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Capítulo VII Exames de diagnóstico e tomada de decisão
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CAPÍTULO VII
EXAMES DE DIAGNÓSTICO E TOMADA DE
DECISÃO
Este capítulo estuda a utilização dos exames de diagnóstico na tomada de decisão
médica. A primeira parte do capítulo avalia a capacidade dos vários exames para
detetarem a presença ou a ausência de AVC. Ou seja, para cada exame é calculada a
percentagem de verdadeiros positivos e a percentagem de verdadeiros negativos,
identificando-se assim qual o exame mais sensível e especifico na deteção de lesões
extra e intracraneanas em doentes com suspeita de AVC, com AVC em fase aguda ou
não aguda.
Existindo diferentes exames de diagnóstico em análise, também com desempenhos
diferentes, numa segunda fase e com base nos resultados anteriores é realizada uma
análise de decisão relativamente aos exames de diagnóstico TSC e Angio RM dos vasos
do pescoço que fazem análise a nível extracraneano e documentam possíveis etiologias
do AVC. É feita uma análise das várias estratégias de realização destes dois exames,
considerando a possibilidade de realizar ou não um ou ambos os exames e a sequência
da realização dos exames. É de realçar que como o benefício da realização do segundo
exame pode depender do resultado obtido no primeiro exame, consideram-se estratégias
contingentes nos resultados do primeiro exame. Esta análise permite identificar as
estratégias eficientes em termos de custo e benefício.
Capítulo VII Exames de diagnóstico e tomada de decisão
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7.1 – Exames de diagnóstico recomendados
De acordo com “The European Stroke Initiative Executive Committee and the EUSI
Writing Committee: European Stroke Initiative Recommendations for Stroke
Management de 2003”, “The European Stroke Organization (ESO): Executive
Committee and the ESO Writing Committee” e com as recomendações para o
Tratamento do AVC Isquémico e do Acidente Isquémico Transitório de 2008, no estudo
em fase aguda e não aguda de AVC isquémico, existe uma série de exames de
diagnóstico e terapêutica, já referidos e descritos no capítulo II, que devem ser
realizados (tabelas 52 e 53).
Tabela 52 - Exames de diagnóstico de urgência em doentes com AVC agudo (adaptado de ESO, 2008).
Em todos os doentes
1 Imagem cerebral: TAC ou RM
2 ECG
3 Testes Laboratoriais Hemograma completo com plaquetas,
tempo de protrombina ou INR, APTT, ionograma, glicémia
PCR ou velocidade de sedimentação
Avaliação química renal e hepática
Quando indicado
4 Ultrassonografia Doppler/ Duplex transcraniano e
extracraniano
5 Angio RM ou Angio TAC
6 RM de difusão e perfusão ou TC de perfusão
7 Ecocardiograma (transtorácico e/ou transoesofágico )
8 Radiografia de tórax
9 Oximetria de pulso e gasimetria
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10 Punção lombar
11 Eletroencefalograma
12 Avaliação toxicológica
Tabela 53 – Exames complementares diagnóstico recomendados para centros que orientam doentes com
AVC agudo (adaptado de ESO, 2008).
Centros de AVC primários Centros de AVC diferenciados
Disponibilidade de Tomografia
Computadorizada nas 24h
RM /Angio RM / TAC
Investigação neurossonológica dentro de
24 horas (ultrassonografia por Doppler
extracraniano)
Ecocariograma transesofágico
Ecocardiograma transtorácico Angiografia cerebral
Exames laboratoriais (incluindo
parâmetros de coagulação)
Ultrassonografia por Doppler transcraniano
Monitorização da pressão arterial, ECG,
saturação de oxigénio, glicémia,
temperatura corporal
Ultrassonografia duplex codificada a cores extracraniano e
intracraniano
7.2 – Análise de sensibilidade e especificidade
Para a análise de sensibilidade e especificidade inicialmente foi necessária a
recodificação de algumas variáveis através do auxílio de sintaxes (apêndice 7 em CD)
(tabelas 54 a 56).
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Tabela 54 – Recodificação da variável indicação.
Variável
não
dicotómica
Código Medida Novo código
Medida nova
(medida antiga
correspondente)
Indicação indicação
0 = sem AVC diagnosticado; 1 = AVC
isquémico sem hemisfério definido; 2 = AVC
isquémico do hemisfério direito; 3 = AVC
isquémico do hemisfério esquerdo; 4 = AVC
lacunar; 5 = AVC hemorrágico sem
hemisfério definido; 6 = AVC hemorrágico
do hemisfério direito; 7 = AVC hemorrágico
do hemisfério esquerdo; 8 = AIT; 9 = AVC
isquémico vertebro.basilar; 10 = outras; 11 =
follow up de stent ou endarteretomia; 12 =
Trombose Venosa
indicação2
0 = sem avc (0)
1 = avc i h esq (3)
2 = avc i h dto (2)
3 = avc vb (9)
4 = outros tipos (1, 4,
5, 6, 7, 8, 10, 11, 12)
Tabela 55 – Recodificação das variáveis do TSC e TST.
Variável
não
dicotómica
Código Medida Novo código
variável
Medida nova
(medida antiga
correspondente)
TSC
cvcaroesq -1 = sem acesso acústico; 0 = normal; 2 =
estenose ligeira; 3 = estenose moderada; 4 =
estenose grave; 5 = estenose pré-oclusiva; 6 =
oclusão; 7 = tortuosidade; 8 = fistula 9 =
ateromatose carotídea, sem repercussão
hemodinâmica; 10 = roubo da artéria subclávia;
11 = tortuosidade, compatível com estenose; 13
= hipoplasia
tscantesq
0 = normal (0)
1 = patológico (2, 3,
4, 5, 6, 7, 8, 9, 10,
11, 12, 13)
cvcardta tscantdta
cvvertesq tscpostesq
cvvertdta tscpostdta
TST
tcantesq 0 = normal; 1 = sem janela; 2 = estenose
ligeira; 3 = estenose moderada a grave; 5 =
tortuosidade; 6 = oclusão; 8 = roubo da artéria
subclávia; 9 = vasospasmo; 13 = hipoplasia.
tstantesq
0 = normal (0)
1 = patológico = (2,
3, 5, 6, 8, 9, 13)
tcantdta tstantdta
tcpostesq tstpostesq
tcpostdto tstpostdta
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Tabela 56 – Descrição das variáveis da TAC CE, RM CE e Angio RM dos vasos do pescoço.
Variável Código
Tipo e Medida
Descrição
Novo
código
variável
Medida nova
(medida antiga
correspondente)
TAC CE
TACtipolesão
-1 = resultado inconclusivo; 0 = outros; 1 =
hemodinâmico; 2 = embólico; 3 = lacunar; 4
= normal
TAC2
0 = normal (4)
1 = patológico =
(0, 1, 2, 3)
TAClocalização
-1 = não se aplica; 1 = anterior esquerdo; 2
= anterior direito; 3 = posterior; 4 = anterior
bilateral; 5 = anterior esquerdo e posterior; 6
= anterior direito e posterior; 7 = anterior
bilateral e posterior
RM CE
RMtipolesao
-1 = não se aplica ou resultado inconclusivo;
0 = outros; 1 = hemodinâmico; 2 =
embólico; 3 = lacunar; 4 = normal
RM2
0 = normal (4)
1 = patológico =
(0, 1, 2, 3)
RMlocalizaçao
-1 = não se aplica; 1 = anterior esquerdo; 2
= anterior direito; 3 = posterior; 4 = anterior
bilateral; 5 = anterior esquerdo e posterior; 6
= anterior direito e posterior; 7 = anterior
bilateral e posterior
Angio RM
vasos do
pescoço
angioRM
-1 = não se aplica ou resultado inconclusivo;
0 = normal; 2 = estenose ligeira; 3 =
estenose moderada; 4 = estenose grave; 5 =
estenose pré-oclusiva; 6 = oclusão; 7 =
tortuosidade; 8 = fistula; 9 = ateromatose
carotídea, sem repercussão hemodinâmica;
10 = roubo da artéria subclávia; 11 =
tortuosidade + ateromatose carotídea, sem
repercussão hemidnâmica; 12 - tortuosidade,
compativel com estenose; 13 = hipoplasia
Angio
RM2
0 = normal (0)
1 = patológico (2,
3, 4, 5, 6, 7, 8, 9,
10, 11, 12, 13)
angioRMloc
-1 = não se aplica; 1 = anterior esquerdo; 2
= anterior direito; 3 = posterior; 4 = anterior
bilateral; 5 = anterior esquerdo e posterior; 6
= anterior direito e posterior; 7 = anterior
bilateral e posterior
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Para qualquer patologia o exame de diagnóstico ideal é aquele que possui maior
sensibilidade e especificidade, menos invasivo e a menor custo económico. No caso dos
exames de diagnóstico em análise deve-se ter em conta a região anatómica de análise do
exame. O TSC e Angio RM dos vasos do pescoço fazem análise a nível extracraneano e
os restantes exames a nível intracraneano.
Quando colocada a hipótese de diagnóstico de AVC a probabilidade de ter ou não varia
entre 0 e 100%, ou seja, a doença poderá ser totalmente descartada (0%) ou confirmada
(100%).
Tabela 57 – Análise de sensibilidade dos exames complementares de diagnóstico.
Sensibilidade
TSC
(n=3199)
TST
(n=1986)
TAC CE
(n=1949)
RM CE
(n=493)
Angio RM
(n=85)
AVC 85.8%
84.5% - 87.1%
26.5%
22.7% - 30.3%
81%
79.1% - 83%
90%
87.2% - 92.8%
66%
53.5% - 78.5%
AVC isquémico
hemisfério esquerdo
77.6%
74.1% - 81.1%
9.7%
1.1% - 18.4%
22.8%
15.1% - 30.5%
25.9%
10.2% - 41.6%
36.8%
1.1% - 72.5%
AVC isquémico
hemisfério direito
74.5%
71.2% - 77.8%
8%
0.2% - 15.8%
27.8%
32.3% - 21%
31.3%
18.5% - 44.2%
48.4%
23.1% - 73.7%
AVC vertebro-
basilar
16.5%
6.5% - 26.5%
22.2%
10.9% - 33.5%
32.3%
21.3% - 43.3%
50%
33.4% - 66.6%
50%
1% - 90%
Outros 83.7%
81.4% - 86%
23%
16.4% - 29.6%
79.8%
76.3% - 83.4%
85.4%
79.2% - 91.6%
42.9%
10.6% - 75.2%
1º linha - Estimativas pontuais da sensibilidade
2ª linha - Cálculo dos intervalos de confiança para um grau de confiança de 95%
As tabelas 57 e 58 apresentam as estimativas pontuais da sensibilidade e especificidade
respetivamente e o cálculo dos intervalos de confiança (grau de confiança de 95%).
Salienta-se, que devido ao número reduzido de indivíduos que fizeram alguns exames,
nomeadamente RM e Angio RM os resultados estão condicionados sendo muito pouco
precisos.
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Contudo, quanto à sensibilidade na tabela 57 verifica-se que tendo em conta a região
extracraneana, entre o TSC e Angio RM dos vasos do pescoço para os AVC isquémicos
da circulação anterior (hemisfério esquerdo e direito) e para outros tipos de AVC como
tromboses venosas, hemorragias, etc, é o TSC o que apresenta maior sensibilidade. Para
o AVC da circulação posterior é a Angio RM dos vasos do pescoço que apresenta maior
sensibilidade. A nível intracraneano é a RM CE, seguida da TAC, existindo pouca
diferença entre elas.
Tabela 58 – Análise de especificidade dos exames complementares de diagnóstico.
Especificidade
TSC
(n=3199)
TST
(n=1986)
TAC CE
(n=1949)
RM CE
(n=493)
Angio RM
(n=85)
Sem AVC 37.5%
13.8% - 62%
73.7%
50.6% - 96.8%
25%
0% - 67.4% 0
50%
0% - 100%
Sem AVC isquémico
hemisfério esquerdo
26.2%
22.8% - 29.6%
90.4%
88.8% - 91%
59.8%
56.5% - 63.1%
53.6%
46.7% - 60.5%
65.2%
51% - 79.4%
Sem AVC isquémico
hemisfério direito
28.6%
25.2% - 32.1%
92.8%
91.4% - 94.2%
62.7%
59.4% - 66%
56.5%
49.4% - 63.6%
83.3%
72.4% - 94.2%
Sem AVC vertebro-
basilar
92.5%
91.6% - 93%
81.2%
79.2% - 83.2%
90.4%
88.9% - 91.9%
74.5%
69.7% - 79.3%
79.5%
69.1% - 89.9%
Sem Outros 80%
75.3% - 84.8%
98.8%
98.1% - 99.5%
59%
52.9% - 65.1%
43.8%
25.4% - 62.2%
65.4%
42.8% - 88%
1º linha - Estimativas pontuais da especificidade
2ª linha - Cálculo dos intervalos de confiança para um grau de confiança de 95%
Quanto à especificidade verifica-se que para a região extracraneana entre o TSC e
Angio RM dos vasos do pescoço para os AVC isquémicos da circulação anterior
(hemisfério esquerdo e direito) e para é a Angio RM dos vasos do pescoço o que
apresenta maior especificidade. Para o AVC da circulação posterior já é o TSC que
apresenta maior especificidade. A nível intracraneano para a circulação anterior o TST é
mais específico, seguido da TAC e para a circulação posterior é a TAC CE (tabela 58).
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Discussão
Segundo Menezes e Santos (1999), quanto maior a sensibilidade de um teste maior a
probabilidade de detetar a doença. Para os indivíduos em análise o TSC é o exame que
apresenta maior sensibilidade na deteção de patologia na circulação anterior
extracraneana, o que provavelmente se deverá ao facto da aterosclerose dos grandes
vasos (extracraneanos) ser uma das principais causas de AVC isquémico. O que está de
acordo com Easton (1998), Hankey (2002), entre outros autores referidos na revisão
bibliográfica. Ainda que pequena a percentagem de falsos-negativos pode dever-se à
causa do AVC não ser patologia dos grandes vasos, mas de outra região ou etiologia.
Para a circulação posterior a Angio RM dos vasos do pescoço revela melhor
sensibilidade devido à dimensão das artérias, que quando muito pequenas a sua
avaliação por TSC é limitada.
A RM CE é o exame que apresenta maior sensibilidade na deteção da patologia
intracraneana na circulação anterior e posterior. Os falso-negativos podem dever-se a
artefactos, outro tipo de patologia com características imagiologicamente semelhantes
ao AVC ou não terem sido aplicadas as técnicas adequadas, nomeadamente difusão.
Sendo que o risco de não diagnosticar o AVC acarreta importantes consequências para o
doente, testes com alta sensibilidade são indicados.
O parâmetro da especificidade é também importante pois segundo Menezes A e Santos I
(1999) testes altamente específicos são necessários quando resultados falsos-positivos
podem levar o paciente a tratamento ou cirurgia desnecessários. Aqui os exames de
eleição são o TST a nível intracraneano e a Angio RM a nível extracraneano. O TST
apresentou melhor resultado a nível intracraneano, sendo um exame que facilmente
diagnostica oclusão ou aterosclerose com significado hemodinâmico de pequenos vasos,
que também são uma importante causa de AVC. Segundo Thom et al (2006) cerca de
25% dos AVC são lacunares (oclusão de pequenos vasos). Ainda assim, os falsos-
positivos existentes podem ser devido ao facto de existir patologia arterial intracraneana
não hemodinâmicamente significativa. Na Angio RM dos vasos do pescoço os falsos-
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positivos podem dever-se a artefactos, outro tipo de patologia com caraterísticas
imagiologicamente semelhantes ao AVC ou aplicação de técnicas inadequadas.
Resumindo, o TSC é o exame com maior sensibilidade na deteção de patologia
extracraneana e a RM CE na patologia intracraneana. Assim, ambos exames apresentam
maior a hipótese das pessoas com a doença não sejam excluídas pelos exames.
O ideal seria um teste com alta sensibilidade e alta especificidade, mas isso raramente
ocorre, pois elas estão relacionadas de maneira inversa. Em suma, sem perda de
informação e tendo em conta que não existem indivíduos iguais com igual patologia,
cada um deverá ser avaliado individualmente. De uma forma geral os resultados
permitem afirmar que entre o parâmetro sensibilidade e especificidade a TAC CE não se
destaca, contudo, recomendado por ESO (2008) no estudo do AVC agudo, é exame de
primeira linha por permitir a distinção entre AVC hemorrágico e isquémico. Apesar da
RM ser o exame mais sensível e mais informativo, é menos acessível, dispendioso e
demoroso. Quando disponível, os resultados apontam para a ponderação de alterações à
seleção e ou sequência de exames considerados urgentes no diagnóstico de AVC agudo.
No caso de existir equipamento e recursos humanos disponíveis, poderia excluir-se a
realização de pelo menos um exame. Também o TSC deveria ser um dos primeiros
exames a realizar na urgência para despiste de oclusões por trombo, para decisão de
terapêutica (trombólise), estenoses com indicação cirúrgica, etc. Obter-se-ia mais
informação em menor espaço de tempo permitindo diminuir o tempo de internamento,
de decisão terapêutica ou cirúrgica e também iria diminuir o agravamento do quadro
clínico. Tudo isto possibilita uma reabilitação mais rápida e menor custo
socioeconómico.
7.3 - Análise de decisão
Dos fatores que aumentam os custos económicos na área da saúde o principal é o
desenvolvimento tecnológico de novas estratégias diagnósticas e terapêuticas, que na
grande maioria das vezes são mais eficazes e mais caras. Estas novas estratégias
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também devem aumentar a esperança média de vida, levando ao crescimento do número
de idosos e consequente aumento dos gastos com saúde. Dado que os recursos
financeiros são limitados, torna-se necessário maximizar os ganhos em saúde obtidos
por meio do uso dos recursos disponíveis, e para isto, a tomada de decisão deve apoiar-
se em avaliações criteriosas que levem em consideração aspetos clínicos e económicos
(Drummond, 2005 e Taylor, 1997).
Dada a importância dessas avaliações económicas na formulação de políticas públicas
em saúde, alguns países criaram instituições que se dedicam apenas a estes assuntos. No
âmbito internacional, a necessidade de maior integração e cooperação entre as agências
de avaliação de tecnologia em saúde levou à estruturação de organismos internacionais
como a International Network of Agencies for Health Technology Assessment
(Drummond, 2005).
Como existem diferentes estratégias de diagnóstico e tratamento terapêutico e/ou
cirúrgico para a mesma patologia, devem ser analisadas de forma geral avaliando-se os
custos, danos, benefícios, etc. Assim, a avaliação económica em saúde compreende a
comparação de alternativas com respeito a seus custos e suas consequências/benefícios,
que quantitativamente variam em função da perspetiva adotada. Existem dois tipos
principais de desenhos de estudos económicos: os aninhados em ensaios clínicos e os
estruturados em modelos matemáticos (Drummond, 2005). No presente trabalho foi
aplicado o modelo matemático através do cálculo de árvores de probabilidades e árvores
de decisão sobre os exames de diagnóstico TSC e Angio RM dos vasos do pescoço que
fazem análise a nível extracraneano e documentam possíveis etiologias do AVC
determinando o tipo de tratamento a adotar, com o objetivo de determinar as estratégias
eficientes em termos de custo e beneficio na realização ou não de um ou ambos os
exames.
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7.3.1 – Cálculo de probabilidades
De uma forma geral, neste trabalho tentaram-se avaliar os custos e benefícios da
realização do TSC e Angio RM dos vasos do pescoço. Com base nas frequências
absolutas conjuntas relativamente ao AVC, TSC e Angio RM (apêndice 8), foram
calculadas as probabilidades condicionadas de cada um dos exames ser positivo ou
negativo (para presença de patologia), dado que o doente tem AVC e dado que o
individuo não tem AVC. Para além disso, como se quer avaliar a sequência ótima dos
exames, também foram calculadas as probabilidades condicionais dado que já se sabe o
resultado do outro exame. Deve realçar-se que as probabilidades estimadas nos casos
em que o indivíduo não tem AVC e que envolvem o exame Angio RM usaram um
número muito reduzido de observações e, por conseguinte, são estimativas muito pouco
precisas. A tabela 59 apresenta as probabilidades condicionadas calculadas.
Tabela 59 – Probabilidades à priori e probabilidades calculadas.
Probabilidades à priori
Pr (AVC+) 0.85
Pr (AVC-) 0.15
Probabilidades calculadas nºobservações
Pr (TSC+ / AVC+) 0.86 3159
Pr (Angio RM+ / TSC+ e AVC+) 0.70 70
Pr (Angio RM+ / TSC- e AVC+) 0.46 13
Pr (TSC+ / AVC-) 0.15 40
Pr (Angio RM+ / TSC+ e AVC-) 1 1
Pr (Angio RM+ / TSC- e AVC-) 0 1
Se, para além das probabilidades condicionadas, forem conhecidas as probabilidades à
priori (isto é, antes de fazer os exames) do indivíduo ter AVC, usando o teorema de
Bayes, é possível calcular a probabilidade à posteriori do doente ter AVC dado que o
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resultado do exame foi positivo (ou negativo). Estas probabilidades à posteriori
permitem elaborar árvores de decisão e aferir qual o valor informativo de cada exame.
As probabilidades à priori (probabilidade de um individuo que tem sintomas e sinais de
AVC ter mesmo o AVC) foram obtidas através de estimação de duas médicas
especialistas com longa experiencia em serviço de urgência, consultas de
cerebrovasculares e Unidade de AVC. De acordo com estas especialistas, a
probabilidade de um indivíduo que tem sintomas e sinais de AVC ter AVC é 0.85.
No software Precision Tree, versão 6, foram primeiramente elaboradas as árvores de
probabilidades para cada exame (apêndice 8) e calculadas as probabilidades à posteriori
de ter AVC (tabela 60), através do Teorema de Bayes.
Tabela 60 – Probabilidades calculadas.
Probabilidades
Pr (Angio RM+) 63.6%
Pr (Angio RM-) 36.4%
Pr (AVC+/Angio RM+) 88.2075%
Pr (AVC+/Angio RM-) 79.3956%
Pr (TSC+) 75.35%
Pr (TSC- 24.65%
Pr (AVC+/TSC+) 97.0139%
Pr (AVC+/TSC-) 48.2759%
Pr (TSC+ e Angio RM+) 53.42%
Pr (AVC+/TSC+ e Angio RM+) 95.7881%
Pr (Angio RM+/TSC+) 70.8958%
Pr (TSC+ e Angio RM-) 21.93%
Pr (AVC+/TSC+ e Angio RM-) 100%
Pr (TSC- e Angio RM+) 5.4740%
Pr (AVC+/TSC- e Angio RM+) 100%
Pr (Angio RM+/TSC-) 22.2069%
Pr(TSC- e Angio RM-) 19.1760%
Capítulo VII Exames de diagnóstico e tomada de decisão
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Pr (AVC+/TSC- e Angio RM-) 33.5106%
Pr (Angio RM+ e TSC+) 57.48%
Pr (AVC+/Angio RM+ e TSC+) 86.9520%
Pr (TSC+/Angio RM+) 90.3774%
Pr (Angio RM+ e TSC-) 6.1200%
Pr (AVC+/Angio RM+ e TSC-) 100%
Pr (Angio RM- e TSC+) 21.6750%
Pr (AVC+/Angio RM- e TSC+) 100%
Pr (TSC+/Angio RM-) 59.5467%
Pr(Angio RM- e TSC-) 14.7250%
Pr (AVC+/Angio RM- e TSC-) 49.0662%
O Teorema de Bayes permite "rever" as nossas crenças à priori com a chegada de nova
informação. Suponha-se que são conhecidas as probabilidades à priori dos
acontecimentos E1 e E2, que são conhecidas as probabilidade condicionadas P (A|E1) e P
(A/E2) e que, entretanto, é recebida a informação que A aconteceu (Clemen, 1996).
De acordo com a regra de Bayes, a probabilidade à posteriori de E1 e de E2 dado que A
ocorreu é (Clemen, 1996):
P (Ei|A) = P (A|Ei) P (Ei)_________
P (A|E1) P (E1) + P (A|E2) P (E2)
Onde i = 1,2.
7.3.2 - Árvores de decisão
Após o calculo das probabilidades foram calculadas duas árvores de decisão. Em ambas
as árvores, os payoffs são os benefícios associados a realização do TSC e da Angio RM.
As duas árvores diferem na ordem pela qual são realizados os exames. Na primeira
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árvore de decisão, o TSC é o primeiro exame a ser realizado enquanto na segunda
árvore de decisão a Angio RM é o primeiro exame a ser realizado.
Em qualquer árvore de decisão as decisões e eventos probabilísticos estão ligados
sequencialmente, da esquerda para a direita. Decisões, eventos probabilísticos e
resultados finais são representados por nós e conectam-se por ramificações. As
probabilidades de ocorrência de eventos, os payoffs dos eventos e as decisões são
acrescentados em cada ramo da árvore. Nos nós terminais da árvore tem-se o payoff e a
probabilidade desse caminho possível na árvore.
A árvore é resolvida usando indução à retaguarda, isto é, resolve-se do fim para o
princípio. Nos nós de incerteza são calculados os valores esperados, nos nós de decisão
é identificada a decisão ótima (neste caso, a decisão com maior benefício esperado).
Quando a árvore de decisão é concluída, a análise de decisão do Precision Tree gera um
relatório estatístico completo sobre a melhor decisão a ser tomada e como ela se
compara às decisões alternativas.
Foi realizada uma análise individual às árvores de benefício para cada ordem de
exames.
Árvores de benefícios
Para as árvores de decisão dos benefícios 1 e 2 foi atribuído um valor (estimação de
médica especialista com longa experiencia em serviço de urgência, consultas de
cerebrovasculares e Unidade de AVC) entre 0 e 1 para os benefícios, onde zero é a pior
situação que pode acontecer (para o doente) e um a melhor (tabela 61).
Tabela 61 – Valor estimado para os benefícios.
AVC Tratamento para AVC Valor
estimado
Não ter AVC Tratamento ausente 1
Não ter AVC Tratamento presente 0
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Ter AVC Tratamento ausente 0
Ter AVC Tratamento presente 1
Árvore de benefícios 1
Após elaboração de árvore de benefícios 1, onde o TSC é o primeiro exame a ser
realizado (apêndice em A3 e apêndice 8 em CD), obtêm-se dados da sugestão para a
melhor estratégia de decisão no sentido de maximizar os benefícios esperados seguindo
os ramos verdadeiros dos nós de decisão ilustrados na figura 46.
Observa-se que neste modelo, deve começar-se por fazer o TSC. Se o TSC for positivo
não se deve fazer Angio RM e deve fazer-se tratamento. Caso o TSC seja negativo deve
fazer-se Angio RM, que se for positivo deve proceder-se ao tratamento. Quando os dois
exames forem negativos, não deve fazer-se tratamento para AVC.
Na figura 46 as melhores decisões estão marcadas observando-se os outputs ideais.
Figura 46 – Estratégia ótima quando o TSC é realizado antes da Angio RM, com o objetivo de
maximizar o benefício (beneficios1).
Capítulo VII Exames de diagnóstico e tomada de decisão
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240
Árvore de benefícios 2
Após elaboração de árvore de benefícios 2, onde a Angio RM é o primeiro exame a ser
realizado (apêndice em A3 e apêndice 8 em CD), obtêm-se dados da sugestão para a
melhor estratégia de decisão no sentido de maximizar os benefícios esperados seguindo
os ramos verdadeiros dos nós de decisão ilustrados na figura 47.
Da mesma forma que no modelo anterior, observa-se que não se deve fazer Angio RM e
fazer TSC. Sem fazer Angio RM, caso o TSC seja positivo, deve proceder-se ao
tratamento; caso o TSC seja negativo, não deve fazer tratamento. Na figura 47 as
melhores decisões estão marcadas observando-se os payoffs correspondentes.
Figura 47 – Estratégia ótima quando a Angio RM é realizada primeiro com objetivo de maximizar os
benefícios (beneficios2).
As estratégias ótimas apresentadas ignoram os custos dos exames. Ou seja, são as
estratégias ótimas levando apenas em conta os benefícios esperados dos exames e
decisões terapêuticas subsequentes. Contudo, sendo o objetivo deste trabalho determinar
qual a melhor decisão em termos de custo e benefício esperados na realização ou não de
Capítulo VII Exames de diagnóstico e tomada de decisão
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um ou ambos os exames é também necessário ter em conta os custos dos exames e
avaliar as várias estratégias possíveis em termos de custo e benefício.
Custos
Quanto aos custos não foram elaboradas arvores de decisão, pois é lógico que a melhor
estratégia de decisão no sentido de minimizar os custos, seria a não realização dos
exames. Sendo os valores dos custos iguais para ambos os exames independentemente
da ordem de realização, verifica-se que apenas existem quatro situações possíveis
representadas na tabela 62.
Tabela 62 – Situações relativas ao custos do exames.
Que exames realizar? Custo em euros
Faz TSC e Angio RM 225.4
Faz apenas TSC 55.7
Faz apenas Angio RM 169.7
Não faz nenhum exame 0
Observando as arvores de benefícios 1 e 2 é possível simplifica-las individualmente,
(apêndice 8) admitindo que, após a realização dos exames e de serem conhecidos os
seus resultados, é sempre tomada a decisão ótima em relação ao tratamento. Isto permite
eliminar da árvore as decisões de tratamento mas mantendo o payoff esperado associado
à decisão de tratamento ótima.
Estratégias resultantes
Obtêm-se assim as estratégias possíveis, descritas nas tabelas 63 e 64. Identificam-se na
tabela 63 algumas estratégias claramente dominadas com igual benefício esperado e
maior custo. As estratégias “Faz TSC, se + não faz Angio RM, se - faz Angio RM” (A1)
Capítulo VII Exames de diagnóstico e tomada de decisão
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e “Faz TSC, se + faz Angio RM, se - faz Angio RM” (B1) são estratégias com igual
benefício esperado mas onde uma delas tem maior custo (“Faz TSC, se + faz Angio
RM, se - faz Angio RM”). Assim, a estratégia “Faz TSC, se + faz Angio RM, se - faz
Angio RM” é uma estratégia claramente dominada. Também nos casos “Faz TSC, se +
não faz Angio RM, se - não faz Angio RM” (C1) e “Faz TSC, se + faz Angio RM, se -
não faz Angio RM” (D1) a segunda é uma estratégia claramente dominada. Entre o
“Não fazer TSC e fazer Angio RM” e “Não fazer TSC e não fazer Angio RM” (E1 e F1)
a primeira é uma estratégia claramente dominada.
Tabela 63 – Benefícios/custos das estratégias resultantes da árvore de benefícios 1.
Estratégias em termos de exames
Benefícios Custos
Probabil
idades
Valor Valor
Esperado
Probabil
idades
Valor Valor
Esperado
A1 Faz TSC, se + não faz Angio RM, se - faz
Angio RM
0,754 0,970 0,913 0,754 55,7 97,53
0,247 0,739 0,247 225,4
B1 Faz TSC, se + faz Angio RM, se - faz
Angio RM
0,754 0,970 0,913 0,754 225,4 225,4
0,247 0,739 0,247 225,4
C1 Faz TSC, se + não faz Angio RM, se -
não faz Angio RM
0,754 0,970 0,859 0,754 55,7 55,7
0,247 0,517 0,247 55,7
D1 Faz TSC, se + faz Angio RM, se - não faz
Angio RM
0,754 0,970 0,859 0,754 225,4 183,57
0,247 0,517 0,247 55,7
E1 Não fazer TSC e fazer Angio RM 1 0,85 0,85 1 169,7 169,7
F1 Não fazer TSC e não fazer Angio RM 1 0,85 0,85 1 0 0
Obtêm-se três estratégias eficientes (F1, C1 e A1), com custos diferentes, mas também
com variações dos valores de benefícios esperados (figura 48).
Capítulo VII Exames de diagnóstico e tomada de decisão
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243
B1
D1E1
A1
C1
F10
50
100
150
200
250
0,84 0,85 0,86 0,87 0,88 0,89 0,9 0,91 0,92
Beneficios
Cu
sto
s
Figura 48 – Estratégias resultantes da arvore de beneficios1 e custos.
Assim, observando a figura 48 sendo a direção de melhoria para baixo (menor custo) e
para a esquerda (maior benefício), isto é direção sudeste, as estratégias F1, C1 e A1 são
todas eficientes (não há nenhuma outra estratégia com custos iguais ou inferiores que
apresente benefícios esperados superiores). Em contrapartida, as estratégias E1, D1 e B1
são dominadas, pois para o mesmo nível de benefícios esperados há outra estratégia
com custos inferior.
Entre F1, C1 e A1 é difícil escolher sem conhecer o trade-off (relações de troca) entre
benefícios e custos. A estratégia A1 tem maior benefício que a C1, mas também tem
maior custo.
Relativamente ao cenário em que o primeiro exame a ser realizado é a Angio RM, na
tabela 64 observa-se que a estratégia “Não fazer Angio RM e fazer TSC” (E2) domina
todas as outras estratégias, com exceção de “Não fazer Angio RM e não fazer TSC”
(F2). Porque “Não fazer Angio RM e fazer TSC” (E2) tem benefícios esperados
superiores a todas as outras estratégias e, simultaneamente tem menor custo.
Capítulo VII Exames de diagnóstico e tomada de decisão
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Tabela 64 – Benefícios e custos das estratégias resultantes da árvore de benefícios 2.
Estratégias em termos de exames
Benefícios Custos
Probabil
idades
Valor Valor
Esperado
Probabil
idades
Valor Valor
Esperado
A2 Faz Angio RM, se +, faz TSC,
se -, faz TSC
0,636 0.882 0.853 0,636 225,4 225,4
0,364 0.802 0,364 225,4
B2 Faz Angio RM, se + não faz
TSC, se - não faz TSC
0,636 0,882 0,85 0,636 169,7 169,7
0,364 0,794 0,364 169,7
C2 Faz Angio RM, se +, faz TSC,
se -, não faz TSC
0,636 0.882 0,85 0,636 225,4 205,1252
0,364 0,794 0,364 169,7
D2 Faz Angio RM, se +, não faz
TSC, se -, faz TSC
0,636 0,882 0,853 0,636 169,7 189,9748
0,364 0.802 0,364 225,4
E2 Não fazer Angio RM e fazer
TSC 1 0.859 0,859 1 55,7 55,7
F2 Não fazer Angio RM e não
fazer TSC 1 0,85 0,85 1 0 0
Entre o “Não fazer Angio RM e fazer TSC” (E2) e “Não fazer Angio RM e não fazer
TSC” (F2), mais uma vez a escolha não é óbvia sem conhecer o trade-off (relações de
troca) entre benefícios e custos.
Na figura 49 tendo em conta que sudeste é a direção de melhoria, as estratégias E2 e F2
são eficientes. Em contrapartida, as estratégias A2, B2, C2 e D2 são dominadas, pois
para o mesmo nível de benefícios esperados há outra estratégia com custos inferior.
Entre E2 e F2 é difícil escolher sem conhecer o trade-off, pois a estratégia E2 tem maior
benefício que a F2, mas também tem maior custo.
Capítulo VII Exames de diagnóstico e tomada de decisão
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245
F2
A2
C2
D2
B2
E2
0
50
100
150
200
250
0,84 0,85 0,86 0,87 0,88 0,89 0,9 0,91 0,92
Beneficios
Cu
sto
s
Figura 49 – Estratégias resultantes da arvore de beneficios2 e custos.
Se analisarmos e compararmos todas as estratégias eficientes numa só tabela e gráfico
(tabela 65 e figura 50) verifica-se que:
- as estratégias “Não fazer TSC e não fazer Angio RM” (F1) e “Não fazer Angio RM e
não fazer TSC” F2 coincidem, logo passar-se-á a designar estratégia “não fazer TSC
nem Angio RM” (F);
- as estratégias “Faz TSC, se + não faz Angio RM, se - não faz Angio RM” (C1) e “Não
fazer Angio RM e fazer TSC” (E2) também são semelhantes pois apenas é feito o TSC
sendo o valor esperado do beneficio e do custo iguais para ambas as estratégias, logo
passar-se-á a designar estratégia “ Faz TSC e não faz Angio RM” (C1E2);
- a estratégia que apresenta maior valor de beneficio esperado (A1) é também a que
apresenta maior custo.
Capítulo VII Exames de diagnóstico e tomada de decisão
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Tabela 65 – Benefícios e custos das estratégias eficientes resultantes da árvore de benefícios 1 e 2.
Estratégias em termos de exames
Benefícios Custos
Probabil
idades
Valor Valor
Esperado
Probabil
idades
Valor Valor
Esperado
A1 Faz TSC, se + não faz Angio RM, se - faz
Angio RM
0,754 0,970 0,913 0,754 55,7 97,53
0,247 0,740 0,247 225,4
C1 Faz TSC, se + não faz Angio RM, se -
não faz Angio RM
0,754 0,970 0,859 0,754 55,7 55,7
0,247 0,517 0,247 55,7
F1
Não fazer TSC e não fazer Angio RM 1 0,85 0,85 1 0 0
E2
Não fazer Angio RM e fazer TSC
1 0.859 0,859 1 55,7 55,7
F2
Não fazer Angio RM e não fazer TSC
1 0,85 0,85 1 0 0
Figura 50 – Estratégias eficientes resultantes das arvores de beneficios 1 e 2 e custos.
A estratégia “não fazer TSC nem Angio RM” (F) é a que apresenta custo mais baixo,
sendo neste caso zero, mas é também das três, a estratégia com menor beneficio.
Comparativamente a estratégia “Faz TSC e não faz Angio RM” (C1E2) parece
apresentar um aumento pouco significativo do beneficio para a diferença de custo que
Capítulo VII Exames de diagnóstico e tomada de decisão
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247
comporta. Já a estratégia “Faz TSC, se + não faz Angio RM, se - faz Angio RM” (A1)
apesar de ser a mais cara, apresenta um visível aumento do benefício (figura 50).
Assim, as estratégias “não fazer TSC nem Angio RM” (F) e “Faz TSC e não faz Angio
RM” (C1E2) têm benefícios esperados muito inferiores ao da estratégia “Faz TSC, se +
não faz Angio RM, se - faz Angio RM” (A1). Contudo, não se pode concluir que A1
seja a melhor estratégia pois ela é também a estratégia como maior custo.
Discussão
Desde o início do século XX que os esforços na realização de estudos interdisciplinares
de avaliação científica do problema da gestão da saúde e custos para contribuir para um
melhor planeamento existem, incidindo nomeadamente na prevenção, diagnóstico e
tratamento de patologias como o AVC, onde os custos económicos são enormes.
Contudo, na maioria dos casos quem toma decisões não está devidamente esclarecido
dos custos e quais os recursos que melhor o servirão, sendo confrontados com uma série
de hipóteses de diagnóstico e de exames complementares de diagnóstico disponíveis
que lhes permite tomar decisões que fornecem melhor retorno.
Segundo GACBPI (2002) e GACBTC (1994) a análise custo-benefício é
frequentemente utilizada por exemplo, para avaliar a relação custo-benefício das
diferentes alternativas, a fim de verificar se os benefícios superam os custos (isto é, se
vale a pena intervir) e por quanto (ou seja, que a intervenção para escolher). Na análise
de decisão realizada foram as sequências de exames onde o TSC é o primeiro exame a
ser realizado, que apresentaram benefícios esperados mais elevados. Destacaram-se as
estratégias “não fazer TSC nem Angio RM” (F), “Faz TSC e não faz Angio RM”
(C1E2) e a estratégia “Faz TSC, se + não faz Angio RM, se - faz Angio RM” (A1),
onde aquela onde o custo é mais baixo, também o valor esperado do benefício é mais
baixo (estratégia F) e a que apresenta maior beneficio também é a mais cara (estratégia
A1). Contudo, entre os extremos a estratégia C1E2 apresenta um ligeiro aumento do
valor esperado do benefício comparativamente à estratégia F, mas um custo maior. Não
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sendo fácil selecionar qual a melhor alternativa, sem conhecer o trade-off (relações de
troca) entre benefícios e custos é difícil escolher, todas devem ser consideradas opção,
cabendo ao decisor saber se o benefício adicional compensa o custo adicional de C1E2
em relação a F, ou de A1 em relação a C1E2, ou ainda de A1 em relação a F. Como
referido na revisão da literatura, o benefício é frequentemente difícil de avaliar e é
expresso atribuindo-se valor quantitativo (não monetário) (DR, Portaria nº567/2006).
Contudo, estes resultados vão de encontro aos resultados obtidos na seção sobre o
estudo da sensibilidade e especificidade dos exames, onde o TSC revelou ser o exame
com maior sensibilidade na deteção de patologia na circulação anterior extracraneana,
que segundo Hankey (2002) tem uma incidência e prevalência muito superior
comparativamente com a patologia na circulação vertebrobasilar. Também reforçam a
importância dos exames ultrassonográficos (TSC e TST) no estudo de AVC e AIT em
fase aguda e nos centros ou unidades de AVC, referidos nas recomendações referidas
pela EUSI (2003) e a ESO (2008).
Cada exame complementar de diagnóstico fornece informações diferentes e de formas
diferentes, muitas vezes complementando-se, mas também sendo essa informação em
alguns casos sobreponível e implicando gastos desnecessários, sendo importante avaliar
essas situações individualmente, não deixando de ter em atenção a relação entre o valor
da informação que fornecem e o seu custo.