cartografia social povo pankararu

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Nova Cartografia Social dos Povos e Comunidades Tradicionais da Bacia do São Francisco Povos Indígenas do Nordeste 2 PANKARARU Nova Cartografia Social dos Povos e Comunidades Tradicionais do Brasil

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Page 1: Cartografia Social Povo Pankararu

Nova Cartografia Social dos Povos e Comunidades Tradicionais da Bacia do São Francisco

Povos Indígenas do Nordeste 2

Apoio

PANKARARU

Realização

POVO PANKARARU

Nova Cartografia dos Povos e Comunidades Tradicionais do Brasil

Série: Povos e Comunidades Tradicionais da Bacia do São Francisco Povos Indígenas do Nordeste

1 - Povo indígena Tuxá de Rodelas

2 - Povo indígena Pankararu

3 - Povo indígena Truká

4 - Povo indígena Tumbalalá

5 - Povo indígena Pipipã

6 - Povo indígena Kambiwá

7 - Povo indígena Kariri-Xocó

8 - Povo indígena Xocó

Nova Cartografia Social dos Povos e Comunidades Tradicionais do Brasil

Page 2: Cartografia Social Povo Pankararu

Participantes da Oficina:

Aída Paulino de BarrosKarolina de Carvalho SilvaErvely Monikey dos Santos SilvaQuitéria Maria de Jesus: Quitéria BingaAlexandre dos SantosGeovane Miguel da SilvaElisa Urbano RamosPedro Monteiro da Luz – CaciqueTiago da Silva OliveiraAna Lúcaia do Nascimento LuzFernando Monteiro dos SantosGustavo Barbosa da LuzIranildo Julião da SilvaGeroge de VasconcelosMaria de Lourdes Barros de Carvalho SilvaNatércia Lima Barros da SilvaNatalina Zilma BarrosMaria Raquel da SilvaAgenor Gomes JuliãoMaria Luciene Gomes

Equipe de Pesquisa:

Alzení Tomáz (CPP/NECTAS/UNEB)Arthur Lima (NECTAS/UNEB)Bruna Graziela (NECTAS/UNEB)Juliana Barros (AATR)Juracy Marques (NECTAS/UNEB)Silvia Janaina (NECTAS/UNEB)Paulo Wataru(NECTAS/UNEB)

Elaboração do MapaÁlvaro RibasLucas Martins do Santos

FotografiasJuracy MarquesJuliana BarrosBruna Graziela

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N935 Nova Cartografia Social dos Povos e Comunidades Tradicionais do Brasil: Povo Indígena

Pankararu / Coordenadores Alfredo Wagner Berno de Almeida, Rosa Elizabeth

Acevedo Marin; Organizadores Juracy Marques dos Santos...[et al]. – Manaus, AM :

Projeto Nova Cartografia Social da Amazônia / UEA Edições, 2010.

12 p. : il. ; 25 cm. – (Povos Indígenas do Nordeste ; 2).

ISBN: 978-85-7883-168-4

1. Comunidades Indígenas do Nordeste – Jatobá (Pernambuco) I. Almeida, Alfredo

Wagner Berno de. II. Marin, Rosa Elizabeth Acevedo. III. Santos, Juracy Marques IV. Série.

CDU 301.185.2(813.42=98)

Ficha Catalográfica

Pankararu participantes da Oficina (NECTAS, 2008) Manoel Uilton Santos - Coordenador Geral da APOINME - Articulação dos Povos e Organizações Indígenas do Nordeste, Minas Gerais e Espírito SantoAv. Sigismundo Gonçalves, 654, Varadouro, Olinda - PE53.010-240(81) 3429-5191/Cel. 96073191Skype: uilton.tuxa

NECTAS-UNEBRua do Gangorra, 503, Alves de SouzaPaulo Afonso-BA48.608-240Tel/Fax: (75) 3281 7364

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Agente tem que se unir e lutar pela aquele objetivo. Infelizmente ou felizmente, agente tem os próprios parentes, não Pankararu, mas de outras etnias que vê só o lado dele. Quando ele está prejudicado ele chama os Pankararu, chama outros pra resolver. Depois que tá resolvido, acabou, ele não quer saber se Pankararu existe. Mas Pankararu existe, nuca vai deixar de existir, e agente vai tá sempre nessa luta, lutando por um objetivo, que é nossas terra.

Nesse país Brasil, a gente trava uma luta em prol das questões indígenas, da educação, da saúde, da terra, da sustentabilidade, mas num é apenas uma sustentabilidade física é uma sustentabilidade espiritual. ELISA.

Nós não queremos a terra apenas pra explorar pra o nosso benefício, apenas pra enriquecer, mas a terra também é espaço sagrado, espaço de preservação. Então a terra é para tirar sustentabilidade do corpo, mas também a sustentabilidade da alma. Então é necessário que as matas continuem, as águas continuem, que lugares sagrados sejam respeitados e preservado. ELISA.

Nós tamo lutando pela nossa terra, lutando pela saúde. Premero lugar é a terra. Se a gente não tiver terra, os indígena, nós como nação indígena, nós como povo pankararu, nação pankararu, se a gente num dar as mãos a gente futuramente a gente não vai ter esse território.

A gente já pediu uma comissão técnica da FUNAI, a parte antropológica e que vieram e mediram de lá pra o lado da ponte que faz divisa Pernambuco com Alagoas, mediram pra baixo pegando a margem do São Francisco pra encostar e também pro lado, pegando a volta do Moxotó subindo, mas até hoje parece que eles engavetaram.

Agente sofreu, agente correu, agente levou tiro, agente... Foi uma correria danada. Por que nós não deixamos acontecer o que realmente eles queriam o que acontecesse. Mas é pouco, eu acho que o Governo Federal, ele não tem só que falar, eles tem que fazer.

REIVINDICAÇÕES DA COMUNIDADE

CPP - Conselho Pastoral dos PescadoresAv. Beira Rio, 913 – Jardim BahiaPaulo Afonso, BaTel-Fax: (75) [email protected]

AATR - ASSOCIÇÃO DOS ADVOGADOS DE TRABALHADORES RURAIS DO ESTADO DA BAHIALadeira dos Barris, 145, BarrisSalvador-BahiaCEP: 40070310Tel-Fax: 71 – 33-739329

CONTATOS:

Page 3: Cartografia Social Povo Pankararu

A gente é um ser que valoriza a sua cultura e vivência, mas que tem esse lado intercultural de se conviver com outros saberes com outras culturas. A gente já pode falar do pós contato e o ser Pankararu leva um símbolo da vivência da sua identidade, dos seus costumes, da sua tradicionalidade, mas que está também vivenciando outros saberes que a humanidade produz. Elisa.

É conviver com a tecnologia, saber diferenciar porque às vezes a tecnologia pode ser boa e às vezes ela pode não ser boa para os Povos indígenas. E ser Pankararu é ser forte, ser guerreiro, dar valor à sua cultura, praticar suas tradições. George.

É ser aonde quer que você esteja. Porque a gente tem que sair daqui pra estudar e, aonde, na capital, qualquer cidade, a gente tem que se identificar e se identifica como Pankararu... E as pessoas perguntam '-o quê? Pankararu? E tem índio aqui?' Aquelas perguntas todas. Mas a gente sustenta que é índio porque não pode ceder aos encantos dos brancos, uma cultura diferente da nossa, mas a gente consegue resistir e persistir em ser Pankararu e lutar. Luciane.

Mãe Binga - Grande Liderança Pankararu (NECTAS, 2008)

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IDENTIDADE PANKARARU

Alexandre - liderança jovem (NECTAS, 2008)

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Então eles saíram mais encurralando a gente, tirando aqueles fazendeiros que venderam lá que aí foi encurralando a gente. Por que Tacaratuzinho, muitos índios ainda plantaram muita cana numa baixada que tem lá. Então eles foram pegando as terras até que deixaram nós aqui numa posição que encurralou mesmo tá? A gente foi tão prejudicado que hoje inda tem seu Manoel Oliveira que fez mel, rapadura ainda desse canavial que existia lá, mas que eles já tinham retomado da gente.

Tem muito posseiro dentro da área indígena. A gente já reivindicou diversas vezes pra presidente Lula, pra o presidente da FUNAI, pra o Ministro que tem um poder de decisão, a gente não quer se confrontar, num vai chegar momento que o pankararu ele tem o seu sangue, tem a sua identidade tem... E ele é um guerreiro. Nós somos um guerreiro. É porque a gente pensa também no ser humano, a gente é humano, a gente não quer fazer que nem os outros, outras nação que nem Truká, que nem Xucuru, e diversos outros povos, e eles tão dentro da razão porque fazer a retomada tá buscando o que é seu, tá dentro do direito da constituinte e da parte também, da parte da ONU e a parte da margem do rio são Francisco. É muito doloroso para o nosso, foi muito doloroso e hoje também é assim pra nossas crianças para o jovem e o adolescente de um modo geral nossos mais velhos.

Linhas de transmissão da CHESF que cortam a Aldeia Pankararu (NECTAS, 2008)

A nossa terra, ela tá na mão de quem? Dos político, dos fazendeiros, dos empresários, a margem do rio são Francisco todo.

Aqui na, na volta do Moxotó junto com a ponte, é um grande fazendeiro e esse grupo eles fizeram a retomada e hoje estão ali. Botou na juíza pra eliminar eles, tirar eles de lá, mas como é um povo de conhecimento da cultura, que barriado fica dentro da própria fazenda, fica mais adiante que é um pouco cultural onde ia ver o mel, ia ver o imbu ia ver o croá, iam pescar então ele, o fazendeiro botou na juíza. Ia mais de 200 homens pra tirar os pankararu.

O que me entristece mais hoje de ser um Pankararu, quando eu falo isso eu me refiro aos próprios órgãos que nos defende que é a própria FUNAI, hoje nós estamos num território que ele era 14.294 hectares e a própria FUNAI reduziu esse nosso território quando vieram e demarcaram outra terra em cima da própria terra Pankararu. Então isso é que me entristece. Em vez de nós ampliar a FUNAI ela hoje trabalha no ponto de dividir os povos indígenas. Isso ai eu falo e provo porque não só os Pankararu, mas todas as outras etnias estão divididas por conta disso. Se você é um guerreiro e você chega na FUNAI luta pelos seus direitos. Ela acolhe, faz de tudo pra que você lute pelo seu direto, mas por trás ele alimenta outro índio que seja Pankararu pra ir de encontro ao próprio índio.

Page 4: Cartografia Social Povo Pankararu

Praiá Pankararau (ANNE, 2008)

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Elisa - liderança de professores indígenas (NECTAS, 2008)

Quando fala assim 'Você é Pankararu!', na minha cabeça é uma coisa muito forte, sabe? Até o nome é forte, Pankararu, né? Eu já nasci lá fora, nasci em São Paulo e fui criado conhecendo a minha cultura pela minha mãe; e é uma coisa que quando a gente fala de força, é uma coisa que ficou me chamando, me puxou pra cá. E esse orgulho de tá aqui, de andar com pé descalço, esse orgulho de ser índio, de ter uma cultura, ter uma tradição, saber a sua origem, saber de onde veio; então essa coisa de saber que eu não vim dum ovo, eu ter uma cultura específica e tanto diferenciada, isso me emociona. E essa questão de ser Pankararu pra mim acho que é mais que tudo, diferente de outras coisas eu me orgulho, somos o que somos em qualquer lugar num deixamos de ser índio Pankararu; tanto aqui, como em São Paulo, em Recife, esse é que é o legal de ser índio Pankararu. Alexandre.

O que me torna diferente do outro é porque eu tenho uma cultura diferente do outro. Eu tenho uma cultura diferente, eu tenho uma identidade, então ser Pankararu é uma identidade. Eu sou Pankararu porque eu tenho uma história, eu tenho uma história com os meus antepassados que me deixaram e eu vou levando adiante. Elisa.

Ao longo do tempo a gente vê as nossas lideranças, que todas elas a gente tinha essa inspiração de buscar com os nossos mais velhos, nosso sábio que eles têm um grande conhecimento da nossa historia, da nossa nação Pankararu. Eu penso que dentro da criança, do adolescente do modo geral, o jovem ia dentro com seus pais, essa

parte de tá passando a sua parte de tradicionalidade, de seus costumes pra seus filhos, porque a identidade é a nossa terra demarcada, homologada e reconhecida que se fortalece o ser Pankararu; e com as nossas terras demarcadas, nós viemos de nossos antepassados praticando nossos rituais sagrados. Nós tem o nosso conhecimento da nossa pintura corporal, nós tem os nossos conhecimentos um pouco do nosso tonã de caruá, que é o praiá, o forguedo, o meu avô, o meu pai, o meu filho a expressividade de cada um, cada um Pankararu tanto o homem como a mulher, nós tinha os nossos maracá, nós tem o nosso tuante que nós sabemos cantar, nós sabemos buscar com os nossos mais velhos e a gente tem um ritual todo ano que nós sabemos que a ciência de Pankararu como uma nação Pankararu que busca o seu conhecimento da parte da terra.

O que eu sinto hoje da nossa identidade é porque, não só os Pankararu, mas os índios do Nordeste eles tudo são discriminado pelos índios de norte e sul desse país. Eu digo isso porque em Brasília eu fui apontado como esse pessoal de lá que mora no Norte e no Sul, quando eles chegaram pra mim e perguntaram: o senhor era índio? Eu falei que era índio. Ele num considerava o índio por causa do meu cabelo, por causa do meu vestimento, como eu andava.

Ser um professor ou professora indígena é ter um determinado perfil, um perfil de guerreiro, um perfil de guerreira, um perfil daquele que valoriza a identidade, mas que não é apenas uma figura que tá em sala de aula, num é apenas o profissional, mas é alguém que leva aquela missão. Elisa.

gente vê todo mundo beneficiado com água encanada e a gente aqui nada; e nós somos os verdadeiros donos, os primeiros habitantes desse país. Isso às vezes entristece e às vezes é difícil ser índio também. George.

Quando foi pra fazer essa usina, de vim consultar a gente, de vim conversar com a gente, não. Acharam pouco que fizeram encurralando a gente aqui, fizeram essa usina (hidrelétrica da Itaparica) sem consultar a gente. Lá era onde a gente também fazia aquela grande pescaria, onde a gente ia pescar. Hoje a gente num tem nem permissão de entrar lá pra pescar. Então tudo isso, essas margem é dos rios a gente vamos ter muita fé em Deus, a nossa tradição, o nosso Pai veio e nós ainda vamos conquistar. Apesar dessa cachoeira hoje tá alagada de água, mas que era dos nossos costumes, então trouxe todo esses prejuízos. Hoje me entristeço porque alguns pescadores que ia pescar ainda tem que pedir autorização duma coisa que é nossa, uma coisa que eles sabia, sabem que era nossa. Então

A gente passa em Petrolândia, passa Itaparica e a

cachoeira de Paulo Afonso, que antigamente era cachoeira da furquia, era onde os índios encontravam conhecimento, através do diálogo de índio com forças encantada, o índio como humano e o encantado como forças encantadas, forças ocultas. Julião.

Agora os índios tinham grande freqüência porque eles ouvia rasgado e ouvia cantagalo, ouvia berrar carneiro e muitas coisa assim tudo coisa assim da natureza, e eles ali faziam festa e tavam no lugar adequado, no lugar ideal, um lugar seguro e nada mais do que um lugar assim, onde eles tinha que tá ali pra ter conhecimento da previsão do tempo, o tempo como um todo num tempo da natureza, como um tempo do convívio de doença, de seca, de coisa boa, era ali que eles obtinha conhecimento através do dialogo. E depois das barragens o quê que aconteceu? Os índios se afastaram, se refugiaram das cachoeiras, aí vieram recorrer os pé de serra, as nascença.

A relação dos encantados é por causa da convivência de experiência de encanto para esse pessoal obter conhecimento, o conhecimento como de cura de doença, previsão de coisa ruim ou coisa boa, e os índios sempre se basearam, até hoje em dia, em conversar com os encantos, interrogar e os encantos fornecer conheci-mento ideológico e seguro para que os índios se baseassem naquilo que foi dito, que eles ouviram, que foi dito pelos forças encantados. E essas forças encantadas se encontram nas nascências d' água e antigamente era nas cachoeiras, muito pouco, era somente nas nascências d'agua, por causa das águas boa e o acesso e o convívio das serra. Julião.

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trouxe todos esses prejuízos tombem pra nossas casas, nossa caça, com essa barragem. Trouxe prejuízo muito.

Hoje em dia é que nem vocês sabem, a própria caça que hoje de pankararu praticamente sumiu, mas sumiu tudo através dessas pessoas desses não índio. Então eu posso dizer, posso falar, hoje nós se sente muito prejudicado.

O grande prejuízo é que nem eu disse, a água tomou de conta. Então hoje é pras nossas tradições que se praticava lá e ai era uma reserva da gente, uma reserva como além da água, a mata da gente se concentrar lá. Trouxe esse grande prejuízo. Nós num pode mas fazer nossos rituais que nossos avós, nossos pais faziam, o desaparecimento da ou posso dizer das caça porque eles tomaram de conta daquela terra ali, eles mesmo era quem faziam iam pegar as caça pra venderem, uma coisa que era pra alimentar a gente e eles mesmo faziam e levavam pras feira pra comercializar, e aí porque a gente não tinha poder de entrar lá dentro daquele pedaço.

George - liderança jovem (NECTAS, 2008)

CONFLITOS NO TERRITÓRIO

A cachoeira de Jatobá, que hoje é cachoeira de Itaparica, lá os índios tinha uma grande convivência por tá, através da pesca, a sobrevivência pra se manterem lá e mandar mais o peixe pra quem não ia lá, crianças e senhoras indígenas. E lá, através da cachoeira, eles também tinham danças e das danças eles invocavam o encantado, conversando com os índios que até hoje existe aqui na tribo, mas os encantados lá das cachoeiras, os encantados das águas dizia para os índios que venceu, que num era pra fazer e através disso a freqüência das cachoeira de jatobá, que hoje é cachoeira de Itaparica, e

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É o nome do tronco Pankararu de Jeripancó Tatuchina de Fulô quer dizer o povo que mora à margem do São Francisco. George.

Porque essa palavra Pankararu ela num é do inicio não, entendeu? Antes as aldeias lá chamava Geripankó, Pankarus, entendeu? Aí depois veio a palavra Pankararu. O significado dela, que eu não vou puder lhe dizer mais esclarecida... o nome Pankararu a aldeia, vamos supor as serra, as mata, as nascente, que seria essa palavra concluiria.

A gente tinha uma cachoeira encantada onde a gente praticava nossos antepassados caçava, pescava, praticava os seus rituais e duma hora pra outra a gente foi encurralado aqui, foi empurrado pra aqui e eles tomaram nossa cachoeira. Fizeram a usina em troca de benefícios aí em nome do crescimento. Trouxeram gente de fora, se instalaram aí, fizeram o acampamento Itaparica, fizeram a cidade de Jatobá... e nós, povo indígena, que nunca fomos perguntados se nós aceitávamos ou não? Só encurralado. George.

A gente ouve falar de uma carta reja que Dom Pedro doou as terras pros Pankararus em homenagem por eles ter participado da guerra do Paraguai. George.

Os colonizadores sempre usaram... Uma pessoa disse: 'não. é porque os mais velhos eram bestas!' Não! Nem besta nem burro. Eles eram inocentes e o colonizador usava dessa inocência pra trapacear. Então o que acontece aqui é o território Pankararu que eles dizem que foi dado por dom Pedro II, sei lá! É o que ele chama de uma légua em quadra ou sesmarias, isso daí é o que os antigos trazem, e não apenas os antigos, mas alguns documentos históricos dizem. Esse daqui é os 8.100 hectare na demarcação. Os camaradas que demarcaram enganaram os índios e disseram que essa parte aqui é a terra indígena que estaria na sua homologação, que é o chamado “L“; daí quando chega isso daqui são 14.294 hectares terra dos Pankararu. George.

Quando chegava aqui autoridade do serviço de proteção ao índio, ele era saudado com aqueles índios mais velho falando a sua linguage da tribo, e como num dizia o português falava um assim parecido com o português, mas não bem dotado, bem conhecido, chegava as autoridade eles dizia: 'cepiauçu-uru iakarepiamu tuxá uauaçu, cepiauçu urumu iakarepiamu, tuxá uauaçu'; disse: 'o senhor mora aonde? Como é o nome da sua tribo?' Ele disse: 'aqui é brejo dos padre'. 'Brejo dos padre é nome português. Eu quero saber o nome de Pankararu ou outro nome qualquer se tem'. Ele disse: 'é brejo dos padres, brejo dos padres não' ele disse 'é jeripancó de kakalancó, jeritacó, nação de makaru'. George.

HISTÓRIA DO POVO PANKARARU

George - liderança jovem (NECTAS, 2008)

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TERRAS TRADICIONAIS

Além do Rio São Francisco, que hoje pega uma perna do rio Moxotó, que é onde os nossos antepassados, os mais velhos, nossos avós, sempre dizia que além da margem do Rio São Francisco tem a margem do rio Moxotó, a margem do rio aqui de Inajá, pega vai até os Mandantes (divisa com o Povo Pipipã, hoje com divisa quase com floresta, tem uma perna de rio lá que vinha que o meu pai sempre dizia que os índio, além de caçar por lá, ficavam lá se apossavam por lá.

Hoje nós tem uma pessoa como Quitéria Binga uma liderança, tem o cacique Pedro e tem diversas outras liderança tradicional da base, das localidade como tem uma pessoa conhecedora da parte do território Pankararu, não só as 14.294 hectares de terra, mas que a gente é toda a margem do Rio São Francisco até o encontro com o rio Moxotó.

A gente só tem uma retomada que é um grupo indígena Pankararu que fizeram uma retomada que é na margem do Rio São Francisco, que é a fazenda Cristo Reis, hoje dado o nome Pankaiuká.

No geral os ribeirinho, que nós faz parte da margem, dos ribeirinho, tamo dentro. Inclusive a gente pega a

Aldeia Pankararu (NECTAS, 2008)

maior parte da margem do Rio São Francisco, nós tamo num arco, um arco que vem de lá de cima e rodeia. A gente tá na frente e a terra mesmo Pankararu, os ponto cultural que nem a parte da vassoura, da furquia que tá próxima à margem do Rio São Francisco, que é a vassoura, furquia, é pedra, pedra redonda, pedra miúda, é barriado, são um ponto que ta de frente à margem do Rio São Francisco. Os ponto perfeito, o ponto cultural quando nossos parente indígena no antepassado, até hoje muitos ainda vão ver alguma caça, mas hoje num se tem mais porque ta extinto.

A terra nossa ela vai a margem do Rio São Francisco mesmo, quando é um ponto do nosso povo que vai no antepassado, que ia vê o mel que ia vê a caça, que ia vê o imbu, e diversas outras coisa, o proa, então esse são um ponto cultural que nos pertence e toda a margem do Rio São Francisco nos pertence, quando iam pescar também que fazia o seu toré, o seu ritual e isso é importante e nos pertence. Agora que falta muito da juventude do adolescente a criança, até mesmo o educador mesmo se juntar.

O centro da aldeia é o cemitério. Num é exatamente o cemitério, que lá dentro tem um marco, eu to imaginando aqui a terra Pankararu, que é o território. Aqui é o território, então ele está quadrado, aliás, ele é quadrado oficialmente quando medimos, é por isso que os mais velho chamava de quatro légua.

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É o nome do tronco Pankararu de Jeripancó Tatuchina de Fulô quer dizer o povo que mora à margem do São Francisco. George.

Porque essa palavra Pankararu ela num é do inicio não, entendeu? Antes as aldeias lá chamava Geripankó, Pankarus, entendeu? Aí depois veio a palavra Pankararu. O significado dela, que eu não vou puder lhe dizer mais esclarecida... o nome Pankararu a aldeia, vamos supor as serra, as mata, as nascente, que seria essa palavra concluiria.

A gente tinha uma cachoeira encantada onde a gente praticava nossos antepassados caçava, pescava, praticava os seus rituais e duma hora pra outra a gente foi encurralado aqui, foi empurrado pra aqui e eles tomaram nossa cachoeira. Fizeram a usina em troca de benefícios aí em nome do crescimento. Trouxeram gente de fora, se instalaram aí, fizeram o acampamento Itaparica, fizeram a cidade de Jatobá... e nós, povo indígena, que nunca fomos perguntados se nós aceitávamos ou não? Só encurralado. George.

A gente ouve falar de uma carta reja que Dom Pedro doou as terras pros Pankararus em homenagem por eles ter participado da guerra do Paraguai. George.

Os colonizadores sempre usaram... Uma pessoa disse: 'não. é porque os mais velhos eram bestas!' Não! Nem besta nem burro. Eles eram inocentes e o colonizador usava dessa inocência pra trapacear. Então o que acontece aqui é o território Pankararu que eles dizem que foi dado por dom Pedro II, sei lá! É o que ele chama de uma légua em quadra ou sesmarias, isso daí é o que os antigos trazem, e não apenas os antigos, mas alguns documentos históricos dizem. Esse daqui é os 8.100 hectare na demarcação. Os camaradas que demarcaram enganaram os índios e disseram que essa parte aqui é a terra indígena que estaria na sua homologação, que é o chamado “L“; daí quando chega isso daqui são 14.294 hectares terra dos Pankararu. George.

Quando chegava aqui autoridade do serviço de proteção ao índio, ele era saudado com aqueles índios mais velho falando a sua linguage da tribo, e como num dizia o português falava um assim parecido com o português, mas não bem dotado, bem conhecido, chegava as autoridade eles dizia: 'cepiauçu-uru iakarepiamu tuxá uauaçu, cepiauçu urumu iakarepiamu, tuxá uauaçu'; disse: 'o senhor mora aonde? Como é o nome da sua tribo?' Ele disse: 'aqui é brejo dos padre'. 'Brejo dos padre é nome português. Eu quero saber o nome de Pankararu ou outro nome qualquer se tem'. Ele disse: 'é brejo dos padres, brejo dos padres não' ele disse 'é jeripancó de kakalancó, jeritacó, nação de makaru'. George.

HISTÓRIA DO POVO PANKARARU

George - liderança jovem (NECTAS, 2008)

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TERRAS TRADICIONAIS

Além do Rio São Francisco, que hoje pega uma perna do rio Moxotó, que é onde os nossos antepassados, os mais velhos, nossos avós, sempre dizia que além da margem do Rio São Francisco tem a margem do rio Moxotó, a margem do rio aqui de Inajá, pega vai até os Mandantes (divisa com o Povo Pipipã, hoje com divisa quase com floresta, tem uma perna de rio lá que vinha que o meu pai sempre dizia que os índio, além de caçar por lá, ficavam lá se apossavam por lá.

Hoje nós tem uma pessoa como Quitéria Binga uma liderança, tem o cacique Pedro e tem diversas outras liderança tradicional da base, das localidade como tem uma pessoa conhecedora da parte do território Pankararu, não só as 14.294 hectares de terra, mas que a gente é toda a margem do Rio São Francisco até o encontro com o rio Moxotó.

A gente só tem uma retomada que é um grupo indígena Pankararu que fizeram uma retomada que é na margem do Rio São Francisco, que é a fazenda Cristo Reis, hoje dado o nome Pankaiuká.

No geral os ribeirinho, que nós faz parte da margem, dos ribeirinho, tamo dentro. Inclusive a gente pega a

Aldeia Pankararu (NECTAS, 2008)

maior parte da margem do Rio São Francisco, nós tamo num arco, um arco que vem de lá de cima e rodeia. A gente tá na frente e a terra mesmo Pankararu, os ponto cultural que nem a parte da vassoura, da furquia que tá próxima à margem do Rio São Francisco, que é a vassoura, furquia, é pedra, pedra redonda, pedra miúda, é barriado, são um ponto que ta de frente à margem do Rio São Francisco. Os ponto perfeito, o ponto cultural quando nossos parente indígena no antepassado, até hoje muitos ainda vão ver alguma caça, mas hoje num se tem mais porque ta extinto.

A terra nossa ela vai a margem do Rio São Francisco mesmo, quando é um ponto do nosso povo que vai no antepassado, que ia vê o mel que ia vê a caça, que ia vê o imbu, e diversas outras coisa, o proa, então esse são um ponto cultural que nos pertence e toda a margem do Rio São Francisco nos pertence, quando iam pescar também que fazia o seu toré, o seu ritual e isso é importante e nos pertence. Agora que falta muito da juventude do adolescente a criança, até mesmo o educador mesmo se juntar.

O centro da aldeia é o cemitério. Num é exatamente o cemitério, que lá dentro tem um marco, eu to imaginando aqui a terra Pankararu, que é o território. Aqui é o território, então ele está quadrado, aliás, ele é quadrado oficialmente quando medimos, é por isso que os mais velho chamava de quatro légua.

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Praiá Pankararau (ANNE, 2008)

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Elisa - liderança de professores indígenas (NECTAS, 2008)

Quando fala assim 'Você é Pankararu!', na minha cabeça é uma coisa muito forte, sabe? Até o nome é forte, Pankararu, né? Eu já nasci lá fora, nasci em São Paulo e fui criado conhecendo a minha cultura pela minha mãe; e é uma coisa que quando a gente fala de força, é uma coisa que ficou me chamando, me puxou pra cá. E esse orgulho de tá aqui, de andar com pé descalço, esse orgulho de ser índio, de ter uma cultura, ter uma tradição, saber a sua origem, saber de onde veio; então essa coisa de saber que eu não vim dum ovo, eu ter uma cultura específica e tanto diferenciada, isso me emociona. E essa questão de ser Pankararu pra mim acho que é mais que tudo, diferente de outras coisas eu me orgulho, somos o que somos em qualquer lugar num deixamos de ser índio Pankararu; tanto aqui, como em São Paulo, em Recife, esse é que é o legal de ser índio Pankararu. Alexandre.

O que me torna diferente do outro é porque eu tenho uma cultura diferente do outro. Eu tenho uma cultura diferente, eu tenho uma identidade, então ser Pankararu é uma identidade. Eu sou Pankararu porque eu tenho uma história, eu tenho uma história com os meus antepassados que me deixaram e eu vou levando adiante. Elisa.

Ao longo do tempo a gente vê as nossas lideranças, que todas elas a gente tinha essa inspiração de buscar com os nossos mais velhos, nosso sábio que eles têm um grande conhecimento da nossa historia, da nossa nação Pankararu. Eu penso que dentro da criança, do adolescente do modo geral, o jovem ia dentro com seus pais, essa

parte de tá passando a sua parte de tradicionalidade, de seus costumes pra seus filhos, porque a identidade é a nossa terra demarcada, homologada e reconhecida que se fortalece o ser Pankararu; e com as nossas terras demarcadas, nós viemos de nossos antepassados praticando nossos rituais sagrados. Nós tem o nosso conhecimento da nossa pintura corporal, nós tem os nossos conhecimentos um pouco do nosso tonã de caruá, que é o praiá, o forguedo, o meu avô, o meu pai, o meu filho a expressividade de cada um, cada um Pankararu tanto o homem como a mulher, nós tinha os nossos maracá, nós tem o nosso tuante que nós sabemos cantar, nós sabemos buscar com os nossos mais velhos e a gente tem um ritual todo ano que nós sabemos que a ciência de Pankararu como uma nação Pankararu que busca o seu conhecimento da parte da terra.

O que eu sinto hoje da nossa identidade é porque, não só os Pankararu, mas os índios do Nordeste eles tudo são discriminado pelos índios de norte e sul desse país. Eu digo isso porque em Brasília eu fui apontado como esse pessoal de lá que mora no Norte e no Sul, quando eles chegaram pra mim e perguntaram: o senhor era índio? Eu falei que era índio. Ele num considerava o índio por causa do meu cabelo, por causa do meu vestimento, como eu andava.

Ser um professor ou professora indígena é ter um determinado perfil, um perfil de guerreiro, um perfil de guerreira, um perfil daquele que valoriza a identidade, mas que não é apenas uma figura que tá em sala de aula, num é apenas o profissional, mas é alguém que leva aquela missão. Elisa.

gente vê todo mundo beneficiado com água encanada e a gente aqui nada; e nós somos os verdadeiros donos, os primeiros habitantes desse país. Isso às vezes entristece e às vezes é difícil ser índio também. George.

Quando foi pra fazer essa usina, de vim consultar a gente, de vim conversar com a gente, não. Acharam pouco que fizeram encurralando a gente aqui, fizeram essa usina (hidrelétrica da Itaparica) sem consultar a gente. Lá era onde a gente também fazia aquela grande pescaria, onde a gente ia pescar. Hoje a gente num tem nem permissão de entrar lá pra pescar. Então tudo isso, essas margem é dos rios a gente vamos ter muita fé em Deus, a nossa tradição, o nosso Pai veio e nós ainda vamos conquistar. Apesar dessa cachoeira hoje tá alagada de água, mas que era dos nossos costumes, então trouxe todo esses prejuízos. Hoje me entristeço porque alguns pescadores que ia pescar ainda tem que pedir autorização duma coisa que é nossa, uma coisa que eles sabia, sabem que era nossa. Então

A gente passa em Petrolândia, passa Itaparica e a

cachoeira de Paulo Afonso, que antigamente era cachoeira da furquia, era onde os índios encontravam conhecimento, através do diálogo de índio com forças encantada, o índio como humano e o encantado como forças encantadas, forças ocultas. Julião.

Agora os índios tinham grande freqüência porque eles ouvia rasgado e ouvia cantagalo, ouvia berrar carneiro e muitas coisa assim tudo coisa assim da natureza, e eles ali faziam festa e tavam no lugar adequado, no lugar ideal, um lugar seguro e nada mais do que um lugar assim, onde eles tinha que tá ali pra ter conhecimento da previsão do tempo, o tempo como um todo num tempo da natureza, como um tempo do convívio de doença, de seca, de coisa boa, era ali que eles obtinha conhecimento através do dialogo. E depois das barragens o quê que aconteceu? Os índios se afastaram, se refugiaram das cachoeiras, aí vieram recorrer os pé de serra, as nascença.

A relação dos encantados é por causa da convivência de experiência de encanto para esse pessoal obter conhecimento, o conhecimento como de cura de doença, previsão de coisa ruim ou coisa boa, e os índios sempre se basearam, até hoje em dia, em conversar com os encantos, interrogar e os encantos fornecer conheci-mento ideológico e seguro para que os índios se baseassem naquilo que foi dito, que eles ouviram, que foi dito pelos forças encantados. E essas forças encantadas se encontram nas nascências d' água e antigamente era nas cachoeiras, muito pouco, era somente nas nascências d'agua, por causa das águas boa e o acesso e o convívio das serra. Julião.

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trouxe todos esses prejuízos tombem pra nossas casas, nossa caça, com essa barragem. Trouxe prejuízo muito.

Hoje em dia é que nem vocês sabem, a própria caça que hoje de pankararu praticamente sumiu, mas sumiu tudo através dessas pessoas desses não índio. Então eu posso dizer, posso falar, hoje nós se sente muito prejudicado.

O grande prejuízo é que nem eu disse, a água tomou de conta. Então hoje é pras nossas tradições que se praticava lá e ai era uma reserva da gente, uma reserva como além da água, a mata da gente se concentrar lá. Trouxe esse grande prejuízo. Nós num pode mas fazer nossos rituais que nossos avós, nossos pais faziam, o desaparecimento da ou posso dizer das caça porque eles tomaram de conta daquela terra ali, eles mesmo era quem faziam iam pegar as caça pra venderem, uma coisa que era pra alimentar a gente e eles mesmo faziam e levavam pras feira pra comercializar, e aí porque a gente não tinha poder de entrar lá dentro daquele pedaço.

George - liderança jovem (NECTAS, 2008)

CONFLITOS NO TERRITÓRIO

A cachoeira de Jatobá, que hoje é cachoeira de Itaparica, lá os índios tinha uma grande convivência por tá, através da pesca, a sobrevivência pra se manterem lá e mandar mais o peixe pra quem não ia lá, crianças e senhoras indígenas. E lá, através da cachoeira, eles também tinham danças e das danças eles invocavam o encantado, conversando com os índios que até hoje existe aqui na tribo, mas os encantados lá das cachoeiras, os encantados das águas dizia para os índios que venceu, que num era pra fazer e através disso a freqüência das cachoeira de jatobá, que hoje é cachoeira de Itaparica, e

Page 9: Cartografia Social Povo Pankararu

A gente é um ser que valoriza a sua cultura e vivência, mas que tem esse lado intercultural de se conviver com outros saberes com outras culturas. A gente já pode falar do pós contato e o ser Pankararu leva um símbolo da vivência da sua identidade, dos seus costumes, da sua tradicionalidade, mas que está também vivenciando outros saberes que a humanidade produz. Elisa.

É conviver com a tecnologia, saber diferenciar porque às vezes a tecnologia pode ser boa e às vezes ela pode não ser boa para os Povos indígenas. E ser Pankararu é ser forte, ser guerreiro, dar valor à sua cultura, praticar suas tradições. George.

É ser aonde quer que você esteja. Porque a gente tem que sair daqui pra estudar e, aonde, na capital, qualquer cidade, a gente tem que se identificar e se identifica como Pankararu... E as pessoas perguntam '-o quê? Pankararu? E tem índio aqui?' Aquelas perguntas todas. Mas a gente sustenta que é índio porque não pode ceder aos encantos dos brancos, uma cultura diferente da nossa, mas a gente consegue resistir e persistir em ser Pankararu e lutar. Luciane.

Mãe Binga - Grande Liderança Pankararu (NECTAS, 2008)

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IDENTIDADE PANKARARU

Alexandre - liderança jovem (NECTAS, 2008)

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Então eles saíram mais encurralando a gente, tirando aqueles fazendeiros que venderam lá que aí foi encurralando a gente. Por que Tacaratuzinho, muitos índios ainda plantaram muita cana numa baixada que tem lá. Então eles foram pegando as terras até que deixaram nós aqui numa posição que encurralou mesmo tá? A gente foi tão prejudicado que hoje inda tem seu Manoel Oliveira que fez mel, rapadura ainda desse canavial que existia lá, mas que eles já tinham retomado da gente.

Tem muito posseiro dentro da área indígena. A gente já reivindicou diversas vezes pra presidente Lula, pra o presidente da FUNAI, pra o Ministro que tem um poder de decisão, a gente não quer se confrontar, num vai chegar momento que o pankararu ele tem o seu sangue, tem a sua identidade tem... E ele é um guerreiro. Nós somos um guerreiro. É porque a gente pensa também no ser humano, a gente é humano, a gente não quer fazer que nem os outros, outras nação que nem Truká, que nem Xucuru, e diversos outros povos, e eles tão dentro da razão porque fazer a retomada tá buscando o que é seu, tá dentro do direito da constituinte e da parte também, da parte da ONU e a parte da margem do rio são Francisco. É muito doloroso para o nosso, foi muito doloroso e hoje também é assim pra nossas crianças para o jovem e o adolescente de um modo geral nossos mais velhos.

Linhas de transmissão da CHESF que cortam a Aldeia Pankararu (NECTAS, 2008)

A nossa terra, ela tá na mão de quem? Dos político, dos fazendeiros, dos empresários, a margem do rio são Francisco todo.

Aqui na, na volta do Moxotó junto com a ponte, é um grande fazendeiro e esse grupo eles fizeram a retomada e hoje estão ali. Botou na juíza pra eliminar eles, tirar eles de lá, mas como é um povo de conhecimento da cultura, que barriado fica dentro da própria fazenda, fica mais adiante que é um pouco cultural onde ia ver o mel, ia ver o imbu ia ver o croá, iam pescar então ele, o fazendeiro botou na juíza. Ia mais de 200 homens pra tirar os pankararu.

O que me entristece mais hoje de ser um Pankararu, quando eu falo isso eu me refiro aos próprios órgãos que nos defende que é a própria FUNAI, hoje nós estamos num território que ele era 14.294 hectares e a própria FUNAI reduziu esse nosso território quando vieram e demarcaram outra terra em cima da própria terra Pankararu. Então isso é que me entristece. Em vez de nós ampliar a FUNAI ela hoje trabalha no ponto de dividir os povos indígenas. Isso ai eu falo e provo porque não só os Pankararu, mas todas as outras etnias estão divididas por conta disso. Se você é um guerreiro e você chega na FUNAI luta pelos seus direitos. Ela acolhe, faz de tudo pra que você lute pelo seu direto, mas por trás ele alimenta outro índio que seja Pankararu pra ir de encontro ao próprio índio.

Page 10: Cartografia Social Povo Pankararu

Participantes da Oficina:

Aída Paulino de BarrosKarolina de Carvalho SilvaErvely Monikey dos Santos SilvaQuitéria Maria de Jesus: Quitéria BingaAlexandre dos SantosGeovane Miguel da SilvaElisa Urbano RamosPedro Monteiro da Luz – CaciqueTiago da Silva OliveiraAna Lúcaia do Nascimento LuzFernando Monteiro dos SantosGustavo Barbosa da LuzIranildo Julião da SilvaGeroge de VasconcelosMaria de Lourdes Barros de Carvalho SilvaNatércia Lima Barros da SilvaNatalina Zilma BarrosMaria Raquel da SilvaAgenor Gomes JuliãoMaria Luciene Gomes

Equipe de Pesquisa:

Alzení Tomáz (CPP/NECTAS/UNEB)Arthur Lima (NECTAS/UNEB)Bruna Graziela (NECTAS/UNEB)Juliana Barros (AATR)Juracy Marques (NECTAS/UNEB)Silvia Janaina (NECTAS/UNEB)Paulo Wataru(NECTAS/UNEB)

Elaboração do MapaÁlvaro RibasLucas Martins do Santos

FotografiasJuracy MarquesJuliana BarrosBruna Graziela

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N935 Nova Cartografia Social dos Povos e Comunidades Tradicionais do Brasil: Povo Indígena

Pankararu / Coordenadores Alfredo Wagner Berno de Almeida, Rosa Elizabeth

Acevedo Marin; Organizadores Juracy Marques dos Santos...[et al]. – Manaus, AM :

Projeto Nova Cartografia Social da Amazônia / UEA Edições, 2010.

12 p. : il. ; 25 cm. – (Povos Indígenas do Nordeste ; 2).

ISBN: 978-85-7883-168-4

1. Comunidades Indígenas do Nordeste – Jatobá (Pernambuco) I. Almeida, Alfredo

Wagner Berno de. II. Marin, Rosa Elizabeth Acevedo. III. Santos, Juracy Marques IV. Série.

CDU 301.185.2(813.42=98)

Ficha Catalográfica

Pankararu participantes da Oficina (NECTAS, 2008) Manoel Uilton Santos - Coordenador Geral da APOINME - Articulação dos Povos e Organizações Indígenas do Nordeste, Minas Gerais e Espírito SantoAv. Sigismundo Gonçalves, 654, Varadouro, Olinda - PE53.010-240(81) 3429-5191/Cel. 96073191Skype: uilton.tuxa

NECTAS-UNEBRua do Gangorra, 503, Alves de SouzaPaulo Afonso-BA48.608-240Tel/Fax: (75) 3281 7364

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Agente tem que se unir e lutar pela aquele objetivo. Infelizmente ou felizmente, agente tem os próprios parentes, não Pankararu, mas de outras etnias que vê só o lado dele. Quando ele está prejudicado ele chama os Pankararu, chama outros pra resolver. Depois que tá resolvido, acabou, ele não quer saber se Pankararu existe. Mas Pankararu existe, nuca vai deixar de existir, e agente vai tá sempre nessa luta, lutando por um objetivo, que é nossas terra.

Nesse país Brasil, a gente trava uma luta em prol das questões indígenas, da educação, da saúde, da terra, da sustentabilidade, mas num é apenas uma sustentabilidade física é uma sustentabilidade espiritual. ELISA.

Nós não queremos a terra apenas pra explorar pra o nosso benefício, apenas pra enriquecer, mas a terra também é espaço sagrado, espaço de preservação. Então a terra é para tirar sustentabilidade do corpo, mas também a sustentabilidade da alma. Então é necessário que as matas continuem, as águas continuem, que lugares sagrados sejam respeitados e preservado. ELISA.

Nós tamo lutando pela nossa terra, lutando pela saúde. Premero lugar é a terra. Se a gente não tiver terra, os indígena, nós como nação indígena, nós como povo pankararu, nação pankararu, se a gente num dar as mãos a gente futuramente a gente não vai ter esse território.

A gente já pediu uma comissão técnica da FUNAI, a parte antropológica e que vieram e mediram de lá pra o lado da ponte que faz divisa Pernambuco com Alagoas, mediram pra baixo pegando a margem do São Francisco pra encostar e também pro lado, pegando a volta do Moxotó subindo, mas até hoje parece que eles engavetaram.

Agente sofreu, agente correu, agente levou tiro, agente... Foi uma correria danada. Por que nós não deixamos acontecer o que realmente eles queriam o que acontecesse. Mas é pouco, eu acho que o Governo Federal, ele não tem só que falar, eles tem que fazer.

REIVINDICAÇÕES DA COMUNIDADE

CPP - Conselho Pastoral dos PescadoresAv. Beira Rio, 913 – Jardim BahiaPaulo Afonso, BaTel-Fax: (75) [email protected]

AATR - ASSOCIÇÃO DOS ADVOGADOS DE TRABALHADORES RURAIS DO ESTADO DA BAHIALadeira dos Barris, 145, BarrisSalvador-BahiaCEP: 40070310Tel-Fax: 71 – 33-739329

CONTATOS:

Page 11: Cartografia Social Povo Pankararu

Nova Cartografia Social dos Povos e Comunidades Tradicionais da Bacia do São Francisco

Povos Indígenas do Nordeste 2

Apoio

PANKARARU

Realização

POVO PANKARARU

Nova Cartografia dos Povos e Comunidades Tradicionais do Brasil

Série: Povos e Comunidades Tradicionais da Bacia do São Francisco Povos Indígenas do Nordeste

1 - Povo indígena Tuxá de Rodelas

2 - Povo indígena Pankararu

3 - Povo indígena Truká

4 - Povo indígena Tumbalalá

5 - Povo indígena Pipipã

6 - Povo indígena Kambiwá

7 - Povo indígena Kariri-Xocó

8 - Povo indígena Xocó

Nova Cartografia Social dos Povos e Comunidades Tradicionais do Brasil