canosa, g. a. - 2013 - base de dados de espécies arbustivo-arbóreas como ferramenta para...
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UNIVERSIDADE FEDERAL RURAL DO RIO DE JANEIRO
INSTITUTO DE BIOLOGIA
CURSO DE GRADUAÇÃO EM CIÊNCIAS BIOLÓGICAS
BASE DE DADOS DE ESPÉCIES ARBUSTIVO-ARBÓREAS
COMO FERRAMENTA DE AVALIAÇÃO DE PROJETOS
DE RESTAURAÇÃO DE ÁREAS DEGRADADAS
Elaborado por
GABRIELA ARRUDA CANOSA
Orientador
DR. LUIZ FERNANDO DUARTE DE MORAES
Coorientador
PROF. DR. PAULO SÉRGIO DOS SANTOS LELES
Seropédica - RJ
2013
GABRIELA ARRUDA CANOSA
BASE DE DADOS DE ESPÉCIES ARBUSTIVO-ARBÓREAS
COMO FERRAMENTA DE AVALIAÇÃO DE PROJETOS
DE RESTAURAÇÃO DE ÁREAS DEGRADADAS
Monografia apresentada como requisito
parcial para obtenção do grau de Bacharel em
Ciências Biológicas do Instituto de Biologia da
Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro
Orientador
DR. LUIZ FERNANDO DUARTE DE MORAES
Coorientador
PROF. DR. PAULO SÉRGIO DOS SANTOS LELES
Seropédica
Setembro – 2013
ii
iii
AGRADECIMENTOS
Aos meus pais, Roseli Arruda e Juan Canosa, que nunca mediram esforços para me
darem todo o apoio necessário para que eu conseguisse atingir meus objetivos. Vocês são
as pessoas mais importantes da minha vida, e sem vocês, certamente eu não seria quem
sou.
A minha irmã, que sempre foi um exemplo como toda irmã mais velha, e que nos
presenteou com um anjinho chamado Rafael.
Ao meu afilhado Rafael, peço desculpas pela ausência nos últimos anos em que
meu tempo foi tomado pelo compromisso com a graduação, perdi grande parte de seu
crescimento e ainda não consegui demonstrar toda a importância que você tem na minha
vida.
Aos meus irmãos, minha surpresa na vida, e que amo incondicionalmente desde que
os conheço.
Aos meus tios uruguaios, que não tiveram a fronteira como limite para me darem
apoio e força nas minhas conquistas.
A minha vó Lya, pela torcida, apoio e por todos os ensinamentos culinários e
artísticos.
Ao meu abuelo, que tenho certeza que sempre torceu por mim, e ainda torce do
lugar onde está.
A minha família “paulixta”, que quero sempre bem.
Ao meu orientador Luiz Fernando Duarte de Moraes, por tudo que me ensinou.
Você não sabe a sorte que tive em te ter como professor e como amigo, que me apoiou até
o último ponto colocado neste trabalho. Grande parte da minha formação em Biologia eu
devo a você.
A Mel, Ana e Bruna, que moram comigo e são minha força todos os dias, e à Lara,
Loury, Louise e Jeny, que moraram comigo durante algum tempo da minha passagem pela
Rural, saibam que vocês foram grande parte do meu alicerce.
A minha grande turma, “cês são dez”, a minha distância não reflete a importância
que vocês tiveram no meu dia-a-dia, e desde o primeiro.
Aos queridos amigos e amigas da biologia e principalmente ao Ramiro, Zé, Tiago e
Godoy, pelos bons tempos sempre guardados na memória.
A todas às amigas e amigos que fiz durante esses mais de quatro anos na Rural,
vocês se tornaram minha família.
iv
A Carol e Mari, que como grandes amigas, sentiram a minha distância ao ingressar
na universidade. Saibam que vocês são para toda a vida, não importa onde ela seja.
Ao Cévio, pela ajuda no trabalho e por todo o apoio e paciência nessa fase de
conclusão de curso.
Ao restaurante Erva-doce, que me proporcionou conhecer pessoas incríveis e me
ensinou muita coisa sobre como agir em um espaço coletivo, além da culinária deliciosa, é
claro.
Ao Grupo de Permacultura da Rural, que me acompanhou durante o início do meu
trajeto na Permacultura e me deu impulso para seguí-la como estilo de vida.
Ao Coletivo Terra Prometida, por todos os sacos de terra empilhados (rs). A todos
que participam desse trabalho coletivo, por todo o aprendizado tido no assentamento Terra
Prometida.
A todos os participantes do curso “Árvores na Agricultura Familiar” que mesmo
sem saberem, me incentivam no meu caminhar daqui pra frente. Vocês são a esperança da
agricultura familiar e da agroecologia no Rio de Janeiro.
Aos “Jus” e a todos que conheci na Casa Colméia e em outros espaços de
Permacultura, os aprendizados ao lado de vocês foram muito importantes durante a minha
graduação. Que continuemos nesse caminho.
A todos do GESEF/INEA, e principalmente a Cristina, Julia, Bruno, Flávio,
Michele, Zé Maria e Rodrigo, que me receberam e me auxiliaram na execução deste
trabalho.
Ao coorientador Prof. Paulo Sergio dos Santos Leles, que me auxiliou na conclusão
deste trabalho.
Aos membros da banca, Pesquisador Alexander Silva de Resende, Prof. Paulo
Sergio dos Santos Leles e Prof. Lucas Amaral de Melo, que aceitaram dar importantes
contribuições para este trabalho.
A todos os mestres que fizeram parte da minha jornada na graduação, e
principalmente ao Prof. Lucio Carramillo Caetano. A minha formação como bióloga
reflete em parte do conhecimento que compartilharam comigo.
A Embrapa Agrobiologia, pela estrutura disponibilizada para o desenvolvimento
deste trabalho e à FAPERJ pelo auxílio com a bolsa de iniciação científica.
A UFRRJ, por ter mudado a minha vida, serei eternamente grata pelos momentos
que me proporcionou.
v
“Tudo é uma questão de manter
a mente quieta
a espinha ereta
e o coração tranquilo”
Walter Franco
vi
RESUMO
A prática da restauração ecológica tem aumentado no Brasil em função da demanda
crescente pela regularização ambiental de atividades produtivas. Um aspecto importante é
conhecer os atributos funcionais das espécies florestais, o que pode dar subsídios à seleção
de espécies durante a elaboração de projetos de restauração de áreas degradadas (PRAD).
O presente trabalho tem como objetivos a elaboração de uma base de dados de espécies
lenhosas potenciais para restauração ecológica na Mata Atlântica do Rio de Janeiro, a
partir da sistematização de dados secundários sobre três atributos funcionais específicos: i)
Capacidade de fixação biológica de nitrogênio atmosférico, ii) Atratividade à fauna
silvestre e iii) Oferta de produtos madeireiros e não madeireiros. A base de dados foi usada
posteriormente para avaliação das listas de espécies sugeridas para restauração florestal em
PRAD encaminhados para análise ao Instituto Estadual do Ambiente (INEA), do Rio de
Janeiro. Além das listas de espécies sugeridas nos PRAD, em alguns casos também foram
encontradas listas de espécies da flora do entorno e de relatórios de implantação, que foram
comparadas às de espécies sugeridas. Para a base de dados foram levantadas 808 espécies
lenhosas ocorrentes no RJ de acordo com seus atributos funcionais. Dessas espécies, 112
são fixadoras de nitrogênio, 573 são atrativas à fauna silvestre e 415 possuem potencial de
uso econômico. Na análise dos PRAD, foram verificadas 44 listas de espécies sugeridas.
Pôde-se constatar que nenhum PRAD seguiu todas as indicações da Instrução Normativa
IBAMA nº04/2011 e da Resolução INEA nº36/2011. Das 674 espécies sugeridas em todos
os PRAD, 327 (48,4%) tiveram apenas uma citação. Foram consideradas três proporções
de citações para cada espécie com relação ao total de PRAD: 30%, 50%, 70%, resultando
em 75, 24 e 6 espécies, respectivamente. O resultado indica que apenas 75 espécies são
frequentemente utilizadas na restauração ecológica no RJ, o que diante da alta riqueza
característica da Mata Atlântica e do resultado da base de dados sugere que as espécies
nativas não estão sendo exploradas em sua potencialidade na restauração florestal. Dessas
espécies, 74 estão na base de dados apresentada, indicando seu potencial de utilização na
avaliação e elaboração de listas de espécies florestais em PRAD. Sugere-se que mais
atenção seja dada a elaboração e avaliação das listas de espécies sugeridas nos PRAD, de
forma que essas ações tenham maiores chances de atingir os objetivos da restauração
florestal.
Palavras-chave: Restauração Ecológica; Espécies lenhosas; Atributos funcionais; Base de
dados, Rio de Janeiro
vii
ABSTRACT
Ecological restoration of Brazilian tropical forest has recently increased due to legal
obligations of landowners. Knowledge on functional attributes of forest tree species may
support species selection for restoration projects (PRAD). This study aimed to build a
forest species database for the Atlantic in Rio de Janeiro, by gathering information on three
functional attributes: i) Potential for biologically fixing atmospheric nitrogen; ii)
Attractiveness to wildlife; and iii) Potential of supplying wood and non wood products.
Database was later used to evaluate lists of species suggested for forest restoration due to
legal obligation cases, managed by the Instituto Estadual do Ambiente (INEA), in Rio de
Janeiro. Besides lists of species suggested for planting, some projects included lists of
regional species, and reports of species which were really planted. Database built consists
of 808 woody native species, and of these, 112 are N-fixing species, 573 are wildlife
attracting plants, and 415 were found to provide either wood or non wood products.
Restoration projects (PRAD) contained 44 lists of suggested species which were analyzed,
and none of them followed legal instructions. 327 (48.4%) out of 674 species were listed
only once in the PRAD. Seventy-five species were listed in 30% of the PRAD, and only
six species can be considered very common species, since they could be found in at least
70% of the restoration projects. Anyway, lists could be richer in species. Seventy-four out
of the 75 species listed in 30% of the projects can be found in our database, which suggest
they have important functional attributes and should be part of restoration projects. Finally,
environmental public institutes are suggested to give special attention in the lists of species
suggest in order to have more successful restoration projects.
Key-words: Ecological restoration; Forest species; Database; Restoration projects;
Functional attributes
viii
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO .........................................................................................................1
2 OBJETIVOS ..............................................................................................................4
3 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA ...................................................................................5
3.1 RESTAURAÇÃO ECOLÓGICA ..............................................................5
3.1.1 O que é a Restauração Ecológica? ........................................................5
3.1.2 Breve histórico: avanços e desafios ......................................................8
3.1.3 Como nortear as ações de restauração? ................................................9
3.1.4 O papel da diversidade funcional na restauração ................................ 11
3.1.5 A escolha das espécies a partir de seus atributos funcionais ............... 12
3.1.6 Avaliação e monitoramento de áreas restauradas ................................ 15
3.1.7 Legislação e Restauração Ecológica ................................................... 16
3.2 PROJETOS DE RECUPERAÇÃO DE ÁREAS DEGRADADAS (PRAD)
NO RIO DE JANEIRO ................................................................................................ 18
3.2.1 INEA – Instituto Estadual do Ambiente ............................................. 18
3.2.2 O que são Projetos de Recuperação de Áreas Degradadas (PRAD)?... 19
3.2.3 O uso das espécies florestais nos PRAD ............................................ 20
4 MATERIAL E MÉTODOS ...................................................................................... 22
4.1 ELABORAÇÃO DA BASE DE DADOS ................................................ 22
4.1.1 Leguminosas fixadoras de nitrogênio ................................................. 23
4.1.2 Espécies atrativas à fauna silvestre ..................................................... 24
4.1.3 Espécies com potencial de uso madeireiro e não madeireiro............... 26
4.2 PROJETOS DE RECUPERAÇÃO DE ÁREAS DEGRADADAS (PRAD)
NO RIO DE JANEIRO ................................................................................................ 28
5 RESULTADOS E DISCUSSÃO .............................................................................. 33
5.1 ELABORAÇÃO DA BASE DE DADOS ................................................ 33
5.1.1 Leguminosas fixadoras de nitrogênio ................................................. 34
5.1.2 Espécies atrativas à fauna silvestre ..................................................... 36
ix
5.1.3 Espécies com potencial de uso madeireiro e não madeireiro............... 39
5.2 PROJETOS DE RECUPERAÇÃO DE ÁREAS DEGRADADAS (PRAD)
NO RIO DE JANEIRO ................................................................................................ 43
5.2.1 Os Projetos de Recuperação de Áreas Degradadas (PRAD) ............... 43
5.2.2 As listas de espécies encontradas nos processos ................................. 49
6 CONCLUSÕES ....................................................................................................... 77
7 COMENTÁRIOS FINAIS ....................................................................................... 78
7.1 Conflito na taxonomia vegetal ................................................................. 78
7.2 Recomendações ....................................................................................... 78
7.3 Potencialidades ....................................................................................... 79
8 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ...................................................................... 80
x
LISTA DE FIGURAS
Figura 1. Relação entre os conceitos de Ecologia, Ecologia da Restauração e
Restauração Ecológica, modificado de PALMER et al. (2006). ..........................................6
Figura 2. Exemplo de matriz construída em planilha eletrônica com as informações
levantadas para as espécies lenhosas da Mata Atlântica do Rio de Janeiro atrativas à fauna.
........................................................................................................................................ 26
Figura 3. Exemplo de matriz construída em planilha eletrônica com as informações
levantadas para as espécies lenhosas da Mata Atlântica do Rio de Janeiro com potencial de
uso madeireiro e não madeireiro. ...................................................................................... 28
Figura 4. Exemplo de matriz construída em planilha eletrônica com informações
sobre os processos analisados na GESEF/INEA que contém Projetos de Restauração de
Áreas Degradadas – PRAD. ............................................................................................. 29
Figura 5. Exemplo de matriz com as espécies sugeridas nos PRAD apresentados a
GESEF/INEA, indicando quais espécies estão incluídas na base de dados apresentada no
presente trabalho, com indicação sobre presença ou ausência dos atributos funcionais
levantados. Legenda: Base de dados RJ: "Sim" - ocorre na base de dados do RJ; "Não" -
não ocorre na base de dados; "*" - ocorre na base de dados da Mata Atlântica do Brasil,
mas não tem ocorrência no RJ. Atributos: "x" – possui o atributo funcional; "-" - Não
possui o atributo funcional. .............................................................................................. 30
Figura 6. Exemplo de matriz construída em planilha eletrônica com informações
sobre o cumprimento das recomendações dadas pela nº04/2011 (IBAMA, 2011) e
Resolução INEA nº 36/2011 (INEA, 2011) na elaboração das listas de espécies sugeridas
nos Projetos de Restauração de Áreas Degradadas - PRAD apresentados a GESEF/INEA.
Também é indicado o número de espécies e de famílias por PRAD, e o número de espécies
que estão incluídas na base de dados apresentada no presente trabalho. ............................ 32
Figura 7. Resultado quantitativo das espécies que compõem a base de dados de
espécies lenhosas com potencial de uso em restauração ecológica, ocorrentes na Mata
Atlântica do Rio de Janeiro. Os números em parênteses indicam a quantidade de espécies
total encontradas para os atributos. Os números dentro do círculo, fora das interseções,
indicam as espécies encontradas especificamente para cada atributo e os incluídos nas
interseções são as de múltiplo uso e seus atributos concomitantes respectivos. ................. 33
Figura 8. Frequência com que as espécies foram sugeridas nos PRAD analisados. O
número de citações varia entre 1 e 42. .............................................................................. 52
xi
Figura 9. Número de espécies elencadas por PRAD, categorizadas a partir de
intervalos de dezenas de unidades. ................................................................................... 53
Figura 10. Porcentagem de espécies sugeridas por PRAD que constam na base de
dados de espécies florestais com potencial para Restauração Florestal da Mata Atlântica do
Rio de Janeiro. No eixo “x” cada número corresponde identificação do PRAD no presente
trabalho. ........................................................................................................................... 56
Figura 11. Porcentagem de espécies sugeridas por PRAD com cada um dos três
atributos levantados pela base de dados de espécies florestais com potencial para
Restauração Florestal da Mata Atlântica do Rio de Janeiro. No eixo “x” cada número
corresponde à identificação do PRAD no presente trabalho. No eixo “y”, as porcentagens
de espécies com cada atributo em relação ao número de espécies sugeridas no PRAD
referente. Legenda: “FBN” – fixação biológica de nitrogênio; “Atrativas” – atratividade à
fauna silvestre; “PFM e PFNM” – produtos florestais madeireiros e não-madeireiros. ...... 62
Figura 12. Porcentagem de espécies da flora regional que foram sugeridas nos
PRAD, quando a lista florística da região de plantio foi enviada. ...................................... 71
Figura 13. Quantidade de espécies plantadas, indicadas em relatórios de
implantação, que já haviam sido sugeridas nos PRAD referentes. ..................................... 72
xii
LISTA DE TABELAS
Tabela 1. Bibliografia utilizada para o levantamento das espécies lenhosas da Mata
Atlântica do Rio de Janeiro atrativas à fauna .................................................................... 25
Tabela 2. Bibliografia utilizada para o levantamento das espécies lenhosas da Mata
Atlântica do Rio de Janeiro com potencial de uso madeireiro e não madeireiro ................ 27
Tabela 3. Resultado quantitativo das espécies leguminosas lenhosas fixadoras de
nitrogênio de ocorrência na Mata Atlântica do estado do Rio de Janeiro ........................... 34
Tabela 4. Gêneros de espécies lenhosas que ocorrem na Mata Atlântica do Brasil,
com registro de nodulação por bactérias fixadoras de nitrogênio, organizados por
Subfamília (SF) e por Grupo de nodulação (+) ou (+/). Legenda: SF: C – Caesalpinoideae;
M - Mimosoidae; P - Papilionoidae; Grupos de nodulação: (+), quando todas as espécies
estudadas quanto a nodulação no gênero estudadas possuem resultado positivo de FBN, e
(+/-), gêneros que apresentam espécies com registro positivo e espécies com registro
negativo para nodulação ................................................................................................... 35
Tabela 5. Famílias de espécies vegetais lenhosas ocorrentes na Mata Atlântica do
estado do Rio de Janeiro atrativas à fauna silvestre e classe de fauna que atraem .............. 37
Tabela 6. Produtos florestais madeireiros e não madeireiros e características do uso
por categoria citados para espécies florestais de ocorrência na Mata Atlântica do Rio de
Janeiro ............................................................................................................................. 41
Tabela 7. Identificação dos Projetos de Restauração de Áreas Degradadas (PRAD)
enviados à GESEF/INEA por empresas e pessoas físicas para adequação ambiental. Os
PRAD foram identificados por números de acordo com a ordem de análise. Legenda:
Assunto: “RL” - Reserva Legal; “LA” - Licenciamento Ambiental ................................... 44
Tabela 8. Análise qualitativa dos PRAD analisados de acordo com as indicações
feitas pela Instrução Normativa IBAMA nº04/2011 (IBAMA, 2011) e Resolução INEA
nº36/2011 (INEA, 2011) para construção de listas de espécies sugeridas para o plantio nos
PRAD. Legenda: Os PRAD em destaque e com número de identificação em negrito
correspondem aos enviados após junho de 2011 ............................................................... 50
Tabela 9. Resultado quantitativo, por PRAD, do número de espécies sugeridas e de
famílias a que pertencem, além do número das espécies incluídas na base de dados
construída neste trabalho. Legenda: “n” – número de espécies; “FBN” - Fixação Biológica
de Nitrogênio; “Atrativas” - atratividade à fauna silvestre; “PFM e PFNM” - potencial para
uso de produtos florestais madeireiros e não madeireiros ................................................. 54
xiii
Tabela 10. Espécies citadas em mais de 30% dos PRAD analisados. Legenda: FBN
– Fixação Biológica de Nitrogênio; Fauna – atratividade à fauna silvestre; PFM e PFNM –
Produtos Florestais Madeireiros e Não Madeireiros; Base de dados – RJ?: “Sim” –
Presente na base de dados para o RJ, “*” – Presente na base de dados para a Mata
Atlântica, mas sem ocorrência no RJ, “Não*” - Não está na base de dados, mas tem
ocorrência no RJ.; Atributos: “x” – Presença, “-“ – Ausência ........................................... 57
Tabela 11. Espécies citadas pelos PRAD apresentados a GESEF/INEA que
possuem os três atributos funcionais (fixação biológica de nitrogênio, Atratividade a fauna
e potencial de uso econômico) levantados pela base de dados de espécies florestais
potenciais para uso em restauração ecológica da Mata Atlântica apresentada no presente
trabalho ............................................................................................................................ 63
Tabela 12. Espécies comumente citadas em mais de 30% dos PRAD e em mais de
30% dos Relatórios de Plantio analisados ......................................................................... 74
1 INTRODUÇÃO
A prática da restauração ecológica tem sido cada vez mais empregada no Brasil em
função da crescente demanda pela regularização ambiental de atividades produtivas, como
forma de mitigar e compensar impactos ambientais (ARONSON et al., 2011). É uma
ferramenta para reverter processos de degradação, potencializando a conservação da
biodiversidade e a geração de serviços e bens ecossistêmicos (ARONSON et al., 2011;
BRANCALION et al., 2010). Essa prática é apoiada na Ecologia da Restauração, uma
nova área emergente na ciência que traz todo o arcabouço teórico para realização das ações
(SER, 2004).
A Mata Atlântica é um dos biomas mais ameaçados do Brasil, com grande demanda
por restauração de seus ecossistemas. Este bioma é caracterizado pela alta diversidade de
espécies e alto grau de endemismo. Graças a essa característica e por estar em “status de
ameaçada”, com cerca de apenas 7% de sua área original remanescente, é considerada um
dos 25 hotspots mundiais (TABARELLI et al., 2005). Nos últimos séculos esse bioma tem
sido reduzido a fragmentos florestais, entre os quais mais de 80% possuem áreas menores
que 50 hectares (RIBEIRO et al., 2009). Isso se deve à sobrexploração de recursos
florestais e à exploração de terras para atividades agropecuárias (TABARELLI et al.,
2005), além de expansão urbana e industrial.
Nesse contexto, pode-se dizer que a necessidade de recuperação das características
naturais de estrutura e funcionamento dos ecossistemas degradados é a principal
importância da restauração ecológica (OLIVEIRA, 2011). De forma geral, as iniciativas de
restauração na Mata Atlântica têm como objetivo a adequação legal de propriedades e
empreendimentos, o restabelecimento de bens e serviços gerados pelo ecossistema e/ou a
conservação de espécies nativas (BRANCALION et al., 2010).
As demandas atuais mais comuns de restauração ecológica no que diz respeito ao
comprimento da legislação por empreendimentos e propriedades rurais vêm da (i)
reposição ou compensação ambiental tidas como condicionantes para Autorização de
Supressão da Vegetação (ASV) (BRASIL, 2012), (ii) mitigação de impactos ambientais,
como ações que visam a minimização de impactos inevitáveis de um empreendimento, na
forma de reposição ou compensação florestal, exigidas pelos órgãos ambientais para
concessão de licença ambiental (ARONSON et al., 2011), (iii) reparação de danos
ambientais decorrentes de infrações como desmatamentos e queimadas sem autorização
pelos órgãos competentes (BRASIL, 2012) e (v) recomposição de áreas de preservação
2
permanente e de áreas de reserva legal, como parte do processo de regularização ambiental de
propriedades rurais (BRASIL, 2012).
Assim, para os requerentes dessas adequações legais é exigida a apresentação de
um Projeto de Recuperação de Áreas Degradadas (PRAD) ao órgão ambiental competente,
com o propósito de apresentar as medidas propostas para as áreas em que se fazem
necessárias ações de restauração ecológica (INEA, 2011). No âmbito federal, o
instrumento legal que norteia a elaboração desses PRAD é a Instrução normativa nº04, de
13 de abril de 2011 (IBAMA, 2011) e no âmbito estadual, para o Rio de Janeiro, há a
Resolução INEA nº 36, de 08 de julho de 2011 (INEA, 2011).
O termo ‘recuperação de áreas degradadas’ é indistintamente utilizado no Brasil
como referência a diversas técnicas que visam reverter a situação de um ecossistema
degradado a um estado desejável (ARONSON et al., 2011). Já o termo restauração de
áreas degradadas (ou restauração ecológica) é referente às ações que visam assistir e
mediar à recuperação da funcionalidade, estabilidade e integridade biológicas do
ecossistema degradado no longo prazo (ENGEL & PARROTA, 2003). Considerando que a
sociedade, o Estado e os órgãos ambientais provavelemente esperam de um Projeto de
Recuperação de Áreas Degradadas que o ecossistema seja funcionalmente restaurado e se
autosustente no longo prazo, os projetos denominados como de recuperação de áreas
degradadas, no presente trabalho, serão tratados como projetos de restauração ecológica.
Para aumentar a possibilidade de que os objetivos da restauração sejam alcançados
é importante um bom planejamento. Dentro desse planejamento deve-se dar atenção à
escolha das espécies a serem introduzidas, que devem ser relacionadas tanto ao histórico e
ambiente local quanto aos respectivos atributos e funções que cumprem em um
ecossistema, características importantes para o restabelecimento da estabilidade da
comunidade, que é um dos objetivos centrais da restauração ecológica (ENGEL &
PARROTA, 2003; SER, 2004).
Em contrapartida, MELO & DURIGAN (2007) notaram que não há atenção dada a
escolha das espécies em ações para recomposição florestal atuais, e afirmam haver uma
tendência na preocupação apenas com a recuperação de aspectos funcionais pontuais no
ecossistema como proteção contra erosão e manutenção da vazão de água, no caso de
matas ciliares, deixando a desejar no que diz respeito a conservação da diversidade
biológica
A teoria Biodiversidade no Funcionamento do Ecossistema (BEF) foca na relação
diversidade-estabilidade dos ecossistemas, sendo uma das premissas a de que a diversidade
3
funcional é mais importante que a diversidade taxonômica na construção de um projeto de
restauração (ENGEL, 2011). Assim, o conhecimento dos atributos funcionais das espécies
florestais é essencial para nortear as ações de restauração, tornando-se necessária a
sistematização dessas informações para auxiliar na elaboração de projetos de restauração
ecológica, assim como na verificação, por analistas de órgãos ambientais, das espécies
incluídas nesses projetos.
4
2 OBJETIVOS
O presente trabalho tem como objetivo geral a elaboração de uma base de dados de
espécies lenhosas potenciais para restauração ecológica da Mata Atlântica do estado do Rio
de Janeiro e o seu uso na avaliação de listas de espécies sugeridas em projetos de
restauração ecológica no estado.
Os objetivos específicos deste estudo são:
- Elaborar uma base de dados de espécies lenhosas da Mata Atlântica com potencial
de uso em restauração florestal, para o estado do Rio de Janeiro, com base em três atributos
funcionais: (i) potencial para fixação biológica de nitrogênio atmosférico; (ii) atratividade
de fauna silvestre; e (iii) oferta de produtos florestais madeireiros e não madeireiros.
- Avaliar listas de espécies florestais nativas incluídas em Projetos de Restauração
de Áreas Degradadas (PRAD) analisados pelo Instituto Estadual do Ambiente (INEA),
como sendo representativas das ações de retauração voltadas para adequação legal
ambiental no estado do Rio de Janeiro. A avaliação inclui os seguintes aspectos: (i) se as
indicações dadas por instrumentos legais para a elaboração das listas de espécies incluídas
nos PRAD estão sendo seguidas; (ii) a quantidade de espécies utilizadas e se atende a
riqueza desejada nos projetos de restauração; (iii) quais as espécies comumente utilizadas
nas ações de restauração no estado do Rio de Janeiro; (iv) se a base de dados auxilia na
avaliação das listas de espécies incluídas nos PRAD, como forma de subsidiar a utilização
da mesma para elaboração de projetos de restauração ecológica, assim como a análise
desses projetos por analistas ambientais.
5
3 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA
3.1 RESTAURAÇÃO ECOLÓGICA
3.1.1 O que é a Restauração Ecológica?
Para iniciar uma discussão acerca da Restauração Ecológica deve-se primeiro
conceituá-la e diferi-la de outros conceitos similares. O termo restauração vem do seu
equivalente em inglês “restoration”, que significa retorno ao estado original do
ecossistema, algo que remete a um objetivo praticamente impossível de ser alcançado já
que dificilmente se conhece as condições originais de um ecossistema e tendo em vista que
a sucessão secundária pode tomar caminhos alternativos àqueles esperados (ENGEL &
PARROTA, 2003).
O conceito de restauração evoluiu nas últimas décadas e atualmente considera que
não se deve retornar exatamente às condições históricas naturais (SER, 2004), mas assistir
e mediar à recuperação da funcionalidade, estabilidade e integridade biológicas desse
ecossistema no longo prazo, tendo como referência, se possível, as características
históricas do mesmo e/ou estudos de ecossistemas comparáveis (ENGEL & PARROTA,
2003; SER, 2004). Assim, pode-se dizer que a restauração de um ecossistema não consiste
em promover uma cópia exata de um modelo histórico, mas no direcionamento de
processos naturais que culminem na funcionalidade sustentável do ecossistema tal como
era naturalmente e anteriormente à degradação (ENGEL & PARROTA, 2003).
A Sociedade Internacional para a Restauração Ecológica - SER define Restauração
Ecológica como processo e prática de auxiliar a recuperação de um ecossistema que foi
degradado, danificado ou destruído (SER, 2004). É uma atividade proposital que inicia
e/ou acelera a recuperação de um ecossistema degradado visando a sua estabilidade e
sustentabilidade (SER, 2004). Nesse contexto, é importante mencionar o conceito de
ambiente degradado, que é a simplificação ou modificação do ecossistema devido causas
naturais ou antrópicas, diminuindo a resiliência ambiental do mesmo até um ponto em que
o ecossistema não pode retornar à sua função inicial naturalmente (ARONSON et al.,
2011).
OLIVEIRA (2011) inclui na definição de Restauração Ecológica todo o conjunto de
práticas que compõem o campo da restauração. Nessa definição estão inclusos desde a base
científica da Ecologia da Restauração, que é uma subárea da Ecologia e é o arcabouço
teórico sobre o qual a prática da Restauração Ecológica se apoia (SER, 2004) (Figura 1),
6
até todo o arcabouço político, tecnológico, econômico, social e cultural do envolvimento
humano.
Figura 1. Relação entre os conceitos de Ecologia, Ecologia da Restauração e Restauração
Ecológica, modificado de PALMER et al. (2006).
O termo ‘recuperação de áreas degradadas’, amplamente difundido no Brasil
(ARONSON et al., 2011), pode ser confundido com o conceito da ‘restauração ecológica’.
A recuperação de áreas degradadas pode ser considerada como o restabelecimento de
funções pontuais dentro de um ecossistema (ARONSON et al., 2011), e não da sua
funcionalidade como um todo. Como exemplos de objetivos da recuperação têm-se a
estabilização e recuperação das condições do solo, controle da poluição e reativação de
nascentes (ENGEL & PARROTA, 2003).
Para atingir os diferentes objetivos da recuperação de áreas degradadas também são
usadas espécies arbóreas e arbustivas (MORAES et al., 2010), porém sem a preocupação
de uma diversidade funcional do ecossistema. Essa diferença não impede que a
recuperação seja aliada ao processo de restauração. A recuperação de áreas degradadas
pode ser uma primeira etapa para atingir o objetivo final da restauração ecológica, desde
que outras preocupações como diversidade e composição de espécies relacionadas à
funcionalidade e estabilidade do ecossistema sejam incorporadas ao projeto (ENGEL &
PARROTA, 2003).
7
Assim, como apresentado pela SER (2004), um ecossistema considerado restaurado
é aquele que retomou sua resiliência e sustentabilidade. Como base para determinação se
houve sucesso na restauração ecológica, SER (2004) utiliza os nove atributos listados
abaixo:
1) Deve conter um conjunto de espécies características de
ecossistemas de referência que possibilitem uma estrutura
apropriada de comunidade;
2) Deve consistir, em sua maior parte, de espécies nativas. Em
ecossistemas culturais restaurados, podem ser permitidas espécies
exóticas domesticadas e de espécies ruderais não invasoras (aquelas
que colonizam sítios perturbados), porém em número pequeno;
3) Devem estar representados todos grupos funcionais necessários
para o desenvolvimento e estabilidade do ecossistema restaurado.
Se algum estiver ausente, deve ter o potencial de colonização por
meios naturais;
4) O ambiente físico do ecossistema restaurado deve ser capaz de
sustentar populações reprodutivas suficientes de espécies que
contribuam para sua estabilidade ao longo prazo;
5) O ecossistema restaurado deve funcionar normalmente para o
estágio ecológico de desenvolvimento em que se encontra, sem
sinais de disfunção;
6) Deve estar adequadamente integrado com sua paisagem ou matriz
ecológica através de fluxos bióticos e abióticos;
7) Não deve haver ameaças potenciais à establidade do ecossistema
oriundas da paisagem circundante;
8) Deve ser resiliente para suportar eventos estressantes periódicos no
ambiente local de caráter natural;
9) Deve se autosustentar no mesmo grau que seu ecossistema de
referência e tem o potencial de persistir indefinidamente sob
condições ambientais adversas
8
3.1.2 Breve histórico: avanços e desafios
Até onde há registros, a preocupação com a restauração de ecossistemas, mesmo
que sem um conceito e embasamento científico formado, começou no final do século XIX,
com a conhecida iniciativa de recuperação da Floresta da Tijuca, em 1862 (DURIGAN &
ENGEL, 2012; ENGEL & PARROTA, 2003; RODRIGUES et al., 2009). Desde então,
inúmeras áreas tem sido plantadas com enfoques principais diferentes, mas com objetivo
final semelhante: o de restaurar ecossistemas em estado de degradação.
RODRIGUES et al. (2009) citam plantios com finalidade para restauração
ocorridos na década de 1950. Em 1954 ocorreu a recomposição de parte da floresta no
Parque Nacional de Itatiaia, privilegiando espécies com crescimento rápido. Um ano
depois, trabalho semelhante ocorreu no município de Cosmópolis, onde 71 espécies
lenhosas foram plantadas na recuperação de mata ciliar, mas ainda sem planejamento da
estrutura do plantio.
Mas, foi a partir da década de 1980, que a chamada Ecologia da Restauração se
desenvolveu como ciência e teve seu termo definido com mais clareza (DURIGAN &
ENGEL, 2012; ENGEL & PARROTA, 2003). No início dos anos 80 ainda existia pouco
conhecimento sobre os processos ecológicos que mantêm a dinâmica de florestas nativas e
como aplicar esse conhecimento nas ações de restauração florestal (RODRIGUES et al.,
2009). Até esse momento ainda havia uma visão mais simplificada do processo de
restauração ecológica, sem critérios para a escolha das espécies e sem planejamento para o
desenho estrutural do plantio (RODRIGUES et al., 2009).
Nessas últimas décadas ocorreram mudanças na maneira de planejar a restauração
ecológica no Brasil. Dentro da ecologia vegetal, alguns conceitos e fundamentos que antes
não eram visados nos projetos de restauração, hoje são cada vez mais importantes e
passaram a ser o foco da restauração ecológica de ecossistemas (MARTINS et al., 2012).
Dos resultados e estudos dos plantios visando à restauração, muitos produtos técnico-
científicos como livros, manuais técnicos, estudos científicos e normas técnicas vem sendo
formulados como forma de suprir as grandes demandas de reparação de áreas intensamente
impactadas por atividades antrópicas (DURIGAN & ENGEL, 2012), a exemplo da
mineração, agropecuária intensiva e hidrelétricas que pressionam áreas ripárias.
O conhecimento acerca da Restauração Ecológica certamente aumentou desde seu
pioneirismo, mas ainda é parcial e não foi totalmente incorporado à prática, tendo em
consideração que essa é uma ciência relativamente nova. Há conquistas com relação à:
9
biogeografia das espécies; produção de mudas de árvores nativas; manejo da sucessão
ecológica; técnicas para promover a regeneração natural; controle de espécies invasoras;
atração de fauna como estratégia de aumentar a diversidade; redução dos custos com o
plantio e manejo; normas legais e fiscalização ambiental (ainda que careçam de critérios
mais claros e objetivos); percepção social da importância do tema; ao aumento do
contingente de profissionais capacitados e à extensão de áreas restauradas (DURIGAN &
ENGEL, 2012).
Deve-se aumentar o embasamento científico e a inclusão de questões
socioeconômicas no debate da restauração. Dentre os entraves a serem solucionados está o
reconhecimento e superação dos filtros ecológicos e a compreensão da estruturação de
comunidades. Descobrir indicadores eficientes que retratem o sucesso do plantio e
formular técnicas de manejo adaptativo do ecossistema ao longo do processo de
restauração também são ações futuras essenciais. Ainda há carência de respostas sobre
questões relacionadas à relação entre a área a ser restaurada, sua resiliência e a paisagem
do entorno, principalmente em como favorecer fluxos desejáveis como chegada de novas
espécies nativas, e minimizar os indesejáveis como invasão de espécies prejudiciais.
(DURIGAN & ENGEL, 2012).
3.1.3 Como nortear as ações de restauração?
Sabe-se que o objetivo principal de todas as ações de restauração deve ser retomar a
funcionalidade, estabilidade e integridade de um ecossistema degradado levando em
consideração seu estado anterior à degradação ou considerando características de
ecossistemas comparáveis, no entanto, é muito importante concentrar nas características
desejadas no futuro. A forma de atingir esse objetivo e seu sucesso depende das ações a
serem tomadas em consideração às características intrínsecas e particulares de cada área a
ser restaurada (MARTINS et al., 2012).
Para o planejamento das ações devem ser levadas em consideração questões
relacionadas à escala no tempo e no espaço. Com relação à escala no espaço, o ideal é que
a área direcionada para um projeto de restauração seja grande o bastante para diminuir
efeitos de borda e para que vários efeitos possam ser mensurados no mesmo momento. No
mesmo contexto, a área deve ter o tamanho ideal aos recursos disponíveis para seu
financiamento e às possíveis necessidades de intervenção no caso de controle de distúrbios
(ENGEL & PARROTA, 2003). Com relação à escala temporal, sabe-se que as respostas
10
virão em tempos distintos: no curto prazo deve-se pensar em alguns serviços do
ecossistema; em médio prazo na sua complexidade estrutural; e em longo prazo na sua
sustentabilidade. Portanto, um projeto de restauração deve sempre ser projetado em uma
longa escala temporal (ENGEL & PARROTA, 2003).
Ao iniciar um projeto de restauração deve-se levar em conta o diagnóstico
ambiental da área a ser restaurada, buscando o maior nível de conhecimento possível sobre
seu uso atual, histórico de degradação e características do ecossistema original (MORAES et al.,
2010). As diferentes técnicas possíveis de serem adotadas dependem em grande parte desse
diagnóstico, e segundo MARTINS et al. (2012) devem ser norteadas por algumas diretrizes
principais:
Respeitar a diversidade natural dos ecossistemas: O planejamento das ações de
restauração deve ser baseado na diversidade natural do tipo de ecossistema em questão. A
alta diversidade de espécies arbustivas e arbóreas é uma característica típica de florestas
tropicais em geral, mas em formações florestais paludosas, inundáveis, manguezais,
restinga, entre outras, a diversidade é menor por serem ambientes com condições seletivas.
Considerar a matriz em que a área a ser restaurada está inserida: Considerar
aspectos como tipo de matriz predominante na paisagem, conectividade de fragmentos e
estado de conservação são algumas questões importantes a serem observadas. Esse aspecto
leva ao consenso sobre a necessidade ou não de introdução de alta diversidade no local.
Por exemplo, uma matriz caracterizada por culturas agrícolas e com fragmentos muito
isolados ou ausentes requer uma restauração com alta diversidade e manutenção, mas uma
área degradada inserida em uma matriz florestal com remanescentes naturais próximos e
relativamente bem conservados, requer menor diversidade e menor preocupação com
manutenção.
Considerar também outras formas de vida: Ao contrário do que ocorre em
grande parte dos projetos de restauração, não se deve pensar apenas nas espécies arbóreas,
por mais importantes que sejam para atingir uma cobertura vegetal rapidamente. Outras
formas de vida, principalmente em paisagens muito antropizadas, devem ser incluídas no
sistema para ocupar o nicho sub-bosque. Assim, deve-se aumentar a diversidade total da
floresta, tornando-a mais atrativa à fauna silvestre e resistente à invasão de espécies
exóticas.
Promover a sucessão ecológica por meio de técnicas de nucleação: A nucleação
é entendida como uma forma de facilitar a sucessão por uma espécie ou grupo de espécies
que conseguem melhorar alguma(s) condição(s) do ambiente favorecendo o
11
estabelecimento de espécies mais exigentes. As espécies nucleadoras são chamadas
facilitadoras e iniciam esse processo graças a interações interespecíficas e com o meio
físico, a exemplo de leguminosas fixadoras de nitrogênio, de espécies com alta capacidade
de cobertura do solo exposto (melhorando as condições de germinação de espécies mais
tardias), e de espécies atrativas à fauna silvestre tanto por seus frutos atrativos, quanto por
fornecer abrigo ou ter forma de poleiro. São várias técnicas de nucleação que podem ser
usadas, destacando-se a transposição do banco de sementes (considerada uma das mais
viáveis), transposição de galhadas e outros restos vegetais, instalação de poleiros naturais
e/ou artificiais, semeadura direta e plantio de mudas em ilhas de alta diversidade.
3.1.4 O papel da diversidade funcional na restauração
A característica mais evidente nos ecossistemas tropicais em geral é a diversidade
biológica (COUTO & BARBOSA, 2011). Se a restauração ecológica visa a assemelhar um
ecossistema por ora degradado ao estágio pré-perturbatório (COUTO & BARBOSA,
2011), é de se esperar que haja uma preocupação especial com o grau de diversidade a ser
introduzida ou obtida através de estímulos à regeneração natural (MARTINS et al., 2012).
Porém, essa questão vai além da avaliação do grau natural de diversidade dos ecossistemas
tropicais, já que a maior preocupação da restauração ecológica é retomar a funcionalidade
e estabilidade do ecossistema e não somente incluir um grande número de espécies em uma
área.
Dessa forma, deve-se pensar como a biodiversidade afeta a funcionalidade de um
ecossistema, linha de pensamento que desencadeia na abordagem BEF (Biodiversidade no
Funcionamento do Ecossistema). Essa abordagem foca na relação diversidade-estabilidade
dos ecossistemas (ENGEL, 2011), onde a diversidade funcional, e não o número de
espécies, é que determina a estabilidade do ecossistema do ponto de vista funcional
(ARONSON et al., 2011). Dentro do estudo da Ecologia da Restauração, esse debate tenta
levar à quantidade de espécies necessárias para que se atinja um ecossistema estável e
funcional (DURIGAN & ENGEL, 2012). Diferente da abordagem da ecologia clássica,
onde a biodiversidade é causa do meio biótico e seu funcionamento, na teoria BEF a
funcionalidade do ecossistema é produto da biodiversidade, passível de ser limitada pelo
meio físico (ENGEL, 2011).
Nessa abordagem, em que são enfatizadas as características funcionais das espécies,
as interações entre as mesmas e o papel regulador dessas na funcionalidade ecossistêmica,
12
a diversidade funcional é mais importante do que a diversidade taxonômica. Segundo
ENGEL (2011), a funcionalidade do ecossistema pode aumentar, diminuir ou não
modificar com o aumento da riqueza de espécies. Contudo, na maioria dos estudos há a
indicação de que quanto maior o número de espécies, maior a capacidade do ecossistema
de prover serviços ambientais. Além disso, devem ser levados em consideração aspectos
como as abundâncias das espécies, a redundância ecológica e a complementaridade das
espécies.
O mínimo funcionamento de um ecossistema pode ser atingido com um menor
número de espécies, porém uma riqueza maior deve ser requerida para um funcionamento
à longo prazo (DURIGAN & ENGEL, 2012). O conhecimento das características
funcionais dessas espécies é essencial para garantir os objetivos centrais da restauração de
uma área degradada: autossustentabilidade e estabilidade da comunidade (ENGEL &
PARROTA, 2003). Entretanto MELO & DURIGAN (2007) afirmam que nas ações de
recomposição florestal atuais não tem havido uma tendência em escolher as espécies
visando à conservação da biodiversidade, mas sim uma maior preocupação na recuperação
de aspectos pontuais no ecossistema, como o controle da erosão. Dessa forma, é necessário
que, a partir do conhecimento das espécies e seus respectivos atributos, seja sistematizado
um conjunto de espécies que desempenhem funções complementares ao funcionamento
total do ecossistema.
3.1.5 A escolha das espécies a partir de seus atributos funcionais
Baseado em uma das principais premissas da teoria BEF, em que a diversidade
funcional é mais importante que a diversidade taxonômica na construção de um projeto de
restauração, é importante entender alguns dos principais atributos específicos a serem
abordados. No presente trabalho serão discutidos e avaliados principalmente três atributos
funcionais: a fixação biológica de nitrogênio, a atratividade à fauna silvestre e a capacidade
de prover produtos de uso madeireiro e não madeireiro. Atributos que provêm serviços
ambientais, como capacidade de sombreamento e de aporte de matéria orgânica e a
identificação de características gerais das espécies também são importantes na elaboração
de um projeto com essa finalidade.
Fixação Biológica de Nitrogênio
Um atributo essencial na recuperação das condições do solo é a Fixação Biológica
de Nitrogênio (FBN), especialmente em ambientes tropicais, onde a disponibilidade desse
13
nutriente é muito baixa (CHADA et al., 2004). Grande parte das espécies do grupo das
leguminosas (Fabaceae) possui a capacidade de se associar a bactérias diazotróficas
fixadoras de nitrogênio atmosférico que permitem que o nitrogênio atmosférico seja
disponibilizado na forma assimilável às mesmas (FARIA & FRANCO, 2002). O
crescimento das plantas, a composição de comunidades e a produtividade do ecossistema
estão relacionados com o nível desse nutriente no solo (VITOUSEK & FIELD, 1999).
Parte do nitrogênio assimilado a partir dessa associação simbiótica é incorporado na
matéria orgânica do solo através da ciclagem dos nutrientes contidos na serrapilheira com
baixa relação C/N produzida por essas leguminosas (KNOPS et al., 2002). A incorporação
de N por essa matéria orgânica, juntamente com o crescimento das raízes, que aumenta a
atividade biológica do solo, contribuem para a sua recuperação e criam boas condições
para o estabelecimento e crescimento de espécies vegetais mais exigentes (FRANCO et al.,
1992).
Complementarmente, a associação com bactérias concomitante à presença de
fungos micorrízicos facilita a obtenção de fósforo por essas plantas, tornando-as
praticamente autossuficientes nesses nutrientes, o que aumenta a possibilidade de
colonização eficiente dessas leguminosas (FARIA & LIMA, 2002). Além de ser uma
alternativa economicamente viável à adubação química, há que se considerar outros
produtos com potencial econômico associados a várias leguminosas arbóreas, como
madeira, lenha e alimentos (FARIA & UCHÔAS, 2007), o que agrega outro valor à sua
utilização em projetos de restauração e agroflorestas.
Atratividade à fauna silvestre
Os animais são os principais agentes transportadores durante as duas fases
reprodutivas das angiospermas (SILVA, 2003): na floração exercem o papel de
polinizadores, e na frutificação são dispersores de sementes para cerca de 50 a 90 % das
espécies florestais tropicais (HOWE & SMALLWOOD, 1982). A vegetação, em
contrapartida, fornece alimento à fauna silvestre através de interações como polinização
(principalmente o néctar), herbivoria (caules e folhas) e dispersão (frutos e sementes), além
de propiciar aos animais abrigo e moradia em galhos e troncos, por exemplo.
A dispersão pode ocorrer através de diferentes agentes transportadores, que
conferem ao vegetal as chamadas síndromes de dispersão, sendo a espécie considerada
zoocórica quando suas sementes são dispersas por animais (ARGEL-DE-OLIVEIRA,
1998). A dispersão zoocórica é dada por animais frugívoros, que se alimentam dos frutos
14
sem destruir as sementes, e os principais animais considerados agentes transportadores de
sementes são os vertebrados, com destaque para aves e morcegos, mas também incluindo
outros mamíferos, répteis e peixeis (ARGEL-DE-OLIVEIRA, 1998). Há destaque também
para o papel da mirmecoria (dispersão por formigas) na dispersão de sementes em florestas
tropicais. Nesse contexto, ARGEL-DE-OLIVEIRA (1998) faz um elo entre características
do fruto e/ou semente e a tendência a determinado grupo de fauna ser o dispersor.
A dispersão de sementes representa o elo entre a última fase reprodutiva vegetal
com a primeira fase do recrutamento e estabelecimento da população (BARBOSA, 2006),
e é considerada um processo demográfico chave (JORDANO et al., 2006) que favorece o
aumento da resiliência ambiental da área (REIS et al., 1999), e garante uma maior auto
sustentabilidade do plantio com finalidade para restauração. Quando realizada por animais,
a chegada de outras espécies vegetais trazidas de fragmentos próximos ao plantio é
favorecida, o que permite o recrutamento das espécies ali presentes e facilita o processo de
regeneração natural. A polinização por animais também é um processo demográfico
importante para o aumento da resiliência ambiental, pois garante o fluxo gênico e a
produção de sementes de qualidade (BARBOSA & PIZO, 2006).
A importância da inclusão de espécies atrativas à fauna silvestre nos plantios com
finalidade para restauração ecológica é destacada em instrumentos legais como Instrução
Normativa IBAMA nº04/2011 (IBAMA, 2011) e pela Resolução SMA-SP nº08/2008
(SÃO PAULO, 2008). REIS et al. (2006) afirmam que quanto maior o número de espécies
em uma comunidade com capacidade de atrair fauna silvestre, maior a chance de rapidez
do processo de restauração. BARBOSA (2006) destaca a influência da proximidade do
plantio com finalidade para restauração de outros fragmentos florestais para as interações
entre plantas e animais. Destaca-se também a importância em garantir a disponibilidade de
frutos atrativos para a fauna silvestre ao longo de todo o ano, que pode ser dada através do
estudo prévio da fenologia reprodutiva das espécies atrativas a serem inseridas no projeto
(REIS et al., 1999). Essa preocupação possibilita que a interação fauna-vegetal se
mantenha no longo prazo (REIS et al., 1999), favorecendo a autossustentabilidade do
plantio com finalidade para restauração.
Produtos florestais madeireiros e não madeireiros
De forma a aliar a questão ambiental à socioeconômica, podemos incluir os
produtos florestais como um atributo importante na seleção de espécies lenhosas para
serem utilizadas em plantios de restauração. Agregar valor econômico a uma floresta em
15
pé significa incentivar, por exemplo, agricultores familiares a recomporem áreas de reserva
legal sem entender isso como um empecilho à economia familiar. Além disso, esses
produtos podem servir não só para o comércio e geração de renda, mas também para a
subsistência de sua família (SANTOS et al., 2003) , diminuindo a dependência de produtos
externos. É importante lembrar que utilizar produtos florestais das espécies lenhosas não
significa desbastar uma área (principalmente para os produtos florestais madeireiros), mas
sim utilizar técnicas corretas desde a implantação e cultivo ao manejo, aumentando
também a capacidade produtiva do terreno.
A classificação exata de produtos florestais madeireiros e não madeireiros é incerta
atualmente, isso porque autores consideram diferentes recursos para cada categoria.
SANTOS et al. (2003), faz uma síntese de diferentes conceitos e classificações existentes
para produtos florestais não madeireiros. A exemplo da consideração de CARVALHAES
et al. (2008), os produtos florestais não madeireiros (PFNM) são: paisagístico, artesanato,
medicinal, cosmético ou farmacêutico, alimentos, corantes, mudas e sementes, óleos,
fibras, produtos químicos, melíferas e movelaria; e os produtos florestais madeireiros
(PFM): madeira para estrutura, energia, movelaria, artesanato, produção de pequenos
objetos, instrumentos musicais, caixotaria, tornearia e construção naval.
3.1.6 Avaliação e monitoramento de áreas restauradas
Os termos avaliação e monitoramento têm conceitos diferentes, mesmo que às
vezes sejam confundidos (SILVEIRA, 2012). No contexto da restauração ecológica, a
avaliação basicamente visa definir se o projeto técnico alcançou os objetivos inicialmente
propostos (BRANCALION et al., 2012), enquanto que o monitoramento visa descrever o
estado atual ou a variação temporal dos estados das áreas em restauração (BRANCALION,
2012; SILVEIRA, 2012).
O monitoramento auxilia na avaliação do desenvolimento da área em restauração,
na identificação de perturbações e do manejo necessário a amenização das mesmas e na
verificação da eficiência das espécies e técnicas utilizadas, sendo essencial para aumentar o
conhecimento sobre comunidades em restauração (SCHIEVENIN et al., 2007). Para
MELO et al. (2007), a importância no monitoramento da qualidade ambiental de áreas em
restauração está na avaliação da efetividade dos esforços aplicados nas ações.
Para um monitoramento eficaz é importante que sejam escolhidos bons indicadores
ecológicos, que são parâmetros avaliadores de atributos ou processos (MORAES et al.,
16
2010). Ainda há um gargalo na ciência florestal com relação ao desenvolvimento de
indicadores, já que sua fundamentação teórica tem sido bem estabelecida, mas ainda não
há testes e estudos suficientes que os validem (MELO et al., 2007). MORAES et al. (2010)
sugerem que os indicadores devem consistir principalmente das seguintes atribuições dos
ecossistemas em restauração: composição (espécies), estrutura e funcionalidade (interações
ecológicas).
COUTO & BARBOSA (2011) chamam atenção para a medição e o monitoramento
da biodiversidade em áreas em restauração, onde deve ser avaliada desde a etapa do
planejamento, na seleção de espécies, coleta de sementes e produção das mudas até as
etapas de plantio e manutenção.
RODRIGUES et al. (2009) sugerem que os indicadores de processos de restauração
devem ser divididos em três grupos de acordo com diferentes períodos de tempo a partir da
implantação: (i) fase de implantação (1–12 meses); (ii) fase de pós-implantacao (ocupação)
(1–3 anos); e (iii) fase de vegetação restaurada (ocupação e funcionamento) (acima de 4
anos). Para a primeira fase listam que os indicadores devem ater na avaliação do solo-
substrato, cobertura vegetal existente, profundidade de covas no caso de plantio, cobertura
da área por espécies invasoras e indivíduos plantados e regenerantes. Para a segunda fase,
sugerem indicadores também para a avaliação dos dois últimos itens citados para a
primeira fase. Na última fase, além dos dois itens citados nas duas primeiras fases
(cobertura por espécies invasoras e indivíduos plantados e regenerantes), sugerem
indicadores para avaliação da chegada de outras formas de vida, aspectos fisionômicos da
vegetação (estratificação) e da fauna existente.
3.1.7 Legislação e Restauração Ecológica
Diante do contexto atual da alta fragmentação da Mata Atlântica (TABARELLI et
al., 2005) e do potencial da restauração florestal como ferramenta para adequação
ambiental de atividades produtivas agrícolas e florestais, é necessária a criação de polít icas
públicas como instrumentos legais que orientem as ações de restauração (BRANCALION
et al., 2010). A legislação para ações de restauração ecológica no Brasil é relativamente
recente (DURIGAN et al., 2010).
Segundo DURIGAN et al. (2010) uma menção importante no histórico da
utilização de florestas plantadas na legislação foi dada pela na Lei nº 4.771, de 15 de
setembro de 1965 (BRASIL, 1965) e em instrumentos jurídicos complementares como a
17
Medida Provisória nº 2.166-67, de 24 de agosto de 2001 (BRASIL, 2001), em que o uso de
florestas plantadas já era tida como forma de compensar áreas de reserva legal em
propriedades rurais. A Lei nº 4.771/1965 (BRASIL, 1965) foi modificada pela Lei nº
12.651, de 15 de maio de 2012 (BRASIL, 2012), onde no Art. 17 (§ 1º) passou a ser
admitido o manejo sustentável de vegetação florestal em áreas de Reserva Legal, com
ressalvas dadas pelos Art. 20, 21, 22 e 23.
A Política Nacional do Meio Ambiente, dada pela Lei nº 6.938, de 31 de agosto de
1981 (BRASIL, 1981) também prevê a restauração como um de seus princípios, mesmo
que referenciada como “recuperação de áreas degradadas”. Em 2001, com a primeira
versão da Resolução SMA/SP (Resolução SMA nº 21, de 21 de novembro de 2001)
começou-se a estipular regras que orientassem projetos de restauração (DURIGAN et al.,
2010). Após as reedições de 2003 (Resolução SMA nº 47, de 27 de novembro de 2003) e
de 2007 (Resolução SMA nº 08, de 07 de março de 2007), foi publicada, em 2008, sua
versão atual, a Resolução nº 08, de 31 de janeiro de 2008 (SÃO PAULO, 2008). Segundo
BRANCALION et al., 2010 os resultados positivos obtidos a partir da publicação dessa
Resolução a tornaram um exemplo de modelo de instrumento legal para outros estados do
Brasil, o que pode ser exemplificado pela Instrução Normativa nº 17, de 06 de dezembro
de 2006, publicada pelo Instituto Estadual de Meio Ambiente e Recursos Hídricos do
Espírito Santo (ESPÍRITO SANTO, 2006) e também pela Resolução INEA nº36, de 08 de
julho de 2011 (INEA, 2011), que estabelecem critérios técnicos e oferecem orientação para
elaboração de PRAD nos estados do Espírito Santo e Rio de Janeiro, respectivamente.
A Lei nº 12.651, de 25 de maio de 2012 (BRASIL, 2012), traz no Art. 26 que o
requerimento para autorização da supressão vegetal depende, entre outros, da reposição ou
compensação florestal (§ 4º) e que no caso de reposição devem ser priorizadas as espécies
nativas do mesmo bioma da supressão (§ 3º). Além disso, no § 4º do Art.33 traz que a
reposição florestal deve ser realizada no mesmo Estado de origem da matéria-prima
utilizada, e frisa novamente a prioridade que deve ser dada a espécies nativas. Ainda, o
Cap. X trata sobre o programa de apoio e incentivo à preservação e recuperação do meio
ambiente, onde apresenta diversos incentivos que o Governo deve prever para, dentre
outros, os casos de recuperação de áreas degradadas. Para os casos de Áreas de
Preservação Permanente e Reserva Legal que não estão em adequação ao previsto por essa
lei, deve ser realizada a recomposição florestal (Art. 61 e Art. 66) que pode ser feita, entre
outros métodos, pelo plantio de espécies nativas ou plantio de espécies nativas intercaladas
com exóticas, no caso de sistemas agroflorestais, desde que essas não excedam 50%.
18
Um exemplo recente de incentivo legal às ações de restauração ecológica é a
recém-publicada Lei nº12.854, de 26 de agosto de 2013 (BRASIL, 2013), que fomenta e
incentiva a recuperação florestal com a implantação de sistemas agroflorestais em áreas
rurais desapropriadas ou em áreas degradadas em posse de agricultores familiares
assentados e de comunidades tradicionais. Nos Art. 2º e 3º é frisado que as ações devem
representar alternativa econômica e de segurança alimentar e energética dos agricultores.
Também traz a possibilidade de financiamento das ações com recursos de fundos nacionais
(Art. 4º).
Contudo, DURIGAN et al. (2010) consideram que há controvérsias sobre a
conveniência das legislações que estabelecem critérios e parâmetros a serem seguidos em
ações de restauração, visto que há carência de estudos científicos que corroborem com
esses parâmetros. Entretanto, BRANCALION et al. (2010) consideram que devem ser
contruídas mais políticas públicas que promovam a conservação da biodiversidade, já que
mesmo havendo carência de informações científicas, deve-se adotar o princípio da
precaução.
3.2 PROJETOS DE RECUPERAÇÃO DE ÁREAS DEGRADADAS (PRAD) NO
RIO DE JANEIRO
3.2.1 INEA – Instituto Estadual do Ambiente
No Rio de Janeiro, em âmbito estadual, o Instituo Estadual do Ambiente - INEA é o
órgão ambiental responsável pela política florestal e conservação dos recursos naturais
renováveis (REZENDE, 2011). Segundo a Lei Estadual nº 5.101, de 04 de outubro de 2007
(RIO DE JANEIRO, 2007) é função do INEA “executar as políticas estaduais do meio
ambiente, de recursos hídricos e de recursos florestais adotadas pelos Poderes Executivo e
Legislativo, com sede na Capital do Estado”. Assim, esse órgão tem a missão de proteger,
conservar e recuperar o meio ambiente para promover o desenvolvimento sustentável
(INEA, 2013b).
O INEA é resultado da unificação de três órgãos ambientais estaduais, extintos no
momento de sua criação: Fundação Estadual de Engenharia e Meio Ambiente (FEEMA),
Superintendência Estadual de Rios e Lagoas (SERLA) e o Instituto Estadual de Florestas
(IEF) (RIO DE JANEIRO, 2007; RIO DE JANEIRO, 2009a). Essa unificação amplia a
ação dos antigos três órgãos e visa maior eficiência na execução das políticas estaduais de
meio ambiente (RIO DE JANEIRO, 2007). Segundo INEA (2010) esse órgão é
19
regulamentado pelos Decretos Estaduais nº 41.628, de 12 de janeiro de 2009 (RIO DE
JANEIRO, 2009a) e nº 42.062, de 06 de outubro de 2009 (RIO DE JANEIRO, 2009b).
Dentre as demais competências do INEA, estão algumas direta ou indiretamente
relacionadas ao presente trabalho, indicadas pela Lei Estadual nº 5.101/2007 (RIO DE
JANEIRO, 2007) como sendo: I - Conduzir processos de licenciamento de competência
estadual; II - Exercer poder de polícia em matéria ambiental e de recursos hídricos; III-
expedir normas regulamentares sobre as matérias de sua competência; IV - gerir as
unidades estaduais de conservação da natureza; V - celebrar termos de ajustamento de
conduta, conforme previsto na legislação; VI - promover ações de recuperação ambiental;
VII - realizar ações de controle e desenvolvimento florestal.
Além do INEA, a fiscalização ambiental no estado do Rio de Janeiro pode ser
exercida por outros órgãos ambientais (INEA, 2010), desde que sejam de competência de
suas respectivas esferas, Federal ou Municipal. O Instituto Brasileiro de Meio Ambiente e
Recursos Naturais Renováveis – IBAMA atua na esfera federal. As Secretarias Municipais
atuam na esfera municipal, podendo aplicar leis próprias, desde que não sejam mais
permissivas que as do âmbito federal e estadual (BRASIL, 1988, Art. 30).
3.2.2 O que são Projetos de Recuperação de Áreas Degradadas
(PRAD)?
O termo “Projeto de Recuperação de Áreas Degradadas (PRAD)” é aplicado aos
projetos de recuperação, recomposição, reabilitação ou restauração ecológica de áreas
degredadas, alteradas, perturbadas ou desflorestadas, segundo a Resolução INEA nº36 de
08 de julho de 2011 (INEA, 2011). Nessa mesma Resolução nº 36, o Art.1 numera os casos
em que é exigida a apresentação e cumprimento dos PRAD, a saber:
I - reparação de danos ambientais decorrentes de autuações
administrativas de desmatamentos, queimadas e infrações similares;
II - recomposição em áreas de reserva legal;
III - reposição florestal, implantação de corredores ecológicos e
restauração de áreas de preservação permanente, exigidos como
condicionantes em processos de licenciamento ambiental;
IV - recomposição florestal previstos em Termo de Ajustamento
Ambiental - TAC ou como condicionantes de Autorizações de Supressão
de Vegetação - ASV. (INEA, 2011)
20
Em síntese, os PRAD são documentos que indicam as medidas propostas para a
mitigação de impactos ambientais decorrentes de atividades desenvolvidas por
empreendimentos ou causados por infrações no âmbito ambiental, para a recuperação de
áreas de reserva legal e para condicionantes de supressão vegetal (INEA, 2013a).
No âmbito federal, a análise dos PRAD é de competência do Instituto Brasileiro do
Meio Ambiente e Recursos Naturais Renováveis – IBAMA, e na Instrução Normativa
IBAMA nº04/2011 (IBAMA, 2011) é regulamentado todo o procedimento necessário à sua
elaboração e análise. Na esfera estadual, para o estado do Rio de Janeiro, o órgão
responsável é o Instituto Estadual do Ambiente (INEA), e a análise técnica é de
competência da Diretoria de Biodiversidade e Áreas Protegidas – DIBAP, segundo a
Resolução INEA nº 36/2011 (INEA, 2011). O termo de referência para sua elaboração está
regulamentado por essa mesma Resolução INEA. Segundo o Decreto Estadual nº 41.628,
de 12 de janeiro de 2009 (RIO DE JANEIRO, 2009a), O DIPAP é composto por três
gerências: Gerência de Serviço Florestal - GESEF, Gerência de Unidade de Conservação
de Uso Sustentável - GEUSO e Gerência de Unidades de Conservação de Proteção Integral
– GEPRO. No caso do presente trabalho, a análise técnica dos PRAD é de competência da
GESEF.
3.2.3 O uso das espécies florestais nos PRAD
Indicações dadas pelos órgãos ambientais competentes
A Instrução Normativa IBAMA nº04/2011 (IBAMA, 2011), em seu Art. 6º, frisa a
utilização de espécies nativas da região em que está inserido o projeto. Ainda nesse
contexto, o Art. 7º diz que, no caso do plantio em mudas, as espécies nativas deverão ser
quantificadas. Além disso, deve ser identificada a maior diversidade possível de espécies
florestais, porém considerando atos normativos vigentes e sendo respeitadas as
particularidades de cada região. No Art. 8º dessa mesma Instrução Normativa há
indicações de como essas espécies devem ser listadas – identificadas por família, nome
científico e nome vulgar – e ainda indica que deve ser dada atenção especial às espécies
nativas com dispersão zoocórica. Destaque-se que não há referência aos atributos
funcionais das espécies.
A título de curiosidade, dentro do contexto dos aspectos socioeconômicos e
culturais no debate da restauração, é importante frisar que no Art. 9º, a Instrução
Normativa (IBAMA, 2011) possibilita o uso de Sistemas Agroflorestais – SAF na
21
restauração em posse do agricultor familiar, do empreendedor familiar rural e de povos e
comunidades tradicionais, devendo ser esse justificado no PRAD. Ainda possibilita a
exploração mediante manejo sustentável da área recuperada, desde que obedecida à
legislação vigente (Art. 10º) (IBAMA,2011).
No âmbito do estado do Rio de Janeiro, o Termo de Referência para Elaboração de
PRAD, publicado no Anexo I da Resolução INEA nº 36/2011 (INEA, 2011), indica que as
espécies vegetais a serem empregadas no projeto devem ser listadas com indicação de seus
respectivos nomes científico e vulgar e com indicação sobre se fazem parte ou não da flora
regional, informando o grupo ecológico a que pertencem. A escolha das espécies deve ser
justificada, assim como a diversidade e a proporção por grupo ecológico, e em
contrapartida ao recomendado por IBAMA (2011), essas podem ser nativas e/ou exóticas.
Riqueza de espécies
Os instrumentos legais IBAMA (2011) e INEA (2011) fazem menção à diversidade
de espécies a serem utilizadas nos projetos de restauração florestal, e inclusive a Instrução
Normativa IBAMA nº 04/2011 frisa a importância de utilizar a maior diversidade possível
nos plantios. A discussão da riqueza na restauração ecológica tem base no princípio de que
o ecossistema de referência deve ser observado (SER, 2004). No contexto da Mata
Atlântica, pode-se dizer que a alta riqueza de espécies é uma das características marcantes
do bioma (RODRIGUES et al., 2009). Ainda, JONES et al. (1997) afirmam que muitas das
características do ecossistema, como estrutura de comunidades, interações ecológicas e
modificações no ambiente físico, estão correlacionadas com a riqueza de espécies.
Segundo BRANCALION et al. (2010), até que não se tenha o conhecimento
científico corroborado que identifique quais as poucas espécies que garantem o aumento
gradual da biodiversidade em ambientes degradados, deve ser sugerido e utilizado um
número mínimo de espécies para utilização em plantios de restauração, aumentando as
chances de sucesso dos objetivos da restauração florestal. Na Resolução SMA/SP nº 08, de
31 de janeiro de 2008 (SÃO PAULO, 2008), é indicado que um número mínimo de 80
espécies florestais nativas de ocorrência regional, indicadas pela própria Resolução e/ou
identificadas através de levantamentos florísticos, deve ser atingido ao final do processo de
restauração. Em RODRIGUES et al. (2009), também está sugerido um mínimo de 80 a 120
espécies arbustivo-arbóreas, para permitir o recobrimento da área degradada com a
formação de capoeira e o desenvolvimento de uma sucessão secundária.
22
DURIGAN et al. (2010) entretanto, refutam a ideia de se estipular um número
mínimo de espécies a serem introduzidas em plantios de restauração, já que a sua aplicação
prática é extremamente difícil. Em ambientes degradados, o habitat e as feições
geomorfológicas possivelmente foram altamente modificados, sendo difícil inferir o
número de espécies pré-existentes. Os autores sugerem que há muitos estudos que indicam
que a baixa diversidade não resulta necessariamente em insucesso nos plantios. Contudo,
não retiram a importância da busca da alta diversidade de espécies em plantios para
restauração, principalmente em florestas tropicais.
Em contrapartida, BRANCALION et al. (2010) defendem que deve ser almejado o
máximo de diversidade possível, consideram que o número mínimo de 80 espécies a ser
atingido por projeto é arbitrário, que representa um número reduzido de riqueza caso o
ecossistema de referência seja uma floresta tropical. Ainda, entende que esse número
representa um valor de referência, o qual deve ser claramente definido em instrumentos
legais para que não haja interpretações subjetivas e definam metas a serem cumpridas em
ações públicas e/ou privadas.
4 MATERIAL E MÉTODOS
4.1 ELABORAÇÃO DA BASE DE DADOS
A elaboração da base de dados foi precedida da definição dos atributos específicos
que forneçam serviços importantes que um ecossistema restaurado deve oferecer: i)
fixação de nitrogênio, ii) atratividade a fauna silvestre (enfoque em dispersão de frutos e
sementes) e iii) oferta de produtos madeireiros e não madeireiros.
As informações foram levantadas a partir de dados secundários em pesquisas feitas
a artigos científicos, livros, legislação específica, cartilhas, bases de dados virtuais (THE
PLANT LIST, 2010; USDA, 2011; ILDIS, 2012; FORZZA et al., 2013; TROPICOS©,
2013) e demais fontes que contêm informações sobre as espécies e seus atributos. A base
de dados foi inicialmente elaborada para espécies lenhosas nativas da Mata Atlântica de
todo o Brasil, e para o presente trabalho foram destacadas as ocorrentes na Mata Atlântica
do Rio de Janeiro, que é onde está situado o foco da pesquisa de análise dos PRAD (a ser
explicitado posteriormente). Foi dada preferência ao levantamento das espécies nativas do
Brasil, mas algumas espécies consideradas subespontâneas também foram incluídas,
principalmente quando a pesquisa tratou do potencial de uso madeireiro e não madeireiro.
23
Para cada atributo foram feitos levantamentos com metodologias diferentes e em
tempos distintos. As informações foram sistematizadas em matrizes construídas em
planilhas eletrônicas no software Excel®, para cada atributo. Todas as informações foram
repassadas à matriz de dados de acordo com o que estava descrito nas referências, a fim de
não perder a qualidade da informação. Em seguida, todas as espécies levantadas nas três
listagens foram reunidas em uma única matriz, onde são indicados os atributos que cada
espécie possui e se é de ocorrência natural do estado do Rio de Janeiro, facilitando o
recorte para o presente trabalho. Dessa forma, há uma base de dados principal com as
informações gerais de todas as espécies obtidas e outras três sub-bases que reúnem as
informações detalhadas das espécies com relação a cada atributo.
4.1.1 Leguminosas fixadoras de nitrogênio
Foram identificadas as espécies de leguminosas lenhosas da Mata Atlântica do Rio
de Janeiro que têm registros em estudos científicos de que possuem a capacidade de
associação com bactérias diazotróficas e consequentemente de fixação biológica de
nitrogênio atmosférico. O levantamento das informações ocorreu basicamente em duas
etapas. A primeira foi a identificação dos gêneros de Fabaceae que possuem espécies que
atendem três requisitos: (i) lenhosas, (ii) nativas da Mata Atlântica e (iii) fixadoras de
nitrogênio. Posteriormente foram identificadas as espécies que compõem esses gêneros e
que estão dentro das mesmas especificações.
As informações sobre ocorrência na Mata Atlântica (com enfoque para estado do
Rio de Janeiro) e capacidade de nodulação foram coletadas, principalmente, em duas bases
de dados virtuais: Flora do Brasil (FORZZA et al., 2013), que contém todas as espécies
identificadas no Brasil e suas ocorrências, e GRIN (USDA, 2011), que contém todos os
registros de nodulação em estudos científicos publicados. Para identificar os gêneros com
hábito lenhoso, foram feitas consultas a SPRENT (2009) que contém informações sobre o
hábito geral dos gêneros de leguminosas. Em seguida, foram feitas consultas a artigos
científicos (SILVA & TOZZI, 2011; LEMOS & MEGURO, 2010; ANDREATA et al.,
2008; DUTRA et al., 2008a, 2008b; FILARDI et al., 2007; RODRIGUES & GARCIA,
2007; SACRAMENTO et al., 2007) a fim de identificar quais espécies levantadas inseridas
nesses gêneros são lenhosas, já que em gêneros como Chamaecrista, Dalbergia,
Machaerium, Mimosa, Piptadenia e Zornia algumas espécies são herbáceas ou lianas.
Outras bases de dados eletrônicas como ILDIS©
(2012), TROPICOS© (2013) e THE
PLANT LIST (2010) também foram consultadas a fim de verificar questões taxonômicas.
24
Informações complementares sobre registros de nodulação foram encontradas em LEWIS
et al. (2005).
As espécies exóticas à Mata Atlântica não foram incluídas no levantamento das
leguminosas fixadoras de nitrogênio, com exceção de algumas consideradas de ocorrência
subespontânea. As variedades ou subespécies também não foram incluídas, exceto para
Anadenanthera, em que essa divisão é essencial à taxonomia.
No caso de encontrar resultados opostos de nodulação para a mesma espécie em
estudos científicos distintos, foram considerados os registros com a confirmação positiva
desse potencial. A explicação pode estar no fato de que algumas características ambientais,
como altas concentrações de nitrato no solo, indisponibilidade de fungos micorrízicos e/ou
de bactérias nodulantes compatíveis, podem inviabilizar a nodulação por bactérias
fixadoras de N2 atmosférico em algumas espécies (JESUS et al., 2005; NETO et al., 1998;
SOUZA et al., 1994), o que não retira das mesmas o seu potencial de nodulação em
condições favoráveis.
Outra consideração a ser feita é que, sendo a fixação biológica de nitrogênio um
atributo relacionado à linhagem evolutiva dessas espécies (REIS & TEIXEIRA, 2005),
todas as contidas nos gêneros que nodulam foram consideradas por este trabalho como
espécies potenciais para nodulação, embora sem registro específico.
4.1.2 Espécies atrativas à fauna silvestre
Uma lista inicial de espécies ocorrentes na Mata Atlântica com dispersão zoocórica,
que orientou a busca mais específica em artigos científicos, foi obtida no Anexo da
Resolução SMA/SP nº 08, de 31 de janeiro de 2008 (SÃO PAULO, 2008) que apresenta
uma lista de espécies ocorrentes no estado de São Paulo e suas respectivas síndromes de
dispersão. Para este trabalho, foram filtradas apenas as espécies que ocorrem no Rio de
Janeiro. Em seguida, livros como SHANLEY et al. (2010) e NOGUEIRA (2010) e 75
publicações científicas relacionadas ao assunto (Tabela 1) foram consultadas a fim de
aumentar a lista inicial e obter informações mais específicas. Informações referentes à
taxonomia e ocorrência foram obtidas na base de dados virtual Flora do Brasil (FORZZA
et al., 2013). Para solucionar problemas com a taxonomia foram feitas consultas as bases
de dados TROPICOS (2013) e THE PLANT LIST (2010).
25
Tabela 1. Bibliografia utilizada para o levantamento das espécies lenhosas da Mata
Atlântica do Rio de Janeiro atrativas à fauna
1 AGUIAR et al., 2003 40 MARCONDES-MACHADO, 2009
2 ALESSIO et al., 2003 41 MARQUES et al., 2008
3 ALVES, 2008 42 MARTINS, 2007
4 ANDREAZZI et al., 2009 43 MENDONÇA et al., 2003
5 ANTUNES et al., 1998 44 MESSIAS & ALVES, 2009
6 ATHIÊ & DIAS, 2012 45 MIKICH, 2002a
7 ATTANASIO et al., 2006 46 MIKICH, 2002b
8 BAPTISTA-MARIA, 2007 47 MIRANDA & PASSOS, 2004
9 BOCCHESE et al., 2008 48 NOGUEIRA, 2010
10 CARVALHO, 2008 49 NOVAES & NOBRE, 2009
11 CASTRO & GALETTI, 2004 50 OLIVEIRA-FILHO & GALETTI, 1996
12 CAVASSANI et al., 2003 51 PASSOS et al., 2003
13 CAZETTA et al., 2002 52 PASSOS & PASSAMANI, 2003
14 CAZETTA et al., 2008 53 PEREIRA & MANTOVANI, 2001
15 CHAVES & MANFREDI, 2010 54 PETERLE et al., 2007
16 CHEIDA, 2005 55 PIÑA-RODRIGUES et al., 2007
17 COSTA et al., 2007 56 PINTO & SETZ, 2004
18 DALPONTE & LIMA, 1999 57 PIRES et al., 2003
19 FADINI & DE MARCO, 2004 58 PIZO & OLIVEIRA, 2000
20 FAUSTINO & MACHADO, 2006 59 PIZO et al., 2002
21 FONSECA & ANTUNES, 2007 60 REIS & PERACCHI, 1987
22 FONTES, 2003 61 SÃO PAULO, 2008
23 FRANCISCO & GALETTI, 2002 62 RIBEIRO et al., 2010
24 FRANZON et al., 2009 63 ROCHA et al., 2004
25 FUNDAÇÃO FLORESTAL, 2008 64 RODRIGUES et al., 2007
26 GALETTI et al., 2000 65 ROSA, 2004
27 GAMA et al., 2003 66 RUBIM, 2009
28 GONÇALVES, 2010 67 SANTOS & BEISIEGEL, 2006
29 GOULART, 2007 68 SANTOS-JÚNIOR & MACEDO, 2007
30 GRESSLER et al., 2006 69 SATO et al., 2008
31 HIGA, 2006 70 SETTE, 2012
32 JESUS & MONTEIRO-FILHO, 2007 71 SIMÕES & LINO, 2002
33 JORDANO et al., 2006 72 STEFFLER, 2003
34 KRÜGEL et al., 2006 73 TABARELLI & MANTOVANI, 1999
35 LENZI & ORTH, 2003 74 TOFOLI et al., 2007
36 LIESENFIELD et al., 2008 75 VALE et al., 2011
37 MACHADO & ROSA, 2005 76 ZORZI, 2009
38 MANHAES, 2003 77 ZUCARATTO et al., 2010
39 MANHAES et al., 2003
26
A revisão bibliográfica focou em estudos sobre a dispersão, mas foram incluídas
informações sobre outros tipos de interação, como polinização e herbivoria, quando eram
encontradas nas bibliografias levantadas. O levantamento foi baseado tanto em estudos
sobre as espécies florestais, quanto sobre a fauna dispersora. Para cada espécie, quando
havia informações disponíveis, foi registrado seu nome popular, o grupo de fauna atraído
(quando possível, a espécie), atrativo que a planta oferece ao animal e tipo de interação (
Figura 2). Além disso, toda a bibliografia está registrada por espécie encontrada,
sendo possível retornar à fonte bibliográfica sempre que necessário.
Figura 2. Exemplo de matriz construída em planilha eletrônica com as informações
levantadas para as espécies lenhosas da Mata Atlântica do Rio de Janeiro
atrativas à fauna.
4.1.3 Espécies com potencial de uso madeireiro e não madeireiro
Para a listagem de espécies lenhosas com potencial de uso madeireiro e não
madeireiro ocorrentes no estado do Rio de Janeiro foi utilizada basicamente a mesma
metodologia que a do levantamento das espécies atrativas de fauna. As informações foram
obtidas a partir de produtos científicos diversos reconhecidos através de um levantamento
bibliográfico acerca do tema. A bibliografia utilizada para o levantamento das espécies
com potencial de uso econômico está listada na Tabela 2.
Espécie Nome vulgar Animal atraídoAtrativo para
o animal
Tipo de
Interação
Carpotroche brasiliensis (Raddi)
Endl.Sapucainha
Mamíferos: Paca - Cuniculus paca
(Linnaeus, 1766)Sementes Dispersão
Anacardium humile A. St.-Hil.Cajueiro-do-
campo
Mamíferos: Raposa-do-campo -
Lycalopex vetulus (Lund, 1842)Frutos Dispersão
Astronium fraxinifolium Schott
ex Spreng.Aroeira-d'água
Mamíferos: Anta - Tapirus terrestris
(Linnaeus, 1758)Frutos Dispersão
ANACARDIACEAE
ACHARIACEAE
27
Tabela 2. Bibliografia utilizada para o levantamento das espécies lenhosas da Mata
Atlântica do Rio de Janeiro com potencial de uso madeireiro e não madeireiro
1 BOTREL et al., 2006 23 BORBA & MACEDO, 2006
2 FERRAZ et al., 2005 24 CHAVES & MANFREDI, 2010
3 CARVALHAES et al., 2008 25 SANTANA et al., 2008
4 JESUS et al., 2009 26 CARVALHO, 2003
5 SANQUETTA et al., 2010 27 CARVALHO, 2006
6 ALVINO et al., 2005 28 CARVALHO, 2008
7 SILVA & SANTANA, 2011 29 CARVALHO, 2010
8 MAY, 2002 30 FELFILI et al., 2000
09 UBESSI-MACARINI et al., 2011 31 VIDAL & BOUFLEUER
10 FUNDAÇÃO FLORESTAL, 2008 32 FRANZON et al., 2009
11 BARROS & VERISSIMO, 2002 33 ALMEIDA, 2010
12 GAMA et al., 2003 34 GONÇALVES et al., 2012
13 MENEZES, 2009 35 SCHWARTZ, 2007
14 PINTO et al., 2006 36 MARTINS et al., 2011
15 SHANLEY et al., 2005 37 KINUPP, 2007
16 RUSCHEL et al., 2003 38 ZUCHIWSCHI et al., 2010
17 JUNIOR, 2002 39 LORENZI, 2002a
18 MOREIRA et al., 2002 40 LORENZI, 2002b
19 XAVIER & LEITE, 2008 41 LORENZI, 2009
20 BRAGA et al., 2012 42 RIBEIRO, 2010
21 OLIVEIRA & SCOLFORO, 2008 43 LIMA et al., 2009
22 SIMÕES & LINO, 2002 44 VILELA et al., 1993
A partir da análise dessa bibliografia, foram sistematizadas informações sobre: (i)
finalidade do uso, classificada em apícola, alimentação, artesanato, combustível (lenha,
carvão), uso para fins ecológicos, fibras, forragem, madeira, medicinal, ornamental e
produto bioquímico (tanino, saponina, resina); (ii) características do uso, abordando os
detalhes descritos sobre cada uso de cada espécie, quando encontrados (ex: combustível
para lenha, madeira para movelaria); e (iii) parte do vegetal utilizada em cada categoria de
uso (SANTOS et al., 2003). As espécies estão organizadas por família e para cada espécie
está indicado o hábito e a bibliografia consultada, que está referenciada por números que a
indicam em outra listagem (Tabela 2). Na Figura 3 está um exemplo da matriz construída
em planilha eletrônica com as informações registradas.
28
Figura 3. Exemplo de matriz construída em planilha eletrônica com as informações
levantadas para as espécies lenhosas da Mata Atlântica do Rio de Janeiro com
potencial de uso madeireiro e não madeireiro.
4.2 PROJETOS DE RECUPERAÇÃO DE ÁREAS DEGRADADAS (PRAD) NO
RIO DE JANEIRO
Para avaliar o atual uso das espécies lenhosas em Projetos de Restauração de Áreas
Degradadas (PRAD) no estado do Rio de Janeiro, foram estudadas listas incluídas em
PRAD de processos destinados à averbação de reserva legal, medida compensatória,
mitigação de impactos ambientais e infração ambiental. Os PRAD estudados foram
analisados pela Gerência de Serviços Florestais (GESEF), que pertence a Diretoria de
Biodiversidade e Áreas Protegidas – DIBAP, do Instituto Estadual do Ambiente - INEA.
Essa análise foi possível mediante autorização dada pelo Gerente de Serviços Florestais no
processo de nº E-07/002.03613/2013, baseado na Lei Estadual nº 5.101/2007 (RIO DE
JANEIRO, 2007), que diz:
Art. 16 – Ressalvados os documentos e os autos cuja divulgação possa
violar segredo protegido ou a intimidade nos termos da legislação própria
vigente, todos os demais, uma vez finalizados, permanecerão abertos à
consulta do público na Biblioteca e, sempre que possível, no sítio
eletrônico do Instituto (RIO DE JANEIRO, 2007)
Foram verificados todos os PRAD disponíveis na GESEF/INEA. Para verificar as
listas desses PRAD, os processos foram consultados no próprio INEA em visitas
agendadas com os analistas. No local foram feitas anotações gerais dos processos sobre:
Espécie Nome vulgarFinalidade de
usoCaracterísticas do uso
Parte do
vegetal
utilizada
Hábito Fonte
ANACARDIACEAE
Alimentação Amêndoa Fruto
Medicinal
Chá: feito para úlceras e
diarréia; O chá (decocto)
junto à casca de goiaba
branca é usado para dor de
dente e gengiva
Fruto e
folha
Produto
bioquímico
Líquido da casca da
castanha
Folha e
casca
APOCYNACEAE
Artesanato Arranjo de flores secas Flores
EcológicoRecomendada para
restauração florestalSementes
Construção civil Tronco
Carpintaria Tronco
Tacos e carroceria Tronco
Ornamental
Arborização de parques,
pela beleza de suas folhas
brilhantes
Indivíduo
Anacardium occidentale
L.
Árvore 21, 32
Caju Árvore
3, 4,
16, 20,
25
Aspidosperma
cylindrocarpon Müll.Arg.
Peroba-poca;
GuatambuMadeira
29
empresa ou sítio (proprietário) proponente, assunto do processo (averbação de reserva
legal, medida compensatória, mitigação de impactos ou infração ambiental),
empreendimento, área a ser restaurada (em hectares), local da restauração e outras
informações consideradas pertinentes. Essas informações foram organizadas em uma
matriz construída em planilha eletrônica como exemplifica a Figura 4.
PRAD Empresa/Sítio
Proponente Assunto Empreendimento
Área do
plantio (ha) Local do plantio
(município, RJ)
2 Fazenda Santa
Rosália Averbação de
Reserva Legal *Pessoa Física 18,3 Rio Bonito
28 Petrobrás Compensação
ambiental
Terminal de Cabiúnas -
TECAB
(Ampliação das instalações)
5,0 Cabiúnas, Macaé
Figura 4. Exemplo de matriz construída em planilha eletrônica com informações sobre os
processos analisados na GESEF/INEA que contém Projetos de Restauração de
Áreas Degradadas – PRAD.
Após o registro das informações sobre os processos, foram obtidas cópias das listas
de espécies sugeridas para o plantio, e quando presentes, das listas de espécies do laudo de
caracterização da vegetação local e de relatórios de implantação referentes ao plantio, para
estudo detalhado fora do INEA. Todas as listas obtidas foram repassadas para planilhas
eletrônicas construídas no Excel® de forma a organizar e facilitar o estudo.
A referência utilizada para verificar a diversidade funcional das espécies sugeridas
nos PRAD foi a base de dados elaborada no presente trabalho. A comparação com a base
de dados previu tanto a verificação da diversidade funcional utilizada em projetos de
restauração ecológica, quanto à verificação do potencial de uso da base de dados elaborada
como ferramenta metodológica para futuras elaborações e avaliações de PRAD.
Nas matrizes construídas com as listas obtidas de cada PRAD, foi sistematizada a
comparação com a base de dados apresentada neste trabalho. Para cada espécie sugerida
nos PRAD, foi indicada ausência ou presença na base de dados e, se presente, qual(is)
característica(s) funcional(is) possui (fixação de nitrogênio - FBN, atratividade à fauna
silvestre, produtos florestais madeireiros e não madeireiros - PFM e PFNM), como
exemplificado na Erro! Fonte de referência não encontrada.. Como dito anteriormente,
a base de dados das espécies do Rio de Janeiro é resultado de um recorte feito de uma base
com espécies de ocorrência em toda a Mata Atlântica do Brasil. Assim, as espécies
30
incluídas na base de dados geral, mas sem ocorrência no RJ, também foram comparadas às
espécies listadas nos PRAD, identificadas com o sinal “*”, como na Erro! Fonte de
referência não encontrada..
Figura 5. Exemplo de matriz com as espécies sugeridas nos PRAD apresentados a
GESEF/INEA, indicando quais espécies estão incluídas na base de dados
apresentada no presente trabalho, com indicação sobre presença ou ausência
dos atributos funcionais levantados. Legenda: Base de dados RJ: "Sim" -
ocorre na base de dados do RJ; "Não" - não ocorre na base de dados; "*" -
ocorre na base de dados da Mata Atlântica do Brasil, mas não tem ocorrência
no RJ. Atributos: "x" – possui o atributo funcional; "-" - Não possui o atributo
funcional.
Nos PRAD em que a lista do levantamento florístico foi enviada, foi quantificado o
número de espécies ocorrentes na região do plantio que foram sugeridas nos PRAD, a fim
de verificar se foi seguida a indicação de utilizar espécies nativas da região (BRASIL,
2012; IBAMA, 2011; SER. 2004). Da mesma forma, quando os relatórios de implantação
referentes ao plantio foram enviados, foi quantificado o número de espécies plantadas que
haviam sido sugeridas no PRAD referente.
Os PRAD destinados a Restinga e Manguezal não foram analisados pelo fato de
serem ambientes com caracaterísticas naturais diferentes, como a baixa diversidade de
espécies (SÃO PAULO, 2008). Além disso, as espécies em que só foram indicados os
gêneros (ex: Cecropia sp.) ou com hábito não lenhoso não foram incluídas nas análises.
Foram construídas matrizes individuais para cada PRAD em planilhas eletrônicas
construídas no Excel®, com o objetivo de analisá-las separadamente. Em momento
posterior houve a compilação dos dados de todos os PRAD em duas matrizes gerais. A
primeira é referente à união de todas as espécies citadas nos PRAD, onde foi indicado em
qual(is) e em quantos PRAD cada espécie foi citada. Na outra matriz (Figura 6) há
informações referentes às indicações feitas pela Instrução Normativa IBAMA nº04/2011
(IBAMA, 2011) e Resolução INEA nº 36/2011 (INEA, 2011), onde foi registrado em quais
FBN FaunaPFM e
PFNM
Unonopsis guatterioides (A.DC.)
R.E.Fr.
Annonaceae Não - - -
Protium heptaphyllum (Aubl.)
Marchand
Burseraceae Sim - x x
Luehea divaricata Mart. & Zucc. Malvaceae * - x x
Psidium cattleianum Sabine Myrtaceae Sim - x x
Machaerium nyctitans (Vell.)
Benth.
Fabaceae
(Papil.)
Sim x - x
Myroxylon peruiferum L.f. Fabaceae
(Papil.)
Sim - x x
Espécie FamíliaBase de
dados RJ
Atributos
31
PRAD havia indicação por espécie do nome científico (se estava escrito corretamente),
nome vulgar, família, grupo sucessional, síndrome de dispersão e sobre fazer parte da flora
do entorno. Além disso, foram resumidas as justificativas apresentadas sobre a escolha das
espécies.
A análise qualitativa foi feita para todos os PRAD, independentemente da data de
envio, pois o objetivo dessa análise foi entender as características gerais de todas as listas.
As recomendações feitas pela Instrução Normativa IBAMA nº04/2011 (IBAMA, 2011) e
pela Resolução INEA nº36/2011 (INEA, 2011) foram parâmetros para observação das
características das listas de espécies inseridas nos PRAD, mas só foi considerado o fato de
seguir ou não as indicações desses instrumentos legais, para aqueles PRAD enviados após
o mês de junho de 2011 (a Resolução INEA nº36/2011 foi publicada em junho de 2011 e a
Instrução Normativa IBAMA nº04/2011 foi publicada em abril de 2011).
32
Figura 6. Exemplo de matriz construída em planilha eletrônica com informações sobre o cumprimento das recomendações dadas pela
nº04/2011 (IBAMA, 2011) e Resolução INEA nº 36/2011 (INEA, 2011) na elaboração das listas de espécies sugeridas nos
Projetos de Restauração de Áreas Degradadas - PRAD apresentados a GESEF/INEA. Também é indicado o número de espécies e
de famílias por PRAD, e o número de espécies que estão incluídas na base de dados apresentada no presente trabalho.
Sobre
fazer
parte da
flora
regional
FamíliaNome
vulgar
Nome
científico
correto
Grupo
sucession
al
Síndrome
de
dispersão
Espécies FamíliasBase de
dados RJFBN Atrativas
PFM e
PFNM
1 Não Não Não Não Sim Sim Não Não 31 21 30 4 27 28
Ocorrentes
na região;
Adaptadas
às condições
de solo e
declividade
2 Sim
Não: dentre
as 22
espécies do
entorno
levantadas,
apenas 7
foram
elencadas.
Não Não Sim
Não:
poucos
errados
Sim Não 26 19 26 7 22 21
Ocorrentes
na região;
Adaptadas
às condições
de solo e
declividade
3 Não Não Não Não Sim
Não:
poucos
errados
Sim Não 23 15 18 4 12 14
Espécies de
transição
entre mangue
e terra firme
Justificativ
a sobre a
escolha das
espécies
Observações
importantes
Os textos que
justificam a
escolha das
espéices são
exatamente
iguais, embora
trate de sítios
distintos, e de
diferentes
responsáveis
pelo projeto.
PRAD
Apresentou
lista de
espécies do
entorno
Utilização
das espécies
nativas do
entorno
Informação por espécieMaior diversidade
possivel (n)Diversidade funcional (n)
33
5 RESULTADOS E DISCUSSÃO
5.1 ELABORAÇÃO DA BASE DE DADOS
Foram levantadas 808 espécies lenhosas nativas da Mata Atlântica que têm
potencial para uso em restauração florestal de acordo com seus atributos funcionais. Do
total de espécies, 112 são fixadoras de nitrogênio, 573 são atrativas à fauna e 415 possuem
potencial de uso econômico. Dessas, três são fixadoras e atrativas de fauna, 218 são
atrativas à fauna e têm potencial de uso econômico, e outras 34 são fixadoras e têm
potencial de uso. Apenas 19 espécies possuem todos os três atributos levantados. Essas
espécies, portanto, são consideradas de uso múltiplo. Esse resultado quantitativo das
espécies para cada atributo está ilustrado na Figura 7.
A quantidade de 808 espécies levantadas no presente trabalho, para o estado do Rio
de Janeiro, é aparentemente expressiva. Esse resultado é um indicativo do potencial do uso
de espécies nativas em plantios de restauração que visem à diversidade funcional. Também
indica que a base de dados elaborada tem potencial de auxíliar na listagem de espécies
sugeridas em projetos de restauração ecológica.
Figura 7. Resultado quantitativo das espécies que compõem a base de dados de espécies
lenhosas com potencial de uso em restauração ecológica, ocorrentes na Mata
Atlântica do Rio de Janeiro. Os números em parênteses indicam a quantidade de
espécies total encontradas para os atributos. Os números dentro do círculo, fora
das interseções, indicam as espécies encontradas especificamente para cada
atributo e os incluídos nas interseções são as de múltiplo uso e seus atributos
concomitantes respectivos.
34
5.1.1 Leguminosas fixadoras de nitrogênio
Foram listadas 112 espécies, distribuídas em 39 gêneros, de leguminosas arbustivas
e arbóreas ocorrentes no estado do Rio de Janeiro que possuem registro de fixação
biológica de nitrogênio. Dessas espécies, dez pertencem à subfamília Caesalpinoideae, 49 à
Mimosoideae e 53 à subfamília Papilionoideae (Tabela 3).
Tabela 3. Resultado quantitativo das espécies leguminosas lenhosas fixadoras de
nitrogênio de ocorrência na Mata Atlântica do estado do Rio de Janeiro
Subfamília Nº de Gêneros Nº de Espécies
Caesalpinoideae 5 10
Mimosoideae 14 49
Papilionoideae 20 53
Total 39 112
É importante salientar que esse número reflete apenas às espécies que já foram
estudadas quanto a sua capacidade de nodulação. Cerca de 150 espécies de leguminosas
lenhosas ocorrentes na Mata Atlântica do Rio de Janeiro foram consideradas como
potenciais noduladoras, pois estão incluídas nos gêneros que contém espécies que
nodulam, mas não têm registro específico sobre essa capacidade. Esse resultado sugere
uma lacuna de conhecimento nesse tema específico.
De acordo com o resultado desse levantamento, os gêneros foram categorizados em
dois grupos: positivo “(+)” e positivo/negativo “(+/-)” (Tabela 4). O primeiro caracteriza
gêneros em que todas as espécies já estudadas têm registro positivo para nodulação, e o
segundo os gêneros que apresentam simultaneamente registros positivo e negativo para
nodulação.
Especificamente para os 26 gêneros “(+)” foram encontradas 152 espécies
ocorrentes no Rio de Janeiro, sendo 69 (45%) com a FBN confirmada. Desses gêneros,
Mimosa e Inga tiveram os resultados mais expressivos quanto ao número de espécies
registradas, também devido ao grande número de espécies incluídas nos mesmos. Nos
gêneros Albizia, Enterolobium, Erythrina, Chloroleucon e Poecilanthe há um menor
número de espécies inclusas, mas todas ou aproximadamente todas as espécies dentre as
ocorrentes na Mata Atlântica possuem confirmação desse potencial.
Para os treze gêneros “(+/-)” foram levantadas 128 espécies potenciais, com apenas
52 (40%) com algum registro de nodulação em estudos científicos, sendo 41 (32%)
positivos e onze negativos. Nesse caso, podem ser citados os gêneros Anadenanthera,
Swartzia, Chamaecrista, Machaerium e Senegalia.
35
Para algumas espécies houve dificuldade no levantamento das informações por
questões taxonômicas, como no caso de Senegalia, para o qual não há registro de
nodulação no GRIN. Esse gênero passou por recentes modificações, e seus resultados se
deram a partir de seus basiônimos, predominantemente do gênero Acacia (SEIGLER et al.,
2006).
Tabela 4. Gêneros de espécies lenhosas que ocorrem na Mata Atlântica do Brasil, com
registro de nodulação por bactérias fixadoras de nitrogênio, organizados por
Subfamília (SF) e por Grupo de nodulação (+) ou (+/). Legenda: SF: C –
Caesalpinoideae; M - Mimosoidae; P - Papilionoidae; Grupos de nodulação:
(+), quando todas as espécies estudadas quanto a nodulação no gênero
estudadas possuem resultado positivo de FBN, e (+/-), gêneros que apresentam
espécies com registro positivo e espécies com registro negativo para nodulação
Gênero SF Grupo de
nodulação Gênero SF
Grupo de
nodulação
Abarema M (+) Machaerium P (+/-)
Albizia M (+) Mimosa M (+)
Anadenanthera M (+/-) Myrocarpus P (+/-)
Andira P (+/-) Ormosia P (+)
Apuleia C (+) Parapiptadenia M (+)
Ateleia P (+) Piptadenia M (+/-)
Barnebydendron C (+) Plathymenia M (+)
Calliandra M (+/-) Platymiscium P (+)
Centrolobium P (+) Platypodium P (+)
Chamaecrista C (+/-) Poecilanthe P (+)
Chloroleucon M (+) Pseudopiptadenia M (+)
Dahlstedtia P (+) Schizolobium C (+/-)
Dalbergia P (+) Senegalia M (+/-)
Dimorphandra C (+/-) Sesbania P (+)
Diplotropis P (+) Sophora P (+)
Enterolobium M (+) Swartzia P (+/-)
Erythrina P (+) Tachigali C (+/-)
Hymenolobium P (+/-) Zornia P (+)
Inga M (+) Zygia M (+)
Lonchocarpus P (+)
36
5.1.2 Espécies atrativas à fauna silvestre
Foram encontradas 574 espécies lenhosas incluídas em 81 famílias, com ocorrência
no estado do Rio de janeiro, que possuem algum tipo de interação com a fauna (dispersão,
polinização ou herbivoria) (Tabela 5). Dessas espécies, 397 possuem informações sobre a
dispersão zoocórica, como a fauna atraída e o atrativo vegetal, que inclui sementes ou
frutos. As outras 177 espécies foram incluídas na lista por terem interação de herbivoria ou
polinização com a fauna silvestre, mesmo não sendo o foco da pesquisa, ou por terem
indicação de zoocoria na literatura, embora sem detalhes sobre a fauna dispersora.
Para 364 dessas espécies, o atrativo ao animal é o fruto, e para outras 33 (6,5%) as
sementes é que fazem esse papel. Dessa forma, é nítida a importância que os frutos têm,
através de suas diversas formas, cores e composições nutricionais (WIESBAUER et al.,
2008) na atração dos animais que dispersam suas sementes após se alimentarem dos frutos.
Com relação à fauna dispersora, foram encontrados registros de cinco classes de
animais: aves, representadas por 99 espécies em oito ordens; mamíferos, representados por
49 espécies em nove ordens, dentre roedores, quirópteros, primatas e outros; répteis,
incluindo principalmente os Teiús; insetos, representados basicamente por formigas; e
peixes. As aves tiveram predominância nos resultados, pois realizam a dispersão de 282
das espécies, seguidas dos mamíferos que dispersam 178 das espécies listadas.
A família com maior representatividade de espécies florestais atrativas à fauna e
diversidade de grupos de fauna atraídos é a Myrtaceae, que representada por 80 espécies
nesse levantamento, atrai todas as cinco classes de fauna levantadas. A espécie Psidium
cattleianum Sabine é a única da lista que possui interação de dispersão com essas cinco
classes de animais. Outras que possuem grande representatividade quanto ao número de
espécies atrativas são: Lauraceae, com 38 espécies; Melastomataceae, com 27; Rubiaceae,
com 24; Solanaceae, com 22; e Arecaceae, com 21.
Sugere-se que há tendência de algumas famílias a atraírem determinado grupo de
fauna com maior intensidade. Solanaceae, por exemplo, tem 18 das 22 espécies atraindo
mamíferos e para Piperaceae só foram encontrados registros para atração desse mesmo
grupo. Da mesma forma, Lauraceae e Melastomataceae têm maior atratividade às aves,
com 30 e 21 espécies dispersadas por esse grupo, respectivamente. Assim, pode ser
interessante, na elaboração da listagem de espécies para o plantio de restauração ecológica,
prever não só a atração à fauna, mas também os diferentes grupos a serem atraídos.
37
Tabela 5. Famílias de espécies vegetais lenhosas ocorrentes na Mata Atlântica do estado do
Rio de Janeiro atrativas à fauna silvestre e classe de fauna que atraem
Famílias
Espécies
Vegetais
(n)
Espécies vegetais dispersadas por... (n)
Mamíferos Aves Répteis Peixes Insetos
Achariaceae 1 1 - - - -
Anacardiaceae 7 4 4 - 1 1
Annonaceae 13 6 7 2 - 1
Apocynaceae 6 4 1 - - -
Aquifoliaceae 4 - 4 - - -
Araliaceae 5 1 3 - - -
Araucariaceae 1 1 - - - -
Arecaceae 21 18 7 2 1 2
Asteraceae 2 1 - - - -
Bignoniaceae 9 - 5 - - -
Boraginaceae 6 3 4 1 - -
Burseraceae 1 - 1 - - -
Cactaceae 2 1 1 1 - -
Calophyllaceae 1 1 - - - -
Cannabaceae 4 - 1 - 1 -
Cardiopteridaceae 2 - - - - -
Caricaceae 3 2 2 1 - -
Celastraceae 18 4 1 - - 1
Chloranthaceae 1 - 1 - - -
Clethraceae 1 - - - - -
Clusiaceae 4 3 1 - - 1
Chrysobalanaceae 4 - - - - -
Combretaceae 3 2 3 - - -
Connaraceae 2 - - - - -
Ebenaceae 3 2 1 - - -
Elaeocarpaceae 3 1 1 - - -
Ericaceae 1 - 1 - - -
Erythroxylaceae 10 1 4 - - -
Euphorbiaceae 10 2 6 - - 2
Fabaceae
(Caesalpinoideae) 15 4 6 - - -
continua...
38
Tabela 5. (continuação)
Famílias
Espécies
Vegetais
(n)
Espécies vegetais dispersadas por... (n)
Mamíferos Aves Répteis Peixes Insetos
Fabaceae
(Mimosoideae) 17 5 11 - 3 -
Fabaceae
(Papilionoideae) 17 3 4 1 - -
Hypericaceae 2 1 - - - -
Humiriaceae 2 - 1 - - -
Lamiaceae 5 - 1 - - -
Lauraceae 38 4 30 - - -
Lecythidaceae 3 3 2 - - -
Loganiaceae 1 - - - - -
Magnoliaceae 1 - 1 - - -
Malpighiaceae 8 - 3 - - -
Malvaceae 4 2 3 - - -
Marcgraviaceae 1 - 1 - - -
Melastomataceae 27 1 21 - 1 -
Meliaceae 15 2 9 - - 1
Menispermaceae 1 - 1 - - -
Monimiaceae 9 - 1 - - -
Moraceae 14 13 10 - 4 -
Myristicaceae 3 - 3 - - 2
Myrtaceae 80 31 48 7 8 6
Nyctaginaceae 4 - 1 - - -
Ochnaceae 2 - - - - -
Olacaceae 2 - - - - 1
Opiliaceae 1 - - - - -
Pentaphylacaceae 2 - 1 - - -
Peraceae 1 - 1 - - -
Phyllanthaceae 3 - 2 - - 1
Phytolaccaceae 2 1 1 - - -
Piperaceae 13 13 - - - -
Pittosporaceae 1 - 1 - - -
Podocarpaceae 1 - - - - -
Polygonaceae 1 - - - - -
continua...
39
Tabela 5. (continuação)
Famílias
Espécies
Vegetais
(n)
Espécies vegetais dispersadas por... (n)
Mamíferos Aves Répteis Peixes Insetos
Primulaceae 15 - 4 - - -
Quiinaceae 1 - - - - 1
Rhamnaceae 2 - 1 - - -
Rosaceae 5 4 2 - - -
Rubiaceae 24 2 13 1 1 -
Rutaceae 8 3 8 - - -
Sabiaceae 1 - - - - -
Salicaceae 6 - 6 - - -
Sapindaceae 9 3 3 - - 2
Sapotaceae 10 4 4 1 2 1
Smilacaceae 1 1 - - - -
Simaroubaceae 3 1 - - - -
Solanaceae 22 18 4 2 - -
Styracaceae 1 - 1 - - -
Symplocaceae 2 - 2 - - -
Thymelaeaceae 8 - - - - -
Urticaceae 6 3 3 - - 1
Verbenaceae 4 - 4 1 - 1
Violaceae 1 1 - - - -
Winteraceae 1 - 1 - - -
81 574 178 282 20 22 24
5.1.3 Espécies com potencial de uso madeireiro e não madeireiro
Foram listadas 414 espécies lenhosas da Mata Atlântica do estado do Rio de Janeiro
que possuem potencial de uso madeireiro e/ou não madeireiro. De acordo com informações
na bibliografia consultada, o uso econômico das espécies foi categorizado nas seguintes
finalidades de uso principais: alimentação, apícola, artesanato, combustível, cortiça, uso
ecológico, fibras, forragem, madeira, medicinal, ornamental, outros usos não madeireiros e
produto bioquímico.
Essas categorias foram detalhadas conforme indicação nas referências pesquisadas.
Para espécies que fornecem alimentação, foram levantadas informações sobre confecção
de bebidas, uso como condimentos e óleos, além de folhas, flores e frutos comestíveis in
40
natura e suas possíveis variações. No caso do uso apícola algumas vezes foi chamada
atenção sobre a grande quantidade de pólen e/ou néctar e a qualidade do mel fornecido a
partir da florada. Para quase metade das espécies (46,5%) foi citado o potencial
ornamental, que vai desde o uso em arte topiária e cercas vivas até arborização urbana e
rural e paisagismo de parques e praças.
O potencial medicinal das espécies florestais é bem destacado na literatura, sendo
frequentemente citado com referência a detalhes de preparo, uso e finalidade, havendo
demanda de compilação detalhada desses dados de forma a evitar a perda desses
conhecimentos, muito frequentemente oriundos de conhecimentos tradicionais. Com
relação ao uso para artesanato, são citadas confecções de cestos, biojóias, arranjos de
flores, frutos e folhas secos, e entalhes e objetos de madeira. O uso de produtos
bioquímicos vegetais pode ser feito a partir da extração de corantes, goma, látex, óleos,
resinas, saponina, substâncias tanantes, entre outros. Essas e outras características de uso
estão descritas na Tabela 6.
O potencial de uso madeireiro foi o mais citado dentre todas as categorias, sendo
indicado para 229 das espécies, ou seja, para mais da metade (55%). Para essa finalidade,
diversos usos foram encontrados na literatura, que vão desde o autoconsumo aos usos
potenciais para geração de renda. É importante frisar que esses usos devem estar de acordo
com a legislação vigente e devem ser feitos a partir de um manejo sustentável adequado
(BRASIL, 2012). São exemplos de características do uso madeireiro: utilização para
caixotaria, movelaria e carpintaria e uso na construção civil e rural, confecção de arco-de-
peneira, cabos de ferramentas, canoa e jangada, instrumentos musicais, entre outros. Por
vezes é citado o potencial da espécie em prover produtos relacionados a papel e celulose.
Apesar de 55% das espécies terem potencial madeireiro, oferecendo um produto
para longo prazo, outras categorias de uso merecem destaque. A proporção de espécies
lenhosas registradas com potencial de alimentação (34%) sugere que essas espécies podem
contribuir para aumentar a garantia de segurança alimentar de agricultores que adotarem
sistemas agroflorestais. Por outro lado, o uso medicinal (com registro para 46% das
espécies) e o uso ecológico (43% das espécies) merecem ter os respectivos potenciais
melhor explorados, seja para benefícios à saúde pública, seja pela possibilidade de oferta
de serviços ambientais, e sua consequente remuneração. Para 26% das espécies foi citado o
uso apícola, indicando mais um potencial de geração de renda a curto/médio prazo
utilizando árvores no terreno. Ainda que não tenham sido registrados com proporções
41
mais expressivas, usos como o artesanal e a obtenção de fibras podem representar a
geração de renda alternativa em curto prazo.
Tabela 6. Produtos florestais madeireiros e não madeireiros e características do uso por
categoria citados para espécies florestais de ocorrência na Mata Atlântica do Rio de Janeiro
Potencial de uso Características do uso Espécies (n)
Alimentação
Amêndoa
140
Bebidas
Condimentos
Flores, folhas e frutos comestíveis
Óleo
Aplicação industrial
Mucilagem comestível
Apícola
Pólen
106 Nectar
Qualidade do mel
Artesanato
Arranjos
37 Biojóias
Cesto
Objetos de madeira e entalhes
Combustível
Lenha
140 Pólvora
Carvão
Ecológico
Restauração ecológica
177
SAF
Atração à fauna
Sombreadora
Ocupação de clareiras
Produção de sementes
Crescimento rápido
Rusticidade
Fibras
Embira: cordas e amarrações
15
Fábrico de cordas grossas
Fábrico de vassouras, isolantes térmicos
e cordas para amarração de navios
Têxteis
Forragem
Bovinos
36
Caprinos
Cavalos
Lebres
Suínos
continua...
42
Tabela 6. (continuação)
Potencial de uso Características do uso Espécies (n)
Madeira
Alta/Boa qualidade
229
Médio/Alto valor comercial
Arco-de-peneira
Artefatos de madeira
Assoalho
Cabo de ferramentas
Caixotaria
Canoa e Jangada
Carpintaria
Carro de boi
Construção civil e de casas ou rural
Instrumentos musicais
Madeira serrada
Moirão e Postes
Movelaria
Papel e celulose
Medicinal
Alucinógena
191
Banho
Chá
Hemostático energético
Indústria farmacêutica
Maceração
Melado
Óleo
Pó
Tintura
Xarope
Ornamental
Arbonização urbana e rural
193
Cercas vivas e arte topiária
Comercialização de mudas, bonsais,
topiaria e ramos para arranjos florais.
Paisagismo
Outros usos não-
madeireiros Cortiça
15
Produto bioquímico
Alcalóides, Flavonóides, Garrofina,
Saponina, Silvactina
97
Corante
Cosmético e perfumaria
Material isolante
Goma
Óleos essenciais
Resina
Substâncias tanantes
Nº total de espécies com potencial de uso econômico = 414
43
5.2 PROJETOS DE RECUPERAÇÃO DE ÁREAS DEGRADADAS (PRAD) NO
RIO DE JANEIRO
5.2.1 Os Projetos de Recuperação de Áreas Degradadas (PRAD)
Do total de 46 Projetos de Recuperação de Áreas Degradadas (PRAD) inicialmente
obtidos no INEA, incluídos em 34 processos administrativos abertos entre 2006 e 2012,
foram verificadas 44 listas de espécies sugeridas. Isso porque dois PRAD eram referentes a
áreas de manguezal e restinga, que não eram o foco da avaliação (PRAD 29 e 32), e para
outro PRAD (35) não houve acesso à listagem de espécies sugeridas para o plantio. Além
disso, o PRAD 40 é referente a várias áreas que inicialmente possuíam a mesma lista de
espécies sugeridas, porém foi anexada posteriormente uma segunda listagem para uma
dessas áreas, que então passou a ter duas listas vigentes (chamadas de PRAD 40 e 40A)
(Tabela 7).
O fato do número de processos ser menor que ao número de PRAD é consequência
de, para alguns casos, haver demanda de mais de um PRAD para o mesmo processo,
principalmente quando se trata de compensação ambiental a ser feita por grandes
empreendimentos. Assim, nos casos de um mesmo empreendimento precisar compensar
diferentes áreas há dois tipos de abordagens: uma em que são enviados diversos PRAD no
mesmo processo, e outra em que em um mesmo PRAD são feitas as mesmas indicações
para áreas distintas, mesmo que venham a receber tratamentos diferentes no futuro.
Em alguns processos houve PRAD anteriormente reprovados pela avaliação do
INEA, e assim, foi enviado outro referente à mesma área de plantio. Dessa forma, apenas a
lista do último projeto enviado (aprovado ou em andamento de verificação) foi analisada.
Cada PRAD foi numerado por ordem de análise, com a indicação para cada um dada por
números no intervalo de 1 - 44. Ou seja, o PRAD “1” é referente ao primeiro estudado no
INEA e assim é respectivamente até o PRAD “44”, que é o último analisado. Os PRAD
analisados estão listados na Tabela 7, onde constam informações, a partir do número de
identificação no presente trabalho, sobre a empresa ou sítio proponente (no caso de pessoa
física), o motivo pelo qual está sendo enviado (assunto), o empreendimento do qual se
trata, a área a ser restaurada em hectares, e o município da restauração.
44
Tabela 7. Identificação dos Projetos de Restauração de Áreas Degradadas (PRAD) enviados à GESEF/INEA por empresas e pessoas físicas para
adequação ambiental. Os PRAD foram identificados por números de acordo com a ordem de análise. Legenda: Assunto: “RL” -
Reserva Legal; “LA” - Licenciamento Ambiental
PRAD EMPRESA/SÍTIO
PROPONENTE ASSUNTO EMPREENDIMENTO
ÁREA DO
PLANTIO (HA) LOCAL DO PLANTIO *
1
Sítio Pedra Branca (Wirlei
Vicente de Mello Torres
Braga)
Averbação de RL *Pessoa Física 6,1 Silva Jardim
2 Fazenda Santa Rosália
(Raiza Cardoso Nogueira) Averbação de RL *Pessoa Física 18,3 Rio Bonito
3 LLX Sudoeste Operações
Portuárias LTDA Compensação Ambiental Superporto Sudoeste 10,4 Guaratiba, Rio de Janeiro
4
Hydroen Geração e
Comercialização de
Energia LTDA
Averbação de RL (LA)
Hydroen Energias - Implantação da
CHG Maravilha - Atividade de
Geração de Energia Elétrica
1,95 Macuco
5 J.J.G. Itaboraí Areal LTDA Averbação de RL J.J.G. Itaboraí Areal LTDA - Extração
de areola 37,0 Itaboraí
6 Vallourec & Sumitomo
Tubos do Brasil LTDA Averbação de RL (LA) - - Seropédica
7 Concessionária da Rodovia
Presidente Dutra S/A -
NovaDutra
Compensação Ambiental
Rodovia Presidente Dutra (Supressão
efetuada ao longo)
1,5 Porto Real
8 Compensação Ambiental 1,5 Resende
9 Reginaves Indústria e
Comércio de Aves LTDA Averbação de RL (LA)
Reginaves Indústria e Comércio de
Aves LTDA - Atividade granjeira 3,6 Barra do Piraí
10 Cervejaria Petrópolis S.A. Programa de Adequação
Ambiental - PAA (Projetos)
Cervejaria Petrópolis - Optou realizar
o PAA da Fazenda Rio das Pedras 40,0 Petrópolis
continua...
45
Tabela 7. (continuação)
PRAD EMPRESA/SÍTIO
PROPONENTE ASSUNTO EMPREENDIMENTO
ÁREA DO
PLANTIO (HA) LOCAL DO PLANTIO *
11
Sítio Nova Conquista
(Mauricio Carvalho
Santiago)
Averbação de RL (LA) *Pessoa Física 12,8 Teresopolis
12 Sítio dos Medeiros (Alvaro
Tadeu da Silva) Averbação de RL (LA) *Pessoa Física 4,0 Seropédica
13
GESEF /
THYSSSENKRUPP
Companhia Siderúrgica do
Atlântico
Compensação Ambiental Compensação de emissões de gases do
efeito estufa da TKCSA
60,9
Parque Estadual da Pedra
Branca (PEPB), Rio de
Janeiro
14 66,0 PEPB, Rio de Janeiro
15 37,4 PEPB, Rio de Janeiro
16 Furnas - Eletrobras PAA(LA) Linhas de Transmissão que cortam a
Reserva da União 10,8
Reserva Biológica da União,
Rio das Ostras
17
Energisa Soluções S/A Averbação de RL (LA)
Usina Hidrelétrica Caju 137,0 Santa Maria Madalena
18 Usina Hidrelétrica São Sebastião do
Alto 84,0 São Sebastião do Alto
19 Usina Hidrelétrica Santo Antônio 44,0 Bom Jardim
20 Sítio Forte (Marcos Sávio
Pires Jardim)
Mitigação de Infração Ambiental
(Medida cautelar por embargo de
atividade de supressão de
vegetação nativa )
*Pessoa Física 0,2 Enseada de Ponta Grossa,
Ilha Grande, Angra dos Reis
21
Fazenda Santa Edwiges
(Fernando Motta Spinola e
Castro)
Averbação de RL *Pessoa Física 14,9 Magé
continua...
46
Tabela 7. (continuação)
PRAD EMPRESA/SÍTIO
PROPONENTE ASSUNTO EMPREENDIMENTO
ÁREA DO
PLANTIO (HA) LOCAL DO PLANTIO *
22
JCA Holding Participações
LTDA (Proprietário do
Sítio)
Averbação de RL (LA)
"Holdings" de instituições não-
financeiras e Aluguel de imóveis
prórpios
1,2 Cabo Frio
23 Light Energia S/A Compensação Ambiental (LA)
Reforço dos Diques 1 e 2 -
Reservatório de Lajes (Recuperação
estrutural) - Esse reservatório integra
parte de um complexo de geração de
energia
1,5 Serra do mar, entre Piraí e
Rio Claro
24
Fazenda Seropédica
(Espolio C. C. dos Santos e
Joconda F. dos Santos)
Averbação de RL *Pessoa Física 45,5 Seropédica
25 Central de Tratamento de Resíduos Alcantara S/A
Averbação de RL (LA)
CTR São Gonçalo -Tratamento de
disposição de resíduos não-perigosos e perigosos
- São Gonçalo
26 Lafarge Brasil S/A Averbação de RL (LA) CIA de Cimento Portland Lacim - Lafarge Cimentos (Fabricação de
cimento)
73,0 Cantagalo
27 Mineração Santa Luzia de
Itaguaí LTDA Averbação de RL (LA)
Mineração Santa Luzia de Itaguaí
LTDA - Extração e britamento de
pedras e apoio à extração de minerais
não-metálicos
62,0 Itaguaí
28 Petrobrás Compensação Ambiental
(Supressão de vegetação)
Terminal de Cabiúnas - TECAB
(Ampliação das instalações) 5,0
Terreno contíguo ao
TECAB: Cabiúnas, Macaé
29**
MPC - Mineração,
Pesquisa e Comércio
LTDA
Compensação Ambiental
(Supressão de vegetação -
Obtenção de Lincença de
Instalação para o Porto do Açu)
Porto do Açu 208,0 RPPN Caruara, São João da
Barra
30 LLX Minas - Rio Compensação Ambiental
(Supressão de vegetação)
Estrada: Pedreira (Morro do Itaoca) x
Porto do Açu (Complexo Portuário do
Açu)
170,0 Campos dos Goytacazes
continua...
47
Tabela 7. (continuação)
PRAD EMPRESA/SÍTIO
PROPONENTE ASSUNTO EMPREENDIMENTO
ÁREA DO
PLANTIO (HA) LOCAL DO PLANTIO *
31 Paulo Alves da Costa Filho
Mitigação de Infração Ambiental
(Embargo de atividade de
supressão de vegetação nativa )
Descrição dos fatos: Movimentação
de terra e supressão de vegetação em
APP sem licença e autorização dos
órgãos ambientais competentes
0,07 São José do Vale do Rio
Preto
32** Polifix Industria e
Comercio LTDA ME Compensação Ambiental (LA)
Polifix - Serviços de fundição de ferro
e aço 0,1
Faixa marginal do Rio
Guapi-Macacu - (APA) da
Bacia do rio Macacu
33 Tecnoil Comércio e
Representações LTDA Compensação Ambiental (LA) Realização de obras de Terraplanagem 4,0
APA de Macaé de Cima -
Lumiar, Nova Friburgo
34
THYSSSENKRUPP CSA -
Siderúrgica do Atlântico LTDA
Compensação Ambiental (LA)
Terminal Portuário da CSA - Implantação
35,7 Rio Claro
35*** Compensação Ambiental (LA) 39,0 Rio Claro
36 Compensação Ambiental (LA) - CSA - Distrito Industrial de
Santa Cruz - Rio de Janeiro
37 Compensação Ambiental (LA) 5,4 CSA - Distrito Industrial de
Santa Cruz - Rio de Janeiro
38 Compensação Ambiental (LA) 4,7 CSA - Distrito Industrial de
Santa Cruz - Rio de Janeiro
continua...
48
Tabela 7. (continuação)
PRAD EMPRESA/SÍTIO
PROPONENTE ASSUNTO EMPREENDIMENTO
ÁREA DO
PLANTIO (HA) LOCAL DO PLANTIO *
39
Petrobrás
Compensação Ambiental (LA).
OBS: Esses PRAD, em conjunto,
estão relacionados à implantação
desses três empreendimentos.
Visam atender às aos TCA
(Termos de Compromisso
Ambiental) relacionados às ASV
(Autorizações de Supressão de
Vegetação) dos três
empreendimentos.
GASDUC-III (Gasoduto Cabiúnas
REDUC); ECOMP (Estação de
Compressão Campos Elísios);
GASJAP (Gasoduto Japeri REDUC) -
Respectivamente aos processos
GASDUC-III (Gasoduto
Cabiúnas REDUC); ECOMP (Estação
de Compressão Campos Elísios);
GASJAP (Gasoduto Japeri REDUC) -
Respectivamente aos processos
7,0 Área I - Cachoeiras de Macacu
40 +
40A**** 46,0
Áreas II a IX - Silva Jardim (II,
III, IV), Cachoeiras de Macacu
(V a VIII) e Guapimirim (IX)
41 34,8
Áreas X a XIV - Silva Jardim
(X, XI), Seropédica (XII, XIII)
e Duque de Caxias (XIV)
42 18,8
Áreas XV a XIX - Seropédica
(XV a XVII) e Duque de
Caxias (XVIII, XIX)
43 39,1 Fazenda Dourada - Casimiro de
Abreu
44 4,1 Terminal Cabiúnas (TECAB) -
Distrito de Cabiúnas, Macaé
45 80,35 REBIO União - Rio das Ostras
46 30,0 REBIO Poço das Antas - Silva
Jardim
* Todos os locais estão incluídos no estado do Rio de Janeiro (RJ) ** PRAD que não foram analisados pela sua localização (restinga/manguezal) *** PRAD que não foi analisado por ter tido acesso apenas ao processo, e não à lista de espécies sugeridas, embora houvesse uma. **** Posterior ao envio inicial do PRAD, foi anexada uma nova lista de espécies elencadas para a área II, devido à problemas técnicos. Por isso, há dois PRAD 40: 40 e 40A.
49
5.2.2 As listas de espécies encontradas nos processos
As listas apresentadas nos PRAD não são compostas pelas espécies que serão
efetivamente plantadas, mas sim de espécies sugeridas para o plantio. Além dessas, em
alguns PRAD também foram enviadas listas de espécies do entorno, correspondentes às
espécies levantadas na região do plantio. O ideal é que seja dada preferência a espécies
regionais, conforme proposto pela Instrução Normativa IBAMA nº04/2011 (IBAMA,
2011). Assim, para os casos em que foi enviada a lista de espécies do entorno foi
verificado se as espécies foram elencadas ou não.
Poucos processos contêm relatórios enviados posteriormente ao Projeto informando
sobre o andamento do mesmo, inclusive porque essa é uma exigência feita apenas para
aqueles em que o INEA julga necessário. Nos processos em que há relatórios, e nos que
possuem listagem de mudas efetivamente plantadas, foi feita uma análise para saber
quantas das espécies plantadas já tinham sido sugeridas no PRAD, e quais são elas.
As listas de espécies sugeridas nos PRAD
Análise qualitativa da construção das listas
Para os 13 PRAD que foram enviados após o mês de junho de 2011 e que não são
referentes a mangue e restinga, pôde-se constatar que não foram seguidas todas as
indicações feitas pela Instrução Normativa IBAMA nº04/2011 (IBAMA, 2011) e
Resolução INEA nº36/2011 (INEA, 2011). Essa constatação é baseada na Tabela 8, onde
foi indicado se o PRAD apresentou as atribuições recomendadas por esses dois
instrumentos legais: lista de espécies do entorno, nome científico (e se todos estavam
corretos), informação por espécie sobre fazer parte da flora regional, família a que
pertence, nome vulgar, grupo sucessional e síndrome de dispersão (que indica se foi dada
atenção especial às espécies zoocóricas). Os PRAD destacados e com o número de
identificação em negrito na Tabela 8 são os enviados após o mês de junho de 2011, e para
os enviados anteriormente a essa data foi feita a mesma análise para observar as
características gerais dos mesmos, tendo as recomendações dos instrumentos legais acima
citados apenas como parâmetros de observação.
Com relação à análise qualitativa de todos os PRAD, foi visto que apenas as
informações sobre a família, nome vulgar e grupo sucessional das espécies foram incluídas
em mais da metade das listas verificadas, com atenção especial ao nome vulgar e grupo
sucessional, que foram informados em mais de 70% das mesmas. A informação sobre a
50
espécie fazer parte da flora regional não é dada em nenhum dos PRAD analisados. A
síndrome de dispersão foi indicada para apenas dez PRAD, e a listagem de espécies do
entorno só foi enviada para onze, o que significa que ambos foram enviados para menos de
30% dos projetos verificados.
Dos 44 PRAD analisados, apenas três listas de espécies sugeridas tiveram todos os
nomes científicos corretos gramaticalmente. É bom frisar que foram desconsiderados os
erros de nomenclatura desatualizada (em todos os PRAD houve, no mínimo, uma espécie
que se encaixa nesse caso), visto que houve muitas modificações na taxonomia vegetal nos
últimos anos, e sendo essa uma dificuldade encontrada no levantamento. Considerou-se,
portanto, erro gramatical como o táxon atual escrito de maneira errônea. Isso não
siginifica dizer que a lista é inválida, mas é um indicativo do descuido na hora de sugerir as
espécies e formatar as listas, visto que há muitas bases de dados diponíveis para consulta
sobre a taxonomia correta (THE PLANT LIST, 2010; ILDIS, 2012; FORZZA et al., 2013;
TROPICOS©, 2013).
Tabela 8. Análise qualitativa dos PRAD analisados de acordo com as indicações feitas pela
Instrução Normativa IBAMA nº04/2011 (IBAMA, 2011) e Resolução INEA
nº36/2011 (INEA, 2011) para construção de listas de espécies sugeridas para o
plantio nos PRAD. Legenda: Os PRAD em destaque e com número de
identificação em negrito correspondem aos enviados após junho de 2011.
PRAD
Lista de
espécies
do
entorno
Todos os
nomes
científicos
corretos
Informação por espécie
Flora do
entorno Família
Nome
vulgar Grupo
sucessional
Síndrome
de
dispersão
1 Não Sim Não Não Sim Não Não
2 Sim Não Não Não Sim Sim Não
3 Não Não Não Não Sim Sim Não
4 Sim Não Não Não Sim Sim Não
5 - Não Não Sim Não Sim Não
6 Sim Não Não Sim Sim Não Não
7 Sim Não Não Não Sim Sim Não
8 Não Não Não Não Sim Sim Não
9 Não Sim Não Sim Sim Não Não
10 Não Sim Não Sim Sim Sim Não
11 Não Não Não Não Sim Não Não
12 Não Não Não Não Sim Sim Não
13 Não Não Não Não Sim Sim Não
14 Não Não Não Não Sim Sim Não
15 Não Não Não Não Sim Sim Não
16 Sim* Não Não Depende
da listagem Depende
da listagem Depende da
listagem Depende
da listagem
continua...
51
Tabela 8. (continuação)
PRAD
Lista de
espécies
do
entorno
Todos os
nomes
científicos
corretos
Informação por espécie
Flora do
entorno Família
Nome
vulgar Grupo
sucessional Síndrome de
dispersão
17 Não Não Não Sim Sim Sim Não
18 Não Não Não Sim Sim Sim Não
19 Não Não Não Sim Sim Sim Não
20 Não Não Não Não Sim Sim Não
21 Sim Não Não Não Sim Sim Não
22 Não Não Não Não Sim Sim Não
23 Sim Não Não Não Sim Sim Não
24 Não Não Não Não Sim Sim Não
25 Sim Não Não Sim Sim Sim Não
26 Sim Não Não Sim Sim Sim Não
27 Sim Não Não Não Sim Sim Não
28 Sim Não Não Não Sim Sim Não
29 Restinga
30 Não Não Não Não Sim Sim Não
31 Não Não Não Não Sim Não Não
32 Mangue
33 - Não Não Não Sim Sim Não
34 Não Não Não Sim Sim Sim Não
35 Sem acesso à listagem de espécies sugeridas
36 Não Não Não Sim Sim Sim Não
37 Não Não Não Sim Sim Sim Não
38 Não Não Não Sim Sim Sim Não
39 Não Não Não Sim Sim Sim Sim
40 Não Não Não Sim Sim Sim Sim
40a Não Não Não Sim Sim Sim Sim
41 Não Não Não Sim Sim Sim Sim
42 Não Não Não Sim Sim Sim Sim
43 Não Não Não Sim Sim Sim Sim
44 Não Não Não Sim Sim Sim Sim
45 Não Não Não Sim Sim Sim Sim
46 Não Não Não Sim Sim Sim Sim
Após
jun/2011
(n=13) 4 1 0 3 12 11 0
Total
(n=44) 11 3 0 22 43 38 10
* Caso especial em que as espécies sugeridas estão distribuídas em diversas listas de levantamentos
florísticos regionais obtidos através de dados secundários.
52
As espécies sugeridas
Dentre as 674 espécies citadas nas listas dos PRAD, 327 (48,4%) tiveram apenas
uma citação e 97 (14,4%) apenas duas citações em todas as 44 listas estudadas (Figura 8).
Essas 424 (62,8) espécies são desconsideradas, portanto, como comumente sugeridas em
projetos de restauração. Conforme ilustra a Figura 8, a porcentagem de espécies decai à
medida que o número de citação nos PRAD aumenta. Isso quer dizer que são poucas as
espécies sugeridas comumente nos PRAD.
Figura 8. Frequência com que as espécies foram sugeridas nos PRAD analisados. O
número de citações varia entre 1 e 42.
Para a análise de quais as espécies são frequentemente sugeridas nos PRAD, foram
consideradas três proporções de citações: 30%, 50%, 70% do total de PRAD. As espécies
citadas acima dessas proporções foram quantificadas e listadas a fim de apresentar maiores
detalhes a respeito das mesmas.
Considerando somente as espécies que foram citadas em mais de 30% das listas de
espécies sugeridas, que é o correspondente a treze listas, tem-se um número de 75 espécies.
Se considerar somente àquelas que estão em mais da metade dos PRAD, o resultado é de
24 espécies. E ainda, se aumentar a proporção de listas em que foram citadas para 70%, ou
seja, em mais de 31 listas, esse número é de apenas seis espécies. Na Tabela 9 estão os
resultados quantitativos, e na Tabela 10 são apresentadas as 75 espécies e detalhes sobre
seus atributos funcionais, nome vulgar e número de citações nos PRAD.
Visto que esses PRAD foram elaborados para o bioma Mata Atlântica, que tem
como característica a alta riqueza de espécies (TABARELLI et al., 2005), e visto que
foram levantadas 808 espécies florestais ocorrentes no Rio de Janeiro potenciais para
0%
10%
20%
30%
40%
50%
60%
1 3 5 7 9 11 13 15 17 19 21 23 25 27 29 31 33 35 37 39 41 Tota
l d
e e
spécie
s su
gerid
as
(%)
Nº de vezes que foram sugeridas
53
utilização em restauração ecológica apresentada no presente trabalho, esse resultado sugere
que a riqueza de espécies florestais diponível têm sido pouco explorada em plantios com
finalidade para restauração ecológica.
O número de espécies sugeridas varia entre 15 e 285 por PRAD, com média de 71
espécies. Na Figura 9, esse resultado está organizado em intervalos de dezenas de
unidades, que mostra que a quantidade de espécies mais utilizada nos PRAD está no
intervalo de 41-50 espécies. Considerando indicações em instrumentos legais e na
literatura (BRANCALION et al., 2010; RODRIGUES et al., 2009; SÃO PAULO, 2008)
para a utilização de no mínimo 80 espécies por projeto de restauração, pode-se dizer que
mais da metade dos PRAD (26) estudados não sugerem a riqueza mínima de espécies tida
como referência para as ações de restauração atualmente. Inclusive, a média de 71 espécies
sugeridas por PRAD também não atinge o resultado esperado pelas indicações.
É importante frisar que não está sendo feita a avaliação sobre se a sugestão de um
número mínimo de 80 espécies está correta e condiz com a prática da restauração, mas sim,
utilizamos essa referência usual do número de espécies como um parâmetro para entender
se a elaboração atual de PRAD segue as recomendações encontradas na literatura e em
instrumentos legais.
Figura 9. Número de espécies sugeridas por PRAD, categorizadas a partir de intervalos de
dezenas de unidades.
0
2
4
6
8
10
12
PR
AD
(n
)
Espécies elencadas (n)
54
Espécies sugeridas x Espécies da base de dados RJ
Diante da comparação entre todas as espécies sugeridas pelos PRAD e as espécies
incluídas na base de dados construída nesse estudo, constatou-se que 372 das 674 espécies
listadas nos PRAD estão incluídas na base de dados, ou seja, mais que a metade das
espécies (55%) (Tabela 9).
A Tabela 9 mostra o resultado quantitativo das espécies sugeridas em cada PRAD
analisado. Nas colunas associadas à riqueza tem-se o número de espécies e de famílias por
lista analisada. Nas colunas relacionadas à diversidade funcional, é indicado também para
cada PRAD o número e a porcentagem de espécies incluídas na base de dados do RJ e o
número de espécies para cada atributo funcional levantado.
Tabela 9. Resultado quantitativo, por PRAD, do número de espécies sugeridas e de
famílias a que pertencem, além do número das espécies incluídas na base de
dados construída neste trabalho. Legenda: “n” – número de espécies; “FBN” -
Fixação Biológica de Nitrogênio; “Atrativas” - atratividade à fauna silvestre;
“PFM e PFNM” - potencial para uso de produtos florestais madeireiros e não
madeireiros
PRAD
Riqueza (n) Diversidade funcional
Espécies Famílias
Base de
dados RJ
(n)
Base de
dados RJ
(%)
FBN (n) Atrativas
(n)
PFM e
PFNM
(n)
1 31 21 30 97% 4 27 28
2 26 19 26 100% 7 22 21
3 23 15 18 78% 4 12 14
4 38 22 28 74% 5 27 26
5 79 31 66 84% 16 55 67
6 34 20 31 91% 6 22 29
7 142 43 121 85% 17 113 116
8 143 43 121 85% 17 115 117
9 20 16 16 80% 2 15 16
10 163 53 108 66% 12 92 84
11 49 24 37 76% 8 31 30
12 109 35 91 83% 18 74 73
13 50 22 44 88% 13 36 43
14 50 22 44 88% 13 36 43
15 50 22 44 88% 13 36 43
16 285 58 169 59% 35 146 131
17 115 36 104 90% 22 80 91
18 115 36 104 90% 22 80 91
19 115 36 104 90% 22 80 91
20 15 11 11 73% 4 13 12
21 50 28 40 80% 11 41 40
continua...
55
Tabela 9. (continuação)
PRAD
Riqueza (n) Diversidade funcional
Espécies Famílias Base de
dados RJ (n)
Base de
dados RJ
(%) FBN (n)
Atrativas
(n) PFM e
PFNM (n)
22 43 20 33 77% 7 28 32
23 86 28 45 52% 10 33 37
24 49 19 46 94% 11 37 42
25 43 20 42 98% 10 34 37
26 87 32 78 90% 17 72 72
27 27 13 23 85% 9 16 23
28 56 24 48 86% 12 38 44
29 Restinga
30 111 39 82 74% 20 71 63
31 82 32 71 87% 9 69 63
32 Mangue
33 50 21 45 90% 14 36 43
34 41 19 35 85% 9 27 31
35 Sem acesso à listagem de espécies sugeridas
36 38 20 30 79% 7 28 29
37 38 20 30 79% 7 28 29
38 38 20 30 79% 7 28 29
39 59 21 49 83% 9 45 48
40 67 28 53 79% 10 52 54
40A 75 29 68 91% 12 57 61
41 67 28 53 79% 10 52 54
42 67 28 53 79% 10 52 54
43 75 29 68 91% 12 57 61
44 75 29 68 91% 12 57 61
45 75 29 68 91% 12 57 61
46 75 29 68 91% 12 57 61
TOTAL 674 78 372 - 74 309 291
MÉDIA 71 27 58 81% 12 50 52
Considerando cada PRAD individualmente, a porcentagem de espécies sugeridas
que estão incluídas na base de dados apresentada no presente trabalho é sempre maior que
50%. Ainda, em 41 dos PRAD, mais de 70% das espécies sugeridas estão na base de
dados. A Figura 10 ilustra esse resultado, onde a linha azul, representada pela porcentagem
de espécies sugeridas por PRAD que estão na base de dados, está constantemente acima da
faixa de 50%. Esse resultado é um indicativo de que a base de dados elaborada é uma
potencial ferramenta de avaliação e elaboração de listas de espécies sugeridas em projetos
de restauração ecológica.
56
Figura 10. Porcentagem de espécies sugeridas por PRAD que constam na base de dados de
espécies florestais com potencial para Restauração Florestal da Mata Atlântica
do Rio de Janeiro. No eixo “x” cada número corresponde identificação do
PRAD no presente trabalho.
Quando são analisa as 75 espécies citadas em mais de 30% dos PRAD, tem-se que
70 dessas espécies estão na base de dados que foi construída nesse estudo para o Rio de
Janeiro, e quatro estão na base de dados para a Mata Atlântica do Brasil, sem ocorrência no
estado. A única espécie que não consta na base de dados e que foi comumente citada
dentre os PRAD é Sparattosperma leucanthum (Vell.) K.Schum. (Bignoniaceae). O fato de
apenas uma das 75 espécies comumente citadas pelos PRAD não estar presente na base de
dados elaborada no presente trabalho é mais um fator que sugere o potencial da sua
utilização na avaliação e elaboração de listas de espécies florestais a serem utilizadas em
ações de restauração ecológica.
Na Tabela 10, as 75 espécies citadas em mais de 30% dos PRAD estão distribuídas
por família, com destaque para a presença ou ausência na base de dados elaborada, de
acordo com seus atributos funcionais. Além disso, na última coluna está indicado o número
de PRAD em que cada espécie foi citada, e se esse número corresponde a mais de 30%,
50% ou 70% dos PRAD. É importante notar que grande parte dessas espécies possui alta
plasticidade fenotípica, ou seja, conseguem se adaptar a qualquer tipo de ambiente.
10%
30%
50%
70%
90%
1
2
3
4
5
6
7
8
9
10
11
12
13
14
15
16
17
18
19
20
21
22
23
24
25
26
27
28
30
31
33
34
36
37
38
39
40
40a
41
42
43
44
45
46
Esp
écie
s (%
)
PRAD
57
Tabela 10. Espécies citadas em mais de 30% dos PRAD analisados. Legenda: FBN –
Fixação Biológica de Nitrogênio; Fauna – atratividade à fauna silvestre; PFM
e PFNM – Produtos Florestais Madeireiros e Não Madeireiros; Base de dados
– RJ?: “Sim” – Presente na base de dados para o RJ, “*” – Presente na base de
dados para a Mata Atlântica, mas sem ocorrência no RJ, “Não*” - Não está na
base de dados, mas tem ocorrência no RJ.; Atributos: “x” – Presença, “-“ –
Ausência
Espécie Nome
vulgar
Base de
dados -
RJ?
Atributos PRAD
FBN Fauna PFM e
PFNM
Citações
(n)
Citações
(%)
ANACARDIACEAE
Schinus
terebinthifolius Raddi
Aroeira-
pimenteira Sim - x x 34 > 70%
Lithraea molleoides
(Vell.) Engler
Aroeira-
branca * - x x 13 > 30%
ANNONACEAE
Annona cacans Warm. Araticum-
cagão Sim - x x 13 > 30%
Xylopia brasiliensis
Spreng.
Imbiú-
pimenta Sim - x - 16 > 30%
ARECACEAE
Euterpe edulis Mart. Palmito-
juçara Sim - x x 22 > 50%
Syagrus
romanzoffiana
(Cham.) Glassman
Jerivá Sim - x x 23 > 50%
ASTERACEAE
Gochnatia
polymorpha (Less.)
Cabrera
Camará Sim - x x 14 > 30%
BIGNONIACEAE
Cybistax
antisyphilitica Mart. Ipê-verde Sim - - x 13 > 30%
Handroanthus
chrysotrichus (Mart.
ex DC.) Mattos
Ipê-
amarelo Sim - x x 24 > 50%
Handroanthus
heptaphyllus (Vell.)
Mattos
Ipê-roxo Sim - x x 21 > 30%
Sparattosperma
leucanthum (Vell.)
K.Schum.
Ipê-cinco-
folhas Não* - - - 23 > 50%
BORAGINACEAE
Cordia superba
Cham.
Babosa-
branca Sim - x - 20 > 30%
CANNABACEAE
Trema micrantha (L.)
Blume Crindiúva Sim - x x 29 > 50%
continua...
58
Tabela 10. (continuação)
Espécie Nome
vulgar
Base de
dados -
RJ?
Atributos PRAD
FBN Fauna PFM e
PFNM
Citações
(n)
Citações
(%)
EUPHORBIACEAE
Alchornea glandulosa
Poepp. & Endl. Tapiá Sim - x x 14 > 30%
Alchornea
triplinervea (Spreng.)
Müll.Arg.
Tapiá;
Tanheiro Sim - x x 21 > 30%
Croton floribundus
Sprengel Capixingui Sim - x x 21 > 30%
Croton urucurana
Baillon
Sangue-de-
drago Sim - x x 20 > 30%
Joannesia princeps
Vell
Cotieira;
Boleira Sim - x - 22 > 50%
FABACEAE (CAESALPINOIDAE)
Apuleia leiocarpa
(Vogel) J.F.Macbr. Garapa Sim - - x 18 > 30%
Bauhinia forficata
Link Pata-de-vaca Sim - x x 21 > 30%
Caesalpinia
echinata Lam. Pau-brasil Sim - x x 14 > 30%
Caesalpinia
peltophoryoides
Benth.
Sibipiruna Sim - x - 16 > 30%
Copaifera
langsdorfii Desf. Copaíba * - x x 21 > 30%
Hymenaea
courbaril L. Jatobá Sim - x x 26 > 50%
Libidibia ferrea
(Mart. ex Tul.)
L.P.Queiroz
Pau-ferro Sim - x x 16 > 30%
Peltophorum
dubium (Spreng.)
Taub.
Canafístula Sim - x x 23 > 30%
Pterogyne nitens
Tul.
Amendoim-
bravo Sim - - x 16 > 30%
Schizolobium
parahyba (Vell.)
Blake
Guapuruvu Sim - x x 34 > 70%
Senna macranthera
(DC. ex Collad.)
H.S.Irwin &
Barneby
Pau-fava Sim - x x 22 > 50%
continua...
59
Tabela 10. (continuação)
Espécie Nome
vulgar
Base de
dados -
RJ?
Atributos PRAD
FBN Fauna PFM e
PFNM
Citações
(n)
Citações
(%)
Senna multijuga
(Rich.) H.S.Irwin &
Barneby
Sene Sim - x x 23 > 50%
FABACEAE (MIMOSOIDAE)
Anadenanthera
colubrina (Vell.)
Benan var. cebil
(Griseb) Altschul
Angico-
branco Sim x - x 14 > 30%
Anadenanthera
peregrina (L.) Speg. Angico-preto Sim x - x 17 > 30%
Enterolobium
contortisiliquum
(Vell.) Morong
Tamboril Sim x x x 20 > 30%
Inga edulis Mart Ingá-de-
metro Sim x x x 14 > 30%
Inga laurina (Sw.)
Willd. Ingá-feijão Sim x x x 18 > 30%
Inga vera subsp.
Affinis (DC.)
T.D.Penn.
Ingá-banana Sim x x x 13 > 30%
Mimosa
bimucronata (DC.)
Kuntze
Maricá Sim x - x 15 > 30%
Piptadenia
gonoacantha
(Mart.) J.F. Macbr.
Pau-jacaré Sim x x x 33 > 70%
Plathymenia
reticulata Benth. Vinhático Sim - - x 23 > 50%
Senegalia
polyphylla (DC.)
Britton & Rose
Monjoleiro Sim x x x 20 > 30%
FABACEAE (PAPILIONOIDAE)
Centrolobium
tomentosum
Guillem. ex Benth.
Araribá Sim x x x 16 > 30%
Dalbergia nigra
(Vell.) Allemão ex
Benth.
Jacarandá-
da-bahia Sim x - x 22 > 30%
Erythrina falcata
Benth.
Suinã;
Mulungu Sim x - x 18 > 30%
Erythrina verna
Vell. Suinã Sim x - x 15 > 30%
continua...
60
Tabela 10. (continuação)
Espécie Nome
vulgar
Base de
dados -
RJ?
Atributos PRAD
FBN Fauna PFM e
PFNM
Citações
(n)
Citações
(%)
Machaerium
nyctitans (Vell.)
Benth.
Bico-de-pato Sim x - x 15 > 70%
Pterocarpus rohrii
Vahl Pau-sangue Sim - - x 16 > 30%
LAMIACEAE
Aegiphila
integrifolia (Jacq.)
Moldenke
Tamanqueiro Sim - x x 19 > 30%
LECYTHIDACEAE
Cariniana
estrellensis (Raddi)
Kuntze
Jequitibá;
Jequitibá-
branco
Sim - x x 22 > 50%
Cariniana legalis
(Mart.) O. Kuntze
Jequitibá-
rosa Sim - x - 22 > 50%
Lecythis pisonis
Cambess. Sapucaia * - x x 21 > 30%
MALVACEAE
Ceiba speciosa (A.
St.-Hil.) Gibbs &
Semir
Paineira Sim - x x 33 > 70%
Guazuma ulmifolia
Lam.
Mutamba;
Araticum-
bravo
* - x x 14 > 30%
Luehea divaricata
Mart.
Açoita-
cavalo Sim - x x 13 > 30%
Luehea grandiflora
Mart. & Zucc.
Açoita-
cavalo-
graúdo
Sim - - x 16 > 30%
Pseudobombax
grandiflorium
(Cav.) A.Robyns
Embiruçu Sim - x x 31 > 70%
MELASTOMATACEAE
Miconia
cinnamomifolia
(DC.) Naudin
Jacatirão Sim - x x 21 > 30%
Tibouchina
granulosa (Desr.)
Cogn.
Quaresmeira Sim - x - 23 > 50%
Tibouchina
mutabilis (Vell.)
Cogn.
Manacá-da-
serra Sim - - x 15 > 30%
continua...
61
Tabela 10. (continuação)
Espécie Nome
vulgar
Base de
dados -
RJ?
Atributos PRAD
FBN Fauna PFM e
PFNM
Citações
(n)
Citações
(%)
MELIACEAE
Cabralea canjerana
(Vell.) Mart. Canjerana Sim - x x 17 > 30%
Cedrela fissilis Vell. Cedro;
Cedro-rosa Sim - x x 25 > 50%
Guarea guidonia Carrapeta Sim - x x 24 > 50%
MYRTACEAE
Eugenia brasiliensis
Lam. Grumixama Sim - x - 20 > 30%
Eugenia uniflora L. Pitanga Sim - x x 21 > 30%
Psidium cattleianum
Sabine
Araçá;
Araçá-
amarelo
Sim - x x 19 > 30%
Psidium guajava L. Goiabeira Sim - x x 20 > 30%
PHYTOLACACEAE
Gallesia integrifolia
(Spreng.) Harms Pau-d'alho Sim - x x 42 > 70%
PRIMULACEAE
Myrsine coriacea
(Sw.) R.Br. ex
Roem. & Schult.
Capororoca Sim - x x 13 > 30%
RUBIACEAE
Genipa americana L. Genipapo Sim - x x 19 > 30%
RUTACEAE
Zanthoxylum
rhoifolium Lam.
Tamanqueira;
Mamica-de-
cadela Sim - x x 13 > 30%
SALICACEAE
Casearia sylvestris
Swartz
Pau-de-
lagarto Sim - x x 16 > 30%
SAPINDACEAE
Cupania oblongifolia
Mart. Camboatá Sim - x x 20 > 30%
URTICACEAE
Cecropia glaziovii
Snethl.
Embaúba-
vermelha Sim - x x 16 > 30%
Cecropia hololeuca
Miq.
Embaúba-
prateada Sim - x - 18 > 30%
Cecropia
pachystachya Trec.
Embaúba-
branca Sim - x x 18 > 30%
VERBENACEAE
Citharexylum
myrianthum Cham.
Tarumã;
Pau-viola Sim - x x 23 > 50%
Total (n) Sim: 70 15 61 67 > 30% = 75
62
Em cada PRAD, quando as espécies são analisadas de acordo com os atributos
funcionais indicados na base de dados apresentada, pode-se notar que uma frequência entre
40% e 90% das espécies são atrativas à fauna silvestre e/ou potenciais para uso madeireiro
e não madeireiro. A frequência de espécies é ainda mais alta dentro do intervalo de 60% e
80%, como observado na Figura 11. As espécies fixadoras de nitrogênio, por estarem
restritas à família Fabaceae representam entre 10% a 40% das espécies elencadas para cada
PRAD.
Figura 11. Porcentagem de espécies sugeridas por PRAD com cada um dos três atributos
levantados pela base de dados de espécies florestais com potencial para
Restauração Florestal da Mata Atlântica do Rio de Janeiro. No eixo “x” cada
número corresponde à identificação do PRAD no presente trabalho. No eixo
“y”, as porcentagens de espécies com cada atributo em relação ao número de
espécies sugeridas no PRAD referente. Legenda: “FBN” – fixação biológica de
nitrogênio; “Atrativas” – atratividade à fauna silvestre; “PFM e PFNM” –
produtos florestais madeireiros e não-madeireiros.
Foram registradas 19 espécies de leguminosas, do total de espécies elencadas pelos
PRAD, que possuem os três atributos levantados. Essas espécies estão na Tabela 11, onde
estão detalhadas informações sobre a fauna silvestre que atrai e seus potenciais de uso
econômico, características levantadas na base de dados de espécies florestais para
Restauração Ecológica do Rio de Janeiro. Os dados apresentados são os que constam da
literatura analisada, não excluindo a possibilidade de haverem outras informações acerca
das espécies.
0%
20%
40%
60%
80%
100%
1
2
3
4
5
6
7
8
9
10
11
12
13
14
15
16
17
18
19
20
21
22
23
24
25
26
27
28
30
31
33
34
36
37
38
39
40
40a
41
42
43
44
45
46
Esp
écie
s (%
)
PRAD
FBN Atrativas PFM e PFNM
63
Tabela 11. Espécies citadas pelos PRAD apresentados a GESEF/INEA que possuem os três atributos funcionais (fixação biológica de nitrogênio,
Atratividade a fauna e potencial de uso econômico) levantados pela base de dados de espécies florestais potenciais para uso em
restauração ecológica da Mata Atlântica apresentada no presente trabalho
Espécie Nome vulgar Hábito Fauna
dispersora Usos potenciais Características do uso
Partes da planta
utilizadas
MIMOSOIDEAE
Enterolobium
contortisiliquum (Vell.)
Morong.
Tamboril;
Orelha-de-
Negro; Pau-
de-sabão;
Timbaúva;
Timburí;
Árvore
Mamíferos:
Anta (Tapirus
terrestris
Linnaeus, 1758),
Paca e Cutia
Apícola - Flores
Artesanato - Ramos
Combustível Carvão Tronco
Ecológico
Bom sombreamento
Indivíduo
Potencial de introdução em
pastagens sem necessidade de
proteção de mudas
Usada em SAF
Forragem - Folhas
Madeira
Serrada -
Caico (canoa) -
Gamela -
Medicinal - Frutos e raiz
Ornamental Paisagismo Sementes
Produto
bioquímico
Saponina: Fabricação de sabão
caseiro
Frutos, sementes e
tronco
Outros usos
não-
madeireiros
- Tronco
continua...
64
Tabela 11. (continuação)
Espécie Nome vulgar Hábito Fauna
dispersora Usos potenciais Características do uso
Partes da planta
utilizadas
Inga edulis Mart.
Ingá-de-
macaco; Inga-
cipó
Árvore
Mamíferos: Macacos
Alimentação Humana Fruto
Apícola - Flores
Combustível Lenha Tronco
Ecológico
Produz muita biomassa
Indivíduo Indicada para SAF
Bom sombreamento
Recomendada para Restauração
Aves:
Pteroglossus
aracari L.,
Pionus
maximiliani
(Kuhl, 1820)
Forragem - -
Madeira - Tronco
Medicinal
Indicada para tratamento de
reumatismo, problemas
intestinais, dor de cabeça.
-
Ornamental - -
Inga laurina (Sw.) Willd.
Ingá-branco;
Ingá-chichica;
Ingá-de-
macaco ; Ingá-
feijão
Árvore
Aves:
Pscitacídeos
(Aratingas)
Alimentação Frutos comestíveis Fruto
Combustível Lenha Tronco
Ecológico
Recomendada para restauração
florestal Indivíduo
Bom sombreamento
Ornamental - Indivíduo
Inga marginata Willd.
(continua)
Ingá-feijão;
Ingá-mirim;
Angá-miúdo
Árvore
Mamíferos
Alimentação Frutos comestíveis Fruto
Apícola - Flores
Combustível Lenha de boa qualidade e Carvão Tronco
Ecológico
Recomendada para recuperação
de solos Indivíduo
Peixes Bom sombreamento -
Recomendada para restauração -
continua...
65
Tabela 11. (continuação)
Espécie Nome vulgar Hábito Fauna
dispersora
Usos
potenciais Características do uso
Partes da planta
utilizadas
Forragem - -
Inga marginata Willd.
(continuação)
Ingá-feijão;
Ingá-mirim;
Angá-miúdo
Árvore Aves
Madeira Celulose e Papel Tronco
Medicinal -
Produto
bioquímico Tanino: Curtir couro -
Ornamental Paisagismo Indivíduo
Inga sessilis (Vell.) Mart.
Ingá-ferradura;
Ingá-macaco Árvore
Aves
Alimentação Frutos comestíveis Fruto
Combustível Carvão e lenha de boa qualidade Tronco
Ecológico Usada em restauração Indivíduo
Alto potencial para SAF -
Mamíferos:
Macaco-bugio
Forragem - -
Madeira - Tronco
Medicinal - -
Produto
bioquímico Tanino: Curtir couro -
Ornamental Paisagismo Indivíduo
Inga vera Willd.
(continua)
Angá; Ingá-
doce; Angá-
graúdo; Ingá-
quatro-quinas;
Ingá-banana
Árvore
Fauna em geral
Aves: Cyanocorax
chrysops (Vieillot,
1818), Amazona
aestiva (L.),
Pteroglossus
castanotis (Gould,
1834),
Ramphastos toco
Mül.
Alimentação Frutos comestíveis Fruto
Apícola - Flores
Combustível Lenha Tronco
Ecológico Potencial para Restauração
Florestal Indivíduo
Madeira
Celulose e Papel
Tronco Construção civil e rural
Régua de curral
Movelaria
continua...
66
Tabela 11. (continuação)
Espécie Nome vulgar Hábito Fauna
dispersora Usos potenciais Características do uso
Partes da planta
utilizadas
Inga vera Willd.
(continuação) Mamíferos:
Bugios
Ornamental Paisagismo Sementes
Produto
bioquímico Tanino: Curtir couro -
Mimosa scabrella Benth.
Bracaatinga;
Alecrim-da-
beira-do-rio
Arbusto
/ Árvore
Mamíferos:
Bugio-marrom
(Alouatta guariba
(Humboldt))
Apícola - Flores
Combustível Lenha de primeira qualidade e
carvão. Tronco
Ecológico
Usada em SAF: É consoriada
com erva-mate, a exemplo.
Indivíduo Espécie facilitadora
Recomendado para mourão vivo
Controle de erosão
Recomendada para Restauração
Forragem - -
Madeira
Celulose e Papel
Tronco Potencial madeireira
Construção de casas
Medicinal Combate às coceiras Casca e caule
Ornamental Paisagismo Indivíduo
Produto
bioquímico
Goma -
Tanino: Curtir couro -
Cosmético
Parapiptadenia rigida
(Benth.) Brenan
(continua)
Angico-
vermelho;
Gurucaia;
Angico-
verdadeiro
Árvore Aves: Amazona
aestiva (L.)
Apícola - Flores
Combustível Lenha e Carvão de muito boa
qualidade Tronco
Ecológico Usada em SAF
Indivíduo Bom sombreamento
continua...
67
Tabela 11. (continuação)
Espécie Nome vulgar Hábito Fauna
dispersora Usos potenciais Características do uso
Partes da planta
utilizadas
Parapiptadenia rigida
(Benth.) Brenan
(continuação)
Angico-
vermelho;
Gurucaia;
Angico-
verdadeiro
Árvore
Fibras - Casca
Madeira
Construção rural
Tronco
Construção civil
Serrada
Palanque de cerca
Assoalho
Medicinal Depurativo. Contra raquitismo,
inapetênciae debilidade,
Casca, folhas e
exsudados
Ornamental Paisagismo Sementes
Produto
bioquímico
Produtos químicos Casca, raiz e
ramos
Goma -
Saponina: Fabricação de sabão
caseiro -
Tanino: Curtir couro -
Piptadenia gonoacantha
(Mart.) J.F. Macbr.
Angico; Pau-
jacaré Árvore
Aves: Papagaios
e outros
psitacídeos
Apícola - Flores
Combustível Boa lenha e carvão. Tronco
Ecológico Recomendada para Restauração Indivíduo
Forragem - -
Madeira
Construção de casas
Tronco Movelaria
Brinquedos
Celulose e Papel
Ornamental Paisagismo de praças e parques Indivíduo
Produto
bioquímico Tanino: Curtir couro -
continua...
68
Tabela 11. (continuação)
Espécie Nome vulgar Hábito Fauna
dispersora Usos potenciais Características do uso
Partes da planta
utilizadas
Senegalia polyphylla
(DC.) Britton & Rose
Guarucaia,
Monjoleiro,
Paricá-rana,
Paricá-branco;
Angiquinho
Árvore
Mamíferos:
Bugio (Alouatta
belzebul
(Linnaeus,
1766))
Apícola Nectar Flores
Ecológico
Usada em restauração,
principalmente mata ciliar e em
áreas com solo
permanentemente encharcado
Indivíduo
Forragem Bons teores de proteína bruta Folhas
Madeira Celulose e Papel
Tronco Marcenaria e obras internas
Medicinal Para tosse Resina
Ornamental Arbonização urbana e rural,
pela beleza das flores Indivíduo
Produto
bioquímico Substâncias tanantes: Curtume Casca
Stryphnodendron
pulcherrimum (Willd.)
Hochr.
Baguinha, Paricá,
Timbaúba,Timbó-
da-mata, Fava-
barbatimão
Arvoreta
Mamíferos:
Bugio (Alouatta
belzebul
(Linnaeus,
1766))
Produto
bioquímico Tinta de escrever
Casca
Medicinal
Medicina caseira: é anti-
diarréico e hemostático,usado
para hemorragias uterinas,
afecções escorbísticas e hérnias
Casca e Seiva
PAPILIONOIDEAE
Andira anthelmia (Vell.)
J. F. Macbr.
(continua)
Angelim-
Lombriga;
Garacuí;
Angelim; Pau-de-
morcego
Arvoreta
a Árvore
Mamíferos:
Morcegos
Apícola - Flores
Artesanato - -
Combustível Lenha de boa qualidade Tronco
Ecológico Recomendado para Restauração Indivíduo
Forragem Fruto comestível para o gado Frutos
continua...
69
Tabela 11. (continuação)
Espécie Nome vulgar Hábito Fauna
dispersora Usos potenciais Características do uso
Partes da planta
utilizadas
Andira anthelmia (Vell.)
J. F. Macbr.
(continuação)
Madeira
Construção civil
Tronco Construção rural
Movelaria
Medicinal Anti-helmíntico Sementes
Ornamental Paisagismo Indivíduo
Andira fraxinifolia Benth.
Argilim;
Angelim-
Doce;
Angelim; Pau-
angelim; Pau-
de-morcego
Árvore Mamíferos:
Morcegos
Apícola Nectar e polen Flores
Combustível Lenha de boa qualidade Tronco
Ecológico Rústica, usada em restauração de
mata ciliar Indivíduo
Forragem Gado -
Madeira
Uso externo como postes,
mourões e dormentes Tronco
Construção de casas
Medicinal Princípio amargo anti-helmíntico Sementes e
Raiz
Ornamental Arborização urbana, pela beleza
de sua copa e de suas flores Indivíduo
Produto
bioquímico Flavonóides Raiz
Centrolobium
tomentosum Guillem. ex
Benth.
(continua)
Arariba;
Araruva;
Araribá-
vermelho
Árvore
Aves: Araras e
outros psitacídeos
- Papagaios,
Tirivas, Jandaias,
Maracanãs, etc.
Alimentação Sementes comestíveis: o sabor se
assemelha ao do amendoim Sementes
Combustível Lenha e Carvão Tronco
Ecológico Indicada para restauração Indivíduo
Madeira
Construção civil
Tronco Movelaria: móveis finos
Carpintaria em geral
continua...
70
Tabela 11. (continuação)
Espécie Nome vulgar Hábito Fauna dispersora Usos
potenciais Características do uso
Partes da planta
utilizadas
Centrolobium
tomentosum Guillem. ex
Benth.
(continuação)
Medicinal - -
Ornamental
Paisagismo e arborização de
parques e jardins, com ressalvas,
já que seus frutos espinhentos
são levados a longas distâncias
Indivíduo
Produto
bioquímico
Matéria tintorial Cascas e raízes
Tanino: Curtir couro
Erythrina crista-galli L.
Mulungu;
Corticeira-
do-banhado
Árvore
Aves: Beija-flores
(Chlorostilbon
aureoventris (d'Orbigny
& Lafresnaye, 1838)) -
Polinização
Madeira - Tronco
Ornamental - Indivíduo
Erythrina speciosa
Andrews
Mulungu;
Suinã-
Vermelho;
Mulungu-
do-litoral
Árvore
Aves: Beija-flores
(Chlorostilbon
aureoventris (d'Orbigny
& Lafresnaye, 1838)) -
Polinização
Apícola - Flores
Cortiça - Casca do caule
Ecológico
Recomendada para SAF
Indivíduo Pode ser usada como cerca viva
Hospedeira de orquídeas
Forragem - Folhas
Medicinal - -
Produto
bioquímico Tanino: Curtir couro -
Ornamental Paisagismo Indivíduo
Swartzia langsdorffii
Raddi
Pacová-de-
macaco Árvore -
Ecológico Recomendada para restauração Indivíduo
Madeira
Construção civil
Madeira Obras internas e externas
Marcenaria e carpintaria
Ornamental Paisagismo em geral,
principalmente quando em flor Indivíduo
71
Espécies do entorno x Espécies sugeridas
Foi considerado como um indicativo de que a escolha das espécies foi baseada no
levantamento florístico quando mais de 80% das espécies levantadas na região do plantio
foram sugeridas. Assim, apenas três PRAD, dentre os onze em que há espécies do
entorno listadas, estão incluídos nesse quesito, com um caso em especial. A escolha das
espécies no PRAD 16 está justificada no texto do projeto como sendo as que constam nas
diversas tabelas de levantamentos florísticos da região apresentadas no mesmo,
adquiridos a partir de dados secundários. Não há uma lista única que organiza a escolha e
faça uma sugestão de espécies principais. Em sete PRAD há menos de 50% de espécies
sugeridas para o plantio na lista da flora do entorno. Esse resultado pode ser visualizado
na Figura 12, onde a linha azul é correspondente à porcentagem de espécies da região de
plantio do PRAD referente que foram sugeridas.
Figura 12. Porcentagem de espécies da flora regional que foram sugeridas nos PRAD,
quando a lista florística da região de plantio foi enviada.
As espécies plantadas
Foram acessados 23 listas de espécies plantadas referentes aos PRAD em que os
relatórios de implantação foram solicitados. Os PRAD 40, 41 e 42 são referentes a mais
de um plantio que ocorreram em diferentes áreas (Tabela 7) e, por isso, há uma lista de
espécies plantadas para cada área de plantio. As listas foram identificadas, em ordem
alfabética, por letras que seguem os números de identificação dos PRAD, como 40a, 40b,
41a, 41b, e assim sucessivamente. É importante frisar que não foram enviadas ao INEA
as listas de espécies plantadas de todas as áreas até o momento das verificações dos
processos.
0%
20%
40%
60%
80%
100%
2 4 6 7 16 21 23 25 26 27 28
Esp
écie
s (%
)
PRAD
72
Foram encontradas 176 espécies nas listas de espécies plantadas, dentro de 43
famílias. Do total de espécies, 133 estão incluídas na base de dados para o Rio de Janeiro
apresentada no presente trabalho. Outras 16 espécies também estão incluídas na base de
dados, porém para a Mata Atlântica de outro(s) estado(s), sem ocorrência para o Rio de
Janeiro. As outras 27 espécies não estão na base de dados, mas 11 dessas têm ocorrência
para o Rio de Janeiro.
Da mesma forma que o realizado para a lista de espécies sugeridas nos PRAD,
verificou-se quantas são as espécies citadas em mais de 30%, 50% e 70% das listas dos
relatórios de plantio. O resultado obtido foi de 50, 15 e 5 espécies, respectivamente às
proporções indicadas. Complementar ao resultado da quantidade de espécies sugeridas
frequentemente citadas nos PRAD, esse é outro indicativo de que a riqueza de espécies
potencial da Mata Atlântica não está sendo explorada nas ações de restauração no Rio de
Janeiro.
Espécies plantadas x Espécies sugeridas
Em cada relatório de plantio foi comparado a referente lista de espécies sugeridas.
Assim, a partir da análise feita sobre a quantidade de espécies sugeridas que constam nas
listas de espécies plantadas, pode-se constatar que apenas em seis relatórios há menos da
metade da lista preenchida por espécies já sugeridas nos PRAD. Isso significa que, para a
maioria dos Projetos, boa parte das espécies plantadas já havia sido sugerida
anteriormente (Figura 13).
Figura 13. Quantidade de espécies plantadas, indicadas em relatórios de implantação, que
já haviam sido sugeridas nos PRAD referentes.
0%
20%
40%
60%
80%
100%
28
33
34
36
37
38
39
40b
40c
40d
41a
41b
41c
41d
41e
42a
42b
42c
42d
43
44
45
46
Esp
écie
s su
gerid
as
(%)
Lista de espécies plantadas
Espécies sugeridas nos PRAD que constam nos relatórios
de plantio
73
A partir da comparação das espécies contidas em mais de 30% dos relatórios de
plantio com as espécies sugeridas em mais de 30% dos PRAD é constatado que 38
espécies coincidem entre as duas. Essas, portanto, podem ser definidas, como as espécies
mais utilizadas pela restauração ecológica com objetivo de adequação legal no Rio de
Janeiro (Tabela 12). Ainda, pode-se inferir que oito dessas espécies são amplamente
utilizadas por estarem presentes em mais de 50% dos PRAD e dos relatórios de plantio.
São elas: Schinus terebinthifolius Raddi (Aroeira-vermelha), Handroanthus chrysotrichus
(Mart. ex DC.) Mattos (Ipê-amarelo), Senna macranthera (DC. ex Collad.) H.S.Irwin &
Barneby (Pau-fava), Senna multijuga (Rich.) H.S.Irwin & Barneby (Sene), Piptadenia
gonoacantha (Mart.) J.F. Macbr. (Pau-jacaré), Ceiba speciosa (A. St.-Hil.) Gibbs &
Semir (Paineira), Tibouchina granulosa (Desr.) Cogn. (Quaresmeira), Citharexylum
myrianthum Cham (Tarumã-branco). Na Tabela 12, essas espécies estão destacadas em
negrito.
74
Tabela 12. Espécies comumente citadas em mais de 30% dos PRAD e em mais de 30%
dos Relatórios de Plantio analisados
Espécie Nome vulgar
PRAD Relatórios de
plantio (R.P)
Citações
(n)
Citações
(%)
Citações
(n)
Citações
(%)
ANACARDIACEAE
Schinus terebinthifolius
Raddi
Aroeira-
mansa;
Aroeira-
vermelha
34 > 70% 15 > 50%
ARECACEAE
Euterpe edulis Mart. Palmito-juçara 22 > 50% 9 > 30%
Syagrus romanzoffiana
(Cham.) Glassman Jerivá 23 > 50% 9 > 30%
BIGNONIACEAE
Cybistax antisyphilitica
Mart. Ipê-verde 13 > 30% 9 > 30 %
Handroanthus
chrysotrichus (Mart. ex
DC.) Mattos
Ipê-amarelo 24 > 50% 17 > 70%
Sparattosperma
leucanthum (Vell.)
K.Schum.
Caroba-branca;
Ipê-cinco-
folhas
23 > 50% 10 > 30%
BORAGINACEAE
Cordia superba Cham. Babosa-branca 20 > 30% 7 > 30%
CANNABACEAE
Trema micrantha (L.)
Blume
Crindiúva;
Cambará 29 > 50% 8 > 30%
EUPHORBIACEAE
Joannesia princeps Vell Cotieira;
Boleira 22 > 50% 8 > 30%
FABACEAE (CAESALPINOIDAE)
Apuleia leiocarpa
(Vogel) J.F.Macbr. Garapa 18 > 30% 7 > 30%
Bauhinia forficata Link Pata-de-vaca 21 > 30% 9 > 30%
Caesalpinia echinata
Lam. Pau-brasil 14 > 30% 9 > 30%
Caesalpinia
peltophoryoides Benth. Sibipiruna 16 > 30% 17 > 70%
Copaifera langsdorfii
Desf. Copaíba 21 > 30% 7 > 30%
continua...
75
Tabela 12. (continuação)
Espécie Nome vulgar
PRAD Relatórios de
plantio (R.P)
Citações
(n)
Citações
(%)
Citações
(n)
Citações
(%)
Hymenaea courbaril L. Jatobá; Jatobá-
da-mata 26 > 50% 11 > 30%
Libidibia ferrea (Mart. ex
Tul.) L.P.Queiroz Pau-ferro 16 > 30% 11 > 30%
Peltophorum dubium
(Spreng.) Taub. Canafístula 23 > 30% 12 > 50%
Pterogyne nitens Tul.
Amendoim-
bravo;
Bálsamo
16 > 30% 7 > 30%
Schizolobium parahyba
(Vell.) Blake Guapuruvu 34 > 70% 9 > 30%
Senna macranthera
(DC. ex Collad.)
H.S.Irwin & Barneby
Pau-fava 22 > 50% 15 > 50%
Senna multijuga (Rich.)
H.S.Irwin & Barneby Sene; Caquera 23 > 50% 15 > 50%
FABACEAE (MIMOSOIDAE)
Anadenanthera colubrina
(Vell.) Brenan
Angico-
vermelho;
Angico-branco
19 > 30% 9 > 30%
Anadenanthera peregrina
(L.) Speg.
Angico-preto;
Angico-do-
morro
17 > 30% 9 > 30%
Piptadenia gonoacantha
(Mart.) J.F. Macbr.
Angico; Pau-
jacaré 33 > 70% 19 > 70%
Senegalia polyphylla
(DC.) Britton & Rose
Monjoleiro;
Guarucaia 20 > 30% 14 > 50%
FABACEAE (PAPILIONOIDAE)
Machaerium nyctitans
(Vell.) Benth. Bico-de-pato 15 > 70% 7 > 30%
LAMIACEAE
Aegiphila integrifolia
(Jacq.) Moldenke Tamanqueiro 19 > 30% 14 > 50%
LECYTHIDACEAE
Cariniana legalis (Mart.)
O. Kuntze Jequitibá-rosa 22 > 50% 7 > 30%
Lecythis pisonis
Cambess. Sapucaia 21 > 30% 8 > 30%
continua...
76
Tabela 12. (continuação)
Espécie Nome vulgar
PRAD Relatórios de
plantio (R.P)
Citações
(n)
Citações
(%)
Citações
(n)
Citações
(%)
MALVACEAE
Ceiba speciosa (A. St.-
Hil.) Gibbs & Semir Paineira 33 > 70% 14 > 50%
Luehea grandiflora Mart.
& Zucc.
Açoita-cavalo-
graúdo 16 > 30% 7 > 30%
Pseudobombax
grandiflorium (Cav.)
A.Robyns
Embiruçu 31 > 70% 7 > 30%
MELASTOMATACEAE
Tibouchina granulosa
(Desr.) Cogn. Quaresmeira 23 > 50% 16 > 70%
MELIACEAE
Guarea guidonia (L.)
Sleumer Carrapeta 24 > 50% 8 > 30%
MYRTACEAE
Eugenia uniflora L. Pitanga 21 > 30% 10 > 30%
Psidium guajava L. Goiabeira 20 > 30% 11 > 30%
PHYTOLACACEAE
Gallesia integrifolia
(Spreng.) Harms Pau-d'alho 42 > 70% 8 > 30%
RUBIACEAE
Genipa americana L. Genipapo 19 > 30% 7 > 30%
VERBENACEAE
Citharexylum
myrianthum Cham. Tarumã-branco 23 > 50% 17 > 70%
39 espécies comumente citadas em mais
de 30% dos PRAD e dos R.P.
> 30% 69 > 30% 50
> 50% 24 > 50% 15
> 70% 6 > 70% 5
77
6 CONCLUSÕES
A riqueza de espécies lenhosas levantadas para o estado do Rio de Janeiro na
construção da base de dados de espécies florestais potenciais para uso em Restauração de
Áreas Degradadas, para os três atributos selecionados, confirma o potencial do uso
funcional de espécies nativas para restauração. O uso dessas espécies deve ser precedido
de um planejamento onde sejam identificadas espécies vegetais regionais, sua capacidade
de adaptação no campo e priorizadas as que possuam atributos funcionais diversos (que
sejam multifuncionais), e que em conjunto aumentem a chance de sucesso do plantio de
restabelecer funções de uma floresta tropical íntegra.
Considerando a alta riqueza encontrada em florestas da Mata Atlântica e a
quantidade de espécies com potencial de utilização para ações de restauração ecológica
levantada na elaboração da base de dados, conclui-se que o uso de espécies nativas em
plantios com finalidade para restauração ecológica no estado do Rio de Janeiro pode ser
melhor explorado.
De acordo com os resultados obtidos na comparação entre espécies sugeridas e a
base de dados elaborada, conclui-se que a base de dados tem potencial como ferramenta
de avaliação sobre a diversidade funcional dos plantios de restauração florestal, podendo
ser usada com essa finalidade tanto pelos técnicos responsáveis pela elaboração dos
projetos como por analistas dos órgãos ambientais competentes.
78
7 COMENTÁRIOS FINAIS
7.1 Conflito na taxonomia vegetal
A principal dificuldade encontrada na elaboração da base de dados de espécies
florestais para Restauração Florestal na Mata Atlântica, e na análise das espécies
utilizadas em PRAD diz respeito à taxonomia vegetal, que tem sofrido muitas
modificações. Os sistemas de classificação do Reino Vegetal têm sido continuamente
modificados na medida em que novas informações são acrescentadas pela ciência. Esse
fato é confirmado pelo conflito entre publicações científicas e bases de dados virtuais.
Inclusive, mesmo entre as principais bases de dados virtuais consultadas atualmente, há
conflitos entre informações taxonômicas.
Os referidos conflitos entre bases de dados podem ser exemplificados quando
tratamos de espécies como Balizia elegans (Ducke) Barneby & J.W.Grimes (Fabaceae),
em que no THE PLANT LIST (2010) essa é considerada a nomenclatura correta para a
espécie e em TROPICOS®
(2013) o nome aceito é Albizia duckeana L. Rico. Além disso,
a espécie é tida como ocorrente no Brasil nas bases USDA (2011) e TROPICOS®
(2013),
mas em FORZZA et al. (2013) não é encontrada. Outro exemplo é a espécie
Pseudosamanea guachapele (Kunth) Harms que em USDA (2011) é tida como nome
correto e no THE PLANT LIST (2010) o nome correto é Albizia guachapele (Kunth)
Dugand.
7.2 Recomendações
Segundo as observações qualitativas feitas com relação à construção das listas das
espécies sugeridas, pode-se constatar que para nenhum PRAD foram seguidas todas as
indicações feitas pela Instrução Normativa IBAMA nº04/2011 (IBAMA, 2011) e pela
Resolução INEA nº36/2011 (INEA, 2011). A lista de espécies sugeridas, apesar de não
ser a lista que resultará efetivamente no plantio, deve conter as espécies florestais
prioritárias para o plantio, escolhidas a partir de requisitos que favorecerão a recuperação
da funcionalidade, estabilidade e integridade do ecossistema a ser restaurado. Assim,
sugere-se que mais atenção seja dada a elaboração e avaliação das listas incluídas nos
PRAD, de forma que todo o esforço e capital investido nas ações de restauração
ecológica tenha maior probabilidade de atingir os objetivos iniciais.
De maneira a facilitar o trabalho dos analistas ambientais, recomenda-se a
padronização das listas de espécies sugeridas nos PRAD a serem enviadas ao órgão
79
ambiental. Como sugestão, a listagem padrão ideal deve conter as seguintes informações,
por espécie:
Família a que pertente;
Nome científico atualizado e nome vulgar mais utilizado;
Síndrome de dispersão, dando ênfase às espécies zoocóricas;
Grupo ecológico a que pertence, respeitando as devidas proporções entre os
grupos, já sugeridas pelo órgão ambiental;
Características sobre a diversidade funcional, como fixação biológica de
nitrogênio, atratividade a fauna e potencial de uso madeireiro e/ou não madeireiro
ou outros atributos importantes para determinado local em específico; e
Ocorrencia no entorno da área de plantio.
Deve-se dar preferência também para que a maior parte das espécies sugeridas
seja de ocorrência regional, e para isso deve ser anexa ao PRAD uma lista obtida a partir
de levantamentos florísticos na região, que indiquem quais são as espécies mais comuns.
7.3 Potencialidades
Destaca-se a possibilidade de ampliar a base de dados, incluindo mais
informações sobre as espécies e inserindo outros atributos relacionados à funcionalidade
ecossistêmica de plantios para restauração. Também deve ser constantemente atualizada
conforme novos conhecimentos científicos são acrescentados à literatura. Esse fato é
exemplificado pela necessidade que se teve de atualizar dados sobre espécies com
capacidade de fixação biológica de nitrogênio obtidos no ano de 2011 em USDA (2011),
pois houve adição de registros para outras espécies até o ano de 2013. E também por
espécies que antes não tinham registro de ocorrência para o Rio de Janeiro em FORZZA
et al. (2012) e passaram a ter em FORZZA et al. (2013).
Há a potencialidade em consolidar os dados sistematizados em planilha eletrônica
construída no Excel® numa base de dados relacional apta a responder a consultas que
serão apresentadas pelo usuário. Essa pode ser organizada na forma impressa, no caso de
uma publicação que permita a apresentação de todos os dados detalhados levantados por
espécie, ou em um formato que possa servir de base a um aplicativo WEB, com
capacidade de realização de consultas detalhadas pelo usuário.
80
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