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Série Agrodok No. 47 A  g r  o  d  o k 4 7 - A   c  u l   t   u r  a  d  e  c  a r  a  c  ó i   s A cultura de caracóis  Produção, processamento e comercialização

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  • Srie Agrodok No. 47

    Agrodok 47 - A cultura de caracis

    A cultura de caracis

    Produo, processamento e comercializao

    2008 Fundao Agromisa e CTAISBN Agromisa: 978-90-8573-110-8, ISBN CTA: 978-92-9081-399-6

    Agrodok compreende uma srie de manuais de baixo custo sobre agricultura de pequena escala e de subsistncia nos trpicos. As publicaes da AGRODOK encontram-se disponveis em Ingls (I), Francs (F), Portugus (P) e Espanhol (E). Os livros da AGRODOK podem ser encomendados na Agromisa ou CTA.

    1. Criao de porcos nas regies tropicais P, I, F 2. Maneio da fertilidade do solo E, P, I, F 3. Conservao de frutos e legumes P, I, F 4. A criao de galinhas em pequena escala E, P, I, F 5. A fruticultura nas regies tropicais P, I, F 6. Levantamentostopogrficossimplesaplicadossreasrurais P,I,F 7. Criao de cabras nas regies tropicais P, I, F 8. Preparao e utilizao de composto E, P, I, F 9. A horta de quintal nas regies tropicais E, P, I, F 10. A cultura da soja e de outras leguminosas P, I, F 11. Luta anti-erosiva nas regies tropicais E, P, I, F 12. Conservao de peixe e carne P, I, F 13. Recolha de gua e reteno da humidade do solo P, I, F 14. Criao de gado leiteiro P, I, F 15. Piscicultura de gua doce em pequena escala P, I, F 16. Agrossilvicultura P, I, F 17. A cultura do tomate P, I, F 18. Proteco dos gros () armazenados P, I, F 19. Propagao e plantio de rvores P, I, F 20. Criao de coelhos em quintais, nas regies tropicais P, I, F 21. A piscicultura dentro de um sistema de produo integrado P, I, F 22. Produo de alimentos de desmame em pequena escala P, I, F 23. Culturas protegidas P, I, F 24. Agricultura urbana P, I, F 25. Celeiros P, I, F 26. Comercializao destinada a pequenos produtores P, I, F 27. Criao e maneio de pontos de gua para o gado da aldeia P, I, F28. Identificaodedanosnasculturas P,I,F 29. Pesticidas: compostos, usos e perigos P, I, F 30. Proteco no qumica das culturas P, I, F 31. O armazenamento de produtos agrcolas tropicais E, P, I, F 32. A apicultura nas regies tropicais P, I, F 33. Criao de patos nas regies tropicais P, I, F 34. A incubao de ovos por galinhas e na incubadora E, P, I, F 35. A utilizao de burros para transporte e lavoura P, I, F 36. A preparao de lacticnios P, I, F 37. Produo de sementes em pequena escala P, I, F 38. Iniciar uma cooperativa E, P, I, F39. Produtosflorestaisno-madeireiros P,I,F 40. O cultivo de cogumelos em pequena escala P, I, F 41. O cultivo de cogumelos em pequena escala - 2 P, I, F 42. Produtos apcolas P, I, F 43. Recolha de gua da chuva para uso domstico P, I, F 44. Medicina etnoveterinria P, I, F 45. Mitigao dos efeitos do VIH/SIDA na agricultura de pequena escala P, I, F 46. Zoonoses P, I, F 47. A cultura de caracis P, I, F 49. Panorama das Finanas Rurais P, I, F

  • Agrodok 47

    A cultura de caracis

    Produo, processamento e comercializao

    Dr J.R. Cobbinah Adri Vink

    Ben Onwuka

  • Esta publicao foi patrocinada por: ICCO

    Fundao Agromisa, Wageningen, 2008.

    Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta publicao pode ser reproduzida qual-quer que seja a forma, impressa, fotogrfica ou em microfilme, ou por quaisquer outros meios, sem autorizao prvia e escrita do editor.

    Primeira edio em portugus: 2008

    Autores: Dr J.R. Cobbinah, Adri Vink, Ben Onwuka Ilustraes: Barbera Oranje Design grfico: Eva Kok Traduo: Lali de Arajo Impresso por: Digigrafi, Wageningen, Pases Baixos

    ISBN Agromisa: 978-90-8573-110-8 ISBN CTA: 978-92-9081-399-6

  • Prefcio 3

    Prefcio

    No existe documentao fidedigna sobre quando e onde os seres humanos comearam a consumir caracis como um suplemento ali-mentar. Em muitas das reas onde h caracis, especialmente nas regies tropicais e sub-tropicais, como seja na frica ocidental e oriental, os nativos recolhem-nos, comem-nos e vendem o excedente, que fornece uma fonte de rendimento.

    Esta publicao tem como objectivo fornecer ideias aos produtores que pretendem criar caracis em pequena escala, para consumo ou para comercializao. No se destina, em primeira instncia, a helici-cultores que desejam produzir caracis em grande escala, para os mer-cados de exportao. A ateno centrada em trs espcies principais: Achatina achatina, Achatina fulica e Archachatina marginata, que so comuns nas regies tropicais, especialmente em frica.

    Discutem-se os factores limitantes a ser considerados, com vista a uma cultura de caracis efectiva, para que, deste modo, os produtores no iniciem a criao de caracis sem considerarem as vantagens e os inconvenientes inerentes sua cultura.

    O incentivo para a elaborao desta publicao surgiu de frequentes pedidos sobre um Agrodok que tratasse da cultura de caracis, expres-sos aquando do preenchimento dos questionrios insertos noutros nmeros da srie Agrodok. Uma grande parte da informao bsica utilizada provm do guia prtico Snail Farming in West Africa do Dr Joseph R. Cobbinah's. Esta informao de base foi complementada por investigao bibliogrfica e na Internet, assim como atravs de contactos com especialistas africanos sobre este assunto.

    Agromisa, Agosto de 2008

  • A cultura de caracis 4

    ndice1 Introduo 6

    2 Espcies adequadas 10 2.1 Biologia dos caracis 10 2.2 Espcies de caracis tropicais adequadas para cultura 12 2.3 Achatina achatina 14 2.4 Achatina fulica (caracol do jardim ou da horta, caracol

    tolo) 17 2.5 Archachatina marginata (caracol grande preto, caracol

    terrestre africano gigante) 20 2.6 Requisitos e restries climticos e ambientais quanto

    criao de caracis 22 2.7 Restries culturais e religiosas quanto ao

    manuseamento e consumo de caracis 23

    3 A escolha do local 24 3.1 Consideraes gerais 24 3.2 Temperatura e humidade 24 3.3 Velocidade e direco do vento 25 3.4 Caractersticas do solo 26

    4 Construo dum caracolrio 29 4.1 A escolha dum sistema: as opes 29 4.2 Pneus de carro, tambores de leo 30 4.3 Caixas de criao 31 4.4 Recintos (semi)escavados 34 4.5 Recintos com mini-cercados 35 4.6 Recintos para criao em liberdade 38

    5 Alimentos e alimentao 42 5.1 Introduo 42 5.2 Tipos de alimentos para caracis 43 5.3 Recomendaes sobre alimentao natural 44

  • ndice 5

    5.4 Recomendaes sobre raes formuladas 47 5.5 Alimentao e crescimento 49

    6 Reproduo e maneio 52 6.1 Seleco dos animais para reproduo 52 6.2 Viveiro 54 6.3 Densidade de criao 56 6.4 Maneio sazonal e dirio 56 6.5 Ferramentas e equipamento para a cultura de caracis 58

    7 Predadores, parasitas e doenas 60 7.1 Predadores 60 7.2 Parasitas 62 7.3 Doenas 63

    8 Processamento e consumo da carne de caracol 64 8.1 Processamento 64 8.2 Consumo 66

    9 Mercados 70 9.1 Mercados locais 70 9.2 Mercados de exportao 73

    Anexo 1: Planificao duma empresa de helicicultura - 5 etapas 75

    Anexo 2: Custos de construo dos caracolrios 78

    Leitura recomendada 81

    Endereos teis 83

    Glossrio 84

  • A cultura de caracis 6

    1 Introduo

    A carne dos caracis tem sido consumida pelos seres humanos em todo o mundo desde a poca pr-histrica. Possui um alto valor pro-teico (12-16%) e ferroso (45-50 mg/kg), pouca gordura, e contm qua-se todos os aminocidos que os seres humanos necessitam. Um estudo recente tambm mostrou que as substncias glandulares na carne dos caracis comestveis causa uma aglutinao de uma determinada bac-tria, que pode ser valiosa no combate a uma srie de perturbaes fsicas, entre as quais a tosse convulsa ou coqueluche.

    Os caracis comestveis tambm desempenham um papel importante na medicina popular, tradicional. No Gana acredita-se que o lquido azulado que se obtm a partir da casca quando a carne retirada bom para o crescimento infantil. O elevado teor ferroso da carne considerado importante para o tratamento de anemia. No passado era recomendado para o tratamento de lceras e da asma. No Tribunal Imperial em Roma pensava-se que a carne de caracol continha pro-priedades afrodisacas e era frequentemente servida a visitantes digni-trios, pela noite adentro.

    Na frica ocidental, a carne de caracol tem sido, tradicionalmente, um dos principais ingredientes da dieta das populaes que vivem na cin-tura das florestas de altitude ( a zona de florestas, que difere da flores-ta de savana). Na Costa do Marfim, por exemplo, estima-se em 7,9 milhes de kgs o consumo anual de carne de caracol. No Gana evi-dente que actualmente a procura ultrapassa a oferta.

    O comrcio internacional de caracis est em florescimento na Europa e na Amrica do Norte. Contudo, e apesar da procura considervel tanto estrangeira como local, a cultura comercial de caracis tal como praticada na Europa, no Sudoeste asitico e no continente america-no, praticamente inexistente em frica. No Gana, Nigria e Costa do Marfim, onde a carne de caracol assume um interesse particular, reco-lhem-se os caracis nas florestas durante a estao das chuvas. Contu-

  • Introduo 7

    do, nos ltimos anos assistiu-se a um declnio considervel das popu-laes de caracis selvagens. Em primeira instncia devido ao impacto de actividades humanas como sejam o desflorestamento, o uso de pes-ticidas, a agricultura de derrubar e queimar, os fogos espontneos e a recolha de caracis que ainda no atingiram o tamanho adulto (ima-turos). por isso que importante encorajar a cultura de caracis (helicicultura) para que se possa conservar este recurso importante.

    Vantagens da cultura de caracis

    Meio ambiente Os caracis so favorveis ao meio ambiente porque, ao contrrio das galinhas ou dos porcos, nem os caracis nem os seus excrementos exalam um cheiro demasiado forte. Os caracis tambm podem ser criados no ptio traseiro da casa.

    Insumos Os insumos de capital, tcnicos, de mo-de-obra e financeiros da pro-duo simples de caracis so relativamente baixos, comparados com os que so necessrios para outros tipos de criao animal (aves de capoeira, porcos, cabras, carneiros ou gado bovino).

    Carne de caracol A carne de caracol uma boa fonte de protenas. rica em ferro e cl-cio, mas tem um teor baixo em gordura e colesterol comparativamente a outras fontes de protenas, como sejam a carne de aves de capoeira e a carne de porco.

    Inconvenientes da cultura de caracis

    Clima Sem se utilizarem meios artificiais dispendiosos de controlo do clima, a cultura de caracis restringe-se zona de floresta tropical hmida, que oferece uma temperatura constante, uma humidade relativa eleva-da, preferivelmente sem estao seca e a um ritmo dirio/nocturno, razoavelmente constante, durante todo o ano.

  • A cultura de caracis 8

    Restries culturais A carne de caracol considerada um acepipe por alguns, enquanto outros nem sequer tocaro nos moluscos por razes culturais ou reli-giosas.

    Crescimento Os caracis so animais de crescimento relativamente lento. Para alm disso, a poro de carne consumvel apenas (no mximo) 40% do peso total do caracol vivo. Consequentemente, a cultura de caracis no representa um modo rpido de fazer dinheiro!

    Caracis como praga Os caracis que se escaparam duma explorao heliccola ou foram deitados fora por um agricultor, podem tornar-se rapidamente numa praga severa para a agricultura e horticultura.

    Por estas razes deve-se enfatizar que a cultura de caracis deve ser encarada como apenas um dos componentes numa empresa agrcola diversificada. Contudo, com pacincia, uma boa gesto e uma integra-o cuidadosa nas actividades agrcolas existentes, a cultura de cara-cis pode fornecer recompensas substanciais a longo prazo.

    Planificao duma empresa de cultura de caracis A AgroBrief No. 3 da Agromisa, Snail Farming (M. Leeflang, 2005) fornece linhas de orientao teis para quem esteja a considerar pro-duzir caracis. (Apndice 1).

    Sugere-se a sequncia das cinco etapas seguintes: 1 Plano (de mercado, produo, organizao) 2 Produo e vendas-piloto 3 Deciso de comear ou no com a produo 4 Investimento em infra-estruturas e em know-how (gaiolas/recintos,

    finanas, conhecimento) 5 Incremento programado da produo (controlos logstico, de quali-

    dade e financeiro)

  • Introduo 9

    Prescries Os captulos seguintes apresentam prescries de como realizar a cul-tura de caracis, por exemplo, espcies de caracis adequadas, meio ambiente, habitao/instalaes, raas, alimentao e sade.

    Ateno: Antes de enveredar pela cultura de caracis certifique-se de que existe um mercado para este molusco! Tal questo pode parecer, por si s, evidente mas existem muitos exemplos de casos em que foram introduzidos caracis terrestres gigantes africanos (GALS - giant African land snails) noutras regies do mundo para a serem pro-duzidos mas que, eventualmente, foram devolvidos natureza, por falta dum mercado.

    Uma vez que os caracis foram introduzidos, deit-los fora ou deixar que escapem, origina uma praga agrcola grave. Se no existirem ini-migos naturais acabaro destruindo uma vasta gama de culturas agr-colas e/ou hortcolas e causando danos econmicos considerveis. A espcie Achatina fulica goza, particularmente, duma m reputao a este respeito.

    Os caracis africanos gigantes so considerados um acepipe para as pessoas acostumadas a consumi-los, enquanto que outras pessoas, at mesmo dentro do mesmo pas, nem sequer lhes tocaro, quanto mais pensar em com-los. Por esta razo, no comece a cultivar caracis sem que esteja absolutamente certo que algum os comprar ou os comer.

  • A cultura de caracis 10

    2 Espcies adequadas

    2.1 Biologia dos caracis Os caracis pertencem a um grupo de animais invertebrados conheci-dos como moluscos. A maioria dos moluscos tm uma concha. Outros membros deste grupo englobam lesmas, mexilhes, lulas e chocos.

    Este Agrodok centra-se no potencial da cultura dos caracis (tambm chamados caramujos) terrestres gigantes africanos (GALS), mais especificamente as espcies Achatina achatina, Achatina fulica e Archachatina marginata. Estas espcies pertencem famlia Achatini-dae, um grupo diverso de grandes caracis terrestres, com pulmes, provenientes originalmente das regies ocidental, oriental e austral de frica, com cascas alongadas e achatadas. Os seus tamanhos variam entre 3 cm e 25 cm. Os 14 gneros so: Achatina, Archachatina, Ato-pochochlis, Bequeartina, Burtoa, Columna, Callistpepla, Lignus, Limicollaria, Limicolariopsis, Lissachatina, Metachatina, Perider-riopsis and Pseudachati. Vivem principalmente nas florestas dos pa-ses tropicais, mas algumas podem viver em terras de pastagens. Ali-mentam-se primordialmente de frutos e de folhas. So fceis de encontrar e a sua criao no difcil. Pem vrias ninhadas de ovos por ano. De um modo geral, so muito fceis de cuidar e podem enfrentar uma diversidade de condies ambientais.

    Essencialmente o caracol composto de duas partes: o corpo e a con-cha. O corpo divide-se em trs partes a cabea, o p e a massa visce-ral. A cabea no se encontra bem demarcada e suporta dois pares de tentculos retrcteis. Um par de tentculos mais comprido que o outro e contm os olhos na ponta final, com um protuberncia. O p, longo e muscular, ocupa quase toda a superfcie ventral e, tal como a cabea, no se encontra claramente demarcado do resto do corpo. Uma estria longitudinal, pouco profunda, estende-se ao longo da parte central do p. A massa visceral, em forma de crista, encontra-se aloja-da na concha, por cima do p. Ela contm os rgos digestivos, repro-dutivos e respiratrios.

  • Espcies adequadas 11

    A pele, por cima da crista visceral, segrega uma grande concha calc-ria (98% da concha composta de carbonato de clcio). Na maior par-te das espcies, a concha responsvel por um tero do peso do corpo. a carcaa protectora do caracol. Sempre que o perigo espreita, o caracol recolhe o seu corpo na concha.

    Figura 1: As caractersticas anatmicas principais dum caracol tpico

    Embora os caracis sejam hermafroditas (i.e. tenham rgos reprodu-tores masculinos e femininos), na maioria das espcies os indivduos acasalam-se antes de porem os ovos.

  • A cultura de caracis 12

    2.2 Espcies de caracis tropicais adequadas para cultura

    Mais adiante apresentada uma lista das espcies comestveis de caracis. A Europa e a Amrica do Norte possuem mais de 20 espcies comestveis, das quais as mais populares so os petit-gris ou os pequenos caracis cinzentos, o Helix aspersa, o caracol Burgundy, H. pomatia, e o escargot turco ou caracol da Turquia, H. lucorum. A car-ne desta espcie de caracis em Frana conhecida como 'escargot' ; a carne de caracis de GALS exportada, por vezes, de frica e vendi-da como 'escargot achatine'.

    As espcies de caracis comestveis mais apreciadas na frica ociden-tal so o caracol gigante, Achatina achatina, e o caracol grande preto, Archachatina marginata. Na lista que apresentamos mais adiante so dados os nomes locais. A maior parte dos estudos sobre caracis na frica ocidental centra-se nestas duas espcies e no caracol do jardim ou da horta ou caramujo africano, Achatina fulica. No Gana a espcie Achatina achatina considerada a espcie mais apreciada para con-sumo, seguida pela Archachatina marginata e, por ltimo, pela Acha-tina fulica.

    Espcies de caracis comestveis de origem africana Achatina achatina. Nome comum: caracol gigante, caracol tigre, (Gana) Nome locais (com o nome da lngua correspondente entre parntesis): ? Gmbia: honuldu ? Serra Leoa: konk ? Libria: dain (Nano), drainn (Gio) ? Gana: abobo (Ewe), elonkoe (Nzima), krekete (Hausa), nwapa

    (Akan), wa (Ga), weJle (Dagarti) ? Nigria: katantawa (Hausa), ilako, isan (Yoruba) ? Africa oriental: konokono (Suaili) Achatina fulica. Nome comum: caracol do jardim ou da horta, caracol tolo (por vezes tambm chamado o caramujo-gigante africano) ? Gana: nwa (Akan) ? Tribos do Norte do Gana, Burquina Faso, Togo e Nigria: kreteke

  • Espcies adequadas 13

    ? Nigria: eesan, ipere (Yoruba) ? Qunia: ekhumuniu (Luhya), kamniyo (Luo) ? frica oriental: konokono (Suahili) Archachatina marginata. Nome comum: caracol grande preto, caracol terrestre gigante africano ? Libria: proli (Kepelle) ? Gana: pobere (Akan) ? Nigria: igbun (Yoruba), ejuna (Ibo)

    Figura 2: Distribuio original aproximada das trs espcies de GALS tratadas neste livro

  • A cultura de caracis 14

    Existem outras espcies comestveis, mas a sua importncia menor e s no mbito local. O nome local refere-se, habitualmente, a todas as espcies comestveis existentes no pas. A Figura 2 mostra a distribui-o em frica das 3 espcies tratadas neste Agrodok: Achatina acha-tina, Archachatina marginata, assim como a rea reputada como sen-do a original do Achatina fulica, na frica oriental.

    Para se evitar confuso, este Agrodok refere-se s trs espcies de caracis pelo seu nome cientfico (Latim).

    2.3 Achatina achatina A Achatina achatina (caracol gigante, caracol tigre), uma espcie dis-tribuda amplamente na frica Ocidental (particularmente no Benin, Costa do Marfim, Gana, Libria, Nigria, Serra Leoa e Togo), pode ser considerada como um bom candidato para ser cultivada na maior parte das regies da frica Ocidental, embora requeira uma humidade mais elevada que as outras duas espcies e necessite um perodo de cresci-mento mais extenso para alcanar a maturidade sexual.

    Descrio Os caracis Achatina achatina so reputadamente os maiores caracis terrestres em todo o mundo. Embora, normalmente, sejam bastante menores, chegam a atingir um comprimento de 30 cm no seu corpo e a sua concha 25 cm. O comprimento mdio da concha de 18 cm, com um dimetro mdio de 9 cm. A concha, com uma forma cnica, bas-tante pontiaguda, tem uma cor acastanhada e um padro caracterstico de riscas (da o nome de caracol tigre)

    Distribuo A espcie Achatina achatina tem a sua origem na floresta hmida da frica ocidental, desde a Guin, atravs da Nigria (ver Figura 2). Por ser uma das espcies mais apreciadas no Gana, o A. achatina cada vez mais rara na natureza.

  • Espcies adequadas 15

    Podem encontrar-se vrios ectipos (populaces de A. achatina local-mente adaptadas), apresentando diferenas nas taxas de crescimento, nos padres de tamanho, estivao (dormncia), na cor e at no sabor. As diferenas em tamanho podem ser explicadas parcialmente pelas diferenas na durao do perodo de estivao: quando mais curto o perodo de estivao, tanto mais longo o perodo de alimentao e portanto, tanto maior o ectipo.

    Figura 3: O caracol gigante, Achatina achatina

    Um estudo realizado sobre os trs ectipos do Gana, conhecidos localmente como donyina, apedwa e goaso, revelou diferenas significativas entre eles. Os caracis apedwa tinham os perodos de estivao mais curtos, e os caracis donyina, os mais longos. Os caracis apedwa eram os maiores dos trs ectipos, por vezes apre-sentando o dobro do tamanho dos caracis donyina. No Gana, seria este o tipo a ser recomendado como o melhor candidato para ser pro-duzido.

  • A cultura de caracis 16

    Condies de crescimento Estas espcies preferem condies quentes, com temperaturas de 25-30 C e uma humidade relativa de 80-95%. A espcie A. achatina referida como no sendo a espcie mais fcil de cultivar devido s condies muito uniformes a que est habituada na natureza: um foto-periodismo praticamente constante de 12/12, que apenas varia para 13/11 durante cerca de 3 meses, e uma diferena entre a temperatura diurna e a nocturna de apenas 2-4 C. At mesmo nas regies mais hmidas da frica ocidental, este caracol, no seu habitat natural, enterra-se para estivao durante os meses mais secos.

    Ciclo de vida Reproduo. O caracol Achatina achatina reproduz-se por auto-fertilizao. Ao contrrio do que acontece em muitas outras espcies, a reproduo no precedida por acoplamento, embora no seja anor-mal encontrar dois caracis numa proximidade muito ntima. Estudos realizados (Hodasi, 1979) indicam que estas espcies se reproduzem na estao das chuvas mais demarcada (de Abril a Julho no Gana).

    Postura. A postura ocorre normalmente durante a noite avanada ou durante as primeiras horas da madrugada. Os ovos so postos em ninhadas de 30-300 ovos. Tm uma forma proeminentemente ovalada, com uma cor amarelada suja , com 8-9 mm de comprimento e 6-7 mm de largura. So depositados em buracos escavados de cerca de 4 cm de profundidade. Quando so postas ninhadas de ovos pequenas, seguir-se- uma segunda ninhada e por vezes at uma terceira.

    Incubao e ecloso. Normalmente os ovos eclodem 2-3 semanas aps a postura, dentro dum leque de 10-31 dias, dependendo da tem-peratura. O caracol A. achatina apresenta uma elevada taxa de eclo-so, de 90+%; at no sendo anormal registar-se uma taxa de ecloso de 100%.

    Recm-nascidos (avelins). O caracol beb tem uma membrana delgada no lugar da concha, que se calcifica progressivamente. Embora este perodo seja caracterizado por um crescimento rpido, os caracis so

  • Espcies adequadas 17

    capazes de sobreviver sem comer, durante os primeiros 5-10 dias aps a ecloso.

    Juvenis. A fase juvenil cobre o perodo desde o 1 ou 2 meses at ao estdio de maturidade sexual (14-20 meses). Durante este perodo, o caracol aceita uma gama mais lata de comida. No fim deste perodo, a concha j est bem formada e o caracol pesa entre 100 e 450 g. Duran-te este perodo so bem evidentes as diferenas quanto s taxas de crescimento dos vrios ectipos.

    Adultos. A fase adulta inicia-se quando o caracol atinge a maturidade sexual Nem todos os caracis adultos pem ovos em cada estao. A esperana mdia de vida situa-se entre os 5 e os 6 anos, embora haja casos de caracis que sobrevivem at 9 ou 10 anos.

    2.4 Achatina fulica (caracol do jardim ou da horta, caracol tolo)

    Descrio O caracol Achatina fulica um caracol grande que atinge um com-primento de 20 cm e, ocasionalmente, at mais, com uma concha com um comprimento de 20 a 25 cm e um dimetro mximo de 12 cm. A concha cnica espiralada apresenta uma cor predominantemente cas-tanha, com marcas finas, mais escuras ao longo da espiral. Existe uma grande variao de colorao, dependendo da dieta alimentar. O peso mdio dum caracol adulto de 250 g.

    Distribuio Esta espcie tem a sua origem nas regies costeiras da frica oriental (Qunia, Tanznia), e disseminou-se durante o sculo XIX para o Sul da Etipia, Sul da Somlia e Norte de Moambique. Durante o sculo XIX foi introduzida na ndia e nas ilhas do oceano ndico. Durante o sculo XX foi introduzida, muitas das vezes intencionalmente, no Sudoeste asitico, no Este asitico (Taiwan, Coreia e Japo), na Aus-tralsia e no Pacfico, nos EUA (agora erradicado em vrios estados), nas Carabas, na Amrica Central e na Amrica do Sul (Brasil).

  • A cultura de caracis 18

    Condies de crescimento Esta espcie encontra-se muitssimo adaptada a uma vasta gama de meio ambientes, modificando o seu ciclo de vida de modo a adaptar-se s condies locais.

    Ciclo de vida Reproduo. Estes caracis atingem a maturidade sexual muito rapi-damente, em menos dum ano, por causa do perodo curto de estivao ou hibernao, (em condies laboratoriais pode ser at dentro dum perodo de 5 meses). necessrio que ocorra a cpula recproca (6-8 horas) de modo a se produzirem ovos viveis.

    Figura 4: Achatina fulica

    Postura. Os pequenos ovos amarelo esbranquiados (4 mm de dime-tro) so postos em ninhadas de 10-400 ovos dentro de 8-20 dias aps a cpula, usualmente em ninhos escavados na terra. Duma s cpula podem resultar posturas repetidas, visto que em ambos os caracis fica armazenado esperma.

  • Espcies adequadas 19

    A frequncia da postura de ovos depende do clima, em particular da frequncia e durao da estao das chuvas: at 500 vezes por ano em Sri Lanka, 300 vezes por ano em Hong Kong, e 1000 vezes por ano em Calcutta.

    Ecloso e recm-nascidos (avelins). Aps a ecloso, os caracis recm nascidos alimentam-se das cascas dos seus ovos (e dos seus irmos no eclodidos), permanecendo debaixo da terra durante 5-15 dias, alimentando-se de detritos orgnicos. Eventualmente a sua fonte de alimentao principal durante a noite so plantas, recolhendo ao seu descanso nocturno, antes da alvorada

    Juvenis. Animais com um comprimento das conchas de 5-30 mm e que, aparentemente, causam o maior dano nas plantas.

    Adultos. Os caracis podem atingir a sua maturidade sexual em menos dum ano. Os caracis maiores podem continuar a alimentar-se de material vegetativo, mas alimentam-se principalmente de detritos, medida que vo ficando maiores. Normalmente vivem durante 3-5 anos.

    Significado como praga Esta espcie causa um considervel dano econmico a uma vasta variedade de culturas comerciais. Na maior parte das regies do mun-do, os danos incorridos so maiores quando a espcie se estabelece; durante este perodo, os caracis so normalmente muito grandes e as suas populaes podem tornar-se imensas. Segue-se, ento, uma fase de populao estvel e, finalmente, um perodo de declnio.

    Parasitologia A espcie Achatina fulica considerada como sendo um vector inter-medirio do verme (parasita) do pulmo do rato Angiostrongylus can-tonensis, que pode causar meningoencefalite eosinoflica nos seres humanos; assim como a bactria gram-negativa, Aeromonas hydrophi-la, que pode causar uma vasta variedade de sintomas, especialmente em pessoas com sistemas imunitrios debilitados.

  • A cultura de caracis 20

    2.5 Archachatina marginata (caracol grande preto, caracol terrestre africano gigante)

    Descrio O caracol da espcie Archachatina marginata um caracol grande, que geralmente cresce at um tamanho de cerca de 20 cm com um peso vivo de 500 g. A concha muito menos pontiaguda que a da espcie Achatina, sendo a forma arredondada particularmente bvia nos animais jovens. As estrias na concha podem dar a aparncia de uma textura tecida. A cabea do caracol tem uma cor cinzenta escu-ra e o seu p tem uma tonalidade mais clara.

    Esta espcie tem sido objecto de uma srie de experimentaes sobre densidade de povoamento e alimentao na Nigria (assunto tratado no Captulo 5).

    Figura 5: Archachatina marginata

  • Espcies adequadas 21

    Distribuio A espcie Archachatina marginata nativa da cintura da floresta tro-pical hmida africana, desde o Sul da Nigria at ao Congo, mas agora tambm se pode encontrar noutras regies da zona de floresta tropical africana.

    Condies de crescimento Nos ensaios efectuados na Nigria, chegou-se concluso que o cres-cimento juvenil inversamente proporcional temperatura, diminuin-do drasticamente a temperaturas superiores a 30 C, e directamente proporcional precipitao e humidade. O aumento de peso do corpo diminui significativamente durante a estao seca (de Dezembro a Maro no Sul da Nigria, quando se fizeram os ensaios de reprodu-o).

    Ciclo de vida Reproduo. Esta espcie atinge a sua maturidade sexual a uma idade de aproximadamente um ano, quando os indivduos atingem um peso vivo de 100-125 g. A cpula recproca deve ocorrer para se produzi-rem ovos viveis.

    Postura dos ovos. Os ovos so comparativamente grandes, de 17 12 mm, com um peso mdio de 4,8 g (ensaio de densidade de povoamen-to na Nigria). Por esta razo o nmero de ovos por ninhada baixo, 4-18 ovos. Os ovos so postos no solo a uma profundidade de cerca de 10 cm.

    Ecloso, recm-nascidos. O perodo de incubao, desde o ovo at ecloso de cerca de 4 semanas. Os recm-nascidos tm uma concha delgada e transparente; geralmente permanecem no solo durante 5 a 7 dias antes de emergirem, mas por vezes at levam mais tempo. Devido ao peso relativamente elevado dos ovos, o nmero de recm-nascidos duma ninhada baixo, comparado com os das outras duas espcies. Durante as primeiras semanas depois de emergirem, os recm-nascidos enterram-se repetidamente no solo.

  • A cultura de caracis 22

    Juvenis. Nos ensaios de laboratrio, o comprimento das conchas dos caracis juvenis aumentou a uma mdia de 0,33 mm/dia, durante os primeiros 8 meses (c. 8 cm), diminuindo para 0,2 mm/dia aos 15 meses. O comprimento da concha praticamente no aumenta mais depois dessa altura.

    Adultos. Os caracis atingem a maturidade sexual mais ou menos entre os 10-12 meses (Plummer, 1975).

    2.6 Requisitos e restries climticos e ambientais quanto criao de caracis

    A partir das descries das trs espcies principais de GALS torna-se claro que os caracis, na sua condio de animais de sangue frio, so sensveis a mudanas de temperatura e humidade atmosfricas. Os GALS, especialmente a espcie Achatina fulica, so capazes de tolerar uma variedade de condies ambientais, mas quando a temperatura e/ou a humidade no so do seu agrado, eles entram em dormncia. O caracol recolhe todo o seu corpo dentro da sua concha, selando a aber-tura de entrada com uma camada branca, calcria para prevenir a per-da de gua do seu corpo (ver figura 6, seco 3.2). Esta reaco tpi-ca de todas as espcies de caracis.

    Os caracis estivam se a temperatura demasiado elevada, > c. 30 C, ou se a humidade do ar demasiado baixa, < c. 70-75% de humidade relativa. Os caracis hibernam caso a temperatura baixe para menos de c. 5 C.

    Para o pequeno produtor de caracis o resultado o mesmo: o seus caracis ficam inactivos e param de crescer, perdendo um tempo precioso de cresci-mento, enquanto as despesas de instalaes, cuidados e de proteco conti-nuam.

    Consequentemente, no interesse do produtor de caracis evitar, ou pelo menos, reduzir, a dormncia, por meio de:

  • Espcies adequadas 23

    ? seleco do local mais favorvel para implantar a criao de cara-cis (Captulo 3)

    ? fornecimento de boas instalaes (habitao) para os caracis (Captulo 4)

    ? fornecimento duma boa alimentao e garantia dum bom maneio da criao de caracis. (Captulos 5, 6).

    Obviamente que possvel cultivar caracis num ambiente completa-mente controlado, mas isto iria requerer custos de investimentos con-siderveis e, por isso, situa-se, presumivelmente fora do raio de aco dos produtores a quem este Agrodok se destina. Sem um controlo arti-ficial do clima, uma cultura comercial bem sucedida de caracis fica restrita mais ou menos a reas com as seguintes caractersticas: ? Temperatura: uma temperatura constante durante todo o ano de 25-

    30 C, e uma flutuao baixa entre as temperaturas diurna e as tem-peraturas nocturnas.

    ? Durao do dia: um fotoperiodismo razoavelmente constante de 12/12-horas, durante todo o ano.

    ? Humidade do ar: uma humidade relativa do ar, ao longo do ano, de 75-95%.

    Estas condies correspondem s zonas de clima de floresta tropical hmida e proporcionam os melhores resultados quando no existe uma estao seca marcada ou flutuaes pronunciadas.

    2.7 Restries culturais e religiosas quanto ao manuseamento e consumo de caracis

    Algumas religies, nomeadamente o Islamismo e o Judasmo, probem especificamente comer caracis ou a carne dos caracis facto a ser considerado quando se planifica iniciar uma empresa de cultura de caracis em regies onde estas religies esto presentes ou so domi-nantes. Os costumes locais ou as preferncias culturais podem impedir as pessoas de comer, ou at mesmo manusear os caracis mais um factor a ter em considerao antes de se enveredar pela cultura destes moluscos.

  • A cultura de caracis 24

    3 A escolha do local

    3.1 Consideraes gerais Os caracis so peritos em escapar atravs de cercas. Por isso, a prio-ridade quando se inicia uma empresa de criao de caracis reside na construo de instalaes prova de fuga. Existem vrios tipos de casas para caracis (caracolrios) que se podem escolher dependen-do do tamanho da empresa; ver Captulo 4. O primeiro passo consiste, contudo, em seleccionar um local apropriado.

    Eis os principais factores a considerar aquando da seleco do local: ? (Micro)clima ? Velocidade e direco do vento ? Caractersticas do solo ? Segurana, proteco dos caracis contra doenas, predadores e

    caadores furtivos

    Uma seleco ptima do local ajuda a prevenir, ou pelo menos a redu-zir, a dormncia (ver seco 2.6). A seguir discutem-se factores como sejam temperatura e humidade e caractersticas do solo que influen-ciam a sobrevivncia e o crescimento dos caracis.

    3.2 Temperatura e humidade Os caracis so animais de sangue frio; eles desenvolvem-se melhor em reas com temperaturas moderadas e humidade elevada. Na frica ocidental, as temperaturas nas reas onde se encontram as espcies mais comestveis de caracis no sofrem grandes oscilaes. Contudo, h uma grande flutuao de humidade do ar, o que provoca um efeito pronunciado nas espcies de GALS que tratamos nesta publicao. Nas seus ambientes naturais, os caracis entram em dormncia duran-te a estao seca (ver seco 2.6 e figura 6).

  • A escolha do local 25

    A humidade relativa do ar no deve estar prxima da saturao, pois desse modo estimularia o desenvolvimento de bactrias e fungos nefastos.

    Figura 6: Um caracol em estivao, selado na sua concha com uma camada calcria

    Em situaes de criao ao ar livre claramente impossvel controlar os factores climticos. No obstante, a magnitude das flutuaes de temperatura e de humidade menor nas reas de floresta relativamen-te no perturbadas ou com uma cobertura razoavelmente densa de vegetao. Devem-se preferir estes locais a zonas de pastagem ou a reas de cultivo agrcola.

    Obviamente que se pode criar caracis num ambiente fechado, com-pletamente controlado, mas tal envolve despesas. A eventual rentabili-dade depender dos recursos financeiros disponveis, dos custos locais de produo por kg produzido de carne de caracol e das opes de comercializao.

    3.3 Velocidade e direco do vento O vento acelera as perdas de humidade dos caracis. Para prevenir que os caracis se desidratem, os caracolrios devem estar situados em lugares protegidos do vento. Os lugares situados em encostas so normalmente os mais adequados, de preferncia com uma boa cober-

  • A cultura de caracis 26

    tura em rvores, de forma a reduzir o impacto do vento. A plantao de rvores (fruteiras) em redor dos recintos onde se encontram os caracis ajudar a reduzir a velocidade do vento e a melhorar o micro-clima. Tambm proteger os caracis do sol abrasador ou de chuvas torrenciais.

    Figura 7: Vista geral duma criao de caracis em liberdade, em que se utiliza a cobertura de rvores como quebra-vento e para reduzir as perdas de gua a partir da superfcie do solo

    3.4 Caractersticas do solo O solo constitui a parte principal do habitat dos caracis. A composi-o e a textura do solo, assim como o seu o teor de gua so factores importantes a considerar aquando da seleco do local para iniciar a criao de caracis.

    ? A concha do caracol consiste principalmente de clcio, extrado do solo e da alimentao.

    ? Os caracis extraem do solo a maior parte das suas necessidades em gua.

  • A escolha do local 27

    ? Os caracis escavam no solo para a porem os seus ovos e descansa-rem durante a estaco seca.

    Por todas estas razes essencial que o solo seja solto e que tenha um teor elevado de clcio e de gua.

    ? Um solo que pesado, argiloso e que fica saturado na estao das chuvas e compactado durante a estao seca, no propcio.

    ? Um solo muito arenoso tambm no propcio devido sua baixa capacidade de reteno da gua.

    ? Devem-se evitar os solos cidos porque a acidez interferir com o desenvolvimento da concha do caracol. O solos que so demasiado cidos devem ser neutralizados com cal at que tenham um pH de, aproximadamente, 7.

    ? Os solos com uma composio elevada de matria orgnica favore-cem o crescimento e o desenvolvimento dos caracis. Dum modo geral, se solo apropriado e benfico para as culturas de taro, de tomate e de legumes de folhas tambm propcio para a criao de caracis.

    ? Antes de introduzir os caracis no lugar onde se vai proceder sua criao, deve-se soltar o solo atravs da lavoura

    ? Os caracis precisam de ambientes hmidos mas no molhados. Embora os caracis necessitem de humidade, se o solo for molhado ou estiver saturado tem que ser drenado. De igual modo, necess-rio que a gua da chuva possa escoar rapidamente. Os caracis res-piram o ar e podem afogar-se em ambientes/espaos excessivamen-te molhados. O teor de humidade do solo favorvel de 80% da capacidade de campo (capacidade de reteno de gua). Nas horas de escurido, uma humidade do ar superior a 80% promover uma boa actividade dos caracis e consequente crescimento.

    A maior parte da actividade dos caracis, incluindo a sua alimentao, ocorre durante a noite e o pico da actividade ocorre 2 a 3 horas aps o anoitecer. A temperatura mais fresca estimula a actividade e o orvalho nocturno ajuda o caracol a movimentar-se facilmente. Os caracis gostam de se esconder em stios abrigados durante a maior parte do

  • A cultura de caracis 28

    dia. Na Nigria colocam-se folhas de bananeira, semi secas e migadas nos recintos onde se encontram os caracis para que eles se escondam debaixo destas folhas, durante o dia.

    De forma a se manterem nveis adequados de humidade nos locais mais secos, pode-se utilizar nebulizadores/pulverizadores, (como os que so utilizados para a propagao de plantas) desde que tal prti-ca seja tcnica e economicamente vivel.

    As conchas dos caracis so compostas de 97-98% de carbonato de clcio, da que necessitem de ter clcio disponvel, quer seja a partir do solo ou duma fonte externa (calcrio em p, cascas de ovos, etc., ver Captulo 5). A matria orgnica no solo to importante como os carbonatos. O solos que so ricos em clcio e magnsio permutveis estimulam o melhor crescimento. Tambm se pode adicionar clcio comida para que os caracis o possam ingerir vontade.

    Os caracis escavam o solo e ingerem-no. Um solo de boa qualidade favorece o crescimento do caracol e fornece uma parte da sua nutri-o. A falta de acesso a um solo de boa qualidade pode resultar em conchas frgeis. Mesmo que os caracis tenham uma alimentao bem balanceada, o seu crescimento pode ficar muito aqum de outros cara-cis que se encontram num solo de boa qualidade. Os caracis muitas das vezes alimentam-se de comida e depois de sujidade/detritos. Por vezes s se alimentam de uma ou da outra.

    O solo presente nos recintos onde esto os caracis pode, eventual-mente, ficar sujo com mucosidade e com dejectos. Tambm podem ocorrer alteraes qumicas. por isso que se deve mudar a terra de trs em trs meses (ver Captulo 6).

  • Construo dum caracolrio 29

    4 Construo dum caracolrio

    4.1 A escolha dum sistema: as opes O tipo e as dimenses do seu caracolrio ou caracolrios dependem, obviamente, do sistema de criao de caracis que escolher e da quan-tidade de caracis que pretende criar.

    No que respeita habitao a criao de caracis pode ser extensiva, semi-intensiva ou intensiva, em ordem crescente de complexidade, gesto e de insumos financeiros. Podem ser consideradas trs opes: ? Sistema extensivo: ao ar livre, sistema de criao de caracis em

    liberdade. ? Sistema semi-intensivo ou misto: a postura e incubao/ecloso dos

    ovos ocorre num ambiente controlado, os caracis jovens so, ento, removidos aps 6-8 semanas para recintos no exterior, para que cresam e/ou engordem.

    ? Sistema intensivo: sistema em cativeiro, por exemplo, em viveiros com tneis de plstico, estufas e edifcios com clima controlado.

    (Observao: as mesmas opes de sistemas extensivo, semi-intensivo, ou intensivo aplicam-se aos alimentos e alimentao, ver Captulo 5).

    Independentemente do tamanho e tipo da explorao de criao de caracis, o sistema de habitao (as instalaes) deve ser: ? prova de fuga; os caracis so mestres em escapar-se e a menos

    que se impea que tal suceda eles rapidamente deambularo por todo o seu jardim e a sua casa (ou os dos seus vizinhos).

    ? espaoso, de acordo com a fase de crescimento dos caracis (recm nascidos (alevins), juvenis, reprodutores, ou adultos, engordados para consumo). Os caracis padecem com um sobrepovoamento o que impede o seu desenvolvimento e aumenta o risco de doenas. As densidades de criao adequadas variam entre > 100/m2 para os recm nascidos, at 7-10/m2 para os caracis reprodutores (ver Captulo 6).

  • A cultura de caracis 30

    ? de fcil acesso e fcil de se trabalhar nele ou com ele , para se poder manusear os caracis, colocar a sua comida, proceder limpeza e a outras tarefas.

    ? bem protegido contra insectos, predadores e caadores furtivos.

    So vrios os materiais que podem ser usados para construir os cara-colrios, dependendo do preo e disponibilidade. ? Madeira resistente ao apodrecimento e s trmitas. Na frica oci-

    dental as espcies arbreas favorveis so iroko (Milicia excelsa, nome local odum), opepe (Naucleadiderrichii, nome local kusia), ou ekki (Lophira alata, nome local kaku). No Sudeste asitico as estacas podem ser feitas duma espcie semelhante teca (Tectona grandis), que tambm amplamente plantada noutros con-tinentes.

    ? Blocos de areia, ou tijolos de matope (adobe). ? Folhas galvanizadas, folhas de polietileno. ? Rede de galinheiro, para proteco. ? Redes mosquiteiras ou de malha de nylon, para cobrir os recintos,

    como proteco contra os insectos. ? Materiais de segunda mo, como sejam pneus de carros, tambores

    de leo e reservatrios/tanques velhos de gua.

    Para alm de pneus de carros, de tambores de leo e de outros mate-riais usados, podem considerar-se os seguintes tipos de recintos para caracolrios simples: ? Caixas de criao (tipo coelheira) ? Recintos (semi)escavados ? Recintos com mini-gaiolas ? Recintos para criao em liberdade

    4.2 Pneus de carro, tambores de leo Pneus de carro ou tambores de leo que j no esto a ser utilizados, podem servir como recintos de criao relativamente baratos. Empilham-se trs ou quarto pneus e entre o pneu de cima e o que se segue coloca-se rede mosquiteira.

  • Construo dum caracolrio 31

    Os tambores de leo devem ter orifcios no fundo para drenagem, devem ser enchidos com solo de boa qualidade at uma altura de 7-10 cm, e podem ser revestidos com arame e rede mosquiteira em cima.

    Estas gaiolas so apropriadas para criar uma pequena quantidade de caracis (at cerca de quatro caracis adultos, em cada contentor) per-to da habitao do produtor e para uso privado.

    4.3 Caixas de criao

    Descrio As caixas de criao (do tipo coelheira) tm uma forma quadrada ou rectangular, so caixas individuais ou com compartimentos mltiplos de madeira com tampas, colocadas sobre ps (estacas), acima do cho, a uma altura conveniente para facilitar o manuseamento. As estacas devem ser revestidas com protectores (aventais) de plstico ou de metal, cnicos, para evitar que os animais infestantes rastejem ou tre-pem por elas e ataquem os caracis que se encontram nas caixas. Estes protectores podem ser fabricados a partir de latas ou de garrafas de plstico velhas. No meio da tampa faz-se um orifcio coberto com rede de arame e malha de nylon. Deve-se colocar um cadeado na tampa para desencorajar furtos. No fundo da caixa fazem-se alguns orifcios atravs dos quais a gua em excesso poder escorrer. Enchem-se as caixas com terra escura, crivada, at uma altura de 18-25 cm. E bvio que as caixas devem ser bem protegidas contra o sol abrasador e con-tra chuvas torrenciais.

    Aplicao e uso Estas caixas (de criao) so teis num sistema semi-intensivo de criao de caracis. So apropriadas como gaiolas viveiros e de incu-bao porque os ovos e os caracis jovens podem ser facilmente loca-lizados e observados.

  • A cultura de caracis 32

    Figura 8: Caracis num dos compartimentos duma caixa de cria-o.

    Os caracis adultos que se encontram em caracolrios maiores podem ser transferidos para caixas de criao quando comeam a fazer bura-cos para a porem os seus ovos. Os caracis reprodutores devem ser retirados para as suas gaiolas depois dos recm nascidos comearem a sair dos ovos.

    Deve-se mudar ocasionalmente a terra pois a acumulao de dejectos aumentar as possibilidades de desenvolvimento de doenas. con-veniente mudar-se a terra de trs em trs meses.

    Vantagens e inconvenientes As caixas de criao devem ser colocadas perto da habitao do pro-dutor de caracis, garantindo uma boa superviso e proteco. O facto que se encontram a uma altura que permite trabalhar comodamente, o que facilita a alimentao e manuseamento dos caracis.

    Como inconvenientes desta forma de instalao podemos mencionar o custo da construo e o seu tamanho limitado, que restringe o nmero de caracis que a podem ser criados (mais ou menos 30 recm-nascidos/juvenis, ou cerca de trs caracis adultos numa caixa do tamanho ilustrado na Figura 9). Na mesma Figura 9 ilustra-se o proce-dimento para a construo duma caixa de criao.

  • Construo dum caracolrio 33

    Figura 9: Sequncia da construo duma caixa de criao com um nico com-partimento.

  • A cultura de caracis 34

    4.4 Recintos (semi)escavados Descrio Um conjunto de recintos escavados ou semi-escavados um espao permanente para criao de caracis de compartimentos contguos, com 0,6 0,6 m at 1 1 m, que so ou cavados no solo (que deve ser muito bem drenado), ou com paredes levantadas 40-50 cm acima do solo. Tanto num caso como noutro, as paredes externas e as divisrias internas so feitas de blocos de areia ou de tijolos de adobe. Ver Figu-ra 10 (sistema de recintos com paredes escavadas e recintos semi-escavados com paredes levantadas).

    Enchem-se os recintos com areia adequada at uma altura de 10-15 cm. So cobertos com tampas com uma armao metlica ou de madeira, com rede de galinheiro e malha de nylon e providos com cadeados para afastar os caadores furtivos. evidente que necess-rio proteger estes recintos contra o calor muito fortes do sol ou contra chuvas intensas. Pode-se espalhar folhas de bananas semi-secas miga-das de modo a fornecer abrigo para os caracis. (Ver Figura 10, inser-o).

    Aplicao e uso Um sistema de recintos (semi)escavados adequado para a criao semi-intensiva e intensiva de caracis. Pode ser usado como instala-es de incubao, viveiros ou de engorda, em que o nmero de povoamento , em cada um dos casos, adaptado ao tamanho dos cara-cis. Podem-se mover os caracis duma gaiola para o outra, em con-formidade com o ciclo de crescimento/desenvolvimento.

    Vantagens e inconvenientes A vantagem principal dum conjunto de recintos escavados, abaixo do solo ou com paredes levantadas acima do solo, a sua flexibilida-de. Os caracis podem ser movidos facilmente dum lado para o outro, de acordo com o seu tamanho e a fase do ciclo de crescimento. sempre fcil localizar os caracis, para os alimentar, manusear, selec-cionar e para as fases finais de venda ou consumo.

  • Construo dum caracolrio 35

    Os principais inconvenientes dum sistema de recintos (semi)escavados so (a) os custos da construo (especificamente nos recintos com paredes levantadas, ver Figura 10), e (b) o facto que do produtor ter que se inclinar para a frente ou ajoelhar-se para tratar dos caracis.

    Figura 10: Dois tipos de recintos (semi)escavados: A - com pare-des escavadas, B - com paredes levantadas. A insero mostra caracis da espcie Archachatina marginata movendo-se nas folhas de bananeira migadas

    4.5 Recintos com mini-cercados

    Descrio Os mini-cercados so espaos quadrados ou rectangulares muito pequenos, que normalmente esto dentro de um rea maior, vedada. So construdos com bambu e malha de nylon , tal como est ilustrado na Figura 11, ou de madeira, rede de galinheiro e malha de nylon, como se v na Figura 12.

  • A cultura de caracis 36

    As paredes devem ter cerca de 50 cm de altura e ser cavadas pelo menos 20 cm no cho. As estruturas de madeira so fixadas no cimo das paredes (que so alongadas, na parte de dentro) e cobertas com rede, para prevenir os caracis de escaparem (ver Figuras 11 e 12). Nos cercados cultivam-se plantas que fornecem abrigo ou alimentos, antes de nelas se colocarem os caracis. Como plantas adequadas para o efeito mencionaremos o taro, a batata-doce, a abbora rugosa e legumes de folhas. Os recintos, de forma rectangular, permitem ao produtor ter um acesso mais fcil a toda a rea sem ter que l entrar. Estes mini-cercados tambm podem ser construdos a uma certa altura do solo e podem ser completamente vedados e at mesmo podem ser providos de telhado.

    Figura 11: Sequncia de como construir recintos com mini- cerca-dos pequenos, utilizando bambu e malha de nylon

  • Construo dum caracolrio 37

    Aplicao e uso Estes recintos com mini-cercados, tal como no sistema de criao livre (ver seco 4.6), so adequados como parques de engorda, nos quais se permite aos caracis que j no so precisos para a reproduo que ganhem peso antes de serem colhidos para serem vendidos ou consu-midos. Pode-se colocar raes adicionais neste recintos, mas a comida que no consumida deve ser retirada regularmente. As plantas que se destinam a alimentao ou a abrigo devem ser replantadas de tempos a tempos.

    Vantagens e inconvenientes A vantagem dos mini-cercados que os caracis crescem num ambiente que se assemelha ao seu habitat natural, sem que o produtor tenha que realizar muito trabalho adicional. As dimenses limitadas destes recintos permitem uma superviso de perto.

    O principal inconveniente parece residir no facto que os caracis no se encontram protegidos contra predadores, a menos que se feche e ponha um telhado em toda a rea, o que encarece a construo.

    Figura 12: Um mini-cercado construdo de madeira, rede de arame e malha de nylon

  • A cultura de caracis 38

    4.6 Recintos para criao em liberdade

    Descrio Os recintos para criao em liberdade so, essencialmente, mini-cercados de grandes dimenses: uma rea vedada de at 10 20 m, onde se plantam plantas, arbustos e rvores que fornecem alimentao e abrigo contra o vento, o sol e a chuva (ver Figura 13). Tal como no caso dos mini-cercados, a vedao vertical deve ser prolongada para dentro, para prevenir que os caracis escapem. No caso da vedao ser construda de rede de galinheiro fina, no obrigatrio que haja uma sobreposio porque os caracis no gostam de trepar na rede de ara-me. A vedao deve ser escavada pelo menos 20 cm no cho. O recin-to para criao livre pode at ser completamente vedado e provido dum telhado, coberto com frondas de palmeira e rodeado de rvores de sombra.

    Figura 13: Recinto para criao de caracis em liberdade, assen-te numa base de beto provida dum dreno.

  • Construo dum caracolrio 39

    Aplicao e uso O recinto para criao em liberdade pode servir como um recinto ni-co, fechado, num sistema extensivo de cultura de caracis ou de par-ques de crescimento e de engorda num sistema semi-intensivo.

    Na cultura extensiva de caracis todo o ciclo de vida do caracol se desenvolve dentro dum nico recinto aberto: acasalamento, postura, desenvolvimento dos recm nascidos e crescimento dos caracis at atingirem a fase adulta. Os caracis alimentam-se das plantas que se encontram no recinto.

    Num sistema de cultura semi-intensiva de caracis o recinto serve como um parque para crescimento e engorda para os caracis adultos, que so criados durante as fases ovo-alevins-juvenis em caixas de criao ou num sistema de recintos (semi)escavados.

    Vantagens e inconvenientes Num sistema extensivo, utilizando-se um recinto para criao em liberdade, os caracis desenvolvem-se num habitat quase natural. Abrigar-se-o na vegetao ou no solo durante o dia, saindo noite para comerem.

    Um recinto simples para criao em liberdade relativamente simples e barato de construir. O maneio restringe-se replantao ocasional de plantas destinadas a alimentao e a abrigo. Caso a vegetao que se encontra dentro do recinto se mantiver na sombra, no ser necessria alimentao adicional para os caracis.

    claro que a construo dum recinto completamente fechado, vedado e com telhado bastante dispendiosa, especialmente se tambm impli-car a construo dum colector de beto e dum dreno (Figura 13). Ambos os tipos requerem que se disponha de terra com um ttulo de propriedade vlido, considerando o investimento envolvido, especifi-camente para a variedade completamente fechada e coberta com um telhado.

  • A cultura de caracis 40

    Figura 14: Recinto para criao de carcis em liberdade, de dimenses pequenas, num ptio duma casa na cidade.

    O recinto para criao em liberdade apresenta diversos inconvenien-tes. ? Requer uma maior quantidade de terreno que outros tipos de cultura

    de caracis. ? difcil de localizar e proteger os ovos e os caracis pequenos. Tal

    pode ter como consequncia uma gesto deficiente de doenas e uma mortalidade mais elevada em comparao com outros sistemas de produo de caracis.

  • Construo dum caracolrio 41

    ? difcil acompanhar o desempenho dos caracis e, deste modo, poder manter um registo til dos inputs e do output.

    ? Num recinto do tipo aberto ou de criao em liberdade mais difcil manter afastados os predadores e os caadores furtivos.

    Para alm do abrigo natural proporcionado nos recintos de mini-cercados ou de criao em liberdade, recomendvel proporcionar tambm outras formas de abrigo de modo a garantir que os caracis no fiquem demasiado expostos ao calor excessivo. Por exemplo, pode-se colocar telhas cncavas ou bamboo cortado sobre pedras no cho, com o lado cncavo para baixo. Em dias de muito calor pode-se refrescar o solo borrifando-o com gua.

    Na seco 6.3 debruamo-nos mais sobre a densidade de criao e o tamanho ptimo do recinto em relao densidade de povoamento dos caracis nas suas diversas fases de crescimento.

    No Apndice 2 apresentada uma listagem dos materiais necessrios para os diversos tipos de caracolrios.

  • A cultura de caracis 42

    5 Alimentos e alimentao

    5.1 Introduo

    A distino entre os sistemas extensivo, semi-intensivo e intensivo de criao de caracis no s se aplica habitao (Captulo 4), como tambm alimentao.

    Num sistema extensivo os caracis alimentam-se, exclusivamente, de vegetao plantada nos seus recintos, especificamente para este objec-tivo, como seja nos recintos com mini-cercados e de criao em liber-dade.

    Num sistema de criao semi-intensiva de caracis fornece-se alimen-tao externa aos recm-nascidos, aos juvenis e possivelmente aos caracis reprodutores que se encontram nas caixas de criao ou num sistema de gaiolas (semi)escavadas.

    Num sistema intensivo de criao de caracis, fornece-se alimentao externa a todos os caracis, qualquer que seja a fase de crescimento em que se encontrem. Os caracis so mantidos em caixas de criao ou em gaiolas (semi)escavadas.

    Nas exploraes em que o sistema muito intensivo os caracis so alimentados com raes prprias com uma determinada frmula que contm todas as protenas, hidratos de carbono, minerais e vitaminas requeridos para um crescimento ptimo. Os caracis so criados em caixas de criao ou gaiolas (semi)escavadas.

    A menos que a sua criao de caracis seja do tipo muito extensivo, ter que fornecer aos caracis alguns dos alimentos que eles necessi-tam para se desenvolverem bem. Para tal ser necessrio que produza ou colha a comida para os caracis ou que disponha de dinheiro para a comprar. Mas, para isso, ter que saber o que os caracis comem e o que eles necessitam.

  • Alimentos e alimentao 43

    5.2 Tipos de alimentos para caracis

    O que os caracis comem Os caracis so vegetarianos e aceitam muitos tipos de comida. Todos os caracis evitaro plantas com folhas peludas ou que produzem substncias qumicas txicas, como seja o pinho-manso ou pinho paraguaio (Jathropa curcas). Os caracis jovens preferem folhas ten-ras e rebentos; eles consomem cerca do dobro de comida da dos cara-cis adultos. medida que ficam mais velhos, os caracis adultos alimentam-se, cada vez mais, de detritos: folhas cadas, fruta podre e hmus. Deve-se alimentar os caracis mais velhos com a mesma comida que os mais novos. No caso de ser necessrio alterar a dieta, os novos items alimentares devero ser introduzidos gradualmente.

    O que os caracis necessitam Os caracis necessitam de hidratos de carbono para a energia e prote-na para o crescimento. Adicionalmente necessitam de clcio (Ca) para as suas conchas, assim como doutros minerais e vitaminas. A carne de caracol tem um teor baixo de fibras cruas e de gordura; por esta razo estes componentes tm pouca importncia na alimentao dos cara-cis.

    Items alimentares recomendados Folhas: taro, cola, papaia, mandioca, ocra, beringela, loofa, centrosema, couve e alface. As folhas de papaiei-ra (assim como a fruta e as cascas) aparecem em muitos ensaios como sendo comida boa para os caracis.

    Frutas: papaia, manga banana, beringela, palmeira de leo e pepino. As frutas geralmente so ricas em minerais e vitaminas e pobres em protenas.

    Figura 15: Alimentao do caracol: folhas e frutas

  • A cultura de caracis 44

    Tubrculos: taro, mandioca, inhame, batata doce e pltano. Os tubrculos so uma boa fonte de hidratos de carbono, embora o seu teor de pro-tenas seja baixo (a mandioca deve ser do tipo de baixo teor ciandrico).

    Flores: oprono (Mansonia altisima), odwuma (Musanga cecropoides) e de papaia.

    Resduos domsticos: cascas de fru-tas e de tubrculos, como sejam de banana, pltano, anans, inhame e especialmente de papaia e restos de, por exemplo, arroz cozido, feijes, fufu e eko. Ateno: os resduos domsticos no devem conter sal!

    5.3 Recomendaes sobre alimentao natural

    Desperdcios dos mercados Devido aos caracis serem vegetarianos, a maneira mais barata de os alimentar recolher as sobras de comida, que recomendada, nos mercados. No fim do dia em qualquer mercado, alguns dos legumes e frutas perecveis que ainda so propcias para os caracis, podem ser recolhidos nas reas onde so deitados fora. Isto reduzir os custos e o trabalho de comprar ou de cultivar legumes e frutas exclusivamente para os caracis.

    Achatina achatina A espcie Achatina achatina alimenta-se principalmente de folhas verdes, frutas, tubrculos e de flores. Ao contrrio de outras espcies de caracis, prefere as folhas e as frutas que foram retiradas da planta principal. Tambm parece preferir folhas molhadas/hmidas s folhas secas e parece medrar desbastando as plantas alimentares que se encontram nos seus recintos de criao.

    Figura 16: Alimentao dos caracis: tubrculos

  • Alimentos e alimentao 45

    Deve-se fornecer uma mistura de alimentos ao A. Achatina, em vez de apenas um ou dois items, para ajudar o seu crescimento. Para a nutri-o desta espcie importante que os alimentos sejam atraentes. Se a comida apetitosa (p.ex. papaia) ou se contiver um estimulante ali-mentar, os caracis comero muito e crescero rapidamente. No caso da comida no ser atraente ou estimulante, no importa o seu valor nutritivo, os caracis no comero muito.

    Figura 17: Caracis jovens da espcie A. achatina alimentando-se de papaia

    Os caracis muito bebs A.achatina desenvolvem-se melhor com legumes de folhas. Em todas as outras fases, recomenda-se uma dieta alimentar que conste dos ingredientes seguintes: ? Taro. As folhas de taro contribuem com quantidades razoavelmente

    elevadas de protenas (2.9%), clcio (60 mg/kg) e de fsforo (52 mg/kg), e com quantidades moderadas de tiamina (vitamina B1) e de riboflavina (vitamina B2).

    ? Papaia. Fornece quantidades moderadas de hidratos de carbono e quantidades elevadas de cido ascrbico (que um estimulante ali-mentar para muitos animais herbvoros, incluindo os caracis).

  • A cultura de caracis 46

    ? Palmeira de leo. O mesocarpo (camada carnosa) da palmeira de leo tem um teor elevado em hidratos de carbono, gorduras e palmi-tatos (vitamina A).

    ? Suplemento vitamnico. Devem-se adicionar outras plantas alimen-tares que so conhecidas por conterem quantidades moderadas de vitaminas D, E e K ; exemplos disso so os bagaos de girassol e de copra (vitamina D), o grmen do trigo, a alface e outros legumes (vitamina E), couve e espinafre africano (vitamina K).

    ? Suplemento de clcio. Se o solo no tiver um componente elevado de clcio ser necessrio fornecer-lhes um tal suplemento. Este poder ser fornecido espalhando conchas de ostra ou de caracis pulverizadas ou de calcrio em p sobre as folhas dos legumes.

    ? Suplemento de minerais. Podem-se fornecer outros minerais colo-cando no recinto de criao dos caracis pedras de lamber contendo minerais.

    ? gua. Os caracis devem dispor sempre de gua limpa.

    Archachatina marginata Estudos feitos com a espcie Archachatina marginata evidenciaram necessidades alimentares semelhantes, em que as folhas e os frutos da papaieira ocupam o primeiro lugar na lista de preferncia alimentar. Outros alimentos correntes e nutritivos so a ocra, o taro (Diascorea spp.), a banana, a couve e as folhas de mandioca da variedade com um teor ciandrico baixo. Os caracis jovens so alimentados com folhas tenras.

    Sumrio das recomendaes sobre alimentao natural ? Os caracis podem alimentar-se de uma vasta gama de items ali-

    mentares. ? Procurar excedentes de legumes e de frutas deitados fora mas que

    ainda podem ser consumidos pelos caracis uma boa maneira de reduzir os custos de alimentao.

    ? Deve-se evitar alimentao que contm folhas cerosas ou peludas. As folhas da papaieira, a fruta e as peles da fruta em muitos ensaios realizados revelaram ser alimentos excelentes para os caracis.

  • Alimentos e alimentao 47

    ? Os alimentos devem conter um teor proteico de cerca de 20% de matria seca da dieta, para um desenvolvimento ptimo. As folhas da papaieira, a fruta e a sua pele so uma boa fonte de protena crua.

    ? Para um bom crescimento e desenvolvimento da concha, deve-se acrescentar comida fontes de clcio em p proveniente das cascas dos ovos, calcrio, cinzas de madeira, conchas de ostras (esmaga-das) ou de farinha de ossos a uma razo de cerca de 15 a 20% da matria seca da dieta. O clcio provenientes das conchas de ostra esmagadas o melhor. Aumentar em mais de 20% o teor de clcio na matria seca da dieta resulta em conchas mais grossas, no tendo como resultado uma maior quantidade de carne de caracol. (Obser-vao: 20% de Ca pode parecer uma grande quantidade, mas deve-se ter em mente que esta percentagem se aplica matria seca e os alimentos habituais dos caracis so predominantemente compostos de gua.)

    ? Os caracis necessitam de gua! A maior parte desta abastecida nos alimentos que eles consomem, mas deve-se fornecer-lhes gua adicional nos seus recintos de crescimento/engorda: uma esponja embebida em gua ou um pedacinho de algodo para os recm nas-cidos e juvenis, ou em pratos rasos (pois doutra maneira os caracis podem afogar-se) para os caracis adultos e reprodutores.

    5.4 Recomendaes sobre raes formuladas Visto que as presses quanto terra foram as pessoas a mudarem de uma criao extensiva, na qual os alimentos naturais so abundantes, para uma criao semi- intensiva, pode ser que seja preciso introduzir raes formuladas. Estudos realizados no Gana, nos quais se utiliza-ram raes avcolas para a criao de caracis, mostraram que esta frmula potencialmente apropriada para o crescimento da espcie A. achatina.

    Na criao de caracis da espcie Archachatina marginata na Nigria, utilizam-se, por vezes, raes comerciais formuladas, mas estas so bastante caras. Pode-se preparar uma mistura caseira duma rao for-

  • A cultura de caracis 48

    mulada para caracis, usando os seguintes ingredientes e taxas (em kgs por 100 kgs de mistura; receita da Nigria):

    Quadro 1: Mistura caseira duma rao formulada para caracis

    Ingredientes kg Milho 31,3 Bagao de amendoim 10 Farinha de gros de soja 25 Farinha de peixe 4 Desperdcio de trigo 16 Bagao de palmito 4,2 Concha de ostra 8,05 Farinha de ossos 1,2 Pr-mistura de vitaminas & minerais 0,25

    Figura 18: Mistura caseira duma rao formulada para caracis

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    Na Frana o composto duma rao correntemente utilizada para as espcies de Helix contm clcio, fsforo, cloreto de sdio e vitaminas A, B1, D, E e K. Este tipo de rao, formulada para satisfazer as necessidades nutricionais especficas dos caracis, tem como efeito reduzir, consideravelmente, o perodo de crescimento. Raes formu-ladas para a espcie H. aspersa, reduzem, por exemplo, o perodo de crescimento desde a ecloso dos ovos at colheita dos caracis em 10 meses, passando de 27 para 17 meses.

    5.5 Alimentao e crescimento

    Maneio da alimentao ? O crescimento dos caracis depende, em grande medida, da tempe-

    ratura e humidade ambientes. Com temperaturas elevadas (> 30 C) e com uma humidade do ar relativamente baixa (< c. 70%) o cres-cimento abranda ou pra, porque os caracis entram num perodo de dormncia Deve-se evitar, tanto quanto possvel, que tal acontea, atravs de boas instalaes e dum bom maneio.

    ? evidente que uma densidade ptima de povoamento depende da idade e do tamanho dos caracis. Para os recm-nascidos e juvenis as taxas de povoamento aplicadas so de 100/m ou superiores; o povoamento no caso dos caracis adultos, reprodutores, no dever exceder 10-15 caracis/m. Um sobrepovoamento tem como resul-tado uma diminuio do crescimento e um aumento da mortalidade!

    ? Como e quando alimentar os caracis. No seu habitat natural, os caracis so animais nocturnos, que se escondem durante o dia apa-recendo durante a noite para comer. O seu horrio principal de ali-mentao inicia-se, aproximadamente, duas horas depois do pr do sol. Para obter os melhores resultados, o criador de caracis no os deve alimentar nos seus recintos, antes do anoitecer. Os restos de comida deixados pelos caracis devem ser retirados diariamente dos recintos de criao, pois de outro modo iro atrair animais infestan-tes e/ou provocar doenas. De forma a facilitar a limpeza, a comida dos caracis deve ser colocada no recinto de criao, num prato raso, numa placa de beto ou numa tampa de tambor de leo (Figu-ra 19).

  • A cultura de caracis 50

    Figura 19: Placa de beto utilizada para nela se colocar a comida num recinto de criao de caracis, na Nigria.

    Crescimento dos caracis Leva aproximadamente 15 meses at o caracol Achatina achatina atingir a maturidade completa; como se pode constatar, no so ani-mais de crescimento rpido para a quantidade de alimentos que comem e para a quantidade de carne consumvel que produzem. As outras espcies GALS tratadas neste Agrodok tambm crescem de uma maneira relativamente lenta. Estudos realizados sobre a dieta alimentar e o crescimento indicam taxas de crescimento entre 5 e 20 g do peso vivo por ms, o que corresponde a cerca de 2 a 8 g de carne de caracol comestvel por ms, considerando-se uma percentagem mdia de carne limpa, consumvel de, aproximadamente, 40% (os res-tantes 60% do peso do caracol referem-se, na sua grande maioria, concha, aos fluidos do corpo e aos intestinos).

    Uma brochura da FAO sobre a reproduo de caracis, indica que se pode esperar um nvel de produo anual de 12-13 kg de carne de caracol comestvel ('escargot') num caracolrio de 5 5m do tipo de criao em liberdade (Ver Leitura Recomendada).

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    Estudos realizados sobre a taxa de crescimento de caracis (princi-palmente da espcie Archachatina marginata na Nigria) alimentados com vrias dietas, sugerem que as taxas de crescimento so influen-ciadas pelas caractersticas genticas dos caracis. Dum modo geral, a prognia dos ectipos maiores cresce mais rapidamente.

  • A cultura de caracis 52

    6 Reproduo e maneio

    Nas criaes extensivas de caracis, em recintos em que os animais so criados em liberdade, os caracis seguem o seu ciclo de vida natu-ral. A interferncia do produtor de caracis restringe-se remoo quotidiana dos caracis mortos, a encher de novo os bebedouros, a manter o solo hmido na estao seca e, ocasionalmente, a colher os caracis adultos, para venda ou para auto-consumo.

    Nos sistemas intensivo e semi-intensivo de cultura de caracis, o pro-dutor far uma gesto activa dos caracis durante as fases sucessivas do seu ciclo de vida: postura, incubao, crescimento e maturidade. As actividades de gesto esto sintonizadas com o ciclo de vida dos cara-cis, que, por sua vez, segue o ritmo das estaes nos seus perodos de actividade e de dormncia (estivao durante a estao seca). (Obser-vao: os caracis domesticados continuam a pr ovos tanto na esta-o das chuvas, como na estao seca; Omole et al., 2007).

    Em ambos os casos os produtores devero obter animais para reprodu-o para iniciarem as suas criaes de caracis. Os caracis devem ser obtidos directamente da natureza, ou comprados a vendedores ambu-lantes ou em mercados, a outros produtores de caracis ou a institutos de investigao.

    6.1 Seleco dos animais para reproduo Recomenda-se, para iniciar a criao, usar como animais reprodutores caracis com uma maturidade sexual, pesando, pelo menos, 100-125 g. A criao deve iniciar-se de preferncia no incio da estao das chuvas porque neste perodo que os caracis comeam, normalmen-te, a reproduzir-se.

    At que a criao de caracis possa comear a contar com uma auto-manuteno, os produtores podem ter que apanhar caracis na nature-za ou compr-los por um preo barato nas estaes de pico e engord-

  • Reproduo e maneio 53

    los em cativeiro durante a estao baixa. Em reas florestais relativa-mente no perturbadas, podem-se apanhar caracis em dias depois de ter chovido. Os caracis esto activos durante a noite e em manhs enubladas ou de nevoeiro. Durante o dia tendem a estar bem escondi-dos, razo pela qual melhor apanh-los durante a noite, ou de manh bem cedinho, quando o sol ainda est baixo e a humidade elevada.

    Os produtores que compram os seus animais de reproduo a recolec-tores ou no mercado devem contar com uma taxa de mortalidade rela-tivamente alta, como resultado dum manuseamento deficiente e da adaptao a diversas dietas alimentares.

    A maneira mais fivel de obter progenitores com boa qualidade gen-tica se os mesmo procederem de reprodutores conhecidos ou de ins-titutos agrcolas. Estes caracis progenitores podem ser mais caros do que os obtidos a partir doutras fontes, mas so melhores e mais segu-ros pois tiveram uma boa alimentao e maneio desde a ecloso dos ovos e no foram danificados aquando da sua recolha e subsequente manuseamento.

    Uma vez que a criao de caracis est estabelecida, os produtores devem seleccionar os animais de reproduo a partir dos seus prprios caracis. A seleco dos animais de reproduo deve ser feita na esta-o das chuvas que precede a estivao, com base nos atributos seguintes: ? Fecundidade (nmero previsto de ovos, com base no nmero de

    ovos postos na estao precedente) ? Incubabilidade (percentagem de ovos que, provavelmente, eclodi-

    ro, do total de ovos postos) ? Taxa de estabelecimento (percentagem de caracis que possivel-

    mente sobreviver depois da ecloso) ? Taxa de crescimento ? Dureza das conchas

    Se os produtores mantiverem registos simples pode-se contar com a informao necessria. Como regra geral, devem-se seleccionar os

  • A cultura de caracis 54

    animais de reproduo entre os caracis que crescem mais rpido e que tm conchas mais duras. Quando mais dura a concha, melhor o caracol est protegido contra predadores.

    6.2 Viveiro Colocam-se os caracis seleccionados como animais de reproduo em caixas de criao ou em recintos (semi)escavados (em forma de trincheira ou de dique), que devem estar apetrechados com comedou-ros e bebedouros.

    Alguns produtores deixam os seus caracis porem os ovos nos recin-tos de crescimento, transferindo-os, depois, para caixas-viveiros, mas no se recomenda este procedimento. Pode no ser fcil localizar-se os ovos e estes podem ficar fisicamente danificados durante a sua trans-ferncia.

    Um caracol reprodutor pode pr uma a trs posturas de ovos por esta-o. O nmero de animais de reproduo colocados numa caixa de criao depende da fertilidade do grupo e do nmero necessrio de caracis jovens. O ltimo, por sua vez depende do espao existente no recinto de criao. Aps a postura dos ovos os caracis progenitores devem voltar aos seus recintos de crescimento.

    Na espcie A. achatina, foram constatadas diferenas significativas quanto produo de ovos, dentro e entre as populaes. Por exem-plo, o tamanho mdio da postura de ovos produzida pelos vrios ec-tipos estudados no Gana, variava entre os 38 e os 563 ovos. Dum modo geral, os caracis pem entre 100 e 400 ovos. Os ovos tm uma forma pronunciadamente oval e medem cerca de 5 mm de comprimen-to. Normalmente so postos na terra, em buracos com uma forma redonda, escavados a uma profundidade de 2-5 cm (Figura 20). Oca-sionalmente so postos superfcie da terra, na base das plantas. Os ovos dos caracis requerem uma certa quantidade de calor para indu-zir a incubao. Normalmente eles eclodem 12-20 dias depois da pos-tura.

  • Reproduo e maneio 55

    Figura 20: Ovos postos num buraco escavado na terra

    Na espcie A. achatina, os caracis bebs tm conchas de cor castanha clara com listras negras. Devem ser mantidos em caixas e alimentados com folhas de legumes ou de frutas (como seja de folhas de taro ou de papaia), conchas de ostras em p e gua at que sejam suficientemente grandes para serem transferidos para recintos de crescimento. Os cara-cis jovens desenvolvem-se melhor caso sejam mantidos com caracis do mesmo tamanho.

    Os ovos da espcie Achatina fulica so pequenos (4 mm) e so postos em ninhadas de 10 a 400; os progenitores normalmente pem vrias ninhadas de ovos num ano. Os recm-nascidos (avelins) permanecem 5-15 dias debaixo da terra at emergirem superfcie.

    Os ovos da espcie Archachatina marginata so bastante grandes (17 12 mm) e as ninhadas de ovos so pequenas (4-18 ovos). Um proge-nitor produz vrias ninhadas durante o ano. O perodo de incubao de, aproximadamente, 4 semanas. Os recm-nascidos (avelins) perma-necem debaixo da terra durante 2-5 dias aps terem eclodido do ovo.

  • A cultura de caracis 56

    6.3 Densidade de criao A densidade afecta o crescimento e a capacidade reprodutiva dos cara-cis. Quando a densidade de povoamento muito elevada, os caracis tendem a crescer mais devagar, quando adultos so mais pequenos e pem menos ninhadas de ovos e menos ovos por ninhada. No caso da densidade ser muito elevada, pode ser que nem se reproduzam. Um excesso de baba suprime a reproduo. Taxas altas de parasitismo e uma fcil transmisso de doenas, so outros dos inconvenientes de uma densidade de povoamento elevada.

    Em termos do peso dos caracis, a densidade recomendada de 1-1,5 kg por m2 (para a espcie A. achatina, ser de cerca de 15 a 25 cara-cis por metro quadrado). melhor iniciar uma criao de caracis com a densidade mais baixa possvel. medida que o criador vai ficando mais familiarizado com os hbitos dos caracis e com a gesto da empresa, os nmeros podem aumentar.

    6.4 Maneio sazonal e dirio Tal como em qualquer outra explorao de criao de animais, a ope-rao da explorao e boas prticas de maneio constituem a chave para o sucesso.

    A maior parte da investigao levada a cabo sobre a cultura de GALS foi realizada na frica ocidental. As actividades sazonais, tal como a seguir aparecem descritas, seguem o ritmo das estaes da frica oci-dental, em que a reproduo e a postura dos ovos se d de Maro a Julho. De notar que os caracis domesticados podero continuar a pr ovos tambm durante a estao seca (Omole, et al. 2007).

    Os criadores de caracis noutras reas das regies tropicais (sub-hmidas) devem adaptar o ciclo de maneio s condies locais.

    Na cultura semi-intensiva ou intensiva de caracis, os produtores man-tm e cuidam dos animais recm-nascidos, em fase de crescimento e reprodutores em caixas ou recintos de criao separados.

  • Reproduo e maneio 57

    Recm-nascidos Os caracis recm-nascidos necessitam de condies mais hmidas que os caracis adultos. Devem ser alimentados com folhas tenras, por exemplo de papaieira e de taro, e ser-lhes dado um suplemento de cl-cio para um bom desenvolvimento das suas conchas. O solo nos seus recintos de criao deve manter a humidade e devem dispor de gua suficiente. Os recintos/gaiolas devem ser cobertas com rede de arame fina ou com malha de nylon, para impedir que os caracis escapem. Os caracis recm-nascidos e os juvenis devem ser criados a uma den-sidade de povoamento de, aproximadamente, 100/m.

    Em crescimento Os caracis em crescimento devem ser transferidos para recintos sepa-rados idade aproximada de 3 meses de idade, a uma densidade de povoamento de 30-40 caracis/m. Para que cresam bem e depressa devem ser alimentados, em complemento sua dieta habitual com raes compostas, ricas em protenas cruas, clcio e fsforo.

    Reprodutores Os caracis reprodutores comeam a pr ovos quando atingem a maturidade sexual, com uma idade de 10 a 12 meses. Devem ser trans-feridos para caixas ou gaiolas/recintos a uma densidade de povoamen-to de 10-15 caracis/m. (Observao: as densidades de povoamento mencionadas constituem meros indicativos. Deve-se ter sempre em mente a linha de orientao duma densidade de povoamento de 1-1,5 kg caracisl/m). O solo deve ser solto para facilitar a postura dos ovos. A rao dos reprodutores deve ser rica em protena crua e em clcio. Quaisquer ovos que sejam encontrados na superfcie do solo devem ser imediatamente enterrados a uma profundidade de 1 a 2 cm. Antes dos recm nascidos eclodirem dos ovos, o solo por cima das ninhadas de ovos deve ser solto ou removido para facilitar uma emer-gncia uniforme. De modo a evitar-se o canibalismo, os reprodutores devem ser transferidos para os seus recintos de crescimento, logo aps a emergncia dos recm-nascidos. Os adultos que deixam de ser necessrios para a reproduo so mantidos em recintos/parques de engorda at estarem prontos para venda ou para consumo.

  • A cultura de caracis 58

    O maneio dirio envolve vrias actividades:

    Alimentao Os caracis devem ser alimentados depois do pr-do-sol. Os alimentos no devem ser duros ou bolorentos. Os restos devem ser retirados na manh seguinte. Os bebedouros devem estar sempre cheios de gua.

    Habitao/instalaes Verificar se as redes de arame e redes mosquiteiras no esto rasgadas e repar-las, sempre que necessrio. Proceder limpeza dos recinto. Manter as portas ou tampas dos recintos/gaiolas fechadas com cadea-dos.

    Solo Manter o solo com humidade aplicando cobertura morta (mulching) e reg-lo durante a estao seca. Nunca pr dejectos de aves de doms-ticas no solo. Mudar o solo nas gaiolas cada trs meses.

    Higiene Verificar se h animais mortos nos recintos de criao e retir-los imediatamente. No utilizar insecticidas ou herbicidas no caracolrio. Manusear os caracis com cuidado e lav-los com gua, de tempos a tempos.

    Registo Registar diariamente os inputs e o output da sua criao. No registo inclua o trabalho dedicado a esta tarefa por si ou pela sua famlia e os inputs como sejam os alimentos e a reparao dos recintos/gaiolas.

    6.5 Ferramentas e equipamento para a cultura de caracis

    Para alm das ferramentas de jardinagem usuais (p, enxada, ancinho, machete, vassoura), necessrio contar-se tambm com as seguintes

  • Reproduo e maneio 59

    ferramentas e equipamento, para se poder ter uma cultura de caracis bem sucedida: ? balana pequena, para pesar os caracis e os alimentos ? fita mtrica, para medir os caracis e as suas gaiolas/recintos ? colher de pedreiro, para escavar e limpar os recintos de criao ? contentor de gua e regador para manter o solo hmido e para

    encher os bebedouros ? bebedouros ou comedouros (pratos) ? muito importante: um caderno para apontamentos, para anotar meti-

    culosamente os inputs (p. ex. trabalho, materiais e alimentao) e o output da explorao de cultura de caracis.

  • A cultura de caracis 60

    7 Predadores, parasitas e doenas

    Para que as taxas de mortalidade possam manter-se o mais baixo pos-svel, os produtores de caracis devem estar conscientes do perigo que representam os diversos predadores, parasitas e doenas. Os caracis tm muitos predadores naturais, que englobam membros de todos os grupos vertebrados mais importantes, caracis carnvoros, besouros do solo, sanguessugas e at mesmo lagartas predadoras.

    Para os caracis que vivem na natureza, os seres humanos tambm constituem um grande perigo. A poluio e destruio dos habitats causaram a extino de algumas espcies de caracis, nos ltimos anos. Os caadores furtivos tambm constituem um grande perigo para os caracis cultivados!

    7.1 Predadores Os principais predadores contra os quais os criadores de caracis podem ter que lidar so os ratos de campo, as ratazanas e musaranhos, rs e sapos, tordos, corvos e aves domsticas, como sejam patos e perus, lagartos e cobras, besouros drildeos e carabdeos e centopeias. As rs tendem a apanhar apenas os caracis jovens, enquanto os rp-teis comem tantos os ovos como os caracis, qualquer que seja a sua fase de desenvolvimento.

    Em reas com uma elevada predao de aves, necessrio colocar-se redes para cobrir os recintos. Talvez seja preciso colocar vedaes fora dos recintos de criao, para evitar que outros predadores os ataquem. As vedaes devem ter uma altura entre 15 e 30 cm e estar bem esca-vadas no solo. Tambm recomendvel colocar iscos ou armadilhas fora da rea de criao dos caracis.

    Devem-se retirar diariamente os restos de comida dos recintos de cria-o pois estes atraem certos predadores, principalmente as ratazanas e

  • Predadores, parasitas e doenas 61

    os ratos do campo. Estes predadores podem dizimar uma criao de caracis em apenas alguns dias.

    Figura 21: Alguns dos inimigos naturais dos caracis

    Contudo, os principais predadores so os seres humanos que procuram uma refeio nutritiva a expensas do produtor de caracis. Os criado-res devem introduzir medidas legais que considerem necessrias, a fim de proteger a criao contra os caadores furtivos.

  • A cultura de caracis 62

    7.2 Parasitas Nos estudos realizados no Gana chegou-se concluso que o principal parasita dos caracis era uma mosca, a Alluaudihella flavicornis. Esta espcie pertence mesma famlia da mosca domstica, sendo muito semelhantes na fase adulta.

    A mosca A. flavicornis pe 20-40 ovos na concha do caracol ou no prprio caracol. Os ovos eclodem dentro de cerca de uma semana e as larvas pequenas e de cor creme comeam a alimentar-se do tecido do corpo (dentro deste ou no seu exterior). Alimentam-se at o corpo estar reduzido a uma massa putrefacta e transformam-se em pupas dentro da concha. Aps um perodo de 10 dias de incubao, as mos-cas adultas emergem. A melhor proteco contra estas moscas cobrir os recintos de criao com malha de nylon.

    Figura 22: O ciclo de vida completo da mosca Alluaudihella flavi-cornis, um parasita do caracol Achatina achatina

    Por vezes podem encontrar-se caros ectoparasitas nos caracis, nas caixas de criao. Estes parecem ser parasitas secundrios e que nor-malmente acometem os caracis inactivos.

  • Predadores, parasitas e doenas 63

    Sabe-se que h nemtodos que atacam espcies europeias de caracis comestveis. Contudo, no se conhecem relatos de nemtodos que parasitam a espcie A. achatina.

    7.3 Doenas Conhece-se pouco sobre as doenas que acometem a espcie A. acha-tina na frica ocidental. medida que a popularidade da cultura de caracis recrudesce, provavelmente haver mais investigao que se centrar nesta rea. A principal doena relatada at data uma doen-a fngica, disseminada atravs do contacto fsico entre os caracis, que lambem a baba dos corpos uns dos outros.

    As duas doenas principais que acometem as espcies europeias tam-bm podem afectar as espcies africanas, visto que os organismos que causam estas doenas ocorrem no espectro (de distribuio) natural do caracol A. achatina. A primeira trata-se duma doena bacteriolgica, causada por Pseudomonas; origina infeces intestinais que podem disseminar-se rapidamente entre as populaes densas de caracis. A segunda doena causada pelo fungo Fusarium, que parasita os ovos do caracol Helix aspersa. Os ovos parasitados ficam com uma cor vermelho-acastanhada e o desenvolvimento dos animais pra. Esta doena referida vulgarmente como doena dos ovos rosados.

    Medidas bsicas de higiene previnem a disseminao de doenas. Deve-se limpar regularmente os recintos de criao de modo a remo-ver os excrementos e os restos de comida, assim como qualquer outra matria em decomposio que possa servir como substracto para os organismos patognicos. Tambm se recomenda esterilizar o solo das caixas de criao, atravs de vaporizao ou aquecimento, sempre que as mesmas sejam preparadas para uma nova postura de ovos (i.e quando os reprodutores so transferidos para as caixas de postura).

  • A cultura de caracis 64

    8 Processamento e consumo da carne de caracol

    8.1 Processamento

    Colheita e armazenagem A idade e o tamanho em que se devem colher os caracis do caracol-rio depende, obviamente, do objectivo da criao: se a cultura de cara-cis se destina a uso pessoal ou para o mercado. Os caracis que so cultivados para uso pessoal podem ser colhidos de acordo com as necessidades do produtor, enquanto que os que se destinam ao merca-do so as preferncias do consumidor que ditam o tamanho ptimo e, consequentemente, a idade que os caracis devem ser colhidos. Nor-malmente os caracis devem crescer, pelo menos, um ano para atingi-rem um tamanho e peso adequados. Recomenda-se colher os caracis quando estes atingem os dois anos de idade, porque depois desta idade a taxa de crescimento diminui.

    Os caracis so colhidos mo, ao anoitecer quando se tornam activos e mais fcil encontr-los e apanh-los. Devem ser colocados cuida-dosamente num cesto, caixa, grade ou saco, para evitar que a concha se danifique, o que baixa o preo de venda no mercado. Nunca ponha mais de 10 caracis juntos, qualquer que seja o recipiente de armaze-nagem que utilize, para evitar partir ou esmagar as conchas dos cara-cis que ficam por baixo.

    Os caracis, quer se destinem ao consumo do agregado familiar ou ao mercado, podem ser guardados sem se deteriorarem at 6-8 semanas, numa caixa ou grade, no caso de no querer colh-los diariamente. Ponha uma camada de serradura de 5 cm ou folhas de maaroca de milho, migadas, no fundo da caixa, sobre esta camada coloque os caracis, coloque depois outra camada de serradura de 3 cm, e assim por diante, terminando com uma camada que cobre o recipiente. A caixa deve ser mantida num lugar fresco, com sombra, bem protegido contra predadores e caadores furtivos.

  • Processamento e consumo da carne de caracol 65

    Os caracis podem ser transportados para o mercado em cestos, caixas ou sacos