied in a certain follow-up and direction, associated with a characteristic audible sound that is attributed to cavitation of the joint. Through neurophysiological effects, it activates the autonomic nervous system, decreases pain and gamma hyperactivity, increases the segmental mobility and relaxes the muscular system. The objective of this study was to evaluate the immediate effect of the articular manipulation of the sacroiliac region on the mobility gain of the lumbosacral region and the dynamic balance, comparing to the placebo controlled procedure. Twenty volunteers aged 18 to 30 years who had decreased range of motion were evaluated with the wells bench test and were randomized and divided into two blind groups, a sacroiliac manipulation group (n = 10). submitted to global sacroiliac manipulation, and the placebo manipulation group (n = 10), where they were only positioned in lateral decubitus and mild flexion of hip and knee for no therapeutic purposes. All volunteers were evaluated by the wells bank and the y balance test before and after the manipulation procedures or placebo, by a blind evaluator. The sacroiliac manipulation group showed significance when analyzed statistically (p ≤ 0.05) only in the mobility improvement evaluated by the wells database compared to the placebo manipulation group, the balance test showed an increase in both groups, but insignificant when analyzed statistically.

Keywords: Sacroiliac, Articular Manipulation, Balance, Mobility.

INTRODUÇÃO

As articulações sacro-ilíacas (ASI) relacionam o sacro e os ossos ilíacos da

pelve e servem como uma conexão entre o esqueleto axial e os membros inferiores.

Essas articulações reduzem a força de impacto ao solo, absorvendo as energias

inércias entre o tronco e a pelve. Durante a marcha, um momento de desaceleração

é criado no toque inicial do calcanhar. Essa força é transmitida até a pelve pelo

membro inferior onde encontra o momento inercial do tronco. As articulações

sacroilíacas ajudam a absorver essas forças concorrentes e, através de um

movimento de contra-rotação, reduzem a transferência das rotações da pelve para a

coluna, mantendo-a estável. De uma forma geral, a presença das ASI (ainda que

possua pequenos movimentos) permite uma maior flexibilidade à pelve dispondo-a

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de uma maior adaptabilidade aos movimentos (NADER, 2005 apud ZATARIN;

BORTOLAZZO, 2013).

 A perda de mobilidade articular de um elemento no corpo deve ser

compensada com o hiperfuncionamento de outro. A hipermobilidade é

compensatória às fixações vertebrais que são supra ou infrajacentes. Um espasmo

muscular e aderências caracterizam a hipomobilidade, por ocorrer na fixação

articular. Como é assintomática, só pode ser detectada por testes de mobilidade

comparativa (RICARD, 2001 apud; PIAZZA; LUZA, 2011). O estado de

hipomobilidade pode resultar em adesões fibrosas nas articulações sacro-ilíacas

com obliteração da cavidade sinovial, levando a um “ressecamento” da extremidade

articular e hipermobilidade da outra extremidade da mesma articulação (OLIVER;

MIDDLEDICH, 1998; BIENFAIT, 2000 apud; PIAZZA; LUZA, 2011).

A postura corporal envolve conceito de equilíbrio, coordenação neuro-

muscular e adaptação que representa um determinado movimento corporal, e as

respostas posturais automáticas são dependentes do contexto, ou seja, elas são

ajustadas para irem de encontro às necessidades de interação entre os sistemas de

organização postural (equilíbrio, neuro-muscular e adaptação) e o meio ambiente.

Muitas observações sugerem que o controle da postura não está simplesmente

baseado em um conjunto de respostas reflexas, nem é uma resposta pré-

programada acionada por um desequilíbrio; ao invés disso, ele é uma característica

adaptável ao sistema motor, que se baseia na interação entre o estímulo aferente e

a resposta eferente (BANKOFF et al, 2004).

Durante a manipulação articular, um impulso de alta velocidade e baixa

amplitude é aplicado pelo terapeuta na direção da restrição do movimento, até o

limite fisiológico articular. Esse impulso gera estiramento da cápsula articular e dos

músculos monoarticulares, com objetivo de liberar aderências articulares e restaurar

a amplitude de movimento articular fisiológica. Há, por via reflexa, inibição da

musculatura monoarticular, o que contribui para a restauração do movimento, visto

que esses músculos também são responsáveis por manter a articulação em

disfunção (RICARD, 2005 apud; ZATARIN; BERTOLAZZO, 2013).

A pesquisa tem como problema verificar o seguinte aspecto, será que a

manipulação sacroilíaca contribui para a melhora de mobilidade da coluna

lombossacral e no equilíbrio dinâmico em mulheres saudáveis?

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A manipulação na articulação sacroilíaca (ASI) e na transição lombossacral

(L5/S1), poderia repercutir sobre músculos inervados pelo plexo sacral, raízes L5,

S1, S2 e S3 e aumentar a amplitude de movimento das ASI e da transição

lombossacral, que têm relação neurológica e biomecânica com os músculos da

cadeia posterior. (DUFOUR, 2003).

O objetivo deste trabalho do tipo experimental, foi avaliar o efeito imediato da

manipulação articular da região sacroilíaca sobre o ganho de mobilidade da região

lombossacra e o equilíbrio dinâmico, comparando ao procedimento placebo

controlado.

1 CONCEITOS PRELIMINARES1.1 Anatomia da Coluna Vertebral

Segundo Dangelo e Fattini (2011), o atlas é assim, constituído por um anel

que circunda um grande forame vertebral. Nos ângulos laterais e posterior Vértebra

C2 - áxis possui um dente que se projeta para cima a partir do seu corpo.

Vértebra C7- A vértebra proeminente – é assim chamada devido ao seu

processo espinhoso longo. (MOORE,1992).

Embora as vértebras T1, T9, T10, T11 e T12 possam apresentar alguns

elementos que as distinguem das demais vértebras torácicas, a primeira vértebra

torácica tende a se assemelhar com a última cervical, assim como as últimas

torácicas podem apresentar alguns aspectos encontrados nas vértebras lombares

(DANGELO; FATTINI, 2011).

As vértebras articulam se com as costelas que também se articulam com o

corpo vertebral e com o processo transverso. A cabeça da vértebra articula-se com a

parte superior da vértebra correspondente, a parte inferior da vértebra superior a ela

e o disco adjacente que une as duas vértebras. (MOORE, 1992

O cóccix é a parte mais baixa da espinha. Ele representa uma cauda vestigial

(daí o termo comum "cóccix") e é composto por três ou mais ossos pequenos

fundidos: três a cinco vértebras separadas ou fundidas o formam (STAEHLER,

2014).

1.1.1 Anatomia da pelve

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A cintura pélvica forma a base do tronco. Ela também constitui o suporte do

abdome, conforme a união entre os membros inferiores e o tronco. Trata-se de um

anel ósteo-articular fechado, composto por três ossos e três articulações (MOORE,

1994).

Segundo Kapandji (2000), entre os ossos que compõem a cintura pélvica

estão os dois ilíacos, que são grandes e de forma irregular; consistem em três

partes: ílio, ísquio e púbis. E o sacro, bloco vertebral composto pela união de cinco

vértebras sacrais.

A pelve exerce uma função protetora de vísceras centradas na cavidade

pélvica e contém a fixação de músculos, mas sua função mais importante é

transmitir o peso do corpo da coluna vertebral para os acetábulos e, portanto, para

os membros inferiores, na postura ereta, ou para os túberes isquiáticos, quando o

indivíduo está sentado (DANGELO; FATTINI, 2011).

De acordo com Moore (1992), as articulações da pelve incluem as

lombossacral, sacrococcígea, sacroilíaca e a sínfise púbica. A característica

biomecânica do segmento motor L4-L5 depende da relação anatômica com as

cristas ilíacas. Se localizado abaixo da sua linha, comporta como segmento motor

L5-S1; se localizado acima, comporta como segmento motor lombar superior. As

vértebras L5-S1 unem-se através de uma articulação intervertebral anterior

composta pelo disco intervertebral entre seus corpos e de duas articulações

sinoviais posteriores entre os processos articulares.

A sincronização dos movimentos entre a pelve e o tronco é denominada ritmo

lombopélvico. Durante a flexão do tronco, a curvatura lombar se autoinverte, achata

e se encurva na direção oposta. Isso perdura até o ponto onde a região lombar fica

arredondada na flexão completa do tronco. Acompanhando o movimento das

vértebras lombares, há a flexão do sacro, a inclinação da pelve, e finaliza com a

extensão do sacro. (HAMILL; KNUTZEN, 2012).

1.1.2 Articulação Sacroíliaca

A articulação sacroíliaca se localiza anteriormente à espinha ilíaca póstero-

superior do ilíaco. Estruturalmente, a articulação é relativamente rígida entre suas

superfícies auriculares do sacro combinando com a do ilíaco. As facetas têm

irregularidades que se engrenam e travam ou limitam os movimentos; a cavidade

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articular tem o seu formato como um L e com a concavidade voltada para cima e

para trás. (HAMILTON, 1982).

O complexo sacroilíaco corresponde à necessidade do corpo de utilizar a

estabilidade da pelve, a qual se agrega L5, que está associado ao pivô lombossacro.

A fisiologia regional faz com que o jogo ligamentar seja o responsável pelo valor

mecânico da região. É comprovado que qualquer fixação no nível da articulação

sacroilíaca diminui a capacidade de torção da coluna vertebral. As hipomobilidades

das articulações sacroilíacas vão ser compensadas por hipermobilidades

lombossacras. (BIENFAIT, 2000).

1.2 Fisiologia articular da articulação sacroilíaca

A articulação sacroilíaca é conhecida como uma articulação muito estável

devido a sua morfologia óssea e pelo suporte ligamentar. Todavia, ocorre um

pequeno grau de movimento na articulação; a direção, a quantidade e o significado

dos movimentos são muito controvertidos (KONIN, 2006).

Durante o movimento de nutação, o sacro roda em torno de um eixo

constituído pelo ligamento sacroilíaco interósseo, de tal forma que o promontório

sacral se desloca para baixo e anteriormente S2 e o ápice do sacro e o cóccix se

deslocam posteriormente. Durante esse movimento de báscula, o diâmetro ântero-

posterior da abertura superior diminui da distância de S2 (KAPANDJI, 2008).

Segundo Neumann (2011), a nutação nas articulações sacroilíacas aumenta a

compressão e as forças de cisalhamento entre as superfícies articulares, e,

consequentemente, a estabilidade articular. Esse mecanismo de bloqueio se baseia

principalmente na gravidade e congruência das superfícies articulares do que em

estruturas extra-articulares como ligamentos e músculos.

O movimento de contranutação realiza deslocamentos inversos: o sacro, ao

se deslocar em torno do ligamento axial, se endireita, de modo que o promontório

sacral se desloca para cima e para trás e a extremidade inferior do sacro e o vértice

inferior do cóccix se deslocam para baixo e para frente. O diâmetro ântero-posterior

da abertura superior da pelve aumenta a distância em S1, enquanto o diâmetro

ântero-posterior da abertura inferior da pelve diminui a distância. Por outro lado, as

asas ilíacas se separam e as tuberosidades isquiáticas se aproximam. (KAPANDJI,

2000).

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1.3 Cadeia Posterior

A linha superficial posterior (LSP) une toda a superfície do corpo, da planta do

pé ao topo da cabeça, em dois segmentos – dos dedos dos pés aos joelhos e dos

joelhos à fronte. Quando os joelhos estão estendidos, como quando estamos em pé,

a LSP atua como uma linha contínua de miofáscias integrada. A principal função

postural da LSP é dar apoio ao corpo em extensão completa, para prevenir a

tendência de se curvar em flexão. Essa função postural diária requer uma proporção

maior de fibras musculares de resistência e concentração lenta nas porções

musculares dessa faixa miofascial. A função postural também requer camadas e

bandas mais fortes na parte fascial, assim como no tendão do calcâneo, no jarrete,

no ligamento sacrotuberal, na fáscia toracolombar, nos feixes do eretor da espinha e

na crista occipital. A exceção à função de extensão incide nos joelhos, que são

flexionados para trás apenas pelos músculos da LSP. Quando se fica em pé, os

tendões ligados à LSP auxiliam os ligamentos cruzados na manutenção do

alinhamento postural entre a tíbia e o fêmur. Com exceção da flexão nos joelhos e

da flexão plantar no tornozelo, a principal função da LSP durante o movimento é

proporcionar a extensão e a hiperextensão. (MYERS, 2003).

1.4 Manipulação Articular

A terapia manipulativa espinhal (TME) é um procedimento terapêutico

utilizado frequentemente por fisioterapeutas no cuidado de muitas desordens

músculo-esqueléticas. As técnicas podem ser aplicadas como manobras oscilatórias

em diferentes locais articulares (mobilizações) ou podem ser realizadas com o thrust

de alta velocidade e baixa amplitudeno final da amplitude de movimento articular.

(MAITLAND, 1986 apud MARINZECK; SOUVLIS, 2011).

A manipulação de alta velocidade e baixa amplitude é uma técnica que

aborda as disfunções reversíveis do aparelho locomotor, com uma leve força

aplicada em um determinado seguimento e direção, associada a um som audível

característico que é atribuído à cavitação da articulação. Por meio de efeitos

neurofisiológicos, ela ativa o sistema nervoso autônomo, diminui a dor e a

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hiperatividade gama, aumenta a mobilidade segmentar e relaxa o sistema muscular.

(GIBBSON, 2000; MANSILA, 2008; TAYLOR, 2008 apud KAMONSEK et al, 2012).

2 O EXPERIMENTO

2.1 Casuística e métodos

Este estudo é um randomizado, duplo cego e placebo controlado, aprovado

pelo comitê de Ética e Pesquisa do Unisalesiano, parecer nº 2.167.275 de 11 de

julho de 2017. Foram cegados pesquisadores e voluntárias.

Todas as participantes foram randomizadas e orientadas a não comentar com

o avaliador sobre qual tipo de técnica foi aplicada pelo pesquisador que realizava;

foram divididas em dois grupos aleatórios nos quais havia 20 envelopes constando

de que grupos (grupo 1 ou grupo 2) elas seriam:

Grupo 1 Manipulação Sacroilíaca (10 voluntárias): foi realizada a manipulação

sacroilíaca global com Thrust e Kick bilateralmente.

Grupo 2 Manipulação Placebo (10 voluntárias): foi aplicada uma leve flexão

de quadril em decúbito lateral sem efeitos terapêuticos.

2.2 Amostra

O estudo foi realizado com 20 participantes do sexo feminino, com idade entre

18 e 30 anos, que apresentaram hipomobilidade em região lombossacral. O seu

processo de seleção foi realizado no Centro Universitário Católico Auxilium de Lins.

2.3 Critérios de exclusão/inclusão e não inclusão

Foram avaliadas 26 participantes do sexo feminino com idade média de

19,07±, com desvio padrão de 0,9 anos, porém ocorreram 5 exclusões e 1 não

inclusão ao estudo. De acordo com os critérios de inclusão, dariam continuidade à

pesquisa as participantes que apresentassem hipomobilidade ao teste de banco de

wells, fossem saudáveis, sedentárias, que não receberam nenhum tipo de

manipulação e que aceitaram participar do estudo mediante a assinatura do Termo

de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE).

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Os critérios de não inclusão foram as participantes que apresentassem

hipermobilidade ao banco de wells, que tivessem osteoporose, osteoartrose,

espondilite, artrite reumatóide, hérnia de disco ou recusassem assinar o TCLE. O

critério de exclusão foi para as participantes que apresentassem dores agudas

durantes os testes e ao realizarem as técnicas. Após a leitura de Carta de

Informação ao Participante e a assinatura do TCLE.

2.4 Condições Ambientais

Este estudo foi realizado na Clínica de Reabilitação Física Dom Bosco do

Centro Universitário Católico Auxilium de Lins.

2.5 Protocolo do Experimento

De início as participantes receberam a carta de informação ao participante. As

avaliações foram realizadas por um único avaliador, que explicou e demonstrou os

dois testes antes que as participantes os fizessem. Todas as voluntárias tiveram

uma primeira tentativa de adaptação aos testes, os quais foram realizados antes e

após os procedimentos, com três tentativas para recolher os dados. Em outro

ambiente havia outro pesquisador aplicando as manipulações sacroilíaca ou

placebo.

2.5.1 Banco de Wells

O teste de sentar e alcançar, proposto inicialmente por Wells e Dillon (1952),

é comumente utilizado para mensurar a flexibilidade da coluna lombar e dos

músculos isquiotibiais.

Utilizou-se o banco de wells da marca Sanny, com a participante posicionada

de frente para o banco, levando a planta do pé totalmente ao apoio anterior do

banco, os joelhos estendidos e estabilizados pelo avaliador em sua base superior,

tendo uma escala métrica de 50 centímetros com um escalímetro deslizante, o qual

permite medir o alcance.

2.5.2 Y Balance Test

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O Y balance test avalia o desempenho durante o equilíbrio de uma única

perna com a tarefa de atingir as direções anteriores, póstero-medial e póstero-

lateral, para determinar a assimetria do movimento das extremidades inferiores e os

déficits de saldo (COUGHLAN, 2012). O objetivo desse teste é manter o equilíbrio

de um único membro apoiado enquanto o outro atinge um alcance máximo com a

perna contralateral em três direções diferentes, sem que apoie o membro que se

desloca ou retire o calcâneo de apoio do solo.

2.5.3 Grupo Manipulação Sacroilíaca

A técnica do grupo manipulação foi executada com as participantes em

decúbito lateral, com o membro inferior elevado. O pesquisador posicionado em

frente à participante realizou uma flexão de quadril e joelho com a mão caudal na

espinha ilíaca póstero-superior até sentir um movimento na mesma, e com a mão

cefálica realizou rotação e flexão de tronco, até sentir o movimento na espinha ilíaca

póstero-superior. Tendo os parâmetros para a manipulação, o pesquisador

posicionou o antebraço em toda região da articulação sacroilíaca, uma mão com

apoio ao ombro da participante e um contato com a região anterior da perna com a

coxa e realizou impulso manipulativo.

2.5.4 Grupo Manipulação Placebo

A técnica do grupo manipulação placebo foi executada com as participantes

em decúbito lateral sobre a maca, e o pesquisador em frente. Foi realizada uma

leve flexão do joelho e quadril, sem rotação, e flexão do tronco com uma mão

apoiada no ombro e a mão caudal apoiada na região da espinha ilíaca póstero-

superior, mantendo o posicionamento por 15 segundos.

2.6 Análise Estatística

Após a coleta dos dados dos testes, os resultados foram analisados

estatisticamente utilizando o test t Student através do software Microsoft® Excel®

2010.

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2.7 Resultados

Na tabela 1, são apresentados os valores da média e desvio-padrão (DP) dos

resultados dos testes de Banco de Wells e Y Test do lado direito e esquerdo pré e

pós intervenção dos participantes do grupo manipulação sacroilíaca. Foi observada

uma diferença estatisticamente significante (p ≤ 0,05), do teste Banco de Wells

(p=0,03) e lateroflexão esquerda (p=0,005) do valor pós quando comparado ao pré.

Não houve diferença estatística do Y Test para ambos os lados.

Tabela 1 – Resultados dos testes de Banco de Wells e Y Test do lado direito e

esquerdo do grupo manipulação sacroilíaca

Testes Pré (cm)

Média (DP)

Pós (cm)

Média (DP)

Valor p

Banco de Wells 20,5 ± 4,6 25,5 ± 5,7 0,005*

Y Test direito

Y Test esquerdo

74,2 ± 7,5

72,1 ± 6,0

75,5 ± 8,3

73,7 ± 7,3

0,251

0,231

Fonte: autores, 2017# Nível de significância de 5% (p<0,05) em relação ao valor pré.

Na tabela 2, são apresentados os valores da diferença pós em relação ao pré

(cm) e porcentagem de alteração (%) para o teste de Banco de Wells dos

participantes do grupo manipulação sacroilíaca. Foi observada uma diferença de 5

centímetros (cm) do pós em relação ao pré, representando 24% de melhoria.

Tabela 2 – Valores da diferença pós em relação ao pré (cm) e porcentagem de

alteração (%) para os testes de Banco de Wells do grupo manipulação sacroilíaca

Testes Diferença pós/pré

(cm)

Porcentagem de alteração

(%)

Banco de Wells 5 24

Fonte: autores, 2017

Na tabela 3, são apresentados os valores da média e desvio-padrão (DP) dos

resultados dos testes de Banco de Wells e Y Test do lado direito e esquerdo pré e

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pós intervenção dos participantes do grupo placebo. Não foram observadas

diferenças estatisticamente significantes (p ≤ 0,05), nos testes de Banco de Wells e

Y Test para ambos os lados.

Tabela 3 – Resultados dos testes de Banco de Wells e Y Test do lado direito e

esquerdo do grupo manipulação placebo

Testes Pré (cm)

Média (DP)

Pós (cm)

Média (DP)

Valor p

Banco de Wells 19 ± 4,6 21,1 ± 5,7 0,135

Y Test direito

Y Test esquerdo

73,9 ± 9,8

68,8 ± 9,4

74,4 ± 9,3

72,4 ± 8,7

0,433

0,099

Fonte: autores, 2017

2.8 Discussão

A pesquisa teve como objetivo analisar o efeito da técnica de terapia manual

manipulativa em articulação sacroilíaca, em relação ao ganho de amplitude de

movimento e em equilíbrio dinâmico em um grupo homogêneo. Foram realizadas

duas técnicas para comparação de efeitos, manipulação placebo e manipulação

articular de baixa amplitude e alta velocidade no limite articular de sacroilíaca.

Conforme Cardoso et al. (2007), o teste de sentar e alcançar que foi proposto

inicialmente por Wells e Dillon na década de 50, é comumente utilizado para

mensurar flexibilidade da coluna lombar e dos músculos isquiotibiais. Acredita-se

que alguns fatores possam alterar o resultado do teste, porém houve modificações e

foram estudados no intuito de se eliminá-los. Embora Ribeiro (2010) diga que o teste

avalia melhor a flexibilidade dos isquiotibiais do que a região lombossacra, o

American College of Mohs Sugery cita que devido à importância relativa da

flexibilidade dos músculos isquiotibiais para as atividades de vida diária e o

desempenho nos esportes, o teste de sentar e alcançar deve ser utilizado até tornar-

se disponível uma avaliação com mensuração criteriosa da flexibilidade da região

lombossacra.

Em um estudo, Bortolazzo (2014) relata que não houve alterações

significativas na flexibilidade após a manipulação articular em região sacroilíaca e

transição lombossacra em voluntários com instabilidade de tornozelo. Em relação ao

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presente estudo, no qual houve a manipulação em articulação sacroilíaca em

voluntárias com hipomobilidade, teve um resultado com significância e efeitos

clínicos ao ganho de mobilidade lombossacra em 24% de diferença entre pré e pós

manipulação. De acordo com Kong et al. (2012), a hipomobilidade articular pode

alterar as características biomecânicas da coluna vertebral, reduzindo a amplitude

de movimento.

CONCLUSÃO

Com este trabalho, verificou-se que houve um aumento da mobilidade

lombossacra após o procedimento de manipulação sacroilíaca comparado ao grupo

placebo avaliado através do banco de Wells, resultado este considerado

estatisticamente significante. Em relação aos resultados do Y balance test, houve

um aumento de equilíbrio em ambos os grupos, porém, insignificante quando

analisado estatisticamente. Ao analisar, com particularidade, a literatura, notou-se

certa carência de trabalhos com o mesmo desenho deste, sendo assim, acredita-se

que a realização de novos trabalhos com um maior número de indivíduos, sem a

presença de dor e hipermobilidade da região lombossacra, possa levar a um

tratamento com um follow-up, no que se esperam melhores resultados, possuindo

grupo placebo, com intuito de provar a eficácia da técnica em relação ao equilíbrio.

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