características e usos das plataformas colaborativas no...
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Universidade de São Paulo
Escola de Comunicações e Artes
Departamento de Relações Públicas, Propaganda e Turismo
Curso de Especialização em Gestão Integrada da Comunicação Digital em Ambientes Corporativos
Características e usos das plataformas colaborativas no contexto da pesquisa científica:
Proposta a pesquisadores da área ambiental
Paulo André Barros Alves
São Paulo
2014
PAULO ANDRÉ BARROS ALVES
Características e usos das plataformas colaborativas no contexto da pesquisa científica:
Proposta a pesquisadores da área ambiental
São Paulo
2014
Monografia apresentada à Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo em cumprimento parcial às exigências para obtenção do título de especialista em Gestão Integrada da Comunicação Digital em Ambientes Corporativos.
Área de concentração: Ambientes colaborativos
Orientadora: Profa. Dra. Daniela Osvald Ramos
Autorizo a reprodução total ou parcial deste trabalho por qualquer meio convencional ou eletrônico, para fins de estudo e pesquisa, desde que citada a fonte.
Alves, Paulo
Características e usos das plataformas colaborativas no contexto da pesquisa científica: proposta a pesquisadores da área ambienta. Paulo Alves: orientadora Daniela Ramos.
São Paulo – 2014. 66 fls.
Monografia (Especialização Lato Sensu) – Escola de Comunicações e Artes, Universidade de São Paulo, 2014.
1. Comunicação digital 2. Ambientes colaborativos 3. Produção científica ambiental
ALVES, P. A. B. Características e usos das plataformas colaborativas no contexto da pesquisa científica: proposta a pesquisadores da área ambiental. Monografia apresentada à Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo em cumprimento parcial às exigências para obtenção do título de especialista em Gestão Integrada da Comunicação Digital em Ambientes Corporativos.
Aprovado em:
São Paulo
Banca examinadora
Prof. Dr. _________________________ Instituição: ________________________
Julgamento: ______________________ Assinatura: ________________________
Prof. Dr. _________________________ Instituição: ________________________
Julgamento: ______________________ Assinatura: ________________________
Prof. Dr. _________________________ Instituição: ________________________
Julgamento: ______________________ Assinatura: ________________________
2014 Agradecimentos
Aos meus pais, por me ensinarem que se deve buscar sucesso por investidas
próprias;
Aos meus irmãos pelo carinho de sempre, e aos meus sobrinhos pelas risadas
e bons momentos;
À Priscila pelo companheirismo, amor incondicional e compreensão durante o
tempo longe;
Aos amigos de fé, de berço e de escola, que sempre dão prova de que nunca
vamos nos separar;
Aos novos amigos feitos em São Paulo nesses quase três anos, e na USP
durante o Digicorp: copos, pôqueres, caronas e todas as conversas –
especialmente as menos sérias – tornaram tudo menos difícil;
Ao CIAT, à comunidade COP Andes e à Flávia Cunha pela colaboração com o
trabalho;
E aos professores, coordenação e orientadora Daniela Ramos do Digicorp,
pela atenção, conhecimento compartilhado e parceria nesses dois anos de
curso.
Resumo
ALVES, P. A. B. Características e usos das plataformas colaborativas no contexto da pesquisa científica: proposta a pesquisadores da área
ambiental. 2014. 66 fls. Monografia (Especialização Latu Sensu) – Escola de
Comunicação e Artes, Universidade de São Paulo, 2014.
Este estudo busca traçar um panorama sobre o uso de plataformas digitais no
contexto da pesquisa científica, de modo a contribuir, especificamente, para a
melhoria da colaboração entre profissionais da área ambiental. Compreendido
na subárea Comunicação Digital, o trabalho tem nos Ambientes Colaborativos
sua temática principal. Utiliza-se questionários qualitativos e entrevistas para
medir a percepção do público-alvo acerca do assunto e, por fim, sugere-se
ferramentas e métodos de utilização de acordo com necessidades de
colaboração identificadas.
Palavras-chave: comunicação digital. ambientes colaborativos. produção
científica ambiental
Abstract
ALVES, P. A. B. Characteristics and uses of collaborative platforms in the context of scientific research: proposal for environmental researchers. 2014.
66 fls. Monografia (Especialização Latu Sensu) – Escola de Comunicação e
Artes, Universidade de São Paulo, 2014.
This study aims to give an overview on the use of digital platforms in the context
of scientific research, in order to contribute specifically to improving
collaboration amongst professionals from the environmental area. The work
comprises the Digital Communication subarea, and Collaborative Environments
is its main theme. We use qualitative questionnaires and interviews to measure
the perception of audience on the subject, and finally, suggest tools and
methods accordingly with the collaboration needs identified throughout the
process.
Keywords: digital communication. collaborative environments. environmental
scientific production
Resumen
ALVES, P. A. B. Características e usos de las plataformas de colaboración en el contexto de la investigación científica: propuesta a los investigadores
el área ambiental. 2014. 66 fls. Monografia (Especialização Latu Sensu) –
Escola de Comunicação e Artes, Universidade de São Paulo, 2014.
Este estudio tiene como objetivo ofrecer una visión general sobre el uso de las
plataformas digitales en el contexto de la investigación científica, a fin de
contribuir específicamente a la mejora de la colaboración entre los
profesionales del área ambiental. El trabajo comprende la sub-área de
Comunicación Digital y Ambientes de Colaboración es su tema principal.
Utilizamos cuestionarios cualitativos y entrevistas para medir la percepción de
la audiencia sobre el tema, y por último sugerimos herramientas y métodos de
acuerdo con las necesidades de colaboración identificadas durante el proceso.
Palabras clave: comunicación digital. ambientes de colaboración. producción
científica ambiental
Lista de gráficos
Gráfico 1 - Frequência de uso de plataformas digitais na atividade de pesquisa ..... 34
Gráfico 2 - Benefícios do uso de plataformas de colaboração digitais ..... 36
Gráfico 3 - Desvantagens do uso de plataformas online de colaboração ..... 37
Gráfico 4 - Benefício de ferramentas digitais com atenção ao design na pesquisa científica ..... 37
Gráfico 5 - Disposição para dedicar tempo ao aprendizado de uma nova ferramenta
..... 38 Gráfico 6 - Esquema de uso do Google Drive ..... 46 Gráfico 7 - Esquema de uso do Word em conjunto com
OneDrive e Word Online ..... 47 Gráfico 8 - Esquema de uso do Trello ..... 49 Gráfico 9 - Esquema de uso do Disqus ..... 51 Gráfico 10 - Esquema de uso Vanilla Forums ..... 52 Gráfico 11 - Esquema de uso ResearchGate ..... 54
Lista de figuras
Figura 1 - Plataforma de armazenamento e compartilhamento de arquivos Google Drive, do Google ..... 45
Figura 2 - Software de processamento de texto com integração a armazenamento em nuvem Word, da Microsoft ..... 46
Figura 3 - Plataforma de gestão de projetos e equipes em trabalhos colaborativos Trello ..... 48
Figura 4 - Plataforma de fórum com login social Disqus ..... 50 Figura 5 - Ferramenta de fórum de discussão Vanilla Forums ..... 52 Figura 6 - Rede social dedicada a pesquisadores
ResearchGate ..... 53
Lista de tabelas
Tabela 1 - Tempo de experiência X frequência de uso de ferramentas digitais na atividade de pesquisa ..... 35
Tabela 2 - Panorama de ferramentas adotadas ..... 35 Tabela 3 - Benefícios de utilizar plataformas de colaboração ..... 36 Tabela 4 - Desvantagens de usar plataformas online de
colaboração ..... 37 Tabela 5 - Influência positiva de ferramentas digitais com
atenção ao design e usabilidade no contexto da pesquisa científica ..... 37
Tabela 6 - Disposição para dedicar tempo para aprender a usar uma ferramenta nova ..... 38
Tabela 7 - Uso de mídias digitais por parte de três líderes de pesquisa científica entrevistados ..... 39
Tabela 8 Resumo de ferramentas sugeridas ..... 59
Sumário
Introdução ..... 12 1. Contexto contemporâneo, cultura do compartilhamento
e colaboração ..... 15 1.1. Sociedade e o emaranhamento do virtual: da World Wide
Web e conexão móvel à troca de capitais simbólicos na rede ..... 15 1.2. Efeitos do digital no mundo contemporâneo ..... 21 1.3. Motivação e criação de valor a partir da colaboração ..... 24 2. Usos e ferramentas colaborativas no contexto científico ..... 30 2.1. Perfil dos pesquisadores científicos: um olhar sobre os
profissionais da área ambiental ..... 30 2.2. Necessidades de colaboração dos pesquisadores ..... 35 3. Pesquisa de campo: panorama de usos de ferramentas
digitais entre cientistas ambientais ..... 37 3.1 Percepção geral de pesquisadores envolvidos com temas
ambientais ..... 38 3.1.1. Tempo de experiência, frequência e vantagem do uso de
ferramentas digitais de colaboração ..... 38 3.2. Entraves e motivações para incrementar o uso de
ferramentas digitais de colaboração ..... 41 3.3. O que pensam os líderes de projeto ..... 43 3.3.1. Sobre razões da falta de uso de mídias digitais no meio
científico ..... 45 3.3.2. Sobre motivações para a mudança de cenário ..... 46 3.3.3. Sobre uma rede social dedicada ..... 48 4. Proposta aos pesquisadores da área ambiental:
ferramentas e regras para o sucesso no digital ..... 49 4.1. Sugestão de ferramentas disponíveis no mercado ..... 49 4.1.1. Redação de projetos e colaboração com publicações ..... 49 4.1.2. Gestão de equipes e planejamento de eventos presenciais e
virtuais ..... 52 4.1.3. Fóruns de discussão ..... 55 4.1.4. Redes sociais ..... 57 4.2 Ferramenta ideal ..... 60 4.3 Regras para obter sucesso ..... 63 Considerações finais ..... 65 Referências ..... 68 ANEXO I: Lista de instituições pesquisadas ..... 70
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Introdução
O ambiente ideal de colaboração tem no digital a atualização de sua
potencialidade, mas é imprescindível observar as nuances tanto do social quanto do
tecnológico para obter resultados efetivos. Essa é premissa que fundamenta as
discussões levantadas neste estudo, cuja motivação surgiu a partir de nossa
experiência trabalhando em criação de conteúdo colaborativo e em moderação de
comunidades de profissionais de várias áreas do conhecimento, mais notadamente
cientistas ambientais.
Foi durante cinco anos de envolvimento nessa empreitada que
compreendemos a necessidade de nos debruçarmos sobre as particularidades da
rotina de produção de conhecimento feita por pesquisadores científicos, de modo a
avaliar em que medida a colaboração que lança mão de tecnologias de
comunicação digital pode contribuir para maior efetividade de seu trabalho.
Percebemos, ainda, que seria necessário entender a percepção desses profissionais
quanto às chamadas Tecnologias de Informação e Comunicação (TICs) para nos
atentarmos às suas motivações e expectativas de uso.
Características e usos das plataformas colaborativas no contexto da pesquisa
científica: proposta a pesquisadores da área ambiental é um estudo circunscrito à
área de Ciências da Comunicação, subárea Comunicação Digital e temática
Ambientes Colaborativos.
Nosso objetivo é contribuir para o esclarecimento sobre o uso de plataformas
e sistemas digitais para comunicação e colaboração em prol de resultados mais
efetivos na atividade científica. Defendemos que esta, cuja natureza é amplamente
colaborativa, precisa se valer de sistemas baseados na internet para encorajar o
trabalho em equipe em projetos de pesquisa, diminuindo custos e melhorando a
eficiência geral dos processos.
Os objetivos específicos são: 1) capturar a percepção atual sobre o uso de
tecnologias de informação e comunicação por parte de pesquisadores da área
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ambiental; 2) identificar junto ao público-alvo necessidades de colaboração não
atendidas pelas ferramentas usadas; 3) identificar as variáveis limitantes do uso de
tecnologias de informação e comunicação; e 4) apresentar sugestões e propostas de
uso de ferramentas digitais que atendam às necessidades do público-alvo, em
conjunto com um conceito de plataforma ideal. Realizamos o proposto em uma
estrutura de quatro capítulos.
No capítulo 1, Contexto contemporâneo, cultura do compartilhamento e
colaboração, buscamos referencial teórico de Castells, Levy, Jenkins, McLuhan,
Johnson, entre outros, para traçar um apanhado histórico da evolução da
conectividade que se deu a partir do surgimento da internet nos anos 1980 e segue
até os dias atuais, enfatizando o papel de tecnologias de vanguarda na mudança de
relações humanas, sobretudo no ambiente de trabalho e nas trocas simbólicas entre
grupos de interesse. No mesmo trecho inicial, falamos sobre os mecanismos sociais
de motivação que compõem a dinâmica de criação de conteúdo em equipe em
plataformas digitais.
O capítulo 2, intitulado Usos e ferramentas colaborativas no contexto
científico, segue com um apanhado geral sobre o perfil dos pesquisadores da área
ambiental, escolhidos como objeto de estudo dentro da temática de colaboração
online. Versamos sobre suas particularidades de produção de valor em contraste
com o ambiente empresarial e listamos suas necessidades de colaboração à luz das
atividades mais frequentemente executadas por esses profissionais.
No terceiro capítulo, Percepção geral de pesquisadores envolvidos com
temas ambientais, apresentamos dados obtidos em pesquisa de campo própria
realizada junto a um grupo de pesquisadores científicos, cujas respostas do
questionário revelam sua percepção quanto ao uso de tecnologias digitais.
Buscamos mostrar como e quais ferramentas usam em sua rotina, quais são as
dificuldades enfrentadas, assim como identificar motivos que levam a um quadro de
dificuldade de uso e possíveis soluções para integrar tecnologias de maneira mais
eficaz no contexto da produção científica.
Em seguida, no capítulo Proposta aos pesquisadores da área ambiental:
ferramentas e regras para o sucesso no digital, sugerimos uma lista de ferramentas
disponíveis no mercado que atendem às necessidades mais básicas dos
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pesquisadores, como forma de referência e estímulo de uso. Por fim, apresentamos
nossas considerações finais sobre o estudo e indicamos possíveis formas de
continuação da abordagem, incluindo desenvolvimento de uma ferramenta digital
nova.
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Capítulo 1: Contexto contemporâneo, cultura do compartilhamento e colaboração
1.1. Sociedade e o emaranhamento do virtual: da World Wide Web e conexão móvel à troca de capitais simbólicos na rede
Tim Berners-Lee criou o primeiro software que daria origem à World Wide
Web em 1989, mas ele não fazia ideia do impacto que sua invenção teria no mundo
poucos anos depois, especialmente porque ela serviria, primeiramente, só para
organizar o seu acervo pessoal. De uma conexão HTTP modesta com um servidor
de internet, a web se tornou uma das mais importantes formas de comunicação
entre seres humanos e a principal entre as máquinas. Seus reflexos estão na
cultura, na economia e, é claro, na forma com que se troca informação em qualquer
ambiente. A sociedade contemporânea, permeada pelo digital, nunca foi tão própria
das ciências da comunicação.
As origens desse cenário datam desde a Revolução Industrial, quando a
técnica se tornou globalizada e exigida mais fortemente como maneira essencial de
geração de riqueza. As fábricas foram os primeiros espaços com hierarquia
notadamente padronizada em que operários passaram a concorrer com as
máquinas pela geração de valor dentro do capitalismo, momento também em que as
relações de trabalho começaram discretamente a mudar da venda de mão-de-obra
pesada para o trabalho intelectual.
Foi também no século XIX que o consumo se tornou o combustível da
civilização moderna, que passou a usar a comercialização de produtos e serviços
para dar sentido às relações de trabalho recém constituídas e para criar a
proposição de uma comunicação voltada para o mercado, afinal, precisava-se
convencer de que produto A era melhor que os produtos B e C. A mesma sociedade
baseada em consumo viu a ascensão do jornalismo, no século seguinte, como
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maneira massificada de influenciar os públicos, defini-los e de entender o fluxo de
informação.
Mas, foi só com a criação da web que a verdadeira guinada à conexão entre
públicos diversos se tornou tão evidente. O espaço digital abriu espaço para uma
confluência de conhecimento e convivência entre povos, que seguiu de um
mecanismo globalizado de transmissão e consumo de informação nos anos 1980
para o que vemos hoje. Para Castells (2003, p. 34 a 35):
A cultura comunitária virtual acrescenta uma dimensão social ao compartilhamento tecnológico, fazendo da Internet um meio de interação social seletiva e de integração simbólica. A cultura empresarial trabalha, a lado da cultura hacker e da cultura comunitária, para difundir práticas da Internet em todos os domínios da sociedade como meio de ganhar dinheiro.
A mídia tradicional, composta por impressos, rádio e TV, sofreu
transformações que decorrem até hoje e influenciam diretamente na maneira com
que se faz notícia, transformando processos internos dos veículos, formatos de
apresentação de conteúdo e criando várias propostas de comunicação para públicos
específicos. Isso porque, ao mesmo tempo em que se globaliza, a sociedade
identifica novos nichos antes inexplorados pelos detentores dos meios de
comunicação de massa, em um cenário favorecido e provocado por mudanças no
estrato social e, de novo, nos padrões de consumo.
Espaços criados na web proporcionam o diálogo e a troca de ideias
necessários tanto para construção de novos conhecimentos – ou somente para
favorecê-los – quanto para entender o papel do cidadão na sociedade capitalista, em
discussões que se dissolvem na rede e são alimentadas graças à criação de um
sistema técnico perfeito que conecta partes distantes do globo. O resultado é um
emaranhado de ligações compostas de equipamentos, mas, sobretudo, de
inteligência, que cria um ambiente artificial, mas que contém um substrato
importante para reflexões sobre a sociedade moderna.
A comunicação por mundos virtuais é, portanto, em certo sentido, mais interativa que a comunicação telefônica, uma vez que implica, na mensagem, tanto a imagem da pessoa como a da situação, que são quase sempre aquilo que está em jogo na comunicação. (LEVY, 2009, p.81)
Portanto, a criação de Tim Bermers-Lee tem papel fundamental para a
criação de novas relações no mundo conectado, influenciando em padrões de
comportamento que interferem desde o cultural até o consumo das famílias. Na
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verdade, a internet e a tecnologia de computadores estreada no final dos anos 1980
foi o começo de uma rede de comunicação global que, até o final do século XX,
veria uma remodelação que daria ainda mais espaço para interação não mais entre
mídia e massa, mas entre todos e todos.
Segundo Alex Primo (2007), web 2.0 é caracterizada pela potencialização que
dá às formas de publicação, compartilhamento e organização de informações, que
tem a capacidade de ampliar as possibilidades de interação entre os participantes. O
autor afirma que o conceito está longe de uma simples combinação de formas
técnicas e ferramentais, como linguagens de programação, softwares ou a sintaxe
própria da internet, mas, acima de tudo, a um conjunto de processos mediados por
computador que definem a época em que vivemos.
No entanto, há que ser entendido o plano de fundo que fundamentou e
possibilitou que tal conversa entre públicos acontecesse, em um modelo que diverge
diametralmente do entendido por Paul Lazarsfeld entre o final dos anos 1940 e início
dos anos 1950 (MATTELART; MATTELART, 1999). O momento em que vive a
sociedade a partir do final da primeira década do século XXI é permitido graças, sim,
à evolução da técnica, refletida em dispositivos móveis conectados à internet, com
capacidades múltiplas de consumir produtos, serviços e, sobretudo, informação.
O iPhone, lançado em 2007 pela Apple1, serve de marco para o entendimento
do que se vê hoje em termos de comunicação ponto a ponto e na conformação de
uma rede cada vez mais imbrincada. A complexidade do fluxo de dados na rede é
potencializada por nós de conversa individuais, que enviam e recebem informações
entre si e corroboram para a criação de comunidades que se assemelha não mais
segundo categorizações rasas que consideram idade, sexo, localização ou qualquer
outro atributo convencional – o que impera são as preferências individuais.
O consumo de informação vem se tornando individualizado, conformado a
partir da visão de mundo de cada pessoa conectada, que escolhe suas fontes e
prioriza a absorção de conteúdo de fontes distintas. A comunicação de massa
perdeu espaço para a comunicação de nicho, embora ainda tenha seu valor e lute
1 Apple confirma expectativas e lança telefone com iPod. Disponível em http://g1.globo.com/Noticias/Tecnologia/0,,AA1413950-6174,00.html. Acessado em 1 de setembro de 2014.
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para buscar novas maneiras de apresentar conteúdo e atrair audiências, também
procurando formas mais viáveis de sobreviver economicamente. Há, se dúvidas,
também o componente mercadológico forte que ajuda na massificação da tecnologia
móvel como via principal de comunicação na sociedade digital.
Nesse contexto, se por um lado a Apple foi a precursora da tecnologia que
possibilitou essa modalidade de consumo de informação centrado no indivíduo, o
Google foi a empresa que mais participou do processo de inclusão de todo tipo de
público na nova realidade. Com produtos que variam desde seu poderoso motor de
busca e serviços como Gmail e Maps, a companhia sediada em Mountain View, na
Califórnia, viu na plataforma Android a maior aposta e assertividade no propósito de
popularizar a tecnologia móvel a níveis globais2.
Os chamados smartphones de entrada respondem por boa parte do market
share de dispositivos móveis globais, especialmente em mercados emergentes
como China, Índia e América Latina, considerando que boa parte dos dispositivos
comercializados com o sistema operacional Android, que teve, em 2013, 78% do
mercado segundo a consultoria Gartner3, têm essas características. Hoje líder no
mercado mundial, o sistema operacional do Google é responsável não só por grande
fonte de renda para sua empresa criadora, mas sobretudo por inserir públicos
marginalizados no mesmo contexto de sociedade conectada que iniciou com o
iPhone em países de primeiro mundo há sete anos.
Há que se falar, portanto, no sentido desses aparelhos na sociedade
moderna. Segundo Lévy, (2009, p. 92), esses dispositivos são a técnica que permite
aos indivíduos acessarem espaços virtuais de interação, no chamado ciberespaço:
O espaço de comunicação aberto pela interconexão mundial dos computadores e das memórias dos computadores. Essa definição inclui o conjunto dos sistemas de comunicação eletrônicos (aí incluídos os conjuntos de redes hertzianas e telefônicas clássicas), na medida em que transmitem informações. Consiste de uma realidade multidirecional, artificial ou virtual incorporada a uma rede global, sustentada por computadores que funcionam como meios de geração de acesso.
2 Android se torna o sistema operacional móvel mais popular do mundo. Disponível em: http://www.tecmundo.com.br/android/60002-android-passa-ios-sistema-operacional-movel-usado-mundo.htm. Acessado em 2 de setembro de 2014. 3 Relatório “Gartner Says Annual Smartphone Sales Surpassed Sales of Feature Phones for the First Time in 2013”, publicado pela consultoria Gartner em fevereiro de 2014, acessado em 28 de julho de 2014, disponível em http://www.gartner.com/newsroom/id/2665715.
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Mas as plataformas online também se mostram essenciais para que haja
compartilhamento de informações, já que a tecnologia de hardware, por si só, é tão
somente o meio pelo qual os indivíduos transmitem os dados. Redes sociais como
Facebook, Twitter, Instagram, Google+, Tumblr, além de blogs, fóruns de discussão
e wikis, esses sim são os verdadeiros locais virtuais em que as opiniões são
contextualizadas e a informação transmitida e consumida. O dueto entre mídia
móvel e plataforma online de relacionamento denota uma conexão intrínseca entre a
evolução da tecnologia e da conectividade à internet por antenas de radiofrequência
com a capacidade comunicacional da última década. E o fluxo de informações fez as
redes mais instáveis, com mais intersecções e relações que passam a apresentar
um fator de imprevisibilidade antes inexistente.
Jenkins (2008, p.43) defende que a convergência de plataformas representa
muito mais do que puramente a evolução da técnica como maneira de unir
funcionalidades diversas em dispositivos e sistemas cada vez mais “densos” em
termos de recursos:
A convergência não envolve apenas materiais e serviços produzidos comercialmente, circulando por circuitos regulados e previsíveis. Não envolve apenas as reuniões entre empresas de telefonia celular e produtoras de cinema para decidirem quando e onde vamos assistir à estreia de um filme. A convergência também ocorre quando as pessoas assumem o controle das mídias. Entretenimento não é a única coisa que flui pelos múltiplos suportes midiáticos. Nossa vida, nossos relacionamentos, memórias, fantasias e desejos também fluem pelos canais de mídia. Ser amante, mãe ou professor ocorre em suportes múltiplos.19 Às vezes, colocamos nossos filhos na cama à noite e outras vezes nos comunicamos com eles por mensagem instantânea, do outro lado do globo.
Há, portanto, uma mudança sobretudo cultural em meio a avanços
tecnológicos que costumam levar os créditos pelas alterações em padrões de
consumo de informação e produtos midiáticos de maneira geral. É claro que a
evolução dos dispositivos eletrônicos é o grande criador desse fenômeno, mas uma
análise mais aprofundada torna evidente que o aspecto cultural é o verdadeiro
catalisador dessas nuances, sejam elas rumo a uma sociedade mais conectada e
consciente de seu papel junto à comunidade, ou a um comportamento mais passivo
e estanque frente a mudanças que impactam mas não alteram de maneira
fundamental as bases usadas pelo capitalismo para se estabelecer como modelo de
geração de riqueza global.
20
As organizações exercem um papel fundamental nesse contexto, pondo em
cheque a maneira tradicional sob a qual suas dinâmicas internas foram
estabelecidas. O mundo corporativo do século XXI é mais afeito a mudanças
constantes para atender a necessidades mais customizadas de seus clientes, o que
remodela a hierarquia interna e vê seus efeitos também em outros campos de
atuação. O terceiro setor, notadamente ONGs e instituições de pesquisa em geral,
apesar de fundamentalmente diferente em termos de propósitos, também esbarra
nas mesmas mudanças de paradigma que afetam a sociedade conectada. Afinal,
mesmo que sua estrutura hierárquica seja diferente, também precisa atender a
novos padrões de exigência, porém de doadores e grandes bancos de
financiamento de pesquisa no lugar de clientes.
Ambas as organizações capitalistas e as não-lucrativas estão inseridas na
mesma conjuntura, que exige respostas mais céleres e torna necessário o acesso à
internet para aproveitar recursos online como maneira de capacitação e
diferenciação. Pesquisadores e outros profissionais que produzem conhecimento
científico são, da mesma forma que no mundo corporativo, pressionados por metas
e deadlines: artigos, livros, informes, policy briefs e redação de projetos são alguns
exemplos. Por isso, há que se levar em conta a maneira com que as tecnologias e
novas interações no digital se fazem presentes e influenciam o trabalho desses
profissionais, escolhidos como objeto de estudo desta pesquisa, e que refletem uma
das facetas da convergência midiática e surgimento de novos modelos de
colaboração.
Se a comunicação, sobretudo no digital, é essencial para que organizações
capitalistas criem valor simbólico e tornem seus produtos bem-sucedidos nessa
virada de século (SAAD, 2008), de outro lado também é a força propulsora do
trabalho em equipe e troca de informações tão necessárias para a produção de
conhecimento científico na sociedade pós-moderna.
21
1.2. Efeitos do digital no mundo contemporâneo
Se uma pessoa comum dos anos 1950 pudesse viajar meio século à frente no
tempo, diria que hoje temos uma forma de inteligência superior, interligada em vários
sentidos, e que utiliza a tecnologia e a internet a seu favor para obter respostas mais
rápidas a partir de um acervo iminentemente infinito de informações. Quem primeiro
pensou sobre isso foi o filósofo francês Pierre Levy, criador do conceito de
Inteligência Coletiva. Autor também do livro Cibercultura, entender Levy é
fundamental para entender a maneira com que o espaço digital é ocupado pelas
pessoas e a forma que elas utilizam as infovias em benefício próprio.
Embora seja considerado um entusiasta dos impactos das redes digitais de
forma positiva na sociedade contemporânea, sua leitura é essencial para
compreender também as problemáticas que giram em torno das novas dinâmicas do
ciberespaço. Afinal, a sociedade conectada possibilita níveis de interação que
passam a exigir tomada de decisões diferentes em vários campos, do cultural ao
político – um indício é que Levy dedica parte de sua obra para um manifesto por
uma política mais plural e apropriada pelos territórios digitais. Entre profissionais que
utilizam tecnologias digitais para gerar conhecimento, a saber, pesquisadores
científicos, essa realidade é patente: a própria natureza de seu trabalho está no
pensamento colaborativo, na ligação de ideias e conceitos opostos e relacionados
para criar algo original.
Mas, além de falar sobre o espaço digital criado pelas tecnologias, é
importante refletir sobre como o aparato técnico pode influenciar o próprio processo
criativo. Nesse sentido, é impossível não recorrer a McLuhan e seu famoso Os
Meios de Comunicação como Extensões do Homem, de 1964, em que discorreu
sobre a interferência da tecnologia no modo das pessoas produzirem conteúdo e em
sua forma geral de apresentação. Mesmo antes do surgimento da internet, o autor
foi capaz de prever o que viria a ser evidente 50 anos depois: os dispositivos
conectados, a rede, a maneira com que a tecnologia é desenhada, tudo contribui
para a mudança no fluxo de criação de conteúdo, resultando em produtos
22
iminentemente diferentes do que os tidos antes mesmo do estabelecimento da
Indústria Cultural e dos meios de comunicação de massa. Ele dizia (1969, p. 33):
“Nossa resposta aos meios e veículos de comunicação – ou seja, o que conta é o
modo como são usados – tem muito da postura alvar do idiota tecnológico”.
A verdade é que, mesmo tendo tido contato somente com os meios de
comunicação hoje considerados tradicionais, ou analógicos, McLuhan estabeleceu
uma base importante para o entendimento do meio como agente modificador, e não
um mero catalisador. Na contemporaneidade, isso quer dizer que um artefato digital
e com acesso à internet, como um smartphone, é capaz acelerar processos já
existentes e criar novos laços na rede, mas, mais do que isso, ele molda a própria
forma de pensar de quem o utiliza. Para cientistas, essa forma de ver a tecnologia é
essencial para compreender como as tecnologias podem ser fatores decisivos no
processo de criação de um grande projeto ou um simples paper – embora não seja o
objetivo final deste trabalho, consideramos a reflexão válida.
Portanto, as funcionalidades específicas da tecnologia, representadas por
algoritmos sofisticados, podem ser até mais importantes do que a maneira com que
elas são utilizadas. Uma ferramenta de colaboração como os wikis, por exemplo,
oferecem uma estrutura de organização em hiperlinks que influencia nas conexões
que o cérebro do usuário faz na hora de pesquisar por um assunto na web, assim
como recursos específicos de um aplicativo de troca de mensagens no celular
promove a interação dos usuários segundo regras pré-estabelecidas pelo
programador.
A conduta é, portanto, delineada não somente por padrões sociais, mas por
códigos de programação cujo “fenótipo” é uma aplicação de computador desenhada
para provocar reações e usos pré-concebidos, uma espécie de “kitsch digital”. A
tecnologia comanda os padrões de relação, é imperativa. E isso decorre desde os
tempos dos mecanismos mais rudimentares de produção de conteúdo.
Até que ponto a máquina de escrever, através de seu justificável marginador direito, contribui para o desenvolvimento do verso livre, é difícil de dizer, mas o verso livre, realmente, foi uma recuperação dos acentos falados e dramáticos da poesia – e a máquina de escrever veio incentivar exatamente essas qualidades. Sentado à máquina de escrever, o poeta, muito à maneira do músico de jazz, tem a experiência do desempenho enquanto composição. [...] À máquina de escrever, o poeta comanda os recursos da imprensa e da
23
impressão. A máquina é como um sistema de dirigir-se ao público, imediatamente ao alcance da mão. (MCLUHAN, 1969, p. 293)
A busca por ferramentas bem desenhadas e que preveem os melhores
resultados para cada campo de atuação e atividade do pesquisador é essencial,
mas não sem tomar a tecnologia como forma modelizante de pensamento, abrindo
mais espaço para discussões sobre como sua estrutura interna influencia na
cognição dos profissionais no desempenho de seu trabalho.
Tendo bebido na fonte de McLuhan, Nicholas Carr é um autor que defende
que as novas tecnologias, especialmente os repositórios de conteúdo e motores de
busca, estão afetando negativamente a maneira com que o cérebro humano faz
relações entre assuntos, grava dados e, principalmente, como funciona em
atividades que requerem mais poder de concentração. Segundo relatos colhidos no
livro The Shallows: what the internet es doing to our bains, Carr demonstra, baseado
também em suas próprias impressões, que diversos profissionais envolvidos com
trabalho de produção de conteúdo e leituras extensas passaram, nos últimos anos, a
sentir-se desmotivados e propensos a distrações na web, provocando perda de foco.
Eles fornecem o material de pensamento, mas também moldam o processo de pensamento. E o que a internet parece estar fazendo é eliminar a minha capacidade de concentração e de contemplação. Estando online ou não, minha mente agora espera receber informação da forma como a internet a distribui: em um rápido movimento de fluxos de partículas. Antes eu era um mergulhador no mar das palavras. Agora eu me movo rapidamente sobre a superfície como alguém em um jet ski. (CARR, 2010, p.2, tradução nossa)4
Carr defende que, ao consumir conteúdo quase unicamente na web, o
cérebro humano desenvolve uma capacidade de correlação que se parece com os
hiperlinks, algo que McLuhan já havia, de certa forma, notado; mas que provoca
necessidade de realizar uma espécie de leitura dinâmica em qualquer fonte de
informação, inclusive naquelas que requerem mais aprofundamento, como grandes
ensaios e livros. Nesse contexto, o motor de busca do Google e a web de maneira
geral desempenham um papel fundamental para que a memória humana seja usada
menos para gravar informações e mais para como index. Em longo prazo, os efeitos
podem ser até a diminuição da capacidade de guardar memórias de longo prazo.
4 Do original “They supply the stuff of thought, but they also shape the process of thought. And what the Net seems to be doing is chipping away my capacity for concentration an contemplation. Whether I’m online or not, my mind now expects to take in information the way the Net distributes it: in a swiftly moving streams of particles. Once I was a scuba diver in the sea of words. Now I zip along the surface like a guy on a Jet Ski”.
24
A Web fornece um suplemento conveniente e convincente para a memória pessoal, mas quando começamos a usar a Web como um substituto para a memória pessoal, ignorando os processos internos de consolidação, corremos o risco de esvaziar nossas mentes de suas riquezas. [...] A calculadora, uma ferramenta poderosa, mas altamente especializada, acabou por ser uma ajuda para a memória. A Web é uma tecnologia do esquecimento. (CARR, 2010, p. 188, tradução nossa)5
A nova realidade hiperconectada poderia, segundo o autor, causar também
um certo afastamento de leituras longas – para pesquisadores científicos, objeto de
estudo deste trabalho, tal consequência pode ser uma bela forma de negar as
tecnologias e estagnar a produção de conhecimento em práticas ultrapassadas de
colaboração. Há, portanto, uma preocupação patente em como entender as
tecnologias como benéficas no processo cognitivo e, principalmente, de criação de
valor junto a pares. Embora autores como Carr desvendem alguns prejuízos da
conectividade para o cérebro, admite-se que muitas vantagens são extraídas da
internet. A boa notícia é que a colaboração online pode ser favorecida por fatores
que vão muito além do uso de ferramentas na Web, mesmo que as tecnologias
continuem tendo papel fundamental: motivos e incentivos são essenciais para que
uma rede de colaboração seja bem sucedida.
1.3. Motivação e criação de valor a partir da colaboração
Os dispositivos tecnológicos conectados interferem diretamente na maneira
de pensar e, por conseguinte, de se fazer ciência, mas a colaboração no ambiente
digital decorre também de fatores sociais e psicológicos. Embora haja alteração
significante na capacidade de se acumular memória ou realizar tarefas que exijam
mais concentração, o ambiente digital pode também favorecer um comportamento
5 Do original: “The Web provides a convenient and compelling supplement to personal memory, but when we start using the Web as a substitute for personal memory, bypassing the inner processes of consolidation, we risk emptying our minds of their riches. […] The calculator, a powerful but highly specialized tool, turned out to be an aid to memory. The Web is a technology of forgetfulness”.
25
que parece ser inerente a todo ser humano: trabalhar, em conjunto ou não, movido a
incentivos que atingem intrinsicamente a cognição.
Clay Shirky é categórico ao definir a cultura do compartilhamento como uma
característica inerente do ser social. Independentemente das novas tecnologias, o
autor observa que o ser humano tem predisposição para trocar informação com a
comunidade em vários territórios, sejam físicos, cognitivos ou cibernéticos (LEVY,
1994). É nesse contexto que Shirky defende o surgimento das novas tecnologias
catalisadoras de um comportamento de criação de conteúdo em conjunto,
potencializando a inteligência individual graças ao aporte do grupo. Essa dinâmica
só é possível, diz o autor, graças ao ambiente que entrega os meios, os motivos e
as oportunidades para criar valor no digital – as mídias funcionam como tecido
conjuntivo da sociedade.
O excedente cognitivo, recém-criado a partir de ilhas de tempo e talento anteriormente desconectadas, é apenas matéria-prima. Para extrair dele algum valor, precisamos fazer com que tenha significado ou realize algo. Nós, coletivamente, não somos apenas a fonte do excedente; somos também quem determina seu uso, por nossa participação e pelas coisas que esperamos uns dos outros quando nos envolvemos em nossa nova conectividade. (SHIRKY, 2010, p. 31)
Excedente cognitivo é, portanto, a soma de toda a capacidade humana de
gerar valor a partir da soma de esforços pequenos em prol da construção de um
produto maior e mais abrangente. É também, acima do simples tempo livre, a
conexão de ideias complementares, um crowdsource de ideias possibilitado por
interfaces digitais de comunicação, impulsionado pela necessidade do ser humano
de viver em sociedade e por incentivos específicos de cada indivíduo, chamados de
motivações intrínsecas.
Há inúmeros exemplos de como esse mecanismo pode funcionar, gerando
resultados que vão desde o compartilhamento de fotomontagens ou vídeo-
montagens nas redes sociais, até projetos cívicos como a plataforma Ushahidi, que
ganhou notoriedade no Quênia após uma série de conflitos no país no começo de
2008. No meio científico-informacional, não haveria dúvidas, portanto, que o
componente motivacional tem papel definitivo nas dinâmicas de colaboração em
rede. Afinal, pesquisadores tendem a formar um público atraído pelo trabalho em si
como forma de compensação, ao contrário de profissões onde recompensas
financeiras são, por vezes, o verdadeiro motivador. Para profissionais que buscam
26
criar e promover a criação de conhecimento a partir do seu trabalho diário, a troca
de informações tende a tomar boa parte do tempo naturalmente.
Contribui para esse entendimento um estudo realizado pela Universidade de
Bonn, na Alemanha, em que pesquisadores foram separados em dois grupos e
incentivados de maneira diferente a contribuir com redação de artigos e revisão de
textos em uma plataforma wiki. O resultado foi o esperado: o grupo submetido a um
sistema de recompensa aliada à reputação entre os pares contribuiu mais e melhor
ao repositório.
A ideia é que se os autores recebem algo em troca de pontuação elevada de reputação, então eles vão - para aumentar ainda mais a sua pontuação de reputação - tentar contribuir com artigos de alta qualidade, aumentar a qualidade dos artigos de baixa qualidade existentes, ou fornecer sugestões de melhoria. (DENCHEVA, PRAUSE; PRINZ, 2011, tradução nossa)6
Já havia uma cultura de colaboração entre os pesquisadores participantes,
mas um sistema de recompensa entre seus colegas a partir de pontuações por
publicações e revisões tornou a colaboração muito mais efetiva e aumentou
consideravelmente a quantidade e a qualidade do conteúdo publicado. É o mesmo
que dizer que esse perfil de público pode ser engajado de forma eficiente caso haja
um simples mecanismo de reconhecimento de seu trabalho, tornando desnecessário
qualquer compensação financeira – algo que Shirky (2011) também percebeu ao
conversar com diversos especialistas nas áreas de economia e psicologia
comportamental.
Ao lado de dele, Steven Johnson (2010) é outro autor que defende o uso das
mídias digitais como maneira não só de estimular o ímpeto colaborativo das
pessoas, mas para, sobretudo, criar territórios de choque de conhecimento. O “sexo
das ideias” no ciberespaço é essencial para amadurecer pensamentos e, como
resultado, criar novas ideias. A lógica, apresentada em seu livro “De onde vêm as
boas ideias”, está presente na sociedade desde o século XVII, nos cafés londrinos,
quando a sociedade daquele país trocou o gin e o vinho por café e chá e criou o
primeiro espaço para surgimento de novas ideias.
6 Do original: “The idea is that if authors are given something in exchange for high reputation scores, then they will — to further raise their reputation score — try to contribute high quality articles, increase the quality of existing low quality articles, or provide hints for improvement”.
27
Johnson descreve o surgimento de boas ideias como um processo de
amadurecimento que pode durar meses ou anos, ao que ele chama de período de
incubação. Nesse tempo, a mente é bombardeada por informações de interlocutores
e moldando dados e experiências de vida em torno de algo concreto. Ao contrário do
que se diz em narrativas que destacam momentos de epifania, ao autor defende que
as ideias levam tempo para serem estruturadas, o que é, definitivamente,
potencializado pela conectividade em dispositivos eletrônicos.
Por isso, a maioria das grandes ideias de configura primeiro de uma forma parcial, incompleta. Elas têm a semente de algo profundo, mas falta-lhes um elemento decisivo que pode transformar um palpite em algo poderoso. E muitas vezes esse elemento que falta está em outro lugar, vivendo sob a forma de intuição na cabeça de outra pessoa. As redes líquidas criam um ambiente em que essas ideias parciais podem se conectar; formam uma espécie de agência de encontros para instituições promissoras. Elas facilitam a disseminação de boas ideias, é claro, mas também fazem algo mais sublime: ajudam a completar as ideias. (JOHNSON, 2010, p. 65)
No caso das organizações capitalistas, esse tipo de fenômeno é percebido de
maneira menos evidente, posto que as motivações intrínsecas apontadas por Shirky
ou o ambiente favorável a novas ideias descrito por Jonhson raramente se fazem
presentes no mundo corporativo – Google e Facebook são exemplos positivos. Mas,
há algumas providências que podem ser tomadas para que seja gerado valor
também nesse cenário. Para Nilofer Merchant (2012), analisando o legado de
Schumpeter e Winslow Taylor, há um conjunto de regras que devem ser seguidas
para se obter sucesso na sociedade digital, as quais destrinchamos abaixo:
Regra 1 – Hoje, o que importa são as conexões muito mais do que construir
coisas. Uma comunidade com interesses em comum consegue chegar a resultados
muito melhores e em menos tempo;
Regra 2 – O poder e a força estão em comunidades de indivíduos
conectados;
Regra 3 – Colaboração funciona melhor do que controle. Organizações que
incentivam a troca de ideias entre os funcionários e trocam resultados de curto prazo
por resultados de longo prazo conseguem desempenho melhor. Uma empresa que
se mantém fechada e com decisões centralizadas normalmente não conseguem
inovar;
28
Regra 4 – As organizações têm que respeitar as individualidades e aproveitar
o que cada pessoa pode contribuir para empresa;
Regra 5 – Deve-se permitir que os funcionários mostrem seus talentos e
troquem experiências em grupos multiculturais e multigênero para resolver
problemas mais complicados mais rapidamente;
Regra 6 – Deve-se valorizar cada vez mais a criação de ideias em conjunto.
Tudo deve ser construído pela empresa lado a lado com o consumidor: a inovação é
feita a partir de cocriação;
Regra 7 – A relação entre consumidores e empresas no mundo digital é uma
relação de altos e baixos, com similaridades com relações amorosas: têm
compromisso, decisões conjuntas e requerem confiança dos dois lados;
Regra 8 – Flexibilidade é o termo a ser usado, na área social é o equivalente
à plasticidade da biologia e à liquidez no mercado financeiro, à resiliência em termos
psicológicos. É necessário incentivar a mudança o tempo todo e colocar a estratégia
para alcançar objetivos que podem mudar no meio do caminho;
Regra 9 – As grandes ideias não devem ser tratadas como patentes presos
fixos dentro da empresa. Elas devem ser mostradas e testadas no campo, de forma
similar ao que já é feito por empresas de tecnologia que usam comunidades e fóruns
para melhorar produtos e projetos.
Regra 10 – É importante ter um propósito social que carregue os valores da
empresa, pois, quando a comunidade entende esse propósito, ela se compromete e
se envolve com a empresa de uma maneira muito melhor, seguindo a narrativa:
“Dinheiro não deveria motivar ninguém, geralmente não traz o melhor de ninguém
para o mundo”;
Regra 11 – Não existem respostas prontas na era da sociedade digital. Tudo
deve ser pensado, modificado e adaptado o tempo todo.
Resta evidente que as tecnologias digitais são capazes de criar condições
para um ambiente de colaboração eficiente e coeso, mas o resultado do trabalho em
equipe também decorre de comprometimento dos indivíduos envolvidos. Há,
portanto, uma necessidade de analisar o perfil desses usuários a fim de verificar
29
quais motivações têm para contribuir em determinado grupo, o que coloca o objeto
de estudo deste trabalho em posição aparentemente confortável nesses termos –
pesquisadores científicos, especialmente os profissionais da área ambiental cujos
perfis traçamos a seguir, parecem reunir os requisitos-chave para esse fluxo operar
com razoabilidade.
30
Capítulo 2: Usos e ferramentas colaborativas no contexto científico
2.1. Perfil dos pesquisadores científicos: um olhar sobre os profissionais da área ambiental
Para entendermos melhor como funciona a dinâmica de trabalho colaborativo
entre cientistas, é necessário fazer um recorte mais específico. Para os fins deste
trabalho, escolhemos como objeto os pesquisadores da área ambiental por duas
premissas básicas: eles têm uma forte tendência a negar o uso de tecnologias
digitais e nós temos acesso a uma quantidade considerável de profissionais de
diversas instituições para entender o motivo desta rejeição. No capítulo seguinte
apresentamos uma pesquisa de campo com esse público a fim de traçar um
panorama e ajudar-nos a propor alternativas. No entanto, antes, é necessário
entender melhor o perfil dessas pessoas.
Os pesquisadores ambientais dos quais tratamos no trabalho tratam-se de
profissionais vinculados ou não a instituições de pesquisa – podem ser
pesquisadores independentes, algo muito comum no meio – e cujo tempo é boa
parte tomada por redação de projetos e artigos científicos para apresentação a
doadores de atividades de campo, além de eventos específicos da área. Há também
aqueles mais afeitos às tecnicidades, que vão a campo recolher dados e realizar
todo tipo de trabalho em áreas remotas, para avaliação de comportamentos de
comunidades rurais frente às mudanças climáticas, por exemplo.
Consideramos que a natureza do trabalho desses pesquisadores é
colaborativa, pois o resultado de sua pesquisa deve refletir um trabalho de equipe
que passa por avaliadores de campo e técnicos de todos os tipos, até pesquisadores
sêniores responsáveis pela análise dos dados e produção de um material final, que
31
pode ser um artigo, um paper, um policy brief7 ou um livro. Desde o início de um
projeto de pesquisa até seu fim, período que pode durar anos, uma série de
informações são obtidas de inúmeras fontes, e é inevitável que várias pessoas
trabalhem em conjunto para tomar decisões e escrever textos.
Esse público tem uma limitação de tempo importante. Como alguns trabalham
vinculados a uma só instituição, mas mantêm parcerias com outras tantas em vários
projetos, é comum que lhes falte tempo disponível para dedicação a novas
ferramentas. A natureza do trabalho desses profissionais, embora seja colaborativa,
não tem ligação direta com o uso de ferramentas de comunicação. Dependendo do
cargo, vários utilizam ferramentas de análise espacial e outros softwares dedicados
à pesquisa em si, mas pouco se fala sobre soluções que melhorem a troca de
informações entre os integrantes de um projeto. Nesse sentido, à falta de tempo é
dada a culpa pelo desinteresse em procurar as melhores ferramentas de
comunicação digital disponíveis no mercado.
Em nossa experiência de trabalho com consultoria de comunicação junto a
esses cientistas, que dura cinco anos, percebemos que é comum encontrar
profissionais mais afeitos ao uso de ferramentas analógicas de armazenamento e
troca de informações, como papel e caneta, ou se valem somente dos recursos
digitais mais básicos: o e-mail é, certamente, o mais usado. Apesar de seu trabalho
requerer um tipo de colaboração mais interativo e em grupo, é o correio eletrônico
que eles escolhem para trocar todo tipo de informação em meios digitais. Ou seja, o
e-mail não funciona somente para comunicação, mas também para produção de
conteúdo.
Nesse cenário, contribui também para esse comportamento a falta de
infraestrutura de diversas cidades isoladas onde eles se localizam para fins de
trabalho. Como se tratam de pesquisadores da área ambiental, ou profissionais de
outras áreas que trabalham em temas correlatos, é comum que alguns estejam
baseados no campo, em áreas onde há pouca densidade de torres de transmissão
de sinal de internet móvel, muito menos fibra ótica. A conexão a rádio é uma
alternativa usada largamente, mas a tecnologia esbarra em questões climáticas 7 Um policy brief resumo é um resumo conciso de uma determinada questão, contendo as opções de políticas para lidar com o assunto e recomendações sobre elas. Destina-se a políticos do governo e outros interessados em formular ou influenciar as políticas.
32
locais – na floresta amazônica, por exemplo, onde predomina o clima equatorial, as
fortes e frequentes chuvas impedem que o sinal de rádio, marcado por seu grande
comprimento de onda e longo alcance, mantenha a qualidade da conexão.
Outra característica desse público que deve ser levada em conta é seu
atrelamento a instituições e programas de pesquisa diferentes, cada um com sua
estratégia diferente de comunicação em torno de mídias digitais e colaboração. De
forma independente, essas instituições criam sistemas informatizados para
incrementar a comunicação entre os profissionais, mas sua compatibilidade com
redes parceiras é nula: pesquisadores atrelados a uma não podem interagir com
colegas ligados a outras instituições. Portanto, é patente a falta de plataformas
integradas, defeito decorrente de incompatibilidade de práticas e estratégias entre
corpos diretivos e outras nuances políticas cujas especificidades não são de
responsabilidade dos pesquisadores.
Outro entrave para a adoção de ferramentas digitais de comunicação e
colaboração recai sobre o orçamento limitado do qual a maioria dos projetos dispõe.
Financiados por doadores federais e internacionais, como o Banco Mundial, esses
pesquisadores se veem obrigados a dedicarem uma parcela pequena dos recursos
totais dos projetos para o componente de comunicação, restando, portanto, usar
ferramentas baratas ou gratuitas – há, primeiro, preocupação com custeio de
viagens e outras atividades da pesquisa antes da viabilização de sistemas
informatizados para melhorar processos internos e de comunicação.
Com certeza essa limitação é comum até mesmo no meio empresarial, mas é
reforçada no terceiro setor devido à escassez dos recursos fornecidos pelos
doadores: líderes de projetos têm, com isso, a difícil tarefa de distribuir o dinheiro
entre o aparato técnico e de pessoal para desenvolver o trabalho, além da demanda
de comunicação – o resultado mais comum é, como esperado, deixar de lado
ferramentas digitais e qualquer outro investimento pesado, seja em pessoal ou
material, na comunicação como um todo. Há algumas exceções, como um projeto8
8 Projeto intitulado “Strengthening the Amazon Initiative Consortium to Address the Need for Sustainable Resource Use Systems in the Amazon”, submetido pelo World Agroforestry Centre, foi financiado pelo Banco Mundial a partir de 2010. Relatório disponível em: <http://www.worldagroforestry.org/downloads/publications/PDFS/nl07002.pdf> consultado em 1 de agosto de 2014.
33
aprovado pelo Banco Mundial na Amazônia em 2010 que incluía componente
dedicado à comunicação, envolvendo tecnologias digitais – houve uso, por exemplo,
de ferramentas de webconferência e wikis para incrementar a colaboração.
Segundo o pesquisador do Departamento de Estudos da Comunicação
Universidade Estadual da Califórnia em Sacramento, EUA, Diego Bonilla9, a
experiência foi inédita na região (informação verbal)10, o que torna o caso muito
elucidativo. A falta de dedicação de pesquisadores não só do Brasil, mas da América
Latina como um todo, frente aos benefícios que as tecnologias digitais podem trazer
é tão evidente que influenciou até na abordagem do questionário, como veremos a
seguir no capítulo 3. A questão, portanto, recai menos sobre provar que esse
cenário existe, e mais sobre os efeitos que ele provoca sobre o resultado de
pesquisa e como convencer os pesquisadores que eles precisam, e porque
precisam, adotar algumas ferramentas online para economizar tempo e dinheiro.
Para os fins desta monografia, torna-se curioso comparar esses
pesquisadores envolvidos na área ambiental com cientistas da comunicação.
Enquanto o segundo comumente está presente em cenários que causam reflexão
imediata sobre o impacto de tecnologias digitais de comunicação nas interações
tradicionais em diversos meios, o primeiro público trabalha em uma realidade por
vezes marginalizada desse processo: cientistas ambientais, pois, costumam ter mais
contato com áreas rurais e comunidades pobres cujo avanço tecnológico é escasso
perto de qualquer grupo de pessoas com os quais os pesquisadores da
comunicação lidam em seu dia a dia profissional. A rotina de trabalho, portanto,
acaba sendo determinante para que a maioria dos indivíduos que compõem um
grupo de cientistas ambientais tenha menos contato com TICs do que
pesquisadores de comunicação.
Mas, tudo indica que o interesse por parte dos pesquisadores a adotarem
ferramentas digitais de colaboração vem aumentando. Tendo isso em conta, a
opinião da consultora de comunicação Flávia Cunha, vinculada ao International
9 Mais informações sobre o profissional em: http://www.diego.today/#!curriculum-vitae/csqp 10 Informação fornecida por Bonilla em Belém, em 2010.
34
Centre for Tropical Agriculture11 (CIAT) e à Comunidade de Prática Andes (CoP
Andes), com mais de 10 anos de experiência em trabalhos de colaboração com
cientistas ambientais, é elucidativa. Entrevistamos a comunicadora a citamos a
seguir os trechos mais destacados de suas respostas.
- “Há grande demanda de atividades colaborativas de pesquisa entre locais,
países e regiões. Também tem-se investido na gestão da informação a fim de fazer
chegar de forma cada vez mais eficiente aos diferentes públicos alvos”;
- “Elas [as TICs] facilitam a rotina e demanda de trabalho. Além disso,
geralmente cada pesquisador lida com diferentes projetos em um mesmo período de
tempo que envolve várias instituições diferentes e outros profissionais parceiros”.
Sobre os entraves que impedem a adoção dessas ferramentas em larga
escala, a especialista apontou como maior problema eventuais falhas técnicas de
softwares proprietários.
- “É comum em projetos de pesquisa que envolvem o componente de
comunicação e gestão do conhecimento que haja a ideia de criação de uma
ferramenta específica para as suas necessidades. No entanto, nota-se que um
grande número de projetos que optam por isso não tem sucesso, pois iniciam um
projeto de pesquisa ao mesmo tempo que um projeto de tecnologia da informação,
sendo que este último necessita consideravelmente de mais tempo em geral”;
- “Há falta de comunicação entre diferentes ferramentas. Exemplo:
[ferramentas de] fóruns de discussão que não se interligam à página web da
comunidade”.
11 O CIAT é uma instituição de pesquisa com sede em Cali, na Colômbia, que conta com cerca de 200 pesquisadores, e é apoiada por uma ampla gama de doadores. Sua missão é reduzir a fome e a pobreza e contribuir para a melhoria da nutrição humana nos trópicos através de pesquisa que visam aumentar a ecoeficiência da agricultura. Mais informações em: http://ciat.cgiar.org/about-us. Acessado em 25 de agosto de 2014.
35
2.2. Necessidades de colaboração dos pesquisadores
Discorrer sobre os pesquisadores tomados como objetos de estudo neste
trabalho requer, além de traçar seu perfil, elencar exatamente quais são suas
necessidades de colaboração. Afinal, é preciso estabelecer as bases de onde foram
extraídos nossos objetivos específicos, a saber, a proposta de ferramentas digitais
para incrementar e tornar mais eficiente o processo de criação de conhecimento ao
qual se dedica esse público. Elencamos a seguir as principais atividades
desempenhadas por ele seguindo o que percebemos em nossa experiência:
Redação de projetos; Participação e planejamento de eventos; fóruns de discussão;
revisão e colaboração com publicações.
a) Redação de projetos: escrever projetos de pesquisa costuma tomar um
tempo precioso de pesquisadores, pois o mecanismo escolhido para interagir com
colegas costuma ser o e-mail. A dinâmica envolve envios corriqueiros de e-mails
entre um certo grupo de pessoas, que editam um documento no Microsoft Word
usando as alterações aparentes da ferramenta. Cada sugestão tem uma cor
diferente no texto, e as exclusões de trechos grandes costumam deixar frases e
parágrafos inteiros tachados e marcados em vermelho. Depois de um certo tempo,
não é difícil imaginar o estado de desinformação que o projeto se encontra.
b) Participação e planejamento de eventos: muito comum entre
pesquisadores científicos de todas as áreas, os eventos para profissionais da área
ambiental tendem a tomar muito tempo, especialmente de líderes de projetos. As
atribuições básicas exigidas são desenvolvimento de agenda, contato com
palestrantes e seleção de trabalhos submetidos. O método convencional, assim
como na redação colaborativa, requer trocas de e-mails e uso de processadores de
texto e planilha off-line, que são, em várias etapas, trocados entre os organizadores
para validação. Há também casos em que cientistas se reúnem em seminários
virtuais para trocar ideias de pesquisa ou para assistir a palestras. Nesse caso há
36
um envolvimento maior de tecnologia de videochamadas e reuniões virtuais, cujos
destaques são WebEx, Blackboard Collaboration e Google Hangouts.
d) Fóruns de discussão: reuniões virtuais e presenciais dão conta somente de
discussões pontuais, que podem ser levadas a estágios mais aprofundados em
fóruns dedicados à pesquisa. Sejam abertos ou restritos a um determinado grupo de
profissionais, os fóruns de discussão são úteis para o intercâmbio de experiências e
podem resultar em publicações como position papers, ou fazer parte de uma
comunidade de prática – nesses casos, é comum que profissionais de várias áreas
contribuam com experiências próprias e respondam perguntas da moderação para
agregar conhecimento e um determinado assunto, como Adaptação às Mudanças
Climáticas, Conservação da Água e Práticas de Manejo Florestal.
e) Revisão e colaboração com publicações: é claro, esses pesquisadores
também mantêm forte ligação com diversas publicações científicas, das quais são
colaboradores frequentes ou revisores (reviewers) de trabalhos acadêmicos. Os
artigos peer-reviewed, assim como em qualquer outra área do conhecimento, são
essenciais para validação de metodologia e resultados alcançados por um colega, e,
portanto, o tempo dedicado a essa tarefa também é grande. Assim como em
redação de projetos, a revisão e colaboração com textos e periódicos costuma ter o
processo realizado inteiramente via e-mail.
37
Capítulo 3: Pesquisa de campo: panorama de usos de ferramentas digitais entre cientistas ambientais
Para estabelecer os critérios de análise para a proposta de uso de
ferramentas digitais no meio científico, é imperativo conhecer a realidade atual de
um grupo considerável de profissionais do ramo. Os cientistas ambientais, ou
profissionais minimamente envolvidos nessa temática, são icônicos pois sua
atividade pouco demanda de conhecimento de tecnologias em geral. A pesquisa
ambiental requer um forte contato com a natureza e outros ambientes tradicionais
fortemente contrastados com a modernidade da internet e do digital de maneira
geral.
Nossa pesquisa de campo levou em conta também a importância do aspecto
multicultural desse público, já que as sugestões de ferramentas que faremos a
seguir devem satisfazer múltiplos perfis de profissionais, independentemente de
particularidades regionais. Foram duas pesquisas separadas: em um primeiro
questionário, obtivemos 101 respostas de pesquisadores de 12 países, em sua
maioria na América Latina, cuja lista de instituições e países se encontra no pós-
texto para referência; em seguida, repercutimos o resultado da primeira pesquisa
com cientistas que têm papel de liderança nas instituições às quais estão
vinculados.
Partimos de um método de abordagem exploratório e dedutivo, usando
questionários para análise quantitativa e qualitativa do público que é nosso objeto de
estudo. Nosso objetivo é avaliar as necessidades dos pesquisadores científicos,
identificar oportunidades de melhoria e sugerir ferramentas que possam incrementar
a experiência que têm com colaboração em ambientes digitais.
Os pressupostos que buscamos atender são os seguintes:
a) A maioria do público-alvo não usa ferramentas de comunicação e
colaboração digitais para a prática de suas atividades diárias;
38
b) Em poucos casos positivos, as ferramentas usadas não conseguem
respeitar todas as necessidades dos projetos, pois esbarram em uma das seguintes
variáveis: curva de aprendizado, propriedade intelectual, custo ou incompatibilidade
entre plataformas proprietárias;
b) Para incentivar o uso de tecnologias digitais, é necessário haver
ferramentas fáceis de usar e dedicadas ao campo de atuação específico da
pesquisa científica;
c) Apesar de haver nuances no tocante às necessidades de cada projeto, faz-
se necessário criar uma lista de sugestões de plataformas e softwares adequados às
atividades mais destacadas dos cientistas, mais especificamente da área ambiental;
d) Não há uma só ferramenta que reúna completamente os requisitos
balizados pelos entrevistados, como uma plataforma de rede social profissional
específica e universal.
3.1. Percepção geral de pesquisadores envolvidos com temas ambientais
3.1.1. Tempo de experiência, frequência e vantagem do uso de ferramentas digitais de colaboração
A primeira descoberta que fizemos é que não há relação aparente entre idade
e frequência de uso de mídias digitais. O número de usuários regulares, porém, é
menos da metade do público participante (45%). Algumas respostas indicaram que
jovens, com 1 a 4 anos de experiência, podem não fazer uso de ferramentas digitais
de maneira geral, assim como profissionais mais velhos, com mais de 25 anos
experiência, podem ser usuários frequentes.
39
Porém, mais do que medir o uso de qualquer ferramenta digital, é necessário
saber se os cientistas pesquisados as usam para fins de colaboração. Nesse
sentido, descobrimos, conforme previsto, que um percentual pequeno trabalha com
serviços ou plataformas de natureza colaborativa: os itens “Fóruns, empowerment”,
“Colaboração Online” e “Outros” (concentra quem usa todas as categorias
mencionadas) somaram 34%. A maioria declarou utilizar ferramentas dedicadas
primariamente à comunicação, as quais estão compreendidas nos quesitos “Blogs”,
“Redes Sociais, grupos e comunidades”, “E-mail” e “Comunicação” (56%).
Blogs (Tumblr,Twitter, Blogger, Wordpress, entre outros) 3 3%
Fóruns, empowerment (Reddit e fóruns institucionais, entre outros) 13 13%
Redes sociais, grupos e comunidades (Facebook, LinkedIn, Scribd, entre outros)
17 17%
Colaboração online (Google Docs, Office Online, Dropbox, entre outros) 16 16%
Entre 1 e 4 anos 35 35%
Entre 5 e 9 anos 13 13%
Entre 10 e 14 anos 16 16%
Entre 15 e 24 anos 22 22%
Mais de 25 anos 9 9%
Outros 6 6%
Usa com frequência 45 45%
Usa poucas vezes 43 43%
Não usa 13 13%
Tabela 1: Tempo de experiência X frequência de uso de ferramentas digitais na atividade de pesquisa
Gráfico 1: Frequência de uso de plataformas digitais na atividade de pesquisa
40
Competição e jogos (Toodledo, Calendar, Wunderlist, Foursquare, entre outros)
0 0%
E-mail (Gmail, Hotmail, entre outros) 20 20%
Comunicação (Skype, Google Hangouts, Facebook Messenger, WhatsApp)
16 16%
Outros 5 5%
Tabela 2: Panorama de ferramentas adotadas
Sobre as vantagens de se usar ferramentas online especificamente para
colaboração, a maioria (55%) declarou apoio à justificativa mais “purista” – elas são
vantajosas porque permitem que cientistas estejam em contato com mais pessoas
ao mesmo tempo, o que, certamente, possibilita a troca de experiências tão
valorizada por esses profissionais.
Economizam tempo e dinheiro de instituições e profissionais 25 25%
Permitem trabalhar em conjunto com mais colegas ao mesmo tempo 56 55%
Permitem obter mais e melhores fontes de referência 17 17%
Outros 3 3%
Tabela 3: Benefícios de utilizar plataformas de colaboração
Gráfico 2: Benefícios do uso de plataformas de colaboração digitais
41
3.2. Entraves e motivações para incrementar o uso de ferramentas digitais de colaboração
Sobre os motivos de as ferramentas não serem usadas no meio científico, a
maioria apontou usabilidade, confiabilidade e preço (61%), mas um número
considerável listou problemas mais específicos, comumente relacionados à falta de
conexão em locais remotos. Na sua resposta espontânea (39%), houve também
quem relatasse dificuldade em conhecer melhor as credenciais de participantes de
grupos grandes de colaboração, algo que entendemos ser decorrente estritamente
de organização institucional. Houve também menções à falta de tempo e uma sobre
a perda da comunicação face-a-face.
São difíceis de usar 26 26%
Custam caro 12 12%
Não são confiáveis 23 23%
Outros 40 39%
Tabela 4: Desvantagens de usar plataformas online de colaboração
Gráfico 3: Desvantagens do uso de plataformas online de colaboração
42
Da mesma forma, eles apontaram que ferramentas bem desenhadas e de
fácil manuseio tendem a encorajar sua adoção e influenciar positivamente na
pesquisa científica:
Por outro lado, a falta de uso de ferramentas ou os problemas apontados
pelos cientistas não parece influenciar em sua vontade de aprender a usar novas
ferramentas. Dos 101 entrevistados, 74% disseram estar dispostos a dedicar tempo
para uma solução digital nova, enquanto 23% se mostraram favoráveis à ideia
somente visando benefícios de curto prazo – nesse caso também percebemos a
ausência de um elemento de idade que influencia na decisão, pois as pessoas que
condicionam a dedicação do seu tempo a resultados rápidos estão em todas as
faixas de tempo de experiência, entre seis meses e 25 anos.
Sim 98 97%
Não 3 3%
Tabela 5: Influência positiva de ferramentas digitais com atenção ao design e usabilidade no contexto da pesquisa científica
Gráfico 5: Disposição para dedicar tempo ao aprendizado de uma nova ferramenta
Gráfico 4: Benefício de ferramentas digitais com atenção ao design na pesquisa científica
43
Sim 75 74%
Sim, mas somente visando benefícios de curto prazo 23 23%
Não 0 0%
Outros 3 3%
Tabela 6: Disposição para dedicar tempo para aprender a usar uma ferramenta nova
3.3. O que pensam os líderes de projeto
Para obtermos um panorama mais apurado da realidade de colaboração em
mídias digitais no seio da produção científica ambiental, recorremos a mais três
pesquisadores experientes (entre 10 e 25 anos de experiência) que são líderes de
projetos e referência em suas respectivas áreas para que comentassem alguns de
nossos dados. Entrevistamos o engenheiro e diretor executivo do Centro Ambio
Conservacionista Mesopotamia da República Dominicana, Raul Lebron; o
engenheiro agrônomo e consultor independente venezuelano que trabalha na
Alemanha, Rafael E García Pena; e Frank Tovar, engenheiro florestal e consultor
agroflorestal e ambiental da ONG venezuelana AGROFORIS.
Os três fazem uso frequente de plataformas digitais, seja para colaboração,
comunicação ou participação em fóruns de discussão. A tabela a seguir detalha um
pouco mais o perfil desse segundo grupo de profissionais com os quais
conversamos:
Nome Frequência de uso (1 muito pouco / 5 muito frequente)
Propósitos mais frequentes
Plataformas mais usadas
Raul Lebron 5 Apresentação de slides de workshops, cursos ou videoconferências;
Facebook, Google+
44
para escrever projetos ou propostas. Usamos ferramentas diferentes, dependendo do nível e idade dos participantes, para discutir os problemas e fornecer soluções em um ambiente participativo e inclusivo.
Rafael Pena 3 Atualização dos conhecimentos, valorização da inovação e pesquisa científica, consulta e análise de pontos de vista de colegas
Facebook, Google+, Academia.edu
Frank Tovar 5 Atualização profissional
Rede Consagro de Brasil
Tabela 7: Uso de mídias digitais por parte de três líderes de pesquisa científica entrevistados
A primeira informação que tiramos do quadro é que, embora sejam líderes e
costumem utilizar plataformas online para colaboração, esses pesquisadores não
utilizam a rede social científica Research Gate. Também procuramos saber como os
entrevistados avaliam as ferramentas existentes. No geral, os três têm percepções
positivas.
a) Raul Lebron
- São fáceis de aprender;
- Protegem a propriedade intelectual do que é compartilhado;
- “Independentemente se são fáceis de aprender e usar, não é menos certo que a
proteção de grupos de pesquisa de propriedade intelectual satisfaz a critérios de
equipes fechadas, ainda que resultados obtidos tenham que ser partilhados
posteriormente entre diferentes profissionais para verificação e melhorias”.
b) Rafael E García Pena
45
- São fáceis de aprender;
- Podem ser usadas por qualquer profissional da área sem restrições;
- São baratas;
- “Com exceção do Google+, a maioria das redes sociais são bastante intuitivas de
usar, não exigem o pagamento de serviços e são facilmente acessíveis. Mas, não
vejo que elas tenham mecanismos para proteger a propriedade intelectual do
conteúdo publicado ali. Entendo que ele estaria protegido sobretudo por motivações
éticas dos usuários”.
c) Frank Tovar
- São fáceis de aprender;
- Protegem a propriedade intelectual do que é compartilhado;
- Podem ser usadas por qualquer profissional da área sem restrições;
- São baratas;
- “Acima de tudo, elas contribuem com os processos de atualização profissional em
tempo real”.
3.3.1. Sobre razões da falta de uso de mídias digitais no meio científico
a) Raul Lebron apontou causas relacionadas a dois fatores principais: costume e
propriedade intelectual:
- Não existe uma cultura do uso de ferramentas de colaboração em pesquisa;
- A maioria das instituições envolvidas na pesquisa científica trabalha para empresas
e querem privacidade a seus projetos de pesquisa, tornando os estudos fechados.
46
Desejam também análise feita por equipes de especialistas comprometidos com o
projeto, deixando à margem experiências práticas e opiniões de profissionais que
possam tanto afetar negativamente os resultados quanto enriquecer a investigação.
b) Rafael E García Pena citou falta de conhecimento sobre os benefícios das mídias
digitais:
- A maioria dos profissionais não sabe os benefícios que essas ferramentas podem
proporcionar;
- Sua percepção se fundamente em colegas desatualizados, sem familiarização ou
confiança ao utilizar redes sociais;
- Associação do problema a condições políticas e situação geográfica (lugares com
dificuldades para conexão com redes digitais).
c) Frank Tovar também justificou o problema com base na cultura, mas imputou
culpa sobre as instituições:
- Não existe uma cultura do uso de ferramentas de colaboração em pesquisa;
- Isso ocorre em parte porque há restrições por parte das instituições públicas, que
não permitem que horas de acesso à internet sejam contabilizadas como horas
trabalhadas.
3.3.2. Sobre motivações para a mudança de cenário
Vimos na pesquisa quantitativa que há uma inclinação dos pesquisadores
para aprender a usar novas plataformas digitais para colaboração científica, mas
eles não o fazem. Nesse sentido, repercutimos o resultado com os três líderes para
47
entender melhor como esse público poderia ser motivado a se debruçar sobre essa
tecnologia.
a) Raul Lebron
- Conhecer melhor as ferramentas existentes;
- Utilizar uma rede social digital desenhada especificamente para a atividade de
pesquisa;
- “Conhecendo as ferramentas e metodologia de pesquisa, é possível planejar o
desenvolvimento de temáticas de pesquisa tecnológica ou científica. É também
importante estar integrado a uma rede social criada especificamente para a pesquisa
científica para nutrir-se de contribuições enriquecedoras ou metodologias inovadoras
que levem a obter os resultados propostos”.
b) Rafael E García Pena
- Utilizar uma rede social digital desenhada especificamente para a atividade de
pesquisa;
c) Frank Tovar
- Conhecer melhor as ferramentas existentes;
- Obter incentivo por parte das instituições;
- Compreender melhor os benefícios das ferramentas digitais para o trabalho
científico;
- Utilizar uma rede social digital desenhada especificamente para a atividade de
pesquisa.
48
3.3.3. Sobre uma rede social dedicada
Como vimos, há uma forte inclinação dos entrevistados para usar uma rede
social especificamente para a pesquisa científica. Há algumas plataformas
colaborativas dedicadas à pesquisa de maneira geral, mas nenhuma focada
unicamente na área ambiental, muito menos que seja difundida por instituições para
incentivar seu uso no lugar de alternativas proprietárias mal desenhadas e com
problemas de funcionalidade: o mais comum é encontrar plataformas feitas às
pressas e com pouco investimento, resultando em softwares pouco úteis e que não
encorajam a adoção por parte dos cientistas.
Os três pesquisadores declararam ser completamente favoráveis à criação de
uma plataforma do tipo, e justificam sua opção conforme a seguir:
a) Raul Lebron
- “Diferentes experiências de diferentes países ou regiões são compartilhados, bem
como diferentes formas de lidar com resultados positivos com critérios e análise dos
temas de pesquisa”;
b) Rafael E García Pena
- “Facilita a busca, pois [a rede social] seria dirigida a uma única rede de área, a
pesquisa científica, evitando distrações e a consequente perda de tempo”;
c) Frank Tovar
- “Ela concentraria em uma única rede social as experiências colaborativas de
pesquisa científica interdisciplinares”.
49
Capítulo 4: Proposta aos pesquisadores da área ambiental: ferramentas e regras para o sucesso no digital
4.1. Sugestão de ferramentas disponíveis no mercado
Conforme previmos no pré-projeto de monografia, encontramos durante o
estudo uma necessidade latente no público pesquisado por mais conhecimento
sobre tecnologias de colaboração via computador. Essa constatação requer, então,
que façamos contribuições pontuais por meio de recomendações de ferramentas
úteis para o dia a dia desse público. Nesse sentido, preparamos a seguir uma lista
de softwares e serviços online que visam atender a essa demanda, separados em
cinco categorias identificadas no capítulo 2. Em cada item, elencamos suas
principais características, evidenciando vantagens e desvantagens de uso.
4.1.1. Redação de projetos e colaboração com publicações
Há vários processadores de texto baseados na web e que permitem
colaboração, mas um dos entraves para que haja várias contribuições em um
documento é justamente a compatibilidade do serviço com diversas plataformas.
Portanto, nosso critério principal para seleção das sugestões que damos abaixo foi
popularidade, além de eficácia dos recursos.
a) Google Drive
Prós: Integração com produtos do Google, como Gmail e Android; 15 GB
gratuitos para armazenar arquivos e software dedicado a computadores Windows e
50
Mac com sincronização quase imediata de arquivos de texto via pastas no
computador.
Contras: Interface web altera formatação de documentos criados no Microsoft
Word; não oferece editor próprio com recursos avançados.
Figura 1 - Plataforma de armazenamento e compartilhamento de arquivos Google Drive, do Google
O serviço de e-mail mais utilizado do mundo, o Gmail, carrega consigo o
acesso a uma diversidade de outros produtos do Google, como o Google Drive. Ele
integra o “Docs” para processamento de texto, “Sheets” para planilhas e “Slides”
para apresentações no formato PowerPoint. Sua versatilidade e acesso web rápido
e confiável são seu grande diferencial. Há versão web e aplicativos compatíveis com
computadores desktop rodando Windows ou Mac, além de dispositivos móveis com
iOS e Android.
a.1) Esquema de uso
51
Gráfico 6 - Esquema de uso do Google Drive
b) Microsoft Word + OneDrive + Office Online
Prós: Integração completa com Microsoft Office para Windows e Mac; 15 GB
gratuitos para armazenar arquivos no OneDrive, com software dedicado a
computadores Windows e Mac com sincronização de arquivos a partir de pastas no
computador.
Contras: Upload de arquivos armazenados no OneDrive pode demorar mais
do que no Google Drive; pode haver falhas de sincronização mais recorrentes.
Figura 2 – Software de processamento de texto com integração a armazenamento em nuvem Word, da Microsoft
• Criação de pasta compar;lhada no computador
Passo 1
• Criação do documento no MicrosoB Word ou outro processador de texto à escolha
Passo 2 • Edição no editor online Google Docs ou no MicrosoB Word com salvamento na nuvem caso não haja edição concorrente com outras pessoas
Passo 3
52
Dedicado especialmente para quem usa computadores com o sistema
operacional Windows, o Office Online junto com OneDrive é a solução da Microsoft
que tenta levar para ambiente web a experiência do seu renomado processador de
textos. A usabilidade tende a ser melhor do que a oferecida pelas ferramentas do
Google pois não tem curva de aprendizado – quem já usa Word vai também saber
usar o OneDrive e o Office Online. Há também versões para Windows, Mac,
Android, iOS e Windows Phone.
b.1) Esquema de uso
Gráfico 7 - Esquema de uso do Word em conjunto com OneDrive e Word Online
4.1.2. Gestão de equipes e planejamento de eventos presenciais e virtuais
Profissionais e instituições que desempenham papel de liderança em
pesquisas científicas devem ter a seu dispor uma ferramenta colaborativa que
• Criação do documento no MicrosoB Word
Passo 1
• Upload para pasta do OneDrive
Passo 2 • Compar;lhamento com usuários via conta MicrosoB, com edição conjunta e em tempo real usando o Word Online ou o Word convencional para quando não houver conexão à internet.
Passo 3
53
consiga organizar fluxo de trabalho, suportar interações entre diversos usuários e,
principalmente, ser muito intuitiva. Nossas recomendações, portanto, tentam atender
a esses critérios oferecendo plataformas gratuitas.
a) Trello
Prós: Design agradável; usabilidade facilitada com esquema de cards; alto
nível de personalização; suporte a conversas, repositório de arquivos e edição
conjunta de conteúdo.
Contras: Necessita de ferramenta conjunta de edição de textos e gráficos; não
há sistema de discussão entre participantes, a não ser no âmbito de cada tarefa em
um único card.
Figura 3 - Plataforma de gestão de projetos e equipes em trabalhos colaborativos Trello
O Trello é uma ferramenta gratuita com versões web e móvel que consegue
tornar a organização de equipes e planejamento de eventos, entre outras atividades,
tão simples quanto criar, editar e arrastar cartões em colunas. Cada board equivale
a um grupo de trabalho, que pode reunir vários cientistas ao mesmo tempo,
54
visualizando na tela um resumo compreensivo sobre os trabalhos em andamento
organizados em colunas. Tudo funciona a partir de comandos de arrastar, tornando
a curva de aprendizado pequena o bastante para encorajar o público dedicarem-se a
ela.
a.1) Esquema de uso
Gráfico 8 - Esquema de uso do Trello
• Criação de board (grupo) temá;co e cadastramento de par;cipantes
Passo 1
• Criação de listas (colunas) com etapas do fluxo de trabalho
Passo 2 • Criação de cards com tarefas específicas
Passo 3
• Edição das informações dos cards com checklist, imagens, textos, links e conversas
Passo 4
• Acompanhamento das a;vidades por meio de no;ficações na web e no celular
Passo 5
55
4.1.3. Fóruns de discussão
a) Disqus
Prós: Facilidade de uso; simplicidade de acesso; login social com Facebook,
Twitter ou Google; pode ser incorporado a qualquer site feito com Drupal,
Wordpress, Joomla, entre outros; adapta-se visualmente ao site.
Contras: Comentários potencialmente visíveis a pessoas não autorizadas.
Figura 4 – Plataforma de fórum com login social Disqus
A plataforma gratuita Disqus promove discussões segmentadas em forma de
fórum, que podem ser incorporadas em um post de blog ou qualquer outra página na
internet. Sua pretensão é ser fórum de livre acesso distribuído na web em locais
onde a discussão surge de maneira orgânica. Disqus usa um mecanismo de acesso
56
único com login social e permite anexação de arquivos nos comentários que podem
ser compartilhados na rede e cujas notificações chegam via e-mail.
a.1) Esquema de uso
Gráfico 9 - Esquema de uso do Disqus
b) Vanilla Forums
Prós: Código aberto, simples de usar; login social com Facebook, ou Twitter;
pode ser incorporado a qualquer site e via add-on no Wordpress; tem opção de
tráfego local ou em servidor próprio.
Contras: Serviço de tráfego na nuvem usando seus servidores é pago.
Figura 5 – Ferramenta de fórum de discussão Vanilla Forums
• Inclusão do Disqus no gerenciador de conteúdo do site pelo administrador
Passo 1
• Reprodução em qualquer página do site
Passo 2 • Login via e-‐mail ou redes sociais para começar discussão
Passo 3
57
Vanilla Forums é uma ferramenta de fórum de código aberto que se
desvencilha de funcionalidades comuns de fóruns de discussão tradicionais ao
manter o foco nas interações ao invés da interface. Seu grande destaque é o
sistema de busca robusta como modo primário de navegação, com um design
atraente para o usuário final.
b.1) Esquema de uso
Gráfico 10 - Esquema de uso Vanilla Forums
4.1.4.Redes sociais
a) ResearchGate
Prós: Acesso livre e gratuito, busca inteligente de publicações baseadas em
múltiplas palavras-chave; criação de grupos abertos e fechados; ambiente de
colaboração; interface similar à do Facebook; validade de identidade via e-mail
institucional.
• Download do Vanilla no servidor do site pelo administrador ou inclusão do add-‐on em caso de Wordpress e plano pago
Passo 1
• Reprodução em qualquer página do site
Passo 2 • Login via e-‐mail ou redes sociais para começar discussão
Passo 3
58
Contras: Usabilidade poderia ser melhor; interface somente em inglês.
Figura 11 - Rede social dedicada a pesquisadores ResearchGate
ResearchGate é a principal rede social para cientistas de qualquer área do
conhecimento, na qual podem interagir, trocar conhecimentos e colaborar com
colegas de diferentes campos. Ela oferece ferramentas e aplicativos integrados para
os pesquisadores interagirem e colaborarem, usando um ambiente totalmente online
via navegador. Financiada por gigantes como Bill Gates, ela vem crescendo a cada
ano e já conta com mais de 5 milhões de usuários, incluindo alguns ganhadores do
Nobel.
a.1) Esquema de uso
59
Gráfico 12 - Esquema de uso ResearchGate
• Criação de conta gratuita no site usando
e-‐mail ins;tucional
Passo 1
• Upload de publicações
Passo 2 • Alimentação do perfil com área de atuação e experiência
Passo 3
• Engajamento em grupos de discussão e colaboração
Passo 4
Tabela 8 - Resumo de ferramentas sugeridas
60
4.2. Ferramenta ideal
A pesquisa de ferramentas que fizemos acima levou em conta o que existe
disponível atualmente para uso aberto e que atenda, de várias formas, as
necessidades dos pesquisadores avaliados neste estudo. Considerando a variedade
de soluções apresentadas, resta evidente que não há uma só plataforma de
colaboração online que ofereça tudo de forma integral e universal. A que mais se
aproxima é a ResearchGate, mas sua penetração em países latinos é pequena pela
falta de suporte ao português ou espanhol.
Entendemos que boa parte do espectro científico mundial é formado por
profissionais multilíngues, mas, especialmente a área ambiental, em que há
predominância de projetos locais e com interação acentuada principalmente com
pares regionais, é fundamental que uma plataforma que pretenda ser a solução
unificada dos problemas de integração digital desse público não falhe na
usabilidade, quesito deve ter no idioma de apresentação uma das qualidades
destacadas.
Dessa maneira, sugerimos, além do conjunto de softwares e serviços acima,
nossa idealização de plataforma para atender a todos os requisitos analisados, a
saber, Redação de projetos; Participação e planejamento de eventos presenciais e
virtuais; Fóruns de discussão; e Revisão e colaboração com publicações. Elencamos
abaixo as características dessa ferramenta ideal, cujo desenvolvimento efetivo
deixamos como sugestão para instituições interessadas. Usaremos como esqueleto
o conjunto de critérios formado por usabilidade, design, desempenho e
funcionalidades.
a) Usabilidade
Uma ferramenta ideal que seja capaz de reunir diversos pesquisadores em
torno de um mesmo ambiente digital deve ser simples de usar, e isso já começa pelo
mecanismo de login. É essencial que a plataforma permita acesso com uma
variedade de clientes de e-mail e login social diferente do que é feito na
ResearchGate, por exemplo. A maior rede social científica requer, ao menos no
61
primeiro acesso, que o usuário cadastre um endereço de e-mail institucional para
habilitar a conta, o que pode dificultar o ingresso de profissionais independentes.
Em termos de interface, o suporte a várias línguas é desejado para que não
impeça a adoção por pesquisadores de diversas nacionalidades não-familiarizados
com a língua inglesa. Entendemos que este é o idioma-mãe no mundo acadêmico,
mas, considerando, por exemplo, os pesquisadores da área ambiental, é comum
que eles só interajam com colegas da mesma região na maior parte de seu tempo –
pesquisadores estrangeiros comumente devem se adequar à língua local.
b) Design
Defendemos que o design da ferramenta deva seguir o modelo proposto pela
ResearchGate, porém com algumas diferenças fundamentais. No lugar da
sobriedade das cores claras, o essencial é que haja possibilidade e personalizar
fontes, cores e imagens de páginas de grupos de modo que atenda às necessidades
de projetos. Assim, fóruns de discussão como o da CoP Andes poderiam ocorrer ali
sem ocorre prejuízo de falta de identidade institucional. No fim, cada página fechada
da mídia social poderia se tornar um braço de uma plataforma própria, mas com
facilidade de uso e acessível para mais pessoas.
Nosso pensamento é de que, mantendo-se a usabilidade primária das
funções, os usuários possam ter menos problemas de adaptação em fóruns, grupos
de discussão e grupos de trabalho detidos por projetos e instituições diferentes.
Hoje, por exemplo, essa variedade de atividades requer uma curva de aprendizado
que dificulta a quem não tem familiaridade com tecnologias digitais, conforme
evidenciado pela profissional Flávia Cunha em sua entrevista no capítulo 2.
c) Desempenho
Para que se torne globalizante para os usuários, a plataforma deve
compreender os principais sistemas operacionais, de desktops e dispositivos
móveis. Com isso, ela deve também ser criada utilizando códigos flexíveis, para que
seja adaptável a todo tipo de tamanho de tela facilmente sem perda de
62
desempenho. O ideal, portanto, é que haja versões para web, Windows, Mac, Linux,
assim como iOS, Android e Windows Phone.
Na resposta aos comandos, a referência deve ser a plataforma Trello, que é
capaz de executar alterações em tempo real para facilitar o trabalho colaborativo –
não é necessário, por exemplo, atualizar a página para visualizar mudanças na
interface, como a movimentação de um card entre diferentes colunas.
d) Funcionalidades
Da mesma forma, recorremos à lista de sugestões de ferramentas do tópico
anterior para assinalar também as funcionalidades específicas da plataforma que
idealizamos agora. Atendendo às necessidades dos pesquisadores consideradas no
capítulo 2, defendemos que haja integração total dos seguintes recursos:
d.1 – Atualização de status pública e privada, possibilidade de seguir perfis e
curtir publicações de colegas;
d.2 – Perfil completo com área de atuação do profissional e lista de
publicações obtidas a partir de bases de dados oficiais (ex: Lattes);
d.3 – Páginas de Universidades e outras instituições de pesquisa, com
permissão de validar perfis de profissionais vinculados a ela para fins de legitimação;
d.3 – Grupos de discussão para fóruns, com criação permitida tanto a
instituições quanto a usuários comuns, favorecendo também a participação de
profissionais independentes (ex: consultores);
d.4 – Plataforma de colaboração integrada para redação de textos,
colaboração com periódicos e peer-reviewing;
d.5 – Plataforma de gestão de equipes, projetos e eventos baseada na
interface de cards do Trello.
63
4.3. Regras para obter sucesso
Consideramos as regras de Nilofer Merchant, apresentadas no capítulo 1,
essenciais para entender como opera a lógica da sociedade conectada de modo que
se possa tirar proveito de suas particularidades em prol do sucesso de negócios e
estratégias digitais. No entanto, como nosso objeto de pesquisa tende a reunir
algumas características diferentes do que é visto no setor empresarial, percebemos
a necessidade de adaptar as recomendações do autor para essa realidade.
A seguir apresentamos interpretações das regras de Merchant, condensando
em seis itens pensados a partir do que descobrimos ao nos debruçarmos sobre esse
público, seguindo os resultados obtidos com os questionários e as entrevistas
realizadas:
Regra 1 – É importante que resultados de pesquisa sejam compartilhados
com uma comunidade pulsante para evitar redundância de esforços sobre o mesmo
objeto de estudo. Apesar de comunidades tradicionais fomentadas por
pesquisadores terem seu valor, indivíduos conectados a comunidades online mais
numerosas e multiculturais tendem a incrementar seu arcabouçou intelectual;
Regra 2 – Ao contrário do que é feito comumente em grupos de trabalho
científico, onde podem haver regras estritas de contribuições, com regras e prazos
predefinidos, Merchant defende que a colaboração voluntária pode surtir melhores
resultados. A ideia é manter as contribuições abertas e não esperar por conteúdo
valioso em curto prazo. Manter as informações sob a licença Creative Commons é
uma sugestão;
Regra 3 – Sendo os grupos de pesquisa multifacetados, com vários
profissionais contribuindo com o mesmo tema, é importante usar plataformas digitais
para encorajar a troca de informações entre especialistas de diferentes áreas. A
multiculturalidade encontrada em grupos online abertos para acesso global tende a
descobrir soluções de problemas metodológicos mais agilmente;
64
Regra 4 – Decisões em grupo requerem flexibilidade na tomada de rumos
durante um projeto de pesquisa. Assim como definição de localidade de pesquisa,
metodologia e orçamento requerem reuniões presenciais com o time, o mesmo
acontece no digital, porém de forma mais acentuada: a falta de contato físico requer
mais eloquência e compreensão entre as partes, ao mesmo tempo em que se
incentiva a mudança;
Regra 5 – Apesar de haver preocupação por parte de instituições com relação
ao andamento de suas pesquisas, a ciência verdadeira é feita após revisão de pares
e testes exaustivos, o que requer mais contato com colegas de outras partes do
mundo para fins de validação, e nada melhor do que usar a internet para tal;
Regra 6 – Há preocupação em criar metodologias de comunicação efetivas a
curto prazo para estimular melhores resultados entre pesquisadores, mas o digital
deve ser um espaço de experimentação de mecanismos que devem ser melhorados
e adequados com o tempo. Por isso, requerem paciência por parte dos usuários e
atenção de quem desenvolve as ferramentas.
65
Considerações finais
Entendemos, ao final do trabalho, que é importante considerar os pontos de
vista tanto de Carr (2010) e McLuhan (1969) quanto de Johnson (2010) e Shirky
(2011) para pensar de maneira coerente sobre o impacto de mídias digitais em
ambientes colaborativos: mesmo que haja prejuízos cognitivos e influência
potencialmente negativa das novas tecnologias na rotina de produtores de conteúdo,
só esse mesmo aparato técnico pode favorecer comunidades pulsantes para criar e
amadurecer ideias válidas de pesquisa. No limite, as TICs são indispensáveis para a
formação de grupos de trabalho e discussão produtivos no século XXI.
Em nossa pesquisa, confirmamos o primeiro de nossos pressupostos ao
descobrir que a maioria dos cientistas pesquisados não usa ferramentas de
comunicação e colaboração digitais para a prática de suas atividades diárias com
frequência. Questionário e entrevista com líderes também evidenciaram alguma
preocupação com curva de aprendizado e incompatibilidade de plataformas
proprietárias das instituições de pesquisa, e foram enfáticas quanto a falta de
atenção de mídias digitais públicas com os direitos sobre propriedade intelectual de
seus trabalhos. Porém, os mesmos profissionais não consideraram relevante
eventuais custos altos de implementação de novas ferramentas digitais.
Da mesma forma, na opinião dos pesquisadores da área ambiental,
ferramentas fáceis de usar e dedicadas ao campo de atuação específico da
pesquisa científica podem incentivar o uso de tecnologias digitais por parte desse
público. Ainda, confirmando mais uma vez nossas suposições anteriores, o resultado
do estudo destacou a falta de conhecimento dos dos profissionais considerados
sobre as plataformas disponíveis no mercado capazes de contribuir para o trabalho
de pesquisa científica. A lista de sugestões de plataformas e softwares adequados
às atividades mais destacadas dos cientistas, mais especificamente da área
ambiental, torna-se, assim, oportuna.
Os dados obtidos, ademais, dão certeza de que não há uma só ferramenta
que reúna completamente os requisitos balizados pelos entrevistados. Apesar de a
66
rede social ResearchGate apresentar vários pontos de convergência, achamos
necessário sugerir uma solução específica que reúna todas as características
apresentadas na lista de ferramentas anterior. Caso seja desenvolvida no futuro,
cremos que uma plataforma que ofereça usabilidade, design, desempenho e
funcionalidades descritos neste estudo tem grande possibilidade de aceitação por
parte de pesquisadores não só da área ambiental, escolhidos para integrar este
trabalho justamente por não terem familiaridade com mídias digitais, mas por
profissionais de diversas outras áreas.
Dessa maneira, concluímos com êxito o que propusemos incialmente,
atendendo os quatro objetivos delineados no pré-projeto de pesquisa. O trabalho
capturou a percepção atual sobre o uso de tecnologias de informação e
comunicação por parte de pesquisadores da área ambiental, mostrando que a
penetração ainda é pequena; identificou junto ao público-alvo as necessidades de
colaboração não atendidas pelas ferramentas usadas, como redação de projetos e
organização de eventos, que não podem ser realizados com efetividade via troca de
e-mails; identificou as variáveis limitantes do uso de tecnologias de informação e
comunicação, como a conexão de baixa qualidade à internet em locais isolados; e
apresentou sugestões e propostas de uso de ferramentas digitais, além de um
conceito de plataforma ideal.
Vale lembrar que este trabalho pretende oferecer um panorama geral de
características e usos das plataformas colaborativas no contexto da pesquisa
científica, mas sem considerar variáveis relacionadas a outras áreas do
conhecimento, como design de experiência, programação ou gestão do
conhecimento. Atentamo-nos, de maneira mais restrita, a questões de âmbito
comunicacional considerando a tecnologia de informação e comunicação existente
no mercado a fim de contribuir para o maior entendimento do objeto de estudo.
As respostas do questionário apresentadas neste trabalho tinham potencial
muito maior de elucidação do assunto, já que o formulário foi enviado para uma base
de contatos com cerca de mil pesquisadores cadastrados. Apesar de uma taxa de
participação de pouco mais de 10% representar uma amostra válida por se tratarem
todos de profissionais com reputação libada e comprovada pela instituição parceira
CIAT, um percentual maior poderia exibir mais nuances de opinião, principalmente,
67
achamos, com relação aos custos de implementação e usabilidade das plataformas
existentes. As causas da baixa participação são variadas, mas recaem
majoritariamente pelo excesso de questionários que o mesmo público recebeu no
mesmo período para outros propósitos, assim como a natural falta de assiduidade
de um público que apresenta tempo escasso para contribuições fora de seu escopo
científico preestabelecido.
Oportunidades de sequência deste estudo recaem sobre a ampliação do
leque de especialidades dos profissionais pesquisados, incluindo pessoas com perfis
mais experientes no uso de mídias digitais na rotina de trabalho, assim como
nacionalidades e áreas de atuação com maior tempo conectado na rede. É
importante, por exemplo, saber se profissionais brasileiros de engenharia, medicina
e outros setores teriam interesse em uma plataforma unificada onde pudessem
expor seu trabalho e, ao mesmo tempo, criar conteúdo para proveito da comunidade
científica. Consideramos que, mesmo que haja registro de redes sociais
profissionais de médicos, uma ferramenta que englobe várias temáticas tende a
fortalecer o aspecto multidisciplinar da pesquisa científica.
Estudos como o nosso, que partem de públicos pouco atraídos pelas
tecnologias digitais, podem ser válidos justamente por jogarem luz sobre a
capacidade que as TICs têm de não só servirem como catalisadoras da
colaboração, mas, principalmente, para exercerem papel preponderante na
formação de equipes de profissionais das ciências mais integrados, abertos à
discussão, e menos propensos à redundância de pesquisas – sobras do orçamento
das instituições de pesquisa antes destinados a estudos repetidos, e a qualidade
final de trabalhos revisados à exaustão por pares, para citar dois exemplos, podem
se mostrar convincentes moedas de troca para incentivar equipes.
68
Referências
CARR, Nicholas. The Shallows. The Shallows: what the internet is doing to our brains. New York: W.W. Norton & Company. 2010. CASTELLS, Manuel. A galáxia da Internet: reflexões sobre a internet, os negócios e a sociedade. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed., 2003. DENCHEVA, S.; PRAUSE. C.R.; PRINZ W. Dynamic self-moderation in a corporate wiki to improve participation and contribution quality. Proceedings of the 12th European Conference on Computer Supported Cooperative Work. Aarhus, 2011. Disponível em: <http://www.ecscw.org/2011/04-%20Dencheva%20et%20Al%201-20.pdf> Acesso em: 25 de jul. 2014. JENKINS, H. Cultura da Convergência. São Paulo: Aleph. 2008. JOHNSON, Steven. De onde vêm as boas ideias. Rio de Janeiro: Zahar, 2010. LÉVY, Pierre. Cibercultura. (Trad. Carlos Irineu da Costa). São Paulo: Editora 34, 2009. PRIMO, Alex. Interação mediada por computador: comunicação, cibercultura, cognição. Porto Alegre: Sulina, 2007. MATTELART, A.; MATTELART, M. História das teorias da comunicação. 8ª Ed. São Paulo: Loyola, 2005. MCLUHAN, Marshall. Os meios de comunicação como extensões do homem. São Paulo: Cultrix, 1969. MERCHANT, Nilofer. 11 rules for creating value in the social era. Pressbooks.com, 2012. Kindle Edition. RADFAHRER, Luli. A enciclopédia da nuvem: 100 oportunidades e 500 ferramentas online para inspirar e expandir seus negócios. São Paulo: Elsevier, 2012.
69
SAAD, Beth. Estratégias 2.0 para a mídia digital: internet, informação e comunicação. São Paulo: Editora Senac, 2003. SHIRKY. Clay. Cultura da participação. Criatividade e generosidade no mundo conectado. Rio de Janeiro: Zahar, 2011.
70
ANEXO I: Lista de instituições pesquisadas
AGROFORIS
ANA
APRODEIN
Area de actuacion: desarrollo local
Asociación de guardianes ecológicos
Asociacion pueblo indigena en accion apu
Autoridad nacional del agua - ala alto piura huancabamba
BID - Banco Interamericano De Desarrollo
CARE International
CATIE
CEDEPAS NORTE
CEIAM - Centro De Estudios E Investigación Ambientales / Universidad Industrial De Santander
CENIGAA - Centro De Investigación En Ciencias Y Recursos Geoagroambientales
Central Ecuatoriana De Servicios Agrícolas (CESA)
Centro internacional para la investigación del fenomeno de el niño
Centro universitario de la defensa
CI - Conservación Internacional Colombia
CIAT
CIFFEN - Centro Internacional Para La Investigación Del Fenómeno De El Niño
CONDESAN
Consorcio de gobiernos provinciales del ecuador - descentralización de la competencia riego y drenaje
Cormacarena - corporación para el desarrollo sostenible del área de manejo especial la macarena
CORPOICA
Corporación ciudad y ciudadanos
CTDS SAC
Cultura ambiental
Deutsche Gesellschaft Für Internationale Zusammenarbeit (GIZ) gmbh - Cooperación Alemana Al Desarrollo
Dirección Regional De Agricultura Cajamarca Del Gobierno Regional De Cajamarca
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Dirección regional de salud del callao
EDAR Y ETAP
EMCALI
Empresa de saneamiento basico de puno
Empresa privada ingeniería y consultores ambientales dka
Empresa pública de riego y drenaje ridrensur ep
EMSITEC
ENERGISOL
ESP. SIG Y TELEDETECCION
ESPOCH
ETAPA EP, GESTIÓN AMBIENTAL, GESTIÓN DE CUENCAS HIDROGRÁFICAS
FAO
Fondo nacional del ambiente - fonam
FUNAD
Fundación Avina - PROVIA
Fundación Biofuturo Recursos Naturales
Fundación futuro latinoamericano, estrategia de adaptación al cambio climático.
Fundación Natura
Fundacion Universitaria De Popayan
Gestión Ambiental Comunitaria
GPZ Ingenieria
Green Team México
Guardas Ambientales Colombianos
IANIGLA (Instituto Argentino De Glaciologia Y Nivología)
ICAOTA
ICRAF
IDEAM - Instituto De Hidrología, Meteorología Y Estudios Ambientales
IIAP - Instituto De Investigaciones De La Amazonia Peruana
IICA - Instituto Interamericano De Cooperación Para La Agriucltura
IMAR Instituto Do Mar
INCLAM CO2 S.A.
Instituto Correntino Del Agua Y Del Ambiente (ICAA) Corrientes Argentina
Instituto Universitario De Formosa
INTERCLIMA
LIBÉLULA - Comunicación Ambiente Y Desarrollo
Lutheran World Relief
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Governo do peru
Organização das nações unidas
Parque nacional natural tamá y su zona amortiguadora
PNUD - Colombia
PNUMA-ORPALC
PROAGUA
Royal de colombia
Runatech
Sociedad de agricultores agro s.a.
Taeyoung America Sac
Universidad Alas Peruanas
Universidad Antonio Guillermo Urrelo
Universidad Autonoma Juan Misael Saracho
Universidad Central De Venezuela
Universidad Cesar Vallejo
Universidad Continental
Universidad De La Amazonia
Universidad De Los Andes
Universidad De Nariño
Universidad De Santander Udes
Universidad Del Pacífico
Universidad Del Valle
Universidad Industrial De Santader- Centro De Estudios E Investigaciones Ambientales
Universidad Jose Faustino Sanchez Carrion - HUACHO
Universidad Mariana
Universidad Nacional Agraria La Molina (UNALM)
Universidad Privada Antenor Orrego
Universidad Santo Tomás
University Of Rostock
USFQ - Universidad San Francisco De Quito
Water Resources Engineering
WCS - Wildlife Conservation Society