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GIANCARLO AZEVEDO DE FILIPPI CAPACITAÇÃO E QUALIFICAÇÃO DE SUBEMPREITEIROS NA CONSTRUÇÃO CIVIL Dissertação apresentada à Escola Politécnica da Universidade de São Paulo para obtenção do Título de Mestre em Engenharia São Paulo 2003

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GIANCARLO AZEVEDO DE FILIPPI

CAPACITAÇÃO E QUALIFICAÇÃO DE SUBEMPREITEIROS NA CONSTRUÇÃO

CIVIL

Dissertação apresentada à Escola Politécnica da Universidade de São Paulo para obtenção do Título de Mestre em Engenharia

São Paulo 2003

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GIANCARLO AZEVEDO DE FILIPPI

CAPACITAÇÃO E QUALIFICAÇÃO DE SUBEMPREITEIROS NA CONSTRUÇÃO

CIVIL

Dissertação apresentada à Escola Politécnica da Universidade de São Paulo para obtenção do Título de Mestre em Engenharia

Área de Concentração: Engenharia de Construção Civil e Urbana Orientador: Prof. Dr. Francisco Ferreira Cardoso

São Paulo 2003

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FICHA CATALOGRÁFICA

Filippi, Giancarlo Azevedo de

Capacitação e qualificação de subempreiteiros na construção civil / Giancarlo Azevedo de Filippi. -- São Paulo, 2003.

128 p.

Dissertação (Mestrado) - Escola Politécnica da Universidade de São Paulo. Departamento de Engenharia de Construção Civil.

1.Construção civil 2.Contratação de obras e serviços 3.Subempreiteiras I.Universidade de São Paulo. Escola Politécnica. Departamento de Engenharia de Construção Civil II.t.

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Aos meus pais, meus irmãos e minha “Bhu”,

pelo amor, carinho e incentivo.

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SUMÁRIO

LISTA DE FIGURAS ...................................................................................................I

LISTA DE TABELAS ................................................................................................ II

LISTA DE SIGLAS .................................................................................................... II

RESUMO ....................................................................................................................V

ABSTRACT ...............................................................................................................VI

1. Introdução.................................................................................................................1

1.1. Identificação do tema da pesquisa.....................................................................1

1.2. Justificativa da pesquisa ....................................................................................1

1.3. Objetivos ...........................................................................................................3

1.4. Método de pesquisa aplicado ............................................................................3

1.5. Estrutura da dissertação.....................................................................................5

2. Subempreiteiros na construção civil.........................................................................7

2.1. O processo de desverticalização e terceirização................................................7

2.2. Conceitos sobre terceirização e subcontratação ..............................................12

2.3. Classificação dos subempreiteiros...................................................................16

2.4. Relação dos subempreiteiros com as empreiteiras ..........................................18

2.4.1. O poder das empresas subcontratantes e a seleção de subempreiteiros ...19

2.4.2. Papel e responsabilidades dos subempreiteiros........................................22

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2.4.3. Busca da parceria no processo de subcontratação....................................25

3. Capacitação e qualificação de subempreiteiros ......................................................30

3.1. Conceitos .........................................................................................................30

3.2. Necessidade de programas de capacitação e qualificação...............................40

3.3. Programas para capacitação de subempreiteiros .............................................47

3.3.1. Iniciativas no Brasil..................................................................................47

3.3.2. Iniciativas no exterior ...............................................................................49

3.4. Programas para qualificação de subempreiteiros ............................................52

3.4.1. Iniciativas no Brasil..................................................................................52

3.4.1. Iniciativas no exterior ...............................................................................56

4. Estudo do Programa de Capacitação do CTE ........................................................59

4.1. Objetivos do Programa....................................................................................59

4.2. Caracterização do Programa............................................................................60

4.3. Implantação do Programa................................................................................63

4.3.1. Seminário 1 - tema: conscientização e estruturação da organização........64

4.3.2. Seminário 2 - tema: rotinas administrativas .............................................68

4.3.3. Seminário 3 - tema: sistemas de gestão da qualidade ..............................77

4.3.4. Seminário 4 - tema: capacitação e treinamento........................................78

4.4. Avaliação do Programa ...................................................................................80

4.5. Análise dos resultados do Programa ...............................................................84

4.5.1. Subempreiteiro S1 ....................................................................................85

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4.5.2. Subempreiteiro S2 ....................................................................................88

4.5.3. Subempreiteiro S3 ....................................................................................91

4.5.4. Resultados genéricos alcançados..............................................................93

5. Análise crítica e proposições ..................................................................................95

5.1. Análise crítica do Programa de Capacitação estudado....................................95

5.2. Programas genéricos e proposições.................................................................97

6. Considerações finais.............................................................................................106

Anexo A ...................................................................................................................110

Anexo B....................................................................................................................113

Referências bibliográficas ........................................................................................120

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I

LISTA DE FIGURAS

Figura 1 - Percentual de empreendimentos em S.Paulo que terceirizam os serviços,

por tipo (CAPOZZI, 1998) .................................................................................11

Figura 2 - Definição dos agentes envolvidos no processo de contratação e

subcontratação (ou terceirização) na construção civil para este trabalho...........14

Figura 3 - Estrutura do Programa de Capacitação do CTE ........................................61

Figura 4 - Exemplo de representação gráfica estilo fluxograma para descrever as

atividades de um subempreiteiro hipotético .......................................................67

Figura 5 - Exemplo de uma representação gráfica com responsáveis definidos para

descrever as atividades de um subempreiteiro hipotético ..................................68

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II

LISTA DE TABELAS

Tabela 1 - Taxas de leis sociais e riscos do trabalho na construção civil em %

(CONSTRUÇÃO MERCADO, 2003) .................................................................9

Tabela 2 - Definições para subcontratação e terceirização (SERRA, 2001)..............16

Tabela 3 - Aspectos para seleção de subempreiteiros (SERRA, 2001)......................21

Tabela 4 - Requisitos ideais para subcontratante e subcontratado (LOVE, 1997).....24

Tabela 5 - Mudança na relação dos subcontratantes com subcontratados (adaptado de

GIOSA, 1993) ....................................................................................................25

Tabela 6 - Fatores que dificultam parcerias na construção civil (ALVES, 1998)......27

Tabela 7 - Características de uma parceria bem sucedida (SLATER, 1998) .............28

Tabela 8 - Competências para qualificação de indivíduos (MANFREDI, 1998).......33

Tabela 9 - Definição proposta para treinamento ........................................................38

Tabela 10 - Definições propostas para capacitação e qualificação ............................39

Tabela 11 - Identificação da “cultura da qualidade” (WATSON; GRYNA, 1998) ...47

Tabela 12 - Itens para a qualificação Qualibat (QUALIBAT, 199?) .........................58

Tabela 13 - Participantes do Programa de Capacitação do CTE por atividade..........63

Tabela 14 - Resultados alcançados com o Programa do CTE....................................94

Tabela 15 - Tipos de programa de capacitação por níveis de subempreiteiro............99

Tabela 16 - Critérios para capacitação de subempreiteiros por tipo de programa ...100

Tabela 17 - Tipos de programa de qualificação por níveis de subempreiteiro.........103

Tabela 18 - Critérios para qualificação de subempreiteiros por tipo de programa ..104

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III

LISTA DE SIGLAS

ABEF - Associação Brasileira de Empresas de Engenharia de Fundação e Geotecnia

ABNT - Associação Brasileira de Normas Técnicas

ASO - Atestado de Saúde Ocupacional

CA - Certificado de Aprovação

CAPEB - Confédération de l’Artisanat et des Petites Entreprises du Bâtiment

CCB - Centro Cerâmico do Brasil

CDHU - Companhia de Desenvolvimento Habitacional e Urbano do Estado de São

Paulo

CEF - Caixa Econômica Federal

CIPA - Comissão Interna de Prevenção de Acidentes

CNAE - Classificação Nacional de Atividades Econômicas

CND - Certidão Negativa de Débito

CTE - Centro de Tecnologia de Edificações

DIEESE - Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Sócio-Econômicos

DOU - Diário Oficial da União

EPI - Equipamento de Proteção Individual

INMETRO - Instituto Nacional de Metrologia, Normalização e Qualidade Industrial

INSS - Instituto Nacional do Seguro Social

IPT - Instituto de Pesquisas Tecnológicas do Estado de São Paulo

ISS - Imposto Sobre o Serviço

MPE - Micro e Pequena Empresa

NBR - Norma Brasileira Registrada

NR - Norma Regulamentadora

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IV

PBQP-H - Programa Brasileiro de Qualidade e Produtividade do Habitat

PCMAT - Programa de Condições e Meio Ambiente de Trabalho na Indústria da

Construção

PCMSO - Programa de Controle Médico e Saúde Ocupacional

PPRA - Programa de Prevenção de Riscos Ambientais

PRODFOR - Programa Integrado de Desenvolvimento e Qualificação de

Fornecedores

PSQ - Programa Setorial da Qualidade

QUALIHAB - Programa da Qualidade da Construção Habitacional da Secretaria de

Habitação do Estado de São Paulo e da CDHU

SEBRAE - Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas

SECONCI - Serviço Social da Indústria da Construção e do Mobiliário

SENAI - Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial

SESI - Serviço Social da Indústria

SESMT - Serviços Especializados em Engenharia de Segurança e em Medicina do

Trabalho

SINDUSCON - Sindicato da Indústria da Construção Civil

USP - Universidade de São Paulo

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V

RESUMO

Com o aumento cada vez maior das exigências do mercado da construção civil, as

empresas construtoras passaram a implementar sistemáticas para a busca da melhoria

de seus processos e da qualidade de seus produtos. Este fato afetou diretamente as

atividades dos demais elementos da cadeia produtiva, em especial de um grupo

diferenciado de fornecedores de serviços: os chamados subempreiteiros.

Este trabalho aborda a importância do processo de capacitação dos subempreiteiros,

identificando programas específicos existentes para o atendimento das novas

exigências das construtoras.

Para um estudo mais aprofundado, um dos programas identificados (cuja

metodologia foi desenvolvida pelo Centro de Tecnologia de Edificações - CTE,

empresa paulista especializada em consultoria na construção civil) é apresentado em

detalhes. Procurou-se analisar criticamente suas características e apresentar também

os resultados alcançados.

Como resultado, estabeleceu-se requisitos de capacitação mínimos a serem atendidos

pelos subempreiteiros, que devem fazer parte de programas de capacitação.

O processo de qualificação de subempreiteiros, cada vez mais presente no setor da

construção, também é retratado. Foram estabelecidas as diferenças em relação ao

processo de capacitação, descrevendo-se resumidamente alguns programas existentes

com esta finalidade. Por fim, identificou-se também requisitos a serem inclusos em

programas de qualificação específicos.

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VI

ABSTRACT

The increased demands in construction industry have led the construction companies

to implement programs of improvement for their processes and the quality of their

products. This has affected the activities of the other elements of the supply chain,

especially a group of service suppliers: namely the subcontractors.

This research addresses the importance of the training process to subcontractors,

identifying existing specific programs to meet the contractors' new demands.

For a more in depth study, one of the identified programs (whose methodology was

developed by Centro de Tecnologia de Edificações - CTE, a construction

consultancy in São Paulo, Brazil) is described in details. The survey analyses

critically the characteristics of the program and presents the conclusions obtained.

As a result, this work establishes minimum training requirements for subcontractors

and these should become part of their training programs.

The process of subcontractors’ qualification, becoming more and more important in

the construction sector, is also portrayed. The research identifies the differences

between the qualification and training processes, with brief descriptions of some

programs that centre on qualification. Finally, this survey establishes qualification

requirements for specific programs with this purpose.

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1

1. INTRODUÇÃO

1.1. Identificação do tema da pesquisa

Este trabalho trata dos temas da capacitação e da qualificação de subempreiteiros na

construção civil, tendo como base a conceituação destes processos e a apresentação

de algumas iniciativas com esta finalidade, realizadas por organismos ligados ao

setor.

Ele descreve com detalhes um estudo de caso real de capacitação, incluindo a análise

de sua contribuição para alguns dos subempreiteiros que o seguiram.

Por fim, a pesquisa procura identificar requisitos de capacitação e qualificação

mínimos a serem tratados em programas específicos com estas finalidades,

correlacionando-os às propostas mais adequadas para os diferentes tipos de

subempreiteiros estudados.

1.2. Justificativa da pesquisa

As mudanças macroeconômicas que vêm ocorrendo no Brasil e no setor da

construção apontam para um consumidor mais exigente e para um mercado cada vez

mais competitivo, demandando estratégias empresariais que considerem a qualidade

dos produtos, dos processos e das organizações. É vital ao setor da construção civil

adequar-se a este novo cenário.

Neste contexto, observa-se hoje que as empresas construtoras passam por um

processo de transformação organizacional e de gestão, que afetam diretamente os

demais agentes presentes ao longo do processo de produção, como seus

fornecedores, especificamente de serviços, como os subempreiteiros.

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2

Tendo em vista a estrutura interna das empresas e as condições de trabalho deste elo

da cadeia produtiva, alguns questionamentos podem ser feitos quanto à forma de

adequação dos subempreiteiros às novas exigências de mercado:

♦ Como os subempreiteiros podem atender às exigências de empresas construtoras

que estão promovendo mudanças estruturais internas, como por exemplo, a

implantação de sistemas de gestão da qualidade?

♦ Seria necessária a participação dos mesmos em programas específicos para o

atendimento destas exigências?

♦ Em caso positivo, quais as características básicas para estes programas? Quais os

requisitos mínimos relacionados a processos operacionais e gerenciais deveriam

fazer parte destes programas?

♦ Quais os reais benefícios para os subempreiteiros que participassem destes

programas?

♦ Os subempreiteiros ou seus contratantes interessam-se também por sistemáticas

ou programas de qualificação (certificação)?

♦ As respostas a essas questões são as mesmas, independentes dos tipos de

subempreiteiros, do serviço que prestam, de seu porte ou dos recursos de que

dispõem?

Dentro desta problemática, a pesquisa se justifica, ao pretender explorar alternativas

factíveis para responder a essas questões.

Além disso, a capacitação dos subempreiteiros pode trazer também a melhoria do

relacionamento com seus subcontratantes, tornando esta relação mais transparente.

Com o reconhecimento das necessidades de cada parte, podem ser estabelecidos

objetivos comuns, que propiciarão uma sinergia importante para o desenvolvimento

do próprio setor da construção civil e de seus intervenientes, rompendo alguns

paradigmas com relação à desqualificação geral da mão-de-obra nele empregada.

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3

1.3. Objetivos

Constituem objetivos principais da presente pesquisa discutir a necessidade da

existência de programas de capacitação de subempreiteiros e definir o conteúdo de

um tal programa via o estabelecimento dos requisitos de capacitação identificados

como necessários.

Como se trata de um grupo de fornecedores de serviço, um dos objetivos adicionais

da pesquisa é identificar, de maneira sucinta, suas características e as razões para que

atualmente existam tantos problemas relacionados à prestação de serviços oferecida,

justificando assim a necessidade de programas de capacitação.

Outro objetivo principal é a análise dos resultados alcançados pela implementação

em empresas subempreiteiras de uma metodologia desenvolvida por uma empresa de

consultoria, o Centro de Tecnologia de Edificações - CTE. Esta metodologia resultou

num Programa de Capacitação voltado especificamente para esse tipo de empresa,

aplicado em 2000. Para tanto, pretende-se considerar o atendimento de necessidades

de mercado dessas empresas e a harmonização de suas práticas gerenciais com os

requisitos dos sistemas de gestão da qualidade das construtoras que incentivaram a

implantação do Programa em seus fornecedores.

Tal análise auxiliará o estabelecimento dos requisitos de capacitação necessários, de

forma genérica.

Finalmente, também como objetivo adicional, tem-se o estudo de formas de

qualificação de subempreiteiros e também de critérios de qualificação aderentes às

propostas de capacitação sugeridas.

1.4. Método de pesquisa aplicado

O método de pesquisa utilizado para este trabalho apresentou quatro fases.

A primeira consistiu na identificação e no estudo dos conceitos teóricos relacionados

aos temas da subcontratação, da terceirização, da capacitação e da qualificação de

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4

empresas e trabalhadores. Esta identificação ocorreu através de uma pesquisa

bibliográfica, a participação em disciplinas de pós-graduação dos Departamentos de

Engenharia de Construção Civil e de Produção da Escola Politécnica da

Universidade de São Paulo - USP, além de considerações advindas da experiência

deste autor em sua atuação como consultor na área de gestão de qualidade em

empresas construtoras.

A segunda fase pode ser caracterizada por duas etapas distintas. A primeira,

envolveu a análise do Programa de Capacitação voltado para subempreiteiros citado

em 1.3. A segunda, o acompanhamento prático do processo de capacitação de um

grupo de 16 subempreiteiros envolvidos no Programa, que abrangeu todos os

seminários teóricos ministrados em grupo e as visitas técnicas práticas individuais

(feitas em cada subempreiteiro), muitas delas realizadas pelo pesquisador, que é

engenheiro da empresa de consultoria.

Ao final dos seminários e visitas, para uma análise inicial e formal do Programa,

foram utilizados questionários, repassados para cada subempreiteiro participante que

finalizou o Programa (Anexo A).

A terceira fase resumiu-se em um acompanhamento posterior de alguns

subempreiteiros participantes, para uma análise de resultados práticos alcançados

quase que um ano e meio após sua participação no Programa, qual seja, em meados

de 2002. Tal fato possibilitou uma análise crítica mais profunda sobre os problemas e

necessidades dos subempreiteiros, de modo a sustentar melhores propostas de

capacitação. A escolha dos subempreiteiros deu-se por suas características bastante

distintas em relação ao porte, área de atuação e tecnologia envolvida em suas

atividades, com a finalidade de representarem mais adequadamente as demais

empresas participantes do Programa.

Para auxiliar esta análise e formalizar os dados coletados, foram elaboradas fichas

com questões comparativas (situação da empresa antes e depois do Programa) sobre

os temas tratados nos seminários e visitas, utilizadas por este autor em entrevistas

com os sócios diretores das empresas e alguns de seus funcionários. A ficha de

avaliação de resultados está disponível no anexo B.

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5

A quarta e última fase constituiu-se na apuração de todos os dados coletados na

segunda e terceira fase e na proposição final da dissertação.

1.5. Estrutura da dissertação

Este trabalho foi estruturado em seis capítulos, além das referências bibliográficas e

dos 2 anexos.

O presente capítulo consiste na introdução, onde é apresentado o tema e respectivo

método utilizado na pesquisa, destacando os principais pontos que foram necessários

para a composição do trabalho.

Em seguida, no capítulo 2 procurou-se identificar a origem e importância do

processo de subcontratação, caracterizando os chamados subempreiteiros e sua

relação com seus contratantes, as construtoras.

No capítulo 3 é apresentado um posicionamento deste autor em relação a alguns

conceitos intrínsecos aos temas da capacitação e da qualificação, definindo de forma

clara a proposta da pesquisa. Com os conceitos estabelecidos, identificou-se a

necessidade de programas específicos para capacitação e qualificação de

subempreiteiros na construção civil, listando como exemplos, algumas das iniciativas

reais de organismos relacionados à construção civil para programas deste gênero.

A implantação do Programa de Capacitação descrito como estudo de caso e os

resultados alcançados por alguns dos participantes da primeira vez em que foi

oferecido são abordados no capítulo 4.

O capítulo 5 identifica o posicionamento deste autor em relação ao Programa do

estudo de caso e sobre propostas genéricas para a capacitação dos subempreiteiros.

Ele apresenta ainda requisitos de capacitação mínimos para programas do gênero,

constituindo-se uma de suas importantes contribuições. Procura ainda correlacionar

propostas para a qualificação mais adequada aos diferentes tipos de subempreiteiros

estudados.

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6

Finalmente, o capítulo 6 descreve as considerações finais a respeito do tema da

dissertação e traz sugestões para trabalhos futuros.

Além dos capítulos comentados acima, são apresentados as referências bibliográficas

citadas neste trabalho e dois anexos. O Anexo A apresenta o questionário de

avaliação do Programa analisado no capítulo 4, utilizado logo após o seu término

pelos próprios subempreiteiros participantes. O anexo B corresponde à ficha de

avaliação dos resultados alcançados por algumas das empresas participantes,

utilizada como suporte para as entrevistas e visitas realizadas por este autor, 18

meses após o término do mesmo Programa, entre março e julho de 2002.

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7

2. SUBEMPREITEIROS NA CONSTRUÇÃO CIVIL

Neste capítulo, realizou-se um breve estudo sobre o processo de terceirização e de

subcontratação, caracterizando o surgimento dos chamados subempreiteiros e suas

relações com seus atuais subcontratantes, demonstrando sua consolidação como elo

da cadeia produtiva do setor da construção civil.

2.1. O processo de desverticalização e terceirização

Segundo AMATO NETO (1993), com o acirramento da concorrência empresarial,

várias empresas começaram a direcionar seus esforços no seu negócio central,

procurando reduzir o tamanho de sua rede de atividades, o que o autor chama de

“desverticalização”.

Concentrando a sua atenção em um número cada vez menor de atividades, a empresa

reduz o número de processos e pode racionalizar a sua estrutura administrativa,

possibilitando a realização de suas atividades com maior eficiência.

Quando o processo de desverticalização ocorre no eixo da cadeia produtiva da

empresa, surgem então outros processos específicos como a terceirização.

RUFINO (1999), após um estudo de vários trabalhos de diferentes autores, conclui

que a terceirização inicia-se a partir do momento em que uma empresa decide

desativar um conjunto de atividades, realizando um contrato de prestação de serviços

com uma empresa terceira, podendo assim aprimorar e desenvolver sua atividade

principal.

Sabe-se que os movimentos de desverticalização e terceirização apresentam

dimensões internacionais. Seu objetivo principal é a busca de flexibilidade,

principalmente nos contratos de trabalho e a redução dos encargos sociais.

DRUCKER (2002) afirma que o custo de leis e regulamentos mundiais ameaça

estrangular pequenos negócios. Seus estudos apontam existir nos Estados Unidos de

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8

25% a 35% de sobrecarga nos custos das pequenas empresas relativos à

regulamentação e impostos. Segundo o autor, terceirizar é uma tendência

internacional, pois embora as leis variem muito de país para país, os custos impostos

às empresas são altos em todas as partes do mundo.

Este mesmo pensamento é compartilhado por MONTAÑO (1999), que acredita que a

atual tendência dos mercados é a redução do número de trabalhadores próprios e o

emprego cada vez maior de uma força de trabalho que é facilmente demitida sem

custos em situações de crise da empresa. Esta mão-de-obra passaria a ser fornecida

por outras empresas.

Na Indústria, com a desverticalização, o modelo de produção típico de uma fábrica

auto-suficiente e rígida desloca-se cada vez mais para o de uma fábrica “enxuta” e

flexível. Se no modelo taylorista ou fordista produz-se tudo dentro da própria fábrica,

no padrão flexível de produção produz-se o maior volume de peças fora da indústria

matriz. Estas são elaboradas geralmente por pequenas e médias empresas

terceirizadas.

CARDOZO (1998) afirma que a aplicação da terceirização no Brasil é sempre bem-

vinda em função do arcaico e irracional sistema tributário nacional1.

Este fato vem se agravando nos últimos anos. Como conseqüência tem-se a elevação

dos preços, afetando a competitividade empresarial.

No Setor da Construção Civil, a realidade não se tem mostrado diferente.

De acordo com o mais recente estudo da revista CONSTRUÇÃO MERCADO

(2003), na construção civil o peso dos encargos sociais para o empregador representa

valores entre 75% e 127% do salário nominal do trabalhador, como apresentado na

tabela 1.

1 No Brasil são contabilizados, aproximadamente, 60 impostos, cujo somatório equivale à cerca de 31% do PIB, representando uma das maiores cargas tributárias do mundo (CARDOZO,1998).

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9

Tabela 1 - Taxas de leis sociais e riscos do trabalho na construção civil em % (CONSTRUÇÃO MERCADO, 2003)

Especificação Horistas Mensalistas

A1 Previdência Social 20,00 20,00

A2 Fundo de garantia por tempo de serviço 8,50 8,50

A3 Salário-educação 2,50 2,50

A4 Serviço Social da Indústria (SESI) 1,50 1,50

A5 Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (SENAI) 1,00 1,00

A6 Serviço de Apoio à Pequena e Média Empresa (SEBRAE) 0,60 0,60

A7 Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (INCRA) 0,20 0,20

A8 Seguro contra os acidentes de trabalho (INSS) 3,00 3,00

A9 Serviço Social da Ind. da Constr. e do Mobiliário (SECONCI)* 1,00 1,00

A Total dos encargos sociais básicos 38,30 38,30

B1 Repouso semanal e feriados 22,90 -

B2 Auxílio-enfermidade 0,79 -

B3 Licença-paternidade 0,34 -

B4 13º salário 10,57 8,22

B5 Dias de chuva / faltas justificadas na obra / acidentes / outros 4,57 -

B Total dos encargos sociais que recebem as incidências de A 39,17 8,22

C1 Depósito por despedida injusta - 50% sobre [A2 + (A2xB)] 5,91 4,60

C2 Férias (indenizadas) 14,06 10,93

C3 Aviso-prévio (indenizado) 13,12 10,20

C Total dos encargos sociais que não recebem as incidências de A 33,09 25,73

D1 Reincidência de A sobre B 15,00 3,15

D2 Reincidência de A2 sobre C3 1,11 0,87

D Total das taxas das reincidências 16,12 4,02

T PORCENTAGEM TOTAL* 126,68 76,27

(*) Nas cidades onde não existe ambulatório SECONCI, a taxa de leis sociais é 125,29% para horistas e 75,18% para mensalistas (exclui-se A9, alterando-se D1)

Segundo FARAH (1992), nos anos oitenta o setor sofreu um esgotamento do ciclo de

expansão até então presente. Como conseqüência, as empresas construtoras foram

conduzidas a buscar novas formas de reduzir os seus custos e tornarem-se mais

eficientes. Durante este período ocorreram também mudanças nas leis trabalhistas

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obrigando as empresas a encontrarem formas mais adequadas de absorção de mão-

de-obra, que permitissem a redução de custos.

A estratégia utilizada foi a diminuição da quantidade de atividades desenvolvidas

pelas empresas construtoras, que repassaram parte significativa das etapas da obra

para terceiros.

Desta forma, as construtoras puderam minimizar o seu quadro de pessoal,

substituindo um vínculo empregatício pela contratação de serviços, incluindo aqueles

relacionados à produção.

CARDOSO (1997) identifica a terceirização como parte integrante de praticamente

todas as novas formas de racionalização da produção no setor da construção civil.

Este processo seria fonte de flexibilidade, englobando aspectos de qualidade,

produtividade e diversificação.

Na construção civil o produto final possui características particulares (grandes

dimensões, únicos e de difícil padronização). Para BRANDLI (1998), estes são

alguns fatores que contribuem para que o canteiro torne-se uma organização

temporária formada pela união de várias empresas autônomas ou semi-autônomas.

Este processo de “união” manifestou-se inicialmente como tendência de

especialização das empresas em etapas de maior complexidade. No entanto, na

década de 90, generalizou-se como uma estratégia de adaptação à crise iniciada nos

anos 80 (FARAH, 1993), perdurando até os dias de hoje.

Como conseqüência, atualmente são raras as empresas de construção civil que

executam todas as suas atividades sem a contribuição de outras empresas menores.

Tal fato ocorre em diversos centros urbanos brasileiros (VILLACRESES, 1994).

Comprovando as afirmações de vários autores, CAPOZZI (1998) apresenta uma

pesquisa bastante representativa realizada em canteiros de obras paulistanos, que

identifica a terceirização de serviços em 95% das obras residenciais pesquisadas,

como mostra a figura 1.

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11

85%90%

95%88% 88%

95% 93% 93%

83%

95%

80% 80% 78%

90%93%

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Figura 1 - Percentual de empreendimentos em S.Paulo que terceirizam os serviços, por tipo (CAPOZZI, 1998)

Para BRANDLI et al. (1998), o processo de organização da força de trabalho através

da estratégia de terceirização foi resultado do estímulo dado pelas próprias

construtoras para que seus funcionários constituíssem pequenas firmas para prestação

de serviços.

No entanto, a terceirização, se realizada de forma desorganizada, pode não trazer os

benefícios esperados. Não basta simplesmente deixar de produzir ou executar

determinada atividade para garantir a competitividade. É necessário que este

processo seja realizado de forma integrada.

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12

Este cuidado já era recomendado por PORTER (1991) em seus clássicos trabalhos

sobre estratégia empresarial. O autor classificava esta estratégia como “integração

vertical”.

Com a integração vertical, todas as funções que em determinado momento são

desempenhadas por uma organização, podem ser executadas por um consórcio de

entidades independentes, cada uma das quais contratada por um coordenador central.

A empresa estabelece uma relação de negócios verticalmente relacionados, muitas

vezes resultando em contratos de longo prazo na realização de atividades por outras

empresas, de maneira que os serviços sejam desfragmentados.

2.2. Conceitos sobre terceirização e subcontratação

Como se vê, o processo de transferência de atividades para outras empresas de menor

porte é uma realidade. No entanto, existem algumas divergências de como seria a

melhor definição deste processo na construção civil. Além da “terceirização”, existe

um outro termo bastante utilizado pelo mercado: “subcontratação”.

VILLACRESES (1994), FONTANELLA (1994) e BRANDLI (1998) procuraram

estabelecer as diferenças entre os termos, definindo que a terceirização caracteriza-se

pela busca externa de produtos e serviços que fazem parte das atividades “meio” da

empresa, isto é, das atividades de apoio. Como exemplos, tem-se: limpeza,

conservação, vigilância, contabilidade, etc.

Por outro lado, a subcontratação seria caracterizada pela busca externa de produtos e

serviços que fazem parte das atividades “fim” da empresa ou atividades principais.

Como exemplos, cita-se: execução de alvenaria, instalações, etc.

TOMÉ (1998) identificou que os serviços que mais freqüentemente são terceirizados

nos diversos ramos industriais, inclusive na construção são os considerados

secundários, ou seja, os serviços de apoio.

Este mesmo conceito já era apresentado por LEIRIA (1992), que estabelecia a

terceirização como o processo de transferir atividades “meio” para uma outra

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empresa que as têm como sua atividade “fim”. É a prática de entregar para terceiros

todas as atividades de uma empresa que não sejam essenciais.

Atividades essenciais seriam aquelas relacionadas ao seu processo produtivo e que

estrategicamente devem permanecer em poder da empresa. O que é acessório seria

então passível de repasse a outros.

Mas a diferença dos termos pode estar também relacionada com o tipo de relação

comercial existente entre as partes, o chamado contrato.

Segundo LORDSLEEN JR. (2002), a norma NBR 5670 (ABNT, 1977) define

“contratação” como a arregimentação do conjunto de pressupostos, de requisitos e

atos necessários à formação, elaboração e assinatura do contrato de serviço ou obra;

e a “subcontratação” como o ato pelo qual o contratado confia a outra pessoa física

ou jurídica a execução de parte do serviço.

Como se vê, a subcontratação estaria relacionada à transferência de responsabilidade

sobre um serviço a ser prestado. A responsabilidade seria repassada a uma empresa

denominada de “subcontratada”.

PAGNANI (1989) já defendia o conceito de que “subcontratada” seria uma empresa

aceitante da responsabilidade técnica e financeira de elaborar um produto ou serviço,

sob especificação técnica de uma empresa primária.

Para que não perdurem as dúvidas nos termos relativos aos agentes envolvidos em

um contrato, podem-se utilizar os termos identificados no trabalho de LORDSLEEN

JR. (2002). O autor estabelece que o decreto 3048 do Diário Oficial da União - DOU

datado de 12/05/99, considerando os agentes participantes do ato da contratação e

subcontratação, define “contratante” como a empresa tomadora de serviços mediante

cessão de mão-de-obra ou empreitada; e “contratada” como a empresa prestadora de

serviços que os executa por cessão de mão-de-obra ou empreitada.

Para designar as particularidades das relações de trabalho na construção civil o autor

entende como mais adequado o uso do termo “empreitada”, como definido no

mesmo decreto.

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Por fim, o autor define como “empreiteira” a empresa que executa obra de

construção civil, mediante contrato de empreitada celebrado com o proprietário,

dono da obra, incorporador ou condôminos e “subempreiteira” como a empresa que

executa obra de construção civil mediante contrato celebrado com a empreiteira.

Desta forma, para este trabalho, pode-se entender as relações no processo de

contratação, na construção civil, conforme estabelecido na figura 2.

Figura 2 - Definição dos agentes envolvidos no processo de contratação e subcontratação (ou terceirização) na construção civil para este trabalho

Tal modelo representa um caso particular de estruturação de contratos para execução

de obras, mas o mais corrente no Brasil. No entanto, pode existir uma contratação

direta de cada serviço necessário à execução do edifício, caso raro aqui mas

relativamente comum em outros países como a França, por exemplo.

GAAFAR; PERRY (1999) levantam que a forma de se diferenciar ou definir a

contratação baseia-se na garantia do serviço prestado.

Proprietário ou Incorporador

Empresa Empreiteira

Empresa Subempreiteira 1

Contratante

Contratada Subcontratante

SubcontratadasEmpresa Subempreiteira 2

Empresa Subempreiteira N

Contrato de prestação de

serviços

Contrato de prestação de parte

dos serviços

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O contratado principal pode garantir todo o serviço do subcontratado, ou então, de

acordo com as características e competências do subcontratado, este mesmo pode

garantir seus serviços.

Existem casos onde o contratado e o subcontratado dividem a responsabilidade pelos

serviços.

Com uma pesquisa realizada na Grã-Bretanha, os autores afirmam que 90% dos

contratos no setor da construção pesquisados são realizados de modo que o

subcontratante (ou contratado) assume a responsabilidade e garantia de todos os

serviços.

Com isto percebe-se que não há confiança nas empresas subcontratadas. Por esta

razão, pode-se também encontrar diferenças entre os termos identificados no título

deste capítulo, de acordo com o nível de confiança ou de transferência de

responsabilidades.

CARDOZO (1998), por exemplo, utiliza esta diferenciação basicamente com a

finalidade de identificar a melhor forma de subcontratação. Sob o ponto de vista do

autor, um dos grandes desafios para as contratantes reside em não terceirizar áreas

estratégicas da empresa, repassando apenas aquelas que não integram o núcleo dos

negócios de uma companhia.

O SiQ - Serviços e Obras (PBQP-H, 2002) define “subempreitada de serviço” como

a contratação de fornecedor de serviço ou subempreiteiro pela empresa construtora

para a execução de determinada parte de uma obra e “terceirização” como a

contratação de terceiros pela empresa construtora cujo objeto de contrato não se

relaciona diretamente com a obra contratada junto ao cliente

SERRA (2001), nesta mesma concepção, propõe então as definições descritas na

tabela 2.

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Tabela 2 - Definições para subcontratação e terceirização (SERRA, 2001)

Subcontratação na construção civil é a transferência das atividades ligadas à

produção para pessoas físicas ou jurídicas, contratadas para execução de partes

perfeitamente definidas do empreendimento com anuência e sob a responsabilidade

técnica do empreiteiro principal

Terceirização na construção civil é a transferência das atividades ligadas à produção

para pessoas físicas ou jurídicas; essas são contratadas para a execução de partes,

etapas ou sistemas perfeitamente definidos do empreendimento, que são realizados

com total autonomia, e cujos riscos e garantias são de responsabilidade do

contratado

Neste trabalho seguiram-se as definições propostas na tabela acima, identificando

também, genericamente, as empresas que realizam as partes dos serviços transferidos

como “empresas subempreiteiras”, conforme a figura 2, ou simplesmente

“subempreiteiros”, como no título desta dissertação.

O próprio SiQ - Serviços e Obras (PBQP-H, 2002) vem confirmar esta idéia,

definindo “subempreiteiro” como o fornecedor de um serviço para a empresa

construtora decorrente da necessidade de execução de uma determinada parte de uma

obra. Tal fornecimento, segundo o documento, implica da sub-rogação de direitos e

obrigações da empresa construtora para o subempreiteiro frente ao cliente.

Assim sendo, estuda-se aqui a questão da capacitação e da qualificação de empresas

contratadas para a execução de partes perfeitamente definidas do edifício, com

anuência e sob responsabilidade da empresa empreiteira ou simplesmente

“construtora”.

2.3. Classificação dos subempreiteiros

A definição anterior, ao falar de “partes perfeitamente definidas”, ainda não é

suficiente para abranger a diversidade de atividades que um subempreiteiro pode

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realizar numa obra e também para distinguir os diferentes tipos de empresas que

atuam como tal.

Assim, como forma de realizar uma distinção entre as atividades realizadas pelos

subempreiteiros, o que será útil para uma análise mais profunda dos programas de

capacitação, procurou-se modelos de classificação que consigam caracterizá-los

adequadamente.

VILLACRESES (1994), por exemplo, procura salientar as diferenças entre

subempreiteiros, de acordo com o tipo de atividade desenvolvida. De acordo com sua

classificação, os subempreiteiros são agrupados em três categorias:

♦ Subempreiteiros de atividades básicas: constituídas por aqueles que executam

fôrmas, concreto, alvenarias, revestimentos argamassados, revestimentos

cerâmicos, etc;

♦ Subempreiteiros de especialidades técnicas: executam atividades como

instalações elétricas, hidráulicas e ar condicionado, por exemplo;

♦ Subempreiteiros de especialidades de trabalho e/ou materiais: executam

impermeabilização, pintura, pisos, esquadrias, vidros, fundações, limpeza, etc.

Para PEREIRA (2003), esta classificação não diferencia apropriadamente os

subempreiteiros atuantes no mercado, tendo em vista que os subempreiteiros da

construção civil não constituem grupos homogêneos, tanto no Brasil, como no

exterior.

Assim, o autor propõe uma nova classificação baseada em níveis de exigência de

seus subcontratantes (construtoras). Esta classificação contém 4 níveis evolutivos de

exigência, que seriam:

♦ Subempreiteiros de mão-de-obra: aqueles que fornecem apenas a mão-de-obra

para a execução de serviços contratados, como por exemplo, as empresas de

pintura ou alvenaria tradicionais;

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♦ Subempreiteiros de material e mão-de-obra: aqueles que além da mão-de-obra,

fornecem os materiais a serem utilizados no serviço contratado, como as

empresas de execução de gesso desempenado;

♦ Subempreiteiros de projeto, material e mão-de-obra: mais estruturados e

especializados, são aqueles que se responsabilizam também pelo projeto do

serviço a ser executado, como por exemplo, empresas de impermeabilização;

♦ Subempreiteiros de projeto, material, mão-de-obra e manutenção: são empresas

que além de executarem todas as etapas do serviço, com seu próprio material e

projeto, ainda se responsabilizam pela assistência técnica pós entrega, como por

exemplo, empresas de ar condicionado ou elevadores.

PEREIRA (2003) identifica também o fato de que determinados tipos de

subempreiteiros estariam passando por um processo de transição dos níveis

apontados na classificação, procurando adaptar-se às novas exigências de mercado

para seu tipo específico de serviço.

Este é o caso das empresas de execução de alvenaria racionalizada. Tradicionalmente

eram subcontratadas para executarem o serviço e dispunham de materiais específicos

para diminuir quebras, como blocos de tamanhos e formatos especiais. Assim,

estariam classificadas como subempreiteiros de material e mão-de-obra. No entanto,

atualmente estas empresas estão passando a fornecer também os projetos, o que

possibilitaria em algum tempo uma mudança de nível evolutivo de acordo com a

classificação proposta.

Adota-se aqui a classificação de PEREIRA (2003).

2.4. Relação dos subempreiteiros com as empreiteiras

Posto que os subempreiteiros são contratados no Brasil pelas empreiteiras ou

empresas construtoras, executando sob responsabilidade destas as partes do edifício,

falar de capacitação e de qualificação exige uma análise da relação entre tais

empresas.

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19

2.4.1. O poder das empresas subcontratantes e a seleção de subempreiteiros

LEITE; RIZEK (1998) verificam que na indústria as empresas subcontratantes

tendem a estabelecer diferentes relações com seus subcontratados, de acordo com o

tipo de produto fornecido. O relacionamento da subcontratante com empresas que

fornecem produtos fundamentais para a garantia da qualidade de seu processo é

estrategicamente mais próximo do que com as demais. Estas últimas possuem um

relacionamento de vínculo menor, permitindo à subcontratante repassar a

responsabilidade pela diminuição de custos para as subcontratadas.

No entanto, na construção civil, quando se trata de subempreiteiros, mesmo estes

realizando atividades essenciais para a qualidade do produto final das

subcontratantes, eles são forçados a reduzir seus preços, pelo grande poder de

barganha imposto pelas construtoras.

FILIPPI; PEREIRA (1999) identificam que os subempreiteiros no Brasil, por suas

características peculiares, estão dentro do perfil das micro e pequenas empresas

nacionais (MPEs). Estas empresas, de modo geral, são sujeitas às determinações das

grandes empresas contratantes, ficando totalmente submissas nas relações comerciais

com estas.

Segundo pesquisa realizada por GARCIA et al. (2000), em média as MPEs da

construção civil têm desempenho econômico 23% menor que o das médias e grandes

empresas, função dos menores investimentos em qualidade e produtividade (em

média 15% inferiores), da diferenciação da marca e das maiores dificuldades

administrativas.

Para MONTAÑO (1999) a relação existente entre os subempreiteiros e a grande

empresa empreiteira é sempre desigual. Como a quantidade de empreiteiras

subcontratantes não é grande no mercado, esta conta com um número elevado de

pequenas empresas subempreiteiras que podem lhe fornecer seus serviços. Tal fato

gera uma forte concorrência entre os subcontratados, que normalmente reduzem o

seu preço final e conseqüentemente seus lucros.

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20

O autor afirma que nas relações de subcontratação, a mais-valia produzida é

apropriada sempre pela grande empresa, que no caso do setor da construção civil,

(sobretudo no subsetor edificações) é representado pelas construtoras. E no processo

de seleção dos subempreiteiros, um dos critérios mais adotados é o preço dos

serviços.

O inconveniente deste tipo de seleção é que nem sempre o que parece ser o menor

custo inicial, confirma-se como menor custo final. Há outros fatores que devem ser

considerados.

KUMARASWAMY; MATTHEWS (2000) afirmam que para se obter sucesso na

aplicação de uma metodologia de seleção de subcontratados, esta deve estar baseada

em critérios diferentes do “menor preço”, como por exemplo, indicadores de

responsabilidade, competência da empresa, capacidade dos operários, taxas de

“performance” relacionadas às atividades previstas para subcontratação, etc.

A inexistência de patologias, a qualidade dos serviços, o cumprimento dos prazos, a

gestão participativa podem ser alguns dos pontos presentes na relação que

contribuem para a mútua satisfação final.

BÉRTOLO (2000), após uma consulta com vários especialistas no setor da

construção civil, estabelece critérios básicos para a identificação dos subempreiteiros

mais adequados ao atendimento da empresa subcontratante:

♦ Observar o currículo profissional da empresa (obras e atestados);

♦ Dar preferência para empresas especializadas e de corpo técnico experiente;

♦ Procurar, de acordo com os serviços, empresas de pequeno porte, pois costumam

ter menor rotatividade de mão-de-obra e manter o quadro treinado com maior

facilidade;

♦ Buscar parcerias fixas com subempreiteiros que se encaixem na filosofia e

esquema de trabalho da construtora;

♦ Analisar as situações fiscais, contábeis e previdenciária do subempreiteiro;

♦ Manter equipe técnica própria de fiscalização da obra;

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♦ Acompanhar o pagamento dos operários e recolhimento dos encargos sociais e

demais impostos;

♦ Elaborar carta convite que descreva os direitos e obrigações do subcontratado,

pois tal cuidados atrai empresas dentro do perfil da construtora.

Em seu trabalho, SERRA (2001) detalha e classifica de maneira completa os

principais aspectos (inclusive o preço) que deveriam ser verificados para uma efetiva

seleção de subempreiteiros, como apresentado na tabela 3.

Tabela 3 - Aspectos para seleção de subempreiteiros (SERRA, 2001)

Aspectos Comerciais

Aspectos Gerenciais Aspectos Técnicos Preço do Serviço

♦ Localização da empresa;

♦ Marketing ♦ Posição em

relação aos concorrentes

♦ Dados de empresas clientes

♦ Histórico dos fornecimentos

♦ Honestidade ♦ Idoneidade

financeira

♦ Sistema de garantia da qualidade;

♦ Técnicas gerenciais;

♦ Estruturação da organização administrativa;

♦ Gestão de RH; ♦ Flexibilidade; ♦ Sistema

logístico

♦ Comprovação de especialidade;

♦ Profissional responsável;

♦ Fornecimento de ART;

♦ Atualização profissional;

♦ Capacidade de produção;

♦ Disponibilidade de recursos;

♦ Capacidade de desenvolvimento de tecnologia;

♦ Cadeia de serviços;

♦ Oferta de competências

♦ Prazo para devolução da caução contratual;

♦ Condições de reajuste;

♦ Inclusão do fornecimento dos materiais;

♦ Seguro; ♦ Assistência

técnica do serviço

Outros trabalhos, como o de OKOROH; TORRANCE (1999) identificam modelos

de seleção de subempreiteiros, com critérios claramente estabelecidos, mesmo que

subjetivos, para a definição dos fornecedores mais adequado à realidade da empresa.

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A implantação destes modelos é importante para que a seleção fique menos

dependente da experiência do profissional responsável pela contratação.

Atualmente, de acordo com a pesquisa de BOCCHILE (2001), as empresas

subcontratantes nacionais estão implantando sistemáticas padronizadas, não só para a

seleção, como para a avaliação do desempenho de subempreiteiros. Estas

sistemáticas incluem critérios por notas ou listas de exigências e variam de acordo

com as necessidades de cada empresa.

2.4.2. Papel e responsabilidades dos subempreiteiros

Qualquer que seja o tipo de serviço de um subempreiteiro, o seu relacionamento com

a construtora sempre é bastante difícil. Isto se deve, em parte, porque frente ao

cliente, a construtora é a responsável pela integridade da obra, mas no ato da

contratação dos subempreiteiros, as responsabilidades destes não são claramente

especificadas.

O papel dos subempreiteiros deve ser bem definido, como se verá a seguir, e ganha

uma amplitude cada vez maior, reforçando a importância da capacitação e da

qualificação.

Na visão de BALLARD apud BRANDLI (1998), a responsabilidade pelo controle da

qualidade, planejamento da produção e controle dos materiais deve dos

subempreiteiros.

No entanto, tais empresas ainda não têm condições de responder a estas expectativas,

mesmo em países desenvolvidos, como é o caso dos Estados Unidos, região

abordada pelos estudos do autor.

MERLI (1990), ao falar sobre evoluções estratégicas, já comentava que uma

empresa, mesmo que “perfeita”, mas inserida em uma cadeia de negócios onde seus

fornecedores são pouco capazes, está destinada ao fracasso.

Esta tendência é observada também nas pesquisas de CAPOZZI (1998), onde se

observou que as construtoras, de maneira geral, incorporam a responsabilidade pela

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qualidade da obra, mas estão começando a cobrar dos subempreiteiros um

posicionamento diferente, mais engajado com a melhoria dos serviços prestados.

KRUGLIANSKAS (1996) defende este ponto. Segundo o autor, com a elevada

competitividade dos tempos recentes, as pequenas empresas subcontratadas, mesmo

de setores tradicionais como o da construção civil, passaram a ter um importante

papel estratégico para a competitividade das grandes empresas subcontratantes.

Desta forma, os subempreiteiros afetam decisivamente o sucesso do processo

estabelecido pela cadeia produtiva do setor. O autor acredita que a falta de qualidade

ou preços competitivos em qualquer um dos elos pode comprometer toda a cadeia.

Apesar deste elo ser tão importante, normalmente o subempreiteiro realiza apenas a

parte operacional de um projeto ou empreendimento. A empreiteira realiza toda parte

gerencial. Este fato não é muito positivo na visão de alguns autores.

Além de Ballard, LOVE (1997), por exemplo, apresenta uma filosofia que inclui o

subcontratado no gerenciamento da construção, sobretudo no desenvolvimento das

melhorias do projeto e dos métodos de execução originais.

Este fato traria para o subcontratado a idéia de que um dado empreendimento não é

apenas mais um lugar para ganhar seu sustento, a sua sobrevivência. Quando o

subempreiteiro sente-se parte do processo, desempenha melhor suas atividades e

pode contribuir para que as demais (fora de suas responsabilidades) sejam também

melhoradas.

Dentro desta filosofia, LOVE (1997) estabelece os requisitos ideais para cada

elemento deste relacionamento, como apresentado na tabela 4.

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Tabela 4 - Requisitos ideais para subcontratante e subcontratado (LOVE, 1997)

O subcontratado ideal: O subcontratante ideal:

♦ Trabalha com custos abaixo do orçado; ♦ Tem mão-de-obra bem treinada; ♦ Está familiarizado com os termos do

contrato; ♦ Programa suas atividades; ♦ É honesto nas suas dúvidas; ♦ É inovador e criativo, sugere melhores

caminhos na execução das atividades; ♦ Identifica necessidades de alterações de

projeto em tempo; ♦ É flexível e diminui impactos gerados por

alterações durante a execução do empreendimento;

♦ Produz trabalho de alta qualidade; ♦ Não gera dúvidas nas faturas; ♦ Trabalha pelo interesse da obra (e não

pelos seus interesses); ♦ É cooperativo e satisfeito com o trabalho; ♦ Ajuda a obra além de seu escopo de

trabalho; ♦ Tem programas de segurança.

♦ Aceita responsabilidades; ♦ É flexível e aberto a sugestões; ♦ Dá informações exatas para a

programação e controle das atividades;

♦ É justo nas compensações necessárias por mudanças ou alterações de projeto;

♦ Pede / demanda qualidade; ♦ Paga prontamente (em dia); ♦ Não têm segredos de seus

compromissos (agenda); ♦ Trata igualmente todos os

subcontratados; ♦ Apresenta metas ou programações

lógicas e razoáveis; ♦ Toma decisões e resolve conflitos

em tempo; ♦ Tem voz de comando (autoridade)

definida; ♦ Mostra fé e acredita na competência

do subcontratado.

Capacitar subempreiteiros significa a princípio dotá-los de competências a

habilidades como os relacionados na tabela 4.

Segundo ALVAREZ (1996), para que sejam minimizados os problemas durante o

período de desenvolvimento das atividades subcontratadas é necessária a

conscientização de todos os participantes. Tanto subcontratantes como

subcontratados devem se envolver de tal modo que cada novo problema identificado

seja enfrentado com a assunção das responsabilidades de forma solidária.

Assim, é necessária uma mudança no relacionamento das subcontratantes com os

subempreiteiros. GIOSA (1993) já identificava esta necessidade, quando propunha

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uma nova forma de relacionamento entre subcontratante e subcontratado.

Aproveitando os estudos do autor, procurou-se descrever quais seriam as

características desta nova relação, como mostra a tabela 5.

Tabela 5 - Mudança na relação dos subcontratantes com subcontratados (adaptado de GIOSA, 1993)

Relação tradicional Nova relação Desconfiança e medo dos riscos Confiança

Levar vantagem em tudo Política do “ganha / ganha” Ganhos de curto prazo Economia de escala

Pluralidade de subcontratados Subcontratado único para a atividade transferida

O preço decide Enfoque na qualidade Antagonismo Cooperação

Postura reativa Postura pró-ativa Subcontratado como adversário Subcontratado como parceiro

Vê-se que esta nova relação entre subcontratantes e subcontratados apresenta um

caráter de parceria.

2.4.3. Busca da parceria no processo de subcontratação

Visto a necessidade de fortalecimento dos elos da cadeia produtiva da construção

civil, BRANDLI (1998) afirma que a “parceria” poderia ser um eficiente objeto na

promoção de melhores relações entre as construtoras e os subempreiteiros.

Mas nesta relação, segundo SERRA (2001), a iniciativa da melhoria deveria partir

daquele que recebe o produto ou serviço. Em outras palavras, a construtora

subcontratante deveria passar a exigir e estabelecer parâmetros de qualidade a serem

seguidos. A autora aponta que com a competição globalizada, apenas as organizações

que buscarem trabalhar em parceria ou desenvolver fornecedores adquirirão

vantagem sobre as demais.

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De acordo com SCARDOELLI et al. (1994), a parceria consiste no estabelecimento

de um relacionamento de longo prazo, com o propósito de atingir objetivos

específicos do negócio por meio da maximização da efetividade dos recursos de cada

participante.

Para os autores, isto implica em mudar os relacionamentos tradicionais para uma

cultura compartilhada, tendo como vantagens possibilitar a garantia de maior

qualidade e conformidade dos produtos, possibilitar o desenvolvimento tecnológico,

reduzir custos e evitar desgastes na relação entre construtora e subempreiteiro.

Para SLATER (1998), parceria é o relacionamento entre empreendedores, projetistas

e contratados em determinado projeto onde cada parte admite ou reconhece suas

metas comuns com as demais partes. Os acordos de parceria são desenvolvimentos

de metas e objetivos mútuos.

Mas no estabelecimento dos objetivos mútuos encontra-se talvez o maior desafio

para a consolidação da parceria. Com a economia tão competitiva, nenhum dos

participantes quer “perder” com o acordo, tornando a fase de negociação bastante

complicada. Muitas vezes, os objetivos principais de uma organização são ocultos

dos parceiros, contribuindo para o desgaste do relacionamento.

Assim, a base para uma boa parceria seria exatamente a transparência desta relação,

fato muito difícil no setor da construção civil.

KOSKELA (1992) há tempos identificou que na construção civil, a falta de

transparência nos processos potencializa o aumento da possibilidade de erros, e pior,

diminui a possibilidade de visualização destes erros, comprometendo a qualidade dos

resultados a serem alcançados.

SMITH; BOHN (1999) também pregam a necessidade da transparência nos

relacionamentos comerciais, pois no estabelecimento de um contrato, os riscos

agregados, que prejudicam ambas as partes envolvidas, são mais bem identificados

por cada parte, apenas para a sua atividade.

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Mas a falta de transparência não é único problema. ALVES (1998), em um estudo

sobre o relacionamento entre clientes e fornecedores na indústria da construção civil,

detectou vários fatores que dificultam o estabelecimento de parcerias. Dentre eles,

pode-se citar os da tabela 6.

Tabela 6 - Fatores que dificultam parcerias na construção civil (ALVES, 1998)

Para os fornecedores Para os construtores

♦ Falta de compromisso das construtoras;♦ Inconstância na demanda; ♦ Excesso de exigência; ♦ Ausência de treinamento.

♦ Não cumprimento de prazos; ♦ Falta de qualidade; ♦ Falta de interesse do fornecedor; ♦ Falta de compromisso quanto a preços.

BRANDLI (1998) acredita que o processo de subcontratação só obterá sucesso

quando as relações entre subcontratantes e subcontratados estiverem baseadas em

verdadeiras parcerias.

Sobre o relacionamento entre empresas construtoras e subempreiteiros,

SCARDOELLI et al. (1994) também afirmam que este deve possuir caráter de

parceria, o que implica em contratos duradouros, funções e responsabilidades

claramente definidas respeitando o papel de interveniente de cada parte, apoio da

empresa construtora ao desenvolvimento e capacitação de seus subempreiteiros.

Estas parcerias muitas vezes acontecem entre a empresa construtora e pequenas

empresas estabelecidas por alguns de seus ex-funcionários. Como o grau de

confiança nos subempreiteiros ainda é bastante reduzido no setor, as construtoras

preferem relacionamentos com trabalhadores que já realizaram serviços para a

empresa, não necessariamente satisfatórios. A construtora já conhece os limites

destes subempreiteiros e o tipo de controle que deve ser realizado, temendo que

mudanças de fornecedores possam ocasionar problemas maiores do que os já

esperados.

Pelas características do setor da construção civil e das empresas que nele atuam,

quando uma empresa construtora toma a decisão de estabelecer uma parceria com

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um de seus fornecedores de serviços de execução, ela deve estar disposta, entre

outras coisas, a contribuir para o seu desenvolvimento.

Como maneiras de desenvolver os fornecedores SCARDOELLI et al. (1994)

sugerem a participação conjunta em eventos, treinamento, visitas técnicas,

desenvolvimento de produtos e processos.

CONLEY; GREGORY (1999) apontam também a importância da parceria entre as

empresas, principalmente entre as pequenas. No entanto, os autores levantam um

outro ponto importante. As definições clássicas de parceria identificam a necessidade

do estabelecimento dos objetivos comuns entre os envolvidos, sendo isto realizado

normalmente de maneira formal. Os autores defendem, no entanto, que na construção

civil, determinadas parcerias sejam informais, desburocratizando as relações entre

construtora e subempreiteiro.

SLATER (1998), por sua vez, identifica algumas características necessárias para o

sucesso de um relacionamento de parceria. Tais características encontram-se na

tabela 7.

Tabela 7 - Características de uma parceria bem sucedida (SLATER, 1998)

♦ ajuda mútua para o parceiro alcançar suas metas; ♦ escolher os caminhos onde as propostas sejam trabalhadas em conjunto e não a

simples divisão de trabalhos; ♦ não fazer pré-julgamentos do parceiro; na dúvida, checar; ♦ utilizar termos como “nós” e não “eles”; ♦ falar positivamente do parceiro em cada oportunidade que surgir; ♦ manter pensamento positivo no surgimento dos problemas e ver as soluções

propostas pelo parceiro com entusiasmo; ♦ agir com iniciativa e coragem (não esperar a ação do parceiro); ♦ dar ao parceiro o que a sua empresa deseja (autoridade, responsabilidade,

respeito, honestidade, etc.); ♦ resolver as controvérsias prontamente; não esperar o dia seguinte.

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Outras características foram também levantadas por outros autores, dentre elas a

questão da ética profissional.

BORG (1995) afirma que o maior imperativo hoje na indústria é o empenho para o

estabelecimento de uma relação de trabalho com a maior ética possível. A

integridade e imagem pública de uma empresa podem garantir sua consolidação no

mercado, independente de outros atributos técnicos e econômicos.

Isto pode ser estendido à própria parceria. Caso o relacionamento tenha um de seus

participantes com uma imagem conturbada, a imagem dos demais parceiros também

será afetada, e este fato conseqüentemente contribuirá para a dissolução do acordo.

Assim, novamente verifica-se a importância dos processos de capacitação e

qualificação das empresas subcontratadas, sobretudo quando estas estariam sendo

avaliadas para participar de um programa de parceria.

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3. CAPACITAÇÃO E QUALIFICAÇÃO DE SUBEMPREITEIROS

Este capítulo traz um aprofundamento maior sobre os processo de capacitação e de

qualificação de subempreiteiros. Seu objetivo principal é identificar mais

adequadamente o tema da dissertação, procurando estabelecer o posicionamento

deste autor em relação aos dois conceitos.

Além disso, estendendo-se os conceitos para a realidade atual dos subempreiteiros,

identificada no capitulo 2, procura-se justificar a necessidade de programas de

capacitação (a até de qualificação) específicos para os mesmos.

Em seguida, descrevem-se algumas das iniciativas de determinados organismos

particulares ou públicos ligados ao setor da construção civil no Brasil e no exterior,

para a implantação destes programas.

Este estudo propiciou uma primeira identificação de requisitos para capacitação e até

qualificação de subempreiteiros estabelecidos pelo mercado, bem como das

características de programas com esta finalidade.

3.1. Conceitos

Bastante abrangentes, os temas da capacitação e da qualificação ganham cada vez

mais espaço no meio acadêmico, na mídia e no mercado de trabalho com as novas

exigências de competitividade dos dias de hoje. Mas como definir o que é

capacitação e o que é qualificação?

Alguns autores como FRANCO (1998) confirmam que está em curso atualmente

uma re-significação dos processos de formação dos trabalhadores no contexto das

transformações produtivas, inclusive do ponto de vista semântico. A autora ressalta

que termos como formação profissional ou técnico-profissinal, educação industrial,

qualificação, requalificação profissional, capacitação, dentre outros, ganham

complexidade e novos significados em conseqüência da nova realidade produtiva e

organizacional do trabalho.

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Ao procurar o sentido destas palavras, como simples vocábulos da língua portuguesa,

pode-se encontrar:

• capacitar significa: “tornar capaz, habilitar; convencer, persuadir”

(FERREIRA, 1994);

• qualificar significa: “indicar as qualidades de, classificar; emitir opinião a

respeito de; avaliar; apreciar; considerar qualificado, apto, idôneo”

(FERREIRA, 1994).

Os termos são assim bastante diferentes, mas este fato não é levado em consideração

pelos autores consultados. Esta distinção passa desapercebida na maioria dos

trabalhos ou documentos de referência.

A própria norma NBR ISO 9000, por exemplo, que traz os conceitos relacionados a

sistemas de gestão da qualidade (assunto bastante relacionado ao tema deste

trabalho), não explora detalhadamente esta diferenciação, trazendo apenas algumas

pistas iniciais para a presente pesquisa.

Segundo a norma, qualificação seria o “processo para demonstrar a capacidade de

atender aos requisitos especificados” (ABNT, 2000a).

Capacidade, por sua vez, seria a “aptidão de uma organização, sistema ou processo

de realizar um produto (serviços, informações, materiais ou equipamentos) que irá

atender aos requisitos para este produto” (ABNT, 2000a).

Existem outros conceitos relacionados a esta questão, sendo que a maioria deles

refere-se especificamente à capacitação ou qualificação do “trabalhador”, não se

relacionando como processos.

CORTÊS (1997), por exemplo, apresenta alguns destes conceitos. O primeiro deles

define que qualificação é o conjunto de conhecimentos requeridos para a realização

de determinado trabalho.

Esta primeira proposta da autora está intimamente ligada à formação profissional. A

melhor forma de avaliar a qualificação do indivíduo seria analisar se este possui os

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conhecimentos necessários para a execução das tarefas e dos requisitos relacionados

a seu posto de trabalho. Estes requisitos podem ser explícitos, descritos pela própria

empresa ou outros mais subjetivos, mas essenciais ao processo do trabalho.

No entanto, segundo a própria autora, o conceito de formação profissional como

aquisição de um saber especializado deixa de ter sentido na medida em que a

qualificação passa a ser relacionada com a disposição e flexibilidade dos

trabalhadores em adaptar-se a freqüentes inovações tecnológicas e organizacionais.

Na base das novas competências devem estar a criatividade, a capacidade de

adaptação, a disposição para resolver os problemas da produção e a responsabilidade

na tomada de decisões.

CORTÊS (1997) traz então uma outra idéia que caracteriza a qualificação como

sendo socialmente construída e que procura ir além do aspecto técnico relacionado à

análise ocupacional, incorporando elementos políticos e culturais.

A partir dessa perspectiva, a qualificação resulta de relações sociais complexas e

muitas vezes conflituosas, não apenas entre trabalhadores e empresa, como também

entre os próprios trabalhadores.

Este conceito segue a mesma filosofia de DIAS (2000), que estabelece a

qualificação, no âmbito da formação profissional, como um processo que se dá em

todos os momentos da vida do cidadão: na família, na escola, no trabalho, no lazer,

enfim, onde houver um homem estabelecendo relações com outros homens sempre

haverá uma troca de experiência e uma nova aprendizagem. Este autor introduz a

idéia de “processo”.

Segundo o ponto de vista do autor, não existe um momento determinado em que o

profissional deve ser qualificado, mas o simples fato de viver implica conhecer e este

conhecimento é base da formação profissional.

Mas estas experiências não são iguais para todos os trabalhadores em suas vidas

particulares e, quando semelhantes, não são assimiladas da mesma forma.

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As visões desses dois últimos autores são particularmente importantes quando se

imagina a capacitação dos proprietários das empresas subempreiteiras, seus

dirigentes.

NEVES; LEITE (1998) também questionam esta questão da existência de um núcleo

comum de entendimento sobre a noção da qualificação. Segundo as autoras, a

qualificação, em seu sentido mais tradicional, está ligada às exigências definidas pelo

posto de trabalho nas empresas. De uma maneira mais ampla, a qualificação do

trabalhador compõe um conjunto de saberes escolares, técnicos e sociais, que o

tornam capacitado profissionalmente.

MANFREDI (1998), em suas pesquisas com industrias paulistas, estabelece que a

qualificação de um indivíduo é a capacidade de resolver rápido e bem os problemas

concretos e mais ou menos complexos que surgem em sua atividade profissional. O

exercício desta capacidade implica a mobilização de competências de três tipos

básicos, como identificado na tabela 8.

Tabela 8 - Competências para qualificação de indivíduos (MANFREDI, 1998)

Saber fazer Dimensões práticas, técnicas e científicas adquiridas por cursos, treinamentos ou experiência profissional.

Saber ser Traços de personalidade e caráter que ditam os comportamentos

nas relações sociais de trabalho (iniciativa, comunicação, produtividade, etc.).

Saber agir O saber agir: intervenção ou decisão diante de eventos (trabalhar em equipe, resolver problemas, realizar trabalhos novos, etc.).

A noção de qualificação envolve diferentes dimensões e uma das mais importantes

foi apontada por KERGOAT apud NEVES; LEITE (1998), que seria a qualificação

entendida como relação social: “Na dinâmica que se estabelece entre capital e

trabalho é que se diferenciam as classificações de emprego estabelecidas pela

empresa e a qualificação dos trabalhadores”.

Assim, surge um outro aspecto que também deve ser considerado: o emprego.

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De acordo com ANTUNES (2000), o emprego é a forma como o trabalho consolida-

se na nossa sociedade: “Trabalho assalariado e formal é sinônimo de emprego”.

No entanto, o que se assiste nos últimos anos são as mudanças nesta forma de

trabalho. Cada vez mais as empresas buscam a flexibilização das relações de

trabalho, que muitas vezes acabam se tornando informais, sem direitos. Os

trabalhadores que se encontram nesta situação estão desprovidos de estabilidade,

vivendo cotidianamente o medo do desemprego.

O profissional de hoje torna-se fortemente dependente de uma qualificação

permanente e da busca da empregabilidade, novo conceito que aparece. Para

sobreviver em um mercado de trabalho altamente competitivo, é importante que o

profissional esteja continuamente fazendo cursos e especializações.

Mas este empenho está longe de ser suficiente para que se alcance um posto de

trabalho e reduzam-se os índices de desemprego. O quadro do desemprego é mais

complexo do que se imagina e não se modificará enquanto resumir-se o problema à

necessidade de qualificar-se a classe trabalhadora. Segundo ANTUNES (2000), se os

mais de 1,2 bilhões de homens e mulheres desempregados existentes no mundo

fossem qualificados, eles tornar-se-iam os mais novos qualificados desempregados

da sociedade contemporânea.

Indícios deste problema já podem ser encontrados em determinados países. Na

Alemanha, por exemplo, algo interessante está acontecendo. De acordo com SYBEN

(1998), as companhias construtoras alemãs tradicionalmente contam com

trabalhadores qualificados. No entanto, na busca de menores custos de produção elas

parecem estar direcionadas para a utilização de trabalhadores menos qualificados

comandados por engenheiros e outros profissionais de gerenciamento e supervisão,

aliados a processos de controle e inspeção mais rígidos.

Isto tem influenciado tanto o modelo de produção como a política de treinamento e

educação do país. Este alto nível de treinamento resulta em um custo de trabalho que

não favorece a obtenção de preços competitivos.

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Assim, a qualificação é uma forma de diferenciação, já que não há possibilidades

para todos. A capacitação é no máximo uma alternativa individual, pessoal, válida

para poucos, ao tentar enfrentar a “lei da selva” do mercado.

Outro sentido para a qualificação é estabelecido por ZARAFIAN apud CORTÊS

(1997). Segundo o autor, as atividades atuais exigem uma nova competência do

trabalhador, no sentido de desenvolver uma atitude social de iniciativa e

responsabilidade em relação ao trabalho e não apenas de manejar um conjunto de

conhecimentos para a realização de determinada atividade.

Para que o trabalhador assuma esta responsabilidade e adquira a competência

necessária, por sua vez, deve haver uma participação da empresa neste processo. Este

modelo requer que a empresa confie nas pessoas que realizem o trabalho.

Certamente, essa atitude resulta numa mudança no sistema de relações e de poder na

empresa, o que pode gerar conflitos e resistências.

Segundo ZARIFIAN apud CORTÊS (1997), as empresa teriam que ser

“qualificantes” (ou “capacitantes”, segundo o sentido do presente trabalho). Isto

significa que para que o trabalhador alcance a capacitação necessária para atender às

suas necessidades, a empresa deve incentivar as iniciativas dos funcionários,

deixando parte das decisões importantes relacionadas às atividades que exerce por

sua conta.

Transportando estes conceitos para a realidade das empresas subempreiteiras

brasileiras do setor da construção civil, verifica-se que estas dificilmente tornar-se-ão

empresas qualificantes, ao menos a curto prazo. Sendo assim, o conceito mais

próximo de qualificação para elas permanece associado a exigências do posto de

trabalho.

Voltando um pouco para o objetivo desta pesquisa, verifica-se que, sob o ponto de

vista das empresas subcontratantes (as construtoras), bastaria garantir que os

subempreiteiros se tornem aptos a realizarem as tarefas a eles confiadas. Tal fato já

seria um enorme avanço no setor.

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Desta forma, a qualificação estaria ligada ao processo de seleção e avaliação de

subempreiteiros que atendam às exigências das construtoras para contratação de seus

serviços.

Esta visão é a utilizada nas normas de gestão da qualidade, como a própria NBR ISO

9001 ou os referenciais de qualificação do setor, como os programas QUALIHAB e

PBQP-H 2. Uma de suas exigências normativas estabelece que a empresa construtora

deve qualificar seus subcontratados antes de fechar qualquer tipo de acordo de

fornecimento.

Os requisitos 7.4.1 da ISO 9001 (ABNT, 2000b), 7.4.1.1 do SiQ - Serviços e Obras

(PBQP-H, 2002) e 6.2 do PSQ de Obras (QUALIHAB, 1996) estabelecem que antes

de qualquer contratação de fornecedores, incluindo subempreiteiros, deve-se analisar

sua capacidade em atender aos requisitos especificados pela empresa contratante. Os

critérios para esta seleção devem ser estabelecidos pela própria subcontratante.

Assim, para melhor direcionamento deste trabalho, no tratamento dos assuntos

relacionados à problemática dos subempreiteiros e do Programa de Capacitação

utilizado como estudo de caso, os termos utilizados relacionam-se à preparação dos

funcionários de uma empresa para atender às exigências de seus subcontratantes,

com a finalidade destes serem selecionados a fornecer o serviço que irá ser

contratado.

Em outras palavras, estuda-se aqui os requisitos e meios de capacitação dos

funcionários da empresa subcontratada visando a sua qualificação por parte do

subcontratante. Dá-se no presente trabalho às ações de “capacitar” e de “qualificar”

um sentido de “processo”.

2 Trata-se aqui dos referenciais de qualificação de empresas construtoras: Programa Setorial da Qualidade do Setor de Obras do Programa Qualihab, da Companhia de Desenvolvimento Habitacional e Urbano do Estado de São Paulo - CDHU, e SiQ - Construtoras, do Programa Brasileiro de Qualidade e Produtividade do Habitat (PBQP-H). Ambos baseiam-se nas normas da série NBR ISO 9000.

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Por fim, para que não ocorra ainda uma outra generalização com relação aos termos

estudados, é necessária também a análise de um outro conceito importante ligado ao

processo de capacitação: o treinamento.

Caso este seja analisado de modo análogo aos demais, como se fez no início do

capítulo, como vocábulo, tem-se:

• treinar significa: “tornar apto, destro, capaz, para determinada atividade ou

tarefa; habilitar, adestrar” (FERREIRA, 1994).

Verifica-se que a definição é bastante similar à de capacitar, assim como o termo

“treinamento” é similar à expressão “capacitação”.

CHIAVENATO (2000), por sua vez, estabelece que dentro do contexto de uma

organização, o treinamento é um processo educacional por meio do qual as pessoas

adquirem conhecimentos, habilidades e atitudes para o desempenho de seus cargos.

Mas antes de sua contratação na empresa, o funcionário possuía determinadas

competências, e provavelmente foi relacionado para ocupar o cargo na organização

por já possuir as competências mínimas, relacionadas com seu perfil, experiência,

instrução, etc.

Como se vê, o conceito desse autor está relacionado intimamente à organização. No

entanto, neste trabalho, refere-se como capacitação algo maior. A idéia de

capacitação está voltada a transformar um indivíduo que nunca realizou determinada

atividade e a torná-lo apto a executá-la.

Para que não haja conflitos, define-se treinamento de maneira bastante simples,

conforme a tabela 9.

Treinamento distingui-se de capacitação na medida em que esta se relaciona com o

desenvolvimento de novas habilidades ou competências específicas ou, em outras

palavras, trata-se do processo aplicável quando um indivíduo não sabe desempenhar

determinada atividade e necessita ser habilitado.

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Tabela 9 - Definição proposta para treinamento

Treinamento é o aperfeiçoamento de habilidades ou competências, ou seja, o

processo aplicável quando um indivíduo, apesar de já capacitado a realizar

determinada atividade, necessita de uma orientação ou acompanhamento de forma a

que melhor desempenhe esta mesma atividade.

Buscando um pouco mais de especificação do processo de treinamento, chega-se a

alguns conceitos que diferenciam as formas de treinamento. O trabalho de

ORELLANO (1997) identifica duas destas formas:

“Treinamento do tipo geral é aquele que será útil ao funcionário de determinada

organização, mas também pode lhe beneficiar futuramente em demais empresas que

ele venha a trabalhar. O indivíduo adquire conhecimentos abrangentes normalmente

relacionados à sua profissão ou vivência pessoal. O retorno do investimento pode ser

recebido em outras organizações” (BECKER apud ORELLANO, 1997).

“Treinamento do tipo específico é aquele em que a habilidade conseguida somente

será útil enquanto o funcionário trabalhar na organização que o treinou.

Normalmente são treinamentos nos procedimentos freqüentemente adotados pela

empresa, com objetivos de familiarizar novos empregados em relação às

particularidades da organização. O retorno do investimento pode ser recebido apenas

na própria empresa” (BECKER apud ORELLANO, 1997).

Tais definições contribuem para se entender o tema principal deste trabalho.

Verificando a origem das empresas subempreiteiras, o nível de formação de seus

funcionários e sua atual relação com seus subcontratantes, percebe-se que esta

pesquisa está vinculada de maneira geral com a capacitação do indivíduo ou da

empresa, onde não seria importante iniciar um estudo mais aprofundado dos diversos

tipos existentes de capacitação, como realizado para o processo de treinamento.

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Isto não quer dizer que não se tratará da questão do treinamento, principalmente do

tipo geral, sendo este inclusive um dos pontos identificados como mais importantes

para a concretização de um programa de capacitação.

Quanto à extensão do conceito de capacitação, deve-se ressaltar que este pode ser

associado à empresa como um todo, e não apenas aos seus funcionários. Tendo em

vista que os subempreiteiros constituem-se, em grande parte, em micro e pequenas

empresas, a idéia de capacitar seus funcionários confunde-se com a de capacitar a

empresa.

Que fique claro, no entanto, que os funcionários ou o grupo de funcionários

(empresa) podem ser “capacitados” , mas somente a empresa subempreiteira pode ser

“qualificada” por um contratante ou por organismo externo3.

Finalmente, com todos este conceitos tratados, pode-se propor as definições, a serem

utilizadas no trabalho, que constam da tabela 10.

Tabela 10 - Definições propostas para capacitação e qualificação

Capacitação é o processo de desenvolvimento de novas habilidades e/ou

conhecimentos relacionados à área de atuação ou vivência pessoal de um indivíduo

ou grupo, que serão úteis em suas atividades e em qualquer local de trabalho, pois

trarão novas competências aos beneficiados com este processo.

Qualificação é o processo de análise e reconhecimento formal da capacidade de um

indivíduo ou empresa em atender a determinados requisitos pré-estabelecidos para

uma determinada atividade ou função.

3 Para a qualificação de uma empresa, normalmente é realizada uma auditoria. Quando esta auditoria é realizada por um contratante, denomina-se auditoria de segunda parte. Quando a auditoria é realizada por um organismo independente é chamada de terceira parte ou certificação, pois tal organização fornece certificado ou registro de conformidade com os requisitos avaliados, tais como os das normas NBR ISO 9001 (ABNT, 2000b) e NBR ISO 14001 (ABNT, 1996). Os já citados referenciais dos programas Qualihab e PBQP-H preferem falar de “qualificação” de empresas construtoras.

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3.2. Necessidade de programas de capacitação e qualificação

SÖZEN; KÜÇÜK (1999) estabelecem que apesar de várias pesquisas terem

reconhecido a importância dos subempreiteiros, não se visualiza a forma como os

problemas encontrados pelo emprego de fornecedores deste tipo têm sido resolvidos.

Além disso, os problemas podem ser estendidos ainda mais na cadeia produtiva, uma

vez que os subempreiteiros podem contratar outras empresas ainda menores, criando

outro elo desta cadeia, os subempreiteiros secundários. Muitos problemas e pressões

neste tipo de empresa são similares em várias partes do mundo e, segundo os autores,

a prática compartilhada dos problemas e resultados poderia proporcionar várias

soluções para os mesmos.

Tais observações começam a mostrar a necessidade de programas de capacitação

específicos para os subempreiteiros.

CARDOSO (1996a) afirma que a construção civil brasileira está muito aquém

daquela dos países desenvolvidos quando se refere ao grau de especialização e

capacitação dos fornecedores de serviços.

O que foi dito já há alguns anos pelo autor é verdadeiro até hoje. Segundo o mesmo,

a competitividade das empresas subcontratantes pode ser influenciada de forma

negativa pela incapacidade de seus subcontratados em adaptarem-se, rápida e

adequadamente a mudanças técnicas e organizacionais. Mais ainda, as empresas

subempreiteiras têm uma baixa propensão em investir em recursos humanos e numa

relação mais estável de trabalho. Assim, existe uma grande distância entre a

capacitação mínima requisitada pelas empresas construtoras brasileiras (exigências

de qualidade, racionalização e redução de custos) e o perfil dos subempreiteiros

presentes hoje no setor, diminuindo o potencial de desempenho da subcontratação.

Na Alemanha, por exemplo, de acordo com RICHTER (1998), os trabalhadores da

construção são normalmente capacitados. Mais de 60% da força de trabalho na

construção é constituída de indivíduos que possuem certificado de aprendizado nas

suas vocações. Mais ainda, o sistema educativo deste país combina treinamentos

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práticos informais na vocação com certificados escolares, pelo menos da escola

secundária.

Esta política também é encontrada em países como a França e Holanda. No entanto,

segundo o autor, ainda existem problemas de capacitação em determinados países

europeus, como no Reino Unido.

Esta opinião é compartilhada por GANN; SENKER (1998). Um estudo realizado por

estes autores na Grã-Bretanha, identificou diversos fatores que estão contribuindo

para o declínio das competências e habilidades dos operários da construção civil

britânica. Pode-se citar:

♦ a força de trabalho está envelhecendo e o número de novas contratações

declinando no setor, seguido dos treinamentos “in company”;

♦ empresas construtoras admitem o recrutamento de novos funcionários com baixa

educação e capacitação;

♦ a falta de preocupação com a segurança e melhores condições de higiene e saúde

no ambiente de trabalho nas obras contribui para uma péssima imagem do setor,

o que freqüentemente afasta operários mais capacitados;

♦ Existe o incentivo por parte do Governo (por questões políticas) na contratação

de pessoas mais velhas ou pobres para o setor, que infelizmente representam uma

mão-de-obra menos capacitada.

Os autores concluem que não só na Grã-Bretanha, mas em países que apresentam

características similares, a estrutura de competências e habilidades da mão-de-obra

do setor não é suficientemente adaptável para suportar as inovações atualmente

requeridas para sustentar melhorias de desempenho a longo prazo. Um programa de

capacitação genérico seria requerido, com uma estrutura simplificada na qual os

custos burocráticos seriam reduzidos.

CARDOZO (1998) defende a idéia de que para se obter sucesso no processo de

subcontratação seria necessário que a atividade terceirizada fosse exercida por mão-

de-obra capacitada especificamente para cada tarefa.

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AGAPIOU et al. (1995) afirmam que a subcontratação agrava a dificuldade de

capacitação ou treinamento característico da construção, porque os subcontratantes

passam a responsabilidade desta ação para as subcontratados, que na maioria das

vezes não são capazes de efetivá-lo. As razões para este fato seriam:

♦ falta de local para treinamento ou capacitação;

♦ falta de recursos financeiros para viabilizar o treinamento ou capacitação;

♦ falta de tempo dos subempreiteiros para envolverem-se no processo;

♦ pouca relevância dada ao treinamento ou capacitação pelas subcontratantes.

Segundo KERR; MC DOUGALL (1999), micro e pequenas empresas, como no caso

dos subempreiteiros, não identificam os treinamentos necessários para o

desenvolvimento de seus funcionários. Seria importante que elas recebessem uma

orientação neste sentido, mesmo que de maneira informal, que poderia ser

proporcionada pelas próprias construtoras.

HILLEBRANDT (1990) há muito tempo já acreditava que a esmagadora

desvantagem do sistema de subcontratação é a falta de capacitação dos

subempreiteiros.

Para PICCHI (1993), não adianta gerir e controlar uma parte limitada da obra, se o

conjunto dos intervenientes da cadeia escapam ao sistema, porque a qualidade na

construção de edifícios não decorre somente da gestão da qualidade em empresas

construtoras, mas também dos demais intervenientes, entre eles os subcontratados.

Para MATTHEWS et al. (1996), parece lógico que o caminho para que as empresas

melhorem seu desempenho e sua produtividade com suas atuais estruturas é

concentrarem seus esforços na capacitação de seus subempreiteiros.

Analisando as afirmações acima, pode-se verificar que a mão-de-obra subcontratada

está presente na maior parte dos serviços da construção civil, e que uma das

principais deficiências desta mão-de-obra vem do fato de não se ter uma metodologia

de capacitação eficaz, diminuindo assim seu potencial de desempenho.

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Um fator importante que propicia um ambiente desfavorável para investir-se em

capacitação e treinamento é a alta rotatividade sofrida pelo setor. De acordo com o

anuário do DIEESE (2000/1), em 1997 a indústria da construção e do mobiliário

apresentava 32% de taxa de rotatividade, enquanto que a media nacional na indústria

era de 20%.

Esta rotatividade, segundo FARAH (1992), é acentuada pelas más condições de

trabalho e pelos baixos salários que desestimulam a permanência dos trabalhadores

nesse ramo de atividade. Tal fato leva a uma interrupção na continuidade do processo

de formação da mão-de-obra, “minando” de certa forma, o mecanismo de

identificação do trabalhador com seu ofício.

BIANCHI apud CAPOZZI (1998), por exemplo, afirma que é muito difícil treinar a

mão-de-obra de um subempreiteiro e não ter o controle sobre o subcontratado, cujo

padrão de conduta, na primeira oscilação do mercado, é mandar embora aquele

funcionário em que a construtora (e não o subempreiteiro) investiu.

Porém, contra-exemplos existem pois PICCHI (1993) já há quase 10 anos afirmava

que as empresas que desenvolviam programas de racionalização e melhoria da

qualidade tentavam manter um maior vínculo e comprometimento com os operários

para diminuir a rotatividade gerada tanto pelas demissões por iniciativa da empresa,

como das motivadas pelo próprio trabalhador.

GANN; SENKER (1998) acreditam que as próprias empresas construtoras precisam

responsabilizar-se pelo treinamento de modo a assegurar a longo prazo os benefícios

de empregar-se uma força de trabalho mais capacitada.

SERRA; FRANCO (2001) identificam que para uma boa gestão das atividades de

execução de uma obra, as empresas construtoras devem responsabilizar-se pelo

desenvolvimento dos subempreiteiros no canteiro, tanto com relação à sua formação

profissional, como sua capacitação organizacional.

BÉRTOLO (2000), em sua pesquisa, identifica outros organismos que deveriam

contribuir para a capacitação dos subempreiteiros: trata-se dos sindicatos e entidades

de classe da construção civil.

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Os sindicatos e associações têm papel relevante a desempenhar junto às demandas

das micro e pequenas empresas da construção civil, ao fornecer cursos, palestras de

conscientização e treinamento de pessoal, e sobretudo ao atuar como representante

político destas empresas (GARCIA et al., 2000).

Além disso, segundo GANN; SENKER (1998), o Governo precisaria fazer parte do

mercado de treinamento e capacitação, particularmente das pequenas empresas,

promovendo mudanças estruturais no setor, maior empregabilidade e um ambiente

mais estável para os trabalhadores da construção.

Mas SMALLBONE; WELTER (2001) afirmam que as prioridades de atuação do

Governo nos mercados variam com a evolução da estruturação de cada mercado

particular. Em regiões com recente reestruturação de mercado, como os países da ex-

URSS, o Governo, mais do que tudo, precisaria promover condições institucionais,

legais e culturas para o desenvolvimento das pequenas empresas, como por exemplo

a promoção de reformas básicas fiscais e tributárias, além de métodos de registro e

controle de produção mais simples.

Neste caso, seria necessário um estudo do mercado brasileiro para a identificação dos

principais itens necessários para a promoção de um ambiente mais adequado ao

desenvolvimento das pequenas empresas, como o caso dos subempreiteiros.

Especificamente, com relação ao treinamento e capacitação, o governo brasileiro, por

exemplo, possui recursos para a promoção da formação geral profissional, que até

hoje se centraliza no Sistema S4 e nas Escolas Técnicas Federais. Tais recursos,

distribuídos desta forma, segundo FRANCO (1998), continuam ancorados no poder

burocrático do então Ministério do Trabalho e Emprego e do Ministério da

Educação.

4 Foi criado em 1942 o Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (SENAI), como forma de promover ensino profissional para os trabalhadores da indústria. Posteriormente foram criadas instituições semelhantes para o comércio (SENAC), respectivos serviços sociais (SESI e SESC), para o campo (SENAR), para transportes (SENAT e SEST) e para micro e pequenas empresas (SEBRAE). Tais instituições formam o chamado “Sistema S”.

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Novas formas de promoção deveriam ser repensadas, como é o caso das iniciativas

do PBQP-H5.

Um dos grandes motivos de poderiam incentivar o Governo no investimento de

iniciativas para a capacitação de subempreiteiros na construção civil poderia estar

relacionado com a diminuição do trabalho informal, bastante presente na realidade

deste tipo de empresa. Tal fato possibilitaria uma maior arrecadação e diminuição da

dívida social no país.

Segundo FERNANDES (1995), o tamanho relativo do mercado de trabalho não-

regulamentado não depende apenas da carga fiscal e da legislação trabalhista, mas

também do perfil de capacitação da mão-de-obra da população de trabalhadores. O

autor apresenta um estudo que demonstra que os trabalhadores mais capacitados

buscam a formalização de seu trabalho, de modo a obter maiores benefícios e

garantias por seu diferencial em relação aos trabalhadores menos capacitados. Estes

têm menos a perder com a não regulamentação de seus serviços.

Mas quais os critérios para a capacitação, tendo em vista a enorme diversificação de

subempreiteiros existentes?

Alguns autores entendem que os critérios poderiam ser baseados nos sistemas de

qualidade clássicos como os modelos da série ISO 9000.

LANDIN; PERSSON (1998) identificam o crescimento da quantidade de

subempreiteiros que implantam sistemas de qualidade baseados na ISO 9001 em

alguns países como Suécia e Estados Unidos. Tal fenômeno estaria ocorrendo

principalmente em subempreiteiros ligados aos serviços de instalações.

No Brasil, não foram encontrados trabalhos que identificassem a evolução da

implantação de sistemas desta natureza em subempreiteiros.

5 O PBQP-H estabelece uma série de projetos, englobando não só programas setoriais para qualificação de empresas, mas também projeto na área de formação e “requalificação” de profissionais da construção, por exemplo. Tal projeto não apresentou ainda resultados práticos, não tendo sido capaz de mobilizar os agentes interessados - associações de construtoras, membros do Sistema S, bancos financiadores, seguradoras, etc.

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No entanto, a adequação deste tipo de sistema para a realidade de micro e pequenas

empresas com as características dos subempreiteiros é bastante questionável. O

modelo ISO 9000 tem como características a padronização dos processos da empresa

e a implementação de melhorias a longo prazo, sendo que muitas micro e pequenas

empresas necessitam ser flexíveis e resolver seus problemas de maneira imediata.

Alguns autores como O´HANLON (2000) identificam alguns atributos das micro e

pequenas empresas que ressaltam esta idéia:

♦ A competitividade da empresa vem de sua flexibilidade;

♦ A vulnerabilidade da empresa aparece quando se têm problemas de fluxo de

caixa, que não são gerenciáveis;

♦ Os recursos financeiros dependem de poucos clientes;

♦ É difícil desvincular responsabilidades e ações de indivíduos específicos na

empresa, ou seja, as atividades dependem do envolvimento de pessoas e não de

cargos ou setores.

ODA (1998), por sua vez, identifica também que a implantação de programas da

qualidade total ou ISO 9001 leva a necessidade de novos conhecimentos por parte

dos operários, mas que normalmente, para atender às exigências da norma, as

empresas implantavam programas de treinamento que incluem apenas noções básicas

de matemática, preenchimento de formulários de controle e compreensão das regras

da norma (muitas vezes somente a memorização de itens a serem auditados).

Mas o objetivo desta pesquisa é identificar critérios mais apropriados à realidade dos

subempreiteiros e que tragam benefícios mais contundentes para os mesmos.

Como outra forma de melhorar o desempenho de pequenas empresas, pode-se citar

as idéias de WATSON; GRYNA (2001). Tais autores estabelecem que para a

realidade das micro e pequenas empresas seria mais apropriado o desenvolvimento

interno de uma cultura da qualidade, não sendo necessária a formalização dos

processos internos. Esta cultura poderia ser caracterizada por alguns pontos como os

definidos na tabela 11.

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Tabela 11 - Identificação da “cultura da qualidade” (WATSON; GRYNA, 1998)

Percepção da qualidade Informações periódicas dos clientes em relação ao produto

Líder para a qualidade

Estabelecimento de uma pessoa responsável pela qualidade, com tempo disponível para propor melhorias e

analisar os problemas da empresa Incentivo à

participação dos funcionários

Treinamentos, cursos, gestão participativa, delegação de responsabilidades, etc.

Reconhecimento e recompensa

Prêmios e bonificações no caso da melhoria da performance na qualidade dos produtos

Identifica-se em seguida, algumas iniciativas que ajudarão a determinar alguns dos

critérios mais importantes ou atuais utilizados para a capacitação de subempreiteiros.

3.3. Programas para capacitação de subempreiteiros

É muito difícil encontrar-se hoje programas de capacitação para suprir as diferentes

necessidades dos subempreiteiros da construção civil brasileira. No entanto, podem-

se citar iniciativas de algumas entidades ligadas ao setor da construção civil, no

Brasil e em algumas partes do mundo.

3.3.1. Iniciativas no Brasil

O Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas - SEBRAE apresenta

cursos de curta duração para atender às necessidades de pequenas empresas, por todo

o país.

O SEBRAE-SP, por exemplo, disponibiliza programas de capacitação na área de

recursos humanos (explorando conceitos de melhoria para o departamento pessoal,

motivação de funcionários), na de produção (como melhorar a produção da empresa)

e na de qualidade (atendimento ao cliente ou como preparar a empresa para a

qualidade total). Deve-se observar que tratam-se de cursos destinados aos micro

empresários de maneira geral (SEBRAE, 199?). No entanto, o micro empresário aqui

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tratado, o subempreiteiro de construção civil, normalmente não tem atualmente a

formação suficiente para acompanhar este tipo de curso.

Mais apropriado é o exemplo de uma oficina (Sebraetec), que se aproxima da

realidade do subempreiteiro. Consiste no programa “Qualidade para Artesãos”, que

apresenta formação do preço de venda, como se posicionar em relação ao mercado

(concorrência), técnicas de venda, qualidade no atendimento e satisfação do cliente,

etc. Com custo bastante acessível, na verdade não representa a totalidade da

realidade do subempreiteiro, mas já é um início para melhorar sua capacitação.

Já o SEBRAE-MG, tem atuado no setor através do projeto ConstruQuali. Este

projeto apresenta ações para o desenvolvimento de um programa para capacitar

empresas para a implantação de sistemas de gestão da qualidade.

Não se dispõe de informações sobre o número de subempreiteiros que tenham

seguido tais programas.

Outro órgão importante, o Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial - SENAI

desenvolve um novo sistema de educação profissional, cujos parâmetros básicos de

metodologia estão sendo aplicados e construídos nas regionais de quase todo o país.

Trata-se de um sistema para formação e certificação por competências, para os

diversos segmentos industriais.

No que se refere à construção civil, existe um projeto específico, coordenado pelo

SENAI–RJ, que contempla a construção deste novo sistema, com o estabelecimento

de competências específicas, por exemplo para encanadores e pedreiros.

Outros serviços regionais, como o SENAI-PR, SENAI-SP, etc., apresentam cursos e

treinamentos de mão-de-obra, muitos deles específicos para oficiais da construção

civil (cursos de aperfeiçoamento de mestres de obra, assentadores de pedra,

azulejistas, interpretação de projetos, gesso acartonado, etc).

Pode-se citar também, as iniciativas por parte dos fabricantes ou fornecedores de

materiais e componentes para a construção civil.

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É o caso da Tigre S.A. , por exemplo, maior empresa brasileira de tubos e conexões

hidráulicas. Este fabricante estabelece cursos para encanadores nos diversos pontos

de revenda de seus produtos, aproximando-se dos profissionais de modo a orientá-los

para a melhor execução dos serviços e em contrapartida garantirem com que os

trabalhadores capacitados dêem preferência para a utilização de seus produtos.

A empresa, segundo PADUAN (2002), já inicia a realização de cursos também pela

internet, agilizando ainda mais esta capacitação. Em 2000 a empresa havia treinado

15000 profissionais e pretende com este novo recurso treinar cerca de 40000

profissionais por ano, a partir de 2003.

Como se vê, apesar das iniciativas citadas serem bastante interessantes para os

subempreiteiros, estão focadas para o trabalhador e não para a empresa

subempreiteira de maneira geral.

Uma das poucas iniciativas específicas de que se tem notícia corresponde ao

programa do Centro de Tecnologia de Edificações - CTE. Esta empresa privada de

consultoria com sede em São Paulo e atuação nacional, desenvolve um programa de

capacitação de subempreiteiros bastante aderente às necessidades deste tipo de

fornecedor de serviço.

Tal programa foi implementado pela primeira vez entre final de 1999 e final de 2000

e suas características e resultados estão detalhados no capítulo 4 desta dissertação.

Desde o final de 2002, o programa, apesar de manter suas características básicas,

estava sendo remodelado de modo a atender ainda mais às necessidades dos

interessados.

3.3.2. Iniciativas no exterior

Pode-se encontrar ações semelhantes em outros países.

Na Argentina, por exemplo, existe uma instituição especializada na capacitação de

trabalhadores da construção civil. Trata-se da Fundación de Education y

Capacitación para los Trabajadores de la Construcción, organização sem fins

lucrativos, fundada em 1992, que realiza cursos de capacitação profissional e de

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informática para os trabalhadores do setor. Disponibiliza também assessoria técnica

na área ambiental e de gestão empresarial, além de editar publicações como a revista

“Construir a Nível”, que aborda temas como segurança, higiene, capacitação,

tecnologia de processos, obras, etc.

A Fundação conta com subsídios de entidades governamentais e também estabelece

parcerias para realização de pesquisas de interesse no setor.

Só entre o ano de 1995 e meados de 1999, a fundação já havia realizado mais de

1200 cursos, proporcionando capacitação de mais de 20.000 trabalhadores da

construção civil.

Dentre os cursos de capacitação profissional que disponibiliza, destaca-se o curso de

formação de instrutores e curso de atenção ao cliente, bastante específicos para o

setor.

Na França existe uma entidade, a Confédération de l’Artisanat et des Petites

Entreprises du Bâtiment - CAPEB, com mais de 50 anos de existência, que

representa os artesãos e pequenas empresas da construção civil naquele país.

Segundo TAMAKI (2000), dentre outras atividades, a CAPEB mantém um quadro

de funcionários em sua sede para a formação profissional de jovens artesãos ou

formação contínua de empresários artesãos (donos das pequenas empresas). Mas

como existe hoje na França um desinteresse grande para a formação profissional na

área da construção, o organismo conta ainda com cerca de 200 artesões mensageiros

que percorrem a França para difundir o setor da construção e recrutar jovens para a

capacitação, atingindo uma média de 160 mil alunos por ano.

Além disso a entidade oferece financiamento para a capacitação de artesãos que se

interessem em buscar maiores conhecimentos em sua área. Em 1999, excluindo-se as

capacitações em informática, as solicitações de maior interesse estavam relacionadas

à calefação e sistemas elétricos. Tal fato ocorre pois as atividades desta área seguem

rígidos regulamentos e geralmente são executadas por pequenas empresas.

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Os Estados Unidos, por sua vez, possuem grandes empresas públicas responsáveis

pela realização de diversas obras de manutenção e melhoria de infra-estrutura das

cidades e do país. Em algumas cidades, essas organizações possuem uma quantidade

enorme de profissionais e de empresas subempreiteiras, e torna-se difícil o controle

de competências dos mesmos para a realização das atividades necessárias. Desta

forma, o governo dos Estados Unidos iniciou há alguns anos a implementação de

programas de treinamento e capacitação para estes funcionários e para os de

empresas subcontratadas.

Somente como referência, pode-se exemplificar um destes primeiros programas,

realizado dentro do departamento de obras públicas da cidade de Los Angeles (Los

Angeles’ Department of Public Works), citado por KUPRENAS et al. (1999). O

corpo técnico do departamento, entre funcionários e subcontratados, conta com cerca

de 1000 funcionários, que são responsáveis pelo planejamento e gerenciamento dos

projetos de melhorias em infra-estrutura básica da cidade (abastecimento de água,

esgoto, águas pluviais, etc.).

De acordo com os autores, embora a qualidade dos serviços fosse satisfatória, em

alguns deles, as fases de construção apresentavam atrasos e custos excedentes,

levando o governo a implementar um programa de treinamento de mais de 30.000

horas entre os anos de 1997 e 1998.

Este programa apresentava três objetivos específicos:

♦ estabelecer uma estrutura organizacional para o gerenciamento dos serviços;

♦ clarear definitivamente as regras e responsabilidades para os membros das

equipes de atendimento dos serviços;

♦ treinar as equipes nos princípios e ferramentas de gerenciamento de serviços.

A montagem deste programa, por se tratar de um projeto pioneiro, iniciou-se através

de uma pesquisa com pelo menos 4% dos funcionários objetivando-se identificar o

nível de suas habilidades e competências e as necessidades dos trabalhadores, de

acordo com a classe social, função, etc. Em seguida determinou-se os elementos

necessários ao programa, que resumiam-se em ferramentas técnicas para o

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gerenciamento e execução dos serviços (orçamento, planejamento, execução,

controle de operação, controle de documentos, etc.) e o desenvolvimento do

relacionamento humano (comunicação, trabalho de equipe, etc.).

Este caso difere-se dos precedentes, pois representa um programa específico para

atender às necessidades de uma organização, tratando-se de um evento, não

disponível a qualquer trabalhador ou empresa de prestação de serviços. No entanto os

autores exemplificam a possibilidade de criação de programas amplos, que envolvam

diversos níveis de trabalhador (pois este abrangia tanto engenheiros que

comandavam as equipes como também os operários de campo), como também

empresas subcontratadas, objeto do presente trabalho.

3.4. Programas para qualificação de subempreiteiros

Como forma de se complementar o estudo relacionado a programas específicos que

envolvam subempreiteiros, pode-se citar também iniciativas relacionadas ao processo

de qualificação, no Brasil e no exterior.

3.4.1. Iniciativas no Brasil

No Brasil, algumas iniciativas merecem destaque.

Um programa de qualificação de fornecedores, por exemplo, já foi estabelecido no

estado do Espírito Santo. Trata-se do Programa Integrado de Desenvolvimento e

Qualificação de Fornecedores – PRODFOR.

Este programa, apesar de apresentar objetivos bastante próximos aos do PBQP-H,

não tem relação com o mesmo. Ele representa uma ação integrada de 12 das

principais empresas compradoras do Estado do Espírito Santo6, a Federação das

6 Empresas mantenedoras do programa: Aracruz Celulose, Belgo Mineira, Carboderivados, Carboindustrial, Cesan, Chocolates Garoto, CVRD, CST, Escelsa, Flexibrás, Samarco e Telemar.

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Indústrias do ES (FINDES) e o Instituto Euvaldo Lodi / Instituto de

Desenvolvimento da Indústria do ES (IEL/IDEIES).

Ele visa a elaborar e a implementar, de forma cooperativa, um modo integrado para

desenvolvimento e qualificação de seus fornecedores, estabelecendo um sistema

devidamente organizado para disciplinar o processo de fornecimento, minimizando

seus custos, aumentando a confiança nos fornecedores, melhorando a qualidade e

reduzindo os riscos de fornecimento inadequado.

Para tal, foi criada uma norma denominada SGQF – Sistema da Garantia da

Qualidade de Fornecimento (PRODFOR, 2001), que identifica os requisitos

considerados necessários para garantir o atendimento à qualidade de bens e serviços

fornecidos às empresas compradoras.

O SGQF é composto pelo sistema de garantia da qualidade definido pela norma NBR

ISO 9001 e por outros dois itens complementares relacionados ao meio ambiente e à

segurança do trabalho7.

Para sua qualificação, primeiramente o fornecedor deve ser indicado por uma das 12

empresas mantenedoras. Com a indicação, o mesmo tem o compromisso de adequar

sua organização aos requisitos do SGQF.

Durante o período de adequação, as empresas (ainda em desenvolvimento) recebem

assistência e treinamentos.

Todo o processo é avaliado periodicamente, através de consultorias independentes,

que fazem a verificação do atendimento aos requisitos estabelecidos pelo

PRODFOR. As empresas que atendem a todos os requisitos, dentro dos prazos

estabelecidos, são submetidas a uma auditoria do PRODFOR, e se qualificadas

7 O SGQF baseava-se até final de 2001 na antiga ISO 9002:1994 e em mais 4 itens relacionados à análise de satisfação da empresa compradora, instalações adequadas, segurança do trabalho e meio ambiente. Com sua revisão para adequação em relação a ISO 9001:2000, os dois primeiros itens complementares foram automaticamente englobados, restando apenas as exigências complementares relativas ao meio ambiente e à segurança do trabalho, para manter sua característica original

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recebem o “Certificado de Fornecedor Qualificado”, estando aptas para fornecer ao

grupo de empresas compradoras mantenedoras do programa.

Entre 1997 e 2002, 115 fornecedores foram qualificados pelo programa e em janeiro

de 2003 mais 32 estavam em processo de qualificação, num total de 147 empresas

participantes, incluindo subempreiteiros. Quase todas as empresas que foram

qualificadas nesses anos renovaram a certificação e um bom número obteve ou está

obtendo também a certificação ISO 9001.

Outro programa com características semelhantes ao PRODFOR, porém com

característica totalmente específica à construção civil, está sendo implantado também

na região do Espírito Santo. É o Programa Qualifor, lançado pelo Sindicon / ES, com

o intuito de valorizar as melhores empresas fornecedoras da região.

Como o Brasil não possui normalização para a grande maioria dos processos

construtivos realizados, optou-se também por uma qualificação de sistema de gestão

da qualidade, modelo NBR ISO 9001. No entanto foram implementadas algumas

mudanças, de modo a não restringir o programa a um grupo limitado de empresas.

Analogamente ao referencial de qualificação SiQ - Serviços e Obras do PBQP-H

(PBQP-H, 2002), foram criados 4 níveis de exigência para uma qualificação

evolutiva, onde os fornecedores devem atender a determinados requisitos normativos

de qualidade e solicitar a qualificação de acordo com o nível pretendido, D, C, B e A.

O nível D é o de menor exigência, evoluindo até o nível A, que é a própria NBR ISO

9001, ainda na versão 1994.

Os fornecedores são qualificados for organismos independentes (de certificação

credenciados) e identificados em um cadastro, disponibilizado para todo o setor. A

idéia é a promover este cadastro entre os associados do sindicato, de forma que os

interessados (as construtoras) tenham maior confiabilidade através da contratação de

fornecedores cadastrados. O selo Qualifor pode vir a ser um diferencial para os

fornecedores adquirirem melhor imagem no mercado.

Outro exemplo, o Programa Setorial da Qualidade da Associação Brasileira de

Empresas de Engenharia de Fundações e Geotecnia - ABEF, para o Programa

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QUALIHAB, da CDHU, estabelece um conjunto de especificações técnicas para

produtos ou serviços contratados e de procedimentos de execução de fundações, que

constam do “Manual de Especificações de Produtos e Procedimentos ABEF” (ABEF,

1999).

Com base nos diferentes tipos de produto, o Sistema de Qualificação de Empresas de

Execução de Fundações e Serviços de Geotecnia prevê, no seu primeiro nível de

qualificação, uma série de exigências que são aplicáveis ao controle de processo de

cada produto e assemelha-se assim a uma “qualificação profissional” por tipo de

fundação ou serviço geotécnico. Tal qualificação, que consta de quatro níveis, sendo

que o mais elevado apresenta exigências semelhantes às da NBR ISO 9001:1994, é

feita por organismo de certificação credenciado pelo INMETRO, que aplicam o

referencial acordado entre a associação e o contratante de obras habitacionais do

estado de São Paulo.

Até meados de 2002, pelo menos 18 empresas fornecedoras de serviços de fundação

e geotecnia apresentavam-se qualificadas em algum dos níveis do programa.

Cabe ainda destacar um caderno de especificações desenvolvido para a Companhia

de Desenvolvimento Habitacional e Urbano do Estado de São Paulo - CDHU e pelo

Instituto de Pesquisas Tecnológicas do Estado de São Paulo - IPT, que fixa critérios

mínimos de desempenho para os diferentes serviços. Tais critérios técnicos se

exprimem em sua maioria por valores limites ou tolerâncias e poderão servir de

elementos para uma futura qualificação de subempreiteiros (CDHU, 2002).

Outra iniciativa que se destaca no setor corresponde a um projeto específico, em

estudo pelo Centro de Tecnologia de Edificação - CTE, para fornecedores ligados ao

sindicato de empresas de instalação, o Sindinstalação / SP.

O sindicato, com interesse de desenvolver o setor específico, propõe um projeto onde

serão estabelecidos procedimentos de execução dos serviços relacionados às

instalações e exigências de atendimento para tal. Pelo projeto, o Sindinstalação será

responsável pela promoção de um programa de capacitação para suas empresas

associadas, divulgando suas exigências e ao final seria qualificada a empresa que

atendesse a estas exigências.

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O programa ainda não representa uma realidade, mas o projeto seria um grande

avanço com relação à atuação de sindicatos (um dos elos da cadeia que dificilmente

aparece ativamente nas questões técnicas) no processo de melhoria da capacitação

das empresas do setor.

Programa similar ao do Sindinstalação / SP está sendo estudado pelo CTE para

representantes de outro setor, o cerâmico. O Centro de Cerâmica do Brasil – CCB

está desenvolvendo, em parceria com essa empresa de consultoria, um projeto para

qualificação dos subempreiteiros quanto à capacidade dos mesmos para executar

serviços de assentamento de cerâmica (azulejos, pisos e revestimentos).

Pelo programa, deverão ser criados procedimentos de execução para os principais

produtos do setor, segundo práticas recomendadas pelo CCB. As empresas que

atenderem a estes procedimentos seriam qualificadas pelo CCB, que é um organismo

de certificação credenciado pelo INMETRO.

O próprio CCB já realiza um trabalho de qualificação junto aos fabricantes de

cerâmica, onde ele coloca seu selo na embalagem do produto que atende às

exigências de qualidade por ele determinadas. O interesse no CCB é o de expandir

este selo para as empresas aplicadoras.

3.4.1. Iniciativas no exterior

No exterior, a experiência mais importante sobre a qual se tem conhecimento é a da

qualificação Qualibat, existente na França.

Segundo CARDOSO (1996b), este sistema é de responsabilidade de uma entidade

homônima criada desde 1949, da qual fazem parte diferentes agentes da cadeia

produtiva, dentre os quais sindicatos patronais, arquitetos, clientes intermediários

privados e outras instituições do governo francês.

O sistema tem como objetivo qualificar e classificar empresas com base em sua

competência técnica, levando em consideração também aspectos humanos e

financeiros. A qualificação é aplicável a qualquer empresa que deseje a qualificação

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para a execução de um ou mais serviços, ou seja, não é voltada exclusivamente para

subempreiteiros.

Os fornecedores são divididos em 46 categorias ou “especialidades técnicas”, de

acordo com a atividade que exercem. Em cada categoria, existe um nível de

qualificação diferente (até 4 níveis para cada categoria); no total, são possíveis 412

qualificações distintas. Assim, uma empresa, com condições e infra-estrutura menor

que outra, em função das técnicas empregadas e dos recursos de que dispõe, pode

participar do programa, qualificando-se em um nível inferior ao daquela que tem

condições de investimento maior. Tal distinção proporciona ao contratante optar por

uma empresa com qualificação inferior, e possivelmente custo menor, desde que esta

atenda às suas exigências técnicas contratuais.

A qualificação é solicitada pela empresa, na especialidade técnica e nível que deseja,

através de um “dossiê” padrão (QUALIBAT, 199?), espécie de questionário

respondido pela empresa, o qual fazem parte informações, administrativas e

financeiras, como exemplificado na tabela 12. O dossiê é enviado a uma comissão

(representada por clientes públicos e privados, engenheiros e outros profissionais do

setor) para sua aprovação e conseqüente qualificação.

Segundo CARDOSO (1996b), um dos princípios da qualificação é fornecer ao

cliente um atestado de competência da empresa (técnica, legal, fiscal, etc.). Uma das

propostas seria dispensar a empresa, no caso de licitações, da obrigação de entrega

sistemática de toda a documentação, que seria substituída pelo certificado Qualibat.

MEKBEKIAN (2000), por sua vez, estabelece em seu relatório, que o sistema

Qualibat não é muito aplicado no mercado privado e existe um esforço forte no

sentido de divulgá-lo melhor. No mercado público ele é bem utilizado e traz algumas

vantagens nos processos licitatórios e em relação ao preço de seguros obrigatórios

necessários ao processo construtivo francês (seguro decenal).

A adesão ao Qualibat é voluntária, diferentemente do que ocorre hoje no Brasil.

Aqui, algumas qualificações, como as do Programa QUALIHAB ou do PBQP-H, por

exemplo, são exigidas em licitações ou no pedido de financiamento junto a Caixa

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Econômica Federal - CEF, que impede a participação determinadas empresas que

não optaram pela certificação. Mas tal discussão vai além do interesse dessa

pesquisa.

Existem hoje cerca de 40.000 empresas qualificadas pelo sistema.

Tabela 12 - Itens para a qualificação Qualibat (QUALIBAT, 199?)

Item do Dossiê Descrição Dados de regularização

da empresa (A1) Contrato social, registros nas associações e órgãos

específicos, atestados fiscais, tributários, seguros, etc. Currículo do responsável

legal (A2) Identificação, função, diplomas profissionais,

atividades realizadas, empresas onde trabalhou, etc. Descrição da estrutura da

empresa (A3) Grupo a qual pertence, filiais, organograma da

empresa, etc.

Faturamento, efetivo e massa salarial (A4)

Faturamento, número de funcionários, horas trabalhadas e salários nos três últimos anos (incluindo

subcontratados) Distribuição dos efetivos

(A5) Distribuição dos funcionários por função, setor, nível

técnico e atividade Distribuição do

faturamento (A6) Distribuição do faturamento da empresa por função,

setor, nível técnico e atividade

Info

rmaç

ões A

dmin

istr

ativ

as e

Fin

ance

iras

Recursos disponíveis (A7)

Equipamentos e instalações disponíveis (no escritório, de uso do corpo técnico e nas áreas de produção)

Currículo do responsável técnico (B1)

Identificação, função, diplomas profissionais, atividades realizadas, empresas onde trabalhou, etc.

Efetivo técnico (B2) Número de funcionários do corpo técnico, por função e nível nos últimos três anos

Faturamento e massa salarial do pessoal

técnico (B3)

Faturamento nos três últimos anos (incluindo montantes pagos a subempreiteiros) distribuídos por

especialidade técnica em que se pretende a qualificação

Lista de referência de obras realizadas (B4)

Relação de obras realizadas nos 5 últimos anos que envolvam trabalhos na especialidade técnica

pretendida para qualificação (com dados sobre a obra, cliente, arquiteto, valor, etc.) In

form

açõe

s Téc

nica

s

Análise Crítica de Desempenho (B5)

Análise detalhada do desempenho da empresa em três obras da lista acima, realizada pelo cliente, arquiteto

ou empresa de gerenciamento (qualidade dos serviços, prazos, postura da empresa, etc.)

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4. ESTUDO DO PROGRAMA DE CAPACITAÇÃO DO CTE

Um primeiro objetivo deste capítulo é relatar o acompanhamento do processo de

capacitação de um grupo de empresas subempreiteiras envolvidas em um Programa

de Capacitação específico, que constitui o estudo de caso da pesquisa.

Um segundo objetivo é a análise dos resultados alcançados por esta metodologia nos

próprios subempreiteiros.

Tal relato permitiu melhor caracterizar as exigências das construtoras para a

qualificação de seus subempreiteiros, bem como as necessidades de capacitação

destes para atender a estas exigências, complementando um dos objetivos

estabelecidos no capítulo 3.

4.1. Objetivos do Programa

O Programa surgiu a partir da identificação de duas construtoras da cidade de São

Paulo da necessidade de capacitação de seus subcontratados. As duas construtoras

passavam por um processo de implantação de um sistema de gestão da qualidade,

baseado na antiga NBR ISO 90028, buscando a certificação pela referida norma.

Como seus fornecedores de serviços eram os principais responsáveis pelas atividades

de execução em obra, a capacitação de seus fornecedores poderia estabelecer

melhores possibilidades de alcançar a certificação.

Foi lançado então um desafio para a empresa de consultoria que auxiliava as

construtoras na implantação de seus sistemas de gestão da qualidade: desenvolver um

programa para melhor preparar os subempreiteiros nas questões básicas de seus

processos administrativos e operacionais de obra, além de introduzi-los nos conceitos

de gestão da qualidade. Este Programa deveria facilitar a compreensão dos

8 Com a revisão da família de normas ISO 9000 em dezembro de 2000 a NBR ISO 9002 deixou de existir, passando a vigorar apenas a NBR ISO 9001.

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fornecedores do processo pelo qual passavam estas construtoras, sensibilizando-os a

colaborarem da melhor forma possível.

Desta forma, apesar de voltado à capacitação dos subempreiteiros, o Programa vinha

a atender principalmente às necessidades das construtoras, uma vez que estas seriam

as maiores beneficiadas. Além disso, por esta característica particular, o Programa

não foi desenvolvido necessariamente para atender às necessidades do mercado de

construtoras como um todo, mas simplesmente das duas empresas subcontratantes.

Este fator é de fundamental importância para a análise crítica do Programa,

restringindo assim as possíveis conclusões.

4.2. Caracterização do Programa

O Programa foi desenvolvido com base nas exigências das construtoras, que podem

ser resumidas nos seguintes objetivos:

♦ conscientização e sensibilização dos subempreiteiros em relação às exigências

dos sistemas de gestão da qualidade que vinham sendo implantados nas

construtoras subcontratantes;

♦ identificação dos principais aspectos administrativos e fiscais envolvidos no

processo de subcontratação dos serviços por estas construtoras;

♦ capacitação dos subempreiteiros participantes para o atendimento às exigências

administrativas e fiscais identificadas;

♦ capacitação dos subempreiteiros para a implementação de procedimentos de

execução e inspeção necessários para a gestão da qualidade dos serviços de obra.

Apesar do grande benefício que as construtoras poderiam alcançar, as mesmas não

financiaram os custos para os participantes. Realizaram um trabalho de incentivo e

disponibilizaram a infra-estrutura necessária para a realização de algumas das

atividades, como os locais de treinamento, por exemplo.

Para atender aos objetivos propostos, foi desenvolvida pela empresa de consultoria,

uma metodologia com a estrutura identificada na figura 3.

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Em grupo Subempreiteiros

Elaboração do Manual do Subempreiteiro

Certificado de Participação

Seminários (repasse técnico)

Visitas (acompanha-

mento)

Figura 3 - Estrutura do Programa de Capacitação do CTE

Resumidamente, a estrutura do Programa baseava-se em 4 tópicos principais:

♦ Seminários: atividades realizadas nas próprias obras das construtoras

subcontratantes, em grupo, compostas de palestras para repasse do conteúdo do

Programa, dinâmicas de grupo para fixação dos conceitos e treinamento prático

para determinados processos específicos de maior importância identificados pelas

construtoras. Em cada seminário também foi fornecido todo o material para a

implementação das atividades propostas;

♦ Visitas técnicas: consultoria técnica individualizada para cada subempreiteiro

participante, em sua sede ou no próprio local de trabalho do mesmo, visando

orientá-lo na estruturação de seus processos internos, no desenvolvimento e

implantação de seus procedimentos e demais documentos necessários, além do

esclarecimento de dúvidas específicas de cada um deles;

♦ Manual do Subempreiteiro9: desenvolvimento de um documento com todos os

processos e sistemáticas tratadas nos seminários, adaptado para a realidade de

9 O nome original deste documento no Programa era “Manual do Empreiteiro”, mas como se define aqui empreiteiro como a empresa contratante, preferiu-se adotar o termo mais adequado ao trabalho.

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cada subempreiteiro. O Manual foi elaborado pelos próprios participantes e

analisado também nas visitas técnicas;

♦ Certificado: ao final do Programa, fornecimento de um certificado de

participação, identificando as atividades desenvolvidas.

Dentre todas as atividades previstas no Programa, uma merece destaque especial,

uma vez que deveria garantir a consolidação de todos os assuntos tratados: a

elaboração do Manual do Subempreiteiro. Como já apresentado em um dos itens

acima, o documento deveria identificar os principais processos envolvidos no

fornecimento do serviço específico de cada subempreiteiro, descrevendo como estes

deveriam ser realizados. A maioria destes processos corresponde exatamente aos

temas tratados nos seminários e visitas.

Este documento garantiria que todas as sistemáticas desenvolvidas para a melhoria

dos processos internos de cada subempreiteiro ficassem claramente descritas e

padronizadas. Tal fato possibilitaria que mesmo com as possíveis alterações no

quadro de funcionários da empresa, todos pudessem ter contato com as propostas

desenvolvidas e tirassem suas dúvidas (sempre que surgissem), sem a necessidade de

apoio da empresa de consultoria que os acompanhou durante o período de

participação no Programa.

Os pontos que deveriam conter este manual são:

♦ identificação da empresa;

♦ estrutura organizacional e responsabilidades;

♦ análise crítica de contrato;

♦ segurança e higiene do trabalho;

♦ treinamentos;

♦ aquisição de materiais, equipamentos e ferramentas;

♦ execução dos serviços;

♦ medição dos serviços;

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♦ administração de impostos;

♦ garantia e assistência técnica.

Os subempreiteiros que participaram do Programa representavam os mais variados

ramos de atuação do mercado, proporcionando encontrar representantes de todas as

categorias citadas por VILLACRESES (1994) ou de todos os níveis citados por

PEREIRA (2003). Apesar de também executarem outros tipos de serviço, de acordo

com suas necessidades, pode-se dividir as empresas participantes pela principal

atividade que realizam10, conforme tabela 13.

Tabela 13 - Participantes do Programa de Capacitação do CTE por atividade

Atividades Número de subempreiteiros participantes

Alvenaria e revestimentos argamassados 5 Revestimento cerâmico 2

Execução de forro e revestimento de gesso 1 Impermeabilização 2

Instalação de esquadrias de alumínio 1 Colocação de batentes e assoalhos de madeira 1 Instalações (elétricas, ar condicionado, etc.) 2

Marcenaria 1 Alambrados industriais e quadras

poliesportivas 1

4.3. Implantação do Programa

Primeiramente foram realizados os seminários, organizados em temas específicos e

distintos, apresentados a seguir.

10 Trata-se aqui dos dois primeiros grupos de subempreiteiros referentes a este Programa e em sua estrutura inicial. Após esta iniciativa foram formados outros grupos com outras empresas, inclusive fora de São Paulo. No entanto, este trabalho relaciona-se apenas a este grupo pioneiro, constituído em 1999 e 2000. O Programa desde o final de 2002 estava sendo remodelado, e até o início de 2003 não havia sido formado nenhum novo grupo.

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4.3.1. Seminário 1 - tema: conscientização e estruturação da organização

Este seminário teve como um de seus objetivos principais a conscientização dos

envolvidos no Programa de Capacitação. A maioria dos subempreiteiros sentia-se

insegura quanto aos seus benefícios. Alguns deles não achavam inclusive que iriam

acompanhar um curso de tal natureza, devido à sua baixa escolaridade. O

pensamento que parecia “ecoar” no grupo era: “Deve ser muito complicado”.

O caráter de motivação é no entanto essencial no início de um trabalho deste tipo. Se

o grupo estiver motivado, a ação terá um índice muito grande de sucesso. Assim,

procurou-se a todo o momento contra-argumentar-se os comentários pessimistas de

alguns dos participantes.

Porém, um fator de motivação muito forte acabou prevalecendo. O Programa foi

solicitado e estimulado por construtoras. Como as empresas subempreiteiras

participantes forneciam serviços para estas construtoras, mesmo que não

acreditassem tanto no seu propósito, elas o respeitaram porque representava uma

vontade do cliente. Caso não viessem a alcançar um grande beneficio interno com a

proposta apresentada, ao menos estariam aumentando seus créditos com as

construtoras em relação às demais que não quiseram ou não puderam participar.

Em um projeto independente, onde o subempreiteiro está presente por conta própria,

esta preocupação com a motivação deve ser muito maior. A motivação é essencial à

credibilidade do processo.

4.3.1.1. Motivação

Para promover a motivação dos participantes procurou-se evidenciar no primeiro

seminário, que após qualquer tipo de processo vivenciado, por menos significativo

que seja, o indivíduo torna-se diferente.

Esta visão relembra as idéias de DIAS (2000), pois uma vez que o Programa teria a

presença de profissionais dos mais variados ramos da construção e com realidades

empresariais diferentes, conseqüentemente haveria uma troca de experiência muito

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grande e com certeza um novo aprendizado, seja este relacionado especificamente

aos temas abordados ou não.

Segundo BERGAMINI (1997), a única forma de se conseguir pessoas motivadas é

conhecer sua necessidades. O desconhecimento deste aspecto irá fazer com que

paradoxalmente se consiga desmotivar as pessoas. Portanto, a grande preocupação

não reside em adotar estratégias espetaculares que motivem, mas principalmente em

criar um ambiente que proporcione aos participantes alcançarem seus objetivos.

Reforçando o fator motivacional do seminário, foi tratada também a questão das

atuais tendências do mercado, identificando onde estão inseridos os subempreiteiros

em todas as mudanças no ambiente do setor da construção civil. Os principais

conceitos ressaltados referenciavam basicamente à necessidade cada vez maior de

capacidade competitiva das empresas, e por esta razão a busca da melhoria da

qualidade.

Apesar de muito interessantes, estes dois temas discutidos tratavam superficialmente

ou indiretamente do que seria mais importante na visão dos participantes: o ganho

que o subempreiteiro iria conseguir com sua participação no Programa.

Este ponto mostrou-se fundamental, principalmente para os subempreiteiros de

serviços básicos, que não exigem resultados mais imediatos, pois sua primeira meta

empresarial é muitas vezes a própria sobrevivência.

Desta forma, uma referência sobre a necessidade da capacitação (seja esta através do

Programa ou não) para a sobrevivência do subempreiteiro a longo prazo poderia ser

um pouco mais enfatizada no seminário.

Finalizando a proposta motivacional do seminário, foram discutidos conceitos de

desperdício (o que ocorre quando a empresa não trabalha com qualidade).

4.3.1.2. Estruturação da empresa

O outro objetivo principal do seminário estava focado no autoconhecimento da

empresa para melhor adequação das melhorias a serem propostas. Tratava-se da

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identificação do processo produtivo da organização e sua estruturação para atender às

necessidades deste processo.

Como visto anteriormente, a maior parte dos subempreiteiros participantes do

Programa surgiu de maneira desordenada, orientada basicamente pelas necessidades

de um mercado predatório. Raramente preocuparam-se em estruturar sua empresa

para realizar atividades planejadas de maneira a otimizar seus recursos.

Antes de se propor qualquer melhoria de processo, é necessário primeiro conhecê-lo

a fundo. Esta foi a proposta naquele momento: realizar uma análise interna de como

funcionava a empresa e quem eram os responsáveis pela realização de cada

atividade.

Apresentou-se inicialmente o ciclo de qualidade de uma construtora (representação

gráfica, bastante utilizada na descrição de processos). Com o ciclo pretendia-se

identificar em que local dentro da cadeia produtiva estaria a empresa subempreiteira.

No entanto, a representação via ciclo mostrou-se bastante complexa e desnecessária

para o propósito pretendido. Se a ênfase é a definição das responsabilidades e

seqüência de atividades do subempreiteiro, bastaria identificar onde o subempreiteiro

está inserido na etapa de execução da obra, e não apresentando todo o processo da

construtora.

Assim identificou-se também o fluxograma da atividade do subempreiteiro,

conforme figura 4. Esta forma de representação já parece mais adequada para o

tratamento do assunto. É mais fácil de visualizar os processos da empresa.

Cabe ressaltar que a figura 4 não está identificando o fluxo ideal ou mais corrente das

atividades de um subempreiteiro. Não se pretende neste trabalho abordar esta

questão. Trata-se apenas da representação utilizada no Programa para motivar os

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participantes a discutirem suas atividades internas e fornecer uma ferramenta para

melhor identificá-las11.

Venda do Serviço

Carta -convite

Elaboração da proposta

Contrato

Ordem de serviço

Certificado de registro do fabricante de EPI

Negociação da proposta

PCMSOFichas de registro dos empregados

Certificado de aprovação do EPI

Programação do serviço

Controle de qualidade do serviço

Medição do serviço

Emissão da NF

Guia de INSS

Recebimento dos materiais

Execução do serviço

TreinamentoRecebimento do pagamento

Recolhimento do ISS

Controle de EPI

Cópia do ISS e recebimento de caução

INÍCIO

FIM

Figura 4 - Exemplo de representação gráfica estilo fluxograma para descrever as atividades de um subempreiteiro hipotético

Com a definição do fluxograma das atividades, o próximo passo foi estabelecer os

responsáveis pelas etapas de todo o processo produtivo, identificando-os no próprio

fluxograma, conforme figura 5.

11 Para um aprofundamento no assunto, consultar o trabalho de OHNUMA (2003), que estabelece um estudo bastante aprofundado sobre a representação dos vários processos relacionados às atividades dos subempreiteiros, propondo um “modelo de fluxos” para a análise das mudanças que vêm ocorrendo principalmente nos processos que envolvem as etapas de contratação e de gestão da produção. O modelo caracteriza o fluxo de informações entre cada um dos processos definidos, assim como os pontos de tomada de decisão e integração com os processos da empresa construtora.

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INÍCIO

Venda do Serviço

Sócio Proprietário

Carta Convite

Sócio Proprietário

...

...

Cópia do ISS / caução

Aux. Administrativo

Realização do TreinamentoEncarregado da Obra

FIM

Controle de EPI

Aux. Administrativo

Figura 5 - Exemplo de uma representação gráfica com responsáveis definidos para descrever as atividades de um subempreiteiro hipotético

Com a elaboração do fluxograma próprio e a definição dos responsáveis, puderam

ser verificadas possibilidades de melhoria (atalhos nos fluxos) e de delegação de

responsabilidades (é comum que todas as responsabilidades fiquem por conta do

dono da empresa).

4.3.2. Seminário 2 - tema: rotinas administrativas

Este seminário teve como objetivo principal a análise e orientação das rotinas

administrativas e legais (incluindo segurança do trabalho) que as empresas

subempreiteiras devem cumprir.

4.3.2.1. Questão da segurança.

Uma série de fatores pode contribuir para que um acidente ocorra. Quatro dentre eles

mostram-se de maior importância: a atividade envolvida, os equipamentos utilizados

para sua execução, as condições ambientais do local e as atitudes pessoais do

funcionário que executa esta atividade. O risco da ocorrência de um acidente pode

então ser caracterizado pela relação entre estes fatores.

Numa atividade que por si só já é bastante perigosa, mesmo que o ambiente, o

equipamento e a pessoa contribuam de maneira positiva para a diminuição de

acidentes, o risco de que estes aconteçam é alto. É o caso na construção civil.

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Se esta atividade não pode ser alterada de maneira significativa por mudanças

tecnológicas, deve-se então concentrar esforços nos fatores relacionados ao ambiente

e aos equipamentos. Para tal, foram estabelecidas normas regulamentadoras (como a

NR 18, por exemplo) para promover a obrigatoriedade da melhoria do ambiente de

trabalho e de uso de equipamentos adequados às atividades.

Essa primeira mensagem foi passada aos subempreiteiros.

Mas isto não é suficiente. No setor da construção civil, como em outros, a “pessoa”

normalmente é o fator que mais contribui para o aumento do risco. Mesmo

fornecendo-se equipamentos adequados para a execução das atividades, percebe-se

que ainda hoje os funcionários evitam sua utilização.

Desta forma, trabalhar no fator pessoa é o maior desafio na busca da diminuição de

acidentes. É preciso que o trabalhador esteja conscientizado da importância do uso

dos equipamentos, da atenção aos perigos do ambiente em que trabalha e da própria

atividade que realiza.

Com base em toda esta problemática, o segundo seminário procurou primeiramente

motivar os subempreiteiros sobre a necessidade desta atenção. Muitas vezes a maior

motivação para melhorar as atitudes dos envolvidos nas atividades de risco é a

própria vida e suas conseqüentes implicações (como a imagem da construtora e do

subempreiteiro, multas, processos, além do desamparo e perda de renda para a

família da vítima).

O trabalho de conscientização realizado no seminário referenciava principalmente os

cuidados para diminuição de acidentes ligados à morte por queda de funcionário, o

tipo mais freqüente de acidente fatal na construção civil.

Além da conscientização, o seminário procurou também identificar o que exigem as

legislações relacionadas à segurança e medicina do trabalho, e como o

subempreiteiro, já que é uma empresa, poderia atendê-las. Foram focadas as

seguintes exigências:

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♦ manter os seguintes serviços: SEESMT - Serviços Especializados em Engenharia

de Segurança e em Medicina do Trabalho (NR04)12; CIPA - Comissão Interna de

Prevenção de Acidentes (NR05); e Brigada de Incêndio (NR23);

♦ elaborar e implementar os seguintes programas: PCMSO - Programa de Controle

Médico de Saúde Ocupacional (NR07); PPRA - Programa de Prevenção de

Riscos Ambientais (NR09); e PCMAT - Programa de Condições e Meio

Ambiente de Trabalho na Indústria da Construção (NR18);

♦ fornecer EPI (Equipamento de Proteção Individual) adequado à realidade do

funcionário (NR06).

O intuito não foi o de transformar o seminário em um curso de normas

regulamentadoras, mas sim esclarecer estas exigências, destacando as

responsabilidades dos subempreiteiros.

A principal preocupação com relação à manutenção dos serviços foi identificar quais

deles deveriam ser mantidos pelo subempreiteiro. Isto deveria ser feito basicamente

em função da atividade que o subempreiteiro realiza (definição do grau de risco da

atividade) e do número de funcionários nas frentes de trabalho.

Por exemplo, no caso do subempreiteiro possuir uma ou mais frentes de trabalho

com 70 ou mais empregados em cada estabelecimento, deveria organizar uma CIPA

por estabelecimento. Caso contrário, participaria com, no mínimo, um representante

das reuniões, do curso da CIPA e das inspeções realizadas pela CIPA do

subcontratante (a construtora).

Este tipo de esclarecimento é vital para que o subempreiteiro tenha certeza de que

esteja atendendo à legislação e também para melhorar suas relações com a

subcontratante, seja para aceitar determinadas exigências da construtora, seja para

recusar imposições que na verdade não seriam obrigatórias.

12 Todas as Normas Regulamentadoras (NRs) citadas neste trabalho podem ser encontradas em <http://www.mte.gov.br/Temas/SegSau/Legislacao/Normas/Default.asp> que corresponde ao site do então Ministério do Trabalho e Emprego.

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Com relação aos programas citados, preocupou-se em identificar quais deveriam ser

realizados pelo subempreiteiro e quais seriam de responsabilidade da subcontratante.

O PCMSO, por exemplo, deveria ser implementado em quaisquer condições, uma

vez que é obrigatório para funcionários de qualquer empresa. Está vinculado

basicamente aos empregados do subempreiteiro, o que independe do tipo de acordo

feito com a construtora.

Já o PCMAT, que diz respeito ao local de trabalho, pode gerar muito mais discussões

com relação à responsabilidade de implantação. Poderia, por exemplo, ser

implantado apenas pela construtora subcontratante, desde que estivesse articulado

com os demais programas dos subempreiteiros. O mesmo vale para o PPRA.

De certa forma, o interesse maior do subempreiteiro está relacionado à importância

que a subcontratante dá aos programas. Em muitas construtoras, para ser contratado,

o subempreiteiro obrigatoriamente deve apresentar sua documentação regularizada,

incluindo, por exemplo, os Atestados de Saúde Ocupacional (ASO) e os registros do

cumprimento do PCMSO. Assim, o cumprimento dos programas está vinculado

apenas à exigência da construtora.

No entanto, como está crescendo número de construtoras que estão buscando sua

regularização ou a implementação de sistemas de gestão da qualidade, este tipo de

subcontratante permissivo irá tornar-se cada vez mais raro, mesmo que à médio ou

longo prazo. O alerta foi considerado muito importante pelos subempreiteiros.

A conscientização da importância do atendimento à legislação, independente da

exigência da construtora, foi outro ponto significativo levantado no seminário. No

entanto, a discussão mais próxima da realidade do subempreiteiro relacionou-se aos

EPI’s.

Todo empregador deve fornecer gratuitamente os EPI’s necessários à atividade

designada para seu funcionário. No entanto, muitos subempreiteiros acreditam que

esta responsabilidade é de seu subcontratante. Existem construtoras que realmente

fornecem EPI’s, mas os subempreiteiros não podem apenas depender desta iniciativa.

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72

É necessário discutir o assunto no momento da contratação, para que as

responsabilidades fiquem bastante claras desde o início.

Primeiramente, deve-se identificar quais EPI’s precisam ser fornecidos ao

funcionário. A maioria das empresas fornece capacetes e botas, mas existem outros

EPI’s que também devem fazer parte da lista de distribuição. Um exemplo típico de

EPI, citado na NR06, e que as empresas não costumam fornecer é o protetor solar

para a pele, utilizado quando o funcionário está exposto o dia inteiro a fortes raios

solares.

Outro ponto levantado pelos participantes foi de que seus empregados não se

responsabilizam pelos EPI’s fornecidos. Se o subempreiteiro for responsável pelo

fornecimento do equipamento pode significar um prejuízo enorme todas as vezes os

mesmos forem danificados por uso indevido ou simplesmente perdidos. Desta forma,

discutiu-se também uma sistemática de controle dos EPI’s entregues. O simples fato

de o empregado ter consciência que a empresa sabe exatamente quando e quais

equipamentos foram entregues pode já despertar um senso de responsabilidade no

indivíduo, que evita o constrangimento de solicitar um novo se for negligente no seu

trato.

Este mesmo cuidado pode ser estabelecido em relação ao uniforme (ou fardamento),

que também deve ser fornecido gratuitamente.

Além disso, alguns EPIs não são aprovados para uso. Segundo a NR06, os EPI’s, de

fabricação nacional ou importada, só podem ser comercializados ou utilizados,

quando possuírem o Certificado de Aprovação - CA, expedido pelo então Ministério

do Trabalho e do Emprego. Este tipo de cuidado não é tomado. O alerta desta

verificação e de como analisar esta exigência também foi levantado no seminário.

Para auxiliar a compra dos EPIs pelos subempreiteiros, foi fornecida uma relação de

fornecedores qualificados pelas empresas construtoras ligadas ao Programa.

4.3.2.2. Questões administrativas, financeiras, trabalhistas e fiscais

Muito do que se comentou a respeito da terceirização predatória ocorrida na

construção civil está ligada à fraca estrutura e ao limitado conhecimento

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administrativo dos subempreiteiros. Sem um bom entendimento do tema ou a

presença de funcionário especializado, a maioria tem uma administração precária e

as questões contábeis são confiadas a escritórios terceirizados. Isto leva a que

normalmente aceitem todas as condições exigidas pelos contratantes, uma vez que

não há ninguém que defenda seus interesses financeiros. Sem estes conhecimentos,

os subempreiteiros podem ainda ser prejudicados pela fiscalização do trabalho ou

serem explorados pelos contratantes. Assim, foram debatidas no seminário as

principais questões administrativas e de impostos que o subempreiteiro deveria

conhecer, relacionadas ao fornecimento de serviço às construtoras.

Com relação aos impostos, existem muitos a serem relacionados, visto a alta carga

tributária existente no Brasil. Existem contribuições ao INSS, SESI (Serviço Social

da Indústria), SENAI (Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial), SECONCI

(Serviço Social da Indústria da Construção e do Mobiliário do Estado de São Paulo),

salário educação, dentre outros, como já visto na tabela 1. Dentre todas estas

contribuições, algumas são específicas para determinados subempreiteiros, outras

não são obrigatórias. Então, foram referenciados apenas duas delas (INSS e ISS).

4.3.2.2.1. INSS

Todas as empresas têm responsabilidades pelas contribuições sociais sobre a folha de

pagamentos de seus funcionários. Os subempreiteiros não fogem a esta regra.

No entanto, por seus limitados conhecimentos sobre as questões fiscais ou

simplesmente com a finalidade de se obter um resultado financeiro um pouco

melhor, as empresas subempreiteiras não realizam o recolhimento de maneira correta

(ou completa).

Como a fiscalização por parte do governo sobre estas pequenas empresas é muito

difícil, visto o alto grau de informalidade, foi prevista uma forma de garantia destas

contribuições. É a chamada “Responsabilidade Solidária”, termo utilizado na

legislação, pela qual o construtor é solidário com a subempreiteiro pelo cumprimento

das obrigações para com a Seguridade Social.

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74

Entretanto, a empresa subcontratante pode elidir-se desta responsabilidade, conforme

permite artigo da lei nº 8212 de 199113, mediante a retenção e o recolhimento do

percentual de 11% sobre o valor bruto da nota fiscal, fatura ou recibo do contratado.

A maior parte das construtoras realiza este desconto, mas este é um caso típico de

cobrança imposta pelos contratantes da qual os subempreiteiros desconhecem a

procedência.

Mais tarde, com o surgimento da lei nº 9711 de novembro de 1998, foi introduzida a

obrigatoriedade da retenção pela empresas contratantes de serviço mediante cessão

de mão-de-obra ou empreitada, deste valor (11%).

O regulamento da Previdência Social define cessão de mão-de-obra como a

colocação à disposição do contratante, em suas dependências ou na de terceiros, de

segurados que realizem serviços contínuos, relacionados ou não com a atividade fim

da empresa, independente da natureza e forma de contratação, inclusive por meio de

trabalho temporário na forma da lei 6019/74.

Define também empreitada pela execução de tarefas, obras ou serviços,

contratualmente estabelecidos, relacionados ou não com a atividade fim da empresa

contratante, nas suas dependências, nas da contratada ou nas de terceiros, tendo como

objetivo um fim específico ou resultado pretendido.

Ambas as definições identificam exatamente a classe dos subempreiteiros estudados,

sejam eles de qualquer espécie.

A Certidão Negativa de Débito (CND) é o documento de prova de inexistência de

débito da empresa para com as contribuições destinadas à Seguridade Social. É

necessária para as empresas se habilitarem a pratica de determinados atos previstos

em lei.

13 As informações sobre legislação tratadas nesta pesquisa foram consultadas no programa informatizado do IOB - Informações Objetivas Publicações Jurídicas Ltda.

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Nas empresas em geral a CND é exigida por exemplo na licitação, na contratação

com o poder público e no recebimento de benefícios ou incentivos fiscais.

Especificamente para as contratantes dos subempreiteiros, é exigida para as

construtoras quando da averbação da obra no cartório de registros de imóveis ou para

o incorporador por ocasião da inscrição ou revalidação do memorial de incorporação

nos registros de imóveis.

A CND deve ser fornecida pelo INSS caso as contribuições previdenciárias relativas

aos serviços da construtora comprovem estes recolhimentos. Por esta razão a

preocupação muito grande dos subcontratantes em realizar corretamente a retenção

de 11% e posteriormente o recolhimento destes ao INSS.

4.3.2.2.2. ISS

Outro imposto pago sem distinção é o ISS, referente ao serviço prestado pelo

subempreiteiro, que incide diretamente sobre o valor da nota fiscal.

É importante deixar claro que para o subempreiteiro este imposto relaciona-se apenas

ao serviço prestado. No entanto, grande parte dos subempreiteiros realiza a compra

de matéria prima para a execução dos serviços e em muitos casos isto é identificada

na nota fiscal. A orientação no seminário foi para que estes valores sejam separados

nas faturas (mão-de-obra e material) para que não haja cobrança indevida.

4.3.2.2.3. Medição

Outra questão tratada foi a medição dos serviços, que apesar de imprescindível para

os subempreiteiros, muitas vezes não é objeto de grande preocupação. Muitos

subempreiteiros aceitam a medição da construtora, mas existe a necessidade de se

comparar este resultado com verificado pelo próprio subempreiteiro. Desta forma foi

importante a abordagem do assunto, de forma a melhor formalizar o processo e

deixá-lo mais confiável, além de se desenvolver uma sistemática caso uma empresa

subcontratante não realize a medição. Assim, foi apresentada uma metodologia para

a medição de forma acumulativa.

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4.3.2.2.4. Assistência técnica

Outro item importante tratado no seminário foi a assistência técnica. As exposições

procuraram esclarecer os conceitos relativos ao tema, como vício, código de defesa

do consumidor, garantias, vida útil, etc.

Além disso, uma prática pouco comum das empresas subempreiteiras é o registro dos

serviços prestados, fato que foi bastante explorado.

Por fim, a questão da relação entre construtora e subempreiteiro neste assunto

também foi discutida, pois as responsabilidades neste processo não são claramente

definidas no momento da contratação. O subempreiteiro, caso solicitado, trata esta

questão de maneira demasiadamente informal e não acredita que possa ter

responsabilidade futura sobre os serviços prestados, o que não é verdade.

4.3.2.2.5. Análise de contratos

O último assunto tratado foi a análise crítica de contrato (termo da NBR ISO 9000).

Relaciona-se basicamente com a importância de analisar se a empresa subcontratada

tem capacidade de atender às exigências do contrato firmado.

Este tema é importantíssimo, pois a enorme concorrência e atitude das construtoras

fazem com que os subempreiteiros não estudem os requisitos dos contratos. Primeiro

assinam o contrato e depois verificam como conseguirão atendê-lo.

O assunto foi tratado com os subempreiteiros de forma bastante direta e focado na

análise da proposta, já que esta, depois de enviada para o cliente (construtora),

estabelece o compromisso com o serviço a ser prestado. O contrato é também é outro

ponto a ser analisado pelo subempreiteiro, mas conseqüência do primeiro.

O controle de alterações contratuais, aditivos ou emendas, também foi discutido. A

análise cuidadosa destas alterações é muito importante, pois do contrário podem

comprometer toda a previsão realizada no fechamento do contrato inicial.

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4.3.3. Seminário 3 - tema: sistemas de gestão da qualidade

Este seminário teve como objetivo o esclarecimento das normas relativas aos

sistemas de gestão da qualidade e a apresentação do conceito de política da qualidade

que deles deriva, além dos requisitos que envolvem os subempreiteiros, tais como

controle de processos, inspeção durante o processo e avaliação do fornecedor.

Estes assuntos foram identificados como necessários, pois as duas construtoras

idealizadoras do Programa de Capacitação estavam implantando sistemas da

qualidade. Além disso, os grandes clientes subcontratantes do mercado estão

implantando sistemas de gestão da qualidade, baseados nos requisitos da norma NBR

ISO 9001 (Qualihab, PBQP-H, Prodfor, ou mesmo a própria NBR ISO 9001).

Uma das exigências da norma é que todos os fornecedores, inclusive os

subempreiteiros, sejam qualificados antes de sua contratação. Conseqüentemente, um

dos tópicos mais solicitados pelas construtoras para a seleção de um subempreiteiros

é o conhecimento sobre sistemas de gestão da qualidade.

Depois de contratados, os subempreiteiros têm responsabilidades em parte do sistema

da construtora e são avaliados de acordo com seu desempenho, tornando essencial

que conheçam alguns itens exigidos pela norma.

De maneira sucinta foram apresentados no seminário todos os requisitos da norma

NBR ISO 9001, de modo a situar o subempreiteiro em todo o processo que está

inserido, no que diz respeito aos sistemas de gestão da qualidade de construtoras.

Não é importante que o subempreiteiro entenda todos os itens da norma. Uma

abordagem deste tipo não agregaria valor e deixaria o seminário bastante desgastante

e sem utilidade. No entanto, quatro pontos são bastante importantes e devem ser

enfatizados: política da qualidade, execução dos serviços (procedimentos), inspeção

de serviços (critérios) e avaliação de fornecedores.

Com relação especificamente à política da qualidade, além de apresentar modelos e

esclarecer as dúvidas mais freqüentes sobre o assunto, o seminário também motivou

os participantes a desenvolverem sua própria política, mesmo que não auditável. O

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desenvolvimento de uma política pode servir de base para mudanças estruturais

dentro da empresa subempreiteira, demonstrando uma busca de comprometimento

maior por parte de todos os funcionários.

Em seguida, o seminário tratou da elaboração de padrões. É importante que o

subempreiteiro padronize seus processos, pois muitas vezes cada funcionário realiza

o mesmo serviço de maneira diferente, levando a distorções muito grandes em cada

atividade e dificultando o seu planejamento e controle. Além disso, um produto final

muito bom não terá a garantia de se repetir.

Procurou-se dar ênfase para a padronização dos serviços de obra (sem deixar de lado

os processos administrativos) orientando que os subempreiteiros desenvolvessem

procedimentos (sejam eles escritos, filmados, em forma de figuras ou fotos, etc.) para

execução de seus principais produtos.

Foram também apresentados alguns dos procedimentos das duas construtoras

promotoras do Programa de Capacitação para serem utilizados como modelos, caso

interessassem aos participantes.

Por fim abordou-se o tema referente à qualificação de fornecedores e a importância

de uma avaliação contínua.

Os próprios subempreiteiros já estariam sendo avaliados pelas construtoras e neste

caso, apesar de não realizado, poderia ser aproveitado o espaço para esclarecer a

metodologia utilizada pelas construtoras para realizar esta avaliação, de modo que os

subempreiteiros busquem melhores desempenhos junto aos seus subcontratantes.

4.3.4. Seminário 4 - tema: capacitação e treinamento

Este seminário teve como objetivo principal discutir sistemáticas para que os

subempreiteiros identifiquem a necessidade de capacitação de seus funcionários e

também desenvolvam treinamentos dos mesmos, além de exercitar a aplicação destas

sistemáticas.

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Primeiramente tratou-se da identificação das necessidades de capacitação para cada

cargo ou função dentro da empresa subempreiteira. Para tal foi importante

estabelecer requisitos para se exercer cada uma das funções identificadas na empresa.

A identificação destas funções e responsabilidades foi tratada no seminário 1.

Comparando o real perfil do profissional e os requisitos para o cargo pode-se

determinar as necessidades de capacitação e planejar as ações necessárias para

adequar o funcionário a estas exigências.

Também foram identificados para cada cargo, os treinamentos que deveriam ser

realizados para que o empregado mantenha ou aprimore seu desempenho na

execução das atividades relacionadas com sua função. Estes treinamentos

envolveram principalmente os procedimentos de execução de serviços desenvolvidos

pelos próprios subempreiteiros.

Em seguida verificou-se a importância de se registrar a capacitação e os treinamentos

realizados. Como existem vários tipos diferentes de capacitação e treinamento, e

muitas vezes as próprias subempreiteiras realizam diversas atividades distintas, se as

ações não forem formalmente registradas, a médio prazo os responsáveis pelo

processo fatalmente perderão o controle de quais funcionários estariam apto a

desempenhar determinadas atividades. Este problema agrava-se, na medida em que o

índice de rotatividade da mão-de-obra nestas empresas é altíssimo, o mesmo

acontecendo com a taxa de recontratação (um mesmo funcionário é contratado várias

vezes por uma mesma empresa).

Para exemplificar o processo de treinamento, foram discutidos vários tipos

diferentes, dentre eles:

♦ treinamento técnico (principalmente para os líderes e encarregados);

♦ treinamento operacional (principalmente para os funcionários de campo);

♦ treinamento de sensibilização (para todos os funcionários da empresa).

Concluindo o seminário, foram analisados diversos procedimentos de execução de

serviços elaborados pelos próprios participantes. Em seguida, realizou-se o

treinamento de vários subempreiteiros, divididos em grupo de acordo com suas

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80

atividades, tomando como base os procedimentos das empresas construtoras

idealizadoras do Programa.

4.4. Avaliação do Programa

Com a realização dos seminários de repasse técnico, as empresas subempreiteiras

puderam então iniciar a implantação das propostas sugeridas pelo Programa de

Capacitação.

Verificou-se que os subempreiteiros apresentaram grande dificuldade de

desenvolverem sozinhos as tarefas apresentadas nos seminários. Desta forma, as

visitas técnicas práticas individuais (realizadas em cada subempreiteiro) foram

essenciais para o sucesso do Programa.

No entanto, cabe ressaltar que grande parte dos subempreiteiros não conseguiu

desenvolver todas as atividades orientadas. Tratava-se principalmente dos

subempreiteiros de atividades básicas, principalmente de alvenaria e revestimento

argamassado, que dispunham de poucos recursos, tanto humanos, como financeiros.

Com relação aos demais subempreiteiros, de uma maneira ou de outra eles

finalizaram o Programa, concluindo cada um o seu Manual do Subempreiteiro.

Das 16 empresas participantes, 5 delas abandonaram o Programa, antes de seu

término. Três destas empresas não possuíam funcionários com conhecimento mínimo

de informática (nível de usuário) e nem equipamento (computador) adequado.

Mesmo com a disponibilização de um computador e auxílio das construtoras e da

empresa de consultoria para a elaboração dos documentos, os subempreiteiros

julgaram as atividades muito complexas e entenderam por bem não continuar com a

implantação das sistemáticas discutidas no Programa. As outras duas empresas

encerraram suas atividades por falta de obras e seus ex-sócios não se interessaram em

continuar no Programa.

Como forma de se medir o aproveitamento dos participantes e coletar informações

sobre a adequação dos requisitos apresentados no Programa para a realidade de cada

subempreiteiro e assim subsidiar as conclusões iniciais desta pesquisa, foram

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contatados todos os subempreiteiros que concluíram as atividades e repassado a cada

um o questionário de avaliação que se encontra no Anexo A. Este questionário,

propositadamente constitui-se de itens bastante simples e diretos, com a finalidade de

promover respostas rápidas e contribuir para um índice maior de devolução do

mesmo. Mesmo assim, apenas 7 empresas (das 11 questionadas) retornaram estas

avaliações, que no entanto, já auxiliaram no estabelecimento de algumas conclusões

com relação ao tema.

Além dos questionários, pode-se também coletar informações durante os contatos

com as empresas após o término das atividades do Programa.

De maneira geral, nenhuma das empresas concluiu que os seminários e as visitas

técnicas foram ruins. Houve uma avaliação muito boa dos serviços realizados pela

empresa de consultoria.

Pelo menos 85% das empresas que responderam o questionário acreditavam que o

programa auxiliou na conscientização de seus funcionários, sobretudo com relação às

questões de organização interna e segurança do trabalho.

A formalização de funções e identificação de responsabilidades dentro das empresas

descentralizou bastante as atividades que antes eram realizadas somente pelo dono da

empresa, pressionado pelo representante do cliente. Em outras palavras, com uma

melhor organização interna e sobretudo a padronização dos processos internos, pode-

se distribuir maiores responsabilidades para funcionários de maior competência,

motivando-os e tornando as atividades mais ágeis.

As questões de segurança do trabalho foram mais bem conscientizadas. O que antes

era visto como responsabilidade do contratante, tornou-se um tema pelo qual os

subempreiteiros passaram a ter maior interesse, sobretudo com relação ao uso de EPI

em obra.

A mesma porcentagem de 85% das empresas também identificou melhoria na

qualidade de seus serviços.

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82

Esta melhoria deu-se principalmente com a elaboração dos procedimentos de

execução. Durante o processo de desenvolvimento, muitos processos foram

melhorados e esclarecidos aos funcionários. Não foi raro perceber a surpresa

demonstrada pelos sócios (donos das empresas) durante a fase de elaboração, quando

do relato de seus encarregados ou supervisores sobre as formas de execução erradas

ou ineficazes em andamento.

Para pouco menos da metade das empresas, cerca de 43% delas, o Programa ajudou

na regularização das exigências legais, sobretudo quanto ao cumprimento das normas

regulamentadoras.

O Programa atingiu seu objetivo quanto à conscientização das subempreiteiros a

respeito dos itens legais que deveriam ser implementados em suas empresas. No

entanto, pela margem cada vez menor de lucros e busca de diminuição das despesas

operacionais, mesmo que a contra gosto, muitos subempreiteiros preferem manter-se

fora das exigências de registro de funcionários, recolhimento de impostos e

cumprimento das normas regulamentadoras.

No entanto, na visão dos participantes, apesar dos benefícios internos para os

subempreiteiros, foi verificada uma pequena valorização pelos atuais clientes, as

empresas construtoras. É claro que para a grande parte dos subempreiteiros,

valorização significa “ganhar mais concorrências”. Assim, este resultado acabou

sendo um pouco distorcido ou tendencioso. A grande parte dos subempreiteiros

envolveu-se nas atividades na busca de maior espaço no mercado, de mais obras, mas

os participantes não observaram seu favorecimento durante as concorrências para

contratação de serviços em obra. Das empresas que terminaram o Programa e

responderam o questionário, apenas uma delas identificou que ocorreu uma

valorização por parte das construtoras.

Na verdade, analisando a opinião daqueles subempreiteiros mais conscientes, estes

esperam realmente o seu reconhecimento por parte dos subcontratantes, como

dotados de uma diferenciação em relação aos seus concorrentes. Isto corresponde

exatamente a uma das propostas do Programa de Capacitação, embora o mercado

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ainda não se encontre totalmente receptível a esta mudança de paradigma, sendo

ainda o preço o maior diferencial valorizado por grande parte das construtoras.

Outras questões também foram levantadas, como as principais dificuldades de

implantação das propostas do Programa. A maior parte dos entrevistados, mais de

71% deles, identificou que o principal problema de implantação foi a falta de tempo

para desenvolvimento das propostas. Como a estrutura das empresas é bastante

reduzida, os funcionários normalmente já realizam muitas atividades simultâneas,

não podendo se dedicar como gostariam a outras tarefas extraordinárias, relacionadas

à implantação das propostas.

Com relação à questão dos custos de implantação, pelo menos 43% dos entrevistados

entenderam que os mesmos foram altos. Analisando os custos do Programa, que

poderiam estar sendo realmente citados pelos participantes, estes poderiam ser de

dois tipos: a disponibilização de funcionários para formalização dos processos (como

a elaboração dos documentos, tais como Manual do Subempreiteiro, fichas cadastrais

e procedimentos); ou os custos de implementação dos programas exigidos pelas

normas regulamentadoras (PCMSO, PPRA, etc.), que necessitam de profissionais

qualificados.

Mesmo não identificado nos questionários, verificou-se que determinados

subempreiteiros não possuíam a infra-estrutura necessária para o desenvolvimento

das propostas. Isto pode ser exemplificado como: a falta de uma sala ou escritório

próprio para reuniões ou treinamentos (muitos subempreiteiros são alocados

diretamente nas obras dos clientes); e falta de equipamentos básicos (como

computador para desenvolvimento dos documentos) ou informação de como operá-

los.

Foi também questionado aos participantes sobre quais assuntos (relativos ao

Programa ou fora dele) estes gostariam de receber maiores informações para auxiliá-

los no seu dia-a-dia. Em outras palavras, quais seriam os temas que estes

subempreiteiros acreditavam serem necessários para melhorar sua capacitação no

desenvolvimento de suas atividades.

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Quase a metade dos entrevistados achou necessária a obtenção de maiores

orientações a respeito de sistemáticas para identificar necessidades de capacitação e

treinamento de seus funcionários. Gostariam de receber maiores informações dos

melhores métodos para realizar os treinamentos de seus empregados. Claramente

identificou-se que os participantes estavam conscientizados a respeito da importância

da capacitação e do treinamento, mas eles não sabiam qual a maneira mais eficaz de

se fazê-lo.

Outro item bastante solicitado diz respeito à política da qualidade. Muitos trabalham

para empresas certificadas e são constantemente demandados a conhecer as políticas

de seus clientes.

Por fim, muitos subempreiteiros entrevistados identificaram ainda a necessidade de

maiores conhecimentos sobre as questões administrativas, principalmente relativas à

segurança e administração de impostos. Estes itens normalmente são tratados fora da

empresa subempreiteira, sendo o primeiro deles controlado ou exigido pelo próprio

cliente e o segundo por uma empresa de contabilidade terceirizada.

4.5. Análise dos resultados do Programa

Com a finalização das atividades do Programa, esperava-se que as empresas

participantes mantivessem as sistemáticas implantadas e alcançassem vários

benefícios nos processos por ele tratados.

Para a verificação dos resultados alcançados, algumas empresas participantes foram

visitadas 18 meses após o encerramento do Programa. Nestas visitas pôde-se

comprovar o que realmente permanecia ou não implantado, além de se identificar os

principais resultados, mesmo que qualitativos.

Para auxiliar esta verificação, de modo a tentar sistematizar a avaliação dos

resultados, foi elaborada uma ficha (vide anexo B), com os principais itens a serem

analisados junto aos sócios diretores da empresa e outros funcionários indicados por

eles, de acordo com cada processo tratado.

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As empresas a serem visitadas foram escolhidas de acordo com suas características

próprias, de modo que representassem diferentes tipos de subempreiteiros, levando-

se em conta o seu porte e área de atuação.

4.5.1. Subempreiteiro S1

4.5.1.1. Caracterização do subempreiteiro S1

Essa empresa atua na execução de serviços de alvenaria e revestimentos,

principalmente externos. Comparada com empresas que atuam no mesmo ramo, pode

ser considerada grande, uma vez que a quantidade de funcionários varia de 100 a

150, em função da demanda de serviços, normalmente entre 4 e 6 contratos em

andamento.

Possui sede própria na cidade de São Paulo, com uma estrutura organizacional

completa, inclusive administrativa (diretoria, suprimentos, departamento pessoal,

encarregados de obra, etc.).

A empresa tem como diretor uma única pessoa, com formação superior, mas não

especificamente relacionada ao setor da construção civil (administração de

empresas).

4.5.1.2. Manutenção dos processos implementados (S1)

Foi verificado que o documento denominado Manual do Subempreiteiro não era

conhecido pelos funcionários da empresa. Apesar de ainda existir, seu uso era restrito

à diretoria.

O organograma da empresa deixou de ser divulgado para todos os funcionários, após

a verificação que era muito difícil seu entendimento. Bastava o funcionário saber

quem era seu chefe. Mesmo assim, a política de trabalho foi divulgada.

A empresa permaneceu com toda a documentação de contrato formalizada, com

exceção dos registros de análise crítica. Particularmente quando prestavam serviços

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para contratantes de grande porte, não conseguiram implantar a formalização das

propostas de modificação.

A aplicação dos programas de segurança e saúde e o atendimento das normas

regulamentadoras foi realizada somente quando houve exigências das construtoras

contratantes. No entanto, o registro dos funcionários e entrega dos EPIs é algo que já

acontecia e permanece.

Todos os treinamentos admissionais em segurança obrigatórios continuam a ser

realizados pela construtora subcontratante. Como a empresa não desenvolveu

procedimentos de execução de serviços, não houve a iniciativa por parte do

subempreiteiro em realizar treinamentos com seus funcionários.

O subempreiteiro permanece com um cadastro de fornecedores qualificados e toda a

sistemática de compra formalizada (cotação e pedidos). Uma sistemática simples

para recebimento de materiais e equipamentos foi implantada, que se resume no visto

de um representante da empresa na nota fiscal, após a conferência. Pelo tipo de

serviço que esta empresa realiza (onde basicamente fornece a mão-de-obra), o fato é

bastante justificável.

Como citado anteriormente, a empresa acabou extinguindo os procedimentos de

execução próprios, pois não os achou práticos. Segundo o dono da empresa, as

construtoras impõem seus próprios procedimentos, pois são elas que realizam a

inspeção dos serviços.

O processo de medição foi bem aplicado na empresa e só não é realizado com

sistemática própria quando a construtora impõe a sua.

Quanto aos processos de recolhimento dos impostos (terceirizado) e assistência

técnica (carta formal ao invés de ordem de serviço), ambos estavam funcionando

adequadamente de acordo com a sistemática implantada durante o Programa.

A empresa não fornece garantia pelos serviços prestados. A mesma é fornecida pelo

subcontratante.

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4.5.1.3. Resultados particulares alcançados (S1)

Foi verificada pela diretoria uma melhoria muito grande na apresentação da empresa

aos clientes o que deixou a empresa mais valorizada, aumentando sensivelmente o

número de novos contratos. Pelo menos um grande contrato foi firmado pela

apresentação do certificado de participação no Programa.

Com relação à execução dos serviços, verificou-se que a partir da implantação do

Programa, os funcionários não deixam mais pendências de arremate após a execução

dos serviços. Em outras palavras, apesar do serviço manter uma qualidade que já

existia, o retrabalho para que isto seja alcançado tornou-se mínimo. Tal fato

possibilitou diretamente uma redução de custos, que mesmo não medida

quantitativamente, foi percebida pela empresa, com a geração de menos resíduos

provenientes dos arremates.

A implantação do Programa, segundo a diretoria da empresa, não acarretou a

possibilidade de aumento dos preços cobrados, que era uma expectativa do

subempreiteiro. Seus contratantes não pagam mais por um serviço de qualidade. Mas

com a grande concorrência existente no mercado, vários contratos foram ganhos pelo

diferencial da empresa na qualidade, organização e apresentação.

A empresa conseguiu também maior credibilidade junto aos seus contratantes, com a

realização organizada das medições de serviço. Ocasionalmente o contratante

apresenta uma medição errada (normalmente com serviços a menos), o que prejudica

o subempreiteiro, mas estes “erros” são claramente comprovados e a construtora não

discute, pagando o que lhe é de direito.

Outro ponto importante observado foi a maior conscientização dos funcionários com

relação aos problemas de segurança. O subempreiteiro começou a fornecer 100% dos

EPIs para seus funcionários, o que melhorou a relação com as construtoras

subcontratantes (novamente mais credibilidade). Algo nunca antes imaginado pelo

subempreiteiro aconteceu: elogios do fiscal quanto ao cumprimento das questões de

segurança e recolhimento de impostos.

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A verificação mais consciente dos materiais recebidos fez com que muitos problemas

de entrega de materiais e equipamentos fossem minimizados, reflexos de uma maior

preocupação do fornecedor em atender adequadamente um comprador mais exigente.

A empresa, pelo relato de seu diretor, poderia até se expandir, mas optou por manter

sua estrutura atual, recusando até determinados contratos para manter a credibilidade

alcançada no período.

4.5.2. Subempreiteiro S2

4.5.2.1. Caracterização do subempreiteiro S2

Essa empresa atua com colocação de cerâmica interna ou externa (pisos e paredes).

A quantidade de funcionários é normalmente mantida em 70. Pelo tipo de serviço

que executam e diversidade de contratantes que atendem (tanto consumidores

residenciais e pequenas reformas, como grandes construtoras) as equipes podem

variar bastante em quantidade (de 2 até 20 em cada obra), bem como a duração dos

serviços (de poucos dias até vários meses). Desta forma, o número de contratos em

andamento também estabiliza por volta de 70 (não simultâneos).

A empresa é credenciada para execução e assistência técnica por um grande

fabricante de cerâmica, o que está relacionado com esta variabilidade grande de

demandas de serviço.

Possui sede própria na cidade de São Paulo, com uma estrutura organizacional

completa, com exceção da área contábil, recentemente terceirizada.

A empresa tem como diretor uma única pessoa, com formação superior (engenheiro),

mas conta com um corpo técnico de apoio (2 engenheiros responsáveis pelas obras).

4.5.2.2. Manutenção dos processos implementados (S2)

Verificou-se que o Manual do Subempreiteiro continua ativo na empresa, orientando

inclusive os novos funcionários sobre os processos internos da empresa.

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89

No entanto não houve continuidade da divulgação da política de trabalho da empresa

para os novos funcionários. Os funcionários antigos, que participaram da fase de

implantação do programa se lembram da política, mas os novos não a conhecem.

A empresa permaneceu com toda a documentação de contrato formalizada, mas

somente para grandes obras, onde existem maiores riscos envolvidos. Nas obras

pequenas, o contrato e o serviço são executados normalmente na residência do

proprietário em poucos dias, sendo dispensadas algumas formalizações pela empresa.

A maior parte dos serviços da empresa é realizado com poucos funcionários e em

prazos curtos, o que dificulta e até a dispensa em certos casos, a manutenção de

alguns processos relacionados à segurança e saúde nas obras. Todos os processos são

centralizados. No entanto, quando exigido pelo cliente, normalmente uma grande

construtora, as normas regulamentadoras são cumpridas nas obras.

Todos os treinamentos admissionais em segurança obrigatórios e fornecimento de

EPIs são realizados (pelas construtoras ou pela empresa) e registrados.

Apesar da intenção e vontade do corpo técnico da empresa, não foram desenvolvidos

procedimentos de execução de serviços. Grande parte da capacitação em execução é

realizada pelo próprio fabricante de cerâmica que credenciou o subempreiteiro. No

entanto, existem procedimentos para os processos administrativos (contidos no

Manual do Subempreiteiro) que são seguidos pelos funcionários.

Como orientado no Programa, o subempreiteiro realiza a qualificação de seus

fornecedores, mas os critérios para esta qualificação não são muito claros, levando

em conta, na grande maioria das situações, os preços praticados, uma vez que o

produto utilizado pela empresa não varia muito (cerâmica com especificação pelo

cliente).

Um processo foi bastante prejudicado: o controle de impostos. Existia um

funcionário responsável pelo processo, que inclusive participou do Programa e

implantou os controles necessários. Este funcionário saiu da empresa e o processo foi

terceirizado, sem um controle mais efetivo.

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90

Os processos de medição e assistência técnica estão implantados, formalizados e

funcionando adequadamente, a contento da empresa subempreiteira e de seus

subcontratantes.

A empresa fornece garantia de 6 meses pelos serviços.

4.5.2.3. Resultados particulares alcançados (S2)

Verificou-se que o Programa causou um impacto grande para a empresa em relação à

contratos com grandes construtoras. Como estas empresas estão implantando

sistemáticas de qualificação de fornecedores, o certificado de participação do

programa abriu portas para o subempreiteiro, que conseguiu alguns contratos grandes

por esta razão. Os pequenos contratantes ainda valorizam o preço para a contratação.

Outro ponto importante verificado foi que a partir da definição mais clara das

responsabilidades, os responsáveis pelo controle dos serviços na empresa

(supervisores) passaram a ter maior envolvimento na solução dos problemas

rotineiros, que são então resolvidos pelos próprios funcionários. Assim, propicia-se

um tempo maior para o diretor da empresa (que antes centralizava tudo) dedicar-se

aos processos comerciais e buscar novos contratos.

Verificado pelos supervisores de obra que o serviço melhorou, não tanto pela

qualidade de execução, que já era boa segundo seu entendimento, mais com relação à

organização das equipes (responsabilidades, planejamento adequado e

acompanhamento transparente e seguro dos serviços).

A finalização dos serviços, pela conscientização dos funcionários e maior cobrança

dos supervisores melhorou também. Os funcionários passaram a deixar o local limpo

após o término da execução.

Segundo o dono da empresa, a imagem da empresa no mercado, pelos clientes, teve

uma melhoria significativa. Isto se deu pelo uso obrigatório dos EPIs e uniformes

padronizados, além dos "folders" de apresentação e conteúdo detalhado dos contratos

comerciais.

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91

Estes fatores (melhor organização, limpeza e imagem institucional) possibilitaram

que o subempreiteiro tenha sido constantemente elogiado e recomendado pelos

clientes para outras empresas (novos contratos).

O programa auxiliou uma pequena diminuição de custos pela maior contenção dos

desperdícios e maior responsabilidade dos funcionários, como por exemplo: evitar

sacos de argamassa que eram deixados no cliente, equipamentos e ferramentas que

eram perdidos, compras racionalizadas (menos sobras), etc.

4.5.3. Subempreiteiro S3

4.5.3.1. Caracterização do subempreiteiro S3

Essa empresa atua na execução de serviços de automação predial (instalação de

aparelhos eletrônicos de comunicação interna, segurança patrimonial, etc.).

A empresa mantém 8 funcionários em atividade, um deles do setor administrativo e

os demais são técnicos e ajudantes, atuando com uma média de 6 contratos por mês.

Possui sede própria na cidade de São Paulo, de onde seu diretor e o responsável pela

parte administrativa da empresa coordenam os trabalhos das equipes.

A empresa já possuiu dois diretores, um deles com formação técnica em eletrônica

(que atuava como diretor técnico) e o outro sem relação com o setor eletrônico ou da

construção civil (que atuava como diretor administrativo). Atualmente, a empresa

está sendo administrada somente pelo antigo diretor administrativo.

4.5.3.2. Manutenção dos processos implementados (S3)

O Manual do Subempreiteiro fica em poder do diretor da empresa, que o apresenta

na admissão de um funcionário, orientando-o sobre a política de trabalho da empresa

e o organograma (que é bastante simples, uma vez que a empresa é pequena).

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92

Eventualmente, a empresa formaliza a especificação de seus serviços com um

contrato, mas em grande parte, inicia as atividades apenas com o “de acordo” do

cliente em sua proposta ou mesmo verbalmente.

Pela quantidade de funcionários e tipos de serviço que a empresa executa, grande

parte das normas regulamentadoras apresentadas e discutidas no Programa não são

aplicáveis. A empresa implanta apenas o PCMSO e distribui EPIs aos seus

funcionários (sem controle de distribuição).

Foram desenvolvidos pela empresa procedimentos de execução de serviços, que

consistem em pequenos resumos, destacando metodologias próprias e cuidados para

a execução das instalações. Os funcionários são treinados constantemente nestes

resumos.

A empresa possui um banco de dados com as informações mais importantes de seus

fornecedores. Ela utiliza pedidos de compra detalhados, uma vez que os

equipamentos e materiais empregados são bastante específicos. Normalmente estes

insumos são determinados pelo cliente e são diferentes para cada contrato,

dificultando então a qualificação de fornecedores e mesmo a realização de cotações.

A empresa realiza inspeções em seus serviços (chamada de “teste da qualidade”),

utilizando formulários até mais detalhados do que os exemplos apresentados no

Programa. Realiza medição própria, que na verdade se resume na verificação do

cumprimento do contrato firmado com o cliente.

A empresa realiza todo o controle de impostos através de uma empresa terceirizada,

monitorando os registros gerados por esta.

A garantia fornecida pela empresa resume-se na garantia dos equipamentos

instalados por ela. Desta forma não existe o processo de assistência técnica após o

vencimento do período de garantia do equipamento.

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4.5.3.3. Resultados particulares alcançados (S3)

Um resultado bastante importante para a empresa, até para sua sobrevivência

corresponde ao fato da padronização de todos os processos, inclusive técnicos ser

realizada antes da saída do antigo diretor técnico da empresa. Tal fato contribuiu para

que o outro diretor, ao assumir todas as atividades da empresa pudesse manter todos

os processos adequadamente, mesmo sem possuir o conhecimento e experiência

necessários para tal.

O Programa não contribuiu diretamente para que novos contratos surgissem. No

entanto, pela organização e qualidade dos serviços demonstrados, a empresa

conseguiu fidelizar seus clientes. Se atendido pela empresa, o cliente geralmente não

troca de subempreiteiro.

Segundo o diretor da empresa, foi verificada uma diminuição expressiva nas

pendências de entrega dos serviços, com a implantação dos “testes de qualidade”. Só

não foi reduzida à zero pela existência ainda de problemas de fabricação dos

equipamentos instalados, o que é difícil de se combater pois os mesmos são

especificados pelo próprio cliente.

Verificou-se ainda uma maior produtividade dos funcionários, com a utilização dos

resumos dos procedimentos e os treinamentos realizados. Tal fato possibilitou

também uma pequena diminuição nos custos indiretos, uma vez que uma mesma

equipe consegue agora atender mais contratos em andamento.

O Programa possibilitou também uma maior conscientização dos funcionários para o

uso dos equipamentos de segurança e de uma maior qualificação dos funcionários na

contratação por parte da diretoria da empresa.

4.5.4. Resultados genéricos alcançados

Como forma de se realizar uma comparação entre os resultados particulares

alcançados por cada subempreiteiro, pode-se resumir os principais pontos

identificados nos itens anteriores. Este resumo está expresso na tabela 14.

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94

Tabela 14 - Resultados alcançados com o Programa do CTE

Empresa Área de atuação

N.º de funcion. Resultados alcançados

S1 Alvenaria e

revestimentos argamassados

100-150

♦ Maior credibilidade frente às construtoras contratantes

♦ Aumento de novos contratos ♦ Diminuição de retrabalho (e custos) ♦ Conscientização dos funcionários em

relação à segurança do trabalho

S2 Revestimento cerâmico 70

♦ Aumento de contratos de grande valor ♦ Delegação de responsabilidades ♦ Melhor organização das equipes de

produção ♦ Limpeza após a execução dos serviços ♦ Melhor imagem institucional da empresa♦ Diminuição de custos inesperados

S3 Instalações prediais 8

♦ Delegação de responsabilidades ♦ Fidelização de clientes ♦ Diminuição de retrabalho (e custos) ♦ Maior produtividade ♦ Conscientização dos funcionários em

relação à segurança do trabalho

Um aspecto a ser considerado corresponde ao fato dos resultados identificados serem

qualitativos e não quantitativos. Estes foram expressos pelos donos das empresas ou

funcionários entrevistados nas visitas de acompanhamento.

Estes dados serão importantes para as conclusões sobre a aplicabilidade do Programa

nos diversos tipos de subempreiteiros existentes hoje e auxiliará também no

estabelecimento de critérios mínimos para capacitação, a serem inclusos em

programas do gênero.

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95

5. ANÁLISE CRÍTICA E PROPOSIÇÕES

Neste capítulo faz-se considerações a respeito da utilidade e aplicabilidade do

Programa estudado nas empresas subempreiteiras que dele participaram (por

exigência das duas construtoras), considerando-as suas necessidades como

subempreiteiros comuns do mercado, bem como a possibilidade de surgimento de

outros programas de mesma natureza.

Outro objetivo do capítulo é o estabelecimento de critérios para a capacitação de

subempreiteiros, necessários para outros programas específicos de mesma natureza.

5.1. Análise crítica do Programa de Capacitação estudado

O Programa mostrou-se inovador e, até por este fato, muito importante para o

registro de uma mudança na visão de representantes do empresariado do setor, que

por muito tempo mostraram-se passivos em relação à problemática do baixo grau de

capacitação dos operários da construção civil.

Isto porque, pelo menos de início, foi idealizado por construtoras de médio porte, na

busca de uma melhoria na capacidade de seus fornecedores e conseqüentemente na

qualidade e produtividade de suas obras. E este tipo de empresa construtora

corresponde a uma fatia expressiva do mercado que se conhece hoje, pelo menos no

estado de São Paulo.

No entanto, pela variabilidade de tipos de empresas subempreiteiras, e considerando

suas diferentes estruturas organizacionais e ramos de atuação, verificou-se que o

Programa impactou de maneiras diferentes cada tipo de subempreiteiro.

Para os subempreiteiros de mão-de-obra básica, por exemplo, um programa como o

estudado neste trabalho mostrou-se não se aplicar em sua totalidade. Este tipo de

empresa precisa antes de tudo melhor estruturar-se, de modo a manter sua atividade,

ou seja, garantir sua sobrevivência no mercado.

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96

Por esta razão, muitos dos subempreiteiros deste tipo, que participaram do Programa

e encontravam-se nestas condições não conseguiram acompanhá-lo, preferindo a

desistência.

O Programa de Capacitação estudado mostrou-se na verdade mais adequado à

realidade de subempreiteiros de níveis intermediários, segundo a classificação

proposta por PEREIRA (2003), envolvendo subempreiteiros de material e mão-de-

obra e subempreiteiros de projeto, material e mão-de-obra. Estes, dificilmente

apresentaram problemas de entendimento ou falta de recursos para implantação,

sendo os maiores beneficiados com o processo.

Uma análise sintética dos subempreiteiros de níveis mais avançados, sobretudo

aqueles que desenvolvem projetos e fornecem assistência técnica, identifica que eles

apresentam os mesmos defeitos ou até as mesmas facilidades de acompanhamento do

Programa que as próprias empresas contratantes já apresentavam quando da

implantação de seus sistemas de gestão da qualidade. Notar que o pesquisador

participou de tal implantação, mas que foge ao escopo desta pesquisa.

Assim, para estes últimos subempreiteiros, o Programa foi positivo para uma

conscientização ou treinamento de alguns de seus funcionários, mas não

necessariamente aumentou a capacitação das empresas. O fato as levou inclusive a

um interesse para implantação de sistemas de maior complexidade, como sistemas de

gestão da qualidade baseados nas normas NBR ISO 9000.

Desta forma sua aplicabilidade se justifica, mas para que alcance seus objetivos

específicos deverá ser reestruturado caso a caso, de acordo com as características de

cada tipo de subempreiteiro.

Até por este motivo, a empresa de consultoria que desenvolveu o Programa estudado,

desde o final de 2002, vêm realizado um trabalho de remodelação de sua proposta, de

maneira a melhor ajustá-la às necessidades dos futuros subempreiteiros que se

interessem em dele participar . Algumas das sugestões para capacitação estabelecidas

neste trabalho poderão contribuir para tal.

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97

Merece destaque neste processo de reformulação do Programa, o fato da empresa de

consultoria, dentre outros itens a serem modificados, planejar incluir como atividade

necessária uma espécie de avaliação ao final do programa, estimulando de maneira

mais marcante a implantação dos itens tratados no programa. Os subempreiteiros que

alcançarem um grau satisfatório de implantação e cumprimento das sistemáticas

tratadas no Programa receberiam um certificado de aprovação. Já aqueles que não

atingissem o mínimo necessário, receberiam apenas o certificado de participação.

5.2. Programas genéricos e proposições

Tendo em vista a aplicabilidade do Programa estudado e as demais iniciativas

identificadas neste trabalho, verifica-se que os programas de capacitação necessitam

estar voltados às necessidades de cada tipo de subempreiteiro.

É importante no entanto não se esquecer que qualquer programa de capacitação ou

outra iniciativa deste gênero ainda encontra alguma resistência por parte do mercado

da construção civil, sempre avesso a mudanças.

Segundo EDWARDS (2000), o ceticismo que cerca as iniciativas de qualidade ou

capacitação é justificável, pois grande parte dos programas que são implantados nas

empresas tende a se extinguir algum tempo depois. Segundo o autor, uma das causas

dos insucessos destas iniciativas está relacionada à falta do estabelecimento dos

resultados a serem alcançados.

Desta forma, recomenda-se que no início do programa, sejam claramente

estabelecidos os objetivos do mesmo. Caso contrário, o programa mais parecerá uma

“campanha” do que algo que propiciará mudanças profundas na empresa.

Seria bastante apropriada a realização de um diagnóstico inicial do subempreiteiro,

de modo a se avaliar suas reais necessidades e conseqüentemente a estrutura do

programa mais adequado para atendê-las.

Para o grupo de subempreiteiros de mão-de-obra básica, que geralmente apresentam

problemas básicos estruturais (eles muitas vezes constituem-se em empresas

informais) e têm sua permanência no mercado constantemente ameaçada, as questões

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de organização de tarefas, identificação de responsabilidades, padronização de

rotinas administrativas e sobretudo, um aconselhamento na área tributária e legal são

absolutamente indispensáveis. As mesmas devem ser tratadas de maneira mais

aprofundada em um programa de capacitação. Trata-se de um “Programa de

Capacitação Estrutural ou Básico”.

Em seguida, caso fosse necessária uma ampliação da proposta de capacitação, uma

apresentação ou até mesmo um treinamento prático estritamente técnico sobre

métodos de execução específicos e mais adequados aos serviços, poderiam ser

também incluídos.

No entanto, infelizmente, o custo de um programa com estas características

dificilmente poderia ser arcado por seus maiores interessados: os subempreiteiros ou

mesmo as construtoras. Vê-se a necessidade do envolvimento de outros organismos

maiores, que possibilitem a mobilização de um grande grupo de interessados, para

justificar o investimento. Pensa-se aqui, por exemplo, nas instituições que formam o

Sistema S, tais como o SEBRAE e o SENAI. Estes órgãos, com representações

regionais, poderiam criar programas com as características específicas de cada

região, conveniadas ou não com outras partes interessadas, como institutos,

fundações, escolas, sindicatos ou até mesmo grupos de construtoras. O governo

poderia fomentar as iniciativas, divulgando os trabalhos nacionalmente, incentivando

a criação ou o aperfeiçoamento de novos programas, e assegurando a coerência geral

entre eles e outras ações da cadeia produtiva, articuladas por programas como o

PBQP-H ou equivalentes estaduais (QUALIAHB - SP, QUALIOP -BA, etc.).

Por outro lado, os subempreiteiros um pouco mais estruturados e regularizados, com

conhecimento técnico básico, apresentam problemas relacionados com a

concorrência muito forte e predatória dos subempreiteiros menos estruturados, que

para se manterem no mercado realizam uma verdadeira “guerra de preços”, aceita

ainda hoje pelas construtoras. Estes precisariam de programas de capacitação para

propiciar sua diferenciação no mercado, de modo a serem valorizados por suas

qualidades e não pelo preço. A base do Programa da Capacitação do estudo de caso

seria adequada a este tipo de empresa. Pode-se caracterizar como um “Programa de

Capacitação Processual ou Intermediário”.

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Este tipo de programa ainda parece bastante caro para ser implementado de maneira

individual pelos próprios subempreiteiros. No entanto, realizando-se as atividades em

grupo, e conseqüentemente diminuindo-se os custos de sua implementação, sua

viabilidade é possível.

Finalmente, os subempreiteiros que possuem especialidades técnicas e desenvolvem

os serviços desde o projeto até a assistência técnica já estão consolidados no mercado

e precisariam acima de tudo de uma capacitação em gestão interna, de modo a

proporcionar a melhoria contínua de seus resultados, afirmando-se cada vez mais no

setor. Os programas setoriais da qualidade ou modelos ISO 9000 seriam caminhos

adequados para estas empresas. Pode-se chamar este grupo de “Programas de

Capacitação em Gestão ou Avançados”.

Desta forma, poder-se-ia estabelecer três níveis distintos de subempreiteiros e

conseqüentemente três propostas para programas de capacitação, de acordo com as

necessidades de cada um dos níveis, como identificado na tabela 15.

Tabela 15 - Tipos de programa de capacitação por níveis de subempreiteiro

Níveis Problemas enfrentados

Necessidade maior

Programam de capacitação

1º Nível Sobrevivência no mercado Organização Básico

2º Nível Concorrência predatória Diferenciação Intermediário

3º Nível Retrabalhos e atendimentos inadequados

Melhoria interna Avançado

É importante citar que os subempreiteiros podem evoluir como empresa e alcançar

níveis superiores. Desta forma, um subempreiteiro que de início lutava por sua

sobrevivência, após sua capacitação pode estruturar-se de tal modo que passe a

apresentar outras características e outras necessidades, como por exemplo, sua

diferenciação no mercado, caracterizando um segundo nível de capacitação.

EVO

LUÇ

ÃO

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100

Não se pretendia neste trabalho, discutir os métodos mais adequados para a

capacitação dos subempreiteiros, como os locais mais apropriados, sua duração ou

mesmo os recursos instrucionais que poderiam ser utilizados (seminários, dinâmicas,

treinamentos práticos, etc.). No entanto, podem-se identificar os itens que deveriam

fazer parte destes três tipos de programas sugeridos. Tais requisitos estão descritos na

tabela 16.

Tabela 16 - Critérios para capacitação de subempreiteiros por tipo de programa

Programa de capacitação Requisitos mínimos

Básico (estrutural)

♦ Questões legais (registro de funcionários, contrato social da empresa, cadastro em órgãos e sindicatos específicos, etc.);

♦ Questões tributárias (recolhimentos e impostos necessários relacionados à empresa, aos funcionários e aos serviços executados);

♦ Organização e responsabilidades (identificação das funções e atividades desempenhadas por funcionário);

♦ Rotinas administrativas (contratação, orçamento, pagamentos, cobrança e controle de documentos);

♦ Execução dos serviços (treinamento teórico e prático nos serviços relacionados à atividade do subempreiteiro e de seus clientes, com base em critérios de normas técnicas, especificações de clientes específicos e órgãos ou os comumente aceitos no mercado);

♦ Segurança do trabalho (atendimento às normas regulamentadoras, de acordo com a atividade do subempreiteiro, e sistemáticas de sensibilização dos funcionários em relação às questões de segurança individual e coletiva).

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Programa de capacitação Requisitos mínimos

Intermediário (processual)

♦ Aperfeiçoamento técnico (estudo de novos métodos de execução tradicionais ou inovadores e dos equipamentos relacionados à atividade do subempreiteiro);

♦ Padronização de processos (formalização dos processos administrativos e técnicos, como por exemplo, a elaboração de procedimentos de execução de serviços);

♦ Controle da qualidade dos materiais e serviços (recebimento de materiais e inspeção de serviços realizados de acordo com critérios estabelecidos em normas técnicas, especificações de clientes e órgãos ou os comumente aceitos no mercado);

♦ Recursos humanos (sistemáticas para verificar a necessidade de capacitação ou treinamento dos funcionários e realizar as ações necessárias para suprir as necessidades);

♦ Proposta, programação e medição (elaboração de propostas comerciais detalhadas legalmente e tecnicamente, incluindo a programação das atividades, além da medição e cobrança dos serviços realizados de acordo com o proposto);

♦ Marketing (métodos de divulgação da empresa e posturas adequadas em relação ao mercado e cliente).

Avançado (gestão)

♦ Planejamento (estabelecimento de metas para a empresa, planejamento e controle das atividades ou serviços);

♦ Controle de projetos (desenvolvimento e controle de alterações); ♦ Controle de equipamentos (distribuição e manutenção

adequada); ♦ Controle tecnológico (ensaios necessários para a aprovação dos

serviços ou materiais de acordo com critérios estabelecidos em normas técnicas, especificações de clientes e órgãos ou os comumente aceitos no mercado);

♦ Melhoria contínua (sistemáticas para análise dos problemas rotineiros da empresa e tomada de ações para solucioná-los);

♦ Análise das necessidades e da satisfação de clientes (pesquisa de mercado, monitoramento de reclamações e pesquisas pós entrega dos serviços);

♦ Garantia e assistência técnica (estabelecimento de prazos de garantia para os serviços prestados e sistemática para assistência técnica pós entrega).

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Com relação aos programas de qualificação dos subempreiteiros, existem algumas

iniciativas já identificadas nesta pesquisa. No entanto, os atuais sistemas, sobretudo

no Brasil, são baseados em normas de qualidade genéricas que apresentam

exigências de requisitos que não traduzem os interesses básicos da construtora

subcontratante e principalmente dos próprios subempreiteiros.

Um programa de qualificação deveria estar voltado à capacidade técnica dos

subempreiteiros, incluindo seus recursos materiais e humanos e seu know-how, e não

necessariamente voltado à sua gestão empresarial. Além disso, tais programas

deveriam ter caráter evolutivo, como os atuais existentes voltados às construtoras.

Para os subempreiteiros de atividades básicas, que fornecem apenas sua mão-de-

obra, uma simples qualificação que exigisse registro de seus funcionários,

atendimento a questões básicas de segurança e execução de serviços de acordo com

requisitos técnicos mínimos já atenderia à grande maioria dos subcontratantes.

Mas e os demais níveis de subempreiteiros? Bem, estes poderiam apresentar uma

qualificação um pouco mais complexa, que incluiria responsabilidades sobre seus

materiais, principalmente controle tecnológico e adequação ao uso, podendo

abranger inclusive o controle de projetos, já que muitos deles até os fornecem.

Outras possibilidades seriam os referencias de qualificação não somente

incorporarem aspectos das normas de gestão da qualidade da série NBR ISO 9000,

como também aspectos profissionais, como faz o PSQ da ABEF, do Programa

QUALIHAB.

Analogamente aos programas de capacitação, podem-se estabelecer critérios

mínimos necessários para a qualificação de subempreiteiros, de acordo com o

interesse dos mesmos e as necessidades das construtoras subcontratantes, como

estabelecido nas tabelas 17 e 18.

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Tabela 17 - Tipos de programa de qualificação por níveis de subempreiteiro

Níveis Interesses ou necessidades Programam de qualificação

Subempreiteiro Sobrevivência no mercado

1º Nível

Construtora Garantia de entrega dos serviços e atendimento

da legislação

Básico

Subempreiteiro Diferenciação dos demais concorrentes

2º Nível

Construtora Diminuição dos

controles internos nas obras

Intermediário

SubempreiteiroConsolidação no

mercado e manutenção de seus resultados

3º Nível

Construtora

Parceria, diminuição de custos globais de

produção, controle e garantia dos serviços

Avançado

EVO

LUÇ

ÃO

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104

Tabela 18 - Critérios para qualificação de subempreiteiros por tipo de programa

Programa de qualificação Critérios para qualificação

Básico

♦ Dados de regularização da empresa e de seus funcionários; ♦ Dados comerciais e referências bancárias (saúde financeira); ♦ Comprovação de instrução ou experiência dos responsáveis

técnicos pelos serviços (diplomas, carteira de trabalho, currículo, etc.);

♦ Funcionários e equipamentos mínimos e aderentes às atividades desenvolvidas pelo subempreiteiro;

♦ Contratos de obras anteriores, com a documentação exigida para atendimento das normas regulamentadoras;

♦ Análise da qualidade dos serviços prestados (em andamento ou já realizados).

Intermediário

♦ Manual do Subempreiteiro identificando o tipo de serviço, clientes, organograma da empresa e fluxo de processos;

♦ Orçamentos e propostas técnicas detalhadas; ♦ Procedimentos de execução de serviço aderentes às exigências

técnicas de clientes ou normas relacionados às atividades do subempreiteiro;

♦ Registros de recebimento de materiais, inspeção de serviços e medição dos mesmos;

♦ Registro de capacitação ou treinamento de funcionários; ♦ Material publicitário ou plano de marketing.

Avançado

♦ Adesão a programas setoriais da qualidade; ♦ Indicadores e metas internas; ♦ Planejamento dos serviços (em andamento ou já realizados) e

registros de acompanhamento; ♦ Projetos aprovados e especificações detalhadas, sempre

atualizadas e disponíveis nos locais de produção; ♦ Análise do estado de funcionamento dos equipamentos utilizados

e registros de seu controle; ♦ Registros de ensaios de materiais e serviços aderentes às

exigências técnicas de clientes ou normas relacionados às atividades do subempreiteiro;

♦ Dados de identificação das necessidades dos clientes e índices de satisfação;

♦ Documentos descrevendo as garantias fornecidas aos clientes e o canal para reclamações ou solicitações de assistência técnica.

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Estes critérios seriam utilizados em programas específicos ou genéricos para a

qualificação de subempreiteiros, que poderiam ser analisados por meios de

documentação e auditorias de terceira parte, nos moldes do que se faz nos programas

Qualihab e PBQP-H.

De maneira análoga aos programas de capacitação, os subempreiteiros poderiam

também evoluir em relação aos níveis de qualificação. Aproveitando o mesmo

exemplo anteriormente utilizado para capacitação, um subempreiteiro que se

encontrava qualificado no nível básico, após implementar mudanças estruturais na

empresa e se organizar melhor, poderia pleitear uma qualificação mais complexa

como a estabelecida no nível intermediário.

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6. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Após os diversos estudos tratados neste trabalho, relacionados com a realidade dos

subempreiteiros e com as possibilidades de sua capacitação (e até qualificação),

pode-se apresentar algumas conclusões descritas neste capítulo, que procuram

responder as questões colocadas no início do trabalho.

A maneira como os processos de terceirização e subcontratação ocorreram no setor

da construção civil propiciou o surgimento de subempreiteiros tecnicamente e

gerencialmente despreparados e ainda submissos às condições impostas por seus

subcontratantes. Por outro lado, surgiram também subempreiteiros altamente

especializados, melhor preparados, que fornecem além da mão-de-obra, outros

serviços como materiais, projeto e assistência técnica

Nos tempos recentes, como qualquer outra empresa, para sua sobrevivência, os

subempreiteiros vêm buscando formas de melhor competirem no mercado.

Coerente com a política de seleção adotada pelos contratantes, grande parte destas

empresas tem procurado diminuir seus preços, como forma de alcançar maior

competitividade.

Tal atitude vem atingindo níveis tão exagerados, que intensificou o despreparo dos

subempreiteiros em garantir produtos de qualidade, aumentando assim as

dificuldades das construtoras no gerenciamento de seus fornecedores. Em outras

palavras, para os subcontratantes, os benefícios do processo de subcontratação estão

sendo perdidos em detrimento dos problemas causados por seus próprios

subcontratados.

Este fato trouxe como conseqüência novos critérios para diferenciação das empresas

no mercado, onde além do preço, a competência para execução dos serviços e a

garantia fornecida pelos subempreiteiros ganham cada vez maior importância.

A implantação de parcerias entre construtoras e subempreiteiros parece ser o

caminho mais vantajoso para ambos, mais as empresas ainda não se mostram

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preparadas para uma relação deste tipo, uma vez que compartilhar benefícios não

condiz com as políticas adotadas em um setor tão conservador como o da construção

civil.

No entanto, verifica-se hoje o surgimento de programas de capacitação de

subempreiteiros, o que sinaliza uma possível mudança de visão do empresariado.

Pode-se verificar que os subempreiteiros que realmente implantam processos

referenciados nos programas, para melhorar sua atividade, considerados até

pioneiros, alcançam benefícios pretendidos, ao contrário daqueles que apenas

participam destes programas e permanecem na inércia do mercado conservador.

Prova disso são os relatos dos subempreiteiros estudados no capítulo 4, que de

maneira geral conseguiram ampliação de seus negócios, maior credibilidade no

mercado, melhor organização interna, conscientização de seus funcionários e uma

pequena diminuição de retrabalhos e custos.

Tais benefícios foram identificados de maneira qualitativa, pela não disponibilidade

de dados numéricos antes e depois da implantação do Programa. Por esta razão,

novas pesquisas mais aprofundadas poderiam se realizadas, de modo a se medir

então quantitativamente os resultados de programas do gênero. Tal fato permitiria

justificar de maneira mensurável para o mercado a utilidade desses programas,

incentivando o patrocínio de novas empresas construtoras ou instituições de apoio e

capacitação, além da participação cada vez maior de outros subempreiteiros.

Com base no estudo de alguns destes programas, em especial aquele tratado como

estudo de caso deste trabalho, identificou-se também itens imprescindíveis a serem

tratados na capacitação de subempreiteiros.

Estes critérios foram identificados detalhadamente, de acordo coma as necessidades

dos tipos de subempreiteiros existentes, podendo ser observados na tabela 16.

Basicamente, chegou-se a três grupos básicos de requisitos, estruturando três tipos de

programas de capacitação, que não necessariamente estão relacionados às

características dos subempreiteiros (porte, área de atuação, etc.), demonstrando a

importância da realização de um diagnóstico inicial de cada um deles, antes da

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implantação de qualquer iniciativa de capacitação. Identificando-se suas

necessidades reais, pode-se inclusive alcançar um grau de motivação maior dos

participantes.

Procurou-se assim, responder a parte das questões formuladas inicialmente neste

trabalho.

Não foram tratados no trabalho, no entanto, os métodos para capacitação dos

subempreiteiros, de maneira a detalhar os programas propostos sob o ponto de vista

instrucional. Tal estudo envolveria conceitos de pedagogia e implicaria num

detalhamento fora do foco desta pesquisa, mas bastante interessante, sobretudo pelas

características peculiares dos funcionários dos subempreiteiros (trata-se da

capacitação de adultos com pouca formação e visão conservadora, com vícios de

trabalho muito fortes).

Estas indefinições poderiam motivar pesquisas complementares na área, que também

seriam importantes para a especificação mais aprofundada dos próprios critérios de

capacitação citados neste trabalho.

O interesse por programas de qualificação também se mostrou evidente,

exemplificado por várias iniciativas do gênero. Apesar de não se utilizar nenhum

deles como estudo de caso, pôde-se iniciar um estudo das necessidades dos

subempreiteiros e das construtoras subcontratantes, relacionadas ao processo de

qualificação.

O estudo encontra-se bastante genérico, mas atualmente, pela maior disponibilidade

de programas de qualificação do que de capacitação, o caminho permanece aberto

para maiores aprofundamentos científicos num futuro próximo.

Quanto aos critérios de qualificação, os mesmos também foram abordados,

respondendo-se assim a outra parte das questões colocadas no início do trabalho.

Tais critérios foram correlacionados diretamente com as necessidades de capacitação

dos subempreiteiros, resultando em também três grupos distintos, detalhados na

tabela 18.

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Com todas estas questões respondidas e conseqüentes conclusões relacionadas,

imagina-se que esta pesquisa atendeu ao seu propósito.

No entanto, muito ainda há de ser feito. A capacitação e qualificação dos

subempreiteiros ainda constituem um desafio para o setor. Apesar das iniciativas

regionais no Brasil, faltam ainda propostas abrangentes e reconhecidas, uma vez que

esse tipo de empresa ganha cada vez maior amplitude no mercado.

Grandes ainda são os paradigmas que envolvem os subempreiteiros, sobretudo em

relação a suas competências e potencialidades. Uma vez “arrancadas” as raízes do

preconceito e do comodismo que sustentam grande parte do setor da construção,

surgirão grandes campos para o desenvolvimento de novos tipos de subempreiteiros,

melhor capacitados, potencialmente qualificados e que atendam às exigências do

mercado de hoje e do futuro próximo.

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ANEXO A

QUESTIONÁRIO DE AVALIAÇÃO FINAL DO PROGRAMA DO CTE PELAS EMPRESAS PARTICIPANTES

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ANEXO B

FICHA DE AVALIAÇÃO DOS RESULTADOS ALCANÇADOS PELO PROGRAMA DE SUBEMPREITEIROS DO CTE

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