capitães de areia

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E.E. Professora Clarice Seiko Ikeda Chagas Gabriel Araujo Rodrigo Araujo Analise do livro Capitães de Areia, de Jorge Amado

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Page 1: Capitães de Areia

E.E. Professora Clarice Seiko Ikeda Chagas

Gabriel Araujo

Rodrigo Araujo

Analise do livro Capitães de Areia, de Jorge Amado

São Paulo

2011

Page 2: Capitães de Areia

Sumário

Introdução

Caracterização dos Persongens

Analise dos Capitulos

“Deus chora com o negrinho”

“Dora, Mãe”

“Os atabaques soam como clarim de guerra”

“...Uma pátria uma família”

Considerações Finais

Referências Bibliográficas

Page 3: Capitães de Areia

INTRODUÇÃO

Capitães da areia é um romance de autoria do escritor brasileiro Jorge Amado, publicado em 1937. O livro retrata a vida de menores abandonados, os "capitães da areia", nome pelo qual eram conhecidos os "meninos de rua" na cidade de Salvador dos anos 30. O livro mostra a realidade desses meninos e também a forma como eles eram vistos pela sociedade, como as autoridades lidavam com eles e como eles enfrentavam a vida e sobreviviam, já que na maioria dos casos, esses menores eram crianças abandonadas pelos pais.

Nesta obra o autor mostra a realidade dessas crianças, a forma como elas viam a sua cidade, e a forma como a sociedade os via. As crianças dessa época, devido a problemas familiares, buscavam refúgio na liberdade das ruas. Sobreviviam através do furto, com uma imaginação aventureira, aproveitando de prazeres proibidos pela sociedade e prezando, acima de tudo, o companheirismo do grupo.

Eram crianças, mas com problemas de homens, e de acordo com a classe social que ocupavam, eram vistas de forma diferenciada, estando frequentemente sob o julgamento da população. Tinham problemas de adultos e por isso amadureceram muito rápido.

Percebe-se que, apesar da época, esses são problemas constantes e próprios da humanidade, que sempre se estrutura no egoísmo e na ambição. A Literatura cumpre então seu ofício, refletindo o contexto histórico-social, engajando-se na denúncia dos problemas da nossa sociedade.

Jorge Amado, um ilustríssimo autor brasileiro nasceu em Pirangi (BA), em 1912. Depois de trabalhar na imprensa, estudou direito, em 1931, mudou-se para o Rio de Janeiro, e lá publicou o seu primeiro romance: O País do Carnaval. Participou da Aliança Nacional Libertadora e esteve detido entre 1936 e 1937. Morou alguns anos em Buenos Aires e, em 1945, foi eleito deputado por São Paulo. Em 1947, viajou por muitos países de então União Soviética. Foi eleito membro da Academia Brasileira de letras, em 1959.

Jorge Amado denunciou a avidez dos coronéis nos latifúndios de exploração do cacau, principalmente nos romances épicos Terras do Sem-Fim e São Jorge dos Ilhéus. Há mais de 60 anos ele deixou a Bahia; para ganhar o mundo. Morou em Paris e conhece cada canto da Europa, mas quase tudo o que escreveu fala da gente simples do nordeste e tem sua querida Bahia como cenário.

Page 4: Capitães de Areia

CARACTERIZAÇÃO DOS PERSONAGENS

Antes de analisar cada personagem vale ressaltar que a obra não possui um personagem principal. Para indicar um protagonista, o mais apropriado seria apontar o conjunto do bando, ou seja, os Capitães da Areia como grupo. Isso porque as ações não giram em torno de um ou de outro personagem, mas ao redor de todos. Pedro Bala, o líder do bando, não é mais importante para o enredo do que o Sem-Pernas ou o Gato. Pode-se dizer que ele é o líder do bando, mas não lidera o eixo do romance. Daí a idéia de que o protagonista é o elemento coletivo, e cada membro do grupo funciona como uma parte da personalidade, uma faceta desse organismo maior que forma os Capitães da Areia.

Pedro Bala

(...) E aqui também que mora o chefe dos Capitães da Areia: Pedro Bala. Desde cedo foi chamado assim, desde seus cinco anos. Hoje tem 15 anos. Há dez que vagabundeia nas ruas da Bahia. Nunca soube de sua mãe, seu pai morrera de um balaço. Ele ficou sozinho e empregou anos em conhecer a cidade (...). Quando se incorporou aos Capitães da Areia o cais recém-construído atraiu para as suas areias todas as crianças abandonadas da cidade o chefe era Raimundo, o Caboclo, mulato avermelhado e forte.

Não durou muito na chefia o caboclo Raimundo. Pedro Bala era muito mais ativo, sabia planejar os trabalhos, sabia tratar com os outros, trazia nos olhos e na voz a autoridade de chefe. Um dia brigaram. A desgraça de Raimundo foi puxar uma navalha e cortar o rosto de Pedro, um talho que ficou para o resto da vida. Os outros se meteram e como Pedro estava desarmado deram razão a ele e ficaram esperando a revanche, que não tardou. Uma noite, quando Raimundo quis surrar Barandão, Pedro tomou as dores do negrinho e rolaram na luta mais sensacional a que as areias do cais jamais assistiram. Raimundo era mais alto e mais velho. Porém Pedro Bala, o cabelo loiro voando, a cicatriz vermelha no rosto, era de uma agilidade espantosa e desde esse dia Raimundo deixou não só a chefia dos Capitães da Areia, como o próprio areal. Engajou tempos depois num navio.

Todos reconheceram os direitos de Pedro Bala à chefia, e foi desta época que a cidade começou a ouvir falar nos Capitães da Areia, crianças abandonadas que viviam do furto. Nunca ninguém soube o número exato de meninos que assim viviam. Eram bem uns cem e destes mais de quarenta dormiam nas ruínas do velho trapiche. Vestidos de farrapos, sujos, semi-esfomeados, agressivos, soltando palavrões e fumando pontas de cigarro, eram, em verdade, os donos da cidade, os que a conheciam totalmente, os que totalmente a amavam, os seus poetas (...)

Pedro era o chefe do grupo, porém conheceu o “mundo da rua” aos cinco anos de idade, com mãe desconhecida e órfão de pai, explorou sozinho cada canto da Bahia, e conheceu assim os Capitães de Areia, ainda chefiados por Raimundo, um mulato avermelhado e forte. Pedro logo se destacou no grupo por saber traçar bons planos, ser ativo, saber lidar com as pessoas, ou seja por ser um líder nato. Porem isso irritava o chefe do bando, e um dia vieram a brigar, porem Pedro, que estava desarmado, levou a pior e ganhou uma cicatriz que lhe ficou para o resto da vida. Tempos depois, veio e revanche e Pedro derrotou Raimundo, assumindo assim a chefia do Grupo.

No decorrer da trama, Pedro se mostra líder e pai dos menores, ajudando-os na maioria dos casos, ele era visto sim como um pai, apesar de ter apenas 15 anos de idade. Tinha ideias revolucionarias, e uma cabeça de quem realmente pode mudar o mundo.

As personagens crescem e tomam seu rumo, Pedro Bala ganha bastante intimidade com os doqueiros, após uma revolução que fazem em conjunto dos saveiros, dos condutores de bonde. Ganhm a greve e Bala se torna mais amigo de João de Adão.

Page 5: Capitães de Areia

“A voz o chama. Uma voz que o alegra, que faz bater seu coração. Ajudar a mudar o destino de todos os pobres...” “Voz que chama Pedro Bala, que o leva para a luta. Voz que vem de todos os peitos esfomeados da cidade, de todos os peitos explorados da cidade.”

A voz o chama para a greve, para lutar pelo destino de todos. E é isso que faz: vira um grevista. Luta pelo povo em momentos em que a população não tinha direito de falar, é preso em momentos que a população não podia falar. Mas se liberta. Todos os lares, após a fuga de Pedro Bala, o grevista, seriam capazes de abrigá-lo. Virou grevista, virou o salvador de seu povo.

Assim era Pedro Bala, líder dos Capitães de Areia, líder de seu povo.

Dora

(...) Mas Dora tinha treze para quatorze anos, os seios já haviam começado a surgir sob o vestido, parecia uma mulherzinha, muito séria, a buscar os remédios para a mãe, a tratar dela. Margarida melhorou quando já os violões recomeçavam a tocar no morro, porque a epidemia de varíola tinha se acabado. A música voltou a dominar as noites do morro e Margarida, se bem ainda não estivesse completamente boa, foi a casa de algumas de suas freguesas em busca de roupa. Voltou com a trouxa nas costas, se atirou para a fonte. Trabalhou o dia todo, sob o sol e a chuva que caiu pela tarde. No outro dia não voltou ao trabalho porque recaiu do alastrime a recaída é sempre terrível. Dois dias depois descia do morro o último caixão feito pela varíola. Dora não soluçava. Corriam as lágrimas pelo seu rosto, mas enquanto o caixão descia ela pensava era em Zé Fuinha, que pedia o que comer. O irmãozinho chorava de dor e de fome. Era muito menino para compreender que tinha ficado sem ninguém na imensidão da cidade. (...)

E enquanto os vizinhos discutiam o problema dos órfãos, Dora tomou o irmão pela mão e desceu para a cidade. Não se despediu de ninguém, era como uma fuga. Zé Fuinha ia sem saber para onde, arrastado pela irmã. Dora marchava tranqüila. Na cidade havia de encontrar quem lhes desse de comer, quem pelo menos tomasse conta de seu irmão. Ela arranjaria um emprego de copeira numa casa. Ainda era uma menina, (...)

Assim começa a história de Dora, órfã de pai, enfrenta a mãe como adulta, apesar de estar com apenas 13 anos de idade. Toma o irmão caçula pelas mãos e vai à procura de emprego para não ser um peso para os vizinhos pobres. Inocente, confusa e perdida na cidade, acaba por encontrar o Professor e João Grande, que os levam para o trapiche. Para Bala ela é esposa, e Professor também nutri um amor secreto por ela, mas ele o deixa oculto.

Logo Dora passa o roubar com eles, mas é pega, assim como Pedro Bala, e no Orfanato fica muito doente, consegue fugir do orfanato, com a ajuda de seu amado, Pedro (que também estava muito debilitado pelo tempo que ficou preso no Reformatório). Mas a saúde de Dora estava muito comprometida e ela falece, e tem seu corpo entregue ao mar, mas para Pedro, ela virou uma estrela, e guia todos eles pela jornada que eles percorrerão.

(...) – Tu também é valente... Sabe? Minha mãe era um mulherão destas grandes. Era mulata, não tinha cabelo loiro, tinha uma carapinha danada... Não era mais menina também, podia ser tua avó... Mas tu parece com ela...

Olhou Dora, mas baixou a cabeça:

– Parece mentira, mas tu me lembra ela. Parece mentira, mas tu parece com ela... (...)

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Esse trecho também mostra como Dora passou a ser vista por todos no trapiche, inicialmente, ela foi vista como objeto de desejo deles, por estar entrando na fase adulta, mas decorrer da trama, ela se torna mãe para todos meninos.

Sem-Pernas

(...) O Sem-Pernas ficou parado, olhando. Pirulito não se mona. Apenas seus lábios tinham um lento movimento. O Sem-Pernas costumava burlar dele, como de todos os demais do grupo, mesmo de Professor, de quem gostava, mesmo de Pedro Bala, a quem respeitava. Logo que um novato entrava para os Capitães da Areia formava uma idéia ruim de Sem-Pernas. Porque ele logo botava um apelido, ria de um gesto, de uma frase do novato. Ridicularizava tudo, era dos que mais brigavam. Tinha mesmo fama de malvado.

Uma vez fez tremendas crueldades com um gato que entrara no trapiche. E um dia cortara de navalha um garçom de restaurante para furtar apenas um frango assado. Um dia em que teve um abscesso na perna o rasgou friamente a canivete e na vista de todos o espremeu rindo. Muitos do grupo não gostavam dele, mas aqueles que passavam por cima de tudo e se faziam seus amigos diziam que ele era um sujeito bom. No mais fundo do seu coração ele tinha pena da desgraça de todos. E rindo, e ridicularizando, era que fugia da sua desgraça. Era como um remédio. Ficou parado olhando Pirulito, que rezava concentrado. No rosto do que rezava ia uma exaltação, qualquer coisa que ao primeiro momento o Sem-Pernas pensou que fosse alegria ou felicidade. (...)

Sem-Pernas era o mais encrenqueiro do grupo, deficiente físico, possuia uma perna coxa. Preso e humilhado por policiais bêbados, que o obrigaram a correr em volta de uma mesa na delegacia até cair extenuado, Sem-Pernas conserva as marcas psicológicas desse episódio, que provocou nele um ódio irrefreável contra tudo e todos, incluindo os próprios integrantes do bando.

Um dos capítulos mais tocantes de Capitães da Areia é “Família”, logo na primeira parte do livro que tem como foco o personagem Sem-Pernas e a sua moradia na casa de uma rica família do bairro da Graça.

Não foi à toa a escolha do personagem. Com ironia, Jorge Amado opta pelo mais rancoroso, amargurado e carente do bando para o papel de bom menino em busca de uma família que o resgate. Esse atua de forma magistral ao fazer o apelo que nega sua própria realidade: “Se eu quisesse me metia aí com esses meninos ladrão. Com os tal de Capitães da Areia. Mas não sou disso, quero é trabalhar. [...] Sou um pobre órfão, tou com fome (...)

Sem-Pernas recusa todo o conforto desta moradia e volta para o grupo, pois ele, apesar de tudo, não quer trair a confiança dos Capitães de Areia. Seu desfecho, no entanto, é triste, pois após um furto malsucedido, ele se mata, se jogando do penhasco (elevador) para não ser preso e humilhado mais uma vez por policiais. Podemos até dizer que o medo de ser humilhado falou mais forte que a vontade de continuar a viver, o fantasma do trauma vivido sempre o perseguiu, e acabou por levar sua vida.

João Grande

(...) Passa um vento frio que levanta a areia e torna difíceis os passos do negro João Grande, que se recolhe. (...) É alto, o mais alto do bando, e o mais forte também, negro de carapinha baixa e músculos retesados, embora tenha apenas treze anos, dos quais quatro passados na mais absoluta liberdade, correndo as ruas da Bahia com os Capitães da Areia. Desde aquela tarde em que seu pai, carroceiro gigantesco, foi pegado por um caminhão quando tentava desviar o cavalo para um lado da rua, João Grande não voltou pequena casa do morro. Na sua frente estava a cidade misteriosa, e ele partiu para conquistá-la. A cidade da Bahia, negra e religiosa, é quase tão misteriosa como o verde mar. Por isso

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João Grande não voltou mais. Engajou com 9 anos nos Capitães da Areia, quando o Caboclo ainda era o chefe e o grupo pouco conhecido, pois o Caboclo não gostava de se arriscar. Cedo João Grande se fez um dos chefes e nunca deixou de ser convidado para as reuniões que os maiorais faziam planejar os furtos. Não que fosse um bom organizador de assalta uma inteligência viva. Ao contrário, doía-lhe a cabeça se tinha que pensar. Ficava com os olhos ardendo, como ficava também quando via alguém fazendo maldade com os menores. Então seus músculos se retesavam e estava disposto a qualquer briga. Mas a sua enorme força muscular o fizera temido. O Sem-Pernas dizia dele:

– Este negro é burro mas é uma prensa...

E os menores, aqueles pequeninos que chegavam para o grupo cheios de receio tinham nele o mais decidido protetor. Pedro, o chefe, também gostava de ouvi-lo. E João Grande bem sabia que não era por causa da sua força que tinha a amizade do Bala. Pedro achava que o negro era bom e não se cansava de dizer:

– Tu é bom, Grande. Tu é melhor que a gente. Gosto de você – e batia pancadinhas na perna do negro, que ficava encabulado. (...)

João Grande, como descrito acima era um dos mais fortes do grupo, e respeitado. Era grande, forte, meio burro, mas sempre ouvido e tinha um cuidado muito grande com os menores, e principalmente, tinha um coração bom, coisa que até o mais amargo do grupo conseguia perceber.

Grande perdeu o pai num acidente de transito e tinha sim a possibilidade de voltar pra casa no morro, mas preferiu explorar a cidade misteriosa que era a Bahia nos anos 30, misteriosa e religiosa. Assim como outras crianças fazem hoje, ele saiu e foi viver sua vida, longe da família real dele, mas logo se achou, e entrou para um lugar onde ele podia ser feliz, para os Capitães de Areia.

Professor

(...) João José, o Professor, desde o dia em que furtara um livro de histórias numa estante de uma casa da Barra, se tomara perito nestes furtos. Nunca, porém, vendia os livros, que ia empilhando num canto do trapiche, sob tijolos, para que os ratos não os roessem. Lia-os todos numa ânsia que era quase febre. Gostava de saber coisas e era ele quem muitas noites, contava aos outras histórias de aventureiros, de borne do mar, de personagens heróicos e lendários, histórias que faziam aqueles olhos vivos se espicharem para o mar ou para as misteriosas ladeiras da cidade, numa ânsia de aventuras e de heroísmo. João José era o único que lia correntemente entre eles e, no entanto, só estive na escola ano e meio. Mas o treino diário da leitura despertara completamente sua imaginação e talvez fosse ele o único que tivesse uma certa consciência do heróico das suas vidas. Aquele saber, aquela vocação para contar histórias, fizera-o respeitado entre os Capitães Areia, se bem fosse franzino, magro e triste, o cabelo moreno caindo sobre os olhos apertados de míope. Apelidaram-no de Professor porque num livro furtado ele aprendera a fazer mágicas com lenços níqueis e também porque, contando aquelas histórias que lia e muitas que inventava, fazia a grande e misteriosa mágica de os transportar para mundos diversos, fazia com que os olhos vivos dos Capitães da Areia brilhassem como só brilham as estrelas da noite da Bahia. Pedro Bala nada resolvia sem o consultar e várias vezes foi a imaginação Professor que criou os melhores planos de roubo. Ninguém sabia, entanto, que um dia, anos passados, seria ele quem haveria de contar em quadros que assombrariam o país a história daquelas vidas e muitas outras histórias de homens lutadores e sofredores. (...)

Professor era só uma criança, assim como todos do Grupo, porem era respeitado e visto como sábio. O único que lia corretamente, e único que talvez tivesse dimensão do heroísmo cometido por eles todos os dias. Apesar de uma criança, era muito inteligente e criativo, com uma imaginação forte, contava as

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melhores historias para os pequenos, e fazia assim com que eles fossem um pouco crianças, pois os proporcionava o maravilhoso mundo da leitura.

Era ele também que bolava os melhores planos, os mais criativos e audaciosos. No decorrer da trama, ele encontra Dora, e cria um afeto muito grande por ela, um amor, porem por causa de sua amizade com Pedro Bala, abre mão desse amor.

Professor era também um desenhista muito bom e extremamente talentoso. Por causa desses mesmos desenhos foi para o Rio de Janeiro, onde sua arte, que falava da vida com os Capitães de Areia chocou o mundo para a realidade que aqueles meninos viviam.

Gato

(...) Boa-Vida olhou para ele. O Gato levava gravata, um paletó remendado e, coisa espantosa!, levava meias.

– Tu é da elegância, hein? – sorriu.

– Não nasci para essa vida. Nasci para o grande mundo – disse o Gato. (...)

O Gato tinha um ar petulante, e embora não fosse uma beleza efeminada, agradava a Boa-Vida, que, além de tudo, não tinha muita sorte com mulheres, pois aparentava muito menos que 13 anos, baixo e acachapado. O Gato era alto e sobre os seus lábios de 14 anos começava a surgir uma penugem de bigode que ele cultivava. (...)

A primeira coisa que o Gato viu foi um retrato de Gastão tocando flauta, vestido de smoking. Sentou na cama olhando o retrato. Dalva espiava espantada e mal pôde novamente interrogar:

– O que foi que ele disse?

O Gato respondeu:

– Senta aqui – e indicou a cama.

– Esse frangote... – murmurou ela.

– Olha, bichinha, ele tá grudado com outra, sabe? Também eu disse as boas aos dois. E depois pelei a bruaca – meteu a mão no bolso, tirou o dinheiro. – Vamos rachar isso.

– Tá com outra, não é? Mas meu Senhor do Bonfim há de fazer com que os dois fique entrevado. Senhor do Bonfim é meu santo. Foi até onde estava o quadro do santo. Fez a promessa e voltou.

– Guarda teu dinheiro. Tu ganhou direito.

O Gato repetiu:

– Senta aqui.

Desta vez ela sentou, ele a pegou e a derrubou na cama. Depois que ela gemeu com o amor e com os tabefes que ele lhe deu, murmurou:

– O frangote parece um homem...

Ele se levantou, endireitou as calças, foi até onde estava o retrato do flautista Gastão e o rasgou.

Page 9: Capitães de Areia

– Vou tirar um retrato pra tu botar ai.

A mulher riu e disse:

– Vem, bichinho bom. Que malandro não vai sair dai! Vou te ensinar tanta coisa, meu cachorrinho.

Fechou a porta do quarto. O Gato tirou a roupa.

Por isso o Gato sai toda meia-noite e não dorme no trapiche. Só volta pela manhã para ir com os outros para as aventuras do dia. (...)

Gato era, com certeza absoluta, o mais malandro do grupo. Chegou cedo ao grupo, após passar uma temporada com os Índios Maloqueiros de Aracaju, chegou a Bahia de trem, para ser mais especifico, veio na rabera do trem.

Por ser elegante, e não andar “sujo”, chamou a atenção de Boa-Vida (que por ser feio e rejeitado pelas negrinhas do areal, tinha tendências homossexuais), porem Gato logo o dispensou. Mais pra frente na narrativa, ele encontra Dalva, uma prostituta de trinta e poucos anos, e passa a ser seu cafetão.

Mesmo tendo menos de quinze anos, Gato era muito safo, e malandro, tanto na vida, quanto nos jogos, e seu destino é um tanto quanto previsível. Pedro Bala o encontra tempos depois, indo para Aracaju, aplicar novos golpes, esse é seu destino final.

Pirulito

(...) Pirulito fora a grande conquista do padre José Pedro entre os Capitães da Areia. Tinha fama de ser um dos mais malvados do grupo, contavam dele que uma vez pusera o punhal na garganta de um menino que não queria lhe emprestar dinheiro e o fora enfiando devagarinho, sem tremer, até que o sangue começou a correr e o outro lhe deu tudo que queria. Mas contavam também que outra vez cortou de navalha a Chico Banha quando o mulato torturava um gato que se aventurara no trapiche atrás dos ratos. No dia que o padre José Pedro começou a falar de Deus, do céu, de Cristo, da bondade e da piedade, Pirulito começou a mudar. Deus o chamava e ele sentia sua voz poderosa no trapiche. Via Deus nos seus sonhos e ouvia o chamado de Deus de que falava o padre José Pedro. E se voltou de todo para Deus, ouvia a voz de Deus, rezava ante os quadros que o padre lhe dera. No primeiro dia começaram a mofar dele no trapiche. Ele espancou um dos menores, os outros se calaram. No outro dia o padre disse que ele fizera mal, que era preciso sofrer por Deus, e Pirulito então dera a sua navalha quase nova ao menino a que espancara. E não espancara mais nenhum, evitava as brigas e se não evitava os furtos era que aquilo era o meio de vida que eles tinham, não tinham mesmo outro. Pirulito sentia o chamado de Deus, que era intenso, e queria sofrer por Deus. Ajoelhava horas e horas no trapiche, dormia no chão nu, rezava mesmo quando o sono o queria derrubar, fugia das negrinhas que ofereciam o amor na areia quente do cais. Mas então amava Deus-pura-bondade e sofria para pagar o sofrimento que Deus passara na terra. Depois veio aquela revelação de Deus justiça para Pirulito ficou Deus-vingança e o temor de Deus invadiu o seu coração e se misturou ao amor de Deus. Suas orações foram mais longas, o terror do inferno se misturava à beleza de Deus. Jejuava dias inteiros e sua face ficou macilenta como a de um anacoreta. Tinha olhos de místico e pensava ver Deus nas noites de sonho. Por isso conservava seus olhos afastados das nádegas e seios das negrinhas que andavam como que dançando ante os olhos de todos nas ruas pobres da cidade. Sua esperança era um dia ser sacerdote do seu Deus, viver só para a sua contemplação, viver só para Ele. A bondade de Deus fazia com que ele esperasse consegui-lo. O temor de Deus vingando-se dos pecados de Pirulito fazia com que ele desesperasse. (...)

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Na narrativa não há indícios de como Pirulito tenha entrado no grupo, ou até mesmo como ele chegou à rua, porem ele levava com ele coisas que ele guardava carinhosamente, o que indica que ele tinha um afeto muito grande pelo lugar que ele supostamente deixou ao entrar no mundo da rua.

Pirulito era um dos mais perversos do grupo e cometia barbaridades sem limites, mas quando Padre José Pedro vem e mostra Deus a todos, ele sente o chamado de Deus na vida dele, e passa a seguir uma vida nos caminhos de Deus, no inicio ele é julgado por seus amigos, depois, eles se acostumam com a ideia.

Sem-Pernas, em determinado momento, até chegar a inveja-lo, pois ele tem algo em que acreditar, coisa que muitos não tem.

Pirulito é a “menina dos olhos” de Padre José Pedro e após mudar de conduta para de roubar, vende as joias já roubadas por ele e passa a trabalhar como engraxate e a carregar bagagens. Mesmo não roubando como os outros, Pedro deixa ele ficar no trapiche.

Mais pra frente, ele se torna frade e passa a dar aulas sobre Deus para crianças pobres.

Volta Seca

(...) Volta Seca espiava a noite comsua cara sombria. E pensava em que lugar estaria nesta noite de temporal o grupo de Lampião na imensidade das caatingas. (...)

Volta Seca quer ir para o bando de Lampião, que é seu padrinho. Lampião mata soldado, mata homem ruim (...) Mas quem vai na rabada de um trem é Volta Seca. (...)

Volta Seca continuou a caminhada com seu rosto sombrio. Muita coisa aprendeu na cidade, entre os Capitães da Areia. Aprendeu que não era só no sertão que os homens ricos eram ruins para com os pobres. Na cidade, também. Aprendeu que as crianças pobres são desgraçadas em toda parte, que os ricos perseguem e mandam em toda parte. Sorriu por vezes, mas nunca deixou de odiar. Na figura de José Pedro descobriu o motivo por que Lampião respeitava os padres. (...)

Volta Seca era o cangaceiro do grupo, e sempre pedia a Professor para ler notícias de Lampião, seu padrinho. Adorava acompanhar seus passos pelo jornal, assim como também adorava os cangaceiros e sabia imitar as vozes dos animais do sertão muito bem.

Uma vez furtara uma arma e a ficara olhando impressionado. Já se julgava um próprio cangaceiro e adorava fazer coisas que cangaceiros faziam. Queria ser um dos homens de Lampião.

Com Dora, percebeu que ela realmente gostava de ouvir as suas histórias sobre Lampião e que ela o respeitava. Isso fez ele gostar dela, gostar como a uma irmã. Volta Seca foi preso ao tentar roubar uma carteira, mas quando saiu de lá tinha um proposito de vida, matar policiais.

Ele também faz uma comparação interessante e que pode ser aplicada até hoje. Ele diz que os ricos são ruins com os pobres, como os pobres são desgraçados por toda parte e como há um “favorecimento” dos ricos, como suas necessidades e vontades são facilmente atendidas.

Volta Seca vai para o sertão para junto de seu padrinho Lampião, e se torna um dos cangaceiros mais temidos de todos os tempos. É preso e julgado.

Boa Vida

Page 11: Capitães de Areia

(...) Boa-Vida, mulato troncudo e feio, o tratou com tanta consideração (...)Boa-Vida achava-o decididamente lindo. O Gato tinha um ar petulante, e embora não fosse uma beleza efeminada, agradava a Boa-Vida, que, além de tudo, não tinha muita sorte com mulheres, pois aparentava muito menos que 13 anos, baixo e acachapado. (...)Boa-Vida se estendeu ao lado. Quando pensou que o outro estava dormindo o abraçou com uma mão e com a outra começou a puxar-lhe as calças devagarinho. (...)

Boa Vida era malandro como quase todos os outros que estavam no grupo, era também pederasta. Adorava ficar de folga, e as vezes era chamado de preguiçoso, mas quando pega Alastrim (doença que assolava a população na época), pensa em todos no grupo e tem a coragem de ir sozinho para o lazareto (lugar onde os doentes eram levados e deixados para morrer).

Mesmo após ir ao lazareto, ele consegue sair de lá com saúde, e se torna malandro, dando problemas aos policiais por arrumar brigas em bares e outras coisas.

Barandão

Barandão aparece com pouco destaque na trama, mas tem um papel importante. Quando Pedro Bala segue o mesmo passos de seu pai e deixa a chefia do grupo, Barandão assume a liderança.

Barandão também era pederasta, e matinha um romance secreto com Almiro, mas não hesitou em delata-lo ao resto do grupo quando o mesmo pegou Alastrim.

(...) Almiro foi o primeiro dos Capitães da Areia que caiu com alastrim. Uma noite, quando o negrinho Barandão o procurou no seu canto para fazer o amor aquele amorque Pedro Bala proibira no trapiche, Almiro lhe disse:

– Tou com uma coceira danada.

Mostrou os braços já cheios de bolhas a Barandão:

– Parece que também tou queimando de febre.

Barandão era um negrinho corajoso, todo o grupo sabia disto. Mas da bexiga, da moléstia de Omolu, Barandão tinha um medo doido, um medo que muitas raçasafricanas tinham acumulado dentro dele. E sem se preocupar que descobrissem suas relações sexuais com Almiro saiu gritando entre os grupos:

– Almiro tá com bexiga... Gentes, Almiro tá com bexiga. (...)

Querido-de-Deus

(...) Mar que o Querido-de-Deus, o grande capoeirista, corta com seu saveiro para as pescarias nos mares do Sul. O Querido-de-Deus é um bom sujeito. Se Pedro Bala não houvesse aprendido com ele o jogo capoeira de Angola, a luta mais bonita do mundo, porque é também uma dança, não teria podido dar fuga a João Grande, Gato e Sem-Pernas. (...)

Querido-de-Deus também aparece pouco na trama, é o mais celebre capoeirista de Salvador e ensina a luta à Bala, Grande e Gato. Com seu saveiro, ele viaja o mundo, e percebe-se na trama que ele é um dos poucos adultos em que as crianças confiam. Ele também ensina muito à eles, mais do que uma luta ou coisa do gênero, ele os ensina coisas da vida, os ensina a serem homens de verdade.

Padre José Pedro

Page 12: Capitães de Areia

(...) Nas primeiras vezes os meninos o olhavam com desconfiança. Ouviam muitas vezes na rua dizer que padre dava peso, que negócio de padre era para mulher. Mas o padre José Pedro tinha sido operário e sabia como tratar os meninos. Tratava-os como a homens, como a amigos. E assim conquistou a confiança deles, se fez amigo de todos, mesmo daqueles que, como Pedro Bala e o Professor, não gostavam de rezar. Dificuldade grande só teve mesmo com o Sem-Pernas. Enquanto que o Professor, Pedro Bala, o Gato eram indiferentes às palavras do padre o Professor, no entanto, gostava dele, pois lhe trazia livros, Pirulito, Volta Seca e João Grande, principalmente o primeiro, muito atentos ao que ele dizia, o Sem-Pernas lhe fazia uma oposição que a princípio tinha sido muito tenaz. Porém o padre José Pedro terminara por conquistara confiança de todos. E pelo menos em Pirulito descobrira uma vocação sacerdotal. (...)

Padre José Pedro chegou as crianças por intermeio de Boa-Vida, e foi visto com desconfiança no começo, mas logo ganhou a confiança de todos, assim como Querido-de-Deus, era um dos poucos adultos em que as crianças confiavam.

Teve problemas para se relacionar com Sem-Pernas, mas logo conseguiu resolve-los, já em Pirulito, ele encontrou um sacerdote, e ficou muito satisfeito, pois conseguiu levá-lo ao caminho de Deus.

Padre também era um dos poucos que os viam como crianças, como quando ele os levou para ver o parque que estava de passagem pela cidade.

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Analise do Capitulo: “Deus sorri como um negrinho”

Por: Rodrigo Araujo

Neste capitulo, podemos observar que o autor retrata o temor de Pirulito perante Deus. Pirulito tem uma fé descomunal, de se admirar, e por muitas vezes ele é pego se martirizando em decorrência de seus crimes, caindo muitas vezes em um fogo cruzado criado por ele mesmo. Muitas vezes ele é pego tentando se desculpar por seus pecados, alegando que não havia outra saída a não ser de cometer o mesmo, pois se ele não praticasse o furto morreria de fome ou era excluído do grupo Capitães de Areia.

O foco principal deste capitulo está na admiração de Pirulito perante uma escultura religiosa na vitrine de uma loja, pois para ele não era apenas mais uma escultura, e sim, a escultura que sofria uma certa discriminação, por passar certo nível de pobreza.

Pirulito então se pega preso num dilema, ele se acha preso entre levar a imagem para si, já que na sua visão a mesma é excluída das outras por representar pobreza ou não pegar a imagem, já que ao pegá-la ele estaria cometendo um pecado, e ele mostra também um temos grande de ir ao inferno.

Por fim, Pirulito de tanto admirar a imagem e acreditar que ela estava lá para ele lhe dar carinho e atenção que ela merece, acaba por furtar a imagem, e com a imagem em seus braços, corre sem olhar pra trás em direção ao trapiche.

Analise do Capitulo: “Dora, Mãe”

Por: Gabriel Araujo

Dora é um capitulo à parte nesta trama, pois ela chega no final, mas tem uma importância muito grande para todos. Ela chega do nada, sozinha no mundo com seu irmão, e já causa grande reboliço por ser a única menina no grupo. Desperta o interesse de muitos, mas ela se mostra mais do que uma menininha como as meninas do areal.

Dora trata a todos como filhos, dando carinho, amor e afeto. Ela cuida deles, e vai assim conquistando-os cada vez mais. Gato é o primeiro a vê-la como mãe, quando pede que ela costure sua blusa, e ela a toca, mas com esse toque ele não sente um desejo, assim como acontece com Dalva, com esse toque ele sente conforto, ele sente que ele está seguro, ele se sente nos braços da única pessoa que realmente se interessa por ele sem querer nada em troca, ele se sente nos braços de sua mãe.

Volta Seca a vê também como mãe, a mãezinha dele, mulher valente do sertão, que foi morta, ele vê em Dora a valentia e coragem que ele via em sua mãe, posso ate dizer que a bondade e determinação presentes em Dora fazia não só ele, mas todos a verem como mãe, e cada em caso ela era uma mãe diferente, suprindo a necessidade de carinho materno que todos tinham. No caso de Pirulito, que inicialmente a vê como tentação, ele tem mais do que uma mãe, ele tem uma confidente, a ponto de compartilhar com ela um segredo que ele não compartilha nem com Padre José Pedro, que é a vontade de se tornar sacerdote da igreja.

E por fim, ela conquista a Pedro Bala e ao Professor, ambos ela conquista de maneira diferente, pois eles nutrem um amor por ela, porém só Pedro Bala tem seu amor correspondido.

A presença da figura materna a vida desses meninos foi importante principalmente para a criação do caráter deles, muitos deles nunca tinham recebido carinho de mãe, por isso Dora significou muito mais pra eles do que ela pode imaginar. Isso mostra inclusive, que carinho é essencial para a formação do caráter das pessoas, mostra que carinho e amor, principalmente na infância, são essenciais.

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Analise do Capitulo: “Os atabaques ressoam como clarins de guerra”

O nosso destino é a gente que faz, e foi isso que Pedro Bala fez, junto com Alberto, o estudante. Os Capitães de Areia não são mais moleques de rua, eles são uma brigada de choque. Muito mudou no decorrer do tempo, muitos cresceram, ideais apareceram, as crianças abandonadas cresceram.

Uma voz as chamou, cada um para seu lado, cada um para montar seu destino, e o de Pedro Bala é seguir a revolução, é uma voz intensa e forte que o chama, a mesma voz que levou Pirulito a caminho de Deus, que levou Volta Seca a Caatinga e que levou o Professor ao Rio de Janeiro. Essa voz que é presente hoje, e que já foi usada até por Getulio Vargas, ex-presidente do Brasil. Uma voz que diz que é a hora de levantarmos a cabeça e partimos pra luta, que diz que é hora de mudarmos, é a hora de nós começarmos a mudança.

Pedro Bala se despede de seu grupo, mas a cidade se despede dele, a cidade abra mão dele para que ele possa crescer e reivindicar os direitos dos pobres, os direitos do povo.

E neste momento de despedida, Pedro vê todos seus amigos, até aqueles que já se foram, todos estão lá, saudando o líder que parte para algo maior, que parte para o seu chamado.

Assim é o destino de Pedro Bala.

Pessoas assim, dispostas a mudar a si mesma como Pedro fez, mudar a si mesmo e a mudar o mundo, dispostas a começar a revolução, a correr atrás de nossos direitos, fazem com que a justiça realmente seja alcançada. Precisamos de mais Pedro Bala pelo mundo todo, principalmente aqui no nosso país.

Pedro conseguiu mudar não só o seu destino, mas o destino de todos os garotos de rua, cabe à nós ter fé e esperar por pessoas que façam por nós o que ele fez pelos Capitães de Areia.

Analise do capitulo: “... Uma pátria e uma família”

Uma pátria e uma família fala de revolução, de luta, de conquistas, de um sentimento que une todos como uma família, um sentimento que uniu as pessoas como uma pátria.

A luta de Pedro Bala em favor dos menos favorecidos atingiu todos os lares, e todos ansiavam por sua liberdade, e quando a mesma ocorreu, ninguém hesitaria em lhe oferecer um teto para esconder-se, pois como ocorre na maioria dos casos, quem protege os direitos do povo é cassado pela minoria dominante.

Esse capitulo, em minha opinião, é até, ironicamente, uma previsão do que aconteceria no nosso país anos depois, com a ditadura.

Muitos dos que lutavam pelo fim daquela opressão foram calados, torturados, mortos, mas a voz do povo não foi calada, e os que conseguiram sobreviver a todos os obstáculos, assim como Pedro Bala, colocaram um fim nesse capitulo sombrio de nossa historia.

Pedro Bala, que iniciou essa narrativa como um menino de rua, transformou-se num grevista, no maior grevista da Bahia, naquele que todos se lembraram, e tornou-se um homem.

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Considerações Finais

Meninos de rua, um problema não exclusivo de nosso país, porém aqui parece ser muito mais intenso. Mesmo nos anos trinta, Jorge Amado retratou com clareza uma realidade vivida hoje, em pleno século XXI. A diferença de classes sociais parece até só aumentar a exclusão desses meninos, que são esquecidos nas ruas e acabam, muitas vezes, por entrar no mundo da marginalidade.

Na trama, é mostrada a realidade desses meninos, a forma como eles sobreviviam e como eles eram tratados pela sociedade e após a leitura da obra não pude deixar de pensar em como essa situação se repete todos os dias e como ela vai voltar a repetir-se. A lista de problemas relacionados à esses menores é imensa, e quanto mais mexermos nessa pilha de problemas sem realmente querer resolver a situação dessas crianças ela só ficara maior.

Vamos começar partindo de um ponto chave nessa situação: EDUCAÇÃO. Pode até parecer clichê o que vou dizer agora, mas a falta de comprometimento com a educação pública nacional nos torna cada vez mais leigos para essa situação. Estamos deixando de cobrar nossos políticos perante esse problema e colocando a culpa nas crianças.

Quando nos deparamos com algum moleque de rua logo pensamos, “ladrãozinho desclassificado, rouba por que quer”, mas não vemos a situação por de trás desse garoto de rua. Porque ele está nas ruas e não em casa ajudando a família? Porque ele não está na escola ou trabalhando? Porque ele não está fazendo algum esporte, ou algo que contribua para um bom futuro dele e do nosso país?

Temos as respostas na ponta da língua, esse garoto não está na esta ajudando a sua família porque a miséria em sua casa é tanta que ele, por muitas vezes, tem que recorrer a rua, pois o governo não liga para a situação que ele enfrenta na favela, ou até mesmo porque era a rua ou virar um “projeto de traficante”. Ele fica na rua, perambulando, roubando, perdendo uma fase importantíssima da sua vida porque as vezes não tem nem comida em casa, ou nem tem casa, quanto menos roupas para ir à escola, as vezes ele é largado na rua sem documentos, ele nem existe.

Outro ponto interessante mostrado por Jorge é o do AFETO e do CARINHO. Quando Dora chega ao grupo ele trás novas perspectivas à eles, ela lhes dá carinho, amor, afeto, atenção de mãe. As vezes chego a pensar que é isso que o mundo todo precisa, de uma mãe, de carinho. Devemos acreditar nisso, precisamos acreditar nisso.

Os nossos problemas com meninos de rua são inúmeros, e eles tendem a se agravar cada vez mais, já que vivemos numa sociedade onde os tudo é projetado para favorecer aqueles que já nasceram favorecidos, em berço de ouro e etc.

Soluções, há sim. Varias, basta abrir um pouco mais os olhos, deixarmos de ser tão alienados e tentarmos enxergar direito o que ocorre no nosso país, fazer que nem Pedro Bala e ouvir a voz que diz para lutarmos por nossos direitos.

Educação decente e de qualidade, uma vida decente, longe das ruas e da criminalidade, amor, carinho, afeto é um direito de cada um desses menores que estão nas ruas desse Brasil, e lutar pelos direitos delas é uma luta de todos nós, pois não devemos esquecer que elas são o futuro do nosso país.

Essa é minha opinião, minha critica, esse é o meu ponto de vista. Essas crianças podem ter um futuro diferente, e o poder de mudar esse futuro está na nossas mãos.

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Referências Bibliográficas

Capitães da Areia (1937) – Jorge Amado (Resumo e análise de Lígia Rodrigues Balista)

AMADO, Jorge. Capitães da Areia. Rio de Janeiro: Record, 2004.

GOMES, Álvaro Cardoso. Capitães da Areia: Jorge Amado. São Paulo:Ática, 1994. (Coleção Roteiro de Leitura).