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CENTRO UNIVERSITÁRIO RITTER DOS REIS
ÉRICA ARRUÉ DIAS
A REINSERÇÃO DA LÃ GAÚCHA NO MERCADO DA MODA: ANÁLISE DO CICLO DE VIDA DE UM PRODUTO SUSTENTÁVEL
Porto Alegre
2017
ÉRICA ARRUÉ DIAS
A REINSERÇÃO DA LÃ GAÚCHA NO MERCADO DA MODA: ANÁLISE DO CICLO DE VIDA DE UM PRODUTO SUSTENTÁVEL
Dissertação apresentada ao programa de Pós Graduação em Design do Centro Universitário Ritter dos Reis, como requisito parcial para obtenção do título de Mestre em Design.
Orientadora: Profª. Dra. Anne Anicet
Porto Alegre
2017
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)
D543r Dias, Érica Arrué
A reinserção da lã gaúcha no mercado da moda: análise do ciclo de vida de um produto sustentável / Érica Arrué Dias – 2017.
151 f; 30 cm.
Dissertação (Mestrado em Design) – Centro Universitário
Ritter dos Reis, Faculdade de Design, Porto Alegre, 2017.
Orientador: Dra. Anne Anicet
1. Lã. 2. Sustentabilidade. I. Anicet, Anne. II. Título. CDU 687
Ficha catalográfica elaborada no Setor de Processamento Técnico da Biblioteca Dr. Romeu Ritter dos Reis
ÉRICA ARRUÉ DIAS
A REINSERÇÃO DA LÃ GAÚCHA NO MERCADO DA MODA: ANÁLISE DO CICLO DE VIDA DE UM PRODUTO SUSTENTÁVEL
Dissertação defendida e aprovada como requisito parcial para a obtenção do título
de Mestre em Design pela banca examinadora constituída por:
_______________________________________
Professora Drª. Anne Anicet
Orientadora – Centro Universitário Ritter dos Reis
_______________________________________
Professora Dr. Carla Pantoja
Banca Examinadora– Centro Universitário Ritter dos Reis
_______________________________________
Professora Dr. Júlio Van der Linden
Banca Examinadora – Universidade Federal do Rio Grande do Sul
Porto Alegre
2017
AGRADECIMENTOS
Agradeço primeiramente a CAPES – por possibilitar a realização dessa
pesquisa.
Agradeço a todos os professores do curso de pós-graduação em Design, do
Centro Universitário Ritter dos Reis, por todo o conhecimento compartilhado e todo
aprendizado adquirido ao longo desses dois anos de curso, em especial às
Professoras Fabiane e Carla.
A minha orientadora, Professora Anne Anicet, pela parceria nesse projeto,
por acreditar em mim e por fazer parte da minha vida acadêmica e profissional.
Aos professores Júlio Van der Linden e Carla Pantoja por dedicarem seu
tempo no acompanhamento dessa pesquisa, enriquecendo-a com suas
considerações.
As minhas colegas, e hoje amigas, Ivna, Lilian, Juliana e Vanessa por
tornarem essa jornada mais leve, dividindo as angústias e multiplicando as risadas.
Ao Lucas, pelo apoio, incentivo e compreensão ao longo desses dois anos.
Obrigada pelo cuidado, pelo carinho, pelas planilhas, correções e traduções. Fizeste
dos meus trabalhos, teus trabalhos.
E por fim, e mais importante, agradeço aos meus pais e minha irmã por
sempre incentivarem meu crescimento pessoal e profissional, por serem exemplos
de que não existem fronteiras e limites quando se almeja crescer. Agradeço também
por todo carinho e cuidado durante os períodos em que o stress e a ansiedade se
tornaram sintomas físicos. Amo vocês.
Mais uma vez muito obrigada, todos desempenharam papel importante na
realização e finalização dessa pesquisa.
RESUMO
A presente dissertação tem como foco principal analisar o ciclo de vida de um
produto de moda que utiliza a lã como sua única matéria-prima, realizando um
Estudo de Caso de toda a cadeia envolvida no desenvolvimento de produtos de uma
marca gaúcha de moda sustentável. Logo o objetivo é estudar todos os caminhos
que a peça percorre, desde a extração da matéria-prima e seus processos de
beneficiamento, até sua comercialização e reciclagem, para assim articular a teoria à
prática do desenvolvimento de produtos sustentáveis e seus respectivos ciclos de
vida. Para tanto, será estudada a cadeia produtiva da lã e seu histórico de produção
no Estado Rio Grande do Sul, bem como as teorias sobre sustentabilidade ampla e
ciclo de vida de produtos sustentáveis. A metodologia utilizada nessa pesquisa
consistiu de natureza qualitativa, partindo da revisão bibliográfica, entrevistas semi
estruturadas e observações em campo. Como resultado identifica-se oportunidades
do sistema produtivo da marca estudada que podem ser alteradas a fim de ampliar
aos aspectos da sustentabilidade.
Palavras-chave: Sustentabilidade, Design, Moda, Lã.
ABSTRACT
This work seeks to establish if the wool produced in the state of Rio Grande do Sul is
able to be reinserted into the fashion market under sustainable approach, both in
terms of raw material, and in terms of process. For this, more than know about the
qualities of fiber, the research aims to investigate all steps involving the production of
matter, from the sheep shearing to the wire itself, through field observations and
semi-structured interviews with producers and suplliers of wool in Rio Grande do Sul.
Before going to the field searching for practice answers, the work presents theoretic
references about the fiber caracteristics, its production history, steps and concepts of
design, sustainable fashion and slow fashion. As a result, it identifies opportunities of
the productive system of the brand studied that can be altered in order to extend to
the aspects of sustainability.
Keywords: Sustainability, Design, Fashion, Wool.
LISTA DE FIGURAS
Figura 1 - Metodologia ............................................................................................... 20!
Figura 2 – Fases do Ciclo de Vida ............................................................................. 42!
Figura 3 - Princípios norteadores de design para o ciclo de vida .............................. 45!
Figura 4 - Comparação entre ciclo de vida de anel fechado e anel aberto ............... 47!
Figura 5 - Síntese comparativa de moda lenta e rápida ............................................ 51!
Figura 6 - Estrutura da fibra ....................................................................................... 65!
Figura 7 - Raça Merino .............................................................................................. 69!
Figura 8 - Raça Ideal ................................................................................................. 70!
Figura 9 - Raça Corriedale ........................................................................................ 71!
Figura 10 - Processo de esquila ................................................................................ 73!
Figura 11 - Método manual ........................................................................................ 74!
Figura 12 - Método a máquina ................................................................................... 75!
Figura 13 - Método tally hi ......................................................................................... 76!
Figura 14 - Carda manual .......................................................................................... 77!
Figura 15 - Carda elétrica .......................................................................................... 78!
Figura 16 - Carda Industrial ....................................................................................... 79!
Figura 17 - Fiação artesanal ...................................................................................... 79!
Figura 18 - Fiação industrial ...................................................................................... 80!
Figura 19 - Processo de micronagem ........................................................................ 95!
Figura 20 - Scanner OFDA ........................................................................................ 96!
Figura 21 - Scanner fazendo leitura .......................................................................... 97!
Figura 22 - Esquila ................................................................................................... 102!
Figura 23 - Processo de fiação ................................................................................ 104!
Figura 24 - Processo de secagem ........................................................................... 106!
Figura 25 - Artesã .................................................................................................... 108!
Figura 26 - Artesã trabalhando ................................................................................ 108!
Figura 27 - Sistematização do ciclo de vida dos produtos da marca AMG ............. 112!
Figura 28 - Pré produção ......................................................................................... 114!
Figura 29 - Emissão de Co2 no transporte na etapa de pré produção .................... 117!
Figura 30 - Produção ............................................................................................... 118!
Figura 31 - Tag da empresa AMG ........................................................................... 119!
Figura 32 - Emissão de Co2 no transporte na etapa de produção .......................... 120!
Figura 33 - Descarte ................................................................................................ 122!
Figura 34 - Respostas questionário de impacto ...................................................... 124!
Figura 35 - Ciclo de vida e oportunidades para ampliação da sustentabilidade ..... 125!
Figura 36 - Ciclo de anel fechado e síntese de oportunidades em cada etapa ...... 126!
LISTA DE QUADROS
Quadro 1- Classificação da Lã .................................................................................. 71!
Quadro 2 – Características medidas pelo scanner OFDA 2000. ............................... 97!
SUMÁRIO!
1.! INTRODUÇÃO .................................................................................................... 13!
1.1! PROBLEMA DE PESQUISA ......................................................................... 15!
1.2! OBJETIVOS DE PESQUISA ......................................................................... 15!
1.2.1! Objetivo Geral ........................................................................................... 15!
1.2.2! Objetivos Específicos .............................................................................. 16!
1.3! JUSTIFICATIVA ............................................................................................. 16!
2.! METODOLOGIA ................................................................................................. 19!
2.1! PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS ...................................................... 20!
2.1.1.! Pesquisa Bibliográfica ............................................................................ 21!
2.1.2! Pesquisa Documental .............................................................................. 21!
2.1.2.! Estudo de Caso ........................................................................................ 22!
2.2! MÉTODO DE COLETA DE DADOS .............................................................. 23!
2.3! ANÁLISE E INTERPRETAÇÃO DOS DADOS .............................................. 27!
3! DESIGN E SUSTENTABILIDADE ....................................................................... 29!
3.1! AS TRANSFORMAÇÕES DO PAPEL DO DESIGN PERANTE A SUSTENTABILIDADE AMPLA ............................................................................... 31!
3.2! ECO DESIGN E CICLO DE VIDA ................................................................. 39!
4! CICLO DE MODA E SUSTENTABILIDADE ....................................................... 49!
4.1! CONSUMO DE MODA .................................................................................. 54!
4.2! CONCEITO DE INOVAÇÃO EM MODA ........................................................ 58!
5! SOBRE A LÃ ....................................................................................................... 63!
5.1! CARACTERÍSTICAS TÉCNICAS DA LÃ ...................................................... 65!
5.2! A PRODUÇÃO DE LÃ NO ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL ................ 67!
5.2.1! Histórico .................................................................................................... 67!
5.2.2! Raças Produzidas no Estado .................................................................. 69!
5.3! CADEIA DE PRODUÇÃO .............................................................................. 72!
5.3.1! Esquila ....................................................................................................... 72!
5.3.1.1! Método Manual Ou A Martelo .................................................................. 73!
5.3.1.2! Método mecânico ou a máquina ............................................................. 74!
5.3.1.3! Método Tally Hi Ou Australiano ............................................................... 75!
5.3.2! Lavagem .................................................................................................... 76!
5.3.3! Cardagem .................................................................................................. 77!
5.3.4! Fiação ........................................................................................................ 79!
6! ESTUDO DE CASO ............................................................................................. 81!
6.1! SOBRE A EMPRESA .................................................................................... 81!
6.2! APRESENTAÇÃO DAS ENTREVISTAS ....................................................... 83!
6.2.1! Entrevista com a designer da AMG ........................................................ 83!
6.2.2! Entrevista com fornecedor de lã ............................................................. 89!
6.2.3! Entrevista com artesãs ............................................................................ 91!
6.3! RELATO DAS OBSERVAÇÕES ................................................................... 93!
6.3.1! Manejo animal ........................................................................................... 94!
6.3.2! Esquila ..................................................................................................... 101!
6.3.3! Lavagem e Cardagem ............................................................................. 103!
6.3.4! Fiação ...................................................................................................... 104!
6.3.5! Processo Criativo ................................................................................... 105!
6.3.6! Tingimento e Pré-Encolhimento ........................................................... 106!
6.3.7! Confecção ............................................................................................... 107!
6.3.8! Comercialização ..................................................................................... 109!
6.3.9! Retorno das peças .................................................................................. 109!
7! ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS DADOS ........................................................... 111!
7.1! ANÁLISE DE CONTEÚDO .......................................................................... 111!
7.1.1! Pré-Produção .......................................................................................... 114!
7.1.2! Produção ................................................................................................. 117!
7.1.3! Descarte ................................................................................................... 121!
7.2! ANÁLISE ATRAVÉS DO QIA ...................................................................... 122!
8! CONSIDERAÇÕES FINAIS ............................................................................... 128!
8.1! RESULTADOS ALCANÇADOS ................................................................... 128!
8.2! DIFICULDADES E LIMITAÇÕES DA PESQUISA ....................................... 130!
8.3! CONTRIBUIÇÕES DA PESQUISA ............................................................. 131!
REFERÊNCIAS ....................................................................................................... 133!
APÊNDICE 1 – ROTEIRO DE ENTREVISTA FORNECEDOR .............................. 138!
APÊNDICE 2 - ROTEIRO DE ENTREVISTA DESIGNER ...................................... 139!
APÊNDICE 3 - ROTEIRO DE ENTREVISTA ARTESÃ .......................................... 140!
APÊNDICE 4 – LEI DO RESÍDUO SÓLIDO ........................................................... 141!
ANEXO 1 – Termo de Consentimento Livre e Esclarecido ................................ 144!
ANEXO 2 – Termo de Autorização de Participação de Pesquisa ...................... 145!
ANEXO 4 – RELATÓRIO OFDA ............................................................................. 150!
13 1. INTRODUÇÃO
O conceito de desenvolvimento sustentável data de 1960 e remete a crise
ambiental do mundo e suas graves consequências para a humanidade. As
discussões da época se referiam, principalmente, à insustentabilidade do modelo de
produção de artefatos dominante até então, de desenvolvimento baseado no
consumo imediato e crescimento econômico acelerado (PAPANEK, 1971).
Conforme Papanek (1971) com a crescente crise ambiental e,
consequentemente, com o reconhecimento da finitude dos recuses naturais do
planeta, foram desenvolvidas práticas que, aos poucos, rompem com os processos
produtivos conhecidos e se abrem para que novas políticas sejam adotadas no
processo de desenvolvimento, produção e consumo de produtos.
A aplicabilidade de sustentabilidade na área da moda é uma problemática que
tem recebido bastante atenção de pesquisadores e comitês científicos, pois segundo
Fletcher e Grose (2011), a indústria do vestuário é uma das que mais gera resíduos
químicos oriundos de seus processos de fabricação, além de receber graves
denúncias de exploração de trabalho infantil e mão de obra escrava.
Apesar do sistema dominante da moda ser marcado pela obsolescência
programada de seus produtos, com ciclos de vida cada vez mais curtos,
movimentando o mercado conforme as necessidades e desejos de uma sociedade
imediatista, um novo paradigma começa a emergir no mundo moda e este,
denominado slow fashion, traz consigo a preocupação com as questões ambientais,
com o bem-estar social das comunidades envolvidas, procura produzir peças com
qualidade, durabilidade e sem seguir tendências de temporada finita (BERLIM,
2012).
Conforme Vezzoli (2010), marcas e designers que procurem atender as
inquietações da sustentabilidade, devem projetar visando a integridade do ambiente
em que vivem, através da procura por matérias-primas naturais e renováveis, por
exemplo.
14
Devem também visar a inserção da comunidade contextualizada com seu
produto em seu processo de produção, como trabalhar com artesãos e artistas
locais para que assim territorialidade e cultura estejam presentes em seus produtos.
A lã, fibra natural, renovável e biodegradável, exerceu bastante importância
para a economia do estado do Rio Grande do Sul nos anos 1970 e 1980, porém a
industrialização dos processos do vestuário e a entrada dos tecidos sintéticos no
mercado nacional, na década de 1980, foram responsáveis por uma queda abrupta
da comercialização de fibras naturais, como lã, linho e seda. (BERLIM, 2012).
Nesse contexto os produtores de lã do Rio Grande do Sul sentiram
fortemente a queda dos preços da lã, sua desvalorização frente ao mercado
internacional e sua falta de competitividade junto aos fios sintéticos (NOOCHI,
2000).
Hoje, com o aumento dos processos produtivos que seguem os conceitos do
slow fashion os consumidores estão se voltando para marcas que valorizem o
trabalho local e carreguem história em seus produtos.
Com isso a lã está sendo, pouco a pouco, reinserida no mercado da moda por
suas características como matéria-prima natural. Porém, essa fibra passa por
diversas etapas de produção antes de chegar às mãos dos designers e estas são
muito pouco conhecidas.
Gwilt (2014) defende que é papel crucial do designer responsável conhecer
todo o processo produtivo de suas criações, desde a origem da matéria-prima até a
embalagem usada na entrega para o consumidor.
Assim, visando obter conhecimento de todas as etapas envolvidas no
beneficiamento da lã e todos os caminhos que a matéria-prima percorre até o
produto ser comercializado e futuramente reciclado, esta dissertação se propõe a
estudar o ciclo de vida de um produto de lã de uma marca gaúcha de moda
sustentável. Para isso seguiremos o problema de pesquisa e os objetivos descritos a
baixo.
15
No capítulo dois, será descrita a metodologia que guiará esse trabalho,
seguida pela pesquisa bibliográfica, descrita nos capítulos três, quatro e cinco, que
embasará o referencial teórico desta pesquisa. No sexto capítulo será abordado o
estudo de caso, seguida pela discussão dos dados (capítulo sete) e considerações
finais (capítulo oito).
1.1 PROBLEMA DE PESQUISA
Algumas pesquisas sugerem que a lã, em seu estado puro, é uma matéria-
prima sustentável por seu caráter de durabilidade e reciclagem. Devido a isso,
algumas marcas de moda baseiam seus produtos e seu conceito sob essa ótica.
Entretanto a produção laneira no Brasil não recebe nenhum selo de certificação
sustentável, assim como não há um órgão que regulamente ou padronize as etapas
de produção.
Nesse contexto, a pesquisa aqui apresentada pretende contribuir para um
melhor entendimento da lã produzida no Rio Grande do Sul, seu caráter para o
design sustentável, e como se comporta o ciclo de vida de um produto que utiliza
essa matéria-prima a partir do questionamento: A lã produzida no Rio Grande do
Sul pode ser utilizada como matéria-prima para o design de moda sustentável?
A partir dessa proposta, a seguir serão apresentados os objetivos que esta
pesquisa pretende alcançar.
1.2 OBJETIVOS DE PESQUISA
Os objetivos que direcionam esse estudo foram definidos com a intenção de
facilitar o alcance dos propósitos traçados ao decorrer desta pesquisa.
1.2.1 Objetivo Geral
16
Analisar o ciclo de vida de um produto de moda que utiliza lã como sua única
matéria-prima.
1.2.2 Objetivos Específicos
Ao longo da presente pesquisa pretende-se alcançar os seguintes objetivos
específicos:
a) Pesquisar abordagens teórico-conceituais sobre Ciclos de Vida de
Produtos, bem como técnicas pertinentes para sua avaliação;
b) Realizar um Estudo de Caso de uma empresa de moda sustentável; bem
como contribuir com possíveis melhorias;
c) Estudar a cadeia produtiva da lã produzida pela marca estudada;
d) Compreender os caminhos que o produto percorre, desde a extração da
matéria-prima até seu descarte e/ou reciclagem, sistematizando seu ciclo de vida;
e) Investigar como as dimensões da sustentabilidade (ambiental, social e
econômica) estão inseridas no ciclo de vida desse produto e são abordadas pela
empresa.
1.3 JUSTIFICATIVA
Conforme Bonsiepe (2011), nas décadas de 1960 e 1970 o design estava
voltado para o mercado, o consumismo e a obsolescência programada, de acordo
com o movimento estético modernista que regia a produção da época.
Segundo Burdek (2006), o movimento modernista se estabeleceu com o
objetivo de atingir uma maior parte da população, através do alcance de produtos
mais acessíveis e que iam de encontro às condições sociais da época.
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Para tanto, a racionalidade e a padronização através da produção em série
eram requisitos fundamentais para o designer modernista, visto que este projetava
visando uma democratização dos objetos.
Entretanto, e não por coincidência, neste mesmo período desastres
ambientais ao redor do mundo evidenciavam uma grave crise de desequilíbrio
ecológico, que apenas se agrava com o passar do tempo, forçando a comunidade
científica e alguns governantes cientes a considerarem esse tema um problema de
ordem mundial.
Com o reconhecimento da finitude dos recursos naturais e a certeza das
necessidades das gerações futuras, o design passou a desenvolver práticas que
respeitem o meio ambiente e ainda assim atendam às necessidades do indivíduo e
da comunidade, voltando-se assim para o conceito de desenvolvimento sustentável.
(BERLIM, 2012)
Esse talvez seja o grande desafio para o setor da moda, visto que a produção
de peças do vestuário é uma das áreas que mais agride o meio ambiente devido a
grande utilização de produtos químicos, de água e processamento de materiais.
Além disso, o sistema imperativo de moda rápida, fast-fashion, trabalha para
atender uma sociedade de desejos ilimitados e imediatos, onde a durabilidade dos
produtos é propositalmente curta e não se dá tempo para que se estabeleça uma
relação entre o consumidor e suas roupas além da superficialidade. (BERLIM, 2012)
Contudo, indo ao encontro de uma parcela da sociedade que se mostra
exigente e participativo na busca por soluções sustentáveis, surge um sistema
questionador e de inovação disruptiva denominado slow fashion.
O movimento slow é capaz de enxergar beleza e grandiosidade na moda que
valoriza seu processo produtivo e ainda gera a importante integração desse sistema
com a comunidade (FLETCHER E GROOSE, 2011).
Conforme Flecther e Groose (2011), essa nova forma de pensar a moda
procura envolver todos os atores participantes do ciclo produtivo de uma única peça,
resgatar técnicas tradicionais de confecção, valorizar do uso de matérias-primas
naturais e renováveis, e reduzir o uso e descarte de produtos químicos em seu
processo de beneficiamento.
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Dessa forma, a pesquisa justifica-se primeiramente, pois o designer tem papel
importante na ressignificação do consumo de moda, visando a projetação de
produtos que sejam relevantes para a comunidade local, que carreguem qualidade e
durabilidade como fatores intrínsecos, assim como o respeito pelos recursos
ambientais.
Nesse contexto, convergindo para a segunda justificativa desta pesquisa,
surge no mercado nacional uma marca de moda sustentável que propõe resgatar o
uso da lã natural, produzida no Rio Grande do Sul, como principal matéria-prima no
desenvolvimento de seus produtos.
De acordo com Pezzolo (2009), a lã é a mais antiga fibra usada na história,
onde há indícios de que na Idade da Pedra os homens usavam a pele de carneiro
para proteção e agasalho. Na Turquia, foram encontrados vestígios de lã, tecida,
sete mil anos antes da nossa existência, assim como no Oriente Médio onde se
encontrou fragmentos de lã do Período Neolítico (10.000 A.C a 4.000 a.C).
Para a indústria da moda a fibra aqui estudada sempre foi de muito valor,
visto que apresenta diversas qualidades importantes, como o seu caimento natural,
sua capacidade hidroscópica e sua alta durabilidade. (PEZZOLO, 2009)
A história do Estado do Rio Grande do Sul está intimamente relacionada as
atividades rurais de agricultura e agropecuária, assim como a ovinocultura laneira,
uma das mais antigas atividades praticadas no Estado. (NOOCHI, 2000)
O rebanho ovino do Rio Grande do Sul, na década de 1960, somava cerca de
12 milhões de animais e produzia em torno de 30 mil toneladas de lã por ano.
Entretanto, na medida em que os materiais sintéticos foram suprindo as
necessidades do mercado têxtil internacional e passaram a oferecer matéria-prima
de custo baixo e de fácil adaptação às suas exigências, o Estado observou, pouco a
pouco, o declínio e a irreversível crise que o setor lanifício viria a enfrentar
(CALVETE E VILLWOCK, 2007).
A relevância deste estudo permeia a tentativa de ser uma ferramenta que
possa avaliar o Ciclo de Vida de um produto de lã e auxiliar a recolocação da
matéria-prima gaúcha no mercado têxtil, mapeando os métodos de produção da
mesma e sua aplicação em uma marca de moda sustentável.
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2. METODOLOGIA
A pesquisa, de natureza qualitativa, se desenvolve através de um Estudo de
Caso de uma empresa de moda sustentável. Partindo da revisão bibliográfica, de
pesquisa documental, de entrevistas semiestruturadas e de observações em campo.
Como desdobramentos os dados coletados serão estruturados com o método ELITO
e analisados através de análises de conteúdo e uso do questionário QIA.
Como resultado pretende-se sistematizar propostas de intervenção no modelo
atual de Ciclo de Vida do Produto a fim de ampliar as questões relacionadas à
sustentabilidade ampla.
Para essa pesquisa, a metodologia qualitativa é a que melhor se aplica aos
objetivos, uma vez que permite ao pesquisador a inserção no “cenário natural”, em
que se encontra o seu objeto de estudo.
A pesquisa qualitativa convida o pesquisador a estudar e a imergir no
ambiente do pesquisado, permitindo-lhe desenvolver detalhadamente sobre o objeto
de estudo, além de envolver-se nas experiências reais do pesquisado. (CRESWEL,
2010)
Para o autor,
A pesquisa qualitativa usa métodos múltiplos que são
interativos e humanísticos. Os métodos estão crescendo e
cada vez mais envolve participação ativa dos participantes e
sensibilidade aos participantes do estudo. Os pesquisadores
qualitativos buscam o envolvimento dos participantes na coleta
de dados e tentam estabelecer harmonia e credibilidade com
as pessoas no estudo. Eles não perturbam o local mais do que
o necessário. Além disso, os métodos reais de coleta de dados,
tradicionalmente baseados em observações abertas,
entrevistas e documentos, agora incluem um vasto leque de
materiais, como sons, e- mails, álbum de recortes, e outras
formas emergentes (CRESWELL, 2010, p.186).
20
Portanto, a pesquisa qualitativa além de permitir uma descrição completa do
cenário e dos participantes do processo de coleta de dados, também possibilita a
análise e a interpretação desses dados, de forma a identificar questões e temas
pertinentes ao estudo.
Para tanto as técnicas qualitativas utilizadas para a realização desse trabalho
serão descritas a seguir.
Figura 1 - Metodologia
Fonte: Elaborado pela autora, 2017.
2.1 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS
A seguir serão descritos os procedimentos utilizados na pesquisa para
determinar as características de coleta de dados e da análise para a pesquisa
científica em questão.
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2.1.1. Pesquisa Bibliográfica
Uma pesquisa bibliográfica é feita com o propósito de "melhorar o
entendimento dos dados e aprofundar as interpretações" (SAMPIERI; COLLADO;
LUCIO; 2013).
Neste estudo a revisão da literatura é fundamental para construir os conceitos
teóricos e assim direcionar a abordagem científica. Portanto o referencial teórico foi
a primeira etapa dos procedimentos metodológicos e foram analisados os temas de
interesse da pesquisa.
Embora o tema "design sustentável" esteja bastante presente em teorias
analisadas, pode-se identificar dificuldade em encontrar estudos científicos sobre a
lã brasileira e seus métodos de produção.
Além de artigos e livros nacionais sobre as áreas estudadas, também foram
identificadas pesquisas internacionais sobre o assunto, principalmente oriundos da
Austrália um país com avançada pesquisa sobre ovinocultura laneira.
Assim, os conceitos que esta pesquisa apresenta estão sob fundamentação
teórica de diversos autores que dão suporte ao problema de pesquisa e estão
devidamente referenciados ao longo do texto.
2.1.2 Pesquisa Documental
Conforme Gil (2007) ao ser desenvolvido um estudo de caso, admite-se que
não apenas os indivíduos serão parte da pesquisa, mas também os documentos
gerados pelo objeto de estudo.
A pesquisa documental se assemelha a pesquisa bibliográfica, o que as difere
é o objeto pesquisado onde na pesquisa documental são averiguados itens gerados
pelo grupo analisado.
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Segundo Marconi e Lakatos (2009):
A característica da pesquisa documental é que a fonte de coleta de dados está restrita a documentos, escritos ou não, constituindo o que se denomina de fontes primárias. Estas podem ser feitas no momento em que o fato ou fenômeno ocorre, ou depois. (MARCONI E LAKATOS, 2009, p 174).
Os autores explicam que a pesquisa documental engloba todos os materiais,
ainda não elaborados que podem servir como fonte de informação para a pesquisa
científica. Como fontes escritas citam documentos de arquivos públicos, arquivos
particulares, fontes estatísticas, entre outros. Já como fontes não escritas podem-se
considerar fotografias, desenhos, gravações, objetos, entre outros.
A presente pesquisa fará uso de fotografias elaboradas no momento em que
o fenômeno ocorre para organizar os dados coletados durante as observações.
Ainda serão feitas pesquisas de fontes estatísticas acerca do objeto de estudo assim
como a análise de um relatório fornecido por um dos especialistas participantes da
pesquisa.
Como abordado acima, sendo a pesquisa em questão de caráter qualitativo
descritivo, optou-se pelo Estudo de Caso como metodologia a ser aplicada. A seguir
serão abordados aspectos relativos a este método.
2.1.2. Estudo de Caso
A presente pesquisa optou por empregar a técnica exploratória de natureza
qualitativa e de caráter descritivo. A coleta de dados desse tipo de abordagem parte
da realidade e do contexto social em que a temática está inserida (CRESWELL,
2010).
Para Yin (2010 pg. 39), o método de estudo de caso seria recomendado
quando o pesquisador desejasse “entender um fenômeno da vida real em
23 profundidade, mas esse entendimento englobasse importantes condições
contextuais.”
Para afirmar a relevância do estudo de caso como metodologia científica Yin
(2010) defende que este método pode ser encontrado em diversas áreas de
investigação de fenômenos sociais, individuais e organizacionais como a psicologia,
sociologia, ciência política, antropologia, educação, entre outras.
Portanto o estudo de caso foi o método escolhido para ser aplicado na
presente pesquisa, e acredita-se que seus procedimentos e ferramentas orientarão
para uma melhor coleta dos dados considerando o contexto da pesquisa.
2.2 MÉTODO DE COLETA DE DADOS
O levantamento dos dados na referida empresa foi organizado conforme
detalhado na tabela 1.
Tabela 1 - Procedimentos para coleta de dados da pesquisa
Método ou Técnica Tipo e Número de
Participantes
Descrição da
atividade e da forma
de documentação
dos dados
Local e Duração
Entrevista
Semiestruturada
Designer da
Empresa AMG (01)
Entrevista individual com os participantes, no ambiente da empresa, documentada através de anotações, estruturada de acordo com os seguintes temas:
Histórico profissional da empresa, missão e visão, experiências
Ambiente de trabalho da empresa participante; com duração de até 2 horas, no horário de expediente ou outro horário de preferência do participante, de acordo com a conveniência e disponibilidade de cada uma das partes
24
pessoais e profissionais relevantes, semana típica da empresa, atores envolvidos, perfil das empresas competidoras, perfil dos clientes, portfólio atual dos serviços e produtos, processo de planejamento; influenciada bibliográficas e outras na criação, valor e significado da sustentabilidade, valores e questões ambientais/ sociais/ econômicas/ institucionais, logística, papel do designer na criação dos produtos e serviços, ciclo de Vida dos produtos atuais, desde etapa da Pré-Produção, Produção, Distribuição, Uso do produto, até o descarte.
envolvidas.
Entrevista
Semiestruturada
Fornecedor de
matéria-prima (lã)
Entrevista individual com o participante, em seu ambiente de trabalho documentada através de anotações, estruturada de acordo com os seguintes temas:
Bem estar animal, manejo animal, seu processo produtivo, relação com a empresa, além de
Ambiente de trabalho do participante; com duração de até 1 horas, no horário de expediente ou outro horário de preferência do participante, de acordo com a conveniência e disponibilidade de cada uma das partes envolvidas.
25
temas emergentes no momento
Entrevista
Semiestruturada
Artesãs envolvidas
no projeto da
empresa (05)
Entrevista individual com os participantes, no ambiente da empresa, documentada através de anotações e fotos, estruturada de acordo com os seguintes temas:
Relação com o artesanato, relação com a empresa, processo de confecção, além de temas emergentes no momento.
Ambiente de trabalho da empresa; com duração de até 1 horas, no horário de expediente ou outro horário de preferência do participante, de acordo com a conveniência e disponibilidade de cada uma das partes envolvidas.
Observações em
campo
Especialista ARCO (01)
Artesãs envolvidas com a empresa
Processo produtivo da lã (lavagem, cardagem, fiação, tingimento, confecção)
Observação das atividades dos participantes, com mínima interferência do pesquisador nas mesmas (apenas para desambiguar ações e, quando necessário, questionar a motivação por detrás das mesmas), em um dia típico de trabalho, no ambiente da empresa, documentado através de fotos/vídeos e anotações
Ambiente de trabalho da empresa participante; durante o período de 01 dia de trabalho pré- estabelecido, no horário de acordo com a conveniência e disponibilidade de todos os participantes.
26 Fonte: elaborado pela autora (2016)
As entrevistas terão formato semiestruturado, conforme sugere Yin (2010),
onde as perguntas serão aplicadas pela pesquisadora que seguirá um roteiro pré-
formatado, conforme as questões que pretende avaliar, porém com autonomia para
questionar conceitos a fim de obter mais informações sobre o assunto.
Conforme Souza e Neto (2002), as análises que permeiam as cadeias
produtivas agroindustriais (CPA) partem do produto final em direção à matéria-prima
que lhe deu origem, por isso, primeiramente, será entrevistado um designer da
marca de moda sustentável AMG e este por julgamento, juntamente com a
pesquisadora, direcionará os próximos passos da pesquisa, como a entrevista com o
fornecedor de lã e as observações em campo.
Conforme Creswell (2010) uma amostragem por julgamento consiste na
seleção, por conveniência, dos elementos considerados representativos para a
pesquisa científica.
Além das entrevistas, a pesquisadora acompanhou o que consiste no
processo produtivo da matéria-prima e dos produtos da empresa. Para tanto foi
observado um dia de trabalho do especialista da ARCO que fornece consultoria para
a empresa no processo de seleção do fornecedor da matéria-prima, assim como foi
observado um dia de trabalho das artesãs que fiam e confeccionam os produtos da
marca.
O processo de lavagem e cardagem da lã utilizada pela empresa não pôde
ser observado, pois a empresa terceirizada que realiza esse processo optou por não
participar da pesquisa. Portanto essa etapa será apenas relatada conforme
conhecimento prévio repassado pela entrevista com o designer da empresa AMG.
Com a aplicação desses instrumentos de coleta de dados, elementos
significativos para uma análise foram recolhidos e captados. Os roteiros das
entrevistas encontram-se na seção de Apêndices ao final dessa dissertação.
27
2.3 ANÁLISE E INTERPRETAÇÃO DOS DADOS
A etapa de análise e interpretação dos dados na pesquisa qualitativa consiste
em interpretar temas significativos e emergentes dos dados.
Após o encerramento da coleta de dados, iniciou-se o processo de
compilação dos dados, onde conforme Gibbs (2009) é permitido ao pesquisador a
seleção dos aspectos que serão que enfatizados ou minimizados a fim de alcançar o
objetivo da pesquisa.
Em um segundo momento iniciou-se a análise de conteúdo, que consiste em
um conjunto de técnicas de análise das comunicações ocorridas durante a pesquisa,
suas mensagens e expressões para que sejam conhecimentos inferidos do
processo. (Bardin, 2009).
Para a organização dos dados das entrevistas e observações a ferramenta
utilizada foi a denominada ELITO. Esse método, conforme Hanington e Martin
(2012) auxiliam no processo de organização dos dados a partir da delimitação de
cinco categorias: (I) observação (o que o pesquisador viu e ouviu), (II) julgamento (a
opinião do pesquisador sobre o que viu e ouviu), (III) fala literal (o que foi dito), (IV)
conceito (palavras que representam o que foi dito) e oportunidade (o que pode ser
feito a partir dessas informações).
Segundo os autores, a organização dos dados conforme essas categorias
facilitam o surgimento de uma linha lógica para análise de dados, podendo assim
partir para a fase de discussões e conclusões.
Além disso essa pesquisa faz uso do questionário Quick Impact Assessmente
(QIA) desenvolvido e disponibilizado pelo Sistema B. O questionário disponível na
internet é uma versão sistematizada da metodologia usada pelo Sistema B para
certificações de empresas sustentáveis. O objetivo desse questionário resumido é
elencar os pontos fortes e fracos da empresa em relação à sustentabilidade e gerar
alternativas sustentáveis para a mesma.
28
Como a pesquisa científica busca encontrar alternativas e possibilidades de
melhoria no ciclo de vida do produto da empresa AMG, optou por responder o
questionário do Sistema B para complementar a análise de conteúdo.
29
!
3 DESIGN E SUSTENTABILIDADE
Confome Burdek (2010, pg. 13), foi no ano de 1588 que a expressão “design”
foi mencionada pela primeira vez e descrita como: “um plano desenvolvido pelo
homem ou esquema que possa ser realizado”. Segundo o autor a palavra “design”
pode ser considerada um verbo e um substantivo, visto que pode descrever tanto o
produto final quanto o processo criativo e produtivo do mesmo.
A forma como conhecemos “design” hoje está alicerçada sob uma série de
revoluções tecnológicas originadas pela primeira Revolução Industrial, que teve seu
início no século XVIII. A mais significativa delas foi a evolução do modelo de
produção, o que modificou também os modelos sociais e econômicos desde então.
(BURDEK, 2010)
Ainda conforme Burdek (2010), até meados do século XIX a fabricação de
produtos com função definida era basicamente artesanal e sua reprodução em
massa não era um objetivo dos fabricantes. Porém, o advindo das máquinas e da
agilidade em detrimento do utilitarismo e da industrialização acabou por definir a
qualidade moral da atividade humana por sua utilidade para a sociedade e sua
possível reprodução em série. Nesse mesmo período (1919) era fundada a primeira
escola de design do mundo, denominada Bauhaus, que tinha como objetivo suprir as
demandas práticas das novas formas de produção industrial, assim como a Escola
de Ulm fundada em 1953. Através de seus cursos as escolas promoviam a fusão de
conhecimento de áreas como o artesanato, a arquitetura e artes, por exemplo, assim
criava as adaptações necessárias nos produtos para sua produção industrial e
procurava desenvolver as capacidades manuais e artísticas em seus alunos de
forma igualitária, originando a padronização de estilos (BONSIEPE, 2011).
Seguindo o estilo internacional de ensino e calcada nos preceitos da
produção industrial foi criada, em 1963, a Escola Superior de Desenho Industrial no
Rio de Janeiro. (COUTO, 2008).
Conforme Borges (2011), a absorção do método de ensino baseado no
funcionalismo, fez com que a cultura nacional brasileira fosse deixada de lado, e
30 rotulada como um retrocesso, em detrimento de um novo estilo internacionalizado.
O autor afirma que a aceitação desse novo método de criação e produção foi
favorecida já que o fazer manual passou a ser visto como um ícone do retrocesso
enquanto as máquinas ganharam espaço através da promessa de levar o país a um
elevado patamar de desenvolvimento. Como consequência da aceleração da
industrialização, na segunda metade da década de 1960, começou a ser estudado o
impacto da produção e do consumo como uma questão ambiental para o equilíbrio
do sistema ecológico.
A percepção desta grave ocorrência e de uma contínua série de desastres e
desequilíbrios do ecossistema forçou a comunidade científica, e alguns governantes
cientes, a considerarem esse tema um problema de ordem mundial (VEZZOLI,
2010).
Para Krippendorff (2006) a atividade do designer passou a encarar novas
possibilidades no decorrer dos anos, passando assim de projetista de produtos –
servindo ao modelo industrial – para estar presente na construção de novos
conceitos, envolvido com a comunidade e com o grupo social ao qual está inserido
podendo então ser agente de transformações sociais.
O documento elaborado pela Comissão Europeia sobre Design e Inovação
(COMMISSION, 2009) afirma que o design deve seguir uma abordagem holística,
que aborda diversas dimensões do processo criativo e produtivo e não apenas os
fatores estéticos e visuais, tais como: funcionalidade, ergonomia, usabilidade,
custos, acessibilidade e sustentabilidade, além de outros fatores intangíveis como
marca e cultura. Ainda no citado documento, afirma-se que o design não deve estar
isoladamente no que diz respeito aos produtos, mas que também desse ver uma
prática presente no que tange as estratégias das organizações, seus sistemas
produtivos, não apenas visando fins lucrativos, mas também interação com o social
e a evolução de sua comunidade.
Del Gaudio et. al. (2014) afirmam que a origem da interação social por parte
do design encontra-se na década de 1970, quando a conscientização acerca dos
graves problemas ambientais e sociais foi disseminada, assim como seu amplo
alcance e agravamento em algumas partes do planeta. Essas informações fizeram
31 com que os profissionais de design questionassem seu papel e sua
responsabilidade perante a sustentabilidade.
O desenvolvimento de novos cenários sustentáveis visa criar novos hábitos e
atitudes que contribuam para a elevação dos níveis de qualidade de vida.
Atualmente, quando se fala em desenvolvimento sustentável, a preocupação com a
integridade do meio ambiente está intimamente associada com a prosperidade das
condições socioeconômicas da população (QUEIROZ, 2014).
Segundo Queiroz (2014), o conceito de sustentabilidade supõe um movimento
complexo e permanente que engloba três dimensões iniciais: a social, a ambiental e
a econômica, entretanto, conforme a autora, o aspecto cultural também deve ser
considerado uma dimensão importante para o entendimento do desenvolvimento
sustentável.
Desta forma, considerando as dimensões agora citadas, afirma-se que um
projeto ou um produto, para que esteja em concordância com os parâmetros da
sustentabilidade, deve ser socialmente justo, economicamente viável,
ambientalmente correto e, ainda, culturalmente aceito.
3.1 AS TRANSFORMAÇÕES DO PAPEL DO DESIGN PERANTE A
SUSTENTABILIDADE AMPLA
A presente etapa do trabalho dedica-se a apresentar algumas esferas da
sustentabilidade e a mudança ocasionado ao papel do design, ao longo dos anos,
no desenvolvimento de produtos e serviços.
Para isso um conceito se torna crucial para a análise: a sustentabilidade em
seu sentido amplo. Conforme o Programa para o Meio Ambiente planejado pela
Organização das Nações Unidas (United Nations Environment Programme, UNEP)
em 1972 com o objetivo de coordenar ações internacionais de proteção ao meio
ambiente e de promoção do desenvolvimento sustentável, sustentabilidade é o
“atendimento das necessidades atuais, sem comprometer a possibilidade de
satisfação das necessidades futuras” (UNEP, 2006). Essa definição atenta para a
32 preocupação de se construir uma orientação global para um consumo mais
consciente.
Como já citado, as agressões ao planeta têm sido praticadas desde a
Revolução Industrial, antes desse período o fornecimento dos insumos necessários
para a produção dos artefatos era atribuição de trabalhadores rurais, assim esses
materiais eram encontradas em fazendas locais e em regiões próximas.
O processo de inovação do maquinário rural em algumas partes da Europa,
principalmente na Inglaterra, desestabilizou o sistema natural das áreas rurais e
ocasionou a migração de centenas de pessoas para regiões mais próximas das
indústrias à procura de trabalho e criando assim novos centros urbanos. Esse
movimento não aconteceu apenas na Inglaterra, mas em diversos países
industrializados de forma semelhante. (FUAD-LUKE, 2002)
Conforme Fuad-Luke (2002) as primeiras pessoas que notaram e falaram
sobre a crise ambiental gerada pela indústria, foram os fundadores do movimento
British Arts and Crafts 1(1850-1914) John Ruskin e William Morris. O movimento
estético criado pela dupla na metade do século XIX na Inglaterra, defendia que o
artesanato criativo deveria ser visto como um alternativa à produção mecânica e
massificada imposta pela indústria, além de intervir pelo fim da distinção entre
artesão e artista. British Arts and Crafts é considerado por diversos historiadores
como uma das origens do modernismo no Desenho Gráfico, no Desenho Industrial e
na Arquitetura pois empregava em móveis e objetos o fino traço do artesão-artista,
que mais tarde viria a ser denominado designer.
Segundo Kazazian (2005) a Revolução Industrial também pode ser
considerada como um símbolo que desencadeou as diversas mudanças nos
paradigmas de consumo. Aliada a ela, o autor cita, a explosão demográfica
ocasionada na virada do século XX e XXI, onde a Terra passou de um bilhão de
habitante para seis bilhões.
A combinação de aumento de consumo e de superelevação demográfica
conduziu o planeta a uma crise ambiental, deflagrada após as grandes Guerras
1 Artes e ofício britânicos – tradução literal
2 Moda rápida. (Tradução literal)
3 Moda lenta. (Tradução literal)
33 Mundiais, assim as preocupações ambientais cresceram e geraram movimentos
mundiais para discutir e rever o desenvolvimento industrial, social e econômico.
(KAZAZIAN, 2005)
Entre eles está o Relatório de Brundtland, documento de natureza
socioeconômica elaborado em 1987 pela Comissão Mundial sobre Desenvolvimento
e Meio Ambiente para a ONU. Foi nesse relatório que o termo “Desenvolvimento
Sustentável” foi empregado pela primeira vez e descrito como: “O desenvolvimento
que satisfaz a necessidade do presente sem comprometer a satisfação das
gerações futuras”.
Em 1992 a ONU realizou no Rio de Janeiro a Conferência das Nações Unidas
sobre o Meio Ambiente e Desenvolvimento (CNUMAD), também conhecida como
RIO 92. 179 países participaram da conferência e assinou a Agenda 21 Global,
programa considerado a mais ampla tentativa de promover, em escala mundial, um
novo preceito de desenvolvimento denominado “desenvolvimento sustentável”. O
nome do programa “Agenda 21 Global” faz alusão às intenções e anseios por
mudança desse novo e necessário modelo de desenvolvimento para o século XXI. A
Agenda 21 pode ser considerada um instrumento de planejamento e métodos para
construção de sociedades sustentáveis em relação a proteção ambienta, justiça
social e eficácia econômica, levando em consideração as diferentes bases
geográficas.
De acordo com Mazini e Vezzoli (2008) a sustentabilidade deve ser
compreendida como uma série de premissas segundo as quais as atividade da
espécie humana não deve interferir nos ciclos naturais de auto regulação do
ecossistema, buscando assim preservar os recursos naturais pertencentes ao
planeta. Os autores ainda discorrem sobre todos os serem vivos terem o mesmo
direito à espaço ambiental, e isto representa o mesmo direito à água, à energia, à
território e à matéria-prima necessária à vida e à produção sem exceder os limites
da sustentabilidade. Para os autores os projetos sustentáveis devem encontrar
soluções baseadas em:
• Alternativas que utilizem recursos renováveis;
• Redução/otimização de recursos não renováveis;
34
• Descarte de resíduos centrado na naturalização dos materiais, ou
decomposição sem agressão à natureza;
• Permanência das comunidades e indivíduos envolvidos nos projetos
em seus espaços e limites ambientais.
Já Wimmer et al. (2010) exemplifica trazendo o caminho reverso. Ao invés de
explicar como projetos sustentáveis deveriam ser e as premissas que deveriam
seguir, os autores exemplificam e argumentam sobre os pontos e características que
não são atribuídos à sustentabilidade, como: O uso e esgotamento de recursos não
renováveis; Quando o consumo excede a necessidade – os autores exemplificam
com o relato sobre o elevado número de embalagens de alimentos causando
excesso de resíduos em países industrializados; Produtos e processos que
desperdiçam energia – como eletrônicos em processo de stand by.
Países industrializados que enviam seus resíduos para uma reciclagem
inapropriada em países em desenvolvimento, causando danos ambientais e
principalmente à saúde dos envolvidos. Empresas que geram danos e riscos
ambientais e sociais, ao explorarem seus funcionários, visando aumentar o lucro de
suas organizações.
Spangenberg (2011) defende que, no que tange a ciência, desenvolvimento
sustentável demanda a sintonia entre o metassistema e seus subsistemas, ou seja,
a natureza, a economia e a sociedade.
Segundo Naime et al. (2012) na segunda metade do século XIX a Europa
sofreu uma explosão de consumo. Até então a comercialização dos produtos era
intermediada pela própria fábrica, visto que ainda não existia o conceito de loja, e
ofereciam uma pequena gama de opções.
A partir de 1860, começaram a surgir as primeiras lojas de departamento e
assim o consumo passou a se tornar uma atividade de lazer e consumir o supérfluo
passou a se tornar objeto de desejo da sociedade. Nesse contexto, além do
consumo ser incentivado pela mídia, o que se intensifica na era pós-moderna, o
Design estimulava o consumo através de suas características puramente estéticas e
visuais.
35
Para Manzini (2005) a sustentabilidade exige inovações amplas baseadas em
profundas reduções de consumo, assim como mudança do estilo de vida e da
construção de uma nova percepção de bem estar social, onde os valores individuais
respeitem e incentivem as causa sociais, econômicas e ambientais. Para o autor o
papel do designer é fundamental para que os valores e critérios da sustentabilidade
sejam aplicados no desenvolvimento de produtos e serviços, pois é esse profissional
que através de uma análise pode diminuir o uso de energia, de custos e de materiais
ao longo do ciclo de vida do produto. Inclusive, para Manzini (2005) o designer pode
e deve projetar visando os ciclos de vida posteriores para suas criações, ou seja,
para além do descarte, as possibilidades de reciclagem, de reutilização e de
recuperação.
Para que essas definições se concretizem são necessárias estratégias de
inovação que criem novos mercados para novos produtos e serviços sustentáveis.
Assim é lançado em 1997 pela ONU o “Manual do Eco design”, onde o principal
objetivo era fomentar práticas e métodos para concepção de novos produtos de uma
maneira sustentável. O manual aborda conhecimentos sobre desenvolvimento de
produto e oferece uma estrutura modular que permite que a empresa adquira
conhecimento em Eco design e que após execute um passo a passo de
implementação desses conceitos em seu sistema de produção (UNEP, 2006). Os
conceitos e critérios do Eco design serão descritos na próxima etapa desta
pesquisa.
Assim também foram incrementadas pesquisas na área do Design Social, que
inclui discussões sobre o papel e a responsabilidade do design perante a sociedade
e comunidade em que está inserido assim como suas ações para uma evolução da
qualidade de vida social (PEROBA, 2008).
Sobre este aspecto Pazmino (2007) discorre que:
O design social exige do designer novas qualidades e conhecimentos é um campo de grande desafio para os profissionais da área. O trabalho do designer deve valorizar os aspectos sociais, culturais e ambientais da população e desenvolver produtos que satisfaçam as necessidades reais. Respeitar as características das comunidades, das populações marginalizadas, sua cultura, para assim desenvolver produtos que a representem de fato, que sejam adequados a essa realidade, e que satisfaçam as suas necessidades reais (PAZMINO, 2007, p.5).
36
De acordo com Peroba (2008) o design social é considerado uma atividade
econômica que trabalha para conduzir o local onde o projeto é realizado ao
crescimento e ao desenvolvimento.
Assim como Manzini e Vezzoli (2008) que apontam que as transformações
pelo design não devem ter apenas os aspectos ambientais em vista, mas que
também devem promover a inovação social e o desenvolvimento regional. Conforme
os autores faz parte do papel do designer repensar o desenvolvimento de produtos e
serviços a fim de ocasionar mudanças sociais e transformar a comunidade
envolvida.
Por desenvolvimento regional entende-se o desenvolvimento de determinado
local proporcionado por suas atividades. De acordo com Buarque (2006) trata-se de
um processo endógeno que se utiliza da capacidade, das oportunidades e
potencialidades locais, impulsionando o dinamismo econômico.
Na opinião dos autores Albuquerque e Llorens (2001) o desenvolvimento
regional se dá pela própria sociedade civil e sua atividade econômica, podendo-se
citar, portanto, o design como grande impulsionador desse desenvolvimento.
Acerca das dimensões do desenvolvimento econômico Albuquerque e Llorens
(2001) destacam:
• Dimensão econômica: competição no mercado e capacidade dos empresários
em se organizar no mesmo;
• Formação de recursos humanos: adequar os conhecimentos às necessidades
locais;
• Dimensão sociocultural: relacionada ao autodesenvolvimento das empresas
locais;
• Dimensão político-administrativa: criação de “entornos inovadores”, ou seja, o
apoio público visando parcerias público-privadas com empreendimentos;
• Dimensão ambiental: relacionada à sustentabilidade local.
Como estratégias para desenvolvimento regional, Albuquerque e Llorens
(2001, p. 78) citam:
37
- articulação produtiva territorial do tecido empresarial e das diferentes atividades rurais, urbanas, agrárias, industriais e de serviços; - compromisso com o emprego produtivo e com o atendimento ao mercado de trabalho local; - conhecimento das tecnologias apropriadas à dotação de recursos e potencialidades territoriais; - atenção à inovação tecnológica e organizacional adequadas aos níveis produtivo e empresarial locais; - envolvimento dos trabalhadores locais na redefinição da organização produtiva;- adaptação do sistema educacional e de capacitação profissional à problemática produtiva e sócio-territorial; - existência de políticas específicas de apoio às MPMEs – micro, pequenas e médias empresas -, cooperativas e setor formal local; e - acesso aos serviços de desenvolvimento empresarial.
Assim, dentre as estratégias citadas, pode-se dizer que o desenvolvimento
regional depende do incentivo às atividades locais, não sendo diferente com o
design, se as inovações e a criatividade de um povo de determinado local e se suas
produções naturais forem incentivadas e apoiadas, provavelmente esse setor trará
grandes contribuições para o desenvolvimento regional.
Portanto, o papel do designer pode ser resumido, de uma maneira geral,
como uma atividade responsável por tornar algo tecnologicamente viável e
ecologicamente correto, além de refletir a origem de propostas e mudanças
socioculturais significativas.(MANZINI E VEZZOLI, 2008)
Os autores Manzini e Vezzoli (2008) indicam quatro níveis fundamentais
de ação do design para a transformação de produtos sustentáveis:
• Redesign ambiental para os sistemas existentes: consiste na revisão
dos materiais utilizados na concepção de produtos existentes e na
análise de possíveis alternativas que vão ao encontro de materiais
de menor impacto ambiental e que necessite de menos energia em
seu beneficiamento. O processo de criação de produtos verdes
começa na escolha da matéria-prima, sua extração, seu impacto no
ecossistema bem como seu impacto no processo de beneficiamento
e encaminhamento para a indústria;
• Desenvolvimento de novos produtos e serviços: consiste em
promover a substituição de produtos existentes, quando esses não
conseguem sofrer as adaptações necessárias para que sigam os
critérios ecologicamente corretos. Portanto novos produtos e
38
serviços devem ser pensados procurando o menor impacto
ambiental possível.
• Projetar novos sistemas de produção-consumo oferecendo a
satisfação sustentável das reais necessidades e desejos da
sociedade;
• Criação de novos cenários para o estilo de vida sustentável
Sobre este último nível onde o designer deve ser agente de transformação,
Peroba (2008, p. 40) traz uma reflexão de Whiteley (1998) que afirma que existe um
novo modelo de design voltado para a realidade, onde além das responsabilidades
para garantir a sustentabilidade ambiental, existe também a responsabilidade em
romper com o impacto negativo do design como os estímulos aos sistemas de
valores consumistas.
Com as mudanças na mentalidade social acerca do meio ambiente, a
sustentabilidade passa a ter um conceito econômico, que demandará, desde então,
implementar ações de reequilíbrio de força econômica e social do mundo
empresarial, visando garantir o acesso das presentes e futuras gerações aos
recursos ambientais justificadores da vida humana sadia e equilibrada.
Assim, o desenvolvimento sustentável envolve o progresso social, o
crescimento econômico e a preservação ambiental, os quais possuem como ponto
em comum o desenvolvimento socioeconômico, socioambiental e a eco-eficiência,
sempre no intuito de reunir esses aspectos visando a melhoria da qualidade
ambiental e de vida da sociedade.
Nesse contexto precisa-se estudar o citado Eco design que está alicerçado
sob duas perspectivas: como atividade de design inspirada pela motivação ecológica
ou ainda como design que se preocupa em pensar os ciclos de vida de seus
produtos.
39 3.2 ECO DESIGN E CICLO DE VIDA
Segundo Pazmino (2007) o Eco design surge pelo encontro entre o meio
ambiente e a atividade de projetar, concebendo então um método projetual orientado
por critérios ecológicos.
Os produtos criados a partir dessa atividade devem ser produtos competitivos
no mercado, ou seja, economicamente viáveis e ainda serem ecologicamente
corretos, isto é, um produto com baixo impacto à natureza e que sua qualidade
ambiental possa ser mensurada.
Mazini e Vezzoli (2008) conceituam Eco design como o Design com base em
critérios ecológicos. Para os autores Eco design é um método composto por um
conjunto de atividades que garantem as questões ecológicas como abordagens para
a concepção de seus produtos. Os autores ainda defendem que esta abordagem
não deve ser restrita ao desenvolvimento de produtos (considerando material, forma
e função), mas que também deve ser aplicada ao sistema de produção, isto é, todos
os processos de serviços, bens e comunicação que são utilizados pelas
organizações.
O Eco design exige que o profissional tenha conhecimento e consciência
ecológica e que tome decisões ecologicamente corretas ao longo de todo o ciclo de
vida do produto – pré-produção, produção, uso, descarte, reciclagem, reuso.
(PAZMINO, 2007)
É interessante recapitular as principais etapas de interferência do Eco
design citadas por Manzini e Vezzoli (2008):
• O redesign ambiental do existente: para isso deve-se repensar as escolhas
de materiais promovendo menor impacto e redução do uso de energia;
• O projeto de novos produtos ou serviços que substituam os atuais:
substituição por produtos e serviços ambientalmente responsáveis;
• O projeto de novos produtos ou serviços intrinsecamente sustentáveis:
criando produtos e serviços que levem a sustentabilidade como prioridade;
40
• A proposta de novos cenários que correspondam ao estilo de vida
sustentável: promovendo um novo conceito social relacionado aos processos de
produção sustentáveis.
Pazmino (2007) sugere que os fatores como função, tecnologia, estética,
ergonomia e cultura são fatores que devem estar presentes em projetos de Eco
design, mas, os fatores econômicos e ambientais são os que devem nortear os
projetos. A autora ainda lista algumas diretrizes e recomendações para que o
objetivo ambiental seja alcançado em projetos de eco design, são elas: Reduzir a
utilização de recursos naturais e energia; Usar materiais não prejudiciais, danosos e
perigosos; Usar materiais reciclados e recicláveis; Otimizar processos de produção;
Otimizar a geração de resíduos; Redução da variabilidade de produtos; Utilizar
tecnologias apropriadas e limpas; Redução de peso e volume dos produtos;
Aumentar a confiabilidade e durabilidade; Otimizar as embalagens ou dar prioridade
para embalagens recicladas e/ou recicláveis; Facilitar a manutenção e reparos dos
produtos; Facilitar a desmaterialização dos produtos.
Conforme Salcedo (2014) cada projeto de produto sustentável deve avaliar as
possibilidades de redução dos impactos ambientais assim como a geração de
resíduos no meio ambiente, para isso deve considerar os materiais utilizados, o ciclo
de vida do produto, embalagem, transporte e reaproveitamento. A autora afirma que
em cada uma das esferas citadas é possível identificar a forma de atuação: ou na
escolha dos materiais, no prolongamento da duração dos produtos, ou ainda na
criação de laços afetivos entre os produtos e o cliente.
Para entender o eco design é fundamental discorrermos sobre o ciclo de vida
dos produtos, visto que os autores da área afirmam que ele é a parte central dessa
atividade.
Existem diversos modelos para Ciclos de Vida de Sistemas Produto-Serviço,
porém, considerando a sustentabilidade nos processos de produção, foram
selecionados dois modelos para a realização da presente pesquisa: o modelo
proposto por Manzini e Vezzoli (2008) e a proposta apresentada por Maxwell e Vorst
(2003).
41
O Design do Ciclo de Vida ou Life Cycle Design (LCD) elaborado por Manzini
e Vezzoli (2008) considera todas as etapas do desenvolvimento de um produto e
avalia as trocas que estas fazem com o ambiente, com a sociedade e ainda seus
fatores econômicos.
Para os autores é possível afirma que o Design de Ciclo de Vida tem como
finalidade reduzir a utilização de matéria e de energia, além dos impactos com as
emissões e resíduos oriundos dos processos de cada etapa do Ciclo de Vida do
Produto, como mostra a figura 2.
42
Figura 2 – Fases do Ciclo de Vida
Fonte: elaborado pela autora com base em Manzini e Vezzoli (2008)
Conforme o autor (VEZZOLI, 2010), os pressupostos ambientais e
econômicos baseados no Eco design devem buscar intervir na origem dos projetos
43 de Ciclo de Vida, pois além de reduzir as emissões de resíduos perigosos e de
reduzir o consumo de recursos é menos custoso (financeiramente) e mais efetivo
prevenir os impactos ao ambiente do que buscar remediá-los após a implementação
do produto no mercado.
Outro modelo pesquisado foi a proposta de Desenvolvimento Sustentável de
Produtos e Serviços, ou Sustainable Productand Service Development (SPSD),
apresentado por Maxwell e Vorst (2003). A abordagem proposta pela autoras avalia
cada etapa da produção do produto, do serviço, ou ainda do sistema produto-
serviço.
O ciclo SPSD considera todos os resíduos gerados em cada etapa e seu
retorno como matéria-prima dentro desse ciclo. Os autores (MAXWELL E VORST,
2003) sugerem que os projetistas façam uma lista para cada etapa do Ciclo de Vida,
considerando as esferas ambientais, sociais e econômicas e trazem alguns
exemplos referentes a matéria-prima e sua otimização dentro do ciclo: Sobre os
impactos ambientais referentes as matérias-primas os autores afirmam que é
necessário avaliar a origem da matéria, eliminar o uso de materiais não renováveis,
repensar e substituir materiais poluentes e agressivos e ainda facilitar o reuso, a
reciclagem e a recuperação dos mesmos.
Acerca dos impactos ambientais os autores acreditam que é importante
considerar se esse material é extraído de países em desenvolvimento e ainda se
esses recebem valores justos por ele assim como recursos por direitos de uso. Em
relação aos impactos econômicos é preciso analisar os custos efetivos do
desenvolvimento do produto e a sua competitividade no mercado.
Maxwell e Vorts (2003) defendem que esse método pode ser implementado
em sistemas de produção já existentes e em funcionamento e ainda ser adaptado de
acordo com as estratégias das organizações.
Conforme Manzini e Vezzoli (2008) a maioria das ações de sustentabilidade
em organizações estão diretamente relacionadas à economia e a geração de lucro,
como as metas de redução de matéria-prima e a otimização dos processos que
envolvem transportes e locomoção, como mostra a imagem 2.
44
Para os autores se aliar algumas tecnologias existentes à sustentabilidade é
possível atingir objetivos rapidamente. Como, por exemplo, o uso das logísticas de
transporte pode reduzir a quantidade de combustível utilizada na distribuição dos
produtos, sendo benéfico para a redução da emissão de gases poluentes e ainda
mais econômico financeiramente para o distribuidor. A figura 3 traz uma
sistematização dos princípios norteadores para ampliação da sustentabilidade ao
longo do ciclo de vida.
45
Figura 3 - Princípios norteadores de design para o ciclo de vida
Fonte: Elaborado pela autora com referência de Manzini e Vezzoli (2008)
Para os autores (MANZINI E VEZZOLI, 2008) é possível desenvolver projetos
que pensem o caminho da sustentabilidade ao longo de todo o ciclo de vida do
46 produto. O design para o ciclo de vida pode ser implementado bem no início dos
projetos para assim desenvolver produtos que sigam corretamente as premissas da
sustentabilidade.
O Design for Environment (DFE) ou Design para o Ambiente é um método
que prevê o caminho da sustentabilidade, seguindo os seguintes conceitos:
• Design for Assembly (DFA) Design para a Montagem: busca a utilização
de uma montagem mais fácil e com menor custo, reduzindo despesas e melhorando
a qualidade do produto;
• Design for Manufactury (DFM) Design para Manufatura: parte da seleção
de materiais, busca possuir processos e projetos modulados, faz uso de
componentes padronizados, montagem direcionada para minimização;
• Design for Service (DFS) Design para Serviço: planeja uma maior vida útil
ao produto, assim como uma maior confiabilidade para com a empresa. Facilita e
oferece manutenções e reparos durante a vida útil do produto e seu
redirecionamento quando necessário.
• Design for Disassembly (DFS) Design para Desmontagem: projeto que
procura aumentar as possibilidades de reciclagem e reuso dos produtos, e assim
diminuir as chances de poluição e de impactos ocasionados pelo descarte dos
produtos.
Conforme afirma Manzini e Vezzoli (2002) é importante ressaltar a
importância do processo de desmontagem e reciclagem dos produtos independente
do seu destino final. Para que um produto seja reciclado é fundamental a separação
de todos os seus componentes, tornando a desmontagem essencial.
Dessa forma o DFS se mostra uma ferramenta determinante ao final da vida
de cada produto, pois é a separação dos componentes e partes integrantes dos
artefatos que vai possibilitar ou não o processo de reciclagem bem como reparação
e concerto.
Ainda no que se refere a reciclagem, Manzini e Vezzoli (2002) mencionam
que existe duas formas de se realizar, uma em anel aberto e outra em anel fechado.
47 Na primeira forma os materiais recuperados na desmontagem são novamente
utilizados, sem tratamento, substituindo outras matérias, ou seja, “são utilizados na
fabricação os mesmos produtos e componentes do qual foram derivados” (Manzini e
Vezzoli 2002, p. 97).
Já na segunda opção os materiais são encaminhados para um sistema de
desenvolvimento de produtos diferente do de sua origem, como mostra a figura 4.
Figura 4 - Comparação entre ciclo de vida de anel fechado e anel aberto
FONTE: adaptado pela autora de Maxwell e Vorst, 2003
De acordo com Maxwell e Vorst (2003) para que os ciclos sejam realmente
eficazes devem buscar transformar a matéria-prima continuamente em um novo
recurso durante todas as fases do processo de desenvolvimento e fabricação do
produto, uso e reciclagem, buscando não desperdiçar nenhum tipo de recurso.
Entretanto, conforme os autores, é importante ressaltar que uma vez que toda
ação acaba gerando uma reação contrária (conforme a lei da termodinâmica) é
praticamente impossível que todos os recursos sejam integralmente reaproveitados
e que esse processo não gere nenhum tipo de desperdício ou de resíduo.
48
O momento da reciclagem em que acontece a transformação e
aproveitamento dos materiais e que esse ciclo pode ser repetido várias vezes é
considerado como um ciclo fechado.
Esse ciclo, em termos de aproveitamento dos materiais e de energia, atende
mais propriamente os requisitos da indústria e atende também, dependendo dos
objetos e dos processos envolvidos, os modelos de produção sustentável.
(MAXWELL E VORST, 2003)
Já no ciclo considerado aberto acontece algum desvio, intencional ou não, em
alguma das fases do ciclo de vida que impede a inteira reciclagem e reutilização dos
materiais.
Segundo os autores (MAXWELL E VORST, 2003) essa forma de ciclo aberto
acontece, geralmente, quando os objetos são descartados de formas inadequadas,
ou ainda, quando não são nem descartadas e nem usados, ficando guardados ou
esquecidos por longos períodos, representando uma ruptura no processo de
aproveitamento e um desperdícios dos recursos.
Conforme Gwilt (2014), o uso e o descarte de produtos de moda são
responsáveis por uma vasta variedade de impactos socioambientais. A sede por
possuir esses bens gerou um enorme crescimento da indústria de produção em
série, cujo mecanismo está em fornecer ao consumidor tendências à um valor
acessível e com um curto espaço de tempo entre as coleções. O sistema produtivo
da moda e o consumo do setor serão apresentados a seguir.
49
4 CICLO DE MODA E SUSTENTABILIDADE
Segundo Treptow (2003, p.26), “moda é um fenômeno social de caráter
temporário que descreve a aceitação e disseminação de um padrão ou estilo, pelo
mercado consumidor, até à sua massificação e, consequente, obsolescência como
diferenciador social”.
De acordo com Kotler (1999, p.25), os produtos de moda podem ser
classificados em três tipos de produtos de moda de acordo com os seus ciclos de
vida: Produto de Estilo, de Moda e de “Modismo”.
• Produto de Estilo: são os produtos de ciclos longos, permanecem durante
gerações, não interessando se está “na moda” ou não, com vários períodos
sucessivos de interesse.
• Produto de Moda: são produtos com ciclo de vida médio, com um
crescimento gradual de aceitação pelos consumidores durante um determinado
período de tempo e depois diminui lentamente. Também são chamados de produtos
com desempenho de vida progressivo e declínio gradual.
• Produto de “Modismo”: são produtos com ciclo de vida curto que são aceites
rapidamente pelo consumidor, atinge o seu auge em pouco tempo e declina em
seguida.
O sistema de moda atualmente dominante é baseado em calendários que
trabalham com um ano de antecedência, para isso os criadores seguem tendências
ditadas pelo mercado que nascem com data certa para serem extintas. Esse
sistema, conhecido como fast fashion2 opera na lei do baixo custo que fomenta o
sistema de resposta rápida e impulsiva e encoraja o descarte acelerado. (BERLIM,
2012)
O fast fashion é associado a peças de custo e qualidade baixos, o que resulta
em uma custo também menor de produção, podendo trabalhar assim com grandes
2 Moda rápida. (Tradução literal)
50 volumes de produtos e reposição de peças semanal ou quinzenalmente,
incentivando o consumo impulsivo e desenfreado. (FLETCHER E GROSE, 2011)
Entretanto, segundo Fletcher e Grose (2011) existe um movimento emergente
denominado slow fashion3. Esse movimento consiste em uma abordagem voltada
para o processo criativo e produtivo da moda de maneira desacelerada, pessoal e
personalizada, exclusiva e que minimize o descarte.
Esse novo método de pensar moda surge com o mesmo conceito de antítese
do slow food sobre o fast food, iniciado na Itália em 1986, com objetivo de retomar
os prazeres de consumir algo tradicionalmente local, com insumos da região e
valorização do tempo de apreciação da experiência. “Muda as relações de poder
entre criadores de moda e consumidores e forja novas relações e confiança, só
possíveis em escalas menores” (FLETCHER e GROSE (2011, p.128).
Conforme Berlim (2012) esse movimento também procura reacender o prazer
em criar, em inventar, em inovar e também em consumir. A origem e a procedência
dos objetos a serem adquiridos são questionados pelos consumidores adeptos ao
consumo consciente, que assim buscam fomentar uma cadeia produtiva ética.
Nesse contexto, como mostra a figura 5, a moda adquire uma velocidade
menor de produção, apresentando peças duráveis, que não sejam datadas a
coleções e estações e que criem memórias afetivas com seus consumidores,
evitando o descarte acelerado. (FLETCHER E GROSE, 2011)
3 Moda lenta. (Tradução literal)
51
Figura 5 - Síntese comparativa de moda lenta e rápida
FONTE: elaborada pela autora com referencia em Fletcher e Grose (2011)
O slow fashion é considerado uma vertente do conceito de moda sustentável,
e também busca a utilização de matérias-primas naturais e renováveis assim como
condições justas de trabalho e posicionamento no mercado de forma competitiva.
(FLETCHER E GROSE, 2011).
Segundo Fletcher e Grose (2011) dentre as etapas do ciclo de vida da moda
lenta as principais preocupações com a sustentabilidade são:
• Seleção da matéria-prima: o material utilizado para as confecções de
vestuário exerce diversos impactos sobre a sustentabilidade: efeitos
poluentes sobre a água e solo, poluição química; perda da biodiversidade,
uso de recursos não renováveis, efeitos negativos sobre a saúde humana,
efeitos sociais relacionados às comunidades produtoras. Portanto o processo
de moda lenta busca escolher matérias-primas naturais, renováveis, entre
outros.
• Processo de produção de matéria-prima: o processo de beneficiamento têxtil
utiliza diversos produtos químicos, principalmente nas etapas de lavagem e
branqueamento. Esses produtos e processos agridem o ecossistema e
52
necessitam de controle ambiental, pois geram resíduos líquidos e sólidos, e o
descarte inadequado pode danificar a água e aumentar a toxicidade dos solos
• Produção dos materiais: o processo de confecção também pode exercer
impactos negativos como o uso de recursos não renováveis (como é o caso
de lavagem de peças), geram resíduos sólidos (provenientes da etapa de
corte e costura) e líquidos (provenientes de lavagens e tingimentos), sem
considerar os processos químicos associados aos aviamentos, que muitas
vezes associados aos metais, é um dos processos mais poluentes da
indústria têxtil. Peças confeccionadas de forma consciente levam o menor
número de aviamentos e acessórios possível, além de minimizar os resíduos
de corte e lavagem;
• A distribuição: a moda lenta procura minimizar as emissões de carbono na
logística de distribuição de matérias-primas e do produto final, pois segundo
as autoras a emissão de carbono (Co2) nos processos de transporte e
desmatamento, por exemplo, aumenta as temperaturas terrestres,
desequilibra o clima e ainda modifica a estrutura química da água do mar.
• Conscientizar o consumidor: informar sobre os cuidados nas etiquetas,
buscando processos de lavagem e secagem mais econômicos;
• Descarte: A moda lenta procura pensar em um produto que, ao final de sua
vida útil, possa ser reaproveitado, reciclado, reutilizado, restaurado ou que se
torne matéria prima para um novo produto, formando um ciclo de vida
fechado.
A temática da moda sustentável começa há pouco a ser trabalhada e chegou
até os designers que procuram uma criação consciente e um processo produtivo
responsável. Algumas práticas estão sendo adotadas no setor, como a preocupação
com toda a cadeia produtiva de cada peça, pensando nos métodos mais eficientes e
responsáveis desde a pré-produção até o processo de descarte do produto. (GWILT,
2014)
Na pré-produção, por exemplo, as autoras Fletcher e Grose (2014) sugerem
que os designers optem por fibras naturais, renováveis e biodegradáveis, pois estas
exercem pouco impacto ambiental. Segundo as autoras (ibid) o processamento têxtil
53 exerce grande impacto sobre a sustentabilidade, causando efeitos sobre a qualidade
do ar, da água, na toxicidade do solo e na saúde das pessoas e do ecossistema.
As autoras afirma que só poderá haver mudança quando os designers
passarem a envolver-se de forma ativa no processo de beneficiamento têxtil, de
forma a buscar minimizar os impactos ambientais, sociais e econômicos que esta
fase da produção pode causar.
Na fase produtiva, as autoras indicam que a colaboração com artesãos e
trabalhadores locais deva ser valorizada, pois além de gerar renda para o contexto
do trabalhador inserido, este ainda imprime características culturais em cada peça.
A implementação da sustentabilidade na área da moda é considerada um
desafio para novos designers, porém, conforme Gwilt (2014), algumas medidas
como o uso de algodão orgânico, plantado sem pesticidas, tingimentos ecológicos,
sem uso de produtos químicos e com pouco desperdício de água e a valorização do
trabalho local já podem ser encontradas em marcas de moda do mercado atual.
As empresas que realmente representam um reposicionamento
no mercado, em termos de tratamento dos funcionários, de
relação com meio ambiente ou de ações de transformação
social na comunidade não são muitas, e as que existem no
Brasil ainda não desfrutam de tempo o suficiente para serem
percebidas na consistência de suas relações ao longo do
tempo e no reflexo do seu conjunto de crenças e valores
(BERLIM, 2014,p.41).
Conforme Gwilt (2014), o uso e o descarte de produtos de moda também são
responsáveis por uma vasta variedade de impactos socioambientais. A sede por
possuir esses bens gerou um enorme crescimento da indústria de produção em
série, cujo mecanismo está em fornecer ao consumidor tendências à um valor
acessível e com um curto espaço de tempo entre as coleções. O consumo de moda
será abordado a seguir.
54
4.1 CONSUMO DE MODA
As pessoas, muitas vezes, satisfazem suas necessidades e desejos com
produtos. O produto no mercado de moda tem como função satisfazer o conceito
mais básico e inerente para a funcionalidade e o interesse do consumidor. Quando
se fala em desejo de consumo, deve-se atentar para o fato de que esse desejo é
algo inerente ao ser humano.
Não é somente o desejo que move o mundo, mas ele corresponde a uma
potente mola propulsora capaz de atiçar a vontade de aprender, realizar, crescer,
viver e ser feliz. Explicando-se o desejo com base em Freud (1976): “desejo é o
impulso de recuperar a perda da primeira experiência da satisfação”.
Para Freud (1976) o desejo é o que há de mais perturbador no humano: ele é
inconsciente, infantil, perverso, polimorfo, insatisfeito, divide o aparelho psíquico,
ultrapassa o eu, desconcerta. Assim, associando ao mundo da moda, é possível
dizer que o desejo de consumo está diretamente relacionado com o impulso, com a
motivação.
Em linhas gerais, tem-se o desejo de consumir relacionado ao impulso, ao
estímulo para adquirir determinado produto. Segundo Skinner (1967), várias teorias
motivacionais tem sua base na Psicologia, particularmente quando se trata da
Psicologia e Sociologia voltadas para o comportamento humano, principalmente
quanto ao agente consumidor.
Os estímulos podem ter suas origens internas, onde são fisiológicas ou
psíquicas ou externas, como anúncios publicitários, relações sociais de grupo ou
familiares.
Maslow (2001) coloca que as necessidades humanas explicam o
comportamento motivacional, onde a motivação é o resultado dos estímulos que
agem sobre os indivíduos resultando na ação.
O ciclo motivacional é oriundo da ação e reação dos estímulos que são
implementados através de coisa externa ou mesmo do próprio organismo das
55 pessoas. Esta é a razão para se sentirem motivadas, o que difere do processo do
estímulo, o qual é passageiro, enquanto que a motivação é muito mais duradoura.
Estar motivado depende do desejo, da carência, do anseio como dados particulares,
inerentes ao homem, não sendo, contudo, descoberto qualquer estado
objetivamente observável, que se inclua diretamente com esses dados individuais,
não tendo uma boa definição comportamental de motivação. (MASLOW, 2001).
Na Teoria Humanista, proposta de Abraham Maslow, os homens e se sentem
como tal, com suas diferenças e particularidades, sendo inerentes a elas as
necessidades fisiológicas, de segurança, de reconhecimento, afeição, autoestima e
auto realização.
Na falta de algumas delas processa-se o desequilíbrio, enfraquecendo suas
energias, porém restauradas com o desejo de continuar lutando a favor da
sobrevivência, cabendo a emoção a causa essencial para a existência da motivação.
Maslow (2001) indicava que as necessidades podem ser imaginadas como
categorizadas em uma hierarquia em que uma necessidade é mais importante do
que as outras até que ela seja satisfeita, predominando assim a necessidade
seguinte, embora a ordem também possa ser invertida.
Gade (1980), afirma que a teoria de Freud é usada no marketing não somente
para firmar motivos intrapsíquicos que levam o ser humano a consumir, mas
também no estudo em termos de propaganda. São três instâncias psíquicas
responsáveis pelo comportamento de acordo com Freud, o id, que se refere aos
impulsos primitivos, o ego, que regula os impulsos selvagens do id com base no
princípio da realidade, e o superego, que é responsável pela representação interna
das proibições da sociedade.
De acordo com Karsaklian (2004), Freud compreendia que o comportamento
humano é determinado através do inconsciente e por impulsos instintivos, assim, o
comportamento tem tendência nem sempre baseada no que é melhor para o
indivíduo.
Frederick Herzberg, de acordo com Gade (1980), é outro influente
pesquisador sobre motivações. Desenvolveu teoria embasada em dois fatores, os
insatisfatórios que causam insatisfação e os satisfatórios que causam satisfação.
56
Segundo Herzberg, não é apenas a ausência dos fatores de insatisfação que
motivam a compra e sim a presença dos fatores de satisfação, ou seja, de forma
óbvia a teoria de Herzberg apresenta duas sugestões: evitar os fatores de
insatisfação e apresentar os fatores de satisfação.
Os introvertidos tem a concentração voltada para suas próprias ideias com
tendência a introspecção, esses consumidores se apegam no seu mundo interior e
ficam alheios aos estímulos exteriores.
Já os extrovertidos se envolvem com o exterior das pessoas e das coisas, são
mais sociáveis e tem consciência do mundo que os rodeia, além de serem mais
fáceis de serem persuadidos, por conta de serem bem orientados.
Ribeiro (2012) destaca outra teoria motivacional de compra que é a da
realização ou das necessidades adquiridas de McClelland, que foca na forma em
que as necessidades podem ser aprendidas ou adquiridas durante a vida, onde o
indivíduo passa a interagir com o ambiente. São três as necessidades básicas para
o autor, a necessidade de realização, a necessidade de poder e a necessidade de
aflição.
Hirschman e Holbrook (apud LIMA, 2008), colocam o consumo hedônico
como indicador das faces do comportamento do consumidor que são inerentes a
emoção, aos aspectos multissensoriais ou até mesmo o deslumbramento com
determinados produtos.
Os consumidores antecipam o sentimento de prazer com relação aos
produtos e serviços, onde muitas vezes essa sensação é fantasiosa ou passageira,
haja vista, o prazer residir na imaginação do consumidor.
O consumo utilitário conforme Hirschman e Holbrook (apud LIMA, 2008), está
focado na teoria da ação racional de FishBein e Ajzen (1975), que tem como fator
determinante do comportamento de consumo a intenção que o consumidor tem de
praticar determinado comportamento. A escolha através da consciência de suas
consequências que julgam ser mais desejáveis é que é a base da teoria.
Para Berlim (2012) o consumo e principalmente a posse de produtos,
materiais ou imateriais, representam para o indivíduo contemporâneo mais do que
um movimento de aquisição.
57
De acordo com a autora, “os valores atribuídos aos produtos transcendem
eles próprios e as motivações do consumo de moda vão além da clássica explicação
da busca por status” (2012, p.46). A autora defende que o consumidor também é
influenciado por valores individuais, emocionais e psicológicos.
Ainda de acordo com a autora (ibid), os produtos de moda estão diretamente
conectados as necessidades de “parecer” dos consumidores, e estes aspectos
inconscientes da subjetividade estão intimamente relacionados à identidade de cada
persona.
Assim como os objetos as roupas fazem parte do nosso cotidiano e
testemunham nossa história, carregam mensagens e lembranças, assim como os
cheiros do nosso corpo, nossos movimentos e sensações. Svendsen (2010) afirma
que todos somos tocados pela moda e que embora muitas pessoas tentem
contradizer essa afirmação, essa negativa pode ser facilmente contestada através
de seus próprios hábitos de consumo.
Compreender como e porque as pessoas consomem moda é uma tentativa
de entender as maneiras como as identidades culturais, pessoais e sociais são
construídas e exercidas.
Parte-se do pressuposto de que através do consumo as pessoas constroem
uma imagem de si para si mesmas e para os outros e sinalizam suas preferências e
gostos de modo a aproximarem-se de alguns e afastarem-se de outros sem que seja
preciso pronunciar uma palavra sequer. “Não somos aquilo que compramos, mas,
sem dúvida, compramos o que acreditamos que somos, ou gostaríamos de ser”.
(MASSAROTO, 2008, p. 5).
De acordo com Gwilt (2014), o relatório “Bem vestido? O presente e o futuro
da sustentabilidade do vestuário e dos têxteis no Reino Unido da Universidade de
Cambridge, publicado em 2006, relata que só no Reino Unido há cerca de 2,35
milhões de toneladas de têxteis desperdiçados no período de apenas um ano.
Desses números, 74% são enviados aos aterros sanitários locais, enquanto 26%
são divididos igualmente entre recuperação e incineração.
58
Portanto é importante ressaltar que, uma vez que a roupa é comprada ela
passa a ser de responsabilidade de seu dono. Seu cuidado e manuseio se encaixam
na chamada “fase de uso” que consiste em várias etapas de conservação como
lavar, secar, guardar e inclusive consertos e reparos. A autora defende que com
esse consumo acelerado é comum que os produtos sejam descartados muito
rapidamente, ainda em bom estado de uso, antes da necessidade de reformas ou
mudanças (GWILT, 2014).
Levando em consideração que apenas os consumidores ingleses descartam
cerca de 30kg de material têxtil per capita, e que estes terão seu fim em aterros
sanitários, deve-se pensar em oportunidades de ressignificação das peças
consumidas para que assim, exista motivação para que determinado produto seja
reformado, concertado e até mesmo reciclado
Para tanto o designer de moda, ao projetar uma roupa, deve, antes de tudo,
buscar conhecer bem o seu público, apreender suas escolhas culturais,
necessidades e desejos, tendo em vista conciliar as características pesquisadas
com o conforto e a praticidade.
De posse desses conhecimentos sobre o grupo social ao qual o sujeito está
integrado e, traçadas as características do perfil do mercado consumidor que se
deseja atingir, é possível manipular a criação de modelos do vestuário que o
individualize e identifique, podendo-se inovar na produção de moda. A inovação no
mercado de moda é abordada no tópico a seguir.
4.2 CONCEITO DE INOVAÇÃO EM MODA
Acredita-se que a queda de barreiras geográficas, produtos customizados,
fábricas chinesas fazendo cada vez mais barato, consumidores híbridos e cada vez
mais exigentes, marcas valendo mais que parques fabris, responsabilidade social
empresarial, perda da capacidade do estado de regulamentação em diversas
questões e um salto na capacidade de organização da sociedade civil, são exemplos
das mudanças no ambiente competitivo, que estão fazendo as organizações se
59 relacionarem de maneira intensa com as variáveis ambientais, acompanhando de
perto as dinâmicas dos mercados e, principalmente, as mudanças do consumidor.
As atividades de inovação envolvem todos os passos científicos, tecnológicos,
organizacionais, financeiros e comerciais, inclusive o investimento em novos
conhecimentos, que, levem à introdução de produtos ou processos
tecnologicamente novos ou substancialmente melhorados.
Para inovar faz-se fundamental que se conheça o consumidor do seu produto,
reunindo informações suficientes possibilitam lançar produtos no mercado que
atendam às expectativas do consumidor.
Isso fica explícito em Araújo (1995, p. 1):
Na era da competitividade, da exigência dos consumidores e da revolução das comunicações, já não basta produzir em conformidade com as especificações, é fundamental que estas tenham sido concebidas a pensar nos desejos, ansiedades, caprichos e necessidades de grupos diferenciados de consumidores, por vezes heterogêneos e bem sofisticados.
A definição de comportamento de consumo é muito importante para o estudo
do público que se quer atender. Por isso Garcia e Miranda (2007, p. 1) deixam claro
que:
O comportamento de consumo pode ser explicado pela necessidade de expressar significados mediante a posse de produtos que comunicam à sociedade como o indivíduo se percebe enquanto interagente com grupos sociais. A função de possuir é criar e manter o sentido da autodefinição: ter, fazer e ser estão integralmente relacionados. Pessoas expressam o seu eu no consumo e veem as posses, por conseguinte, como parte ou extensão do eu.
Os consumidores dos produtos de moda são pessoas motivadas por
necessidades socioculturais e intrapsicológicas, como personalidade e autoconceito,
motivações estas que merecem análise. Uma vez que atinge suas necessidades e
objetivos, o consumidor, imediatamente desenvolve outros, existindo assim um
60 psicodinamismo no consumo, no qual a moda é muito representativa.
A moda, atualmente, representa uma das mais importantes atividades
econômicas de qualquer país, pois dita comportamentos, além de servir como meio
de mensagem. A indumentária, assim como as artes plásticas, a literatura, o cinema,
é um elemento de expressão que faz parte da produção cultural de uma sociedade.
Os avanços do setor da moda, impulsionados pela demanda do consumo, por
maiores investimentos e qualificação deste campo, tem ganhado notoriedade no
mundo através de produções inovadoras e criativas.
No setor de moda a inovação se faz fundamental, principalmente
considerando-se a concorrência existente neste mercado. Vale destacar ainda a
concorrência existente no setor de confecções, o qual apresenta um amplo número
de empresas formais.
De acordo com dados da Associação Brasileira da Indústria Têxtil e de
Confecção (ABIT) (2012) o Brasil hoje conta com 30 mil empresas de confecção
formalizadas, sem considerar as revendedoras e lojas informais existentes.
O setor é responsável por um faturamento de US$ 67 bilhões, estimando-se
que o investimento na área é de US$ 2,5 bilhões. A média de produção de
confecções entre vestuário, cama, mesa e banho atinge o significativo número de
9,8 bilhões de peças.
Quanto aos empregos gerados pelo setor tem-se 1,7 milhão de empregados
diretos e 8 milhões se adicionarmos os indiretos e efeito renda, dos quais 75% são
de mão de obra feminina. (ABIT, 2012).
Vale ressaltar, com base nos dados da ABIT (2012), que a moda brasileira
está entre as cinco maiores Semana de Moda do mundo, e que é referência mundial
em design de moda praia, jeanswear e homewear, tendo crescido também os
segmentos de fitness e lingerie.
Dávila et al. (2008) dissertam que no setor da moda tem-se uma inovação
incremental, com melhorias feitas no design, na qualidade do produto, no
aperfeiçoamento de layouts e nos processos, além de melhorias nos arranjos
logísticos e organizacionais. Assim, pode-se dizer que a inovação em moda abrange
todas as vertentes desde seu planejamento até sua distribuição.
61
Nesse setor, novos produtos são lançados em um curto espaço de tempo, em
geral tem-se duas coleções por ano chamadas de primavera/verão e de
outono/inverno, todavia, as empresas do ramo estão deixando de adotar apenas
essas coleções e lançam novos produtos com um frequência cada vez maior, assim,
além das coleções citadas, lançam novos produtos em um período menor de tempo.
Choi, Chiu e Chester (2010) destacam também a chamada fast fashion4¸ onde novos
produtos são lançados em média a cada 15 dias. Os autores colocam como
benefício desse lançamento de novos produtos em curto espaço de tempo a não
geração de estoque e, assim, não se gera produtos obsoletos.
Vale destacar que na indústria da moda existem modelos diferentes de
inovação, sendo um dos mais conhecidos o modelo de Pesendorf (1995), que se
trata de um modelo microeconômico, onde um só designer faz inovações nos
produtos, havendo um custo fixo para redesenhar novas peças. Esse modelo
considera dois tipos de consumidores: produto de alto tipo e produto de baixo tipo, a
escolha depende do próprio estilo do consumidor.
Pesendorf (1995) não considera um ciclo de moda com dimensão
estabelecida, geralmente, aqueles produtos que possuem um valor alto tem seu
ciclo de inovação longo, enquanto aqueles que possuem um valor mais baixo têm
um ciclo de vida mais curto.
Destaca-se que esse modelo sofre bastante críticas, para Coelho, Klein e
MCclure (2004) a moda trata-se de um fenômeno social por esse motivo não pode
ser explicada por modelos matemáticos, além disso os autores afirmam que não
existe apenas dois tipos de consumidores ou mesmo que escolhem um produto
apenas pelo seu preço.
Cappetta, Cillo e Ponti (2006) descrevem um modelo de inovação em moda
baseado no estilo e na compatibilidade social e estética. Tem-se ainda os modelos
Trickle-down e Bubble-up que são descritos por Jones (2005) e Caldas (2007)
respectivamente, em geral, os autores consideram em seus modelos um ciclo de
vida da moda que vai desde o surgimento de tendência de moda até a sua difusão,
4 (moda rápida) padrão de produção e consumo no qual os produtos são fabricados, consumidos e descartados de forma rápida.
62 partido dos desfiles de alta costura e das marcas de luxo e por fim chega ao
consumo de massa e aceitação dos consumidores.
Alguns artistas são reconhecidos exclusivamente pelas marcas que usam em
eventos de gala, outros usam joias que são emprestadas por joalherias em
acontecimentos como o Oscar, consolidando dessa forma um status.
Outros utilizam produtos apenas uma única vez e já viram artigo de desejo.
Algumas pessoas anseiam tanto ter um produto de luxo, que os compram
falsificados, já que devido às diferenças e condições existentes se tornam de pouca
acessibilidade a elas.
As fábricas produzem seus representantes do consumo, identificados pela
marca nas lojas, shoppings e estabelecimentos comerciais. Existem comércios que
são representantes do luxo, como os shoppings, mas não são destinados somente a
isso, pois tem uma diversidade de ambientes. (BAUDRILLARD, 1995).
O fato é que a orientação inusitada pela indústria do entretenimento atua pela
sedução. A autoridade das celebridades deriva da autoridade do número onde
aumenta com o número de espectadores, ouvintes, compradores de livros e discos.
O que os espectadores esperam das confissões públicas das pessoas é a
confirmação de que a sua solidão não é apenas favorável pode dar bons frutos.
Bernardi (2010) também diz que as pessoas hoje em dia “precisam de ídolos que
lhes deem um senso de segurança, permanência e estabilidade num mundo cada
vez mais inseguro, dinâmico e mutável”.
Os ídolos, portanto devem ser portadores da mensagem de que a não
permanência está aqui para ficar, mostrando ao mesmo tempo, que a instabilidade
deve ser apreciada e experimentada. Esses ídolos realizam um pequeno milagre:
fazem acontecer o inconcebível, invoca a experiência sem comunidade real, a
alegria de fazer parte sem o desconforto do compromisso. (BERNARDI, 2010).
Quaisquer que sejam os laços estabelecidos na vida da comunidade estética,
elas não vinculam verdadeiramente. O texto menciona também a modernidade como
libertadora de força das mudanças.
63
Os operadores políticos e porta-vozes culturais são fiéis ao espírito de
transformação, abandonando o modelo de justiça social como horizonte último de
sequência de tentativa e erros.
Enquanto o modelo Trickle-down se baseia na disseminação por artistas
utilizando as peças, o modelo Bubble-up tem uma moda que emerge das ruas, dos
movimentos de cultura alternativa ou “underground”, sendo este último considerado
a tendência do futuro.
Para Fletcher e Grose (2011), a maioria das inovações de moda em
sustentabilidade podem ser agrupadas de uma forma geral, em quatro áreas
interligadas:
• Interesse crescente em materiais de fontes renováveis, a citar como exemplo,
o uso de fibras têxteis de rápida renovação;
• Materiais com nível mais redução de insumos de produção: água, energia e
produtos químicos, resultando em fibras sintéticas de baixo consumo de
energia ou cultivo de fibras orgânicas;
• Melhores condições de trabalho na produção de fibras para agricultores e
produtores;
• Redução de desperdício na produção de materiais, gerando o interesse em
fibras biodegradáveis e recicláveis provenientes dos fluxos de resíduos da
indústria e do consumidor.
São os conceitos de moda lenta de produção e as inovações baseadas em
sustentabilidade, apresentados nesse capítulo, que guiam o ciclo produtivo da
empresa estudada por essa pesquisa. Portanto, a seguir serão apresentados os
dados obtidos, através da pesquisa de referencial teórico, sobre a principal matéria-
prima que a empresa utiliza, a lã pura.
5 SOBRE A LÃ
A lã é valorizada por suas qualidades e entre todas as fibras é a mais
hidroscópica, com grande capacidade de absorção de umidade da atmosfera,
64 ajudando a baixar a temperatura do corpo nos dias mais quentes. Isso confere a lã a
propriedade de isolante térmica, tanto do frio quanto do calor.
Essa é a habilidade de absorver e liberar a umidade do ar
circundante, sem comprometer sua eficiência térmica. Quando
as fibras de lã absorvem a umidade, geram pequenas
quantidades de calor. Esta propriedade cria um efeito tampão
natural, estabilizando as alterações de calor que ocorrem com
umidade relativa do ar (BERNHARD, 2013, P. 9).
A lã, além disso, protege a pele contra raios UV, podendo absorver até 35%
do peso em umidade, sem sentir frio. Além disso tem a capacidade de não ser
inflamável, pois quando em contato com o fogo extingue a combustão. É macia ao
toque, possui caimento natural e grande durabilidade (DIAS, et al, 2015).
É uma matéria-prima durável, resistente, forte, flexível, elástica, não amassa
e não perde a forma (BERNHARD, 2013).
A lã possui elevado teor de lanolina, um óleo natural com qualidades benéficas que têm sido reconhecidas há séculos no tratamento de dores musculares e articulares, entorses, contusões, lesões e problemas de sono (BERNHARD, 2013, P. 10).
No Brasil, a lã é usada na moda com viés artesanal pelo clima tropical do
país, sendo um tecido ideal apenas para o inverno (DIAS, et al, 2015).
As lãs finas e superfinas são chamadas de lã fria e são usadas em tecidos
finos para vestuários de alto valor agregado e roupas esportivas. Já a lã grossa,
acima de 30 micras, são menos suaves e usadas mais em tapeçaria para decoração
(BERNHARD, 2013).
A seguir serão apresentados as características técnicas da fibra, o histórico
da produção de lã no Rio Grande do Sul, estado onde esta pesquisa acontece, e
ainda a cadeia produtiva adotada para beneficiamento da fibra.
65 5.1 CARACTERÍSTICAS TÉCNICAS DA LÃ
Quimicamente a lã é uma proteína denominada queratina, formada por
aminoácidos unidos entre si por longas cadeias. Em sua composição encontra-se
51% de carbono, 22% de oxigênio, 17% de nitrogênio, 7% de hidrogênio e 3% de
enxofre. Essa estrutura solúvel em água lhe confere grande estabilidade,
responsável pela conhecida elasticidade e resistência da matéria-prima. (OSÓRIO et
al 2014)
A estrutura física da lã se apresenta em três camadas: cutícula, cortícula (ou
cortesa) e medula, como mostra a Figura 6. A primeira e externa camada, cutícula, é
a própria lã que composta de queratina apresenta células em forma de escamas de
peixe, sobrepostas umas às outras.
O brilho da lã é originado conforme o tamanho e número de cutículas, as
fibras mais grossas refletem mais facilmente a luz parecendo mais brilhosas e as lãs
mais finas absorvem a luz, ocasionando a falta de brilho.
A cutícula também é responsável por gerar a suavidade ao tato, que ocorre
conforme o maior número de escamas por centímetro, e por gerar resistência e
poder feltrante (HÖCHER, 2000; OSÓRIO et al, 2014).
Figura 6 - Estrutura da fibra
Fonte: Osório et al, 2014 pg 452
66
A cortícula compõe o corpo da fibra, está protegida pela cutícula e é formada
por células fusiformes e longas, conferindo a lã elasticidade, resistência e
extensibilidade.
A medula, camada mais interna da fibra, é formada por células irregulares e
seu aparecimento desvaloriza o material, visto que esta é uma característica de
presença de ar dentro da fibra e sua quebra ocasiona refração da luz, dificuldades
de tingimento e aspereza à matéria-prima (OSÓRIO et al, 2014).
Devido à essa complexa estrutura viva, foi conferido a lã o título de "rainha
das fibras têxteis" e suas propriedades oferecem características ideais para a
industrialização e fabricação de tecidos para o vestuário.
Uma das citadas capacidades da fibra é a de ser hidroscópica, ou seja, fazer
a troca de umidade do corpo que a veste com o ambiente, o que também lhe torna
termorreguladora, pois mantém a temperatura do corpo em um nível agradável ao
externo. Também se destaca sua função de adaptação e acomodação devido à sua
alta extensibilidade e flexibilidade, assim como sua capacidade não inflamável e de
extinguir combustão (OSÓRIO et al, 2014; PEZZOLO, 2009).
Assim como o pelo humano, a lã se forma sob a pele do animal e esta é
formada de três camadas principais: epiderme, mesoderne e endoderme. A raiz lã
se forma dentro da primeira e mais interna camada, a endoderme, onde também se
encontram diversas estruturas vivas como as glândulas sebáceas (glândulas de
gordura) e as glândulas sudoríparas (glândulas do suor).
A mistura das secreções de suor e gordura nos ovinos gera uma substância
chamada suarda, responsável pela lubrificação da fibra ela impede que a lã se
enrede e condense, protegendo-a de agentes externos, principalmente dos raios
ultravioletas que podem alterar sua composição e estrutura. A falta de suarda resulta
em uma lã quebradiça, seca e condensada. (HÖCHER, 2000).
Além da suarda, a glândula sebácea é responsável pela excreção da lanolina,
substância formada pela mistura de ácidos graxos e esteroides. A lanolina é uma
cera, insolúvel em água, solúvel em solventes orgânicos e que tem objetivo de evitar
o feltramento das fibras, repelir água e proteger o animal dos raios solares.
67
Por mais que processos tecnológicos sejam usados no processo de lavagem
visando sua inteira retirada, fragmentos de lanolina sempre podem ser encontrados
no interior da fibra (OSÓRIO et al., 2014).
Conforme Bernhard (2013), esse óleo natural apresenta qualidades benéficas
e terapêuticas reconhecidas no tratamento para dores musculares, articulares e de
lesões e quando em contato com o corpo através dos tecidos de lã, pode promover
sensação de relaxamento ao usuário.
5.2 A PRODUÇÃO DE LÃ NO ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL
Apresenta-se a seguir a produção de lã no estado, destacando o seu histórico
e raças produzidas na região.
5.2.1 Histórico
A espécie ovina é distinta, pois devido a sua diversidade produtiva e sua alta
capacidade de adaptação a diferentes condições climáticas, está difundida por
quase todas as regiões do mundo. Assim é no Rio Grande do Sul, onde a
ovinocultura é uma das principais atividades desenvolvidas na pecuária local (PIRES
et al, 2014).
Segundo Viana (2008), o estabelecimento da atividade como forma de
exploração econômica se deu no início do séc. XX, onde a crescente valorização da
lã no mercado internacional elevou a exploração da fibra, o principal objetivo da
ovinocultura.
A primeira estatística oficial de ovinos no Rio Grande do Sul foi realiza em
1797 e somava em torno de 17.500 animais (SANTOS; AZAMBUJA; VIDOR, 2009).
Dois séculos depois, no final da década de 1970, a ovinocultura atingiu seu apogeu
e chegou ao número de 13 milhões de animais conforme o Instituto Brasileiro de
Geografia e Estatística (IBGE, 2009) sendo considerada a segunda mais importante
atividade econômica do Estado.
Como o principal foco da atividade era a exploração da lã, a cadeia produtiva
se desenvolvia com o propósito de maximizar a produção através da criação de
68 raças específicas para esse propósito, como a Merino Australiano e a Ideal (ÁVILA
et al, 2013)
De acordo com Nocchi (2001), nesse período o valor monetário da lã no
mercado internacional chegou perto dos US$ 4,00/kg e essa valorização motivou os
produtores a aumentarem seus rebanhos, assim como a necessidade de mão de
obra aumentando o número de emprego e renda, e o volume de produção de lã no
Rio Grande do Sul que chegava a 36 milhões de quilogramas por ano.
Porém, no fim da década de 1980 ocorreu a pior crise do setor, que se
estendeu durante toda a década de 1990. Segundo Viana (2008), essa crise se deu
em decorrência do grande estoque de lã da Austrália, onde ainda se encontra a
maior produção mundial, que com o objetivo de proteção comercial criou um
mecanismo baseado em grandes compras e vendas da matéria-prima elevando
assim o preço do produto. Contudo, os preços mais elevados fizeram com que os
consumidores contestassem os valores e deixassem de comprar lã.
A Austrália, na espera da reação do mercado, optou por estocar toda sua
produção, porém os compradores começaram a migrar para as fibras sintéticas que
estavam sendo introduzidas no mercado nesse mesmo período e assim instalou-se
no mundo inteiro a denominada "crise da lã". (NOCCHI, 2001)
O Estado do Rio Grande do Sul, que na época exercia grande importância na
produção e no mercado internacional da lã, sentiu gravemente os efeitos da crise. A
representatividade da negociação com o mercado externo caiu drasticamente, assim
como as cooperativas de recebimento, armazenamento e beneficiamento da
matéria-prima que infelizmente desapareceram da cadeia produtiva o que ocasionou
o cancelamento dos créditos subsidiados à ovinocultura (SANTOS et al., 2009;
NOCCHI, 2001).
A crise causou uma notória diminuição dos rebanhos gaúchos, chegando a
5,6 milhões de animais, além da queda do preço da fibra, que chegou a U$$ 1,52/ kg
(FAOSTAT, 2011 apud ÁVILA et al., 2013).
Enquanto países como Uruguai e Austrália, que hoje são reconhecidos pela
qualidade e finura de sua fibra, procuravam capacitação e formas de produção que
levassem sua lã ao topo das fibras naturais produzidas no mundo, para assim
69 conseguir enfrentar a crise e retornar ao mercado, os produtores gaúchos migravam
para a agricultura ou, os que não desistiram da atividade, reestruturavam seus
rebanhos para então trabalhar com animais de duplo propósito, lã e carne,
introduzindo assim outras raças à produção gaúcha como a Corriedale, que
atualmente representa em torno de 60% do rebanho do Estado. (NOCCHI, 2001;
VIANA, 2008)
As raças laneiras presentes nos Estados serão apresentadas a seguir.
5.2.2 Raças Produzidas no Estado
Dentre as raças produzidas no Rio Grande do Sul cita-se a Merino
Australiano, Ideal ou Polwarth, Corriedale, estas que serão melhor detalhadas a
seguir. A raça Merino Australiano é originária da Espanha, porém difundida por
vários países e constitui diversas variedades. No Rio Grande do Sul optou-se pela
criação da variedade Australiana, pois esta apresenta melhor lã, de fibras mais
longas e cor clara, apresentado na figura 7.
A espessura da fibra está na medida entre 16 e 26 micras, classificando a lã
entre Merina Fino e Prima B nos padrões brasileiros de classificação de lã suja. O
velo5 pesa em entre 3 a 6 kg nas ovelhas fêmeas e de 6 a 15 kg nos carneiros.
(MACEDO, 2014).
5 O total de lã retirada do animal, descontando as lãs das patas e da barriga. (BERNHARD; DIAS;
GRAZZIOTIN, 2013)
Figura 7 - Raça Merino
70
Fonte: Magazine (2013)
Já a raça Ideal ou Polwarth é Originária da Austrália é o resultado do
cruzamento genético entre carneiros da raça Lincoln e fêmeas Merino Australiana,
apresentado na imagem 8. Apresenta lã de cor branca, macia e com espessura
entre 23 e 26 micras, sendo classificada como Amerinada, Prima A e Prima B. O
velo das fêmeas da raça Ideal pesa entre 2,5 a 5kg e de 8 a 10kg nos carneiros.
(MACEDO, 2014)
Figura 8 - Raça Ideal
Fonte: D’agua (2013)
Outra raça produzida no Estado é a Corriedade. Originária da Nova Zelândia
é o resultado do cruzamento entre as raças Lincoln e Merino e posteriormente com
as raças Leicester e Border Leicester. É a raça de dupla aptidão mais presente na
América do Sul e é uma raça com perfeito equilíbrio zootécnico, sendo 50% para
produção de lã e 50% para produção de carne, apresentada na imagem 9.
Sua lã é branca e bem lubrificada, com diâmetro entre 26,5 a 30,9 micras,
sendo classificada como Cruza 1 e Cruza 2 (MACEDO, 2014).
71
Figura 9 - Raça Corriedale
Fonte: Paiva (2014)
Como já citado anteriormente, as lãs finas são utilizadas para o vestuário por
seu alto teor de conforto. Isso se deve ao fato de que as lãs finas são compostas por
fibras longas, tornando-as fios contínuos e que não formam peeling6. Entretanto, as
lãs mais grossas são compostas for fibras curtas, que apresentam baixo teor de
conforto, maior apresentação de peeling e toque desconfortável.
Como apresenta o quadro 1, a raça Merino Australiano é a que fornece a lã
mais fina e de fibras longas, por isso é a mais utilizada no ramos do vestuário, assim
como a Ideal. Já a raça Corriedale produz uma lã mais grossa de fibras mais curtas
mais utilizada para artesanato e para confecção de peças de lida no campo.
(BERNHARD, DIAS E GRAZZIOTIN, 2013)
Quadro 1- Classificação da Lã
Classificação Brasileira Diâmetro em Micras Raça Produtora
Merina Fina 15-18 Merino
6 Também conhecido como as bolinhas das roupas, que geram sensação de coceira. (PEZZOLO,
2009)
72
Merina 19 - 22,0 Merino
Amerinada 22,1 - 23,4 Merino e Ideal
Prima A 23,5 - 24,9 Ideal
Prima B 25,0 - 26,4 Ideal
Cruza 1 26,5 - 27,8 Corriedale
Cruza 2 27,9 - 30,9 Corriedale
Fonte: A autora (2017) adaptado de Bernhard, Dias e Grazziotin (2013)
A seguir será estudado o processo de produção da matéria-prima.
5.3 CADEIA DE PRODUÇÃO
Na presente seção serão apresentados os processos que fazem parte da
cadeia produtiva da lã gaúcha. Conforme Bernhard, Dias e Graziziotin (2013) o
processo inicia-se na Esquila, técnica que será explicada a seguir.
5.3.1 Esquila
O processo de esquila consiste na retirada da lã dos ovinos, ilustrado na
Figura 10, pode ser feito com tesoura manual, chamada de esquila manual ou a
martelo, elétrica, chamada de esquila mecânica ou a máquina ou ainda pode ser
realizado de acordo com o Método Australiano ou Talli Hy. Os métodos serão melhor
descritos a seguir.
73
No Rio Grande do Sul, esse processo geralmente começa no mês de
Setembro e se estende até o fim do mês de Dezembro (BERNHARD, DIAS E
GRAZZIOTIN, 2013, p. 90)
Fonte: Dessler, 2013.
Destaca-se que no Rio Grande do Sul, o termo esquilar é o mesmo que
tosquiar, tratando-se do processo de extração da lã do corpo animal. A seguir serão
apresentados os três conhecidos para o processo.
5.3.1.1 Método Manual Ou A Martelo
Segundo Bernhard, Dias e Grazziotin, (2013) esse é o método mais antigo e
ainda o mais utilizado no estado. É indicado para fazendas com peque
nos rebanhos, pois em 8 horas de trabalho, um esquilador experiente, consegue
tosquiar cerca de 30 animais.
Nesse método, como ilustra a Figura 11, é preciso apenas uma tesoura e o
animal ficam preso, ou maneado, como se costuma chamar. É muito utilizado
devido ao baixo custo dos aparelhos e da tradicionalidade do método.
Figura 10 - Processo de esquila
74
–Fonte: Cstaffa, 2007.
Na técnica manual pode-se utilizar a tesoura ou o martelo. Produtores
preferem a tesoura, pois é menos agressiva e protege as ovelhas contra as
mudanças climáticas.
5.3.1.2 Método mecânico ou a máquina
Nesse método é utilizada uma tesoura elétrica, como uma máquina de corte
de cabelo, e por isso é muito mais rápido e o corte fica mais igual. É indicado para
grandes rebanhos, pois um esquilador, em um dia de trabalho, consegue esquilar
em torno de 100 a 150 animais. Nesse método, ilustrado na Figura 12, o animal
também fica maneado (BERNHARD; DIAS; GRAZZIOTIN, 2013).
Figura 11 - Método manual
75
Figura 12 - Método a máquina
Fonte: Chipude
5.3.1.3 Método Tally Hi Ou Australiano
Esse método ainda é considerado novidade no estado, e embora haja,
segundo R$ 200 mil previstos do Fundo de Desenvolvimento da Ovinocultura
(FUNDOVINOS) para o investimento de 35 máquinas de tosquia, o método, segundo
Bernhard, Dias e Grazziotin (2013) enfrenta dificuldade de chegar ao produtor, que
já está acostumado à sua forma de tosquiar os animais.
Conforme os autores (ibid), esse método traz benefícios, pois o animal é
esquilado solto, preso apenas entre as pernas do esquilador, como mostrado na
Figura 12. Isso evita que o animal sofra e o velo é retirado inteiro. Esse serviço é
feito em menos tempo e com bem mais qualidade, pois a fibra não fica tão suscetível
a impurezas e sujeiras, valorizando o produto.
76
Fonte: Bernhard; Dias; Grazziotin, 2013, p. 92
5.3.2 Lavagem
Após a lã ser retirada no processo de esquila, ela precisa passar por um
processo de lavagem que visa retirar o máximo de suarda e lanolina da fibra, assim
como demais materiais orgânicos presentes na lã.
Artesanalmente esse processo é feito em baldes ou tonéis, onde a lã é
mergulhada em água pura à temperatura aproximada de 40º C. Nesse período é
necessário evitar muita fricção entre as fibras evitando que a lã se feltre. Esse
procedimento é repetido diversas vezes até que a lã se encontre limpa, mais clara e
menos gordurosa.
No método artesanal pode ser adicionada uma fração de amaciante durante a
última lavagem, para que a lã perca seu cheiro característico. (PARKES, 2009)
Já industrialmente, o processo de lavagem de lã consiste em um
procedimento técnico. Nesse método a lã é depositada em uma máquina que é
composta de uma esteira, bacias com sistema de decantação, ancinhos suspensos
e um duto de ar para secagem.
Figura 13 - Método tally hi
77
As fibras depositadas na esteira são conduzidas até primeira bacia que
contém água em até 35º C e sabão neutro.
Nesse primeiro molho é retirado o maior número de lanolina e suarda
presentes na fibra com o auxílio do ancinho, uma travessa dentada que imitando
uma escova, vai penteando a lã submersa e assim evitando seu feltramento.
Após esse banho a esteira vai conduzindo a lã as demais baciais e até o duto
de secagem que, como um secador de cabelo, sopra ar em temperatura ambiente
até que a lã esteja seca (HALLIDAY, 2000).
Com esse processo feito a lã limpa passa para o processo de cardagem, que
será descrito a seguir.
5.3.3 Cardagem
O processo de cardagem tem a finalidade de abrir as fibras para
desembaraçá-las e remover possíveis resíduos do processo de lavagem. Além
disso, a cardação permite que as fibras, até então curtas, se tornem uma fita
homogênea e contínua, pronta para o processo de fiação (HUNTER, 2000).
Artesanalmente o processo de cardagem pode ser realizado de duas formas,
manual ou mecânica. Para o método manual são usadas duas escovas dentadas
com fios de aço que movimentadas em sentidos opostos, como mostra a figura 14,
penteiam a lã e desfazem seus nós (PARKES, 2009).
Figura 14 - Carda manual
78
Fonte: Bernardo (2014)
Para agilizar o processo pode ser usado uma carda elétrica, que consiste em
dois rolos rotativos revestidos com dentes de fios de aço, onde a lã vai passando e
sendo penteada, conforme mostra a figura 15. (PARKES, 2009)
Figura 15 - Carda elétrica
Fonte: Tejo Lo Que Hilo
O processo industrial de cardagem consiste em uma máquina com o mesmo
funcionamento da carda elétrica, porém com muito mais capacidade produtiva.
A carda industrial é formada por diversos rolos dentados, como mostra figura
16, que como uma esteira, vai penteando a lã e deixando-a pronta para o processo
de fiação, que será descrito a seguir (HUNTER, 2000).
79
Figura 16 - Carda Industrial
Fonte: TEXMICBOL, 2014
5.3.4 Fiação
O processo de fiação tem como objetivo a transformação da placa de lã
cardada em fios de diversas espessuras. Para isso as fibras cardadas passam pela
roca, instrumento artesanal de madeira, que conforme a pressão exercida pelo fiador
vai condensando as fibras e unindo-as em um único fio, como mostra a figura 17
(PARKES, 2009).
Figura 17 - Fiação artesanal
Fonte: Casa Cláudia, 2011
80
O processo de fiação quando artesanal é realizado em quatro rodas próprias
com filamentos unificados consistentemente.
Esse método também pode ser feito de forma industrial, onde a placa de lã
após a cardagem é armazenada em rolos em um cilindro fundo e a máquina, a partir
da extremidade do rolo, vai puxando e exercendo a pressão delimitada para cada
espessura de fio desejado, como mostra a figura 18 (HUNTER, 2000).
Figura 18 - Fiação industrial
Fonte: Textile Industry
No processo de fiação industrial da lã, mede-se a sua espessura em micras
que vai da mais fina que é considerada a melhor para a mais grossa. É a distancia
da ondulação da mecha de lã que determinará a qualidade.
81
6 ESTUDO DE CASO
O estudo de caso que norteia a presente pesquisa, diz respeito a uma
empresa de vestuário feminino que utiliza, como matéria-prima para confecção de
seus produtos, lã pura produzia por um produtor rural da região da campanha do Rio
Grande do Sul.
Para preservar o anonimato dos indivíduos envolvidos na pesquisa, suas
identidades serão mantidas em sigilo, utilizando apenas letras para sua
identificação.
A análise desse estudo se dará a partir de dados de documentos coletados
sobre a empresa; do referencial teórico relacionado ao Design e à sustentabilidade;
de entrevistas com fornecedores e da observação em campo das etapas que
constituem o ciclo de vida dos produtos.
6.1 SOBRE A EMPRESA
A empresa objeto desse estudo será identificada como Empresa AMG, a fim
de preservar sua identidade e anonimato como mencionado previamente.
A empresa AMG trata-se de uma microempresa optante pelo Simples
Nacional, composta por duas sócias-proprietárias e uma designer funcionária. A
empresa conta ainda com dois prestadores de serviço em contrato mensal e 15
prestadores de serviço para confecção de seus produtos.
Em seu site na internet a empresa se apresenta como:
Moda sustentável, responsabilidade social e produção artesanal são as premissas que movem a “empresa AMG. Com foco em peças exclusivas de lã pura e materiais sustentáveis, acreditamos no consumo consciente, com maior qualidade e respeito pela natureza e menos quantidade.
82
Essa empresa surgiu no ano de 2014, a partir de um momento de tristeza
para uma das sócias. No ano anterior, 2013, a fundadora perdeu sua avó, uma
tricoteira excelente e muito talentosa que não conseguiu terminar seu último
trabalho, deixando-o pela metade. Ela não ensinou a técnica a nenhuma de suas
filhas e netas e, assim, estas precisaram procurar alguém para finalizar o blusão.
Nesse momento a sócia, formada em moda, decidiu que trabalharia com mão
de obra social, procuraria idosas que tricotassem para suas famílias e não
procurassem na técnica fonte de sustento. Pois assim poderia dar-lhes prazer, por
fazerem o que gostam, e ainda um complemento de renda. Portanto encontrou
dificuldades no recrutamento de idosas, e assim optou por trabalhar com mulheres
de diferentes faixas etárias, abaixo da linha da miséria, atendidas pela prefeitura do
município de Dom Pedrito, sua cidade natal.
Quando chegou o momento de escolher a matéria-prima para confecção dos
primeiros protótipos a empresária decidiu que não trabalharia com material sintético,
apenas com fibras naturais. Optando, assim, por trabalhar com lã pura, matéria-
prima rica em qualidade e muito produzida na região da campanha do Estado do Rio
Grande do Sul.
Conforme o site da empresa “o objetivo da marca é propagar um estilo de
vida, baseado em amor, dedicação e consciência, com aproveitamento dos recursos
naturais sem agressão ambiental”.
A seleção da matéria-prima acontece em parceria com a ARCO- Associação
Brasileira de Criadores de Ovinos, que selecionou um criador de ovelhas que preza
pelo bem estar dos seus animais e pela qualidade de sua lã e é acompanhado pela
associação. Esse é o único fornecedor de matéria-prima da empresa e os dados
colhidos em sua entrevista serão apresentados na seção seguinte.
Sobre a mão de obra, o site da empresa informa que:
O trabalho artesanal é realizado por tricoteiras da cidade de Dom Pedrito no interior do RS, que além de fornecerem a mão de obra para as peças em tricô, recebem apoio e assistência social com uma remuneração justa. Através da especialização do trabalho empoderamos redes de mulheres que estão em nossa cadeia produtiva. O reconhecimento do trabalho delas vai além do valor monetário, as tags costuradas aos tricôs, trazem o nome da tricoteira que o produziu, o tipo de lã e a cor.
83
As artesãs trabalham em suas casas e se encontram uma vez por semana
para trabalharem juntas. Uma vez por mês a empresa leva uma professora de Porto
Alegre para que ensine novas técnicas e ajude com acabamentos e dúvidas. Além
disso, a empresa procura levar uma psicóloga a alguns encontros para que ela
avalie o andamento do grupo e algumas questões pessoais de cada artesã.
6.2 APRESENTAÇÃO DAS ENTREVISTAS
De acordo com a organização da coleta de dados, a próxima seção
apresentam os dados colhidos nas entrevistas, divididas por categoria de
participante.
Primeiramente será apresentada a entrevista com a designer da empresa,
seguido pela pelas entrevistas com o fornecedor de lã e com as artesãs que
trabalham para a marca.
Vale ressaltar que as falas dos entrevistados foram mantidas integralmente
quando citadas de maneira direta.
6.2.1 Entrevista com a designer da AMG
A entrevista com a designer da empresa AMG aconteceu no mês de
Novembro do ano de 2016, na intenção de colher informações sobre a história da
empresa, sobre seu processo produtivo, seus atores, entre outras.
A entrevistada será identificada nesta pesquisa com o código GH. A entrevista
seguiu roteiro que aborda questões divididas nas seguintes áreas:
- Informações pessoais, que trata dos dados sobre a formação e atuação
profissional;
84
- Informações sobre a empresa, história de surgimento, perfil de clientes,
missão, visão e valores, portfólio de produtos, processo de criação e planejamento
de coleção;
- Significado de sustentabilidade, valores e questões ambientais, sociais
e econômicas, conflitos entre as questões da sustentabilidade e o processo
produtivo, processo de inovação perante os temas de sustentabilidade;
- Ciclo de vida do produto, desde a pré-produção ao descarte, atores
envolvidos e logística.
O depoimento aconteceu na sede da empresa, na cidade de Porto Alegre,
considerado o escritório de design da marca.
Em relação às informações pessoais, GH é formada em Design de Moda e
atua como designer na empresa AMG há mais ou menos um ano, quase desde o
início de seu funcionamento. A sua principal função é o planejamento e o
desenvolvimento das coleções e o controle de qualidade das peças.
A cerca do surgimento da empresa, a entrevistada aponta que acompanhou
todo o processo de desenvolvimento da marca, visto que foi colega de faculdade da
proprietária e assim sempre esteve envolvida com a empresa e se sente feliz hoje
em fazer parte da histórica de AMG. O relato sobre a história da empresa foi
utilizado para descrição da marca na seção anterior.
Em uma das paredes do local estão expostos a missão, a visão e os valores
da empresa, reproduzidos a seguir.
Missão: Valorizar a matéria prima natural, diminuir o uso de corantes e
fixadores químicos e promover a mão de obra social, através do desenvolvimento de
moda sustentável.
Visão: Se tornar uma marca de referência nacional em moda sustentável até
2020.
Valores:
85
Ética: Compromete-se com desenvolvimento de uma moda diferenciada e
justa.
Coerência: Todos os detalhes seguem a mesma linha de sustentabilidade
como embalagens, catálogos e etiquetas.
Fidelidade: Fidelidade aos princípios estabelecidos na marca, não se
deixando levar pelas facilidades da moda sintética.
Confiabilidade: Confiança do cliente na origem, rastreabilidade e da utilização
da matéria-prima.
A proposta da empresa é tornar-se conhecida pelo que faz, no mercado em
que atua. Pretende-se que a marca ganhe notoriedade pela excelência dos seus
produtos e serviços, servindo futuramente de parâmetro para novas empresas do
mesmo setor ou de outros setores.
Sobre o planejamento das coleções é relatado que envolve a pesquisa de
tendência de comportamento e que a empresa não trabalha com tendências
estéticas, pois apostam e acreditam na atemporalidade de seus produtos e por isso
eles não imprimem “modinhas”, conforme a designer.
Ainda sobre o planejamento GH conta que a empresa trabalha com duas
coleções por ano, ao contrário do calendário da moda tradicional que trabalha com
quatro. A marca acredita que o calendário tradicional é o oposto da atemporalidade
e “[...] humanamente impossível de trabalhar de forma artesanal com intervalos de
três meses por coleção.”
Acerca do processo criativo a entrevistada relata que ele acontece em grupo,
contando com uma das proprietárias da empresa e ainda um consultor em moda que
trabalha com a empresa a distância.
No início nosso processo de criação era como aprendemos na faculdade, fazíamos várias pesquisas, desenvolvíamos paleta de cores, de modelagens, de padrões e ainda painéis de referência e assim criávamos nossos desenhos. Mas com a experiência vimos que não funciona, além de perdermos muito tempo com esse processo todo, precisamos seguir o que as artesãs sabem fazer, porque quase nunca o que criamos sai como esperamos. (Entrevista GH, 2016)
86
A frase citada acima se refere ao processo de confecção das peças que é
feito por artesãs da cidade de Dom Pedrito. GH relata que a empresa trabalha
principalmente com peças de “jogar por cima” como casacos, palas, capas e mantas
e que as técnicas mais utilizadas para confecção desses produtos são o tricô, o
crochê e o tear.
“Todo a confecção é feita à mão em Dom Pedrito, a distância nos atrapalha
bastante, mas a ED (designer proprietária da empresa) vai bastante para trabalhar
com elas (as artesãs)”.
A designer GH conta que no início da empresa a dificuldade de confecção foi
grande, que as artesãs não sabiam seguir medidas em centímetros (apenas em
receitas das técnicas), sabiam apenas confeccionar pontos básicos das técnicas e
que o acabamento “era de chorar”.
Mas conta que durante o primeiro ano de vida a marca praticamente só
investiu em capacitação, levou professoras regularmente para ensinar pontos mais
elaborados, acabamentos primorosos, modelagens a partir de centímetros e que no
ano de 2016, então, as coleções começaram a funcionar melhor.
Quando questionada sobre o significado de sustentabilidade para a empresa,
GH diz que ela nunca foi muito preocupada com a sustentabilidade, mas desde que
entrou para a empresa, foi levada a palestras, ganhou livros e passou a se encantar
pelo “[...] desafio que é criar moda de forma sustentável”.
Além disso, conta que a empresa tenta ser responsável em todos os âmbitos
da sustentabilidade (ambiental, social e econômica).
Se tivesse que pontuar acredito que estaríamos bem nos quesitos ambientais e sociais, mas ainda precisamos melhor muito no econômico. Como toda empresa nova ainda não pagamos nossas contas com as vendas, ainda precisamos pedir investimento. Outra coisa que precisamos melhorar no quesito econômico é a logística, usamos muito os correios ou nossos carros no processo de produção da matéria-prima e dos produtos, é tudo muito longe. (ENTREVISTADA GH, 2016)
87
Assim entramos no tema do ciclo de vida do produto. GH relata que após o
processo de beneficiamento de lã acontece uma vez por ano e assim a empresa tem
matéria-prima para confeccionar suas duas coleções.
Conta que o processo começa com a micronagem dos animais e assim
seleção do fornecedor, feita pela ARCO. Após a seleção do fornecedor, esse vende
a lã para a empresa quando esquila os animais e a lã é levada para lavagem. Relata
que ela não acompanha esse processo, o acompanhamento é feito pela proprietária
da empresa, mas que a matéria-prima é rastreada pela empresa e pela ARCO.
“Eu acompanho a partir do processo de fiação, que daí vamos para o
tingimento e confecção. Eu acompanho a parte de desenvolvimento de produto
propriamente dito.” (Entrevistada GH, 2016)
O processo de fiação é feito artesanalmente, em Dom Pedrito, por uma artesã
fiandeira, na roca elétrica. GH diz que o fio não fica regular, mas que o fazer
artesanal está intrínseco aos produtos da marca e que isso não é um problema.
O processo de tingimento é feito por GH e pela designer proprietária da
empresa em Porto Alegre.
Usamos apenas extratos vegetais, como canela, carqueja e macela. Além dos extratos in natura, também fazemos uso de pigmentos desenvolvidos através de extratos vegetais, fornecidos pela empresa EB. Esses pigmentos (da empresa EB) facilitam bastante o processo, pois nos poupam tempo e ainda conseguimos cores além do marrom e verde e ainda mantemos a responsabilidade ambiental. (ENTREVISTADA GH, 2016)
Após o tingimento a lã está pronta para ser tecida, para isso é levada de
Porto Alegre novamente para Dom Pedrito. Conta que é preciso ter paciência para
trabalhar com o artesanal, que as peças demoram em torno de 10 dias para ficarem
prontas e que até entrar para a AMG, estava acostumada a trabalhar com facções,
com quantidade, com velocidade.
Ainda conta que hoje a empresa conta com 15 artesãs trabalhando na
confecção das peças, que a marca foi conhecendo as especialidades e facilidades
88 de cada uma e que “ver o orgulho delas ao finalizar peças diferenciadas e com
conceito de design é muito gratificante.” (Entrevistada GH, 2016)
Ao mesmo tempo os erros acontecem, e segundo GH, hoje a empresa
aprendeu a lidar com eles sem decepção. A empresa proporciona apoio psicológico
ao grupo regularmente e trabalha para que as artesãs não se sintam mal quando
uma peça não fica como o esperado.
GH conta que esse acompanhamento teve início quando uma artesã, que até
então produzia rapidamente e peças muito bem feitas, não estava satisfeita com a
confecção de um produto e ficou tão ressentida que teve uma crise de hipertensão e
teve que ser atendida no pronto atendimento da cidade.
A entrevistada diz que intenção da empresa não é causar mal estar para as
artesãs cobrando prazos e qualidade, mas que isso precisa ser feito pois é uma
atividade profissional.
Sobre a comercialização conta que a marca é bastante presente em feiras de
design que acontecem em Porto Alegre, além de promover eventos próprios.
Também participa de feiras em São Paulo e tem canal de venda online.
Existe a parceria com lojistas, mas GH diz que “é complicado, não sabemos
se o conceito da empresa chega ao consumidor, além da margem ser menor e o
valor da peça ficar mais alto”.
GH finaliza o relato sobre o ciclo de vida contando que a empresa incentiva
seus consumidores a retornarem as peças para reciclagem e desconto na aquisição
de um novo produto, mas que como a marca é jovem no mercado esse processo
ainda não aconteceu.
Por fim, ao ser questionado sobre sua satisfação pessoal ao trabalhar na
empresa, GH avalia que:
[...] cresci muito pessoalmente, é satisfatório saber que tu trabalha por algo do bem, por algo que faz bem para as pessoas envolvidas, por algo com propósito. Além de ter aprendido a praticar a paciência (risos) porque é um processo demorado, longo, complexo e o tempo de todos os envolvidos precisa ser respeitado. (ENTREVISTADA GH, 2016)
89
Na seção seguinte estão apresentados os dados captados na entrevista com
o fornecedor de matéria-prima.
6.2.2 Entrevista com fornecedor de lã
A entrevista com o fornecedor de lã da marca AMG aconteceu no mês de
novembro na propriedade rural do criador, onde cria seus animais. Para identificação
o fornecedor será denominado GP.
No dia que GP recebeu a pesquisadora também recebia alunos do curso de
veterinária da universidade da região, que a convite da ARCO foram acompanhar o
processo de micronagem fornecido pela associação. Esse processo será relatado na
apresentação das observações.
O objetivo da entrevista era colher informações sobre o manejo animal,
sobre a preocupação do bem estar dos animais e os processos de criação adotados
por esse fornecedor.
Para tanto a entrevista seguiu roteiro que aborda questões divididas nas
seguintes áreas:
- Manejo animal: a fim de saber sobre a criação dos animais e os
procedimentos adotados para seu desenvolvimento como dosagens, alimentação,
tempo de vida, exposição ao sol.
- Esquila: método adotado para esquilar os animais e o bem estar dos
mesmos nesse processo.
O ambiente movimentado não favoreceu a entrevista, GP se mostrou
agitado, fornecendo as respostas sem detalhamento.
Quando questionado sobre seu rebanho, conta que ele é todo formado pela
raça Merino Australiano e que cria, em duas propriedades, em torno de 1.500
animais, divididos entre P.O denominação para animais puros de origem e S.O,
animais puros por cruza.
90
Ele conta que faz controle de verminose e frieira regularmente, mas que a
verminose é mais controlada pois prejudica mais a saúde dos animais.
Conta que sua produção é de merinos reprodutores, ou seja, a genética de
seus animais é valorizada, assim como a sua lã, ao contrário da carne. Portanto não
costumam abater os animais, eles vivem em torno de 10 a 12 anos a não ser que o
animal tenha algum aspecto que o desvalorize para venda, como mancha na
pelagem ou problemas de saúde que venham a complicar seu desenvolvimento.
Quando fala sobre a idade dos animais a pesquisadora questiona sobre o
comportamento da lã com o avançar da idade do animal. GP conta que quanto mais
velho o animal mais fina fica a lã e que além da idade a alimentação influência a
qualidade da lã.
Por exemplo daquele carneiro ali (aponta para o animal) que esta com 20 (de micronagem) se tirar a ração baixa pra 19 ou 18. A comida influência muito, quanto mais bem nutrido o animal a tendência é engrossar o fio, já o animal com uma nutrição normal ou baixa a tendência é afinar.” (ENTREVISTADO GP, 2016)
Relata também que tem alguns animais criados em galpão, para participar
de feiras e exposições. Esses animais se alimentam de ração balanceada e de
aveia. Os outros animais são criados a campo e se alimentam de pastagens nativas
da região.
Ainda conta que esses animais de campo engordam com rapidez e que isso
é importante porque a ovelha da raça merino não é boa produtora de leite e o pasto
faz com que o cordeiro pegue peso com facilidade.
Finaliza a entrevista contando que o processo de esquila é feito entre
dezembro e janeiro e que é feito à máquina. Conta que investiu em uma máquina
suíça que não machuca o animal.
Quando questionado sobre o método tally hi conta que não o pratica porque
é mais caro, existem poucos esquiladores treinados para essa técnica e que a mão
de obra acaba sendo mais custosa.
91
A seção a seguir apresenta os dados coletados nas entrevistas com as
artesãs que prestam serviço a empresa.
6.2.3 Entrevista com artesãs
As entrevistas com as artesãs aconteceram no mês de dezembro durante a
observação de um dia de trabalho em grupo. Como os horários de trabalho são
flexíveis, pois algumas delas ocupam outras funções profissionais, entrevistaram-se
cinco artesãs, que foram denominadas AT1, AT2, AT3, AT4 e AT5.
As entrevistam seguiram o roteiro programado podendo ser dividido nas
seguintes categorias:
- História com o artesanato, como e com quem aprendeu, seu histórico
com o fazer manual;
- Relação com a empresa, mudança na vida gerada pelo projeto,
consequências e expectativas.
A relação dos entrevistados com o artesanato iniciou na infância, onde
aprenderam com suas mães e avós o ofício do tricô. O contato com outras técnicas,
como o crochê, tear e bordado, veio ao decorrer da vida, pois são um pouco mais
complexas de ensinar para crianças.
Antes de a AMG chegar na vida das artesãs entrevistadas AT1, AT2 E AT4
faziam artesanato principalmente para a família e participavam da casa de cursos da
Prefeitura de Dom Pedrito, onde eram atendidas pela secretaria de assistência
social.
Esse movimento ensinava projetos básicos de artesanato e seus produtos
podiam ser vendidos na casa. Elas contam que o retorno financeiro não era muito,
mas que na situação que vivem “tudo o que vier é lucro.” (ENTREVISTADA T2,
2016).
Já a artesã AT3, se especializou no crochê e como professora de magistério,
aceitava algumas encomendas no tempo livre. Nunca viveu do artesanato, exceto
agora que está aposentada e o artesanato é uma boa fonte de renda extra.
92
A artesã AT5 é mais jovem do que as outras e trabalhou sempre como
cuidadora de idosos. No ano de 2016 enfrentou dificuldades no trabalho, se
desmotivou e entrou em depressão.
Uma amiga artesã da AMG a incentivou a confeccionar uma peça e estudar
a possibilidade de fazer parte do grupo. Depois de resistir bastante aceitou fazer um
bordado, logo após um vestido e hoje é uma das artesãs mais produtivas da
empresa. Ela conta que:
eu estava triste, desanimada, descontente com o trabalho, ia pedir demissão. Mas ai eu comecei a trabalhar para a AMG durante o dia e pegar meu turno (na casa da família que trabalha) durante a noite e comecei a desestressar, melhorei bastante e agora nem penso mais em sair do trabalho. (ENTREVISTADA AT5, 2016)
A artesã AT1 é muito ativa na empresa, produz bastante, com qualidade e
velocidade. Ela cria um neto de um ano que passou por um transplante de rins no
ano de 2015. Ela conta que além de renda extra, que a deixa muito satisfeita, com
as produções da AMG ela se distrai, pensa em outras coisas e quando está com ele
no hospital (ele faz visitas frequentes) fica tecendo as peças e assim não pensa nas
coisas ruins que estão acontecendo.
Embora não tenha sido questionado, AT1 relata que está satisfeita com a
remuneração, que conversou com o filho dela e que este disse que pessoas que
trabalham em fábricas de calçados ganham muito menos para trabalhar muito mais.
A artesã AT2 é uma das mais velhas do grupo, no dia da entrevista estava
completando 50 anos de casamento. Ela conta que sempre fez trabalhos em tricô,
principalmente roupa de bebe e quase sempre para a família.
Nunca conseguiu tirar uma renda suficiente para manter as contas mas que
sempre gostou de tricotar e isso a manteve produzindo. Quando a AMG entrou na
vida dela ela relata que ficou insegura, que não sabia se conseguiria produzir nos
prazos e ainda com qualidade de acabamento. Inicialmente aceitou apenas peças
mais simples e sempre contou com a ajuda da artesã AT1 que é sua vizinha. Hoje
93 ela ainda produz peças mais simples mas com acabamento impecável e dentro do
prazo.
A artesã AT4 é filha da entrevistada AT2. Conforme o relato de AT4 quando
começou a trabalhar para AMG não ia a nenhuma das reuniões, não gostava de
conversar com desconhecidos e sua mãe que passava os trabalhos a ela.
Com o tempo aceitou ir a uma reunião, porque o repasse de informação
acabava gerando erros de confecção, e assim ao conhecer as meninas da AMG “vi
que poderia participar, que não era tratada diferente, que não precisava ter medo
nenhum.” (ENTREVISTADA T4, 2016) Hoje ela trabalha como cuidadora de crianças
e no tempo livre trabalha para a AMG, porém com menos frequência do que antes.
A artesã AT1 diz que o que a deixa mais feliz é assinar as peças que faz. Diz
que nunca acreditou que teria capacidade para fazer as peças que as meninas
pedem e que fica muito orgulhosa quando o produto final fica bom e carrega o nome
dela em sua etiqueta.
A artesã AT3 diz que fica muito contente em aprender técnicas novas e de
ver que o crochê esta voltando a ser valorizado. Diz que nunca imaginou que
produziria para uma marca de moda e que fazer o que ela aprendeu com a mãe e o
produto ser vendido fora de Dom Pedrito é muito satisfatório.
Todas aparentam satisfação com o que fazem, harmonia com o grupo, e
relatam gostar de trabalhar juntas pois se ajudam e trocam conhecimento, embora
isso não aconteça com frequência, pois não é sempre que todas podem estar
presente no dia marcado.
Ambas confessa que gostariam de produzir ainda mais do que produzem,
pois além de prazeroso a remuneração faz diferença na vida de cada uma.
Finalizam relatando que esperam que a empresa alcance novos mercados e que
elas cresçam junto com a empresa.
A seguir serão relatados os dados coletados nas observações em campo de
cada etapa do ciclo de vida do produto da empresa AMG.
6.3 RELATO DAS OBSERVAÇÕES
94
A seguir serão relatados os dados obtidos em observações em campo de
cada etapa constituinte do ciclo de vida dos produtos da empresa AMG. Essas
observações aconteceram ao longo do processo produtivo da empresa e a
pesquisadora acompanhou a rastreabilidade da matéria-prima, o processo de
beneficiamento da mesma, assim como a confecção das peças, podendo então
levantar dados da pré-produção, produção, uso e descarte.
O relato das observações seguirá a ordem do ciclo produtivo.
6.3.1 Manejo animal
A empresa só utiliza lã de Merino Australiano e trabalha com apenas um
fornecedor, o qual é associado a ARCO – Associação Brasileira de Criadores de
Ovinos. Os cuidados de saúde e alimentação que este produtor aplica estão na
entrevista com o mesmo.
A pesquisadora esteve na propriedade do Criador GP, localizada na área
rural do município de Hulha Negra, cidade da região da campanha do Rio Grande do
Sul distante 410 km da capital do Estado, Porto Alegre.
A propriedade conta com uma pequena casa e três galpões, um onde alguns
animais são preservados, outro onde são mantidas as ferramentas e maquinários e
um terceiro junto à um cercado onde acontecem as micronagens, as marcações e a
esquila.
Pôde – se observar em visita à propriedade do Criador GP que este tem
animais com cuidados especiais, mantidos em abrigado galpão, que são expostos e
vendidos em feiras. Ele cria em torno de 1.500 animais o que resulta em
aproximadamente 8 toneladas de lã por ano.
95
No dia em que acontecera o processo de micronagem da lã fornecida para a
Empresa AMG, o Criador GP e a ARCO estavam recebendo a visita técnica de
estudantes do curso de Zootecnia e Veterinária da Universidade da Região da
Campanha – URCAMP, que foram convidados a observarem o processo.
O processo de micronagem consiste na coleta de uma mecha de lã, da
região da última costela do animal e um palmo abaixo do lombo – por ser onde se
localiza a parte mais fina do velo, como a imagem 19, de um número proporcional de
animais para saber a micronagem média do rebanho. Esse serviço de medição é
feito é proporcionado pela ARCO para todos os criadores associados.
Como o criador GP fornece em torno de 200kg de lã para a Empresa AMG,
foram coletados por um profissional da ARCO (profissional R), na propriedade do
Criador GP mechas de 55 animais, essas mechas foram armazenadas separadas
umas das outras.
Figura 19 - Processo de micronagem
Fonte: Elaborado pela autora, 2017.
96
Após acompanhar a coleta das mechas, o profissional R, os estudantes e
equipe da empresa AMG se locomoveram até a sede da ARCO, no município de
Bagé, onde as mechas coletas passam, uma de cada vez, por uma scanner
australiano chamado OFDA 2000, como a imagem 20.
Figura 20 - Scanner OFDA
Fonte: Elaborado pela autora, 2017.
Para posicionar a mecha de lã no scanner, como a figura 21, o profissional R,
com as mãos, retira um pouco da sujeira da ponta da mecha, pois o scanner faz a
análise a partir da ponta da mecha para a base, do primeiro folículo a romper ao
último e gera um gráfico de desenvolvimento da fibra ao longo da mecha.
97
Figura 21 - Scanner fazendo leitura
Fonte: Elaborado pela autora, 2017.
Esse scanner mede as características citadas no quadro 2 e as mesmas
serão discutidas a seguir.
Quadro 2 – Características medidas pelo scanner OFDA 2000.
CF%: Percentual de Conforto
Percentual de fibras menores ou iguais a 30
micras.
CRV dg/mm: Curvatura da fibra
Curvatura da fibra, expressada em
graus/mm.
GFW KG: Peso estimado do velo.
Max Mic: Micra Maxima
Estimativa do peso do velo sujo.
Finura máxima medida ao longo da mecha
Mic Ave:
A medida do diâmetro das fibras, expressos
em micras (mm).
Min Mic: Micra Mínima Finura mínima medida ao longo da mecha:
98
%<15: Porcentagem de fibras menores a 15
micras.
SD mic: Desvio Padrão
Distribuição estatística expressa em micras
que representa aproximadamente 70% das
fibras de cada lado do diâmetro médio da
amostra.
SDC dg/mm: Desvio Padrão de Curvatura
Desvio padrão da curvatura das amostras
medidas.
SD Along: Desvio Padrão ao longo da
mecha
Desvio padrão da media de finura medida
ao longo da mecha.
Micron Profile: Perfil de Finura
Mostra a variação do diâmetro da fibra ao
longo da mecha durante o período de
crescimento.
FPFT: Ponto mais fino
Mostra a distância em milímetros desde a
ponta da mecha até o ponto mais fino
encontrado na amostra.
MFE mic: Extremidade Média
Oscilação média dos extremos da mecha
(ponta e base) medidas em micas.
SL mm: Comprimento
Comprimento da mecha expressada em
micras.
99
SP Mic: Finura por rotação
Valor que considera a finura e o coeficiente
de variação de finura e representa a
qualidade da lã analisada, expressa em
micras.
Mic Rank:
Categorização dos animais por ordem de
finura crescente.
CV Mic %: Coeficiente de variação de Finura
Média de oscilação da finura da mecha, da
base à ponta) expressado em %
Dev. Mic: Desvio Padrão da Média da Fibra
Representa a quantidade, em micras, em
que uma leitura individual variou da média
das amostras.
Fonte: Elaborado pela autora, 2017
Ao final das medições a máquina emite um relatório com os dados de todas
as mechas medidas, medindo as características apresentado no quadro 2. O
relatório das medições da lã fornecida para a empresa AMG está anexado ao final
deste trabalho.
Conforme o profissional R, as características mais importantes são o total da
média da micronagem, o coeficiente de variação, que mostra a oscilação das fibras
ao longo da mecha.
O coeficiente de variação mostra as influências do manejo, da genética, da
nutrição e da sanidade do animal para que se tenha uma fibra de maior ou menor
qualidade.
Quanto menor o coeficiente de variação, ou seja, quanto menos oscilação das
fibras de uma única mecha, maior o percentual de conforto, pois as fibras são
parelhas entre si e tem menos propensão a ruptura, ocasionando um fio mais longo.
100
O profissional R explica aos alunos que o percentual de conforto não depende
tanto da média em micras, ele dá o exemplo de que a lã dos animais com a
micragem de 17 mm terá o fator de conforto provavelmente de 100%, mas que se
pode conseguir isso com animais de lãs de 20 mm, porém os animais precisam ser
esquilados antes do parto e não sofrer o stress da lactação e parição, além de um
manejo de nutrição com pouca variação durante todo o processo de formação da
fibra para que a lã tenha menor coeficiente de variação e consequentemente maior
percentual de conforto.
Ele ainda explica que isso é muito difícil de acontecer no Brasil e conta que
na Espanha os criadores estão mantendo seus animais confinados para controlar
umidade, temperatura, e alimentação pois a alimentação proteica tende a amarelar o
velo, assim como o milho, já uma pastagem de qualidade ou uma ração de baixa
proteína colaboram para manter o tom mais claro do velo.
O profissional R conta que a formação dos folículos primários da lã começa
aos 60 dias de gestação, e os secundários, que já é a lã propriamente dita, aos 90
dias. Por isso é importante o cuidado na gestação da ovelha e a esquila pré parto,
pois se a ovelha estiver fraca no momento da parição a tendência é que o cordeiro
tenha menos folículos, menos qualidade de lã e menos tamanho.
O profissional explica que o auge da qualidade da produção de lã de um
animal é aos “4 dentes”, ou seja, aos dois anos de vida. E que o máximo de
produção de qualidade que se pode esperar de um animal é até os 8 anos de vida
ou “6 dentes”.
A partir dessa idade a produção começa a decair de qualidade pois o animal
mais velho se contamina mais fácil com verminoses ou fungos e produz menos peso
de velo, assim o coeficiente de variação aumenta e a lã tende a se romper perto da
base, não proporcionando qualidade de fio.
O resultado da análise da lã fornecida pelo Criador GP, foi a média de 19 mm,
com coeficiente de variação de 16.8 mm e um percentual de conforto de 99.4%.
Esses animais analisados especificamente para a Empresa A, recebem uma
101 marcação diferente do resto do rebanho, para que no momento da esquila a lã
desses animais já seja separada do resto.
6.3.2 Esquila
A esquila realizada pelo Criador GP é o método tradicional à maquina.
Quando questionado de porque não utilizar o método talliy hi ele diz ser mais
custoso e ter poucos profissionais capacitados disponíveis. Mas que o processo é
muito cuidadoso e o esquilador é de sua confiança e conta com o auxílio de mais um
funcionário seu.
Para que seja retirada a lã dos animais, esses são conduzidos do campo ao
galpão que conta uma cerca externa, nesse cercado os animais ficam confinados
até serem levados a parte interna do galpão.
Lá são maneados, ou seja, as quatros patas são unidas em uma amarração,
e ficam deitados no chão até serem esquilados, como mostra a imagem 22:
102
Figura 22 - Esquila
Fonte: Elaborado pela autora, 2017.
Conforme o profissional R explicou aos alunos, esse processo gera stress ao
animal, pois este fica deitado e amarrado assistindo o que está acontecendo e ainda
ouvindo o barulho auto da máquina.
Além disso, a lã acaba ficando com mais impurezas, pois além de absorver a
sujeira presente no chão o animal acaba por suar e as fibras ficam mais gordurosas.
Cada ovelha gera em torno de 4.5 kg de lã enquanto os carneiros chegam a
produzir até 7 kg por ano. Uma vez que essa lã é retirada separa-se a lã de velo da
lã machada de vezes e urinas, assim como da lã das patas, da cabeça e da barriga.
103
A lã já esquilada é armazenada em sacas plásticas, o que conforme o
profissional R não seria o ideal, pois os resíduos de plástico podem acabar se
misturando a lã que vai para a lavagem.
6.3.3 Lavagem e Cardagem
O processo de lavagem e cardagem acontece na cidade de Bagé, localizada
a cerca de 30 km da propriedade do Criador GP, e é feito pela indústria P.
A empresa P é tradicionalmente conhecida pelo processo de beneficiamento
e de exportação da lã gaúcha, entretanto abre espaço para realização do processo
para terceiros dependendo da quantidade a ser trabalhada. A empresa AMG opta
por realizar o beneficiamento com a indústria, pois garante que a lã cardada não
sofrerá com resíduos de sujeira e odor animal, o que geralmente acontece no
processo de lavagem artesanal.
A empresa P optou por não participar da pesquisa, alegando que é a única do
Brasil a realizar esse processo, por isso seus funcionários não são autorizados a
fornecerem informações sobre o funcionamento da mesma. Os dados abaixo foram
coletados em entrevista com a designer GH que esteve em visita a empresa P uma
vez.
Segundo GH o método de lavagem de lã funciona em tanques onde a lã é
depositada em água fria com detergente químico. Esses tanques recebem uma
estrutura que escova a lã enquanto essa é lavada para retirar as impurezas
externas.
As etapas de lavagem e enxágua acontecem até que as impurezas sejam
retiradas e que a lã esteja em sua coloração ideal, pois com a retirada da gordura
animal e das sujeiras externas as fibras tendem a ficarem mais claras. Uma vez
limpas as fibras passam por um tanque de calor, como uma centrifugação, aonde
seca.
104
Após seca a lã é conduzida para a máquina que fará a cardagem. Essa
máquina inicia o processo deixando a lã posicionada em uma esteira, onde passará
por um processo de escovação contínua em rolos dentados para que assim as fibras
se posicionem lado a lado formando uma placa de lã pronta para ser fiada.
6.3.4 Fiação
Depois de cardada a lã vai para a cidade de Dom Pedrito, localizada a 64 km
da cidade de Bagé e 464 km de distância da capital Porto Alegre, também é uma
cidade da região da campanha.
Lá a lã cardada passa pelo processo de fiação artesanal, ou seja, é fiada na
roca manual movida a luz elétrica. Um motor presente no pé dessa roca faz com que
o fio inserido manualmente nela seja torcido e esticado, deixando as fibras alinhadas
e resistentes à tração, como a imagem 23.
Figura 23 - Processo de fiação
Fonte: Elaborado pela autora, 2017.
105
Nesse processo podem-se fazer diversas espessuras de fio, dependendo
unicamente da força e resistência das mãos de quem guia a máquina, quanto mais
forte a tração mais fino ficará o fio. Uma vez que o carretel da roca estiver cheio, o
fio produzido é retirado e organizado em meadas, para então passar pelo processo
de tingimento ou de pré-encolhimento.
Foi observado que a artesã fiandeira utiliza uma máscara sobre a boca e o
nariz, esse cuidado é importante, pois a lã cardada é uma placa de fibras
posicionadas lado a lado e o contato com a tração da máquina faz com que alguns
folículos das fibras (chamados de “poeira da lã”) se dispersem e pairem pelo ar
podendo causar problemas respiratórios a quem estiver em contato direto com a
máquina.
6.3.5 Processo Criativo
O processo criativo é trabalho pela equipe de design que está localizada na
cidade de Porto Alegre. A equipe é formada por duas estilistas e por um consultor
em tendências de comportamento que presta serviços em cada coleção. O trio está
sempre em busca de criações inovadoras e novos segmentos nos quais seja
possível a inserção da lã.
É possível observar que a equipe busca criar peças minimalistas, sem
modelagem padrão, ou seja, priorizam as criações em tamanho único, para melhor
caimento em diversos padrões de corpos e para imprimir o conceito de
atemporalidade. Ainda observa-se o uso das cores de origem do animal, que seriam
os tons de cru, marrom e cinza, além dos tingimentos vegetais em tons terrosos e de
verde, buscando por pigmentos que não fiquem em desuso com o passar do tempo
e das tendências.
A Empresa AMG trabalha apenas com tingimentos vegetais feitos de forma
artesanal pela sua equipe de design, além de pigmentos produzidos por uma
empresa terceira, chamada EB, que produz o pigmento através da extração da cor
dos vegetais. Para que isso aconteça a lã fiada é enviada para Porto Alegre.
106 6.3.6 Tingimento e Pré-Encolhimento
Para o tingimento de 1kg de lã a empresa utiliza em torno de 12 litros de
água, variando de acordo com o pigmento a ser obtido. Uma matéria-prima muito
utilizada pela empresa para coloração é a canela em pau, e o processo de
tingimento com essa matéria-prima foi observado pela pesquisadora.
O procedimento consiste em deixar a canela (na proporção de 500gr para
cada 1 kg de lã) ferver durante uma hora e deixar descansar naquela água de um
dia para o outro. Com a canela já sem pigmento, coa-se os paus e com a água
pigmentada no fogo mergulha-se a lã previamente umedecida em água morna. O
banho de coloração recebe uma proporção de 10gr / kg de ácido cítrico alimentício
que funciona como mordente, ou seja, faz com que a lã absorva todo o pigmento
presente na água.
Uma vez pigmentada, a lã permanece em descanso no banho até que a água
esteja fria e está possa ser manuseada com segurança. Logo a lã passa pelo
processo de enxágue e de centrifugação, para então secar ao sol. O processo de
tingimento com a lã no fogo leva em torno de 2 horas, além do tempo de preparação
do pigmento e de secagem, como a figura 24.
Figura 24 - Processo de secagem
Fonte: Elaborado pela autora, 2017.
107
A empresa defende que por usar apenas produtos naturais a água poderia ser
dispensada novamente ao ambiente, portanto ela passa por um processo de
tratamento primário com um neutralizador de químicos, feito a partir da casca da
árvore de Acácia Negra, fornecido por uma empresa paulista que manipula matérias-
primas naturais para processos de tingimento e pigmentação sem impacto negativo
para o ambiente.
Entretanto a marca também utiliza muita matéria-prima em seu estado neutro,
cru, sem coloração. Porém essa matéria também precisa passar por um banho de
água quente, chamado de super wash ou pré-encolhimento. O contato com a água
quente faz com que as fibras se abram e é seguido por um banho de água fria que
faz com que as fibras se fechem e já encolham previamente. Isso evita que o
produto final, uma vez com o cliente, possa vir a encolher. Para esse processo
utiliza-se apenas uma panela com água que recebe a lã para ser fervida. Após a
água ferver a lã permanece em banho por mais 10 minutos e é retirada para passar
por água corrente fria.
E assim a lã está pronta para a confecção dos produtos.
6.3.7 Confecção
O processo de confecção dos produtos da empresa AMG é totalmente feito a
mão. A empresa conta com um grupo de 12 artesãs que fornecem a mão de obra
em técnicas artesanais como tricô, crochê, tear, bordado e feltragem, para a
confecção das peças como mostra a imagem 25 e a imagem 26. Esse processo
acontece em Dom Pedrito, por isso a lã tingida e pré-encolhida precisa ser
transportada novamente para a cidade.
As artesãs não possuem vínculo empregatício com a empresa, mas estão
protegidas por um contrato de prestação de serviços e pela renovação anual de
suas carteiras de artesã, fornecido pelo estado do Rio Grande do Sul.
108
Figura 25 - Artesã
Fonte: Elaborado pela autora, 2017.
Figura 26 - Artesã trabalhando
Fonte: Elaborado pela autora, 2017.
109
A remuneração é conforme a peça produzida e o valor dos modelos foi
definido em conjunto com o grupo para que fosse o mais junto possível para ambos
os lados (Por exemplo: casaco com mangas R$ 65,00 colete R$ 45,00). É
importante observar que as peças que por algum motivo (como erro da artesã,
medidas enviadas erroneamente, etc) também serão remuneradas.
O prazo estimado é de 10 dias corridos para confecção de peças
posteriormente produzidas, sendo prorrogado para modelos nunca antes feitos.
Algumas artesãs produzem em três dias, outras em sete, depende da
disponibilidade de cada uma. A observação em campo da confecção dos produtos
aconteceu na cidade de Dom Pedrito em um dia de trabalho em grupo.
6.3.8 Comercialização
O processo de comercialização dos produtos da empresa acontece de três
formas: via lojistas, via site da empresa e via participação da empresa em feiras de
moda e design.
Cada peça traz o nome da artesã que a confeccionou em sua tag, e as
embalagens de venda direta ao consumidor são de papel reciclado carimbadas com
o logo da empresa. Além disso, a empresa também trabalha com consignação de
suas peças à lojistas selecionados.
Quando essa intermediação entre o consumidor e a empresa acontece, a
empresa acaba perdendo o controle sobre embalagem, sobre a tag e também sobre
o incentivo ao retorno das peças para reaproveitamento.
6.3.9 Retorno das peças
Quando a empresa vende direto para o consumidor está oferece serviço de
manutenção e reparo vitalício das peças, pois como são técnicas manuais esta sabe
que ao longo da vida do produto ele pode precisar de reparos, e prefere que estes
serviços sejam feitos pelas próprias artesãs que o confeccionaram.
110
Além dos reparos a empresa trabalha com política de retorno do produto,
onde oferece e incentiva que o consumidor retorne a peça, quando esta não for mais
desejada, para que o fio seja reaproveitado na confecção de uma nova. Assim o
ciclo de vida do novo produto recomeça no processo de tingimento, se a lã for
natural, ou direto na etapa de confecção se o fio já estiver colorido.
Para que a transformação de uma peça em outra gere o menor resíduo
possível a empresa procura não utilizar aviamentos como zíper, elásticos e botões, e
a costura das peças é feita com o próprio fio de lã.
111
7 ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS DADOS
Conforme explicado no item 2 a análise de dados da presente pesquisa está
fundamentada na análise de conteúdo. Conforme Bardin (2009) esse método
consiste na sistematização de um conteúdo, podendo se referir à produção de um
grupo, assim como a entrevistas de qualquer espécie.
A seguir será apresentado o ciclo de vida atual da produção da empresa AMG
através da análise de conteúdo.
7.1 ANÁLISE DE CONTEÚDO
Os dados provenientes das entrevistas e das observações em campo
possibilitaram o cruzamento das informações obtidas com a teoria do Ciclo de Vida
do Produto – Serviço apresentado por Manzini e Vezzoli (2008) e poderiam ser
agrupados da seguinte maneira:
- Pré-produção:
a. A empresa conhece e rastreia a procedência dos insumos que adquire dos
fornecedores;
b. A empresa potencializa ao máximo o aproveitamento dos insumos;
c. A empresa utiliza como insumo um material renovável.
- Produção:
a. A empresa desenvolveu técnicas não agressivas na confecção dos
produtos;
b. Não há interferência industrial na montagem dos produtos.
112
- Distribuição;
a. A empresa possui um baixo estoque de produtos;
b. A empresa minimiza a utilização de embalagens
- Uso:
a. Os critérios de sustentabilidade seguidos pela empresa estão no topo da
cadeia organizacional;
b. A empresa incentive os consumidores a criarem vínculos afetivos com os
produtos através de sua tag.
- Descarte:
a. Após a sua utilização, os produtos são incentivados a retornarem a
empresa.
Por conseguinte foi elaborada uma sistematização das informações de modo
que fosse fornecido o cenário atual do ciclo de vida da empresa AMG, como mostra
a imagem 27.
Figura 27 - Sistematização do ciclo de vida dos produtos da marca AMG
113
Fonte: Elaborado pela autora 2017
114
Assim sendo, a partir dos dados provenientes das entrevistas, das
observações em campo e da sistematização do atual ciclo de vida de produto da
empresa, as etapas de 1) Pré-produção, 2) Produção e 3) Descarte, que constituem
um ciclo de vida fechado, serão analisadas conforme a teoria proposta por Manzini e
Vezzoli (2005; 2008) por considerá-la a mais apropriada para o objetivo dessa
pesquisa e seguirão de acordo com as etapas adotadas pela empresa.
7.1.1 Pré-Produção
O primeiro processo de pré-produção adotado pela empresa é micronagem,
como mostra a figura 28, e seleção dos animais do criador GP. A empresa AMG não
tem custo com esse processo devido a parceira com a ARCO e ele possibilita que a
marca tenha uma rastreabilidade fidedigna de sua matéria-prima, visto que o
scanner OFDA gera um relatório com dados importantes sobre as fibras analisadas.
Figura 28 - Pré produção
Fonte: Elaborado pela autora, 2017.
115
Já no passo seguinte, a esquila, emergiram oportunidades na esfera
ambiental em relação ao bem estar animal, visto que o fornecedor GP utiliza o
método tradicional de tosquia, podendo vir a utilizar o método Talli Hi que, segundo
a teoria, causa menos desconforto ao animal.
A adoção desse método também vem ao encontro da esfera econômica, visto
que a o velo de lã não entra em contato com o chão e suas impurezas, ficando
consequentemente com menos resíduos sólidos e odores de urina animal presente
no solo de galpão.
Portanto o uso do método Talli Hi pode vir a aumentar a qualidade da matéria-
prima e ainda diminuir os insumos (água e detergente) necessários atualmente para
o processo de lavagem. Ainda na fase de esquila, conforme o profissional R o ideal
é esquilar as ovelhas no momento de pré-parto. Isso porque a parição dos animais é
um agente estressor que influencia na qualidade de lã e no desenvolvimento do
filhote.
Atualmente a esquila do criador GP não é pré-parto e acontece no verão nos
meses de dezembro e janeiro. Essa época não é considerada ideal pois quando o
inverno chegar as ovelhas ainda não terão formado velo suficiente para se
protegerem do frio e terão grande volume de lã nos meses quentes.
Na fase de beneficiamento da matéria-prima também foram identificadas
oportunidades, principalmente a necessidade de averiguar-se o processo de
lavagem da empresa que fornece esse serviço.
Na esfera ambiental é importante que a empresa tenha conhecimento da
quantidade de água usada para lavar cada quilograma de lã, assim como o produto
químico utilizado para retirada das impurezas e o procedimento de descarte dos
insumos. Além disso, é preciso refletir sobre a utilização de energia elétrica para
alimentar essas máquinas e ainda o ambiente e qualidade de trabalho dos
funcionários da indústria, que lida com água quente, odores fortes, e produtos
químicos, abrangendo as esferas sociais e econômicas. Infelizmente essa pesquisa
não pode levantar os citados dados, mas é importante que a empresa AMG tenha
total conhecimento sobre esse processo, pois ele é fundamental para qualidade da
lã final e para os valores da marca, como ética e confiabilidade na rastreabilidade da
matéria-prima.
116
A fiação, processo que transforma as placas de lã em fio, acontece de forma
artesanal em roca elétrica. Considerando que a empresa utiliza em torno de 100 kg
de lã fiada, conforme a entrevistada GH, seria necessário medir a utilização de KW
desse equipamento.
Também se identifica a necessidade de capacitar mais pessoas para cumprir
essa função, visto que hoje ela é feita por apenas uma artesã e que essa consegue
produzir em torno de 2 kg de lã por dia, conforme testemunhado em observação de
campo. Portanto essa artesã precisa de mais de dois meses para fiar essa
quantidade de material sozinha o que pode acabar atrasando a confecção das
peças.
Os processos de tingimento e de pré-encolhimento constituem a última etapa
de pré-produção. Segundo Fletcher e Grose (2011) o uso de corantes vegetais é
uma solução encontrada para minimizar os resíduos químicos gerados pelos
processes de tingimento na indústria da moda. A empresa ainda se propõe a fazer a
neutralização desses resíduos, que já são menos negativos, com neutralizadores
naturais a base de casca de acácia negra, estando de acordo com os quesitos da
esfera ambiental.
Uma possibilidade de melhoria encontrada nesse processo de tingimento e
pré-encolhimento seria o uso de água de cisternas, ou seja, de água residual da
chuva, evitando assim a utilização de água potável, o que é feito atualmente.
Um problema identificado não só na etapa de pré-produção, mas durante todo
o ciclo de vida do produto da marca AMG é a logística. Apenas para os processos
de pré-produção a matéria-prima viaja, em torno de, 600 km em veículos
particulares.
Segundo a calculadora verde, disponibilizada na internet, essa média em
quilômetros gera uma emissão de cerca de 1.596,24 gr de CO2 e seria necessário o
plantio de onze árvores para compensação, como mostra a figura 29. Além de ser
um dado alarmante para as premissas ambientais e sociais da sustentabilidade,
também prejudica muito a esfera econômica visto que esse processo de logística
encarece cerca de R$20,00 em cada produto final, segundo a entrevistada GH.
117
Figura 29 - Emissão de Co2 no transporte na etapa de pré produção
Fonte: Elaborado pela autora, 2017.
Uma alternativa encontrada para a redução do transporte na fase de pré-
produção seria o investimento em capacitação de artesãs para a realização dos
tingimentos e pré encolhimentos da matéria-prima e esses serem realizados ainda
na cidade de Dom Pedrito, evitando uma viagem de quase 500km.
7.1.2 Produção
Nesta fase, sistematizada na figura 30, na esfera econômica, foram
observados fatores de diferenciação. Por exemplo, por a empresa trabalhar apenas
com a matéria-prima em forma de fio faz com que não se gere resíduo, pois todo o
fio pode ser aproveitado na confecção de outro produto. Outro fator de diferenciação
da empresa AMG, ainda na esfera econômica, é o uso de modelagens que
minimizem a utilização de aviamentos, como zíper, forros e botões.
118
Figura 30 - Produção
Fonte: Elaborado pela autora, 2017.
Quanto a esfera social a empresa também se destaca por envolver em seu
processe pessoas em situações de vulnerabilidade social. De acordo com Peroba
(2008, p.40), “o Design Social se torna uma atividade econômica que conduz ao
crescimento e desenvolvimento do local onde o projeto é realizado.”
Assim como na fase de pré-produção a empresa encontra a necessidade de
constante capacitação de novas artesãs. Hoje o número de pessoas envolvidas no
processo de confecção não supre a demanda produtiva e ainda está sujeita a
atrasos e erros. Ainda, por utilizar uma matéria-prima tradicional do Estado do Rio
Grande do Sul, a empresa acaba por imprimir identidade cultural em seus produtos
mesmo que, conforme a entrevistada GH, a marca tente fugir dos padrões do
vestuário típico gaúcho e revisitar peças tradicionais agregando conceito de moda.
Também é preciso citar que, na fase de produção, a empresa desenvolve
papel importante na relação dos clientes para com seus produtos através de um
atendimento que conte a história e o propósito da marca e ainda imprime em sua
tag, como a imagem 31, o caminho que a matéria-prima percorreu até ao chegar ao
119 consumidor e a assinatura da artesã que confeccionou o produto, fidelizando esse
cliente considerando a esfera econômica da sustentabilidade.
Figura 31 - Tag da empresa AMG
Fonte: Elaborado pela autora, 2017.
Além disso, ainda sobre a fidelização do cliente, sempre que uma peça é
adquirida o consumidor recebe as boas-vindas à família AMG, pois a empresa
acredita ser uma família e que o consumidor é o protagonista dela.
Outro movimento importante na esfera econômica, é o desenvolvimento de
peças sob medida e por encomenda. Mesmo que o cliente compre seu produto pelo
site, ele só será confeccionado após a confirmação de compra. Esse processo
minimiza volume de estoque, permite um trabalho personalizado para cada cliente,
contando com sua intervenção em modelagem, cores e acabamentos e reforça
ainda mais a relação emocional do consumidor com sua peça AMG.
120
Conforme Flecther e Grose (2011) esses comportamentos fazem parte do
conceito de slowfashion e que o cliente converge a importância do produto
encomendado a viver a experiência de criá-lo e produzi-lo de maneira personalizada
e exclusiva. Porém a logística é novamente um problema na fase de produção. Para
que as peças sejam confeccionadas na cidade de Dom Pedrito e depois
comercializadas na cidade de Porto Alegre a matéria-prima tingida viaja 460 km e o
produto finalizado viaja mais 460 para retornar à Porto Alegre.
O processo de confecção das peças, portanto, emite cerca de 2.447,57
gramas de CO2, como mostra a figura 32, segundo a calculadora verde e
considerando que esse transporte é realizado em veículo particular. Para compensar
essa emissão são necessários o plantio de 16 árvores. Existe ainda um fator que
agrava essa situação, como cada artesã produz em seu ritmo e não existe uma
concentração grande de produção, esses transportes são feitos aos poucos e não
apenas uma única vez.
Figura 32 - Emissão de Co2 no transporte na etapa de produção
Fonte: Elaborado pela autora, 2017.
Como alternativa a empresa poderia organizar para que os produtos finais
fossem enviados em quantidades mínimas e usando transporte público, visto que a
121 empresa de ônibus que atende a região fornece o serviço de transporte de
encomendas.
Das duas maneiras que a marca AMG comercializa seus produtos
diretamente ao consumidor, feiras e loja online, no que tange a distribuição do
produto, a empresa faz uso de sacolas de papel kraft e folhas de papel de seda para
a embalagem de seus produtos. De forma a ampliar a sustentabilidade, tanto na
esfera ambienta como na econômica, indica-se a escolha de apenas um elemento
para embalagem e que, de preferência, esse seja de origem reciclada. Já sobre o
processo de entrega das vendas online, a empresa oferece aos clientes apenas a
opção via correios. Entretanto, se a venda for na cidade de Porto Alegre, a marca
pode contar com a parceria de empresas de serviço de transporte de pequeno porte
e ainda ambientalmente responsáveis, como a “Pedal Express”, organização de
ciclistas que fornecem serviço de coleta e entrega de encomendas.
7.1.3 Descarte
Por fim, na fase de descarte, foi identificado que a empresa faz uso da
Logística Reversa, como mostra a figura 33. A Lei do Resíduo Sólido, presente no
apêndice 2 desse trabalho, define a logística reversa como:
Instrumento de desenvolvimento econômico e social caracterizado por um conjunto de ações, procedimentos e meios destinados a viabilizar a coleta e a restituição dos resíduos sólidos ao setor empresarial, para reaproveitamento, em seu ciclo ou em outros ciclos produtivos, ou outra destinação final ambientalmente adequada. (Capítulo II - Definições, art. 3°, XIII)
Soares e Soares (2009, p 124) afirmam que o design para desmontagem
(DFD- Design for disassembly) permite uma otimização das fontes de reciclagem e
aproveitamento de matéria-prima, minimizando o potencial de poluição dos produtos
e ainda oferece vantagens competitivas a organizações.
122
Figura 33 - Descarte
Fonte: Elaborado pela autora, 2017.
Assim, a logística reversa caracteriza-se por um processo que auxilia a
organização na redução dos impactos ambientais do Ciclo de Vida do Produto.
7.2 ANÁLISE ATRAVÉS DO QIA
Além da análise de conteúdo essa pesquisa utiliza uma ferramenta de
medição de impacto socioambiental, Quick Impact Assessment, desenvolvida pelo
Sistema B.
Segundo o site do movimento:
Somos um movimento global de líderes empresariais que procuram redefinir o sucesso dos negócios, para que um dia todas as empresas possam competir não apenas para serem as melhores do mundo, mas para serem as melhores para o
mundo.
As Empresas B são organizações que se comprometem de maneira pessoal,
institucional e legal a tomar decisões pensando em suas consequências, em longo
prazo, para a comunidade e meio ambiente. Conforme o site do Sistema B cerca de
7.800 empresas da América do Sul utilizam a medição de impacto B e mais de 55
mil empresas no mundo. Além disso, empresas que estão dispostas a investir em
123 uma taxa anual e seguir os métodos de funcionamento propostos pelo movimento
podem ser certificadas como “Empresas B”.
No Brasil, são alguns exemplos de Empresas B: a empresa de cosméticos
Natura; a marca de alimentos orgânicos Mãe Terra; e as marcas de moda Flávia
Aranha e Insecta Shoes, entre outras.
A ferramenta criada e disponibilizada pelo Sistema B é gratuita e de fácil
acesso. Ela consiste em três passos: 1) Avaliar: onde o empresário preenche um
questionário sobre o funcionamento da empresa e seus processos produtivos e de
serviço; 2) Comparar: onde a ferramenta fornece um relatório indicando em que
diretrizes a empresa se destaca e em quais ainda precisa evoluir; e 3) Melhorar:
onde a ferramenta auxilia na criação de um plano de melhoria através de um guia
gratuito de melhores práticas.
Portanto após sintetizar as observações e entrevistas e analisar o ciclo de
vida do produto da empresa AMG a pesquisadora respondeu ao questionário QIA, e
os resultados serão apresentados a seguir. Todas as perguntas e respostas e sua
pontuação equivalente estão nos apêndices dessa pesquisa.
Ao final do preenchimento das questões a ferramenta apresenta a tela
comparativa de respostas (I) acima da média, (II) na média e (III) abaixo da média
da empresa, como mostra a imagem 34.
124
Figura 34 - Respostas questionário de impacto
Fonte: Elaborado pela autora, 2017.
As respostas consideradas acima da média foram as que dizem respeito as
diretrizes de gestão ambiental como minimização de emissões de resíduos tóxicos e
poluentes, e de comprometimento com impacto social e comunitário positivo.
Já as respostas abaixo da média estão relacionadas com questões
econômicas como doação de porcentagem de vendas, apoio a iniciativas sociais,
além de questões burocráticas como conselho administrativo e informações de
auditoria fiscal, ambiental e social.
O curto tempo de vida da empresa AMG também influenciou nas respostas
consideradas abaixo da média, como por exemplo tempo de vínculo com
fornecedores e monitoramento e planejamento para redução do consumo de
energia.
Com essas informações analisadas desenvolveu-se novamente o esquema
de ciclo de vida do produto da empresa AMG, descrevendo as oportunidades
encontradas a fim de ampliar a sustentabilidade em cada fase do ciclo de vida em
relação as esferas sociais, ambientais e econômicas, como mostra a figura 35.
125 Figura 35 - Ciclo de vida e oportunidades para ampliação da sustentabilidade
126
Fonte: Elaborado pela autora, 2017.
As principais oportunidades encontradas no ciclo de vida da empresa AMG se
concentram na etapa de pré-produção pois a empresa não obteve conhecimento do
processo de lavagem e de beneficiamento da matéria-prima assim como a possível
otimização os processos de transporte desse material para conseguinte confecção
dos produtos.
Com as informações do ciclo de vida e as oportunidades encontradas pode-
se também sintetizar o ciclo de anel fechado da empresa bem como as principais
oportunidades encontradas em cada uma de suas fases, como mostra a figura 36.
Figura 36 - Ciclo de anel fechado e síntese de oportunidades em cada etapa
Fonte: Elaborado pela autora, 2017
127
Com a síntese dos problemas e oportunidades encontrados ao longo do ciclo
de vida dos produtos da empresa AMG, pode-se então discutir os resultados da
pesquisa.
128
8 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Na presente seção desta dissertação encontram-se os resultados recolhidos
na totalidade do estudo e registrados na forma de considerações finais. Optou-se
por dividir o conteúdo desta seção em três partes.
A primeira relata os resultados alcançados em relação ao problema de
pesquisa e aos objetivos da mesma. Na segunda são relatadas as dificuldades e
limitações que a pesquisadora encontrou no decorrer do estudo em questão e por
fim, na terceira etapa, são relatadas as contribuições do estudo para a comunidade
acadêmica e para a sociedade, assim como aponta possibilidades de pesquisas
futuras.
8.1 RESULTADOS ALCANÇADOS
Conforme apresentado na seção de metodologia, a presente pesquisa é
qualitativa e de caráter descritivo exploratório. Sendo o objeto de estudo uma
empresa de moda sustentável que utiliza apenas a lã como matéria-prima na
confecção de seus produtos, o objetivo geral da pesquisa tratou de analisar o ciclo
de vida de um produto de moda que utiliza lã como sua matéria-prima.
Pode-se afirmar que os objetivos específicos definidos foram alcançados. Por
meio da revisão da literatura selecionada e pelos temas que emergiam através de
sua análise a possibilidade de estudar a cadeia produtiva da lã bem como
sistematizar o ciclo de vida de um produto que a utiliza como matéria pode ser
verificada. Portanto, o desenvolvimento do estudo de caso permitiu que os dados
coletados em teoria pudessem ser relacionados com os dados obtidos em prática.
No que tange o objetivo geral da pesquisa, a análise de conteúdo ofereceu
evidências suficientes para sistematização do ciclo de vida dos produtos
desenvolvidos pela empresa AMG e ainda os dados necessários para que
possibilidades e oportunidades de melhoria nesse ciclo pudessem ser evidenciadas.
129
Foi possível, com base no estudo de caso desenvolvido, traçar a abordagem
projetual da empresa estudada em relação as esferas da sustentabilidade e os
resultados deste trabalho são influenciados por estratégias condizentes a ambas
esferas a fim de ampliar as ações de sustentabilidade da empresa.
Os resultados que tangem a primeira fase do ciclo de vida do produto, a pré-
produção, consistem principalmente na otimização e planejamento de logística da
empresa, considerando que essa fase é constituída de seis micro fases
(micronagem, esquila, lavagem, cardagem, fiação e tingimento/pré-encolhimento)
realizadas em três cidades diferentes.
Esse processo além de impactar o meio ambiente com o alta emissão de
carbono também se torna economicamente falho para a empresa, pois o
investimento em locomoção é grande e acaba por encarecer os produtos finais.
Ainda sobre a fase de pré-produção propõem-se que a empresa planeje o
reaproveitamento de água captada da chuva para o processo de tingimento e pré-
encolhimento, minimizando o uso da água potável atualmente utilizado. Também
processo é importante refletir sobre a possibilidade de que este possa ser realizado
na cidade de Dom Pedrito (atualmente feito em Porto Alegre) para que assim a
matéria-prima precise ser transportada apenas após o produto final ser acabado.
Como atualmente o processo de tingimento é feito na casa de uma das
designers da empresa, percebe-se que a realização dessa etapa não exige grande e
diferenciada estrutura, podendo então vir a ser realizada por uma das artesãs da
empresa se esta estiver capacitada. Pois no modelo atual a mesma percepção sobre
o problema de logística da pré-produção pode ser averiguada na segunda fase do
ciclo de vida, a produção dos produtos. Nessa fase a matéria-prima viaja cerca de
500 km para que os produtos sejam confeccionados e ainda, após a confecção, os
produtos viajam novamente esses mesmos 500km para serem comercializados.
Outra oportunidade emergente no processe de produção é o ambiente de
trabalho das artesãs. Hoje cada uma trabalha na sua casa recorrendo a uma “líder”
nos momentos de dúvidas e para entrega das peças finalizadas. Segundo Pazmino
(2007) o trabalho em grupo é importante nos processos de profissionalização, de
absorção de novos conhecimento pelos trabalhadores, resultando em melhoria na
qualidade de vida, renda e reinserção social. Desse modo indica-se que a empresa
130 AMG repense o local de trabalho e método de produção, estudando a possibilidade
de disponibilizar às artesãs a oportunidade de trabalhar em grupo.
Com relação a fase de descarte das peças, constituindo o último elo do ciclo,
conclui-se que o ciclo de vida aplicado pela empresa é um “anel fechado”, como
mostrou a figura 36, pois a mesma incentiva que os consumidores retornem suas
peças para a marca no momento de seu descarte e assim se dará o devido
aproveitamento de sua matéria-prima. Portanto a empresa aplica a Logística
Reversa e o DFD, design para desmontagem, minimiza os resíduos gerados no
processo de reciclagem.
Como dito anteriormente a empresa adota o processo de slowfashion, que
consiste em dar prioridade a qualidade e resistência dos produtos, além de respeitar
todas as etapas da cadeia produtiva dos mesmos.
Para transmitir esse conceito aos seus consumidores a marca leva em suas
peças o caminho da matéria-prima até chegar ao consumidor, além de levar a
assinatura da artesã que a confeccionou. Essas estratégias têm como objetivo gerar
laços afetivos entre os consumidores e as peças adquiridas, fidelizando sua clientela
e os tornando membros da “família AMG”.
Por fim, avalia-se que apesar dos esforços da empresa em adequar-se as
diretrizes da sustentabilidade sempre existem pontos específicos em que podem
sofrer ampliações e melhorias. Diante desta inquietação a adaptação do ciclo de
vida de Manzini e Vezzoli (2008) foi fundamental para que a sistematização do ciclo
de vida atual da empresa, assim como serviram de base para a projetação de um
ciclo de vida ideal abordando as diretrizes da sustentabilidade ampla.
Ao apresentar os resultados do trabalho, cabe apontar as dificuldades e as
limitações enfrentadas no decorrer desta pesquisa.
8.2 DIFICULDADES E LIMITAÇÕES DA PESQUISA
Conforme apresentado, um dos objetivos específicos do estudo era analisar e
observar todas as etapas envolvidas no ciclo de vida do produto da empresa AMG.
131 Sendo assim, uma das principais dificuldades encontradas foi a distância física dos
participantes e de cada fase do processo, em relação ao ambiente cotidiano da
pesquisadora, o que impossibilitou o agendamento de mais visitas a fim de
entrevistar um número maior de atores envolvidos.
A título de esclarecimento, ressalta-se que não fez parte do escopo desta
pesquisa analisar em profundidade questões relacionadas ao manejo de ovinos,
visto que foge a área estudada.
Uma das lacunas do estudo e considerado fator limitante na coleta e análise
de dados foi a recusa da empresa de lavagem e cardagem em participar da
pesquisa e fornecer informações acerca desses importantes processos para o ciclo
de vida.
Entretanto, sendo a única empresa a realizar esse serviço para a marca AMG,
optou-se por trabalhar com dados levantados teoricamente e ainda complementados
pelo relato da entrevistada GH.
Ao se falar em referencial teórico, cabe ressaltar que o acesso a pesquisas
atuais sobre a cadeia produtiva de lã e suas etapas foi outra dificuldade encontrada
pela pesquisadora. A produção científica acerca da manufatura de lã no Rio Grande
do Sul e no Brasil não é vasta e alguns dados só puderam ser aprofundados em
entrevistas e observações.
Embora a pesquisa tenha apresentado dificuldades, podem ser evidenciadas
contribuições da mesma, não apenas para a comunidade acadêmica, como
igualmente para a sociedade em geral e principalmente para a empresa estudada.
Conforme apontado a seguir.
8.3 CONTRIBUIÇÕES DA PESQUISA
No desenvolvimento de uma pesquisa existe a exigência de que esta resulte
em contribuições que beneficiem diversas áreas de conhecimento, como acadêmica
e instituições da sociedade e ainda, que sirva para o aprimoramento pessoal e
profissional da pesquisadora.
132
Por ter sua origem na região da campanha e por ser de família criadora de
ovinos, a pesquisadora sempre sentiu motivação de pesquisar sobre tal matéria-
prima. Além disso, vale comentar, que a pesquisadora também faz parte da equipe
da empresa AMG e que conhecer a fundo o processo de ciclo de vida dos produtos
da marca sempre lhe causou inquietação.
No campo da pesquisa, a relação da matéria-prima estudada com as
diretrizes da sustentabilidade e os conceitos de design aponta parâmetros que
podem constituir análises em estudos futuros, visto que esta pesquisa consiste na
inédita análise da cadeia produtiva da lã para matéria-prima do design de moda.
Vale também refletir a cerca de estudos futuros pertinentes ao tema, aprofundados
no contexto socioeconômico e cultural da matéria-prima.
Além disso, a pesquisa qualitativa possibilitou, por meio da análise de
conteúdo, a coleta de dados importantes para evolução em direção da
sustentabilidade ampla da empresa estudada.
Pode-se afirmar que a principal contribuição da presente pesquisa foi levantar
informações que, após sua disponibilização e análise em conjunto com a empresa
AMG, ficará a critério da organização a implementação das oportunidades
levantadas por esse estudo, e assim a avaliação de sua evolução no mercado, seu
impacto socioeconômico sobre os atores envolvidos e o impacto econômico na
sustentabilidade financeira da empresa.
133
REFERÊNCIAS
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138 APÊNDICE 1 – ROTEIRO DE ENTREVISTA FORNECEDOR
CRIADOR DE OVELHAS
Prezado participante,
A entrevista proposta (roteiro abaixo) é um dos instrumentos de coleta de dados da pesquisa intitulada: A REINSERÇÃO DA LÃ GAÚCHA NO MERCADO DA MODA: ANÁLISE DO CICLO DE VIDA DE UM PRODUTO SUSTENTÁVEL. A realização da pesquisa é parte do projeto de Mestrado em Design do Centro Universitário Ritter dos Reis (UNIRITTER). Sua contribuição será significativa para o alcance do objetivo desta pesquisa.
Sua participação é voluntária, caso aceita, e mediante assinatura do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido, seu nome será preservado em sigilo, sendo identificado por um código no trabalho final.
NOME:
IDADE:
DATA DA REALIZAÇÃO:
Qual a Raça dominante do seu rebanho?
Qual o porte, em números de animais, do seu rebanho?
Como funciona o manejo dos animais?
Como a lã se comporta com o passar da idade do animal?
Do que os animais se alimentam?
Existe algum cuidado com a exposição ao sol dos animais?
Qual o método de esquila adotado?
139 APÊNDICE 2 - ROTEIRO DE ENTREVISTA DESIGNER
DESIGNER DA MARCA AMG
Prezado participante,
A entrevista proposta (roteiro abaixo) é um dos instrumentos de coleta de dados da pesquisa intitulada: A REINSERÇÃO DA LÃ GAÚCHA NO MERCADO DA MODA: ANÁLISE DO CICLO DE VIDA DE UM PRODUTO SUSTENTÁVEL. A realização da pesquisa é parte do projeto de Mestrado em Design do Centro Universitário Ritter dos Reis (UNIRITTER). Sua contribuição será significativa para o alcance do objetivo desta pesquisa.
Sua participação é voluntária, caso aceita, e mediante assinatura do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido, seu nome será preservado em sigilo, sendo identificado por um código no trabalho final.
NOME:
IDADE:
DATA DA REALIZAÇÃO:
FORMAÇÃO ACADEMICA:
FUNÇÃO DO CARGO QUE OCUPA:
Qual a história da AMG?
Qual a missão, visão e os valores da empresa?
Porque a empresa adotou a lã como matéria-prima?
Qual o processo produtivo das coleções da AMG? E como a sustentabilidade está inserida?
De que forma os produtos são comercializados?
De que forma os produtos comercializados são embalados?
Que método de transporte é o mais adotado pela empresa?
Em que parte do processo a empresa acredita que poderia ampliar a sustentabilidade?
Quais as dificuldades do processo?
Como você se sente, profissionalmente, trabalhando com sustentabilidade?
140 APÊNDICE 3 - ROTEIRO DE ENTREVISTA ARTESÃ
ARTESÃS DA MARCA AMG
Prezado participante,
A entrevista proposta (roteiro abaixo) é um dos instrumentos de coleta de dados da pesquisa intitulada: A REINSERÇÃO DA LÃ GAÚCHA NO MERCADO DA MODA: ANÁLISE DO CICLO DE VIDA DE UM PRODUTO SUSTENTÁVEL. A realização da pesquisa é parte do projeto de Mestrado em Design do Centro Universitário Ritter dos Reis (UNIRITTER). Sua contribuição será significativa para o alcance do objetivo desta pesquisa.
Sua participação é voluntária, caso aceita, e mediante assinatura do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido, seu nome será preservado em sigilo, sendo identificado por um código no trabalho final.
NOME:
IDADE:
DATA DA REALIZAÇÃO:
Como você aprendeu a fazer artesanato?
Que tipo de produtos você confecciona?
Qual o papel do artesanato na sua vida?
Como era sua relação com o ofício antes da AMG?
De que forma a AMG entrou na sua vida?
Como é sua relação com a empresa?
De que forma a AMG está atuando em sua vida?
Está satisfeita em confeccionar as peças da AMG?
141
APÊNDICE 4 – LEI DO RESÍDUO SÓLIDO
LEI No 12.305, DE 2 DE AGOSTO DE 2010.
Art. 1o Esta Lei institui a Política Nacional de Resíduos Sólidos, dispondo sobre seus
princípios, objetivos e instrumentos, bem como sobre as diretrizes relativas à gestão integrada e ao gerenciamento de resíduos sólidos, incluídos os perigosos, às
responsabilidades dos geradores e do poder público e aos instrumentos econômicos aplicáveis.
§ 1o Estão sujeitas à observância desta Lei as pessoas físicas ou jurídicas, de direito público ou privado, responsáveis, direta ou indiretamente, pela geração de resíduos sólidos
e as que desenvolvam ações relacionadas à gestão integrada ou ao gerenciamento de resíduos sólidos.
§ 2o Esta Lei não se aplica aos rejeitos radioativos, que são regulados por legislação
específica.
Art. 2o Aplicam-se aos resíduos sólidos, além do disposto nesta Lei, nas Leis nos 11.445, de
5 de janeiro de 2007, 9.974, de 6 de junho de 2000, e 9.966, de 28 de abril de 2000, as normas estabelecidas pelos órgãos do Sistema Nacional do Meio Ambiente (Sisnama), do
Sistema Nacional de Vigilância Sanitária (SNVS), do Sistema Unificado de Atenção à Sanidade Agropecuária (Suasa) e do Sistema Nacional de Metrologia, Normalização e
Qualidade Industrial (Sinmetro).
CAPÍTULO II DEFINIÇÕES Art. 3o Para os efeitos desta Lei, entende-se por:
I - acordo setorial: ato de natureza contratual firmado entre o poder público e fabricantes,
importadores, distribuidores ou comerciantes, tendo em vista a implantação da responsabilidade compartilhada pelo ciclo de Vida do produto;
II - área contaminada: local onde há contaminação causada pela disposição, regular ou irregular, de quaisquer substâncias ou resíduos;
III - área órfã contaminada: área contaminada cujos responsáveis pela disposição não sejam identificáveis ou individualizáveis;
IV - ciclo de Vida do produto: série de etapas que envolvem o desenvolvimento do produto,
a obtenção de matérias-primas e insumos, o processo produtivo, o consumo e a disposição final;
V - coleta seletiva: coleta de resíduos sólidos previamente segregados conforme sua constituição ou composição;
VI - controle social: conjunto de mecanismos e procedimentos que garantam à sociedade informações e participação nos processos de formulação, implementação e avaliação das
políticas públicas relacionadas aos resíduos sólidos;
VII - destinação final ambientalmente adequada: destinação de resíduos que inclui a reutilização, a reciclagem, a compostagem, a recuperação e o aproveitamento energético ou
outras destinações admitidas pelos órgãos competentes do Sisnama, do SNVS e do Suasa,
142 entre elas a disposição final, observando normas operacionais específicas de modo a evitar danos ou riscos à saúde pública e à segurança e a minimizar os impactos ambientais
adversos;
VIII - disposição final ambientalmente adequada: distribuição ordenada de rejeitos em
aterros, observando normas operacionais específicas de modo a evitar danos ou riscos à saúde pública e à segurança e a minimizar os impactos ambientais adversos;
IX - geradores de resíduos sólidos: pessoas físicas ou jurídicas, de direito público ou
privado, que geram resíduos sólidos por meio de suas atividade s, nelas incluído o consumo;
X - gerenciamento de resíduos sólidos: conjunto de ações exercidas, direta ou indiretamente, nas etapas de coleta, transporte, transbordo, tratamento e destinação final
ambientalmente adequada dos resíduos sólidos e disposição final ambientalmente adequada dos rejeitos, de acordo com plano municipal de gestão integrada de resíduos
sólidos ou com plano de gerenciamento de resíduos sólidos, exigidos na forma desta Lei;
XI - gestão integrada de resíduos sólidos: conjunto de ações voltadas para a busca de
soluções para os resíduos sólidos, de forma a considerar as dimensões política, econômica, ambiental, cultural e social, com controle social e sob a premissa do desenvolvimento
sustentável;
XII - logística reversa: instrumento de desenvolvimento econômico e social caracterizado por um conjunto de ações, procedimentos e meios destinados a viabilizar a coleta e a restituição
dos resíduos sólidos ao setor empresarial, para reaproveitamento, em seu ciclo ou em outros ciclos produtivos, ou outra destinação final ambientalmente adequada;
XIII - padrões sustentáveis de produção e consumo: produção e consumo de bens e serviços de forma a atender as necessidades das atuais gerações e permitir melhores
condições de Vida, sem comprometer a qualidade ambiental e o atendimento das necessidades das gerações futuras;
XIV - reciclagem: processo de transformação dos resíduos sólidos que envolve a alteração de suas propriedades físicas, físico-químicas ou biológicas, com vistas à transformação em
insumos ou novos produtos, observadas as condições e os padrões estabelecidos pelos órgãos competentes do Sisnama e, se couber, do SNVS e do Suasa;
XV - rejeitos: resíduos sólidos que, depois de esgotadas todas as possibilidades de
tratamento e recuperação por processos tecnológicos disponíveis e economicamente viáveis, não apresentem outra possibilidade que não a disposição final ambientalmente
adequada;
XVI - resíduos sólidos: material, substância, objeto ou bem descartado resultante de
atividade s humanas em sociedade, a cuja destinação final se procede, se propõe proceder ou se está obrigado a proceder, nos estados sólido ou semissólido, bem como gases
contidos em recipientes e líquidos cujas particularidades tornem inviável o seu lançamento na rede pública de esgotos ou em corpos d’água, ou exijam para isso soluções técnica ou
economicamente inviáveis em face da melhor tecnologia disponível;
XVII - responsabilidade compartilhada pelo ciclo de Vida dos produtos: conjunto de
143 atribuições individualizadas e encadeadas dos fabricantes, importadores, distribuidores e comerciantes, dos consumidores e dos titulares dos serviços públicos de limpeza urbana e
de manejo dos resíduos sólidos, para minimizar o volume de resíduos sólidos e rejeitos gerados, bem como para reduzir os impactos causados à saúde humana e à qualidade
ambiental decorrentes do ciclo de Vida dos produtos, nos termos desta Lei;
XVIII - reutilização: processo de aproveitamento dos resíduos sólidos sem sua
transformação biológica, física ou físico-química, observadas as condições e os padrões estabelecidos pelos órgãos competentes do Sisnama e, se couber, do SNVS e do Suasa;
XIX - serviço público de limpeza urbana e de manejo de resíduos sólidos: conjunto de
atividade s previstas no art. 7o da Lei no 11.445, de 2007.
ou particulares, com vistas à gestão integrada e ao gerenciamento ambientalmente
adequado dos resíduos sólidos.
Art. 5o A Política Nacional de Resíduos Sólidos integra a Política Nacional do Meio
Ambiente e articula-se com a Política Nacional de Educação Ambiental, regulada pela Lei no 9.795, de 27 de abril de 1999, com a Política Federal de Saneamento Básico, regulada pela
Lei no 11.445, de 2007, e com a Lei no 11.107, de 6 de abril de 2005
144
ANEXO 1 – Termo de Consentimento Livre e Esclarecido
145 ANEXO 2 – Termo de Autorização de Participação de Pesquisa
146 ANEXO 3 – RESPOSTAS QIA
RESPOSTAS ABAIXO DA MÉDIA
147
148 RESPOSTAS ACIMA DA MÉDIA
149
150 ANEXO 4 – RELATÓRIO OFDA
151