chico buarque pedro pedreiro 21012013 renato moreira

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[Type text] Page 1 Título: A representação das classes subalternas na obra de Chico Buarque Renato Moreira Araújo Resumo Este trabalho tem o objetivo de investigar como o artista constrói a representação do outro em suas obras Funeral de um lavrador (LP Chico Buarque de Holanda Vol. 3, 1968) e Assentamento (CD As cidades, 1998), que tratam do trabalhador rural, Pedro Pedreiro (LP Chico Buarque de Holanda Vol. 1, 1966) e Construção (LP Construção, 1971) que tratam do trabalhador da construção civil, Pivete (LP Chico Buarque, 1978) e Meu guri (LP Almanaque, 1981) que tratam da criança pobre da periferia, Partido Alto (LP Quando o Carnaval Chegar, 1972) e Vai Trabalhar Vagabundo (LP Meus Caros Amigos, 1976) que discutem a questão do ócio e do trabalho, Brejo da Cruz(LP Chico Buarque, 1984) que discute o abismo entre um Brasil miserável e outro rico, e Subúrbio(CD Carioca, 2006) e Gente Humilde(LP Chico Buarque de Holanda Vol. 4, 1970) que tratam da periferia das grandes cidades. A obra de Chico Buarque sempre se vinculou a uma arte com fins diretamente políticos, com críticas ao regime militar e também às enormes desigualdades sociais presentes no contexto brasileiro e que permaneceram mesmo após a redemocratização. O enfoque aqui será, sobretudo, a representação nas suas canções dos setores economicamente mais frágeis, que se deparam com uma sociedade extremamente excludente e hierarquizada. A obra de Chico Buarque compreende, além da música, também a literatura e o teatro. Em nossa pesquisa, privilegiaremos a música que, de acordo com Marcos Napolitano (2002), é não apenas para se escutar, mas também um meio para refletir sobre a sociedade em determinado contexto e época. Na análise da canção, letra e melodia são inseparáveis, devendo seu estudo integrar esse dois aspectos. No entanto, este trabalho enfocará principalmente o aspecto lírico da obra de Chico Buarque, fazendo breves menções ao aspecto musical das canções. As canções analisadas, de diversas épocas da grande discografia do autor, falam, sobretudo, das classes populares, que ao longo do tempo tem sido tratada por diversos termos como lumpemproletariado (Marx), ralé (Souza,2009). Trata-se de

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    Ttulo: A representao das classes subalternas na obra de Chico Buarque

    Renato Moreira Arajo

    Resumo

    Este trabalho tem o objetivo de investigar como o artista constri a representao do

    outro em suas obras Funeral de um lavrador (LP Chico Buarque de Holanda Vol. 3,

    1968) e Assentamento (CD As cidades, 1998), que tratam do trabalhador rural, Pedro

    Pedreiro (LP Chico Buarque de Holanda Vol. 1, 1966) e Construo (LP Construo,

    1971) que tratam do trabalhador da construo civil, Pivete (LP Chico Buarque, 1978) e

    Meu guri (LP Almanaque, 1981) que tratam da criana pobre da periferia, Partido Alto

    (LP Quando o Carnaval Chegar, 1972) e Vai Trabalhar Vagabundo (LP Meus Caros

    Amigos, 1976) que discutem a questo do cio e do trabalho, Brejo da Cruz(LP Chico

    Buarque, 1984) que discute o abismo entre um Brasil miservel e outro rico, e

    Subrbio(CD Carioca, 2006) e Gente Humilde(LP Chico Buarque de Holanda Vol. 4,

    1970) que tratam da periferia das grandes cidades.

    A obra de Chico Buarque sempre se vinculou a uma arte com fins diretamente

    polticos, com crticas ao regime militar e tambm s enormes desigualdades sociais

    presentes no contexto brasileiro e que permaneceram mesmo aps a

    redemocratizao.

    O enfoque aqui ser, sobretudo, a representao nas suas canes dos setores

    economicamente mais frgeis, que se deparam com uma sociedade extremamente

    excludente e hierarquizada.

    A obra de Chico Buarque compreende, alm da msica, tambm a literatura e o teatro.

    Em nossa pesquisa, privilegiaremos a msica que, de acordo com Marcos Napolitano

    (2002), no apenas para se escutar, mas tambm um meio para refletir sobre a

    sociedade em determinado contexto e poca.

    Na anlise da cano, letra e melodia so inseparveis, devendo seu estudo integrar

    esse dois aspectos. No entanto, este trabalho enfocar principalmente o aspecto lrico

    da obra de Chico Buarque, fazendo breves menes ao aspecto musical das canes.

    As canes analisadas, de diversas pocas da grande discografia do autor, falam,

    sobretudo, das classes populares, que ao longo do tempo tem sido tratada por

    diversos termos como lumpemproletariado (Marx), ral (Souza,2009). Trata-se de

  • [Type text] Page 2

    setores da populao que no participam efetiva e formalmente do mercado de

    trabalho, diferentemente do proletariado tpico das relaes sociais dominantes desde

    o desenvolvimento das foras produtivas capitalistas e da preponderncia deste modo

    de produo (Martins, 2002).

    Chico Buarque, um artista oriundo das camadas mdias, vindo de uma famlia

    tradicional, que recebeu boa educao, tem uma sociabilidade diferente dos setores

    populares. E cabe investigar em que medida sua situao social influencia a

    representao dos pobres em sua msica.

    Com a emergncia dos estudos culturais, h uma grande crtica em relao

    representao dos setores subalternos feita sobretudo pela academia. A

    subalternidade tem suas origens no pensamento do marxista italiano Antonio Gramsci

    para se referir aos setores marginalizados da sociedade, sobretudo os operrios e os

    camponeses. Posteriormente, autores como Edward Said, Stuart Hall, Gayatri Spivak

    questionam as representaes feitos pelos setores dominantes da sociedade, que no

    permite dar voz prpria a esse setores.

    Dentro do contexto brasileiro, diversos autores procuraram discutir o que levou o

    Brasil a ser uma das naes mais desiguais do planeta e na atualidade e um dos

    principais autores que discute o dilema brasileiro Jess de Souza que, na discusso

    com estrangeiros, como Charles Taylor e Pierre Bourdieu, e tambm brasileiros, como

    Florestan Fernandes e Maria Sylvia Carvalho Franco constri uma teoria da

    modernidade perifrica.

    Em diversas letras das msicas de Chico Buarque se discutem, alm da questo da

    marginalizao social, a questo da identidade nacional brasileira, o papel que o andar

    de baixo da sociedade teria na construo de um ethos nacional. Ao longo de sua obra,

    percebe-se que diversas questes permanecem, seja a invisibilidade e o descaso das

    elites econmicas e polticas com os setores populares, seja a pluraridade de

    identidades e etnias que formam a nao brasileira, o que aparece inclusive na capa de

    lbuns como Paratodos e As cidades.

  • [Type text] Page 3

    Cada cano compe um retrato da sociedade brasileira, que no composta por uma

    nica identidade nacional fixa e imutvel no tempo, mas por uma pluraridade de

    identidades, segundo Renato Ortiz (ano).

    Anlise das canes

    Pedro Pedreiro a primeira cano de Chico Buarque com uma critica social direta .

    Uma percussora da cano Construo, que seria gravada 5 anos mais tarde. Nela se

    percebe, de certa forma, a presena da ideologia do desempenho que, segundo Jess

    de Souza, d a iluso de que todos os indivduos da sociedade tm oportunidades de

    ascenso social iguais, independente de sua classe social. Isso internalizado como

    uma ideia espontnea de que o trabalho no dia a dia por si s bastaria para alcanar

    uma condio material melhor.

    Essa uma ideia que Weber aborda na sua obra A tica protestante e o espirto do

    capitalismo, onde o protestantismo do ramo calvinista valoriza o trabalho e a posse de

    riquezas. Essa tica do trabalho de acordo com o desenvolvimento da modernidade se

    estende para alm do mbito religioso, tomando uma forma secular posteriormente.

    No entanto, no contexto brasileiro, temos uma sociedade fortemente hierrquica que

    de certa maneira impede a ascenso social das camadas mais pobres da sociedade.

    Para Florestan Fernandes (ano), o Brasil no criou condies para que a populao

    negra se adapte-se ao regime de trabalho capitalista aps a abolio, ficando

    margem da sociedade ou em empregos de remunerao muito baixa com pouca

    especializao. O que na msica se observa pela profisso de pedreiro, ofcio realizado

    na maioria das vezes pela populao mais pobre e com baixa escolaridade.

    Outro aspecto a reproduo estrutural da pobreza. A mulher de Pedro est grvida e

    esse filho futuramente ter o mesmo destino de seu pai: ficar esperando quase

    eternamente pelo aumento de salrio, pela sorte. No livro A integrao do negro na

    sociedade de classes, Florestan traz relatos de famlias desestruturadas onde os pais,

    por terem uma vida precria e baixo nvel de instruo, no conseguem meios de

    educar adequadamente os filhos. Da a tendncia que eles continuem perpetuando o

    ciclo de pobreza por diversas geraes, trabalhando em empregos precarizados. No

    final, Pedro cansa de esperar e quer apenas voltar pro Norte, voltar a ser um pobre

  • [Type text] Page 4

    pedreiro, indicando que aquelsa esperana aos poucos se desfaz, gerando uma

    percepo conformista de que as coisas so de certa forma assim.

    Jess e Florestan mencionam de certa forma essa frustrao, que seguida de um

    conformismo. As

    camadas populares so acometidas por uma apatia, como se perceber no relato

    colhido no livroA integrao do negro na sociedade de classes), que diz que Vida de

    preto e assim mesmo. Esse relato enfoca a questo do negro e a sua insero de

    forma precria na sociedade, mas pode ser estendida a outros setores, como diz Jess

    de Souza, pois seus dramas so muito parecidos.

    Funeral de um lavrador

    Baseada na pea Vida e Morte Severina, de Joo Cabral De Mello Neto, Funeral de Um

    Lavrador tem como tema a disputa pela terra. Segundo Antonio Candido (ano), a

    literatura, antes das cincias sociais, foi um meio de discutir os dilemas brasileiros e a

    questo da identidade nacional. Um exemplo disso Os Sertes, de Euclides da

    Cunha, que aborda a questo da dualidade entre litoral e serto. No primeiro estaria o

    brasileiro postio, aberto a influncias estrangeiras e no segundo estaria o verdadeiro

    povo brasileiro. O sertanejo, embora vivesse de modo rstico, na pobreza, seria, no

    seu dizer, um forte, embora o autor apontasse como ponto fraco na sua

    miscigenao.

    Nessa cano, no entanto, se observa o oposto. Quando se menciona uma cova

    grande para teu pouco defunto se observa a inutilidade do homem rural e a sua

    incapacidade para o ambiente hostil. Maria Sylvia De Carvalho Franco em Homens

    Livres na ordem escravocrata menciona os dilemas do homem do campo: Sua

    inexistncia como ser permitiu uma nica escapatria nos momentos em que as foras

    constritivas se fazem sentir duramente: a revolta de cada indivduo solitrio em seu

    desafio a ordem estabelecida, entregue a suas prprias foras para afirmar-se. No

    campo os grandes proprietrios usam como diz Florestan Fernandes da violncia

    aberta para impedir que haja uma reforma agrria e so os setores mais modernos

    tecnologicamente os mais resistentes a mudana nas relaes sociais no campo para

    diminuir a concentrao de terras. Por isso, o pequeno proprietrio v de certa forma

    suas aspiraes bloqueadas em uma situao de permanente conflito e luta poltica.

    [S1] Comentrio: cf. ttulo

  • [Type text] Page 5

    Por isso o destino dos trabalhadores rurais, o setor mais baixo dentro da escala social,

    o que suporta os maiores sacrifcios para o desenvolvimento e progresso do pas,

    uma cova nem larga nem funda para teu pouco defunto e a parte que lhe cabe nesse

    latifndio.

    Gente Humilde

    Escrita com Vinicius de Moraes, essa cano aborda a gente brasileira, a maioria do

    povo simples que no tem com quem contar. Jess Souza fala que o problema dos

    pases de modernidade perifrica, como o caso do Brasil, uma maioria de pessoas

    desclassificadas socialmente, que tem o nome pejorativo de ral, que so invisveis.

    Mesmo havendo uma desigualdade enorme, ela escondida e mascarada pela

    ideologia do desempenho.

    A crtica de Jess e da viso seja pelo senso-comum seja por diversos autores como

    Habermas que as duas instituies modernas, o estado e o mercado seriam neutras.

    Por isso essa gente no pode contar com o mercado, que o liberalismo v como

    virtude e soluo para todos os males, nem com um estado que na maior parte das

    vezes beneficia uma minoria. Esse drama no atinge apenas suas vtimas diretas, mas

    toda sociedade brasileira, em grau menor ou maior, por isso o sujeito da msica(eu

    lrico do poeta v com certa tristeza o desamparo e a pobreza desses indivduos.

    No entanto, esse povo, apesar de tudo, tambm tem caractersticas admirveis. Ele

    afetivo, alegre, hospitaleiro; indcios que aparecem quando se menciona que na

    fachada da casa est escrito que um lar e que h cadeiras nas caladas. Roberto Da

    matta fala da dualidade entre casa e rua. A casa seria o ambiente onde haveria

    relaes pessoais, afetivas, um local seguro. J a rua seria o local do imprevisvel, dos

    perigos, da impessoalidade. D e certa forma, as cadeiras na calada seriam uma

    maneira de esticar e alargar o espao da casa, seria uma zona intermediria onde esse

    dois aspectos se misturam.

    O prprio pai de Chico Buarque, no seu livro principal, Razes do Brasil, criou o

    conceito de homem cordial, que definiria o carter de todo brasileiro, que age de

    [S2] Comentrio: No resolvido De Jess? Do Chico?

  • [Type text] Page 6

    maneira emocional, diferente dos membros das sociedades mais modernas,

    caracterizados pela ao racional com relao a fins ( Max Weber, ano). O brasileiro

    seria incapaz de ter relaes impessoais na esfera pblica e por isso ocorreria o

    patrimonialismo, que a confuso entre o pblico e o privado. A cordialidade teria

    aspectos negativos, como um entrave a consolidao de relaes ... modernas.Como a

    separao do publico e do privado,agir mais pela emoo do que pela razo que

    impediria a consolidao de uma ordem mais democrtica e igualitria na sociedade.

    Construo

    Escrita em pleno milagre econmico, Construo descreve o destino trgico de um

    trabalhador da construo civil. A letra remete a alienao e desumanizao do

    trabalho, algo que Marx e Engels perceberam nos primrdios do capitalismo.Diferente

    de Funeral de um lavrador, que tem como temtica o meio rural e as relaes pessoais

    como norteadores da relao do trabalho, em Construo se percebe que estamos no

    meio urbano e as relaes impessoais so a regra. Se contrapondo a uma

    interpretao tradicional do pensamento brasileiro, Jess Souza discute a desigualdade

    e o dilema brasileiro falando das consequncias dessa modernidade,por isso rebate

    autores como Roberto Damatta que justifica a hierarquia social na realidade brasileira

    atravs de resqucios de uma sociedade patriarcal e escravista mais do que por

    relaes impessoais tpicas do sistema capitalista. No decorrer da cano, se percebe

    uma certa robotizao do trabalhador. E ele prprio se transforma em mquina, vira

    uma extenso de sua ferramenta de trabalho.Foucault fala em corpos dceis, no que

    se percebe que o trabalho degradante fez com que at a relao essencial na vida de

    um ser humano vire hbito.Comer e beber e fazer amor tornam-se uma atividade

    mecnica, sem prazer, o que seria importante para sua prpria reproduo como fora

    de trabalho. O operrio, nos termos de Marx, vira uma mercadoria qualquer, como,

    por exemplo, um pacote flcido, algo meramente instrumental, para gerar lucro.

    Herbert Marcuse fala que na modernidade tudo alm das necessidade vitais se torna

    luxo. O amor, a arte e mesmo um ato como comer feijo com arroz chega ao ponto de

    ser considerado o mximo. O que de certa forma revela que a morte era algo que

    ocorreria, pois at a necessidade se tornou algo suprfluo.

    [S3] Comentrio: Quais?

  • [Type text] Page 7

    Partido Alto

    Presente na trilha sonora do filme Quando O Carnaval Chegar, de Cac Diegues,

    Partido Alto apresenta temas constantes no debate sobre a identidade nacional

    brasileira. O principal aspecto abordado a condio do subdesenvolvimento da

    sociedade brasileira, um tema abordado por diversos autores das mais diversas

    correntes tericos como Celso Furtado,Fernando Henrique Cardoso, Florestan

    Fernandes, Srgio Buarque, Oliveira Viana. Cada um com uma interpretao diferente

    do por que somos atrasados. A primeira interpretao sobre a origem desse atraso

    vem pela questo racial. Como o Brasil e composto de uma populao sobretudo

    mestia, o racismo cientifico importado da Europa pra c explicava o problema pela

    questo racial. Slvio Romero enfatizava a questo da copia feita pelos mestios.

    ,Oliveira Viana, alm da questo do racismo, enfatizava a falta de uma solidariedade

    nacional que o povo brasileiro no tinha e que isso se daria atravs da educao cvica

    para incorporar valores comuns.

    A virada vem com Gilberto Freyre, no seu livro Casa Grande e Senzala que inverte a

    equao, colocando a miscigenao como um aspecto positivo, que seria marcado pela

    singularidade brasileira do equilbrio de antagonismos. Srgio Buarque veio com o

    conceito de homem cordial incapaz de ter relaes na esfera publica de forma

    impessoal, sendo aquela uma extenso da relao da famlia patriarcal. Na musica h

    vrias referencias de que o personagem nasceu, na barriga da misria, brasileiro -

    batuqueiro na verso censurada. Deus deu a ele perna comprida para jogar bola ou

    fugir da polcia. Na msica se constri um ethos do que ser brasileiro, uma

    identidade compartilhada por todos da nao. Um personagem emblemtico

    Macunaima, indiretamente referido na cano quando fala que deus deu muitas

    saudades e muita preguia.

    a imagem construda pelo senso comum da suposta indolncia e indisposio ao

    trabalho, combinada com a valorizao do cio. Personagens construdos, sobretudo,

    aps o fim da escravido, quando h uma verdadeira mudana na viso do trabalho.

    Anteriormente era uma atividade indigna e reservado aos escravos, mas se torna, na

    sociedade burguesa, um parmetro de moralidade e meio de reconhecimento social.

    Octvio Ianni diz que esses mitos no so neutros e retratam momentos da realidade

  • [Type text] Page 8

    brasileira.Em Partido alto, h uma srie de referncias a esses aspectos do ethos

    brasileiro que foram analisados por diversos pensadores e que contrastam com a

    imagem do tipo ideal ocidental nos termos de Weber do protestante puritano norte-

    americano, valorizador do trabalho, da poupana e contrrio a qualquer forma de lazer

    e prazer.,O brasileiro, em contraposio, ser caracterizado como o malandro que no

    gosta do trabalho, acostumado ao carnaval, e ao futebol, sem uma relao racional

    com a esfera publica; o que estaria na origem do nosso atraso como nao.

    Vai Trabalhar Vagabundo

    Presente no filme homnimo, essa cano fala da realidade de diversos setores

    populares que tem dificuldade de serem reconhecidos como cidados. Jesse de Souza

    discute a questo da meritocracia que torna a questo do problema da desigualdade

    invisvel e percebida de maneira individual . Atravs dessas ideologias que so

    interiorizadas pela sociedade na modernidade, a pobreza, a marginalizao social pode

    ser explicada por fatores como preguia, falta de vontade. Florestan Fernandes, no

    livro A integrao do negro na sociedade de classes mostra depoimentos de

    empregadores brancos que tinham uma viso de que os negros no eram propensos

    ao trabalho, que eles abandonavam o servio facilmente. Em A tica protestante e o

    esprito do capitalismo, Weber faz uma citao a Benjamin Fraklin, um dos

    fundadores dos Estados Unidos, que diz: As mais insignificantes aes que afetam

    o crdito de um homem devem ser por ele ponderadas. As pancadas de teu martelo

    que teu credor escuta s cinco da manh ou s oito da noite o deixam seis meses

    sossegado, mas se te v mesa de bilhar ou escuta tua voz numa taberna quando

    devias estar a trabalhar, no dia seguinte vai reclamar-te o reembolso e exigir seu

    dinheiro antes que o tenhas disposio duma vez s.

    Na prpria letra tem passagens onde se fala Pode esquecer a mulata, Pode esquecer

    o bilhar. O individuo tem que esquecer as atividades de lazer para focar no trabalho.

    No entanto, na realidade brasileira milhares de pessoas no conseguem se adaptar as

    exigncias de uma personalidade considerada moderna de acordo com as normas do

    capitalismo, uma vez que foram abandonadas, aps a abolio, pelo poder pblico.

    Florestan fala da europeizao com o um sinnimo de modernizao. Mas um termo

    que mostra que o tipo de comportamento exigido pela ordem competitiva tem sua

  • [Type text] Page 9

    origem na Europa. Em realidades perifricas, isso aparece como artefatos prontos que

    so importados . O que problemtico em um realidade marcada por uma forte

    herana escravista, onde o trabalho manual era visto como algo degradante e at anos

    atrs reservado as camadas mais baixas e inferiores, no sendo algo bem visto pela

    camada dominante.

    Pivete

    Abordando a situao das crianas de rua do Brasil, pivete mostra a situao de

    desamparo dessas pessoas. Axel Honneth em luta por reconhecimento mostra o papel

    das relaes afetivas, juridicas, solidariedade para construo da cidadania. e a relao

    maternal e a primeira que permite aos individuos o convivio em sociedade. Florestan

    demonstra o mesmo na Integrao do negro na sociedade de classes onde os homens

    abandonam suas esposas deixando apenas a responsabilidade a elas de criar os filhos

    ou ento expulsando as crianas de casa. As conseqncias sero um contigente de

    crianas sem destinos, sem freio nem direo como diz Chico Buarque na propria

    cano. Pedindo esmolas ou praticando pequenos furtos, trabalhando de flanelinha

    vendendo doces no farol.

    Jess Souza questiona a ausncia em Roberto Damatta de uma anlise sobre estratos

    sociais e questiona a sua noo de casa e rua;, um conceito vlido apenas para as

    classes medias e altas. Como falar disso para crianas cuja casa a prpria rua, um

    espao, no dizer do prprio Damatta, de perigos e incertezas, onde a qualquer hora as

    foras da lei como a polcia podem invadir sem cerimnias, como aconteceu no

    massacre da Candelria.Onde policias militares mataram cerca de 50 crianas que

    dormiam na marquise de uma igreja,no comeo dos anos 90 e que foi divulgado pela

    mdia exaustivamente.

    Meu guri

    Mesclando o eu feminino com a critica social, Meu guri fala da relao afetiva da me

    pelo seu filho, mesmo que ele se ocupe de atividades ilegais como o roubo. O crime

    para a ral se torna um atalho para ascender socialmente. Como demonstra Florestan,

    quem insiste no trabalho regular, honesto considerado o otrio pois a prostituio e

    a gatunagem para os jovens se torna uma forma de obter respeitos perante seu ciclo

    social.

    Formatado: Realce

    Formatado: Justificado

    [S4] Comentrio: muito geral

    [S5] Comentrio: contextualizar

    [S6] Comentrio: citar o autor

  • [Type text] Page 10

    Ter objetos de valor como mostra Bordieau (2007, pgina) e ter status, uma forma de

    obter prestgio e reconhecimento social para as classes baixas , os servios de baixa

    qualificao de remuneraes irrisrias impedem que se tenha renda suficiente para

    comprar objetos suntuosos acessveis apenas em uma sociedade desigual como a

    brasileira a uma pequena minoria. Por isso o roubo de relgios, bolsas,

    eletrodomsticos se justifica como uma forma de se obter respeito na favela, onde

    grande parte tem um grande desejo de consumir produtos que as classes superiores

    podem ter e que aparecem nos comercias de TV.

    Theodor Adorno (1985, 114 ) menciona o papel dos meios de comunicao de massa

    na transmisso de valores para sociedade. ... por isso o fracasso dos setores mais

    pobres de conseguir seja o carro, roupa de marca estimula um ressentimento contra

    os setores mais abastados que podem adquirir com facilidade esse objetos. No final da

    cano se menciona que a me v o filho na capa do jornal com os olhos vendados

    indicando que ele foi morto. A contraveno pode ser um atalho mas tambm um

    perigo de ser barrado pela fora da lei, Florestan (pgina ou citao) fala do papel da

    policia de controlar a ordem e de suspeitar e combater qualquer forma de vadiagem

    geralmente associadas aos de baixo como ele diz.

    Brejo da cruz

    O titulo da musica faz referencia a cidade Bejo da Cruz que fica na Paraiba uma

    homenagem ao cantor Z Ramalho. No entanto a cano tem uma abordagem mais

    ampla falando da imigrao dos nordestinos para as grandes cidades do sul e

    sudeste.Chico Buarque coloca em discusso os dois Brasis termo que vem do famoso

    livro do Frances Jacques Lambert que analisa as grandes desigualdades regionais.De

    um lado um Brasil moderno,capitalista que sofreu um grande processo de

    industrializao e que tem como principal centro econmico So Paulo a locomotiva

    do pais de outro um Brasil arcaico com relaes personalistas,pobre,atrasado e com a

    maior parte da populao na zona rural.A imigrao e um meio de fugir da seca e da

    misria do meio rural uma esperana de melhorar de vida na cidade como diz na

    msica no Brejo da Cruz as crianas comem luz.Por isso essas pessoas cruzam as

    rodovirias em busca de trabalho, no entanto a vida nos grandes centros no e to

    boa tendo que se contentar com empregos de baixa qualificao como

    babas,garons,jardineiros,guardas noturnos,faxineiros.O drama dessas pessoas e a sua

    Formatado: Realce

  • [Type text] Page 11

    insignificncia como cidados para as outras pessoas.Jess Souza discute a

    invisibilidade da desigualdade brasileira que permite que mesmo que tenhamos um

    concentrao de renda injusta o mito da meritocracia esteja internalizado na

    sociedade inclusive nos setores subalternos que por sinal so os que mais acreditam

    nele.

    Octvio Ianni se contrapondo as analises dualistas fala que o Brasil considerado

    atrasado tem um enorme papel como fornecedor de mo de obra barata para o

    desenvolvimento das regies mais ricas.A explorao da mo de obra nordestina tem

    como contrapartida o enriquecimento rpido da locomotiva paulistana.Os nordestinos

    so responsveis por um grande riqueza de um minoria que no entanto os despreza

    considerados como pessoas atrasados,ignorante.Jesse Souza aponta isso como uma

    idia forte nas elites polticas e econmicas mencionando o livro A Cabea do

    Brasileiro de Carlos Alberto Almeida que atravs de pesquisas qualitativas colocam o

    brasileiro pobre como atrasado,preguioso,conservador sobretudo os da regio

    nordeste que por sinal e a regio mais pobre do pais.As desigualdades no devem ser

    relacionadas h uma herana pr-moderna patrimonialista o que pensa por exemplo

    Srgio Buarque de Holanda,Roberto Damatta e sim a modernidade que para Jesse

    Souza cria um ideologia implcita de igualdade de oportunidades para todos atravs de

    leis impessoais onde o mercado ou estado so visto como entidades neutras.

    Assentamento

    Feita para o livro-CD do MST com fotografias do fotografo Sebastio Salgado e uma

    cano de protesto contra as relaes do campo feita na epoca um anos aps o

    massacre do Eldorado dos Carajas.O que se percebe e uma frustao com a

    cidade,toda aquela promessa de oportuniadade foi em vo.Jesse Souza critica o fetiche

    economicista a crena que o crescimento por ele mesmo vai resolver os problemas

    sociais e esse e um mito forte que perdura na atualidade mesmo que o Brasil temha

    crescido a uma taxa quase de dois digitos por meio seculo de 1930 a 1980.

    Jos De Souza Martins analisa a mesma questo mostrando que o crescimento

    economico no gerou uma distribuio igualitaria da terra.Por isso a importncia do

    MST para uma sociedade menos desigual,no entanto aponta limites desse movimento

    social.Sobretudo seu carater messianico,com uma forte ligao com setores da igreja

  • [Type text] Page 12

    catolica.Michel Lowy na guerra dos deuses analisa a teologia da libertao corrente

    progressista no setor catolico que atravs de suas pastorais da terra e um apoio

    importante ao MST.A Teologia da Libertao tem uma influencia do marxismo no

    entanto diverge de seu ateismo e materialismo.As convergencias so a critica radical

    ao capitalismo.Mas diferente do prprio Marx que em seus escritos como o Manifesto

    do Partido Comunista via o progresso e a modernidade com um avano para mudana

    social.Esse teologos possuem uma critica forte a modernidade pregando uma ideologia

    comunitarista da vida simples no campo,bem diferentes das vises marxistas

    ortodoxas que via um carter progressista na industrializao no progresso.O que se

    percebe na cano onde se deseja uma volta ao serto,contente com a terra plantando

    caqui,inhame e outros vegetais uma viso romntica assim como a de Rosseau da vida

    simples no campo,de forma igualitria.A citao de Guimaraes Rosa refora essa

    nfase no serto,no campo.Um local onde diversos autores como Gilberto

    Freyre,Euclydes da Cunha estaria o verdadeiro brasileiro.O setor progressista catlico

    inclusive fala na opo preferencial pelos pobres esse termo do tradicional proletrios

    usado pelos setores simpatizantes do marxismo.

    Subrbio

    Chico Buarque apresenta uma viso de um outro Rio de Janeiro fora dos cartes

    postais.Um local onde a vida e dura onde e habitado por um grande quantidade de

    pessoas marginalizadas a ral.Bauman discute o medo nas grandes cidades e o estigma

    que sofre principalmente a populao da periferia associada maior parte das vezes a

    criminalidade.Para o desespero sobretudo das classes superiores que moram em

    condomnios fechados e com seguranas,cmeras.Chico Buarque menciona que Cristo

    est de costas uma expresso de duplo sentido indicando tanto a posio dele quanto

    que essa populao vive abandona sem um ajuda sequer.Jess Souza e Florestan so

    autores que demonstram o abandono seja do poder publico seja das classes

    dominante ao estratos mais baixos da populao.Alm da questo da dignidade social

    Chico Buarque menciona a questo da identidade mencionado a diversidade de

    manifestaes culturais sobretudo da citando rock,rap,samba,rap estilos musicais dos

    mais diversos.Stuart Hall questiona que a identidade na ps-modernidade sofre uma

    ruptura ele passa a no ser mais fixa como se pensava desde a poca do iluminismo.Os

  • [Type text] Page 13

    indivduos podem assumir diversos pais de acordo com o lugar,o tempo.Por isso na

    atualidade dois temas so cruciais a igualdade e a diferena.O filosofo canadense

    discute essa duas questes como cruciais no debate atual.Jesse Souza embora

    concorde com Taylor ressalta que nas sociedades perifricas o tema da igualdade e um

    questo pendente que no foi solucionada ainda.Bourdieau discute a questo do

    habitus tema presente quando se menciona que so casas simples,sem cor e sem

    vaidade contrastando com as moradias bem cuidadas da Zona Sul regio nobre do Rio

    de Janeiro.

    O papel do artista na sociedade

    Chico Buarque e um artista que procurou alm do mbito de seu trabalho de musico e

    compositor,uma posio de destaque nos assuntos sociais se posicionando se como

    um intelectual.Gramsci distingue dois tipos de intelectuais o orgnico ligado a uma

    classe ou setor especifico ou seja a industria,igreja forma seus intelectuais

    responsveis por produes de idias e valores e o tradicional que estaria

    aparentemente acima das classes sociais e em defesa de interesse mais gerais sem

    particularismos.Chico Buarque tanto em seu prprio trabalho artstico e fora dele

    denuncia e faz criticas aos diversos aspectos da sociedade brasileira.Embora tenha

    uma origem tipicamente pequeno burguesa oriundo de uma famlia de intelectuais

    suas canes sempre tiveram o objetivo de mostrar sua simpatia pelos de

    baixo.Diferentemente dos setores mdios da classe media que rejeitam os

    comportamentos e atitudes das classes populares como vulgares,amorais.Pierre

    Bourdieu fala do habitus comportamentos,idias,valores internalizados de maneiras

    diferentes pelas classes sociais por fatores econmicos,culturais,instruo que criam

    varias formar de agir na vida cotidiana.Sua obra aborda os aspectos da vida

    cotidiana,Charles Taylor nas Fontes do self faz uma analise histrica da construo

    do pensamento moderno e dentro dessas idias a valorizao do cotidiano atravs da

    reforma protestante e de forma ainda mais acentuada pela secularizao e um

    contraponto ao mundo antigo onde se valoriza a contemplao e cio o trabalho era

    destinado aos estratos sociais inferiores.Essa tica do trabalho tambm foi analisada

    por Weber impulsionado o desenvolvimento econmico de vrios pases sobretudo os

    com forte tradio protestante como EUA,Inglaterra.No entanto esse cristianismo

  • [Type text] Page 14

    racionalizado teve como conseqncia o desencantamento do mundo.O que ocorre

    em diversas esferas como na arte que vai perder sua aura como mostrou Walter

    Benjamin no seu ensaio A obra de arte na era da reprodutibilidade tcnica.Chico

    Buarque como um artista da modernidade vai ressaltar o aspecto da vida comum e

    cotidiana longe dos artistas tradicionais que faziam arte pela arte e que pregavam

    um distanciamento do mundo e que mostra Bourdieu marca ainda hoje certo gosto

    burgus.Seu tema vo ser os diversos aspectos da sociedade brasileira mas um tema

    constante vai ser a representao dos setores subalternos.Atravs das letras esses

    indivduos enfrentam os maiores dilemas,dramas e uma ordem social injusta e

    hierrquica onde a cidadania no se consolidou.Jess Souza fala que na em sociedade

    perifricas o principio da dignidade no se universalizou totalmente pegando o

    conceito de habitus de Bourdieu ele vai falar de um habitus primrio que deveria ser

    compartilhado por todas as classes sociais o de dignidade que de certa forma se

    consolidou nos pases desenvolvidos como a Frana,Alemanha que possuem polticas

    de bem estar social e de uma igualdade perante a lei.No Brasil no houve esse

    processo,Florestan Fernandes mostra em duas obras A integrao do negro na

    sociedade de classes,Revoluo Burguesa no Brasil o tipo de modernizao que a

    sociedade brasileira sofreu bem diferente das revolues democrtico-burguesa da

    Frana,Inglaterra,EUA.No houve uma integrao de um grande parcela da populao

    na sociedade capitalista no pas.Ex-escravos recm libertos ou homens livres que

    trabalhavam no campo tiveram dificuldade de assumir uma tica ou habitus capitalista

    demandando pela classe dominante aos trabalhadores.Charles Taylor constri um

    histrico desse ethos seja o controle da mente sobre o corpo no pensamento de

    Plato,a vocao pelo trabalho das seitas protestantes do ramo puritano.Ideias que de

    certa forma atingiram de forma plena apenas alguns setores da burguesia dos pases

    desenvolvidos.Ianni demonstra que na poca do Brasil colnia o trabalho manual era

    condenado pela classe dominante, um oficio reservado apenas aos escravos e houve

    uma resistncia a adoo do trabalho livre.Apos a libertao,surge uma dificuldade de

    disciplinar a populao egressa do escravismo a trabalho na ordem

    competitiva.Florestan demonstra falando dos negros que abandonavam o oficio com

    freqncia seja por causa do alcoolismo ou do estigma sobre o trabalho manual.As

    classes inferiores foi reservados os empregos de baixa ou nenhuma qualificao ou a

  • [Type text] Page 15

    movida no cio,na vagabundagem inclusive na criminalidade.Chico Buarque nas suas

    musicas mostra essa faceta do homem simples que no encontra no trabalho regular

    uma forma de ascender socialmente,por isso a malandragem,gatunagem se tornar

    mais do que recursos de sobrevivncia, um estilo de vida onde se obtm respeito e

    reconhecimento mesmo a margem da lei.A ideologia da meritocracia se mostra uma

    iluso,a igualdade formal no capitalismo se mostra de maneira cruel ao encobrir a

    desigualdade.Criando-se um estigma que as classes populares no gostam de

    trabalhar,so preguiosas,ignorantes,habitus que as classes medias e alta colocam

    para o fracasso.Jesse mostra que infelizmente as prprias vitimas internalizam essas

    idias trazendo um conformismo e uma apatia com a situao existente.Bordieu

    demonstra com citaes como Isso no e para ns ou Florestan com depoimentos

    Vida de preto e assim mesmo.Chico Buarque mostra em Pedro Pedreiro,Construo

    esse estado de apatia e conformismo,um forte desespero que gera destino trgicos.

    Essa situao de desorganizao social se agrava pela reproduo de geraes de

    indivduos marginalizados socialmente.A reproduo estrutural da ral onde uma

    famlia com um baixo capital econmico e cultural impede ou dificulta que seus filhos

    possam aspirar uma vida melhor.Como conseqncia disso um enorme fracasso

    escolar,que causa evases escolares e uma entrada precoce no mercado de trabalho e

    uma perpetuao da condio de pobreza.Meu guri,pivete mostra esse efeitos na

    jovem ral que diante de uma famlia sem estrutura se dedica a pequenos roubos.Axel

    Honneth demonstra o papel da educao familiar na socializao e na autonomia dos

    indivduos para uma vida em sociedade a ausncia desse processo gera graves

    conseqncias sociais e psicolgicas.Vinculado a um ambiente social onde se pode ter

    um alto grau de instruo Chico Buarque teve contanto com diversas leituras

    estimuladas por seu pai Srgio Buarque de Hollanda o que influencio fortemente sua

    viso sobre a sociedade brasileira no seu trabalho artstico.Compartilhando muitas

    idias no ambiente social onde foi educado, acostumado que seu pai recebesse visitas

    de diversos intelectuais como Antonio Candido.Nas suas canes assim como na obra

    de Srgio Razes do Brasil o brasileiro buarqueano tambm e o homem cordial o

    individuo que age mais pelo corao do que pela razo e avesso a formalidades.No

    entanto a moderna sociedade regida pelo capitalismo rejeita essa personalidade

    emotiva,extrovertida exigindo sujeitos disciplinados,racionais dispostos ao trabalho

  • [Type text] Page 16

    duro e ao controle de suas paixes.Porm h nos brasileiros de Chico dificuldades

    enormes de se adaptao seja pelo trabalho mal renumerado que cria uma baixo auto-

    estima pela vocao ao trabalho.O controle dos prazeres e uma constante em suas

    canes a tentao da malandragem,criminalidade ,de beber com amigos,jogar

    bilhar,pular carnaval como atividades condenveis que prejudicam o trabalho e a

    concentrao necessria.A racionalidade instrumental sufoca os indivduos

    condenando muitas aes importante para garantir o bem estar e a felicidade como

    imorais erradas.Construo demonstra a razo instrumental desumanizado

    fortemente o individuo que no v sentido em sua vida.Tornando se mero apndice da

    maquina nem suas aes como beber,comer fazer amor tem mais prazer como

    antes.Os integrantes da Escola de Frankfurt seguindo o pessimismo de Weber fazem

    criticas a um aspecto elementar da modernidade.Diferentemente de Srgio

    Buarque,Chico tem uma viso mais positiva da cordialidade como uma forma de fuga

    ou de renuncia que aparentemente e alienante ou passiva mas e uma forma subjetiva

    de protesto social contra os males da modernidade que aprisionam os indivduos e

    uma jaula de ferro.Jesse Souza rebate Roberto Damatta na questo da modernizao

    brasileira mostrando que o Brasil se integrou plenamente na modernidade no

    havendo como na tradio da sociologia do patrimonialismo presente em Srgio

    Buarque,Faoro e no prprio Damatta uma modernizao superficial onde o

    personalismo,clientelismo permaneceriam apesar da industrializao como constantes

    nas praticas da sociedade brasileira.Referindo-se a Florestan mostra que as elites

    brasileira adotaram uma gramtica mnima do liberalismo vinda dos pases

    centrais.Houve uma importao de idias e modelos de fora que tiveram grande

    influencias inclusive rebatendo essas vises Florestan fala que a Independncia teve

    uma grande mudana na economia onde a riqueza seria absorvida pela elites nativas

    mesmo que ainda se tenha mantido um sistema escravista.No seria uma mudana

    apenas para ingls ver mas substancial.O Brasil se integraria de maneira dependente

    na economia mundial no havendo um desenvolvimento linear entre os pases

    desenvolvidos e subdesenvolvidos.Embora tenha uma viso critica da sociedade

    brasileira e se posicione a favor dos setores mais excludos no da para afirmar que

    Chico possa falar em nomes desses setores.Sua origem pequeno burguesa impe

    limites na sua representao desses setores o que se observa em relao a outros

  • [Type text] Page 17

    cantores e compositores de origem popular como no rap onde h uma construo dos

    setores populares de uma maneira,totalmente diferente.Nas suas canes impera na

    maior parte das vezes uma certa viso romntica das classes populares,com uma

    bondade sempre natural,Meu guri e um exemplo disso onde mesmo que o

    personagem se envolva com roubos h uma viso positiva dos oprimidos.No obstante

    demonstrar a apatia e conformismo,em certos aspectos h espao para o brasileiro

    alegre,festivo,musical que mesmo pobre e trabalhando duro ainda tem o prazer de

    viver.Um mito brasileiro forte adotado por vrios pensadores das mais variadas

    tendncias como Gilberto Freyre,Srgio Buarque,Darcy Ribeiro,Roberto

    Damatta,Euclydes da Cunha,Jos de Alencar,etc. Florestan Fernandes foi um pensador

    que tentou desconstruir esse mitos principalmente o da democracia racial mostrando

    o racismo no Brasil. Jess Souza desmitificando a demonizao do estado e a

    santificao do mercado como o reino das virtudes presente sobretudo em Roberto

    Damatta assumidamente liberal e simpatizante da cultura norte-americana.No Reino-

    Unido em meados da dcada de 50 houve a emergncia dos estudos culturais uma

    forma nova de pensar e estudar na academia os setores subalternos rompendo com a

    ortodoxia do marxismo.Raymond Williams,Edward Palmer Thompson,Stuart Hall

    produziram estudos em varias reas historia,literatura,cultura com nova forma de

    analisar a produo popular rompendo com um elitismo hegemnico inclusive em

    setores considerados de esquerda ligados a um marxismo ortodoxo na linha marxista-

    leninista e stalinista que pregava a necessidade de uma vanguarda para mobilizar e

    politizar as massas atrasadas.Essa mudana nos estudos sobre a cultura permitiu dar

    voz a outras narrativas alm da historia considerada oficial da classe

    dominante.Rompendo com o ponto de vista pessimista e unilateral de Adorno que no

    admita que na sociedade capitalista houvesse espaos de resistncia a ideologia

    dominante,a industria cultural no tem um poder unilateral que atinge a todos

    igualmente.Stuart Hall,Edward Said,Thompson mostram em suas obras as contradies

    que surgem na sociedade a violncia e a desumanizao impostas as classes

    subalternas no so aceitas de modo passivo.Isso est longe de significar que h uma

    conscincia total e forte de interesses de classe e de organizao poltica,a alienao

    ainda est presente assim como a apatia porem no e um processo rgido que elimina

    todos os vestgios de uma cultura popular ou de uma contracultura.A classe

  • [Type text] Page 18

    trabalhadora e os povos dos pases subdesenvolvidos criam outras narrativas,e

    possibilidades grandes tanto para uma cultura alternativa quanto para uma

    transformao social.Chico Buarque demonstra o papel da musica no apenas como

    um meio de fruio esttica mas como um veiculo de transformao social.Nas suas

    entrevista se mostra claramente seu engajamento social Antes mesmo da faculdade,

    fui uma pessoa preocupada com os problemas sociais - um pouco por formao

    familiar, um pouco at por experincias atravs de movimentos de um grupo de

    assistncia social, ou atravs do colgio de padres etc. e tal. Coisa como levar cobertor,

    levar no sei o que para quem est ali na Estao da Luz, visitar presdios e coisas

    assim. E isso est refletido na minha msica daquela poca; tenha certeza que

    sim.Herbert Marcuse aponta o grande potencial da arte para construo de uma nova

    ordem social.A literatura,musica,pintura so veculos que podem utilizados para negar

    a ordem existente,uma sociedade unidimensional que mercantiliza tudo inclusive a

    prpria arte e regida por uma razo instrumental que atravs do aparato tecnolgico

    aumenta cada vez mais a dominao e a conservao do status quo imobilizando

    inclusive os movimentos na sociedade de oposio inclusive a classe trabalhadora que

    seriam os principais agentes da mudana na viso do marxismo tradicional.A cultura

    estaria em outro plano fora da sociedade existente negando-a por a distino de

    Marcuse entre cultura e civilizao.A civilizao sendo o reino das atividades cotidianas

    mais elementares como o trabalho e cultura um plano superior que poderia ser um

    espao de contemplao,de libertao dos prazeres reprimidos,cio criativo contra o

    trabalho alienante.Chico Buarque na sua obra demonstra essa possibilidade de um

    mundo diferente aparte do existente o mundo do carnaval,samba,alegria,amor.Aberto

    a outras possibilidades alm da rotina do trabalho.No entanto esse idealismo tem seus

    limites pois a arte no est acima das relaes sociais,ela mantm contanto com o

    mundo real no de uma forma mecanicista como no marxismo ortodoxo como na idia

    de reflexo de Plekhanov mas como afirma Raymond Williams de mediao,uma

    relao dialtica estando de maneira contraditria tanto vinculado a relaes

    existentes quando abrindo possibilidades alm tendo uma autonomia relativa.Por isso

    o artista diferente da viso corrente no e ser um fora do normal com poderes

    mgicos acima dos outros seres humanos de mudar a sociedade,so indivduos com

    seus limites e fraquezas.Norbert Elias analisando Mozart demonstra que por mais que

  • [Type text] Page 19

    sua imagem no imaginrio popular seja de um artista excepcional tinha vrios

    problemas na vida pessoal,tendo atritos com seu pai e incapaz de ter um

    relacionamento afetivo com as mulheres.Chico Buarque e um artista que de certa

    forma no pode ser visto dessa forma.Embora tenha e assuma um posicionamento

    poltico engajado em causas sociais participado de campanhas polticas e com letras

    com uma critica social.Isso no significa que sua arte represente totalmente os

    interesses da classe inferiores como um marxismo ortodoxo perceba qualquer forma

    de arte que tenha uma critica social.Muitos romances de autores comunista como

    Graciliano Ramos e at certo ponto Jorge Amado e restrito a uma pequena populao

    letrada.O publico de Chico Buarque e composto majoritariamente por um publico

    universitrio o que o prprio admite O pblico que hoje se identifica mais com a

    minha msica est na faixa universitria.Os estudos culturais tem basicamente o

    objetivo de mostrar as manifestaes escondidas que no so reconhecidas pelo meio

    acadmico no somente a musica folclrica mas inclusive a musica popular da classe

    trabalhadora urbana.

    Edward Palmer Thompson menciona que classe no e um conceito estrutural e dado

    sendo uma construo historica presente em determinado momento na introduo do

    seu livro A formao da classe operria inglesa essa noo mais dinamica das classes

    sociais diverge da de Althusser.Alem disso Thompson cria uma nova narrativa dos

    setores subalternos demonstrando que a classe operaria no foi totalmente passiva

    havendo diversos momentos de resistencia,mesmo em manifestaes e atitudes

    consideradas atrasadas,superticiosas,que marcam uma certa ambivalencia.Chico

    Buarque representa essa ambiguidade dos setores populares da sociedade brasileira

    de alienao ou de resistencia,do trabalho alienado a alegria da cordialidade e da fora

    Formatado: Centralizado

    Formatado: Tabulaes: 2,47 cm,

    esquerda

    Formatado: esquerda, Tabulaes:

    2,47 cm, esquerda

  • [Type text] Page 20

    dos sentimentos contra ao forte processo de racionalidade.Como diz Lucien Goldman

    O homem e um ser contraditrio,uma mistura de fora e fraqueza,grandeza e

    pobreza,vivendo num mundo que,como ele,se compoe de opostos,de foras

    antagonicas que lutam entre si sem esperenas de tregua ou vitoria,de elementos que

    so complementares,mas permanentemente incapazes de formar um todo.O brasileiro

    buarqueano de certa forma e isso um misto de fraqueza e pobreza material,incapaz de

    se adptar ao rotina do trabalho ou ascender socialmente,mas tambm se encontra sua

    grandeza de mesmo assim poder sorrir,amar,danar,cantar talvez o principal meio da

    transformao social.O artista tambm compartilha esse elemtos em comum com o

    homem simples.Chico Buarque percebe a sua fraqueza de ser incapaz de mudar essa

    dura realidade algo que vai se acentuar com o tempo como se ve em em Gente

    humilde em comparao com a musica mais recente Subrbio onde a esperana da

    primeira cano e da idealizao dos povo da lugar a um pessimismo e certo

    conformismo de imobilismo social e a abordagem da violencia urbana na periferia

    desmancha qualquer sinal da bondade e do mito do homem cordial.Chico Buarque

    admite a vitoria da globalizao citando varios estilos estrangeiros como rap,rock

    como manifestaes culturais populares.Percebe-se uma mudana do discurso sobre a

    nacionalidade,o nacionalismo presente em suas canes da afirmao da brasilidade e

    da cultura nacional cede espao ao reconhecimento das diferenas.Octvio Ianni

    menciona que a Globalizao e um processo de fortes mudanas no conceito de nao

    e varias medidas seja a abertura comercial com a liberalizao economica e o

    surgimento de organismos internacionais como FMI,ONU,Banco Mundial, coloca em

    questo a discusso de uma sociedade global.E o fim da guerra fria coloca os EUA

    como uma potencia hegemonica e de certa forma o triunfo do capitalismo

    transnacional.A cultura obviamente no fica de fora havendo uma presena forte dos

    grandes conglomerados dos meios de comunicao de massa que ampliam seu poder

    alm dos seus paises de origem.O rap e o rock so manifestaes vindas de fora

    oriundas dos Eua.O conceito de nao e de cultura brasileira tem um novo significado

    no entanto no h uma tedencia de homogenizao total cada povo,nao ressiginifca

    o que vem de fora e se apropria de uma forma diferente desses produtos culturais.Por

    isso o rap brasileiro no vai ser feito da mesma forma do americano assim como o

    rock.Celso Favaretto menciona que a Tropiclia foi um movimento que incorporou

  • [Type text] Page 21

    tanto elementos da cultura regional folcorica brasileira quando do pop americano e

    britanico,tendo uma proposta de hibridismo cultural incoporando tanto o moderno

    como o tradicional.Chico Buarque enfim reconhece essas manifestaes mas isso est

    longe de ser uma adeso a globalizao excludente que inves de diminuir as

    disparidades sociais a acentuou,talvez a mensagem seja como diz Milton Santos por

    uma outra globalizao que reconhea as mais diversas manifestaes culturais mas

    que evite o agravamento da pobreza,o liberalismo economico irresposvel que

    aumenta ainda mais a fragilidade dos pases subdesenvolvidos.Renato Ortiz fala da

    pluralidade da identidade brasileira,que no existe uma identidade nica mas varias de

    acordo com as regies,etnias de certa forma um mosaico que forma a nao

    brasileira.As narrativas tradicionais sobre o Brasil sempre construiram uma ideia nica

    do que somos do Norte ao Sul seja na literatura,sociologia,antropologia e de uma

    sociedade sem conflito.Jess Souza fala da fora dessas narrativas que no flutuam no

    ar mais que tem contanto com o mundo real destacando a presena delas no governo

    Vargas que criou a ideia de um Brasil harmonico sem conflitos de classe,racismo onde

    patroes e trabalhadores,negros e brancos vivem juntos para o bem comum.Essa iluso

    compartilhadas por diversas correntes seria desfeita pelo regime militar.Ianni

    demonstra que o Populismo tinha seus limites e que sua politica de afirmao de um

    Brasil autonomo se esgotou.Setores do empresarios,latifundiarios,parte da classe

    mdia teve um papel crucial na reao dos militares abrindo espao para 20 anos de

    uma represso aberta e sem treguas contra a subervso.Esse governo autocrtico nos

    dizeres de Florestan Fernandes aprofundou a depedencia economica e as

    desigualdades sociais.Na redemocratizao houve esperanas no entanto Florestan

    alertava para a fora de setores conservadores por um pacto gradual e

    conservador.Chico Buarque e sua musica passaram por esse momentos historicos e se

    demonstra que por diversas mudanas seja a saida da ditadura para a democracia no

    alterou a sua preocupao e denuncia da misria que vive a populao.Lukacs teorizou

    sobre o conceito de uma estetca marxista um projeto de arte que teria a funo

    desmacarar a alienao presente na sociedade capitalista.Reconhecia a autonomia

    artistica porm ela teria um papel pedagogico de educar o proletariado e teria de

    refletir o mais proximo a realidade.A arte faria a ponte entre o mundo geral da vida

    real e da existencia particular do artista.Outro aspecto seria o partidarismo que e a

  • [Type text] Page 22

    tomada de posio politica clara do artista em relao a sociedade,Arnold Hauser

    seguindo essa trilha diferencia artistas que seguem isso explicitamente e outros

    implicitamente o primeiro caso exemplificado por Voltaire e o segundo por

    Shakespeare.Na msica no e diferente Beethoven homenageou Napoleo com pecas

    musicais,no caso brasileiro Santuza Cambraia Naves cita o caso de Ary Barroso com

    Aquarela do Brasil alm de Heitor Villa Lobos que tinha relaes proximas com

    Vargas.No caso de Chico Buarque houve uma posio abertamente contra o regime

    militar e ele proprio se definiu em vrias entrevista como uma pessoa de

    esquerda,participando de diversas campanhas politicas para diversos partidos como

    MDB,PT,PSOL e politicos como Lula,FHC.No entanto no da para colocar sua obra

    apesar de algumas afinidades de acordo com a estetica luckasiana,inclusive houve

    criticas do historiador Jos Murilo de Carvalho para o qual a obra buarqueano se limita

    a uma representao do Rio de Janeiro no podendo expressas toda a realidade do

    pas.De certa maneira isso est correto em muitas canes seja explicitamente ou

    implicitamente o local de referncia e a capital fluminense no entanto os dramas e as

    situaes por mais particulares que sejam tem algo de universal.No entanto algo que

    foge do que Lukacs prega e a subjetividade muito presente na obra de Chico Buarque

    apesar de apresentar uma obra musical que tente refletir de maneira prxima os

    dramas dos setores subalternos da sociedade,tema comum e um desafio na sociedade

    brasileira e at no mundo da emancipao de todos os individuos processo colocado

    pelo marxismo.Ele coloca os dilemas inclusive psicologcos,individuais,no ignora a

    noo de interioridade.Por isso se aproxima da ideia de Marcuse de um arte

    emancipadora que supera a realidade existente.Marcuse critica duramente a esttica

    marxista ressaltando a trans-historiedade das obras de artes,e sua autonomia em

    relao a infra estrutura economica.Nega o condicionamente historico da arte

    presente em Marx quando o mesmo cita as esculturas gregas.De certa maneira Marx

    falou bem brevemente sobre arte seu principal objeto de analise em boa parte da vida

    foi a anlise da economia politca por isso mesmo Lukacs dizendo ser um seguidor das

    ideias marxianas tem um conceito um pouco diferente dele sobre esttica e

    arte.Marcuse valoriza inclusive arte tradicional reafirmando seu valor emancipador e

    critico da sociedade mesmo que no deixe de levar em contar o papel da industria

    cultural de abosver e inclusive minimizar o potencial das obras de arte classcas

  • [Type text] Page 23

    diferenciando nesse aspecto do pessimismo de Adorno.Chico Buarque afirma um

    partidarismo como Lukacs mas reafirma a subjetividade e o papel emancipador da arte

    para criao de outro mundo mais justo alm da realidade concreta.O que se perceba

    nos personagens de suas canes que embora no tenha uma coscincia

    estreitamente politica buscam contestar a ordem existente de certa forma seriam

    rebeldes primitivos que teriam aes pre-politicas algo analisando por

    Hobsbawm,Thompson como protestos no apenas como reacionrios reafirmando a

    ordem existente ou um passado nostlgico mas como meios inclusive para uma futura

    mudana social feita inclusive pelos prprios excluidos sem mediao de um

    vanguarda como o marxismo ortodoxo prega.A arte no e condicionada totalmente

    socialmente h uma relaao de estratos sociais como certas formas de artes mas no e

    linear em Marcuse se contrapondo a Lukacs.Por isso Chico Buarque embora de uma

    origem considerada pequena-burguesa pode fazer canes criticas a sociedade

    brasileira inclusive contra o governo militar que teve durante o comeo um massivo

    apoio inclusive da prpria classe mdia meio de onde ele veio.Karl Manheim fala do

    papel autonomo do intelectual que ou pode se vincular seja a burguesia,proletario e

    aos diversos partidos ou ter uma funo autonoa representando uma vontade geral

    alm dos particularismos.Essa intelegensia pode ser recrutada em diversas classes

    sociais e a instruo pode aproximar individuos das mais diversas origens sociais.Por

    isso Chico Buarque sempre tentou se posicionar assimo como seu pai alm da viso

    tradicional do seu grupo social buscando pelo menos se posicionar a favor do povo

    brasileiro uma categoria evidentimente indefinida.Florestan sempre apontou os

    problemas da realidade brasileira embora em um debate com Guerreiro Ramos

    afirmasse o carater universal das cincias socias em suas obras procurou analisar a

    peculariadade da realidade brasileira.Embora tenha desenvolvido ao longo do tempo

    um metologia influenciada pelo marxismo observou que a realidade brasileira e bem

    mais complexa pois o proletariado representava uma pequena frao da

    populao,por isso investigou outros setores to ou mais importantes como so

    indigenas e sobreutdo os negros.Demonstrando o desenvolvimento diferente do

    capitalismo brasileiro que no formou de forma massiva uma classe de assalariados

    mantendo ainda forte heranas patriarcais.Chico Buarque por isso aborda diversos

    setores sociais que ficam fora da analise marxista tradicional e que representam a

  • [Type text] Page 24

    realidade da europa do sculo 19.Muito diferente de um pais subdesenvolvido com

    enormes niveis de desigualdade e por uma depedencia economica que sofreu um

    processo de modernizao diferente.Por isso Chico Buarque sempre esteve vinculado

    ao dilema do particularismo e do universalismo,nas suas obras da decada de 60 e 70

    h um enfoque muito na realidade brasileira emancipao no projeto buarqueano

    seria tanto a indepedencia da nao brasileira dos paises desenvolvidos quanto a

    emancipao social dos setores oprimidos.A nao e povo seriam conceitos quase que

    inter-relacionados,no entanto nas decadas de 80,90,2000 h uma emergencia da

    globalizao e a ideia de nao entra em crise.Renato Ortiz discute que a

    modernidade-mundo redefiniu o conceito de nao de uma forma diferente,outro

    aspecto so as emergncias das teorias pos-modernas que se preocupam com as

    diferenas e a diginidade e a representividade do outro como os

    gays,negros,mulheres,povos de ex-colonias.Colocando no mais a categoria como

    classe social como e nico aspecto relevante ou no dizeres marxistas o motor da

    histria.As canes buarqueanas refletem essas mudanas afirmando cada vez mais

    no so a diginidade do outro como o principio de autencidade e do direito a diferena

    dois projetos no mundo contemporaneo posto em debate como demonstra Charles

    Taylor.No entanto como diz Jesse Souza o primeiro projeto tayloriano no se

    conretizou no Brasil mantendo ainda niveis estrondosos de desigualdade.Edward Said

    no sua obra Orientalismo discute a representao etnocentrica que o Ocidente faz

    sobre o Oriente,no tendo permitindo as povos colinizados o direito de se

    expressarem e colocando os arabes como um povo atrasado,superticioso,anti-

    democratco e que o homem ocidente europeu e norte americano teria a misso de

    civilizar a barbare.Algo acontece analogicamente na realidade brasileira como

    demonstra Lucio Kowarick que analisando a marginalidade no Brasil aponta a

    representao negativa que as classes baixas sofrem mostrando a populaao da

    periferia como ignorante,violenta,com habtos considerados inadequados,mal

    vestidos,sujos, perante a classe mdia,elites politicas que apoiam politicas de

    represso e criminalizao da pobreza.A inteno e sempre subjulgar e discriminar o

    outro o diferente,criar polarizaes entre a populao majoritariamente branca,de

    classe mdia,culta,moderna e a ral negra ou mestia,burra,mau educada e

    arcaica.Chico Buarque na sua obra mostra de maneira didatica esse outro mundo,para

  • [Type text] Page 25

    seu pblico que ele admite ser a classe mdia universitria um Brasil esquecido pelos

    governantes,o mundo dos de baixo no termo de Florestan Fernandes.Sua arte tem

    uma inteno abertamente politica algo que Lukacs e Marcuse pelas grandes

    diferenas apontadas concordam.Porm o objetivo buarqueano e mostrar a

    desumanizao no apenas do proletariado,de uma classe especifica mas de toda

    sociedade,para uma emancipao de toda humanidade algo proxmo da viso

    marcusiana.No e apenas criticar pelo eixo social mas mostrar os efeitos psicologcos

    no interior dos individuos,atingindo tambm a subjetividade e no com um objetivos

    puramente materialistas.E demonstar o poder da razo instrumental para subjugar

    todos os seres humanos,inclusive ele prprio embora tenha uma condio priveligiada

    e vitma desse processo,sua dor no e pode ser a mesma dos setores subalternos mas

    e algo que atinge toda especie humana.Um processo que na revoluo burguesa

    Florestan demonstra que a explorao e ainda maior nos paises subdesenvolvidos em

    relao aos paises desenvolvidos.O regime militar foi um caso paradigmatico pois

    acentou ainda mais a situao pois foi um governo autocratco,que colocou uma

    politica de arrocho salarial.E que fortaleceu ainda mais uma tecnocracia governante no

    aparelho burocratico que na teoria weberiana persegue um processo cada vez maior

    de racionalizao.E o milagre economico pouco resolveu,Jess Souza questiona o

    economicismo falando que o crescimento por ele mesmo no resolveu os

    problemas.Florestan demonstra que a modernizao agrava a depedencia economia e

    as contradies sociais cada vez mais.Chico Buarque este envolvido nesse processo,sua

    arte reflete as condies historicos em que foi produzida.Lukacs fala do historicismo e

    da relao do meio material com a produo,a postura de Chico Buarque mais critica

    se deu nesse periodo se comparado com as canes do comeo como Pedro Pedreiro

    com criticas mais sutis e com certa esperana,Adlia Bezerra Menezes menciona no

    periodo inical uma vertente mais utopica e nostlgica com um discurso politico menos

    acentuado o que ocorreria aps o A1-5 decreto que endureceu o governo e gerou uma

    guinada uma ruptura de uma obra mais militante.Na redemocratizao ocorre um

    novo periodo onde aparecem canes menos politcas,no entanto a critica da

    desigualdade social permanece uma constante devido as frustaes do periodo da

    redemocratizao.Apesar disso mesmo as canes mais relacionadas e vinculadas com

    a marca da historicidade,deve ressaltar sua atualidade e importancia de sua trans-

  • [Type text] Page 26

    historicidade como prega Marcuse contra analise marxista da esttica.A fora da arte

    estar em romper e ir alm da realidade concreta inclusive do tempo,o vigor de uma

    obra se mostra pela sua relevancia ao longo do tempo,Marcuse cita exemplos de

    Homero,Victor Hugo na literatura mostrando que mesmo obras feitas em epocas pre-

    capitalistas em sociedades com uma relao social bem diferente da atualidade e no

    abordando a luta de classes mantem sua relevncia at hoje.

    Srgio Paulo Rouanet critica a emergncia sobretudo no final dos anos 60 de um novo

    irracionalismo,que colocaria em questo o legado iluminista,movimento vinculado a

    contracultura que prega o anti-elitismo,anti-autoritarismo .Alm de um discurso

    nacionalista em defesa da identidade brasileira.Chico Buarque de certa maneira tem

    certa afinidade com essa corrente poltico considerada a nova esquerda que iria contra

    os dogmas do comunismo tradicional.Isso ficaria acentuado nos anos 70 onde as

    divergncias como relata Santuza Cambraia Naves entre seria superados em relao

    aos tropicalistas em uma unio contra o regime militar,Chico considerado ultrapassado

    e at conservador tanto liricamente quanto musicalmente adotaria uma postura

    radical.Essa atitude relacionada a um forte nacionalismo e um discurso critico da

    sociedade brasileira.No entanto Rouanet peca ao associar o nacionalismo brasileiro a

    xenofobia europia,embora tenha semelhanas essas ideologias em questo como o

    essencialismo e a defesa de uma identidade nica esquecendo as diversidades

    regionais,tnicas,classe social.O nacionalismo como demonstra Renato Ortiz

    analisando o ISEB tinha o objetivo de emancipar a nao e superar o

    subdesenvolvimento,esse apelo a identidade nacional era um mecanismo de defesa

    contra a explorao das multinacionais nos pases desenvolvidos.Edward Said

    demonstra a importncia malgrado seus limites do nacionalismo contra as elites

    dominantes.No caso brasileiro as elites nativas mesmo aps o fim do estatuto colonial

    adotaram costumes estrangeiros,e idias como o liberalismo no entanto mantendo o

    regime escravista.E no governo militar ao mesmo tempo que havia uma integrao na

    economia cada vez maior ao capitalismo americano havia um endurecimento na

    liberdade poltica.Roberto Scharwz fala do termo idias fora do lugar para ressaltar

    essa ambigidade de uma constituio igualitria,democrtico e dos discursos dos

    polticos com vis liberal com uma realidade de uma nao autoritria,hierrquica e

    patriarcalista.Em Construo percebemos isso claramente onde o trabalho

  • [Type text] Page 27

    formalmente livre esconde uma forte explorao do operrio,adotamos o liberalismo

    econmico mas pouco ou quase nada do poltico.Oliveira Viana pregava o

    autoritarismo instrumental alegando falta de um enraizamento na sociedade de uma

    cultura liberal,por isso um perodo de despotismo e interveno do estado seria

    necessrio para criar uma unio da nao que na sua viso estava separada por

    interesses egosticos.Por isso o papel da educao cvica para construo de uma idia

    de nao o que os militares fizeram para criar apesar das diferenas sociais uma idia

    uno de pais.O nacionalismo buarqueano porm visa apontar e superar a situao de

    subdesenvolvimento da populao,e no apenas uma ideologia que sobre o discursos

    da unidade nacional mascarar e encobrir privilgios sociais.Estando longe da xenofobia

    incorporando influencias musicas de outros pases como da musica

    cubana,argentina,chilena.De certa maneira uma proposta de criar um relao de

    solidariedade e unio na idia da Amrica Latina.Canclini discute o conceito latino-

    amrica que se diferencia muito do de nao pois tenta apesar das diferenas algumas

    bem enormes de construir algo em comum apesar do estgio bem diferente de

    desenvolvimento,composio tnica de cada pas o subdesenvolvimento e a

    desigualdade social e os governos militares durante as dcada de 70 e 80 marcaram de

    maneira simultnea a experincia dessa regio.Chico Buarque constri a imagem da

    nao,comunidades imaginadas no conceito de Bendict Anderson.Mostrando e

    colocando que ele na sua obra no representa apenas o Rio de Janeiro mas o

    Brasil,mas tambm a Amrica Latina.O mesmo ocorre com os indivduos retratados o

    Pedro Pedreiro e imagem no de um drama nico particular de um sujeito mas de um

    grande coletividade de imigrantes que vem do norte do pas em busca de uma vida

    melhor,seja no Rio de Janeiro ou So Paulo.Como diz Adorno O artista, portador da

    obra de arte, no apenas aquele

    indivduo que a produz, mas sim torna-se o representante, por

    meio de seu trabalho e de sua passiva atividade, do sujeito

    social coletivo. Ao se submeter necessidade da obra de arte,

    ele elimina tudo o que nela poderia se dever apenas mera

    contingncia de sua individuao.Porm esse processo est bloqueado pela realidade

    existente que mercantiliza e tira o potencial contestador que a arte poderia

    ter.Marcuse fala que a sociedade atual sem oposio transforma tudo em mercadoria

    Formatado: esquerda

  • [Type text] Page 28

    tirando o potencial subversivo e menciona que o proletariado a principal agente

    transformar em Marx foi integrado no sistema.At a msica de Bob Dylan que Marcuse

    admirava como um veiculo da contracultura no final da dcada de 60 acabou por fim

    de virar mais um objeto de consumo na industria cultural algo no diferente de Chico

    Buarque.Por mais que suas letras tenham um potencial critico e que ela tivesse

    incomodado as autoridades sobretudo no governo militar,os meios de comunicao

    eliminam qualquer urea reformista ou revolucionaria de sua obra tornando-se

    como um produto para um pblico seleto de classe mdia,longe de ter o alcance da

    maioria da populao.Theodor Adorno tem uma viso bem mais critica de

    Marcuse,mencionado que mesmo a contracultura mesmo que tenha um contedo

    critico nas suas formas de expresses artsticas era estril e intil como veiculo de

    superao e emancipao social por estarem integradas a industria cultural,o

    problema estaria na produo e circulao igualmente.Marcuse admita a fora dessa

    industria porm acreditava ainda na funo da arte,de maneira relativamente

    autnoma.Chico Buarque nessa viso seria um artista que apesar de sua imagem

    contestadora seria mais um objeto da industria cultural,com uma ideologia falsa que

    reforaria as relaes dominantes da produo artstica.A viso adorniana embora

    esteja correta no papel dos meios de comunicao,coloca de forma pessimista

    qualquer forma de cultura de massa,evitando de analisar as diversas

    contradies.Stuart Hall tem um postura menos ctica ,ressaltando o papel da cultura

    de massa em determinados contextos como um meio de sociabilidade e de criao de

    identidades comuns e como meio de contestao social.Raymond Williams tenta

    superar a dualidade alta cultura e baixa cultura procurando mostrar que no e um

    processo estanque de duas categorias separadas radicalmente,seu conceito de cultura

    integra aspectos da vida cotidiana tendo uma alcance maior.Dentro dessa reviso

    negativa da cultura de massa que se deve buscar o papel da msica popular na

    construo de idias e de seu papel na sociedade.As contribuies tanto da Escola de

    Frankfurt quanto dos Estudos Culturais so importante para apontar as possibilidades

    e os limites.As canes de Chico Buarque esto envolvidas com essa ambigidade de

    ser um produto de consumo qualquer que tem seu potencial critico minimizado ou

    ressaltado,isso depende de que se forma se apropria das canes os indivduos e os

    meios de comunicao.O artista esta envolvido e determinado pelo seu perodo

  • [Type text] Page 29

    histrico e material como menciona Hauser mas no e um processo direto podendo ir

    contra o existente podendo imaginar ir alm para o deve ser.Em um estado sem

    liberdade a funo da arte e afirmar a liberdade como diz Adorno.Chico Buarque tem a

    inteno de mostrar o quanto a modernidade e ainda mais a brasileira castrou e

    eliminou o principio do prazer a favor do principio do desempenho mencionado por

    Marcuse em Eros e Civilizao que o controle da mente e do corpo em beneficio do

    trabalho produtivo.Weber fala de uma racionalidade em relao aos meios que

    envolve de certa forma a assimilao de uma tica do trabalho,que necessita de uma

    forte disciplina e de absteno dos prazeres.Esse ascetismo e para a sociologia

    weberiana o acelerador da industrializao sobretudo nos pases centrais,na sua viso

    os de religio protestante,enquanto o catolicismo retardou esse processo.No Brasil o

    processo foi ainda mais danoso,em uma sociedade que por mais de trs sculos teve

    como base o trabalho escravo,uma atividade destinada aos setores inferiores da

    sociedade.Florestan demonstra que um grande parcela da populao no se integrou

    ao regime de trabalho livre.Marcuse nas suas obras Eros e Civilizao,Ideologia da

    Sociedade Industrial e Horkheimer em Dialtica do Esclarecimmento,Eclipse da Razo

    analisa sobretudo a sociedade ocidental,o objeto era os Eua a nao com o capitalismo

    mais desenvolvido.Esse desenvolvimento no entanto gradativamente atinge boa

    parcela do mundo inclusive locais mais remotos.Todos os conceitos de industria

    cultural,razo instrumental so assimilados.Florestan demonstra que malgrado

    houvesse uma modernizao pelo alto e conservadora,sem aniquilar a herana da

    sociedade escravista o processo de modernidade chegou as terras brasileiras.A

    revoluo de 30 e o golpe de 64 foram processos cruciais na criao e assimilao de

    uma racionalizao econmica e de burocracia bem aparelhada para dinamizar a

    economia.A classe dominante brasileira importava de fatos idias de fora porem sua

    aplicao no era unilateral como demonstra Roberto Scharwz com seu conceito de

    Ideas fora do lugar.A margem dessa minoria educada, havia uma enorme massa de

    pessoas pobres sem ter a chance de ter uma educao formal,havendo esse contraste

    entre um elite cosmopolita que adotava as diversas modas do estrangeiro descolada

    da realidade nacional,os demais indivduos ainda vinculados as relaes consideradas

    mais tradicionais.Esse dualismo marcou o pensamento brasileiro no entanto o enigma

    e pensar nas contradies de que o atraso e necessrio ao progresso econmico,a

  • [Type text] Page 30

    oferta de mo de obra de baixssima qualificao impulsionou o crescimento

    econmico havendo meio sculo de crescimento a taxas de quase dois dgitos por ano

    em mdia.Florestan mostra o outro lado,um aspecto obscuro que a faceta arcaica da

    burguesia brasileira que tem um comportamento econmico no meio urbano,nas

    indstrias,no muito diferente dos antigos proprietrios de terra do perodo

    escravista.Que reage duramente inclusive com proposta de revolues mesmo dentro

    da ordem,a era populista foi o perodo onde isso ocorreu claramente onde a ideologia

    reformista democrtica burguesa trouxe temor a burguesia e as classes mdia que

    clamavam por uma interveno militar e pelo abandono inclusive de mecanismo da

    democracia formal.Os prprios setores at ento ligados de maneira indiscutvel ao

    liberalismo durante todo seu desenvolvimento rejeitavam parte de seus elementos.A

    racionalidade instrumental mostrava sua faceta de forma mais agressiva nos pases da

    periferia.Marcuse via nas setores marginais seja o lumpenproletariado,os povos dos

    terceiro mundo como agentes da transformao diversamente de Marx suas

    esperanas no proletariado,que segundo ele se integrou na sociedade dominante so

    incapazes da emancipao.Chico Buarque v em diversos setores esse potencial,por

    isso suas letras so dedicadas as prostitutas,pivetes,babs,sem

    terras,malandros.Estratos sociais que no Brasil diferentemente dos Eua e Europa que

    so uma pequena parcela.Jess Souza fala do habitus precrio,presente na periferia do

    capitalismo de pessoas que no conseguem se integrar de maneira produtiva na

    sociedade.Marcuse contrape o principio do desempenho com o do Eros que significa

    o prazer seguindo a trilha de Freud.O trabalho alienado que restringe e suprime o

    prazer.E uma forma de liberar esse sentimento reprimido e atravs da arte segundo

    Marcuse.Chico Buarque atravs da sua msica busca mostrar essa superao,seus

    personagens tem o objetivo de negar a realidade existente,criar novas utopias,a

    esperana e o guia tanto dos Pedro pedreiros,dos sem terras,guris,pivetes e de outros

    personagens.Algum dia as cosias vo melhorar,Erich Fromm na A revoluo da

    esperana ambiciona a chegada desse momento.Fromm percebe que o

    desenvolvimento tecnolgico no trouxe a prosperidade a todos da sociedade.A obra

    buarqueano revela um certo pessimismo com a modernidade,que tenta eliminar todo

    o prazer,alegria e a cordialidade.H um contraponto a

    frieza,racionalidade,impessoalidade da classe dominante e

  • [Type text] Page 31

    alegreia,afetividade,pessoalidade do povo simples que encanaria os valores da

    verdadeira nao brasileira,Chico Buarque tem uma influencia da viso de Euclydes da

    Cunha porm no e uma posio entre serto e litoral mas de classes sociais.Roberto

    Scharwz rebatendo Slvio Romero afirma que os brasileiros postios no so os

    mestios mas a classe dominante contestando o determinismo racial de Romero

    elemento muito presente no perodo.