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PAULO TANCREDO DE CAMPOS
CARACTERIZAÇÃO MECÂNICA E MICROESTRUTURAL
DE JUNTAS SOLDADAS PELOS PROCESSOS MIG/MAG (GMAW) E ARAME TUBULAR (FCAW)
MESTRADO EM ENGENHARIA MECÂNICA
PUCPR
CURITIBA
2005
PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DO PARANÁ
ii
PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DO PARANÁ
PAULO TANCREDO DE CAMPOS
CARACTERIZAÇÃO MECÂNICA E MICROESTRUTURAL
DE JUNTAS SOLDADAS PELOS PROCESSOS MIG/MAG (GMAW) E ARAME TUBULAR (FCAW)
CURITIBA AGOSTO / 2005
iii
PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DO PARANÁ
PAULO TANCREDO DE CAMPOS
CARACTERIZAÇÃO MECÂNICA E MICROESTRUTURAL DE JUNTAS SOLDADAS PELOS PROCESSOS
MIG/MAG (GMAW) E ARAME TUBULAR (FCAW)
CURITIBA AGOSTO / 2005
Dissertação apresentada como requisito parcial à obtenção do grau de Mestre em Engenharia Mecânica, Curso de Pós-Graduação em Engenharia Mecânica, Departamento de Ciências Exatas e de Tecnologia, Pontifícia Universidade Católica do Paraná. Orientador: Prof. Dr. Ricardo Diego Torres Co-Orientador: Profa. Dra. Karin Soldatelli Borsato
iv
PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DO PARANÁ CENTRO DE CIÊNCIAS EXATAS E DE TECNOLOGIA – CCET
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ENGENHARIA MECÂNICA – PPGEM
Dissertação de Mestrado
CARACTERIZAÇÃO MECÂNICA E MICROESTRUTURAL DE
JUNTAS SOLDADAS PELOS PROCESSOS MIG/MAG (GMAW) E ARAME TUBULAR (FCAW)
Autor: Paulo Tancredo de Campos ________________________________________ Prof. Dr. Ricardo Diego Torres (Orientador) Curso de Engenharia Mecânica (PUC-PR) ________________________________________ Prof.a Dr.a Karin Soldatelli Borsato (Co-orientadora) Curso de Engenharia Mecânica (PUC-PR) ________________________________________ Prof. Dr. Aleir Antônio Fontana de Paris Universidade Federal de Santa Maria - UFSM ________________________________________ Prof. Dr. Irionson Antônio Bassani Curso de Engenharia Mecânica (PUC-PR)
CURITIBA
AGOSTO / 2005
v
RESUMO
Os processos de soldagem MIG/MAG e Arame Tubular são amplamente
aplicados na indústria de petróleo. Ambos os processos podem ser
aplicados em uma variedade de aços, tais como baixo carbono, inoxidável
entre outras ligas ferrosas. Outra característica importante destes dois
processos é a excelente produtividade devida a possibilidade de automação
dos equipamentos. Estes dois processos já são empregados a nível
industrial, entretanto, as diferenças em termos microestruturais e
propriedades mecânicas foram pouco exploradas a nível científico. O
objetivo principal deste projeto de pesquisa é determinar a microestrutura e
o comportamento mecânico do MIG/MAG e do Arame Tubular quando as
juntas são soldadas submetidas à pulsação térmica. As juntas soldadas
pelo processo Arame Tubular apresentaram uma microestrutura mais fina
bem como uma maior tenacidade. O Arame Tubular resultou em um metal
de solda com dureza mais elevada. Por outro lado, o gradiente de dureza é
mais elevado para as juntas do Arame Tubular.
Palavras Chave: Arame Tubular, MIG/MAG, Pulsação Térmica.
vi
ABSTRACT
The GMAW and FCAW welding processes are been applied mostly in
the oil industry. Both processes can be applied in a variety of steels, such as
low carbon, stainless among other ferrous alloys. Another important feature
of these two processes is the high productivity due the automatization of the
equipments. Even thought these two processes are already an industrial
reality the difference in terms of microstructure and mechanical response
are not been well establish. The main goal of this research project is to
determine the microstructure and mechanical behavior of the GMAW and
FCAW when the joints are produced under Thermal Pulsation. The FCAW
joint showed a finer microstructure as well as higher toughness. The FCAW
showed a higher hardness in the weld metal. On other hand, the hardness
gradient is higher for the FCAW joints.
Key Words: FCAW, GMAW, Thermal Pulsation
vii
Agradecimentos
Aos meus pais e à minha irmã pelo incentivo e motivação.
À minha esposa pela compreensão e apoio nas horas difíceis.
Aos professores Ricardo Diego Torres e Karin Soldatelli Borsato pela
orientação e amizade.
Ao Túlio Fernades dos Santos pelo incentivo, orientação e amizade.
Aos meus amigos.
viii
“É muito mais honrado erguer-se a lutar mesmo tendo que correr o risco do insucesso, do que unir-se aos pobres de espírito que não perdem e não vencem e por isso acabam morrendo sem viver."
ix
SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO ........................................................................................... 1
2 OBJETIVO ................................................................................................. 2
3 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA....................................................................... 3
3.1 PROCESSO MIG/MAG .............................................................................. 3
3.1.1 INFLUÊNCIA DO TIPO DO GÁS DE PROTEÇÃO NO PROCESSO
MIG/MAG ................................................................................................... 4
3.1.2 VANTAGENS E LIMITAÇÕES DO PROCESSO MIG/MAG....................... 5
3.1.3 PRINCIPAIS VARIÁVEIS DE SOLDAGEM................................................ 6
3.1.4 MODOS DE TRANSFERÊNCIA DE METAL DE ADIÇÃO ......................... 7
3.2 PROCESSO ARAME TUBULAR................................................................ 9
3.2.1 APLICAÇÕES .......................................................................................... 10
3.2.2 VANTAGENS E LIMITAÇÕES DO PROCESSO ARAME TUBULAR ...... 11
3.2.3 GENERALIDADES................................................................................... 11
3.3 MODO PULSADO.................................................................................... 13
3.3.1 VANTAGENS E DESVANTAGENS DO MODO PULSADO..................... 13
3.3.2 CONTROLE DO MODO PULSADO......................................................... 14
3.4 MODO PULSADO TÉRMICO................................................................... 16
3.4.1 PRINCIPAIS VANTAGENS E DESVANTAGENS DO MODO PULSADO
TÉRMICO................................................................................................. 16
3.4.2 CONTROLE DO MODO PULSADO TÉRMICO ....................................... 17
3.5 METALURGIA DA SOLDAGEM............................................................... 18
3.5.1 REGIÕES DA JUNTA SOLDADA ............................................................ 18
3.5.2 APORTE TÉRMICO................................................................................. 18
3.5.3 ZONA TERMICAMENTE AFETADA ........................................................ 21
3.5.4 ZONA FUNDIDA ...................................................................................... 22
3.5.5 ZONA DE LIGAÇÃO ................................................................................ 26
4 MATERIAIS E MÉTODOS........................................................................ 27
4.1 CONDUÇÃO DOS EXPERIMENTOS ...................................................... 27
4.1.1 ANÁLISE ESTATÍSTICA .......................................................................... 28
4.2 PROCEDIMENTO DE SOLDAGEM......................................................... 29
4.2.1 TESTES PRELIMINARES........................................................................ 32
4.2.2 TESTES FINAIS....................................................................................... 33
x
4.3 ENSAIOS MECÂNICOS........................................................................... 35
4.3.1 ENSAIO DE TRAÇÃO.............................................................................. 36
4.3.2 ENSAIO DE IMPACTO ............................................................................ 36
4.3.3 ENSAIO DE DUREZA .............................................................................. 37
4.4 CARACTERIZAÇÃO MICROESTRUTURAL............................................ 38
5 RESULTADOS E ANÁLISES ................................................................... 38
5.1 TESTES PRELIMINARES........................................................................ 38
5.1.1 MICROESTRUTURA ............................................................................... 39
5.1.2 ENSAIO DE DUREZA .............................................................................. 40
5.2 TESTES FINAIS....................................................................................... 41
5.2.1 PROCEDIMENTO DE SOLDAGEM......................................................... 41
5.2.2 MACROGRAFIAS .................................................................................... 43
5.2.3 CARACTERIZAÇÃO MICROESTRUTURAL............................................ 47
5.2.3.1 ZONA FUNDIDA............................................................................. 47
5.2.3.2 ZONA TERMICAMENTE AFETADA .............................................. 48
5.2.3.3 ZONA DE LIGAÇÃO....................................................................... 49
5.2.4 ENSAIOS MECÂNICOS........................................................................... 50
5.2.4.1 ENSAIO DE TRAÇÃO.................................................................... 50
5.2.4.2 ENSAIO DE IMPACTO................................................................... 52
5.2.4.3 ENSAIO DE DUREZA .................................................................... 53
6 CONCLUSÃO........................................................................................... 56
7 SUGESTÕES PARA TRABALHOS FUTUROS ....................................... 57
8 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS......................................................... 58
xi
ÍNDICE DE FIGURAS
Figura 3.1 – Representação esquemática do processo MIG/MAG. ................... 3
Figura 3.2 – Efeito da condutibilidade térmica do gás de proteção sobre a forma
da coluna de plasma, (Quites, 2002). ......................................................... 5
Figura 3.3 – Representação esquemática do processo Arame Tubular (Araújo,
2004). .......................................................................................................... 9
Figura 3.4 – Geometria do cordão de solda. Esquerda: arame maciço com
formação do finger; direita: Arame Tubular, (Araújo, 2004). ..................... 12
Figura 3.5 – Principais variáveis do modo pulsado. ......................................... 14
Figura 3.6 – Exemplo da forma de onda da corrente x tempo para o modo
pulsado. A linha vermelha corresponde à corrente média de soldagem... 15
Figura 3.7 – Exemplo da forma de onda da corrente x tempo para o modo
pulsado com pulsação térmica. A linha vermelha corresponde à corrente
média durante o período de base térmica (160A) e o período de pulso
térmico (240A). A linha verde indica a corrente média de soldagem
resultante (200A)....................................................................................... 17
Figura 3.8 – Regiões de uma junta soldada..................................................... 18
Figura 3.9 – Repartição térmica, (FBTS, 2000)................................................ 19
Figura 3.10 – Repartição térmica x Diagrama de Fases, (AWS,1995)............. 20
Figura 3.11 – Ciclo térmico de uma junta soldada (metal base Aço API 5L) com
arame tubular (medido a 7,0mm do centro da solda) utilizando-se
temperaturas de pré-aquecimento (Tpa) de 25°C e 95°C, (Santos Neto,
2003). ........................................................................................................ 20
Figura 3.12 – Influência do pré-aquecimento na largura e na dureza da zona
termicamente afetada. Caso 1 sem pré-aquecimento onde B – A
corresponde à largura da ZTA. Caso 2 com pré-aquecimento onde C – A
corresponde à largura da ZTA, (AWS,1995). ............................................ 21
Figura 3.13 – Influência do pré-aquecimento na microestrutura da ZTA de uma
junta soldada (metal base Aço API 5L X 70) com arame tubular; esquerda:
pré-aquecimento de 25°C, e direita: pré-aquecimento de 95°C, (Santos
Neto, 2003). .............................................................................................. 22
xii
Figura 3.14 – Crescimento competitivo de grãos na zona fundida, (Kou, 1987).
.................................................................................................................. 23
Figura 3.15 – Constituintes da zona fundida em aços ferríticos, conforme
Tabela III.1, (Modenesi, 2004). ................................................................. 25
Figura 3.16 – Crescimento epitaxial, solidificação da zona fundida, (FBTS,
2000). ........................................................................................................ 26
Figura 4.1 – Fluxograma de condução dos experimentos................................ 28
Figura 4.2 – Fotos da bancada com sistema de deslocamento, sistema de
fixação da chapa, fonte de soldagem e geometria da junta. ..................... 31
Figura 4.3 – Tipos de tecimento utilizados. ...................................................... 35
Figura 4.4 – Corpo de prova de tração transversal. ......................................... 36
Figura 4.5 – Dimensões (mm) do Corpo de prova de tração transversal. ........ 36
Figura 4.6 – Corpo de prova de Charpy (transversal) com entalhe na ZTA
(esquerda) e com entalhe na solda (direita).............................................. 37
Figura 4.7 – Dimensões (mm) dos Corpos de prova de Charpy (transversal)
com entalhe na solda (esquerda) e com entalhe na ZTA (direita)............. 37
Figura 4.8 – Distribuição dos pontos de medição de dureza nas regiões da
junta soldada............................................................................................. 38
Figura 5.1 – Comparativo das micrografias dos ensaios preliminares. ............ 40
Figura 5.2 – Comparativo de dureza (HV5) dos ensaios preliminares mostrando
o efeito da pulsação térmica na dureza do metal de solda (parâmetros de
soldagem conforme Tabela IV.5). ............................................................. 41
Figura 5.3 – Chapas de teste soldadas sem sucesso. ..................................... 42
Figura 5.4 – Chapas de teste MIG/MAG pulsado térmico (3-GMAW). ............. 42
Figura 5.5 – Chapas de teste Arame Tubular pulsado térmico (3-FCAW). ...... 43
Figura 5.6 – Macrografias das juntas soldadas pelos processos MIG/MAG e
Arame Tubular nas condições 3-GMAW, 3-FCAW e 2-FCAW.................. 45
Figura 5.7 – Visão geral da microestrutura das regiões da junta soldada pelos
processos MIG/MAG e Arame Tubular nas condições 3-GMAW, 3-FCAW e
2-FCAW. ................................................................................................... 46
Figura 5.8 – Micrografias mostrando as microestruturas do metal de solda para
os casos 3-GMAW, 3-FCAW e 2-FCAW................................................... 47
Figura 5.9 – Micrografias mostrando as microestruturas da Zona Termicamente
Afetada (ZTA) para os casos 3-GMAW, 3-FCAW e 2-FCAW. .................. 48
xiii
Figura 5.10 – Micrografias mostrando as microestruturas da Zona de Ligação
para os casos 3-GMAW, 3-FCAW e 2-FCAW........................................... 49
Figura 5.11 – Limite de resistência médio para os casos 3-GMAW, 3-FCAW e
2-FCAW. Todos os corpos de prova romperam no metal de base. .......... 50
Figura 5.12 – Corpos de prova de tração, mostrando o rompimento no metal de
base. ......................................................................................................... 51
Figura 5.13 – Energia média absorvida (J) no ensaio de Charpy a –20ºC, para
entalhe no metal de solda e na ZTA. ........................................................ 52
Figura 5.14 – Perfil de dureza (HV5) na linha superior. ................................... 53
Figura 5.15 – Perfil de dureza (HV5) na linha intermediária............................. 54
Figura 5.16 – Perfil de dureza (HV5) na linha inferior. ..................................... 54
Figura 5.17– Comparativo de dureza (HV5) nas regiões da junta soldada. ..... 55
xiv
ÍNDICE DE TABELAS Tabela III.1 – Constituintes da zona fundida em aços ferríticos, segundo o IIW.
.................................................................................................................. 25
Tabela IV.1 – Composição química (%) do metal de base conforme norma
ASTM A283 (2000). .................................................................................. 30
Tabela IV.2 – Propriedades mecânicas de tração do metal de base conforme
norma ASTM A283 (2000). ....................................................................... 30
Tabela IV.3 – Composição química (%) do metal depositado. ......................... 30
Tabela IV.4 – Propriedades mecânicas do metal depositado. ......................... 30
Tabela IV.5 – Parâmetros de soldagem utilizados nos ensaios preliminares... 32
Tabela IV.6 – Parâmetros de soldagem utilizados nos ensaios finais.............. 34
Tabela V.1 – Análise dos resultados do ensaio de tração utilizando a Tabela de
distribuição t de Student com grau de risco de 5%. .................................. 50
Tabela V.2 – Análise dos resultados do ensaio de charpy a –20ºC, para entalhe
no metal de solda e na ZTA, utilizando a Tabela de distribuição t de
Student com grau de risco de 5%. ............................................................ 52
1
1 INTRODUÇÃO
A soldagem é aplicada em grande escala nas diversas atividades
industriais: como a Automobilística, de Refino, Petroquímica, Naval, etc. Em
todos estes casos, há uma contínua busca da melhoria na qualidade das
juntas soldadas de responsabilidade como em tubulações, vasos, tanques,
estruturas metálicas, estruturas de automóveis, entre outras. Para isto faz-
se necessário um investimento em pesquisas e desenvolvimento dos
processos de soldagem, bem como a caracterização destes processos para
facilitar a seleção do método mais adequado para cada aplicação
específica.
Os processos semi-automáticos MIG/MAG e Arame Tubular são
amplamente utilizados, devido a sua ampla faixa de aplicação em termos de
espessuras e materiais utilizados, além da sua alta produtividade quando
comparado com o processo eletrodo revestido.
Tanto o processo MIG/MAG quanto o processo Arame Tubular podem
ser automatizados, com a utilização de mecanismos de deslocamento para
as pistolas de soldagem ou para a própria peça a ser soldada.
Neste trabalho foi feita uma análise comparativa destes dois processos,
utilizando o modo de corrente pulsada com pulsação térmica. Este modo de
corrente surgiu recentemente na década de 90, sendo ainda um método
não muito conhecido nos ramos da indústria.
A utilização do modo pulsado térmico para o processo Arame Tubular é
novo em termos de pesquisas. Outra novidade foi a utilização de duas
misturas de gás de proteção para este mesmo processo, das quais uma é
indicada pela literatura para o modo pulsado e a outra é indicada e também
a mais utilizada como gás de proteção para o Arame Tubular.
Como o custo do metal de adição para aços de baixo carbono para o
processo Arame Tubular pode ser até três vezes maior em relação ao
processo MIG/MAG, faz-se necessário um estudo mais aprofundado para
determinar os benefícios metalúrgicos e mecânicos de cada um destes
processos, visto que a produtividade de ambos é semelhante.
2
Por este motivo este projeto objetivou uma maneira de contribuir com
informações e resultados sobre o comportamento dos processos MIG/MAG
e Arame Tubular perante o modo pulsado térmico para auxiliar na
implantação deste método na indústria.
Este trabalho foi desenvolvido com uma revisão bibliográfica sobre os
assuntos relacionados a estes processos. A caracterização e as
comparações foram baseadas no comportamento dos processos durante a
soldagem, nas microestruturas obtidas e nas propriedades mecânicas das
juntas soldadas.
2 OBJETIVO
Este trabalho tem como objetivo principal a ampliação do campo de
conhecimento sobre os processos MIG/MAG e Arame Tubular com a
utilização do modo de corrente pulsado com pulsação térmica ou
duplamente pulsado. As soldas foram executadas em chapas de aço
carbono em juntas de topo com chanfro reto.
Para alcançar este objetivo buscou-se caracterizar a relação do
processo com as microestruturas obtidas e relacioná-las com as
propriedades mecânicas das juntas soldadas.
3
3 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA
3.1 PROCESSO MIG/MAG
O processo MIG/MAG (GMAW – Gas Metal Arc Welding) é um processo
de soldagem a arco, o qual se estabelece entre o metal de base e o metal
de adição alimentado automaticamente. A Figura 3.1 representa
esquematicamente o processo MIG/MAG.
Figura 3.1 – Representação esquemática do processo MIG/MAG.
Como o arame eletrodo (metal de adição) não possui revestimento como
no processo por eletrodo revestido, a proteção do arco e da poça de fusão
no processo MIG/MAG ocorre através de um gás inerte ou ativo suprido
externamente.
Na soldagem com gás inerte (MIG) o gás utilizado pode ser Ar (Argônio),
He (Hélio) ou misturas controladas ricas em Ar complementadas com He,
O2 (oxigênio) ou CO2 (dióxido de carbono). O gás inerte não reage
metalurgicamente com a gota ou a poça de fusão, atua apenas na proteção
destas regiões e auxilia na abertura e manutenção do arco voltaico, (Quites,
2002).
Na soldagem com gás ativo (MAG) CO2 puro ou misturas (Ar + CO2) ou
(Ar + CO2 + O2), além das funções de proteção e das funções elétricas o
4
gás ativo reage metalurgicamente com a gota e a poça de fusão, (Quites,
2002).
3.1.1 INFLUÊNCIA DO TIPO DO GÁS DE PROTEÇÃO NO PROCESSO MIG/MAG
Os gases de proteção, segundo sua natureza e composição, têm uma
grande influência nas características do arco, no tipo de transferência de
metal, na velocidade de soldagem, nas perdas por projeções (respingos),
na penetração e na forma externa da solda (Quites, 2002).
O gás de proteção representa apenas 3% do custo da soldagem de aço
carbono, sendo 77% de mão-de-obra, 2% de energia e 18% de arame.
Colocando os principais tipos de gases aplicados na soldagem na ordem
crescente de custo teremos a seqüência: CO2, Ar e He (Irving, 1999).
A eficiência de deposição de material com o CO2 no processo MAG é
tipicamente de 88% a 92%. Com o uso de uma mistura de Ar com 10% de
CO2 esta eficiência pode chegar entre 95% e 97% e produz menos fumos
(Irving, 1999).
Gases altamente oxidantes como CO2 puro, requer arames com
desoxidantes adicionais. Por este motivo perde-se microligas através da
reatividade do CO2 no arame de solda. Se o CO2 for trocado por uma
mistura de Ar com 8% de CO2, o arame pode ser substituído por um arame
mais barato, pela boa retenção da liga essencialmente dos gases baseados
em Ar. O inconveniente do baixo nível de CO2 é a perda da característica
de penetração da solda, sendo recomendado o uso de teores maiores de
CO2 para aços com espessura acima de 6,4mm. No modo de transferência
por curto circuito, quanto menor o teor de CO2 em uma mistura de Ar,
menor é a perda de material por respingos. As misturas triplas (Ar + CO2 +
O2) podem ser usadas para os modos de transferência por curto circuito,
spray e pulsado, com ótimos resultados, pois o O2 auxilia na estabilização
do arco a pode-se ganhar também na velocidade de soldagem (Irving,
1999).
5
Além da melhoria na estabilidade do arco, o O2 adicionado na mistura
causa um aumento no comprimento, na largura e no volume da poça de
fusão. Na proporção em torno de 2% o oxigênio aumenta a tenacidade em
soldas de aços ferríticos. Mas em quantidades maiores que 8% causa
formação de escórias de difícil destacamento (Jönsson et al, 1995).
O fato da condutividade térmica do gás ser maior torna mais estreita a
coluna do plasma (vide Figura 3.2), aumenta a densidade de corrente,
aumenta a temperatura, aumenta a penetração do passe de solda,
enquanto diminui a sua largura. Por isso, é compreensível que as
propriedades do gás tenham também influência nas perdas de elementos
químicos, na temperatura da poça de fusão, na sensibilidade à fissuração e
à formação de porosidades, bem como na facilidade de execução da
soldagem nas diversas posições (Quites, 2002).
Figura 3.2 – Efeito da condutibilidade térmica do gás de proteção sobre a forma da
coluna de plasma, (Quites, 2002).
3.1.2 VANTAGENS E LIMITAÇÕES DO PROCESSO MIG/MAG
As principais vantagens deste processo são, (Quites, 2002; Machado,
1996):
• Processo semi-automático, podendo ser automatizado;
• Maior produção de metal depositado em relação ao eletrodo
revestido;
• Longos cordões podem ser feitos sem parada, devido a alimentação
contínua do arame;
6
• Grande versatilidade quanto à aplicação de materiais e espessuras;
• Soldagem pode ser feita em todas as posições;
• Limpeza mínima após a soldagem devido a inexistência de escória
pesada;
• Menor exigência de habilidade do soldador comparado ao processo
com eletrodo revestido;
As principais limitações deste processo são, (Quites, 2002; Machado,
1996):
• A variedade de arames disponíveis é relativamente pequena,
cabendo mencionar que materiais que não tenham suficiente
ductilidade para serem trefilados não podem ser transformados em
arame maciço para soldagem por este processo;
• O equipamento de soldagem é mais complexo, mais caro e menos
portátil do que o do eletrodo revestido;
• O arco deve estar protegido de correntes de ar que possa dispersar o
gás de proteção, dificultando a soldagem em campo;
• Dificuldade na soldagem em locais de difícil acesso, pelo tamanho da
pistola de soldagem e pela proximidade entre o bocal e a peça
exigida pelo processo.
3.1.3 PRINCIPAIS VARIÁVEIS DE SOLDAGEM
Podemos citar como principais variáveis na soldagem MIG/MAG: a
intensidade de corrente, tipo de polaridade, tensão de soldagem, velocidade
de soldagem, comprimento do eletrodo (stick out).
A intensidade da corrente de soldagem influi diretamente na taxa de
consumo de material de adição, na penetração da solda e na energia
específica de soldagem, (Quites, 2002; Machado, 1996).
O tipo de polaridade mais usada no processo MIG/MAG é a inversa
onde a corrente é contínua e o eletrodo está no pólo positivo (CC+). Nesta
polaridade o arco torna-se mais estável (MACHADO, 1996). A polaridade
direta (CC-), onde o eletrodo está ligado no pólo negativo, não apresenta
aplicação prática na soldagem com o processo MIG/MAG. A técnica de
7
soldagem com a utilização da corrente alternada (CA) ainda está sendo
estuda e aprimorada, (Quites, 2002; Machado, 1996).
A tensão de soldagem influencia diretamente na energia específica de
soldagem, na largura do cordão, na altura do arco e no modo de
transferência de metal. De modo geral em níveis tensões baixas tem-se a
transferência de material por curto-circuito e em elevadas tensões tem-se a
transferência por spray, (Quites, 2002; Machado, 1996).
A velocidade de soldagem é a velocidade relativa entre a pistola de
soldagem e a peça a ser soldada. Para uma certa condição de soldagem,
quando é utilizada uma velocidade de soldagem relativamente alta, a
penetração da solda diminui, a energia específica de soldagem também
diminui, e o contrário ocorre em baixas velocidades de soldagem, (Quites,
2002; Machado, 1996).
O comprimento do eletrodo é o comprimento do arame está projetado
em relação ao bico de contato até o início do arco, conforme mostrado na
Figura 3.1. Este trecho de arame por onde passa corrente elétrica gera-se
calor por efeito Joule. Quanto maior o comprimento do eletrodo, maior será
o calor gerado por efeito Joule e conseqüentemente terá um acréscimo na
taxa de fusão de material. Este calor gerado influi diretamente na taxa de
fusão de material, (Quites, 2002; Machado, 1996).
3.1.4 MODOS DE TRANSFERÊNCIA DE METAL DE ADIÇÃO
O modo de transferência de material no processo MIG/MAG influi na
geometria e nas propriedades da solda, nas características do processo,
estabilidade do arco, a aplicabilidade em determinadas posições de
soldagem, na quantidade de respingos, entre outras (Quites, 2002).
Experimentos mostraram que o modo de transferência no processo
MIG/MAG influi no nível de ruído durante a soldagem. Colocando os modos
de transferência na ordem crescente de ruído temos a seguinte seqüência:
spray (71dB – 75dB), pulsado (82dB – 88dB), curto circuito (86dB – 88dB) e
8
o globular (88dB – 90dB); sendo dB a pressão sonora medida a um raio de
1m a partir do arco segundo a AWS F6.1, (Castner, 1997).
A transferência de metal depende do tipo de gás de proteção, do tipo e
intensidade de corrente de soldagem, do comprimento do eletrodo, diâmetro
e composição química do eletrodo.
Basicamente, os principais modos de transferência de metal são: curto
circuito, globular, spray e o pulsado.
a) Transferência por curto circuito – Na transferência por curto circuito o
material é transferido para a poça de fusão somente quando ocorre o
contato do arame com a poça, não ocorre transferência de material pelo
arco elétrico. O curto circuito ocorre em níveis relativamente baixos de
corrente e tensão, possibilitando assim a soldagem de pequenas
espessuras. No modo curto-circuito é possível a soldagem em todas as
posições, (Quites, 2002).
b) Transferência globular – Ocorre em níveis de tensão mais elevados que
no curto-circuito. As gotas de metal fundido são transferidas para a poça
de fusão principalmente pela ação da força gravitacional, o que limita a
soldagem somente na posição plana. O diâmetro das gotas é maior que
o diâmetro do arame. É comum neste modo de transferência a
ocorrência de falta de fusão, falta de penetração e respingos. Não é um
modo muito utilizado nas indústrias, (Quites, 2002).
c) Transferência por spray – A partir do globular, com o aumento da
corrente de soldagem, o diâmetro das gotas de metal que se transferem
para a peça diminui, até uma certa faixa de corrente onde o modo de
transferência muda bruscamente de globular para spray. Esta corrente
na qual ocorre esta mudança de modo de transferência é chamada de
corrente de transição. As gotas desta vez são pequenas e são
destacadas da ponta do arame devido a certas forças magnéticas que
atuam nas direções radiais e axiais. O cordão tem um bom acabamento
e praticamente não há respingos. Devido aos altos níveis de corrente, a
soldagem se torna difícil nas posições vertical e sobre cabeça, podendo
ocorrer escorrimento a partir da poça de fusão. No spray, um arco alto
(aproximadamente 33V) e uma certa quantidade de oxigênio no gás de
proteção mantém a estabilidade do arco, (Modenesi et al, 1994).
9
d) Transferência por corrente pulsada – É o modo de transferência
controlada que se dá através do controle da forma de onda da corrente
de soldagem, utilizando a corrente pulsada. O pulsado une as vantagens
da transferência por spray, mas em níveis menores de corrente média,
permitindo a sua utilização em chapas finas e a soldagem em todas as
posições. No pulsado existem dois níveis de corrente, um acima da
corrente de transição (corrente de pulso) que atua num intervalo de
tempo (tempo de pulso) e outro a baixo da corrente de transição
(corrente de base) que atua no intervalo de tempo (tempo de base). O
destacamento da gota formada na ponta do arame ocorre quando se
sobrepõe a corrente de pulso. O diâmetro da gota é aproximadamente o
mesmo do eletrodo.
3.2 PROCESSO ARAME TUBULAR
O processo Arame Tubular (FCAW – Flux Cored Arc Welding) é o
processo de soldagem através de um arco elétrico que se estabelece entre
o metal de base e o metal de adição (um arame tubular) alimentado
automaticamente. A Figura 3.3 representa esquematicamente o processo
Arame Tubular.
Figura 3.3 – Representação esquemática do processo Arame Tubular (Araújo, 2004).
10
Basicamente a diferença deste processo em relação ao MIG/MAG é o
metal de adição que desta vez é um arame tubular que contém no seu
interior um fluxo em forma de pó. Este fluxo contém elementos
desoxidantes, elementos que auxiliam na proteção e estabilidade do arco, e
também pode conter elementos de liga. Existem duas variantes do processo
Arame Tubular. A primeira é a utilização de arames autoprotegidos, cujos
elementos contidos no fluxo são suficientes para promover a proteção do
arco e da poça de fusão sem a utilização de proteção gasosa suprida
externamente. A segunda é a utilização de arames que exigem uma
proteção gasosa complementar, (AWS, 1995).
Os gases de proteção usados neste processo são os gases ativos. O
mais utilizado é o dióxido de carbono puro (CO2) e mistura deste com
Argônio (CO2 + Ar), (AWS, 1995).
O equipamento utilizado é muito semelhante ao utilizado no processo
MIG/MAG, poucas mudanças são necessárias para a soldagem com arame
tubular, exceto para arames autoprotegidos, pois exigem também
mudanças na pistola de soldagem.
As variáveis de soldagem e os modos de transferência são os mesmos
do MIG/MAG.
3.2.1 APLICAÇÕES
Este processo é utilizado na soldagem de uma ampla variedade de
materiais e espessuras. Nas indústrias pode ser aplicado em tubulações
industriais, tanque de armazenamento, vasos de pressão, pontes,
estruturas, plataformas marítimas, etc. Apresenta um bom comportamento
inclusive na aplicação em campo, devido à proteção do arco suportar altas
correntes de ar, por exemplo, quando utilizado arame auto protegido, estas
correntes de ar podem chegar a 10m/s (Quites, 2002).
11
3.2.2 VANTAGENS E LIMITAÇÕES DO PROCESSO ARAME TUBULAR
As principais vantagens são, (Quites, 2002; Machado, 1996):
• Processo semi-automático, podendo ser automatizado;
• Maior produção de metal depositado em relação ao eletrodo
revestido;
• Solda com boa aparência;
• Exige menos operações de limpeza antes da soldagem do que o
processo MIG/MAG;
• Mais tolerante ao efeito do vento;
• Maior variedade de materiais que podem ser soldados devido a
possibilidade de adição de elementos de liga no fluxo;
As principais limitações são, (Quites, 2002; Machado, 1996):
• Necessidade de um equipamento mais complexo que o processo por
eletrodo revestido;
• O processo produz uma escória espessa que deve ser removida;
• Os eletrodos tubulares são mais caros que os arames maciços,
exceto para alguns aços de alta liga;
• Geram-se mais fumos e gases que o processo MIG/MAG.
3.2.3 GENERALIDADES
Experimentos mostraram que o aumento da corrente de soldagem, para
o arame E71-T1, causa o aumento na concentração de hidrogênio difundido
na solda, mas quanto maior o stick out, menor é esta concentração de
hidrogênio difundido, (Harwig et al, 1999).
A concentração de hidrogênio no metal de solda pode chegar a
6,79ml/100gr, para corrente de soldagem em torno de 200A, (Bracarense et
al, 2001).
12
O aumento de 50% na corrente de soldagem, para o arame E71-T1,
gera um aumento do tamanho das gotas, no modo globular, em cerca de
20%, (Bracarense et al, 2001).
Na soldagem multi-passes de chapas espessas (exemplo, 50mm) pelo
processo Arame Tubular, está sujeito ao aparecimento de trincas
transversais quando as temperaturas de pré-aquecimento e interpasse
estão abaixo de 30ºC; e quando se aplicam temperaturas de pré-
aquecimento de 100ºC e interpasse de 120ºC estas trincas são inexistentes,
(Lee et al, 1998; Bauné et al, 2000; Lee et al, 2001).
A soldagem de tubos de aço API 5L gr X65 pelo processo Arame
Tubular, mostra uma redução da dureza na ZTA em torno de 13%
comparando-se a soldagem com temperatura de pré-aquecimento de 25ºC
(225HV de dureza máxima na ZTA) e de 250ºC (195HV de dureza máxima
na ZTA), (Santos Neto, 2003). Neste mesmo trabalho, Santos Neto mostrou
que a diferença morfológica, de microdureza e de microestrutura, entre a
soldagem com temperatura de pré-aquecimento de 180ºC e 250ºC, são
mínimas não justificando o uso de temperaturas de pré-aquecimento de
250ºC.
A diferença entre a geometria do cordão na soldagem com Arame
Tubular e Arame maciço (MIG/MAG) se dá devido ao comportamento do
arco e da transferência das gotas de metal fundido para a poça de fusão,
formando uma penetração profunda e estreita do tipo dediforme (finger)
para o arame maciço e uma penetração rasa, porém mais larga, conforme
mostrado na Figura 3.4, (Araújo, 2004).
Figura 3.4 – Geometria do cordão de solda. Esquerda: arame maciço com formação do
finger; direita: Arame Tubular, (Araújo, 2004).
13
3.3 MODO PULSADO
A utilização da corrente pulsada teve início na década de 60, sendo
aplicada na soldagem de alumínio. Nesta época as fontes de soldagem só
geravam corrente na forma de ondas senoidais com freqüência limitada
pela freqüência da rede de alimentação, 50/60Hz, tornando difícil o controle
do processo. Atualmente com o desenvolvimento da eletrônica, as fontes
geram diversos formatos de onda de corrente, possibilitando a adequação
do formato da onda ao processo melhorando o controle da soldagem, em
termos de destacamento de gotas, aporte térmico, agitação da poça de
fusão e penetração da solda, (Barra, 2003; Subramaniam et al, 1999).
3.3.1 VANTAGENS E DESVANTAGENS DO MODO PULSADO
Segundo Barra, 2003; as principais vantagens e desvantagens do modo
pulsado são:
Vantagens:
• Obtenção da transferência por spray em corrente média inferior a
corrente de transição;
• Redução ou eliminação na incidência de respingos e na geração de
fumos;
• Possibilidade de soldagem de espessuras menores quando
comparado com o modo convencional (menor aporte térmico);
• Possibilidade de soldagem em todas as posições.
Desvantagens:
• Necessidade de mão-de-obra mais qualificada, devido à
complexidade na escolha dos parâmetros;
• Exige fontes de soldagem mais caras do que no modo convencional;
14
• Maior emissão de raios ultravioleta pelo arco.
3.3.2 CONTROLE DO MODO PULSADO
As principais variáveis do modo pulsado são: corrente de base (Ib),
corrente de pulso (Ip), tempo de base (tb) e tempo de pulso (tp), conforme
mostrado na Figura 3.5.
Figura 3.5 – Principais variáveis do modo pulsado.
Para obtermos um ótimo controle do modo pulsado, é necessário se
fazer uma combinação destas variáveis de acordo com a velocidade de
alimentação do arame.
Para que esta combinação garanta um processo de transferência
estável, é necessário satisfazer três condições, (Barra, 2003; Subramaniam
et al, 1999):
1) Igualdade entre a taxa de alimentação e a taxa de fusão do arame. Se a
taxa de alimentação do arame for maior do que a taxa de fusão do
arame, haverá o aumento do comprimento do eletrodo acarretando na
ocorrência de curto circuito. Se a taxa de alimentação for menor do que a
de fusão do arame, o comprimento do eletrodo diminuirá, aumentando a
altura do arco e causando a fusão do bico de contato.
15
2) Destacamento de apenas uma gota por pulso. Durante todo o regime de
soldagem deverá ser garantido que a transferência desta gota ocorra na
fase final de cada pulso. Esta condição garante uma transferência
metálica estável produzindo um cordão com acabamento e penetração
uniformes. Para garantir esta condição, nesta pesquisa foi utilizada a
análise dos oscilogramas obtidos através de um sistema de aquisição de
dados denominado SAP, desenvolvido pela Universidade Federal de
Santa Catarina. Estes oscilogramas são a representação da corrente de
soldagem em função do tempo (Is x t) e da tensão de soldagem em
função do tempo (U x t). O momento do destacamento da gota pode ser
observado devido uma perturbação no sinal de tensão de
aproximadamente 0,5V devido ao “empescoçamento” da gota.
3) Manutenção do arco na fase de base. A combinação corrente de base e
tempo de base tem simplesmente a função de garantir a manutenção do
arco elétrico entre os pulsos, aquecimento resistivo do eletrodo e a
limpeza catódica.
A Figura 3.6 ilustra a forma da onda de corrente utilizada no pulsado.
Figura 3.6 – Exemplo da forma de onda da corrente x tempo para o modo pulsado. A linha vermelha corresponde à corrente média de soldagem.
16
3.4 MODO PULSADO TÉRMICO
No Brasil, o início das pesquisas sobre o MIG/MAG pulsado com
pulsação térmica teve início na década de 90. O pulsado térmico une as
características do MIG/MAG pulsado com as vantagens do TIG pulsado,
(Barra, 2003).
A pulsação térmica é uma técnica dinâmica de refinamento de grãos,
através de nucleação heterogênea devido à agitação da poça de fusão,
(Kou, 1987).
3.4.1 PRINCIPAIS VANTAGENS E DESVANTAGENS DO MODO PULSADO TÉRMICO
Segundo Barra, 2003; as principais vantagens e desvantagens do modo
pulsado são:
Vantagens:
• Controle sobre o tamanho da poça de fusão;
• Boa penetração e redução da espessura mínima a ser soldada;
• Nível de freqüência adequado para ter efeito na poça de fusão
(freqüência térmica na faixa de 0,5 a 10Hz);
• Curto espaço de tempo em temperaturas elevadas;
• Redução de porosidades e mordeduras
Desvantagens:
• Formação de pontos de concentração de tensão para valores baixos
de freqüência térmica, devido à formação de escamas na superfície
do cordão;
• Diferentes níveis de diluição entre as fases de pulso e base térmica.
17
3.4.2 CONTROLE DO MODO PULSADO TÉRMICO
O pulsado térmico é a combinação de duas fases, base térmica (bt) e
pulso térmico (pt), as quais permanecem em um determinado tempo, tempo
de base térmica (Tbt) e tempo de pulso térmico (Tpt). A base térmica e o
pulso térmico são combinações dos parâmetros de tempo, corrente e
velocidade de arame do MIG/MAG pulsado que irá gerar uma corrente
média de base térmica (Imbt) e uma corrente média de pulso térmico (Impt),
respectivamente. Esta variação da corrente média no decorrer do tempo
provoca uma variação do aporte térmico e conseqüentemente submete o
material a um ciclo térmico durante a soldagem.
Além da variação do aporte térmico, a pulsação da velocidade de arame
provoca uma mudança cíclica na geometria do cordão, tanto na superfície
quanto na forma da penetração do cordão, formando o efeito serrilhado
observado quando e feito um corte longitudinal ao cordão de solda (Barra,
2003). A Figura 3.7 mostra o comportamento da corrente de soldagem em
função do tempo para o modo pulsado térmico.
Figura 3.7 – Exemplo da forma de onda da corrente x tempo para o modo pulsado com pulsação térmica. A linha vermelha corresponde à corrente média durante o período de
base térmica (160A) e o período de pulso térmico (240A). A linha verde indica a corrente média de soldagem resultante (200A).
18
3.5 METALURGIA DA SOLDAGEM
3.5.1 REGIÕES DA JUNTA SOLDADA
Em juntas soldadas, as principais regiões analisadas, em termos de
microestrutura, são: zona fundida ou metal de solda, zona termicamente
afetada (ZTA) e zona de ligação. Na Figura 3.8 estas regiões podem ser
observadas.
Figura 3.8 – Regiões de uma junta soldada.
As características microestruturais destas regiões dependem
basicamente das condições térmicas na qual a junta foi submetida e da
composição química do metal de base e do metal de adição.
3.5.2 APORTE TÉRMICO
As temperaturas nas quais a junta soldada é submetida durante a
soldagem depende basicamente da energia de soldagem e da temperatura
de pré-aquecimento.
A energia de soldagem (Heat input) absorvida pela junta soldada é dada
pela Equação 1.
vIUE ××⋅= 60η (1)
19
onde:
E → Energia de soldagem [J/cm]
η → Rendimento do arco
U → Tensão de soldagem [V]
I → Corrente de soldagem [A]
v → Velocidade de soldagem [cm/min]
O rendimento do arco varia de acordo com o processo de soldagem,
sendo η = 0,80 para o processo Arame Tubular e η = 0,78 para o processo
MIG/MAG, (Quites, 2002).
A repartição térmica de uma junta soldada é representada pelas
máximas temperaturas atingidas ao longo da seção transversal da junta,
conforme ilustrado na Figura 3.9. A repartição térmica tem influência direta
na microestrutura da junta, conforme ilustrado na Figura 3.10.
Altas taxas de resfriamento e a composição de grãos grosseiros podem
promover a formação de fases frágeis e duras no metal fundido e na ZTA de
aços soldados. Aliado a estes fatores, a presença de hidrogênio difundido
no processo de soldagem pode levar ao trincamento a frio do conjunto
soldado, (Kou, 1987).
Figura 3.9 – Repartição térmica, (FBTS, 2000).
20
Figura 3.10 – Repartição térmica x Diagrama de Fases, (AWS,1995).
Figura 3.11 – Ciclo térmico de uma junta soldada (metal base Aço API 5L) com arame
tubular (medido a 7,0mm do centro da solda) utilizando-se temperaturas de pré-aquecimento (Tpa) de 25°C e 95°C, (Santos Neto, 2003).
21
3.5.3 ZONA TERMICAMENTE AFETADA
A Zona Termicamente Afetada (ZTA) é a região da junta soldada,
localizada ao lado da zona fundida, a qual sofre alterações microestruturais
devido ao ciclo térmico sofrido por esta região durante a soldagem.
A largura da ZTA é influenciada pelo aporte térmico (heat input). A
Figura 3.12 mostra a influência do pré-aquecimento na largura da ZTA e na
dureza desta região. O pré-aquecimento aumenta a energia final de
soldagem, aumentando assim a largura da ZTA, mas este pré-aquecimento
diminui significativamente a taxa de resfriamento, promovendo uma redução
da dureza nesta região. Esta redução na dureza diminui a susceptibilidade
desta região sofrer fissuração por corrosão sob tensão quando a junta é
submetida a serviços com H2S, por exemplo, (AWS, 1995).
Figura 3.12 – Influência do pré-aquecimento na largura e na dureza da zona
termicamente afetada. Caso 1 sem pré-aquecimento onde B – A corresponde à largura da ZTA. Caso 2 com pré-aquecimento onde C – A corresponde à largura da ZTA,
(AWS,1995).
22
A soldagem com pré-aquecimento de 25°C apresentou grãos mais
grosseiros na ZTA se comparado com a soldagem com pré-aquecimento de
95°C, conforme mostrado na Figura 3.13, (Santos Neto, 2003).
Figura 3.13 – Influência do pré-aquecimento na microestrutura da ZTA de uma junta
soldada (metal base Aço API 5L X 70) com arame tubular; esquerda: pré-aquecimento de 25°C, e direita: pré-aquecimento de 95°C, (Santos Neto, 2003).
Uma alternativa para reduzir a dureza na ZTA é a utilização de um
cordão de revenimento, o qual é aplicado sobre os passes de acabamento,
próximo a margem da solda em juntas multi-passes, este passe de
revenimento pode diminuir em até 20% a dureza máxima da ZTA, (Kiefer,
1995).
3.5.4 ZONA FUNDIDA
A Zona fundida é a região na qual, durante a soldagem, ocorreu a fusão
do metal de solda e também a diluição entre metal de base e metal de
solda.
Um fenômeno que ocorre nesta região é o crescimento competitivo de
grãos. Durante a solidificação, os grãos tendem a crescer na direção
perpendicular à interface líquido/sólido, desde que esta é a direção do
gradiente máximo de temperatura e, portanto, a direção da força máxima
para solidificação. Apesar disto, os grãos também tem sua própria direção
preferencial de crescimento, chamada de direção de crescimento fácil, por
exemplo, direção <100> em metais cúbicos de face centrada (c.f.c.) e
cúbicos de corpo centrado (c.c.c.), e direção <1010> em hexagonal
23
compacto (h.c.p.). Portanto, durante a solidificação, grãos com sua direção
de crescimento fácil na direção do gradiente máximo de temperatura
crescem e barram o crescimento de outros grãos cuja direção de
crescimento não está orientada na direção do gradiente máximo de
temperatura, (Kou, 1987). Este fenômeno é ilustrado na Figura 3.14.
Figura 3.14 – Crescimento competitivo de grãos na zona fundida, (Kou, 1987).
As principais fases da Zona Fundida em aços de baixo carbono são:
(ASM, 1997)
1) Ferrita primária:
a. Ferrita no contorno de grão: ferrita pro-eutetóide que cresce ao
longo da austenita primária nos contornos de grão. É equiaxial ou
poligonal, e pode ocorrer em veios.
b. Ferrita poligonal intragranular: ferrita poligonal que não é
associada à austenita primária nos contornos de grão. É muito
maior que a largura média das ripas de ferrita acicular.
2) Ferrita com segunda fase:
a. Com alinhamento da segunda fase: ripas de ferrita paralelas
classificadas como ferrita de Widmastatten e bainita (superior /
inferior)
b. Com a segunda fase não alinhada: ferrita randomicamente
distribuída, ou ripas isoladas de ferrita.
c. Agregado de ferrita com carboneto: uma estrutura fina de ferrita
com carboneto incluindo perlita.
3) Ferrita acicular: pequenos grãos de ferrita não alinhada encontrada
dentro de grãos da austenita primária.
24
4) Martensita: colônia de martensita maior que as ripas de ferrita
adjacentes.
Em soldas de aço baixo carbono uma grande quantidade de ferrita é
associada com altos níveis de resistência, enquanto que microestruturas
como martensita e bainita estão associadas a um baixo nível de resistência.
Martensita e bainita são também associadas a altas taxas de
resfriamento, assim diminuindo a quantidade de manganês, ou reduzindo a
taxa de resfriamento com o aumento do aporte térmico ou pré-aquecimento,
a quantidade de ferrita acicular aumenta, melhorando assim a resistência da
solda.
A caracterização microestrutural das soldas tem dois propósitos básicos:
avaliar a microestrutura com as respectivas propriedades, e relacionar a
microestrutura com o processo de soldagem utilizado.
O objetivo é aperfeiçoar o processo de soldagem para produzir a
microestrutura desejada.
Em geral, os efeitos do processo e dos parâmetros na microestrutura
são devido aos efeitos térmicos e de composição química. Os efeitos da
composição química estão ligados na zona de fusão, enquanto os efeitos
térmicos afetam a zona de fusão e a zona termicamente afetada (ZTA),
Os constituintes da zona fundida de aços ferríticos são identificados
segundo codificação do IIW (International Institute of Welding), conforme
descrito na Tabela III.1 e ilustrado na Figura 3.15, (Modenesi, 2004).
25
Tabela III.1 – Constituintes da zona fundida em aços ferríticos, segundo o IIW.
Figura 3.15 – Constituintes da zona fundida em aços ferríticos, conforme Tabela III.1,
(Modenesi, 2004).
M
AF
FERRITA DE CONTORNO DE GRÃO
FERRITA POLIGONAL INTRAGRANULAR
MARTENSITA
FERRITA ACICULAR
FERRITA COM SEGUNDA FASE NÃO ALINHADA
CONSTITUINTE CÓDIGO
FCAGREGADO FERRITA CARBONETO
FERRITA COM SEGUNDA FASE ALINHADA FS(A)
FS(NA)
PF(G)
PF(I)
FERRITA PRIMÁRIA
26
3.5.5 ZONA DE LIGAÇÃO
É a região limite entre a poça de fusão (líquida) e o metal de base
(sólido). A partir desta linha é iniciada a solidificação e o crescimento dos
grãos em direção à linha central da solda formando o metal de solda. Este
processo é chamado de epitaxia ou crescimento epitaxial, (Kou, 1987). O
crescimento do grão inicia-se pelo agrupamento dos átomos da fase líquida
no substrato sólido existente, estendendo este, sem alterar a orientação
cristalográfica do substrato, conforme ilustrado na Figura 3.16.
Figura 3.16 – Crescimento epitaxial, solidificação da zona fundida, (FBTS, 2000).
27
4 MATERIAIS E MÉTODOS
4.1 CONDUÇÃO DOS EXPERIMENTOS
Na primeira etapa do projeto foram feitos testes preliminares com
deposição sobre chapa para uma identificação inicial do comportamento
dos processos MIG/MAG e Arame Tubular perante a pulsação térmica. As
chapas de teste foram obtidas com deposição sobre chapa soldadas no
modo convencional e no modo pulsado térmico. Após a soldagem as
chapas de teste foram submetidas a análises microestruturais e medições
de dureza Vickers nas regiões da solda (ZTA e Zona Fundida).
Juntamente com os teste preliminares foi feito uma análise de perda de
material durante a soldagem, apenas para efeito de comparação entre os
dois processos. Esta perda de material é dada pela razão entre a massa de
arame consumido (mcons.) e a massa de material depositado (mdepos.). A
soldagem foi executada no modo convencional com deposição sobre chapa
sem interrupção do arco.
Após os testes preliminares foram executados os testes finais os quais
foram divididos em três situações distintas, diferenciando o processo e o
gás utilizado. Para cada situação foi adotada uma sigla para auxiliar na sua
identificação nas Tabelas, nos Gráficos e Figuras.
A sigla é composta por duas partes separadas por um hífen (-). A
primeira parte indica a mistura de gás utilizado, podendo ser: 3 para a
mistura tripla Ar + CO2 + O2 (composição aproximada: Ar – 90%, CO2 – 8%
e O2 - 2%) ou 2 para a mistura Ar + CO2 (composição aproximada: Ar –
75% e CO2 – 25%). A segunda parte da sigla indica o processo utilizado,
podendo ser: GMAW para o processo MIG/MAG ou FCAW para o processo
Arame Tubular.
As situações estudadas foram 3-GMAW, 3-FCAW e 2-FCAW. Para cada
situação foram soldadas cinco chapas de teste de dimensões 150x330mm
resultando em um cordão de solda com 300mm de comprimento. Para a
retirada dos corpos de prova para os ensaios de tração, dureza, impacto e
28
micrografias foram descartados 50mm do início e do fim do cordão de
solda.
A soldagem foi executada em juntas de topo com chanfro reto na
posição plana “1G” (AWS D1.1, 2002) e com cobre-junta.
A condução dos experimentos pode ser mostrada de maneira
simplificada através do fluxograma representado na Figura 4.1.
Figura 4.1 – Fluxograma de condução dos experimentos.
4.1.1 ANÁLISE ESTATÍSTICA
Os resultados dos ensaios de dureza, Charpy e tração foram submetidos
a um tratamento estatístico. A análise adotada foi a Distribuição t de
Student, por ser a mais indicada quando a amostra é pequena, ou seja,
29
n<30. Neste caso n corresponde à quantidade de corpos de prova
ensaiados em uma determinada condição. Esta análise determina um
intervalo estimado para a média populacional na qual pode-se fixar um certo
nível de confiança, neste trabalho foi adotado um nível de confiança de
95%. O intervalo é dado pelo Limite Inferior e pelo Limite Superior de
Confiança os quais são determinados segundo as Equações 2, 3 e 4.
nt σε ⋅= (2)
εµ −=LIC (3)
εµ +=LSC (4)
Onde:
ε – Margem de Erro
t – t de Student (tabelado)
σ – desvio padrão
µ – média
LIC – Limite Inferior de Confiança
LSC – Limite superior de Confiança
4.2 PROCEDIMENTO DE SOLDAGEM
Para a confecção das chapas de teste, foi utilizado como metal de base
um aço carbono conforme especificação ASTM A283 grau C, com
espessura de 4,75mm. Esta espessura foi escolhida para possibilitar a
soldagem da junta em um único passe.
A composição química está relacionada na Tabela IV.1, e as
propriedades mecânicas de tração estão relacionadas na Tabela IV.2.
30
Tabela IV.1 – Composição química (%) do metal de base conforme norma ASTM A283 (2000).
Tabela IV.2 – Propriedades mecânicas de tração do metal de base conforme norma ASTM A283 (2000).
Como metal de adição, para o processo MIG/MAG, foi utilizado o arame
de classificação ER70-S6, conforme especificação AWS A5.18 (2001); e
para o processo Arame Tubular, foi utilizado o arame de classificação E71T-
1, conforme especificação AWS A5.20 (1995). As composições químicas do
metal depositado e resistência à tração, estão representadas nas Tabelas
IV.3 e IV.4.
Tabela IV.3 – Composição química (%) do metal depositado.
Tabela IV.4 – Propriedades mecânicas do metal depositado.
31
Duas misturas de gás de proteção foram utilizadas. A primeira é a
mistura Ar + CO2 + O2, a qual é indicada pela literatura como a melhor
opção para o uso da corrente pulsada, (Irving, 1999). A segunda é a mistura
Ar + CO2, indicada pela norma AWS A5.20 (1995) como sendo a mistura
ideal para o arame E71-T1.
Neste trabalho foi adotada uma fonte de soldagem eletrônica multi-
processo modelo DIGITEC 300, desenvolvida pela Universidade Federal de
Santa Catarina. Esta fonte permite a seleção dos parâmetros de pulsação
térmica como tempos de base e pulso, correntes de base e de pulso,
períodos de pulsação velocidades de arame no pulso térmico e na base
térmica. A bancada de testes está representada na Figura 4.2.
Figura 4.2 – Fotos da bancada com sistema de deslocamento, sistema de fixação da
chapa, fonte de soldagem e geometria da junta.
O controle da velocidade de soldagem foi feito com auxílio de dois
equipamentos: TARTÍLOPE V1 (para deslocamento em um único eixo); e
BURNY 3 CNC (para deslocamento nos eixos X e Y).
32
Durante a parametrização, para medição de corrente e tensão de
soldagem, foi utilizado um sistema de aquisição portátil (SAP), conectado
em um microcomputador.
4.2.1 TESTES PRELIMINARES
As chapas de teste foram soldadas no modo convencional (modo de
transferência por spray) e no modo pulsado com pulsação térmica, para os
processos MIG/MAG e Arame Tubular. As chapas de dimensões
150x330x4,75mm foram soldadas com deposição sobre chapa.
Os parâmetros de soldagem utilizados nos testes preliminares estão
listados na Tabela IV.5. Além destes parâmetros, consideram-se as
seguintes condições: limpeza da chapa por esmerilhamento, vazão de gás
de proteção (Ar + CO2 + O2) igual a 17,5l/min, corrente média de soldagem
300A (tanto para o modo convencional quanto para o pulsado térmico) e
velocidade de deslocamento de 90cm/min.
Tabela IV.5 – Parâmetros de soldagem utilizados nos ensaios preliminares.
Os parâmetros de pulsação térmica, utilizados nos testes preliminares,
produzem uma pulsação na corrente média de 250A (Equação 5), no
33
período de base térmica em um tempo de 0,12s a 350A (Equação 2), no
período de pulso térmico em um tempo de 0,12s. A composição destas
duas correntes média resulta em uma corrente média final de 300A
(Equação 6), a mesma intensidade da corrente média utilizada no modo
convencional. A utilização de uma corrente média de soldagem de 300A
permitiu a comparação dos dois modos de corrente para uma mesma
energia de soldagem para cada processo.
As velocidades de arame para o pulsado térmico foram escolhidas de
maneira a permitir que a altura do arco permanecesse entre 5 e 7mm.
As correntes médias citadas acima são calculadas conforme Equações 5
e 6.
( ) ( )( )tbtp
tbIbtpIp+
×+×=Im (5)
( ) ( )( )TbTp
TbIbtTpIptIs+
×+×= (6)
Onde: Im – corrente média de pulso térmico ou de base térmica; Ip –
corrente de pulso; Ib – corrente de base; tp – tempo de pulso, tb – tempo de
base; Is – corrente de soldagem; Ipt – corrente média de pulso térmico; Ipb
– corrente média de base térmica; Tp – período de pulso térmico; Tb –
período de base térmica.
4.2.2 TESTES FINAIS
Os testes finais foram executados com o modo pulsado térmico tanto
para o processo MIG/MAG quanto para o Arame Tubular.
Os parâmetros de soldagem utilizados nos testes finais estão listados na
Tabela IV.6. Além destes parâmetros, consideram-se as seguintes
condições: velocidade de deslocamento de 20cm/min (sem tecimento), com
cobre-junta, abertura de raiz de 4,75mm e vazão de gás de 17,5l/min.
34
Tabela IV.6 – Parâmetros de soldagem utilizados nos ensaios finais.
Os parâmetros de pulsação térmica, utilizados nos testes finais,
produzem uma pulsação na corrente média de 160A (Equação 5), no
período de base térmica em um tempo de 0,5s, a 240A (Equação 2), no
período de pulso térmico em um tempo de 0,5s. A composição destas duas
correntes média resulta em uma corrente média final de 200A, (Equação 6).
As velocidades de arame para o pulsado térmico foram escolhidas de
maneira a permitir que a altura do arco permaneça entre 5 e 7mm.
Antes da soldagem, todas as chapas foram jateadas com granalha e
escovadas com escova manual.
Foram soldadas chapas com abertura de raiz de 1,5 e 3mm com
deslocamento em uma única direção. As chapas com abertura de 1,5mm
apresentaram em toda a sua extensão falta de fusão e falta de penetração.
Com o aumento da abertura da raiz para 3mm, ocorreu a perfuração no
início da soldagem. Na tentativa de eliminar estas descontinuidades, com o
auxílio de um equipamento com deslocamento nos eixos X e Y, foi utilizado
dois tipos de tecimento, conforme mostrados na Figura 4.3.
35
Figura 4.3 – Tipos de tecimento utilizados.
O tecimento reduziu os problemas de falta de fusão e falta de
penetração, porem apareceram mordeduras ao longo de todo o cordão de
solda.
A solução adotada para eliminar estes problemas foi a inclusão do
cobre-junta do mesmo material do metal de base e aumentar a abertura da
raiz para 4,75mm, conforme norma AWS D1.1 (2002) que permite a
utilização do cobre-junta tanto para o processo MIG/MAG quanto para o
processo Arame Tubular.
4.3 ENSAIOS MECÂNICOS
Os testes preliminares passaram apenas por uma avaliação da dureza, a
qual foi medida na seção transversal da solda, para o modo pulsado térmico
e para o modo convencional em ambos os processos (MIG/MAG e Arame
Tubular). As regiões avaliadas foram o metal de base, o metal de solda e a
zona termicamente afetada (ZTA).
Os testes finais passaram por uma avaliação completa, sendo adotados
os ensaios de tração, de impacto (Charpy) e de dureza. As dimensões dos
corpos de prova obedeceram à norma ASTM A370 (2003), considerando os
tamanhos reduzidos devido à espessura da chapa soldada ser de 4,75mm.
36
4.3.1 ENSAIO DE TRAÇÃO
O ensaio foi executado em corpos de prova de tração transversal, no
qual o eixo longitudinal do corpo de prova é perpendicular ao eixo
longitudinal da solda. Os corpos de prova foram retirados das chapas de
teste soldadas com o modo pulsado térmico nos processos MIG/MAG, com
a mistura Ar + CO2 + O2 como gás de proteção, e no processo Arame
Tubular com as misturas Ar + CO2 + O2 e Ar + CO2 como gás de proteção.
Para cada situação foram ensaiados quatro corpos de prova, totalizando em
doze corpos de prova de tração.
Figura 4.4 – Corpo de prova de tração transversal.
Figura 4.5 – Dimensões (mm) do Corpo de prova de tração transversal.
4.3.2 ENSAIO DE IMPACTO
No ensaio de impacto (Charpy) o corpo de prova foi do tipo transversal,
onde o eixo longitudinal do corpo de prova é perpendicular ao eixo
longitudinal da solda. Foram estabelecidas duas posições para o entalhe
em “V”, um no centro da solda e outro a 2mm da margem da solda situado
na ZTA, conforme Figura 4.5. Foram retirados cinco corpos de prova de
cada chapa de teste soldada nas mesmas condições citadas para o ensaio
37
de tração, totalizando trinta corpos de prova. A temperatura de ensaio foi
escolhida de acordo com a norma AWS D1.1 (2002), onde exige que os
ensaios de impacto sejam feitos a uma temperatura máxima de –18°C,
portanto foi adotada a temperatura de –20ºC.
Figura 4.6 – Corpo de prova de Charpy (transversal) com entalhe na ZTA (esquerda) e
com entalhe na solda (direita).
Figura 4.7 – Dimensões (mm) dos Corpos de prova de Charpy (transversal) com
entalhe na solda (esquerda) e com entalhe na ZTA (direita).
4.3.3 ENSAIO DE DUREZA
A avaliação da dureza foi através do método Vickers com carga de 5kgf
conforme recomendado pela norma Petrobras N-133 (2004), aplicado na
seção transversal da solda em vários pontos, espaçados igualmente, desde
o metal de base até o centro da solda, possibilitando a obtenção de um
perfil de dureza ao longo desta seção transversal.
38
Figura 4.8 – Distribuição dos pontos de medição de dureza nas regiões da junta
soldada.
4.4 CARACTERIZAÇÃO MICROESTRUTURAL
A caracterização microestrutural foi realizada tanto para os testes
preliminares quanto para os testes finais. O método se resume em
preparação metalográfica de um corte transversal da solda, ataque químico
com o reagente Nital 2% e análise das microestruturas em um microscópio
ótico. Os resultados obtidos para as situações aplicadas foram comparados
entre si nas regiões distintas da junta soldada (o metal de base, o metal de
solda, a ZTA e a zona de ligação).
5 RESULTADOS E ANÁLISES
5.1 TESTES PRELIMINARES
Nos ensaios preliminares foi utilizada uma corrente média de 300A para
o modo convencional e o pulsado térmico, observou-se uma dificuldade de
manutenção da altura do arco constante devido aos níveis de pulsação
chegarem próximo ao limite da fonte de soldagem. O modo convencional
adotado com transferência metálica por spray, é conseguido com corrente
média em torno de 300A, não possibilitando assim a diminuição da corrente
média para execução dos ensaios. Devido esta dificuldade, os períodos de
pulsação térmica que responderam com um arco estável, ficaram com
tempo de 0,12s, correspondendo em uma freqüência térmica de 4,2Hz.
Segundo Barra (2003) os valores de freqüência térmica que causam efeito
39
na poça de fusão estão entre 0,5 e 10Hz, sendo quanto menor a freqüência
térmica maior o efeito da pulsação térmica.
Para avaliar o efeito da pulsação térmica foi adotado o caminho de
analisar o comportamento dos dois processos, objeto de estudo deste
trabalho, utilizando-se uma freqüência térmica de 2Hz (tempos de pulsação
de 0,5s), com uma corrente média de soldagem de 200A mantendo a
estabilidade do arco.
Adicionalmente, têm-se os resultados da análise de perda de material
durante a soldagem a qual mostrou os seguintes valores:
• mdepos./mcons. = 1 para o arame ER70-S6 (arame maciço), ou seja,
100% do arame consumido resulta em 100% de material
depositado.
• mdepos./mcons. = 0,87 para o arame E71-T1 (arame tubular), ou
seja, perde-se 13% de material em escória e respingos.
5.1.1 MICROESTRUTURA
Inicialmente observou-se que o processo Arame Tubular produz uma
microestrutura da zona fundida muito mais refinada que a microestrutura
desta mesma região para o processo MIG/MAG, tanto no modo
convencional quanto no modo pulsado térmico. Esta diferença
microestrutural irá refletir nas propriedades mecânicas desta região.
As microestruturas obtidas pelo modo convencional para ambos os
processos mostraram uma estrutura de grãos grosseiros, em relação ao
modo pulsado térmico, conforme mostrado na Figura 5.1.
A pulsação térmica promoveu um refino de grãos na região do metal de
solda para os processos MIG/MAG e Arame Tubular, devido à agitação da
poça de fusão conforme explicado por Kou (1987).
A região da ZTA não sofreu mudança significativa em sua
microestrutura, provavelmente devido o uso de tempos de pulsação térmica
na ordem de 0,12s, sendo talvez mais acentuado este efeito para tempos
de pulsação na ordem de 0,3 a 0,5s.
Outra observação importante é a confirmação da geometria da
penetração, sendo estreita e profunda do tipo finger para a solda executada
40
pelo processo MIG/MAG; e rasa, porém larga, para o Arame Tubular
conforme observado por Araújo (2004).
Figura 5.1 – Comparativo das micrografias dos ensaios preliminares.
5.1.2 ENSAIO DE DUREZA
Como reflexo da microestrutura mais refinada, a dureza da zona fundida
para o processo Arame Tubular é maior quando comparada com a dureza
desta mesma região da solda resultante do processo MIG/MAG, conforme
Figura 5.2. Esta superioridade é observada tanto para o modo convencional
quanto para o modo pulsado térmico.
O efeito da pulsação térmica causou um aumento da dureza da zona
fundida, para ambos os processos, devido ao refino de grãos desta região
conforme explicado no item anterior.
Como não houve mudança significativa na microestrutura da ZTA, a
dureza nesta região não sofreu alteração substancial com a pulsação
térmica. Fazendo uma comparação entre os processos, o MIG/MAG
41
ocorreu uma tendência em formar uma ZTA com maior dureza em relação
ao Arame Tubular.
Figura 5.2 – Comparativo de dureza (HV5) dos ensaios preliminares mostrando o efeito da pulsação térmica na dureza do metal de solda (parâmetros de soldagem conforme
Tabela IV.5).
5.2 TESTES FINAIS
5.2.1 PROCEDIMENTO DE SOLDAGEM
Durante a soldagem das chapas de teste, foi observado a evolução da
execução do procedimento desde soldas com falta de penetração, falta de
fusão e perfuração, conforme mostrado na Figura 5.3; até a obtenção de
soldas livres de descontinuidades (Ensaio Visual), conforme mostrado nas
figuras 5.4 e 5.5.
O processo MIG/MAG apresentou um melhor controle do pulsado
térmico, e uma maior facilidade em se obter soldas livres de
descontinuidades (Ensaio Visual).
Na Figura 5.4 (processo MIG/MAG), foi observado a formação de
escamas no acabamento do cordão, provocada pela pulsação térmica,
42
identificada como uma desvantagem deste modo por Barra (2003) devido
ao fato destas escamas gerarem um fator de concentração de tensões.
Para o processo Arame tubular, Figura 5.5, foi observado que esta
formação de escamas foi muito mais suave, reduzindo os pontos de
concentração de tensão.
Figura 5.3 – Chapas de teste soldadas sem sucesso.
Figura 5.4 – Chapas de teste MIG/MAG pulsado térmico (3-GMAW).
43
Figura 5.5 – Chapas de teste Arame Tubular pulsado térmico (3-FCAW).
5.2.2 MACROGRAFIAS
A junta soldada pelo processo MIG/MAG, condição 3-GMAW
apresentada na Figura 5.6, apresentou mordedura na margem da solda de
aproximadamente 0,6mm de profundidade. Foi observada também uma
falta de fusão na raiz da solda.
Para o processo Arame Tubular, na situação 3-FCAW, foi observado um
acúmulo de escória entre a raiz da solda e o cobre-junta. Esta escória
impediu a fusão completa da raiz da solda, acarretando assim em uma falta
de penetração, a qual foi observada em outros pontos da chapa de teste.
Na situação 2-FCAW, para o Arame Tubular, observou-se a completa
fusão das faces do chanfro, produzindo uma solda sem descontinuidades
observadas na macrografia. Outra observação que pode ser feita em
relação a esta situação, é que esta foi a condição que teve a maior fusão
das chapas quando comparado com as outras situações. Esta maior fusão
ocorreu devido ä mistura utilizada para a condição 2-FCAW ter mais CO2
que a mistura utilizada para 3-GMAW e 3-FCAW. Isto comprova a
44
afirmação de Irvin (1999) que quanto maior a quantidade de CO2 no gás de
proteção, maior é a penetração resultante.
Alem disto observa-se que 2-FCAW não teve problemas com falta de
fusão ou de penetração, isto devido ao cobre-junta ter ficado afastado da
chapa nesta região onde foi retirada a macrografia. Através desta
observação, pode-se concluir que para o processo Arame Tubular, não é
aconselhado o uso do cobre-junta, ou se for necessário usar um cobre-junta
com geometria adequada, para poder facilitar a segregação da escória.
45
Figura 5.6 – Macrografias das juntas soldadas pelos processos MIG/MAG e Arame Tubular nas condições 3-GMAW, 3-FCAW e 2-FCAW.
Em uma visão geral das microestruturas das condições soldadas, Figura
5.7, é possível identificar as diferenças das regiões das juntas mostrando
grãos colunares no metal de solda, estrutura grosseira na região da ZTA
devido ao efeito térmico sofrido por esta região durante a soldagem, e a
estrutura mais fina a qual corresponde ao metal de base.
4,75mm
CONDIÇÃO 3-FCAW
4,75mm
CONDIÇÃO 2-FCAW
4,75mm
CONDIÇÃO 3-GMAW
MORDEDURA
FALTA DE FUSÃO
FALTA DE PENETRAÇÃO
46
Figura 5.7 – Visão geral da microestrutura das regiões da junta soldada pelos
processos MIG/MAG e Arame Tubular nas condições 3-GMAW, 3-FCAW e 2-FCAW.
METAL DE BASE
ZTA E ZONA DE LIGAÇÃO
METAL DE SOLDA
CONDIÇÃO 3-FCAW
METAL DE BASE
ZTA E ZONA DE LIGAÇÃO
METAL DE SOLDA
CONDIÇÃO 3-GMAW
METAL DE BASE
ZTA E ZONA DE LIGAÇÃO
METAL DE SOLDA
CONDIÇÃO 2-FCAW
47
5.2.3 CARACTERIZAÇÃO MICROESTRUTURAL 5.2.3.1 ZONA FUNDIDA
A região do metal de solda (zona fundida), para os três casos estudados,
é formada pelos seguintes constituintes microestruturais (Figura 5.8):
• 3-GMAW : Grãos colunares de ferrita acicular – AF, com ferrita de
contorno de grão – PF(G), regiões com ferrita com segunda fase
alinhada – FS(A) e ferrita intragranular poligonal.
• 3-FCAW : Grãos colunares de ferrita acicular – AF, com ferrita de
contorno de grão.
• 2-FCAW: Grãos colunares de ferrita acicular – AF, com ferrita de
contorno de grão – PF(G), regiões com ferrita com segunda fase
alinhada – FS(A) e ferrita intragranular poligonal.
Figura 5.8 – Micrografias mostrando as microestruturas do metal de solda para
os casos 3-GMAW, 3-FCAW e 2-FCAW.
AF PF(G)
FS(A)
PF(I)
AF
PF(G)
PF(I) PF(G)
AF FS(A)
48
5.2.3.2 ZONA TERMICAMENTE AFETADA
A região da zona termicamente afetada (ZTA), para os três casos
estudados, é formada pelos seguintes constituintes microestruturais (Figura
5.9):
• 3-GMAW : Grãos de ferrita quando se aproxima do metal de base
e na região próxima ao metal de solda apresenta ferrita com
segunda fase alinhada – FS(A).
• 3-FCAW : Grãos de ferrita quando se aproxima do metal de base
e na região próxima ao metal de solda apresenta ferrita com
segunda fase não alinhada – FS(NA) e ferrita de contorno de grão
– PF(G).
• 2-FCAW: Grãos de ferrita quando se aproxima do metal de base e
na região próxima ao metal de solda apresenta ferrita com
segunda fase alinhada – FS(A).
Figura 5.9 – Micrografias mostrando as microestruturas da Zona Termicamente
Afetada (ZTA) para os casos 3-GMAW, 3-FCAW e 2-FCAW.
FS(A)
PF(G)
FS(NA)
FS(A)
49
5.2.3.3 ZONA DE LIGAÇÃO
A região da zona de ligação corresponde à composição das
microestruturas observadas na região da zona fundida com as observadas
na ZTA para todos os três casos estudados, conforme Figura 5.10.
Figura 5.10 – Micrografias mostrando as microestruturas da Zona de Ligação
para os casos 3-GMAW, 3-FCAW e 2-FCAW.
50
5.2.4 ENSAIOS MECÂNICOS
5.2.4.1 ENSAIO DE TRAÇÃO Tabela V.1 – Análise dos resultados do ensaio de tração utilizando a Tabela de distribuição t de Student com grau de risco de 5%.
Figura 5.11 – Limite de resistência médio para os casos 3-GMAW, 3-FCAW e 2-FCAW.
Todos os corpos de prova romperam no metal de base.
O ensaio de tração comprovou a integridade das juntas soldadas, pois
todos os corpos de prova romperam no metal de base com tensão máxima
de tração acima do valor mínimo de 380MPa conforme requerido na
especificação ASTM A283 grau C, para o metal de base.
Normalmente as juntas soldadas quando submetidas ao ensaio de
tração fraturam na ZTA, mas neste caso com o uso da pulsação térmica,
51
todas as juntas romperam no metal base conforme exemplificado na figura
5.12.
Figura 5.12 – Corpos de prova de tração, mostrando o rompimento no metal de base.
52
5.2.4.2 ENSAIO DE IMPACTO Tabela V.2 – Análise dos resultados do ensaio de charpy a –20ºC, para entalhe no metal de solda e na ZTA, utilizando a Tabela de distribuição t de Student com grau de risco de 5%.
Figura 5.13 – Energia média absorvida (J) no ensaio de Charpy a –20ºC, para entalhe
no metal de solda e na ZTA.
As soldas com Arame Tubular, 3-FCAW e 2-FCAW, apresentaram uma
maior tenacidade, com absorção de mais de 25 Joules na fratura a –20ºC
no ensaio de Charpy, quando comparado com o processo MIG/MAG. Esta
tenacidade superior ao processo MIG/MAG deve-se à menor quantidade de
ferrita de contorno de grão – PF(G) e ferrita com segunda fase alinhada –
FS(A), quando comparada com a microestrutura do metal de solda
resultante do processo MIG/MAG, situação 3-GMAW. Entre as duas
situações soldadas com o processo Arame Tubular, a 2-FCAW apresentou
microestrutura do metal de solda com menor quantidade de ferrita de
53
contorno de grão – PF(G) e nenhuma ferrita com segunda fase alinhada –
FS(A), resultando na absorção de 29,8 Joules para o entalhe no metal de
solda.
A solda resultante do processo MIG/MAG, ensaio 3-GMAW, apresentou
uma baixa tenacidade absorção de 17 Joules, relacionada com a grande
quantidade de ferrita de contorno de grão – PF(G) e ferrita com segunda
fase alinhada – FS(A).
5.2.4.3 ENSAIO DE DUREZA
Os resultados do ensaio de dureza Vickers foram analisados e
comparados de acordo com os gráficos apresentados a seguir.
Figura 5.14 – Perfil de dureza (HV5) na linha superior.
54
Figura 5.15 – Perfil de dureza (HV5) na linha intermediária.
Figura 5.16 – Perfil de dureza (HV5) na linha inferior.
55
Figura 5.17– Comparativo de dureza (HV5) nas regiões da junta soldada.
A Figura 5.17 mostra que a dureza nas regiões da junta soldada pelo
processo MIG/MAG (3-GMAW) é menor que qualquer situação soldada com
o processo Arame Tubular, devido às diferenças microestruturais mostradas
anteriormente.
Os perfis de dureza mostraram que a soldagem com o processo
MIG/MAG, 3-GMAW, produz uma solda com menores níveis de dureza ao
longo da seção transversal inferior em relação às situações do Arame
Tubular, 2-FCAW e 3-FCAW. Além do perfil inferior, apresentou também
uma menor variação de dureza entre o metal de solda e a ZTA. Por estes
motivos o processo MIG/MAG mostrou uma melhor condição de ser
aplicado em situações onde é determinada uma dureza máxima, por
exemplo, 248HV em soldas de tubulação (material A106 ou API 5L) que
trabalham com H2S, conforme norma Petrobras N-76 (2001).
A utilização da mistura Ar + CO2 + O2 para o processo Arame Tubular,
situação 3-FCAW, resultou em uma solda com um maior gradiente de
dureza entre o metal de solda e a ZTA, quando comparado com a situação
2-FCAW. A mistura tripla como gás de proteção, para este processo, não é
indicada na soldagem de juntas as quais serão submetidas às condições
exemplificadas no parágrafo anterior.
56
6 CONCLUSÃO
O modo pulsado térmico apresentou um comportamento mais estável
durante a soldagem com o processo MIG/MAG tendo maior facilidade de se
obter soldas com ótimo acabamento superficial.
Para ambos os processos, o modo pulsado térmico promoveu o
refinamento da microestrutura do metal de solda, conforme mostrado nos
testes preliminares.
O uso do cobre-junta para o processo Arame Tubular causou a retenção
de escória na raiz da solda ocasionando falta de penetração.
Conforme mostrado nos ensaios executados neste trabalho, é evidente a
influência do gás de proteção na microestrutura e conseqüentemente nas
propriedades mecânicas do metal de solda no processo arame Tubular,
situações 2-FCAW e 3-FCAW.
O processo Arame Tubular produz soldas com maior tenacidade, sendo
mais indicado nas situações onde requer uma boa resistência ao impacto.
O processo MIG/MAG produz soldas com menor perfil de dureza em sua
seção transversal, sendo indicada nas situações onde são fixados limites
máximos de dureza.
57
7 SUGESTÕES PARA TRABALHOS FUTUROS
Estudar o efeito da pulsação térmica para soldas multi-passes.
Estudar o efeito da pulsação térmica em outros tipos de aço ao carbono
e aços inoxidáveis.
Monitorar o destacamento de gota com filmagem de alta velocidade para
o processo Arame Tubular com pulsação térmica.
Avaliar a influência da pulsação térmica na resistência do metal
depositado, utilizando ensaio de tração com corpos de prova retirados
longitudinalmente ao cordão de solda.
Estudar o comportamento à fadiga de juntas soldadas pelos modos:
convencional e pulsado térmico.
58
8 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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