chico buarque pedro pedreiro 21012013 renato moreira
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Ttulo: A representao das classes subalternas na obra de Chico Buarque
Renato Moreira Arajo
Resumo
Este trabalho tem o objetivo de investigar como o artista constri a representao do
outro em suas obras Funeral de um lavrador (LP Chico Buarque de Holanda Vol. 3,
1968) e Assentamento (CD As cidades, 1998), que tratam do trabalhador rural, Pedro
Pedreiro (LP Chico Buarque de Holanda Vol. 1, 1966) e Construo (LP Construo,
1971) que tratam do trabalhador da construo civil, Pivete (LP Chico Buarque, 1978) e
Meu guri (LP Almanaque, 1981) que tratam da criana pobre da periferia, Partido Alto
(LP Quando o Carnaval Chegar, 1972) e Vai Trabalhar Vagabundo (LP Meus Caros
Amigos, 1976) que discutem a questo do cio e do trabalho, Brejo da Cruz(LP Chico
Buarque, 1984) que discute o abismo entre um Brasil miservel e outro rico, e
Subrbio(CD Carioca, 2006) e Gente Humilde(LP Chico Buarque de Holanda Vol. 4,
1970) que tratam da periferia das grandes cidades.
A obra de Chico Buarque sempre se vinculou a uma arte com fins diretamente
polticos, com crticas ao regime militar e tambm s enormes desigualdades sociais
presentes no contexto brasileiro e que permaneceram mesmo aps a
redemocratizao.
O enfoque aqui ser, sobretudo, a representao nas suas canes dos setores
economicamente mais frgeis, que se deparam com uma sociedade extremamente
excludente e hierarquizada.
A obra de Chico Buarque compreende, alm da msica, tambm a literatura e o teatro.
Em nossa pesquisa, privilegiaremos a msica que, de acordo com Marcos Napolitano
(2002), no apenas para se escutar, mas tambm um meio para refletir sobre a
sociedade em determinado contexto e poca.
Na anlise da cano, letra e melodia so inseparveis, devendo seu estudo integrar
esse dois aspectos. No entanto, este trabalho enfocar principalmente o aspecto lrico
da obra de Chico Buarque, fazendo breves menes ao aspecto musical das canes.
As canes analisadas, de diversas pocas da grande discografia do autor, falam,
sobretudo, das classes populares, que ao longo do tempo tem sido tratada por
diversos termos como lumpemproletariado (Marx), ral (Souza,2009). Trata-se de
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setores da populao que no participam efetiva e formalmente do mercado de
trabalho, diferentemente do proletariado tpico das relaes sociais dominantes desde
o desenvolvimento das foras produtivas capitalistas e da preponderncia deste modo
de produo (Martins, 2002).
Chico Buarque, um artista oriundo das camadas mdias, vindo de uma famlia
tradicional, que recebeu boa educao, tem uma sociabilidade diferente dos setores
populares. E cabe investigar em que medida sua situao social influencia a
representao dos pobres em sua msica.
Com a emergncia dos estudos culturais, h uma grande crtica em relao
representao dos setores subalternos feita sobretudo pela academia. A
subalternidade tem suas origens no pensamento do marxista italiano Antonio Gramsci
para se referir aos setores marginalizados da sociedade, sobretudo os operrios e os
camponeses. Posteriormente, autores como Edward Said, Stuart Hall, Gayatri Spivak
questionam as representaes feitos pelos setores dominantes da sociedade, que no
permite dar voz prpria a esse setores.
Dentro do contexto brasileiro, diversos autores procuraram discutir o que levou o
Brasil a ser uma das naes mais desiguais do planeta e na atualidade e um dos
principais autores que discute o dilema brasileiro Jess de Souza que, na discusso
com estrangeiros, como Charles Taylor e Pierre Bourdieu, e tambm brasileiros, como
Florestan Fernandes e Maria Sylvia Carvalho Franco constri uma teoria da
modernidade perifrica.
Em diversas letras das msicas de Chico Buarque se discutem, alm da questo da
marginalizao social, a questo da identidade nacional brasileira, o papel que o andar
de baixo da sociedade teria na construo de um ethos nacional. Ao longo de sua obra,
percebe-se que diversas questes permanecem, seja a invisibilidade e o descaso das
elites econmicas e polticas com os setores populares, seja a pluraridade de
identidades e etnias que formam a nao brasileira, o que aparece inclusive na capa de
lbuns como Paratodos e As cidades.
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Cada cano compe um retrato da sociedade brasileira, que no composta por uma
nica identidade nacional fixa e imutvel no tempo, mas por uma pluraridade de
identidades, segundo Renato Ortiz (ano).
Anlise das canes
Pedro Pedreiro a primeira cano de Chico Buarque com uma critica social direta .
Uma percussora da cano Construo, que seria gravada 5 anos mais tarde. Nela se
percebe, de certa forma, a presena da ideologia do desempenho que, segundo Jess
de Souza, d a iluso de que todos os indivduos da sociedade tm oportunidades de
ascenso social iguais, independente de sua classe social. Isso internalizado como
uma ideia espontnea de que o trabalho no dia a dia por si s bastaria para alcanar
uma condio material melhor.
Essa uma ideia que Weber aborda na sua obra A tica protestante e o espirto do
capitalismo, onde o protestantismo do ramo calvinista valoriza o trabalho e a posse de
riquezas. Essa tica do trabalho de acordo com o desenvolvimento da modernidade se
estende para alm do mbito religioso, tomando uma forma secular posteriormente.
No entanto, no contexto brasileiro, temos uma sociedade fortemente hierrquica que
de certa maneira impede a ascenso social das camadas mais pobres da sociedade.
Para Florestan Fernandes (ano), o Brasil no criou condies para que a populao
negra se adapte-se ao regime de trabalho capitalista aps a abolio, ficando
margem da sociedade ou em empregos de remunerao muito baixa com pouca
especializao. O que na msica se observa pela profisso de pedreiro, ofcio realizado
na maioria das vezes pela populao mais pobre e com baixa escolaridade.
Outro aspecto a reproduo estrutural da pobreza. A mulher de Pedro est grvida e
esse filho futuramente ter o mesmo destino de seu pai: ficar esperando quase
eternamente pelo aumento de salrio, pela sorte. No livro A integrao do negro na
sociedade de classes, Florestan traz relatos de famlias desestruturadas onde os pais,
por terem uma vida precria e baixo nvel de instruo, no conseguem meios de
educar adequadamente os filhos. Da a tendncia que eles continuem perpetuando o
ciclo de pobreza por diversas geraes, trabalhando em empregos precarizados. No
final, Pedro cansa de esperar e quer apenas voltar pro Norte, voltar a ser um pobre
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pedreiro, indicando que aquelsa esperana aos poucos se desfaz, gerando uma
percepo conformista de que as coisas so de certa forma assim.
Jess e Florestan mencionam de certa forma essa frustrao, que seguida de um
conformismo. As
camadas populares so acometidas por uma apatia, como se perceber no relato
colhido no livroA integrao do negro na sociedade de classes), que diz que Vida de
preto e assim mesmo. Esse relato enfoca a questo do negro e a sua insero de
forma precria na sociedade, mas pode ser estendida a outros setores, como diz Jess
de Souza, pois seus dramas so muito parecidos.
Funeral de um lavrador
Baseada na pea Vida e Morte Severina, de Joo Cabral De Mello Neto, Funeral de Um
Lavrador tem como tema a disputa pela terra. Segundo Antonio Candido (ano), a
literatura, antes das cincias sociais, foi um meio de discutir os dilemas brasileiros e a
questo da identidade nacional. Um exemplo disso Os Sertes, de Euclides da
Cunha, que aborda a questo da dualidade entre litoral e serto. No primeiro estaria o
brasileiro postio, aberto a influncias estrangeiras e no segundo estaria o verdadeiro
povo brasileiro. O sertanejo, embora vivesse de modo rstico, na pobreza, seria, no
seu dizer, um forte, embora o autor apontasse como ponto fraco na sua
miscigenao.
Nessa cano, no entanto, se observa o oposto. Quando se menciona uma cova
grande para teu pouco defunto se observa a inutilidade do homem rural e a sua
incapacidade para o ambiente hostil. Maria Sylvia De Carvalho Franco em Homens
Livres na ordem escravocrata menciona os dilemas do homem do campo: Sua
inexistncia como ser permitiu uma nica escapatria nos momentos em que as foras
constritivas se fazem sentir duramente: a revolta de cada indivduo solitrio em seu
desafio a ordem estabelecida, entregue a suas prprias foras para afirmar-se. No
campo os grandes proprietrios usam como diz Florestan Fernandes da violncia
aberta para impedir que haja uma reforma agrria e so os setores mais modernos
tecnologicamente os mais resistentes a mudana nas relaes sociais no campo para
diminuir a concentrao de terras. Por isso, o pequeno proprietrio v de certa forma
suas aspiraes bloqueadas em uma situao de permanente conflito e luta poltica.
[S1] Comentrio: cf. ttulo
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Por isso o destino dos trabalhadores rurais, o setor mais baixo dentro da escala social,
o que suporta os maiores sacrifcios para o desenvolvimento e progresso do pas,
uma cova nem larga nem funda para teu pouco defunto e a parte que lhe cabe nesse
latifndio.
Gente Humilde
Escrita com Vinicius de Moraes, essa cano aborda a gente brasileira, a maioria do
povo simples que no tem com quem contar. Jess Souza fala que o problema dos
pases de modernidade perifrica, como o caso do Brasil, uma maioria de pessoas
desclassificadas socialmente, que tem o nome pejorativo de ral, que so invisveis.
Mesmo havendo uma desigualdade enorme, ela escondida e mascarada pela
ideologia do desempenho.
A crtica de Jess e da viso seja pelo senso-comum seja por diversos autores como
Habermas que as duas instituies modernas, o estado e o mercado seriam neutras.
Por isso essa gente no pode contar com o mercado, que o liberalismo v como
virtude e soluo para todos os males, nem com um estado que na maior parte das
vezes beneficia uma minoria. Esse drama no atinge apenas suas vtimas diretas, mas
toda sociedade brasileira, em grau menor ou maior, por isso o sujeito da msica(eu
lrico do poeta v com certa tristeza o desamparo e a pobreza desses indivduos.
No entanto, esse povo, apesar de tudo, tambm tem caractersticas admirveis. Ele
afetivo, alegre, hospitaleiro; indcios que aparecem quando se menciona que na
fachada da casa est escrito que um lar e que h cadeiras nas caladas. Roberto Da
matta fala da dualidade entre casa e rua. A casa seria o ambiente onde haveria
relaes pessoais, afetivas, um local seguro. J a rua seria o local do imprevisvel, dos
perigos, da impessoalidade. D e certa forma, as cadeiras na calada seriam uma
maneira de esticar e alargar o espao da casa, seria uma zona intermediria onde esse
dois aspectos se misturam.
O prprio pai de Chico Buarque, no seu livro principal, Razes do Brasil, criou o
conceito de homem cordial, que definiria o carter de todo brasileiro, que age de
[S2] Comentrio: No resolvido De Jess? Do Chico?
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maneira emocional, diferente dos membros das sociedades mais modernas,
caracterizados pela ao racional com relao a fins ( Max Weber, ano). O brasileiro
seria incapaz de ter relaes impessoais na esfera pblica e por isso ocorreria o
patrimonialismo, que a confuso entre o pblico e o privado. A cordialidade teria
aspectos negativos, como um entrave a consolidao de relaes ... modernas.Como a
separao do publico e do privado,agir mais pela emoo do que pela razo que
impediria a consolidao de uma ordem mais democrtica e igualitria na sociedade.
Construo
Escrita em pleno milagre econmico, Construo descreve o destino trgico de um
trabalhador da construo civil. A letra remete a alienao e desumanizao do
trabalho, algo que Marx e Engels perceberam nos primrdios do capitalismo.Diferente
de Funeral de um lavrador, que tem como temtica o meio rural e as relaes pessoais
como norteadores da relao do trabalho, em Construo se percebe que estamos no
meio urbano e as relaes impessoais so a regra. Se contrapondo a uma
interpretao tradicional do pensamento brasileiro, Jess Souza discute a desigualdade
e o dilema brasileiro falando das consequncias dessa modernidade,por isso rebate
autores como Roberto Damatta que justifica a hierarquia social na realidade brasileira
atravs de resqucios de uma sociedade patriarcal e escravista mais do que por
relaes impessoais tpicas do sistema capitalista. No decorrer da cano, se percebe
uma certa robotizao do trabalhador. E ele prprio se transforma em mquina, vira
uma extenso de sua ferramenta de trabalho.Foucault fala em corpos dceis, no que
se percebe que o trabalho degradante fez com que at a relao essencial na vida de
um ser humano vire hbito.Comer e beber e fazer amor tornam-se uma atividade
mecnica, sem prazer, o que seria importante para sua prpria reproduo como fora
de trabalho. O operrio, nos termos de Marx, vira uma mercadoria qualquer, como,
por exemplo, um pacote flcido, algo meramente instrumental, para gerar lucro.
Herbert Marcuse fala que na modernidade tudo alm das necessidade vitais se torna
luxo. O amor, a arte e mesmo um ato como comer feijo com arroz chega ao ponto de
ser considerado o mximo. O que de certa forma revela que a morte era algo que
ocorreria, pois at a necessidade se tornou algo suprfluo.
[S3] Comentrio: Quais?
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Partido Alto
Presente na trilha sonora do filme Quando O Carnaval Chegar, de Cac Diegues,
Partido Alto apresenta temas constantes no debate sobre a identidade nacional
brasileira. O principal aspecto abordado a condio do subdesenvolvimento da
sociedade brasileira, um tema abordado por diversos autores das mais diversas
correntes tericos como Celso Furtado,Fernando Henrique Cardoso, Florestan
Fernandes, Srgio Buarque, Oliveira Viana. Cada um com uma interpretao diferente
do por que somos atrasados. A primeira interpretao sobre a origem desse atraso
vem pela questo racial. Como o Brasil e composto de uma populao sobretudo
mestia, o racismo cientifico importado da Europa pra c explicava o problema pela
questo racial. Slvio Romero enfatizava a questo da copia feita pelos mestios.
,Oliveira Viana, alm da questo do racismo, enfatizava a falta de uma solidariedade
nacional que o povo brasileiro no tinha e que isso se daria atravs da educao cvica
para incorporar valores comuns.
A virada vem com Gilberto Freyre, no seu livro Casa Grande e Senzala que inverte a
equao, colocando a miscigenao como um aspecto positivo, que seria marcado pela
singularidade brasileira do equilbrio de antagonismos. Srgio Buarque veio com o
conceito de homem cordial incapaz de ter relaes na esfera publica de forma
impessoal, sendo aquela uma extenso da relao da famlia patriarcal. Na musica h
vrias referencias de que o personagem nasceu, na barriga da misria, brasileiro -
batuqueiro na verso censurada. Deus deu a ele perna comprida para jogar bola ou
fugir da polcia. Na msica se constri um ethos do que ser brasileiro, uma
identidade compartilhada por todos da nao. Um personagem emblemtico
Macunaima, indiretamente referido na cano quando fala que deus deu muitas
saudades e muita preguia.
a imagem construda pelo senso comum da suposta indolncia e indisposio ao
trabalho, combinada com a valorizao do cio. Personagens construdos, sobretudo,
aps o fim da escravido, quando h uma verdadeira mudana na viso do trabalho.
Anteriormente era uma atividade indigna e reservado aos escravos, mas se torna, na
sociedade burguesa, um parmetro de moralidade e meio de reconhecimento social.
Octvio Ianni diz que esses mitos no so neutros e retratam momentos da realidade
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brasileira.Em Partido alto, h uma srie de referncias a esses aspectos do ethos
brasileiro que foram analisados por diversos pensadores e que contrastam com a
imagem do tipo ideal ocidental nos termos de Weber do protestante puritano norte-
americano, valorizador do trabalho, da poupana e contrrio a qualquer forma de lazer
e prazer.,O brasileiro, em contraposio, ser caracterizado como o malandro que no
gosta do trabalho, acostumado ao carnaval, e ao futebol, sem uma relao racional
com a esfera publica; o que estaria na origem do nosso atraso como nao.
Vai Trabalhar Vagabundo
Presente no filme homnimo, essa cano fala da realidade de diversos setores
populares que tem dificuldade de serem reconhecidos como cidados. Jesse de Souza
discute a questo da meritocracia que torna a questo do problema da desigualdade
invisvel e percebida de maneira individual . Atravs dessas ideologias que so
interiorizadas pela sociedade na modernidade, a pobreza, a marginalizao social pode
ser explicada por fatores como preguia, falta de vontade. Florestan Fernandes, no
livro A integrao do negro na sociedade de classes mostra depoimentos de
empregadores brancos que tinham uma viso de que os negros no eram propensos
ao trabalho, que eles abandonavam o servio facilmente. Em A tica protestante e o
esprito do capitalismo, Weber faz uma citao a Benjamin Fraklin, um dos
fundadores dos Estados Unidos, que diz: As mais insignificantes aes que afetam
o crdito de um homem devem ser por ele ponderadas. As pancadas de teu martelo
que teu credor escuta s cinco da manh ou s oito da noite o deixam seis meses
sossegado, mas se te v mesa de bilhar ou escuta tua voz numa taberna quando
devias estar a trabalhar, no dia seguinte vai reclamar-te o reembolso e exigir seu
dinheiro antes que o tenhas disposio duma vez s.
Na prpria letra tem passagens onde se fala Pode esquecer a mulata, Pode esquecer
o bilhar. O individuo tem que esquecer as atividades de lazer para focar no trabalho.
No entanto, na realidade brasileira milhares de pessoas no conseguem se adaptar as
exigncias de uma personalidade considerada moderna de acordo com as normas do
capitalismo, uma vez que foram abandonadas, aps a abolio, pelo poder pblico.
Florestan fala da europeizao com o um sinnimo de modernizao. Mas um termo
que mostra que o tipo de comportamento exigido pela ordem competitiva tem sua
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origem na Europa. Em realidades perifricas, isso aparece como artefatos prontos que
so importados . O que problemtico em um realidade marcada por uma forte
herana escravista, onde o trabalho manual era visto como algo degradante e at anos
atrs reservado as camadas mais baixas e inferiores, no sendo algo bem visto pela
camada dominante.
Pivete
Abordando a situao das crianas de rua do Brasil, pivete mostra a situao de
desamparo dessas pessoas. Axel Honneth em luta por reconhecimento mostra o papel
das relaes afetivas, juridicas, solidariedade para construo da cidadania. e a relao
maternal e a primeira que permite aos individuos o convivio em sociedade. Florestan
demonstra o mesmo na Integrao do negro na sociedade de classes onde os homens
abandonam suas esposas deixando apenas a responsabilidade a elas de criar os filhos
ou ento expulsando as crianas de casa. As conseqncias sero um contigente de
crianas sem destinos, sem freio nem direo como diz Chico Buarque na propria
cano. Pedindo esmolas ou praticando pequenos furtos, trabalhando de flanelinha
vendendo doces no farol.
Jess Souza questiona a ausncia em Roberto Damatta de uma anlise sobre estratos
sociais e questiona a sua noo de casa e rua;, um conceito vlido apenas para as
classes medias e altas. Como falar disso para crianas cuja casa a prpria rua, um
espao, no dizer do prprio Damatta, de perigos e incertezas, onde a qualquer hora as
foras da lei como a polcia podem invadir sem cerimnias, como aconteceu no
massacre da Candelria.Onde policias militares mataram cerca de 50 crianas que
dormiam na marquise de uma igreja,no comeo dos anos 90 e que foi divulgado pela
mdia exaustivamente.
Meu guri
Mesclando o eu feminino com a critica social, Meu guri fala da relao afetiva da me
pelo seu filho, mesmo que ele se ocupe de atividades ilegais como o roubo. O crime
para a ral se torna um atalho para ascender socialmente. Como demonstra Florestan,
quem insiste no trabalho regular, honesto considerado o otrio pois a prostituio e
a gatunagem para os jovens se torna uma forma de obter respeitos perante seu ciclo
social.
Formatado: Realce
Formatado: Justificado
[S4] Comentrio: muito geral
[S5] Comentrio: contextualizar
[S6] Comentrio: citar o autor
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Ter objetos de valor como mostra Bordieau (2007, pgina) e ter status, uma forma de
obter prestgio e reconhecimento social para as classes baixas , os servios de baixa
qualificao de remuneraes irrisrias impedem que se tenha renda suficiente para
comprar objetos suntuosos acessveis apenas em uma sociedade desigual como a
brasileira a uma pequena minoria. Por isso o roubo de relgios, bolsas,
eletrodomsticos se justifica como uma forma de se obter respeito na favela, onde
grande parte tem um grande desejo de consumir produtos que as classes superiores
podem ter e que aparecem nos comercias de TV.
Theodor Adorno (1985, 114 ) menciona o papel dos meios de comunicao de massa
na transmisso de valores para sociedade. ... por isso o fracasso dos setores mais
pobres de conseguir seja o carro, roupa de marca estimula um ressentimento contra
os setores mais abastados que podem adquirir com facilidade esse objetos. No final da
cano se menciona que a me v o filho na capa do jornal com os olhos vendados
indicando que ele foi morto. A contraveno pode ser um atalho mas tambm um
perigo de ser barrado pela fora da lei, Florestan (pgina ou citao) fala do papel da
policia de controlar a ordem e de suspeitar e combater qualquer forma de vadiagem
geralmente associadas aos de baixo como ele diz.
Brejo da cruz
O titulo da musica faz referencia a cidade Bejo da Cruz que fica na Paraiba uma
homenagem ao cantor Z Ramalho. No entanto a cano tem uma abordagem mais
ampla falando da imigrao dos nordestinos para as grandes cidades do sul e
sudeste.Chico Buarque coloca em discusso os dois Brasis termo que vem do famoso
livro do Frances Jacques Lambert que analisa as grandes desigualdades regionais.De
um lado um Brasil moderno,capitalista que sofreu um grande processo de
industrializao e que tem como principal centro econmico So Paulo a locomotiva
do pais de outro um Brasil arcaico com relaes personalistas,pobre,atrasado e com a
maior parte da populao na zona rural.A imigrao e um meio de fugir da seca e da
misria do meio rural uma esperana de melhorar de vida na cidade como diz na
msica no Brejo da Cruz as crianas comem luz.Por isso essas pessoas cruzam as
rodovirias em busca de trabalho, no entanto a vida nos grandes centros no e to
boa tendo que se contentar com empregos de baixa qualificao como
babas,garons,jardineiros,guardas noturnos,faxineiros.O drama dessas pessoas e a sua
Formatado: Realce
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insignificncia como cidados para as outras pessoas.Jess Souza discute a
invisibilidade da desigualdade brasileira que permite que mesmo que tenhamos um
concentrao de renda injusta o mito da meritocracia esteja internalizado na
sociedade inclusive nos setores subalternos que por sinal so os que mais acreditam
nele.
Octvio Ianni se contrapondo as analises dualistas fala que o Brasil considerado
atrasado tem um enorme papel como fornecedor de mo de obra barata para o
desenvolvimento das regies mais ricas.A explorao da mo de obra nordestina tem
como contrapartida o enriquecimento rpido da locomotiva paulistana.Os nordestinos
so responsveis por um grande riqueza de um minoria que no entanto os despreza
considerados como pessoas atrasados,ignorante.Jesse Souza aponta isso como uma
idia forte nas elites polticas e econmicas mencionando o livro A Cabea do
Brasileiro de Carlos Alberto Almeida que atravs de pesquisas qualitativas colocam o
brasileiro pobre como atrasado,preguioso,conservador sobretudo os da regio
nordeste que por sinal e a regio mais pobre do pais.As desigualdades no devem ser
relacionadas h uma herana pr-moderna patrimonialista o que pensa por exemplo
Srgio Buarque de Holanda,Roberto Damatta e sim a modernidade que para Jesse
Souza cria um ideologia implcita de igualdade de oportunidades para todos atravs de
leis impessoais onde o mercado ou estado so visto como entidades neutras.
Assentamento
Feita para o livro-CD do MST com fotografias do fotografo Sebastio Salgado e uma
cano de protesto contra as relaes do campo feita na epoca um anos aps o
massacre do Eldorado dos Carajas.O que se percebe e uma frustao com a
cidade,toda aquela promessa de oportuniadade foi em vo.Jesse Souza critica o fetiche
economicista a crena que o crescimento por ele mesmo vai resolver os problemas
sociais e esse e um mito forte que perdura na atualidade mesmo que o Brasil temha
crescido a uma taxa quase de dois digitos por meio seculo de 1930 a 1980.
Jos De Souza Martins analisa a mesma questo mostrando que o crescimento
economico no gerou uma distribuio igualitaria da terra.Por isso a importncia do
MST para uma sociedade menos desigual,no entanto aponta limites desse movimento
social.Sobretudo seu carater messianico,com uma forte ligao com setores da igreja
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catolica.Michel Lowy na guerra dos deuses analisa a teologia da libertao corrente
progressista no setor catolico que atravs de suas pastorais da terra e um apoio
importante ao MST.A Teologia da Libertao tem uma influencia do marxismo no
entanto diverge de seu ateismo e materialismo.As convergencias so a critica radical
ao capitalismo.Mas diferente do prprio Marx que em seus escritos como o Manifesto
do Partido Comunista via o progresso e a modernidade com um avano para mudana
social.Esse teologos possuem uma critica forte a modernidade pregando uma ideologia
comunitarista da vida simples no campo,bem diferentes das vises marxistas
ortodoxas que via um carter progressista na industrializao no progresso.O que se
percebe na cano onde se deseja uma volta ao serto,contente com a terra plantando
caqui,inhame e outros vegetais uma viso romntica assim como a de Rosseau da vida
simples no campo,de forma igualitria.A citao de Guimaraes Rosa refora essa
nfase no serto,no campo.Um local onde diversos autores como Gilberto
Freyre,Euclydes da Cunha estaria o verdadeiro brasileiro.O setor progressista catlico
inclusive fala na opo preferencial pelos pobres esse termo do tradicional proletrios
usado pelos setores simpatizantes do marxismo.
Subrbio
Chico Buarque apresenta uma viso de um outro Rio de Janeiro fora dos cartes
postais.Um local onde a vida e dura onde e habitado por um grande quantidade de
pessoas marginalizadas a ral.Bauman discute o medo nas grandes cidades e o estigma
que sofre principalmente a populao da periferia associada maior parte das vezes a
criminalidade.Para o desespero sobretudo das classes superiores que moram em
condomnios fechados e com seguranas,cmeras.Chico Buarque menciona que Cristo
est de costas uma expresso de duplo sentido indicando tanto a posio dele quanto
que essa populao vive abandona sem um ajuda sequer.Jess Souza e Florestan so
autores que demonstram o abandono seja do poder publico seja das classes
dominante ao estratos mais baixos da populao.Alm da questo da dignidade social
Chico Buarque menciona a questo da identidade mencionado a diversidade de
manifestaes culturais sobretudo da citando rock,rap,samba,rap estilos musicais dos
mais diversos.Stuart Hall questiona que a identidade na ps-modernidade sofre uma
ruptura ele passa a no ser mais fixa como se pensava desde a poca do iluminismo.Os
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indivduos podem assumir diversos pais de acordo com o lugar,o tempo.Por isso na
atualidade dois temas so cruciais a igualdade e a diferena.O filosofo canadense
discute essa duas questes como cruciais no debate atual.Jesse Souza embora
concorde com Taylor ressalta que nas sociedades perifricas o tema da igualdade e um
questo pendente que no foi solucionada ainda.Bourdieau discute a questo do
habitus tema presente quando se menciona que so casas simples,sem cor e sem
vaidade contrastando com as moradias bem cuidadas da Zona Sul regio nobre do Rio
de Janeiro.
O papel do artista na sociedade
Chico Buarque e um artista que procurou alm do mbito de seu trabalho de musico e
compositor,uma posio de destaque nos assuntos sociais se posicionando se como
um intelectual.Gramsci distingue dois tipos de intelectuais o orgnico ligado a uma
classe ou setor especifico ou seja a industria,igreja forma seus intelectuais
responsveis por produes de idias e valores e o tradicional que estaria
aparentemente acima das classes sociais e em defesa de interesse mais gerais sem
particularismos.Chico Buarque tanto em seu prprio trabalho artstico e fora dele
denuncia e faz criticas aos diversos aspectos da sociedade brasileira.Embora tenha
uma origem tipicamente pequeno burguesa oriundo de uma famlia de intelectuais
suas canes sempre tiveram o objetivo de mostrar sua simpatia pelos de
baixo.Diferentemente dos setores mdios da classe media que rejeitam os
comportamentos e atitudes das classes populares como vulgares,amorais.Pierre
Bourdieu fala do habitus comportamentos,idias,valores internalizados de maneiras
diferentes pelas classes sociais por fatores econmicos,culturais,instruo que criam
varias formar de agir na vida cotidiana.Sua obra aborda os aspectos da vida
cotidiana,Charles Taylor nas Fontes do self faz uma analise histrica da construo
do pensamento moderno e dentro dessas idias a valorizao do cotidiano atravs da
reforma protestante e de forma ainda mais acentuada pela secularizao e um
contraponto ao mundo antigo onde se valoriza a contemplao e cio o trabalho era
destinado aos estratos sociais inferiores.Essa tica do trabalho tambm foi analisada
por Weber impulsionado o desenvolvimento econmico de vrios pases sobretudo os
com forte tradio protestante como EUA,Inglaterra.No entanto esse cristianismo
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racionalizado teve como conseqncia o desencantamento do mundo.O que ocorre
em diversas esferas como na arte que vai perder sua aura como mostrou Walter
Benjamin no seu ensaio A obra de arte na era da reprodutibilidade tcnica.Chico
Buarque como um artista da modernidade vai ressaltar o aspecto da vida comum e
cotidiana longe dos artistas tradicionais que faziam arte pela arte e que pregavam
um distanciamento do mundo e que mostra Bourdieu marca ainda hoje certo gosto
burgus.Seu tema vo ser os diversos aspectos da sociedade brasileira mas um tema
constante vai ser a representao dos setores subalternos.Atravs das letras esses
indivduos enfrentam os maiores dilemas,dramas e uma ordem social injusta e
hierrquica onde a cidadania no se consolidou.Jess Souza fala que na em sociedade
perifricas o principio da dignidade no se universalizou totalmente pegando o
conceito de habitus de Bourdieu ele vai falar de um habitus primrio que deveria ser
compartilhado por todas as classes sociais o de dignidade que de certa forma se
consolidou nos pases desenvolvidos como a Frana,Alemanha que possuem polticas
de bem estar social e de uma igualdade perante a lei.No Brasil no houve esse
processo,Florestan Fernandes mostra em duas obras A integrao do negro na
sociedade de classes,Revoluo Burguesa no Brasil o tipo de modernizao que a
sociedade brasileira sofreu bem diferente das revolues democrtico-burguesa da
Frana,Inglaterra,EUA.No houve uma integrao de um grande parcela da populao
na sociedade capitalista no pas.Ex-escravos recm libertos ou homens livres que
trabalhavam no campo tiveram dificuldade de assumir uma tica ou habitus capitalista
demandando pela classe dominante aos trabalhadores.Charles Taylor constri um
histrico desse ethos seja o controle da mente sobre o corpo no pensamento de
Plato,a vocao pelo trabalho das seitas protestantes do ramo puritano.Ideias que de
certa forma atingiram de forma plena apenas alguns setores da burguesia dos pases
desenvolvidos.Ianni demonstra que na poca do Brasil colnia o trabalho manual era
condenado pela classe dominante, um oficio reservado apenas aos escravos e houve
uma resistncia a adoo do trabalho livre.Apos a libertao,surge uma dificuldade de
disciplinar a populao egressa do escravismo a trabalho na ordem
competitiva.Florestan demonstra falando dos negros que abandonavam o oficio com
freqncia seja por causa do alcoolismo ou do estigma sobre o trabalho manual.As
classes inferiores foi reservados os empregos de baixa ou nenhuma qualificao ou a
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movida no cio,na vagabundagem inclusive na criminalidade.Chico Buarque nas suas
musicas mostra essa faceta do homem simples que no encontra no trabalho regular
uma forma de ascender socialmente,por isso a malandragem,gatunagem se tornar
mais do que recursos de sobrevivncia, um estilo de vida onde se obtm respeito e
reconhecimento mesmo a margem da lei.A ideologia da meritocracia se mostra uma
iluso,a igualdade formal no capitalismo se mostra de maneira cruel ao encobrir a
desigualdade.Criando-se um estigma que as classes populares no gostam de
trabalhar,so preguiosas,ignorantes,habitus que as classes medias e alta colocam
para o fracasso.Jesse mostra que infelizmente as prprias vitimas internalizam essas
idias trazendo um conformismo e uma apatia com a situao existente.Bordieu
demonstra com citaes como Isso no e para ns ou Florestan com depoimentos
Vida de preto e assim mesmo.Chico Buarque mostra em Pedro Pedreiro,Construo
esse estado de apatia e conformismo,um forte desespero que gera destino trgicos.
Essa situao de desorganizao social se agrava pela reproduo de geraes de
indivduos marginalizados socialmente.A reproduo estrutural da ral onde uma
famlia com um baixo capital econmico e cultural impede ou dificulta que seus filhos
possam aspirar uma vida melhor.Como conseqncia disso um enorme fracasso
escolar,que causa evases escolares e uma entrada precoce no mercado de trabalho e
uma perpetuao da condio de pobreza.Meu guri,pivete mostra esse efeitos na
jovem ral que diante de uma famlia sem estrutura se dedica a pequenos roubos.Axel
Honneth demonstra o papel da educao familiar na socializao e na autonomia dos
indivduos para uma vida em sociedade a ausncia desse processo gera graves
conseqncias sociais e psicolgicas.Vinculado a um ambiente social onde se pode ter
um alto grau de instruo Chico Buarque teve contanto com diversas leituras
estimuladas por seu pai Srgio Buarque de Hollanda o que influencio fortemente sua
viso sobre a sociedade brasileira no seu trabalho artstico.Compartilhando muitas
idias no ambiente social onde foi educado, acostumado que seu pai recebesse visitas
de diversos intelectuais como Antonio Candido.Nas suas canes assim como na obra
de Srgio Razes do Brasil o brasileiro buarqueano tambm e o homem cordial o
individuo que age mais pelo corao do que pela razo e avesso a formalidades.No
entanto a moderna sociedade regida pelo capitalismo rejeita essa personalidade
emotiva,extrovertida exigindo sujeitos disciplinados,racionais dispostos ao trabalho
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duro e ao controle de suas paixes.Porm h nos brasileiros de Chico dificuldades
enormes de se adaptao seja pelo trabalho mal renumerado que cria uma baixo auto-
estima pela vocao ao trabalho.O controle dos prazeres e uma constante em suas
canes a tentao da malandragem,criminalidade ,de beber com amigos,jogar
bilhar,pular carnaval como atividades condenveis que prejudicam o trabalho e a
concentrao necessria.A racionalidade instrumental sufoca os indivduos
condenando muitas aes importante para garantir o bem estar e a felicidade como
imorais erradas.Construo demonstra a razo instrumental desumanizado
fortemente o individuo que no v sentido em sua vida.Tornando se mero apndice da
maquina nem suas aes como beber,comer fazer amor tem mais prazer como
antes.Os integrantes da Escola de Frankfurt seguindo o pessimismo de Weber fazem
criticas a um aspecto elementar da modernidade.Diferentemente de Srgio
Buarque,Chico tem uma viso mais positiva da cordialidade como uma forma de fuga
ou de renuncia que aparentemente e alienante ou passiva mas e uma forma subjetiva
de protesto social contra os males da modernidade que aprisionam os indivduos e
uma jaula de ferro.Jesse Souza rebate Roberto Damatta na questo da modernizao
brasileira mostrando que o Brasil se integrou plenamente na modernidade no
havendo como na tradio da sociologia do patrimonialismo presente em Srgio
Buarque,Faoro e no prprio Damatta uma modernizao superficial onde o
personalismo,clientelismo permaneceriam apesar da industrializao como constantes
nas praticas da sociedade brasileira.Referindo-se a Florestan mostra que as elites
brasileira adotaram uma gramtica mnima do liberalismo vinda dos pases
centrais.Houve uma importao de idias e modelos de fora que tiveram grande
influencias inclusive rebatendo essas vises Florestan fala que a Independncia teve
uma grande mudana na economia onde a riqueza seria absorvida pela elites nativas
mesmo que ainda se tenha mantido um sistema escravista.No seria uma mudana
apenas para ingls ver mas substancial.O Brasil se integraria de maneira dependente
na economia mundial no havendo um desenvolvimento linear entre os pases
desenvolvidos e subdesenvolvidos.Embora tenha uma viso critica da sociedade
brasileira e se posicione a favor dos setores mais excludos no da para afirmar que
Chico possa falar em nomes desses setores.Sua origem pequeno burguesa impe
limites na sua representao desses setores o que se observa em relao a outros
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cantores e compositores de origem popular como no rap onde h uma construo dos
setores populares de uma maneira,totalmente diferente.Nas suas canes impera na
maior parte das vezes uma certa viso romntica das classes populares,com uma
bondade sempre natural,Meu guri e um exemplo disso onde mesmo que o
personagem se envolva com roubos h uma viso positiva dos oprimidos.No obstante
demonstrar a apatia e conformismo,em certos aspectos h espao para o brasileiro
alegre,festivo,musical que mesmo pobre e trabalhando duro ainda tem o prazer de
viver.Um mito brasileiro forte adotado por vrios pensadores das mais variadas
tendncias como Gilberto Freyre,Srgio Buarque,Darcy Ribeiro,Roberto
Damatta,Euclydes da Cunha,Jos de Alencar,etc. Florestan Fernandes foi um pensador
que tentou desconstruir esse mitos principalmente o da democracia racial mostrando
o racismo no Brasil. Jess Souza desmitificando a demonizao do estado e a
santificao do mercado como o reino das virtudes presente sobretudo em Roberto
Damatta assumidamente liberal e simpatizante da cultura norte-americana.No Reino-
Unido em meados da dcada de 50 houve a emergncia dos estudos culturais uma
forma nova de pensar e estudar na academia os setores subalternos rompendo com a
ortodoxia do marxismo.Raymond Williams,Edward Palmer Thompson,Stuart Hall
produziram estudos em varias reas historia,literatura,cultura com nova forma de
analisar a produo popular rompendo com um elitismo hegemnico inclusive em
setores considerados de esquerda ligados a um marxismo ortodoxo na linha marxista-
leninista e stalinista que pregava a necessidade de uma vanguarda para mobilizar e
politizar as massas atrasadas.Essa mudana nos estudos sobre a cultura permitiu dar
voz a outras narrativas alm da historia considerada oficial da classe
dominante.Rompendo com o ponto de vista pessimista e unilateral de Adorno que no
admita que na sociedade capitalista houvesse espaos de resistncia a ideologia
dominante,a industria cultural no tem um poder unilateral que atinge a todos
igualmente.Stuart Hall,Edward Said,Thompson mostram em suas obras as contradies
que surgem na sociedade a violncia e a desumanizao impostas as classes
subalternas no so aceitas de modo passivo.Isso est longe de significar que h uma
conscincia total e forte de interesses de classe e de organizao poltica,a alienao
ainda est presente assim como a apatia porem no e um processo rgido que elimina
todos os vestgios de uma cultura popular ou de uma contracultura.A classe
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trabalhadora e os povos dos pases subdesenvolvidos criam outras narrativas,e
possibilidades grandes tanto para uma cultura alternativa quanto para uma
transformao social.Chico Buarque demonstra o papel da musica no apenas como
um meio de fruio esttica mas como um veiculo de transformao social.Nas suas
entrevista se mostra claramente seu engajamento social Antes mesmo da faculdade,
fui uma pessoa preocupada com os problemas sociais - um pouco por formao
familiar, um pouco at por experincias atravs de movimentos de um grupo de
assistncia social, ou atravs do colgio de padres etc. e tal. Coisa como levar cobertor,
levar no sei o que para quem est ali na Estao da Luz, visitar presdios e coisas
assim. E isso est refletido na minha msica daquela poca; tenha certeza que
sim.Herbert Marcuse aponta o grande potencial da arte para construo de uma nova
ordem social.A literatura,musica,pintura so veculos que podem utilizados para negar
a ordem existente,uma sociedade unidimensional que mercantiliza tudo inclusive a
prpria arte e regida por uma razo instrumental que atravs do aparato tecnolgico
aumenta cada vez mais a dominao e a conservao do status quo imobilizando
inclusive os movimentos na sociedade de oposio inclusive a classe trabalhadora que
seriam os principais agentes da mudana na viso do marxismo tradicional.A cultura
estaria em outro plano fora da sociedade existente negando-a por a distino de
Marcuse entre cultura e civilizao.A civilizao sendo o reino das atividades cotidianas
mais elementares como o trabalho e cultura um plano superior que poderia ser um
espao de contemplao,de libertao dos prazeres reprimidos,cio criativo contra o
trabalho alienante.Chico Buarque na sua obra demonstra essa possibilidade de um
mundo diferente aparte do existente o mundo do carnaval,samba,alegria,amor.Aberto
a outras possibilidades alm da rotina do trabalho.No entanto esse idealismo tem seus
limites pois a arte no est acima das relaes sociais,ela mantm contanto com o
mundo real no de uma forma mecanicista como no marxismo ortodoxo como na idia
de reflexo de Plekhanov mas como afirma Raymond Williams de mediao,uma
relao dialtica estando de maneira contraditria tanto vinculado a relaes
existentes quando abrindo possibilidades alm tendo uma autonomia relativa.Por isso
o artista diferente da viso corrente no e ser um fora do normal com poderes
mgicos acima dos outros seres humanos de mudar a sociedade,so indivduos com
seus limites e fraquezas.Norbert Elias analisando Mozart demonstra que por mais que
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sua imagem no imaginrio popular seja de um artista excepcional tinha vrios
problemas na vida pessoal,tendo atritos com seu pai e incapaz de ter um
relacionamento afetivo com as mulheres.Chico Buarque e um artista que de certa
forma no pode ser visto dessa forma.Embora tenha e assuma um posicionamento
poltico engajado em causas sociais participado de campanhas polticas e com letras
com uma critica social.Isso no significa que sua arte represente totalmente os
interesses da classe inferiores como um marxismo ortodoxo perceba qualquer forma
de arte que tenha uma critica social.Muitos romances de autores comunista como
Graciliano Ramos e at certo ponto Jorge Amado e restrito a uma pequena populao
letrada.O publico de Chico Buarque e composto majoritariamente por um publico
universitrio o que o prprio admite O pblico que hoje se identifica mais com a
minha msica est na faixa universitria.Os estudos culturais tem basicamente o
objetivo de mostrar as manifestaes escondidas que no so reconhecidas pelo meio
acadmico no somente a musica folclrica mas inclusive a musica popular da classe
trabalhadora urbana.
Edward Palmer Thompson menciona que classe no e um conceito estrutural e dado
sendo uma construo historica presente em determinado momento na introduo do
seu livro A formao da classe operria inglesa essa noo mais dinamica das classes
sociais diverge da de Althusser.Alem disso Thompson cria uma nova narrativa dos
setores subalternos demonstrando que a classe operaria no foi totalmente passiva
havendo diversos momentos de resistencia,mesmo em manifestaes e atitudes
consideradas atrasadas,superticiosas,que marcam uma certa ambivalencia.Chico
Buarque representa essa ambiguidade dos setores populares da sociedade brasileira
de alienao ou de resistencia,do trabalho alienado a alegria da cordialidade e da fora
Formatado: Centralizado
Formatado: Tabulaes: 2,47 cm,
esquerda
Formatado: esquerda, Tabulaes:
2,47 cm, esquerda
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dos sentimentos contra ao forte processo de racionalidade.Como diz Lucien Goldman
O homem e um ser contraditrio,uma mistura de fora e fraqueza,grandeza e
pobreza,vivendo num mundo que,como ele,se compoe de opostos,de foras
antagonicas que lutam entre si sem esperenas de tregua ou vitoria,de elementos que
so complementares,mas permanentemente incapazes de formar um todo.O brasileiro
buarqueano de certa forma e isso um misto de fraqueza e pobreza material,incapaz de
se adptar ao rotina do trabalho ou ascender socialmente,mas tambm se encontra sua
grandeza de mesmo assim poder sorrir,amar,danar,cantar talvez o principal meio da
transformao social.O artista tambm compartilha esse elemtos em comum com o
homem simples.Chico Buarque percebe a sua fraqueza de ser incapaz de mudar essa
dura realidade algo que vai se acentuar com o tempo como se ve em em Gente
humilde em comparao com a musica mais recente Subrbio onde a esperana da
primeira cano e da idealizao dos povo da lugar a um pessimismo e certo
conformismo de imobilismo social e a abordagem da violencia urbana na periferia
desmancha qualquer sinal da bondade e do mito do homem cordial.Chico Buarque
admite a vitoria da globalizao citando varios estilos estrangeiros como rap,rock
como manifestaes culturais populares.Percebe-se uma mudana do discurso sobre a
nacionalidade,o nacionalismo presente em suas canes da afirmao da brasilidade e
da cultura nacional cede espao ao reconhecimento das diferenas.Octvio Ianni
menciona que a Globalizao e um processo de fortes mudanas no conceito de nao
e varias medidas seja a abertura comercial com a liberalizao economica e o
surgimento de organismos internacionais como FMI,ONU,Banco Mundial, coloca em
questo a discusso de uma sociedade global.E o fim da guerra fria coloca os EUA
como uma potencia hegemonica e de certa forma o triunfo do capitalismo
transnacional.A cultura obviamente no fica de fora havendo uma presena forte dos
grandes conglomerados dos meios de comunicao de massa que ampliam seu poder
alm dos seus paises de origem.O rap e o rock so manifestaes vindas de fora
oriundas dos Eua.O conceito de nao e de cultura brasileira tem um novo significado
no entanto no h uma tedencia de homogenizao total cada povo,nao ressiginifca
o que vem de fora e se apropria de uma forma diferente desses produtos culturais.Por
isso o rap brasileiro no vai ser feito da mesma forma do americano assim como o
rock.Celso Favaretto menciona que a Tropiclia foi um movimento que incorporou
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tanto elementos da cultura regional folcorica brasileira quando do pop americano e
britanico,tendo uma proposta de hibridismo cultural incoporando tanto o moderno
como o tradicional.Chico Buarque enfim reconhece essas manifestaes mas isso est
longe de ser uma adeso a globalizao excludente que inves de diminuir as
disparidades sociais a acentuou,talvez a mensagem seja como diz Milton Santos por
uma outra globalizao que reconhea as mais diversas manifestaes culturais mas
que evite o agravamento da pobreza,o liberalismo economico irresposvel que
aumenta ainda mais a fragilidade dos pases subdesenvolvidos.Renato Ortiz fala da
pluralidade da identidade brasileira,que no existe uma identidade nica mas varias de
acordo com as regies,etnias de certa forma um mosaico que forma a nao
brasileira.As narrativas tradicionais sobre o Brasil sempre construiram uma ideia nica
do que somos do Norte ao Sul seja na literatura,sociologia,antropologia e de uma
sociedade sem conflito.Jess Souza fala da fora dessas narrativas que no flutuam no
ar mais que tem contanto com o mundo real destacando a presena delas no governo
Vargas que criou a ideia de um Brasil harmonico sem conflitos de classe,racismo onde
patroes e trabalhadores,negros e brancos vivem juntos para o bem comum.Essa iluso
compartilhadas por diversas correntes seria desfeita pelo regime militar.Ianni
demonstra que o Populismo tinha seus limites e que sua politica de afirmao de um
Brasil autonomo se esgotou.Setores do empresarios,latifundiarios,parte da classe
mdia teve um papel crucial na reao dos militares abrindo espao para 20 anos de
uma represso aberta e sem treguas contra a subervso.Esse governo autocrtico nos
dizeres de Florestan Fernandes aprofundou a depedencia economica e as
desigualdades sociais.Na redemocratizao houve esperanas no entanto Florestan
alertava para a fora de setores conservadores por um pacto gradual e
conservador.Chico Buarque e sua musica passaram por esse momentos historicos e se
demonstra que por diversas mudanas seja a saida da ditadura para a democracia no
alterou a sua preocupao e denuncia da misria que vive a populao.Lukacs teorizou
sobre o conceito de uma estetca marxista um projeto de arte que teria a funo
desmacarar a alienao presente na sociedade capitalista.Reconhecia a autonomia
artistica porm ela teria um papel pedagogico de educar o proletariado e teria de
refletir o mais proximo a realidade.A arte faria a ponte entre o mundo geral da vida
real e da existencia particular do artista.Outro aspecto seria o partidarismo que e a
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tomada de posio politica clara do artista em relao a sociedade,Arnold Hauser
seguindo essa trilha diferencia artistas que seguem isso explicitamente e outros
implicitamente o primeiro caso exemplificado por Voltaire e o segundo por
Shakespeare.Na msica no e diferente Beethoven homenageou Napoleo com pecas
musicais,no caso brasileiro Santuza Cambraia Naves cita o caso de Ary Barroso com
Aquarela do Brasil alm de Heitor Villa Lobos que tinha relaes proximas com
Vargas.No caso de Chico Buarque houve uma posio abertamente contra o regime
militar e ele proprio se definiu em vrias entrevista como uma pessoa de
esquerda,participando de diversas campanhas politicas para diversos partidos como
MDB,PT,PSOL e politicos como Lula,FHC.No entanto no da para colocar sua obra
apesar de algumas afinidades de acordo com a estetica luckasiana,inclusive houve
criticas do historiador Jos Murilo de Carvalho para o qual a obra buarqueano se limita
a uma representao do Rio de Janeiro no podendo expressas toda a realidade do
pas.De certa maneira isso est correto em muitas canes seja explicitamente ou
implicitamente o local de referncia e a capital fluminense no entanto os dramas e as
situaes por mais particulares que sejam tem algo de universal.No entanto algo que
foge do que Lukacs prega e a subjetividade muito presente na obra de Chico Buarque
apesar de apresentar uma obra musical que tente refletir de maneira prxima os
dramas dos setores subalternos da sociedade,tema comum e um desafio na sociedade
brasileira e at no mundo da emancipao de todos os individuos processo colocado
pelo marxismo.Ele coloca os dilemas inclusive psicologcos,individuais,no ignora a
noo de interioridade.Por isso se aproxima da ideia de Marcuse de um arte
emancipadora que supera a realidade existente.Marcuse critica duramente a esttica
marxista ressaltando a trans-historiedade das obras de artes,e sua autonomia em
relao a infra estrutura economica.Nega o condicionamente historico da arte
presente em Marx quando o mesmo cita as esculturas gregas.De certa maneira Marx
falou bem brevemente sobre arte seu principal objeto de analise em boa parte da vida
foi a anlise da economia politca por isso mesmo Lukacs dizendo ser um seguidor das
ideias marxianas tem um conceito um pouco diferente dele sobre esttica e
arte.Marcuse valoriza inclusive arte tradicional reafirmando seu valor emancipador e
critico da sociedade mesmo que no deixe de levar em contar o papel da industria
cultural de abosver e inclusive minimizar o potencial das obras de arte classcas
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diferenciando nesse aspecto do pessimismo de Adorno.Chico Buarque afirma um
partidarismo como Lukacs mas reafirma a subjetividade e o papel emancipador da arte
para criao de outro mundo mais justo alm da realidade concreta.O que se perceba
nos personagens de suas canes que embora no tenha uma coscincia
estreitamente politica buscam contestar a ordem existente de certa forma seriam
rebeldes primitivos que teriam aes pre-politicas algo analisando por
Hobsbawm,Thompson como protestos no apenas como reacionrios reafirmando a
ordem existente ou um passado nostlgico mas como meios inclusive para uma futura
mudana social feita inclusive pelos prprios excluidos sem mediao de um
vanguarda como o marxismo ortodoxo prega.A arte no e condicionada totalmente
socialmente h uma relaao de estratos sociais como certas formas de artes mas no e
linear em Marcuse se contrapondo a Lukacs.Por isso Chico Buarque embora de uma
origem considerada pequena-burguesa pode fazer canes criticas a sociedade
brasileira inclusive contra o governo militar que teve durante o comeo um massivo
apoio inclusive da prpria classe mdia meio de onde ele veio.Karl Manheim fala do
papel autonomo do intelectual que ou pode se vincular seja a burguesia,proletario e
aos diversos partidos ou ter uma funo autonoa representando uma vontade geral
alm dos particularismos.Essa intelegensia pode ser recrutada em diversas classes
sociais e a instruo pode aproximar individuos das mais diversas origens sociais.Por
isso Chico Buarque sempre tentou se posicionar assimo como seu pai alm da viso
tradicional do seu grupo social buscando pelo menos se posicionar a favor do povo
brasileiro uma categoria evidentimente indefinida.Florestan sempre apontou os
problemas da realidade brasileira embora em um debate com Guerreiro Ramos
afirmasse o carater universal das cincias socias em suas obras procurou analisar a
peculariadade da realidade brasileira.Embora tenha desenvolvido ao longo do tempo
um metologia influenciada pelo marxismo observou que a realidade brasileira e bem
mais complexa pois o proletariado representava uma pequena frao da
populao,por isso investigou outros setores to ou mais importantes como so
indigenas e sobreutdo os negros.Demonstrando o desenvolvimento diferente do
capitalismo brasileiro que no formou de forma massiva uma classe de assalariados
mantendo ainda forte heranas patriarcais.Chico Buarque por isso aborda diversos
setores sociais que ficam fora da analise marxista tradicional e que representam a
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realidade da europa do sculo 19.Muito diferente de um pais subdesenvolvido com
enormes niveis de desigualdade e por uma depedencia economica que sofreu um
processo de modernizao diferente.Por isso Chico Buarque sempre esteve vinculado
ao dilema do particularismo e do universalismo,nas suas obras da decada de 60 e 70
h um enfoque muito na realidade brasileira emancipao no projeto buarqueano
seria tanto a indepedencia da nao brasileira dos paises desenvolvidos quanto a
emancipao social dos setores oprimidos.A nao e povo seriam conceitos quase que
inter-relacionados,no entanto nas decadas de 80,90,2000 h uma emergencia da
globalizao e a ideia de nao entra em crise.Renato Ortiz discute que a
modernidade-mundo redefiniu o conceito de nao de uma forma diferente,outro
aspecto so as emergncias das teorias pos-modernas que se preocupam com as
diferenas e a diginidade e a representividade do outro como os
gays,negros,mulheres,povos de ex-colonias.Colocando no mais a categoria como
classe social como e nico aspecto relevante ou no dizeres marxistas o motor da
histria.As canes buarqueanas refletem essas mudanas afirmando cada vez mais
no so a diginidade do outro como o principio de autencidade e do direito a diferena
dois projetos no mundo contemporaneo posto em debate como demonstra Charles
Taylor.No entanto como diz Jesse Souza o primeiro projeto tayloriano no se
conretizou no Brasil mantendo ainda niveis estrondosos de desigualdade.Edward Said
no sua obra Orientalismo discute a representao etnocentrica que o Ocidente faz
sobre o Oriente,no tendo permitindo as povos colinizados o direito de se
expressarem e colocando os arabes como um povo atrasado,superticioso,anti-
democratco e que o homem ocidente europeu e norte americano teria a misso de
civilizar a barbare.Algo acontece analogicamente na realidade brasileira como
demonstra Lucio Kowarick que analisando a marginalidade no Brasil aponta a
representao negativa que as classes baixas sofrem mostrando a populaao da
periferia como ignorante,violenta,com habtos considerados inadequados,mal
vestidos,sujos, perante a classe mdia,elites politicas que apoiam politicas de
represso e criminalizao da pobreza.A inteno e sempre subjulgar e discriminar o
outro o diferente,criar polarizaes entre a populao majoritariamente branca,de
classe mdia,culta,moderna e a ral negra ou mestia,burra,mau educada e
arcaica.Chico Buarque na sua obra mostra de maneira didatica esse outro mundo,para
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seu pblico que ele admite ser a classe mdia universitria um Brasil esquecido pelos
governantes,o mundo dos de baixo no termo de Florestan Fernandes.Sua arte tem
uma inteno abertamente politica algo que Lukacs e Marcuse pelas grandes
diferenas apontadas concordam.Porm o objetivo buarqueano e mostrar a
desumanizao no apenas do proletariado,de uma classe especifica mas de toda
sociedade,para uma emancipao de toda humanidade algo proxmo da viso
marcusiana.No e apenas criticar pelo eixo social mas mostrar os efeitos psicologcos
no interior dos individuos,atingindo tambm a subjetividade e no com um objetivos
puramente materialistas.E demonstar o poder da razo instrumental para subjugar
todos os seres humanos,inclusive ele prprio embora tenha uma condio priveligiada
e vitma desse processo,sua dor no e pode ser a mesma dos setores subalternos mas
e algo que atinge toda especie humana.Um processo que na revoluo burguesa
Florestan demonstra que a explorao e ainda maior nos paises subdesenvolvidos em
relao aos paises desenvolvidos.O regime militar foi um caso paradigmatico pois
acentou ainda mais a situao pois foi um governo autocratco,que colocou uma
politica de arrocho salarial.E que fortaleceu ainda mais uma tecnocracia governante no
aparelho burocratico que na teoria weberiana persegue um processo cada vez maior
de racionalizao.E o milagre economico pouco resolveu,Jess Souza questiona o
economicismo falando que o crescimento por ele mesmo no resolveu os
problemas.Florestan demonstra que a modernizao agrava a depedencia economia e
as contradies sociais cada vez mais.Chico Buarque este envolvido nesse processo,sua
arte reflete as condies historicos em que foi produzida.Lukacs fala do historicismo e
da relao do meio material com a produo,a postura de Chico Buarque mais critica
se deu nesse periodo se comparado com as canes do comeo como Pedro Pedreiro
com criticas mais sutis e com certa esperana,Adlia Bezerra Menezes menciona no
periodo inical uma vertente mais utopica e nostlgica com um discurso politico menos
acentuado o que ocorreria aps o A1-5 decreto que endureceu o governo e gerou uma
guinada uma ruptura de uma obra mais militante.Na redemocratizao ocorre um
novo periodo onde aparecem canes menos politcas,no entanto a critica da
desigualdade social permanece uma constante devido as frustaes do periodo da
redemocratizao.Apesar disso mesmo as canes mais relacionadas e vinculadas com
a marca da historicidade,deve ressaltar sua atualidade e importancia de sua trans-
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historicidade como prega Marcuse contra analise marxista da esttica.A fora da arte
estar em romper e ir alm da realidade concreta inclusive do tempo,o vigor de uma
obra se mostra pela sua relevancia ao longo do tempo,Marcuse cita exemplos de
Homero,Victor Hugo na literatura mostrando que mesmo obras feitas em epocas pre-
capitalistas em sociedades com uma relao social bem diferente da atualidade e no
abordando a luta de classes mantem sua relevncia at hoje.
Srgio Paulo Rouanet critica a emergncia sobretudo no final dos anos 60 de um novo
irracionalismo,que colocaria em questo o legado iluminista,movimento vinculado a
contracultura que prega o anti-elitismo,anti-autoritarismo .Alm de um discurso
nacionalista em defesa da identidade brasileira.Chico Buarque de certa maneira tem
certa afinidade com essa corrente poltico considerada a nova esquerda que iria contra
os dogmas do comunismo tradicional.Isso ficaria acentuado nos anos 70 onde as
divergncias como relata Santuza Cambraia Naves entre seria superados em relao
aos tropicalistas em uma unio contra o regime militar,Chico considerado ultrapassado
e at conservador tanto liricamente quanto musicalmente adotaria uma postura
radical.Essa atitude relacionada a um forte nacionalismo e um discurso critico da
sociedade brasileira.No entanto Rouanet peca ao associar o nacionalismo brasileiro a
xenofobia europia,embora tenha semelhanas essas ideologias em questo como o
essencialismo e a defesa de uma identidade nica esquecendo as diversidades
regionais,tnicas,classe social.O nacionalismo como demonstra Renato Ortiz
analisando o ISEB tinha o objetivo de emancipar a nao e superar o
subdesenvolvimento,esse apelo a identidade nacional era um mecanismo de defesa
contra a explorao das multinacionais nos pases desenvolvidos.Edward Said
demonstra a importncia malgrado seus limites do nacionalismo contra as elites
dominantes.No caso brasileiro as elites nativas mesmo aps o fim do estatuto colonial
adotaram costumes estrangeiros,e idias como o liberalismo no entanto mantendo o
regime escravista.E no governo militar ao mesmo tempo que havia uma integrao na
economia cada vez maior ao capitalismo americano havia um endurecimento na
liberdade poltica.Roberto Scharwz fala do termo idias fora do lugar para ressaltar
essa ambigidade de uma constituio igualitria,democrtico e dos discursos dos
polticos com vis liberal com uma realidade de uma nao autoritria,hierrquica e
patriarcalista.Em Construo percebemos isso claramente onde o trabalho
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formalmente livre esconde uma forte explorao do operrio,adotamos o liberalismo
econmico mas pouco ou quase nada do poltico.Oliveira Viana pregava o
autoritarismo instrumental alegando falta de um enraizamento na sociedade de uma
cultura liberal,por isso um perodo de despotismo e interveno do estado seria
necessrio para criar uma unio da nao que na sua viso estava separada por
interesses egosticos.Por isso o papel da educao cvica para construo de uma idia
de nao o que os militares fizeram para criar apesar das diferenas sociais uma idia
uno de pais.O nacionalismo buarqueano porm visa apontar e superar a situao de
subdesenvolvimento da populao,e no apenas uma ideologia que sobre o discursos
da unidade nacional mascarar e encobrir privilgios sociais.Estando longe da xenofobia
incorporando influencias musicas de outros pases como da musica
cubana,argentina,chilena.De certa maneira uma proposta de criar um relao de
solidariedade e unio na idia da Amrica Latina.Canclini discute o conceito latino-
amrica que se diferencia muito do de nao pois tenta apesar das diferenas algumas
bem enormes de construir algo em comum apesar do estgio bem diferente de
desenvolvimento,composio tnica de cada pas o subdesenvolvimento e a
desigualdade social e os governos militares durante as dcada de 70 e 80 marcaram de
maneira simultnea a experincia dessa regio.Chico Buarque constri a imagem da
nao,comunidades imaginadas no conceito de Bendict Anderson.Mostrando e
colocando que ele na sua obra no representa apenas o Rio de Janeiro mas o
Brasil,mas tambm a Amrica Latina.O mesmo ocorre com os indivduos retratados o
Pedro Pedreiro e imagem no de um drama nico particular de um sujeito mas de um
grande coletividade de imigrantes que vem do norte do pas em busca de uma vida
melhor,seja no Rio de Janeiro ou So Paulo.Como diz Adorno O artista, portador da
obra de arte, no apenas aquele
indivduo que a produz, mas sim torna-se o representante, por
meio de seu trabalho e de sua passiva atividade, do sujeito
social coletivo. Ao se submeter necessidade da obra de arte,
ele elimina tudo o que nela poderia se dever apenas mera
contingncia de sua individuao.Porm esse processo est bloqueado pela realidade
existente que mercantiliza e tira o potencial contestador que a arte poderia
ter.Marcuse fala que a sociedade atual sem oposio transforma tudo em mercadoria
Formatado: esquerda
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tirando o potencial subversivo e menciona que o proletariado a principal agente
transformar em Marx foi integrado no sistema.At a msica de Bob Dylan que Marcuse
admirava como um veiculo da contracultura no final da dcada de 60 acabou por fim
de virar mais um objeto de consumo na industria cultural algo no diferente de Chico
Buarque.Por mais que suas letras tenham um potencial critico e que ela tivesse
incomodado as autoridades sobretudo no governo militar,os meios de comunicao
eliminam qualquer urea reformista ou revolucionaria de sua obra tornando-se
como um produto para um pblico seleto de classe mdia,longe de ter o alcance da
maioria da populao.Theodor Adorno tem uma viso bem mais critica de
Marcuse,mencionado que mesmo a contracultura mesmo que tenha um contedo
critico nas suas formas de expresses artsticas era estril e intil como veiculo de
superao e emancipao social por estarem integradas a industria cultural,o
problema estaria na produo e circulao igualmente.Marcuse admita a fora dessa
industria porm acreditava ainda na funo da arte,de maneira relativamente
autnoma.Chico Buarque nessa viso seria um artista que apesar de sua imagem
contestadora seria mais um objeto da industria cultural,com uma ideologia falsa que
reforaria as relaes dominantes da produo artstica.A viso adorniana embora
esteja correta no papel dos meios de comunicao,coloca de forma pessimista
qualquer forma de cultura de massa,evitando de analisar as diversas
contradies.Stuart Hall tem um postura menos ctica ,ressaltando o papel da cultura
de massa em determinados contextos como um meio de sociabilidade e de criao de
identidades comuns e como meio de contestao social.Raymond Williams tenta
superar a dualidade alta cultura e baixa cultura procurando mostrar que no e um
processo estanque de duas categorias separadas radicalmente,seu conceito de cultura
integra aspectos da vida cotidiana tendo uma alcance maior.Dentro dessa reviso
negativa da cultura de massa que se deve buscar o papel da msica popular na
construo de idias e de seu papel na sociedade.As contribuies tanto da Escola de
Frankfurt quanto dos Estudos Culturais so importante para apontar as possibilidades
e os limites.As canes de Chico Buarque esto envolvidas com essa ambigidade de
ser um produto de consumo qualquer que tem seu potencial critico minimizado ou
ressaltado,isso depende de que se forma se apropria das canes os indivduos e os
meios de comunicao.O artista esta envolvido e determinado pelo seu perodo
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histrico e material como menciona Hauser mas no e um processo direto podendo ir
contra o existente podendo imaginar ir alm para o deve ser.Em um estado sem
liberdade a funo da arte e afirmar a liberdade como diz Adorno.Chico Buarque tem a
inteno de mostrar o quanto a modernidade e ainda mais a brasileira castrou e
eliminou o principio do prazer a favor do principio do desempenho mencionado por
Marcuse em Eros e Civilizao que o controle da mente e do corpo em beneficio do
trabalho produtivo.Weber fala de uma racionalidade em relao aos meios que
envolve de certa forma a assimilao de uma tica do trabalho,que necessita de uma
forte disciplina e de absteno dos prazeres.Esse ascetismo e para a sociologia
weberiana o acelerador da industrializao sobretudo nos pases centrais,na sua viso
os de religio protestante,enquanto o catolicismo retardou esse processo.No Brasil o
processo foi ainda mais danoso,em uma sociedade que por mais de trs sculos teve
como base o trabalho escravo,uma atividade destinada aos setores inferiores da
sociedade.Florestan demonstra que um grande parcela da populao no se integrou
ao regime de trabalho livre.Marcuse nas suas obras Eros e Civilizao,Ideologia da
Sociedade Industrial e Horkheimer em Dialtica do Esclarecimmento,Eclipse da Razo
analisa sobretudo a sociedade ocidental,o objeto era os Eua a nao com o capitalismo
mais desenvolvido.Esse desenvolvimento no entanto gradativamente atinge boa
parcela do mundo inclusive locais mais remotos.Todos os conceitos de industria
cultural,razo instrumental so assimilados.Florestan demonstra que malgrado
houvesse uma modernizao pelo alto e conservadora,sem aniquilar a herana da
sociedade escravista o processo de modernidade chegou as terras brasileiras.A
revoluo de 30 e o golpe de 64 foram processos cruciais na criao e assimilao de
uma racionalizao econmica e de burocracia bem aparelhada para dinamizar a
economia.A classe dominante brasileira importava de fatos idias de fora porem sua
aplicao no era unilateral como demonstra Roberto Scharwz com seu conceito de
Ideas fora do lugar.A margem dessa minoria educada, havia uma enorme massa de
pessoas pobres sem ter a chance de ter uma educao formal,havendo esse contraste
entre um elite cosmopolita que adotava as diversas modas do estrangeiro descolada
da realidade nacional,os demais indivduos ainda vinculados as relaes consideradas
mais tradicionais.Esse dualismo marcou o pensamento brasileiro no entanto o enigma
e pensar nas contradies de que o atraso e necessrio ao progresso econmico,a
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oferta de mo de obra de baixssima qualificao impulsionou o crescimento
econmico havendo meio sculo de crescimento a taxas de quase dois dgitos por ano
em mdia.Florestan mostra o outro lado,um aspecto obscuro que a faceta arcaica da
burguesia brasileira que tem um comportamento econmico no meio urbano,nas
indstrias,no muito diferente dos antigos proprietrios de terra do perodo
escravista.Que reage duramente inclusive com proposta de revolues mesmo dentro
da ordem,a era populista foi o perodo onde isso ocorreu claramente onde a ideologia
reformista democrtica burguesa trouxe temor a burguesia e as classes mdia que
clamavam por uma interveno militar e pelo abandono inclusive de mecanismo da
democracia formal.Os prprios setores at ento ligados de maneira indiscutvel ao
liberalismo durante todo seu desenvolvimento rejeitavam parte de seus elementos.A
racionalidade instrumental mostrava sua faceta de forma mais agressiva nos pases da
periferia.Marcuse via nas setores marginais seja o lumpenproletariado,os povos dos
terceiro mundo como agentes da transformao diversamente de Marx suas
esperanas no proletariado,que segundo ele se integrou na sociedade dominante so
incapazes da emancipao.Chico Buarque v em diversos setores esse potencial,por
isso suas letras so dedicadas as prostitutas,pivetes,babs,sem
terras,malandros.Estratos sociais que no Brasil diferentemente dos Eua e Europa que
so uma pequena parcela.Jess Souza fala do habitus precrio,presente na periferia do
capitalismo de pessoas que no conseguem se integrar de maneira produtiva na
sociedade.Marcuse contrape o principio do desempenho com o do Eros que significa
o prazer seguindo a trilha de Freud.O trabalho alienado que restringe e suprime o
prazer.E uma forma de liberar esse sentimento reprimido e atravs da arte segundo
Marcuse.Chico Buarque atravs da sua msica busca mostrar essa superao,seus
personagens tem o objetivo de negar a realidade existente,criar novas utopias,a
esperana e o guia tanto dos Pedro pedreiros,dos sem terras,guris,pivetes e de outros
personagens.Algum dia as cosias vo melhorar,Erich Fromm na A revoluo da
esperana ambiciona a chegada desse momento.Fromm percebe que o
desenvolvimento tecnolgico no trouxe a prosperidade a todos da sociedade.A obra
buarqueano revela um certo pessimismo com a modernidade,que tenta eliminar todo
o prazer,alegria e a cordialidade.H um contraponto a
frieza,racionalidade,impessoalidade da classe dominante e
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alegreia,afetividade,pessoalidade do povo simples que encanaria os valores da
verdadeira nao brasileira,Chico Buarque tem uma influencia da viso de Euclydes da
Cunha porm no e uma posio entre serto e litoral mas de classes sociais.Roberto
Scharwz rebatendo Slvio Romero afirma que os brasileiros postios no so os
mestios mas a classe dominante contestando o determinismo racial de Romero
elemento muito presente no perodo.