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Cinquentenário da Praça de Toiros Amadeu Augusto dos SantosTRANSCRIPT
ANIVERSÁRIO 1957 2007-
Amadeu Augusto
dos Santos
“Praça de Toiros Amadeu Augusto dos Santos, 50 anos de Tradição: Entre o Passado e o Presente”
A Praça de Toiros de Montijo festeja este ano o seu cinquentenário, e há muito que os
habitantes desta cidade se habituaram a considerá-la como um símbolo da terra, edifício de
crucial importância para a Santa Casa da Misericórdia, sua proprietária, e pólo do
desenvolvimento sócio-cultural da região.
Quando em 1949 foi vistoriada e reprovada a antiga e velhinha Praça da Rua Joaquim de
Almeida, gerou-se um amplo movimento popular pró-construção de um novo taurodromo,
perante o qual decidiu a Câmara Municipal oferecer terreno para a sua edificação, em
consonância com as tradições que a festa dos toiros tinha nos hábitos e preferências dos
montijenses.
Foi constituída, assim, uma comissão “pró-nova Praça de Toiros”, com a incumbência da
sua construção e montagem dos cartazes das primeiras temporadas, até que o montante
investido se encontrasse saldado, passando o imóvel a ser, então, pertença da Santa Casa da
Misericórdia, facto que aconteceu dez anos depois.
Pois, tudo aconteceu em tempo verdadeiramente recorde, mais concretamente em oito
meses, desde o lançamento da primeira pedra (1 de Fevereiro) até á inauguração (1 de
Setembro de 1957), constituindo-se com o desiderato do entusiasmo e abnegação de um
punhado de homens, irmanados em incomensurável aficion e comandados por esse grande
montijense que foi Amadeu Augusto dos Santos.
A ela e à sua equipa se ficou devendo, não só o monumental edifício, mas também, o
prestígio taurino que o mesmo vem usufruindo desde a sua inauguração.
Efectivamente, nele actuaram todas as grandes figuras do renovado toureiro nacional,
desde Simão da Veiga e João Núncio, passando por Diamantino Vizeu, Manuel dos Santos e
Chico Mendes, incluindo o montijenses Augusto Gomes Jr., que num festival chegou a
actuar de matador de toiros, até a todas as figuras do panorama actual.
Também aqui marcaram presença figuras internacionais de grande renome como os
matadores Júlio Aparício, Miguelin, André Vasquez, Curro Giron (que foi ídolo da aficion
montijense), Curro Romero, Paco Camino (que nesta praça se apresentou pela primeira vez
à aficion portuguesa), Peralta, Moreno Pidal, Álvaro Domecq, Manuel Vidrié, Pablo
Hermozo de Mendoza, entre outros.
Cinquentenário da Praça de Toiros “Amadeu Augusto dos Santos”
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Nesta praça aconteceu o 1º registo televisivo de uma corrida de toiros em Portugal (22 de
Setembro de 1957) e o 1º concurso “À procura de um novo Toureiro” (organizado pelo jornal
Festa em 1960), aqui se rodou o 1º filme português a cores “Sangue Toureiro” (com
Diamantino Viseu e Amália Rodrigues), aqui se consolidou a escola de toureio desse grande
toureiro montijense que foi António Gregório, aqui reapareceu a maior figura nacional que
foi Manuel dos Santos (26 de Junho de 1960), aqui despontou e se consolidou uma grande
figura do toureio, filho adoptivo de Montijo, que é o Eng.º José Samuel Lupi, e, também,
aqui nasceram 2 grupos de forcados o da Tertúlia e o dos Amadores, pelo seu historial
merecem respeito de todos. Finalmente, também aqui se doutoraram, para orgulho da
terra, os dois últimos cavaleiros montijenses de alternativa Alvarito Bronze e Gilberto
Filipe.
Em suma, são inúmeros os acontecimentos que engrandecem a história deste edifício, das
quais só relembramos alguns, que as comemorações do seu cinquentenário são plenamente
justificáveis.
Dentro das nossas limitações, procuramos que o evento tenha a maior dignidade possível,
sendo seu programa aquele que vem acontecendo, mas cuja realização só é viável pela
colaboração de algumas entidades, às quais a Comissão Executiva agradece sensibilizada,
tais como, a Santa Casa da Misericórdia, promotora do acontecimento, a Câmara Municipal
do Montijo que, desde a primeira hora, disponibilizou apoios, instalações e logística
prontificando-se a organizar a exposição “Praça de Toiros Amadeu Augusto dos Santos, 50
anos de Tradição: Entre o Passado e o Presente”, certamente uma das realizações mais
valiosas do programa.
Gostaríamos de relembrar que a Praça de Toiros de Montijo sempre tem merecido de toda a
comunicação social portuguesa um desvelado interesse. Agora, apelamos para que se
mantenha, sendo cúmplice da publicitação de todas estas manifestações, pois só com um
público interessado e participante, poderemos atingir a dignidade e a grandeza que se
deseja e que a efeméride merece.
A todos o nosso muito obrigada e bem-hajam.
Pela Comissão Executiva
A. Vasco Lucas
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A propósito da exposição “Praça de Touros Amadeu Augusto dos Santos 50 anos de
Tradição entre o Passado e o Presente, não é demais exaltar as tardes de glória
proporcionadas pelos grandes artistas taurinos desde a data da inauguração da Praça.
Também há 25 anos, em 3 de Setembro de 1982, a Praça de Touros de Montijo passa a
designar-se “Praça de Touros Amadeu Augusto dos Santos, em homenagem a um dos
maiores obreiros deste importante empreendimento do concelho.
O toureio e a tauromaquia são elementos estruturantes da tradição da nossa identidade,
pelo que a Praça de Touros de Montijo, considerada por Luís Rouxinol a mais importante do
país, a par da do Campo Pequeno, é uma obra de arte.
Ao invocarmos os 50 anos da inauguração da Praça de Touros não podemos esquecer, entre
outros, os nomes de José Salgado Oliveira, Isidoro Maria de Oliveira, Dr. Manuel
Nepomuceno Leite da Cruz, José Júlio da Veiga Marques, António Rodrigo Tavares Júnior,
Domingos Tavares, António Maria Rasteiro, João Euclides Rosa Carneiro, Manuel Cândido
da Costa, António Júlio Canarim Nepomuceno, homens que contribuíram grandemente
para o financiamento do projecto.
A Praça de Touros do Montijo é de uma beleza arquitectónica inquestionável, daí a
necessidade de olharmos para este monumento como fazendo parte integrante da riqueza
patrimonial das gentes do nosso concelho.
Não obstante os seus 50 anos, a Praça de Touros de Montijo é já "um livro" de Histórias
taurinas, onde decorreram episódios que deixaram marcas importantes para a
tauromaquia lusa e, onde cavaleiros e forcados, toureiros e aficionados têm vindo a
escrever a História taurina deste nosso Portugal.
Montijo, Agosto de 2007
A Presidente da Câmara
Maria Amélia Antunes
Praça de Touros Amadeu Augusto dos Santos 50 anos de História
Antes de historiar factos inerentes à actual praça de touros de Montijo, gostaria se me permitem de
tecer algumas passagens sobre o que foi a anterior, isto é, a antiga praça de touros de Montijo.
Edificada no ano de 1887 por um grupo de aficionados montijenses, a velha praça de touros assentava
numa estrutura em madeira, situando-se em terreno cedido pela Câmara, concretamente junto às
cavalariças municipais e da escola primária (actual posto da P.S.P.).
Os acessos do sol e à própria praça faziam-se pela rua João Pedro Iça (vulgo rua do Quartel) enquanto
pela rua Almirante Cândido dos Reis (vulgo rua Direito) eram para a sombra e camarotes.
Com uma lotação para 3000 lugares aproximadamente, era propriedade da Santa Casa da
Misericórdia de Montijo.
Apetecia-me baptizá-la por praça benemérita na medida em que nela se realizaram inúmeros
espectáculos de benefício para o Orfanato, Asilo, Bombeiros, Aldegalense Sport Clube e Sociedade
Filarmónica 1º de Dezembro.
Os curros de touros eram de 12, 10 e 8 reses por vezes já corridos e vinham pela madrugada ao nascer
do dia a pé com cabrestos e maiorais e cavaleiros amadores, percorrendo a estrada do pocinho das
nascentes, rua Joaquim d'Almeida (vulgo rua da Graça) e rua João Pedro Iça (vulgo rua do Quartel),
entrando, finalmente na praça.
Antes porém das entradas de touros a pé, outro acontecimento não menos interessante havia através
da apartação dos touros para a corrida que acontecia em pleno campo, algures na Barroca com comes
e bebes e fados ininterruptos por fadistas amadores.
Pelas 13.00 horas havia a embolação e exposição dos touros para a corrida e, pela tarde realizava-se
então a respectiva corrida formal.
Por esta engraçada e característica velha praça foram corridos touros de boas e reconhecidas
ganadarias, de António José Teixeira, João Tomás Piteira, Santos Jorge, Oliveiras e Irmão, Pinto
Barreiros, Graves, Castro Cabrelas, João Núncio, Barata e Nechas, etc.
Para além dos cavaleiros amadores, Domingos Tavares, Domingos Tavares Júnior, Domingos Patola e
José Paulo Relógio todos montijenses que quase sempre participavam nas cavalhadas e, ainda Lopes
de Vega lembro os profissionais Cristiano Mendonça, Justiniano Gouveia que após ter deixado a arte
de marialva abraçou a posição de director de corridas, Fernando de Oliveira e posteriormente outras
grandes figuras do toureio equestre, como Simão da Veiga, João Branco Núncio, José Casimiro,
António e Alberto Luís Lopes, D. Vasco Jardim, D. Francisco de Mascarenhas, José Samuel Lupi,
Mestre José Baptista, Pedro Louceiro, David Ribeiro Teles, Luís Miguel da Veiga, Paulo Caetano e
convêm não só lembrar da cavaleira rejoneadora Conchita Citron.
As Duas Praças de Touros de Montijo
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Dos excelentes bandarilheiros que bregaram com maestria os touros lidados pelos referidos cavaleiros destaco os montijenses
Augusto Gomes Júnior e António Gregório, depois Agostinho Coelho, Pedro Gorjão, Júlio Procópio, António Correia, Júlio Glória,
José Agostinho dos Santos e outros.
Dos forcados que pegaram touros mencionarei os excelentes grupos amadores de Santarém (que incluía pegadores montijenses),
de Montemor, de Alcochete, da Moita, de Vila Franca, do Montijo e possivelmente outros que agora me passa.
No tocante a lide apeada muitas foram as figuras que pisaram esta velha praça, matadores como, Augusto Gomes Júnior, Armando
Soares, António dos Santos, José Falcão, José Júlio, E. Barroca, Ricardo Chibanga, Manuel dos Santos, Diamantino Viseu, Mário
Coelho, Carlos Aranha, Silvério Peres, carniceiro do México, Ninõs Fuentes, Gregório Garcia e Conchita Citron.
Relativamente à actual praça de touros passo a transcrever na íntegra um escrito elaborado por meu pai que revela como foi
conseguido o projecto de arquitectura e a construção.
Por meados de 1948, na secretaria da Santa Casa da Misericórdia de Montijo, estando presente o seu provedor e mais mesários foi
nomeada uma comissão composta pelos senhores Dr. António Gonçalves Rita (advogado), Dr. Manuel Nepomuceno Leite Cruz
(médico veterinário), José Salgado da Oliveira (industrial e proprietário), Amadeu Augusto dos Santos (pintor decorador e
comerciante), José Júlio Pinto da Veiga Marques (lavrador e proprietário), António Rodrigues Tavares (agricultor e Industrial),
José da Silva Leite (agricultor e proprietário), António Ramos Rasteiro (industrial e proprietário), Domingos Tavares Bastos
(proprietário e agricultor) e Euclides Rosa Carneiro (relojoeiro e comerciante).
Pelo sr. presidente foi dito que a razão da nomeação desta comissão, era o motivo da conservação e restauração da velha praça de
touros construída por uma comissão de aficionados em 1887 e que se achava em ruínas e a cuja comissão pediam o seu concurso
dando-lhes plenos poderes para poderem organizar festas e angariar verba para o concerto de conservação ou o melhor que pudesse
ser feito para esse fim.
Nomeada esta comissão, logo de inicia que organizou um quete entre a comissão em que cada um entrou com quinhentos escudos
para concertos na dita praça.
Feitos os devidos concertos, organizou a mesma comissão uma corrida de touros em favor das obras em curso em que ganharam
30.257$20 o que pagou as obras e o restante foi entregue à Santa Casa.
No ano seguinte pensou a comissão de que eu também fazia parte
Fazer uma obra de maior relevo mas … tal não foi consentido pelos poderes superiores.
Veio a Montijo uma embaixada representativa da Inspecção Geral dos Espectáculos e Urbanismo que reprovou a ideia de se puder de
futuro realizar espectáculo de qualquer espécie naquele recinto, condenando então em absoluto e alegando que aquele local estava
destinado a ser para o mercado municipal; em resumo estava definitivamente condenada a antiga praça de touros que tão
engraçada era e onde se deram inesquecíveis festas de toiros.
Varias demarches se fizeram ainda se gastou seis mil escudos num estudo de projecto para se embelezar toda a fachada e parte
interior e nada se conseguiu até que recebemos uma intimação rigorosa mas arbitraria da Inspecção Geral dos Espectáculos para
que a praça fosse demolida.
A Ideia da Construção de uma nova Praça de Touros para a Misericórdia …
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Não desmereceu esta comissão e sempre na ideia de fazer algo para que em Montijo não acabasse a festa de touros, reunimos e
resolvemos escrever à Mesa da Santa Casa da Misericórdia de Montijo afim de expor a ideia da construção de uma nova praça de
touros que honrasse o Montijo e que pudesse ter defesa em corridas de boa apresentação.
Foi nos seguintes termos a carta dirigida à Santa Casa:
Montijo, 08 de Novembro de 1950
A Exma. Mesa Administrativa da Santa Casa da Misericórdia de Montijo
Exmos. Srs.
Os signatários fazem parte de uma comissão que tem em vista construir em Montijo uma praça de touros.
A essa Santa Casa pertence uma praça velha que não é permitido nem é possível a sua reconstrução de modo que, de futuro tenha
defesa para realização de espectáculos tauromáquicos e, não tendo esta comissão o intuito de qualquer modo prejudicar os
interesses da misericórdia pedem a V. Exas. que se dignem dizer-lhes com possível brevidade se a Misericórdia interessa o facto de
em conjunto com esta comissão poder tomar na sua colaboração e, nomeadamente, na sua colaboração financeira e no intuito de se
efectuar a edificação de uma nova praça de touros de modo que num futuro mais próximo possível essa nova praça de touros venha a
ser propriedade da Misericórdia. (esta carta foi assinada por todos).
A resposta foi um pouco demorada e só tivemos aviso para reunir a 19 de Dezembro do mesmo ano. Das conversações dessa resultou
que a praça fosse construída em favor da Misericórdia prometendo a Mesa da Santa Casa que a venda da velha praça então já
condenada pelos poderes superiores seria investido na nova praça o seu resultado de venda, caso que o Senhor Governador Civil do
Distrito apoiou prometendo interessar-se pela ideia e mais ainda diligenciar quaisquer verba de ajuda como comparticipação pelo
desemprego.
Correu esta reunião na melhor das disposições e toda a assistência radiante pela forma como a Mesa da Misericórdia aceitou a
iniciativa, dando à Comissão Pró-Praça de Touros todos os poderes para tratar do assunto da venda da antiga praça.
Começou então a acção desta Comissão com bastante intensidade, diligenciado o mais breve possível da velha praça. Um dos
componentes da Comissão e a quem se deve também esse grande momento que a Montijo deu nome e valor e que para maior honra
para nós tem o nome dum distinto artista e filho da nossa terra que se chamou Joaquim de Almeida nome que em letras bem
brilhantes ornamentou esse grande edifício do novo cinema.
Pois foi este grande amigo proprietário desta casa de espectáculo que nos alvitrou a seguinte sugestão oferta de 400 mil escudos
pela antiga praça caso a Câmara Municipal o autorizasse a edificar no mesmo local o novo cinema mas, só na condição dessa verba
ser integrada na obra da praça de touros.
Depressa fizemos saber à Câmara Municipal escrevendo-lhes neste termos:
Exmo. Senhor Presidente e Vereadores Câmara Municipal da Concelho de Montijo
Pela Mesa da Santa Casa da Misericórdia desta vila e com o apoio de Exmo. Sr. Governador Civil do Distrito foi esta Comissão
nomeada com plenos poderes necessários para tratar do assunto obra Praça de Touros.
É desejo desta Comissão levar a efeito a construção duma nova praça de touros e para isso tem envidado os seus esforços, visto que
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a construção a verificar-se. Em muito viria contribuir para o desenvolvimento comercial e turístico de Montijo e ainda porque, nas
condições que pretendemos levar por diante à nossa pretensão, poderíamos dotar a Santa Casa da Misericórdia (…) de futuro, com
uma propriedade da qual lhe poderá advir um interessante rendimento.
Encontrando-se alguém interessado na aquisição da actual praça de touros desde que seja autorizado a construir no mesmo local,
em substituição, um novo cinema, pelo que se torna necessário que essa Mui Digna Câmara lhe facilite quaisquer dificuldades que aspossam surgir em referência a assuntos urbanísticos, pedimos a V. Exas. se dignem pronunciar sobre o que o assunto lhes oferecer.
asChamamos a devida atenção de V. Exas. para o assunto, visto que a ser realizada essa aquisição, em muito viria a contribuir para
que possamos levar a bom termo as nossas diligências, pois que a verba auferida pela referida venda transitaria automáticamente
como comparticipação da Santa Casa da Misericórdia na construção da nova praça, segundo deliberação da Mesa em última reunião
consoante com a Comissão Pró-Praça de Touros.
asContamos pois, com a melhor boa vontade de V. Exas. na resolução do assunto, do que poderá facilitar-nos os nossos desejos,
dotando assim o Montijo, com dois edifícios interessantes que viriam, não só, valorizar a nossa terra, como a sua construção poderia
atenuar a elevada crise que dia a dia se acentua nesta vila.asCertos de que V. Exas. darão a colaboração necessária na resolução deste problema, ficamos a aguardar o favor das vossas breves
notícias e temos a honra de nos subscrever com protestos de elevada consideração
A BEM DE MONTIJO COMISSÃO PRÓ-PRAÇA DE TOUROS
(esta carta foi assinada por todos)
As respostas levaram tempo, no entanto, a comissão não descurou o assunto até que em 31 de Maio tivemos a seguinte resposta:
Montijo, 31 de Maio de 1951
À Exma. Comissão Pró-Praça de Touros Montijo
asEm resposta ao ofício dessa Comissão de 19 de Março último, tenho a honra de informar V. Exas. que depois de ouvidos os
competentes serviços de urbanização, foi por esta Câmara deliberado aceitar para a localização do cinema a construir nesta vila, o
terreno onde existe a actual praça de touros que foi indicado por essa digna Comissão.
Como porém, se torna indispensável anexar o terreno onde está instalado a abegoaria municipal para poder ser implantado o
edifício, a Câmara, no desejo de prestar a melhor colaboração, dispõe-se, desde já, encetar a transferência das referidas instalações e
a transaccionar com a empresa interessada na construção do novo cinema.
A BEM DA NAÇÃO
O Presidente
a) Cristiano Victor Leite da Cruz
Mais uma etapa vencida com uma resposta que nos deixou na melhor das disposições e que nos encorajou a ir em diante cheios de
vontade e fé.
Encorajados com tão agradável resposta e pronta boa vontade da Câmara, organizámos festas, intensa propaganda e iniciamos os
preparativos para a subscrição pública e ao mesmo tempo estudar a forma de conseguir meios de pudermos mandar realizar
um estudo de ante projecto para se poder fazer uma ideia dum caminho a seguir.
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Primeiras dificuldades
Dr. António G. Rita um dos componentes da Comissão, um dos grandes influentes devido ao seu estado de saúde ou aos seus afazeres
pediu a demissão ficando a Comissão diminuída, jamais por uma pessoa de certa posição e que muito nos poderia ser útil.
Em todo o caso fomos por diante e então em reunião foi posto em discussão o caso do estudo do projecto e como tal poderia ser
conseguido pois a maior dificuldade era a falta de fundos.
Depois de várias démarches e pedidos de orçamento chegámos à conclusão que o mínimo do custo desse estudo seria de 12.000$00 a
18.000$00, verba que não tínhamos e se tornou difícil realizá-la.
Então eu, o carola, o pateta que tudo achava facilidades e que só via o caminho do optimismo (segundo me conheciam) mas que
apesar de tudo a persistência foi sempre a minha divisa e essa mesma que levou tudo ao caminho da realidade, não desisti da ideia de
Montijo ter uma praça de touros e procurei nova modalidade para conseguir forma de vencer esta dificuldade.
Um Pedido de Sacrifício
Nestas alturas estava o meu filho no Porto e frequentava como aluno a Academia das Belas Artes, estudando o curso de
Arquitectura.
Um dia aproveitando umas férias pedi-lhe, fazendo ver as dificuldades que tínhamos para conseguirmos um estudo para a edificação
d'uma Praça de Touros.
Fingiu não perceber a minha pretensão e então falei-lhe claramente que a situação era difícil pois que só ele nos poderia ajudar
fazendo-nos esse grande feito de fazer esse dito estudo.
Não me disse que não, é claro, mas apresentou argumentos que eu achei muito razoáveis mas que a minha força de vontade não se
deu por vencida e então insisti.
Argumentou que estava no 3º ano e que os conhecimentos para uma obra desse quilate eram muito diminutas e sobre este género
(praça de touros) ainda menos porque nem sequer um pormenor havia que conhecesse.
Apesar de tudo não me querendo contrariar e querendo ser útil à minha vontade e à sua terra, propõe-se trabalhar e dar-nos a sua
ajuda dentro dos conhecimentos que tinha, diligenciando procurar elemento para o fim em vista.
Começou então a minha maior luta, o meu maior sacrifício, noites sem dormir, fazes de arrependimento, mas sempre com a fé do que
a minha persistência venceria e levaria de vencida todas as más vontades todas as contradições, todas as maldades que me
rodeavam e que eu em parte não conhecia porque algumas eram tão cínicas que eu acreditava por boas e por sinceras.
Começou então meu filho a fazer os primeiros estudos para o ante-projecto enquanto nós Comissão tratávamos do local para a praça
e em várias démarches com a Mesa da Misericórdia e com a Câmara para concepção do novo tauródromo.
Enquanto a Comissão Pró-Praça de Touros continuava a angariar fundos para fazer face à construção da nova praça de touros,
organizando oito corridas formais e quatro vacadas que renderam 302.324$00 e outros espectáculos que deram o lucro
de 54.157$00 a Câmara Municipal, por reunião de nove de Setembro de 1951, deliberou ceder à Santa Casa da Misericórdia de
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Montijo, um terreno para a construção da nova praça de touros, com a área de 5.500 metros quadrados e situada a nascente da
circular recém projectada (actual Avenida Olivença), em local vazadouro de resíduos da fábrica Mundet.
Conhecido o local onde a nova praça de touros ficaria implantada, procurei obter conhecimentos sobre praças de touros, visitando
algumas portuguesas e outras espanholas até que esbocetos atrás de esbocetos consegui, finalmente, uma solução que, em termos
funcionais arquitectónicos e estruturais me agradou.
Essa solução deu origem ao anteprojecto o que de imediato submetido à apreciação da Câmara foi, rapidamente aprovado por
deliberação de três de Março de 1954.
Em fins do mesmo ano de 1954, concluído o projecto de arquitectura apresentei os respectivos dossiers á apreciação e aprovação da
Câmara Municipal e da Inspecção Geral dos Espectáculos.
A Câmara rapidamente, aprovou o projecto, mas já o mesmo não aconteceu em relação à Inspecção Geral dos espectáculos a qual
solicitou esclarecimentos, assentavam em dois reparos: um sobre o corredor pedonal interior da praça, o outro acerca dos
burladeros propostos no interior da teia.
Perante estes reparos houve, obviamente, a obrigatoriedade de responder à Inspecção Geral de Espectáculos através de uma
cuidada exposição, na qual em relação ao corredor pedonal interior da praça se argumentou a necessidade de criar espaçamentos
com objectivos funcionais, de acessibilidade a todas as áreas da praça e por outro lado de lazer e convívio a todos os aficionados.
Relativamente, aos burladeros propostos no interior da teia justificou-se razões de segurança de todos os intervenientes do
espectáculo e, como esconderijos o de evitar distracção e perturbação dos touros enquanto estão a ser lidados.
Esta exposição subscrita por mim, como projectista da praça, por todos os membros da Comissão Pró-Praça de touros, por todos os
Mesários da Santa Casa da Misericórdia de Montijo e por muitos toureiros que, assim, quiseram manifestar o seu apoio e
concordância, foi enviado à Inspecção Geral dos Espectáculos a fim de ser apensa ao projecto de arquitectura.
Em reunião de 13 de Abril de 1956, o Conselho Técnico da Inspecção Geral dos Espectáculos constituído pelos senhores
Comandante Oscar Neto de Freitas, Arqtº. Luís Benavente, António Emidio Abrantes, Luís Ribeiro Viana e Aníbal Maria Fernandes,
deliberou aprovar o projecto de arquitectura da nova praça de touros de Montijo.
Quando o povo montijense soube da aprovação do projecto acreditou então que a construção da sua nova praça de touros era uma
realidade, gerando-se de imediato uma enorme onda de solidariedade de apoio à Comissão Pró-Praça de Touro, através das mais
variadas manifestações, de donativos, sacos de cimento, de areia, cal, tijolos, dinheiro e horas de trabalho.
Estando o projecto de arquitectura definitivamente aprovado faltava concluir o dossier, o projecto de estabilidade e a empresa
construtora do edifício.
Amadeu Gomes dos Santos, Arq.
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A Câmara Municipal de Montijo e a Comissão Executiva das
Comemorações do Cinquentenário da Praça de Toiros de Montijo,
agradece a todos aqueles que amavelmente cederam peças
possibilitando assim a realização desta exposição.
AGRADECIMENTOS
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ANIVERSÁRIO 1957 2007-
Amadeu Augusto
dos Santos
“Praça de Toiros Amadeu Augusto dos Santos, 50 anos de Tradição: Entre o Passado e o Presente”
Catálogo da Exposição
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DE ALDEIA GALEGA A MONTIJO:SUBSÍDIOS PARA A HISTÓRIA
DA TAUROMAQUIA
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Os primeiros registos conhecidos sobre a actividade tauromaquia
em Montijo, datam do reinado de D. Manuel I (1495-1521). Tal como
referem as “Constituições da Guarda” de 1500 os touros eram
lidados nos adros das igrejas, associados aos festejos litúrgicos. No
caso de Aldeia Galega, poder-se-á colocar a hipótese de ao culto do
Espírito Santo e festas em sua honra, estar associado festejos onde
o touro depois de corrido à corda era sacrificado, para que a sua
carne fosse consumida no bodo comunitário, o único permitido no
reinado de D. Manuel.
No entanto, é no período, que medeia a atribuição do foral à
localidade, 1514 e a morte do monarca em 1521, que surgem as
primeiras referências às touradas em Aldeia Galega.
D. Manuel surge-nos, assim, ligado a uma actividade que passava a
ser obrigação da Câmara: organizar uma tourada para
divertimento dos habitantes da localidade, estipulando o monarca,
que à Câmara cabia suportar as despesas com o referido
divertimento. Assim, os Visitadores da Ordem de Santiago em 1564
assim o referem “… que quando se correm touros na ditta villa
fazem pallanques E metem as tranqueiras peguadas com a parede
da cappella-moor, E se sobem sobre ella o que faz muito danno a
parede E telhado …” o que doravante fica proibido sob pena de
pagamento de 10 cruzados de multa. Facto de novo enunciado na
visitação de 1607 “… no adro desta igreja se fazião palanques pª ver
touros o qe hee muito indecente e pêra estranhar …” e mais uma
vez, proibiam tal acontecimento, com coima no valor de vinte
cruzados.
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Registo de uma provisão para se fazer a obra de São Sebastião, Livro de registo de leis, ordens e alvarás, fl. 148, 148v., Câmara Municipal de Montijo, Arquivo Municipal.
Mário Balseiro Dias, Visitações e Provimentos da Ordem de Sant'Iago em Aldeia Galega de Ribatejo - Volume II 1553-1571: Ed. Autor, Montijo 2006, P. 91.
José de Sousa Rama, Coisas da Nossa Terra - Breves Notícias da Villa de Aldeia Gallega do Riba-Tejo:Câmara Municipal de Montijo, 2001, P. 122.
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Em 1527, na visitação efectuada pelos Visitadores da ordem de
Santiago, à igreja da Atalaia, são fornecidos elementos quanto à
forma de toureio “... novilho que Gomez Neto ofereçeo a nossa
senhora (...) se coreo as capãs ...” .
A corrida de touros anual para divertimento das gentes locais
continuava a realizar-se cumprindo a Câmara com o estipulado pelo
rei D. Manuel, tendo em 1730, gasto a quantia de 18$980 réis . Em
1754, o Rei D. José, a pedido do “Presidente, Vereadores e mais
Oficiais da Câmara, Nobreza e Povo da Villa de Aldegallega do
Ribatejo” suspendeu por seis anos a obrigação estipulada por D.
Manuel, direccionando o dinheiro dispendido nos espectáculos
tauromáquicos nas obras de recuperação da Igreja de São
Sebastião. Assim, em 17 de Junho de 1760 , voltou o monarca a
prorrogar esta determinação por mais oito anos, de modo a que as
verbas revertessem a favor das obras de reconstrução do templo. A
proibição de realização de touradas foi reiterada em 2 de Abril 1791,
por Diogo Inácio de Pina Manique, ao enviar ao Provedor da
Comarca de Setúbal, uma carta precatória circular, onde
recomendava que fosse proibida a realização de touradas,
independente do motivo.
Independente das proibições régias, observadas até 1837, a
manutenção das tradições e o amor à festa brava surgem como
explicação para que no século XIX, Aldeia Galega já possuísse uma
praça de touros, construída no bairro de Santo António, conforme
se pode constatar pelo registo existente no Livro de Foreiros à
Câmara datado de 1805-1811, que deixou de funcionar em 1852.
Segundo Amadeu Augusto dos Santos teria sido construída nos
terrenos pertencentes à Quinta do Pátio d'Água.
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Mário Balseiro Dias, Visitações e Provimentos da Ordem de Sant'Iago em Aldeia Galega de Ribatejo - Volume I, p. 116.
Livro da receita e despesa dos bens do Concelho de Aldegallega, 1730-1732, fl. 17v, Câmara Municipal de Montijo, Arquivo Municipal.
Registo de uma provisão para se fazer a obra de São Sebastião, Livro de registo de leis, ordens e alvarás, fl. 148, 148v., Câmara Municipal de Montijo, Arquivo Municipal.
Ibidem.
19
Livres das proibições régias, em 1842 é fundada a Sociedade do
Divertimento de Touros da Villa de Aldeia Gallega do Ribatejo,
constituindo assim a primeira associação tauromáquica do
Concelho, com o objectivo de proporcionar algum divertimento aos
seus associados.
Esta sociedade tinha como presidente, Cristiano Augusto da Silva,
como tesoureiro, João Quaresma, como secretário, Jacinto
Rodrigues de Oliveira Soares e como vogais, Epifânio António de
Sousa, António Joaquim Leite, António Pereira Duarte, Dr. João
Pedro Alberto e António Saragoça Júnior. A referida sociedade,
realizou entre 20 e 22 de Agosto de 1842, corridas de touros
gratuitas, presumivelmente na praça de touros existente no Bairro
de Santo António.
Entre 1852 e 1862, período que medeia a demolição da praça antiga
e a construção da nova, localizada junto ao edifício dos Frades da
Graça, não se encontram documentadas actividades tauromáquicas
em Aldeia Galega.
Assim, pelas Festas da Piedade em 1862, ressurgiram as festas
tauromáquicas na Vila, quando um grupo de cidadãos edificou uma
praça de touros, realizando-se nos dias 24 e 25 de Agosto do dito
ano, duas corridas de touros. Com o objectivo de dar continuidade a
estas actividades, no ano de 1865, a Irmandade da Santa Casa da
Misericórdia, determinou, em reuniões de 13 de Agosto e 13 de
Setembro , organizar uma corrida de touros, cuja receita revertia a
seu favor. Para levar a efeito esta corrida foi constituída uma
comissão formada pelos irmãos, Justiniano Gomes António,
Domingos Tavares, Emídio dos Santos Marques, Julião da Veiga
Marques, José Gomes Paralta, Firmino Augusto da Silva, António
8
8 Acta da reunião de 13 de Agosto de 1865 e de 13 de Setembro de 1865, fl. 21-22, Santa Casa da Misericórdia de Montijo, Câmara
Municipal de Montijo, Arquivo Municipal.
20
Caetano de Oliveira, Joaquim Sousa Barlavento, Manuel Soares
Ventura e Francisco António. No dia 24 de Setembro realizou-se
então a primeira corrida de touros promovida pela Santa Casa da
Misericórdia, que rendeu para a organização 138$810 reis.
Esta nova praça construída sem grandes preocupações de
segurança, permitia o fácil acesso à arena por parte dos
espectadores o que originou alguns desacatos, tais como os que
aconteceram no dia 29 de Junho de 1868, aquando um
desentendimento entre os forcados de Aldeia Galega e um grupo de
curiosos oriundos da localidade vizinha de Alcochete. Os últimos,
instigados por alguns espectadores de Lisboa e da Moita, saltaram
para a arena dispostos a pegar um touro, que o director da corrida
tinha mandado recolher, visto os forcados da localidade não o terem
conseguido pegar. Este incidente teve honras de reportagem, na
edição do Diário de Noticias de Lisboa do dia 25 de Agosto de 1868.
Para que incidentes deste tipo não voltassem a acontecer, a 21 de
Agosto de 1871, o Administrador do Concelho de Aldeia Galega,
determina através de edital, a proibição de qualquer pessoa, à
excepção dos funcionários da praça, saltar para a arena.
A vida desta praça de touros foi bastante efémera, uma vez que ao
fim de vinte anos já se encontrava completamente degradada, o que
levou à sua demolição. Foi seu primeiro arrendatário Francisco
António da Veiga, que pagava mensalmente a quantia de 13$500
réis e dava de donativo à Santa Casa da Misericórdia 6$000 réis, por
cada espectáculo ali realizado.
Na reunião extraordinária da Mesa da Santa Casa da Misericórdia,
de 12 de Novembro de 1887 , Domingos Tavares , uma das
personagens mais importantes em termos políticos e sociais, na
9 10
9
10
Acta da reunião de 12 de Novembro de 1887, fl. 108v., Santa Casa da Misericórdia de Montijo, Câmara Municipal de Montijo, Arquivo Municipal.
Foi Presidente da Câmara e era um dos mais ricos proprietários agrícolas locais.
21
qualidade de irmão da Santa Casa, propõe a construção de uma
nova praça de touros a ser edificada no local da anterior. A sua
execução contou com o apoio do deputado do círculo e proprietário
da Herdade de Rio Frio, José Maria dos Santos, que forneceu a
madeira necessária e ainda ofereceu a quantia de um conto de reis.
Para a construção da nova praça foi constituída uma Comissão,
composta por Domingos Tavares, Francisco da Silva, António
Gualdino Gouveia Salgado, João Rodrigues de Oliveira e António
Gouveia Dimas (dissolveu-se em 28 de Outubro de 1905,
visto António Gouveia Dimas e Francisco da Silva apresentarem
a sua demissão em virtude de os restantes membros já terem
falecido). Esta praça de touros construída, segundo projecto do
mestre carpinteiro José Vito da Silva, foi concluída em 23 de Junho
de 1888 e inaugurada no dia de São Pedro do mesmo ano. Tinha
capacidade para 3000 espectadores e um diâmetro exterior de 42
metros. Após a sua conclusão, a Comissão, solicitou autorização ao
Administrador do Concelho para que a Santa Casa da Misericórdia a
explorasse, por um período de três meses.
Aldeia Galega voltava assim, a granjear fama de terra amadora da
tauromaquia chegando a ombrear com Lisboa na realização de bons
espectáculos tauromáquicos.
No intuito de manter a tradição de oferecer aos aficionados boa
tauromaquia, realizaram-se em Aldeia Galega até ao ano de 1928,
corridas com touros em pontas, autorizados devido ao carácter
benemérito. Tendo as mesmas sido proibidas a 11 de Abril de 1928,
dois anos depois, o Ministro do Interior, autorizou a lide de dois
touros em pontas em cada corrida, desde que se destinassem a
artistas estrangeiros. Assim, em Junho de 1946, o jornal Gazeta do
Sul, anunciava uma corrida de touros de morte em Montijo com a
presença de Conchita Cintron e Pepe Ortiz.
22
Personagens de destaque na vigência da praça de touros da Graça
Durante a vigência da praça de touros da Graça destacaram-se
algumas personalidades como os cavaleiros Justiniano Gouveia e
Cristiniano Mendonça.
Justiniano Gouveia, nasceu em Aldegalega a 20 de Julho de 1878.
Actuou muitas vezes como cavaleiro amador, tomou a Alternativa
em 1920 no Campo Pequeno. Dividiu a sua vida entre as suas
grandes paixões a tauromaquia e o teatro. Alvo de grandes elogios
em relação às suas actuações, quando se retirou do toureio
continuou ligado à festa brava como director de corridas.
Cristiniano Mendonça, nasceu em Aldegalega a 3 de Março de 1866.
Estreou-se na praça de touros da sua terra natal, em 3 de Novembro
de 1889. Devido às suas brilhantes actuações, foi incitado a se
tornar profissional, facto que sempre recusou. Assim, manteve-se
como cavaleiro amador, actuando só em corridas de carácter
benemérito.
Uma das figuras Montijenses mais emblemáticas da época é Augusto
Gomes Júnior, o segundo matador de touros de Portugal. Augusto
Gomes, nasceu a 19 de Dezembro de 1913 em Aldegalega, e inicia-se
na actividade tauromáquica em 1932, frequenta a escola de Luciano
Moreira.
A sua primeira actuação em público, como bandarilheiro amador,
foi no ano de 1932, tomando a Alternativa, nesta categoria, em
Julho de 1937, no Campo Pequeno. Actua também como novilheiro
em 1939, na mesma praça, alternando com Joselito Moreno.
Justiniano Gouveia
Cristiniano Mendonça
23
Devido a todos os êxitos alcançados, Augusto Gomes, decide vestir-
se de seda e ouro, e em 21 de Junho de 1942 estreia-se em Espanha,
na praça de touros de Pamplona, alternando com Rafael Albaicín e
Rafael Perea “Boni”, a 23 de Junho de 1946 debuta em Madrid,
sendo o primeiro novilheiro português a actuar nessa praça. Em
1947, toureia na Venezuela, Colômbia e Perú, alcançando o êxito em
terras Sul Americanas. De regresso à Europa, toma Alternativa de
matador de touros, a 10 de Agosto, na praça de touros de
Constantina Espanha, tendo como padrinho António Bienvenida,
perante o testemunho de Jaime Marco “El Choni”.
Em 1951, renuncia à Alternativa de matador de touros, mas
continua como bandarilheiro até 1972, data da sua retirada em
Almerim.
Augusto Gomes Júnior
25
DO SONHO À REALIDADE:A NOVA PRAÇA DE TOUROS
A empresa Gil, Gomes & Santos Lda., arrendatária da praça de
touros de Montijo no ano de 1947 e proprietária do antigo cinema
teatro Joaquim de Almeida, popularmente conhecido como o
“barracão”, subarrenda a Amadeu Augusto dos Santos, a citada
praça de touros, para a realização de espectáculos tauromáquicos.
No entanto, dado o estado de conservação da mesma, no ano de
1948 foi criada uma Comissão para angariação de fundos com vista
ao restauro do imóvel.
Esta comissão era formada pelos seguintes elementos: António
Gonçalves Rita (advogado), Manuel Nepomuceno Leite Cruz
(médico veterinário), José Salgado de Oliveira (industrial e
proprietário), Amadeu Augusto dos Santos (pintor decorador e
comerciante), José Júlio Pinto da Veiga Marques (lavrador e
proprietário), António Rodrigues Tavares (agricultor e industrial),
José da Silva Leite (agricultor e proprietário), António Ramos
Rasteiro (industrial e proprietário), Domingos Tavares Bastos
(proprietário e agricultor) e Euclides Rosa Carneiro (relojoeiro e
comerciante). A sua primeira iniciativa foi solicitar a cada um dos
seus membros, um donativo no valor de 500$00, para o fundo de
reconstrução da praça de touros e organização de uma corrida de
touros para angariar verbas para a reconstrução da praça que
rendeu 30.257$20.
O restauro do imóvel mostrou-se inviável, já que em 1949 uma
comissão da Inspecção-Geral de Espectáculos considerou encerrar
o recinto, por este não oferecer condições de segurança. Apesar
desta determinação, tentou ainda a Comissão encetar várias
iniciativas com vista a evitar tal situação, pelo que solicitou um
projecto de remodelação de interiores e fachada da praça de touros,
que importou em 6.000$00. No entanto, tal facto não chegou para
demover a Inspecção-Geral de Espectáculos, que em 1950 veio a
ordenar definitivamente a demolição do imóvel, que desapareceria
assim ao fim de seis décadas ao serviço da tauromaquia em Montijo.
Em 8 de Novembro de 1950, os elementos da Comissão de
recuperação da antiga praça de touros, escrevem à Mesa
Administrativa da Santa Casa da Misericórdia de Montijo, com o
26
objectivo de averiguar a disponibilidade desta, para conjuntamente
edificar a nova praça de touros, que viria a ser propriedade da
Misericórdia.
A 19 de Dezembro de 1950 reuniu então a citada Comissão com a
Mesa da Misericórdia, tendo sido acordado que a praça ficaria
sendo pertença da Santa Casa e que o produto da venda do terreno
da antiga praça, revertia para a construção da nova. Após esta
reunião, a 19 de Março a Comissão oficiou a Câmara das suas
intenções.
A Câmara veio a responder a 31 de Maio de 1951 dando conta da
deliberação do Executivo de 29 de Maio de 1951, relativo à
pretensão apresentada. Informava assim a Câmara: “... aceitar para
a localização do cinema a construir nesta vila, o terreno onde existe
a actual praça de touros ...” e uma vez que o terreno em que se
encontra as instalações da abegoaria municipal também seria
necessário para a instalação do dito cinema “... a Câmara, no desejo
de prestar a melhor colaboração, dispõe-se, desde já, a encetar a
transferencia das referidas instalações e a transaccionar com a
empresa interessada na construção do novo cinema.”
Agradada com tão sugestiva resposta por parte da Câmara, logo a
Comissão se redobrou em esforços e iniciativas para angariação de
fundos com vista a construção da nova praça de touros.
A Câmara Municipal a 28 de Agosto de 1953 , face ao exposto no
oficio nº 644 da Santa Casa da Misericórdia, delibera em reunião do
Executivo ceder gratuitamente à Santa Casa da Misericórdia um
terreno, no local denominado Mercado, com a área de seis mil
trezentos cinquenta e oito metros quadrados em forma circular.
11
12
11
12
Livro de actas das sessões da Câmara Municipal de Montijo, 12 de Dezembro de 1940 a 28 de Dezembro de 1951, pp, 187. Câmara Municipal de Montijo. Arquivo Municipal.
Livro de actas das sessões da Câmara Municipal de Montijo, 28 de Abril de 1953 a 13 de Setembro de 1955, pp, 39 e 39v. Câmara Municipal de Montijo. Arquivo Municipal.
27
Estava assim dado o passo fundamental para que a nova praça fosse
uma realidade. Formalizado pela portaria nº 115, II Série, emanada
do Ministério do Interior, 2ª Repartição.
Em 1956, a 8 de Maio a Câmara Municipal reunida em sessão e “De
harmonia com os pareceres respectivos (...) deliberou aprovar os
projectos de obras da Santa Casa da Misericórdia, para construção
de uma Praça de Toiros no local denominado Mercado...” facto
efusivamente comemorado pela população da Vila.
Com o intuito de apoiar a construção da nova praça foram
efectuadas várias iniciativas, desde a realização de espectáculos
tauromáquicos na Praça de Touros do Campo Pequeno e da Moita,
respectivamente 13 de Setembro e 21 de Outubro de 1956, assim
como a angariação de materiais de construção. Estes dois
espectáculos tauromáquicos renderam à Comissão cerca de
60.000$00. No Domingo, de 27 de Janeiro de 1957 é organizado o
“1º Comboio de Materiais” onde se angariaram materiais de
construção necessários para a edificação da nova praça de touros.
Durante este cortejo desfilaram pelas ruas da localidade diversos
veículos com materiais resultantes das generosas ofertas que foram
doadas.
No dia 1 de Abril iniciava-se finalmente as obras de construção da
nova praça de touros de Montijo, coroando assim o esforço da
Comissão, que desta forma via erguer-se o objectivo final do seu
trabalho, ultrapassando assim as dificuldades colocadas.
Na sua edição de 8 de Maio de 1957 o jornal “O Distrito de Setúbal”,
publica a notícia de que no passado Domingo dia 5, realizou-se uma
festa de homenagem à Comissão Pró-Praça de Toiros, organizada
por um grupo de aficionados. Assim, pelas 11 horas a população
13
13 Livro de actas das sessões da Câmara Municipal de Montijo, 27 de Setembro de 1955 a 25 de Março de 1958, pp, 47.
Câmara Municipal de Montijo. Arquivo Municipal.
em cortejo dirigiu-se ao local onde se estava a construir a nova
praça, acompanhada pelas duas bandas de música da localidade e
por delegações de todas as colectividades que se faziam representar
pelos seus estandartes. Chegados ao local, numa tribuna
previamente construída e devidamente engalanada com motivos
ribatejanos, foi constituída a mesa de honra pelos senhores José da
Silva Leite, Presidente da Câmara, Justiniano Gouveia, Provedor da
Misericórdia, José Salgado de Oliveira, Presidente da Comissão
Pró-Praça, Dr. Pires da Costa, da Sociedade Tauromáquica
Moitense, Dr. Paulino Gomes pela Imprensa, António João Serra
Júnior, Vice-Presidente da Câmara, Dr. Gonçalves Rita da comissão
promotora da homenagem e pelo autor do projecto da nova praça,
Arqtº. Amadeu dos Santos. Durante esta cerimónia foram oradores
os senhores, Rui de Mendonça, Leopoldo Nunes, Dr. Gonçalves
Rita, Dr. Paulino Gomes, Augusto Mendes e Amadeu Augusto dos
Santos e José da Silva Leite, que explanaram sobre o significado e o
alcance da obra que ali os reunia a todos nesta singela homenagem.
Após os discursos foi executado o hino do Montijo pela Banda
Democrática, sendo de seguida lida e assinada a acta desta festa que
em conjunto com diversas moedas em circulação nesta altura e
outros objectos foram depositados sob o portal principal da entrada
da nova praça de touros.
Com o objectivo da boa prossecução dos trabalhos a Mesa
Administrativa da Santa Casa da Misericórdia reúne a 15 de Maio de
1957 , em sessão extraordinária, para celebrar um contrato com a
Comissão Pró-Praça de Toiros, onde se pode ler o seguinte: “A Santa
Casa cede um terreno com 6358 m2, a que atribui o valor intrínseco
de esc. 286.110$00, que possui no local denominado “Mercado”,
mantendo-se como único titular do respectivo direito de
propriedade.
14
28
14 Arquivo da Santa Casa da Misericórdia de Montijo.
29
Além do terreno, a Misericórdia contribuirá com a quantia de
320.100$00, que resultou da venda da antiga Praça de Touros.
A Comissão responsabiliza-se pelas dívidas que possam vir a existir
e pela exploração da praça de Toiros, até ao completo reembolso da
importância por ela despendida, para além dos donativos e da
contribuição da Misericórdia.
A exploração não pode exceder o prazo de 19 anos.
Se antes do prazo os lucros líquidos atingirem importância
superior à que a Comissão despendeu e referente ao encargo dos
responsáveis, a Praça de Toiros e o excedente daquela importância
serão imediatamente entregues à Santa Casa da Misericórdia, que
passará a efectuar a exploração por sua conta e risco.”
Estava assim concretizado o sonho. A população tinha respondido
com o seu trabalho voluntário para a construção da nova praça, e os
industriais José Salgado de Oliveira e Izidoro Sampaio de Oliveira
tinham contribuído para a obra com a quantia de 100.000$00 e
empréstimo de uma verba de cerca de 400.000$00.
O projecto do novo edifício de autoria do Arqtº. Amadeu José
Gomes dos Santos, que na memória descritiva e justificativa do
imóvel indicava que o mesmo foi “… devidamente estudado, quer no
aspecto funcional, quer no aspecto estético, com simplicidade,
obedecendo a todos os artigos que a Inspecção Geral de
Espectáculos exige.” O edifício é composto por “… 3 sectores de
sombra (1, 2 e 8); 3 de sol (4, 5 e 6); 2 de sombra-sol (3 e 7); balcões,
camarotes e galerias de sombra, além de lugares privativos para
músicas, imprensas, rádios, direcções, etc.” tem uma lotação
aproximada de 6.500 pessoas.
15
15 Autorização administrativa de construção, Processo A/48/1956, Câmara Municipal de Montijo, Arquivo Municipal.
30
Para a sua execução foram gastas 380 toneladas de cimento, 32
toneladas de ferro, 360 milheiros de tijolo, 8100 metros lineares de
vigotes pré esforçados, 1500 m3 de brita, 2000 m3 de areia e 220
m3 de madeira. As obras ocuparam 160 operários diariamente
entre Abril e Agosto de 1957, pelo que a sua construção durou 5
meses, ou seja foi construída em 126 dias úteis e importou no valor
de 2.200.000$00 .
Assim, a 28 de Agosto a comissão constituída por José Salgado de
Oliveira, Manuel Nepomuceno Leite da Cruz, Amadeu Augusto dos
Santos, José Júlio da Veiga Marques, António Rodrigues Tavares
Júnior, Izidoro Maria de Oliveira, Domingos Tavares, António
Ramos Rasteiro, João Euclides Rosa Carneiro, Manuel Cândido da
Costa e António Júlio Canarim Nepomuceno, deu a obras da nova
praça de touros de Montijo por concluída. Pelo que a 29 de Agosto a
empresa construtora da praça, “Empresa de Construções e
Edificações, Lda.” representada pelos senhores, Dr. Nunes dos
Santos, Manuel Vidigal, Eng.º Manuel Maria Ferreira e Francisco
Dias Pereira, construtor, decidiu comemorar o fim da obra
oferecendo um almoço nas instalações da praça de touros a cerca de
200 pessoas, incluindo aficionados, autoridades, imprensa, rádio,
amigos e convidados.
A 1 de Setembro de 1957 , a localidade acorda pelas 08.00h ao som
do estampido dos foguetes e morteiros e uma multidão de pessoas
começavam a encher as ruas dando à Vila um aspecto festivo,
próprio dos dias de grandes comemorações. Nas ruas Almirante
Reis e Joaquim de Almeida, as fachadas dos prédios encontravam-
se com as janelas e varandas ornamentadas ao estilo ribatejano com
motivos tauromáquicos, e pelas 09.00h deu-se início ao concurso de
montras e janelas. Ás 09.30h deu-se início à venda do “Chocalho”
16
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Jornal, O Distrito de Setúbal, 3 de Setembro de 1957.
Jornal, O Distrito de Setúbal, 3 de Setembro de 1957.
Jornal, A Província, de 5 de Setembro de 1957.
por um grupo de raparigas que se vestiam com trajes regionais. Por
volta das 10.00h o Executivo da Câmara e dezenas de
individualidades deslocaram-se para os limites do Concelho onde
foram aguardar a chegada do Dr. Miguel Rodrigues Bastos,
Governador Civil. Após os cumprimentos protocolares formou-se
no cruzamento da avenida Corregedor Rodrigues Dias e rua José
Joaquim Marques um cortejo composto de lavradores e campinos
que “… em luzida cavalgada e escoltando o carro da Autoridade
Máxima do nosso Distrito desfilará pela Rua José Joaquim
Marques, Praça da República, Ruas Almirante Reis e Joaquim de
Almeida, em direcção à nova Praça.” Ao longo de cerca de três
quilómetros o cortejo percorreu a Vila entre alas compactas de
populares e forasteiros que ovacionavam constantemente o ilustre
convidado e demais autoridades até à entrada do novo edifício onde
era esperado pelas bandas filarmónicas da Sociedade Filarmónica
1º de Dezembro e Banda Democrática 2 de Janeiro, bombeiros,
colectividades, imprensa, rádio, comissão de festas de São Pedro.
Assim, coroando o esforço do povo de Montijo e da Comissão
Pró-Praça de Touros é pelas 11.30h o edifício da nova praça de
touros solenemente inaugurado por sua Ex.ª o Governador Civil do
Distrito de Setúbal, Dr. Miguel Bastos, personagem que acarinhou
a iniciativa e concorreu com os seus préstimos para a boa
consecução da mesma.
Após o corte simbólico da fita e depois de breves palavras de
felicitações para o Presidente da Câmara e para os membros da
Comissão Pró-praça de Touros que não escondiam a comoção,
entrou o Governador Civil e demais entidades oficiais no novo
imóvel ao som do hino de Montijo executado pelas duas bandas e do
estampido de inúmeros morteiros e foguetes, bem como de
numerosos e estrondosos aplausos. Rapidamente a população
31
invadiu o novo espaço e a praça de touros ficou repleta de populares
que não se cansavam de aplaudir os ilustres convidados. Pelas
12.00h foi a capela da praça de touros e a imagem de Nossa Senhora
de Atalaia que lá se encontrava solenemente benzida pelo reverendo
Padre Manuel Gonçalves dos Santos, Prior de Montijo, cujo acto foi
devidamente acolitado, após o que se ouviu uma salva de 75
morteiros e lançamento de fogo de artificio diurno tipo “Fogo
Japonês”. Ás 12.30h procedeu-se à embolação dos touros que
seriam corridos na corrida inaugural.
Em seguida, dirigiram-se as autoridades e demais convidados para
o salão de festas da Sociedade Filarmónica 1º de Dezembro onde
teve lugar o almoço a que presidiu o senhor Governador Civil e que
decorreu muito animado.
Cerca das 16.00h saiu da zona do novo mercado municipal o cortejo
à antiga portuguesa composto por, charameleiros, pagens, clarins,
azémola das farpas e coches, que passou pela praça da república, e
ruas Almirante Reis e Joaquim de Almeida em direcção à nova praça
de touros, por alas compactas de populares. Pelas 18.00h deu-se
início à corrida de touros inaugural presidida pelo senhor
Governador Civil e dirigida pelo senhor Justiniano Gouveia,
estando a praça completamente lotada. Depois das cerimónias
típicas de uma tourada à antiga portuguesa começou a lide
toureando a cavalo o Dr. Fernando Salgueiro, D. Francisco de
Mascarenhas, Manuel Conde e D. Luís de Ataíde, os forcados foram
os Amadores de Santarém que se dividiram em dois grupos. Tanto
as lides a cavalo como as pegas dos forcados foram muito
aplaudidas pela assistência que naquele Domingo de Setembro
encheu a nova praça de touros num espectáculo de luz e cor. Foram
lidados 8 touros da ganadaria de D. Duarte Atalaia e 1 oferecido
pelo senhor Manuel Caria, que se destinava depois de morto a ser
distribuída a sua carne pelos pobres da localidade.
32
O primeiro touro a ser lidado nesta praça, foi o exemplar
denominado Cantor, que foi lidado pelo cavaleiro D. Fernando
Salgueiro que teve como peões de brega, Augusto Mendes Júnior,
ex-matador de touros natural de Montijo e José Fernandes, foi o
mesmo pegado de caras pelo forcado Joaquim de Oliveira Monteiro.
Finda a corrida de touros realizou-se no salão de festas da
Sociedade Filarmónica 1º de Dezembro, um jantar oferecido pela
Comissão da Praça a que presidiu José da Silva Leite, na sua
qualidade de Presidente da Câmara. O jantar com cerca de 300
convidados, dos quais se destacavam António Abreu antigo cabo
dos forcados de Santarém, Rodes Sérgio, Manuel Conde,
Dr. Paulino Gomes, Dr. Gonçalves Rita, Manuel Giraldes da Silva,
Augusto Mendes e Gentil Marques que usaram da palavra,
terminou com um breve apontamento de fados e canções por
Constança Nunes e Fausto Ribeiro que foram acompanhados à
guitarra e à viola por Alfredo Rodrigues e Amadeu Ramim.
“CANTOR”
1.º Touro da corrida de Touros Inaugural
33
35
PRAÇA DE TOUROS DE MONTIJO:O INÍCIO DE UMA NOVA ETAPA
Após a inauguração da Praça de Touros de Montijo a 1 de Setembro
de 1957, a Comissão continuou a trabalhar para que esta fosse palco
de grandes corridas de touros, assim, houve bons espectáculos
tauromáquicos em Montijo, tal como a corrida para comemorar a
instalação da luz eléctrica nesta praça.
Para além das corridas, a Praça de Touros de Montijo, foi palco da
rodagem do primeiro filme a cores português “Sangue Toureiro”,
com Amália Rodrigues e Diamantino Viseu, todas as cenas de lide
foram filmadas na referida praça, havendo, inclusive, cenas da
inauguração do espaço.
As corridas de touros das Festas de São Pedro de 1958, as primeiras
festas na vigência da nova Praça foram um acontecimento
tauromáquico muito importante. Todas as corridas contaram com
cartéis de luxo e, na segunda corrida, a de 30 de Junho, Curro Girón
foi carregado em ombros, para fora da praça devido ao brilhantismo
da sua lide. Mas não foram apenas as corridas que abrilhantaram as
festas, as “entradas” ribatejanas também foram muito importantes,
tal como nos relata um jornal da época “ (…) A Monumental Praça de
Touros em Montijo encheu-se de regozijo nas 3 corridas das festas
de S. Pedro, as primeiras na nova Praça (…).
Reviveram-se as antigas “entradas”, à maneira Ribatejana, tendo
como madrinha a artista Maria Pereira, esta percorreu as ruas da
típica vila, no tradicional caleche, envergando um traje regional
especialmente executado para o efeito. Foi acompanhada por jovens
montijenses vestidos também com adequados trajes. As “entradas”
espectáculo de arrojo e valentia que os montijenses bem apreciaram
e de que estavam privados há muito, foram este ano um dos
números mais apreciados das festas. O reviver das tradicionais
esperas de gado, fica pois como número marcante das festas deste
ano e brilhantemente ligado ao nome de Maria Pereira símbolo da
verdadeira fadista que vibra, se alegra ou sofre com o mais belo
espectáculo da nossa terra A CORRIDA DE TOUROS (…)” .19
19 Festa, 4 de Julho de 1958, p. 5.
A 26 de Junho de 1960 outro grande acontecimento ocorreu nesta
Praça, o reaparecimento em Portugal do matador Manuel dos
Santos, após uma brilhante temporada em México.
Todos estes acontecimentos continuaram ligados à Comissão Pró-
Praça de Touros, assim, a Santa Casa da Misericórdia de Montijo,
sua proprietária, homenageou, em 1961 esta Comissão e alguns
elementos que fizeram parte desta, José Salgado d'Oliveira - 1969 e
Amadeu Augusto dos Santos em 1973.
Contudo, a grande homenagem a esta Comissão e, principalmente,
ao homem que mais lutou para que esta praça fosse uma realidade
Amadeu Augusto dos Santos culminou nas comemorações dos 25
anos que, tal como se pode comprovar na Acta da Santa Casa da
Misericórdia de Montijo, o seu nome foi atribuído à Praça de
Touros. “(…) foram enviadas cartas-convite às entidades
convidadas pela Mesa, para assistirem à sessão solene, que terá
lugar no salão do Café Portugal, no dia três de Setembro pelas
dezanove horas, comemorativa do vigésimo quinto aniversário da
Praça de Touros. No intervalo da corrida que se realiza a seguir,
será descerrada uma lápide, onde se faz justiça à Comissão Pró-
Praça de Touros, ao povo de Montijo e dar-se à Praça o nome
“Amadeu Augusto dos Santos” . Por esta altura era provedor da
Santa Casa Jorge Luís Vargas Bentes Franco.
A partir desta data a Praça de Touros de Montijo, passou a
denominar-se Praça Amadeu Augusto dos Santos. Durante as
comemorações dos 30 anos, em 1987, houve também uma
homenagem a António Rodrigues Tavares, outro membro da
referida Comissão.
Estas homenagens ficaram registadas em placas que estão
colocadas nas paredes de entrada da Praça de Touros, para além
destas, encontram-se também outras, onde se evidenciam a de
homenagem a José Samuel Pereira Lupi (1971) e a de homenagem
ao Grupo de Forcados Amadores de Montijo (1971). A entrada desta
praça também conta com várias pinturas de cartazes de corridas,
20
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20 .Santa Casa da Misericórdia de Montijo, Acta da Sessão Ordinária nº 81, 30 de Agosto de 1982
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sendo duas destas pintadas por Amadeu Augusto dos Santos (uma
de cada lado do portão principal) em 1957, restauradas em 2000.
Este imóvel foi palco de actuação de grandes figuras de toureio
nacional e internacional promovendo a festa brava e projectando
personagens locais nível nacional e internacional.
OS HOMENS DA LIDE: PRAÇA DE TOUROS DE MONTIJO
Montijo sempre foi uma terra de aficionados, de homens ligados à
tauromaquia, alguns atingiram o seu sucesso na Praça de Touros
de sua terra. Em Montijo há um matador de touros, novilheiros,
bandarilheiros, cavaleiros e dois grupos de forcados.
CAVALEIROS
José Samuel Lupi, montijense de coração, nasceu em Lisboa em 1931.
Apresentou-se como cavaleiro amador na Praça de Touros do
Campo Pequeno em 1955 e tomou a Alternativa em 11 de Junho de
1963, tendo como padrinho Mestre João Branco Núncio e
testemunha Manuel Conde. Detentor de uma grande arte, José Lupi
actuou em várias praças do País e de Espanha com várias apoteoses,
foi colhido duas vezes, mas continuou sempre a tourear, sendo uma
referência nesta arte e um papel muito importante na divulgação do
papel do toureio a cavalo. Quando se retirou continuou a sua
actividade como ganadeiro.
Luís Rouxinol, toureia pela primeira vez em público no Campo
Pequeno, aos nove anos numa garraiada do liceu Gil Vicente.
Seguiram-se vários triunfos de amador, até 1986, ano em que presta
prova como praticante, tomou a Alternativa a 10 de Junho de 1987
em Santarém, durante a corrida da Rádio Renascença. Desde essa
data que se notabilizou como cavaleiro, sendo actualmente uma das
maiores figuras do toureio a cavalo em Portugal.
José Samuel Lupi
Luís Rouxinol
Vítor Gonçalves, tomou a Alternativa a 15 de Agosto de 1990, na Praça
de Touros da Figueira da Foz, foi apadrinhado por Luís Miguel da
Veiga.
Carlos Miguel Caleira, estreia-se durante um espectáculo de Variedades
Taurinas, como cavaleiro amador, na Praça de Touros de Montijo,
no dia 2 de Outubro de 1983 e tira a sua prova de cavaleiro
praticante, no dia 31 de Março de 1991, na Praça de Touros de
Alcácer do Sal. Tomou a Alternativa no dia 14 de Setembro de 1995,
sendo seu padrinho Joaquim Bastinhas, onde mostrou a sua garra e
o seu valor.
Gilberto Filipe, tomou a Alternativa na Praça de Touros Amadeu
Augusto dos Santos, praça de touros da sua terra natal, a 29 de
Junho de 2004, apadrinhado por Joaquim Bastinhas. Brilhou na
última corrida TV, 28 de Junho de 2007, que decorreu na praça de
touros da sua terra, onde muitos defendem que deveria ter ganho o
prémio para a melhor lide. É considerado um jovem promissor.
Lorival Bronze, tomou a Alternativa a 9 de Junho de 2006, na Praça de
Touros Amadeu Augusto dos Santos, sendo seu padrinho João
Moura.
NOVILHEIROS
Carlos do Carmo, primo de Alexandre do Carmo, toureou pela primeira
vez em Montijo no dia 1 de Novembro de 1959, actuou em Espanha,
País onde fixou residência.
Alexandre do Carmo, filho de um bandarilheiro, iniciou a sua carreira de
novilheiro em 12 de Setembro de 1960, em Moita do Ribatejo,
possuidor de grandes artes tauromáquicas, toureou muito no
México. Após a sua retirada fixou residência em Espanha.
Eduardo Costa, prestou provas de novilheiro praticante em Sousel, em
1974. Em Montijo actuou a 27 de Julho do mesmo ano, contudo a
sua carreira foi muito curto devido a um trágico acidente de viação
em 1978, onde viria a falecer.
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Gilberto Filipe
Lorival Bronze
Carlos Miguel
Carlos do Carmo
Alexandre do Carmo
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BANDARILHEIROS
António Gregório, o mestre, este homem natural de Montijo, aficionado
desde criança, dedicou toda a sua vida à lide dos touros. Tomou a
Alternativa a 5 de Outubro de 1952 no Campo Pequeno, destacou-se
ao lado de José Lupi. Criou uma escola em Montijo, onde ensinou
vários homens tais como: Alexandre do Carmo, Carlos do Carmo,
Luís Alegria, Francisco Plirú, Luís Peixinho, Alberto Reimão e
António José Martins. Esteve ligado à Tertúlia Tauromáquica de
Montijo.
Alberto Reimão, prestou provas de bandarilheiro praticante a 6 de
Novembro de 1969 na Praça de Touros de Montijo, a praça da sua
terra natal. Em 1971 tomou a Alternativa em Évora, acompanhou o
cavaleiro José Maldonado Costa. Em 1991 um acidente, enquanto
toureava, mutilou-o ficando sem uma das vistas.
Francisco Plirú, tomou a Alternativa em Montemor-o-Novo a 7 de Julho
de 1963, actuou com vários cavaleiros tais como: Luís Miguel da
Veiga, Varela Cid, José Núncio, Fernando Salgueiro, José Cortes,
Paulo Caetano, Joaquim Bastinhas. Para além de actuar com
cavaleiros, também lidou e bandarilhou para vários matadores de
touros de Portugal e Espanha. Em Vila Franca de Xira conquistou a
Orelha de Prata de uma das novilhadas organizadas pela revista
Novo Burladero.
António José Martins, tomou a Alternativa na Praça de Touros de
Montijo a 1 de Agosto de 1970, teve grande sucesso em Espanha e
acompanhou vários cavaleiros e matadores.
Manuel Barahona, iniciou a sua actividade aos 12 anos, foi um dos
pupilos de António Gregório, com o sonho de ser novilheiro.
Perante as dificuldades em conseguir singrar nesta actividade,
abandonou-a aos 24 anos e emigrou para França. Contudo, a sua
paixão pela festa brava fê-lo voltar à lide, assim tomou a Alternativa
de bandarilheiro em Junho de 2001 em Albufeira.
Alberto Reimão
Francisco Plirú
António Gregório
António José Martins
Manuel Barahona
Luís Peixinho, vestiu o seu primeiro traje de seda e ouro a 30 de Junho
de 1970, na Praça de Touros de Montijo, contudo, devido às
dificuldades encontradas, optou por se dedicar a bandarilheiro,
obtendo a Alternativa a 10 de Junho de 1978 em Santarém.
Júlio André, iniciou-se em 1975 na escola de toureio da Peña Taurina
Os 10, dirigida por António José Martins, tomou a Alternativa em
15 de Setembro de 1992 na Praça de Touros da Moita, sitio onde
iniciou a primeira fase da escola de toureio, sendo um dos
professores.
Luís Alegria, iniciou-se como novilheiro, tendo tentado a sua sorte
como matador de touros, contudo, devido às dificuldades, decide-se
pela carreira de bandarilheiro em 1960, categoria que abraça até se
retirar na década de 80 do século XX.
Luís Filipe, o mais novo dos bandarilheiros, fez prova de praticante a
18 de Julho de 1992, em Lagos. Destaca-se em especial com as
bandarilhas.
FORCADOS
Os grupos de forcados são exclusivamente lusitanos, apenas
grupos de homens portugueses proporcionam este tipo de
espectáculo, em Portugal não existe corrida de touros sem uma
pega.
Desde os primórdios da humanidade que o homem sente atracção
em dominar um animal como o touro considerado uma força da
natureza. Este género de confronto, reporta-nos ao mito de Teseu
contra o Minotauro, onde o herói se confronta com algo superior a
si, mas que consegue vencer. Tal como na Roma Antiga, estão em
confronto duas forças desiguais Homem / Touro, a heroicidade dos
homens sem artifícios e armas transforma este no momento, num
teste à valentia humana, transformando a praça num local de
grandes emoções.
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O forcado não possui carteira profissional, pelo que é amador.
Desde a abolição das corridas de morte que os grupos de forcados
protagonizam o clímax do espectáculo tauromáquico.
O tipo de espectáculo destacou-se no século XIX. Contudo, a sua
origem remonta ao século XVII, onde no Terreiro do Paço os
monteiros da choca, surgiram numa corrida a 10 de Outubro de
1661, aquando da celebração do casamento de Dª. Catarina de
Bragança com o rei de Inglaterra. Teriam como função vedarem a
passagem para a tribuna real, defendendo-se com forcados. Assim,
as pegas podem ter surgido como divertimento real, o rei D. Afonso
VI e o seu irmão D. Pedro II pegavam touros. Apesar da existência
de teorias, que defendem a sua origem como popular, onde no
campo, o homem, desenvolveu a sua técnica devido ao contacto com
o gado bravo.
Independentemente da sua origem, é a partir do reinado de D.
Afonso VI, principalmente devido ao facto dos touros serem
corridos embolados que, as pegas se implementam.
Actualmente, todas as terras que se consideram aficionadas, têm
um ou mais grupo de forcados, Montijo, possui dois grupos de
forcados.
TERTÚLIA TAUROMÁQUICA DE MONTIJO
A Tertúlia Tauromáquica de Montijo foi constituída em Outubro de
1948, tendo diversas pessoas ligadas à sua fundação, tais como:
João Euclides Rosa Carneiro, Carlos Júlio Oliveira, Euclides
Marques e António Tavares. Tinha como objectivos desenvolver o
espírito de solidariedade e promover acções de carácter cultural,
social e filantrópico no âmbito da tauromaquia. Esta instituição foi
a primeira do género do Distrito de Setúbal.
O seu grupo de forcados formou-se por iniciativa do Dr. Paulino
Gomes, Cambola, Carlos Ramos e José Parrinha, sendo o seu
primeiro cabo Renato Dias. Este grupo obteve diversos prémios tais
como: o Troféu para a melhor pega, em 5 de Agosto de 1977, para
TERTÚLIA TAUROMÁQUICA DE MONTIJO
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o forcado Domingos Ribeiro; Troféu da Feira Taurina de S.
Sebastião e Prémio da Comissão Pró-Praça de Touros de Montijo.
Contudo extinguiu-se na década de 80 do século XX.
Apenas na década seguinte em 1996, principalmente devido à
fundação da Escola de Formação de Moços de Forcado, a Tertúlia
voltou a contar com o seu Grupo de Forcados que ainda continua a
actuar, tendo tido no passado dia 14 de Julho 2007 na Corrida das
Flores a despedida do seu cabo Luís Branquinho.
Este grupo, sob o comando de Luís Branquinho, alcançou vários
prémios, tais como: o da melhor pega na 1ª Corrida da temporada de
2003 em Montijo.
FORCADOS AMADORES DE MONTIJO
Em 1964 foi fundado o Grupo de Forcados Amadores de Montijo,
que resultou de uma cisão da Tertúlia Tauromáquica de Montijo,
tendo sido seus fundadores: Albino da Veiga Bruno, Dr. Amílcar
Branco, António Rodrigues Tavares Júnior, Diogo da Silva
Mendonça, Fernando Beatriz, Francisco Arroja Beatriz, João Carlos
Relógio Piteira, Joaquim José Lucas, Joaquim Manuel Bento
Oliveira, Joaquim Pereira da Silva, José Jara Lino, Engº. José
Samuel Pereira Lúpi, Engº. Manuel Arroja Beatriz, Manuel Pires
Rosa, António Manuel da Silva Ramalho e Manuel Giraldes da Silva.
A sua sede, a Casa de Forcado, foi inaugurada a 27 de Julho de 1970,
esta traduz-se por ser uma verdadeira homenagem ao forcado, onde
as suas paredes forradas de fotografias e cartazes são testemunho
disso. Os seus momentos de glória são recordados, tal como os
momentos de maior pesar, onde se faz referência a António Gouveia
colhido de morte numa corrida de touros em Angra do Heroísmo.
Este grupo é reconhecido a nível nacional e internacional, tendo
actuado em várias praças de touros. Distinguido com vários
prémios, entre eles o Prémio de Imprensa Melhor Grupo de
Forcados de Portugal de 1970, sendo na altura, seu cabo António
Sécio, o segundo na história dos Amadores de Montijo. O primeiro
cabo deste grupo, seu fundador, José Jacinto Carvalheira, teve o
apoio de Júlio Nepomuceno, Carlos Gato e Albino Bruno na
coordenação da parte técnica no momento da constituição. 42
FORCADOS AMADORES DE MONTIJO
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Uma das figuras emblemáticas deste grupo é José Luís Horta,
popularmente conhecido como “Maxinó” que se destacou pela sua
audácia e longevidade tendo ainda pegado com cerca de 50 anos.
Actualmente, o Grupo de Forcados Amadores de Montijo continua a
actuar e a merecer a atenção dos aficionados perante a sua valentia,
tendo como cabo Ricardo Figueiredo, o grupo está presente em
várias corridas nacionais e internacionais, como por exemplo em
Califórnia. Na última corrida TV, 28 de Julho de 2007, que decorreu
na Praça de Touros Amadeu Augusto dos Santos, o grupo alcançou
o prémio para a melhor pega.
TROFÉUS: CASA DO FORCADO DOS AMADORES DE MONTIJO
Os Troféus da Casa do Forcado dos Amadores de Montijo, surgiram
durante a organização das comemorações dos 30 anos do grupo,
tendo a temporada de 1994 marcado o início da sua atribuição.
Estes têm como objectivo, “ (…) distinguir os triunfadores de cada
temporada, depois de avaliadas as suas actuações, na praça de
toiros Amadeu Augusto dos Santos.” Atribui-se os troféus para a
melhor lide a cavalo, melhor lide a pé, melhor pega, melhor touro,
melhor bandarilheiro e Prestígio Tauromáquico.
Através da classificação de um júri isento, sem ligação à Casa do
Forcado, os troféus incentivam a competição saudável e melhoram
as prestações artísticas dos intervenientes do espectáculo que,
todos os anos, decorrem na Praça de Touros de Montijo.
Todos os prémios atrás mencionados são atribuídos anualmente,
através de votação de um júri escolhido para a ocasião. Contudo,
existe o Troféu Prestígio Tauromáquico, que é da exclusiva
responsabilidade dos elementos da Casa do Forcado, este pretende
distinguir uma entidade ou uma personalidade que se tenha
distinguido na Festa Brava.
21
21 José Manuel Cáceres, Troféu: Casa do Forcado dos Amadores de Montijo 1994-1999:
Casa do Forcado dos Amadores de Montijo, 2000, P. 3.
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O último Troféu Prestígio, foi atribuído à Santa Casa da
Misericórdia de Montijo em 2006, por ser a proprietária da Praça
Amadeu Augusto dos Santos, cujo cinquentenário se comemora no
presente ano. O que torna a temporada de 2007 muito importante,
havendo uma grande expectativa na atribuição dos troféus
deste ano.
OUTRAS FIGURAS DE DESTAQUE:
Para além dos grupos de forcados actuais, existiu um outro que se
chamava Grupo Profissional de Montijo, tendo por cabo António
Maria Serralha (Conicha) e duas trupes cómicas: O Cantiflas
Toureiro e os seus Medrosos, este grupo foi fundado e liderado por
Manuel Flores, conhecido por “Manolo” dado a sua origem
espanhola Puerto de Santa Maria. Manolo veio pequeno para
Montijo e foi chefe dos curros da Praça de Touros de Montijo, o seu
amor pela festa brava levou o a constituir este grupo; Charlots do
Montijo este grupo era liderado por Joaquim Caramelo, pai da
primeira mulher forcado de Montijo Maria Beatriz Fernandes, que
desde os 12 anos começou a participar em garraiadas. A sua
participação, juntamente com as suas companheiras, era uma das
maiores atracções desta trupe.
Em Montijo existiram duas escolas de toureio, uma liderada por
António Gregório e outra por António Reimão, a primeira das quais
formou muitos bandarilheiros montijenses.
Todos estes homens e mulheres honram, ou honraram, a sua terra,
a eles também se deve o sucesso desta Praça e das suas gentes, por
isso esta é a nossa homenagem a todos eles.