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SERVIÇO PÚBLICO FEDERAL UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ INSTITUTO DE CIÊNCIAS EXATAS E NATURAIS PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM CIÊNCIAS E MEIO AMBIENTE CARLOS ALBERTO DOS SANTOS NAVEGABILIDADE DO RIO SOLIMÕES NO TRECHO COMPREENDIDO ENTRE MANAUS-COARI Manaus 2017

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SERVIÇO PÚBLICO FEDERAL

UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ

INSTITUTO DE CIÊNCIAS EXATAS E NATURAIS

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM CIÊNCIAS E MEIO AMBIENTE

CARLOS ALBERTO DOS SANTOS

NAVEGABILIDADE DO RIO SOLIMÕES NO TRECHO

COMPREENDIDO ENTRE MANAUS-COARI

Manaus 2017

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CARLOS ALBERTO DOS SANTOS

NAVEGABILIDADE DO RIO SOLIMÕES NO TRECHO

COMPREENDIDO ENTRE MANAUS-COARI.

Dissertação apresentada ao programa de Pós-

Graduação em Ciências e Meio Ambiente do

Instituto de Ciências Exatas e Naturais da

Universidade Federal do Pará, como parte das

exigências para a defesa de Mestrado na área de

Recursos Naturais e Sustentabilidade.

Orientador: Prof. Dr. Cláudio Nahum Alves

Coorientadora: Itaní Sampaio de Oliveira

Manaus 2017

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Dados Internacionais de Catalogação - na - Publicação (CIP)

Biblioteca de Pós-Graduação do ICEN/UFPA

___________________________________________________________________________________

Santos, Carlos Alberto dos Navegabilidade do Rio Solimões no trecho compreendido entre Manaus-Coari/ Carlos Alberto dos Santos; orientador, Cláudio Nahum Alves.-2017. 45 f. : il. 29 cm Inclui bibliografias Dissertação(Mestrado) – Universidade Federal do Pará, Instituto de Ciências Exatas e Naturais, Programa de Pós-Graduação em Ciências e Meio Ambiente, Belém, 2017.

1. Transporte fluvial-Solimões, Rio(AM). 2. Navegação-Coari(AM)-avaliação. 3. Navegação-Fatores climáticos. 4. Geomorfologia ambiental.. I. Alves, Cláudio

Nahum, orient. II. Título. CDD – 22 ed. 386.3811

___________________________________________________________________________________

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Aos meus queridos pais Suely Ana dos santos e

Francisco dos Santos, pelo incentivo e apoio em

todos os momentos da minha vida, o qual são os

principais responsáveis por minha formação e

educação. Carlos Alberto dos Santos

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AGRADECIMENTOS

Em primeiro lugar a Deus, pelo dom da vida e por ter permitido que

alcançasse meu objetivo. Por ter colocado pessoas especiais que direta e

indiretamente, mesmo que com simples palavras ajudaram na concretização do

mesmo.

À parceria firmada entre o Instituto de Tecnologia e Educação Galileo da

Amazônia – ITEGAM e à Universidade Federal do Pará – UFPA, por oportunizar a

qualificação dos profissionais da nossa região.

Ao meu orientador, Prof. Dr. Cláudio Nahum Alves, pela paciência,

disponibilidade e também dedicação na coordenação do curso.

À minha Co-Orientadora Itaní Sampaio, pela ajuda e apoio em todos os

momentos que precisei para a realização deste trabalho.

Aos meus familiares e amigos, em especial meus pais Suely e Francisco

meu infinito agradecimento, pois sempre acreditaram em minha capacidade de fazer

o melhor de mim e por acreditarem nesse projeto de vida. Obrigado pelo amor

incondicional.

À minha querida esposa Diana Claudia, que esteve ao meu lado me fazendo

acreditar que posso mais que imagino. Devido a sua amizade, paciência,

compreensão, apoio, alegria e amor este trabalho pode ser concretizado. Por me

valorizar tanto como pessoa. Muito obrigado.

À turma de mestrado, que sempre se mostrou receptiva e cúmplice no

decorrer de cada disciplina.

Aos professores do Programa de Pós-graduação, por todo conhecimento

transmitido, pelo material didático disponibilizado, pelas “dicas” dadas. Agradeço

imensamente por terem contribuído para minha formação.

Ao Instituto de Sinalização Náutica da Marinha do Brasil em Manaus pela

disponibilidade e disposição em ajudar. Vocês também foram referenciais para mim.

Ninguém vence sozinho... Obrigado!

Todos!

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“O rio atinge os seus objetivos porque aprendeu a contornar os obstáculos.”

André Luís

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RESUMO

O Amazonas é um Estado reconhecido pela sua grande rede hidrográfica, onde se destacam várias bacias, dentre as quais pode ser citada a Bacia do Solimões, região de ocorrência de exploração de óleo, condensado e gás, sendo dessa forma, de grande valor econômico para a região. Assim, um dos principais meios de transporte entre os municípios do Estado do Amazonas é o fluvial e devido à instalação da base petrolífera de Urucu no município de Coari, o trecho Manaus-Coari se tornou um dos mais navegáveis do Amazonas, por onde passam além de petroleiros, embarcações comerciais, de carga, etc., sendo, portanto, necessária a avaliação da navegabilidade do rio Solimões nesse trecho de Manaus-Coari. Por isso, através de pesquisa bibliográfica e levantamento de campo, pode-se observar que existem três pontos críticos de navegabilidade, nos quais podem ser citados: Manacapuru a Montante, Codajás a Montante e Itapéua a Jusante, onde a navegação, na época da vazante, é restringida pela Marinha do Brasil, aos navios de grande calado. Palavras-chave: Navegabilidade, Rio Solimões, Manaus-Coari.

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ABSTRACT

Amazonas is a state recognized for its large hydrographic network, where several basins stand out, among which the basin of Solimões can be mentioned, a region where oil, condensate and gas exploration occur, being of great economic value to the region. Thus, one of the main means of transport between the municipalities of the State of Amazonas is the river and, due to the installation of the Urucu oil base in the municipality of Coari, the Manaus-Coari stretch became one of the most navigable in Amazonas, Tankers, commercial vessels, cargo vessels, etc., and it is therefore necessary to evaluate the navigability of the Solimões river in this section of Manaus-Coari. Therefore, through bibliographic research and field survey, it can be observed that there are three critical points of navigability, in which they can be cited: Manacapuru a Montante, Codajás a Montante and Itapéua a Downstream, where navigation, during ebb time, is restricted by the Brazilian Navy, to ships of great draft. Keyword: Navigability, Solimões River, Manaus-Coari.

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LISTA DE FIGURAS

Figura 01 – Região Hidrográfica Amazônia.............................................................. 17

Figura 02 – Encontro das Águas (Rio Negro e Solimões)........................................ 19

Figura 03 – Imagem de satélite - Mapa Hidrográfico Rio Solimões......................... 21

Figura 04 – Terras Caídas no Rio Solimões............................................................ 23

Figura 05 – Tipos de bancos de areia...................................................................... 24

Figura 06 – Localização do município de Coari e seus limites................................. 26

Figura 07 – Ássoreamentos em Iranduba................................................................ 27

Figura 08 – Bancos de areia em Manacapuru......................................................... 28

Figura 09 – Expansão de canais no Paraná do Jacaré............................................ 28

Figura 10 – Áreas impactadas por fatores que dificultam a navegação................... 29

Figura 11 – Embarcação do tipo petroleiro.............................................................. 30

Figura 12 – Embarcação de transporte de carga..................................................... 31

Figura 13 – Embarcação de transporte de carga (gás)............................................ 31

Figura 14 – Embarcação de transporte de pessoas................................................. 32

Figura 15 – Embarcação de transporte escolar (em amarelo)................................. 33

Figura 16 – Manacapuru Montante.......................................................................... 34

Figura 17 – Montante Codajás................................................................................. 35

Figura 18 – Paraná dos Botos (Jusante Itapéua)..................................................... 36

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LISTA DE TABELAS

Tabela 01: Classificação dos rios para navegação no Brasil................................... 13

Tabela 02: Partic. da navegação por tipo de carga e por bacia hidrográfica em %. 16

Tabela 03: Rede Hidroviária no Mundo.................................................................... 18

Tabela 04: Pontos Críticos de Navegabilidade no Trecho Manaus-Coari................33

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SUMÁRIO

1. INTODUÇÃO......................................................................................................... 11

2. OBJETIVOS.......................................................................................................... 13

2.1 Objetivo Geral................................................................................................. 13

2.2 Objetivos Específicos...................................................................................... 13

3. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA............................................................................ 13

3.1. Regulamentação............................................................................................ 13

3.2. Navegação / navegabilidade.......................................................................... 15

3.3. Hidrografia do Amazonas............................................................................... 18

3.4. Rio Solimões.................................................................................................. 20

3.5. Trecho Manaus-Coari.................................................................................... 22

4. MATERIAL E MÉTODOS..................................................................................... 25

4.1. Área de Estudo.............................................................................................. 25

4.2. Coleta de Dados............................................................................................ 26

5. RESULTADOS E DISCUSSÃO............................................................................ 27

5.1. Fatores que influenciam na navegabilidade do trecho Manaus-Coari........... 27

5.2. Identificação das embarcações que navegam no trecho Manaus-Coari.......30

5.3. Pontos críticos de navegabilidade................................................................. 33

6. CONCLUSÃO....................................................................................................... 37

7. REFERÊNCIAS..................................................................................................... 38

ANEXO A.................................................................................................................. 41

APÊNDICE A............................................................................................................ 43

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1. INTRODUÇÃO

A Bacia Amazônica é a maior bacia hidrográfica do mundo com 7,05

quilômetros quadrados, dos quais quase 4 milhões estão em solo brasileiro. Outra

característica relevante desta bacia é a grande quantidade de rios navegáveis, num

total de aproximadamente 22 mil quilômetros de rios, que facilitam o transporte de

pessoas e mercadorias em embarcações de grande, médio e pequeno porte. Com

sua nascente no Peru, a bacia amazônica entra em território brasileiro através do

município de Tabatinga-AM, onde recebe o nome de Rio Solimões, com extensão

navegável total de 1.620 km tendo uma profundidade variável entre 8 e 20m. O Rio

Solimões, a partir do encontro com o Rio Negro, nas cercanias de Manaus, passa a

se chamar Rio Amazonas (MARINHA DO BRASIL, 2017).

Assim, a hidrovia do Amazonas é a principal via de escoamento de cargas e

transporte de pessoas e a cabotagem é o principal tipo de navegação com o

transporte de grandes volumes, seguida pela de longo curso. Na navegação interior,

pequenas cargas e passageiros se deslocam para localidades ribeirinhas. O rio é

navegado por barcos de recreio, embarcações ribeirinhas, de turismo e lazer, balsas

de cargas, balsas de derivados do petróleo, navios mercantes e navios graneleiros.

A hidrovia do Rio Solimões, no trecho Coari – Manaus é uma das rotas mais

utilizadas por embarcações para escoar a produção da província petrolífera do

Urucu. Dessa forma, essa hidrovia é uma das mais importantes no transporte de

cargas e passageiros da Bacia Amazônica, tornando-se um polo importante no

desenvolvimento econômico do Estado do Amazonas, em face da criação da

província petrolífera do Urucu, região próxima à Coari. A hidrovia em questão saindo

de Coari passa pelos seguintes municípios do Estado do Amazonas, a saber:

Codajás, Anamã, Anori, Manacapuru e Iranduba até a chegada em Manaus. De

Coari até Tabatinga o Rio Solimões percorre as cidades de Tefé, Alvarães, Fonte

Boa, Jutaí, Tonantins, Santo Antônio do Içá, Amaturá e São Paulo de Olivença até

Tabatinga.

Assim, na ausência de terminais hidroviários em municípios que fazem parte

da malha hidroviária, faz-se necessária a divulgação de pesquisas que abordem os

fatores que dificultam a navegação em seus trechos mais críticos.

Este trabalho objetiva caracterizar os fatores que interferem na

navegabilidade do Rio Solimões, identificando as embarcações que navegam no

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trecho Manaus-Coari, a fim de que se possa descrever os principais pontos críticos

de navegabilidade observados no período de realização da pesquisa, visto que os

processos geomorfológicos são dinâmicos e as características geográficas do rio

variam de acordo com as estações climáticas (períodos de cheia e de vazante dos

rios).

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2. OBJETIVOS

2.1 Geral

Avaliar a navegabilidade do Rio Solimões no trecho compreendido entre

Manaus-Coari, com relação aos pontos críticos geomorfológicos.

2.2 Específicos

• Caracterizar os fatores que interferem na navegabilidade do Rio Solimões;

• Identificar as embarcações que navegam no trecho Manaus-Coari;

• Descrever os pontos críticos de navegabilidade.

3. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

3.1 Regulamentação

No Brasil, existem vários órgãos que atuam na implementação de políticas e

regulamentação do transporte marítimos nas hidrovias e que estabelecem diretrizes

conforme as características do recurso hídrico em questão, que segundo Silva

(2004) a classificação dos rios para navegação no Brasil é representada por:

Tabela 01: Classificação dos rios para navegação no Brasil.

CLASSE CARACTERÍSTICAS PROF. (M)

75% TEMPO

I – Especial Com navegação marítima -

II Grande potencial, boca de 32 m > 2,5

III Potencial médio, boca de 16 m > 2,0

IV Menor potencial, boca de 11 m > 1,5

V Potencial Reduzido -

Fonte: Rebouças et al. (2015)

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Baseado nessas caraterísticas, temos que o Transporte Marítimo no Brasil é

regulado pelos seguintes órgãos governamentais:

• Ministério dos Transportes, Portos e Aviação Civil – Secretaria de Portos

da Presidência da Republica (SEP/PR) que tem como área de atuação a

formulação de políticas e diretrizes para o desenvolvimento e o fomento do

setor de portos e instalações portuárias marítimos, fluviais e lacustres e,

especialmente, promover a execução e a avaliação de medidas, programas

e projetos de apoio ao desenvolvimento da infraestrutura e da

superestrutura dos portos e instalações portuárias marítimos, fluviais e

lacustres.

• Agência Nacional de Transportes Aquaviários – ANTAQ: que é vinculada à

SEP/PR e tem como finalidade principal implementar as políticas

formuladas para esta atividade, bem como regular, supervisionar e

fiscalizar as atividades de prestação de serviços de transportes aquaviários

e de exploração da infraestrutura portuária e aquaviária.

• Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes – DNIT:

responsável pela infraestrutura aquaviária do Sistema Nacional de Viação,

a Diretoria desempenha atividades de construção, ampliação, recuperação,

manutenção e operação em hidrovias e portos sob responsabilidade do

departamento.

• Ministério da Defesa – Marinha do Brasil: que tem como missão preparar e

empregar o Poder Naval, a fim de contribuir para a Defesa da Pátria; para a

garantia dos poderes constitucionais e, por iniciativa de qualquer destes, da

lei e da ordem; para o cumprimento das atribuições subsidiárias previstas

em Lei; e para o apoio à Política Externa.

• Tribunal Marítimo: é um órgão autônomo e atua em todo território nacional,

vinculado à Marinha, tem como atribuições julgar os acidentes e fatos da

navegação marítima, fluvial e lacustre e ainda manter o Registro da

Propriedade Marítima, de armadores de navios brasileiros, do Registro

Especial Brasileiro (REB) e dos ônus que incidem sobre as embarcações

nacionais.

• Agência Nacional de Águas – ANA: é uma autarquia federal, vinculada ao

Ministério do Meio Ambiente, e responsável pela implementação da gestão

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dos recursos hídricos brasileiros. Foi criada pela lei 9.984/2000 e

regulamentada pelo decreto nº 3.692/2000. Já a lei das águas (lei nº

9.433/97) instituiu a Política Nacional de Recursos Hídricos e criou o

Sistema Nacional de Gerenciamento de Recursos Hídricos (SINGREH).

Tem como missão regulamentar o uso das águas dos rios e lagos de

domínio da União e implementar o Sistema Nacional de Gerenciamento de

Recursos Hídricos, garantindo o seu uso sustentável, evitando a poluição e

o desperdício, e assegurando água de boa qualidade e em quantidade

suficiente para a atual e as futuras gerações.

• Administração das Hidrovias da Amazônia Ocidental – AHIMOC: é

responsável pelas hidrovias da Amazônia Ocidental, que compreende os

estados do Amazonas, Rondônia, Acre e Roraima. Os principais rios de

sua jurisdição são: rio Madeira, rio Solimões, rio Purus, rio Branco, rio

Negro, rio Acre, rio Juruá e rio Aripuanã. No entanto, na prática, a AHIMOC

tem na hidrovia do rio Madeira seu principal campo de atuação, pela sua

importância para o escoamento da produção de soja do Centro Oeste, bem

como da própria região amazônica.

O Brasil possui órgãos voltados para a administração da imensa malha

aquaviária existente, onde navegam diariamente várias embarcações de carga

(cabotagem) e de pessoas (recreios) e em algumas regiões o transporte hidroviário

chega a ser o principal meio de locomoção, principalmente na região Norte, onde há

rios extensos e volumosos com muitas habitações ao longo dos rios, cujos

habitantes são chamados de “ribeirinhos”, sendo comum, também, construções de

madeira edificadas em cima da água denominadas de “flutuantes”.

3.2 Navegação / Navegabilidade

Segundo Ferreira et al (2015) dimensionar o sistema de navegação consiste

em definir seu gabarito e traçado do eixo do canal, profundidade mínima, largura

mínima, área mínima da seção molhada, raios de curvatura, vão e altura livres nas

pontes, e a velocidade máxima da corrente líquida.

De acordo com Santana e Tachibana (2004), um projeto hidroviário é

composto por quatro principais elementos físicos: as vias, as embarcações, as

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cargas e os terminais, fatores que devem ser considerados para avaliação de boas

condições de navegabilidade.

Dessa forma, a malha hidroviária brasileira é bastante extensa e utilizada,

dada a dimensão das bacias hidrográficas que transportam as mais diferenciadas

cargas nas mais diversas regiões do país, principalmente na Região Amazônica,

conforme destaca Pompermeyer et al. (2014).

Tabela 02: Participação da navegação por tipo de carga e por bacia hidrográfica em %.

REGIÃO HIDROGRÁFICA

CARGA GERAL SOLTA

CARGA GERAL CONTENEIRIZADA

GRANEL LÍQUIDO

GRANEL SÓLIDO

PARTICIPAÇÃO TOTAL POR

REGIÃO HIDROGRÁFICA

Amazônica 53,01 71,4 68,2 19,8 35,1

Paraná 0,1 - - 33,5 20,7

Paraguai - - - 31,4 19,4

Sul 4,9 - 17,6 14,9 13,3

Tocantins-Araguaia 41,9 27,6 14,2 0,5 11,5

Participação total por tipo de carga

20,8 0,1 17,2 61,9 100

Fonte: Pompermeyer et al. (2014)

Segundo Costa (2001), a extensão navegável das bacias hidrográficas

brasileiras é muito grande e deveriam desempenhar o papel dos grandes eixos de

transporte, deixando as funções capilares as rodovias e ferrovias, citando como

exemplo a Amazônia que, por sua vez, possui elevados índices pluviométricos e

configuração de planície, mostrando que a criação de vias terrestres não é a melhor

realização a ser feita na região, e nas demais com ambas as características, onde a

solução mais viável é a hidrovia.

Assim, a vocação natural de transporte na Amazônia é o modal hidroviário,

pois cerca de 18.300 km são potencialmente navegáveis na região (Figura 01) com

gabaritos de navegação de porte, sendo que as embarcações com calado superior a

10 m podem navegar por todo ano no Amazonas, por partes do rio Solimões e

alguns de seus tributários (SILVA, 2004).

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Figura 01: Região Hidrográfica Amazônia (com destaque para a do Solimões)

Fonte: ANTAQ (2013)

Assim, de acordo com Machado (2014) as principais embarcações que

navegam na região amazônica são:

• Navios mercantes, como transportadores de contêiners, gaseiros,

graneleiros;

• Comboios regionais, de carga geral e comboios de transporte de granéis

líquidos e comboios de transporte de granéis sólidos;

• Embarcações de passageiros, como as embarcações regionais de

transporte de passageiros, embarcações de turismo e embarcações

expressas;

• Pequenas embarcações, do tipo casco de alumínio ou de madeira, às

vezes com propulsão com um tipo de motor de popa, chamadas de

“catrais”, “rabetas”, “voadeiras”, bastante utilizadas por ribeirinhos da

região.

Observa-se a existência de um grande fluxo de embarcações na região,

principalmente de pequenas embarcações, sendo a trafegabilidade considerada de

alto risco devido à superlotação e ao carregamento desordenado (passageiros e

cargas) das embarcações, gerando sobrecarga nos barcos e aumentando as

estatísticas de acidentes fluviais e naufrágios com mortes (FROTA, 2006).

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3.3 Hidrografia do Amazonas

O transporte hidroviário (ou aquaviário) refere-se a todos os tipos de

transportes efetuados sobre a água, incluindo o transporte fluvial e lacustre,

denominados respectivamente de hidroviário interior e transporte marítimo

(NOVAES, 2004).

Para se ter uma visão da importância da Bacia Hidrográfica do Amazonas,

vale observar a extensão hidrográfica das principais bacias hidrográficas do mundo,

conforme AHIMOC (2001).

Tabela 03: Rede Hidroviária no Mundo.

País Extensão Hidroviária

(em km)

EUA – Canadá Europa – Rússia

França Holanda Bélgica

Alemanha

40.000 146.000

6.600 5.371 1.508 4.300

Fonte: AHIMOC – Associação das Hidrovias da Amazônia Ocidental (2001)

Segundo Ferreira et al. (2015), as hidrovias são classificadas em três tipos

diferentes: rios de corrente livre, rios canalizados e canais, portanto no caso dos rios

amazônicos, rios de corrente livre, ou seja, são naturalmente navegáveis, pois

nesses a vazão mínima e a declividade do talvegue são adequados à navegação.

Na bacia Amazônia é essencial o papel exercido pela navegação, que é

assegurada naturalmente pelas condições hidrográficas peculiares da região, onde

se encontram cerca de 27.420 km de vias navegáveis, destacando-se os rios

Amazonas, Solimões, Negro, Branco, Madeira, Purus, Juruá e Tapajós (MORAES,

2013).

Os rios de baixo curso, ou de planície, são os mais favoráveis à navegação,

por apresentarem uma declividade suave e regular. Seus principais obstáculos

dizem respeito ao depósito de sedimentos que se acumulam em pontos específicos

ao longo do curso, como a calha principal do Solimões-Amazonas e muitos dos seus

afluentes, como o Madeira (MIGUEMS, 1996).

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O Rio Amazonas é o principal curso d’água, com uma vazão média anual

estimada em 222.000 m3/s, o que lhe dá o título de maior rio do mundo e sua parte à

montante, em território nacional é chamado de Solimões, que é o segundo trecho

mais importante da área, em porte e em vazão (SILVA, 2004).

Pouca gente sabe que o rio Amazonas, nos setores considerados, é um dos

cursos d’água que transporta a maior carga de sedimentos finos em solução,

acrescidos de minitouceiras de vegetação flutuante, na face da Terra. O contraste

entre as águas escuras do Rio Negro face as águas amarelo-pardacentas do

Solimões/Amazonas (Figura 02) indica atributos hidrobioquímicos e

hidrogeomorfológicos (AB’SABER, 2002), despertando curiosidade na população

local e atraindo muitos turistas ao longo do ano para esse trecho onde as águas se

encontram conhecido como “Encontro das Águas”.

Figura 02: Encontro das Águas (Rio Negro e Solimões).

Fonte: Própria (2017)

Vale ressaltar que apesar da importância da malha hidroviária na região

amazônica, levando em consideração ser o principal meio de transporte e ser uma

das maiores bacias hidrográficas do mundo, existem poucos Terminais Hidroviários,

visto que existem requisitos mínimos para implantação de um terminal hidroviário de

passageiros, tais como: acessos, área para estacionamento de veículos, instalações

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e serviços, área de acumulação pública, área de acumulação restrita (sala de

embarque) e área de atracação (MORAES, 2013).

Além disso, no projeto de construção de uma hidrovia devem estar previstas

obras de regularização de leito, visando aumentar a profundidade da calha fluvial e

criar um percurso satisfatório para que a navegação se desenvolva com segurança;

regularização de margens, que são aplicadas para regularizar um processo erosivo

(ALFREDINI e ARASAKI, 2009).

De acordo com LINO et al. (2008) a rede de hidrovias brasileira é constituída

de 29.000 km de rios naturalmente navegáveis, dos quais apenas 8.500 km

encontram-se em uso comercial regular e destes, 5.700 km estão na região da

Amazônia, ressaltando que este quadro poderia ser alterado com investimentos em

obras adequadas, aumentando a extensão da rede hidroviária nacional.

O PNIH, utilizando mapeamento georreferenciado, buscou determinar o

volume total de cargas que cada uma das bacias hidrográficas estudadas pode atrair

para a sua área de influência, cujo principal objetivo do plano ficou voltado para a

identificação de áreas propícias à instalação de novos portos e terminais hidroviários

e alternativas de transporte de navegação interior para escoamento da produção;

caracterizado na prática, como um “plano de outorgas” de terminais hidroviários em

seis bacias hidrográficas, no qual foram identificadas sete áreas propícias para

instalação de novos terminais na Amazônia.

3.4 Rio Solimões

Segundo Miguems (1996), as condições de navegabilidade dos rios de médio

curso e, principalmente, dos rios de baixo curso, também dependem do tipo de

fundo do seu leito. Rios de leito pedregoso normalmente têm um canal estreito e

estável, enquanto rios de fundo de lama, barro ou argila são, em geral,

caracterizados por instabilidade do leito e por apresentarem um canal sinuoso,

apesar de razoavelmente profundo. Rios de fundo de areia apresentam, quase

sempre, um canal altamente variável entre os extremos do seu regime. Na época de

estiagem, o menor volume d’água aumenta a velocidade da corrente, removendo

grande parte das partículas soltas e criando um canal no leito do rio. Na medida em

que o nível de água aumenta, o rio tende a se nivelar, ficando profundo quase que

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de margem a margem, até que um novo ciclo recomece e surja outro canal, de

configuração diferente do anterior.

Para um rio ser naturalmente navegável, sem necessidade de intervenções

humanas, é preciso que o rio (ou lago) tenha uma morfologia adequada. É esta que,

por não ser a ideal, restringe a franca navegabilidade de alguns rios e lagos – ou de

trechos deles – do país. Mesmo na Bacia Amazônica, há rios que precisam de

algum tipo de adequação de seus leitos para permitir o pleno aproveitamento para a

navegação em mais larga escala. Por exemplo, o Rio Madeira, que, mesmo

apresentando boas condições naturais de navegação, demanda sinalização e

dragagem para manter um canal adequado ao transporte hidroviário de grãos,

combustíveis e outros produtos (POMPERMEYER et al., 2014).

O Rio Solimões (Figura 03) nasce no Peru e entra no Brasil pelo município de

Tabatinga, possui extensão total em território brasileiro de 1.620 km, até o encontro

com o Rio Negro, nas proximidades de Manaus, quando juntos formam o Rio

Amazonas. Na época de cheia, a profundidade do rio varia de 20 a 8 metros; e, no

período de estiagem, a profundidade mínima pode variar de 10 a 3 metros

(MACHADO, 2014). É de grande importância por propiciar a integração com outros

países sul-americanos, como o Peru e a Colômbia, sendo navegável da sua foz até

a cidade de Coari (MMA, 2005).

Figura 03: Imagem de satélite representando Mapa Hidrográfico do Rio Solimões.

Fonte: NASA (2017)

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É um rio de coloração clara, devido às águas barrentas, cujas características

definidas por Trisciuzzi Neto (2001) são:

• Instabilidade do leito devido à erosão fluvial marginal;

• Riqueza em meandros;

• Concentração de sedimentos argilosos em suspensão;

• Rico em sais minerais e matéria orgânica;

• Ambiente propício para desenvolvimento da fauna e flora aquáticas;

• Formação de ilhas e várzeas pela sedimentação e calmatagem;

3.5 Trecho Manaus-Coari

Os estudos têm mostrado que a atuação das falhas geológicas causa

significativas mudanças na paisagem amazônica, inclusive influenciando a dinâmica

fluvial dos rios amazônicos. Mega migrações do rio Solimões, surgimento e o

desaparecimento de bancos de areia, o desmoronamento de margens (fenômeno de

terras caídas), e o abandono de leito são, muitas vezes, consequência indireta de

processos tectônicos (SILVA e ROSSETTI, 2009).

Segundo Ribeiro et al. (2009), na região entre Coari e Anamã, oeste de

Manaus, o paleocurso do rio Solimões descreve uma evolução impressionante, pois

antes de criar o lago de Coari, o rio Solimões circundava 5 km mais a norte. Nesse

trajeto, esse rio passava pelas desembocaduras dos rios Piorini e Badajós, ligando-

se ao atual Paraná do Badajós e continuava seu percurso cerca de 30 km a sul da

atual posição, em Codajás. A confluência do rio Purus com o rio Solimões se

localizava cerca de 60 km (em linha reta) a montante da atual posição. Segundo o

estudo, a mudança repentina do curso do rio Solimões foi devido à falha

transcorrente denominada de Coari-Codajás-Anamã, na qual parte desse rio está

condicionado. A diversidade de formas de drenagem e da paisagem certamente

implicou em modificações significativas ambientais à época.

A importância de se entender os processos geológicos que atuaram e atuam

na dinâmica do rio Solimões tem a ver principalmente com a utilização da hidrovia

para o escoamento do petróleo e seus derivados produzidos no Campo Petrolífero

de Urucu, no município de Coari.

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Assim, o rio Solimões possui uma dinâmica fluvial bastante complexa e se

destacam fenômenos típicos como: terras caídas e bancos de areia, fatores que

dificultam a navegabilidade das embarcações no trecho Manaus-Coari.

O fenômeno denominado de “Terras caídas” (Figura 04) associa-se

inicialmente as ações erosivas promovidas pelo próprio rio, mas, como as estruturas

das paisagens se erguem sobre a manutenção de diversos elementos, pode ser que

esteja relacionada a vários fatores de origens diferentes que se interligam em algum

momento, modificando a morfologia das margens do rio, ou seja, participam da

reestruturação da paisagem local. Embora a ocorrência das Terras Caídas seja

comum no cotidiano da maioria das pessoas que residem no interior da Amazônia,

ainda são poucos os estudos levantados sobre esse tipo de evento, visto que há

algumas questões a serem consideradas, como a ausência de recursos para a

realização de pesquisas e a distância entre Manaus e a região do Alto Solimões

(LOPES e RODRIGUES, 2014).

Figura 04: Terras Caídas no Rio Solimões.

Fonte: Própria (2017)

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No entanto, conforme afirma Carvalho et al. (2009) é certo que:

Um fator importante que se deve levar em consideração na propagação das Terras Caídas é a ação dos processos climáticos, como chuvas torrenciais, temperaturas elevadas e rajadas de ventos que, associados a outros fatores, são responsáveis pela saturação dos solos, erosão dos solos associadas ao escoamento concentrado, fragilização da estrutura dos terraços por expansão e retração dos elementos constituintes, formação de banzeiros que potencializam a ação do fluxo erosivo do rio deflagrando diretamente a erosão das margens (CARVALHO et al., 2009).

Devido à formação geológica e morfologia, os rios que nascem na região

andina e pré-andina carregam grande carga de sedimentos, que na seca são

depositados, marginalmente formando grandes “bancos de areia e argila” (Figuras

05a e 05b). Com a subida das águas e aumento da vazão, os sedimentos

depositados são re-suspendidos e carregados pela força das águas, por isso, as

praias e bancos de areia nunca são os mesmos a cada ciclo de descida e subida do

nível da água, alterando formas e tamanho a cada ano (CLARO JUNIOR, 2007).

Figuras 05a e 5b: Tipos de bancos de areia que ocorrem nos rios.

Fonte: STRASSER (2008)

4. MATERIAL E MÉTODOS

Para análise da navegabilidade do Rio Solimões no trecho compreendido

entre Manaus-Coari foi utilizada como metodologia o levantamento de campo, com

observação direta “in loco”, em uma análise qualitativa, através da realização de

duas travessias de ida-volta no trecho Manaus-Coari-Manaus.

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Conforme Andrade e Schmidt (2015) na pesquisa qualitativa a interpretação

dos fenômenos e a atribuição dos significados são básicas no processo, utilizando-

se, portanto, a descrição para interpretar o significado dos acontecimentos.

Dessa forma, para uma abordagem em épocas diferenciadas, em que o rio

apresenta características típicas, as travessias foram realizadas em duas etapas:

• No segundo semestre de 2016, no dia 18/09/2016, na época conhecida

como “seca” ou “vazante”, em que o rio começa a apresentar as cotas mais

baixas;

• No primeiro semestre de 2017, no dia 21/02/2017, na época conhecida

como “cheia” ou “enchente”, onde o rio começa a apresentar cotas mais

altas.

Assim, foi utilizado um barco regional de 190 HP, com GPS GARMIN

acoplado, que registra a velocidade da embarcação, temperatura da água, a

profundidade do rio e as coordenadas geográficas.

4.1 Área de Estudo

A área de pesquisa compreende o trajeto Manaus-Coari, abrangendo uma

importante rede de drenagem que compões o sistema fluvial da bacia Amazônica,

que é o rio Solimões, cuja referida bacia hidrográfica é caracterizada por uma

drenagem secundária com padrão dendrítico a subdendritíco que corta a área de

estudo em todas as direções, sendo interligada por denso sistema de furos, paranás,

igarapés e lagos com variadas formas e tamanhos (COPETTI, 2012).

As embarcações que utilizam o rio Solimões, dentro desse trecho, iniciam em

Manaus, passam pelos municípios de Iranduba, Manacapuru, Anamã, Anori,

Codajás e finalmente chegam ao seu destino final em Coari (Figura 06). Este

percurso tem o rio Solimões como via principal. Durante o ano inteiro o rio Solimões

é navegável por todo o trajeto entre estas duas cidades (FERREIRA, 2016).

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Figura 06: Localização do município de Coari e seus limites

Fonte: PETROBRAS (2009)

Dessa foram, a pesquisa foi realizada ao longo do trecho Manaus-Coari, onde

foram realizadas duas travessias em períodos diferentes para avaliação do

comportamento geomorfológico e análise dos fatores que influenciam na formação

de pontos críticos de navegabilidade do rio Solimões.

4.2 Coleta de Dados

A metodologia utilizada nesse tipo de pesquisa é a qualitativa, que foi

desenvolvida seguindo os procedimentos descritos por com observações e

entrevistas realizadas durante o processo de coleta de dados; análise e

interpretação dos dados, onde serão adotados três passos, a saber:

a) Os dados foram coletados através da realização de dois trabalhos de

campo realizados em épocas diferenciadas, onde se puderam obter informações

geográficas do trecho Manaus-Coari. Através de ecobatímetro e GPS acoplado à

embarcação foram realizadas duas travessias obtenção do relevo de fundo do Rio

Solimões;

b) Em seguida, esses dados foram organizados, classificados e

geoprocessados com base nos fatores que levam às condições críticas de

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navegabilidade. Foram utilizados os softwares dos equipamentos para posterior

modelagem e confecção de mapas;

c) Posteriormente, os dados foram analisados de forma pontual, sendo

caracterizados os trechos críticos de navegabilidade. Levando em consideração à

época em que os trabalhos foram realizados (verão/inverno), os dados de

profundidade e do relevo de subsuperfície foram correlacionados com respectivas as

cotas do rio para análise dos fatores externos que interferem nesses dados.

5. RESULTADOS E DISCUSSÃO

5.1 Fatores que influenciam na navegabilidade do trecho Manaus-Coari

Os resultados obtidos através da observação e estudos geográficos mostram

que, por se tratar de uma região de intensos processos dinâmicos, os principais

fatores resultados dessa pesquisa que influenciam na navegabilidade são:

a) Assoreamentos ocasionados por influência de descarga de

sedimentos, como por exemplo, no Paraná do Curralzinho, Ilha Maria Antonia,

localizada na Costa do Iranduba;

Figura 07: Assoreamentos em Iranduba

Fonte: Imagem de satélite (Google Earth, 2016)

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b) Canais secundários fechados em função de movimento de banco de

areia, como o canal localizado em frente ao município de Manacapuru;

Figura 08: Bancos de areia em Manacapuru

Fonte: Imagem de satélite (Google Earth, 2016)

c) Movimentos constantes de bancos de areia, levando as dimensões dos

canais a expandiram-se ocasionando o desaparecimento da Ilha da Arraia, na saída

do Paraná do Jacaré.

Figura 09: Expansão de canais no Paraná do Jacaré

Fonte: Imagem de satélite (Google Earth, 2016)

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Segundo Silva (2004) devido aos períodos de cheia, pedaços de margens de

volumes considerados são arrancados e muitas vezes, por causa da vegetação

existente, transformam-se em ilhas flutuantes, que podem se tornar uma ameaça à

navegação.

Dessa forma, observa-se que o Rio Solimões é extremamente complexo,

predominando assoreamentos provocados pela descarga de sedimentos

provenientes de “terras caídas” e movimentos dos “bancos de areia” que levam ao

fechamento e/ou expansão de canais e de ilhas, dependendo da época do ano (se

em períodos de cheias ou de vazantes), conforme Figura 10.

Figura 10: Áreas impactadas por fatores que dificultam a navegação.

Fonte: MELO (2017)

Vale ressaltar que estudos realizados por PETCON (2002) já relacionavam

fatores que dificultam o transporte no rio Solimões, dos quais são citados: erosão

das margens dos rios, sedimentação no leito do rio, formação de bancos de areias,

estreitamento do canal, diminuição da profundidade do canal decorrente da

sedimentação, fechamento do canal em alguns trechos do rio, pedrais não

sinalizados e presença de troncos de árvores dentro dos canais.

Assim, a ocorrência desses fatores que dificultam a navegação geram

impactos negativos na vida dos ribeirinhos que vivem ás margens do Rio Solimões e

dos municípios que fazem parte do trecho Manaus-Coari, visto que muitas vezes se

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tratam de regiões inacessíveis, em que não há outro meio de transporte além do

hidroviário, afetando intensamente a vida dessas pessoas, desde a parte

econômica, pois muitos sobrevivem da pesca até a parte social, visto que muitos

utilizam embarcações de pequeno porte para se locomover até a escola ou postos

de saúde que possam existir nas proximidades.

Por isso, de acordo com Chain Jr. (2001) a melhoria da navegabilidade dos

rios se dá por meio das seguintes intervenções: limpeza de vegetação, sinalização

dos canais para navegação noturna, definição de pontos de fundo com colocação de

bóias de amarração, melhoramento do leito do rio, dragagens de manutenção,

derrocamentos em passos específicos que representam riscos à navegação.

5.2 Identificação das embarcações que navegam no trecho Manaus-Coari

Através do monitoramento das embarcações que navegaram em dois dias de

observação ao longo do trecho Manaus-Coari, puderam ser identificados:

• Navios petroleiros: Com a construção da Base Petrolífera de Urucu, a

produção de petróleo e GLP passou a ser escoada por navios petroleiros (Figura

11), desde a cidade de Coari até o Terminal de Petroleiros da Refinaria de Manaus,

distante cerca de 480 km (MMA, 2005).

Figura 11: Embarcação do tipo petroleiro

Fonte: Própria (2017)

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• Embarcações de carga: Como a maioria dos municípios não possuem

comunicação através de rodovias, o modal hidroviário apresenta grande capacidade

de movimentação de cargas (Figura 12), resultando em baixo consumo de

combustível (quando comparado a outros modais de transporte) e propiciando uma

oferta de produtos a preços competitivos (MARINHA DO BRASIL, 2017).

Figura 12: Embarcação de transporte de carga

Fonte: Própria (2017)

• Transporte de combustíveis: Em virtude da importância econômica dos

municípios ao longo do trecho Manaus-Coari é grande a circulação de embarcações

que transportam diariamente cargas nesse trecho, conforme pode ser observado na

Figura 13.

Figura 13: Embarcação de transporte de carga (gás)

Fonte: Própria (2017)

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• Barcos tipo “recreio”: Segundo o Ministério da Marinha, a Amazônia

Ocidental é uma região em que trafegam cerca de um milhão de pessoas por ano,

na sua maioria de baixa renda, nas 25 mil embarcações de médio porte,

predominantemente construída com casco de madeira (Figura 14) e, além disso,

existe um grande número de pequenas embarcações, com as mesmas

características, trafegando em rios de médio e grande porte.

Figura 14: Embarcação de transporte de pessoas

Fonte: Própria (2017)

• Barcos de transporte escolar: Em virtude da importância econômica dos

municípios ao longo do trecho Manaus-Coari é grande a circulação de embarcações

que transportam diariamente alunos às suas escolas nesse, conforme pode ser

observado na Figura 15.

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Figura 15: Embarcação de transporte escolar (em amarelo)

Fonte: Própria (2017)

5.3 Pontos críticos de navegabilidade

A região amazônica tem seu clima caraterizado por duas estações bem

definidas: seca e chuvosa, sendo que no período de seca ocorre o fenômeno da

vazante, em que as chuvas diminuem drasticamente e causam o rebaixamento do

nível das águas e consequentemente, dificulta a navegação nesse período que vai

de julho a novembro (PINTO et al., 2011).

Conforme aquisição de dados de batimetria e análise da geomorfologia, no

período do desenvolvimento da pesquisa realizada em período de vazante (DEZ/15)

e em período de cheia (FEV/2017), pode ser observado que no trecho Manaus-Coari

existiam três pontos críticos de navegabilidade conforme apresentado na Tabela 05.

Tabela 04: Pontos Críticos de Navegabilidade Observados no Trecho Manaus-Coari

LOCALIZAÇÃO COTA (M) DEZ/2015

COTA(M) FEV/2016

COTA(M) FEV/2017

COORDENADAS GEOGRÁFICAS

Manacapuru Montante 6,35 13,20 12,77 3°31’15,6”S/60°47’02,4”W

Codajás Montante 6,32 11,15 15,97 3°50’51,7”S/62°05’46,1”W

Jusante Itapéua 7,58 11,67 12,95 4°01’22,9”S/63°00’07,9”W

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Assim, observa-se a diferença entre as cotas observadas no período de dois

meses, ressaltando as cotas mínimas atingidas em épocas de vazão máxima e que

diminui o calado do rio, dificultando a navegação nesses pontos:

a) Manacapuru Montante (Figura 16), nas proximidades da Comunidade

Pesqueiro, há existência de bancos de areia, formando praias com

aproximadamente 12 m de profundidade, impedindo a navegação de barcos de

grande porte; sendo observado no momento da realização da pesquisa as

respectivas cotas de 6,35 m (dezembro/2015) e 13,20 m (fevereiro/2016), resultando

em um aumento de 6,85 m no nível do Rio Solimões em 2 meses.

Figura 16: Manacapuru Montante

Fonte: Melo (2017)

b) Em Codajás Montante, a formação de bancos de areia no rio principal

(Rio Solimões) que na estação seca o leito atinge a profundidade mínima de 8 m e

suas margens atingem 5 m, impede a continuidade da navegação, visto que em

dezembro/2015 encontrava-se uma cota de 6,32 m e em fevereiro/2016, 11,15 m, ou

seja, um aumento de 4,83 m em 2 meses. Conforme observado na Figura 17, há

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existência de vários bancos de areia circundando o Lago dos Corós, em Montante

Codajás.

Figura 17: Montante Codajás

Fonte: Melo (2017)

c) No Paraná dos Botos (Jusante Itapéua), próximo ao município de

Coari, também há formação de bancos de areia, conforme mostra Figura 18, cujos

paranás atingem 4m de profundidade, impedindo a navegação inclusive de

embarcações de pequeno porte, sendo registrado um aumento de 4,09 m em 2

meses, visto que em dezembro de 2015 a cota encontrava-se a 7,58m e em

fevereiro/2016, 11,67m.

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Figura 18: Paraná dos Botos (Jusante Itapéua)

Fonte: Melo (2017)

Dessa forma, tem-se notadamente que os pontos críticos de navegabilidade

descritos são gerados por processos exógenos, nos quais se destacam

principalmente os fenômenos erosivos associados à movimentação dos rios.

Segundo EPEIA (1996), estão inclusos também como riscos exógenos os

processos inerentes do ambiente deposicional como escorregamentos, subsidências

e colapso e expansão de solos, erosão e assoreamento, pois, principalmente na

região de influência direta do gasoduto são identificados os fenômenos erosivos

associados à migração fluvial.

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6. CONCLUSÃO

No intuito de avaliar a navegabilidade do Rio Solimões, no trecho

compreendido entre Manaus-Coari, pode-se observar que existem muitos fatores

que comprometem o tráfego de embarcações nos grandes rios da Amazônia, sendo

os principais: o fenômeno das ‘terras caídas’, que tornam-se verdadeiras ilhas

flutuantes, dificultando a navegação; os bancos de areia móveis e, principalmente, o

período de vazante do rio, que torna a navegação um problema para os navios de

grande calado.

Por se tratar de um trecho altamente comercial, navegam diariamente por

essas águas embarcações de diferentes tipos, tais como: Navios mercantes que

transportam contêineres, gaseiros, graneleiros e petroleiros; Comboios regionais de

carga geral, comboios de transporte de granéis líquidos e comboios de transporte de

granéis sólidos; Embarcações de passageiros para transporte de pessoas,

embarcações de turismo e embarcações expressas; Pequenas embarcações de

casco de alumínio ou madeira, com motor de popa chamados de ‘rabeta’ ou

‘voadeiras’.

E, por fim, foi possível detectar vários pontos críticos, que dificultam a

navegabilidade nesse trecho, tais como: Assoreamentos ocasionados por influência

de descarga de sedimentos, como por exemplo, no Paraná do Curralzinho, Ilha

Maria Antonia, localizada na Costa do Iranduba; Canais secundários fechados em

função de movimento de banco de areia, como o canal localizado em frente ao

município de Manacapuru; Movimentos constantes de bancos de areia, levando as

dimensões dos canais a expandiram-se ocasionando o desaparecimento da Ilha da

Arraia, na saída do Paraná do Jacaré.

Dessa forma, esta pesquisa contribui para a disseminação do conhecimento

acerca da navegabilidade do Rio Solimões, com dados técnicos sobre os níveis de

vazante e enchente, bem como, as características das embarcações que navegam

pelo rio e, principalmente, demonstrando seus pontos críticos, que tornam perigosa

a navegação em determinados trechos do Rio Solimões.

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7. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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GLOSSÁRIO

ASSOREAMENTO: Acúmulo de sedimentos pelo depósito de terra, areia, argila,

detritos etc., na calha de um rio, em uma baía, um lago.

BANCOS DE AREIA: Consiste no acúmulo de areia no meio de um curso de água

(como um rio) ou ao longo da costa marítima.

BATIMETRIA: Ciência do mensuramento da profundidade das massas de água

(rios, oceanos, mares, lagos etc.) para determinação da topografia do seu leito.

CALADO: Distância vertical entre a superfície da água e a parte mais baixa da

quilha do navio medida quando este estiver na condição de deslocamento em

plena carga (ou deslocamento máximo).

CALHA: Calha é o espaço que pode ser ocupado por um curso d'água, sendo

possível distinguir o leito aparente, o leito maior ou leito de inundação, e o leito

menor.

COTA: Refere-se a altura da elevação das águas, medida em metros cúbicos. A

cota atual de um rio ,é a medição da altura do seu nível de água.

ECOBATÍMETRO: Equipamento usado para medir a profundidade do mar,

levando em conta o tempo decorrido entre a emissão de um sinal acústico em

direção ao fundo e a recepção de seu eco a bordo do navio; ecossondador.

ENCHENTE: Grande abundância ou fluidez no volume de águas, devido a

excesso de chuvas, subida de maré etc.; cheia, inundação.

GEOMORFOLOGIA: Ramo da geologia física que estuda as formas do relevo

terrestre atual e investiga a sua origem e evolução.

GPS: É a sigla para Global Positioning System, que em português significa

“Sistema de Posicionamento Global”, e consiste numa tecnologia de localização

por satélite.

JUSANTE: O sentido da correnteza num curso de água (da nascente para a foz).

NAVEGAÇÃO: Viagem sobre águas, que pode ser interior (lacustre e fluvial), ou

marítima (costeira e de alto-mar).

NAVEGABILIDADE: Qualidade, condição ou estado do que é navegável.

LEITO DO RIO: É a extensão onde corre o curso d'água. As águas dos rios vão

escavando o terreno por onde passam, formando o que se chama de leito do rio.

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MONTANTE: É todo ponto referencial ou seção de rio que se situa antes deste

ponto referencial qualquer de um curso de água. Sendo assim, a foz de um rio é

o ponto mais a jusante deste rio, assim como a nascente é o seu ponto mais

a montante.

PARANÁ: Braço de um rio caudaloso, separado do curso principal por uma ou

várias ilhas.

SEDIMENTOS: São pedaços de solo ou de rochas deteriorados em pequenas

partes, ou até em pó ou poeira. Quando esses sedimentos se aglutinam, dão

origem às rochas sedimentares. A formação de sedimentos pode ser ocasionada

pela água ou pelos ventos.

TERRAS CAÍDAS: Fenômeno natural que se manifesta através do

desbarrancamento ou desprendimento das margens dos rios com deslocamento

de solo para dentro do leito.

VAZANTE: Período de baixa no nível das águas de um rio, ou de um mar.